Rousseau Estado de Natureza Atividade II

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  • 7/25/2019 Rousseau Estado de Natureza Atividade II

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    ROUSSEAU E O HIPOTTICO ESTADO DE NATUREZA: CONDIO DA DEDUO DO

    HOMEM CIVIL-POLTICO COMO CORRUPO

    Prof Este!o Er!"so #ote$%o &e A'e(e&o )USP*

    O pensamento poltico moderno marcado fortemente pela concepo jus naturalista. Tal concepo toma

    os direitos naturais como pertencentes a todos os indivduos, enquanto atributos da prpria natureza. Neste

    orizonte, os direitos naturais e!istem antes mesmo da constituio do poder do "stado. Neste sentido, # para

    tal poder estatal um limite, limite este que determinado pelos direitos naturais. "ntretanto, o que os

    pensadores do $ireito Natural moderno buscam formular por suas premissas tericas so ar%umentos

    &razo#veis' que respondam ( se%uinte questo, que ela mesma a base do pensamento jus naturalista) qual o

    fundamento le%itimador, justificador e capaz de validar o "stado civil* + para pensar esta per%unta que esses

    diversos pensadores lanam mo deles fazendo usos distintos dos conceitos de "stado de

    Natureza e de $ireito Natural. "m resposta a ela, desenvolveram-se ento al%umas teorias, das quais sedestacam as de Tomas obbes, /on 0oc1e e /ean- /acques 2ousseau.

    N3O Contrato Social, 2ousseau desenvolve sua prpria posio acerca da le%itimao do contrato social e

    da sociedade civil, buscando responder assim ( per%unta pelas condi4es da sada le%tima do "stado de

    natureza, questo esta que comum aos pensadores jusnaturalistas. /# no Discurso sobre a origem e os

    fundamentos da desigualdade entre os homens, o desenvolvimento da sua refle!o se caracteriza a partir da

    iptese de um "stado de natureza caracterizado pela i%ualdade e a liberdade naturais, pela apresentao 5uma

    deduo6 de um fundamento ne%ativo da sociedade injusta.

    "sta sociedade se fundamentaria num falso pacto, um pacto imposto, pelo qual se perde a i%ualdade e a

    liberdade do "stado de natureza. "m consequ7ncia, essa sociedade de fato tambm no capaz de possibilitar

    aos omens a i%ualdade e a liberdade civis, cuja plena efetivao aparece n3 O contrato social como 8nico

    critrio capaz de dar le%itimidade a um pacto social que se queira verdadeiro.

    9ituando 2ousseau em relao ao $ireito Natural moderno, o presente arti%o busca apresentar uma an#lise

    da concepo rousseauniana do omem no ipottico "stado de natureza, concepo esta que consiste em

    buscar o conecimento do omem em sua natureza essencial 5pr-social, originria6, isto , em ir alm do

    modo de ser e do conecimento adquirido pela istria. :onsiderando este ponto de partida, este trabalo tempor objetivo justamente a an#lise das determina4es constitutivas do "stado de Natureza, tal como aparece na

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    iptese dedutiva de 2ousseau. ;ara tanto, adota-se como refer7ncia principal seuDiscurso sobre a origem e

    os fundamentos da desigualdade entre os homens. :amado tambm de &9e%undo $iscurso', ele foi escrito

    por volta de ?, sendo aquele no qual o autor busca responder a questo-tema de um concurso proposto pela

    @cademia de $ijon.

    $iferente do &;rimeiro $iscurso' sobre as artes e as ci7ncias, este no le conferiu nenuma premiao. @

    per%unta proposta pela @cademia apresenta-se da se%uinte forma) Qual a origem da desigualdade entre os

    homens, e est ela autorizada pela lei natural? 2esponder esta questo era antes de tudo uma oportunidade

    para 2ousseau aprofundar &uma teoria que vina elaborando' 52ousseau, , p.

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    2ousseau 5

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    menos #%il que outros, mas, no conjunto, mais vantajosamente or%anizado do que todos' os outros animais

    5Gdem, p.

