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Revista Sensatez 4

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Uma publicação da Sociedade Brasileira de Dermatologia.Tema desta edição - Solidariedade

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Por valorizar mais a beleza e o preço do que a qualidade dos serviços, milhares de pessoas, como o Theo, colocam a saúde em risco buscando tratamentos não adequados para a sua pele. Muitos se esquecem de checar as credenciais do profissional e do local do atendimento. Evite problemas, o primeiro passo é buscar sempre um dermatologista associado da SBD. Ele é o profissional certificado para cuidar da sua pele como ela merece.

MAIS INFORMAÇÕES SOBRE CUIDADOS COM A PELE E ONDE ENCONTRARUM MÉDICO DERMATOLOGISTA MAIS PRÓXIMO, ACESSE WWW.SBD.ORG.BRConheça a história completa do Theo.

Procure antesum médicodermatologistacerti�cado.

CERTIFICADOBaixe o app mobilee saiba qual odermatologista da SBDmais próximo de você.

Os clientes são atraídos pelos baixos preços e pela facilidade de compra e terminam por adquirir, na verdade, um grande problema. “O anúncio prometia um tratamento quase milagroso contra acne, com resultados rápidos e um preço bem em conta. Depois entendi o porquê. Além de não funcionar, o tratamento piorou minha pele, só então eu procurei um médico dermatologista e consegui um tratamento realmente eficaz”, desabafou Theo Van Der Loo, que comprou o tratamento neste tipo de site.

A saúde e o bem-estar envolvem o conceito de atendimento multidisciplinar, mas temos observado, em várias áreas da saúde e da medicina, uma proliferação de profissionais não capacitados. A cada dia recebemos com pesar notícias de erros gravíssimos em atendimentos hospitalares, em clínicas e consultórios, relatando a aplicação de substâncias e medicações erradas, procedimentos mal executados, além da realização de procedimentos invasivos realizados por não médicos. Um dos problemas fundamentais nestes incidentes é a falta de preparo, competência e qualificação técnica dos profissionais envolvidos.

Na dermatologia, particularmente no que abrange a estética, a busca por tratamentos ligados à beleza alavanca uma invasão de profissionais nem sempre habilitados, que vêm realizando diversos procedimentos relacionados à pele, muitos destes considerados invasivos e, portanto, pressumindo-se que sejam de competência profissional do médico. Como consequência, é cada vez maior o número de reclamações e o volume de complicações graves.

Muitos anúncios na internet confundem e enganam a população, no que diz respeito à qualificação do atendimento e do profissional. É curioso observar a proliferação de vários termos combinando as palavras estética e dermatologia com dermaticistas - “técnicos que atuam nas estéticas facial e corporal”; dermatofuncional - “área de atuação do fisioterapeuta no campo da estética” e biomédico estético -

“área da biomedicina que atua nas disfunções estéticas faciais e corporais”. Como se não bastasse, ainda aparecem em sites como doutor ou doutora, a confusão é certa, e a situação se agrava, pois, para a opinião pública, estes profissionais podem ser vistos ou confundidos com dermatologistas.

E tudo fica ainda pior, quando se sabe que os tratamentos dermatológicos e estéticos estão cada vez mais vulgarizados e banalizados em promoções de sites de compras coletivas que oferecem milagres como no caso de Theo.

A dermatologia e a estética caminham juntas, envolvendo cuidados com a saúde do corpo e da pele. Os maiores riscos ocorrem especialmente quando se realizam procedimentos invasivos, com substâncias e tecnologias que requerem habilidade e conhecimento técnico para manipular e lidar com possíveis complicações, como a aplicação de toxina botulínica, o uso de preenchedores, a aplicação de lasers e tecnologias invasivas e peelings, entre outros. Qualquer profissional está sujeito a complicações; o que importa é a sua real competência na realização dos tratamentos.

Escolher um especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) no momento de realizar um procedimento concede ao paciente a segurança de saber que este profissional passou por 6 anos de estudo durante a graduação em medicina, 3 anos durante a especialização em dermatologia, além de um rigoroso processo de avaliação de competências e habilidades, para poder atuar com segurança e conhecimento, seja no tratamento e diagnóstico de doenças, seja na realização de procedimentos estéticos de restauração e promoção da beleza de sua pele.

No Brasil, os dermatologistas são oficialmente representados pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Por meio do conceito de sua campanha “Pele é saúde”, a entidade ressalta a importância do acompanhamento médico em todos os tipos de tratamento que envolvem a pele.

COMPRAS COLETIVASX DERMATOLOGISTASA febre das compras coletivas, iniciada em meados de 2010, tem durado mais que a média das tendências de internet. E o pior, está em alta neste mercado de venda de pacotes que envolvem tratamentos médicos e estéticos, como preenchimentos, laser, toxina botulínica e até cirurgias, realizados por profissionais nem sempre qualificados.

SERVIÇO - Sociedade Brasileira de Dermatologia - www.sbd.org.br - Av. Rio Branco, 39 - Centro - Rio de Janeiro, RJ.

INFORME PUBLICITÁRIO

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Por valorizar mais a beleza e o preço do que a qualidade dos serviços, milhares de pessoas, como o Theo, colocam a saúde em risco buscando tratamentos não adequados para a sua pele. Muitos se esquecem de checar as credenciais do profissional e do local do atendimento. Evite problemas, o primeiro passo é buscar sempre um dermatologista associado da SBD. Ele é o profissional certificado para cuidar da sua pele como ela merece.

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A saúde e o bem-estar envolvem o conceito de atendimento multidisciplinar, mas temos observado, em várias áreas da saúde e da medicina, uma proliferação de profissionais não capacitados. A cada dia recebemos com pesar notícias de erros gravíssimos em atendimentos hospitalares, em clínicas e consultórios, relatando a aplicação de substâncias e medicações erradas, procedimentos mal executados, além da realização de procedimentos invasivos realizados por não médicos. Um dos problemas fundamentais nestes incidentes é a falta de preparo, competência e qualificação técnica dos profissionais envolvidos.

Na dermatologia, particularmente no que abrange a estética, a busca por tratamentos ligados à beleza alavanca uma invasão de profissionais nem sempre habilitados, que vêm realizando diversos procedimentos relacionados à pele, muitos destes considerados invasivos e, portanto, pressumindo-se que sejam de competência profissional do médico. Como consequência, é cada vez maior o número de reclamações e o volume de complicações graves.

Muitos anúncios na internet confundem e enganam a população, no que diz respeito à qualificação do atendimento e do profissional. É curioso observar a proliferação de vários termos combinando as palavras estética e dermatologia com dermaticistas - “técnicos que atuam nas estéticas facial e corporal”; dermatofuncional - “área de atuação do fisioterapeuta no campo da estética” e biomédico estético -

“área da biomedicina que atua nas disfunções estéticas faciais e corporais”. Como se não bastasse, ainda aparecem em sites como doutor ou doutora, a confusão é certa, e a situação se agrava, pois, para a opinião pública, estes profissionais podem ser vistos ou confundidos com dermatologistas.

E tudo fica ainda pior, quando se sabe que os tratamentos dermatológicos e estéticos estão cada vez mais vulgarizados e banalizados em promoções de sites de compras coletivas que oferecem milagres como no caso de Theo.

A dermatologia e a estética caminham juntas, envolvendo cuidados com a saúde do corpo e da pele. Os maiores riscos ocorrem especialmente quando se realizam procedimentos invasivos, com substâncias e tecnologias que requerem habilidade e conhecimento técnico para manipular e lidar com possíveis complicações, como a aplicação de toxina botulínica, o uso de preenchedores, a aplicação de lasers e tecnologias invasivas e peelings, entre outros. Qualquer profissional está sujeito a complicações; o que importa é a sua real competência na realização dos tratamentos.

Escolher um especialista da Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD) no momento de realizar um procedimento concede ao paciente a segurança de saber que este profissional passou por 6 anos de estudo durante a graduação em medicina, 3 anos durante a especialização em dermatologia, além de um rigoroso processo de avaliação de competências e habilidades, para poder atuar com segurança e conhecimento, seja no tratamento e diagnóstico de doenças, seja na realização de procedimentos estéticos de restauração e promoção da beleza de sua pele.

No Brasil, os dermatologistas são oficialmente representados pela Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD). Por meio do conceito de sua campanha “Pele é saúde”, a entidade ressalta a importância do acompanhamento médico em todos os tipos de tratamento que envolvem a pele.

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CARTA DAS PRESIDENTES

Dermatologia, Saúde, Sustentabilidade e Responsabilidade Social, são temas sem-pre presentes na Revista Sensatez, publicação oficial da Sociedade Brasileira de Der-matologia, que através  de um canal de comunicação eficiente e de alta qualidade busca reforçar e incorporar estes conceitos a prática do cuidar. A  SBD acredita que enquanto prevalecer o respeito e a segurança a uma especialidade médica, toda forma de cuidado e valorização da beleza sempre vai estar amparada pela ética e o respeito ao ser humano.

A Sociedade Brasileira de Dermatologia hoje apresenta papéis relevantes, que vão além de sua formação acadêmica. O dermatologista da SBD transita em universos extremos como o da saúde pública, que sofre grandes dificuldades até o universo da cosmiatria cujos avanços ultrapassam nossos sonhos do imaginário coletivo. Essa percepção é importante pois sinaliza  a responsabilidade e o compromisso da SBD em formar profissionais éticos, socialmente responsáveis e principalmente com o compro-misso de servir. O dermatologista da SBD cuida da beleza e também da saúde do povo brasileiro. Essa responsabilidade passa também pela participação nas campanhas de combate ao Câncer de Pele, Psoríase, Hanseníase, DST e AIDS, transformando cada profissional em um agente multiplicador dentro da sua comunidade. A consciência e a reflexão são importantes para que possamos melhorar e atingir o exato objetivo das nossas responsabilidades e dos sonhos do porvir, contribuindo para uma Medicina séria, de qualidade e socialmente responsável em toda sua plenitude.

Dra. Denise SteinerPresidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia

Gestão [email protected]

Dra. Bogdana Victória KaduncPresidente da Sociedade Brasileira de Dermatologia

gestão [email protected]

CONSCIÊNCIA E SOCIEDADE

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Editorial

Dra. Luciana S. Rabello de OliveiraEditora-chefe - Revista Sensatez

[email protected]

Os gregos antigos diziam que ninguém se banha duas vezes no mesmo rio... Somos transformados... não seremos mais o mesmo, nem o rio... tudo segue o fluxo dialético da impermanência...

Um ciclo que acaba e outro que se inicia... um gosto, um desejo...Solidariedade   foi um tema que se transformou através de um sonho para uma

prática de gestão começado em 2012 e terminado em 2013, agregando diretorias e presidentes em perfeita sintonia do bem servir...

Um novo ano se inicia e com ele novos projetos e novas visões são discutidas, mas esse nobre sentimento é o que continua a nos mover enquanto essência.

Viver  solidariamente no abraço, no toque, na lembrança diária, no amparo, no res-gate, no aperto de mão, na ação conjunta, do desejo de servir... enfim, naquilo que nos faz humanos.

Sensatez traz a Solidariedade para discussão. Na seção Face a Face temos a honra de contar a história de alguns dermatologistas envolvidos com ações concretas, trans-formando os ideais em projetos sociais, visando o bem coletivo. Ao longo das páginas a Solidariedade sai dos “muros” das ações concretas e passa a ser discutida enquanto ideologia de viver e ser feliz. Perpassa também na seção Sentindo na Pele, onde a do-ença passa a ser exemplo de superação e crescimento interior. Para os amantes da culi-nária, Sensatez traz a receita e a história do pão nosso de cada dia, alimento secular e universal, presente em todas as ocasiões do humano. Em Caminhos, a beleza e a cultura de um país plural: Canadá de todos as cores, de todos os povos, do desejo apaixonante de permanecer... Em Perfil, confira a entrevista com Wellington Nogueira, fundador dos Doutores da Alegria, mostrando a força do desejo que transforma-se em ação concreta de fazer o bem, confirmando a máxima de que para mudar o mundo basta ter consciên-cia de seu próprio poder de transformação...

Assim, convidamos você, leitor, a ser “semente” de transformação, contribuindo de forma consciente, sensata  e ainda mais solidária para um mundo mais humano e melhor para todos!

Boa Leitura!

