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1 VIDAL, Carolina Loria; GARCIA, Fernanda de Oliveira; ROSA, Caroline Petian Pimenta Bono. Superinteressante: o percurso do jornalismo impresso para o tablete. Revista Científica Eletrônica UniSEB. N. 3. Ano 2. Ribeirão Preto, janeiro-julho, 2014. p. 01-13. Superinteressante: o percurso do jornalismo impresso para o tablet Carolina Loria Vidal - Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pelo Centro Universitário UniSEB. e-mail: [email protected] Fernanda de Oliveira Garcia - Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo pelo Centro Universitário UniSEB. e-mail: [email protected] Caroline Petian Pimenta Bono Rosa - Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de SP (PUC-SP); Mestre em Comunicação Social pela Universidade Metodista de São Paulo (UMESP). e-mail: [email protected] Resumo Com os recursos oferecidos pelas novas plataformas midiáticas, o processo de leitura e captação de informação sofreu mudanças, fazendo com que os leitores não se prendam a um veículo estático, que contenha somente uma forma de receber informação. Este trabalho disserta sobre as estratégias utilizadas pela revista superinteressante na produção jornalística para tablets, que com a rápida modernização dos meios, teve que se adequar para responder à demanda das evoluções tecnológicas. Palavras-chave: Produção Jornalística, Revistas, Novas Tecnológicas, Tablets. 1. Introdução O Jornalismo ao longo dos últimos anos vem caminhando lado a lado com a evolução tecnológica dos meios. Desde a prensa de Gutemberg em 1439, que usava tipos móveis e publicações em grandes quantidades, a produção jornalística veio se evoluindo até chegar ao uso de fotografias, com mais força em 1928 a partir da revista O Cruzeiro, de Assis Chateaubriand (BAPTISTA; ABREU, 2010 p.4) e hoje com as mídias moveis e sua capacidade de estar junto ao publico onde ele estiver. A produção jornalística e os gêneros jornalísticos também acompanharam essa evolução. Como afirma Medina (2001) eles “aparecem, crescem, mudam e desaparecem conforme o desenvolvimento tecnológico e cultural de cada nação e de cada empresa jornalística”, assim se adaptando e sofrendo modificações de acordo com os grupos da sociedade que estão inseridos e a quem interessam. As diversas esferas da atividade humana estão relacionadas com o uso da língua, e este uso, nas formas de enunciados, sejam eles orais ou escritos. Os enunciados refletem as condições específicas e o objeto de cada uma destas esferas, não só pelo seu conteúdo e pelo seu estilo verbal, ou seja, pela seleção dos recursos léxicos e gramaticais da língua, mas sim, antes de tudo, pela sua composição ou estruturação. O conteúdo temático, o estilo e a composição estão vinculados na totalidade do enunciado e se determina pela especificidade de uma esfera dada de comunicação. Cada enunciado se parado é individual, mas cada esfera do uso da língua elabora seus tipos estáveis de enunciado, que são gêneros discursivos. Assim, a língua

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VIDAL, Carolina Loria; GARCIA, Fernanda de Oliveira; ROSA, Caroline Petian Pimenta Bono.

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3. Ano 2. Ribeirão Preto, janeiro-julho, 2014. p. 01-13.

Superinteressante: o percurso do jornalismo impresso para o tablet

Carolina Loria Vidal - Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em Jornalismo

pelo Centro Universitário UniSEB. e-mail: [email protected]

Fernanda de Oliveira Garcia - Bacharel em Comunicação Social com Habilitação em

Jornalismo pelo Centro Universitário UniSEB. e-mail: [email protected]

Caroline Petian Pimenta Bono Rosa - Doutora em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia

Universidade Católica de SP (PUC-SP); Mestre em Comunicação Social pela Universidade

Metodista de São Paulo (UMESP). e-mail: [email protected]

Resumo

Com os recursos oferecidos pelas novas plataformas midiáticas, o processo de leitura e

captação de informação sofreu mudanças, fazendo com que os leitores não se prendam a um

veículo estático, que contenha somente uma forma de receber informação. Este trabalho

disserta sobre as estratégias utilizadas pela revista superinteressante na produção jornalística

para tablets, que com a rápida modernização dos meios, teve que se adequar para responder à

demanda das evoluções tecnológicas.

