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UNIVERSIDADE LUTERENA DO BRASIL_ULBRA Canoas/RS UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS Geisiane de Souza Dornelles Os Olhares da Arte para a Figura Humana Canoas, 30 de junho de 2014.

Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

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Page 1: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

UNIVERSIDADE LUTERENA DO BRASIL_ULBRA Canoas/RS

UNIDADE ACADÊMICA DE GRADUAÇÃO

CURSO DE LICENCIATURA EM ARTES VISUAIS

Geisiane de Souza Dornelles

Os Olhares da Arte para a Figura Humana

Canoas, 30 de junho de 2014.

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Geisiane de Souza Dornelles

Os Olhares da Arte para a Figura Humana

Trabalho de Curso apresentado como pré-

requisito para parcial para a obtenção de título

acadêmico de licenciada em Artes Visuais, pelo

Curso de Licenciatura em Artes Visuais da

Universidade Luterana do Brasil, sob orientação

da professora Dr. Rejane Reckieziegel Ledur.

Canoas, 30 junho de 2014

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Dedico este trabalho aos meus pais, Amauri

Ribeiro Dornelles e Márcia Beatriz de

Souza, que sempre me apoiaram e

incentivaram em todos os momentos em

que eu precisei. Sem eles eu não chegaria

até aqui.

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Agradeço a professora Rejane Reckieziegel Ledur

pela dedicação no acompanhamento dos estágios e

aos professores Renato Garcia dos Santos, José

“Nico” Guiliano, Jurema Rohes Trindade e Ana Lúcia

Beck pelos momentos vividos durante cada disciplina,

pelos ensinamentos, pelas palavras de incentivo, as

críticas necessárias e os bons conselhos. Agradeço a

equipe diretiva do Colégio Estadual Jacob Arnt pela

acolhida, especialmente as professoras Rosângela

Cardoso e Gisele Hoffsteater pelo apoio que

prestaram durante toda a prática de ensino. Também

agradeço os alunos do 1º ano, turma 112, por me

receberem com carinho, pelos momentos que

compartilhamos e a todas as pessoas que de certa

forma contribuíram para a minha conquista,

principalmente a minha família, meus colegas e

amigos que sempre estiveram dispostos a me ajudar.

Enfim, agradeço a Deus pela realização desta

conquista.

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RESUMO

O presente Trabalho de Conclusão de Curso foi desenvolvido durante a

realização dos Estágios Curriculares do curso de Artes Visuais da Ulbra, que ocorreu no

Colégio Estadual Jacob Arnt, localizado no município de Bom Retiro do Sul/RS. Após a

realização das observações silenciosas, houve a elaboração do projeto de ensino,

baseado em uma pesquisa sobre a figura humana, destacando os períodos e concepções

de arte que influenciaram na sua representação. Autores como Edith Derdyck, Janson e

Gombrich, entre outros sustentam o tema de pesquisa. O projeto de ensino teve como

objetivo despertar o interesse dos alunos sobre a arte, seguindo um percurso de

representação da Figura Humana a partir da abordagem de artistas que criaram um olhar

diferenciado para o tema. O projeto se justificou ao dar aos alunos a oportunidade de

usar a percepção e aprender sobre arte, desenvolvendo uma postura crítica, a

criatividade, a concentração, a participação e interesse nas aulas através de uma

metodologia desafiadora, com atividades práticas e teóricas. Entre os conteúdos

trabalhados estão performances, modificações corporais e quadro vivo. O projeto de

ensino foi aplicado ao longo de 12 semanas, entre 3 de setembro e 10 de dezembro de

2013, com o primeiro ano do Ensino Médio, através de aulas expositivas dialogadas,

leituras de imagem e praticas artísticas. Entre os resultados alcançados está o

envolvimento dos alunos com o desenvolvimento do projeto de ensino, em que

perceberam seu potencial criativo durante os trabalhos práticos e desenvolveram uma

postura crítica ao questionar e refletir sobre o tema. Também influenciou resultados na

formação docente, pois houve uma grande aprendizagem com a prática de ensino, sendo

possível conhecer a realidade da comunidade escolar, o comportamento dos alunos e o

ambiente escolar.

Palavras-chaves: Figura Humana- corpo- performances.

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Sumário

INTRODUÇÃO ............................................................................................................ 8

1. Conhecendo o espaço de ensino ............................................................................. 13

1.1. Dados gerais da Escola observada ....................................................................... 13

1.2. Observações silenciosas ...................................................................................... 16

1.2.1. 1ª Observação Silenciosa .................................................................................. 16

1.2.2. 2ª Observação Silenciosa .................................................................................. 19

1.2.3. 3ª Observação Silenciosa .................................................................................. 22

1.2.4. 4ª Observação Silenciosa .................................................................................. 23

1.2.5. 5ª Observação Silenciosa .................................................................................. 25

1.2.6. 6ª Observação Silenciosa .................................................................................. 27

1.2.3. Análise das observações silenciosas ................................................................. 28

1.1.4. Análise do questionário respondido pela professora ........................................ 30

1.2.5. Análise dos questionários respondidos pelos alunos ........................................ 30

1.6. Motivos da definição do tema de pesquisa em Artes Visuais .............................. 31

2. O Olhar da Arte para a Figura Humana. ................................................................. 34

2.1. A transição da representação da figura humana para o Renascimento. ............... 34

2.2. A figura humana na arte moderna. ....................................................................... 39

2.3. A figura humana como representação do movimento. ........................................ 40

2.4. A Figura Humana expressando as emoções ........................................................ 42

2.5. A figura humana representada em diferentes contextos. ..................................... 43

2.5. A fragmentação e desconstrução da Figura Humana na Contemporaneidade. .... 47

2.6. A Figura Humana como Suporte para a Arte ...................................................... 50

3. Projeto e Prática de ensino em Artes Visuais ......................................................... 57

3.1.1. Dados gerais do Projeto de Ensino ............................................................... 57

3.1.1. Título do Projeto........................................................................................... 57

3.1.2. Tema do Projeto: .......................................................................................... 57

3.1.3. Justificativa: ................................................................................................. 57

3.1.4. Objetivo Geral: ............................................................................................. 57

3.2. Prática de Ensino. ................................................................................................ 58

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3.2.1. Primeiro Encontro. ............................................................................................ 58

3.2.2. Segundo Encontro ............................................................................................. 65

3.2.3. Terceiro Encontro ............................................................................................. 73

3.2.4. Quarto Encontro ................................................................................................ 77

3.2.5. Quinto Encontro ................................................................................................ 82

3.2.6. Sexto Encontro .................................................................................................. 88

3.2.7. Sétimo Encontro ............................................................................................... 93

3.2.8. Oitavo Encontro ................................................................................................ 99

3.2.9. Nono Encontro ................................................................................................ 105

3.2.10. Décimo Encontro .......................................................................................... 112

3.2.11. Décimo Primeiro Encontro ........................................................................... 118

3.2.12. Décimo Segundo Encontro ........................................................................... 121

3.3. Considerações sobre a prática de Ensino ....................................................... 127

CONCLUSÃO .......................................................................................................... 128

REFERÊNCIAS ....................................................................................................... 136

APÊNDICES ............................................................................................................ 137

APÊNDICE 1: Avaliação de Aluno Estagiário realizada pela professora da escola de

Estágio. ..................................................................................................................... 137

APÊNDICE 2: Cópia do questionário respondido pela professora da escola de

Estágio ...................................................................................................................... 138

APÊNDICE 3: Cópias dos questionários respondidos pelos alunos da escola de

Estágio ...................................................................................................................... 139

Cópias dos questionários respondidos pelos alunos da escola de Estágio ................ 140

Cópias dos questionários respondidos pelos alunos da escola de Estágio ................ 141

Cópias dos questionários respondidos pelos alunos da escola de Estágio ................ 142

Cópias dos questionários respondidos pelos alunos da escola de Estágio ................ 143

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INTRODUÇÃO

Este trabalho de curso é um relato das atividades e reflexões realizadas durante

os estágios I, II, III e IV, do curso de Artes Visuais, que se construíram a partir da

elaboração do Projeto de Ensino denominado “Os Olhares da Arte para a Figura

Humana”. Durante o desenvolvimento do Projeto de Ensino, foram vivenciadas

observações silenciosas em turmas de Ensino Fundamental e Médio que determinaram a

escolha do tema da Figura Humana.

Entre estas observações está o fato de que a professora titular apenas passava

cópias para os alunos nas aulas de Artes, o que fez com que eles deixassem de

desenvolver a expressão plástica e usar a criatividade, fazendo os trabalhos

automaticamente, sem nenhum entusiasmo. Também não havia leituras de imagens e a

história da arte não era trabalhada.

O conceito da temática figura humana é seguir um percurso de representação a

partir da abordagem de artistas que criaram a um olhar diferenciado para o tema. Entre

estes artistas estão Leonardo Da Vinci, Edvard Munch, Vincent Van Gogh, Frida Kahlo,

Hélio Oiticica e, por fim, Fakir Musafar com as modificações corporais. Para dar

embasamento teórico à pesquisa, autores como Edith Derdyck, Janson, Gombrich e

Beatriz Ferreira Pires sustentam o tema.

O projeto de ensino se justifica pela relevância do tema da figura humana, pois

ao observar as suas representações ao longo do tempo oportuniza aos alunos usarem a

percepção, como também aprender arte, conhecendo as concepções e o universo

simbólico e representativo das obras de arte trabalhadas.

O objetivo geral do projeto foi construir um percurso de representação da figura

humana a partir da abordagem de artistas que desenvolveram um olhar diferenciado

para o tema, seguindo uma linha em que a figura humana começa sendo representada

com realismo, passando por um processo de desconstrução, depois de fragmentação, até

deixar a superfície bidimensional para tomar como suporte da arte o próprio corpo, se

tornando tridimensional. Além de abordar estas questões teóricas sobre o tema figura

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humana, também foi oportunizado aos alunos uma vivência nova e motivadora durante

as aulas, desafiando-os no desenvolvimento da expressão plástica.

A prática de ensino do Ensino Fundamental e Médio foram realizados no

Colégio Estadual Jacob Arnt (CEJA), que é o único no município de Bom Retiro do Sul

que possui Ensino Médio e, também, é o maior colégio da cidade, localizado no centro,

onde atende cerca de 1.100 alunos, oriundos da classe mais rica do município até o

bairro mais pobre, que são maioria.

Na realização da prática do Ensino Fundamental, que foi feita na turma do 6º

ano, me deparei com alunos agitados e desmotivados. Aos poucos, conforme iam se

envolvendo com a proposta de ensino, foram se tornando mais participativos e

interessados na aula.

Não houve grandes desafios na prática do Ensino Fundamental, apenas alguns

momentos em que os alunos testaram os limites necessários para o bom andamento das

aulas, como quando alguns meninos tentaram sair da sala de aula sem pedir permissão.

Em geral, as aulas ocorriam tranquilamente, os alunos produziram trabalhos

interessantes e criativos, participaram ativamente das leituras de imagens e não me

sentia intimidada, pois eu tinha o controle da turma, que logo passaram a me respeitar e

participar das aulas, que foram satisfatórias.

A prática de ensino do Ensino Médio, foi realizada com o 1º ano do Colégio

Estadual Jacob Arnt, na cidade de Bom Retiro do Sul. Esta experiência de ensino

sempre se mostrou a mais desafiadora em todos os sentidos, como pelo fato de ser uma

turma numerosa, de adolescentes que não me viam como professora e que participavam

das aulas de Artes apenas por obrigação.

Nesta prática ocorreram muitos acontecimentos que hoje percebo que

contribuíram para o meu futuro docente e que apontam o meu crescimento como

professora. É possível perceber este desenvolvimento ao observar a minha postura nas

primeiras aulas, nas quais eu estava muito nervosa, insegura, não sabia lidar com os

alunos, falava muito baixo e acreditava que iria fracassar, pois eu mesma não me via

como professora. Mas, aos poucos eu fui criando uma relação de amizade com os

alunos, com os quais até hoje mantenho contanto, pois os vejo com frequência no

caminho da escola em que atualmente trabalho.

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Também, consegui envolver os alunos com a proposta, pois eles traziam muitos

materiais de casa para os trabalhos, postavam fotos dos trabalhos no Facebook,

participavam das aulas e expressavam seus comentários e opiniões sobre as aulas

práticas e teóricas.

Em relação às duas experiências de práticas de ensino, escolhi aprofundar a do

Ensino Médio. Entre os fatores determinantes para esta escolha está o fato de ter sido,

sem dúvidas, a mais desafiadora e, até mesmo, a mais complexa e trabalhosa. Assim, a

prática de ensino do Ensino Médio se mostrou mais produtiva do que a prática do

Ensino Fundamental, sendo escolhida para ser analisada como prática de ensino.

O trabalho de conclusão de curso está estruturado em capítulos. No primeiro

encontram-se as informações sobre o reconhecimento do espaço de ensino, no qual

constam os dados sobre a Escola onde os Estágios foram realizados, os relatos e a

análise das observações silenciosas, em que pude conhecer a turma onde o Projeto de

Ensino foi aplicado, a análise do questionário respondido pela professora titular e dos

questionários respondidos pelos alunos. Também se encontram, justificados, os motivos

da definição do tema de pesquisa Figura Humana nas Artes Visuais.

No segundo capítulo, consta a pesquisa sobre o tema nas Artes Visuais, com o

título Os Olhares da Arte para a Figura Humana, sendo dividida nos subtítulos A

Transição da Representação da Figura Humana para o Renascimento, A Figura Humana

como meio de Registrar o Movimento, A Figura Humana expressando as emoções, A

Figura Humana em diferentes conceitos, A Fragmentação e desconstrução da Figura

Humana na Contemporaneidade e A Figura Humana como Suporte para a Arte. Assim,

é possível perceber que há uma abordagem de artistas que desenvolveram um olhar

diferenciado para o tema.

O terceiro capítulo trata do Projeto e Prática de Ensino em Artes Visuais, em que

estão registrados os dados gerais da escola e turma em que a prática de ensino foi

realizada, os dados gerais do projeto de ensino, os relatos sobre as aulas práticas e as

considerações sobre a prática de ensino.

Na conclusão são analisados os resultados obtidos na prática de ensino, e a

minha postura profissional, ou seja, é feito uma nova reflexão, obervando a relação

entre objetivos, metodologias e resultados, o que de fato ocorreu durante os estágios.

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Como afirmo na conclusão, acredito que em todos os momentos em que houve

um desafio as aulas foram mais produtivas. Acredito que tive uma grande aprendizagem

com a prática de ensino, pois pude conhecer a realidade da comunidade escolar, o

comportamento dos alunos, o ambiente escolar e, principalmente, refletir sobre a minha

postura como futura professora, pois houve muitas situações em que eu travei batalhas

internas, e venci minhas inibições. Obtive muitas lições para a minha vida com os

Estágios, pois não cresci apenas profissionalmente, mas senti como se eu tivesse

realmente deixado a adolescência de vez, ou seja, também evolui emocionalmente

durante os estágios.

Reconheço que eu ainda tenho muito a aprender, não me vejo com uma

professora completa e sei que tenho um longo caminho pela frente até o dia em que me

sentirei mais preparada, mas sinto que já passei por uma grande etapa deste processo,

pois do mesmo modo que os alunos desenvolveram uma performance para libertar a

figura humana do casulo que a envolvia, eu também me libertei do meu casulo de

inseguranças, medo, timidez e assumi o meu papel de educadora. Mudei minha postura,

superei minhas próprias expectativas e amadureci.

Portanto, ao passo que os alunos foram conhecendo e construindo as suas

“Figuras Humanas”, eu me construí como professora.

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1. Conhecendo o espaço de ensino

1.1. Dados gerais da Escola observada

O Colégio Jacob Arnt (CEJA) está localizado na cidade de Bom Retiro do Sul/

RS, no Bairro Centro, Rua Jorge Fett. Atende alunos do Ensino Fundamental de nove

anos, Ensino Fundamental de oito anos (3ª série a 8ª série), Ensino Médio e Educação

Especial. O município tem cerca de 12.000 habitantes, está localizado na Depressão

Central e faz parte da microrregião Lajeado-Estrela. Sua economia baseia-se na

agricultura, pecuária, indústrias calçadistas, frigoríficos e serviços informais.

A escola surgiu da necessidade dos moradores da picada, ou seja, atuais bairros

Laranjeiras, Getúlio Vargas, São Francisco e Imigrantes. Estabeleceu-se para garantir o

acesso à educação para a comunidade mais carente de Bom Retiro do Sul. Em 1960,

funcionava anexo ao Grupo Escolar Otávio Augusto de Farias. O decreto de criação do

Grupo Escolar de Subúrbios foi divulgado no Diário Oficial de 06 de janeiro de 1961.

Através do Decreto nº 18421, de 30 de janeiro de 1967, o Grupo Escolar de Subúrbios

passou a ser denominado Grupo Escolar Jacob Arnt, e atualmente é a única escola de

Ensino Médio Estadual no município.

O CEJA está localizado no centro da cidade, atendendo cerca de 1.100 alunos,

oriundos da classe mais abastada do município até o bairro mais pobre, que são maioria.

O resultado é uma diversidade social, cultural, econômica e religiosa muito grande. A

maioria dos alunos provém de famílias com realidade sócio-econômica bastante

deficitária. O pai e a mãe trabalham fora, a maioria em fábrica de calçados, que no

momento enfrenta série crise, gerando um grande número de desempregos. Os filhos, no

período em que não estão na escola, ficam muitas vezes sem o acompanhamento de um

responsável e, com isso, podem formar grupos de convivência prejudiciais ao

desenvolvimento cognitivo e afetivo. Quando adolescentes, tendem a participar de

grupos que influenciam no consumo de álcool e outras drogas. Esta prática é favorecida

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pela falta de diferentes formas de lazer, bem como outras atividades que os envolvam

em seu tempo livre e que contribuam para a formação de aspectos como ética, cidadania

e valores.

Constata-se que no início do ano letivo as salas de aula estão abarrotadas e à

medida que os dias passam, especialmente ao final do 1° trimestre, elas vão esvaziando,

levando à evasão, principalmente no Ensino Médio noturno, em que a situação é grave e

precisa, urgentemente, ser trabalhada. Em cima desta realidade o CEJA, nos últimos

anos, vem procurando desenvolver um trabalho de equipe envolvendo toda a

comunidade escolar, tendo conseguido bons resultados, pois abriu caminho para que

todos os segmentos tenham hora e vez de participar, de se posicionar, enfim de

contribuir e avaliar as ações da escola. Esta participação é efetiva, pois a comunidade

esta participando na construção do Projeto Político Pedagógico, do Regimento Escolar,

do Plano de Ação da Direção da Escola e das Normas de Convivência.

A filosofia da escola é formar um cidadão crítico, responsável, sujeito de seu

desenvolvimento integral, construtor de uma sociedade justa e fraterna, visando ao

exercício consciente da cidadania. Possuem um projeto denominado “INCLUSÃO:

somos todos diferentes”, o qual tem como objetivo geral apontar as dificuldades

vivenciadas no cotidiano da escola relacionadas à inclusão de pessoas portadoras de

necessidades especiais, buscando alternativas de superação e aprofundar teoricamente

os conhecimentos dos professores e pais sobre as diferenças apresentadas pelos alunos

da escola tendo em vista maior compreensão dos limites e possibilidades de cada um.

A proposta pedagógica da escola é uma oportunidade para que algumas coisas

aconteçam e, dentre elas: tomada de consciência dos principais problemas da escola, das

possibilidades de solução e definição das responsabilidades coletivas e pessoais para

eliminar ou atenuar as falhas detectadas. Para a construção de uma escola pública de

qualidade, o CEJA oportuniza atividades que resgatem a presença da família na Escola,

buscando soluções coletivas com a Comunidade Escolar, mantendo parcerias de

responsabilidades e comprometimento, promovendo a autonomia moral dos sujeitos

envolvidos. A escola procura considerar o tipo de pessoa que quer se formar,

respeitando suas fases de desenvolvimento, potencialidades, bagagem cultural, valores

éticos e interesse do aluno, conduzindo-o ao conhecimento sistematizado e universal.

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Os profissionais da educação do Colégio Jacob Arnt são incentivados a buscar

formação e atualização constante, através da participação na formação continuada,

cursos, seminários, trocas de experiências, entre outros, a fim de rever conteúdos e o

aperfeiçoamento de metodologias. A equipe é formada pela diretora Márcia E.

Schimidth, a vice-diretora do turno da tarde Neuza Meyer, a vice-diretora do turno da

noite Martinha Maria Dulius, a vice-diretora do turno da manhã Liane Maria e a

orientadora educacional Maria Delci Kluck. A escola possui 25 salas, duas bibliotecas,

sendo uma direcionada apenas para as séries iniciais, um refeitório, um auditório e um

ginásio de esportes. Tem, aproximadamente, 12 funcionários que trabalham na

recepção, cozinha e limpeza.

Enfim, para poder dar respostas ao conjunto das suas missões, o Colégio

Estadual Jacob Arnt organiza a “educação” em torno de quatro aprendizagens

fundamentais, que ao longo da vida serão de algum modo para cada indivíduo os pilares

do conhecimento: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e

aprender a ser.

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1.2. Observações silenciosas

As observações silenciosas ocorreram no primeiro semestre do ano de 2013 e a

turma tinha um período semanal de 45 minutos de duração.

1.2.1. 1ª Observação Silenciosa

Ensino Médio

Data: 15 de março

Horário: 13h às 13h50min

Chegando à escola, fui recebida pela diretora do turno da tarde Tânia Schmidt,

que me entregou a carta de apresentação e a autorização para a realização de estágio,

preenchidos e devidamente carimbados. Depois ela me encaminhou até a sala de

professores para encontrar com a professora Rosângela Cardoso. Tivemos uma rápida

conversa, pois como eu fui aluna do CEJA durante o Ensino Médio, elas já me

conheciam e me elogiaram pela escolha de curso.

Durante o caminho até a sala da turma 111, a professora Rosângela lembrou que

eu já havia feito uma observação silenciosa em 2011 com outra turma de 1º ano.

Expliquei a ela que eu estava cursando uma disciplina do 2º semestre, Projetos de

Ensino em Arte, em que nós tínhamos que observar apenas uma aula no Ensino Médio,

fazer os questionários do aluno e professor e montar um projeto direcionado para aquela

turma sem ter que executá-lo, ou seja, era uma preparação para os Estágios I e II.

Também expliquei que agora eu estava no Estágio I, no qual eu devo assistir seis aulas

no Ensino Médio, seis no Fundamental e também irei aplicar os questionários. Então ela

me explicou que os alunos do Ensino Médio estudam no turno da manhã, mas estão

vindo estudar Artes no turno da tarde porque os horários dela não fecham. Também me

indicou as turmas que ela acredita serem menos agitadas para os meus estágios.

