11
Semiótica juridica 1. INTRODUÇÃO A semiótica jurídica com aplicação específica no ensino de Direito propõe uma sistematização de um estudo que considere os diversos campos de pesquisa que não se deve conduzir a uma fragmentação, apenas, do ato interpretativo da comunicação do Direito. Ao contrário, a proposta aqui apresentada é no sentido da necessária implicação dessas áreas de conhecimento, visando uma interpretação totalizadora do discurso jurídica em seu seio social e introduzido na grade curricular desse curso. O estudo da Semiótica jurídica sob a perspectiva dos planos da pragmática conduz o intérprete à tomada de postura dogmática aliada a uma postura não-dogmática. A primeira postura está comprometida diretamente com os conflitos jurídicos e que põe fim a divergências decorrentes das relações intersubjetivas, reclamando para sua efetivação a obrigatoriedade da argumentação, tendo por base as normas de um ordenamento jurídico e a obrigatoriedade de decisão pelo Estado para todo conflito intersubjetivo apresentado. A segunda postura é comprometida obliquamente com os conflitos e revela-se uma postura filosófica. O Direito, enquanto norma de conduta pode não ser admitida no sistema a partir da constituição de regras jurídicas através da simples verbalização, mas são na maioria das vezes, na forma escrita, representando pelas leis latu sensu e pelas decisões judiciais. Enquanto considerado não só como regras de conduta, mas em toda sua amplitude, incluindo-se neste particular os atos praticados com respaldo na faculdade de agir conferida pela lei ou para dirimir a solução dos conflitos, os signos jurídico-lingüísticos também se apresentam verbalmente, através da sustentação oral dos advogados nos tribunais, da inquirição das testemunhas, no apregoamento das partes para ter início à audiência e em muitos outros atos praticados no decorrer do processo e que exteriorizados são registrados para fins de provar sua concretização. O estudo da Semiótica introduzida a um discurso jurídico e aplicada no curso de Direito, não é meramente o estudo dos signos das palavras

Semiótica Juridica

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Semiótica Juridica

Semiótica juridica

1. INTRODUÇÃO

A semiótica jurídica com aplicação específica no ensino de Direito propõe uma

sistematização de um estudo que considere os diversos campos de pesquisa que

não se deve conduzir a uma fragmentação, apenas, do ato interpretativo da

comunicação do Direito. Ao contrário, a proposta aqui apresentada é no sentido da

necessária implicação dessas áreas de conhecimento, visando uma interpretação

totalizadora do discurso jurídica em seu seio social e introduzido na grade curricular

desse curso.

O estudo da Semiótica jurídica sob a perspectiva dos planos da pragmática conduz

o intérprete à tomada de postura dogmática aliada a uma postura não-dogmática. A

primeira postura está comprometida diretamente com os conflitos jurídicos e que

põe fim a divergências decorrentes das relações intersubjetivas, reclamando para

sua efetivação a obrigatoriedade da argumentação, tendo por base as normas de

um ordenamento jurídico e a obrigatoriedade de decisão pelo Estado para todo

conflito intersubjetivo apresentado. A segunda postura é comprometida

obliquamente com os conflitos e revela-se uma postura filosófica.

O Direito, enquanto norma de conduta pode não ser admitida no sistema a partir da

constituição de regras jurídicas através da simples verbalização, mas são na

maioria das vezes, na forma escrita, representando pelas leis latu sensu e pelas

decisões judiciais. Enquanto considerado não só como regras de conduta, mas em

toda sua amplitude, incluindo-se neste particular os atos praticados com respaldo

na faculdade de agir conferida pela lei ou para dirimir a solução dos conflitos, os

signos jurídico-lingüísticos também se apresentam verbalmente, através da

sustentação oral dos advogados nos tribunais, da inquirição das testemunhas, no

apregoamento das partes para ter início à audiência e em muitos outros atos

praticados no decorrer do processo e que exteriorizados são registrados para fins

de provar sua concretização.

