11
"/ J ?oA Ie: -:?';s. . G. (1•• 4), . CAPiTULO II Natureza e metodo da pedagogia Tem' side frequentemente confundidas as duas pa- lavras,: educa<tao e pedagogia I que todavia requerem uma cuidadosa: distin<tao. A aducar;ao e a ac<tao exercida nas crianftas por pais e professores. Esta aC<tao e permanente e gers!. Neo existe qualquer perrodo na vida social, nao existe mesmo, por assim dizer, qualquer momento do dia, em que as ge- rar;5es jovens nao contactem comas que sao mais velhss do que elas, e em que, por consequencia, elas nao rece- bam destas ultimas a influeneia edueadora. Isto, porque tal influencia neo se faz sentir unicamente nos curtrssi- mos instantes em que pais ou professores comunicam eons- cientemente, e pela via de um ensino propriamente dito, os resultados da sua experieneia aqueles que se Ihas se- guem. Existe uma edueacrao inconseiente, que jamais ees- sa. Pelo nosso exemplo, pelas palavras que pronunciamos, pelos aetos quepratieamos, n6s moldamos de uma forma contrnua a alma dos nossos filhes. Coisa muito diversa se passa com a pedagogia. Esta consiste, neo em mas em teoYias. Tais teorias conceber a educac;ao, mas neo de a praticar. vezes, e las distinguem-se das praticas em uso, a pon- to de se Ihas opo rem. A pedagogia de Rabelais, tal como -;> a de Rousseau ou de Pestalozzi, encontram-se em opo- si<;ao com a educa'tao do seu tempo. Assim, a educat;ao nada mais e do que a materia da pedagogia. Esta consis- te nU01a certa maneira derefleetir nas coisas da edu- ca<;ao. 'E isto que faz com que a pedagogia, pelo menos no passado, seja inte-rmitente, ao,passo que a ?7

Sociologia, Educação e Moral de Émile Durkheim

Embed Size (px)

Citation preview

Page 1: Sociologia, Educação e Moral de Émile Durkheim

J oA Ie -s lV~ilrl1- G (1bullbull4) ~b

CAPiTULO II

Natureza e metodo da pedagogia

Tem side frequentemente confundidas as duas pashylavras educalttao e pedagogia I que todavia requerem uma cuidadosa distinlttao

A aducarao e a aclttao exercida nas crianftas por pais e professores Esta aClttao e permanente e gers Neo existe qualquer perrodo na vida social nao existe mesmo por assim dizer qualquer momento do dia em que as geshyrar5es jovens nao contactem comas que sao mais velhss do que elas e em que por consequencia elas nao receshybam destas ultimas a influeneia edueadora Isto porque tal influencia neo se faz sentir unicamente nos curtrssishymos instantes em que pais ou professores comunicam eonsshycientemente e pela via de um ensino propriamente dito os resultados da sua experieneia aqueles que se Ihas seshyguem Existe uma edueacrao inconseiente que jamais eesshysa Pelo nosso exemplo pelas palavras que pronunciamos pelos aetos quepratieamos n6s moldamos de uma forma contrnua a alma dos nossos filhes

Coisa muito diversa se passa com a pedagogia Esta consiste neo em ac~6es mas em teoYias Tais teorias sao~_~~de conceber a educacao mas neo de a praticar P~r vezes e las distinguem-se das praticas em uso a ponshyto de se Ihas opo rem A pedagogia de Rabelais tal como

-gt a de Rousseau ou de Pestalozzi encontram-se em oposhysiltao com a educatao do seu tempo Assim a educatao nada mais e do que a materia da pedagogia Esta consisshyte nU01a certa maneira derefleetir nas coisas da edushycaltao

E isto que faz com que a pedagogia pelo menos no passado seja inte-rmitente aopasso que a educa~ao

7

SOCIOlOGIA EDUCA~AO ( MORAl_______

e continua Povos existem que nao tiveram pedagogia proshy priamente ditaj ela s6 aparece inclusivamente numa eposhy

ca relativamente avanltada da hist6ria Na Gracia apenas a encontramos ap6s a epoca de Pericles com Platao Xeshynofonte e Arist6teles Em Roma a sua existencia passou despe rceb ida

Nas sociedades cristas s6 no seculo XVI ela produshyziu obras importantes e 0 impulso que ela entao adquishyriu abrandou no sEkulo imediato para apenas readquirir todo 0 seu vigor no decurso do sacula XVIII Isto porque o homem nem sempre se entrega a meditaCfaO mas tao somente quando e chamado a meditar e porque as candishy90es de reflexao nem sempre e em toda a parte se proshypiciam

Posta isto ha que procurarmos quais os caracteres da reflexao pedag6gica e dos seus produtos~Teremos de nees ver doutrinas cientrficas e deveremos afirmar que a pedagogia e uma ciencia a ciencia da eciucalt8o Ou convira darmos-Ihe uma outra designa9ao I equal A natushyreza do metodo pedag6gico sera entendida de formas muito diferentes conforme a resposta que a esta quesshy

tao fo r dada ~l~ - Que as coisas da educ89ao consideradas de

um certo ponto de vist~ possam ser 0 objecto de uma disdpl1nac~liErapresente todas as caracter rsticas das resshytantes diciplinas cientrficas S antes do mais 0 que e faci de demonstrar

Com efeito para que possamos apelidar de ciencia um conjunto de estudos e necessario e suficiente que esses mesmos estudoS apresentem as caracter rsticas seguintes

1Q E necessaria que eles incidam sabre factos adshyquiridos realiz-ados oferecidos a observa9ao Uma ciancia com efeito define-se pelo seu objectiv~ ela pressupoe por consequencia que esse objectivo existe que pode ser apontado a dedo ser de algum modo assinalado 0 lugar que ocupa no conjunto da realidade

38

EDUCACAO [ SOCIOrvUA

22 ~ necessario que estes factos apresentem entre si uma homogeneidade suficient~ para poderem sar classhysificados huma mesma categoria Se uns e outros fossem irredutrveis existiria nao umaciencia mas tantas cienshycias diferentes quantas as especies distintas de assuntos a estudar Acontece muito frequentemente que as cienshycias em vias de aparecimento e de consolidaltao abarquem assaz confusamente uma pluralidade de objectiv~s diferenshytes e 0 caso por exemplo da geografia da antropologia etc Mas isto nao e mais do que uma fase transit6ria no desenvolvimento das ciencias

3 Q Finalmente a ciencia estuda esses factos para j os conhecer e somenfe para os conhecer de uma forma ( abmrlutamente desinteressada Servimo-nos propositadamenshy) tlr-desta palavra um pouco generalizada e vaga de conheshyI cer sem precisarmos de outro modo em que pode consisshy

tir 0 conhecimento dito cientlfico Pouco importa com efeito-ciue 0 sabio se dedique a constituir tipos prefe rentemente a descobrir leis que se limite a descrever ou que procure explicar A ciencia inicia-se desde que o saber qualquer que ele seja e procurado por si mesmo ~oha duvida de que 0 sabio tem um conhecimento exacshyto de que as suas descobertas serao verosimi Imente susshyceptlveis de serem utilizadas Pode mesmo dar-se 0 caso de eurolIe orientar preferentemente as suas pesquisas neste au naquele ponto por pressentir que deste modo elas serao mais proveitosas que permitirao satisfazer carencias preshymentes Mas a partir do momento em que se entrega a investigaltao cientrfica ele desinteressa-se das consequenshycias prclticas Ele expoe 0 que se passa j constata 0 que sao as coisas e fica-se por ali~ Ele nao se preocupa em saber se as verdades que descobre setao agradaveis ou desshy-c~~certantes se e conveniente que os relat6rios por ale estabelec idos se mantenham tal qual sao ou se convi ria que os mesma se apresentassem de forma diversa 0 seu papel consiste em exprimi r a realidade nao em julga-Ia

Posta Isto nao ha qualquer motivo para que a edushycacao se nao traJisforme noobjectivo de uma pesquisa q~e satisfalta todas estas condicoes e que por consequen cia apresente todas as caract~rrsticas de uma ciencia

I

39

~~

SOCIOLOGIA EOUCACAO E MORAL

Com efei to a educalttao em uso numa soc iedade determinada e considerada num- dado momento da sua evoshylultao e um conjunto de prcHicas de maneiras de proceshyder de costumes que constituem factos perfeitamente definidos e que possuem a mesma realidade que as restanshy

-ltes factos sociais Nao sao co-me se TuTgou durante muitoI tempo combinaltoes mais ou menos arbitrarias e artifishy

ciais que apenas devem a existencia a caprichosa inshyfluencia de vontades sempre contingentes Elas constituem pelo contnrio autenticas instituiltoes sociais __Njip hc1 he

mem que possa middotfazer com que uma sociedade possua num dadomomento outro sistema educacional do que aquele gueest~ implicado na sua estrutura I tal como e imposs rshyvel a um organismo vivo possuir outros orgaos e outras funltoes que naolas que se encontram implicadas na sua constituiltao Se a todas as razoes que foram aduzidas em abono desta concepltao for necessario acrescentarshy-Ihes outras mais basta conscienciaJizarmo-nos da forlta imperativa com a qual as prcHicas se nos impoe t inuti I julgarmos que e~ucamos os nossos fi Ihos como pretendeshy

_mos t que som~s obrigados a seguir as regras que imshyperam no meio social em que vivemos t a opiniao quem nos impoe essas regras e a opiniao e uma forlta moral cujo poder constrangedor nao e inferior ao poder das forshyetas f rsieas Alguns dos usos aos quais ela dispensa a sua autoridade sao)por isso mesmo em larga medida subshytra idos a aClfaodos indiv rduos Podemos facilmente desoshybedecer nesse taso porem as forltas morais contra as quais nos insurgmos reagem em nosso desfavor sando dishyf kil d~vido a sua superioridade que nao sejamos venshycidos E por isso que podemos revoltar-nos contra as forshyltas materiais das quais dependemos podemos tentar vishyver de uma forma diferente daquela que a natureza do nosso meio f rsico implica mas entao a morte au a doenshylta sao a sanltao da nossa revolta Assim tambem enconshytramo-nos mergulhados num ambiente de idaias e de senshytimentos colectivos que nao podemos modificar a vontade e e em ideias e sentil(lentos do genero que se baseiam as praticas educativas E1as sao pois coisas distintas de n6s I

40

EDUCA~AO ESOCIOLOG IA

uma vez que nos resistem sao rea lidades que possuem I po r si mesmas uma natureza definida adquirida que se nos impoe Consequentemente pode ser I (cito observa-Ia proshycurar conhece-Ia com a simples finalidade de a conhecershymos Por outro lado todas as prcHicas educativas quaisshyquer que possam ser e qualquer que seja a diferenlta que entre elas exista possuem um carclcter essencial comum resultam todas elas da acltao exercida por uma geraltao sob re a gerattaO seguin te com vista a adaptar esta ma ao meio social no qual ela e chamada a viver Todas elas sao pois modalidades diversas dessa relaltao fundashymental Por conseguinte eles sao factos de uma mesma

~~ltJe resultam de uma mesma-categoria 16gica podem portanto servir de objectivo a uma s6 e mesma -ciencie que serie a ch~ncia da educaltao

Nao e imposslvel indicar desde ja com a simples finalidade de precisar ide las alguns dos principais proshyblemas que esta cieneia teria de resolver

As praticaseducetivas nao sao factos Iso lados uns dos outros no entanto para uma mesma sociedade tais pnHicas encontram-se unidas num mesmo sistema no qual todas as partes concorrem para ums mesmafinal idade e 0 sistema educativo pr6prio desse pa rs e dessa epoca Cada povo tem 0 sau como tem 0 seu sistema moral religioso econ6mico etc Por outro lado porem os poshyvos da mesma esptkie isto e os povos que Sa assemeshyIham por caracter rsticas essenciais da sua constituiltao devem praticar sistemas educativos companlve is entre si As similitudes que a sua organizaltBo geral apresenta deshyvem necessariamente atra Ir outros mais de identice imshyportanc ia para a sua organizaltao educative por conseshyguinta I podemos certamente I por comparactao esc larecenshydo as semelhanltas e eliminandomiddot- asdiferenltas constituir tipos genericos de educsIfBO que correspondam as difeshyrentes especies de sociedades Por exemplo rio regime tribal a caracterrstica essencial da educacao e ser difushysa ela e rrlinistrada indistintamente por todos os membros do cia Neo existem portanto mestres determinados professores espadais encarregados da formacrao da juventushy

41

SDCIOLOGIA EDUCA~AO E MORAL

de tudo e antigo 0 papel e desempenhado pelas geracoes anteriores Acontece quando muito que relativamente a certos ensinamentos particularmente fundamentals certos ancloes sao mais especialmente aconselhados Noutras so cledades mais avancadas esta difusao finda QU pelo meshynos e atenuada A educaltao concentra-se nas maos de funcionarios especiais Na India e no Egipto sao os sacershydotes que se encarregam dessa fun A educaltao e um atributo do poder sacerdotal Ora esta primeira caracteshyrlstica diferencial acarreta outras Quando a vida religioshysa em vez de se manter completamente difusa como e originariamente cria para si propria um 6rgao especial encarregado de a dirigir e de a administrar isto e semshypre que se forma uma classe ou uma casta sacerdotal aquilo que de propriamente especulativo e intelectual exisshyte na religiao adquire um desenvolvimento ate entao desshycon~Foi nesses meios sacerdotais que surgiram os

-pirmeiros prodromos as fbrmas primitivas e rudimentares da ciencia astronomia matematica cosmologia Foi um facto que Comte notara desde ha mUito e que se explica facilmente perfeitarhente natural que uma organiza980 cuja finalidade consiste em concentrar num grupo restri to tudo quanto entao existe de vida especulativa a esti shymule e desenvolva Logo a educalt6o neo mais se limita como inic ialmente a inculcar praticas na crianca e a prepara-Ia para determinadas formas de actuar Existe desde logo materia para uma certa instru9ao 0 saeerdoshyte ensi na os elementos dessas c iene ias em vias de forma 9ao So que essa instrucao esses conhecimentos especushylativos neo sao ensinados por si mesmos mas em fun980 de relaltoes que mantem com as crenltas religiosas posshysuidores de um caracter sagrado encontram-se repletos de elemEmos propriamente religiosos ja que formados no proprio seio da religiao e dela indissocieiveis

Noutros pa ises como nas cidapes gregas e latinas a educaltao mantem-se repartida segundo determinada proporltao (variavel com as cidades) entre 0 ~stado e a fam if ia Nada de castas saeerdotais e 0 Estado que se sobrepoe a vida religiosa Por conseguinte dadonao ter 42

[oue SOC 10 LOG I A

carencias especulativas dado encontrar-se antes do Tais orientado para a aC9ao e para a pratica e fora dele logo tambem fora da religiao que a ciencia desponta sempre que a necessidade se faz sentir Os fil6sofos os sabios da Grecia sao entidades particulares e taicas A pr6pria ciencia depressa ali adquiriu uma tendencia anti shy_religiosa Dal resulta segundo 0 ponto de vista que nos

-rnteressa que tambem~~~Ellt que ~Q logo surge_I passu um caracter laico e privado 0 I1 grammateusll de Atenas~ a-Ummiddot Simples cidadao sem conexoes oficiais e sem cashynicter religioso

Nao vale a pena multiplicarmos estes examplos que apenas possuem um jntere~se ilustrativo Bastam esshytes para demonstrar como comparando sociedades da messhyma especie se poderiam constituir tipos de educaltao da mesma forma como se cOhstituem tipos de fam fHa de Estado ou de religiao Est~ classificaltao nao esgotashyria alias os problemas Cientrfi~ que a respeito da edushycaltao se podem pori ela jim~ta e a fornecer os elemenshytos necessarios para a resoluyii de um outro mais imporshytante Uma vez estabelecidos os tipos haveria que expli shycs-Ios isto 9 procurar saber de que condiltoes dependem aspropriedades caracterlsticas de cada um deles e de que formaeles deriv~raf11 uns dos outros Obter-se-iam de-ste modo as Iegt que dominam a evolUCiao dos sistemas J

-Igt ~e educaltao Poder-nos-iamos entao aperceber em queI sentido a educaltao se desenvolveu quai as causas que deshy

l terminaram esse desenvolvimentb e que 0 justificam Quesshy(tao seguramente te6rica mas cuja soIUlao como facil shy mente se verifiea seria fecunda em aplicaltoes pniticas

Aqui temos js um vasto campo de estudos aberto a especulaltao cientrfica E no entanto outros problemas existem ainda que poderiam ser abordados dentro do mes mo esp rrito Tudo 0 que acabamos de dizer este relacioshynado com 0 passado pesquisas deste genero teriam como resultado fazer-nos compreender de que forma se consti shytuiriam asnossas instituiltoes pedag6gicas Mas podem ser consideradas sob outro ponto de vista Uma vez constitul shydas elas funcionam e poderiamos verificar de que forma

43

SOCIOlOGIA EOUCA~lo [ MORAL

elas funcionam is to e quais os resultados que as mesmas produzem e quais as condicoes que fazem variar esses resultados Paratanto tornar-se-ia necessaria uma boa estatistica escolar Em cada eseola existe urna disciplishyna urn sistema de punici5es e de recompensas Como seshyria interessante sabermos nao s6 segundo 0 testemunho de impressoes empiricas mas tambempor meio de obshyservacoes met6diaas de que maneira esse sistema funcioshyna nas diferente~ escolas de uma mesma localidade nas diferentes regioe~ em diferentes alturas do ano nos dishyferentes momentps do dia quais os delitos escolares mais frequentes de ciOe forma varia a sua proporcao no conjun-- to do territ6rioou de conformidade com os pa rses em que medida e la depende da idade da crianlta da sua conshydicao familiar etc

Todas as questoes que se formulam a prop6sito dos delitos do adulto podem formular-se neste caso com nao menos utilidade Existe uma crimina logia da crianca tal como existe uma criminalogia do homem feito E a disshyciplina nao e a dnica instituicao educativa que poderia ser estudada segundo este metodo Nao existe metoda pedag6gico cujos efeitos nao pudessem ser ponderados de identica maneira admitindo bem entendido que 0 insshytrumento necessario a um estudo do genero isto e uma boa estat rstica tivesse side institu rda

II - Eis aqui pois dois grupos de problemas cujo caracter puramente cient rfico nao pode ser contestado Uns sao relativos ~ genesej as outros referem-se 80 funshycionamento dos sistemas de educaltrao Em todas estas pesquisas trata-se simplesmente ou de descrever as-~coi sas presentes ou passadas ou de Ihes procurar as causas ou ainda de Ihas determinar os efeitos Elas constituem uma cienciaj filiso que 9 ou antes 0 que seria a ciencia da educacao

Entretanto do pr6prio esboco que dela acabamo~ de tracar dedllzimos com evidenciaque as teorias a que chamamos pedag6gicas sao especulamiddotcoes de um genero Iluito diferente Com ef~ito essastiforias nao perseguem d mesma fim nem utilizam as masmos metodos 0 seu

44 t

[OUCA~liO E SOCIOLOGIA

objectivo niio consiste em descrever ou explicar aquilo que e au que foi mas sim em determinar aqui 10 que deshyve ser Elas nao se encontram orientadas nem para 0 preshy

-serite nem para a passado mas sim para 0 fu~~ro Nao se propoem expressar fielmente determinadas realidades mas sim promulgar preceitos de conduta Elas nao nos dizem eis 0 que existe e 0 porque dessa existenciaP mas sim lIeis 0 que e necessaria tazer Os proprios te6shyricos da educ-acao referem-se geralmente as praticas trashydicionais do presente e do passado com um desdem quase sistematico Eles apontam-Ihe sobretudo as imperfei((oes Quase todos os grandes pedagogos como Rabelais Montaigne Rousseau I Pestalozzl sao esp rritos revolucionarios I insurgishydos contra os usos dos seus contemporaneos Eles apenas mencionam os sistemas antigos ou existentes para os conshydenar para os declarar naturalmente infundados Transforshymam-nos mais OU menas completamente em tabua rasa e resolvem constru rr em seu lugar algo de inteiramente novo

Se por cons~quencia pretendemos entender-nos com n6s pr6prios temos que distinguir cuidadosamente ~uas especies de especulacoes igualmente diferentes A

- pedagogia e coisa diversa da ciencia da educacao Mas entao que vem ela a ser Para fazermos uma opcao moshytivada nac nos basta sabermos aquilo que ela neo ej teshymos que indicar aquilo em que a mesma consiste

Poderemos dizer que e uma arte A conclusao pashyrece imp6-rse I ja que vulgarmente nao vislumbramos um

termo intermedio entre esses dais extremos e damos 0

nome de arte a qualquer produto da reflexao que nao seshyja a ciencia Mas isso sera alargar 0 sentido da palavra ate ao ponto de neialntrodlizirmos coisas muito difeshyrentes

Com efeito chamamos igualmente arte a expeshyriencia pratica adquirida pelo professor em contacto com as criancas e no exerdcio da sua profissao Ora tal exshyperiencia e manifestamente uma coisa muito diferente das teorias do pedagogo Umfacto de observacao corrente torna muito sens lvel eata diferenlta Pode-se ser um edushy

45

--~~~-U LUUlflltflV t MVKAL

cador perfeito e apesar dissf ser-se completamente inashydequado as especulB90es da pedagogia 0 mestre engenhoshyso sabe como deve proceder sem poder dizer no entanto as razoes que justificam os processos por ele utilizados Inversamente 0 pedagogo pocl~ nao possuir qualquer capashycidade prcitica nao teriamos confiado uma classe quer a Rousseau quer a Montaigne Do pr6prio Pestalozzi que todavia era Urn homem que exercia a profissao podemos afirmar que apenas devia possuir nluito incompletamente a arte do educador como 0 comprovam os seus repetidos insucessos Identica confusao se nos depara em outros dom rnios Chamamos arte a per rcia dO homem de Estashydo experimentado na orientalttao dos interesses publicos Mas dizemos igualmente que osescritos de Platao de Arist6teles e de Rousseau sao tratados de arte polftica e 0 que e certo e que nao podemos Ver neles obras vershydadeiramente cientrficas uma vez que as mesmas tern

po r objectivo nao 0 estudo da rea Iidade t mas a construshylttao de Urn ideal E no entanto ha urn abismo entre as actividades do esp rrito que um Iivro como 0 Contrato soshycial implica e as que a administrarao do Estado pressushypoe Rousseau teria sido provavelmente tao mau minisshytro como mau educador Assim tambem os melhores te6shyricos de assuntos medicos nao sao se preciso for os meshy

res cl inicos

Interessa pOis nao designarmos pe 10 mesmo nome duas formas de actividade tao diferentes Quanto a n6s ha que reservar 0 nome de tlarte ll para tudo quanto for pratica pura isenta de teoria ~ por isso que todos se entendem quando se fala da arte do soldado da arte do advogado da arta do professor Uma arte e um sistema de formas de proceder ajulittadas a fins especiais e que sao a produto quer de uma experiencia tradicional comushynicada pela educacao quer da experiencia pessoal do inshydivrduo S6 poderemos adquiri-Ias relaclonando-nos com as coisas sobre as quais a ac~ao deve exercer-se e aginshydo n6s pr6prios Nao ha duvida de que a arte pode ser esclarecida pela reflxao mas esta nao e urn eJemento essencial a arte uma vez que a arte pode exstir sem a

o pound soc IOtOGIA

a reflexaa Naa existe mesma uma s6 arte ern que tudo seja refJectido

__ Mas entre a arte assim definida e a ciencia proshypriameflte- dita ha lugar para Uma atitude mental intershyr=neaa Em vez de actuarmos sobre as coisas ou sobre as ~-segundo modos determinados reflectmos sobre os

processos de actualtao assim utilizados tendo ern vista nao 0 seu conhecimento e a sua explica960 mas a apreshycialtraodo que valem seeles sao aquilo que devem ser se nao valera mais modfica-los e de que maneira au ate mesmo substtu r-Ios totalmente por novos processos Estas reflexoes adquirem a forma de teorias sao combishynar5es de ideias nao combinacoes de aetos por via disshy

-Igt ~ so~ elas aE~xiam-se da ciencia M~_s 0 objectiv~ das idelas asslrn combinadas naD e 0 de exprimir a natureza daS realidades dadas mas sim de orientar a accao Essas icfeias nao sao movimentos mas encontram-se muito pr6shyximas do movimento gtque elas tem por funcao orientar Se nao forem accoes sao pelo menos programas de acshy

--Igt lttao e por tal facto elas aproximamse da arte Estao neste caso as teorias medicas pQI rticas estrategicas etc Para exprimir 0 caracter misto destas especies de

~peculaltf5es propomOs-~cham-arfhls teorias pnHicas A ( pedagogia e uma teo ria pratica do genero Ela nao estushy--da cientificamente os sistemas de eduCa9aO masmedita

neleuros com vista-a forriecer a actividade do educadoridehls --~gt -lt= W r

que LJuJentarn ----ln~- -Mas a pedagogia entendida deste modo exshy

poe-se a urna-o6Tec~ao cuje grav idade neo pode ser dis simulada Nao ha duvida dir-se-a que ums teoria prashyt~~a~e9_SSrvel e legrtirla sempre que se podeapOlarriushyrna ciencia constiturda e incont9stada de qual ela nada ~~~_e do que- aaplicalttao Ieste caso com efelto as nocoes te6ricas de onde sao deduzidas as consequencas praticas possuem urn valor cientrfico que sa transmite ~s conclusoes que delas 59 extraem ~ por isso que a

lqUr~~ca aplic~da e uma taoria pratica que mais nao e do ~Ue a execucr8o das teorias da qu rmica pura Mas uma teoria pratica nao vale aquilo que valem as cieneias as ~

~

46

I

47

( MORAL EOUCACAO E SOCIOLOGIASOCIOlOGIA

quais ela vai buscar as suas nocoes fundamentais Ora em que ciencias poqera apoiar-sa a pedagogia Deveria antes Jlo mais existir a ciencia ds educacao Isto porque para sabermos aquilo que a educacrBo deve ser terramos que saber antes do mais qual a sua natureza quais as condicoes diversas de que depende as leis segundo as quais ela evoluiu na hist6ria Mas a cieneia da educacao apenas existe como projecto Aestam par um lado os outros ramos da sociologia que poderiam auxiliar a pedashygogia a fixar a finalidade da educalttao com a orientashy9$0 geraldos metodosj por outro Jado a psieofogia cushyjos ensinamentos poderiam ser de grande utilidade para a determina~ao porrnenorizada dos processos pedag6gicos Mas a sociologia nao passa de urna cieneia que esta desshypontando ela contara com um reduzidrssimo numero de proposicoes se acaso algumas houver A pr6pria psicoloshygia apesar de haver side constiturda mais cedo do que as ciencias sociais e 0 objecto de todoo genero de conshytroversias nao ha questoes pSicol6gicas sobre as quais nao se verifiquern ainda as teses mais divergentes Assim de que podem valier as conclusoes praticas que se fundashymentam em dados cientrficos simultaneamente tao inshycertos e tao incompletos De que vale uma especula~ao pedag6gica que~arece de todas as bases ou cujas bases quando se neo encontram totalmente ausentes carecem de solidez bullbull

0 facto q~e assim invocamos para negar qualquer credito a pedag6gia e em si mesmo incontestavel t certo que a ciencia da educacrao se encontra totalmente por fazer que a sociologia e a pSicologia se encontram ainda bem Poucoevolurdas Se por conseguinte nos fosse permitido aguard~r seria prudente e met6dico esperarmos pacientemente ate que essas cienc las tivessem progreshydido e pudessen-ser utilizadas mais seguramente Mas dashy-se 0 caso de precisamente a pacienc ia neo nos sar pershymitida NBo noskssiste a liberdade de pormos a problema a n6s mesmos ou de 0 adiarmos i 0 problema a-nos posto ou melhor impasto pe~~os proprios factos e pele nacessishydade de viver Aquestao naD esta completa encontramoshy

48

-noS envolvidos ne Is e he que prosseguir Em muitos ponshytos 0 nosso sistema tradicional de educ8ifao ja se neo har~oniza com os nossoS ideais e as nossas necassidades Temas poiS tao somente de optlr por uma das duas soshylut0es seguintes ou procurar manter mesmo assim as pnHicas que 0 passado nos legou I se bem que as mesmas nao correspondam mais as exigencias da si tualteo au enshytao tenter resa lutamente restabelecer a harmonia pershyturbada procurando encontrar as modificac6es necessarias Destas duas solU90eS a primeira e irrealizavel e neo poshyde ser levada a cabo Nada de mais ilus6rio do que esshytas tentatlvas para darem uma vida artificial e uma autoshyrldade aparente a instituicroes caducas e desacreditadas o fracasso e inevitavel Neo se podem abafar as ideias que estas instituilt5es contradlzem como se nao podem fazer calar as carencias que elas ofendem As for~as conshytra as quais empreendemos esh luta nao podem deixar de triunfar

Nada mais nos resta pais do que meter corajosashymente maos a obra I do que procurar as modifica~oes que se impoem e rea liza-Ias Mas como descobri-Ias se neo por meio da reflexao S6 a consciencia reflectida e cashypaz de suprir as lacunas da tradicrao quando esta vem a faltar Ora que e a pedagogiasen~o a reflexao aplishy~S~J9Jnais m~todicament~p~ssrve I as coisas aaeaushyca~ao) com vista a regularizar-lhes 0 desenvolvimento NaO

-firddljlda de quenao temos nas -maos todos os elemenshytos que seram de desejar para a resolu~ao do problema mas isso nao e razao para que nao procu remos reso Ive-Io jS que e necessario que ele seja resolvido Nada mals nos resta portanto do que fazer os p()~srveis do que recoshyIher o maior numero de~ elementosinstrutivos que possashymos do que interprets-los a mais metodicamente que ~E~~~nnos) a fim de reduzirmos aomiddot m inimo as posslbifTdashy

es de erro ~~cgt-2apeJ do peq~go bull Nad(i e mais l~s6rl~_=~~eril do que -esse~puritanismo cientrflco que a pretexto -de que a ciencia nao se encontra conclu rda a~onselha a abstenltao e recomenda aos homens que asshysistam como testemunhas indiferentes ou pelo menos reshy

__-lt0

49

~V~lVlUU1~ tUU~A~AU t MORAL

signadas a marcha dos acontec imen~os A par do sofisma da ignorancia existe 0 sofisma da ciencia que nao e meshynos perigoso Nao ha duvida de que ao actuarmos nesshytascondicoes corremos riscos Mas a accrao nunca e isenshyta de riscosj a cienc ia par muito avanlttada que possa 19 5

tar nao poderia suprimi-los Tudo 0 que de n6s pode ser exigido e que na medida das nossas possibilidades coloshyquemos toda a nossa ciencia por muito imperfeita que ela seja e toda a consciencia que tivermos na prevenerao desses riscos t precisamente nisto que consiste 0 papel da pedagogia

Mas a pedagogia mio tera apenas utilidade nesses perrodos cr rticos em que se torna urgentemente necessashyria harmonizar de novo um sistema escolar com as necesshysidades cla epoca hoje em dia pelo menos a pedagogia transformouse num auxiliar constantemente indispensavel da educacrao

Com efeito se a arte do educador e constiturda antes do mais par instintos e habitos que se tornaram quase instintivos e tOdavia necessaria que a inteligencia deles se nao desvie A reflexao nao poderia fazer-Ihe as vezes mas a arte nao poderia prescindir da reflexao pelo menos a partir do momenta em que as povos atingiram um certo grau de civilizalttao Na realidade uma vez que a personalidade individual se transformou num elemento essencial da cultura intelectual e moral da humanidade o educador deve ter em conta 0 genero de individualidade que ex iste em cada crianltta Ele deve por todos os meios ao seu alcance procurar favorecer 0 seu desenvolvimento Em vel de aplicar a fodas elasde uma forma invariavel a mesma regulamentaC8o impessoal e uniforme 0 educashydor tera pelo contn~rio de variar de diversificar os meshytodos consoanteo temperamento e a aptidao de cada inshyteligencia Mas para poder adaptar com discernimento as praticas educatiyas a diversidade dos casos particulares na---ciue saber quais as suas tendencias quais as razoes dos diferentes processos que as constituem quais os efeishytos que elas produzemnas diferentes circunstancias Neshycessaria se torna numa palavra mante-Iassubmetidas a

(OUCA~AO [ SOCIOLOGIA (-~

~bull --A f~~

reflexao pedagogica JJma educafiao emp rrLea maquina ii8O=-po-ae=ae~~a~ de nao ser compreensiva ~ nil~ladora Par Outroiado a medida que avarlltamos na hlst6rla t a evolushy((80 socialvai-se tornando mats rapidaj uma epoca nao se assemelha aquela que a antesedeu cad a espa~o de temshypo tem a sua fisionomia NOvas carencias e novas ideias surgem incessantemente paragt podermos responder as mu danltas constantes que assim se verificam nas opini6es e noS costumes e preciso que a pr6pria educa~ao se modi fique e por consequenc ia qye se mantenha num estado de maleabilidade que permit~ a mudanlta Ora a unico rneio de impedir que ela caiasob 0 juga do habi to e de genere em automatismo maquinal e imutavel consiste em mante-Ia permanentemente apta por meio da reflexao Qirando 0 educador se apercebe dos metodos que utiliza da sua finalidade e da sua razao de ser encontra-se ern condict0es de os julgar e por consequencia esta habilitashydo a modifica-Ios se acaso se convencer que 0 fim a atingir nao e 0 mesmo ou que os meios a utilizer devem ser dife rentes A ref lexao e por excelenc ia a fa rma anshytag6nica da rotina e a rotinamiddot e 0 obstkulo aos progresshysos nee essar ios

t este 0 motivo pe 10 qual se como diziamos de rcio a pedagogia apenas surge na hist6ria de uma forma

interrni-tente teremos de acrescentar que ela tende proshygressivamente a transformar-se numa functaO continua da vida socia A Idade Media nao necessitava dela Era uma

--epQCa-- de conformismo em que toda a gente pensav8 e sentia da mesma rnaneira em qu~ todos os esp Iritos se apresentavam como que vazados no mesmo molde em que as dissidencias individuais eram raras e alem do mais proscritas A educactao era igualmente impessoal nas esshycolas medievais 0 mestre dirigia-se colectivamente a toshydos os seus alunos sem que Ihe passasse pela mente adeshyquar a sua acerao a natureza de cada um desses alunos Ao mesma tempo a imutabilidade das crenctas fundamenshytais opunha-ie a que 0 sistema educativo evoluisse demashysiada rapidamente Par esses dbis motivos havia pais meshynos necessidade de se ser orientada pelo pensamento peshy

-50 51

SOClOLOGIA EDUCACAO [ MORAL _1(

--------------------------------~

dagogico Na Renascenca porem tudo sa modifiea as personalidades individuais dastacam-se da massa soc ial em que sa encontravam ate en tao abso rv idas e confundidas as esp rritos diversificam-se simultaneamente 0 desenvolshyvimento hist6rieo sofre uma aceleraltao uma nova eivili shyzaltao constitui-se Para corresponder a todas estas modishy I ficacoes a reflexao pedagogica desperta e se bem que nem sempre tenha brrlhado com a mesma cintilancia nunshyca mals voltsriaa extinguir-se par completo

IV - Noentanto para que a reflexao pedagogica posss produzir as efeitos beneficos que dela se devem aguardar tera de se submeter a uma cultura aproprlada

~

1Q Ja vimos que a pedagogia neo e a educaltao e nao poderia faz~r-Ihe as vezes A sua funltao nao consiste em substituir-seia pratica mas slm em orienta-la em esclarece-Ia em auxilhi-Ia se necessariola suprir as lashycunas que nela sa venham a produzir em remediar as inshysuficiencias quenela se verifiquem 0 pedagogo neo tem pais de construir com todos os retalhos um sistema de ensino como sernenhum existisseanteriormente Pelo conshytnirio ele temgue se empenhar antes do mais em comshypreender 0 sist~ma do sew tempo 66 assim ele estani

I I em condicoes de se servir dele com discernimento e de

julgl1r a que de imperfeito nele pode encontrar-se Todavia para P9der compreende-Io nao basta considerashy-10 tal como eie hoje se apresenta ja que esse sistema

ij de educacao e um produto da hist6ria que 56 esta podeI explicar ~ uma verdadeira instituiltao social Poucas coishy

