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Revista Liberdades Edição Especial - Dezembro de 2011 ISSN 2175-5280

Revista Liberdades · Revista Liberdades - Edição Especial - dezembro de 2011 150 HISTORIA ... caráter de ressarcimento do dano por parte do agente do delito e em favor da vítima

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  • Revista LiberdadesEdição Especial - Dezembro de 2011 ISSN 2175-5280

  • Revista Liberdades - nº 8 - setembro-dezembro de 2011 2

    EXPEDIENTEInstituto Brasileiro de Ciências Criminais

    DIRETORIA DA GESTÃO 2011/2012

    Presidente: Marta Saad

    1º Vice-Presidente: Carlos Vico Mañas

    2ª Vice-Presidente: Ivan Martins Motta

    1ª Secretária: Mariângela Gama de Magalhães Gomes

    2º Secretário: Helena Regina Lobo da Costa

    1º Tesoureiro: Cristiano Avila Maronna

    2º Tesoureiro: Paulo Sérgio de Oliveira

    CONSELHO CONSULTIVO:

    Alberto Silva Franco, Marco Antonio Rodrigues Nahum, Maria Thereza Rocha de Assis Moura, Sérgio Mazina Martins e Sérgio Salomão Shecaira

    Publicação do Departamento de Internet do IBCCRIM

    DEPARTAMENTO DE INTERNETCoordenador-chefe:João Paulo Orsini Martinelli

    Coordenadores-adjuntos:Camila Garcia da SilvaLuiz Gustavo FernandesYasmin Oliveira Mercadante Pestana

    Conselho Editorial da Revista LiberdadesAlaor LeiteCleunice A. Valentim Bastos Pitombo Daniel Pacheco PontesGiovani SaavedraJoão Paulo Orsini MartinelliJosé Danilo Tavares LobatoLuciano Anderson de Souza

  • Revista Liberdades - Edição Especial - dezembro de 2011 150

    HISTORIA

    Delito público e delito privado: um breve estudo do homicídio culposo e da lesão corporal no direito

    romano1

    Ricardo Savignani Alvares Leite2

    No estudo do delito no Direito Romano, percebe-se a ausência de uma diferenciação clara entre punição e ressarcimento do dano. De fato, em Roma, verificava-se, via de regra, apenas a punição como reação estatal ou privada ao cometimento de um delito.3

    No período clássico do Direito Romano, as penas privadas (poenae privatae) tinham a mesma função das penas públicas (poenae publicae), isto é, ambas possuiam um caráter puramente repressivo. Porém, no período justinianeu, apesar de manter a denominação de poena privata, passou essa a adquirir o caráter de ressarcimento do dano por parte do agente do delito e em favor da vítima.

    Essa distinção doutrinária das espécies de delitos resultou de uma longo desenvolvimento histórico iniciado no período da monarquia romana. Criou-se, assim, por obra dos jurisconsultos romanos, uma classificação de tais ilícitos, separando os diversos tipos existentes na prática em duas categorias, quais sejam, a dos delitos públicos (crimina) e a dos delitos privados (delicta).4

    Os delitos públicos eram aqueles que consistiam na “violação de norma jurídica que o Estado considerava de relevante importância social”5 ou, resumidamente, aqueles que lesavam a coletividade. Entre eles costumava-se apontar a traição à 1 Este artigo obedecerá, em essência, o método de citação e de referência denominado “franco-italiano”, por ser este o método predominante nos países europeus de tradição jurídica romano-germânica, buscando-se harmonizar o presente escrito com a formatação adotada pelos países cuja tradição jurídica mais se aproxima da brasileira. Seguir-se-á o método tal qual é apresentado na obra: E. C. SilvEira MarChi, Guia de Metodologia Jurídica – Teses, Monografias e Artigos, 2ª ed., São Paulo, Saraiva, 2009, pp. XI-301.

    2 Doutorando em Direito Romano pela Faculdade de Direito do Largo de São Francisco (USP).

    3 Cf. T. Marky, Curso Elementar de Direito Romano, 8ª ed., São Paulo, Saraiva, 1995, p. 133.

    4 Cf. J. C. MorEira alvES, Direito Romano, 14ª ed., Rio de Janeiro, Forense, 2007, p. 579; M. TalaManCa, Istituzioni di diritto romano, Milano, Giuffrè, 1990, p. 614.

    5 Cf. J. C. MorEira alvES, Direito cit. (nota 4 supra), p. 579.

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    pátria, a ofensa aos deuses, a deserção, a perduellio (ato que colocava em risco a segurança da república) e o parricidium6 (de forma genérica, um homicídio cuja vítima era homem livre, ou, literalmente, o assassinato de um parente próximo, normalmente de um pai pelo seu filho).

    Estes delitos, devido a sua gravidade, tinham os seus agentes perseguidos pelo Poder Público, o qual também se encarregava de puní-los com uma poena publica, a ser imposta por tribunais especiais, como, por exemplo, as Quaestiones Perpetuae, e que seguia o processo denominado ordo iudiciorum publicorum. Essa pena pública consistia, na maioria das vezes, em pena capital, imposição de castigos corporais ou multa arrecadada em favor dos cofres públicos.7

    Os delitos privados consistiam em prejuízos e danos causados ao corpo, à honra e aos bens das pessoas livres. Caracterizavam-se pela ausência, por parte do Estado, da iniciativa de punir o ofensor, sendo sua única consequência jurídica a garantia dada à vítima “de intentar contra este [agente do delito] uma actio para obter sua condenação ao pagamento de determinada quantia, como pena (poena privata)”.8

    Nos períodos pré-clássico e clássico do Direito Romano, a poena privata possuía um caráter punitivo, tal qual a poena publica. Porém, no período mais primitivo, como ainda se apresentava insipiente a organização dos poderes públicos, cabia exclusivamente ao ofendido a punição dos atos que lesavam os seus interesses particulares.

    Como consequência, a represália ou vingança (vindicta) era exercida segundo o livre arbítrio do indivíduo cujos interesses foram prejudicados, não havendo limite quanto ao seu exercício, ou seja, quanto ao nível permitido de violência empregada para a retribuição.9

    Por outro lado, não era vedado o acordo entre ofendido e ofensor, os quais poderiam decidir por uma compensação pecuniária como punição alternativa à retaliação ou à vingança. Esta solução de caráter pecuniário recebeu a denominação de pactio ou compositio.10 Apesar de representar uma flexibilização, a decisão final continuava dependendo primordialmente do prejudicado e a este

    6 Cf. a. M. riggSby, Crime and Community in Ciceronian Rome, Austin, Texas, 1999, p. 50; v. giuffrè, La repressione criminale nell’esperienza romana, 5ª ed., Napoli, Jovene, 1998, p. 57.

    7 Cf. J. C. MorEira alvES, Direito cit. (nota 4 supra), p. 579; M. TalaManCa, Istituzioni cit. (nota 4 supra), pp. 614-615.

    8 Cf. J. C. MorEira alvES, Direito cit. (nota 4 supra), p. 579. Ver também: P. bonfanTE, Istituzioni di diritto romano, 4ª ed., Milano, Vallardi, 1907, pp. 456-456.

