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www.cpb.org.br Junho/Julho 2006 n21 Cheios de gás Atletas voltam com tudo ao Circuito Loterias Caixa 2006 Jovens paraolímpicos mostram seu talento Começam os mundiais de modalidades Estréia da seção Parapan Rio 2007

Revista Brasil Paraolímpico n° 21

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Edição número 21 da revista oficial do Comitê Paralímpico Brasileiro - CPB.

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Page 1: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

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Junho/Julho 2006n21

Cheios de gásAtletas voltam com tudo ao Circuito Loterias Caixa 2006

Jovens paraolímpicos mostram seu talento

Começam os mundiais de modalidades

Estréia da seção Parapan Rio 2007

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NO PÓDIO 02 Simone Camargo 21 Wandemberg Nejain37 José Mauro Vilarinho

HUMOR05 Tirinha da Turma da Monica e caricaturas de Cícero Lopes

PARAPAN06 Lançamento da mascote dos Jogos

ESPECIAL08 Mundial de vôlei10 Mundial de goalball12 Mundial de judô14 Mundial de basquete16 Mundial de tiro

NOTÍCIAS18 Juventude paraolímpica20 Instituto Joaquim Cruz

CAPA24 Circuito Loterias Caixa

ADRENALINA34 Motocross

SOCIAL42 Bastidores do movimento paraolímpico

CULTURA44 Música de David Valente

OPINIÃO46 Carlos Nuzman

BOLA PRA FRENT EA amarga experiência com a copa do mundo de futebol da Alemanha nos

deixa um oportuno legado à prática do esporte de alto rendimento no país. Seja a disputa coletiva ou individual, nem sempre acontecem resultados justos ou lógicos. Além da preparação física em dia e da técnica apurada – o que só se con-segue com muito treino, algum dom e abnegada dedicação – fatores externos e entraves psicológicos influenciam tanto ou mais o desempenho de cada atleta. Daí, talvez, venha o grande fascínio que atividades esportivas, representação lúdica de em-bates verdadeiros da vida, exerçam sobre o ser humano, que traz em seu DNA milenar o instinto de superação frente a situações adversas.

Quando o cenário se transporta, então, para atletas com deficiência, a dimensão é outra. Diferente, não menor ou secundária, como o Comitê Paraolímpico Brasileiro vem mostrando nestes últimos anos de atuação profissional e determinante para o reconheci-mento dos nobres valores desta missão.

Este número da Brasil Paraolímpico apresenta participações brasileiras em cinco mun-diais, com destaque para Antônio Tenório que, apesar de ser tricampeão paraolímpico, só agora conquistou seu primeiro ouro no mundial de judô realizado na França, em julho. Ou-tro atleta que merece honrarias é Carlos Garletti, do tiro, que conseguiu no mundial da Suí-ça o inédito MQS (índice de qualificação paraolímpico) para um brasileiro na modalidade.

Mais uma novidade é a estréia da seção Parapan, que traçará um fiel panorama dos preparativos e bastidores de um dos mais importantes eventos multiesportivos do plane-ta, os Jogos Pan e Parapan-americanos do Rio 2007. Completam a revista um apanhado geral do que foi notícia no movimento paraolímpico durante este período e, claro, a volta do Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletismo e Natação, que tem as etapas de São Caetano e Belém aqui retratadas.

Boa leitura!

VITAL SEVERINO NETOPresidente do Comitê

Paraolímpico Brasileiro

Page 4: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

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Dividida entre

atletismo e

goalball, Simone

Camargo da

Silva deve optar

por uma das

modalidades em

busca da melhor

performance

Por Fernanda Villas Bôas

A ESCOLHA DE

simoneA paulista Simone Camar-

go da Silva, de 29 anos, está ao telefone. Conta

atenciosamente sua história de vida. Com voz meiga, pede licen-ça em alguns momentos para atender outras ligações. Ela está no trabalho. Mais exatamente, no Departamento de Comunica-ção da Polícia de São Paulo.

Dividida entre

atletismo e

goalball, Simone

Camargo da

Silva deve optar

por uma das

modalidades em

busca da melhor

performance

imoneimoneimoneimoneA atenciosamente sua história de vida. Com voz meiga, pede licen-ça em alguns momentos para atender outras ligações. Ela está no trabalho. Mais exatamente, no Departamento de Comunica-ção da Polícia de São Paulo.

Foto:

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simone

Sua rotina é corrida. Concilia treinos, estudo e trabalho. “Três dias por semana acordo às 5h30 e vou para a academia. No resto da manhã trabalho na polícia. Na parte da tar-de, duas vezes por semana, treino goalball e nos outros dias estou na pista de atletismo”. À noite, nada de descanso. Ela segue para a faculda-de, onde cursa Psicologia.

Cansada? Que nada, ela adora o que faz. “Nos sábados eu também treino, mas depois tiro para descan-sar. Se estou apaixonada, me dedico muito àquilo que me proponho. É muito legal. Eu amo o que faço”. A deficiência visual congênita parece não atrapalhar. Simone nasceu com-pletamente cega e após inúmeras cirurgias enxergou parcialmente dos seis aos 12 anos. “Acredito que nada na vida acontece por acaso. Tudo tem uma razão de ser, me considero mui-to privilegiada”.

As dificuldades foram muitas. “Eu já sofri bastante. Minha mãe tinha somente o primeiro grau. Nos exer-cícios de inglês ela soletrava para eu conseguir fazer. Hoje, diante das possibilidades, eu me sinto no céu”.

Simone estudou numa escola para deficientes, enquanto enxerga-va parcialmente. De tanto pedir para os pais, foi para uma escola regular. “Eu queria estar com meus amigos da rua, estudar numa escola normal, estava cansada do internato”. Num acaso da vida, nas férias antes de ir para a escola regular, Simone se fe-riu e perdeu a visão completamente. Brincadeiras de criança, como ela mesma diz.

“Qualquer escolha é muito difícil. Com certeza vou perder e ganhar alguma coisa, mas quero me agarrar nas alegrias do que eu fizer”

Simone Camargo

Foto:

Wan

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Em Atenas, 2004, Simone optou pelo atletismo. Já em 2006, o mundial de goalball falou mais alto.

Foto: Wander Roberto ME

Foto: Hall Simpsaon / Divulgação CBDC

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Page 6: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

Foto: Wander Roberto MEO esporte passou a ser parte de

sua vida aos 18 anos. Começou com uma competição de torball, esporte semelhante ao goalball, mas com al-gumas adaptações. No ano seguinte, em 1995, veio a primeira convocação e a medalha de ouro. No revezamento (4x100m), na Argentina. “Naquela época ninguém sabia que podia par-ticipar. Os próprios deficientes não conheciam as possibilidades, muitos competiam antes mesmo de treinar

ou de estarem bem preparados para aquilo. Eu sofri muito, cheguei a

comer pão com laranja. Não ti-nha muitas condições, mas que-ria muito aquilo”.

Ela sempre foi corajosa. Aos 19 anos resolveu morar em Ma-

ringá, cidade no Paraná. “Fui so-zinha mesmo. Passei quatro anos

da minha vida treinando goalball e brincando de correr pelas ruas. Parti-cipei de provas de atletismo com pes-

soas que se dispunham a correr de bicicleta, só para me acompanhar. O atletismo sempre foi um pouco mais difícil de treinar, pois de-pendia de um guia, de coordenar horários e local”.

Os anos passaram e Simone foi conciliando participações e conquis-

tas nas diferentes modalidades. Em 2001, com o goalball, levou terceiro lugar no Parapan da Carolina do Sul. Em 2003, o vice-campeonato mun-dial no Canadá. No mesmo ano con-quistou o ouro nos 100m e a prata nos 200m no Parapan de Mar Del Plata. Desde essa época vem passando por uma difícil fase de decisões. “Entrei numa boa faixa de marcas no atletis-mo, o que tem sido um dilema para mim. É muito delicado, tenho convo-cações nas duas modalidades e elas vêm se alternando”.

Como no ano da convocação para a Paraolimpíada de Atenas. “Me cha-maram para participar do Troféu Bra-sil. Fui completar o número de com-petidores, para colaborar, e fiquei em segundo lugar. Com um índice que abriu portas para a competição”. Simone diz que foi uma fase difícil. “Estava conciliando os treinos para o mundial de goalball e tentando me

recuperar de uma lesão. Mas com a convocação acabei focando no atle-tismo. Eu estava convocada para uma Paraolímpiada e não ia abrir mão. Foi uma luta”.

As conquistas foram o quinto lugar nos 100m e 200m. “Depois que vol-tei, fiquei chateada. Foi muito abaixo do que eu esperava. Dei um tempo e a partir daí resolvi participar do pa-rapan e me dedicar ao goalball”. Ela acredita que para chegar à excelência em uma das modalidades é preciso de-dicação exclusiva a um dos esportes. “Posso treinar as duas modalidades, mas só conseguirei resultados médios com elas”.

Simone acabou de retornar do mundial de goalball, que aconteceu entre os dias 26 de junho e 2 de julho, no Estados Unidos. A seleção chegou às quartas-de-final, mas foi elimina-da pelo Canadá, melhor equipe no ranking mundial. “O histórico dos jo-gos foi bom, mas normalmente apren-demos em situações de decisão”. Des-ta vez ela não veio com a classificação para a próxima Paraolimpíada, mas com sugestões do que pode ser me-lhorado. “Precisamos de um pouco mais de coletividade, como a possibi-lidade de intercâmbios e mais treinos juntas, pois o esporte é de equipe e se não houver isso ficamos no quase. Isso mostra que temos condições e temos que ajeitar detalhes. E quando os detalhes forem ajustados vamos longe”.

No momento, nenhuma decisão está tomada. Enquanto isso, Simone brinca. “Mudei o meu local de treino, agora estou na fisioterapia. Estou cortada do mundial de atletismo da Holanda, aproveitando para me re-cuperar de uma lesão proveniente do goalball”.

Simone garante não saber qual escolha fará, mas afirma que pesará uma série de questões e não deixará de ouvir o coração. “Ambas me com-pletam e eu tenho medo de faltar um pedacinho. Qualquer escolha é mui-to difícil. Com certeza vou perder e ganhar alguma coisa, mas quero me agarrar nas alegrias do que eu fizer”.

Foto: Mike Ronchi Produções

Foto:

Wander R

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Sempre atuante, Simone Camargo também desempenha a função de conselheira fiscal do CPB.

Foto:

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Page 7: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

Turma da Mônica

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Os três atletas da seção No Pódio deste número estiveram nos mundiais de suas

respectivas modalidades: Simone Camargo, do goalball (pág. 2), Wandemberg Nejain, do

basquete (pág. 21), e José Mauro Vilarinho, do vôlei (pág. 37).

Divirta-se!

Page 8: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

“É um prazer enorme contar com o magnífico tra-balho que o Comitê Paraolímpico Brasileiro faz , tendo à frente o seu presidente, e meu amigo, Vital Severino Neto”.

Carlos Arthur Nuzman, presidente do CO-RIO e do COB

todosEle é alegre, gorducho e muito

carismático. Símbolo do cenário carioca e do espírito brasileiro, o

Sol, escolhido como Mascote dos Jogos Pan-americanos e Parapan-americanos Rio 2007, foi apresentado pelo Comitê Organizador dos Jogos (CO-RIO) no dia 13 de julho, como principal atração do evento comemorativo de um ano para a realização do Pan do Brasil.

Diante da bela paisagem do Forte de Copacabana, no Rio de Janeiro, a cerimônia, apresentada pela cantora Fernanda Abreu e animada por mais de 100 bailarinos, reuniu personali-dades ilustres como o Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, além de atletas, jornalistas e outros representantes dos governos federal, estadual e municipal. Lula se mostrou confiante quanto à realização do maior evento esportivo das Américas, mas

O Sol nasce para

Por Bruna GoslingFoto: Marco Antônio Rezende/CO-RIO

Coluna de estréia do Parapan na revista traz cerimônia de lançamento da mascote dos Jogos do Rio 2007

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva prestigiou o evento.

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Page 9: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

todosAs construções dos Complexos

Esportivos foram planejadas vi-sando ao conforto e à segurança das delegações paraolímpicas. Na Vila Pan-americana, construída

na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio, haverá 17 prédios, totalizan-do 1.480 apartamentos de tipolo-gias diferentes, com 1, 2, 3 ou 4 quartos, para abrigar cerca de 8 mil pessoas, entre elas os atletas paraolímpicos. “O comitê organi-zador solicitou que eu adaptasse 112 apartamentos para a utili-zação de cadeirantes e atletas com outras deficiências durante o Parapan. Então, temos banhei-ros adaptados, por exemplo, com portas maiores que facilitam a circulação”, explica Roberto Saad, engenheiro responsável pela obra da Vila.