SOLIDARIEDADE É SENSATEZ

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Excelente a edição 3, com Isabel Fillardis na capa. Proponho, continuando a linha da etnia. Conteúdo excelente e pertinente. Grato e abraço a todos!

Parabéns pela Sensatez edição número 3. Adorei o artigo de Dra. Tânia Nely Rocha, “A doença como caminho”. Muito bom!!!

Em visita ao consultório da minha dermatologista tive contato com a Revista Sensatez que trazia na capa e como matéria principal a atriz Isabel Fillardis. Gostei muito de saber mais sobre sua vida e seus trabalhos além da dramaturgia. A Sociedade Brasileira de Dermatologia está de parabéns pelo conteúdo e por esta belíssima disposição da cultura e miscigenação étnica do nosso país.

Para uma edição que traz a mistura do povo brasileiro, nada mais pertinente do que tratar sobre um dos alimentos mais tradicionais e mais característicos da nossa nação e do ritmo-tema do Brasil. A matéria sobre Samba e feijoada traz toda essa “cara” brasileira e reflete isso por causa da variedade étnica que encontramos aqui. O texto me incentivou a mostrar aos meus alunos mais sobre estes aspectos que permeiam nosso povo e nossa cultura. Devemos aprender muito mais sobre nós mesmos. Parabéns!

O Príncipe Alessandro Wassilieff e Ofrosimoff da Rússia, é um dos grandes entusiastas da Revista Sensatez. Ele teve sua carta publicada na nossa edição anterior e agora nos enviou esta foto que demonstra sua admiração pela publicação. Esperamos continuar cumprindo nosso papel como agente de informação e de promoção da saúde e da qualidade de vida, para que o Brasil possa crescer e se desenvolver cada vez mais.

Ao príncipe Alessandro nosso muito obrigado!

Dr. Renato Sau Rios (Dermatologista pela SBD)Santos - SP

Genúsia Praxedes - PsicólogaBoa Vista - Roraima

Marcelo Lima - ProfessorCampina Grande - Paraíba

Dra. Anirce de Albuquerque Cavalcante Libório (Dermatologista pela SBD)Recife - PE

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FACE A FACE

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INTERFACE

PERFIL

Ações mais que sociais um caminho para um novo milênio

A face da transformação

Ser voluntário: Projeto de vida

Quando um sorriso muda tudo

20O Brasil pátria, e uma mão gentil...

Ser solidário para não ser solitário

24Pela transformação social através da cultura e da arte

Cara de palhaço, alma cidadã

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Índice

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Supervisão GeralSociedade Brasileira de Dermatologia

Diretoria Responsável 2013-2014Presidente: Denise Steiner

Vice-Presidente(a): Gabriel Teixeira GontijoSecretário(a) Geral: Leandra D’ Orsi Metsavaht

Tesoureiro(a): Leninha Valério do Nascimento1º Secretário(a): Flávia Alvim Sant’Anna Addor

2º Secretário(a): Paulo Rowilson Cunha

Editora-ChefeDra. Luciana Silveira Rabello de Oliveira

Jornalistas ResponsáveisRibamildo Bezerra de Lima - DRT 625/99

Ulisses Praxedes - DRT 2787/08Julia Guimarães Silva Costa - 30472/RJ

Projeto Gráfico e DiagramaçãoDaniel Durante

danieldurante.com.br

RevisãoEliene Resende

Fotos Doutores da alegriaElisa Taemi

Luciana Serra

Versão OnlineNazareno N. de Souza

Victor GimenesSamuel Peixoto

Contato PublicitárioPriscila Rudge Simões

ImpressãoSol Gráfica

CirculaçãoDistribuição Gratuita23.000 exemplares

Para se corresponder com a RedaçãoAv. Rio Branco, 39/ 17° andar-centro.

Rio de Janeiro-RJCep: 20090-003

e-mail: [email protected]

A equipe editorial da revista Sensatez e a Sociedade Brasileira de Dermatologia não garantem nem endossam os produtos ou

serviços anunciados, sendo as propagandas de responsabilidade única e exclusiva dos

anunciantes. As matérias e textos assinados são de inteira responsabilidade de seus autores.

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EQUILIBRIUM

NATURALMENTE

SABOR E ARTE

CAMINHOS

SENTINDO NA PELE

EM EVIDÊNCIA

O médico e o riso

A vida que vem do lixo

“Nossa missão é investir em capital humano”

Uma sólida e humana atitude

Solidariedade

O pão nosso de tantas vidas

Canadá: Diversidades edestinos

Solidária psoríase

Pela vida e pela cidadania

Expediente

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10 | Revista Sensatez

FACE A FACE

Os problemas socioeconômicos só podem ser resolvidos com o auxílio de todas as formas de so-lidariedade. Esta é uma exigência de ordem moral, é espontânea, vem por convicção.  Associada a com-paixão, vai além de bens materiais, requer espírito de entrega. É uma voz interior, que clama por igualdade e desejo de auxiliar, tendo como única meta a melhoria da qualidade de vida e a felicidade daquele a quem se doa. Aprende-se que a essência de tudo é o amor, em suas variadas experiências.

O projeto THEZ nasceu da preocupação com o sofrimento de portadores de sequelas de queima-duras, da observação da perda da autoestima e do desejo de ajudar, minimizar sequelas e promover um convívio social para seus pacientes. Posteriormente, estendeu-se a outras patologias cutâneas. Cumpre--se assim o dever ético profissional e de cidadão com-

A FACE DA Por Dra. Aline Albuquerque Pinheiro

TRANSFORMAÇÃO

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SBD.ORG.BR

Dra. Aline AlbuquerqueDermatologista pela SBD

[email protected]

prometido com a melhoria da qualidade de vida no seu microuniverso. Somaram-se experiências, forças, conhecimento, iniciativa e dedicação.

O Projeto Thez é um dos projetos do Núcleo de Proteção aos Queimados – NPQ – organização não governamental de utilidade pública municipal e esta-dual e OSCIP em nível federal, com sede em Goiâ-nia.  Seus objetivos são: prevenir acidentes, apoiar e reabilitar sobreviventes à queimaduras e seus fami-liares no campo físico, emocional e social, capacitar profissionais em diversas áreas técnicas relativas ao tratamento – agudo e crônico - do paciente quei-mado, alertar a sociedade sobre a problemática das queimaduras através de campanhas educacionais e ampliar os campos de pesquisa relativos ao tratamen-to de queimaduras em fase aguda ou tardia.

O impacto visual que uma queimadura exerce é muito grande e fonte de angústias intensas para quem é visto e para quem vê. Durante a fase aguda pode de-sequilibrar relações interpessoais pré-existentes. Após a cicatrização, frequentemente continua a interferir gravemente na vida das pessoas afetadas, uma vez que as cicatrizes são vistas com reservas pela socie-dade. O paciente pode apresentar problemas severos de ordem psicossomática pela deformidade em sua imagem, o que pode levar às vezes, à perda de sua própria identidade. Segregam-se e são segregados, exilam-se e são exilados do convívio social. Tornam--se tristes, improdutivos e deslocados do ambiente que anteriormente era seu habitat.

O Núcleo de Proteção aos Queimados, através de seus projetos, visa à aceitação pessoal e reinserção social do sobrevivente à queimaduras e sua família, disponibilizando supervisão de psiquiatras, psicotera-peutas, dermatologistas e terapeutas ocupacionais. Tratam-se as cicatrizes e ensinam-se técnicas de ma-quiagem corretiva profissional para camuflagem tran-sitória das mesmas.

A maquiagem é explorada normalmente como ar-tifício ligado direta e unicamente à vaidade. O PROJE-TO THEZ vai além da simples vaidade, agrega valores de profundo bem-estar, de resgate de autoestima e reinserção do beneficiado ao mercado de trabalho e convívio social.

O PROJETO THEZ consiste em ensinar maquia-gem corretiva com técnicas e produtos profissionais de longa permanência e a prova d`água a sobreviven-tes a queimaduras com cicatrizes, assim como ou-tros tipos de lesões cutâneas (vitiligo, hemangiomas,

manchas vinho do porto, nevus, etc). Seu principal objetivo é propiciar através da reconstrução imediata da imagem corporal o resgate da autoestima e como efeito secundário, ainda possibilitar ao individuo uma nova opção profissional. Numa outra vertente, muda conceitos ao fazer da maquiagem, geralmente vista na sociedade como objeto de vaidade, uma ferra-menta de inserção social ao possibilitar o bem-estar do indivíduo, livre dos olhares curiosos, indiscretos e constrangedores sobre sua cicatriz.

A vida é vivida a partir de parâmetros. Poder ofe-recer sem esperar nada em troca é o maior presente que podemos receber.  Ver a melhora da autoestima e a socialização de pacientes que se sentiam segre-gados, traz uma enorme satisfação pessoal aos vo-luntários do Núcleo de Proteção aos Queimados. Em projetos sociais, acredita-se que os mais favorecidos são os que podem doar e quando esta doação é feita com amor e credibilidade, forma-se um grande núcleo propulsor de felicidade para a humanidade.

Para contato ou maiores informações

www.npq.org.br

É UMA VOZ INTERIOR, QUE CLAMA POR

IGUALDADE E DESEJO DE AUXILIAR, TENDO

COMO ÚNICA META A MELHORIA DA

QUALIDADE DE VIDA E A FELICIDADE DAQUELE A

QUEM SE DOA.

S

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12 | Revista Sensatez

FACE A FACE

á aproximadamente quatro anos, comecei a frequentar a uma instituição chamada Encontro Fraterno Lins de Vasconcelos, em Maringá, no Norte do Paraná. Trata-

-se de uma instituição não governamental, sem fins lucrativos, localizada num dos bairros de maior carência e vulnerabilida-de social, com grande incidência de tráfico de drogas e violên-cia. A instituição atende cerca de 680 pessoas semanalmente. No início, ia acompanhando minha filha, na época, com 16 anos, responsável pelas aulas de Inglês para as crian-ças da comunidade. Íamos aos sábados pela manhã. E acho que esta foi uma fase muito importante para mim. Chegar num lugar e não ter sequer onde sentar, nos faz exercitar a humil-dade e a paciência, tão difícil de ser praticada por nós médicos... De expectadora passei a ajudar no bazar de roupas usadas, sepa-rando as doações...

Como médica sempre realizava consultas dermatológi-cas, mesmo sem haver salas disponíveis... Os casos mais gra-ves eram encaminhados para atendimento gratuito duran-te a semana na minha clínica. Embora, muitos faltassem...

Percebi então que quando há real inte-resse em ajudar, os milagres começam a acontecer... Através de doações, con-seguimos ampliar novas salas, surgindo assim, o ambulatório de Dermatologia. A equipe voluntária foi crescendo. Hoje con-tamos com uma enfermeira, uma técnica de higiene dental, uma nutricionista, uma fisioterapeuta, uma psicóloga, uma auxiliar de enfermagem, duas auxiliares adminis-trativas, uma assistente social. Todos vo-luntários, que participam das várias ativida-des, tanto preventivas, como terapêuticas. Conseguimos aparelhos cirúrgicos e medi-camentos através de parceria com outras empresas e laboratórios. Além das consul-tas dermatológicas,vários projetos preven-tivos são desenvolvidos como:

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PROJETO DE VIDASERvoluntário:

Por Dra. Sineida Ferreira

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SBD.ORG.BR

Dra. Sineida FerreiraDermatologista pela SBD

[email protected]

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A cada novo ano que se inicia novos voluntários se juntam a nós, comprovando que toda a ação que se realiza neste trabalho envolve carinho e doação. Não existe pressa. Existem conversas, troca de olhares, cumprimentos sinceros. Em cada ação, voluntá-rio, técnico ou não, funcionário e assistido, dividem não apenas os lanches no meio das manhãs de sábado, mas partilham experiên-cias. Dessa maneira, rompem-se as barreiras do preconceito, seja em relação às doenças crônicas, seja em relação ao sentimento de inferioridade. E isso é o que faz com que essas pessoas sejam capazes de refazer a própria vida e que sejam capazes de cons-truir um novo caminho. O seu caminho.

O trabalho voluntário nos proporciona um grande aprendizado. É necessário disciplina, persistência, humildade e espírito de equipe. Ao lidarmos com problemas tão maiores do que os nossos, rela-tivizamos as nossas dores...

