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Revista Digital do Cenário Metal Goiano
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Editora-Chefe
Bia Cardin
Editora-Assistente
Neli Sousa
Editor de resenhas
Hugo O.
Colaboradores nesta edição
Eduardo Paixão Aires, Vi-
tor Nunes, Artur Dias, Jôder
Filho, Hugo O., Adriano Reis
Revisão
Bia Cardin, Neli Sousa,
Design e Webdesign
Neli Sousa
Fotográfos (as) nesta edição:
Hugo O, Neli Sousa, Bia
Cardin
Edição de Fotos
Bia Cardin, Neli sousa
Contatos:
E d i t o r i a l
The Metal! (Tenacious D)
Eis a última edição da Revista Heavyrama neste ano de 2010. Para nós foi um
ano de crescimento e de aprendizado com as bandas, os organizadores e o
público. Infelizmente, no mês de novembro sofremos um baque com o ocorrido
no Sangre Fest (no qual cobrimos) que reflete bem a situação do nosso atual
cenário, não somente em Goiânia, mas em boa parte do Brasil. Muitos viram o
desabafo do vocalista da Shaman, Thiago Bianchi, então não é necessário inserir
mais discurso a respeito (aos que não viram, leiam).
Desejamos que o ano que vem seja de apoio para as bandas nacionais, no nosso
caso especialmente às goianas, temos muito material valioso, gente que trabalha
com profissionalismo e se aprimora a cada dia para nos representar com ex-
celência nas cidades afora. Vamos comprar o material das bandas daqui, com-
parecer aos shows, usar camisas de bandas nacionais, agora é a hora!
Também sairemos de férias, então não haverá edição em janeiro e ainda estamos
prevendo qual a melhor data para o lançamento da nossa quinta edição, mas
vocês serão avisados. Nesse meio tempo também haverá mudanças no nosso
site, fiquem atentos.
Um excelente ano novo à todos, que 2011 seja o ano da verdadeira união!
Metal sempre!
S u m á r i o
Agenda 04
Indicações de Blogs 04
Deadly Curse 06
Dark Ages 14
Sangre Fest 18
Entrevista - Guilherme Aguiar 24
In The Shadows 30
Porão Caos 32
Entrevista - Fellipe CDC 36
R.I.P. - Magnificência 40
Pré-Natal Metal 44
Keeper of Keys 48
Entrevista - Isabella Negrini 50
O Réquiem - 2ª Edição 54
Artigo - Vader e Ragnarok em Goiânia 58
A Hora do Pesadelo 60
Resenha - Art of Khaos 62
Resenha - Gräfenstein 63
Resenha - Spallah 64
Resenha - Ravok 65
Conto - As Flores de Alice 66
Making Of 68
A g e n d a | I n d i c a ç õ e s
4 - H e a v y r a m a
Agenda
Indicações de Filmes
23|12 - Rock do Noel (Vaca Brava)
30|12 - Moon Patrol - A festa (Old Studio)
19|01 - Blaze Bayley (Bolshoi Pub)
20|01 - Matanza (Bolshoi Pub)
30|03 - Iron Maiden (Em Brasília)
05|04 - Ozzy Osbourne (Em Brasília)
Headbanger’s Journey
Global Metal
Ruído das Minas - A origem do Metal em Belo
Horizonte
Born to Lose - The Last Rock and Roll Movie
The Wall - Pink Floyd
Rockstar
Heavy Metal do Horror - Trick or Treat
Detroit Rock city
Heavy Metal Louder Than Life
Tenacious D - Uma dupla infernal
D e a d l y C u r s e
6 - H e a v y r a m a
Texto : Hugo O. / Fotos: Neli Sousa
A banda de Death Metal Melódico Deadly
Curse, que prepara seu segundo álbum, ainda
sem nome , e uma turnê pelas regiões Norte e Nor-
deste do país , é considerada pelo público goia-
niense um dos grupos que se destacam na cena
underground. Qualidade técnica, criatividade e
sintonia entre os integrantes (Vocal: Thiago An-
drade, Guitarra solo: Maciel Paiva, Guitarra base:
Kellerman Paulo, Baixo: Artur Dias, Bateria: Victor
“Spidom” Gomes) são as principais características
da Deadly Curse, que apareceu em 2010 com um
rosto próprio e formação consolidada para enfren-
tar as plateias.
Com uma proposta inicial de fazer um Thrash
http://www.myspace.com/deadlycurse
D e a d l y C u r s e
H e a v y r a m a - 7
Metal oitentista e influenciada por bandas como
Arch Enemy, In Flames e Soilwork – além das in-
fluências individuais dos integrantes, formação
que se consolidou somente após a entrada de Spi-
dom, Artur e Maciel – a Deadly Curse experimen-
tou várias características , o que causa difilculdade
na definição de seu estilo, embora se convencione
rotular seu som como Death Melódico.
O crescimento da banda, desde a demo Deadly
Curse, é perceptível aos mais leigos, sendo que as
trocas de integrantes e experiência em apresen-
tações são fundamentais para que os indivíduos
tenham desempenho favorável no estrado. Embora
tenha passado por vários moldes e estilos, com os
integrantes que não se firmaram no grupo, Keller-
man afirma que a proposta ainda é a mesma da ini-
cial. “Estamos mais maduros e mais conscientes, as
nossas letras narram os mesmos temas só que com
uma dinâmica melhor. Com a entrada do Artur
Dias e Maciel de Paiva houve um impacto muito
grande tanto sonora quanto lírica”.
Kellerman diz ainda que com esse amadureci-
mento o maior impacto foi na parte instrumental,
pois, segundo ele, os integrantes estão sempre ou-
vindo trabalhos novos, o que influi e colabora na
criatividade e na arte final. “isso [novos sons] vai
se agregando ao nosso som intuitivamente. Mui-
tos falam que mudamos de uma banda Thrash para
uma banda de Death metal melódico, cada qual
com sua opinião”.
As dificuldades que os integrantes passam são os
mesmo da maioria das bandas entrevistadas pela
Heavyrama: tempo e dinheiro. Segundo Thiago, es-
ses são os dois fatores principais, porém, todos tra-
balham, estudam e namoram, o que interfere tanto
na banda quando nos indivíduos que a compõem.
“Às vezes acaba acontecendo de alguém levar um
problema de fora pra dentro do grupo e, claro, isso
se torna algo desconfortável, embora é algo que
não controlamos, é inerente à rotina estressante
de cada um. Infelizmente não podemos viver do
nosso trabalho, da nossa música”, lamenta.
8 - H e a v y r a m a
D e a d l y C u r s e
Em entrevista à Heavyrama, a Deadly Curse faz uma breve retrospectiva so-bre sua história, considerações sobre o cenário Metal de Goiânia e revela
suas perspectivas para o ano de 2011.
H e a v y r a m a - 9
D e a d l y C u r s e
HEAVYRAMA - Como e quando surgiu a banda?
KELLERMAN - A banda surgiu em agosto de
2005 (Na verdade a ideia desse projeto já vinha
ecoando há muito tempo, mas só se concreti-
zou nesta data). No início éramos somente três:
eu(Kellerman), Igmar Junior e André Luis. Gostá-
vamos muito de metal 80, então resolvemos fazer
um som seme-lhante, mas sempre fomos bastante
ecléticos, ainda mais com a entrada de Thiago An-
drade no vocal e Luan Ataídes na guitarra, no fim
acabou se tornando outra coisa que até hoje eu
não sei bem definir o que é.
HEAVYRAMA - Quais são suas principais influências?
MACIEL - Como banda no geral é difícil encontrar
um ponto em comum, uma unanimidade. Cada in-
tegrante veio de uma vertente diferente do Metal e
as influências variam muito. Mas creio que as ban-
das de Gotemburgo influenciam bastante nosso
som, bandas como Arch Enemy, In Flames, Soil-
work. Mas é errado comentar somente estas ban-
das, há várias outras bandas que nos influenciam.
HEAVYRAMA - Quantos trabalhos lançados vocês
produziram?
KELLERMAN - Lançamos um demo em 2007 auto-
intitulado contendo 4 músicas e em 2009 lança-
mos nosso Debut intitulado “Renegade”. Partici-
pamos também de algumas coletâneas produzidas
por fãs, infelizmente não me recordo o nome de
nenhum desses trabalhos.
HEAVYRAMA - Quem são os compositores princi-
pais da banda?
MACIEL - O principal compositor é o Keller-
man, ele montou a banda e compôs a maioria das
músicas do Renegade. Atualmente eu e o Artur
estamos levando nossas ideias, durante os ensaios
todos opinam sobre algo que deve ser mudado.
Um bom exemplo foi a “Enchantment of Pain”.
A música foi feita pelo Artur, escrevi a letra, mas
ela mudou bastante em relação a primeira versão,
durante as gravações do Renegade ainda estáva-
mos mexendo nela.
HEAVYRAMA - Deadly Curse é atualmente um ex-
poente da música extrema em Goiânia. Como era
no início, o que mudou?
THIAGO - O início é sempre complicado, porém,
mais divertido. Começamos com uma ideia na ca-
beça e hoje ela é totalmente diferente. Há cinco
anos, Goiânia tinha um público bom, com shows
rolando frequentemente. Então digamos que
começamos numa época boa que ajudou a banda
a se desenvolver bem.
HEAVYRAMA - Quais são as principais dificul-
dades de vocês em relação à banda?
THIAGO - Os dois fatores principais são tempo
e dinheiro. Fora isso, todos trabalham, estudam,
namoram e isso influencia diretamente no con-
texto geral da banda e de cada membro. Às vezes
D e a d l y C u r s e
1 0 - H e a v y r a m a
acaba acontecendo de alguém levar um problema
de fora para dentro do grupo, e claro, isso se torna
algo desconfortável, porém não pode ser evitado
devido à rotina estressante de cada um. Infeliz-
mente não podemos viver do nosso trabalho, da
nossa música.
HEAVYRAMA - Qual é sua opinião sobre a
produção de evento aqui, o que deve melhorar e
como isso deve ser feito?
MACIEL - Hoje vejo toda esta questão de eventos
como um ciclo vicioso. O público não vai por achar
que não compensa ir a eventos pagar 10,00 para
ver algumas bandas (algumas ruins) e pagar caro
pela cerveja. Por outro lado os organizadores não
podem investir numa estrutura melhor e baratear a
comida e bebida vendida dentro do evento, porque
ele sabe que não vai ter público para cobrir o gasto.
Então reclamar de estrutura de evento e de público
que não vai em evento e quando vai não entra, é
fácil. Na atual situação de decadência que se en-
contra a nossa cena, não adianta nada ficar apon-
tando ou procurando culpados, cabe a cada um
tentar fazer a sua parte para que os eventos não
acabem. Tem uma galera aí tentando botar circuito
Kellerman Maciel
D e a d l y C u r s e
H e a v y r a m a - 1 1
de Metal para frente aqui em Goiânia. Um bom
exemplo foi o Under Metal e o lançamento do selo
Sangre. Apesar do ocorrido, é uma iniciativa que
merece total apoio, agora mais ainda. Enquanto
só alguns fizerem e outros ficarem em casa vendo
vídeo no Youtube e falando merda no Orkut, essa
cena não vai pra frente. E vale para as bandas tam-
bém, elas tem que se profissionalizar inclusive por
uma questão de respeito ao próprio trabalho e ao
público que vai em show e não quer ver cinco car-
as chapados fazendo barulho, o público quer ver
uma banda de verdade tocando com qualidade e
que respeite o dinheiro que foi pago pelo ingresso.
HEAVYRAMA - Quais são suas expectativas para
o próximo ano?
THIAGO - Estamos com planos de fazer uma turnê
pelo Brasil em julho e começar a gravar o nosso
novo álbum no final do ano. Creio eu que será o
ano decisivo na vida da banda, ao mesmo tempo
em que estamos ansiosos, bate o medo de não ser
o que esperamos. Mas temos que passar por isso
para ver o verdadeiro poder da banda.
ARTUR - Pretendemos fazer um relançamento do
“Renegade”, conseguir fazer ele prensado, já es-
Victor Artur Thiago
D e a d l y C u r s e
1 2 - H e a v y r a m a
tamos trabalhando pra isso e conversando com o
nosso selo que é a Two Beers para que a gente
consiga viabilizar isso no ano que vem. Acredita-
mos que o o relançamento prensado vai abrir mais
portas pra gente e para os nossos projetos futuros.
HEAVYRAMA - O relançamento de “Renegade
“conterá músicas adicionais?
ARTUR - Sim, terá uma faixa nova, já estamos to-
cando-a nos shows e o pessoal já a conhece, é a
música “The Unbeliever” que é inédita para quem
nunca viu um show, mas tirando isso é o mesmo
material que gravamos anteriormente.
HEAVYRAMA - Nesses anos todos de existência,
vocês se arrependem de alguma coisa?
THIAGO - Da minha parte não e acho que do
resto da galera também não. Tudo que eu fiz
sempre foi em função da banda, já briguei de-
mais em nome da Deadly Curse. Até hoje ainda
brigo, eu sou o cara enjoado do grupo. Então não
aceito pessoas querer pisar no nome ou em al-
guém da banda.
HEAVYRAMA - Qual sua opinião sobre o aconteci-
mento do dia 14/11 no lançamento do selo Sangre?
D e a d l y C u r s e
H e a v y r a m a - 1 3
THIAGO - Acho lamentável, foi mais um ponto
negativo para o cenário goiano. Não sei o que
aconteceu ao fundo, cada um conta uma história
diferente. Então prefiro nem opinar nessa questão.
HEAVYRAMA - Tem alguma mensagem para
seu público?
THIAGO - Primeiramente obrigado a vocês da
Heavyrama pelo espaço. Obrigado a todas as pes-
soas que gostam do nosso trabalho, que acompan-
ham a banda em shows, aqueles que compraram
o Renegade. Vamos voltar com muitas novidades
para 2011, aguardem!!!!
Passa o TronoA banda Deadly Curse indica:
Ressonância Mórfica
http://www.myspace.com/ressonanciamorfica
Hypnotica
http://www.myspace.com/hypnoticabr
Alltorment
http://www.myspace.com/alltorment
A Última Theoria
http://www.myspace.com/aultimatheoria
D a r k A g e s
1 4 - H e a v y r a m a
Texto : Eduardo Aires / Fotos: Bia Cardin
“A proposta da Dark Ages é tocar metal pesado,
sem seguir uma vertente” diz Thiago Lourenço,
vocalista, guitarrista e um dos fundadores da ban-
da goianiense. Tudo começou em 2002, quando
seu projeto chamado Sentence of Death não deu
certo, então resolveu montar uma nova banda,
para isso chamou Rodolfo Guimarães para a gui-
tarra, Henrique Arantes para o baixo e Ronnie Stu-
art para a bateria.
Com esta formação fizeram shows de 2002 à
2003, em seguida várias mudanças aconteceram
na Dark Ages. Entre as figuras que já passaram por
lá, nas guitarras, estão, Ramon Freitas, Gabriel Cal-
deira, Icaro V8, Danillo Pitaluga, Maycon Dias e
Renato Reis, até chegar no atual Tony Carvalho. No
baixo Wilton Spook e Felipe Borges, substituídos
pela atual baixista Laysson Mesquita. No vocal pas-
sou Erick José - atualmente Thiago Lourenço - na
bateria também apenas uma mudança, saiu Ronnie
Stuart e logo Diego ‘Cabaço’ assumiu as baquetas.