Palavras-chave: Produção Jornalística, Revistas, Novas Tecnológicas, Tablets.

1. Introdução

O Jornalismo ao longo dos últimos anos vem caminhando lado a lado com a evolução

tecnológica dos meios. Desde a prensa de Gutemberg em 1439, que usava tipos móveis e

publicações em grandes quantidades, a produção jornalística veio se evoluindo até chegar ao

uso de fotografias, com mais força em 1928 a partir da revista O Cruzeiro, de Assis

Chateaubriand (BAPTISTA; ABREU, 2010 p.4) e hoje com as mídias moveis e sua

capacidade de estar junto ao publico onde ele estiver.

A produção jornalística e os gêneros jornalísticos também acompanharam essa

evolução. Como afirma Medina (2001) eles “aparecem, crescem, mudam e desaparecem

conforme o desenvolvimento tecnológico e cultural de cada nação e de cada empresa

jornalística”, assim se adaptando e sofrendo modificações de acordo com os grupos da

sociedade que estão inseridos e a quem interessam.

As diversas esferas da atividade humana estão relacionadas com o uso da língua, e

este uso, nas formas de enunciados, sejam eles orais ou escritos. Os enunciados

refletem as condições específicas e o objeto de cada uma destas esferas, não só pelo

seu conteúdo e pelo seu estilo verbal, ou seja, pela seleção dos recursos léxicos e

gramaticais da língua, mas sim, antes de tudo, pela sua composição ou estruturação.

O conteúdo temático, o estilo e a composição estão vinculados na totalidade do

enunciado e se determina pela especificidade de uma esfera dada de comunicação.

Cada enunciado se parado é individual, mas cada esfera do uso da língua elabora

seus tipos estáveis de enunciado, que são gêneros discursivos. Assim, a língua

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participa da vida através dos enunciados concretos que os realizam, como a vida

participa da linguagem através dos enunciados (BAKHTIN apud MEDINA, 2001, p.

47).

Muitos autores divergem sobre a classificação dos gêneros jornalísticos. Para Juan

Gargurevich (1982 apud MEDINA, 2001) os gêneros jornalísticos são formas que os

jornalistas buscam para se expressar. Seus traços definidores estão, portanto, no estilo, no

manejo da língua. John Hohenberg classifica os gêneros da seguinte maneira: notícia básica (a

que concede a virtude da objetividade), notícia de interesse humano, entrevista, biografia

popular, notícia interpretativa (subjetividade), reportagem especializada, colunas, reportagem

investigativa e reportagem de campanha. (MEDINA, 2001 p. 48)

A maioria dos jornais brasileiros divide os gêneros jornalísticos em quatro grandes

grupos: informativo, com a preocupação de relatar os fatos de uma forma mais

objetiva possível; interpretativo, que, além de informar, procura interpretar os fatos;

opinativo, expressa um ponto de vista a respeito de um fato; entretenimento, que são

informações que visam à distração dos leitores. (MEDINA, 2001, p.51)

Em concordância com Medina (2001) sobre o fato de que o gênero depende dos

aspectos sociais e culturais de onde a mídia está inserida nota-se que nenhum meio de

comunicação é igual ao outro. A imprensa em si não é algo com vida própria e independente.

Ela é feita de pessoas. Jornalistas com culturas diferentes, jeitos de se expressar diferente e

com sua própria linguagem e vocabulário. Desde a TV aos grandes sites de notícias na

internet, tem seus valores, opiniões, linguagens e modos para transmitir a noticia sempre

defendendo o seu ponto de vista, que muitas vezes reflete a opinião do dono da instituição, e

usando de linguagem apropriada para seu publico alvo, para a sua região ou país. Assim cada

um tem seu próprio gênero jornalístico.

