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INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA SOCIOLOGIA APLICADA À ADMINISTRAÇÃO

SOCIOLOGIA APLICADA À ADMIINTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO A ... · problema sociológico. Não é por mero acaso que a sociologia, enquanto instrumento de análise, inexistia nas relativamente

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INTRODUÇÃO À EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA SOCIOLOGIA APLICADA À ADMINISTRAÇÃO

1

MARÍLIA CARVALHO TELES

Sociologia Aplicada à Administração

ÁGUA BRANCA-PI

2017

Fonte: https://danielacartoni.webnode.com.br/products/sociologia%20aplicada

%20%C3%A0%20administra%C3%A7%C3%A3o/

2

Diretor Geral

Eloan Coimbra Lima

Diretora Acadêmica

Eloane Coimbra Lima

Secretária Acadêmica

Ginoã das Graças Coimbra Lima

Coordenação do Curso

Brisdete Sepúlveda Coelho Brito

Coordenação do Nead

Tiago Soares da Silva

TELES, Marilia Carvalho.

Sociologia Aplicada à Administração. 1ª ed. Água Branca; ISEPRO – Cursos de

Graduação. 79p.

Bibliografia

1. Administração 2. Educação 3. Título.

Ficha Catalográfica

Todos os direitos em relação ao design deste material são reservados à ISEPRO.

Todos os direitos quanto ao conteúdo deste material são reservados ao autor.

Todos os direitos de Copyright deste material didático são à ISEPRO.

3

A concretização de um curso superior em Administração dentro da

modalidade a distância deverá ter como meta o atendimento às necessidades de

toda comunidade quanto ao acesso e atendimento de um ensino superior de

qualidade. Desse modo, propõe-se a fundamentação do curso de Administração

dentro de uma perspectiva histórico-cultural, tendo como eixo articulador a

interdisciplinaridade e a busca da construção de um currículo integrador.

Quanto às disciplinas que formulam o currículo, estas foram moldadas para

uma sociedade cujo princípio da qualidade torna-se prioridade a partir da relação

teoria-prática, ou seja, o desenvolvimento de um trabalho docente de qualidade que

procure satisfazer às necessidades de aprendizagem, enriquecendo as experiências

do educando no processo educativo.

Esta articulação entre teoria e prática será trabalhada de acordo com os

recursos tecnológicos disponíveis aos alunos, professores e tutores, com uma visão

inovadora de ensino, procurando possibilitar a construção do conhecimento pelo

alunado com base em novos modelos e metodologias de se ensinar e aprender,

independente do espaço e tempo ocupado em diversos contextos sociais.

O ISEPRO tem como recurso didático-educacional o uso de materiais como

apostilas/livros, plataformas virtuais, internet, vídeos e principalmente um excelente

sistema de acompanhamento à distância através de tutores e monitores. É válido

salientar que este curso à distância otimiza sempre seus resultados pelas

experiências existentes e atendem a ampla procura da sociedade em se

desenvolver na área gerencial.

Os profissionais da área da Administração, em seus valores qualitativos,

serão orientados a sempre desenvolver a capacidade de intervenção científica e

técnica em seu ambiente de trabalho, assegurando a reflexão crítica permanente

sobre sua prática e realidade educacional historicamente contextualizada. O que

espera deste docente é sua capacidade de (re) construir seu projeto pessoal e

Apresentação do Curso.......................................................

Apresentação da Disciplina................................................... 05

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UNIDADE 01

HISTÓRIA E CONCEITO DA SOCIOLOGIA

1. História e conceito da Sociologia..........................................................

ATIVIDADE........................................................................................................

FÓRUM..............................................................................................................

UNIDADE 02

TEORIAS SOCIOLÓGICAS

2. Teorias Sociológicas.................................................................................

2.1 O positivismo - Augusto Comte.......................................................................

2.2 Herberte Spencer - Evolucionismo...................................................................

2.3 Le Play - Pioneiro do Método Monográfico......................................................

2.4 Karl Marx - Sociologia Crítica e Econômica..................................................

2.5 Gabriel Tarde - Teoria da Imitação..................................................................

ATIVIDADE........................................................................................................

FÓRUM.............................................................................................................

UNIDADE 03

VERTENTES SOCIOLÓGICOS VOLTADOS PARA A CONSTRUÇÃO

CAPITALISTA

3. Vertentes Sociológicas Voltadas para a Construção Capitalista...........................

3.1 Emile Burkeiem - Realismo Sociólogo...........................................................3

3.2 Georg Simmel - Formalismo Sociólogo...........................................................

3.3 Leopold Von Wiese - Sociologia das Relações sociais...................................

3.4 Vilfredo Pareto - Mecanismo Sociológico.......................................................

3.5 Max Weber - Sociologia Compreensiva.........................................................

ATIVIDADE.........................................................................................................

FÓRUM...............................................................................................................

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UNIDADE 04

ESTRATIFICAÇÃO SOCIAL

4. Estratificação Social...................................................................................

ATIVIDADE.....................................................................................................

FÓRUM...........................................................................................................

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UNIDADE 05

CULTURA E SOCIOLOGIA

5. A Cultura é uma perspectiva comum do mundo..................................................

5.1 A Cultura é um conjunto de verdades.............................................................

5.2 A Cultura é um conjunto de valores.............................................................

5.3 A Cultura é um conjunto de normas............................................................

5.4 A Cultura, subcultura e contracultura.........................................................

ATIVIDADE....................................................................................................

FÓRUM.............................................................................................................

UNIDADE 06 GLOBALIZAÇÃO E SOCIEDADE

6. Globalização e Sociedade.......................................................................

ATIVIDADE....................................................................................................

FÓRUM..............................................................................................................

REFERÊNCIAS.................................................................................................

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A concretização de um curso superior em Administração dentro da

modalidade a distância deverá ter como meta o atendimento às necessidades de

toda comunidade quanto ao acesso e atendimento de um ensino superior de

qualidade. Desse modo, propõe-se a fundamentação do curso de Administração

dentro de uma perspectiva histórico-cultural, tendo como eixo articulador a

interdisciplinaridade e a busca da construção de um currículo integrador.

Quanto às disciplinas que formulam o currículo, estas foram moldadas para

uma sociedade cujo princípio da qualidade torna-se prioridade a partir da relação

teoria-prática, ou seja, o desenvolvimento de um trabalho docente de qualidade que

procure satisfazer às necessidades de aprendizagem, enriquecendo as experiências

do educando no processo educativo.

Esta articulação entre teoria e prática será trabalhada de acordo com os

recursos tecnológicos disponíveis aos alunos, professores e tutores, com uma visão

inovadora de ensino, procurando possibilitar a construção do conhecimento pelo

alunado com base em novos modelos e metodologias de se ensinar e aprender,

independente do espaço e tempo ocupado em diversos contextos sociais.

O ISEPRO tem como recurso didático-educacional o uso de materiais como

apostilas/livros, plataformas virtuais, internet, vídeos e principalmente um excelente

sistema de acompanhamento à distância através de tutores e monitores. É válido

salientar que este curso à distância otimiza sempre seus resultados pelas

experiências existentes e atendem a ampla procura da sociedade em se

desenvolver na área gerencial.

Os profissionais da área da Administração, em seus valores qualitativos,

serão orientados a sempre desenvolver a capacidade de intervenção científica e

técnica em seu ambiente de trabalho, assegurando a reflexão crítica permanente

sobre sua prática e realidade educacional historicamente contextualizada. O que

espera deste docente é sua capacidade de (re) construir seu projeto pessoal e

profissional a partir da compreensão da realidade histórica e profissional diante das

políticas que direcionam as práticas administrativas na sociedade.

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A sociologia nasce como ciência ao mesmo tempo que a vida em sociedade

começa a se organizar de uma nova forma. Neste novo modo de organizar a vida,

observa-se uma profunda transformação nas relações de trabalho, marcada agora

por uma relação contratual de trabalho, concomitante à crença na ideia de

progresso.

A sociologia nasce e firma-se como uma tentativa de compreensão de

situações novas, criadas pela então nascente sociedade capitalista. Por isto, o

século 19 é particularmente importante não somente para o pensamento ocidental

quanto para o surgimento da sociologia. Neste sentido, a revolução industrial pode

ser considerada um marco significativo para esta ciência, uma vez que ela instaura

novas formas de organizar a vida social.

A introdução das máquinas na produção não apenas destruiu o artesão

independente, que antes possuía somente um pequeno pedaço de terra cultivado

nos seus momentos livres.

No campo mais geral, este aumento progressivo de população redundou no

surgimento de alguns problemas sociais que antes não se tinha notícia, tais como:

acréscimo da prostituição, do suicídio, do alcoolismo, do infanticídio, da

criminalidade, da violência etc. Estas transformações consolidam a sociologia como

ciência, uma vez que todos estes problemas transformam-se em valiosos objetos de

investigação. Sendo assim, a própria sociedade passa a se constituir em um

problema sociológico. Não é por mero acaso que a sociologia, enquanto instrumento

de análise, inexistia nas relativamente estáveis sociedades pré-capitalistas, já que o

ritmo e o nível das mudanças que aí se verificavam não chegavam a colocar a

sociedade como um problema a ser investigado.

Desse modo, esta apostila enfatiza todos estes pontos que compõem o

processo de evolução da sociedade, não deixando de dinamizar os relatos voltados

para a ótica educacional.

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Sociologia Aplicada à Administração

UNIDADE 01

História e Conceito da

Sociologia

Fonte: http://cultura.culturamix.com/arte/obras-de-arte-modernas

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Sociologia Aplicada à Administração

1. História e conceito da Sociologia

A sociologia constitui um projeto intelectual tenso e contraditório. Para alguns

ela representa uma poderosa arma a serviço dos interesses dominantes, para outros

ela é a expressão teórica dos movimentos revolucionários. A sua posição é

notavelmente contraditória. De um lado, foi proscrita de inúmeros centros de ensino.

Foi fustigada, em passado recente, nas universidades brasileiras, congelada pelos

governos militares argentino, chileno e outros do gênero. (MARTINS, 2006)

Em 1968, os coronéis gregos acusavam-na de ser disfarce do marxismo e

teoria da revolução. Enquanto isso, os estudantes de Paris escreviam nos muros da

Sorbone que "não teríamos mais problemas quando o último sociólogo fosse

estrangulado com as tripas do último burocrata”. (MARTINS, 2006)

Como compreender as avaliações tão diferentes dirigidas com relação a esta

ciência? Para esclarecer esta questão, torna-se necessário conhecer, ainda que de

forma bastante geral e com algumas omissões, um pouco de sua história. Isto me

leva a situar a sociologia - este conjunto de conceitos, de técnicas e de métodos de

investigação produzidos para explicar a vida social – no contexto histórico que

possibilitou o seu surgimento, formação e desenvolvimento. (BERGER, 1986)

A trajetória desta ciência tem sido uma constante tentativa de dialogar com a

civilização capitalista, em suas diferentes fases. Na verdade, a sociologia, desde o

seu início, sempre foi algo mais do que uma mera tentativa de reflexão sobre a

sociedade moderna. Suas explicações sempre contiveram intenções práticas, um

forte desejo de interferir no rumo desta civilização. Se o pensamento científico

sempre guarda uma correspondência com a vida social, na sociologia esta influência

é particularmente marcante. (BERGER, 1986)

Os interesses econômicos e políticos dos grupos e das classes sociais, que

na sociedade capitalista apresentam-se de forma divergente, influenciam

profundamente a elaboração do pensamento sociológico. Procuro apresentar, em

termos de debate, a dimensão política da sociologia, a natureza e as consequências

de seu envolvimento nos embates entre os grupos e as classes sociais e refletir em

que medida os conceitos e as teorias produzidos pelos sociólogos contribuem para

manter ou alterar as relações de poder existentes na sociedade.

UNIDADE 01

História e Conceito da

Sociologia

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Sociologia Aplicada à Administração

Podemos entender a sociologia como uma das manifestações do pensamento

moderno. A evolução do pensamento científico, que vinha se constituindo desde

Copérnico, passa a cobrir, com a sociologia, uma nova área do conhecimento ainda

não incorporada ao saber científico, ou seja, o mundo social. Surge posteriormente à

constituição das ciências naturais e de diversas ciências sociais. (MARTINS, 2006).

A sua formação constitui um acontecimento complexo para o qual concorrem

uma constelação de circunstâncias, históricas e intelectuais, e determinadas

intenções práticas. O seu surgimento ocorre num contexto histórico específico, que

coincide com os derradeiros momentos da desagregação da sociedade feudal e da

consolidação da civilização capitalista. (MARTINS, 2006).

A sua criação não é obra de um único filósofo ou cientista, mas representa o

resultado da elaboração de um conjunto de pensadores que se empenharam em

compreender as novas situações de existência que estavam em curso. O século

XVIII constitui um marco importante para a história do pensamento ocidental e para

o surgimento da sociologia. As transformações econômicas, políticas e culturais que

se aceleram a partir dessa época colocarão problemas inéditos para os homens que

experimentavam as mudanças que ocorriam no ocidente europeu. A dupla revolução

que este século testemunha - a industrial e a francesa - constituía os dois lados de

um mesmo processo, qual seja, a instalação definitiva da sociedade capitalista. A

palavra sociologia apareceria somente um século depois, por volta de 1830, mas

são os acontecimentos desencadeados pela dupla revolução que a precipitam e a

tornam possível. (DEMO, 2000)

Não constitui objetivo desta parte do trabalho proceder a uma análise destas

duas revoluções, mas apenas estabelecer algumas relações que elas possuem com

a formação da sociologia. A revolução industrial significou algo mais do que a

introdução da máquina a vapor e dos sucessivos aperfeiçoamentos dos métodos

produtivos. (DEMO, 2000)

Ela representou o triunfo da indústria capitalista, capitaneada pelo empresário

capitalista que foi pouco a pouco concentrando as máquinas, as terras e as

ferramentas sob o seu controle, convertendo grandes massas humanas em simples

trabalhadores despossuídos. (MARTINS, 2006).

Cada avanço com relação à consolidação da sociedade capitalista

representava a desintegração, o solapamento de costumes e instituições até então

existentes e a introdução de novas formas de organizar a vida social. A utilização da

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Sociologia Aplicada à Administração

máquina na produção não apenas destruiu o artesão independente, que possuía um

pequeno pedaço de terra, cultivado nos seus momentos livres. Este foi também

submetido á uma severa disciplina, a novas formas de conduta e de relações de

trabalho, completamente diferentes das vividas anteriormente por ele.

Num período de oitenta anos, ou seja, entre 1780 e 1860, a Inglaterra havia

mudado de forma marcante a sua fisionomia. País com pequenas cidades, com uma

população rural dispersa, passou a comportar enormes cidades, nas quais se

concentravam suas nascentes indústrias, que espalharam produtos para o mundo

inteiro. (FRIGOTTO, 2000)

Tais modificações não poderiam deixar de produzir novas realidades para os

homens dessa época. A formação de uma sociedade que se industrializava e

urbanizava em ritmo crescente implicava a reordenação da sociedade rural, a

destruição da servidão, o desmantelamento da família patricial etc.

A transformação da atividade artesanal em manufatureira e, por último, em

atividade fabril, desencadeou uma maciça emigração do campo para a cidade,

assim como engajou mulheres e crianças em jornadas de trabalho de pelo menos

doze horas, sem férias e feriados, ganhando um salário de subsistência. Em alguns

setores da indústria inglesa, mais da metade dos trabalhadores era constituída por

mulheres e crianças, que ganhavam salários inferiores dos homens.

A desaparição dos pequenos proprietários rurais, dos artesãos

independentes, a imposição de prolongadas horas de trabalho etc, tiveram um efeito

traumático sobre milhões de seres humanos ao modificar radicalmente suas formas

habituais de vida. Estas transformações, que possuíam um sabor de cataclisma,

faziam-se mais visíveis nas cidades industriais, local para onde convergiam todas

estas modificações e explodiam suas consequências. Estas cidades passavam por

um vertiginoso crescimento demográfico, sem possuir, no entanto, uma estrutura de

moradias, de serviços sanitários, de saúde, capaz de acolher a população que se

deslocava do campo. (FRIGOTTO, 2000)

Manchester, que constitui um ponto de referência indicativo desses tempos,

por volta do início do século XIX era habitada por setenta mil habitantes; cinquenta

anos depois, possuía trezentas mil pessoas. As consequências da rápida

industrialização e urbanização levadas a cabo pelo sistema capitalista foram tão

visíveis quanto trágicas: aumento assustador da prostituição, do suicídio, do

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Sociologia Aplicada à Administração

alcoolismo, do infanticídio, da criminalidade, da violência, de surtos de epidemia de

tifo e cólera que dizimaram parte da população, etc.

É evidente que a situação de miséria também atingia o campo, principalmente

os trabalhadores assalariados, mas o seu epicentro ficava, sem dúvida, nas cidades

industriais.

