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GRUPO DE TRABALHO EM SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR - ANA SEMINÁRIO “Políticas Públicas na promoção Soberania e Segurança Alimentar através da construção de mercados diferenciados na agroecologia.” Rio de Janeiro, 2 e 3 de dezembro de 2010. A realização deste seminário teve por finalidade articular as atividades desenvolvidas pelo GT SSA/ANA no decorrer dos últimos dois anos, onde se priorizou, dentro da temática da soberania e segurança alimentar, o debate em torno da construção de mecanismos alternativos de mercado no âmbito da agroecologia. Para além do acúmulo das organizações integrantes do GT e convidadas ao seminário, consta como subsídio básico para a realização deste seminário o breve mapeamento de experiências em comercialização e agroecologia e, fundamentalmente, a realização da sistematização de duas experiências no Nordeste e uma no sul no âmbito do GT dentro da temática, que permitiram a coleta de excelentes subsídios para a realização do debate em torno das políticas públicas no tema proposto entre as organizações do GT e convidadas e destas com gestores públicos. Neste sentido, apresenta-se abaixo a síntese das discussões realizadas no seminário e ao final um quadro resumo com as propostas de políticas públicas levantadas na discussão das três experiências sistematizadas (ECOTERRA, AGROFLOR, e ASSEMA): a) Percepções gerais sobre o quadro das políticas: Há avanços na formulação de propostas de programas de caráter estruturante como PAA, PNAE e PGPM da Sócio Biodiversidade abrindo caminhos para as bases de uma política de comercialização e abastecimento. O mercado institucional tem sido um estímulo para a organização da produção e diversificação assim como para o reconhecimento das mulheres e sua importância nos processos econômicos da agricultura familiar. Mas constatamos que ainda predomina nestas políticas/programas uma perspectiva desenvolvimentista. Como limites e ameaças para a implementação desses programas, identificamos: Pouco alcance dos programas tanto em algumas regiões como junto a segmentos de povos e comunidades tradicionais; Governo não se apropriou da proposta de uma política de abastecimento encaminhada pelo CONSEA e está tramitando no congresso um Projeto de Lei de autoria do Senador Crivela completamente distorcida e reducionista;

Seminário do Rio - Documento Sintese

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Documento sintese do Seminário Políticas Públicas na promoção da Soberania e Segurança Alimentar através da construção de mercados diferenciados na agroecologia - Rio de Janeiro - dezembro de 2010

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GRUPO DE TRABALHO EM SOBERANIA E SEGURANÇA ALIMENTAR - ANA

SEMINÁRIO

“Políticas Públicas na promoção Soberania e Segurança Alimentar através da construção de mercados diferenciados na agroecologia.”

Rio de Janeiro, 2 e 3 de dezembro de 2010.

A realização deste seminário teve por finalidade articular as atividades desenvolvidas pelo GT SSA/ANA no decorrer dos últimos dois anos, onde se priorizou, dentro da temática da soberania e segurança alimentar, o debate em torno da construção de mecanismos alternativos de mercado no âmbito da agroecologia.

Para além do acúmulo das organizações integrantes do GT e convidadas ao seminário, consta como subsídio básico para a realização deste seminário o breve mapeamento de experiências em comercialização e agroecologia e, fundamentalmente, a realização da sistematização de duas experiências no Nordeste e uma no sul no âmbito do GT dentro da temática, que permitiram a coleta de excelentes subsídios para a realização do debate em torno das políticas públicas no tema proposto entre as organizações do GT e convidadas e destas com gestores públicos.

Neste sentido, apresenta-se abaixo a síntese das discussões realizadas no seminário e ao final um quadro resumo com as propostas de políticas públicas levantadas na discussão das três experiências sistematizadas (ECOTERRA, AGROFLOR, e ASSEMA):

a) Percepções gerais sobre o quadro das políticas:

Há avanços na formulação de propostas de programas de caráter estruturante como PAA, PNAE e PGPM da Sócio Biodiversidade abrindo caminhos para as bases de uma política de comercialização e abastecimento. O mercado institucional tem sido um estímulo para a organização da produção e diversificação assim como para o reconhecimento das mulheres e sua importância nos processos econômicos da agricultura familiar. Mas constatamos que ainda predomina nestas políticas/programas uma perspectiva desenvolvimentista. Como limites e ameaças para a implementação desses programas, identificamos:

Pouco alcance dos programas tanto em algumas regiões como junto a segmentos de povos e comunidades tradicionais;

Governo não se apropriou da proposta de uma política de abastecimento encaminhada pelo CONSEA e está tramitando no congresso um Projeto de Lei de autoria do Senador Crivela completamente distorcida e reducionista;

O Projeto de Lei do PAA ainda não foi aprovado e há riscos de mudanças no caráter da proposta debatida entre governo e sociedade no âmbito do Comitê Temático do PAA e no CONSEA (o parecer do relator do PL PAA no presente momento estabelece constrangimentos orçamentários para expansão do PAA);

Manifestações preliminares da área econômica do governo sinalizam para uma visão restritiva em relação à expansão do PAA.

