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TEMA A FORMAÇÃO DE ANGOLA E AS RESISTÊNCIAS AFRICANAS.

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TEMA

A FORMAÇÃO DE ANGOLA E AS RESISTÊNCIAS

AFRICANAS.

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INTRODUÇÃO

O presente ensaio faz uma retrospectiva de alguns elementos históricos da

formação de Angola.

A presença e penetração portuguesa nos territórios situados na África Central

surgiu em decorrência da política de Expansão Ultramarina Portuguesa, que teve

inicio a partir do segundo quartel do século XV. No entanto, não se pode dizer que a

ocupação colonial efetiva e a configuração territorial das colónias africanas tenham

ocorrido simultaneamente. No caso de Angola, exceptuando alguns pequenos

núcleos coloniais, situados na zona do litoral de (Luanda, Benguela e Namíbe) a

ocupação efetiva de toda a colónia realizou-se num período compreendido entre 1880

e 1920.

Com a delimitação da última fronteira em 1927, que foi estabelecida mediante

um acordo entre os governos de Portugal e da Bélgica, o território de Angola passou

a ocupar uma extensão territorial de 1.246.700 km ², 14 vezes maior que a antiga

potência colonizadora. Banhada a oeste pelo Oceano Atlântico, com uma extensa

faixa marítima, possui rios navegáveis que desaguam no Oceano Atlântico e outros

rios intermitentes que fazem dele um país com uma grande bacia hidrográfica. Além

dos recursos hídricos, possui outros recursos naturais que, explorados mediante uma

correta gestão e com aplicação das receitas geradas em outras atividades

socioeconômicas, o país pode tornar-se uma potência econômica na África.

A sua formação resulta da junção de diversos povos e reinos africanos

situados entre a África Central e Austral. Esses povos exerciam diferentes atividades

socioeconômica, possuindo uma pluralidade de valores culturais, de sistemas políticos e

cosmogónicos. Tendo em conta as suas diversidades etnolinguistica e sociocultural, hoje

o território é constituido por povos bantu e não bantu e, devido a colonização, por

descendentes de europeus.

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Para melhor compreensão do assunto serão destacados dois objectivos:

Descrever a trajetória histórica da penetração portuguesa nos principais reinos

africanos que constituíram o território de Angola ;

Demonstrar as principais resistências empreendidas pelos povos e reinos

africanos no período da ocupação efetiva de Angola.

Por isso, a abordagem destacará os seguintes aspetos:

A formação e a diversidade etnolinguística dos povos de Angola e as principais

resistências fase a extensão do aparelho administrativo colonial nos diferentes espaços

angolanos.

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1- A Formação de Angola

Falar da formação de Angola implica ver como ocorreu a penetração e

ocupação colonial e a diversidade etnolinguística dos povos que ao longo do século

XV, vêm constituindo esse país.

Angola alcançou a sua idepedência a 11 de Novembro de 1975, mantendo

todas as delimitações territorias traçadas pelo então governo colonial português.Está

situada na Costa Ocidental da África, sendo banhada a oeste pelo Oceano Atlântico

e tem as seguintes fronteiras terrestres: a Norte e Nordeste com a República

Democrática do Congo e República do Congo; a Leste com a Zâmbia; e o Sul com a

Namíbia. O país ocupa uma área de 1.246.700 km², com uma população

aproximadamente de 24 milhões de habitantes, a capital é a cidade de Luanda e a

língua oficial é o Português. Embora parte substâncial da população fale as línguas

locais.

Angola é uma sociedade pluriétnica, a sua formação resulta da junção de

vários reinos e povos africanos, os povos “não Bantu” e os “Bantu”1e, em

consequência da colonização, existe também um número de angolanos de origem

europeia.

1 “Trata-se de povos que têm semelhanças linguísticas com bastantes traços comuns não só de uma raiz

linguística comum, mas também de uma origem étnica eventualmente mais proxima em relação aos

demais povos africanos.”( MALUMBU, 2006,p.57)

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Victor Kajibanga(2003b, p.130) considera a existência de três espaços

socioculturais, todos eles com caracteristicas transnacionais, nomeadamente:

● Khoisan ou Hotentote- Bochimane: Kede, Nkung, Bochimanes e Kazama;

● Vátwa ou Pré-Bantu: Cuissis e Cuepes;

● Bantu: Ovimbundu (umbundu), Ambundu (Kimbundu), Bakongo

( Kikongo),Lunda-Tcôkwe ( Ucokwe), Ngangela, Ovambo,Nyaneka,Nkumbi,

Axidonga e Luba.

