68
RICARDO VICTOR DE OLIVEIRA BARROS VERIFICAÇÃO DO DIMENSIONAMENTO DE UMA ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO DE UM HOSPITAL NATAL-RN 2017 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE TECNOLOGIA DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

RICARDO VICTOR DE OLIVEIRA BARROS VERIFICAÇÃO DO ... · 10 Decaimento de microrganismos no tratamento primário e secundário 32 11 Caracterização dos equipamentos constituintes

Embed Size (px)

Citation preview

RICARDO VICTOR DE OLIVEIRA BARROS

VERIFICAÇÃO DO DIMENSIONAMENTO DE UMA

ESTAÇÃO DE TRATAMENTO DE ESGOTO DE UM

HOSPITAL

NATAL-RN

2017

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA

DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA CIVIL

Ricardo Victor de Oliveira Barros

Verificação do dimensionamento de uma estação de tratamento de esgoto de um hospital

Trabalho de Conclusão de Curso na modalidade

Monografia, submetido ao Departamento de

Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como parte dos requisitos

necessários para obtenção do Título de Bacharel

em Engenharia Civil.

Orientador: Profa. Dra. Juliana Delgado Tinôco

Coorientador: Prof. Marcos André Capitulino de

Barros Filho

Natal-RN

2017

Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN

Sistema de Bibliotecas – SISBI

Catalogação da Publicação na Fonte - Biblioteca Central Zila Mamede

Barros, Ricardo Victor de Oliveira.

Verificação do dimensionamento de uma estação de tratamento de

esgoto de um hospital / Ricardo Victor de Oliveira Barros. - 2017.

67 f. : il.

Monografia (graduação) - Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, Centro de Tecnologia, Curso de Engenharia Civil. Natal, RN,

2017.

Orientadora: Prof.ª Dr.ª Juliana Delgado Tinôco.

1. Tratamento de esgoto – Monografia. 2. Reator UASB – Monografia.

2. Biofiltro – Monografia. 3. Desinfecção por UV - Monografia. 4. Esgoto

hospitalar - Monografia. I. Tinôco, Juliana Delgado. II. Título.

RN/UF/BCZM CDU 628.2/3

Ricardo Victor de Oliveira Barros

Verificação do dimensionamento de uma estação de tratamento de esgoto de um hospital

Trabalho de conclusão de curso na modalidade

Monografia, submetido ao Departamento de

Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio

Grande do Norte como parte dos requisitos

necessários para obtenção do título de Bacharel em

Engenharia Civil.

Aprovado em 14 de junho de 2017:

___________________________________________________

Profa. Dra. Juliana Delgado Tinôco - Orientadora

___________________________________________________

Prof. Eng. Marcos André Capitulino de Barros Filho - Coorientador

___________________________________________________

Prof. Dr. Helio Rodrigues dos Santos – Examinador interno

___________________________________________________

Profa. Enga. Larissa Caroline Saraiva Ferreira – Examinador interno

Natal-RN

2017

DEDICATÓRIA

Aos meus pais, Maria da Glória de Oliveira e Ricardo Pontes Celestino de Barros

AGRADECIMENTOS

Faz-se necessário agradecer nominalmente àqueles que diretamente ou

indiretamente, participaram, de alguma forma, na elaboração desta tese. Desta forma,

expresso aqui os meus mais sinceros agradecimentos:

Ao Professor Cícero Onofre, que inicialmente foi meu orientador e me inspirou a

conhecer mais sobre a área de saneamento, mas infelizmente faleceu durante a elaboração

deste trabalho.

À minha orientadora Professora Juliana Tinôco, por sua paciência e orientação

atenciosa.

Aos professores Marcos Barros, Larissa Ferreira e Helio do Santos, pelos

ensinamentos e apoio na elaboração deste trabalho.

À minha querida família, por me oferecer suporte financeiro e emocional durante

todo o curso.

À minha amada namorada, Beatriz Negreiros (Bibi) e Amanda Sousa Araujo

(Mandinha), as quais são minhas melhores amigas e sem elas não teria chegado até aqui.

Ao Otto, meu companheiro de todas as horas e que sempre esteve comigo.

Aos colegas de faculdade, pelos momentos de alegria e dificuldades compartilhados

nesse árduo caminho da formação em Engenharia. Aos amigos de uma vida toda, que fazem

parte do grupo “Penteto”.

Ricardo Victor de Oliveira Barros

RESUMO

Verificação do dimensionamento de uma estação de tratamento de esgoto de um hospital

Este trabalho verificou o dimensionamento de uma estação de tratamento de esgoto (ETE)

com vazão média afluente de 1,02 L/s, que trata esgoto tipicamente doméstico. A ETE é

composta por gradeamento, tanque de equalização, reator de manta de lodo, filtro biológico

aerado submerso (FBAS), decantador secundário e desinfecção com luz ultravioleta. O

trabalho foi realizado em duas etapas: a primeira consistiu na medição das dimensões e

observação das características relevantes ao dimensionamento dos reatores, assim como a

coleta de informações técnicas das bombas e do fotorreator. Na segunda etapa foi verificado o

dimensionamento dos reatores a partir da comparação dos parâmetros calculados e medidos

com as recomendações da literatura pesquisada. A verificação do reator de manta de lodo

mostrou que alguns elementos geométricos não estão de acordo com o recomendado, que

foram: altura do compartimento de decantação; superposição do defletor de gás; altura dos

tubos de distribuição; número de pontos de descarte e coleta de lodo. Além disso, observou-se

que o reator se encontra com valores de velocidade superficial e tempos de detenção

hidráulica fora dos limites estabelecido por Chernicharo (2007). Verificou-se que o FBAS

atendeu aos critérios de aeração e volume de meio de suporte necessários para atingir a

qualidade esperada de um efluente tratado por UASB seguido de biofiltro. Também foi

verificado que a potência dos sopradores, os quais fornecem ar para o FBAS, são superiores

do necessário para promover um tratamento sem nitrificação. O decantador secundário,

considerando-se que foi projetado como decantador convencional, tem menos da metade da

área em planta necessária para atender a configuração do ETE estudada. O sistema de

desinfecção por ultravioleta se mostrou subdimensionado e com número insuficiente de

lâmpadas de mercúrio. Dessa forma, foi constatado que a estação não tem dimensões

coerentes para tratar o volume de esgoto doméstico gerado pelo hospital, porém este trabalho

recomenda mudanças a fim otimizar o funcionamento da estação.

Palavras-chave: Reator UASB; Biofiltro; UV; Esgoto.

ABSTRACT

Size assessment of a hospital’s sewage treatment station

This research evaluated the size of a sewage treatment station (STS) with a average flow rate

of 1,02 L/s, which typically treats domestic sewage.The STS is composed of railing,

Equalization Tank, Sludge Blanket Reactor, followed by submerged Biological Aerated Filter

(BAF), Secondary Decanter and Ultraviolet Light treatment.The work was done in two stages:

the first stage was the sizing of dimensions and the observation of the reactor characteristics,

as well as the gathering of technical information about the pumps and the photoreactor.On the

second stage the reactors’ size was assessed and compared to the parameters and guidelines

recommended by the researched literature. The verification of the Sludge Blanket Reactor

showed that some geometric features were not according to the recommended, namely: the

height of the decanting compartment; overlap of gas deflector; height of the distribution pipes;

number of spots for disposal and collection of iodine.Furthermore, we noticed that the reactor

had superficial speed and hydraulic holding timing outside of the limits established by

Chernicharo (2007). We noticed that the BAF is in accordance with the aeration and support

volume criteria required to achieve the expected quality of effluent treated by a UASB

followed by a biofilter. We also verified the strength of the blowers that supply air to the

BAF. They are better than necessary to provide treatment with no nitrification. The secondary

decanter, that was designed as standard decanter, has less than half of the blueprint area

necessary to meet the needs of the studied STS. The Ultraviolet light treatment system is

undersized and with a insufficient number of mercury bulbs. Because of all that, we

concluded that the analysed station does not has the correct size to treat the volume of

domestic sewage generated by the hospital, and this paper recommends changes in order to

optimize the functioning of such station.

Keywords: UASB Reactor; Biofilter; UV; Wastewater.

ÍNDICE GERAL

1 INTRODUÇÃO ................................................................................................................... 18

1.1 Considerações iniciais .............................................................................................. 18

1.2 Objetivos .................................................................................................................. 18

1.3 Estrutura do trabalho ................................................................................................ 19

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA ............................................................................................ 20

2.1 Dados preliminares para o dimensionamento .......................................................... 20

Caracterização da qualidade do esgoto ...................................................... 20 2.1.1

Caracterização da quantidade de esgoto .................................................... 21 2.1.2

2.2 Os reatores UASB .................................................................................................... 22

2.3 Dimensionamento dos reatores UASB .................................................................... 24

Pré-tratamento ............................................................................................ 24 2.3.1

Carga hidráulica volumétrica e tempo de detenção hidráulica .................. 25 2.3.2

Carga orgânica volumétrica ....................................................................... 25 2.3.3

Carga biológica (carga de lodo) ................................................................. 25 2.3.4

Velocidade superficial de fluxo ................................................................. 26 2.3.5

Separador trifásico ..................................................................................... 26 2.3.6

Eficiência de reatores UASB ..................................................................... 27 2.3.7

Produção e coleta de biogás ....................................................................... 27 2.3.8

Produção de lodo ....................................................................................... 28 2.3.9

2.4 Biofiltro aerado e decantador secundário................................................................. 28

Parâmetros para o dimensionamento do FBAS e decantador secundário . 30 2.4.1

2.5 Desinfecção de esgoto por UV ................................................................................ 31

Parâmetros para o dimensionamento do sistema de UV ............................ 34 2.5.1

3 METODOLOGIA ................................................................................................................ 37

3.1 Descrição da ETE..................................................................................................... 37

3.2 Levantamento de dados ............................................................................................ 38

3.3 Descrição do sistema e considerações de dimensionamento ................................... 41

Reator UASB ............................................................................................. 41 3.3.1

FBAS e decantador secundário .................................................................. 43 3.3.2

Sistema de desinfecção UV ....................................................................... 46 3.3.3

4 RESULTADOS ................................................................................................................... 48

4.1 Dimensionamento do reator UASB ......................................................................... 48

4.2 Dimensionamento do FBAS e decantador secundário ............................................. 50

4.3 Dimensionamento do sistema de desinfecção por UV............................................. 51

5 DISCUSSÃO ....................................................................................................................... 52

5.1 Dimensionamento do UASB .................................................................................... 52

5.2 Dimensionamento do FBAS e decantador secundário ............................................. 53

5.3 Dimensionamento do fotorreator ............................................................................. 54

6 CONCLUSÃO ..................................................................................................................... 56

7 RECOMENDAÇÕES .......................................................................................................... 57

REFERÊNCIAS ....................................................................................................................... 59

APÊNDICES ............................................................................................................................ 62

ÍNDICE DE FIGURAS

FIGURA PÁGINA

1 Layout do sistema que trata o esgoto proveniente dos banheiros,

cozinha e laboratório do hospital

38

2 Corte esquemático do reator UASB da ETE 42

3 Corte esquemático do corte do reator FBAS da ETE 44

4 Corte esquemático do corte do decantador secundário da ETE 46

5 Fotorreator da ETE 47

ÍNDICE DE QUADROS

QUADRO PÁGINA

1 Vantagens e desvantagens do processo de tratamento anaeróbico 23

2 Vantagens e desvantagens do uso de UV para desinfecção de esgoto 32

3 Impacto dos constituintes do esgoto no uso de UV para desinfecção 33

ÍNDICE DE TABELAS

TABELA PÁGINA

1 Características físico-químicas do esgoto doméstico 20

2 Faixas de concentração de microrganismos usualmente encontrados

em esgoto doméstico não tratado

21

3 Coeficientes multiplicadores de vazão recomendados para projeto 22

4 Tempos de detenção hidráulica para projetos de reatores UASB 25

5 Velocidades superficiais recomendadas para reatores UASB, para

tratar esgotos domésticos

26

6 Velocidade através da abertura de passagem para o compartimento de

decantação decantador

26

7 Taxas de aplicação superficial e tempo de detenção hidráulica no

compartimento de decantação

26

8 Resumo de parâmetros do dimensionamento de ETEs do tipo UASB

+ BFs

30

9 Taxa de aplicação para projeto de decantadores secundários após

biofiltros

31

10 Decaimento de microrganismos no tratamento primário e secundário 32

11 Caracterização dos equipamentos constituintes da ETE 39

12 Resumo parâmetros físico-químicas, em mg/L, de quatro meses

consecutivos do esgoto bruto

39

13 Análises de coliformes termotolerantes do esgoto bruto afluente a

ETE

39

14 Medições de pH e temperatura no esgoto bruto da ETE por três dias 40

15 Vazões medidas do afluente da ETE e vazões estimadas pelo método

da SABESP (2012)