Nas discussões sobre gêneros jornalísticos, o que mais importa é que eles sirvam de

estilos de organização para os profissionais da mídia, com o dever de informar os

seus leitores de uma forma mais neutra possível, visando à construção de uma

sociedade justa e transparente, seja opinando, divertindo, orientando, criticando,

esclarecendo ou de outra forma qualquer. O que importa é que o jornalismo cumpra

com a sua função social, ou seja, deve estar a serviço da sociedade, e não de grupos

econômicos, sociais ou religiosos. (MEDINA, 2001, p.53)

Com o aparecimento de tecnologias mais instantâneas, a informação está cada vez

mais inserida na vida das pessoas. E com este fato temos um novo gênero: o jornalismo

cidadão, que segundo Targino (2009), é aberto a quaisquer indivíduos e grupos sociais para

que externem opiniões sobre quaisquer temas. Ou seja, é o jornalismo que vemos todos os

dias nas redes sociais, ou em qualquer manifestação pública, sempre mostrando a sua opinião.

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3. Ano 2. Ribeirão Preto, janeiro-julho, 2014. p. 01-13.

É um novo gênero jornalístico voltado para a cidadania, que faz referências ao jornalismo

brasileiro que era uma época, de acordo com Targino (2009) que as ideias prevaleciam sobre

as questões econômicas e mercantilistas e a imprensa se impunha como serviço público a

favor das coletividades e das tradições culturais e literárias.

Esta inserção da tecnologia no cotidiano mudou o modo como as pessoas recebem a

informação e expõe suas ideias. Segundo Lemos (2003), estamos vivendo em uma

cibercultura, uma vez que ela é a cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais.

Com a hibridação dos meios, as revistas que antes eram limitadas ao papel de boa

qualidade com brilho e espessura melhor, com a utilização de fotos, de elementos gráficos e

um planejamento mais livre, hoje têm maior liberdade para brincar com a imaginação do

leitor. Interagindo por meio de redes sociais, atraem um feedback positivo para as editoras,

fazem uso de animações nas telas, conteúdos exclusivos e estendidos, entre outros, fazem

parte do cotidiano da grande massa tecnológica atraindo sempre a atenção do publico alvo.

O objetivo central é verificar o percurso jornalístico pelo qual passou a Revista

Superinteressante e discutir a mudança na produção para a versão em um dispositivo móvel, o

tablet. Uma linguagem que é enriquecida com imagens, infográficos, vídeos, áudio, entre

outros recursos comunicacionais que participam da construção não linear do conhecimento.

2. O Jornalismo Impresso Migrado Para o Ciberespaço

A primeira revista impressa chegou ao Brasil no século XIX com a corte portuguesa e se

assemelhava a um livro, chamada de As Variedades ou Ensaios de Literatura trazia, como diz

Scalzo (2003, p.27):

(...)discursos sobre costumes e virtudes sociais, algumas novelas de escolhido gosto

e moral (...) cuja leitura tenda a formar gosto e pureza na linguagem, algumas

anedotas e artigos que tenham relação com os estudos científicos propriamente ditos

e que possam habilitar os leitores a fazer-lhes sentir importância das novas

descobertas filosóficas.

O aprimoramento nas publicações deu-se com a revista O Cruzeiro de Assis

Chateaubriand, nas décadas de 40 e 50 e chegaram a ter 700 mil exemplares por semana.

Trazia além dos textos e grandes reportagens, imagens com mais destaque dentro da

publicação. Ao longo do tempo, as outras revistas que nasceram traziam seus assuntos

voltados para o público mais urbano, a grande massa. Assim consolidando um público-alvo

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que garante até hoje a sobrevivência das revistas apesar da concorrência com a TV e a

Internet. Com a chegada dos aparelhos móveis de comunicação, o processo de leitura de

informações, e o acesso a revistas e jornais, passaram a ser mais fácil entre a grande massa.

O jornalismo gradativamente se beneficia da hibridação entre tecnologias e processos

em redes móveis, permitindo a mobilidade líquida (informacional, virtual, física) e a melhora

da recepção das notícias pelo leitor. Esta inserção de tecnologia no cotidiano das pessoas não

altera só o modo como vamos receber notícias, mas também as nossas relações interpessoais.