Um dos fatos de maior importância relacionados com a revolução industrial é

sem dúvida o aparecimento do proletariado e o papel histórico que ele

desempenharia na sociedade capitalista. Os efeitos catastróficos que esta revolução

acarretava para a classe trabalhadora levaram-na a negar suas condições de vida.

As manifestações de revolta dos trabalhadores atravessaram diversas fases, como a

destruição das máquinas, atos de sabotagem e explosão de algumas oficinas,

roubos e crimes, evoluindo para a criação de associações livres, formação de

sindicatos etc.

A consequência desta crescente organização foi a de que os "pobres"

deixaram de se confrontar com os "ricos"; mas uma classe específica, a classe

operária, com consciência de seus interesses, começava a organizar-se para

enfrentar os proprietários dos instrumentos de trabalho.

Nesta trajetória, iam produzindo seus jornais, sua própria literatura,

procedendo a uma crítica da sociedade capitalista e inclinando-se para o socialismo

como alternativa de mudança.

Qual a importância desses acontecimentos para a sociologia? O que merece

ser salientado é que a profundidade das transformações em Gurso colocava a

sociedade num plano de análise, ou seja, esta passava a se constituir em

"problema", em "objeto" que deveria ser investigado. Os pensadores ingleses que

testemunhavam estas transformações e com elas se preocupam não eram, no

entanto, homens de ciência ou sociólogos que viviam desta profissão. Eram antes

de todos homens voltados para a ação, que desejavam introduzir determinadas

modificações na sociedade. Participavam ativamente dos debates ideológicos em

que se envolviam as correntes liberais, conservadoras e socialistas.

Eles não desejavam produzir um mero conhecimento sobre as novas

condições de vida geradas pela revolução industrial, mas procuravam extrair dele

orientações para a ação, tanto para manter, como para reformar ou modificar

radicalmente a sociedade de seu tempo. Tal fato significa que os precursores da

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Sociologia Aplicada à Administração

sociologia foram recrutados entre militantes políticos, entre indivíduos que

participavam e se envolviam profundamente com os problemas de suas sociedades.

A partir da terceira década do século XIX, intensificam-se na sociedade

francesa as crises econômicas e as lutas de classes. A contestação da ordem

capitalista, levada a cabo pela classe trabalhadora, passa a ser reprimida com

violência, como em 1848, quando a burguesia utiliza os aparatos do Estado, por ela

dominado, para sufocar as pressões populares. Cada vez mais ficava claro para a

burguesia e seus representantes intelectuais que a filosofia iluminista, que passava

a ser designada por eles como "metafísica", "atividade crítica inconsequente", não

seria capaz de interromper aquilo que denominavam estado de "desorganização", de

"anarquia política" e criar uma ordem social estável. (FRIGOTTO, 2000)

Determinados pensadores da época estavam imbuídos da crença de que para

introduzir uma "higiene" na sociedade, para "reorganizá-la", seria necessário fundar

uma nova ciência. Durkheim, ao discutir a formação da sociologia na França do

século XIX, refere-se a Saint-Simon da seguinte forma: "O desmoronamento do

antigo sistema social, ao instigar a reflexão à busca de um remédio para os males

de que a sociedade padecia, incitava-o por isso mesmo a aplicar-se às coisas

coletivas. Partindo da ideia de que a perturbação que atingia as sociedades

europeias resultava do seu estado de desorganização intelectual, ele entregou-se à

tarefa de pôr termo a isto. Para refazer uma consciência nas sociedades, são estas

que importa, antes de tudo, conhecer. Ora, esta ciência das sociedades, a mais

importante de todas, não existia; era necessário, portanto, num interesse prático,

fundá-la sem demora". (FRIGOTTO, 2000)

Como se percebe pela afirmação de Durkheim, esta ciência surge com

interesses práticos e não "como que por encanto", como certa vez afirmara.

Enquanto resposta intelectual à "crise social" de seu tempo, os primeiros sociólogos

irão revalorizar determinadas instituições que segundo eles desempenham papéis

fundamentais na integração e na coesão da vida social. A jovem ciência assumia

como tarefa intelectual repensar o problema da ordem social, enfatizando a

importância de instituições como a autoridade, a família, a hierarquia social,

destacando a sua importância teórica para o estudo da sociedade.

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Sociologia Aplicada à Administração

1. Qual sua concepção sobre Sociologia? E qual sua relação com a educação?

Como o aluno pode entender a Sociologia voltada para a educação?

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Sociologia Aplicada à Administração

Teorias

Sociológicas

UNIDADE 02

Fonte: http://abraabocacidadao.blogspot.com.br/2013/12/dia-internacional-dos-direitos-

humanos.html

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Sociologia Aplicada à Administração

2. Teorias Sociológicas

2. 1 O positivismo - Augusto Comte

Positivismo é um conceito que possui distintos significados, englobando tanto

perspectivas filosóficas e científicas do século XIX quanto outras do século XX.

Desde o seu início, com Augusto Comte (1798-1857) na primeira metade do século

XIX, até o presente século XXI, o sentido da palavra mudou radicalmente,

incorporando diferentes sentidos, muitos deles opostos ou contraditórios entre si.

Nesse sentido, há correntes de outras disciplinas que se consideram "positivistas"

sem guardar nenhuma relação com a obra de Comte. Exemplos paradigmáticos

disso são o Positivismo Jurídico, do austríacoHans Kelsen, e o Positivismo

Lógico (ou Círculo de Viena), de Rudolph Carnap, Otto Neurath e seus associados.

Para Comte, o Positivismo é uma doutrina filosófica, sociológica e política.

Surgiu como desenvolvimento sociológico do Iluminismo, das crises social e moral

do fim da Idade Média e do nascimento da sociedade industrial - processos que

tiveram como grande marco a Revolução Francesa (1789-1799). Em linhas gerais,

ele propõe à existência humana valores completamente humanos, afastando

radicalmente a teologia e a metafísica (embora incorporando-as em uma filosofia da

história). Assim, o Positivismo associa uma interpretação das ciências e uma

classificação do conhecimento a uma ética humana radical, desenvolvida na

segunda fase da carreira de Comte.

Fonte: https://filosofiapagano.wordpress.com/filosofia-iii/comte-sociologia-e-sociocrazia/

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Sociologia Aplicada à Administração

O método geral do positivismo de Auguste Comte consiste na observação dos

fenômenos, opondo-se ao racionalismo e ao idealismo, por meio da promoção do

primado da experiência sensível, única capaz de produzir a partir dos dados

concretos (positivos) a verdadeira ciência(na concepção positivista), sem qualquer

atributo teológico ou metafísico, subordinando a imaginação à observação, tomando

como base apenas o mundo físico ou material. O Positivismo nega à ciência

qualquer possibilidade de investigar a causa dos fenômenos naturais e sociais,

considerando este tipo de pesquisa inútil e inacessível, voltando-se para a

descoberta e o estudo das leis (relações constantes entre os fenômenos

observáveis).

Em sua obra Apelo aos conservadores (1855), Comte definiu a palavra

"positivo" com sete acepções: real, útil, certo, preciso, relativo, orgânico e simpático.

O Positivismo defende a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de

conhecimento verdadeiro. Assim sendo, desconsideram-se todas as outras formas

do conhecimento humano que não possam ser comprovadas cientificamente. Tudo

aquilo que não puder ser provado pela ciência é considerado como pertencente ao

domínio teológico-metafísico caracterizado por crendices e vãs superstições. Para

os positivistas o progresso da humanidade depende única e exclusivamente dos

avanços científicos, único meio capaz de transformar a sociedade e o planeta Terra

no paraíso que as gerações anteriores colocavam no mundo além-túmulo.

O Positivismo é uma reação radical ao Transcendentalismo idealista alemão e

ao Romantismo, no qual os afetos individuais e coletivos e a subjetividade são

completamente ignoradas, limitando a experiência humana ao mundo sensível e ao

conhecimento aos fatos observáveis. Substitui-se a Teologia e a Metafísica pelo

Culto à Ciência, o Mundo Espiritual pelo Mundo Humano, o Espírito pela Matéria.

A ideia-chave do Positivismo Comtiano é a Lei dos Três Estados, de acordo

com a qual o entendimento humano passou e passa por três estágios em suas

concepções, isto é, na forma de conceber as suas ideias e a realidade:

1. Teológico: o ser humano explica a realidade por meio de entidades

supranaturais (os "deuses"), buscando responder a questões como "de onde

viemos?" E "para onde vamos?"; além disso, busca-se o absoluto;

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Sociologia Aplicada à Administração

2. Metafísico: é uma espécie de meio-termo entre a teologia e a positividade.

No lugar dos deuses há entidades abstratas para explicar a realidade: "o

Éter", "o Povo", "o Mercado financeiro", etc. Continua-se a procurar responder

a questões como "de onde viemos?" e "para onde vamos?" e procurando o

absoluto. É a busca da razão e destino das coisas, é o meio termo entre

teológico e metafísico.

3. Positivo: etapa final e definitiva, não se busca mais o "porquê" das coisas,

mas sim o "como", por meio da descoberta e do estudo das leis naturais, ou

seja, relações constantes de sucessão ou de coexistência. A imaginação

subordina-se à observação e busca-se apenas pelo observável e concreto.

Seria exagero atribuir aos positivistas a Proclamação da República: é no

processo de consolidação da mesma que se verifica a influência que exerceram,

destacando-se o Coronel Benjamim Constant (que, depois, foi homenageado com o

epíteto de "Fundador da República Brasileira").

De acordo com Valentim (2010):

A partir da segunda metade do século XIX, as ideias de Augusto Comte permearam as mentalidades de muitos mestres e estudantes militares, políticos, escritores, filósofos e historiadores. Vários brasileiros adotaram, ou melhor, se converteram ao Positivismo, dentre eles o professor de matemática da Escola Militar do Rio de Janeiro Benjamin Constant, o mais influente de todos. Tais influências estimularam movimentos de caráter republicano e abolicionista, em oposição à monarquia e ao escravismo dominante no Brasil. A Proclamação da República, ocorrida através de um golpe militar, com apoio de setores da aristocracia brasileira, especialmente a paulista, foi o resultado “natural” desse movimento.

A conformação atual da bandeira do Brasil é um reflexo dessa influência na

política nacional. Na bandeira lê-se a máxima política positivista Ordem e Progresso,

surgida a partir da divisa comtiana O Amor por princípio e a Ordem por base; o

progresso por meta, representado as aspirações a uma sociedade justa, fraterna e

progressista.

Outros positivistas de importância para o Brasil foram Nísia Floresta

Augusta (a primeira feminista brasileira e discípula direta de Auguste Comte), Miguel

Lemos,Euclides da Cunha, Luís Pereira Barreto, o marechal Cândido Rondon, Júlio

de Castilhos, Demétrio Ribeiro, Carlos Torres Gonçalves, Ivan Monteiro de Barros

Lins,Roquette-Pinto, Barbosa Lima, Lindolfo Collor, David Carneiro, David Carneiro

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Sociologia Aplicada à Administração

Jr., João Pernetta, Luís Hildebrando Horta Barbosa, Júlio Caetano Horta

Barbosa, Alfredo de Morais Filho, Henrique Batista da Silva Oliveira, Eduardo de

Sá e inúmeros outros.

Houve no Brasil dois tipos de positivismo: um positivismo ortodoxo, mais

conhecido, ligado à Religião da Humanidade e apoiado pelo discípulo de

Comte Pierre Laffitte, e um positivismo heterodoxo, que se aproximava mais dos

estudos primeiros de Augusto Comte que criaram a disciplina da Sociologia e

apoiado pelo discípulo de Comte Émile Littré.

2.2 Herbert Spencer - Evolucionismo

Tendo vivido num tempo de grandes avanços científicos, o filósofo inglês

Herbert Spencer (1820-1903) foi o principal representante do evolucionismo nas

ciências humanas. Ele intuiu a existência de regras evolucionistas na natureza antes

de seu compatriota, o naturalista Charles Darwin (1809-1882), formular a

revolucionária teoria da evolução das espécies. É ele o autor da expressão

"sobrevivência do mais apto", muitas vezes atribuída a Darwin.

O filósofo aplicou à sociologia ideias que retirou das ciências naturais, criando

um sistema de pensamento muito influente a seu tempo. Suas conclusões o levaram

a defender a primazia do indivíduo perante a sociedade e o Estado, e a natureza

como fonte da verdade, incluindo a verdade moral. No campo pedagógico, Spencer

Fonte: https://historianovest.blogspot.com.br/2010/07 /herbert-spencer-o-ideologo-da-luta-pela.html?m=1

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Sociologia Aplicada à Administração

fez campanha pelo ensino da ciência, combateu a interferência do Estado na

educação e afirmou que o principal objetivo da escola era a construção do caráter.

"Ele dizia que os conhecimentos úteis, que serviriam para formar os homens de

negócios e produzir o bem-estar pessoal, eram desprezados em favor do ensino das

humanidades, que davam mais prestígio", diz a professora Maria Angélica Lucas, da

Universidade Estadual de Maringá.

Para Spencer, havia uma lei fundamental da matéria, que ele chamou de lei

da persistência da força. Segundo ela, a tendência natural de todas as coisas é,

desde a primeira interação com forças externas, sair da homogeneidade rumo à

heterogeneidade e à variedade. À medida que as forças vindas de fora continuam a

agir sobre o que antes era homogêneo, maior se torna o grau de variedade.

2.3 Le Play- Pioneiro do método monográfico

O sociólogo francês Frédéric Le Play (1806-1882) atuou como investigador

social no período de consolidação da disciplina sociológica. Apesar de produzir uma

obra numerosa, ele não aparece com destaque nas histórias da sociologia. Embora

seja levado em conta por vários autores, ocupa uma posição secundária. Tomo

como exemplos dois trabalhos relativamente recentes sobre a formação da

sociologia. Lepenies (1996), procurando descrever o debate entre literatos e críticos

literários, de um lado, e cientistas sociais, sobretudo sociólogos, de outro, recupera o

papel de diversos autores que não se colocam na corrente consagrada como a

principal formadora da disciplina.

Fonte:

http://historiademorganica.blogspot.com.br/2013/03/cristian ismo-contemporaneo.html

21

Sociologia Aplicada à Administração

Neste seu relato, Le Play aparece como um sociólogo católico e próximo ao

romantismo (1996, p.48). O tipo de estudo que Le Play realizava era próximo a um

dos pólos do debate entre “uma orientação cientificista, pronta a imitar as ciências

naturais”, em contraposição a “uma atitude hermenêutica, que aproxima a disciplina

da literatura” (LEPENIES, 1996, p. 11). Entretanto, não há uma exploração maior

quanto à posição da sociologia leplayana neste debate.

Levine (1997) propõe um caminho diferente na busca de uma compreensão

da disciplina sociológica. Seu objetivo é “realizar um estudo crítico das histórias

anteriormente contadas pelos próprios sociólogos de modo empático, a fim de

revelar o valor que essas histórias tiveram para aos primeiros momentos de

adaptação”. Para tanto, relata “a história da sociologia no século passado

apresentando a sequência de histórias que os próprios sociólogos contaram sobre

sua tradição” (1997, p.23).

Este exercício do autor é interessante, pois permite perceber que de fato

Frédéric Le Play não ocupa uma posição expressiva nas diversas formas de se

contar a história da sociologia. Dentro do que ele denomina de narrativas pluralistas,

há uma referência significativa a Le Play: trata-se da taxonomia utilizada por Pitirim

Sorokin (CONTEMPORARY SOCIOLOGIAL THEORIES, 1928), que inclui uma

“escola sintética e geográfica de Le Play” (1997, p.33).

22

Sociologia Aplicada à Administração

2.4 Karl Marx - Sociologia crítica e econômica

Karl Heinrich Marx, intelectual e revolucionário alemão, fundador da doutrina

comunista moderna, que atuou como economista, filósofo, historiador, teórico

político e jornalista.

O pensamento de Marx influencia várias áreas, especialmente Filosofia,

Geografia, História, Direito, Sociologia, Literatura, Pedagogia, Ciência Política,

Antropologia, Economia e Teologia. Outras áreas também são influenciadas por seu

pensamento, tais como Biologia, Psicologia, Comunicação, Administração, Turismo,

Design, Arquitetura, entre outras.

As teorias de Marx sobre a sociedade, a economia e a política - conhecidas

coletivamente como marxismo - afirmam que as sociedades humanas progridem

através da luta de classes: um conflito entre a classe burguesa que controla a

produção e um proletariado que fornece a mão de obra para a produção. Ele

chamou o capitalismo de "a ditadura da burguesia", acreditando que seja executada

pelas classes ricas para seu próprio benefício, Marx previu que, assim como os

sistemas socioeconômicos anteriores, o capitalismo produziria tensões internas que

conduziriam à sua auto-destruição e substituição por um novo sistema: o socialismo.