Death, Thrash ou Heavy?
D a r k A g e s
H e a v y r a m a - 1 5
O fato de não rolar dinheiro no meio, a dificul-
dade de se lidar com metal e até a personalidade
de Thiago podem ter influenciado nas muitas mu-
danças de formações, diz o vocalista. Segundo
ele, ter banda de metal é uma tarefa um pouco
louca, mas “ainda existe um pouco de insanidade
em mim para querer continuar”, completa Thiago.
Assim como as inúmeras pessoas que já pas-
saram pelo grupo, os atuais também já tocaram
em outras bandas. Tony Carvalho, atual guitarris-
ta, já passou pela Surom, Morus, Metal Warrior,
Dyatryb e Gods Of Steel. Diego, baterista, pela
Messias e Banda, Darlenia, Agharta, e atualmente
também está na Br In Soul e com Julio & Junior.
Laysson, baixista, já fez tributo ao Sepultura em
2009, e Soulfly em 2010, ambos no Covernation,
e foi convidado a fazer participação com outras
bandas no Tattoo Rock Fest e Go Mosh 3, hoje em
dia também está na D.D.O, Keeper os Keys e Spirit
of the Shadows.
Alguns shows como o History Of Metal (2003),
Miscelania (2003), Brutal Fest, Metal Chaos 2 e 3
(2005) e God of Metal (2009) já fizeram parte da
carreira dos músicos. Além disso, já participaram
de alguns projetos de tributo, como o Megadeth
Cover em parceria com Artur Dias da Deadly Curse.
Laysson destaca alguns sons que estão presentes
em sua playlist como Sepultura, Metallica, Black
D a r k A g e s
1 6 - H e a v y r a m a
Sabbath, Tool, Karnivool, Textures e bandas novas
como Woslom, Scars e Dynahead, além de sem-
pre acompanhar a cena goiana. Já Thiago gosta de
escutar bandas antigas e tradicionais, e é fã inve-
terado de Megadeth. Diego e Tony, são professores
de música e sempre ouvem diferentes estilos, mas
trazem como influência para a Dark Ages a música
erudita, o progressivo e o Black Metal.
Atualmente estão começando praticamente
do zero, pois o material que possuem está ultra-
passado, e a expectativa é que dentro de pouco
tempo haja o lançamento de um novo MySpace
com quatro músicas. O trabalho atual se resume à
composição e a pré-produção dos melhores sons
a serem escolhidos para a gravação.
Segundo o baixista Laysson, a ideia é terminar o
material e lançá-lo tanto na internet, que tem sido
uma grande vitrine para o underground, quanto
em CD. Assim a banda espera fazer novos contatos
e aumentar a distribuição através de alguns selos,
apesar do vocalista e guitarrista Thiago Lourenço
acreditar ser difícil vender produto autoral aqui
em Goiânia, pois o público nos shows costuma se
preocupar mais com a cerveja.
Myspace http://www.myspace.com/bandadarkages
Tony
Laysson
Thiago
Diego
S a n g r e F e s t
1 8 - H e a v y r a m a
Texto : Bia Cardin, Hugo O. e Vitor Nunes/ Fotos: Neli Sousa, Hugo O.
“Nós queremos tocar, nem que seja uma só música”, disse HansFyrst
Em entrevista à Heavyrama, integrantes de Rag-
narok disseram que é bem provável que não vol-
tem a Goiânia após o lamentável acontecimento
do dia 14 de novembro no DCE.
Necropsy Room
Necropsy Room foi a primeira banda a se apresen-
tar no evento Sangre Fest. Antes mesmo da galera
começar a entrar, os integrantes já estavam mar-
cando o evento com sua presença de palco e suas
batidas rápidas. Sua sonoridade é marcada exaltado
baixo de Murilo Ramos.
Pela metade do show o público aumentou, mas
a maioria se manteve do lado de fora dos portões.
A banda continuou empolgando aos presentes, e
não se importando com certa apatia do público. Eles
colocaram as guitarras para gritar em meio aos solos
brutais. Necropsy Room fez seu papel preparando a
cena para Vader e Ragnarok, mostrando o que sabe
fazer de melhor com seu metal rápido e feroz.
Ressonância Mórfica
Às 21h50 a Ressonância Mórfica iniciou o show
com o instrumental “Mapinguari” e seguiram para
Sangre Fest
“Aleivosia”. O baixo estava um pouco saturado,
mas nada que chegasse a incomodar os ouvidos
alheios. Não demorou muito para que o vocalista
Marcão fizesse apelos ao público morno “Vamos
botar pra fuder essa porra”, e seguiram o setlist
com os clássicos “Cacofagia”, “Cunnilingus” e
com a nova música “Hipopotomonstrosesqpe-
daliofobia”. Em seguida o show da Ressonância
chega em seu ápice com a atormentada “Plutocra-
cia”, nessa, o público finalmente teve uma reação
Necropsy Room
S a n g r e F e s t
H e a v y r a m a - 1 9
mais calorosa abrindo rodas de hardcore (ainda
que pequenas). Assim encerraram o show com
“M.N.P.”, e claro, aplaudidos.
Spiritual Carnage A terceira banda goiana da noite, Spiritual Car-
nage, subiu ao palco e convidaram o público a
encher o DCE com a faixa de abertura “Earth and
Hate”. Em seguida “Crystal Lord” demonstrou a
habilidade do baterista no frenético pedal duplo.
Houveram alguns problemas no som durante a e-
xecução da música, como a microfonia que per-
sistia e o baixo que estava mais alto do que de
costume. “The Immortal Sadness”, “Eternal Dark-
ness” deram continuidade ao ritmo Thrash/Speed
que empolgaram o público e saudavam a banda à
todo momento. Por fim, o show foi concluído com
a faixa “Infernal Lifes” onde o DCE incendiou, os
headbangers subiram na grade que os separavam
da banda enquanto chacoalhavam suas cabeças.
Foi uma apresentação regada de brutalidade e um
aquecimento apropriado para o que (até então) es-
tava por vir.
Ragnarok e Vader
Enfim, chegara o momento que todos esperavam.
Acabara a apresentação de Spiritual Carnage e as
pessoas continuaram paradas, como que pregadas
ao chão, em frente ao palco. As cortinas espelha-
das oscilavam aos tapas de ansiedade, os minutos
Ressonância Mórfica Spiritual Carnage
2 0 - H e a v y r a m a
S a n g r e F e s t
passavam. Do lado de dentro, nos bastidores, o
estrado vazio esperava a entrada de Ragnarok e a
chegada de Vader.
Vinte, quarenta, sessenta minutos. O show não
vai começar? Foi o que passou pela cabeça das
pessoas enquanto “Spirit Crusher” de Death as
colocava no clima pela segunda vez. Em preto,
branco e vermelho os integrantes pintaram suas
faces de guerra que só iriam aparecer horas depois
de muita confusão. Algo estava fora do esquadro.
Ao conversar com o responsável pela mesa de
som obtive um “A AMMA (Agência Municipal do
Meio Ambiente)está lá fora, fudeu”. Estava mes-
mo, mas não quis acreditar que aquela experiência
poderia dar errado. Sirenes amarelas e vermelhas
voavam pelos muros do DCE e vizinhança.
Fora do palco, poucas pessoas sabiam da che-
gada da Agência, porém estavam impacientes
com a demora. Havia três carros da Polícia Mili-
tar e um da AMMA, entretanto isso foi somente o
início. Os responsáveis diretos pelo evento Pedro
Henrique e Guilherme Aguiar estavam tentando
uma negociação com os agentes, enquanto mais
seis carros, três da polícia e três da AMMA, cer-
cavam o local.
De volta aos bastidores, Brigge (guitara), Decep-
ticon (baixo) e baterista Jontho, único remanes-
cente da formação original da banda, arruma-
vam seus instrumentos para tocar. Alguns sons
de guitarra e baixo ainda soaram fazendo gritos
preencherem o local, porém seria somente aquilo
que ouviríamos de Ragnarok. Eles estavam nervo-
sos, notava-se de longe, e descarregavam insultos
direcionados a instituição errada, a polícia.
Público se revolta com o cancelamento do show
H e a v y r a m a - 2 1
S a n g r e F e s t
Do lado de fora
Após obter autorização para sair, fui em di-
reção dos carros e das negociações. Guardas mu-
nicipais, PMs e agentes da AMMA estavam todos
nervosos e desconfiados. Estavam com medo. O
coordenador do evento Edy Pereira conversava
com o agente responsável Marcus Vinícius Lopes
e nada de bom saía de suas bocas:
Marcus: Se tivesse sido organizado antecipada-
mente, a polícia teria prazer em garantir a segu-
rança do evento. O fechamento do DCE está certo.
Edy: Ontem teve um evento aqui e vocês não
apareceram. Agora temos duas bandas interna-
cionais aqui e vocês querem impedi-los de tocar
Marcus: Tá vendo? Vocês têm que fazer um negó-
cio de elite, não dá pra ser bagunçado assim, nós
temos que fechar. Eu garanto para o senhor não
haverá mais eventos aqui no DCE.
Todos queriam falar, demonstrar seus ânimos
e manifestar sua indignação, foi assim que Mar-
co Antônio Alves Pereira, dono do bar Wood-
stock me parou e pediu para que anotasse sua
declaração. “Faço parte do meio. Vejo isso como
uma grande merda. Eles [AMMA] não conseguem
argumentar. Ninguém aqui é vândalo, o pessoal
quer se divertir. Então, autoridades, por favor,
onde tem diversão em Goiânia? Mostrem-nos!”,
disse indignado.
Enquanto isso, a conversa entre Edy e Marcus
continuava, mas segundo o fiscal já estava decidi-
do. “Vocês tinham que organizar o evento de me-
lhor forma”, enquanto Edy retrucava dizendo que
“Vamos amanhecer nesse clima. Vocês não podem
entrar e nós não vamos sair. Ficamos, mesmo que
para isso tenhamos que dar cerveja para o pessoal
que pagou ingresso”, disse transtornado.
Porém, em conversa com Edy, ao lado do fis-
cal Marcus, ele declarou que havia buscado al-
vará para o evento. “Não buscamos autorização.
O local, após locação, passam orientação sobre
as burocracias legais. Ontem teve show. A casa
deveria orientar. Eles não têm que pagar, deixe
o pessoal tomar cerveja de graça, pois pagaram
para estar aqui”, confessou. Afinal estava expli-
cado. Seu Edy, com uma quantidade considerável
de carnavais nas costas e experiência em organi-
zação de eventos não sabia que deveriam consul-
tar a AMMA para obter autorização para difundir
AMMA interrompe o Sangre Fest
2 2 - H e a v y r a m a
S a n g r e F e s t
“poluição sonora” (Guilherme explica sua versão
do fato em exclusiva à Heavyrama na página 24).
De volta ao DCE
As sirenes dos carros fizeram o favor de avisar o
pessoal do que estava acontecendo, porém ain-
da tinham expectativa de que desse tudo certo.
Mas como sabemos, não deu. O tour-manager
da banda polaca Vader, que não se encontrava
no local, Vitor Barbosa disse nervoso e em fra-
ses um tanto desconexas que o evento começou
muito tarde. “Se Vader tivesse entrado mais
cedo, não haveria isso. Faltou autorização, fal-
tou organização de tempo. Quem faz evento de-
veria saber disso. Estou com Vader a turnê toda.
Não sei como os caras vão reagir, eles estão afim
de tocar. Os ca-ras cumpriram com tudo, cachê,
passagens, hotel. Vader quer tocar e a polícia
não deixa. Falei pra eles que a polícia teve aqui
e está pedindo R$ 5 mil. Para mim isso é culpa
do produtor”. Gui-lherme desmentiu essa versão
de que os policiais pediram dinheiro e afirmou
que os policiais estavam apenas garantindo a se-
gurança dos agentes da AMMA.
No pequeno camarim, Ragnarok estava suan-
do enquanto putos diante da situação. Fiz uma
micro-entrevista com o pequeno tempo que dis-
punha para cobrir todos os fatos:
Heavyrama: O que acham da situação e o que
esperam?
HansFyrste: Uma desgraça, fudeu. Mas estamos
agradecidos com todos que apareceram. Estamos
aqui para fazer amigos e shows e a polícia fudeu
tudo. Estamos com muito ódio. Nós queremos to-
car, nem que seja uma só música. O lugar está
lotado, o show seria muito bom. Espero que to-
quemos, que as pessoas apareçam para que faça-
mos alguns cultos e ritos aqui.
Decepticon: Espero que a polícia não apareça.
Heavyrama: É a primeira vez de vocês no Brasil?
Jontho: Sim, essa é nossa primeira vez no Brasil.
Jontho
H e a v y r a m a - 2 3
S a n g r e F e s t
Heavyrama: O que você está achando?
Jontho: Está tudo ótimo, exceto hoje. Esse dia está
todo fudido.
Heavyrama: Sobre o acontecimento de hoje,
vocês voltariam a tocar aqui em Goiânia?
Jontho: A princípio, não. Da próxima vez, nós
pensamos em tocar talvez em Brasília.
Heavyrama: Nunca mais em Goiânia?
Decepticon: Não podemos dizer nunca, mas va-
mos ver...
Heavyrama: Estão planejando ou gravando um
novo trabalho?
Jontho: Sim, ao terminarmos a turnê, vamos vol-
tar para começar as gravações. O álbum deve sair
em setembro do ano que vem.
Heavyrama: Vocês tem uma mensagem para os
fãs brasileiros?
Jontho: Sim, gostaríamos que soubessem que
queremos tocar, mas a situação tá toda fodida.
Vocês são ótimos e espero que um dia a gente
possa voltar para fazer um grande show.
Heavyrama: A quem vocês imputam a culpa
desse acontecimento?
Jontho: A desgraça da polícia.
Heavyrama: Obrigado, até, quem sabe, a próxima.
Jontho: Obrigado você.
Após sair do camarote, o clima era outro. Mui-
to pior, tinha dado tudo errado. A polícia estava
entrando, acompanhando os fiscais da AMMA
e os organizadores do show. Todos subiram no
palco e um dos produtores da Monstro tomou
o microfone para dizer que não haveria mais
show e que devolveriam o dinheiro dos ingres-
sos e passagens, no caso de quem não era de
Goiânia. Enquanto pediam desculpas, palavrões
voavam em seus rostos. Policiais filmavam tudo
de cima do palco como se quisessem ter uma
prova de que somos pessoas violentas, como
ouvi um deles dizer ao telefone “aqui está lota-
do. Tá cheio de metaleiros, são caras perigosos,
venham para cá!”, alertava.
Depois do discurso, Ragnarok saiu do cama-
rote para que as pessoas vissem que era ver-
dade. Eles estavam lá, prontos para tocar e as
pessoas reconheceram isso repedindo em voz
alta e coro o nome da banda. Vader, segundo
Vitor Barbosa, tinha ido ao DCE para passar o
som mais cedo. Ele disse que estava com medo
de levá-los ao local e as pessoas ficassem, além
de irritadas, agressivas.
Assim, enquanto os noruegueses deixavam o
local distribuindo autógrafos e lamentações, as
filas se formavam. Estava estampado nos rostos a
vontade e o desgosto. Todos irritados xingavam,
bebiam e fumavam mais que o normal. Ao sair, as
pessoas se amontoavam na frente do DCE como
que na esperança de ser tudo mentira, esperança
de que houvesse show. Esse foi o evento de lan-
çamento do selo e produtora Sangre, um fiasco.