Ao consolar os que sofrem, mais do que nós, estamos nos con-solando...Em alguns momentos, chegamos a nos perguntar se as nossas pequenas ações, têm algum resultado diante de tantos pro-blemas que a nossa população carente enfrenta nos dias atuais... Será que conseguimos transformar algo? Acredito que sim e con-vido a todos, para serem também sementes de transformação... cada um a seu modo ...em suas cidades... fazendo a diferença .... Quando me perguntam, afinal, o que nos motiva?

O que nos faz acordar cedo todos os sábados e atender aquela população? Num mundo onde tudo é descartável, onde as relações de poder e dinheiro se sobressaem numa velocidade impressionante...

Penso no exemplo maior para os nossos filhos...No valor da vida, no valor humano... onde nada disso tem preço...

1 Curso de Doenças Sexualmente Transmissíveis:

abordando sobre prevenção de doenças, principalmente para jovens e adolescentes;

2 Curso de Orientação para Gestantes, onde são fornecidas orientações gerais de saúde e apoio psíquico, além de orienta-ções sobre cuidados com a pele na gravidez;

3 Palestras e campanhas de prevenção e tratamento de pedi-culose e escabiose - voltada para as crianças e seus familiares, pela grande incidência;

4 Campanhas de conscien-tização sobre doencas crôni-cas e estigmatizantes, como vitiligo,dermatite atópica severa, ictiose e psoríase, auxiliando os pacientes a lidar melhor com as próprias limitações, para que pos-sam ser exemplos de persistência, determinação e otimismo;

5 Curso Profissionalizante de Manicure com orientação de as-sepsia e esterilização de materiais segundo o padrão da vigilância sanitária municipal;

6 Curso de Higiene Pesso-al e Automaquiagem, focando nos cuidados gerais com a pele, cabelos e os dentes, além de ensinamentos sobre as principais dermatoses inestéticas como acne, seborreia e bromidrose; orientamos também sobre os cuidados com a saúde bucal e por fim ensinamos a automaquiagem. S

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aria entrou com aquele olhar desconfiado. Gentilmente pedi que se sentasse. Per-guntei a razão da consulta. Ao invés da ra-

zão tive como resposta a emoção da consulta. Um conjunto de queixas sociais, familiares e pessoais, recheadas de um misto de sentimentos ruins, com “pitadas” de tristeza. Mas Maria também dizia ter a certeza de que eu poderia ajudá-la naquele pro-bleminha de pele que a estava incomodando. Após muita conversa e uma receita, Maria sorriu e agra-deceu.

Essa é uma situação que qualquer médico cer-tamente já enfrentou. A responsabilidade de ser um agente de otimismo, de modificação do sofrimento alheio através de gestos, palavras e de orientações. Desde os menores atos corriqueiros, a Medicina é feita de relação interpessoal, que se pensada em coletividade de tantas Marias, torna-se uma ação social. E a satisfação social é algo que talvez seja única entre tantas profissões. Aí está a verdadeira “mágica” da Medicina.

E não há então Medicina sem ação social, sem solidariedade, sem olhar o outro com os olhos que o outro o observa. Se a minoração do sofrimento e o estímulo ao bem-estar deve ser atividade de cada médico, porque não o ser de uma socieda-de de médicos. É com esta linha de pensamento que assumimos a diretoria da Sociedade Brasilei-ra de Dermatologia do Distrito Federal. Queríamos levar a todos os colegas um espírito de solidarie-dade aos mais necessitados. Acreditava que além do ganho pessoal seria uma forma de integração maior entre os colegas, fora da tradicional relação de professor que ministra uma aula e de assisten-te que tenta captar o que foi explanado. Também pretendia ir além de momentos de confraternização em festas ou coffee breaks. Sabíamos também que muitos colegas silenciosamente já realizavam seus projetos pessoais sociais em creches, lar de idosos, atendimentos voluntários. Por que não agigantar e oficializar estas ações?

Optamos por uma forma de agir nova. Adotar

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AÇÕES MAIS QUE SOCIAIS UM CAMINHO PARA

UM NOVO MILÊNIO

M

Por Dr. Rubens Marcelo Souza Leite

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uma creche durante a gestão. Para envolver os colegas com a pro-posta, realizamos a posse da nova diretoria com um lanche na creche escolhida. Seria uma forma de os colegas conhecer a instituição que iriam ajudar durante todo o ano e também de apresentar a nova proposta. A recepção foi positiva. Durante a gestão, em todos os eventos científicos, instituímos pe-didos voluntários de doações, ces-tas básicas, material de limpeza e higiene pessoal e fraldas. Fizemos uma festa de despedida com uma feijoada beneficente com doações a crianças e um grande bazar para ajudar a creche.

Observamos inquestionável satisfação dos colegas que parti-cipam da nova ideia, que preten-

demos que se estenda por muitos anos e de forma crescentemente participativa com novas ações. Acredito que se cada regional de especialidade médica abordasse em seu “menu” associações com entidades de assistência social, a Medicina teria muito a ganhar. Como sociedade de especialidade há com o estímulo a ações sociais uma natural integração entre seus participantes, entre os colegas e uma rede de parcerias que vai se criando quando as ações se mos-tram presentes. Inclusive indago se esta não é a forma mais direta de valorização de qualquer socie-dade de especialidade médica, a partir de uma nova vocação além do ensino e pesquisa: a ação so-cial.

Dr. Rubens Marcelo Souza LeiteDermatologista pela SBD

[email protected]

Na contemporaneidade há visi-velmente lugar para medidas que façam do médico um indivíduo ainda mais solidário, o que o torna mais simpático ainda na sociedade e com maior possibilidade de lutar por seus interesses corporativos justos com a benção e apoio da comunidade. Acredito que este é o melhor caminho para uma socieda-de médica neste novo milênio. Um resgate necessário da pureza da relação entre médicos e pacientes baseado em maior senso de hu-manidade, justiça e ética. Trata-se de um resgate do humanismo em prol do crescimento de cada um de nós. Todos têm a ganhar. S

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Por Ulisses Praxedes

Esse texto vai muito além do prazer de sorrir. O sorrir, aqui, é consequência. É resultado. Resultado do trabalho de um grupo de pessoas com o propósito de servir e transformar vidas... Vida transformada em sorriso!

fissura labial e a fenda palatina, co-nhecida popularmente como” lábio leporino” e “goela de lobo”, são mal-

formações congênitas, de apresentação variável, que ocorrem durante o desenvol-vimento do embrião. Trata-se de uma aber-tura que começa sempre na lateral do lábio superior, dividindo-o em dois segmentos. Essa falha no fechamento das estruturas pode restringir-se ao lábio ou estender-se até o sulco entre os dentes incisivo lateral e canino, atingir a gengiva, o maxilar superior

e alcançar o nariz. Um em cada 650 brasilei-ros nasce com fissura lábio-palatal, de acor-do com a Organização Mundial da Saúde. 

Para acabar com o preconceito e a ex-clusão social de crianças, a Operation Smile percorre cerca de 60 países oferecendo ci-rurgias gratuitas para reparar essa deficiên-cia. Aqui no nosso país, a Operação Sorriso Brasil (OSB) atua como entidade sem fins lucrativos de forma independente, manten-do completa responsabilidade na coordena-ção dos programas nacionais, levantamento

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QUANDO UM SORRISO MUDA TUDO

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A correção do “lábio leporino” e da estru-tura palatina admite condutas muito variadas. Os pais devem escolher um médico de sua confiança e seguir as medidas terapêuticas que ele aconselha;

O aleitamento materno é sempre a melhor forma de alimentar a criança nos primeiros me-ses de vida, mesmo que apresente uma fenda orofacial. Quando não houver possibilidade de oferecer-lhe o seio, existem mamadeiras espe-ciais que podem ser usadas;

A primeira cirurgia para o fechamento do “lábio leporino”, em geral, corrige pratica-mente todas as alterações. No caso de per-manecerem alguns detalhes que precisam de reparação, a cirurgia deve ser realizada antes dos quatro e cinco anos, época em que a vida social da criança se amplia;

O fechamento da fenda labiopalatina até os dois e três anos de idade também resulta em melhor prognóstico para as alterações da fala e da audição;

O acompanhamento odontológico e orto-dôntico é extremamente importante não só para preservar a estrutura dentária, mas tam-bém para assegurar a qualidade da alimenta-ção dessas crianças enquanto não fazem a cirurgia;

A orientação dos clínicos das diferentes áreas e o acompanhamento psicológico po-dem ajudar pais e filhos a enfrentar melhor as fases mais difíceis dessa alteração anatômica congênita.

de fundos e estabelecimento de acordo com insti-tuições e empresas parceiras. 

O projeto envolve voluntários cirurgiões-plásti-cos, enfermeiros, anestesiologistas, psicólogos, or-todontistas, fonoaudiólogos, pediatras, geneticis-tas e leigos. O programa é desenvolvido de forma muito criteriosa, com avaliações, cirurgias e acom-panhamento pós-operatório. Por esse motivo, a OSB trabalha em conjunto com as Secretarias de Estado da Saúde e Defesa Civil, Secretarias Muni-

cipais de Saúde e os serviços atuantes nas cidades por onde passa.

Desde o seu início, em 1997, já foram realizadas mais de 3.500 cirurgias em diversos estados brasilei-ros. Em 2010 foram realizadas cerca de 240 cirurgias corretivas. A cirurgia é relativamente rápida, em média, uma cirurgia no lábio demora em torno de 45 minutos e, na manhã após a cirurgia, o paciente está liberado para retornar para casa.

Para saber mais sobre a Operação Sorriso Brasil e seus programas acesse: www.operacaosorriso.org.br

RECOMENDAÇÕES

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Ulisses Praxedes Jornalista

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m dos maiores problemas da humani-dade nos últimos tempos é a solidão. Não obstante a facilidade para o des-

locamento e para a comunicação, inúmeras pessoas se sentem sozinhas e entediadas.

Não raro, crianças e jovens também so-frem de solidão. Os velhos são os que histo-ricamente mais sofrem, porque vão ficando sem os “seus” e os “outros” não lhes enten-dem.

Em toda história da humanidade o ho-mem tem a necessidade de interação. A vida social está na natureza e não há como fugir disto. Mesmo com a evolução e progresso essa necessidade persiste. Sendo assim, as pessoas ainda sentem solidão... Quais suas causas? São inúmeras. Desde aque-las que resultam da luta pela perda de uma pessoa querida à aquela que resulta da falta

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Por Denise Lino

USER SOLIDÁRIO PARA NÃO SER SOLITÁRIO

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cuidar. Cuidar do outro, como na parábola do samaritano, e também cuidar do planeta.

Nesse sentido, a solidarie-dade é um grande “antídoto” à solidão. Quem experimenta preencher as suas horas va-zias com atividade em prol de outrem, vacina-se contra a so-lidão, porque anseia, planeja e espera o encontro. Tal como no livro o Pequeno Príncipe, no diálogo do príncipe com a raposa: “Se tu vens, por exem-plo, às quatro da tarde, desde as três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegan-do, mais eu me sentirei feliz. Às

quatro horas, então, estarei inquie-ta e agitada: descobrirei o preço da felicidade!”

Diferentemente da caridade que é uma atividade de foro íntimo, a solidariedade organiza-se em re-des, em grupos, em duplas, realiza uma atividade meio, que é o apoio, embora vise finalidade: demonstrar ao outro que ele faz parte de uma teia de pertencimento e da qual o solidário também faz parte. Quem experimentou sabe como é, quem ainda não, está convidado a se in-tegrar às redes de espalhadas em todo o país, seja através de ONGs, organizações religiosas, amigos, ou até através das redes sociais.

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de trato com o próximo. Sim, há muita gente sozinha porque não sabe usar da afabilidade e da doçura. Outro dia, ouvi o relato de um marido que disse iria desistir da esposa porque nunca conseguia agradá-la. Se lhe dava rosas, ela dizia que essas não tinham cheiro; se lhe presenteava com um novo prato culinário, ela dizia que o mesmo não estava bom, ou salgado, ou insosso, ou doce, ou amargo; se lhe dava roupas de presente, não acertava na cor. Ele se mostrava cansado com relacionamento e dispos-to a “cair fora”. E ela é uma for-te candidata à solidão devido à sua personalidade inflexível.

