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PACKAGE DE FORMAÇÃO BRENDAIT 2016
Módulo 2
TAI – Turismo Acessível e Inclusivo
CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
25 horas
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
2
Package de Formação BRENDAIT 2016
FICHA TÉCNICA
TÍTULO
Módulo 2: Turismo Acessível e Inclusivo - CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
PROJETO
BRENDAIT – “Building a Regional Network for the Development of Accessible and Inclusive
Tourism” (2015-2017)
CONSÓRCIO CONSTITUÍDO POR:
AHP – Associação da Hotelaria de Portugal
ENAT – European Network for Accessible Tourism
ESHTE – Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril
PERFIL – Psicologia e Trabalho, Lda.
TCP – Turismo do Centro de Portugal
COM O APOIO FINANCEIRO:
do Programa COSME da União Europeia, do Turismo de Portugal IP, do Turismo do Centro de
Portugal e da Associação da Hotelaria de Portugal.
MISSÃO
Conceber e aplicar uma metodologia de desenvolvimento de uma Rede de Turismo Acessível e
Inclusivo numa região, que pudesse ficar disponível para poder ser replicada noutras regiões.
TERRITÓRIO-TESTE
Portugal, Litoral Oeste; território constituído por 8 municípios: Alcobaça, Batalha, Caldas da
Rainha, Lourinhã, Nazaré, Óbidos, Peniche e Torres Vedras.
EQUIPA TÉCNICA
Coordenação: Acácio Duarte (PERFIL)
Ana Garcia (PERFIL)
Dinis Duarte (PERFIL)
Sara Duarte (PERFIL)
Cláudia Nunes (TCP)
Viriato Dias (TCP)
Jorge Umbelino (ESHTE)
Maria João Martins (AHP)
DATA
Nov. 2016
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
ÍNDICE
1. APRESENTAÇÃO ................................................................................................................. 5
2. DESTINATÁRIOS .................................................................................................................. 7
3. PRÉ-REQUISITOS ................................................................................................................ 7
4. OBJETIVO ............................................................................................................................. 8
5. COMPOSIÇÃO DO MÓDULO ............................................................................................... 8
6. DURAÇÃO ESTIMADA ......................................................................................................... 8
7. METODOLOGIA E ESTRATÉGIAS DE FORMAÇÃO ........................................................... 9
8. AVALIAÇÃO .......................................................................................................................... 9
9. CONTEÚDOS ........................................................................................................................ 9
9.1. UNIDADE TEMÁTICA 1: O QUE É O TURISMO ACESSÍVEL E INCLUSIVO ..................... 9
9.1.1. DIMENSÃO DO UNIVERSO-ALVO DO TURISMO ACESSÍVEL E INCLUSIVO ........................... 10
9.1.2. O CONTEXTO POLÍTICO E NORMATIVO EM QUE O TURISMO ACESSÍVEL E INCLUSIVO SE TEM
VINDO A DESENVOLVER .............................................................................................................. 17
9.1.3. DIMENSÃO DO UNIVERSO-ALVO DO TURISMO ACESSÍVEL E INCLUSIVO ........................... 20
9.1.4. PROJETO ESPECÍFICO EM QUE A AÇÃO DE FORMAÇÃO ESTÁ INSERIDA ........................... 23
9.2. UNIDADE TEMÁTICA 2: OS CLIENTES/TURISTAS COM LIMITAÇÕES MOTORAS ..... 23
9.2.1. NOÇÃO DE PESSOA COM LIMITAÇÕES MOTORAS ........................................................... 23
9.2.2. NECESSIDADES ESPECIAIS, REQUISITOS DE ACESSIBILIDADE E REQUISITOS DE
ATENDIMENTO ............................................................................................................................ 24
9.2.3. ATITUDES E TÉCNICAS DE AJUDA PESSOAL .................................................................. 25
9.2.4. ATIVIDADES E RECURSOS ........................................................................................... 28
9.3. UNIDADE TEMÁTICA 3: OS CLIENTES/TURISTAS COM LIMITAÇÕES VISUAIS ......... 29
9.3.1. NOÇÃO DE PESSOA COM LIMITAÇÕES VISUAIS .............................................................. 29
9.3.2. NECESSIDADES ESPECIAIS, REQUISITOS DE ACESSIBILIDADE E REQUISITOS DE
ATENDIMENTO ............................................................................................................................ 30
9.3.3. ATITUDES E TÉCNICAS DE AJUDA PESSOAL .................................................................. 31
9.4. UNIDADE TEMÁTICA 4: OS CLIENTES/TURISTAS COM LIMITAÇÕES AUDITIVAS .... 34
9.4.1. NOÇÃO DE PESSOA COM LIMITAÇÕES AUDITIVAS .......................................................... 34
9.4.2. NECESSIDADES ESPECIAIS, REQUISITOS DE ACESSIBILIDADE E REQUISITOS DE
ATENDIMENTO ............................................................................................................................ 36
9.4.3. ATITUDES E TÉCNICAS DE AJUDA PESSOAL .................................................................. 37
9.5. UNIDADE TEMÁTICA 5: OS CLIENTES/TURISTAS COM LIMITAÇÕES INLECTUAIS .. 39
9.5.1. NOÇÃO DE PESSOA COM LIMITAÇÕES INTELECTUAIS ..................................................... 39
9.5.2. NECESSIDADES ESPECIAIS, REQUISITOS DE ACESSIBILIDADE E REQUISITOS DE
ATENDIMENTO ............................................................................................................................ 40
9.5.3. ATITUDES E TÉCNICAS DE AJUDA PESSOAL .................................................................. 42
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
9.6. UNIDADE TEMÁTICA 6: OS CLIENTES/TURISTAS COM LIMITAÇÕES DECORRENTES
DO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E DE OUTRAS SITUAÇÕES RELACIONADAS
COM AS SUAS CONDIÇÕES GERAIS DE SAÚDE................................................................ 44
9.6.1. OS CLIENTES/TURISTAS SENIORES COM LIMITAÇÕES DECORRENTES DO PROCESSO DE
ENVELHECIMENTO ...................................................................................................................... 44
9.6.2. OS CLIENTES /TURISTAS COM LIMITAÇÕES DECORRENTES DE OUTRAS SITUAÇÕES
RELACIONADAS COM AS SUAS CONDIÇÕES GERAIS DE SAÚDE ....................................................... 46
10. REFERÊNCIAS E RECURSOS ...................................................................................... 48
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
1. APRESENTAÇÃO
O presente módulo integra o PACKAGE DE FORMAÇÃO BRENDAIT 2016,
concebido para desenvolver as competências pessoais e profissionais
necessárias para o processo de transformação de um determinado território
num destino turístico acessível e inclusivo.
A preparação de um território / região para acolher, com qualidade, as pessoas
com necessidades especiais que o visitam, implica duas grandes frentes de
trabalho complementares:
A frente de trabalho que visa capacitar as entidades prestadoras de
serviços turísticos (hotelaria, restauração, património natural e cultural,
informação turística, animação turística, etc.) para atenderem
adequadamente este tipo de visitantes e conquistarem clientes no
mercado do turismo acessível e inclusivo;
A frente de trabalho que visa melhorar a qualidade inclusiva dos
contextos em que decorrem as estadias de quem visita o território e
que contribuem decisivamente para a sua maior ou menor satisfação e
vontade de voltar:
○ Acessibilidade do espaço público e da rede de transportes;
○ Atendimento nos serviços comuns abertos ao público (comercio,
farmácias, correios, bancos, serviços de saúde, serviços de
segurança, etc.);
○ Interação social com o cidadão comum no espaço público.
De um modo geral, no contexto do turismo, consideram-se “necessidades
especiais” aquelas que decorrem de limitações motoras, visuais, auditivas e
intelectuais relacionadas com as condições gerais de saúde da pessoa
(deficiência, envelhecimento, acidente, doença e outras situações pontuais de
diminuição da mobilidade).
Consideram-se necessidades “especiais” ou “específicas” por serem
necessidades diferentes, necessidades que o turista comum normalmente não
apresenta e por a oferta turística, de um modo geral, precisar de se preparar
para lhes responder com a qualidade requerida.
O Package de Formação “BRENDAIT” integra um conjunto de módulos
concebidos como instrumentos de apoio ao desenvolvimento das diversas
vertentes ou etapas do processo de transformação do território, visando os
correspondentes estratos profissionais e sociais intervenientes.
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
COMPOSIÇÃO DO PACKAGE DE FORMAÇÃO BRENDAIT 2016
VERTENTE DESCRIÇÃO MÓDULO PÚBLICO-ALVO
A
Constituição de uma Parceria Regional para desenvolvimento do projeto de transformação de um território num destino turístico acessível e inclusivo.
1. Turismo Acessível e Inclusivo – OPORTUNIDADES E
DESAFIOS (6 h)
Dirigentes de entidades que possam vir a estar interessadas em participar no projeto de transformação do território num destino turístico acessível e inclusivo e integrar a Parceria Regional a criar para esse efeito.
B
Capacitação das entidades prestadoras de serviços turísticos para atenderem “clientes com necessidades especiais” e para virem a integrar a rede regional de turismo acessível e inclusivo.
2. Turismo Acessível e Inclusivo – CONCEITO. COMPETÊNCIAS
TRANSVERSAIS (25 h)
Multiprofissional (dirigentes, quadros, técnicos) e multissetorial (hotelaria, restauração, transportes, turismo cultural, turismo ativo, informação turística, promoção, etc.).
3. Empresa turística acessível e inclusiva - AUTODIAGNÓSTICO E
PLANO DE AJUSTAMENTOS (25 h)
“Task-force”/ 2 ou 3 profissionais de cada empresa/ entidade que possam constituir uma referência interna para os assuntos da acessibilidade e de serviço inclusivo.
4. Empresa turística acessível e inclusiva – COMPETÊNCIAS DE
SERVIÇO – ALOJAMENTO E
RESTAURAÇÃO (25 h)
Profissionais de cada empresa/entidade de Hotelaria e Restauração que intervêm na prestação dos serviços em contacto direto com os clientes.
5. Empresa turística acessível e inclusiva – COMPETÊNCIAS DE
SERVIÇO – ANIMAÇÃO
TURÍSTICA (25 h)
Profissionais de cada empresa/entidade de Animação Turística que intervêm na prestação dos serviços em contacto direto com os clientes.
6. Empresa turística acessível e inclusiva – ORGANIZAÇÃO, QUALIDADE E
CERTIFICAÇÃO (25 h)
Profissionais de cada empresa / entidade com funções relacionadas com a conceção e organização dos serviços, com a gestão de recursos humanos e com a gestão da qualidade.
7. Empresa turística acessível e inclusiva – GESTÃO, MARKETING E
COMERCIALIZAÇÃO (25 h)
Dirigentes e profissionais da área comercial.
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
VERTENTE DESCRIÇÃO MÓDULO PÚBLICO-ALVO
C
Desenvolvimento de contextos locais acessíveis e inclusivos, em termos de serviços de utilização comum, e de cidadania inclusiva.
8. ATENDIMENTO INCLUSIVO
EM SERVIÇOS LOCAIS (comuns a residentes, visitantes e turistas) (25 h)
Profissionais dos serviços abertos ao público, comuns a residentes, visitantes e turistas, com funções de acolhimento/atendimento dos clientes ou utentes.