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Chegando à sala de aula (o colégio não possui um espaço especial pra as aulas

de arte), demorou um pouco até que os alunos se sentassem nas classes que estavam

distribuídas em fileiras individuais. Enquanto isso, a professora organizou o seu

material, sempre se mostrando calma e esperou que todos os alunos se organizassem nas

classes. A professora demorou um pouco para dar início à aula e um dos alunos pediu a

ela que começasse logo porque não agüentava mais ouvir o colega falar. A turma estava

completa, com 15 alunos.

No início os alunos pensaram que eu fosse uma nova aluna, então a professora

Rosângela explicou que eu sou estudante do curso de Artes Visuais e que eu vou

observar algumas aulas deles. Também pediu para que eles fossem comportados para

que eu não me assustasse. A professora começou a aula com a pergunta: “qual foi a

primeira manifestação de arte no Brasil e como foi chamada?”. A turma ficou em

silêncio e, depois de um tempo, a professora respondeu que era a arte rupestre. Falou

que na época os homens que desenhavam nas paredes não sabiam que o que estavam

fazendo era arte, pois usavam para representar o dia-a-dia nas rochas.

A professora mostrou imagens impressas em folhas A4, de boa qualidade, sobre

arte rupestre e explicou que usavam sangue de animais, flores entre outros, de onde

tiravam o pigmento para fabricarem as tintas. Enquanto isso, do meu lado, duas alunas

estavam trançando os cabelos uma da outra. A Rosângela passou as folhas com as

imagens impressas para que os alunos olhassem. Perguntou a relação da Arte Rupestre

com certo tipo de arte contemporânea que também é feita em paredes ou muros. Depois

de uns minutos, quando um aluno respondeu que era Grafite, ela continuou a explicação

dizendo que é comum os artistas usarem os viadutos para grafitar, é ligado ao Hip Hop e

diferenciou o Grafite da pichação dizendo que, este último, é considerado crime e

mostrou um exemplo de pichação no muro em frente à escola e todos levantaram e

foram até a janela observar. Também disse que o grafiteiro, deve pedir permissão do

dono do local para grafitar e é isso o que o diferencia do pichador.

Depois a professora pendurou mais folhas A4 no quadro negro que eram

modelos para eles seguirem. Ela não se referiu a nenhum artista famoso, nem citou

nomes de obras mais conhecidas. Explicou que as figuras representadas pelo grafiteiro

eram mais exageradas, coloridas e às vezes chamavam a atenção para algum problema

da sociedade ou um sentimento do artista. Disse que também é comum usarem

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diferentes tipos de letras, bem feitas, para escreverem as frases e falou que eles sempre

usam tinta spray.

Durante a explicação todos ficaram em silêncio, prestando atenção. A proposta

da professora foi que cada um fizesse um desenho no estilo do Grafite, e mostrou mais

um exemplo que era um trabalho pronto feito por um aluno do ano passado. Também

desenhou no quadro para mostrar como deveriam ocupar a folha, pois primeiro eles

deveriam dividir a folha para fazer um muro e nele desenhar o Grafite. Afirmou que o

trabalho poderia ser figurativo ou usar como exemplo as letras. Pediu que cada um

escolhesse uma das imagens, sendo que nenhuma era grafite, que ele colocou no quadro

para que copiassem e os alunos começaram a desenhar.

Alguns alunos desenharam no caderno escolar de desenho, que a professora

solicita no início do ano letivo, e outros no caderno escolar, porque ainda não haviam

comprado ou esquecido em casa. A professora saiu por um momento para buscar uma

pasta com trabalho de outros alunos para que eles copiassem e alguns alunos levantaram

da classe e começaram algumas provocações com as alunas do fundo da sala. Quando a

professora voltou todos se calaram e continuaram a tarefa e ela escreveu no quadro

alguns exemplos de vocabulários do Grafite, como toy (iniciante no Grafite), tag

(assinatura de quem fez o grafite) e spot (lugar onde é feito o Grafite). Muitos alunos

pegaram as folhas que a professora deu com os exemplos de letras de Grafite e

colocaram por baixo da folha do caderno para copiar e a professora Rosângela pediu

que fizessem o desenho à mão livre e criassem algo diferente.

Três alunos ainda não haviam começado a tarefa e quando a professora chamou

a atenção eles começaram a procurar o material para matar o tempo. Dois destes alunos

iniciaram o trabalho e o outro continuou enrolando e pediu ajuda para a professora.

Depois continuou parado olhando para as paredes.

A professora passou de classe em classe para ver quem havia terminado o

desenho da semana passada, que tinha como tema as profissões. Uma aluna mostrou

como o seu trabalho estava ficando para a turma toda e uma aluna comentou: “isso não

foi tu quem fez, tu não tem capacidade para isso”. Outra aluna pediu ajuda para fazer o

efeito de sombra, pois havia esquecido. As duas alunas sentadas do meu lado que

estavam trançando os cabelos fizeram desenhos idênticos, que era um coração amarelo

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escorrendo num muro branco com contornos pretos, iguais à um dos exemplos que a

professora colocou no quadro. Todos usaram muito a régua para desenhar. Alguns

alunos reclamaram que não sabiam desenhar.

Meninas de outra turma bateram na porta e pediram pra falar com um aluno da

turma 111. Este aluno falou um pouco, fechou a porta e voltou para sua classe e as

meninas começaram a gritar e bater nas janelas e a professora chamou a atenção do

aluno e as meninas ouviram e foram embora. Bateu o sinal, a professora pediu que

terminassem o trabalho em casa e trouxessem na próxima aula para apresentar. Neste

momento, os alunos do 1º ano ficaram muito ansiosos para sair. Esperei que todos os

alunos saíssem, me despedi da professora e sai.

1.2.2. 2ª Observação Silenciosa

Ensino Médio

Data: 19 de março

Horário: 13h às 13h50min

No caminho, encontrei com a professora Rosângela e fomos juntas para a sala da

turma 111. Ela me explicou que os horários mudaram e que agora a aula de Artes serão

sempre no segundo período. Quatro alunos estavam em suas classes, alguns escrevendo

e outros terminando o desenho da semana passada. O restante voltou pra sala uns

minutos depois, pois estavam no banheiro ou tomando água.

A professora começou a aula às 14h, perguntando se todos haviam acabado o

trabalho da semana passada, que era desenhar um muro na folha e nele fazer um grafite.

Depois passou nas classes para ver os trabalhos prontos. Alguns alunos aproveitaram

este tempo para ver os desenhos dos colegas. Quando a professora acabou de ver todos

os trabalhos pediu que os alunos que não conseguiram terminar o desenho em casa

acabassem hoje e quem já estava pronto iria ganhar um pedaço retangular de papel

cartona grande para fazer um novo grafite, ou refazer o do caderno.

Page 20: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

20

Ela avisou que na próxima semana vai trazer tintas guache e pincéis e pediu que

eles se lembrassem de trazer alguns pincéis de casa, pois não teria o suficiente para

todos. Também pediu que eles contribuíssem com R$ 0,50 para comprar as tintas, pois

ela já havia comprado as cartonas sozinha. Um dos alunos falou em voz alta que não vai

ajudar, pois é muito caro e ele já tinha gastando bastante comprando material escolar.

Exatamente como na semana passada, a professora mostrou exemplos de como

eles deveriam fazer o trabalho, que eram os grafites feitos pelos alunos da turma 111 do

ano passado. Mostrou cada um e os pendurou no quadro negro. Depois de verem os

trabalhos, os alunos comentaram que todos são muito parecidos, então a professora

mostrou a folha com uma imagem impressa que os alunos do ano passado tinham usado

de modelo.

Então, a turma se organizou em duplas e trios para desenhar o grafite na folha e

alguns alunos reclamaram que não sabiam desenhar. Enquanto isso, as duas meninas

que desenharam corações amarelos na semana passada formaram uma dupla e já tinham

começado a desenhar. A professora trouxe formas de letras para que eles contornassem

e um aluno sentou do lado da mesa da professora para que ela o ajudasse.

Percebi que os dois alunos que estavam desenhando individualmente estavam

bem mais concentrados, assim como as duplas de meninas. Apenas os dois alunos, que

sentam no fundo da sala, são menos concentrados, conversam mais e procuram

desculpas para saírem da sala e, quando fazem o trabalho, sempre um faz mais do que o

outro que fica conversando. Em um determinado momento, um aluno levantou a voz

para falar com o colega que estava no outro lado da sala, enquanto o colega da sua dupla

fazia o desenho sozinho. A professora pediu para ele sentar, mas eles não ouviram e

começaram a jogar uma borracha de um lado para o outro da sala e acertaram a classe

em que eu estava sentada, bem em cima do meu caderno. Os dois alunos se mostraram

envergonhados, pediram desculpas e depois foram contar o que aconteceu para a

professora, que estava auxiliando um aluno e não havia visto. Ela repreendeu os dois e

disse que eles não estavam se comportando como alunos de ensino médio.

Depois de ver como os desenhos estavam ficando, a professora explicou que eles

podem criar um tema para os seus grafites e o aluno Vinicius aproveitou para reclamar

Page 21: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

21

do colega que escreveu seu nome errado e deu um chute no colega, que achou graça e a

professora os ignorou.

Percebi que as três duplas de meninas estavam dividindo o trabalho, enquanto

uma desenhava o muro a outra desenhava o grafite. Nas duplas geralmente é apenas um

que desenha. Um trio de alunos levou o trabalho até a professora e ela esta desenhando

alguma coisa, corrigindo algum erro.

Quando eu me levantei e passei nas classes para ver os desenhos, vi que todas as

duplas estavam usando uma daquelas imagens impressas que a professora trouxe na

primeira aula em que explicou o que é grafite. Todos estavam fazendo desenhos de

observação, alguns muito fiéis ao modelo, que acabaram se tornando cópias. Uma dupla

fez um skatista em que a proporção do corpo que ficou muito boa, porém observei que

ele usou régua pra desenhar os murros, assim como o restante da turma. Mas apesar

dessa insegurança que eles tem por usarem demais a régua e a borracha, todos são muito

bons em observar e desenhar as formas.

Faltando dez minutos para o encerramento da aula, a professora repetiu que

semana que vem eles vão começar a pintar. Os alunos continuaram desenhando e,

quando a professora perguntou o que eles tinham depois da aula de artes, um aluno

respondeu que teriam Ensino Religioso e começaram uma conversa sobre a professora.

Quando o sinal tocou, a professora recolheu os trabalhos dos alunos e disse que

ela traria na aula que vem para garantir que eles não esqueçam em casa nem

amassassem no caminho. Enquanto isso, eu fui me despedir da professora e ela me

lembrou que a turma 63, que eu irei observar na quarta-feira, terá aula no primeiro

período. Eu agradeci, pois a diretora havia se esquecido de me informar que o horário

desta turma também tinha mudado. Nos despedimos, ela continuou se organizando, eu

sai da sala e me despedi de alguns alunos no caminho.

Page 22: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

22

1.2.3. 3ª Observação Silenciosa

Ensino Médio

Data: 26 de março

Horário: 13h às 13h50min

Ao chegar à escola, encontrei com a professora Rosângela quando ela saia da

sala dos professores com os materiais de pintura que trouxe para os alunos, e fomos

conversando até a sala da turma 111, que estava vazia. Ela depositou os materiais na sua

mesa e depois distribui nas classes da frente. Enquanto fazia isso, ela me perguntou

quando eu começaria a dar aula pra eles e eu respondi que seria no segundo semestre,

mas que não sei ao certo qual dia que começo, mas que avisarei. Quando ela me

perguntou quantas aulas seriam e eu respondi que são 12, ela fez a conta de quantos

meses aproximadamente levará e quis saber quando eu me formo.

Quando os alunos chegaram, pois eles têm aula de informática antes do período

de artes, ela avisou que na aula de hoje eles deveriam pintar com as tintas guache os

desenhos com o tema grafite da aula passada. A professora trouxe as tintas, pincéis,

jornais e potes de margarina. Dois alunos vieram conversar comigo, pois queriam saber

o que eu fico escrevendo o tempo todo e eu respondi que eu preciso escrever tudo o que

acontece na sala, e eles me disseram que eu sou uma X9, que eu acredito que seja uma

gíria para dizer que alguém é fofoqueiro, e eu expliquei que não é a professora deles

quem vai ler.

A professora explicou que eles devem pegar uma colher de chá de cada cor pra

evitar o desperdício de tinta, pediu para alguns deles encherem os potes de margarina

com água e que forrassem as mesas com os jornais velhos que ela trouxe. Eles se

levantaram e foram pegar seus trabalhos, tintas e pincéis. Um grupo pediu se eles

poderiam acabar alguns detalhes do desenho que não conseguiram na semana passada e

ela deixou.

Voltaram com todos os potinhos cheios de água e começaram a pintar. Todos

estavam quietos, mas observei que na maioria dos grupos é apenas um aluno que pinta,

enquanto os outros ficam conversando e provocando os colegas. Quando a professora

Page 23: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

23

chamou a atenção para esse fato, um aluno que não estava fazendo nada disse que como

ele fez a parte mais difícil que é desenhar, o colega deveria pintar sozinho sem reclamar

e ela não discutiu.

Um aluno pendurou o jornal no pescoço como se fosse um babador e alguns o

imitaram. Quando eles pediram cores de tinta que a professora não tinha, ela explicou

que eles deveriam misturar as tintas para formar novas cores. Percebi que a turma gosta

de trabalhar com tinta.

O grupo de meninos se sujou com tinta e tiraram fotos. Disseram que depois do

período de Artes eles têm aula de Ensino Religioso e a professora disse que cinco

minutos antes de terminar a aula eles devem ajudar a guardar os materiais. Na maioria

dos grupos todos os alunos estão desenhando, exceto o grupo dos meninos do fundo da

sala. A professora passou em alguns grupos para dizer que eles devem pintar sempre no

mesmo sentido. Alguém comentou algum acontecimento da aula anterior a Artes, que é

informática.

Observei que os alunos usam a tinta pura para pintar, não sabem misturá-las para

conseguir as diferentes tonalidades da cor. Suas pinturas são chapadas, não sabem como

dar ilusão de volume e profundidade. Depois, alguns alunos começaram a reclamar que

estavam cansados e pararam de pintar e ficaram conversando com a professora, dizendo

que tinham visto ela no centro e perguntaram qual era o modelo do carro dela e se era o

seu marido quem a estava acompanhando. Depois pediram para ela se poderiam ir ao

banheiro e de tanto insistir ela cedeu, dizendo: “vai passear”.

Antes de a aula acabar, eu passei para ver como estavam ficando os trabalhos e

percebi que alguns são mais elaborados do que os outros

1.2.4. 4ª Observação Silenciosa

Ensino Médio

Data: 02 de Abril

Horário: 13h às 13h50min

Page 24: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

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Cheguei à escola e fui ao encontro da Rosângela, que estava na sala dos

professores. Cumprimentei-a e fui sentar no banco do corredor para esperá-la.

Entramos na sala juntas e os alunos ainda não tinham chegado. Eu me sentei uma classe

no fundo da sala enquanto ela distribuiu os materiais nas mesas da frente.

Quando os alunos chegaram, ela explicou que não conseguiu encontrar tinta

vermelha e entregou os trabalhos, que eles começaram a pintar imediatamente. Seis

alunos ainda não haviam começado a pintura e a professora explicou a eles que quando

fossem buscar tinta deveriam ter cuidado para que não derramasse, pois alguns colegas

haviam sujado a mesa. Então, um aluno comentou que isso era “caozada” e que era

“bocabertisse” deles. A professora saiu para buscar água para encher os potinhos e um

aluno começou a jogar papeizinhos na colega do outro lado da sala.

A dupla de meninas sentadas do meu lado pintou uma guitarra e a palavra Rock.

Elas estavam bem adiantadas, pois estavam concentradas enquanto o trio de meninos

bagunceiros ainda estava pintando o fundo de branco sendo que apenas um deles estava

pintando e os outros estavam passeando pela sala.

Outra dupla de meninas pintou um bonequinho verde e roxo e algumas palavras

que eu não consegui ler de onde eu estava. Quando a professora voltou, aquele trio de

alunos conversava em voz alta e repetiam um pro outro “eu defendo meus parça”, “bota

pressão”. Ela pediu silêncio para fazer a chamada e pediu para que eles informassem

quais são os colegas que não comparecem às aulas de Artes porque trabalham, pois

esses alunos estudam no turno da manhã e, devido ao ensino politécnico eles têm aula

um dia inteiro uma vez por semana.

Uma aluna que não estava nas aulas anteriores está começando a desenhar. As

outras alunas que estavam pintando uma guitarra já estavam prontas e foram conversar

com as meninas que estão desenhando no outro lado da sala.

A professora está ajudando uma dupla a pintar os contornos do muro. Alguns

alunos que terminaram foram lavar as mãos. El avisou que na semana que vem eles irão

finalizar a pintura. Uma aluna que fez o trabalho individual produziu uma pintura bem

feita.

Page 25: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

25

Um aluno perguntou para mim se eu iria observar outra turma ainda hoje e eu

respondi que não. Depois, este mesmo aluno questionou se eu iria anotar o que ele

disse, e eu respondi que não. A professora saiu da sala para buscar os alunos que

fugiram e disse para os quatro que eles eram o grupo com mais gente e menos serviço.

Enquanto isso um aluno desenhou no quadro uma garrafa e escreveu pinga em cima

dela. Isso fez com que toda turma explodisse em gargalhada.

Alguns minutos antes de terminar a aula, eles começaram a guardar os materiais

e quando o sinal tocou, eles ainda continuavam ajudando a professora e eu me despedi e

saí.

1.2.5. 5ª Observação Silenciosa

Ensino Médio

Data: 09 de Abril

Horário: 13h às 13h50min

Logo quando cheguei à escola, encontrei com a professora Rosângela e fomos

para a sala da turma 112. Lá eu expliquei que eu precisava que ela e os alunos

respondessem um questionário nesta aula e pedi que ela decidisse qual o momento mais

apropriado para aplicá-lo. Então, ela respondeu que preferia que eles respondessem no

início da aula. Os alunos ainda não haviam chegado, pois eles tinham aula na sala deles,

no outro prédio. Quando entraram na sala estavam conversando alto e começaram a

arrastar classes para formar as mesmas duplas das semanas anteriores.

A professora esperou que eles se organizassem nas classes e pediu silêncio para

a chamada. Quando acabou, explicou que eu iria entregar para eles uma folha com

perguntas para eles responderem e pediu que eu as entregasse. Conforme eu fui

entregando, eles a questionaram a professora sobre as questões e se poderiam responder

a caneta ou lápis e eu respondi.

Quando voltei para minha classe para esperar que eles respondessem, eles

começaram e chamar a professora para esclarecer as dúvidas sobre o questionário. Senti

Page 26: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

26

que quem deveria explicar era eu, mas como eles perguntaram para ela, que estava

respondendo, eu não quis interromper. Ao chegarem à última pergunta a professora não

soube responder e, depois de um tempo ela veio perguntar para mim, e eu expliquei.

Então ela repetiu minha explicação para a turma.

Conforme foram acabando eles entregavam as folhas para mim e quando todos

terminaram, a professora disse que eles deveriam pegar as tintas e pincéis para acabar o

trabalho sobre grafite, alguns estavam bem adiantados. Nesta aula eu mudei de classe,

pois até agora eu havia sempre sentado mesmo no lugar. Durante a aula, como nas

anteriores, o grupo de meninos passou mais tempo passeando pela sala do que pintando.

Estão sempre entre cinco e apenas um que faz a tarefa ou, às vezes, reveza com outro.

Já as meninas, sendo duplas ou trios, sempre se mostraram mais concentradas,

mesmo conversando estavam pintando. Uma dessas duplas havia pintado uma guitarra e

um microfone já estavam prontas e continuaram sentadas em suas classes, conversando

em voz baixa. Outra dupla, que havia acabado, mostrou o trabalho para a professora,

que mandou que eles contornassem as figuras com canetinha preta. Em alguns

momentos, a professora foi auxiliar o grupo de meninos sem que eles chamassem e,

enquanto ela ficou lá eles se empenharam no trabalho e mantiveram uma conversa com

ela. Quando ela saiu, eles começaram a conversar com a dupla de meninas, que estavam

pintando os três monstrinhos. Eles perguntaram por que elas escolheram pintar esses

bichinhos e elas responderam que eles não precisavam saber e que eram só bichinhas.

Quando os outros meninos ouviram esta última palavra começaram a rir alto.

Enquanto a professora ajudava os alunos que não haviam acabado, os que

estavam prontos começaram a bagunçar, pois não tinham atividade para fazer. Ela pediu

silêncio e avisou que na semana que vem eles ainda irão continuar a pintura e quem

acabou vai ter que respeitar quem ainda vai pintar.

Alguns alunos, aproximadamente oito, estão sem atividade e circulando pela sala

e conversando algo sobre o Big Brother. Depois de um tempo, alguns deles já estavam

na porta com as mochilas esperando o sinal para o terceiro período tocar, mas a

professora viu e os chamou de volta para ajudá-la com os materiais que eles também

haviam usado. Estes alunos foram levar os materiais para a sala dos professores e os

Page 27: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

27

alunos que ficaram na sala estavam sentados, alguns conversando baixo e outros

cochichando.

Quando uma aluna voltou com os pincéis limpos, a professora começou a

organizar o restante do seu material para sair. Depois de reunir os materiais, a

professora saiu e eu, assim como os alunos, eu a acompanhei.

1.2.6. 6ª Observação Silenciosa

Ensino Médio

Data: 16 de Abril

Horário: 13h às 13h50min

Encontrei a professora no corredor, ela me informou que os horários não haviam

mudado. Perguntou se esta era a última observação e eu respondi que sim. Entramos na

sala para esperar os alunos chegarem. Enquanto eles se organizavam nas classes, a

professora me entregou seu questionário respondido. Ela pediu silêncio para fazer a

chamada e mandou que eles se apressassem mais para não chegarem à sala atrasados,

pois eles vêm do outro prédio. Enquanto fazia a chamada mais quatro alunos chegaram.

Falou sobre como é feita a avaliação e lembrou que na primeira aula ela havia

explicado que tudo o que é feito por eles será avaliado. Perguntou se todos

consideraram o trabalho sobre grafite pronto, pois eles levaram cinco aulas fazendo.

Três duplas avisaram que precisavam finalizar o trabalho, então eles pegaram tintas e

canetas pretas, pois a professora pediu que contornassem.