Mas eles estão de parabéns por tentarem.
E n t r e v i s t a - G u i l h e r m e A g u i a r
2 4 - H e a v y r a m a
Texto : Hugo O. / Foto: Neli Sousa
Entrevista Exclusiva com Guilherme Aguiar
“A AMMA estará lá”Organizador de eventos e um dos responsáveis pelo lançamento do selo e produtora
Sangre explica o que aconteceu no dia 14 de novembro.
HEAVYRAMA - Quantas pessoas estavam na or-
ganização do Sangre Fest?
GUILHERME - Seis pessoas. Eu, Cláudio, Pedro
– Go Mosh, Léo Bigode – Mostro, Marcos Júnior –
Mostro, Razuk – Monstro.
HEAVYRAMA – Esse pessoal tem experiência na
organização de evento?
GUILHERME - Sim, têm 20 anos de organização
de eventos e eu estou começando ainda, é o se-
gundo evento que eu fiz; o primeiro foi o show do
Master, aqui em Goiânia.
HEAVYRAMA – Qual o planejamento que vocês
tinham feito?
GUILHERME - Eu não tinha nada planejado com
E n t r e v i s t a - G u i l h e r m e A g u i a r
H e a v y r a m a - 2 5
a Monstro, só que estava com o show do Vader na
mão e não tinha como fazer sozinho; não tinha
capital suficiente e precisava de ajuda. Não era
igual ao Master, que era mais simples. Aí liguei
pro Pedro, já era meu “brother”, curte metal tam-
bém; aí ele falou: “Ah, cara, vou ver como que
faz”, então beleza, aguardei o retorno. Aí passou
uns dois dias, ele me ligou e “Rola de fazer sim
– a gente (Monstro) estamos com um selo aí pra
lançar e vamos unir os dois, saca? Joga o show do
Vader, que a gente lança o selo.” Aí, um ajudou o
outro ali. Então, esse era o planejamento princi-
pal do selo, com esse show já seria a estreia. De-
pois, fomos atrás do lugar, o único lugar disponí-
vel na cidade era o DCE-PUC, porque era época
de Goiânia Noise e estava tudo alugado. Tinha o
Clube Social Feminino, mas era muito caro, pre-
cisava pôr palco, luz e não dava, pois a gente não
tinha a grana. Então, o pré-show foi isso, agiliza-
mos uma estrutura massa pro evento, acho que
superou a expectativa de quem foi no DCE, estava
totalmente diferente. E fomos atrás de um som
legal, luz, bar, aumentamos a estrutura do DCE,
conversamos com o DCE, apesar dos problemas
que eles têm – o lugar é muito limitado – então,
esse foi o pré-show, foi o planejamento principal
que tivemos, e seguimos na risca, deu tudo certo,
até lá no dia.
HEAVYRAMA – Até o momento que aconteceu o
problema da AMMA aparecer lá?
GUILHERME - Então, estávamos montados e pas-
sando o som. Tinha uma missa lá às 19h no do-
mingo, o povo que ia pra igreja passava na frente
do DCE, e já tinha uma galera lá fora esperando
o show. Então, só sei sobre essa missa e que não
tinha nenhum evento, estava tudo a nosso favor.
HEAVYRAMA – Edy Pereira se disse coordenador
do evento, essa informação é correta?
GUILHERME - Ele foi contratado pela parte da
Monstro, ele é dos responsáveis/donos/sócios
da Ambiente, então ele ajudou com a estrutura,
aquelas tendas e grades. Ele e sua esposa sempre
fazem a portaria, lista de convidados, etc.
HEAVYRAMA – Ele disse ter experiência na orga-
nização de eventos. Gostaria de saber, por que ele
não buscou obter o alvará da AMMA?
GUILHERME - Então, todos temos experiência.
Não é que não buscamos o alvará, tentamos entrar
em contato com o Airton – que é o “chefe-mor”
da AMMA, mas em nenhum lugar em Goiânia se
consegue alvará para esses shows de rock, que ge-
ralmente são os DCE’s, Martim, às vezes, o Circo
Lahetô, e a Feira da Estação que fazem. Que eu
saiba - eu não sei nada da Feira da Estação – esses
locais não dispõe de alvará para funcionamento;
até o Martim Cererê não tem alvará pra esse tipo
de evento, mas eu acho que o problema do Mar-
tim Cererê é briguinha de prefeitura e Estado. Os
DCE’s não tem condição mesmo. Chegar lá na
AMMA para fazer pedido de alvará para o DCE
2 6 - H e a v y r a m a
E n t r e v i s t a - G u i l h e r m e A g u i a r
não vinga, pois é negado na hora, não adianta.
E o pessoal dos DCE’s não tem interesse em le-
galizar a situação com AMMA, Corpo de Bombei-
ros, com tudo. Então, não é negligência de produ-
tor nenhum aqui em Goiânia, ir atrás de alvará e
ser negado, que vai ser negado. Mesmo se tivesse
alvará, se tivesse liberado, eles têm o poder de
chegar no dia do show por denúncia, e talvez
até embargar o show ou prorrogar por mais meia
hora/1 hora, que seja; eles têm esse poder ainda.
HEAVYRAMA – A AMMA tem um histórico de
fechar os shows, acabar com os eventos; você
acha que isso foi apenas mais uma amostra disso?
GUILHERME - Era um evento grande, pelo estilo,
até um evento histórico de Goiânia, aí explodiu
na minha mão, quase toda semana tem shows nos
DCE’s e tudo, e nunca teve nada. E nunca teve
alvará e nunca teve AMMA também. Mas, esse
teve, dizem que chegaram lá alegando que foi
denúncia de vizinhos, som alto e tal, mas a gente
não acredita muito nesta hipótese não. Pode ter
sido boicote, pode ter sido o pessoal da missa de
antes, tem várias hipóteses aí que a gente nunca
vai descobrir.
HEAVYRAMA – Bom, uma fonte nos disse que
para realizar um evento que comportasse até 200
pessoas, não haveria problemas de ser realizado
lá no DCE; você tem conhecimento disso?
GUILHERME - Não. Não, eles já negam direto; no
DCE não tem condições. Eu tive essa experiência
no Master, fomos eu e o Greco, pedir permissão lá
na AMMA, ele falou “Não cara, o Martim Cererê
não tem condições, não abriga esse tipo de even-
to, ainda mais no DCE”. Que o Martim Cererê é
bem maior que o DCE, todo mundo sabe e tal, por
que o DCE poderia ter essa brecha?
HEAVYRAMA – Essa mesma fonte disse que no
contrato estariam explícitos, todos os trâmites a
que devem ser feitos pelos organizadores para fa-
zer eventos lá no DCE, isso é verdade?
GUILHERME - Eles se isentam de qualquer inter-
venção da AMMA. Eles são um lugar de aluguel,
um espaço para você alugar para fazer eventos.
Não tem nada a ver com o evento em si, quem
tem que ir atrás disso é o organizador; o organi-
zador só aluga o espaço. Mesmo só alugando o
espaço, que é caro pro DCE.
HEAVYRAMA – Segundo o fiscal responsável da
AMMA no lançamento da Sangre, Marcos Vi-
nicius, o local é inadequado, não comporta show
e não vai acontecer nenhum tipo de evento no
DCE. Ele garantiu isso lá na porta pra mim.
GUILHERME - Então, eu não faço mais evento no
DCE, porque os padrões dos meus eventos, são
shows daquele lá, principalmente gringo, saca?
Então, não dá para trazer uma banda gringa,
gastar um rolo de dinheiro e fazer no DCE, eu
E n t r e v i s t a - G u i l h e r m e A g u i a r
não faço. Mas, eu desejo boa sorte para quem for
fazer, e o próximo vai ser o Adriano, do Under
Metal; então, vamos ver se o Marcos Vinicius vai
cumprir a palavra dele também.
HEAVYRAMA – Como você vai fazer? Não vai
poder fazer show no DCE, a relação com o Mar-
tim Cererê também é complicada.
GUILHERME - Mas o Martim Cererê é mais maleável.
HEAVYRAMA – Por causa do isolamento acústico?
GUILHERME - É, também, e o vizinho que re-
clama mudou de lá. E assim, eles fizeram algumas
melhorias no Martin: melhoraram o camarim, a
acústica, ar condicionado; tentaram de alguma
maneira pequena melhorar o panorama lá.
HEAVYRAMA – O Circo Lahetô fechou, dizem que
não se pode produzir eventos por lá. O motivo se-
ria a reclamação de uma pessoa só, e que também
pode ter, às escondidas, uma negociação de com-
pra daquele espaço por parte de uma construtora.
GUILHERME - Fiquei sabendo que lá no Circo
Lahetô eles barraram um evento. O Under Metal
acabou rolando na Feira da Estação, a AMMA
não liberou o alvará, mas estava tendo um show
de uma igreja lá no mesmo local (Circo Lahetô).
Então, a nossa Câmara é formada por evangéli-
cos, cara. Esse cunho religioso tem a ver; é claro,
os lugares não passam de 50 Decibéis, com ex-
ceção às igrejas. Está escrito lá, a Câmara é maio-
ria evangélica.
HEAVYRAMA – Então, se não vai poder ter show
no DCE e em nenhum lugar, exceto Martim, onde
serão realizados os shows?
GUILHERME - Meu foco é o Martim, cara, por en-
quanto, pelas bandas que eu estou em mente de
trazer no futuro, o Martim comporta. Até porque
eu não tenho grana para trazer um Motörhead,
uma coisa maior assim, teria que ser no Serra
Dourada. O meu escape agora é o Martim Cererê,
tanto é que eu lembro direitinho, quando eu fui ti-
rar a documentação pro Master, precisava do Cor-
po de Bombeiros, ECAD, AMMA, aí eu e o Greco
chegamos lá na Dirce (que é a diretora do Martim)
e falamos que conseguimos tudo, até o Corpo de
Bombeiros, que nunca vem, que nunca dá vistoria
em nada, mas a AMMA faltou. Aí ela falou: “Ah,
já sei”; então, eles tão cientes que a AMMA não
libera alvará para o Martim Cererê, mas eles meio
que dão cobertura. O Martim por ser do Estado e
a AMMA do município, da prefeitura , tem esse
joguinho, essa briguinha, então é meio que um
acordo ali. O Goiânia Noise funciona sem alvará
já tem anos, mas assim, ninguém precisa ficar sa-
bendo, lógico, pra quê? Mas, o Martim tem essa
cobertura; “se a AMMA vir, deixa que eu resolvo”.
HEAVYRAMA - Victor Barbosa, tour mana-
ger do Vader, falou que pediu para que o show
começasse mais cedo e que o número de bandas
H e a v y r a m a - 2 7
E n t r e v i s t a - G u i l h e r m e A g u i a r
fosse reduzido. Por que a organização não con-
cordou com isso?
GUILHERME - Não é que não concordou, a
gente tinha combinado isso no hotel, horas an-
tes do show. Você tem de passar o cronograma
para eles, o que vai ocorrer, o que vai ser no pós-
show e tudo. Então a gente fez o cronograma.
Começou nove horas com a Necropsy no palco e
ia terminar tudo 01h30, no máximo, e tudo tran-
quilo. Terminando uma e meia tá massa! Essas
bandas estão diretamente ligadas ao selo , eu e
o Pedro baterista da Necropsy , estávamos fazen-
do esforço para trazer os caras, por que a gente
não pode tocar? E a Ressonância estava nessa,
eles vão fazer algo pelo selo no futuro, já que
é o lançamento do selo com essas três bandas a
princípio, por que não colocar pra tocar? Dentro
do cronograma desde que tudo que funcionasse
legal, beleza, daí aconteceu isso.
HEAVYRAMA - Qual sua opinião sobre o aconte-
cido? E a das bandas?
GUILHERME - Sobre as bandas não sei, mas eu
tenho as minhas conclusões. Vieram duas bandas
de fora, principais, depois desse show acho que
vai reduzir bem o número de bandas principais
e principalmente colocar bandas que tenham a
ver com as principais. Se vier um “brutal true”
ou Brujeria é o Ressonância. Se vier um Morbid
Angel ou qualquer coisa assim, um Spiritual ou
ou-tra coisa. Lamb of God, coloca um Necrop-
sy. Se o Brujeria vier,se precisar tocar eu toco,
mas eu não quero atrapalhar porque é não mui-
to a praia da minha banda. Eu cheguei nessa
conclusão, que tem de direcionar a partir das
atrações principais.
HEAVYRAMA - Se pudesse voltar naquele dia e
consertar tudo o que você faria?
GUILHERME - De produção a gente não errou
em nada. Não tinha nada que consertar quando
deu errado. Depois de quase duas horas de ne-
gociação em contato com Deus e o mundo, a
gente fez o que tinha de fazer, tentar argumentar
de todas as maneiras, subir no palco, mostrar a
cara, atitude e cancelar o show. Ai buscamos a
solução mais sensata que era dividir quem não
era de Goiás e devolver o dinheiro na hora lá.
Levamos muita ré por causa disso. Porque o pes-
soal compra de 30 reais e na hora, “não, paguei
40”. Devolvemos o ingresso pro pessoal de
Goiânia pra ser ressarcido na Hocus Pocus na
semana seguinte e assim fizemos e todo dia era
uma ré imensa. Foi a decisão mais sensata.
Ouvi gente reclamando “O público foi o mais
prejudicado”, não foi não, eu era o que mais
queria ver o Vader de todo mundo lá, tanto é que
eu tirei dinheiro do meu bolso para trazer os ca-
ras. Pô, dor de cabeça, mas eu trouxe os caras,só
não rolou por forças maiores e põe maiores ni-
sso porque a AMMA conseguiu embargar esse,
mas não conseguiu embargar o aniversário do
Woodstock, demorou pro Marcão negociar com
2 8 - H e a v y r a m a
os ca-ras. Também chegaram no aniversário do
Kuka alegando que não podia fazer rock na rua,
que não sei o quê, que os vizinhos não iam con-
cordar e a AMMA lá enchendo o saco.
HEAVYRAMA - E agora, o que será da Sangre?
GUILHERME - Esse ano a gente tirou para
planejar, ia dar um lucro fudido aquele show
do Vader, daria pra fazer um site, começar uma
empresa física, contratar gente e já pensar na
próxima atração. Tanto que depois que aconte-
ceu o cancelamento todo mundo desanimou,
mas depois do apoio da galera de “Vamos fazer
show e a grana vai ser toda para Sangre porque
vocês tiveram atitude, tiveram coragem de meter
a cara e trazer uma atração dessas e tal”, isso
impediu que a gente parasse, então estamos
com um monte de shows na mão para 2011, não
podemos parar, vamos recomeçar do zero, do
negativo, eu digo não de credibilidade, mas de
dinheiro mesmo.
HEAVYRAMA - Você acha que a credibilidade da
Sangre não ficou abalada?
GUILHERME - Não, acho que não, a gente pode
até mudar de nome, pode ser zica do nome. o
Léo Bigode, o Marco, o Pedro, eu, todo mundo
nos conhece, tocamos aí direto, o Goiânia Noise
são eles que fazem e trazem atrações interna-
cionais também. Mas eu posso dizer que no DCE
nunca mais, não desse porte.
HEAVYRAMA - A AMMA tentou jogar a culpa em
cima da organização do evento, ficou claro isso.
Disseram: “isso não pode ser feito de última hora...”.
