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646 TECNOLOGIA ASSISTIVA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA: CONTRIBUIÇÕES PARA A INCLUSÃO ESCOLAR DE CRIANÇAS COM PARALISIA CEREBRAL Ketlen Júlia Lima da Silva 106 Samuel Vinente da Silva Junior 107 Danilo Batista de Souza 108 Maria Almerinda de Souza Matos 109 Eixo Temático: 4. Formação de Professores e processos de inclusão/exclusão em educação Categoria: Comunicação Oral INTRODUÇÃO Esta pesquisa integra as ações do projeto “Políticas inclusivas: a formação do professor do aluno com Paralisia Cerebral na rede municipal de Manaus”, aprovada por intermédio do Programa Institucional de Bolsas para Iniciação Científica. Foi desenvolvida no âmbito do Programa Institucional de Bolsas para a Iniciação Científica. Foi desenvolvida por meio do Núcleo de Estudos e Pesquisas em psicopedagogia Diferencial – NEPPD, integrando ações das linhas de pesquisas Educação Especial e Educação Inclusiva. O referido estudo teve como base o aprofundamento de pesquisas desenvolvidas desde 2011, projetos estes denominados “Atendimento educacional do aluno com Paralisa Cerebral: a organização pedagógica no contexto inclusivo” e “Políticas inclusivas: a formação do professor do aluno com Paralisia Cerebral nos documentos oficiais de Manaus”. As investigações já realizadas e publicadas vêm contribuindo na construção de conhecimentos em educação especial na perspectiva da educação inclusiva, bem como na implementação de políticas públicas voltadas para escolares com Paralisia Cerebral no contexto amazônico. 106 Acadêmica do Curso de Letras – Língua e Literatura Portuguesa da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Pesquisadora do NEPPD. E-mail: [email protected] 107 Acadêmico do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Bolsista de Iniciação Científica da FAPEAM. Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicopedagogia Diferencial – NEPPD e Observatório Nacional de Educação Especial – ONEESP. E-mail: [email protected] 108 Acadêmico do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Bolsista da PROEXTI/UFAM. Pesquisador do NEPPD. E-mail: [email protected] 109 Doutora em Educação pela UFRGS. Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE/UFAM. E-mail: [email protected]

TECNOLOGIA ASSISTIVA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA ... · Inclusiva (SECADI) no Ministério da Educação marcou o reconhecimento da necessidade de estabelecer políticas específicas

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TECNOLOGIA ASSISTIVA E COMUNICAÇÃO ALTERNATIVA:

CONTRIBUIÇÕES PARA A INCLUSÃO ESCOLAR DE CRIANÇAS COM

PARALISIA CEREBRAL

Ketlen Júlia Lima da Silva106

Samuel Vinente da Silva Junior107 Danilo Batista de Souza108

Maria Almerinda de Souza Matos109 Eixo Temático: 4. Formação de Professores e processos de inclusão/exclusão em educação

Categoria: Comunicação Oral INTRODUÇÃO

Esta pesquisa integra as ações do projeto “Políticas inclusivas: a formação do professor do

aluno com Paralisia Cerebral na rede municipal de Manaus”, aprovada por intermédio do

Programa Institucional de Bolsas para Iniciação Científica. Foi desenvolvida no âmbito do

Programa Institucional de Bolsas para a Iniciação Científica. Foi desenvolvida por meio do

Núcleo de Estudos e Pesquisas em psicopedagogia Diferencial – NEPPD, integrando ações

das linhas de pesquisas Educação Especial e Educação Inclusiva.

O referido estudo teve como base o aprofundamento de pesquisas desenvolvidas desde

2011, projetos estes denominados “Atendimento educacional do aluno com Paralisa

Cerebral: a organização pedagógica no contexto inclusivo” e “Políticas inclusivas: a

formação do professor do aluno com Paralisia Cerebral nos documentos oficiais de

Manaus”. As investigações já realizadas e publicadas vêm contribuindo na construção de

conhecimentos em educação especial na perspectiva da educação inclusiva, bem como na

implementação de políticas públicas voltadas para escolares com Paralisia Cerebral no

contexto amazônico.