Percebi que duas meninas fugiram dos exemplos e imagens dados pela

professora e não fizeram muros para desenhar o grafite. Estavam todos atentos à

professora quando a senhora da limpeza começou a limpar os vidros das janelas com um

esfregão, o que eles, por algum motivo que eu não entendi, acharam engraçado. A

professora pediu para todos trazerem réguas na semana que vem e escreveu no quadro a

palavra bidimensional e tridimensional. Disse que vão mudar completamente o que eles

Page 28: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

28

estavam fazendo até agora. Ela percebeu que eles gostaram bastante de usar tintas e eles

confirmaram. Então ela disse que irá fazer mais atividades parecidas com essa.

Ressaltou que já havia explicado para eles no ano passado que é o bidimensional

e tridimensional. Mostrou um cubo branco para usar como exemplo tridimensional e

avisou que, a partir da semana que vem, vão fazer desenhos de perspectiva com lápis no

caderno de desenho, mas que hoje apenas iam treinar um pouco. Mandou-os

desenharem pelo menos duas figuras bidimensionais nesta aula.

Alguns estavam fazendo os últimos detalhes no trabalho sobre grafite, enquanto

o restante desenhava as figuras bidimensionais como foi pedido. Alguns estavam

circulando pela sala para conversar e pedir materiais emprestados. Depois todos ficaram

concentrados, apenas os meninos do fundo, que conversavam um pouco, comentaram

que desejavam que as férias chegassem rápido. Depois, estes alunos pediram para ir ao

banheiro, mas ela só permitiu que saísse um de cada vez.

Uma menina desenhou dois roupeiros e levou na mesa da professora para que ela

corrigisse. Quando faltavam cinco minutos para acabar a aula, os alunos que haviam

acabado a atividade estavam impacientes e se levantaram para ficar ao lado da porta. A

professora chamou de volta e mandou que eles sentassem em silêncio, enquanto isso

uma aluna estava desenhando no quadro negro.

Quando o sinal tocou, a maioria dos alunos saiu apressados da sala e outros

foram receber a outra professora. Me despedi e sai.

1.2.3. Análise das observações silenciosas

A professora sempre começou as aulas perguntando algo relacionado com o

tema que irá trabalhar na aula em questão, explica um pouco o conteúdo sem se

aprofundar e pede que produzam algum desenho, mas antes faz um rascunho no quadro

de como deve ser feito ou traz um trabalho de um aluno do ano passado para que

Page 29: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

29

copiem, mas pede que mudem alguns detalhes. Acredito que o fato dela trazer um

trabalho pronto de um aluno do ano passado signifique que ela segue sempre o mesmo

roteiro em suas aulas. “Em muitos casos, os professores copiam ou fazem cópia do

plano anterior e o entrega a secretaria da escola, com a sensação de mais uma atividade

burocrática.” (FUSARI, 2008, p. 45).

A professora deixa a desejar por não aprofundar o assunto, pois ela poderia ter

utilizado artistas do grafite que estão em evidência atualmente. Por isso, conclui que o

objetivo dela é que os alunos produzam muito, mas repetindo um padrão, o que faz com

que eles apenas copiem, deixando de criar e ousar em seus trabalhos. “A produção de

arte faz a criança pensar inteligentemente acerca da criação de imagens visuais, mas

somente a produção não é suficiente para a leitura e o julgamento de qualidade das

imagens produzidas por artistas ou do mundo cotidiano que nos cerca.” (BARBOSA,

2005, p. 34).

Quanto às imagens utilizadas pela professora, acho que ela as retira de sites

pouco confiáveis, pois algumas nem sequer eram imagens de grafite, pareciam ter sido

feitas no Paint. A duas imagens que realmente se tratavam de grafites eram obras dos

grafiteiros brasileiros, Os Gêmeos, mas ela nem sequer mencionou o nome deles, nem o

das obras. As imagens eram impressas em folhas de ofício tamanho A4, a qualidade era

boa.

Quanto aos alunos, apesar que estarem atentos à aulas, fazendo os trabalhos com

empenho, se mostravam desanimados com as aulas de Artes, pois faziam os trabalhos

automaticamente. Como a própria professora disse, eles só se dedicam mais quando

sabem que o trabalho vale nota ou que será exposto. Geralmente, eles terminam os

trabalhos de qualquer jeito para terem tempo de conversar ou estudar para outra

disciplina.

O que falta nas aulas da turma 112 é trabalhar mais a história da arte, a leitura de

imagens e desafiar os alunos na hora de produzir os trabalhos, pois quando ela mostra

um modelo pronto faz com que eles, automaticamente, tentem fazer uma cópia daquilo

que viram. Este fato me fez ligar as aulas da professora Rosângela com a tendência da

escola tradicional, em que os alunos reproduziam modelos propostos pelo professor.

Segundo Iavelberg, (2003, pág. 111) “a aprendizagem era repetitiva e mecânica, com

praticas de repetição, exercício da vista, da mão, da memória e do senso moral, o

Page 30: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

30

currículo era estruturado sem vínculo com a realidade social dos alunos, não leva em

consideração as diferenças individuais.”

1.1.4. Análise do questionário respondido pela professora

Segundo o questionário respondido pela professora titular Rosângela, ela é

formada em Educação Artística na FEEVALE e afirma ter um plano de trabalho para as

aulas de Artes e que os conteúdos que vem sendo trabalhados são profissões

relacionadas à arte, relação da arte rupestre com a contemporânea, que ela trabalhou no

primeiro ano.

Quanto às técnicas artísticas que os alunos já trabalharam, ela respondeu que

eles apenas conhecem pintura com tinta guache e lápis de cor e lápis 6b. Afirmou que os

conteúdos trabalhados incluem o conhecimento de artistas de diferentes períodos da

história da arte, mas não foi o que eu percebi nas aulas, pois na maioria dos encontros

observados ela não citou nomes de artistas.

1.2.5. Análise dos questionários respondidos pelos alunos

Na primeira questão, que era sobre a idade dos alunos, a maioria respondeu que

tem 15 anos e predomina o sexo masculino. Quando perguntados sobre os materiais

mais usados nas aulas de Artes, afirmaram que usam lápis, canetinhas, borracha, régua,

tinta e pincéis.

Todos responderam que sabem desenhar, mas nas aulas que observei muitos

deles disseram para a professora que não sabem. Quanto ao que eles gostariam de

aprender nas aulas de artes, a maioria quer aprender pintura e desenho. Talvez eles não

tenham escolhido as outras opções, como a escultura, porque elas não são trabalhadas

em aula. A maioria respondeu estar familiarizados com os períodos da história da arte.

Page 31: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

31

Quando perguntados se acham importante a disciplina de Artes, a maior parte

dos alunos disse que sim e que conhecem uma obra de arte ou artista. Os que disseram

conhecer citaram artistas como Romero Brito, Tarsila do Amaral e Portinari. Na questão

sobre imagens, a maior parte dos alunos disse que são trabalhadas imagens nas aulas.

A maioria dos alunos respondeu que preferem aulas práticas. Quando

perguntados se eles acham que as aulas de Artes são técnicas ou estudo de obras de

artes, a maioria respondeu ser apenas técnicas, fato que condiz com as observações

silenciosas, pois a parte teórica é muito superficial e eles não dão importância.

Na última questão, perguntei se eles gostavam das aulas de Artes e a maioria

disse gostar.

1.6. Motivos da definição do tema de pesquisa em Artes Visuais

Depois de tudo que percebi durante as observações silenciosas, como a falta de

interesse pelas aulas de Artes, defini como tema de pesquisa em Artes Visuais a ser

trabalhado é Figura Humana. Dentre os motivos da minha escolha, saliento o fato de ser

um tema pouco trabalhado nas Aulas de artes. Também, por ser algo do meu interesse,

como acadêmica desde o primeiro semestre e pelo fato de que, ao observar as

representações que o homem fez da figura humana ao longo do tempo, os alunos tem a

oportunidade de usar a percepção, como também conhecer as concepções sobre o tema

no universo simbólico e representativo dos movimentos artísticos trabalhados.

Portanto, ao estudar a influência das diversas concepções de arte na

representação da figura humana ao longo da história da arte, busquei construir um

percurso de representação da figura humana a partir da abordagem de artistas que

desenvolveram um olhar diferenciado para o tema, seguindo uma linha em que a figura

humana começa sendo representada com realismo no Renascimento, passando por um

processo de desconstrução, depois de fragmentação, até que deixa a superfície

Page 32: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

32

bidimensional e para tomar como suporte o próprio corpo, que se torna o objeto

artístico.

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33

Page 34: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

34

2. O Olhar da Arte para a Figura Humana.

O corpo é a nossa presença no mundo, ocupa um lugar no espaço e com o passar

dos anos se modifica, o que o torna a prova de nossa existência. Já a figura humana é a

representação do corpo. Segundo Edith Derdyk, (1990, p. 29) “o corpo é. A figura

representa. O corpo é o ente físico e palpável, o órgão da nossa atenção e intenção. A

figura humana pertence ao universo simbólico e representativo.” Entende-se por

universo representativo o ato de figurar, de reproduzir uma imagem. O universo

simbólico é o sinal ou objeto material que representa qualquer coisa imaterial.

Ao longo da história o homem sempre fez representações de si mesmo, em que

podemos entender como ele se percebeu em diferentes momentos, revelando que

sempre possuiu a necessidade de se expressar, deixar sua marca no mundo. Segundo

Edith Derdyk, (1990, p. 12) “observar as diversas notações gráficas que o homem fez de

si mesmo ao longo dos tempos, como se fossem páginas de um diário, nos projeta para

um breve contato com todos os „eus‟ introjetados pelo palco do mundo.”

Em cada época há uma forma de representar a figura humana, que está ligada a

circunstâncias, condições e a relação do homem com o corpo. Portanto, o objetivo da

pesquisa é estudar o tema da figura humana, analisar as obras produzidas por artistas do

Renascimento, da arte moderna e contemporânea, períodos nos quais houve grandes

modificações no modo de representar este tema, sendo que o corpo humano sempre foi

o mesmo, o que mudou foi a percepção deste corpo a partir das diferentes concepções

de arte.

Interessa-me nesse trabalho construir um olhar para a representação da figura

humana na arte, destacando os olhares da arte renascentista, moderna e contemporânea.

2.1. A transição da representação da figura humana para o

Renascimento.

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35

Durante a Idade Média, a arte foi marcada por uma forte influência da Igreja

Católica, que tinha poder sobre os aspectos culturais e religiosos. Foi o cristianismo que

confiou ao corpo a responsabilidade pelo espírito e a renúncia ao prazer, a dor física e o

sacrifício da carne que se tornaram necessários para engrandecer o indivíduo, tornando-

o digno de Deus.

Assim, o tema da religião cristã foi frequente na arte medieval. Enquanto outras

crenças giravam em torno de figuras imaginárias, o cristianismo possuía um fundador,

que era um sujeito de personalidade bem definida, que atraiu os povos fracos e

oprimidos, mais receptivos a esta nova doutrina que difundiu uma nova moral e virtudes

como a humildade, ternura e amor aos próprios inimigos.

O modo com que a figura humana é tratada nesta época está de acordo com o

fundamento do cristianismo, que enaltece o espírito e prega o desapego a matéria.

Portanto, a arte é da Igreja e não do artista. "Nesse período, a beleza física não era

cultuada e qualquer coisa que evocasse a libido deveria ser censurada." (PIRES, 2005,

p. 35). A arte medieval ganhou função de passar as pessoas analfabetas os

ensinamentos sobre a história da religião cristã.

Cruxificação,Giotto

(Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Crucifica%C3%A7%C3%A3o_de_Jesus )

Page 36: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

36

Somente no Renascimento é que a figura humana pode voltar a sua essência,

pois a arte se soltou de suas amarras com a Igreja e passou a ser vista como algo do

espírito e inteligência, não como uma atividade mecânica. Esse fato se deve ao

crescimento comercial e urbano, na Itália, que formou uma burguesia possuidora de

uma nova visão de mundo, que se apoiava no individualismo, otimismo, naturalismo,

interesse pela antiguidade greco-romana e, principalmente, pelo ser humano. Por isso, o

homem passou dar valor a si mesmo como indivíduo, buscando uma nova divisão entre

religião e ciência.

A figura humana passou a ser representada por artistas que tinham a concepção

clássica de belo, harmonia e simetria. Estudavam a anatomia e redescobriam a beleza

masculina e feminina, que havia sido esquecida durante a Idade Média. A arte do

período do Renascimento enaltecia as glórias do passado distante e desprezava o

passado recente da Idade Média.

Na pintura, os artistas começaram a usar tinta óleo e telas, criar volumes através

do uso do claro e escuro, da perspectiva e do realismo. Tudo isso fez com que os artistas

começassem ter um estilo pessoal em suas obras diferenciando-os dos demais, o que

resultou em um ideal intelectual e no individualismo, ambos característicos do

Renascimento.

Esses artistas buscavam desenvolver a figura humana reproduzindo a realidade,

submetida a uma beleza idealizada. Isto pode ser visto nas obras de dois artistas deste

período, que são Leonardo Da Vinci (1452-1519) e Michelangelo (1475-1564). Os dois

buscaram estudar todos os componentes do corpo que originam os movimentos para

representar melhor a figura humana. Para isso, estudaram o interior do corpo, a

anatomia, através da técnica da dissecação de cadáveres.

Na obra Mona Lisa, Da Vinci retratou uma mulher comum, sustentando a idéia

de ternura maternal, feminilidade, alcançando um grau de perfeição que pareceu um

milagre aos contemporâneos do artista. Segundo Janson, “os traços são demasiado

individuais para que Leonardo tenha apenas representado um tipo ideal, no entanto o

elemento de idealização é tão forte que esconde o caráter do modelo” (JANSON, 2007,

pág. 641).

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37

Leonardo empenhava-se muito em estudar a anatomia, e criou a técnica do

“sfumato”, que consiste em não pintar linhas de demarcação nas formas, mas criar um

efeito de claro e escuro que permita uma passagem sutil de uma cor para a outra e, na

obra Mona Lisa, o artista utiliza todas as descobertas renascentistas de anatomia,

composição e perspectiva. Ele transita no claro e no escuro para dar volume ao rosto e

usa o sfumato nos limites e nas curvas da face, que esfumaça com tonalidades mais

escuras.

“Se voltarmos agora a “Mona Lisa”, podemos entender algo de seu

misterioso efeito. Vemos que Leonardo empregou o seu sfumato com

suprema deliberação. Quem tiver alguma vez tentado desenhar ou rabiscar

um rosto sabe que aquilo a que chamamos expressão repousa principalmente

em duas características: os cantos da boca e os cantos dos olhos. Ora, foram

justamente essas partes as que Leonardo deixou deliberadamente indistintas

fazendo com que se esfumassem num sombreado suave. Por isso é que nunca

estamos muito certos quanto ao estado de espírito realmente refletido na

expressão com que a Mona Lisa nos olha. Sua expressão parece ser sempre

esquiva.” (GOMBRICH, 1979, p. 228)

Mona Lisa, Leonardo Da Vinci, 1500

(Fonte: www.muraldoantena.com.br)

Em tratando da escultura, os artistas mantinham a proporção da figura com

relação à realidade, usavam a profundidade e perspectiva, estudavam o corpo humano

Page 38: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

38

estando sempre atentos a pesquisas técnicas e exploração dos processos artísticos,

tornando as esculturas muito realistas. Podemos perceber tudo isso nas esculturas de

Michelangelo (1475-1564), que foi além escultor, pintor, poeta e arquiteto.

Michelangelo possuía uma forte influência da antiguidade greco-romana,

principalmente em sua obra denominada Davi, que ele esculpiu em pedra de mármore

branco. Segundo Janson (2007, pág. 648), “Michelangelo acabara de passar alguns anos

em Roma, onde os corpos musculosos, frementes de emoção da escultura helenística o

tinham impressionado profundamente.” É possível perceber nesta obra a idealização

grega da figura humana, pois a cabeça de Davi é desproporcional, como também, é sem

vida e frio.

Portanto, com esses dois artistas Renascentistas compreendemos que houve um

aperfeiçoamento da pintura e escultura, a criação de novos métodos de projetar e

desenvolver as suas próprias imagens, sempre conseguindo em cada uma delas grandes

resultados. Isso fez com que a figura humana fosse trabalhada com mais aprimoramento,

pois os artistas voltaram-se ao corpo humano, o ideal humanista, tentando encontrar

harmonia de formas e beleza, voltando aos moldes clássicos da Antiguidade, o rigor

científico e racionalidade. Assim, ao estudar a anatomia humana redescobriram a beleza

masculina e feminina e, em suas obras, executaram a figura humana reproduzindo a

realidade, submetida a uma beleza idealizada.

Page 39: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

39

Davi, Michelangelo, 1504

(Fonte: www. arteemerson.blogspot.com)

O estudo do Renascimento nos conduz a ideia de uma figura humana

representada com proporcionalidade, uma beleza idealizada e reprodução da realidade,

que pode ser encontrada em muitos outros períodos posteriores, porém não com tanta

intensidade como na arte renascentista. A partir deste estudo do Renascimento pode-se

observar que a representação da figura humana seguiu um caminho no qual os artistas

foram acrescentando ou modificando características.

2.2. A figura humana na arte moderna.

A arte moderna, cujo maior parte dos historiadores situa o seu início na França

do século XIX, foi consequência da ascensão da burguesia, que teve como resultados a

indústria moderna, o mercado mundial e o livre comércio, todos impulsionados pela

Revolução Industrial. Com a industrialização em curso, as novas tecnologias, como a

Page 40: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

40

fotografia, fizeram com que as artes entrassem em crise e a arte moderna é o próprio

relato dessa crise.

Ao contrário do Renascimento, a arte moderna rompeu com os temas clássicos,

sem ter a finalidade de dar às obras a ilusão de tridimensionalidade, beleza idealizada e

reprodução da realidade. Segundo consta no site Itaú Cultural, “Ao romper com os

temas clássicos, a arte moderna supera as tentativas de representar ilusionisticamente

um espaço tridimensional sobre um suporte plano.”

Portanto, na arte moderna não era significativo representar o objeto exatamente

como ele era, pois a intenção era inovar. O artista não se preocupava em fazer uma

figura realista, mas sim usá-la para se expressar, colocar na obra sua subjetividade e

inovação. Com isso, surgiram os movimentos ou períodos da arte moderna.

2.3. A figura humana como representação do movimento.

O impressionismo foi um termo usado para designar uma corrente pictórica que

teve origem na França, entre as décadas de 1860 e 1880 e constitui um momento

inaugural da arte moderna. O que caracteriza esse período é a observação da natureza

através de suas impressões pessoais e visuais, em que se destaca o não contorno das

formas e dos claros e escuros com pinceladas sobrepostas e fragmentadas, usando muito

as cores complementares e a pintura ao ar livre. O artista Edgar Degas (1834-1917),

apesar de ter feito parte deste grupo, se diferia, pois ele costumava pintar dentro de um

estúdio e em suas obras, predominavam dois temas, que são as bailarinas do Ópera e

mulheres banhando-se ou penteando-se.

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41

Aula de Balé, Degas, 1873-6

(Fonte: www.auladearte.com.br)

Degas se empenhava em registrar os movimentos rítmicos e ensaiados que as

bailarinas faziam e os movimentos que já se tornavam habituais das mulheres se

banhando, muitas vezes representava apenas uma parte da figura humana, fazendo um

recorte para enfatizar onde esta visível o movimento do corpo. Segundo Gombrich,

Assistindo aos ensaios, Degas tinha a oportunidade de observar corpos de

todos os lados, nas mais variadas atitudes. Olhando para o palco desde cima,

via as bailarinas dançando ou repousando, e estudava o intrincado esforço e o

efeito da iluminação de cena sobre a modelação do corpo humano.

GOMBRICH,(1981, p. 343)

Sendo assim, Degas procurava representar a figura humana dentro de uma

situação real e cotidiana, registrando as posições do corpo humano durante os

movimentos, o que mais tarde o levou a usar a escultura para realizar composição do

movimento e espaço.

Page 42: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

42

2.4. A Figura Humana expressando as emoções

Se Degas registrava em suas obras a figura humana em movimento, Edvard

Munch (1863-1944), um dos representantes máximos do expressionismo buscava

registrar as emoções acima de tudo e para isso transmitia em seus quadros uma angústia

intensa, quase um ataque de pânico visual perante um céu sangrento que poderia

simbolizar o coração desfeito, a esperança perdida e o desespero que Munch sentia, ou

seja, uma situação psicológica que é uma das características do expressionismo.

A pintura era subjetiva, na qual o corpo era deformado para simbolizar os

sentimentos humanos, emoção vencendo a razão e isso era expresso pelos traços

dramáticos e cores intensas. Já não importava representar a figura com realismo e sim, o

trágico e a desgraça, tanto que os expressionistas evitavam qualquer coisa que

lembrasse beleza ou aprimoramento. Segundo Gombrich, sobre a reação da sociedade

para esta arte,

O que perturbava o público a respeito da arte expressionista talvez seja

menos o fato de a natureza ter sido distorcida do que o resultado implicar o

distanciamento da beleza. Que o caricaturista mostre a fealdade do homem é

um ponto pacífico, no fim das contas, esse é o objetivo de seu trabalho. Mas

que pessoas que pretendem ser artistas sérios esqueçam que, se tiverem de

alterar a aparência das coisas, devem idealizá-las e não desfeá-las, foi

profundamente ressentido. GOMBRICH, (1981, p. 448)

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43

O Grito, Edvard Munch, 1893

(Fonte: www.naparededoquarto.com)

No quadro “O grito”, de Edvard Munch, há no centro uma pessoa de aspecto

fantasmagórico que é o foco que arrasta o cenário. As linhas deformadas da figura

parecem que são as ondas sonoras que se expandem em volta. O grito afasta qualquer

ideal de beleza, pois a figura gritando com as mãos no rosto parece ter a morte pairando

sobre ela. Considera-se que,

Entretanto, Munch poderia ter explicado que um grito de angústia não é belo,

que seria uma falta de sinceridade olhar apenas o lado agradável da vida. Pois

os expressionistas sentiam tão fortemente o respeito do sofrimento humano,

pobreza, violência e paixão, que estavam inclinados a pensar que a

insistência na harmonia e beleza em arte somente nascera de uma recusa em

ser sincero. (GOMBRICH, 1981, p. 449)

2.5. A figura humana representada em diferentes contextos.

Ao observar as obras de diferentes artistas, pode-se perceber os diferentes

contextos em que a figura humana é representada, como nas obras pós-impressionistas

de Vincent Van Gogh, marcadas por uma crítica social, nas obras surrealistas da artista

Page 44: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

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mexicana Frida Kahlo, em que o conceito de identidade é muito forte e nas obras de

Edward Hopper, onde ele representa o sentimento humano de solidão.