~

I 11 sas existirao mesmo em que a hist6ria do pars se repershy

cuta tao integralmente As esco las francesas traduzemi~I exp rimem 0 esp rrito frances Nao podemos pois compreshy~ ender de forma alguma aquila que elas sao as finalida-~ u des que perseguem se nao soubermos de que e consti shy~ tu ido 0 nosso asp rrito nac ional quais os seus diferen tes ~

elementos quais os que dependem de causas permanentes~ L e profundas aqueles que inversarnente se devem a acshy~ao de facto res mais ov menos acidentais e transit6rios

i I iii questoes estas que somente a analise hist6rica pode resolshy

521 11

[OUCA~AO [ SOCIOLOGIA

-ver Discute-se geralmente para se saber qual olugar que deve caber 6 escola primaria no contexto da nossa orga- niza9aoescolar e na vida geral da sociedade Mas a proshyblema e insoluve se ignorarmos de que maneira se forshymou a nossa organiza~ao escolar de onde derivam as seus caracteres distintivos aquilo que no passado determinou o lugar dado a escola elementar quais as causasque fashyvoreceram ou entravaram a seu desenvolvimento etc

Assim a hist6ria do ensine palo menos do ensino nacional a a- ptimeira das propedeuticas para uma cultura pedag6gica Naturalmente sendo da pedagogia primaria

-que Se trata aa historia do ensino primario que prefeshyrentemente nos interessa conhecer Todavia oevido ao motivo que acabamos de apontar I tal ensino nao poderia destacar-se completamente do sistema escolar mais vasshyto I de que apenas IS parte

2Q Mas este Sjstema escolar nao IS feito unicamenshyte de prlHicas estabelecidas de metodos consagrados peshy10 usa heranl1a do passado~ Nele se encontram alam disshyso tendencias viradas para 0 futuro aspirac6es para um

ideal novo mais ou menos claramente previsto Impo-rta n~oDehecermos bem essas aspiral1oes para podermos a~al I 0 lugar que convira darse-Ihes numa reaiidaweeescolar Ora elas vem expressar-se nas doutrinas pedag6gicas ai hrstoria dessas doutrinas deve pais completar a do enshyt sino

Poder-se-ia crer e certo que para cumprir 0 seu fim util essa hist6ria nao necessita de remontar a um passado muito recuado I podendo sem inconveniente ser muito curta Nao bastara conhecerem-se as teorias entre as quais se dividem as esp rritos dos contemporaneos Toshydas as o4tras as dos seculos anteriores encon tram-se hoshyje uitrapassadase parecem possuir tao somente um inteshyresse de erudilttao

Mas este mode m ismo segundo cremos apenas conshysegue rarificar uma das principais fontes em que se deve alimentar a reflexaopedag6gica

Com efeito as doutrinas mais recentes nao nasceshyrar) ontem j elas encontram-se na sequencia das precedenshy

53

tes sem as quais por compreendidasj e assim as causas determinantes

tm conseguinte

~elas

pouco a pouco de uma corrente

nao podem se r para descobrir pedagogica de

certa importancia torna-sege ralmente necessario recuar bastante no tempo 86 assim estaremos de certo modo seguros de que os novos aspectos que apaixonam a maior parte dos esp fritos nao sao brilhantes improvisaltoes desshytinadas a s090brar rapidamente flO esquecimento Por exemshyplo para podermos compreender a tendencia actual do ensino pelos factos a que podemos chamar realismo peshydag6gico nao basta lirriitarmo-nos a ver como ele se exshyprime neste ou naquele contemporaneo he que remontarshymos ate ao momento em que ele e gerado ou seja aos~

I meados do securo XVIII em Fran9a e porfinais do seshyt culo XVII em certos parses protestantes Palo simplas

facto de se encontrar assim igada as SUCS origens pri shymeiras a pedagogia realista apresentar-se-a sob um oushytro aspecto totalmente diferente aperceber-nos-emos

i melhor de que ela se prende com causas profundas imshy

~i pessoais actuantes em todos os povos daEuropa 8imulshyJi taneamente encontrar~nos-emos nas melhores condicoes

para nos apercebermos de quais sao essas causas e conshy1~ 1 sequentemente para fazermos um ju fzo do verdadei ro al shy

~i cance desse moyimento Por outr~ lado porem essa corshys i rente pedag6gica constituiu-se em oposi~ao a urna corshy1I rente contrarla a do ensino humanista e livresco Logo f s6 poderemos apreciar judiciosamente a primeira desde1i que conhe~amos igualmente a segundaj e ei-nos obrigados

a remontarmos ainda multo mais longe na hist6ria ParaI tli poder oferecer todos os seus frutos essa historia da peshyI

~ dagogia nao deve alias ser separada da hist6ria do enshy

1middot sino Se bem que as posiltao ambas sao tra Isto porque em dependem do estado exacto momento em lado na medida em

tenhamos distinguido durante a exshyrealmente solidarias uma com a oushy

cada lapso de tempo as doutr inas do ens ina que elas reflectem no

que contra ele reagem e por outr~ que exercem uma acltao eficaz elas

contribuem para a deteNninacao desse mesmo ensino

54

lUU(A~AO E SOC I OliiG I II I

---reg A cultura pedag6gica deve pois possuir uma base

lamentenlst6rica s6 assim a pedagogia poderc~ furshy--urna cr (tica que Ihe tem sido drigida com freshy

er rtica essa que prejudicou fortemente 0 seu Muitos pedagogos entre os quais se encontram os

ustres tentararn edificar as seus sistemas prescinshyndo daquilo que antes delesexistira 0 tratamento a

que Ponocrates submete ~ Garga~tua ant~s de 0 ini~iar ms metodos recentes e a tal prop6slto slgnlflcatlvo f)1e purifiea-Ihe 0 cerebro com elabore de Anticyre de forma a faze-Io esquecer tudo quanta aprendera com ~sseus antigos preceptoresll

Significava isto numa forshyma aleg6rica que a nova pedagoga nada de comum deshyvia ter com aquela que a anteltedera Mas era ao messhy010 tempo colocar-se a margem das condilt6es da reashyUdade~ A futuro nao pode serevocado do nada uma vez que apenas 0 podemos constru r com as materiais que 0

pa~sado nos legou Urri idea I constru fdo ao ar rep io do estado das co isas existen tes nao e rea lizave I ja que nao radlca na realidade Alias e 6bvio que 0 passado tinha as suas razoes de serj ele nao teria conseguido subsistir se nao tivesse correspondido a carencias leg rtirnas que nao poderiam extinguir-se totalmente de um dia para 0

outro nao se pode pois fazer tao radicalmente da messhyrna Mbua rasa sem se menosprezarem carenc ias vita is

-~ e aqul esta como a pedagogia tem sido 0 mais das ve-II 168 uniifforma de literatura ut6pica Lamentar ramos as ~as as quais tivesse sido rigorosamente aplicado 0 metodo de Rousseau ou de Pestalozzi Nao ha duvida demiddot que assas utopias conseguiram desempenhar um prestimoshyso papel na hist6ria 0 seu pr6prio simplismo permitiushy-has irnpressionar mula-los a acy8o tar ineonvenientes dla-a-dia de que car e orientar a

mais vivamente 05 esp fritos e esti shyMas estas vantagens nao deixam de alem disso para esta pedagogia do

todo 0 professor carece para esclareshysua prcHica quotidiana ha que ter-se

~ns arrebatamento passional e unilateral e palo conshyraro~~_~tHOdOI urn sentimento mais presente da

Iidade e das dificuldades multiplas a que e necessario

55

SOtIOlOGIA [oUCAClo E MORAL

fazer face ~ este sentimento que propiciara uma cultura hist6ria bem entendida

32 S6a hist6ria do ensina e da pedagagia permishyte determfnar os fins que a educarao deve perseguir em cada momento do tempo Mas no que respeite aos meios necessarios a cohcretizayao desses fins I e a pSicologia que se torna necessaria pedi-Ios~

Com efeito 0 ideal pedag6gico de uma epoca exshyprime antes do mais 0 estado da soeiedade na epoca em quastao Mas para que esse ideal se transforme numa realidade torna-se ainda necessario que ao meSmo saja adaptada a consciencia da crianya Ora a consciencia possui as suas leis pr6prias que e necessario conheeer para que as possamos modifiear se pelo menos pretenshydemos evitar tanto quanto possrvel as tentativas emp rrishycas que a pedagogia tem precisamente por objectiv~ reshyduzir ao m fnimo Para podermos estimular a aetividade a desenvolver-se em determinado sentido temos ainda que saber quais sao os impulsos que a movem e qual a sua natureza ja que 56 assim sera possrvel aplicar-Ihe com conhecimento de causa a aC(fao conveniente~ Trata-se por examplo I demiddot despertar 0 amor pela patria ou 0 senshytido da humanidade Saberemos tanto melhor modelar a sensibilidade moraldos alunos am qualquer dos sentishydos quanta mais completas e precisas forem as nocoes que tivermos ~cerca do conjunto de fen6menos a que chashymamos inclinaci5es habitos apetencias emo(foes etc ace rca das diverses condi(foes de que os mesmos depenshydem kerea de forma com que na crianca se apresentam Consoante vejamos nas tendencias um produto das expeshyrieneias agradaveis ou desagradaveis que a esplkie conshyseguiu fazer ou entao pelo contrario um facto primitivo anterior aos estados afectivos que acompanham 0 seu funshycionamento deveremos proceder de formas muito diferenshytes para regulafmos 0 seu func ionamento Ora e a psishycologia mals especialmente a pSicologia infantil que compete resolVer estas questoes Se por conseguinte ela for incompetent~ para fixar a finalidade - ja que a finaliCiade varia consoante os estados sociais - nao ha dushy

EOUCACAO [ SOCIOlOGIA

vida de que ela nao tem um papel util a desempenhar na constituicao dos metodos Afem disso como nenhum meshytOcto--pode ser aprieado -de igual modo as diferentes erianshycas e ainda a psicologia que deveria auxiliar-nos a reshyconhecermo-nos no meio da diversidade das inte ligene ias e dos caraeteres Sabemos infelizmente que ainda estashymos longe do momenta em que ela estara verdadeiramenshyte em condic5es de satisfazer este desiderata

Existe um aspecto da pSicologia que para 0 pedashygogo possui uma importaneia muito particular e a psishycologia colectiva Na rea Ii dade uma turma e uma pequeshy

ria sociedade e torna-se necessario nao a orientar coma sa se tratasse de um simples agtomerado de sujeitos inshydependentes uns dos outros As crianyas de uma turma pensam sentem e agem de uma forma diferente de que quando se eneontram isoladas Numa sala de aulas produshyzem-se fen6menos de contagio de desmoralizaqao eotecshytiva de sobreexcita(fao mutua de efervescencia salutar que se torne necessario discernir a tim de prevenir e combater uns de uti lizar os outros~ Seguramente esta ciencia ainda se encontra em plena infaneia~ Existe toshydavia a partir de agora um carto nLimero de propostas que importa nao ignorer

Tais sao as prlncipais discipllnas que podam despershytar e cultivar a reflexao pedag6gica Em vez de proeurarshymos promulgar para a pedagogia urn c6digo abstracto oe regras met6dicas empreendimento que nurn processo de especu lacao tao composito e Hio comp lexo nao pode de algum modo realizar-se de uma forma satisfat6ria shyafigurou-se-nos preferrvel indicarmos a maneira segundo a qual nos pareee que 0 pedagogo devia sar instru fdo Uma certa atitude do esprrito face aos problemas que Ihe compete resolver I encontra-se por isso mesmo detershyminada

56 57

Page 2: Sociologia, Educação e Moral de Émile Durkheim

SOCIOlOGIA EDUCA~AO ( MORAl_______

e continua Povos existem que nao tiveram pedagogia proshy priamente ditaj ela s6 aparece inclusivamente numa eposhy

ca relativamente avanltada da hist6ria Na Gracia apenas a encontramos ap6s a epoca de Pericles com Platao Xeshynofonte e Arist6teles Em Roma a sua existencia passou despe rceb ida

Nas sociedades cristas s6 no seculo XVI ela produshyziu obras importantes e 0 impulso que ela entao adquishyriu abrandou no sEkulo imediato para apenas readquirir todo 0 seu vigor no decurso do sacula XVIII Isto porque o homem nem sempre se entrega a meditaCfaO mas tao somente quando e chamado a meditar e porque as candishy90es de reflexao nem sempre e em toda a parte se proshypiciam

Posta isto ha que procurarmos quais os caracteres da reflexao pedag6gica e dos seus produtos~Teremos de nees ver doutrinas cientrficas e deveremos afirmar que a pedagogia e uma ciencia a ciencia da eciucalt8o Ou convira darmos-Ihe uma outra designa9ao I equal A natushyreza do metodo pedag6gico sera entendida de formas muito diferentes conforme a resposta que a esta quesshy

tao fo r dada ~l~ - Que as coisas da educ89ao consideradas de

um certo ponto de vist~ possam ser 0 objecto de uma disdpl1nac~liErapresente todas as caracter rsticas das resshytantes diciplinas cientrficas S antes do mais 0 que e faci de demonstrar

Com efeito para que possamos apelidar de ciencia um conjunto de estudos e necessario e suficiente que esses mesmos estudoS apresentem as caracter rsticas seguintes

1Q E necessaria que eles incidam sabre factos adshyquiridos realiz-ados oferecidos a observa9ao Uma ciancia com efeito define-se pelo seu objectiv~ ela pressupoe por consequencia que esse objectivo existe que pode ser apontado a dedo ser de algum modo assinalado 0 lugar que ocupa no conjunto da realidade

38

EDUCACAO [ SOCIOrvUA

22 ~ necessario que estes factos apresentem entre si uma homogeneidade suficient~ para poderem sar classhysificados huma mesma categoria Se uns e outros fossem irredutrveis existiria nao umaciencia mas tantas cienshycias diferentes quantas as especies distintas de assuntos a estudar Acontece muito frequentemente que as cienshycias em vias de aparecimento e de consolidaltao abarquem assaz confusamente uma pluralidade de objectiv~s diferenshytes e 0 caso por exemplo da geografia da antropologia etc Mas isto nao e mais do que uma fase transit6ria no desenvolvimento das ciencias

3 Q Finalmente a ciencia estuda esses factos para j os conhecer e somenfe para os conhecer de uma forma ( abmrlutamente desinteressada Servimo-nos propositadamenshy) tlr-desta palavra um pouco generalizada e vaga de conheshyI cer sem precisarmos de outro modo em que pode consisshy

tir 0 conhecimento dito cientlfico Pouco importa com efeito-ciue 0 sabio se dedique a constituir tipos prefe rentemente a descobrir leis que se limite a descrever ou que procure explicar A ciencia inicia-se desde que o saber qualquer que ele seja e procurado por si mesmo ~oha duvida de que 0 sabio tem um conhecimento exacshyto de que as suas descobertas serao verosimi Imente susshyceptlveis de serem utilizadas Pode mesmo dar-se 0 caso de eurolIe orientar preferentemente as suas pesquisas neste au naquele ponto por pressentir que deste modo elas serao mais proveitosas que permitirao satisfazer carencias preshymentes Mas a partir do momento em que se entrega a investigaltao cientrfica ele desinteressa-se das consequenshycias prclticas Ele expoe 0 que se passa j constata 0 que sao as coisas e fica-se por ali~ Ele nao se preocupa em saber se as verdades que descobre setao agradaveis ou desshy-c~~certantes se e conveniente que os relat6rios por ale estabelec idos se mantenham tal qual sao ou se convi ria que os mesma se apresentassem de forma diversa 0 seu papel consiste em exprimi r a realidade nao em julga-Ia

Posta Isto nao ha qualquer motivo para que a edushycacao se nao traJisforme noobjectivo de uma pesquisa q~e satisfalta todas estas condicoes e que por consequen cia apresente todas as caract~rrsticas de uma ciencia

I

39

~~

SOCIOLOGIA EOUCACAO E MORAL

Com efei to a educalttao em uso numa soc iedade determinada e considerada num- dado momento da sua evoshylultao e um conjunto de prcHicas de maneiras de proceshyder de costumes que constituem factos perfeitamente definidos e que possuem a mesma realidade que as restanshy

-ltes factos sociais Nao sao co-me se TuTgou durante muitoI tempo combinaltoes mais ou menos arbitrarias e artifishy

ciais que apenas devem a existencia a caprichosa inshyfluencia de vontades sempre contingentes Elas constituem pelo contnrio autenticas instituiltoes sociais __Njip hc1 he

mem que possa middotfazer com que uma sociedade possua num dadomomento outro sistema educacional do que aquele gueest~ implicado na sua estrutura I tal como e imposs rshyvel a um organismo vivo possuir outros orgaos e outras funltoes que naolas que se encontram implicadas na sua constituiltao Se a todas as razoes que foram aduzidas em abono desta concepltao for necessario acrescentarshy-Ihes outras mais basta conscienciaJizarmo-nos da forlta imperativa com a qual as prcHicas se nos impoe t inuti I julgarmos que e~ucamos os nossos fi Ihos como pretendeshy

_mos t que som~s obrigados a seguir as regras que imshyperam no meio social em que vivemos t a opiniao quem nos impoe essas regras e a opiniao e uma forlta moral cujo poder constrangedor nao e inferior ao poder das forshyetas f rsieas Alguns dos usos aos quais ela dispensa a sua autoridade sao)por isso mesmo em larga medida subshytra idos a aClfaodos indiv rduos Podemos facilmente desoshybedecer nesse taso porem as forltas morais contra as quais nos insurgmos reagem em nosso desfavor sando dishyf kil d~vido a sua superioridade que nao sejamos venshycidos E por isso que podemos revoltar-nos contra as forshyltas materiais das quais dependemos podemos tentar vishyver de uma forma diferente daquela que a natureza do nosso meio f rsico implica mas entao a morte au a doenshylta sao a sanltao da nossa revolta Assim tambem enconshytramo-nos mergulhados num ambiente de idaias e de senshytimentos colectivos que nao podemos modificar a vontade e e em ideias e sentil(lentos do genero que se baseiam as praticas educativas E1as sao pois coisas distintas de n6s I

40

EDUCA~AO ESOCIOLOG IA

uma vez que nos resistem sao rea lidades que possuem I po r si mesmas uma natureza definida adquirida que se nos impoe Consequentemente pode ser I (cito observa-Ia proshycurar conhece-Ia com a simples finalidade de a conhecershymos Por outro lado todas as prcHicas educativas quaisshyquer que possam ser e qualquer que seja a diferenlta que entre elas exista possuem um carclcter essencial comum resultam todas elas da acltao exercida por uma geraltao sob re a gerattaO seguin te com vista a adaptar esta ma ao meio social no qual ela e chamada a viver Todas elas sao pois modalidades diversas dessa relaltao fundashymental Por conseguinte eles sao factos de uma mesma

~~ltJe resultam de uma mesma-categoria 16gica podem portanto servir de objectivo a uma s6 e mesma -ciencie que serie a ch~ncia da educaltao

Nao e imposslvel indicar desde ja com a simples finalidade de precisar ide las alguns dos principais proshyblemas que esta cieneia teria de resolver

As praticaseducetivas nao sao factos Iso lados uns dos outros no entanto para uma mesma sociedade tais pnHicas encontram-se unidas num mesmo sistema no qual todas as partes concorrem para ums mesmafinal idade e 0 sistema educativo pr6prio desse pa rs e dessa epoca Cada povo tem 0 sau como tem 0 seu sistema moral religioso econ6mico etc Por outro lado porem os poshyvos da mesma esptkie isto e os povos que Sa assemeshyIham por caracter rsticas essenciais da sua constituiltao devem praticar sistemas educativos companlve is entre si As similitudes que a sua organizaltBo geral apresenta deshyvem necessariamente atra Ir outros mais de identice imshyportanc ia para a sua organizaltao educative por conseshyguinta I podemos certamente I por comparactao esc larecenshydo as semelhanltas e eliminandomiddot- asdiferenltas constituir tipos genericos de educsIfBO que correspondam as difeshyrentes especies de sociedades Por exemplo rio regime tribal a caracterrstica essencial da educacao e ser difushysa ela e rrlinistrada indistintamente por todos os membros do cia Neo existem portanto mestres determinados professores espadais encarregados da formacrao da juventushy

41

SDCIOLOGIA EDUCA~AO E MORAL

de tudo e antigo 0 papel e desempenhado pelas geracoes anteriores Acontece quando muito que relativamente a certos ensinamentos particularmente fundamentals certos ancloes sao mais especialmente aconselhados Noutras so cledades mais avancadas esta difusao finda QU pelo meshynos e atenuada A educaltao concentra-se nas maos de funcionarios especiais Na India e no Egipto sao os sacershydotes que se encarregam dessa fun A educaltao e um atributo do poder sacerdotal Ora esta primeira caracteshyrlstica diferencial acarreta outras Quando a vida religioshysa em vez de se manter completamente difusa como e originariamente cria para si propria um 6rgao especial encarregado de a dirigir e de a administrar isto e semshypre que se forma uma classe ou uma casta sacerdotal aquilo que de propriamente especulativo e intelectual exisshyte na religiao adquire um desenvolvimento ate entao desshycon~Foi nesses meios sacerdotais que surgiram os

-pirmeiros prodromos as fbrmas primitivas e rudimentares da ciencia astronomia matematica cosmologia Foi um facto que Comte notara desde ha mUito e que se explica facilmente perfeitarhente natural que uma organiza980 cuja finalidade consiste em concentrar num grupo restri to tudo quanto entao existe de vida especulativa a esti shymule e desenvolva Logo a educalt6o neo mais se limita como inic ialmente a inculcar praticas na crianca e a prepara-Ia para determinadas formas de actuar Existe desde logo materia para uma certa instru9ao 0 saeerdoshyte ensi na os elementos dessas c iene ias em vias de forma 9ao So que essa instrucao esses conhecimentos especushylativos neo sao ensinados por si mesmos mas em fun980 de relaltoes que mantem com as crenltas religiosas posshysuidores de um caracter sagrado encontram-se repletos de elemEmos propriamente religiosos ja que formados no proprio seio da religiao e dela indissocieiveis

Noutros pa ises como nas cidapes gregas e latinas a educaltao mantem-se repartida segundo determinada proporltao (variavel com as cidades) entre 0 ~stado e a fam if ia Nada de castas saeerdotais e 0 Estado que se sobrepoe a vida religiosa Por conseguinte dadonao ter 42

[oue SOC 10 LOG I A

carencias especulativas dado encontrar-se antes do Tais orientado para a aC9ao e para a pratica e fora dele logo tambem fora da religiao que a ciencia desponta sempre que a necessidade se faz sentir Os fil6sofos os sabios da Grecia sao entidades particulares e taicas A pr6pria ciencia depressa ali adquiriu uma tendencia anti shy_religiosa Dal resulta segundo 0 ponto de vista que nos

-rnteressa que tambem~~~Ellt que ~Q logo surge_I passu um caracter laico e privado 0 I1 grammateusll de Atenas~ a-Ummiddot Simples cidadao sem conexoes oficiais e sem cashynicter religioso

Nao vale a pena multiplicarmos estes examplos que apenas possuem um jntere~se ilustrativo Bastam esshytes para demonstrar como comparando sociedades da messhyma especie se poderiam constituir tipos de educaltao da mesma forma como se cOhstituem tipos de fam fHa de Estado ou de religiao Est~ classificaltao nao esgotashyria alias os problemas Cientrfi~ que a respeito da edushycaltao se podem pori ela jim~ta e a fornecer os elemenshytos necessarios para a resoluyii de um outro mais imporshytante Uma vez estabelecidos os tipos haveria que expli shycs-Ios isto 9 procurar saber de que condiltoes dependem aspropriedades caracterlsticas de cada um deles e de que formaeles deriv~raf11 uns dos outros Obter-se-iam de-ste modo as Iegt que dominam a evolUCiao dos sistemas J

-Igt ~e educaltao Poder-nos-iamos entao aperceber em queI sentido a educaltao se desenvolveu quai as causas que deshy

l terminaram esse desenvolvimentb e que 0 justificam Quesshy(tao seguramente te6rica mas cuja soIUlao como facil shy mente se verifiea seria fecunda em aplicaltoes pniticas

Aqui temos js um vasto campo de estudos aberto a especulaltao cientrfica E no entanto outros problemas existem ainda que poderiam ser abordados dentro do mes mo esp rrito Tudo 0 que acabamos de dizer este relacioshynado com 0 passado pesquisas deste genero teriam como resultado fazer-nos compreender de que forma se consti shytuiriam asnossas instituiltoes pedag6gicas Mas podem ser consideradas sob outro ponto de vista Uma vez constitul shydas elas funcionam e poderiamos verificar de que forma

43

SOCIOlOGIA EOUCA~lo [ MORAL

elas funcionam is to e quais os resultados que as mesmas produzem e quais as condicoes que fazem variar esses resultados Paratanto tornar-se-ia necessaria uma boa estatistica escolar Em cada eseola existe urna disciplishyna urn sistema de punici5es e de recompensas Como seshyria interessante sabermos nao s6 segundo 0 testemunho de impressoes empiricas mas tambempor meio de obshyservacoes met6diaas de que maneira esse sistema funcioshyna nas diferente~ escolas de uma mesma localidade nas diferentes regioe~ em diferentes alturas do ano nos dishyferentes momentps do dia quais os delitos escolares mais frequentes de ciOe forma varia a sua proporcao no conjun-- to do territ6rioou de conformidade com os pa rses em que medida e la depende da idade da crianlta da sua conshydicao familiar etc

Todas as questoes que se formulam a prop6sito dos delitos do adulto podem formular-se neste caso com nao menos utilidade Existe uma crimina logia da crianca tal como existe uma criminalogia do homem feito E a disshyciplina nao e a dnica instituicao educativa que poderia ser estudada segundo este metodo Nao existe metoda pedag6gico cujos efeitos nao pudessem ser ponderados de identica maneira admitindo bem entendido que 0 insshytrumento necessario a um estudo do genero isto e uma boa estat rstica tivesse side institu rda

II - Eis aqui pois dois grupos de problemas cujo caracter puramente cient rfico nao pode ser contestado Uns sao relativos ~ genesej as outros referem-se 80 funshycionamento dos sistemas de educaltrao Em todas estas pesquisas trata-se simplesmente ou de descrever as-~coi sas presentes ou passadas ou de Ihes procurar as causas ou ainda de Ihas determinar os efeitos Elas constituem uma cienciaj filiso que 9 ou antes 0 que seria a ciencia da educacao

Entretanto do pr6prio esboco que dela acabamo~ de tracar dedllzimos com evidenciaque as teorias a que chamamos pedag6gicas sao especulamiddotcoes de um genero Iluito diferente Com ef~ito essastiforias nao perseguem d mesma fim nem utilizam as masmos metodos 0 seu

44 t

[OUCA~liO E SOCIOLOGIA

objectivo niio consiste em descrever ou explicar aquilo que e au que foi mas sim em determinar aqui 10 que deshyve ser Elas nao se encontram orientadas nem para 0 preshy

-serite nem para a passado mas sim para 0 fu~~ro Nao se propoem expressar fielmente determinadas realidades mas sim promulgar preceitos de conduta Elas nao nos dizem eis 0 que existe e 0 porque dessa existenciaP mas sim lIeis 0 que e necessaria tazer Os proprios te6shyricos da educ-acao referem-se geralmente as praticas trashydicionais do presente e do passado com um desdem quase sistematico Eles apontam-Ihe sobretudo as imperfei((oes Quase todos os grandes pedagogos como Rabelais Montaigne Rousseau I Pestalozzl sao esp rritos revolucionarios I insurgishydos contra os usos dos seus contemporaneos Eles apenas mencionam os sistemas antigos ou existentes para os conshydenar para os declarar naturalmente infundados Transforshymam-nos mais OU menas completamente em tabua rasa e resolvem constru rr em seu lugar algo de inteiramente novo

Se por cons~quencia pretendemos entender-nos com n6s pr6prios temos que distinguir cuidadosamente ~uas especies de especulacoes igualmente diferentes A

- pedagogia e coisa diversa da ciencia da educacao Mas entao que vem ela a ser Para fazermos uma opcao moshytivada nac nos basta sabermos aquilo que ela neo ej teshymos que indicar aquilo em que a mesma consiste

Poderemos dizer que e uma arte A conclusao pashyrece imp6-rse I ja que vulgarmente nao vislumbramos um

termo intermedio entre esses dais extremos e damos 0

nome de arte a qualquer produto da reflexao que nao seshyja a ciencia Mas isso sera alargar 0 sentido da palavra ate ao ponto de neialntrodlizirmos coisas muito difeshyrentes

Com efeito chamamos igualmente arte a expeshyriencia pratica adquirida pelo professor em contacto com as criancas e no exerdcio da sua profissao Ora tal exshyperiencia e manifestamente uma coisa muito diferente das teorias do pedagogo Umfacto de observacao corrente torna muito sens lvel eata diferenlta Pode-se ser um edushy

45

--~~~-U LUUlflltflV t MVKAL

cador perfeito e apesar dissf ser-se completamente inashydequado as especulB90es da pedagogia 0 mestre engenhoshyso sabe como deve proceder sem poder dizer no entanto as razoes que justificam os processos por ele utilizados Inversamente 0 pedagogo pocl~ nao possuir qualquer capashycidade prcitica nao teriamos confiado uma classe quer a Rousseau quer a Montaigne Do pr6prio Pestalozzi que todavia era Urn homem que exercia a profissao podemos afirmar que apenas devia possuir nluito incompletamente a arte do educador como 0 comprovam os seus repetidos insucessos Identica confusao se nos depara em outros dom rnios Chamamos arte a per rcia dO homem de Estashydo experimentado na orientalttao dos interesses publicos Mas dizemos igualmente que osescritos de Platao de Arist6teles e de Rousseau sao tratados de arte polftica e 0 que e certo e que nao podemos Ver neles obras vershydadeiramente cientrficas uma vez que as mesmas tern

po r objectivo nao 0 estudo da rea Iidade t mas a construshylttao de Urn ideal E no entanto ha urn abismo entre as actividades do esp rrito que um Iivro como 0 Contrato soshycial implica e as que a administrarao do Estado pressushypoe Rousseau teria sido provavelmente tao mau minisshytro como mau educador Assim tambem os melhores te6shyricos de assuntos medicos nao sao se preciso for os meshy

res cl inicos

Interessa pOis nao designarmos pe 10 mesmo nome duas formas de actividade tao diferentes Quanto a n6s ha que reservar 0 nome de tlarte ll para tudo quanto for pratica pura isenta de teoria ~ por isso que todos se entendem quando se fala da arte do soldado da arte do advogado da arta do professor Uma arte e um sistema de formas de proceder ajulittadas a fins especiais e que sao a produto quer de uma experiencia tradicional comushynicada pela educacao quer da experiencia pessoal do inshydivrduo S6 poderemos adquiri-Ias relaclonando-nos com as coisas sobre as quais a ac~ao deve exercer-se e aginshydo n6s pr6prios Nao ha duvida de que a arte pode ser esclarecida pela reflxao mas esta nao e urn eJemento essencial a arte uma vez que a arte pode exstir sem a

o pound soc IOtOGIA

a reflexaa Naa existe mesma uma s6 arte ern que tudo seja refJectido

__ Mas entre a arte assim definida e a ciencia proshypriameflte- dita ha lugar para Uma atitude mental intershyr=neaa Em vez de actuarmos sobre as coisas ou sobre as ~-segundo modos determinados reflectmos sobre os

processos de actualtao assim utilizados tendo ern vista nao 0 seu conhecimento e a sua explica960 mas a apreshycialtraodo que valem seeles sao aquilo que devem ser se nao valera mais modfica-los e de que maneira au ate mesmo substtu r-Ios totalmente por novos processos Estas reflexoes adquirem a forma de teorias sao combishynar5es de ideias nao combinacoes de aetos por via disshy

-Igt ~ so~ elas aE~xiam-se da ciencia M~_s 0 objectiv~ das idelas asslrn combinadas naD e 0 de exprimir a natureza daS realidades dadas mas sim de orientar a accao Essas icfeias nao sao movimentos mas encontram-se muito pr6shyximas do movimento gtque elas tem por funcao orientar Se nao forem accoes sao pelo menos programas de acshy

--Igt lttao e por tal facto elas aproximamse da arte Estao neste caso as teorias medicas pQI rticas estrategicas etc Para exprimir 0 caracter misto destas especies de

~peculaltf5es propomOs-~cham-arfhls teorias pnHicas A ( pedagogia e uma teo ria pratica do genero Ela nao estushy--da cientificamente os sistemas de eduCa9aO masmedita

neleuros com vista-a forriecer a actividade do educadoridehls --~gt -lt= W r

que LJuJentarn ----ln~- -Mas a pedagogia entendida deste modo exshy

poe-se a urna-o6Tec~ao cuje grav idade neo pode ser dis simulada Nao ha duvida dir-se-a que ums teoria prashyt~~a~e9_SSrvel e legrtirla sempre que se podeapOlarriushyrna ciencia constiturda e incont9stada de qual ela nada ~~~_e do que- aaplicalttao Ieste caso com efelto as nocoes te6ricas de onde sao deduzidas as consequencas praticas possuem urn valor cientrfico que sa transmite ~s conclusoes que delas 59 extraem ~ por isso que a

lqUr~~ca aplic~da e uma taoria pratica que mais nao e do ~Ue a execucr8o das teorias da qu rmica pura Mas uma teoria pratica nao vale aquilo que valem as cieneias as ~

~

46

I

47

( MORAL EOUCACAO E SOCIOLOGIASOCIOlOGIA

quais ela vai buscar as suas nocoes fundamentais Ora em que ciencias poqera apoiar-sa a pedagogia Deveria antes Jlo mais existir a ciencia ds educacao Isto porque para sabermos aquilo que a educacrBo deve ser terramos que saber antes do mais qual a sua natureza quais as condicoes diversas de que depende as leis segundo as quais ela evoluiu na hist6ria Mas a cieneia da educacao apenas existe como projecto Aestam par um lado os outros ramos da sociologia que poderiam auxiliar a pedashygogia a fixar a finalidade da educalttao com a orientashy9$0 geraldos metodosj por outro Jado a psieofogia cushyjos ensinamentos poderiam ser de grande utilidade para a determina~ao porrnenorizada dos processos pedag6gicos Mas a sociologia nao passa de urna cieneia que esta desshypontando ela contara com um reduzidrssimo numero de proposicoes se acaso algumas houver A pr6pria psicoloshygia apesar de haver side constiturda mais cedo do que as ciencias sociais e 0 objecto de todoo genero de conshytroversias nao ha questoes pSicol6gicas sobre as quais nao se verifiquern ainda as teses mais divergentes Assim de que podem valier as conclusoes praticas que se fundashymentam em dados cientrficos simultaneamente tao inshycertos e tao incompletos De que vale uma especula~ao pedag6gica que~arece de todas as bases ou cujas bases quando se neo encontram totalmente ausentes carecem de solidez bullbull

0 facto q~e assim invocamos para negar qualquer credito a pedag6gia e em si mesmo incontestavel t certo que a ciencia da educacrao se encontra totalmente por fazer que a sociologia e a pSicologia se encontram ainda bem Poucoevolurdas Se por conseguinte nos fosse permitido aguard~r seria prudente e met6dico esperarmos pacientemente ate que essas cienc las tivessem progreshydido e pudessen-ser utilizadas mais seguramente Mas dashy-se 0 caso de precisamente a pacienc ia neo nos sar pershymitida NBo noskssiste a liberdade de pormos a problema a n6s mesmos ou de 0 adiarmos i 0 problema a-nos posto ou melhor impasto pe~~os proprios factos e pele nacessishydade de viver Aquestao naD esta completa encontramoshy

48

-noS envolvidos ne Is e he que prosseguir Em muitos ponshytos 0 nosso sistema tradicional de educ8ifao ja se neo har~oniza com os nossoS ideais e as nossas necassidades Temas poiS tao somente de optlr por uma das duas soshylut0es seguintes ou procurar manter mesmo assim as pnHicas que 0 passado nos legou I se bem que as mesmas nao correspondam mais as exigencias da si tualteo au enshytao tenter resa lutamente restabelecer a harmonia pershyturbada procurando encontrar as modificac6es necessarias Destas duas solU90eS a primeira e irrealizavel e neo poshyde ser levada a cabo Nada de mais ilus6rio do que esshytas tentatlvas para darem uma vida artificial e uma autoshyrldade aparente a instituicroes caducas e desacreditadas o fracasso e inevitavel Neo se podem abafar as ideias que estas instituilt5es contradlzem como se nao podem fazer calar as carencias que elas ofendem As for~as conshytra as quais empreendemos esh luta nao podem deixar de triunfar