Com diz Rodrigues (1998, p.3):

As relações sociais deixariam de estar delimitadas dentro das fronteiras das

comunidades concretas onde se desenrola a convivência direta e imediata. Elas

tornar-se-iam relações assépticas, aleatórias e efémeras, dependentes da

performatividade da conexão às redes telemáticas.

Garrido (2005, p.1) completa e resume que “Na essência, não são as tecnologias que

mudam a sociedade, mas sim, a sua utilização”. Desde o começo do jornalismo e das revistas,

onde a linguagem e escrita se asemelhavam a um livro, sem fotografias e imagens passando

pela evolução e utlilização das publicações nas guerras como único meio de mostrar as

imagens reais dos acontecimentos no dia-a-dia do campo de batalha, chegando a utilização

das cores em 1957, onde as revistas sofreram um grande golpe, por não conseguirem se

adequar a essa evolução, até as publicações nos tablets, com recursos hipermidiáticos,

podemos perceber os leitores tiveram que mudar seus hábitos e adequarem ao que era

informado pelas revistas. O modo como a revista chega ao seu público alvo foi o fator que

mais influenciou no cotidiano. Antes as revistas eram adquiridas apenas em bancas de jornais,

ou por assinantes mensais que recebem a revista em casa, antes de irem às bancas. Hoje,

porém não há mais necessidade de se gastar tempo e dinheiro, saindo de casa para adquirir

uma revista, basta ter acesso à internet ao site da revista, no caso de um computador

convencional ou então dos celulares ou tablets.

O ciberespaço contribui para a diminuição das distâncias e do tempo, fazendo com que

as novas formas de produção, sejam distribuídas em tempo real e com menores custos. Lévy

(1993) define ciberespaço como o quarto espaço antropológico, sobrepondo-se à Terra, ao

Território e ao Mercado. Os Territórios são virtualização da Terra; a Mercadoria é uma

virtualização dos Territórios; e o saber, uma virtualização das Mercadorias. Com as

transformações das convergências tecnológicas, a relação do público com a informação vem

sofrendo mudanças, fazendo com que o modo de produção de informação jornalística também

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se modifique e crie uma nova lógica de conteúdo, em que o público tenha uma relação de

interação, leitura e dinâmica de informações. “A convergência altera a lógica pela qual a

indústria midiática opera e pela qual os consumidores processam a notícia e o entretenimento”

(JENKINS, 2009, p. 43).

Com a inclusão maciça dos dispositivos móveis na sociedade, o jornalismo vem

encontrando uma linguagem própria para o meio. Essa linguagem ainda nos traz a mistura de

elementos dos jornais impressos, revistas, televisão e rádio, ajudando a revelar formas

próprias de conteúdo para essas plataformas. Porém, Cavalcanti (2006) diz que a diferença se

dá principalmente no tamanho do visor que exibe as informações para o receptor. Ele também

descreve uma série de fatores para realizar uma escrita diferenciada para esses meios móveis:

título persuasivo e objetivo para chamar a atenção do leitor; uso de frases curtas e divisões por

blocos de notícias para não tornar a leitura cansativa; texto objetivo e claro; ordem coloquial e

direta.

Esses aspectos também são necessários em qualquer outro meio impresso. Cavalcanti

(2006) ainda afirma que o recurso da pirâmide invertida deve ser usado para transmitir a

informação em qualquer meio móvel. Mas ao analisar o texto da revista SuperInteressante nos

tablets vemos que não há mudanças de escrita para a versão digital. Marcia Nader, diretora de

redação da revista Nova, disse em Villas Boas (1996, p.21) que a matéria é circular e o fecho

remete ao início e não se trata de uma coisa vertical. Podemos concluir que o lead é circular,

onde o texto tem um começo, meio e fim e o começo não é menos importante do que o final.

3. O circuito ‘superinteressante’ de mudança jornalística

Antes de lançar a Super Interessante, a Editora Abril já havia feito uma tentativa com

outra revista que falava sobre C&T, a Ciência Ilustrada, mas não foi bem sucedida. Em 1987,

a Editora quis comprar os direitos para a publicação integral de uma revista espanhola,

chamada Muy Interesante, fundada em maio de 1981, e já fazia sucesso, com uma riqueza

visual, com recursos fotográficos e infográficos. Porém, os fotolitos dessa revista eram

maiores que os brasileiros, então a editora teve que produzir ser próprio material.