Ele argumentou que uma sociedade socialista seria governada pela classe

trabalhadora a qual ele chamou de "ditadura do proletariado", o "estado dos

Fonte: https://www.zazzle.com/karl+marx+postcards/

23

Sociologia Aplicada à Administração

trabalhadores" ou "democracia dos trabalhadores". Marx acreditava que o socialismo

viria a dar origem a uma apátrida, uma sociedade sem classes chamada de

comunismo. Junto com a crença na inevitabilidade do socialismo e do comunismo,

Marx lutou ativamente para a implementação do primeiro, argumentando que os

teóricos sociais e pessoas economicamente carentes devem realizar uma ação

revolucionária organizada para derrubar o capitalismo e trazer a mudança sócio-

econômica.

Em uma pesquisa realizada pela Radio, da BBC, em 2005, foi eleito o maior

filósofo de todos os tempos. Além disso, Marx é normalmente citado, juntamente

com Émile Durkheim e Max Weber, como um dos três principais arquitetos da

sociologia moderna. Ainda em outro campo, a obra de Marx sobre economia lançou

as bases para a compreensão atual do trabalho e de sua relação com o capital,

muito influenciando o pensamento econômico subsequente.

Durante a vida de Marx, suas ideias receberam pouca atenção de outros

estudiosos. Talvez o maior interesse tenha se verificado na Rússia, onde, em 1872,

foi publicada a primeira tradução do Tomo I d'O Capital. Na Alemanha, a teoria de

Marx foi ignorada durante bastante tempo, até que em 1879 um alemão estudioso

da Economia Política, Adolph Wagner, comentou o trabalho de Marx ao longo de

uma obra intitulada Allgemeine oder theoretische Volkswirthschaftslehre. A partir de

então, os escritos de Marx começaram a atrair cada vez mais atenção.

Nos primeiros anos após a morte de Marx, sua teoria obteve crescente

influência intelectual e política sobre os movimentos operários (ao final do século

XIX, o principal locus de debate da teoria era o Partido Social-Democrata alemão) e,

em menor proporção, sobre os círculos acadêmicos ligados às ciências humanas –

notadamente na Universidade de Viena e na Universidade de Roma, primeiras

instituições acadêmicas a oferecerem cursos voltados para o estudo de Marx.

Marx foi herdeiro da filosofia alemã, considerado ao lado

de Kant, Nietzsche e Hegel um de seus grandes representantes. Foi um dos maiores

(para muitos, o maior) pensadores de todos os tempos, tendo uma produção teórica

com a extensão e densidade de um Aristóteles, de quem era um admirador. Marx

criticou ferozmente o sistema filosófico idealista de Hegel. Enquanto que, para

Hegel, da realidade se faz filosofia, para Marx a filosofia precisa incidir sobre

a realidade. Para transformar o mundo é necessário vincular o pensamento à prática

revolucionária, união conceitualizada como práxis: união entre teoria e prática.

24

Sociologia Aplicada à Administração

A teoria marxista é, substancialmente, uma crítica radical das sociedades

capitalistas. Mas é uma crítica que não se limita a teoria em si. Marx, aliás, se

posiciona contra qualquer separação drástica entre teoria e prática, entre

pensamento e realidade, porque essas dimensões são abstrações mentais

(categorias analíticas) que, no plano concreto, real, integram uma mesma totalidade

complexa.

O marxismo constitui-se como a concepção materialista da História, longe de

qualquer tipo de determinismo, mas compreendendo a predominância da

materialidade sobre a ideia, sendo esta possível somente com o desenvolvimento

daquela, e a compreensão das coisas em seu movimento, em sua Inter

determinação, que é a dialética. Portanto, não é possível entender os conceitos

marxianos como forças produtivas, capital, entre outros, sem levar em conta o

processo histórico, pois não são conceitos abstratos e sim uma abstração do real,

tendo como pressuposto que o real é movimento.

Karl Marx compreende o trabalho como atividade fundante da humanidade. E

o trabalho, sendo a centralidade da atividade humana, se desenvolve socialmente,

sendo o homem um ser social. Sendo os homens seres sociais, a História, isto é,

suas relações de produção e suas relações sociais fundam todo processo de

formação da humanidade. Esta compreensão e concepção do homem é

radicalmente revolucionária em todos os sentidos, pois é a partir dela que Marx irá

identificar a alienação do trabalho como a alienação fundante das demais. E com

esta base filosófica é que Marx compreende todas as demais ciências, tendo sua

compreensão do real influenciado cada dia mais a ciência por sua consistência.

Marx nunca escreveu um livro dedicado especificamente à metodologia das

ciências sociais para expor, mas deixou, dispersas por numerosas obras escritas,

um conjunto de reflexões metodológicas, nas quais desenvolve o seu próprio

método por meio da crítica ao idealismo especulativo hegeliano e à economia

política clássica.

Segundo Marx, Hegel e seus seguidores criaram uma dialética mistificada,

que buscava explicar especulativamente a história mundial como

autodesenvolvimento da Ideia absoluta.

Já os economistas clássicos naturalizavam e desistoricizavam o modo de

produção capitalista, concebendo a dominação de classe burguesa como uma

ordem natural das relações econômicas, a partir de um conceito abstrato de

25

Sociologia Aplicada à Administração

indivíduo, homo economicus. Por isso, os economistas clássicos recorriam a

"robsonadas", isto é, narrativas de trocas de produtos entre caçadores e pescadores

primitivos, para ilustrar as suas teorias econômicas. Marx atribuía essa mistificação

ao fetichismo da mercadoria, e não a uma intenção consciente.

Em oposição aos filósofos idealistas e aos economistas clássicos, Marx

propunha a investigação do desenvolvimento histórico das formas de produção e

reprodução social, partindo do concreto para o abstrato e do abstrato para o

concreto.

2.5 Gabriel Tarde - teoria da imitação

Gabriel Tarde batizado como Jean-Gabriel de Tarde, filósofo, sociólogo e

criminalista francês, nasceu em Sarlat, em uma família de origem nobre, em 12

março de 1843 e faleceu em Paris em 12 de maio de 1904, aos 61 anos de idade.

Faz seus estudos secundários em Sarlat e obteve em 1860 um bacharelado em

letras, seguido por um de ciências. Preparou-se para entrar na Escola Politécnica,

mas, por causa de problemas de saúde, abandonou a idéia e matriculou-se no

Curso de Direito em Toulouse, terminando em 1866 em Paris. Em 1867 iniciou o

trabalho de secretário assistente do judiciário e, depois, no cargo de juiz suplente,

entre os anos de 1869 a 1875, e enfim, juiz de Instrução até 1894, todos na região

de Sarlat. Em 1877 desposa a filha de um conselheiro da corte de Bourdeaux, com

quem tem três filhos.

Fonte: https://www.britannica.com/biography/Gabriel-Tarde

26

Sociologia Aplicada à Administração

Tarde começou sua carreira de pesquisas na Criminologia, uma ciência nova

desenvolvida pela escola italiana do final do século XIX, também chamada de

Antropologia Criminal, através de suas experiências como juiz de Instrução. Publicou

vários artigos e se opôs, em um grande debate publicado nas revistas

especializadas, ao criminologista italiano Cesare Lombroso, professor de medicina

legal, psiquiatria e antropologia criminal da Universidade de Turim.

Publicou regularmente na Revue Philosophique a partir do ano de 1880, e nos

Archives D'Anthropologie Criminelle, desde 1887. Além dos trabalhos no campo da

Criminologia, publicou também artigos nas áreas da Sociologia, Filosofia, Psicologia

Social e Economia. Em 1894 foi nomeado diretor do serviço de estatística judiciária

do Ministério da Justiça em Paris, cargo que conservou até a sua morte.

Em Paris, continuou com uma vida intensa ligada à pesquisa nas Ciências

Sociais e Humanas: colóquios, congressos, artigos e polemicas fazem parte do seu

cotidiano intelectual. Polêmica nas Ciências Sociais, principalmente com Émile

Durkheim, ao qual se opõe na definição e metodologia da Sociologia. Contrário a

este desenvolveu uma Sociologia a partir do comportamento e ações dos indivíduos,

abrindo caminho para a análise social da subjetividade, bem como das relações

entre emoção e sociedade.

A partir de 1896, foi conferencista na École Libre de Sciences Politiques e no

Collège Libre des Sciences Sociales, e em 1900 aceitou a regência da cátedra de

Filosofia Moderna no Collège de France onde permaneceu até a sua morte em 12

de maio de 1904. Os seus principais trabalhos, fora o conjunto de artigos publicados,

são: La Criminalité Comparée, (Félix Alcan, Paris, 1886), Les Lois de L'Imitation.

Etude Sociologique, (Félix Alcan, Paris, 1890), La Philosophie Pénale, (Storck, Lyon

et Masson, Paris, 1890), Les Transformations du Droit, Etude Sociologique, (Félix

Alcan, Paris, 1893), La Logique Sociale, (Félix Alcan, Paris, 1895), Essais et

Mélanges Sociologiques, (Ed. Maloine, 1895), L'Opposition Universelle, (Félix Alcan,

Paris, 1897), Les Lois Sociales, (Félix Alcan, Paris, 1898), Etudes de Psychologie

Sociale, (Giard et Brière, Paris, 1898), Les Transformations du Pouvoir, (Félix Alcan,

Paris, 1899), L'Opinion et la Foule, (Félix Alcan, Paris, 1901), e Psychologie

Economique, Félix Alcan, Paris, 1902.

Teve uma reduzida influência entre os cientistas sociais, na França, após sua

morte, se comparado, sobretudo a influência exercida por Durkheim. No Brasil, foi

27

Sociologia Aplicada à Administração

lido apenas como um suporte para o estudo da sociologia forense sem, contudo,

maiores influências para os cientistas sociais locais.

Nos Estados Unidos, entretanto, foi visto como um dos fundadores da

sociologia francesa, no mesmo nível de Durkheim, conforme a Introduction to the

Science of Sociology, de Robert Park e Ernest Burgess, principal manual de

sociologia desde país, entre os anos de 1920 a 1940. Gabriel Tarde exerceu grande

influência nos interacionistas da Escola de Chicago, tendo a categoria de Imitação

servido, segundo Antunes (2003, p. 10) para definir o conceito de atitude, nos

estudos de Thomas e Znaniecki (1918) sobre a migração e adaptação camponesa

da Polônia para os Estados Unidos, e, segundo Mattelart (1996, p. 317) os trabalhos

de Robert Park sobre os espaços de interação entre os mass media e a vida

democrática. Perdeu, contudo, importância com o advento da análise funcionalista

de Talcott Parsons, a partir dos anos de 1940, influenciou, também, vários

pensadores alemães, sobretudo, na contemporaneidade, Jürgen Habermas.

Atualmente, sua obra vem sendo revisitada internacionalmente e, desde a

década de noventa do século passado, vem sendo reeditada, principalmente, pela

nova tendência dos estudos sociais em resgatarem a subjetividade e as emoções

como elementos significativos para o entendimento da sociedade, bem como,

através dos esforços de pesquisas atuais no sentido de compreensão do processo

de formação do indivíduo e da individualidade contemporânea.

A Sociologia de Gabriel Tarde tem por alvo principal a compreensão da

relação entre os indivíduos e a sociedade através das relações interpsíquicas, isto é,

como espaço de subjetividade que se realiza, na sua forma comunicacional, pela e

através da troca intersubjetiva. Dá primazia aos indivíduos na relação social,

enquanto criação e formação de processos sociais sempre instáveis, produtos que

são das relações entre subjetividades que ao interagirem fundam espaços de

acomodação ou de resistências.

Ou seja, de processos sociais que vivem, a todo o momento, tensionados

pelas forças da conservação e da inovação. Na tentativa de ampliar as bases

compreensivas de seus estudos e pesquisas, enfatiza o jogo de três categorias, por

ele considerado como fundamentais e que administram todos os fenômenos sociais.

Estas categorias são as da repetição, da oposição e da adaptação (TARDE, 1898).

A categoria da oposição para Tarde equivale, exclusivamente, à figura sob a

qual uma diferença se distribui na repetição para limitar esta e abri-la a uma nova

28

Sociologia Aplicada à Administração

ordem ou a um novo infinito. Por exemplo, quando os homens se opõem no

processo interativo (TARDE, 1898, p. 136), parecem renunciar a um processo de

crescimento ou a um processo de multiplicação indefinidos para formar totalidades

limitadas, permitindo, assim, a constituição de infinitos de uma outra espécie, uma

repetição de outro caráter e formato que, se de um lado, adapta-se ou acomoda-se,

logo se volta contra ela mesma, em novas oposições, e assim sucessivamente

(TARDE, 1897 e 1898).

A adaptação é, pois, uma categoria sob a qual correntes de repetição se

cruzam e se integram numa repetição superior. Os processos repetitivos não se

desenrolam, por sua vez, sem uma resistência individual e coletiva. Tarde chega a

afirmar que são os inovadores em constante oposição à adaptação que inventam e

reinventam o social, a partir da resistência dos que se recusam a imitar ou adaptar-

se às formas pensadas como convencionais em um tempo e espaço determinado.

A repetição, que se estabelece ou acomoda-se através de um processo de

imitação, não se faz, deste modo, sem a resistência e sem a oposição (TARDE,

1897). Uma oposição sempre é seguida, por sua vez, por uma adaptação da

sociedade, dos grupos e dos indivíduos (TARDE, 1898). É esta adaptação que

permite uma estabilidade provisória que, por sua vez, será sempre desestabilizada

no processo de surgimento de uma nova diferença ou invenção, realizada pela

oposição e resistências ao já instituído, e assim por diante.

A invenção ou diferença para Tarde (1890), deste modo, aparece entre

repetições, e cada repetição supõe uma diferença de mesmo grau que ela. Isto é,

Tarde, segundo Delueze (1988, p. 137), vê "a imitação como a repetição de uma

invenção, a reprodução como repetição de uma variação, a irradiação como

repetição de uma perturbação, a somação como repetição de um diferencial...". A

sociedade, segundo Tarde, desta maneira, pode ser definida pelo processo de

imitação.

A invenção, para Tarde, contudo, não é uma ação simplesmente individual.

Afirma em um dos seus mais importantes textos, (1890, p. 86), que a invenção

"atravessa o indivíduo", o que significa dizer que as novas ações individuais não são

a demonstração exclusiva de uma subjetividade especial, pois a influência externa

está também presente enquanto expressão imitativa. Segundo Antunes (2003, p. 7),

então, as leis lógicas da imitação atuam quando uma inovação é considerada por

uma subjetividade individual como mais proveitosa ou adequada do que as demais.

29

Sociologia Aplicada à Administração

A categoria de intersubjetividade é pensada, deste modo, como uma

consequência do estabelecimento da subjetividade. A intersubjetividade é, para

Tarde (1901, p. 47), uma consequência da natureza sócio comunicativa dos

indivíduos. Os indivíduos, deste modo, são supra sociais, antes de social (TARDE,

1890, p. 111).

Marsden (2000, p. 54), por sua vez, afirma que Gabriel Tarde oscila entre a

análise de um individualismo subjetivo, propícia à ação da categoria da invenção, e

a comunicação intersubjetiva embora, acredite, que está oscilação seja mais

aparente do que real. Em Les Lois de l'imitation. Etude Sociologique, sua obra mais

conhecida, Tarde (1890) vai defender de forma mais explícita uma sociologia do

pluralismo das relações dinâmicas entre indivíduos e grupos sociais na formação

societária e condenar, ao mesmo tempo, as teorias organicistas e evolucionistas da

sociedade.

Vê nos processos de imitação e adaptação a característica constante do fato

social. A imitação está para ele, contudo, ligada ao processo de identificação, em

suas múltiplas e possíveis direções de propagação, que ocupam o vasto terreno que

vai das categorias de dominação a de controle e influência, por exemplo, mais

também até as categorias de resistência e de contra repetição.

A categoria da imitação é, para Tarde, a fonte da oposição e da inovação. A

invenção, ou a ação subjetiva individual ou relacional, deste modo, é vista por ele

em sua obra e, principalmente, nos estudos La Logique Sociale, (TARDE, 1895) e

Études de Psychologie Sociale, (TARDE, 1898a), como a adaptação social

elementar.

Elementar, por ser capaz de se espalhar e se fortificar em uma série circular

envolvendo as categorias de repetição, oposição e adaptação. O que a faz

sobrepujar a categoria de oposição, que é eliminada ou apaziguada pela sua própria

expansão, levando-a a alargar-se e reencontrar um dos seus caminhos de imitação

em uma nova invenção (TARDE, 1895).