    9 Cf. T. Marky, Curso cit. (nota 3 supra), p. 134.

    10 Cf. T. Marky, Curso cit. (nota 3 supra), p. 134; M. TalaManCa, Istituzioni cit. (nota 4 supra), pp. 615-616.

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    cabia exclusivamente a fixação do montante a ser pago a título de punição.

    No período clássico, devido ao fortalecimento dos poderes públicos, foi possível estabelecer limites para o exercício da vingança como punição, restringindo-a a casos específicos.11

    Sobre essa mudança de rumo, faz-se importante conferir, como uma espécie de resquício de punição por meio da represália, entre outras obras, as famosas Institutas de Gaio, das quais podemos extrair, como exemplo, um pequeno fragmento que faz menção à Lei das XII Tábuas: “Poena autem iniuriarum ex lege XII tabularum propter membrum quidem ruptum talio erat...”12 (“Segundo a Lei das XII Tábuas, a pena de injúria era a de Talião, no caso de perda dum membro...”13).

    Mesmo a vetusta Lei das XII Tábuas já fazia menção aos delitos públicos (perduellio, parricidium, incêndio etc.) e aos privados, incluindo, entre esses, casos em que a vingança ficava ao arbítrio do ofendido e casos em que previa a prestação pecuniária obrigatória.14

    No decorrer da história romana, principalmente a partir do último século da república e depois, com mais intensidade, com o advento da cognitio extra ordinem em matéria criminal, verificou-se a transferência de um número crescente de delitos privados para o âmbito público. Esse processo é denominado por alguns autores “publicização dos delitos privados”, cujo exemplo clássico é o da iniuria, a qual, a partir da lex Cornelia de iniuriis, passou a ser punida, em suas modalidades mais graves, como crimen publicum. Isso, porém, não fez com que os delitos privados se extinguissem por completo.15

    Na realidade, no já mencionado período clássico, a evolução do Direito Romano chegou a generalizar a compositio como punição para todos os delitos privados. Disso resultou que o delictum privatum, já no direito clássico, figurasse como fonte de uma determinada obrigação a ser cumprida pelo ofensor, qual seja, aquela de ressarcir sob a forma pecuniária os danos causados ao ofendido (obligatio ex delicto).16

    Neste ponto, vale lembrar que é possível extrair das Institutas de Justiniano a 11 Cf. T. Marky, Curso cit. (nota 3 supra), p. 134.

    12 Gai. 3, 223.

    13 Cf. a. CorrEia - g. SCiaSCia – a. a. CaSTro CorrEia, Manual de Direito Romano, vol. II, 2ª ed., São Paulo, Saraiva, 1955, pp. 218-219.

    14 Cf. T. Marky, Curso cit. (nota 3 supra), p. 134.

    15 Cf. T. Marky, Curso cit. (nota 3 supra), p. 134; M. TalaManCa, Istituzioni cit. (nota 4 supra), pp. 617-618.

    16 Cf. T. Marky, Curso cit. (nota 3 supra), p. 134; M. TalaManCa, Istituzioni cit. (nota 4 supra), pp. 614-618.

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    existência de quatro espécies de obrigações, dentre as quais figuram os delitos, in verbis: “Sequens divisio in quattuor species diducitur: aut enim ex contratu sunt aut quasi ex contratu aut ex maleficio aut quasi ex maleficio”17 (“A divisão seguinte as classifica em quatro espécies: ou nascem de um contrato ou como de um contrato, ou de um delito ou como de um delito”18).

    Sobre a diferenciação entre delito público e privado de grande valia é o estudo, ainda que breve, do homicídio culposo e da lesão corporal no Direito Romano, não sendo, por óbvio, possível esgotar esses temas nesse breve artigo, cabendo a ele apenas pincelar esses importantes institutos romano do ponto de vista civil e penal.

    Tomemos para tanto, como base de análise, a seguinte situação hipotética: suponha-se a morte acidental de Caio, funcionário de um estádio de esportes, que, ao ser atingido por um dardo arremessado por Tício, atleta participante da modalidade esportiva lançamento de dardo, acaba não resistindo aos ferimentos causados pela lança. Nesta situação, questiona-se qual seria a espécie e natureza, privada ou pública, da punição sofrida por Tício.

    Quanto ao tipo de ato praticado pelo atleta, não há dúvida de que seja um clássico homicídio, visto que os ferimentos causados pelo dardo lançado foram, no caso, os únicos responsáveis pela morte de Caio. Porém, não é suficiente analisar o ato e suas consequências, ou seja, apenas o aspecto objetivo que envolveu o fato delituoso.

    Quando se observa o aspecto subjetivo, torna-se imperioso admitir que o ato praticado por Tício caracteriza-se pela ausência de intencionalidade, visto que o objetivo principal do atleta, ao participar de uma competição esportiva, é vencer os seus oponentes e não ferir um ou outro indíviduo presente no estádio de esportes.

    A mera ausência de intencionalidade por parte de Tício torna impossível, na sistemática jurídica romana, a classificação do seu ato como um delito público, visto que, para tanto, a morte teria que ser intencional, ou seja, o homicídio, necessariamente, teria que ser doloso.19

    Tal definição tem como fundamento a lex Numae, que preceitua: “Si quis hominem liberum dolo sciens morti duit, parricidas esto”20 (“Se, com dolo

    17 Inst. 3, 13, 2.

    18 Cf. J. C. MorEira alvES, Direito cit. (nota 4 supra), p. 398.

    19 Cf. T. MoMMSEn, Römisches Strafrecht, trad. esp. de P. D. MonTEro, Derecho Penal Romano, 2ª ed., Madrid, Temis, 1999, p. 388; a. M. riggSby, Crime cit. (nota 6 supra), p. 55.

    20 Cf. C. gioffrEDi, I principi del diritto penale romano, Torino, Giappichelli, 1970, p. 64.

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    consciente, conduziu a morte um homem livre, será parricida”21). Esta prescrição, constante de um dos mais antigos documentos jurídicos de Direito Romano, é de derivação grega, visto que encontra grande semelhança com a Lei de Dracon da Atenas antiga, a qual tratava sobre o tema do homicídio. A essa, atribui-se o mérito de distinguir homicídio voluntário de homicídio involuntário. A norma não fixa a pena, que se presume conhecida, restringindo-se a classificar como homicida aquele indivíduo que comete um ato que extingue a vida alheia maliciosamente ou conscientemente.22

    O jurista alemão T. MoMMsen, ao tratar do assunto, afirma expressamente que apenas as mortes voluntárias eram sujeitas à ação prevista na lex Cornelia de sicariis et veneficis (81 a.C.),23 lei esta que disciplinava, entre outras coisas, as matérias concernentes ao parricidium.24 Segundo esse mesmo autor, as mortes involuntárias culposas e os incêndios culposos recebiam um tratamento jurídico que, com o tempo, veio a se assemelhar ao dispensado ao delito privado denominado damnum iniuria datum.25