A edição número um da Super Interessante foi lançada em Setembro de 1987, e a

tiragem de 150 mil exemplares logo se esgotou e tiveram que reimprimir mais 65 mil

exemplares. Cinco mil pessoas passaram a assinar a revista em seu primeiro dia nas bancas.

Passou a ser uma revista respeitada, ganhando vários prêmios e quebrando recordes de

vendagem.

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O projeto da revista tinha como objetivo divulgar curiosidades, e acontecimentos

fantásticos de qualquer ramo do conhecimento, porém também tinha a intenção de ganhar o

reconhecimento da sociedade científica, por isso dava mais ênfase a temas que envolviam as

ciências naturais.

Victor Civita, fundador da editora Abril, define na seção Carta ao Leitor a linha

editorial da revista:

De forma clara, direta, acessível ao mais leigo dos leitores, Superinteressante

mostrará o conhecimento científico não como um tesouro a que só alguns

privilegiados têm acesso, por sua cultura, mas como algo que passa pelo cotidiano

de todos nós, influenciando e modificando até mesmo os momentos mais simples de

nossa vida. (Carta ao Leitor, edição 1, out/1987)

Foi na década de 90 que a Super passou estabelecer novos tipos de reportagens em sua

pauta, matérias que diziam respeito a outras áreas do conhecimento, como religião, filosofia e

paranormalidade. Alguns relacionam esse fato ao período em que ela estava no auge da sua

consagração e bateu recorde de vendagem.

Assim, pode-se notar que a Super Interessante abordou assuntos que estavam em alta

na época e chamavam a atenção e para a popularização da revista isso foi muito bom, como

foi mostrado nos dados acima as edições que bateram recorde de vendagem. Apesar de todo

esse sucesso, e da consagração que a revista já havia conquistado pela comunidade cientifica,

esse caráter foi sendo questionado pelo público, por pesquisadores e a própria diretoria da

revista assumiu ter mudado o rumo.

O site Publiabril (http://publicidade.abril.com.br), que oferece informações gerais e

técnicas de todos os títulos da editora Abril, define a revista como sendo a “maior revista

jovem do Brasil”. Na Carta ao Leitor da edição de janeiro de 2002, redigida pelo então diretor

de redação Adriano Silva, é possível observar o público a quem a revista pretende se

direcionar: pessoas que, independente da faixa etária, possuem “cérebros dinâmicos e

corações eternamente jovens” e que estão sempre em busca de novos conhecimentos:

[...] Escrevemos para jovens de todas as idades. Gente com sede de conhecimento e

de novas informações, interessada em aprender sempre, em colocar à prova suas

próprias convicções de tempos em tempos. Gente inteligente, criativa, amiga das

luzes e das diferenças, que adora vender e comprar idéias de primeira linha e que,

por tudo isso, detesta dogmas, obscurantismo, totalitarismo ideológico, aridez

mental. [...] Super, portanto, não é uma revista dirigida a adolescentes nem uma

revista escrita só para adultos. Ela quer dialogar, interessar e instigar a ambos.

(“Carta ao Leitor”, edição 172, jan/2002)

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Na Carta ao Leitor da edição de junho/1996, a Superinteressante anunciava que, a

partir daquele momento, poderia ser encontrada também na Internet. Os leitores, que já

tinham à disposição um endereço de email para contatar a redação, passavam a ter um espaço

mais amplo onde podiam saber os assuntos que a revista abordaria na edição do mês, acessar

informações exclusivas da versão eletrônica e enviar dúvidas e sugestões de maneira mais

rápida e prática. Loveteen, Aventuras na História, Guia do Estudante e Almanaque Abril.

A partir da edição de maio/1998, a seção cartas foi reformulada. Além de ganhar um

novo nome, O leitor é Super, passou a contabilizar o número de cartas, telefonemas e emails

recebidos dos leitores. No mês anterior, a revista recebeu 2 480 e-mails, 1 238 cartas e 915

telefonemas.