41

16 Verificação dos parâmetros calculados do UASB 48

17 Verificação dos parâmetros medidos do UASB 49

18 Verificação dos parâmetros calculados do FBAS e do decantador

secundários

50

19 Parâmetros de cálculo para a obtenção do número de lâmpadas

necessário no sistema de desinfecção por UV

51

SIMBOLOGIA

SÍMBOLO SIGNIFICADO

°C Graus Celsius

Ab Absorbância do esgoto

A dec. real Área do decantar instalado

A dec. req. Área em planta do decantador secundário requerida

Acomp. Dec. Área em planta do compartimento de decantação do reator UASB

A Área de influência dos tubos de distribuição do UASB

Asup Área superficial específica do meio de enchimento

C Comprimento da lâmpada

Cb Carga biológica

CCH4 Concentração de metano no biogás

Clodo Concentração do lodo

cm Centímetros

CODQO Carga de DQO aplicada ao sistema

Cs Carga orgânica superficial aplicada

CSST Concentração de sólidos suspensos totais

Cv Carga orgânica volumétrica

cv Cavalo vapor

CvDBO a-UASB Carga orgânica volumétrica afluente do reator UASB em DBO

CvDBO e-UASB Carga orgânica volumétrica efluente do reator UASB em DBO

CvDQO a-UASB Carga orgânica volumétrica afluente do reator UASB em DQO

CvDQO e-UASB Carga orgânica volumétrica efluente do reator UASB em DQO

CHV Carga Hidráulica Volumétrica

d Dia

Dav Dose aplicada por volume

DQOCH4 Carga de DQO convertida em metano

Dr Dose recebida por volume

E Eficiência de remoção de DQO ou DBO

e Espaçamento entre as lâmpadas

E tu Fator redutor de eficiência por tempo de utilização

E DBO UASB Eficiência de um reator em relação a DBO

E DQO UASB Eficiência de um reator em relação a DQO

E Faixa254nm Fator redutor de potência para a faixa de frequência luminosa de

desinfeção

Eenv Fator redutor de potência por invólucro de quartzo

f(T) Fator de correção para temperatura operacional do reator

g Gramas

h Horas

H2S Sulfeto de Hidrogênio

I Intensidade de radiação ultravioleta na profundidade x

Io Intensidade de radiação ultravioleta na superfície

k Velocidade de decaimento

KDQO DQO correspondente a um mol de CH4

kg Quilogramas

Kg Taxa de liberação de biogás

L Litros

l Espessura da lâmina líquida ou trajetória percorrida pela radiação

ultravioleta

M Massa de microrganismos presentes no reator

m² Metro quadrado

m³ Metro cúbico

mg Miligramas

ml Mililitro

mm Milímetros

mW Miliwatt

N Concentração de microrganismos no esgoto bruto

N° Número de lâmpadas

nm Nanômetros

No Concentração de microrganismos no esgoto tratado

p Pressão atmosférica

P Fósforo

P efet. Potência efetiva

P nominal Potência nominal da lâmpada de mercúrio

Ph Potencial hidrogeniônico

Q Vazão

Q ar fornecida Vazão de ar fornecida ao sistema

Q ar requerida Vazão de ar requerida pelo sistema para o funcionamento

adequado do FBAS

Q bomb Vazão das bombas de recalque

Q pond Vazão ponderada das bombas de recalque

q Qbomb Taxa de aplicação no compartimento de decantação para vazão da

bomba de recalque

q Q pond Taxa de aplicação no compartimento de decantação para vazão

ponderada

qa Taxa de escoamento superficial

qamáx Taxa de escoamento superficial máximo

Qar Vazão de ar necessário para alimentar o sistema

Qbiogás Produção volumétrica de biogás

QCH4 Produção volumétrica de metano

Qmed Vazão média

S Concentração de DBO ou DQO efluente

s Segundos

So Concentração do substrato afluente ou concentração de DBO/DQO

afluente

t Tempo de detenção hidráulica ou tempo de exposição

T Temperatura operacional do reator

Tdec Qbomb Tempo de detenção hidráulica no compartimento de decantação

para vazão da bomba de recalque

Tdec Qbomb pond Tempo de detenção hidráulica no compartimento de decantação

para vazão ponderada

Tx ar Taxa de aeração

V Volume total do reator

V abertura Velocidade do afluente através da abertura para o compartimento

de decantação

V des. Volume desinfetado

V esp. Volume esperado

V fot. Volume do fotorreator de UV

V lodo dec Volume de lodo sedimentado no decantador

V suporte real Volume do meio de suporte disponível no FBAS

Vlodo Produção volumétrica de lodo

Vs Velocidade superficial

Y Coeficiente de produção de sólidos no sistema

Y FBAS Coeficiente de produção de sólidos no FBAS

Yobs Coeficiente de produção de sólidos em termos de DQO

α Coeficiente de extinção

γ Massa específica do lodo

18

1 INTRODUÇÃO

1.1 Considerações iniciais

As estações de tratamento de esgoto (ETEs) objetivam diminuir os poluentes

encontrados no esgoto, principalmente a material orgânica, nutrientes e patógenos. Isso

porque o tratamento ineficiente de esgotos, ou a falta dele, pode contribuir para inúmeras

doenças parasitárias e infecciosas além da degradação do meio ambiente. As doenças

transmitidas por uma disposição inadequada de esgoto são responsáveis por elevados índices

de mortalidade em países em desenvolvimento. Outra razão importante para tratar esgoto é a

preservação de corpos d’água, pois as substâncias presentes no esgoto exercem ações

deletérias como diminuição do oxigênio dissolvido que causa a morte de organismos

aquáticos, eutrofização, escurecimento da água e geração de odores desagradáveis.

A implementação das ETEs é tão importante quanto o seu correto dimensionamento,

pois a composição do esgoto é bastante variável dependendo de sua origem. Portanto, para um

eficiente tratamento, o projeto da estação deve ser coerente com a o tipo de esgoto a ser

tratado, a fim de que sua eficiência não seja comprometida. Para isso, os parâmetros de

projeto devem ser considerados, como vazões afluentes, carga orgânica, temperatura, entre

outros.

Além das doenças e deterioração dos corpos hídricos, o mau dimensionamento das

ETEs pode acarretar no consumo desnecessário de energia elétrica e produtos químicos

utilizados no tratamento do esgoto, assim como mau uso do terreno. Esses fatores aumentam

o custo de operação. Outra consequência negativa de um projeto ineficiente é a geração de um

efluente final que não atende aos padrões legais de lançamento ou às concentrações de

mistura.

Diante do exposto, este trabalho tem como objetivo geral verificar se o

dimensionamento de uma ETE de um hospital localizado em Natal/RN, o qual tem como

jusante o rio Potengi, é adequado para o tratamento do esgoto afluente a estação.

1.2 Objetivos

O objetivo geral deste trabalho é verificar o dimensionamento de uma estação de

tratamento de esgoto composta por um Reator Anaeróbio de Fluxo Ascendente (Upflow

19

Anaerobic Sludge Blanket Reactor – UASB), Filtro Biológico Aerado Submerso (FBAS),

decantador secundário e sistema de desinfecção por radiação ultravioleta (UV).

Os objetivos específicos deste trabalho são:

Verificar divergências entre o dimensionamento do sistema e as recomendações

da literatura;

Propor alterações no sistema a fim de otimizar o seu funcionamento.

1.3 Estrutura do trabalho

Este trabalho está dividido em 7 capítulos.

O Capítulo 2 apresenta uma revisão bibliográfica do tema dimensionamento das

unidades de tratamento de esgoto estudadas neste trabalho, descrevendo a sua tecnologia e

seus parâmetros de projeto.

No Capítulo 3 a metodologia é explicada para a obtenção dos dados relevantes para

o dimensionamento da estação e a descrição das unidades de tratamento que compõem a ETE.

O Capítulo 4 traz os resultados encontrados na verificação do dimensionamento

comparados com os parâmetros limites recomendados pela literatura.

O Capítulo 5 discute os resultados obtidos e suas consequências no funcionamento

da estação.

No Capítulo 6, tem-se as conclusões obtidas neste estudo.

Por fim, o Capítulo 7 apresenta uma série de recomendações para melhoria da

estação estudada.

20

2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Dados preliminares para o dimensionamento

Caracterização da qualidade do esgoto 2.1.1

O esgoto doméstico é constituído por 99,9% de água e o restante é composto por

sólidos orgânicos e inorgânicos, suspensos e dissolvidos, bem como microrganismos.

Portanto, é devido a essa pequena fração de 0,1% que o esgoto precisa ser tratado. Essa

parcela que contamina a água é constituída por diversos compostos como lipídeos e proteínas.

Entretanto, não é do interesse do projetista definir esses compostos, pois sua identificação

demanda uma série de análises laboratoriais complexas e não são diretamente úteis como

parâmetros de projeto e operação. Sendo assim, utilizam-se parâmetros indiretos (físicos,

químicos e biológicos) para determinar o potencial poluidor do despejo em questão (VON

SPERLING, 2014). Na Tabela 1, são apresentados os principais parâmetros físico-químicos

que caracterizam um esgoto tipicamente doméstico e na Tabela 2, têm-se as faixas de

concentração dos principais microrganismos encontrados nesse tipo de efluente.

Tabela 1– Características físico-químicas do esgoto doméstico

Parâmetro

Contribuição

percapta

(g/habitante.dia)

Concentração

Faixa Típico

Unidade Faixa Típico

1. Sólidos sedimentáveis

120-220 180

mg/L 700-130 110

1.1 Em suspensão

35-70 60

mg/L 200-450 350

1.2 Dissolvidos

85-150 120

mg/L 500-900 700

2. Sedimentáveis

- -

mL/L 10-20 15

3. Matéria orgânica

3.1 DBO5

40-60 50

mg/L 250-400 300

3.2 DQO

80-120 100

mg/L 450-800 600

3.3 DBO último

60-90 75

mg/L 350-600 450

4. Nitrogênio total

6-10 8,0

mgN/L 35-60 45

4.1 Nitrogênio orgânico

2,5-4 3,5

mgN/L 15-25 20

4.2 Amônia

3,5-6 4,5

mgNH3-N/L 20-35 25

4.3 Nitrato

≈ 0 ≈ 0

mgNO2-N/L ≈ 0 ≈ 0

4.4 Nitrito

0-0,2 ≈ 0

mgNO3-N/L 0-1 ≈ 0

5. Fósforo

0,7-2,5 1,0

mgP/L 4-15 7

6. PH

- -

- 6,7-8,0 7,0

7. Alcalinidade

20-40 30

mgCaCO3/L 100-250 200

8. Metais pesados

≈ 0 ≈ 0

mg/L traços traços

9. Compostos inorgânicos

tóxicos ≈ 0 ≈ 0 mg/L traços traços Fonte: Adaptado de VON SPERLING, 1996.

21

Tabela 2 – Faixas de concentração de microrganismos usualmente encontrados em esgoto doméstico não tratado

Microrganismo Contribuição per capta

(organismos/habitante.dia) Concentração (org/100mL)

Bactérias totais 1012

a 1013

109 a 10

10

Coliformes totais 109 a 10

12 10

6 a 10

9

Escherichia coli 108 a 10

11 10

5 a 10

8

Estreptococos fecais 108 a 10

9 10

5 a 10

6

Cistos de protozoários <106

<103

Ovos helmintos <106

<103

Vírus 105 a 10

7 10

2 a 10

4

Fonte: VON SPERLING, 1996.

Caracterização da quantidade de esgoto 2.1.2

Para projetar estações de tratamento de esgoto, utiliza-se a vazão média de consumo

de água multiplicada pelo coeficiente de retorno e, portanto, é necessário o conhecimento da

população final do plano. Para tanto, utiliza-se métodos matemáticos para estimar qual será

essa população consumidora. Os métodos mais conhecidos para a projeção do crescimento

populacional são: crescimento aritmético, crescimento geométrico e taxa decrescente de

crescimento (VON SPERLING, 2014). Esses métodos de projeção populacional, usualmente,

não se aplicam a empreendimentos, como centros comerciais ou hospitais, por causa da

dificuldade de se prever quanto e se o empreendimento crescer. Assim sendo, projeta-se

estações compactas para tratar a vazão de esgoto gerado pelo empreendimento, com base no

seu número de usuários e o tipo de uso da água.

Para o cálculo da vazão média de consumo de água em hospitais de quaisquer

tamanhos, a SABESP (2012) sugere a utilização da Equação 1.

𝑄 = 2,9 × (𝑛° 𝑑𝑒 𝑓𝑢𝑛𝑐𝑖𝑜𝑛á𝑟𝑖𝑜𝑠) + 11,8 × (𝑛° 𝑑𝑒 𝑏𝑎𝑐𝑖𝑎𝑠 𝑠𝑎𝑛𝑖𝑡á𝑟𝑖𝑎𝑠) + 2,5

× (𝑛° 𝑑𝑒 𝑙𝑒𝑖𝑡𝑜𝑠) + 280

(1)

O sistema deve estar preparado para receber vazões de pico, sem que haja

comprometimento da qualidade do afluente final. Para se estimar as vazões de pico que

possam afluir na ETE, adotam-se os coeficientes multiplicadores de vazão média,

recomendados pela norma brasileira NBR9649:1986, como mostrado na Tabela 3.

22

Tabela 3 – Coeficientes multiplicadores de vazão recomendados para projeto

Coeficiente Nomenclatura Valor

Dia de maior consumo k1 1,2

Hora de maior consumo k2 1,5

Hora de menor consumo k3 0,5

Coeficiente de retorno C 0,8 Fonte: ABNT, 1986.

Para se estimar as vazões afluentes ao sistema, utiliza-se as Equações 2, 3 e 4.

𝑄𝑚é𝑑 𝑎𝑓𝑙𝑢 = 𝑄𝑚é𝑑 𝑐𝑜𝑛𝑠 × 𝐶 (2)

𝑄𝑚á𝑥 = 𝑘1 × 𝑘2 × 𝑄𝑚é𝑑 𝑎𝑓𝑙𝑢 (3)

𝑄𝑚í𝑛 = 𝑄𝑚é𝑑 𝑎𝑓𝑙𝑢 × 𝑘3 (4)

em que Qméd aflu é a vazão média afluente a ETE [m³/h]; Qméd cons é a vazão média

consumida [m³/h]; Qmáx é a vazão máxima horária [m³/h]; e Qmín é a vazão mínima [m³/h].

2.2 Os reatores UASB

O UASB é um reator anaeróbio que pode ser construído de fibra de vidro ou de

concreto. Nesse último, é importante atentar para a proteção à corrosão. Uma densa camada

de lodo, portadora de boas características de sedimentação, é formada no fundo do reator.

Acima do leito do lodo, desenvolvesse uma zona de crescimento bacteriano mais disperso,

denominada de manta de lodo. O reator é composto, também, por um separador trifásico, que

tem a finalidade de separar as fases sólida, líquida e gasosa do afluente. Gases podem ser

formados em consequência da decomposição de material orgânico. Eles são direcionados

pelos defletores de gases e, posteriormente, canalizados. O período mais crítico de um reator

UASB é na sua partida, quando o lodo está no processo de desenvolvimento. Inicialmente, o

reator deve ser alimentando com baixas taxas de esgoto, aumentando progressivamente

(CHERNICHARO, 2007).

