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Paulo Vaz-PiresProfessor Associado
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Paulo Vaz-PiresProfessor Associado
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P. Vaz-Pires
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TECNOLOGIA DO PESCADO
I - INTRODUÇÃO
a) A disciplina de Tecnologia do Pescado
A disciplina de Tecnologia do Pescado pertence ao 1º semestre do 4º ano da licenciatura
em Ciências do Meio Aquático do Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar da
Universidade do Porto. Está inserida no grupo de disciplinas sob a responsabilidade do
Departamento de Produção Aquática.
A Tecnologia do Pescado abrange o estudo do pescado, desde a sua captura até ao
consumidor. No entanto, há alguns aspectos relacionados com o que se passa antes do
momento da captura e também depois do consumo que são importantes para a
disciplina, pelo que se pode dizer, de forma mais geral, que engloba todos os aspectos
relacionados com o pescado como alimento.
tecnologia, s. f. estudo sistemático dos procedi-mentos e equipamentos técnicos necessários para a transformação das maté-rias-primas em produto in-dustrial; … (Do grego tekh-nología, «tratado sobre uma arte»).
pescado, s. m. tudo o que se pesca; qualquer peixe; … (Do latim piscã-tu-, «pesca»).
ciência, s. f. conhecimento certo e racional sobre a natureza das coisas ou sobre as suas condições de existência; investigação metódica das leis dos fenómenos; … (Do latim scientia-, «conhecimen-to»).
Fig. 1 - Definições de Tecnologia, Pescado e Ciência (adaptado do Dicionário da Língua Portuguesa, 6ª edição, Porto Editora)
A Tecnologia do Pescado é, assim, o estudo dos procedimentos e métodos necessários
para que os seres vivos aquáticos possam ser usados como alimento, principalmente
pelo Homem, mas também por outros animais.
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Enquanto tecnologia é um conceito mais relacionado com procedimentos para realizar
actividades, ciência é um conceito mais preciso e mais relacionado com a investigação
metódica das leis que regem os fenómenos. É, porém, difícil estabelecer uma fronteira
entre ambas, daí que se fale muitas vezes em ciência e tecnologia em conjunto. É o caso
desta disciplina e de muitas outras, nas quais, e apesar do nome, se estudam as técnicas
e as suas bases científicas, com ênfase na compreensão dos princípios que servem de
base aos procedimentos.
O conceito de pescado é muito variável e relativo, dependendo da localização geográfica,
da cultura, dos hábitos pessoais, da época do ano e de muitos outros factores. Por
exemplo, os portugueses não comem normalmente foca, um prato tradicional na
Noruega; a lampreia, especialidade muito apreciada em Portugal, é considerada uma
praga nos EUA, um pouco como os ratos no nosso país… As diferenças são tão
significativas que uma lampreia pode custar 15 mil escudos num restaurante em Portugal,
enquanto na região dos Grandes Lagos americanos são gastos milhões de dólares no
estudo, investigação e acções de extermínio de lampreias. Pode definir-se o pescado
como "todos os seres vivos aquáticos que são utilizados para alimentação humana
directa ou indirecta".
O pescado engloba também todas as partes, porções e produtos dele derivados, desde
que sejam usados como alimento. No caso de haver algum tipo de transformação ou
processamento, é também comum encontrar a expressão produtos da pesca,
especialmente na legislação europeia, que podemos considerar que não substitui nem se
sobrepõe à expressão pescado. No capítulo XII são abordados os produtos do mar que
não são englobados nesta definição (não alimentares).
b) Docentes e instalações
Desde o ano lectivo de 1997/98, a disciplina tem como responsável o Prof. Doutor Paulo
Vaz-Pires, Professor Auxiliar do ICBAS; no anexo 1 é apresentado um resumo de uma
página do seu Curriculum vitae, para conhecimento da relação entre o trabalho que tem
desenvolvido e os assuntos da disciplina. O Director do Departamento de Produção
Aquática, no qual a disciplina se insere, é a Prof.ª Doutora Fernanda Russell-Pinto,
Professora Associada do ICBAS.
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O responsável pela disciplina manifesta a sua disponibilidade total para discutir com os
alunos qualquer assunto relacionado com a disciplina, ou outros que os alunos julguem
interessantes. O seu gabinete situa-se no interior do laboratório de Fisiologia Aplicada, no
piso inferior do ICBAS; no caso de estar ausente, na porta do gabinete está afixada a
forma de o contactar, se necessário. Para informações mais gerais como visitas,
classificações, etc., será usado o painel de cortiça no corredor junto do Teatro Anatómico
(por baixo do osso de baleia).
As aulas teóricas terão lugar na sala CMA2; as aulas práticas, em local a combinar para
cada aula, podendo ser teórico-práticas, laboratoriais ou visitas de estudo.
c) Vocabulário
Como em qualquer disciplina, há um vocabulário próprio que os alunos poderão
estranhar, especialmente quando forem efectuadas visitas fora do Instituto; no sentido de
familiarizar as pessoas com as palavras menos vulgares na linguagem corrente, serão
fornecidas explicações durante as aulas e visitas, à medida que forem sendo
necessárias. A pedido de alguns alunos, e através da experiência de anos anteriores, foi
possível a recolha de palavras e expressões portuguesas e estrangeiras, estando prevista
a sua publicação em forma de livro no fim de 2004, com a colaboração de colegas do
IPIMAR (hoje INIAP) de Lisboa. Pede-se aos alunos que recolham novos termos e
contribuam com sugestões, por forma a melhorar a qualidade e utilidade deste livro, que
pode também ser usado como forma de rever conceitos importantes antes dos exames.
d) Tecnologia do Pescado em Portugal
Em Portugal, os assuntos da Tecnologia do Pescado são estudados e tratados em
diversas instituições. Para além do ICBAS, apresenta-se a seguir uma lista das mais
relevantes, com a indicação da actividade principal.
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•••• INIAP (Instituto Nacional de Investigação Agrária e Pescas, ex-IPIMAR)
É o instituto do estado português responsável pela investigação das pescas, sob a tutela
da Direcção Geral das Pescas e Aquicultura do Ministério do Mar. Designado
anteriormente por INIP (Instituto Nacional de Investigação das Pescas) e por IPIMAR
(Instituto Português de Investigação Marítima), está dividido em vários departamentos;
um deles, o DITVPP (Departamento de Inovação Tecnológica e Valorização dos Produtos
da Pesca), tem como Director a Eng.ª Leonor Nunes e Sub-Director o Eng.º Irineu
Baptista e dedica-se ao estudo do pescado como alimento. O IPIMAR situa-se em Algés
(Lisboa), tendo várias delegações em portos nacionais, os CRIP (Centros Regionais de
Investigação Pesqueira); recentemente, foi inaugurado o novo CRIP de Matosinhos, que
merece uma visita demorada. A sede, em Lisboa, dispõe de uma das mais completas
bibliotecas nacionais sobre assuntos relacionados com o Mar.
•••• DGPA (Direcção Geral das Pescas e Aquicultura)
Trata-se de um serviço central do Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e
das Pescas, responsável pela formulação da política sectorial das pescas, auxiliado pela
Inspecção-Geral das Pescas, com funções de aplicação e fiscalização, no terreno, dessa
política. Situam-se ambos em Lisboa.
•••• ESB/UCP (Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa)
A ESB pertence ao Pólo do Norte da UCP e está situada junto ao Hospital de S. João, no
Porto. Iniciou em 1990 a investigação na área do pescado (antes existia investigação na
área das microalgas, que hoje se mantém), que tem originado alguns doutoramentos e
mestrados. Os assuntos principais são a Microbiologia, a avaliação da qualidade e a
conservação do pescado. Possui uma biblioteca excelente e moderna, dedicada a todo o
tipo de alimentos; sobre pescado possui algumas obras muito importantes.
•••• Centro FORPESCAS (Centro de Formação Profissional para o Sector das Pescas)
É a escola de formação profissional oficial do sector das pescas, que ministra cursos para
todas as categorias de profissionais ligados ao Mar. Embora não haja investigação a
decorrer directamente no Forpescas, os docentes envolvidos em disciplinas como a
Tecnologia do Pescado e muitas outras representam um potencial humano com
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conhecimentos aprofundados, especialmente locais, que importa conhecer. Existem, para
além dos serviços centrais em Pedrouços (Lisboa), 9 delegações regionais, uma delas
em Matosinhos, na qual há uma biblioteca com obras interessantes, algumas editadas
internamente pelo Forpescas, para quem se interessar pela área da Tecnologia do
Pescado e também pela Navegação, Náutica, Marinharia e outras ligadas ao Mar.
•••• Outras instituições
Para além destas instituições, existem por um lado Universidades e Escolas nas quais há
pessoas a trabalhar nesta área, como a Universidade do Algarve (licenciatura em Biologia
Marinha), a Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (licenciatura em Biologia), a
Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (Licenciatura em Engenharia Zootécnica), a
Escola Profissional de Gestão e Tecnologias Marítimas na Quarteira, Algarve e a Escola
Superior de Tecnologia do Mar de Peniche (ESTM), entre muitas outras, e inúmeras
empresas, normalmente pequenas ou médias, relacionadas com a captura, a
transformação e a comercialização do pescado no nosso país.
e) Tecnologia do Pescado no estrangeiro
Em termos internacionais, há que fazer referência aos centros de investigação com maior
relevância na Tecnologia do Pescado, principalmente aqueles com os quais existem
projectos de colaboração mútua com Portugal (por ordem alfabética):
Danish Institute for Fisheries Research, em Lyngby, na Dinamarca, sem dúvida um dos
melhores e mais activos laboratórios de investigação, especialmente em Microbiologia,
estimação do tempo de conservação útil e degradação do pescado.
Federal Research Center for Fisheries, na Alemanha, dedicado a vários métodos de
avaliação de frescura do pescado, sobretudo químicos e físicos.
Icelandic Fisheries Laboratories (IFL), em Reikjavík, na Islândia, dedicado à análise
sensorial e outros métodos de avaliação da qualidade.
Institut Français de Recherche pour l’Exploitation de la Mer (IFREMER), com centros e
delegações em toda a França, abrangendo praticamente todos os estudos relacionados
com o Mar, incluindo a Tecnologia do Pescado.
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Instituto del Frio, em Madrid, com trabalhos sobre proteínas, lípidos e ATP.
Nederlands Institute for Fisheries Research (RIVO-DLO) em Ijmuiden, na Holanda, um
dos grupos mais activos no desenvolvimento de métodos instrumentais para avaliação da
qualidade do pescado, p. ex.º, o nariz electrónico.
Norwegian Institute of Fisheries and Aquaculture, em TromsØ, na Noruega, dedicado a
todas as áreas relativas às pescas e aquacultura, incluindo métodos físicos de análise de
pescado.
The Sweedish Institute for Food and Biotechnology (SIK), em Göteborg, na Suécia, onde
se estuda principalmente a oxidação lipídica.
VTT Biotechnology and Food Research, em Helsinki, na Finlândia, onde se investigam
métodos de embalagem em atmosfera modificada e aplicação de compostos anti-
microbianos.
Esta breve lista serve apenas para exemplificar o grande interesse que existe, em todos
os países com relações com o Mar, pela investigação nos assuntos mais variados da
disciplina de Tecnologia do Pescado. Note-se ainda que há uma nítida preferência por
certas áreas de investigação em cada país, o que reforça a ideia de que, em Portugal,
devemos também definir claramente as áreas prioritárias e formar grupos de trabalho
nessas áreas, em estreita colaboração com o que se faz nos outros países,
principalmente os europeus.
f) Bibliografia
Não existem muitas publicações recentes em português sobre os temas da Tecnologia do
Pescado; há porém algumas de excelente qualidade, com origem muitas vezes no
INIAP/IPIMAR (principalmente de divulgação técnica) e no Centro Forpescas
(principalmente didácticas), disponíveis nas instalações de Matosinhos destas entidades.
Torna-se portanto quase sempre necessário recorrer à bibliografia estrangeira, que se
encontra muito distribuída por diferentes países e diversos tipos de publicações.
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O anexo 2 contém um grande número de referências bibliográficas, ordenadas por ordem
alfabética do último nome dos autores, como é vulgar em publicações científicas. Optou-
se por uma lista exaustiva, por forma a que possa ser usada não só para a disciplina,
como também quando for necessária no futuro. Pede-se aos alunos e a todos os
interessados que não hesitem em sugerir alterações e novas entradas nesta lista de
referências.
Quanto à procura na Internet, sugere-se um motor de busca simples e rápido, sem
publicidade associada (p. ex.º, a versão portuguesa do Google). A escolha das palavras
de procura adequadas e a leitura atenta dos endereços dos sites, evitando os comerciais
e preferindo os de instituições conhecidas e “sérias”, ajudam muito a evitar perdas de
tempo excessivas na Net. No anexo 8 são apresentados os endereços de alguns sites
importantes para a disciplina, que se aconselha visitar e explorar em pormenor.
O regente da disciplina encontra-se à inteira disposição dos alunos para os ajudar a
encontrar as referências mais adequadas ao que pretenderem.
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II - PERSPECTIVA HISTÓRICA
a) Generalidades
O estudo da história permite compreender as dificuldades passadas e o modo como
foram contornadas, fornecendo uma percepção mais completa de tudo o que se passa
nos dias de hoje. A história do pescado não é excepção, sendo muito antiga e recheada
de fases interessantes.
Em primeiro lugar, há que recuar até aos tempos pré-históricos para iniciar a história do
pescado, uma vez que ela acompanhou o Homem desde o seu aparecimento, há cerca
de 1 ou 2 milhões de anos.
Na figura seguinte são apresentados os principais momentos da história do Homem:
há ≈ 1 milhão de anos 5000 AC 4000 AC 3000 AC 2000 AC 1000 AC 0 1000 2000
___|________…__________|________|________|________|________|________|________|________|___
invenção da escrita nascimento de Cristo . … pré-história ________|________ história… … antes de Cristo ______|______ depois de Cristo…
Fig. 2 - Momentos importantes da história do Homem.
A invenção da escrita (cerca de 5000 AC, no Egipto) marca o início de uma forma de
estudar história completamente diferente da anterior, baseada nos documentos escritos e
por isso muito mais directa. Daí a designação pré-história dada ao período que antecede
a invenção da escrita.
O nascimento de Cristo serve de base para a contagem dos anos do nosso calendário.
b) O pescado na Pré-História
Na pré-história, o Homem começou por ser nómada, deslocando-se frequentemente e
alimentando-se apenas do que a natureza lhe oferecia (era colector): caules, folhas,
pequenos animais, ovos, e certamente também seres aquáticos fáceis de conseguir,
como moluscos, pequenos peixes, etc. Pescava à mão, fazendo uma simples apanha.
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Era forçado a ser nómada porque apenas recolhia tudo o que encontrava; quando os
recursos se esgotavam, partia em busca de outros noutros locais.
Iniciou-se nesta altura um fenómeno que vai acompanhar o Homem quase toda a sua
existência: o seu número começou a aumentar. As pequenas famílias dão lugar aos
grupos de famílias (tribos) e estas a grupos cada vez maiores, mais difíceis de alimentar e
também de deslocar. Estão criadas as condições para que o Homem, agora mais tempo
no mesmo local, se comece a interessar mais pelo que o rodeia. Pensa-se que foi assim
que observou a natureza e se apercebeu lentamente de fenómenos que até aí lhe
passavam despercebidos, como a reprodução natural das plantas e dos animais, em
ciclos de tempo relativamente longos. Assim, descobre a agricultura e a pastorícia,
primeiras actividades que lhe permitem passar de nómada a sedentário. É também nesta
fase que se começa a recolher em cavernas e assim se protege melhor do clima e dos
predadores.
Importa agora desenvolver técnicas mais eficazes para a captura de alimentos, uma vez
que o sedentarismo permitiu um acentuado aumento do nº de indivíduos dos grupos.
Aparecem os paus, as lanças e as pedras como primeiros instrumentos da caça, que
cedo o Homem soube adaptar à pesca, feita em zonas marginais e ainda de fora de
água, já que não havia embarcações. As primeiras artes foram então as da pesca por
ferimento, já que provocam ferimentos na pele dos peixes.
Nas cavernas, o Homem começa por consumir os alimentos crus, mas cedo se apercebe
que alimentos secos ao Sol duram mais tempo. Descobre o fogo e, com ele, a culinária
rudimentar (grelhados e assados). Aprende a cozer e a fumar peixes e carnes, como
métodos de conservação, mas também como forma de melhorar a textura e o sabor dos
alimentos naturais.
Na água, aparecem os primeiros anzóis, ainda direitos, que não são mais do que as
pontas das lanças, substituído o cabo destas por um fio natural, talvez porque o Homem
se tenha apercebido de que havia peixes que saltavam para a ponta das lanças, tentando
apanhá-las por serem parecidas com pequenos peixes. Passa-se assim das artes activas
para as passivas, nas quais o pescado é atraído para a arte que o capturará. Só mais
tarde os anzóis adquirem a sua forma curva, tipo gancho, mais seguros no momento de
puxar o peixe para fora de água.
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Fig. 3 - Exemplos de anzóis direitos e curvos, em pedra, madeira e osso. (adaptado de http://www.mustad.no).
Continua a ser praticada uma pesca marginal, mas cada vez aproveitando melhor os
charcos da maré como armadilhas naturais. Pensa-se que cedo o Homem começou a
fabricar ele mesmo algumas armadilhas ou charcos adicionais, com pedras e depois com
paus espetados (estacas), o que representa as primeiras armadilhas para pescar.
É provável que, após observação de peixes que ficavam retidos nos buracos resultantes
das imperfeições das armadilhas, o Homem tenha tentado a sua melhoria, passando de
circulares ou fechadas, nas quais o pescado é apanhado dentro de um espaço, a
abertas, ficando o pescado preso nos espaços entre as estacas verticais. Devido
provavelmente à dificuldade de estabilizar estas estacas em locais de maré ou
ondulação, foi feito um reforço das estacas verticais com estacas horizontais, aliado à
propositada construção com espaços, agora quadrangulares, entre as estacas, para
melhor deixar passar a água e prender os peixes. Julga-se que terão sido estes os
passos gerais para a invenção das primeiras redes de emalhar rudimentares, ainda
pequenas, instáveis e dependentes de pontos de apoio fixos, já que não se conheciam
ainda os nós.
Estes só serão descobertos quando as fibras utilizadas se tornaram mais finas, maleáveis
e resistentes, o que também permitiu que estas redes fossem deslocadas de um local
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para outro melhor (não se desfaziam ao deslocar). Assim, as redes passam de fixas a
portáteis, o que também implicou que o Homem se tenha apercebido de que, ao deslocá-
las, elas também pescavam… passando assim da pesca passiva, à espera das presas,
para a pesca activa, tentando rodear e arrastar a rede em torno do pescado.
Embora a uma escala muito reduzida (quase em volta dos pés…), estão inventadas,
ainda na pré-história, as 5 artes de pesca que ainda hoje são as responsáveis pelo maior
número de capturas a nível mundial: pela ordem provável em que foram inventadas, os
anzóis, as armadilhas, as redes de emalhar, as artes de cercar e as artes de arrastar.
Julga-se que os passos seguintes foram simplesmente o ampliar para escalas maiores
das descobertas feitas até então, para o que contribuiu muito a invenção das
embarcações. Do simples tronco passa-se ao tronco escavado e às jangadas de vários
troncos; da propulsão à mão e à vara, passa-se aos remos (prolongamentos do braço e
da mão) e à vela. Estas extraordinárias invenções e descobertas permitiram aumentar
muito as artes e as capturas, o que aumentou também o interesse pelo consumo destes
produtos. As capturas em maiores quantidades deram também novo impulso às técnicas
de conservação, único meio de as aproveitar na totalidade, sendo talvez a salga o
método mais importante (a partir da Idade do Bronze) que se seguiu à seca, à culinária e
à fumagem, já anteriormente usadas.
Todo o restante período da pré-história, até cerca de 5000 AC, é dedicado a melhoria,
desenvolvimento e aperfeiçoamento das descobertas anteriores, não havendo grandes
novidades a assinalar na relação do Homem com o pescado.
c) As Civilizações Clássicas: do Egipto ao Império Romano
Por volta do ano 5000 AC começam as Civilizações Clássicas, havendo já uma
organização das sociedades muito nítida e bem localizada em termos geográficos (figura
seguinte).
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Fig. 4 - Civilizações clássicas do Mediterrâneo: o Mundo Antigo.
O Egipto é a primeira civilização a merecer destaque. Inventores da escrita, os egípcios
deixaram pela primeira vez documentos com descrições pormenorizadas do que faziam,
estando o pescado e a pesca constantemente presentes na sua vida. Eram excelentes
navegadores, tendo desenvolvido embarcações, feitas de juncos atados, para o rio Nilo, e
também pescadores activos, tendo desenvolvido muito as técnicas e as artes de captura.
Pescavam com canas e linhas com anzóis e construíram redes com nós de excelente
qualidade. Eram também especialistas na conservação de alimentos e de seres mortos,
como o comprovam as múmias ainda hoje observáveis em diversos museus, 7000 anos
depois. Conheciam e praticavam frequentemente a salga e a secagem (a fumagem
parece ter sido desconhecida no Egipto) e muitos outros processos de preparação e
conservação de pescado. São sem dúvida uma das mais interessantes e misteriosas
civilizações de sempre, sendo ainda hoje impossível compreender muitas das técnicas
que utilizavam, por ex.º na construção das pirâmides e em conservação de cadáveres. Há
ainda numerosas provas de que conheciam bem os astros e eram capazes de calcular
distâncias astronómicas de forma incrivelmente precisa, sem que tenham sido ainda
esclarecidos todos os métodos utilizados. Faziam já uso de muitos dos princípios da
Microbiologia, ramo da Biologia que só viria a ser descoberto com a utilização do
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microscópio, inventado por Janssen e utilizado por Leevanhoek e Robert Hooke a partir
dos séculos XVI e XVII.
A China foi e é também uma das civilizações (a única não Mediterrânica) com uma
relação estreita com a pesca e o pescado. Por volta do ano 4000 AC, os chineses,
grandes pescadores e consumidores de produtos do Mar, foram os primeiros a praticar a
Aquacultura, que teve início com a produção extensiva de carpas. São também indicados
como os primeiros a criar leis para protecção dos stocks de peixes (baseadas em épocas
de defeso e zonas de interdição de pesca), o que demonstra bem que a sua dedicação
ao Mar era importante e que os conhecimentos em relação aos fenómenos da Biologia
eram já relativamente profundos. Há também referências ao uso, na China, cerca de
1100 AC, de pequenas casas feitas com gelo no Inverno, onde era guardado gelo para
utilizar no Verão, em conservação de alimentos.
De novo no mar Mediterrâneo, os fenícios são o povo seguinte a merecer atenção.
Cerca de 3000 AC, a Fenícia foi o ponto de partida para as primeiras grandes expedições
neste mar, sendo os fenícios excelentes marinheiros e pescadores. Usavam já grandes
embarcações de madeira, a remos e à vela, os birremes fenícios (assim chamados por
terem grupos de 2 remos). Foi nestas embarcações que os fenícios se tornaram
conhecedores do Mediterrâneo e deixaram marcas da sua civilização em todos os países
que hoje existem nesta área. Em Portugal, especialmente no Sul, manifestam-se ainda
hoje muitos hábitos e formas de trabalhar no Mar derivadas dos conhecimentos fenícios,
como os olhos nas pinturas laterais das proas das embarcações e o uso de alcatruzes
para a pesca dos polvos. Durante alguns séculos, o Mediterrâneo vai ser dominado por
este povo, muito à custa do seu à-vontade no meio marítimo. O consumo de pescado era
habitual, praticando-se todos os métodos tradicionais de conservação e preparação do
pescado.
Os gregos foram o primeiro povo a disputar aos fenícios a hegemonia do mar
Mediterrâneo, o que conseguiram por volta do ano 1000 AC. Foram, sem dúvida, uma
das primeiras e mais marcantes civilizações de todos os tempos, sobretudo devido à
expansão do seu império, que chegou a ocupar quase todo o Mediterrâneo e parte do
que é hoje a Europa. Eram, e ainda hoje são, um povo pescador e consumidor de
pescado, a uma escala que tinha já preocupações industriais. Havia já mercados
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dedicados ao peixe e artesãos que trabalhavam na sua conservação, principalmente na
seca e na salga. Há registos de inúmeras receitas culinárias e formas de preparar
produtos do Mar, e está demonstrada a grande representatividade destes produtos na
alimentação dos gregos. Este povo teve enorme influência na civilização moderna,
incluindo Portugal, o que é visível, p. ex.º, no grande número de palavras gregas de que
derivaram palavras portuguesas (higiene, Biologia, etc.)
Os romanos são o povo que conquistou o domínio do Mediterrâneo e de praticamente
todo o mundo civilizado. Roma e o império romano, entre ≈1000 AC e 500 DC, foram a
base geográfica de uma civilização tão extraordinária que constituiu os alicerces para
todo o desenvolvimento actual. Curiosamente, os romanos não foram, desde o início, um
povo com grande apetência pelo consumo de pescado, embora fossem excelentes
marinheiros. Mas a conquista do povo grego implicou uma aproximação entre os hábitos
dos dois povos, o que levou a que o peixe passasse a ser considerado um alimento
requintado e só acessível aos mais ricos, tornando-se numa verdadeira moda o seu
consumo. Os romanos são indicados como estando entre os primeiros a fazer uso
corrente do frio para conservar o pescado: recolhiam neve e gelo naturais e usavam-no
para aplicação directa no pescado, ainda hoje um processo simples e o mais usado para
conservar estes produtos; foram também os primeiros a utilizar o vinagre para
conservação de pescado, numa espécie de escabeche. Havia no império romano
verdadeiras "fábricas" de produtos da pesca, por ex.º salgados, sendo o atum a espécie
mais comum. Uma destas fábricas romanas artesanais de salga de peixe foi descoberta
há poucos anos em Setúbal, ao escavar alicerces de um prédio no centro da cidade. O
prédio foi construído, mas a fábrica foi posta a descoberto e, sobre ela (sobre vidros
espessos) está instalado o posto de turismo, cuja visita se recomenda (anexo 8).
Talvez tenha sido a gigantesca expansão do império romano que originou a perda do seu
controlo e finalmente a sua queda em 476 DC no Ocidente e em 1453 no Oriente.
d) O pescado na Idade Média
Após a queda do império romano, que marca o fim da Antiguidade Clássica, inicia-se um
período de vários séculos, que só acabará com o início da Idade Moderna. A Idade
Média foi a designação atribuída ao período entre 476 e 1453 DC. Neste período, a
agricultura foi a grande base de sustentação dos povos, originando o sistema feudal. O
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dono das terras vivia no seu centro, geralmente em casas grandes, e os agricultores
pagavam, com uma parte da produção, o direito de exploração. Derivados deste sistema,
aliás, ainda se usam em muitos locais, incluindo Portugal. Os primeiros séculos da Idade
Média foram dedicados à agricultura, pelo que a pesca não teve um desenvolvimento
muito grande no início, embora se continuassem a praticar as actividades já
desenvolvidas até então. Parece ter havido uma transferência dos grandes centros de
salga e processamento de pescado do Mediterrâneo para o Mar do Norte, embora os
métodos pouco tenham evoluído. Estabelecem-se as fronteiras dos primeiros países e
inicia-se a busca de terras longínquas, desconhecidas, numa época a que se pode
chamar época dos descobrimentos. Portugal contribuiu com inúmeras melhorias e
invenções relacionadas com o Mar, como a construção naval, a navegação, a cartografia
e muitas outras, o que esteve certamente na origem das inúmeras conquistas de terras
africanas, indianas e até chinesas.
Em plena Idade Média existiam já dois tipos de pesca que viriam a tornar-se nos mais
importantes de sempre: a pesca do bacalhau com aparelhos de anzol e a pesca do
arenque com redes de emalhar de meia água, já praticadas a uma escala industrial e de
forma economicamente planeada. É por isso que estas são actualmente, sem dúvida, as
espécies para as quais existem mais técnicas diferentes de preparação e conservação:
são conhecidas e praticadas há cerca de 500 anos! Esta foi a era dos artesãos, do
trabalho especializado e da aprendizagem familiar (daí as ruas da cidade do Porto, ainda
hoje existentes, como a rua dos Caldeireiros, a rua dos Correeiros, etc., dedicadas a
artesãos).
e) O pescado na Idade Moderna e na Idade Contemporânea
Convencionou-se chamar Idade Moderna ao período entre 1453 e 1789 e Idade
Contemporânea desde 1789 até hoje. Aparecem em primeiro lugar as máquinas que
simplificavam o trabalho artesanal, seguidas pela invenção do primeiro “motor”, a
máquina a vapor, capaz de substituir o esforço humano. Como em muitas invenções, foi
um trabalho demorado e com a colaboração de várias pessoas, iniciado nos finais do
século XVII. Como as primeiras máquinas a vapor eram pesadíssimas, trabalhavam
apenas no local em que eram construídas; só mais tarde se foram tornando mais
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eficientes, leve e pequenas, passando a ser móveis e aplicáveis primeiro a locomotivas,
depois a navios de carga, a navios de pesca e a automóveis.
Note-se que a sociedade vai ser totalmente modificada: os artesãos dão lugar aos
operários, necessários para o trabalho com as máquinas, nas fábricas; a família, que
antes desenvolvia o trabalho em casa, passa a ter que prescindir de um ou mais
elementos para realizar o trabalho na fábrica, fora de casa. Estão criadas as condições
para a mudança radical que se vai seguir e que ainda hoje se processa. Os principais
passos dados desde o séc. XVII na área do pescado e em áreas com ele relacionadas
são apresentados cronologicamente na tabela seguinte.
Dada a preferência dos consumidores pelo pescado fresco, desenvolveram-se esforços
no sentido de tornar possível a presença deste produto longe da costa, o que implicou,
por um lado, a comercialização do pescado vivo, muito comum no Oriente, e o estudo de
métodos de conservação em fresco, principalmente na Europa e na América.
As invenções e descobertas que vinham a ser aplicadas, algumas desde a pré-história,
têm agora todas as condições para se desenvolver, praticamente sem limites de
dimensão ou campo de acção. As pescas e a utilização do pescado não são excepções,
tendo sido inventado inúmeros utensílios, máquinas e instrumentos para esta actividade.
Alguns exemplos são as máquinas de fabrico de gelo, as instalações de refrigeração e de
congelação, os instrumentos para avaliação da qualidade, a informatização da detecção
da captura e até da venda de pescado, hoje já possível na Internet, etc. Em 40 anos,
passa-se de um total de pescado capturado de 5 milhões de ton/ano (fim do séc. XIX)
para 20 milhões de ton/ano (em 1940); foi atingido um máximo de 101 milhões de ton/ano
em 1993; hoje capturam-se entre 70 e 80 milhões de ton/ano.
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Tab. 1 - Alguns acontecimentos relevantes para a História do Pescado, do séc. XVII aos nossos dias.
ANO ACONTECIMENTO
1681 Denis Papin apresenta o “digestor” (panela de pressão), para cozer carne e ossos
1765 James Watt torna-a funcional e apresenta a 1ª máquina a vapor
1807 Fulton, Watt e Livingstone instalam a 1ª máquina a vapor num navio
1810 Nicolas Appert conserva alimentos em frascos fechados e fervidos
1810 Peter Durand inventa a folha de Flandres para latas de conservas
1824 Colin instala em França a 1ª fábrica de conservas de sardinha
1838 Surge o 1º navio de pesca a vapor
1852 É passada a licença de funcionamento do 1º autoclave
1853 Fundação da fábrica de conservas Ramirez em Portugal (só produzia atum)
1860 Louis Pasteur conserva alimentos por aquecimento a 60 ºC/1 hora (Pasteurização)
1870 1ª crise das conservas francesas (devido à Argélia)
1875 Há já em França 160 fábricas a funcionar, na Bretanha
1880 Início das conservas em Portugal em grande escala
1885 2ª crise das conservas francesas (devida a Portugal)
1890 Alemães constroem 1ºs portos exclusivamente de pesca
1895 Ingleses inventam as portas de arrasto
1900 Carl Benz e Rudolph Diesel inventam os motores de explosão (gasolina e gasóleo)
1902 Máquinas de soldar substituem solda manual das latas
1907 Surgem as cravadoras, que substituem gradualmente a soldadura
1914 1ª Grande Guerra até 1918, obrigando ao desenvolvimento das conservas
1923 Início das conservas em Marrocos
1930 1ºs navios de pesca em aço, c/ motores Diesel, cabos de aço e instalações frigoríficas
1930 É criada a nova indústria dos congelados pelo americano Clarence Birdseye
1939 2ª Grande Guerra até 1945, obrigando de novo ao desenvolvimento das conservas
1940 Início da era dos antibióticos (isolamento da penicilina)
1940 Início do deslocamento das conservas para o Sul e para África
1950 Início da congelação doméstica
1960 Surgem os tratamentos UHT para o leite (135 ºC/2-8 s)
1970 Surgem os alimentos pré cozinhados
1980 Início da síntese de novos alimentos
1990 Vulgarização do forno de microondas doméstico
f) O futuro do pescado na alimentação humana
A capacidade do Homem para aumentar as suas capacidades de produção tem sido
crescente, o que tem levantado alguns problemas impensáveis há alguns anos. Embora a
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poluição fosse reconhecida e preocupante no século passado, ninguém pensaria que
poderia pôr em risco a sobrevivência do Homem na Terra; os recursos marinhos
pareciam longe de estar esgotados; acreditou-se que a tecnologia e a ciência
resolveriam, atempadamente, os problemas que fossem surgindo das rapidíssimas
mudanças por elas mesmas induzidos. Mas surgem as primeiras vozes de alarme, que
levaram a que, hoje em dia, todas as acções do Homem envolvam preocupações
ecológicas e de respeito pelo Ambiente, afinal o único suporte possível para a sua própria
vida.
O pescado é considerado um dos alimentos mais promissores para o futuro da
humanidade, devido ao seu crescimento relativamente rápido, à sua excelente qualidade
nutricional, ao seu custo menos elevado, à sua relação directa com uma melhor saúde e
também, infelizmente, aos problemas que têm surgido com outros alimentos fornecedores
de proteínas (como a BSE da carne de bovino, as viroses das aves, as doenças
associadas aos lípidos de alguns animais terrestres, etc.). É assim previsível que o
pescado venha a ter um papel cada vez mais relevante na dieta da humanidade; e, se há
dificuldades na gestão e aproveitamento correctos do Mar e dos seus recursos, então o
estudo das soluções será a única saída possível. O futuro passará, inevitavelmente, por
um melhor aproveitamento dos recursos existentes, por menores desperdícios, pela
busca de novas espécies, pelo desenvolvimento da aquacultura, pela criação de novos
produtos e, de forma geral, pelo uso da ciência em favor da vida no nosso planeta. A este
respeito, vale a pena ler uma carta do Comandante Jacques-Yves Cousteau (figura
seguinte), escrita a bordo do Calypso e dirigida a toda a Humanidade.
P. Vaz-Pires
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Fig. 5 - Carta do Comandante Cousteau à Humanidade (in Segredos do Mar, 1978).
P. Vaz-Pires
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III - O PESCADO COMO MATÉRIA-PRIMA
a) Espécies
As espécies que fazem parte da definição de pescado são muito variáveis
geograficamente, culturalmente, em épocas diferentes, entre indivíduos diferentes e até
mesmo para o mesmo indivíduo, em alturas diferentes. Em Portugal, as principais
espécies capturadas são a sardinha, o carapau, o peixe-espada, o peixe-espada preto, a
cavala, a pescada e a sarda, mas consomem-se inúmeras outras espécies, por vezes
mesmo inexistentes em águas portuguesas, devido à moderna facilidade de transporte
internacional e até intercontinental. Optou-se por apresentar, nos anexos 9 e 10, listas o
mais completas possível de todas as espécies de pescado comuns em Portugal, no
anexo 9 por ordem alfabética do nome vulgar em português e com o correspondente
nome científico (latim) e no anexo 10 de forma inversa.
b) Caracterização geral
Convém relembrar as características morfológicas e fisiológicas gerais dos peixes,
moluscos e crustáceos, já estudadas em disciplinas anteriores; apresentam-se, nas
figuras seguintes, resumos da posição sistemática e das características mais importantes
dos diferentes grupos taxonómicos (apenas se apresentam os que contêm as principais
espécies de pescado em Portugal). Esta revisão será especialmente útil para melhor
compreensão da parte dedicada ao processamento do pescado.
P. Vaz-Pires
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PEIXES
filo
sub filo
super classe
classe
sub classe
ex.º
chordata verte-
brata agnatha cephalaspi
domorphi lampreia
gnathos-
tomata chondri-chthyes
elasmo-branchi
tubarão raia
ostei-
chthyes actino-pterygii
esturjão sardinha enguia
Cordados - c/ corda dorsal ou notocórdio.
Vertebrados - crânio cartilagíneo ou ósseo; c/ vértebras (ou arcos vertebrais); geral/ cabeça, tronco e abdómen.
Agnatas - s/ maxilas nem apêndices pares.
Ciclóstomos - boca circular suctória, s/ escamas, 6-14 pares de brânquias.
Gnatóstomos - c/ maxilas e geral/ c/ apêndices pares.
Peixes - grupo s/ taxon correspondente; barb. pares; c/ brânquias, pele c/ escamas.
Condríctios - esqueleto cartilagíneo; escamas placóides; 5-7 pares de brânquias, em câmaras separadas.
Osteíctios - esqueleto total ou parcial/ ósseo; escamas ciclóides ou ctenóides; 4 pares de brânquias numa cavidade comum.
Elasmobrânquios - inclui os grupos conhecidos como seláceos (tubarões e raias) e holocéfalos (quimeras).
Fig. 6 - Posição sistemática dos principais peixes e características gerais dos grupos taxonómicos.
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CRUSTÁCEOS
filo
sub filo
classe
ordem
infra ordem
ex.º
arthropoda crustacea cirripedia craca
perceve malacos-
traca stomatopoda camarão
decapoda macrura lagostim
lagosta lavagante
anomura casa-
alugada brachiura caranguejo
Artrópodes - corpo geral/ segmentado, dividido em cabeça, tórax e abdómen (por vezes fundidos), c/ apêndices articulados. Exosqueleto rígido c/ quitina.
Crustáceos - cabeça formada por fusão de 5 segmentos, c/ 2 pares de antenas,1 par de mandíbulas e 2 pares de maxilas; tórax c/ 2-60 segmentos; telson na extremidade do corpo; geral/ c/ carapaça que cobre a cabeça e parte do tórax; respiram por brânquias.
Cirrípedes - animais muito modificados; carapaça transformada numa concha calcária (formada por placas), que envolve o corpo; fixados a substratos rígidos.
Malacostráceos - corpo geral/ c/ carapaça; geral/ cabeça formada p/ 5 segmentos, tórax p/ 8 e abdómen p/ 6.
Decápodes - apêndices torácicos geral/ c/ 1 só ramo; 5 pares de patas locomotoras.
Macruros - abdómen grande e estendido, c/ tegumento calcificado.
Anomuros - abdómen em regra c/ tegumento mole.
Braquiuros - abdómen c/ tegumento calcificado, curto e dobrado sobre o corpo.
(Marisco - nome vulgar dado aos crustáceos e moluscos, exceptuando os cefalópodes). Fig. 7 - Posição sistemática dos principais crustáceos e características dos diferentes grupos taxonómicos.
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MOLUSCOS
filo
classe
sub classe
ordem
ex.º
mollusca gastropoda prosobranchia búzio
lapa pulmonata caracol
terrestre bivalvia lamellibranchia amêijoa
mexilhão cephalopoda coleoidea sepiida choco theutida lula octopoda polvo
Moluscos - não segmentados, c/ simetria bilateral; corpo coberto por um manto que segrega uma concha de 1, 2 ou 8 partes (pode ser interna, reduzida ou não existir); pé ventral musculoso modificado que permite a reptação, a natação ou enterrar-se.
Gastrópodes - concha univalve geralmente espiral, podendo estar reduzida ou faltar; cabeça distinta; pé desenvolvido, achatado; massa visceral, enrolada na concha, apresentando uma torção de 180º (no sentido contrário aos ponteiros do relógio) em relação à cabeça e ao pé.
Lamelibrânquios - concha c/ 2 valvas laterais, geral/ simétricas, unidas por ligamento e articuladas, que fecham c/ 1 ou 2 músculos adutores; geral/ sifões no manto p/ controlo da entrada e saída de água da cavidade paleal.
Cefalópodes - concha externa, interna ou inexistente; cabeça de grandes dimensões; olhos desenvolvidos, boca com mandíbulas córneas e rádula, rodeada por 8 ou 10 tentáculos.
Decápodes - 10 tentáculos. S/ taxon equivalente; Corresponde à ordem sepiida + theutida
Octópodes - 8 tentáculos.
Fig. 8 - Posição sistemática dos principais moluscos e características dos diferentes grupos taxonómicos.
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c) Composição
A composição do pescado é muito variável consoante p. ex.º a espécie, o indivíduo, a
idade, o sexo, o ambiente e a época do ano. Sendo os oceanos um meio muito
diferenciado (desde os mares gelados dos pólos às zonas tropicais), não surpreende que
os organismos nele encontrados sejam também muito diferentes.
O pescado é composto essencialmente por água (variando entre 60-70 % nos peixes
mais gordos e 80- 85 % nos mais magros), lípidos (entre 0.1 e 25 %) e proteínas (cerca
de 10 % nos moluscos, entre 15 a 23 % no pescado em geral, incluindo o azoto não
proteico). É importante referir que a percentagem de água + lípidos é bastante constante
no pescado, rondando os 80 %. Existem ainda hidratos de carbono (0.01 a 0.7 %),
vitaminas (essencialmente as lipossolúveis A, D, E e K e as vitaminas B1, B12 e C) e sais
minerais (entre 0.9 a 2 %, principalmente Na, K, Ca, Fe, e P).
A água tem como funções servir de meio aquoso para as reacções químicas, é um
elemento estrutural e um meio de transporte extracelular, permite regular o equilíbrio
interno e serve como diluente e meio de excreção.
A fracção lipídica é a mais variável de todas, em especial sazonalmente. Os lípidos
funcionam como reserva de energia, pelo que nas épocas de abundância alimentar são
acumulados (em muitas espécies, p. ex.º nos pequenos pelágicos, na Primavera e Verão;
relembre-se o ditado popular portuense “sardinha no S. João (24 Junho) pinga no pão”),
sendo utilizados nas épocas de alimentação menos abundante. Surge assim a
classificação em peixes gordos (>5 %), semi-gordos ou intermédios (entre 2 e 5 %) e
magros (< 2 %), nem sempre exactamente com estes valores. Nos peixes magros, os
lípidos são acumulados principalmente no fígado; nos gordos, entre as camadas
musculares e sob a pele.
Algumas das funções principais são a acumulação e fornecimento de energia (9 cal/g),
servirem de veículo para as vitaminas lipossolúveis (A, D, E e K) e auxiliarem a absorção
de cálcio. Os lípidos são os principais responsáveis pelo sabor e propriedades físicas do
pescado e de muitos outros alimentos. Os lípidos mais importantes são os triglicerídeos
(compostos por glicerol e 3 ácidos gordos). No pescado, estes ácidos gordos são em
grande parte insaturados e de cadeia longa, muitas vezes mesmo polinsaturados
(conhecidos por PUFA, de poly-unsaturated fatty acids), ou seja, possuem ligações
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duplas em mais do que um local, o que os coloca entre os melhores lípidos para a saúde
humana, mas os torna muito vulneráveis à degradação, principalmente por oxidação. A
degradação lipídica origina ácidos gordos de cadeia mais curta, responsáveis por cheiros
intensos.
O colesterol é um lípido especial, com um grupo álcool, que, embora seja essencial, está
associado a alguns perigos quando presente no sangue em excesso, principalmente o
risco de doenças coronárias e arteriosclerose. O nível sanguíneo de colesterol aumenta
com a ingestão de alimentos como gema de ovo, azeite e manteiga, ricos neste
composto, mas diminui com a ingestão de gorduras insaturadas. A percentagem de
colesterol é maior nos crustáceos, e menor nos moluscos, em relação aos peixes.
As proteínas são compostas por aminoácidos, tendo funções plásticas (consistência e
crescimento), de defesa (anticorpos), de controlo (enzimas) e de regulação do equilíbrio
ácido-base; fornecem 4 cal/g. No pescado, assumem particular relevância as proteínas
musculares, principais constituintes da parte edível. Não são sintetizadas, tendo portanto
que ser ingeridas no alimento. As proteínas do pescado são consideradas de elevado
valor biológico, uma vez que as quantidades de proteínas ingeridas e formadas são muito
próximas (são assim muito bem aproveitadas pelo nosso organismo) e o pescado é rico
em alguns aminoácidos essenciais. Os compostos azotados não proteicos representam
entre 9 a 14 % do azoto total do músculo branco, entre 14 e 18 % do músculo vermelho
ou escuro e entre 34 e 38 % nos peixes cartilagíneos, sendo os principais a ureia, a
trimetilamina (quase só em peixes marinhos) e a histidina (muito abundante no músculo
escuro).
Os hidratos de carbono têm como funções servir como rápida fonte de energia (4 cal/g),
em especial para o músculo e para o cérebro, estando presentes em quantidades muito
reduzidas no pescado. Em moluscos como o mexilhão, a percentagem de hidratos de
carbono situa-se entre 1 e 3 %, mas nos peixes é sempre muito mais reduzida,
concentrando-se no fígado na forma de glicogénio.
As vitaminas, principalmente as lipossolúveis A e D, estão também presentes,
normalmente no fígado do pescado; as hidrossolúveis são mais resistentes à
degradação, e por isso também aos processos culinários, sendo muito variável a sua
presença no pescado.
P. Vaz-Pires
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Os sais minerais mais importantes no músculo do pescado são P, K, Na, Ca, Mg, S, Cl,
Fe, Cu, Mn, Mo, Zn, N e Co; os peixes marinhos têm ainda Br e I. Têm função plástica
(principalmente o Ca) e auxiliam a acção das vitaminas, enzimas e hormonas.
Estas características gerais da composição do pescado, que se apresentam na tabela
seguinte, devem ser sempre tidas como aproximadas e muito variáveis, mas são
extremamente importantes para a Tecnologia do Pescado.
Em resumo, pode dizer-se que o pescado é um componente importante, ou mesmo
indispensável, de dietas equilibradas e variadas, principalmente pelo seu teor elevado em
proteínas, lípidos insaturados, vitaminas e sais minerais.
Tab. 2 - Composição geral da parte edível de algumas espécies de pescado.