GUILHERME - Se conseguíssemos o alvará, eles
iam liberar o local um dia antes do show e, cara,
eles liberam um dia antes do show assim como o
ECAD e o juizado libera uma hora antes do even-
to. Então, como você planeja um show depen-
dendo da autorização da AMMA e ainda com um
dia que eles vão entregar o negócio? Eles cercam
a gente de todas as maneiras.
HEAVYRAMA - Se você pudesse dizer algumas
palavras para o público de Goiânia, o que diria?
Guilherme Aguiar: Agradecer todo mundo que
acreditou, cada um que esteve lá, ao pessoal que
ficou zombando depois, obrigado pela força. Mas,
principalmente, agradecer, cara. Se a gente não
tivesse subido no palco, mostrado quem somos,
acho que teria pancada, que teria confusão, por
sorte o pessoal entendeu. Alguns se exaltaram um
pouco mais, mas isso é normal, compreensível.
Gostaria de agradecer o pessoal de fora também.
Foram muito pacientes. Agradecer e esperar, dar
um tempo até acabar o ano, pois novas atrações
virão. Estamos bem mais experientes com esque-
ma de lugar e com a mesma burocracia de sempre.
Pode escrever: não vai ser a última ré que a gente
vai levar por conta de AMMA, tanto em Martin,
como no Goiânia Arena. A AMMA estará lá.
E n t r e v i s t a - G u i l h e r m e A g u i a r
H e a v y r a m a - 2 9
I n T h e S h a d o w s - A N Á P O L I S
3 0 - H e a v y r a m a
Texto : Raphael Fellipe / Fotos cedidas pela banda
A sombra que prevalece
Você é capaz de pensar em Doom Metal sem
rotular? Hoje em dia isso é praticamente
impossível com tantas variações no estilo, mas
se você for capaz de pensar em conceitos ao
invés de rótulos, fica muito melhor.
É por este caminho que o trabalho da banda In
The Shadows deve ser levado, conectando agres-
sividade, melodia e equilíbrio ao Doom Metal
tradicional, influenciado por bandas como Can-
dlemass, My Dying Bride, Paradise Lost e tam-
bém pelo Heavy Metal original do Black Sab-
bath.
Formada em meados de 2000 em Anápolis com
uma ideia pré-definida do estilo Doom Death
Metal, a banda passou por várias formações até
se estabilizar. Da formação original ainda per-
CarlosChristian
Bjunior
http://www.myspace.com/itshadows/
I n T h e S h a d o w s - A N Á P O L I S
H e a v y r a m a - 3 1
sistem Bjunior (teclados) e Marilan Ashaverus
(guitarra/voz). Em suas músicas a In The Sha-
dows e-xecuta melodias profundas e pesadas,
com letras que falam sobre a decadência do ser
humano e sua constante luta entre o bem e o
mal existentes em seu interior, preenchido por
ódio e rancor.
Em 2000 a banda gravou seu primeiro regis-
tro, uma Demo tape auto intitulada contendo as
músicas: Sangrando em Lágrimas, Quando Caio
em um Abismo Negro, Pagã Vivacidade, A Lua
o Sol e a Terra, Sonhando na Eterna Escuridão,
Tristeza. Em 2001 grava mais dois sons: The
Fausty Empty Throne e Atrocious Penury e lança
o CD demo ‘The Fausty’. Em 2002, é a vez do
EP ‘Nas Sombras’ contendo 5 músicas: Abismo
sem Volta, Filho da Dor, Trevas, Quando a Morte
Clamar e a regravação de Sonhando na Eterna
Escuridão. Com esse material, a In The Sha-
dows alcançou excelente projeção no cenário
metal nacional, tendo feito diversos shows por
todo o país, destacando a abertura para a ban-
da holandesa After Forever em Brasília, Master
em Aracaju, Imago Mortis, Genocídio, Cirhossis
e Vulcano em Goiânia, além de ter tocado em
outros grandes festivais no Mato Grosso como o
Cerimonial da Arte Norturna, Locus Horrendus e
Metal Masters em Goiânia.
Nestes 10 anos de estrada a banda fez algumas
pausas, mas em 2009 retomou as atividades e
assinou com o selo inglês Death Toll Records.
Assim gravaram o CD ‘Bleeding Tears’ que con-
tém os trabalhos de 2001/02 e teve uma ótima
aceitação sendo lançado na Europa.
Em 2011 a In The Shadows prepara um novo
trabalho de estúdio já com titulo provisório ‘Hear
My Silent Cry In His Soul’, agora com todas as
músicas em inglês e com uma sonoridade mais
obscura e mórbida nas novas músicas: Disgust,
Letter to the Angel, De Profundis (The Chorus of
Damned) e Night of the Black Moon Charms. A
banda segue compondo e deve gravar no ano
que entra. O Doom Metal possui sombras e elas
são reais no corpo da In The Shadows.
Denner
Marilan
P o r ã o C a o s
3 2 - H e a v y r a m a
Texto : Bia Cardin / Fotos: Neli Sousa e Bia Cardin
Porão Caos IV
Mês passado foi realizado no DCE-PUC o
Porão Caos IV comemorando o aniversário
de 20 anos da banda brasiliense Death Slam. Em
torno das 18h30 haviam poucas pessoas na porta, o
som ambiente estava rolando à espera das bandas e
do público. Diferente do que estava originalmente
programado, a banda X-Granito foi cancelada.
Em torno das 19h50 o número de pessoas au-
mentou consideravelmente. Às 20h40 o evento
finalmente teve início com a abertura da banda
Ímpeto de Hardcore;
Ímpeto
O vocalista Bacural fez um breve elogio ao Fel-
lipe CDC da banda Death Slam “Os caras devem
à ele” e prosseguiu declarando sobre a sonoridade
da Ímpeto “Banda ruim, mal-tocada e fora do tem-
po”. No geral, a Ímpeto beira um HC pesado capaz
de animar o público presente. Aos poucos o DCE
encheu enquanto o vocalista fazia comentários
para descontrair os presentes que até então esta-
vam um tanto tímidos “Vocês podem assoviar para
a nossa beleza”. Em meio ao repertório eles ex-
ecutaram uma faixa de no máximo uns 20 segun-
dos e a dedicaram ao Roger Waters (Pink Floyd).
Após uma apresentação de aproximadamente 30
minutos, eles deixaram o palco sob aplausos.
Tirei Zero
A segunda banda da noite foi a Tirei Zero, tam-
bém Hardcore, um pouco mais suja e veloz do que
a anterior. Destaque para a performance enérgica
do vocalista Pedro e do resto dos rapazes que pos-
suem ótima presença de palco se movimentando
Ímpeto
P o r ã o C a o s
H e a v y r a m a - 3 3
o tempo inteiro. Durante o setlist que continha as
faixas “Mate o poder”, “Reject”, “Dia a dia” entre
outros, o vocalista insistia em pedir que o pessoal
formasse a roda de pogo e finalmente eles a fi-
zeram. Infelizmente, no meio do setlist a corda da
guitarra arrebentou, mas conseguiram consertar
rapidamente. Por mais que eles parecessem não
estar acertando as notas em vários momentos, o
clima do Hardcore disfarçava as imperfeições com
o ânimo, algo raro de se ver. O vocalista Pedro,
saltava do palco para se misturar ao público e os
retornos em cima do palco eram descuidadamente
empurrados pelos agitadores. No cover da banda
Cólera “Quanto vale a liberdade” , Pedro convi-
dou Bacural ao palco para cantarem juntos.
Kaos Klitoriano
A banda de Hardcore feminino com 17 anos de
estrada, Klaos Klitoriano possui público em todo o
Brasil. As garotas atraíram mais pessoas para den-
tro do DCE e incitaram rodas de pogo. O power
trio formado por Adriana (Guitarra), Carla (Bateria)
e Clerimar (Baixo), deram uma aula de velocidade
e foram muito bem recebidas pelos presentes. As
músicas eram curtas, mas pareciam ser suficientes
para expressar as letras recheadas de ideologia
com críticas à igreja e o favorecimento à saúde
da mulher, assim elas executam a faixa “Direito
ao aborto” seguido por um cover das Mercenárias
“ Santa Igreja”. Posteriormente, a vocalista fez um
Tirei Zero Kaos Klitoriano
P o r ã o C a o s
novo discurso, dessa vez sobre a reforma agrária
e assim seguiram o show declarando que se
sentiam em casa com a recepção do público.
“Eixo da Morte”,“Igualdade Humana“,“Sangue
de Cristo“ deram continuidade ao show. Em
“Amor livre” houve um pequeno erro de e-
xecução, onde elas tiveram que recomeçar . A
apresentação foi encerrada com a auto-intitu-
lada “Kaos Klitoriano” e um agradecimento ao
organizador do evento (Walkir) pela oportuni-
dade de realizarem o show em solo goianiense.
Death Slam
Finalmente a banda homenageada da noite
se apresentou. A presença do integrantes é
um marco nas performances do Death Slam,
alicerçado pelo vocal gutural de Fellipe CDC
(também aniversariante, completando 50 anos)
e pelo som da banda que beira ao grindcore
combinando a simplicidade do HC com o peso
do Metal. A bateria é reta e veloz e dá ritmo
para os pescoços se balançarem, o vocalista
agitado percorria todo o palco e fazia agradeci-
mentos pelo frenesi geral “Valeu pra caralho!”.
O baixo se destaca em boa parte das músicas
e moldam uma energia que é sentida e corres-
pondida; a guitarra expelia uma distorção sór-
dida sob o urro do vocalista “ Foda-se a música
gospel”, e o show prosseguiu com “State’s po-
lice”, “ Futuro de Merda”, “Destroy the Vati-
Death Slam
Mortúario
3 4 - H e a v y r a m a
P o r ã o C a o s
can”. Apesar da agitação o vocalista declarou
que esperava que desse mais gente no evento e
convidou Adriane da Kaos Klitoriano para subir
ao palco e comentou que ela já fez parte da
história da Death Slam. Entre as músicas explo-
sivas, o baixista espancava o seu instrumento,
tanto que o cabo até escapou, e os retornos vol-
tavam a ser empurrados pelo público. Em meio
ao show, Bacural (Ímpeto) invadiu o palco e
cantou parabéns para a banda acompanhado
pelopúblico delirante, depois do momento de
descontração, a Death Slam prosseguiu o show
com “Revolution” que instituiu o caos, e por
fim encerraram com um cover do Black Sab-
bath, “N.I.B”.
Mortuário
A banda que está na ativa desde 1986 subiu
ao palco, com um Metal mais evidente que as
anteriores, e com letras cantadas em português.
Tocaram “Eu vou pra Bagdá”, bem ritmada, se-
guida por “Vidro na Cara” composta por uma ba-
teria reta e riffs rápidos, entretanto o cansaço da
plateia era evidente e o show não foi tão animado
quanto poderia ter sido.”A morte chegou”, “Pinga
do garrafão” fizeram parte do setlist. A apresen-
tação da Mortuário durou em torno de meia hora.
Light Years
A banda de Anápolis que está na ativa há nove
anos fez o show de encerramento que se iniciou
às 00h40, com o galpão relativamente vazio. Eles
seguem uma linha Heavy/ Thrash oitentista com
um Motorhead evidente na sonoridade. Nas músi-
cas em geral, pode-se destacar o baixo e a sincro-
nia entre os integrantes ao emitir riffs pesados que
automaticamente agitavam os pescoços alheios.
A pegada Old School combinou muito bem com
os recursos de vocais limpo e às vezes ‘drivado’
de Bebeto que possui um ótimo alcance.
O som estava saturando um pouco, mas as
músicas eram perfeitamente audíveis, destaque
para a faixa “Feel the Heat Of Fire” e “Seeking ref-
uge” com a presença de um ótimo solo acima do
baixo maduro. “ Slave of the system” e “Brothers
never die” ficaram responsáveis por encerrar o
show. O vocalista Bebeto pediu que o pessoal de
Anápolis subisse ao palco e assim eles o fizeram,
foi um momento de companheirismo, da melhor
maneira para fechar o evento Porão Caos IV, que
venha o próximo!
Light Years
H e a v y r a m a - 3 5
3 6 - H e a v y r a m a
E n t r e v i s t a - F e l l i p e C D C
Entrevista Exclusiva com Fellipe CDCO vocalista da experiente banda Death Slam, Fellipe CDC, fez declarações sobre o show
realizado em Goiânia e inseriu comentários sobre a cena underground em Brasília.
HEAYRAMA - Qual a sensação de estar comemo-rando 20 anos de carreira?
FELLIPE CDC - Pode parecer uma loucura, mas é uma sensação de vitória, minúscula vitória, é bom frisar, mas uma vitória contra o capitalismo, esse sistema tal vil e doentio que te força a entrar no jogo dele, que te impõe o abandono de sonhos e ideais, que sufoca e destrói a liberdade individual e a coletiva. Somos a mesma banda há 20 anos, não nos deixamos seduzir pelo modismo, pelo chama-
do do mercado, não mudamos nossa música, não mudamos nossas roupas e o nosso ódio contra o sistema imposto é cada vez mais crescente.
HEAVYRAMA - Nesses 20 anos de banda, você sente que a Death Slam alcançou todos os obje-tivos desejados?
FELLIPE CDC - Não e nem vamos. Tem muito idea-lismo e, não posso negar, uma dose excessiva de utopia incorporada à alma da banda Death Slam.
www.myspace.com/deathslambr
Texto : Bia Cardin / Foto: Neli Sousa
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E n t r e v i s t a - F e l l i p e C D C
Creio que ajudamos a plantar algumas sementes dentro da cena underground, pregamos a união en-tre bangers, punks e hardcores, ajudamos a trazer à tona – dentro do universo metálico regional – temas sócio-políticos, instigamos o “Faça Você Mesmo!”, mas julgo que a nossa luta – para a infelicidade da maioria – está longe do fim. Queremos ajudar, con-tribuir e a somar muito mais dentro da cena under-ground que tanto amamos. Temos ainda muitas (os) amigas(os) para conhecer!
HEAVYRAMA - Como é a cena de Metal em Brasília?
FELLIPE CDC - Um monte de bandas fodas neces-sitando urgentemente de espaços públicos para mostrarem sua arte. É isso se aplica também ao universo da música hardcore, punk e do rock de uma maneira geral. Ai se tivesse união...
HEAVYRAMA - O que você achou do show reali-zado em Goiânia no Porão Caos IV?
FELLIPE CDC - Maravilhoso! Emocionante! I-nesquecível! Só temos, só podemos e só devemos agradecer a todos os que lá estiveram, em especial aos nossos irmãos da produtora Insetu’s, às ban-das (Tirei Zero, Ímpeto, Kaos Klitoriano, Mortuário e Light Years) que aceitaram o convite de dividir essa noite mágica conosco. Fui uma honra sem tamanho para a Death Slam. Inclusive, abuso do seu espaço para pedir desculpas públicas aos ca-maradas da Light Years por ter que sair na metade da apresentação deles. Tivemos uns problemas e quase tocamos desfalcados no dia, pois a esposa do Júnior (baixista/vocal) estava ardendo em febre e a companheira do nosso baterista Juliano, que sem-pre cola conosco no role (inclusive no de Goiânia)
também não estava muito bem de saúde, por isso tivemos que sair pouco antes do término. HEAVYRAMA - Quais são os planos da Death Slam no momento?