No reator UASB, a biomassa cresce no meio, ficando em suspensão. O afluente entra

pelo fundo do reator e tem o primeiro contato com o leito de lodo, onde começa a ser

digerido. Devido à capacidade do sistema de retenção de biomassa e a idade do lodo, a

recirculação de esgoto pode não ser necessária e o tempo de detenção é bastante reduzido, da

ordem de 6 a 10 horas (SPERLING, 2014).

A manta de lodo que fica suspensa dentro do reator UASB é composta por grânulos.

Esses grânulos são conglomerados de microrganismos e utilizam a via anaeróbia para a

produção de energia. Essa conformação física confere ao lodo uma boa taxa de sedimentação,

23

permitindo que os grânulos possam vencer os fluxos ascendentes de esgoto dentro do reator.

Os grânulos são resistentes às forças de cisalhamento decorrentes das movimentações

hidráulicas e constituem um nicho que protegem os microrganismos de variações físicas ou

possíveis substâncias tóxicas que possam permear o meio (TIWARI et al., 2006).

De acordo com Metcalf & Eddy (2002), a concentração de sólidos pode variar entre 50

e 100 g/L, no fundo do reator, e de 5 a 40 g/L na parte mais difusa do topo, onde os grânulos

podem variar de tamanho, entre 1 a 3 milímetros.

A utilização de reatores de manta de lodo já é uma realidade em países de clima

tropical, como Colômbia, Índia, Brasil, em países do oriente médio e no continente da África.

O clima quente favorece o funcionamento de reatores anaeróbios e o seu uso passa a ser

bastante vantajoso para países em desenvolvimento, pois o sistema apresenta as seguintes

vantagens: baixo custo de operação, baixo consumo de energia elétrica (quando comparado a

sistemas aerados mecanizados) e pode alcançar satisfatória eficiência de remoção em DQO

(Demanda Química de Oxigênio) e DBO (Demanda Bioquímica de Oxigênio), da ordem de

65% a 75% (CHERNICHARO, 2007).

O projetista de um sistema de tratamento anaeróbio deve analisar suas vantagens e

desvantagens, assim como também considerar fatores econômicos e técnicos para adequar

esse tipo de tratamento de águas residuárias ao contexto da localidade onde ele se insere.

Algumas dessas vantagens e desvantagens desse sistema são listadas no Quadro 1.

Quadro 1 – Vantagens e desvantagens do processo de tratamento anaeróbico

Vantagens Desvantagens

Menor energia requerida Longos períodos para a partida do sistema

Respostas rápidas por adição de substrato

após um longo período sem alimentação

Pode requerer manutenção de alcalinidade ou adição

de íons

Produção de metano, potencial fonte de

energia

Pode requerer tratamento posterior por tratamento

aeróbico para alcançar os requisitos de lançamento

Menos nutrientes requeridos Não é possível a remoção biológica de nitrogênio e

fósforo

Reatores de menor volume requerido Mais sensível ao abaixamento de temperatura quanto

as taxas de reações

A maioria dos compostos orgânicos podem

ser degradados

Podem ser mais susceptíveis a perturbações devido a

substâncias tóxicas

Menor produção de lodo Produção potencial de maus odores e gases corrosivos

Fonte: Adaptado de METCALF & EDDY, 2002.

24

A degradação por via anaeróbia apresenta maior grau de complexidade biológica do

que por vias aeróbias. As principais biotransformações que ocorrem dentro dos reatores são

(SANT’ANNA JÚNIOR, 2013):

Hidrólise das substâncias orgânicas complexas: consiste na diminuição dA

substância de elevada massa molar (proteínas, polissacarídeos, lipídios, ácidos

nucleicos) em partículas menores, através da ação de enzimas hidrolíticas.

Fermentação ácida: etapa na qual ocorre a geração de ácidos voláteis, a partir do

processo de fermentação das substâncias resultantes da hidrólise.

Fermentação acetogênica: os ácidos de maior cadeia são transformados em

ácidos de um ou dois carbonos com a produção de oxigênio. As bactérias

acetogênicas existem em sintrofia com as metanogênicas.

Metanogênese: etapa crucial da digestão da matéria orgânica, sendo esta

caracterizada pela mineralização da matéria orgânica em metano.

2.3 Dimensionamento dos reatores UASB

Introduz-se, nos itens a seguir, as principais diretrizes, critérios e parâmetros para

projeto de reatores UASB apresentados por Chernicharo (2007); porém, segundo o mesmo

autor, ainda não existe um roteiro claro e acessível aos projetistas, sobre o dimensionamento

deste sistema.

Pré-tratamento 2.3.1

A entrada de sólidos não biodegradáveis no sistema pode ser altamente prejudicial ao

reator, levando a criação de zonas mortas e caminhos preferenciais dentro da manta de lodo.

Portanto, para se obter um bom funcionamento, é necessária cautela no dimensionamento e

operação do tratamento preliminar. Para estações de pequeno porte, é recomendada a

utilização de grade média, com espaçamento entre 20 e 40 mm, seguida de grades finas, com

aberturas entre 10 e 15mm e/ou ultrafinas, com aberturas entre 6 e 10mm. Para utilização de

desarenador de fluxo horizontal, deve-se considerar taxa de escoamento superficial máximas

de 1000m³/m².d (CHERNICHARO, 2007).

25

Carga hidráulica volumétrica e tempo de detenção hidráulica 2.3.2

A Equação 5 mostra como calcular a carga hidráulica e na Equação 6, obtém-se o

tempo de detenção.

𝐶𝐻𝑉 =

𝑄

𝑉

(5)

em que CHV é a carga hidráulica volumétrica [m³/m³.d]; Q é a vazão [m³/d]; e V é o volume

total do reator [m³].

𝑡 =

1

𝐶𝐻𝑉

(6)

em que t é o tempo de detenção hidráulica [d].

A adoção de tempos de detenção inadequados pode ocasionar a ineficiência do

sistema em remover matéria orgânica do esgoto, uma vez que o consumo dessa está

diretamente relacionado com o tempo que o esgoto permanece dentro do reator. Na tabela 4

são mostrados os limites mínimos para tempos de detenção hidráulica quando o sistema está

sob regime de vazões médias e máximas.

Tabela 4 – Tempos de detenção hidráulica para projetos de reatores UASB

Temperatura do esgoto (°C) Tempo de detenção hidráulica

Q media Q máxima

15 a 18 ≥ 10,0 ≥ 7,0

18 a 22 ≥ 8,0 ≥ 5,5

22 a 25 ≥ 7,0 ≥ 4,5

> 25 ≥ 6,0 ≥ 4,0 Fonte: CHERNICHARO, 2007.

Carga orgânica volumétrica 2.3.3

A Equação 7 mostra como calcular a carga orgânica volumétrica o parâmetro deve

ser calculado.

𝐶𝑣 =

𝑄𝑥𝑆𝑜

𝑉

(7)

em que Cv é a carga orgânica volumétrica [kgDQO/m³.d]; Q é a vazão [m³/d]; So é a

concentração de substrato afluente [kgDQO/m³]; e V é o volume total do reator [m³].

Carga biológica (carga de lodo) 2.3.4

A carga biológica pode ser calculada como mostrado na Equação 8.

26

𝐶𝑏 =

𝑄𝑥𝑆𝑜

𝑀

(8)

em que Cb é a carga biológica [kg DQO/kg STV.dia]; Q é a vazão [m³/d]; So é a

concentração de substrato afluente [kgDQO/m³]; e M é a massa de microrganismos presentes

no reator [kg STV].

Velocidade superficial de fluxo 2.3.5

Os limites de velocidade superficial de fluxo são mostrados na Tabela 5.

Tabela 5 – Velocidades superficiais recomendadas para reatores UASB, para

tratar esgotos domésticos

Vazão do afluente Velocidade superficial (m/h)

Vazão média 0,5 a 0,7

Vazão máxima diária ≤ 1,1

Vazão horária ≤ 1,5 Fonte: Adaptado de Lettinga & Hulshoff Pol, 1995.

Separador trifásico 2.3.6

Para se calcular a taxa de liberação e gás pode-se utilizar a Equação 9.

𝐾𝑔 =

𝑄𝑏𝑖𝑜𝑔á𝑠

𝐴𝑖

(9)

em que Kg é a taxa de liberação de biogás [m³/m².h]; Qbiogás é a produção volumétrica de

biogás [m³/h]; e Ai é a área da interface líquido-gás [m²].

Tabela 6 – Velocidade através da abertura de passagem para o compartimento

de decantação decantador

Vazão do afluente Velocidade (m/h)

Vazão média ≤ 2,5

Vazão máxima diária ≤ 4,0

Vazão máxima horária < 5,5 Fonte: CHERNICHARO, 2007.

Na Tabela 7, são apresentados os limites máximos de taxa de aplicação superficial e

mínimos de tempo de detenção hidráulica para os compartimentos de decantação dento do

reator UASB.

Tabela 7 – Taxas de aplicação superficial e tempo de detenção hidráulica no compartimento de decantação

Vazão afluente Taxa de aplicação superficial

(m/h) Tempo de detenção hidráulica (h)

Vazão média ≤ 0,8 ≥ 1,5

Vazão máxima ≤ 1,2 ≥ 1,0

Picos temporários * <1,5 ≥ 0,6 Fonte: CHERNICHARO, 2007.

(*) vazões com duração de duas horas.

27

Eficiência de reatores UASB 2.3.7

Para reatores que funcionam sob as seguintes condições: temperatura variando entre

20 e 27 °C, concentração de DQO entre 300 e 1400 mg/L e de DBO entre 150 e 850 mg/L.

Pode-se utilizar as Equações 10 e 11

𝐸𝐷𝑄𝑂 = 100 × (1 − 0,68 × 𝑡−0,35) (10)

em que EDQO é a eficiência do reator UASB em termos de remoção de DQO; t é o tempo de

detenção hidráulica [h]; e os valores de 0,68 e 0,35 são constantes empíricas [-].

𝐸𝐷𝐵𝑂 = 100 × (1 − 0,70 × 𝑡0,50) (11)

em que EDBO é a eficiência do reator UASB, em termos de remoção de DBO (%); t é o tempo

de detenção hidráulica [h]; e os valores de 0,70 e 0,50 são constantes empíricas [-].

Para se calcular a concentração de DBO ou DQO do esgoto tratado, utiliza-se a

Equação 12.

𝑆 = 𝑆𝑜 −

𝐸 × 𝑆𝑜

100

(12)

em que S é a concentração de DBO ou de DQO efluente [mg/L]; So é a concentração de

DBO ou de DQO afluente [mg/L]; e E é a eficiência de remoção de DQO ou de DBO [-].

Pode-se tomar o resultado da Equação 13, a qual estima a concentração de SST no

efluente, como uma estimativa de concentração de sólidos suspensos no efluente.

𝐶𝑆𝑆𝑇 = 102 × 𝑡−0,24 (13)

em que CSST é a concentração de sólidos suspensos no efluente final; t é o tempo de detenção

hidráulica [h]; e os valores 102 e 0,24 são constantes empíricas.

Produção e coleta de biogás 2.3.8

A produção de biogás é calculada com base na estimativa de DQO, que é convertida

em gás (Equação 14), em que os valores de Yobs variam de 0,11 a 0,23 (CHERNICHARO,

2007).

𝐷𝑄𝑂𝐶𝐻4 = 𝑄 × (𝑆𝑜 − 𝑆) − 𝑌𝑜𝑏𝑠 × 𝑄 × 𝑆𝑜 (14)

em que DQOCH4 é a carga de DQO convertida em metano [kg DQOCH4/d]; Q é a vazão de

efluente [m³/d]; S é a concentração de DBO ou de DQO efluente [kgDQO/L]; So é a

concentração de DBO ou de DQO afluente [kgDQO/L]; e Yobs é o coeficiente de produção de

sólidos no sistema em termos de DQO [kgDQOlodo/kgDQOapl].

Para estimar a vazão de gás metano, pode-se utilizar a Equação 15.

28

𝑄𝐶𝐻4 =

𝐷𝑄𝑂𝐶𝐻4

𝑓(𝑇)

(15)

em que QCH4 é a produção volumétrica de metano [kgDQO/m³]; e f(T) é o fator de correção

para temperatura operacional do reator [kgDQO/m³].

A Equação 16 calcula o valor do fator de correção para a temperatura operacional.

𝑓(𝑇) =

𝑃 × 𝐾𝐷𝑄𝑂

𝑅 × (273 + 𝑇)

(16)

em que KDQO é a DQO correspondente a um mol de CH4, ou seja, igual a 64 gDQO/mol; P é

a pressão atmosférica [atm]; R é a constante dos gases, igual a 0,082206 atm.L/mol.K; e T é a

temperatura operacional do reator [°C].

Finalmente, para se estimar a produção de biogás no sistema, utiliza-se a Equação

17.

𝑄𝑏𝑖𝑜𝑔á𝑠 =

𝑄𝐶𝐻4

𝐶𝐶𝐻4

(17)

em que Qbiogás é a produção volumétrica de biogás [m³/d]; QCH4 é a produção volumétrica de

metano [m³/d]; e CCH4 é a concentração de metano no biogás, usualmente da ordem de 70 a

80% para esgoto doméstico.

Produção de lodo 2.3.9

Para estimar a produção de lodo em reatores, utiliza-se as Equações 18 e 19.

𝑃𝑙𝑜𝑑𝑜 = 𝑌 × 𝐶𝑂𝐷𝑄𝑂 (18)

em que Plodo é a produção de sólidos no sistema [kgSST/d]; Y é o coeficiente de sólidos no

sistema [kgSST/kgDQOaplicada]; e CODQO é a carga de DQO aplicada ao sistema [kgDQO/d].

𝑉𝑙𝑜𝑑𝑜 =

𝑃𝑙𝑜𝑑𝑜

𝛾 × 𝐶𝑙𝑜𝑑𝑜

(19)

em que Vlodo é a produção volumétrica de lodo [m³/d]; 𝛾 é a massa específica do lodo,

usualmente da ordem de 1020 a 1040 kg/m³; e Clodo é a concentração do lodo [-].

2.4 Biofiltro aerado e decantador secundário

Os primeiros biofiltros aerados submersos (FBAS), surgiram na Europa no ínicio dos

anos 80, sendo concebidos para realizar a remoção de sólidos suspensos e a oxidação da

matéria orgânica em esgotos domésticos. Atualmente, o FBAS é capaz de atingir diferentes

29

objetivos de qualidade, tais como: a oxidação de matéria orgânica, a nitrificação secundária

ou terciária, a desnitrificação e a desfosfatação físico-química (CHERNICHARO; ARAÚJO;

GONÇALVES, 1996).

