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Saber e amar a terra: para superar a seca, cultivar e criar animais Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1072 Novembro/2013 Matias Cardoso VENÂNCIO SALGADO da Silva vive em Matias Cardoso, Norte de Minas Gerais. Ele é pernambucano e diz que quando chegou a Minas no ano de 1994 a terra não tinha nada, “disseram que eu ia morrer de fome aqui. Eu disse que nunca vi ninguém morrer de fome em cima da terra. Sentei o pau trabalhando, passado 3 anos já tinha uma boa produção de mandioca, batata doce, milho e capim. Primeiro eu plantei o milho e mandioca para conseguir alimentar os animais, gado, cavalo, galinha. Agora já tem de tudo: feijão, melancia, abóbora, manga, caju, pinha, laranja, mamão, seriguela, acerola, abacate. Vende galinhas, que são criadas soltas, explica que não precisa nem sair de casa, os vizinhos, o povo da cidade vem atrás delas. Ele conta que quando chegou ao Assentamento Nova Era, ninguém tinha rama de mandioca para lhe dar, comprou caro de um homem e até hoje passados 12 anos planta com a rama. Dela produz farinha, ração para os animais e com a água da mandioca aduba as plantas. Venâncio ensina como fazer defensivos naturais. “Eu pego a mandioca, fumo, babosa, detergente, 20 litros de água e urina de vaca, deixo curti 30 dias e bato nas plantas. Outra coisa que faço é pegar um inseto que esteja atacando a plantação, pego os sumo de diferentes plantas e vejo qual deles mata o bicho, é assim que eu descubro o inseticida.” Quando chegou tinha um poço começado, mas tampou, pois não dava água. Abriu outro poço de mais de 8 metros no braço. Percebeu que a água do poço aumentou mais ainda depois que plantou uma variedade de árvores e plantas na proximidade dele, porém ele conta que a água é calcaria e salobra e as mudas da horta não desenvolvem com esta água, Venâncio diz que já tentou mais de 3 vezes a muda de uma jaca, mas ela vai bem até enquanto usa água da chuva, com a água do poço ela para. O poço também conhecido como cisterna amazonas tem 8 metros de fundura e a água é puxada com uma bomba sapo. A palma superando a seca e salvando a vida dos animais Nasceu em Pernambuco, em Tupanatinga. Lá aprendeu a cultivar e usar a palma. Este saber salvou várias vezes durante a seca a vida dos animais de Venâncio que são seu sustento. Ele conta: “o capim morreu todo, e a ração que eu fiz de palma foi minha salva e de vizinhos. Se não fosse a palma e o resto da roça de mandioca tinha tudo morrido de fome”. Seu Venâncio

Saber e amar a terra: para superar a seca cultivar e criar animais

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Saber e amar a terra: para superar

a seca, cultivar e criar animais

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1072

Novembro/2013

Matias Cardoso

VENÂNCIO SALGADO da Silva vive em Matias Cardoso, Norte de Minas Gerais. Ele é pernambucano e diz que quando chegou a Minas no ano de 1994 a terra não tinha nada, “disseram que eu ia morrer de fome aqui. Eu disse que nunca vi ninguém morrer de fome em cima da terra. Sentei o pau trabalhando, passado 3 anos já tinha uma boa produção de mandioca, batata doce, milho e capim. Primeiro eu plantei o milho e mandioca para conseguir

alimentar os animais, gado, cavalo, galinha. Agora já tem de tudo: feijão, melancia, abóbora, manga, caju, pinha, laranja, mamão, seriguela, acerola, abacate.

Vende galinhas, que são criadas soltas, explica que não precisa nem sair de casa, os vizinhos, o povo da cidade vem atrás delas.

Ele conta que quando chegou ao Assentamento Nova Era, ninguém tinha rama de mandioca para lhe dar, comprou caro de um homem e até hoje passados 12 anos planta com a rama. Dela produz farinha, ração para os animais e com a água da mandioca aduba as plantas. Venâncio ensina como fazer defensivos naturais.