Em 1998, para comemorar os dez anos de publicação, a Super lançou um CD com a

maioria das matérias já lançadas. Tal idéia foi reaproveitada no aniversário de quinze anos,

2002, quando passou a lançar anualmente a coleção completa de todas as suas edições, desde

1987 até o atual ano, em formato digital escaneadas em CD-ROMs. Na coleção, o usuário

encontra um software próprio para visualizar as reportagens.

Em junho de 2000, foi anunciada uma nova mudança: a seção de cartas se tornaria

mais on-line. O fato foi justificado pelo crescimento veloz da internet e o conseqüente

aumento de contato dos leitores com a revista através de email. Além disso, o site passava a

oferecer mais recursos para interatividade:

A seção “O Leitor É Super”, cujo objetivo é mostrar a intensa relação da revista com

o público, abrirá mais espaço para esse intercâmbio on-line. Pesquisas, fóruns, todo

tipo de opinião que vier pelo site terão um espaço maior nestas páginas. Como a

troca com os leitores é para nós fundamental, gostaríamos de aumentar cada vez

mais essa interatividade. Convidamos você a participar ativamente. (O Leitor é

Super, edição 154, jul/2000)

Apesar da participação do leitor através da internet continuar sendo estimulada durante

as edições seguintes, não são encontradas muitas referências ao site e à interatividade

oferecida por ele fora da seção de cartas do leitor.

Esse quadro mudou a partir do ano de 2008, quando referências ao site se tornaram

mais frequentes na revista. A seção Digital passa a trazer novidades e os assuntos discutidos

na Superonline, e ao final de cada reportagem da revista, o leitor é convidado a participar do

fórum especialmente criado para aquele assunto no site.

No início de 2010, a redação da super começou a se adequar às novas paltafomas. A

principio a ideia passada pela diretoria da editora Abril era que a revista deveria adequar sue

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conteudo para os tablets. Houve então uma duvida se fariam conteudos especificos ou se seria

apenas versões digitais e eestáticas da revista nessa nova plataformas.

E assim, sem nenhum padrão a ser seguido, a Editora Abril e a Revista

Superinteressante decidiram apenas fazer a transposição do mesmo conteúdo da revista

impressa para os tablets. Uma vez que várias outras revistas estavam fazendo conteúdos

especificos e que não havia uma receita a ser seguida quando o assunto era as publicações no

tablets, pois o mercado no Brasil ainda era pequeno e era uma aposta que não sabiam se ia dar

certo. Para ajudar nesta nova etapa foi contratada um pessoa que conhecia um pouco mais

sobre essa nova forma de mídia.

Após o lançamento da revista Veja nos tablets, houve uma necessidade de fazer outro

projeto gráfico para a revista Superinteressante na plataforma virtual. Após uma resposta

positiva sobre a Super nos tablets, a demanda por informação e por alguma novidade nesse

meio aumentou e houve a necessidade de criar conteúdos específicos. Com essa demanda,

toda a equipe de repórteres e editores foi envolvida. Antes os editores que só se limitavam no

texto e fotos para a revista impressa, passaram a pensar em novos recursos gráficos para atrair

a atenção do público. Jogos interativos, infográficos e animações interativas foram alguns dos

recursos utilizados pela Super.

Depois desse grande passo, a revista foi aprendendo como o leitor se comportava

diante dessa interatividade. No começo todos os recursos foram usados para animação e

interação do leitor.

Como não há uma receita certa para o sucesso de publicações nos tablets, a Super está

com um projeto mais maduro e sólido que ainda está e ficará por um longo tempo em

processos de transformação, uma vez que os gostos e necessidades dos leitores nunca são os

mesmos.

4. Ciberleitura: O livro digital

Diante deste estudo optou-se pela produção de um livro reportagem digital, com

hiperlinks, fotos, videos e áudios assim como a versão interativa da SUPER nos tablets. Os

meios digitais oferecem uma narrativa que combina elementos estáticos como textos e

gráficos, com elementos dinâmicos como áudios, vídeos e infográficos interativos.