O estudo da Semiótica introduzida a um discurso jurídico e aplicada no curso de

Direito, não é meramente o estudo dos signos das palavras inseridas na lei, mas os

fatos ideológicos e o contexto sócio-histórico em que estão embutidos estes signos,

ou seja, a formação discursiva diretamente ligada à formação ideológica e as

funções sociais do sujeito envolvido na elaboração do processo, visando verificar a

incorporação de noções de social e de histórico, além de questionar a consciência

dessa distinção do homem, quando este produz linguagem.

Page 2: Semiótica Juridica

Compreender o sistema judiciário como fenômeno semiótico implica aceitar que

todos os usuários nas diversas instituições que o integram (tribunais, juizados,

varas, defensorias, promotorias, delegacias do trabalho, escrivãs) estão

incessantemente a transmitir e receber mensagens em cada gesto, postura,

palavras escritas e faladas, imagens e rituais. Os signos, como unidades de

qualquer sistema lingüístico, estão presentes independentemente da forma pela

qual se expressa a comunicação.

A importância precípua desse estudo é destacar as diversas dificuldades

encontradas não somente pelos alunos do curso de Direito, mas também por todas

as pessoas que fazem parte do ritual jurídico; ao entender, compreender e

interpretar os signos embutidos na lei, ocasionando a formulação e a pesquisa da

ciência no discurso jurídico, pois a prática jurídica não se faz somente dos signos

inseridos nos textos; ela pressupõe todo um conjunto de práticas sociais, sobre o

qual se estabelece o conjunto textual da juridicidade com presença de sentido mais

complexo de valores, de trocas, de práticas existentes nos domínios sócio-culturais

da vida social.

2. SEMIÓTICA JURÍDICA APLICAÇÃO NO CURSO DE DIREITO DO MARANHÃO

Na linguagem do Direito, enquanto norma de conduta pode não ser admitida no

sistema jurídico brasileiro às constituições de regras jurídicas através da simples

verbalização, se apresentam, na maioria das vezes, na forma escrita,

representando pelas leis latu sensu e pelas decisões judiciais.

Enquanto considerado não só como regras de conduta, mas em toda sua amplitude,

incluindo-se neste particular os atos praticados com respaldo na faculdade de agir

conferida pela lei ou para dirimir a solução dos conflitos; os signos lingüísticos

também se apresentam verbalmente, fatos que ocorrem com maior freqüência no

Direito, através da sustentação oral dos advogados nos tribunais, da inquirição das

testemunhas, no apregoamento das partes para ter início à audiência e em muitos

outros atos praticados no decorrer do processo e que exteriorizados são registrados

para fins de provar sua concretização.

O relevante é observar as diferenças entre os depoimentos proferidos pelos sujeitos

na instância jurídica. Em conseqüência, outro corpus subsidiário será mobilizado na

análise para as comparações necessárias a fim de delinear as diferenças e suas

inscrições nos recursos expressivos e na configuração composicional geral do

registro da tomada da palavra do réu e do autor (através de seus advogados),

assim como indiretamente a do juiz.

Tal análise objetiva, reconhecer a importância da Semiótica no discurso jurídico

aplicado ao ensino no Curso de Direito no Maranhão, delineando a teoria dos

Page 3: Semiótica Juridica

códigos, que considera as mesmas regras de competência discursiva, de formação

textual de quebra de ambigüidade contextual e circunstancial dos sujeitos (autor,

réu, advogados e juiz) e explorar as possibilidades teóricas e as funções sociais de

um estudo unificado do fenômeno da significação e da comunicação dos sujeitos

em um discurso.

A metodologia utilizada segue critérios científicos de construção lógico-sistemático

adotando um método teórico derivado da Semiótica de Charles Sanders Peirce e a

Semiótica Jurídica de Eduardo Bittar, uma semiótica pragmática, não

negligenciando uma análise dos principais temas de reflexões e contribuições das

teorias da lingüística, da Filosofia, da linguagem, da lógica, da Semiologia e da

Semiótica filosófica. Seguido de uma crítica da teoria da linguagem sobre a

problemática jurídica no seu discurso, tornando-se, então, um meio de se conseguir

uma análise do Curso de Direito em São Luís do Maranhão como produção de

linguagem, o considerando relacionado com os fenômenos sociais mais gerais que o

circundam.