Nome vulgar Nome científico água %
lípidos %
proteínas %
energia kcal/100g
P. magros --- ≈78 ≈2.0 ≈18 ≈80 bacalhau Gadus morhua 78-83 0.1-0.9 15-19 74 pescada Merluccius merluccius 80 0.4-1.0 18-19 77
carpa Cyprinus carpio 78-80 2.0-2.2 18-19 93 verdinho Micromesistius poutassou 79-80 1.9-3.0 14-16 84 rodovalho Scophtalmus rhombus 76 2.5 19.8 104
solha Pleuronectes platessa 81 1.1-3.6 16-18 94 P. gordos --- ≈70 ≈10 ≈18 ≈150 sardinha Sardina pilchardus 60-80 2-18 17-20 variável
sarda Scomber scombrus 60-74 1-24 16-20 variável enguia Anguilla anguilla 60-71 8-31 14.4 variável
tamboril Lophius piscatorius 68 7.5 23.2 163 congro Conger conger 80 0.2-11.9 19.1 80 atum Thunnus spp. 71 4.1 25.2 139
Crustáceos --- ≈68 ≈12 ≈15 ≈180 caranguejo Cancer pagurus 70 7.5 13.1 124
lagosta Homarus vulgaris 64 14.5 14.5 196 camarão Palaemon serratus 71 1.3 22.8 106 Moluscos --- ≈78 ≈2.0 ≈14 ≈80
ostra Ostrea edulis 77-83 1.1-2.5 8.6-12.6 86 mexilhão Mytilus edulis 80-84 0.8-2.3 8.9-11.7 63 berbigão Cardium edule 79-82 0.3-4.8 9.1-9.9 86
vieira Pecten maximus 73-79 0.5-1.0 19.5 77 lula Loligo spp. 78 1.1-1.5 15-19.2 86
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27
IV - DEGRADAÇÃO DO PESCADO
a) Definições
É costume dividir as alterações que o pescado sofre após a morte em 4 tipos diferentes,
embora esta classificação seja mais didáctica do que científica, como adiante se verá:
temos assim as alterações sensoriais, químicas, físicas, microbiológicas (considera-
se ainda, muitas vezes separadamente, a oxidação lipídica, embora possa ser incluída,
p. ex.º nas alterações químicas e sensoriais).
• Alterações sensoriais são as que podem ser detectadas pelos órgãos dos sentidos
humanos; representam a soma de todas as outras e são as que o consumidor comum,
sem auxílio de instrumentos e mesmo sem tocar no produto, pode usar no dia-a-dia.
Exemplos são o aparecimento de cheiros desagradáveis ou a perda de transparência dos
olhos dos peixes.
• Alterações químicas são as verificadas por análises químicas a compostos que sofrem
modificações, na sua quantidade, ao longo da degradação. Há compostos que são
degradados, outros que se formam; desde que haja alterações relacionáveis com o
desenrolar da degradação, poderão servir de método indicador da qualidade (ou, pelo
menos, de algumas “qualidades”) do pescado. Por exemplo, o pescado, no momento da
morte, tem normalmente um elevado teor de ATP, que se gasta rapidamente em minutos
ou horas.
• Alterações físicas são as que se verificam em parâmetros físicos, mensuráveis com
instrumentos apropriados. Exemplos: a resistência eléctrica dos tecidos e a rigidez do
músculo diminuem gradualmente até à degradação avançada do pescado.
• Alterações microbiológicas são as induzidas por microrganismos existentes no
pescado, quer naturalmente, quer através de contaminações posteriores à sua captura.
Por exemplo, o número total de bactérias geralmente aumenta durante a degradação do
pescado.
• Alterações lipídicas por oxidação, embora também sejam alterações químicas, são
frequentemente consideradas à parte, já que acontecem principalmente em peixes
P. Vaz-Pires
28
gordos, sendo neste caso (ao contrário dos peixes magros) as principais causadoras de
degradação.
Como facilmente se adivinha, todas estas formas de degradação estão interligadas e não
são facilmente distinguíveis umas das outras. Por exemplo, o crescimento bacteriano
(alteração microbiológica) provoca cheiros desagradáveis (alteração sensorial),
amolecimento do músculo (alteração física) e degradação proteica (alteração química).
b) Autólise
Há nos animais aquáticos, antes da morte, mecanismos que os defendem das suas
próprias enzimas. As enzimas que o pescado segrega, e também as que os
microrganismos nele presentes produzem, degradam os alimentos ingeridos, mas os
tecidos das paredes do tubo digestivo mantêm-se íntegros. Envolvidos neste processo de
defesa estão a própria constituição das mucosas de revestimento, bem como outros
sistemas, entre os quais se conta o sistema imunitário, que actuam em caso de invasão.
Tudo se altera quando o pescado morre. A partir deste momento, a estrutura das paredes
do tubo digestivo (bem como todas as outras) vão alterar-se, perdendo gradualmente as
suas capacidades de constituir uma barreira difícil de ultrapassar. O sistema imune pára
de funcionar e as enzimas presentes vão adquirindo uma maior capacidade de digestão e
invasão dos tecidos circundantes. A este processo de auto-digestão do pescado chama-
se autólise; é provocada por enzimas, das quais uma grande parte é constituída por
enzimas do próprio pescado e outra parte, normalmente menor, por enzimas produzidas
por microrganismos nele presentes no momento da morte.
c) Putrefacção
Até ao correspondente a 5 ou 6 dias em gelo após a morte, os microrganismos não
mostram uma grande capacidade para crescer nem para causar a degradação do
pescado (pelo menos, quando comparada com a acção enzimática), estando, nesta 1ª
fase da degradação, em fase lag, de atraso ou de latência. Quer isto dizer que estão em
fase de adaptação ao novo meio (pescado morto), pelo que há que adaptar os
mecanismos de sobrevivência e crescimento à falta de oxigénio, à falta da chegada
regular de nutrientes, à menor abundância de água disponível, à falta de remoção de
P. Vaz-Pires
29
produtos de excreção, etc. Passada esta 1ª fase lag, os microrganismos entram na
chamada fase log ou logarítmica, ou seja, crescem de forma exponencial e passam a ser
o principal motivo da degradação. Daqui em diante (≈ 6º dia em gelo) os microrganismos
vão ser sempre o principal motivo da degradação.
Fig. 9 - a) curva de crescimento microbiológico típica; b) degradação enzimática e microbiológica do pescado
(adaptado respectivamente de Adams & Moss, 1995 e de Huss, 1988).
d) Principais factores da degradação
Muitos autores consideram os microrganismos os principais responsáveis pela
degradação do pescado, embora a sua acção só se torne evidente aproximadamente a
partir do 6º dia em gelo. Isto porque as alterações enzimáticas da autólise têm início
principalmente a partir do tubo digestivo, que muitas vezes é retirado através da
evisceração, e também porque, em termos de propriedades organolépticas, a autólise
não é tão evidente como a degradação microbiana. No entanto, o motivo principal talvez
seja o facto de ser muito mais difícil controlar os efeitos das enzimas do que os efeitos
dos microrganismos (embora, paradoxalmente, eles actuem muitas vezes produzindo
enzimas!).
Os microrganismos são, independentemente do motivo, o factor mais estudado na
investigação da degradação do pescado nos últimos anos. Há, portanto, que ter bem
P. Vaz-Pires
30
presentes as necessidades que os microrganismos apresentam, já que é nelas que se
baseiam os métodos que nos permitem conservar os alimentos. Se evitarmos que os
microrganismos se desenvolvam, o pescado durará mais tempo sem se degradar. Estas
necessidades são basicamente as mesmas de qualquer ser vivo: água, nutrientes e
temperatura adequada são as principais, seguindo-se-lhes outras condições físicas e
químicas do meio, que têm obviamente de ser compatíveis com a vida. São os seguintes
os factores que afectam o desenvolvimento de microrganismos associados a alimentos.
Tab. 3 - Factores que afectam o desenvolvimento de microrganismos associados a alimentos (adaptado de Adams & Moss, 1995).
TIPOS DE FACTORES FACTORES
nutrientes
pH e poder tampão
INTRÍNSECOS potencial redox
(limitações do substrato) actividade da água
compostos antimicrobianos
estruturas antimicrobianas
humidade relativa
EXTRÍNSECOS temperatura
(limitações ambientais) atmosfera gasosa
taxa de crescimento específica
sinergismo (factores potenciam-se mutuamente)
IMPLÍCITOS antagonismo (factores prejudicam-se mutuamente)
comensalismo (1 factor beneficia doutro, sem o prejudicar)
Em seguida, são discutidos apenas alguns destes factores.
•••• Água
“Todos os seres vivos necessitam de água” é obviamente verdade; a água tem que estar
presente, mas também numa forma disponível, que possa ser utilizada pelas células. Por
P. Vaz-Pires
31
exemplo, num produto congelado existe água, mas está no estado sólido, na forma de
cristais, pelo que, embora presente, não está disponível para ser utilizada pelas células
vivas. Existe uma forma de medir a disponibilidade da água, chamada actividade da água
(aw), e que não é mais do que o quociente entre a pressão parcial da água na atmosfera
em equilíbrio com o alimento (P) e a pressão parcial da água na atmosfera em equilíbrio
com a água pura à mesma temperatura (P0):
aw = P/P0
Trata-se de uma medida que permite compreender o movimento da água do ambiente
para o citoplasma e vice-versa, cujos valores variam entre 0.0 e 1.0 (sendo aw = 1.0 a
disponibilidade máxima possível), sem unidades por ser um quociente entre pressões.
Como é visível no gráfico da figura seguinte, actividades da água inferiores a 0.7
impedem o crescimento de bactérias, daí que seja possível conservar alimentos por
métodos como a secagem, a salga, a congelação, etc.
De forma geral, qualquer processo de diminuir a quantidade e/ou a disponibilidade de
água de um alimento permite atrasar a actividade das enzimas (também elas
dependentes da água para actuar) e o desenvolvimento de microrganismos e,
consequentemente, aumentar o tempo de conservação desse alimento.
•••• Nutrientes
Como qualquer ser vivo, os microrganismos usam os alimentos como fontes de nutrientes
e energia. A partir do meio envolvente, usam elementos químicos para construir a sua
biomassa, extraem moléculas que não sintetizam (e que são essenciais para o
crescimento) e utilizam a parte do substrato que pode ser usada como fonte de energia.
Se houver falta de algum nutriente essencial, ou mesmo se um nutriente não essencial
mas necessário for limitado, haverá atraso ou impossibilidade de crescimento. De uma
forma geral, normalmente não há falta de nenhum nutriente no pescado, ao contrário do
que acontece em alguns outros alimentos (p. ex.º na clara do ovo, não existem
determinados nutrientes, o que constitui uma forma de defesa contra microrganismos). O
pescado é assim um excelente alimento, equilibrado e rico em variados nutrientes
essenciais, pelo que os microrganismos não têm qualquer dificuldade de crescimento
P. Vaz-Pires
32
neste meio. Trata-se até de um dos motivos que justificam o pescado ser um dos
alimentos mais perecíveis, senão o mais perecível de todos.
Fig. 10 - Gráfico da actividade da água versus velocidade das reacções de degradação
dos alimentos, à temperatura de 20 ºC.
•••• Temperatura
De forma geral, pode haver crescimento microbiano entre -8 ºC e 100 ºC (à pressão
atmosférica normal). No entanto, cada bactéria cresce apenas numa gama de
temperaturas de cerca de 35 ºC, sendo possível definir uma temperatura mínima, uma
temperatura óptima e uma temperatura máxima de crescimento.
P. Vaz-Pires
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Fig. 11 - Efeito da temperatura na taxa de crescimento
(adaptado de Adams & Moss, 1995).
Tab. 4 - Grupos de microrganismos de acordo com as suas temperaturas de crescimento.
GRUPO TEMPERATURA DE CRESCIMENTO (ºC)
mínima óptima máxima
PSICRÓFILOS
(obrigatórios) -5 a +5 +12 a +15 +15 a +20
PSICROTRÓFICOS
(psicrófilos facultativos) -5 a +5 +25 a +30 +30 a +35
MESÓFILOS +5 a +15 +30 a +40 +40 a +47
TERMÓFILOS +40 a +45 +55 a +75 +60 a +90
De acordo com as correspondentes temperaturas de crescimento, é possível classificar
os microrganismos em grupos, como é mostrado na tabela anterior.
Em microbiologia alimentar, os psicrotróficos e os mesófilos são frequentemente os
mais importantes. Os psicrotróficos incluem muitos dos microrganismos capazes de
degradar alimentos a temperaturas de refrigeração e os mesófilos incluem os de origem
humana ou animal, muitos deles capazes de causar doenças: os microrganismos
patogénicos.
P. Vaz-Pires
34
Note-se ainda que os mesófilos crescem mais depressa à sua temperatura óptima do que
os psicrófilos, daí que a degradação dos alimentos seja muito mais rápida a temperaturas
perto de 37 ºC do que a temperaturas mais baixas (p. ex.º, 13 ºC).
Os psicrófilos não crescem acima de 20 ºC, pelo que estão presentes apenas em
ambientes de temperaturas baixas (p. ex.º, regiões polares e oceanos). Os psicrotróficos
têm uma distribuição muito mais alargada, já que podem crescer até 35 ºC, daí que sejam
este últimos a justificar a maior preocupação em conservação de alimentos.
Os termófilos são muito menos importantes para a Tecnologia Alimentar, mas
constituem, por vezes, uma preocupação muito grave. É o caso dos esporos termófilos da
bactéria mesófila Clostridium botulinum, que podem resistir a temperaturas até cerca de
120 ºC. É tal o seu potencial patogénico (esta bactéria produz a mais mortal toxina
conhecida: a dose letal para adultos é da ordem de apenas 10-8 g!) que servem de base
para o cálculo dos tratamentos térmicos a efectuar, quando se pretende esterilizar o
produto pelo calor (p. ex.º, nas conservas "enlatadas").
Em condições ideais, as bactérias mesófilas conseguem multiplicar-se e crescer de novo
em cerca de 20 minutos, pelo que não é difícil prever o número de bactérias aproximado
ao longo do tempo (assumindo que cada bactéria mesófila se divide em duas em 20 min
a 37 ºC) (tabela seguinte). Repare-se que bastam cerca de 8-9 horas para que, de 1
bactéria inicial, se obtenham cerca de 107-108 bactérias! Este é o nº de bactérias
associado normalmente a tecidos musculares (carne ou peixe) considerados impróprios
para consumo, devido à sua degradação evidente e avançada.
P. Vaz-Pires
35
Tab. 5 - Nº de bactérias mesófilas ao longo do tempo, assumindo gerações de 20 min, a 37 ºC.
TEMPO BACTÉRIAS
min h
nº
ordem de grandez
a 0 0 1 100
20 2 40 4 60 1 8 80 16 101
100 32 120 2 64 140 128 102 160 256 180 3 512 200 1024 103 220 2048 240 4 4096 260 8192 280 16384 104 300 5 32768 320 65536 340 131072 105 360 6 262144 380 524288 400 1048576 106 420 7 2097152 440 4194304 460 8388608 480 8 16777216 107 500 33554432 520 67108864 540 9 134220000 108 560 268440000 580 536870000 600 10 1073700000 109
•••• Humidade relativa
É essencialmente uma medida da actividade da água na fase gasosa, pelo que está em
estreita relação com a actividade da água do alimento. Basicamente, interessa que a
humidade relativa seja elevada durante o armazenamento de alimentos com elevado teor
de humidade, senão estes irão secar; pelo contrário, se houver uma baixa actividade da
água no alimento, há que guardá-lo em humidade relativa baixa, caso contrário ele
absorverá água do ambiente circundante (partindo do princípio de que não existe
nenhuma barreira impermeável à água).
P. Vaz-Pires
36
•••• Atmosfera gasosa
Geralmente, o oxigénio, que representa 21% da composição da atmosfera terrestre, é o
gás mais importante em contacto com os alimentos e o que mais influencia as suas
características de oxidação/redução. É o aceitador final de electrões dos organismos
aeróbios, que têm assim mais tendência a desenvolver-se nas superfícies dos alimentos,
onde a atmosfera é a normal. Organismos anaeróbios têm tendência para desenvolver-se
apenas em potenciais redox negativos, muitas vezes não tolerando a presença de
oxigénio. Os anaeróbios aproveitam de forma menos eficiente a energia do meio
circundante, o que torna preferível conservar, de forma geral, os alimentos em
anaerobiose (conservam-se mais tempo). No entanto, estes organismos crescem em
condições muito adversas, como as camadas internas dos alimentos e em alimentos
armazenados sob vácuo ou enlatados, e incluem organismos patogénicos muito
importantes (p. ex.º, Clostridium botulinum), pelo que representam uma preocupação
constante em processamento alimentar.
Em resumo, através de alterações nos factores que permitem o crescimento dos
microrganismos é possível influenciar o seu tempo de conservação, já que são eles os
principais responsáveis pela degradação alimentar do pescado.
e) História geral da degradação
Importa salientar que a degradação do pescado é um fenómeno complexo, com um
número elevado de acontecimentos diferentes a ocorrer em simultâneo e a influenciar-se
mutuamente.
A degradação começa no momento da morte, embora alguns acontecimentos que têm
lugar antes da morte tenham influência na forma como a degradação se processa.
A morte implica paragem da circulação sanguínea e dos sistemas de defesa, ficando
assim interrompido o fluxo de oxigénio e de outros compostos, bem como a regulação
normal do organismo vivo.
P. Vaz-Pires
37
Os primeiros acontecimentos após a morte são os relacionados com o ATP e seus
produtos de decomposição. No organismo vivo, o ATP representa uma fonte
omnipresente de energia para numerosas reacções, e é continuamente regenerado a
partir de ADP e creatinina-fosfato, existentes no músculo. Após a morte, o ATP existente
é gasto rapidamente; quando atinge níveis muito baixos, a rigidez cadavérica começa.
O glicogénio presente no músculo é outro importante factor a considerar. O músculo do
pescado contém geralmente níveis de glicogénio menores do que o dos mamíferos, pelo
que o pH final do pescado é mais elevado, devido à menor produção de ácido láctico:
Glicogénio ↓
Glicose ________________|________________ ↓ ↓
(aerobiose) (anaerobiose)
CO2 + H2O Ácido láctico
36 ATP ← ← ← ← ← ADP + fosfato → → → → → 2 ATP
Fig. 12 - Degradação aeróbica e anaeróbica do glicogénio no músculo do pescado (adaptado de Huss, 1988).
Uma vez que há paragem da chegada de oxigénio ao músculo após a morte, a glicólise
dá-se maioritariamente em condições anaeróbicas, produzindo-se ácido láctico, o que faz
diminuir o pH. Ao longo da degradação do pescado dá-se geralmente o abaixamento do
pH de cerca de 7.0 para 6.2-6.5, enquanto nas carnes este abaixamento é maior, para
cerca de 5.5.
Quanto mais baixo o pH do músculo, menor será o crescimento bacteriano (efeito
desejável) mas também menor será a capacidade de retenção de água das proteínas
musculares (efeito indesejável), pelo que interessa que haja um equilíbrio entre estes dois
efeitos do abaixamento do pH.
P. Vaz-Pires
38
A cadeia de degradação do ATP é geralmente a seguinte:
ATP → ADP → AMP → IMP → HxR → R � � � � �
P P NH3 P Hx
(ATP=adenosina trifosfato; ADP=adenosina difosfato; AMP=adenosina monofosfato; IMP=inosina monofosfato; HxR=inosina; Hx=hipoxantina; R=ribose; P=fosfato).
Fig. 13 - Cadeia mais vulgar de degradação do ATP.
De modo geral, os açúcares, embora presentes em quantidades muito pequenas,
desempenham um papel importante na degradação. Para além de favorecerem o
crescimento bacteriano, podem reagir com os compostos proteicos e dar origem ao
acastanhamento ou escurecimento da cor do músculo (reacções de Maillard ou
escurecimento não enzimático).
As enzimas proteolíticas (proteases) são as responsáveis pela degradação proteica. A
degradação das proteínas é talvez o menos forte dos fenómenos que ocorrem durante a
degradação do pescado, com excepção do músculo de alguns crustáceos, que sofrem,
talvez por isso, uma degradação muito rápida.
A rigidez cadavérica ou rigor mortis é um período de contracção muscular que se
manifesta em tecidos musculares após a morte e de forma muito evidente em pescado. O
momento do seu início e a sua duração dependem da espécie, tamanho, método de
pesca, tipo de estiva, temperatura e condição física do pescado ao morrer. A tabela
seguinte mostra o início e a duração do rigor mortis em algumas espécies e condições
diferentes.
P. Vaz-Pires
39
Tab. 6 - Início e duração do rigor mortis em espécies e condições diferentes (adaptado de Huss, 1988).
Espécie Tipo de morte
Temperatura de armazenamento
(ºC)
Tempo entre morte e início da rigidez
(h)
Duração média da rigidez
(h) bacalhau
(Gadus morhua) em repouso 0 14 70
“
rede de arrasto 0 5 38
“
rede de arrasto 11 1 24
“
rede de arrasto 30 0.5 1
escamudo (Pollachius virens)
rede de arrasto 0 18 92
cantarilho (Sebastes spp.)
rede de arrasto 0 22 98
solha (Pleuronectes platessa)
rede de arrasto 0 9 45
Note-se que o stress sofrido antes da morte e a temperatura são factores com uma
enorme influência, tanto no momento de início do rigor, como na sua duração. Quanto
menor o stress e mais baixa a temperatura, mais tarde se inicia e maior duração terá a
rigidez, o que tem um interesse tecnológico considerável. Numerosos autores referem
que, até ao fim da rigidez, poucas transformações importantes ocorrem no pescado,
especialmente as relacionadas com o desenvolvimento microbiano, daí que pescado
antes ou durante o rigor mortis seja sinónimo de qualidade geralmente muito elevada.
Após a rigidez cadavérica, há condições para o crescimento logarítmico dos
microrganismos presentes. Em pescado vivo, eles encontram-se à superfície e no tubo
digestivo; em condições de saúde normal, o músculo do pescado é estéril (em caso de
doença, pode haver bactérias na corrente sanguínea e, portanto, em todos os tecidos).
Vários autores referem que a penetração profunda das bactérias nos tecidos internos do
pescado só se dá quando já há apodrecimento evidente, pelo que a degradação
bacteriana ocorre quase exclusivamente à superfície dos produtos, mesmo em filetes
sem pele (embora nestes se registe uma penetração no músculo mais rápida e
acentuada).
f) Degradação sensorial: peixes, crustáceos e moluscos
Os fenómenos complexos que ocorrem durante a degradação até agora referidos,
principalmente químicos, físicos e microbiológicos, dão origem a efeitos no pescado,
P. Vaz-Pires
40
detectáveis por simples utilização dos órgãos dos sentidos humanos, as alterações
sensoriais. O registo das alterações mais evidentes pode ser organizado em tabelas de
alterações sensoriais (tabelas seguintes) que ajudam a compreender a sua complexidade
e que, mais tarde, deram origem às tabelas sensoriais de avaliação da qualidade.
Tab. 7 - Alterações sensoriais nos peixes ósseos.
DEGRADAÇÃO DE PEIXES ÓSSEOS
CARACTERÍSTICA
PEIXE FRESCO
PEIXE ALTERADO
aspecto geral pigmentação viva e brilhante s/ descoloração escamas brilhantes
pigmentação baça muco opaco escamas facil/ destacáveis
cor típica da espécie s/ manchas
tons variáveis c/ manchas
barbatanas húmidas resistentes à tracção
secas quebradiças
brânquias cor vermelha brilhante s/ descoloração muco transparente
cor castanha, amarelada ou esverdeada muco opaco e viscoso
olhos transparentes salientes (convexos) pupila negra
opacos afundados (côncavos) pupila embaciada
opérculo aderente aberto manchado no interior
cheiro a maresia agradável
ácido ou amoniacal muito desagradável
muco pouco abundante transparente
abundante viscoso e opaco
consistência rija elástica
mole marcas de pressão persistem
rigidez elevada reduzida ou nula abdómen s/ saliências
s/ deformidades volume aumentado flácido, pouco consistente
ânus fechado relaxado prolapso rectal
vísceras brilhantes diferenciadas s/ exsudados
s/ brilho pouco diferenciadas c/ exsudados
carne branca ou da cor da espécie corte liso
opaca pouco consistente, c/ elasticidade diminuída
esqueleto branco nacarado azulado
P. Vaz-Pires
41
Tab. 8 - Alterações sensoriais nos peixes cartilagíneos.
DEGRADAÇÃO DE PEIXES CARTILAGÍNEOS
CARACTERÍSTICA
PEIXE FRESCO
PEIXE ALTERADO
cheiro levemente amoniacal fortemente amoniacal cor da face ventral
(só nas raias) branca avermelhada na periferia das
barbatanas
escurecida azulada ou negra na periferia das barbatanas
muco (só nas raias)
abundante muito abundante
carne firme resistente
flácida mole
Tab. 9 - Alterações sensoriais nos crustáceos.
DEGRADAÇÃO DE CRUSTÁCEOS
CARACTERÍSTICA
CRUSTÁCEOS FRESCOS
CRUSTÁCEOS ALTERADOS
olhos negros e salientes vivos, brilhantes reagem a estímulos
descorados, pouco salientes baços não reagem a estímulos
músculos rijos resistentes
flácidos e relaxados
ligamentos resistentes frouxos membros rijos e retraídos
se suspensos da carapaça, reagem a estímulos
pendentes s/ reflexos
antenas reagem a estímulos pendentes, s/ reflexos cheiro agradável ou ausente
característico da espécie ácido ou amoniacal muito desagradável (principal/ na região bucal)
cauda c/ batimentos s/ retracção aspecto brilhante, húmido
escorregam facilmente s/ manchas
baço pegajoso e gorduroso c/ manchas escuras (melanose)
carne firme, elástica translúcida
mole, rompe facilmente baça
P. Vaz-Pires
42
Tab. 10 - Alterações sensoriais nos moluscos.
DEGRADAÇÃO DE MOLUSCOS CARACTERÍSTICA
MOLUSCOS FRESCOS MOLUSCOS ALTERADOS
vivacidade vivos mortos concha fechados ou
se tocados, fecham abertos ou se tocados, não fecham
líquido intervalvar abundante transparente
s/ líquido ou pouco e turvo
BIVALVES som mate conchas pesadas
claro conchas leves
manto retrai-se se picado não se retrai batimento cardíaco 1 pulsação / 15 s s/ pulsações cheiro agradável
a maresia desagradável podre, petróleo
concha pesada animais visíveis soltam espuma
leves animais retraídos
GASTRÓPODES cheiro agradável a maresia
muito desagradável
carne firme e elástica mole cor branca, creme, rosa ou
violeta amarelada manchas verdes
pele brilhante aderente
baça desprende-se facilmente
CEFALÓPODES
carne firme, elástica branca ou rosada barbatanas rígidas
mole amarelada ou c/ cor de borras de vinho tinto
tentáculos resistentes arrancam-se facilmente olhos salientes
brilhantes afundados turvos
cheiro agradável muito desagradável sulfuroso
g) Outros fenómenos da degradação
•••• Belly bursting ou barrigas rebentadas
Em pescado não eviscerado, principalmente em épocas em que se alimenta com
abundância, o intestino é a maior fonte de enzimas a considerar. O baixo pH dentro do
tubo digestivo, nestas épocas, é tido como um dos factores que ajudam a diminuir a
resistência do tecido conjuntivo circundante, facilitando-se assim a sua ruptura
(conhecida como barrigas rebentadas ou ventre queimado). É um problema quase
exclusivo de pequenos pelágicos com elevado teor de gordura, como o arenque, a
sardinha, o biqueirão, etc.
P. Vaz-Pires
43
•••• Gaping ou afastamento muscular
Quando o referido abaixamento do pH ocorre no músculo, fruto da formação de ácido
láctico, pode acontecer que esse abaixamento seja demasiado pronunciado,
ultrapassando valores normais. Este fenómeno provoca o enfraquecimento do tecido
conjuntivo intramuscular, que agrega as camadas musculares típicas dos peixes. Pode
ocorrer o afastamento visível dessas camadas, e o aparecimento de espaços vazios
evidentes entre elas. Este fenómeno, conhecido como gaping na língua inglesa, é
obviamente o causador da rejeição do produto pelo consumidor, já que, embora possa
não corresponder a um estado de degradação muito avançado, apresenta um aspecto
como se o fosse. Alguns tipos de erros durante a congelação ou outros processos
tecnológicos mal conduzidos podem também causar gaping.
•••• Melanose
Durante a degradação dos crustáceos, desenvolve-se um pigmento escuro na carapaça,
a melanina, que induz o escurecimento geral destes animais e acompanha um estado
relativamente avançado de degradação (embora a melanina não seja prejudicial para o
consumidor, diminui o valor comercial dos crustáceos e pode levar mesmo à sua rejeição
para consumo). Existem formas de evitar este fenómeno, p. ex.º, o armazenamento
imediato em gelo, após tratamento dos crustáceos (por imersão em soluções ou por
espalhamento directo do pó) com sulfito, bissulfito ou metabissulfito de sódio ou potássio,
por vezes em simultâneo com ácido cítrico ou ascórbico (vitamina C) e EDTA.
P. Vaz-Pires
44
V - CONSERVAÇÃO DO PESCADO
a) Métodos e princípios
São cerca de 20 os métodos de conservação que podem ser aplicados ao pescado.
Importa conhecer o princípio do método e os efeitos gerais obtidos com cada um.
•••• Secagem
A secagem é, talvez, o método mais antigo de conservação de alimentos, com origem
certamente pré-histórica, que se deve à sua simplicidade. Consiste em colocar o produto
em exposição ao ar, muitas vezes ao Sol, de forma a que perca água rapidamente (pelo
menos, mais rapidamente do que se degrada). O produto vai sofrer desidratação por
evaporação directa da água que contém, diminuindo de volume. O movimento das
partículas de ar junto às superfícies é o responsável pela remoção de humidade.
No caso do pescado, há 3 formas de secagem: ao ar ou por contacto (já referida),
secagem por vácuo (a água evapora-se muito mais facilmente a baixas pressões; usa-se
calor ou radiação para acelerar o processo), e secagem após congelação (liofilização).
Esta última será referida mais adiante, nos métodos que utilizam o frio.
Em qualquer dos casos, o produto perde água, em quantidade proporcional ao tempo de
conservação pretendido. Produtos como a raia, o tubarão e o carapau secos são comuns
em Portugal, sendo a secagem realizada ao Sol e o tempo de conservação de algumas
semanas ou meses.
Ao diminuir a quantidade de água, as enzimas e os microrganismos têm dificuldade em
exercer a sua acção degradativa; esta acção está apenas atrasada, acabando de
qualquer modo por verificar-se, embora muitas vezes de forma diferente da que ocorreria
no mesmo produto sem ter sido seco. Os produtos secos são susceptíveis a fenómenos
como a oxidação lipídica e contaminações, p. ex.º, estas últimas facilitadas pela
exposição ao ar e pelo contacto com insectos. Como se trata de produtos tradicionais,
são muitas vezes manuseados sem serem embalados e de forma descuidada (exposição
na rua, ao ar livre, etc.). Quando correctamente processados, embalados e manuseados,
P. Vaz-Pires
45
podem ser produtos de excelente qualidade. Representam uma forma de consumo com
grande expressão em todo o mundo oriental, principalmente na China e países próximos.
•••• Salga
A salga é um processo que corresponde a dois efeitos em conjunto, a adição de sal e a
desidratação do produto (secagem). É portanto impossível salgar um produto sem
proceder também à sua secagem. Quando o sal (geralmente marinho) é posto em
contacto directo com as superfícies do pescado, alguma água vai ser absorvida pelo sal,
saindo do pescado (secagem); ao mesmo tempo, algum sal vai penetrar no produto
(salga), aumentando a concentração de solutos e assim diminuindo a actividade da água
que não é retirada pela secagem. Alguns tipos de produtos são consumidos
directamente, após salga, com elevado teor de sal e por vezes sem qualquer preparação
adicional; noutros, torna-se necessário dessalgar e re-hidratar (=“demolhar”). O produto,
durante esta operação (inversa da salga), perde sal e adquire água e parte do volume
inicial. O bacalhau salgado seco é um excelente exemplo: pode ser consumido
directamente como aperitivo (antigo costume em Trás-os-Montes, em ocasiões especiais,
para acompanhar vinho do Porto e também na Islândia, onde se vendem pequenos
pacotes de bacalhau seco, pouco salgado e desfiado, consumido como aperitivo), ou ser
demolhado antes de ser submetido a numerosas preparações culinárias diferentes, tão
comuns em Portugal.
A presença do sal, a diminuição da quantidade de água presente e a diminuição da
actividade da água remanescente induzem um enorme atraso na acção enzimática e no
desenvolvimento de microrganismos. O bacalhau salgado e seco pode ser conservado
por longos períodos de tempo, muitas vezes mais de um ano.
•••• Fumagem
Sendo um país com tradições históricas nos produtos fumados à base de carne, o
pescado fumado, estranhamente, nunca fez parte dos hábitos dos portugueses. Só há
alguns anos, com a facilidade de transporte e conservação de todo o tipo de produtos que
se verifica no mundo, os países tradicionalmente produtores e consumidores de
P. Vaz-Pires
46
pescados fumados começaram a introduzi-los, de forma visível, nos mercados
portugueses.
A fumagem é um processo de conservação muito antigo, pré-histórico, que certamente foi
usado não muito depois da descoberta do fogo. O Homem cedo descobriu que produtos
que eram guardados sob a acção do fumo, ou a ele expostos, demoravam mais tempo a
degradar-se, para além do sabor agradável que adquiriam.
Com efeito, o fumo de madeira contém dezenas de compostos, muitos deles
antibacterianos, que se depositam na superfície e penetram nos tecidos do pescado,
inibindo e atrasando a acção microbiana e enzimática. A fumagem é sempre
acompanhada por uma secagem, normalmente através do calor, realizada antes
(fumagem a frio) ou durante a fumagem (fumagem a quente). Da extensão dessa
secagem e do tempo de exposição ao fumo vai depender o tempo de conservação dos
produtos fumados, que normalmente necessitam de processos de conservação
complementares; pode, assim, dizer-se que a fumagem é mais um processo de
transformação do que um processo de conservação, originando produtos que são
apreciados sobretudo pelas suas características organolépticas e, de forma menos
evidente, pelo seu tempo de conservação prolongado. Em virtude do seu interesse
crescente em Portugal, a fumagem será abordada numa secção separada.
•••• Acidificação
Trata-se de um processo também tradicional, utilizado há milhares de anos. Consiste em,
de variadas formas, diminuir o pH do pescado, de modo a tornar muito lenta a actividade
microbiológica, e também muito difícil a acção enzimática. Abaixo de um pH de cerca de
5.0, os microrganismos não conseguem desenvolver-se e a acção enzimática possível
nos tecidos vai ser muito lenta, sendo afectada a actividade e também a estabilidade de
muitos compostos. As bactérias preferem normalmente valores de pH entre 6.0 e 8.0,
embora haja excepções (p. ex.º, as bactérias lácticas usadas na indústria de lacticínios,
com pH óptimo entre 5.0 e 6.0). Os alimentos são normalmente ácidos; a maioria
ligeiramente ácidos, e uma parte considerável muito ácidos; alimentos alcalinos são
associados, geralmente, a sabores desagradáveis, sendo um exemplo comum o célebre
P. Vaz-Pires
47
tubarão fermentado típico da Gronelândia e da Islândia, com pH entre 10 e 12, com sabor
e cheiro intensos a ureia.
O abaixamento do pH pode ser conseguido pela simples adição de um ácido ao produto,
sendo comuns os ácidos acético e láctico, ou pela formação de ácido directamente no
produto por microrganismos (fermentações aplicadas a pescado em países nórdicos e em
países orientais).
Em Portugal, existe o exemplo do escabeche. Consiste em fritar fortemente o pescado
em azeite; durante a fritura, no final ou após a fritura é acrescentado vinagre ao azeite. O
pescado é temperado com sal e guardado, em refrigeração, mergulhado neste molho.
Trata-se obviamente de um processo misto (envolve 5 métodos de conservação
diferentes), mas o abaixamento do pH é realizado com o ácido acético presente no
vinagre e contribui grandemente para o tempo de conservação muito longo deste tipo de
produtos (semanas, se a refrigeração for constante).
A acidificação pode ainda ser aplicada a molhos e polpas de pescado, como formas de
aumentar a sua conservação. Estas técnicas são comuns em países com um sub-
desenvolvimento acentuado, que não utilizam ainda tecnologias mais complexas; são
muito raras em Portugal. Estes métodos serão retomados no capítulo dos sub-produtos.
•••• Refrigeração
É, sem dúvida, o método mais utilizado para conservação de pescado, servindo de
método de base e auxiliar de outros métodos. Consiste em baixar e manter a temperatura
do pescado tão perto dos 0 ºC quanto possível, embora em termos comerciais, e por
motivos tecnológicos, seja muitas vezes feita a 4 ºC; o importante é nunca atingir o ponto
de congelação da água do pescado, que é muito próximo de -1.5 ºC (figura seguinte). A
esta temperatura, atrasa-se a degradação do pescado, já que as enzimas actuam
lentamente e o desenvolvimento microbiano é também muito lento. O desenvolvimento de
microrganismos patogénicos é praticamente inexistente a temperaturas de refrigeração,
sendo muitíssimo lento aquele que pode ocorrer.
Existem basicamente 3 formas de proceder à refrigeração: utilizando um meio sólido
(gelo ou superfícies arrefecidas em contacto com o pescado), um meio líquido (água ou
salmoura arrefecidas, nas quais se mergulha o pescado) ou um meio gasoso (ar ou
P. Vaz-Pires
48
outros gases ou misturas gasosas, arrefecidas, que se põem em contacto com o
produto). Os tipos mais comuns são, em termos comerciais e industriais, a utilização de
gelo e de câmaras frigoríficas; em utilização doméstica, utilizam-se quase exclusivamente
câmaras refrigeradas. A refrigeração, devido à sua importância, será tratada, mais
adiante, neste capítulo.
•••• Super-arrefecimento
É um método posto em prática inicialmente nas embarcações de pesca longínqua
portuguesas, daí que algumas formas de a realizar se denominem “método português”.
Consiste em baixar a temperatura do pescado para temperaturas da ordem dos -1.5 ºC a
-2 ºC, exactamente o ponto em que a água do pescado começa a cristalizar (figura
seguinte). O pescado, realmente, sofre uma cristalização parcial (até cerca de 50% da
água cristaliza), o que afecta muito pouco ou nada a qualidade final do produto; o seu
tempo de conservação é prolongado em alguns dias, em relação à simples refrigeração.
Compreende-se assim a importância de que este método se revestiu quando os navios
começaram a deslocar-se cada vez mais longe, não sendo suficiente a refrigeração e
numa época em que não existia ou não era ainda vulgar a congelação a bordo. Todavia,
com a generalização desta última, o super-arrefecimento (ou super-refrigeração) tornou-
se pouco compensador, principalmente porque é muito difícil controlar a temperatura, de
forma precisa, em porões de embarcações de pesca.
O princípio do método é o mesmo da refrigeração: a baixas temperaturas, a acção
enzimática possível é reduzida e lenta; a actividade microbiológica é muito difícil e lenta;
os poucos organismos patogénicos que conseguem desenvolver-se são também muito
atrasados pela temperatura reduzida.
•••• Congelação
É um método muito recente, mas que se tem tornado num dos mais importantes de
sempre. Consiste em baixar a temperatura do pescado até que a maior parte da água
(nunca a totalidade) que o constitui cristalize (passe ao estado sólido) (figura seguinte).
Desta forma, a água, embora esteja presente, não se encontra disponível para reacções
químicas e biológicas; a actividade da água é baixa; as enzimas ficam praticamente
bloqueadas e os microrganismos não podem desenvolver-se (alguns morrem, outros são
P. Vaz-Pires
49
também conservados como o produto que os suporta). É um dos métodos que mais
prolongam o tempo de conservação dos produtos (pode chegar a cerca de 2 anos), e é
simultaneamente um método que conserva, de forma notável, as propriedades originais
dos produtos.
A congelação, devido à sua importância, é também tratada separadamente, mais adiante.
Fig. 14 - Temperaturas e quantidade de água cristalizada nos métodos
refrigeração, super-arrefecimento e congelação.
•••• Liofilização
Consiste em desidratar o produto após a sua congelação (portanto, liofilização =
congelação + secagem), fazendo sublimar (passar do estado sólido ao gasoso
directamente) parte da água que contém. É um processo caríssimo, que envolve
congelação de grande qualidade e ajudas à sublimação da água (vácuo e outras), que se
tem utilizado em produtos cujo valor comercial é tão elevado que o justificam; em
pescado, embora seja possível, não é feito em termos comerciais.
P. Vaz-Pires
50
•••• Pasteurização
Processo descoberto por Louis Pasteur em 1860, consiste em aquecer um produto,
durante um período de tempo relativamente grande (minutos ou horas), a temperaturas
da ordem dos 60 a 80 ºC; o produto é depois arrefecido e mantido, p. ex.º refrigerado,
muitas vezes na mesma embalagem em que foi tratado. Este tratamento inactiva algumas
enzimas definitivamente (sendo proteínas, desnaturam-se com o calor, ou seja, perdem
parte da sua conformação espacial e, consequentemente, propriedades catalizadoras),
afectando a acção de muitas outras; os microrganismos sofrem danos letais (morrem) ou
são danificados mais ou menos gravemente, sendo reduzido o nº dos que recuperam
todas as suas capacidades rapidamente. Daí que resultem produtos com tempos de
conservação geralmente bastante prolongados (dias ou semanas) e com uma segurança
reforçada.
A pasteurização aplicada a peixe inteiro, embora seja possível e tenha sido estudada
recentemente em Portugal, é um processo muito limitado, sendo difícil torná-lo efectivo
sem afectar as características normais do pescado fresco; se for aplicado de modo a
cozer o pescado, o interesse comercial fica limitado a alguns produtos muito específicos,
como os crustáceos, que são cozidos a bordo há muitos anos. É precisamente neste
grupo de seres aquáticos que mais se tem aplicado a pasteurização, principalmente nos
EUA e em países que produzem para exportar para este país, onde o consumo de
produtos como a carne de caranguejo pasteurizada e enlatada atinge valores elevados.
•••• Apertização
Trata-se de um processo descoberto por Nicolas Appert em 1810 formado por duas
operações principais. A 1ª, encerrar o alimento num recipiente fechado e hermético; a 2ª,
processar termicamente o alimento, a temperaturas muito acima de 100 ºC e durante
tempos da ordem de minutos ou horas, de forma a inactivar todas as enzimas e todos os
microrganismos capazes de degradar o alimento ou causar doença. Desta forma, e desde
que a integridade do recipiente se mantenha, o produto não se degrada durante anos ou
mesmo dezenas de anos. É o processo utilizado nas conservas de sardinha e atum
vulgares da indústria conserveira portuguesa. Devido à sua importância tradicional,
nacional e local, será também tratado separadamente.
P. Vaz-Pires
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•••• Radurização
É o nome dado à “irradiação suave”, ou seja, aos tratamentos com radiações ionizantes
(raios gamma, X e beta) de baixa intensidade, que apenas prolongam algum tempo a
conservação normal dos produtos. É um processo em que, após colocação em
embalagem apropriada, as radiações inactivam enzimas e danificam os microrganismos,
embora uma parte de ambos seja capaz de recuperar a sua actividade, acabando por
degradar o produto. É um processo raro, não sendo aplicado nem em Portugal nem, em
termos comercial, em quase nenhum outro país, embora tenha algum potencial futuro.
•••• Irradiação
As mesmas radiações ionizantes (raios gamma, X e beta) são aplicadas, mas agora em
intensidades e tratamentos fortes, de forma a inactivar praticamente todas as enzimas e
danificar todos os microrganismos presentes. O produto é previamente colocado em
embalagem apropriada, para garantir a impossibilidade de contaminação posterior; assim
mantido, pode durar meses após irradiação. Note-se o paralelismo com a apertização
(daí o nome, por vezes utilizado, de radapertização), mas agora com irradiação em vez
de calor; aliás, calor e radiações são os únicos agentes capazes de atravessar recipientes
metálicos hermeticamente fechados.
Este processo tem sido intensamente estudado, sendo previsível que a irradiação de
alimentos venha a ter um papel cada vez mais importante na melhoria da segurança dos
produtos alimentares. Esta previsão é apoiada pelos problemas recentes com vírus em
bovinos e aves, que talvez possam vir a ser resolvidos por processos de irradiação (neste
caso, este processo tem como objectivo eliminar patogénicos e tornar o produto seguro,
sendo por vezes chamado radicidação). No entanto, há ainda uma grande contestação
(p. ex.º, de organizações ecologistas) e uma forte reacção negativa (principalmente por
parte do consumidor) em reacção a alimentos irradiados, sendo comum a confusão com
energia nuclear e com radiações nocivas para a saúde humana, embora esteja já
provado que não há qualquer radiação remanescente nos alimentos irradiados. Pode
haver, no entanto, algum componente do alimento que se torne nocivo (a longo prazo) ao
ser irradiado, estando em curso muitas actividades de investigação nesta área.
P. Vaz-Pires
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•••• Radiações UV
Consiste em tratar o alimento, em condições semelhantes às da irradiação, com
radiações ultravioleta, conhecidas também pelo seu efeito letal para microrganismos. Não
é um processo comercialmente aplicado a alimentos, estando ainda em estudo em
alguns países.
•••• Microondas
O tratamento com microondas tornou-se vulgar há poucos anos, com a generalização do
forno microondas doméstico. Da investigação até agora desenvolvida, surgiram alguns
produtos alimentares tratados com microondas, que têm a vantagem de penetrar alguns
centímetros nos alimentos. Como se sabe pelo uso doméstico, as microondas fazem
vibrar as moléculas de água dos alimentos, que aquecem rapidamente por fricção. O que
acontece, realmente, é que as moléculas dipolares de água tendem a alinhar-se com o
campo eléctrico criado pelas microondas, mas a polaridade do campo está
continuamente a ser invertida, pelo que as moléculas oscilam sem nunca terem ocasião
de estabilizar. O calor é portanto gerado pela energia cinética dos movimentos da água,
propagando-se depois às moléculas vizinhas. Permitem, por isso, aquecer e descongelar
rapidamente alimentos, mas não os assam, antes os cozem na sua própria água. Por
isso, têm aparecido no mercado os fornos com microondas e grill, ou seja, com
microondas e resistências vulgares de infravermelhos em simultâneo, que permitem
tostar, gratinar ou mesmo assar produtos descongelados e parcialmente processados
com microondas no mesmo forno.
Entre os produtos comerciais tratados com microondas, existem algumas massas
italianas (obviamente húmidas, com cerca de 30% de água) acompanhadas com um
molho apropriado, apresentadas em embalagens com mais do que um compartimento. O
consumidor tem apenas de abrir os vários compartimentos, juntar os conteúdos e
aquecer antes de consumir. Nestes produtos, o fabricante embalou e processou com
microondas os vários ingredientes, já fechados nas embalagens, de forma a conseguir
uma pasteurização intensa. De qualquer modo, em pescado não apareceram ainda
muitas novidades neste género de produtos prontos a consumir, embora o tipo de vida
moderno, cada vez com menos tempo disponível para cozinhar, leve a crer que poderão
P. Vaz-Pires
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vir a ter sucesso. De salientar o extremamente longo tempo de conservação que pode ser
conseguido com o uso deste método, em alguns casos.
•••• Pulsos de luz intensa e pulsos eléctricos de alta intensidade
O método dos pulsos de luz intensa baseia-se em perturbar as enzimas e reacções
químicas degradativas, incluindo os microrganismos, com flashes de luz intensa (BSPL,
de broad-spectrum pulsed light), alternados com escuridão, a uma frequência muito
rápida. Descobriu-se que a acção enzimática e o desenvolvimento microbiano são
seriamente afectados, especialmente em alimentos nos quais a microflora degradativa
principal é superficial. Utilizam-se lâmpadas de xénon ou outros gases inertes, com
pulsos de 10-6 a 10-1 s de duração e intensidade energética entre 5 e 15 J/cm2 e
comprimentos de onda entre 170 e 2600 nm. Os pulsos de luz intensa actuam segundo
duas vias principais, através da destruição de microrganismos degradativos e da
inactivação de enzimas, envolvendo mecanismos fototérmicos e fotoquímicos.
