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7/24/2019 Suicdio e Trabalho.docx
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Suicdio e Trabalho
Suicdio uma palavra de origem
latina,
cujo signifcado est, ainda hoje,
relacionado auto-eliminao,
autodestruio, ao auto-assasinato
e ao
auto-homicdio !istoricamente, o
suicdio na "uropa crist vincula-se
s
atrocidades praticadas pelo "stado
e
pelas religi#es, $ue alm de
punirem o
suicida p%s-morte, pregando o
impedimento da ascenso ao
paraso,
trans&ormavam a vida dos seus
&amiliares em um rosrio devergonha e
desespero, medida $ue suas
propriedades passavam ao poder
dos
reis 'este modo tanto os reis
como a
igreja usu&ruram do suicdio
()ro*n,++
.etrocedendo /rcia antiga,
observa-se
$ue a morte voluntria no era
considerada um ato condenvel,
contanto $ue e0istissem boas
ra1#es
para &a12-lo "m S%crates
encontramos
um bom e0emplo da $uesto
tica3
durante seu longo julgamento
repudia a
possibilidade de &ugir e se livrar da
priso 4p%s horas de julgamento
e
possvel condenao, ele re5ete3
67 era
tempo, para mim, de morrer e
livrar-me
de trabalhos8
"m !amlet o suicdio surge como
uma
$uesto moral Sua atitude inicial
de
con&ronto o &a1 retroceder e evitaro
estigma de suicida Sua maneira
de agir
re5ete, em certa medida, as
considera#es $ue j e0istiam
sobre o
ato desde a 4ntiguidade,culminando
com as pondera#es do
cristianismo
sobre o suicdio ao fnal da 9dade
:dia ; movimento iluminista
discute
as mortes her%icas, como as de
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=asio, Sneca e outros >este
?ltimo, o
suicdio, segundo )ro*n (++
6sup#e
uma dissoluo do corpo social e
simb%lico8 @ a partir do sculo
AB99
$ue o tema da loucura penetra os
atos
suicidas, contraditoriamente, pelas
mos
dos pes$uisadores ; suicida
passou a
ser julgado como a$uele $ue
morre
violentamente
Seguramente a disseminao da
peste
por toda a "uropa contribuiu para
sensibili1ar e levar re5e0osobre o
valor da vida e a 6consci2ncia da
morte8
()ro*n, ++, apesar de ainda
transversar o imaginrio de
muitos, o
mito do romantismo e pai0o,
como soconsiderados os suicdios de
=hatterton
e do protagonista Certher de
/oethe
>o primeiro, a sociedade
acusada
como perpetradora da morte
sendo
=hatterton sua vtima (idem,
++
Cether, de temperamento
en&ermo e
amor no correspondido (mesmo
$ue
em romance criou o mito $ue
atravessa
os nossos dias3 &alar do suicdio
estimularia novos suicdios
>a 9nglaterra, at DEF, as leis do
confsco s propriedades do
suicida
permaneciam vigentes ", at
DGHD, o
suicdio &rustrado poderia culminar
em
crcere para o sobrevivente(
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pelo mdico e crimin%logo italiano
ovos
discursos &oram acrescidos hist%ria
do suicdio, em presena de um
mundo
em constante mutao, indi&erente
dor
do outro, $ue estimula o
consumismo
desen&reado en$uanto aumenta o
desemprego, o $ue certamente
cria um
sentimento de incerte1a e va1io,
gerando novos casos de suicdios
4pesar disso, continua o sil2ncio
no $ue
se re&ere ao mundo do trabalho
como
possvel causa de suicdio4fnal, o
suicdio se prepara em sil2ncio,
con&orme =amus (+G
!oje, o suicdio se inscreve no
campo
dos transtornos mentais
(ang?stias,
depresso, altera#es de
comportamento, bipolaridade
entre
outros ad$uirindo o status de
patologiaSe na 4ntiguidade, o seu
signifcado
estava relacionado 6morte
voluntria8,
atualmente o suicdio continua
sendo
sustentado por crenas e mitos
$ue sealimentam do corpo biol%gico para
e0plicar o $ue nos angustia
9mportamnos,
de &ato, as verdadeiras causas $ue
envolvem um suicdio
>esse sentido, este artigo tem
como
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objetivo discutir o suicdio e sua
relao
com o trabalho, tendo como
re&er2ncia
os acontecidos recentemente nas
empresas &rancesas 4 hip%tese
$ue
orienta esse te0to pauta-se na
concepo
de $ue a organi1ao do trabalho
e suas
revisitadas &ormas de gesto,
baseadas
na concorr2ncia e na introjeo de
prticas individuali1antes
crescentes,
encontram-se na base de
sustentao da
deciso do suicdio ocasionado
pelotrabalho
Suicdio e trabalho: fenmeno
de tipo
novo?