Essas reflexões se incorporam e fazem parte de todas as considerações concebidas

dentro das discussões efetuadas em conjunto. O Direito considerado como um

produto cultural torna-se não só o exercício de um poder, mas sim a expressão

semiótica de todos os valores e construções de sentido que legitimam sua

existência regulamentar.

É fato importante que o estágio obrigatório ou estágio curricular nos cursos de

graduação às vezes é simples aprendizado por mimetismo, mera reprodução literal

de modelos de petições, erigidas a modelos perfeitos e acabados. A didática da

imitação da linguagem se entranha a ponto de que o futuro advogado, juiz,

promotor ou escrivão sentirá dificuldade em escrever ou falar sem recorrer a

latinismos e fórmulas gongóricas.

Caracteriza-se que o advogado que formula a contestação poderia utiliza-se da

liberdade da forma como estímulo à criatividade dos atores processuais. Nenhuma

fórmula de termo ou ato processual é acabada. Sempre haverá um modo mais

rápido e mais completo de transmitir e receber a mensagem da jurisdição. A

padronização deve ser apenas uma etapa no aprendizado de novos métodos nessa

linguagem. Deve-se escrever, o máximo possível, com as palavras que se usa na

linguagem comum. Por isso, convêm evitar os jargões, arcaísmos, expressões raras

e obsoletas. A finalidade dessa regra é garantir a clareza que é uma das principais

qualidades de um bom estilo.

O culto à forma e ao estilo levou à perda da substância humanística que tanto

custaram às ciências jurídicas. Um jovem advogado facilmente reproduzirá a minuta

Page 4: Semiótica Juridica

de um agravo, mas raramente se lembrará do princípio da instrumentalidade do

processo. Exigências de mercado podem explicar por que advogados "escrevem"

páginas e páginas em arrazoados e recursos infindáveis: substanciosa parte de seus

serviços é remunerada segundo o número de intervenções na causa e a quantidade

de peças que reproduzem.

Ao cliente se passa a mensagem de que "o bom advogado é o que fala muito e

escreve em demasia". Ao juiz, entretanto, a mensagem chega invertida: "típico caso

de procrastinação que desacredita o pedido do cliente".

A comunicação do juiz com as partes é outro ponto em que sobram exemplos de

barreiras lingüísticas. Existem sentenças e decisões que lembram muito a

monotonia de uma frase musical longa e repetida à exaustão com instrumentos

diversos. As diversas páginas se perdem para explicar o óbvio ou para desfiar a

erudição do magistrado. Arriscaria dizer que o inconsciente do julgador aproveita-se

dessas ocasiões prolixas para lançar seus pouquíssimos leitores que "não me

desafiem, nem ousem discordar porque eu sei muito mais que vocês".

Constata-se que o juiz ao proferir a sentença não se preocupa em utilizar signos

que representam a simplicidade de uma linguagem de fácil entendimento, visto

que, o mundo jurídico se preocupa com uma linguagem que seja ferramenta da

jurisdição, como forma de convencimento, sem dispensar a erudição, que, na

verdade, fica melhor em teses acadêmicas ou nas estantes de doutrina.

Os juizes, promotores e advogados apesar de dominarem o mesmo jargão, se

valem de signos ou expressões ambíguas e anacrônicas, isto acaba criando

barreiras que frustram o processo de comunicação entres as partes processuais.

A relação dos agentes sociais (autor, réu, advogados e indiretamente juiz e

sociedade) com a realidade é intermediada por um mundo de significações. Se a

fórmula dos atos e termos processuais confundem até os usuários diretos dessa

linguagem, presuma-se a aflição do cidadão comum destinatário dessas decisões. O

contato pessoal do juiz com autor e o réu são ricos em situações que chegam ao

grotesco por causa das barreiras de linguagem, dos signos que o receptor recebe.

Felizmente é animador que muitos juízes tenham aprendido a dominar outros níveis

de linguagem, especialmente quando se dirigem àqueles excluídos da riqueza

cultural e econômica da sociedade brasileira.