Mas a união do Para-pan-americano ao Pan-americano não pára por aí. Pela primeira vez na história, atletas olímpicos e paraolímpicos serão representados pela mesma masco-te, Cauê. Uma prova de que o mo-vimento do paradesporto mundial vem conquistando seu espaço com muito esforço e respeito.

Para o programador visual Ney Valle, coordenador da equipe de desenvolvimento e criação da mascote do Rio 2007, a escolha do personagem se baseou nesta exi-gência de conciliar os dois even-tos. “O sol atende a justamente isso, ele não discrimina ninguém, é democrático, nasceu para todos, e a forma que a gente deu já tem os modelos do Parapan, com o Sol praticando os esportes paraolímpi-cos. Ficou uma graça e nós ficamos super felizes de chegar a isso”.

O CO-RIO decidiu promover uma votação popular para esco-lher o nome da mascote entre tês opções: Cauê, Luca e Kuará. O resultado saiu no dia 6 de agosto, tendo como vencedor Cauê.

exigiu cobrança do povo. “Temos que ter papel de lupa daqui pra frente, pois este não será apenas mais um Pan, mas, sim, ‘o’ Pan do Brasil, um evento que nos trará confiança internacional e abrirá as portas para recebermos ou-tros eventos no futuro”.

A edição 2007 dos Jogos vai repre-sentar um marco na história do even-to, pois, pela primeira vez, o Parapan-americano será disputado na mesma cidade, com as mesmas instalações e logo em seguida ao Pan-americano, como hoje ocorre nos Jogos Parao-límpicos. Na opinião do presidente do Comitê Organizador Rio 2007 (CO-RIO) e do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Carlos Arthur Nuzman, este desafio será mais um motivo de or-gulho. “É um prazer enorme e uma grande alegria podermos estar juntos, contar com o magnífico trabalho que o Comitê Paraolímpico Brasileiro faz, tendo à frente o seu presidente, e meu amigo, Vital Severino Neto. Só posso estar muito feliz de ter esta parceria do CPB e do COB”, elogia Nuzman.

A XV edição dos Jogos Pan-ame-ricanos reunirá 5.500 atletas, de 42 países das Américas, entre 13 e 29 de julho de 2007. Logo em seguida, de 12 a 18 de agosto, serão realizados os Jogos Parapan-americanos, com cerca de 1.300 atletas paraolímpicos, dispu-tando 10 modalidades sob as regras do Comitê Paraolímpico das Américas. São elas: atletismo, basquete, fute-bol de 5, futebol de 7, halterofilismo, judô, natação, tênis de mesa, tênis em cadeira de rodas e vôlei.

Loteria Federal lança extração comemorativaNa véspera do lançamento da Mascote do Pan 2007, outro evento co-

memorativo de um ano para os Jogos foi realizado pelas Loterias Caixa, em parceria com o CO-RIO. Também em Copacabana, atletas olímpicos subiram no Caminhão da Sorte e realizaram o sorteio da Extração 4052 da Loteria Federal comemorativa Rio 2007.

Para esta edição especial, foram distribuídos 75 mil bilhetes, em 9 mil casas lotéricas de norte a sul do país, todos caracterizados pela logomar-ca dos Jogos Pan-americanos e Parapan-americanos. A ação pro-mocional marca o esforço da Caixa Econômica Federal no apoio e na divulgação dos Jogos Rio 2007. A Caixa é uma das patrocinadoras do evento.

“Este será ‘o’ Pan do Brasil, um evento que nos tra-rá confiança internacional e abrirá as portas para recebermos outros eventos no futuro”.

Luiz Inácio Lula da Silva, presidente da República

mocional marca o esforço da Caixa Econômica

Mas a união do Para-pan-americano ao Pan-

Cauê será comum ao pan e parapan

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VALEU A PENA

As equipes masculina e femini-na de vôlei sentado ganharam muita experiência no Campe-

onato Mundial da modalidade, rea-lizado entre os dias 17 e 25 de junho, na cidade de Roermond, na Holanda. Apesar da ausência de medalhas para o Brasil, somente o fato de ter sido esta a primeira vez que o vôlei paraolímpi-co brasileiro foi a um mundial já é uma vitória. É o que garante o técnico da se-leção masculina, Amauri Ribeiro. “O vôlei paraolímpico no Brasil existe há pouquíssimo tempo. Ele praticamen-te está nascendo. Mesmo assim, tem crescido bastante em todas as regiões do país”, afirma Amauri.

A seleção masculina venceu ape-nas o último jogo disputado no mun-dial, contra o Japão, por 3 sets a 0, e

Seleções masculina e feminina de vôlei disputam seu primeiro mundial de olho na evolução do esporte no Brasil

Por Patrícia OsandónFotos: JJ Clemente

Surgiu em 1956, na Holanda, a partir da combinação entre o voleibol convencional e o Sitzbal, esporte alemão que não tem a rede, praticado por pessoas com limitada mobilidade e que jogam sentadas. Podem com-petir amputados, paralisados cerebrais, lesionados na coluna vertebral e pessoas com outros tipos de deficiência locomotora.

Na Paraolimpíada de Toronto, em 1976, o voleibol sentado teve jogos de exibição. Quatro anos depois, este importante esporte coletivo foi in-cluído no programa de competições dos Jogos Paraolímpicos de Arnhem, Holanda, com a participação de sete seleções. Desde 93, ocorrem campe-onatos mundiais da modalidade tanto no masculino como no feminino. O Brasil nunca participou de uma Paraolimpíada.

Entre o vôlei paraolímpico e o convencional há menos diferenças do que possa parecer. Basicamente, a quadra é menor, assim como a altura da rede, pois os jogadores competem sentados. Outra diferença consiste no fato de o saque poder ser bloqueado. É permitido o contato das pernas de jogadores adversários, desde que não se obstrua as condições de jogo. O sistema de pontuação, o número de jogadores e a formação da equipe de arbitragem são idênticos à vertente olímpica.

Surgiu em 1956, na Holanda, a partir da combinação entre o voleibol

Entenda o vôlei paraolímpico

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Page 11: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

VALEU A PENA Voleibol para Pessoas com Deficiência (WOVD) pudesse acompanhar a evolu-ção do vôlei brasileiro. Estamos conse-guindo, aos poucos, consolidar nossa presença nas Américas. Desenvolvi-mento só vem após muito treinamen-to e investimento”, explica o técnico Amauri, que jogou pela seleção bra-sileira de vôlei olímpico por 15 anos. Neste período, consagrou-se com a conquista de vários títulos, entre eles a medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984, e a de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992. “No começo da minha carreira como jogador, o vôlei olímpico enfren-tou várias dificuldades. Hoje, é refe-rência mundial. Assim, é um desafio para mim colocar o vôlei paraolímpico em um lugar de destaque”, completa.

Equipe masculina:Cláudio Irineu da Silva (DF), Deivisson Santos (SP), Diogo Re-

bouças (RJ), Giovani Eustaqui (SP), Guilherme Borrajo (SP), Ja-merson Ramos (DF), José Mauro Vilarinho (RJ), Renato Leite (SP), Rodrigo Mello (SP), Thiago Porfírio (SP), Wellington Anunciação (SP), Wescley Conceição (RJ); Marco Aurélio Cziniel (auxiliar-técni-co); Amauri Ribeiro (técnico); Mônica Gomes (chefe da delegação).

Equipe feminina:Adria Silva (GO), Ana Paula Araújo (RJ), Consuelo Rocha (RJ),

Débora Deus (GO), Elessandra Oliveira (GO), Graciana Alves (GO), Kelles Silva (RJ), Lohane Magarão (RJ), Nathalie Silva (SP), Polyana Cunha (GO), Silvana Siqueira (SP), Suellem Lima (SP); Maristela Costa (fisioterapeuta); Alexandre Medeiros (auxiliar-técnico); Ronaldo Oliveira (técnico).

Com informações da Associação Brasileira de Voleibol Paraolímpico (ABVP).

Delegação brasileira de vôlei

ficou em 11º lugar, penúltima colo-cação. A feminina foi derrotada em todas as partidas e ficou com a lan-terna da competição, em 8º lugar. No masculino, o título ficou com a Bós-nia-Herzegovina, que venceu o Irã, por 3 a 1. No feminino, as donas da casa (Holanda) ficaram com o título ao vencerem a China, por 3 sets a 2.

O mundial foi classificatório para os Jogos Paraolímpicos de Pequim 2008. Agora, para conquistar sua classificação para a Paraolimpíada, os brasileiros ainda contam com o

Parapan-americano do Rio 2007, que terá disputas apenas na catego-ria masculina.

A grande estréia em competições internacionais do vôlei brasileiro ocorreu em 2003, nos Jogos Para-pan-americanos de Mar Del Plata, na Argentina, quando a equipe foi vice-campeã. Em 2005, no Mundial Juvenil (Sub-23), na Eslovênia, os brasileiros conquistaram o bronze.

“Nossa participação no mundial também foi importante para que a equipe da Organização Mundial de

Apesar da penúltima colocação no mundial, a seleção masculina ainda pode garantir a vaga para Pequim no Parapan do Rio 2007. Já a seleção feminina, que fi cou em último lugar, não tem mais chance de ir à Paraolimpíada.

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A seleção brasileira fe-minina de goalball esteve nos Estados

Unidos, de 26 de junho a 2 de julho, onde participou do Campeonato Mundial de Goalball da IBSA, em Spar-tanburg. A equipe chegou às quartas-de-final da competi-ção e, segundo o técnico do Brasil, Wagner Camargo, “as jogadoras ficaram conhecidas como ‘wild’ (selvagens), pela força de suas bolas”.

A seleção brasileira dispu-tou sete jogos pelo Mundial e foi eliminada pelo Canadá. Não foi dessa vez que a equi-pe conseguiu a vaga para os

Jogos Paraolímpicos de Pe-quim. Uma nova chance de classificação ficará para o ano que vem, quando partici-parão dos III Jogos Mundiais da IBSA, que irão ocorrer no Brasil, em 2007.

O Brasil estreou com uma contundente vitória sobre a Coréia do Sul (10x0). Foram 3 gols de Adriana Lino (MG), 6 gols de Márcia Vieira (PR) e 1 contra das coreanas. No segundo dia de competição, a equipe enfrentou o forte time da Alemanha e manteve o pla-car empatado em 2x2. As ale-mãs desempataram faltando 25 segundos e venceram por

Por Leandro FerrazFotos: Hall Simpsaon / Divulgação CBDC

No Mundial de Goalball, brasileiras perdem nas quartas-de-final para o Canadá, atual número um do mundo, e

adiam para 2007 disputa de uma vaga em Pequim

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Delegação brasileirade goalball

Adriana Bonifácio Lino (MG), Ana Carolina Du-arte Custódio (RJ), Már-cia Bonfim Vieira (PR), Neuzimar Clemente dos Santos (ES), Renata Her-menegildo Fernande (SP), Simone Camargo da Silva (SP); Wagner Xavier de Camargo (chefe da dele-gação); Dailton Freitas do Nascimento (técnico); Diego Gonçalves Colletes (preparador físico); Marí-lia Passos Magno e Silva (fisioterapeuta).

3x2. No mesmo dia, no jogo contra os EUA, segun-

do melhor no ranking mundial, as brasilei-ras conseguiram fazer um jogo equilibrado. No entanto, desta vez com 4 segundos para terminar o jogo, que estava empatado em 3x3, as americanas ba-lançaram a rede brasi-leira, marcando 4x3.

No terceiro dia, o Brasil enfren-tou seu quinto adversário, o Japão, e o jogo terminou empatado em 3x3. Ainda no mesmo dia, as meninas ven-ceram a África do Sul por 10x0, e se classificaram para a segunda fase. Pelas quartas-de-final, o Brasil en-frentou o Canadá, equipe que chegou à final de duas Paraolimpíadas. A se-leção brasileira dependia da vitória para disputar a semifinal e garantir uma vaga para os Jogos Paraolímpicos de Pequim em 2008. As canadenses, melhor time do mundo no ranking mundial, venceram o Brasil por 7x2, avançaram na competição e conquis-taram mais um título, o de Campeãs Mundiais IBSA 2006.

Com informações da Confederação Brasi-

leira de Desporto para Cegos (CBDC).

Seleções com vaga para Pequim-2008

MasculinoPaís ColocaçãoLituânia OuroSuécia PrataEUA BronzeEslovênia 4º lugarDinamarca 5º lugarCanadá 6º lugarFemininoCanadá OuroChina PrataEUA BronzeDinamarca 4º lugar

As jogadoras brasileiras foram apelidadas de wild (selvagens) pela força de suas bolas.