Os filtros biológicos aerados submersos são, na prática, tanques que podem ser

preenchidos de pedra, coque, ripas de madeiras e material cerâmico, peças de plástico entre

outros materiais podem ser utilizados como meio de suporte. Ar comprimido é introduzido

através de tubos perfurados sob o meio de contato a fim de fornecer oxigênio aos

microrganismos aeróbios. Os microrganismos crescem no meio suporte, eliminando a

necessidade da recirculação de lodo e os distúrbios resultantes da má formação do floco

biológico. Nos filtros aerados as bolhas de ar erodem o biofilme e, juntamente com o fluxo de

esgoto, previnem a colmatação do meio filtrante. A turbulência também assegura o bom

contato entre o substrato e os microrganismos (RUSTEN, 1984).

Filtros biológicos aerado submerso ou FABS são um tipo de filtro que pode

funcionar com fluxos ascendentes ou descendentes, não retêm biomassa e necessitam de

alimentação mecanizada de ar (sopradores). Os materiais granulares, mais utilizados como

meio de suporte, possuem superfície específica entre 200 e 600 m²/m³. Para plásticos, a faixa

fica restrita entre 100 a 200 m²/m³. Esse material é mantido totalmente submerso e deve

apresentar seguintes características (GONÇALVES et al., 2001):

Material inerte, não biodegradável e indeformável;

Resistência a abrasão, para resistir à turbulência produzido pela lavagem do

meio granular;

Elevada rugosidade para favorecer a adesão de biomassa.

As desvantagens na escolha de sistemas aeróbios com lodo aderido submerso

incluem: efluente não clarificado, complexa operação e instrumentalização, elevado custo

com bombas de aeração e pós tratamento de lodo ativado. Dentre as vantagens estão: relativa

pequena demanda de espaço, tempo reduzido de partida, devido a elevada velocidade de

desenvolvimento de biofilme, e alta capacidade de tratar esgoto diluído (METCALF&EDDY,

2002).

A tabela 8 apresenta os principais critérios e parâmetros utilizados para

dimensionamento de ETEs associando reatores UASB e biofiltros aerados submersos.

30

Tabela 8 – Resumo de parâmetros do dimensionamento de ETEs do tipo UASB + BFs

Parâmetros Reator

UASB BFs

Reator UASB +

BFs

Carga orgâncica volumétrica (g

DBO/m³dia) 0,85 a 1,2 3,0 a 4,0 -

Carga orgâncica superficial

(gDQO/m².dia) 15,0 a 18,0 55 a 80 -

Eficiência de remoção de DBO (%) 65 a 75 60 a 75 85 a 95

Eficiência de remoção de SS (%) 65 a 75 60 a 75 85 a 95

Eficiência de remoção de DQO (%) 60 a 70 55 a 65 80 a 90

Taxa de aeração (Nm³/Kg

DBOremov.) - 25 a 40 -

Produção de lodo

(kgST/kgDQOremov.) 0,15 a 0,20 0,25 a 0,40 -

TeOR de SV no lodo (% SV/ST) 0,50 a 0,60 0,55 a 0,80 -

Fonte: Adaptado de Gonçalves et al., 2001.

Parâmetros para o dimensionamento do FBAS e decantador secundário 2.4.1

Abaixo estão as equações utilizadas por Gonçalves et al. (2001) para o

dimensionamento de FBAS utilizados para o pós-tratamento de efluentes de reatores UASB

(Equação 20,21,22,). Para calcular a carga orgânica volumétrica que o biofilme alojado em

um metro cúbico de material suporte é capaz de tratar, utiliza-se a Equação 20.

𝐶𝑣 = 𝐴𝑠𝑢𝑝.𝐶𝑠 (20)

em que Cv é a carga orgânica volumétrica removida [kg DBO/m³.dia]; Asup é a área

superficial específica do meio de enchimento [m²/m³]; Cs é a carga orgânica superficial [g

DBO/m².dia].

O volume necessário para o meio suporte do reator pode ser calculado pela Equação

21. O produto entre a carga orgânica volumétrica e o volume do reator UASB fornece a carga

aplicada diariamente no FBAS.

𝑉𝐹𝐵𝐴𝑆 = 𝐶𝑣𝐷𝐵𝑂 𝑒,𝑈𝐴𝑆𝐵.𝑉𝑜𝑙𝑈𝐴𝑆𝐵/𝐶𝑣 (21)

em que VFBAS é o volume do meio de suporte [m³]; CvDBO e,UASB é a carga orgânica

volumétrica do reator UASB [kgDBO/m³.dia]; VolUASB o volume útil do reator UASB [m³]; e

Cv é a carga orgânica volumétrica removida [kg DBO/m³.dia].

Utiliza-se a Equação 22 para se determinar o volume de ar necessário no sistema:

𝑄𝑎𝑟 = 𝑇𝑥𝑎𝑟.𝐶𝑣𝐷𝐵𝑂 𝑒,𝑈𝐴𝑆𝐵.𝑉𝑜𝑙𝑈𝐴𝑆𝐵 (22)

em que Qar é a vazão de ar necessário para alimentar o sistema [Nm³ar/dia]; Txar é a taxa de

aeração [m³ar/kgDBOaplicada]; CvDBO e-UASB é a carga orgânica volumétrica do reator UASB

[kgDBO/m³.dia]; e VolUASB é o volume útil do reator UASB (m³).

31

Para calcular a área em planta que o decantador precisa ter para suportar uma taxa de

escoamento superficial pré-determinada, utilizou-se a Equação 23.

𝐴𝑑𝑒𝑐 = 𝑄𝑚𝑒𝑑 /𝑞𝑎 (23)

em que Adec é a área em planta do decantador secundário [m²]; Qmed é a vazão média

[m³/dia]; e qa é a taxa de escoamento superficial [m³/m².dia].

A taxa de escoamento superficial máxima (Equação 24) é utilizada como parâmetro

de verificação no dimensionamento do decantador e deve estar abaixo dos valores

apresentados na Tabela 9.

𝑞𝑎𝑚𝑎𝑥 = 𝑄𝑚á𝑥,ℎ /𝐴𝑑𝑒𝑐 (24)

em que Qmáx,h é a vazão máxima horária do sistema decantador secundário [m³]; qa,máx é a

taxa de escoamento superficial máximo [m/s]; Adec é a área em planta do decantador [m²].

As taxas de aplicação superficial, utilizadas no dimensionamento de decantadores

secundários, são especificadas para a vazão média e vazão máxima afluentes ao decantador,

conforme Tabela 9.

Tabela 9 – Taxa de aplicação para projeto de decantadores secundários após biofiltros

Nível de tratamento Taxa de aplicação superficial (m³/m².dia)

Para Qmédia Para Qmáxima

DBO = 20 a 30mg/L- sem

nitrificação 16 a 32 40 a 48

DBO<20mg/L - com

nitrificação 16 a 24 32 a 40

Fonte: Adaptado de Gonçalves et al., 2001.

2.5 Desinfecção de esgoto por UV

A radiação emitida por luzes UV tem sido utilizada desde o início do século vinte,

mas somente a partir do início da década de noventa essa tecnologia começou a ser

empregada no tratamento de esgoto de forma eficiente. Na proporção adequada, a radiação

UV provou ser um bom agente bactericida e virucida, ainda contribuindo para a não formação

de subprodutos tóxicos. Existem três tipos principais de lâmpadas geradoras de UV, que são:

baixa pressão e baixa intensidade, baixa pressão e alta intensidade, pressão média e alta

intensidade. As lâmpadas são compostas por gás de mercúrio, que quando exposto a um arco

elétrico, emite ondas eletromagnéticas na faixa UV. A parcela de UV de maior eficiência

germicida está na faixa de 220 a 320 nm em termos de comprimento de onda (METCALF &

EDDY, 2002).

Segundo Silva et al. (2001), a ação germicida da radiação UV está associada as

alterações provocadas na estrutura do DNA das células, em decorrência de reações

32

fotoquímicas desencadeadas pela absorção da radiação pelas moléculas que constituem o

DNA.

Quadro 2 – Vantagens e desvantagens do uso de UV para desinfecção de esgoto

Vantagens Desvantagens

A desinfecção com UV é efetiva na

inativação de muitos vírus, esporos e cistos

Baixas dosagens podem não ser efetivas na

inativação de alguns vírus, esporos e cistos

Processo físico que, ao contrário de

desinfetantes químicos, elimina a

necessidade de geração, manuseio,

transporte ou estocagem dos produtos

tóxicos/perigosos/corrosivos.

Os microrganismos podem reparar e reverter os

efeitos destrutivos do UV por meio de

mecanismos de reativação, conhecido como foto

reativação, ou em ausência de luz conhecido

recuperação no escuro.

Não gera efeito resíduo prejudicial à vida

humana ou à vida aquática.

Necessidade de programa preventivo para

controle de formação de biofilme nos tubos.

Tecnologia de fácil controle pelos

operadores

Turbidez (T) e sólidos suspensos totais (SST) no

esgoto podem prejudicar a eficiência de

inativação

Tempo de contato menor que quando

comparado de outros agentes desinfetantes.

A desinfecção de UV não tem custo

competitivos com a cloração, mas os custos são

competitivos quando comparados com cloração-

descloração. Fonte: Adaptado de USEP, 1999.

Tratar esgoto sanitário, através de reatores UASB, tem apresentado resultados

significativos, sobretudo em climas quentes. Este reator é eficiente em remover matéria

orgânica e sólidos suspensos, entretanto fornece um efluente rico em nutrientes e patógenos.

Portanto, um efluente com essas características necessita de pós tratamento (VAN

HAANDEL et al., 2000). A Tabela 10 mostra a eficiência de remoção de diferentes

microrganismos no tratamento primário e secundário do esgoto. Os resultados mostrados

evidenciam a necessidade de um sistema de desinfecção posterior a esses tratamentos.

Tabela 10 – Decaimento de microrganismos no tratamento primário e secundário

Microrganismo Tratamento primário

(%)

Tratamento secundário

(%)

Coliformes totais <10 90 a 99

Coliformes fecais 35 90 a 99

Shigela sp. 15 91 a 99

Salmonella sp. 15 96 a 99

Escherista coli 15 90 a 99

Vírus <10 76 a 99

Ovos helmintos 10 a 50 10

Entamoeba histolytica 50 a 90 70 a 99 Fonte: Adaptado de USEPA, 1986.

Os microrganismos podem se recuperar após o contato com radiação ultravioleta por

meio de dois mecanismos, e quanto maior a dose que recebida, menor será sua capacidade de

recuperação (JAGGER, 1958). Esses mecanismos são:

33

Fotorreativação: reversão obtida por recuperação fotoenzimática que

monomerizam os dímeros de primidina por uma enzima na presença de onda na

frequência de 300 a 500 nm. Ocorre na presença de luz.

Recuperação no escuro: fenômeno que ocorre na ausência de luz. O

microrganismo é capaz de substituir a parte lesada por nucleotídeos adjacentes,

com posterior ressíntese da sequência original. Ocorre na ausência de luz.

Existem, na literatura, controvérsias quanto à dose necessária para a recuperação de

organismos (TINÔCO, 2011). Portanto, mesmo que as análises de rotina realizadas em ETEs

possam mostrar resultados positivos quanto a remoção de microrganismos, é interessante

avaliar a recuperação dos microrganismos para controle mais apurado.

O diâmetro das partículas pode interferir de forma determinante na eficiência da

desinfecção UV (TINÔCO, 2011). Segundo Chernicharo et al. (2001), a intensidade de

emissão das lâmpadas de UV podem sofrer redução devido a características físico-químicas

do esgoto. Sólidos em suspensão e substâncias dissolvidas podem interferir na eficiência de

desinfecção.

O sistema de desinfeção pode ser composto de lâmpadas emersas ou imersas no

esgoto a ser tratado. Essas últimas precisam ser protegidas por um envoltório de quartzo ou

teflon. Com o tempo, uma fina camada de biofilme se forma ao redor do envoltório e precisa

ser removida, do contrário a eficiência do sistema pode ser comprometida. O Quadro 3 mostra

alguns constituintes do esgoto que podem ou não afetar a eficiência da desinfecção do esgoto

por UV.

Quadro 3 – Impacto dos constituintes do esgoto no uso de UV para desinfecção

Constituinte Efeito

DQO, DBO, COT Sem efeito espelho, a não ser materiais húmicos que

possuem grande fração de DQO

Materiais húmicos,

óleos e graxas

Fortes adsorventes de radiação UV. Pode sem acumular

na cúpula de quartzo e absorver radiação.

SST Absorver radiação UV e pode proteger para patógenos

Alcalinidade Afeta na solubilidade de metais que podem absorver luz

UV

Dureza

Cálcio, magnésio e outros sais que podem formar

depósitos nos tubos de quartzo, especialmente em

elevadas temperaturas.

Amônia, Nitrato e

Nitrito Não gera efeito espelho

Ferro Forte adsorvente de radiação UV

Manganês Forte adsorvente de radiação UV

PH Pode afetar a solubilidade de metais

Fonte: Adaptado Metcalf & Eddy, 2002.

34

Parâmetros para o dimensionamento do sistema de UV 2.5.1

Abaixo estão as equações utilizadas por Gonçalves et al. (2003) para o

dimensionamento de um fotorreator utilizando lâmpada imersa. Para calcular a intensidade da

radiação, utiliza-se a lei de Beer-Lambert (Equação 25).

𝐼 = 𝐼𝑜 × exp (−𝛼𝑥) (25)

em que I é a intensidade de radiação ultravioleta na profundidade x [mW/cm²]; Io é a

intensidade de radiação ultravioleta na superfície [mW/cm²]; e α é o coeficiente de extinção

[m].

O coeficiente de extinção pode ser calculado pela Equação 26.

𝛼 = 𝐴 × ln (10) (26)

em que α é o coeficiente de extinção [m]; e A é a absorbância a 254 nm [cm-1

].