É, desta forma, a repetição que existe para a diferença. Em L´Opposition

Universelle Tarde (1897, p. 445) afirma que nem a oposição e nem mesmo a

adaptação traduzem a representação da diferença em si mesma: como aquela

diferença que a nada se opõe e que de nada serve, ou como a diferença que se

estabelece como o fim das coisas.

30

Sociologia Aplicada à Administração

O processo de repetição, assim, ao aprofundar-se nesta concepção, se

localiza entre duas diferenças e executa um movimento de passagem constante de

uma ordem de diferença a outra. Ou seja, como tarde (1895a) informa nos Essais et

Mélanges Sociologique, da diferença externa à diferença interna, da diferença

elementar à diferença transcendente, da diferença infinitesimal à diferença pessoal e

monadológica. Portanto, a repetição ao ter por objetivo apenas ela mesma, pode ser

definida como o processo pelo qual a diferença não aumenta nem diminui, mas vai

se individualizando.

Para Deleuze (1988, p. 269) é inteiramente falso reduzir a Sociologia de

Gabriel Tarde a um psicologismo ou mesmo a uma psicologia social. O que Tarde

censura em Durkheim é o seu pressuposto de tomar como dado o que é preciso

explicar, a similaridade entre os indivíduos sociais. Combate, assim, a visão de uma

realidade sui generis e exterior aos indivíduos sociais, e coloca como alternativa a

dimensão teórica de que a sociedade é constituída pelas interações simples e

pequenas invenções de homens comuns, que interferem entre correntes imitativas,

adaptando-se, resistindo e reformulando a lógica social a cada novo com junto de

movimentos inter-relacionais (TARDE, 1897). A subjetividade e as emoções, deste

modo, são regatadas como elementos presentes e significantes dos indivíduos

sociais e das suas inter-relações com outros sujeitos sociais.

Tarde instaura, assim sendo, uma forma de olhar para o social, bastante

significativa para a análise das ciências sociais e, principalmente, para as análises

sociológicas e antropológicas: a análise das microssituações e das micro relações

sociais. Micro relações que não se estabelecem, necessariamente, apenas, entre

dois indivíduos, mas que já se encontram em processo de gestação criativa em um e

cada indivíduo social relacional de um tempo e espaço singular. O que amplia o

debate sobre o social para as relações constitutivas das relações entre emoção e

formas de sociabilidade, emergidas em cada singularidade histórica específica.

Através do método de microanálise e da subjetividade, tarde busca

compreender como se elabora continuamente a construção e a constituição do

social. Edificação realizada através das relações entre sujeitos singulares e suas

inter-relações, movidos por um processo dialético constante entre as categorias da

diferença e da repetição.

A elaboração teórica e metodológica de Gabriel Tarde, enfim, permite

entender o como e o porquê a repetição soma e integra pequenas variações para

31

Sociologia Aplicada à Administração

1. Caracterize as teorias sociológicas em suas essências.

resgatar, o que ele chama em La Logique Sociale (1895), de o diversamente

diferente. A releitura da obra de Tarde, deste modo, é fundamental para aqueles que

enveredam pela sociologia e antropologia da emoção, e procuram desvendar os

pressupostos lógicos das formas possíveis de sociabilidade e, especificamente, da

sociabilidade Ocidental.

Como as teorias sociológicas podem e devem ser trabalhadas dentro

da educação?

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Sociologia Aplicada à Administração

Fonte: http://constituindodh.blogspot.com.br/

UNIDADE 03

Vertentes Sociológicas

Voltadas para a

Construção Capitalista

33

Sociologia Aplicada à Administração

3. Vertentes Sociológicas Voltadas para a Construção Capitalista

3.1 Emile Durkeiem- Realismo Sociológico

Pai do realismo sociológico, Émile Durkheim, explica o social pelo social,

como realidade autônoma. Tratou em especial dos problemas morais (o papel que

desempenham, como se formam e se desenvolvem), concluindo que a moral

começa concomitantemente à vinculação com o grupo.

Durkheim considerava a educação como imagem e reflexo da sociedade,

como um fato fundamentalmente social.

Algumas ideias de Durkheim:

A primeira e mais fundamental regra é considerar os fatos sociais como

coisas. A sociedade se comparava a um animal: possui um sistema de órgãos

diferentes onde cada um desempenha um papel específico. Alguns órgãos

seriam naturalmente mais privilegiados do que outros. Esse privilégio, por ser

natural, representaria um fenômeno normal, como em todo organismo vivo

onde predomina a lei da sobrevivência dos mais aptos e a luta pela vida;

O homem nasce egoísta e só a sociedade, por meio da educação, pode

torná-lo solidário. A educação é ação exercida pelas gerações adultas sobre

as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida social;

Fonte: http://desciclopedia.org/wiki/%C3%89mile_Durkheim

34

Sociologia Aplicada à Administração

A educação é um esforço contínuo para preparar as crianças para a vida em

comum. Daí a necessidade de impor às crianças maneiras adequadas de ver,

sentir e agir, às quais elas não chegariam espontaneamente;

Os fins da educação devem ser determinados pela sociologia. Pedagogia e

educação não representam mais do que um anexo da sociedade e da

sociologia, portanto, deveriam existir sem autonomia;

Por meio da educação deve-se suscitar e desenvolver na criança certo

número de estados físicos, intelectuais e morais, exigidos pela sociedade

política no conjunto e pelo meio espacial a que ela particularmente se destina.

Diferente de outros estudiosos que buscavam em outras ciências explicações

para os fatos sociais, Durkheim vai tratar essas questões dentro do próprio social:

Pouco se preocuparam até hoje os sociólogos em caracterizar e definir o método que aplicam aos estudos dos fatos sociais. É assim que, em toda a obra de Spencer, o problema metodológico não ocupa nenhum lugar pois a Introduction à la science sociale, cujo título podia dar essa ilusão, está consagrada à demonstração das dificuldades e da possibilidade da Sociologia, e não a exposição dos processos de que ela se deve servir. (DURKHEIM, 1982).

Foi estabelecendo um método que fosse próprio dessa nova vertente do

conhecimento que Durkheim tentou colocar a Sociologia no rol das ciências

empíricas e objetivas. Para tanto, ele buscou no livro “As Regras do Método

Sociológico” situar as regras para se estudar os fatos sociais e as principais,

resumidamente, são as seguintes:

1. Deve o pesquisador observar os fatos sociais como coisas e, nesse

caso, como coisas sociais. Ou seja, é preciso adotar uma atitude

mental, observando o fato de fora para dentro;

2. Afastar-se de todas as pré-noções; Segundo Durkheim era necessário

trabalhar o fato social em si, afastando todas as ideias pré-

estabelecidas acerca do fenômeno a ser investigado.

3. Definir claramente as coisas de que se quer tratar;

4. Estudar os fatos sociais através de suas formas nas quais se

apresentam, isolados de suas manifestações individuais. Ou seja, é

preciso considerar os fatos sociais em seus aspectos mais gerais e

comuns, não em suas formas individuais;

5. Entender que um fato social é normal para um determinado tipo social,

considerado numa fase determinada de seu desenvolvimento, quando

35

Sociologia Aplicada à Administração

ele se produz na média das sociedades dessa espécie, considerada na

fase correspondente de sua evolução;

6. Mostrar que a generalidade do fenômeno se deve às condições gerais

da vida coletiva, no tipo social considerado;

7. Fazer a verificação quando esse fato se relaciona a uma espécie social

que ainda não consumou a sua evolução integral;

8. Pesquisar separadamente a causa eficiente que o produz e a função

social que ele cumpre;

9. A causa determinante de um fato social deve ser buscada entre os fatos

sociais antecedentes e não entre os estados das consciências

individuais;

10. A origem primeira de todo processo social de alguma importância deve

ser buscada na constituição do meio social (volume + densidade:

número de indivíduos e intensidade das interações entre eles).

Fonte: Texto disponível em: https://www.passeidireto.com/arquivo/18602012/o-lugar-da-

psicologia-na-sociologia-de-drkaim

Buscando a reflexão de uma Sociologia imposta no campo das ciências

positivas e suas possibilidades no plano epistemológico, a Escola Sociológica

Francesa, criada pelo teórico Émile Durkheim, vai centralizar seus esforços na

discussão com as ciências que buscavam formas de compreensão, tomando como

ponto de partida o homem e o aplicando ao conhecimento do reino social. Tais

ciências buscavam a parte para compreender o todo, e para tanto, usavam a

Psicologia, por exemplo, para analisar o homem como membro da sociedade.

Para superar o discurso filosófico de que o particular explicava o universal,

era necessário que a Sociologia estabelecesse fundamentos que dotassem de

realidade os fenômenos sociais. Era preciso que a vida coletiva fosse caracterizada

por uma realidade particular e independente.

Assim, foi delineando esse trajeto que Durkheim observou que o fenômeno

social possuía características que o respaldava na condição de um acontecimento

distinto de outros. O caso, por exemplo, dos fatos sociais serem exteriores e

anteriores as consciências individuais, além de exercerem sobre o indivíduo uma

coerção, coloca esses fenômenos como uma força independente do homem

enquanto ser individual. Nessa perspectiva, Durkheim tratou de colocar a sociedade

como ponto de partida, historicamente anterior e superior ao indivíduo, para se

explicar o social.

36

Sociologia Aplicada à Administração

Com efeito, para Durkheim, a garantia de uma sociedade harmônica, repousa

na existência de algo que é comum a todos os indivíduos, por exemplo, uma

linguagem, um sistema de crenças, leis etc. Ou seja, são essas condições comuns e

impostas a todos os indivíduos que garantem a manutenção da sociedade e fazem

com que eles possam conviver harmoniosamente. O indivíduo, em Durkheim, passa,

então, a depender da sociedade da qual absorve valores morais que conduzem sua

convivência nesse universo social.

3.2 Georg Simmel- Formalismo Sociólogo

Georg Simmel foi um sociólogo alemão. Professor universitário admirado

pelos seus alunos, sempre teve dificuldade em encontrar um lugar no seio da rígida

academia do seu tempo. Filho de Edward Simmel e Flora Bodstein, Georg Simmel

foi o último dos sete filhos do casal com ascendência judia tanto pelo lado do pai

como da mãe. Apesar disso, a mãe tinha sido batizada luterana, assim como Georg.

Em 1874 Edward Simmel, dono de uma fábrica de chocolate morre, deixando

uma grande fortuna como herança. Julius Friedländer, amigo da família e também

dono de respeitável fortuna adquirida no ramo da música, torna-se tutor de Georg

tendo-lhe, mais tarde, deixado uma herança expressiva a qual lhe permitiu seguir a

vida acadêmica.

Fonte: http://tdcsek.blogspot.com.br/20

10/06/georg-simmel.html

37

Sociologia Aplicada à Administração

Diplomou-se na Universidade de Berlim passando pelos cursos de filosofia.

Sua tese de doutorado, também em filosofia, levou o título de A natureza da matéria

segundo a monadologia física de Kant e rendeu-lhe o título no ano de 1881.

Em 1885 foi designado como Privatdozent na mesma Universidade de Berlim

e ganhava apenas o que vinha das taxas pagas pelos estudantes que se inscreviam

em seus cursos. Em 1901, tornou-se ainda "professor extraordinário", mas jamais foi

incorporado de modo formal e definitivo na academia berlinense.Em 1890 casou-se

com Gertrud Kinel, diplomada também em Berlim, de família católica. Os dois não

tiveram filhos.

Em 1912, ele foi nomeado professor em Estrasburgo, então uma cidade que

pertencia ao Império Germânico. No entanto, o autor morreu em 1918, aos 60 anos

de idade. Muito antes do grande tratado sociológico de Max Weber - Economia e

Sociedade -, a Alemanha já conhecia o desenvolvimento consistente de uma

discussão epistemológica voltada para a determinação do objeto, métodos e temas

da ciência sociológica: reunindo diversos escritos produzidos em momentos

anteriores, Georg Simmel apresentou sua "Soziologie" em 10 capítulos (e diversos

outros excursos) no ano de 1908 e contribuiu decisivamente para a consolidação

desta ciência na Alemanha.

Nesta obra, ele trata especificamente da sociologia (Capítulo 1 - O problema

da sociologia) e aprofunda a análise das formas de sociação (objeto da sociologia),

como a dominação (capítulo 3), o conflito (capítulo 4), o segredo (capítulo 5), os

círculos sociais (capítulo 6) e a pobreza (capítulo 7). Ao mesmo tempo, reflete sobre

os determinantes quantitativos da vida social (capítulo 2), bem como sobre a relação

entre a vida grupal e a individualidade (capítulo 10).

Simmel desenvolveu a sociologia formal, ou das formas sociais, influenciado

pela filosofia kantiana (o neokantismo era uma corrente muito forte na Alemanha da

época) que distinguia a forma do conteúdo dos objetos de estudo

do conhecimento humano. Tal distinção pretendia tornar possível o entendimento da

vida social já que no processo de associação (Vergesellschaftung, termo que

cunhou para o estudo da sociologia) o invariante eram as formas em que os

indivíduos se agregavam e não os indivíduos em si.

Os processos qualitativos, no entanto, que assumiam tais formas também

deveriam ser estudados pela sociologia geral, subproduto da formal, como a

concebia Simmel. O autor não conferia aos grupos sociais unidades hipostasiadas,

38

Sociologia Aplicada à Administração

supervalorizadas com relação ao indivíduo (um distanciamento seu com relação a

Durkheim, por exemplo). Antes via neste o fundamento dos grupos, daí que as

formas para Simmel constituem-se em um processo de interação entre tais

indivíduos, seja por aproximação, seja pelo distanciamento, competição,

subordinação, etc.

As principais formas de socialização estudadas por Simmel em sua obra são:

A determinação quantitativa do grupo: investigação entre o número de

indivíduos no seio das formas de vida coletiva, ou seja, o modo como o

aspecto quantitativo afeta o tipo de relação social existente. Neste tópico,

Simmel mostrou que estar isolado, em uma relação exclusiva entre duas

pessoas e, por fim, entre três, produz diferentes tipos de interação entre as

pessoas.

Dominação e subordinação: as relações de poder não são unilaterais e é

preciso explicar como as formas de comando e obediência estão

relacionadas. Dentre os tipos de relação de poder, Simmel destacou a

obediência do grupo a um indivíduo, a dominação do grupo ou a dominação

de regras impessoais.

O conflito: os indivíduos vivem em relações de cooperação, mas também de

oposição, portanto, conflitos são parte mesma da constituição da sociedade.

Seriam momentos de crise, um intervalo entre dois momentos de harmonia,

vistos, portanto, numa função positiva de superação das divergências.

Influenciou assim as concepções do conflito presentes na obra de Lewys

Coser eRalf Dahrendorf.

Pobreza: constitui um tipo de relação na qual o indivíduo acha-se na

dependência de outros, provocando, ao mesmo tempo, a necessidade de

assegurar o socorro social.

A individualidade: ela pode ser de dois tipos. Sua forma quantitativa significa

que todo indivíduo possui a mesma dignidade formal, ou seja, são iguais

entre si. Mas, do ponto de vista qualitativo, todos procuram afirmar sua

singularidade, sua personalidade, diferenciando-se dos demais.

Assim, apesar do seu caráter fragmentado, o livro "Sociologia" lançou as

bases da orientação hermenêutica de sociologia (depois retomada e aprofundada

por Max Weber), bem como explorou importantes temáticas da análise sociológica,

como a questão do indivíduo e dos grupos sociais. Muitos entendem que sua

39

Sociologia Aplicada à Administração

abordagem foi vital para o desenvolvimento do que ficou conhecido como

microssociologia, uma análise dos fenômenos no nível das interações diretas entre

as pessoas.

3.3 Leopold Von Wiese- Sociologia das Relações Sociais

A obra de Wiese caracteriza-se pela preocupação em desenvolver a

sociologia como disciplina científica autônoma, com objeto e método próprios que a

diferenciem das outras ciências, especialmente das que também se dedicam ao

estudo do homem. A construção do objeto da ciência social é levada a cabo, por

Wiese, por meio de um processo de abstração: os fatos sociais estudados

conjuntamente por disciplinas como o direito, a economia política e a história são

separados de seu sentido e finalidade, passando a ser considerados, simplesmente,

como fenômenos de associação (aproximação) e dissociação (afastamento) entre os

indivíduos.

O objeto da sociologia é constituído, para Wiese, não pelos fatores de ordem

biológica, psicológica e política que impulsionam os indivíduos na vida em

sociedade, mas, sim, pelas diversas situações de distância que se estabelecem

entre eles como decorrência da atuação destes fatores, e pelo modo como se

desenvolvem os processos de aproximação e afastamento que levam à modificação

de tais situações de distância.