106 Acadêmica do Curso de Letras – Língua e Literatura Portuguesa da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Pesquisadora do NEPPD. E-mail: [email protected] 107 Acadêmico do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Bolsista de Iniciação Científica da FAPEAM. Pesquisador do Núcleo de Estudos e Pesquisas em Psicopedagogia Diferencial – NEPPD e Observatório Nacional de Educação Especial – ONEESP. E-mail: [email protected] 108 Acadêmico do Curso de Pedagogia da Universidade Federal do Amazonas – UFAM. Bolsista da PROEXTI/UFAM. Pesquisador do NEPPD. E-mail: [email protected] 109 Doutora em Educação pela UFRGS. Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação – PPGE/UFAM. E-mail: [email protected]

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A criação da Secretaria de Educação Continuada, Alfabetização, Diversidade e Educação

Inclusiva (SECADI) no Ministério da Educação marcou o reconhecimento da necessidade

de estabelecer políticas específicas que pudessem, de um lado garantir a inclusão

educacional de diferentes segmentos da população brasileira à educação e a valorização da

nossa diversidade étnico-racial, cultural, de gênero, social, ambiental e regional. Para tanto,

busca-se construir políticas educacionais que garantam não só o acesso e a permanência na

escola, mas qualidade na educação, redimensionando ações na busca de superação da

desigualdade e do preconceito.

A efetividade destas políticas sociais é entendida como o impacto produzido na vida dos

beneficiários pelo investimento de recursos públicos na área social, dependendo de fatores

como a eficiência na gestão dos programas, das ações desenvolvidas e a garantia do

atendimento às reais necessidades do público-alvo. Nesse sentido, problematiza-se neste

estudo como vem sendo incluído o aluno com Paralisia Cerebral na cidade de Manaus, a

partir do uso dos recursos da Tecnologia Assistiva e Comunicação Alternativa, tendo em

vista a necessidade do Atendimento Educacional Especializado a estes educandos, tal

como é assegurado na legislação vigente.

INCLUSÃO ESCOLAR DO ALUNO COM PARALISIA CEREBRAL: ASPECTOS TEÓRICO-PRÁTICOS

Aprendemos aquilo que vivenciamos e a oportunidade de relações e correlações, exercício,

observações, auto-avaliação e aperfeiçoamento na execução de tarefas fará a diferença na

qualidade e quantidade de coisas que as crianças com Paralisia Cerebral podem aprender

(BERSCH; MACHADO, 2007). Neste sentido, contribuir no desenvolvimento destes

educandos é o marco inicial para potencializar uma aprendizagem significativa. Alves

(2009, p. 36) ao decorrer sobre a necessidade de desenvolver as potencialidades dos

educandos com deficiência, refere-se à inclusão social e pedagógica, mas refere-se também

“à inclusão do indivíduo consigo mesmo, a aceitação de suas dificuldades, a

conscientização de suas capacidades atuais e a construção do desenvolvimento de suas

habilidades”.

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É preciso acreditar no desenvolvimento do indivíduo a partir do momento que se relaciona

com seu “eu”, principalmente acreditando na plasticidade cerebral, que segunda a autora,

torna tudo possível. Para ela, a psicomotricidade é um dos pontos fundamentais e precisos

para o desenvolvimento destas potencialidades, por tratar-se uma ciência que estuda o

homem através do corpo em movimento, contribuindo no desenvolvimento se assegurado

desde a estimulação essencial/precoce. Segundo Bersch e Machado (2007) a estimulação

precoce favorece à criança com PC e deficiência física uma relação rica com ela mesma e

com o meio, se isso for garantido à criança na Educação Infantil, possibilitará às crianças

inúmeras possibilidades de aprendizagem.

A diversidade da conceituação da Paralisia Cerebral tem constituído um obstáculo para a

obtenção de estimativas a respeito da incidência da afecção (TABAQUIM, 1996). De tal

modo, uma das primeiras definições de PC foi dada por Willian John Little, no ano de

1843, onde ele a caracteriza pela rigidez muscular, sendo essa ocasionada por vários

fatores que acabavam ocasionando asfixia aos bebês recém-nascidos. Para alguns autores,

o termo Paralisia Cerebral ainda é insatisfatório, pois há ênfase no aspecto motor, o que de

certa forma, acaba minimizando os aspectos sensoriais e intelectuais.