A dose é o produto entre a intensidade e o tempo de exposição do esgoto à radiação

UV. Pode ser considerado o principal parâmetro de controle operacional nesse tipo de

desinfecção. Deve-se diferenciar a dose aplicada da dose recebida. A dose aplicada é

calculada para se ter uma estimativa de consumo de energia e a recebida é a que está

efetivamente disponível para a inativação de microrganismos (CHERNICHARO et al., 2001).

A dose aplicada e a dose recebida podem ser calculadas, respectivamente, pelas Equações 27

e 28.

𝐷𝑎𝑣 =

𝐼𝑜 × 𝑡

𝐿× 0,2778

(27)

em que Dav é a dose aplicada por volume [W.h/m³]; Io é a intensidade de radiação

ultravioleta na superfície [mW/cm²]; t é o tempo de exposição [s]; L é a espessura da lâmina

líquida ou trajetória percorrida pela radiação ultravioleta [cm]; e o valor de 0,2778 o fator de

conversão das unidades de mW para W, de segundo para hora e de cm para m.

𝐷𝑟 =

𝐼 × 𝑡

𝐿× 0,2778

(28)

em que Dr é a dose recebida por volume [W.h/m³]; e I é a intensidade média de radiação

ultravioleta [mW/cm²].

A lei de Chick (Equação 29), demostra que a cinética do decaimento de

microrganismos é de primeira ordem. Portanto, pode ser usada para estimar o decaimento por

desinfecção com UV.

𝑑𝑁

𝑑𝑡= −𝑘𝑁

(29)

35

em que k é a velocidade de decaimento [min-1

]; e N é a concentração de microrganismos

[NMP/100ml].

Devido a absorção da UV pela lâmina líquida de esgoto, a intensidade de radiação

acaba não sendo constante. Para se considerar esse efeito, utiliza-se a intensidade média

(MOROWITZ, 1950). Dessa forma a lei de Chick passa a ser expressa conforme a Equação

30.

𝑁 = 𝑁𝑜 × exp [−𝑘𝑡

𝐼𝑜

𝛼. 𝐿(1 − exp(−𝛼𝐿))]

(30)

em que N é a concentração remanescente de microrganismos [NMP/100ml]; No é a

concentração inicial de microrganismos [NMP/100ml]; k é a constante de inativação

[cm²/mWs]; t é o tempo de exposição [s]; Io é a intensidade de radiação ultravioleta na

superfície [mW/cm²]; α é o coeficiente de extinção [m]; e L é a espessura da lâmina líquida ou

trajetória percorrida pela radiação ultravioleta [cm].

Para se calcular o tempo de exposição do sistema, utiliza-se a Equação 31.

𝑉𝑓𝑜𝑡 = 𝑄. 𝑡 (31)

em que Vfot é o volume do fotorreator [m³]; Q é a vazão do sistema [m³/h]; t é o tempo de

detenção hidráulica no fotorreator [s].

Para se estimar a dose necessária a fim de se alcançar a eficiência esperada

(𝑙𝑜𝑔 𝑁 𝑁𝑜⁄ ), utilizou-se a Equação 32, proposta por Daniel (1993), a qual é válida para

efluentes com SST menor que 11,7 mg/L e absorbância inferior a 0,765 cm-1

.

−2,665𝐷𝑟0,1694 = 𝑙𝑜𝑔

𝑁

𝑁𝑜

(32)

em que Dr é a dose recebida [Wh/m³]; os valores de -2,665 e 0,1694 são constantes

empíricas; N é a concentração de coliformes no esgoto tratado [NMP/100ml]; e No é a

concentração de coliformes no esgoto bruto [NMP/100ml].

O volume desinfetado por cada lâmpada pode ser considerado como sendo o produto

entre o comprimento de cada lâmpada e sua área de influência (CHERNICHARO et al.,

2001). A Equação 33 pode ser utilizada para calcular o volume desinfetado.

𝑉𝑑𝑒𝑠 = 𝐶𝑙𝑎𝑚𝑝 × 𝐸2 (33)

em que Vdes é o volume desinfetado [m³]; Clamp é o comprimento da lâmpada [m]; e E é o

espaçamento entre as lâmpadas [m].

Considerando-se a dose acima calculada como dose média, para se obter a eficiência

desejada, pode-se calcular a dose aplicada:

36

𝐷𝑎𝑣 = 𝐸𝑓𝑎𝑖𝑥𝑎 254𝑛𝑚 × 𝐸𝑡𝑢 × 𝐸𝑎𝑛𝑣

𝑡𝑟𝑒𝑞 × 𝑃𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙

𝑉𝑑𝑒𝑠

(34)

em que Dav é a dose aplicada [Wh/m³]; EFaixa 254nm é o fator redutor de potência, igual a 70%,

para a faixa de frequência luminosa de desinfeção; Etu é o fator redutor de potência, igual a

30%, por tempo de utilização da lâmpada; Eqtz é o fator redutor de potência, igual a 2%, por

invólucro de quartzo; PNominal é a potência nominal da lâmpada [W]; treq é o tempo de

exposição [s]; e Vdes é o volume de esgoto desinfectado [m³].

Combinando as Equações 32, 34, 25, 27 e 28.

𝐷𝑎𝑣 =

𝛼. 𝑙. 𝐷𝑟

1 − exp (−𝛼𝑙)=

𝑡𝑟𝑒𝑞. 𝑃𝑒𝑓𝑒𝑡

𝑒2. 𝐶

(35)

em que Dav é a dose aplicada [Wh/m³]; α é o coeficiente de extinção [m]; l é a trajetória

percorrida pela radiação ultravioleta [m]; e é espaçamento entre as lâmpadas [m], em que

e=2l; treq é o tempo requerido para atingir a eficiência desejada [s]; C é o comprimento da

lâmpada [m]; e Pefet é a potência efetiva [W], dada por 𝑃𝑒𝑓𝑒𝑡 = 𝑃𝑛𝑜𝑚𝑖𝑛𝑎𝑙 × 𝐸𝑓𝑎𝑖𝑥𝑎 254𝑛𝑚 ×

𝐸𝑡𝑢 × 𝐸𝑞𝑡𝑧.

Para calcular o número necessário de lâmpadas, basta fazer a razão entre o volume

desinfetado e o volume exposto (Equação 36). Caso o valor calculado de lâmpadas seja menor

que um, o sistema não necessitaria de mais lâmpadas do que as já instaladas.

𝑁° =

𝑉𝑒𝑥𝑝

𝑉𝑑𝑒𝑠

(36)

em que N° é o número de lâmpadas; Vdes é o volume de esgoto exposto a radiação [m³]; e L é

a trajetória percorrida pela radiação ultravioleta [m].

37

3 METODOLOGIA

3.1 Descrição da ETE

O trabalho foi realizado nas ETE (Estação de Tratamento de Esgoto) do hospital

Giselda Trigueiro, localizado na cidade do Natal/RN. A ETE é composta por dois sistemas de

tratamento que funcionam separadamente: um destes, o qual não foi objeto de análise do

estudo, realiza o tratamento das águas residuárias provenientes da lavanderia do hospital; já o

outro, que é objeto de análise da pesquisa, consiste no tratamento das águas residuárias

provenientes dos banheiros, cozinha e laboratório do hospital (Figura 1).

O sistema avaliado é constituído das seguintes unidades: gradeamento grosseiro, com

espaçamento entre as barras de, aproximadamente, 2 cm; tanque de equalização com volume

aproximado de 5,0 m³; reator de manta de lodo de fluxo ascendente (UASB); filtro biológico

aerado submerso (FBAS); decantador secundário; sistema de desinfecção UV; tanque para

armazenamento do lodo excedente e tanque para preparo de solução coagulante (tanque de

solução), o qual não é utilizado atualmente na estação. A estação não possui caixa de areia e

dispositivo de medição de vazões afluentes.

O afluente chega por gravidade ao tanque de equalização onde duas bombas

idênticas de rotação constante operam afogadas para recalcar o esgoto para o reator UASB.

As bombas funcionam alternadamente por sistema de boias, as quais controlam o seu

funcionamento baseado na cota mínima ou máxima. O reator UASB é a única unidade que

recebe o esgoto por bombeamento, o seu efluente é transportado por gravidade através de

vertedouros para todas as unidades conseguintes. Dessa maneira, pelo princípio da

continuidade as bombas afogadas acabam definindo a vazão afluente em todas as unidades de

tratamento.

O filtro biológico é preenchido por eletrodutos de PVC de meia polegada cortados

em pedaços por volta de 4 cm. Esse material funciona como meio suporte para o crescimento

do biofilme. Dois compressores de ar funcionam de forma alternada, são responsáveis pela

aeração do FBAS.

Após passar pelo decantador secundário, por fim, o esgoto é direcionado para um

sistema de desinfecção, o qual é composto por um fotorreator simplificado com volume de,

aproximadamente, 4 litros e confeccionado com tubo de PVC com diâmetro de 100mm, foi

equipado com uma lâmpada imersa, de baixa pressão de mercúrio, com potência de 95W.

38

A ETE não possui sistema de tratamento de lodo, consequentemente, o lodo gerado

nas unidades de tratamento é armazenado em tanque específico e, posteriormente, coletado

por caminhão limpa-fossa.

Figura 1 – Layout do sistema que trata o esgoto proveniente dos banheiros, cozinha e laboratório do hospital

Fonte: Autor, 2017.

3.2 Levantamento de dados

Primeiramente, foram coletadas informações relevantes para conhecer melhor o

sistema, quais sejam: marca e modelo de bombas; marca e modelo da lâmpada de mercúrio e

dimensões dos tanques.

Com as dimensões dos tanques foi possível representar os reatores em desenhos, com

o intuito de caracterizá-los para posterior avaliação. Com a marca e modelo das bombas

submersas foi possível encontrar seus catálogos, os quais contêm informações essenciais para

o dimensionamento, tais como curva manométrica e potência. De posse dessas informações

foram calculadas as perdas de carga impostas pela tubulação de PVC, de acordo com a norma

brasileira NBR5626:1998, através da expressão de Fair-Whipple-Hsiao para tubos lisos.

Assim, foi possível obter as vazões de esgoto das bombas submersas. Para determinar a vazão

dos sopradores, consultou-se o catálogo da marca. A Tabela 11 mostra as principais

informações técnicas dos equipamentos disponíveis na ETE.

39

Tabela 11 – Caracterização dos equipamentos constituintes da ETE

Equipamento Marca Modelo Potência Regime de

trabalho Vazão máxima

Vazão de

operação

Soprador DOSITEC CR-50

RPM1750 3 cv Alternado 2,92m³/min 2,57m³/min*

Bomba de recalque DANCOR SDE 1/2 cv Alternado 19m³/h 11,8m³/h**

Lâmpada de

mercúrio PHILIPS

TUV PL-L HO

4 pin 95W Ininterrupto - -

Fonte: Autor, 2017.

(*) Vazão de ar quando a bomba é submetida a altura de coluna de água do FBAS (3mca)

(**) Vazão máximas menos as perdas de carga inerentes ao sistema.

Posteriormente, foram realizadas quatro coletas para posterior análise físico-químicas

e, em frascos separados, quatro análises microbiológicas, todas no esgoto bruto, visando a

obtenção dos parâmetros de qualidade necessários para dimensionar as unidades da ETE. Não

foram feitas análises no esgoto tratado, pois o reator UASB ainda estava em seu período de

partida quando este trabalho foi realizado. Dessa forma, analisar o efluente final do sistema

não traria informações relevantes para a verificação do dimensionamento da estação em

estudo.

A Tabela 12 apresenta os resultados das análises físico-químicas realizadas no tanque

de equalização do esgoto bruto. Os resultados das análises microbiológicas estão relacionados

na Tabela 13.

Tabela 13 – Análises de coliformes termotolerantes

do esgoto bruto afluente a ETE

N° da coleta Concentração

(NMP/100 ml)

5 1,1 × 106

6 5,7 × 107

7 1,7 × 106

8 1,8 × 106

Média 1,54 × 107

Fonte: Autor, 2017.

Tabela 12 – Resumo parâmetros físico-químicas, em mg/L, de quatro meses consecutivos do esgoto bruto

N°da

coleta DQO DBO5

DQO/

DBO5

Nitrogênio

Amoniacal

total

Fósforo Nitrato

(𝑵𝑶𝟑−)

Óleos e

graxas

Sólidos

sedimentáveis

*

Sólidos

Suspensos

1 465 198 2,35 45 11,6 ** 10 2,5 180

2 313 222 1,41 52 6,9 0,245 ** 7 176

3 399 262 1,52 49 5,31 ** 13 13 139

4 231 181 1,27 *** *** *** 5 *** 52

Média 352 215 1,64 48,67 7,94 0,25 9,33 7,50 136,75

Desvio

padrão 101 35,12 0,49 3,51 3,27 - 4,04 5,27 59,44

Fonte: Autor, 2017. (*) Medição em mL/L;

(**) Concentrações abaixo do limite de detecção;

(***) Sem dados.

40

É procedimento diário da estação o acompanhamento do pH e da temperatura do

esgoto bruto. A Tabela 14 apresenta os resultados das medições realizadas para esses dois

parâmetros, durante três dias, sendo três medições por dia com intervalo de 4 horas entre elas.

Tabela 14 – Medições de pH e temperatura no esgoto bruto da ETE por três dias

Dia Hora PH Temperatura °C

07/04/2017

08:00 6,4 31

12:00 6,4 31

16:00 6,7 31

10/04/2017

08:00 6,3 29,1

12:00 6,4 28,7

18:00 6,7 29,1

11/04/2017

08:00 6,4 29,1

12:00 6,4 30,1

18:00 6,7 31,1

Fonte: Autor, 2017.

Durante o período de uma semana foram acompanhadas as vazões afluentes ao sistema

de tratamento, a fim de se obter a vazão média e as vazões de pico reais. Tendo em vista que a

estação não possui calha Parshall, utilizou-se um balde graduado de 20 litros, com o auxílio

de um cronômetro, para aferir as vazões. A média de todas as vazões, a vazão máxima e

mínima registrada estão mostradas na Tabela 15.

