SOCIOLOGIA-CHAYLA

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    inexorve l: a lei do progresso, Esse p rinc p io , herdado d:1nJosol"i :! i lumi-nista, foi compartilhado ror praticllnente todos os :Iutores do s0culo I'),en1bora assumisse c0'10taes pttr tic ulares na ohr:1 de c:lda um ddes,Agu;n' a-se , ent :l 'o, a consci0nc ia dl : que o repertr io de id( 'ias e , ':do res , i: !ve lha ordem soc; il , do qu:" a inda sobreviviam alguns e lementos, fora des-trudo pelo velll i:!val revolucion:rio de 171'19 que er:l, port: lnlo , necess:riocr iar um nm'o sistema cientfico e moral que se harmonizasse com a ordemindust ri al emergente, O indus tr ia li smo, com sua incon tida fora de t ransfor-mao, impunh: l-se a lodos como a marcI dec isi ,' a da soc in i: !de modnn:1.Por ()lllro i:! do, difund;i-se a concep\'o de que a ,'ida cokti,'a n:IOe r:1~ apenas un1:1 im:lgem :lInpliada da indi,'idual, m:ls um se r dislinto, maiscompkxo , c i rredu tve l : ISpar tes que o forman1 . Esse ser ia , prec isamenle, oohjelo pn')prio das ciC'ncias soci:1s, e seu estudo demand:,, 'a a uli liza,' :lo dom0todo pos it ivo , apo iado na ohsnva\' :'l o, indu'lo e eXlxTiml'n t: l\' :' lo, la lcomo ,'inham Elzendo os cienlistas naturais, Desse modo, as ciC'nc;is d:ls,.ciedade deveriam aspirar :1f,>rmul:I\': 'IOde prop' Isi':(!l's nom, )I se forme pelo agrupamento das partes, a associa:lo "d;origem ao nascimenlo de fent)menos que no provl-m diret;lmente d:lnaturez:1 dos ekmentos associados",' A sociedade, ent:lo, mais do queuma soma, (, uma sl1tese c, por isso, n:lo se encontr:l em c"i:! um desseselementos, assim como os diferentes aspectos da vida no se achamdecompostos nos :tomos contidos na clula: a vida est: no todo e n;'lonas partes, As :lImas individuais agregadas geram um fent)meno SI/i,QC'I/C'ris,uma "vida psquica de um novo g0nero", Os sentimentos quecaracteriz:lIll este ser tC'm uma for ,:a e uma peculiar id:lde que aquelespu ram( 'n l,' i ndividua is n :lo possuem, Ele a soc iedade ,

    ~ fSPfClfICID~Df DOOBJfTOSOCIOlGICO

    () lJ1ais poderoso feiXt' de for(as fsicas l ' morai s cujo resul tado : I 1 l: lI lI rl 'I '. :1nos Ofl'f l' t"l' . Em nenhuma p:lrlL' t 'IH.'OIUra-Sl' 1:11riqul'Z;J de m:IIl 'I 'i :l isdin'rsos le\'ado a lal grau de conCt'nlra(;~lo. Ntlo t ' s ll rp l' eendenh: , poi s.qut ' UI11:1v ida l11ai s a l l: 1 s e d t' sprcnda deI :! e qut ', reagindo ~()hrl' os t 'l t' -I11l'nlo:"ido:"iquai:-oI 'e:"il llra.deve-os a lIm:! forma superior de exist('nei: . l '(IS Iral,sf"(u'n,e.h

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    A Sociologia pode S(' l' definida , segundo f)urkhe im, como a ciC' J1c ia"das inst itui () l's , da SU: lg0nese e do seu funcionamento", ou seja, de "todacrenp, todo comport: lI l1ento ins ti tudo pela cole tividade", ' Na Else pos iti -vi sta que marca o incio de sua produ \' o , cons idera que , para tornar-se umacincia autnoma, ess:l esfera do conhecimento precisava delimitar seuobjeto prprio: os falos sociais, Tais f en6menos compreendem "toda ma-neira de agir fixa ou no, sllscetvel de exercer sobre o indivduo umaCOl'I\' ;IOexterior; ou ento aind:l, que ger;1Ina extenso de uma sociedade

    O grupo possui, portanto, uma mentalidade que no id0ntica :1 dosindivduos, e os estados de consci0ncia coletiva so distinlos dos estadosde consc il 'nc ia individua l. Assim, "um pensamento encont rado em todas asconsci0nc ias p :l rt iculan: s ou um movimento que todos repe tem no s :1oporisso f atos sociais" mas suas encarnaes individuais, Os fen6menos queconstiluem a sociedade t0m sua origem na coletividade e no em cada umdos seus participantes, nela que se deve buscar as explicac')es para osfatos sociais e no nas unidades que a compem, porqueas conscincias par ticulares, unindo-se, agindo c reagindo l IInas sobre asoUlras, fundindo,se, d o origem a uma realida de nova que a con sci ncia I, ')

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    I1 da sociedade. ( ...) Uma coletividade tem as suas formas especficas de pensare de senti r, s qua is os seus membros se sujei tam, mas que diferem daquelasque eles pra ti cari am se fossem abandonados a s i mesmos. Jamais o indi-vduo, por si s, poderia ter constitudo o que quer que fosse que sea ss emel ha sse id ia dos deuse s, a os mito s e ao s dogmas da s re li gi es , id ia do dever e da discipl ina moral e tc .'

    nas minhas relaes comerciais, as prticas seguidas na profisso ete.funcionam independentemente do uso que delas fao.'.As representaes coletivas so uma das expresses do fato social.Elas compreendem os modos "como a sociedade v a si mesma e ao

    mundo que a rodeia" como, por exemplo, a massa de indivduos que acompem, as coisas de que se utilizam e o solo que ocupam, represen-tando-os atr avs de suas lendas, mitos, concepes religiosas, ideais debondade ou de beleza, crenas morais etc. Como se produzem as repre-sentaes coletivas? Atravs de

    Os f atos sociais podem ser menos consolidados, mais tluidos, so asmaneiras de agir. o caso das correntes sociais , dos movimentos coletivos,das correr1teS'de opinio "que nos impelem com intensidade desigual,segundo as pocas e os pases, ao casamento, por exemplo, ao suicdio, auma natalidade mais ou menos forte etc.". Outros fatos tm uma forma jcristalizada na sociedade, constituem suas maneiras de sen as regrasjurdicas, morais, dogmas religiosos e sistemas financeir~entido dasv ias de comunicao, a maneira como se const roem as casas, as vest imentasde um povo e suas inmeras formas de expresso. Eles so, por exemplo,os modos de circulao de pessoas e dI: mercadorias, de comunicar- se,vestir-se, danar, negociar, rir, cantar, convl:rsar ete. que vo sl:ndo estabe-lec idos pe las sucessivas geraes. Apesar de seu carter ser mais ou menoscri stal izado , tan to as maneiras de ser quanto de agi r so igualmente impera-t ivas, coagem os membros das soc iedades a ado tar determinadas condu tase formas de sentir. Por enCOntrar -se fora dos indivduos e possuir ascl:n-dnc ia sob re e les, consi stem em uma rea lidade objet iva , so fatos soc ia is .

    Para tentar comprovar o $! rter externo desses modos de agir, dI:pensar ou de sentir , Durkheim argumenta que ele s tm que sl:r intefllali-zados po r meio de um processo educat ivo . Desde muito pequenas, l embra ,as crianas so constl~lngidas (ou I:ducadas) a seguir horrios, a dl:senvolvercertos comportamentos e maneiras de ser 1:, mais tarde, a trabalhar . Elaspassam por uma socia/izao metdica e " uma iluso pl:nsar qUI: I :du-camos nossos f ilhos como queremos. Somos forados a segui r reg l~ts I :s ta -be lecidas no meio social em que vivemos. "9 Com o tempo , as crian~ 'as v ;loadquir indo os hbitos que Ihes so ensinados e deixando de sentir-I hes acoao, aprendem comportamentos e modos de sentir dos membros dosg rupos dos quais part ic ipam. Por isso a educao "cria no homem um sernovo", insere-o em uma sociedade, leva-o a compartilhar com outros deuma cer ta escala de valor es, sentimentos, compor tamentos. Mais do queisso, nasce da um ser super ior quele pur amente natural. E se as maneirasde agir e sentir prpr ia s de uma sociedade precisam ser tr ansmitidas pormeio da aprendizagem porque so externas ao indivduo.

    uma imensa l'oopera

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    que vema constituirum fatosocial..1 Assim, por exemplo, uma propostape.Claggicaque esteja cm conflit1com a conccpo de educao de seutempo por conter " tendncias d futuro, aspi raes de um novo ideal",pode vencer os obstculos e impor-se, tomando o lugar das idias aceitas.A ao transformadora tanto maisdifci lquanto maior o peso ou a centra-lidade que a regra, a crena ou a prtica social que se quer modificarpossuam para a coeso social. Enquanto nas sociedades modernas , atmesmo os valores relativos vida - o aborto, a clonagem humana, a penade morte ou a cutansia - podem ser postos em questo, em sociedadestl~ldicionais,os inovadores enfrentam maiores e :ISvezes insuperveis resis-tncias. Por isso que at mesmo "os atos qualificados de crimes no soos mesmos em toda parte" , como se pode ver no exemplo a segui r:

    deveria ser estritamente sociolgico. Com base Qelc, os cientistas sociaisinvestigariam possveis rclaesde causa e efeito regularidades C0111istas:1descoberta de leise mesmo de "regras de ao para o futuro", observandofenmenos rigorosamente definidos.

    S eg und o ( ) d ir e lo ; lt l' nic ns c, S ()c ra tc s e m c ri mi no so c s ua c on dc na ClIr imc, isto , a indcJ 1cndl'nda de St'Upensamcnto, no foi lItil apenas ;1hUlllanidadl' como tambm :1sua p:tr ia.pois servia para preparar lima moral c uma f novas de que os arcnicnsl 'stinham necessidade ento, porquc as tradi\'{)cs nas quais tinham vivido :1Ic:aquela poca 0;10 e:. aavam maisem harmonia com suas condil;.'csde cxis~l nda . Ora , ( ) c t.

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    A coisa pode ser reconhecidape lo si nt oma de no pode r s er modi fi cada por in termdi o de um simpl esdecr et o da von tade . No que se ja re fr at ri a a qualquer mod if ic ao. Masno su fic ie nte exe rc er a von tade para p roduz ir uma mudana, p re cis oal m d is so um es fo ro mai s ou menos l abori os o, d evi do re sis t nci a queno s ope e que , outr oss im, nem sempr e pode se r v enc id a. "

    colocar-se "num estado de esprito semelhante ao dos fsicos, qumicos efisiologistas quando se aventuram numa regio ainda inexplorada de seudomnio cientfico" assumindo, desse modo, sua ignorncia, livrando-sede suas prenoes ou noes vulgares (j combatidaspor Bacon) e adotando,enfim, a prtica cartesiana da dvida metdica. Essaatitude leva apenas convico de queo socilogo deve, portanto, ter a atitude mental e comportar-se diantedos fatos da mesma maneira que o faria qualquer cientista: considerar que

    se acha diante de objetos ignorados porque "as representaes que podemser formuladas no decorrer da vida, tendo sido efetuadas sem mtodo nemcrtica, esto destitudas de valor cientfico e devem ser afastadas"..!!' Eledeve assumir que desconhece completamente o que so os fatos sociais, jque

    no estado atual dos nossos conhecimentos, no SabCJlI0SrrcIUcmcnlc e com scguran~'a, ( ,. 'omo se cOfrcspondcss cln acoisas hem conhecidas c definidas, quando no despertam em ns St'n;to111isturas indistimas de impr~sscs vagas, d~ pr~conceitos e de paixcsol .\

    os homens no esperaram o advento da cincia sodal para formular idiassobre o direiro, a moral, a famlia, o Estado e a pf()priasodedadej pois nopodi'"Hpassar sem elas emsuaexistncia.Ora, sobretudo na Sociologiaque as pr enoe s, p ara r etoma r a expre ss ,; o de Uacon, e st ,; o em eS ladode dominar os es pr ito s e de s e subst it ui r , 'S cois as . Com e fe it o, a s co isa ssocia is s se re ali zam a tra vs dos homens; s o um produt o d" at iv id adehumana. No pa rec em, pois , c on stit uir outr a co isa s eno a re aliz a\' o deidhl s, in; ltas ou no, que trazemos cm nsj no passam da apl ic .: ;u .;odessas idias s diversas circunstncias que acompanham as relal'sdos homens entre si. A organizao da famlia, do contrato, da represso,do Estado, da sociedade aparecem ass im como um simples desenvolvi~men to da s i d ia s que fo rmulamos a re speit o da socie dade, do Es ta do , d ajustic;aete PortOlmseguime,ais fatosc outros anlogos pareceu1n:~loerrealidade seno nas idiase pelas id.:ias;e como estas parecem o germl'dos fatos, ehls que Se tornam, ento, a matria peculiar :1Sociologia..!'

    A dificuldade que o socilogo enfrenta para libertar-se das falsasevidncias, fonnad:ls fora do campo d:t cincia, deve- se a que influi sobreele seu sentimento, sua paixo pelos objetos morais que examina. Mas,mesmo que tenha prefernc ias, quando invest iga , o sbio

    A DUAlIDADf DOSfATOSMORAISAs regras morais so fatos sociais e apresentam, conseqentemente, ascaractersticas j mencionadas. Inegavelmente coativas, elas, no entanto,

    mostram uma outra face, ao se apresentaremcomo "coisasagradveisdeque gostamos e que desejamos espontaneamente". Estamos ligados a elas"com todas as fras de nossa alma". A sociedade nossa pro tetora e" tudo o que aumenta sua vitalidade eleva a nossa", por isso apreciamostudo o que ela preza. A coao deixa, ento, de ser sentida graas aorespeito que os membros de uma sociedade experimentam pelos idea iscoletivos. O prestgio de que esto investidas certas representaes deve-sea que

    se des interessa pdas conseqncias prticas. Ele diz o que L';veri fi cao que so as coi sas e fica nessa verificao. Nose pre;,ocupaem saberse as verdades que descubra so agradveis ou desconcertantes, se um-vm ,'S rela\'es que estabelea fiquem como foram descobertas, ou seva ler ia a pena que f os sem ou tr as. Seu papel o de expr imir a re al id ade ,no o de julg-Ia."

    somente uma sociedade constituda goza da supremacia 1110r ale In;Hcrhdindispe ns vel pa ra fa zer a le i para os indiv d uos; pois s a personalida de;,mora l que e st ej a ac ima da s pers ona li dades parti cul ar es que f orma at Oo le ti vi da de . S om en te a ss il n e la t em a c on ti nu id ad e e I ne sm o a p er en i-dade nel'essrias para manter a regra acima das relaes efmeras que aencarnam diariamente..!"

    74 Por isso que uma das bases da objetividade de uma cincia dasociedade teria que ser, necessariamente, a disposio do cientista social a

    Emsuma, as regras mora is possuem uma autoridade que implica anoo de dever e, em segundo lugar, aparecem-nos como desejveis ,embora seu cumprimento se d com um esforo que nos arrasta para forade ns mesmos, e que por isso mesmo eleva-nos acima de nossa prprianatureza, mesmo sob constrangimcnto. As"crenas e prticas sociais agem / ~

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    rsohre nsa part ir do exter ior", por i sso, sua ascendncia I :unhm d ist in tadaquela de que desfr utam nossos hbitos, os quais se encontram dentro de'ils. O fato moral apresenta, p0is, a mesma dualidade do sagrado que ,. num sentido, ')0 ser proibido, que .no se alisa violar; mas tamhm o serhom, amado, p rocurado". Por i sso,

    ao nH:Sl11ocmpo que as insli tu ics se impen1 a nnos rep resL 'nta no que temos de pessoa l e di stinto, ni sso quefaz de ncs um ind iv duo. "2 ') Em out ras p :r lavras, exi stem em ncs do is seres :um, individual, "constitudo de todos os estados mentais que no se rela-cionam seno conosco mesmo e com os acontecimentos de nossa vidapessoal", e outro que revela em ns a mais alta realidade, "um sistema deidias, sentimenlos e de hbitos que exprimem em ncs (..J o grupo ou osgrupos diferentes de que fazemos parte; tais so as crenas religiosas, ascren~:as L' as pr:ticas mora is, as tr adies nacionais ou profissionais, asopiniC>es colet ivas de toda espcie. Seu conjunto forma o SL' rsoc ia l. " .) E,na medida em que o indivduo participa ela vida social, supera-se a simesmo, O ohjetivo da instruo pblica, por exemplo, constituir aconscincia comum, formar cidados para a sociedade e no operriospar a as fbricas ou contabilistas par a o comrcio, "o ensino deve portantoser e ssencialmente moralizador; libertar os espritos das vises egostas edos interesses materiais; substituir a piedade religiosa por uma espcie depiedade social".'"7 6 Ourkheim refere-se a essa necessidade de revigorar os ideais cole-tivos como a razo de muitos dos ritos rel igiosos que vol tam a reunir os

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    A coisa pode ser reconhecidapel o s in toma de no poder se r mod ifi cada po r i nt ermdio de um s im pl esdecreto da vontade. No que seja refratria a qualquer modificao.Masno suf ic iente exercer a vontade par .! produzi r uma mudana , preci soa lm d is so um esfo ro ma is ou menos labo rio so , d evi do " re sis t nc ia quenos ope e que, ou tro ss im , nem sempre pode se r vencid a. "

    o socilogo deve, portanto, ter a atitude mental e compol1ar-se diantedos fatos da mesma maneira que o faria qualquer cientista: considerar quese acha diante de objetos ignorados porque "as representaes que podemser formuladas no decorrer da vida, tendo sido efetuadas sem mtodo nemcrtica, esto destitudas de valor cientfico e devem ser afastadas"..!!' Eledeve assumir que desconhece completamente o que so os fatos sociais, jque

    os homens n~io csperaranl () atlvelUo da cincia social para formular idiassobre o direi to , a moral , a faml ia , o Estado c a prpr ia so\:iedadc; pois n:h,podi:1I1I passar sem e la s em sua existncia. Ora, sohre tudo na Sociologiaque as prenoes, para retomar a expresso de (jacon, esto em eSladode dominar os espr itos e de se subst ituir ~IScoisas. Com efeito, as coisassoci:lis s se realizam atravs dos homens; so um produto da atividadehumana. No parecem, pois, constituir outra coisa seno a realiza~'o deidias, i na tas uu no, que t razemos em ns; no passanl da apl ic .: ;u.; ftodessas idias s diversas dr{"ul1stncias que ;lcomp;lnham as rcla\"t'Sdos homens e ntre si. A organiza o da famlia, do contraio, da re p",:ss;I(.,do Estado, da sociedade aparccem assim contu um simples desenvolvi-mento das idias que formulamos a respeitu da sociedade, do Estado, dajusti~'a ctl'. Por (."onseguintc, tais fatos c outros an~logos parcct:m no terrcalidade seno nas idias e pehls idias; c l 'onl0 l 's tas parecem o gt:nnedos fatos, e las que se tornam, ento, a matr ia pecul iar :1Sodologia.11

    A dificuldade que o socilogo enfrenta para libertar-se das fal sasevidncias, formadas fora do campo da cincia, deve-se a que influi sobree le seu sentimento, sua paixo pelos objetos morais que examina. Mas,mesmo que tenha preferncias, quando investiga, o sbiose desi nt ere ss a pela s cun seqnc ias p r ti cas . E le d iz o que ; \"l :r ilk aO que so as coisas e fica nessa verifica~'o. No se preocupa em sahers e as ve rdades que ue scubra s o ag radveis uu desconcert an te s, se con-vm :" rehl~' es que eS lahe le \' a fiquem como f or am descoher ta s, ou s evale ri a a pena que f oss em out ra s. Seu pape l o de expri mir a re ali dade,no o de julg-Ia."

    7 4 Por isso que uma das bases da objetividade de uma cincia dasociedade teria que ser, necessariamente, a disposio do cientista social ;1

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    colocar-se "num estado de esprito semelhante ao dos fsicos, qumicos efisiologistas quando se aventuram numa regio ainda inexplorada de seudomnio cientfico" assumindo, desse modo, sua ignorncia, livrando-sede suas prenoes ou noes vulgares (j combatidaspor Bacon) e adotando,enfim, a prtica cartesiana da dvida metdica. Essa ati tude leva apenas convico de queno e~tado atual dos nossos conhecimentos , no saben10s com certeza oque so Estado, soberania , l iberdade pol t ica, democracia, soc ia li smo,comunismo etc. c () mtodo estatuiria a interdi~'o do usodestesconl'citosenquanto no estivessl'm dcntificllucnte constitudos. E todavia os termosque os exprimemfigllmmsem cessarnas discussesdos socilogos. Soempregadoscorrentementee com scguran\'a,como se correspondesscmacoi sas hem conhecidas c def inidas , quando nflo despertam em ns senomisturas indistintas de impresses vagas, de prcl'onceitos e de paixcs.1.\

    A DUALlDADf DOS fATOS MORAISAs regt~ts morais so fatos sociais e apresentam, conseqentemente, ascarac ter st icas j mencionadas. Inegavelmente coativas, e las, no ent ;mto,

    mostram uma outra f ace, ao se apr esentarem como "coisas agr adveis deque gostamos e que desejamos espontaneamente". Estamos ligados a ela s"com todas as foras de nossa alma". A sociedade nossa protetora e"tudo o que aumenta sua vitalidade eleva a nossa", por isso apreciamostudo o que ela preza. A coao deixa, ento, de ser sentida graas aorespeito que os membros de uma sociedade experimentam pelos ideaiscole tivos . O prestgio de que esto invest idas cer tas rep resentaes deve-sea quesOluente um~1socied~lde constituda goza da ~upreluada 1110ralc materialinuispensvel para faze r a lei p ara os indiv d uos; pois s a personalidademoral que esteja acima das person:llidades particulares que forma al'oletividade. Somente assim ela tem a continuidade e mesmu a pereni-dade nel 'ess"r ias para manter a regra acima das relaes cfmeras que aencarnam diariamcntc"H

    Em suma, as regras momis possuem uma autoridade que implica anoo de dever e , em segundo lugar , apareceni-nos como desejveis,embora seu cumprimento se d com um esforo que nos arras ta para forade ns mesmos, e que por isso mesmo eleva-nos acima de nossa prprianaturcza, mesmo sob constrangimento. As"crenas e prticas sociais agcm / ~

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    Essa conscincia comum ou coletiva corresponde ao "conjunto dascrenas e dos sentimentos comuns mdia dos membros de uma mesmasociedade [que] forma um sistema deterri1inado que tem vida prpria".32Ela produz "um mundo de sentimentos, de idias, de imagens" e independedas maneiras pelas qua is cada um dos membros dessa sociedade venha amanifest-Ia porque tem uma realidade prpria e de outra natu reza. Aconscincia comum recobre "reas" de distintas dimenses na conscinciatotal das pessoas , o que depende de que seja ou segmentar ou organizadoo t ipo de sociedade na qual aquelas se inserem. Quanto mais extensa aconscincia coletiva, mais a coeso entre os participantes da sociedadeexaminada refere-se a uma "conformidade de todas as conscincias parti-cula res a um tipo comum", o que faz com que todas se assemelhem e,porisso, os membros do grupo sintam-se atrados pelas similitudes uns com osoutros, ao mesmo tempo que a sua individualidade menor. Ainda assim,a con sc i nci a mora l d a s oci ed ade no encont da por i nt ei ro em todos o si ndi vduo s e com suf ic ie nte v ita lid ad e pa ra impedi r qua lquer at o que aofendesse , fosse est e uma fal ta puramente mo 1ou propr iamente um crime.(00.)Uma uniformidade to universal e to absoluta diC'.dmente impossvel(00.)mesmo entre os povos inferiores, em que a originalidade individual estmuit o pouco desenvo lvi da, e st a no t odav ia nula . Ass im ent o, uma vezque no pode ex ist ir s oci ed ade em que os indiv duos no di vi rj am mai s oumenos do t ipo colet ivo, inevi tve l t ambm que , ent re est as d ivergnc ias,existam algumas que apresentem C'drtercriminoso.J3

    Nas sociedades onde se desenvolve uma diviso do trabalho, a cons-cincia comum passa a ocupar uma reduzida parcela da conscincia total ,permitindo o desenvolvimento da personalidade.Quanto mai s o meio soc ia l se ampli a, menos o desenvolv imento das diver -gncias privadas contido . Mas , ent re as divergnc ias, exi st em aquelas queso es pec f ic as d e c ada indiv duo, d e c ada membro da f aml ia , e la s mes -mas t orn am-s e semp re mai s nume ros as e mais impo rta nt es med id a queo campo das relaes sociais se torna mais vasto'. Ali, ento, onde elase ncon tr am uma re si st n cia d bi l, i nev it v el que e la s s e p rovenham defora, se acentuem, se consolidem, e como elas so o mago da persona-l idade indiv idua l, est a vai necessari amente se desenvolver . Cada qua l, como passar do tempo, assume mais sua fisionomia prpria, sua maneirape sso al de senti r e p en sa r. J mo colegas, inimigos, parentes, comprador e vendedor ,criminoso e vtima, admirador e astro, indifer ente e apaixonado, patro eempregado , ou dent ro de uma in finidade de poss ibi lidades, desde que todaselas incluam uma referncia comum ao sentido partilhado. lima relaosocial pode ser tambm efmel~1 ou durve l, is to , pode ser inter rompida ,ser ou n:\o persistente e mesmo mudar radicalmente de sl'ntido durante oseu curso, passando , por exemplo, de amistosa a host il , de desinteres s: ld:1 asolidria ete. Weber chama o Estado, a Igr eja ou o casamento de pretensasest ru turas soc ia is que seJexi stem de fato enquanto houver a p robabi lidadede que se dem as rela\ ;' (l es soc ia is dotadas de con te lc lo s s ign if icat ivos queas constituem. Ou seja, de que pessoas nessa sociedade achem que devamse casar, pagar impostos e votar ou assi st ir ; ISn :r imtmias religiosas . Ass im,do pon to de v is ta sociol ()gico, um matr imtmio, uma corpo r: I\ ;' o ou mesmoum Estado deixam de exist ir "desde que desapare \; 'a a fJml}(fhi/id(/de de quea se desenvolvam determinadas espc ies de a tivk lades sociai s o rientad :l ssignificativamente"'." \'(Ieber apresenta uma interpreta\;':\o inovador a arespeito do que chamado de institui~:;lo, ou do que chama de "perso-n:l lidades coletivas". Segundo ele, form:ll :cles soci: lis como o Est:ldo, coope-r:ltiv:ls, sociedades antmimas ele.,

    n;'({)s:io outra coisa qUt: dt'St'Il\'ol\'illll'ntos t' t..'IUI'l'I:I(:llnl'nloS de ac.:{H.'st 'spl'dfjc;I:-ide pessoas individuais, j:qUl' apenas das podl'm M'f sujeitosde uma ai o orientada pelo sell sentido. Apesar disto, :1 S()liolo~i:l n:'lopOlk ignorar, mesmo para sells prprios fins, aqllL'l:Isl'struturas soda isdl'natureza col l' lh ': ! que s :io ins lrut lWnloS d l' oUI ,, ;I S m:l Il l' ir :l s de colocaf -s l'dianl e da r ea lidade . L..) Pa ra a Sociologia. a re alicl:lde Estado n:,o se com.pe nl' cl 's sarial1l t'nl t. ' de S l' lI S e lementos jur d icos . ou mais prccisamcnte.n:io derivaticoou valor:l tivo. Na realidade, as rclaes podem ter amboscontedos, enquanto definies ou conceitos so tipos ideais.120 121

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    DIVISODO PODERNA COMUNIDADE:CLASSES,ESTAMENTOSE PARTIDOS

    Um dos problemas que se coloca , por exce lncia , Sociologia : odas diferenas sociais . Na concepo weberiana, elas podem ter vriosprincpios explicativos. O critrio de classifica~'o mais relevante dadopela dominfmcia, em dada unidade histrica, de uma forma de organizao,ou pelo peso particular que cada uma das diversas esferas da vida coletivapossa ter. Se, numa sociedade como a chinesa tradicional, a posio social f ixada pelas qualificaes para a ocupao de cargos mais do que pelariqueza, nas sociedades capitalistas modernas a propriedade de

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    fundonamento , conf igurao espec fi ca de interes ses que nele se desenhae ~tmaneira como os diversos agentes nele se posidonam.Uma das distines entre estamentos e classes ref ere-se, portanto, :1necessria existncia, nos primeiros, de um sentimento de perten,'a, j; q ueas classes so apenas "bases possveis (e freqentes) de uma a,'o comu-nitria ~) Os memhros de grupos de status esto de acordo com a manu-teno desse cadter de fechamento aos dema is (os no-memhros), isto , degarant ia de exc lu sividade , de pr iv il gios ou monop lios , sempre haseadosem algum nilr io socialmente legtimo de exclus:lo. Participar tIL' um esta-mento quer dizer, ent:lo, viver de acordo com determinadas regr:ls qUl'dikTt'l1t'i:lIl1 os componentes deste grupo dos de outros. I~esse sentido dedist int :: !o - l igado ~Iohten, ': lo e /ou adot :: "lo de est ilos dL' vid: l, maneiras ,t radip')es, modas, diplomas, e tiqueta, lugar de res idl :ncia ou :1est igm: lt i-Z:lt::'IOde certos modos de aquisit::'lo ou de estahelecimento de par ceriasm:llrimoni:tis ete. - que orienta a conduta dos :Igentes que o constituem.Entre as a,'t's comunais ma is f reqentes nesse caso devem desl:lcar -se aspr:t icas dL' L'xcluso e afasl:lIl1ento dos n:' lo-meIllhros, as quais rL' l'ort: :lIl1os sentimentos de pertent:a e de distin,'o. Ao contr:rio,

    de um eSl ilo de vida espedfico . A honra soc ia l pode resul ta r d iret amenle , il' dl' honra. Ao nmldrio lk'k\ :Iordctn l's lal11l'1l1:1Isignifica jUSI:UHl'llIl'I)in\'l'rso: um:! organiz;u,::'u,so(:ial dl' :u,:ordo l '< I IU : t honra e UII Imodo d l'\ 'in: r s egundo ; IS normas l 'SI: Il Il c. .'nt li s, T :I Iordl 'm l poi s, :lIIh..':I~::II,b l'llI suap rpr ia r :l iz quando : t mera aqu is h. .' :l o l 'contHl li cl l ' o p od er p ll r: IIHl' IH l'l'l'tJl1tullinl, (IUl' revelalll daralll(.'IHl.' sua origl'l1I l'Xll'rll:t, Ptllh,.'1IItIUlt)rg:lr:I lHeSII):I !lonr:1 :1 quelH os Il'nha ('onsl'guido, oU podelH indushT (,..)oUlorg:II'~lIll'S UI1I:1houra super ior L 'IU \' ir ludc do ~'Xilo, que os mL' lI lhrt lsde um L'sl:tIJlL'nlo prl'IL'ndl'lH dL',~rnllar L 'II ) dr ludl .' dL' S eu modo d l' \ "i d: 1.Por isso oS Il 1l 'mhro s d l' t oda ()rg:lniz:H,::~IO l 's t: llHl'l1lal n.':lgl'1I1 com rigorl'

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    un) fim ()hil'tin,~_ ;1rcaliza..N

    A domina(:; lo !l:gtima pode justificar-se por trs motivos de suhmiss:ioou princpios de ;\uloridade - radonais, tradicionais ou afetivos,

    ! Im:\ das questt>es colocadas ;\ Sociologia a que se ref ere ;\ persis-tncia das rehlesdas pesso :\s se o que Ihes d sent ido n :io uma ins ti tuk ,. :toahstr al:e ! Im:\ vez que Weher entende que o social constri-se a par tir das:H,,'esndividuais, cria-se um problema terico: como possvel ; \ conti-nuidade da v ida soda I?Arespos ta para tai s ques t( )l 's encont ra -se no funda-mento d: \ organiza: io soc ia l, chave do verdadeiro problema sociolg ico: adomina(:;> ou a produ~':io da legitimidade, da submiss;\o de um grupo aum maml:\to, I~ fundamental ent:io distinguir os cOIKl'itos de poder l'domina()< ).O conceito de poder , do ponto de vista sociol(>gico, amor fo j que"signilk:\ a prohahilidade de impor a prpria vontade dentro de umarela()o social, mesmo contra toda a resistncia e qualquer que sej:\ ofundamento dessa probabilidade " Portanto, n;\() se limit:\ a nl'nhum:\circunst;\I1ci:\ soci:" especfica, dado que a imposilo d:\ ,'ont:lde de:tlgul'm pode ocorrer em inmeras situa~;()es ,

    Pode depender direl:lIl1l'nte dl' l ima conste1:u,;:io de interesses, ou seja. decOl1sidl'ra(cs ulilil:rias de vantagens l ' i ncon" en ien tes p or par te l bqut' kque ohedece, Pode lamh.:m depender de mero costume, do h,d)ilo cq.(o deum nnnport:lI1wnlo i n\ 'l 'l crado , ou pod e f undar-s e, f in :dmenh. ', no puro:If(,'to, na mera indin:H.::io pessoal do s(u.lito, N:io ohSt:UlIl" :I domin:u.::'loque rl'pOllS:1SSl' apenas nesses fund:lIl1cnlos seria rl'!;ui\'amt'nIL' insl;\'cl .Nas rL'la

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    , .A essncia da polt ica, dos mecanismos do mercado e da vida social a luta;sejaela "o duelo entre cavaleirosregulado convencionalmente, aconcorrncia sem limites, a disputa ertica sem regulaes ou a competioespoltiva estritamente regulada". O contedo desse tipo de relac,:osocial"orienta-se pelo propsito de impor a prpria vontade contra a resistnciada outra ou das out ras partes".12 Os homens lutam por seus interessesno mercado assim como, para participar no poder ou intluir na suadis tr ibui~ 'o, seja entre Estados ou entre grupos dentro de um Estado,"ou mesmo com a finalidade de desfrutar a sensa~'o do prestgio produ-zida pelo poder"."\ O homem no ambiciona o poder apenas para enri-queCl.'reconomicamente. Muitofreqentemente, aspiram-se ;IShOI1l~ISociaisque ele produz.H Emsuma, classes, estamentos e paltidos so fenmenos tIL-distribuio de poder dentro da comunidade e manifestaes organizadas dalUlacotidiana que caracteriza a existncia humana.11; que se a tentar para o fato de que as categorias de luu e Selq': IO,que poderiam dar margem a uma interpreta~'o darwinista da Sociologiaweberiana, no se referem ;\ luta dos indivduos por suas probabilidadesde vida, mas pela seleo das rela~'es sociais, por impedi-Ias, estorv;-las,1~lvorec-lasou organi-las num certo padro que convm ou atende aosvalores ou interesses e cren~'asdaqueles que tratam de imp-los.A vitria daqueles possuidores de qualidades - no impor!:1 sebaseadas na fora, na devoo, na originalidade, na tcnica demaggica, nadissimulao ete. - as quais aumentam suas probabilidades de entrar numa

    relao social (seja na posio de funcion;rio, mestre de obras, diretor-geral, empres; r io, profe ta , cnjuge ou deputado) chamada de seleosocial. Nesse quadro, a rea lidade social aparece como um cOlI/ple.\'odees/ru/lIras de dOlllillao. A possibilidade de dominar a de dar aosvalores, ao contedo das relaes sociais, o sentido que interessa ao agenteou agentes em luta. O esprito do capitalismo, por exemplo, "teve queluta r por sua supremacia contra todo um mundo de for~'as hosti s" . Mas

    a dominao o que mantm a coeso social, garante a permanncia dasrelaes sociais e a existncia da prpr ia sociedade. E la se manifesta sobdiversas formas: a interpr etao da histria de acordo com a viso do grupodominante numa certa poca, a imposio de normas de etiqueta e deconvivncia social consideradas adequadas, e a organizao de regr as pama vida poltica. impOltante ressaltar que a dominao no um fenmenoexclusivo da esfera pol t ica, mas um elemento essenc ia l que percorre todasas instflOcias da vida coletiva.Weber interes sou -se pe las est ru turas de dominao espec ia lmente sob

    duas formas: a burocdtica e a carism; tica. A pr imeira corresponde ao tipoespec if icamente moderno de adminis tra~ 'o, rac ionalmente organizado, aoqual tendem as sociedades oc identai s e que pode apl icar -se tan to a empreen -dimentos econmicos e polticos quanto queles de natureza religiosa,profissional ete. Nela a legitimidade se estabelece atravs da nenra n:1legalidade das normas estatudas e dos direitos de mando dos que exercema autoridade. Em oposio a ela, as duas outras formas (tradicional ecarism;t ica) fundamentam-se em condutas cujos sentidos no so racionais .Em comparao com a carisntica, a tradicional mais est;vel. Mas,em certas circunstfmcias, cada uma dessas formas de dominao podeconverter- se na outra ou destr u-Ia . As formas de dominao tradicionaisou racionais podem ser rompidas pelo surgimento do carisll/a que instituium tipo de domin:l

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    "I1ll'l)OS que seja um fsico, qUl'1l1:Inda num honde n;'lo It'm idC:'i:1dl'('OlHO ( ) c ar ro se 1l1oviment:t.E n:"topredsa saber. Basla-Ihl' poder contarcom ( ) ( .'Ol llp on :l Il lc nt o do honde t ' o ri en ta r sl Ia condut a d l' : u:o rt! o ( .' 01 11l'SS;1t'xpcct:lli\':I; masnada s ahe sobre () que t' nl'cl's~dri() par:1produzir obonde ou mo\'i l1lcnt:-lo, O st.'h'agell1 It'm um ('ol1lu.:c:in1l'nto incomp:lr:I \'el-mcnte mai

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    A SOCIOLOGIADA RELIGIO

    Como nas demais, tambm na ordem religiosa existe luta entre agentespela imposio do seu domnio, podendo ser operadas mudanas decisivastanto no ;ul1bitoda religio como em outras reas da vida coletiva. Assimcomo na economia e na poltica, tambm tem-se assistido na vida religiosa,especialmente em algumas seitas ocidentais, ao estabelecimento de umconjunto de valores conducentes ~Iracionalizao das condutas dos fiis.Weber considerou este um fenmeno fundamental pam a transformao dasprticas econmicas e para a consti tuio da est rutura das soc iedadesmodernas. Pottanto, o estudo da religiosidade essencial para a compreensodas distintas formas de vida soci

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    ~c uma cOl ll un id :H .l c n. :l ig io !" ;1 s urge na ond :1 d e l Im: ! p ro fe ci a ou d a p l"O -p:t~;l1ld:l de UIll sah'ador. () controle da condul:1 regular c lhc . pr ime iro,aos s llcc ssorc..:s qU:llificadds ,carismalicall1entL', : tos alunos. dbcpulos dosprofetas Oll do sah 'ador. l \1 :l is t arde . s oh ccrr: ls condic. :C'J'C'''e procurou explica~'es internas ;1prpria esfera religiosa.

    O processo de rac iona lizao que ocorre na organiza~' o da comuni -dade religios:1 reOete-se em suas concep< ;es de mundo e nas r az()es queso apresentadas para explicar aos fiis por que alguns so mais afortu-nados do que ou tros - ou seja, o sofrimento individua l vi sto como imerecido_ e por que nem sempre so os homens hons, mas OS maus, os quevencem...") De modo geral, as n:ligi(>es mais antigas propor cionavam aI

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    N ossa t ese no de que a natureza especfica da rel igio consti tui umasi mples funo da camada que surge como sua adepta cam ct ersti ca, ouque ela represente a ideologi a de tal cam ada, ou que seja um reflexo das ituao de interesse mater ia l ou ideal ." '

    o que Weber faz aqui uma referncia necess idade de se questio-nar a unilateralidade da tese materialista, complementando-a com outrasvias de interpretao, nesse caso, a relao entre uma tica rel igiosa e osfenmenos econmicos e sociais, ou melhor, os tipos de conduta ou demodos de agir que possam ser maisfavorveis a certas fonnas de organizaoda esfera econmica e a uma tica econmica. E conclui: "Sempre que adireo da totalidade do modo de vida foi racionalizada metodicamente, elafoi profundamente determinada por valores ltimos" religiosamente condi-cionados.6-iAtravs da anlise de uma das direes em que evolui a esferareligiosa no sentido de uma racionalizao crescente, Weber encontrar abase para explicar o predomnio de concepes e prt icas econmicasracionalizadas nas sociedades ocidentais. A autonomia da instncia religiosa o pressuposto para que se considere o desenvolvimento das doutr inas edos sistemas de explicao religiosos a partir da lgica de funcionamentodo seu prprio campo. No h elementos materiai s ou psicolgicos qUI:sejam determinantes desse processo: as relaes entre os diversos agentesreligiosos so o fundamento principal de toda causalidade nessa rea. Nocaso de algumas seitas protestantes, as tenses entre os campos econmicoe religioso so superadas, e podemos dizer que a afinidade eletiva entre oselementos dominantes em cada um deles refora o desenvolvimento da ticaasctica e do capitalismo enquanto uma forma de orientar a ao econmica,

    TENDNCIA RACIONALlZACO BUROCRACIASe quisssemos caracterizar, em uma s idia, a marca distintiva queWeber identifica nas sociedades ocidentais contemporneas, esta seria deque o mundo tende inexoravelmente racionalizao em todas as esferas da

    vida social. Dizem seus bigrafos:At mesmo uma rea de experincia to inter io rizada e aparentementesubj etiv a como :, da msi ca se pres ta ;, um trabalho sociolgico sobre oconce it o de raci onal izao de Webe r. A fixao de padres de acordesat ra vs de uma ano t:' o mai s conci sa e o est abel ec iment o da escal a bemtemperada; a msica tonal harmoniosa e a padronizao do quarteto desopr o e dos i ns tr umen tos de cor da como o nc leo da o rquest ra s in fni ca .138

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    Tais fatos so vistos como racionalizaes progressivas. Os sistemasmusicais da sia, as t ribos indgenas pr-Iet radas da Ant igidade e doOriente Mdio, so comparveis no que se relac iona com o seu mbitoe grau de racionalizao."'

    o prprio es tudo que elabora sobre a Sociologia da religio visa a"contribuir para a tipologia e Sociologia do rJcionalismo", e por isso "partedas formas mais racionais que a realidade pode assumir", ou seja, as tpico-ideais. Procura, .tssim, "descobrir at que ponto certas concluses racionais,que podem ser estabelecidas teoricamente, foram realmente formuladas. Etalvez descubramos por que no".66Isto no significa que outras formas deatividade, que se tornaram altamente racionalizadas, sempre tivessem tidotal o rien tao, mesmo no caso da ao econmica que hoje se utilizaamplamente do c;i lculo como tcnica racional. Em sua forma primitiva,todo afanar-se dos homens por sua alimentao muito semelhante quiloque nos animais tem lugar sob o imprio dos ins tintos. Do mesmo modo,encontra-se pouco desenvolvido o grau de calculabilidade da ao econmicaconscientemente orientada pela devoo religiosa, pela emoo guerreira,pelos impulsos dI: piedade ou por outros afetos scmelhantes.67

    Um dos meios at ravs do qual essa tendncia racional izao seatualiza nas sociedades ocidentais a organizao burocrtica. Da adminis-trao pblica gesto dos negcios privados , da mfia ~tpolc ia, doscuidados com a sade ~ISprticas de lazer, escolas, clubes, partidos polti-cos, igrejas, todas as instituies, tenham elas fins ideais ou materiais, estru-turam-se e atuam atravs do instrumento cada vez mais universal e eficaz dese exercer a dominao que a burocracia.

    Entre os trs tipos puros de dominao legt ima, a racional ou legal a forma de organizao na qual mais se reduz a importncia de ou trasint1uncias como a riqueza, os costumes, a parentela e os amigos, substi-tuindo-as por leis ou regulamentaes administrativas. As ordens passam aser dadas de maneira previsvel e estvel;cuida-se da execuo dos deveres edos direitos dos que se submetem a ela; a especializao necessria para oexerccio de cargos ou funes claramente determinada; apelam-se paraas normas e os registros escritos, os arquivos, "o sistema de leis, aplicadasjudicial ou administrativamente de acordo com determinados princpios,vale para todos os membros do grupo social". A burocracia enquanto tipoideal pode organizar a dominao racional-legal por meio de uma incom-parvel superioridade tcnica que garanta preciso, velocidade, clareza,unidade, especializao de funes, reduo do atrito, dos custos de materiale pessoal etc. Ela deve tambm eliminar dos ne~cios "o amor, o dio etodos os elementos sensveis puramente pessoais, todos os elementos irra-cionais que fogem ao c1culo".6HA organizao burocrtica hierrquica,e o recrutamento para seus quadros d-se atravs de concursos ou deoutros critrios objetivos. Funcionrios que pudessem ser eleitos pelos IH

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    Lembra-te de que tempo dinheiro. Aquele que puJe ganhar Jez xelinspor dia por seu trabalho e vai passear ou fica vaJianJo mewde do dia,embora no dispenda mais do que seis penees durante seu divertimento ouvadiao, no deve CUl up uta r a pena s CS S; I de spe sa ; g ast ou , n a rC~llidadc,ou melhor, jogou fora, cinco xelins a mais. Lembra-te deste refro: o bompagador o dono da bolsa alheia. Aquele que l'nhecido por pagarpontual e exatamente na data prometida, pode, em qualquer momento,levantar tanto dinheiro quanto seus an1igos possan1 dispor. Isso , riSvezes,de grande utilidade. Depois da industriosidade e da frugalidade, nadacontr ibui Inais para um jOYt:lu sub ir n a v id a do que a pontua li dade e :Ijustif.:a em lodos os seus negcios; portanto, nunca ( ."ol1scrvcsdinheiroemprestado uma hora alm do (CnlpO proluctido, seno 1IIHdcsap0nl: .tmcntofechar a bolsa de tcu amigo para sempre. O som de tClImanelo scincoda manh Oll :IS o ito da noite, ouvido por um credor, o far: conn.'dcr-tl.'seis meses a mais de crdito; ele procurarj, porm, por SClIdinheiro no diascguimc se t e v ir C IU UlU:.tmesa de bilhar ou escutar tua voz numa lavernaqua ndo deverias estar no traba lhu."

    o trabalho torna-se portanto um valor em si mesmo, e o operrio ouo capitalista puritanos passam a viver em funo de sua atividade ounegcio e s assim tm a sensar,:o da tarda cumprida. O puritanismocondenava o cio, o luxo, a perda de tempo, a preguia.Assim,a peculiaridadedessafilosofiada avarezapareccser o if.k'alde UIIlhomem honesto, de crdito reconhecido c, : I

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    conexes causais possveis que contribuem para a realiza~10 de umaindividua lidade histr ica concreta: o cap ital ismo ocidental . Para iniciar oe.xame dessas rclae\, elaborou'um modelo abstrato, um tipo ideal, doque chamou d I!spri/o do capi//islllo, composto dos elementos quecons iderou serem seus aspec tos defini tr io s.

    A possibilidade de entender a estrutura social como um conjunto demlil tiplas I ()gicas o ferece r icas perspect ivas de anli se para soc iedades cadavez m~lis complexas. As diferenas sociais , os princpios diversific; ,dos qucas produzcm e a irredutibilidade dos fenmenos sociais de esf eras espec-ficas S;IObalizas fundamentais para se pensar as sociedades do sculo 20.A nfase no conce ito de domina~'iio como parte integr ante das rela~'('>essociais em qualquer esfera outro instrumento precioso p:tra se entendera na tureza dessas relaes. As tendncias ;1 in fo rm~tl iza l0 no comrc io,na indstria, no Estado, nos sistemas financeiros ett'., podem tambm seranalisadas adequadamente com os conccitos de buroLTatiza~' iio e racionali-za iio. A gama de temas e de possibi lidades que si io aberto s por \ "V 'ebcrsi ioa demonstra~'iio de que se trata de um clssico no sentido mais vigorosoda expressiio. A complexidade c a abrangncia de sua Sociologi:l. por-tanto, tornam difcil a tarda de sintetizar toda a riqueza te

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    Weber discute a influncia que representou, para as cincias his tricas ecultumis, o sucesso da biologia moderna e de seu princpio de ordenamentoda realidade em um esquema de leis gerais. A impossibilidade do uso desseesquema estava em que o mtodo dedutivo exigia um conhecimento datotalid;lde da realidade histrica como ponto de partida indispensvel parao que parecia ser vlido e cientfico.MWEBER.A objetividadedo conhecimento nas CinciasSociais,p. 116,') WEBER. Rejeies religiosas do mundo e suas direes,p. 372.11IAs ciC:nciasda cultura procuram explicar as obras humanas, o que oshomens criaram: suas leis, instituies jurdicas, polticas, sua organiza~';10familiar, al1e, suas crenas religiosas, valores morais, atividades econmicas,seus sistemas de conhecimento." WEBER. t'culluma y suciedad, p. 18-" WEBER. Hcolloma y sociedad, p. 5.1.\WEBER. l:'cullo/lla y sociedad, p. 20.li Tanto a\. 'essustentadas numa tica dos fins ltimos (a que faz do v;dorum fim em si mesmo) quanto aquelas que, pautadas apenas por um clculorac ional , vi sam atingi r de te rminados f ins ut il izando quaisquer meios des-guam em paradoxos, porquanto ;lI nbas passam por alto as conseqC:nciasque podem recair sobre os outros. Quem capaz de modificar sua condutadevido a essa consciC:ncia orienta-se segundo uma tica de n:sponsahili-dade, a qual suplementa a tica da conviq'o ou das certezas absolutas,Essa deciso no exclui o comprometimento e a paixo por uma causa,tampouco aceita que os f ins justifiquem o uso de quaisquer meios." WEBER. Hcu/luma y sociedad, p. 22.li. WEBER. Hco/lum(/ y socied(/d, p. 12.17 WEBER. Hcc)//()ma y suciedad, p. 25.1MWEBER. t'collo/lla y sociedad, p. 27.I~ WEBER. Ecolloma y sociedad, p. 683.1WEBER. h'culluma y socedtld, p. 687-688.lh Estesseriam os personagens que se converteram em mitos fundadores dana~'onorte-americana: uma princesa nativa, os primeiros puritanos inglesese os holandeses que migraram e se estabeleceram na regio.17WEBElt l:'ccJ//oma suciedad,p. 688.1MWEBER.ndia:o brmane e as castas, p. 460.1.')WEBEH. l:'cOI/O/ll(/ socedtld, p. 693.," WEBER. l:i.:ol/omay sociedad, p. 683.,\I WEBER. HcollO/IItly sociedad, p. 691-692.,\1 WEBEH. ndia: o hr;lInane e as castas, p. 459,.1,\WEBER. l:'COI/OI/IlIsocedad, p. 692., \' Uma fortl .: d iscrimina\.'o referente aos descendentes daquell .:s trabalha-dores que SI.: dedicavam a lidar com a carne e o couro ainda pode serverifica da atualml.:ntl.: na sociedade japonesa..1>WEBER. Hcul/oma y sociedad, p. 353.,\hWEBER. HcollOllla sociedad, p. 693.Prebendas so pagamentos vita-l cios ou se dl.:vem ao usufruto de rendas auferidas graas ao desl.:mpenhode deveres num cargo.,\7 WEBER. l~'cOllOl/l(/y suciedad, p. 43, Como diria Rousseau, em Docolllrafo social: "Ceder fora constitui ato de necessidade, no de vontade;quando muito, ato de prudncia. Em que sentido poder representar umdever?".IMWEBElt t'CUIIOIlI(/Y socied(/d, p . 693 . 1.1/

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    3 "---o Positivismo Sociolgico

    3.1 A SOCIOLOGIA POSITIVISTAo posit ivismo adotou parmetros tericos que pressupunham que oscdigos re-

    guladores dos mbitos fsico e socialdiferiam quanto a seu carter: osprimeiros seriamrelativos a acontecimentos do mundo dos fenmenos exteriores aos homens; os se-gundos, aos fatos pertinentes problemtica das questes humanas ligadas intera-o e convivncia social. Aprofisso de fde que esses mbitos possuam uma ori-gem comum, ou seja, natural, levou os pensadores positivistas a aproxim-Ios, apesardo reconhecimento de suas diferenas caractersticas. Aevoluo acelerada dos mto-dos de pesquisa das cincias naturais - Fsica, Qumica e Biologia -, que ocorria no s-culo XIX,atraiu os cientistas sociais positivistas para a lgica dos procedimentos de in-vest igao dessas c incias . Desse modo, a soc iedade veio a ser concebida por elescomo um organismo combinado de partes integradas e coesasquefuncionavam harmo-niosamente, conforme um modeloftSico oumecnico de organizao. Devido adoodesse paradigma, o positivismo foi denominado ainda de organicismo.

    Ele tambm definido at os dias de hoje, principalmente pelos cr ticos de suasconcepes tericas, como darwinismo social (Costa, 1987:44-45). Essaqualificao decorrente da influncia importante que as pesquisas de Charles Darwin exerceramsobresuaformade vera sociedade.Avisodarwinistasobrea evoluodasespcieses-tabelece, em linhas gerais, o seguinte: todos os seres vivos setransformam ininterrup-tamente, tendo por desgnio seu aprimoramento e o cumprimento da necessidade degarantia da sobrevivncia. Decorrente desse processo, os organismos tenderiam a

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    46 SOCIOLOGIACLSSICA O POSITMSMO SOCIOLGICO 47adaptar-se emnveiscadavezmelhoresao meio ambiente, criando formasmaiscom-plexase avanadasde vida, que possibilitariam,por meio da ocorrncia de uma com-petionatural, a sobrevivnciaapenas dos seres mais aptos e evoludos.

    Essesparmetros, adaptados para as anlisesdas relaesentre os indivduose asociedade,ensejaram o darwinismosocial,ou seja, a crenacientficade que as socie-dadesmudariam e evoluiriamsegundo padres histricospermanentes. Essastrans-formaes representariam sempre a passagem de um estado inferiorpara outro su-periorde civilizao,noqual o organismosocialsemostraria maisevoludo,maisadap-tadoemaiscomplexo.Comoconseqncia,essasmudanas garantiriam a sobrevivn-cia apenas dos organismos- sociedadese indivduos- maisfortes e mais evoludos.Aqui est o fundamento terico quejustificou amplamente, a partir da segun-da metade do sculo XIXe nas primeiras dcadas do sculo XX,o argumento dachamada superioridade cultural europia sobre os outros povos e culturas. Essatese, largamente difundida pelos meios de divulgao cultural em todo o mundoletrado, serviu comojustificativa ideolgica aos propsitos polticos e econmicosdas potncias europias em sua fase de expanso neocolonialista sobre os conti-nentes africano e asitico. Oimperialismo europeu encontrou na visopositivista oabono cientfico para a continuidade de sua ao de extrao das riquezas perten-centes a outras regies do planeta.Parcela importante dos cientistas sociais europeus, antroplogos, socilogosejuristas aceitava com tranqilidade, e no podia ser diferente a partir da posturaterica que adotavam, a idia de que as sociedades deculturas tradicionaisda fri-ca, da sia,da Amrica e da Oceania eram apenas exemplares de estgiosanterio-res, primitivos ou teolgicos,do passado da humanidade. Essas sociedades maissimples e de tecnologia menos avanada deveriam dirigir-se naturalmente a nveisde maior complexidadee progressona escala da evoluosocial, at atingir o topopositivo, emque se encontrava quela hora a sociedade industrial capitalista euro-pia. Associedades que no pudessem ou quisessem atingir esses patamares de ci-vilizao estariam fadadas ao fim, por inaptido ao avano histrico.Deum ponto de vista terico, a sociologia positivista foiconfigurada pela ten-tativa de seus formuladores em constituir seu objetode pesquisa, pautar seus mto-

    dos e elaborar seus conceitos luz das cincias naturais, procurando chegar mes-ma objetividade e ao mesmo xito, nas formas de controle sobre osfenmenos so-ciais estudados, que aquelas estavam obtendo.Caracterizando-se pela valorao dada aos fatos e a suas relaes, tal comodados pela experincia objetiva, e pelo corte reducionistada filosofiaaos resulta-dos obtidos pela cincia, o positivismo foi o pensamento socialque aclamou omo-dus vivendi do apogeu da sociedade europia do sculo XIX,em franca expansoeconmica. Vem da sua tentativa persistente na busca da resoluo dos conflitossociais por meio da exaltao coeso, harmonia natural entre osindivduos e aobem-estar do todo social (Costa, 1987:46).

    3.2 MILE DURKHEIM E OS FATOS SOCIAISEsseintelectual viveu entre 1858 e 1917, perodo que compreendeu o pice ea primeira grande crise interna do capitalismo monopolista europeu. De seus 59anos vividos, em mais da metade presenciou a opulncia burguesa francesa, en-quanto a fase final assistiu tenso pela disputa de mercados entre as potncias

    europias ser levada s ltimas conseqncias. Em seu pas, a Frana, preocu-pou-se com o que ele chamou de "vazio moralda ma Repblica",comos conflitosentre o capital e o trabalho decorrentes da Segunda Revoluo Industrial, com oimpulso do iderio socialista e comos rumos alitomados pelo capitalismo. Nopla-no internacional, sua vida abrangeu do desenvolvimento do neocolonialismo ecloso da Primeira Guerra Mundial, com seu trmino e o incio da primeira gran-de revoluo socialista, a Revoluo Russa de 1917.Durkheim compreendia o quadro perturbador colocado pela emergncia daquestosocial,masdiscordava essencialmente do contedo de solues que come-ava a ser proposto pelo pensamento socialista. Suas convices defendiam que osproblemas sociais vividos pela sociedade europia eram de natureza moral e node fundo econmico, e que estes sobrevinham devido fragilidade decorrente deuma longa poca de transio. A dialtica da chamada Bellepoquel instigante:este vistopela historiografia como o momento do apogeu do capitalismo imperia-l ista europeu. Entretanto, no interior da sociedade europia - no mbito das rela-esentre a burguesia e a classetrabalhadora -, o desenrolar do processo socialle-vava radicalizao dos conflitos que redundariam na sada socialista russa e noadvento posterior do WelfareState.No tocante ao problema da relao indivduo-sociedade, Durkheim tomouposio a favor desta. Ele entendia que a sociedade predominaria sobre o indiv-duo, uma vez que ela que imporia a ele o conjunto das normas de conduta social.Seu esforo foi voltado para a emancipao da sociologia em relao s filosofiassociais,tentando constitu-Iacomo disciplina cientfica rigorosa, dotada demtodoinvestigativo sistematizado, preocupando-se em definir com clareza o objeto e asaplicaesdessa nova cincia, partindo dos paradigmas e modelos tericos dascincias naturais.Ao desenvolver a sistematizao de seu pensamento sociolgico, Durkheimdiferenciou-se de Saint-Simon e Comte, uma vez que seu aparato conceitual foialm da reflexo filosfica,constituindo um corpo elaborado e metdico de pres-supostos tericos sobre a problemtica das relaes sociais. Emfuno desses as--

    1 Segundo Azevedo (1997:56), essa uma "expresso francesa empregada para caracterizar11mperodo de tranqilidade social e de supremacia burguesa nas grandes cidades europias, durante osprimeiros anos do sculo XX.A Belle poque assinala tambm uma fase de expanso internacional do ca-pitalismo. (...) Na realidade, sob a opulncia e a riqueza, o descontentamento social no era pequeno,comopareciam demonstrar as freqentes grevesocorridas."

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    do de sua publicao, consis te em uma demarcao terica do conceito defatosocial, que, ao mesmo tempo, delimita a especificidade do campo de estudo daSociologia, distinguindo-a das preocupaes da Psicologia. Segundo Durkheim,esse mtodo (Rodrigues , 1995:27) define-se a parti r de trs fundamentos princi-pais : a independncia em relao a qualquer f ilosofia , a objetividade e a determina-o exclusivamente sociolgica, todos a apontar que os fatos sociais so, antes dequalquer considerao analtica, coisas sociais. Suas palavras, ao final dessa obra,demarcam com exat ido aquele que seria, a seu ver , o campo da Sociologia:

    "Fizemos ver que umfato social no pode ser explicado seno por um ou-trofato social e,ao mesmo tempo, mostramos como esse tipo de explicao possvel ao assinalar no meio social interno o motor principal da evoluo co-letiva. A Sociologia no ,pois, o anexo de qualquer outra cincia; , ela mes-ma, uma cincia distinta e autnoma, e o sentimento do que tem de especial arealidade social de tal maneira necessrio ao socilogo, que apenas uma cul-tura especialmente sociolgica pode prepar-Io para a compreenso dosfatossociais. "

    3.4 A QUESTO DA SOLIDARIEDADENaconcepo durkheimiana, a Sociologia deveria voltar-se tambm para ou-tro objetivo fundamental: a comparao entre as diversas sociedades. Para isso,esseautor estabeleceu um novocampo de estudo, a morfologiasocial,que consisti-ria na classificaodo que ele chamou de espciessociais.Em seu entendimento,essa atividade s poderia ser realizada partindo de um rigoroso controle do pro-cesso de observaoexperimental. Fundamentando-se nesse parmetro, fixou queo percurso depassagemda solidariedademecnicapara a solidariedadeorgnicase-ria o motor de transformao histrica de toda e qualquer espciede sociedade.Aseuver,a diviso do trabalho concebida pela formao da estrutura de pro-duo industrial capitalista incentivava e levava ao exerccio de uma nova formade solidariedadeentre oshomens, impelindo-os a uma interdependnciae no aosconflitos sociais. Ele acreditava que a cincia socialpoderia, por meio de suas in-vestigaes, encontrar solues para os problemas fundamentais de sua poca aolargo desses conflitos. Oprimado da especializao,necessria ao desempenho dasnovas funes no mundo do trabalho, estabelecidas pela lgicada organizao in-dustrial, levaria osindivduos a essa nova forma de solidariedade,conferindo-lhesmaior autonomia pessoal e emancipando-os da tutela dos antigos costumes vigen-tes nas formas anteriores de organizao produtiva. Essa nova interdependnciafuncional que os afastaria dos choques sociais.Emsua compreenso, o que ele denominou de solidariedademecnica impe-rou na histria de todas associedades anteriores ao advento da Revoluo Indus-

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    Irialedo capitalismo. Nelas, os cdigosde identificao socialdos indivduos eramdiretos e se davam por meio dos laos familiares, religiosos, de tradio e costu-mcs,sendo completamente autnomos em relao ao problema da diviso socialdotrabalho, que no interferiria nosmecanismos de constituio da solidariedade.Ncssecaso,a conscinciacoletivaexerceria todo o seu poder de coerosobre os in-divduos,uma vez que aqueles laos osenvolviam em uma teia de relaes prxi-mas que acentuavam o controle socialdireto por parte da comunidade.Asolidariedade orgnica semanifestaria, por sua vez, nas palavras de Dur-kheim,de modo inteiramentediferenteda mecnica.Peculiar da sociedade capita-listamoderna, em funo direta da diviso acelerada do trabalho, que nessa socie-dade exerceriainfluncia decisivaem todos os setores da organizao social, leva-riaosindivduosa se tornarem interdependentesentre si,garantindo a constituiodenovasformas de unidade socialno lugar dos antigos costumes, das tradies oudasrelaes sociais estreitas, que caracterizavam a vida pr-moderna. Os antigoslaos diretos da conscinciacoletiva se afrouxariam, conferindo aos indivduosmaiorautonomia pessoal e cedendo espao aosmecanismos de controle socialin-diretos, definidospor sistemase cdigos de conduta consagrados na formada lei.Seem Comte a Teoria da Histria pressupunha a passagem contnua das so-ciedades por etapas, ou estgiosde desenvolvimento, que iriam do teolgicoaopo-sitivo, findando a marcha histrica da humanidade neste, em Durkheim a posturafinalista quanto ao devir do processohistrico nomuda, apenas sofistica-se, umavez que sua compreenso continuou sendo etapista e fatalista, ou seja, seguiuprescrevendo para as civilizaeso percurso nico e inevitvelque as levaria dosestgios inferioresaos superioresde cultura e organizao social, que findariam,necessariamente, com o advento da sociedade capitalista industrial. A viso deHistria dos positivistas padeceu de seu fascnio pela modernidade burguesa, aponto de admitir que, alm dela, restava para o homem apenas o aperfeioamentoda ordemque ela fundou, por meio das revolues liberais.

    EXERCCIOS REFLEXIVOS1. Produza umtextono qual vocexplique a forma pelaqualos positivistas compreen-deram as relaessociais.Fundamente sua resposta estabelecendo ligaes entre as

    visessociol6gicasdesenvolvidas por Comte e Durkheim.2. Expliquea seguinte afirmao a respeito do pensamento durkheimiano: "a socieda-de prevalecesobreo indivduo, impondoa eleas normas geraisde conduta social".3. Defina, com argumentos prprios, o conceito durkheimiano de fato social.Emse-guida, discorra sobre suas trs caractersticas fundamentais.

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    4. Se, para Durkheim, fato social "toda a maneira de agir fixa ou no, ,suscetveldeexercersobreo indiv{duouma coeroexterior,que geral na extensode uma socie-dadedada, apresentandouma existnci{1pr6pria,independentedas manifestaesin-dividuais quepossa ter', por quais motivos a Sociologia di.trkheimianapode ser en-tendida como uma tentativa de estabelecimento de uma tcnicade controle socialque buscava a manuteno da ordem e do sistema depoder capitalista vigente?

    5. Odesenvolvimento deum mtodo depesquisa sociol6gicafoicrucialpara a Sociolo-gia durkheimiana. Explique os fundamentos desse mtodo ejustifique os motivostericos que fizeram dele um instrumento vital para a anlise sociolgicadesenvol-vida por esse autor.6. Segundo a compreenso deDurkheim, a divisodo trabalho socialpropiciada pelaformao da produo industrial capitalista levavaao exerciciode umanova formade solidariedadeentre os homens, encaminhando-os mais para uma interdependn-cia doque para osconflitos sociais.Por que ele entendeu o fenmenoda divisodotrabalho no capitalismo dessa forma?

    .~, 4o Pensamento Marxista

    4.1 o PENSAMENTODIALTICO:O MATERIALISMOHISTRICOKarl Marx (Trier , 1818 - Londres, 1883) foi filsofo, historiador, socilo-goe economista. Sua formao intelectual se deu na Alemanha, seu pas natal,tendo estudado Direito nas universidades de Bonn e Berlim. Defendeu seu dou-torado noano de 1841, na cidade deIena, com uma tese de filosofia sobre Asdi-

    ferenas da filosofia da natureza emDemcrito eEpicuro, versando sobre omate-rialismo na antigidade grega. Antes de dedicar-se ao que ele mesmo chamoude "estudosdegabinete", foi redator-chefe de umjornal liberal de Colnia. Dei-xando a Gazeta Renana, estabeleceu intenso ritmo de estudos e de militnciapoltica e intelectual, que aconteceu no eixo Paris-Bruxelas-Londres, locaisonde realizou a parcela mais importante de sua produo escrita. Aolado deFriedrich Engels (1820-1903), foi responsvel pela construo de uma obramonumental voltada para a anlise, a crtica e a luta para a transformao radi-cal da sociedade capitalista.O quadro sociopoltico em que Marxviveu, primeiro em sua juventude naAlemanha, depois em sua passagem por trs das principais capitais europias, ,em linhas gerais, semelhante ao quej foidelineado anteriormente. Doisdiferen-ciais,no entanto, soimportantes: no mbito poltico,o processo tardiode unifica-oliberal-burguesa vividoporseu pas a partir de 1830; na esfera acadmica e in-telectual, a tradio filosficaalem vinda deKant e Hegel,que fomentou uma ati-

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    conflitos sociais e ensejaria o fim da Histria. Segundo trechol de uma carta .I, .Engelspara J.Bloch,datada de 1890, para a"concepo materialista da Histria, o elemento determinante da mesma Ifundamentalmente a produo e a reproduo da vida rea l. Tan to MWIquanto eujamais afirmamos mais do que isso. Portanto, se algum troca eS.\I'afirmao por outra em que o elemento econmico seja o nico determinalllc.a frase toma-se sem sentido, abstrata e absurda".

    Outro desses conceitos o de alienao.Vindo da filosofia hegeliana, refere-se condio vivida pelo trabalhador assalariado na sociedade capitalista.uma vez que nela ele perde a posse sobre sua fora de trabalho, que passa a seruma mercadoria como outra qualquer, vendida no mercado conforme as leisva-riveis da oferta e da procura. Aovender sua fora em troca desalrio, ele sealie-na e - u trabalho e alienado or ele, ao mesmo tem o o ueocasio-na outra aliena o em rela o a si mesmo, que levaria erda de sua di nidadehumana. Esse conceito levou Marx a constatao de que a nica forma possvelde emancipao dessa alienao seria pela tomada do controle dos meiosdepro-duopor parte dos trabalhadores, por meiode uma revoluo proletria que ex-propriaria os capitalistas e aboliria o regime assalariado, resgatando o sentidocoletivo do trabalho social.O conceito de mais-valia tambm crucial: ele compreende o saldo entre ovalor criado por certa quantRIde de trabalho e o valor efetivamente pago ao tra-balhador pelo trabalho realizado. Ouseja,aps a venda de determinada mercado-ria, feitos osdescontos dos custos relativos aos salrios, deve sobrar um saldo emdinheiro. Essa quantia a mais-valia, ou lucro, que apropriado pelo empres-rio-capitalista, tomando para si um valor que foi gerado essencialmente pelo tra-balho. Marx denominou esse rocesso de explorao,uma vez que ele entendeuser a taxa da mais-valiaa expresso concreta ograu e exploraoa queos assala-riados so submetidos emfuno da venda de sua fora de trabalho. Esseconceitofoi elaborado com base em uma definio que ficou conhecida como teoria dovalor, que, grossomodo, entende por valor a quantidade de trabalho socialincor-

    porada a uma mercadoria, esclarecendo que esse tipo de trabalho refere-se aotempo necessrio para sua produo.Aidia de mododeproduo deu sentido Teoria da Histriamarxista. Indi-ca, em primeiro lugar, osmodos e asformas por meio dos quais so produzidos osbens materiais em dada sociedade, esclarecendo e determinando o carter de cadaregime social, ou seja, definindo as configuraes assumidas pelasforasproduti-vas epelas relaesdeproduoe condicionando omodo de vida daquela formaosocial.Marx entendeu que a passagem histrica de ummodode produopara ou-

    I ENCICLOPDIA ! .AROUSSE CULTURAL. Rio deJane iro: Nova Cul tUra l, 1998. v .16 ,p . 3863.

    .." j!collteciapor meio de rupturas bruscas, processos revolucionrios que consti-lul\I/1Imeiosde resoluo de contradieslongamente acumuladas no interior das,.IClI'(I,.Seproduoentre classesantagnicas. Por isso,para ele, a Histria a re-.ultal1ledo desenvolvimento e da derrocada de modosde produodistintos, queIC'riamovidapela ao da luta de classes.Acontribuio e o legadoda obra deMarxpara a sociedade e para asCinciasI!l1111:lI1aSSociaispodem sercompreendidos emdois sentidos, o politicoe o teri-('O.Apssuamorte, o movimento socialistadividiu-se e expandiu-se, do ponto deVlsl;1pol tico,grossomodo, em duas grandes vertentes principais: a social-demo-.,/,11'-'(/ o leninismo.Aproposta social-democrata,conhecida nos dias de hoje tambm pela deno-Il1il1aode TerceiraVia, difundiu-se principalmente pelos pases desenvolvidosCOI\1propsito de encontrar um caminho paulatino e pacfico para a edificaodI'limaordem socialmaisjusta, promovendo reformasde contedopoltico, eco-nc,micoe socialvoltadas para a incluso progressiva das maiorias ao sistema, quepassoutambm a ser designado comoWelfareState, no intuito de no permitir aocorrncia de rupturas revolucionrias comsua lgica essencial. .O leninismo manteve-se na postura revolucionria que pressupunha ser arevoluoo nico caminho para combater com sucesso a sociedade de c/asses einstaurar o socialismo, compreendido como etapa transitria para o advento dasociedadecomunista sem classes.Caracterizou-se efetivamente a partir da fun-dao da lII"Internacional, em 1919, sob a influncia direta do processo da Re-voluo Russa de 1917, definindo uma nova forma de atuao para ospartidossucialistas, que passaram a autodenominar-se partidos comw1stas. Partindodas vises deMarxe de Lnin,essa corrente depensamento constituiu por todo omundo uma pliade de seguidores e crticos, compreendendo stalinisws, trots-kistas, maostas, ew'ocomwas, entre outros, que conferiram vigor aos emba-tes polticos do sculo XXe contra ponto radical e permanente aos princpios de-fendidos pelo liberalismo.Daperspectiva de sua contribuio terica, a obt'a deMarx consiste, em re-sumo, no estabelecimento de paradigmas que at ento no haviam sido colo-cados pelo pensamento social. Adiferena essencial em relao ao avano quefoiconquistado pela abordagem positivista de simples constatao: enquantoComte e Durkheim elegeram osfatos sociais como objeto,Marx definiu-o a par-t ir do conceito de relao. O campo aberto pelos estudos de Marx estimulouavanos tericos importantes em todas as reas das cincias da sociedade, colo-cando-se entre as principais conquistas modernas realizadas pelo conhecimen-to humano.

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    o historiador ingls Eric Hobsbawm situa2 os avanos e os limites dessa COIIribuio. Para ele,."0marxismo tem contribudo de algum modo para entender a Histria, ma.,.realmente, no o suficiente. Por exemplo, o marxismo vulgar diz que todas n\coisas ocorrem em virtude defatores econmicos e obviamente issono UlI/.,explicao adequada. Insisto que o importante distinguir o marxismo VIIIgar de uma interpretao mais sofisticada do sentido da obra de Marx ouemverdade de Karl Marx por ele mesmo. Acho que o marxismo podefazer isso.Hoje podemos falar sobre isso, como estamos fazendo, porque hoje ns podemos distinguir aqueles trechos das anlises marxistas que pareciam ser vlidos, mas claramente no o so. Por exemplo, sevocrealmente l oManifestoComunista de 1848, ficar surpreso com ofato de que o mundo, hoje, muitomais parecido com aquele que Marx predisse em 1848. A idia dopoder capi-talista dominando o mundo inteiro, como tambm uma sociedade burguesadestruindo todos os velhos valores tradicionais, parece ser muito mais vlidahoje do que quando Marx morreu. Por outro lado, por exemplo, a previso deque a classe trabalhadora ficaria cada vez mais pauperizada no verdade.Isso no quer dizer que a classe trabalhadora no tenha suficientes boas ra-zes para protestos. Uma coisa interessante que faz a anlise marxista bas-tante moderna a anlise das tendncias de longa durao".

    4.2 O PROBLEMA DA IDEOLOGIA

    No livroA ideologiaalem,Marx e Engels definiram o conceito de ideologiaapartir do qual operaram parte de suas reflexes tericas. Esseconceito foirevist03posteriormente por eles mesmos e por outros pensadores marxistas, entre eles oitaliano Gramsci. Seu elemento constitutivo principal foi o que ambos denomina-ram deprincpio da inverso, expressando a idia de inversoda realidade.Em uma das passagens desse livro, eles sustentam que o sistema de idias

    de uma classedominante configura o conjunto das idias dominantes em cadapoca:"ou, dito em outros termos, a classe que exerce o poder material dominante nasociedade , ao mesmo tempo, seu poder espiritual dominante. A classe quetem sua d isposi o os meios para a produo material dispe, com iss o, a

    2 TREVISAN,Leonardo. Hobsbawm analisa mudanas na esquerda. O Estado de S. Paulo,Siio Paulo, 24 ago. 1997. Caderno 2, p. 01-2.3 Karl MARX, no prefcio do l iv ro Para a crtica da economia poltica, de 1859.

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    mesmo tempo, dos meios para a produo espiritual, o quefaz com quese lhesubmetam, no tempo prprio, por fim mdio, as idias dos que carecem dosmeios necessrios para produzir .espiritualmente. As idias dominantes noso outra coisa que a expresso ideal das relaes materiais dominantes, asmesmas relaes materiais dominantes concebidas como idias; portanto, asrelaes quefazem de determinada classe a classedominante so, tambm, asque conferem o papel dominante s suas idias. Os indivduos que formam aclassedominante tm, tambm, entre outras coisas, a conscincia disso epen-sam de acordo com isso. Enquanto dominam como classe e enquanto determi-nam todo o mbito de uma poca histrica, se compreende como seu que ofa-am em toda a extenso e,portanto, entre outras coisas, tambm como pensa-dores, como produtores de idias, que regulem a produo e a distribuio dasidias de seu tempo; e que suas idias sejam, por issomesmo, as idias domi-nantes da poca" (Marx e Engels, 1958:48-50).

    Essesistema de idias dominantes constitui, assim, a ideologia. De acordocomuma imagem metafrica construda pelos autores, ela teria a faculdade defazercomque a vidasocial aparecesse para oshomens como a imagem que exi-hidapelo visor de uma cmera fotogrfica do final do sculo XIX,ou seja, de ca-heapara baixo, ilusoriamente invertida do sentido queela apresentaria na reali-dade. Dessa forma, elaofereceria para a sociedade uma imagem inversa do queelaprpria seria e viveria no mbito real. Essafalsa imagem levaria o homem e asociedade a uma "falsaconscincia"acerca de si mesmo e das relaes concreta-mente estabelecidas.Marxe Engels objetivaram demonstrar o papel de vu desempenhado pelaideologiaburguesana sociedade capitalista, qual seja o de ocultar a verdadeira na-tUrezadas relaesde produo pautadas na explorao. Segundo Marx, quantomaisse desenvolvessemos antagonismos entre asforasprodutivasem crescimento,maisa ideologiada clas.edominante seriapenetrada pela hipocrisia,e quanto maisa vida desvendasse a natureza mentirosa dessa ideologia,mais a linguagemdessaclassesefaria sublime e virtuosa.Comocombater algodotado do poder de mistificar a realidade para todos,pelo uso do sublime e do virtuoso? Para Marx, a soluo estaria no conhecimen-to cientfico, ou saber real, nico elemento capaz de desmascarar a ideologiaburguesa, recolocando de volta omundo de cabeapara cima, de acordo com seusentido real, mostrando a realidade tal como ela ,destituda dos vus da ideolo-

    gia. Esse saber realconstituiria um conjunto de verdades capaz de desmascararafalsa conscin.cia,funcionando como ponta-de-Iana na luta do proletariadocontra a burguesia. Aconcepo marxista de cincia tambm foiinstrumental, medida que ela estaria a servio das maiorias, da causa proletria eda revolu-o socialista.

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    Emoutro momento de ideologiaalem, seus autores concluem o argumentoque defendem:'~existncia de idias revolucionrias, em determinada poca, pressu-

    pe j a existncia de uma classe revolucionria. Com efeito, cada nova classeque passa a ocupar o posto da que dominou antes dela v-se obrigada, parupoder levar adiante osfins que persegue, a apresentar o seu prprio interessecomo o interesse comum de todos os membros da sociedade, isto , expressan-do isso em termos ideais, a imprimir em suas idias aforma do geral, a apre-sentar essas idias como as nicas racionais e dotadas de vigncia absoluta"(Marx e Engels, 1958:50).

    4.3 O CONCEITO MARXISTA DE SOCIEDADE

    A compreenso do concei to de sociedade crocial para o entendimento dedois outros pontos fundamentais da teoria marxista: as definies de classesocial eluta de classes. Segundo o pensamento marxista, o estudo da realidade social deveconsiderar como paradigma que no h homem e nem sociedade ideal isolados nanatureza, mas ambos conjugados concretamente a um momento histrico definido.Is so significa que, alm de ser holstica, sua perspectiva privilegia como foco dosestudos as relaes contidas nos processos coletivos.

    Diferentemente de Durkheim, Marx considerou que no h a possibilidade depensar a relao indivduo-sociedade separadamente das condies materiais emque essa relao se apia, no sendo possvel, portanto, estudar a sociedade e a pro-duo isoladamente. Para ele , a produo indissocivel da distribuio dessa produ-o na sociedade entre oshomens. Esses parmetros fundamentaram a viso marxis-ta sobre a organizao da estrutura social, delimitando-a, em primeiro lugar, a doisconceitos: infra-estrutura e superestrutura.

    No primeiro, esto compreendidas a produo, a organizao econmica daproduo e as relaes de produo, dando forma base mater ia l da sociedade e de-terminando os processos sociais. Sobre essa base ergue-se a superestrutura, queabrange as normas jurdicas, os comportamentos sociais e polticos, as manifesta-es religiosas, a base tica, filosfica e moral, ou seja, a rede cOl;nplexade correla-es formada entre os sistemas poltico e ideolgico. De acordo com a compreen-so marxista, a infra e a superestrutura esto indissoluvelmente ligadas entre si, emtempo simultneo, em constante interao dialtica. H uma relao direta de cir-cularidade entre esses elementos organizadores da estrutura social, sendo a supe-restrutura um reflexo da base material da sociedade.