Ao longo da produção do trabalho, foi entendido que além dos recursos herdados da

mídia impressa e online, os tablets possuem características próprias que influenciam na forma

de apresentar uma informação e interagir com ela, conduzindo o leitor a uma viagem

midiática pelo conteúdo. Essa nova narrativa deve instigá-lo a explorar as páginas, buscar

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botões, procurar opções de áudio, vídeo e

animações para complementar o conteúdo,

tornando a atividade de leitura mais

interessante.

Primeiramente, antes de definir as

diretrizes para a elaboração deste projeto,

as autoras foram até a empresa

responsável pela revista Superinteressante,

a Editora Abril sediada na cidade de São

Paulo, para entrevistar os envolvidos na

produção da revista impressa e das edições

para os tablets, a fim de obter mais

informações para este estudo.

Nesta visita foi realizada a captação de

vídeos e fotos para enriquecer a produção

e o conteúdo do livro reportagem digital desenvolvido.

O processo de elaboração do livro reportagem digital foi de extrema importância pois

foi posto em prática conceitos de tipografica, infografia, hiperlinks, diagramação e de design

gráfico em geral, adquirido em aulas ao longo dos anos de estudo. Assim como a revista

Superinteresante transpõe seu conteúdo para a plataforma digital, optamos pela transposição

do conteúdo deste trabalho no livro digital que será disponibilizado em PDF interativo, sendo

compatível em computadores, tablets e smartphones.

Para a experiência ser completa, foi criado um blog1 para que os conteúdos extras

pudessem ser hospedados uma vez que a SUPER utiliza seu site para direcionar os leitores

dos tablets para estes conteúdos extras. Foi criado também duas contas na internet. Um canal

de vídeos no Youtube2 para hospedarmos os vídeos captados na entrevista com Fabrício

Miranda, diretor de Arte da Super em visita à redação da Superinteressante, e uma no

Soundcloud3 para armazenar o áudio da entrevista realizada pelo telefone com o diretor de

redação Denis Burgierman.

1 http://impressoaotablet.blogspot.com.br/ 2 http://www.youtube.com/user/doimpressoaotablet 3 https://soundcloud.com/impressoaotablet

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Capa do livro digital Cibercultura.

Índice, chamado “Indicativo”, onde se

explica como funciona o livro e do que trata

cada capítulo. Também há uma legenda para os

ícones que se aparecerem durante a publicação.

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VIDAL, Carolina Loria; GARCIA, Fernanda de Oliveira; ROSA, Caroline Petian Pimenta Bono.

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3. Ano 2. Ribeirão Preto, janeiro-julho, 2014. p. 01-13.

Página que conta a história da revista

Superinteressante.

Página sobre a migração da revista para a internet.

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5. Considerações finais

A discussão sobre gêneros jornalísticos causa

divergência entre teórico da área, desde Platão que

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classificava apenas em duas categorias, o gênero sério e o burlesco. O primeiro, mais para

tratar a história e as tragédias e o outro voltado para sátiras e comédias. Ao longo do tempo

essa classificação foi perdendo força e surgiram outras classificações como a de Gargurevich

(1982), no livro “Géneros periodísticos”, que distingue o jornalismo noticioso do literário.

Com a chegada da internet e a evolução dos meios digitais, os gêneros jornalísticos

foram se transformando e sendo adequados à necessidade da sociedade. Antes, a Revista

Superinteressante e outras, que era apenas palpável, brilhante, com infográficos e cores fortes,

pode hoje explorar um campo que ainda requer atenção e é um tanto desconhecido e

imprevisível.

A mudança para essa nova plataforma permite ao leitor mais interação e mais conforto

na leitura, uma vez que ele mesmo escolhe a ordem e a hora com que vai ler a publicação.

Porém essa mudança para a plataforma só foi possível com o envolvimento dos editores e

jornalistas da própria revista que agora são responsáveis, além do texto informativo e

objetivo, também pelos conteúdos extras, como animações, jogos, infográficos e outros que

irão compor a revista em sua edição para os Tablets.

Referências

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