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Tenório conquista ouro inédito no Mundial de Judô e Brasil fica em sétimo lugar

Por Leandro FerrazFotos: Divulgação Brommat 2006

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Em um dia triste para o Bra-sil, pelo menos um brasi-leiro teve motivos de sobra

para comemorar. No mesmo 1º de julho em que a seleção canarinho de futebol era novamente desclas-sificada pela França de Zidane de uma copa do mundo, um dos maiores judocas paraolímpicos do planeta, Antônio Tenório da Sil-va, conquistava uma inédita me-dalha de ouro no Mundial de Judô Paraolímpico, realizado de 29 de junho a 3 de julho, na cidade de Brommat, em solo francês.

Mesmo com tantos resultados expressivos, afinal é tricampeão paraolímpico em sua categoria, o judoca brasileiro jamais havia ga-nho um ouro em mundiais. Além da primeira colocação de Tenório, a seleção brasileira, representa-da por 11 judocas no total, trouxe mais duas medalhas na categoria feminina: uma de prata, conquis-tada pela atleta Michele Ferreira, e uma de bronze, de Lourdes Souza.

As medalhas contam pontos para o ranking mundial, que ga-rante vaga em Pequim. No pri-meiro dia de competição, a atleta Lourdes Souza ganhou o bronze na categoria +78kg. Já no segun-do dia, quem brilhou foi Tenório, com ouro na categoria -100kg. A prata veio com Michele Ferrei-ra (-52kg). Após derrotar a russa Veroni Mukhamadeyeva, a sul-mato-grossense competiu com a francesa Sandri Aurieres, que le-vou a melhor.

O Campeonato Mundial na França, que teve participação de mais de 200 atletas de 38 países, foi o primeiro de uma série de eventos qualificatórios que po-dem assegurar vagas para os Jo-gos Paraolímpicos de Pequim, em 2008. Os Jogos Mundiais da IBSA – Brasil 2007 e os campeonatos continentais (no caso brasileiro, o Parapan-americano – Rio 2007) também contarão pontos para a somatória do ranking.Com informações da Confederação Brasi-leira de Desporto para Cegos (CBDC).

Delegação brasileira de judô

Coordenadores Walter Russo Jr. (RJ) e Carmelino Souza Vieira (RJ); técnico Jucinei Costa (RJ); auxiliar técnico Ricardo Batista (PR); atletas Karla Cardoso (RJ), -48kg; Michelle Fer-reira (MS), -52kg; Helder Araújo (SP), -60kg; Regi-na Dornelas, -63kg; Mag-no Marques (SP), -66kg; Wanderson Porfírio (SP), -73 kg; Lourdes Souza (RJ), +78kg; Alessandro Oliveira (SP), -81kg; Divino Dinato (GO), -90kg; Antônio Te-nório (RJ), -100kg; Alexan-dre Silva (RN), +100kg.

Tenório, Michele e Lourdes: medalhas que garantiram a 7a colocação para o Brasil.

Medalhas do BrasilAtleta Medalha

Antônio Tenório (- 100kg) OuroMichele Ferreira (- 52kg) PrataLourdes Souza (+ 78kg) Bronze

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Page 16: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

Classificação FinalResultado País

1º lugar Canadá

2º lugar Estados Unidos

3º lugar Austrália

4º lugar Holanda

5º lugar Inglaterra

6º lugar Suécia

7º lugar Japão

8º lugar Itália

9º lugar BRASIL

10º lugar Israel

11º lugar França

12º lugar África do Sul

Por Julia CenseFotos Frans Nelissen & Ad van Geffen

Enquanto a Seleção Brasilei-ra de Futebol se despedia dos gramados alemães, outra se-

leção invadia a Europa para mais um desafio. Cheia de esperança, a sele-ção brasileira masculina de basquete em cadeira de rodas desembarcou na Holanda para a disputa do Campeo-nato Mundial da modalidade, de 3 a 16 de julho.

A trajetória brasileira começou ano passado com a conquista da me-dalha de bronze na Copa América, realizada em dezembro, em Colo-rado Springs, nos Estados Unidos. Com a classificação, o Brasil garan-tiu a vaga para o mundial no grupo A ao lado de Canadá, Itália, Israel, Japão e Holanda. No grupo B, os adversários eram Estados Unidos, Austrália, Inglaterra, África do Sul, Suécia e França.

Pela frente, jogos difíceis. No pri-meiro confronto, com a forte seleção da Itália, o Brasil perdeu por 70 a 57. A derrota para os atuais campeões europeus não tirou o brilho das joga-das brasileiras. Mesmo com a forte marcação, o ala brasileiro Erick Epa-minondas foi o destaque da partida ao marcar 18 pontos.

E vieram os canadenses na segun-da partida disputada pelos brasileiros. O placar de 69 a 56 acabou favorável aos atuais campeões paraolímpicos. Dessa vez, o canadense Johnson domi-nou o jogo e chegou ao fim com a mar-ca de 20 pontos. Técnicos e jogadores saíram satisfeitos com a atuação bra-sileira e confiantes na classificação do Brasil entre os oito melhores.

Mas foi difícil manter a vaga das quartas-de-finais com mais duas der-rotas consecutivas. O Brasil chegou a

Por Julia CensiFotos: Frans Nelissen & Ad Van Geffen

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Page 17: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

Delegação brasileira de basqueteAtletas: Heriberto Roca (Águias/SP); Vitório Costa (Adfego/

GO); Wandemberg Nejaim (Águias/SP); José Soares da Silva (ADDF/PE); Glebe Alves da Silva (Leões/PE); Anderson Ferreira (Águias/SP); Marcos Silva (ADA/GO); Erick Epaminondas (CAD/SP); Natanael Silva (ADDF/PE); José Marcos da Silva (Aedrehc/SP); Írio Nunes (Leões/PE); e Leandro Miranda (Águias/SP).

Comissão técnica: Marcelo Romão (mecânico CBBC); Belisa Oliveira (fisioterapeuta Cenesp/Esef); Adriana Constantino (au-xiliar-técnica Águias/SP); Fátima Barbosa (técnica ADDF/PE); Rui Marques (árbitro CBBC); Raniero Bassi (CBBC); Fernanda Roqueti (CBBC); e Naise Pedrosa (presidente CBBC).

Seleção brasileira de basquete esbarra em países tradicionais e

fica em nono lugar no mundial

dominar o primeiro jogo con-tra o Japão e acabou perdendo no último quarto (66 a 54). E contra os donos da casa não foi diferente: a Holanda venceu o jogo nos últimos minutos (72 a 61). Ainda restava o último jogo da primeira fase, contra Israel, que ter-minou 74 a 51 para os israelenses.

A primeira vitória dos brasileiros teve gosto de vingança: se no futebol o Brasil foi eliminado pela França, na quadra a vantagem foi dos brasileiros por 79 a 63. Com o resultado, o Brasil enfrentou novamente Israel na dispu-ta do nono lugar e finalizou sua partici-pação com mais uma vitória (61 a 53).

O Canadá comprovou o favoritis-mo tanto no masculino como no femi-nino. Ambos os jogos da final foram contra os EUA. No masculino, o Ca-nadá conquistou o primeiro título em

campeonatos mundiais ao vencer a seleção norte-ame-ricana por 59 a 41. A seleção feminina continua imbatível em mundiais. Depois de per-derem a semifinal dos Jogos Paraolímpicos de Atenas

para os EUA, as canadenses deram o troco e venceram por 58 a 50, con-quistando o tetracampeonato mun-dial (1994, 1998, 2002 e 2006).

A volta para casa não foi da manei-ra imaginada, mas deixou a certeza de que o basquete em cadeira de rodas no Brasil passa por uma fase impor-tante de crescimento e solidificação. A busca por uma vaga para a Parao-limpíada de Pequim fica adiada para o Parapan-americano do Rio 2007.

Com informações da Confederação Brasileira de Basquete em Cadeira de Rodas (CBBC)

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Uma simples escala em Portugal deu muita dor de cabeça para a

delegação brasileira de tiro esportivo. O primeiro destino era Itália, onde disputariam o Aberto de Padova com mais 23

países, de 7 a 9 de julho. Quan-do chegaram em solo italiano, veio a notícia: o armamento do atirador paranaense Carlos Garletti, um dos destaques do grupo, havia sido retido em terras lusitanas.

Delegação brasileira de tiro vai a Aberto na Itália e a Mundial na Suíça e consegue índice histórico

com Carlos Garletti

Sem tempo para agir e abala-do com o incidente, Garletti com-petiu em Padova com armas em-prestadas o que, em sua opinião, influenciou negativamente sua performance. “Não me avisaram da apreensão e, ainda por cima, deixaram-me embarcar como se nada estivesse acontecendo”, re-clama. “O problema agora é que ninguém na companhia aérea se responsabiliza por minhas ar-mas, que custam caro. Ainda não as consegui de volta”.

Apesar de tudo, Garletti dei-xou a Itália com 565 pontos na prova de Carabina .22 Deitado – R6, marca exatamente igual ao MQS (Minimum Qualifying Score – índice mínimo de qua-lificação para os Jogos Parao-límpicos). É a primeira vez que um brasileiro alcança tal índice. “Foi fabuloso e surpreendente. Por causa do problema com as armas, esperava ter um resul-tado péssimo”, confessa Garlet-ti, que sofreu lesão medular há quatro anos durante um salto de vôo livre e perdeu os movimen-tos da perna direita.

Sem tempo para agir e abala-

Carlos Garletti (à esquerda) e Sérgio Vida, em intervalo do Aberto da Itália.

Por Leandro FerrazFotos: divulgação CPB

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Delegação brasileira de tiroAna Valéria Shu (São Paulo - pistola de ar P2)Carlos Alberto Strub (Rio de Janeiro - pistola de ar P1)Carlos Garletti (Ponta Grossa - carabina de ar em pé R1, carabina de ar deitado R3, carabina .22 deitado R6 e carabina .22 deitado, em pé e de joelhos)Sérgio Adriano Vida (Curitiba - pistola de ar P1, pistola sport P3 e pistola livre P4)Lima e Silva (Rio de Janeiro - chefe da delegação)Djalma Carlos (Natal - médico)

A delegação brasileira chegou à Suíça na noite do dia 12 e, já na manhã seguinte, os atletas começaram as disputas do 5º Campeonato Mundial de Tiro Adap-tado, que reuniu 41 países.

Ainda com armas emprestadas, Garletti quase chega a novo MQS na Carabina de Ar Deitado – R3 ao marcar 589 pontos, ficando a apenas um dos 590 do MQS. Logo depois, de novo na R6, ele atingiu 570 pontos na eliminatória e 575 pontos na classificató-ria, batendo por duas vezes o MQS de 565 pontos. Os outros dois integrantes da seleção, o carioca Carlos Al-berto Strub e o curitibano Adriano Vida, não atingi-ram pontuação para o índi-ce.

De acordo com o chefe da delegação brasileira, Lima e Silva, os resultados não foram satisfatórios, mas acredita que o desem-

No mundial da Suíça mais dois MQS são conquistados

Garletti teve seu equipamento retido em uma escala em Portugal e competiu com armas emprestadas.

penho de Carlos Garletti mantém as chances de uma vaga para Pequim. “As vagas são distribuídas por continentes, regiões e até por convite. O número de atiradores em pa-raolimpíadas é de apenas 140 e o cálculo para se chegar a uma vaga é extremamente complexo. Mesmo assim, os três MQS do Garletti nos enchem de esperança”, afirma, confiante, Lima e Silva.

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As rotinas e os sonhos são pareci-dos: escola na parte da manhã e treino, muito treino, à tarde. Nas

pistas e nas piscinas, garotos e garotas que encontraram no esporte um novo significado. Um objetivo de vida.

Allan Oliveira, 13 anos, conheceu o atletismo através de um vizinho. Biam-putado das pernas desde os nove meses de idade, esse paraense de sorriso fácil lembra das molecagens que aprontava para poder chegar às pistas. “Quando eu era pequeno, os filhos do meu vi-zinho iam treinar e eu chorava muito para ir junto. Eles ficavam com pena e acabavam me levando. E hoje eu estou aqui”, conta.

Em Belém, Allan competiu pela pri-meira vez em uma etapa do Circuito Lo-terias Caixa de Atletismo e Natação, nos 100 e 200 metros rasos. A estréia empol-gou o atleta e os treinadores. Allan fez 16 segundos na prova mais curta, correndo com próteses pesadas e que ainda não são ideais para provas de velocidade. Nada que desanime ou diminua a paixão des-

se jovem atleta. “O esporte mudou minha vida. Antes

eu não tinha dinheiro para comprar sa-pato, que eu uso muito, não tinha um fu-turo. Hoje eu tenho um sonho: participar de uma paraolimpíada”, diz sorrindo.