O método dos pulsos eléctricos de alta intensidade (HELP, de high-intensity electric
pulses) baseia-se no mesmo princípio, mas usando energia eléctrica em vez de luminosa.
Pretende-se inactivar enzimas e microrganismos fazendo passar alimentos, normalmente
fluidos, entre eléctrodos especialmente desenhados para submeter o alimento a um
determinado nº de pulsos energéticos.
Estes métodos estão ainda em fase de estudo e apenas existem à escala laboratorial.
•••• Armazenamento em vácuo
Muitas reacções enzimáticas e bioquímicas são realizadas na presença da atmosfera
normal, que é composta por cerca de 21% de O2, 78% de N2 e vestígios de outros gases.
Se esta atmosfera for retirada, o produto fica em condições anaeróbicas (sem
disponibilidade de O2) e os factores de degradação, uma vez mais, são atrasados ou, em
alguns casos, mesmo impossíveis. Este processo tem sido aplicado comercialmente, com
sucesso, a vários produtos (p. ex.º, enchidos), embora o pescado conservado em vácuo
seja ainda raro. Em produtos como filetes de pescado ou produtos à base de pescado
similares de produtos embalados em vácuo já existentes (p. ex.º, salsichas de peixe), é
natural que este método venha a vulgarizar-se. Há que ter em consideração que existem
P. Vaz-Pires
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bactérias e outros microrganismos patogénicos (e alguns, embora poucos, apenas
degradativos) que se podem desenvolver nestas condições (os facultativos e os
anaeróbicos), alguns extremamente perigosos para o Homem. É, aliás, por isso que
quase todos os produtos embalados em vácuo são mantidos em refrigeração e contêm
aditivos conservantes. Havendo poucos ou nenhuns degradativos a desenvolver-se e
havendo a possibilidade de patogénicos estarem activos, então este tipo de produtos
pode ser perigoso para a saúde sem ter aspecto alterado, o que mostra bem porque
existe uma grande preocupação dos industriais em reforçar a segurança destes produtos
(p. ex.º, com nitritos), até porque é sempre fácil ocorrerem abusos de temperatura por
quebras na cadeia de frio.
•••• Armazenamento em atmosfera modificada
(= MAP, de modified atmosphere packaging) Para ser feito vácuo numa embalagem, é
preciso retirar o ar que circunda o produto. Se nada mais se fizer a não ser fechar a
embalagem, resulta um produto embalado em vácuo. Porém, antes do fecho, pode
introduzir-se na embalagem uma mistura gasosa diferente da atmosfera normal. Obtém-
se um produto embalado, rodeado por uma atmosfera diferente, neste caso designada
por modificada. Este armazenamento pode ser também conseguido em porões ou
câmaras (neste caso, designada por MAS, de modified atmosphere storage), em vez de
produtos embalados individualmente, o que não altera em nada o princípio do método. O
efeito conseguido depende um pouco das misturas gasosas usadas; é comum o uso de
misturas de CO2, O2 e N2.
O papel do CO2 é o de inibir o crescimento microbiano e os fenómenos em que intervém
o oxigénio, já que é o produto de muitas destas reacções. Na presença de uma
concentração elevada de um produto da reacção, o equilíbrio tende para o lado dos
reagentes, podendo até, em certos casos, ocorrer a reacção inversa. Mas o CO2 também
se dissolve lentamente nos tecidos, resultando um abaixamento do pH nesses locais, o
que ajuda a inibição da actividade microbiológica.
Em relação ao O2, este pode estar totalmente ausente, ou ser usado em concentrações
inferiores ou mesmo superiores à normal na atmosfera. Quando ausente, pretende-se
que os processos de oxidação e a respiração aeróbia sejam totalmente inibidos; quando
em concentração menor do que 21%, que a sua falta reduza as oxidações e a actividade
P. Vaz-Pires
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dos microrganismos aeróbios, mas que sejam mantidas as características organolépticas
dos produtos (p. ex.º, sem oxigénio, a carne fica com cor esverdeada-acastanhada,
devida à degradação da mioglobina); quando em concentração superior a 21%, espera-
se que tenha efeito tóxico (exemplos do efeito tóxico do O2 são as tonturas quase
imediatas se respirarmos muito rapidamente, ou os problemas nos mergulhos com
oxigénio puro engarrafado, para evitar bolhas à superfície, usados durante a 2ª guerra
mundial).
O N2 é um gás inerte, que não intervém praticamente em nenhum tipo de reacções
bioquímicas. É usado apenas para preencher o vazio deixado pelo CO2 e/ou O2 que são
absorvidos pelo alimento, evitando-se assim o encolhimento ou colapso da embalagem,
comercialmente negativo.
Misturas comuns em pescado são CO2:O2:N2, por exemplo 60:0:40, 60:0:30, 50:30:20,
etc. Quando não se usa O2, é costume omitir o zero (p. ex.º, 60:40 é uma atmosfera com
60% CO2 e 40% N2).
No caso de armazenamento em porões ou câmaras, podem ser usados sistemas que
medem e compensam automaticamente as alterações da atmosfera inicial, mantendo-a
dentro de certos limites de composição percentual; neste caso, este método passa a
designar-se armazenamento em atmosfera controlada em vez de modificada.
Há alguns anos tornou-se vulgar o uso do ozono (O3) em purificação de água para
consumo e água para diversos fins (p. ex.º, a depuração de moluscos); alguns anos
depois, apareceram na pesca embarcações que utilizam ozono em porões refrigerados
para, por um lado, reduzir o odor, já que a ventilação é difícil a bordo, e, por outro,
melhorar as características organolépticas do pescado. Foi realizada recentemente
investigação em Portugal sobre os efeitos do ozono no pescado, a vários níveis, tendo
sido concluído que é possível reduzir odores, melhorar o aspecto geral (o que se provou
que resulta numa maior valorização dos produtos assim armazenados) e que a vida útil
do pescado pode ser prolongada, já que o ozono interfere com muitos microrganismos
degradativos e patogénicos, dificultando o seu desenvolvimento. Embora existam alguns
perigos potenciais, relacionados com reacções entre o ozono e alguns componentes do
pescado ou do gelo, estes não foram detectados nos produtos testados, pelo que este
parece ser um método promissor. O ozono é fortemente oxidante, pelo que muitas
P. Vaz-Pires
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moléculas orgânicas são rapidamente prejudicadas pela presença deste gás. Da rápida
degradação do próprio ozono, extremamente instável, resulta apenas oxigénio, o que é
um forte argumento a favor deste gás em esterilização de águas e alimentos (não deixa
resíduos).
•••• Armazenamento hipobárico
Consiste em armazenar o produto a uma pressão atmosférica inferior à normal de 1 bar,
geralmente utilizando menos de 0.1 bar, em conjunto com o controlo das trocas gasosas
com a atmosfera, da temperatura e da humidade (cerca de 95%, evitando-se a
desidratação e facilitando as trocas gasosas). Os gases respiratórios são assim mais
rapidamente removidos, retardando a velocidade de crescimento e a decomposição do
pescado. A oxidação lipídica é menor e a fase lag dos microrganismos presentes é
prolongada. Aumentos de 10 a 15% nos tempos de conservação do pescado em gelo
podem ser conseguidos por este tipo de método, em algumas espécies.
•••• Alta pressão hidrostática (Pascalização)
A eficácia da aplicação de pressões elevadas em alimentos, com a finalidade de reduzir a
sua microflora, foi demonstrada no início do século XX. Desde então, estes tratamentos
têm sido estudados, sabendo-se hoje que interferem com as funções normais das
proteínas, com a constituição das membranas celulares, que provocam o colapso dos
vacúolos gasosos intracelulares, causando, assim, perdas de actividade enzimática e
microbiana. A acção uniforme e instantânea (compare-se, p. ex.º, com os tratamentos de
calor) parece ser um dos melhores argumentos deste método, aliada ao evitar de aditivos
e de possíveis resíduos do tratamento (relembre-se a irradiação). A conjugação deste
método com a pasteurização reveste-se de um potencial interessante.
•••• Aditivos
Aditivos são substâncias legalmente permitidas que, sozinhas, não são consideradas
alimentos, mas que podem ser incorporadas em alimentos com finalidades particulares.
Na União Europeia existe uma classificação de todos os aditivos permitidos (os
conhecidos nºs de 3 algarismos, precedidos da letra E), que prevê a inclusão de alguns
outros, ainda em estudo (sem a letra E no Reino Unido). Os aditivos são indissociáveis da
P. Vaz-Pires
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indústria alimentar; como muitos componentes da alimentação, apresentam vantagens e
riscos associados. É claro que seria ideal não usar pelo menos alguns deles, ou até usar
menos quantidades de todos eles, mas não podemos prescindir completamente das suas
importantes acções. Há aditivos corantes (E100 a E199), simplesmente para melhorar ou
dar cor aos alimentos (talvez os mais contestados); conservantes (E200 a E299), talvez
os mais úteis e mais dificilmente evitáveis; antioxidantes (E300 a E399), imprescindíveis
para evitar a oxidação lipídica; espessantes e gelificantes (E400 a E499), etc.
Os aditivos conservantes são os que aqui merecem atenção especial. Com efeito, através
da adição de certas substâncias é possível inibir enzimas e microrganismos, prolongando
o tempo de conservação e aumentando a segurança dos produtos alimentares. Em peixe
fresco e refrigerado, não é permitido o uso de qualquer substância adicionada; este uso
em produtos comercializados frescos ou refrigerados está reservado a crustáceos, em
situações especiais, porque de facto se trata de um tipo de produto muito perecível e de
características especiais (os crustáceos escurecem devido à melanose, resultante da
degradação da melanina). O anexo 11 contém informação completa a respeito dos
produtos e respectivos aditivos, quantidades e casos aplicáveis.
A respeito dos compostos mais ou menos naturais refira-se que existem muitas
informações erradas e ideias pré-concebidas. Por exemplo, pode dizer-se que qualquer
forma de atrasar a degradação alimentar é pouco natural. E, se há compostos presentes
nos alimentos que se diz deverem ser preferidos em relação aos menos encontrados
espontaneamente na natureza, há que reconhecer que a toxina mortal de Clostridium
botulinum é muito natural… Muitos grupos de pressão chamam químicos aos aditivos,
mas todos os seres vivos não passam de compostos químicos agregados de uma forma
especial, daí que não deva ser por isso que são menos apropriados. Interessa sobretudo
saber se são ou não prejudiciais para a saúde, o que se torna difícil de avaliar,
especialmente nos efeitos a longo prazo, dificilmente simuláveis pela ciência actual.
•••• Processos mistos
Esta extensa lista descritiva dos métodos e seus princípios não pode deixar de incluir
uma chamada de atenção para os processos mistos, que correspondem à utilização
P. Vaz-Pires
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simultânea, ou em série, de mais do que um método, aliás muito comum. É o caso da
bacalhau salgado e seco, do escabeche referido a propósito da acidificação, etc.
A enorme utilização de métodos mistos leva a algumas considerações importantes. Em
primeiro lugar, os métodos mistos são usados desde a pré-história, o que reflecte a
necessidade de conjugar métodos para melhorar o tempo de conservação. Nesta fase,
cada método, mesmo quando usado correctamente, talvez não fosse suficiente para
garantir o prolongamento da sua vida útil, de modo a que o Homem pudesse subsistir em
épocas de apanha, caça e/ou pesca fracas.
Hoje em dia, os métodos de conservação modernos são, em alguns casos, muito
eficientes, mas na sua maior parte induzem alterações profundas nas características dos
alimentos frescos, com poucas excepções (de facto, em muitos casos obtém-se um
produto completamente diferente do de partida, o que não quer dizer necessariamente
menos interessante ou útil; o ex.º das conservas de sardinha é talvez o mais
característico). Daí que haja de novo um grande interesse pelos métodos de conservação
mistos, usando cada método de forma mais suave, e tentando assim respeitar mais as
características originais dos produtos. Este tipo de investigação aparece muitas vezes em
publicações com o título minimal processing, o que também dá uma ideia do objectivo.
No que se refere aos efeitos sobre microrganismos, importa conhecer o efeito ou conceito
das barreiras múltiplas (hurdle concept ou effect), que precisamente reflecte a conjugação
de vários processos de inibir a actividade microbiana.
Nos alimentos, é raro existir apenas um factor sub-óptimo para o crescimento
microbiológico. Cada efeito inibidor pode ser considerado uma barreira a ultrapassar,
sendo a sucessão de barreiras um factor negativo adicional (cada vez se torna mais difícil
ultrapassar cada dificuldade). A tecnologia moderna procura, assim, conseguir
conjugações de barreiras que funcionem de forma muito eficaz, mas em que cada
barreira prejudica apenas minimamente as propriedades dos alimentos. Quatro tipos de
efeitos podem ocorrer, quando se combinam 2 factores:
P. Vaz-Pires
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Tab. 11 - Efeitos possíveis quando se combinam diferentes métodos de conservação.
EFEITO RESUMO DESCRIÇÃO
NEGATIVO 1 + 1 = -1 efeitos conjuntos não só se anulam como são mais prejudiciais do que os individuais.
NULO 1 + 1 = 0 efeitos anulam-se; nada acontece.
ADITIVO 1 + 1 = 2 efeitos somam-se; o efeito conjunto é apenas a soma dos individuais.
SINERGÍSTICO 1 + 1 = 3 efeitos potenciam-se mutuamente; efeito final maior do que a soma dos individuais.
É o efeito sinergístico (ou sinérgico) que é obviamente mais interessante, e que é
procurado na investigação sobre a conjugação de métodos de conservação ou métodos
mistos.
b) Tipos e grupos de métodos
É costume dividir os métodos de conservação de pescado de acordo com vários critérios.
Os mais usuais são os que se baseiam no efeito sobre os factores de degradação ou
sobre o princípio do método utilizado. Apresentam-se em seguida as divisões mais
comuns.
P. Vaz-Pires
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Tab. 12 - Agrupamentos comuns de métodos de conservação de pescado.
GRUPOS COM BASE NO: GRUPOS ALGUNS EXEMPLOS tradicionais secagem
fumagem salga
uso de frio refrigeração super-arrefecimento congelação
MÉTODO DE CONSERVAÇÃO
uso de calor cozedura pasteurização apertização
uso de radiações irradiação radiações UV microondas
uso de substâncias conservantes
aditivos antibióticos (hoje proibidos)
uso de armazenamento especial
sob vácuo em atmosfera modificada ou controlada armazenamento hipobárico
atraso do desenvolvimento microbiano
salga refrigeração armazenamento especial
EFEITO PRINCIPAL NOS MICRORGANISMOS
paragem do desenvolvimento microbiano
congelação liofilização
morte dos microrganismos apertização irradiação
curta duração refrigeração fumagem acidificação
TEMPO DE CONSERVAÇÃO
média duração secagem salga armazenamento especial
longa duração congelação apertização irradiação
c) Refrigeração
•••• Tipos de refrigeração
É costume dividir a refrigeração de acordo com o meio usado para a realizar. O produto é
rodeado com sólidos, líquidos ou ar arrefecido, para lhe retirar calor e também absorver o
calor que chega do exterior, mantendo assim o produto refrigerado. Na tabela seguinte,
são apresentados os meios possíveis e suas características principais.
P. Vaz-Pires
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Tab. 13 - Principais métodos de refrigeração. TIPO DE MEIO MEIO ABREVIATURA
(do inglês) SIGNIFICADO
(em inglês) DESCRIÇÃO / EXEMPLOS
SÓLIDO gelo --- ice gelo moído, em escamas, em tubos…
água doce RFW refrigerated fresh water
água doce refrigerada mecanicamente
água doce CFW chilled fresh water água doce misturada com gelo doce
LÍQUIDO água do mar RSW refrigerated sea water
água do mar arrefecida mecanicamente
água do mar CSW chilled sea water água do mar misturada com gelo
(gelo doce ou feito c/ água do mar)
gelo binário --- binary ice, ice slurry
pequenos cristais de gelo suspensos em água do mar ou salmoura
GASOSO ar --- static air frigorífico doméstico
ar --- forced air câmaras e túneis de refrigeração
•••• Tipos de refrigeradores
Há também tipos diferentes de refrigeradores e de câmaras de refrigeração, um pouco
dependentes do método utilizado. Refrigerador é o equipamento capaz de baixar a
temperatura até à temperatura de refrigeração; câmara é o nome geralmente dado ao
local onde se armazenam produtos. Nas câmaras pode também ser feito o abaixamento
inicial da temperatura.
Normalmente, em pescado de grandes dimensões usa-se a estiva directa em gelo e a
manutenção no porão, que é muitas vezes mecanicamente refrigerado. A estiva do
pescado em gelo pode ser feita de várias formas, descritas no capítulo V, alínea c).
Em pescado de dimensões reduzidas, p. ex.º os pequenos pelágicos como o carapau, a
sardinha ou o biqueirão, pescados em quantidades muito grandes em cada lance de
rede, é possível refrigerar muito rapidamente por imersão em líquidos (normalmente,
água do mar arrefecida com gelo) e proceder depois à estiva em porão refrigerado,
embora esta prática seja pouco vulgar em Portugal.
Para armazenamento industrial de pescado em refrigeração, são usadas câmaras de
grandes dimensões, mas normalmente o pescado é estivado em contacto directo com
gelo, muitas vezes em caixas apropriadas.
P. Vaz-Pires
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Em armazenamento doméstico, usa-se o frigorífico simples, que funciona pelo método do
ar estático. Realmente, o frigorífico é uma máquina relativamente simples, que transfere
calor do interior da caixa isolada que o constitui para o exterior. O utilizador limita-se a
colocar os produtos no interior e esperar que eles atinjam a temperatura programada para
o interior, em equilíbrio com o ar frio envolvente.
•••• Utilização de gelo
A adição de gelo é, sem dúvida, o mais apropriado e mais vulgarizado método para
refrigeração de pescado, especialmente quando inteiro ou em porções que mantenham a
pele; é por vezes referido como o meio ideal para refrigeração. O gelo é um material
facilmente portátil e transportável, funde à temperatura constante de 0 ºC (não havendo o
perigo de congelar o pescado, cujo ponto de congelação se situa perto de -1.5 ºC) e vai
lavando e humedecendo a superfície do pescado enquanto funde, mantendo-a brilhante e
não a deixando ressequir.
A quantidade de gelo necessária para refrigerar e manter pescado em refrigeração
depende, obviamente, da temperatura inicial do pescado, do peso do pescado, do tempo
que se pretende mantê-lo refrigerado e da temperatura ambiente envolvente. De forma
geral e muito aproximadamente, pode usar-se o mesmo peso de gelo e de peixe (1:1), e
adicionar gelo quando e se necessário (isto apenas para a refrigeração inicial). Para isso,
convém ter sempre junto do pescado gelo extra, para o poder adicionar. Sempre que se
preveja demora ou temperatura ambiente elevada, é conveniente, desde logo, usar uma
proporção de gelo maior, p. ex.º 2:1. A prática é talvez a melhor forma de determinar a
quantidade ideal.
O gelo deve ser fabricado com água potável; em casos especiais, usa-se também gelo de
água do mar, mas com inconvenientes graves: o pescado absorve sal e pode congelar
parcialmente, uma vez que a temperatura do gelo de água do mar, além de pouco
uniforme, é normalmente muito menor do que -1.5 ºC, temperatura à qual a água do
pescado congela.
Há vários tipos de gelo, sendo os mais comuns em blocos (moldes de várias formas e
tamanhos), em tubos (que se formam à volta de um cilindro arrefecido mergulhado em
água), ou em flocos ou escamas, a partir de cilindros rotativos arrefecidos, aspergidos por
P. Vaz-Pires
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água, dos quais o gelo é raspado por lâminas à medida que se forma. Quando
necessário, reduz-se o tamanho do gelo, normalmente por moagem ou esmagamento, já
que não convém que, em contacto com o pescado, haja formas afiadas ou arestas vivas,
que poderiam perfurar a pele e/ou prejudicar o aspecto geral do peixe. É, assim, mais
fácil armazenar o gelo, dado que ocupa menor volume, e também manuseá-lo e
transportá-lo.
A tabela seguinte mostra a densidade e o volume por unidade de peso dos tipos de gelo
mais importantes.
Tab. 14 - Densidade, volume ocupado e superfície exposta de vários tipos de gelo.
TIPO DE GELO DENSIDADE
(ton/m3)
VOLUME OCUPADO
(m3/ton)
ÁREA DE CONTACTO
(m2/ton)
em escamas, flocos ou placas 0.45 - 0.43 2.2 - 2.3 1027, 1580, 632
em tubos 0.66 - 0.50 1.5 - 2.0 395
em blocos 0.71 1.4 ---
moído a partir de blocos 0.67 1.5 1255
A capacidade refrigerante do gelo depende do seu peso e não do seu volume, pelo que,
em casos de espaço limitado, deverá usar-se gelo de densidade elevada, para aproveitar
ao máximo as suas propriedades.
É possível calcular teoricamente a quantidade de gelo necessária para absorver uma
determinada quantidade de calor, sabendo que:
1 g de gelo (de água doce) absorve, ao derreter, cerca de 80 calorias
Este valor depende, obviamente, da temperatura inicial do gelo (frequentemente muito
inferior a 0 ºC), mas esta diferença é desprezável, já que corresponde normalmente a
menos de 3% do valor calórico absorvido. Na prática, uma vez que a presença do ar
atmosférico irá sempre fazer derreter algum gelo, deve-se colocar mais gelo do que estes
cálculos indicam e adicionar gelo sempre que necessário.
P. Vaz-Pires
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A quantidade de calor a retirar ou a adicionar a uma determinada substância pode ser
determinada da seguinte forma:
calor (cal) = peso (g) x variação de temp. (ºC) x calor específico (cal)
O calor específico de algumas substâncias comuns, a usar na fórmula anterior, é
apresentado na tabela seguinte:
Tab. 15 - Calor específico de algumas substâncias.
Substância Calor específico
(cal necessárias p/ elevar 1 g 1 ºC) água pura 1.000 (definição de caloria) óleos minerais 0.154 muitos metais 0.030 gelo de água doce 0.154 peixe fresco 0.288 peixe congelado 0.120 ar 0.075
A utilização das fórmulas e dos dados apresentados é exemplificada do seguinte modo:
Qual a quantidade de gelo que é necessário adicionar a 1 litro de água pura, de forma a baixar a sua temperatura de 25 para 4 ºC?
calor a absorver = 1000 x (25-4) x 1 = 21000 cal
1 g de gelo absorve 80 cal; para absorver 21000 são necessários 262.5 g de gelo.
(Note-se que esta seria a quantidade teórica exacta de gelo para baixar a temperatura da água de 25 para 4 ºC, mas todo o gelo estaria derretido nesse instante; há ainda que contar com alguma quantidade de calor que seria absorvida do ar e não do gelo; daí que seja sempre necessário, na prática, prever uma quantidade maior).
O armazenamento do gelo, tanto nas fábricas como fora delas, deve ser efectuado num
espaço limpo, de fácil e com regular higienização e ventilação. O gelo deve ser tratado,
até ser colocado no pescado, como qualquer outro alimento. Deve evitar-se a
exposição ao ar e a poeiras, bem como o contacto com superfícies que não estejam
escrupulosamente limpas.
Recentemente, está em estudo um novo tipo de gelo, neste caso líquido ou, pelo menos,
tratável como líquido: trata-se do gelo binário, assim chamado por ser composto por
cristais de gelo muito pequenos, suspensos em água do mar ou salmoura, formando uma
P. Vaz-Pires
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espécie de “pasta” gelada (daí o nome ice slurry em inglês; slurry=pasta). As principais
vantagens são que pode ser bombeado e penetrar melhor em espaços pequenos, menos
acessíveis ao gelo moído, e também a sua temperatura, menor do que zero, que
possibilita maiores períodos de conservação; as desvantagens incluem a dificuldade de
controlar exactamente a temperatura, o que pode levar à congelação parcial do pescado,
e a necessidade de mudar todos os sistemas tradicionais de transporte e manuseamento
de gelo, que passariam a ter que lidar com um líquido em vez de um sólido. As salmouras
implicam também maiores problemas de corrosão dos materiais, especialmente os
metálicos.
•••• Estiva de pescado refrigerado com gelo
Pode ser feita, basicamente, por 3 métodos diferentes: a granel, em prateleiras ou em
caixas.
Na estiva a granel, o pescado é misturado com gelo (ou colocado em camadas
alternadas com gelo), num espaço sem divisórias. É um processo quase abandonado,
devido a várias desvantagens: é difícil e demorado retirar o pescado após estiva, é fácil a
ocorrência de contaminações cruzadas, e o peso do pescado colocado por cima esmaga
ou amassa o pescado inferior, que apresentará sinais evidentes de maus tratos.
A estiva em prateleiras é uma estiva, a granel, na qual se interpõem barreiras físicas
horizontais (por vezes também verticais), de forma a minimizar o esmagamento dos
peixes inferiores. É também difícil e demorado retirar o pescado intacto, e não é fácil
higienizar uma série de prateleiras normalmante fundas e de difícil acesso.
A estiva em caixas é, sem dúvida, o método mais correcto e com futuro mais promissor.
Consiste em colocar o pescado, envolto em gelo moído, em caixas apropriadas. Torna-se
assim mais fácil arrumá-lo, evitando-se o esmagamento do pescado inferior, que fica
mais protegido de contaminações vindas do exterior; é também muito mais fácil deslocar
e transportar caixas, em relação ao pescado a granel; o maior volume ocupado é a
principal desvantagem deste método.
Uma caixa para acondicionamento de pescado refrigerado com gelo deve obedecer a
uma série de requisitos importantes, que vale a pena conhecer em pormenor. Deve ser
feita em material facilmente lavável e de cor clara (para que a sujidade seja evidente),
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com cantos arredondados e sem reentrâncias de difícil acesso. Normalmente utilizam-se
fibras sintéticas (plásticos), p. ex.º polietileno de alta densidade. Devem ser perfuradas na
base, mas apenas junto às paredes e não no meio, para que a água da fusão do gelo se
possa escoar, evitando que caia no conteúdo da caixa que está situada por baixo. Devem
também ser empilháveis, permitindo que o peso das caixas superiores se apoie nos
bordos das caixas inferiores e não no seu conteúdo; e ainda encastráveis, ou seja, devem
encaixar umas nas outras, quando vazias, para ocupar menos espaço. A figura seguinte
mostra algumas caixas e as suas características mais importantes.
A utilização de caixas padronizadas num porto de pesca, ou mesmo numa região ou país,
permite ainda o uso de máquinas para higienização automática e a implementação de um
sistema de entrega de caixas sujas e levantamento de vazias (tipo garrafas com retorno)
que se pode tornar extremamente prático e moderno, já em utilização em alguns países e
em experiência em portos de pesca portugueses.
Fig. 15 - Caixa para pescado refrigerado em gelo (adaptado de http://www.allibert-buckhorn.com)
•••• Equipamentos de refrigeração
A maior parte dos sistemas de frio funciona segundo os mesmos princípios e com base
nos mesmos tipos de equipamento, pelo que importa compreender os principais
componentes de uma instalação de frio e as suas funções.
Analisaremos em seguida as instalações frigoríficas por compressão, que são a base do
frio industrial (incluindo o ar condicionado, o fabrico de gelo, a refrigeração, a congelação,
etc.).
P. Vaz-Pires
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Os componentes principais de um equipamento são o evaporador, no qual o fluido
frigorigénio (capaz de gerar frio) passa de líquido a gás, absorvendo calor do produto que
se pretende refrigerar; o compressor, que comprime o fluido vindo do evaporador,
fazendo subir a sua temperatura; o condensador, cuja função é fazer dissipar o calor para
fora do sistema; finalmente, uma válvula de regulação ou expansão, que permite apenas
que o fluxo se dê no sentido condensador → evaporador. A figura seguinte permite uma
melhor compreensão do funcionamento do sistema.
evaporador condensador
compressor
gásgás
Ppgás
líq.
válvula de regulação ou expansão
Pplíq.
gás
lado alta pressãolado baixa pressão
calo
r
calo
r
evaporador condensador
compressor
gásgás
Ppgás
líq.
válvula de regulação ou expansão
Pplíq.
gás
lado alta pressãolado baixa pressão
calo
r
calo
r
Fig. 16 - Componentes e funcionamento geral de uma instalação de frio por compressão. P = zona de alta pressão; p = zona de baixa pressão.
O evaporador é a parte do sistema que está mais próxima do produto, sendo o
responsável pela absorção do calor que se pretende retirar do produto ou do meio que o
circunda, assumindo diversas formas, consoante o tipo de produto a arrefecer. Os
evaporadores por circulação de ar são constituídos por grelhas refrigeradas, através das
quais o ar passa e arrefece, sendo conduzido ao espaço que se pretende arrefecer; este
é o tipo usado em câmaras de conservação de refrigerados e congelados, bem como nos
aparelhos de ar condicionado. Há ainda, entre outros tipos menos vulgares, evaporadores
tubulares, para arrefecimento de água, salmoura ou outros líquidos e para o fabrico de
P. Vaz-Pires
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gelo; nestes, o fluido frigorigénio circula dentro de tubos, o exterior dos quais é banhado
pela solução a refrigerar.
O compressor pode ser de pistões (mais comum) ou de parafusos sem-fim (mais
recentes); em qualquer dos casos, permitem comprimir o fluido no estado gasoso (os
líquidos são incomprimíveis…), de forma a aumentar a sua pressão e a sua temperatura.
O condensador é basicamente um evaporador, mas a funcionar de forma inversa. Neste
equipamento, o fluido frigorigénio liberta calor, arrefecendo e condensando-se, sendo
encaminhado para a válvula de expansão. É, portanto, este o componente responsável
pela saída de calor do sistema.
A válvula de expansão permite estabelecer a ligação entre o lado de alta e de baixa
pressão, deixando passar o líquido a alta pressão chegado do condensador para o lado
de baixa pressão do evaporador.
Os fluidos refrigerantes ou frigorigénios têm sido objecto de preocupações tecnológicas
e principalmente ecológicas, pelo que vale a pena tecer alguns comentários a este
respeito. Nos anos 70 e 80, utilizavam-se o amoníaco e os CFCs (clorofluorcarbonetos),
mas descobriu-se que estes últimos prejudicavam a camada de ozono da atmosfera
terrestre, quando libertados, contribuindo negativamente para o efeito de estufa. Por isso,
têm sido desenvolvidos esforços para mudar estes compostos, ainda que gradualmente,
numa primeira fase para HCFCs (hidrogenoclorofluorcarbonetos), que prejudicam menos
a camada de ozono e podem ser usados nos mesmos equipamentos dos CFCs, e mais
recentemente para HFCs (hidrogenofluorcarbonetos) e HC (hidrocarbonetos), estes
finalmente não prejudiciais para o ozono terrestre, embora exijam novos equipamentos.
Há ainda a possibilidade futura da utilização em grande escala do azoto e do dióxido de
carbono, até hoje economicamente pouco compensadora para este fim. A este respeito, a
tabela seguinte contém informações gerais esclarecedoras.
P. Vaz-Pires
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Tab. 16 - Algumas características importantes dos principais fluidos frigorigénios ou refrigerantes. (S = sim, s = sim, embora menos, N = não).
NOME GRUPO CÓDIGO* FÓRMULA TÓXICO? � O3?
amoníaco --- R717 NH3 S N
triclorofluormetano CFC R11 CCl3F N S
diclorodifluormetano CFC R12 CCl2F2 N S
monocloropentafluormetano CFC R115 C2ClF5 N S
diclorofluormetano HCFC R21 CHCl2F N s
monoclorodifluormetano HCFC R22 CHClF2 N s
difluoretano HFC R152a C2H4F2 N N
trifluoretano HFC R143a C2H3F3 N N
tetrafluoretano HFC R134a C2H2F4 N N
pentafluoretano HFC R125 C2HF5 N N
propano HC R290 C3H8 S N
dióxido de carbono --- R744 CO2 N N
azoto --- R728 N2 N N
mistura HCFC+
CFC
R502 R22 (48.8%)
R115 (51.2%)
N S
mistura HFCs R50 R125 (50%)
R143a (50%)
N N
mistura HFCs R62 R125 (44%)
R143a (52%)
R134a (4%)
N N
* Código de 3 algarismos; para os CFCs, HCFCs e HFCs e HCs, o código obtém-se deste modo: 1º algarismo: (nº átomos de C) - 1; (se = 0, omite-se); 2º algarismo: (nº átomos de H) +1; 3º algarismo: (nº átomos de F).
•••• Transporte de produtos refrigerados
Torna-se óbvio que é essencial a manutenção da temperatura correcta dos produtos
refrigerados ao longo de todo o percurso de distribuição. O abuso de temperatura,
especialmente acima de 8 ºC, pode implicar o desenvolvimento de patogénicos graves e
implica uma muito mais rápida degradação do produto. Na secção dedicada à congelação
serão retomadas as considerações sobre a cadeia de frio, que de facto constitui a única
forma de distribuir racionalmente uma enorme parte dos alimentos modernos.
P. Vaz-Pires
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d) Congelação
A congelação consiste em baixar a temperatura do produto até que a água que ele
contém, pelo menos em grande parte, passe ao estado sólido, cristalizando. O
abaixamento da temperatura deve ser o mais rápido possível, pelo que se utilizam
equipamentos normalmente diferentes para proceder à congelação e, posteriormente,
armazenar o produto já congelado, normalmente a -18 ºC (tanto na indústria como, hoje
em dia, também em uso doméstico), embora a qualidade dos produtos congelados seja,
em princípio, inversamente proporcional à temperatura de congelação e armazenamento
usadas. Há, portanto, que distinguir entre congelação e armazenamento de congelados.
•••• Tipos de congelação
Para proceder à congelação, basicamente existem 3 tipos de métodos, baseados em
meios sólidos, líquidos ou gasosos.
Nos armários de congelação (e em alguns tipos de túneis), o produto é posto em
contacto directo com placas metálicas arrefecidas, que absorvem calor do produto; neste
caso, o meio que contacta o produto é sólido. É um tipo de congelação muito usado para
produtos pouco espessos como filetes ou produtos já cozinhados. É este, também, o
processo de congelação do pescado em blocos, constituídos por pescado e alguma água;
neste caso, é óbvio que têm que ser utilizadas caixas com a forma dos blocos que se
pretendem, ou prateleiras verticais que se enchem com pescado e água, havendo
posteriormente um sistema para descolar o bloco do seu suporte físico.
Nos congeladores por imersão, o produto é mergulhado numa solução arrefecida, que
tem obviamente que estar a temperaturas muito inferiores ao ponto de congelação da
água pura (0 ºC) e mesmo do ponto de congelação da água do pescado (-1.5 ºC). Isto
torna impossível o uso de água doce, sendo geralmente a salmoura arrefecida o meio
líquido escolhido.
Existe ainda a possibilidade, muito mais comum do que qualquer das anteriores, de
submeter o produto a uma corrente forte de ar muito frio; este tipo chama-se congelação
por ar forçado, podendo o produto estar parado ou em movimento contínuo (túnel de
congelação). É este o tipo de congelação industrial mais aplicado a pescado. No caso
dos congeladores domésticos, usa-se ar estático, o que torna a congelação muito lenta;
P. Vaz-Pires
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de facto, os congeladores domésticos servem perfeitamente para o armazenamento de
congelados, mas são equipamentos pouco próprios para realizar a congelação.
•••• Tipos de congeladores
De acordo com os tipos de congelação, existem equipamentos próprios para realizar este
processo. Os congeladores de placas verticais ou armários de placas horizontais
são os que fazem congelação por contacto com superfícies sólidas; os congeladores
por imersão consistem num depósito com salmoura arrefecida, no qual o produto é
mergulhado por tempo suficiente; os túneis contínuos, nos quais se realiza a
congelação por ar ou gases forçados (e por vezes, também, por aspersão de líquidos
refrigerantes) sobre o produto são constituídos por um tapete, que leva o produto a
atravessar a zona onde o ar é atirado sobre as suas superfícies. Existem, ainda,
congeladores tipo câmara de congelação, por ar estático e descontínuos, nos quais o
produto é colocado dentro de um espaço fechado e o ar arrefecido (o caso dos
equipamentos domésticos); ou ainda este mesmo processo, com movimentação forçada
do ar (câmaras de congelação industriais). Um método curioso é o dos congeladores
em leito fluidizado, nos quais o produto é colocado sobre uma rede e o ar frio atirado
contra o produto de baixo para cima, através da rede, o que é especialmente apropriado
para produtos pequenos, de forma idealmente esférica (os produtos movem-se
ligeiramente, quase flutuando no ar, facilitando muito a remoção do calor em todas as
direcções); são muito usados para ervilhas, não sendo comum o seu uso para pescado.
Em qualquer dos casos, o equipamento básico geralmente utilizado é o mesmo que em
instalações de refrigeração, mas funcionando a temperaturas muito mais baixas, o que
torna os custos muito mais elevados e a tecnologia mais complexa.
A tabela seguinte resume os tipos, características e temperaturas comuns de
equipamentos de congelação.
P. Vaz-Pires
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Tab. 17 - Tipos, características e temperaturas de trabalho de equipamentos de congelação comuns.
TIPO MEIO PRODUTOS TEMPERATURA (ºC)
por contacto placas metálicas verticais blocos, peixes soltos cerca de -40
por contacto placas metálicas horizontais pouco espessos cerca de -40
por imersão salmoura peixes soltos cerca de -21
por aspersão fréon (R12) peixes soltos cerca de -30
de gás liquefeito CO2 líquido todos entre -50 e -70
de gás liquefeito N2 líquido todos entre -50 e -196
por ar estático ar todos (*) entre -18 e -24
por ar forçado ar todos entre -35 e -40
(*) Este método só deveria ser usado para manter produtos já congelados, mas em utilização doméstica é frequente congelar por simples colocação no congelador, o que representa praticamente sempre uma congelação muito lenta (ver definições e implicações nas páginas seguintes).
•••• Fases da congelação
Para compreender as fases da congelação, observe-se a figura seguinte, na qual é
apresentado um gráfico com diversas curvas de congelação, obtidas medindo a
temperatura no centro do produto, desde a refrigeração prévia à congelação completa.
•••• Velocidade de congelação
Importa compreender que, quanto mais rápida for a fase de cristalização, melhor é a
qualidade do produto final. De facto, se a congelação for rápida, os cristais de gelo
formados serão pequenos e em grande número, dando origem a pequenas perfurações
das membranas celulares; se, pelo contrário, for lenta, os cristais serão grandes e em
menor número, originando perfurações profundas nas membranas das células.
Esta explicação, muito em voga até aos anos 70, não é hoje considerada suficiente, mas
continua a ser válida quando conjugada com uma outra, mais recente: a desnaturação
proteica do pescado é máxima entre -1 e -2 ºC, quando uma parte da água está
cristalizada e há uma maior concentração de enzimas e outros compostos considerados
“desnaturantes” na parte não cristalizada; em congelação lenta, o pescado permanece
P. Vaz-Pires
73
muito tempo nesta zona de desnaturação rápida, enquanto em congelação rápida a
desnaturação que ocorrer será sempre em muito menor extensão.
Enquanto o produto for mantido congelado, não é possível distinguir diferenças na
qualidade, mas, assim que é descongelado, as diferenças tornam-se óbvias: pescado
congelado lentamente perde muita água e fluidos celulares, tanto devido às perfurações
celulares (danos sobretudo “físicos”) como a perda de capacidade de retenção de água
das proteínas (danos sobretudo “químicos”), acabando por perder valor nutritivo e
características organolépticas importantes como o sabor, a textura ou o aspecto. Estes
acontecimentos indesejáveis praticamente não têm lugar em pescado congelado
rapidamente.
Fig. 17 - Curvas de congelação comuns. A-S = arrefecimento simples (refrigeração); S = super-arrefecimento (início da cristalização), nem sempre detectável; S-B = subida de temperatura devida à libertação do calor de cristalização; B = ponto de congelação inicial aparente; B-C = fase de cristalização de cerca de ¾ da água do produto; C-D = ligeira cristalização adicional.
P. Vaz-Pires
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Foram assim definidos tempos e formas de classificar a congelação segundo a
velocidade. Uma das classificações (há muitas outras) baseia-se no tempo que a coluna
do peixe (ou última parte a congelar) demora a atingir -18 ºC, sendo considerada
congelação lenta: > 4 horas congelação rápida: 2 e 4 horas
congelação ultra-rápida: (ou ultra-congelação)
< 2 horas
Outra classificação comum é baseada em quantos milímetros por hora de espessura de
pescado sofrem cristalização (ou atingem -5 ºC); neste caso, define-se
congelação lenta: até 2 mm/h congelação normal 5-50 mm/h congelação rápida: 50-100 mm/h
congelação ultra-rápida: 100-1000 mm/h
•••• Vidragem
É uma operação que se realiza, quase exclusivamente, em produtos como o pescado
inteiro ou, pelo menos, com pele. Consiste em mergulhar uma ou mais vezes o pescado
já congelado em água, durante alguns segundos ou minutos, de modo a que se forme, à
sua volta, uma película de água (o vidrado), que protege os peixes de danos físicos,
sujidade e contaminações mas, fundamentalmente, da desidratação durante o
armazenamento. A humidade da câmara, que tende a ser elevada à custa de absorver
humidade onde ela existir, vai ter a contribuição de alguma água da vidragem e não dos
tecidos do peixe. Esta camada de gelo protectora impede também a passagem fácil do
oxigénio para os tecidos do pescado, bem como de cheiros desagradáveis da câmara
que o pescado pode sempre absorver.
•••• Glaciação ou congelação superficial
Consiste em congelar, antes da congelação total, apenas a superfície de produtos muito
delicados ou que tenham tendência a colar-se uns aos outros. É feita, geralmente, em
túneis, com azoto líquido, e aplica-se a produtos húmidos, moles ou pegajosos, que são
especialmente delicados e desprovidos de protecção. São exemplos os camarões
cozidos já descascados e filetes de peixes de elevado valor comercial. A natureza dotou
P. Vaz-Pires
75
os seres aquáticos de protecções muito eficazes: a carapaça dos crustáceos, a pele dos
peixes, a concha dos moluscos… Sempre que esta protecção é retirada, torna-se muito
difícil o manuseamento sem prejudicar o produto.
•••• Congelação e rigor mortis
Pode haver encolhimento do pescado, ao descongelar, se este foi congelado antes de
entrar em rigidez. Esta capacidade do rigor mortis se manifestar, mesmo depois da
congelação e da descongelação de peixes, leva a algumas considerações.
Para congelar peixes inteiros, talvez a melhor solução seja fazê-lo no período pré-rigor, o
que evita esperas mas torna possível o rigor após descongelação, que pode provocar
afastamentos musculares (gaping) e algum gotejamento. Congelar durante o rigor obriga
a esperar, originando também produtos de elevada qualidade, mas com textura variável e
danos no pescado, especialmente se for forçada a sua posição ao congelar. Congelar
pós-rigor obriga a esperas maiores e não implica danos por contracção dos peixes, mas
obriga a cuidados com a temperatura durante a espera.
Para congelar filetes, não é aconselhável fazê-lo em pré-rigor. Não é necessário esperar,
mas é preciso processar depressa; talvez os filetes encolham um pouco, antes da
congelação, mas principalmente encolherão após descongelação, perdendo água por
gotejamento e apresentando afastamentos musculares visíveis. As superfícies de corte
serão também um tanto rugosas. Congelar em rigor permite obter uma qualidade
excelente quando efectuado com cuidado. É necessário esperar e é mais difícil filetar,
mas evitam-se encolhimentos; os peixes que entraram em rigor tortos darão filetes mais
fracos. Finalmente, congelar filetes pós-rigor é talvez a solução mais apropriada,
originando produtos de qualidade elevada e uniforme, sem encolhimentos, mas obrigam a
esperar, mantendo os peixes à temperatura de refrigeração. Para fumagem de filetes, é
preferível evitar de todo a sua congelação pré-rigor. A tabela seguinte resume e clarifica
estas considerações.
P. Vaz-Pires
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Tab. 18 - Vantagens e desvantagens da congelação de peixes inteiros e filetes, antes, durante e após o rigor mortis. (+ = vantagens; - = desvantagens).
PRODUTO PRÉ-RIGOR EM RIGOR PÓS-RIGOR
PEIXE
+
• espera desnecessária;
• gaping improvável (excepto se
houver rigor após descongelação)
• geral/, qualidade elevada e
uniforme
• geral/ qualidade elevada e
uniforme;
• sem perigo de danos por
contracção
INTEIRO
-
• geral/ qualidade média;
• possível rigor após descongelação;
• gotejamento;
• processar rápido
• espera necessária;
• textura variável;
• gaping e outros danos se posição
é forçada e/ou temperatura alta;
• estiva difícil
• espera necessária;
• gaping se há demora ou
temperatura elevada em espera
FILETES
+
• espera desnecessária;
• permite filetagem manual e
mecânica
• qualidade excelente possível;
• sem encolhimento
• geral/, qualidade elevada e
uniforme;
• encolhimento evitado;
• filetagem manual ou mecânica
-
• processamento imediato;
• encolhimento após descongelação;
• superfícies de corte rugosas;
• gotejamento elevado;
• não adequados para fumagem
• espera necessária;
• difícil filetar;
• rendimento menor;
• peixes tortos dão maus filetes
• espera necessária
•••• Estiva de congelados
Após a congelação completa, há que transferir rapidamente o produto para as câmaras
de armazenamento de congelados, normalmente grandes armazéns, nos quais se injecta
e faz circular ar muito frio, com temperatura regulada para -18 ºC (a mais comum) ou
ligeiramente inferior (p. ex.º, -20 ºC ou -24 ºC; normalmente acima de -30 ºC).
A estiva do pescado em câmaras frigoríficas pode ser realizada de várias formas. Existem
câmaras a granel, em desuso, mas ainda usadas a bordo de algumas embarcações
antiquadas, nas quais o pescado é simplesmente colocado, sem nenhuma protecção, ou,
mais frequentemente, em espaços divididos por prateleiras ou placas arrefecidas.
As câmaras modernas fazem uso de caixas apropriadas para o produto que se pretende
manter congelado. Podem ser caixas de fibra sintética para o armazenamento de peixes
soltos (IQF, de individually quick frozen), usado frequentemente para pequenos pelágicos
inteiros, ou embalagens de cartão encerado ou impermeabilizado, também para produtos
soltos, mas especialmente para blocos ou porções de pescado, tanto congelados em
P. Vaz-Pires
77
fresco, como após confecção culinária prévia (os conhecidos pré-cozinhados ultra-
congelados).
•••• Problemas durante a estiva de congelados
Durante a manutenção de um produto congelado, podem ocorrer principalmente 5 tipos
de problemas.
A recristalização é um fenómeno de reorganização dos cristais existentes em cristais
maiores, o que equivalerá a ter realizado uma congelação mais lenta. É devida a
variações exageradas da temperatura, causadas p. ex.º pela abertura frequente das
portas ou por falhas de corrente eléctrica. Pequenas variações de temperatura (de
apenas ± 2 ºC) são suficientes para que a recristalização tenha lugar.