FELLIPE CDC - Tentar manter os ensaios pelo menos uma vez por semana, mas está difícil para caralho! Trampo, estudo, família e nossas outras bandas estão dificultando esses planos. Estamos cheios de músicas novas, ideias para tentar colocar em prática, etc. A pretensão é, pelo menos, gravar nosso novo disco (“Bombas contra a hipocrisia”) ainda em 2010. Ainda bem que contamos com o patrocínio de um estúdio local chamado ME Estúdio. Em 2011 pretend-emos lançar esse trabalho e o nosso DVD grava-do em junho de 2007, na cidade do Gama – DF. Inclusive esse DVD foi filmado e produzido por um grande amigo nosso aí de Goiânia, o cine-asta Eduardo D’Castro e no dia desse show tive-mos o privilégio de ter vários manos de Goiânia na roda de pogo.
HEAVYRAMA - Encerrando, quer deixar algum recado para nossos leitores?
FELLIPE CDC - Antes de mais nada, muito obriga-do e vida longa à revista Heavyrama, a qual agra-decemos o espaço. Fora isso, agradecemos a todos os muitos amigos que conquistamos nessa jornada pelo universo da música rápida e pesada. O Rock nos rejuvenesce! Esperamos que as pessoas voltem a apoiar mais às bandas e às produções indepen-dentes como antigamente e que as bandas pensem mais coletivamente. Abraços e muito obrigado a todos. Nos vemos nas gigs undergrounds!
Ilustração: Neli Sousa
R . I . P. - M a g n i f i c ê n c i a
4 0 - H e a v y r a m a
Texto : Bia Cardin / Fotos cedidas por Rafael Teles e Israel Wolf
Apesar da Magnificência não ser uma banda
tão antiga, resolvemos pegar o embalo da
banda R.I.P da edição passada e falar deles, que
praticamente surgiram do ventre da Velvet Vex.
A banda foi formada em 2002 por Rafael Teles,
Arnaldo Bonfim e Eduardo Brito (que tiveram pas-
sagem pela banda citada), em conjunto com Gil-
berto Black, ex-integrante da Spiritual Carnage.
Eles começaram no mesmo período que a ban-
da Velvet Vex encerrou as atividades, nesta
mesma época eles fizeram diversos ensaios e
compuseram músicas, mas ainda não se sen-
tiam preparados o suficiente para realiza-
rem um show com a nova banda, então em
2003 é que eles colocaram os pés no palco.
Para os vivenciaram a época da Magnificência,
se recordam da capacidade desses jovens de
atraírem a atenção do público. O guitarrista Rafael
Teles, atualmente com 27 anos relembra como era
receptividade da trupe headbanger em relação à
banda “Não tenho receio em dizer que a Mag-
nificência nunca chegou se apresentar sem que
lotasse os teatros do Martin Cererê ou dos DCE´s
que eram praticamente os únicos lugares de shows
de Heavy Metal em Goiânia. “
A popularidade da banda era evidente, os músi-
cos ainda colhem os frutos do seu trabalho como
representantes do Death Metal Melódico naqueles
anos “Até hoje de vez em quando ainda me param
na rua por me reconheceram daquela época como
R . I . P. - M a g n i f i c ê n c i a
H e a v y r a m a - 4 1
‘o cara do Magnificência’, e muitas vezes são
pessoas que eu sequer conheço. As pessoas sem-
pre foram muito carinhosas com a gente e ainda
demonstram isso até hoje”, exclama o guitarrista.
Após algum tempo de estrada Arnaldo Bonfim
deixou a banda e Israel Wolf assumiu o seu cargo.
Depois do período de apresentações eles final-
mente se prepararam para o lançamento do seu
primeiro material, o EP “Harmony Of Sorrow”
contendo as faixas: Dark Of The Spirit, Revolution
Falls, Dead Beauty Poem, One By One, Voiceless
Speech Of The Soul e a auto-intitulada, The Har-
mony Of Sorrow.
Com o material lançado a Magnificência osten-
tou o título de expoentes do Metal moderno, se
soltando do especulado Old School e Thrash oi-
tentista tão presente nas bandas goianas, segundo
a afirmação de Rafael Teles “Algumas pessoas ain-
da me dizem que a Magnificência foi uma banda
visionária, pois em 2004 já flertávamos com so-
noridades de agressividade e melodia que foram
cair na boca do povo apenas alguns anos depois
nos EUA e Europa, e que hoje são conhecidos por
Metalcore, Deathcore e Melodic Death Metal. Até
hoje não conheço nenhuma banda de nome que
tenha feito algo realmente significativo nesse es-
tilo por aqui no Brasil.”
Eles estavam focados profissionalmente em a-
madurecer o seu som, entretanto alguns dos inte-
grantes não estavam tão engajados na proposta,
6 - H e a v y r a m a
R . I . P. - M a g n i f i c ê n c i a
o que acabou motivando novamente a mudança
de formação do grupo. O baixista Eduardo Brito
e o baterista Gilberto Black deixaram a banda
para entrada de Henrique Carvalho, ex- baixista
da Diemension e Bruno Souza, ex-baterista da
Nightsorrow, entretanto Rafael sentia a necessi-
dade de dividir a responsabilidade dos vocais,
esse foi o momento para a entrada do também
ex-Nightsorrow, Gabriel Torelli “O Rafael eu con-
heci através do Velvet Vex. O Israel eu conhecia
de outra banda chamada Painherit que tive o
prazer de assistir em uma apresentação no DCE
da UFG, o Henrique conheci através de sua an-
tiga banda chamada Diemension, o Bruno é meu
amigo de infância, e o convite para minha en-
trada no Magnificência partiu inicialmente dele”,
afirma Gabriel Torelli. Da mesma maneira Rafael
Teles se recorda dos testes para a entrada do novo
voca-lista na banda, o frontman que segundo ele,
seria a escolha certa para dar continuidade ao ob-
jetivo do grupo “ O Gabriel além se ser um cara
fantástico, e um excelente vocalista, ele trouxe
um novo gás à banda, o que realmente foi muito
positivo. Logo, estávamos eu e ele revezando nas
vocalizações de uma forma bem interessante.”
Assim, eles tiveram a oportunidade de fazer
show em Anápolis e Brasília, mas não con-
seguiram alçar voos para estados mais distantes.
Se apresentaram no Festival On the Rock II, no
All for one - um evento beneficente em pró de
Marcelo do Old Stúdio que contou com a par-
ticipação de bandas como Heaven’s Guardian,
Necropsy Room, Dynahead (DF) etc - e também
participaram do evento Death & Black Metal em
Brasília ao lado do Necropsy Room.
A composição das músicas em termos de le-
tra e melodia ficavam ao cargo de Rafael Teles,
mas eram lapidadas pelos integrantes restantes,
ao contrário do que acontece com muitas bandas
o término proeminente da Magnificência não foi
devido ao mau relacionamento entre os compo-
nentes, de acordo com Gabriel Torelli, o respeito
entre os membros sempre foi requisito primordial
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H e a v y r a m a - 7
R . I . P. - M a g n i f i c ê n c i a
para a boa convivência “O respeito sempre rege
nossas relações, afinal, além de banda, somos
amigos, e pra mim esse é o maior “barato” em
ter uma banda. Fazer o som que você gosta com
amigos não tem preço.”
A separação da Magnificência foi a consequên-
cia de renovações individuais. Rafael adquiriu a
fé cristã, esse fator fez com que ele revesse as suas
prioridades e naquele momento a Magnificência
parecia não se encaixar mais em seus objetivos,
porém ele apoiou a continuação da banda “Optei
por ter uma conversa franca com os todos os inte-
grantes e até sugeri que continuassem sem mim,
mas no fim das contas, acabamos mesmo optando
por encerrar as atividades da banda.”, relata.
Para uma banda que parecia estar em seu me-
lhor momento, foi algo que poucos esperavam
e muitos se entristeceram, especialmente o vo-
calista Gabriel, recém-chegado no grupo que
atribuía total admiração ao grupo “Fiquei bastante
chateado, pois além de fazer parte, sempre fui um
grande fã da banda. Fazia questão de ir em todos
os shows antes da minha entrada. Nunca passou
pela minha cabeça a ideia de que um dia faria
parte da Magnificência. Marcava presença porque
realmente gostava e acreditava na banda”. Com o
rompimento das atividades as 10 músicas que es-
tavam em processo de pré-produção, infelizmente
não chegaram a ser gravadas e foram arquivadas.
O fim era inevitável, a saída digna do guitar-
rista fez com que ao menos após o término, os
integrantes mantivessem um bom relaciona-
mento prosseguindo com a amizade construí-
da durante o tempo em que estiveram juntos.
Depois de sua saída da Magnificência, Rafael
integrou-se à banda Arnion e atualmente trabalha
em um projeto nomeado Dry Bones Valley junto
com Israel Wolf (ex-Magnificência) e com os ex-
integrantes da Arnion; Carlos Henrique, Leo Araú-
jo e Rogério Paulo.
Gabriell Torelli, aos que muitos já sabem, inte-
gra uma das bandas mais ativas no cenário atual-
mente, a Hypnotica e o baixista Henrique já não
reside mais no Brasil.
Rafael comenta que apesar do bom tempo que
passou ao lado da Magnificência, não pensa em
reviver o grupo e está apenas focado em seu novo
projeto “Estou mais preocupado com o hoje, ban-
da nova, fase nova, postura nova, discurso novo,
mas com a mesma pegada que fez da Magnificên-
cia e Arnion conhecidas e respeitadas na cena lo-
cal. Creio que a Dry Bones Valley tem tudo pra
provar que quem vive de passado é museu. Ainda
há muito a ser dito, e sei que podemos começar
de onde a Magnificência parou. Então, logo te-
remos novidades por aí”.
H e a v y r a m a - 4 3
P r é - N a t a l M e t a l
4 4 - H e a v y r a m a
Texto : Bia Cardin / Fotos: Neli Sousa
Pré-Natal MetalNo dia 11 desse mês aconteceu o Pré-Natal
Metal no DCE- PUC, realizado pelo Under
Metal Zine. Inicialmente estavam programadas
seis bandas para fazerem parte do evento, Rein-
force, Apocalyptichaos, Coral de Espíritos (Brasí-
lia), Spiritual Carnage, Scania (Brasília) e a banda
Dallas Stars (Pantera Cover) , que faria uma ho-
menagem ao saudoso Dimebag Darrell. Entre-
tanto, a banda Scania não se apresentou, um dos
seus integrantes sofreu um acidente provocando o
cancelamento do show. O evento também mar-
caria a lançamento da primeira coletânea virtual
do Under Metal Zine, que contém 20 músicas de
bandas goianas contando com grandes nomes do
cenário goiano como Spiritual Carnage, Necropsy
Room, Deadly Curse, Ressonância Mórfica entre
outros; e as mesmas foram tocadas antes e nos
intervalos dos shows.
O festival estava marcado para iniciar às 20h00
e às 20h15 a primeira banda já estava no palco.
Reinforce
Após um breve instrumental a Reinforce parte
para a primeira música “Your Betrayal”, um co-
ver de Bullet For My Valentine. O som não estava
muito bem regulado, a guitarra soava baixa en-
quanto a bateria cobria os outros instrumentos e o
vocal não estava funcionando, assim tiveram que
interromper a execução da mesma e recomeçar.
“Caught to Reality” faixa autoral dos rapazes, tinha
uma pegada meio Thrash, com bons laços entre os
riffs - destaque para o vocal corretamente dosado
entre gutural e drive de Joabe Silva - o som ainda
estava meio abafado, mas bem mais perceptível do
que no início. Em “Sky in Tears” a melodia soava
um pouco mais moderna junto com o uso de voz
limpa, todavia , os headbangers pareciam precisar
de um bom aquecimento, pois se mantinham a-
tentos ao palco sem se movimentarem. A próxima
faixa “Fire Fire Fire” deu conta do recado e es-
Reinforce
P r é - N a t a l M e t a l
H e a v y r a m a - 4 5
palhou o fogo necessário para finalmente fazer o
público reagir com um bate-cabeça contagiante ao
badalar dinâmico das notas nas cordas e da força
do bumbo. A última música do setlist “Liberate the
Fire”, se mostrou diferente das demais, com um
toque de Trivium em sua melodia e pausas na bate-
ria, uma boa composição e uma boa apresentação.
Apocalyptichaos
Com um breve intervalo entre uma banda e
outra, a Apocalyptichaos, que obtém em sua for-
mação Luiz da Ressonância Mórfica subiu ao
palco. “Prelude to december “ uma introdução
instrumental, convidou os presentes a darem ou-
vidos à diferente proposta da banda que destila
um Doom Death Metal. A recepção do público
foi relativamente morna , entretanto, a banda
fez o seu papel e tocou músicas de sua autoria
como “Reborn from my ashes”, “Lies”, “Cry in
the dark”, “Never be” e a mais conhecida e que
consta na coletânea do Under Metal Zine “Nem-
esis”, todas belas composições recheadas com
denotações sombrias e marcadas pelo excelente
vocal gutural de Sandro e com a presença da vo-
calista Ellen Maris em uma faixa ou outra.
O show foi encerrado com o cover de “Phantom
of the Opera” com a participação do vocalista da
banda Viscerastika, Sílvio e de Nataly Brum, foi
uma bela execução instrumental e vocal, com
exceção das partes finais da música onde os vo-
calistas se desencontraram. Em resumo, a apre-
sentação técnica não pecou, mas não conquistou
o público, seja pelo estilo diferente, ainda muitos
têm que se acostumar.
Coral de Espíritos
Eis a banda que muitos esperavam para ver
pessoalmente. Novamente o som permaneceu
meio embolado, mas fora consertado aos poucos
durante a apresentação dos brasilienses. “Reborn
Through The Sorrow” abriu a performance com
palhetadas que relembravam o ritualístico Black
Metal, acompanhados pelo vocal gutural (meio
rasgado) e pela ótima qualidade do baterista
que fornecia variedade instrumental, enfim uma
boa escolha para a abertura do show com uma
faixa bem trabalhada demonstrando a capaci-
dade técnica do grupo. “Front Platoon” incitou a
primeira roda de pogo da noite e também expôs
a habilidade do baixista que corria os dedos nas
cordas com uma velocidade impressionante. Os
Apocalyptichaos
P r é - N a t a l M e t a l
4 6 - H e a v y r a m a
músicos estavam muito bem entrosados. “Tales of
the Endless sea”, tinha a mesma energia da banda
Death, construída com riffs densos enquanto o
baixo traçava uma linha diferente da guitarra, o
público finalmente levantou os chifres para sau-
dar a banda que evidenciava uma mistura de esti-
los. “Quoth the raven, nevermore” seguiu o mes-
mo dinamismo, com um espaço para o solo de
baixo. “Dirty and Human” exprimiu um dedilha-
do sem distorção na guitarra, com um semblante
acústico e bem colocado. “All these years” era
mais voltada ao Thrash/Speed Metal e novamente
estimulou as rodas de hardcore. Assim, eles ter-
minaram com uma despedida calorosa às 22h35
tocando Death, “Symbolic”. A banda saiu do pal-
co agradecida pela recepção, mas reclamaram da
iluminação que estava esquentando o palco.
Spiritual Carnage
O clima no Pré-Natal estava ótimo, as pessoas
descontraídas e prontas para receber a banda
ve-terana, todavia houve um grande intervalo
entre a banda anterior e a Spiritual Carnage, o
show começou às 23h50, com receio do público
ter esfriado, não foi o que aconteceu. Durante
a e-xecução do setlist, se formaram várias rodas
de poga e o público estava realmente animado
como há tempos não se via em um evento de
Metal, os músicos exibiram muita presença de
palco e instigaram headbanging coletivos, sendo
devidamente saudados pelo público. “Earth and
hate”, “Infernal Lifes”, “Crystal Lord” e a famosa
“Carcass Reign”, foram algumas das faixas que
incrementaram o repertório composto pelo Old
School, com levadas de Thrash e Death Metal.