Do outro lado do estádio da Universi-dade Estadual do Pará, o brilho vem da piscina. O brilho de três medalhas de ouro da pequena Ana Clara Carneiro. Aninha, como é carinhosamente cha-mada pelos outros atletas, tem apenas 14 anos e é uma das boas revelações do Circuito. Nessa segunda etapa, ela ba-teu dois recordes parapan-americanos nas provas de 50m e 100m livre e ficou entre os 20 melhores atletas da etapa. A trajetória como atleta é curta e tem um começo bastante parecido com o de tan-tos outros jovens. “Quando eu tinha seis anos, tive que fazer uma cirurgia e, para recuperar o movimento da perna, preci-sei fazer terapia. Depois de um tempo, o hidroterapeuta disse para eu começar a nadar porque eu tinha um ‘algo a mais’”, revela a nadadora.

Por Julia CensiFotos Mike Ronchi Produções

JUVENTUDE

Cada vez mais cedo, jovens promessas surgem no movimento paraolímpico e encantam o público

pela facilidade com que superam desafios

Paraolímpica

Guilherme Coutinho, 14 anos, participou pela primeira vez do circuito na etapa de São Caetano, em maio deste ano.

Dois recordes Parapan-americanos nos 50m e 100m livre em Belém são o cartão de visita de Ana Clara Carneiro, 14 anos.

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Algo que pode ser encontrado em milhares de jovens em todo o

país. E para descobrir esses ta-lentos, o Comitê Paraolímpico Brasileiro começa a trabalhar no projeto “Paraolímpicos do Futuro”. Uma proposta inova-dora que tem como objetivo

principal difundir o movimento paraolímpico nas escolas do en-sino fundamental e médio em todo o Brasil. A expectativa é que os estudantes tenham contato com o esporte em uma fase mais apropriada do seu desenvolvi-

mento físico e, a partir do interes-se e da aptidão, possam se integrar

ao esporte paraolímpico. Até 2008 o CPB espera atingir um universo de aproximadamente 15 milhões de alunos na faixa etária entre 11 e 18 anos com a expectativa de, entre eles, serem identificados em torno

de 2%, ou 300 mil alunos elegí-veis para o movimento.

“Sem exagero, é possível esti-mar nesse contingente de alunos cerca de 1% de jovens com ta-lento para o esporte, o que sig-nifica a possibilidade de termos,

a médio e longo prazo, uns 3 mil atletas com potencial”, estima o

coordenador do desporto escolar do CPB, Vanilton Senatore. Para o pre-sidente do CPB, Vital Severino Neto, mais importante ainda que essa clara descoberta de novos talentos é a pos-sibilidade de o Comitê contribuir para a universalização da oportunidade de acesso à prática esportiva para estu-dantes com deficiência. “Sem dúvida, o projeto contribuirá para a formação humana, inclusão social e melhoria da qualidade de vida de cada um de-les”, explica Vital.

E já é possível perceber o reflexo dessa iniciativa nas etapas do Circui-to Loterias Caixa. Em pouco tempo, a participação dos jovens aumentou e os resultados começaram a aparecer. “Durante todas as etapas do Circuito em 2005 falamos com os técnicos e di-rigentes de entidades, especialmente nos congressos técnicos, sobre o pro-jeto Paraolímpicos do Futuro. Natu-ralmente, isso contribuiu e incentivou a participação de alguns atletas mais novos”, enfatiza Senatore.

Espera-se para os Jogos Parao-límpicos de Pequim o ápice dessa renovação. Até lá, nossos pequenos guerreiros seguem treinando com a aprovação de quem já percorreu cada etapa desse longo caminho.

Paraolímpicos do Futuro reforça participação de jovens atletas

Vinda do Projeto DescalSOS, que o campeão olímpico Joaquim Cruz mantém no Distrito Federal, a adolescente de 15 anos Priscila Lima (à direta, com sua irmã) já passou dos 90% do reconde mundial nos 200m rasos.

Mesmo com próteses inadequadas, Allan Oliveira, 13 anos, deixou boas marcas em sua estréia no circuito em Belém.

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Em 1989 o campeão olímpico Joaquim Cruz, ouro em Los Angeles-84 e prata em Seul-

88, começou a enviar planilhas de treinamentos para técnicos do Dis-trito Federal que trabalhavam com crianças carentes de algumas cida-des satélites. Depois de contatos com alguns desses treinadores, Joaquim resolveu doar alguns tênis seminovos de competição para os garotos mais dedicados. Por uma década ele pros-seguiu com essa iniciativa solitária de doações de materiais esportivos, que eram adquiridos nos Estados Unidos, onde mora há mais de 20 anos.

A idéia de fundar uma instituição permanente surgiu em 1999. O ob-jetivo era aumentar a quantidade de tênis trazidos, já que ele constante-mente enfrentava problemas com a alfândega brasileira. Assim nasceu o projeto Clube dos DescalSOS, que logo recebeu o patrocínio da Caixa Econômica Federal. Em 2003, Joa-quim percebeu que precisava ampliar

as ações e criou o Instituto Joaquim Cruz, com a finalidade de estruturar o Clube dos DescalSOS/Caixa e par-ticipar da construção de uma socieda-de mais justa, tendo como inspiração sua própria trajetória de um garoto pobre, de Taguatinga, que encontrou no esporte uma oportunidade de mu-dar sua realidade.

Em vez de criar do zero núcle-os de treinamento esportivo para crianças carentes, o projeto optou por apoiar os vários que já existiam no Distrito Federal e vinham tra-balhando com seriedade, porém contando com pouca estrutura. Atu-almente, a sede do Instituto fica na Asa Norte, em Brasília, e conta com três funcionários. O coordenador é o ex-atleta Ricardo Vidal.

O trabalho já está dando resulta-dos. Entre as grandes revelações está a garota Priscila Lima, 15 anos, que não tem a mão esquerda. Em 2006 ela participou pela primeira vez do Circuito Loterias Caixa de Atletismo e Natação. Priscila foi um dos desta-ques da primeira etapa, em São Ca-

etano-SP, obtendo a marca de 27s35 nos 200m rasos, que representa cer-ca de 94% do recorde mundial e a co-loca entre os 12 melhores atletas do atletismo paraolímpico brasileiro. A revelação brasileira de Ceilândia só não foi convocada para o Mundial de Atletismo 2006, na Holanda, porque a organização da competição limitou a idade mínima em 16 anos.

O Clube dos DescalSOS atende cerca de 120 crianças e jovens entre 12 e 17 anos, com e sem deficiência, distribuídas em seis núcleos: Ceilân-dia, Águas Lindas, dois em Sobra-dinho, Gama e Recanto das Emas. O objetivo do projeto – que propor-ciona orientação esportiva e cidadã, uniforme, complemento alimentar e participação em eventos competiti-vos – não é simplesmente investir em atletas de alto-rendimento. “Além de formar bons atletas, queremos tam-bém ensinar a esses jovens princípios como amizade, disciplina, respeito e determinação”, explica o professor Geovanne Caixeta, voluntário e co-ordenador do núcleo de Ceilândia, que percorre 70 km, três vezes por semana, para atender ao projeto.

Texto e fotos: Marcelo Westphalem

Natural de Taguatinga, o campeão olímpico Joaquim Cruz mantém em regiões carentes do Distrito Federal o Projeto DescalSOS Em visita ao CPB, Joaquim

Cruz explica ao presidente Vital detalhes do Projeto DescalSOS.

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..............

Vinte e dois anos de vida. Oito de esporte. Copas do Mundo. Paraolimpíada. Títulos bra-

sileiros. E um amor incondicional pelo Águias em Cadeira de Rodas, time de São Paulo e um dos mais conhecidos do basquetebol para-olímpico no país. Wandemberg Nejain do Nascimento, ou apenas Berg, como é chamado pelos ami-gos, começou a jogar basquete aos 14 anos, na ADM (Associação

O pernambucano Wandemberg Nejain declara seu amor ao Águias em Cadeira de Rodas e se orgulha de viver do basquete

Por Luciana Pereira

LIVRE PARA LANÇAR

Foto:

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Page 24: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

de Deficientes Motores), ainda em Pernambuco, onde nasceu, levado por um amigo, que o apresentou ao esporte. O convite para treinar em São Paulo aconteceu em pouco tem-po, um ano depois, durante um cam-peonato da 2ª divisão, em Anápolis, Goiás. “Estava jogando com o time da ADM e o Águias também estava. En-tão me convidaram”, lembra.

Muito desconfiado e, principal-mente, muito mal-acostumado aos mimos da “voinha”, da mãe e das

duas irmãs, Wandemberg não acei-tou o convite, que foi feito novamen-te e aceito somente um ano depois, quando tinha 16 anos. Ele conta que a adaptação foi muito difícil, não pelo time, mas por ser muito novo e ter que morar sozinho, longe da fa-mília. A companhia do amigo e atleta Rosinaldo Ferreira Porto, também do Águias, que mora com Wandem-berg e outros dois companheiros de time, foi fundamental para a sua permanência em São Paulo. “Ele é meu amigo, meu irmão. É um pai mesmo”, resume.

Wandemberg, atleta classifica-do como “ponto 2”, além de vestir a camisa do Águias, também está na

Seleção Brasileira de Basquete em Cadeira de Rodas e se orgulha de viver do basquete, recebendo bolsa-atleta na categoria paraolímpica. A deficiência física, que compromete os movimentos das pernas e do bra-ço direito, é seqüela de uma polio-mielite, que teve aos seis meses de idade. “Sou desencanado com rela-ção à deficiência. Vivo sem criar pro-blemas para a minha vida. Sou um privilegiado. Só jogo basquete, que é a minha vida, já conheci lugares lindos e passei experiências incrí-veis, como, por exemplo, estar em uma Paraolimpíada”.

Ele também fez uma passagem brilhante pela seleção sub-23. A úl-tima participação do atleta, que faz 23 anos em setembro e não joga mais com o time, foi no Mundial, em Bir-mingham, na Inglaterra, em agosto de 2005. A equipe brasileira ficou em 7º lugar. Na partida classificató-ria, na Argentina, Berg foi o cestinha da competição. Com a Seleção Bra-sileira, já esteve em dois mundiais: em 2002, no Japão, quando ficaram em 10º lugar, e em julho deste ano, em Amsterdã, na Holanda, com a 9ª colocação. “Acho que temos tido uma evolução no basquete em cadeira de rodas no Brasil. Contamos com óti-mos atletas e técnicos e podemos ter um resultado muito melhor em Pe-quim”, sonha o atleta que ficou em 10º lugar com a seleção brasileira, na Paraolimpíada de Atenas, em se-tembro de 2004.Fo

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Nos Jogos Paraolímpicos do Brasil, em maio de 2004, preparação para a Paraolimpíada de Atenas.

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Berg (de preto) na conquista do Brasileiro 2005 com seu clube de coração, o Águias em Cadeira de Rodas.

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Page 25: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

No basquete em cadeira de rodas, são dez atletas em quadra – cinco de cada time – e a classificação de cada lado deve somar, no máximo, 14 pon-tos, de acordo como grau da deficiên-cia física do atleta. As classes vão de ponto 1 a ponto 4,5 e quanto menor a classificação, maior o comprometi-mento físico. Jogam lesionados me-dulares e também amputados e são proibidos movimentos com os mem-bros inferiores. As dimensões da quadra e o tamanho da bola seguem o padrão do basquete convencional e os jogadores devem quicar a bola pelo menos uma vez a cada dois mo-vimentos com a cadeira. “Não acho que o esporte para deficientes seja uma forma de reabilitação para a sociedade. Acredito sim que é impor-tante fisicamente, não só para quem tem alguma deficiência, mas para todo mundo. Esporte é vida. No meu caso, é a minha profissão, é tudo para mim. Encaro dessa forma”.

Sempre falante e brincalhão, Wandemberg não disfarça a emoção quando se refere ao Águias, time em que está há seis anos e onde se rea-lizou como atleta e como homem. No currículo, quatro títulos paulistas, dois brasileiros e uma série de cam-peonatos regionais. O atleta é só elo-gios ao time, atletas, técnicos e psi-cólogos. O carinho pelo Águias é tão grande que Wandemberg garante não sair de lá por nenhuma oferta de outro time do Brasil. “É muito mais do que dinheiro. Eu amo estar aqui”.

"Sou desencanado com relação à deficiência. Vivo sem criar problemas para minha vida. Sou bem privilegiado. Já conheci lugares lindos e passei experiências incríveis, como estar em uma Paraolimpíada".

A participação na Paraolimpíada de Atenas trouxe muitos ensinamentos a Wandemberg.