A desidratação é também um problema frequente. Pescado congelado sem protecção
pode perder em água até 5% do seu peso durante apenas 2 meses; pescado vidrado ou
embalado com protecção impermeável perde apenas cerca de 1% num ano. Pescado
desidratado manifesta sabor a palha característico, além de textura mais rígida e aspecto
seco.
A oxidação lipídica é considerada como o grande inimigo da congelação, já que é o
único fenómeno degradativo que a congelação não consegue parar (embora a atrase). É
de tal forma importante que constitui o factor limitante do tempo de conservação de
congelados, que se torna assim muito dependente do teor de gordura do produto.
Pescado com elevado teor de gordura pode ser armazenado, p. ex.º, entre 3 e 6 meses,
enquanto o pescado magro mantém praticamente inalteradas as suas características
iniciais por vezes mais de 1 ano.
A desnaturação proteica é outro problema, normalmente associado à desidratação. A
ligação entre as proteínas e a água é reconhecida como extremamente importante;
quando é afectada, as proteínas tendem a perder as suas propriedades e mesmo a sofrer
desnaturação; a acção microbiana, que pode ocorrer quando há grandes variações de
temperatura, pode ser também uma das causas.
A degradação vitamínica é também uma das alterações possíveis de produtos
congelados. Principalmente as vitaminas lipossolúveis, como as vitaminas A e E e pro-
P. Vaz-Pires
78
vitaminas A (carotenóides), sendo também elas lípidos sujeitos a oxidações, são alvos
fáceis do ataque do oxigénio. As vitaminas do complexo B e a vitamina C perdem
também parte da sua actividade durante a congelação prolongada.
Destes 5 tipos de problemas de congelados, ressalta a ideia de que é necessária uma
protecção eficaz do produto contra entradas indesejáveis como danos físicos, oxigénio,
poluentes, contaminantes e microrganismos e saídas indesejáveis como a água e
compostos nutritivos. Esta protecção é normalmente conseguida pela vidragem em
pescado inteiro, e por embalagens apropriadas noutros produtos.
•••• Descongelação
Embora pareça simples, trata-se de uma operação que tem sido objecto de intensa
investigação a nível mundial. Um dos motivos é que a descongelação de um produto
alimentar é sempre mais lenta do que a sua congelação. Quando se congela um
produto, a camada superficial congela primeiro, pelo que o restante calor é retirado do
centro do produto através do gelo envolvente; durante a descongelação, a camada
superficial descongela primeiro, significando que o calor a fornecer ao centro do produto
terá que atravessar água no estado líquido. Acontece que o gelo é melhor condutor do
calor do que a água líquida (facto que talvez possa provocar alguma estranheza, mas que
está de acordo com a regra geral de que os sólidos conduzem melhor o calor do que os
líquidos), pelo que é sempre mais rápido congelar do que descongelar (figura seguinte).
durante a congelação: durante a descongelação:
processo + rápido processo + lento
caloráguagelo
geloágua
durante a congelação: durante a descongelação:
processo + rápido processo + lento
caloráguagelo
geloágua
Fig. 18 - Congelação e descongelação: fenómenos de transferência de calor.
P. Vaz-Pires
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Os métodos de descongelação estão, também, divididos consoante o princípio e os
meios de descongelação usados.
A descongelação mais simples é a descongelação com ar estático, realizada ao ar e
simplesmente retirando o produto da câmara e colocando-o num local de preferência
fresco, ventilado e sem poeiras ou luz solar directa. Embora um pouco lento, este
processo é usado industrialmente, geralmente durante a noite. Idealmente deveria ser
sempre realizado em câmaras de refrigeração, porque a superfície externa do pescado
pode atingir temperaturas perigosas (acima de 8 ºC) enquanto o interior do produto está
ainda parcialmente congelado, além de que assim se evitam mais facilmente exposições
a factores externos, p. ex.º, contaminações pelo ar, microrganismos, luz ou mesmo
secagem exagerada das superfícies.
Para aumentar a rapidez do processo, pode usar-se ainda a descongelação por ar
forçado, basicamente igual, mas dispondo de ventoínhas que lançam sobre o produto ar
frio ou ligeiramente aquecido. A instalação de filtros ou outros processos de limpeza do ar
pode ser um complemento importante, mas o facto do ar estar em movimento pode
implicar a secagem das superfícies do pescado, pelo que se torna um processo
especialmente apropriado para produtos de alguma forma protegidos ou embalados.
Outro método é a descongelação por imersão em água, mais rápido mas também mais
propício a contaminações cruzadas e a abusos de temperatura. É especialmente
apropriado para descongelar blocos de pescado, para descolar os peixes e livrá-los do
gelo que os envolve, podendo seguir-se uma descongelação ao ar para os peixes já
individualizados (o uso de mais do que um método de descongelação designa-se por
descongelação híbrida ou mista). A qualidade da água é o factor principal a ter em
conta, sendo necessárias renovações frequentes e/ou desinfecções; jamais deverá ser
usada água acima de 20 ºC. É um processo que só se pode usar em produtos com pele
ou de algum modo protegidos, não sendo apropriado para filetes ou produtos com
músculo exposto.
A descongelação por vácuo implica colocação em câmaras herméticas, nas quais é
feito o vácuo e é introduzido vapor de água. Este condensa nas superfícies frias do
pescado, o que constitui uma forma muito eficiente de fornecer calor ao pescado. Usa-se
pouca água e a eficiência é similar à da descongelação por ar forçado, mas pode haver
P. Vaz-Pires
80
problemas de ruptura de tecidos, devido a gases neles contidos e violentamente
libertados pelo vácuo.
Os melhores métodos teóricos para descongelação são os que não se limitam a
descongelar de fora para dentro, conseguindo penetrar na superfície e descongelar
simultaneamente camadas sub-superficiais. São eles a descongelação dieléctrica, a
descongelação por resistência eléctrica e a descongelação por microondas.
Implicam submeter o pescado à acção de correntes eléctricas ou de microondas.
A descongelação dieléctrica, embora cara, é 20% mais rápida do que a descongelação
ao ar ou por vácuo; é um processo relativamente raro, consistindo na colocação de
blocos de pescado sobre um tapete de borracha, que os conduz a uma zona com 2
eléctrodos, um sobre e outro sob o bloco (sem tocar!). Aplicam-se aos eléctrodos
correntes alternas de voltagem elevada e de alta frequência (p. ex.º, 5000 volts, 80 Hz),
que fazem aquecer o bloco de forma aproximadamente uniforme.
No caso da descongelação por resistência eléctrica, que atinge camadas profundas
com relativa facilidade, é sabido que os materiais aquecem quando uma corrente
eléctrica os atravessa, proporcionalmente à resistência que oferecem à passagem dessa
corrente. Este tipo de descongelação, no entanto, implica um aquecimento superficial
prévio do pescado até aproximadamente -10 ºC, p. ex.º por imersão, após o que o
pescado é colocado entre placas metálicas, nas quais se induz uma corrente eléctrica de
baixa voltagem.
No caso das microondas, e embora apenas penetrem 1 ou 2 centímetros em
profundidade, a energia fornecida à água faz vibrar as moléculas, o que, por atrito, gera
calor, que se transmite depois às zonas vizinhas. Há, no entanto, o risco de
sobreaquecimento localizado e mesmo de cozedura parcial do pescado.
Estes 3 últimos métodos são rápidos, mas caros e de difícil controlo, implicando um
grande risco de sobreaquecimento; se bem conduzidos, permitem obter produtos de
elevada qualidade.
A descongelação, em resumo, deverá ser o mais higiénica e rápida possível, mas sem
ser forçada com calor demasiado.
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•••• Recongelação
É do conhecimento comum que um produto que já iniciou a descongelação não deve
voltar a ser congelado. Há várias justificações para esta recomendação.
Em primeiro lugar, um produto descongelado, ainda que parcialmente, perde alguns
líquidos e grande parte dos cristais de gelo; se for recongelado, os cristais formados
serão em princípio maiores do que os primeiros mas, mesmo que não fossem, submeter
as células duas vezes a microperfurações, ainda que pequenas, resulta quase sempre
em produtos de fraca qualidade.
Há também o problema do desenvolvimento microbiológico e da acção enzimática, que
se iniciam a temperaturas muito baixas, e que terão certamente lugar, embora
lentamente, logo que se atinjam temperaturas da ordem dos -10 ºC. Outro facto
importante é que as desidratações, as oxidações, a desnaturação proteica e a perda de
valor nutritivo ocorrem de forma talvez mais intensa, após descongelação, do que em
produtos que nunca foram congelados, pelo que já se perde o suficiente com a primeira
congelação para arriscar uma segunda. No entanto, na indústria é comum recongelar
produtos, muitas vezes porque é impossível não o fazer por motivos tecnológicos (p. ex.º,
quando o pescado é congelado a bordo, é necessário descongelá-lo para o processar e
recongelá-lo para o poder distribuir); mas a indústria realiza normalmente congelação
rápida ou ultra-rápida, obviamente muito menos prejudicial para o produto do que a
congelação, normalmente muito lenta, que é realizada pelo consumidor, em casa. Daí
que possamos concluir que a regra de não proceder à recongelação se destina,
sobretudo, ao consumidor comum, embora seja também uma recomendação a seguir,
sempre que possível, pela indústria.
•••• Rede ou cadeia de frio
A existência de uma rede de estruturas capazes de manter os produtos correctamente
refrigerados e congelados é vital para a vida actual do Homem. Permite distribuir a
populações, anteriormente isoladas em termos de alimentos conservados no frio,
produtos de elevada qualidade e que vão de encontro às modernas recomendações de
organizações como a Organização Mundial de Saúde (OMS) ou a FAO (Food and
Agriculture Organization of the United Nations): a variedade e a multiplicidade alimentar
P. Vaz-Pires
82
são indispensáveis para a manutenção da saúde humana (relembre-se o tipo de
alimentação do homem pré-histórico).
A cadeia ou rede de frio implica energia eléctrica disponível, vias de comunicação
eficientes (principalmente em zonas distantes da costa, em relação ao pescado),
formação profissional adequada do pessoal e dos técnicos que trabalham com estes
alimentos e uma maior iniciativa na investigação, criação, desenvolvimento e manutenção
dos equipamentos necessários.
e) Apertização
As conservas de pescado, em Portugal, constituem a maior indústria de transformação de
produtos da pesca, envolvendo recursos humanos e financeiros que justificam uma
atenção especial.
Em termos simples, trata-se apenas de encerrar produtos dentro de recipientes
herméticos e processá-los termicamente, inactivando enzimas e microrganismos, o que
resulta num produto com uma duração de vários anos (realmente dependente da
capacidade do recipiente resistir ao tempo, mais do que o produto), se forem mantidas as
condições ideais de armazenamento.
As operações complementares são as que permitem preparar o produto para ser
enlatado, fechar hermeticamente a lata e prepará-la para ser posta à disposição do
consumidor. A análise em pormenor do fabrico de conservas de sardinha permite ir
fazendo os comentários necessários para a completa compreensão dos complexos e
numerosos processos que têm lugar numa fábrica de conservas.
•••• Processos tradicional e moderno: o “fabrico de inteiros”
Antigamente, as sardinhas, após descabeçamento e salga, eram cozidas em grelhas
(engrelhadas) e só depois enlatadas. Embora apresentando algumas vantagens, a
desvantagem principal (muita mão de obra) fez com que quase toda a indústria passasse
para o processo moderno ou enlatamento em cru. As sardinhas são enlatadas antes de
serem cozidas, sendo portanto cozidas já dentro da lata. O processo que será descrito
em pormenor será este último, para “inteiros” (sardinhas inteiras, ou seja, com pele e
P. Vaz-Pires
83
espinha), mas o esquema da figura seguinte apresenta os dois processos e permite
reconhecer as diferenças facilmente.
•••• Descrição do processo e objectivos
Chegada à fábrica - As sardinhas são geralmente compradas na lota, frescas, passadas
para caixas da fábrica e transportadas em camião. À chegada à fábrica, o camião é
pesado numa báscula; após a descarga das caixas, o camião é de novo pesado, o que
por diferença indica o peso total descarregado. Basta saber o nº de caixas, o peso médio
de cada uma e subtrair o peso das caixas ao total para obter o peso de peixe. Convém
que a qualidade e o tamanho dos peixes seja verificado, pela influência óbvia que terão
no processo: peixes de fraca qualidade darão origem a conservas de má qualidade;
peixes com cargas microbiológicas anormalmente altas podem ser impossíveis de
esterilizar completamente. O tamanho dos peixes irá determinar quantos peixes serão
colocados em cada lata (geralmente, entre 2 e 6).
Descabeçamento e evisceração - Em seguida, as sardinhas são descabeçadas e
evisceradas, normalmente à mão. O objectivo é o de eliminar partes não edíveis e
indesejáveis no processo. A operária faz um corte incompleto do dorso em direcção ao
ventre, junto do opérculo; sem acabar o corte, puxa pelas vísceras, que saem agarradas
à cabeça. Ficam na cavidade abdominal as ovas e o rim. No descabeçamento e
evisceração à máquina, é necessário colocar as sardinhas manualmente nos alvéolos
individuais, orientadas com a cabeça e o dorso para o lado da lâmina. O procedimento
mecanizado é exactamente o mesmo: a máquina efectua um corte incompleto e um
sistema de 2 rolos arranca a cabeça e as vísceras. Há máquinas com uma lâmina
adicional para o corte simultâneo dos rabos, mas são pouco usadas porque a calibração
é difícil e porque é preciso acertar o tamanho dos peixes no enlatamento, pelo que é fácil
cortar os rabos nesta fase.
P. Vaz-Pires
84
Fig. 19 - Descabeçamento e evisceração mecânicos.
Salmoura - As sardinhas são colocadas em salmoura (ou simplesmente moura), com o
objectivo de absorverem sal, o que lhes dará um sabor mais agradável. As escamas
ficam também um pouco mais bem fixas na pele, o que, não sendo um objectivo, é um
resultado positivo desta operação (especialmente se as sardinhas chegaram à fábrica em
gelo de água doce). Os peixes são colocados em tanques de salmoura, onde
permanecem o tempo suficiente para adquirirem o teor de sal pretendido, que depende
da concentração da salmoura e da sua temperatura. A concentração da salmoura, o
tempo de permanência dos peixes, a temperatura da moura e as características do
próprio peixe são os factores que mais influenciam a absorção de sal; pretende-se atingir
um determinado valor pré-estabelecido, por ex.º, entre 0.5 e 1.0 % de sal para o mercado
português.
Enlatamento - As sardinhas são em seguida enlatadas, operação que é sempre manual e
representa o maior custo de mão de obra e o passo limitante da velocidade de todo o
processo, por ser o mais demorado. Tem como objectivo ajustar o tamanho das
sardinhas à lata através de cortes e arrumação cuidada, de modo a preencher
perfeitamente o espaço interno da lata. As operárias cortam o rabo, acertam o tamanho
final cortando um pouco do lado da cabeça (donde resulta uma pequena posta de peixe
P. Vaz-Pires
85
chamada toutiço, que é rejeitada) e colocam os peixes na lata, devidamente arrumados,
de modo a enchê-la bastante porque os peixes vão encolher, mais tarde, na cozedura e
esterilização. As latas levam 2 a 6 peixes, geralmente 3 ou 4; este nº é conhecido por
moule. O moule 3-4 é o mais razoável em termos de mão de obra e aspecto final
agradável para o consumidor, mas nem sempre o tamanho das sardinhas disponíveis no
mercado o permite. Por vezes, as operárias passam imediatamente a lata cheia por água
fria e limpa, o que não evita a necessidade de uma lavagem adicional (passo seguinte).
Inversão ou volteamento - As latas são invertidas, ficando com a abertura superior
voltada para baixo; para que os peixes não caiam e os líquidos e partículas possam
escorrer, as latas são voltadas sobre redes de malha relativamente grande, que podem
posteriormente ser penduradas ou pousadas no cozedor.
Lavagem - Há sempre partículas soltas (escamas, pele, sangue e músculo) dentro das
latas, pelo que é feita nesta fase uma lavagem abundante com água, geralmente com
chuveiros invertidos, durante alguns segundos.
Cozedura - O objectivo da cozedura é retirar alguma água das sardinhas (senão, ela iria
libertar-se na esterilização e notar-se nos molhos de cobertura azeite e óleo, o que é
indesejável) e melhorar a textura do peixe. Nos cozedores a vapor contínuos (ver figura
seguinte), as redes com as latas invertidas, geralmente penduradas em ganchos, vão
percorrer um percurso de 30 a 45 minutos, durante o qual são submetidas a temperaturas
crescentes (entre 60 e 100 ºC). No início da cozedura é mais fácil retirar água, pelo que a
temperatura pode e deve ser menor; na parte final, é necessário um aumento da
temperatura para continuar a retirar água. Nos cozedores a vapor descontínuos, tipo
cofre, as sardinhas são colocadas no interior, o cozedor é fechado e o tratamento de
calor crescente é realizado. Durante a cozedura, liberta-se água (é o objectivo pretendido)
e óleo de sardinha (sem que seja pretendido); a textura e outras propriedades do produto
melhoram com a cozedura.
O arrefecimento após cozedura é um pormenor importante do processo, pois enquanto as
sardinhas arrefecem contraem-se e libertam mais alguma água e óleo; deve ser feito,
portanto, com as latas ainda invertidas.
P. Vaz-Pires
86
Inversão ou volteamento - As latas podem agora regressar à sua posição normal, para
poderem continuar o processo.
Adição de molho - Normalmente associada à cravadora, a injecção de molho nas latas
faz-se através de torneiras sempre abertas ou automáticas, de modo a encher
completamente as latas. Há sempre molho que escorre para fora, o que é normal.
Fig. 20 - Cozedores: a) cozedor descontínuo (tipo cofre); b) carro-suporte dos tabuleiros do cozedor tipo
cofre; c) cozedor contínuo (em 1º plano, a entrada, com suportes de tabuleiros de latas invertidas).
Molhos gordurosos de elevado valor comercial (azeite e óleos vegetais) são recuperados,
filtrados e reciclados; o excedente de molhos baratos, como o de tomate, é habitualmente
rejeitado.
Cravação - É, sem dúvida, um dos passos mais importantes, senão o mais importante. As
latas são encaminhadas para a cravadora, que possui também uma entrada para os
tampos. Estes são por vezes marcados (lote, produto, ano) por gravação (marcador de
tampos); é normalmente gravado um código de 3 letras, sendo a 1ª o peixe, a 2ª o
P. Vaz-Pires
87
processo e a 3ª o molho de cobertura. P. ex.º, SPO = sardinha-s/pele e s/ espinha-em
óleo.
A cravadora coloca o tampo sobre a lata e, em dois passos sucessivos, crava-o de forma
hermética no corpo, usando roletes metálicos que vão rodear toda a futura cravação. O 1º
passo consiste em colocar os rebordos (ganchos) do tampo e do corpo na posição
correcta; o 2º passo é o aperto dos ganchos, de forma a tornar hermética a ligação (figura
seguinte).
Fig. 21 - Cravação: ajuste prévio, 1º e 2 º passos e cravação pronta.
P. Vaz-Pires
88
Interessa ainda saber que nos tampos, no local da cravação, existe um vedante de
borracha sintética, acinzentado, que fica esmagado dentro da cravação e que ajuda a
garantir que a lata fica perfeitamente estanque.
Fig. 22 - Nomenclatura das principais medidas a efectuar no controlo da cravação (vista em corte).
Lavagem - A seguir à cravação, segue-se a esterilização das latas em autoclave, um
equipamento de alguma precisão, com tubagens para água e vapor, portanto sensível a
partículas e gorduras soltas. É assim necessário proceder a uma lavagem da parte
P. Vaz-Pires
89
externa das latas, nas quais há sempre partículas de peixe e restos de molho. A lavagem
pode ser uma simples passagem por água, por imersão das latas, ou ser ajudada com
jactos, chuveiros, e mesmo detergentes, que não devem conferir cheiros e devem ser
fáceis de eliminar para não tornarem as latas pegajosas. Estes dois problemas fazem
com que a maior parte das indústrias não utilize detergentes nesta fase.
Esterilização - O objectivo é o de inactivar as enzimas e induzir a morte dos
microrganismos dentro da lata, o que corresponde a eliminar os factores de degradação e
implica que o produto, enquanto a integridade do recipiente for mantida, não se degrade.
As latas são colocadas em cestos metálicos, que são introduzidos nos autoclaves.
a)
b)
Fig. 23 - Autoclaves: a) autoclave vertical; b) autoclave horizontal (desenhados em escalas diferentes).
Estes equipamentos, usando vapor de água e água, vão aquecer o seu conteúdo de
modo a que, no mínimo, as latas sejam processadas por um certo tempo, a uma certa
temperatura. O tratamento térmico depende do formato, material e tamanho das latas e
do enchimento do autoclave, pelo que é costume colocar um termopar numa lata que
esteja em posição central e medir com precisão o tratamento a realizar. A maior parte das
conserveiras esteriliza latas ¼ club 30 a temperaturas entre 115 e 121 ºC, por tempos
P. Vaz-Pires
90
entre 30 e 45 minutos. O autoclave, que funciona por programação prévia, aquece,
mantém e arrefece o produto, e regista o perfil de temperaturas real obtido em cada ciclo.
A esterilização total e completa provavelmente não é nunca conseguida; o que realmente
se passa é que, nas condições de armazenamento normais, os microrganismos viáveis
que possam ter resistido ao tratamento térmico serão incapazes de se desenvolver e
causar a degradação do produto. A esterilização comercial é calculada para eliminar
aquele que se considera ser, até hoje, simultaneamente o factor mais preocupante e mais
resistente ao calor: a bactéria Clostridium botulinum. Este organismo existe no peixe no
seu habitat natural, é patogénico (causa o botulismo, doença gravíssima que pode ser
fatal), produz toxinas muito activas, forma esporos muito resistentes ao calor e cresce em
anaerobiose. As latas incham muito durante o aquecimento (por aumento de volume do
peixe e do molho) e regressam à sua forma normal durante o arrefecimento.
Arrefecimento - Não se trata aqui do arrefecimento que o próprio autoclave controla, para
ser possível abrir as portas (normalmente entre 50 e 70 ºC); o arrefecimento aqui referido
deve ser realizado após saída do autoclave, sem manipular as latas (latas quietas, em
sítio limpo e seco, sem correntes de ar e sem manipulações) e de forma muito gradual,
até as latas atingirem a temperatura ambiente. O objectivo é impedir a entrada de ar e
microrganismos através da cravação, mesmo se esta estiver perfeitamente efectuada,
que pode ocorrer se houver diminuição brusca da temperatura. O arrefecimento lento
das latas é, por isso, um passo importantíssimo do processo.
Lavagem - Há industriais que realizam uma lavagem externa das latas, para evitar
gorduras e partículas de peixe, que têm nesta fase uma importância meramente
comercial. Devido aos riscos de entrada de microrganismos através da cravação (por
pancadas ou maus tratos, lavagem sem o arrefecimento estar completo, uso de água
quente, etc.) é preferível não a realizar. Quando é feita, normalmente é auxiliada por
detergentes; a qualidade microbiológica da água é, como é evidente, primordial, embora
se possa pensar o contrário porque as latas já foram esterilizadas e são estanques mas,
como vimos, ainda podem ocorrer entradas para o interior.
Secagem - Como o destino das latas é serem encartonadas (metidas numa caixa de
cartão), empapeladas (embrulhadas em papel), ou apenas encaixotadas em embalagens
de cartão canelado, é óbvio que a humidade é prejudicial. Ou se espera até que
P. Vaz-Pires
91
desapareça (lento e pouco prático), ou se procede a uma secagem com ar forçado, seco
e pouco quente (se for muito quente, torna-se a pôr o problema das pressões já referido).
Quarentena - Em princípio e se foram cumpridos todos os requisitos referidos, as
conservas serão estáveis se forem tratadas convenientemente; mas, se houve algum
problema, os microrganismos podem desenvolver-se e, embora em casos raríssimos,
causar a morte do consumidor, pelo que a indústria realiza espera de 2 a 4 semanas
antes de comercializar as latas. Se, durante este período, as latas não oparem (uma lata
inchada é designada como lata opada), significa que não cresceram microrganismos
capazes de produzir gás (a maioria produz gás ao crescer); análises de diferentes tipos
podem ser feitas a algumas latas e, se houver indícios de problemas, o lote poderá
facilmente ser rejeitado. O objectivo é esperar, para confirmar a existência de algum
problema.
Embalagem - Se as latas são ilustradas (já contêm, na sua superfície, as informações
necessárias à venda e consumo), são simplesmente encaixotadas, geralmente em caixas
de 100 latas. Se não são ilustradas, existem neste momento 3 tipos de apresentação
comercial: meter em caixas individuais (cartonettes), à mão ou à máquina, operação que
se chama encartonar; embrulhar em papel ilustrado e em celofane transparente,
processo antigo que se designa empapelar; mais recentemente, há empresas que
simplesmente colam autocolantes em várias das faces da lata. A escolha depende
apenas de critérios comerciais.
Tratamento após saída da fábrica
As latas devem ser sempre tratadas com cuidado, evitando pancadas e pressões (as
latas de folha de alumínio são ainda mais frágeis do que as de folha de Flandres; ver
adiante). As temperaturas devem ser as normais de uma despensa caseira (entre 10 e 25
ºC), e a humidade relativa baixa. A exposição ao sol é, como para todos os alimentos,
prejudicial. A regra geral dos alimentos e medicamentos (armazenar em local fresco e
seco, ao abrigo da luz solar) é sempre para ser cumprida. Deve ainda ser verificado o
estado das superfícies externas da lata, de modo a detectar a corrosão no seu início.
P. Vaz-Pires
92
Latas amolgadas, com pontos de ferrugem e com aspecto inchado, manchado ou de
alguma forma estranho não devem ser consumidas.
O processo descrito é o processo moderno de fabrico de sardinhas inteiras, usando o
enlatamento em cru. Antigamente e ainda hoje, há fábricas que usam o processo
tradicional: a cozedura em grelhas (engrelhamento antes de cozer), mais demorado e
caro do que o moderno, mas originando produtos mais uniformemente cozidos e de
textura ainda mais apreciada. As sardinhas, após a salmoura, são engrelhadas, cozidas
nas grelhas, e só depois enlatadas (portanto, são enlatadas já cozidas). São, depois,
cuidadosamente retiradas das grelhas e colocadas nas latas pelas operárias, seguindo-se
a adição de molho e os restantes passos já descritos.
P. Vaz-Pires
93
CONSERVAS DE SARDINHA - DIAGRAMA DE SEQUÊNCIA
CHEGADA À FÁBRICA
| DESCABEÇAMENTO
E EVISCERAÇÃO (manual /
mecanizado)
� RETIRAR ESPINHA
(mecanizado)
↓ � �� � � � �
⇐ ⇐ SALMOURA � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � � ↓ � � �
ENGRELHAMENTO ENLATAMENTO ENGRELHAMENTO CORTE DE RABOS UNIÃO DOS FILETES
� ↓ � � �
LAVAGEM LAVAGEM LAVAGEM RETIRAR ESPINHA (manual)
ENGRELHAMENTO
� ↓ � � �
COZEDURA+ARREFº VOLTEAMENTO COZEDURA+ARREFº ENGRELHAMENTO
� ↓ � � �
ENLATAMENTO COZEDURA+ARREFº RETIRAR ESPINHA (manual)
LAVAGEM � � �
� ↓ � �
VOLTEAMENTO ENLATAMENTO COZEDURA+ARREFº
� ↓ � �
� � ADIÇÃO DE MOLHO RETIRAR PELE
| � �
CRAVAÇÃO ENLATAMENTO
| � �
LAVAGEM C/ ÁGUA LAVAGEM C/ MOLHO
| � �
ESTERILIZAÇÃO
|
ARREFECIMENTO LEGENDA:
| LAVAGEM (variável) | percurso comum a todos os processos
|
SECAGEM ↓ inteiros, procº moderno (enlatamento em cru)
|
QUARENTENA � inteiros, procº tradicional (engrelhamento)
/ | \
ENCARTONAMENTO (lata ilustrada ou colagem
autocolantes)
EMPAPELAMENTO � s/ espinha (manual)
\ | /
ENCAIXOTAMENTO � s/ pele e s/ espinha (manual / mecanizado)
| EXPEDIÇÃO � s/ pele e s/ espinha (manual)
Fig. 24 - Diagrama de sequência do fabrico de conservas de sardinha
P. Vaz-Pires
94
•••• Tipos de latas: o “vazio”
Vazio é o nome dado aos recipientes quando vazios (e cheio aos recipientes cheios).
Existem centenas de formas e tamanhos diferentes, e também uma evolução das
curvaturas e formatos, normalmente determinada por razões técnicas.
Existem actualmente 2 tipos de material para as latas metálicas: a lata tradicional em
folha de Flandres (folha de aço revestida de estanho dos dois lados) e a folha de
alumínio, mais moderna. Ambas são envernizadas na parte interna que toca no alimento,
para evitar o contacto directo metal/alimento, uma vez que a acidez (que, no pescado,
normalmente é pouco acentuada) promove a corrosão do metal. A folha de Flandres é
mais pesada, mais resistente a toques, dá menos problemas ao cravar, e confere um
aspecto mais tradicional; a folha de alumínio, é mais leve, amolga-se mais facilmente, é
mais problemática ao cravar e tem um aspecto mais moderno.
A abertura fácil das latas implica realizar um vinco (realmente, um corte ou rasgo) de por
vezes menos de 50 micra em folhas que podem ter cerca de 200 micra de espessura.
Na tabela seguinte apresentam-se as características dos 2 vazios mais usados em
conservas de sardinha e de muitas outras espécies. Infelizmente, os industriais têm
dificuldade em mudar de vazio (o que de facto é, muitas vezes, difícil) e optam por
adaptar o peixe disponível ao vazio que mais usam, muitas vezes cortando demasiado os
peixes, o que leva a desperdícios que seria útil evitar, ou, no caso de peixes pequenos
demais, encher a lata com um maior nº de peixes, o que implica uma mão de obra muito
maior e custos elevados.
P. Vaz-Pires
95
Tab. 19 - Características de vazios comuns na indústria de conservas de pescado (em destaque, os 2 mais comuns em Portugal).
VAZIO
(designação comercial)
alt. total (mm)
compr. (mm)
larg. (mm)
capac. (g)
1/32 charuto 17 97 23 22 1/10 bijou 21 103 33 53 1/10 club 20 98 46 53 1/8 club 25 98 46 75 1/8 club 30 98 46 93 1/8 baixo 24 99 64 96 1/4 reduzido 18 99 70 73 1/4 especial 25 99 56 90 1/4 usual 22 104 76 106 1/4 usual 24 104 76 125 1/4 usual 30 104 76 169 1/4 usual 40 137 76 250 1/4 usual 43 104 76 297 1/4 usual 40 102 76 313 1/2 rectangular 54 102 76 353 1/4 club 30 102 60 125 1/4 club 35 102 60 153 1/4 club 40 134 60 178 1/4 club 40 117 60 178 1/4 club longo 40 120 60 241 1/4 americano 30 120 86 207 1/2 baixo 30 120 97 245 1/2 alto 40 120 97 330 4/4 80 120 97 330 2.3 kg redonda 115 ∅150 2300
•••• Apresentação da lata ao abrir: o “espelho”
O espelho da lata é o nome dado ao aspecto ao abrir, ou seja, ao que se vê (peixes e
molho) quando se abre a lata normalmente. Em termos comerciais, é obviamente um
factor que influencia grandemente o consumidor. As latas devem ser preparadas e
processadas de modo a garantir um espelho o melhor possível. Defeitos comuns são
peixe mal arrumado, peixe a mais ou a menos, peixes partidos, pele rasgada, escamas
ou partículas soltas no molho, água no molho, molho escuro, marcas das grelhas na pele
do peixe, etc.
De um modo geral, o processo manual origina melhores espelhos; o processo
mecanizado dá origem a conservas com melhor qualidade nutricional e higiénica. Isto
deve-se à maior lentidão do processo manual, que favorece uma degradação maior do
pescado; o peixe dá mais voltas e os molhos têm mais tendência para ficar escuros.
No enlatamento em cru, o peixe é primeiro cortado e só depois cozido, encolhendo
sempre, principalmente no comprimento; após enlatamento, sai sempre algum sangue
P. Vaz-Pires
96
que coze, ficando agarrado; as latas são voltadas 2 vezes, podendo o peixe deslocar-se;
as guias de transporte também provocam deslocações dos peixes na lata. Estes
pormenores tecnológicos estão normalmente associados a espelhos menos perfeitos.
•••• O fabrico de “sem espinha”
O fabrico de sardinha sem espinha é normalmente manual. O descabeçamento pode ser
mecânico e o retirar da espinha também, mas neste último caso fica a notar-se a união
dos 2 filetes na zona abdominal, já que esta sofre um corte longitudinal. A espinha é
retirada manualmente após cozedura das sardinhas em grelhas, com a ajuda de uma
pinça. A operária corta os peixes na zona caudal e puxa a coluna inteira do lado da
cabeça, com cuidado para não se partir.
•••• O fabrico de “sem pele e sem espinha”
Nas sardinhas sem pele e sem espinha, o problema do corte na zona abdominal é ainda
maior, porque a ausência de pele irá revelar ainda mais a imperfeição do corte. É
normalmente feito um aparar das barrigas com tesoura, mas mesmo assim os espelhos
são geralmente piores, devido a partículas soltas de peixe e pele, que irão aparecer no
molho. É também por isso que, em muitas fábricas, se faz a lavagem das latas, antes de
adicionar molho, no próprio molho de cobertura. Esta operação também possibilita uma
maior absorção de molho, uma vez que os peixes não têm pele e absorvem muito mais
molho. No entanto, devido à degradação das partículas e do molho e à dificuldade em
filtrá-lo para poder reaproveitá-lo, seria preferível evitar esta operação.
O descabeçamento mecânico envolve cerca de metade do custo do descabeçamento
manual e contribui para imprimir um certo ritmo na produção. O descabeçamento manual
é, por seu lado, mais eficaz na evisceração e mais adaptável a variações na matéria-
prima.
O enlatamento de inteiros é a operação de mão-de-obra mais cara. O nº de sardinhas
enlatadas em cada lata, conhecido como “moule”, depende do tamanho das sardinhas e
das latas; em latas ¼ club 30, o moule 3-4 (3 ou 4 sardinhas por lata) resulta na mão-de-
obra mais razoável.
P. Vaz-Pires
97
•••• Relação fabrico / peixe
Os industriais escolhem, na medida do possível, a matéria-prima de que necessitam, mas
o mais vulgar é terem de adaptar os processos de forma a aproveitar o melhor possível a
matéria-prima disponível.
O teor de gordura é talvez o factor mais importante a considerar. Geralmente, quanto
mais gorda for a sardinha, melhor sobretudo para a indústria (é muito mais fácil trabalhar
e obter produtos de qualidade elevada); o consumidor só notará diferenças importantes
no paladar.
Para o fabrico de s/pele e s/espinha, um elevado teor de gordura é imprescindível para
uma boa apresentação final, um rendimento elevado das operárias e um consumo de
peixe por caixa reduzido. A simples compressão manual, num peixe gordo, é suficiente
para retirar completamente a pele; em peixes menos gordos, torna-se necessário raspar
com tesoura ou faca, o que implica perda de peso e o eventual aparecimento de
partículas soltas no molho.
Para retirar a espinha, é também muito melhor que os peixes apresentem elevado teor de
gordura; a facilidade desta operação será sempre muito maior.
Nas sardinhas em tomate, é costume utilizar peixe magro ou de transição, não porque o
mais gordo seja pior mas, sobretudo, porque há consumidores preocupados com a dieta
que preferem o tomate como molho de cobertura; é claro que, se o peixe for menos
gordo, estes consumidores apreciarão esse facto. Para além disso, o óleo que se liberta
da sardinha irá notar-se bastante no molho de tomate, conferindo um aspecto gorduroso
indesejável. Os peixes gordos são também indispensáveis para outros fabricos, pelo que
em tomate é costume usarem-se os peixes menos gordos. Também é verdade que o
molho de tomate disfarça um pouco peixes com imperfeições de pele, que nunca
resultariam em bons espelhos em molhos transparentes.
A presença de escamas, que depende sobretudo da idade dos peixes, do tratamento
durante e após captura e do teor de sal (que ajuda a fixar a escama) é também
importante. Quanto mais escamudo, melhor para a indústria de conservas. A integridade
dos peixes é maior e a adesividade menor. Quanto mais gordo for o peixe e quanto mais
cheia estiver a lata, mais importante é a presença de escamas fortes e bem fixas, para
P. Vaz-Pires
98
que os peixes não percam pele. A operação de tirar a pele é mais difícil e demorada se
os peixes têm poucas escamas; no molho água, a pele solta-se mais facilmente, pelo que
a escama ajuda a obter bons espelhos.
•••• As opções de fabrico mais comuns
Em resumo, como optar de acordo com a matéria-prima?
Em inteiros em óleo ou azeite, todos os peixes servem; no entanto, na Primavera as
barrigas têm mais tendência para rebentar; os peixes escamudos, gordos ou intermédios,
são os mais adequados.
Para o fabrico de inteiros em tomate, usam-se preferencialmente peixes magros e
intermédios. Se os peixes estiverem ligeiramente oxidados, é também neste fabrico que
esse facto se irá notar menos, pois em óleo ou azeite o molho escurecerá mais
rapidamente.
Para fabrico de sardinhas sem espinha, a preferência deverá ser dada a peixes
escamudos, gordos ou intermédios.
No sem pele e sem espinha, devem ser usados peixes grandes, gordos e intermédios; a
escama é útil, mas é ainda mais útil para inteiros e sem espinha.
•••• Manipulação excessiva: um mal dificilmente evitável
As conservas de peixe permitem compreender, talvez melhor do que qualquer outro
processo, que o pescado é muitas vezes tocado, manipulado, transportado, aquecido,
arrefecido, etc., e que apenas matéria-prima de excelente qualidade pode dar origem
a produtos de excelente qualidade. É, por isso, crucial que o pescado seja tratado da
melhor e mais rápida forma possível até chegar à fábrica, onde deve ser processado
também de acordo com esses 2 princípios essenciais: rapidamente e a temperatura o
mais baixa possível. Idealmente, o pescado nunca deveria tocar superfícies não
higienizadas, nem estar exposto ao ar, a poeiras, ao Sol, etc.; deveria estar sempre
coberto, e em gelo, antes da chegada à fábrica, e ser resguardado e mantido a baixa
temperatura durante o seu processamento industrial.
P. Vaz-Pires
99
f) Fumagem
A fumagem ou defumação tem manifestado uma importância crescente em Portugal, pelo
que vale a pena conhecer melhor as suas implicações tecnológicas.
Basicamente, consiste em submeter o pescado a um processo de salga, seguido de
uma secagem feita antes (fumagem a frio) ou durante (fumagem a quente) um
período de exposição ao fumo de madeira apropriada, que lhe confere o sabor
desejado.
Os passos gerais são apresentados na tabela seguinte.
Note-se que os processos são quase coincidentes, diferindo apenas na forma como o
pescado é seco e fumado, o que origina também produtos com tempos de conservação
diferentes. Os produtos fumados a frio são mais húmidos, pelo que se conservam menos
tempo. Os fumados a quente têm normalmente um sabor mais intenso, o que se deve
sobretudo à maior facilidade de penetração do fumo nos tecidos do peixe enquanto estão
mais húmidos: na fumagem a frio, a secagem é realizada antes, mas na fumagem a
quente o pescado vai perdendo água à medida que é fumado, o que leva a que o fumo
penetre mais profundamente e eficazmente, em especial no início do período de
exposição ao fumo. Os fumados a quente são também, como regra geral, menos
perigosos, em termos microbiológicos, por serem aquecidos a temperaturas muito mais
elevadas. Geralmente, nos fumados recorre-se a métodos complementares de
conservação como a refrigeração e/ou a embalagem em vácuo, dependendo do teor de
água final do produto (quanto mais seco, maior a duração). A fumagem a frio resulta
frequentemente em pescado com 85-90% do teor de água inicial (só perde, portanto, 10-
15%), implicando sempre refrigeração e muitas vezes embalagem em vácuo; o pescado
fumado a quente pode ter até 70% da água inicial (perde 30%), caso em que a
refrigeração é dispensável. O valor comercial do pescado fumado a frio é, normalmente,
mais elevado do que o do fumado a quente. São frequentemente fumados a frio salmões,
trutas salmonadas, espadartes e atuns; a quente, trutas pequenas e médias, enguias,
cavalas e sardinhas.
P. Vaz-Pires
100
Tab. 20 - Fumagem de pescado: principais passos e objectivos da fumagem a frio e a quente. As operações comuns aos 2 processos foram centradas, as exclusivas de cada processo estão na coluna
correspondente. Em caracteres bold, as operações fundamentais.
FUMAGEM A FRIO FUMAGEM A QUENTE OBJECTIVOS
lavagem do peixe inteiro retirar partículas indesejáveis
descabeçamento, evisceração, etc. retirar partes não edíveis
lavagem retirar partículas indesejáveis
salga seca ou húmida melhorar sabor e textura
lavagem rápida retirar partículas indesejáveis
suspensão (ganchos, cordas, pregos…) permitir exposição uniforme no forno
secagem ligeira ao ar escorrer água em excesso
secagem horas/38 ºC secagem 0.5-4 h/30-45 ºC retirar água, melhorar textura
fumo frio horas-dias/30 ºC fumo quente 8 h/80-100 ºC depositar compostos do fumo
arrefecimento escorrer água em excesso
secagem final retirar água, melhorar textura
embalagem vender, informar consumidor
refumagem periódica eventual aumentar o tempo de conservação
P. Vaz-Pires
101
VI - DO MAR ATÉ À DESCARGA
a) Antes da captura
•••• Concepção das embarcações
As embarcações sofreram, nos últimos anos, evoluções notáveis. Aspectos como a
eficiência, o consumo de combustível, a segurança, a detecção de pescado, o conforto (e
muitos outros…) beneficiaram das descobertas científicas recentes nos materiais de
construção, na informática, na electrónica, na Biologia e tantos outros ramos da ciência.
Hoje em dia, uma embarcação de pesca é um sofisticado conjunto de milhares de
componentes, permitindo um trabalho no mar em tudo diferente do que era possível há
apenas 100 anos.
Os aspectos mais importantes numa embarcação de pesca, em relação à Tecnologia do
Pescado, são os que se referem ao processamento das capturas e à sua estiva nos
porões. Os materiais devem ser facilmente laváveis e higienizáveis, e todo o desenho
deve ter em conta a higiene, evitando zonas de limpeza difícil ou de acumulação de
detritos; a ventilação e o correcto escoamento de fluidos devem ser previstas desde o
início, já que são um problema agravado a bordo; a funcionalidade das opções de
construção deve ser estudada e experimentada previamente.
•••• Trabalho a bordo
As pessoas que trabalham em embarcações têm também beneficiado de grandes
melhoramentos nas condições de vida e trabalho a bordo, indispensáveis para garantir
um trabalho eficiente, seguro e confortável, tanto na pesca como em qualquer outra
actividade. A ergonomia, que é o estudo técnico das regras de adaptação entre o
trabalhador e o equipamento de trabalho, tem vindo a ser aplicada às embarcações, com
resultados muito positivos. Através do registo de condições, ocorrências e acidentes, têm
sido adoptadas novas medidas de planeamento do trabalho, de gestão de espaço, tempo
e esforço e também de segurança (campo particularmente importante a bordo). Prevê-se
a continuação do enorme desenvolvimento desta área no futuro.
P. Vaz-Pires
102
•••• Tratamento de madeiras e metais
Não basta escolher materiais adequados, há também que saber prepará-los para o
exigente trabalho a bordo. Uma embarcação é, muitas vezes, maioritariamente
constituída por madeiras e/ou metais, materiais que necessitam de tratamentos especiais
para serem usados em ambiente húmido, de temperatura muito variável e em locais de
difíceis acesso, limpeza e ventilação. Os materiais para isolamento, protecção e pintura
de madeiras e metais sofreram uma evolução que acompanhou a indústria química
recente, sendo possível usar materiais atóxicos, lisos, sem cantos, laváveis, resistentes a
óleos e ácidos, antifúngicos e antibacterianos, elásticos, anti-corrosão, resistentes à luz
solar, coloridos, resistentes a variações grandes e bruscas de temperatura, etc. Utilizam-
se tintas, primários e tratamentos anti-corrosão para aplicar antes ou depois da corrosão
ocorrer, revestimentos com vários tipos de fibras sintéticas, tanto para a protecção interna
de porões como para as superfícies em contacto com o pescado, e até para o casco dos
navios; espumas isolantes auto-expansíveis para preenchimento rápido de espaços, etc.
Pode dizer-se que, a bordo, não existe nenhum material ou componente que não tenha
sofrido melhoramentos nos últimos anos.
•••• Higiene e higienização
A forma de proceder à higienização moderna é também importante. Usam-se
basicamente 3 fases:
A lavagem, que consiste na remoção mecânica da sujidade visível, é feita principalmente
com água fria ou quente. As mangueiras normais são muito utilizadas, sendo designadas
por sistemas LPHV (low pressure high volume), com pressões aproximadas de 5 bar e
volumes de cerca de 500 l/min. Quando necessário, a lavagem pode ser auxiliada por
dispositivos que garantem a pressão e a precisão adequadas, tais como os sistemas
HPLV (high pressure low volume) portáteis ou fixos, vulgares na lavagem de automóveis,
normalmente com pressões entre 40 e 100 bar e volumes entre 5 e 90 l/min. Há também
sprays de água quente a baixa pressão, pistolas de vapor de água de baixa e alta
pressão, etc.
Segue-se a detergência, na qual se usam produtos capazes de remover gorduras
através da sua ligação à água, ao mesmo tempo que penetram melhor em espaços
P. Vaz-Pires
103
pequenos, poros ou outros de difícil acesso. Podem ser usados os dispositivos auxiliares
já referidos na lavagem, e ainda sistemas de produção de espuma e gel, entre outros.
Finalmente, usa-se a desinfecção, envolvendo produtos capazes de eliminar e/ou
remover microrganismos em excesso das superfícies onde se acumulam.
Entre cada uma destas fases, para remover completamente restos de produtos e para
tornar possível a fase seguinte, são usados enxaguamentos abundantes com água limpa.
Os sistemas de limpeza que implicam parar a produção e iniciar a fase de higienização,
que envolvem a utilização de meios propositadamente transportados para os locais
adequados, designa-se COP (cleaning out of place).
Quando o sistema de higienização está perfeitamente integrado na produção, como nos
casos em que há circulação de alimentos em tubos fechados, havendo ciclos automáticos
de limpeza alternados com os ciclos de produção, controlados por computadores e
realizados de forma programada, o sistema toma a designação CIP (cleaning in place).
Esta é, sem dúvida, uma das áreas que têm sido objecto de uma profunda investigação e
consequente melhoramento, que certamente continuará no futuro.