9. Cidadania inclusiva – RELACIONAMENTO
INTERPESSOAL (25 h)
Cidadãos interessados em adquirir as competências pertinentes para se relacionarem adequadamente com pessoas com” necessidades especiais”.
D Formação de formadores em turismo acessível e inclusivo.
10. Turismo Acessível e Inclusivo - FORMAÇÃO
DE FORMADORES (25 h)
Professores e Formadores do sistema de qualificação profissional existente na região, com oferta de qualificação dirigida ao setor do turismo.
Neste contexto, a finalidade do Módulo 2: Turismo Acessível e Inclusivo –
CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS é contribuir para a construção
nos profissionais do turismo, de uma base sólida de conhecimento, de atitudes
favoráveis relativamente ao turismo acessível e inclusivo e de uma boa
capacidade de relacionamento interpessoal com os “clientes com necessidades
especiais”, transversais aos diversos estratos profissionais e às diversas áreas
de atividade turística.
2. DESTINATÁRIOS
Sendo um módulo transversal dirigido aos profissionais das diversas áreas de
atividade turística, destina-se a um público-alvo multiprofissional (dirigentes,
quadros técnicos, técnicos-operação) e multissetorial (hotelaria, restauração,
transportes, turismo cultural, turismo ativo, informação turística, promoção,
etc.).
3. PRÉ-REQUISITOS
Trata-se de formação contínua. A realização deste módulo visa enxertar, no
perfil dos profissionais do turismo, conhecimento e competências relacionadas
com o turismo acessível e inclusivo e com o atendimento de turistas com
necessidades especiais. Supõem-se adquiridos o conhecimento geral sobre o
turismo e as competências básicas de atendimento do turista comum.
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
4. OBJETIVO
No final da formação, os participantes deverão estar em condições de
demonstrar:
Compreender o conceito de “Turismo Acessível e Inclusivo” e a
relevância estratégica do seu desenvolvimento para o setor do turismo;
Compreender o que são turistas com "necessidades especiais" e os
cuidados específicos que a oferta turística precisa ter para os atender
com qualidade;
Ser capaz de atender com naturalidade e eficiência clientes/turistas com
necessidades especiais” e dominar as técnicas básicas para lhes prestar
apoio nas suas dificuldades de mobilidade, orientação e comunicação.
5. COMPOSIÇÃO DO MÓDULO
O módulo é composto pelas seguintes unidades temáticas:
Unidade temática 1: O que é o Turismo Acessível e Inclusivo
Unidade temática 2: Os clientes/turistas com limitações motoras
Unidade temática 3: Os clientes/turistas com limitações visuais
Unidade temática 4: Os clientes/turistas com limitações auditivas
Unidade temática 5: Os clientes/turistas com limitações intelectuais
Unidade temática 6: Os clientes/turistas com limitações decorrentes do
processo de envelhecimento e de outras situações relacionadas com as
suas condições gerais de saúde
6. DURAÇÃO ESTIMADA
Estima-se uma duração de referência de 25 horas, distribuídas pelas 6
unidades temáticas.
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
7. METODOLOGIA E ESTRATÉGIAS DE FORMAÇÃO
A metodologia para o desenvolvimento da 1.ª unidade temática, de
enquadramento geral, poderá apoiar-se numa exposição estruturada sobre o
tema, eventualmente com recurso também a trabalhos de grupo.
Para as unidades temáticas relativas às diversas tipologias de limitações, o
processo de facilitação da aquisição de conhecimentos, de ajustamento de
atitudes e de aprendizagem de procedimentos de ajuda pessoal (mobilidade,
orientação e comunicação), poderá organizar-se em torno de testemunhos
presenciais de pessoas com necessidades especiais / limitações motoras,
visuais, auditivas e intelectuais, relativamente às suas experiências de vida
(nomeadamente relacionadas com situações de viagem e turismo) e da sua
interação com os participantes.
Poderão igualmente preparar-se atividades de simulação das limitações, como
por exemplo: deslocar-se numa cadeira de rodas, vendar os olhos, limitar a
visão simulando a baixa visão, etc.
Ao Formador caberá animar as sessões relativas aos diferentes tipos de
limitações, com recurso a diversas atividades, tais como: exposições
introdutórias (estruturantes anteriores); intervenções de síntese e orientação;
trabalhos de grupo; exercícios práticos de procedimentos de ajuda pessoal;
exposições de síntese / conclusão.
8. AVALIAÇÃO
A avaliação, a ajustar de acordo com o contexto em que a ação de formação
seja realizada, poderá ser efetuada mediante questionários e/ou exercícios
práticos de aplicação, em termos de avaliação contínua e de avaliação final.
9. CONTEÚDOS
9.1. UNIDADE TEMÁTICA 1: O QUE É O TURISMO ACESSÍVEL E INCLUSIVO
As questões da acessibilidade e da inclusão têm sido abordadas
habitualmente, no contexto do turismo, em relação muito estreita com a
problemática das “pessoas com deficiência” (deficiência motora, deficiência
visual, deficiência auditiva e deficiência intelectual) e muito focada nas
“pessoas com mobilidade reduzida”.
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
Contudo, nos últimos anos têm vindo a ganhar visibilidade outros grupos de
pessoas que, não se sentindo nem sendo consideradas “pessoas com
deficiência”, apresentam necessidades semelhantes, quando viajam, quando
fazem turismo.
Pessoas com “necessidades especiais” que decorrem de diversos tipos de
limitações (motoras, visuais, auditivas, intelectuais, alérgicas e outras),
relacionadas com as suas condições gerais de saúde e que requerem dos
serviços turísticos “cuidados especiais”, em matéria de condições de
acessibilidade e em matéria de condições de atendimento/serviço, diferentes
das da pessoa/turista comum e que, de um modo geral, muitas das
empresas/entidades prestadoras dos serviços não estão ainda em condições
de proporcionar.
9.1.1. DIMENSÃO DO UNIVERSO-ALVO DO TURISMO ACESSÍVEL E INCLUSIVO
O CONCEITO DE TURISMO ACESSÍVEL E INCLUSIVO 9.1.1.1.
Turismo acessível e inclusivo e “pessoas com deficiência”
O turismo acessível e inclusivo começa por ser um conceito que procura
articular duas realidades que foram evoluindo paralelamente nos últimos 50
anos: a realidade Pessoas com Deficiência e a realidade Turismo.
Na verdade, nos últimos 50 anos, assistiu-se a uma grande evolução das
condições de acesso das pessoas com deficiência aos seus diversos direitos
(da resposta às suas necessidades básicas, aos direitos de cidadania) e, por
outro lado, ocorreu também uma enorme evolução no acesso do cidadão
comum ao turismo e na extensão e diversidade da oferta turística (do turismo
para uma elite, ao turismo para todos).
Em Portugal, o percurso de evolução das condições de acesso das pessoas
com deficiência ao exercício dos seus diversos direitos pode ser descrito de
forma sucinta.
Inicialmente mais focado na área da saúde (reabilitação médica), passou
depois, sobretudo a partir da década de 1970, à área da Educação (Educação
Especial), para posteriormente, com especial relevância a partir do acesso aos
apoios do Fundo Social Europeu, nos anos 1980-90, ir cobrindo também as
áreas da Qualificação e do Emprego (formação profissional e apoios para
acesso ao emprego comum e a emprego protegido), incluindo também a
integração em Atividades Ocupacionais (para as situações mais complexas
sem condições para aceder a emprego).
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
Nas últimas décadas foi emergindo, com cada vez maior relevo, o acesso ao
exercício de direitos relacionados com outros aspetos da vida na comunidade,
nomeadamente: habitação, família, participação social, lazer, saúde e bem-
estar e também, naturalmente, o direito de acesso à viagem, ao turismo.
No mesmo período de tempo, o percurso de evolução do setor do turismo
poderá ser descrito do seguinte modo:
Uma situação inicial caracterizada por uma procura constituída por uma
elite pouco numerosa e uma oferta de limitada dimensão e diversidade;
Um desenvolvimento acelerado ao longo do período, caracterizado por
uma enorme ampliação e diversificação progressiva da “procura” (com
diferentes origens, características, interesses e necessidades) e por uma
correspondente ampliação e diversificação progressiva da “oferta” (mais
qualidade e grande diferenciação dos produtos turísticos);
A situação atual, em que o acesso ao turismo é considerado um direito e
uma expetativa legítima de todos e cada um dos cidadãos e em que
praticamente todos os locais do Mundo pretendem ser destinos
turísticos.
A evolução convergente destas duas realidades conduziu, num primeiro
movimento, ao conceito de turismo acessível para pessoas com deficiência e
num segundo movimento, em razão da ampliação deste universo a outros
públicos com necessidades semelhantes, ao conceito de turismo acessível
para pessoas com necessidades especiais.
Turismo acessível e inclusivo e “pessoas com necessidades especiais”
Todos os turistas têm necessidades específicas, de natureza pessoal, social e
cultural, relacionadas com as suas características, motivações e interesses
turísticos, cabendo à “oferta” turística satisfazer adequadamente tais
necessidades. Tal ocorre qualquer que seja a tipologia de turismo em causa:
turismo sénior, turismo jovem, turismo social, turismo religioso, turismo de
negócios, etc.
Para definir o que, neste contexto, se entende por turistas com necessidades
especiais, distinguindo estas das necessidades específicas do cliente/turista
comum, ter-se-á de recorrer a dois critérios complementares:
Por um lado, um critério que se refere às condições da própria pessoa e
que explicita a natureza particular deste tipo de necessidades
específicas - limitações motoras, visuais, auditivas, intelectuais e outras,
relacionadas com as suas condições gerais de saúde (perspetiva da
“procura”);
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
Por outro lado, um critério que se refere às condições de prestação dos
serviços e que explicita os requisitos específicos (em termos de
condições materiais e em termos de competências de serviço) para
responder adequadamente a estas necessidades (perspetiva da
“oferta”).
As necessidades especiais aqui em causa são as que ocorrem em contexto de
fruição turística e que resultam da interação entre as características-limitações-
condições da pessoa/cliente e as características-condições-requisitos dos
serviços prestados.
Turismo acessível e inclusivo e “requisitos da oferta turística”
Para que a oferta turística possa satisfazer adequadamente as necessidades
especiais acima referidas precisa de assegurar, de forma cumulativa e
integrada, três subconjuntos de requisitos:
Acessibilidade das infraestruturas dos prestadores de serviços turísticos,
ou seja, acessibilidade dos edifícios, do mobiliário, dos equipamentos,
dos espaços e dos percursos inerentes à fruição dos serviços turísticos
– viagem, alojamento, alimentação, informação turística, animação –
incluindo os meios de transporte, os meios utilizados para comunicação
“online”, assim como a acessibilidade das atividades turísticas de
exterior / ar livre / natureza;
Competências de atendimento / prestação dos serviços, ou seja,
processos, procedimentos e utensílios de trabalho (produtos de apoio /
ajudas técnicas) adequados à prestação dos serviços a este tipo de
clientes e competências dos profissionais intervenientes
(conhecimentos-saberes, capacidades-saber fazer e atitudes-saber-ser)
específicas para o efeito;
Abordagem holística da prestação dos serviços, ou seja:
○ Dispor de uma cadeia articulada de serviços turísticos acessíveis e
qualificados com competências de atendimento, cobrindo os elos
essenciais da cadeia (viagem, alojamento, alimentação, informação,
animação);
○ Dotar os contextos em que decorrem as estadias turísticas (espaço
público, serviços comuns e interação social) com condições físicas e
competências pessoais de cidadania inclusiva;
○ Desenvolver uma cultura de trabalho em rede entre os agentes
envolvidos para poderem potenciar experiências/estadias turísticas
de qualidade a este tipo de clientes.