Não se pode, entretanto, deixar de reconhecer que os fatores individuais dos

receptores (cidadãos) dos símbolos-sígnicos da Semiótica Jurídica levam a

interpretações que via de regra contradizem-se na valoração da mensagem

provinda ora do autor do processo, do réu ou do juiz. Afinal, nem todos os seres

humanos se encontram no mesmo nível.

Page 5: Semiótica Juridica

Ainda que não se aceite a idéia de diferenças radicais, o conceito de evolução

cultural, espiritual, político e mesmo as diferenças de intensidade (paixão, vida

interior, generosidade, riqueza de sentimentos e de idéias) permitem apontar níveis

de pensamento essencialmente diversos, quer se trate de pensamento lógico, de

especulação racional ou de elaboração onírica: portanto, seja em razão de sua

origem, seja de sua significação e, como conseqüente, de sua valoração.

Também muitos, no entendimento, da gênese e aplicação do Direito, querem-no

formalizado, inacessível ao destinatário - o povo (autor e réu) - feito por poucos,

para alguns. Ressalta-se a posição de Plauto Faraco de Azevedo (1974, p. 80),

quando ao abordar o tema, preleciona magistralmente:

“[...] Fazendo a linguagem comum, por ambas precisa transitar o jurista, sabendo

utilizá-las de modo a poder argumentar e convencer. Esta finalidade é

manifestamente incompatível com o uso do discurso intrincado, abusivo da

linguagem peculiar ao direito, posto que o uso desconexo de noções técnicas sobre

o não persuadir (levar ao convencimento) impede a indispensável comunicação

entre o jurista e o povo, entrava as soluções e desmoraliza a profissão jurídica. É

este o pior dos vezos em que historicamente tem incorrido o bacharel, tornando-o

alvo da galhofa e paradigma da incomunicabilidade [...]”.

O juiz aferrado à concepção de um positivismo ortodoxo que erige como dogma o

formalismo das normas jurídicas, preocupado tão somente que emanem de órgãos

públicos reconhecidos como competentes para produzi-las, distanciam-se, drástica,

inexorável e injustamente do objetivo do Direito, se não se preocuparem em se

aperceber e analisar, valorando-as, se tais normas adequam-se a uma consciência

social preponderante que nelas entrevê sua necessidade, utilidade e conveniência.

O ato comunicativo jurídico, conclui-se, exigir a construção de um discurso que

possa convencer o julgador da veracidade do real que pretende provar. Em razão

disso, a linguagem jurídica vale-se dos princípios da lógica clássica para a

organização do pensamento. O mundo jurídico prestigia o vocábulo especializado,

para que o excesso de palavras plurissignificativas não prejudique a representação

simbólica da linguagem.

Não se há, entretanto, de visualizar a individualização da Semiótica Jurídica, em sua

compreensão de discurso, objeto de juízos de valor e, como a própria sociedade,

mutável, para adequar-se à evolução social. O discurso jurídico constrói uma

linguagem própria que, é uma linguagem científica.

Constata-se que não cabe somente ao legislador, mas também aos sujeitos da

interpretação, ou aos usuários da linguagem jurídica de modo geral, atribuir

sentidos a textos normativos. No entanto, de qualquer forma, a decisão como

Page 6: Semiótica Juridica

construção semiótica, ao ser prolatada por seu produtor, deixa de ser uma estrutura

permeável á busca da intensidade, fazendo-se, da mesma forma como ocorre com

as normas jurídicas promulgadas. A decisão torna-se então um produto sem sujeito,

o texto decisório passa a vincular-se ao autor.

Em verdade, a interpretação e o entendimento do juiz, assim como dos tribunais

que controlam tais decisões e atividades jurisdicionais, são limites para a expansão

do campo de entendimento e apresentação dos problemas entre o autor e réu,

receptores da norma. É certo, então, que para que se averigúe o poder

transformador do discurso jurídico, à instância da mera produção discursiva, se

deve seguir, como condição de sua eficácia, a instância efetivamente

transformacional, ou seja, deve-se seguir o momento em que se faz “sentir a mão

do xerife nos próprios ombros”, parafraseando Charles S. Peirce (2000). De fato, é

correta a opinião de Peirce acerca da realidade das coisas, pois não são as palavras

que condenam ou deixam de condenar, mas tudo isso ocorre em um segundo

plano, no exato momento em que, juntamente com as palavras e as razões lógicas,

passa a imperar a força bruta; é, e será sempre, uma atuação concreta a

conseqüência de todo modo de operação do discurso.