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    natureza referem se ( necessidade da alimentao e da se!ualidade 5reproduo6. $a que a satisfao dessas

    necessidades corresponda ao 8nico bem por eles conecido. :ontrariamente, seus males correspondem ( dor e

    ( fome, ou seja, ( no satisfao destas mesmas necessidades. 9e%undo nos diz 2ousseau 5, p. >6,

    O homem sel!agem, pri!ado de todas as luzes, no e"perimenta seno as pai"#es

    desta $ltima espcie% Seus dese&os no !o alm de suas necessidades f'sicas( os

    $nicos bens )ue conhece no uni!erso so a nutrio, uma mulher e o repouso( os

    $nicos males )ue teme so a dor e a fome% *u digo a dor e no a morte, por)ue

    &amais o animal saber o )ue morrer( o conhecimento da morte e de seus temores

    uma das primeiras a)uisi#es feitas pelo homem, ao distanciar-se da condio

    animal%

    Ora, as necessidades no "stado de natureza so imediatas, fundamentalmente incitadas pela manifestao

    do instinto. @ satisfao destas necessidades , assim, tambm diri%ida pela operao estado pr-social, aideia de futuro desconecida ao omem que tem &seus projetos limitados como sua vista, apenas se

    estendem at o fim de cada jornada' 5 idem, p. B6. No "stado de natureza, os aspectos fsicos do omem so

    fundamentalmente mais desenvolvidos que os aspectos espirituais. Os primeiros podem ser identificados com

    as capacidades umanas deperceber e cheirar 5sentir6I os se%undos, com as capacidades de )uerer e no

    )uererI dese&ar e temer.

    8 A3erfe!1o.,eto &o es37r!to: "orr0312o e .f.st.,eto &. "o&!12o 3r!,!t!(o-.t0r.$

    ;ara 2ousseau, o omem possuidor de uma qualidade natural que le prpria) a de a%ente livre. O que

    por natureza caracteriza o omem no , portanto, imediatamente, o entendimento a associao de ideias ,

    mas a vontade. @ liberdade , pois, atributo umano por e!cel7ncia. " este atributo que distin%ue o omem

    natural de um outro animal, distino que se d# no parado!o entre instinto e liberdade) na medida em que o

    instinto, enquanto um impulso natural, diri%e o omem no sentido de satisfazer suas necessidades de forma

    imediata, a liberdade, atividade da vontade, possibilita a este mesmo omem superar a condio imediata da

    satisfao de suas necessidades, %erando novas necessidades. $esta forma, enquanto a%ente livre, sua

    transio do "stado de natureza para a civilizao mediada pelo desenvolvimento desta faculdade umana.

    /untamente com a liberdade, # no omem uma se%unda qualidade) a de se aperfeioar, capacidade esta

    que 2ousseau nomeou deperfectibilidade. "sta faculdade de se aperfeioar desenvolve sucessivamente todas

    as outras e reside, em ns, tanto na espcie como no indivduo. O aperfeioamento enquanto uso da

    capacidade de perfectibilidade entendido por 2ousseau como afastamento da condio ori%in#ria do

    omem e, por consequ7ncia, uma &fonte de desventuras'. ;ara 2ousseau, esta capacidade prpria da razo

    est# relacionada ( atividade das pai!4es e ela que conduz o omem a afastar-se cada vez mais de sua

    condio ori%in#ria) ao passo que, mediante o aperfeioamento dos aspectos fsicos o omem se realiza emsua condio natural, no aperfeioamento do esprito ele se afasta cada vez mais do "stado de natureza. ;ara

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    2ousseau 5, p. ?6, & assim que os omens dissolutos se entre%am aos e!cessos que le causam a febre

    e a morte, pois que o esprito deprava os sentidos e a vontade ainda fala quando a natureza silencia'. Tais

    conclus4es, indicadas por 2ousseau, apontam para o entendimento de que este processo de aperfeioamento

    a determinao do desenvolvimento da sociabilidade umana, da constituio do "stado civil-poltico.

    No estado natural, apresenta-se certa uniformidade da ordem das coisas, ou seja, as mudanas so

    imperceptveis, diferente das &causadas pelas pai!4es e inconstJncias dos povos, em que as mudanas so

    bruscas e contnuas' 52ousseau, , p.

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    proporcionam o distanciamento do omem de seu estado ori%inal, sendo ainda um instrumento cristalizador

    das mudanas que conduzem ao processo de socializao do omem, apresentado-as como naturais, como

    inerentes a este omem. Kas, com base nas refle!4es rousseaunianas, tais mudanas, fruto do costume e da

    educao 5ou seja, fruto do processo de constituio e cristalizao da sociabilidade umana6, no so seno

    um certo tipo de corrupo, falseamento, depravao do ori%in#rio "stado de natureza e, consequentemente,

    se constitui num afastamento do omem de sua aut7ntica e pura condio natural. 9o, portanto, indcios do

    distanciamento de si mesmo do omem enquanto omem.