Fonte: http://www.lexikon-der-wehrmacht .de/Personenregister/

S/SteinbatzL.htm

40

Sociologia Aplicada à Administração

No que diz respeito ao método, Wiese opta por iniciar seus estudos pelo

indivíduo, entendido como "Eu social" (soziale Ich), isto é, como ser que interage

com o meio social - ao contrário do "Eu pessoal" (persönliche Ich), que é inato,

imutável e insondável. A razão para que o indivíduo constitua o ponto de partida da

ciência social está em que, para Wiese, o comportamento e as intenções dos seres

humanos individuais são mais facilmente inteligíveis do que os dos grupos. São de

salientar-se, ainda, com relação ao método, a preferência pelo estudo dos

fenômenos presentes, em detrimento dos passados, e, principalmente, o cuidado em

afastar da sociologia todo e qualquer juízo valorativo, com o propósito de conferir-lhe

caráter meramente descritivo.

A sociologia de Wiese tem, pois, um cunho eminentemente formalista, não

apenas por privilegiar, em seu objeto, a forma das relações sociais sobre o seu

conteúdo, mas também em razão de seu objetivismo metodológico. O sistema

sociológico wieseniano é baseado nas categorias abstratas do processo, relação,

distância e, por último, contato social.

A ciência social ocupa-se, para Wiese, como já observamos, de processos de

associação e dissociação entre indivíduos, indivíduos e grupos ou de grupos entre

si, embora estes últimos sempre possam ser desdobrados em processos da primeira

espécie. Os processos sociais são onipresentes e ininterruptos, constituindo, em

Wiese, o substrato da vida social.

Os indivíduos estão constantemente envolvidos em uma infinidade de

processos sociais que os levam a aproximar-se ou afastar-se de seus semelhantes,

modificando situações de distância anteriormente existentes. As relações sociais,

por sua vez, não correspondem a outra coisa senão a estas situações de maior ou

menor distância entre os sujeitos, tomadas em um dado momento do

desenvolvimento de processos de associação e dissociação. São o resultado de

processos sociais em determinado instante.

A intensidade das relações é, pois, determinada pela distância existente entre

as pessoas. O conceito de distância social, em Wiese, é multifacetado, sendo

inúmeros os fatores que conduzem à aproximação e ao afastamento entre os

homens - a linguagem, o sexo, a idade, a classe social, os hábitos etc. - e diversos,

também, os pontos de vista sob os quais esta distância pode ser medida. Entre um

grupo de indivíduos que obedece certas regras de etiqueta, por exemplo, pode-se

identificar a proximidade decorrente do convívio, que é facilitado por tais regras, e,

41

Sociologia Aplicada à Administração

ao mesmo tempo, o distanciamento imposto pela preservação da intimidade,

também imposta pela etiqueta.

A exemplo das demais categorias da sociologia wieseniana, a noção de

contato social é de caráter formal; seu conteúdo e a finalidade com que são

estabelecidos não são, em princípio, objeto da investigação sociológica.

A categoria do contato social é ampla, e compreende contatos físicos,

psíquicos e físico-psíquicos. São fenômenos de curta duração, que não constituem

processos sociais de associação e dissociação, mas que podem, todavia,

desencadeá-los, dando origem a novas relações sociais. Os contatos sociais

provocam, também, modificações e até a eliminação de relações já existentes.

A principal classificação dos contatos sociais é a que os divide em primários e

secundários. Aqueles são contatos próximos, imediatos, estabelecidos através do

tato, da visão frente à frente, da fala ou até do olfato, ao passo que estes últimos são

contatos que se produzem a maiores distâncias. Os contatos secundários podem ser

mantidos com o auxílio de meios de comunicação a distância - telefone, carta, rádio

etc. – ou consistir, simplesmente, no pensar em outra pessoa, no desejar sua

presença etc. Estes últimos contatos, vividos apenas internamente, também são

classificados por Wiese como contatos unilaterais.

A categoria do contato social não está entre as mais importantes para a teoria

de Wiese, que se interessa, antes de tudo, pelos processos de associação e

dissociação entre indivíduos e grupos e pelas relações sociais decorrentes de tais

processos. A noção de contato social é, em comparação a estas outras categorias,

uma noção ainda mais geral e abstrata, já que são caracterizados como contatos

sociais tanto aqueles contatos que resultam no aparecimento de processos sociais

(um encontro entre pai e filho, por exemplo) como aqueles que desaparecem sem

deixar vestígios (o contato, que pode ser meramente visual, entre dois

desconhecidos que viajam juntos no mesmo ônibus e que nunca mais voltam a se

encontrar). Embora também possa ser entendida como o resultado de infinitos

contatos sociais, não é sob esta perspectiva, mas, sim, sob a perspectiva dinâmica

dos processos de aproximação e afastamento que a vida em sociedade é tomada

por Wiese como objeto da ciência social.

42

Sociologia Aplicada à Administração

3.4 Vilfredo Pareto - Mecanismo sociológico

Na sociologia, Pareto contribuiu para a elevação desta disciplina ao estatuto

de ciência. Sua recusa em atribuir um caráter utilitário à ciência, mas antes apontar

para sua busca pela verdade independentemente de sua utilidade, o faz distinguir

como objeto da sociologia as ações não lógicas diferentemente do objeto da

economia como sendo as ações lógicas.

A utilidade é o objeto das ações, enquanto que o da ciência é a verdade ao

que Pareto se propõe a estudar de forma lógica ações não lógicas, que, segundo

ele, são as mais comuns entre os seres humanos. O homem para Vilfredo Pareto

não é um ser racional, mas um ser que raciocina tão somente. Frequentemente este

homem tenta atribuir justificativas pretensamente lógicas para suas ações ilógicas

deixando-se levar pelos sentimentos.

A relação entre ciência e ação para Pareto se dá diretamente com as ações

lógicas, uma vez que estas, ao se definirem pela coincidência entre a relação

objetiva e subjetiva entre meios e fins (tal relação é verdadeira tanto objetivamente,

constatada pelos fatos, quanto subjetivamente, presente na consciência humana,

que conhece os fatos), está pautada pelo conhecimento das regularidades entre

uma causa X e um efeito Y. No entanto, a ciência é limitada, ela conhece parte dos

fatos e está em constante desenvolvimento, por isso, as ações baseadas nos

conhecimentos produzidos por ela serem raras sendo mais frequentes as ações não

Fonte: http://picshype.com/glencoe-biology-workbookanswers

43

Sociologia Aplicada à Administração

lógicas, que não conhecem a verdade dos fatos, mas que são baseadas nas

intuições e emoções dos indivíduos e grupos.

Há, mesmo assim, probabilidades de sucesso nestas ações: aqueles que

agem motivados por um ideal podem produzir efeitos objetivos na realidade, ainda

que no curso de sua ação tenham que modificá-la para adaptá-la às circunstâncias

até então desconhecidas.

É preciso, no entanto, ressaltar que a ciência não pode resolver os problemas

impostos pela ação. Aquela não pode indicar quais os melhores fins para esta, pode

somente indicar os meios mais eficazes para atingi-los uma vez escolhidos. A

ciência, portanto, não se propõe a efetuar juízos de valor a respeito das ações

individuais ou da organização social, não poderá solucionar seus problemas. Poderá

sim criticá-los enquanto não lógicos, ou seja, pautados numa relação falsa, não

objetiva, entre meios e fins.

3.5 Max Weber - Sociologia Compreensiva

Em 1913, Weber publicou um escrito intitulado "Sobre algumas categorias da

sociologia compreensiva", primeiro esboço de seu método sociológico. Ele continuou

a trabalhar sua visão de sociologia durante os próximos anos em escrito

encomendado para uma ampla coleção de textos econômicos e que, por esta razão,

recebeu o nome de "Economia e Sociedade". Weber trabalhou neste volume até o

Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/Max_Weber

44

Sociologia Aplicada à Administração

final de sua vida, mas ele só foi publicado postumamente por sua esposa, Marianne

Weber. A versão mais conhecida deste volume póstumo e a quarta edição,

organizada por Johannes Winckelmann, em 1956.

No primeiro capítulo desta obra, aparece como conceito fundante da teoria

sociológica de Weber a categoria ação, considerado por ele o objeto da sociologia. A

ação é um comportamento humano ao qual os indivíduos vinculam um significado

subjetivo e a ação é social quando está relacionada com outro indivíduo. A análise

da teoria weberiana como ciência tem como ponto de partida a distinção entre

quatro tipos de ação social:

A ação racional com relação a um objetivo é determinada por expectativas

no comportamento tanto de objetos do mundo exterior como de outros

homens e utiliza essas expectativas como condições ou meios para alcance

de fins próprios racionalmente avaliados e perseguidos. É uma ação concreta

que tem um fim especifico, por exemplo: o engenheiro que constrói uma

ponte.

A ação racional com relação a um valor é aquela definida pela crença

consciente no valor - interpretável como ético, estético, religioso ou qualquer

outra forma - absoluto de uma determinada conduta. O ator age

racionalmente aceitando todos os riscos, não para obter um resultado

exterior, mas para permanecer fiel a sua honra, qual seja, à sua crença

consciente no valor, por exemplo, um capitão que afunda com o seu navio.

A ação afetiva é aquela ditada pelo estado de consciência ou humor do

sujeito, é definida por uma reação emocional do ator em determinadas

circunstâncias e não em relação a um objetivo ou a um sistema de valor, por

exemplo, a mãe quando bate em seu filho por se comportar mal.

A ação tradicional é aquela ditada pelos hábitos, costumes, crenças

transformadas numa segunda natureza, para agir conforme a tradição o ator

não precisa conceber um objeto, ou um valor nem ser impelido por uma

emoção, obedece a reflexos adquiridos pela prática.

Na ótica weberiana, a sociologia é essencialmente hermenêutica, ou seja, ela

está em busca do significado e dos motivos últimos que os próprios indivíduos

atribuem as suas ações: é neste sentido que a sociologia é sempre "compreensiva"

(verstehen).

45

Sociologia Aplicada à Administração

O principal objetivo de Weber é compreender o sentido que cada pessoa dá a

sua conduta e perceber assim a sua estrutura inteligível e não a análise das

instituições sociais como propunha Durkheim. A análise weberiana propõe que se

deve compreender, interpretar e explicar respectivamente, o significado, a

organização e o sentido, bem como evidenciar regularidade das condutas. Cabe a

sociologia entender como acontecem e se estabilizam as relações sociais, os grupos

organizados e as estruturas coletivas da vida social.

Com este pensamento, não possuía a ideia de negar a existência ou a

importância dos fenômenos sociais globais, dando importância à necessidade de

entender as intenções e motivações dos indivíduos que vivenciam essas situações

sociais. Ou seja, a sua ideia é que a sociedade como totalidade social é o resultado

das formas de relação entre seus sujeitos constituintes. Tomando como ponto de

partida da compreensão da vida social o papel do sujeito, a teoria de Max Weber é

denominada individualismo metodológico.

Sociologia Econômica

Durante a maior parte de sua vida acadêmica, Max Weber foi docente de

disciplinas da área econômica. Aliás, seu último livro, um conjunto de notas de aula

publicados por seus alunos, chama-se justamente História Geral da Economia.

Desta forma, não é surpresa que Weber elabore uma sofisticada abordagem

sociológica da vida econômica. Por esta razão, há até teóricos que defendem que,

em última instância, toda obra de Weber não passa de uma teoria econômica, qual

seja, uma visão sócio histórica da vida aquisitiva.

Na sua primeira fase, seguindo a tradição marxista, Weber tendia a ver o

capitalismo como um fenômeno especificamente moderno. Já em sua " Ética

Protestante" (de 1904), apesar de colocar em relevo os fatores culturais da gênese

da conduta capitalista, era esta visão que predominava. Mas, nas décadas

seguintes, ele romperá com estas noções. Em primeiro lugar, ele insere o

capitalismo (na sua fase "moderna") em um amplo processo de racionalização da

cultura e da sociedade. Ou seja, enquanto fenômeno social, o capitalismo é uma das

expressões da vida racionalizada da modernidade Ocidental e é similar, em sua

forma racional, ao campo da política, do direito, da ciência, etc.

46

Sociologia Aplicada à Administração

Outra mudança importante é que Weber rompe com a definição marxista de

que o capitalismo é um fenômeno exclusivo da era moderna: daí a expressão

capitalismo "moderno". Para Weber, o capitalismo é um fenômeno que atravessa a

história, pois a busca do lucro já pode ser localizada nas sociedades primitivas e

antigas, nas grandes civilizações e mesmo na sociedade não-ocidentais. O núcleo

estruturante da atividade capitalista é a ''empresa'', pois a separação da esfera

individual da esfera impessoal da produção permite a racionalização da organização

do trabalho e mesmo das atividades de gestão destas organizações.

Com base nestas premissas, Weber construiu diferentes tipos ideais de

capitalismo, como a capitalismo aventureiro, o capitalismo de Estado, o capitalismo

mercantil, capitalismo comercial, etc.

As principais análises de Weber sobre o campo econômico podem ser

encontradas no segundo capítulo de Economia e Sociedade, tópico em que ele

discute a ordem social econômica. Ali ele destaca que o processo de racionalização

da atividade econômica também envolve a passagem de uma racionalidade material

- na qual a vida econômica está submetida a valores de ordem ética ou política -

para uma racionalidade formal, ou seja, na qual a lógica impessoal das atividades

econômicase e lucrativas se torna predominante.

Por estas razões, Max Weber é considerado, atualmente, um dos precursores

da sociologia econômica, conjunto de autores que se recusa a entender a vida

econômica como relacionada apenas com o mercado, concebido de forma abstrata,

separado de suas condições históricas, culturais e sociais.

Sociologia Política

Max Weber desenvolveu um importante trabalho de sociologia política através

da sua teoria dos tipos de dominação. Dominação é a possibilidade de um

determinado grupo se submeter a um determinado mandato. Isso pode acontecer

por motivos diversos, como costumes e tradição. Weber define três tipos de

dominação que se distinguem pelo caráter da dominação (pessoal ou impessoal) e,

principalmente, pela diferença nos fundamentos da legitimidade. São elas: legal,

tradicional e carismática.

Dominação legal: a obediência está fundamentada na vigência e aceitação da

validade intrínseca das normas e seu quadro administrativo é mais bem

47

Sociologia Aplicada à Administração

representado pela burocracia. A ideia principal da dominação legal é que deve existir

um estatuto que pode ou criar ou modificar normas, desde que esse processo seja

legal e de forma previamente estabelecido. Nessa forma de dominação, o dominado

obedece à regra, e não à pessoa em si, independente do pessoal, ele obedece ao

dominante que possui tal autoridade devido a uma regra que lhe deu legitimidade

para ocupar este posto, ou seja, ele só pode exercer a dominação dentro dos limites

pré-estabelecidos.

Assim o poder é totalmente impessoal, onde se obedece à regra estatuída e

não à administração pessoal. Como exemplo do uso da dominação legal podemos

citar o Estado Moderno, o município, uma empresa capitalista privada e qualquer

outra organização em que haja uma hierarquia organizada e regulamentada. A

forma mais pura de dominação legal é a burocracia.

Dominação tradicional: Se dá pela crença na santidade de quem dá a ordem

e de suas ordenações, sua ordem mais pura se dá pela autoridade patriarcal onde o

senhor ordena e os súditos obedecem e na forma administrativa isso se dá pela

forma dos servidores.

O ordenamento é fixado pela tradição e sua violação seria um afronto à

legitimidade da autoridade. Os servidores são totalmente dependentes do senhor e

ganham seus cargos seja por privilégios ou concessões feitas pelo senhor, não há

um estatuto e o senhor pode agir com livre arbítrio.

A tipologia weberiana das formas de poder político diferente claramente da

tradição clássica, orientada pela discussão da teoria das formas de governo, oriunda

Dominação carismática: nesta forma de dominação os

dominados obedecem a um senhor em virtude do

seu carisma, ou seja, das qualidades excepcionais que lhe

conferem especial poder de mando. A palavra carisma é de

inspiração religiosa e, no contexto cristão, lembra os dons

conferidos pelo Espírito Santo aos cristãos. A palavra foi

reinterpretada em sentido sociológico como dons e carismas

do próprio indivíduo e, foi nesta forma que Weber a adotou.

Weber considerou o carisma uma força revolucionária na

história, pois ele tinha o poder de romper as formas normais

de exercício do poder. Por outro lado, a confiança dos

dominados no carisma do líder é volúvel e esta forma de

dominação tende para a via tradicional ou legal.

48

Sociologia Aplicada à Administração

do mundo antigo (Platão e Aristóteles). Filiado à tradição realista de pensamento,

Weber também rejeita os pressupostos normativos e éticos da teoria do poder e

procura descrevê-lo em suas formas efetivas de exercício. Ao demonstrar que o

exercício do poder envolve a necessidade de legitimação da ordem política e, ao

mesmo tempo, sua institucionalização por meio de um quadro administrativo, Weber

apresentou os fundamentos básicos da sociologia política da era contemporânea.