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
Turismo acessível e inclusivo: diversidade humana, diferenças
individuais e competências de cidadania
Diversidade humana e diferenças individuais
A diversidade humana, sendo um dado óbvio da realidade, não deixa de
ser também um assunto bastante complexo. É verdade que, por um
lado, nós, seres humanos, somos todos iguais: iguais em dignidade e
em valor, como pessoas; iguais em direitos, como cidadãos, mas
também é verdade que somos todos diferentes: características físicas,
histórias de vida, interesses, necessidades, capacidades, etc.
Os mercados da oferta de bens e de serviços têm de lidar com essa
dupla complexidade: conceber e disponibilizar produtos o mais possível
“à medida” das características, condições, interesses e necessidades de
cada um e o mais possível standards, comuns ao maior número possível
de consumidores.
A diversidade humana é um enorme desafio para o “design universal” de
edifícios, espaços, equipamentos, mobiliário, produtos, serviços,
comunicação, etc. Mas também é um grande desafio para as nossas
atitudes, os nossos comportamentos do dia-a-dia.
Na verdade, o modo como lidamos com as nossas próprias “diferenças”
e com as “diferenças” das outras pessoas também não é linear.
Frequentemente, temos dificuldade em aceitar e conviver de forma
positiva com essas “diferenças”.
Quando, em comparação com o que somos e o que temos, as
“diferenças” dos outros nos parecem ser “para mais”, surgem, por vezes,
sentimentos e atitudes relacionadas com inveja, tristeza, rivalidade,
agressividade, por exemplo.
Quando, em comparação com o que somos e o que temos, as
“diferenças” dos outros nos parecem ser “para menos”, surgem, por
vezes, sentimentos de pena, desvalorização, indiferença, rejeição,
exclusão.
Até mesmo, no interior de cada um de nós, muitas vezes temos
dificuldades para lidar de forma adequada, quer com os nossas
“qualidades” (vaidade, autoelogio, presunção …), quer com os nossos
“defeitos” (ansiedade, medo, rejeição, negação …).
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
Necessidades especiais e competências de cidadania
Diferenças individuais decorrentes de limitações motoras, visuais,
auditivas e intelectuais, relacionadas com as condições gerais de saúde
das pessoas, induzem “necessidades especiais”, nomeadamente no que
se refere à acessibilidade aos locais, edifícios, equipamentos, serviços,
comunicação, etc. e à interação com as outras pessoas nos seus
contextos de vida quotidiana, incluindo o atendimento nos diversos
serviços que precisa utilizar.
Uma resposta adequada a estas necessidades por parte do meio
envolvente requer também, naturalmente, “cuidados especiais”, em
termos de condições físicas de acessibilidade, de competências de
relacionamento interpessoal e de ajuda a essas pessoas.
“Cuidados especiais” que as condições das infraestruturas físicas
(espaço público, edifícios, mobiliário, equipamentos) frequentemente
ainda não conseguem assegurar cabalmente.
“Cuidados especiais” que exigem competências específicas do cidadão
comum e dos profissionais que prestam serviços:
○ conhecimentos sobre as situações de deficiência, sobre o processo
de envelhecimento, sobre as sequelas de diversas patologias;
○ atitudes de compreensão, respeito e apoio;
○ capacidades, procedimentos técnicos de ajuda à mobilidade, à
orientação e à comunicação.
Competências que a grande maioria dos cidadãos e dos profissionais
nunca tiveram oportunidade de adquirir; oportunidade de aprender a
relacionar-se naturalmente com essas pessoas e a prestar-lhes apoio na
ultrapassagem das suas dificuldades de mobilidade, orientação e
comunicação.
Turismo acessível e inclusivo: um espaço de convergência de interesses
e de vontades
O turismo acessível e inclusivo proporciona oportunidade e convoca
convergências que tradicionalmente tenderiam a correr paralelas, se não
mesmo em conflito:
Convergência de motivações económicas e motivações de cidadania
inclusiva. O turismo acessível e inclusivo, quer como atividade
económica quer como atividade profissional, permite fazer convergir
motivações de caracter económico: negócio / ganhar dinheiro; emprego /
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
ganhar ordenado e motivações de cidadania inclusiva: contribuir para
que mais pessoas possam fruir do prazer da viagem e do turismo,
apesar das limitações que a deficiência, o envelhecimento, as doenças,
os acidentes, etc. lhes tenham trazido;
Convergência entre os contributos, os esforços de adaptação de quem
precisa dos serviços e os contributos, os esforços de adequação de
quem presta os serviços;
Convergência de contributos, de atividades, de vontades, de 3 frentes de
trabalho complementares:
○ das empresas e entidades públicas prestadoras de serviços
turísticos;
○ das empresas e entidades públicas prestadoras de serviços locais
comuns;
○ da própria comunidade de cidadãos que querem receber bem quem
visita a sua terra.
Turismo acessível e inclusivo e outras designações utilizadas
Turismo acessível
Se a designação for construída com o foco nas necessidades
específicas de acesso dos clientes/turistas e, consequentemente, no
primeiro dos subconjuntos de requisitos da “oferta” (acessibilidade das
infraestruturas), o termo que parece mais ajustado é o de turismo
acessível.
Turismo inclusivo
Se a designação for construída com o foco nas necessidades
específicas de atendimento dos clientes/turistas e, consequentemente,
no segundo dos subconjuntos de requisitos da “oferta” (competências de
atendimento / prestação dos serviços), o termo que parece mais
ajustado é o de turismo inclusivo.
Na verdade, o adjetivo inclusivo é o termo adequado para significar, na
relação interpessoal e na prestação dos serviços, “tratar com igualdade
respeitando a diferença”, ou seja, no caso concreto do turismo, significa
prestar serviços turísticos a pessoas com necessidades especiais
(decorrentes de limitações relacionadas com as suas condições de
saúde), como clientes-turistas iguais a todos os outros (em direitos,
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
como cidadãos; em dignidade, como pessoas; em valor, como clientes),
respondendo adequadamente às suas necessidades específicas.
A cobertura que cada uma das designações faz da realidade que
pretende representar é parcelar e inversamente proporcional, de acordo
com a tipologia de limitações em causa (vide figura abaixo).
Turismo para todos
É uma expressão mais atraente do que as duas anteriores, já que evita
qualquer conotação com o conceito de “diferença”.
Só que, ao esconder as “diferenças” (as que estão em causa no turismo
acessível e inclusivo) e todas as outras, é aplicado indiscriminadamente
a várias outras realidades:
○ Turismo para todos: todas as idades (turismo juvenil, turismo sénior,
etc.);
○ Turismo para todos; todas as motivações e interesses (turismo de
férias, turismo de negócios, turismo religioso, turismo de saúde, etc.);
○ Turismo para todos: todas as bolsas (turismo social, turismo “low-
cost”, etc.).
A questão é que o turismo acessível e inclusivo é um conceito
estruturalmente transversal a todas as tipologias de turismo: há
clientes/turistas com necessidades especiais em todos os estratos
etários, em todos os estratos socioeconómicos, em todos os tipos de
motivações e interesses que originam os diferentes produtos turísticos.
No contexto atual, poder-se-á apontar para uma utilização do conceito
“turismo para todos” como ideal, como meta, como visão: o dia em que a
sociedade em geral e o turismo em particular, tenham atingido um tal
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
grau de inclusão que todos (ou quase todos) os serviços cumpram, nas
suas condições físicas e rotinas comuns de funcionamento, os requisitos
de acessibilidade e de atendimento de todas as pessoas com as suas
necessidades específicas, sejam elas quais forem.
Entretanto, como estamos ainda muito longe dessa situação ideal, para
intervir na realidade, o conceito que nos parece mais útil é aquele em
que se focam e explicitam as vertentes da oferta de serviços que é
necessário transformar, qualificar, ajustar: a acessibilidade das
infraestruturas, as competências de atendimento e a abordagem
holística da prestação dos serviços.
Esse conceito é, para nós e para este efeito, enquanto não for
encontrado outro mais adequado, o de “turismo acessível e inclusivo”.
9.1.2. O CONTEXTO POLÍTICO E NORMATIVO EM QUE O TURISMO ACESSÍVEL E INCLUSIVO SE TEM VINDO A DESENVOLVER
A evolução do contexto político e normativo no que refere à relação entre o
turismo e as pessoas com necessidades especiais inclui várias vertentes,
nomeadamente:
a) A vertente dos direitos das pessoas com deficiência
A evolução vem desde uma pequena referência à “invalidez” que é feita na
Declaração Universal dos Direitos Humanos (ONU 1948) até à Convenção
dos Direitos das Pessoas com Deficiência (ONU 2006) que no seu artigo
30º expressamente refere o acesso ao turismo:
“(…) assegurar que as pessoas com deficiência tenham acesso aos
serviços prestados por pessoas ou entidades envolvidas na organização de
atividades recreativas, turísticas, desportivas e de lazer (…)”.
b) A vertente do posicionamento da Organização Mundial do Turismo
relativamente ao Turismo Acessível
A evolução vem desde:
○ A referência expressa que é feita no Código Mundial de Ética do
Turismo (OMT 1999) ao direito das pessoas com deficiência ao
turismo – art. 7.º n.º 4:
“(…) O turismo das famílias, dos jovens e dos estudantes, das
pessoas de idade e dos deficientes deve ser encorajado e facilitado”;
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
18
Package de Formação BRENDAIT 2016
○ Às recomendações específicas sobre o turismo acessível aprovadas
na Assembleia Geral da OMT em 2013, que podem ser sintetizadas
com a seguinte frase do seu Secretário Geral:
“A acessibilidade é um elemento central de qualquer política de
turismo responsável e sustentável. Constitui simultaneamente um
imperativo dos direitos humanos e uma oportunidade de negócio
excecional. Acima de tudo, temos que começar a compreender que o
turismo acessível não beneficia apenas as pessoas com deficiência
ou com necessidades especiais, beneficia-nos a todos”;
○ À Declaração da Cimeira Mundial dos Destinos para TODOS (2014),
em que “mulheres e homens de vários países e regiões de todo o
mundo, incluindo profissionais, representantes de ONGs e diversos
setores da sociedade civil, universidades, agências internacionais e
multilaterais, e funcionários de instituições governamentais”, se
comprometem “a manter a cooperação a um nível internacional, nas
nossas regiões e países específicos por forma a apoiar e monitorizar
a implementação das Recomendações para o Turismo Acessível da
OMT”, recomendando um conjunto de medidas: “para o turismo,
operadores de viagens e transportes e intermediários; para as
autoridades locais; para os governos e autoridades nacionais; para
os agentes internacionais”;
○ Até à decisão da OMT de escolher o Turismo Acessível para tema
central da celebração do Dia Mundial de Turismo (2016).
c) A vertente do posicionamento da União Europeia relativamente ao
Turismo Acessível
Para além da “Estratégia Europeia para a Deficiência 2010-2020”,
relevamos as seguintes iniciativas:
○ A Conferência Europeia “MIND the Accessibility GAP” (2014), em
que a EU apresentou os resultados dos três Estudos que efetuou
sobre o Turismo Acessível:
Estudo - Impacto económico e padrões de viagem do turismo
acessível na Europa;
Estudo - Mapeamento e análise da performance da oferta turística
acessível na Europa;
Estudo - Mapeamento das competências e necessidades de
formação para melhorar a acessibilidade nos serviços de turismo;
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
19
Package de Formação BRENDAIT 2016
e em que foi apresentado também um conjunto de Boas Práticas1, neste
âmbito, identificadas em diversos países europeus.