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Page 26: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

A primeira etapa do Circuito Loterias Caixa Brasil Pa-raolímpico de Atletismo

e Natação 2006, realizada em São Caetano/SP, em 27 e 28 de maio, começou oficialmente com uma coletiva de imprensa na cidade de São Paulo, no dia 25, quando foram apresentados os 15 atletas patrocinados pelas Loterias Caixa neste ano (veja quadro). Entre os patrocinados, o destaque fica por conta dos cinco novos atletas a com-pletarem o time: André Brasil, Edênia Garcia, Ivanildo Vasconcellos, Terezi-nha Guilhermino e Odair Ferreira.

Para o presidente do Comitê Pa-raolímpico Brasileiro (CPB), Vital Severino Neto, o ano de 2006 é fun-damental para os atletas em função das várias competições internacio-nais. “Por isso é tão importante a consolidação de nossa parceria com as Loterias Caixa. Juntos, tenho cer-teza de que vamos tornar o esporte paraolímpico tão respeitado quanto os outros”, afirma Vital. O nadador Ivanildo Vasconcellos revela que o patrocínio trouxe tranqüilidade para ele. “Agora posso fazer um planeja-mento melhor e investir ainda mais em minha carreira”, comemora.

Atletas voltam com tudo ao Circuito Loterias Caixa em

2006, com primeiras etapas em São Caetano e Belém

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quando foram apresentados os 15

Atletas voltam com tudo ao Circuito Loterias Caixa em

2006, com primeiras etapas em

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Por Leandro FerrazFotos: Mike Ronchi Produções

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Atletas patrocinados em 2006Ádria dos Santos Mineira, treina em Joinvile/SC

Adriano Lima Natal/RNAndré Brasil Rio de Janeiro/RJ

André Garcia Gaúcho, treina em Presidente Prudente/SPAntônio Delfino Piauiense, treina em Brasília/DFAntônio Tenório São Bernardo do Campo/SP

Edênia Garcia Natal/RNFabiana Sugimori Campinas/SPFrancisco Avelino Natal/RN

Ivanildo Vasconcelos Recife/PELuís Silva Gaúcho, treina em Recife/PE

Odair Ferreira dos Santos Presidente Prudente/SPRoseane dos Santos Pernambucana, treina em Maceió/AL

Suely Guimarães Recife/PETerezinha Guilhermino Mineira, treina em Cuiabá/MT

Como parte da estratégia de promoção do circuito nas cidades por onde passa, ações de demons-tração do esporte paraolímpico foram realizadas no Centro Educa-cional do Sesi, em São Caetano, no ABC Plaza Shopping e na Fundação Getúlio Vargas, em Santo André.

Cerca de 150 estudantes do Sesi ouviram depoimentos de dois dos maiores expoentes do esporte parao-límpico, a recordista mundial Roseane dos Santos e o tricampeão paraolímpi-co Antônio Tenório, e praticaram fu-tebol com olhos vendados e basquete em cadeira de rodas, com orientação de Alex Gomes Alves, atleta da sele-ção de basquete desde 1994.

Com aproximadamente 1.100 alunos, o Centro Educacional do Sesi possui duas crianças com defi-ciência e promove cursos de capa-citação para que seus profissionais atendam da melhor forma a tais ca-sos. “A inclusão não é um processo fácil. Precisa sim de uma prepara-ção bastante criteriosa, algo que o Sesi vem desenvolvendo com afin-co”, conta a coordenadora do centro educacional, Doris Franco Cherri.

Outras preliminares esquentam início das competições

Rosinha em conversa com alunos do Centro Educacional do SESI, em São Caetano.

Outras preliminares esquentam

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Page 28: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

Paraolímpicos se despedem de cidade paulista no domingo

Uma disputa emocionante entre duas grandes velocistas brasileiras cegas pautou o último dia de provas em São Caetano. Com o tempo de 59s65, Terezinha Guilhermino, bron-ze nos Jogos Paraolímpicos de Atenas, venceu os 400m de Ádria dos Santos, maior medalhista brasileira em Para-olimpíadas, que marcou 1min01s49. No sábado, 27, Terezinha também ha-via superado Ádria nos 100m e 200m rasos. “Ter uma adversária do nível da Ádria é um privilégio. Foi durante o circuito do ano passado que consegui me transformar na velocista que sou hoje”, diz Terezinha. Ádria afirmou que vem seguindo um planejamento que a deixará em seu ponto máximo durante o mundial de atletismo, que será disputado na Holanda, no final de agosto. “Estou treinando muito e bastante focada neste objetivo princi-pal”, revela a campeã.

O time da casa, SERC – São Ca-etano, contou com cinco atletas em sua delegação na piscina, entre eles

a catarinense Andréa Vieira Áreas, 22 anos, recém-contratada pelo clube da cidade sede do evento. Com uma lesão medular congênita, a atleta co-memora o incentivo da prefeitura de São Caetano e promete empenho. “Vou buscar índices para competir internacionalmente. E o alto nível do Circuito Loterias Caixa só vem a aju-dar”, comenta Andréa.

Para o presidente do Comitê Pa-raolímpico Brasileiro (CPB), Vital Severino Neto, o principal ganho da retomada da competição em 2006 foi o grande número de inscritos, que su-perou todas as etapas de 2005. “Isso significa que estamos no caminho certo e que teremos a possibilidade de aumentar, e muito, a participação de pessoas com deficiência no esporte por meio de um calendário brasileiro fixo”, afirma Vital.

Colaborou Patrícia Osandónsua delegação na piscina, entre eles Colaborou Patrícia Osandónsua delegação na piscina, entre eles

Recorde parapan-americano já no primeiro dia de disputas em São Caetano

O carioca Vanderson Alves, 23 anos, abriu a primeira etapa de 2006 com um recorde parapan-americano no lançamento de disco no complexo de atletismo do Clube São José. Com 41m82, o atleta ultrapassou a marca anterior, que era de 41m63. Vander-son teve a perna esquerda amputada aos 15 anos, em um acidente na linha de trem, em Barra Mansa, Rio de Janeiro. “Pude redescobrir a minha vida por meio do esporte. Atingi o auge da carreira hoje com esse recor-de. Meu sonho é ir a uma Paraolim-píada. Estou treinando muito para isso”, afirma Vanderson.

Na piscina do conjunto aquáti-co Leonardo Esperatti, o destaque ficou por conta do também carioca André Brasil, 22 anos, que quebrou o recorde brasileiro nos 100m bor-

boleta, com o tempo de 59s99, que representa 99,25% do recorde mun-dial. “Agora que tenho minha clas-sificação permanente, quero dar o máximo e garantir bons resultados”, garante Brasil.

Mesmo com uma seleção mais rígida de competidores por índice técnico do que no Circuito de 2005, a etapa de São Caetano mostrou um crescimento no número de atletas inscritos. Na natação, foram quase 250 participantes, além de cerca de 200 no atletismo. “Acreditamos que o sucesso do evento em 2005 atraiu muitos atletas para a etapa de São Paulo, que tem localização privile-giada”, explica Gustavo Abrantes, coordenador de natação do CPB.

Abaixo, o recordista em São Caetano, Vanderson Alves. Logo depois, o nadador Moisés Batista e os atletas patrocinados pelas Loterias Caixa.

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Belém inaugurou a partici-pação da região Norte como sede do Circuito Loterias

Caixa. E a receptividade tanto do público como dos atletas locais, além da imprensa, superou to-das as expectativas. “Sem dúvida, esta é uma das melhores etapas da história do circuito em termos de estrutura, organização e apoio irrestrito do governo do Estado”, afirma o coordenador de esportes do CPB, Edílson Alves da Rocha.

Entre as atividades pré-compe-tição, destaque para a assinatura do termo de cooperação técnica entre o Comitê Paraolímpico e o governo do Pará, por meio das secretarias executivas de Educa-ção (Seduc) e de Esporte e Lazer (Seel). O convênio é para formali-

zar a participação do Pará no pro-jeto Paraolímpicos do Futuro, do CPB, que visa fomentar a prática do desporto paraolímpico no âm-bito escolar (leia mais sobre o as-sunto na página 19).

Dos cinco estados brasileiros que irão iniciar as atividades do projeto no segundo semestre des-te ano, Pará foi escolhido para representar a região Norte, onde ocorrerão seminários para capa-citar cerca de 800 professores de Educação Física de escolas do en-sino fundamental e médio. Estive-ram na solenidade de assinatura do convênio o secretário de Educa-ção, Paulo Machado, o secretário de Esporte e Lazer, José Ângelo Miranda, e o presidente do CPB, Vital Severino Neto.

Assinatura de convênio com governo do Pará marca vinda de paraolímpicos a Belém

Os atletas também deixaram sua marca em autógrafos para o público em shopping da cidade.

Fotos atletismo: Mike Ronchi ProduçõesFotos natação: Rafael Rezende

Secretário de educação Paulo Machado assina termo para incluir o Pará nas atividades do projeto Paraolímpicos do Futuro, do CPB.

Secretário de educação Paulo Machado assina termo para incluir o Pará nas atividades do projeto Paraolímpicos do Futuro, do CPB.

Fotos: Rafael Rezende

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Page 30: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

Belém foi a última etapa para os atletas de atletismo garan-tirem vaga para o mundial da

modalidade, de 28 de agosto a 11 de setembro, na Holanda. Da mesma forma, a etapa também contou pon-tos para o ranking na natação, que terá seu mundial de 27 de novem-bro a 9 de dezembro, na África do Sul. O resultado de tantos atrativos foram mais de 40 recordes brasilei-ros e quatro parapan-americanos batidos durante o fim de semana de disputas no complexo esportivo da Universidade Estadual do Pará (UEPA). A etapa contou com o apoio do SESC-PA.

Entre os atletas patrocinados pelas Loterias Caixa, o ouro foi cons-tante. “Com certeza serei uma das representantes do Brasil no mun-dial de atletismo”, diz, confiante, Terezinha Guilhermino, que chegou

na frente nos 100m, 200m e 400m rasos. “Corri com as pernas, a alma e o coração”, completa a velocista, que teria seu nome confirmado para o mundial logo após o término da etapa (conheça a lista nas páginas 30 e 31).

Além de nomes consagrados, como Antônio Delfino, Ádria San-tos e Roseane dos Santos, a lista de convocados para o mundial de atle-tismo incluiu surpresas de última hora, como os velocistas Indayana Martins e Lucas Prado, que con-quistaram suas vagas em Belém, na primeira vez em que participaram do circuito. “Estou muito feliz mes-mo por ver um trabalho conjunto de luta e determinação com meu técnico dar frutos tão importantes como essa convocação”, comemora Indayana, da categoria T13 (defici-ência visual).

Atletas dão o máximo na busca de vagas para mundiais

Atletas dão o máximo na busca de vagas para mundiais

na frente nos 100m, 200m e 400m

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Conquista em família na natação

Na piscina, os irmãos Rena-to e Regiane Nunes Silva comemoraram a conquista

de um recorde parapan-americano e dois brasileiros. Renato garantiu a nova marca parapan na prova dos 100m peito (classe SB12), com o tempo de 1min24s43. Já Regiane, além de superar seu próprio re-corde brasileiro nos 100m costas (S13), com 1min46s43, bateu tam-bém a marca nos 100m livre, che-gando em 1min21s83.

A performance é conseqüência da dedicação dos irmãos de São Bernardo do Campo ao esporte, que aproveitaram o mês de férias na faculdade de Educação Física para dobrar o treinamento. “Agora, treinamos duas vezes por dia, de segunda a sábado”, conta Renato, ainda surpreso com seu resultado. “Realmente treinei bastante para esta etapa, mas não esperava bater o recorde parapan-americano”.

André Brasil (S10), patrocinado pelas Loterias Caixa, esteve mui-to perto de quebrar dois recordes mundiais. O primeiro no sábado, quando fechou os 100m borboleta em 59s57, a apenas três centési-mos de segundo acima do recorde

mundial da prova, que é de 59s54. O outro no domingo, nos 50m livre, quando cravou 24s84 contra 24s71 do recorde mundial. “Pela fase atu-al de meu treinamento, que prevê o ápice para o mundial no final do ano, foi uma surpresa quase bater o recorde. Mas é claro que gostaria de ter chegado lá”, confessa André.

Mais uma revelação das pisci-nas, a paulista Ana Clara Cruz (S5), de apenas 14 anos, bateu dois re-cordes parapan-americanos na eta-pa: um no sábado, nos 50m livre, e outro no domingo, nos 100m livre. Assim como os outros na-dadores, também mostrou-se surpresa com as marcas obtidas. “Tenho treinado muito, é verda-de, mas não esperava por isso”, diz a menina campeã, com um misto de timidez e humildade.

O Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de Atletis-mo e Natação ainda contará com duas etapas neste ano. A próxi-ma será em Porto Alegre/RS, de 15 a 17 de setembro, e a última de 3 a 5 de novembro, ainda sem local definido.