    Segundo a Lei das XII Tábuas, impunha-se ao homicídio involuntário tão somente uma expiação religiosa, o que pode ser comprovado pelo fato de, nesta época, a sociedade não limitar mais a sua organização apenas aos núcleos familiares e de se ter, já neste período, abolido em Roma a denominada “vingança de sangue”. Estes fatores históricos, somados ao fato de essa lei estabelecer procedimento público às causas de homicídio, tornaram a punição de caráter religioso a única reação ao homicídio culposo.26

    O autor italiano C. Gioffredi apresenta um posicionamento próximo daquele de T. MoMMsen. Ele afirma que a punição do réu que comete um homicídio não é sempre a mesma. A sanção, apesar de ter caráter público e religioso, admitia gradação, sendo a mais gravosa, porém, não a única, a morte. No caso do homicídio involuntário, segundo o autor, impunha-se uma expiação religiosa e, possivelmente, depois, o exílio. Porém, nunca neste caso se aplicava a pena de 21 Tradução livre, com base na obra: H. M. F. MaDEira – D. R. M. roDriguES, Introdução ao Latim Jurídico – Lucerna Iuris, São Paulo, Quartier Latin, 2005, pp. VII-CCLXXII.

    22 Cf. C. gioffrEDi, I principi cit. (nota 20 supra), pp. 64-65.

    23 Cf. a. M. riggSby, Crime cit. (nota 6 supra), p. 55.

    24 Algumas décadas depois da promulgação da lex Cornelia de sicariis et veneficis, porém, sobreveio nova norma destinada à regulação do parricidium. A lex Pompeia de parricidio (55 a.C.), ao tratar desse tema e principalmente da pena a ser imposta aos assassinos dos genitores e de parentes próximos, optou pela aplicação da penalidade independentemente de ser a conduta do agente dolosa ou culposa (Cf. v. giuffrè, La repressione cit. [nota 6 supra], p. 57).

    25 Cf. Römisches cit. (nota 19 supra), p. 397; “O damnum iniuria datum – Esse delito – abreviadamente designado nos textos pela expressão damnum iniuria – consiste em alguém causar, culposamente, dano em coisa alheia, animada ou inanimada” (Cf. J. C. MorEira alvES, Direito cit. [nota 4 supra], p. 589). Ver também: P. bonfanTE, Istituzioni cit. (nota 8 supra), pp. 458-459.

    26 Cf. T. MoMMSEn, Römisches cit. (nota 19 supra), p. 514.

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    morte.27

    Para C. Gioffredi, na imposição de penas, desde a mais remota legislação romana, já se aplicava o princípio da valoração jurídica. Esta valoração não se limita ao elemento objetivo do ato delituoso, mas também recai sobre a intenção do agente.28

    Para esse autor, no Direito Romano, o que mais interessa para a atribuição de uma pena é a intenção do agente. Esta seria a razão para a incerteza a respeito da real punibilidade do homicídio culposo no direito arcaico. Isso se deve ao fato de que, ao mesmo tempo em que a lex Numae, em uma de suas disposições, prescrevia uma expiação religiosa para o homicídio involuntário, complementava, posteriormente, ser homicida apenas aquele que agisse com dolo.29

    Isso leva muitos juristas a defender que, na Roma arcaica, prevaleceu a vingança particular realizada pelos parentes do indivíduo assassinado, quando tal fato fosse consequência de um ato involuntário.

    Parte da doutrina, em busca de uma explicação mais pragmática e lógica para tal opção acatada pela Lei das XII Tábuas, costuma declarar que os juristas e legisladores de tal período provavelmente sentiram dificuldade em incluir a morte culposa de uma pessoa livre entre os delitos privados. A justificativa para tal atitude estaria no fato de que não há equivalente possível à vida humana, ou seja, nada poderia ser oferecido em substituição à vida de um ser humano.30

    Via de regra, a lex Aquilia tinha por finalidade regular os casos de responsabilidade relativa a danos à propriedade, incluindo os escravos, animais, res se moventes e objetos inanimados. Danos sofridos por homens livres, via de regra, portanto, não eram cobertos pelos preceitos normativos da lex Aquilia. Isso é o que se extrai das fontes romanas:

    Ulp. 18 ad ed., D. 9, 2, 13 pr.: Liber homo suo nomine utilem Aquiliae habet actionem; directam enim non habet, quoniam dominus membrorum suorum nemo videtur. Fugitivi autem nomine dominus habet.

    Ulp. 18 ad ed., D. 9, 2, 13 pr.: Um homem livre tem em seu nome a ação útil da Lei Aquília; pois não tem a direta, porque ninguém é considerado dono de seus membros. Mas em nome do fugitivo a tem o seu dono.1

    Portanto, o que se tinha no Direito Romano era uma proteção que garantia

    27 Cf. C. gioffrEDi, I principi cit. (nota 20 supra), p. 64.

    28 Cf. I principi cit. (nota 20 supra), p. 64.

    29 Cf. C. gioffrEDi, I principi cit. (nota 20 supra), pp. 64-65.

    30 Cf. T. MoMMSEn, Römisches cit. (nota 19 supra), p. 514.

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    a indenização pelos danos gerados ao patrimônio, porém, poucos eram os institutos jurídicos voltados à proteção de injúrias pessoais. Alguns desses remédios são a actio iniuriarum,31 que trata de situações que tipicamente se caracterizam pela presença de dolo, as actiones de effusis vel deiectis,32 de pauperie33 e de feris,34 as quais diziam respeito a situações muito específicas de injúrias causadas a pessoas livres.35

    É com base no fragmento acima transcrito, entre outros, que parte considerável da doutrina defende a prevalência, no Direito Romano, do princípio “liberum corpus nullam recipit aestimationem”. Os defensores dessa tese não negam que a regra original, qual seja, aquela de que o valor integral do objeto destruído ou do escravo morto (Capítulo I da lex Aquilia) ou a diminuição de valor resultante de dano ou injúria sofrida por um bem ou um escravo do patrimônio alheio (Capítulo III da lex Aquilia) deveriam ser restituídos ao prejudicado ou a seus descendentes, foi gradativamente ampliada. Porém, eles defendem que a aplicação dessa regra nunca foi aceita no que concernia ao corpo de um homem

    31 “Em acepção estrita, iniuria designa figura particular de delito, que se apresenta quando há ofensa à integridade física ou moral de alguém”, e “... a actio iniuriarum, que visa a fazer condenar o autor da iniuria em quantia a ser avaliada pelo juiz popular, conforme a maior ou menor gravidade do delito (trata-se, portanto, de actio iniuriarum aestimatoria, que é pretoriana e in bonum et aequum concepta); demais, é ação infamante e intransmissível ativa e passivamente” (Cf. J. C. MorEira alvES, Direito cit. [nota 4 supra], pp. 587-588).