Na sequência dos Estudos da EU acima referidos, foi divulgada uma
“call” do programa europeu COSME, no quadro do qual se inseriu o
projeto BRENDAIT (2015-2017), sendo um dos seus produtos o
presente “Package de Formação”).
○ O AccessibilityACT (2015/2016) – Proposta de Diretiva Comunitária,
“A fim de maximizar a sua utilização previsível por pessoas com
limitações funcionais, nomeadamente as pessoas com deficiência e
as pessoas com dificuldades relacionadas com a idade, os produtos
e serviços devem ser concebidos e prestados para que sejam
acessíveis a todas as pessoas, assegurando a máxima autonomia
possível, de acordo com as suas necessidades especiais”.
d) A vertente política e normativa relativa ao turismo acessível no
âmbito nacional
O quadro político-normativo nacional em matéria de turismo acessível e
inclusivo pode ser caracterizado pelos seguintes elementos principais:
Diplomas legais, nomeadamente:
○ A Lei n.º 46/2006, que proíbe e pune a discriminação em razão da
deficiência e da existência de risco agravado de saúde, referindo
entre as práticas discriminatórias, nomeadamente:
a recusa de fornecimento ou o impedimento de fruição de bens ou
serviços;
a recusa ou a limitação de acesso ao meio edificado ou a locais
públicos ou abertos ao público;
a recusa ou a limitação de acesso aos transportes públicos, quer
sejam aéreos, terrestres ou marítimos;
○ O Decreto-Lei 163/2006, que define as condições de acessibilidade
a satisfazer no projeto e na construção de espaços públicos,
equipamentos coletivos e edifícios públicos e habitacionais;
○ O Decreto-Lei 39/2008, que estabelece o regime jurídico da
instalação exploração e funcionamento dos empreendimentos
1 Uma das boas práticas apresentadas na Conferência foi o Estudo Turismo Inclusivo –
Competências de Atendimento - CECD-PERFIL 2011
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
20
Package de Formação BRENDAIT 2016
turísticos e que, no seu Artigo 6.º se refere às condições de
acessibilidade nos seguintes termos:
“1 — As condições de acessibilidade a satisfazer no projeto e na
construção dos empreendimentos turísticos devem cumprir as
normas técnicas previstas no Decreto-Lei n.º 163/2006, de 8 de
Agosto.
2 — Sem prejuízo do disposto no número anterior, todos os
empreendimentos turísticos, com exceção dos previstos na alínea e)
e f) do n.º 1 do artigo 4.º, devem dispor de instalações, equipamentos
e, pelo menos, de uma unidade de alojamento, que permitam a sua
utilização por utentes com mobilidade condicionada.”
Referenciais de boas-práticas e de gestão da qualidade,
especificamente dirigidos ao turismo acessível e inclusivo, nomeadamente:
○ Guia de Boas Práticas de Acessibilidade na Hotelaria, editado pelo
Turismo de Portugal em 2012.
○ Guia de Boas Práticas de Acessibilidade – Turismo Ativo, editado
pelo Turismo de Portugal em 2014.
○ Norma Portuguesa n.º 4523 / 2014 sobre Turismo Acessível em
Estabelecimentos Hoteleiros, editada pelo IPQ, Instituto Português
da Qualidade, em 2014.
Estratégia de desenvolvimento do turismo
Nos dez desafios traçados para os próximos dez anos pela “Estratégia Turismo
2027” consta um desafio especificamente focado no turismo acessível:
“5. Acessibilidades - Reforçar a acessibilidade ao destino Portugal e promover
a mobilidade dentro do território”.
9.1.3. DIMENSÃO DO UNIVERSO-ALVO DO TURISMO ACESSÍVEL E INCLUSIVO
O universo-alvo do turismo acessível e inclusivo integra um conjunto de (novos)
grupos da população que se encontram às portas do turismo e para os quais,
de um modo geral, a oferta turística não tem ainda condições de acessibilidade
e de prestação dos serviços adequadas para os receber.
O primeiro grande grupo é o das pessoas com deficiência. Trata-se de um
grupo que sempre existiu na sociedade humana, mas que foi sendo quase
sempre bastante marginalizado ao longo dos séculos e que nas últimas
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
21
Package de Formação BRENDAIT 2016
décadas tem vindo a conquistar progressivamente o acesso aos direitos
comuns a qualquer cidadão (saúde, educação, qualificação, emprego, família,
convívio social, etc.), incluindo também o acesso ao lazer, à viagem, ao
turismo.
De acordo com as estatísticas, a dimensão deste grupo na população situa-se
na ordem dos 10 a 15%.
Admitindo que nem todas estas pessoas, quando fazem turismo, precisam de
“cuidados especiais” diferenciados dos prestados ao turista comum, pode-se
considerar como estimativa pertinente para as preocupações do turismo
acessível e inclusivo uma percentagem de 10% da população.
O segundo grande grupo é o das pessoas seniores em processo de
envelhecimento. Trata-se de um grupo que, em razão da evolução das
condições gerais de saúde da população, da evolução demográfica e da
extensão do período de vida após o termo da “vida ativa” nas sociedades
modernas, tem vindo a aumentar progressiva e aceleradamente nas últimas
décadas.
As estatísticas apontam para uma percentagem de cidadãos com mais de 65
anos da ordem dos 20% da população.
Sabe-se que o processo de envelhecimento conduz à diminuição progressiva
das capacidades das pessoas, perturbando / diminuindo não apenas as suas
capacidades físicas (mobilidade, força, resistência, equilíbrio, …), mas também
as suas capacidades sensoriais (visão, audição, …) e as suas capacidades
intelectuais/cognitivas (compreensão, memória, atenção, raciocínio, orientação
no espaço, orientação no tempo,…).
Limitações que também elas, em contexto de viagem e de turismo, conduzem a
“necessidades especiais”, requerendo da oferta turística “cuidados especiais”
em matéria de acessibilidade, de comunicação e de serviço.
Se estimarmos que em metade das pessoas seniores, o processo de
envelhecimento terá começado já a fazer surgir limitações do tipo das acima
referidas, podemos considerar que este grupo vem acrescentar à dimensão do
universo-alvo do turismo acessível e inclusivo mais 10% da população.
Num terceiro grande grupo podemos incluir três subgrupos de situações,
também elas requerendo da oferta turística “cuidados especiais” em termos de
acessibilidade e/ou de prestação dos serviços, semelhantes aos dos dois
grupos anteriores:
i. Pessoas com sequelas de diversas patologias (cardíacas,
respiratórias, neurológicas, oncológicas, etc.), patologias que a medicina
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
já consegue controlar, mas que podem deixar limitações nas
capacidades das pessoas, nomeadamente nos âmbitos motor, visual,
auditivo, intelectual / psicológico;
ii. Pessoas com características físicas excecionais, nomeadamente em
termos de baixa estatura (nanismo), em termos de altura (gigantismo) ou
em termos de obesidade (grandes obesos), que podem beneficiar
também da cultura de ajustamento dos requisitos da oferta turística às
características físicas dos clientes;
iii. Pessoas com redução pontual na sua mobilidade, devida a acidentes
(de viação, de trabalho, nos desportos, domésticos, etc.), a
circunstâncias de gravidez ou de deslocação com crianças de colo ou
com carrinhos de bebé, também elas podendo beneficiar do ajustamento
das condições de acessibilidade da oferta turística às necessidades das
pessoas com mobilidade reduzida.
Não conhecemos estimativas estatísticas sobre as percentagens destes
subgrupos na população, mas certamente que este terceiro grupo terá uma
dimensão também muito significativa.
Um quarto grupo é o das pessoas com alergias e intolerâncias
alimentares e respiratórias. Trata-se de pessoas com “necessidades
especiais”, quando em contexto de fruição turística, com implicações relevantes
sobretudo para os serviços de Alojamento e para os serviços de Restauração.
Estima-se que a sua percentagem na população seja superior a 30%.
Presumindo que pelo menos um terço das pessoas deste grupo apresentem
necessidades que requerem da “oferta” turística cuidados especiais/
específicos, acresce à dimensão do universo do turismo acessível e inclusivo
mais 10% da população.
A estimativa da dimensão global do universo-alvo do turismo acessível e
inclusivo não corresponde à soma aritmética dos quatro grupos acima
referidos, já que há elementos que são comuns aos diversos grupos. No
entanto, é óbvio que representa uma grande parte da população que julgamos
razoável situar na ordem dos 30 a 40% da população.
Uma grande parte destas pessoas ainda não viaja ou viaja muito pouco porque
não tem para onde ir, ou não sabe para onde possa ir com segurança. Não se
está, portanto, apenas perante um “nicho” de mercado ou de um problema de
mera “responsabilidade social”.
Estamos basicamente perante uma questão típica da evolução da oferta
turística: estar atenta às alterações nas características da população e ajustar a
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
23
Package de Formação BRENDAIT 2016
conceção dos seus produtos e as condições de prestação dos serviços para
poder responder com qualidade a essas alterações / novas necessidades.
COMPOSIÇÃO E DIMENSÃO DO UNIVERSO-ALVO DO TURISMO ACESSÍVEL E INCLUSIVO
9.1.4. PROJETO ESPECÍFICO EM QUE A AÇÃO DE FORMAÇÃO ESTÁ INSERIDA
Sempre que o presente módulo de formação seja realizado no contexto de um
projeto de transformação de um território/região em destino de turismo para
todos, faz sentido incluir a informação pertinente sobre esse contexto
específico de desenvolvimento do turismo acessível e inclusivo, em particular.
9.2. UNIDADE TEMÁTICA 2: OS CLIENTES/TURISTAS COM LIMITAÇÕES MOTORAS
9.2.1. NOÇÃO DE PESSOA COM LIMITAÇÕES MOTORAS
A limitação das capacidades motoras de uma pessoa manifesta-se em diversos
aspetos, tais como: na redução ou perturbação da sua mobilidade (membros
inferiores); na redução ou perturbação da sua motricidade manual (membros
superiores); na dificuldade ou impossibilidade de controlo de determinados
movimentos; em dificuldades de equilíbrio; em diminuição do vigor/energia
física.
As limitações motoras, no sentido em que são entendidas no contexto do
turismo acessível e inclusivo, integram basicamente as limitações que
decorrem das situações de “deficiência motora”.
LIMITAÇÕES PESSOAS COM
DEFICIÊNCIA SENIORES/
ENVELHECIMENTO
SEQUELAS
DE PATOLOGIAS
C. FÍSICAS NANISMO
GIGANTISMO OBESIDADE
ACIDENTES GRAVIDEZ PAIS COM
BEBÉS
ALERGIAS
RESPIRATÓRIAS E
ALIMENTARES
MOTORAS X X X X X
VISUAIS X X X
AUDITIVAS X X X
INTELECTUAIS X X X
ALÉRGICAS X
OUTRAS X X X
% DA
POPULAÇÃO
ESTIMATIVAS
10% 10% 10% 10%
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
A deficiência motora decorre de alterações morfológicas do esqueleto e dos
membros, das articulações, dos tecidos musculares ou do sistema nervoso, em
consequência de dois tipos de causas:
Circunstâncias externas, tais como: acidentes (de trânsito, de trabalho,
de desporto/lazer, domésticos) e outros traumatismos cranioencefálicos,
medulares ou vertebrais; problemas durante o parto; violência física;
desnutrição.