Nada mais nos resta pais do que meter corajosashymente maos a obra I do que procurar as modifica~oes que se impoem e rea liza-Ias Mas como descobri-Ias se neo por meio da reflexao S6 a consciencia reflectida e cashypaz de suprir as lacunas da tradicrao quando esta vem a faltar Ora que e a pedagogiasen~o a reflexao aplishy~S~J9Jnais m~todicament~p~ssrve I as coisas aaeaushyca~ao) com vista a regularizar-lhes 0 desenvolvimento NaO

-firddljlda de quenao temos nas -maos todos os elemenshytos que seram de desejar para a resolu~ao do problema mas isso nao e razao para que nao procu remos reso Ive-Io jS que e necessario que ele seja resolvido Nada mals nos resta portanto do que fazer os p()~srveis do que recoshyIher o maior numero de~ elementosinstrutivos que possashymos do que interprets-los a mais metodicamente que ~E~~~nnos) a fim de reduzirmos aomiddot m inimo as posslbifTdashy

es de erro ~~cgt-2apeJ do peq~go bull Nad(i e mais l~s6rl~_=~~eril do que -esse~puritanismo cientrflco que a pretexto -de que a ciencia nao se encontra conclu rda a~onselha a abstenltao e recomenda aos homens que asshysistam como testemunhas indiferentes ou pelo menos reshy

__-lt0

49

~V~lVlUU1~ tUU~A~AU t MORAL

signadas a marcha dos acontec imen~os A par do sofisma da ignorancia existe 0 sofisma da ciencia que nao e meshynos perigoso Nao ha duvida de que ao actuarmos nesshytascondicoes corremos riscos Mas a accrao nunca e isenshyta de riscosj a cienc ia par muito avanlttada que possa 19 5

tar nao poderia suprimi-los Tudo 0 que de n6s pode ser exigido e que na medida das nossas possibilidades coloshyquemos toda a nossa ciencia por muito imperfeita que ela seja e toda a consciencia que tivermos na prevenerao desses riscos t precisamente nisto que consiste 0 papel da pedagogia

Mas a pedagogia mio tera apenas utilidade nesses perrodos cr rticos em que se torna urgentemente necessashyria harmonizar de novo um sistema escolar com as necesshysidades cla epoca hoje em dia pelo menos a pedagogia transformouse num auxiliar constantemente indispensavel da educacrao

Com efeito se a arte do educador e constiturda antes do mais par instintos e habitos que se tornaram quase instintivos e tOdavia necessaria que a inteligencia deles se nao desvie A reflexao nao poderia fazer-Ihe as vezes mas a arte nao poderia prescindir da reflexao pelo menos a partir do momenta em que as povos atingiram um certo grau de civilizalttao Na realidade uma vez que a personalidade individual se transformou num elemento essencial da cultura intelectual e moral da humanidade o educador deve ter em conta 0 genero de individualidade que ex iste em cada crianltta Ele deve por todos os meios ao seu alcance procurar favorecer 0 seu desenvolvimento Em vel de aplicar a fodas elasde uma forma invariavel a mesma regulamentaC8o impessoal e uniforme 0 educashydor tera pelo contn~rio de variar de diversificar os meshytodos consoanteo temperamento e a aptidao de cada inshyteligencia Mas para poder adaptar com discernimento as praticas educatiyas a diversidade dos casos particulares na---ciue saber quais as suas tendencias quais as razoes dos diferentes processos que as constituem quais os efeishytos que elas produzemnas diferentes circunstancias Neshycessaria se torna numa palavra mante-Iassubmetidas a

(OUCA~AO [ SOCIOLOGIA (-~

~bull --A f~~

reflexao pedagogica JJma educafiao emp rrLea maquina ii8O=-po-ae=ae~~a~ de nao ser compreensiva ~ nil~ladora Par Outroiado a medida que avarlltamos na hlst6rla t a evolushy((80 socialvai-se tornando mats rapidaj uma epoca nao se assemelha aquela que a antesedeu cad a espa~o de temshypo tem a sua fisionomia NOvas carencias e novas ideias surgem incessantemente paragt podermos responder as mu danltas constantes que assim se verificam nas opini6es e noS costumes e preciso que a pr6pria educa~ao se modi fique e por consequenc ia qye se mantenha num estado de maleabilidade que permit~ a mudanlta Ora a unico rneio de impedir que ela caiasob 0 juga do habi to e de genere em automatismo maquinal e imutavel consiste em mante-Ia permanentemente apta por meio da reflexao Qirando 0 educador se apercebe dos metodos que utiliza da sua finalidade e da sua razao de ser encontra-se ern condict0es de os julgar e por consequencia esta habilitashydo a modifica-Ios se acaso se convencer que 0 fim a atingir nao e 0 mesmo ou que os meios a utilizer devem ser dife rentes A ref lexao e por excelenc ia a fa rma anshytag6nica da rotina e a rotinamiddot e 0 obstkulo aos progresshysos nee essar ios

t este 0 motivo pe 10 qual se como diziamos de rcio a pedagogia apenas surge na hist6ria de uma forma

interrni-tente teremos de acrescentar que ela tende proshygressivamente a transformar-se numa functaO continua da vida socia A Idade Media nao necessitava dela Era uma

--epQCa-- de conformismo em que toda a gente pensav8 e sentia da mesma rnaneira em qu~ todos os esp Iritos se apresentavam como que vazados no mesmo molde em que as dissidencias individuais eram raras e alem do mais proscritas A educactao era igualmente impessoal nas esshycolas medievais 0 mestre dirigia-se colectivamente a toshydos os seus alunos sem que Ihe passasse pela mente adeshyquar a sua acerao a natureza de cada um desses alunos Ao mesma tempo a imutabilidade das crenctas fundamenshytais opunha-ie a que 0 sistema educativo evoluisse demashysiada rapidamente Par esses dbis motivos havia pais meshynos necessidade de se ser orientada pelo pensamento peshy

-50 51

SOClOLOGIA EDUCACAO [ MORAL _1(

--------------------------------~

dagogico Na Renascenca porem tudo sa modifiea as personalidades individuais dastacam-se da massa soc ial em que sa encontravam ate en tao abso rv idas e confundidas as esp rritos diversificam-se simultaneamente 0 desenvolshyvimento hist6rieo sofre uma aceleraltao uma nova eivili shyzaltao constitui-se Para corresponder a todas estas modishy I ficacoes a reflexao pedagogica desperta e se bem que nem sempre tenha brrlhado com a mesma cintilancia nunshyca mals voltsriaa extinguir-se par completo

IV - Noentanto para que a reflexao pedagogica posss produzir as efeitos beneficos que dela se devem aguardar tera de se submeter a uma cultura aproprlada

~

1Q Ja vimos que a pedagogia neo e a educaltao e nao poderia faz~r-Ihe as vezes A sua funltao nao consiste em substituir-seia pratica mas slm em orienta-la em esclarece-Ia em auxilhi-Ia se necessariola suprir as lashycunas que nela sa venham a produzir em remediar as inshysuficiencias quenela se verifiquem 0 pedagogo neo tem pais de construir com todos os retalhos um sistema de ensino como sernenhum existisseanteriormente Pelo conshytnirio ele temgue se empenhar antes do mais em comshypreender 0 sist~ma do sew tempo 66 assim ele estani

I I em condicoes de se servir dele com discernimento e de

julgl1r a que de imperfeito nele pode encontrar-se Todavia para P9der compreende-Io nao basta considerashy-10 tal como eie hoje se apresenta ja que esse sistema

ij de educacao e um produto da hist6ria que 56 esta podeI explicar ~ uma verdadeira instituiltao social Poucas coishy

~

I 11 sas existirao mesmo em que a hist6ria do pars se repershy

cuta tao integralmente As esco las francesas traduzemi~I exp rimem 0 esp rrito frances Nao podemos pois compreshy~ ender de forma alguma aquila que elas sao as finalida-~ u des que perseguem se nao soubermos de que e consti shy~ tu ido 0 nosso asp rrito nac ional quais os seus diferen tes ~

elementos quais os que dependem de causas permanentes~ L e profundas aqueles que inversarnente se devem a acshy~ao de facto res mais ov menos acidentais e transit6rios

i I iii questoes estas que somente a analise hist6rica pode resolshy

521 11

[OUCA~AO [ SOCIOLOGIA

-ver Discute-se geralmente para se saber qual olugar que deve caber 6 escola primaria no contexto da nossa orga- niza9aoescolar e na vida geral da sociedade Mas a proshyblema e insoluve se ignorarmos de que maneira se forshymou a nossa organiza~ao escolar de onde derivam as seus caracteres distintivos aquilo que no passado determinou o lugar dado a escola elementar quais as causasque fashyvoreceram ou entravaram a seu desenvolvimento etc

Assim a hist6ria do ensine palo menos do ensino nacional a a- ptimeira das propedeuticas para uma cultura pedag6gica Naturalmente sendo da pedagogia primaria

-que Se trata aa historia do ensino primario que prefeshyrentemente nos interessa conhecer Todavia oevido ao motivo que acabamos de apontar I tal ensino nao poderia destacar-se completamente do sistema escolar mais vasshyto I de que apenas IS parte

2Q Mas este Sjstema escolar nao IS feito unicamenshyte de prlHicas estabelecidas de metodos consagrados peshy10 usa heranl1a do passado~ Nele se encontram alam disshyso tendencias viradas para 0 futuro aspirac6es para um

ideal novo mais ou menos claramente previsto Impo-rta n~oDehecermos bem essas aspiral1oes para podermos a~al I 0 lugar que convira darse-Ihes numa reaiidaweeescolar Ora elas vem expressar-se nas doutrinas pedag6gicas ai hrstoria dessas doutrinas deve pais completar a do enshyt sino

Poder-se-ia crer e certo que para cumprir 0 seu fim util essa hist6ria nao necessita de remontar a um passado muito recuado I podendo sem inconveniente ser muito curta Nao bastara conhecerem-se as teorias entre as quais se dividem as esp rritos dos contemporaneos Toshydas as o4tras as dos seculos anteriores encon tram-se hoshyje uitrapassadase parecem possuir tao somente um inteshyresse de erudilttao

Mas este mode m ismo segundo cremos apenas conshysegue rarificar uma das principais fontes em que se deve alimentar a reflexaopedag6gica

Com efeito as doutrinas mais recentes nao nasceshyrar) ontem j elas encontram-se na sequencia das precedenshy

53

tes sem as quais por compreendidasj e assim as causas determinantes

tm conseguinte

~elas

pouco a pouco de uma corrente

nao podem se r para descobrir pedagogica de

certa importancia torna-sege ralmente necessario recuar bastante no tempo 86 assim estaremos de certo modo seguros de que os novos aspectos que apaixonam a maior parte dos esp fritos nao sao brilhantes improvisaltoes desshytinadas a s090brar rapidamente flO esquecimento Por exemshyplo para podermos compreender a tendencia actual do ensino pelos factos a que podemos chamar realismo peshydag6gico nao basta lirriitarmo-nos a ver como ele se exshyprime neste ou naquele contemporaneo he que remontarshymos ate ao momento em que ele e gerado ou seja aos~

I meados do securo XVIII em Fran9a e porfinais do seshyt culo XVII em certos parses protestantes Palo simplas

facto de se encontrar assim igada as SUCS origens pri shymeiras a pedagogia realista apresentar-se-a sob um oushytro aspecto totalmente diferente aperceber-nos-emos

i melhor de que ela se prende com causas profundas imshy

~i pessoais actuantes em todos os povos daEuropa 8imulshyJi taneamente encontrar~nos-emos nas melhores condicoes

para nos apercebermos de quais sao essas causas e conshy1~ 1 sequentemente para fazermos um ju fzo do verdadei ro al shy

~i cance desse moyimento Por outr~ lado porem essa corshys i rente pedag6gica constituiu-se em oposi~ao a urna corshy1I rente contrarla a do ensino humanista e livresco Logo f s6 poderemos apreciar judiciosamente a primeira desde1i que conhe~amos igualmente a segundaj e ei-nos obrigados

a remontarmos ainda multo mais longe na hist6ria ParaI tli poder oferecer todos os seus frutos essa historia da peshyI

~ dagogia nao deve alias ser separada da hist6ria do enshy

1middot sino Se bem que as posiltao ambas sao tra Isto porque em dependem do estado exacto momento em lado na medida em

tenhamos distinguido durante a exshyrealmente solidarias uma com a oushy

cada lapso de tempo as doutr inas do ens ina que elas reflectem no

que contra ele reagem e por outr~ que exercem uma acltao eficaz elas

contribuem para a deteNninacao desse mesmo ensino

54

lUU(A~AO E SOC I OliiG I II I

---reg A cultura pedag6gica deve pois possuir uma base

lamentenlst6rica s6 assim a pedagogia poderc~ furshy--urna cr (tica que Ihe tem sido drigida com freshy

er rtica essa que prejudicou fortemente 0 seu Muitos pedagogos entre os quais se encontram os

ustres tentararn edificar as seus sistemas prescinshyndo daquilo que antes delesexistira 0 tratamento a

que Ponocrates submete ~ Garga~tua ant~s de 0 ini~iar ms metodos recentes e a tal prop6slto slgnlflcatlvo f)1e purifiea-Ihe 0 cerebro com elabore de Anticyre de forma a faze-Io esquecer tudo quanta aprendera com ~sseus antigos preceptoresll

Significava isto numa forshyma aleg6rica que a nova pedagoga nada de comum deshyvia ter com aquela que a anteltedera Mas era ao messhy010 tempo colocar-se a margem das condilt6es da reashyUdade~ A futuro nao pode serevocado do nada uma vez que apenas 0 podemos constru r com as materiais que 0

pa~sado nos legou Urri idea I constru fdo ao ar rep io do estado das co isas existen tes nao e rea lizave I ja que nao radlca na realidade Alias e 6bvio que 0 passado tinha as suas razoes de serj ele nao teria conseguido subsistir se nao tivesse correspondido a carencias leg rtirnas que nao poderiam extinguir-se totalmente de um dia para 0

outro nao se pode pois fazer tao radicalmente da messhyrna Mbua rasa sem se menosprezarem carenc ias vita is

-~ e aqul esta como a pedagogia tem sido 0 mais das ve-II 168 uniifforma de literatura ut6pica Lamentar ramos as ~as as quais tivesse sido rigorosamente aplicado 0 metodo de Rousseau ou de Pestalozzi Nao ha duvida demiddot que assas utopias conseguiram desempenhar um prestimoshyso papel na hist6ria 0 seu pr6prio simplismo permitiushy-has irnpressionar mula-los a acy8o tar ineonvenientes dla-a-dia de que car e orientar a

mais vivamente 05 esp fritos e esti shyMas estas vantagens nao deixam de alem disso para esta pedagogia do

todo 0 professor carece para esclareshysua prcHica quotidiana ha que ter-se

~ns arrebatamento passional e unilateral e palo conshyraro~~_~tHOdOI urn sentimento mais presente da

Iidade e das dificuldades multiplas a que e necessario

55

SOtIOlOGIA [oUCAClo E MORAL

fazer face ~ este sentimento que propiciara uma cultura hist6ria bem entendida

32 S6a hist6ria do ensina e da pedagagia permishyte determfnar os fins que a educarao deve perseguir em cada momento do tempo Mas no que respeite aos meios necessarios a cohcretizayao desses fins I e a pSicologia que se torna necessaria pedi-Ios~

Com efeito 0 ideal pedag6gico de uma epoca exshyprime antes do mais 0 estado da soeiedade na epoca em quastao Mas para que esse ideal se transforme numa realidade torna-se ainda necessario que ao meSmo saja adaptada a consciencia da crianya Ora a consciencia possui as suas leis pr6prias que e necessario conheeer para que as possamos modifiear se pelo menos pretenshydemos evitar tanto quanto possrvel as tentativas emp rrishycas que a pedagogia tem precisamente por objectiv~ reshyduzir ao m fnimo Para podermos estimular a aetividade a desenvolver-se em determinado sentido temos ainda que saber quais sao os impulsos que a movem e qual a sua natureza ja que 56 assim sera possrvel aplicar-Ihe com conhecimento de causa a aC(fao conveniente~ Trata-se por examplo I demiddot despertar 0 amor pela patria ou 0 senshytido da humanidade Saberemos tanto melhor modelar a sensibilidade moraldos alunos am qualquer dos sentishydos quanta mais completas e precisas forem as nocoes que tivermos ~cerca do conjunto de fen6menos a que chashymamos inclinaci5es habitos apetencias emo(foes etc ace rca das diverses condi(foes de que os mesmos depenshydem kerea de forma com que na crianca se apresentam Consoante vejamos nas tendencias um produto das expeshyrieneias agradaveis ou desagradaveis que a esplkie conshyseguiu fazer ou entao pelo contrario um facto primitivo anterior aos estados afectivos que acompanham 0 seu funshycionamento deveremos proceder de formas muito diferenshytes para regulafmos 0 seu func ionamento Ora e a psishycologia mals especialmente a pSicologia infantil que compete resolVer estas questoes Se por conseguinte ela for incompetent~ para fixar a finalidade - ja que a finaliCiade varia consoante os estados sociais - nao ha dushy

EOUCACAO [ SOCIOlOGIA

vida de que ela nao tem um papel util a desempenhar na constituicao dos metodos Afem disso como nenhum meshytOcto--pode ser aprieado -de igual modo as diferentes erianshycas e ainda a psicologia que deveria auxiliar-nos a reshyconhecermo-nos no meio da diversidade das inte ligene ias e dos caraeteres Sabemos infelizmente que ainda estashymos longe do momenta em que ela estara verdadeiramenshyte em condic5es de satisfazer este desiderata

Existe um aspecto da pSicologia que para 0 pedashygogo possui uma importaneia muito particular e a psishycologia colectiva Na rea Ii dade uma turma e uma pequeshy

ria sociedade e torna-se necessario nao a orientar coma sa se tratasse de um simples agtomerado de sujeitos inshydependentes uns dos outros As crianyas de uma turma pensam sentem e agem de uma forma diferente de que quando se eneontram isoladas Numa sala de aulas produshyzem-se fen6menos de contagio de desmoralizaqao eotecshytiva de sobreexcita(fao mutua de efervescencia salutar que se torne necessario discernir a tim de prevenir e combater uns de uti lizar os outros~ Seguramente esta ciencia ainda se encontra em plena infaneia~ Existe toshydavia a partir de agora um carto nLimero de propostas que importa nao ignorer

Tais sao as prlncipais discipllnas que podam despershytar e cultivar a reflexao pedag6gica Em vez de proeurarshymos promulgar para a pedagogia urn c6digo abstracto oe regras met6dicas empreendimento que nurn processo de especu lacao tao composito e Hio comp lexo nao pode de algum modo realizar-se de uma forma satisfat6ria shyafigurou-se-nos preferrvel indicarmos a maneira segundo a qual nos pareee que 0 pedagogo devia sar instru fdo Uma certa atitude do esprrito face aos problemas que Ihe compete resolver I encontra-se por isso mesmo detershyminada

56 57

Page 3: Sociologia, Educação e Moral de Émile Durkheim

~~

SOCIOLOGIA EOUCACAO E MORAL

Com efei to a educalttao em uso numa soc iedade determinada e considerada num- dado momento da sua evoshylultao e um conjunto de prcHicas de maneiras de proceshyder de costumes que constituem factos perfeitamente definidos e que possuem a mesma realidade que as restanshy

-ltes factos sociais Nao sao co-me se TuTgou durante muitoI tempo combinaltoes mais ou menos arbitrarias e artifishy

ciais que apenas devem a existencia a caprichosa inshyfluencia de vontades sempre contingentes Elas constituem pelo contnrio autenticas instituiltoes sociais __Njip hc1 he

mem que possa middotfazer com que uma sociedade possua num dadomomento outro sistema educacional do que aquele gueest~ implicado na sua estrutura I tal como e imposs rshyvel a um organismo vivo possuir outros orgaos e outras funltoes que naolas que se encontram implicadas na sua constituiltao Se a todas as razoes que foram aduzidas em abono desta concepltao for necessario acrescentarshy-Ihes outras mais basta conscienciaJizarmo-nos da forlta imperativa com a qual as prcHicas se nos impoe t inuti I julgarmos que e~ucamos os nossos fi Ihos como pretendeshy

_mos t que som~s obrigados a seguir as regras que imshyperam no meio social em que vivemos t a opiniao quem nos impoe essas regras e a opiniao e uma forlta moral cujo poder constrangedor nao e inferior ao poder das forshyetas f rsieas Alguns dos usos aos quais ela dispensa a sua autoridade sao)por isso mesmo em larga medida subshytra idos a aClfaodos indiv rduos Podemos facilmente desoshybedecer nesse taso porem as forltas morais contra as quais nos insurgmos reagem em nosso desfavor sando dishyf kil d~vido a sua superioridade que nao sejamos venshycidos E por isso que podemos revoltar-nos contra as forshyltas materiais das quais dependemos podemos tentar vishyver de uma forma diferente daquela que a natureza do nosso meio f rsico implica mas entao a morte au a doenshylta sao a sanltao da nossa revolta Assim tambem enconshytramo-nos mergulhados num ambiente de idaias e de senshytimentos colectivos que nao podemos modificar a vontade e e em ideias e sentil(lentos do genero que se baseiam as praticas educativas E1as sao pois coisas distintas de n6s I

40

EDUCA~AO ESOCIOLOG IA

uma vez que nos resistem sao rea lidades que possuem I po r si mesmas uma natureza definida adquirida que se nos impoe Consequentemente pode ser I (cito observa-Ia proshycurar conhece-Ia com a simples finalidade de a conhecershymos Por outro lado todas as prcHicas educativas quaisshyquer que possam ser e qualquer que seja a diferenlta que entre elas exista possuem um carclcter essencial comum resultam todas elas da acltao exercida por uma geraltao sob re a gerattaO seguin te com vista a adaptar esta ma ao meio social no qual ela e chamada a viver Todas elas sao pois modalidades diversas dessa relaltao fundashymental Por conseguinte eles sao factos de uma mesma

~~ltJe resultam de uma mesma-categoria 16gica podem portanto servir de objectivo a uma s6 e mesma -ciencie que serie a ch~ncia da educaltao

Nao e imposslvel indicar desde ja com a simples finalidade de precisar ide las alguns dos principais proshyblemas que esta cieneia teria de resolver

As praticaseducetivas nao sao factos Iso lados uns dos outros no entanto para uma mesma sociedade tais pnHicas encontram-se unidas num mesmo sistema no qual todas as partes concorrem para ums mesmafinal idade e 0 sistema educativo pr6prio desse pa rs e dessa epoca Cada povo tem 0 sau como tem 0 seu sistema moral religioso econ6mico etc Por outro lado porem os poshyvos da mesma esptkie isto e os povos que Sa assemeshyIham por caracter rsticas essenciais da sua constituiltao devem praticar sistemas educativos companlve is entre si As similitudes que a sua organizaltBo geral apresenta deshyvem necessariamente atra Ir outros mais de identice imshyportanc ia para a sua organizaltao educative por conseshyguinta I podemos certamente I por comparactao esc larecenshydo as semelhanltas e eliminandomiddot- asdiferenltas constituir tipos genericos de educsIfBO que correspondam as difeshyrentes especies de sociedades Por exemplo rio regime tribal a caracterrstica essencial da educacao e ser difushysa ela e rrlinistrada indistintamente por todos os membros do cia Neo existem portanto mestres determinados professores espadais encarregados da formacrao da juventushy

41

SDCIOLOGIA EDUCA~AO E MORAL

de tudo e antigo 0 papel e desempenhado pelas geracoes anteriores Acontece quando muito que relativamente a certos ensinamentos particularmente fundamentals certos ancloes sao mais especialmente aconselhados Noutras so cledades mais avancadas esta difusao finda QU pelo meshynos e atenuada A educaltao concentra-se nas maos de funcionarios especiais Na India e no Egipto sao os sacershydotes que se encarregam dessa fun A educaltao e um atributo do poder sacerdotal Ora esta primeira caracteshyrlstica diferencial acarreta outras Quando a vida religioshysa em vez de se manter completamente difusa como e originariamente cria para si propria um 6rgao especial encarregado de a dirigir e de a administrar isto e semshypre que se forma uma classe ou uma casta sacerdotal aquilo que de propriamente especulativo e intelectual exisshyte na religiao adquire um desenvolvimento ate entao desshycon~Foi nesses meios sacerdotais que surgiram os

-pirmeiros prodromos as fbrmas primitivas e rudimentares da ciencia astronomia matematica cosmologia Foi um facto que Comte notara desde ha mUito e que se explica facilmente perfeitarhente natural que uma organiza980 cuja finalidade consiste em concentrar num grupo restri to tudo quanto entao existe de vida especulativa a esti shymule e desenvolva Logo a educalt6o neo mais se limita como inic ialmente a inculcar praticas na crianca e a prepara-Ia para determinadas formas de actuar Existe desde logo materia para uma certa instru9ao 0 saeerdoshyte ensi na os elementos dessas c iene ias em vias de forma 9ao So que essa instrucao esses conhecimentos especushylativos neo sao ensinados por si mesmos mas em fun980 de relaltoes que mantem com as crenltas religiosas posshysuidores de um caracter sagrado encontram-se repletos de elemEmos propriamente religiosos ja que formados no proprio seio da religiao e dela indissocieiveis

Noutros pa ises como nas cidapes gregas e latinas a educaltao mantem-se repartida segundo determinada proporltao (variavel com as cidades) entre 0 ~stado e a fam if ia Nada de castas saeerdotais e 0 Estado que se sobrepoe a vida religiosa Por conseguinte dadonao ter 42

[oue SOC 10 LOG I A

carencias especulativas dado encontrar-se antes do Tais orientado para a aC9ao e para a pratica e fora dele logo tambem fora da religiao que a ciencia desponta sempre que a necessidade se faz sentir Os fil6sofos os sabios da Grecia sao entidades particulares e taicas A pr6pria ciencia depressa ali adquiriu uma tendencia anti shy_religiosa Dal resulta segundo 0 ponto de vista que nos

-rnteressa que tambem~~~Ellt que ~Q logo surge_I passu um caracter laico e privado 0 I1 grammateusll de Atenas~ a-Ummiddot Simples cidadao sem conexoes oficiais e sem cashynicter religioso

Nao vale a pena multiplicarmos estes examplos que apenas possuem um jntere~se ilustrativo Bastam esshytes para demonstrar como comparando sociedades da messhyma especie se poderiam constituir tipos de educaltao da mesma forma como se cOhstituem tipos de fam fHa de Estado ou de religiao Est~ classificaltao nao esgotashyria alias os problemas Cientrfi~ que a respeito da edushycaltao se podem pori ela jim~ta e a fornecer os elemenshytos necessarios para a resoluyii de um outro mais imporshytante Uma vez estabelecidos os tipos haveria que expli shycs-Ios isto 9 procurar saber de que condiltoes dependem aspropriedades caracterlsticas de cada um deles e de que formaeles deriv~raf11 uns dos outros Obter-se-iam de-ste modo as Iegt que dominam a evolUCiao dos sistemas J

-Igt ~e educaltao Poder-nos-iamos entao aperceber em queI sentido a educaltao se desenvolveu quai as causas que deshy

l terminaram esse desenvolvimentb e que 0 justificam Quesshy(tao seguramente te6rica mas cuja soIUlao como facil shy mente se verifiea seria fecunda em aplicaltoes pniticas

Aqui temos js um vasto campo de estudos aberto a especulaltao cientrfica E no entanto outros problemas existem ainda que poderiam ser abordados dentro do mes mo esp rrito Tudo 0 que acabamos de dizer este relacioshynado com 0 passado pesquisas deste genero teriam como resultado fazer-nos compreender de que forma se consti shytuiriam asnossas instituiltoes pedag6gicas Mas podem ser consideradas sob outro ponto de vista Uma vez constitul shydas elas funcionam e poderiamos verificar de que forma

43

SOCIOlOGIA EOUCA~lo [ MORAL

elas funcionam is to e quais os resultados que as mesmas produzem e quais as condicoes que fazem variar esses resultados Paratanto tornar-se-ia necessaria uma boa estatistica escolar Em cada eseola existe urna disciplishyna urn sistema de punici5es e de recompensas Como seshyria interessante sabermos nao s6 segundo 0 testemunho de impressoes empiricas mas tambempor meio de obshyservacoes met6diaas de que maneira esse sistema funcioshyna nas diferente~ escolas de uma mesma localidade nas diferentes regioe~ em diferentes alturas do ano nos dishyferentes momentps do dia quais os delitos escolares mais frequentes de ciOe forma varia a sua proporcao no conjun-- to do territ6rioou de conformidade com os pa rses em que medida e la depende da idade da crianlta da sua conshydicao familiar etc

Todas as questoes que se formulam a prop6sito dos delitos do adulto podem formular-se neste caso com nao menos utilidade Existe uma crimina logia da crianca tal como existe uma criminalogia do homem feito E a disshyciplina nao e a dnica instituicao educativa que poderia ser estudada segundo este metodo Nao existe metoda pedag6gico cujos efeitos nao pudessem ser ponderados de identica maneira admitindo bem entendido que 0 insshytrumento necessario a um estudo do genero isto e uma boa estat rstica tivesse side institu rda

II - Eis aqui pois dois grupos de problemas cujo caracter puramente cient rfico nao pode ser contestado Uns sao relativos ~ genesej as outros referem-se 80 funshycionamento dos sistemas de educaltrao Em todas estas pesquisas trata-se simplesmente ou de descrever as-~coi sas presentes ou passadas ou de Ihes procurar as causas ou ainda de Ihas determinar os efeitos Elas constituem uma cienciaj filiso que 9 ou antes 0 que seria a ciencia da educacao

Entretanto do pr6prio esboco que dela acabamo~ de tracar dedllzimos com evidenciaque as teorias a que chamamos pedag6gicas sao especulamiddotcoes de um genero Iluito diferente Com ef~ito essastiforias nao perseguem d mesma fim nem utilizam as masmos metodos 0 seu

44 t

[OUCA~liO E SOCIOLOGIA

objectivo niio consiste em descrever ou explicar aquilo que e au que foi mas sim em determinar aqui 10 que deshyve ser Elas nao se encontram orientadas nem para 0 preshy

-serite nem para a passado mas sim para 0 fu~~ro Nao se propoem expressar fielmente determinadas realidades mas sim promulgar preceitos de conduta Elas nao nos dizem eis 0 que existe e 0 porque dessa existenciaP mas sim lIeis 0 que e necessaria tazer Os proprios te6shyricos da educ-acao referem-se geralmente as praticas trashydicionais do presente e do passado com um desdem quase sistematico Eles apontam-Ihe sobretudo as imperfei((oes Quase todos os grandes pedagogos como Rabelais Montaigne Rousseau I Pestalozzl sao esp rritos revolucionarios I insurgishydos contra os usos dos seus contemporaneos Eles apenas mencionam os sistemas antigos ou existentes para os conshydenar para os declarar naturalmente infundados Transforshymam-nos mais OU menas completamente em tabua rasa e resolvem constru rr em seu lugar algo de inteiramente novo

Se por cons~quencia pretendemos entender-nos com n6s pr6prios temos que distinguir cuidadosamente ~uas especies de especulacoes igualmente diferentes A

- pedagogia e coisa diversa da ciencia da educacao Mas entao que vem ela a ser Para fazermos uma opcao moshytivada nac nos basta sabermos aquilo que ela neo ej teshymos que indicar aquilo em que a mesma consiste

Poderemos dizer que e uma arte A conclusao pashyrece imp6-rse I ja que vulgarmente nao vislumbramos um

termo intermedio entre esses dais extremos e damos 0

nome de arte a qualquer produto da reflexao que nao seshyja a ciencia Mas isso sera alargar 0 sentido da palavra ate ao ponto de neialntrodlizirmos coisas muito difeshyrentes

Com efeito chamamos igualmente arte a expeshyriencia pratica adquirida pelo professor em contacto com as criancas e no exerdcio da sua profissao Ora tal exshyperiencia e manifestamente uma coisa muito diferente das teorias do pedagogo Umfacto de observacao corrente torna muito sens lvel eata diferenlta Pode-se ser um edushy

45

--~~~-U LUUlflltflV t MVKAL

cador perfeito e apesar dissf ser-se completamente inashydequado as especulB90es da pedagogia 0 mestre engenhoshyso sabe como deve proceder sem poder dizer no entanto as razoes que justificam os processos por ele utilizados Inversamente 0 pedagogo pocl~ nao possuir qualquer capashycidade prcitica nao teriamos confiado uma classe quer a Rousseau quer a Montaigne Do pr6prio Pestalozzi que todavia era Urn homem que exercia a profissao podemos afirmar que apenas devia possuir nluito incompletamente a arte do educador como 0 comprovam os seus repetidos insucessos Identica confusao se nos depara em outros dom rnios Chamamos arte a per rcia dO homem de Estashydo experimentado na orientalttao dos interesses publicos Mas dizemos igualmente que osescritos de Platao de Arist6teles e de Rousseau sao tratados de arte polftica e 0 que e certo e que nao podemos Ver neles obras vershydadeiramente cientrficas uma vez que as mesmas tern

po r objectivo nao 0 estudo da rea Iidade t mas a construshylttao de Urn ideal E no entanto ha urn abismo entre as actividades do esp rrito que um Iivro como 0 Contrato soshycial implica e as que a administrarao do Estado pressushypoe Rousseau teria sido provavelmente tao mau minisshytro como mau educador Assim tambem os melhores te6shyricos de assuntos medicos nao sao se preciso for os meshy

res cl inicos

Interessa pOis nao designarmos pe 10 mesmo nome duas formas de actividade tao diferentes Quanto a n6s ha que reservar 0 nome de tlarte ll para tudo quanto for pratica pura isenta de teoria ~ por isso que todos se entendem quando se fala da arte do soldado da arte do advogado da arta do professor Uma arte e um sistema de formas de proceder ajulittadas a fins especiais e que sao a produto quer de uma experiencia tradicional comushynicada pela educacao quer da experiencia pessoal do inshydivrduo S6 poderemos adquiri-Ias relaclonando-nos com as coisas sobre as quais a ac~ao deve exercer-se e aginshydo n6s pr6prios Nao ha duvida de que a arte pode ser esclarecida pela reflxao mas esta nao e urn eJemento essencial a arte uma vez que a arte pode exstir sem a

o pound soc IOtOGIA

a reflexaa Naa existe mesma uma s6 arte ern que tudo seja refJectido

__ Mas entre a arte assim definida e a ciencia proshypriameflte- dita ha lugar para Uma atitude mental intershyr=neaa Em vez de actuarmos sobre as coisas ou sobre as ~-segundo modos determinados reflectmos sobre os

processos de actualtao assim utilizados tendo ern vista nao 0 seu conhecimento e a sua explica960 mas a apreshycialtraodo que valem seeles sao aquilo que devem ser se nao valera mais modfica-los e de que maneira au ate mesmo substtu r-Ios totalmente por novos processos Estas reflexoes adquirem a forma de teorias sao combishynar5es de ideias nao combinacoes de aetos por via disshy

-Igt ~ so~ elas aE~xiam-se da ciencia M~_s 0 objectiv~ das idelas asslrn combinadas naD e 0 de exprimir a natureza daS realidades dadas mas sim de orientar a accao Essas icfeias nao sao movimentos mas encontram-se muito pr6shyximas do movimento gtque elas tem por funcao orientar Se nao forem accoes sao pelo menos programas de acshy

--Igt lttao e por tal facto elas aproximamse da arte Estao neste caso as teorias medicas pQI rticas estrategicas etc Para exprimir 0 caracter misto destas especies de