Coral de Espíritos
P r é - N a t a l M e t a l
H e a v y r a m a - 4 7
Dallas Stars (Pantera Cover)
00h45, horário de apresentação da Dallas Stars,
banda na qual alguns foram no Pré-Natal apenas para
presenciá-los ,e logicamente, acumularam pessoas
em frente ao palco para vê-los. O guitarrista estava
devidamente caracterizado como Dimebag usando
um chapéu ‘à la cowboy’ e todos estavam prontos
curtir os clássicos de Pantera. “ Walk”, “Cowboys
from hell”, “Revolution is my name” entre outras, des-
tilaram o Thrash da banda oitentista, ao menos assim
deveria ser. A banda cover exibiu inúmeros erros de
execução em pra-ticamente todas as músicas tocadas,
em uma delas eles tiveram que parar para recomeçar;
em uma segunda parada a tomada estourou, enfim,
parecia não ser o dia para Dimebag Darrell ser ho-
menageado. A microfonia persistia e aos poucos o
galpão do DCE se esvaziou, a decepção dos verda-
deiros fãs de Pantera era visível, infelizmente o show
não foi tão grandioso quanto prometia. Mas deve-se
aqui fazer m ressalvo para o bom vocal de Murilo
Pantera. Todavia, a banda precisa fazer mais ensaios,
talvez o nervosismo (se houve) pode ter atrapalhado.
No fim eles tocaram mais uma música que segundo
eles não estava ensaiada, mas pareceu ter saído me-
lhor do que as anteriores.
O Pré-Natal foi encerrado às 01h45, segundo o
organizador Adriano Reis o evento reuniu 265 pes-
soas, incluindo as bandas, convidados, a equipe de
produção do evento e a imprensa. Com exceção de
falhas comuns que ocorrem com equipamento de
som, o evento seguiu os horários pré-definidos (ex-
cluindo o atraso de integrantes de algumas bandas
que atrasaram os shows). Enfim, mais uma noite de
Metal e uma grande reunião de headbangers para a
despedida deste ano de 2010 no DCE-PUC.
Spiritual Carnage Dallas Stars
K e e p e r o f K e y s
4 8 - H e a v y r a m a
Texto : Vitor Nunes / Fotos: Neli Sousa
A banda foi formada em meados de 2006 pe-los integrantes Cássio, Everton Caetano e Marcony Santiago, a princípio não havia uma proposta sé-ria, o que veio com o passar do tempo. O objetivo tornou-se fazer um som diferente das demais ban-das do Heavy Metal, com uma mistura de Heavy e Power Metal, estilos marcados pela capacidade de seus vocalistas obterem notas extremamente altas, inspirados em grupos famosos como Iron Maiden, Helloween e Manowar.
O nome Keeper of Keys é uma influência direta exercida pelos fãs, Marcony (ex-baterista) e Ever-ton (guitarrista), da banda alemã Helloween, que em meados de 1987 lançou um álbum intitulado “Keeper of the Seven Keys”. A escolha foi feita em eleição quando buscavam um nome com boa so-noridade e de peso para batizar o grupo. Os integrantes possuem várias experiências com outras bandas: The Spirits Of Shadows, D.D.O, Dark Ages e Dawn Tears são algumas das quais já
A resistência do Heavy Metal
K e e p e r o f K e y s
H e a v y r a m a - 4 9
tocaram ou ainda tocam. Já com seus quatro anos de estrada a banda teve poucas oportunidades para se apresentar, com um total de quatro apresentações. Para a Keeper of Keys o evento considerado mais marcante, foi o realiza-do no aniversário do Moto Clube Muthantes, que aconteceu no começo do ano em Aparecida. No momento,o grupo se prepara para a gravação de seu primeiro álbum intitulado ‘Warrior of Light’, previsto para ser entregue no final de fevereiro.
Percalços
Como todo e qualquer grupo musical encontra dificuldades em seus caminhos, não foi diferente para Cássio e Everton que passaram e ainda passam por diversas dificuldades junto dos outros integran-tes da banda. A escolha do estilo musical foi um dos primeiros, a banda procurava um som que ten-dia para o Metal Melódico, porém suas influências do Heavy Metal e Progressivo fizeram com que os integrantes optassem por aproximar sua sonoridade desses estilos.
Outro problema citado pelo vocalista é a dificul-
dade em achar instrumentalistas de qualidade em
Goiânia para esse ramo da música. Até a atual for-
mação a banda passou por quatro mudanças se
consolidando com Cássio no vocal, Everton e Ga-
briel nas guitarras, Rodrigo na bateria e Laysson no
contrabaixo.
Ao ser questionado sobre a cena do Metal em
Goiânia o vocalista afirma que há uma carência de
bandas de Heavy Metal e ressalta que “a principal
dificuldade para haver uma melhora na cena goia-
na é a falta de oportunidade para bandas que tem
o estilo tradicional, não só do Heavy Metal, mas no
Thrash ou Death”.
Cássio
Layssson
Rodrigo
Everton
Gabriel
E n t r e v i s t a - I s a b e l l a N e g r i n i
5 0 - H e a v y r a m a
Texto : Bia Cardin / Fotos cedidas por Bebel
Entrevista Exclusiva com Isabella Negrini
A cantora goiana Isabella Negrini (Bebel), 21 anos, que já teve passagem pela banda Volúpia di Baco, nos conta um pouco de sua história e tece comentários sobre seu
atual envolvimento com a música.
E n t r e v i s t a - I s a b e l l a N e g r i n i
H e a v y r a m a - 5 1
HEAVYRAMA - Como surgiu o seu interesse por canto?
BEBEL - Nossa, isso começou bem cedo (risos).
Tenho um vizinho que é professor de música
da UFG e desde cedo o filho dele toca violino.
Quando eu tinha mais ou menos uns 5 anos fi-
cava no quintal de casa imitando as notas do
violino e outras músicas, e esse professor toda
vez cobrava da minha mãe para me colocar para
estudar música, só que na época nenhuma esco-
la aceitava criança tão novinha, agora mudou,
mas antes estudar música era só a partir dos 8
anos. Comecei a ter aulas com 5 anos, fiz o co-
ral do antigo banco do Beg, depois com 7 anos
entrei na escola de música chamada Veiga Valle,
e fiquei dos 7 aos 12 anos, nesse período estudei
canto popular e piano. Infelizmente tive que dar
uma pausa, pois os estudos estavam puxados.
Retornei com 14 anos na música e logo entrei
no canto lírico e estudo até hoje. Ano passado
comecei a estudar violino, mas é um instrumen-
to ingrato para nós canhotos (risos), então agora
só me dedico ao canto mesmo.
HEAVYRAMA - Qual foi a sua primeira experiên-
cia como cantora dentro do Heavy Metal?
BEBEL- Minha primeira experiência foi aos 11
anos, conheci o pessoal ainda na época do Mirc.
Nós fazíamos covers de bandas que gostávamos,
era algo mais para diversão, até porque sempre
fui a mais novinha em todas as bandas que tive
e o pessoal sempre parava por ter compromisso.
Houve a separação da primeira banda porque o
guitarrista e o baterista na época tinham acaba-
do de passar no vestibular. Com 13 anos entrei
na ex-banda (Volúpia di Baco), foram quase 7
anos e com 15 anos fui cobrir a falta de um vo-
calista para uma banda de Hard Rock chamada
Dark Dolls (DD) e acabei ficando um tempinho,
mas na época, estava uma correria e então infe-
lizmente não deu para permanecer na DD, mas
eu e os integrantes temos um relacionamento
muito bom, somos amigos até hoje, mesmo não
havendo banda.
Fiz outros trabalhos também, participações,
como o vocal da música “Lost” da banda Vougan,
fiz um acústico com o Mário Linhares em Brasí-
lia, fiz outros trabalhos como a ópera “O mi-
lagre das Rosas” que conta a história da rainha
Isabel, e mais alguns por aí.
HEAVYRAMA - Durante muitos anos você foi a
‘lead singer’ da banda Volúpia di Baco. Como
resumiria a experiência que viveu dentro da
banda?
BEBEL - Olha, tive muitas experiências antes da
banda, durante e após, mas o grupo citado na
pergunta também foi uma época de aprendiza-
do. Tudo na vida serve de lição. Às vezes pre-
cisamos passar por certas coisas, passar por al-
gumas experiências para aprender mais, evoluir
e fazer o nosso próprio caminho! Acredito que
devemos aproveitar cada momento que temos,
seja ele como for com quem for e onde for, em
tudo há um aprendizado.
HEAVYRAMA - Atualmente, você prossegue can-
tando em alguma banda?
5 2 - H e a v y r a m a
E n t r e v i s t a - I s a b e l l a N e g r i n i
BEBEL - Na verdade eu nunca paro de cantar(risos),
posso não estar no meio “metal”, mas estou em
outros. Assim que sai da banda passei no teste do
Coro da Orquestra Sinfônica a qual estou até hoje.
Participei de alguns concursos de música tanto
aqui quanto fora. Tive a oportunidade de conhecer
maestros que tem uma história dentro da música,
enfim, fiz vários intercâmbios musicais. Gravei
alguns comerciais e alguns singles também. Nós
temos que aprender a evoluir com as adversidades
da vida, e eu sou uma pessoa que nunca fica aco-
modada, então, se a música é algo que amo nunca
vou deixá-la. Amor é um sentimento muito forte
e intenso, não há dinheiro que pague o prazer de
fazer aquilo que gostamos, não há fatos ruins que
nos faça parar, porque amor é persistência, dedi-
cação, luta. Filosofias à parte, é isso tudo e mais
um pouco o que a música significa para mim, e
como eu sempre falei, só vou parar e me calar
quando eu morrer, e como Deus é generoso, Ele
vai esperar mais um pouquinho (risos).
HEAVYRAMA - Posteriormente à sua saída da
Volúpia, você participou de um projeto chamado
Mohr’s Circle. Qual foi o destino desse projeto?
Ainda continua na ativa?
H e a v y r a m a - 5 3
E n t r e v i s t a - I s a b e l l a N e g r i n i
BEBEL - Nessa história do DVD e do CD há um
pequeno engano, porque na verdade isso tudo
aconteceu quando eu tinha 15 anos, então não
foi posteriormente a minha saída da banda. Esse
projeto já existia antes de Volúpia.
Bom, fui fazer participação em um clipe e
souberam que eu cantava então me chamaram
para participar de alguns testes e por fim o dono
do projeto, chamado Jefferson (mais conhecido
como Jefferson Keen) me chamou para ser a
vocalista do primeiro CD. O Jefferson é enge-
nheiro civil, compositor e guitarrista e o nome
do projeto se refere a uma matéria estudada no
curso de Engenharia Civil. Esse CD foi gravado
quando eu tinha 15 anos, e todos os músicos
são daqui. Participam dele o Luis Maldonalle na
guitarra, Branco na bateria, Sérgio no teclado e
Gustavo Vasquez no baixo. Foram alguns meses
na produção, gravação e tudo mais. Tudo isso
aconteceu no estúdio do Gustavo. Esse projeto
não possui só o meu trabalho, aliás, tem CD
para todo gosto (risos).
Para quem procurar no YouTube vão achar
vídeos relacionados a esse projeto cantado
em português de estilo diferente, outro mais
rock’n’roll, recentemente está sendo gravado
um voltado mais para o cenário nacional, músi-
cas mais pop. Enfim, é bem variado e foi uma
experiência única para mim.
No ano passado, em março mais ou menos gra-
vamos o DVD no Teatro Goiânia, foi outra ex-
periência maravilhosa, aprendi muito e dividi
palco com ótimos músicos, só que nesse DVD
quem está no baixo é o Rickson. No final do
ano passado o DVD foi transmitido na MTV e
ainda está nos vídeos relacionados do site da
emissora, o que nos deixou muito feliz, por um
trabalho goiano ser reconhecido dessa forma.
Levamos um pouquinho daqui para o pessoal.
Recebemos muitos convites depois disso, prin-
cipalmente para fazer uma turnê, com certeza
seria do interesse dos músicos, mas nem eu e
nem ninguém que participou do projeto é dono
dele, então essas decisões ficaram por conta do
fundador da ideia. Quem sabe quando todos os
CD’s estiverem prontos ele não aceite né?
HEAVYRAMA - Planeja continuar em projetos
voltados ao Heavy Metal?
BEBEL - Olha gosto muito do que eu faço, muito
mesmo, seja onde for, mas não tenho projetos
por enquanto, mas quem sabe no futuro né?!
HEAVYRAMA - Algum recado final?
BEBEL - Quero primeiro parabenizar a equipe
por estar dando espaço para músicos goianos
mostrarem o trabalho, o que estão fazendo e
tudo mais. Esse incentivo e esse espaço é muito
importante. Quero agradecer também á todos
aqueles que me apoiaram e apóiam, e desejo a
todos um ótimo ano novo!
Quem quiser escutar algumas músicas de Mohr’s
Circle é só acessar:
www.myspace.com/mohrscircle
O R é q u i e m - 2 ª E d i ç ã o
5 4 - H e a v y r a m a
Texto : Bia Cardin / Fotos: Neli Sousa
O Réquiem - 2ª edição
Após duas mudanças na data da realização da
segunda edição do O Réquiem – Vampire Fest,
o evento foi realizado no Clube Social Feminino,
um local mais espaçoso em relação ao do ano
anterior, mas que por outro lado não possui uma
acústica boa. O Réquiem que fora marcado para
iniciar às 20h30 sofreu atrasos. Na parte interna
do local os equipamentos estavam sendo ajusta-
dos; a estrutura do palco era mais alta do que o
comum e havia apenas uma fonte de iluminação.
Enquanto as figuras vampirescas chega-
vam ao local, o som ambiente era com-
posto por músicas industriais e EBM.
O evento foi marcado por extravagâncias: o ca-
rimbo da entrada era impresso no pescoço e ao
entrar no local o público se deparava com um belo
mural de fotos sangrentas tiradas por Poliana Sasi
e Aline Rodrigues. No bar, as bebidas servidas em
pequenos copos vermehos atendiam ao preço mé-
dio da maioria dos eventos.
Hypnotica
Às 23h20 teve início o show da banda goia-
na Hypnotica, no ambiente já haviam dezenas
Mural de Poliana Sasi e Aline Rodrigues
O R é q u i e m - 2 ª E d i ç ã o
H e a v y r a m a - 5 5
de fantasiados à temática do evento, entretanto
não deram muito atenção à banda que estava se
apresentando. O som também não estava ajudan-
do muito, o vocal estava inaudível e o ruído que
ecoava embolava as melodias dominantes no Me-
talcore da Hypnotica.
O público se manteve apático e poucos corres-
pondiam ao som deles, foi perceptível que toda
aquela confusão sonora também desconcentrou
os integrantes que tentavam se encontrar instru-
mentalmente. Ocorreu um pouco de microfonia
como é de praxe, mas quando o vocal foi aumen-
tado, tudo pareceu mais claro.