    32 “Quando se derramava um líquido (effusum) ou se lançava uma coisa (deiectum) de um edifício sobre uma via pública, concedia-se contra o habitatur (o morador do edifício) – tivesse, ou não, culpa na prática de um desses atos – ação cuja condenação variava conforme a natureza do dano. Assim, se ele era causado numa coisa, o habitator respondia pelo dobro do valor do prejuízo; se resultava ferido um homem livre, cabia ao juiz – pois a ação correspondente se concebia in bonum et aequum – determinar o valor da indenização; e, se o homem atingido falecesse, a indenização, a ser paga pelo habitator, era fixada em 50.000 sestércios (equivalentes a 50 áureos, no tempo de justiniano), e a actio, nessa hipótese, era popular... Portanto, podia ser intentada por qualquer cidadão” (Cf. J. C. MorEira alvES, Direito cit. [nota 4 supra], p. 594 e n. 9). Outros autores, como P. bonfanTE, se limitam a mencionar a punição de 50 áureos, não fazendo referência ao seu correspectivo em sestércios (Cf. Istituzioni cit. [nota 8 supra], p. 460).

    33 Ação intentada contra o proprietário do animal que danificou coisa alheia (Cf. J. C. MorEira alvES, Direito cit. [nota 4 supra], p. 589). Sobre a actio de pauperie, ler também: r. ZiMMErMann, The Law of Obligations – Roman Foundations of the Civilian Tradition, London, Oxford, 1996, pp. 1096-1104; P. bonfanTE, Istituzioni cit. (nota 8 supra), p. 462. Sobre esse tema o seguinte fragmento: Ulp. 18 ad ed., D. 9, 1, 1 pr.

    34 “The safety of the public roads was a matter for which the curules aediles were responsible – the same magistrates that were also charged with the cura ludorum. They must soon have perceived that none of the existing remedies could adequately cope with the problems presented by transporting and marketing the animals that were required for the games and thus they issued an ‘edictum de feris’. Very little, unfortunately, is known about this edict, not even its date of promulgation. Originally, it probably referred to dogs and boars; both are not, at that stage, covered by the action de pauperize. Foreign animals began to be used for the games only around the beginning of the 2nd century B. C. The range of application of the aedilitian edict was then gradually extended; by the time of classical Roman law it appears to have included wolves, bears, ‘panthers’ and lions. A person who had brought these kinds of wild beasts into the vicinity of a public road, or who kept them there, was liable for any damage that they did. It did not matter whether they were tied up or allowed to run around, nor whether they scaped or merely mauled a passer-by. The person in charge of the animal – who did not have to be its owner – was liable, irrespective of whether he could have prevented the incident or not. The basis of his liability was thus not fault but the mere fact that by having a dangerous animal ‘qua vulgo iter fiet’, he had created a risk to others. For the death of a freeman the edict provided a penalty of 200 solidi, in cases of non-fatal injuries to freeman the judge was instructed to award ‘quanti bonum aequum… videbitur’, and in cases of damage to property ‘duplum’ was recoverable. None of these consequences could be averted by way of noxal surrender. Provocation of the animal by the victim of the injury did perhaps exclude liability. According to Inst. IV, 9, 1 the action de pauperize and the aedilitian action could be brought concurrently; but this can have applied only in the case of dogs and possibly, boars” (Cf. r. ZiMMErMann, The Law cit. (nota 34 supra), pp. 1106-1107).

    35 Cf. r. ZiMMErMann, The Law cit. (nota 34 supra), pp. 1014-1015.

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    livre.36 Vale, nesse sentido, conferir os seguintes fragmentos:Gai. 7 ad ed. provinc., D. 9, 1, 3: Ex hac lege iam non dubitatur, etiam liberarum personarum nomine agi posse, forte si patremfamilias aut filiumfamilias vulneraverit quadrupes; scilicet ut non deformitatis ratio habeatur, quum liberum corpus aestimationem non recipiat, sed impensarum in curationem factarum, et operarum amissarum, quasque amissurus quis esset inutilis factus.

    Gai. 7 ad ed. provinc., D. 9, 1, 3: Já não se duvida que por essa lei pode reclamar-se também por causa de pessoas livres, por exemplo, se um quadrúpede houver causado dano a um pai de família, ou a um filho de família; consequentemente, não para que se obtenha valor em razão da deformidade, porque um corpo livre não admite estimação, mas sim dos gastos feitos em razão da cura, do trabalho perdido e do que haverá de perder aquele que ficou para o trabalho inutilizado.2

    Ulp. 23 ad ed., D. 9, 3, 1, 5: Sed quum homo liber periit, damni aestimatio non fit in duplum; quia in homine libero nulla corporis aestimatio fieri potest, sed quinquaginta aureorum condemnatio fit.

    Ulp. 23 ad ed., D. 9, 3, 1, 5: Mas quando pereceu um homem livre, não se realiza a estimação em duplo do dano; porque no que concerne a um homem livre não se pode fazer estimação alguma de seu corpo, mas o que se faz é condenar ao valor de cinquenta áureos.3

    Gai. 6 ad ed. provinc., D. 9, 3, 7: Quum liberi hominis corpus ex eo, quod deiectum effusumve quid erit, laesum fuerit, iudex computat mercedes medicis praestitutas ceteraque impendia, quae in curatione facta sunt; praeterea operarum, quibus caruit, aut cariturus est ob id, quod inutilis factus est. Cicatricum autem, aut deformitatis nulla fit aestimatio, quia liberum corpus nullam recipit aestimationem.

    Gai. 6 ad ed. provinc., D. 9, 3, 7: Quando, com o que se houver jogado ou derramado houver sido lesionado o corpo de um homem livre, o juiz computa os honorários pagos ao médico e os demais gastos, se houveram, para obter-se a cura; e mais, o valor do trabalho de que esteve privado, ou de que haverá de estar privado porque para ele se tornou inútil. Mas não se faz a estimação das cicatrizes, ou de alguma deformidade, porque o corpo de um homem livre não admite qualquer forma de estimação.4

    Vale observar, porém, que, mesmo para os defensores do princípio “liberum corpus nullam recipit aestimationem”, não foi completamente negado que a lex Aquilia, com o passar do tempo, foi sendo aplicada aos casos de injúria física sofrida por homem livre37. Bastando, para isso, ter por base o seguinte fragmento: Ulp. 18 ad ed., D. 9, 2, 13 pr. Porém, no que tange ao assassinato de um homem

    36 Cf. r. ZiMMErMann, The Law cit. (nota 34 supra), pp. 1014-1015.

    37 As lesões corporais causadas culposamente a um homem livre, e que não podiam ser consideradas como tentativa de homicídio (situação na qual seria aplicada a lex Cornelia de sicariis et veneficis), eram punidas pela Lei das XII Tábuas como um caso de iniuria. Pelo que tudo indica, o castigo aplicado não dependia de terem sido as lesões produzidas com intenção ou sem intenção por parte do agente. Porém, posteriormente, a verificação da ausência de intenção passou a excluir a conduta do âmbito da ação de injúria, sendo impossível, também, do ponto de vista técnico-jurídico, conceder qualquer outra ação civil, tal qual ocorria com os casos de homicídio culposo. Para solucionar tal questão, passou-se a conceder, nesses casos de lesões corporais sofridas por homens livres, ações de dano à propriedade (actio legis Aquiliae), de dano ocasionado por negligenciar os cuidados conferidos a animais selvagens e de dano pelo lançamento imprudente ou negligente de objetos (Cf. T. MoMMSEn, Römisches cit. [nota 19 supra], p. 514).