Para estimar a vazão média de consumo do hospital, utilizou-se a Equação 1,

apresentada no Item 3.1.2. Para tanto, foi necessário coletar os dados de números de leito,

banheiros e funcionários do hospital.

Adotou-se um coeficiente de retorno de 0,9 para estimas a vazão média produzida de

esgoto, pouco maior que o recomendado pela ABNT 9649 (0,8), tendo em vista que as perdas

por vazamento dentro da rede de coleta do hospital são supostamente menores do que em

redes maiores de cidade ou vilarejos, onde o valor de 0,8 é utilizado. Os coeficientes

multiplicadores para estimar as vazões máximas horárias e diárias, foram adotados a partir das

recomendações de projeto da ABNT 9649 (Tabela 3).

Devido à proximidade das vazões estimadas pela Equação 1 e as medidas no local

(Tabela 15), foram adotados os valores estimados para definir o regime de funcionamento das

bombas afogadas no tanque de equalização da ETE, através do método da SABESP (2012).

Tomaram-se esses valores, pois as diferenças entre as vazões estimadas e as medidas no local

são pequenas. Também se deu preferência aos valores estimados, pois a vazão média, que é o

parâmetro utilizado para o dimensionamento dos reatores e do decantador, resultou maior do

que as vazões reais medidas. Dessa forma, o dimensionamento fica a favor da segurança.

41

Tabela 15 – Vazões medidas do afluente da ETE e vazões

estimadas pelo método da SABESP (2012)

Vazão afluente Vazões Reais

(m³/dia)

Vazões estimadas

pelo método

SABESP (m³/dia)

Vazão média 88,10 108,90

Vazão máxima 200,11 196,02

Vazão mínima 39,98 54,00 Fonte: Autor, 2017.

3.3 Descrição do sistema e considerações de dimensionamento

Reator UASB 3.3.1

O reator UASB é alimentado por uma linha de recalque que leva o esgoto bruto ao

topo e três tubos são responsáveis por distribuir do afluente dentro da unidade. O reator não

possui sistema de tratamento de biogás, entretanto foi instalado um tubo para sua coleta.

Existe apenas um ponto de descarga que é o mesmo utilizado para coleta de lodo. A Figura 2

apresenta um corte esquemático do reator UASB.

O separador trifásico tem formato de tronco de cone, contendo na parte superior um

distribuidor dividido em quatro compartimentos, dos quais três são destinados a distribuição

do esgoto e um para a saída de biogás.

O reator tem formato cilíndrico, apresenta diâmetro de 3 m, volume útil de 31,46 m³ e

foi construído em fibra de vidro, sendo as tubulações de PVC. O acesso a parte interna do

reator se encontra no topo onde o operador pode fazer a coleta do sobrenadante para posterior

análise.

42

Figura 2 – Corte esquemático do reator UASB da ETE

Fonte: Autor, 2017.

Foram adotados dados de entrada, para a verificação do dimensionamento da unidade,

dentro das faixas recomendadas para esgoto doméstico por Chernicharo (2007). Os valores

adotados para os parâmetros foram: coeficiente de produção de sólidos no sistema (Y) de 0,15

kg SST/kg DQOapl; coeficiente de produção de sólidos no sistema em termos de DQO (γ) de

0,2 kg DQO lodo/kg DQOapl; concentração de sólidos no lodo (C) de 4%; massa específica do

lodo (y) igual a 1020 kg SST/m³; área de influência dos distribuidores (A) igual a 3 m².

Para valores de DQO e DBO do afluente foram tomados respectivamente igual a

352mg/L e 215mg/L, pois são os valores médios obtidos a partir das quatro análises

realizadas no esgoto bruto (Tabela 12).

A temperatura do esgoto bruto foi adotada como sendo 30°C, ou seja, dentro da faixa

de valores apresentados na Tabela 14 que mostra valores de temperatura usualmente

observados no esgoto afluente.

Como o reator UASB já está instalado, tomou-se o volume real da unidade para

calcular os tempos de detenção hidráulica para vazão máxima e média afluente. Também

foram comparadas as características geométricas do reator com as recomendações de

Chernicharo (2007).

43

Para calcular a velocidade superficial de fluxo ascendente e a velocidade do fluxo da

passagem do afluente para o compartimento de decantação, foi utilizada a vazão constante da

bomba. Calcularam-se as perdas de carga no sistema e consequentemente, determinou-se que

as vazões das bombas utilizadas para alimentar o UASB eram iguais a 11,8 m³/h.

No dimensionamento de reatores UASB sugerido por Chernicharo (2007), o autor

utiliza as vazões máximas e médias, que chegam por gravidade, como vazões afluentes ao

reator, sem considerar a presença de tanques de equalização. Assim, devido à existência do

tanque de equalização na estação em estudo, o qual tem um efeito amortizador das vazões

afluentes, no dimensionamento desta unidade foi necessário adotar uma vazão fictícia, que foi

calculada e denominada de vazão ponderada (Equação 37). Essa vazão ponderada foi utilizada

para calcular os parâmetros que deveriam estar dentro dos limites recomendados para vazões

médias afluentes. Ou seja, a vazão ponderada foi adotada como sendo a vazão média para o

dimensionamento do reator UASB.

Uma vez que as bombas afogadas no tanque de equalização são responsáveis por

alimentar o reator UASB, a vazão máxima que atinge o reator é igual à vazão constante da

própria bomba (Qbomb). Dessa forma, a vazão da bomba foi adotada como sendo a vazão

máxima para o dimensionamento do reator.

𝑄𝑚𝑒𝑑 = 𝑄𝑝𝑜𝑛𝑑 = 𝑄𝑏𝑜𝑚𝑏 ×𝑡𝑜𝑝

(𝑡𝑜𝑝 + 𝑡𝑝)

(37)

em que Qpond é a vazão ponderada das bombas [m³/h]; Qbomb a vazão constante que a bomba

funciona em seu tempo de operação [m³/h]; top o tempo de operação da bomba [t]; e tp o

tempo que a bomba fica parada [t].

Como as unidades subsequentes (FBAS, decantador secundário e fotorreator) também

funcionam sob o regime de funcionamento das bombas que alimentam o reator UASB, a

vazão ponderada e a vazão da bomba foram, respectivamente, utilizadas como sendo a vazão

média e vazão máxima afluente a essas unidades.

FBAS e decantador secundário 3.3.2

O filtro biológico aerado submerso (FBAS) é composto por tubos de PVC e um

tanque de fibra de vidro, o qual apresenta formato cilíndrico com diâmetro de 3 (três) metros e

volume útil de aproximadamente 22,40 m³. O efluente proveniente do UASB é distribuído no

tanque através de três tubos internos.

44

O material de suporte para o desenvolvimento de biofilme é composto por eletrodutos

de PVC e ocupa cerca de 10,60 m³ do volume do reator. Logo acima do meio de suporte há

um fundo falso instalado para evitar o carreamento das peças de plástico pelo fluxo

ascendente do esgoto.

Dois sopradores são responsáveis pela aeração no sistema através de difusores

instalados na parte inferior do filtro. A Figura 3 mostra o corte esquemático do filtro biológico

instalado na estação de tratamento estudada.

Figura 3 – Corte esquemático do corte do reator FBAS da ETE

Fonte: Autor, 2017.

O dimensionamento do FABS consistiu em avaliar se as dimensões do equipamento,

volume de meio de suporte e aeração do sistema estão condizentes com as recomendações e

diretrizes de dimensionamento de Gonçalves et al. (2001).

Inicialmente o método de dimensionamento de Gonçalves et al. (2001) assume que o

efluente do FBAS tem as seguintes características: DBO< 30mg/L, DQO< 90mg/L e SS<

30mg/L. Isso significa que o dimensionamento é baseado no pressuposto de que o efluente sai

do FBAS com essa qualidade.

A superfície específica do material de suporte do reator não foi medida, porém de

acordo com Gonçalves et al. (2001), para peças de plástico esse parâmetro varia de 100 a

200m²/m³. Dessa forma, para o dimensionamento deste trabalho, foi adotado uma superfície

específica do material de meio de suporte igual a 130m²/m³.

45

Para fins de tratamento secundário os biodiscos devem ser projetados a fim de suportar

uma carga orgânica superficial entre 9,8 e 17,2 gDBO/m².dia (METCALF & EDDY, 1991).

Apesar do material suporte não ser composto por biodiscos, este trabalho seguiu as

recomendações de Gonçalves et al. (2001), no qual foi adotado uma carga orgânica superficial

igual a 14gDBO/m².dia, para dimensionar o volume das peças de plástico.

O fornecimento de ar suplementar do FBAS deve estar na faixa de 35 a 40 Nm³ ar/kg

DBOaplicada. Essa taxa de fornecimento de ar não prever o processo de nitrificação, entretanto

espera-se uma remoção de matéria orgânica de forma que a DBO do efluente fique entre 20 a

30 mg/L (GONÇALVES et al., 2001). Portanto, adotou-se a taxa de aeração do sistema como

sendo 40 m³ ar/kg DBOaplicada.

O volume produzido de lodo para descarte pode ser calculado pelas Equações 18 e

19. Para tratamento biológico com biofilme, funcionando com alta taxa e sem nitrificação,

apresenta-se uma produção de lodo na faixa de 0,7 a 1,0 kg SS/kg DBOremovida

(GONÇALVES et al., 2001). No presente dimensionamento se adotou um valor igual a 0,75

kgSS/kg DBOremovido.

Segundo Gonçalves et al. (2001), filtros biológicos aerados submersos funcionam

bem mesmo em baixas temperaturas. Contudo, não foi necessário fazer verificações quanto a

este fator ambiental, já que a estação de tratamento deste estudo está localizada em cidade

clima tropical.

O decantador é composto por um tanque de fibra de vidro, o qual apresenta formato

cilíndrico com diâmetro de 1,5 m (área em planta de 1,76m²) e altura útil de 1,8m (do piso até

a calha coletora). A entrada do esgoto no decantador acontece pelo fundo e o efluente mais

clarificado é coletado através de canaletas locadas na parte superior da unidade, conforme

mostra a Figura 4. O excesso de lodo no decantador é armazenado em um tanque específico.

Existe um ponto de adição de solução proveniente de um tanque localizado dentro da

casa de máquina. Provavelmente foi instalado visando a adição de soluções coagulantes a fim

de aumentar a eficiência no processo de sedimentação dentro do decantador secundário.

46

Figura 4 – Corte esquemático do corte do decantador secundário da ETE

Fonte: Autor, 2017.

A taxa de escoamento superficial foi adotada de acordo com as recomendações

apresentadas na Tabela 9. Adotou-se um valor intermediário de 24 m³/m².dia para calcular a

área em planta mínima (Adec. req.).

De acordo com Gonçalves et al. (2001), a taxa de escoamento superficial máxima

não deve ultrapassar 48m³/m².d (Tabela 9). Assim, como o decantador funciona sob regime de

vazão afluente definido pelas bombas que recalcam esgoto para o reator UASB, para se

calcular a taxa máxima de aplicação superficial foi utilizado a vazão máxima do sistema

(Qbomb)

Sistema de desinfecção UV 3.3.3

O sistema é composto por uma única lâmpada de baixa pressão de mercúrio com 50

cm de comprimento, de marca Philips, modelo TUV PL-L HO 4pin e com 95 Watts de

potência nominal. A lâmpada foi instalada em um tubo de PVC de 100mm com 60 cm de

comprimento e funciona initerruptamente. O tubo é revestido interiormente por uma lâmina

de alumínio e pintado externamente com tinta opaca.

A Figura 5 mostra uma foto do fotorreator simplificado instalado a jusante do

decantador secundário.

47

Figura 5 – Fotorreator da ETE

Fonte: Autor, 2017.

O método de dimensionamento adotado neste trabalho foi o mesmo realizado por

Chernicharo et al. (2001), o qual utilizou a equação empírica conforme apresentada Daniel

(1993) para calcular a dose recebida (Equação 32). Esse método consiste em calcular o

volume de esgoto desinfetado que uma determinada lâmpada é capaz de promover em um

determinado tempo de exposição. Para tanto, um decaimento bacteriano esperado é

estabelecido e, posteriormente, estima-se o número de lâmpadas necessárias para se atingir a

eficiência necessária.

Considerando que o sistema de tratamento secundário reduz um log da concentração

de coliformes termotolerantes (Tabela 10), o dimensionamento do fotorreator adotou uma

concentração desses microrganismos no afluente do fotorreator igual a 5,7 × 106 NMP/

100ml. Essa concentração é resultado da subtração de uma unidade logarítmica da

concentração da análise que se mostrou mais contaminada.

A concentração de coliformes termotolerantes no efluente do reator foi considerada

como sendo igual a 1000 NMP/100ml, haja vista que, conforme preconiza a resolução

CONAMA 357/2005, esta concentração de mistura no rio não atenderia apenas o limite

estabelecido para águas doces de classe 1, o que não é o caso do rio Potengi. Sendo assim,

como o efluente tratado será lançado no rio e, portanto, diluído, a concentração máxima de

coliformes termotolerantes no corpo receptor será respeitada.

A absorbância do esgoto que passou por tratamento secundário pode ser encontrada

entre 0,3 e 0,5 cm-1

(GONÇALVES; JORDÃO; ALEM SOBRINHO, 2003). Dessa forma, foi

adotado um valor de 0,3 cm-1

para o afluente do fotorreator.

Para a utilização Equação 32, a fim de estimar a dose recebida, considerou-se que o

afluente ao fotorreator tem concentração de SST abaixo de 11,7 mg/L.

48

4 RESULTADOS

4.1 Dimensionamento do reator UASB

A Tabela 16 apresenta os parâmetros de dimensionamento do reator UASB em estudo

e os valores limites recomendados por Chernicharo (2007) para o bom funcionamento de

reatores de manta de lodo.

Tabela 16 – Verificação dos parâmetros calculados do UASB Parâmetro Calculado Recomendado*

t Qbomb (h) 5 ≥6

t Qpond (h) 2,7 ≥4

T dec. Qbomb (h) 0,36 ≥1,5

T dec. Qpond (h) 0,19 ≥1

q Qbomb (m/h) 2,49 ≤1,2

q Qpond (m/h) 1,3 ≤ 0,8

V abertura (m/h) 1,61 ≤2,5

Vs Qpond (m/h) 0,88 ≤ 0,7

Vs Qbomb (m/h) 1,57 ≤1,1

Kg (m³/m².h) 0,2 ≥1

Fonte: Autor, 2017.