O artista Vincent Van Gogh (1853-1890) se dedicou a arte a partir de 1880,

tendo uma carreira muito breve, pois morreu dez anos depois. “Com Van Gogh inicia-se

o drama do artista que se sente excluído de uma sociedade que não utiliza seu trabalho,

fazendo dele um desajustado, candidato à loucura e ao suicídio.” (ARGAN, 2004, p.

123).

No início, ele se interessou por religião e literatura e, em razão de sua

insatisfação com os valores de uma sociedade industrial, trabalhou durante alguns anos

como pregador leigo em meio à miséria em que viviam os mineiros de carvão.

“Naturalmente, colocava-se ao lado dos deserdados e das vítimas: os trabalhadores

explorados, os camponeses dos quais a indústria tira, com a terra e o pão, o sentimento

de eticidade e religiosidade do trabalho.” (ARGAN, 2004, p. 124)

Este sentimento predomina nos trabalhos de Van Gogh durante o período pré-

impressionista (1880-1885), sendo a obra “Os Comedores de Batatas” a mais ousada e a

última delas, pois em 1976 ele deixou os temas sociais. Na obra, o artista descreveu em

cores sombrias a pobreza e a angústia da família de camponeses, usando cores escuras,

deformando as figuras humanas, formando um quadro praticamente monocromático.

Ao representar os camponeses desta forma, ele mostrou que a industrialização

não trouxe apenas pobreza, mas também privou o povo da alegria, do colorido e da

luminosidade da vida. Deu ênfase às batatas para mostrar que esses pudesses ser o único

alimento daquelas pessoas. Segundo Guilio Carlo Argan (2004, p. 916), “para esta

família de camponeses, a ceia tem um significado solene de um ritual.”

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“Os Comedores de Batatas”, Vincent Van Gogh, 1885

(Fonte: http://vanblogh12.blogspot.com.br/2012/11/os-comedores-de-batata-1885-devincent.html)

Depois da Segunda Guerra Mundial, houve um crescimento do mercado de arte

americana, passando a ser os Estados Unidos o centro da cultura artística mundial.

“Nasce na Europa o mito, a ideologia dos Estados Unidos, o grande país industrial onde

o industrialismo não é um novo feudalismo, e sim um empreendimento coletivo de um

povo jovem.” (ARGAN, 2004, p. 520).

Os artistas, aos poucos, deixam os modelos europeus de lado. Neste contexto

encontra-se o artista Edward Hopper (1882-1967), que é um realista que faz uma

narrativa sensível das metrópoles americanas com extrema eficácia, conseguindo

colocar um sentimento forte de solidão em qualquer elementos de uma rua. Na obra

“Automat” encontramos este sentimento de isolamento expresso pela moça sentada

sozinha e uma extrema habilidade em representar o cenário atrás dela.

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“Automat”, Hopper, 1927

(Fontehttp:www.wikipedia.org/wiki/Automat_(painting))

A artista mexicana Frida Kahlo (1907-1954), mais conhecida por seus

autorretratos, deve ser lembrada pela sua dor e paixão representadas em seus quadros,

através do uso de cores vibrantes e intensas. Também foi descrita como surrealista,

porém não gostava deste termo, pois ela pintava sua realidade, não o seu subconsciente.

Frida sofreu problemas de saúde durante toda a sua vida, muitos deles devidos ao

acidente de transito que sofreu quando era adolescente que a fez passar por mais de

trinta operações. Estes problemas foram retratados em suas obras, sendo que muitas

delas foram feitas durante a sua convalescência. Ela pintava deitada em seu quarto,

observando seu rosto em um espelho que ficava pendurado em cima de sua cama.

Na obra “As Duas Fridas”, Kahlo representou o fim de seu casamento turbulento

com o pintor muralista mexicano Diego Rivera, vinte anos mais velho do que ela. A

Frida da esquerda, segura uma tesoura, trajada em um vestido de casamento em estilo

colonial. Seu coração está partido, machucado e gotejando sangue sobre a saia branca.

Já a Frida da direita veste roupas tradicionais mexicanas, representando a mulher que

Diego amava, que segurava um retrato dele ainda criança e expondo o seu coração por

inteiro. Assim, conforme afirma Franscina (1998, p. 85)

“Em uma série de autorretratos, Frida pintava seu próprio rosto como uma

mascara e ocultava seu corpo em elaborados vestidos de Tehuana. Algumas

vezes o véu cai, e seu corpo ferido vem à tona, intensificando suas feridas

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físicas reais com feridas imaginárias da castração e com o espaço concreto

interior do corpo feminino.”

“As Duas Fridas”, Kahlo, 1939

(Fonte: www.estoriasdahistoria12.blogspot.com)

2.5. A fragmentação e desconstrução da Figura Humana na

Contemporaneidade.

Muito artistas da atualidade se inspiram na obra de artistas clássicos ou

modernos, porém eles possuem uma liberdade criativa maior. Não precisam seguir

regras ou pertencer a algum movimento. Em vista disso, surgiu um questionamento

constante, sobre o que é arte. Segundo afirma Jorge Coli (1995, p. 9),

É possível dizer, então, que arte são certas manifestações da atividade

humana diante das quais nosso sentimento é admirativo, isto é: nossa cultura

possui uma noção que denomina solidamente algumas de suas atividades e as

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48

privilegia. Portanto, podemos ficar tranquilos: se não conseguimos saber o

que é arte, pelo menos sabemos quais coisas correspondem a essa ideia e

como devemos nos comportar diante delas.

Neste contexto, a figura humana se encontra num período em que a humanidade

procura corrigir as “imperfeições” vinculadas ao corpo, que ele continua sendo um tema

constante, além dos avanços tecnológicos. Porém, as normas desta nova estética

corporal fazem com que a ideia atual de corpo seja a de um objeto inacabado.

Neste conceito de corpo como objeto inacabado, analisam-se artistas

contemporâneos que desconstroem e fragmentam a figura humana, passando para o

estudo da body art, na qual o próprio corpo pode ser tomado como matéria para a

realização dos trabalhos.

O artista contemporâneo brasileiro Walmor Corrêa representa uma figura

humana inspirada em seres mitológicos e personagens fictícios muito populares, criando

painéis nos quais fragmenta o corpo humano tornando-o híbrido e o estudando sua

anatomia, como na obra Spiper Man.

Ao representar a figura humana desta maneira, Walmor dá ao público condições

para que acreditem que aquelas criaturas realmente existem. Portanto, o artista levanta

algumas questões sobre mitologias e crenças, jogando com o imaginário popular.

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Spider Man, Corrêa, 2005

(Fonte: www.walmorcorrea.com.br)

Siron Franco, outro artista brasileiro, possui grande reconhecimento nacional e

internacional. Suas pinturas mostram figuras que se mesclam de maneira muitas vezes

impressionante, nas quais as figuras humanas e animais surgem justapostos em sua obra

e que muitas vezes denuncia, chamando nossa atenção para a crueldade do ser humano,

em suas relações de poder na sociedade e natureza.

Suas figuras humanas chegam, até mesmo, a nos assustar, pois estão muito perto

de ser um pesadelo, com suas deformações e mutilações assustadoras que nos fazem

pensar em monstros ou na própria fragilidade humana. “Siron Franco criou um mundo

pictórico próprio, onde suas telas e propostas estéticas são imediatamente identificadas

como „Sironeanas‟, na palavra do poeta e crítico de arte Ferreira Gullar.” (MARGS,

1999, p. 13)

A pintura de Siron se mostra muito humanizada, criando uma ligação com a

realidade que deixamos de perceber no cotidiano ou para denunciar outras questões

comuns a todos, como violência, ética e natureza.

Page 50: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

50

Na sua obra denominada O Exercício da Censura Siron fragmentou e

desconstruiu a figura humana, representando-a com vários olhos no que aparenta ser um

rosto. A figura humana sempre esteve presente em suas obras, mesmo que menos

evidente. Se ele decidir que necessita representar uma figura mais realista ou explicita,

ele o fará, como também desconstruí-la, tornando-a fragmentada se for preciso.

]

O Exercício da Censura, Franco, 1984

(Fonte: www.faap.br)

2.6. A Figura Humana como Suporte para a Arte

Após a criação da action painting, por Jackson Pollock (1912-1956), o processo

de criação ganhou destaque, pois o fato dele executar muitas de suas telas ao vivo diante

de platéias fez as artes visuais encontrarem um caminho para as artes cênicas.

Deste encontro surge a Body Art, onde o artista se torna uma obra viva, tendo o

seu corpo como suporte. Isso fica mais claro depois de 1960, quando fica marcada uma

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51

queda das formas tradicionais de pintura e o corpo começa a ser visto como um

território. A partir deste ano também surge o Happening, uma forma de expressão

artística, caracterizada pelo improviso e por não ter começo e fim. Muitas vezes o

happening é usado como sinônimo da performance, porém o que os difere é que apenas

no primeiro há participação do público.

Neste contexto surge o brasileiro Hélio Oiticica, artista que transita entre

happening e performance que começou suas manifestações mais significativas em 1965,

quando ele e seu grupo de amigos, integrantes da escola de samba Mangueira, são

expulsos de um museu. Então, ele fez uma manifestação coletiva com os sambistas

vestidos com parangolés na frente do museu.

Os parangolés, que são fruto de suas experiências com a escola de samba é

realmente criado no final da década de 1960. Os parangolés ampliaram a participação

do público e fez o artista deixar de criar para se tornar o incentivador.

Capa 25, Oiticica, 1973) Incorporo a Revolta, Oiticica, 1967

(Fonte: www.itaucultural.org.br) (Fonte: www.itaucultural.org.br)

Algumas pessoas partilham a ideia de só se sentirem completas quanto adquirem

marcas pessoais, em que gravam acontecimentos importantes ou emoções sentidas e que

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52

devem estar registradas no corpo através da tatuagem, que foi a primeira técnica de

modificação corporal aceita pela sociedade, que atinge mais superficialmente a pele e

deixou de ser feita às escondidas.

Sabemos que a arte possui um conjunto de termos que evocam e trazem à tona

imagens e sensações do nosso inconsciente, o qual se utiliza do sonho para nos

apresentar imagens e sensações mantidas no inconsciente, mesmo que de forma não tão

clara. Já as técnicas utilizadas nas modificações corporais se utilizam do consciente para

determinar o tipo e a forma que tais intervenções terão, como também quais as partes do

corpo que serão tatuadas.

Durante a Segunda Guerra mundial (1939-1944), a realidade era muito diferente,

pois a tatuagem serviu como marca de exclusão social, que era feita nos indivíduos que

pertenciam à raças que eram consideradas inferiores.

“Ao chegar aos campos de concentração, após ser despojado de tudo o que

ainda lhe permitisse manter sua identidade, o sujeito era marcado por um

numero tatuado em seu antebraço. A real função desta tatuagem não era

identificar o sujeito dentro do campo, mas sim identifica-lo a si próprio como

pertencente à escória social.” (PIRES, 2003, p. 63)

Pensando nas formas de modificação corporal, que são as tatuagens, piercengs,

e implantes, podemos afirmar que a pessoa que altera seu corpo com implantes traz para

a realidade material o que antes era ilosório para ele, como figuras de histórias em

quadrinho ou ficção cientifica. Quando utiliza o piercing traz um caráter sexual, pois os

a área onde ele é aplicado se torna mais sensível e a tatuagem traz o caráter onírico para

ser registrado na pele.

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The Enigma, Paul Laurence

(Fonte: www.exileonmoanstreet.blogspot.com)

Fakir Musafar criou em 1967 o termo modern primitives para indicar os

indivíduos que se utilizam de conhecimentos das sociedades antigas que praticavam

modificações corporais. Nestas modificações não podemos deixar de encontrar três

fatores, que são a dor, o tempo e a magia. Quanto à magia, a modificação corporal faz

com que o indivíduo se sinta conectado com o universo, tornando-o diferente dos

demais por algo que desfigura sua forma original. A dor é algo que estes indivíduos

afirmam não sentir, pois eles atingem um estado alterado de consciência e o tempo se

refere ao foto de registrar seus rituais de passagem na pele para lembrar que possuem

um corpo transitório e mortal.

Fakir também cita sete maneiras de modificar o corpo, chamando-as de

jogos com o corpo. Entre elas estão os jogos de contorção em que modificam a forma e

crescimento dos ossos, jogos de constrição, onde se comprimem com amarras,

espartilhos e cordas. Também existem os jogos de privações, em que costumam passar

fome e até mesmo limitam os movimentos. Os jogos de impedimento são aqueles em

que usam adereços de ferro, nos jogos com fogo queimam a pele, nos de perfurações

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deitam-se em camas de pregos e nos jogos de suspensões ficam pendurados pela pele

por meio de ganchos de açougueiro.

Jogos Corporais, Musafar

(Fonte: http://www.bodyplay.com/fakir/)

Os jogos de suspensão, atualmente, vêm sendo utilizados em espetáculos ou

rituais abertos. Na foto abaixo, Fakir é suspenso por dois ganchos que perfuram seu

peito em dois lugares. A pessoa não pode ficar suspensa por mais de vinte ou trinta

minutos, senão a própria pele pode se mover ao redor do pescoço, sufocando-o.

Considera-se que:

Os rituais/performances modernos permitem que a suspensão aconteça de

várias formas. O indivíduo pode ser suspenso na horizontal, na vertical,

sentado, e com quantidades variáveis de ganchos, dependendo do seu peso e

do modo como deseja ser elevado. Essa flexibilidade permite que haja um

aumento no tempo de duração do ritual. (PIRES, 2003 p.123)

Page 55: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

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Jogos Corporais, Musafar

(Fonte: http://www.bodyplay.com/fakir/)

Segundo Beatriz Ferreira Pires, (2003, p. 173) quanto ao motivo ou intenção de quem se

submete às modificações corporais, considera-se que:

“ A body modification possibilita ao indivíduo tornar-se algo diferente de

todos e de si mesmo. Tornar-se imagem. Corpo/imagem inconstante, capaz

de agregar gêneros, etnias, espécies, tempos e culturas. Corpo – carne/objeto

– mutante, no qual a condição de ser dá lugar à condição de estar.

Assim, percebemos como a arte deixou o suporte bidimensional para tomar o

corpo como base e matéria para a arte.

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Projeto e Prática de ensino em Artes Visuais

3.1.1. Dados gerais do Projeto de Ensino

3.1.1. Título do Projeto: Os Olhares da Arte para a Figura Humana

3.1.2. Tema do Projeto: Figura Humana

3.1.3. Justificativa: a importância de trabalhar a Figura Humana esta no fato de ser

um tema muito abrangente, pouco trabalhado nas aulas de artes. Portanto,

observar as representações que o homem fez da figura humana ao longo do

tempo dá aos alunos a oportunidade de usar a percepção, como também aprender

arte, conhecendo as concepções, o universo simbólico e representativo dos

movimentos artísticos trabalhados.

3.1.4. Objetivo Geral: estudar a influência das diversas concepções de arte na

representação da Figura Humana, ao longo da história da arte, buscando

construir um percurso de representação da Figura Humana, a partir da

abordagem de artistas que desenvolveram um olhar diferenciado para o tema,

começando com figura humana sendo representada com realismo no

Renascimento, passando por um processo de desconstrução, depois

fragmentação até que deixa o superfície bidimensional para tomar como suporte

o próprio corpo, que se torna o objeto artístico.

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3.2. Prática de Ensino.

3.2.1. Primeiro Encontro.

Ensino Médio

Data da aula: 03/09/2013

Horário: 13h às 13h50min

Tema da Aula: Introdução à Figura Humana.

Objetivos:

Compreender que a Figura Humana foi um tema recorrente na história da arte,

nos diferentes estilos e épocas;

Demarcar como as diferentes concepções de arte influenciaram na representação

da Figura Humana;

Conteúdos: Figura Humana na história da arte.

Atividade: Dinâmica em que irão desenhar a Figura Humana em conjunto.

Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística e leitura de imagens.

Recursos: Imagens de obras de arte impressas em folhas A3, folhas A4 em branco e

lápis grafite.

Avaliação: Será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho

artístico.

PLANEJADO:

Iniciarei a aula explicando que teremos 12 encontros juntos e que nestas aulas

estudaremos os diferentes olhares da arte para a figura humana. Explicarei que o ser

humano sempre possuiu a necessidade de fazer representações de si mesmo ao longo do

tempo. Observando essas representações, podemos perceber como ele se via e que

sempre teve a necessidade de se expressar, deixar sua marca no mundo, seja através da

pintura desenho, escultura, entre outros.

Page 59: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

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Então irei propor um desafio, no qual eles irão fazer o desenho de uma pessoa,

mas que será diferente, pois farão em conjunto. Lembrarei que nos questionários que eu

apliquei todos responderam que sabiam desenhar, então eles não terão problemas em

desenvolver a atividade. Entregarei folhas A4 para cada aluno, pedindo que coloquem o

nome atrás para depois sabermos como ficou o desenho que cada um começou.

Escreverei no quadro as etapas do desenho, começando pela cabeça e depois passarão

para o colega e terminarão quando a figura estiver completa. Então, cada um pegará o

desenho com seu nome para vermos o resultado.

Usarei um dos trabalhos como exemplo e perguntarei o que eles acharam do

resultado das suas representações da figura humana. De acordo com a resposta,

explicarei que em alguns períodos da história da arte estes trabalhos não seriam

considerados obras de arte porque existia um padrão, mas atualmente qualquer forma de

representação da figura humana pode ser considerada como arte.

Irei propor que juntos observemos alguns períodos da história da arte em que

houve mudanças na representação da figura humana devido às mudanças na concepção

de arte. Começarei falando do Renascimento, em que as obras deveriam ser

extremamente realistas e proporcionais e mostrarei as imagens das obras: “O Homem

Vitruviano”, de Leonardo Da Vinci como exemplo.

Da Vince, 1503–1517

(Fonte: www.cartasdapalavra.blogspot.com)

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60

Explicarei que a arte foi se modificando, os artistas inovando até que chegamos

à arte moderna, em que a figura humana já não é mais executada com essa preocupação

com a ilusão de realidade e sim com a impressão pessoal ou a expressão dos

sentimentos e intenções dos artistas ao fazer a obra. Mostrarei algumas imagens de

obras de artistas deste período, como Edvard Munch, O Grito; Aula de Balé, de Edgar

Degas e compararei com os trabalhos coletivos, perguntando em qual conceito de arte

estes se enquadram.

Degas, 1874 Munch, 1893

(Fonte: www.antesdeparis.com.br) (Fonte:www.cristinamello.com.br)

Por último, lançarei a questão: “atualmente, como vocês acham que é a

representação da figura humana na arte contemporânea?”. Depois, explicarei que

atualmente o artista tem muita liberdade de criação, pois pode ter um estilo tanto

renascentista, como moderno ou mesclar os dois, pois já não há uma preocupação com a

inovação como nos períodos anteriores.

Mostrarei as imagens das obras de Walmor Corrêa como exemplo disto. Para

concluir a aula, direi que o que faremos durante as doze aulas será estudar estes diversos

olhares da arte para a figura humana, criando as suas próprias representações

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61

Corrêa, 2005

(Fonte: http://www.walmorcorrea.com.br)

REALIZADO:

No início, a professora titular chamou a atenção da turma 112, que estava

dispersa, e informou a todos que a partir deste dia eles teriam uma substituta. Disse que,

além de professora, eu sou estudante universitária, que estou nos estágios e pediu que

todos colaborassem, pois eu farei muitas atividades diferentes e que se ela pudesse até

participaria. Então ela me passou a palavra e foi fazer a chamada, como nós

combinamos antes da aula.

Então eu reforcei a apresentação, repetindo que teremos doze aulas juntos, e que

essas aulas serão importantes para todos nós, pois irei avaliá-los durante o 3º trimestre e

eles irão me ajudar, colaborando com as minhas aulas do estágio. Expliquei que durante

o terceiro semestre iremos estudar a figura humana e perguntei se já a haviam estudado.

Como eu falei muito baixo, devido ao meu nervosismo, percebi que eles perguntavam,

uns aos outros, o que eu havia dito e, por isso, acabaram falando mais alto do que eu.

Como ninguém respondeu, eu me senti nervosa e decidi continuar a explicação, dizendo

que o ser humano sempre possuiu a necessidade de fazer representações de si mesmo ao

longo da história da arte e mostrei a primeira imagem da obra “O Homem Vitruviano”,

de Leonardo da Vinci.

Page 62: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

62

Perguntei se eles já a conheciam e eles disseram que não. Então eu perguntei se

eles haviam assistido ao filme O Código Da Vinci. A maioria respondeu que sim e eu

lembrei que havia uma cena em que o curador do museu, que foi assassinado e antes de

morrer se posicionou da mesma forma que da Vinci desenhou a Figura Humana em sua

obra, dando inicio á trama do filme.

Percebi que neste momento todos demonstraram interesse, pois se aproximaram

para me ouvir melhor, pois eu continuei falando baixo. Voltei a discutir a obra,

informando que ela tem as características do período Renascentista, ao qual pertence,

que são o realismo, simetria e proporcionalidade. Lembrei de outra obra muito

conhecida deste mesmo artista que reforça essas características, que é a “Mona Lisa”.

Então todos afirmaram que conheciam, até a professora titular, que ficou presente na

sala de aula, disse que esta foi trabalhada com eles.

Passei para a segunda imagem, pedindo que observassem as diferenças e disse

que era uma obra do período moderno, do artista impressionista Edgar Degas. Uma

aluna comentou que esta não era tão bem desenhada e eu disse que e arte foi evoluindo,

os artistas foram inovando até chegarem ao ponto no qual a ilusão de realidade não era

tão importante em suas obras, e sim registrar o momento, o modo como a luz ilumina tal

objeto e, no caso de Degas, registrar o corpo em movimento. Eles continuaram pedindo

para que eu repetisse, pois não conseguiam me escutar.

Mostrei a imagem da obra “O Grito”, de Edvard Munch, e perguntei o que eles

perceberam que mudou. Desta vez ninguém respondeu e eu disse que no movimento

expressionista a maior intenção era representar as emoções, nem que para isso os

artistas tivessem que deformar a figura humana. Disse que eles possivelmente já haviam

visto uma brincadeira que fizeram com esta obra, na qual colocaram o rosto da Lisa

Simpson, personagem na animação Os Simpsons na obra O Grito e eles responderam

que sim, alguns cochicharam e riram.

Na última imagem, disse que a figura humana atualmente pode ser representada

de qualquer forma, pois na contemporaneidade tudo pode ser considerado arte.

Relacionei com a imagem impressa da obra do artista Walmor Corrêa, dizendo que ele

fragmenta a figura humana, tornando-a híbrida, ou seja, metade animal, metade humana.

Page 63: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

63

Falei que agora faríamos uma atividade diferente, pois seria coletiva. Entreguei

as folhas, pedindo que pegassem seus lápis grafite. Expliquei que desenhariam uma

figura humana, só que eu escreveria no quadro qual parte do corpo desenhariam e que

quando acabassem esta parte, passariam para outro colega que desenharia a seguinte.