@mile 'urIheim, em sua obra
clssica
; suicdio, analisa as rela#esentre
indivduo e sociedade &ocali1ando
o
suicdio como &ato social>essa
perspectiva, os di&erentes graus de
deteriorao social resultariam em
viv2ncias individuais e coletivas
mais
rduas :aurice !alb*achs
indicava, j
em DGM, $ue as ra1#es para o
suicdio
vinculadas ao trabalho no
residiam
apenas no desemprego, nas
&al2ncias,
mas, sobretudo, na e0ist2ncia de
um
sentimento obscuro de opresso
$ue
recaa sobre os operrios Tal
percepo
transposta atualidade
observada no
ocorrido na empresa
LrancetlcomN a
maior empresa do setor de
telecomunica#es na Lrana e $ueemprega cerca de D+
trabalhadores
na$uele pas N $ue registrou
$uatro
suicdios na empresa, em +K, e,
entre
janeiro de +E e janeiro de +D,
contabili1ou MK suicdios notrabalho
4s estatsticas so ainda pouco
precisas
na Lrana para mensurar a relao
entre
suicdio e trabalho Se, por um
lado, os
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deslocam tambm em direo a
setores
di&erenciados como 6hospitais,
escolas,
canteiro de obras, ind?strias
eletrRnicas,
servios bancrios, novas
tecnologias,
servios comerciais de empresas
multinacionais etc8 ('ejours e
)gue,
+G, pEQ e, assistimos ainda, ao
suicdio de trabalhadores $ue
ocupam
cargos mais elevados na pirmide
hierr$uica
"m outro en&o$ue encontramos o
movimento sindical e alguns
pes$uisadores latinos (Lina11i,
+GQ;rellano, +O $ue mostram e
denunciam as evid2ncias do ne0o
causal
entre as condi#es de trabalho, as
reestrutura#es e situa#es de
desemprego, e a conduta suicida
Precariedade no trabalho: uma
pista
para compreender os
suicdios?
4 precariedade nas rela#es de
trabalho
tem mobili1ado soci%logos e
economistas a fm de deci&r-la
en$uanto caracterstica intrnseca
ao
mundo do trabalho atual @
possvel
afrmar, apoiando-se em =ingolani
(+O $ue tal termo no era
recorrente
nos estudos at os anos DGF "m
DGFK,
:agaud (apud =ingolani, +O ir
conceitu-la como a compra do
trabalho &ora das regras
estabelecidasQ
em DGFE, .obert
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social e se confgura,
paulatinamente,
em um estado generali1ado de
insegurana $ue a&eta mesmo os
$ue
possuem vnculo empregatcio
&ormal
4 partir da conceituao de .obert
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&acilidade
"ste conte0to de instabilidade
confgura-se como campo &rtil
para a
instalao de patologias do medo,
cujas
caractersticas de ang?stia &rente
s
incerte1as so e$uivalentes s
vivenciadas pela situao de
desemprego =abe destacar $ue
no
obstante as situa#es de trabalho
sejam
concretas e id2nticas, estas so
vividas
de &ormas di&erenciadas pelos
indivduos, de acordo com suas
trajet%rias pessoais >essa
perspectiva, apsicanalista :arie Ue1 observa
$ue
irreal supor $ue trabalhadores
consigam
desvencilhar-se de sua hist%ria de
vida,
dei0ando-a 6atada a um cinto no
vestirio da empresa8 parae0ercer sua
atividade (+D, p M
4 racionali1ao do trabalho
estreitamente ligada s condi#es
em
$ue se d, medida $ue atua
permanentemente na dominao
do
capital sobre o trabalho,
respaldando-se