Além dessas, chama aten-ção, a solidão que resulta da falta de experiência de conviver com o próximo, aquele próximo anônimo, aquele apontado na parábola do bom samaritano. Fazer visitas a hospitais, ler histórias para crianças em creches, escolas públicas, dis-tribuir comida ou roupas para pes-soas que moram na rua ou estão na miséria, visitar idosos, dar aulas em cursinhos populares, distribuir cestas básica, ouvir as lamúrias de pessoas depressivas, “bancar” o Papai Noel para as crianças que escrevem cartinhas no Natal, são experiências de solidariedade.

As críticas a essas atividades apontam-nas como “mero assis-tencialismo”, como atividades que empanam a presença governa-mental que deveria chegar às po-pulações mais carentes. Quem as

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Denise LinoProfessor universitário

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sim pensa, esquece que a má-quina governamental é burocráti-ca e precisa de regulamentação. Quem assim pensa, esquece que quem sofreu um revés financeiro, quem está fazendo hemodiálise, quimioterapia, quem não saber ler, quem tem fome, quem foi violentado(a), tem pressa.... pressa de mão amiga e humana, que se ir-mane à sua dor, que possa ouvi-la; talvez, não possa resolver o proble-ma que a causou, apagá-lo, mas possa simplesmente ouvir o relato, e, às vezes, aliviar de imediato, em-bora não o resolva a médio prazo, quando, aí, sim, a máquina estatal tem um papel decisivo.

Somente quem teve a sua dor ouvida ou experimentou ouvir a dor do outro sabe da importância da solidariedade, aquela que não vai aos jornais, nem se transforma em filme, mas que dá a dimensão que ser humano é muito mais do que crescer e multiplicar; ser humano é

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SOMENTE QUEM TEVE A SUA

DOR OUVIDA OU EXPERIMENTOU

OUVIR A DOR DO OUTRO SABE DA

IMPORTÂNCIA DA SOLIDARIEDADE...

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Por Ribamildo Bezerra

E pela assertiva do poeta paraibano Ademar Santana, que se entende a força de um gesto, segundo ele, as posi-tivas revoluções ocorrem silenciosamente na esquinas, com efeito tão marcante quando discreto. Desde o ano de 2009, todo o dia 29 de maio, a gentileza acaba sendo uma ação prática lembrada e materializada em gestos simples e gratui-tos. Afinal esta data foi eleita efetivamente, o Dia Nacional da Gentileza. O registro e a memória se refere à figura emble-mática de José Datrino, o Profeta Gentileza, e o seu legado deixado nas ruas do Rio de Janeiro em 56 pilastras numa extensão de 1,5km. Na prática a eternização de suas men-sagens, que propunha uma revolução no relacionamento entre as pessoas através dos atos de gentileza, é o grande mote adotado por algumas cidades do país na data do seu falecimento, quando desaparece o homem e permanece a

Não basta que seja pura e justa a nossa causa. É necessário que a pureza e a justiça existam dentro de nós.

O BRASILPÁTRIA, E UMAMÃO GENTIL...

“(Agostinho Neto)”

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Em um ambiente de grosseria e violência a qualidade de vida acaba sendo afetada...

No ano de 2009 a força do ideal Gentileza retoma mais uma vez seu aspecto revolucionário, quando em Campina Grande, no Estado da Paraíba, alunos do Curso de Publi-cidade, decidem oficializar o dia 29 de maio, como o Dia Nacional da Gentileza. “Não era nada de origi-nal, pois já existia uma logomarca nacional assim como diretrizes de atitudes e o que fizemos foi marcar um dia de mobilização para que a data fosse lembrada”, destaca a então estudante de publicidade Lizie Brunet.

O que não se esperava é que, por não ser uma ação comercial, muitas instituições abraçassem espontaneamente a celebração do dia. O Sindicato das Empresas

de Transportes de Passageiros do município de Campina Grande foi primeira instituição a unir forças para a divulgação do Dia Nacional da Gentileza. Sete empresas repre-sentadas por 1800 colaboradores, em 220 ônibus, apresentaram pa-lestras durante o percurso, além da distribuição de panfletos sobre a importância da Gentileza, duran-te todo o dia 29 de maio. “A causa foi absolutamente transformadora tanto para a comunidade como para os nossos motoristas e cobra-dores, logo nós que somos ques-tionados pela ausência de gentile-za principalmente junto aos mais velhos, tivemos oportunidade de mostrar que este não é um pensa-mento da maioria, e que pela força

da gentileza podemos expurgar o estresse da rotina de trabalho am-pliando nosso alcance aos nossos clientes pela força do humanismo”, afirma Anchieta Bernardino, Supe-rintendente do Sindicato.

A campanha promovida pelos futuros publicitários nasceu com o seguinte desafio: para que no dia 29 de maio cada cidadão campi-nense ousasse realizar pelo me-nos cinco atos de gentileza o que corresponderia ao símbolo de uma mão aberta estendida para a boa vontade. Nos anos seguintes as rá-dios FM e AM dedicaram uma hora de sua programação para canções e leitura de textos que evocassem o princípio do bem e da gentileza dirigida ao próximo. Em uma das crônicas, lida pelo radialista Evilásio Junqueira, 30 anos de profissão, no segundo ano da campanha, um fato inusitado ocorreu, “Soube que dois homens, que há 25 anos não se falavam, afastados por uma intri-ga, após a leitura do texto, um de-les tomou a iniciativa para reatar a amizade, o que acabou ocorrendo.

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sua mensagem.Para o filósofo carioca, Leornado Guelman, a ideia promovida pela

Profeta Gentileza sempre mostrou a sua sólida resistência, no campo físico e imaterial. “Era uma denúncia prática da nossa crise de valores, para Gentileza se pedirmos ‘por favor’ era paradoxal agradecer com um ‘obriga-do’, estava implícita aí a ideia do toma-lá-dá-cá, tão presente nas relações de caráter individualista onde alguém tem que sair ganhando.” destaca, o autor do livro Brasil: Tempo de Gentileza.

Com a morte de Gentileza aos 79 anos, em 1996, os murais pintados por José Datrino, acabaram sendo depredados por vândalos e pichadores. E o que parecia ser o fim daquela salutar loucura ideológica, ressurge qua-tro anos mais tarde através das restaurações dos murais em um trabalho conjunto entre a Prefeitura carioca e o projeto Rio com Gentileza. E na melhor ou no caso, pior metáfora da luta do Rochedo contra o Mar, atual-mente os murais voltaram a ser pichados.

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destaca a psicóloga Lúcia Novaes, professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

A grande questão em tempos de um cotidiano monocromático banalizado é que no caso do José Datrino, segundo registros, o gran-de incêndio no circo “Gran Circus Norte-Americano”, o que foi consi-derado uma das maiores tragédias circenses do mundo, foi o “divisor de águas”, para que o Profeta Gen-tileza surgisse. “E quanto a nós? O que nos mobiliza, para sermos Gentis pelo menos uma vez por dia?

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Ribamildo BezerraJornalista

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O mais interessante é que dois dias depois um deles chegou a falecer, ou seja algo que precisava de um estímulo e de um acerto para acon-tecer. Confesso que desde que soube do ocorrido acredito que a gentileza pode fazer a diferença” relata emocionado.

Desde então a força da globa-lização tem feito o seu papel, a di-vulgação de vídeos e mensagens da mobilização por redes sociais tem sido uma ótima mídia para que outras ações, neste sentido, ocor-ram no país. Em Teresina, no Piauí, por iniciativa própria, estudantes pararam o trânsito no Centro da ci-dade, para a distribuição de flores. Em seu twitter este ano o músico Carlinhos Brown, amanheceu, no dia 29 de maio, lembrando da im-portância prática do Dia Nacional da Gentileza, algo endossado por Elba Ramalho, que também postou

mensagens de Gentileza incluin-do o famoso videoclipe da canto-ra Marisa Monte, numa alusão ao Profeta Gentileza.

O estudante paraibano, Augus-to Carvalho, conseguiu este ano colocar bolhas de sabão como a maior representação da Gentileza, Tão simples quanto uma bolha de sabão, é uma ato de gentileza, a grande diferença é que o encanta-mento no segundo caso, perdura mais.”

O desafio de retomar a delica-deza dos relacionamentos, relega-do hoje ao esquecimento devido a intensa rotina das cidades tem sido hoje uma busca de caráter científico, afinal onde o estresse se faz presente é sintomática a falta de gentileza. Em um ambiente de grosseria e violência a qualidade de vida acaba sendo afetada, incluin-do a saúde de qualquer pessoa,

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A SBD lança uma campanha para comunicar ao público a importância do médico dermatologista no diagnóstico e tratamento dermatológico, além de conscientizar as pessoas sobre os cuidados que elas devem ter com a própria pele e na escolha do profissional capacitado para realizar esta tarefa. Faça parte deste projeto, você é a peça fundamental nesta campanha. Com toda certeza, de pele você entende e vai saber muito bem como cuidar para que sua importância seja cada vez maior. É a SBD nesses 100 anos trabalhando para você!PARA MAIS INFORMAÇÕES SOBRE CUIDADOS COM A PELE E ONDE ENCONTRAR UM MÉDICO DERMATOLOGISTA ASSOCIADO À SBD MAIS PRÓXIMA, ACESSE www.sbd.org.br.

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Por Júlia Costa

PELA TRANS-FORMAÇÃO SOCIAL ATRAVÉS DA CULTURA E DA ARTE

Eu poderia começar este artigo dizendo que tudo começou em 1993, quando surgia no Brasil o Afroreggae, grupo cultural brasi-leiro, fundado por José Júnior e outros im-portantes personagens brasileiros, que têm como objetivo principal “promover a inclusão e a justiça social, utilizando a arte, a cultura afro-brasileira e a Educação como ferramen-tas para a criação de pontes que unam as di-ferenças e sirvam como alicerces para a sus-tentabilidade e o exercício da cidadania”. Mas poderia dizer também que tudo começou em 2003, quando a marca de moda masculi-na, Reserva, foi criada por Rony Meisler. Ou ainda, poderia dizer que tudo começou em 2006, quando o cantor e ativista Bono Vox, da Banda U2, lançou o selo RED, para en-gajar o setor privado na causa da AIDS na África.

O que estes três eventos têm em comum?

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O selo RED, criação de Bono Vox, que foi licenciada para as maiores empresas dos Estados Unidos, que criaram produtos com renda rever-tida para um fundo contra a propa-gação da AIDS, inspirou o grupo Afroreggae e o grupo Reserva a se unirem em prol de uma causa justa: gerar fundos para mais de 35 pro-jetos de inserção social através do selo AR, marca para licenciamen-to de produtos. Como eles dizem, o AR é uma versão tupiniquim do RED, que funcionará, em verde e amarelo, como braço de moda para o grupo cultural e um braço social para a empresa fashionista.

A ideia é que, futuramente, o AR possa ser licenciado por qualquer outra empresa parceira. O projeto começou com seis produtos, to-dos assinados pelo coletivo ale-mão eBoy — maior referência em pixel art do mundo. Morro e asfalto aparecem juntos, numa conexão urbana que parece ter munição de sobra para alavancar os projetos do Afroreggae. “O selo AR agora está para gente como a Pixar es-tava para o Steve Jobs, uma para-da que pode mudar tudo”, conclui Júnior.

A inspiração no selo RED é so-mente parte desta história. A real

inspiração aconteceu em 2010, numa ocasião que tinha tudo para levar a um ágil e intenso gerencia-mento de crise a ser realizado pela marca Reserva. Mas que acabou, no final das contas, se tornando numa grande oportunidade de aju-dar pessoas de todo o País.

O ex-traficante Diego da Silva, conhecido como Mister M, se en-tregou à polícia carioca, durante a ocupação do Complexo do Ale-mão, a pedido da mãe, vestindo uma camisa da marca Reserva, uma polo azul do Pica-Pau, impos-sível de não ser reconhecida pelos usuários da marca e por sua equi-pe. Coincidentemente, na mesma época, Rony havia sido apresenta-do a José Júnior. Portanto, em vez de agir “contra a crise”, JJ e Rony se uniram a ela iniciando a conver-sa sobre o selo.