Sobre a sonoridade da banda, a Hypnotica é
uma banda relativamente experiente, com melodi-
as maduras que invocam estilos como Death Me-
tal e Thrash Metal, misturado com elementos mais
atuais. No show realizado eles tocaram músicas
do antigo trabalho como “The Darkness Inside” e
“Awakening”, recheadas com passagens melódi-
cas e afinação sórdida, entretanto ainda não dava
para ouvi-los com clareza, até que o Gabriel Torel-
li anunciou que estavam ocorrendo problemas téc-
nicos e show fora pausado por alguns instantes.
Após certa persistência para tentar cativar o públi-
co disperso, eles terminaram com dois covers de
Pantera “ Domination” e “A New Level”.
Spiritual Carnage
Depois de um intervalo extenso, a Spiritual Car-
Hypnotica Spiritual Carnage
5 6 - H e a v y r a m a
O R é q u i e m - 2 ª E d i ç ã o
nage atraiu boa parte da plateia com excelente pre-
sença de palco; o público parecia estar finalmente
mais descontraído e abertos ao Thrash/Death tradi-
cional da banda. O som alto e meio confuso per-
durou (talvez questão de acústica), mas o speed
técnico da experiente banda foi ovacionado.
Em “Infernal Lifes” a bateria dava ritmo à guitarra
veloz e ao vocal rasgado de Hemar Messiah, com
bons elementos melódicos. As próximas faixas in-
gressavam no Old School “ The Immortal Sadness”
e “Sheltered in Flames” que esquentaram o ambi-
ente ainda mais, assim como a música mais famosa
do grupo devido ao videoclipe lançado,“Carcass
Reign”, depois da execução de mais uma música,
o show teve fim às 01h25.
Apocalyptichaos
Novamente com o intervalo mais prolongado, a
última banda goiana da noite, a Apocalyptichaos,
se apresentou com riffs sombrios e lentos do Doom
Death Metal, e com a excelência da presença do
teclado que exilou uma bela introdução aos ouvidos
alheios. O vocal grave e rasgado de Sandro, eram o
prelúdio da faceta lúgubre das músicas, por vezes
cavalgadas na bateria e ressonantes sobre o teclado.
Na apresentação da banda, mais pessoas per-
maneceram em frente ao palco balançando as ca-
beças no ritmo denso de “Reborn from my ashes”,
em seguida Sandro anuncia “ Para os que choram
no escuro, ‘Cry in the Dark’”que apresentou que-
bras de compasso acompanhada pela participação
da vocalista da banda Ellen Maris. Em resumo, as
músicas são bem trabalhadas e um prato cheio
para os apreciadores do estilo, já para os que não
são tão fãs, a Apocalyptichaos pode soar um tanto
monótona e sem emoção.
Para a surpresa geral, a última música foi um
cover do famoso tema de “Phantom of the O-
pera” com a participação de Nataly Brum, Sílvio
(Viscerastika) e Isabella Negrini (ex-Volúpia di
Baco), com extrema excelência vocal de todos os
participantes, destacando a competente vocalista
Isabella que alcançou a noite mais alta do final da
música, concluindo a versão Heavy Metal magní-
fica, que obteve os merecidos aplausos, até então
foi com certeza o ápice da noite.
As performances
Depois dos shows das bandas goianas, houve-
Apocalyptichaos
H e a v y r a m a - 5 7
O R é q u i e m - 2 ª E d i ç ã o
ram apresentações performáticas sobre um tapete
vermelho colocado no meio do Clube Social. Algo
a ser ressaltado, foi a falta de aviso dos organiza-
dores após essas apresentações de que haveria
mais um grupo de Brasília para tocar no evento. Na
verdade, o aviso foi dado, mas apenas depois de
um dos organizadores agradecer a presença de to-
dos no evento, isso soou como um encerramento.
Muitos foram embora sem sequer saber que have-
ria mais uma atração em seguida, inclusive nossa
equipe também ficou confusa se haveria show das
outras duas bandas de Brasília que estavam pro-
gramadas, Acid Reaktion e Project Reinfield, assim
tivemos que permanecer no local para saber o que
ainda estava por vir e assim somente às 03h30 da
manhã a Acid Reaktion subiu ao palco, eram pou-
cos o que ficaram para ouvi-los.
Acid Reaktion
O grupo era formado por três pessoas, um que
ficava responsável pelo notebook que rodava o
”playback” da banda e os outros dois cantavam
acima desse som, demorou para que ajeitassem
tudo, causando a desistência de mais pessoas que
deixavam o local.
Quando finalmente o show teve início, foi uma
agradável surpresa ver a agitação dos integrantes
um tanto performáticos com vocais rasgados e gu-
turais, sem camisas e com rastros de tintas pelo
corpo. O som explicitamente EBM fez com que
os poucos ali restantes dançassem ao som do trio.
O ambiente relembrou as boates góticas londri-
nas. A voz era tipicamente robótica como nos mo-
delos de música industrial e som dos brasilienses
recordou bastante a banda Bile (EUA). Após inde-
terminadas faixas dançantes o show acabou ofi-
cialmente às 04h.20 e não houve a apresentação
da outra convidada.
Infelizmente, o evento não correspondeu às ex-
pectativas em relação a sua primeira edição rea-
lizada no ano passado. Perguntamos à alguns ex-
pectadores as impressões a respeito do Réquiem
e alguns apontaram o que poderia ter causado o
insucesso do evento, como a escolha do local, o
som alto ou o horário extrapolado para o começo
dos shows. Enfim, fica um recado para que o
próximo Réquiem recupere a mesma energia da
primeira edição e convidem às criaturas da noite
para demarcarem território mais uma vez.
Acid Reaktion
5 8 - H e a v y r a m a
A r t i g o - V a d e r e R a g n a r o k e m G o i â n i a
14 de novembro de 2010: o dia que entrou
para a história de Goiânia. Não pelos
shows que Vader e Ragnarok fariam cidade, mas
pelo fato da AMMA - Agência Municipal do Meio
Ambiente - interromper o Sangre Fest, sem um
motivo concreto e aparente, não deixando as
bandas se apresentarem no festival.
Vendo esse fato, e após muita discussão pela
internet, tudo isso me fez pensar, pensar e repen-
sar muita coisa que aconteceu e que acontece no
Artigo: Vader e Ragnarok em Goiânia
cenário underground goianiense.
Esta não é a primeira vez que fatos como esse
ocorrem em eventos de Heavy Metal na cidade,
mas, até onde sei, e me lembro, foi a primeira vez
que tomou tamanha proporção.
Muito se discutiu a respeito do que realmente
aconteceu no DCE-PUC, no dia 14 de novem-
bro. Será que a denúncia partiu de dentro do
DCE?! Será que foi denúncia dos fiéis da Igreja
Universitária (que fica nas dependências da PUC,
Por Adriano Reis (Under Metal Zine)
Foto: Neli Sousa
H e a v y r a m a - 5 9
A r t i g o - V a d e r e R a g n a r o k e m G o i â n i a
ao lado do DCE)?! Será que foram denúncias de
vizi-nhos?! Será que a AMMA só barrou o evento
por quê os organizadores não tiraram o alvará?!
Essas foram algumas das questões levantadas na
comunidade Goiânia Rock City, a maior comu-
nidade do gênero, de Goiânia, no Orkut. O que
será que realmente aconteceu?! Muitas perguntas
foram feitas e muitas respostas foram dadas, mas
ainda não sabemos ao certo de onde realmente
partiu “tal denúncia”.
Muitos disseram que tal situação ocorreu porque
a organização não tirou alvará na AMMA. Sin-
ceramente?! Com certeza não foi por isso! Então
pergunto: por quê apenas esse foi barrado?! Al-
guma coisa muito estranha ocorreu para que isso
acontecesse. Muitos eventos são realizados no
DCE durante todo o ano e não creio que aquele
episódio foi por culpa da organização.
Em relação ao alvará, não vale a pena retirá-
lo na AMMA para realizar eventos no DCE. Por
três motivos básicos: primeiro porque 99,9%
dos shows que ocorrem lá são pequenos, com
pouco ou quase nada de apoios e investimen-
tos por parte de empresas e etc. Segundo, que o
preço pago em um alvará, nesses eventos, paga
a impressão de panfletos, algo muito valioso para
os organizadores. Terceiro, que eles não gostam
muito de dar alvará para shows de Heavy Metal,
barrando a grande maioria dos que procuram
fazer a coisa certa. Digo isso porque já sofri com
algo semelhante.
Ainda faltam muitos investimentos em cultura,
tanto em Goiânia, quanto no restante do estado.
Não digo apenas do Heavy Metal, mas nas demais
culturas, as quais muitos de nós não frequentam.
Temos uma das cenas rock/metal mais fortes do
país, Goiânia é tida como uma “Rock city”, sendo
algumas vezes chamada de “Seattle do Brasil”(?!).
Eventos e mais eventos surgem a cada ano, um
exemplo disso é o próprio Sangre Fest. Temos
ainda o GO MOSH, Rock Solidário, Under Metal
Fest, Metal Master, Pré-Natal Metal, Natal Metal,
O Réquiem, etc, e os mais tradicionais, de grande
porte, como: Goiânia Noise Festival, Bananada,
Vaca Amarela e Tattoo Rock Fest. Não há um
único fim de semana onde não aconteça algum
tipo de evento com bandas de rock/metal, festas
do estilo (sejam na casa de amigos, pubs, pseu-
do-pubs ou em boates) e até bares e mais bares
do gênero surgiram nos útimos 10 anos como:
Woodstock Rock Bar, Julius Bar, Estação Cerrado
e o mais antigo e famoso: Vai Tomar no Kuka Bar.
Apesar de termos tudo isso, ainda não temos ca-
sas de pequeno e médio porte com preços aces-
síveis para locação e realização de eventos como
o próprio Sangre Fest e tantos outros. Sendo as-
sim, muitos produtores acabam apelando pra lo-
cais que muitas vezes são alvos de boicotes por
parte da AMMA.
Alguma coisa precisa ser feita!
Existem diversos locais abandonados, na ci-
dade, que podem ser reformados e remodelados
para a realização desses eventos. Falta um pouco
mais de bom senso dos nossos governantes e de
união de quem organiza eventos, para que de
repente se faça algum projeto para ser entregue
a prefeitura e ao estado e que estes orgãos re-
formem e cedam esse locais aos organizadores
cuidarem e realizarem seus shows. Essa é uma
ideia. Pensem nisso!
A H o r a d o P e s a d e l o
6 0 - H e a v y r a m a
Entrei na cena aos 13 anos, praticamente 14, como moradora do Jardim Europa o único local que eu po-dia ir era o falecido Terra do Nunca (perto do Terminal Bandeiras). Lá tive a oportunidade de conhecer ban-das como Desastre, L.S.D (mais tarde faria amizade com a guitarrista Samantha Soares) entre outras que desapareceram com o tempo. Entretanto, hardcore/punk nunca chegou a ser o meu forte, apesar de eu ter crescido no meio com verdadeiros punks - motivo no qual tenho verdadeiro respeito por essa tribo - o Metal sempre me atraiu mais e minha primeira e ver-dadeira experiência com o Metal ao vivo e a cores foi o show do Angra em Goiânia em 2005. Eu já tinha ouvido falar de Heaven’s Guardian, mas nunca os tinha visto, Korzus a mesma coisa, o primeiro momento no qual me deparei no show foi a entrada de Carlos Zema no palco, com seus agudos potentes; depois, a brutalidade do Wall of Death no show do Korzus, eu nunca havia presenciado tama-nha insanidade em um local só. Esse dia me mudou, me interessei por bandas e aprendi a cantar na “tora”. Umas colegas na época de colégio queriam mon-tar uma banda de Death feminino, então comecei a cantar gutural, que sempre foi o meu forte. Tive uma banda durante um período chamada Dorygnatus, chegamos a fazer um show para a motoclube Vira-go, era um som um tanto imaturo, mas que buscava originalidade, tínhamos músicas com até 8 minutos! Nossos amigos apelidavam nosso som de “Punk Me-tal”, mas assim como qualquer primeira banda, não durou muito, apesar de eu considerar ainda hoje a banda mais promissora pela qual eu passei.
Passei por muitos projetos de variados estilos, de Melódico, de Heavy, de Death e até mesmo de J-Rock com a banda KAKUMEI, nesse período tive o privilégio de ter aula de canto com Izack Salvatierra (atual vocalista da Heaven’s Guardian), e mesmo que o projeto parecesse prometer, novamente não vingou. Cursando a faculdade de Jornalismo, tive a ideia junto com uma excelente amiga de fazer uma revista que tivesse a ver com Metal, para ver se as pessoas se animavam novamente, pois até os meus amigos mais “True Headbangers” estavam desanimados com a atual situação do nosso cenário e foi assim que surgiu a Heavyrama, um produto da experiência com bandas, com amigos insensatos,e com shows i-nesquecíveis – enfim, um suspiro de quem viu o que o Metal é capaz de proporcionar, com shows que lo-tavam e a galera ia à loucura regados com a “Cantina das Trevas”. Amigos vieram e se foram. Mudaram de cidade, cortaram o cabelo e deixaram de andar com a galera (acontece!), e os que permaneceram nos ajudam nessa cruzada de ressuscitar o que há de melhor em Goiânia: O underground!
A Hora do PesadeloRelato de Bia Cardin, 21 anos, Editora-chefe da Revista Heavyrama
Headbangerando com amigos no Remanescentes
R e s e n h a - A r t o f K h a o s - D F
6 2 - H e a v y r a m a
Texto : Eduardo Aires
Surgida em 2007, da união dos amigos Thiago
Damacena, Pedro Ben e Matheus Guerra, a banda
Art Of Khaos de Brasília, acaba de lançar neste
ano de 2010 seu primeiro album, intitulado The
Art Of Khaos. Produzido por Caio Duarte e grava-
do no Estudio Broadband, especializado em rock
e metal, onde por sinal foram gravados os álbuns
das bandas Mork e Raiken, resenhadas na terceira
edição da revista Heavyrama.
Os temas abordados passeiam pelos mais di-
versos aspectos da condição humana, tais como
angústia, medo, remorso, entre outros. Nenhuma
música do álbum tem menos de cinco minutos,
mas isso não significa que a sensação chata de
repetição vem à tona. Musicalmente falando, a
cozinha é bem entrosada e ritmada, o que peca
na banda são algumas passagens do vocalista, que
soa desafinado e dissonante.
As bases rítmicas são alçadas pelo progressivo,
assim como o teclado, fundamental nas músicas
da banda, que além dos solos também deixa um
clima marcante em alguns instantes. Os solos de
guitarra soam melódicos, porém não deixam de
lado a técnica, marcando bem o passeio que a
banda faz pelo power, melódico e progressivo.
São oito faixas que compõe o album, tudo
começa com a introdução intitulada ‘Falling
into chaos’, que conta com algumas passagens
líricas femininas, assim como ‘Time to live’, já
em ‘Bur-ning in flames’, o destaque é o baixo.
Na ultima música, homônima do álbum, ‘The Art
of Khaos’, há uma surpresa, ao perceber que se
trata de algo somente instrumental. São mais de
nove minutos, a maior faixa do CD, todavia no-
vamente não se tem a sensação de repetição ou
de que já deveria ter acabado.
No geral a harmonia é muito bem trabalhada,
principalmente o instrumental, a criatividade
é valorizada pelos integrantes da banda a todo
momento nas músicas. Cada instrumento tem o
destaque na hora certa, além da presença de dife-
rentes elementos e arranjos que contribuem para a
qualidade sonora da banda.