As organizações da agricultura familiar agroecológica têm desenvolvido ações no campo da comercialização alternativa, sem o respaldo de políticas públicas, como é o exemplo de feiras agroecológicas, compras coletivas e outras, estabelecendo mecanismos diferenciados de abastecimento alimentar. É necessário o apoio a estas iniciativas, pois se constituem em formas inovadoras de abastecimento, bem como representam um enfrentamento aos atuais formatos, excludentes e concentradores.

b) Principais limites em termo de políticas públicas para o desenvolvimento de experiências em comercialização de alimentos agroecológicos (a partir dos resultados da sistematização de três experiências, do trabalho nos grupos de discussão e da plenária):

No que se refere a ATER:

As chamadas públicas de ATER não respeitam os princípios e a construção metodológica da agroecologia;

As prestadoras de ATER não estão devidamente habilitadas para a dimensão sócio-econômica e ambiental do serviço;

Vigilância Sanitária:

Necessidade de ajustamentos na legislação referente a produção de alimentos no país. Constata-se uma inadequação para a produção pela agricultura familiar, predominando uma lógica voltada para grandes empreendimentos, além de um caráter punitivo, excludente e pouco educativo deste tipo de serviço no país.

Operacionalização de projetos:

(Des) compromisso das prefeituras com a operacionalização do PNAE ; é possível identificarmos interferências de partidarismos e tendências políticas;

Falta de compatibilização do tempo dos projetos (planejamento/ execução) com a disponibilidade do produto;

Indefinições em relação a diferenciação de preço para os produtos orgânicos ou agroecológicos;

DAP continua sendo um instrumento insuficiente e que segue a lógica do crédito, está condicionado ao acesso a terra e acaba se tornando excludente para determinados grupos (mulheres, comunidades tradicionais, etc.)

Controle Social:

Falta melhor compreensão do papel dos conselhos na execução do PNAE e PAA;

Identifica-se deficiências de informações sobre as políticas públicas, bem como de formação das organizações sociais para exercerem o controle social destes programas.

c) A partir destes limites quais os principais aspectos/ temas a serem apoiados pelas políticas públicas na busca de fortalecer e expandir estas experiências?

ATER:

Ações de apoio à diversificação e organização da produção agroecológica

Ações de capacitação para produção e consumo sustentável (ATER)

Elaboração de propostas do campo agroecológico para o PPA

Chamadas de ATER específicas no tema abastecimento e agroecologia superando a abordagem somente por territórios

Ações de apoio a mecanismos diferenciados de comercialização (programa):

Financiamento (crédito de fundo perdido) para equipamentos e estruturas de pré-processamento e comercialização, tais como:

Construções para pré-processamento nas propriedades

Estruturas de armazenamento de produtos (construção, refrigeradores)

Insumos (embalagens, caixas, …)

Equipamentos (balanças, embaladoras, ….)

Estruturas de feira (barracas, lonas, divulgação)

Estruturas de transporte (veículos, subsídios....)

Propor novos formatos jurídicos de organização dos agricultores para comercialização, pois os formatos de associação e cooperativa tal qual estão atualmente são limitados

Apoio a ações de articulação entre público urbano e rural na perspectiva de viabilizar empreendimentos de agroindústria e abastecimento de produtos ecológicos

d) O que pode/deve ser aprimorado nos programas em andamento?

Criar mecanismo de articulação entre agricultores e gestores (nutricionistas) para elaboração dos cardápios no PNAE;

Viabilizar ações complementares às compras, tais como ações de formação de merendeiras/alunos/professores em temas relacionados a agricultura familiar, agroecologia, sustentabilidade

Criar mecanismos de diferenciação do alimento agroecológico no PNAE.

Renovação automática de projetos, e suas respectivas atualizações caso seja necessário,

Viabilizar custos administrativos de elaboração e prestação de contas de projetos do PAA;

Fortalecer as organizações e suas redes na implementação dos programas (ATER)

Reorientar a ação dos Conselhos para o debate das políticas públicas, no mínimo três vezes ao ano, evitando debates político-eleitorais;

Avançar na participação de indígenas e quilombolas nos programas.