A atividade aconteceu tranquilamente, a maioria dos alunos a fez sem

problemas, apenas o aluno William não trocou a folha nenhuma vez, porque, como me

disse, estava muito feia e ninguém iria querer trocar com ele.

Trabalho do aluno William

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Observei que esta turma é bem criativa, muitos deles desenharam tatuagens na

figura. A aluna Michele foi mais além e, a cada trabalho que interferiu, desenhou uma

faca na figura. Cheguei a perguntar o motivo e ela me disse, sorrindo, que achou muito

engraçado, mas, quando a atividade acabou e todos pegaram o trabalho que iniciaram de

Page 64: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

64

volta, ela ficou chateada quando viu que os colegas desenharam uma saia na figura

humana que ela começou. Os colegas responderam que era vingança, pois ela havia

“esfaqueado” as figuras deles.

Trabalho da aluna Michele

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Eu lembrei a todos, dessa vez em voz alta, que era um desenho coletivo, então

cada um poderia desenhar o que quisesse e que o desenho nunca ficariam como

imaginaram no início. Eles me olharam com desconfiança, mas pararam de discutir.

Como a turma realizou a atividade em pouco tempo, ficou sobrando dez minutos

para o segundo período. Como eu não disse nada, a turma começou a guardar seus

materiais para ir para a palestra que teriam depois da nossa aula. A professora titular,

que me acompanhou durante toda a aula, me aconselhou que nas próximas eu deveria

Page 65: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

65

planejar atividades mais demoradas, pois a turma 112 faz as atividades com muita

rapidez e pouco interesse. Também me aconselhou a falar mais alto.

Fiquei um pouco perdida, pois eu já havia cumprido todo o planejado. Percebi

que nas próximas aulas eu deveria vir mais preparada para qualquer dificuldade que

surgisse, pois segundo afirma Regina Stela Machado (2010, pág.73), comparando o

ensino de artes com uma viagem, “uma bússola é extremamente útil nas mãos de

alguém que sabe que está a caminho, que se sabe um viajante e que se dispõe a enfrentar

obstáculos e descobertas a cada instante, porque uma determinada intenção anima cada

passo e cada parada. Nas mãos de alguém que não está preparado para viajar, uma

bússola é inútil.”

Minha maior preocupação durante este primeiro encontro e ao idealizá-lo era

cumprir o planejado, portanto, não consegui desenvolver um diálogo com os alunos,

pois, como eu estava muito nervosa, apenas expliquei o planejado, que eu havia

decorado com medo que cometer algum erro e não abri espaço para que os alunos

pudessem expor suas opiniões. Também acabei me esquecendo de contemplar outros

quesitos importantes para desenvolver uma aula completa, como analisar os alunos.

Assim, considera-se que,

O professor na sala de aula é primeiramente um observador de questões

como: o que os alunos querem aprender, quais as suas solicitações, que

materiais escolhem preferencialmente, que conhecimento têm de arte, que

diferenças de níveis expressivos existem, quais os mais e os menos

interessados, os que gostam de trabalhar sozinhos e em grupo, e assim por

diante. A partir dessa observação constante e sistemática desse conjunto de

variáveis e tendências de uma classe, o professor pode tornar-se um

criador de situações de aprendizagem. (PCNs, pág. 110)

3.2.2. Segundo Encontro

Ensino Médio Data da aula: 10/09/2013

Horário: 13h às 13h50min

Tema da Aula: Figura Humana em tamanho natural.

Objetivos:

Perceber a Figura Humana e suas proporções;

Page 66: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

66

Representar graficamente o corpo humano;

Desenvolver a imaginação ao criar personagens;

Conteúdos: Figura Humana e proporções.

Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística e leitura de imagens.

Atividade: Análise das obras “O Homem Vitruviano”, de Leonardo da Vince e “Spider

Man”, de Walmor Corrêa e desenho da Figura Humana.

Recursos: papel Kraft, lápis 6b, giz de cera, tintas guache e imagens da obras O

Homem Vitruviano, de Leonardo da Vinci e Spider Man, de Walmor Corrêa.

Avaliação: Será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho

artístico.

PLANEJADO:

Darei início à segunda aula retomando a questão da representação da figura

humana no Renascimento, discutida na aula passada, e mostrarei a imagem da obra “O

Homem Vitruviano”, de Leonardo da Vinci.

Então explicarei o que nos ajuda a representar a figura humana com mais

realismo, sem deixá-la com os braços compridos demais, ou as pernas muito curtas é o

estudo das proporções do corpo humano. Segundo o dicionário Aurélio, proporção é a

“relação das diferentes partes de um todo, comparadas entre si ou cada uma com o todo”

e que Leonardo da Vinci foi um grande pesquisador desta questão. Ao mostrar a

imagem da obra “O Homem Vitruviano”, direi que nela da Vinci descreveu algumas

proporções do corpo humano. Por exemplo, que um palmo é o comprimento de quatro

dedos e que, em um adulto, o corpo poderá medir entre 7,5 a 8 cabeças.

Depois, mostrarei a imagem da obra “Spider Man”, de Walmor Corrêa e

explicarei que apesar de ser uma obra contemporânea ela ainda possui aspectos do

Renascimento por ser proporcional. Lembrarei os trabalhos feitos na aula anterior e

direi que algumas delas estão proporcionais, enquanto outras não estão e discutiremos o

porquê.

Page 67: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

67

Da Vince, 1503–1517

(Fonte: www.cartasdapalavra.blogspot.com)

Corrêa, 2005

(Fonte: www. walmorcorrea.com.br)

Informarei que faremos uma atividade em grupos de quatro integrantes e

pedirei que eles se organizem. Explicarei a atividade, informando que irão contornar do

corpo do colega na folha e depois irão criar um personagem, que pode ser real ou

imaginário ou desconstruir a figura humana, tornando-a metade animal, metade

humana.

Page 68: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

68

Conforme solicitado, passarei nos grupos para auxiliá-los e encerrarei a aula

quando estiverem com a pintura mais adiantada, pois em um período eles não

conseguirão terminá-la.

REALIZADO:

Nesta aula, percebi que alguns alunos, por iniciativa própria, se sentaram mais

perto de para me ouvir melhor. Isto foi algo que eu poderia ter pedido a eles, mas não

me ocorreu.

Comecei a aula questionando se eles lembravam que na aula passada, na qual

estudamos o Renascimento, observamos a obra O Homem Vitruviano e eu disse que ela

tinha uma característica e perguntei qual era. Fiquei surpresa quando uma aluna

respondeu que era a proporcionalidade, pois pensei que eles não se lembrariam da aula

anterior.

Então, informei que Leonardo da Vinci foi um grande pesquisador deste tema e

fez várias descobertas. Depois, exibi a imagem da obra Spider Man, de Walmor Corrêa

e eles disseram que gostaram mais desta do que da anterior. Expliquei que, apesar de ser

uma obra contemporânea, ela lembra as obras do Renascimento por ser proporcional.

Enquanto eu falava, percebi que fui perdendo a atenção deles, que começaram a

conversar.

Em seguida, pedi que se organizassem em grupos de quatro integrantes, passei

em cada grupo para distribuir o papel Kraft e expliquei que faríamos uma figura humana

em tamanho real. Para isso, um deles deitaria na folha para que os outros contornassem.

Pensei que eles se recusariam a participar, mas vários quiseram deitar na folha para

serem contornados, pois todos acharam divertido, tanto que perguntaram porque a

professora nunca havia feito “uma coisa” tão legal como essa com eles antes.

Fui passando nos grupos para observar e vi que o grupo das meninas já havia

contornado metade do corpo da colega. Já o grupo misto, no qual haviam meninos e

meninas, estava com dificuldades porque o colega que serviu de modelo era maior do

Page 69: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

69

que o comprimento do papel Kraft e eu aconselhei que eles deixassem os pés um pouco

de fora. No grupo dos meninos percebi que eles estavam fazendo a atividade muito

depressa, com pouca dedicação e chamei a atenção deles, pois o colega que serviu de

molde sentia cocegas e eles o provocavam.

Quando acabaram de contornar, informei que eles deveriam medir as partes do

com uma linha para que descobrissem as proporções, mas apenas um grupo o fez. Pedi a

atenção deles e mostrei a imagem da obra “Spider Man”, do Walmor Corrêa e lembrei

que ele é um artista contemporâneo que desconstrói a figura humana, tornando-a

híbrida. Então eu disse que faríamos isto hoje e que os grupos deveriam discutir qual

personagem eles criariam, poderia ser hibrido ou não.

Neste momento, eles falaram mais alto, querendo expor suas ideias. Em alguns

grupo foi mais fácil escolher a personalidade da Figura Humana, em outro houve

pequenas discussões ate que decidiram. Como eles estavam falando muito alto, percebi

que deveria chamar a atenção da turma, mas me senti intimidada pelos alunos. Então

resolvi passar em um grupo de cada vez para pedir silêncio. Porém, eu sei que esta não

será sempre a solução, pois haverão turmas em que precisarei ter mais autoridade,

elevar o tom de voz.

Assim, eles teriam a oportunidade de utilizar a criatividade, imaginar um

personagem que poderia ser alguém que eles gostariam de ser, colocando um pouco da

sua personalidade nele ou uma criatura que eles inventaram, sendo o oposto do modo se

vêem. Pois, conforme afirma Barbosa (2012, p. 30):

É preciso ter espaço e condições que me permitam, se eu tenho

quinze anos, confrontar-me com que eu sou enquanto individualidade,

no momento em que eu a descubro como minha. Além da voz, que me

diz o tempo todo como eu deve ser, como eu devo vestir-me,

comportar-me, o que devo dizer, escolher, é preciso que me seja

permitido escutar uma voz dentro de mim o que eu poderia ou gostaria

de ser. É preciso, enfim, que eu possa imaginar.

O grupo dos meninos decidiu que sua figura humana se tornaria parte

extraterrestre, porque o colega que serviu de modelo havia se mexido muito, por causa

das cócegas e deixou o desenho tremido.

Page 70: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

70

As meninas escolheram fazer uma figura humana sem cabeça, com sangue

jorrando do pescoço, com uma faca na mão e a denominaram de suicida, pois disseram

que gostam de filmes de terror e de ver o sangue jorrando. Então eu questionei o que

elas sentiriam se vissem uma pessoa sendo esfaqueada, no meio da rua. Depois de

refletir por um tempo, as meninas responderam que não gostariam de ver nenhum ser

humano sofrendo, mas continuam gostando dos filmes de terror, pois sabem que se

tratam de ficção e gostam da sensação de adrenalina.

O grupo misto resolveu tornar sua figura um modelo e denominaram de plaboy,

com uma pose em que fica com um braço dobrado atrás da cabeça. Segundo eles,

estariam se inspirando no colega Geison, que se preocupa muito com o visual.

Trabalho do grupo dos meninos

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Distribui o material de pintura nas classes não utilizadas e os grupos foram

escolher as cores. Avisei que não teriam muito tempo para pintar, pois faltavam quinze

minutos para acabar a aula. Como todos os grupos demoraram a escolher, tiveram

apenas dez minutos para pintar o trabalho e os últimos cinco para organizar a sala.

Enquanto uns desenhavam, outros pintavam o trabalho. Houve também aqueles que não

Page 71: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

71

fizeram nada e disfarçavam para que eu não visse. Quando terminou a aula, dois alunos

me ajudaram a levar os trabalhos para a sala dos professores.

Porém, no caminho o aluno Vinícius perguntou se eu tinha namorado e começou

a insinuar que estava solteiro também, mas eu ignorei. Então ele pediu o meu número de

telefone e eu disse que não daria. Quando eu o mandei voltar para a sala, ele foi rindo e

falando que quem estava perdendo era eu, pois ele era muito divertido e que eu deveria

dar o meu número de telefone. Como ele já estava longe, não pude o repreender. Por

isso, senti que não consegui resolver a situação como deveria. Também não entendi o

motivo deste aluno pensar que houvesse a possibilidade haver outra relação entre nós

que não fosse de professora e aluno, pois eu nunca dei motivo nem incentivei essa

atitude dele.

Porém, percebi que, apesar deste fato, a aula toda foi muito descontraída,

principalmente no momento de contornar o corpo, pois os alunos que serviam de

modelo sentiram cócegas, o que divertiu os demais. Como na aula anterior, a professora

titular ficou presente durante toda a aula. Ela permaneceu em silêncio, concentrada em

fazer a chamada, mas mesmo assim eu me senti avaliada o tempo todo.

Trabalho do grupo das meninas

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Page 72: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

72

Trabalho do grupo misto

(Fonte: DORNELLES, 2013)

A turma foi muito participativa e demonstraram muito interesse no que eu falava

e na atividade. Houve momentos em que eu esqueci que a professora titular estava

presente. Pude tomar todas as iniciativas com a turma, que se dirigiu a mim como

professora, nós trocamos idéias e nos divertimos desenvolvendo a proposta.

O professor é um incentivador da produção individual ou grupal; o

professor propõe questões relativas à arte, interferindo tanto no

processo criador dos alunos (com perguntas, sugestões, respostas de

acordo com o conhecimento que tem de cada aluno, etc.) quanto nas

atividades de apreciação de obra e informações sobre artistas

(buscando formas de manter vivo o interesse dos alunos, construindo

junto com eles a surpresa, o mistério, o humor, o divertimento, a

incerteza, a questão difícil, como ingredientes dessas atividades);

(PCNs, 2000, p. 111)

Page 73: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

73

3.2.3. Terceiro Encontro

Ensino Médio

Data da aula: 17/09/2013

Horário: 13h às 13h50min

Tema da Aula: Figura Humana em tamanho natural.

Objetivos:

Refletir sobre as características da figura representada;

Pintar a Figura Humana;

Conteúdos: Figura Humana.

Metodologia: Prática artística.

Atividade: Desenho e pintura da Figura Humana.

Recursos: Papel Kraft, pincéis e tintas guache.

Avaliação: Participação na aula e o empenho na realização do trabalho artístico.

PLANEJADO:

Continuaremos o trabalho da aula anterior. Os grupos deverão continuar a

desenvolver uma personalidade para suas figuras, tornando-a híbrida ou não. Durante o

processo de criação, eles terão chance de repensar as idéias no seu grupo, se irão

desconstruir a figura humana, tornando-a híbrida ou se criarão uma personalidade, seja

um ídolo do cinema, música, futebol, entre outros.

Depois, irão pintar o trabalho, pensando em que cores usarão para dar ênfase na

personalidade da sua figura. Poderão usar tintas guaches, e outros materiais que tenham

trazido de casa. Enfim, o principal aspecto desta aula é que eles possam usar a

imaginação, sem barreiras.

Page 74: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

74

REALIZADO:

Distribui os trabalhos nos grupos e informei a turma de que eles iriam terminar

de pintar o trabalho da semana passada. Em seguida, distribui os materiais e percebi que

muitos alunos não trouxeram os pincéis, dificultando o andamento da aula, pois alguns

alunos ficariam sem pintar e a minha intenção era que todos participassem.

Disse para eles que deveriam ter trazido de casa, pois essa era a

responsabilidade deles. Os alunos discutiram comigo, dizendo que trazer os materiais

sempre foi tarefa da professora de Artes. Então eu disse que enquanto eu fosse a

professora, que traria os materiais para as aulas seriam eles, mas senti como se estivesse

falando para as paredes, pois ninguém pareceu ouvir, pois já estavas distraídos

conversando.

Estes alunos que ficaram sem pincéis me perguntaram como poderiam ajudar o

grupo e eu disse que eles poderiam usar os dedos para pintar, pois segundo Martins

(1997, p.71) acerca da flexibilidade no desenvolvimento de um projeto de ensino em

que afirma que “um projeto gerado, pode ser transformado durante sua concretização,

na medida em que novas ações precisem ser inseridas a fim de que os objetivos possam

ser alcançados”.

Percebi que dois grupos estavam criando um clima de competição entre eles,

pois comentavam que achavam sua figura mais bonita que a do outro grupo. Estes

grupos eram o das meninas, que fizeram uma figura humana feminina sem cabeça e o

grupo misto, que criou uma figura humana masculina, sendo que resolveram mudar o

nome de playboy para Dorival Jr. Isso fez com que as meninas quisessem desenhar

melhor a sua figura, enquanto os outros grupos pintavam.

Page 75: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

75

Trabalho do grupo misto

(Fonte: DORNELLES, 2013)

O grupo dos meninos, que fez de sua figura humana um extraterrestre,

considerou-a pronta, apesar do que eu disse sobre trabalhar mais a pintura. Convenci-os

de melhorar alguns detalhes, o que eles acabaram fazendo até o fim da aula.

O único grupo que acabou o trabalho nesta aula foi o dos meninos. O grupo

misto pintou parte da figura e o grupo das meninas passou toda a aula redesenhando a

figura, pintando a blusa da figura.

Page 76: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

76

Trabalho do grupo das meninas

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Trabalho do grupo dos meninos

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Page 77: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

77

O único aluno que não participou em nenhum momento foi o Vinícius, que se

recusou a ajudar os grupos. Eu não insisti, deixei que ele desenhasse no seu caderno

enquanto eu assessorava os demais alunos. Então este aluno disse que eu não precisava

me afastar dele, pois ele não morde. Neste momento eu tive que deixar claro que se ele

não parasse com as piadas e começasse a me tratar com respeito, eu teria que informar a

diretora da situação, que iria chamar os seus pais para uma séria conversa. Neste

momento eu senti que consegui resolver o problema.

3.2.4. Quarto Encontro

Ensino Médio

Data da aula: 01/10/2013

Horário: 13h às 13h50min

Tema da Aula: Figura Humana em tamanho natural.

Objetivos:

Pintar a Figura Humana;

Observar os resultados e discutir as intenções de cada um dos grupos ao criar a

Figura Humana;

Conteúdos: Figura humana.

Metodologia: Prática artística.

Atividade: Desenho, pintura da Figura Humana e discussão sobre as características dos

personagens.

Recursos: Papel Kraft, pincéis e tintas guache.

Avaliação: A participação na aula e o empenho na realização do trabalho artístico.

PLANEJADO:

Page 78: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

78

Os grupos deverão finalizar os trabalhos. Após terem desenvolvido uma

personalidade para suas figuras, e terem repensado as idéias no seu grupo, continuaram

a pintar o trabalho, representando estas características da figura humana.

Poderão usar tintas guaches, e outros materiais que tenham trazido de casa.

Enfim, quando todos acabarem, a turma irá observar os trabalhos prontos, discutindo as

intenções de cada grupo ao criar a figura humana daquele jeito.

REALIZADO:

Chegando à sala da turma 112 percebi todos estavam presentes. Distribui os

materiais e cada grupo pegou o seu trabalho. Percebi que os alunos não haviam

começado a pintar. Estavam esperando pelas minhas orientações, enquanto eu pensava

que eles sabiam que deveriam continuar o trabalho. Depois que eu disse que eles

deveriam acabar a pintura nesta aula, eles ficaram ansiosos para começar.

Observando a turma percebi que dos três grupos, o mais dedicado era o das

meninas, que representaram uma mulher sem cabeça com uma faca na mão e a

denominaram de suicida de Bom Retiro do Sul, que cortou a cabeça por causa das

espinhas. Todas as integrantes participaram da pintura, se ocupando com uma parte do

corpo ou um detalhe, ao contrário do grupo misto, em que apenas dois dos integrantes

do grupo participaram. Este grupo fez uma figura humana masculina e o chamou de

Dorival jr.

O outro grupo, dos meninos, foi o mais desinteressado, durante todas as aulas.

Eles transformaram a figura humana em um extraterrestre, porque eles acharam mais

fácil, pois segundo eles não precisariam caprichar tanto. Eles foram os primeiros a

acabar e foram sentar perto do grupo das meninas para observá-las.

Page 79: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

79

Trabalho do grupo dos meninos

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Analisando o trabalho deles, apesar da pouca dedicação na pintura, eles criaram

algo bem interessante e diferente, pois o extraterrestre lembra bastante uma figura

humana e quando eu perguntei o porquê deles terem a pintado toda de preto, eles me

responderam de forma criativa, dizendo que por ele ter vindo de um planeta muito perto

do sol havia ficado muito bronzeado.

O grupo misto foi o segundo a acabar. Eles gostaram do resultado e chamaram

os colegas para ver. Tiraram fotos e eu percebi que eles fizeram um bom trabalho em

desenhar a figura. Foram criativos em colocar um nome conhecido na figura, Dorival

Jr., que é uma figura pública e chama a atenção por terem contornado o colega mais alto

da turma.

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Trabalho do grupo misto

(Fonte: DORNELLES, 2013)

O grupo das meninas acabou por último e começaram a discutir por causa dos

pés da figura que não cabiam na folha. Percebi que elas estavam começando a brigar e

as interrompi, sugerindo que elas fizessem com os pés o mesmo que com a cabeça.

Depois de pensar um tempo, decidiram fazer o que eu disse, pois já não havia mais

tempo para outra opção. Como no pescoço, pintaram um sangue escorrendo dos

tornozelos e os demais colegas, que já estavam prontos foram observar os trabalhos

Page 81: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

81

Trabalho do grupo das meninas

(Fonte: DORNELLES, 2013)

delas. Um deles comentou que nunca viu o sangue ficar grudado na faca, sem escorrer.

Observando o trabalho deste grupo, percebo que elas atingiram muito bem o objetivo da

aula com este trabalho, pois elas desde o início se preocuparam em contornar a figura

com cuidado, continuaram desenhando para corrigir alguns erros de proporção e sempre

me chamaram para esclarecer as dúvidas. Porém o que mais chamou a atenção é a

criatividade deste grupo, tanto em fazer o desenho e a pintura.

Repensando todo o processo deste trabalho, em que os grupos representaram

uma figura humana em tamanho natural, dando uma personalidade a ela, acredito que

apesar da minha insegurança como professora, foi uma atividade gratificante. Apesar de

eu ter me cobrado muito, pensado que eu deveria ter sido mais firme nas decisões que

eu tomei, como quando eu sugeri, fora do planejamento, que eles pintassem o fundo do

trabalho e eles me convenceram que não era necessário. Mas repensando esses fatos,

penso que assim a turma teve mais liberdade de criar, usando suas próprias idéias.

Segundo Camargo (1994, p. 19), “o educador é um parteiro. O parteiro não gera a

Page 82: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

82

criança, mas ajuda a criança a nascer. O educador não gera a expressão da criança, mas

a ajuda a florescer.”