•••• Viagem até pesqueiro
Na pesca, após a preparação, cujos problemas fundamentais foram abordados nos
tópicos anteriores, existe normalmente uma viagem até ao local das capturas. Esta
viagem é importante por motivos económicos, pois o problema dos armadores ou dos
pescadores é sempre o conseguir o pescado suficiente para compensar os custos do
gasóleo, do pessoal, da preparação e dos gastos com os equipamentos e manutenção (e
ainda algum lucro, obviamente). Daí que todo o esforço de investigação dedicado à
poupança de combustível tenha possibilitado a subsistência de muitas empresas de
pesca. Poupar combustível consegue-se através de melhoria nos motores e no
hidrodinamismo e aerodinamismo das embarcações, campos também em permanente
desenvolvimento.
P. Vaz-Pires
104
•••• Detecção de pescado
A viagem até ao local de pesca só termina quando o pescado é detectado e se iniciam as
operações de captura. Por isso, é importante que o método de detecção seja eficiente. As
sondas e os sonares têm sido, desde a época das grandes guerras mundiais,
sucessivamente melhorados; pratica-se já a detecção aérea com helicópteros, e estão
em estudo sistemas que a permitem via satélite. A electrónica e a informática estiveram
na base da grande evolução, não só na detecção, como também na navegação e na
localização no mar.
•••• Métodos de captura
Trata-se de mais uma área que beneficiou enormemente das descobertas e invenções
recentes. Do homem pré-histórico que pescava à mão, houve certamente um enorme
salto para o homem moderno, criador de instrumentos de navegação e pesca que podem
ser totalmente comandados por computadores e com o auxílio de monitores, sem que
seja necessário olhar através dos vidros da ponte de comando… A pesca tornou-se
rapidamente tão eficiente que é hoje possível, infelizmente, pescar quantidades
superiores às que são produzidas naturalmente pelo mar, o que pôs em risco (em alguns
casos graves, esgotou completamente) alguns stocks de espécies aquáticas, não tendo
sido suficiente a investigação conduzida no sentido de evitar este problema.
Na disciplina de Tecnologia da Pesca serão abordados pormenorizadamente os métodos
e artes de captura mais comuns. Aqui, pretende-se apenas fornecer uma visão global que
permita a compreensão das circunstâncias adjacentes à captura do pescado,
especialmente as que interferem com a sua qualidade.
Existem milhares de artes, métodos e utensílios de pesca, espalhados por todo o mundo.
Daí que tenham sido feitos esforços para classificar de forma compreensível todos os
existentes, independentemente da sua antiguidade e da sua contribuição para o total das
capturas mundiais. Optou-se por seguir a classificação de Von Brandt, por ser muito
completa, por seguir uma lógica evolutiva e cronológica e por ter, devido a estas razões,
um valor didáctico comprovado.
Andres Von Brandt dedicou toda a sua vida a viagens para estudo, colecção, e
publicação de informações sobre os métodos e as artes de captura de pescado. Na sua
P. Vaz-Pires
105
classificação, existem 15 grupos de métodos ou artes, divididos em sub-grupos quando
necessário. Na tabela seguinte apresentam-se os nomes dos grupos e subgrupos, uma
descrição sumária e exemplos, sempre que possível incluindo artes de pesca usadas em
Portugal. Repare-se que as artes estão, na medida do possível, ordenadas por ordem
cronológica do seu aparecimento e, como aliás daí resulta, das mais simples para as
mais complexas.
Muitas das peças das colecções de Von Brandt podem ser vistas no museu da Estação
Litoral da Aguda, na praia da Aguda, em Vila Nova de Gaia.
P. Vaz-Pires
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Tab. 21 - Classificação dos métodos e artes de captura de A. Von Brandt (1972).
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•••• Relação entre método de captura e qualidade do pescado
Está provado que quanto mais stress houver imediatamente antes da morte do pescado,
mais cedo se iniciará e menos duração terá o rigor mortis, o que implica atingir níveis de
qualidade mais baixa de forma muito mais rápida.
A partir dos métodos de captura referidos anteriormente, vejamos 2 extremos:
Na pesca com aparelhos de anzol, cada peixe é tratado individualmente, sem contacto
com outros peixes; se for retirado imediatamente da água e morto com uma pancada na
cabeça, este peixe sofreu poucos maus tratos e stress;
Na pesca com redes de arrastar bentónicas de grandes dimensões, por vezes realizam-
se arrastos seguidos de 3 ou mais horas, durante os quais os peixes que entraram
primeiro na rede vão nela permanecer até ao fim do lance. Se a pesca for boa, é natural
que a rede contenha 5 ou 10 toneladas de peixe, que serão sempre comprimidos uns
contra os outros e contra as malhas da rede. Este problema é particularmente grave
quando o saco é içado acima da superfície para colocação a bordo (daí que estejam a ser
estudados outros processos de o retirar da água para bordo, como é o caso das bombas
sugadoras). O nó é então desfeito e o pescado cai sobre o convés, sendo necessário
processá-lo e/ou estivá-lo antes que o lance seguinte esteja terminado. As capturas foram
sujeitas a permanência na rede (certamente debateram-se tentando escapar),
despressurização violenta quando a rede é subida do fundo até à superfície, pressões
elevadas ao içar para o navio, descarga violenta e demora no processamento;
provavelmente a morte foi devida a asfixia e/ou maus tratos. Tudo isto representa um
elevado stress durante a captura, que resultará num período de rigor mortis breve e
começando mais cedo, ou seja, uma qualidade de pescado, em princípio, notoriamente
inferior à do caso anterior.
Fica assim claro que há uma relação estreita entre a forma como o pescado é
capturado e a sua qualidade posterior, que deve ser tida em conta. Os métodos que
mais respeitam o pescado antes e durante a morte deverão ser fomentados; aqueles que
implicam pior tratamento das capturas deverão, na medida do possível, ser evitados. Faz,
portanto, parte de qualquer registo sobre a qualidade do pescado, que se pretenda
P. Vaz-Pires
113
completo, o método de captura e a forma de tratamento, desde a água até à estiva na
embarcação.
b) Processamento a bordo
•••• Generalidades sobre equipamentos de processamento de pescado
As máquinas para processamento de pescado funcionam normalmente por processos e
princípios que são muitas vezes imitações dos procedimentos manuais. Destinam-se a
aumentar a velocidade dos processos (p. ex.º, há filetadoras de 60 peixes/min), permitem
poupar mão-de-obra (em geral, necessitam apenas de 1 operador), tornam possíveis
certas operações muito difíceis ou mesmo impossíveis de realizar manualmente (p. ex.º,
há máquinas para retirar as escamas grossas da linha lateral do carapau). De uma forma
geral, pode dizer-se que as máquinas reduzem o manuseamento humano do pescado.
Estas são as principais vantagens.
Como desvantagens, são difíceis de calibrar, porque a matéria-prima deveria ser sempre
homogénea em tamanho e forma, o que raramente acontece na pesca (na aquacultura já
é mais comum). Este tipo de equipamentos é difícil de escolher e de transportar, sendo
normalmente caro tanto na compra como na manutenção (são máquinas, apesar de tudo,
com um número de vendas limitado), exige um período de adaptação longo e uma
dedicação relativamente grande. O consumo de energia e, sobretudo, de água é
geralmente elevado. A deterioração dos componentes ocorre com facilidade, o que
implica uma manutenção muito cuidadosa (cuidados diários de limpeza e lubrificação,
revisões periódicas e substituição de peças de grande desgaste). O rendimento real só é
calculável com precisão após a entrada em funcionamento, sendo as linhas de produção
difíceis de instalar e coordenar. Uma dificuldade muito referida pelos compradores é que
os modelos à venda são desenhados para processar quantidades muito grandes de
matéria-prima (máquinas, portanto, muito grandes, rápidas e caras), sendo difícil
encontrar modelos mais pequenos e mais próximos das necessidades das pequenas e
médias empresas características do nosso país, mas esta tendência parece estar a
alterar-se recentemente, com o aparecimento de máquinas italianas, espanholas e de
outros países cuja realidade industrial está mais próxima da de Portugal.
P. Vaz-Pires
114
•••• Instalação de máquinas a bordo
As máquinas instaladas a bordo de embarcações para processamento de pescado
obedecem aos mesmos princípios das máquinas em terra, mas estão sujeitas a algumas
condicionantes adicionais. As principais dificuldades a bordo são o reduzido espaço
disponível, o tempo escasso para algumas operações (antes de uma descarga é
necessário despachar toda a anterior e higienizar), a obtenção de energia e água e o
movimento e vibração contínuas; é mais difícil proceder à limpeza, à higienização, à
ventilação e o efeito do calor gerado a bordo pelas máquinas é sempre difícil de dissipar.
A higiene pessoal a bordo é também mais complexa, devido ao trabalho árduo e em
condições por vezes bastante adversas (condições climáticas, cansaço extremo, água
doce pouco abundante, espaços reduzidos, calor intenso, etc.). A corrosão é um
fenómeno muito mais preocupante devido à presença constante da humidade e do sal. A
segurança é sempre problemática a bordo, o que leva a algumas restrições adicionais
aos equipamentos a instalar: p. ex.º, durante muitos anos não foi possível instalar a bordo
máquinas de frio cujo gás refrigerante seja o amoníaco, devido ao perigo de explosão e à
sua elevada toxicidade, se se escapar do sistema.
Por tudo isto, a maquinaria a instalar a bordo é muito mais robusta, cara e compacta, o
que é difícil de conciliar com uma utilização simples e uma limpeza fácil.
•••• Ligação entre método de captura e trabalho a bordo
A bordo, as operações são muito diferentes consoante se trate de pesca de pequenos
pelágicos ou de pesca de exemplares de grande porte. Os pequenos pelágicos são
normalmente apenas colocados em tanques ou depósitos; por vezes, é-lhes adicionado
gelo e faz-se o regresso rápido a terra. Idealmente, deveriam ser colocados em caixas,
completamente envoltos por gelo e devidamente estivados, de preferência em
refrigeração, evitando-se assim a sua desnecessária manipulação na descarga e a sua
deterioração precoce, bem como a exposição ao Sol e ao ar.
•••• Operações a realizar
São operações que visam geralmente retirar partes inúteis e/ou prejudiciais. A cabeça
representa uma grande parte do peso corporal total (cerca de 20% em peixes fusiformes),
não é geralmente comestível e iria ocupar espaço e obrigar a maiores gastos com a
P. Vaz-Pires
115
conservação; as vísceras (cerca de 16% do peso total, considerando o conteúdo da
cavidade abdominal completo, incluindo o fígado e as gónadas) contêm um elevado nº de
microrganismos e enzimas e não são normalmente comestíveis; o sangramento permite
estivar o pescado sem que este contenha muito sangue nos vasos, o que acaba por
manchar os tecidos circundantes e pode representar uma via de entrada de
microrganismos do exterior. É feito por corte da cabeça e/ou das brânquias, seguido de
espera, mergulhando os peixes em água ou pendurando-os; no 1º caso, a renovação
frequente da água é, obviamente, um factor primordial para a qualidade organoléptica e
sobretudo microbiológica dos peixes). Finalmente, as escamas podem ser retiradas,
embora ajudem a manter a integridade da pele quando presentes, pelo que esta
(escamação ou descamação) operação deve ser feita o mais tarde possível, de
preferência imediatamente antes de cozinhar os peixes. Operações como o
descabeçamento e a evisceração podem ser realizadas à máquina, o que só é viável
quando as capturas são constituídas por exemplares relativamente grandes, da mesma
espécie e com tamanho aproximadamente igual.
•••• Escolha e separação
As redes pescam muitas vezes misturas de espécies e de tamanhos, que fazem diminuir
o valor do pescado. É muitas vezes realizada, a bordo, uma separação de tamanhos,
espécies e, por vezes, exemplares sem interesse comercial (e mesmo pedras, algas e
objectos inesperados, normalmente devolvidos ao mar). Segue-se uma primeira lavagem,
evitando que o pescado seja estivado com lama, areia, lodo, algas, etc, o que prejudicaria
a sua qualidade (as redes de arrasto bentónicas são, também por isto, colocadas numa
posição pouco favorável, em relação a muitas outras artes de pesca).
Os peixes de maiores dimensões podem ser (e normalmente são) sujeitos a vários
processos, mais ou menos complexos e mecanizados. Os principais são o sangramento,
a evisceração e a lavagem subsequente, neste caso absolutamente indispensável:
destina-se a retirar os restos de sangue e conteúdo intestinal, que são fontes de
microrganismos e de nutrientes para o seu crescimento.
P. Vaz-Pires
116
•••• Sangramento ou sangria
Para a operação de sangramento, não existem equipamentos especiais, excepto se se
realizar esta operação conjugada com o descabeçamento. Existem máquinas
especialmente desenvolvidas para o descabeçamento a bordo, que implica o corte de
grandes vasos (p. ex.º, aortas dorsal e ventral) e permite, se se facilitar essa operação,
um sangramento eficaz. Importa sobretudo esperar algum tempo para que o sangue
possa escorrer, o que ocorrerá mais facilmente se o peixe for pendurado verticalmente de
cabeça para baixo ou se for mergulhado em água absolutamente limpa.
•••• Descabeçamento e evisceração
A descabeçadora está por vezes associada a uma unidade de evisceração, operação que
pode ser efectuada de duas formas: por corte do músculo rente à cavidade abdominal, ou
por sucção das vísceras através de um golpe longitudinal, normalmente da zona das
brânquias até ao orifício anal. O rim, por ser longo, retro-peritoneal e muito aderente, não
pode ser apenas sugado, o que implica a utilização de escovas ou outras formas de o
raspar e desfazer, a fim de o conseguir eliminar. Pode ainda ser retirado à mão, com
raspadores tipo colheres de bordo aguçado. Seguem-se alguns exemplos (figura
seguinte) de utensílios próprios para corte, evisceração, raspagem de escamas, etc.
Fig. 25 - Exemplos de utensílios usados no processamento de pescado. a) eviscerador e raspador de rim; b), facas para pescado; c) raspador de escamas ou escamador.
•••• Filetagem, corte em postas e outros cortes
Destinam-se a eliminar partes não edíveis (coluna vertebral, outras estruturas ósseas e
pele) e a obter produtos mais atractivos e fáceis de utilizar. A filetagem consiste em retirar
as 2 grandes massas musculares que constituem os 2 lados dos peixes, que são a parte
P. Vaz-Pires
117
edível principal. Pode ser feita à máquina, mas apenas em certos casos. Os cortes dos
peixes em postas e outras porções têm um objectivo comum: proporcionar produtos de
fácil utilização e manuseamento, e também mais agradáveis à vista do que peixe inteiro.
•••• Preparação para a conservação
Neste tópico (às vezes chamado pré-tratamento) incluem-se as lavagens com água ou
com determinadas soluções, a frio ou a quente, bem como a adição de produtos que
melhoram a conservação do pescado. Exemplos são os tratamentos por adição de pó de
sulfito, bissulfito ou metabissulfito de sódio ou potássio, e os banhos com os ácidos
cítrico, ascórbico e etileno-diamino-tetracético (EDTA), usados após cozedura de
crustáceos a bordo, para evitar a melanose, e o uso de polifosfatos para melhorar a
capacidade de retenção de água em filetes e outros produtos sem pele.
Para o tratamento prévio ou pré-tratamento de crustáceos, que normalmente são lavados
e polvilhados com pós anti-melanose, não são vulgares equipamentos especiais. Uma
simples mangueira com água do mar limpa permite uma boa lavagem; a mistura de
aditivos, normalmente em pó, é simplesmente espalhada em camadas finas sobre cada
camada de camarão ou lagostim, com uma pequena pá. Quando se usam tratamentos
por imersão em soluções anti-melanose, utiliza-se uma cuba ou tanque; para a cozedura
a bordo, é usada uma panela ou cuba grande, com possibilidade de aquecimento e com
cestos para fácil imersão dos crustáceos no banho.
Os moluscos, a bordo, são simplesmente escolhidos e lavados em água do mar
abundante (uma bomba e uma mangueira facilitam esta operação), e estivados em
sacos, dado que são descarregados em terra, ainda vivos, em poucas horas; não
necessitam de equipamentos especiais a bordo.
•••• Estiva de pescado
Consiste no correcto armazenamento do pescado, de forma a ser possível mantê-lo nas
melhores condições até à sua descarga. Hoje em dia, o pescado é refrigerado por adição
de gelo e mantido em porões refrigerados, em pesca que implique viagens relativamente
curtas (viagens de até 3-5 dias); procede-se à congelação das capturas a bordo em
viagens mais longas.
P. Vaz-Pires
118
No caso da refrigeração, os navios possuem um local apropriado para o armazenamento
de gelo, que é enchido com gelo de água doce, em terra, ou que vai sendo enchido por
uma máquina de fabrico de gelo instalada a bordo, que geralmente faz gelo com água do
mar. Estes equipamentos têm, como características especiais, apenas as já referidas
para os equipamentos a instalar a bordo. No caso do gelo ser feito a bordo com água do
mar, à dificuldade da correcta regulação da temperatura, sem a qual as capturas podem
congelar parcialmente, acresce a passagem inevitável de algum sal para o pescado, nem
sempre desejável.
O pescado pode ainda ser arrefecido rapidamente por imersão em água refrigerada
mecanicamente (RSW, de refrigerated sea water ou RFW, de refrigerated fresh water) ou
misturada com gelo (CSW, de chilled sea water ou CFW, de chilled fresh water), e ser
colocado sem gelo em porões refrigerados, embora esta prática tenha sido quase
abandonada: a difícil higiene durante a imersão, a secagem da pele durante o
armazenamento e a demora na estiva são desvantagens importantes.
Durante o armazenamento em porões refrigerados, é possível melhorar a conservação do
pescado alterando a atmosfera do porão. Actualmente, há várias embarcações da pesca
do arrasto com sistemas de ozonização de porões instalados a bordo, que já provaram
serem capazes de manter mais tempo a qualidade do pescado e, consequentemente,
fazer aumentar o seu valor comercial. Este equipamento é constituído por uma unidade
de ozonização capaz de produzir ozono a partir do oxigénio do ar (o ar é simplesmente
bombeado do exterior, de modo a passar junto de uma lâmpada ionizadora), uma bomba
que suga o ar do exterior da embarcação, e tubagens que conduzem a mistura ar+ozono,
perfuradas na zona do porão. O ozono é assim atirado, de forma contínua, sobre o
pescado já em gelo.
Em viagens longas, de mais do que 3 ou 4 dias, torna-se difícil não recorrer à congelação,
que deve ser sempre rápida ou ultra-rápida. Há navios congeladores que possuem a
bordo túneis de congelação tão sofisticados e eficientes como os que há em terra; são
estes os responsáveis pela existência no mercado de produtos ultra-congelados de
elevada qualidade, muitas vezes superior à dos mesmos produtos frescos, que têm
sempre um ou mais dias em gelo antes de atingir o mercado.
P. Vaz-Pires
119
Existiram também fábricas de conservas completas a bordo de embarcações, mas em
locais e condições muito restritas, sendo hoje muito raras e cada vez menos usadas,
devido principalmente à melhoria nos métodos de conservação. Instalar o processamento
a bordo tem como objectivo aproveitar ao máximo a frescura do pescado, mas a
congelação rápida veio possibilitar o trabalho em terra com uma matéria-prima de
qualidade muito semelhante à fresca.
•••• Pesca artesanal: um caso particular
Pelo carácter e pelo interesse local que representa, a pesca artesanal é um caso muito
especial. Com artes relativamente pequenas e em muitos casos respeitadoras do
pescado e do ambiente, os pescadores artesanais reclamam uma merecida posição
especial em relação aos arrastões e outros métodos industriais de pesca. Há,
evidentemente, casos em que artes algo lesivas são usadas de forma intensa, muitas
vezes repetidamente no mesmo stock e em locais de fragilidade ecológica, o que leva a
acusações de abusos; mas, de uma forma geral, o pescado obtido é vendido poucas
horas após a morte, sem necessidade de conservação especial, embora possa estar
mais poluído devido à origem em águas próximas da costa e, portanto, mais perto da
actividade humana. Em resumo, pela importância económica e social (há dezenas de
comunidades piscatórias em Portugal, com cerca de 40 mil embarcações registadas) e
pelas diferenças fundamentais em relação à pesca industrial (e talvez com respeito à sua
antiguidade, que sabemos ser pré-histórica), é necessário equacionar separadamente
este tipo de actividade, não caindo no erro de a tratar da mesma forma que qualquer
outro tipo de pesca.
P. Vaz-Pires
120
VII - DA DESCARGA AO CONSUMIDOR
a) Descarga de pescado
Após a viagem até ao porto ou local de descarga, durante a qual apenas interessa manter
as condições de estiva previstas e demorar o menos possível, realiza-se a última
operação a bordo: a descarga para o cais. Esta operação é obviamente dependente do
tipo de estiva a bordo.
Na pesca de cerco, na qual a estiva é feita a granel, em tanques, é costume adicionar
alguma água aos peixes, de modo a ser mais fácil transferi-los, com uma nassa (rede em
forma de saco, com um aro metálico na boca, sem cabo), para os cabazes de descarga e
venda, à mão ou com a ajuda de paus de carga. É comum ouvir dizer que, se se
adicionar água doce às sardinhas, estas ficam moles e perdem escama, deteriorando-se
mais rapidamente; mesmo que seja verdade (há de facto alguns motivos científicos para
que assim seja), isso não será nunca uma justificação aceitável para bombear água
directamente do porto de pesca, junto da embarcação, que é o que de facto se faz em
Portugal. A água de qualquer porto de pesca é sempre menos renovada do que seria
ideal, prestando-se à acumulação de todo o tipo de detritos, associados à presença de
embarcações de pesca e outras actividades humanas, pelo que adicionar água
extremamente poluída a um alimento acabado de chegar do alto mar é uma atitude
absolutamente inaceitável. Há várias soluções para evitar esta prática: estudar os efeitos
de o fazer com água doce, que talvez seja menos prejudicial do que se pensa e, no caso
de ser possível, equipar o porto com água potável; equipar o porto com depósitos de
água do mar, conseguida através da sua recolha no mar alto; ou mesmo modificar o tipo
de estiva e descarga, de modo a não ser necessário usar água ou conseguir uma forma
de a trazer junto com o pescado, na embarcação.
b) Transporte até lota
O pescado é então passado de bordo para terra, colocado em carros e transportado para
a lota, para venda normalmente imediata. Infelizmente, a espera pelo enchimento do
carro e o transporte são feitos a descoberto e sem gelo, atitudes que também poderiam
P. Vaz-Pires
121
ser melhoradas, sem dificuldades maiores do que a de mudar um pouco a mentalidade
de quem executa e de quem manda executar.
Na pesca do arrasto, é costume fazer a descarga em caixas, por vezes transferindo o
pescado, do porão para as caixas, apenas no momento da descarga. Também neste
procedimento seria possível introduzir melhorias: a estiva sempre em caixas e sempre
nas mesmas do porto de destino, para possibilitar troca directa de caixas sujas por limpas
e lavagem automática, são exemplos de formas de simplificar operações e tornar mínimo
o manuseamento. O pescado, idealmente, deveria ser colocado em caixas, em gelo,
imediatamente após captura, e não deveria ser retirado do gelo, nem tocado, nem
transferido, a não ser após saída da lota ou mesmo só para venda ao consumidor, o que
mostra bem que estamos muito longe do procedimento ideal, embora em alguns portos
de pesca portugueses tenham sido já parcialmente adoptados sistemas deste tipo.
c) 1ª venda
A 1ª venda do pescado é obrigatoriamente feita em lotas, geridas em Portugal pela
empresa Docapesca, SA. A construção das lotas (principalmente dos locais onde o
pescado circula), a forma de conservar e manusear o pescado e o tempo entre a chegada
e a saída são normalmente factores a melhorar, sendo do interesse directo dos
pescadores, empresas de pesca e transformação e da própria lota que isso aconteça: o
valor do pescado é tanto maior quanto melhor for a sua qualidade, embora nem sempre
os mecanismos de valorização do pescado funcionem na perfeição. Há, de facto, outros
factores que interferem com a valorização, como a abundância da mesma espécie e/ou
de outras, a época do ano, a origem do pescado, etc., que até agora tem sido difícil gerir
da melhor forma. Chega-se ao extremo de haver embarcações com pescado recém-
capturado que esperam 1 ou mais dias, ao largo, devido à sua abundância momentânea,
por saberem que valerá mais dinheiro mais tarde, mesmo com qualidade inferior…
O sistema moderno de venda em lota, desenvolvido em Portugal e adaptado a diversos
outros países, é um sofisticado sistema electrónico, que funciona com o apoio da
informática. Inclui quadros electrónicos com informações, destinadas aos compradores,
sobre o lote de pescado em venda, e um sistema de comandos à distância para que o
leilão do pescado decorra de forma imparcial. O preço do pescado é iniciado por um valor
elevado, o preço vai então diminuindo automaticamente, até que o 1º comprador accione
P. Vaz-Pires
122
o seu telecomando. O preço desse instante será o preço desse lote, que fica registado na
base de dados, em conjunto com a identificação do comprador. Fica assim garantida a
rapidez e a imparcialidade dos serviços da lota, que cobra yuma taxa sobre o valor do
pescado vendido (de facto, a lota nunca é a dona do pescado: antes da venda ele
pertence à embarcação, depois da venda pertence ao comprador).
Fig. 26 - Serviços de Lotas e Vendagens da Docapesca, SA, em Portugal Continental.
P. Vaz-Pires
123
DOCAPESCA LOTE CAIXAS PREÇO 661 1 1450
ESPÉCIE TAM FRE PESO CARAPAU 4 3 5.4 BARCO / AVISOS COMANDO VENDIDO 2674
Fig. 27 - Representação esquemática do painel electrónico
destinado à venda de pescado nas lotas portuguesas.
d) 2ª venda
Após a venda em lota, normalmente feita apenas a compradores profissionais registados,
o pescado sofre nova transferência das caixas da lota para as caixas do comprador, que
muitas vezes tem o cuidado, pela 1ª vez, de lhe acrescentar gelo em quantidade
abundante. A qualidade do gelo disponível para venda, nas lotas, é muitas vezes
questionável, principalmente por possuir elevadas cargas microbiológicas, devidas não
tanto a erros de fabrico do gelo mas sobretudo a deficiente armazenamento; mas é
sempre menos prejudicial manter o pescado em gelo do que mantê-lo a temperaturas
superiores às da refrigeração.
e) Caixas reutilizáveis e não reutilizáveis
As caixas do comprador podem ser reutilizáveis (caso mais vulgar) ou caixas de uma
utilização (não reutilizáveis). Neste segundo tipo, usam-se bastante caixas de esferovite
(poliestireno), de baixo custo, isolantes e muito leves; muitos aquacultores preferem
também este tipo de caixa para acondicionamento e transporte de pescado. Desde que a
quantidade e qualidade do gelo seja suficiente e se cumpram as regras gerais de uma
caixa para pescado (ver atrás), não há nenhuma desvantagem importante em nenhum
destes tipos de acondicionamento.
P. Vaz-Pires
124
f) Transporte de pescado
O transporte do pescado é outro ponto sempre difícil, implicando muitas quebras na
cadeia de frio.
Os veículos de transporte terrestre devem ser cobertos, possuir caixa isotérmica não só
lavável e higienizável como também bem lavada e higienizada (que são coisas muito
diferentes!), com escoamento apropriado, e instalação de frio que possa manter a
temperatura interna correcta durante todo o tempo necessário à viagem do pescado, de
modo a atingir o destino com gelo suficiente para que a descarga se efectue sem abusos
de temperatura. É, de facto, tentador, em pequenos percursos, evitar a maçada de
acrescentar gelo e suportar custos de frio adicionais, mas essa é a única maneira de
manter o pescado nas condições ideais e garantir a sua qualidade como um dos
alimentos mais saudáveis e necessários ao homem.
Muitos países fazem transporte do pescado por via marítima, refrigerado ou congelado.
Em refrigeração é já possível colocar o pescado em contentores isotérmicos, em gelo, e
mantê-lo em boas condições durante 5 ou 6 dias, o que possibilita a sua exportação para
países distantes. Os islandeses, p. ex.º, exportam pescado refrigerado para a Europa
desta forma, em contentores com cerca de 1 m3, com paredes de poliuretano expandido
que garantem um isolamento extremamente eficaz (figura seguinte).
É também possível o transporte de refrigerados e congelados por via aérea, muito
utilizado em Portugal com pescado dos Açores e da Madeira, tendo como destino o
continente. A TAP Air Portugal tem em funcionamento alguns programas para transporte
destes e de outros produtos, em condições especiais.
Fig. 28 - Contentor fabricado na Islândia para transporte de pescado refrigerado. Notar que se trata de uma pallox (conjugação de palette - com furos para o garfo do empilhador - com box -
caixa), com paredes e tampa isoladas com poliuretano expandido, saídas para escoamento de líquidos e fecho fácil nos 4 cantos superiores da tampa (ausente na imagem).
(adaptado de http://www.saeplast.com)
P. Vaz-Pires
125
VIII - AQUACULTURA
a) Características particulares da matéria-prima
Os produtos aquáticos provenientes da aquacultura estão associados a problemas por
vezes diferentes dos produtos da pesca. Começando pelas desvantagens, a aquacultura
envolve uma grande proximidade física entre os seres em cativeiro, o que representa um
maior risco de aparecimento e desenvolvimento de doenças; a água tem, normalmente,
uma qualidade inferior à natural, tanto pela captação junto à costa ou em rios,
normalmente mais poluídos, como pela quantidade, muitas vezes escassa e obrigando a
recirculações; o alimento é, geralmente, de qualidade menos apropriada, quando
comparado com a alimentação natural, mais variada e não sujeita a perdas nutricionais,
por armazenamento prolongado ou inadequado; os peixes são, normalmente, mais
induzidos a alimentar-se em aquacultura, o que leva a maiores teores de gordura
acumulada, em detrimento do desenvolvimento muscular; finalmente, a manipulação
mais fácil em terra do que a bordo pode implicar algum manuseamento desnecessário ou
mais demorado.
Em relação às vantagens, a aquacultura está fisicamente mais próxima do consumidor,
não envolvendo viagens demoradas de embarcações até à costa, e permite planear as
operações com antecedência e precisão, o que evita perdas de tempo e de qualidade; o
pescado pode ser sujeito a procedimentos com vista a melhorar o seu manuseamento
posterior, p. ex.º, ser submetido a jejum para evitar a saída de conteúdo intestinal após a
morte; é possível escolher a forma de proceder ao abate (tabela seguinte), de modo a
minimizar o stress e a atrasar e prolongar o rigor mortis; à morte pode seguir-se
imediatamente a embalagem e a refrigeração, em condições quase sempre muito
melhores do que a bordo; de uma forma geral, pode dizer-se que, em aquacultura, ao
contrário da pesca, é possível controlar quase todos os factores, mas há um preço a
pagar em termos de características organolépticas e de risco para a saúde, como aliás
acontece comparando alguns produtos terrestres, produzidos em condições naturais, com
os seus congéneres da produção intensiva.
P. Vaz-Pires
126
Tab. 22 – Métodos de abate de pescado: tipos, vantagens e desvantagens.
Método nome comum
(nome científico)
Descrição Vantagens Desvantagens
espera fora de água (asfixia)
retirar da água colocar em seco esperar até imobilidade
fácil, barato stress elevado, necessário evitar movimento, implica sofrimento
pancada na cabeça (concussão)
retirar da água bater na cabeça c/ bastão
fácil, barato, rápido, stress e sofrimento baixos
trabalho (1 a 1)
destruição cerebral retirar da água espetar agulha na cabeça mover p/ destruir cérebro
stress reduzido, qualidade final elevada
trabalho (1 a 1), difícil, implica sofrimento
choque eléctrico (electrocussão)
retirar para tanque pequeno c/ água electrochoque
fácil, barato, rápido, permite quantidades elevadas
stress, implica algum sofrimento, perigoso p/ operadores
envenenamento com CO2 retirar para tanque pequeno c/ água borbulhar CO2 na água
fácil, rápido, permite quantidades elevadas
caro, stress médio
abate em repouso não retirar da água usar método de morte imediata
evita totalmente stress, qualidade final elevada
difícil, ainda não industrializado
anestesia prévia retirar para tanque pequeno c/ água anestesiar c/ MS 222, AQUI-S, etc. abate (qualquer método)
evita totalmente stress caro, resíduos de anestésicos nos peixes, demorado
refrigeração prévia retirar da água (ou não) adicionar gelo moído abate (qualquer método)
evita parcialmente stress, refrigeração subsequente melhorada, qualidade final elevada, barato
demorado
Cada vez mais, existe uma preocupação, que se reflecte numa crescente exigência dos
consumidores, com o bem-estar animal e com o respeito pela vida e pelo sofrimento dos
seres que servem de alimento ao Homem, pelo que, também no abate do pescado, há
que tentar utilizar métodos que induzam o menor sofrimento possível nos animais.
A qualidade dos produtos de aquacultura pode ser avaliada pelos mesmos métodos
descritos para o pescado proveniente do meio natural, embora as características físicas,
químicas e microbiológicas da água e os problemas químicos e microbiológicos do
produto assumam uma importância acrescida, pelos motivos já referidos.
b) Transporte
As instalações de aquacultura estão situadas, muitas vezes, em locais distantes e de
acesso demorado, pelo que assume importância o problema do transporte correcto do
P. Vaz-Pires
127
pescado até às zonas de distribuição e venda. O transporte deve obedecer às mesmas
regras gerais do transporte de pescado, basicamente de forma rápida e higiénica, e
sempre a temperatura baixa. Sendo uma actividade normalmente exercida em terra,
existem condições melhores do que a bordo para que o transporte possa ser efectuado
correctamente, pelo que não há tantas desculpas para falhas. Usar gelo de boa qualidade
e em quantidade suficiente é a atitude geral e correcta a ter, com vista a manter sempre a
temperatura e a humidade do pescado, que afinal são de longe os factores primordiais.
c) Produtos de aquacultura
Associado à actividade da aquacultura está muitas vezes o processamento do pescado, o
que permite aproveitar de forma ideal a frescura, a disponibilidade e a facilidade de
utilização de matéria-prima que a aquacultura proporciona. O facto de ser possível
planear as espécies e quantidades a utilizar, escolher o momento e o método de abate e
evitar perdas de tempo e qualidade tornam o processamento directamente ligado à
produção uma opção inteligente, prática e com grande potencial.
É possível, e até mais simples, produzir a partir de espécies de aquacultura todo o tipo de
produtos processados e transformados, utilizando desde cortes e pequenas adaptações,
até ao completo modificar da matéria-prima. Em Portugal, sendo ainda muito vulgar a
compra e venda de pescado inteiro, a indústria de transformação, tanto de produtos da
pesca como de aquacultura, não está muito desenvolvida, mas existem produtos
transformados de empresas estrangeiras ou multinacionais que têm vindo a conquistar
um lugar importante no mercado. Trata-se, sem dúvida, de uma área com um potencial
elevado, sendo previsível que venha a sofrer um grande desenvolvimento num futuro
próximo.
d) Desperdícios
No que se refere a desperdícios da indústria de processamento de pescado, é de prever
que, à medida que esta se for desenvolvendo, venham a ocorrer maiores desperdícios
passíveis de aproveitamento. Aparas, escamas, pele, cabeças, vísceras, carapaças,
conchas e outras partes menos nobres são alguns exemplos de desperdícios que
poderão e deverão tornar-se matérias-primas no futuro.
P. Vaz-Pires
128
Alguns exemplos de aplicação de desperdícios de produtos aquáticos são a utilização de
conchas moídas na construção de estradas (como componente da mistura do asfalto, o
que aumenta a aderência das estradas), o uso de aparas de filetes para confecção de
pratos tipo pizza em restauração, as carapaças dos crustáceos para extracção de
saborizantes de marisco para “delícias do mar”, etc.
P. Vaz-Pires
129
IX - PROCESSAMENTO INDUSTRIAL DE PESCADO
a) Processamento manual
Existem numerosas operações de preparação e processamento de pescado que são
realizadas manualmente, algumas mesmo impossíveis de mecanizar.
A tabela seguinte resume as principais operações que podem ser realizadas
manualmente (algumas também mecanicamente) em processamento de pescado.
Tab. 23 - Designação comum em português e inglês e descrição de partes e porções de pescado obtidas em processamento de pescado manual e mecanizado.
... continua
P. Vaz-Pires
130
As operações que envolvem extracção e corte de partes do pescado mais comuns são o
descabeçamento, a evisceração, o sangramento, o corte de barbatanas e apêndices não
edíveis e o retirar da pele e/ou das escamas, entre outras mais específicas; estas
operações podem ser realizadas a bordo, e foram já descritas.
b) Processamento mecanizado
•••• Características gerais a exigir aos equipamentos
Há certas características nos equipamentos para trabalhar com pescado que assumem
uma importância especial. Analisar-se-ão as principais:
O número de operadores necessário ao funcionamento de um equipamento é,
obviamente, primordial, uma vez que a mão-de-obra é sempre uma parcela com grande
influência nos custos dos produtos. Convém saber ao certo quantos operadores
permanentes e ocasionais serão envolvidos, sendo a melhor forma de o saber o contacto
com locais onde esse equipamento esteja a funcionar (por vezes difícil, por se tratar
P. Vaz-Pires
131
muito provavelmente de concorrentes) e os fornecedores dos equipamentos (que têm
experiência prévia de instalação noutros locais.
A capacidade de processamento (kg/h) é a quantidade de produto processada por
unidade de tempo, geralmente em kg/h. Indica o rendimento da máquina, muitas vezes o
factor mais importante na escolha.
Os consumos de energia (kW/h), de água (l/min, m3/h), etc., são outro dos factores
principais a ter em conta e que constituirão facturas permanentes, mais ou menos
pesadas, a pagar pela empresa. Convém sempre procurar e comparar custos de
alternativas ao uso de electricidade, que em Portugal representa sempre custos muito
pesados (p. ex.º, gás natural, fuel, gasóleo, energia solar, etc.). Pequenos consumos,
necessidade de consumíveis e de acessórios são factores que, embora menores do que
outros, podem representar a diferença na escolha de um determinado equipamento.
Convém ponderar muito bem este grupo de características.
O interesse das dimensões e pesos dos equipamentos é crescente, devido ao elevado
preço do espaço para instalação de indústrias. O peso excessivo pode constituir um
problema na instalação e nas deslocações de equipamentos, mais comuns do que pode
parecer à primeira vista. Não esquecer que o peso que interessa mais para o cálculo da
resistência do local onde vai ser instalada será eventualmente o da máquina com os
acessórios e os produtos incluídos, em pleno funcionamento.
A solidez e o desenho assumem uma importância ainda maior no caso de instalação de
equipamentos a bordo de embarcações. Relembrar que a indústria de pescado implica
normalmente zonas limpas e sujas, humidade sempre presente e limpezas algo difíceis.
O desenho deve ser rigoroso em termos de higienização, limpeza fácil (materiais
apropriados, desmontagem rápida…).
As temperaturas ambientes mínima e máxima, as temperaturas de funcionamento, o
calor libertado, a temperatura de afluentes e efluentes e o desenho ergonómico, ou
seja, a facilidade de utilização por parte do operador são outros factores a considerar.
P. Vaz-Pires
132
•••• Calibração
Os calibradores separam o pescado por tamanhos e são usados tanto em aquacultura,
para evitar o canibalismo e facilitar gestão, como na indústria transformadora, para
facilitar as operações subsequentes. O princípio de funcionamento pode ser muito
simples, consistindo apenas em fazer o pescado percorrer uma zona em que há orifícios
progressivamente maiores. O pescado menor cai primeiro, o pescado maior vai caindo ao
chegar à zona que corresponde ao seu tamanho. É, hoje em dia, possível a separação
com máquinas mais sofisticadas, baseadas no peso, no comprimento, na espessura e
mesmo na análise computorizada da forma do pescado, permitindo até a identificação de
espécies por comparação com imagens normalizadas obtidas previamente. Em
aquacultura, é particularmente importante que o calibrador seja rápido, devido ao peixe
estar vivo; existem também mesas especialmente desenhadas para a calibração,
separação e verificação manuais.
•••• Lavagem
É uma operação que pode ser mecanizada, utilizando a imersão em água, geralmente
pouco higiénica e obrigando ao tratamento contínuo da água e/ou à sua substituição
periódica, ou com aspersão de água sobre o pescado, de forma estática ou contínua,
obviamente mais higiénica. O equipamento consiste apenas, nas máquinas de lavagem
por imersão, numa cuba ou depósito, com possibilidade de associação a sistemas de
melhoria da qualidade da água como a cloração, a filtração, etc. Nos sistemas por
aspersão, o pescado é lavado e a água é imediatamente retirada. Nas máquinas
contínuas o princípio é o mesmo, mas o pescado é transportado por passadeiras rolantes
através da cuba de imersão ou sob os jactos de água. O objectivo principal é eliminar do
pescado escamas, muco, sangue, partículas resultantes dos cortes efectuados, vísceras,
fezes e quaisquer outras matérias indesejáveis; a carga microbiológica externa pode
também ser ligeiramente reduzida pela lavagem, o que é muito difícil e, por isso, não
constitui um objectivo em si.
•••• Máquinas de orientação ou posicionamento
São máquinas capazes de colocar produtos em posições determinadas, por forma a
facilitar as operações seguintes. São particularmente usadas em pescado inteiro, antes
P. Vaz-Pires
133
do descabeçamento e/ou evisceração e corte de rabos, e também em produtos já
embalados, para abastecimento de máquinas de embalar ou encaixotar. A orientação
cabeça/cauda pode ser feita por diferença de atrito cabeça/cauda e cauda/cabeça, por
diferença de peso cabeça/cauda, por avaliação mecânica da espessura na cabeça e na
cauda, por sistemas ópticos e comparação computorizada com padrões, etc. (figura
seguinte). Em fábricas de conservas, é costume usar máquinas rotativas, aproveitando a
força centrífuga para encosto do lado maior da lata às paredes e saída na posição
correcta para transportadores ou outras máquinas que o exijam.
Fig. 29 - Princípios de algumas máquinas de posicionamento. a) mecânicas; b) por peso; c) por atrito.
•••• Máquinas para descabeçamento, evisceração e corte de rabos
Embora sejam operações independentes, estão muitas vezes associadas no mesmo
equipamento. O descabeçamento pode ser feito por uma ou mais serras rectas ou
circulares, de acordo com o tipo de corte pretendido (figura seguinte):
P. Vaz-Pires
134
Fig. 30 - Tipos de corte comuns em descabeçamento. a) Corte recto; b) corte circular; c) corte em V; d) corte trapezoidal
Existem máquinas que, imitando o procedimento manual na sardinha, cortam a cabeça e
a puxam, simultaneamente, com rolos rotativos, realizando de forma muito rápida o
descabeçamento e a evisceração de pequenos pelágicos; em muitas espécies, isso não é
possível, o que implica o corte da cabeça e, posteriormente, o corte abdominal, a sucção
por vácuo ou o arranque mecânico das vísceras. Como é evidente, a sucção é uma forma
mais higiénica do que o arranque, que provoca maior libertação de sangue e conteúdo
intestinal. Existem máquinas que extraem também as ovas, inteiras ou desfeitas, e
equipamentos capazes de retirar o rim, geralmente com escovas de vai-vém ou rotativas,
em borracha. Como se depreende, são máquinas desenhadas para uma espécie e
tamanho determinado e, embora possuam afinação e, por vezes, até auto-afinação, a
gama de espécies e tamanhos de trabalho é sempre restrita.
•••• Remoção de escamas
Existem máquinas que escamam alguns tipos de peixes, p. ex.º o carapau (Trachurus
trachurus), que apresenta uma fila muito grossa de escamas sobre a linha lateral, que
dificulta as operações posteriores. Estas máquinas funcionam por corte tangencial,
desperdiçando sempre alguma parte edível, ou por raspagem, imitando o procedimento
manual.
•••• Remoção da coluna / filetagem
Trata-se realmente de duas designações para o mesmo tipo de operação. Geralmente,
as máquinas funcionam por corte rente à coluna, o que implica uma afinação precisa para
evitar desperdícios ou cortes mal efectuados. A figura seguinte mostra alguns tipos de
P. Vaz-Pires
135
cortes possíveis em máquinas de filetar. As máquinas que evisceram primeiro e só depois
filetam são, obviamente, mais higiénicas.
Fig. 31 - Exemplos de cortes efectuados por máquinas de filetar.
•••• Detecção e remoção de parasitas e espinhas
Nos produtos tipo filetes e outras porções de pescado frescos, e também antes da
congelação, quando de elevada qualidade, é vulgar realizar a operação de detecção e
remoção de parasitas, espinhas e corpos estranhos. Neste exame, utilizam-se mesas de
contra-luz, nas quais os filetes são observados por um operário à transparência, o que
permite detectar quaisquer partículas mais opacas do que o músculo, normalmente
bastante translúcido. Estas mesas necessitam de uma certa escuridão ambiente para
permitir um contraste apropriado, e sofreram melhorias em termos ergonómicos, já que
os modelos anteriores eram bastante cansativos para a visão do operador. Trata-se de
uma operação dispendiosa em termos de mão-de-obra, mas indispensável em produtos
de elevada qualidade.
Fig. 32 - Equipamento para exame de pescado à transparência. a) aparelho para exame de filetes de arenque; b) posto de trabalho com: 1) superfície translúcida, 2) local
para desperdícios edíveis e 3) canal de esgoto para desperdícios não edíveis.
P. Vaz-Pires
136
•••• Despeladoras
São máquinas que retiram a pele a filetes, funcionando segundo vários princípios. As
mais comuns são as que arrancam a pele com rolos rotativos, por entrada de um bordo
de pele numa fenda estreita; há modelos, menos vulgares, que utilizam um cilindro a
temperatura muito baixa, que congela momentaneamente a pele ao encostar ao filete,
fazendo-a colar e puxando-a em seguida. Nos peixes que possuem uma camada
pigmentada prateada sob a pele (o chamado “espelho prateado”, por ex.º no arenque), há
máquinas que a mantêm e outras que a retiram também, neste caso cortando a pele
rente ao músculo e, por isso, dando origem a um certo desperdício de parte edível.
Fig. 33 - Princípio de algumas máquinas despeladoras. a) por arrancamento mecânico; b) por arrancamento com cilindro congelado.
Com as máquinas atrás referidas, obtêm-se produtos prontos a utilizar, mas que também
servem de matéria-prima para a indústria de transformação. O pescado pode agora ser
mais facilmente sujeito a processos de vários tipos.
c) Processamento de produtos frescos
Constitui uma fatia crescente do total de pescado processado. Consiste em, de alguma
forma, preparar ou cortar produtos para venda em refrigeração, simplificando a tarefa de
preparação ao consumidor e melhorando a atracção no momento da compra. Exemplos
são os filetes, que podem ser cortados à mão ou à máquina e simplesmente vendidos em
gelo, ou embalados em caixas cobertas com película transparente, permitindo ver o
conteúdo. Tornou-se também vulgar o processamento pedido na altura da compra e
realizado à vista do comprador, podendo incluir descabeçamento, evisceração,
P. Vaz-Pires
137
descamação, etc., normalmente manual. É, deste modo, possível mostrar o produto
intacto ao consumidor (que, em Portugal, assim o parece preferir) e, ao mesmo tempo,
evitar a maçada de ter que o arranjar em casa.
d) Preparados, cozinhados e pré-cozinhados
Para abreviar o tempo de preparação doméstica, a indústria pode realizar algumas
tarefas, especialmente as de que o consumidor menos gosta.