Além de uma rigorosa e sistemática sociologia política - alicerçada em seus

tipos de dominação - Max Weber foi um dos mais argutos analistas da política

alemã, que analisou durante o Segundo Império Alemão e durante os anos iniciais

da República de Weimar. Crítico da política de Bismarck, líder que, ao monopolizar o

poder, deixou a nação sem qualquer nível de sofisticação política, Weber sempre

apontou a necessidade de reconstrução da liderança política. No escrito O Estado

Nacional e a Política Econômica, de 1895, já mostrava como as diferentes classes

sociais não se mostravam apta a dirigir a nação, seja pela sua decadência social

(caso dos Junkers), seja pela sua imaturidade política (caso da burguesia e do

proletariado).

Sociologia da Estratificação Social

Estratificação social é a área da sociologia que se ocupa da pesquisa sobre a

posição dos indivíduos na sociedade e explicitação dos mecanismos que geram as

distinções sociais entre os indivíduos. Ao contrário de Marx, que explicava estas

diferenças apenas com base em fatores econômicos, Weber mostrou que as

hierarquias e distinções sociais obedecem à lógicas diferentes na esfera econômica,

social e política. Sob o aspecto econômico as classes sociais são diferenciadas

conforme as chances de oportunidades de vida, escalonando os indivíduos em

grupos positiva ou negativamente privilegiados.

Do ponto de vista social, indivíduos e agrupamentos sociais são valorizados

conforme atributos de valor, dando origens a diversos tipos de grupos de status.

Diferente também é a lógica do poder, em que os indivíduos agregam-se em

diferentes partidos políticos. A análise weberiana demonstra que existem diferentes

mecanismos sociais de distribuição dos bens sociais, como a riqueza (classe), a

honra ou prestígio social (grupos de status) e o poder (partidos) e que cada um

deles cria diferentes tipos de ordenamento, hierarquização e diferenciação social.

49

Sociologia Aplicada à Administração

Sociologia do Direito Jurista de formação

A análise da esfera jurídica não ficou de fora das preocupações de Max

Weber. Ele dedicou um amplo capítulo de Economia e Sociedade a este tema. O

pano de fundo de toda sua reflexão sobre a esfera das normas jurídicas é a tese da

racionalização da vida social, da qual o próprio direito é uma das expressões. Ao

compreender historicamente a evolução do direito, Weber destaca o crescente

processo de racionalização que lhe é inerente.

A racionalização do direito pode ser compreendida a partir de duas variáveis:

seu caráter material ou formal ou seu caráter racional e irracional. São racionais

todas as formas de legislação que seguem padrões fixos, ao contrário do caráter

aleatório dos métodos irracionais. Por outro lado, o conteúdo do direito pode ser

determinado por valores concretos, especialmente de caráter ético, ou obedecer a

critérios de ordem interna, ligados a sistemática e ao processo jurídico em si mesmo,

ou seja, a sua forma.

A apreciação weberiana do setor jurídico da vida social não se dedica apenas

a entender esta esfera de forma isolada. O direito possui uma ligação direta tanto

com a ordem política quanto com a ordem econômica. A evolução do direito formal é

um aspecto essencial do progressivo processo de burocratização do Estado, bem

como a estabilidade das normas jurídicas foi fundamental para a consolidação de

uma economia de mercado, pois esta requer uma ordem de obrigações previsível.

Direito, economia e política são ordens sociais de vida que estão conectados e

entrelaçados de forma direta.

Como teórico da evolução sócio histórica do direito, Weber é um dos

precursores do chamado direito positivista, pois ele concebia o direito formal como a

forma mais avançada historicamente do sistema jurídico. Desta forma, Max Weber

está na raiz de importantes teóricos como o próprio Hans Kelsen, por exemplo,

considerado o maior teórico do positivismo jurídico.

50

Sociologia Aplicada à Administração

1. Faça um breve resumo sobre os alunos mencionados acima, enfatizando sua

concepção e importância sobre a sociologia da educação.

De que modo as vertentes sociológicas se relacionam com o

capitalismo?

51

Sociologia Aplicada à Administração

UNIDADE 04

Estratificação Social

Fonte: http://nucleoeducar.com.br/principal/?page_id=40

52

Sociologia Aplicada à Administração

4. Estratificação Social

A exemplo da estrutura de classe, segundo Charon (2001), sexo e raça

constituem também estruturas sociais. Ser homem ou mulher, branco ou não

branco, situa a pessoa em posições sociais diferentes, portanto, com expectativas

de papel, poder, prestígio, privilégios, identidade e perspectivas atribuídas por

aquelas posições. Mesmo que injustas, estas estruturas estão imersas na história e

não mudam de uma hora para a outra. Considere os fatos históricos de nossa

sociedade: como a mulher brasileira conquistou o direito de votar apenas nas

eleições de 1932 e como foi o negro escravizado no Brasil por mais de 300 anos;

tais fatos, seguramente, ainda refletem na situação das mulheres e dos negros em

nossa sociedade atual. Classe, sexo e raça são estruturas sociais especiais. Nelas o

indivíduo tem lugar determinado pela biologia ou pela família ao nascer. Além disso,

a família, a escola, a igreja e a mídia, entre outras organizações, incumbem-se de

ensinar aos indivíduos o seu lugar na sociedade, perpetuando assim aquela posição

com seus respectivos padrões ou papeis sociais.

Tais estruturas, por serem relativamente permanentes, constituem o

fenômeno da estratificação social, ou seja, um conjunto de posições relativamente

fixas na estrutura social constituindo como que uma camada ou um estrato que

influencia as posições sociais da pessoa nas estruturas de outras organizações

sociais. Assim é que, por exemplo, na empresa há posições masculinas e femininas.

A função de gerência é masculina enquanto a de secretária é feminina. Outro

exemplo do peso destas estruturas sociais especiais (classe, sexo e raça) no

posicionamento da pessoa em outras organizações sociais foi o frenesi ou o impacto

causado com o ineditismo das eleições de um operário (Lula) e de uma mulher

(Dilma Rousseff) para a presidência do Brasil e de um negro (Obama) para a

presidência dos Estados Unidos.

O impacto sensacional se deu exatamente porque o perfil das pessoas

eleitas: pobre, mulher e negro rompia o padrão tradicional segundo o qual a

estrutura de classe, sexo e raça condiciona a colocação das pessoas nas outras

organizações sociais.

Vila Nova (2004) define estratificação social como a localização hierárquica

dos indivíduos em setores relativamente homogêneos da população conforme sua

53

Sociologia Aplicada à Administração

participação na distribuição desigual na riqueza, no prestígio e no poder, o que

define um perfil comum no que se refere aos interesses, ao estilo e às oportunidades

de vida. Assim, estratificação social constitui um tipo especial de desigualdade

social, próprio daquelas sociedades complexas onde existe um excedente de

produção que vai sendo apropriado de modo desigual pelas pessoas, o que vai

mantendo e reforçando suas diferentes posições na hierarquia social com seus

respectivos estilos de vida. Vila Nova (2004) fala dos três sistemas clássicos de

estratificação social e de como eles se mantém graças às crenças, valores e normas

que os justificam e regulamentam: a estratificação em classes como ocorre em

nossa sociedade atual, a estratificação em castas, a exemplo da Índia tradicional e

da estratificação em estamentos, tal como havia na Idade Média na sociedade

feudal da Europa. A crença na reencarnação e a ideia de que a situação social do

indivíduo representa um prêmio ou uma punição face a seu comportamento na vida

anterior levam o indivíduo a assumir resignadamente a sua posição numa casta

inferior, desprovida dos privilégios das castas superiores, e a se comportar conforme

as normas que organizam o sistema de castas. De igual modo, os valores do

individualismo e da competição e a norma da livre concorrência favorecem a

manutenção do sistema de estratificação em classes nas sociedades urbano-

industriais contemporâneas.

A sociologia da educação é uma disciplina que estuda os processos sociais

do ensino e da aprendizagem. Tanto os processos institucionais e organizacionais

nos quais a sociedade se baseia para prover educação a seus integrantes, como as

relações sociais que marcam o desenvolvimento dos indivíduos neste processo são

analisados por esta disciplina.

A Sociologia da Educação é a vertente da Sociologia que estuda a realidade

sócio-educacional e os processos educacionais de socialização. Tem como

fundadores Émille Durkheim, Karl Marx e Max Weber. Durkheim é o primeiro a ter

uma Sociologia da Educação sistematizada em obras como Educação e

Sociologia, A Evolução Pedagógica na França e Educação Moral.

A Sociologia da Educação oportuniza aos seus pesquisadores e estudiosos

compreender que a educação se dá no contexto de uma sociedade que, por sua

vez, é também resultante da educação. Também oportuniza compreender e

caracterizar a inter-relação ser humano/sociedade/educação à luz de diferentes

teorias sociológicas.

54

Sociologia Aplicada à Administração

A Associação Internacional de Sociologia possui o Comite de Pesquisas em

Sociologia de Educação desde 1971. No Brasil, um dos pioneiros na Sociologia da

Educação foi Fernando Azevedo, signatário do Manifesto dos Pioneiros da Escola

Nova em 1932, responsável pela Reforma do Ensino no então Distrito Federal

(1927). Foi ainda um dos intelectuais responsáveis pela fundação da Universidade

de São Paulo - USP em 1934.

O estudo de sociedades culturalmente diferentes oferece ferramentas

importantes nesta análise. O conhecimento de como diferentes culturas se

reproduzem e educam seus indivíduos permite uma aproximação dos processos

mais estruturais que compõem a educação de uma forma mais ampla. A sociologia

da educação é a extensão da sociologia que estuda a realidade sócio educacional.

Oportuniza aos pesquisadores compreender que a educação se dá no contexto da

sociedade, e não apenas na sala de aula, caracterizando a relação que há entre ser

humano, sociedade e educação através de diferentes teorias sociológicas.

Segundo Durkheim, a sociologia da educação serviria para os futuros

professores para uma nova moral laica e racionalista, sem influência religiosa.

Durkheim acreditava que a sociedade seria mais beneficiada pelo processo

educativo. Para ele, "a educação é uma socialização da jovem geração pela geração

adulta". E quanto mais eficiente for o processo, melhor será o desenvolvimento da

comunidade em que a escola esteja inserida. Nessa concepção durkheimiana -

também chamada de funcionalista -, as consciências individuais são formadas pela

sociedade.

Nessa concepção durkheimiana - também chamada de funcionalista -, as

consciências individuais são formadas pela sociedade.Ela é oposta ao idealismo, de

acordo com o qual a sociedade é moldada pelo "espírito" ou pela consciência

humana. "A construção do ser social, feita em boa parte pela educação, é a

assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios - sejam morais,

religiosos, éticos ou de comportamento - que baliza a conduta do indivíduo num

grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela", escreveu

Durkheim.

Essa teoria, além de caracterizar a educação como um bem social, a

relacionou pela primeira vez às normas sociais e à cultura local, diminuindo o valor

que as capacidades individuais têm na constituição de um desenvolvimento coletivo.

"Todo o passado da humanidade contribuiu para fazer o conjunto de máximas que

55

Sociologia Aplicada à Administração

dirigem os diferentes modelos de educação, cada uma com as características que

lhe são próprias. As sociedades cristãs da Idade Média, por exemplo, não teriam

sobrevivido se tivessem dado ao pensamento racional o lugar que lhe é dado

atualmente", exemplificou o pensador.

A sociologia da educação começou a se consolidar por Marx e Engels, como

o pensamento sobre as sociedades de seu tempo, criando uma relação de educação

e produção. As concepções deles têm como início a revolução industrial, criando a

educação politécnica, que combina a instituição escolar com o trabalho produtivo,

acreditando que dessa relação nasceria um dos mais poderosos meios de

transformação social.

Em suma, a sociologia foi criada pela necessidade do sistema capitalista,

fazendo a junção do conhecimento ao trabalho para assim ter uma obtenção maior

de lucro no trabalho e na produção. A importância da Sociologia para os futuros

docentes está, especialmente, em fornecer-lhes instrumentos para a análise da

sociedade, ajudá-los a pensar o lugar da educação na ordem social e a

compreender as vinculações da educação com outras instituições (família,

comunidade, igrejas, dentre outras). Isso significa tornar mais claros os horizontes

de sua prática profissional e sua relação com a sociedade histórica e

contemporânea.

As práticas de socialização familiar em um contexto do campo devem ser pensadas à luz do uso diferenciado que a família rural faz do espaço e dos serviços da escola, estabelecendo uma relação íntima entre as duas instituições- escola e família-, não apenas no que se refere à apropriação dos saberes escolares, mas também aos serviços e práticas que a escola pode oferecer à família, sobretudo à mãe trabalhadora rural, no cuidado dos seus filhos (tempo dedicado às crianças e fornecimento de alimentação, pela merenda escolar etc.) ( VARGAS, 2003, p.95).

A relação da família com a escola, no contexto pesquisado, parece difícil se

levarmos em conta a própria dinâmica das escolas, com a crescente „pedagogização

do cotidiano‟, uma vez que, via-de-regra, a temporalidade e o ritmo da escola não

levam em consideração a lógica do tempo das famílias que trabalham com a terra.

A prática do dever de casa, por exemplo, é apenas mais um indício desta

dissonância. A esse respeito, Resende (2008) lembra da importância em se

compreender a lógica que as famílias de diferentes meios sociais imprimem à

escolarização. Lahire (1997) e Thin (2006) lembram também que quando se fala em

dever de casa, torna-se necessário ir além da categoria classe social para poder

56

Sociologia Aplicada à Administração

analisar as configurações singulares de fatores ou traços que podem compor

diferentes perfis familiares dentro de uma mesma classe. Assim, apesar de, no seu

conjunto, as famílias de camadas populares tenderem a seguir lógicas

socializadoras que, em vários aspectos, se opõem às lógicas escolares (THIN,

2006), há famílias oriundas das classes populares que manifestam traços

favorecedores de maior adesão dos filhos às exigências do mundo escolar. É o

caso, por exemplo, de famílias que valorizam de forma especial, dentro das suas

possibilidades, a cultura escrita ou a própria cultura escolar.

Na sociologia, foi a partir do final da década de 1960 que um novo modo de

socialização passou a ser pensado. Um modo talvez menos centrado no papel da

escola e mais atento às transmissões que ocorriam no ambiente doméstico. Tal

abordagem permite inferir que o modo de socialização familiar pode trazer

vantagens e desvantagens na educação dos filhos e que serão cumulativas no

processo de aprendizagem vivido no ambiente escolar. Desta forma, a escola pode

tirar proveito pedagógico da condição da educação vivenciada no ambiente

doméstico e deste modo favorecer ainda mais os já favorecidos e desfavorecer os já

desfavorecidos.

Pode-se dizer com isso, que para a teoria da reprodução cultural, cujo

principal expoente é Pierre Bourdieu (1998), o que temos é uma teoria da „não

socialização‟ escolar, uma vez que esta é determinada primeiro pela cultura da

classe de origem do indivíduo, depois pela reprodução da ordem social através da

escola.

A escola, segundo Bourdieu, impõe o chamado „arbitrário cultural‟, uma vez

que ela não faz senão reconhecer „os seus‟, isto é, aqueles que estão já de antemão

socialmente destinados a ser reconhecidos por ela, identificados por seu habitus de

classe.

A transmissão do saber para Bourdieu (1998) apoia-se no postulado da

escola reprodutora das hierarquias sociais. Isto porque uma das principais funções

da escola, para o autor, é a de assegurar o ajustamento entre as origens sociais e

os destinos sociais estatisticamente previsíveis dos indivíduos.

Pode-se dizer que o papel da socialização escolar para Bourdieu (1998) é o

de legitimar uma ordem social contestável. A cultura escolar que funda a

socialização está longe de ser universal e objetiva, como pretendia Durkheim. Ao

contrário, ela está muito próxima da cultura familiar dos alunos socialmente

57

Sociologia Aplicada à Administração

favorecidos com quem se estabelece uma espécie de conivência tácita. Se os

herdeiros têm assim a capacidade natural de compreender as regras do jogo, um

„sentido imediato de localização‟ e de estratégia, os outros se acham sempre

defasados, incapazes de desvelar as „astúcias‟ da dominação e os obstáculos

presentes no jogo escolar. Estes últimos manifestam, via- de- regra, expectativas

limitadas em relação ao futuro escolar.

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Sociologia Aplicada à Administração

1. Como funciona o processo de socialização escolar?

2. Explique o pensamento de Bourdier quanto a sociologia vista pelas divergências

culturais.

Comente o trecho: [...] Ser homem ou mulher, branco ou não

branco, situa a pessoa em posições sociais diferentes, portanto,

com expectativas de papel, poder, prestígio, privilégios,

identidade e perspectivas atribuídas por aquelas posições.

Mesmo que injustas estas estruturas estão imersas na história e

não mudam de uma hora para a outra.