Capacitar agentes de ATER para a emissão das DAP’s, e a disseminação das informações de quem pode obtê-la;

Viabilizar transporte dos produtos dentro dos projetos de aquisição institucional;

Clarear e rediscutir a metodologia de formação de preços para PAA e PNAE:

Ampliar participação da sociedade civil nesta definição

Regionalizar preços dentro dos Estados

Clarear a regulamentação no PNAE sobre o pagamento do diferencial para produtos agroecológicos.

Vigilância sanitária:

Orientada a partir do principio da alimentação saudável, sem estar restrito à dimensão microbiológica dos alimentos;

Ampliar o debate sobre a utilização dos agrotóxicos: ampliar fiscalização sobre o uso e emissão de receituário; exercer fiscalização sobre atuação dos profissionais na emissão de receituário; direito à informação sobre a origem do produto que está sendo consumido.

e) Propostas e diretrizes gerais sobre as políticas:

Compreender a soberania e segurança alimentar e a agroecologia como estruturadores de um projeto de desenvolvimento e mudança do país, assegurando o direito de produzir e consumir um alimento saudável;

Reconhecer, valorizar e apoiar as iniciativas de comercialização alternativa no campo da agroecologia como mecanismos diferenciados de abastecimento e promotores de soberania e segurança alimentar e nutricional;

Avançar na formulação de uma política de comercialização e abastecimento com apresentação de uma proposta de substitutivo ao PL em tramitação;

Analisar criticamente e monitorar o Plano Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional que será apresentado pelo governo em 2011;

Implantação do SISAN.

f) Questões para os gestores:

Qual a estratégia do governo em relação à tramitação dos PLs neste campo (agrotóxicos, transgênicos, abastecimento....) e especificamente da atual tramitação dos PLs de abastecimento e PAA?

Tendo em vista a falta de políticas de comercialização para agricultura familiar, como construir ou articular políticas que estimulem, expandam e viabilizem mecanismos diferenciados de comercialização de produtos agroecológicos?

Como se encontra o processo de implementação do SUASA? Este é o instrumento mais adequado? Como avançar numa regulamentação adequada à agricultura familiar?

MMA: Como se encontra o debate sobre a dinamização das políticas de fomento voltadas para o manejo sustentável e agrobiodiversidade?

Como rever e adequar mecanismos de tributação na comercialização na agricultura familiar?

Como está processo de implementação das coordenadorias da agricultura familiar na CONAB?

Que tratamento será dado aos municípios que não atenderem o artigo 14 da lei 11.947 no momento da prestação de contas do PNAE

Como ampliar o debate sobre a regulamentação dos orgânicos no sentido de não excluir muitas das organizações do campo agroecológico a partir de sua implementação em janeiro de 2011?

Considerando as propostas do seminário do PAA da necessidade de reformulação da DAP, qual a visão e/ou propostas do governo neste sentido?

Quadro síntese das propostas de Políticas Públicas levantadas durante o processo de sistematização.

Dimensão Demanda

Assistência Técnica e Extensão Rural

Programas de formação e capacitação para estímulo ao ingresso de novas famílias aos processos de comercialização estabelecidos e abertura de novos espaços/estratégias;

Apoio à programas de organizações locais de ATER (1,3) Fomento à processos de formação em gestão, beneficiamento

da produção, elaboração de projetos, etc(1,3)

Logística e Estrutura de comercialização

Cessão e financiamento de infra-estrutura e insumos para processamento mínimo de produtos (limpeza, seleção, embalagem, ...);

Capital de giro para aquisição de insumos necessário à comercialização e para garantia de pagamentos regulares aos agricultores (1,2);

Transporte Subsídios ao transporte de produtos, pela dispersão das unidades de produção e pelos volumes ainda pequenos;

Viabilização da aquisição de veículos (1,3); Melhoria de condições estruturais para o transporte,

principalmente estradas rurais (2,3);

Vigilância sanitária Adequação da legislação à realidade de unidades de produção familiares (1,3);

Viabilização de estruturas adequadas à legislação (1,3);

Operacionalização de projetos

Desburocratização no acesso aos recursos públicos para projetos de ATER.

Redução de burocracia na elaboração de projetos e prestação de contas para o mercado institucional (1,2);

1 – ECOTERRA-RS 2 – AGROFLOR-PE 3 - ASSEMA-MA