Os produtos podem ser desde apenas previamente salgados, cortados, etc., até
completamente prontos a serem aquecidos e consumidos, por vezes até misturados com
outros componentes da refeição (batatas, vegetais, etc.).
Normalmente, define-se pré-cozinhado (ou apenas cozinhado) como sendo um produto
obtido pela mistura de alimentos de origem animal e vegetal, submetidos a uma
preparação culinária completa ou semi-completa, embalados e conservados de forma
adequada, e que se podem ingerir após um aquecimento ou um tratamento doméstico
adicional, normalmente simples.
Alguns exemplos são o envolvimento em polme, pão ralado ou outras coberturas ou
molhos, seguido ou não de fritura parcial ou total, feita por equipamentos de diversos
tipos, mas basicamente realizando as mesmas funções (figura na página seguinte).
Exemplos de produtos deste tipo podem ser lulas ou potas à romana ou à sevilhana, fish
fingers ou palitos de pescado, croquetes, rissóis, hambúrgueres e salsichas de peixe,
etc., prontos a fritar, e produtos prontos a aquecer como tartes, quiches e mesmo
refeições completas, tipo filete com batatas e vegetais, apresentados numa pequena
caixa, que basta aquecer em forno ou microondas e consumir. Saliente-se que, após o
aparecimento inicial de produtos de relativamente fraca qualidade, o mercado tem
apresentado recentemente produtos de qualidade francamente melhor.
P. Vaz-Pires
138
PRODUÇÃO DE ARGOLAS DE LULAS À SEVILHANA
descongelação por imersão em água fria |
evisceração e separação mantos / pernas |
lavagem dos mantos |
corte mecânico dos mantos em anéis |
virar anéis do avesso (lado mais perfeito…) |
cozedura rápida p/ fixar posição dos anéis (evitar 8s) |
polvilhamento c/ mistura de farinhas |
envolvimento em polme (massa líquida) |
fritura parcial p/ fixar polme |
congelação rápida mista (ar forçado/contacto) |
escolha e embalagem |
manutenção a -18 ºC
Fig. 34 - Produção de argolas de lulas à Sevilhana - diagrama de sequência.
e) Embalagem
A embalagem é absolutamente essencial hoje em dia, sendo a única forma de possibilitar
o transporte dos produtos do local da produção até ao consumidor. A embalagem em
geral, a embalagem do pescado e os materiais usados na embalagem serão abordados
na disciplina de QIA.
P. Vaz-Pires
139
X - SUB-PRODUTOS DA INDÚSTRIA DO PESCADO
Os sub-produtos resultam da produção de outros, não sendo normalmente um objectivo
da indústria produzi-los. Em quase todos os processos industriais há desperdícios, que
podem ser usados no fabrico de produtos secundários. No caso do pescado, os principais
sub-produtos são a farinha e o óleo de peixe; existem também a polpa de peixe, a pasta
de peixe, os ensilados e os hidrolizados proteicos.
a) Farinha de peixe ou FPC (fish protein concentrates)
Chama-se concentrado proteico de pescado qualquer preparado estável de pescado, em
princípio para consumo humano, no qual a proteína é mais concentrada do que no
pescado que lhe deu origem. Embora de produção em massa recente, este tipo de
produto era conhecido, em versões simplificadas, pelos Romanos: o liquamen era uma
espécie de FPC (ver anexo 3).
Segundo a FAO, há 3 tipos de FPCs:
Tab. 24 - Tipos de FPCs, segundo a FAO.
TIPO CARACTERÍSTICAS
A pó praticamente sem cheiro e sabor, máx. teor total de lípidos de 0.75 %
B pó com nítido sabor a peixe, máx. teor total de lípidos de 3.0 %
C farinha de peixe normal, produzida em condições de higiene satisfatórias
Note-se a importância do teor lipídico, devida à extrema facilidade de oxidação e
consequente rancificação deste tipo de produtos, que os torna rapidamente impróprios
para consumo.
Em termos simples, a farinha de peixe é produzida moendo o pescado fresco, e em
seguida extraindo água e óleo de peixe à polpa que se obteve, tornando-a
progressivamente mais seca e menos gordurosa, de forma a poder ser facilmente
conservada e utilizada. Deve ser apenas usada matéria-prima não alterada, mantida em
boas condições de higiene e a temperaturas de conservação adequadas.
P. Vaz-Pires
140
A farinha de peixe “normal” não pode ser usada para consumo humano por 3 razões: é
produzida em condições de higiene muito pobres, contém gordura rancificada, que a
torna pobre em vitaminas e a faz perder valor nutricional; para além do sabor geralmente
inaceitável, o consumo continuado de gorduras rancificadas pode ainda causar danos por
efeito tóxico cumulativo.
Para a produção de farinhas dos tipos A e B são usados solventes químicos (p. ex.º,
álcoois como o etanol e o propanol, dicloroetileno, etc.) para a remoção da água, dos
lípidos e dos compostos responsáveis pelo sabor e cheiro característicos.
Em Portugal produzem-se farinhas de tipo C, processo que será analisado em pormenor.
Usam-se 3 fontes principais de matéria-prima: detritos de fábricas de conservas, pescado
directamente vindo da lota (qualidade insuficiente, excessos de capturas, misturas de
baixo valor…) e peixe impróprio para consumo humano, proveniente de câmaras
frigoríficas e fábricas.
Uma fábrica de farinha de peixe é um conjunto um tanto complexo de equipamentos, que
são apresentados em fluxograma na figura seguinte e a seguir descritos.
A matéria-prima é em 1º lugar desfeita num esfacelador, espécie de gigantesco picador
tipo 1-2-3. Segue-se a cozedura da massa obtida, que é depois coada e prensada (estas
3 operações destinam-se a retirar água e gordura). A polpa cozida é novamente desfeita,
desta vez em partículas menores, e sujeita a secagem num secador. A pasta, já seca, é
moída num moinho de martelos, e finalmente ensacada para distribuição.
Em todas as fases do processo que envolvem retirar água e óleo, segue-se um processo
complicado de separação destes dois componentes, que envolvem centrifugações e/ou
decantações da mistura e ainda evaporação da água. Os efluentes gasosos e líquidos
podem (e devem…) ser devidamente tratados, para evitar contaminações de esgotos e
da atmosfera. Daí que o óleo de peixe seja um sub-produto sempre presente em fábricas
de farinha de peixe, que é, por sua vez, um sub-produto da indústria do pescado.
A composição geral da farinha de peixe é apresentada na tabela seguinte.
P. Vaz-Pires
141
Fig. 35 - Produção de farinha de peixe: diagrama de sequência.
P. Vaz-Pires
142
Tab. 25 - Composição geral de uma farinha de peixe tipo C.
COMPONENTE QUANTIDADE (%)
Água 8 - 10
Gordura 4 - 5
Matéria seca 86 - 88 (≈ 66 proteína; 21 cinza)
TOTAL 100
Trata-se de um alimento com elevado teor proteico, rico em aminoácidos essenciais
(difíceis de obter a partir de outras fontes) e em minerais, especialmente P, Ca, Na e Mg.
A farinha de peixe é utilizada, quase exclusivamente, como fonte proteica e mineral em
rações para animais (p. ex.º, bovinos, porcinos, galináceos e peixes), sendo incorporada
como ingrediente. Não é, portanto, utilizada directamente como alimento.
b) Óleo de peixe
Dá-se o nome de óleos às gorduras que são líquidas à temperatura ambiente. Os óleos
de peixe podem ser obtidos de 3 formas: nas fábricas de farinha de peixe (como atrás se
explicou), através da recuperação de efluentes de cozedores de peixe e ainda por
compressão de detritos em fábricas de conservas, ou outras em que haja, como matéria-
prima, pescado com elevado teor de gordura.
Para além do valor do óleo extraído ou recuperado, saliente-se que este é uma fonte de
problemas: provoca o entupimento dos esgotos na fábrica e na rede pública, obrigando a
limpezas com compostos de Na e K (a gordura saponifica e forma camadas difíceis de
retirar), causa cheiros intensos e problemas higiénicos (ampliados pelos entupimentos
referidos). O aproveitamento do óleo de peixe é, assim, uma opção bastante mais
proveitosa do que pode parecer à primeira vista.
Há, basicamente, 2 métodos para separar óleo de água: a centrifugação e a
decantação, o que leva às 2 alternativas práticas para separação de óleos em fábricas:
os efluentes dos pontos de cozedura podem ser directamente ligados a uma centrífuga
ou instalam-se decantadores em número suficiente e nos locais adequados.
P. Vaz-Pires
143
Os óleos de peixe são utilizados, após transformações químicas apropriadas, no fabrico
de margarinas, sabões, cosméticos e curtumes, entre outras utilizações.
Tab. 26 - Composição geral do óleo puro de sardinha, obtido a partir de peixe fresco recém-cozido.
PROPRIEDADES DESCRIÇÃO
Cor amarelo-claro, passa a chocolate
Cheiro muito ligeiro, a peixe
Oxidação muito fácil, havendo calor e/ou O2
Ácidos gordos saturados ≈ 22 %
Ácidos gordos polinsaturados ≈ 78 %
c) Polpas de pescado
Chama-se polpa de pescado ao músculo de pescado, de alguma forma moído ou desfeito
(sem camadas musculares visíveis), ao qual normalmente se retiraram as espinhas, a
pele e as escamas. Obtém-se, simplesmente, fazendo passar filetes, postas ou outras
partes de pescado por separadores de pele e espinhas, que simultaneamente desfazem
mais ou menos a estrutura muscular. Por vezes, a polpa é obtida sem retirar espinhas,
pele e escamas, usando apenas um esfacelador.
A polpa de pescado pode ser usada para o fabrico de muitos tipos de produtos diferentes,
desde os mais simples como os hambúrgueres e as salsichas de peixe, aos mais
complexos, como a pasta de peixe (preparado para barrar no pão) e o surimi, que é
usado para a produção de kamaboko (“delícias do mar”), passando por fish fingers ou fish
sticks. Aparas e restos de filetagem podem ser usados para produzir polpa quase branca;
polpas mais escuras são obtidas por moagem de toutiços de sardinha crus, detritos
cozidos de linhas tradicionais e peixe pequeno de misturas sem valor ou em alturas de
grande abundância. Estas polpas, embora possam ser lavadas até ficarem quase
brancas, são normalmente usadas no fabrico de pastas de peixe.
P. Vaz-Pires
144
POLPA DE PESCADO
pescado |
descabeçamento e evisceração
| lavagem
(peritoneu, sangue…) |
separação de pele e espinhas |
separação de partículas pequenas (“meat strainer” ou coador)
| lavagem
(+água +gelo, separação) |
aditivos / homogeneização |
congelação / armazenamento
Fig. 36 - Produção de polpa de pescado - diagrama de sequência.
d) Pasta de peixe
É um dos produtos à base de polpa de pescado mais comuns. É obtido misturando a
polpa de pescado (p. ex.º, sardinha, atum, outros peixes e crustáceos) com ingredientes
variados, com a finalidade de melhorar o sabor, a textura e o aspecto. Os ingredientes da
pasta de peixe são, geralmente, os seguintes: polpa de peixe cozida (no caso da
sardinha, geralmente com espinhas, pele e escamas), concentrado de tomate, margarina,
pimenta e condimentos variados. As proporções, a granulometria e os condimentos
originam as diferentes pastas de pescado. As pastas são ricas em cálcio (tanto mais
quanto mais espinhas contiver o pescado de origem) e em aminoácidos essenciais,
difíceis de obter de outro modo. Quanto mais espinhas houver e quanto menos fina for a
moagem, mais o consumidor irá notar pequenas partículas ao mastigar.
A pasta pode ser consumida fresca, mas é normalmente esterilizada em formatos
pequenos (doses individuais de 30 g ou pequenas latas para 2 pessoas), não só pela
P. Vaz-Pires
145
adequação à utilização a dar ao produto mas, principalmente, porque é difícil esterilizar
produtos compactos sem molho líquido solto (não existem correntes de convecção, o
calor apenas se difunde por condução).
Em muitas fábricas, os toutiços de sardinha e os desperdícios deste e de outros peixes
não são aproveitados, sendo enviados para as fábricas de farinha. Realmente, é uma
questão de inércia: a matéria-prima só vale o que a fábrica de farinha paga (geralmente
pouco), a mão-de-obra é reduzida (apenas é necessário separar detritos crus e cozidos e
criar 2 ou 3 postos de trabalho para produzir a pasta), as máquinas são simples
(recipientes para recolha, um esfacelador/misturador, uma máquina para encher e fechar
o recipiente ou uma cravadora para as latas) e o espaço necessário é de apenas ≈ 8 m2!
O escoamento do produto não é muito encorajador, mas o preço baixo, a melhoria das
receitas e da imagem, a qualidade nutritiva superior à da manteiga e a melhoria das
propriedades organolépticas são certamente alguns argumentos fortes para melhorar o
sucesso comercial da pasta de peixe, até agora um tanto limitado.
e) Surimi
É o resultado de lavagens e gelificação de polpas de pescado, geralmente branco, com o
qual é possível criar produtos que imitam espécies de valor comercial considerável.
Embora talvez tenha começado por ser um aproveitamento, hoje em dia vulgarizou-se de
tal forma que é um tanto desajustado chamar-lhe um sub-produto, o que se justifica talvez
por ser o constituinte de “sucedâneos” de outros produtos.
O pescado inteiro é descabeçado e eviscerado e é feita a separação de pele e espinhas.
Seguem-se vários ciclos de lavagem e drenagem, para melhorar o aspecto (deve ser o
mais branco possível). Segue-se nova remoção de partículas e uma prensagem para
secagem parcial. A papa assim obtida é misturada com produtos crioprotectores e
congelada em blocos, armazenados a -20 ºC. O surimi assim produzido é depois usado
em fábricas de análogos de pescado, como as delícias do mar, em japonês kamaboko
(análogas de partes musculares de crustáceos), as caudas de lagostim fingidas, etc.
São produtos tão bem conseguidos que têm conquistado mercados de todo o mundo,
inclusive os mais tradicionais e avessos a novidades deste género (como o português).
P. Vaz-Pires
146
PRODUÇÃO DE SURIMI
peixe inteiro |
descabeçamento e evisceração |
separação de espinhas e pele |
lavagem e drenagem (1-5 ciclos)
| remoção de partículas
(espinhas e pele) |
prensagem (secagem) |
mistura com crioprotectores (4% sucrose, 4% sorbitol, 0.2% tri-polifosfatos)
| congelação em blocos
| armazenamento a -20 ºC
Fig. 37 - Fluxograma simplificado da produção de surimi.
f) Ensilados
Ensilados são produtos líquidos pastosos, conseguidos por tratamento de pescado com
ácidos. O nome vem de poderem ser guardados em silos ou tanques. O pescado inteiro
ou restos de pescado são cortados e moídos, lavados, e a esta polpa acrescenta-se um
ácido ou uma mistura de ácidos, que induzem a hidrólise proteica e aumentam a duração
do período de conservação, por abaixamento do pH. Após homogeneização, aquece-se a
mistura a 70-90, procede-se a uma remoção do óleo por crivagem ou centrifugação (só
em espécies gordas) e armazena-se o produto obtido, que pode ser utilizado no fabrico
de rações, como ingrediente ou suplemento. Trata-se de uma forma simples e barata de
conservar pescado, usada sobretudo em países de tecnologia pouco desenvolvida.
P. Vaz-Pires
147
ENSILADOS DE PESCADO
pescado inteiro / restos |
corte / moagem |
lavagem |
adição de ácido ou misturas de ácidos (aprox. 3%)
| homogeneização
| aquecimento a 70-90 ºC
| remoção de óleo por
crivagem / centrifugação (3 fases) (só peixes gordos)
| armazenamento em tanques
(resistentes aos ácidos!)
Fig. 38 - Fluxograma de produção de ensilados de pescado.
g) Hidrolizados proteicos de pescado
Os hidrolizados, como o nome indica, são produtos em que as proteínas sofrem uma
hidrólise. O processo envolve a lavagem, o corte e a moagem de restos de pescado e
pescado inteiro, o seu aquecimento prévio, a adição de enzimas proteolíticas (p. ex.º, a
papaína), o aquecimento a 100 ºC para inactivação da enzima adicionada e redução
drástica da actividade microbiológica e enzimática endógenas, uma nova crivagem para
remoção de espinhas e escamas, uma centrifugação para separar a parte não
solubilizada, a concentração ou secagem do produto em evaporadores e finalmente o seu
armazenamento. Trata-se também de uma forma prática e simples de conservar
pescado, usada sobretudo em países de tecnologia pouco desenvolvida; os hidrolizados
podem ser incorporados em substitutos do leite, em alimentação animal.
P. Vaz-Pires
148
HIDROLIZADOS PROTEICOS DE PESCADO
pescado inteiro / polpas / restos |
lavagem, corte / moagem |
adição de água quente (1:1) (aquecimento a 65 ºC) |
adição de enzimas proteolíticas (1% de papaína / 30 min, p. ex.º) |
aquecimento a 100 ºC / 10 min (inactivação da enzima; “esterilização” do produto)
| crivagem (separação espinhas, escamas…)
| centrifugação (separa não solubilizados)
e filtração do sobrenadante |
concentração em evaporador / secagem |
armazenamento
Fig. 39 - Fluxograma de produção de hidrolizados proteicos de pescado.
h) Outros produtos alimentares
•••• Gelatina
Da pele e do esqueleto do pescado pode ser extraída gelatina. Peles de pescado cruas
são lavadas em água corrente 3-4 h e depois mergulhadas 6-8 h numa solução alcalina a
3% (máximo 0.5% em NaOH). Segue-se nova lavagem em água corrente (3-4 h) e tripla
maceração em soluções recém-preparadas e fracas de ácido sulfúrico (solução de
dióxido de enxofre, SO2, em água). Após 3ª lavagem (igual às anteriores), as peles ficam,
assim, prontas para uma extracção com água quente. Usam-se geralmente 2 partes de
água para 1 parte de peles tratadas como descrito, extraindo a gelatina a 70-80 ºC, em 2
períodos consecutivos de 30 min.
P. Vaz-Pires
149
A gelatina de peixe não tem propriedades gelificantes tão boas como as de animais
terrestres, mas pode ser usada em zonas com condições difíceis para a criação destes
animais; serve para o fabrico de cola de razoável qualidade e para películas fotográficas.
A bexiga natatória é composta por camadas ricas em colagénio, podendo ser usada para
fabrico de uma gelatina ou cola de peixe (isinglass, em inglês) de excelente qualidade. As
bexigas são removidas dos peixes e salgadas, lavadas e secas ao ar para conservação.
São depois re-hidratadas em água várias horas, e introduzidas entre cilindros de ferro
rotativos, que as convertem em folhas finas de 3-6 mm. Segue-se nova compressão,
entre rolos de borracha, obtendo-se placas de 0.4 mm, que se secam ao ar e se enrolam.
A gelatina em folhas é produzida aquecendo as bexigas em água, tornando possível
separar e secar as camadas ao ar; serve para clarificação de cerveja, cidra e vinagre.
•••• Óleos de fígado de peixe
São ricos em vitamina A e D e são usados para prevenir a cegueira nocturna e o
raquitismo. Embora a vitamina A sintética seja já vulgar, do óleo de fígado de peixe
obtém-se também vitamina D e outros compostos como os pigmentos. Os óleos de fígado
de peixe podem ser obtidos por diversos processos, entre os quais o uso de vapor
directo, a cozedura a vácuo, a congelação, a desidratação, a digestão alcalina, o
tratamento com enzimas e com soluções alcalinas, a digestão ácida, a extracção com
solventes e com outros óleos, etc.
Tab. 27 - Classificação de fígados e vísceras de peixe em termos de conteúdo em óleo e vitamina A.
TIPO PEIXES CONTEÚDO óleo (%) vit. A (UI) elevado em óleo baixo em Vit. A
bacalhau arinca pescada
50-75
500 - 20 000
baixo em óleo alto em vit. A
alabote maruca atuns
4-28
25 000 - 600 000
alto em óleo alto em vit. A (variável)
tubarões 30-75
0 - 340 000
vísceras: baixo em óleo alto em vit. A
alabote espadarte
2-15 2 000 - 700 000
P. Vaz-Pires
150
XI - PRODUTOS NÃO ALIMENTARES
Embora não façam parte do pescado tal como foi definido, há inúmeros produtos não
alimentares com origem no pescado, pelo que se optou por referir aqui alguns, apenas
para compreensão da sua multiplicidade e interesse.
a) Couro
Alguns animais aquáticos podem ser usados para o fabrico de couros.
Tab. 28 - Animais aquáticos que podem ser usados para obtenção de couro a partir da pele.
PELE DE… UTILIZAÇÃO
crocodilo muito vulgar e antiga
golfinho pode ser usada
peixes de fundo (bacalhau, pescada…) não tem sido aproveitada
porco marinho pode ser usada
Lates niloticus usada em sapatos clássicos
raia pode ser usada
salmão usada esporadicamente em sapatos
foca muito vulgar e antiga
tubarão muito vulgar e antiga em sapatos
morsa esporadicamente usada
perca do rio Nilo marroquinaria e sapatos
A grande diferença entre animais terrestres e aquáticos, para este fim, é que nos
terrestres existem normalmente pêlos que é preciso retirar, enquanto nos aquáticos é
necessário remover escamas ou depósitos calcários. O processo envolve retirar
escamas, demolhar para retirar sal, saponificar a gordura da pele com carbonato de sódio
(Na2CO3), e finalmente curtir a pele da forma desejada. O couro de animais aquáticos é
flexível, com textura fina, suave, forte, durável, não é estaladiço e apresenta desenhos
que lhe dão valor. É poroso e confortável ao uso, pode ser polido e mantém as cores.
b) Quitina e quitosano
São essencialmente polímeros acetilados básicos de glucosamina. O polissacarídeo
quitina é a 2ª substância orgânica mais abundante na natureza, a seguir à celulose. A
P. Vaz-Pires
151
quitina é obtida essencialmente a partir de carapaças de crustáceos, mas também de
alguns moluscos. O termo quitosano é aplicado a quitinas desacetiladas de várias formas
(usualmente poliaminas alifáticas).
Tab. 29 - Conteúdo em quitina de desperdícios de alguns seres vivos.
SER VIVO
CONTEÚDO EM QUITINA
(% PESO SECO)
lingueirão ou ostra 3 - 6
fungos 10 - 25
insectos 0 - 8
krill 3 - 7
crustáceos 14 - 35
lula/pota 1 - 2
lula/pota (só no “osso”) 40
Das conchas (embora representem 65% e 85% do peso vivo, respectivamente do
lingueirão e da ostra), a quitina é dificilmente retirada, devido ao elevado conteúdo em
minerais (85 a 90%), o que leva a que elas sejam preferencialmente usadas em aditivos
de alimentos para animais, suplementação de solos e construção de estradas. Utilizações
comuns da quitina e do quitosano são as seguintes:
Tab. 30 - Alguns usos possíveis da quitina e do quitosano.
QUITINA QUITOSANO
película para alimentos alimentos para animais
cola para couro purificação de água
suspensões coagulantes e floculantes películas flexíveis
aditivos para indústria de papel adesivos e colas
adsorção de iões metálicos lavagem de roupas
produtos fotográficos membranas de troca de iões
produção de proteínas sólidos quelantes para cromatografia
c) Cola de peixe
Há 2 tipos, um feito a partir de peles (melhor qualidade) e outro obtido de cabeças de
peixe (menor qualidade). As peles são arrefecidas e os cloretos removidos até menos de
0.1% (para evitar características higroscópicas na cola), usando lavagem em água
P. Vaz-Pires
152
corrente, 1-2 h em peles frescas e 12 h em peles conservadas com sal. As peles são
depois colocadas numa solução 0.2% de soda cáustica (NaOH) ou cal saturada (CaO)
neutralizada com 0.2% de ácido clorídrico (HCl) e de novo lavadas. As peles assim
tratadas absorvem muita água. São depois misturadas com o mesmo peso de água e é-
lhes adicionado vapor. A adição, nesta fase, de 2 l de de ácido acético glacial (C2H4O2)
torna a cola final mais límpida. Após uma cozedura de 8 h, a camada de cola é separada.
As peles são novamente cozidas a uma temperatura superior, obtendo-se uma cola mais
fraca. Podem ser adicionados conservantes químicos ou proceder imediatamente à
evaporação até obter 50-55% de sólidos. São adicionadas pequenas quantidades de
óleos voláteis essenciais para mascarar o cheiro a peixe e ajudar à conservação. A cola
de peixe deve ter uma densidade de 1.17 kg/l, e é caracterizada pela sua viscosidade,
humidade, ponto de gelificação, secagem e hidroscopicidade, velocidade de ganho de
presa e testes de resistência. Apresenta algumas vantagens: não necessita de nenhum
processamento posterior, pode ser usada do recipiente durante vários dias, ganha presa
lentamente, permitindo ajustar as juntas e obter uma boa penetração em madeiras e
materiais porosos, conferindo uma adesão resistente.
d) Essência de pérolas
Trata-se de uma suspensão cristalina de quanina num solvente. A quanina é uma
substância iridiscente localizada na camada epidérmica das escamas de peixes que
vivem perto da superfície (p. ex.º, arenque e cavala). Após extracção, é usada para
revestir objectos, conferindo-lhes um aspecto parecido com o das pérolas, embora
quimicamente sejam compostos totalmente diferentes.
e) Conchas
Como já referido, servem essencialmente para controlo do pH do solo, como suplemento
de cálcio em alimentos para animais e para a construção de estradas. Existe mesmo um
cimento especial constituído por partes iguais de conchas de ostra, cal (CaO), areia e
água, extremamente resistente, para construção de muros submarinos. Algumas conchas
são ainda usadas no fabrico de botões e para fabrico de esferas, que são usadas para
iniciar a produção de pérolas de ostras de cultura, constituindo até 90% da pérola final.
P. Vaz-Pires
153
f) Fertilizantes
Os seres aquáticos são, há muito tempo, reconhecidos como fertilizantes eficazes,
constituindo fontes de azoto, cálcio, fósforo e outros elementos essenciais para o
crescimento de plantas. Em Portugal, são ainda usadas misturas de algas (p. ex.º, o
sargaço, do Norte de Portugal, e o moliço, da região de Aveiro) como adubos, embora a
indústria química tenha reduzido esta prática a quantidades pouco significativas. No
entanto, as crescentes preocupações com os produtos químicos não naturais na
agricultura estão já a renovar o interesse por este recurso.
g) Âmbar cinzento
O âmbar cinzento é uma das curiosidades menos divulgadas mas mais interessantes na
área dos produtos do mar: trata-se de uma espécie de “pedras” (ver figura seguinte), com
pesos geralmente entre cerca de 10 g e 45 kg, aparentemente feitas de lama muito
endurecida, apanhadas, geralmente, a flutuar no mar ou que dão à costa em alguns
locais do globo. Trata-se realmente de concreções biliares patológicas do intestino do
cachalote (Physeter macrocephalus) libertadas em vida naturalmente, pelo intestino, ou
após a morte do animal... na antiga pesca à baleia, proibida nos Açores a partir de 1987,
foi, em 1944, encontrado um bloco com 322 kg! Alguns contêm partes de cefalópodes
(sobretudo bicos de grandes cefalópodes como a lula gigante) e levaram à teoria de que
o intestino do cachalote produz estes nódulos como reacção a feridas provocadas pela
passagem de objectos pontiagudos pelo tubo digestivo. No entanto, são por vezes
(embora raramente) também encontrados no estômago de baleias, que só se alimentam
de plâncton... Foram usados como fixadores, intensificadores e fornecedores de aroma
característico após secagem (descrito como a terra, a chá, a tabaco e a maresia; antes
da secagem têm odor muito desagradável a peixe podre!) na indústria antiga de
perfumaria, sendo ainda hoje caríssimos e raros, embora haja substitutos químicos (ver
lista de sites da Internet em anexo). São também usados em produtos medicinais
naturais.
P. Vaz-Pires
154
Fig. 40 - Alguns “nódulos” de âmbar cinzento.
h) Outras utilizações: farmácia, cosmética e química
Outras utilizações importantes de produtos do mar incluem inúmeras especialidades da
indústria farmacêutica, cosmética, química e alimentar, que podem ser extraídas
directamente do meio aquático ou dos seres aquáticos, ou apenas incorporar
componentes com esta origem. Exemplos são a extracção de β-caroteno de algas, de
óleos de mamíferos para a indústria cosmética ou de ágar a partir de algas vermelhas,
posteriormente usado como gelificante nas indústrias alimentar, têxtil e farmacêutica, e
como meio de suporte de crescimento em microbiologia. Usam-se também algas no
fabrico de explosivos, de tapetes, de papel, de cerâmica, de meios para electroforese e
HPLC, de antioxidantes e de fitocolóides, e ainda na purificação de efluentes e em
talassoterapia, que consiste no uso terapêutico de farinhas e granulados de algas em
banhos.
P. Vaz-Pires
155
XII - COMERCIALIZAÇÃO
a) Tipos de venda
O pescado fresco é um produto especial: deve estar sempre em refrigeração, mas deve
permanecer húmido e, simultaneamente, estar exposto ao exame visual dos
compradores, especialmente em países como Portugal, em que é vendido quase sempre
inteiro. As soluções mais comuns são a colocação sobre gelo, em expositor não coberto,
mas de forma a expor uma face ao comprador. Quando (e se) este o solicitar, é-lhe
mostrada pelo vendedor a parte não visível do pescado. É claro que a face exposta ao ar
tem tendência a secar ligeiramente e a aquecer, mas há que descobrir um equilíbrio entre
a apresentação exigida pelo comprador e a ideal…
O pescado é normalmente vendido, em Portugal, no sistema porta-a-porta e na rua, por
peixeiras que se deslocam a pé (nas cidades, muitas vezes perto dos portos de pesca) e
por vendedores em furgões (nas aldeias), nas peixarias (lojas onde se vende só
pescado), nos mercados das cidades e vilas (geralmente em secções separadas dos
outros alimentos), e ainda nas secções de peixaria dos supermercados e hipermercados,
cada vez mais comuns.
Tab. 31 - Sistemas de venda de pescado.
SISTEMA DESCRIÇÃO
na rua vendedores nos passeios, em vilas e cidades piscatórias
porta a porta vendedores a pé, em cidades e vilas perto de portos de pesca
em veículos vendedores em furgão, em aldeias e zonas rurais, longe da costa
secções de salgados/secos em mercearias antigas e lojas só de pescado salgado/seco
peixaria lojas só de pescado, em cidades e vilas
secção de peixaria supermercados de aldeias, vilas e cidades; hipermercados de grandes cidades
peixarias modernas lojas com as mais modernas técnicas de manutenção e venda, em cidades europeias (ainda raras em Portugal)
A distância ao porto de pesca é, em princípio, o factor que mais pode influenciar a
existência e a abundância de pescado, mas a congelação, e mesmo as modernas
técnicas de refrigeração, tornam perfeitamente possível a chegada de pescado em
óptimas condições a todas as zonas do interior de Portugal e de quase todo o mundo. O
P. Vaz-Pires
156
transporte e manutenção em condições perfeitas assumem, assim, os papéis principais
na correcta comercialização deste produto tão exigente e perecível.
b) Exposição de pescado
Têm aparecido no mercado expositores de vários tipos, tanto para pescado em gelo
como para congelados. As regras gerais a que devem obedecer são as seguintes:
- Escoamento permanente e suficiente da água de fusão;
- Respeito pelas linhas de carga máxima obrigatórias (visíveis pelo comprador);
- Respeito pelas temperaturas de conservação (termómetros visíveis pelo comprador
obrigatórios);
- Ventilação correcta dos dissipadores de calor (livre de pó, obstáculos, desencostados
da parede);
- Estado de limpeza irrepreensível e fáceis de higienizar;
- Sem misturas de produtos (p. ex.º, gelados e pescado no mesmo expositor!);
- Sem gelo acumulado (periodicamente descongelado e limpo);
- Sem luz solar directa;
- Protegido de poeiras e contacto com o público;
- Espaço isotérmico, de forma a conservar a temperatura interna muito tempo;
- Convenientemente afastado de fontes de calor;
- Pescado arrumado sem acumulações e amontoados, com gelo suficiente por baixo e
em volta e algum por cima;
- Sem deixar acumular caixas vazias ou estragadas;
- Convenientemente e periodicamente arrumado (consumidor remexe tudo, porque não é
ajudado nem controlado pelo vendedor);
São seguidamente apresentados alguns tipos de expositores. Os refrigerados mais
comuns são os horizontais fixos, de acesso pelo interior, para venda assistida por
vendedor; há também modelos de acesso directo, para compra não assistida. Nos
congelados, há arcas horizontais, de acesso directo pela parte superior, sem porta; e
modelos verticais, de porta, evitando-se a entrada de ar quente, o que nos horizontais de
abertura superior não representa um problema tão importante.
P. Vaz-Pires
157
Fig. 41 - Expositores comuns de pescado refrigerado e produtos congelados.
c) Controlo de insectos
Os insectos são um problema sempre presente em locais onde há pescado ou vestígios
da sua passagem. As moscas, os mais frequentes, são repulsivas e perigosas,
constituindo vias de contaminação entre materiais em decomposição e alimentos frescos.
A forma mais eficaz de diminuir a presença e a multiplicação dos insectos é tornar o
espaço destinado ao pescado o menos atractivo possível para eles.
As moscas mais comuns no pescado pertencem aos géneros Calliphora, Lucilia e
Protophormia. Os ovos, em nº de 10 a 300, são postos em pescado, desperdícios e
qualquer material orgânico. Após minutos a dias, os ovos dão origem a larvas, que se
alimentam do substrato durante dias. Passam depois a pupas, um estado intermédio
latente, e finalmente dão origem a insectos adultos perfeitos. Durante o Verão, o ciclo
completo decorre em apenas cerca de 9 dias. Aliás, é no Verão que constituem um
problema maior, embora persistam alguns indivíduos o ano inteiro.
P. Vaz-Pires
158
O controlo de insectos implica medidas dentro e fora das lojas ou peixarias. Apresentam-
se, na tabela seguinte, as regras principais a observar.
Tab. 32 - Principais regras a observar para reduzir ou eliminar insectos na comercialização de pescado. REGRA DESCRIÇÃO / JUSTIFICAÇÃO
Chão duro, lavável, sem cantos, com ângulos cobertos Evitar acumulações de matéria orgânica
Lavagem do chão diária Evitar desenvolvimento de insectos
Eliminação imediata de desperdícios Evitar contaminação dos desperdícios
Vitrines cobertas e à temperatura correcta Evitar ataques / atrasar desenvolvimento de insectos
Recipientes p/ lixo laváveis, lavados e esvaziados diaria/ Evitar contaminações de desperdícios
Janelas cobertas de rede (malha 2 mm) Evitar entradas do exterior
Portas protegidas contra insectos do exterior Evitar entradas do exterior
Insecticidas (aplicados segundo regras próprias) Evitar contacto com alimentos, utilizar sem perigo
Insecticidas persistentes em algumas superfícies Acção contínua contra insectos
Após o fecho e esvaziamento, aplicar insecticidas Evitar desenvolvimento nos desperdícios
Lavagem completa das superfícies Eliminar larvas, ovos, desperdícios
Verificar vizinhança, pedir colaboração Evitar contaminações do exterior
Superfícies exteriores de cimento liso Possibilitar lavagem eficiente
Lavagens frequentes e enxaguamento abundante Eliminar restos de insecticidas
Esgotos e saídas verificados periodicamente Evitar desperdícios
Contentores do lixo com tampas pesadas Evitar ataque de animais e insectos
Superfícies em redor dos contentores tratadas como interiores (aspersão de insecticidas)
Evitar insectos na zona dos lixos
Lixo levado diariamente Evitar acumulações de matéria orgânica
Caixas de pescado lavadas e desinfectadas sempre Evitar partículas de pescado, gordura, etc.
Em pescado curado (p. ex.º, salgado e seco), o problema dos insectos é talvez ainda
mais grave; para além das moscas, há também escaravelhos e ácaros que podem induzir
perdas entre 30 e 50% do peso do pescado, para além das contaminações cruzadas que
implicam, e que podem facilmente incluir organismos patogénicos.
Nunca é demais referir que os insecticidas, como qualquer produto químico, devem ser
manuseados observando com atenção todas as regras obrigatoriamente presentes na
embalagem, e esclarecendo todas as dúvidas antes de começar. Ainda morrem em
Portugal crianças vítimas do uso de insecticidas directamente na cabeça por adultos, na
tentativa de eliminar parasitas do cabelo!…
P. Vaz-Pires
159
Os electrocutores de insectos, tão generalizados nos últimos anos, provocam pequenos
salpicos de partes de insectos queimados, pelo que estão a ser substituídos por
dispositivos autocolantes, nos quais os insectos, após atracção com luz especialmente
concebida, são capturados por adesividade a uma superfície.
Embora as medidas referidas não garantam uma eliminação completa dos insectos de
uma peixaria, certamente contribuirão muito para manter este problema a um nível quase
insignificante.
P. Vaz-Pires
160
XIII - DA COMPRA AO CONSUMO
a) Transporte
Muitas vezes, mesmo cumprindo todas as regras de manuseamento correcto de pescado
até chegar ao consumidor, é na mão deste que, por ignorância ou descuido, se acaba por
"estragar tudo". Há de facto regras simples a cumprir, normalmente ditadas pelo bom
senso, que interessa rever:
• Deixar refrigerados e congelados para o fim das compras;
• Usar sacos isotérmicos para transporte, mesmo dentro do supermercado;
• Ir directamente para casa a seguir, ou entretanto guardar produtos no frigorífico ou
congelador;
• Evitar ao máximo o calor no veículo de transporte;
• Evitar produtos das camadas superficiais, preferindo os arrumados mais
profundamente, em princípio menos expostos ao ambiente;
• Evitar embalagens deterioradas e que apresentem muito gelo solto no interior (sinal de
que houve abuso de temperatura);
• Pedir o conselho do vendedor: ele é a pessoa mais bem informada sobre o que o
comprador não pode ver! Dizer que o pescado se destina a bebés ou pessoas doentes
pode ajudar a apelar à consciência do vendedor...
• Ter presentes os sinais de alteração mais evidentes (tabelas sensoriais), conhecer as
espécies e a forma de as preparar;
• Assistir à preparação pedida na peixaria, o que ajuda os vendedores a ter mais cuidado;
• Procurar estar informado sobre os produtos (p. ex.º, as trutas são geralmente abatidas
em dias certos da semana; a Segunda-feira é um dia fraco para comprar pescado do
mar porque não há pesca ao Domingo, etc…);
• Ter em casa espaço de frio suficiente para as quantidades necessárias;
P. Vaz-Pires
161
• De uma forma geral, procurar conhecer o que se compra (quanto mais, melhor!). A
formação e a informação são a base das decisões esclarecidas...
b) Acondicionamento
O pescado deve ser a primeira compra a ser tratada. A evisceração, o descabeçamento,
o sangramento e uma lavagem abundante devem ser imediatas. Após escorrimento
completo, pode-se colocar algum sal e guardar, coberto, no frigorífico durante 2 dias, no
máximo. O contacto entre a água que possa escorrer durante o armazenamento no frio e
o pescado deve ser evitado, bastando colocar o pescado sobre uma rede ou recipiente
perfurado e esta sobre um prato de bordos altos. Todo o conjunto deve ser envolvido por
película ou outra protecção, para evitar odores de pescado no frigorífico, a secagem
exagerada da pele e contaminações.
Fig. 42 - Colocação correcta de pescado fresco em refrigeração doméstica. 1) película de protecção; 2) recipiente perfurado p/ escoamento; 3) recipiente p/ recolha de líquidos.
c) Preparação para consumo
O pescado é um produto que apresenta sabores e variedades suficientemente diferentes
para que valha a pena apreciá-lo sem grandes condimentos. Uma pequena quantidade
de sal é normalmente suficiente para realçar o sabor delicado e bastante diferente de
espécie para espécie. Pode dizer-se que o pescado implica algum trabalho de
preparação da matéria-prima, mas não é geralmente muito trabalhoso na fase culinária.
P. Vaz-Pires
162
d) Métodos de preparação
O pescado presta-se a ser grelhado sobre carvão ou grelha, directamente e apenas com
um pouco de sal, mas é também favorecido em assados/cozidos no forno, especialmente
se for usado um método para evitar que seque demasiado (p. ex.º, envolvimento em folha
de alumínio ou cozedura a vapor em recipiente fechado). Existem mesmo recipientes,
chamados comercialmente “peixeiras”, especialmente destinados a este fim. A cozedura
a vapor ou em forno de microondas conserva melhor o sabor e o valor nutritivo; a
cozedura por imersão cumpre menos este objectivo. Os fritos são, sem dúvida, a forma
menos saudável de consumir pescado, principalmente quando se usa o envolvimento em
polmes, farinhas, ovo e pão ralado, que absorvem muita gordura de fritar.
Adicionalmente, esta é de qualidade nutricional geralmente mais pobre do que a gordura
do pescado, pelo que se perde uma saudável característica deste alimento.
e) Catering e restauração
Os casos particulares do catering (fornecimento de refeições prontas a grandes
consumidores), da restauração colectiva e da restauração em geral implicam a resolução
de problemas algo diferentes dos da restauração doméstica. Não basta multiplicar as
quantidades e o volume dos recipientes por um factor determinado para ser capaz de
cozinhar alimentos para um grande número de consumidores.
Os problemas de higiene e segurança alimentar são muito mais delicados quando é
necessário gerir grandes quantidades de ingredientes, muitos deles altamente perecíveis
e cada um deles necessitando de cuidados diferentes. As empresas de catering são os
maiores e mais avançados utilizadores das modernas regras de garantia de segurança e
qualidade dos seus produtos. Utilizam os serviços de nutricionistas, que estudam e
planeiam as diferentes refeições, de modo a serem nutricionalmente equilibradas e
facilmente digeríveis; implementam quase sempre sistemas de HACCP e de garantia de
qualidade, única forma de se manterem no mercado, que é extremamente concorrencial e
tem margens de lucro muito pequenas. O pescado representa um papel importantíssimo
na composição das refeições programadas, tendo a qualidade dos produtos vindo a
sofrer uma melhoria considerável nos últimos anos. Sendo um dos alimentos mais
perecíveis, o pescado é muitas vezes o componente limitante do tempo de conservação.
P. Vaz-Pires
163
XIV - APÓS O CONSUMO
a) A saúde e o pescado
Está provado que a maior esperança de vida média mundial, neste momento pertencente
ao Japão, à Islândia e às regiões dos pólos, está relacionada com o elevado consumo de
pescado, rico em gorduras de elevada qualidade e mais respeitador do organismo
humano. A primeira causa de morte no mundo ocidental, mais desenvolvido e
industrializado, é o conjunto de doenças cardiovasculares, também já definitivamente
relacionado com o consumo de gorduras de origem terrestre e animal. Não restam
dúvidas de que o pescado deve ser uma parte cada vez mais importante da alimentação
humana.
b) Alimentos do mar
Comparando a composição geral dos animais de origem terrestre e aquática (tabela
seguinte), verifica-se que não é na parte quantitativa, e sim na qualitativa, que residem as
diferenças nutricionais importantes. A componente lipídica do pescado é de qualidade
superior, devido à presença de elevada quantidade de ácidos gordos polinsaturados
(PUFA); a digestibilidade, relacionada com a quantidade de tecido conjuntivo e de água
presentes, é também mais favorável no pescado. O teor em vitaminas e minerais é mais
elevado e variado no pescado; a forma de cozinhar o pescado é também normalmente
mais respeitadora destes compostos, principalmente das vitaminas.
Em resumo, pode dizer-se que o pescado deverá estar presente em todas as dietas
equilibradas normais, sendo de evitar apenas em casos de alergias a algumas espécies
aquáticas. É também desaconselhado o consumo de crustáceos quando o nível de
colesterol sanguíneo for preocupante.
P. Vaz-Pires
164
Tab. 33 - Comparação entre as características do músculo de animais terrestres e do músculo de pescado.
CARACTERÍSTICAS CARNE PEIXE
proteínas 15-21% 15-23%
tecido conjuntivo 15% 3%
fibras musculares longas curtas
mastigação por vezes difícil fácil
digestibilidade por vezes difícil geralmente fácil
estabilidade proteica elevada reduzida
duração rigor mortis geral/ maior geral/ menor
lípidos totais 5-30% 0.1-25%
dos quais colesterol 0.1-0.3 0.0-0.1
dos quais PUFA 0.2-1.5 0-5.3
armaz.º de lípidos depósitos geral/ visíveis, sólidos depósitos geralmente invisíveis, líquidos
hidratos de carbono 1 0.01-0.7% (moluscos ≈ 3%)
água 62-75% 60-80%
vitaminas A, B, niacina, ácido pantoténico A, D, E, K, B, C
minerais 0.0-1.3% (Na, K, P, Ca) 0.9-2% (P, I, Mg, Ca, Sn)
temperatura em vida homeotérmicos (≈ 35 ºC) poiquilotérmicos (≈ 15 ºC)
pH aprox. inicial / final 6.0 / 5.5 7.0 / 6.2
comercialização sempre sem pele muitas vezes com pele
c) Problemas causados pelo pescado
•••• Ferimentos durante a manipulação
Devido à presença de apêndices de vários tipos, é frequente a ocorrência de ferimentos,
principalmente nas mãos dos operadores de pescado. Em virtude da enorme variedade
de bactérias que podem estar presentes, algumas das quais patogénicas, é importante o
uso de protecções adequadas e, no caso de ocorrer ferimento, a limpeza e desinfecção
da ferida de forma adequada. De forma geral, é óbvio que quanto menos fresco estiver o
pescado, maior será a probabilidade de infecção. Problemas deste tipo foram estudados
por médicos portugueses (ver Gonzaga, 1985).
•••• Bactérias patogénicas naturais e contaminantes
A presença de bactérias patogénicas naturais (endógenas) do pescado (como
Clostridium, Vibrio, Listeria, etc.) ou adicionadas ao pescado (exógenas) após a captura
(Staphylococcus, Salmonella, etc.) leva a que devam ser tomadas medidas muito
P. Vaz-Pires
165
rigorosas, tanto durante o processamento, tendo em vista proteger o operador, como
durante as operações posteriores, tendo em vista proteger o consumidor. Importa que o
pescado seja manuseado evitando contaminações cruzadas com outros alimentos,
instrumentos e superfícies, e que seja mantido sempre à temperatura correcta de
refrigeração (entre 0 e +4 ºC), à qual os patogénicos ou não se desenvolvem, ou fazem-
no tão lentamente que o apodrecimento tornar-se-á evidente muito antes. O desenho
correcto das instalações, o cumprimento das boas práticas de higiene e de fabrico e a
implementação do sistema HACCP são os únicos meios de garantir produtos livres de
perigos.
Existem 2 tipos básicos de doenças veiculadas por bactérias em alimentos (tabela
seguinte): a ingestão de toxina previamente formada no alimento (intoxicações
alimentares propriamente ditas; p. ex.º, a causada por Clostridium botulinum) e a
ingestão de bactérias que colonizam o intestino e produzem toxinas apenas nesta fase
(infecções alimentares). Neste caso, as bactérias podem apenas colonizar a superfície
(infecção não invasiva; caso de Vibrio cholerae) ou invadir tecidos mais internos
(infecção invasiva; p. ex.º, Shigella).