Colaborou Andrea Martins

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Atletas convocados para o mundial de atletismo

Nº NOME CLUBE CLASSE PROVA

1 Antônio Delfino de Souza AEEP T46

100m

200m

400m

2 Emicarlo Elias de Souza SADEF/RN T46

200m

400m

800m

3 Leonardo Amâncio ADM/PE F58

Arremesso de Peso

Lançamento de Disco

Lançamento de Dardo

4 Moisés Vicente Neto AEEP T465.000m

Maratona

5 Ozivan dos Santos Bonfim CPSP T465.000m

Maratona

6 Roseane Ferreira dos Santos AASantos Dumont F58Arremesso de Peso

Lançamento de Disco

7 Sheila Finder CEPE T46

100m

200m

400m

8 Suely Rodrigues Guimarães AAAUFPE F56

Arremesso de Peso

Lançamento de Disco

Lançamento de Dardo

9 Sônia Maria Gouveia ADEFAL F53Lançamento de Disco

Lançamento de Dardo

10 Tito Alves de Sena ADFEGO T465.000m

Maratona

11 Vanderson Alves da Silva ANDEF F57

Arremesso de Peso

Lançamento de Disco

Lançamento de Dardo

12 Yohansson Ferreira do Nascimento ADEFAL T46

100m

200m

400m

13 Edson Cavalcante Pinheiro FEDER T38

100m

200m

400m

14 Marlete Vicente JUDECRI F42

Arremesso de Peso

Lançamento de Disco

Lançamento de Dardo

15 Adria Rocha Santos ACIC T11

100m

200m

400m

30

Page 33: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

16 Alex Cavalcante Mendonça CESEC T12

5.000m

10.000m

Maratona

17 André Luiz Garcia de Andrade ACERGS T13

100m

200m

400m

18 Carlos José Barto ADEVIBEL T11

400m

800m

1.500m

19 Aurélio Guedes dos Santos CESEC T1210.000m

Maratona

20 Emerson Germano de Oliveira CESEC T11

200m

400m

800m

21 Felipe de Souza Gomes CEIBC T11

100m

200m

Salto em Distância

22 Gilson José dos Anjos AJIDEVI T13800m

1.500m

23 Indayana Pedrina Moia Martins ADVIR T13

100m

200m

400m

24 Júlio César Petto de Souza AJIDEVI T12

100m

200m

400m

25 Lucas Prado AMC T11

100m

200m

400m

26 Maria José Ferreira Alves AJIDEVI T12

100m

200m

400m

27 Odair Ferreira dos Santos CT LP T12

800m

1.500m

5.000m

28 Nelson Ned Trajano Pereira CT LP T13800m

1.500m

29 Pedro Cesar da Silva Moraes AMC T12

100m

200m

400m

30 Terezinha Aparecida Guilhermino AMC T11

100m

200m

400m

31

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Page 36: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

VOANDO

Piloto de motocross sem antebraço direito, Anderson Alberton ignora limites e compete de igual para igual com motociclistas sem deficiência

Por Marcelo WestphalemFotos Silvio ...

ALTO

Por Marcelo WestphalemFotos: Silvio Bilhar/Jornal O Pódio

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Page 37: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

Mesmo os mais li-gados ao universo das pessoas com

deficiência se surpreendem ao conhecer a história de An-derson Alberton. Gaúcho, de Porto Alegre, ele nasceu sem parte do antebraço direito. Nada que abale seu instinto de aventu-ra. “Nunca me enxerguei como um deficiente. Sempre procurei fazer tudo o que os outros faziam desde criança”, conta.

Quando tinha 14 anos, Anderson ganhou de seu pai, Nilson Alberton, um kart de presente, para compe-tir em uma categoria de iniciantes. Surpreendentemente, porém, o menino pediu ao pai que trocasse o kart por uma moto de motocross 80 cilindradas. Em princípio, o pai duvidou que o filho único pudesse

ALTOesmo os mais li-gados ao universo das pessoas com

deficiência se surpreendem ao conhecer a história de An-derson Alberton. Gaúcho, de Porto Alegre, ele nasceu sem

pilotar apenas com a mão esquerda. Mas resolveu atender ao pedido de Anderson, pois queria incentivá-lo a superar sua deficiência. Com a ajuda de um amigo mecânico, Anderson fez a adaptação de acordo com suas ne-cessidades. “Coloquei o acelerador, a embreagem e o freio dianteiro na mão esquerda. Para preencher o espaço da mão direita, montei uma barra de me-tal, ligando o guidão ao meu braço”, explica Alberton.

Com adaptações mecânicas na moto, Anderson radicaliza nas manobras.

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Page 38: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

provas sentindo do-res. Nos saltos, que atingem cerca de dez metros de altura, ele não enfrenta proble-mas, conseguindo aterrissar normal-mente. “O Anderson é muito corajoso. Ele faz uns saltos muito altos, e nem liga pra sua defi-ciência. Aqui em Porto Alegre ele é um ídolo do pessoal ligado ao mo-tocross”, conta o amigo Sílvio Bilhar.

Em 2005, a carreira de Anderson sofreu o maior de todos os golpes, o do preconceito. Mesmo sendo um campeão consagrado das pistas, o Detran julgou que ele não ti-nha condições de dirigir e suspendeu sua habilitação de motociclista. “Le-vei uma moto adaptada ao Detran, mas os examinadores disseram que não iriam sequer ver a motocicleta”, conta ele, que continua na luta para recuperar a habilitação.

Atualmente, Anderson não está competindo, pois o esporte não era sufi-ciente para garantir o sustento de sua família, composta de mulher e uma filha. Em 2003, ele vendeu a moto e o ônibus que utilizava para viajar para as corridas e mon-tou uma oficina de carros. No ano passado, ele ainda voltou a competir na ca-tegoria para motos nacio-nais, que tinha mais de 20 pilotos. Mais uma vez sur-preendeu, correndo quatro provas e vencendo três. Em 2007, pretende voltar para

as pistas, competindo na categoria para motos nacionais. “Sempre te-nha fé em você mesmo. O impor-tante é não deixar a sociedade impor limites que não existem!”, ensina o “veterano” de 25 anos.

não enfrenta proble-mas, conseguindo aterrissar normal-mente. “O Anderson é muito corajoso. Ele faz uns saltos muito altos, e nem liga pra sua defi-ciência. Aqui em Porto Alegre ele é um ídolo do pessoal ligado ao mo-tocross”, conta o amigo Sílvio Bilhar.

Em 2005, a carreira de

Atualmente, Anderson não

composta de mulher e uma filha. Em 2003, ele vendeu a moto e o ônibus que utilizava para viajar para as corridas e mon-tou uma oficina de carros. No ano passado, ele ainda voltou a competir na ca-tegoria para motos nacio-nais, que tinha mais de 20 pilotos. Mais uma vez sur-preendeu, correndo quatro provas e vencendo três. Em 2007, pretende voltar para

Em 1995, a Federação Gaúcha de Motociclismo entendeu que Alberton tinha direito de com-petir e forneceu a ele a carteira de piloto. Para a surpresa de muitos, a vitória de poder compe-tir foi só o início de uma grande trajetória.

No ano seguinte ao da sua estréia, ele se sagrou vice-campeão da categoria 80 ci-lindradas. Em 1997, subiu para 125cc. Mas um acidente deixou-o fora das provas durante toda a temporada. Em 1998, ele retornou com força máxima e conseguiu o 5º lugar geral. Em 1999, re-petiu a quinta colo-cação. Em 2000, teve o melhor resultado da carreira na 125cc con-seguindo um brilhan-te 3º lugar. Em todos os anos Alberton bri-gou por posições em disputa-dos campeonatos, que tinham em média 25 pilotos sem defi-ciência.

O motociclista com defi-ciência sempre contou com o apoio da torcida. “Quando eu passo, a torcida vibra muito. Sempre recebi muito apoio nas corridas”, explica Ander-son, que não gosta de andar de moto em ruas convencio-nais porque, ironicamente, considera perigoso.

A dificuldade maior nas pistas sempre esteve nas “costeletas”, trecho em que a moto passa so-bre um terreno com pequenos al-tos e baixos, quando sofre impac-to sobre os ombros, em função da ausência plena dos movimentos do braço, e às vezes termina as

Seja com a família ou com os muitos prêmios conquistados, Anderson vive intensamente, com alegrias e difi culdades comuns a qualquer pessoa.

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Page 39: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

..............

Se mal-humorado fosse, o piauiense José Mauro Vilari-nho teria muito a reclamar

de um 30 de abril de 1984, data de seu aniversário de 15 anos, coinci-dentemente passado dentro de um hospital, após a última das sete ci-rurgias necessárias para melhorar a mobilidade da perna direita, afe-tada pela poliomielite quando tinha apenas sete meses de idade. “Olha só o presente que eu fui ganhar!”, diz com uma risada simpática, que lhe é tradicional.

Nascido em Floriano, interior do Piauí, deixou os pais e os quatro ir-mãos ao mudar-se para o Rio de Ja-neiro, quando tinha sete anos, para morar com a tia, Ruth, que era en-fermeira e havia acabado de se apo-sentar. Com o apoio dela e a melhor infra-estrutura oferecida na cidade, pôde iniciar um trabalhoso e demo-rado tratamento cirúrgico por oito

vidaDE BEMCOM A

Por Patrícia OsandónFotos: Divulgação ABVP

O piauiense José Mauro Vilarinho encontra no vôlei

paraolímpico sua realização pessoal e profissional

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Page 40: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

anos. A infância e a adolescência foram recheadas de muitas idas ao hospital e processos de recuperação. “Eu era bastante retraído nessa épo-ca. Todo adolescente, por mais boni-to que ele seja, se acha feio. E quan-do ele tem uma deficiência, esse sentimento fica pior ainda. Consegui superar toda essa fase sozinho, sem terapias nem nada, só mesmo com o apoio da família. Consegui, sem muitos traumas, entrar na fase adul-ta como um cara resolvido e de bem com a vida”, conta.

Ao longo dos anos, os pais e os ir-mãos de Mauro também se mudaram para o Rio, pois sempre foram bas-tante unidos e não conseguiam ficar muito tempo separados. “Todos eles foram e são fundamentais na minha trajetória. Nunca tive excesso de zelo em casa. Acredito que por isso mes-mo meu amadurecimento foi mais fácil e pude lidar com a deficiência de forma mais tranqüila”, garante. Casou-se duas vezes, mas ainda não tem filhos. “Tenho uma vontade lou-ca de ter uma filha, só que, pelo me-nos por enquanto, isso está apenas nos planos”, deixa escapar Mauro, que até já escolheu um nome para ela: Sara.

A grande mudança para ele che-gou aos 17 anos, quando decidiu ingressar no esporte. Por causa da deficiência, não podia escolher uma modalidade na qual devesse correr muito. Assim, decidiu-se pelo vôlei.

Mal sabia ele que a escolha mudaria sua vida para sempre. Também pen-sou em fazer remo, algo que ficou apenas na vontade. Por muitos anos, Mauro jogou entre atletas sem defi-ciência. Com pouco tempo e muito esforço nos treinamentos, tornou-se titular e chegava a ser disputado na hora da escolha dos jogadores. Em 1994, com o time da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, onde se formou em direito, foi campeão ca-rioca universitário. “A chegada do esporte na minha adolescência fez com que eu me sentisse integrado. No vôlei, eu estava tentando superar cada vez mais uma deficiência que eu tinha de técnica esportiva, não a física. O esporte foi fundamental nessa virada de mesa com relação a toda aquela insegurança que eu esta-va passando e me sentia muito bem com isso”, diz.

O ingresso no vôlei sentado che-gou apenas em 2002, quando soube que uma equipe estava sendo mon-tada em Mogi das Cruzes. Um ano depois, foi campeão brasileiro e con-quistou o título de melhor bloquea-dor do torneio. Ainda em 2003, fez sua primeira viagem internacional, para o Parapan-americano de Mar del Plata, quando ganhou uma prata. “Pelo fato de já ter os fundamentos da modalidade, foi muito mais fácil me adaptar ao esporte paraolímpico. A pior parte foi acostumar-me aos deslocamentos dentro de quadra,

pois ficamos sentados no chão e a movimentação é muito feita com as mãos, então usamos bastante a par-te de cima do corpo e nos cansamos mais”, explica.

Mauro costuma dizer que é no vôlei paraolímpico onde tem a opor-tunidade de alcançar a realização pessoal e profissional. No alto dos seus 1,83m, Ele não pode atacar com tanta impulsão quanto os jogadores sem deficiência no esporte olímpi-co. “Mas no vôlei sentado, eu posso me realizar porque a rede é baixa”, garante o atacante de ponta. O joga-dor conta que quando está jogando entre jogadores sem deficiência, os que não o conhecem, pelo menos ini-cialmente, evitam sacar a bola para ele. “Depois que vêem que sou tão bom quanto os outros, eles mandam brasa. E brigam quando eu não vou atrás da bola!”, diz.