Doenças, tais como: paralisia cerebral; espinha bífida; distrofia muscular;
tumores.
Os principais tipos de paralisia são designados por: monoplegia (paralisia de
um membro do corpo); hemiplegia (paralisia de metade do corpo); paraplegia
(paralisia da cintura para baixo); tetraplegia (paralisia do pescoço para baixo).
No conjunto das pessoas com limitações motoras, nomeadamente daquelas
que decorrem de situações de deficiência, existe uma grande diversidade de
situações individuais em termos de níveis de gravidade e de níveis de
autonomia pessoal, em razão da extensão e profundidade dos movimentos
afetados e das suas implicações no desempenho das atividades do dia-a-dia.
9.2.2. NECESSIDADES ESPECIAIS, REQUISITOS DE ACESSIBILIDADE E REQUISITOS DE ATENDIMENTO
As consequências das limitações motoras concretizam-se nos seguintes
aspetos:
condicionamento da mobilidade, ou seja, deslocação em cadeira de
rodas ou com uso de auxiliares de marcha (bengalas, canadianas,
andarilho, scooter, etc.);
dificuldades na coordenação dos movimentos;
dificuldades de equilíbrio;
tremuras;
redução da agilidade, vitalidade e vigor;
fadiga;
dificuldades de expressão oral (não confundir com comprometimento
das capacidades intelectuais).
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
As necessidades especiais que as pessoas com limitações motoras
apresentam no contexto do turismo têm a ver sobretudo com as condições de
acessibilidade das infraestruturas físicas (locais, edifícios, mobiliário,
equipamentos), mas também com algumas condições materiais e
procedimentos específicos de atendimento, de organização e de prestação dos
diversos serviços.
Nomeadamente, quando se desloca em cadeira de rodas, a pessoa com
limitações motoras precisa que:
A sua mobilidade horizontal se possa fazer sem obstáculos, em piso
contínuo, uniforme e não derrapante, com portas de dimensão e
funcionalidade adequadas;
A sua mobilidade vertical seja possível mediante rampas e elevadores
com as condições requeridas;
Seja possível aceder a instalações sanitárias com as condições
requeridas;
O acesso a materiais, utensílios e comandos esteja à altura de quem se
encontra na posição de sentado;
Existam certas condições materiais e certos procedimentos específicos
de atendimento e de prestação dos serviços que lhe permitam utilizá-
los, apesar das suas limitações;
As informações que lhe sejam fornecidas, sobre as condições de
acessibilidade dos serviços que irá ter necessidade de utilizar, sejam
verdadeiras, precisas e estejam atualizadas.
9.2.3. ATITUDES E TÉCNICAS DE AJUDA PESSOAL
ATITUDES DE RELACIONAMENTO INTERPESSOAL 9.2.3.1.
A pessoa com limitações motoras, qualquer que seja a causa das limitações, permanece sendo, para todos os efeitos, uma pessoa; uma pessoa, um cliente, que merece o mesmo respeito e consideração que qualquer outro. As suas “necessidades especiais”, neste particular, podem resumir-se do
seguinte modo:
Necessidade de que a sua situação seja compreendida e aceite com
naturalidade;
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
Necessidade de que a outra pessoa compreenda que a cadeira de rodas
é um seguimento do corpo da pessoa com deficiência;
Necessidade de não ser discriminado em razão das suas limitações;
Necessidade de ser tratado e respeitado como qualquer outra pessoa;
Necessidade de ser tratado e respeitado como qualquer outro cliente;
Necessidade que o profissional adote uma atitude simpática, tranquila,
disponível, mas sem se tornar intrometido;
Necessidade de ser atendido com paciência e afabilidade/calor humano,
mas sem amabilidade excessiva, sem paternalismo, sem demonstrações
de "pena", ou sem negligenciar a autonomia e autoconfiança que o leva
a recusar ajuda de que não precise;
Necessidade de que o profissional lhe preste apoio, mas sem impor a
sua ajuda.
TÉCNICAS DE MANIPULAÇÃO DA CADEIRA DE RODAS 9.2.3.2.E DE AJUDA À PESSOA.
Para ajudar a pessoa a sentar-se na cadeira de rodas, deve posicionar
corretamente a cadeira de rodas, certificando-se que está travada, e afastando
os apoios de pés.
Depois, deve colocar-se de frente para a pessoa e pedir-lhe que incline o
tronco para a frente; segure-a, por exemplo na zona do tronco mais adequada,
e ela deverá ajudar dando um impulso para trás, para que fique bem
encostada.
Não se esqueça que não deve levantar a cadeira pelas partes amovíveis pois
elas podem sair do lugar, não estão fixas.
Para subir degraus ou passeios, incline a cadeira para trás para levantar as
rodas. Deve depois pousar levemente as rodas da frente quando estiverem já a
alguma distância do lancil.
Para subir ou descer escadas, será melhor pedir ajuda ou utilizar equipamentos
auxiliadores.
Para subir uma escada é necessária ajuda de duas pessoas. Uma vai subindo
e recuando, aproximando as rodas grandes dos degraus e inclinando
ligeiramente a cadeira para trás até um ponto de equilíbrio, vai subindo degrau
a degrau, enquanto a outra, de frente para a pessoa a ajudar, segura a cadeira
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
de rodas e ajuda a empurrar a mesma. Quando o último degrau for
ultrapassado, deve afastar a cadeira de rodas das escadas e pousar
lentamente as rodas todas no chão.
Para subir ou descer rampas com inclinação acentuada, a pessoa deve
recorrer a ajuda e também deve solicitar auxílio em situação de declives com
inclinação transversal ao movimento, pois existe o perigo de queda.
Para descer um degrau, é mais seguro fazê-lo de marcha atrás. A pessoa que
ajuda deve colocar-se por trás da cadeira de rodas e segurar firmemente nas
pegas nas costas da cadeira, inclinando-a para trás, de modo a que o peso
seja suportado pelas rodas grandes ao descer os degraus. Aproxime as rodas
do degrau e deixe cair, lentamente, a cadeira para a frente. Quando, no último
degrau, as duas rodas grandes estiverem novamente no chão, deve-se deixar
descair, lentamente, as duas rodas pequenas. Caso a pessoa em cadeira de
rodas possa ajudar, pode ir controlando manualmente os movimentos das
rodas grandes.
Para descer uma escada é necessária ajuda de duas pessoas, em que uma
deve aproximar a cadeira do degrau um a um, segurando bem os punhos da
cadeira e dando tempo para reencontrar o ponto de equilíbrio, enquanto a
segunda pessoa desce recuando, fazendo contrapeso e segurando a cadeira
nos braços para que não caia para a frente.
É necessário ter em atenção que as referências atrás mencionadas são
relativas à utilização de cadeiras de rodas manuais. Se se tratar de uma
cadeira de rodas elétrica, a situação é diferente, sendo aconselhável obter
informação do seu utilizador de qual a melhor forma de proceder.
Para efetuar a transferência para outros assentos (a transferência é o ato de
entrar ou sair da cadeira de rodas com ou sem a ajuda de terceiros):
Comece por travar a cadeira para evitar que ela se mova antes que a
pessoa se consiga transferir para outros assentos e retire as partes
amovíveis da cadeira de rodas, se for o caso;
Certifique-se que foram tomadas precauções no sentido de reduzir ao
máximo a distância;
Se for para ajudar a pessoa a pôr-se de pé
○ deverá colocar-se de frente para ela, junte as pernas e os joelhos
dela entre os seus, se possível dobre os joelhos, mantendo as suas
costas direitas;
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
○ faça com que a pessoa coloque os braços à volta do seu pescoço ou
ombros;
○ agarre-a debaixo das axilas, cruze as mãos com força nas costas da
mesma ou o mais baixo possível;
○ conte até 3, e vá-se endireitando lentamente; a pessoa está apoiada
pelos joelhos, pelas costas e pelos braços.
9.2.4. ATIVIDADES E RECURSOS
Participação de pessoas-recurso/testemunhos presenciais
É de enorme interesse a participação na sessão de formação de uma ou mais
pessoas com este tipo de limitações/necessidades especiais que dê
testemunho direto, presencial, da sua experiência, das dificuldades que foi
encontrando, das reações das outras pessoas, das estratégias que utiliza para
ultrapassar as dificuldades e da importância que as ATITUDES podem ter na
sua experiência turística.
Este tipo de participação tem revelado uma grande utilidade e eficácia:
para a assimilação de conhecimentos sobre as limitações e
necessidades especiais em causa;
para a ultrapassagem de eventuais atitudes de receio, estranheza e
inibição dos formandos relativamente à interação / relacionamento direto
com a pessoa com limitações;
para compreensão das técnicas de ajuda que se torna necessário
aprender;
para proporcionar uma oportunidade para as próprias pessoas com
deficiência darem o seu contributo para o processo de melhoria das
competências de atendimento inclusivo no setor do turismo.
Imagem
Utilização de imagens (desenhos, fotografias, vídeos) que exemplifiquem
situações e comportamentos, positivos e/ou negativos, no âmbito do
atendimento de pessoas com limitações motoras no setor do turismo.
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
Exercícios
Simulação de situações em que o formando se coloque no “lugar do outro” (p.
ex. movimentar-se em cadeira de rodas, com utilização de canadianas ou
andarilhos, etc.).
Exercícios práticos de técnicas de manipulação da cadeira de rodas e de ajuda
à pessoa.
9.3. UNIDADE TEMÁTICA 3: OS CLIENTES/TURISTAS COM LIMITAÇÕES VISUAIS
9.3.1. NOÇÃO DE PESSOA COM LIMITAÇÕES VISUAIS
As limitações visuais, no sentido em que são entendidas no contexto do
turismo acessível e inclusivo, correspondem basicamente às comummente
consideradas no conceito de deficiência visual.
A deficiência visual pode resultar de diversas situações, tais como:
doenças infeciosas, por exemplo: tracoma ou sífilis;
doenças sistémicas, por exemplo: diabetes, nefrite, deficiências
nutricionais;
traumas oculares, por exemplo: pancadas na área ocular, ação de
ácidos, acidentes;
doenças congénitas, por exemplo: catarata, glaucoma, miopia maligna.
No conceito de deficiência visual, consideram-se duas situações:
a cegueira, que corresponde a ausência total da visão;
e a baixa-visão (antes designada por ambliopia), que corresponde a uma
redução da capacidade visual que não se consegue melhorar através
de correção ótica.
Limitações visuais mais ligeiras do que as consideradas no conceito de
deficiência não são especificamente contempladas no âmbito do turismo
acessível e inclusivo por, em princípio, não requererem cuidados especiais
relativamente àqueles que são proporcionados às pessoas, clientes ou utentes
comuns.
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
Não obstante, as condições especiais dos serviços que visam responder às
necessidades específicas das pessoas com limitações visuais mais graves,
acabam por favorecer também as pessoas com limitações visuais mais ligeiras.
9.3.2. NECESSIDADES ESPECIAIS, REQUISITOS DE ACESSIBILIDADE E REQUISITOS DE ATENDIMENTO
As limitações visuais manifestam-se sobretudo em dificuldades na mobilidade e
orientação, na comunicação e acesso à informação e na manipulação de
objetos e equipamentos.