“Eu pego a mandioca, fumo, babosa, detergente, 20 litros de água e urina de vaca, deixo curti 30 dias e bato nas plantas. Outra coisa que faço é pegar um inseto que esteja atacando a plantação, pego os sumo de diferentes plantas e vejo qual deles mata o bicho, é assim que eu descubro o inseticida.”Quando chegou tinha um poço começado, mas tampou, pois não dava água. Abriu outro poço de mais de 8 metros no braço. Percebeu que a água do poço aumentou mais ainda depois que plantou uma variedade de árvores e plantas na proximidade dele, porém ele conta que a água é calcaria e salobra e as mudas da horta não desenvolvem com esta água, Venâncio diz que já tentou mais de 3 vezes a muda de uma jaca, mas ela vai bem até enquanto usa água da chuva, com a água do poço ela para. O poço também conhecido como cisterna amazonas tem 8 metros de fundura e a água é puxada com uma bomba sapo.

A palma superando a seca e salvando a vida dos animais

Nasceu em Pernambuco, em Tupanatinga. Lá aprendeu a cultivar e usar a palma. Este saber salvou várias vezes durante a seca a vida dos animais de Venâncio que são seu sustento. Ele conta: “o capim morreu todo, e a ração que eu fiz de palma foi minha salva e de vizinhos. Se não fosse a palma e o resto da roça de mandioca tinha tudo morrido de fome”.

Seu Venâncio

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Minas Gerais

Realização Apoio

Venâncio só tem gado e galinhas, mas conta que a palma também pode alimentar ovelha, cabrito e porco.

A palma ele coloca no carrinho de mão, pica e dá na mesma hora ao gado. Segundo ele, a palma tem muita água e ajuda o gado a se manter hidratado.

Na época da chuva é só a capineira, quando ela seca é ração de palma, este ano de 2013 já vai para 4 meses que se alimentam assim. Na região já se perderam mais de 30 cabeças de gado com a seca prolongada. Ano passado, foram 10 meses sem chuva e ninguém tinha capineira ou milho e vinham pedir a palma para darem de ração. Venâncio fala que tem meio hectare de palma, quantidade que estando bem formada dá para alimentar mais de 20 cabeças de gado durante a seca. Seu Venâncio inclusive deixa uma dica, “a palma pode ser plantada junto das galinhas elas não mechem na palma”.

Estocar para garantir fartura o ano todo

Além da palma ele estoca o milho e a mandioca colhidos no período da chuva para garantir durante a seca, a renda com a venda da farinha e ração para os animais. Ele explica como se faz. “A ração de mandioca e milho e feita no desintegrado. Põe a mandioca para secar, torna a passar no desintegrado ele vira quase um fubá, ai tritura o milho e mistura os dois e esta pronto para jogar no cocho com um pouco de água para o gado comer melhor.

Eu não estudei muito não. Mas todo dia a noite e pego meu caderno e anoto tudo, faço as contas e busco solução. Por exemplo, calculo que seu eu

plantar no período da chuva 366 covas de capim cameron são 366 dias de alimentação para o gado. Também calculo a quantidade de sementes que tenho que estocar para ter a venda e se as coisas apertarem na seca dá pra fazer a ração para socorrer os animais. Ano passado só de mandioca eu deixei uns 300 sacos e esta servindo até hoje, tem de fazer o estoque para prevenir.

As mudas de árvore eu mesmo que faço essas aqui são minha grande preocupação, as minha mudas que me dão sombra, ajudam a ter mais água na terra e ainda dão frutos. Venâncio explica que antes ele plantava na cova, agora esta fazendo em viveiro, um cercado de tijolos coberto para conservar a umidade e as sementes nos saquinhos, antes na cova plantava 30 para colher 2 agora já se salvaram 20 mudas eu serão passadas pra terra no período da chuva.

Com este conhecimento acumulado sobre práticas de plantio e alimentação naturais sem usar veneno e se aproveitando do que a natureza tem a oferecer, e ainda muito trabalho e dedicação hoje Venâncio vive no semiárido mineiro com muita qualidade de vida.

CÁRITASBRASILERIA

REGIONAL MINAS GERAIS

Casa de farinha e armazenamento de sementes e forragem

Gado alimentado com a palma durante a seca.