Também percebi que a atividade teve uma resposta muito positiva da parte dos

alunos, pois eu esperava falta de vontade ou desinteresse e fui surpreendida em várias

ocasiões em que eles elogiaram minhas aulas, dizendo que queriam ter mais de uma

aula de artes por semana e chegaram a perguntar se o professor de informática cederia o

período dele para a nossa aula, o que não aconteceu. Nossas aulas também repercutiram

no Facebook, onde a aluna Michele Borba postou a foto do trabalho do seu grupo, que

era a suicida, e marcou os colegas.

3.2.5. Quinto Encontro

Ensino Médio

Data da aula: 08/10/2013

Horário: 13h às 13h50min

Tema da Aula: Representação da Figura Humana no expressionismo;

Objetivos:

Compreender as mudanças da representação Figura Humana no expressionismo,

através da obra de Edvard Munch;

Produzir desenhos em que a Figura Humana registre a emoção mais forte que já

sentiram;

Conteúdos: Figura Humana, Edvard Munch e expressionismo.

Atividade: Desenho da figura humana com gis pastel seco.

Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística e leitura de imagens.

Recursos: imagens de obras de arte impressas em folhas A3, folhas A4 em branco e gis

pastel seco.

Avaliação: Será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho

artístico.

Page 83: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

83

PLANEJADO:

Farei a leitura da imagem da obra O Grito de Edvard Munch, explicando que o

artista passava por uma ponte e ao observar as cores do pôr-do-sol sentiu um imenso

desespero e o representou nesta obra. Este desespero que ele sentia, ou seja, uma

situação psicológica é uma das características do expressionismo, pois a pintura era

subjetiva, na qual o corpo era deformado para simbolizar os sentimentos humanos,

emoção vencendo a razão e isso era expresso pelos traços dramáticos e cores intensas.

Já não importava representar a figura com realismo e sim, o trágico e a desgraça.

Em seguida, explicarei que eles farão um desenho utilizando gis pastel seco, no

qual irão fazer uma figura humana no centro da folha, que representará o sentimento

mais forte que eles já sentiram e que atrás da figura deveriam desenhar o motivo de

terem se sentido daquele jeito. Quando acabarem, iremos discutir e observar os

trabalhos da turma.

Munch, 1893

(Fonte: www.antesdeparis.com.br)

Page 84: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

84

REALIZADO:

Comecei a aula pedindo que fizessem dois grandes grupos. Depois que eles se

organizaram comecei a leitura da obra O Grito, perguntando o que eles viam. O aluno

Maiso respondeu que via uma pessoa muito feia com as mãos rosto, em uma ponte e a

aluna Gabriele interrompeu, dizendo que a pessoa da imagem estava gritando.

Questionei o motivo de esta pessoa estar gritando, com as mãos no rosto e o que ele

poderia estar sentindo para estar assim. Novamente, a aluna Gabriele respondeu que era

medo ou agonia. A aluna Maila disse ser desespero.

Então, expliquei que esta obra foi feita pelo artista Edvard Munch, que observou,

ao passar por uma ponte, as cores do pôr-do-sol e sentiu uma imensa sensação de

desespero, que representou nesta obra. Este sentimento que ele sentiu é característico do

expressionismo, pois de acordo com Argan (1992, p. 227), “literalmente, expressão é o

contrário de impressão. A impressão é um movimento do exterior para o interior: é a

realidade (objeto) que se imprime na consciência (sujeito). A expressão é um

movimento inverso, do interior para o exterior: é o sujeito que por si imprime o objeto.”

Na pintura, a figura humana era deformada para simbolizar os sentimentos, a

emoção triunfando a razão, sendo isso expresso pelas cores intensas e os traços

dramáticos. A intenção era representar o trágico e a desgraça, sem se preocupar em

representar a figura humana com realismo. Depois da explicação, eu percebi que não

estava deixando que eles tirassem suas próprias conclusões sobre a obra, como deve ser

uma leitura de imagens, então resolvi passar para a atividade.

Informei que eles fariam um desenho individual, e que estavam em grupos

apenas para utilizarem o giz pastel seco. Disse que neste desenho, deveriam fazer uma

figura humana no centro da folha, que representará o sentimento mais forte que eles já

sentiram e que atrás da figura deveriam desenhar o motivo de terem se sentido daquele

jeito.

A turma demorou até entender que eles não precisavam copiar a imagem da

obra O Grito. Expliquei várias vezes que eles a usariam como inspiração para criar o

desenho deles e, mesmo assim, alguns deles copiaram ou fizeram muito parecido com a

Page 85: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

85

obra. Felizmente, esses alunos foram a minoria da turma, pois o restante produziu

desenhos interessantes.

Os alunos estranharam o giz pastel seco, inicialmente, mas depois das minhas

orientações começaram a usá-lo com mais confiança. Algumas alunas usaram o giz

como maquiagem, deixando de se concentrar na atividade e foi preciso chamar a

atenção delas de volta para o desenho. Conforme os alunos terminavam, eu pedia que

eles falassem sobre o sentimento que eles haviam representado. Levou em tempo até

que eles concordassem em participar da conversa, mas quando o primeiro aluno

começou a falar sobre seu trabalho, os outros se sentiram mais a vontade.

Trabalho do aluno Eduardo

(Fonte: DORNELLES, 2013)

O trabalho do aluno Eduardo, a quem todos chamam de pingo, ficou muito

interessante. Conforme ele explicou, o coração vermelho simboliza uma grande paixão

por uma menina que não corresponde e o sorriso é amarelo porque ele precisa fingir

indiferença quando a vê passar com outro “cara” por ele.

Quando ele terminou de falar, as alunas demonstraram compaixão por ele, o chamaram

de fofo e os meninos o chamaram de trouxa. Então, eu perguntei se mais alguém já tinha

Page 86: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

86

sentido o mesmo e todos disseram que sim, inclusive os alunos que tinham zombado

dele. Falei que todos iriam explicar seus trabalhos e os demais deveriam respeitar.

Trabalho do aluno Maurício

(Fonte: DORNELLES, 2013)

O aluno Maurício explicou que desenhou o que sente quando está trabalhando

no ateliê de calçados, pois se trata de um local pequeno que o faz se sentir preso. Foi um

dos alunos que mais se aproximou da proposta, como o aluno Eduardo. Por isso ele

desenhou a figura humana saindo de uma caixa escura, que representa ele daqui a

alguns anos, quando ele estiver estudando e conseguir um emprego melhor. O azul em

volta da caixa representa um oceano de novas oportunidades, as quais ele irá correndo

ao encontro.

A aluna Franciele desenhou seu irmão para representar um momento em que se

divertiu muito, pois eles estavam com a família na praia quando seu irmão mais novo

tirou a sunga e entrou correndo no mar. A aluna Maila disse que pensou que ele havia

rasgado as calças porque estava com cara que espanto. O desenho desta aluna é um

exemplos dos alunos que não se entenderam a proposta, pois ficou muito superficial.

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Trabalho da aluna Franciele

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Nesta aula, meu maior desafio foi fazer com que a turma entendesse a proposta,

pois mesmo que eu tenha falado mais alto, não deixei claro que deveriam desenhar a si

mesmos e também que não deveriam copiar a imagem, mas sim criar algo novo se

inspirando nela. Refletindo sobre isso, penso que como eles estavam há tanto tempo

apenas copiando, se tornou difícil que eles comecem a usar a criatividade tão rápido.

Portanto, percebi que nas aulas anteriores, ao fazer a leitura de imagens, não

coloquei os alunos na conversa tanto quanto eu deveria e acabei apenas falando sobre as

obras, esquecendo como é importante que eles mesmos façam este processo de leitura

sozinhos. “Cabe aos educadores situar o aluno na sua leitura. A leitura por meio de

reprodução de obras pode construir exercício para o desenvolvimento estético e

potencializar a experiência com as obras originais.” (ARSLAN; IAVELBERG, 2006,

P.16).

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3.2.6. Sexto Encontro

Ensino Médio

Data da aula: 15/10/2013

Horário: 13h às 13h50min

Tema da Aula: Quadro vivo.

Objetivos:

Fazer a leitura das imagens das obras;

Produzir releituras de obras que representam a Figura Humana através da

fotografia e vídeo;

Conteúdos: Figura Humana, fotografia e vídeo.

Atividade: Produzir uma releitura de uma obra de arte através da fotografia.

Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística e leitura de imagens.

Recursos: Imagens de obras de arte impressas em folhas A3, câmera fotográfica e

figurino.

Avaliação: Será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho

artístico.

PLANEJADO:

Explicarei a atividade, pedindo que formem grupos. Depois, faremos a leitura de

imagens de obras de arte, que são “As Duas Fridas”, de Frida Kahlo; “Automat”, de

Edward Hopper e “Os Comedores de Batata”, de Vincent Van Gogh.

Os grupos escolheram qual obra irão trabalhar, decidindo se farão uma releitura

ou se irão reproduzi-la, podendo escolher entre a fotografia ou vídeo. Eles terão tempo

de planejar todos os aspectos do quadro vivo, como cenário, roupas e maquiagem.

Enquanto eles estiverem discutindo sobre esses detalhes, deverão escrever uma lista

com tudo que precisam para executar a o trabalho na próxima aula.

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REALIZADO:

Nesta aula ocorreu um fato diferente, pois ao chegar à sala percebi que havia

mais alunos presentes do que nas aulas anteriores, todos falando muito alto e

caminhando pela sala. Chamei a atenção deles duas vezes e ninguém pareceu ouvir. O

aluno Mateus me disse que eles queriam um tempo para conversar com os colegas que

não viam há algum tempo. Afirmou que como eu sou jovem, deveria entendê-los e

liberá-los da aula. Então me aproximei dos alunos e precisei elevar meu tom de voz,

dizendo que eles deveriam me respeitar, pois eu não sou uma colega e sim a professora

e deveriam me tratar como tal. Também disse que, se não levassem as aulas a sério,

poderiam reprovar na disciplina de artes, pois seria eu quem os avaliaria.

A aluna Michele disse que nunca tinha me visto brava e uns alunos começaram a

ironizar, dizendo que a professora estava “bravinha”. Novamente, eu pedi silêncio e

explique o que faríamos nesta aula.

Disse que iríamos produzir um quadro vivo e todos demonstraram curiosidade.

Informei que fariam quatro grupos e que cada um receberia a imagem de uma obra para

estudar e depois iriam decidir se fariam a reprodução ou a releitura da obra através da

fotografia ou vídeo.

A primeira imagem que eu mostrei foi a obra da artista mexicana Frida Kahlo,

denominada “As Duas Fridas”. Perguntei o que eles estavam vendo nela e me disseram

que viam duas mulheres feias e ao questionar o porquê, responderam que o motivo eram

as sobrancelhas.

Depois perguntei o que mais eles haviam observado e me responderam que elas

estavam unidas por um cordão que uma delas cortou com uma tesoura. Então eu

questionei o que poderia ser o motivo dela cortar a ligação. Depois que um tempo,

alguém respondeu que talvez a amizade tivesse acabado entre as duas e outras coisas do

tipo. Eu disse que se tratavam da mesma pessoa e ninguém soube mais o que responder.

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Kahlo, 1939

(Fonte: www.obvius.com.br)

Em seguida, expliquei um pouco sobre a obra, falando sobre a dualidade da

pintora, representada no autorretrato. Disse que a Frida da esquerda, que segura uma

tesoura, trajava um vestido de casamento em estilo colonial, seu coração está partido,

machucado e gotejando sangue sobre a saia branca. Expliquei que a Frida da direita,

veste roupas tradicionais mexicanas, representando a mulher que Diego amava,

segurando um retrato dele ainda criança e expondo o coração por inteiro.

Falei, também, que a artista fez muitos autorretratos. Segundo Levinzon (2009,

p.58),

“seus autorretratos tinham uma função primordial em sua vida, a de funcionar

como um espelho vivo de sua alma. [...] Frida criava por meio de seus

autorretratos um espelho próprio, um olhar que tinha a função de

autossustentação e reconhecimento de si mesma.”

Entreguei a imagem para o grupo que a escolheu e pedi que fossem pensando em

como fazer a atividade.

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Hopper, 1927

(Fonte: www.edwardhopper.net/automat.jsp )

Fizemos a leitura da obra “Automat”, de Edward Hopper e depois eu expliquei

um pouco sobre a obra, dizendo que o artista americano retrava a figura humana em

situações de solidão e vazio, assim como nesta obra e empregava a luz e sombra em

áreas bem definidas. Representava a perda de sentido da vida do homem urbano, o

isolamento de cada indivíduo, preso em si mesmo. Ele, um artista que não seguia as

tendências européias de sua época, preservou o realismo sem perder de vista sua visão

de um novo mundo que não lhe parecia próspero nem amigável.

Enquanto eu explicava, o grupo que já tinha a obra escolhida começou a discutir

as ideias em voz alta, atrapalhando os alunos que queriam participar da leitura de

imagem. Então, novamente eu chamei a atenção deles, dessa vez sem hesitar, pois como

a professora titular não estava mais acompanhando minhas aulas eu me senti mais

segura e confiante. Também percebi que ganhei o respeito da turma, pois não precisei

mais chamar a atenção da turma até o término da aula.

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Van Gogh, 1885

(Fonte: www.obvius.com.br)

Depois da leitura da obra “Os Comedores de Batata”, de Vincent Van Gogh,

feita com os alunos, expliquei que o artista ao fazer a obra se preocupou com as

condições de vida dos trabalhadores de em minas de carvão. Pedi que eles reparassem

nas mãos calejadas dos trabalhadores, as cores escuras da cena, o lampião iluminando

os rostos sem alegria, e a reduzida refeição, que são apenas batatas.

Depois perguntei o que cada grupo decidiu e o grupo das Duas Fridas decidiu

reproduzir a obra fotografando, como o grupo da Criança Morta e o grupo da obra Os

Comedores de Batata. Apenas o grupo da obra Automat decidiu fazer um vídeo. Antes

de terminar a aula perguntei se os grupos já decidiram os materiais que vão precisar

para a aula seguinte e eles disseram que sim.

Enfim, refletindo sobre esta aula, penso que os alunos entenderam a proposta

muito bem, e foram muito participativos nas leituras de imagens, argumentando. “A

escola nos empurra para uma noção de história como coleção de fatos: tal coisa

aconteceu em tal lugar, em tal época... Por trás da inocente coleção sempre se esconde

uma argumentação.” (Camargo, 1994, p. 18)

Porém, percebi que eles se mostraram um pouco constrangidos ao pensar em

serem fotografados vestidos como os personagens e também não senti confiança quando

eles prometeram trazer os materiais para a próxima aula.

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3.2.7. Sétimo Encontro

Ensino Médio

Data da aula: 22/10/2013

Horário: 13h às 13h50min

Tema da Aula: Quadro vivo.

Objetivos:

Reproduzir obras que representam a Figura Humana através da fotografia e

vídeo ou fazer releituras;

Conteúdos: Figura Humana, fotografia e vídeo.

Atividade: Produzir uma releitura ou reprodução de uma obra de arte através da

fotografia.

Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística e leitura de imagens.

Recursos: Imagens de obras de arte impressas em folhas A3, câmera fotográfica e

figurino.

Avaliação: Será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho

artístico.

PLANEJADO:

Irei organizar a turma, pedindo que eles organizem seus materiais, para em

seguida começarem a arrumar os cenários e os personagens. Deixarei que eles saiam da

sala para se caracterizarem ou para buscar objetos que faltam na cozinha ou na direção.

Eles deverão tirar várias fotos, em diferentes ângulos, para que possam escolher

qual foto ficou melhor e, quando o grupo que vai filmar a releitura da obra estiver

gravando, deverão ficar em silêncio. Quando todos tiverem acabado, depois de se

trocarem e organizarem a sala, passarei meu email para que eles enviem as fotografias e

o vídeo.

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REALIZADO:

Iniciei a aula organizando os grupos e os materiais que eles deveriam ter trazido

de casa para o trabalho. No grupo, que ficou responsável pela releitura da obra “As

Duas Fridas”, faltou um objeto que representasse os corações, então elas utilizaram um

pedaço de cartolina vermelha que pediram na sala dos professores. Os outros grupos

também precisaram de objetos para o cenário, como facas, bandejas e os conseguiram

pedindo emprestado na cozinha da escola.

Terminando de organizar os materiais, informei que eles já poderiam começar a

se caracterizar e montar os cenários. Para isso, alguns foram se arrumar no banheiro e

outros ficaram na sala de aula. Enquanto os alunos voltavam caracterizados do banheiro,

chamaram a atenção dos que estavam de passagem pelo saguão, até mesmo em algumas

salas em que estavam com as portas abertas. Penso que o principal motivo desta atenção

era o aluno Eduardo, que se fantasiou de mulher, com vestido longo e chapéu, para

representar a obra Automat, de Edward Hopper e, também, as alunas Joice e Maila, que

se fantasiaram de Frida, pintando com lápis as sobrancelhas para ficarem parecidas com

a artista mexicana.

Quando todos voltaram para a sala, pedi que um grupo, de cada vez, fotografasse

ou filmassem para que eu pudesse acompanhá-los melhor e também para evitar

confusão, como alguém falando alto enquanto um dos grupos gravava.

O primeiro foi o grupo que fotografou a reprodução da obra “As Duas Fridas”,

da artista mexicana Frida Kahlo. Eles colocaram as duas alunas fantasiadas sentadas em

cadeira perto da parede e cortinas azul, para ficar parecido com o céu representado na

obra. Depois enrolaram as duas colegas com um pedaço de cordão vermelho, ligando os

corações de papel que recortaram no início da aula. Também usaram tinta guache para

representar o sangue e a tesoura cortando o cordão. A maior dificuldade deste grupo foi

fazer com que as colegas sentassem na mesma posição das Fridas da obra. Mesmo eu

dizendo que não era necessário que a fotografia ficasse idêntica ao original, eles

passaram algum tempo mexendo nas colegas até acharem que estava correto. Depois

Page 95: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

95

disso, eu pedi que eles tirassem várias fotos, para que depois tivessem como escolher

qual foto ficou melhor e de todas. Eles escolheram esta e me enviaram no dia seguinte.

Trabalho do grupo As Duas Fridas

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Observando a foto, podemos perceber como o grupo se empenhou em fazer uma

representação fiel da obra e, e este esforço é recompensado ao vermos como criaram

uma fotografia original, mesmo que tenham representado algo já existente. Também se

percebe como o grupo observou atentamente detalhe da obra na leitura de imagem da

aula passada.

O segundo grupo gravou uma releitura da obra Automat, de Edward Hopper.

Eles gravaram um vídeo de 10min, em que contava a interpretação que eles fizeram da

obra, que foi bem sarcástica. O vídeo começa com a moça, representada pelo aluno

Eduardo, sentada na mesa enquanto o garçom, que era o aluno Jeferson, lhe servia uma

xícara de café.

Neste momento, entra o namorado dela, que era a aluna Gabriele, pela porta e

senta a sua frente. O namorado termina seu romance com ela e parte, deixando a moça

aos prantos, sozinha na mesa. Então surge um novo pretendente para ela, representado

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pelo aluno William, que a consola e diz que ela é linda. Depois de um tempo, o

pretendente começa a perceber coisas estranhas na sua amada, como alguns pêlos no

buço e nas axilas. A moça explicou que estava usando um novo anticoncepcional e fica

envergonhada por ele ter notado. Então ele a acalma com um beijo, por detrás do

chapéu.

Trabalho do grupo Automat

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Como o grupo não conseguiu me enviar o vídeo por email, eu usei algumas

fotografias que tirei enquanto eles filmavam. Acredito que o áudio do vídeo tenha

ficado um pouco prejudicado, pois a turma riu muito enquanto eles atuavam. A ideia de

fazer um vídeo com a interpretação deles sobre a obra foi interessante, pois tornou mais

completa a releitura.

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Trabalho do grupo Os Comedores de Batatas

(Fonte: DORNELLES, 2013)

O terceiro grupo fotografou a obra “Os Comedores de Batatas”. Eles sentaram

nas classes e fizeram umas poses que lembrassem a obra de Van Gogh. É possível

perceber que o aluno Eduardo gostou muito da atividade, pois participou dos dois

grupos.

Enquanto os alunos foram se trocar, ficamos no saguão os esperando. Enquanto

eles iam para o banheiro acabaram tirando mais fotos, como o aluno Eduardo desfilando

de vestido. Enquanto eles estavam no saguão, novamente chamaram a atenção dos que

passavam por lá. A diretora do turno da tarde me pediu que escrevesse uma matéria para

ser publicado no jornal da escola, o CEJA Informado. Voltando para sala, contei o que

eu conversei com a diretora e os alunos responderem que o jornal já havia sido

publicado.

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Foto do grupo Automat

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Repensando este encontro, acredito que os únicos pontos negativos foram os

alunos do grupo que representaria a obra de Portinari, Os Retirantes, não terem

comparecido e pelo fato do grupo que gravou a releitura da obra de Hopper não ter me

enviado o vídeo. O restante da aula ocorreu perfeitamente, a turma demonstrou ter

gostado da atividade, se divertiram e pediram para repeti-la mais vezes. Penso que esta

aula foi a mais produtiva até o momento, principalmente pelo fato de ter feito com que

os alunos se interessassem em participar, sem ter que insistir para isso. Acredito que se

deva ao fato de que eu tentei criar atividades que eu mesma gostaria de participar. Como

destaca Camargo:

Nosso desenvolvimento não termina com a maturidade biológica. O adulto

não é um ponto de chegada. E o desenvolvimento não é apenas uma

sequência linear: a criança, jovem, adulto. O adulto não é só adulto: ele é

adulto e também o jovem e a criança que ele já foi. É isso que permite ao

arte-educador trabalhar com a criança ou o jovem: a capacidade de se colocar

na lugar do jovem, poder compartilhar seu ponto de vista, sem por isso se

tornar pueril. (CAMARGO, 1994, p. 12)

Esta aula também teve ótima resposta da parte dos alunos, pois eu novamente

subestimei a dedicação deles com a disciplina de Artes e fui surpreendida com a

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99

colaboração e interesse dos alunos, que não hesitaram em participar. Nossas aulas

também repercutiram no Facebook, onde a aluna Michele Borba novamente postou a

foto abaixo, tirada pela aluna Alice, do trabalho do seu grupo que reproduziu a obra As

Duas Fridas, e marcou os colegas Lucas, Fraciele, Maila, Joice, a própria Michele e a

Tainara e teve 11 curtidas e 15 comentários.

Foto do grupo As Duas Fridas

(Fonte: DORNELLES, 2013)

3.2.8. Oitavo Encontro

Ensino Médio

Data da aula: 12/11/2013

Horário: 13h às 13h50min

Tema da Aula: Figura Humana fragmentada na obra de Siron Franco

Objetivos:

Estudar a obra O Exercício da Censura, do artista brasileiro Siron Franco;

Produzir colagens que representam a Figura Humana fragmentada;

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Conteúdos: Figura Humana, arte contemporânea e colagem.