~peculaltf5es propomOs-~cham-arfhls teorias pnHicas A ( pedagogia e uma teo ria pratica do genero Ela nao estushy--da cientificamente os sistemas de eduCa9aO masmedita

neleuros com vista-a forriecer a actividade do educadoridehls --~gt -lt= W r

que LJuJentarn ----ln~- -Mas a pedagogia entendida deste modo exshy

poe-se a urna-o6Tec~ao cuje grav idade neo pode ser dis simulada Nao ha duvida dir-se-a que ums teoria prashyt~~a~e9_SSrvel e legrtirla sempre que se podeapOlarriushyrna ciencia constiturda e incont9stada de qual ela nada ~~~_e do que- aaplicalttao Ieste caso com efelto as nocoes te6ricas de onde sao deduzidas as consequencas praticas possuem urn valor cientrfico que sa transmite ~s conclusoes que delas 59 extraem ~ por isso que a

lqUr~~ca aplic~da e uma taoria pratica que mais nao e do ~Ue a execucr8o das teorias da qu rmica pura Mas uma teoria pratica nao vale aquilo que valem as cieneias as ~

~

46

I

47

( MORAL EOUCACAO E SOCIOLOGIASOCIOlOGIA

quais ela vai buscar as suas nocoes fundamentais Ora em que ciencias poqera apoiar-sa a pedagogia Deveria antes Jlo mais existir a ciencia ds educacao Isto porque para sabermos aquilo que a educacrBo deve ser terramos que saber antes do mais qual a sua natureza quais as condicoes diversas de que depende as leis segundo as quais ela evoluiu na hist6ria Mas a cieneia da educacao apenas existe como projecto Aestam par um lado os outros ramos da sociologia que poderiam auxiliar a pedashygogia a fixar a finalidade da educalttao com a orientashy9$0 geraldos metodosj por outro Jado a psieofogia cushyjos ensinamentos poderiam ser de grande utilidade para a determina~ao porrnenorizada dos processos pedag6gicos Mas a sociologia nao passa de urna cieneia que esta desshypontando ela contara com um reduzidrssimo numero de proposicoes se acaso algumas houver A pr6pria psicoloshygia apesar de haver side constiturda mais cedo do que as ciencias sociais e 0 objecto de todoo genero de conshytroversias nao ha questoes pSicol6gicas sobre as quais nao se verifiquern ainda as teses mais divergentes Assim de que podem valier as conclusoes praticas que se fundashymentam em dados cientrficos simultaneamente tao inshycertos e tao incompletos De que vale uma especula~ao pedag6gica que~arece de todas as bases ou cujas bases quando se neo encontram totalmente ausentes carecem de solidez bullbull

0 facto q~e assim invocamos para negar qualquer credito a pedag6gia e em si mesmo incontestavel t certo que a ciencia da educacrao se encontra totalmente por fazer que a sociologia e a pSicologia se encontram ainda bem Poucoevolurdas Se por conseguinte nos fosse permitido aguard~r seria prudente e met6dico esperarmos pacientemente ate que essas cienc las tivessem progreshydido e pudessen-ser utilizadas mais seguramente Mas dashy-se 0 caso de precisamente a pacienc ia neo nos sar pershymitida NBo noskssiste a liberdade de pormos a problema a n6s mesmos ou de 0 adiarmos i 0 problema a-nos posto ou melhor impasto pe~~os proprios factos e pele nacessishydade de viver Aquestao naD esta completa encontramoshy

48

-noS envolvidos ne Is e he que prosseguir Em muitos ponshytos 0 nosso sistema tradicional de educ8ifao ja se neo har~oniza com os nossoS ideais e as nossas necassidades Temas poiS tao somente de optlr por uma das duas soshylut0es seguintes ou procurar manter mesmo assim as pnHicas que 0 passado nos legou I se bem que as mesmas nao correspondam mais as exigencias da si tualteo au enshytao tenter resa lutamente restabelecer a harmonia pershyturbada procurando encontrar as modificac6es necessarias Destas duas solU90eS a primeira e irrealizavel e neo poshyde ser levada a cabo Nada de mais ilus6rio do que esshytas tentatlvas para darem uma vida artificial e uma autoshyrldade aparente a instituicroes caducas e desacreditadas o fracasso e inevitavel Neo se podem abafar as ideias que estas instituilt5es contradlzem como se nao podem fazer calar as carencias que elas ofendem As for~as conshytra as quais empreendemos esh luta nao podem deixar de triunfar

Nada mais nos resta pais do que meter corajosashymente maos a obra I do que procurar as modifica~oes que se impoem e rea liza-Ias Mas como descobri-Ias se neo por meio da reflexao S6 a consciencia reflectida e cashypaz de suprir as lacunas da tradicrao quando esta vem a faltar Ora que e a pedagogiasen~o a reflexao aplishy~S~J9Jnais m~todicament~p~ssrve I as coisas aaeaushyca~ao) com vista a regularizar-lhes 0 desenvolvimento NaO

-firddljlda de quenao temos nas -maos todos os elemenshytos que seram de desejar para a resolu~ao do problema mas isso nao e razao para que nao procu remos reso Ive-Io jS que e necessario que ele seja resolvido Nada mals nos resta portanto do que fazer os p()~srveis do que recoshyIher o maior numero de~ elementosinstrutivos que possashymos do que interprets-los a mais metodicamente que ~E~~~nnos) a fim de reduzirmos aomiddot m inimo as posslbifTdashy

es de erro ~~cgt-2apeJ do peq~go bull Nad(i e mais l~s6rl~_=~~eril do que -esse~puritanismo cientrflco que a pretexto -de que a ciencia nao se encontra conclu rda a~onselha a abstenltao e recomenda aos homens que asshysistam como testemunhas indiferentes ou pelo menos reshy

__-lt0

49

~V~lVlUU1~ tUU~A~AU t MORAL

signadas a marcha dos acontec imen~os A par do sofisma da ignorancia existe 0 sofisma da ciencia que nao e meshynos perigoso Nao ha duvida de que ao actuarmos nesshytascondicoes corremos riscos Mas a accrao nunca e isenshyta de riscosj a cienc ia par muito avanlttada que possa 19 5

tar nao poderia suprimi-los Tudo 0 que de n6s pode ser exigido e que na medida das nossas possibilidades coloshyquemos toda a nossa ciencia por muito imperfeita que ela seja e toda a consciencia que tivermos na prevenerao desses riscos t precisamente nisto que consiste 0 papel da pedagogia

Mas a pedagogia mio tera apenas utilidade nesses perrodos cr rticos em que se torna urgentemente necessashyria harmonizar de novo um sistema escolar com as necesshysidades cla epoca hoje em dia pelo menos a pedagogia transformouse num auxiliar constantemente indispensavel da educacrao

Com efeito se a arte do educador e constiturda antes do mais par instintos e habitos que se tornaram quase instintivos e tOdavia necessaria que a inteligencia deles se nao desvie A reflexao nao poderia fazer-Ihe as vezes mas a arte nao poderia prescindir da reflexao pelo menos a partir do momenta em que as povos atingiram um certo grau de civilizalttao Na realidade uma vez que a personalidade individual se transformou num elemento essencial da cultura intelectual e moral da humanidade o educador deve ter em conta 0 genero de individualidade que ex iste em cada crianltta Ele deve por todos os meios ao seu alcance procurar favorecer 0 seu desenvolvimento Em vel de aplicar a fodas elasde uma forma invariavel a mesma regulamentaC8o impessoal e uniforme 0 educashydor tera pelo contn~rio de variar de diversificar os meshytodos consoanteo temperamento e a aptidao de cada inshyteligencia Mas para poder adaptar com discernimento as praticas educatiyas a diversidade dos casos particulares na---ciue saber quais as suas tendencias quais as razoes dos diferentes processos que as constituem quais os efeishytos que elas produzemnas diferentes circunstancias Neshycessaria se torna numa palavra mante-Iassubmetidas a

(OUCA~AO [ SOCIOLOGIA (-~

~bull --A f~~

reflexao pedagogica JJma educafiao emp rrLea maquina ii8O=-po-ae=ae~~a~ de nao ser compreensiva ~ nil~ladora Par Outroiado a medida que avarlltamos na hlst6rla t a evolushy((80 socialvai-se tornando mats rapidaj uma epoca nao se assemelha aquela que a antesedeu cad a espa~o de temshypo tem a sua fisionomia NOvas carencias e novas ideias surgem incessantemente paragt podermos responder as mu danltas constantes que assim se verificam nas opini6es e noS costumes e preciso que a pr6pria educa~ao se modi fique e por consequenc ia qye se mantenha num estado de maleabilidade que permit~ a mudanlta Ora a unico rneio de impedir que ela caiasob 0 juga do habi to e de genere em automatismo maquinal e imutavel consiste em mante-Ia permanentemente apta por meio da reflexao Qirando 0 educador se apercebe dos metodos que utiliza da sua finalidade e da sua razao de ser encontra-se ern condict0es de os julgar e por consequencia esta habilitashydo a modifica-Ios se acaso se convencer que 0 fim a atingir nao e 0 mesmo ou que os meios a utilizer devem ser dife rentes A ref lexao e por excelenc ia a fa rma anshytag6nica da rotina e a rotinamiddot e 0 obstkulo aos progresshysos nee essar ios

t este 0 motivo pe 10 qual se como diziamos de rcio a pedagogia apenas surge na hist6ria de uma forma

interrni-tente teremos de acrescentar que ela tende proshygressivamente a transformar-se numa functaO continua da vida socia A Idade Media nao necessitava dela Era uma

--epQCa-- de conformismo em que toda a gente pensav8 e sentia da mesma rnaneira em qu~ todos os esp Iritos se apresentavam como que vazados no mesmo molde em que as dissidencias individuais eram raras e alem do mais proscritas A educactao era igualmente impessoal nas esshycolas medievais 0 mestre dirigia-se colectivamente a toshydos os seus alunos sem que Ihe passasse pela mente adeshyquar a sua acerao a natureza de cada um desses alunos Ao mesma tempo a imutabilidade das crenctas fundamenshytais opunha-ie a que 0 sistema educativo evoluisse demashysiada rapidamente Par esses dbis motivos havia pais meshynos necessidade de se ser orientada pelo pensamento peshy

-50 51

SOClOLOGIA EDUCACAO [ MORAL _1(

--------------------------------~

dagogico Na Renascenca porem tudo sa modifiea as personalidades individuais dastacam-se da massa soc ial em que sa encontravam ate en tao abso rv idas e confundidas as esp rritos diversificam-se simultaneamente 0 desenvolshyvimento hist6rieo sofre uma aceleraltao uma nova eivili shyzaltao constitui-se Para corresponder a todas estas modishy I ficacoes a reflexao pedagogica desperta e se bem que nem sempre tenha brrlhado com a mesma cintilancia nunshyca mals voltsriaa extinguir-se par completo

IV - Noentanto para que a reflexao pedagogica posss produzir as efeitos beneficos que dela se devem aguardar tera de se submeter a uma cultura aproprlada

~

1Q Ja vimos que a pedagogia neo e a educaltao e nao poderia faz~r-Ihe as vezes A sua funltao nao consiste em substituir-seia pratica mas slm em orienta-la em esclarece-Ia em auxilhi-Ia se necessariola suprir as lashycunas que nela sa venham a produzir em remediar as inshysuficiencias quenela se verifiquem 0 pedagogo neo tem pais de construir com todos os retalhos um sistema de ensino como sernenhum existisseanteriormente Pelo conshytnirio ele temgue se empenhar antes do mais em comshypreender 0 sist~ma do sew tempo 66 assim ele estani

I I em condicoes de se servir dele com discernimento e de

julgl1r a que de imperfeito nele pode encontrar-se Todavia para P9der compreende-Io nao basta considerashy-10 tal como eie hoje se apresenta ja que esse sistema

ij de educacao e um produto da hist6ria que 56 esta podeI explicar ~ uma verdadeira instituiltao social Poucas coishy

~

I 11 sas existirao mesmo em que a hist6ria do pars se repershy

cuta tao integralmente As esco las francesas traduzemi~I exp rimem 0 esp rrito frances Nao podemos pois compreshy~ ender de forma alguma aquila que elas sao as finalida-~ u des que perseguem se nao soubermos de que e consti shy~ tu ido 0 nosso asp rrito nac ional quais os seus diferen tes ~

elementos quais os que dependem de causas permanentes~ L e profundas aqueles que inversarnente se devem a acshy~ao de facto res mais ov menos acidentais e transit6rios

i I iii questoes estas que somente a analise hist6rica pode resolshy

521 11

[OUCA~AO [ SOCIOLOGIA

-ver Discute-se geralmente para se saber qual olugar que deve caber 6 escola primaria no contexto da nossa orga- niza9aoescolar e na vida geral da sociedade Mas a proshyblema e insoluve se ignorarmos de que maneira se forshymou a nossa organiza~ao escolar de onde derivam as seus caracteres distintivos aquilo que no passado determinou o lugar dado a escola elementar quais as causasque fashyvoreceram ou entravaram a seu desenvolvimento etc

Assim a hist6ria do ensine palo menos do ensino nacional a a- ptimeira das propedeuticas para uma cultura pedag6gica Naturalmente sendo da pedagogia primaria

-que Se trata aa historia do ensino primario que prefeshyrentemente nos interessa conhecer Todavia oevido ao motivo que acabamos de apontar I tal ensino nao poderia destacar-se completamente do sistema escolar mais vasshyto I de que apenas IS parte

2Q Mas este Sjstema escolar nao IS feito unicamenshyte de prlHicas estabelecidas de metodos consagrados peshy10 usa heranl1a do passado~ Nele se encontram alam disshyso tendencias viradas para 0 futuro aspirac6es para um

ideal novo mais ou menos claramente previsto Impo-rta n~oDehecermos bem essas aspiral1oes para podermos a~al I 0 lugar que convira darse-Ihes numa reaiidaweeescolar Ora elas vem expressar-se nas doutrinas pedag6gicas ai hrstoria dessas doutrinas deve pais completar a do enshyt sino

Poder-se-ia crer e certo que para cumprir 0 seu fim util essa hist6ria nao necessita de remontar a um passado muito recuado I podendo sem inconveniente ser muito curta Nao bastara conhecerem-se as teorias entre as quais se dividem as esp rritos dos contemporaneos Toshydas as o4tras as dos seculos anteriores encon tram-se hoshyje uitrapassadase parecem possuir tao somente um inteshyresse de erudilttao

Mas este mode m ismo segundo cremos apenas conshysegue rarificar uma das principais fontes em que se deve alimentar a reflexaopedag6gica

Com efeito as doutrinas mais recentes nao nasceshyrar) ontem j elas encontram-se na sequencia das precedenshy

53

tes sem as quais por compreendidasj e assim as causas determinantes

tm conseguinte

~elas

pouco a pouco de uma corrente

nao podem se r para descobrir pedagogica de

certa importancia torna-sege ralmente necessario recuar bastante no tempo 86 assim estaremos de certo modo seguros de que os novos aspectos que apaixonam a maior parte dos esp fritos nao sao brilhantes improvisaltoes desshytinadas a s090brar rapidamente flO esquecimento Por exemshyplo para podermos compreender a tendencia actual do ensino pelos factos a que podemos chamar realismo peshydag6gico nao basta lirriitarmo-nos a ver como ele se exshyprime neste ou naquele contemporaneo he que remontarshymos ate ao momento em que ele e gerado ou seja aos~

I meados do securo XVIII em Fran9a e porfinais do seshyt culo XVII em certos parses protestantes Palo simplas

facto de se encontrar assim igada as SUCS origens pri shymeiras a pedagogia realista apresentar-se-a sob um oushytro aspecto totalmente diferente aperceber-nos-emos

i melhor de que ela se prende com causas profundas imshy

~i pessoais actuantes em todos os povos daEuropa 8imulshyJi taneamente encontrar~nos-emos nas melhores condicoes

para nos apercebermos de quais sao essas causas e conshy1~ 1 sequentemente para fazermos um ju fzo do verdadei ro al shy

~i cance desse moyimento Por outr~ lado porem essa corshys i rente pedag6gica constituiu-se em oposi~ao a urna corshy1I rente contrarla a do ensino humanista e livresco Logo f s6 poderemos apreciar judiciosamente a primeira desde1i que conhe~amos igualmente a segundaj e ei-nos obrigados

a remontarmos ainda multo mais longe na hist6ria ParaI tli poder oferecer todos os seus frutos essa historia da peshyI

~ dagogia nao deve alias ser separada da hist6ria do enshy

1middot sino Se bem que as posiltao ambas sao tra Isto porque em dependem do estado exacto momento em lado na medida em

tenhamos distinguido durante a exshyrealmente solidarias uma com a oushy

cada lapso de tempo as doutr inas do ens ina que elas reflectem no

que contra ele reagem e por outr~ que exercem uma acltao eficaz elas

contribuem para a deteNninacao desse mesmo ensino

54

lUU(A~AO E SOC I OliiG I II I

---reg A cultura pedag6gica deve pois possuir uma base

lamentenlst6rica s6 assim a pedagogia poderc~ furshy--urna cr (tica que Ihe tem sido drigida com freshy

er rtica essa que prejudicou fortemente 0 seu Muitos pedagogos entre os quais se encontram os

ustres tentararn edificar as seus sistemas prescinshyndo daquilo que antes delesexistira 0 tratamento a

que Ponocrates submete ~ Garga~tua ant~s de 0 ini~iar ms metodos recentes e a tal prop6slto slgnlflcatlvo f)1e purifiea-Ihe 0 cerebro com elabore de Anticyre de forma a faze-Io esquecer tudo quanta aprendera com ~sseus antigos preceptoresll

Significava isto numa forshyma aleg6rica que a nova pedagoga nada de comum deshyvia ter com aquela que a anteltedera Mas era ao messhy010 tempo colocar-se a margem das condilt6es da reashyUdade~ A futuro nao pode serevocado do nada uma vez que apenas 0 podemos constru r com as materiais que 0

pa~sado nos legou Urri idea I constru fdo ao ar rep io do estado das co isas existen tes nao e rea lizave I ja que nao radlca na realidade Alias e 6bvio que 0 passado tinha as suas razoes de serj ele nao teria conseguido subsistir se nao tivesse correspondido a carencias leg rtirnas que nao poderiam extinguir-se totalmente de um dia para 0

outro nao se pode pois fazer tao radicalmente da messhyrna Mbua rasa sem se menosprezarem carenc ias vita is

-~ e aqul esta como a pedagogia tem sido 0 mais das ve-II 168 uniifforma de literatura ut6pica Lamentar ramos as ~as as quais tivesse sido rigorosamente aplicado 0 metodo de Rousseau ou de Pestalozzi Nao ha duvida demiddot que assas utopias conseguiram desempenhar um prestimoshyso papel na hist6ria 0 seu pr6prio simplismo permitiushy-has irnpressionar mula-los a acy8o tar ineonvenientes dla-a-dia de que car e orientar a

mais vivamente 05 esp fritos e esti shyMas estas vantagens nao deixam de alem disso para esta pedagogia do

todo 0 professor carece para esclareshysua prcHica quotidiana ha que ter-se

~ns arrebatamento passional e unilateral e palo conshyraro~~_~tHOdOI urn sentimento mais presente da

Iidade e das dificuldades multiplas a que e necessario

55

SOtIOlOGIA [oUCAClo E MORAL

fazer face ~ este sentimento que propiciara uma cultura hist6ria bem entendida

32 S6a hist6ria do ensina e da pedagagia permishyte determfnar os fins que a educarao deve perseguir em cada momento do tempo Mas no que respeite aos meios necessarios a cohcretizayao desses fins I e a pSicologia que se torna necessaria pedi-Ios~

Com efeito 0 ideal pedag6gico de uma epoca exshyprime antes do mais 0 estado da soeiedade na epoca em quastao Mas para que esse ideal se transforme numa realidade torna-se ainda necessario que ao meSmo saja adaptada a consciencia da crianya Ora a consciencia possui as suas leis pr6prias que e necessario conheeer para que as possamos modifiear se pelo menos pretenshydemos evitar tanto quanto possrvel as tentativas emp rrishycas que a pedagogia tem precisamente por objectiv~ reshyduzir ao m fnimo Para podermos estimular a aetividade a desenvolver-se em determinado sentido temos ainda que saber quais sao os impulsos que a movem e qual a sua natureza ja que 56 assim sera possrvel aplicar-Ihe com conhecimento de causa a aC(fao conveniente~ Trata-se por examplo I demiddot despertar 0 amor pela patria ou 0 senshytido da humanidade Saberemos tanto melhor modelar a sensibilidade moraldos alunos am qualquer dos sentishydos quanta mais completas e precisas forem as nocoes que tivermos ~cerca do conjunto de fen6menos a que chashymamos inclinaci5es habitos apetencias emo(foes etc ace rca das diverses condi(foes de que os mesmos depenshydem kerea de forma com que na crianca se apresentam Consoante vejamos nas tendencias um produto das expeshyrieneias agradaveis ou desagradaveis que a esplkie conshyseguiu fazer ou entao pelo contrario um facto primitivo anterior aos estados afectivos que acompanham 0 seu funshycionamento deveremos proceder de formas muito diferenshytes para regulafmos 0 seu func ionamento Ora e a psishycologia mals especialmente a pSicologia infantil que compete resolVer estas questoes Se por conseguinte ela for incompetent~ para fixar a finalidade - ja que a finaliCiade varia consoante os estados sociais - nao ha dushy

EOUCACAO [ SOCIOlOGIA

vida de que ela nao tem um papel util a desempenhar na constituicao dos metodos Afem disso como nenhum meshytOcto--pode ser aprieado -de igual modo as diferentes erianshycas e ainda a psicologia que deveria auxiliar-nos a reshyconhecermo-nos no meio da diversidade das inte ligene ias e dos caraeteres Sabemos infelizmente que ainda estashymos longe do momenta em que ela estara verdadeiramenshyte em condic5es de satisfazer este desiderata

Existe um aspecto da pSicologia que para 0 pedashygogo possui uma importaneia muito particular e a psishycologia colectiva Na rea Ii dade uma turma e uma pequeshy

ria sociedade e torna-se necessario nao a orientar coma sa se tratasse de um simples agtomerado de sujeitos inshydependentes uns dos outros As crianyas de uma turma pensam sentem e agem de uma forma diferente de que quando se eneontram isoladas Numa sala de aulas produshyzem-se fen6menos de contagio de desmoralizaqao eotecshytiva de sobreexcita(fao mutua de efervescencia salutar que se torne necessario discernir a tim de prevenir e combater uns de uti lizar os outros~ Seguramente esta ciencia ainda se encontra em plena infaneia~ Existe toshydavia a partir de agora um carto nLimero de propostas que importa nao ignorer

Tais sao as prlncipais discipllnas que podam despershytar e cultivar a reflexao pedag6gica Em vez de proeurarshymos promulgar para a pedagogia urn c6digo abstracto oe regras met6dicas empreendimento que nurn processo de especu lacao tao composito e Hio comp lexo nao pode de algum modo realizar-se de uma forma satisfat6ria shyafigurou-se-nos preferrvel indicarmos a maneira segundo a qual nos pareee que 0 pedagogo devia sar instru fdo Uma certa atitude do esprrito face aos problemas que Ihe compete resolver I encontra-se por isso mesmo detershyminada

56 57

Page 4: Sociologia, Educação e Moral de Émile Durkheim

SDCIOLOGIA EDUCA~AO E MORAL

de tudo e antigo 0 papel e desempenhado pelas geracoes anteriores Acontece quando muito que relativamente a certos ensinamentos particularmente fundamentals certos ancloes sao mais especialmente aconselhados Noutras so cledades mais avancadas esta difusao finda QU pelo meshynos e atenuada A educaltao concentra-se nas maos de funcionarios especiais Na India e no Egipto sao os sacershydotes que se encarregam dessa fun A educaltao e um atributo do poder sacerdotal Ora esta primeira caracteshyrlstica diferencial acarreta outras Quando a vida religioshysa em vez de se manter completamente difusa como e originariamente cria para si propria um 6rgao especial encarregado de a dirigir e de a administrar isto e semshypre que se forma uma classe ou uma casta sacerdotal aquilo que de propriamente especulativo e intelectual exisshyte na religiao adquire um desenvolvimento ate entao desshycon~Foi nesses meios sacerdotais que surgiram os

-pirmeiros prodromos as fbrmas primitivas e rudimentares da ciencia astronomia matematica cosmologia Foi um facto que Comte notara desde ha mUito e que se explica facilmente perfeitarhente natural que uma organiza980 cuja finalidade consiste em concentrar num grupo restri to tudo quanto entao existe de vida especulativa a esti shymule e desenvolva Logo a educalt6o neo mais se limita como inic ialmente a inculcar praticas na crianca e a prepara-Ia para determinadas formas de actuar Existe desde logo materia para uma certa instru9ao 0 saeerdoshyte ensi na os elementos dessas c iene ias em vias de forma 9ao So que essa instrucao esses conhecimentos especushylativos neo sao ensinados por si mesmos mas em fun980 de relaltoes que mantem com as crenltas religiosas posshysuidores de um caracter sagrado encontram-se repletos de elemEmos propriamente religiosos ja que formados no proprio seio da religiao e dela indissocieiveis

Noutros pa ises como nas cidapes gregas e latinas a educaltao mantem-se repartida segundo determinada proporltao (variavel com as cidades) entre 0 ~stado e a fam if ia Nada de castas saeerdotais e 0 Estado que se sobrepoe a vida religiosa Por conseguinte dadonao ter 42

[oue SOC 10 LOG I A

carencias especulativas dado encontrar-se antes do Tais orientado para a aC9ao e para a pratica e fora dele logo tambem fora da religiao que a ciencia desponta sempre que a necessidade se faz sentir Os fil6sofos os sabios da Grecia sao entidades particulares e taicas A pr6pria ciencia depressa ali adquiriu uma tendencia anti shy_religiosa Dal resulta segundo 0 ponto de vista que nos

-rnteressa que tambem~~~Ellt que ~Q logo surge_I passu um caracter laico e privado 0 I1 grammateusll de Atenas~ a-Ummiddot Simples cidadao sem conexoes oficiais e sem cashynicter religioso

Nao vale a pena multiplicarmos estes examplos que apenas possuem um jntere~se ilustrativo Bastam esshytes para demonstrar como comparando sociedades da messhyma especie se poderiam constituir tipos de educaltao da mesma forma como se cOhstituem tipos de fam fHa de Estado ou de religiao Est~ classificaltao nao esgotashyria alias os problemas Cientrfi~ que a respeito da edushycaltao se podem pori ela jim~ta e a fornecer os elemenshytos necessarios para a resoluyii de um outro mais imporshytante Uma vez estabelecidos os tipos haveria que expli shycs-Ios isto 9 procurar saber de que condiltoes dependem aspropriedades caracterlsticas de cada um deles e de que formaeles deriv~raf11 uns dos outros Obter-se-iam de-ste modo as Iegt que dominam a evolUCiao dos sistemas J

-Igt ~e educaltao Poder-nos-iamos entao aperceber em queI sentido a educaltao se desenvolveu quai as causas que deshy

l terminaram esse desenvolvimentb e que 0 justificam Quesshy(tao seguramente te6rica mas cuja soIUlao como facil shy mente se verifiea seria fecunda em aplicaltoes pniticas

Aqui temos js um vasto campo de estudos aberto a especulaltao cientrfica E no entanto outros problemas existem ainda que poderiam ser abordados dentro do mes mo esp rrito Tudo 0 que acabamos de dizer este relacioshynado com 0 passado pesquisas deste genero teriam como resultado fazer-nos compreender de que forma se consti shytuiriam asnossas instituiltoes pedag6gicas Mas podem ser consideradas sob outro ponto de vista Uma vez constitul shydas elas funcionam e poderiamos verificar de que forma

43

SOCIOlOGIA EOUCA~lo [ MORAL

elas funcionam is to e quais os resultados que as mesmas produzem e quais as condicoes que fazem variar esses resultados Paratanto tornar-se-ia necessaria uma boa estatistica escolar Em cada eseola existe urna disciplishyna urn sistema de punici5es e de recompensas Como seshyria interessante sabermos nao s6 segundo 0 testemunho de impressoes empiricas mas tambempor meio de obshyservacoes met6diaas de que maneira esse sistema funcioshyna nas diferente~ escolas de uma mesma localidade nas diferentes regioe~ em diferentes alturas do ano nos dishyferentes momentps do dia quais os delitos escolares mais frequentes de ciOe forma varia a sua proporcao no conjun-- to do territ6rioou de conformidade com os pa rses em que medida e la depende da idade da crianlta da sua conshydicao familiar etc

Todas as questoes que se formulam a prop6sito dos delitos do adulto podem formular-se neste caso com nao menos utilidade Existe uma crimina logia da crianca tal como existe uma criminalogia do homem feito E a disshyciplina nao e a dnica instituicao educativa que poderia ser estudada segundo este metodo Nao existe metoda pedag6gico cujos efeitos nao pudessem ser ponderados de identica maneira admitindo bem entendido que 0 insshytrumento necessario a um estudo do genero isto e uma boa estat rstica tivesse side institu rda

II - Eis aqui pois dois grupos de problemas cujo caracter puramente cient rfico nao pode ser contestado Uns sao relativos ~ genesej as outros referem-se 80 funshycionamento dos sistemas de educaltrao Em todas estas pesquisas trata-se simplesmente ou de descrever as-~coi sas presentes ou passadas ou de Ihes procurar as causas ou ainda de Ihas determinar os efeitos Elas constituem uma cienciaj filiso que 9 ou antes 0 que seria a ciencia da educacao

Entretanto do pr6prio esboco que dela acabamo~ de tracar dedllzimos com evidenciaque as teorias a que chamamos pedag6gicas sao especulamiddotcoes de um genero Iluito diferente Com ef~ito essastiforias nao perseguem d mesma fim nem utilizam as masmos metodos 0 seu

44 t

[OUCA~liO E SOCIOLOGIA

objectivo niio consiste em descrever ou explicar aquilo que e au que foi mas sim em determinar aqui 10 que deshyve ser Elas nao se encontram orientadas nem para 0 preshy

-serite nem para a passado mas sim para 0 fu~~ro Nao se propoem expressar fielmente determinadas realidades mas sim promulgar preceitos de conduta Elas nao nos dizem eis 0 que existe e 0 porque dessa existenciaP mas sim lIeis 0 que e necessaria tazer Os proprios te6shyricos da educ-acao referem-se geralmente as praticas trashydicionais do presente e do passado com um desdem quase sistematico Eles apontam-Ihe sobretudo as imperfei((oes Quase todos os grandes pedagogos como Rabelais Montaigne Rousseau I Pestalozzl sao esp rritos revolucionarios I insurgishydos contra os usos dos seus contemporaneos Eles apenas mencionam os sistemas antigos ou existentes para os conshydenar para os declarar naturalmente infundados Transforshymam-nos mais OU menas completamente em tabua rasa e resolvem constru rr em seu lugar algo de inteiramente novo

Se por cons~quencia pretendemos entender-nos com n6s pr6prios temos que distinguir cuidadosamente ~uas especies de especulacoes igualmente diferentes A

- pedagogia e coisa diversa da ciencia da educacao Mas entao que vem ela a ser Para fazermos uma opcao moshytivada nac nos basta sabermos aquilo que ela neo ej teshymos que indicar aquilo em que a mesma consiste

Poderemos dizer que e uma arte A conclusao pashyrece imp6-rse I ja que vulgarmente nao vislumbramos um

termo intermedio entre esses dais extremos e damos 0

nome de arte a qualquer produto da reflexao que nao seshyja a ciencia Mas isso sera alargar 0 sentido da palavra ate ao ponto de neialntrodlizirmos coisas muito difeshyrentes

Com efeito chamamos igualmente arte a expeshyriencia pratica adquirida pelo professor em contacto com as criancas e no exerdcio da sua profissao Ora tal exshyperiencia e manifestamente uma coisa muito diferente das teorias do pedagogo Umfacto de observacao corrente torna muito sens lvel eata diferenlta Pode-se ser um edushy

45

--~~~-U LUUlflltflV t MVKAL

cador perfeito e apesar dissf ser-se completamente inashydequado as especulB90es da pedagogia 0 mestre engenhoshyso sabe como deve proceder sem poder dizer no entanto as razoes que justificam os processos por ele utilizados Inversamente 0 pedagogo pocl~ nao possuir qualquer capashycidade prcitica nao teriamos confiado uma classe quer a Rousseau quer a Montaigne Do pr6prio Pestalozzi que todavia era Urn homem que exercia a profissao podemos afirmar que apenas devia possuir nluito incompletamente a arte do educador como 0 comprovam os seus repetidos insucessos Identica confusao se nos depara em outros dom rnios Chamamos arte a per rcia dO homem de Estashydo experimentado na orientalttao dos interesses publicos Mas dizemos igualmente que osescritos de Platao de Arist6teles e de Rousseau sao tratados de arte polftica e 0 que e certo e que nao podemos Ver neles obras vershydadeiramente cientrficas uma vez que as mesmas tern

po r objectivo nao 0 estudo da rea Iidade t mas a construshylttao de Urn ideal E no entanto ha urn abismo entre as actividades do esp rrito que um Iivro como 0 Contrato soshycial implica e as que a administrarao do Estado pressushypoe Rousseau teria sido provavelmente tao mau minisshytro como mau educador Assim tambem os melhores te6shyricos de assuntos medicos nao sao se preciso for os meshy

res cl inicos

Interessa pOis nao designarmos pe 10 mesmo nome duas formas de actividade tao diferentes Quanto a n6s ha que reservar 0 nome de tlarte ll para tudo quanto for pratica pura isenta de teoria ~ por isso que todos se entendem quando se fala da arte do soldado da arte do advogado da arta do professor Uma arte e um sistema de formas de proceder ajulittadas a fins especiais e que sao a produto quer de uma experiencia tradicional comushynicada pela educacao quer da experiencia pessoal do inshydivrduo S6 poderemos adquiri-Ias relaclonando-nos com as coisas sobre as quais a ac~ao deve exercer-se e aginshydo n6s pr6prios Nao ha duvida de que a arte pode ser esclarecida pela reflxao mas esta nao e urn eJemento essencial a arte uma vez que a arte pode exstir sem a

o pound soc IOtOGIA

a reflexaa Naa existe mesma uma s6 arte ern que tudo seja refJectido

__ Mas entre a arte assim definida e a ciencia proshypriameflte- dita ha lugar para Uma atitude mental intershyr=neaa Em vez de actuarmos sobre as coisas ou sobre as ~-segundo modos determinados reflectmos sobre os

processos de actualtao assim utilizados tendo ern vista nao 0 seu conhecimento e a sua explica960 mas a apreshycialtraodo que valem seeles sao aquilo que devem ser se nao valera mais modfica-los e de que maneira au ate mesmo substtu r-Ios totalmente por novos processos Estas reflexoes adquirem a forma de teorias sao combishynar5es de ideias nao combinacoes de aetos por via disshy

-Igt ~ so~ elas aE~xiam-se da ciencia M~_s 0 objectiv~ das idelas asslrn combinadas naD e 0 de exprimir a natureza daS realidades dadas mas sim de orientar a accao Essas icfeias nao sao movimentos mas encontram-se muito pr6shyximas do movimento gtque elas tem por funcao orientar Se nao forem accoes sao pelo menos programas de acshy

--Igt lttao e por tal facto elas aproximamse da arte Estao neste caso as teorias medicas pQI rticas estrategicas etc Para exprimir 0 caracter misto destas especies de

~peculaltf5es propomOs-~cham-arfhls teorias pnHicas A ( pedagogia e uma teo ria pratica do genero Ela nao estushy--da cientificamente os sistemas de eduCa9aO masmedita

neleuros com vista-a forriecer a actividade do educadoridehls --~gt -lt= W r

que LJuJentarn ----ln~- -Mas a pedagogia entendida deste modo exshy

poe-se a urna-o6Tec~ao cuje grav idade neo pode ser dis simulada Nao ha duvida dir-se-a que ums teoria prashyt~~a~e9_SSrvel e legrtirla sempre que se podeapOlarriushyrna ciencia constiturda e incont9stada de qual ela nada ~~~_e do que- aaplicalttao Ieste caso com efelto as nocoes te6ricas de onde sao deduzidas as consequencas praticas possuem urn valor cientrfico que sa transmite ~s conclusoes que delas 59 extraem ~ por isso que a

lqUr~~ca aplic~da e uma taoria pratica que mais nao e do ~Ue a execucr8o das teorias da qu rmica pura Mas uma teoria pratica nao vale aquilo que valem as cieneias as ~