“O Rony é um designer com fu-zil na mão. Um guerrilheiro urbano”, diz José Júnior. Juntos, eles en-contraram uma forma de mudar o mundo, ou pelo menos fazer mais ainda parte desta mudança. Um dos projetos que recebe esta renda revertida é o Empregabilidade. Ele já recolocou mais de 2 mil pessoas no mercado de trabalho. Entre elas, mais de 900 ex-criminosos.

“O tema da reinserção social é praticamente um tabu na nossa sociedade. Eu mesmo, antes de conhecer melhor o projeto do Afroreggae, não abria meus olhos para a importância em oferecer uma alternativa à criminalidade, às pessoas que não tiveram muita chance na vida. Com o selo, em vez de empurrar a responsabilidade “goela abaixo”, estamos propondo uma transformação de ponto de vista, explica Rony Meisler, presidente do Grupo Reserva.

A campanha de lançamento do selo AR teve o apoio da JWT São Paulo que acompanhou o processo desde o começo, até a execução das peças clicadas pelo fotógrafo J.R Duran e filmadas pela própria produtora do Afroreggae.

O selo ajudará o Afroreggae a não depender mais, futuramen-te, de recursos de patrocinadores para os projetos sociais realizados em todo o Brasil. “A ideia não é não trabalharmos mais com estas marcas, mas não dependermos delas”, diz JJ. O selo já conquistou parceiros como a Natura, Red Bull, Evoke e Santander, que lançarão seus produtos em 2013. S

Júlia CostaJornalista

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O ex-traficante Mister M, que se entregou à polícia em 2010, participa de campanha para o Afroreggae em parceria com a Reserva

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Na ótica dos Doutores da Alegria, Palhaço é sim o senhor terapeuta do riso, que pode com a força da imaginação e da entrega, transformar hospitais em ver-dadeiros picadeiros. Fundada há 21 anos (1991) em São Paulo, pelo ator, palhaço e coordenador geral Wellington Nogueira, os Doutores da Alegria já romperam fronteiras e se encontram representados com elenco de 40 palhaços profissionais distribuídos além da capital Paulista e Recife. No Rio de Janeiro e em São Pau-lo, a ONG mantém um programa que leva variadas formas de arte, como circo, música e poesia, a pacientes de hospitais públicos, contemplando mais de 27 mil pessoas. Desempenha, por meio de sua Escola, um papel referencial na pes-quisa da linguagem do palhaço e na formação de jovens, artistas profissionais e interessados – cerca de 180 jovens artistas já se formaram em um programa com duração de três anos.

FOTO: ELISA TAEMI

CARA DE PALHAÇO,

ALMA CIDADÃ

Por Ribamildo Bezerra

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Os Doutores da Alegria articula hoje uma rede com mais de 630 grupos se-melhantes que atuam em todo o Brasil. Possui a certificação de utilidade pública nas esferas federal,estadual e municipal e a certificação de entidade de assistên-cia social. A ONG é mantida através de doações de pessoas físicas e de empre-sas como White Martins. Já recebeu o Prêmio Criança da Fundação Abrinq pelos Direitos da Criança e foi incluída três vezes na lista das 100 melhores práticas globais da divisão Habitat da Organização das Nações Unidas além de ter sido condecorada como Prêmio Cultura e Saúde, concedida numa iniciativa do Pro-grama Cultura Viva,em conjunto com os Ministérios da Cultura e Saúde.

Pelo depoimento do seu fundador Wellington Nogueira, podemos perceber que a vida mesmo percorrendo vários caminhos, pode impulsionar para a realiza-ção de sonhos e ideais referenciados no amor e no bem estar ao próximo.

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Desde quando você se percebeu como um bem humorado contador de histórias?

Quando pequeno me faziam a indefectível pergunta:“O que você quer ser quando crescer?” Respondia que queria ser jorna-leiro para poder ler todos os gibis sem pagar nada. Mais tarde, quis me tornar sorveteiro para poder tomar todo o sorvete que quisesse com facilidade e rapidez. E num outro momento, cien-tista para encontrar formas de alimentar a humanidade, e assim ninguém passar fome.

Toda a minha relação com trabalho e profissão, era baseada em prazer , alegria e servir. Fazer o que eu amava. Já estava tudo lá , inclusive o palhaço, pois como exceção do National Kid, eram aqueles que faziam o povo rir: Os trapalhões , Ronald Golias, A Praça da Alegria, Os Três Patetas, I Love Lucy, Perna-longa , Pica Pau e muitos outros.

O humor sempre esteve presente em sua vida? Como este sentimento te levou a ser Palhaço?

Meu primeiro emprego foi como Professor de inglês. Nes-sa função já usava muito o humor em sala de aula. Daí para o teatro foi um pulo. Queria ser um artista completo , daqueles que cantam , dançam e representam, e me tornar um ator co-nhecido mundialmente, ganhador do Oscar e muito mais. Fui para Nova York estudar Teatro Musical, mas percebi que embora estivesse crescendo profissionalmente e realizando meu sonho, literalmente EU NÃO ESTAVA ME DIVERTINDO! Um dia recebi, por parte de uma amiga, um convite “tentador”. Era uma vaga para trabalhar como palhaço num hospital dentro do progra-ma Clown Care Unit do Big Apple Circus. Achei a idéia horrível! Entrar num hospital e me tornar alegre parecia absurdo. Minha amiga me incentivou a fazer a experiência inicial e depois julgar. A criança que ia ser visitada, encontrava-se prostada em seu leito hospitalar. A dupla de palhaços , vestindo jaleco branco e apresentado-se como “médicos”, chegou à porta do quarto e através do olhar, a comunicação foi estabelecida de imediato com a criança. Conversas foram trocadas. Em pouco tempo ela passou a mostrar o tônus muscular, ao levantar o tronco e sentar-se na cama. Autorizou a entrada dos palhaços em seu quarto e brindou a todos com o melhor presente: levantou-se da cama e interagiu com a dupla de visitantes , num jogo simples e contagiante. Esse foi um momento marcante em minha história de vida.

Que tipo de impacto esta cena lhe proporcionou?

Em minha carreira profissional, nunca tinha visto nenhuma superprodução da Broadway ou Hollywood ter esse impacto sobre a vida de uma platéia, principalmente uma platéia de uma pessoa só.O que é uma platéia de uma pessoa só na industria do teatro? Um fracasso retumbante! No hospi-tal, entretanto, ela é 100% da lotação. Foi nesse momento que aprendi que era fun-damental olhar a vida por diferentes pon-tos de vista. Percebi que até aquele mo-mento, meu olhar era limitado,focado em ponto específico e achava que era o único.

Um marco para aceitar o desa-fio?

Decidi fazer o teste. Foi a primeira vez que fui para um teste completamente des-preocupado com o resultado. Mais do que passar, queria saber se eu tinha talento su-ficiente para encarar o desafio do hospital.

Meu teste foi com o próprio Michael Christensen, criador da Big Apple Circus Clown Care Unit e foi super rigoroso. Mas eu tinha tanta certeza que conseguiria, que olhei para ele e pensei “ Eu vou me divertir como todo mundo aqui hoje”. E dessa for-ma, visitamos três quartos. A cada visita , nossa conexão foi ficando mais forte. No úl-timo quarto, ele me disse:“Agora eu vou te apoiar, mas é você quem vai tomar a frente da visita”.Estávamos diante de um menino que tinha o corpo todo envolvido em gesso e trações. Propus um check-up e ele con-cordou. Sem nenhuma resistência, permitiu cada procedimento “besteirológico” que saía da minha mala médica. Ao final, nos despedimos. Quando eu estava abrindo a porta para sair, ele me chamou e disse: “Doutor, estou me sentindo muito melhor agora!”.

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E o que o ator sentiu naquele momento ?

Até aquele momento, nunca havia vivido tal situação. Na verdade, foi uma troca de vivências. Fomos marcados mu-tuamente por tal experiência. Aquele menino marcou para sempre a minha vida, de maneira inesquecível. Naquele dia entendi que havia descoberto algo que estava procurando a muito tempo.O meu propósito de vida. A razão de me tornar ator. Passei no teste. O que eu não sabia era que essa jornada me traria de volta ao Brasil. Em 1994, meu pai ficou doente e evoluiu para o estágio terminal.Ao entrar no hospital onde ele estava internado, fui tocado pelo desejo de realizar o sonho no meu país.Percebi o quão necessário é levar ao paciente e seus familiares um acolhimento e su-porte maior. Ao constatar essa realidade, fiz a escolha de montar um programa semelhando ao BACCU aqui no Brasil. Era a melhor forma de agradecer a vida , tanto aprendizado que havia recebido das crianças e dos palhaços.

Que lições são essas deixadas por seus mes-tres, crianças e palhaços?

Com as crianças, aprendi a simplicidade e a força em

momentos críticos. Era isso que lhes conferem tamanha dignidade e maturidade diante de situações em que muitos adultos se desequilibram. As crianças me ensinaram que, não importa quão grave seja o problema, brincar deve ser sempre a primeira opção. Com os palhaços, aprendi a olhar, escutar e me disponibilizar para alegria do outro. Aprendi sobre infinitas possibilidades e nosso poder de acessá-las. Aprendi a me tornar um ser humano verdadeiro e errar sem medo.

Isso tudo me fez aceitar o desafio de fundar uma ONG e começar a administrá-la. Algo que nunca havia feito an-tes. Doutores da Alegria é uma obra aberta escrita a várias mãos: pelas crianças, pais e profissionais de saúde que te-mos o privilégio de conhecer, pelos mais de 40 “besteirologistas”profissionais que pelo menos duas vezes por semana, seis horas por dia visitamos 11 hospitais de São Paulo e Recife.

Quando você trouxe o ‘Doutores da Alegria’ para o Brasil, essa ideia foi aceita rapidamen-te pelos hospitais?

Não! Demorou um pouco. Tinha hospital que achava in-crível e hospital que ficava com pé atrás, então eu tinha que ir com tranqüilidade, passando segurança para os hospitais e mostrando que a gente não era um bando de loucos e que aquilo era um trabalho sério e profissional. A partir do primei-ro hospital que nós entramos com o ‘Doutores da Alegria’ e

ele viram como a gente trabalhava, as por-tas começaram a se abrir. Nós fazemos rela-tórios, nós reunimos todos os artistas duas vezes por mês para eles poderem fazer um aprofundamento do seu trabalho, então a gente está toda hora investindo na qualida-de desse trabalho. Hoje nós somos escola, já existem mais de 630 iniciativas semelhan-tes ao ‘Doutores da Alegria’, cadastradas no nosso site pelo Brasil todo, que recebem capacitação gratuita nossa. Nós estamos trabalhando para transformar a ‘besteirolo-gia’ numa profissão do futuro.

É possível trabalhar com espe-rança em situações muito extre-mas ?

Certa vez, uma criança pré-adolescente em tratamento de câncer e sua família rece-bera a noticia que a medicina não tinha mais nada a fazer por ela. Restava a opção de viver cada dia , até a morte chegar. A família desesperou-se, sentindo-se vitimizada pela vida. Seus membros perguntavam: “Por que sobre nós abate tamanha desgraça?” Um dia a criança olhou para os pais e disse : “ Gente quem vai morrer sou eu, não vocês! Como é que vocês querem me ajudar a pas-sar por isso?”

Não há como olhar a vida da mesma for-ma, depois de vivenciar experiências como a descrita acima. Na verdade, a grande constatação é que no hospital tanta gente se mobiliza para manter vivo o fiapo de vida existente. Enquanto fora dele, há tanta vida sendo jogada fora,subutilizada.Vida não vivi-da plenamente.

Qual o papel da alegria na vida de uma criança hospitalizada? Qual o sentido do servir para pais e profis-sionais de saúde? Qual o papel do Amor em nossas vidas, fa-mílias e trabalho? A reflexão começa com a observação... O agir começa com o primeiro passo! Boa jornada! S

Ribamildo BezerraJornalista

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Por Ulisses Praxedes

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O MÉDICO E O RISO

Ao lermos histórias como a do Dr. Wellington Nogueira e os “Doutores da Alegria”, vemos o quanto é importante a premissa de que o relacionamento e o modo de en-carar a doença ajudam decisivamente no seu tratamento . “Quando rimos, rimos com o corpo todo”, define o psiquiatra americano William Fry, da Universidade Stanford, especialista nessa área. Um dos maiores efeitos do humor em alta é reduzir a liberação dos hormônios associados ao estresse, o cortisol e a adrenalina. Em excesso, essas substâncias enfraquecem as defesas do organismo e elevam a pressão arterial, criando o cenário para o desenvolvimento de infecções e doenças coronarianas como o infarto.