(*)Limites recomendados por Chernicharo (2007) para vazões

médias e máximas.

A vazão ponderada das bombas que alimentam o reator UASB com esgoto bruto

(Qpond) produz uma velocidade superficial de fluxo (Vs) de 0,88 m/h maior do que a máxima

recomendada de 0,7 m/h (Tabela 5).

O tempo de detenção hidráulica do reator (t) de 5 horas se apresentou menor do que o

recomendado para temperaturas acima de 25ºC, o qual é igual a 6 horas (Tabela 4).

A velocidade da abertura na base do separador (V abertura) de 1,61 m/h e está dentro do

limite recomendado pela Tabela 6 de 2,5 m/h para vazões médias.

Os tempos de detenção dentro do compartimento de decantação Tdec Qpond e Tdec Qbomb,

que são, respectivamente, 0,19 e 0,36 horas, estão abaixo dos tempos apresentados na Tabela

7.

A taxas de aplicação superficial no compartimento de decantação qQbomb e qQpomb que

são, respectivamente, 2,49 e 1,3 m/h estão acima do recomendado na Tabela 7 para vazões

máximas impostas ao decantador.

A taxa de liberação de biogás (Kg) de 0,20 m³/m².h está fora da faixa recomendada

por Chernicharo (2007) sendo o valor calculado menor que o valor mínimo (1,00 m³/m².h).

49

A Tabela 17 apresenta os parâmetros medidos do reator UASB em estudo e os valores

limites recomendados por Chernicharo (2007) para o bom funcionamento de reatores de

manta de lodo.

Tabela 17 – Verificação dos parâmetros medidos do UASB

Parâmetro Medido Recomendado*

Lagura superior separador (m) 1 ≥0,25

Profundidade compartimento de decantação (m) 0,75 ≥1,5

Superposição do defletor (cm) 6 ≥10

Inclinação do separador 50° ≥45°

Altura dos tubos de distribuição (cm) 30 ≤ 20

diâmetro dos tubos (mm) 100 ≥100

Área de influência dos tubos de distribuição (m²) 2,36 ≤3

Altura do reator (m) 4,45 ≥4 e ≤5

Fonte: Autor, 2017.

(*) Limites recomendados por Chernicharo (2007).

A altura total do reator UASB está dentro do recomendado por Chernicharo (2007).

Entretanto, o recomendado para o compartimento de digestão é de 2,5 a 3 metros e o reator

apresenta 3,70 metros. Já o recomendado para o compartimento de decantação é de 1,5 a 2

metros, mas o reator apresenta apenas 0,75m.

Quanto às recomendações referentes ao sistema de distribuição de esgoto, foi

constatado que:

Não há redução do diâmetro, e nem existem janelas no final dos tubos de

distribuição a fim de promover uma maior velocidade de descarga e evitar o

acumulo de areia;

Os tubos estão a 30 cm do fundo do reator, ou seja, 10 cm a mais do máximo

recomendado;

O diâmetro do tubo de 100 mm, sendo esse o valor mínimo sugerido;

O número de tubos de distribuição de esgoto é adequado, pois sua área de

influência de 2,36 m² é menor do que o recomendado de 3m².

Quanto às características do separador trifásico foi observado que:

A largura superior do separador trifásico, onde fica o sistema de distribuição de

esgoto é de 1,00 m e, portanto, maior que o mínimo recomendado (0,25 m);

Constituído em fibra de vidro e dessa forma, resistente a corrosão;

Os defletores de gás estão instalados imediatamente abaixo da abertura de

passagem como recomendado de acordo com o recomendado;

A profundidade do compartimento de decantação, de aproximadamente 0,75 m,

está abaixo do mínimo sugerido de 1,5 m;

50

A superposição do defletor de gás em relação à abertura de passagem, de

aproximadamente 6 cm, é menor que a recomendada de 10 cm;

As paredes do compartimento de decantação de 50° estão de acordo com o

proposto (maior que 45°).

Notou-se que o efluente do reator UASB sofre uma queda de nível de

aproximadamente 3,45 m. A turbulência gerada por essa queda pode provocar o

desprendimento de gases odoríferos do fluido.

O reator dispõe apena de um ponto de descarte de lodo, o qual é o mesmo disponível

para realização de coletas para posterior análise.

4.2 Dimensionamento do FBAS e decantador secundário

A Tabela 18 apresenta os parâmetros calculados do FBAS em estudo e os valores

limites recomendados por Gonçalves et al. (2001).

Tabela 18 – Verificação dos parâmetros calculados do FBAS e do

decantador secundários

Parâmetros Calculado Recomendado*

Vol. meio de suporte

(m³) 10,6 ≥5,47

Vazão de ar (m³ ar/dia) 3312 ≥298,52

A dec (m²) 1,76 ≤5,94

qa máx (m³/m².dia) 160,25 ≤48

Fonte: Autor, 2017.

(*) Valores calculados para o padrão de efluente apresentado no Item 3.3.2.

O volume requerido das peças plásticas (V suporte req.), igual a 5,47 m³, é menor do que

o volume de 10,60 m³ (V suporte real) já disponível no reator.

A vazão de ar fornecida (Q ar fornecido) igual a 3312 Nm³ ar/dia é muito maior do que a

calculada necessária para suprir o sistema (Q ar requerida) igual a 298,52 Nm³ ar/dia.

Observou-se que a área em planta disponível do decantador do sistema (Adec real) é

menos da metade do requerido (Adec req) para decantadores secundários utilizados após

biofiltros responsáveis por tratar efluentes provenientes de reatores UASB (Tabela 18).

A taxa de aplicação superficial máxima no decantador secundário (qamáx) e foi maior

do que a máxima estabelecida para projeto. (Tabela 9). Esse parâmetro foi calculado a partir

da Equação 24, considerando-se a área do decantador já instalada (Adec real) e a vazão da

bomba de recalque (Qbomb).

51

4.3 Dimensionamento do sistema de desinfecção por UV

Na Tabela 19, são mostrados os resultados do dimensionamento do fotorreator com as

equações e parâmetros adotados de acordo com o Item 3.3.3. No lado esquerdo da tabela,

encontram-se os valores dos parâmetros medidos, adotados e estimados necessários para o

dimensionamento da unidade. No lado direito, encontram-se os parâmetros calculados

resultantes do dimensionamento.

Tabela 19 – Parâmetros de cálculo para a obtenção do número de lâmpadas necessário no

sistema de desinfecção por UV

Dados Valores Calculados

Parâmetro Valor Unidade Parâmetro Valor Unidade

Q bomb 11,8 m³/h Dr 7,5798 Wh/m³

No 5700000 NMP/100ml t real 3,59 s

N 1000,00 NMP/100ml P efet 19,551 W

Ab 30 1/m V des. 0,0038 m³

P nominal 95 W V esp. 0,012 m³

V fot. 0,004 m³ N° Lamp.

Requeridas 3,14 Unid.

n° de

lâmpadas 3 Unid. α

69,08 m

C lamp 0,5 m E faixa 254nm 30% Porcentagem

e 0,05 m E tu 70% Porcentagem

E env 98% Porcentagem

Fonte: Autor, 2017.

A partir da Equação 36, observa-se que são necessárias no mínimo 4 fotorreatores,

com as mesmas características da já instalada, para atender as condições de decaimento

microbiano impostas pelo Item 3.3.3.

52

5 DISCUSSÃO

5.1 Dimensionamento do UASB

Velocidades superficiais elevadas como a que foi constada por cálculo dentro do

reator UASB pode dificultar a deposição de biomassa no fundo do reator, assim como

promover o arraste exagerado de sólidos em suspensão para o topo do reator.

Os tempos de detenção hidráulica dentro do compartimento de decantação calculados

não atendem do recomendado pela Tabela 7. Esses tempos de detenção podem indicar que o

volume do compartimento de decantação está subdimensionado.

Baixos tempos de detenção hidráulica ou altas taxas de aplicação superficial no

compartimento de decantação podem afetar a eficiência do processo de sedimentação dos

sólidos suspensos no esgoto. As consequências disso são: um efluente com maior quantidade

de sólidos suspensos e baixo acúmulo de biomassa no fundo do reator.

O tempo de detenção hidráulica do reator está abaixo do recomendado pela Tabela 4.

Contudo, o tempo difere em apenas 1 (uma) hora do recomendado e dessa forma não se pode

afirmar que essa diferença possa comprometer a eficiência de remoção de matéria orgânica do

reator UASB. Pois, o tempo de detenção calculado (5 horas) ainda se encontra dentro do usual

para reatores de manta de lodo.

A altura do tubo de coleta (4,5 m) é menor do que a altura do topo do separador

trifásico, portanto existe um volume do compartimento de decantação, e consequentemente do

reator, o qual não está sendo utilizado. Um aumento da cota do tubo até o topo do separador

(4,9 m) aumentaria o volume do reator de 31,45 m³ para 34,64 m³ e o volume do

compartimento de decantação de 2,2m³ para 3,45m³. Dessa forma, os tempos de detenção

hidráulica seriam aumentados, resultando em uma melhoria na eficiência do reator.

A taxa de aplicação de gás do UASB estudado (Kg) se encontra abaixo do

recomendado, podendo gerar um bloqueio de gás sob a espuma que se acumula na superfície

da água dentro do separador trifásico. Muito provavelmente, o valor elevado da área de

interface líquido-gás (Ai) está relacionado com essas baixas taxas de aplicação. Dessa forma,

seria recomendado aumentar a cota do tubo de coleta do efluente de 4,45 m para 4,90 m, pois

isso diminuiria a área de interface para 0,78 m² e por fim, resultando no aumento de Kg para

0,67 m³/m².h. Contudo, apesar dessa melhora de eficiência, o valor de Kg ainda ficaria abaixo

do recomendado por Chernicharo (2007) igual a 1,00 m³/m².h.

Os tubos de distribuição não atendem algumas recomendações, pois:

53

Não apresentam dispositivos que impeçam o acumulo de areia na saída dos

tubos, podendo ocasionar o entupimento da tubulação, que por sua vez deve ser

evitado pois o desentupimento dentro de reatores de esgoto é problemático.

A distância do final do tubo até o fundo do reator está 10 cm acima do

recomendado. Isso pode promover a má distribuição do afluente e, como

resultado, criar zonas mortas no fundo do reator.

O diâmetro do tubo atende as recomendações, portanto o entupimento no seu

interior é improvável.

As dimensões do separador trifásico estão de acordo com a literatura exceto: a

profundidade do compartimento de decantação e a superposição do defletor em relação a

passagem para o compartimento de decantação. Um mal funcionamento do defletor pode

permitir o escape de gás para o compartimento de decantação ao invés do separador trifásico,

e assim gerar maus odores. Já um mal funcionamento do compartimento de decantação leva a

uma ineficiência no processo de sedimentação, o qual pode prejudicar a qualidade do efluente.

Um número reduzido de pontos de coleta afeta diretamente o acompanhamento da

qualidade do lodo e do seu desenvolvimento. No presente estudo, o reator UASB apresenta

apenas um ponto de coleta de lodo, que é o mesmo utilizado para o descarte. Dessa forma, os

responsáveis pela operação ficam impossibilitados de acompanhar a atividade metanogênica

nas camadas de lodo e assim, não conseguem distinguir e escolher a melhor camada de lodo

para ser descartada. O recomendado por Chernicharo (2007) é que o reator possua ao menos

dois pontos de descarte de lodo, distantes entre si de 1,0 a 1,5 metros. Quanto ao número de

pontos de coleta, o mesmo autor recomenda que o reator tenha o máximo de pontos possíveis,

com 50 cm de distância entre os mesmos, do fundo do reator até a base inferior do separador

trifásico.

5.2 Dimensionamento do FBAS e decantador secundário

O volume de peças necessárias para garantir a qualidade preestabelecida do efluente é

menor do que o volume de peças que já compõem o reator. Sendo assim, o volume disponível

de peças é suficiente para o desenvolvimento da quantidade adequada de biofilme, a fim de

garantir o padrão esperado do efluente. Por outro lado, quase a metade do volume de meio de

suporte disponível no reator não está sendo utilizado, ou seja, pode-se dizer que é material

desperdiçado. Além disso, como existe uma maior superfície disponível para o

54

desenvolvimento de biofilme, maior será a produção de biomassa ao longo do tempo e,

consequentemente, maior o volume de lodo que pode se acumular no decantador secundário.

Como o volume de ar fornecido necessário para alimentar o FBAS é muito maior do

que o necessário para garantir a qualidade do efluente final esperada, a falta de oxigênio não

será um problema. Entretanto, o volume excessivo de ar pode promover um aumento de

forças de cisalhamento capazes de aumentar, demasiadamente, o desalojamento de biofilme.

Apesar da ETE não possuir unidade de desnitrificação, provavelmente a nitrificação foi

prevista pelo projetista do FBAS, visto que a quantidade de ar fornecida do reator certamente

promove esse fenômeno. Além disso, a utilização de sopradores mais potentes do que o

necessário gera o desperdício de energia elétrica.

O decantador instalado na ETE possui menos da metade da área em planta necessária.

Assim, como a área em planta é o parâmetro que define o dimensionamento do decantador,

conclui-se que ele se encontra subdimensionado e pode gerar a ineficiência de remoção de

sólidos suspensos.

Um excesso de sólidos suspensos no afluente do fotorreator é um problema que afeta

diretamente a eficiência do tratamento por lâmpadas UV, pois servem de proteção aos

microrganismos submetidos a radiação. Além disso, o excesso de sólidos no esgoto pode

levar ao não cumprimento do padrão de lançamento, igual a 1 ml/L, de sólidos sedimentáveis

medidos no cone Imhoff durante o período de uma hora, conforme a resolução do CONAMA

430/2005 estabelece.

O limite da taxa de aplicação superficial máxima para o decantador, calculada pela

Equação 24, para vazão máxima aplicada nessa unidade (Qbomb), foi muito maior que a

estabelecida como máxima na Tabela 9. Isso pode indicar que um decantador convencional

não é adequado para compor a ETE em estudo.