Atividade: Produzir colagens em que representaram repetidamente uma parte da figura

humana, fragmentando-a.

Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística e leitura de imagens.

Recursos: Imagem da obra impressa em folha A4, revistas, cola, tesoura e folhas A4.

Avaliação: Será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho

artístico.

PLANEJADO:

Iremos fazer a leitura da imagem da obra O Exercício da Censura, do artista

contemporâneo Siron Franco. Depois eu irei explicar que este artista brasileiro faz

surgir em suas telas o lado negro das pessoas, os fantasmas e medos. Ele não pretende

ilustrar nem transmitir histórias. Como na obra que iremos estudar a figura humana

representada por Siron chega a ser assustadora por suas deformações e por ser

fragmentada, como pode acontecer nas obras de outros artistas da arte contemporânea.

Em seguida, irei propor que eles produzam uma colagem inspirada na obra de

Siron, em que ele deu ênfase aos olhos, representando-os várias vezes um uma figura

humana. Eles irão escolher qual parte do corpo irão escolher para dar ênfase e

fragmentar a figura.

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Franco, 1984

(Fonte: www.faap.br)

REALIZADO:

Mostrei a obra Exercício da Censura, de Siron Franco e perguntei o que eles

percebiam ao observá-la. Eles responderam que parecia um monstro com muitos olhos.

Eu perguntei por que eles pensavam que se tratava de um monstro e eles disseram que o

motivo era o corpo estar todo dividido, não parecendo humano. Também falaram que

era porque a figura humana tinha muitos olhos. Questionei o que eles pensavam sobre o

artista ter feito a figura assim e responderam que talvez ele quisesse desfigurá-la para

torná-la assustadora.

Quando eu disse o nome do artista e o da obra, que é o Exercício da Censura, o

aluno Geison disse que a figura humana tinha todos aqueles olhos porque o artista

queria representar a censura. Eu expliquei que o artista contemporâneo brasileiro Siron

Franco sempre esteve atuante na sociedade, buscando interferir positivamente nas

questões da nossa sociedade atual. Para isso, ele deforma e fragmenta a figura humana,

até mesmo tornando-a assustadora, como eles disseram, comparando-a com um mostro.

Pedi que a aluna Gabriele distribuísse as folhas e revistas enquanto eu explicava

que eles iriam produzir uma colagem. Perguntei se eles já tinham feito antes e eles

Page 102: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

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responderam não. Então, disse que eles iriam se inspirar na obra O Exercício da Censura

para fazer o trabalho, pois deveriam escolher qual parte do corpo humano iriam escolher

para dar ênfase, mas que deveria ter uma intenção e depois repeti-la para torná-la

fragmentada. Para isso, eles usariam as revistas para escolher imagens para recortar e

colar na folha A4. Os alunos disseram que já haviam feito essa atividade antes, mas que

não sabiam que era uma colagem. Expliquei que poderiam sobrepor os recortes e

também desenhar e colorir.

Trabalho da aluna Tainara

(Fonte: DORNELLES, 2013)

A colagem da aluna Tainara ficou muito interessante, pois ela entendeu muito

bem a proposta e explicou que sua intenção era representar a sua insatisfação com a

situação política atual do Brasil, que as várias bocas representam as promessas feitas

durante as campanhas e que são esquecidas logo após as eleições. Também disse que

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103

todas as bocas estão sorrindo, pois estão zombando do povo brasileiro que

inocentemente acreditou nas falsas promessas.

Trabalho da aluna Michele

(Fonte: DORNELLES, 2013)

A aluna Michele, que sempre foi a mais dedicada, representou uma figura

humana com muitas pernas, pois é a parte com seu corpo que ela mais valoriza, é com

elas que ela faz todas as suas atividades preferidas, como correr, andar de skate, dançar,

e fazer exercícios. A intenção desta aluna difere bastante do trabalho da aluna Tainara,

que foi mais crítico. Essas diferenças mostram que os alunos perceberam que possuem a

liberdade de criar seus trabalhos.

O aluno Maiso usou a imagem da presidente Dilma, em forma de árvore,

colando vários olhos para representá-la, segundo ele, como a censura. Este aluno havia

me entregado este trabalho na aula seguinte. Eu não esperava que ele o fizesse, pois

estava muito distraído durante a aula, mas ele disse que no dia da confecção das

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colagens ele não estava se sentindo bem e que preferiu fazer o trabalho em casa, para

fazê-lo melhor, com mais calma.

Trabalho do aluno Maiso

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Alguns alunos não entenderam a proposta ou não tiveram vontade de fazer a

atividade e apenas recortaram uma figura humana das revistas, como no caso da aluna

Joice, que colou a cabeça e os pés diferente no corpo da modelo e me disse que estava

muito cansada de pensar, daí fez de qualquer jeito para acabar.

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Trabalho da aluna Joice

(Fonte:DORNELES, 2013)

3.2.9. Nono Encontro

Ensino Médio

Data da aula: 12/11/2013

Horário: 13h às 13h50min

Tema da Aula: Desconstrução da figura humana.

Objetivos:

Compreender o conceito de performance;

Analisar a imagem da performance com os parangolés de Hélio Oiticica;

Produzir performances em que desconstroem o parangolé, sendo ressaltada a

figura humana;

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Conteúdos: Figura humana, arte contemporânea e performance, parangolés e Hélio

Oiticica.

Atividade: Enrolar o corpo com jornais e fita adesiva. A desconstrução consiste em

romper com a vestimenta/figura humana construída de jornal.

Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística.

Recursos: Imagem da obra impressa em folha A4, jornais e fita adesiva.

Avaliação: Será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho

artístico.

PLANEJADO:

Irei explicar que arte performática é uma forma de manifestação artística que

pode unir e combinar o teatro, poesia e música. A performance segue já definido e os

espectadores não participam dela, sendo registrada através da fotografia, relatórios e

vídeo para ser divulgada depois.

No Brasil, o artista Hélio Oiticica, teve uma forte ligação com a performance,

por dar ênfase ao comportamento do corpo e a execução. Em suas performance utilizava

parangolés, que lhe cobriam o corpo enquanto se movimentava.

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Incorporo a Revolta, Oiticica, 1967

(Fonte: www.itaucultural.org.br)

Irei propor que criem uma performance em que a figura humana seja ressaltada

ou esteja em destaque e que no decorrer do processo ela seja desconstruída. A

performance deverá ser realizada no pátio da escola.

REALIZADO:

Comecei a aula explicando o conceito de arte performática. Perguntei se eles já

conheciam e, como responderam que não, disse que se trata de uma manifestação

artística em que é criado um roteiro a ser seguido e pode combinar teatro, música e

poesia. Na performance a platéia não participa e a ação pode ser registrada através da

fotografia e vídeo para ser divulgada.

Então eu disse que faríamos uma performance na qual iríamos desconstruir a

figura humana. Eles perguntaram se iriam desenhar e eu respondi que iriam enrolar o

corpo de alguns colegas com jornal e fita adesiva, como se fosse um processo de

mumificação. Neste momento, muitos se ofereceram para serem enrolados e decidimos

que cinco alunos seriam modelos.

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Após a construção das parangolés de jornal, quando todos estavam prontos,

resolvemos sair da sala para fazer a performance e fomos para as escadarias do pátio da

escola. Antes de começar, tiramos umas fotos para registrar este momento.

Turma 112

(Fonte: DORNELLES, 2013)

O aluno Geison, que já estava com o corpo coberto de jornal disse que precisava

muito ir ao banheiro e nós ficamos esperando enquanto o aluno Eduardo o ajudou. Os

outros alunos se divertiram comentando como eles fariam para que o Geison pudesse

usar o banheiro sem estragar a vestimenta de jornal.

Ficamos discutindo como faríamos a performance. Primeiro eu sugeri que

rasgássemos os jornais para que a figura humana saísse correndo do que a prendia.

Então o aluno Eduardo, que foi o mais participativo novamente, disse que poderíamos

rasgar o parangolé para libertar a figura humana da casca ou casulo, como uma

borboleta que passa por uma metamorfose. Todos aplaudiram o colega e ficou decidido

que esse seria a performance.

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Os alunos que serviram de performers, que foram os alunos Michele, Maila,

Gabriele, Geison e Filipe começaram rasgar os jornais, iniciando a performance e aos

poucos os demais alunos foram entrando para ajudar a desconstruir os parangolés.

Mesmo sem ter a intenção de ter uma platéia, de onde estávamos podíamos ser vistos

pelas outras turmas, que observaram das janelas.

Performance turma 112

(Fonte: DORNELLES, 2013)

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110

Performance turma 112

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Performance turma 112

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Page 111: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

111

Quando o sinal bateu, ainda estávamos fora da sala, recolhendo os pedaços de

jornal que caíram no chão e neste momento a professora titular apareceu pedindo que

não sujássemos o pátio. Quando acabamos, no caminho para a sala olhamos as fotos que

ainda estavam na câmera.

Os alunos perguntaram se poderiam usar a aula seguinte para continuar a

atividade com os outros colegas, eu disse que não seria possível, mas quando eu disse

que enviaria as fotos e eles ficaram contentes. A aluna Michele e o aluno Geison

disseram que adoraram a aula, mas que deveriam ter mais tempo para poder participar

das atividades sem pressa. A turma pediu que eu postasse as fotos no Facebook e os

marcasse.

Refletindo sobre a aula, acredito que foi realmente produtiva e, sem dúvidas, foi

uma das mais completas, pois eu senti que nesta aula eu tive um grande

amadurecimento como professora e no relacionamento com os alunos, que novamente

se mostraram participativos e motivados durante toda a aula. Assim, considera-se que,

“A autonomia e a participação dos alunos são reais quando eles têm

consciência da necessidade das propostas que executam ou do interesse

por elas. Trabalhar em tarefas escolares por solicitação do outro, sem

perceber o sentido ou sem gosto por fazê-lo, é desenvolver uma postura

de submissão, o que, cedo ou tarde, levará o aluno a não querer continuar

aprendendo, seja por rebeldia, seja falta de motivação própria.

(IAVELBERG, 2003, p. 11 e 12)

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112

Performance turma 112

(Fonte: DORNELLES, 2013)

3.2.10. Décimo Encontro

Ensino Médio

Data da aula: 19/11/2013

Horário: 13h às 13h50min

Tema da Aula: Figura humana fragmentada através do desenho.

Objetivos:

Estudar a obra Sombras, do artista brasileiro Siron Franco;

Produzir desenhos de observação em que fragmentam a figura humana;

Conteúdos: Figura humana, arte contemporânea e desenho de observação.

Atividade: Produzir desenhos de observação em que representaram o rosto dos colegas

fragmentado.

Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística e leitura de imagens.

Recursos: imagem da obra impressa em folha A3, lápis 6b e folhas A4.

Page 113: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

113

Avaliação: será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho

artístico.

PLANEJADO:

Iremos fazer a leitura da imagem da obra Sombras, de Siron Franco, para

reforçar a ideia de figura humana desconstruída. Perguntarei o que eles acham sobre o

artista ter representado um rosto daquela forma, qual seria sua intenção.

Depois, pedirei que a turma faça um semicírculo com as classes e explicarei que

farão um desenho de observação olhando os colegas e pensando de que forma eles

podem desconstruir seus rostos e o motivo que ter desconstruído de tal forma. Neste

momento, irei ocultar a imagem da obra de Siron Franco para que eles não sintam

necessidade de copiá-la.

Sombras, Franco, 1967

(Fonte: www.itaucultural.org.br)

Page 114: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

114

REALIZADO:

Comecei perguntando o que eles acharam do nosso encontro anterior. Eles

disseram que gostaram muito e não estavam esperando que eu fizesse uma aula tão

“irada”. Questionei o motivo de eles pensarem que eu não planejaria uma aula divertida

e as alunas Franciele e Joice responderam que no início eu estava muito séria, parecia

estar com medo deles, mas que depois fui me soltando e quando eu propus que fizessem

a performance eles ficaram muito surpresos. A turma concordou e o aluno Geison

ironizou, dizendo que a melhor parte da aula foi eu ter deixado que eles gastassem três

rolos de fita adesiva e, também, o fato de termos saído da sala.

Chamei a atenção deles e mostrei a imagem da obra Sombras, de Siron Franco e

perguntei o que eles estavam percebendo ao observá-la. Disseram que viam narizes,

bocas e olhos misturados. A aluna Gabriele disse que via três rostos em um e a aluna

Michele disse que o artista quis representar o lado sombrio das pessoas.

Então eu disse que nos sentaríamos em um semicírculo para fazer desenhos de

observação do rosto dos colegas, mas que iriam fragmentar, como o artista Siron

Franco. Eles me pediram para sentar em grupos e eu deixei.

Os alunos Vinícius, Gabriela e Bruno, durante toda a aula, ficaram em silêncio e

quando eu fui olhar os trabalhos deles, percebi que apenas a Gabriele estava

desenhando, os outros estavam estudando para a aula de Química. Chamei a atenção dos

dois, que no final da aula me entregaram trabalhos inacabados.

Page 115: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

115

Turma 112

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Enquanto a turma estava trabalhando, o aluno Lucas me pediu ajuda para

desenhar algumas partes do rosto, como o nariz e a boca, pois queria que ficassem

realistas. Então as alunas Franciele e Michele, que o escutaram, disseram para o Lucas

que eu havia explicado que eles deveriam seguir o exemplo do artista que fragmentou o

rosto da figura humana. Então eu senti que neste momento eu não deveria me

manifestar e sim instigá-los a falar mais sobre o que havíamos aprendidos juntos no

meu período de estágio.

Questionei o que mais eles se lembravam do que foi trabalhado durante as

nossas aulas sobre figura humana e eles ficaram refletindo por um tempo. Quando eu

pensei que ninguém iria falar nada a aluna Maila disse que se lembrava da aula em que

estudamos a obra “O Grito” em que o artista desconstruiu a figura humana para se

expressar, mas que gostou mais de fazer a figura humana em tamanho natural. O aluno

Geison disse que gostou da aula em que estudamos o Renascimento, pois a figura

humana era representada com realismo e quando fizemos o quadro vivo.

Então eu perguntei o que eles perceberam sobre a representação da figura

humana que estudamos no início das aulas para a que estamos estudando agora. Depois

Page 116: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

116

de um tempo, a aluna Tainara disse que ela achava ser o fato de que a figura no inicio

ser toda “certinha” e depois foi ficando mais deformada.

Conforme eles iam acabando de desenhar, fomos falando sobre os trabalhos.

Observamos todos os trabalhos, antes que terminasse a aula, conseguimos ouvir as

alunas Gabriele e Michele.

Trabalho da aluna Gabriele

(Fonte: DORNELLES, 2013)

O trabalho da aluna Gabriele ficou interssante. Ela disse que mesclou os rostos

dos colegas Vinícius e Bruno enquanto eles estudavam para as outras disciplinas, o que

ela achou muito engraçado, pois eles estavam com medo de serem descobertos.

Page 117: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

117

Trabalho da aluna Michele

(Fonte: DORNELLES, 2013)

A aluna Michele disse que observou o rosto das colegas Franciele e Maila, pois

quando elas estão concentradas ficam com expressões estranhas.

Refletindo penso que eu não deveria ter voltado para a representação

bidimendisional da figura humana, pois não era necessário depois da aula passada, em

que fizemos a performance em que libertamos a figura humana do casulo. Também

acredito que decepcionei os alunos, pois eles estavam esperando mais de mim, mas eu

tive medo de mudar o planejamento, pois segundo afirma Martins (1997, p.71), “um

projeto gerado, pode ser transformado durante sua concretização, na medida em que

novas ações precisem ser inseridas a fim de que os objetivos possam ser alcançados”.

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118

3.2.11. Décimo Primeiro Encontro

Ensino Médio

Data da aula: 03/12/2013

Horário: 13h às 13h50min

Tema da Aula: Corpo como suporte da arte.

Objetivos:

Estudar a Body Art;

Analisar imagens que registram as diferentes modificações corporais;

Conteúdos: Body Art, arte contemporânea, modificações corporais.

Atividade: aula teórica.

Metodologia: Aula expositiva dialogada, e leitura de imagens.

Recursos: apresentação de slides.

Avaliação: será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho

artístico.

PLANEJADO:

Iremos estudar o momento em que a figura humana deixa de ser representada

bidimensionalmente para se tornar o suporte da arte.

REALIZADO:

Fomos para a sala de vídeo e comecei a explicar que na Body Art, onde o artista

se torna uma obra viva, seu corpo é usado como suporte e o corpo começa a ser visto

como um território. Falei sobre o Happening, que é uma forma uma forma de expressão

artística, caracterizada pelo improviso e por não ter começo e fim. Muitas vezes o

happening é usado como sinônimo da performance.

Questionei se ele se lembravam o que é performance e eles disseram que o que

fizemos com as folhas de jornal. Também relembrei um pouco a obra do artista

brasileiro Hélio Oiticica, dando ênfase aos seus Parangolés, que ampliaram a

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119

participação do público. Então, expliquei que o que diferencia performance de

happening é que apenas no primeiro há participação do público.

Falei que algumas pessoas partilham a ideia de só se sentirem completas quanto

adquirem marcas pessoais, e por isso as tatuam na pele. Perguntei se eles possuíam

alguma tatuagem e o motivo de terem feito. Apenas dois alunos afirmaram terem

tatuagens. O aluno Eduardo e o aluno William possuem frases tatuadas no antebraço, o

primeiro tem a frase “vida loca” e o segundo “Deus e meus amigos guiam minha vida”.

Pedi que o Eduardo falasse mais sobre sua tatuagem e ele disse que a fez porque gosta

de se andar de skate para sentir a velocidade e quis tatuar algo que lembrasse isso. O

aluno William fez a sua tatuagem para lembrar que no final, tudo o que importa é a

família e os amigos.

Depois, eu disse que a arte tem um conjunto de termos que trazem à tona

imagens e sensações do nosso inconsciente através do sonho para nos apresentar

imagens e sensações mantidas no inconsciente. Já as modificações corporais são guiadas

pelo consciente, para determinar o tipo e a forma que tais intervenções terão, como

também quais as partes do corpo que serão tatuadas. Disse que nem sempre a tatuagem

foi vista deste jeito, pois durante a Segunda Guerra mundial a tatuagem serviu como

marca de exclusão social, feita nos indivíduos que pertenciam às raças consideradas

inferiores.

Page 120: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

120

The Enigma, Paul Laurence

(Fonte: www.exileonmoanstreet.blogspot.com)

Depois eu mostrei a imagem do The Enigma e perguntei o que eles acreditavam

ser o motivo de alguém quer modificar seu corpo desta maneira. Eles responderam que

o motivo poderia ser a vontade de ser outra pessoa, por loucura ou por querer chamar a

atenção. Expliquei que pessoa que faz modificações corporais traz para a vida o que

antes era irreal para ele, como se tornar figuras de histórias em quadrinho ou ficção

cientificam.

Falei sobre Fakir Musafar, que criou o termo modern primitives para indicar

os indivíduos que se utilizam de conhecimentos das sociedades antigas que praticavam

modificações corporais. A modificação corporal faz com que o indivíduo se sinta

diferente dos demais por algo que difere da sua forma original. Estes indivíduos

afirmam não sentir dor, pois eles atingem um estado alterado de consciência e o tempo

se refere ao fato de registrar seus rituais de passagem na pele para lembrar que possuem

um corpo transitório e mortal.

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121

Jogos Corporais, Musafar

(Fonte: http://www.bodyplay.com/fakir/)

Mostrei estas imagens e eles soltaram exclamações como “que horror”,

“cara louco” e “nojento”. Alguns me perguntaram como eles fazem isso e eu expliquei

que o criador do grupo fala sobre sete maneiras de modificar o corpo, denominadas de

jogos com o corpo, em que modificam a forma e crescimento dos ossos, se comprimem

com amarras, espartilhos, cordas, passam fome, limitam os movimentos, usam adereços

de ferro, queimam a pele, deitam em camas de pregos, fazem tatuagens e se penduram

pela pele, por meio de ganchos de açougueiros.

Quando a aula terminou, voltamos para a sala da turma 112 e enquanto isso

os alunos falavam sobre os slides, mostrando que ficaram chocados com as imagens dos

jogos. O aluno William disse que preferia tatuar o corpo inteiro do que ficar suspenso

pela pele através de ganchos e provocou risos dos demais alunos.

3.2.12. Décimo Segundo Encontro

Ensino Médio

Page 122: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

122

Data da aula: 10/12/2013

Horário: 13h às 13h50min

Tema da Aula: Corpo como suporte da arte.

Objetivos:

Estudar a Body Art e modificações corporais;

Criar suas próprias marcas corporais;

Conteúdos: Body Art e modificações corporais.

Atividade: desenhar na pele as tatuagens que criaram.

Metodologia: Aula expositiva dialogada, prática artística e leitura de imagens.

Recursos: canetas pretas e canetas naquin.

Avaliação: será avaliado a participação na aula e o empenho na realização do trabalho

artístico.

PLANEJADO:

Iremos continuar a discussão da aula passada sobre modificações corporais.

Retomaremos tópicos do encontro anterior, permitindo que eles tenham mais tempo de

discuti-los. Depois, irão pensar em uma imagem, símbolo ou frase que os identifiquem

como indivíduos ou grupos para tatuarem com caneta na pele.

Quando acabarem, entregarei os trabalhos das aulas anteriores, que ficaram

comigo, para relembrarmos o que trabalhamos e concluir nosso projeto atravaves da

avaliação.

REALIZADO:

Quando entrei na sala, os alunos perguntaram se esta era a nossa última aula e eu

disse que sim e eles lamentaram. Perguntei o que eles acharam das nossas aulas e

Page 123: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

123

disseram que gostaram muito, porque foram diferentes. O aluno Eduardo disse que não

gostou muito das duas aulas em que ficamos desenhando e fazendo colagens, mas que

das outras ele gostou muito. Então os outros riram dele, dizendo que deu para perceber

que ele gostou, pois ele apareceu em todas as fotos dos trabalhos dele e dos colegas que

não eram dos seus grupos, sempre fazendo pose.

Em seguida, entreguei os trabalhos deles e o que eles tinham mais interesse em

ver foi o da figura humana em tamanho natural. Antes que eu pudesse falar, a aluna

Michele perguntou se eles poderiam pendurar os trabalhos no saguão. Eu disse que sim

e que se fosse possível, penduraríamos todos eles e pedi que um deles fosse na diretoria

perguntar se isso era possível.

Enquanto isso, o ficamos discutindo os trabalhos e o aluno William disse que

gostou quando começamos a desconstrução da figura humana, tanto no desenho quando

na performance, pois antes ele ficava muito preso, tentando fazer uma figura humana

realista e assim se divertiu mais e ainda consegui colocar seus pensamentos no papel. O

aluno Eduardo disse, novamente, que gostou da aula anterior que falamos sobre

tatuagem, pois nunca nenhum professor tinha discutido o assunto com eles.