Line-up:
Hud Andrade – Vocal
Pedro Ben – Guitarra
Fillipe Pessanha – Baixo
Thiago Di’Mascena – Guitarra
Daniel Cassini – Bateria
Matheus Guerra - Teclado
http://www.myspace.com/artofkhaos
Melódico alçado pelo Progressivo
“Harmony melting to unformed dimensions”*
R e s e n h a - G r ä f e n s t e i n - A l e m a n h a
H e a v y r a m a - 6 3
Texto: Hugo O.
Caos, solidão e consciência crítica consoli-dam temas para inspiração do novo álbum de Gräfenstein
O novo álbum da banda alemã de Black/Thrash
Metal Gräfenstein, Skull Baptism, lançado dia 12 de
novembro é o terceiro trabalho completo da horda,
que têm mais três demos lançadas. O novo trabalho
melhorou tanto na qualidade de gravação e mas-
terização quanto na técnica, em relação aos dois
discos anteriores (Silence Endless, de 2005 e Death
Born, de 2007), o que transmite sons lapidados aos
ouvidos de quem gosta de Black Metal (BM).
Em Skull Baptism, a mistura de BM e Thrash ex-
trapola a mescla feita pela banda italiana Necro-
death em 100% Hell. Nas nove canções presentes
do disco produzido pelo selo Black Hate, Tremolos
(repetição rápida de uma nota ou uma alternância
rápida entre duas ou mais notas musicais) e blast
beats se fundem e contrastam com a atmosfera
pesada e triste das guitarras, o que incita uma ele-
tricidade melancólica – se é que isso é possível –
ao apreciador das músicas.
O instrumento de destaque é a guitarra. Seus
acordes e palhetadas conduzem a melodia através
dos ditames da bateria encorpada e soturna - que
como em outras bandas de BM, fica no plano de
fundo juntamente com o baixo de Hackebeil.
Greifenor e seu gutural rasgado entrecorta a har-
monia de uma forma peculiarmente pertencente
ao estilo, se assemelhando ao vocal de HansFyrste,
da banda norueguesa Ragnarok.
As letras impressas como que rabiscadas forte-
mente sobre o encarte é outra demonstração do
quanto os alemães se esforçaram para fazer um
trabalho bem feito. Todos os elementos gráficos do
encarte inspiram os mesmos sentimentos e aguçam
os mesmos sentidos de sofrimento e dor. As letras
pregam então a libertação da Psique dos indivídu-
os por meio da solidão e, consequentemente da
evolução do pensamento crítico e filosófico.
Line-up:
Greifenor - Vocal/Guitarra
Hackebeil - Baixo
Ulvernost - Bateria
http://www.myspace.com/grafenstein
* Harmonia derrete-se em dimensões deformadas (in-
terpretação livre) – trecho retirado da primeira faixa de
Skull Baptism, Essence of Chaos.
R e s e n h a - S p a l l a h - S P
6 4 - H e a v y r a m a
Texto : Artur Dias
A banda paulista Spallah nasceu em Guarulhos
em 2007 com um proposta um tanto diferente do
que se costuma encontrar por aí. Formada pelos
músicos Rafael (vocal), Bozzo e Junão (guitarras),
Vicente (baixo) e Jeff (bateria), o grupo apresen-
tou seu primeiro trabalho gravado em 2010, o sin-
gle “Follow”. São apenas duas músicas, mas sem
dúvida já pode-se perceber que possuem bastante
potencial e uma abordagem fora do convencional.
Com um som bastante moderno o com uma
mescla de influências, o trabalho da banda é
difícil de ser rotulado. É possível perceber que
eles bebem da fonte do Metalcore, com uma
série de breakdowns e com variações entre vo-
cais limpos e guturais. Mas o Spallah tem muito
mais a oferecer. Muitas passagens que lembram
bandas como a sueca Soilwork e trechos pro-
gressivos, com licks de guitarra que entram na
Do progressivo à percurssão
hora certa, fazem do grupo de Guarulhos um
achado, num estilo musical que muitas vezes
peca pelo uso de fórmulas repetitivas.
O destaque do single vai para a faixa-título
“Follow”. A gravação contou com a partici-
pação especial de Danny Couto, da banda
norte-americana Ill Niño na percurssão, o que
conferiu uma atmosfera bem brasileira à músi-
ca. Impossível não associar essa inserção aos
trabalhos pioneiros dos irmãos Cavalera em no
Sepultura e Soufly. Deveras interessante.
Concluindo, o single mostra uma banda
bastante peculiar e competente, com potencial
para crescer e se destacar. As diversas influên-
cias trazem um som moderno, no bom sentido
do termo. Agora é esperar o próximo trabalho
do grupo. Vale a pena conferir.
Line-up:
Rafael - Vocal
Bozzo - Guitarra
Junão - Guitarra
Vicente - Baixo
Jeff - Bateria
http://www.myspace.com/spallah
R e s e n h a - R a v o k - D F
H e a v y r a m a - 6 5
Texto : Artur Dias
Velocidade e Desespero
A banda Ravok é oriunda da cidade de Niterói
– RJ e foi fundada em fevereiro de 2005. Após um
período de trabalho e consolidação da formação,
o grupo lançou seu primeiro álbum no Brasil e na
Holanda em 2010. Formada pelos músicos Jack
Benzell (vocal e teclados), Lucius MacGomery
(guitarra), Jason Stark (baixo), Ed Fallman (tecla-
dos) e Peccatu (bateria), a banda apresenta um
metal extremo, veloz, melódico e com muito sen-
timento em oito músicas.
A primeira faixa, “Reborn in Fire”, se inicia com
uma passagem épica, que lembra grandes meda-
lhões do Power Metal como Gamma Ray. Em se-
guida, blast beats mostram que o grupo caminha
em outra direção. O vocal rasgado, em harmonia
com o instrumental bastante coeso e com boas li-
nhas melódicas, transmite um clima de desespero,
sentimento presente em todas as músicas do álbum.
Uma das principais características do grupo é a
técnica. A presença de bons solos de guitarra, uma
bateria consistente e veloz e linhas de teclado que
atuam bem tanto na parte harmônica quanto nos
solos não passa despercebida nas faixas do álbum,
que são curtas e velozes.
A influência de bandas de Black/death melódico
nórdicas é notória. Na primeira audição já vêm à
cabeça grupos como Children of Bodom, Winter-
sun e Dimmu Borgir. Essa influência, presente con-
stantemente, acaba por tornar a audição de todo o
álbum um pouco repetitiva, com poucas variações
no vocal ou no ritmo das músicas.
Deste modo, a banda Ravok apresenta um Death
Metal Melódico, com muitas passagens que lem-
bram bandas de Black Metal Sinfônico e com altas
dosagens de técnica, velocidade e desespero. Boa
pedida para quem gosta do gênero, mas um tanto
enjoativo para quem não está habituado. Sem dú-
vida um excelente trabalho.
Line-up:
Jack Benzell - Vocal
Lucius MacGomery - Guitarra
Jason Stark - Baixo
Ed Fallman - Teclado
Peccatu - Bateria
http://www.myspace.com/bandaravok
C o n t o - A s F l o r e s d e A l i c e
As flores de Alice – Parte TrêsPor Jôder Filho
Quando Cássio acordou na manha seguinte já era quase meio dia. Ele se levantou assustado e sentou-se na beira do sofá-cama olhando a bandeja com suco de laranja e algumas bolachas. — É pouco, mas é o que consegui arrumar em cima da hora. – Giovanna saía pela porta da cozinha, já arrumada para sair. – Vou fazer umas compras, por enquanto você fica aqui em casa. Melhor não ar-riscarmos que te vejam até termos certeza de que não suspeitam de você. Vou passar no laboratório e ver se descubro o que é isto também. – ela disse balançando o frasco do remédio na mão. – Se precisar de qualquer coisa, me ligue. E se a policia aparecer me avise ur-gentemente! Ela apanhou as chaves no pote em cima da mesinha e saiu trancando a porta atrás de si. Cássio, sentado no sofá-cama ficou sozinho no cômodo. Sozinho. Essa era a única palavra que definia sua vida dali pra frente. Alice se fora e, por mais amigos que tivesse, nunca mais seria o mesmo. Ele planejou uma vida inteira com ela, ensaiou no mínimo umas cinquenta vezes em como a pediria em casamento, tudo em vão. Afastou os pensamentos. Não precisava disso agora. Ajeitou-se e tomou um gole do suco de laranja. Deu uma leve engasgada. O suco estava sem açúcar e ele se esquecera que Giovanna era uma dessas naturebas. Por mais irônico que fosse ela amava Coca–cola. “Vai entender” ele pensou com um sorriso de leve no ros-to. Pegou duas bolachas e pôs de uma vez só na boca. Só agora percebia que estava há quase dois dias sem se alimentar direito. Pegou mais duas e caminhou até a área dos fundos. No quintal os dois cães estavam de cara enfiados nas tigelas de ração, alheios a chegada de Cássio. Ficou alguns minutos observando os cães e voltou para a sala. Ligou a TV de Giovanna, mas nada o interessava nos canais. Aquela situação o inco-
modava cada vez mais. Queria fazer algo, ocupar sua mente. Era a única maneira de não pensar em Alice. Pensou exatamente no que queria fazer. Giovanna não gostaria nada disso, ele sabia, mas ele precisava. Era seu dever, sua obrigação achar a verdade sobre a morte de seu amor. Se fosse esperar a policia fazer algo, provavelmente morreria sem saber a resposta. Levantou-se decidido e caminhou até a porta. Apa-nhou as chaves de seu carro no pote ao lado da porta. Saiu trancando a porta atrás de si. Iria atrás de pistas. Iury se remexeu no banco do Vectra negro quando viu Cássio saindo da casa e se dirigindo para a entrada da garagem. Ele estava de saída e Iury tinha que segui-lo. “Saco” pensou “mal dormi por causa desse bosta e agora tenho que segui-lo”. As ordens do contratante haviam sido claras. “não o perca de vista em mo-mento algum” ele dissera ao telefone, a voz distorcida graças ao aparelho “quando chegar a hora de matá-lo você receberá minha ligação”. Iury detestava serviços de perseguição. Era um matador, um assassino. E dos bons. Seus serviços não eram baratos e sua propagan-da eram seus outros clientes. Eles o indicavam. A alta sociedade de Goiânia, até de Goiás e outros estados o conheciam. Era um caçador, não uma babá. Não gos-tava de seguir ninguém por mais de dois dias, exceto, é claro, em problemas pessoais, mas esses ele resolvia mais facilmente. O seu negócio era a morte. Tânatos e Hades eram seus deuses e era com eles que ele sabia lidar. Sabia as oferendas perfeitas para eles. Apelidara seu Vectra de Caronte em homenagem ao barqueiro infernal. E Iury, o melhor assassino de Goiânia, algoz de políticos e famosos, agora lidava com um jogui-nho infantil de “gato e rato”. Não podia deixar de se enfurecer com isso. Tinha treinamento. Tinha equipa-mento. Tinha experiência e, mais importante de tudo, tinha coragem para terminar qualquer serviço, por
6 6 - H e a v y r a m a
C o n t o - A s F l o r e s d e A l i c e
mais difícil que parecesse. Queria poder colocar suas mãos na garganta de Cássio logo. Queria poder olhar nos olhos do rapaz e sentir o medo que ele exalaria. Depois que matasse Cássio iria atrás do cliente. A quantia oferecida era monstruosa, mas ninguém trata-va Iury daquela forma. Ninguém! Descobriria o nome do contratante, arrumaria sua ficha completa e depois iria atrás dele. Se houvesse mais alguém o querendo morto, talvez pudesse oferecer seus serviços. Se não, tornaria a questão pessoal. O som do carro de Cássio acelerando o trouxe de volta à realidade. Ele ligou o seu carro e saiu depois que Cássio já fazia a curva na esquina de cima. Ti-nha que manter certa distancia para não ser notado. Seguiu o Corsa sedan até a Avenida Goiás e depois entraram na rua 4. O centro da capital era um ema-ranhado de ruas com nomes desconexos, outras com nomes parecidos e algumas até iguais. Cássio esta-cionou em frente a um dos muitos sebos que haviam por ali, desceu e entrou na livraria. Iury pôs seu carro do outro lado da rua e decidiu esperar na lanchonete que havia mais a frente. Dali poderia ver o carro e a entrada do sebo. Dez minutos depois Cássio saiu da livraria com uma sacola de plástico cinza em uma das mãos, entrou em seu carro e partiu fazendo a cur-va na Rua 9 e seguindo até a Paranaíba. Iury o seguia como um falcão. Cássio ainda tentava organizar sua agenda do dia. Comprara dois livros sobre química no sebo e agora se dirigia para a casa de Laura, uma das amigas de Alice. Tinha perguntas a fazer. As duas, curiosamente, se conheceram numa clinica de reabilitação para usuários e viciados. Compartilhavam de histórias se-melhantes e tornaram-se grandes amigas. Alice tinha conseguido se livrar desse pesadelo há muito tempo, já Laura não. Ela passou por três ou quatro clinicas, mas nunca conseguia parar. Se Alice tivesse voltado às drogas, e Cássio orava pra que isso não fosse verdade, Laura seria a primeira a saber. Além do mais, se o tal Haxideno fosse de fato alguma droga, Laura também saberia e talvez até pudesse lhe indicar algum lugar onde é vendido ou alguém que estivesse metido nisso.
Traficantes eram uma escória da terra, a imundície da sociedade e uma gente perigosa. Mas, se Cássio que-ria descobrir a verdade sobre a morte de Alice, e ele desejava isso mais do que tudo, ele teria que se en-volver com essa sujeirada toda. Seu celular vibrou no bolso da calça jeans interrompendo suas divagações. — Alô? — Onde é que você está seu maluco? – era Gio-vanna – Que me matar de susto, é? – ela completou. — Me perdoe. Eu sei que deveria ter deixado algum bilhete, mas minha cabeça tá cheia de coisa pra pen-sar agora. Desculpa ,sério. — Tudo bem, só que você me deixou preocupada. Onde você está? — Resolvendo umas coisas pendentes. Mas logo eu volto. Não se preocupe, eu fico longe de encrenca. —Só me diz que você não saiu pra bancar o detetive pela cidade. — Não, claro que não. – mentiu – São assuntos pen-dentes da banda. Eu decidi largar e agora tenho que resolver mais algumas paradas burocráticas aí. —Tudo bem, mas me avise se precisar de algo. Fiz uma cópia da chave pra você e passei em casa pra te entregar, mas como você saiu... Vou deixá-la no aparador pra você, ok? —Tudo bem. Volto a tempo do jantar e deixa que por hoje é por minha conta. Tenho que desligar, até a noite. Cássio continuou seu caminho até a casa de Laura. A casa dela ficava no setor Cidade Jardim. Em dez, no máximo 15 minutos chegaria lá e poderia obter algu-mas respostas. Assim pensava o rapaz. Seis metros atrás do carro de Cássio, Iury sorria ma-liciosamente. Sabia pra onde o rapaz estava indo. O cliente tinha razão, o rapaz era inteligente. Tinha que tomar cuidado. Acelerou seu Vectra e ultrapassou o carro de Cássio. Chegaria lá primeiro, e deixaria uma surpresa para o rapaz. Ele não gostava disso, mas bem no fundo o matador podia sentir uma verdade nova se formando em sua mente: aquele jogo de “gato e rato” estava ficando divertido, e ele iria aproveitar ao máximo até o fim.
H e a v y r a m a - 6 7
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