~

46

I

47

( MORAL EOUCACAO E SOCIOLOGIASOCIOlOGIA

quais ela vai buscar as suas nocoes fundamentais Ora em que ciencias poqera apoiar-sa a pedagogia Deveria antes Jlo mais existir a ciencia ds educacao Isto porque para sabermos aquilo que a educacrBo deve ser terramos que saber antes do mais qual a sua natureza quais as condicoes diversas de que depende as leis segundo as quais ela evoluiu na hist6ria Mas a cieneia da educacao apenas existe como projecto Aestam par um lado os outros ramos da sociologia que poderiam auxiliar a pedashygogia a fixar a finalidade da educalttao com a orientashy9$0 geraldos metodosj por outro Jado a psieofogia cushyjos ensinamentos poderiam ser de grande utilidade para a determina~ao porrnenorizada dos processos pedag6gicos Mas a sociologia nao passa de urna cieneia que esta desshypontando ela contara com um reduzidrssimo numero de proposicoes se acaso algumas houver A pr6pria psicoloshygia apesar de haver side constiturda mais cedo do que as ciencias sociais e 0 objecto de todoo genero de conshytroversias nao ha questoes pSicol6gicas sobre as quais nao se verifiquern ainda as teses mais divergentes Assim de que podem valier as conclusoes praticas que se fundashymentam em dados cientrficos simultaneamente tao inshycertos e tao incompletos De que vale uma especula~ao pedag6gica que~arece de todas as bases ou cujas bases quando se neo encontram totalmente ausentes carecem de solidez bullbull

0 facto q~e assim invocamos para negar qualquer credito a pedag6gia e em si mesmo incontestavel t certo que a ciencia da educacrao se encontra totalmente por fazer que a sociologia e a pSicologia se encontram ainda bem Poucoevolurdas Se por conseguinte nos fosse permitido aguard~r seria prudente e met6dico esperarmos pacientemente ate que essas cienc las tivessem progreshydido e pudessen-ser utilizadas mais seguramente Mas dashy-se 0 caso de precisamente a pacienc ia neo nos sar pershymitida NBo noskssiste a liberdade de pormos a problema a n6s mesmos ou de 0 adiarmos i 0 problema a-nos posto ou melhor impasto pe~~os proprios factos e pele nacessishydade de viver Aquestao naD esta completa encontramoshy

48

-noS envolvidos ne Is e he que prosseguir Em muitos ponshytos 0 nosso sistema tradicional de educ8ifao ja se neo har~oniza com os nossoS ideais e as nossas necassidades Temas poiS tao somente de optlr por uma das duas soshylut0es seguintes ou procurar manter mesmo assim as pnHicas que 0 passado nos legou I se bem que as mesmas nao correspondam mais as exigencias da si tualteo au enshytao tenter resa lutamente restabelecer a harmonia pershyturbada procurando encontrar as modificac6es necessarias Destas duas solU90eS a primeira e irrealizavel e neo poshyde ser levada a cabo Nada de mais ilus6rio do que esshytas tentatlvas para darem uma vida artificial e uma autoshyrldade aparente a instituicroes caducas e desacreditadas o fracasso e inevitavel Neo se podem abafar as ideias que estas instituilt5es contradlzem como se nao podem fazer calar as carencias que elas ofendem As for~as conshytra as quais empreendemos esh luta nao podem deixar de triunfar

Nada mais nos resta pais do que meter corajosashymente maos a obra I do que procurar as modifica~oes que se impoem e rea liza-Ias Mas como descobri-Ias se neo por meio da reflexao S6 a consciencia reflectida e cashypaz de suprir as lacunas da tradicrao quando esta vem a faltar Ora que e a pedagogiasen~o a reflexao aplishy~S~J9Jnais m~todicament~p~ssrve I as coisas aaeaushyca~ao) com vista a regularizar-lhes 0 desenvolvimento NaO

-firddljlda de quenao temos nas -maos todos os elemenshytos que seram de desejar para a resolu~ao do problema mas isso nao e razao para que nao procu remos reso Ive-Io jS que e necessario que ele seja resolvido Nada mals nos resta portanto do que fazer os p()~srveis do que recoshyIher o maior numero de~ elementosinstrutivos que possashymos do que interprets-los a mais metodicamente que ~E~~~nnos) a fim de reduzirmos aomiddot m inimo as posslbifTdashy

es de erro ~~cgt-2apeJ do peq~go bull Nad(i e mais l~s6rl~_=~~eril do que -esse~puritanismo cientrflco que a pretexto -de que a ciencia nao se encontra conclu rda a~onselha a abstenltao e recomenda aos homens que asshysistam como testemunhas indiferentes ou pelo menos reshy

__-lt0

49

~V~lVlUU1~ tUU~A~AU t MORAL

signadas a marcha dos acontec imen~os A par do sofisma da ignorancia existe 0 sofisma da ciencia que nao e meshynos perigoso Nao ha duvida de que ao actuarmos nesshytascondicoes corremos riscos Mas a accrao nunca e isenshyta de riscosj a cienc ia par muito avanlttada que possa 19 5

tar nao poderia suprimi-los Tudo 0 que de n6s pode ser exigido e que na medida das nossas possibilidades coloshyquemos toda a nossa ciencia por muito imperfeita que ela seja e toda a consciencia que tivermos na prevenerao desses riscos t precisamente nisto que consiste 0 papel da pedagogia

Mas a pedagogia mio tera apenas utilidade nesses perrodos cr rticos em que se torna urgentemente necessashyria harmonizar de novo um sistema escolar com as necesshysidades cla epoca hoje em dia pelo menos a pedagogia transformouse num auxiliar constantemente indispensavel da educacrao

Com efeito se a arte do educador e constiturda antes do mais par instintos e habitos que se tornaram quase instintivos e tOdavia necessaria que a inteligencia deles se nao desvie A reflexao nao poderia fazer-Ihe as vezes mas a arte nao poderia prescindir da reflexao pelo menos a partir do momenta em que as povos atingiram um certo grau de civilizalttao Na realidade uma vez que a personalidade individual se transformou num elemento essencial da cultura intelectual e moral da humanidade o educador deve ter em conta 0 genero de individualidade que ex iste em cada crianltta Ele deve por todos os meios ao seu alcance procurar favorecer 0 seu desenvolvimento Em vel de aplicar a fodas elasde uma forma invariavel a mesma regulamentaC8o impessoal e uniforme 0 educashydor tera pelo contn~rio de variar de diversificar os meshytodos consoanteo temperamento e a aptidao de cada inshyteligencia Mas para poder adaptar com discernimento as praticas educatiyas a diversidade dos casos particulares na---ciue saber quais as suas tendencias quais as razoes dos diferentes processos que as constituem quais os efeishytos que elas produzemnas diferentes circunstancias Neshycessaria se torna numa palavra mante-Iassubmetidas a

(OUCA~AO [ SOCIOLOGIA (-~

~bull --A f~~

reflexao pedagogica JJma educafiao emp rrLea maquina ii8O=-po-ae=ae~~a~ de nao ser compreensiva ~ nil~ladora Par Outroiado a medida que avarlltamos na hlst6rla t a evolushy((80 socialvai-se tornando mats rapidaj uma epoca nao se assemelha aquela que a antesedeu cad a espa~o de temshypo tem a sua fisionomia NOvas carencias e novas ideias surgem incessantemente paragt podermos responder as mu danltas constantes que assim se verificam nas opini6es e noS costumes e preciso que a pr6pria educa~ao se modi fique e por consequenc ia qye se mantenha num estado de maleabilidade que permit~ a mudanlta Ora a unico rneio de impedir que ela caiasob 0 juga do habi to e de genere em automatismo maquinal e imutavel consiste em mante-Ia permanentemente apta por meio da reflexao Qirando 0 educador se apercebe dos metodos que utiliza da sua finalidade e da sua razao de ser encontra-se ern condict0es de os julgar e por consequencia esta habilitashydo a modifica-Ios se acaso se convencer que 0 fim a atingir nao e 0 mesmo ou que os meios a utilizer devem ser dife rentes A ref lexao e por excelenc ia a fa rma anshytag6nica da rotina e a rotinamiddot e 0 obstkulo aos progresshysos nee essar ios

t este 0 motivo pe 10 qual se como diziamos de rcio a pedagogia apenas surge na hist6ria de uma forma

interrni-tente teremos de acrescentar que ela tende proshygressivamente a transformar-se numa functaO continua da vida socia A Idade Media nao necessitava dela Era uma

--epQCa-- de conformismo em que toda a gente pensav8 e sentia da mesma rnaneira em qu~ todos os esp Iritos se apresentavam como que vazados no mesmo molde em que as dissidencias individuais eram raras e alem do mais proscritas A educactao era igualmente impessoal nas esshycolas medievais 0 mestre dirigia-se colectivamente a toshydos os seus alunos sem que Ihe passasse pela mente adeshyquar a sua acerao a natureza de cada um desses alunos Ao mesma tempo a imutabilidade das crenctas fundamenshytais opunha-ie a que 0 sistema educativo evoluisse demashysiada rapidamente Par esses dbis motivos havia pais meshynos necessidade de se ser orientada pelo pensamento peshy

-50 51

SOClOLOGIA EDUCACAO [ MORAL _1(

--------------------------------~

dagogico Na Renascenca porem tudo sa modifiea as personalidades individuais dastacam-se da massa soc ial em que sa encontravam ate en tao abso rv idas e confundidas as esp rritos diversificam-se simultaneamente 0 desenvolshyvimento hist6rieo sofre uma aceleraltao uma nova eivili shyzaltao constitui-se Para corresponder a todas estas modishy I ficacoes a reflexao pedagogica desperta e se bem que nem sempre tenha brrlhado com a mesma cintilancia nunshyca mals voltsriaa extinguir-se par completo

IV - Noentanto para que a reflexao pedagogica posss produzir as efeitos beneficos que dela se devem aguardar tera de se submeter a uma cultura aproprlada

~

1Q Ja vimos que a pedagogia neo e a educaltao e nao poderia faz~r-Ihe as vezes A sua funltao nao consiste em substituir-seia pratica mas slm em orienta-la em esclarece-Ia em auxilhi-Ia se necessariola suprir as lashycunas que nela sa venham a produzir em remediar as inshysuficiencias quenela se verifiquem 0 pedagogo neo tem pais de construir com todos os retalhos um sistema de ensino como sernenhum existisseanteriormente Pelo conshytnirio ele temgue se empenhar antes do mais em comshypreender 0 sist~ma do sew tempo 66 assim ele estani

I I em condicoes de se servir dele com discernimento e de

julgl1r a que de imperfeito nele pode encontrar-se Todavia para P9der compreende-Io nao basta considerashy-10 tal como eie hoje se apresenta ja que esse sistema

ij de educacao e um produto da hist6ria que 56 esta podeI explicar ~ uma verdadeira instituiltao social Poucas coishy

~

I 11 sas existirao mesmo em que a hist6ria do pars se repershy

cuta tao integralmente As esco las francesas traduzemi~I exp rimem 0 esp rrito frances Nao podemos pois compreshy~ ender de forma alguma aquila que elas sao as finalida-~ u des que perseguem se nao soubermos de que e consti shy~ tu ido 0 nosso asp rrito nac ional quais os seus diferen tes ~

elementos quais os que dependem de causas permanentes~ L e profundas aqueles que inversarnente se devem a acshy~ao de facto res mais ov menos acidentais e transit6rios

i I iii questoes estas que somente a analise hist6rica pode resolshy

521 11

[OUCA~AO [ SOCIOLOGIA

-ver Discute-se geralmente para se saber qual olugar que deve caber 6 escola primaria no contexto da nossa orga- niza9aoescolar e na vida geral da sociedade Mas a proshyblema e insoluve se ignorarmos de que maneira se forshymou a nossa organiza~ao escolar de onde derivam as seus caracteres distintivos aquilo que no passado determinou o lugar dado a escola elementar quais as causasque fashyvoreceram ou entravaram a seu desenvolvimento etc

Assim a hist6ria do ensine palo menos do ensino nacional a a- ptimeira das propedeuticas para uma cultura pedag6gica Naturalmente sendo da pedagogia primaria

-que Se trata aa historia do ensino primario que prefeshyrentemente nos interessa conhecer Todavia oevido ao motivo que acabamos de apontar I tal ensino nao poderia destacar-se completamente do sistema escolar mais vasshyto I de que apenas IS parte

2Q Mas este Sjstema escolar nao IS feito unicamenshyte de prlHicas estabelecidas de metodos consagrados peshy10 usa heranl1a do passado~ Nele se encontram alam disshyso tendencias viradas para 0 futuro aspirac6es para um

ideal novo mais ou menos claramente previsto Impo-rta n~oDehecermos bem essas aspiral1oes para podermos a~al I 0 lugar que convira darse-Ihes numa reaiidaweeescolar Ora elas vem expressar-se nas doutrinas pedag6gicas ai hrstoria dessas doutrinas deve pais completar a do enshyt sino

Poder-se-ia crer e certo que para cumprir 0 seu fim util essa hist6ria nao necessita de remontar a um passado muito recuado I podendo sem inconveniente ser muito curta Nao bastara conhecerem-se as teorias entre as quais se dividem as esp rritos dos contemporaneos Toshydas as o4tras as dos seculos anteriores encon tram-se hoshyje uitrapassadase parecem possuir tao somente um inteshyresse de erudilttao

Mas este mode m ismo segundo cremos apenas conshysegue rarificar uma das principais fontes em que se deve alimentar a reflexaopedag6gica

Com efeito as doutrinas mais recentes nao nasceshyrar) ontem j elas encontram-se na sequencia das precedenshy

53

tes sem as quais por compreendidasj e assim as causas determinantes

tm conseguinte

~elas

pouco a pouco de uma corrente

nao podem se r para descobrir pedagogica de

certa importancia torna-sege ralmente necessario recuar bastante no tempo 86 assim estaremos de certo modo seguros de que os novos aspectos que apaixonam a maior parte dos esp fritos nao sao brilhantes improvisaltoes desshytinadas a s090brar rapidamente flO esquecimento Por exemshyplo para podermos compreender a tendencia actual do ensino pelos factos a que podemos chamar realismo peshydag6gico nao basta lirriitarmo-nos a ver como ele se exshyprime neste ou naquele contemporaneo he que remontarshymos ate ao momento em que ele e gerado ou seja aos~

I meados do securo XVIII em Fran9a e porfinais do seshyt culo XVII em certos parses protestantes Palo simplas

facto de se encontrar assim igada as SUCS origens pri shymeiras a pedagogia realista apresentar-se-a sob um oushytro aspecto totalmente diferente aperceber-nos-emos

i melhor de que ela se prende com causas profundas imshy

~i pessoais actuantes em todos os povos daEuropa 8imulshyJi taneamente encontrar~nos-emos nas melhores condicoes

para nos apercebermos de quais sao essas causas e conshy1~ 1 sequentemente para fazermos um ju fzo do verdadei ro al shy

~i cance desse moyimento Por outr~ lado porem essa corshys i rente pedag6gica constituiu-se em oposi~ao a urna corshy1I rente contrarla a do ensino humanista e livresco Logo f s6 poderemos apreciar judiciosamente a primeira desde1i que conhe~amos igualmente a segundaj e ei-nos obrigados

a remontarmos ainda multo mais longe na hist6ria ParaI tli poder oferecer todos os seus frutos essa historia da peshyI

~ dagogia nao deve alias ser separada da hist6ria do enshy

1middot sino Se bem que as posiltao ambas sao tra Isto porque em dependem do estado exacto momento em lado na medida em

tenhamos distinguido durante a exshyrealmente solidarias uma com a oushy

cada lapso de tempo as doutr inas do ens ina que elas reflectem no

que contra ele reagem e por outr~ que exercem uma acltao eficaz elas

contribuem para a deteNninacao desse mesmo ensino

54

lUU(A~AO E SOC I OliiG I II I

---reg A cultura pedag6gica deve pois possuir uma base

lamentenlst6rica s6 assim a pedagogia poderc~ furshy--urna cr (tica que Ihe tem sido drigida com freshy

er rtica essa que prejudicou fortemente 0 seu Muitos pedagogos entre os quais se encontram os

ustres tentararn edificar as seus sistemas prescinshyndo daquilo que antes delesexistira 0 tratamento a

que Ponocrates submete ~ Garga~tua ant~s de 0 ini~iar ms metodos recentes e a tal prop6slto slgnlflcatlvo f)1e purifiea-Ihe 0 cerebro com elabore de Anticyre de forma a faze-Io esquecer tudo quanta aprendera com ~sseus antigos preceptoresll

Significava isto numa forshyma aleg6rica que a nova pedagoga nada de comum deshyvia ter com aquela que a anteltedera Mas era ao messhy010 tempo colocar-se a margem das condilt6es da reashyUdade~ A futuro nao pode serevocado do nada uma vez que apenas 0 podemos constru r com as materiais que 0

pa~sado nos legou Urri idea I constru fdo ao ar rep io do estado das co isas existen tes nao e rea lizave I ja que nao radlca na realidade Alias e 6bvio que 0 passado tinha as suas razoes de serj ele nao teria conseguido subsistir se nao tivesse correspondido a carencias leg rtirnas que nao poderiam extinguir-se totalmente de um dia para 0

outro nao se pode pois fazer tao radicalmente da messhyrna Mbua rasa sem se menosprezarem carenc ias vita is

-~ e aqul esta como a pedagogia tem sido 0 mais das ve-II 168 uniifforma de literatura ut6pica Lamentar ramos as ~as as quais tivesse sido rigorosamente aplicado 0 metodo de Rousseau ou de Pestalozzi Nao ha duvida demiddot que assas utopias conseguiram desempenhar um prestimoshyso papel na hist6ria 0 seu pr6prio simplismo permitiushy-has irnpressionar mula-los a acy8o tar ineonvenientes dla-a-dia de que car e orientar a

mais vivamente 05 esp fritos e esti shyMas estas vantagens nao deixam de alem disso para esta pedagogia do

todo 0 professor carece para esclareshysua prcHica quotidiana ha que ter-se

~ns arrebatamento passional e unilateral e palo conshyraro~~_~tHOdOI urn sentimento mais presente da

Iidade e das dificuldades multiplas a que e necessario

55

SOtIOlOGIA [oUCAClo E MORAL

fazer face ~ este sentimento que propiciara uma cultura hist6ria bem entendida

32 S6a hist6ria do ensina e da pedagagia permishyte determfnar os fins que a educarao deve perseguir em cada momento do tempo Mas no que respeite aos meios necessarios a cohcretizayao desses fins I e a pSicologia que se torna necessaria pedi-Ios~

Com efeito 0 ideal pedag6gico de uma epoca exshyprime antes do mais 0 estado da soeiedade na epoca em quastao Mas para que esse ideal se transforme numa realidade torna-se ainda necessario que ao meSmo saja adaptada a consciencia da crianya Ora a consciencia possui as suas leis pr6prias que e necessario conheeer para que as possamos modifiear se pelo menos pretenshydemos evitar tanto quanto possrvel as tentativas emp rrishycas que a pedagogia tem precisamente por objectiv~ reshyduzir ao m fnimo Para podermos estimular a aetividade a desenvolver-se em determinado sentido temos ainda que saber quais sao os impulsos que a movem e qual a sua natureza ja que 56 assim sera possrvel aplicar-Ihe com conhecimento de causa a aC(fao conveniente~ Trata-se por examplo I demiddot despertar 0 amor pela patria ou 0 senshytido da humanidade Saberemos tanto melhor modelar a sensibilidade moraldos alunos am qualquer dos sentishydos quanta mais completas e precisas forem as nocoes que tivermos ~cerca do conjunto de fen6menos a que chashymamos inclinaci5es habitos apetencias emo(foes etc ace rca das diverses condi(foes de que os mesmos depenshydem kerea de forma com que na crianca se apresentam Consoante vejamos nas tendencias um produto das expeshyrieneias agradaveis ou desagradaveis que a esplkie conshyseguiu fazer ou entao pelo contrario um facto primitivo anterior aos estados afectivos que acompanham 0 seu funshycionamento deveremos proceder de formas muito diferenshytes para regulafmos 0 seu func ionamento Ora e a psishycologia mals especialmente a pSicologia infantil que compete resolVer estas questoes Se por conseguinte ela for incompetent~ para fixar a finalidade - ja que a finaliCiade varia consoante os estados sociais - nao ha dushy

EOUCACAO [ SOCIOlOGIA

vida de que ela nao tem um papel util a desempenhar na constituicao dos metodos Afem disso como nenhum meshytOcto--pode ser aprieado -de igual modo as diferentes erianshycas e ainda a psicologia que deveria auxiliar-nos a reshyconhecermo-nos no meio da diversidade das inte ligene ias e dos caraeteres Sabemos infelizmente que ainda estashymos longe do momenta em que ela estara verdadeiramenshyte em condic5es de satisfazer este desiderata

Existe um aspecto da pSicologia que para 0 pedashygogo possui uma importaneia muito particular e a psishycologia colectiva Na rea Ii dade uma turma e uma pequeshy

ria sociedade e torna-se necessario nao a orientar coma sa se tratasse de um simples agtomerado de sujeitos inshydependentes uns dos outros As crianyas de uma turma pensam sentem e agem de uma forma diferente de que quando se eneontram isoladas Numa sala de aulas produshyzem-se fen6menos de contagio de desmoralizaqao eotecshytiva de sobreexcita(fao mutua de efervescencia salutar que se torne necessario discernir a tim de prevenir e combater uns de uti lizar os outros~ Seguramente esta ciencia ainda se encontra em plena infaneia~ Existe toshydavia a partir de agora um carto nLimero de propostas que importa nao ignorer

Tais sao as prlncipais discipllnas que podam despershytar e cultivar a reflexao pedag6gica Em vez de proeurarshymos promulgar para a pedagogia urn c6digo abstracto oe regras met6dicas empreendimento que nurn processo de especu lacao tao composito e Hio comp lexo nao pode de algum modo realizar-se de uma forma satisfat6ria shyafigurou-se-nos preferrvel indicarmos a maneira segundo a qual nos pareee que 0 pedagogo devia sar instru fdo Uma certa atitude do esprrito face aos problemas que Ihe compete resolver I encontra-se por isso mesmo detershyminada

56 57

Page 5: Sociologia, Educação e Moral de Émile Durkheim

SOCIOlOGIA EOUCA~lo [ MORAL

elas funcionam is to e quais os resultados que as mesmas produzem e quais as condicoes que fazem variar esses resultados Paratanto tornar-se-ia necessaria uma boa estatistica escolar Em cada eseola existe urna disciplishyna urn sistema de punici5es e de recompensas Como seshyria interessante sabermos nao s6 segundo 0 testemunho de impressoes empiricas mas tambempor meio de obshyservacoes met6diaas de que maneira esse sistema funcioshyna nas diferente~ escolas de uma mesma localidade nas diferentes regioe~ em diferentes alturas do ano nos dishyferentes momentps do dia quais os delitos escolares mais frequentes de ciOe forma varia a sua proporcao no conjun-- to do territ6rioou de conformidade com os pa rses em que medida e la depende da idade da crianlta da sua conshydicao familiar etc

Todas as questoes que se formulam a prop6sito dos delitos do adulto podem formular-se neste caso com nao menos utilidade Existe uma crimina logia da crianca tal como existe uma criminalogia do homem feito E a disshyciplina nao e a dnica instituicao educativa que poderia ser estudada segundo este metodo Nao existe metoda pedag6gico cujos efeitos nao pudessem ser ponderados de identica maneira admitindo bem entendido que 0 insshytrumento necessario a um estudo do genero isto e uma boa estat rstica tivesse side institu rda

II - Eis aqui pois dois grupos de problemas cujo caracter puramente cient rfico nao pode ser contestado Uns sao relativos ~ genesej as outros referem-se 80 funshycionamento dos sistemas de educaltrao Em todas estas pesquisas trata-se simplesmente ou de descrever as-~coi sas presentes ou passadas ou de Ihes procurar as causas ou ainda de Ihas determinar os efeitos Elas constituem uma cienciaj filiso que 9 ou antes 0 que seria a ciencia da educacao

Entretanto do pr6prio esboco que dela acabamo~ de tracar dedllzimos com evidenciaque as teorias a que chamamos pedag6gicas sao especulamiddotcoes de um genero Iluito diferente Com ef~ito essastiforias nao perseguem d mesma fim nem utilizam as masmos metodos 0 seu

44 t

[OUCA~liO E SOCIOLOGIA

objectivo niio consiste em descrever ou explicar aquilo que e au que foi mas sim em determinar aqui 10 que deshyve ser Elas nao se encontram orientadas nem para 0 preshy

-serite nem para a passado mas sim para 0 fu~~ro Nao se propoem expressar fielmente determinadas realidades mas sim promulgar preceitos de conduta Elas nao nos dizem eis 0 que existe e 0 porque dessa existenciaP mas sim lIeis 0 que e necessaria tazer Os proprios te6shyricos da educ-acao referem-se geralmente as praticas trashydicionais do presente e do passado com um desdem quase sistematico Eles apontam-Ihe sobretudo as imperfei((oes Quase todos os grandes pedagogos como Rabelais Montaigne Rousseau I Pestalozzl sao esp rritos revolucionarios I insurgishydos contra os usos dos seus contemporaneos Eles apenas mencionam os sistemas antigos ou existentes para os conshydenar para os declarar naturalmente infundados Transforshymam-nos mais OU menas completamente em tabua rasa e resolvem constru rr em seu lugar algo de inteiramente novo

Se por cons~quencia pretendemos entender-nos com n6s pr6prios temos que distinguir cuidadosamente ~uas especies de especulacoes igualmente diferentes A

- pedagogia e coisa diversa da ciencia da educacao Mas entao que vem ela a ser Para fazermos uma opcao moshytivada nac nos basta sabermos aquilo que ela neo ej teshymos que indicar aquilo em que a mesma consiste

Poderemos dizer que e uma arte A conclusao pashyrece imp6-rse I ja que vulgarmente nao vislumbramos um

termo intermedio entre esses dais extremos e damos 0

nome de arte a qualquer produto da reflexao que nao seshyja a ciencia Mas isso sera alargar 0 sentido da palavra ate ao ponto de neialntrodlizirmos coisas muito difeshyrentes

Com efeito chamamos igualmente arte a expeshyriencia pratica adquirida pelo professor em contacto com as criancas e no exerdcio da sua profissao Ora tal exshyperiencia e manifestamente uma coisa muito diferente das teorias do pedagogo Umfacto de observacao corrente torna muito sens lvel eata diferenlta Pode-se ser um edushy

45

--~~~-U LUUlflltflV t MVKAL

cador perfeito e apesar dissf ser-se completamente inashydequado as especulB90es da pedagogia 0 mestre engenhoshyso sabe como deve proceder sem poder dizer no entanto as razoes que justificam os processos por ele utilizados Inversamente 0 pedagogo pocl~ nao possuir qualquer capashycidade prcitica nao teriamos confiado uma classe quer a Rousseau quer a Montaigne Do pr6prio Pestalozzi que todavia era Urn homem que exercia a profissao podemos afirmar que apenas devia possuir nluito incompletamente a arte do educador como 0 comprovam os seus repetidos insucessos Identica confusao se nos depara em outros dom rnios Chamamos arte a per rcia dO homem de Estashydo experimentado na orientalttao dos interesses publicos Mas dizemos igualmente que osescritos de Platao de Arist6teles e de Rousseau sao tratados de arte polftica e 0 que e certo e que nao podemos Ver neles obras vershydadeiramente cientrficas uma vez que as mesmas tern

po r objectivo nao 0 estudo da rea Iidade t mas a construshylttao de Urn ideal E no entanto ha urn abismo entre as actividades do esp rrito que um Iivro como 0 Contrato soshycial implica e as que a administrarao do Estado pressushypoe Rousseau teria sido provavelmente tao mau minisshytro como mau educador Assim tambem os melhores te6shyricos de assuntos medicos nao sao se preciso for os meshy

res cl inicos

Interessa pOis nao designarmos pe 10 mesmo nome duas formas de actividade tao diferentes Quanto a n6s ha que reservar 0 nome de tlarte ll para tudo quanto for pratica pura isenta de teoria ~ por isso que todos se entendem quando se fala da arte do soldado da arte do advogado da arta do professor Uma arte e um sistema de formas de proceder ajulittadas a fins especiais e que sao a produto quer de uma experiencia tradicional comushynicada pela educacao quer da experiencia pessoal do inshydivrduo S6 poderemos adquiri-Ias relaclonando-nos com as coisas sobre as quais a ac~ao deve exercer-se e aginshydo n6s pr6prios Nao ha duvida de que a arte pode ser esclarecida pela reflxao mas esta nao e urn eJemento essencial a arte uma vez que a arte pode exstir sem a

o pound soc IOtOGIA

a reflexaa Naa existe mesma uma s6 arte ern que tudo seja refJectido

__ Mas entre a arte assim definida e a ciencia proshypriameflte- dita ha lugar para Uma atitude mental intershyr=neaa Em vez de actuarmos sobre as coisas ou sobre as ~-segundo modos determinados reflectmos sobre os

processos de actualtao assim utilizados tendo ern vista nao 0 seu conhecimento e a sua explica960 mas a apreshycialtraodo que valem seeles sao aquilo que devem ser se nao valera mais modfica-los e de que maneira au ate mesmo substtu r-Ios totalmente por novos processos Estas reflexoes adquirem a forma de teorias sao combishynar5es de ideias nao combinacoes de aetos por via disshy

-Igt ~ so~ elas aE~xiam-se da ciencia M~_s 0 objectiv~ das idelas asslrn combinadas naD e 0 de exprimir a natureza daS realidades dadas mas sim de orientar a accao Essas icfeias nao sao movimentos mas encontram-se muito pr6shyximas do movimento gtque elas tem por funcao orientar Se nao forem accoes sao pelo menos programas de acshy

--Igt lttao e por tal facto elas aproximamse da arte Estao neste caso as teorias medicas pQI rticas estrategicas etc Para exprimir 0 caracter misto destas especies de

~peculaltf5es propomOs-~cham-arfhls teorias pnHicas A ( pedagogia e uma teo ria pratica do genero Ela nao estushy--da cientificamente os sistemas de eduCa9aO masmedita

neleuros com vista-a forriecer a actividade do educadoridehls --~gt -lt= W r

que LJuJentarn ----ln~- -Mas a pedagogia entendida deste modo exshy

poe-se a urna-o6Tec~ao cuje grav idade neo pode ser dis simulada Nao ha duvida dir-se-a que ums teoria prashyt~~a~e9_SSrvel e legrtirla sempre que se podeapOlarriushyrna ciencia constiturda e incont9stada de qual ela nada ~~~_e do que- aaplicalttao Ieste caso com efelto as nocoes te6ricas de onde sao deduzidas as consequencas praticas possuem urn valor cientrfico que sa transmite ~s conclusoes que delas 59 extraem ~ por isso que a

lqUr~~ca aplic~da e uma taoria pratica que mais nao e do ~Ue a execucr8o das teorias da qu rmica pura Mas uma teoria pratica nao vale aquilo que valem as cieneias as ~

~

46

I

47

( MORAL EOUCACAO E SOCIOLOGIASOCIOlOGIA

quais ela vai buscar as suas nocoes fundamentais Ora em que ciencias poqera apoiar-sa a pedagogia Deveria antes Jlo mais existir a ciencia ds educacao Isto porque para sabermos aquilo que a educacrBo deve ser terramos que saber antes do mais qual a sua natureza quais as condicoes diversas de que depende as leis segundo as quais ela evoluiu na hist6ria Mas a cieneia da educacao apenas existe como projecto Aestam par um lado os outros ramos da sociologia que poderiam auxiliar a pedashygogia a fixar a finalidade da educalttao com a orientashy9$0 geraldos metodosj por outro Jado a psieofogia cushyjos ensinamentos poderiam ser de grande utilidade para a determina~ao porrnenorizada dos processos pedag6gicos Mas a sociologia nao passa de urna cieneia que esta desshypontando ela contara com um reduzidrssimo numero de proposicoes se acaso algumas houver A pr6pria psicoloshygia apesar de haver side constiturda mais cedo do que as ciencias sociais e 0 objecto de todoo genero de conshytroversias nao ha questoes pSicol6gicas sobre as quais nao se verifiquern ainda as teses mais divergentes Assim de que podem valier as conclusoes praticas que se fundashymentam em dados cientrficos simultaneamente tao inshycertos e tao incompletos De que vale uma especula~ao pedag6gica que~arece de todas as bases ou cujas bases quando se neo encontram totalmente ausentes carecem de solidez bullbull

0 facto q~e assim invocamos para negar qualquer credito a pedag6gia e em si mesmo incontestavel t certo que a ciencia da educacrao se encontra totalmente por fazer que a sociologia e a pSicologia se encontram ainda bem Poucoevolurdas Se por conseguinte nos fosse permitido aguard~r seria prudente e met6dico esperarmos pacientemente ate que essas cienc las tivessem progreshydido e pudessen-ser utilizadas mais seguramente Mas dashy-se 0 caso de precisamente a pacienc ia neo nos sar pershymitida NBo noskssiste a liberdade de pormos a problema a n6s mesmos ou de 0 adiarmos i 0 problema a-nos posto ou melhor impasto pe~~os proprios factos e pele nacessishydade de viver Aquestao naD esta completa encontramoshy

48

-noS envolvidos ne Is e he que prosseguir Em muitos ponshytos 0 nosso sistema tradicional de educ8ifao ja se neo har~oniza com os nossoS ideais e as nossas necassidades Temas poiS tao somente de optlr por uma das duas soshylut0es seguintes ou procurar manter mesmo assim as pnHicas que 0 passado nos legou I se bem que as mesmas nao correspondam mais as exigencias da si tualteo au enshytao tenter resa lutamente restabelecer a harmonia pershyturbada procurando encontrar as modificac6es necessarias Destas duas solU90eS a primeira e irrealizavel e neo poshyde ser levada a cabo Nada de mais ilus6rio do que esshytas tentatlvas para darem uma vida artificial e uma autoshyrldade aparente a instituicroes caducas e desacreditadas o fracasso e inevitavel Neo se podem abafar as ideias que estas instituilt5es contradlzem como se nao podem fazer calar as carencias que elas ofendem As for~as conshytra as quais empreendemos esh luta nao podem deixar de triunfar

Nada mais nos resta pais do que meter corajosashymente maos a obra I do que procurar as modifica~oes que se impoem e rea liza-Ias Mas como descobri-Ias se neo por meio da reflexao S6 a consciencia reflectida e cashypaz de suprir as lacunas da tradicrao quando esta vem a faltar Ora que e a pedagogiasen~o a reflexao aplishy~S~J9Jnais m~todicament~p~ssrve I as coisas aaeaushyca~ao) com vista a regularizar-lhes 0 desenvolvimento NaO

-firddljlda de quenao temos nas -maos todos os elemenshytos que seram de desejar para a resolu~ao do problema mas isso nao e razao para que nao procu remos reso Ive-Io jS que e necessario que ele seja resolvido Nada mals nos resta portanto do que fazer os p()~srveis do que recoshyIher o maior numero de~ elementosinstrutivos que possashymos do que interprets-los a mais metodicamente que ~E~~~nnos) a fim de reduzirmos aomiddot m inimo as posslbifTdashy

es de erro ~~cgt-2apeJ do peq~go bull Nad(i e mais l~s6rl~_=~~eril do que -esse~puritanismo cientrflco que a pretexto -de que a ciencia nao se encontra conclu rda a~onselha a abstenltao e recomenda aos homens que asshysistam como testemunhas indiferentes ou pelo menos reshy

__-lt0

49

~V~lVlUU1~ tUU~A~AU t MORAL

signadas a marcha dos acontec imen~os A par do sofisma da ignorancia existe 0 sofisma da ciencia que nao e meshynos perigoso Nao ha duvida de que ao actuarmos nesshytascondicoes corremos riscos Mas a accrao nunca e isenshyta de riscosj a cienc ia par muito avanlttada que possa 19 5

tar nao poderia suprimi-los Tudo 0 que de n6s pode ser exigido e que na medida das nossas possibilidades coloshyquemos toda a nossa ciencia por muito imperfeita que ela seja e toda a consciencia que tivermos na prevenerao desses riscos t precisamente nisto que consiste 0 papel da pedagogia

Mas a pedagogia mio tera apenas utilidade nesses perrodos cr rticos em que se torna urgentemente necessashyria harmonizar de novo um sistema escolar com as necesshysidades cla epoca hoje em dia pelo menos a pedagogia transformouse num auxiliar constantemente indispensavel da educacrao