Aos poucos, Mauro vem trilhando um caminho de sucesso. Em junho de 2006, foi o capitão da equipe que representou o país no Mundial de Vôlei, na cidade de Roermond, na Holanda. Apesar da 11ª colocação, destaca a importância da estréia brasileira em um mundial, especial-mente pelo fato da seleção brasileira masculina ser bastante jovem, com-posta em sua maioria por jogadores na faixa dos 20 anos. “Participar de um mundial é uma sensação comple-tamente diferente. Não tenho como explicar a experiência que foi adqui-

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rida para o Brasil. Conhecemos o es-tilo de jogo de outros países e pude-mos melhorar nossa estratégia. Não foi fácil estrear em um mundial e não transparecer o nervosismo para o time”, afirma Mauro. Ele destaca a importância do otimismo constan-te e do equilíbrio dentro de quadra. “Minha cabeça tem que estar sempre boa para deixar o grupo em sintonia e incentivado. O ideal para qualquer capitão é ter uma liderança que não seja imposta, mas sim aceita. Sinto que a equipe gosta que eu seja o ca-pitão, então isso me dá mais ânimo ainda. Dentro dos meus pensamen-tos, peço que eu seja iluminado para conseguir conduzi-los da melhor forma possível, seja na vitória ou na derrota”.

A partir de exemplos de outras equipes, Mauro destaca a impor-tância da união dentro de quadra. “Quando um grupo está unido e bem montado, por mais que não tenha brilhantes jogadores, é difícil ganhar dele. Não adianta apenas ter um ou dois astros e não se importar com o resto. O mais importante é que todos caminhem juntos. Uma equipe unida é capaz de vitórias nunca pensadas”, diz. Compreensivo, o piauiense re-vela que sempre foi aberto, positivo e pró-ativo. “Procuro ver o lado bom de todas as coisas que acontecem comigo, até mesmo quando elas não são boas. Estou tentando enxergar aquela luz no fim do túnel. Gosto de

me colocar no lugar das outras pes-soas”. Mesmo com tantas qualida-des, Mauro faz questão de destacar um defeito: “sou teimoso e exigente demais”.

Atualmente, Mauro concilia o tra-balho em um setor de licitação públi-ca no Instituto Brasileiro de Geogra-fia e Estatística (IBGE) com o vôlei. “Tenho um respaldo muito bom da instituição, que entende quando pre-ciso viajar para as competições. Sem esse apoio, não teria conseguido me aplicar ao esporte também”, afirma. Entre os sonhos de Mauro, está o de atuar na área de defensoria pública para ajudar as pessoas por meio do Direito. Para ele, é uma honra convi-ver com Amauri Ribeiro, medalha de prata nos Jogos Olímpicos de Los An-geles, em 1984, e de ouro nos Jogos Olímpicos de Barcelona, em 1992, e atualmente técnico da seleção bra-sileira. “Admiro demais a percepção que o Amauri tinha quando era jo-gador, ele era muito observador. O Amauri sempre sabia o que estava acontecendo do outro lado da rede. Conviver e compartilhar experiên-cias com ele é algo fantástico para nossa equipe”, afirma.

Antes de tudo, talvez até mesmo por ter escolhido o Direito em sua vida, Mauro faz valer a cidadania para as pessoas com deficiência. “O preconceito existe, por mais que eu tente não ver. A sociedade, em geral, acaba fazendo distinções. A

pessoa com deficiência tem que ter uma cabeça muito boa para, quando for alvo de discriminação, absorver, processar e deletar. Se não, vai che-gar um ponto em que nós vamos nos sentir na obrigação de nem sair de casa”, acredita. Embora fale de as-suntos complicados com tanta tran-quilidade, Mauro reforça que até mesmo o excesso de zelo pode ser considerado preconceito. “Apenas para citar um exemplo, vejo poucas pessoas com deficiência curtindo a noite. Encontrar alguma delas é algo raro. Isso é muito estranho, já que 14,5% da população brasileira tem alguma deficiência [segundo o Censo 2000, do IBGE]. Na maioria das vezes, o deficiente se esconde por medo de sentir o preconceito na pele. Não existe igualdade”, explica.

José Mauro com o então ministro do Esporte, Agnelo Queiroz.

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No dia 18 de julho, o presidente do Comitê Paraolímpico Brasilei-ro, Vital Severino Neto, e o minis-tro do Esporte, Orlando Silva, as-sinaram um termo de cooperação técnica. O objetivo é garantir a parceria do ministério para a pro-moção do I Campeonato Brasileiro Escolar Paraolímpico, a realizar-se em novembro. Além disso, o docu-mento irá permitir que estudantes do ensino fundamental e médio, elegíveis para o esporte paraolím-pico, possam pleitear sua inclusão no programa Bolsa-Atleta, do Ministério do Esporte, em 2007.

“Quero agradecer ao CPB por permitir que o Ministério do Esporte possa colaborar com o desenvolvimento do esporte paraolímpico no Brasil”, diz o ministro Orlando Sil-va em seu pronunciamento durante a solenidade.

COMITIVA DO ESPORTE VAI AO CONGRESSO NACIONAL

Representantes do esporte paraolímpico e olímpico brasilei-ro foram até a Câmara e o Senado Federal, em Brasília, no dia 7 de junho, para mostrar às lideranças dos partidos que a aprova-ção do projeto de lei de incentivos fiscais ao esporte tem caráter emergencial. Caso não seja aprovado até o final de 2006, não poderá contribuir para as ações ligadas aos Jogos do Rio 2007.

O presidente do CPB, Vital Severino Neto, afirmou que os atle-tas serão os maiores beneficiados com a lei. “Poderemos ter mais esperança na realização de parcerias com grandes empresas”.

Com valor de R$ 3,8 milhões para 2006, as Lote-rias Caixa formalizaram o contrato de patrocínio com o CPB no dia 28 de junho. Os recursos servirão para a realização do Circuito Loterias Caixa Brasil Parao-límpico, o repasse de bolsa a 15 atletas de alto rendi-mento e, ainda, o apoio a delegações brasileiras em competições internacionais.

Para o vice-presidente de transferência de benefí-cios da Caixa, Carlos Borges, a vocação da entidade é apoiar projetos que tenham a inclusão social como lema. “A Caixa faz questão de atrelar sua imagem a atitudes que signifiquem superação, resgate da cidadania, que-bra de barreiras do preconceito”, afirma Borges.

LOTERIAS CAIXA FORMALIZAM PATROCÍNIO COM O CPB PARA 2006

CPB E MINISTÉRIO DO ESPORTE

ASSINAM CONVÊNIO

Foto: Marcelo Westphalem

Foto: Marcelo Westphalem

Foto: Leandro Ferraz

A presidente da Caixa Econômica Federal, Maria Fernanda Ramos, conversa com o presidente do CPB, Vital Severino Neto, observada pelo vice da CEF, Carlos Borges.

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Page 43: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

Brasileiro de futebol de 7 define seleção

Realizado em Campo Grande/MS, entre 13 e 18 de junho, o Cam-peonato Brasileiro de Futebol de 7 contou com a participação de qua-tro equipes. A campeã foi o Cemdef/Pantanal, que goleou por 5x1 a Andef, de Niterói/RJ. O terceiro lugar foi garantido pelo Caira/CDC Pantanal, que derrotou o IBDD, do Rio de Janeiro, por 3x2.

Com o término da competição, o treinador da seleção brasileira, Paulo Cruz, convocou os 12 jogadores que disputarão a Copa Améri-ca, de 6 a 14 de agosto, na Argentina.

CPB divulga convocados para mundial de ciclismo

Seis atletas irão integrar a seleção nacional que vai competir no Mundial de Ciclismo Adaptado, na Suíça, de 9 a 18 de setembro. São eles: Heliziário dos Santos (handbike), Rafael Sillman (LC1), Flaviano Eudoxio de Carvalho (LC3), Rodrigo Feola e seu guia Leandro Ferreira (tandem).

Os ciclistas conquistaram suas vagas durante a tradicional Prova Ciclística Internacional 9 de Julho, realizada em São Paulo. O mundial de ciclismo é uma das principais competições rumo aos Jo-gos Paraolímpicos de Pequim.

Copa de Hipismo seleciona seis para Aberto da BélgicaA segunda etapa da Copa Brasil de Hipis-

mo Paraolímpico, promovida em Belo Hori-zonte, de 30 de junho a 2 de julho, definiu os seis integrantes da delegação brasileira que disputará o Aberto da Bélgica, em setembro, evento qualificatório para os Jogos Paraolím-picos de Pequim.

A brasiliense Elisa Melaranci, 17 anos, é a atle-ta mais jovem e única amazona a compor a equi-pe, que terá ainda o paulista Dante Rodrigues, o mineiro Paulo Roberto Menezes e os brasilienses Sérgio Fróes, Davi Salazar e Marcos Alves, o Joça, único representante brasileiro do hipismo na Pa-raolimpíada de Atenas, em 2004.

Equipe de futebol de cegos do Brasil comemora título.

Brasil é campeão no futebolEm uma campanha irretocável, a seleção brasileira de futebol de

5 sagrou-se campeã da I Copa IBSA América de Futebol para Cegos, que ocorreu de 24 a 29 de julho, em São Paulo. A final foi contra os aguerridos paraguaios, que viram o Brasil virar o placar na prorro-gação (2x1). A artilharia da competição ficou também com os brasi-leiros, que fizeram 33 gols e levaram apenas um, o da final.

Atualmente, o país é bicampeão mundial e campeão paraolím-pico. Além do caneco, o Brasil utilizou a Copa América para treinar para a principal competição de 2006: o Mundial de Futebol para Ce-gos, que ocorrerá no final do ano.

Esquentando as raquetes

Carla Maia e Iranildo Espíndola, atletas classificados para o Mundial de Tênis de Mesa, em setembro, na Suí-ça, participaram do Tetra Open Colog-ne, na Alemanha, no final de maio. Os mesatenistas não conquistaram meda-lhas, mas destacaram a importância de conhecer mais os adversários que en-frentarão no mundial, competição que reunirá 48 países e cerca de 350 atletas. Com a desistência do Iran, o número de vagas para o Brasil no Mundial de Tênis de Mesa aumentou para 18 atletas.

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Page 44: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

Diversão e arte antes das provas

Os jantares promovidos pelas Lote-rias Caixa aos lotéricos das cidades por onde o Circuito Brasil Paraolímpico passa já viraram tradição. Imbuídas de requinte, compromisso social e diver-são, as noites de quinta-feira antes do fim de semana de competições refor-çam o espírito desbravador de atletas mais que eficientes em superar tem-pos, distâncias e preconceitos.

Operárias do movimento paraolímpicoOs sorrisos suavizam suas ações. Sem perder a ternura, as

classificadoras funcionais Jacqueline Penafort (à esquerda) e Adriana Diedrichs estão sempre a postos para classificar um número cada vez maior de novos atletas durante as etapas do circuito. Uma grande vitória das duas foi a conquista da classi-ficação permanente de André Brasil, que enfrentou uma con-testação em setembro do ano passado. Ambas debruçaram-se sobre o caso e prepararam uma sólida defesa, posta em prática durante o Campeonato Paraolímpico de Verão da África do Sul, em abril deste ano, sendo determinantes para um desfecho po-sitivo para o atleta brasileiro.

Braçadas e afagosGrupo unido, os companhei-

ros da natação são puro alto as-tral. Para o carioca André Brasil – à direita, no colo do potiguar Adriano Gomes e segurado pelo pé pelo pernambucano Ivanildo Vasconcellos –, rivalidade sempre existirá, “mas só nas piscinas”.

em abril deste ano, sendo determinantes para um desfecho po-

Por Leandro FerrazFotos: Mike Ronchi Produções

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Page 45: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

ConfidênciasUm pouco mais carrancudos, mas não menos exigentes e

profissionais, os coordenadores de atletismo, Ciro Winckler, e natação, Gustavo Abrantes, igualmente suam deveras suas camisas e são pau para toda obra quando o assunto é Circuito Loterias Caixa. O que terá surpreendido tanto Gustavo na conversa com Ciro durante almoço, custeado pelo SESC-PA, na etapa de Belém?

Grande vitóriaDe uma família de 11 irmãos, Ezequiel Pinheiro Rosa

foi levado a um orfanato quando perdeu a mãe aos 2 anos, idade em que a paralisia infantil se manifestou. Desco-briu o esporte aos 14 por meio do basquete em cadeira de rodas e não parou mais de se divertir e se exercitar, nem mesmo quando, aos 19, teve meningite e ficou com o lado direito do corpo paralisado. Batalhador e persis-tente, Ezequiel recuperou parte dos movimentos e atual-mente é casado e pai de dois filhos.