Para poder ultrapassar ou lidar com as dificuldades decorrentes da sua
deficiência, a pessoa com limitações visuais, desenvolve várias estratégias, tais
como:
Melhorar o desempenho dos seus outros sentidos (tato, audição, olfato,
gosto, capacidade propriocetiva2), para poder interpretar melhor o
mundo que a rodeia e a sua interação com ele.
Recorrer a ajudas materiais / produtos de apoio, tais como, a tradicional
“bengala”, mas também a produtos eletrónicos e aplicações digitais que
as novas tecnologias vão proporcionando, tais como:
○ Leitor de ecrã: software que permite aos cegos aceder por voz a toda
a informação existente no computador ou na internet e usar os
programas disponíveis, ou seja captar a informação de um
computador e enviá-la em tempo real para um sintetizador de fala ou
um terminal de Braille;
○ Ampliador de ecrã: programa de computador que amplia uma parte
do ecrã;
○ Linha Braille: permite aceder à informação do computador ou da
internet, mas em formato Braille; ou seja, é um dispositivo composto
por uma fila de células Braille eletrónicas que podem reproduzir o
texto que se encontra no ecrã do computador;
○ Impressora Braille: permite imprimir texto em papel no formato
Braille, a partir do computador.
2 Capacidade propriocetiva, também designada por cinestesia, é a capacidade para
reconhecer a localização espacial do corpo, sua posição e orientação, a força exercida pelos músculos, a posição de cada parte do corpo em relação às demais, que permite à pessoa, por exemplo, sem utilizar a visão, identificar uma curva, um desnível ou a quantidade de passos que deve dar num percurso efetuado antes.
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
31
Package de Formação BRENDAIT 2016
Recorrer à ajuda de um cão-guia.
Recorrer à ajuda de pessoas amigas-guias-acompanhantes e/ou
aceitar/utilizar a ajuda de cidadãos comuns que vai encontrando nas
suas deslocações.
Aprender a ler com os dedos, utilizando uma escrita especial: a escrita
Braille.
Em contexto de utilização de serviços turísticos, as pessoas com limitações
visuais:
Precisam que a sua mobilidade se possa fazer sem obstáculos e sem
risco de acidentes (piso contínuo, uniforme, não derrapante; escadas e
rampas com corrimão; portas fáceis de abrir; sinalética adequada;
pontos de orientação; boas condições de iluminação; sem objetos e
mobiliário salientes não detetáveis pela bengala);
Precisam de ter acesso à informação em condições adequadas (sites
acessíveis, escrita ampliada, Braille, suporte digital, suporte áudio,
audiodescrição3 de espaços, percursos, objetos, etc.);
Precisam que existam certas condições materiais e certos
procedimentos específicos de atendimento e de prestação dos serviços
que lhe permitam utilizá-los, apesar das suas limitações;
Precisam que as informações que lhe sejam fornecidas, sobre as
condições de acessibilidade dos serviços que irá ter necessidade de
utilizar, sejam verdadeiras, precisas e atualizadas.
9.3.3. ATITUDES E TÉCNICAS DE AJUDA PESSOAL
ATITUDES DE RELACIONAMENTO INTERPESSOAL 9.3.3.1.
A pessoa com limitações visuais permanece sendo, para todos os efeitos, uma
pessoa; uma pessoa, um cliente, que merece o mesmo respeito e
consideração que qualquer outro.
As suas “necessidades especiais”, neste aspeto, podem resumir-se do seguinte
modo:
3 Audiodescrição é a técnica que permite a criação de imagens mentais segundo
informação recebida em áudio.
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
Necessidade de que a sua situação seja compreendida e aceite com
naturalidade;
Necessidade de não ser discriminado em razão das suas limitações;
Necessidade de ser tratado e respeitado como qualquer outra pessoa ou
qualquer outro cliente;
Necessidade de que o profissional adote uma atitude simpática,
tranquila, disponível, mas sem se tornar intrometido;
Necessidade de que o profissional lhe preste apoio, mas sem impor a
sua ajuda.
PROCEDIMENTOS DE APOIO / AJUDA PESSOAL 9.3.3.2.
Para guiar uma pessoa cega:
Flexione o braço e deixe que a pessoa cega o segure na altura do
cotovelo ou no ombro (assim ela acompanhará todos os seus
movimentos) devendo caminhar ligeiramente à frente da pessoa que
está a guiar;
Respeite o ritmo da passada da pessoa cega;
Efetue uma breve paragem antes das escadas e indique se vão subir ou
descer;
Avise com antecedência a existência de obstáculos, tais como buracos,
degraus ou piso escorregadio;
Quando quiser guiar uma pessoa com deficiência visual até a uma
cadeira, coloque a mão dessa pessoa nas costas da cadeira, de modo
que esta perceba onde e como a cadeira se encontra exatamente e qual
a sua posição. Informe se a cadeira tem braços ou não.
Para explicar direções e endereços deve fornecer indicações precisas, deve
usar referências de distância em medidas, de preferência em metros; deve usar
termos como "à direita" e "à esquerda".
Para comunicar com uma pessoa cega:
Chame a pessoa pelo nome, para que saiba que lhe está a dirigir a
palavra, ou, se não souber o seu nome, toque-lhe no braço, identifique-
se quando chega e ao ir embora mencione que vai sair;
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
33
Package de Formação BRENDAIT 2016
Pergunte, delicada e calmamente, se pode ajudar;
Utilize um tom de voz normal (não é necessário aumentar o tom porque
a cegueira não implica perda de audição);
Fale diretamente para a pessoa com deficiência visual e não com o seu
acompanhante (a perda de visão não implica perda de inteligência ou de
capacidade de comunicar).
Se a pessoa se fizer acompanhar de um cão-guia:
Aceite o cão-guia com naturalidade;
Não brinque com o cão, não lhe ofereça comida e não intervenha na sua
tarefa de guia;
Não acaricie o cão-guia, (trata-se de um “profissional” em atividade, não
o distraia).
ATIVIDADES E RECURSOS 9.3.3.3.
Participação de pessoas-recurso/testemunhos presenciais
É de enorme interesse a participação na sessão de formação de uma ou mais
pessoas com este tipo de limitações/necessidades especiais que dê
testemunho direto, presencial, da sua experiência, das dificuldades que foi
encontrando, das reações das outras pessoas, das estratégias que utiliza para
ultrapassar as dificuldades e da importância que as ATITUDES podem ter na
sua experiência turística.
Este tipo de participação tem revelado uma grande utilidade e eficácia:
para a assimilação de conhecimentos sobre as limitações e
necessidades especiais em causa;
para a ultrapassagem de eventuais atitudes de receio, estranheza e
inibição dos formandos relativamente à interação / relacionamento direto
com a pessoa com limitações;
para compreensão das técnicas de ajuda que se torna necessário
aprender;
para proporcionar uma oportunidade para as próprias pessoas com
deficiência darem o seu contributo para o processo de melhoria das
competências de atendimento inclusivo no setor do turismo.
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
34
Package de Formação BRENDAIT 2016
Imagem
Utilização de imagens (desenhos, fotografias, vídeos) que exemplifiquem
situações e comportamentos, positivos e/ou negativos, no âmbito do
atendimento de pessoas com limitações motoras no setor do turismo.
Exercícios
Simulação de situações em que o formando se coloque no “lugar do outro” (p.
ex. movimentar-se em cadeira de rodas, com utilização de canadianas ou
andarilhos, etc.).
Exercícios práticos de técnicas de manipulação da cadeira de rodas e de ajuda
à pessoa.
9.4. UNIDADE TEMÁTICA 4: OS CLIENTES/TURISTAS COM LIMITAÇÕES AUDITIVAS
9.4.1. NOÇÃO DE PESSOA COM LIMITAÇÕES AUDITIVAS
As limitações auditivas, no sentido em que são entendidas no contexto do
turismo acessível e inclusivo, correspondem basicamente às comummente
consideradas no conceito de deficiência auditiva.
A deficiência auditiva consiste na perda parcial ou total da capacidade de ouvir.
A surdez é uma condição que se manifesta com diferentes graus, desde perdas
auditivas mais leves até a surdez profunda.
Deficiência auditiva profunda (perda auditiva superior a 90 dB):
Não possui informações auditivas, o que impede a pessoa de identificar
a voz humana;
Não adquire linguagem nem fala para poder comunicar, devido à
ausência de modelo.
Deficiência auditiva severa (com perda de 70 a 90 dB):
A pessoa só percebe vozes muito fortes e alguns ruídos do ambiente
familiar;
A compreensão verbal depende do apoio visual e da observação do
contexto em que se desenvolve a comunicação.
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
35
Package de Formação BRENDAIT 2016
Deficiência auditiva média ou moderada (com perda de 40 a 70 dB):
Para a pessoa compreender a fala, é necessário uma voz forte,
principalmente em ambientes ruidosos;
Apresenta atraso de linguagem e alterações articulatórias;
As dificuldades na compreensão da fala são mais notórias quando as
frases são complexas;
Apresenta dificuldades na compreensão de terminações verbais e na
concordância de género e de número dos nomes e adjetivos;
Geralmente, precisa de apoio visual para o entendimento da mensagem.
Deficiência auditiva leve (com perda de 20 a 40 dB):
A pessoa é considerada desatenta e distraída;
Por não perceber todos os sons da palavra, olha sempre para o rosto de
quem está a falar;
Costuma pedir para repetir as informações;
Consegue adquirir linguagem, naturalmente.
A surdez pode ser congénita, provocada por hereditariedade, doença durante a
gravidez ou traumatismo no parto, entre outras situações, conduzindo à
impossibilidade ou a grandes dificuldades no desenvolvimento da fala ou pode
ser adquirida, provocada por fatores, como acidentes, otite ou ruído muito alto,
por exemplo, em qualquer idade, podendo conduzir a maiores ou menores
dificuldades de comunicação.
O próprio processo de envelhecimento também conduz com frequência a
diminuições mais ou menos graves da capacidade auditiva.
A capacidade auditiva é, para o ser humano, uma capacidade muito
importante, interferindo em muitos aspetos da vida. Interfere, nomeadamente:
com a segurança do indivíduo - desde muito cedo as funções auditivas
são um sistema de aviso que nos informam dos estímulos do meio
envolvente;
com o desenvolvimento da linguagem - ouvindo falar aprendemos a
falar, aprendemos a língua materna, apendemos línguas estrangeiras;
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
36
Package de Formação BRENDAIT 2016
na integração social - a comunicação oral é um meio de grande
relevância na nossa integração social num mundo de ouvintes.
Donde, o recurso a formas alternativas de comunicação:
O recurso ao gesto e a emergência de uma língua própria da
comunidade surda (LGP – Língua Gestual Portuguesa4) e da função de
“intérprete / tradutor” desta língua;
O recurso à escrita, quando a pessoa surda teve oportunidade de
adquirir um domínio, maior ou menor, da língua do seu grupo
cultural/país e da sua escrita;
O recurso ao sistema de SMS proporcionado pelos novos meios
tecnológicos de comunicação, às videochamadas;
O recurso à imagem, ao desenho, ao vídeo.
9.4.2. NECESSIDADES ESPECIAIS, REQUISITOS DE ACESSIBILIDADE E REQUISITOS DE ATENDIMENTO
Em contexto de utilização de serviços turísticos, as pessoas com limitações
auditivas não apresentam necessidades especiais em matéria de condições de
acessibilidade das infraestruturas.