Com efeito se a arte do educador e constiturda antes do mais par instintos e habitos que se tornaram quase instintivos e tOdavia necessaria que a inteligencia deles se nao desvie A reflexao nao poderia fazer-Ihe as vezes mas a arte nao poderia prescindir da reflexao pelo menos a partir do momenta em que as povos atingiram um certo grau de civilizalttao Na realidade uma vez que a personalidade individual se transformou num elemento essencial da cultura intelectual e moral da humanidade o educador deve ter em conta 0 genero de individualidade que ex iste em cada crianltta Ele deve por todos os meios ao seu alcance procurar favorecer 0 seu desenvolvimento Em vel de aplicar a fodas elasde uma forma invariavel a mesma regulamentaC8o impessoal e uniforme 0 educashydor tera pelo contn~rio de variar de diversificar os meshytodos consoanteo temperamento e a aptidao de cada inshyteligencia Mas para poder adaptar com discernimento as praticas educatiyas a diversidade dos casos particulares na---ciue saber quais as suas tendencias quais as razoes dos diferentes processos que as constituem quais os efeishytos que elas produzemnas diferentes circunstancias Neshycessaria se torna numa palavra mante-Iassubmetidas a

(OUCA~AO [ SOCIOLOGIA (-~

~bull --A f~~

reflexao pedagogica JJma educafiao emp rrLea maquina ii8O=-po-ae=ae~~a~ de nao ser compreensiva ~ nil~ladora Par Outroiado a medida que avarlltamos na hlst6rla t a evolushy((80 socialvai-se tornando mats rapidaj uma epoca nao se assemelha aquela que a antesedeu cad a espa~o de temshypo tem a sua fisionomia NOvas carencias e novas ideias surgem incessantemente paragt podermos responder as mu danltas constantes que assim se verificam nas opini6es e noS costumes e preciso que a pr6pria educa~ao se modi fique e por consequenc ia qye se mantenha num estado de maleabilidade que permit~ a mudanlta Ora a unico rneio de impedir que ela caiasob 0 juga do habi to e de genere em automatismo maquinal e imutavel consiste em mante-Ia permanentemente apta por meio da reflexao Qirando 0 educador se apercebe dos metodos que utiliza da sua finalidade e da sua razao de ser encontra-se ern condict0es de os julgar e por consequencia esta habilitashydo a modifica-Ios se acaso se convencer que 0 fim a atingir nao e 0 mesmo ou que os meios a utilizer devem ser dife rentes A ref lexao e por excelenc ia a fa rma anshytag6nica da rotina e a rotinamiddot e 0 obstkulo aos progresshysos nee essar ios

t este 0 motivo pe 10 qual se como diziamos de rcio a pedagogia apenas surge na hist6ria de uma forma

interrni-tente teremos de acrescentar que ela tende proshygressivamente a transformar-se numa functaO continua da vida socia A Idade Media nao necessitava dela Era uma

--epQCa-- de conformismo em que toda a gente pensav8 e sentia da mesma rnaneira em qu~ todos os esp Iritos se apresentavam como que vazados no mesmo molde em que as dissidencias individuais eram raras e alem do mais proscritas A educactao era igualmente impessoal nas esshycolas medievais 0 mestre dirigia-se colectivamente a toshydos os seus alunos sem que Ihe passasse pela mente adeshyquar a sua acerao a natureza de cada um desses alunos Ao mesma tempo a imutabilidade das crenctas fundamenshytais opunha-ie a que 0 sistema educativo evoluisse demashysiada rapidamente Par esses dbis motivos havia pais meshynos necessidade de se ser orientada pelo pensamento peshy

-50 51

SOClOLOGIA EDUCACAO [ MORAL _1(

--------------------------------~

dagogico Na Renascenca porem tudo sa modifiea as personalidades individuais dastacam-se da massa soc ial em que sa encontravam ate en tao abso rv idas e confundidas as esp rritos diversificam-se simultaneamente 0 desenvolshyvimento hist6rieo sofre uma aceleraltao uma nova eivili shyzaltao constitui-se Para corresponder a todas estas modishy I ficacoes a reflexao pedagogica desperta e se bem que nem sempre tenha brrlhado com a mesma cintilancia nunshyca mals voltsriaa extinguir-se par completo

IV - Noentanto para que a reflexao pedagogica posss produzir as efeitos beneficos que dela se devem aguardar tera de se submeter a uma cultura aproprlada

~

1Q Ja vimos que a pedagogia neo e a educaltao e nao poderia faz~r-Ihe as vezes A sua funltao nao consiste em substituir-seia pratica mas slm em orienta-la em esclarece-Ia em auxilhi-Ia se necessariola suprir as lashycunas que nela sa venham a produzir em remediar as inshysuficiencias quenela se verifiquem 0 pedagogo neo tem pais de construir com todos os retalhos um sistema de ensino como sernenhum existisseanteriormente Pelo conshytnirio ele temgue se empenhar antes do mais em comshypreender 0 sist~ma do sew tempo 66 assim ele estani

I I em condicoes de se servir dele com discernimento e de

julgl1r a que de imperfeito nele pode encontrar-se Todavia para P9der compreende-Io nao basta considerashy-10 tal como eie hoje se apresenta ja que esse sistema

ij de educacao e um produto da hist6ria que 56 esta podeI explicar ~ uma verdadeira instituiltao social Poucas coishy

~

I 11 sas existirao mesmo em que a hist6ria do pars se repershy

cuta tao integralmente As esco las francesas traduzemi~I exp rimem 0 esp rrito frances Nao podemos pois compreshy~ ender de forma alguma aquila que elas sao as finalida-~ u des que perseguem se nao soubermos de que e consti shy~ tu ido 0 nosso asp rrito nac ional quais os seus diferen tes ~

elementos quais os que dependem de causas permanentes~ L e profundas aqueles que inversarnente se devem a acshy~ao de facto res mais ov menos acidentais e transit6rios

i I iii questoes estas que somente a analise hist6rica pode resolshy

521 11

[OUCA~AO [ SOCIOLOGIA

-ver Discute-se geralmente para se saber qual olugar que deve caber 6 escola primaria no contexto da nossa orga- niza9aoescolar e na vida geral da sociedade Mas a proshyblema e insoluve se ignorarmos de que maneira se forshymou a nossa organiza~ao escolar de onde derivam as seus caracteres distintivos aquilo que no passado determinou o lugar dado a escola elementar quais as causasque fashyvoreceram ou entravaram a seu desenvolvimento etc

Assim a hist6ria do ensine palo menos do ensino nacional a a- ptimeira das propedeuticas para uma cultura pedag6gica Naturalmente sendo da pedagogia primaria

-que Se trata aa historia do ensino primario que prefeshyrentemente nos interessa conhecer Todavia oevido ao motivo que acabamos de apontar I tal ensino nao poderia destacar-se completamente do sistema escolar mais vasshyto I de que apenas IS parte

2Q Mas este Sjstema escolar nao IS feito unicamenshyte de prlHicas estabelecidas de metodos consagrados peshy10 usa heranl1a do passado~ Nele se encontram alam disshyso tendencias viradas para 0 futuro aspirac6es para um

ideal novo mais ou menos claramente previsto Impo-rta n~oDehecermos bem essas aspiral1oes para podermos a~al I 0 lugar que convira darse-Ihes numa reaiidaweeescolar Ora elas vem expressar-se nas doutrinas pedag6gicas ai hrstoria dessas doutrinas deve pais completar a do enshyt sino

Poder-se-ia crer e certo que para cumprir 0 seu fim util essa hist6ria nao necessita de remontar a um passado muito recuado I podendo sem inconveniente ser muito curta Nao bastara conhecerem-se as teorias entre as quais se dividem as esp rritos dos contemporaneos Toshydas as o4tras as dos seculos anteriores encon tram-se hoshyje uitrapassadase parecem possuir tao somente um inteshyresse de erudilttao

Mas este mode m ismo segundo cremos apenas conshysegue rarificar uma das principais fontes em que se deve alimentar a reflexaopedag6gica

Com efeito as doutrinas mais recentes nao nasceshyrar) ontem j elas encontram-se na sequencia das precedenshy

53

tes sem as quais por compreendidasj e assim as causas determinantes

tm conseguinte

~elas

pouco a pouco de uma corrente

nao podem se r para descobrir pedagogica de

certa importancia torna-sege ralmente necessario recuar bastante no tempo 86 assim estaremos de certo modo seguros de que os novos aspectos que apaixonam a maior parte dos esp fritos nao sao brilhantes improvisaltoes desshytinadas a s090brar rapidamente flO esquecimento Por exemshyplo para podermos compreender a tendencia actual do ensino pelos factos a que podemos chamar realismo peshydag6gico nao basta lirriitarmo-nos a ver como ele se exshyprime neste ou naquele contemporaneo he que remontarshymos ate ao momento em que ele e gerado ou seja aos~

I meados do securo XVIII em Fran9a e porfinais do seshyt culo XVII em certos parses protestantes Palo simplas

facto de se encontrar assim igada as SUCS origens pri shymeiras a pedagogia realista apresentar-se-a sob um oushytro aspecto totalmente diferente aperceber-nos-emos

i melhor de que ela se prende com causas profundas imshy

~i pessoais actuantes em todos os povos daEuropa 8imulshyJi taneamente encontrar~nos-emos nas melhores condicoes

para nos apercebermos de quais sao essas causas e conshy1~ 1 sequentemente para fazermos um ju fzo do verdadei ro al shy

~i cance desse moyimento Por outr~ lado porem essa corshys i rente pedag6gica constituiu-se em oposi~ao a urna corshy1I rente contrarla a do ensino humanista e livresco Logo f s6 poderemos apreciar judiciosamente a primeira desde1i que conhe~amos igualmente a segundaj e ei-nos obrigados

a remontarmos ainda multo mais longe na hist6ria ParaI tli poder oferecer todos os seus frutos essa historia da peshyI

~ dagogia nao deve alias ser separada da hist6ria do enshy

1middot sino Se bem que as posiltao ambas sao tra Isto porque em dependem do estado exacto momento em lado na medida em

tenhamos distinguido durante a exshyrealmente solidarias uma com a oushy

cada lapso de tempo as doutr inas do ens ina que elas reflectem no

que contra ele reagem e por outr~ que exercem uma acltao eficaz elas

contribuem para a deteNninacao desse mesmo ensino

54

lUU(A~AO E SOC I OliiG I II I

---reg A cultura pedag6gica deve pois possuir uma base

lamentenlst6rica s6 assim a pedagogia poderc~ furshy--urna cr (tica que Ihe tem sido drigida com freshy

er rtica essa que prejudicou fortemente 0 seu Muitos pedagogos entre os quais se encontram os

ustres tentararn edificar as seus sistemas prescinshyndo daquilo que antes delesexistira 0 tratamento a

que Ponocrates submete ~ Garga~tua ant~s de 0 ini~iar ms metodos recentes e a tal prop6slto slgnlflcatlvo f)1e purifiea-Ihe 0 cerebro com elabore de Anticyre de forma a faze-Io esquecer tudo quanta aprendera com ~sseus antigos preceptoresll

Significava isto numa forshyma aleg6rica que a nova pedagoga nada de comum deshyvia ter com aquela que a anteltedera Mas era ao messhy010 tempo colocar-se a margem das condilt6es da reashyUdade~ A futuro nao pode serevocado do nada uma vez que apenas 0 podemos constru r com as materiais que 0

pa~sado nos legou Urri idea I constru fdo ao ar rep io do estado das co isas existen tes nao e rea lizave I ja que nao radlca na realidade Alias e 6bvio que 0 passado tinha as suas razoes de serj ele nao teria conseguido subsistir se nao tivesse correspondido a carencias leg rtirnas que nao poderiam extinguir-se totalmente de um dia para 0

outro nao se pode pois fazer tao radicalmente da messhyrna Mbua rasa sem se menosprezarem carenc ias vita is

-~ e aqul esta como a pedagogia tem sido 0 mais das ve-II 168 uniifforma de literatura ut6pica Lamentar ramos as ~as as quais tivesse sido rigorosamente aplicado 0 metodo de Rousseau ou de Pestalozzi Nao ha duvida demiddot que assas utopias conseguiram desempenhar um prestimoshyso papel na hist6ria 0 seu pr6prio simplismo permitiushy-has irnpressionar mula-los a acy8o tar ineonvenientes dla-a-dia de que car e orientar a

mais vivamente 05 esp fritos e esti shyMas estas vantagens nao deixam de alem disso para esta pedagogia do

todo 0 professor carece para esclareshysua prcHica quotidiana ha que ter-se

~ns arrebatamento passional e unilateral e palo conshyraro~~_~tHOdOI urn sentimento mais presente da

Iidade e das dificuldades multiplas a que e necessario

55

SOtIOlOGIA [oUCAClo E MORAL

fazer face ~ este sentimento que propiciara uma cultura hist6ria bem entendida

32 S6a hist6ria do ensina e da pedagagia permishyte determfnar os fins que a educarao deve perseguir em cada momento do tempo Mas no que respeite aos meios necessarios a cohcretizayao desses fins I e a pSicologia que se torna necessaria pedi-Ios~

Com efeito 0 ideal pedag6gico de uma epoca exshyprime antes do mais 0 estado da soeiedade na epoca em quastao Mas para que esse ideal se transforme numa realidade torna-se ainda necessario que ao meSmo saja adaptada a consciencia da crianya Ora a consciencia possui as suas leis pr6prias que e necessario conheeer para que as possamos modifiear se pelo menos pretenshydemos evitar tanto quanto possrvel as tentativas emp rrishycas que a pedagogia tem precisamente por objectiv~ reshyduzir ao m fnimo Para podermos estimular a aetividade a desenvolver-se em determinado sentido temos ainda que saber quais sao os impulsos que a movem e qual a sua natureza ja que 56 assim sera possrvel aplicar-Ihe com conhecimento de causa a aC(fao conveniente~ Trata-se por examplo I demiddot despertar 0 amor pela patria ou 0 senshytido da humanidade Saberemos tanto melhor modelar a sensibilidade moraldos alunos am qualquer dos sentishydos quanta mais completas e precisas forem as nocoes que tivermos ~cerca do conjunto de fen6menos a que chashymamos inclinaci5es habitos apetencias emo(foes etc ace rca das diverses condi(foes de que os mesmos depenshydem kerea de forma com que na crianca se apresentam Consoante vejamos nas tendencias um produto das expeshyrieneias agradaveis ou desagradaveis que a esplkie conshyseguiu fazer ou entao pelo contrario um facto primitivo anterior aos estados afectivos que acompanham 0 seu funshycionamento deveremos proceder de formas muito diferenshytes para regulafmos 0 seu func ionamento Ora e a psishycologia mals especialmente a pSicologia infantil que compete resolVer estas questoes Se por conseguinte ela for incompetent~ para fixar a finalidade - ja que a finaliCiade varia consoante os estados sociais - nao ha dushy

EOUCACAO [ SOCIOlOGIA

vida de que ela nao tem um papel util a desempenhar na constituicao dos metodos Afem disso como nenhum meshytOcto--pode ser aprieado -de igual modo as diferentes erianshycas e ainda a psicologia que deveria auxiliar-nos a reshyconhecermo-nos no meio da diversidade das inte ligene ias e dos caraeteres Sabemos infelizmente que ainda estashymos longe do momenta em que ela estara verdadeiramenshyte em condic5es de satisfazer este desiderata

Existe um aspecto da pSicologia que para 0 pedashygogo possui uma importaneia muito particular e a psishycologia colectiva Na rea Ii dade uma turma e uma pequeshy

ria sociedade e torna-se necessario nao a orientar coma sa se tratasse de um simples agtomerado de sujeitos inshydependentes uns dos outros As crianyas de uma turma pensam sentem e agem de uma forma diferente de que quando se eneontram isoladas Numa sala de aulas produshyzem-se fen6menos de contagio de desmoralizaqao eotecshytiva de sobreexcita(fao mutua de efervescencia salutar que se torne necessario discernir a tim de prevenir e combater uns de uti lizar os outros~ Seguramente esta ciencia ainda se encontra em plena infaneia~ Existe toshydavia a partir de agora um carto nLimero de propostas que importa nao ignorer

Tais sao as prlncipais discipllnas que podam despershytar e cultivar a reflexao pedag6gica Em vez de proeurarshymos promulgar para a pedagogia urn c6digo abstracto oe regras met6dicas empreendimento que nurn processo de especu lacao tao composito e Hio comp lexo nao pode de algum modo realizar-se de uma forma satisfat6ria shyafigurou-se-nos preferrvel indicarmos a maneira segundo a qual nos pareee que 0 pedagogo devia sar instru fdo Uma certa atitude do esprrito face aos problemas que Ihe compete resolver I encontra-se por isso mesmo detershyminada

56 57

Page 6: Sociologia, Educação e Moral de Émile Durkheim

--~~~-U LUUlflltflV t MVKAL

cador perfeito e apesar dissf ser-se completamente inashydequado as especulB90es da pedagogia 0 mestre engenhoshyso sabe como deve proceder sem poder dizer no entanto as razoes que justificam os processos por ele utilizados Inversamente 0 pedagogo pocl~ nao possuir qualquer capashycidade prcitica nao teriamos confiado uma classe quer a Rousseau quer a Montaigne Do pr6prio Pestalozzi que todavia era Urn homem que exercia a profissao podemos afirmar que apenas devia possuir nluito incompletamente a arte do educador como 0 comprovam os seus repetidos insucessos Identica confusao se nos depara em outros dom rnios Chamamos arte a per rcia dO homem de Estashydo experimentado na orientalttao dos interesses publicos Mas dizemos igualmente que osescritos de Platao de Arist6teles e de Rousseau sao tratados de arte polftica e 0 que e certo e que nao podemos Ver neles obras vershydadeiramente cientrficas uma vez que as mesmas tern

po r objectivo nao 0 estudo da rea Iidade t mas a construshylttao de Urn ideal E no entanto ha urn abismo entre as actividades do esp rrito que um Iivro como 0 Contrato soshycial implica e as que a administrarao do Estado pressushypoe Rousseau teria sido provavelmente tao mau minisshytro como mau educador Assim tambem os melhores te6shyricos de assuntos medicos nao sao se preciso for os meshy

res cl inicos

Interessa pOis nao designarmos pe 10 mesmo nome duas formas de actividade tao diferentes Quanto a n6s ha que reservar 0 nome de tlarte ll para tudo quanto for pratica pura isenta de teoria ~ por isso que todos se entendem quando se fala da arte do soldado da arte do advogado da arta do professor Uma arte e um sistema de formas de proceder ajulittadas a fins especiais e que sao a produto quer de uma experiencia tradicional comushynicada pela educacao quer da experiencia pessoal do inshydivrduo S6 poderemos adquiri-Ias relaclonando-nos com as coisas sobre as quais a ac~ao deve exercer-se e aginshydo n6s pr6prios Nao ha duvida de que a arte pode ser esclarecida pela reflxao mas esta nao e urn eJemento essencial a arte uma vez que a arte pode exstir sem a

o pound soc IOtOGIA

a reflexaa Naa existe mesma uma s6 arte ern que tudo seja refJectido

__ Mas entre a arte assim definida e a ciencia proshypriameflte- dita ha lugar para Uma atitude mental intershyr=neaa Em vez de actuarmos sobre as coisas ou sobre as ~-segundo modos determinados reflectmos sobre os

processos de actualtao assim utilizados tendo ern vista nao 0 seu conhecimento e a sua explica960 mas a apreshycialtraodo que valem seeles sao aquilo que devem ser se nao valera mais modfica-los e de que maneira au ate mesmo substtu r-Ios totalmente por novos processos Estas reflexoes adquirem a forma de teorias sao combishynar5es de ideias nao combinacoes de aetos por via disshy

-Igt ~ so~ elas aE~xiam-se da ciencia M~_s 0 objectiv~ das idelas asslrn combinadas naD e 0 de exprimir a natureza daS realidades dadas mas sim de orientar a accao Essas icfeias nao sao movimentos mas encontram-se muito pr6shyximas do movimento gtque elas tem por funcao orientar Se nao forem accoes sao pelo menos programas de acshy

--Igt lttao e por tal facto elas aproximamse da arte Estao neste caso as teorias medicas pQI rticas estrategicas etc Para exprimir 0 caracter misto destas especies de

~peculaltf5es propomOs-~cham-arfhls teorias pnHicas A ( pedagogia e uma teo ria pratica do genero Ela nao estushy--da cientificamente os sistemas de eduCa9aO masmedita

neleuros com vista-a forriecer a actividade do educadoridehls --~gt -lt= W r

que LJuJentarn ----ln~- -Mas a pedagogia entendida deste modo exshy

poe-se a urna-o6Tec~ao cuje grav idade neo pode ser dis simulada Nao ha duvida dir-se-a que ums teoria prashyt~~a~e9_SSrvel e legrtirla sempre que se podeapOlarriushyrna ciencia constiturda e incont9stada de qual ela nada ~~~_e do que- aaplicalttao Ieste caso com efelto as nocoes te6ricas de onde sao deduzidas as consequencas praticas possuem urn valor cientrfico que sa transmite ~s conclusoes que delas 59 extraem ~ por isso que a

lqUr~~ca aplic~da e uma taoria pratica que mais nao e do ~Ue a execucr8o das teorias da qu rmica pura Mas uma teoria pratica nao vale aquilo que valem as cieneias as ~

~

46

I

47

( MORAL EOUCACAO E SOCIOLOGIASOCIOlOGIA

quais ela vai buscar as suas nocoes fundamentais Ora em que ciencias poqera apoiar-sa a pedagogia Deveria antes Jlo mais existir a ciencia ds educacao Isto porque para sabermos aquilo que a educacrBo deve ser terramos que saber antes do mais qual a sua natureza quais as condicoes diversas de que depende as leis segundo as quais ela evoluiu na hist6ria Mas a cieneia da educacao apenas existe como projecto Aestam par um lado os outros ramos da sociologia que poderiam auxiliar a pedashygogia a fixar a finalidade da educalttao com a orientashy9$0 geraldos metodosj por outro Jado a psieofogia cushyjos ensinamentos poderiam ser de grande utilidade para a determina~ao porrnenorizada dos processos pedag6gicos Mas a sociologia nao passa de urna cieneia que esta desshypontando ela contara com um reduzidrssimo numero de proposicoes se acaso algumas houver A pr6pria psicoloshygia apesar de haver side constiturda mais cedo do que as ciencias sociais e 0 objecto de todoo genero de conshytroversias nao ha questoes pSicol6gicas sobre as quais nao se verifiquern ainda as teses mais divergentes Assim de que podem valier as conclusoes praticas que se fundashymentam em dados cientrficos simultaneamente tao inshycertos e tao incompletos De que vale uma especula~ao pedag6gica que~arece de todas as bases ou cujas bases quando se neo encontram totalmente ausentes carecem de solidez bullbull

0 facto q~e assim invocamos para negar qualquer credito a pedag6gia e em si mesmo incontestavel t certo que a ciencia da educacrao se encontra totalmente por fazer que a sociologia e a pSicologia se encontram ainda bem Poucoevolurdas Se por conseguinte nos fosse permitido aguard~r seria prudente e met6dico esperarmos pacientemente ate que essas cienc las tivessem progreshydido e pudessen-ser utilizadas mais seguramente Mas dashy-se 0 caso de precisamente a pacienc ia neo nos sar pershymitida NBo noskssiste a liberdade de pormos a problema a n6s mesmos ou de 0 adiarmos i 0 problema a-nos posto ou melhor impasto pe~~os proprios factos e pele nacessishydade de viver Aquestao naD esta completa encontramoshy

48

-noS envolvidos ne Is e he que prosseguir Em muitos ponshytos 0 nosso sistema tradicional de educ8ifao ja se neo har~oniza com os nossoS ideais e as nossas necassidades Temas poiS tao somente de optlr por uma das duas soshylut0es seguintes ou procurar manter mesmo assim as pnHicas que 0 passado nos legou I se bem que as mesmas nao correspondam mais as exigencias da si tualteo au enshytao tenter resa lutamente restabelecer a harmonia pershyturbada procurando encontrar as modificac6es necessarias Destas duas solU90eS a primeira e irrealizavel e neo poshyde ser levada a cabo Nada de mais ilus6rio do que esshytas tentatlvas para darem uma vida artificial e uma autoshyrldade aparente a instituicroes caducas e desacreditadas o fracasso e inevitavel Neo se podem abafar as ideias que estas instituilt5es contradlzem como se nao podem fazer calar as carencias que elas ofendem As for~as conshytra as quais empreendemos esh luta nao podem deixar de triunfar

Nada mais nos resta pais do que meter corajosashymente maos a obra I do que procurar as modifica~oes que se impoem e rea liza-Ias Mas como descobri-Ias se neo por meio da reflexao S6 a consciencia reflectida e cashypaz de suprir as lacunas da tradicrao quando esta vem a faltar Ora que e a pedagogiasen~o a reflexao aplishy~S~J9Jnais m~todicament~p~ssrve I as coisas aaeaushyca~ao) com vista a regularizar-lhes 0 desenvolvimento NaO

-firddljlda de quenao temos nas -maos todos os elemenshytos que seram de desejar para a resolu~ao do problema mas isso nao e razao para que nao procu remos reso Ive-Io jS que e necessario que ele seja resolvido Nada mals nos resta portanto do que fazer os p()~srveis do que recoshyIher o maior numero de~ elementosinstrutivos que possashymos do que interprets-los a mais metodicamente que ~E~~~nnos) a fim de reduzirmos aomiddot m inimo as posslbifTdashy

es de erro ~~cgt-2apeJ do peq~go bull Nad(i e mais l~s6rl~_=~~eril do que -esse~puritanismo cientrflco que a pretexto -de que a ciencia nao se encontra conclu rda a~onselha a abstenltao e recomenda aos homens que asshysistam como testemunhas indiferentes ou pelo menos reshy

__-lt0

49

~V~lVlUU1~ tUU~A~AU t MORAL

signadas a marcha dos acontec imen~os A par do sofisma da ignorancia existe 0 sofisma da ciencia que nao e meshynos perigoso Nao ha duvida de que ao actuarmos nesshytascondicoes corremos riscos Mas a accrao nunca e isenshyta de riscosj a cienc ia par muito avanlttada que possa 19 5

tar nao poderia suprimi-los Tudo 0 que de n6s pode ser exigido e que na medida das nossas possibilidades coloshyquemos toda a nossa ciencia por muito imperfeita que ela seja e toda a consciencia que tivermos na prevenerao desses riscos t precisamente nisto que consiste 0 papel da pedagogia

Mas a pedagogia mio tera apenas utilidade nesses perrodos cr rticos em que se torna urgentemente necessashyria harmonizar de novo um sistema escolar com as necesshysidades cla epoca hoje em dia pelo menos a pedagogia transformouse num auxiliar constantemente indispensavel da educacrao

Com efeito se a arte do educador e constiturda antes do mais par instintos e habitos que se tornaram quase instintivos e tOdavia necessaria que a inteligencia deles se nao desvie A reflexao nao poderia fazer-Ihe as vezes mas a arte nao poderia prescindir da reflexao pelo menos a partir do momenta em que as povos atingiram um certo grau de civilizalttao Na realidade uma vez que a personalidade individual se transformou num elemento essencial da cultura intelectual e moral da humanidade o educador deve ter em conta 0 genero de individualidade que ex iste em cada crianltta Ele deve por todos os meios ao seu alcance procurar favorecer 0 seu desenvolvimento Em vel de aplicar a fodas elasde uma forma invariavel a mesma regulamentaC8o impessoal e uniforme 0 educashydor tera pelo contn~rio de variar de diversificar os meshytodos consoanteo temperamento e a aptidao de cada inshyteligencia Mas para poder adaptar com discernimento as praticas educatiyas a diversidade dos casos particulares na---ciue saber quais as suas tendencias quais as razoes dos diferentes processos que as constituem quais os efeishytos que elas produzemnas diferentes circunstancias Neshycessaria se torna numa palavra mante-Iassubmetidas a

(OUCA~AO [ SOCIOLOGIA (-~

~bull --A f~~

reflexao pedagogica JJma educafiao emp rrLea maquina ii8O=-po-ae=ae~~a~ de nao ser compreensiva ~ nil~ladora Par Outroiado a medida que avarlltamos na hlst6rla t a evolushy((80 socialvai-se tornando mats rapidaj uma epoca nao se assemelha aquela que a antesedeu cad a espa~o de temshypo tem a sua fisionomia NOvas carencias e novas ideias surgem incessantemente paragt podermos responder as mu danltas constantes que assim se verificam nas opini6es e noS costumes e preciso que a pr6pria educa~ao se modi fique e por consequenc ia qye se mantenha num estado de maleabilidade que permit~ a mudanlta Ora a unico rneio de impedir que ela caiasob 0 juga do habi to e de genere em automatismo maquinal e imutavel consiste em mante-Ia permanentemente apta por meio da reflexao Qirando 0 educador se apercebe dos metodos que utiliza da sua finalidade e da sua razao de ser encontra-se ern condict0es de os julgar e por consequencia esta habilitashydo a modifica-Ios se acaso se convencer que 0 fim a atingir nao e 0 mesmo ou que os meios a utilizer devem ser dife rentes A ref lexao e por excelenc ia a fa rma anshytag6nica da rotina e a rotinamiddot e 0 obstkulo aos progresshysos nee essar ios

t este 0 motivo pe 10 qual se como diziamos de rcio a pedagogia apenas surge na hist6ria de uma forma

interrni-tente teremos de acrescentar que ela tende proshygressivamente a transformar-se numa functaO continua da vida socia A Idade Media nao necessitava dela Era uma

--epQCa-- de conformismo em que toda a gente pensav8 e sentia da mesma rnaneira em qu~ todos os esp Iritos se apresentavam como que vazados no mesmo molde em que as dissidencias individuais eram raras e alem do mais proscritas A educactao era igualmente impessoal nas esshycolas medievais 0 mestre dirigia-se colectivamente a toshydos os seus alunos sem que Ihe passasse pela mente adeshyquar a sua acerao a natureza de cada um desses alunos Ao mesma tempo a imutabilidade das crenctas fundamenshytais opunha-ie a que 0 sistema educativo evoluisse demashysiada rapidamente Par esses dbis motivos havia pais meshynos necessidade de se ser orientada pelo pensamento peshy

-50 51

SOClOLOGIA EDUCACAO [ MORAL _1(

--------------------------------~

dagogico Na Renascenca porem tudo sa modifiea as personalidades individuais dastacam-se da massa soc ial em que sa encontravam ate en tao abso rv idas e confundidas as esp rritos diversificam-se simultaneamente 0 desenvolshyvimento hist6rieo sofre uma aceleraltao uma nova eivili shyzaltao constitui-se Para corresponder a todas estas modishy I ficacoes a reflexao pedagogica desperta e se bem que nem sempre tenha brrlhado com a mesma cintilancia nunshyca mals voltsriaa extinguir-se par completo

IV - Noentanto para que a reflexao pedagogica posss produzir as efeitos beneficos que dela se devem aguardar tera de se submeter a uma cultura aproprlada

~

1Q Ja vimos que a pedagogia neo e a educaltao e nao poderia faz~r-Ihe as vezes A sua funltao nao consiste em substituir-seia pratica mas slm em orienta-la em esclarece-Ia em auxilhi-Ia se necessariola suprir as lashycunas que nela sa venham a produzir em remediar as inshysuficiencias quenela se verifiquem 0 pedagogo neo tem pais de construir com todos os retalhos um sistema de ensino como sernenhum existisseanteriormente Pelo conshytnirio ele temgue se empenhar antes do mais em comshypreender 0 sist~ma do sew tempo 66 assim ele estani

I I em condicoes de se servir dele com discernimento e de

julgl1r a que de imperfeito nele pode encontrar-se Todavia para P9der compreende-Io nao basta considerashy-10 tal como eie hoje se apresenta ja que esse sistema

ij de educacao e um produto da hist6ria que 56 esta podeI explicar ~ uma verdadeira instituiltao social Poucas coishy

~

I 11 sas existirao mesmo em que a hist6ria do pars se repershy

cuta tao integralmente As esco las francesas traduzemi~I exp rimem 0 esp rrito frances Nao podemos pois compreshy~ ender de forma alguma aquila que elas sao as finalida-~ u des que perseguem se nao soubermos de que e consti shy~ tu ido 0 nosso asp rrito nac ional quais os seus diferen tes ~

elementos quais os que dependem de causas permanentes~ L e profundas aqueles que inversarnente se devem a acshy~ao de facto res mais ov menos acidentais e transit6rios

i I iii questoes estas que somente a analise hist6rica pode resolshy

521 11

[OUCA~AO [ SOCIOLOGIA

-ver Discute-se geralmente para se saber qual olugar que deve caber 6 escola primaria no contexto da nossa orga- niza9aoescolar e na vida geral da sociedade Mas a proshyblema e insoluve se ignorarmos de que maneira se forshymou a nossa organiza~ao escolar de onde derivam as seus caracteres distintivos aquilo que no passado determinou o lugar dado a escola elementar quais as causasque fashyvoreceram ou entravaram a seu desenvolvimento etc

Assim a hist6ria do ensine palo menos do ensino nacional a a- ptimeira das propedeuticas para uma cultura pedag6gica Naturalmente sendo da pedagogia primaria

-que Se trata aa historia do ensino primario que prefeshyrentemente nos interessa conhecer Todavia oevido ao motivo que acabamos de apontar I tal ensino nao poderia destacar-se completamente do sistema escolar mais vasshyto I de que apenas IS parte

2Q Mas este Sjstema escolar nao IS feito unicamenshyte de prlHicas estabelecidas de metodos consagrados peshy10 usa heranl1a do passado~ Nele se encontram alam disshyso tendencias viradas para 0 futuro aspirac6es para um

ideal novo mais ou menos claramente previsto Impo-rta n~oDehecermos bem essas aspiral1oes para podermos a~al I 0 lugar que convira darse-Ihes numa reaiidaweeescolar Ora elas vem expressar-se nas doutrinas pedag6gicas ai hrstoria dessas doutrinas deve pais completar a do enshyt sino

Poder-se-ia crer e certo que para cumprir 0 seu fim util essa hist6ria nao necessita de remontar a um passado muito recuado I podendo sem inconveniente ser muito curta Nao bastara conhecerem-se as teorias entre as quais se dividem as esp rritos dos contemporaneos Toshydas as o4tras as dos seculos anteriores encon tram-se hoshyje uitrapassadase parecem possuir tao somente um inteshyresse de erudilttao

Mas este mode m ismo segundo cremos apenas conshysegue rarificar uma das principais fontes em que se deve alimentar a reflexaopedag6gica

Com efeito as doutrinas mais recentes nao nasceshyrar) ontem j elas encontram-se na sequencia das precedenshy

53

tes sem as quais por compreendidasj e assim as causas determinantes

tm conseguinte

~elas

pouco a pouco de uma corrente

nao podem se r para descobrir pedagogica de

certa importancia torna-sege ralmente necessario recuar bastante no tempo 86 assim estaremos de certo modo seguros de que os novos aspectos que apaixonam a maior parte dos esp fritos nao sao brilhantes improvisaltoes desshytinadas a s090brar rapidamente flO esquecimento Por exemshyplo para podermos compreender a tendencia actual do ensino pelos factos a que podemos chamar realismo peshydag6gico nao basta lirriitarmo-nos a ver como ele se exshyprime neste ou naquele contemporaneo he que remontarshymos ate ao momento em que ele e gerado ou seja aos~

I meados do securo XVIII em Fran9a e porfinais do seshyt culo XVII em certos parses protestantes Palo simplas

facto de se encontrar assim igada as SUCS origens pri shymeiras a pedagogia realista apresentar-se-a sob um oushytro aspecto totalmente diferente aperceber-nos-emos

i melhor de que ela se prende com causas profundas imshy

~i pessoais actuantes em todos os povos daEuropa 8imulshyJi taneamente encontrar~nos-emos nas melhores condicoes

para nos apercebermos de quais sao essas causas e conshy1~ 1 sequentemente para fazermos um ju fzo do verdadei ro al shy

~i cance desse moyimento Por outr~ lado porem essa corshys i rente pedag6gica constituiu-se em oposi~ao a urna corshy1I rente contrarla a do ensino humanista e livresco Logo f s6 poderemos apreciar judiciosamente a primeira desde1i que conhe~amos igualmente a segundaj e ei-nos obrigados

a remontarmos ainda multo mais longe na hist6ria ParaI tli poder oferecer todos os seus frutos essa historia da peshyI