Tab. 34 - Tipos de doenças veiculadas por alimentos.
bactérias crescem no
alimento →→→→ toxina
produzida →→→→ toxina
ingerida →→→→ toxina absorvida →→→→
sintomas surgem 2-6
h depois →→→→ INTOXICAÇÃO
ALIMENTAR
bactérias presentes no
alimento →→→→ toxina não
produzida →→→→ bactérias
ingeridas →→→→
intestino colonizado e/ou toxina produzida
→→→→ sintomas
surgem 16-18 h depois
→→→→ INFECÇÃO ALIMENTAR
•••• Parasitas
São seres macroscópicos que, estando presentes, influenciam negativamente os
produtos da pesca. São seres com ciclos de vida complexos, que incluem vários
hospedeiros intermédios; os patogénicos para o Homem não são muito frequentes (há
cerca de 50 espécies patogénicas), pelo que a sua presença leva a uma desvalorização
essencialmente comercial. Quando alojados no músculo, podem ser retirados por exame
à transparência, caro mas eficaz, principalmente no caso de Phocanema. Se alojados no
intestino ou noutras partes não comestíveis, a simples remoção das partes contaminadas
P. Vaz-Pires
166
e lavagem cuidadosa poderão ser suficientes. A tabela seguinte mostra os principais
parasitas que ocorrem em pescado.
A prevenção das parasitoses deverá ter em conta, principalmente, que estas doenças são
todas transmitidas por pescado cru ou mal cozinhado, sendo a preparação culinária
adequada uma forma eficaz de as evitar. No caso dos nemátodes, há 3 vias de
prevenção: evitar capturas de stocks infectados, detectar e remover parasitas (por
inspecção em contra-luz), e usar técnicas para matar os parasitas presentes, tais como o
calor (pelo menos 55 ºC / 1 min), o teor de sal (quanto maior o teor de sal, menor é a
sobrevivência parasitária) e a congelação (-20 ºC durante 24 h mata todos os
nemátodes).
Tab. 35 - Parasitas mais frequentes em pescado, sua distribuição e grupos de pescado mais afectados.
Parasita Distribuição conhecida Pescado afectado
Nemátodes Anisakis simplex Atlântico Norte arenque Phocanema decipiens Atlântico Norte bacalhau, algumas outras espécies Gnathostoma sp. Ásia peixes dulçaquícolas, rãs Capillaria sp. Ásia peixes dulçaquícolas Angiostrongylus sp. Ásia, América do Sul, África camarão de água doce, caracóis, peixes Céstodes Diphyllobothrium latum Hemisfério Norte peixes dulçaquícolas Diphyllobothrium pacificum Peru, Chile, Japão peixes marinhos Tremátodes Clonorchis sp. Ásia peixes dulçaquícolas, caracóis Opisthorchis sp. Ásia peixes dulçaquícolas Metagonimus yokagaway Oriente longínquo Heterophyes sp. Oriente médio e longínquo caracóis, peixes dulçaquícolas e estuarinos Paragonimus sp. Ásia, América, África caracóis, crustáceos, peixes Echinostoma sp. Ásia lingueirão, peixes dulçaquícolas, caracóis
De entre os apresentados na tabela anterior, assumem particular importância os
seguintes:
Anisakis simplex, conhecido como o parasita do arenque, mas que pode ocorrer também
em cavala, sarda, badejo e verdinho. É um parasita intestinal, mas pode infestar o
músculo de peixes que esperaram muito tempo para serem eviscerados; é mais
frequente em pescado de alto mar.
P. Vaz-Pires
167
Phocanema decipiens, parasita frequente em bacalhau e muitas outras espécies, alojado
principalmente nas barbatanas peitorais e ventrais; é mais frequente em pescado
proveniente da proximidade da costa.
Em ambos os casos, um aquecimento de 1 min a 55-60 ºC é suficiente para induzir a sua
morte, pelo que, em Portugal, com métodos culinários que normalmente implicam
aquecimentos elevados e prolongados, não há registo de doenças provocadas pela
ingestão de pescado parasitado. Congelação a -20 ºC durante 60 h é também suficiente
para inactivar todos os parasitas, mas produtos levemente salgados ou marinados podem
conter parasitas vivos.
•••• Vírus
Embora o estudo dos vírus tenha recentemente sido alvo de um grande desenvolvimento,
devido sobretudo a doenças recentes como a hepatite e a SIDA, não existem ainda
métodos de confiança para detecção de vírus em alimentos, para o que contribui a menor
dose mínima infecciosa provável dos vírus, em relação às bactérias. Desde 1950 que se
conhece a transmissão de doenças víricas ao Homem através do consumo de pescado,
principalmente veiculadas por moluscos. Os casos de doença até hoje registados têm,
normalmente, origem em moluscos crus ou mal cozinhados. A sobrevivência de vírus nos
alimentos depende essencialmente da temperatura, salinidade, radiação solar e presença
de sólidos orgânicos. A sua relativamente elevada resistência a baixo pH, enzimas
proteolíticas, sais biliares, calor (incluindo cozedura a vapor e fritura), alguns
desinfectantes e certos tipos de higienização têm contribuído para o aumento do
interesse por estes microrganismos; a incidência de gastro-enterites virais é, no entanto,
ainda desconhecida.
•••• Seres aquáticos venenosos ou alergénios
Existem seres aquáticos cujos tecidos, após ingestão, são venenosos ou alergénios para
o Homem. São conhecidas as alergias a crustáceos e a determinados peixes; alguns
seres aquáticos produzem biotoxinas e aminas biogénicas, capazes de desencadear
reacções violentas no corpo humano, e mesmo a morte. Apresentam-se em seguida
algumas espécies, às quais estão associados alguns destes perigos (tabela seguinte).
P. Vaz-Pires
168
Tab. 36 - Seres aquáticos naturalmente venenosos ou alergénios por ingestão.
ESPÉCIES/GRUPOS AGENTE EFEITO PRINCIPAL
Peixes (Tetraodontidae) tetrodotoxina Sintomas neurológicos, 10-45 min após ingestão. Morte possível após 6 horas.
Toxinas de algas marinhas bioacumuladas em mais de 400 espécies peixes
ciguatera Perturbações gastrointestinais e neurológicas, algumas horas após ingestão (12% de casos fatais)
PSP (paralytic shellfish poisoning) Sintomas neurológicos, 0.5 a 2 horas após ingestão, podendo ocorrer morte.
Toxinas de algas marinhas (após booms) bioacumuladas em moluscos bivalves
DSP (diarrhetic shellfish poisoning)
Sintomas gastrointestinais, 0.5 até algumas horas após ingestão; recuperação após 3-4 dias, nunca fatal.
NSP (neurotoxic shellfish poisoning)
Similar à PSP (excepto paralisia); raramente fatal.
ASP (amnesic shellfish poisoning) Sintomas gastrointestinais e neurológicos (perda permanente de memória recente)
Peixes (Scombridae, Clupeidae) histamina
(envenenamento escombróide)
Sintomas alérgicos cutâneos (gastrointestinais e neurológicos possíveis), minutos ou horas após ingestão.
Há que distinguir entre as substâncias naturais anormalmente concentradas numa
espécie e os poluentes provenientes da acção do Homem. Dentre as primeiras, as mais
conhecidas são as toxinas de dinoflagelados como o Gymnodinium (cujos booms
provocam as chamadas marés vermelhas); estas toxinas manifestam tendência para
bioacumulação em moluscos e dão origem, muitas vezes, à proibição da sua pesca,
venda e consumo em certas épocas do ano e em determinadas áreas de Portugal,
baseada em análises periódicas efectuadas pelo IPIMAR, já referidas.
Estas proibições são sempre motivo de alguma controvérsia. De facto, a proibição tem
por base um risco elevado em certos grupos populacionais, como as crianças, as
grávidas e os idosos, sendo frequente as populações cuja economia se baseia neste tipo
de recursos referirem que consumem moluscos contaminados há várias gerações, e que
nunca nada lhes aconteceu. É possível que haja vários factores envolvidos, como uma
certa habituação às toxinas, e até que o consumo de quantidades reduzidas não seja de
facto muito perigoso, mas não podemos admitir que, por excesso de confiança, possa vir
P. Vaz-Pires
169
a morrer um idoso ou uma criança por este motivo, pelo que a proibição é perfeitamente
justificada.
Em relação aos poluentes que possam existir nos tecidos do pescado, é bastante citado o
mercúrio, metal pesado frequente na atmosfera em quantidades reduzidas, mas que
pode ser bio-acumulado em órgãos específicos do pescado, como o fígado, as ovas ou o
músculo. No caso do fígado e das ovas, poderá ser suficiente a sua remoção; no caso do
músculo, proibir o consumo é a única solução para eliminar as fontes de introdução no
meio ambiente, restando depois esperar que novas gerações de peixes sejam menos
contaminadas do que as actuais. A atitude mais generalizada tem sido a de realizar
algumas análises, um pouco por todo o Mundo, e evitar o pescado proveniente de zonas
de contaminação reconhecida.
•••• Atmosferas perigosas em porões
Em porões de navios de pesca fechados durante dias com pescado, especialmente se a
temperatura não for sempre mantida em valores de refrigeração e se a ventilação não for
adequada, pode haver uma diminuição do oxigénio tão acentuada que pode tornar-se
perigosa para quem permanecer no seu interior, se não for renovado o ar. De facto, o que
acontece é que os processos biológicos ocorrem principalmente em aerobiose, com
consumo de oxigénio e formação de dióxido de carbono, sulfureto de hidrogénio e
amoníaco, qualquer um deles perigoso para a saúde humana (p. ex.º, ar com 18% de
oxigénio, quando o normal é 21%, é considerado perigoso para a saúde!). Em porões
ozonizados, este problema é obviamente mais preocupante.
As principais soluções para este problema são evitar abusos de temperatura do pescado,
manter a ventilação adequada dos porões, evitar carregar demasiado o navio, e abrir e
ventilar durante 1 hora, se necessário com ventilação mecânica, antes do primeiro
homem descer ao porão. Como alguns tipos de envenenamento por gases passam
despercebidos à vítima, não se deve descer ao porão sozinho; um teste simples consiste
em acender um fósforo ou vela, que se não se mantiverem acesos indicarão falta de
oxigénio no ambiente. Em todo o caso, são cada vez menos frequentes os
armazenamentos prolongados de pescado refrigerado a bordo, principalmente devido à
vulgarização da congelação, pelo que este problema tem vindo a ser menos frequente.
P. Vaz-Pires
170
XV - SITUAÇÃO ACTUAL E FUTURA
a) A nível mundial
As dificuldades na gestão correcta dos stocks de pescado têm obrigado a uma contenção
generalizada do esforço de pesca, sempre provocadora de efeitos sociais importantes; o
equilíbrio entre a extracção e a produção natural está ainda longe de ser perfeitamente
conhecido, menos ainda de ser atingido.
A aquacultura não teve o aumento esperado nos últimos anos, mas a sua contribuição
para a produção mundial de pescado tem vindo a aumentar, tendo sido em 2003 cerca de
30%. O equilíbrio entre os custos e os benefícios tem sido talvez a principal dificuldade,
mas as novas soluções tecnológicas e o grande avanço do conhecimento da Biologia e
do domínio das espécies em cativeiro têm sido muito positivos.
A Organização Mundial de Saúde (WHO), a Organização para a Agricultura e
Alimentação das Nações Unidas (FAO) e outros organismos de âmbito internacional têm
vindo a recomendar vivamente a inclusão de maiores quantidades de pescado na dieta
humana, em virtude das suas vantagens evidentes, não só a nível pessoal, a curto e
longo prazo (em termos de saúde), como a nível económico e estratégico (o consumo de
pescado permite um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis). Daí que seja
previsível uma valorização crescente do pescado e dos produtos da pesca, a nível global.
A FAO é também o organismo responsável pela publicação e divulgação de estatísticas
da pesca e do pescado, a nível mundial.
b) A nível europeu
Os países da União Europeia são grandes importadores de pescado de fora da UE. Os
principais exportadores para a União são a Islândia e a Noruega, muito à custa do
bacalhau salgado e seco consumido nos países do sul da Europa, mas importam-se
quantidades muito significativas também da Tailândia, da União Soviética, da Polónia, do
Canadá, dos EUA, da Argentina e de Marrocos. Os principais consumidores destes
produtos importados são a Alemanha, a Espanha, o Reino Unido, a França, a Itália, a
P. Vaz-Pires
171
Holanda e Portugal. A balança comercial dos países comunitários é geralmente
deficitária, excepto no caso da Holanda, da Dinamarca e da Irlanda.
Portugal possui a 2ª maior frota de pesca da UE (a 1ª é a de Espanha, composta por
cerca de 20000 embarcações), com cerca de 12000 embarcações, das quais 85% com
menos de 10 m de comprimento, o que mostra bem a forte componente artesanal desta
actividade no nosso país. Esta característica é também evidenciada pela potência média
de 35 kW por embarcação, contra os quase 100 kW por embarcação em Espanha, e
ainda pelas estimativas de desembarques anuais em Espanha, cerca de 28% do total
comunitário em peso, contra 4.2% de Portugal, estes últimos correspondentes a cerca de
200 000 toneladas anuais.
Os países europeus com maior produção em aquacultura são França, Noruega, Espanha,
Itália, Holanda, Reino Unido e Rússia, com domínio dos peixes e, nestes, dos
salmonídeos. Tem-se verificado um aumento geral da produção mundial.
c) A nível nacional
Em Portugal, as espécies pelágicas (sardinha, cavala, etc.), capturadas por cerco,
representam cerca de 60% do total desembarcado por ano, em peso; as demersais,
(carapau, verdinho, pescada, moluscos e crustáceos), capturadas por arrasto e outras
artes, representam cerca de 28%, e o restante reparte-se entre cefalópodes, outros
moluscos, espécies diversas e crustáceos (por ordem decrescente de importância).
Portugal importa pescado de valor superior ao que exporta, principalmente congelado e
salgado/seco, apesar da grande quantidade proveniente da pesca, o que significa que os
portugueses são de facto grandes consumidores de pescado (cerca de 50
kg/pessoa/ano). As exportações de conservas de pescado já conheceram melhores dias,
representando o pescado congelado a maior fatia das exportações; a Europa e a Ásia
são os principais destinos; o Reino Unido, a Itália, a França, a Dinamarca, o Japão e a
Espanha são os principais países compradores.
A pesca marítima tem ao seu dispor portos de abrigo, sendo os mais conhecidos e
importantes Viana, Póvoa e Vila do Conde, Matosinhos, Aveiro, Figueira da Foz, Peniche,
Lisboa, Sesimbra, Portimão, Olhão e Vila Real de Santo António.
P. Vaz-Pires
172
As zonas estuarinas do rio Vouga, em Aveiro, do rio Sado em Setúbal e a ria de
Faro/Olhão são bastante conhecidas, principalmente pela antiga, agora reduzida,
produção de sal marinho, para além da pesca.
A pesca artesanal é uma actividade com forte implementação em Portugal, sendo a sua
importância social e a qualidade do pescado capturado motivos suficientes para que deva
ser respeitada e considerada como actividade independente no sector da pesca.
A aquacultura tem mostrado aumentos de produção, embora algo aquém do esperado,
sendo a aquacultura marinha a maior responsável por esse crescimento, em relação à
aquacultura em águas interiores. Os processos de licenciamento, os acessos aos
incentivos e as capacidades tecnológicas parecem ser os principais factores a merecer
melhorias, para um mais rápido incremento desta actividade em Portugal.
A Direcção-Geral das Pescas e Aquicultura é actualmente a entidade responsável pela
recolha e publicação dos dados relativos às pescas em Portugal.
d) A nível local
Matosinhos é o maior porto de pesca de Portugal, sendo a quantidade de sardinha
descarregada maior do que a descarregada em todos os outros portos portugueses
juntos. Para além da sardinha, espécies como o carapau e o verdinho (da pesca de
cerco) e muitas outras da pesca do arrasto e de outros tipos de pesca fazem parte da
animação da lota de Matosinhos.
Outros portos de pesca importantes no Norte são Viana do Castelo, Póvoa de Varzim e
Vila do Conde, Aveiro e Figueira da Foz.
Na região Norte de Portugal, merecem ainda destaque a pesca fluvial nos rios Minho,
Lima, Cávado, Douro e Vouga, sendo espécies importantes a lampreia, a enguia, o sável
e a solha, entre outras.
e) Considerações finais
Esta breve descrição da pesca e da aquacultura serve apenas para chamar a atenção
para a situação portuguesa em comparação com a de outros países e regiões. A adesão
de Portugal à União Europeia trouxe muitos benefícios e algumas desvantagens, mais
P. Vaz-Pires
173
evidentes em países economicamente débeis como o nosso. Sem dúvida que, em
relação à pesca e aos produtos da pesca, tem acontecido uma restrição muito
pronunciada em relação às actividades tradicionalmente exercidas em Portugal, e por
portugueses fora de Portugal, mas que, em grande parte, são apenas o reflexo inevitável
da generalizada diminuição dos stocks de pescado. A única forma de continuar a pescar
parece ser a de exercer no presente uma certa contenção, tanto na pesca como em
inúmeras outras actividades prejudiciais para o Mar, de forma possibilitar a necessária
recuperação no futuro, que em algumas espécies talvez não seja já possível. É previsível
que a Ciência venha a descobrir formas eficientes de aproveitar os recursos naturais e
de, simultaneamente, os respeitar.
P. Vaz-Pires
174
ANEXOS
Anexo 1 - Curriculum vitae / Resumo
Nome:
Paulo Manuel Rodrigues Vaz-Pires
Habilitações principais:
1986 - Licenciatura em Ciências do Meio Aquático pelo Instituto de Ciências Biomédicas de Abel Salazar da Universidade do Porto;
1996 - Doutoramento em Biotecnologia pela Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa, área de Microbiologia e Conservação de Pescado.
Actividades desenvolvidas:
1986 até 1997 - Formação Profissional no sector das Pescas como formador do Centro Forpescas. Principais disciplinas ministradas: Tecnologia da Pesca; Processamento de Pescado; Manutenção e Conservação de Pescado; Pescado na Alimentação Humana; Tecnologia dos Produtos Alimentares; Conservas de Peixe.
1987-1990 - Investigação científica na área dos peixes migradores no projecto “ Distribuição e Abundância Ictiológica dos Rios da Região do Norte”, da responsabilidade do Prof. Doutor Nuno Grande, realizado no ICBAS e financiado pela CCRN/PIDR do Alto Minho.
1990-1991 - Realização da parte lectiva do Mestrado em Ciência e Engenharia Alimentar da Escola Superior de Biotecnologia da Univ. Católica Portuguesa, como bolseiro da JNICT.
1991-1997 - Trabalho de investigação na área da qualidade do pescado refrigerado, no âmbito da preparação de tese de doutoramento e de trabalho de pós-doutoramento na Escola Superior de Biotecnologia da Univ. Católica Portuguesa, como bolseiro da JNICT.
1997 - Contrato como Professor Auxiliar Convidado do ICBAS e início de trabalho como regente das disciplinas de Tecnologia do Pescado (4º ano) e Equipamentos e Manutenção (5º ano) da licenciatura em Ciências do Meio Aquático do ICBAS/UP. Desde 1998/99, assume também a regência da disciplina de Tecnologia Alimentar, do 5º ano da licenciatura em Medicina Veterinária do ICBAS, e colabora nas disciplinas de Inspecção Sanitária (parte relativa ao pescado) do 5º ano da lic. em Medicina Veterinária e de Nutrição e Tecnologia dos Alimentos (parte relativa à qualidade do pescado) do Mestrado em Ciências do Mar / Recursos Marinhos do ICBAS. Passagem a Professor Associado em Março de 2006.
Orientação de alunos:
No ICBAS, foi tutor de mais de 40 estágios de licenciatura dos alunos de Medicina Veterinária e de Ciências do Meio Aquático.
Orientou uma tese de Mestrado com sucesso, e co-orienta neste momento 1 aluno de Mestrado e 3 alunos de Doutoramento.
Investigação actual:
Qualidade de cefalópodes; aproveitamento de desperdícios de pescado no fabrico de rações para animais.
(participou em cerca de 15 projectos de investigação e desenvolvimento tecnológico).
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Anexo 2 – Bibliografia (as referências mais importantes para a disciplina aparecem emolduradas por rectângulos)
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Anexo 3 - Fábrica romana de peixe salgado
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Anexo 4 - Lista de espécies (nome vulgar / nome científico)
NOME VULGAR (PORTUGUÊS) NOME CIENTÍFICO (LATIM) abadejo do cabo=abrótea sul-africana Ginypterus capensis abrótea branca Urophycis tenuis abrótea da costa Phycis phycis abrótea do alto Phycis blennoides, Urophycis blennoides abrótea sul-africana=abadejo do cabo Ginypterus capensis achigã Micropterus salmoides agulha=peixe agulha Belone belone agulhão=marabundo Scomberesox saurus alabote comum=alabote do Atlântico=alibute Hypoglossus hypoglossus alabote da Gronelândia Reinhardtius hippoglossoides alabote do Atlântico=alibute=alabote comum Hypoglossus hypoglossus albacora=atum albacora Thunnus albacares alburno Albusrnus alburnus alecrim=serrão=serrano alecrim Serranus cabrilla alibute=alabote do Atlântico=alabote comum Hypoglossus hypoglossus ama=tubarão dormedor Ginglymostoma cirratum ambua=choupa=viúva Spondyliosoma cantharus amêijoa boa Venerupis decussata, Tapes decussatus anchova Pomatomus saltatrix apara lápis=trombeteiro Macroramphosus scolopax arca Arcidae areeiro Lepidorhombus whiffiagonis arenque do Atlântico=arenque Clupea harengus arenque redondo Etrumeus teres arenque= arenque do Atlântico Clupea harengus arinca=eglefino Melanogrammus aeglefinus arraia=raia Raja spp. atum Thunnidae atum albacora=albacora Thunnus albacares atum patudo Thunnus obesus atum rabilho=atum rabilo Thunnus thynnus atum rabilo=atum rabilho Thunnus thynnus atum voador Thunnus alalunga azevia raiada=solha topa Microchirus variegatus, Solea variegata bacalhau do Atlântico=bacalhau Gadus morhua, Gadus callarias bacalhau=bacalhau do Atlântico Gadus morhua, Gadus callarias bacalhau esquimó=bacalhau polar Boreogadus saida bacalhau polar=bacalhau esquimó Boreogadus saida badejinho Gadiculus thorii, Gadiculus argenteus badejo=corvelo Merlangius merlangus, Gadus merlangus bagre Ariidae baleia Balaenidae baleia anã=rorqual miúdo Balaenoptera acutorostrata baleia assassina=roaz=orca Orcinus orca, Orca gladiator baleia boreal Balaenoptera borealis baleia de bossas Megaptera novaeangliae, Megaptera nodosa baleia=rorqual comum Balaenoptera physalus barbo Barbus barbus barbo=cumbro Barbus comiza barbo de cabeça pequena Barbus microcephalus barbudo gigante=capitão Polynemus quadrifilis barracuda=bicuda Sphyraenidae barroso Centrophorus granulosus beiçuda=tainha liça Mugil labrosus labrosus berbigão de bicos=berbigão sarilho Cardium aculeatum berbigão sarilho=berbigão de bicos Cardium aculeatum berbigão vulgar=berbigão Cardium edule berbigão=berbigão vulgar Cardium edule besugo Pagellus acarne bica buço Pagellus bellottii, Pagellus coupei bica=bica bicuda=bicuda Pagellus erythrinus bica bicuda=bica=bicuda Pagellus erythrinus
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bicuda=barracuda Sphyraenidae bicuda=bica=bica bicuda Pagellus erythrinus biqueirão Engraulis encrasicolus biqueirão branco Argentina spp. biqueirão do Cabo Engraulis capensis bodião Labridae bodião reticulado Labrus bergylta bodião tordo Labrus turdus boga Chondrostoma polylepis boga de boca curva Condrostoma toxostoma boga do mar Boops boops bolota=zarbo Brosme brosme bonito do Indo Pacífico Sarda orientalis bonito listado=gaiado=listão=bonito Euthynnus pelamis, Katsuwonus pelamis bonito=gaiado=listão=bonito listado Euthynnus pelamis, Katsuwonus pelamis bonito=sarrajão Sarda sarda bordalho=robalinho=escalo do Norte Leucistus cephalus borrelho=burrié=caramujo=liturina Littorina littorea boto Phocoena phocoena brema Abramis spp. burrié=borrelho=caramujo=liturina Littorina littorea búzio Buccinum undatum caboz Gobiidae caboz=transparente Aphya minuta caboz de água doce Blenius fluviatilis cabra cabaço Chelidonichthys lucerna, Trigla lucerna cabra de argel= cabra de casca Peristedion cataphractum cabra de bandeira Aspitrigla obscura cabra de casca=cabra de argel Peristedion cataphractum cabra lira Trygla lyra cabra morena Eutrigla gurnardus, Trygla gunardus cabra riscada=ruivo do Cabo Branco Trigla lastovitza cabra vermelha Aspitrigla cuculus, Trigla cuculus cabra voadora=cabrinha de leque=peixe pássaro Dactylopterus volitans cabra=ruivo Lepidotrigla cavillone, Trigla spp. cabrinha de leque=cabra voadora=peixe pássaro Dactylopterus volitans cação liso=caneja=cação Mustelus mustelus cação=caneja=cação liso Mustelus mustelus cachalote Physeter macrocephalus, Physeter catodon cachucho Dentex macrophtalmus cadelinha=conquilha=condelipa Donax trunculus cágado comum Mauremys caspica cágado de carapaça estriada Emys orbicularis camarão amarelo=gamba manchada Penaeus kerathurus camarão americano do rio Macrobrachium carcinus camarão boreal Pandalus montagui camarão branco legítimo Palaemon serratus camarão cristal branco Pasiphaena sivado camarão cristal rosado Pasiphaea multidentata camarão do Árctico Pandalus borealis camarão negro Crangon crangon camarão vermelho=carabineiro Aristeus antennatus camarões pandalídeos Pandalus spp. camarões peneídeos Penaeus spp. caneja=cação=cação liso Mustelus mustelus cangulo=peixe gatilho Balistidae cantaril=cantarilho=galinha do mar Helicolenus dactylopterus cantarilho dos mares do Norte=peixe fino=comunista Sebastes marinus cantarilho=cantaril=galinha do mar Helicolenus dactylopterus capasseca Ilisha africana capatão de bandeira=pargo de bandeira Dentex gibbosus capatão legítimo Dentex dentex capelim Mallotus villosus capitão=barbudo gigante Polynemus quadrifilis carabineiro cardeal Plesiopenaeus edwardsianus carabineiro=camarão vermelho Aristeus antennatus caracol Gasteropoda caramujo=borrelho=burrié=liturina Littorina littorea
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caranguejo Cancridae, Portunidae, Majidae, Xanthidae caranguejo mouro=caranguejo verde Carcinus maenas caranguejo real Paralithodes camtschatica caranguejo verde=caranguejo mouro Carcinus maenas carapau do Cabo Trachurus capensis carapau do Cunene Trachurus trecae carapau do Mediterrâneo Trachurus mediterraneus carapau negrão=chicharro negrão Trachurus picturatus carapau=chicharro Trachurus trachurus cardadora=raia pregada Raja fullonica carpa Cyprinus carpio carpinteiro Argyrozona argyrozona carta Bothidae carta de bico Citharus macrolepidotus, Citharus linguatula carta de Verão Paralichthys dentatus carta do Mediterrâneo Arnoglossus laterna, Arnoglossus kessleri castanheta=zagaia Squilla mantis castanhola=luciano Lutjanidae cava terra=cavalete Uca tangeri cavala Scomber japonicus cavala bonita=cavala gigante Scomberomorus spp. cavala gigante=cavala bonita Scomberomorus spp. cavalete=cava terra Uca tangeri cefalópodes Cephalopoda chaputa =xaputa=freira Brama brama charro amarelo Caranx ronchus charro=xaréu Decapterus spp., Caranx spp. charroco=Manuel Carvalho Batrachoididae charuteiro Seriola spp. charuteiro azeite Seriola lalandi charuteiro catarino Seriola dumerili cherne Polyprion americanus chicharro negrão=carapau negrão Trachurus picturatus chicharro=carapau Trachurus trachurus choco anão Sepiola rondeleti choco=siba Sepia officinalis choupa=ambua=viúva Spondyliosoma cantharus clame dura Meretrix spp. colo colo Brachydeuterus auritus comedor de homens=tubarão de S. Tomé Carcharodon carcharias comunista=cantarilho dos mares do Norte=peixe fino Sebastes marinus conchilhão=funil escamudo=pataca Pinna nobilis condelipa=cadelinha=conquilha Donax trunculus congro americano Conger oceanicus congro bicudo do Japão Muraenesox cinereus congro=congro legítimo=safio Conger conger congro=legítimo congro=safio Conger conger conquilha=cadelinha=condelipa Donax trunculus corcovado Selene dorsalis corégono Coregonus spp. corégono lavareda Coregonus lavaretus cornuda=martelo=tubarão martelo Sphyrna zygaena corvelo=badejo Merlangius merlangus, Gadus merlangus corvina africana Argyrosomus hololepidotus corvina legítima=corvina Argyrosomus regius, Sciaena aquila corvina marreca=labarda Umbrina cirrosa corvina=corvina legítima Argyrosomus regius, Sciaena aquila corvina=verrugato Sciaenidae corvinata pintada Cynoscion nebulosus corvinata real Cynoscion regalis craca Balanus spp. curva=raia curva=galega=moira Raja undulata dentão de Angola Dentex angolensis dentilha=judia=piça d’el rei Coris julius dentinho do Cabo Synagrops japonicus diabo do mar=jamanta Mobula mobular dobrada=dobradiça=galana Oblada melanura dobradiça=dobrada=galana Oblada melanura
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doirado=sapatorra Coryphaena hippurus donzela azul=lingue azul=maruca azul Molva dypterygia, Molva byrkelange donzela da pedra=maruca do Mediterrâneo Molva macrophtalma, Molva elongata donzela=maruca Molva molva dourada=safata Sparus aurata eglefino=arinca Melanogrammus aeglefinus eiró=enguia=eirós=iró Anguilla anguilla eirós enguia=eiró= =iró Anguilla anguilla elopídeos Elopidae enguia americana Anguilla rostrata enguia=eiró=eirós=iró Anguilla anguilla eperlano europeu=peixe de cheiro Osmerus eperlanus escalo do Norte=bordalho=robalinho Leucistus cephalus escalo prateado Leucistus idus escamudo Pollachius virens escamudo do Alasca Theragra chalcogramma escasso=pilado=patelo=mexoalho Polybius henslowi escienídeos Sciaenidae escolar Ruvettus pretiosus escorpenídeos Scorpaenidae escorpião Myoxocephalus spp. esgana gata=espinhela Gasterosteus aculeatus espada lírio=lírio Trichiurus lepturus espadarte Xiphias gladius espadilha=lavadilha Sprattus sprattus espadim azul do Atlântico Makaira nigricans espadim branco do Atlântico Tetrapturus albidus espadim=marlim=veleiro Makaira spp. esparídeos Sparidae espinhela=esgana gata Gasterosteus aculeatus esponja Espongia officinalis esturjão beluga=esturjão do Cáspio Hucho hucho esturjão do Cáspio=esturjão beluga Hucho hucho esturjão=solho Acipenser spp. faca Mercenaria mercenaria faca direita=lingueirão direito Ensis siliqua faneca Trisopterus luscus faneca da Noruega Trisopterus esmarkii, Gadus esmarkii fanecão Trisopterus minutus fateixa=torpedo Elops saurus ferreira Lithognatus mormyrus, Pagellus mormyrus ferreira branca Lithognatus lithognatus foca Phoca vitulina frachão=galeota=sandilho Ammodytidae frade=peixe frade=tubarão frade Cethorinus maximus freira=xaputa=chaputa Brama brama funil escamudo=pataca=conchilhão Pinna nobilis gaiado=listão=bonito listado=bonito Katsuwonus pelamis, Euthynnus pelamis galana=dobradiça=dobrada Oblada melanura galega=raia curva=curva=moira Raja undulata galeota maior Ammodytes Hyperoplus lanceolatus, lanceolatus galeota=frachão=sandilho Ammodytidae galhudo malhado=melga Squalus acanthias galinha do mar=cantarilho=cantaril Helicolenus dactylopterus galo branco Zenopsis conchifer galo negro=peixe galo=peixe S. Pedro Zeus faber galucha Ethmalosa fimbriata gamba branca=gamba Parapenaeus longirostris gamba manchada=camarão amarelo Penaeus kerathurus gamba=gamba branca Parapenaeus longirostris garoupa legítima Epinephelus aeneus garoupa=mero Epinephelus spp., Serranidae garranto=tainha garrento=tainha amarela Mugila auratus, Liza aurata gata=pata roxa Dalatias licha, Scyliorhinus stellaris góbio Gobio gobio golfinho Delphinus delphis golfinho branco Delphinapterus leucas goraz=peixão Pagellus bogaraveo, Pagellus centrodontus
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granadeiro Macrourus spp. guelha=tintureira=tubarão azul Prionace glauca holotúria Holothurioidae imperador Beryx decadactylus iró=enguia=eiró=eirós Anguilla anguilla jamanta=diabo do mar Mobula mobular judeu Auxis rochei, Auris thazard judeu liso Auxis thazard judia dentilha=piça d’el rei Coris julius juliana=palouco amarelo=verdelho Pollachius pollachius labarda=corvina marreca Umbrina cirrosa lacrau do mar=verdinho=pichelim Micromesistius poutassou, Gadus poutassou lagartixa da rocha Cotyphaenoides rupestris lagosta Palinurus spp. lagosta castanha=lagosta vulgar Palinurus elephas lagosta vulgar=lagosta castanha Palinurus elephas lagostim Nephrops norvegicus lagostim de água doce=lagostim de rio Astacus astacus¸ Astacus fluviatilis lagostim de rio=lagostim de água doce Astacus astacus, Astacus fluviatilis laibeque de três barbilhos=paz da casa Gaidropsarus tricirratus laibeques=larotes Gaidropsarus spp. lampreia de água doce=lampreia do rio Lampetra fluviatilis lampreia do mar=lampreia marinha Petromyzon marinus lampreia do rio=lampreia de água doce Lampetra fluviatilis lampreia marinha=lampreia do mar Petromyzon marinus lapa Patella caerulea larotes=laibeques Gaidropsarus spp. lavadilha=espadilha Sprattus sprattus lavagante Homarus gammarus leitão Galeus melastomus lenga=raia lenga Raja clavata leque Chlamys opercularis leque variado Chlamys varia lima=solha escura dos mares do Norte=limanda Limanda limanda limanda=solha escura dos mares do Norte=lima Limanda limanda língua de cão Cynoglossidae língua de gato Buglossidium luteum linguado da areia=linguado preto Solea lascaris linguado imperial=linguado=linguado legítimo Solea solea linguado legítimo=linguado=linguado imperial Solea vulgaris linguado preto=linguado da areia Solea lascaris linguado=linguado legítimo=linguado imperial Solea solea língua Dicologoglossa cuneata lingue azul=donzela azul=maruca azul Molva dypterygia, Molva byrkelange lingueirão direito europeu Solen vagina lingueirão direito=faca direita Ensis siliqua lingueirão=longueirão Solen spp. lírio=espada lírio Trichiurus lepturus listão=gaiado=bonito listado=bonito Euthynnus pelamis, Katsuwonus pelamis liturina=borrelho=burrié=caramujo Littorina littorea lixa Centrophorus squamosus lixinha da fundura Etmopterus spp. longueirão=lingueirão Solen spp. lota do rio Lota lota, Lota lacustris, Lota maculosa luciano=castanhola Lutjanus spp. lúcio Esox lucius lúcio perca Lucioperca lucioperca, Stizostedion lucioperca lula comum=lula Loligo spp. lula riscada Loligo forbesi lula=lula comum Loligo spp. Manuel Carvalho=charroco Batrachoididae marabundo=agulhão Scomberesox saurus marlim=espadim Makaira spp. marlim=espadim=veleiro Makaira spp. marmota pescada=pescada branca do Atlântico Merluccius merluccius martelo=cornuda=tubarão martelo Sphyrna zygaena maruca azul=donzela azul=lingue azul Molva dypterygia, Molva byrkelange maruca do Mediterrâneo=donzela da pedra Molva macrophtalma, Molva elongata
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maruca=donzela Molva molva melga=galhudo malhado Squalus acanthias menhadem Brevoortia tyrannus merma Euthynnus alleteratus mero francês Polyprion americanus mero legítimo=mero Epinephelus guaza, Epinephelus gigas mero=garoupa Serranidae mero=mero legítimo Epinephelus guaza, Epinephelus gigas mero tigre Epinephelus itajara mexilhão preto=mexilhão=mexilhão vulgar Mytilus edulis mexilhão vulgar=mexilhão=mexilhão preto Mytilus edulis mexilhão=mexilhão vulgar=mexilhão preto Mytilus edulis mexoalho=pilado=patelo=escasso Polybius henslowi mirate=serrano iscado Serranus scriba moira=raia curva=curva=galega Raja undulata moreia Muraena helena morsa Odobenus spp. mucharra alvar=sargo alcorraz Diplodus annularis mugem=tainha olhalvo Mugil cephalus navalheira azul Callinectes sapidus navalheira felpuda Portunus puber, Macropipus puber olho de vidro laranja Hoplosthetus atlanticus orca=roaz=baleia assassina Orcinus orca, Orca gladiator orelha Haliotis spp. ostra Ostrea spp, Crassostrea spp. ostra chata=ostra redonda=ostra plana Ostrea edulis ostra plana=ostra redonda=ostra chata Ostrea edulis ostra portuguesa Crassostrea angulata ostra redonda=ostra plana=ostra chata Ostrea edulis ouriço do mar Echinoidae palma Psettodes bennetti palmeta=palometa Orcynopsis unicolor palombeta Lichia amia palometa=palmeta Orcynopsis unicolor palouco amarelo=juliana=verdelho Pollachius pollachius pâmpano manteiga Peprilus triacanthus pâmpanos=pampos Stromateidae pampos=pâmpanos Stromateidae panga Pterogymnus laniarius pardelha Rutilus spp. pardelha dos Alpes=ruivaca Rutilus rutilus pargo de bandeira=capatão de bandeira Dentex gibbosus pargo legítimo =pargo Pagrus pagrus, Sparus pagrus pargo ruço=ruço Sparus caeruleostictus pargo sêmola Pagrus auriga, Sparus auriga pargo=pargo legítimo Pagrus pagrus, Sparus pagrus pataca=funil escamudo=conchilhão Pinna nobilis pata roxa Scyliorhinus canicula pata roxa Scyliorhinus spp. pata roxa castanha Apristurus brunneus pata roxa=gata Scyliorhinus stellaris patelo=pilado=escasso=mexoalho Polybius henslowi patruça=solha das pedras Platichthys flesus paz da casa=laibeque de três barbilhos Gaidropsarus tricirratus pé de burrinho Chamelea gallina peacada de Angola Merluccius polli peixão=goraz Pagellus bogaraveo, Pagellus centrodontus peixe agulha=agulha Belone belone peixe aranha Trachinidae peixe aranha maior Trachinus draco peixe de cheiro=eperlano europeu Osmerus eperlanus peixe dourado=peixe encarnado Carassius auratus peixe encarnado=peixe dourado Carassius auratus peixe espada Lepidopus caudatus peixe espada preto Aphanopus carbo peixe fino=cantarilho dos mares do Norte=comunista Sebastes marinus peixe frade=frade=tubarão frade Cethorinus maximus peixe galo=galo negro=peixe S. Pedro Zeus faber
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peixe gatilho=cangulo Balistidae peixe lapa Cyclopterus lumpus peixe lobo malhado Anarhichas minor peixe lobo riscado Anarhichas lupus peixe lua Mola mola peixe pássaro=cabrinha de leque=cabra voadora Dactylopterus volitans peixe porco=porco Oxynotus centrina peixe prego=prego=tubarão prego Echinorhynus brucus, Echinorhynus spinosus peixe rei Atherina presbiter peixe rei verde Menidia menidia peixe S. Pedro=peixe galo=galo negro Zeus faber peixe serra Pristis pristis peixe sombra Thymalus thymalus peixe vermelho Sebastes marinus peixe vermelho da fundura Sebastes mentella peixe voador Exocoetus volitans, Exocoetidae perca Perca fluviatilis perca americana Perca flavescens perceve Pollicipes cornucopia, Mitella pollicipes perna de moça=tubarão da sopa Galeorhinus galeus pescada branca americana=pescada prateada Merluccius bilinearis pescada branca do Atlântico=pescada=marmota Merluccius merluccius pescada da África do Sul Merluccius capensis pescada do Sudoeste africano Merluccius paradoxus pescada negra Merluccius senegalensis pescada prateada=pescada branca americana Merluccius bilinearis pescada=pescada branca do Atlântico=marmota Merluccius merluccius petinga=sardinha=sardinha portuguesa Sardina pilchardus piarda Atherina presbiter, Atherina mochon piça d’el rei=dentilha=judia Coris julius pichelim=verdinho=lacrau do mar Micromesistius poutassou, Gadus poutassou pilado=patelo=escasso=mexoalho Polybius henslowi pimpão Carassius carassius polvo cabeçudo=polvo do alto Eledone cirrosa polvo do alto=polvo cabeçudo Eledone cirrosa polvo vulgar =polvo Octopus octopus polvo=polvo vulgar Octopus octopus pombo Plectorhinchus mediterraneus porco=peixe porco Oxynotus centrina pota do Norte Illex illecebrosus pota europeia Ommastrephes sagittatus, Todarodes sagittattus pota voadora Illex coindetii prato de alumínio Chloroscombrus chrysurus pregado Psetta maxima, Scophtalmus maximus prego=peixe prego=tubarão prego Echinorhynus brucus, Echinorhynus spinosus rabeta africana Pteroscion peli, Larimus peli rabeta brasileira Micropogonias undulatus raia bicuda Raja oxyrhinchus raia curva=curva=galega=moira Raja undulata raia de dois olhos Raja naevus raia de S. Pedro=raia santiaga Raja circularis raia estrelada=raia pintada Raja asterias, Raja punctata raia inverneira Raja ocelata raia lenga=lenga Raja clavata raia manchada Raja montagui raia pintada=raia estrelada Raja asterias, Raja punctata raia pontuada Raja brachiura raia pregada=cardadora Raja fullonica raia santiaga=raia de S. Pedro Raja circularis raia=arraia Raja spp. raia oirega Raja batis, Raja macrorhinchus raia tairoga=teiroga Raja alba rainha Pseudolithus spp. rainúnculo negro Raniceps raninus rascasso de pintas=rascasso escuro Scorpaena porcus rascasso escuro=rascasso de pintas Scorpaena porcus rascasso vermelho Scorpaena acrofa ratão=ratão águia Myliobatis aquila
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ratão águia=ratão Myliobatis aquila rã Ranidae rebeca=viola Rhinobatis rhinobatus riscado Parapristipoma octolineatum roaz=orca=baleia assassina Orcinus orca, Orca gladiator robalinho=bordalho=escalo do Norte Leucistus cephalus robalo branco Morone chrysops, Roccus chrysops robalo do Norte Morone americana, Roccus americanus robalo legítimo, robalo Dicentrarchus labrax robalo, robalo legítimo Dicentrarchus labrax robalo baila Dicentrarchus punctatus robalo legítimo Dicentrarchus labrax robalo muge Morone saxatilis, Roccus saxatilis rodovalho Scophtalmus rhombus rodovalho bruxa Zeugopterus punctatus roncadeira de pinta Leiostomus xanthurus roncador Pomadasydae roncador de pintas Pomadasys jubelini rorqual comum=baleia Balaenoptera physalus rorqual miúdo=baleia anã Balaenoptera acutorostrata ruço= pargo ruço Sparus caeruleostictus ruivaca Rutilus alburnoides, Rutilus lemmingii, Rutilus
macrolepidotus, Rutilus rubilio arcasii ruivaca=pardelha dos Alpes Rutilus rutilus ruivo do Cabo Branco=cabra riscada Trigla lastovitza ruivo=cabra Lepidotrigla cavillone, Trigla spp. sabatelha=savelha=saboga Alosa fallax saboga=savelha=sabatelha Alosa fallax safata=dourada Sparus aurata safia=sargo Diplodus vulgaris safio=congro=congro legítimo Conger conger salema Sarpa salpa salmão do Atlântico=salmão Salmo salar salmão japonês Onchorhynchus masou salmão=salmão do Atlântico Salmo salar salmão cão Onchorhynchus keta salmão prateado Onchorhynchus kisutch salmão real Onchorhynchus tschawytscha salmão rosa Onchorhynchus gorbuscha salmão vermelho Onchorhynchus nerka salmonete Mullidae salmonete barbudo Pseudupeneus prayensis salmonete da vaza Mulus barbatus salmonete legítimo=salmonete vermelho Mullus surmuletus salmonete vermelho=salmonete legítimo Mullus surmuletus salvelino Salvelinus spp. salvelino árctico Salvelinus alpinus sandilho=galeota=frachão Ammodytidae santola Maia squinado sapateira Cancer pagurus sapatorra=doirado Coryphaena hippurus sarda Scomber scombrus sardinela da Índia=sardinela dome Sardinella longiceps sardinela da Madeira=sardinela palheta Sardinella maderensis sardinela lombuda Sardinella aurita sardinela dome=sardinela da Índia Sardinella longiceps sardinela palheta=sardinela da Madeira Sardinella maderensis sardinha portuguesa=petinga=sardinha Sardina pilchardus sardinha=petinga=sardinha portuguesa Sardina pilchardus sardinopa da África do Sul Sardinops ocellata sardo=tubarão sardo Lamna nasus, Lamna cornubica sargo alcorraz=mucharra alvar Diplodus annularis sargo bicudo Diplodus puntazzo sargo dourado Stenotomus chrysops sargo legítimo, sargo legítimo do Mediterrâneo Diplodus sargus sargo veado Diplodus cervinus sargo=safia Diplodus vulgaris sarrajão=bonito Sarda sarda
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savelha=saboga=sabatelha Alosa fallax sável Alosa alosa senuca Thyrsites atun sereia Trachinotus spp. serpentina Cobitis taenia serra Scomberomorus spp. serra branca Scomberomorus tritor serra da Índia Acanthocybium solandri serrano iscado=mirate Serranus scriba serrano alecrim=alecrim=serrão Serranus cabrilla serrão=alecrim=serrano alecrim Serranus cabrilla siba=choco Sepia officinalis siluro europeu Silurus glanis soleídeos Soleidae solha americana=solha flanda Hipoglossoides platessoides solha das pedras=patruça Platichthys flesus solha de Inverrno Pseudopleuronectes americanus solha dos mares do Norte Limanda ferruginea solha escura dos mares do Norte=limanda=lima Limanda limanda solha estrelada do Pacífico Platichthys stellatus solha legítima=solha avessa=solha Pleuronectes platessa solha limão=solha microcéfala Microstomus kitt solha lisa Liopsetta putnami solha microcéfala=solha limão Microstomus kitt solha topa=azevia raiada Solea variegata, Microchirus variegatus solha=solha avessa=solha legítima Pleuronectes platessa solha avessa=solha legítima=solha Pleuronectes platessa solha flanda=solha americana Hipoglossoides platessoides solhão Glyptocephalus cynoglossus solhão do Árctico Liopsetta glacialis solho=esturjão Acipenser spp. sugador Lepadogaster lepadogaster tainha Mugilidae tainha amarela=garranto=tainha garrento Mugila auratus, Liza aurata tainha de salto Mugil saliens tainha olhalvo=mugem Mugil cephalus tainha sabão Mugil labeo tainha fataça Mugil ramada tainha garrento=garranto=tainha amarela Mugila auratus, Liza aurata tainha liça=beiçuda Mugil labrosus labrosus tamboril Lophius piscatorius tamboril americano Lophius americanus tartaruga Chelonia spp. tartaruga do mar Caretta caretta tartaruga gigante Dermochelys coriaceae teiroga=raia tairoga Raja alba tenca Tinca tinca tintureira=guelha=tubarão azul Prionace glauca tomecode Microgadus tomcod torpedo=fateixa Elops saurus transparente=caboz Aphya minuta tremelga Torpedo spp. trombeiro boga Spicara smaris, Smaris smaris trombeiro choupa Maena maena trombeteiro=apara lápis Macroramphosus scolopax truta arco íris Oncorhynchus mykiss, Salmo gairdneri truta comum Salmo trutta fario truta das fontes Salvelinus fontinalis truta do lago americana Salvelinus namaycush truta marinha=truta sapeira=truta marisca Salmo trutta truta marisca=truta marinha=truta sapeira Salmo trutta truta sapeira=truta marinha=truta marisca Salmo trutta trutta tubarão Selachii tubarão albafar Hexanchus griseus tubarão anequim Isurus oxyrinchus tubarão azul=guelha=tintureira Prionace glauca tubarão bicudo Rhyzoprionodon terraenovae tubarão da Gronelândia Somniosus microcephalus
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tubarão da sopa=perna de moça Galeorhinus galeus tubarão de pontas brancas Carcharinus longimanus tubarão de S. Tomé=comedor de homens Carcharodon carcharias tubarão dormedor=ama Ginglymostoma cirratum tubarão frade=frade=peixe frade Cethorinus maximus tubarão prego=peixe prego=prego Echinorhynus brucus, Echinorhynus spinosus tubarão raposo=zorro=tubarão zorra Alopias vulpinus tubarão sardo=sardo Lamna nasus, Lamna cornubica tubarão tigre Galeocerdo cuvieri tubarão zorra=zorro=tubarão raposo Alopias vulpinus tubarão limão Negaprion brevirostris tubarão martelo=martelo=cornuda Sphyrna zygaena tubarão toiro Odontaspis taurus uge Dasyatis pastinaca unha Acanthurus monroviae veleiro do Atlântico Istiophorus platypterus veleiro=espadim=merlim Makaira spp. verdelho=juliana=palouco amarelo Pollachius pollachius verdemã da pedra Nemacheilos barbatulus verdinho=pichelim=lacrau do mar Micromesistius poutassou, Gadus poutassou verrugato=corvina Sciaenidae vieira Pecten maximus viera de baía Pecten irradians viola rebeca Rhinobatis rhinobatus viúva=choupa=ambua Spondyliosoma cantharus xaputa=chaputa=freira Brama brama xaréu macoa Caranx hippos xaréu=charro Caranx spp. zagaia=castanheta Squilla mantis zarbo=bolota Brosme brosme zorro=tubarão zorra=tubarão raposo Alopias vulpinus
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Anexo 5 - Lista de espécies (nome científico / nome vulgar)
NOME CIENTÍFICO (LATIM) NOME VULGAR (PORTUGUÊS) Abramis brama brema Abramis spp. brema Acanthocybium solandri serra da Índia Acanthurus monroviae unha Acipenser spp. esturjão=solho Albusrnus alburnus alburno Alopias vulpinus tubarão raposo=zorro=tubarão zorra Alosa alosa sável Alosa fallax sabatelha=savelha=saboga Ammodytes lanceolatus galeota maior Ammodytidae frachão=galeota=sandilho Anarhichas lupus peixe lobo riscado Anarhichas minor peixe lobo malhado Anguilla anguilla eiró=enguia=eirós=iró Anguilla rostrata enguia americana Aphanopus carbo peixe espada preto Aphya minuta caboz=transparente Apristurus brunneus pata roxa castanha Arcidae arca Argentina spp. biqueirão branco Argyrosomus hololepidotus corvina africana Argyrosomus regius corvina legítima=corvina Argyrozona argyrozona carpinteiro Ariidae bagre Aristeus antennatus camarão vermelho=carabineiro Arnoglossus kessleri carta do Mediterrâneo Arnoglossus laterna carta do Mediterrâneo Aspitrigla cuculus cabra vermelha Aspitrigla obscura cabra de bandeira Astacus astacus lagostim de água doce=lagostim de rio Astacus fluviatilis lagostim de água doce=lagostim de rio Atherina boyeri piarda Atherina mochon piarda Atherina presbiter peixe rei, piarda Auris thazard judeu Auxis rochei judeu Auxis thazard judeu liso Balaenidae baleia Balaenoptera acutorostrata baleia anã=rorqual miúdo Balaenoptera borealis baleia boreal Balaenoptera physalus baleia=rorqual comum Balanus spp. craca Balistidae cangulo=peixe gatilho Barbus barbus barbo Barbus comiza barbo, cumbro Barbus microcephalus barbo de cabeça pequena Batrachoididae charroco=Manuel Carvalho Belone belone agulha=peixe agulha Beryx decadactylus imperador Blennius fluviatilis caboz de água doce Boops boops boga do mar Boreogadus saida bacalhau esquimó=bacalhau polar Bothidae carta Brachydeuterus auritus colo colo Brama brama chaputa =xaputa=freira Brevoortia tyrannus menhadem Brosme brosme bolota=zarbo Buccinum undatum búzio Buglossidium luteum língua de gato Callinectes sapidus navalheira azul Cancer pagurus sapateira Cancridae caranguejo
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Caranx hippos xaréu macoa Caranx ronchus charro amarelo Caranx spp. xaréu=charro Caranx spp. charro=xaréu Carassius auratus peixe dourado=peixe encarnado Carassius carassius pimpão Carcharinus longimanus tubarão de pontas brancas Carcharodon carcharias comedor de homens=tubarão de S. Tomé Carcinus maenas caranguejo mouro=caranguejo verde Cardium aculeatum berbigão de bicos=berbigão sarilho Cardium edule berbigão vulgar=berbigão Caretta caretta tartaruga do mar Centrophorus granulosus barroso Centrophorus squamosus lixa Cephalopoda cefalópodes Cethorinus maximus frade=peixe frade=tubarão frade Chamelea gallina pé de burrinho Chelidonichthys lucerna cabra cabaço Chelonia spp. tartaruga Chlamys opercularis leque Chlamys varia leque variado Chloroscombrus chrysurus prato de alumínio Citharus linguatula carta de bico Citharus macrolepidotus carta de bico Clupea harengus arenque do Atlântico=arenque Cobitis taenia serpentina Condrostoma polylepis boga Condrostoma toxostoma boga de boca curva Conger conger congro=congro legítimo=safio Conger oceanicus congro americano Coregonus lavaretus corégono lavareda Coregonus spp. corégono Coris julius dentilha=judia=piça d’el rei Coryphaena hippurus doirado=sapatorra Cotyphaenoides rupestris lagartixa da rocha Crangon crangon camarão negro Crassostrea angulata ostra portuguesa Crassostrea spp. ostra Cyclopterus lumpus peixe lapa Cynoglossidae língua de cão Cynoscion nebulosus corvinata pintada Cynoscion regalis corvinata real Cyprinus carpio carpa Dactylopterus volitans cabra voadora=cabrinha de leque= =peixe pássaro Dalatias licha gata=pata roxa Dasyatis pastinaca uge Decapterus spp. charro=xaréu Delphinapterus leucas golfinho branco Delphinus delphis golfinho Dentex angolensis dentão de Angola Dentex dentex capatão legítimo Dentex gibbosus capatão de bandeira=pargo de bandeira Dentex macrophtalmus cachucho Dermochelys coriaceae tartaruga gigante Dicentrarchus labrax robalo legítimo, robalo Dicentrarchus punctatus robalo baila Dicologoglossa cuneata língua Diplodus annularis mucharra alvar=sargo alcorraz Diplodus cervinus sargo veado Diplodus puntazzo sargo bicudo Diplodus sargus sargo legítimo, sargo legítimo do Mediterrâneo Diplodus vulgaris safia=sargo Donax trunculus cadelinha=conquilha=condelipa Donax trunculus conquilha=cadelinha=condelipa Echinoidae ouriço do mar Echinorhynus brucus peixe prego=prego=tubarão prego Echinorhynus spinosus peixe prego=prego=tubarão prego Eledone cirrosa polvo cabeçudo=polvo do alto
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Elopidae elopídeos Elops saurus fateixa=torpedo Emys orbicularis cágado de carapaça estriada Engraulis capensis biqueirão do Cabo Engraulis encrasicolus biqueirão Ensis siliqua faca direita=lingueirão direito Epinephelus aeneus garoupa legítima Epinephelus gigas mero legítimo=mero Epinephelus guaza mero legítimo=mero Epinephelus itajara mero tigre Epinephelus spp. garoupa=mero Esox lucius lúcio Espongia officinalis esponja Ethmalosa fimbriata galucha Etmopterus spp. lixinha da fundura Etrumeus teres arenque redondo Euthynnus alleteratus merma Euthynnus pelamis gaiado=listão=bonito listado=bonito Eutrigla gurnardus cabra morena Exocoetidae peixe voador Exocoetus volitans peixe voador Gadiculus argenteus badejinho Gadiculus thorii badejinho Gadus callarias bacalhau do Atlântico=bacalhau Gadus esmarkii faneca da Noruega Gadus merlangus badejo=corvelo Gadus morhua bacalhau do Atlântico=bacalhau Gadus poutassou lacrau do mar=verdinho=pichelim Gaidropsarus spp. laibeques=larotes Gaidropsarus tricirratus laibeque de três barbilhos=paz da casa Galeocerdo cuvieri tubarão tigre Galeorhinus galeus perna de moça=tubarão da sopa Galeus melastomus leitão Gasteropoda caracol Gasterosteus aculeatus esgana gata=espinhela Ginglymostoma cirratum ama=tubarão dormedor Ginypterus capensis abadejo do cabo=abrótea sul africana Glyptocephalus cynoglossus solhão Gobiidae caboz Gobio gobio góbio Haliotis spp. orelha Helicolenus dactylopterus cantaril=cantarilho=galinha do mar Hexanchus griseus tubarão albafar Hipoglossoides platessoides solha americana=solha flanda Holothurioidae holotúria Homarus gammarus lavagante Hoplosthetus atlanticus olho de vidro laranja Hucho hucho esturjão beluga=esturjão do Cáspio Hyperoplus lanceolatus galeota maior Hypoglossus hypoglossus alabote comum=alabote do Atlântico=alibute Ilisha africana capasseca Illex coindetii pota voadora Illex illecebrosus pota do Norte Istiophorus platypterus veleiro do Atlântico Isurus oxyrinchus tubarão anequim Katsuwonus pelamis bonito listado=gaiado=listão=bonito Labridae bodião Labrus bergylta bodião reticulado Labrus turdus bodião tordo Lamna cornubica sardo=tubarão sardo Lamna nasus sardo=tubarão sardo Lampetra fluviatilis lampreia de água doce=lampreia do rio Larimus peli rabeta africana Leiostomus xanthurus roncadeira de pinta Lepadogaster lepadogaster sugador Lepidopus caudatus peixe espada Lepidorhombus whiffiagonis areeiro Lepidotrigla cavillone cabra=ruivo
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Leucistus cephalus bordalho=robalinho=escalo do Norte Leucistus idus escalo prateado Lichia amia palombeta Limanda ferruginea solha dos mares do Norte Limanda limanda lima=solha escura dos mares do Norte=limanda Liopsetta glacialis solhão do Árctico Liopsetta putnami solha lisa Lithognatus lithognatus ferreira branca Lithognatus mormyrus ferreira Littorina littorea borrelho=burrié=caramujo=liturina Liza aurata garranto=tainha garrento=tainha amarela Loligo forbesi lula riscada Loligo spp. lula comum=lula Lophius americanus tamboril americano Lophius piscatorius tamboril Lota lacustris lota do rio Lota lota lota do rio Lota maculosa lota do rio Lucioperca lucioperca lúcio perca Lutjanidae castanhola=luciano Lutjanus spp. luciano=castanhola Macrobrachium carcinus camarão americano do rio Macropipus puber navalheira felpuda Macroramphosus scolopax apara lápis=trombeteiro Macrourus spp. granadeiro Maena maena trombeiro choupa Maia squinado santola Majidae caranguejo Makaira nigricans espadim azul do Atlântico Makaira spp. espadim=marlim=veleiro Mallotus villosus capelim Mauremys caspica cágado comum Megaptera nodosa baleia de bossas Megaptera novaeangliae baleia de bossas Melanogrammus aeglefinus arinca=eglefino Menidia menidia peixe rei verde Mercenaria mercenaria faca Meretrix spp. clame dura Merlangius merlangus badejo=corvelo Merluccius bilinearis pescada branca americana=pescada prateada Merluccius capensis pescada da África do Sul Merluccius merluccius marmota pescada=pescada branca do Atlântico Merluccius paradoxus pescada do Sudoeste africano Merluccius polli peacada de Angola Merluccius senegalensis pescada negra Microchirus variegatus azevia raiada=solha topa Microgadus tomcod tomecode Micromesistius poutassou lacrau do mar=verdinho=pichelim Micropogonias undulatus rabeta brasileira Micropterus salmoides achigã Microstomus kitt solha limão=solha microcéfala Mitella pollicipes perceve Mobula mobular diabo do mar=jamanta Mola mola peixe lua Molva byrkelange donzela azul=lingue azul=maruca azul Molva dypterygia donzela azul=lingue azul=maruca azul Molva elongata donzela da pedra=maruca do Mediterrâneo Molva macrophtalma donzela da pedra=maruca do Mediterrâneo Molva molva donzela=maruca Morone americana robalo do Norte Morone chrysops robalo branco Morone saxatilis robalo muge Mugil cephalus mugem=tainha olhalvo Mugil labeo tainha sabão Mugil labrosus beiçuda=tainha liça Mugil ramada tainha fataça Mugil saliens tainha de salto Mugil auratus garranto=tainha garrento=tainha amarela