Para Tabaquim (1996, p. 24), termo PC acaba “[...] sugerindo uma ausência total de

atividades físicas e mentais, o que não ocorre nestes quadros”. De tal modo, a OMS –

Organização Mundial de Saúde delimita a ocorrência da Paralisa Cerebral na primeira

infância, pois o cérebro está em maturação, tanto anatômica, quanto funcional. Em suma,

essa enfermidade é caracterizada por um conjunto de perturbações motoras e também

sensoriais, que resultam de um defeito ou lesão do tecido nervoso que se encontra dentro

da caixa craniana. Essa lesão pode ocorrer antes, durante, e também após o parto. Desse

modo, Sendo a Paralisia Cerebral uma condição causada por uma lesão no encéfalo imaturo, de caráter não progressivo, os sinais e sintomas dependem da área lesada do cérebro e da extensão da lesão e se expressão em padrões anormais de postura e de movimentos, interferindo no desenvolvimento normal do cérebro. Pode afetar direta ou indiretamente o mecanismo neurológico que suporta o sistema central da linguagem, atingido, por vezes, o nível periférico [...] Para se compreender com competência as variáveis causas dos problemas do desenvolvimento físico e neuropsicomotor da criança com Paralisia Cerebral, é essencial que saibamos sobre o desenvolvimento físico da criança normal, incluindo os padrões básicos mais importantes de movimentos fundamentais nas futuras atividades. (TABAQUIM, 1996, p. 125)

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Mesmo que a PC seja reconhecida como um importante problema médico, social e

educacional, as estatísticas sobre ela continuam sendo, de certo modo, contraditórias e

também limitadas. Para que seja dado um diagnóstico certo e preciso da presença dela na

criança, é feito todo um acompanhamento multidisciplinar, objetivando analisar

clinicamente a situação do indivíduo, sendo assim, são necessárias condições adequadas

para o emprego do termo PC, tais como as elencadas abaixo:

Causa fixa;

Presença nos dois primeiros anos de vida da criança;

Manifestação de desordem do movimento e da postura.

Educandos com Paralisia Cerebral, que tenham comprometimento global leve,

movimentam-se com independência, realizando atividades motoras finas, tais como

desenhar, encaixar, recortar, colar, sendo capazes de construir frases com mais de duas

palavras e demonstrando, além disso, boa adaptação social, desse modo, isso não impede

que a criança aprenda, sendo um fator fundamental para o desempenho intelectual, o que

favorece a aprendizagem em todos os aspectos.

É essencial que os pressupostos teóricos e metodológicos justifiquem a prática docente do

professor na sala de aula, no tratamento do educando com PC na escola, através de

atividades voltadas para o seu desenvolvimento e não apenas como mera transmissão de

conhecimentos, mas na formação de um cidadão crítico e capaz de superara dia após dia,

as dificuldades que a paralisia ainda lhe põe como obstáculos a serem superados.

Na escola, é possível encontrar alunos com diferentes diagnósticos, e o professor deve

procurar ter informações sobre as especificidades de cada educando. Conforme mostram as

autoras, “deveremos distinguir lesões neurológicas não evolutivas, como a paralisia

cerebral ou traumas medulares, de outros quadros progressivos como distrofias musculares

ou tumores que agridem o Sistema Nervoso” (BERSCH; MACHADO, 2007, p. 23).

Em Manaus, pesquisas vêm mostrando que cursos de formação contínua sobre PC devem ser

priorizados aos professores. O docente da sala de recursos multifuncionais e da sala regular

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ainda encontra dificuldades em expressar o que é paralisia cerebral e quais as implicações

dessa deficiência no cenário educacional (VINENTE, 2012). Em pesquisas anteriores realizas

nas escolas da Secretaria Municipal de Educação - SEMED, verificou-se que o AEE vem se

implantando na cidade de forma efetiva, mas ainda são muitos os desafios para a

implementação das políticas de formação dos professores para a educação inclusiva, desafios

esses que perpassam a política de formação e adequações dos métodos e técnicas de ensino.

Nas salas de recursos multifuncionais destinadas ao AEE, o aluno com PC deve

experimentar várias opções de equipamentos até que encontre o que melhor se ajusta à sua

necessidade e condição. Sendo assim, a TA – Tecnologia Assistiva contribui de forma

significativa para uma inclusão efetiva deste educando. Este tipo de tecnologia é

conceituado por Bersch (2007) como uma expressão utilizada para identificar todo arsenal

de recursos e serviços que contribuem para proporcionar e/ou ampliar habilidades de

pessoas com deficiência, transtornos globais do desenvolvimento e altas

habilidades/superdotação. São esses recursos humanos (docentes qualificados) que

possibilitam aos alunos a autonomia, segurança e a comunicação para que esses educandos

possam ser inseridos nas classes regulares.