5.3 Dimensionamento do fotorreator

Observou-se que o tempo de contato do esgoto tratado pela lâmpada UV da estação

em estudo é de apenas 1,2 s. Esse valor é muito pequeno quando comparado com o menor

tempo de exposição do trabalho realizado por Silva et al. (2011), o qual trabalhou com um

fotorreator simplificado muito semelhante ao instalado na estação estudada. Silva et al. (2011)

obteve redução média de três unidades logarítmicas das concentrações de E. coli e coliformes

totais quando adotado tempo de exposição igual a 20 s. Dessa forma, devido ao baixo tempo

55

de exposição UV, o fotorreator em estudo pode fornecer uma dose insuficiente para a

desativação de microrganismos, resultando em um tratamento inadequado.

O fotorreator deste estudo não apresentou número adequado de lâmpadas UV

necessárias para alcançar as concentrações esperadas de coliformes termotolerantes no

efluente final e, portanto, está subdimensionado para atender à demanda de desinfecção.

56

6 CONCLUSÃO

No dimensionamento desta estação de tratamento de esgoto estudada demonstrou

que o reator UASB não atende aos seguintes parâmetros de projeto: limites de velocidade

superficial de fluxo; tempo de detenção hidráulica do reator UASB; inadequações do

compartimento de decantação em relação a taxa de aplicação superficial, altura e superposição

do defletor de gás; distância do tubo de distribuição em relação ao fundo do reator e ausência

de dispositivo que impeça o acúmulo de areia no tubo de distribuição. Soma-se a isso o fato

de que o volume útil do compartimento de decantação está subutilizado e por isso apresentou

tempo de detenção reduzido. Apesar de tudo, os parâmetros do UASB divergem pouco dos

recomendados e, portanto, seria necessário analisar uma amostra do efluente do reator para

verificar se realmente seu funcionamento ficou comprometido.

O filtro biológico aerado submerso é a unidade da estação que apresentou maior

concordância com o dimensionamento deste trabalho, apesar de seu fornecimento de ar ser

além do necessário. O material suporte utilizado tem volume e características adequadas e as

dimensões do tanque são coerentes com a demanda do sistema.

O decantador secundário da estação tem, apenas, menos da metade da área em planta

necessária. Caso ele seja utilizado como um decantador convencional, é provável que haja um

mau funcionamento. Com o mau funcionamento do decantador, a concentração de sólidos

suspensos em seu afluente pode ser elevada, ao ponto de afetar a eficiência no processo de

desinfecção por ultravioleta.

O sistema de desinfecção UV mostrou-se subdimensionado para tratar a concentrações

de microrganismos termotolerantes do esgoto sanitário gerado pelo hospital. A análise desse

trabalho provou que seria necessário aumentar o número de lâmpadas do fotorreator em, no

mínimo, quatro vezes para se obter um efluente adequado às resoluções ambientais

brasileiras.

Ajustes emergenciais devem ser realizados no sistema de desinfecção UV e como

foram encontrados problemas no decantador secundário, o ajuste desse também deve ser

focalizado a fim de contribuir para o bom funcionamento da desinfecção UV.

Concluiu-se, portanto, que o projeto inicial da estação não foi dimensionado de forma

a proporcionar um eficiente tratamento do volume de esgoto doméstico gerado pelo hospital.

Porém, este trabalho propõe recomendações (Item 8) que podem ser feitas com o propósito de

aumentar a eficiência do tratamento, resultando em um efluente de melhor qualidade.

57

7 RECOMENDAÇÕES

As medidas recomendadas para a melhoria do funcionamento da ETE são:

Adicionar um caixa de areia no tratamento preliminar. A falta desse componente

pode gerar um acumulo de areia dentro do tanque de equalização;

Adicionar gradeamento fino (aberturas entre 10 e 15mm) e ultrafino (abertura

entre 6 e 10mm) como recomendado por Chernicharo (2007) para atingir um

funcionamento adequado do reator UASB, uma vez que materiais inertes podem

promover zonas mortas dentro do reator. Essa medida também reduz o problema

de entupimento de bombas e de tubos de distribuição de esgoto;

Utilizar bombas de recalque de rotação variável além das de rotação constante

no tanque de equalização. Isso poderia diminuir as velocidades ascensionais nos

reatores e aumentar a eficiência no processo de sedimentação de sólidos

suspensos;

Realizar mais um furo no UASB, a cerca de 50cm acima do único furo já

existente pois, ao aumentar os pontos de coleta, é possível avaliar melhor a idade

do lodo e sua atividade metanogênica e consequentemente, definir melhor seus

tempos de descarte;

Outra solução para o biogás seria a sua recirculação para dentro do FBAS, pois o

biofiltro mostrou-se como um excelente meio de retenção de ácido sulfídrico

(H2S) (ANDRADE; MOTTA; GOLNÇALVES, 2001). Podem-se utilizar

sopradores resistentes a corrosão para direcionar o gás produzido pelo UASB

para o fundo do biofiltro;

Para melhorar o funcionamento do decantador secundário, pode-se instalar

placas laminares inclinadas para decantação de alta taxa ou utilizar soluções

coagulantes;

Instalar um sistema de recirculação de lodo, do decantador secundário para o

reator UASB, a fim de promover a digestão do lodo e, consequentemente, a

diminuição de seu volume produzido;

Aumentar o número de lâmpadas de mercúrio ou diminuir as vazões afluentes,

utilizando bomba de rotação variável no tanque de equalização, a fim de

aumentar o tempo de detenção.

58

Aumentar em 30 cm a cota de coleta de efluente do reator UASB. Com isso,

serão aumentadas as eficiências do reator UASB e de seu compartimento de

decantação.

59

REFERÊNCIAS

ANDRADE, T.; MOTTA, H. P.; GONÇALVES, R. F. Uso simultâneo de um biofiltro

aerado submerso para tratamento secundário de esgoto sanitário e para

biodesodorização de ar atmosférico contendo gás sulfídrico (H2S). In: Pós-tratamento de

efluentes de reatores anaeróbios. Coletânea de trabalhos técnicos - Volume 2. Vitória:

PROSAB, 2001.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR5626: Instalação predial de

água fria. Rio de Janeiro: ABNT, 1998.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR9649: Projetos de redes

coletoras de esgoto sanitário. Rio de Janeiro: ABNT, 1986.

AUGUSTO, J. Catálogo de informações técnicas sobre o soprador da marca DOSITEC,

modelo CR-50 1750 rpm. [mensagem pessoal] Mensagem recebida por:

<[email protected]>. em: 11 abr. 2017.

CHERNICHARO, C. A.; ARAÚJO, V. L.; GONÇALVES, R.F. Estudos sobre o pós-

tratamento de efluentes de reatores UASB através de biofiltros aerados submersos. In:

CONGRESO ASOCIACIÓN INTERAMERICANA DE INGENIERÍA SANITARIA Y

AMBIENTAL, 25, 1996, México. Anais. Cidade do México – México: AIDIS, 1996. 9 p.

CHERNICHARO, C. A. L. Reatores anaeróbios. Belo Horizonte: UFMG, 2007.

CHERNICHARO, C.; DANIEL, L. A.; SENS, M. Pós-tratamento de efluentes de reatores

anaeróbios por sistemas de desinfecção. In: CHERNICHARO, C. A. L. (coordenador). Pós-

tratamento de efluentes de reatores anaeróbios. Vitória: PROSAB, 2001. Cap. 7.

COMPANHIA DE SANEAMENTO BÁSICO DE SÃO PAULO. NTS 181:

Dimensionamento do ramal predial de água, cavalete e hidrômetro. 3 ed. São Carlos: Sabesp,

2012. 26 p.

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. (2000). Resolução n° 274 de

29 de novembro de 2000.

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. (2005). Resolução n° 357 de

17 de março de 2005.

BRASIL. Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA. (2011). Resolução n° 430 de

13 de maio de 2011.

DANCOR. Curvas da bomba SDE 1/2 cv. Disponível em: <http://dancor.com.br>. Acesso

em: 20 abr. 2017.

DANIEL, L. A. Desinfecção de esgotos com radiação ultravioleta: fotorreativação e obtenção

de parâmetros cinéticos. 1993. 212 p. Tese (Doutorado) - Curso de Engenharia Civil, Escola

de Engenharia de São Carlos - USP, São Carlos, 1993. In: CHERNICHARO, C. A. L.

(coordenador). Pós-tratamento de efluentes de reatores anaeróbios. Vitória: PROSAB,

2001. Cap. 7.

60

GONÇALVES, R. F.; JORDÃO, E. P.; ALEM SOBRINHO, P. Desinfecção de efluentes

sanitários. Vitória: Rima, 2003.

GONÇALVES, R. F. et al. Pós-tratamento de efluentes de reatores anaeróbios por reatores

com biofilme. In: CHERNICHARO, C. A. L. (coordenador). Pós-tratamento de efluentes de

reatores anaeróbios. Vitória: PROSAB, 2001. Cap. 4.

JAGGER, J. Photoreactivation. Bacteriolocal Reviews, Oak Ridgi, v. 22, n. 2, p. 99-142, mar.

1958. In: CHERNICHARO, C. A. L. (coordenador). Pós-tratamento de efluentes de

reatores anaeróbios. Vitória: PROSAB, 2001. Cap. 7.

MACÊDO, Sérgio Luiz; SANTOS, Nelson Césio Fernandes; LUCAS FILHO, Manoel;

(coordenadores gerais). Rede de compartilhamento de monitoramento da qualidade da

água: programa água azul 1° relatório trimestral. Natal: UFRN, 2009.

METCALF; E. Wastewater engineering: treatment and reuse. 4. ed. New York: Mcgraw-hill,

2003.

METCALF; E. Wastewater engineering: treatment, disposal and reuse. 3. ed. Nova York:

Mcgraw Hill, 1991. 1334 p.

MOROWITZ, H. J. Absorption effects in volume irradiation of microorganisms. Science, v.

111, n. 3, p.229-230, 1950. In: CHERNICHARO, C. A. L. (coordenador). Pós-tratamento de

efluentes de reatores anaeróbios. Vitória: PROSAB, 2001. Cap. 7.

PHILIPS LIGHTING HOLDING B.V. Manual técnico da lâmpada TUV PL-L 95W/4P

HO 1CT/25. Disponível em: <http://.lighting.philips.com>. Acesso em: 22 abr. 2017.

RUSTEN, B. Wastewater treatament with aerated submerged biological filters. Jornal

WPCF. Alexandria - EUA, p. 424-431. Maio 1984.

SANT’ANNA JUNIOR, G. L. Tratamento biológico de efluentes: fundamentos e

aplicações. 2. ed. Vitória: Interciência, 2013.

SILVA, J.C.C. Desenvolvimento e avaliação de um fotorreator simplificado de radiação

UV para inativação de coliformes e ovos de helmintos em esgoto tratado. In: Pós-

tratamento de efluentes de reatores anaeróbios. Coletânea de trabalhos técnicos - Volume 2.

Vitória: PROSAB, 2001.

TINÔCO, J. D. Desinfecção por radiação ultravioleta: estudo do desempenho do processo e

avaliação econômica. 2012. 229 p. Tese (Doutorado) - Escola de Engenharia de São Carlos,

Universidade de São Paulo, São Carlos, 2012.

TIWARI, M. K. et al. Influence of extrinsic factors on granulation in UASB reactor. Applied

microbiology and biotechnology, [s.l.], v. 71, n. 2, p.145-154, 11 abr. 2006. Springer Nature.

http://dx.doi.org/10.1007/s00253-006-0397-3.

61

United States Environmental Protection Agency - USEPA. Environmental Protection Agency.

Alternative disinfectants and oxidants guidance manual. New York, USA, 1999. In:

GONÇALVES, R. F. Desinfecção de efluentes sanitários. Vitória: Rima, 2003.

United States Environmental Protection Agency - USEPA. Municipal wastewater disinfection

– Design Manual, EPA/625/1-86/021, Cincinnati, 1986, 247 p. In: CHERNICHARO, C. A.

L. (coordenador). Pós-tratamento de efluentes de reatores anaeróbios. Vitória: PROSAB,

2001. Cap. 7.

VAN HAANDEL, A. et al. Pós tratamento de efluentes anaeróbios através de sistemas

wetlands construídos. In: CHERNICHARO, C. A. L. (coordenador). Pós-tratamento de

efluentes de reatores anaeróbios. Vitória: PROSAB, 2001.

VON SPERLING, M. Princípios do tratamento biológico de águas residuárias. Vol 1. 2.

ed. Minas Gerais: UFMG, 1996.

VON SPERLING, M. Introdução à qualidade das águas e ao tratamento de esgoto. Belo

Horizonte: Editora UFMG, 2014.

APÊNDICES

ANEXO A

1 – PERFIL E CORTE DAS UNIDADES DE TRATAMENTO DE ESGOTO

REVISOR:

CLIENTE:

ASSUNTO:

AUTOR

FOLHA:

0

PERFIL E CORTES DA UNIDADES DE TRATAMENTO DE ESGOTO

RICARDO BARROS

0

DATA:

JUNHO/2017

ESCALA:

1:25

TÍTULO:

ETE HOSPITAL GISELDA TRIGUEIRO

01/03

ANEXO B

2 – PLANTA DA ESTAÇÃO E CORTE DAS UNIDADES DE TRATAMENTO DE

ESGOTO

REVISOR:

CLIENTE:

ASSUNTO:

AUTOR:

FOLHA:

0

PLANTA DA ESTAÇÃO E CORTES DAS UNIDADES DE TRATAMENTO DE ESGOTO

RICARDO BARROS

0

DATA:

JUNHO/2017

ESCALA:

1:25

TÍTULO:

ETE DO HOSPITAL GISELDA TRIGUEIRO

02/03

ANEXO C

3 – CORTE DO FOTORREATOR

0

UNIDADE DE MEDIDA:

MILÍMETROS

DATA:

JUNHO/2017

ASSUNTO:

CORTE G-G DO FOTORREATOR

ESCALA:

1:5

FOLHA:

3/3

TÍTULO:

ETE DO HOPITAL GISELDA TRIGUEIRO

AUTOR:

RICARDO BARROS

CLIENTE: