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Profissão implica a prestação de serviços e uma remuneração e o conceito não apareceu definido de um momento para o outro, mas sofreu transformações ao longo do tempo. Ocupação diferente da profissão ao nível da responsabilidade, aquisição de conhecimento, recompensação/reconhecimento. Ocupação Mais geral, menos especializado Não obriga a formação específica Associada à desval. social Profissão Mais especializado Envolve formação e diploma Mais manual Tempo inteiro Remuneração Esta divisão social do trabalho implica uma diferenciação dos saberes e especialização das funções. Assim, a diferença entre a profissão e ocupação são o resultado de um produto da sociedade moderna a divisão é devido ao facto de serem construídos cientificamente e não devem ser confundidos com as designações do senso comum. Bom/Mau senso comum; Profissão/Ocupação envolve: ponderação, imparcialidade e objectivação não é imutável, e está pronto para a mudança (construção e desconstrução). O objectivo do sociólogo é perceber como as profissões aparecem e se afirmam. Para tal os sociólogos fazem uma série de questões no sentido de se construir uma teoria. O que é uma profissão? Como é que uma ocupação se transforma em profissão? Qual o sentido da evolução das profissões? É a tentativa de responder a estas perguntas que leva à construção do conceito sociológico de profissão. Há perguntas de carácter mais denso, mas estas três são o exemplo de perguntas iniciais, que encerram muitas outras e são o ponto de partida para a colocação de questões mais complexas. Porque é importante criar o conceito de profissão? É importante pois é muito mais fácil pegar num conceito e por comparação perceber se um dado elemento constitui esse conceito, porque os conceitos encerram em si dadas características.

Sociologia das profissões em saúde

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resumo das questões sociológicas nas profissões no ramo da saúde

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Profissão – implica a prestação de serviços e uma remuneração e o conceito não apareceu definido de um momento para o outro, mas sofreu transformações ao longo do tempo. Ocupação – diferente da profissão ao nível da responsabilidade, aquisição de conhecimento, recompensação/reconhecimento.

Ocupação Mais geral, menos especializado

Não obriga a formação específica

Associada à desval. social

Profissão Mais especializado Envolve formação e diploma

Mais manual Tempo inteiro Remuneração

Esta divisão social do trabalho implica uma diferenciação dos saberes e especialização das funções. Assim, a diferença entre a profissão e ocupação são o resultado de um produto da sociedade moderna – a divisão é devido ao facto de serem construídos cientificamente e não devem ser confundidos com as designações do senso comum. Bom/Mau – senso comum;

Profissão/Ocupação – envolve: ponderação, imparcialidade e objectivação – não é imutável, e está pronto para a mudança (construção e desconstrução).

O objectivo do sociólogo é perceber como as profissões aparecem e se afirmam. Para tal os sociólogos fazem uma série de questões no sentido de se construir uma teoria. O que é uma profissão? Como é que uma ocupação se transforma em profissão? Qual o sentido da evolução das profissões? É a tentativa de responder a estas perguntas que leva à construção do conceito sociológico de profissão. Há perguntas de carácter mais denso, mas estas três são o exemplo de perguntas iniciais, que encerram muitas outras e são o ponto de partida para a colocação de questões mais complexas. Porque é importante criar o conceito de profissão? É importante pois é muito mais fácil pegar num conceito e por comparação perceber se um dado elemento constitui esse conceito, porque os conceitos encerram em si dadas características.

Como se trabalha esta definição para transformar num conceito? Tem que se fazer a operacionalização do conceito que é a transformação de uma existência abstracta em algo que permita olhar para a realidade concreta. São 3 as correntes que tentaram explicar o conceito: 1. Funcionalistas

2. Integracionistas

3. Teóricos de poder

Funcionalistas Foram os primeiros a preocupar-se em construir o conceito de profissão de modo científico na primeira metade do século XX (Durkheim) - antes disso (idade média) não fazia sentido usar o conceito de profissão mas sim o conceito ofício. Esta definição tem duas ideias centrais: 1. As profissões surgem das ocupações, quando um conjunto de pessoas começam a desempenhar um conjunto de funções e têm formação para o fazer.

2. A profissão surge quando um conjunto de pessoas exerce uma actividade da qual um, dois ou mais grupos sente necessidade (responde às necessidades sociais). A abordagem funcionalista assenta em três pressupostos do conceito de profissão: 1) Estatuto profissional resultante do saber científico e prático e do ideal de serviço (por oposição ao ideal do dinheiro), por comunidades formadas em torno do mesmo saber, dos mesmos valores e da mesma ética de serviço; 2) Reconhecimento social; 3) Instituições profissionais como resposta a necessidades sociais, contribuem para a regulação e controlo social. Então, a ideia do conceito de profissão pensada pelos funcionalistas é caracterizada por um modelo. Neste modelo estão três critérios, se um grupo reunisse os três elementos era considerado profissional se não reunisse os três era considerado ocupação.

Em relação ao Estatuto Profissional É algo que os grupos possuem quando desempenham uma actividade profissional (os que não têm são os ocupacionais). Este estatuto deriva do conhecimento que divide-se em conhecimento/saber prático e conhecimento/saber científico. O conhecimento que os profissionais têm deve-se ao saber prático (que o grupo ocupacional também possui) e ao saber científico. Tomando o exemplo de um canalizador. Um canalizador não estuda para o ser, tem apenas conhecimento prático, logo canalizador, segundo a perspectiva funcionalista, é uma ocupação. Hoje em dia para ser fisioterapeuta é preciso estudar, obtendo assim conhecimento científico (sendo considerada, segundo o ponto de vista dos funcionalistas, uma profissão), mas dantes não se estudava para ser fisioterapeuta, logo era uma ocupação. Um fisioterapeuta era alguém que sabia que perante uma determinada situação, agiam de uma certa forma, contudo não sabiam porque é que agiam assim. Actualmente os fisioterapeutas já sabem porque tem dado procedimento sendo mais independentes. Tratava-se de um conhecimento reprodutivo, as pessoas sabiam que para determinada situação agiam de determinado modo, não sabiam é o porquê da sua acção. O grupo ocupacional exerce a sua actividade sem conhecimento científico, possuem apenas conhecimento técnico. A afirmação não está no domínio técnico mas sim no conhecimento científico, mas o saber técnico é também importante. Assim, o ideal é ter um domínio técnico assente no saber científico.

Em relação ao reconhecimento social: Para ser profissão, o grupo tem que ser socialmente reconhecido devido às suas competências e terá que ter uma competência que mais ninguém tem e que são adquiridas através de formação longa porque não há conhecimento científico sem formação, porque o conhecimento científico remete para a ideia de densidade e complexidade

Em relação às Instituições Profissionais: Estas dividem-se em instituições de formação (como por exemplo a ESTeSL) e instituições de defesa dos direitos do grupo (como por exemplo sindicatos, ordens). As instituições de defesa dos direitos do grupo são representantes socioprofissionais. Na área das tecnologias da saúde ainda não há sindicatos, ordens como tal ainda têm um caminho a percorrer - Os grupos profissionais mais prestigiados têm ordem. As instituições de formação são essenciais, pois não pode haver profissão sem formação. Estas instituições são importantes pois regulam quem tem competências e quem não tem competências para desempenhar determinada profissão. Já os grupos ocupacionais podem ou não ter instituições Existe um conjunto de elementos estruturais que organizam os grupos profissionais: 1.Escolas e instituições de formação superior que desenvolvem e transmitem conhecimentos, porque todas as profissões precisam de conhecimento cientifico para serem reconhecidas as suas competências ao nível da sociedade. Para além disso são importantes instituições de socialização dos profissionais. Socialização - processo que todos nós vivemos desde que nascemos até que morremos, e no qual fazemos a aquisição da nossa cultura, valores, crenças. É feita pela escola, amigos, família, televisão, … E que permite adquirir a nossa identidade, por exemplo nós agora sentimo-nos mais ortoptistas do que no ano passado. 2.Associações profissionais que promovem os valores de orientação para a sociedade, manutenção e aumento da autonomia e autoridade profissionais. Isto porque as competências de um grupo não devem ser partilhadas com grupos exteriores e esses não devem dar ordens do que fazer. Assim os grupos profissionais têm uma maior independência. Para haver estatuto e reconhecimento é preciso associações. 3.Sistemas de licenças (autorização legal de exercício de certas actividades interditas a outros) e de mandatos (a obrigação de assegurar uma função especifica) protege a autoridade e o prestígio profissional e assegura o controlo social que é exercido sobre o próprio grupo profissional pela sociedade, pelo estado e pelo grupo em si e permite distinguir o grupo profissional do grupo ocupacional. Quem dá a licença é o estado.

Quem não tem licença não pode exercer a profissão.

Carteiras profissionais, diplomas são exemplos de licenças

Profissionalismo – processo através do qual as profissões se tornam mais específicas através da conceptualização dos conhecimentos adquiridos na prática e que passam para a «categoria dos saberes analíticos» num suporte teórico consideravelmente alargados de grupos profissionais específicos, sendo a ideologia que justifica aos profissionais a sua existência. O profissionalismo tem duas premissas: 1) As profissões realizam tarefas essenciais à vida, à segurança e bem-estar da sociedade. 2) Só as profissões podem realizar essas tarefas, porque, através de longos períodos de formação, adquiriram conhecimentos complexos e teóricos; e porque colocam o interesse colectivo à frente do seu próprio interesse (altruísmo). Segundo os funcionalistas uma das características que distingue os grupos profissionais dos grupos ocupacionais é que os profissionais são capazes de construir uma doutrina da sua existência, isto é, uma base de sustentação que justifica a sua existência. Os grupos profissionais têm assim a capacidade de “criar” profissionalismo. Resumo: Os funcionalistas distinguem grupos profissionais dos grupos ocupacionais pelos três pressupostos falados anteriormente: o estatuto profissional, o reconhecimento social e as instituições profissionais e, pelo facto dos grupos profissionais terem a capacidade “de se afirmarem”, ou seja, gerar profissionalismo. Integracionismo: Os interaccionistas adoptaram criticamente os três pressupostos dos funcionalistas bem como o funcionalismo, mas complexaram o conceito de profissão, para o tornar mais poderoso e assim explicar a realidade complexa, já que a ideia dos funcionalistas era fixista e estática. Os interaccionistas olham criticamente para o conceito vêem o que há de negativo/ positivo e mudam o que está errado e adoptam o que acham correcto.

1. Criticaram que a realidade mostra que nem todos os grupos profissionais se afirmam face às necessidades da sociedade. 2. Afirmam que os grupos profissionais não são internamente homogéneos mas sim heterogéneos. Segundo os funcionalistas os grupos eram homogéneos, mas tal não acontece. Por exemplo no grupo profissional dos fisioterapeutas é internamente heterogéneo, pois engloba profissionais com o bacharelato e com a licenciatura, ou seja, os profissionais não são iguais em termos de competência e formação. 3. O grande avanço dos interaccionistas é o processo de profissionalização. Os interaccionistas dizem, também, que nem todos os grupos ocupacionais querem vir a ser grupos profissionais, nem todos os grupos ocupacionais conseguem vir a ser grupos profissionais e nem todos os grupos ocupacionais ao passarem a ser grupos profissionais passaram pelo mesmo processo, ou seja, defendiam que entre ocupação e profissão havia um processo que os grupos percorriam.

Profissionalização - é um processo, em que se parte de um ponto, com dadas características, para a outro, com características diferentes, ou seja, é um processo através do qual um grupo profissional ganha características que permitem inserir-se no modelo profissional. Tem um início abstracto mas pode não ter fim porque há sempre algo mais a aspirar, logo não acaba quando um grupo ocupacional passa a profissional. Harold Wilenski estabeleceu uma sequência de etapas seguidas pelos grupos ocupacionais ate chegarem ao patamar de profissões. São elas: a. Passagem de actividade amadora a ocupação de tempo inteiro e do controlo sobre a formação (técnicos formados na área que estão a dar formação). b. Criação de Associação profissional, que permite: a definição das tarefas principais do grupo; gestão dos conflitos internos entre membros com diferentes formações; gestão dos conflitos com outros grupos que desenvolvem uma actividade semelhante.

c. Protecção legal (defesa dos interesses dos grupos). d. Definição do código de ética (permitem um maior auto-controlo). Uma ocupação só chega à condição de profissão depois de passar por estas quatro etapas. Mas, também pode haver o processo de desprofissionalização que é o declínio das profissões ou ocupações a profissionalizarem-se, ou seja, grupos que já tenham adquirido certas regalias, mas que perdem-nas total ou parcialmente. Pode significar perda de autoridade, regressão, perda de afirmação e perda de estatuto, não sendo linear. Basta haver uma perda parcial de características para ser considerado desprofissionalização e pode ocorrer de duas formas: 1.Fragmentação - na profissionalização há tendência a haver uma hiperespecialização, que pode significar para os grupos profissionais já existentes uma desprofissionalização porque se perde a exclusividade profissional numa dada área. 2.Proletarização/Assalariamento - é um processo segundo o qual os grupos profissionais perdem o poder profissional ou autonomia devido à sua integração assalariada em organizações específicas. Assim, a sua autonomia pode ser afectada e decrescer porque passam a obedecer aos interesses organizacionais que não são sempre coincidentes com os interesses do grupo a que pertencem. Além destas há outras formas de perda relativa de poder profissional, como a generalização de escolaridade. Há cada vez um maior número de pessoas com acesso à escolaridade, o que faz com que as pessoas desenvolvam cada vez mais o seu espírito crítico e que possuam maior conhecimento.

Teóricos de Poder Os teóricos do poder vão adoptar criticamente o modelo dos interaccionistas e vão colocar no centro da sua teoria do conceito de profissão o poder. Aqui, o processo de profissionalização depende também do contexto em que se desenvolve. O facto do grupo se afirmar ou não, não depende só dele mas também dos contextos económicos, cultural, político e social.

Ter mais poder permite fazer as coisas com maior autonomia, permite que não haja ninguém exterior ao grupo a desempenhar a mesma tarefa e a mandar nos elementos do grupo. Há três autores fundamentais desta terceira corrente. Mas só analisaremos dois: Eliot Friedson e Magali Larson. Segundo Eliot Friedson há três fontes de poder onde o poder maior ou menor de um grupo não depende só de uma fonte mas da conjunção das três. Basta não ter uma das fontes de poder para já não ser considerado grupo profissional. Monopólio do Saber É a capacidade exclusiva de fazer certo tipo de tarefas. Todos os grupos ambicionam ter um monopólio do saber, ou seja, serem os únicos a poder fazer certo tipo de actividades (médicos e cirurgia) - quanto maior é o monopólio maior é o poder. Credencialismo Aqui entra as credenciais, que é um documento que nos habilita a fazer qualquer coisa: o diploma de curso, carteira profissional - e permite que a sociedade saiba quem reúne as condições para executar certas funções e, quanto mais eficaz é o sistema de credencialismo, maior é o poder. Os médicos, por exemplo, não chega só ter uma carta de curso (que comprova, só por si, que o trajecto escolar foi cumprido), tem que fazer um exame de acesso à ordem. Só com este dois elementos (carta de curso e exame de acesso à ordem) é que um indivíduo pode exercer a medicina, isto é, há dois momentos credenciadores. Nos grupos ocupacionais não é necessário qualquer tipo de credencial para desempenhar a sua actividade. Autonomia. É a capacidade de desempenhar uma tarefa, com o máximo poder de decisão e que depende das outras duas fontes e, quanto maior é o monopólio e mais eficaz é o sistema de credencialismo, maior será a autonomia. Mas, há possibilidade que com um aumento da autonomia haja uma fragmentação. Ter monopólio não se traduz em ter muita autonomia. A pessoa pode ter total exclusividade de saber (muito monopólio de saber e tarefas) mas pode não ter muita autonomia, ou seja, faz coisas que mais ninguém faz mas depende totalmente de outros grupos (outros grupos coordenam e controlam processos de trabalho). Por exemplo, engenheiros e operários.

Magali Larson desenvolveu o conceito de fechamento social das profissões. Fechamento Social das Profissões O poder das profissões é tanto maior, quanto maior for a capacidade de fechamento social das profissões. Existem duas ideias para o conceito de fechamento social. 1. Uma dela é que o FSP é a capacidade do grupo em impedir elementos de outros grupos entrem, havendo grupos com maior capacidade de fechamento do que outros devido ao elemento associativo (as ordens fecham mais que uma simples associação), monopólio do saber e sistema de licenças. 2. A segunda diz que capacidade de FSP é a capacidade que um grupo tem em impedir que haja outros grupos a exercer a sua acção, fechando socialmente a área de intervenção. Resumo: Um melhor sistema de licenças permite uma maior capacidade de FSP e, uma formação mais elevada leva a um aumento da autonomia, porque com uma formação os profissionais não precisam que haja outros elementos exteriores ao grupo a orientar o seu trabalho, ou seja, os grupos com maior capacidade de fechamento tem mais poder e quanto maior for a capacidade de fechamento, maior vai ser o poder do grupo. Johnson é o precursor das teorias do poder, é o primeiro a estudar as profissões tendo por base o poder e que destaca a importância da relação do produtor (médico) com o consumidor (o doente), sendo esta uma relação de produção, em que o produtor e consumidor não ocupam o mesmo lugar. Isto porque o acesso ao conhecimento subordina a acção do outro, mas pode haver recusa do consumidor (por exemplo o doente não toma os medicamentos prescritos pelo médico). Contudo à partida o consumidor segue as instruções do produtor. Assim, o poder reside, também, na relação com o consumidor. Aqui há que ter em conta: 1. Nem todos os consumidores são pouco especializados quanto isso (um médico pode ir ao médico por algum problema de saúde/ um cirurgião não se consegue operar a si mesmo, tem que ser outro cirurgião a fazer-lhe a operação).

2. A especialização do consumidor ser numa área diferente da do produtor (um juiz que vai ao médico). Nestes casos (o consumidor é especializado) o produtor não tem tanta margem de manobra para mandar o consumidor fazer algo, pois os consumidores têm conhecimentos e espírito crítico. 3. O consumidor ser mais especializado que o produtor (um fisioterapeuta recorre a um médico fisiatra)

Processos de socialização e construção das identidades profissionais.

Ninguém é desprovido de identidade, que é um processo que cada um vai construindo porque ela não se constrói no vazio, vai-se consolidando e modificando, ou seja, o conceito de identidade remete para a pluralidade e multiplicidade. Aqui também entra o processo de Socialização. A identidade é muito dinâmica, funciona por reconfigurações e substituições. (Por exemplo uma pessoa pode ter dada religião e depois deixar de acreditar, ou seja, houve reconfiguração/reconstrução da sua identidade). Identificação – para uma identidade profissional activa existe um processo de identificação com certas ideias e valores. Aprendemos a defender valores de ortóptica (identificação) e não a defender os de medicina (desendentificação). A identidade é algo que pressupõe um processo duplo e simultâneo (identificação e desendentificação) pois nós identificamo-nos com algo e não nos identificamos com outrem. As identidades interpenetram-se e interactuam. Segundo Claude Duban a identidade é precária e impura - dizem-se impuras porque não existe identidade ideal (pode ser leal a dois cursos) e precária porque o tipo de identidade não é sempre a mesma, a identidade está sempre a ser reconfigurada e acrescentada, são mutáveis. Divisão social do trabalho no contexto da saúde. A dominância médica. Noémia Lopes observou que vários grupos entram em conflito profissional para a aumentar ou manter o poder, Isto beneficia a sociedade porque é mais bem servida e o próprio grupo porque é mais reconhecido e recompensado por isso. 1. Os grupos aprendem a actuar através de relações e experiências de socialização. Aqui, os médicos aprendem a relacionarem-se com

os indivíduos de outros grupos para conseguirem o espaço máximo de autonomia. 2. Os médicos aprendem a manifestar a sua dominância/poder, utilizando a linguagem para protegerem-se (usar o silencio para não se comprometerem) manifestando uma distância aos outros grupos com menor poder, porque a linguagem é uma indicação de pertença e ao mesmo tempo, uma manifestação de distanciamento. 3. Seja qual for a especialidade do médico, eles têm o monopólio do diagnóstico, por isso dizemos que há uma dominância médica mas, não é absoluta porque os poderes não são iguais devido a relações de confiança, à distribuição de tarefas e graus de especialização dos técnicos. MAS, independentemente da variação dos poderes dos técnicos há um conjunto de competências pertencem apenas ao médico (maior poder). 4. O técnico de saúde tem um saber periférico e o médico o poder central mas depende da situação. Ex: os jovens médicos estão com os técnicos para aprenderem técnicas. Nesta situação o médico está subordinado ao técnico e podemos dizer que o poder não é sempre igual, as relações podem mudar ou inverterem-se. MAS, comparando o técnico com o auxiliar de acção médica, os técnicos apresentam o poder central e o auxiliar o saber periférico. Resumo: O objectivo do técnico é aumentar o seu saber para que este deixe de ser periférico, fazendo com que o saber central do médico diminua drasticamente.