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    livre, tal consenso não foi alcançado.

    De fato, a maioria dos fragmentos do Digesto relativos à lex Aquilia não explicitam se a vítima era ou não um homem livre. Para os defensores do princípio acima mencionado, deve-se interpretar tais fragmentos como se referindo a escravos. Um bom exemplo dessa controvérsia é o seguinte texto:

    Ulp. 18 ad ed., D. 9, 2, 7, 7: Sed si quis de ponte aliquem praecipitavit, Celsus ait, sive ipso ictu perierit, aut continuo submersus est, aut lassatus vi fluminis victus perierit, lege Aquilia teneri, quemadmodum si quis puerum saxo illisisset.

    Ulp. 18 ad ed., D. 9, 2, 7, 7: Mas se alguém houver precipitado outro de uma ponte, diz Celso, que se já houver perecido pelo mesmo golpe, ou se imediatamente submergiu, ou cansado houver sucumbido vencido pela força do rio, fica obrigado pela Lei Aquília, do mesmo modo que se alguém houvesse jogado uma criança contra um penhasco.5

    Com o advento do usus modernos pandectarum, novas interpretações foram desenvolvidas pelos estudiosos das fontes romanas acerca da responsabilidade derivada da lex Aquilia. No curso do século XVII, o mores hodiernae recorreu também à análise da literatura legal, filtrando e atualizando certos conceitos e institutos.

    Logo perceberam os estudiosos dos textos jurídicos romanos que dificilmente seria a própria vítima do crime quem teria a legitimidade para fazer uso da actio legis Aquiliae. Provavelmente seus herdeiros e parentes é que incorreriam em gastos para a hospitalização, tratamento médico etc.

    Com base nesta situação, alguns juristas, visando a compatibilizar a existência do princípio “liberum corpus nullam recipit aestimationem” com a constatação, nas fontes romanas, da concessão da actio legis Aquiliae àqueles homens livres vítimas de lesões corporais, resolveram estabelecer uma nova interpretação à lex Aquilia.

    Sendo assim, definiram que, no caso de pessoas livres, só se aplicaria o regramento em questão para responsabilizar os agentes do dano pelos gastos com a hospitalização e o tratamento médico pelos valores que, temporal ou definitivamente, a vítima da injúria corporal deixou de angariar ou não mais auferiria em razão da impossibilidade de exercer seu ofício.38

    Caso análogo ao assassinato culposo e que reforça a teoria oferecida por parte da doutrina, que visa a afastar (mesmo que parcialmente) o princípio “liberum corpus nullam recipit aestimationem”, consiste no tratamento jurídico dado pelos juristas romanos às lesões corporais causadas culposamente e cujo

    38 Cf. r. ZiMMErMann, The Law cit. (nota 34 supra), pp. 1024-1026.

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    prejudicado é um homem livre.

    O caso em análise, do atleta da modalidade lançamento de dardos, não pode ser considerado como tentativa de homicídio,39 visto não haver intenção (dolo) por parte do agente, e nem como simples dano ao patrimônio, já que foi um indivíduo livre o alvo do ato delituoso, e não um bem de seu patrimônio. Até este ponto, a lesão corporal e o homicídio culposo assemelham-se. De fato, com os elementos até o momento apresentados, não é possível incluir cada uma dessas figuras, de forma inequívoca, em uma das duas categorias de delitos do Direito Romano, quais sejam os delitos públicos e os delitos privados.40

    No caso das lesões corporais, porém, ao contrário do homicídio culposo, a Lei das XII Tábuas oferecia como solução a inclusão de tais delitos no conjunto das iniuriae. Definiu-se legalmente, assim, o delito de lesão corporal como mais um tipo de delito privado.

    Com isso, ficou estabelecida, desde a república romana, a existência de pena pecuniária para os casos de lesão corporal, as quais eram fixadas taxativamente na Lei das XII Tábuas. Posteriormente, com a evolução do Direito Romano, foi-se deixado ao arbítrio do juiz estabelecer o valor de tais penas, tendo como base, essencialmente, a intenção do agente, a gravidade do ato e o contexto em que foi praticado.

    É isto que nos informam as fontes romanas:Inst. 4, 4, 7: Poena autem iniuriarum ex lege duodecim tabularum propter membrum quidem ruptum talio erat: propter os vero fractum nummariae poenae erant constitutae quasi in magna veterum paupertate. sed postea praetores permittebant ipsis qui iniuriam passi sunt eam aestimare, ut iudex vel tanti condemnet, quanti iniuriam passus aestimaverit, vel minoris, prout ei visum fuerit. sed poena quidem iniuriae quae ex lege duadecim tabularum introducta est in desuetudinem abiit: quam autem praetores introduxerunt, quae etiam honoraria appellatur, in iudiciis frequentatur. nam secundum gradum dignitatis vitaeque honestatem crescit aut minuitur aestimatio iniuriae: qui gradus condemnationis et in servili persona non immerito servatur, ut aliud in servo actore, aliud in medii actus homine, aliud in vilissimo vel compedito constituatur.

    Inst. 4, 4, 7: Quanto à pena das injúrias, a Lei das XII Tábuas cominava a pena de talião por um membro mutilado; e pela fratura de um osso constituíram-se penas pecuniárias, consoantes à grande pobreza dos antigos. Mas, mais tarde, os pretores permitiram aos próprios injuriados avaliarem a injúria, de modo ao juiz condenar o réu em tanto quanto o injuriado a avaliou, ou em menos, conforme lhe parecesse. A pena das injúrias, porém, introduzida pela Lei das XII Tábuas, caiu em desuso; e a introduzida pelos pretores também chamada honorária, é frequente no fórum. Pois, conforme o grau de dignidade e a honorabilidade da vida, assim cresce ou diminui a avaliação da injúria. Esta graduação se observa também, e não sem razão, relativamente ao escravo; de modo que seja constituída uma, quando é um escravo intendente, outra, se o é um homem em situação média, e outra, quando se trata de um de ínfima classe ou agrilhoado.6

    39 Interessante notar que, apesar de a maior parte da doutrina afirmar que, durante o período clássico, o Direito Romano teria ignorado a punição de crimes na modalidade tentada, fato é que na lex Cornelia de sicariis et veneficis o comportamento de quem atentava contra a vida de alguém ou de quem se predispunha a atentar contra ela era entendido como um ilícito em si, uma figura autônoma de delito, não havendo diferenciação, no que tange à punição, entre crime consumado e tentado, isto é, aquele cuja prática é iniciada, porém, não se alcança o resultado desejado (v. giuffrè, La repressione cit. [nota 6 supra], pp. 56-57).

    40 Cf. T. MoMMSEn, Römisches cit. (nota 19 supra), p. 514.

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    Gai. 3, 223: Poena autem iniuriarum ex lege XII tabularum propter membrum quidem ruptum talio erat; propter os uero fractum aut conlisum trecentorum assium poena erat, si libero os fractum erat; at si seruo, CL; propter ceteras uero iniurias XXV assium poena erat constituta. et uidebantur illis temporibus in magna paupertate satis idoneae istae pecuniae poenae esse.