Quando falamos sobre a relação do bom humor com as doenças, como não lem-brar daquele médico que transformou a forma de pensar sobre tratamentos e hospitais de todo mundo? Patch Adams é referência no assunto há décadas e traz para nossas vidas lições que o Amor é verdadeiramente contagioso!

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Fontes: veja.abril.com.br e zerohora.clicrbs.com.br

Fotos: Flickr - Gesundheit Institute

QUEM É O DR. PATCH?

Hunter Doherty “Patch” Adams é um médico norte-americano de 67 anos que ficou conhecido por sua metodo-logia inusitada no tratamento de seus pacientes, usando roupas de palhaço e fazendo brincadeiras. Magricela, nerd e filho de militar, Patch cresceu no sul dos Estados Unidos em uma época em que o país vivia a Guerra do Vietnã e os ne-gros estudavam em escolas separadas dos brancos. Não fazia muito sucesso com as meninas e era alvo fácil para os rapazes brigões. Chegou a tentar o sui-cídio quando adolescente e foi parar em um sanatório. Vem de lá a lição de que quem tem companhia não precisa de Prosac. “O humor salvou a minha vida”, diz ele, que abriu uma clínica para tratar doentes mentais sem usar medicamen-tos. Em 1972, fundou o Instituto Gesun-dheit e, em 1980, comprou um terreno para a implementação física do instituto, que presta assistência gratuita a pacien-tes. Atualmente, Patch viaja para áreas em situação de guerra, pobreza e epi-demia, tornando-se um ativista pela paz mundial. Em 1998, sua história ganhou visibilidade por ter sido retratada no fil-me Patch Adams - O amor é contagio-so, estrelado por Robin Williams.

Ulisses PraxedesJornalista

[email protected]

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EQUILIBRIUM

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“NOSSA MISSÃO

É INVESTIR EM CAPITAL

HUMANO”

Por Júlia Costa

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Sua palavra de ordem é paixão. Clarice é clara-mente apaixonada por seu trabalho. É naturalmente solidária e acredita em todas as formas de solida-riedade. Para Clarice, o que vale é “fazer o bem. O exercício da cidadania deve ser entendido de for-ma plena. Solidariedade é um conceito muito mais abrangente que tem muito haver com atitude do dia a dia, desde pequenos gestos de ajudar a quem precisa, em ações simples como atravessar a rua, até ser solidário a uma causa e investir tempo e recursos na contribuição do cumpri-mento de sua missão”.

Aos 18 anos, ainda estudante, começou um trabalho voluntário. Antes mesmo de se formar em Arquitetura, escolheu um caminho que trilharia as últimas três décadas de sua vida: o trabalho social. Clarice Linhares é supe-rintendente do Banco da Providência desde 1999. O Banco, criado há mais de 53 anos por Dom Hélder Câmara, desenvolve projetos em várias áreas de as-sistência social, beneficiando diretamente cerca de 10 a 20 mil pessoas por ano.O objetivo do programa é contribuir para reduzir a pobreza extrema, inves-tindo na capacitação do capital humano.O curso de formação para o mundo do trabalho é um exemplo de resgate da dignidade humana, valorizando, ca-pacitando e gerando autoestima das pessoas en-volvidas.

Em 2012, 10 mil pessoas foram beneficiadas diretamente pelo Banco da Providência, que tem anualmente dois grandes eventos: o Arraial e a Feira da Providência. As pessoas podem ajudar se apro-ximando da instituição para conhecer a dimensão do programa. Isto pode ser feito visitando a página www.providencia.org.br, ou apadrinhando uma fa-mília que se encontra na linha da pobreza. As ajudas são sempre bem-vindas!

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Clarice Linhares Superintendente do Banco da Providência

Júlia CostaJornalista

[email protected]

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Por Severino Gomes

Os tempos ditos modernos propiciaram o encontro de vários de-talhes e da mistura deles surgiu um tipo de indivíduo esquisito, calcu-lista e predador. Algumas condições desumanas, onde nascem e vi-vem milhares de seres humanos, contribuem para que estas vítimas do esquecimento se vejam esmagadas desde a mais tenra idade.

Num espaço desorganizado buscam a sobrevivência. Numa luta desigual matam e morrem.

É de se pensar: estes rejeitados e desprotegidos seriam vítimas de um impiedoso, e até injusto, destino a lhes decretar a fatalidade: tudo tem de ser assim?!

Estes sem-teto, sem pão, sem uma ocupação digna, sem nunca terem direito a um gesto de carinho, que diploma terão nas mãos quando chegarem aos 18 anos? Quem serão estes sem escola, sem alegria, sem vida? Já se sabe quem são estes sem-nada!

Enchem as ruas os aí jogados, capazes de requintes de violência contra nós, homens e mulheres de bem! Contra nossos filhos? Nem venham? Nem pensar.

E quando é que vamos ao encontro deles e dos que os cercam sem nada esconder?!

Está preocupada a sociedade moderna em “botar ordem”! Per-gunta vai, pergunta vem, se quer saber porque os “recursos huma-nos” só protegem os criminosos! Cadê Deus que não quer ver? E se Ele não está vendo, cadê a Polícia que não?...

São muitos os cristãos que bradam por uma cidade “limpa”, isen-ta de agressões, sem lugar para desordeiros, sem riscos nos auto-móveis etc. etc. etc...

Isto lembra, em tempo de Natal, à noite em que José e Maria procuravam abrigo para seu filho vir ao mundo e não havia lugar para eles na cidade!... (Lc. 2, 7).

Solidário foi o Cirineu Simão, cuspido e chicoteado, tentando aju-dar aquele “condenado”, “marginal” a levar a sua cruz. O peregri-no das bandas da Samaria, encontrou o homem jogado à beira da estrada; deu-lhe o lombo do seu burro; encontrou alguns trocados e... encontrou misericórdia; isto é: encontrou solidariedade em seu coração (Lc. 10,30).

O solidário aniversariante do Natal não tinha receio de se expor e ia comer na casa dos pecadores; não tinha medo das mulheres (Lc. 7, 36), e diante de uma delas que havia adulterado disse: “nem eu te condeno”! (Lc. 8, 11).

Solidariedade é renunciar a condição divina e saber ser profun-damente humano, a fim de que se estabeleça ainda hoje um Reino de Justiça e de amor, no qual todos os homens se tornem divinos!

Quem não é solidário nunca vai compreender e desvendar o se-gredo de duas palavras tão aproximadas pela sonoridade e pela for-ma, guardando conceitos tão diferenciados: solitário... solidário. S

Severino GomesEducador, Filósofo e [email protected] Sensatez | 37

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UMASÓLIDAE HUMANAATITUDE

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EQUILIBRIUM

SOLIDA-RIEDADEVocê vai precisar muito dela ao longo da vida

Por Rossandro KlinjeyNos dias de hoje os sentimentos

têm sido banalizados de um modo às vezes tão cruel que quando va-mos nos referir a eles sempre nos deparamos com o receio de evitar contribuir com sua banalização ao tempo em que desejamos evitar apresentá-los de forma piegas. Mas, apesar de tudo, os sentimentos são a base de nossas emoções que, ao fim e ao cabo, é o que importa nas nossas relações com as pessoas, com o mundo à nossa volta e co-nosco mesmo.

É sobre um desses sentimentos que gostaria de refletir, a solidarieda-de. Numa sociedade como a nossa

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em que a vontade de tirar vantagem em tudo e sobre todos impera, le-vando desde a descortesia e indi-ferença cotidianas, até a corrupção política e crise ética nas relações, fa-lar sobre solidariedade pode parecer jogar “palavras ao vento”.

No entanto, são em momentos como esse, que devemos refletir, fa-lar, propagandear e, especialmente, vivenciar valores e sentimentos no-bres, como é o caso da solidarieda-de. Apesar de muitos quererem tirar vantagens, não importa a que preço, todos desejam ser tratados com dignidade, evidenciando assim uma clara incongruência psíquica, pois não queremos para nós aquilo que muitas vezes impomos aos outros.

A vida, em seu caráter cíclico, apresenta a todos nós as mais varia-

das experiências. A alegria, o amor, a paz, a tristeza, a dor, o luto, a vi-tória e a perda, de modo que todos nós carecemos do apoio dos outros, do suporte e do afeto, seja para co-memorar uma vitória, seja para levar ao túmulo alguém muito amado, e é nessas horas que vemos a importân-cia da solidariedade. Fica mais leve suportar a dor quando um ombro amigo nos permite recostar a ca-beça e chorar desconsolado, como também é insípida uma vitória a qual não temos com quem compartilhar e ouvir: valeu, você merece!

Quer queiramos ou não, vivemos numa complexa teia de relações, e o modo como nos portamos com os demais determina em grade medida nossa harmonia ou infelicidade. O prazer da vantagem que possamos

tirar ilicitamente de nossas ações é sempre fugaz e muitas vezes amar-go, pois quando não depositamos na economia do universo os nossos melhores sentimentos eles nos fal-tam no momentos em que neces-sitarmos deles. E, acredite, nós va-mos necessitar abundantemente da solidariedade dos outros em muitos momentos de nossa vida. Portan-to plantemos, pois só assim iremos colher.

No dia em que nos dermos con-ta do valor das virtudes para nossas próprias vidas, entenderemos o que disse Santo Agostinho quando afir-mou que: “se o homem soubesse como é bom ser bom, seria bom por egoísmo”. S

Rossandro KlinjeyPsicólogo

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NATURALMENTE

A VIDA QUE VEM DO LIXO

Por Ulisses Praxedes

“Que raízes são essas que se arraigam, que ramos se esgalhamNessa imundície pedregosa? Filho do homemNão podes dizer, ou sequer estimas, porque apenas conhecesUm feixe de imagens fraturadas, batidas pelo sol,E as árvores mortas já não mais te abrigam, nem te consola ocanto dos grilos,E nenhum rumor de água a latejar na pedra seca. ApenasUma sombra medra sob esta rocha escarlate.(Chega-te à sombra desta rocha escarlate),E vou mostrar-te algo distintoDe tua sombra a caminhar atrás de ti quando amanheceOu de tua sombra vespertina ao teu encontro se elevando;Vou revelar-te o que é o medo num punhado de pó.”

T.S. Eliot - ‘The Waste Land’ Tradução Ivan Junqueira

Lixo Extraordinário

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mudança de atitude pode gerar grandes transformações no ser humano, no seu próximo e no ambiente em que o mesmo se situa. Essas transformações podem trazer um novo olhar para o que estava esquecido e desprezado. É

assim que Vik Muniz trabalha. Utilizando-se de materiais descar-tados e transformando-os em arte.

Seu trabalho foi muito bem demonstrado no documentário “Lixo Extraordinário”, onde temos retratada a sua jornada dentro do lixão de Gramacho, no Rio de Janeiro, local onde é despejado literalmente mais de 70% de todo o lixo da cidade maravilhosa em busca de matéria-prima para suas novas obras. A produção tem as marcas Downtown Filmes, O2 Filmes e Almega Projects. Também tem a direção de Lucy Walker, e codireção de João Jardim e Karen Harley. Ainda estão entre os nomes da equipe o já conhecido Fernando Meirelles (Cidade de Deus).

O filme sai do comum e traz uma abordagem mais atrativa quando não foca especificamente só no trabalho de Muniz. Na verdade, os catadores de lixo, ou melhor, de material reciclável, como um dos próprios personagens faz questão de explicar, to-mam conta da trama e humanizam ainda mais esse belíssimo trabalho. “A maior dificuldade foi encontrar o fio narrativo do fil-me, conseguir, sem ser piegas ou

didático, contar a história de como a Arte pode tocar a vida daqueles que nunca

imaginaram chegar perto dela”, destaca João Jardim.E é aí que a produção se destaca. Traz a construção artísti-

ca de Vik Muniz e Mostra seu grandioso talento, mas também trabalha em muito as questões sociais e o papel do catador de material reciclável dentro da sociedade. Uma visão que assim como a arte de Vik leva transformação em muitas partes.

Lixo Extraordinário foi consagrado pelo público como melhor documentário em festivais como Sundance, Berlim e Paulínia, entre outros. São muitas as menções do filme na imprensa e todo o sucesso só reforça sua qualidade técnica e o enredo to-cante. É isso que o público gosta de ver: histórias de transforma-ção que nos tocam e nos fazem refletir. A produtora Karen Harley disse que “o maior aprendizado que eu tive foi com os persona-gens/catadores do filme. Descobri que existe um mundo rico de valores, dignidade e humor num lugar onde normalmente só se vê miséria”.

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Ulisses PraxedesJornalista

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FICHA TÉCNICA

Direção: Lucy Walker,Codireção: João Jardim, Karen HarleyProdução: Angus Aynsley, Hank LevineCoprodução: Peter MartinProdução Executiva: Fernando Meirelles, Miel de Botton Aynsley, Andrea Barata Ribeiro,Jackie de BottonMúsica: MobyEdição: Pedro KosDireção de Fotografia: Dudu MirandaCodireção de Fotografia: Heloi-sa Passos, Aaron PhillipsMixagem de Som: Aloysio Com-passo, José LozeiroDuração: 99 minutosFormato: RAINSom: Dolby Digital 5.1Janela: 1:85Ano de produção: 2009Classificação Etária: LivreOrçamento: US$ 1,5 milhõesPatrocínio: BB Seguro Auto, Ourocap, EletrobrásViabilizado pela Lei do Incentivo ao Audiovisual (Art. 1º A)

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SABOR E ARTE

Por Dra. Luciana Rabello e Ribamildo Bezerra

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Dizem que nem sempre de pão vive o ho-mem...

Era desta forma, que muitos dos nossos co-nhecidos santos na Idade Média viviam o seu sacro ofício para jejuar. Durante o período do je-jum se dedicavam tanto a orar, que se alimenta-vam apenas de pão de centeio, sal e água, uma forma ainda muito rala do que viria ser a nossa atual sopa. Em seus atos de fé muitos destes mártires, padeceram, literalmente, a pão e água.

Ora sagrado, ora profano, o pão do corpo e do espírito se confundem numa só história ‘fer-mentada’ há doze mil anos e que acompanha o

O PÃO NOSSO DE TANTAS VIDAS

homem até os dias atuais a cada nova manhã, quando, numa espécie de ritual gastronômico, rotineiramente o degustamos, antes de sair para batalha do “pão nosso de cada dia”.

Mas para chegarmos a esta iguaria fofinha e crocante com a conhecemos, o homem teve que “botar literalmente a mão na massa” e des-cobrir as inúmeras possibilidades, que o grão, fruto do trigo, triturado em pedras e transforma-do em farinha, podia oferecer quando misturada com água ou leite e assada logo em seguida.

O trigo, assim como os demais cereais, aca-bou trazendo uma evolução histórica na vida do IM

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homem gregário. O cultivo e a ‘domesticação’ dos grãos foi um dos fatores que levaram o ho-mem a optar por uma vida fixa, sedentária.

Na Turquia, por exemplo, na região da Capa-dócia, local das primeiras habitações do homem pós-fase gregária, é feito um “Pão à moda da Capadócia”, cuja receita substitui a água pelo leite, ao fazer a massa. Uma versão antiga, po-rém preservada do trato do homem com trigo, algo similar ao que existia na Mesopotâmia, onde as pessoas passaram a misturar junto a farinha, mel, azeite doce, suco de uva, tâmaras esmaga-das, ovos e carne moída, formando espécies de bolos que eram assados sobre pedras quentes ou sob cinzas. Esses bolos deram origem ao pão propriamente dito.

O pão foi, com certeza, um dos principais alimentos elaborados pelo homem, marcando a sua transição da Pré-História para a História, haja vista que além de deixar de ser gregário para o cultivo de cereais, foi através do controle do fogo que esta iguaria passaria a ser ainda mais aprimorada pelas mãos dos homens.

Foram os egípcios que ensinaram os gregos a arte de fazer pão, incluindo as técnicas de fer-mentação desenvolvidas às margens do rio Nilo. Na Grécia o equilíbrio entre alimentação e conhe-cimento eram tidas como duas importantes for-ma de alimentação, por isso a ideia do pão que alimenta o corpo e o espírito sem esquecer que um alimentaria o outro como já afirmava o pen-sador grego Hipócrates : “faça do teu alimento o teu remédio e do teu remédio o teu alimento”.

Foram os padeiros gregos que trouxeram a arte de panificar pães e bolos para Roma, tal foi aceitação dos romanos 500 a.C, e o pão passou a ser produzido em padarias públicas, até a que-da do Império. E no momento em que o Impé-rio Romano caía, o pão mais uma vez entra em cena. Para conter a revolta dos romanos devidos aos problemas do grande Império, a política im-plantada foi a do “pão e circo”, onde os pobres e desempregados recebiam pão como esmola, ao mesmo tempo em que o Estado buscava pro-mover os espetáculos brutais nas arenas, como

um meio de manter os plebeus afastados da po-lítica e das questões sociais.

Na França, a Queda da Bastilha, no ano de 1789, teve como um dos motivos, o alto preço do pão, já inacessível para a população que já não aguentava mais comer o “pão que o diabo amassou”. Um lenda muito presente naquele país afirma que quando em julho daquele ano, a multidão raivosa de Paris atacou Versalhes, a Rainha Maria Antonieta teria dito: “Se não têm pão, que comam brioches”. A infame frase que segundo pesquisadores teria sido propagada na verdade por Jean-Jacques Rousseau é atribuída maldosamente a Última Rainha da França, que por causa da lenda foi achincalhada por alguns

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SABOR E ARTE

como “miolo mole”.No futuro não muito distante a tradição dos

pães artesanais na França, que iria suplantar até mesmo os grandes moinhos interessados na fa-bricação do pão industrializado, seria a marca do nosso já conhecido pão francês, se transformando mundialmente em sinônimo de pão caseiro. Se-gundo dados do Ministério da França, atualmente mais de 75% do volume de pães consumidos na-quele país é fruto de padarias artesanais.

Mas é no campo religioso que o pão ganha a sua maior significação não só material, mas sim-bólica e filosófica. Na vida do Cristo é o milagre da multiplicação dos pães que está materializado o ato de partilha, assim como na Santa Ceia ao dividir o alimento com os apóstolos Jesus afirmou que cada pedaço daquele pão era o seu próprio corpo, ato este revivido na litúrgica representação na Missa Católica pela hóstia.

Na religião judaica, o pão também é muito signi-ficativo, porém não utiliza o fermento em sua fabri-cação por acreditar que a fermentação está ligada a impureza, a putrefação. A Jeová só oferecem o pão ázimo, sem fermento, consumido principal-mente no período da Páscoa.

No Islamismo, mesmo não tendo um ritual, o pão é considerado uma dádiva de Deus.

No Brasil Império, a fabricação do pão obede-cia a uma espécie de ritual próprio com cerimônias e cruzes nas massas com intuito espiritual que as bênçãos do céu recaíssem sobre as massas, e com a ação prática para que a massa crescesse, afofasse e dourasse a crosta.

Seja pela fé ou pela forca do trabalho, a histó-ria do pão é o melhor símbolo para representar a insaciável fome de evolução, seja no espírito ou no corpo em toda a trajetória da humanidade. En-tendendo que o fermento da vida é transformação necessária, mesmo quando algo que se perde no caminho, ao mesmo tempo nos impulsiona o cres-cimento. Esta é a receita de um pão que não cai do céu, mas que nos espera a cada dia com o refinado gosto de uma nova história a ser brindada pelo cá-lice sublime da vida. S

Dra. Luciana Rabello - Dermatologista pela SBDRibamildo Bezerra - Jornalista

[email protected]

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Ingredientes: 1 lata de leite condensado, 1 lata de água morna, 3 ovos, 100 gramas de manteiga derretida, 1 colher (chá) de sal, 10 gramas de fermento sólido (de padaria), 1 quilo de farinha de trigo.

Modo de Fazer: Passe tudo, mesmo o trigo, no liquidificador. Depois misture com a farinha de trigo e sove a massa até soltar das mãos e formar uma bola.Faça o formato que desejar: bolinhas, tran-ças, etc. Se desejar fazer Rosca de Natal acrescente frutas cristalizadas, passas ou castanhas...Prepare os pães e deixe descansar por duas horas.Forno pré-aquecido, bem quente, 15 minu-tos antes.Ainda morno pincele com manteiga e colo-que queijo ralado por cima. Bom apetite!

PÃO DELÍCIA

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EM EVIDÊNCIA

PROGRAMA NACIONAL DE CONTROLE DO CÂNCER DA PELE DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA

PELA VIDA E PELA CIDADANIA

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Dr. Marcus Maia

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solidariedade atualmente é baseada na consciência in-dividual muito mais livre, porém ancorada em uma orga-nização social que respeita as diferenças entre os indi-víduos. Seguindo este princípio, a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), conseguiu através da divisão de trabalho entre seus associados, desde 1999, criar e exe-cutar uma política social de solidariedade no combate ao câncer da pele. O trabalho voluntário e persistente dos dermatologistas solidifica a responsabilidade da nossa entidade social. A palavra Solidariedade reflete a ênfase que a SBD sempre pretendeu dar em suas ações sociais.  Sempre que temos uma doença cuja intervenção possa diminuir a sua incidência e mortalidade, um Programa de Controle deve ser idealizado e isto a SBD faz de longa data. A Sociedade Brasileira de Dermatologia através do Programa de Controle do Câncer da Pele criou o Dia Na-cional de Combate ao Câncer da Pele, sempre no último sábado de novembro, com intuito de realizar o Exame Preventivo em pacientes de risco para o câncer da pele.

Em relação ao câncer da pele, nós sabemos o que causa e quem poderá ter. A prevenção primária é a me-lhor forma de comunicação e para isso o Programa divul-ga constantemente a pessoa de risco para que reconhe-ça a sua fragilidade cutânea ao sol e estimule a procura pelo Exame Preventivo.

A luta contra o câncer da pele continua com a pre-venção secundária; se não foi possível impedir vamos pelo menos fazer um diagnóstico precoce. Cerca de 70% da população faz pelo menos uma consulta com um médico de atenção primária por ano. Desta forma, existe uma chance muito grande de o médico possa suspeitar do diagnóstico e enviar para os nossos centros especializados. Este é um foco de ação da SBD; divulgar os sinais precoces do câncer da pele aos médicos de atenção primária.

O tratamento do câncer da pele é muito mais do que uma simples remoção cirúrgica. A fotoproteção, a remo-ção de lesões pré-malignas, constituem um extenso rol de atenções que o dermatologista deve dar. Um paciente com câncer da pele deve ser seguido indefinidamente para uma possível recidiva ou mesmo uma nova lesão.

A Sociedade Brasileira de Dermatologia através do Programa de Controle do Câncer da Pele traz o com-promisso e a responsabilidade maior com a população, fazendo dessa entidade orgulho para o Brasil. S

Dr. Marcus MaiaDermatologista pela SBD

[email protected]

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SENTINDO NA PELE

om 16 anos eu não sabia o que era psoríase, nem tão pouco suas profundas transformações que não se

limitam apenas a pele. Ao consultar o médico-dermatologista por uma caspa insistente e progressiva, fui tomando conhecimento do termo. Psoríase foi o diagnóstico. Do gre-go psora “coçeira” + -sis “ação, condição”. Doença inflamatória, crônica que exigiria de mim não só cuidados com o corpo, como tam-bém com a mente, por possuir raiz no campo emocional.

A psoríase em minha vida aca-bou sendo um solidário aprendi-zado. Aprendi que toda doença ou dificuldade patológica trabalha em nós a ideia da humildade por

solidária

nos mostrar literalmente na pele a condição da fragilidade humana. Através da doença compreendi o sentido do adoecer, da fragilidade que gera crescimento, que conduz ao caminho do servir.

Se recorrermos aos radicais gregos: drama, que se refere ao que você faz nos outros, ergo que vem do trabalho que você faz e pathos aquilo que fazem em você; a palavra patologia e passional, é possível entender que a patologia pode sim tocar seu coração, nos transformando em seres diferentes, mais humanos mais solidarizados com o outro.

Dessa forma, justifica-se a percepção do quanto algumas pessoas que não se expandem

tão externamente por certas limitações físicas, fazem sim a sua grande viagem interna como forma de autoconhecimento e engrandecimento pessoal.

Foi assim o verdadeiro papel da psoríase na minha vida. Mesmo não participando de associações ligadas à doença, converso sem-pre com pessoas que assim como eu, tem que conviver com a psoría-se, inclusive com aquelas que tem uma relação difícil com a doença por não se adaptarem à disciplina exigida pela patologia. A ideia de não engordar, não deixar uma feri-da aberta, tomar os medicamentos certos, tomar sol nos horários ade-quados, além de fazer exercícios, para muitos não é algo tão fácil de

psoríase

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Por José Otávio

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adaptação. Exorcizar o estresse ou pelo menos mantê-lo sob controle também é um desafio imposto pela psoríase, já que se trata de uma doença que possui grande aporte de fundo emocional. O esporte me ajudou bastante. Encontrei nas ar-tes marciais o suporte para canali-zar minha agressividade equilibran-do os efeitos da psoríase. Aliado a isso, utilizo a espiritualização como dosadora para abertura dos meus caminhos junto a estas novas rela-ções que tenho com o meu corpo e com minha visão de mundo.

Através da psoríase, passei a exercitar a compaixão, entendendo que para lidar com esta doença preciso entender o outro e me en-tender também, por que não dizer,

me amar. Afinal, a psoríase e seus efeitos estéticos pedem que eu re-dobre o cuidado com a minha au-toestima, e perceba este valor no outro também.

É como um diabético, que se por um lado se priva dos prazeres de comer doces, por outro adqui-re a consciência dos perigos do açúcar sem a dosagem certa em nossas vidas. Da mesma forma, através da psoríase, passei a redo-brar os cuidados com a pele, que vão desde a hidratação ao banho de sol.

Acima de qualquer coisa, esta doença da pele, me ensinou a en-tender que a perfeição não existe. Somos uma espécie em constru-ção, com dificuldades e vivências

diferenciadas que nos ajudam a evoluir enquanto pessoa humana. Hoje aceito completamente a pso-ríase e não me deixo abater pela doença. Percebo isso até mesmo com certa dose de humor, ao me achar ainda mais bonito, mesmo com psoríase.

Na prática, a psoríase na mi-nha vida funciona como rédeas para uma cavalo selvagem. Com ela pude descobrir meu compasso e hoje percebo sobriamente, que nem sempre sofrer na pele, signifi-ca sofrer na alma.

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José OtávioProfessor universitário e Historiador

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CAMINHOS

Diversidades e destinosCANADÁ

Por Dra. Olga Maria R. R. Leite

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A CN Tower, torre high tech com 553m, é um marco da cidade. No topo de seus 180 andares há um deck com chão de vidro e é perfeita para aproveitar a vista de Toronto.

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52 | Revista Sensatez

CAMINHOS

O Canadá oferece um grande leque de possibilidades ao alcance de todo viajante com um pouco de curiosida-des e os roteiros são inumeráveis, variados e sinônimo de natureza. Nesse país, as florestas, cordilheiras, lagos, rios e ilhas dominam quase que toda a paisagem virgem e bem preservada. O Canadá é o segundo maior país do mundo em extensão. Para se ter uma ideia de suas dimensões deve-se dizer que de norte a sul po-de-se percorrer 4.600 quilômetros, e de leste a oeste alguns a mais, 5.500 quilômetros. O país tem uma superfície de perto de dez milhões de quilômetros quadrados. Limita-se ao norte com o Oceano Ártico, ao leste pelo Atlântico, ao oeste com o Oceano Pacífico e ao sul com os Es-tados Unidos ao longo de uma faixa de apro-ximadamente, 6.000 quilômetros e devido a sua dimensão e variação topográfica ocorrem grandes variações climáticas, sendo o verão a estação ideal para visitá-lo, a não ser que se seja amante de esportes de gelo ou da natureza branca, pois os seus invernos são rigorosos. Apesar de sua extensão o país

tem uma população muito baixa com 35 milhões de ha-bitantes, dos quais 70% moram nas principais cidades que se concentram no leste do país.

Assim como o Brasil, é um país multicultural desde o início de sua história, porém a Língua é uma dos aspectos que fazem o Canadá ser único, pois 60% dos canaden-ses falam Inglês (oficial) como sua Língua principal, 24% falam Francês (oficial), e 16% falam outras Línguas. Nos dias atuais há um grande incentivo à imigração de jovens profissionais até 35 anos e os imigrantes são estimula-dos a cultivar sua cultura. Por isso, o Canadá também é chamado de “o lugar onde todos pertencem”. O país se torna muito atraente por apresentar educação primária e secundária gratuitas, de boa qualidade e o nível superior é fortemente subsidiado. Mais de 80% dos gastos com a Educação Superior são pagos pelos governos das pro-víncias e isto faz com que a força de trabalho do país seja uma das mais bem educadas no mundo com 40% da classe trabalhadora de nível superior. Outro ponto de atração é o Sistema de Saúde, gratuito e eficiente, man-tido pelo governo com uma proporção um médico para 520 canadenses.

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Com tanta diversidade de destinos e sendo nossa primeira vez optamos pelo roteiro mais clás-sico e conhecer as principais cidades do leste do país. Toronto foi a nossa “porta de entrada” sen-do a maior, mais moderna e rica cidade canaden-se, uma espécie de Nova York com uma “pitada” britânica, e muito utilizada para filmagens como se fosse o dublê de Nova York . A cidade fica às margens do lago Ontário e até o fim da Segunda Guerra, sua população era predominantemente de origem inglesa, porém hoje metade é de imigran-tes, num total de 150 etnias e apresenta bairros ou áreas com restaurantes, lojas e serviços típicos da Itália, Índia, Polônia, China, Alemanha, Portugal, Brasil e Grécia, entre outros países. A CN Tower, torre high tech com 553 m, é um marco da cidade. No topo de seus 180 andares há um deck com chão de vidro e é perfeita para aproveitar a vista da cidade e do lago. A cidade é predominantemen-te moderna nas suas edificações e de pitoresco tem muitas vias subterrâneas e galerias cobertas que é uma solução confortável e inteligente tan-to para o inverno como para fugir dos dias muito quentes de verão e uma forma de proteção solar. Mas para fugir do lado urbano pode-se passear no Harbourfront que apresenta um ótimo passeio na

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orla do lago com apresentações musicais, restaurantes e apreciar o perfil da cidade. Aproveitamos a proximidade de Toronto e fomos conhecer um dos pontos turísticos mais badalados, tanto do Canadá como dos EUA, que são as Cataratas do Niágara, que não deixam de ser en-cantadoras, porém em termos do contexto de natureza deixam a desejar em relação as nossas Cataratas de Foz do Iguaçu. Na cidade há muitas mirantes para visuali-zação das quedas d’água e almoçamos no Restaurante Giratório da Torre Skyllon. É muito agradável a visão do conjunto visto do alto. No retorno fomos conhecer Niaga-ra on the Lake que é um charmoso povoado e é a antiga capital do Canadá.

Seguindo viagem nos dirigimos para Ottawa a ca-pital do país, tendo como paisagem sempre presente o Rio São Lourenço onde paramos para conhecer o ar-quipélago fluvial conhecido como Mil Ilhas. Na verdade existe mais de mil e em muitas delas visualizamos ca-sas, algumas verdadeiros castelos, e na água os espor-tes náuticos predominam. Como o inverno é rigoroso a população canadense curte de uma forma intensa o seu verão. Já na divisa entre as províncias de Ontário e Que-bec se encontra Ottawa, ou seja estamos em uma junção da cultura anglófona (Ontário) e francófona (Quebec) e

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aí começamos a perceber a diversidade cultural deste país. A cidade é compacta e portanto fácil de conhecer, tendo no centro próximo ao mercado- Byward Market - a sua área mais agitada de comércio e restaurantes. O prédio do Parlamento é imponente e nele podemos assistir a troca da guarda que ocorre nos meses de verão e a noite um show de luzes e som que conta a histó-ria do povo canadense, ambos programas imperdíveis. Na cidade vizinha - Gatineau, separada apenas pelo rio, iremos encontrar o Museu da Civilização que relata de forma interativa e ilustrativa a saga desta nação desde os indígenas até a colonização europeia. Na parte exterior pode-se contemplar a arrojada arquitetura do Museu contrastando com a região tradicional do Parlamento. Aliás o contraste entre o tradicional e moderno é uma constante neste país. A cidade tem um “jeitão” de cidade de interior pela sua tranquilidade, porém abriga uma po-pulação com cerca de um milhão de habitantes que nos transparece ter uma qualidade de vida excelente pelo tipos de habitação, educação de seus habitantes e tudo que é oferecido de cultura e lazer. Enfim uma cidade sur-preendente.

Deixando a província de Ontário, paramos numa ca-

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bana de açúcar da região para degustar e conhecer o feitio do açúcar feita do Maple, que é uma árvore muito utilizada pelos os canadense e cuja folha se tor-nou símbolo do país. Assim entramos de vez na parte francesa do país iniciando por Quebec, com certeza a mais charmosa cidade do passeio. A cidade apresen-ta duas versões; a mais antiga que se encontra dentro das muralhas centenárias onde se tem a impressão que não se está na América e sim na Europa e fora das fortificações uma cidade moderna que se harmo-niza perfeitamente com a antiga. O principal cartão postal da cidade e que predomina e centraliza as ruas e muitas atividades culturais e artísticas ao seu redor é o Le Châteu Frontenac, um palácio que é um hotel, desde 1893. Ao caminhar pela cidade é como se en-trássemos no túnel do tempo e a população da cida-de usufrui dela no seu cotidiano e consegue mantê-la preservada. Há vários restaurantes e cafés ao estilo parisiense e artistas se apresentando nas praças e ruas. Também pode-se visitar lojinhas muito interes-santes, tanto da parte alta como na parte mais baixa, e quase sempre se tem a visão do rio São Lourenço a margear a cidade. O idioma oficial é o francês, po-rém os locais são muito simpáticos e lhe atendem em inglês ou espanhol. Um ponto alto do passeio é apre-

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Olga Maria R. R LeiteDermatologista pela SBD

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sentação da trupe do Cirque de Sóleil em um show na rua, gratuito, e a população e turistas se aglomerarem de forma extremamente ordeira. Realmente imperdível.

E por fim chegamos ao final do nosso passeio na alegre cidade de Montreal, a segunda maior cidade do país, ficando atrás de Toronto. Percebe-se uma cer-ta rivalidade entre as duas que é sintetizada com esta frase “Montreal vive para o amor e Toronto para o tra-balho”. A cidade é uma ilha do rio São Lourenço e em seu centro está localizado o “Monte Real” que dá ori-gem ao nome da cidade e apresenta um belo parque que vale a pena ser visitado e fazer uma caminhada até o Chalé do Monte Real de onde se tem uma vis-ta espetacular da cidade.Também neste parque está localizado uma atração turística interessante que é o Oratório de São José com uma cúpula surpreendente. A cidade devido a sua importante colonização católica francesa apresenta igrejas e basílicas muito ricas para visitação como a de Notre-Dame-de-Montreal e a Ca-tedral Marie-reine-du-Monde. Não se pode conhecer a cidade sem fazer uma visita ao Parque Olímpico, já que as Olimpíadas de 1976 foram um marco na his-

tória moderna da cidade. Nele pode-se visitar o Estádio Olímpico, o Biodôme, que se constitui em um museu natural com cinco ecossistemas dentro de uma redo-ma que era o antigo velódromo durante os jogos de 76. Neste mesmo parque pode-se visitar o Jardim Botânico um dos maiores e mais interessantes do mundo. Deve-se caminhar pela cidade e apreciar as casas em estilo vito-riano, andar pelo Centro e observar o fervilhar da cidade mais agitada do Canadá. Também é obrigatório uma ca-minhada pela cidade subterrânea com 30 km de túneis e galerias que se constitui a mais longa rede de caminhos para pedestres do mundo, sendo fácil de se perder neste emaranhado de ruas e lojas, porém é só submergir e na rua você se localizará e se surpreenderá com algum belo monumento do lado de fora. De volta para casa ficamos com a certeza de que há muito para se conhecer neste país. Quem sabe em 2014, no Congresso Mundial que será em Vancouver, será uma ótima oportunidade para conhecer o oeste deste fascinante país.

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