O foco das suas necessidades especiais tem a ver com a comunicação
interpessoal, com o acesso a informações comummente veiculadas em suporte
vocal, sonoro, áudio, e com o acesso a informações em suporte escrito,
utilizando linguagem complexa (dado o escasso domínio que frequentemente
têm das línguas, incluindo da do seu próprio grupo cultural/país).
Donde que, o esforço de relação interpessoal e de atendimento nos serviços
turísticos passa pela utilização de processos alternativos de comunicação:
Posturas adequadas na comunicação oral / fala, acompanhada de um
maior recurso a expressão facial e gestual;
Recurso a informação escrita em linguagem simples e a desenhos e
imagens;
4 A LGP-Língua Gestual Portuguesa é a língua materna das pessoas que nascem Surdas,
em famílias Surdas.
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37
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Utilização de alguns elementos da Língua Gestual que se tenha
aprendido;
Ter como recorrer a interpretação de Língua Gestual, presencial e/ou a
distância (videochamadas), quando necessário.
9.4.3. ATITUDES E TÉCNICAS DE AJUDA PESSOAL
ATITUDES DE RELACIONAMENTO INTERPESSOAL 9.4.3.1.
A pessoa com limitações auditivas permanece sendo, para todos os efeitos,
uma pessoa; uma pessoa, um cliente, que merece o mesmo respeito e
consideração que qualquer outro.
As suas “necessidades especiais”, neste aspeto, podem resumir-se do seguinte
modo:
Necessidade de que a sua situação seja compreendida e aceite com
naturalidade;
Necessidade de não ser discriminado em razão das suas limitações;
Necessidade de ser tratado e respeitado como qualquer outra pessoa;
Necessidade de que o profissional adote uma atitude simpática,
tranquila, disponível e paciente;
Necessidade de que não a isolem das conversas em grupo.
PROCEDIMENTOS DE APOIO / AJUDA PESSOAL 9.4.3.2.
Para comunicar com a pessoa surda, usando a fala:
Fale quando a pessoa surda estiver a olhar para si, estabeleça contacto
visual com ela (a pessoa surda interpreta as suas expressões faciais e
muitos surdos fazem leitura labial);
Evidencie a boca, tenha boa dicção, fale pausadamente, não use termos
complicados ou demasiado técnicos; use frases curtas e simples e repita
sempre que necessário;
Evite esconder o rosto e os lábios enquanto fala, com as mãos, cabelos
e objetos, não fale a comer (por exemplo pastilhas elásticas);
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
38
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Não se esqueça da iluminação na face (facilita a boa visibilidade para a
leitura labial);
Não se perturbe com os sons emitidos pela pessoa surda;
Chame a atenção com um toque no ombro ou no braço;
Se tiver conhecimentos, mesmo que apenas básicos, use Língua
Gestual.
Para comunicar com a pessoa surda, utilize meios alternativos de
comunicação que a possam ajudar a compreender a mensagem (gestos e
expressividade corporal, bloco de notas, imagens, desenhos, computador,
telemóvel).
A pessoa surda pode também utilizar um “cão de assistência”. Se tal
acontecer, aceite com naturalidade a situação e respeite as funções de apoio
que o cão desempenha (nomeadamente no que refere à identificação e
indicação de fontes sonoras, como equipamentos, campainhas e alarmes de
incêndio).
ATIVIDADES E RECURSOS 9.4.3.3.
Participação de pessoas-recurso/testemunhos presenciais
É de enorme interesse a participação na sessão de formação de uma ou mais
pessoas com este tipo de limitações/necessidades especiais, (com apoio de
um intérprete de Língua Gestual), que dêem testemunho direto, presencial, das
suas experiências, das dificuldades encontradas, das reações das outras
pessoas, das estratégias que utiliza para ultrapassar as dificuldades.
Este tipo de participação tem revelado uma grande utilidade e eficácia:
para a assimilação de conhecimentos sobre as limitações e
necessidades especiais em causa;
para a ultrapassagem de eventuais atitudes de receio, estranheza e
inibição dos formandos relativamente à interação / relacionamento direto
com a pessoa com deficiência auditiva;
para compreensão das técnicas de ajuda que se torna necessário
aprender;
para proporcionar uma oportunidade para as próprias pessoas com
deficiência darem o seu contributo para o processo de melhoria das
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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competências de atendimento no setor de turismo de pessoas com
deficiência auditiva.
Imagens
Utilização de imagens (desenhos, fotografias, vídeos) que exemplifiquem
situações e comportamentos, positivos e/ou negativos, no âmbito do
atendimento no setor de turismo de pessoas com deficiência auditiva.
Exercícios
Simulação de situações em que o formando se coloque no “lugar do outro” (p.
ex. procurar comunicar com outras pessoas com tampões nos ouvidos).
Realização de exercícios práticos de técnicas de comunicação alternativa com
pessoas surdas.
9.5. UNIDADE TEMÁTICA 5: OS CLIENTES/TURISTAS COM LIMITAÇÕES INLECTUAIS
9.5.1. NOÇÃO DE PESSOA COM LIMITAÇÕES INTELECTUAIS
As pessoas com limitações intelectuais, no sentido em que são entendidas no
contexto do turismo acessível e inclusivo, correspondem basicamente às
comummente consideradas no conceito de deficiência intelectual.
A deficiência intelectual não é considerada uma doença, mas é uma condição
que aparece frequentemente ligada a doenças genéticas, metabólicas ou
infeciosas, a problemas durante a gravidez ou no parto e a problemas de saúde
ou perturbações no processo de desenvolvimento biopsicossocial na infância.
A situação de uma pessoa com deficiência intelectual caracteriza-se por dois
aspetos principais:
Limitações no seu funcionamento cognitivo, que se organiza num
patamar bastante abaixo da média, em termos de diversos tipos de
capacidades, tais como: raciocínio, pensamento abstrato, memória,
atenção, compreensão de situações complexas, aprendizagem,
planeamento, resolução de problemas, etc.
Limitações no seu comportamento adaptativo às condições de
funcionamento da sociedade em que vive, que se organiza também num
patamar bastante abaixo da média, nomeadamente:
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
40
Package de Formação BRENDAIT 2016
○ Na capacidade de cuidar de si própria em termos de
autonomia/independência pessoal;
○ Na capacidade de adquirir e dominar os instrumentos culturais
básicos da sociedade, como sejam a leitura, escrita e cálculo, acesso
a informação e comunicação;
○ Na capacidade de compreender e assumir responsabilidades sociais
complexas;
○ Na capacidade de organizar e gerir com autonomia e sucesso as
diversas vertentes da sua vida pessoal, familiar, profissional, social,
lazer/tempos livres, participação cívica, política, religiosa, etc..
Dentro do conjunto das pessoas com deficiência intelectual, a diversidade de
níveis de deficiência é muito grande e são comummente classificados em
quatro graus: deficiência ligeira, moderada, severa e profunda.
9.5.2. NECESSIDADES ESPECIAIS, REQUISITOS DE ACESSIBILIDADE E REQUISITOS DE ATENDIMENTO
Em contexto de utilização de serviços turísticos, podemos considerar o
conjunto das pessoas / clientes com limitações intelectuais, composto por 2
subconjuntos principais:
Subconjunto A: Pessoas, clientes, cujas limitações decorrem de
deficiência intelectual ligeira ou moderada e que apresentam níveis
importantes de autonomia.
Apresentam níveis de autonomia, em termos de mobilidade, agilidade,
visão e audição, em termos de domínio das atividades da vida
quotidiana e em termos de interação / comunicação pessoal, que fazem
com que estas pessoas, muitas vezes, não pareçam apresentar
necessidades especiais significativamente diferenciadas das pessoas
comuns.
De facto, em matéria de requisitos de acessibilidade das infraestruturas,
não apresentam relevantes necessidades especiais.
Contudo, em termos de atendimento e de interação social, uma
observação mais fina indica claramente a necessidade de alguns
cuidados especiais, em razão do impacto que as suas limitações
intelectuais têm sobre aspetos tais como:
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
41
Package de Formação BRENDAIT 2016
○ A compreensão da informação sobre os serviços, disponibilizada em
suporte escrito, áudio ou visual, utilizando normalmente uma
linguagem relativamente complexa;
○ A compreensão de explicações, instruções, recomendações,
formuladas em linguagem comum, utilizando com frequência
conceitos abstratos e vocabulário bastante elaborado;
○ A comunicação interpessoal, com dificuldades na expressão e na
compreensão da linguagem, mas também na compreensão de
situações de interação social mais complexas;
○ A utilização da leitura, da escrita e do cálculo, de que detêm um
domínio muito limitado ou mesmo nulo;
○ A interpretação de símbolos/sinalética com desenhos de difícil
descodificação;
○ A capacidade de orientação no espaço (percursos, direções,
distâncias) e no tempo (antes, depois, quanto tempo, etc.);
○ A capacidade de lidar adequadamente com situações novas, não
previstas, de resolver problemas que surjam;
○ A tomada de decisões (o que podem ou não podem comer ou beber,
que serviços podem ou não podem utilizar, que atividades podem ou
não podem fazer, o que podem ou não podem comprar, …).
Subconjunto B: Pessoas, clientes, utentes, cujas limitações decorrem
de deficiência intelectual severa ou profunda e que apresentam níveis
elevados de dependência.
Nestas situações, é frequente estarem associadas à deficiência
intelectual outras deficiências de natureza física (a nível motor, sensorial,
equilíbrio, fala/comunicação, etc.), correspondendo, nestes casos, a
situações comummente referidas como multideficiência.
Este subconjunto de pessoas, clientes, corresponde a uma percentagem
muito diminuta do conjunto das pessoas com deficiência intelectual.
São pessoas que se deslocam com acompanhamento da família ou de
técnicos especializados, que requerem dos serviços cuidados
específicos, mediados pelos seus acompanhantes.
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
42
Package de Formação BRENDAIT 2016
9.5.3. ATITUDES E TÉCNICAS DE AJUDA PESSOAL
ATITUDES DE RELACIONAMENTO INTERPESSOAL 9.5.3.1.
A pessoa com limitações intelectuais permanece sendo, para todos os efeitos,
uma pessoa; uma pessoa, um cliente, que merece o mesmo respeito e
consideração que qualquer outro.
Na interação pessoal com ela:
Aja naturalmente ao comunicar com ela
○ Trate-a com respeito e consideração;
○ Se for uma pessoa adulta, trate-a como tal, e não como se fosse uma
criança;
○ Não a ignore, não a desvalorize;
○ Cumprimente-a e despeça-se dela normalmente, como faria com
qualquer outra pessoa;
○ Dê-lhe atenção, converse com ela.
Não a "superproteja"
○ Deixe que ela faça ou tente fazer sozinha tudo o que puder;
○ Ajude apenas quando for realmente necessário;
○ Não subestime as suas capacidades.
Não a "desproteja"
○ Não lhe sirva o que não deve;
○ Não goze com ela;
○ Não a deixe utilizar o que não pode;
○ Não lhe venda o que ela não deve consumir;
○ Não a engane nos pagamentos;
○ Não a deixe sair para fora do envolvimento previsto;
○ Não lhe proponha atividades que sabe que não estão ao seu
alcance.