Repensar o paradigma da inclusão escolar dos alunos com PC, vai além de cumprir o que é

estabelecido nos documentos oficiais da SEMED, pois vai de encontro às necessidades de

adequação de uma nova sociedade que foi pensada desde o fim do século XX e

normatizada em inúmeras Declarações, versando sobre a inserção na escola, no mercado de

trabalho e em outras esferas da sociedade, pessoas com deficiências física, sensorial,

múltipla. Garantir a formação de professores para o AEE é cumprir o que vem se

efetivando na maioria das vezes somente nos documentos normativos, deixando de lado o

contexto e a prática escolar.

PESQUISA E PRÁTICA EM TECNOLOGIA ASSISTIVA E COMUNICAÇÃO

ALTERNATIVA

A inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais perpassa os conceitos de

acessibilidade estrutural e atitudinal, objetivando o Atendimento Educacional

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Especializado nas salas de recursos multifuncionais (BRASIL, 2008). As pesquisas

realizadas nesse contexto (SARTORETTO, 2010; VINENTE; MATOS, 2012;

GUERREIRO, 2012) apontam a necessidade de investimentos de órgãos governamentais e

não governamentais na formação de educadores para a inclusão (MAZOTTA, 2004).

A produção científica sobre a inclusão de alunos com necessidades educacionais especiais

cresceu nos últimos de forma significativa. Muitas pesquisas resultantes de pesquisas

desenvolvidas por meio de Programas de Pós-Graduação em Educação e Educação

Especial problematizam questões como a formação docente, a acessibilidades, os recursos

pedagógicos adaptados, a implementação das políticas públicas e o acesso e permanência

de pessoas com deficiência na escola de ensino regular.

Acerca deste processo entende-se que tem se consolidado no país, para Araújo (2007, p.

12) “a questão da inclusão das minorias tomou relevo nos documentos internacionais e

nacionais recentes. [...] convive com os movimentos democráticos e com a preocupação

com a pluralidade de interesses da sociedade contemporânea”. Sendo assim, o respeito e

valorização à diversidade é o ponto de partida para a inclusão social/escolar e isto tem que

se iniciar na escola, superando-se a lógica da exclusão e da segregação (BRASIL, 2008).

Na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996) prevê-se o atendimento às

necessidades específicas dos alunos com deficiência, bem como a formação dos docentes

para que possam atuar com estes educandos preferencialmente na escola de ensino regular.

Em 2008, a Política Nacional de Educação Especial na Perspectiva da Educação Inclusiva

traz o Atendimento Educacional Especializado como um serviço de apoio ao processo de

escolarização, que deve ser oferecido nas salas de recursos multifuncionais, por meio de

profissionais qualificados para esse serviço.

Nesse contexto, os estudos sobre Tecnologia Assistiva enfatizam a necessidade de inserir

recursos, serviços e estratégias na educação especial e inclusiva para colaborar com o

processo de aprendizagem de alunos com deficiências (ROCHA, DELIBERATO, 2012). A

primeira etapa para a implementação da Tecnologia Assistiva deve permitir entender a

situação que envolve o aluno a fim de ampliar a sua participação no processo de ensino e

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aprendizagem. O Comitê de Ajudas Técnicas (CAT) para fins de consolidação da

Tecnologia Assistiva, a define da seguinte forma:

Tecnologia Assistiva é uma área do conhecimento, de característica interdisciplinar, que engloba produtos, recursos, metodologias, estratégias, práticas e serviços que objetivam promover a funcionalidade, relacionada à atividade e participação de pessoas com deficiência, incapacidade ou mobilidade reduzida, visando sua autonomia, independência, qualidade de vida e inclusão social (CAT, 2007)

As pesquisas desenvolvidas neste contexto enfatizam a necessidade do envolvimento de

profissionais especializados em diferentes áreas do conhecimento para o trabalho com

pessoas com deficiência (ROCHA; DELIBERATO, 2012). As autoras apontam as

diferentes etapas dos serviços de tecnologia assistiva tais como a avaliação e identificação

das habilidades e necessidades; prescrição e confecção dos recursos; acompanhamento

contínuo para modificação desses recursos sempre que necessário para melhor utilização.