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Sociologia Aplicada à Administração

Fonte: http://tribunodahistoria.blogspot.com.br/2010/12/contextualizacao-socio-historica-e.html

UNIDADE 05

Cultura e Sociedade

60

Sociologia Aplicada à Administração

5. A cultura é uma perspectiva comum do mundo

A concepção sociológica de cultura é bem distinta daquela concepção do

senso comum. As pessoas geralmente entendem volume de conhecimento. Assim, é

muito comum ouvirmos: “fulano de tal é muito culto, inclusive, fala várias línguas”.

Para as ciências sociais, no entanto, “cultura é uma perspectiva do mundo que as

pessoas passam a ter em comum quando interagem. ” (CHARON, 2001, 103). Neste

sentido, todas as pessoas são cultas, ou seja, possuem uma perspectiva do mundo.

Como se viu no módulo anterior, perspectiva é uma visão, ou seja, uma forma de se

compreender a realidade ou o mundo; um conjunto de ideias ou um horizonte que dá

sentido à vida das pessoas e lhes condiciona o jeito de pensar, de sentir, de desejar

e de agir. “Nossa cultura, compartilhada na interação, constitui nossa perspectiva

consensual sobre o mundo e dirige nossos atos nesse mundo. ” (CHARON, 2001,

104). Considerando esta noção de cultura, percebe-se que ela ressalta a

semelhança entre as pessoas na sociedade, isto é, aquilo que elas têm em comum,

uma visão da realidade; enquanto a estrutura social, como se viu, destaca a

diferença existente entre as pessoas, em razão de suas distintas posições sociais.

Charon (2001) chama atenção para o fato de a cultura ser aprendida. Isso mesmo,

nós não nascemos com a cultura, mas começamos a adquiri-la assim que

nascemos.

Vamos, pelo processo de socialização, cujo significado vimos no módulo

anterior, “bebendo” com o leite materno a cultura, isto é, as crenças, os valores, as

normas, os costumes e hábitos de nossa família que serão a base de nossa

perspectiva ou visão do mundo. É a partir da família, da igreja, da escola, da

empresa e assim por diante, no convívio comunitário e social, que vamos plasmando

o nosso horizonte significativo de vida, ou seja, vamos adquirindo a cultura ou

aquela visão que compartilhamos nas organizações sociais de que fazemos parte.

“A cultura nos distingue daqueles com quem não interagimos. O isolamento de um

grupo, sociedade ou outra organização social significa uma visão de mundo única; a

integração com outros implica menos singularidade. ” (CHARON, 2001,104).

Ademais, a cultura é uma herança social, ou seja, é formada por ideias sobre a

realidade que se podem ter formado muito antes de nascermos, e que, através da

socialização, estão sendo transmitidas de geração em geração, a exemplo das

61

Sociologia Aplicada à Administração

ideias seguintes: “as mulheres devem casar e ter filhos”; “o amor romântico deve ser

a base do casamento”; “ganhar dinheiro é o melhor incentivo para as pessoas

trabalharem”.

Podemos contribuir com ideias próprias para o enriquecimento da cultura?

Parcialmente sim, mas sempre seremos confrontados pela cultura que se

desenvolveu antes de entrarmos em cena e, a bem da verdade, teremos que aceitá-

la se quisermos continuar a participar da organização social, pois rejeitar a cultura

ou a definição de verdade vigente na organização é rejeitar a própria organização.

Deste modo, uma cultura é uma visão da vida e do mundo, uma perspectiva comum,

um conjunto de ideias sobre a realidade que, segundo Charon (2001) pode ser

dividido em três categorias: 1ª) o que é verdade (nossas verdades); 2ª) o que vale a

pena (nossos valores e objetivos) e 3ª) qual é o modo correto de atuar (nossas

regras).

5.1 A cultura é um conjunto de verdades

O que é a verdade? Não é este o lugar de se discutir o conceito filosófico de

verdade. Limitemo-nos, pois, a mencionar as principais teorias da verdade. Três

teorias bastante representativas da ampla discussão filosófica sobre a verdade: a

teoria da correspondência, a teoria da coerência e a teoria pragmatista da verdade.

Para a teoria da correspondência, a verdade é a adequação entre a ideia ou

conceito que está na cabeça do sujeito cognoscente e a coisa ou o objeto

cognoscível que está fora da cabeça do sujeito que conhece.

Neste sentido, a verdade tem um caráter metafísico, isto é, está no ser real do

objeto, portanto, descreve o objeto. Para a teoria da coerência, a verdade é a

concordância ou harmonia existente nos discursos dos sujeitos cognoscentes

pertencentes a uma dada comunidade acerca de um determinado aspecto da

realidade (objeto cognoscível). Neste sentido, a verdade tem um caráter linguístico,

isto é, não está mais no objeto, mas no discurso sobre o objeto, de tal modo que a

verdade não é mais metafísica, mas sim epistemológica, ou seja, não mais descreve

a realidade, mas simplesmente a representa.

Para a teoria pragmatista, a verdade é a utilidade da ideia ou do conceito para

a experiência prática cotidiana das pessoas que, na comunidade, colocam-se de

acordo sobre o valor daquela ideia para resolução de seus problemas. Neste

62

Sociologia Aplicada à Administração

sentido, a verdade tem um caráter empírico, isto é, a experiência é o critério da

verdade.

Para Charon (2001) uma cultura é um conjunto de ideias sobre o que é

verdadeiro. Contudo, face às teorias da verdade, é fácil perceber que não há um

consenso global sobre o que é verdadeiro no mundo. Cada organização social ou

sociedade desenvolve uma cultura ou visão de mundo que possui um conjunto de

verdades que são ensinadas a seus membros de geração em geração.

No Brasil, por exemplo, acredita-se que a separação entre Igreja e Estado é

correta, noutros países as pessoas são socializadas para acreditar que a Igreja deve

ser estatal. O pessoal da indústria automobilística cultiva a verdade de que o

automóvel nos dá mais independência, enquanto para os ambientalistas a verdade é

que o automóvel nos envenena a todos em razão da poluição atmosférica pela qual

é responsável.

As ideias que nós cultivamos, que nos orientam e dão sentido a nossa vida,

de modo geral, são culturais, isto é, nós as adquirimos no processo de socialização

através do convívio social, sem nos preocuparmos se são ou não realmente

verdadeiras; nós simplesmente as aceitamos. Por exemplo, a ideia de que “no Brasil

há oportunidades para quem trabalha conseguir o sucesso; caso não seja bem-

sucedido é porque não se empenhou o suficiente”; é uma daquelas ideias ou

verdades culturais que funcionam para proteger o sistema econômico e manter a

desigualdade social. Ideias que os ricos acreditam serem verdadeiras e que ensinam

a todos na sociedade. Neste contexto, não se pode esquecer-se do alerta de Karl

Marx: “as ideias dominantes na sociedade são as ideias da classe economicamente

dominante. ” Veja-se então o importante papel da estrutura social na criação da

cultura.

Como diz Charon (2001), os que têm mais poder produzirão o maior impacto

na criação da cultura e as ideias que prevalecem na organização social como parte

de sua cultura são ideias que beneficiam mais os que detêm o poder. Não porque os

ricos e poderosos são malvados, mas porque suas ideias tendem a prevalecer como

as únicas verdades válidas.

63

Sociologia Aplicada à Administração

5.2 A cultura é um conjunto de valores

O que é um valor? Valor é algo que não nos deixa indiferentes. Valor está

relacionado àquilo que é bom, útil, positivo, portanto, está relacionado a algo que

deve ser realizado. Do ponto de vista ético, valores são os fundamentos da moral ou

das normas que prescrevem como devemos agir em vista da felicidade.

Assim, no horizonte sociológico, a cultura compõe-se de ideias a respeito de

coisas pelas quais vale a pena se empenhar (valores e objetivos). Valor como algo

que mobiliza e compromete a organização ou o indivíduo em sua ação. Objetivo

como a meta de um indivíduo ou organização social em uma situação específica,

geralmente para concretização de um valor.

Em nossas ações, somos guiados pelos valores que se desenvolvem, a

exemplo das verdades que cultivamos, na interação com outras pessoas da

organização social de que participamos. O que é mais importante, a honestidade ou

o diploma, as pessoas ou as coisas, amigos ou família, coragem ou segurança? Não

raro, nos vemos em situações em que precisamos escolher entre valores, pois se

observarmos um não poderemos respeitar os outros.

Por exemplo, podemos valorizar uma educação superior e uma vida social

ativa, porém, pode ser que na situação concreta de algumas pessoas não seja

possível conciliá-las e as pessoas tenham que hierarquizá-los, optando por um valor

e sacrificando o outro. Tal como ocorre com as ideias que consideramos verdades,

aprendemos nossos valores na interação social, desde a primeira infância, e é difícil

questionar os valores que a sociedade nos ensina, pois parecem ser os únicos

sensatos. Assim também, mesmo como adultos, quando nos empenhamos de corpo

e alma em uma organização, seus valores passam a ser os nossos valores. Por

exemplo, quando nos comprometemos com uma religião, com a família ou com um

partido político.

Os valores dominantes, como as verdades, são aqueles que favorecem a

organização e que são ensinados pelos que estão no topo da estrutura social.

Lembra-se do alerta de Marx em relação às verdades? Então, o mesmo vale em

relação aos valores. Nossos valores são aqueles refletidos em nossos objetivos,

decisões e ações, e não aqueles que declaramos diante de amigos ou de nossos

filhos. Muitas vezes ouvimos alguém falar que valoriza a educação, mas, se

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Sociologia Aplicada à Administração

contradiz, por não se empenhar efetivamente nos estudos. É muito comum, em

nossa cultura, ouvir pessoas falando da importância na vida do amor, da

espiritualidade ou de Deus, entretanto, vivemos numa sociedade em que os valores

do materialismo, do consumismo e do individualismo tornam-se dominantes. Cada

país possui um sistema de valores em comum e, dentro de um país, cada

comunidade também possui um sistema de valores. Na China, por exemplo, a

cooperação, o progresso da sociedade como um todo e a importância da família são

dominantes. Já entre nós, são muito dominantes o individualismo e a felicidade

pessoal.

Em nossas ações, somos guiados pelos valores que se desenvolvem, a

exemplo das verdades que cultivamos, na interação com outras pessoas da

organização social de que participamos. O que é mais importante, a honestidade ou

o diploma, as pessoas ou as coisas, amigos ou família, coragem ou segurança? Não

raro, nos vemos em situações em que precisamos escolher entre valores, pois se

observarmos um não poderemos respeitar os outros.

Por exemplo, podemos valorizar uma educação superior e uma vida social

ativa, porém, pode ser que na situação concreta de algumas pessoas não seja

possível conciliá-las e as pessoas tenham que hierarquizá-los, optando por um valor

e sacrificando o outro. Tal como ocorre com as ideias que consideramos verdades,

aprendemos nossos valores na interação social, desde a primeira infância, e é difícil

questionar os valores que a sociedade nos ensina, pois parecem ser os únicos

sensatos. Assim também, mesmo como adultos, quando nos empenhamos de corpo

e alma em uma organização, seus valores passam a ser os nossos valores. Por

exemplo, quando nos comprometemos com uma religião, com a família ou com um

partido político. Os valores dominantes, como as verdades, são aqueles que

favorecem a organização e que são ensinados pelos que estão no topo da estrutura

social. Lembra-se do alerta de Marx em relação às verdades?

Então, o mesmo vale em relação aos valores. Nossos valores são aqueles

refletidos em nossos objetivos, decisões e ações, e não aqueles que declaramos

diante de amigos ou de nossos filhos. Muitas vezes ouvimos alguém falar que

valoriza a educação, mas, se contradiz, por não se empenhar efetivamente nos

estudos. É muito comum, em nossa cultura, ouvir pessoas falando da importância na

vida do amor, da espiritualidade ou de Deus, entretanto, vivemos numa sociedade

em que os valores do materialismo, do consumismo e do individualismo tornam-se

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Sociologia Aplicada à Administração

dominantes. Cada país possui um sistema de valores em comum e, dentro de um

país, cada comunidade também possui um sistema de valores. Na China, por

exemplo, a cooperação, o progresso da sociedade como um todo e a importância da

família são dominantes. Já entre nós, são muito dominantes o individualismo e a

felicidade pessoal.

Sempre sob a supervisão dos valores. Assim, nas organizações traçamos e

compartilhamos objetivos e cooperamos para alcançá-los. Por exemplo, um time que

para alcançar o objetivo de ser campeão, elabora e cumpre um vasto programa de

treinamentos; ou uma empresa, visando aumentar em 5% seus lucros no 1º

trimestre, define e executa uma série de medidas para alcançar aquele objetivo; ou

ainda, uma sociedade que tendo como valor hegemônico a igualdade, articula

diversas políticas ou ações para alcançar o objetivo de reduzir a desigualdade.

Registra-se que valores e objetivos, tal como as ideias a respeito da verdade,

surgem da interação das pessoas na organização social. Assim são importantes

para manter coesa a organização; para transformar objetivos individuais em

objetivos da organização; para promover a cooperação entre indivíduos e para

garantir a continuidade da organização. Indivíduos que não concordam com as

verdades, valores e objetivos de uma organização dificultam o crescimento e o

sucesso da organização.

5.3 A cultura é um conjunto de normas

A norma é uma regra que estabelece um padrão; um princípio que obriga e

prescreve uma determinada ação ou conduta, permitindo distinguir entre o certo e o

errado ou entre o justo e o injusto. Segundo Charon (2001), normas são as

expectativas que temos uns dos outros, as regras ou leis que definem o jeito certo

de nos comportarmos e fazermos as coisas. Lembra-se do conceito de papel social?

“Um conjunto de normas que definem direitos e deveres de quem ocupa

determinada posição social” ou ainda, um conjunto de expectativas de

comportamento que devem ser observadas pelas pessoas conforme seu status.

Então, as normas constituem o padrão social denominada cultura e fazem

parte da estrutura social da organização social. Todas as situações que vivenciamos

são governadas por normas: comer, vestir-se, andar, dirigir, adorar a Deus, celebrar

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Sociologia Aplicada à Administração

o nascimento ou lamentar a morte. As organizações precisam de normas para

funcionar. Certamente todos nós concordamos com isso, embora seja discutível

quanto de norma é necessário para que as organizações sociais funcionem

satisfatoriamente.

5.4 Cultura, subcultura e contracultura

Cultura é a perspectiva ou visão de mundo que as pessoas de toda uma

sociedade tem em comum. Tal perspectiva é constituída por um conjunto de ideias

sobre o que é a verdade, por um conjunto de valores e objetivos e por um conjunto

de normas. Como se viu, a cultura é o segundo padrão social comum a toda

organização social. Assim, pode-se falar de cultura numa organização social geral

como a sociedade brasileira, mas pode-se falar de cultura em uma comunidade,

numa cidade pequena ou em um determinado bairro da cidade.

Assim, como se pode falar de cultura desenvolvida em uma empresa, em uma

família ou mesmo na díade. Nesse horizonte, é oportuno introduzir o conceito de

subcultura. Subcultura como a cultura de parte de uma sociedade maior, ou de uma

sociedade complexa. Por exemplo, há quem pense que, em razão da pluralidade da

cultura brasileira, melhor seria falar de culturas brasileiras no plural. Deve-se

distinguir entre cultura simples e cultura complexa. Uma cultura simples é uma

cultura homogênea onde as pessoas todas da comunidade, por ser uma pequena

comunidade e a divisão do trabalho entre as pessoas ser muito simples, partilham

uma mesma perspectiva ou visão de mundo, como ocorre em uma tribo indígena

que mantém sua cultura. Uma cultura complexa é uma cultura própria de grandes

comunidades onde a divisão do trabalho e intensa, formando diversos mundos

sociais, onde perspectivas diversas também se formam.

Assim, a cultura brasileira: duzentos milhões de pessoas, de todas as idades,

espalhados por um território imenso, com atividades econômicas muito

diferenciadas, uma população formada ao longo de 500 anos, graças ao encontro de

etnias diferentes e uma grande miscigenação. Neste horizonte de uma cultura

complexa, pode-se falar de várias subculturas: subcultura etária (idade): há de se

convir que a perspectiva do jovem é diferente da perspectiva dos adultos ou idosos;

subcultura regional: admite-se que a visão do nordestino é diferente da visão do

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Sociologia Aplicada à Administração

sulista; subcultura profissional: a visão de mundo dos profissionais do Direito

seguramente difere da visão de mundo dos profissionais da construção civil;

subculturas de classe, já que a cultura do povão é diferente da cultura da classe

dominante; subculturas religiosas e assim por diante.