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
43
Package de Formação BRENDAIT 2016
No caso de se tratar de uma pessoa com deficiência intelectual severa ou
profunda não finja que ela não existe, não presuma que ela não compreende
ou que não sente nada; interaja com ela; tenha em atenção que a oportunidade
de um pouco de participação, um pouco de sucesso nas atividades que lhe
sejam proporcionadas, podem ter um enorme efeito, podem provocar uma
enorme alegria nessa pessoa, assim como nos seus acompanhantes.
PROCEDIMENTOS DE APOIO / AJUDA PESSOAL 9.5.3.2.
O objetivo é assegurar, por parte dos profissionais que fazem atendimento nos
serviços turísticos, os cuidados especiais correspondentes aos aspetos em que
podem ter interferência as limitações intelectuais da pessoa em causa, tais
como:
Comunicação interpessoal: uso de linguagem simples.
Apoio no acesso à informação: explicações claras e precisas, sobre os
serviços e bens disponíveis, sobre as condições e as regras de
utilização dos bens e serviços; sobre como operar os equipamentos;
sobre as pessoas a contactar em caso de necessidade.
Disponibilização de informação em suporte escrito, visual ou áudio em
linguagem simples e com recurso a imagens.
Apoio na descodificação da sinalética das instalações, na localização
dos serviços e na aprendizagem dos percursos.
Supervisão de eventuais comportamentos desajustados; exemplos:
saída das instalações não autorizada; manifestações excessivas na
comunicação com outros clientes; comportamentos ruidosos.
Previsão das necessidades especiais de apoio em caso de emergência.
Preservação do contacto com o acompanhante ou pessoa de referência
do cliente.
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
44
Package de Formação BRENDAIT 2016
9.6. UNIDADE TEMÁTICA 6: OS CLIENTES/TURISTAS COM LIMITAÇÕES DECORRENTES DO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO E DE OUTRAS SITUAÇÕES RELACIONADAS COM AS SUAS CONDIÇÕES GERAIS DE SAÚDE
9.6.1. OS CLIENTES/TURISTAS SENIORES COM LIMITAÇÕES DECORRENTES DO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
NOÇÃO DE PESSOA SÉNIOR COM LIMITAÇÕES 9.6.1.1.DECORRENTES DO PROCESSO DE ENVELHECIMENTO
A enorme e progressiva melhoria das condições de vida e o concomitante
aumento da esperança de vida nas nossas sociedades tem vindo a fazer com
que tenha aumentado muito a quantidade e a percentagem de pessoas
seniores na população e tenha aumentado muito também a duração, a
quantidade de anos vividos nesse patamar.
Acresce que, apesar dos avanços da ciência, o processo de envelhecimento
vai conduzindo, lenta mas inevitavelmente, à diminuição progressiva das
capacidades das pessoas.
As limitações induzidas pelo envelhecimento atingem as diversas áreas de
funcionalidade e de atividade das pessoas, perturbando / diminuindo não
apenas as suas capacidades físicas (mobilidade, força, resistência,
equilíbrio,…), mas também as suas capacidades sensoriais (visão, audição, …)
e as suas capacidades intelectuais/cognitivas (compreensão, memória,
atenção, raciocínio, orientação no espaço, orientação no tempo,…).
Estas limitações têm semelhanças com as limitações motoras, visuais,
auditivas e intelectuais tratadas nos pontos anteriores, mas não são sentidas
nem consideradas como “deficiências”. Sendo, quase sempre, cumulativas,
não são consideradas “multideficiência”.
De facto, a génese e progressão destas limitações, o período da vida em que
acontecem, o modo como são reconhecidas, aceites (ou não aceites) pelos
próprios, a forma como podem ser compensadas, as consequências que
provocam na autoimagem, no projeto de vida, nas atividades da vida
quotidiana, o modo como a elas reage o meio envolvente (família, comunidade,
prestadores de serviços, etc.), fazem com que sejam, bastante diferenciadas
daquelas relacionadas com as situações de deficiência.
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
45
Package de Formação BRENDAIT 2016
Contudo, sendo o envelhecimento da população um fenómeno historicamente
bastante recente, o conhecimento técnico-científico já disponível, sobre
aspetos como aqueles acima referidos, é ainda escasso.
NECESSIDADES ESPECIAIS E REQUISITOS DE 9.6.1.2.ACESSIBILIDADE E REQUISITOS DE ATENDIMENTO
Para o setor do Turismo, a faixa da população designada por “sénior” tem uma
importância estratégica claramente reconhecida, não só por razões
quantitativas (percentagem cada vez maior da população) mas também por
razões qualitativas (nomeadamente pela sua disponibilidade para viajar ao
longo de todo o ano).
Ao Turismo interessa atrasar o mais possível o momento em que uma pessoa
sénior na qual o processo de envelhecimento vai deixando já as suas marcas,
decida deixar de viajar, por não estar seguro que as condições com que
funcionam os serviços turísticos o possam acolher e responder
adequadamente às “necessidades especiais” que foi adquirindo.
Se e enquanto não houver mais informação técnica e científica:
que ajude a caracterizar melhor as limitações motoras, sensoriais e
intelectuais que decorrem do processo de envelhecimento, as formas e
os tempos em que aparecem, como se acumulam e potenciam umas às
outras, como são aceites e geridas, como a elas reage o meio
envolvente;
que ajude a compreender melhor as “necessidades especiais” que delas
derivam nos diversos contextos de vida (familiar, social, espaço público,
serviços comuns, serviços turísticos);
poder-se-á utilizar como referência útil, em matéria de requisitos de
acessibilidade e de requisitos de atendimento e de relações interpessoais, o
conhecimento já disponível relativamente às limitações relacionadas com as
situações de deficiência.
ATITUDES E TÉCNICAS DE AJUDA 9.6.1.3.
Atitudes de relacionamento interpessoal
A pessoa, cliente, sénior valoriza atitudes que mostrem conhecimento, respeito
e consideração pela sua pessoa e pela sua condição, tais como:
Atenção às suas necessidades especiais, mas também respeito pela
sua autonomia e valor pessoal;
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
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Package de Formação BRENDAIT 2016
Atenção à sua provável menor facilidade de utilização dos meios
tecnológicos de uso corrente para as novas gerações;
Atenção ao sentimento de maior fragilidade e insegurança que a idade
vai trazendo e ao valor que a pessoa sénior atribui a um serviço
simpático, carinhoso e acolhedor;
Atenção à maior importância que as rotinas vão assumindo e a maiores
dificuldades em aceitar, gerir e adaptar-se a alterações não previstas ou
de última hora;
Atenção a que as suas disponibilidades de energia vão diminuindo e a
que a programação do ritmo das atividades e a previsão de momentos e
condições de descanso deverão ser tidas em conta.
Procedimentos de apoio / ajuda pessoal
As necessidades de apoio/ajuda variam muito de pessoa para pessoa e, na
mesma pessoa, podem variar de situação para situação e de idade para idade.
De um modo geral as suas limitações expressam-se numa, ou em mais do que
uma das áreas motora, visual, auditiva e intelectual, pelo que os procedimentos
de apoio são semelhantes aos descritos, nos pontos anteriores, para as
correspondentes tipologias de limitações.
9.6.2. OS CLIENTES /TURISTAS COM LIMITAÇÕES DECORRENTES DE OUTRAS SITUAÇÕES RELACIONADAS COM AS SUAS CONDIÇÕES GERAIS DE SAÚDE
Neste ponto, incluímos outros grupos de pessoas que, não pertencendo ao
grupo das “pessoas com deficiência” nem ao grupo das “pessoas seniores em
processo de envelhecimento”, apresentam também limitações relacionadas
com as suas condições gerais de saúde.
A oferta turística ganha em poder ser divulgada e promovida como “friendly”
para estes grupos.
PESSOAS COM REDUÇÃO PONTUAL NA SUA 9.6.2.1.MOBILIDADE DEVIDA A ACIDENTES
Acidentes que acontecem no dia-a-dia com cada vez maior frequência e a que
qualquer cidadão pode estar sujeito: acidentes de viação, de trabalho, nos
desportos, em casa, etc., que nos podem deixar incapacidades permanentes,
ou condicionar a utilizar transitoriamente uma cadeira de rodas ou auxiliares de
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
47
Package de Formação BRENDAIT 2016
marcha, apresentando, consequentemente também necessidades especiais
semelhantes às acima descritas para as “pessoas com limitações motoras”.
PESSOAS GRÁVIDAS EM FIM DE GESTAÇÃO, PAIS 9.6.2.2.COM CRIANÇAS DE COLO E COM CARRINHOS DE BEBÉ
Este grupo tem sido trazido para o âmbito do turismo acessível, em razão do
quanto pode beneficiar do ajustamento das condições de acessibilidade da
oferta turística às necessidades das pessoas com mobilidade reduzida.
PESSOAS COM CARACTERÍSTICAS FÍSICAS 9.6.2.3.EXCECIONAIS (ESTATURA E/OU PESO)
Características físicas tais como: baixa estatura – nanismo; alta estatura –
gigantismo; grande obesidade.
Trata-se de um grupo de situações, de menor frequência, mas que podem
beneficiar também da cultura de ajustamento dos requisitos da oferta turística
às características “físicas” dos clientes (altura da sinalética/informação, dos
comandos, dos objetos; banquinho de apoio; assentos largos; pontos de
descanso; etc.).
PESSOAS COM SEQUELAS DE DIVERSAS PATOLOGIAS 9.6.2.4.(CARDÍACAS, RESPIRATÓRIAS, NEUROLÓGICAS, ONCOLÓGICAS, ETC.)
Os progressos na medicina têm vindo a permitir uma cada vez maior eficácia
no tratamento de diversas doenças, não evitando contudo que delas
permaneçam certas sequelas, certas limitações.
Limitações das capacidades físicas/motoras, sensoriais, intelectuais /
psicológicas das pessoas que, não sendo sentidas nem consideradas como
“deficiências”, resultam em “necessidades especiais” semelhantes, quando
consideradas em contexto turístico, no que se refere a requisitos de
acessibilidade e de serviço.
PESSOAS COM ALERGIAS E INTOLERÂNCIAS 9.6.2.5.ALIMENTARES E RESPIRATÓRIAS
Trata-se de um outro grupo, cujas “necessidades especiais” têm também a ver
com as suas condições gerais de saúde.
Módulo 2 – Turismo Acessível e Inclusivo CONCEITO. COMPETÊNCIAS TRANSVERSAIS
48
Package de Formação BRENDAIT 2016
São pessoas que, no contexto do turismo, precisam também de cuidados
especiais, nomeadamente nos serviços de Alojamento (cuidados requeridos
pelas alergias respiratórias: localização e envolvimento externo do
estabelecimento, decoração, colchões, roupas, produtos de higiene, matérias
de limpeza, etc.), e nos serviços de Restauração e Bebidas (cuidados
requeridos pelas intolerâncias e alergias alimentares nas áreas
aprovisionamento, de cozinha, de restaurante, de bar).
10. REFERÊNCIAS E RECURSOS
Convenção das Nações Unidas sobre os direitos das pessoas com deficiência
(2007)
Diploma da não Discriminação - Lei n.º 46/2006
Diploma da Acessibilidade - Decreto-Lei 163/2006
Estudo “Turismo Inclusivo – Competências de Atendimento de Pessoas com
Deficiência”, CECD-PERFIL 2011
Norma portuguesa de acessibilidade nos estabelecimentos hoteleiros – NP
4523/2014
“Turismo Acessível e Inclusivo - Quadro Conceptual e Metodológico – Projeto
BRENDAIT”, 2016
Projeto BRENDAIT, Dez. 2016