~ dagogia nao deve alias ser separada da hist6ria do enshy

1middot sino Se bem que as posiltao ambas sao tra Isto porque em dependem do estado exacto momento em lado na medida em

tenhamos distinguido durante a exshyrealmente solidarias uma com a oushy

cada lapso de tempo as doutr inas do ens ina que elas reflectem no

que contra ele reagem e por outr~ que exercem uma acltao eficaz elas

contribuem para a deteNninacao desse mesmo ensino

54

lUU(A~AO E SOC I OliiG I II I

---reg A cultura pedag6gica deve pois possuir uma base

lamentenlst6rica s6 assim a pedagogia poderc~ furshy--urna cr (tica que Ihe tem sido drigida com freshy

er rtica essa que prejudicou fortemente 0 seu Muitos pedagogos entre os quais se encontram os

ustres tentararn edificar as seus sistemas prescinshyndo daquilo que antes delesexistira 0 tratamento a

que Ponocrates submete ~ Garga~tua ant~s de 0 ini~iar ms metodos recentes e a tal prop6slto slgnlflcatlvo f)1e purifiea-Ihe 0 cerebro com elabore de Anticyre de forma a faze-Io esquecer tudo quanta aprendera com ~sseus antigos preceptoresll

Significava isto numa forshyma aleg6rica que a nova pedagoga nada de comum deshyvia ter com aquela que a anteltedera Mas era ao messhy010 tempo colocar-se a margem das condilt6es da reashyUdade~ A futuro nao pode serevocado do nada uma vez que apenas 0 podemos constru r com as materiais que 0

pa~sado nos legou Urri idea I constru fdo ao ar rep io do estado das co isas existen tes nao e rea lizave I ja que nao radlca na realidade Alias e 6bvio que 0 passado tinha as suas razoes de serj ele nao teria conseguido subsistir se nao tivesse correspondido a carencias leg rtirnas que nao poderiam extinguir-se totalmente de um dia para 0

outro nao se pode pois fazer tao radicalmente da messhyrna Mbua rasa sem se menosprezarem carenc ias vita is

-~ e aqul esta como a pedagogia tem sido 0 mais das ve-II 168 uniifforma de literatura ut6pica Lamentar ramos as ~as as quais tivesse sido rigorosamente aplicado 0 metodo de Rousseau ou de Pestalozzi Nao ha duvida demiddot que assas utopias conseguiram desempenhar um prestimoshyso papel na hist6ria 0 seu pr6prio simplismo permitiushy-has irnpressionar mula-los a acy8o tar ineonvenientes dla-a-dia de que car e orientar a

mais vivamente 05 esp fritos e esti shyMas estas vantagens nao deixam de alem disso para esta pedagogia do

todo 0 professor carece para esclareshysua prcHica quotidiana ha que ter-se

~ns arrebatamento passional e unilateral e palo conshyraro~~_~tHOdOI urn sentimento mais presente da

Iidade e das dificuldades multiplas a que e necessario

55

SOtIOlOGIA [oUCAClo E MORAL

fazer face ~ este sentimento que propiciara uma cultura hist6ria bem entendida

32 S6a hist6ria do ensina e da pedagagia permishyte determfnar os fins que a educarao deve perseguir em cada momento do tempo Mas no que respeite aos meios necessarios a cohcretizayao desses fins I e a pSicologia que se torna necessaria pedi-Ios~

Com efeito 0 ideal pedag6gico de uma epoca exshyprime antes do mais 0 estado da soeiedade na epoca em quastao Mas para que esse ideal se transforme numa realidade torna-se ainda necessario que ao meSmo saja adaptada a consciencia da crianya Ora a consciencia possui as suas leis pr6prias que e necessario conheeer para que as possamos modifiear se pelo menos pretenshydemos evitar tanto quanto possrvel as tentativas emp rrishycas que a pedagogia tem precisamente por objectiv~ reshyduzir ao m fnimo Para podermos estimular a aetividade a desenvolver-se em determinado sentido temos ainda que saber quais sao os impulsos que a movem e qual a sua natureza ja que 56 assim sera possrvel aplicar-Ihe com conhecimento de causa a aC(fao conveniente~ Trata-se por examplo I demiddot despertar 0 amor pela patria ou 0 senshytido da humanidade Saberemos tanto melhor modelar a sensibilidade moraldos alunos am qualquer dos sentishydos quanta mais completas e precisas forem as nocoes que tivermos ~cerca do conjunto de fen6menos a que chashymamos inclinaci5es habitos apetencias emo(foes etc ace rca das diverses condi(foes de que os mesmos depenshydem kerea de forma com que na crianca se apresentam Consoante vejamos nas tendencias um produto das expeshyrieneias agradaveis ou desagradaveis que a esplkie conshyseguiu fazer ou entao pelo contrario um facto primitivo anterior aos estados afectivos que acompanham 0 seu funshycionamento deveremos proceder de formas muito diferenshytes para regulafmos 0 seu func ionamento Ora e a psishycologia mals especialmente a pSicologia infantil que compete resolVer estas questoes Se por conseguinte ela for incompetent~ para fixar a finalidade - ja que a finaliCiade varia consoante os estados sociais - nao ha dushy

EOUCACAO [ SOCIOlOGIA

vida de que ela nao tem um papel util a desempenhar na constituicao dos metodos Afem disso como nenhum meshytOcto--pode ser aprieado -de igual modo as diferentes erianshycas e ainda a psicologia que deveria auxiliar-nos a reshyconhecermo-nos no meio da diversidade das inte ligene ias e dos caraeteres Sabemos infelizmente que ainda estashymos longe do momenta em que ela estara verdadeiramenshyte em condic5es de satisfazer este desiderata

Existe um aspecto da pSicologia que para 0 pedashygogo possui uma importaneia muito particular e a psishycologia colectiva Na rea Ii dade uma turma e uma pequeshy

ria sociedade e torna-se necessario nao a orientar coma sa se tratasse de um simples agtomerado de sujeitos inshydependentes uns dos outros As crianyas de uma turma pensam sentem e agem de uma forma diferente de que quando se eneontram isoladas Numa sala de aulas produshyzem-se fen6menos de contagio de desmoralizaqao eotecshytiva de sobreexcita(fao mutua de efervescencia salutar que se torne necessario discernir a tim de prevenir e combater uns de uti lizar os outros~ Seguramente esta ciencia ainda se encontra em plena infaneia~ Existe toshydavia a partir de agora um carto nLimero de propostas que importa nao ignorer

Tais sao as prlncipais discipllnas que podam despershytar e cultivar a reflexao pedag6gica Em vez de proeurarshymos promulgar para a pedagogia urn c6digo abstracto oe regras met6dicas empreendimento que nurn processo de especu lacao tao composito e Hio comp lexo nao pode de algum modo realizar-se de uma forma satisfat6ria shyafigurou-se-nos preferrvel indicarmos a maneira segundo a qual nos pareee que 0 pedagogo devia sar instru fdo Uma certa atitude do esprrito face aos problemas que Ihe compete resolver I encontra-se por isso mesmo detershyminada

56 57

Page 7: Sociologia, Educação e Moral de Émile Durkheim

( MORAL EOUCACAO E SOCIOLOGIASOCIOlOGIA

quais ela vai buscar as suas nocoes fundamentais Ora em que ciencias poqera apoiar-sa a pedagogia Deveria antes Jlo mais existir a ciencia ds educacao Isto porque para sabermos aquilo que a educacrBo deve ser terramos que saber antes do mais qual a sua natureza quais as condicoes diversas de que depende as leis segundo as quais ela evoluiu na hist6ria Mas a cieneia da educacao apenas existe como projecto Aestam par um lado os outros ramos da sociologia que poderiam auxiliar a pedashygogia a fixar a finalidade da educalttao com a orientashy9$0 geraldos metodosj por outro Jado a psieofogia cushyjos ensinamentos poderiam ser de grande utilidade para a determina~ao porrnenorizada dos processos pedag6gicos Mas a sociologia nao passa de urna cieneia que esta desshypontando ela contara com um reduzidrssimo numero de proposicoes se acaso algumas houver A pr6pria psicoloshygia apesar de haver side constiturda mais cedo do que as ciencias sociais e 0 objecto de todoo genero de conshytroversias nao ha questoes pSicol6gicas sobre as quais nao se verifiquern ainda as teses mais divergentes Assim de que podem valier as conclusoes praticas que se fundashymentam em dados cientrficos simultaneamente tao inshycertos e tao incompletos De que vale uma especula~ao pedag6gica que~arece de todas as bases ou cujas bases quando se neo encontram totalmente ausentes carecem de solidez bullbull

0 facto q~e assim invocamos para negar qualquer credito a pedag6gia e em si mesmo incontestavel t certo que a ciencia da educacrao se encontra totalmente por fazer que a sociologia e a pSicologia se encontram ainda bem Poucoevolurdas Se por conseguinte nos fosse permitido aguard~r seria prudente e met6dico esperarmos pacientemente ate que essas cienc las tivessem progreshydido e pudessen-ser utilizadas mais seguramente Mas dashy-se 0 caso de precisamente a pacienc ia neo nos sar pershymitida NBo noskssiste a liberdade de pormos a problema a n6s mesmos ou de 0 adiarmos i 0 problema a-nos posto ou melhor impasto pe~~os proprios factos e pele nacessishydade de viver Aquestao naD esta completa encontramoshy

48

-noS envolvidos ne Is e he que prosseguir Em muitos ponshytos 0 nosso sistema tradicional de educ8ifao ja se neo har~oniza com os nossoS ideais e as nossas necassidades Temas poiS tao somente de optlr por uma das duas soshylut0es seguintes ou procurar manter mesmo assim as pnHicas que 0 passado nos legou I se bem que as mesmas nao correspondam mais as exigencias da si tualteo au enshytao tenter resa lutamente restabelecer a harmonia pershyturbada procurando encontrar as modificac6es necessarias Destas duas solU90eS a primeira e irrealizavel e neo poshyde ser levada a cabo Nada de mais ilus6rio do que esshytas tentatlvas para darem uma vida artificial e uma autoshyrldade aparente a instituicroes caducas e desacreditadas o fracasso e inevitavel Neo se podem abafar as ideias que estas instituilt5es contradlzem como se nao podem fazer calar as carencias que elas ofendem As for~as conshytra as quais empreendemos esh luta nao podem deixar de triunfar

Nada mais nos resta pais do que meter corajosashymente maos a obra I do que procurar as modifica~oes que se impoem e rea liza-Ias Mas como descobri-Ias se neo por meio da reflexao S6 a consciencia reflectida e cashypaz de suprir as lacunas da tradicrao quando esta vem a faltar Ora que e a pedagogiasen~o a reflexao aplishy~S~J9Jnais m~todicament~p~ssrve I as coisas aaeaushyca~ao) com vista a regularizar-lhes 0 desenvolvimento NaO

-firddljlda de quenao temos nas -maos todos os elemenshytos que seram de desejar para a resolu~ao do problema mas isso nao e razao para que nao procu remos reso Ive-Io jS que e necessario que ele seja resolvido Nada mals nos resta portanto do que fazer os p()~srveis do que recoshyIher o maior numero de~ elementosinstrutivos que possashymos do que interprets-los a mais metodicamente que ~E~~~nnos) a fim de reduzirmos aomiddot m inimo as posslbifTdashy

es de erro ~~cgt-2apeJ do peq~go bull Nad(i e mais l~s6rl~_=~~eril do que -esse~puritanismo cientrflco que a pretexto -de que a ciencia nao se encontra conclu rda a~onselha a abstenltao e recomenda aos homens que asshysistam como testemunhas indiferentes ou pelo menos reshy

__-lt0

49

~V~lVlUU1~ tUU~A~AU t MORAL

signadas a marcha dos acontec imen~os A par do sofisma da ignorancia existe 0 sofisma da ciencia que nao e meshynos perigoso Nao ha duvida de que ao actuarmos nesshytascondicoes corremos riscos Mas a accrao nunca e isenshyta de riscosj a cienc ia par muito avanlttada que possa 19 5

tar nao poderia suprimi-los Tudo 0 que de n6s pode ser exigido e que na medida das nossas possibilidades coloshyquemos toda a nossa ciencia por muito imperfeita que ela seja e toda a consciencia que tivermos na prevenerao desses riscos t precisamente nisto que consiste 0 papel da pedagogia

Mas a pedagogia mio tera apenas utilidade nesses perrodos cr rticos em que se torna urgentemente necessashyria harmonizar de novo um sistema escolar com as necesshysidades cla epoca hoje em dia pelo menos a pedagogia transformouse num auxiliar constantemente indispensavel da educacrao

Com efeito se a arte do educador e constiturda antes do mais par instintos e habitos que se tornaram quase instintivos e tOdavia necessaria que a inteligencia deles se nao desvie A reflexao nao poderia fazer-Ihe as vezes mas a arte nao poderia prescindir da reflexao pelo menos a partir do momenta em que as povos atingiram um certo grau de civilizalttao Na realidade uma vez que a personalidade individual se transformou num elemento essencial da cultura intelectual e moral da humanidade o educador deve ter em conta 0 genero de individualidade que ex iste em cada crianltta Ele deve por todos os meios ao seu alcance procurar favorecer 0 seu desenvolvimento Em vel de aplicar a fodas elasde uma forma invariavel a mesma regulamentaC8o impessoal e uniforme 0 educashydor tera pelo contn~rio de variar de diversificar os meshytodos consoanteo temperamento e a aptidao de cada inshyteligencia Mas para poder adaptar com discernimento as praticas educatiyas a diversidade dos casos particulares na---ciue saber quais as suas tendencias quais as razoes dos diferentes processos que as constituem quais os efeishytos que elas produzemnas diferentes circunstancias Neshycessaria se torna numa palavra mante-Iassubmetidas a

(OUCA~AO [ SOCIOLOGIA (-~

~bull --A f~~

reflexao pedagogica JJma educafiao emp rrLea maquina ii8O=-po-ae=ae~~a~ de nao ser compreensiva ~ nil~ladora Par Outroiado a medida que avarlltamos na hlst6rla t a evolushy((80 socialvai-se tornando mats rapidaj uma epoca nao se assemelha aquela que a antesedeu cad a espa~o de temshypo tem a sua fisionomia NOvas carencias e novas ideias surgem incessantemente paragt podermos responder as mu danltas constantes que assim se verificam nas opini6es e noS costumes e preciso que a pr6pria educa~ao se modi fique e por consequenc ia qye se mantenha num estado de maleabilidade que permit~ a mudanlta Ora a unico rneio de impedir que ela caiasob 0 juga do habi to e de genere em automatismo maquinal e imutavel consiste em mante-Ia permanentemente apta por meio da reflexao Qirando 0 educador se apercebe dos metodos que utiliza da sua finalidade e da sua razao de ser encontra-se ern condict0es de os julgar e por consequencia esta habilitashydo a modifica-Ios se acaso se convencer que 0 fim a atingir nao e 0 mesmo ou que os meios a utilizer devem ser dife rentes A ref lexao e por excelenc ia a fa rma anshytag6nica da rotina e a rotinamiddot e 0 obstkulo aos progresshysos nee essar ios

t este 0 motivo pe 10 qual se como diziamos de rcio a pedagogia apenas surge na hist6ria de uma forma

interrni-tente teremos de acrescentar que ela tende proshygressivamente a transformar-se numa functaO continua da vida socia A Idade Media nao necessitava dela Era uma

--epQCa-- de conformismo em que toda a gente pensav8 e sentia da mesma rnaneira em qu~ todos os esp Iritos se apresentavam como que vazados no mesmo molde em que as dissidencias individuais eram raras e alem do mais proscritas A educactao era igualmente impessoal nas esshycolas medievais 0 mestre dirigia-se colectivamente a toshydos os seus alunos sem que Ihe passasse pela mente adeshyquar a sua acerao a natureza de cada um desses alunos Ao mesma tempo a imutabilidade das crenctas fundamenshytais opunha-ie a que 0 sistema educativo evoluisse demashysiada rapidamente Par esses dbis motivos havia pais meshynos necessidade de se ser orientada pelo pensamento peshy

-50 51

SOClOLOGIA EDUCACAO [ MORAL _1(

--------------------------------~

dagogico Na Renascenca porem tudo sa modifiea as personalidades individuais dastacam-se da massa soc ial em que sa encontravam ate en tao abso rv idas e confundidas as esp rritos diversificam-se simultaneamente 0 desenvolshyvimento hist6rieo sofre uma aceleraltao uma nova eivili shyzaltao constitui-se Para corresponder a todas estas modishy I ficacoes a reflexao pedagogica desperta e se bem que nem sempre tenha brrlhado com a mesma cintilancia nunshyca mals voltsriaa extinguir-se par completo

IV - Noentanto para que a reflexao pedagogica posss produzir as efeitos beneficos que dela se devem aguardar tera de se submeter a uma cultura aproprlada

~

1Q Ja vimos que a pedagogia neo e a educaltao e nao poderia faz~r-Ihe as vezes A sua funltao nao consiste em substituir-seia pratica mas slm em orienta-la em esclarece-Ia em auxilhi-Ia se necessariola suprir as lashycunas que nela sa venham a produzir em remediar as inshysuficiencias quenela se verifiquem 0 pedagogo neo tem pais de construir com todos os retalhos um sistema de ensino como sernenhum existisseanteriormente Pelo conshytnirio ele temgue se empenhar antes do mais em comshypreender 0 sist~ma do sew tempo 66 assim ele estani

I I em condicoes de se servir dele com discernimento e de

julgl1r a que de imperfeito nele pode encontrar-se Todavia para P9der compreende-Io nao basta considerashy-10 tal como eie hoje se apresenta ja que esse sistema

ij de educacao e um produto da hist6ria que 56 esta podeI explicar ~ uma verdadeira instituiltao social Poucas coishy

~

I 11 sas existirao mesmo em que a hist6ria do pars se repershy

cuta tao integralmente As esco las francesas traduzemi~I exp rimem 0 esp rrito frances Nao podemos pois compreshy~ ender de forma alguma aquila que elas sao as finalida-~ u des que perseguem se nao soubermos de que e consti shy~ tu ido 0 nosso asp rrito nac ional quais os seus diferen tes ~

elementos quais os que dependem de causas permanentes~ L e profundas aqueles que inversarnente se devem a acshy~ao de facto res mais ov menos acidentais e transit6rios

i I iii questoes estas que somente a analise hist6rica pode resolshy

521 11

[OUCA~AO [ SOCIOLOGIA

-ver Discute-se geralmente para se saber qual olugar que deve caber 6 escola primaria no contexto da nossa orga- niza9aoescolar e na vida geral da sociedade Mas a proshyblema e insoluve se ignorarmos de que maneira se forshymou a nossa organiza~ao escolar de onde derivam as seus caracteres distintivos aquilo que no passado determinou o lugar dado a escola elementar quais as causasque fashyvoreceram ou entravaram a seu desenvolvimento etc

Assim a hist6ria do ensine palo menos do ensino nacional a a- ptimeira das propedeuticas para uma cultura pedag6gica Naturalmente sendo da pedagogia primaria

-que Se trata aa historia do ensino primario que prefeshyrentemente nos interessa conhecer Todavia oevido ao motivo que acabamos de apontar I tal ensino nao poderia destacar-se completamente do sistema escolar mais vasshyto I de que apenas IS parte

2Q Mas este Sjstema escolar nao IS feito unicamenshyte de prlHicas estabelecidas de metodos consagrados peshy10 usa heranl1a do passado~ Nele se encontram alam disshyso tendencias viradas para 0 futuro aspirac6es para um

ideal novo mais ou menos claramente previsto Impo-rta n~oDehecermos bem essas aspiral1oes para podermos a~al I 0 lugar que convira darse-Ihes numa reaiidaweeescolar Ora elas vem expressar-se nas doutrinas pedag6gicas ai hrstoria dessas doutrinas deve pais completar a do enshyt sino

Poder-se-ia crer e certo que para cumprir 0 seu fim util essa hist6ria nao necessita de remontar a um passado muito recuado I podendo sem inconveniente ser muito curta Nao bastara conhecerem-se as teorias entre as quais se dividem as esp rritos dos contemporaneos Toshydas as o4tras as dos seculos anteriores encon tram-se hoshyje uitrapassadase parecem possuir tao somente um inteshyresse de erudilttao

Mas este mode m ismo segundo cremos apenas conshysegue rarificar uma das principais fontes em que se deve alimentar a reflexaopedag6gica

Com efeito as doutrinas mais recentes nao nasceshyrar) ontem j elas encontram-se na sequencia das precedenshy

53

tes sem as quais por compreendidasj e assim as causas determinantes

tm conseguinte

~elas

pouco a pouco de uma corrente

nao podem se r para descobrir pedagogica de

certa importancia torna-sege ralmente necessario recuar bastante no tempo 86 assim estaremos de certo modo seguros de que os novos aspectos que apaixonam a maior parte dos esp fritos nao sao brilhantes improvisaltoes desshytinadas a s090brar rapidamente flO esquecimento Por exemshyplo para podermos compreender a tendencia actual do ensino pelos factos a que podemos chamar realismo peshydag6gico nao basta lirriitarmo-nos a ver como ele se exshyprime neste ou naquele contemporaneo he que remontarshymos ate ao momento em que ele e gerado ou seja aos~

I meados do securo XVIII em Fran9a e porfinais do seshyt culo XVII em certos parses protestantes Palo simplas

facto de se encontrar assim igada as SUCS origens pri shymeiras a pedagogia realista apresentar-se-a sob um oushytro aspecto totalmente diferente aperceber-nos-emos

i melhor de que ela se prende com causas profundas imshy

~i pessoais actuantes em todos os povos daEuropa 8imulshyJi taneamente encontrar~nos-emos nas melhores condicoes

para nos apercebermos de quais sao essas causas e conshy1~ 1 sequentemente para fazermos um ju fzo do verdadei ro al shy

~i cance desse moyimento Por outr~ lado porem essa corshys i rente pedag6gica constituiu-se em oposi~ao a urna corshy1I rente contrarla a do ensino humanista e livresco Logo f s6 poderemos apreciar judiciosamente a primeira desde1i que conhe~amos igualmente a segundaj e ei-nos obrigados

a remontarmos ainda multo mais longe na hist6ria ParaI tli poder oferecer todos os seus frutos essa historia da peshyI

~ dagogia nao deve alias ser separada da hist6ria do enshy

1middot sino Se bem que as posiltao ambas sao tra Isto porque em dependem do estado exacto momento em lado na medida em

tenhamos distinguido durante a exshyrealmente solidarias uma com a oushy

cada lapso de tempo as doutr inas do ens ina que elas reflectem no

que contra ele reagem e por outr~ que exercem uma acltao eficaz elas

contribuem para a deteNninacao desse mesmo ensino

54

lUU(A~AO E SOC I OliiG I II I

---reg A cultura pedag6gica deve pois possuir uma base

lamentenlst6rica s6 assim a pedagogia poderc~ furshy--urna cr (tica que Ihe tem sido drigida com freshy

er rtica essa que prejudicou fortemente 0 seu Muitos pedagogos entre os quais se encontram os

ustres tentararn edificar as seus sistemas prescinshyndo daquilo que antes delesexistira 0 tratamento a

que Ponocrates submete ~ Garga~tua ant~s de 0 ini~iar ms metodos recentes e a tal prop6slto slgnlflcatlvo f)1e purifiea-Ihe 0 cerebro com elabore de Anticyre de forma a faze-Io esquecer tudo quanta aprendera com ~sseus antigos preceptoresll

Significava isto numa forshyma aleg6rica que a nova pedagoga nada de comum deshyvia ter com aquela que a anteltedera Mas era ao messhy010 tempo colocar-se a margem das condilt6es da reashyUdade~ A futuro nao pode serevocado do nada uma vez que apenas 0 podemos constru r com as materiais que 0

pa~sado nos legou Urri idea I constru fdo ao ar rep io do estado das co isas existen tes nao e rea lizave I ja que nao radlca na realidade Alias e 6bvio que 0 passado tinha as suas razoes de serj ele nao teria conseguido subsistir se nao tivesse correspondido a carencias leg rtirnas que nao poderiam extinguir-se totalmente de um dia para 0

outro nao se pode pois fazer tao radicalmente da messhyrna Mbua rasa sem se menosprezarem carenc ias vita is

-~ e aqul esta como a pedagogia tem sido 0 mais das ve-II 168 uniifforma de literatura ut6pica Lamentar ramos as ~as as quais tivesse sido rigorosamente aplicado 0 metodo de Rousseau ou de Pestalozzi Nao ha duvida demiddot que assas utopias conseguiram desempenhar um prestimoshyso papel na hist6ria 0 seu pr6prio simplismo permitiushy-has irnpressionar mula-los a acy8o tar ineonvenientes dla-a-dia de que car e orientar a

mais vivamente 05 esp fritos e esti shyMas estas vantagens nao deixam de alem disso para esta pedagogia do

todo 0 professor carece para esclareshysua prcHica quotidiana ha que ter-se

~ns arrebatamento passional e unilateral e palo conshyraro~~_~tHOdOI urn sentimento mais presente da

Iidade e das dificuldades multiplas a que e necessario

55

SOtIOlOGIA [oUCAClo E MORAL

fazer face ~ este sentimento que propiciara uma cultura hist6ria bem entendida

32 S6a hist6ria do ensina e da pedagagia permishyte determfnar os fins que a educarao deve perseguir em cada momento do tempo Mas no que respeite aos meios necessarios a cohcretizayao desses fins I e a pSicologia que se torna necessaria pedi-Ios~

Com efeito 0 ideal pedag6gico de uma epoca exshyprime antes do mais 0 estado da soeiedade na epoca em quastao Mas para que esse ideal se transforme numa realidade torna-se ainda necessario que ao meSmo saja adaptada a consciencia da crianya Ora a consciencia possui as suas leis pr6prias que e necessario conheeer para que as possamos modifiear se pelo menos pretenshydemos evitar tanto quanto possrvel as tentativas emp rrishycas que a pedagogia tem precisamente por objectiv~ reshyduzir ao m fnimo Para podermos estimular a aetividade a desenvolver-se em determinado sentido temos ainda que saber quais sao os impulsos que a movem e qual a sua natureza ja que 56 assim sera possrvel aplicar-Ihe com conhecimento de causa a aC(fao conveniente~ Trata-se por examplo I demiddot despertar 0 amor pela patria ou 0 senshytido da humanidade Saberemos tanto melhor modelar a sensibilidade moraldos alunos am qualquer dos sentishydos quanta mais completas e precisas forem as nocoes que tivermos ~cerca do conjunto de fen6menos a que chashymamos inclinaci5es habitos apetencias emo(foes etc ace rca das diverses condi(foes de que os mesmos depenshydem kerea de forma com que na crianca se apresentam Consoante vejamos nas tendencias um produto das expeshyrieneias agradaveis ou desagradaveis que a esplkie conshyseguiu fazer ou entao pelo contrario um facto primitivo anterior aos estados afectivos que acompanham 0 seu funshycionamento deveremos proceder de formas muito diferenshytes para regulafmos 0 seu func ionamento Ora e a psishycologia mals especialmente a pSicologia infantil que compete resolVer estas questoes Se por conseguinte ela for incompetent~ para fixar a finalidade - ja que a finaliCiade varia consoante os estados sociais - nao ha dushy

EOUCACAO [ SOCIOlOGIA

vida de que ela nao tem um papel util a desempenhar na constituicao dos metodos Afem disso como nenhum meshytOcto--pode ser aprieado -de igual modo as diferentes erianshycas e ainda a psicologia que deveria auxiliar-nos a reshyconhecermo-nos no meio da diversidade das inte ligene ias e dos caraeteres Sabemos infelizmente que ainda estashymos longe do momenta em que ela estara verdadeiramenshyte em condic5es de satisfazer este desiderata

Existe um aspecto da pSicologia que para 0 pedashygogo possui uma importaneia muito particular e a psishycologia colectiva Na rea Ii dade uma turma e uma pequeshy

ria sociedade e torna-se necessario nao a orientar coma sa se tratasse de um simples agtomerado de sujeitos inshydependentes uns dos outros As crianyas de uma turma pensam sentem e agem de uma forma diferente de que quando se eneontram isoladas Numa sala de aulas produshyzem-se fen6menos de contagio de desmoralizaqao eotecshytiva de sobreexcita(fao mutua de efervescencia salutar que se torne necessario discernir a tim de prevenir e combater uns de uti lizar os outros~ Seguramente esta ciencia ainda se encontra em plena infaneia~ Existe toshydavia a partir de agora um carto nLimero de propostas que importa nao ignorer

Tais sao as prlncipais discipllnas que podam despershytar e cultivar a reflexao pedag6gica Em vez de proeurarshymos promulgar para a pedagogia urn c6digo abstracto oe regras met6dicas empreendimento que nurn processo de especu lacao tao composito e Hio comp lexo nao pode de algum modo realizar-se de uma forma satisfat6ria shyafigurou-se-nos preferrvel indicarmos a maneira segundo a qual nos pareee que 0 pedagogo devia sar instru fdo Uma certa atitude do esprrito face aos problemas que Ihe compete resolver I encontra-se por isso mesmo detershyminada

56 57

Page 8: Sociologia, Educação e Moral de Émile Durkheim

~V~lVlUU1~ tUU~A~AU t MORAL

signadas a marcha dos acontec imen~os A par do sofisma da ignorancia existe 0 sofisma da ciencia que nao e meshynos perigoso Nao ha duvida de que ao actuarmos nesshytascondicoes corremos riscos Mas a accrao nunca e isenshyta de riscosj a cienc ia par muito avanlttada que possa 19 5

tar nao poderia suprimi-los Tudo 0 que de n6s pode ser exigido e que na medida das nossas possibilidades coloshyquemos toda a nossa ciencia por muito imperfeita que ela seja e toda a consciencia que tivermos na prevenerao desses riscos t precisamente nisto que consiste 0 papel da pedagogia

Mas a pedagogia mio tera apenas utilidade nesses perrodos cr rticos em que se torna urgentemente necessashyria harmonizar de novo um sistema escolar com as necesshysidades cla epoca hoje em dia pelo menos a pedagogia transformouse num auxiliar constantemente indispensavel da educacrao

Com efeito se a arte do educador e constiturda antes do mais par instintos e habitos que se tornaram quase instintivos e tOdavia necessaria que a inteligencia deles se nao desvie A reflexao nao poderia fazer-Ihe as vezes mas a arte nao poderia prescindir da reflexao pelo menos a partir do momenta em que as povos atingiram um certo grau de civilizalttao Na realidade uma vez que a personalidade individual se transformou num elemento essencial da cultura intelectual e moral da humanidade o educador deve ter em conta 0 genero de individualidade que ex iste em cada crianltta Ele deve por todos os meios ao seu alcance procurar favorecer 0 seu desenvolvimento Em vel de aplicar a fodas elasde uma forma invariavel a mesma regulamentaC8o impessoal e uniforme 0 educashydor tera pelo contn~rio de variar de diversificar os meshytodos consoanteo temperamento e a aptidao de cada inshyteligencia Mas para poder adaptar com discernimento as praticas educatiyas a diversidade dos casos particulares na---ciue saber quais as suas tendencias quais as razoes dos diferentes processos que as constituem quais os efeishytos que elas produzemnas diferentes circunstancias Neshycessaria se torna numa palavra mante-Iassubmetidas a

(OUCA~AO [ SOCIOLOGIA (-~

~bull --A f~~

reflexao pedagogica JJma educafiao emp rrLea maquina ii8O=-po-ae=ae~~a~ de nao ser compreensiva ~ nil~ladora Par Outroiado a medida que avarlltamos na hlst6rla t a evolushy((80 socialvai-se tornando mats rapidaj uma epoca nao se assemelha aquela que a antesedeu cad a espa~o de temshypo tem a sua fisionomia NOvas carencias e novas ideias surgem incessantemente paragt podermos responder as mu danltas constantes que assim se verificam nas opini6es e noS costumes e preciso que a pr6pria educa~ao se modi fique e por consequenc ia qye se mantenha num estado de maleabilidade que permit~ a mudanlta Ora a unico rneio de impedir que ela caiasob 0 juga do habi to e de genere em automatismo maquinal e imutavel consiste em mante-Ia permanentemente apta por meio da reflexao Qirando 0 educador se apercebe dos metodos que utiliza da sua finalidade e da sua razao de ser encontra-se ern condict0es de os julgar e por consequencia esta habilitashydo a modifica-Ios se acaso se convencer que 0 fim a atingir nao e 0 mesmo ou que os meios a utilizer devem ser dife rentes A ref lexao e por excelenc ia a fa rma anshytag6nica da rotina e a rotinamiddot e 0 obstkulo aos progresshysos nee essar ios

t este 0 motivo pe 10 qual se como diziamos de rcio a pedagogia apenas surge na hist6ria de uma forma

interrni-tente teremos de acrescentar que ela tende proshygressivamente a transformar-se numa functaO continua da vida socia A Idade Media nao necessitava dela Era uma

--epQCa-- de conformismo em que toda a gente pensav8 e sentia da mesma rnaneira em qu~ todos os esp Iritos se apresentavam como que vazados no mesmo molde em que as dissidencias individuais eram raras e alem do mais proscritas A educactao era igualmente impessoal nas esshycolas medievais 0 mestre dirigia-se colectivamente a toshydos os seus alunos sem que Ihe passasse pela mente adeshyquar a sua acerao a natureza de cada um desses alunos Ao mesma tempo a imutabilidade das crenctas fundamenshytais opunha-ie a que 0 sistema educativo evoluisse demashysiada rapidamente Par esses dbis motivos havia pais meshynos necessidade de se ser orientada pelo pensamento peshy

-50 51

SOClOLOGIA EDUCACAO [ MORAL _1(

--------------------------------~

dagogico Na Renascenca porem tudo sa modifiea as personalidades individuais dastacam-se da massa soc ial em que sa encontravam ate en tao abso rv idas e confundidas as esp rritos diversificam-se simultaneamente 0 desenvolshyvimento hist6rieo sofre uma aceleraltao uma nova eivili shyzaltao constitui-se Para corresponder a todas estas modishy I ficacoes a reflexao pedagogica desperta e se bem que nem sempre tenha brrlhado com a mesma cintilancia nunshyca mals voltsriaa extinguir-se par completo

IV - Noentanto para que a reflexao pedagogica posss produzir as efeitos beneficos que dela se devem aguardar tera de se submeter a uma cultura aproprlada

~

1Q Ja vimos que a pedagogia neo e a educaltao e nao poderia faz~r-Ihe as vezes A sua funltao nao consiste em substituir-seia pratica mas slm em orienta-la em esclarece-Ia em auxilhi-Ia se necessariola suprir as lashycunas que nela sa venham a produzir em remediar as inshysuficiencias quenela se verifiquem 0 pedagogo neo tem pais de construir com todos os retalhos um sistema de ensino como sernenhum existisseanteriormente Pelo conshytnirio ele temgue se empenhar antes do mais em comshypreender 0 sist~ma do sew tempo 66 assim ele estani

I I em condicoes de se servir dele com discernimento e de

julgl1r a que de imperfeito nele pode encontrar-se Todavia para P9der compreende-Io nao basta considerashy-10 tal como eie hoje se apresenta ja que esse sistema

ij de educacao e um produto da hist6ria que 56 esta podeI explicar ~ uma verdadeira instituiltao social Poucas coishy

~

I 11 sas existirao mesmo em que a hist6ria do pars se repershy

cuta tao integralmente As esco las francesas traduzemi~I exp rimem 0 esp rrito frances Nao podemos pois compreshy~ ender de forma alguma aquila que elas sao as finalida-~ u des que perseguem se nao soubermos de que e consti shy~ tu ido 0 nosso asp rrito nac ional quais os seus diferen tes ~

elementos quais os que dependem de causas permanentes~ L e profundas aqueles que inversarnente se devem a acshy~ao de facto res mais ov menos acidentais e transit6rios

i I iii questoes estas que somente a analise hist6rica pode resolshy

521 11

[OUCA~AO [ SOCIOLOGIA

-ver Discute-se geralmente para se saber qual olugar que deve caber 6 escola primaria no contexto da nossa orga- niza9aoescolar e na vida geral da sociedade Mas a proshyblema e insoluve se ignorarmos de que maneira se forshymou a nossa organiza~ao escolar de onde derivam as seus caracteres distintivos aquilo que no passado determinou o lugar dado a escola elementar quais as causasque fashyvoreceram ou entravaram a seu desenvolvimento etc