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Mugilidae tainha Mullidae salmonete Mullus surmuletus salmonete legítimo=salmonete vermelho Mulus barbatus salmonete da vaza Muraena helena moreia Muraenesox cinereus congro bicudo do Japão Mustelus mustelus cação liso=caneja=cação Myliobatis aquila ratão=ratão águia Myoxocephalus spp. escorpião Mytilus edulis mexilhão preto=mexilhão=mexilhão vulgar Negaprion brevirostris tubarão limão Nemacheilos barbatulus verdemã da pedra Nephrops norvegicus lagostim Oblada melanura dobrada=dobradiça=galana Octopus octopus polvo vulgar=polvo Odobenus spp. morsa Odontaspis taurus tubarão toiro Ommastrephes sagittatus pota europeia Onchorhynchus gorbuscha salmão rosa Onchorhynchus keta salmão cão Onchorhynchus kisutch salmão prateado Onchorhynchus masou salmão japonês Onchorhynchus nerka salmão vermelho Onchorhynchus tschawytscha salmão real Oncorhynchus mykiss truta arco íris Orcinus orca, Orca gladiator baleia assassina=roaz=orca Orcynopsis unicolor palmeta=palometa Osmerus eperlanus eperlano europeu=peixe de cheiro Ostrea edulis ostra chata=ostra redonda=ostra plana Ostrea spp. ostra Oxynotus centrina peixe porco=porco Pagellus acarne besugo Pagellus bellottii bica buço Pagellus bogaraveo goraz=peixão Pagellus centrodontus goraz=peixão Pagellus coupei bica buço Pagellus erythrinus bica=bica bicuda=bicuda Pagellus mormyrus ferreira Pagrus auriga pargo sêmola Pagrus pagrus pargo legítimo =pargo Palaemon serratus camarão branco legítimo Palinurus elephas lagosta castanha=lagosta vulgar Palinurus spp. lagosta Pandalus borealis camarão do Árctico Pandalus montagui camarão boreal Pandalus spp. camarões pandalídeos Paralichthys dentatus carta de Verão Paralithodes camtschatica caranguejo real Parapenaeus longirostris gamba branca=gamba Parapristipoma octolineatum riscado Pasiphaea multidentata camarão cristal rosado Pasiphaena sivado camarão cristal branco Patella caerulea lapa Pecten irradians viera de baía Pecten maximus vieira Penaeus kerathurus camarão amarelo=gamba manchada Penaeus spp. camarões peneídeos Peprilus triacanthus pâmpano manteiga Perca flavescens perca americana Perca fluviatilis perca Peristedion cataphractum cabra de argel= cabra de casca Petromyzon marinus lampreia do mar=lampreia marinha Phoca vitulina foca Phocoena phocoena boto Phycis blennoides abrótea do alto Phycis phycis abrótea da costa Physeter catodon cachalote Physeter macrocephalus cachalote
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Pinna nobilis conchilhão=funil escamudo=pataca Platichthys flesus patruça=solha das pedras Platichthys stellatus solha estrelada do Pacífico Plectorhinchus mediterraneus pombo Plesiopenaeus edwardsianus carabineiro cardeal Pleuronectes platessa solha legítima=solha avessa=solha Pollachius pollachius juliana=palouco amarelo=verdelho Pollachius virens escamudo Pollicipes cornucopia perceve Polybius henslowi pilado=patelo=escasso=mexoalho Polynemus quadrifilis barbudo gigante=capitão Polyprion americanus cherne Pomadasydae roncador Pomadasys jubelini roncador de pintas Pomatomus saltatrix anchova Portunidae caranguejo Portunus puber navalheira felpuda Prionace glauca guelha=tintureira=tubarão azul Pristis pristis peixe serra Psetta maxima pregado Psettodes bennetti palma Pseudolithus spp. rainha Pseudopleuronectes americanus solha de Inverrno Pseudupeneus prayensis salmonete barbudo Pterogymnus laniarius panga Pteroscion peli rabeta africana Raja alba raia tairoga=teiroga Raja asterias raia estrelada=raia pintada Raja batis raia oirega Raja brachiura raia pontuada Raja circularis raia de S. Pedro=raia santiaga Raja clavata lenga=raia lenga Raja fullonica cardadora=raia pregada Raja macrorhinchus raia oirega Raja montagui raia manchada Raja naevus raia de dois olhos Raja ocelata raia inverneira Raja oxyrhinchus raia bicuda Raja punctata raia estrelada=raia pintada Raja spp. arraia=raia Raja undulata curva=raia curva=galega=moira Raniceps raninus rainúnculo negro Ranidae rã Reinhardtius hippoglossoides alabote da Gronelândia Rhinobatis rhinobatus rebeca=viola Rhombus laevis rodovalho Rhyzoprionodon terraenovae tubarão bicudo Roccus americanus robalo do Norte Roccus chrysops robalo branco Roccus saxatilis robalo muge Rutilus rubilio arcasii ruivaca Rutilus alburnoides ruivaca Rutilus lemmingii ruivaca Rutilus macrolepidotus ruivaca Rutilus rutilus ruivaca=pardelha dos Alpes Rutilus spp. pardelha Ruvettus pretiosus escolar Salmo gairdneri truta arco íris Salmo salar salmão do Atlântico=salmão Salmo trutta truta marinha=truta sapeira=truta marisca Salmo trutta fario truta comum Salmo trutta trutta truta sapeira=truta marinha=truta marisca Salvelinus alpinus salvelino árctico Salvelinus fontinalis truta das fontes Salvelinus namaycush truta do lago americana Salvelinus spp. salvelino Sarda orientalis bonito do Indo Pacífico Sarda sarda bonito=sarrajão
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Sardina pilchardus petinga=sardinha=sardinha portuguesa Sardinella aurita sardinela lombuda Sardinella longiceps sardinela da Índia=sardinela dome Sardinella maderensis sardinela da Madeira=sardinela palheta Sardinops ocellata sardinopa da África do Sul Sarpa salpa salema Sciaena aquila corvina legítima=corvina Sciaenidae corvina=verrugato Scomber japonicus cavala Scomber scombrus sarda Scomberesox saurus agulhão=marabundo Scomberomorus spp. cavala bonita=cavala gigante Scomberomorus tritor serra branca Scophtalmus maximus pregado Scophtalmus rhombus rodovalho Scorpaena acrofa rascasso vermelho Scorpaena porcus rascasso de pintas=rascasso escuro Scorpaenidae escorpenídeos Scyliorhinus canicula pata roxa Scyliorhinus spp. pata roxa Scyliorhinus stellaris gata=pata roxa Sebastes marinus cantarilho dos mares do Norte=peixe fino=comunista=peixe
vermelho Sebastes mentella peixe vermelho da fundura Selachii tubarão Selene dorsalis corcovado Sepia officinalis choco=siba Sepiola rondeleti choco anão Seriola dumerili charuteiro catarino Seriola lalandi charuteiro azeite Seriola spp. charuteiro Serranidae mero=garoupa Serranus cabrilla alecrim=serrão=serrano alecrim Serranus scriba mirate=serrano iscado Silurus glanis siluro europeu Smaris smaris trombeiro boga Solea lascaris linguado da areia=linguado preto Solea solea linguado imperial=linguado=linguado legítimo Solea variegata azevia raiada=solha topa Solea vulgaris linguado legítimo=linguado=linguado imperial Soleidae soleídeos Solen spp. lingueirão=longueirão Solen vagina lingueirão direito europeu Somniosus microcephalus tubarão da Gronelândia Sparidae esparídeos Sparus aurata dourada=safata Sparus auriga pargo sêmola Sparus caeruleostictus pargo ruço=ruço Sparus pagrus pargo legítimo =pargo Sphyraenidae barracuda=bicuda Sphyrna zygaena cornuda=martelo=tubarão martelo Spicara smaris trombeiro boga Spondyliosoma cantharus ambua=choupa=viúva Sprattus sprattus espadilha=lavadilha Squalus acanthias galhudo malhado=melga Squilla mantis castanheta=zagaia Stenotomus chrysops sargo dourado Stizostedion lucioperca lúcio perca Stromateidae pâmpanos=pampos Synagrops japonicus dentinho do Cabo Tapes decussatus amêijoa boa Tetrapturus albidus espadim branco do Atlântico Theragra chalcogramma escamudo do Alasca Thunnidae atum Thunnus alalunga atum voador Thunnus albacares albacora=atum albacora Thunnus obesus atum patudo Thunnus thynnus atum rabilho=atum rabilo
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Thymalus thymalus peixe sombra Thyrsites atun senuca Tinca tinca tenca Todarodes sagittatus pota europeia Torpedo spp. tremelga Trachinidae peixe aranha Trachinotus spp. sereia Trachinus draco peixe aranha maior Trachurus capensis carapau do Cabo Trachurus mediterraneus carapau do Mediterrâneo Trachurus picturatus carapau negrão=chicharro negrão Trachurus trachurus carapau=chicharro Trachurus trecae carapau do Cunene Trichiurus lepturus espada lírio=lírio Trigla cuculus cabra vermelha Trigla lastovitza cabra riscada=ruivo do Cabo Branco Trigla lucerna cabra cabaço Trigla spp. cabra=ruivo Trisopterus esmarkii faneca da Noruega Trisopterus luscus faneca Trisopterus minutus fanecão Trygla gunardus cabra morena Trygla lyra cabra lira Uca tangeri cava terra=cavalete Umbrina cirrosa corvina marreca=labarda Urophycis blennoides abrótea do alto Urophycis tenuis abrótea branca Venerupis decussata amêijoa boa Xanthidae caranguejo Xiphias gladius espadarte Zenopsis conchifer galo branco Zeugopterus punctatus rodovalho bruxa Zeus faber galo negro=peixe galo=peixe S. Pedro
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Anexo 6 - Alguns diplomas legais de Portugal e da UE sobre pescado Decreto Lei nº 271/87 de 3 de Julho Cria o cadastro das entidades responsáveis pela introdução no mercado interno de géneros alimentícios transformados destinados ao consumo humano. O artigo 8º foi alterado pelo Decreto Lei nº 119/90 de 7 de Abril, assim como a expressão "qualidade controlada" foi substituída por "qualidade reconhecida". Portaria nº 84/88 de 6 de Fevereiro Aprova o modelo de impresso para inscrição no cadastro das entidades responsáveis pela introdução no mercado interno de géneros alimentícios transformados. Portaria nº 149/88 de 9 de Março Higiene pessoal do manipulador de alimentos. Directiva nº 89/397/CEE do Conselho de 14 de Junho de 1989 Relativa ao controlo oficial dos géneros alimentícios Decreto Lei 119/90 de 7 de Abril Altera o artigo 8º do Decreto Lei nº 271/87 de 3 de Julho, assim como a expressão "qualidade controlada", substituída por "qualidade reconhecida". Portaria nº 949/90 de 6 de Outubro Aprova o estatuto de responsabilidade dos profissionais pelo controlo da qualidade dos géneros alimentícios transformados. Portaria nº 950/90 de 6 de Outubro Cria o regulamento dos critérios de reconhecimento do sistema do controlo da qualidade dos géneros alimentícios transformados. Directiva 93/43/CEE do Conselho de 14 de Junho de 1993 Relativa à higiene dos géneros alimentícios. Directiva nº 93/99/CEE do Conselho de 29 de Outubro de 1993 Relativa a medidas adicionais respeitantes ao controlo oficial dos géneros alimentícios. Decisão nº 94/356/CEE da Comissão de 20 de Maio de 1994 Fixa as regras de execução da Directiva 91/493/CEE no que respeita aos autocontrolos sanitários relativos a produtos da pesca. Despacho conjunto de 2/5/93 (DR nº 30, pág. 1335) Define quais as entidades competentes para o exercício do controlo oficial dos géneros alimentícios conforme a Directiva do Conselho nº 89/397/CEE de 14 de Junho. Despacho 60/SEMAQA Reconhece outras habilitações académicas a nível de licenciatura ou bacharelato, para além das consideradas nos nºs 1 e 2 do artigo 4º no nº 7 da Portaria 949/90 de 6 de Junho (DR nº 291 de 18/12, pág. 12986). Decreto Lei nº 311/85 de 30 de Julho Aprova o regulamento da indústria de transformação e congelação de pescado (foi revogado pelo Decreto Lei nº 427/91 de 31/10). Directiva nº 91/493/CEE do Conselho de 22 de Julho de 1991 Adopta as normas sanitárias relativas à produção e à colocação no mercado dos produtos da pesca. O anexo foi alterado pela Directiva 95/71/CEE do Conselho de 22/12. Decreto Lei nº 427/91 de 31 de Outubro
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Regulamenta o exercício da indústria transformadora da pesca em terra. Decreto Regulamentar nº 61/91 de 27 de Novembro Aprova o regulamento do exercício da actividade da indústria transformadora da pesca em terra. São revogados os nºs 5 e 6 do artigo 25º pelo Decreto Lei nº 124/95 de 31 de Maio. Decisão nº 94/356/CEE da Comissão de 20 de Maio de 1994 Fixa as regras de execução da Directiva 91/493/CEE no que respeita aos autocontrolos sanitários relativos a produtos da pesca. Decreto Lei nº 283/94 de 11 de Novembro Transpõe a Directiva 91/493/CEE que estabelece o número de controlo veterinário. Alterações pelo Decreto-Lei 124/95 de 31 de Maio. Decreto Lei nº 124 de 31 de Maio Altera o Decreto Lei 283/94 de 11 de Novembro e os nºs 5 e 6 do artigo 25º do RAIP (Regulamento do Exercício da Actividade da Indústria Transformadora da Pesca, em terra), transpõe para ordem jurídica interna a Directiva nº 92/48/CEE do Conselho de 16 de Junho. Portaria nº 553/95 de 8 de Junho Aprova o regulamento das normas sanitárias aplicáveis à produção e colocação no mercado dos produtos da pesca. Directiva nº 95/71/CEE de Conselho de 22 de Dezembro Altera o anexo da Directiva 91/493/CEE que adopta as normas sanitárias relativas à produção e à colocação no mercado dos produtos da pesca.
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Anexo 7 - Conversão de unidades e constantes do sector da pesca
Grandeza
Unidades SI
Unidades não SI
Conversões
nome (name) símbolo nome (name) símbolo comprimento
• metro (metre) m • braça (fathom) • jarda (yard) • milha marítima internacional (international nautical mile) • milha terrestre (statute mile) • pé (foot) • polegada (inch)
fath yd n mile mile ft in
1 fath = 1.8288 m 1 yd = 0.9144 m 1 n mile = 1852 m (desde o ano 1928) 1 mile = 1609.344 m 1 ft = 0.3048 m 1 in = 0.0254 m
massa • grama (gram) g • libra (pound) • onça (ounce) • Dalton
lb oz Da ou D
1 lb = 453.59237 g 1 oz = 28.3495 g 1 Da = 1 unidade de massa atómica = 1.660 538 73 x 10-24 g
temperatura
• kelvin K • graus Celsius • graus Fahrenheit
ºC ºF
ºC = K - 273.15 ºC = (5/9) x (ºF - 32) ºF = ((9/5) x ºC) + 32
pressão
• pascal • newton/m2 (unidades equivalentes)
Pa N m-2
• bar • atmosphere • libras/polegada2 • Torricelli • mm mercúrio • kilograma/cm2
bar atm PSI Torr mmHg kg cm-2
1 Pa = 1 N m-2 1 bar = 0.9869233 atm 1 atm = 101325 Pa 1 PSI = 0.0680462 atm 1 atm = 760 Torr 1 atm = 760 mmHg 1 atm = 1.0332 kg cm-2
velocidade • metro/segundo m s-1 • nó (knot) • km/hora
kn km h-1
1 kn = 1.852 km h-1 1 km h-1 = 0.2778 m s-1
potência • watt W • horsepower • cavalo-vapor
hp ch (PS)
1 hp = 745.7 W 1 PS = 735.49875 W
energia, calor e trabalho
• joule J • newton x metro • --- • British thermal unit • caloria 15º
N m m2 kg s-2 Btu cal15, cal
1 N m = 1 m2 kg s-2 1 Btu = 1.055 x 103 J 1 cal = 4.1855 J
concentração de solutos
• gramas/litro g/l ou ‰ • graus Baumé ºBé gravidade específica (densidade) = 145/145-ºBé (p/ líq. c/ densidade > água) 145/130+ºBé (p/ líq. c/ densidade < água)
Constantes usuais
Pressão normal (nível do mar)
1 atm Veloc. do som (ar) 340 m s-1 Veloc. da luz (vazio)
3.0 x 108 m s-1
Peso ar (normal)
1.2928 kg m-3 Veloc. do som (água)
1463 m s-1 Veloc. da luz (ar)
3.0 x 108 m s-1
Ar contém 78.084% N2 20.948% O2
Veloc. do som (água do mar)
1500 m s-1 Veloc. da luz (água)
2.3 x 108 m s-1
Veloc. do som (rocha)
8332 m s-1 Veloc. da luz (vidro)
2.0 x 108 m s-1
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Anexo 8 - Temas importantes e sugestões de sites na Internet (se os alunos tiverem dificuldades na procura destes ou de outros sites, serão sempre benvindos e ajudados pelo docente da disciplina)
TEMA ENDEREÇO
Âmbar cinzento http://www.campusprogram.com/reference/en/wikipedia/a/am/ambergris.html http://www.chez.com/phine/ Parfum/animale.htm http://www.museesdegrasse.com/MIP/fla/mat_prem_09.shtml
CIMAR (Centro Inv. Marinha e Amb.) da UP http://www.cimar.org
Conversor de unidades (UK, USA, etc.) http://www.digitaldutch.com/unitconverter
Conversor/dicionário para as línguas da UE http://europa.eu.int/eurodicautom/login.jsp
Deptº Inovação Tecnológica e Valorização dos Produtos da Pesca (IPIMAR)
http://ipimar-iniap.ipimar.pt/departamentos/inovacao-tecnologica.html
Deptº Tecnologia de los Productos Pesqueros (Univ. Santiago de Comp.)
http://www.usc.es/banim/doc/tpp.htm
DG Pescas e Aquicultura (MADRP) http://www.dg-pescas.pt
DG XIV (Comissão Europeia-Pescas) http://europa.eu.int/comm/dgs/fisheries/index_pt.htm
Food and Agriculture Organization (UN) http://www.fao.org/fi/default_all.asp
Food and Drug Administration (USA) http://www.cfsan.fda.gov/list.html
Grupo de Trabalho do Pescado (ESB/UCP) http://www.esb.ucp.pt/pescado
Identificação de peixes http://www.fao.org/figis/servlet/static?dom=root&xml=species/index.xml http://www.fishbase.org/search.cfm
Lota de pescado on-line http://www.eurofishsales.co.uk/open/frames.htm
Min. Agricult., Pescas e Alimentação http://www.min-agricultura.pt
Página dos licenciados em CMA http://cma-icbas.planetaclix.pt/
Procura na Internet http://www.google.com (em toda a WWW, só em português, só em Portugal, em qualquer outra língua, etc.)
Projecto europeu sobre Frescura de Peixe http://dbs.cordis.lu/cordis-cgi/srchidadb?CALLER=PROJADVANCEDSRCH&SRCH&QF_EP_RCN_A=29512&ACTION=D
Quality Index Method http://www.qim-eurofish.com/index_start.htm
Seafish Industry Authority (UK) http://www.seafish.org/
Seafood Network Information Center (USA) http://seafood.ucdavis.edu/
Tabela periódica modificável http://www.shef.ac.uk/chemistry/web-elements/index.html
Museu de Mossel Bay (réplica da caravela Bartolomeu Dias em exposição, África do Sul)
http://www.museum.com/jb/museum?id=24069
Região de Turismo do Algarve (réplica da caravela Boa Esperança em exposição, Marina de Lagos)
http://www.rtalgarve.pt/caravela/PT/Home.asp
Aporvela (réplica da caravela Vera Cruz, em exposição na Doca do Terreiro do Trigo, Lisboa)
http://www.aporvela.pt/
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ÍNDICE I - INTRODUÇÃO..................................................................................................................................................................................... 1
a) A disciplina de Tecnologia do Pescado .......................................................................................................................................... 1 b) Docentes e instalações................................................................................................................................................................... 2 c) Vocabulário..................................................................................................................................................................................... 3 d) Tecnologia do Pescado em Portugal .............................................................................................................................................. 3
• INIAP (Instituto Nacional de Investigação Agrária e Pescas, ex-IPIMAR) ................................................................................... 4 • DGPA (Direcção Geral das Pescas e Aquicultura)...................................................................................................................... 4 • ESB/UCP (Escola Superior de Biotecnologia da Universidade Católica Portuguesa) ................................................................. 4 • Centro FORPESCAS (Centro de Formação Profissional para o Sector das Pescas).................................................................. 4 • Outras instituições ...................................................................................................................................................................... 5
e) Tecnologia do Pescado no estrangeiro........................................................................................................................................... 5 f) Bibliografia....................................................................................................................................................................................... 6
II - PERSPECTIVA HISTÓRICA .............................................................................................................................................................. 8
a) Generalidades ................................................................................................................................................................................ 8 b) O pescado na Pré-História.............................................................................................................................................................. 8 c) As Civilizações Clássicas: do Egipto ao Império Romano ............................................................................................................ 11 d) O pescado na Idade Média........................................................................................................................................................... 14 e) O pescado na Idade Moderna e na Idade Contemporânea........................................................................................................... 15 f) O futuro do pescado na alimentação humana ............................................................................................................................... 17
III - O PESCADO COMO MATÉRIA-PRIMA .......................................................................................................................................... 20
a) Espécies....................................................................................................................................................................................... 20 b) Caracterização geral..................................................................................................................................................................... 20 c) Composição.................................................................................................................................................................................. 24
IV - DEGRADAÇÃO DO PESCADO ...................................................................................................................................................... 27
a) Definições..................................................................................................................................................................................... 27 b) Autólise ........................................................................................................................................................................................ 28 c) Putrefacção .................................................................................................................................................................................. 28 d) Principais factores da degradação................................................................................................................................................ 29
• Água ......................................................................................................................................................................................... 30 • Nutrientes ................................................................................................................................................................................. 31 • Temperatura ............................................................................................................................................................................. 32 • Humidade relativa..................................................................................................................................................................... 35 • Atmosfera gasosa..................................................................................................................................................................... 36
e) História geral da degradação........................................................................................................................................................ 36 f) Degradação sensorial: peixes, crustáceos e moluscos.................................................................................................................. 39 g) Outros fenómenos da degradação................................................................................................................................................ 42
• Belly bursting ou barrigas rebentadas....................................................................................................................................... 42 • Gaping ou afastamento muscular ............................................................................................................................................. 43 • Melanose .................................................................................................................................................................................. 43
V - CONSERVAÇÃO DO PESCADO..................................................................................................................................................... 44
a) Métodos e princípios..................................................................................................................................................................... 44 • Secagem .................................................................................................................................................................................. 44 • Salga ........................................................................................................................................................................................ 45 • Fumagem ................................................................................................................................................................................. 45 • Acidificação .............................................................................................................................................................................. 46 • Refrigeração ............................................................................................................................................................................. 47 • Super-arrefecimento ................................................................................................................................................................. 48 • Congelação............................................................................................................................................................................... 48 • Liofilização................................................................................................................................................................................ 49 • Pasteurização........................................................................................................................................................................... 50 • Apertização............................................................................................................................................................................... 50 • Radurização.............................................................................................................................................................................. 51 • Irradiação.................................................................................................................................................................................. 51 • Radiações UV........................................................................................................................................................................... 52 • Microondas ............................................................................................................................................................................... 52 • Pulsos de luz intensa e pulsos eléctricos de alta intensidade ................................................................................................... 53 • Armazenamento em vácuo ....................................................................................................................................................... 53 • Armazenamento em atmosfera modificada............................................................................................................................... 54 • Armazenamento hipobárico ...................................................................................................................................................... 56 • Alta pressão hidrostática (Pascalização) .................................................................................................................................. 56 • Aditivos..................................................................................................................................................................................... 56 • Processos mistos ..................................................................................................................................................................... 57
b) Tipos e grupos de métodos .......................................................................................................................................................... 59 c) Refrigeração ................................................................................................................................................................................. 60
• Tipos de refrigeração ................................................................................................................................................................ 60
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• Tipos de refrigeradores............................................................................................................................................................. 61 • Utilização de gelo ..................................................................................................................................................................... 62 • Estiva de pescado refrigerado com gelo ................................................................................................................................... 65 • Equipamentos de refrigeração .................................................................................................................................................. 66 • Transporte de produtos refrigerados ......................................................................................................................................... 69
d) Congelação .................................................................................................................................................................................. 70 • Tipos de congelação................................................................................................................................................................. 70 • Tipos de congeladores.............................................................................................................................................................. 71 • Fases da congelação................................................................................................................................................................ 72 • Velocidade de congelação........................................................................................................................................................ 72 • Vidragem .................................................................................................................................................................................. 74 • Glaciação ou congelação superficial......................................................................................................................................... 74 • Congelação e rigor mortis ......................................................................................................................................................... 75 • Estiva de congelados................................................................................................................................................................ 76 • Problemas durante a estiva de congelados .............................................................................................................................. 77 • Descongelação ......................................................................................................................................................................... 78 • Recongelação........................................................................................................................................................................... 81 • Rede ou cadeia de frio.............................................................................................................................................................. 81
e) Apertização .................................................................................................................................................................................. 82 • Processos tradicional e moderno: o “fabrico de inteiros”........................................................................................................... 82 • Descrição do processo e objectivos.......................................................................................................................................... 83 • Tipos de latas: o “vazio”............................................................................................................................................................ 94 • Apresentação da lata ao abrir: o “espelho” ............................................................................................................................... 95 • O fabrico de “sem espinha”....................................................................................................................................................... 96 • O fabrico de “sem pele e sem espinha” .................................................................................................................................... 96 • Relação fabrico / peixe ............................................................................................................................................................. 97 • As opções de fabrico mais comuns .......................................................................................................................................... 98 • Manipulação excessiva: um mal dificilmente evitável................................................................................................................ 98
f) Fumagem ...................................................................................................................................................................................... 99 VI - DO MAR ATÉ À DESCARGA........................................................................................................................................................ 101
a) Antes da captura ........................................................................................................................................................................ 101 • Concepção das embarcações................................................................................................................................................. 101 • Trabalho a bordo..................................................................................................................................................................... 101 • Tratamento de madeiras e metais .......................................................................................................................................... 102 • Higiene e higienização............................................................................................................................................................ 102 • Viagem até pesqueiro ............................................................................................................................................................. 103 • Detecção de pescado ............................................................................................................................................................. 104 • Métodos de captura ................................................................................................................................................................ 104 • Relação entre método de captura e qualidade do pescado..................................................................................................... 112
b) Processamento a bordo.............................................................................................................................................................. 113 • Generalidades sobre equipamentos de processamento de pescado ...................................................................................... 113 • Instalação de máquinas a bordo ............................................................................................................................................. 114 • Ligação entre método de captura e trabalho a bordo .............................................................................................................. 114 • Operações a realizar............................................................................................................................................................... 114 • Escolha e separação .............................................................................................................................................................. 115 • Sangramento ou sangria......................................................................................................................................................... 116 • Descabeçamento e evisceração ............................................................................................................................................. 116 • Filetagem, corte em postas e outros cortes ............................................................................................................................ 116 • Preparação para a conservação ............................................................................................................................................. 117 • Estiva de pescado .................................................................................................................................................................. 117 • Pesca artesanal: um caso particular ....................................................................................................................................... 119
VII - DA DESCARGA AO CONSUMIDOR............................................................................................................................................ 120
a) Descarga de pescado................................................................................................................................................................. 120 b) Transporte até lota ..................................................................................................................................................................... 120 c) 1ª venda ..................................................................................................................................................................................... 121 d) 2ª venda ..................................................................................................................................................................................... 123 e) Caixas reutilizáveis e não reutilizáveis........................................................................................................................................ 123 f) Transporte de pescado................................................................................................................................................................ 124
VIII - AQUACULTURA ......................................................................................................................................................................... 125
a) Características particulares da matéria-prima............................................................................................................................. 125 b) Transporte .................................................................................................................................................................................. 126 c) Produtos de aquacultura............................................................................................................................................................. 127 d) Desperdícios............................................................................................................................................................................... 127
IX - PROCESSAMENTO INDUSTRIAL DE PESCADO........................................................................................................................ 129
a) Processamento manual .............................................................................................................................................................. 129 b) Processamento mecanizado ...................................................................................................................................................... 130
• Características gerais a exigir aos equipamentos ................................................................................................................... 130
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• Calibração .............................................................................................................................................................................. 132 • Lavagem................................................................................................................................................................................. 132 • Máquinas de orientação ou posicionamento ........................................................................................................................... 132 • Máquinas para descabeçamento, evisceração e corte de rabos............................................................................................. 133 • Remoção de escamas ............................................................................................................................................................ 134 • Remoção da coluna / filetagem............................................................................................................................................... 134 • Detecção e remoção de parasitas e espinhas ........................................................................................................................ 135 • Despeladoras.......................................................................................................................................................................... 136
c) Processamento de produtos frescos........................................................................................................................................... 136 d) Preparados, cozinhados e pré-cozinhados ................................................................................................................................. 137 e) Embalagem ................................................................................................................................................................................ 138
X - SUB-PRODUTOS DA INDÚSTRIA DO PESCADO ........................................................................................................................ 139
a) Farinha de peixe ou FPC (fish protein concentrates) .................................................................................................................. 139 b) Óleo de peixe ............................................................................................................................................................................. 142 c) Polpas de pescado ..................................................................................................................................................................... 143 d) Pasta de peixe............................................................................................................................................................................ 144 e) Surimi ......................................................................................................................................................................................... 145 f) Ensilados..................................................................................................................................................................................... 146 g) Hidrolizados proteicos de pescado ............................................................................................................................................. 147 h) Outros produtos alimentares....................................................................................................................................................... 148
• Gelatina .................................................................................................................................................................................. 148 • Óleos de fígado de peixe ........................................................................................................................................................ 149
XI - PRODUTOS NÃO ALIMENTARES................................................................................................................................................ 150
a) Couro.......................................................................................................................................................................................... 150 b) Quitina e quitosano..................................................................................................................................................................... 150 c) Cola de peixe.............................................................................................................................................................................. 151 d) Essência de pérolas ................................................................................................................................................................... 152 e) Conchas ..................................................................................................................................................................................... 152 f) Fertilizantes ................................................................................................................................................................................. 153 g) Âmbar cinzento........................................................................................................................................................................... 153 h) Outras utilizações: farmácia, cosmética e química ..................................................................................................................... 154
XII - COMERCIALIZAÇÃO................................................................................................................................................................... 155
a) Tipos de venda ........................................................................................................................................................................... 155 b) Exposição de pescado................................................................................................................................................................ 156 c) Controlo de insectos ................................................................................................................................................................... 157
XIII - DA COMPRA AO CONSUMO ..................................................................................................................................................... 160
a) Transporte .................................................................................................................................................................................. 160 b) Acondicionamento ...................................................................................................................................................................... 161 c) Preparação para consumo.......................................................................................................................................................... 161 d) Métodos de preparação.............................................................................................................................................................. 162 e) Catering e restauração ............................................................................................................................................................... 162
XIV - APÓS O CONSUMO................................................................................................................................................................... 163
a) A saúde e o pescado.................................................................................................................................................................. 163 b) Alimentos do mar ....................................................................................................................................................................... 163 c) Problemas causados pelo pescado ............................................................................................................................................ 164
• Ferimentos durante a manipulação......................................................................................................................................... 164 • Bactérias patogénicas naturais e contaminantes .................................................................................................................... 164 • Parasitas................................................................................................................................................................................. 165 • Vírus ....................................................................................................................................................................................... 167 • Seres aquáticos venenosos ou alergénios.............................................................................................................................. 167 • Atmosferas perigosas em porões ........................................................................................................................................... 169
XV - SITUAÇÃO ACTUAL E FUTURA ................................................................................................................................................. 170
a) A nível mundial ........................................................................................................................................................................... 170 b) A nível europeu .......................................................................................................................................................................... 170 c) A nível nacional .......................................................................................................................................................................... 171 d) A nível local ................................................................................................................................................................................ 172 e) Considerações finais .................................................................................................................................................................. 172
ANEXOS.............................................................................................................................................................................................. 174
Anexo 1 - Curriculum vitae / Resumo.............................................................................................................................................. 174 Anexo 2 – Bibliografia ..................................................................................................................................................................... 175 Anexo 3 - Fábrica romana de peixe salgado................................................................................................................................... 181 Anexo 4 - Lista de espécies (nome vulgar / nome científico) .......................................................................................................... 186 Anexo 5 - Lista de espécies (nome científico / nome vulgar) .......................................................................................................... 196 Anexo 6 - Alguns diplomas legais de Portugal e da UE sobre pescado .......................................................................................... 204 Anexo 7 - Conversão de unidades e constantes do sector da pesca .............................................................................................. 206 Anexo 8 - Temas importantes e sugestões de sites na Internet...................................................................................................... 207
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