Os textos jurídicos são molas que impulsionam a ação. A linguagem jurídica

funciona como ponto de partida para as ações sociais e o movimento das relações

humanas. Negocia-se, peticiona-se, autoriza-se e pactua-se, tudo com base em

textos e signos jurídicos. São eles que informam ou regulamentam ações humanas

juridicamente relevantes para o processo. No entanto, signos e textos jurídicos

(normativos) não movimentam a ação fortuitamente, e não contam com o livre-

arbítrio, com a capacidade de argumentação, de sedução do locutor (juiz)

discursivo, ou com a paixão ética ou o interesse do receptor discursivo (réu e

autor). Signos e textos jurídicos são molas que impulsionam a ação que não podem

ser negadas; estão dotadas de imunização. São propulsoras da ação, pois

movimentam condutas, regendo-as de forma quase onipotente e onipresente. E

mais, acompanham-se da força bruta, no dizer de Charles Sanders Peirce (2000, p.

56): “sua existência e seu relacionamento em meio às práticas sociais e

intersubjetivas condicionam o comportamento humano”.

Os operadores do Direito devem dominar os elementos essenciais da comunicação

jurídica, uma vez que estão constantemente redigindo peças processuais.  No

entanto, não devem esquecer que se comunicar é fazer-se entender, posto que por

muitas vezes olvidam que estão litigando em prol da sociedade e esta se deve fazer

entender. No meio jurídico, esse intercâmbio de informações entre sujeitos é

Page 7: Semiótica Juridica

imprescindível para formação e desenvolvimento da atividade profissional. Para

tanto, é necessária competência lingüística e domínio do discurso jurídico.

O discurso jurídico se inscreve no universo jurídico, tendo funcionado como mais um

elemento dinamizador e reprodutor do ideário patriarcalista, ratificando, por meio

de seus signos (leis, procedimentos, interpretações, etc.) elevados e diversos graus

de discriminação entre os membros da sociedade e participantes do ato processual.

Nesse cenário processual, o discurso jurídico da igualdade, por sua configuração

meramente formal/legal, não consegue dar conta dos vícios do contexto da

desigualdade, porque não é capaz de englobar as várias diferenciações do universo

humano, nem se tornar veículo para a efetivação das condições materiais de vida.

Surge-se daí, a convocação para que o discurso jurídico redimensione seus

fundamentos, a partir de outros paradigmas, posicionando-se por uma igualdade

que transponha o limite da formalidade e inclua outras perspectivas societárias.

O discurso jurídico na atualidade está incorporando novos paradigmas e sujeitos, a

sua possibilidade revolucionária só será acionada, à medida que for capaz de

abandonar a prática de mero controlador e conservador das experiências

societárias e incorporar novas fórmulas que consigam superar o texto da lei e se

materializar na concretude da vida das pessoas.

É claro que seja impossível uma verdadeira mudança social apenas através de

fatores jurídicos; estes, no entanto, são indispensáveis, posto que as relações de

produção queiram as ideologias, só são aplicadas em casos verídicos, em uma

sociedade, depois de mudadas em direito, mesmo que consuetudinário.

O acesso à Justiça, inscrito no rol dos Direitos Fundamentais, ainda pede por uma

efetividade, que, na verdade, só será alcançada quando a sociedade tiver

consciência de seus direitos e ter em mãos um Poder Judiciário livre a demandas

populares emergentes, cada vez mais abrangentes, retrato das diferenças que

permeiam a sociedade. Para isto, é fundamental que o operador do Direito, sabedor

de seu papel como agente de transformação social, deixe a feição retórico-legalista

e o excessivo formalismo, que caracterizam a visão tradicional do Direito, para,

mediante uma hermenêutica flexível e criativa, construir uma “práxis

emancipatória”, comprometida com a satisfação dos anseios da sociedade e com a

concretização dos Direitos Fundamentais, sustentáculo da fórmula política do

Estado Democrático de Direito.