    Nessa viso, a sociedade estrutura-se com base naforma pela qual os homensorganizam a produo social. Essaforma, por sua vez, define o modo de produo

    aquela sociedade. Nesse sentido, trs elementos relacionam-se entre si: as forasrodutivas, que compreendem ascondies natUrais de produo e osrecursos ex-ados da natureza pelo homem; os meios de produo, a saber, ferramentas, m-quinas, equipamentos e fora de trabalho humana; e as relaes de produo, queso osdiferentes modos pelos quais organizada a atividade produtiva, envolven-dodiretamente as relaes de posse e distribuio dos meiose a divisosocialdotrabalho.Da interao permanente entre asforasprodutivas, osmeiose as relaesde produo resulta a estrutura da sociedade, sua infra e sua superestrutura.No texto Para a crtica da economia poltica, Marx (1978:129) estabeleceessas relaes ao comunicar o produto de seu trabalho:

    "O resultado geral a que cheguei e que, uma vez obtido, serviu-me de fiocondutor aosmeus estudos pode serformulado em poucas palavras: na produ-o social da prpria vida, os homens contraem relaesdeterminadas, neces-srias e independentes de sua vontade, relaes de produo estas que corres-pondem a uma etapa determinada de desenvolvimento das suasforas produti-vas materiais. A totalidade destas relaes de produo forma a estrutura eco-nmica da sociedade, a base real sobre a qual se levanta uma superestrUtUraju-rdica e poltica, e qual correspondem formas sociais determinadas de cons-cincia. Omodo deproduo da vida material condiciona o processo em geraldevida socia~ poltico e espiritual. (...) Em uma certa etapa de seu desenvolvi-mento, asforas produtivas materiais da sociedade entram em contradiocom as relaes de produo existentes ou, o que nada mais do que a sua ex-presso jurdica, com as relaes de propriedade dentro das quais aquelas atento se tinham movido. Deformas de desenvolvimento dasforas produtivasestas relaes se transformam em seus grilhes. Sobrevm ento uma poca derevoluo social. Com a transformao da base econmica, toda a enorme su-perestrutura se transforma com maior ou menor rapidez."

    Diretamente ligada a seu conceito de sociedade est a concepo de EstadoqueMarx desenvolveu, compreendendo-o como uma das expresses fundamen-tais do capitalismo. Emseu entendimento, o Estado no est acima da sociedadeci-vile no exprime a vontade de todos,mas uma instncia inserida no conjunto derelaesestabelecidas entre pessoas, grupos e classessociais.Deacordocom lanni(1996:30-31), necessrio que se reconhea que

    "sob qualquer das suas perspectivas, desde os seus primeiros escritos, Marxest preocupado comas relaes e determinaes recprocas entre oEstado easociedade, numa tica diferente daquelas propostas anteriormente, no ape-nas por Hegel. Nesse processo crtico, formula a chave da sua concepo,quando diz que o Estado precisa ser compreendido, simultaneamente, comouma 'colossalsuperestrutura' do regime capitalista e como o 'poder organiza-do de uma classe' social em sua relao com as outras".

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    Por isso, diz Ianni, Marx afinna que Estado e sociedade no so polit icamentedist intos, que alm de ser a estrutura da sociedade, ele no a expresso hannnicae abst rata desta. Aocontrr io, consti tui-se como um produto de contradies polti-cas, sendo a primei ra delas o fato de e le basear-se "na contradio entre o pblico ea vida privada, entre o interesse geral e o particular".

    Finalmente, concluindo com esse autor (1996:39) , para Marx,"oEstado no apenas e exclusivamente, um rgo da classe dominante; res-ponde tambm aos movimentos do conjunto da sociedade e das outras classessociais, segundo, bvio, as determinaes das relaes capitalistas. Confor-me o grau de desenvolvimento dasforas produtivas, das relaes de produoe dasforas polticas da sociedade, o Estado pode adquirir contornos mais oumenos ntidos, revelar-se mais ou menos diretamente vinculado aos interessesexclusivos da burguesia".

    A contribuio terica de Marx e Engels criou um conjunto complexo e coe-rente de novas categoriasdeanlise para osfenmenos e processos sociais, de for-ma que possvel afinnar que esse aporte fundou uma nova escola depensamentosociolgico, hoje situada entre os clssicosparadigmticos dessa cincia. ASocio-logia de aporte marxista sustenta que a sociedade no pode ser estudada emcom-partimentos separados e estanques, pois, se assim for feito, se perder de vista oprprio objeto de estudo, que a sociedadeenquanto totalidade.Por isso, o estudo de qualquer sociedade deve partir justamente das relaessociais que os homens estabelecem entre si para utilizar os meios de produo etransformar a natureza em seu benefcio coletivo. Essas relaessociaisdeprodu-ocondicionam a sociedade, sendo a raiz de toda a estrutura social.importantenotar que a inteno deMarxno foia deelaborar uma teoriageralsobre a socieda-de, mas a de estudar a sociedade do seu tempo - definida pelo modo de produo ca-pitalista. Nessa soc iedade, ele considerou que h um conflito permanente (luta) en-tre as duas classes sociais fundamentais - a burguesia e o proletariado -, conflitoque no encontrar ia resoluo possvel dentro da continuidade desse si stema.4.4 O CONCEITODE CLASSESOCIAL EMMARX

    I

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    Uma das preocupaes centrais de Marx, medida que desenvolvia sua teo-ria, foi a dedefinir o conceitoe o carterdas classessociais no regime capitalista. Doponto de vista do conceito,partiu do princpio do posicionamento dos indivduosque, agrupados, ocupassem uma condioequivalente nas relaesdeproduovi-gentes na sociedade. Esse posicionamento, ou situao de classe,determinaria aexistncia e a conscincia do indivduo e sua relaocomo conjunto da sociedade.

    De acordo com o pensamento marxista, a exis tncia de uma igualdade natu-l entre os homens, propa lada pelo liberalismo, era uma falcia, uma vez que asigualdades reais provocadas pela lgica das relaes de produo sob o capita-mo inviabilizavam o exerccio co~creto de qualquer espcie de igualdade, ao ser a possvel entre os iguais, pertencentes mesma classe social. A divisocial que esse regime produtivo provoca, c lass if icando os homens em propriet-os e no proprietrios dos meios de produo, constitui o fundamento primeiro

    ktagnese das classes sociais, que so inerentes ao sistema capital is ta, par te inter-a de sua lgica.A relao de explorao, que tambm era evidente para Marx, existente entre

    jOSproprietrios, a burguesia, e a c lasse t rabalhadora, o proletariado, revelaria o ca-.rter das duas classes fundamentais para a existncia do sistema. Aposse dos meiosde produo por parte da burguesia, concretizada pela legitimao da propriedadeprivada sobre eles, levaria os trabalhadores a uma nica sa da, a de vender suafor-a de trabalho no mercado para assegurar a subsistncia. O fato de essa fora sercomprada a preo vil, caracterizando uma apropriao indbita do produto do tra-balho proletrio, demonstraria, dessa fonna, o verdadeiro carter da burguesia:explorar para acumular capital e riqueza por meio do trabalho de outrem. Do ou-tro lado, a situao de classe vivida pelo proletariado tambm revelaria seu carter:o d e ser a classe potencialmente revolucionria da nova situao histr ica que esta-va em curso genninal.

    Esse quadro social demonstraria outra caracterst ica relevante da existnciadas classessociais sob o regime capitalista de produo, qual seja a de elas seremcomplementares e interdependentes entre si, de uma s existir emfuno, por causae em relao outra. Algica da inte rpretao marxis ta s imples: a existncia deproprietrios est condic ionada existncia correspondente de uma massa de ex-cludos da propriedade que spossuem suafora de trabalho, a ser vendida em trocada subsistncia. a lgica simples do mercado: o comprador depende da mercado-r ia, que, por sua vez , depende do comprador.

    Segundo Ianni (1996:17), Marx delineou paulatinamente sua compreensodo capita li smo como uma sociedade na qual"a burguesia e o proletariado so classes sociais revolucionrias e antagni-cas. Revolucionrias e antagnicas porque enquanto uma instaura o capita-lismo, a outra comea a lutar pela destruio do regime no prprio instanteem que aparece. Porque aparece alienado noproduto do seu trabalho, ao pro-duzir mais-valia, o proletariado lutar para suplantar essa situao. Porqueaparece, desde oprincpio, como a classe que se apropria da mais-valia, a bur-guesiq comea a deixar de ser revolucionria na ocaSio em que se constitui.Nesse instante, passa a preocupar-se principalmente com a preservao e oaperfeioamento do statUs quo. Por dentro da revoluo burguesa comea aformar-se a revoluoproletria".

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    EXERCCIOSREFLEXIVOS o:c::::Jc::Jc::::J5 u oc:::Jc::::JC:::\CJ(:-~Pensamento Weberiano t:=:J~L "J ~. .C=J)L;J,.-

    5.1 A VISO WEBERIANA E A RELAO INDIVDUO-SOCIEDADEMaxWeber, filsofo,historiador e socilogoalemo (Erfurt, 1864 - Munique,1920), era filhode uma famlia que lhetransmitiu o contedo dosideais liberais, so-mados ao rigor da formao protestante. Seu pai era advogado e poltico, e era tidocomoum homem pragmtico. Sua me era mulher culta, ligada aos valores liberaise religiosos.O ambiente familiar que viveu, pautado pelo cotidiano intelectual, fezdeWeber um homem de pensamento precocemente e teve importncia capital emsua formao. Seus estudos universitrios foram na rea jurdica, com incursespela Economia, Filosofia e pela Histria. Concluiu seu doutorado em 1889, e suatese foi sobre a histria das companhias comerciais do perodo medieval.Esteve, desde muito cedo, ligado squestes perrinentes ao prtica na pol-tica, sempre preocupado com o destino de seu pas. Nessa rea, desempenhou pa-pis importantes: foi conselheiro da delegao alem na srie de conferncias queconduziram ao Tratado de Versalhes,em 1919, e fez parte de uma comisso de es-pecialistas que escreveu aConstituio da RepblicadeWeimar, nomesmo ano. We-ber foi nacionalista por convico,mas nunca compactuou com as idias racistas eimperialistas que nortearam a Alemanha anos mais tarde. Nesse sentido, suas posi-es polticas sempre foram pautadas pelos princpios liberais e parlamentaristas.Sua postura terica, vinda de sua formao e das heranas filosficas kantia-na e hegeliana,distanciou-otanto dopositivismoquanto domarxismo.Enquanto

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    Durkheim e Marx deram nfase, respectivamente, analise sociolgica dos fatossociaise s relaesentre as classes,Weber tomou como ponto de partida a anlisecentrada nosatores (agentes) sociaise suas aes,privilegiando o papel da iniciati-va do indivduo na vida social.Para ele,a sociedade e seussistemas no pairam acima e no so superioresaoindivduo.As regrase normas sociaisno so analisadas como exteriores vontadedos indivduos. Muito ao contrrio, elas seriam o resultado de um conjunto com-plexo de aesindividuais, nas quais osagentesescolheriam, a todo momento, dife-rentes formas de conduta. As grandes idias coletivas que norteiam a sociedade,como o Estado, o mercado e as religies, s existiriam porque muitos indivduosorientariam reciprocamentesuas aesemdeterminado sentido comum. Defunda-~ mento individualista, o pensamento weberianoprivilegia aparte sobre o todo, uma*' I\ vez que sua perspect iva pressupe que ~coletivo se origina no individual. O prima-

    I do da ao do indivduo sobre a sociedade que determmana a relao indiv-duo-sociedade, item fundamental para os estudos sociolgicos.Sua principal contribuio metodolgica para ascincias sociais foi a elabo-rao do conceito de tipo ideal.Estudou a Histria de um ponto devista comparati-vo e foium dos principais autores a analisar asproblemticas dofuncionamento docapitalismo e da burocracia, alm de ter levantado temas fundamentais na rea da

    Sociologia da religio.Seu conceito de tipo idealdefine-se pela nfase (Cohn, 1997:8) "emdetermi-nadostraosda realidadeat conceb-losna sua concepomaispura e conseqente,que jamais se apresenta assim nas situaes efetivamente observveis". Da esses ti-pos serem construdos, por necessidade, "no pensamento do pesquisador", existindo"no plano das idias sobre osfenmenos e no nos prprios fenmenos" em si. Weber,ao conceber essa ferramenta metodolgica de pesquisa, partiu do pressuposto

    I "de que a realidade social spode ser conhecida quando aqueles traos que in-/)i) teressam aopesquisador so metodicamente exagerados,para em seguidaseFJ poderemformular com clareza asquestesrelevantessobreas relaesentreosfenmenos observados".Aconcepo weberiana de Histria foi elaborada a partir de uma impossibili-dade terica: para Weber, um