A comunicação alternativa é parte desse processo, sendo destinada “[...] à ampliação de

habilidades de comunicação [...]” (SARTORETTO; BERSCH, 2010). É destinada a

pessoas sem fala ou sem escrita funcional, com defasagem entre sua necessidade

comunicativa e sua habilidade em falar e escrever (BERSCH; SCHIRMER, 2005). No

contexto educacional, para descrever a utilização de recursos pedagógicos de

acessibilidade na escola, é preciso estar atento às características do aluno, à atividade que o

professor propõe na sala de aula e aos objetivos educacionais que pretendem ser

alcançados (SARTORETTO; BERSCH, 2010).

Para Gomes e Barbosa (2006), “a existência de barreiras a serem transpostas para

efetivação da proposta escolar inclusiva é compreensível, uma vez que se trata de um

processo [...] recente no Brasil e ainda em andamento”. Sendo assim, ainda é necessário

que pesquisas sejam desenvolvidas na região Amazônica para que se tenha uma panorama

de como se implementam as políticas inclusivas. Sem recursos pedagógicos, de tecnologia

assistiva e de comunicação alternativa não há inclusão efetiva, pois esses itens são

necessários para a relação entre o deficiente e a sociedade.

653

Os estudos de Silva (2006) mostram que a comunicação alternativa tem impacto na vida de

adultos sem fala oralmente articulada, facilitando o acesso à informação e o

desenvolvimento da linguagem oral, escrita e visual de escolares com Paralisia cerebral.

Ao construir pranchas de comunicação de baixa tecnologia por meio do sistema Picture

Communication Symbols (PCS), a pesquisadora aponta que os sujeitos se colocaram de

forma mais autônoma perante os outros, considerando-se que o trabalho teve um efeito

positivo para a subjetividade dos participantes e para a sociedade como um todo.

Já Ponsoni (2010) ao pesquisar a comunicação suplementar e alternativa no discurso

narrativo do aluno com paralisia cerebral por meio da aplicação de um programa de

intervenção do recurso de comunicação, verificou que o ensino dos elementos do discurso

narrativo proporcionou o aumento das habilidades de narrar relato de experiência pessoal e

histórias infantis. A autora também visualizou que o programa de intervenção contribuiu

para o aumento das habilidades expressivas dos participantes da pesquisa.

Em estudo desenvolvido por meio do Programa de Pós-Graduação em Educação Especial

da Universidade Federal de São Carlos-UFSCar, Alves (2009) identificou os efeitos do uso

da tecnologia assistiva no contexto da escolarização do aluno com paralisia cerebral a

partir de sua própria percepção, do seu cuidador e de seu professor. O estudo revelou que

professores, cuidadores e as crianças participantes reconheceram que esses recursos

favorecem o processo de escolarização dos escolares com paralisia cerebral, sendo um

recurso auxiliar à produção, a participação e a escolarização.

A utilização das representações sociais nas ações de formação de professores pode ser uma

estratégia para promover mudanças nas representações destes profissionais e,

consequentemente aprimorar o trabalho pedagógico realizado com os alunos com paralisia

cerebral nas escolas regulares (SILVA, 2008). Isto ocasiona-se de forma mais efetiva

dependendo do caso clínico do escolar, ou seja, discentes com quadros clínicos mais

severos apresentam maiores dificuldades para inclusão nas escolas regulares, sendo assim

formação inicial e continuada é um dos pontos fundamentais para a garantia da inclusão e

escolarização (VINENTE, 2012). Nesse sentido, assegurar formação básica aos educadores

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que atuam com crianças que apresentam paralisia cerebral é cumprir o que está previsto na

legislação.