O roteiro de sua vida, digno dos mais inventivos fo-lhetins, teve mais um capítulo quando ele percorreu, em quatro dias de maio, impressionantes 400km de Londri-na a Curitiba. O principal objetivo é conseguir patroci-nador, apesar de expressivos resultados como um vice-campeonato na São Silvestre de 1989 e terceiro lugar na Maratona da Suíça por quatro anos (1990, 1992, 1993 e 1994). Na etapa de São Caetano do Circuito, Ezequiel também faturou o bronze nos 100m e 400m rasos. Mas logo ele deixa escapar mais uma razão para o longo per-curso lá no Sul: entrar para o Guiness Book. “Minha es-posa fala que eu sou louco”, diverte-se.

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Page 46: Revista Brasil Paraolímpico n° 21

Por Patrícia OsandónFotos Gaspar Nóbrega

David Valente toca com os pés e prova que também não há barreiras quando o assunto é música

A música sempre reinou na vida do cearense David. “Apesar de não termos ninguém ligado à profis-

são além de mim, aprendi a escutar e a gostar de música desde menino lá em casa”, diz. O despertar para esse univer-so ocorreu de forma quase natural. Na terapia lúdica que fazia quando criança, por causa de uma deficiência física con-gênita que atinge os músculos e o impos-sibilita de usar as mãos normalmente, teve contato com um teclado de brinque-do. Certo dia, seu pai, o médico Alberto Jorge e hoje também seu empresário, vendo o talento que ali começa a se ma-nifestar, resolveu presenteá-lo com um teclado de verdade. “Eu estava na minha avó quando meu pai me ligou com a novi-dade. Fiquei louco para chegar em casa. Passei quase dois dias inteiros sem dor-mir de tanto tocar”, relembra.

Com 12 anos, David resol-veu aprender a fundo a teoria musical. E somente aos 18 de-cidiu que era hora de iniciar a vida profissional. “Não queria fazer nada de forma precipita-da. Minha intenção era cons-truir uma trajetória séria. Não queria ser taxado apenas como o deficiente que toca com os pés”, diz. Atualmente, aos 28

anos, com três CDs e um DVD lançados, David pode ser considerado um gênio musical, e com um detalhe a mais: ele toca com os pés.

David é formado em filosofia na Uni-versidade Estadual do Ceará (UECE) por um acaso do destino. Pretendia prestar o vestibular para música, mas perdeu a prova específica de aptidão musical porque estava apresentando-se em São Paulo. Resolveu ingressar em fi-losofia, sua segunda opção, para depois se mudar para o curso que queria. Aca-bou gostando tanto que ficou até o fim. “Acho que nada acontece por acaso”, garante. Hoje em dia, define-se como um filosofante da vida. David tem um estúdio, onde trabalha para si mesmo e outros artistas.

Confira o bate-bola exclusivo que a Bra-sil Paraolímpico fez com David Valente.

BP Como foi sua infância em Forta-leza e qual a importância da música em toda sua trajetória?

Sempre fui uma criança muito feliz. Tive uma infância praticamente nor-mal. Desde menino, sempre gostei de música e me esforcei para fazer dela a minha profissão. É por meio dela que

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BP Conte um pouco sobre a parti-cipação na novela América, da Rede Globo de Televisão [David foi entre-vistado no programa É Preciso saber Viver e cantou no fim da novela].

Antes de participar de América, fui convidado a colaborar com a mi-nissérie Mad Maria, também da Rede Globo. Na trama, havia um índio sem mãos e que aprenderia a tocar com os pés. Eu fui o dublê quando ele tinha que tocar. A minha participação na no-vela América também foi linda, o pró-prio Marcos Frota é um grande amigo, alguém que está sempre lutando pela causa das pessoas com deficiência. A sociedade passou a ver a pessoa com deficiência como um ser humano, alegre ou triste, com amigos e fami-liares, com seus defeitos e qualidades. Foi um passo à frente nessa luta pela inclusão social. Também tive uma par-ticipação no Programa do Ratinho, do SBT, outra experiência muito bonita na minha carreira.

faço amigos, aproximo as pessoas e realizo meus sonhos. Não acredi-to no talento sem esforço. É preciso trabalhar o dom para que ele possa virar talento. Eu recebi um dom e fui perseverante, batalhei para tornar-me músico. Estou completando dez anos de carreira em 2006, com mui-ta luta e batalha desde 96, quando comecei profissionalmente.

BP Quais foram as adaptações ne-cessárias para que você pudesse tocar?

O teclado que eu uso é normal, com as mesmas funções de qualquer outro. Tenho um artifício extra nele, que me permite segurar mais a nota musical e deixá-la mais longa, assim como é com os pianistas, que usam o pedal. A principal adaptação foi ter ti-rado o teclado do chão, pois não fica-va na posição ideal para tocar com os pés. Então, peguei uma mesa e criei uma cadeira especial que me permi-te ficar mais alto. Costumo dizer que a adaptação veio de forma natural, foi uma autodescoberta.

BP Que estilo musical mais te agrada?

A música não merece compara-ções. No meu show, por exemplo, que tem uma média de duas horas, canto de tudo, desde romântica a um forró. Mostro o que eu sei fazer e não somente um estilo que tenho. Gosto muito do Fagner, Caetano Veloso, Chico Buarque, Fábio Júnior, Roupa Nova... Mas sou muito eclético, adoro músicas internacionais, samba, pa-gode. Meus amigos dizem que eu sou doido porque gosto de tudo.

BP Qual a primeira reação das pessoas que não o conhecem ao vê-lo tocar e cantar?

Pelo que tenho visto, tem gen-te que se admira e outros que se emocionam. Acredito que se fosse comigo, à primeira vista, eu ficaria espantado. Não digo um espanto de susto, mas de admiração. Realmen-te é muito raro encontrar uma pes-soa que faça as coisas com os pés e que trabalhe com música. O que eu tento passar para as pessoas é que eu estou ali fazendo o meu traba-lho, tentando sobreviver dele com prazer e levando alegria para quem está me ouvindo.

BP Como foi a experiência de to-car nos Jogos Paraolímpicos do Bra-sil e no Circuito Loterias Caixa Brasil Paraolímpico de 2005?

Foi uma emoção muito grande estar ali com todos aqueles atletas campeões. Digo campeões não só pelas conquistas em si, mas pela força de vontade, determinação e motivação que cada um deles leva dentro de si. Fiquei honrado e gra-tificado de tocar e cantar e ter sen-tido esse carinho todo por mim. No Circuito de Fortaleza, as pessoas subiram no palco, teve muita gen-te que cantou comigo, como a pró-pria Rosinha [Roseane Ferreira dos Santos, do atletismo]. Gosto muito de esportes, embora não pratique porque preciso ter muito cuidado para não me machucar, pois depen-do dos meus pés para trabalhar. Eu até jogava futebol, mas agora não posso mais porque o dedo não pode ficar preto, tenho que cuidar dos pés (risos). Admiro muito os atle-tas paraolímpicos brasileiros. Nos-sos esportistas estão cada vez mais mostrando que realmente sabem, podem e conseguem fazer bonito. A prova disso são os excelentes re-sultados conquistados nas Parao-limpíadas.

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*Carlos Arthur Nuzman é presidente do Comitê Olímpico Brasileiro (COB) e do Co-

mitê Organizador dos Jogos Pan-americanos Rio 2007 (CO-RIO)

JOGOS PARAPAN-AMERICANOS RIO 2007:

Início de grandes investimentosno esporte paraolímpico brasileiro

Carlos Arthur Nuzman*

A realização pela primeira vez, no Rio de Janeiro, em 2007, dos Jogos Parapan-america-

nos na seqüência dos Jogos Pan-ame-ricanos, utilizando a mesma estrutu-ra para ambos eventos, é um salto de qualidade para o esporte paraolímpi-co nas Américas. O uso das mesmas instalações e de uma só equipe de planejamento, organização e ope-ração dos dois eventos garantirá a mesma qualidade, dando aos atle-tas paraolímpicos as mesmas condi-ções de competição e treinamento que os atletas que participarão dos Jogos Pan-americanos. Organizado de acordo com os requerimentos do Comitê Paraolímpico Internacional, os Jogos Parapan-americanos serão disputados de 12 a 18 de agosto de 2007, menos de um mês depois dos

Jogos Pan-americanos, que terão lu-gar entre 13 e 27 de julho de 2007.

Para organizar o evento da melhor maneira possível, era preciso conhe-cer bem a estrutura, o funcionamen-to e a operação de uma competição multiesportiva paraolímpica. Por isso, representantes do Comitê Or-ganizador dos Jogos Pan-americanos Rio 2007 (CO-RIO) estiveram nos Jogos Paraolímpicos Atenas-2004 para participar do Programa Oficial de Observadores e buscar o máximo de informações e soluções a serem utilizadas na organização dos Jogos Parapan-americanos Rio 2007. Em Atenas, os observadores puderam reunir informações de operação de segurança, esportes, transporte, tec-nologia, credenciamento, marketing, alimentação, acomodações e impren-

sa, entre outras áreas. Com a realização dos Jogos Para-

pan-americanos, que reunirão 2.000 membros de delegações, entre eles 1.300 atletas, várias questões relati-vas às pessoas portadoras de necessi-dades especiais, como a acessibilida-de, poderão ser reavaliadas no Brasil. Durante os Jogos Parapan-america-nos Rio 2007, serão disputadas 10 modalidades esportivas: atletismo, basquetebol em cadeiras de rodas, halterofilismo, tênis de mesa, fute-bol de 5, futebol de 7, judô, voleibol sentado, natação e tênis em cadeiras de rodas.

Sucesso aos atletas paraolímpicos e que a realização dos Jogos Parapan-americanos Rio 2007 seja apenas o início de grandes investimentos no esporte paraolímpico brasileiro.

Foto: Divulgação COB

Foto:

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óbre

ga

Nuzman ladeado pelo presidente do Comitê Paraolímpico Brasileiro, Vital Severino Neto, e por Lars Grael.

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LOCAL

Confi ra o calendário dos mundiais de modalidades e do Circuito Loterias Caixa até o fi nal de 2006

Cartas para esta seção no endereço eletrônico [email protected]. Os textos poderão ser editados em razão do tamanho ou para facilitar a compreensão.

EVENTO DATA

Revista esportivaGostaria de agradecer o recebimento da Brasil Para-olímpico nº 20. Temos o dever de ressaltar a impor-tância da revista para os meios esportivos brasileiros. Parabéns!

Milton MattaniPresidente da CBF7S

Nas alturasSou estudante de Educação Física e, apesar de não diferenciar a fundo qualidades editoriais esportivas, é inegável a forma profissional com que a revista Brasil Paraolímpico é feita. Além do visual ousado, o conteú-do é bastante enriquecedor, especialmente para uma área ainda pouco difundida como o esporte paraolím-pico. Continuem assim!

Eduardo Cunha Oliveira

28/8 a 11/99 a 18/922/9 a 1/1015 a 17/922/9 a 2/103 a 15/103 a 5/1122/11 a 1/1227/11 a 9/12

HOLANDASUÍÇABÉLGICAPORTO ALEGRE/RSSUÍÇA BRASIL/RJFORTALEZA/CEARGENTINAÁFRICA DO SUL

Mundial de Atletismo

Mundial de Ciclismo

Aberto de Hipismo

Circuito Loterias Caixa (3ª etapa)

Mundial de Tênis de Mesa

Mundial de Bocha

Circuito Loterias Caixa (4ª etapa)

Mundial de Futebol de 5

Mundial de Natação

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Publicação bimestral do CPB5.000 exemplares

PresidenteVital Severino Neto

Vice-presidente FinanceiroSérgio Ricardo Gatto

Vice-presidente AdministrativoFrancisco de Assis Avelino

Assessora Especial para Assuntos Político-Administrativos

Ana Carla Thiago

Assessor Especial para Assuntos de Comunicação e Relações Internacionais

Andrew Parsons

Coordenador Geral de Planejamento de Administração e Finanças

Carlos José Vieira de Souza

Coordenador Geral de Planejamento e Desenvolvimento dos Esportes

Edilson Alves

Coordenador Geral do Desporto Universitário

Renausto Alves Amanajás

Coordenador Geral do Desporto EscolarVanilton Senatore

Editor ChefeAndrew Parsons

SubeditorLeandro Ferraz

Jornalistas ColaboradorasPatrícia Osandón

Luciana PereiraJulia Censi

Natale MartinsFernanda Villas Bôas

Capa e EditoraçãoLer Comunicação

Foto da CapaMike Ronchi Produções

Execução GráficaGráfica Brasil

Site: www.graficabrasil.com.br

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