Para essa concretização, se faz mister essa visão da Semiótica Jurídica que

transforma e legitima o Direito, levando-o a ser um facilitador para a sociedade na

relação comunicacional, uma vez que há “espaços” não contemplados pelas

práticas tradicionais.

Page 8: Semiótica Juridica

3. CONCLUSÃO

Conclui-se que, a semiótica embasa a natureza jurídica do Direito, visto que este é

linguagem e sua função simbólica poderá recriar a realidade através da oralidade,

portanto uma disciplina que deve fazer parte da grade curricular do Curso de

Direito.  Acredita-se ter demonstrado a identificação do Direito, como expressão

máxima da Semiótica, instrumento de comunicação entre os sujeitos processuais,

através dos caracteres específicos e peculiares originadores da Semiótica Jurídica,

no entanto afins, na sua universalidade, na sua multiplicidade, repleta em

fenômenos sociais e com objetivo comum, tornar o ser humano, pela divulgação

das idéias, dos ideais, das emoções, mais coeso, capaz de uma convivência em que

se torne preponderante o bem-comum. Não se há, entretanto, de visualizar sua

individualização, em sua compreensão, objeto de juízos de valor e, como a própria

sociedade, mutável, para adequar-se à evolução social.

Portanto, o desenvolvimento desse desafiador processo dialético de comunicação

vivido em cada causa, em cada processo, terá-se-á a oportunidade de tornar a

Justiça cada vez mais acessível ao povo, à sociedade que não terá mais “medo do

Direito” e que os juizes, advogados, promotores, defensores e escrivãs tenham a

curiosidade de apreender, nos outros ramos do conhecimento humano, o respeito

da eloqüência dos gestos, posturas e rituais que eles próprios, mecanicamente,

repetem e assim inconscientemente aderem a seus papéis. Certamente todos

descobrirão a riqueza da comunicação que espontaneamente emerge do Poder

Judiciário. Descobrirão, assim, quais as mensagens que a todo minuto transmitem

ao jurisdicionado. Cada um concluirá quais sentimentos e expectativas chegam a

seus interlocutores. Os destinatários receberão dos operadores do Direito à

mensagem de respeito, não de medo; de seriedade, não de “casmurrice”

(teimosia); e, finalmente, de honestidade e transparência, jamais de hipocrisia e

desconfiança.

O saldo desse estudo abrirá maiores questionamentos, e se ao menos for possível

conseguir esse feito, contudo, os esforços já terão sido plenamente correspondidos.

 

Referências

AZEVEDO, Plauto Faraco de. Aplicação do Direito e Contexto Social. São Paulo:

Revista dos Tribunais, 1974.

BARTHES, Roland. Elementos da semiologia. 10ª ed. São Paulo: Cultrix LTDA,

1997.

BITTAR, Eduardo C. B.; ALMEIDA, Guilherme Assis de. Curso de Filosofia Do

Direito. 1ª ed. São Paulo: Atlas, 2001.

Page 9: Semiótica Juridica

BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Lisboa: Difel; Rio de Janeiro: Bertrand

Brasil, 1989.

PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica e Filosofia. São Paulo: Cultrix, 2000.

O Âmbito Jurídico não se responsabiliza, nem de forma individual, nem de forma

solidária, pelas opiniões, idéias e conceitos emitidos nos textos, por serem de

inteira responsabilidade de seu(s) autor(es).

Opções

Informações Sobre o Autor

Paula Fernanda Rocha Lopes

Advogada e Professora Universitária. Especialista em Direito do Trabalho, Literatura

Brasileira (Universidade Estadual do Maranhão) e Tecnologia da informação para

educadores (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).

Informações Bibliográficas

LOPES, Paula Fernanda Rocha.Semiótica Jurídica: Uma perspectiva de

mudança do ensino no Curso de Direito. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, 77,

01/06/2010 [Internet].

Disponível em http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?

n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=7930. Acesso em 26/04/2011.