    9 Pro3r!e&.&e 3r!(.&.: 0, ,.$ f0&.,et.$ &es!60.$&.&e etre os %o,es

    "m seu pane%rico do estado natural, 2ousseau desenvolve sua teoria pautando-se na concepo do omem

    da natureza como oposto ao omem istoricamente determinado pelo desenvolvimento da sociedade

    or%anizada. O omem natural, tendo nascido bom, tem como uma de suas venturas a plena liberdade e a

    completa aus7ncia de preocupa4es que ultrapassam suas necessidades de alimentao e reproduo. @ 8nica

    lei que conece a da natureza. O 8nico senor, diante do qual se curva, ele mesmo. "ste, pois, o

    fundamento constitutivo da moral rousseauniana) o omem um ser naturalmente bom.

    Ora, o omem natural uno. :ada omem, em sua individualidade isolada, i%ual a outro. $a que aquilo

    que aparece como fundamento da desi%ualdade entre os omens no pode ser considerado como constitutivo

    da natureza, mas como adquirido pela modificao deste "stado de natureza, ou utilizando uma e!presso de

    2ousseau, pela &imbecilizao do omem natural'. ;ortanto, no sendo atributo da natureza, pela efetivaodaquilo que no natural, aut7ntico, isto , pela constituio da artificialidade umana atravs de sua insero

    na sociabilidade, que a desi%ualdade entre os omens se constitui. Os omens se fazem maus, mas no por

    obra da natureza. O mal em 2ousseau corresponde a um processo de de%radao, de%eneresc7ncia da sua

    natureza ori%in#ria. "is aqui a base do ataque rousseauniano contra a civilizao, pois ela constituiria a causa

    decisiva da desi%ualdade de condi4es entre os omens) em sua apar7ncia urbana e civilizada, esta

    superficialidade umana, a qual esconde, sufoca e procura destruir a sua essencialidade natural.

    :onforme identificamos em 2ousseau, e reafirmado por 9alinas Cortes 5

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    se%urana dos ricos , ela mesma, se%undo 2ousseau, a e!presso da luta constante entre eles e os pobres. Tal

    disputa o que institui um constante estado de %uerra. :omo resposta a este permanente estado de %uerra, o

    estabelecimento do pacto social aparece na forma de leis e re%ulamentos. Gnstitui-se de fato a sociedade. Na

    busca pela ordem social, este pacto aparenta ter por finalidade res%uardar os interesses %erais acima dos

    interesses individuais.

    Todavia, a instituio desta ordem le%al, ao passo que promove a paz, confere um car#ter falsamente

    &le%timo' (s desi%ualdades de condi4es entre os omensI e a propriedade, em consequ7ncia, tambm

    falsamente tida como a manifestao de um atributo natural umano.

    Cos!&er.1;es f!.!s

    @ introduo da propriedade privada, portanto, como fundamento primeiro da desi%ualdade entre osomens, estabelece a criao de uma necessidade aleia ao omem em seu estado de natureza. "sta

    necessidade constitui o se%undo termo da desi%ualdade, a saber) o estabelecimento das institui4es polticas,

    as quais determinam e preservam a efetivao da lei e do direito. "ste se%undo termo da desi%ualdade

    e!pressa o conflito entre o poderoso e o fraco. ;or fim, a transformao do poder poltico, institudo pelo

    pacto social como em poder arbitr#rio, determina-se pelo terceiro termo da desi%ualdade, que,

    caracteristicamente, se e!pressa na relao senor e escravo.

    "sta , enfim, a ima%em crtica que 2ousseau nos oferece do "stado de natureza e de sua corrupo no

    "stado civil-poltico ile%timo. @ busca de um outro pacto social le%timo, que estabelea a liberdade e a

    i%ualdade nas condi4es convencionais da sociedade o que ser# o objeto da refle!o de 2ousseau n3 O

    contrato social, em cujo incio reivindica apenas indiretamente, quem sabe ironicamente, o 9e%undo $iscurso)

    &O omem nasceu livre, e em toda parte se encontra sob ferros. $e tal modo acredita-se o senor dos outros,

    que no dei!a de ser mais escravos que eles. :omo feita essa mudana* G%noro-o. O que que a torna

    le%tima* :reio poder resolver esta questo'. 52ousseau, , p. L