    Gai. 3, 223: Segundo a Lei das XII Tábuas, a pena da injúria era a de talião, no caso de perda dum membro, e de trezentos asses no dum osso fraturado ou ofendido; isto sendo a vítima pessoa livre; porque sendo escravo, a pena era de cento e cinquenta asses. Por outras espécies de injúria instituiu-se uma pena de vinte e cinco asses. Tais penas pecuniárias pareciam suficientes nesses tempos de economia pobre.7

    Gai. 3, 224: Sed nunc alio iure utimur. permittitur enim nobis a praetore ipsis iniuriam aestimare, et iudex uel tanti condemnat, quanti nos aestimauerimus, uel minoris, prout illi uisum fuerit; sed cum atrocem iniuriam praetor aestimare soleat, si simul constituerit, quantae pecuniae eo nomine fieri debeat uadimonium, hac ipsa quantitate taxamus formulam, et iudex, qui possit uel minoris damnare, plerumque tamen propter ipsius praetoris auctoritatem non audet minuere condemnationem.

    Gai. 3, 224: Hoje, porém, usamos de outro direito. Assim, temos a faculdade conferida pelo pretor, de avaliarmos nós mesmos a injúria e o juiz condena-nos, quer na importância da nossa avaliação, quer em importância inferior, segundo sua livre convicção. Mas como o pretor costuma avaliar a injúria grave, quando determina a importância a ser prestada como vadimonium, sem distingui-la da importância reclamada pelo autor como pena, pedimos na fórmula a mesma importância e o juiz, embora podendo condenar em quantia menor, não ousa habitualmente reduzir a condenação, em respeito a autoridade do pretor.8

    Voltando para o caso em análise, não restam dúvidas quanto ao caráter involuntário do homicídio cometido pelo atleta Tício, e a diferença tênue, mas substancial, entre esse delito e o homicídio doloso.

    Mesmo gerando uma consequência diferente daquela relativa ao homicídio voluntário, o homicídio involuntário não é, na Lei das XII Tábuas, incluído no rol dos delitos privados, visto que também não culminava, via de regra, com a obrigação por parte do agente do pagamento de uma pena pecuniária à família da vítima. Nesse caso, pelo menos durante algum tempo, impunha-se apenas uma expiação religiosa ao agente, incluindo-se tal infração no âmbito dos delitos públicos.

    Posteriormente, segundo T. MoMMsen, o direito honorário ou dos magistrados passou a dispor que, no caso de homicídio culposo, caberia ao responsável o pagamento de uma indenização de 2.000 sestércios, caso a morte fosse causada por animal feroz que estava sob a sua responsabilidade e lhe tivesse escapado. Esta indenização poderia alcançar o montante de 5.000 sestércios caso o homicídio fosse resultante de ferimentos causados por algum objeto que o homicida tivesse jogado ou atirado na vítima sem a intenção de matá-la.41 A essa mesma hipótese alguns autores apontam a incidência de indenização de valor ainda mais substancial, M. TalaManCa, no que é seguido por J. C. Moreira 41 Cf. Römisches cit. (nota 19 supra), p. 514.

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    alves, fala em uma pena de cerca de 50.000 sestércios no caso de assassinato de homem livre pelo lançamento involuntário de objetos42.

    Não há dúvida de que o caso em questão, envolvendo Tício e Caio, encontra, aparentemente, sua melhor solução na segunda situação descrita por T. MoMMsen. Porém, é importante frisar que, dependendo da análise do caso concreto, o juiz poderia conceder a absolvição completa do agente do delito ou, pelo menos, a suavização da pena a ele aplicada, tal qual opina Marciano no Digesto:

    Marcian. 14 inst., D. 48, 8, 1, 3: Divus Hadrianus rescripsit eum, qui hominem occidit, si non occidendi animo hoc admisit, absolvi posse et qui hominem non occidit, sed vulneravit, ut occidat, pro homicida damnandum: et ex re constituendum hoc: nam si gladium strinxerit et in eo percusserit, indubitate occidendi animo id eum admisisse: sed si clavi percussit aut cuccuma in rixa, quamvis ferro percusserit, tamen non occidendi animo. Leniendam poenam eius, qui in rixa casu magis quam voluntate homicidium admisit.

    Marcian. 14 inst., D. 48, 8, 1, 3: O divino Adriano respondeu em um rescrito, que aquele que matou um homem pode ser absolvido, se este tiver feito sem intenção de matá-lo; e aquele que não matou um homem, mas sim o feriu para matá-lo, deve ser condenado como homicida, e isso deve determinar segundo o caso concreto; porque, se desembainhou a espada e lhe feriu com ela, indubitavelmente que ele o fez com intenção de matá-lo; mas se em uma briga feriu-o com uma chave, ou com uma vasilha, ainda que o tenha ferido com ferro, mas não com a intenção de matá-lo, há de se suavizar a pena daquele que em uma briga cometeu um homicídio, mais por acaso do que por vontade.�

    Do fragmento acima transcrito, extrai-se claramente a ideia, já apresentada acima, de que, no regime da lex Cornelia de sicariis et veneficis, apenas se punia o homicídio quando houvesse dolo por parte do agente, isto é, fazia parte do tipo penal o dolo do homicida. Ausente a intenção de matar a vítima, ou seja, em termos jurídicos, sendo o homicídio culposo, não havia como aplicar a penalidade prevista nessa lei.43 Nesse sentido são esclarecedores os seguintes fragmentos do Digesto e do Codex:

    Paul. 1 de publ. iudic., D. 48, 8, 7: In lege Cornelia dolus pro facto accipitur. Nec in hac lege culpa lata pro dolo accipitur. Quare si quis alto se praecipitaverit et super alium venerit eumque occiderit, aut putator, ex arbore cum ramum deiiceret, non praeclamaverit, et praetereuntem occiderit, ad huius legis coercititionem non pertinet.

    Paul. 1 de publ. iudic., D. 48, 8, 7: Na Lei Cornélia, o dolo é considerado como um fato. Nessa lei a culpa lata não é considerada como dolo. Por isso, se alguém se precipitasse do alto e caísse sobre outro, matando-o, ou se um podador não avisasse, de cima da árvore, que deixaria cair um dos ramos, matando quem passava, não caberia a pena dessa lei.10

    42 Cf. M. TalaManCa, Istituzioni cit. (nota 4 supra), p. 633; J. C. MorEira alvES, Direito cit. (nota 4 supra), p. 594 e n. 9.

    43 Também podem ser indicadas, para exemplificar a necessidade da presença do dolo para verificar-se a ocorrência de um homícidio sujeito a uma poena publica, as hipóteses do quinto capítulo da lex Cornelia de sicariis et veneficis, no qual se aplicava punição também àqueles que produzissem, vendessem ou, simplesmente, tivessem consigo veneno ou medicamento, desde que com o intuito de matar alguém, mesmo que tal fato ainda não tivesse se concretizado (Marcian. 14 inst., D. 48, 8, 3).

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    Call. 6 de cogn., D. 48, 8, 14: Divus Hadrianus in haec verba rescripsit: “In maleficiis voluntas spectatur, non exitus”.

    Call. 6 de cogn., D. 48, 8, 14: O Divino Adriano respondeu em um rescrito: “no que se refere aos delitos, observa-se mais a vontade, não o resultado”.11

    Diocl.-Max., C. 9, 16, 4 (5): Eum, qui adseverat, homicidium se non voluntate, sed casu fortuito facisse, quum calcis ictu mortis occasio praebita videatur, si hoc ita est neque super hoc ambigi poterit, omni metu ac suspicione, quam ex admissae rei discrimine sustinet, secundum id quod adnotatione nostra comprehensum est volumus liberari. [de 290 d. C.]

    Diocl.-Max., C. 9, 16, 4 (5): Aquele que assevera ter cometido um homicídio não por vontade, mas por caso fortuito, porque perece ter dado ocasião à morte com um chute, se assim for e não se puder duvidar disso, queremos que, conforme se designou em nosso decreto marginal, seja livre de todo o temor e suspeita que sofrer em razão da divergência acerca da coisa executada. [de 290 d. C.]12

    No que se refere ao caso concreto analisado, porém, dois fragmentos, um do Codex e outro das Institutas, parecem solucionar o caso no que tange à qualificação do delito cometido pelo atleta Tício. De fato, não é possível qualificar o ato como homícidio sujeito a poena publica prevista na lex Cornelia de sicariis et veneficis, haja vista ter sido ele involuntário, ou seja, sem dolo, ainda que com culpa do agente:

    Diocl.-Max., C. 9, 16, 6 (7): Is, qui cum telo ambulaverit hominis necandi causa, sicut is, qui hominem occiderit vel cuius dolo malo factum erit commissum, legis Corneliae de sicariis poena coercetur. [de 294 d. C.]

    Diocl.-Max., C. 9, 16, 6 (7): Aquele que anda armado com lança com o intuito de matar um homem, será castigado com a pena da Lei Cornélia relativa aos sicários, como aquele que houvesse matado um homem ou aquele que, com dolus malus, houvesse cometido o delito. [de 294-305 d. C.]13

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    Inst. 4, 18, 5: Item lex Cornelia de sicariis, quae homicidas ultore ferro persequitur vel eos, qui hominis occidendi causa cum telo ambulant. Telum autem, ut Gaius noster in interpretatione legis duodecim tabularum scriptum reliquit, vulgo quidem id appellatur quod ab arcu mittitur, sed et omne significatur quod manu cuiusdam mittitur: sequitur ergo ut et lapis et lignum et ferrum hoc nomine contineatur. Dictumque ab eo quod in longinquum mittitur, a Graeca voce figuratum, ἀπὸ τοῦ τηλοὕ: et hanc significationem invenire possumus et in Graeco nomine: nam quod nos telum appellamus, illi βέλος appellant ἀπὸ τοῦ βἀλλεδθαι. Admonet nos Xenophon; nam ita scripsit: καὶ τὰ βέλη ὁμοῦ ἐφέρετο, λόγχαι, τοξεύματα, σφενδόναι, πλεῖστοι δἑ χαὶ λίθοι. Sicarii autem appellantur a sica, quod significat ferreum cultrum. Eadem lege et venefici capite damnantur, qui artibus odiosis, tam venenis quam susurris magicis homines occiderunt vel mala medicamenta publice vendiderunt.

    Inst. 4, 18, 5: Também a lei Cornélia relativa aos sicários, que persegue os homicidas com ferro vingador, assim como os que andam armados de lança para matar os outros. A lança (telum), como deixou escrito nosso Gaio na interpretação da lei das Doze Tábuas, é vulgarmente assim chamada, porque é despedida de arco; mas significa ainda tudo quanto se atira com a mão. Donde se segue que a denominação abrange a pedra, o pau e o ferro; E o vocábulo telum é derivado da expressão grega ἀπὸ τοῦ τηλοὕ, por ser atirado ao longe, significação que podemos descobrir na denominação grega; pois o que chamamos nós telum, chamam βέλος os gregos, ἀπὸ τοῦ βἀλλεδθαι. Xenofonte nô-lo adverte que assim escreve: “e simultâneamente serão arremetidas lanças, hastas, setas, fundas e numerosas pedras”. Os sicários são assim denominados de sica, que significa punhal de ferro. Pela mesma lei são condenados à morte os envenenadores, que com artes odiosas matarem a outrem com veneno ou com palavras mágicas; ou venderem ao público medicamentos nocivos.14

    Além da possibilidade de absolvição acima mencionada, vale mencionar, também, a excludente de culpabilidade e o consequente afastamento da responsabilidade prevista no próprio Digesto a respeito dos que ferem pessoas com o intuito de obter glória por meio da realização de algum esporte violento.

    Claro que, no caso em análise, Tício não praticava uma luta, e a sua vítima, Caio, não fazia parte do certame como competidor. Porém, fazendo uma analogia e considerando que em ambos os casos o que estava em jogo era a glória e os louros resultantes da vitória na modalidade esportiva, pode-se chegar à conclusão de que Tício não teria que responder fosse no âmbito civil, fosse no penal:

    Ulp. 18 ad ed., D. 9, 2, 7, 4: Si quis in colluctatione, vel in pancratio, vel pugiles dum inter se exercentur, alius alium occiderit, cessat Aquilia, quia gloriae causa et virtutis, non iniuriae gratia videtur damnum datum. Hoc autem in servo non procedit, quoniam ingenui solent certare; in filiofamilias vulnerato procedit. Plane si cedentem vulneraverit, erit Aquiliae locus; aut si non in certamine servum occidit, nisi si domino committente hoc factum sit; tunc enim Aquilia cessat.

    Ulp. 18 ad ed., D. 9, 2, 7, 4: Se exercitando-se na luta, ou em competição de combate, ou os pugilistas entre si, houver um matado outro, se realmente um tiver matado o outro em competição pública, não tem lugar a Lei Aquília, porque se entende causado o dano por causa da glória e do valor, não por injúria. Mas isso não procede a respeito de um escravo, porque tal hipótese diz respeito apenas aos ingênuos; mas é procedente no que tange aos filhos de família feridos. Mas se houver ferido quem se rendia, terá lugar a Lei Aquília, ou se matou o escravo não em uma competição pública, a não ser que este tenha participado consentindo-o o dono, porque então cessa a Lei Aquília.15

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    Apesar de ser esse um fragmento referente à aplicação da lex Aquilia, o que poderia novamente suscitar a tese de que o acima transcrito só se aplicaria à hipótese em que o homicida e o agente do delito fossem escravos, um outro fragmento do Digesto, localizado no título referente à lex Cornelia de sicariis et veneficis, revela que o raciocínio apresentado no primeiro texto também poderia ser aplicado analogicamente no caso de homicídio de homens livres participantes de um combate, haja vista a semelhança da fattispecie descrita.

    Porém, vale notar que, nessa última situação, necessário seria analisar a quantidade de ferimentos de cada um dos pugilistas, provavelmente com o intuito de verificar até que ponto o homicídio teria sido cometido sem intenção e em razão da exaltação dos ânimos dos competidores, que estariam agindo em busca de sucesso e glória:

    Paul. 5 sent., D. 48, 8, 17: Si in rixa percussus homo perierit, ictus unius cuiusque in hoc collectorum contemplari oportet.