Assim a hist6ria do ensine palo menos do ensino nacional a a- ptimeira das propedeuticas para uma cultura pedag6gica Naturalmente sendo da pedagogia primaria

-que Se trata aa historia do ensino primario que prefeshyrentemente nos interessa conhecer Todavia oevido ao motivo que acabamos de apontar I tal ensino nao poderia destacar-se completamente do sistema escolar mais vasshyto I de que apenas IS parte

2Q Mas este Sjstema escolar nao IS feito unicamenshyte de prlHicas estabelecidas de metodos consagrados peshy10 usa heranl1a do passado~ Nele se encontram alam disshyso tendencias viradas para 0 futuro aspirac6es para um

ideal novo mais ou menos claramente previsto Impo-rta n~oDehecermos bem essas aspiral1oes para podermos a~al I 0 lugar que convira darse-Ihes numa reaiidaweeescolar Ora elas vem expressar-se nas doutrinas pedag6gicas ai hrstoria dessas doutrinas deve pais completar a do enshyt sino

Poder-se-ia crer e certo que para cumprir 0 seu fim util essa hist6ria nao necessita de remontar a um passado muito recuado I podendo sem inconveniente ser muito curta Nao bastara conhecerem-se as teorias entre as quais se dividem as esp rritos dos contemporaneos Toshydas as o4tras as dos seculos anteriores encon tram-se hoshyje uitrapassadase parecem possuir tao somente um inteshyresse de erudilttao

Mas este mode m ismo segundo cremos apenas conshysegue rarificar uma das principais fontes em que se deve alimentar a reflexaopedag6gica

Com efeito as doutrinas mais recentes nao nasceshyrar) ontem j elas encontram-se na sequencia das precedenshy

53

tes sem as quais por compreendidasj e assim as causas determinantes

tm conseguinte

~elas

pouco a pouco de uma corrente

nao podem se r para descobrir pedagogica de

certa importancia torna-sege ralmente necessario recuar bastante no tempo 86 assim estaremos de certo modo seguros de que os novos aspectos que apaixonam a maior parte dos esp fritos nao sao brilhantes improvisaltoes desshytinadas a s090brar rapidamente flO esquecimento Por exemshyplo para podermos compreender a tendencia actual do ensino pelos factos a que podemos chamar realismo peshydag6gico nao basta lirriitarmo-nos a ver como ele se exshyprime neste ou naquele contemporaneo he que remontarshymos ate ao momento em que ele e gerado ou seja aos~

I meados do securo XVIII em Fran9a e porfinais do seshyt culo XVII em certos parses protestantes Palo simplas

facto de se encontrar assim igada as SUCS origens pri shymeiras a pedagogia realista apresentar-se-a sob um oushytro aspecto totalmente diferente aperceber-nos-emos

i melhor de que ela se prende com causas profundas imshy

~i pessoais actuantes em todos os povos daEuropa 8imulshyJi taneamente encontrar~nos-emos nas melhores condicoes

para nos apercebermos de quais sao essas causas e conshy1~ 1 sequentemente para fazermos um ju fzo do verdadei ro al shy

~i cance desse moyimento Por outr~ lado porem essa corshys i rente pedag6gica constituiu-se em oposi~ao a urna corshy1I rente contrarla a do ensino humanista e livresco Logo f s6 poderemos apreciar judiciosamente a primeira desde1i que conhe~amos igualmente a segundaj e ei-nos obrigados

a remontarmos ainda multo mais longe na hist6ria ParaI tli poder oferecer todos os seus frutos essa historia da peshyI

~ dagogia nao deve alias ser separada da hist6ria do enshy

1middot sino Se bem que as posiltao ambas sao tra Isto porque em dependem do estado exacto momento em lado na medida em

tenhamos distinguido durante a exshyrealmente solidarias uma com a oushy

cada lapso de tempo as doutr inas do ens ina que elas reflectem no

que contra ele reagem e por outr~ que exercem uma acltao eficaz elas

contribuem para a deteNninacao desse mesmo ensino

54

lUU(A~AO E SOC I OliiG I II I

---reg A cultura pedag6gica deve pois possuir uma base

lamentenlst6rica s6 assim a pedagogia poderc~ furshy--urna cr (tica que Ihe tem sido drigida com freshy

er rtica essa que prejudicou fortemente 0 seu Muitos pedagogos entre os quais se encontram os

ustres tentararn edificar as seus sistemas prescinshyndo daquilo que antes delesexistira 0 tratamento a

que Ponocrates submete ~ Garga~tua ant~s de 0 ini~iar ms metodos recentes e a tal prop6slto slgnlflcatlvo f)1e purifiea-Ihe 0 cerebro com elabore de Anticyre de forma a faze-Io esquecer tudo quanta aprendera com ~sseus antigos preceptoresll

Significava isto numa forshyma aleg6rica que a nova pedagoga nada de comum deshyvia ter com aquela que a anteltedera Mas era ao messhy010 tempo colocar-se a margem das condilt6es da reashyUdade~ A futuro nao pode serevocado do nada uma vez que apenas 0 podemos constru r com as materiais que 0

pa~sado nos legou Urri idea I constru fdo ao ar rep io do estado das co isas existen tes nao e rea lizave I ja que nao radlca na realidade Alias e 6bvio que 0 passado tinha as suas razoes de serj ele nao teria conseguido subsistir se nao tivesse correspondido a carencias leg rtirnas que nao poderiam extinguir-se totalmente de um dia para 0

outro nao se pode pois fazer tao radicalmente da messhyrna Mbua rasa sem se menosprezarem carenc ias vita is

-~ e aqul esta como a pedagogia tem sido 0 mais das ve-II 168 uniifforma de literatura ut6pica Lamentar ramos as ~as as quais tivesse sido rigorosamente aplicado 0 metodo de Rousseau ou de Pestalozzi Nao ha duvida demiddot que assas utopias conseguiram desempenhar um prestimoshyso papel na hist6ria 0 seu pr6prio simplismo permitiushy-has irnpressionar mula-los a acy8o tar ineonvenientes dla-a-dia de que car e orientar a

mais vivamente 05 esp fritos e esti shyMas estas vantagens nao deixam de alem disso para esta pedagogia do

todo 0 professor carece para esclareshysua prcHica quotidiana ha que ter-se

~ns arrebatamento passional e unilateral e palo conshyraro~~_~tHOdOI urn sentimento mais presente da

Iidade e das dificuldades multiplas a que e necessario

55

SOtIOlOGIA [oUCAClo E MORAL

fazer face ~ este sentimento que propiciara uma cultura hist6ria bem entendida

32 S6a hist6ria do ensina e da pedagagia permishyte determfnar os fins que a educarao deve perseguir em cada momento do tempo Mas no que respeite aos meios necessarios a cohcretizayao desses fins I e a pSicologia que se torna necessaria pedi-Ios~

Com efeito 0 ideal pedag6gico de uma epoca exshyprime antes do mais 0 estado da soeiedade na epoca em quastao Mas para que esse ideal se transforme numa realidade torna-se ainda necessario que ao meSmo saja adaptada a consciencia da crianya Ora a consciencia possui as suas leis pr6prias que e necessario conheeer para que as possamos modifiear se pelo menos pretenshydemos evitar tanto quanto possrvel as tentativas emp rrishycas que a pedagogia tem precisamente por objectiv~ reshyduzir ao m fnimo Para podermos estimular a aetividade a desenvolver-se em determinado sentido temos ainda que saber quais sao os impulsos que a movem e qual a sua natureza ja que 56 assim sera possrvel aplicar-Ihe com conhecimento de causa a aC(fao conveniente~ Trata-se por examplo I demiddot despertar 0 amor pela patria ou 0 senshytido da humanidade Saberemos tanto melhor modelar a sensibilidade moraldos alunos am qualquer dos sentishydos quanta mais completas e precisas forem as nocoes que tivermos ~cerca do conjunto de fen6menos a que chashymamos inclinaci5es habitos apetencias emo(foes etc ace rca das diverses condi(foes de que os mesmos depenshydem kerea de forma com que na crianca se apresentam Consoante vejamos nas tendencias um produto das expeshyrieneias agradaveis ou desagradaveis que a esplkie conshyseguiu fazer ou entao pelo contrario um facto primitivo anterior aos estados afectivos que acompanham 0 seu funshycionamento deveremos proceder de formas muito diferenshytes para regulafmos 0 seu func ionamento Ora e a psishycologia mals especialmente a pSicologia infantil que compete resolVer estas questoes Se por conseguinte ela for incompetent~ para fixar a finalidade - ja que a finaliCiade varia consoante os estados sociais - nao ha dushy

EOUCACAO [ SOCIOlOGIA

vida de que ela nao tem um papel util a desempenhar na constituicao dos metodos Afem disso como nenhum meshytOcto--pode ser aprieado -de igual modo as diferentes erianshycas e ainda a psicologia que deveria auxiliar-nos a reshyconhecermo-nos no meio da diversidade das inte ligene ias e dos caraeteres Sabemos infelizmente que ainda estashymos longe do momenta em que ela estara verdadeiramenshyte em condic5es de satisfazer este desiderata

Existe um aspecto da pSicologia que para 0 pedashygogo possui uma importaneia muito particular e a psishycologia colectiva Na rea Ii dade uma turma e uma pequeshy

ria sociedade e torna-se necessario nao a orientar coma sa se tratasse de um simples agtomerado de sujeitos inshydependentes uns dos outros As crianyas de uma turma pensam sentem e agem de uma forma diferente de que quando se eneontram isoladas Numa sala de aulas produshyzem-se fen6menos de contagio de desmoralizaqao eotecshytiva de sobreexcita(fao mutua de efervescencia salutar que se torne necessario discernir a tim de prevenir e combater uns de uti lizar os outros~ Seguramente esta ciencia ainda se encontra em plena infaneia~ Existe toshydavia a partir de agora um carto nLimero de propostas que importa nao ignorer

Tais sao as prlncipais discipllnas que podam despershytar e cultivar a reflexao pedag6gica Em vez de proeurarshymos promulgar para a pedagogia urn c6digo abstracto oe regras met6dicas empreendimento que nurn processo de especu lacao tao composito e Hio comp lexo nao pode de algum modo realizar-se de uma forma satisfat6ria shyafigurou-se-nos preferrvel indicarmos a maneira segundo a qual nos pareee que 0 pedagogo devia sar instru fdo Uma certa atitude do esprrito face aos problemas que Ihe compete resolver I encontra-se por isso mesmo detershyminada

56 57

Page 9: Sociologia, Educação e Moral de Émile Durkheim

SOClOLOGIA EDUCACAO [ MORAL _1(

--------------------------------~

dagogico Na Renascenca porem tudo sa modifiea as personalidades individuais dastacam-se da massa soc ial em que sa encontravam ate en tao abso rv idas e confundidas as esp rritos diversificam-se simultaneamente 0 desenvolshyvimento hist6rieo sofre uma aceleraltao uma nova eivili shyzaltao constitui-se Para corresponder a todas estas modishy I ficacoes a reflexao pedagogica desperta e se bem que nem sempre tenha brrlhado com a mesma cintilancia nunshyca mals voltsriaa extinguir-se par completo

IV - Noentanto para que a reflexao pedagogica posss produzir as efeitos beneficos que dela se devem aguardar tera de se submeter a uma cultura aproprlada

~

1Q Ja vimos que a pedagogia neo e a educaltao e nao poderia faz~r-Ihe as vezes A sua funltao nao consiste em substituir-seia pratica mas slm em orienta-la em esclarece-Ia em auxilhi-Ia se necessariola suprir as lashycunas que nela sa venham a produzir em remediar as inshysuficiencias quenela se verifiquem 0 pedagogo neo tem pais de construir com todos os retalhos um sistema de ensino como sernenhum existisseanteriormente Pelo conshytnirio ele temgue se empenhar antes do mais em comshypreender 0 sist~ma do sew tempo 66 assim ele estani

I I em condicoes de se servir dele com discernimento e de

julgl1r a que de imperfeito nele pode encontrar-se Todavia para P9der compreende-Io nao basta considerashy-10 tal como eie hoje se apresenta ja que esse sistema

ij de educacao e um produto da hist6ria que 56 esta podeI explicar ~ uma verdadeira instituiltao social Poucas coishy

~

I 11 sas existirao mesmo em que a hist6ria do pars se repershy

cuta tao integralmente As esco las francesas traduzemi~I exp rimem 0 esp rrito frances Nao podemos pois compreshy~ ender de forma alguma aquila que elas sao as finalida-~ u des que perseguem se nao soubermos de que e consti shy~ tu ido 0 nosso asp rrito nac ional quais os seus diferen tes ~

elementos quais os que dependem de causas permanentes~ L e profundas aqueles que inversarnente se devem a acshy~ao de facto res mais ov menos acidentais e transit6rios

i I iii questoes estas que somente a analise hist6rica pode resolshy

521 11

[OUCA~AO [ SOCIOLOGIA

-ver Discute-se geralmente para se saber qual olugar que deve caber 6 escola primaria no contexto da nossa orga- niza9aoescolar e na vida geral da sociedade Mas a proshyblema e insoluve se ignorarmos de que maneira se forshymou a nossa organiza~ao escolar de onde derivam as seus caracteres distintivos aquilo que no passado determinou o lugar dado a escola elementar quais as causasque fashyvoreceram ou entravaram a seu desenvolvimento etc

Assim a hist6ria do ensine palo menos do ensino nacional a a- ptimeira das propedeuticas para uma cultura pedag6gica Naturalmente sendo da pedagogia primaria

-que Se trata aa historia do ensino primario que prefeshyrentemente nos interessa conhecer Todavia oevido ao motivo que acabamos de apontar I tal ensino nao poderia destacar-se completamente do sistema escolar mais vasshyto I de que apenas IS parte

2Q Mas este Sjstema escolar nao IS feito unicamenshyte de prlHicas estabelecidas de metodos consagrados peshy10 usa heranl1a do passado~ Nele se encontram alam disshyso tendencias viradas para 0 futuro aspirac6es para um

ideal novo mais ou menos claramente previsto Impo-rta n~oDehecermos bem essas aspiral1oes para podermos a~al I 0 lugar que convira darse-Ihes numa reaiidaweeescolar Ora elas vem expressar-se nas doutrinas pedag6gicas ai hrstoria dessas doutrinas deve pais completar a do enshyt sino

Poder-se-ia crer e certo que para cumprir 0 seu fim util essa hist6ria nao necessita de remontar a um passado muito recuado I podendo sem inconveniente ser muito curta Nao bastara conhecerem-se as teorias entre as quais se dividem as esp rritos dos contemporaneos Toshydas as o4tras as dos seculos anteriores encon tram-se hoshyje uitrapassadase parecem possuir tao somente um inteshyresse de erudilttao

Mas este mode m ismo segundo cremos apenas conshysegue rarificar uma das principais fontes em que se deve alimentar a reflexaopedag6gica

Com efeito as doutrinas mais recentes nao nasceshyrar) ontem j elas encontram-se na sequencia das precedenshy

53

tes sem as quais por compreendidasj e assim as causas determinantes

tm conseguinte

~elas

pouco a pouco de uma corrente

nao podem se r para descobrir pedagogica de

certa importancia torna-sege ralmente necessario recuar bastante no tempo 86 assim estaremos de certo modo seguros de que os novos aspectos que apaixonam a maior parte dos esp fritos nao sao brilhantes improvisaltoes desshytinadas a s090brar rapidamente flO esquecimento Por exemshyplo para podermos compreender a tendencia actual do ensino pelos factos a que podemos chamar realismo peshydag6gico nao basta lirriitarmo-nos a ver como ele se exshyprime neste ou naquele contemporaneo he que remontarshymos ate ao momento em que ele e gerado ou seja aos~

I meados do securo XVIII em Fran9a e porfinais do seshyt culo XVII em certos parses protestantes Palo simplas

facto de se encontrar assim igada as SUCS origens pri shymeiras a pedagogia realista apresentar-se-a sob um oushytro aspecto totalmente diferente aperceber-nos-emos

i melhor de que ela se prende com causas profundas imshy

~i pessoais actuantes em todos os povos daEuropa 8imulshyJi taneamente encontrar~nos-emos nas melhores condicoes

para nos apercebermos de quais sao essas causas e conshy1~ 1 sequentemente para fazermos um ju fzo do verdadei ro al shy

~i cance desse moyimento Por outr~ lado porem essa corshys i rente pedag6gica constituiu-se em oposi~ao a urna corshy1I rente contrarla a do ensino humanista e livresco Logo f s6 poderemos apreciar judiciosamente a primeira desde1i que conhe~amos igualmente a segundaj e ei-nos obrigados

a remontarmos ainda multo mais longe na hist6ria ParaI tli poder oferecer todos os seus frutos essa historia da peshyI

~ dagogia nao deve alias ser separada da hist6ria do enshy

1middot sino Se bem que as posiltao ambas sao tra Isto porque em dependem do estado exacto momento em lado na medida em

tenhamos distinguido durante a exshyrealmente solidarias uma com a oushy

cada lapso de tempo as doutr inas do ens ina que elas reflectem no

que contra ele reagem e por outr~ que exercem uma acltao eficaz elas

contribuem para a deteNninacao desse mesmo ensino

54

lUU(A~AO E SOC I OliiG I II I

---reg A cultura pedag6gica deve pois possuir uma base

lamentenlst6rica s6 assim a pedagogia poderc~ furshy--urna cr (tica que Ihe tem sido drigida com freshy

er rtica essa que prejudicou fortemente 0 seu Muitos pedagogos entre os quais se encontram os

ustres tentararn edificar as seus sistemas prescinshyndo daquilo que antes delesexistira 0 tratamento a

que Ponocrates submete ~ Garga~tua ant~s de 0 ini~iar ms metodos recentes e a tal prop6slto slgnlflcatlvo f)1e purifiea-Ihe 0 cerebro com elabore de Anticyre de forma a faze-Io esquecer tudo quanta aprendera com ~sseus antigos preceptoresll

Significava isto numa forshyma aleg6rica que a nova pedagoga nada de comum deshyvia ter com aquela que a anteltedera Mas era ao messhy010 tempo colocar-se a margem das condilt6es da reashyUdade~ A futuro nao pode serevocado do nada uma vez que apenas 0 podemos constru r com as materiais que 0

pa~sado nos legou Urri idea I constru fdo ao ar rep io do estado das co isas existen tes nao e rea lizave I ja que nao radlca na realidade Alias e 6bvio que 0 passado tinha as suas razoes de serj ele nao teria conseguido subsistir se nao tivesse correspondido a carencias leg rtirnas que nao poderiam extinguir-se totalmente de um dia para 0

outro nao se pode pois fazer tao radicalmente da messhyrna Mbua rasa sem se menosprezarem carenc ias vita is

-~ e aqul esta como a pedagogia tem sido 0 mais das ve-II 168 uniifforma de literatura ut6pica Lamentar ramos as ~as as quais tivesse sido rigorosamente aplicado 0 metodo de Rousseau ou de Pestalozzi Nao ha duvida demiddot que assas utopias conseguiram desempenhar um prestimoshyso papel na hist6ria 0 seu pr6prio simplismo permitiushy-has irnpressionar mula-los a acy8o tar ineonvenientes dla-a-dia de que car e orientar a

mais vivamente 05 esp fritos e esti shyMas estas vantagens nao deixam de alem disso para esta pedagogia do

todo 0 professor carece para esclareshysua prcHica quotidiana ha que ter-se

~ns arrebatamento passional e unilateral e palo conshyraro~~_~tHOdOI urn sentimento mais presente da

Iidade e das dificuldades multiplas a que e necessario

55

SOtIOlOGIA [oUCAClo E MORAL

fazer face ~ este sentimento que propiciara uma cultura hist6ria bem entendida

32 S6a hist6ria do ensina e da pedagagia permishyte determfnar os fins que a educarao deve perseguir em cada momento do tempo Mas no que respeite aos meios necessarios a cohcretizayao desses fins I e a pSicologia que se torna necessaria pedi-Ios~

Com efeito 0 ideal pedag6gico de uma epoca exshyprime antes do mais 0 estado da soeiedade na epoca em quastao Mas para que esse ideal se transforme numa realidade torna-se ainda necessario que ao meSmo saja adaptada a consciencia da crianya Ora a consciencia possui as suas leis pr6prias que e necessario conheeer para que as possamos modifiear se pelo menos pretenshydemos evitar tanto quanto possrvel as tentativas emp rrishycas que a pedagogia tem precisamente por objectiv~ reshyduzir ao m fnimo Para podermos estimular a aetividade a desenvolver-se em determinado sentido temos ainda que saber quais sao os impulsos que a movem e qual a sua natureza ja que 56 assim sera possrvel aplicar-Ihe com conhecimento de causa a aC(fao conveniente~ Trata-se por examplo I demiddot despertar 0 amor pela patria ou 0 senshytido da humanidade Saberemos tanto melhor modelar a sensibilidade moraldos alunos am qualquer dos sentishydos quanta mais completas e precisas forem as nocoes que tivermos ~cerca do conjunto de fen6menos a que chashymamos inclinaci5es habitos apetencias emo(foes etc ace rca das diverses condi(foes de que os mesmos depenshydem kerea de forma com que na crianca se apresentam Consoante vejamos nas tendencias um produto das expeshyrieneias agradaveis ou desagradaveis que a esplkie conshyseguiu fazer ou entao pelo contrario um facto primitivo anterior aos estados afectivos que acompanham 0 seu funshycionamento deveremos proceder de formas muito diferenshytes para regulafmos 0 seu func ionamento Ora e a psishycologia mals especialmente a pSicologia infantil que compete resolVer estas questoes Se por conseguinte ela for incompetent~ para fixar a finalidade - ja que a finaliCiade varia consoante os estados sociais - nao ha dushy

EOUCACAO [ SOCIOlOGIA

vida de que ela nao tem um papel util a desempenhar na constituicao dos metodos Afem disso como nenhum meshytOcto--pode ser aprieado -de igual modo as diferentes erianshycas e ainda a psicologia que deveria auxiliar-nos a reshyconhecermo-nos no meio da diversidade das inte ligene ias e dos caraeteres Sabemos infelizmente que ainda estashymos longe do momenta em que ela estara verdadeiramenshyte em condic5es de satisfazer este desiderata

Existe um aspecto da pSicologia que para 0 pedashygogo possui uma importaneia muito particular e a psishycologia colectiva Na rea Ii dade uma turma e uma pequeshy

ria sociedade e torna-se necessario nao a orientar coma sa se tratasse de um simples agtomerado de sujeitos inshydependentes uns dos outros As crianyas de uma turma pensam sentem e agem de uma forma diferente de que quando se eneontram isoladas Numa sala de aulas produshyzem-se fen6menos de contagio de desmoralizaqao eotecshytiva de sobreexcita(fao mutua de efervescencia salutar que se torne necessario discernir a tim de prevenir e combater uns de uti lizar os outros~ Seguramente esta ciencia ainda se encontra em plena infaneia~ Existe toshydavia a partir de agora um carto nLimero de propostas que importa nao ignorer

Tais sao as prlncipais discipllnas que podam despershytar e cultivar a reflexao pedag6gica Em vez de proeurarshymos promulgar para a pedagogia urn c6digo abstracto oe regras met6dicas empreendimento que nurn processo de especu lacao tao composito e Hio comp lexo nao pode de algum modo realizar-se de uma forma satisfat6ria shyafigurou-se-nos preferrvel indicarmos a maneira segundo a qual nos pareee que 0 pedagogo devia sar instru fdo Uma certa atitude do esprrito face aos problemas que Ihe compete resolver I encontra-se por isso mesmo detershyminada

56 57

Page 10: Sociologia, Educação e Moral de Émile Durkheim

tes sem as quais por compreendidasj e assim as causas determinantes

tm conseguinte

~elas

pouco a pouco de uma corrente

nao podem se r para descobrir pedagogica de

certa importancia torna-sege ralmente necessario recuar bastante no tempo 86 assim estaremos de certo modo seguros de que os novos aspectos que apaixonam a maior parte dos esp fritos nao sao brilhantes improvisaltoes desshytinadas a s090brar rapidamente flO esquecimento Por exemshyplo para podermos compreender a tendencia actual do ensino pelos factos a que podemos chamar realismo peshydag6gico nao basta lirriitarmo-nos a ver como ele se exshyprime neste ou naquele contemporaneo he que remontarshymos ate ao momento em que ele e gerado ou seja aos~

I meados do securo XVIII em Fran9a e porfinais do seshyt culo XVII em certos parses protestantes Palo simplas

facto de se encontrar assim igada as SUCS origens pri shymeiras a pedagogia realista apresentar-se-a sob um oushytro aspecto totalmente diferente aperceber-nos-emos

i melhor de que ela se prende com causas profundas imshy

~i pessoais actuantes em todos os povos daEuropa 8imulshyJi taneamente encontrar~nos-emos nas melhores condicoes

para nos apercebermos de quais sao essas causas e conshy1~ 1 sequentemente para fazermos um ju fzo do verdadei ro al shy

~i cance desse moyimento Por outr~ lado porem essa corshys i rente pedag6gica constituiu-se em oposi~ao a urna corshy1I rente contrarla a do ensino humanista e livresco Logo f s6 poderemos apreciar judiciosamente a primeira desde1i que conhe~amos igualmente a segundaj e ei-nos obrigados

a remontarmos ainda multo mais longe na hist6ria ParaI tli poder oferecer todos os seus frutos essa historia da peshyI

~ dagogia nao deve alias ser separada da hist6ria do enshy

1middot sino Se bem que as posiltao ambas sao tra Isto porque em dependem do estado exacto momento em lado na medida em

tenhamos distinguido durante a exshyrealmente solidarias uma com a oushy

cada lapso de tempo as doutr inas do ens ina que elas reflectem no

que contra ele reagem e por outr~ que exercem uma acltao eficaz elas

contribuem para a deteNninacao desse mesmo ensino

54

lUU(A~AO E SOC I OliiG I II I

---reg A cultura pedag6gica deve pois possuir uma base

lamentenlst6rica s6 assim a pedagogia poderc~ furshy--urna cr (tica que Ihe tem sido drigida com freshy

er rtica essa que prejudicou fortemente 0 seu Muitos pedagogos entre os quais se encontram os

ustres tentararn edificar as seus sistemas prescinshyndo daquilo que antes delesexistira 0 tratamento a

que Ponocrates submete ~ Garga~tua ant~s de 0 ini~iar ms metodos recentes e a tal prop6slto slgnlflcatlvo f)1e purifiea-Ihe 0 cerebro com elabore de Anticyre de forma a faze-Io esquecer tudo quanta aprendera com ~sseus antigos preceptoresll

Significava isto numa forshyma aleg6rica que a nova pedagoga nada de comum deshyvia ter com aquela que a anteltedera Mas era ao messhy010 tempo colocar-se a margem das condilt6es da reashyUdade~ A futuro nao pode serevocado do nada uma vez que apenas 0 podemos constru r com as materiais que 0

pa~sado nos legou Urri idea I constru fdo ao ar rep io do estado das co isas existen tes nao e rea lizave I ja que nao radlca na realidade Alias e 6bvio que 0 passado tinha as suas razoes de serj ele nao teria conseguido subsistir se nao tivesse correspondido a carencias leg rtirnas que nao poderiam extinguir-se totalmente de um dia para 0

outro nao se pode pois fazer tao radicalmente da messhyrna Mbua rasa sem se menosprezarem carenc ias vita is

-~ e aqul esta como a pedagogia tem sido 0 mais das ve-II 168 uniifforma de literatura ut6pica Lamentar ramos as ~as as quais tivesse sido rigorosamente aplicado 0 metodo de Rousseau ou de Pestalozzi Nao ha duvida demiddot que assas utopias conseguiram desempenhar um prestimoshyso papel na hist6ria 0 seu pr6prio simplismo permitiushy-has irnpressionar mula-los a acy8o tar ineonvenientes dla-a-dia de que car e orientar a

mais vivamente 05 esp fritos e esti shyMas estas vantagens nao deixam de alem disso para esta pedagogia do

todo 0 professor carece para esclareshysua prcHica quotidiana ha que ter-se

~ns arrebatamento passional e unilateral e palo conshyraro~~_~tHOdOI urn sentimento mais presente da

Iidade e das dificuldades multiplas a que e necessario

55

SOtIOlOGIA [oUCAClo E MORAL

fazer face ~ este sentimento que propiciara uma cultura hist6ria bem entendida

32 S6a hist6ria do ensina e da pedagagia permishyte determfnar os fins que a educarao deve perseguir em cada momento do tempo Mas no que respeite aos meios necessarios a cohcretizayao desses fins I e a pSicologia que se torna necessaria pedi-Ios~

Com efeito 0 ideal pedag6gico de uma epoca exshyprime antes do mais 0 estado da soeiedade na epoca em quastao Mas para que esse ideal se transforme numa realidade torna-se ainda necessario que ao meSmo saja adaptada a consciencia da crianya Ora a consciencia possui as suas leis pr6prias que e necessario conheeer para que as possamos modifiear se pelo menos pretenshydemos evitar tanto quanto possrvel as tentativas emp rrishycas que a pedagogia tem precisamente por objectiv~ reshyduzir ao m fnimo Para podermos estimular a aetividade a desenvolver-se em determinado sentido temos ainda que saber quais sao os impulsos que a movem e qual a sua natureza ja que 56 assim sera possrvel aplicar-Ihe com conhecimento de causa a aC(fao conveniente~ Trata-se por examplo I demiddot despertar 0 amor pela patria ou 0 senshytido da humanidade Saberemos tanto melhor modelar a sensibilidade moraldos alunos am qualquer dos sentishydos quanta mais completas e precisas forem as nocoes que tivermos ~cerca do conjunto de fen6menos a que chashymamos inclinaci5es habitos apetencias emo(foes etc ace rca das diverses condi(foes de que os mesmos depenshydem kerea de forma com que na crianca se apresentam Consoante vejamos nas tendencias um produto das expeshyrieneias agradaveis ou desagradaveis que a esplkie conshyseguiu fazer ou entao pelo contrario um facto primitivo anterior aos estados afectivos que acompanham 0 seu funshycionamento deveremos proceder de formas muito diferenshytes para regulafmos 0 seu func ionamento Ora e a psishycologia mals especialmente a pSicologia infantil que compete resolVer estas questoes Se por conseguinte ela for incompetent~ para fixar a finalidade - ja que a finaliCiade varia consoante os estados sociais - nao ha dushy

EOUCACAO [ SOCIOlOGIA

vida de que ela nao tem um papel util a desempenhar na constituicao dos metodos Afem disso como nenhum meshytOcto--pode ser aprieado -de igual modo as diferentes erianshycas e ainda a psicologia que deveria auxiliar-nos a reshyconhecermo-nos no meio da diversidade das inte ligene ias e dos caraeteres Sabemos infelizmente que ainda estashymos longe do momenta em que ela estara verdadeiramenshyte em condic5es de satisfazer este desiderata

Existe um aspecto da pSicologia que para 0 pedashygogo possui uma importaneia muito particular e a psishycologia colectiva Na rea Ii dade uma turma e uma pequeshy

ria sociedade e torna-se necessario nao a orientar coma sa se tratasse de um simples agtomerado de sujeitos inshydependentes uns dos outros As crianyas de uma turma pensam sentem e agem de uma forma diferente de que quando se eneontram isoladas Numa sala de aulas produshyzem-se fen6menos de contagio de desmoralizaqao eotecshytiva de sobreexcita(fao mutua de efervescencia salutar que se torne necessario discernir a tim de prevenir e combater uns de uti lizar os outros~ Seguramente esta ciencia ainda se encontra em plena infaneia~ Existe toshydavia a partir de agora um carto nLimero de propostas que importa nao ignorer

Tais sao as prlncipais discipllnas que podam despershytar e cultivar a reflexao pedag6gica Em vez de proeurarshymos promulgar para a pedagogia urn c6digo abstracto oe regras met6dicas empreendimento que nurn processo de especu lacao tao composito e Hio comp lexo nao pode de algum modo realizar-se de uma forma satisfat6ria shyafigurou-se-nos preferrvel indicarmos a maneira segundo a qual nos pareee que 0 pedagogo devia sar instru fdo Uma certa atitude do esprrito face aos problemas que Ihe compete resolver I encontra-se por isso mesmo detershyminada

56 57

Page 11: Sociologia, Educação e Moral de Émile Durkheim

SOtIOlOGIA [oUCAClo E MORAL

fazer face ~ este sentimento que propiciara uma cultura hist6ria bem entendida

32 S6a hist6ria do ensina e da pedagagia permishyte determfnar os fins que a educarao deve perseguir em cada momento do tempo Mas no que respeite aos meios necessarios a cohcretizayao desses fins I e a pSicologia que se torna necessaria pedi-Ios~

Com efeito 0 ideal pedag6gico de uma epoca exshyprime antes do mais 0 estado da soeiedade na epoca em quastao Mas para que esse ideal se transforme numa realidade torna-se ainda necessario que ao meSmo saja adaptada a consciencia da crianya Ora a consciencia possui as suas leis pr6prias que e necessario conheeer para que as possamos modifiear se pelo menos pretenshydemos evitar tanto quanto possrvel as tentativas emp rrishycas que a pedagogia tem precisamente por objectiv~ reshyduzir ao m fnimo Para podermos estimular a aetividade a desenvolver-se em determinado sentido temos ainda que saber quais sao os impulsos que a movem e qual a sua natureza ja que 56 assim sera possrvel aplicar-Ihe com conhecimento de causa a aC(fao conveniente~ Trata-se por examplo I demiddot despertar 0 amor pela patria ou 0 senshytido da humanidade Saberemos tanto melhor modelar a sensibilidade moraldos alunos am qualquer dos sentishydos quanta mais completas e precisas forem as nocoes que tivermos ~cerca do conjunto de fen6menos a que chashymamos inclinaci5es habitos apetencias emo(foes etc ace rca das diverses condi(foes de que os mesmos depenshydem kerea de forma com que na crianca se apresentam Consoante vejamos nas tendencias um produto das expeshyrieneias agradaveis ou desagradaveis que a esplkie conshyseguiu fazer ou entao pelo contrario um facto primitivo anterior aos estados afectivos que acompanham 0 seu funshycionamento deveremos proceder de formas muito diferenshytes para regulafmos 0 seu func ionamento Ora e a psishycologia mals especialmente a pSicologia infantil que compete resolVer estas questoes Se por conseguinte ela for incompetent~ para fixar a finalidade - ja que a finaliCiade varia consoante os estados sociais - nao ha dushy

EOUCACAO [ SOCIOlOGIA

vida de que ela nao tem um papel util a desempenhar na constituicao dos metodos Afem disso como nenhum meshytOcto--pode ser aprieado -de igual modo as diferentes erianshycas e ainda a psicologia que deveria auxiliar-nos a reshyconhecermo-nos no meio da diversidade das inte ligene ias e dos caraeteres Sabemos infelizmente que ainda estashymos longe do momenta em que ela estara verdadeiramenshyte em condic5es de satisfazer este desiderata

Existe um aspecto da pSicologia que para 0 pedashygogo possui uma importaneia muito particular e a psishycologia colectiva Na rea Ii dade uma turma e uma pequeshy

ria sociedade e torna-se necessario nao a orientar coma sa se tratasse de um simples agtomerado de sujeitos inshydependentes uns dos outros As crianyas de uma turma pensam sentem e agem de uma forma diferente de que quando se eneontram isoladas Numa sala de aulas produshyzem-se fen6menos de contagio de desmoralizaqao eotecshytiva de sobreexcita(fao mutua de efervescencia salutar que se torne necessario discernir a tim de prevenir e combater uns de uti lizar os outros~ Seguramente esta ciencia ainda se encontra em plena infaneia~ Existe toshydavia a partir de agora um carto nLimero de propostas que importa nao ignorer

Tais sao as prlncipais discipllnas que podam despershytar e cultivar a reflexao pedag6gica Em vez de proeurarshymos promulgar para a pedagogia urn c6digo abstracto oe regras met6dicas empreendimento que nurn processo de especu lacao tao composito e Hio comp lexo nao pode de algum modo realizar-se de uma forma satisfat6ria shyafigurou-se-nos preferrvel indicarmos a maneira segundo a qual nos pareee que 0 pedagogo devia sar instru fdo Uma certa atitude do esprrito face aos problemas que Ihe compete resolver I encontra-se por isso mesmo detershyminada

56 57