Contudo, ressalta-se que todas estas subculturas são articuladas e

amalgamadas numa única cultura complexa, no caso do Brasil, graças a alguns

elementos que formam uma cultura dominante, ou seja, elementos que são comuns

a todas as subculturas, por exemplo, a língua portuguesa, a religião cristã, a história

da colonização, valores como o individualismo e a realização pessoal, cultivados nas

diversas subculturas unindo-as na cultura complexa.

O conceito de contracultura expressa uma cultura contrária à cultura

dominante, uma cultura que rejeita as normas e valores da sociedade dominante. O

grande exemplo de contracultura são os hippies da década de 1960 que elegeram

outros valores, objetivos ou metas para suas vidas, contestando assim o modo de

viver pregado pela cultura dominante. Charon (2001) fala ainda do conceito de

cultura de grupo, um conceito empregado para designar a cultura que surge em um

grupo ou organização formal. Não chega a ser uma subcultura ou contracultura, mas

também possui elementos capazes de identificá-la como uma cultura, uma

perspectiva própria daquele grupo social. Por exemplo, a cultura de grupo de um

determinado time de futebol, ou cultura de grupo de uma determinada Igreja.

Destaca-se que tal como a cultura, as subculturas, a contracultura e a cultura de

grupo são padrões sociais que surgem da interação social dentro das organizações

sociais e que exercem grande influência sobre os seus membros. Por fim, a cultura é

de fundamental importância para o indivíduo e para a organização social.

A cultura influencia o que fazemos em nossa vida, ou seja, o modo de pensar,

de sentir ou de agir do indivíduo, isto é, o sentido de sua vida é definido pela cultura.

Do ponto de vista da organização social é a cultura que possibilita a cooperação

entre os indivíduos na resolução de problemas, colaborando assim para que ela se

perpetue no tempo.

Contudo, a verdadeira importância da compreensão do que é a cultura está

no fato de, uma vez, sabendo que nossa visão é construída socialmente, portanto, é

resultado da interação social, compreende-se também que toda organização social

procura dar a entender que sua cultura é correta, ou a maneira decente de pensar,

sentir e agir; daí, pode-se compreender, criticar e superar o fenômeno do

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Sociologia Aplicada à Administração

1. Como podemos relacionar cultura e sociedade sob ótica sociológica?

etnocentrismo: a ideia de que sua própria cultura (etnia) é central para o universo e

que todas as outras são periféricas, equivocadas ou inferiores. A compreensão do

fenômeno da cultura, nesta perspectiva sociológica, revela-nos mais claramente

ainda a dimensão social do ser humano, devendo nos fazer, portanto, mais críticos,

compreensivos e tolerantes com os outros no convívio social.

Comente o trecho: [...]fulano de tal é muito culto, inclusive, fala

várias línguas”. Para as ciências sociais, no entanto, “cultura é uma

perspectiva do mundo que as pessoas passam a ter em comum

quando interagem.” (CHARON, 2001, 103).

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Sociologia Aplicada à Administração

UNIDADE 06

Globalização e

Sociedade

Fonte: http://filosofiase.blogspot.com.br/

70

Sociologia Aplicada à Administração

6. Globalização e Sociedade

Considerando que ninguém é uma ilha, como se viu, o ser humano é um ser

social, um ser gregário, um ser que tem necessidade do outro e que, portanto, vive

em comunidade, a interação social, ao longo da existência humana, gerou um

conjunto de crenças, de valores e normas que definem o modo de viver em comum,

na aldeia, no reino ou na polis, dando origem assim à instituição universal da

política. No Brasil, por exemplo, a tripartição do poder (legislativo, executivo e

judiciário), a democracia, a república e o presidencialismo são instituições

complementares da instituição da política. Noutros povos podem vigorar outras

instituições complementares definindo o perfil da política.

Considerando que ninguém nasce sabendo, como se viu, o ser humano tem

de aprender a ser humano, tem de aprender como viver, aprender a cultura de sua

comunidade e de seu povo; para se atender a esta necessidade, os indivíduos em

interação social, lá pelas tantas, definiram um conjunto de crenças, valores e normas

estabelecendo a instituição da Educação. No Brasil, a história desta instituição

chegou a definir dois níveis: educação básica e educação superior, sendo que para

cada nível estão estabelecidas diretrizes que dão as características da educação

brasileira. De igual modo, a história de cada povo explica o perfil de sua instituição

educacional.

Considerando que o ser humano é um ser situado e finito, inscrito em

coordenadas geo-históricas e limitado pelo horizonte da morte, mas, também, um

ser que não se basta a si mesmo, que está sempre se autotranscendendo, aberto

para o infinito, ele é um ser que tem necessidade de se relacionar com o

transcendente. Deste modo, pela interação social, ao longo do suceder das

gerações, os indivíduos pactuaram crenças, valores e normas que estabelecem

como agir para satisfazerem àquela necessidade fundamental, criando assim a

instituição da religião.

No Brasil, por exemplo, é predominante o Cristianismo, em Israel o Judaísmo,

no Iran o Islamismo, na India o Hinduísmo; assim, a instituição universal da religião

ganha contornos específicos conforme suas instituições complementares em cada

povo. Por fim, como ninguém é de ferro, o ser humano, vivendo na sociedade sob o

peso dos padrões sociais da estrutura, da cultura e das instituições sociais, acaba se

estressando e tem necessidade de se espairecer, sob pena de se esgotar, adoecer

71

Sociologia Aplicada à Administração

e morrer. Assim, para fazer frente a esta necessidade, os indivíduos, em interação

social, estabeleceram crenças, valores e normas definindo os modos aceitáveis de

entretenimento e lazer, fundando a instituição universal da recreação que, tal como

as outras, assume formas diferenciadas em cada povo. Assim, o Brasil é o país do

futebol ou do carnaval, a Espanha, o país da tourada e a televisão já parece ser uma

instituição universal.

Posições sociais, que se articulam formando uma estrutura, não são iguais,

mas se diferenciam conforme a participação de cada posição social na riqueza ou no

poder, no prestígio e nos privilégios. Assim, temos na nossa sociedade as classes

sociais que agrupam as posições sociais conforme o grau de participação naqueles

quesitos. Segundo Charon (2001), a classe de uma pessoa é a sua posição numa

estrutura social, definida, sobretudo, a partir de critérios econômicos como a renda e

a riqueza. Sim, na sociedade capitalista, as posses ou poder econômico conferem à

pessoa poder político, ou seja, a possibilidade de influenciar nos processos

econômicos, políticos e socioculturais. Quanto mais elevada for a classe de uma

pessoa mais poder aquela pessoa terá. Por exemplo, nas casas de leis de nosso

país, quem você pensa que tem maior influência os ricos, detentores de recursos

diversos e mais organizados ou os pobres, despossuídos e desorganizados?

A classe de uma pessoa, sendo superior, normalmente lhe traz também

prestígio: o respeito dos outros, a admiração e o reconhecimento público; sendo

uma posição inferior, traz-lhe o desprezo de muitos, a afronta de alguns e a eventual

simpatia daqueles poucos indivíduos que cultivam valores diferentes daqueles da

cultura capitalista.

A classe influencia os privilégios que a pessoa tem na vida, ou, na expressão

de Max Weber, as oportunidades ou possibilidades de vida: o acesso à educação, à

saúde, ao lazer, à cultura, à moradia, à nutrição, à justiça, à colocação profissional,

enfim, a classe condiciona a qualidade de vida, de um modo geral. A classe implica

também expectativas de papel para a pessoa: com quem se vai casar, se se vai

fazer faculdade, que faculdade vai se fazer, que profissão seguir. Além disso,

vinculado à classe estão os modos como a pessoa deve atuar, como deve falar, de

que deve gostar, enfim, na expressão de Max Weber, o estilo de vida da pessoa

decorre de sua classe social.

A classe confere à pessoa uma de suas principais identidades. A pessoa é

conhecida na sociedade pela sua classe social. A pessoa pensa a respeito de si

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Sociologia Aplicada à Administração

mesma a partir de sua classe, pelas suas ações e pelo seu modo de vestir ela indica

aos outros a classe a que pertence. Por fim, a classe da pessoa lhe inspira

perspectivas e ações, ou seja, a visão de mundo da pessoa e sua maneira de agir

refletem a sua classe social. A classe influencia o que se pensa sobre os papeis dos

sexos, sobre a religião, a educação ou a política. Geralmente, uma pessoa de classe

alta é muito mais propensa em acreditar no sistema político e acreditar que pode

influenciá-lo do que uma pessoa de classe inferior.

O número de classes em uma sociedade é uma questão arbitrária,

dependendo do que se está estudando, definem-se os critérios e divide-se a

população em quantas categorias interessar. Tradicionalmente fala-se em classes:

alta, média e baixa, ou ainda, alta, média alta, média, média, média baixa e baixa,

ou simplesmente de ricos, remediados e pobres. Quanto mais elevada a classe,

mais poder, prestígio e privilégios tem a pessoa, isto é, maior oportunidade de vida.

Karl Marx tem uma visão diferente das classes sociais. Para ele, a posição de

classe do indivíduo reflete a sua posição na estrutura do modo de produção

econômica da vida. No caso da sociedade com modo de produção capitalista,

existem apenas duas classes: a classe proprietária do capital ou dos meios de

produção (terras, fábricas, máquinas) que é a chamada burguesia e a classe não

proprietária dos meios de produção, chamada de proletariado, que para manter sua

prole (família) tem de vender a sua força de trabalho para a burguesia.

Considerando que na estrutura do modo de produção capitalista, os não

proprietários, não obstante serem maioria na sociedade, são dependentes dos

proprietários, as relações características no capitalismo são as relações de

exploração e de dominação do proletariado pela burguesia que se refere aos

interesses, ao estilo e às oportunidades de vida.

Assim, estratificação social constitui um tipo especial de desigualdade social,

próprio daquelas sociedades complexas onde existe um excedente de produção que

vai sendo apropriado de modo desigual pelas pessoas, o que vai mantendo e

reforçando suas diferentes posições na hierarquia social com seus respectivos

estilos de vida. Vila Nova (2004) fala dos três sistemas clássicos de estratificação

social e de como eles se mantém graças às crenças, valores e normas que os

justificam e regulamentam: a estratificação em classes como ocorre em nossa

sociedade atual, a estratificação em castas, a exemplo da Índia tradicional e da

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Sociologia Aplicada à Administração

estratificação em estamentos, tal como havia na Idade Média na sociedade feudal

da Europa.

A crença na reencarnação e a ideia de que a situação social do indivíduo

representa um prêmio ou uma punição face a seu comportamento na vida anterior

levam o indivíduo a assumir resignadamente a sua posição numa casta inferior,

desprovida dos privilégios das castas superiores, e a se comportar conforme as

normas que organizam o sistema de castas. De igual modo, os valores do

individualismo e da competição e a norma da livre concorrência favorecem a

manutenção do sistema de estratificação em classes nas sociedades urbano-

industriais contemporâneas.

Para Karl Marx, o capitalismo é fundado sobre um conflito estrutural: de um

lado, a burguesia, proprietária dos meios de produção, que se interessa pelo

aumento dos lucros e reprodução de seu capital, e do outro lado, o proletariado, não

proprietário dos meios de produção, que, vendendo sua força de trabalho, interessa-

se por um salário cada vez melhor, mas que, para manter a sua prole, não raro se

sujeita a trabalhar pelo salário oferecido pela burguesia.

O resultado daquela lógica perversa seria ricos ficando cada vez mais ricos e

pobres ficando cada vez mais pobres. Karl Marx, em meados do século XIX,

afirmara que o conflito e o desequilíbrio se agravariam até o ponto em que os

pobres, não suportando a exploração, fariam a revolução, mudando aquela estrutura

e estabelecendo uma nova sociedade, sem propriedade privada; portanto, sem

classes sociais. Para Dahrendorf, numa perspectiva ainda mais ampla que a de Karl

Marx, enquanto existirem diferenças humanas, haverá conflito, enquanto houver

conflito, ocorrerá mudança, pois a organização social nunca satisfará os interesses

de todos igualmente. Isto posto, fica bastante evidente que o conflito social possui

um grande potencial para gerar mudança na organização social.

A mudança social causada por forças externas dos meios social e físico Além

dos atos das pessoas e do conflito social, influências do meio social e do meio físico

podem provocar importantes mudanças na sociedade. Quando as pessoas viajam

para outras sociedades e representantes de sociedades diferentes se encontram, há

entre elas uma troca sociocultural, alterando assim seus hábitos, valores, crenças e

costumes; um processo chamado pela antropologia cultural de aculturação. Um bom

exemplo do processo de aculturação é aquele ocorrido por força do expansionismo

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Sociologia Aplicada à Administração

europeu que desde o século XV, através das colonizações, provocou mudanças em

diversas sociedades subordinadas.

Nesta categoria de mudanças sociais merece destaque também o ímpeto da

industrialização no século XX. Acreditava-se no desenvolvimento via industrialização

e modernização que eram vistas como estratégias para se livrar do domínio

estrangeiro. O número de pessoas existente em uma organização social faz toda a

diferença para os seus padrões de interação social: estrutura, cultura e instituições.

Quando, por exemplo, aumenta o número de pessoas em uma organização, liberam-

se forças, impulsionando a mudança. Este fato é bem ilustrado quando

consideramos a passagem de uma díade para um grupo: “sair para almoçar com um

amigo permite que se compartilhem as preocupações íntimas, mas quando um

terceiro é convidado a intimidade torna-se mais difícil” (CHARON, 2001, 209); ou

ainda quando consideramos uma firma que se torna uma grande companhia: a

estrutura muda, tornando-se mais formal e complexa pois aumenta o número de

posições nela existentes, assim como muda a cultura pois os valores da amizade e

intimidade cedem lugar para o valor da eficiência.

De igual modo, o crescimento populacional muda a natureza das instituições

políticas, econômicas e educacionais. Quando, por exemplo, as migrações

motivadas pela industrialização fazem cidades pequenas transformarem-se em

cidades grandes e essas tornarem-se metrópoles, obviamente, os problemas que

surgem não podem ser resolvidos pelos modos tracionais que vigoravam na

pequena cidade, ensejando, assim, novas instituições e mudança na cultura.

Formalidade, complexidade e centralização são tendências que acompanham

o aumento do porte das organizações sociais, sejam organizações formais,

comunidades ou sociedades. Agora, documentos escritos são fundamentais;

aumentam as posições de status (vertical e horizontal); centralizam-se as tomadas

de decisão. Deste modo, independente de outras causas, visto está que a própria

mudança da escala populacional é uma causa importante de mudança social.

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Sociologia Aplicada à Administração

FILMES:

CRIANÇA, A ALMA DO NEGÓCIO, Direção Estela Renner,

Produção Executiva Marcos Nisti, Maria Farinha Produções.

Duração: 49 m

O NOME DA ROSA (The Name of the Rose, Ale/Fra/Ita, 1986).

Direção: Jean Jacques Annaud. Elenco: Sean Conery, F.Murray

Abraham, Cristian Slater. 130 min.

CROMWELL (Cromwell, Inglaterra, 1970). Direção: Ken Hughes.

Com Alec Guinness. 145 min. Na Inglaterra do século XVII,

Oliver Cromwell volta ao Parlamento para atuar na oposição aos

desmandos do rei Carlos I, que passa por cima das leis,

desencadeando a Guerra Civil (1642-1649).

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Sociologia Aplicada à Administração

1. Como a sociedade influencia a globalização e vice e versa, sob ótica da

sociologia?

Que relação podemos ter quando se trata de globalização e

sociedade?

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Sociologia Aplicada à Administração

ALONSO, Ângela. Ideias em movimento: a geração 1870 na crise do Brasil-Império. São Paulo: Paz e Terra, 2002. BERGER, P. I. Perspectivas sociológicas: uma visão humanística. Petrópolis: Vozes, 1986. BRAZIL: Order and Progress, Ronald Hilton, World Association of International Studies Forum Q&A, 4/27/03 COSTA, Cristina. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade, 3. Ed. São Paulo: Moderna, 2005. DEMO, P. Sociologia: uma introdução crítica. 2. Ed. São Paulo: Atlas, 2000. FRIGOTTO, G. (Ogr) Educação e crise do trabalho: Perspectiva de final de século. 4. Ed. Petrópolis: vozes, 2000. KREMER-MARIETTI, Angèle. Le kaléidoscope épistémologique d'Auguste Comte: Sentiments Images Signes. Paris, L'Harmattan, 2007. LIVEIRA, Claudemir Gongalves de. A matriz positivista na educação brasileira. MARTINS, Carlos Benedito. O que é sociologia. São Paulo: Brasiliense, 2006.

OLIVEIRA, Persio Santos. Introdução à sociologia da educação. 3.ed. São Paulo: Ática, 2003. PEREIRA SOARES, Mozart. O Positivismo no Brasil: 200 anos de Augusto Comte. Porto Alegre: UFRGS, 1998. PILLETI, Nelson. Sociologia da educação. São Paulo, Ática, 2004.

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