    Paul. 5 sent., D. 48, 8, 17: Se ferido em um combate houver perecido um homem, é conveniente que se examinem as feridas de cada um dos reunidos naquela.16

    De acordo com T. MoMMsen, essas hipóteses de homicídio culposo descritas acima, assim como outras, que, com essas, formam um total de quatro situações previstas nos diversos fragmentos do Título 8 do Livro 48 do Digesto,44 foram, nos tempos imperiais, separadas dos casos de homícido da lex Cornelia de sicariis et veneficis, passando a ser considerados como delitos extraordinários, isto é, não previstos legalmente, mas, por extensão do direito penal aos casos graves de morte culposa, sujeitos ao procedimento de cognição dos magistrados.

    Além disso, nesses casos de morte culposa, entendia-se que cabia ao agente do delito arcar com uma reparação pecuniária a ser entregue aos parentes pobres da vítima, possivelmente para cobrir as despesas com o funeral, o tratamento médico (quando necessário fosse) e os valores que a família deixaria de auferir em razão da impossibilidade da vítima exercer seu ofício ou atividade profissional.45

    Depois desta explanação sobre o caso hipotético proposto e os institutos jurídicos a ele relacionados, com relação ao homicídio objetivamente analisado,

    44 As hipóteses mencionadas por T. MoMMSEn, e previstas no Digesto, são as seguintes: ministrar substâncias venenosas a alguém; matar alguém, sem intenção, como um ato de arrogância ou durante um combate; causar a morte de um homem livre por negligência médica; e causar a morte de um homem livre em razão do lançamento de algum objeto de cima de uma árvore (Cf. Römisches cit. [nota 19 supra], p. 516).

    45 Cf. T. MoMMSEn, Römisches cit. (nota 19 supra), p. 516.

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    não restam dúvidas de que a morte de Caio foi consequência direta dos ferimentos sofridos ao ser atingido pelo dardo lançado por Tício. Com isso quer-se dizer que não há como negar a existência de um nexo de causalidade entre a ação de Tício e a morte de Caio.

    No que diz respeito ao aspecto subjetivo referente ao ato delituoso em questão, tudo leva a crer que não houve intencionalidade por parte de Tício ao lançar o dardo, ou seja, ele não tinha por fim, com a realização deste ato, vitimar Caio. Além disso, é de se presumir que a verdadeira intenção presente no ato de lançar o dardo por parte de Tício era a de vencer a competição, visto que este esportista se encontrava participando de certame em tal modalidade esportiva no momento da ocorrência do ato delituoso.

    Quanto à ação de indenização, cabe dizer que só passou a ser concedida, segundo T. MoMMsen, no período clássico pelos magistrados romanos. Além disso, como fica claro na leitura dos fragmentos dos Livros 9 e 48 do Digesto,46 acima transcritos e traduzidos, dependendo da avaliação feita pela autoridade julgadora acerca do caso concreto, o acusado de homicídio culposo poderia ser absolvido ou ter sua pena suavizada, dependendo do caso, não sendo, portanto, obrigado a pagar a pesada indenização acima mencionada, porém, ficando obrigado ainda a arcar com os custos do sepultamento, tratamento da vítima (caso fossem pobres os seus parentes) e dos valores que deixaria de auferir a família em razão da impossibilidade da vítima exercer seu ofício ou atividade profissional.

    Vale ressaltar que todo o estudo partiu da premissa de que Caio era um homem livre, assim como Tício. Caso Caio fosse um escravo, a sua morte seria considerada como um dano ao patrimônio de seu senhor, consistindo no delito civil denominado de damnum iniuria datum. O proprietário de Caio, neste caso, teria direito a uma actio legis Aquiliae.

    Caso se comprovasse a responsabilidade de Tício pelo homicídio, mesmo tendo ele o cometido culposamente, seria, segundo o primeiro capítulo da lex Aquilia, obrigado a indenizar o proprietário com o valor máximo alcançado pelo escravo no ano anterior ao da morte. Caso Tício fosse escravo, a ideia se inverteria: o seu dono é que teria que indenizar a família de Caio, se este fosse livre, ou o dono dele, se também fosse escravo.47

    46 Ulp. 18 ad ed., D. 9, 2, 7, 4 e Marcian. 14 inst., D. 48, 8, 1, 3.

    47 Cf. J. C. MorEira alvES, Direito cit. (nota 4 supra), pp. 589-591. Sobre essa solução de caráter privado e de ãmbito patrimonial do assassinato do escravo, com fundamento na lex Aquilia, conferir: Ulp. 18 ad ed., D. 9, 2, 9, 4.

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    (Footnotes)1 Tradução livre com base em: d. i. l. GarCía del Corral, Cuerpo del Derecho Civil

    Romano, t. I, Barcelona, Lex Nova, 1889, p. 575.2 Tradução livre com base em: d. i. l. GarCía del Corral, Cuerpo I cit. (nota 31 supra), p.

    570.3 Tradução livre com base em: d. i. l. GarCía del Corral, Cuerpo I cit. (nota 31 supra), p.

    593.4 Tradução livre com base em: d. i. l. GarCía del Corral, Cuerpo I cit. (nota 31 supra), p.

    596.5 Tradução livre com base em: d. i. l. GarCía del Corral, Cuerpo I cit. (nota 31 supra), p.

    573.6 Cf. a. Correia - G. sCiasCia – a. a. CasTro Correia, Manual cit. (nota 13 supra), pp. 582-

    583.7 Cf. a. Correia - G. sCiasCia – a. a. CasTro Correia, Manual cit. (nota 13 supra), pp. 218-

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    221.8 Cf. a. Correia - G. sCiasCia – a. a. CasTro Correia, Manual cit. (nota 13 supra), pp. 220-

    221.9 Tradução livre com base em: d. i. l. GarCia del Corral, Cuerpo del Derecho Civil

    Romano, t. III, Barcelona, Lex Nova, 1897, pp. 753-754.10 Tradução livre com base em: d. i. l. GarCia del Corral, Cuerpo III cit. (nota 51 supra),

    p. 756.11 Tradução livre com base em: d. i. l. GarCia del Corral, Cuerpo III cit. (nota 51 supra),

    p. 756.12 Tradução livre com base em: d. i. l. GarCia del Corral, Cuerpo del Derecho Civil

    Romano, t. V, Barcelona, Lex Nova, 1895, p. 452.13 Tradução livre com base em: d. i. l. GarCia del Corral, Cuerpo V cit. (nota 55 supra), p.

    452.14 Cf. a. Correia - G. sCiasCia – a. a. CasTro Correia, Manual cit. (nota 13 supra), pp. 638-

    639.15 Tradução livre com base em: d. i. l. GarCía del Corral, Cuerpo I cit. (nota 31 supra), p.

    573.16 Tradução livre com base em: d. i. l. GarCia del Corral, Cuerpo III cit. (nota 51 supra),

    p. 755.