Perguntei se mais alguém queria falar e ninguém se manifestou, então eu disse

que nas nossas aulas a figura humana seguiu uma linha em que ela começou sendo

representada com realismo, simetria e depois isso foi mudando até que chegamos ao

ponto em que o próprio corpo se torna suporte da arte, através das modificações

corporais que estudamos.

A aluna Michele voltou e disse que a diretora permitiu que pendurássemos os

trabalhos no saguão, mais que só uma parte, pois ela queria guardar espaço para a

decoração de natal. Decidimos que o trabalho que seria pendurado era o da figura

humana em tamanho natural. Fomos todos para o saguão e cada grupo escolheu um

lugar para colocar seu trabalho. Quando todos terminaram, um dos grupos lembrou que

esqueceram de colocar seus nomes no trabalho.

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124

Trabalhos da turma 112

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Voltamos para a sala e eu tive que pedir silêncio, pois eles estavam muito

agitados. Depois eu expliquei que eles deveriam pensar em uma imagem, frase ou

símbolo que os identificassem como indivíduos ou grupo para desenhar na pele, como

uma tatuagem.

A maioria da turma fez o este símbolo nas mãos, que eles criaram na aula e

afirmaram que os identificaria como grupo.

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125

Trabalho da turma 112

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Os alunos Eduardo, Michele, Franciele, Tainara e Maila fizeram o mesmo

símbolo, sendo que o primeiro apenas tatuou os colegas. O símbolo que eles fizeram foi

a Suástica. Perguntei se eles sabiam o significado da Suástica e eles disseram que sim e

mesmo eu explicando melhor do que se tratava, eles me disseram que o escolheram para

ironizar, os caracterizando como pessoas más.

Acredito que eu não estava preparada para lidar com isso, pois eu deveria ter

pedido que eles a apagassem ou mudassem um pouco. Esse é um dos pontos negativos

do meu estagio, a minha falta de preparo para lidar com situações como essas.

“Quando o aluno fala, escreve sobre arte ou faz os seus trabalhos

artísticos, realiza atos de autoria pessoal. Geralmente, é o professor quem

valida as produções, atribuindo-lhes qualidades na orientação das

discussões coletivas ou na recepção das produções individuais,

valorizando e incentivando os esforços dos aprendizes nos processos de

construção dos saberes cognitivos, procedimentais ou atitudinais e nas

combinações desses tipos de saberes.” (IAVELBERG, 2003, p. 10)

Page 126: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

126

Trabalho da turma 112

(Fonte: DORNELLES, 2013)

Quando a aula estava perto de acabar, informei os alunos de que já havia feito a

avalição da turma, que foi através dos trabalhos artísticos e pela participação durante as

aulas teóricas e praticas. Os alunos se despediram de mim com abraços e eu agradeci a

todos pela colaboração e participação de todos eles durante o meu estágio.

Page 127: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

127

3.3. Considerações sobre a prática de Ensino

A prática de estágio foi muito importante para mim, pois contribuiu para o meu

crescimento como estudante e profissional. Acredito que propus discussões construtivas

e atividades instigantes em que os alunos construíram conhecimento em arte, se

expressaram, criaram e se divertiram. A temática da Figura Humana foi bem recebida

pelos alunos, que sempre demonstraram curiosidade, interesse e participaram

ativamente dos debates e leituras de imagens. Também acredito que todas as atividades

feitas pelos alunos foram satisfatórias.

Repensando sobre o projeto de ensino como um todo, acho que deixei a desejar

na avaliação dos alunos, pois deveria ter dado mais ênfase aos critérios de avaliação,

pois como eu os avaliava durante todas as aulas, não ficou claro para os alunos quais os

aspectos estavam sendo considerados na avalição.

Acredito que o fato de eu ter escolhido o tema Figura Humana, que sempre foi

do meu interesse como acadêmica e artista, contribuiu para que os alunos gostassem das

aulas, resultando em novos conhecimentos na campo da arte.

Page 128: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

128

CONCLUSÃO

O projeto de ensino, intitulado “Os Olhares da Arte para a Figura Humana”, teve

como tema a Figura Humana e foi realizado no Colégio Estadual Jacob Arnt. A prática

do Ensino Fundamental foi realizada com a turma 63, do dia 3 de setembro de 2013 ao

dia 10 de dezembro de 2013, e as aulas práticas do Ensino Médio foram desenvolvidas

com a turma 112, no período de 3 de setembro de 2013 a 10 de dezembro de 2013.

Enfatizei neste trabalho de conclusão de curso a prática realizada no Ensino Médio, que

se mostrou a mais desafiadora e produtiva para mim, como acadêmica e professora.

Quando escolhi o tema Figura Humana, além das questões teóricas e de poder

contextualizar esse conteúdo da história na arte, meu objetivo geral foi oportunizar

novas vivências, práticas e teóricas, nas quais os alunos despertariam seu interesse pela

arte através da representação da figura humana. Outro fator que contribuiu para a minha

escolha foi o meu interesse pela Figura Humana, pois como artista este tema é frequente

em meus desenhos e, como acadêmica do curso de Artes Visuais, as representações da

Figura Humana constantemente instigaram a minha curiosidade, fazendo com que eu

aprofundasse meus estudos sobre a temática.

Durante todo o processo da prática de ensino eu pude perceber as mudanças que

ocorreram comigo, com os alunos e os pontos positivos e negativos do projeto de

ensino, sendo que ambos colaboraram para o meu crescimento profissional, pois pude

aprender com cada erro e acerto.

A realidade escolar foi determinante para a minha aprendizagem enquanto futuro

profissional de ensino. Em alguns momentos o projeto teve que ser adaptado para que

atendesse as necessidades dos alunos e da escola. Como por exemplo, tive que adequar

o projeto aos recursos que a escola dispunha. O colégio não possuía uma sala para as

aulas de Artes, nem um Datashow ou retroprojetor que eu pudesse usar nas minhas

aulas, pois estavam reservados para outros professores neste período ou estragados.

Então eu tive que usar imagens impressas em folhas A3 para as leituras das obras.

Também precisei me ajustar aos alunos, pois estavam acostumados com a outra

professora, que trazia todos os materiais de casa para eles usarem nas aulas de Artes.

Por isso, houve momentos em que eu pedi materiais a eles, que simplesmente não

Page 129: Tc os olhares da arte para a figura humana geisiane dornelles

129

trouxeram, como ocorreu na terceira aula, em que eles deveriam ter trazido pincéis e eu

tive que pedir que eles pintassem com os dedos. Então, a partir deste momento, eu fui

prevenida, levando os materiais necessários, caso eles não o fizessem. Mas, fui

surpreendida posteriormente com o comprometimento dos alunos, principalmente na

oitava aula em que fotografamos os quadros vivos e eles trouxeram sacolas de roupas,

adereços e maquiagem. Esta atitude dos alunos comprova o envolvimento deles com a

proposta de ensino.

Sobre a escola, fui muito bem recebida pelos professores e direção do Jacob

Arnt, principalmente pelas professoras titulares de artes Rosângela e Gisele. Elas me

apoiaram muito, sempre perguntando se eu precisava de ajuda, como a turma se

comportava comigo e se eu precisava que elas interferissem na minha aula. Felizmente,

eu não precisei da interferência delas, o que me deixou satisfeita. Fiquei muito

agradecida pela preocupação das professoras comigo, como nos primeiros dois

encontros, em que as elas me acompanharam, em silêncio, durante toda a aula e esse

suporte que elas me deram foi muito importante, pois me sentia muito insegura em

assumir uma turma sozinha.

Quanto aos alunos, tive respostas muito positivas da parte deles e em vários

momentos em que eu esperava desinteresse, fui surpreendida com a participação e

elogios sobre as aulas, tanto que chegou a repercutir no Facebook, onde os alunos

colocaram fotos dos trabalhos e postaram comentários positivos. Em especial, dois

alunos se sobressaíram, a Michele, que postou fotos dos seus trabalhos no seu perfil do

Facebook, e o Eduardo que participou de todos os grupos no trabalho de performance e

no trabalho de fotografar o quadro vivo. Esse fato demonstra que os alunos se

envolveram com a proposta.

Percebo que a turma, durante o projeto de ensino, teve a oportunidade de

vivenciar novas experiências nas aulas de Artes. Talvez eu não tenha conseguido que

todos os alunos tenham expressado sua subjetividade, pois alguns estavam mais

envolvidos com as aulas do que os outros. Apesar disto, posso certamente afirmar que

todos desenvolveram uma nova percepção para a arte, sabendo que é possível ler uma

obra de arte e que, para isso é preciso assumir uma postura questionadora.

Também compreenderam que as aulas de Artes não consistem apenas em fazer

cópias e mais cópias. Observei que, aos poucos, os alunos foram se envolvendo mais

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130

com a proposta de ensino. Muitos deles perceberam seu potencial criativo durante os

trabalhos práticos e desenvolveram uma postura crítica ao questionar e refletir sobre o

tema durante as aulas teóricas, nas quais conseguimos criar um bom diálogo. Depois do

estranhamento inicial com a nova proposta, eles participaram ativamente das aulas,

mesmo os alunos mais resistentes, aos poucos, passaram a participar sem que eu

precisasse pressioná-los.

Antes de realizar essa experiência de ensino, eu pensava que a responsabilidade

pela aprendizagem dos alunos era somente do professor, e que como professora estaria

falhando caso não conseguisse fazer com que eles aprendessem o conteúdo. Mas hoje eu

entendo que se o aluno não estiver interessado e envolvido com o seu processo de

aprendizagem, percebendo que ele é a parte mais beneficiada neste percurso, o professor

sozinho não conseguirá despertar o interesse dos alunos.

Mas também houve pontos negativos no decorrer do projeto, principalmente no

início. Eu estava muito nervosa e acabei falando muito baixo, o que fez com que os

alunos pedissem que eu repetisse o que eu havia dito, pois não conseguiam ouvir. Eu

também decorava o conteúdo planejado, com medo de errar, o que fez com que eu

demorasse a desenvolver um diálogo com os alunos nas primeiras aulas.

Eu também me senti muito insegura, não conseguia me ver como professora,

tinha dificuldade de chamar a atenção da turma quando necessário, pois eram muitos

alunos adolescentes que me viam mais como colega do que professora e isso me

intimidava. Isto ocorreu principalmente nas primeiras aulas, depois que um dos alunos

perguntou se eu era solteira e pediu meu número de telefone. A minha reação foi

responder que não e ignorar o aluno, mas eu deveria tê-lo repreendido para que este

acontecimento não se prolongasse.

Esse foi o momento mais difícil para mim no decorrer do estágio, pois eu

acreditei que não conseguiria fazer com que os alunos me respeitassem, que parassem

com os comentários sarcásticos e maliciosos, pois o aluno Vinícius tomou o meu não

como incentivo. Então eu precisei fazer com que toda a turma percebesse que eu era a

professora, pois como eu disse, eu não era uma colega, as nossas aulas eram sérias e os

trabalhos valeriam nota. Falei diretamente ao aluno Vinícius que, se eles não

terminassem com a “brincadeira” naquele momento, teríamos que ter uma séria

conversa com a diretora. Felizmente, este problema não se prolongou e consegui me

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131

impor como professora, fazendo com que eles percebessem o meu papel no processo, a

diferença de papéis que existia entre nós.

No sexto encontro eu também tive que chamar a atenção deles, pois quando

cheguei na sala estavam apenas interessados em conversar com os colegas e, quando eu

pedi que parassem, ninguém demostrou ter me ouvido. Então, novamente eu precisei

chamar a atenção deles, para que compreendessem que as aulas de Artes são

importantes, pois haviam me pedido que os deixassem livres para conversar. Foi

necessário me impor, alterar a voz para que parassem de duvidar da relevância das aulas

de Artes.

A partir do quinto encontro, eu consegui vencer a insegurança e pude

desenvolver um diálogo com os alunos, tornando a parte teórica mais interessante para

eles através de perguntas que despertavam o interesse deles para as obras e o conteúdo

trabalhado. A partir deste momento ficou mais fácil eu conversar com os alunos e eles

comigo.

Porém, o nono encontro foi o mais significativo para mim, pois eu me senti

segura para levar a turma para o pátio e desenvolver as performances fora da sala de

aula, realizando uma atividade diferenciada que chamou a atenção de toda a escola, que

assistiu pelas janelas das salas. “O professor é propiciador de um clima de trabalho em

que a curiosidade, o constante desafio perceptivo, a qualidade lúdica e a alegria estejam

presentes junto com a paciência, a atenção e o esforço necessários para a continuidade

do processo de criação artística.” (PCN’s, p. 111)

O décimo primeiro e o décimo segundo encontro também foram gratificantes,

pois foram trabalhadas as modificações corporais e os alunos comentaram que a aula foi

interessante, pois era um assunto que nenhum professor havia abordado com eles, mas

que eles tinham muita curiosidade de aprender. Pude conhecer a opinião de cada aluno

sobre o tema, escutar os depoimentos deles a respeito das tatuagens ou piercings, que

são questões próximas a realidade deles, pois alguns alunos possuem tatuagem e

tiveream a liberdade de poder falar sobre isso. Os alunos conseguiram, nas aulas de

artes, aprender mais detalhes sobre o mundo das modificações corporais.

Em relação à metodologia, é preciso enfatizar a importância do planejamento

durante toda a prática de ensino. No início foi de extrema importância para que eu me

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132

sentisse mais confiante, pois ao seguir aquele roteiro me sentia mais segura de que

alcançarias os objetivos e de que usaria bem o período de aula e isso foi muito positivo.

Também compreendi que o professor deve planejar as aulas pensando na realidade dos

alunos e seus interesses. Assim, tornando a disciplina de Artes mais significativa para

eles, que irão se envolver mais nas aulas. Ao inovar, o professor surpreende o aluno,

que ao ficar curioso se torna mais participativo, mais criativo e questionador.

Mas, mesmo com o planejamento em dia, houve um momento em que eu não

consegui conduzir a atividade adequadamente, o que fez com que eu não alcançasse o

resultado que eu esperava. Isso aconteceu durante o quinto encontro em que enfatizei

que deveriam representar a si mesmos num momento da vida em que tiveram um

sentimento ou emoção muito forte. Os alunos não conseguiram entender a proposta, o

que acabou resultando em um trabalho superficial.

Ainda falando sobre a metodologia, no décimo encontro, eu observei que não

deveria ter voltado para a representação da figura humana no plano bidimensional. No

momento, eu pensei que deveria trabalhar mais o desenho de figura humana com eles,

mas depois percebi que não era necessário o que fez com que os alunos não se

motivassem tanto. Acredito que este fato não prejudicou o processo de ensino, mas teria

sido muito mais produtivo se eu tivesse continuado a explorar a figura humana de outras

maneiras, usando o corpo como suporte da arte.

Também houve outra situação, que ocorreu no último encontro, em que alguns

alunos desenharam uma suástica no braço. Mesmo depois que eu expliquei do que se

tratava, eles não quiseram apagar e eu deixei que eles saíssem da minha aula com o

desenho, pois fiquei com dúvidas em como conduzir uma situação dessas. Mas se isso

ocorresse comigo novamente, ou uma situação parecida, penso que eu estaria mais

preparada para intervir, conversaria mais com eles, questionaria o que aquele símbolo

significa pra eles, problematizaria essa questão, fazendo-os refletir sobre o significado

de portarem um símbolo como aquele no corpo, que carrega toda uma história negativa

da humanidade.

Definitivamente, eu agiria de outro modo, pois usaria este fato como objeto de

estudo e reflexão. Não deixaria passar em branco, nem que os alunos saíssem da escola

sem a informação, sem que soubessem exatamente do que a suástica se trata quando

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alguém os questionasse sobre o seu significado, sobre o que representa e o que significa

culturalmente ostentar este símbolo no corpo.

Quanto aos resultados, fiquei satisfeita com o desenvolvimento do projeto de

ensino, pois alcancei boa parte dos objetivos propostos e os que eu não consegui atingir,

acredito que serviram para me fazer repensar o planejamento e as minhas atitudes.

Deixando de lado os problemas das primeiras aulas, eu só tenho elogios para com a

turma 112. Os alunos foram criativos, fizeram trabalhos interessantes, nos quais é

visível o comprometimento deles com as aulas, pois percebia que mesmo quando as

nossas aulas terminavam, eles continuavam falando delas com os colegas, amigos,

famílias e demais professores e até mesmo no Facebook. Como a cidade é pequena e as

pessoas se conhecem, eu ficava sabendo destes detalhes.

Apesar de todo o medo e inseguranças, eu nunca pensei em desistir. Eu sabia

que deveria passar por essa experiência, tirando tudo de melhor que eu conseguisse de

cada situação, pois este seria o momento no qual eu poderia me testar como professora

e, até mesmo, me conhecer melhor como indivíduo, descobrindo um lado novo e

percebendo o meu potencial.

Porém, confesso que assumi uma postura pessimista desde o início dos estágios,

não esperava muito de mim. Pensava que nada daria certo, talvez para não criar grandes

expectativas e evitar futuras decepções. Isto é algo que eu faço, desde sempre, em

relação às pessoas, aos estudos e à vida. Costumo não esperar muito das pessoas, nem

de mim. Assim, eu criei uma bolha na minha vida, na qual eu consegui me manter

segura de tudo que poderia me desapontar.

No entanto, durante as aulas eu compreendi que se eu esperasse poucos dos

alunos, pouco de mim e do projeto de ensino eu não conseguiria os resultados positivos

que eu esperava, nem as minhas aulas seriam produtivas. Então, para isso foi preciso

que eu estourasse essa bolha na qual eu me escondia e me desafiar.

Aos poucos eu fui me ariscando mais, conseguindo criar mais diálogos com a

turma, o que era algo completamente difícil para mim, pois eu tinha muito medo da

rejeição deles. A cada aula eu fui vendo que meus esforços estavam valendo à pena e

sentia mais vontade de me desafiar e desafiar os alunos também. Por isso, qualquer

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resultado proveitoso realmente me surpreendia, pois, no fundo, eu não estava esperando

por isso.

Enfatizo que o fator mais importante de todo o projeto de ensino, desde o

planejamento até as práticas, foi o desafio. Desafiar os alunos com atividades e

conteúdos que não conheciam, fazendo-os se verem em novas situações em sala de aula.

Isso ocorreu durante as aulas em que estudamos as proporções do corpo humano, e os

alunos tiveram que contornar o corpo do colega em uma folha de papel kraft para medir

as proporções. Eu pensei que eles se negariam em participar, mas eles se mostraram

interessados, até mesmo se divertiram, pois eles estavam acostumados em apenas fazer

cópias e mais cópias no caderno de desenho.

Ou seja, foi um desafio que continuou quando eles tiveram que pensar em uma

personalidade para a figura humana, pensando em quem ela poderia se tornar, tiveram

que usar a criatividade e pensar juntos. Por isso, eu acredito que em todos os momentos

em que houve um desafio foram as aulas mais produtivas.

No que se refere a mim, do mesmo modo que os alunos desenvolveram uma

performance para libertar a figura humana do casulo que a envolvia, eu também me

libertei do meu casulo de inseguranças, medo, timidez e assumi o meu papel de

educadora. Penso que obtive muitas lições para a minha vida com os Estágios, pois não

cresci apenas profissionalmente, mas evolui emocionalmente. Senti como se eu tivesse

realmente deixado a da adolescência de vez. Mudei minha postura, superei minhas

próprias expectativas e amadureci. Reconheço que eu ainda tenho muito a aprender, não

me vejo com uma professora completa e sei que tenho um longo caminho pela frente até

o dia em que me sentirei mais preparada, mas sinto que já passei por uma grande etapa

deste processo.

Posso, seguramente, afirmar que eu aprendi muito durante cada aula, com cada

erro, com cada acerto. E enquanto os alunos foram conhecendo e construindo as suas

“Figuras Humanas”, eu me construí como professora. Acredito que tive uma grande

aprendizagem com a prática de ensino, pois pude conhecer a realidade da comunidade

escolar, o comportamento dos alunos, o ambiente escolar e, principalmente, refletir

sobre a minha postura como futura professora, pois houve muitas situações em que eu

travei batalhas internas, e venci minhas inibições.

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Mas a maior lição que eu tirei dos Estágios foi que eu não devo me acomodar

com as situações, que devo deixar os pensamentos pessimistas e negativos de lado, pois

as coisas podem dar certo comigo. Enfim, compreendi que posso apostar mais em mim

nas pessoas, na vida.

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REFERÊNCIAS

DERDYK, Edith. O desenho da figura humana. São Paulo: Ed. Scipione, 1990.

Catálogo Siron Franco. Porto Alegre: MARGS, 1999.

BARBOSA, Ana Mae. (org). PORTELLA, Adriana. (et al.). Inquietações e mudanças

no ensino da arte. São Paulo: Cortez, 2002.

CANTON, Kátia. Espelho de artista. São Paulo: Cosac & Naify Edições, 2ª edição,

2001.

FARTHING, Stefhen. 501 GRANDES ARTISTAS. Rio de Janeiro: Sextante, 2009.

FUNDAMENTAL, Secretaria da Educação. Parâmetros Curriculares Nacionais: Arte

(Ensino Fundamental). Rio de Janeiro: DP&A, 2000.

MARTINS, Mirian Celeste. PICOSQUE, Gisa. GUERRA, Maria Terezinha Telles.

Didática do ensino da arte: a língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São

Paulo: FTD, 1998.

SITES CONSULTADOS:

BARBOSA, Ana Mae. Arte, Educação e Cultura. Disponível em:

http://www.dc.mre.gov.br\imagens-e-textos\revista7-mat5.pdf\view. Acesso em: 29 de

setembro de 2010.

LEVINZON, Gina Khafif. Frida Kahlo: a pintura como processo de busca de si mesmo.

In: Revista Brasileira de Psicanálise, Volume 43, n.2, 49-60, 162

2009. Disponível em: http://pepsic.bvs-psi.org.br/pdf/rbp/v43n2/v43n2a06.pdf. . Acesso

em: 16 de novembro de 2010.

ITAU CULTURAL

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Apêndices

Avaliação de Aluno Estagiário realizada pela professora da escola de

Estágio.

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Cópia do questionário respondido pela professora da escola de Estágio

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Cópias dos questionários respondidos pelos alunos da escola de Estágio

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Cópias dos questionários respondidos pelos alunos da escola de Estágio

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Cópias dos questionários respondidos pelos alunos da escola de Estágio

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Cópias dos questionários respondidos pelos alunos da escola de Estágio

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Cópias dos questionários respondidos pelos alunos da escola de Estágio

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