Para efetivar a implementação da tecnologia assistiva, o Decreto 7612/2011 instituiu o

Comitê Interministerial de Tecnologia Assistiva, com a finalidade de formular, articular e

implementar políticas, programas e ações para o fomento ao acesso, desenvolvimento e

inovação em tecnologia assistiva (artigo 12). Podem participar deste Comitê,

representantes de órgãos públicos e entidades da administração pública federal. Portanto, a

socialização dos resultados das pesquisas citadas acima mostra que a inclusão escolar

destes alunos nas escolas regulares é possível. Há decretos que dispõem das diretrizes

nacionais para o atendimento educacional especializado, assegurando a necessidade de

recursos da tecnologia assistiva e da comunicação para efetiva escolarização de alunos com

Paralisia cerebral.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Garantir a inclusão plena de alunos com deficiência é um dos desafios postos no cotidiano

das escolas atualmente. Estudos comprovam que gestores, docentes, familiares de pessoas

com deficiência e demais profissionais da educação carecem de maior acesso às

informações sobre a inclusão escolar e de especialização para atuação no Atendimento

Educacional Especializado – AEE, proposto na Constituição Federal (1988), na Lei de

Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), na Política Nacional de Educação

Especial na perspectiva da Educação Inclusiva (2008) e no Decreto 7.611/2011.

O artigo 2º deste último Decreto (7.611/2011) afirma que a educação especial deve garantir

os serviços de apoio especializado voltado a eliminar as barreiras que possam obstruir o

processo de escolarização de estudantes com deficiência, transtornos globais do

desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação. A partir disto, destacam-se a

Comunicação Alternativa e a Tecnologia Assistiva como subsídios necessários para a

inclusão escolar de alunos com Paralisia Cerebral e outras deficiências, no sentido de

favorecer o ensino (professor) e a aprendizagem significativa (educando), oferecendo

novas estratégias e serviços de apoio para a escolarização desse público-alvo.

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A inclusão escolar de educandos com Paralisia Cerebral vem ocorrendo de forma gradativa

na rede municipal de ensino, porém os desafios perpassam a formação docente, a questão

da acessibilidade e de gestão no que se refere às metas e estratégias contidas no Projeto

Político-Pedagógico das escolas (MATOS, 2012; VINENTE; 2012). Em Manaus, ainda

não há resultados publicados de pesquisas para que se obtenha um panorama de como vem

se configurando as políticas de inclusão escolar a partir das novas tecnologias e das

múltiplas formas de comunicação alternativa, o que traz a necessidade de legitimação deste

estudo.

As investigações com vistas à criação de softwares educativos para pessoas com

deficiências ainda estão em fase de implementação, por isso é necessário que mais estudos

contribuam no sentido de aumentar a produção bibliográfica e técnica nesta área do

conhecimento. No artigo 3º, inciso III do Decreto 7.611/2011, o legislador afirma que um

dos princípios da educação especial é fomentar o desenvolvimento de recursos didáticos e

pedagógicos que eliminem as barreiras no processo de ensino e aprendizagem.

Neste sentido, o uso da Tecnologia Assistiva e da Comunicação Alternativa para inclusão

destes escolares pode contribuir no sentido de implementação das políticas de inclusão e na

disposição de recursos apropriados para a sala de aula que auxiliem docentes e discentes

neste processo. Segundo o Ministério da Ciência e Tecnologia (2005), estas tecnologias

devem reduzir ou eliminar “as limitações decorrentes das deficiências física, mental, visual

e/ou auditiva [...]” (MCT, 2005), proporcionado aos docentes condições para o trabalho

com escolares que apresentam Paralisia Cerebral e outras limitações físicas e sensoriais.

Dependendo do tipo clínico, a Paralisia Cerebral pode afetar além do aspecto motor e

psicomotor, o desenvolvimento da linguagem, e outros comprometimentos no que tange à

locomoção, equilíbrio, coordenação/precisão dos movimentos (BRANDÃO, 1992;

GERALIS, 2007). Os escolares com PC podem participar das aulas e ter acesso ao

processo de escolarização, inclusive, há estudos que comprovam que dependendo da área

afetada e do caso clínico, estes alunos aprendem e se desenvolvem no cotidiano da escola

comum (FREITAS; SILVA; PONTES, 2012; SILVA; MARTINEZ; SANTOS, 2012;

VINENTE, 2012; MATOS, 2012).

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Os recursos pedagógicos acessíveis consolidam a inclusão destes alunos no ensino regular.

O estudo reveste-se de importância por permitir aos pesquisadores a visualização acerca do

uso da Tecnologia Assistiva e Comunicação Alternativa nas salas de recursos

multifuncionais para a inclusão de alunos com PC. Espera-se que esta pesquisa contribua

com a produção de conhecimentos na área de educação especial na perspectiva da

educação inclusiva, configurando-se no pioneirismo de trabalhos sobre Tecnologia

Assistiva e Comunicação Alternativa na região Amazônica.

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