em novas tecnologias voltadas
para o
aper&eioamento do controle dos
movimentos e da produtividade
dos
trabalhadores "sses &atores
e0pressam-se
em rela#es de trabalho num
conte0to socioeconRmico
neoliberal,
resultando em desemprego e
precari1ao do trabalho=omo
elucidam Yune e Uichault (+,
apud
'essus, ++, p K, ocorre hoje
um
6novo contrato psicol%gico8, $ue
imputa e0clusivamente aospr%prios
indivduos a responsabilidade de
conseguirem um emprego, bem
como
adotar atitudes no trabalho
guiadas pela
capacidade de integrao,
amabilidade eengajamento com a empresa
4s caractersticas da empresa dita
moderna imp#em o alcance de
metas
sempre variveis, a intensifcao
do
trabalho, aus2ncia de orienta#es
claras
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p+O,+H
4s anlises $ue evocam a
centralidade
do trabalho na vida dos indivduos
(D e +e,
con&orme 'ejours e )gue, na
Vconstruo e na estabili1ao da
identidade e da sa?de mentalW
(p+G so
re&oradas pelas situa#es de
desestabili1ao do trabalhador
&rente
ao desemprego
O mundo do trabalho atual e o
suicdio como patologia laboral
; $ue d ra1o e sentido ao viver
pode
constituir-se em ra1o paramorrer,
como re5etia =amus ; trabalho,
en$uanto atividade humana, d
sentido
vida, &ortalecendo a identidade e
a
dignidade de trabalhador ;s
novosmodelos de gesto adotados pelas
empresas associados s
reestrutura#es
e do*nsi1ing (reduo de pessoas
&re$uentes, aumentaram a
insegurana e
conse$uentemente o nvel de
autoe0ig2ncia ante o medo de
perder o emprego por no ser
avaliado ade$uadamente, o $ue,
de &orma direta, aumenta o nvel
de sujeio &rente s prticas
desp%ticas presentes no mundo
do trabalho
"ssa nova realidade do mundo do
trabalho precari1ado, 5e0vel,
&ragmentado e produtor de
desemprego,
usa &re$uentemente a
micropoltica das
humilha#es cotidianas e
sistemticas
como instrumento de controle da
biopoltica, $ue desestrutura
emocionalmente os trabalhadores,
podendo lev-los a desistir do
emprego
&rente s ameaas cotidianas e oolhar
silencioso dos pares $ue assistem
e
testemunham 4s conse$u2ncias
so
nocivas para todos os
trabalhadores
por$uanto causam con5itos emsuas
vidas, alteram valores,
transtornam as
emo#es e corr%em o carter
individual,
contribuindo para a &ragmentao
das
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biografas laborais e destruio
dos
laos de ami1ade no coletivo 4
este
$uadro se acrescenta o
incremento de
atos de viol2ncia nas rela#es
laborais,
associado ao estmulo
competitividade
e instalao da indi&erena com
o
so&rimento do outro
>o marco das trans&orma#es, os
trabalhadores se sentem isolados
e
solitrios em coletivo, sem
reconhecimento de suas
potencialidades
e criatividade, sem autonomia e
liberdade "stes &atores so
responsveis pelo
desencadeamento de
di&erentes e novas patologias $ue
esto
na base do estado de mal-estar,
responsvel pelo aumento de
suicdios
no e do trabalho na Lrana assim
como
em nosso pas, mostrando a nova
esttica da viol2ncia em um
mundo do
trabalho globali1ado, no $ual o
corpo do
suicida contem pistas e hist%rias,
sobre
o mundo do trabalho, $ue no
&oram reveladas