Para José Rendinha (1974,P.34)os povos de origem Bantu falam as seguintes

línguas: Umbundu, Mbundu ou Tyambundu, Kikongo, Tshokwe e Lunda, Ongangela,

Vaambo ou Xicuanyama, Va-nyaneka e Lumkumbi, Tjiherero e Oshindonga.

Esses grupos estão subdividido em vários subgrupos aparentados,

diferenciados vagamente pela variação linguística, que em alguns casos estão

associados ao nome do espaço geográfico que ocupam dentro da área territorial do

grupo. Aliás, os elementos de combinação linguística e espacial são determinantes na

divisão e classificação dos vários subgrupos étnicos que formam os três espaços

socioculturais que hoje constituem a sociedade angolana.

Não se pode falar da formação territorial de Angola sem mencionar a

presença portuguesa no antigo Reino do Congo.

O antigo reino do Congo localizava-se na região Centro-Oeste de África. Foi um

vasto território que se estendia desde o Oceano Altântico até ao Rio Zaire ou Congo a

Leste e do Rio Oguwé, no atual Gabão a Norte, e a Sul da margem direita do Rio Kwanza.

Atualmente, corresponde o Noroeste e Norte de Angola, incluindo o enclave de Cabinda,

a República do Congo, a parte Ocidental da República Democrática do Congo, e a parte

Centro-Sul do Gabão. Provavelmente, foi fundado no século XIII, por povos pertencentes

ao grupo étnico Bakongo.

Em 1482, o navegador Diogo Cão ancorou no estuário do Rio Nzadi, “os

portugueses adaptaram a grafia do termo a sua fonética e pronunciavam Zaire.”

(SOUSA,2001,p.35) A partir de 1485, foram estabelecidas relações diplomáticas e

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comerciais entre os dois reinos (Portugal e Congo) com vantagens recíprocas. No entanto,

essas relações tiveram um caráter ambíguo com alianças e conflitos nos séculos

posteriores.

Se, nos dez primeiros anos de relações o soberano do Congo , Nzinga Nkuwu

enviou a Lisboa membros de sua família para aprenderem a língua portuguesa e

algumas profissões; solicitou o envio de missinários, técnicos e professores para o

reino; aceitou a fé cristã adotou o nome portugues de D. João I; influenciou outros

soberanos e a população em geral para se converterem ao catolicismo e adotarem

nomes portugueses, permitiu a prática de envio da mão -de- obra congolesa para as

ilhas do Atlântico( São Tomé e Princípe, Madeira) e Lisboa .

Egídio Sousa Santos refere que, os mais notáveis reis do Congo influenciados

pela cultura portuguesa foram Dom Afonso, de nome africano Mvemba-a-Nzinga,

que reinou no período de 1509 a 1540; Dom Alvaro, Mpangu Nimi-a- Lukeni Lua

Mvemba, de 1568 a 1587; Dom Pedro, Nkanga-a- Vemba, de 1540 a 1544; e Dom

Diogo Nkumbi-a- Mpudi, de 1546 a 1561. Alguns desses soberanos tiveram como

conselheiros os padres jesuítas, chegando mesmo em um determinado período a

ocuparem o cargo de Primeiro Ministro. (SOUSA SANTOS. 2012,p.72).

Já em 1526, devido à intensificação dos conflitos internos provocados pelo

tráfico de escravos para a América, D. Afonso ordenou a expulsão de todos os brancos

com exceção dos professores e missionários.

Em 1568, ocorreu a revolta de Bula Matadi um manicongo2 que pretendia

expulsar os portugueses do reino. Apesar da revolta ter tido apoio popular e de ter se

alastrado por todo o Congo , D. Alvaro com ajuda dos portugueses vence e Bula

Matadi foi morto. As ações de violência entre os dois reinos acirraram-se de tal forma

que, em 1665, o reino de Portugal invadiu militarmente a capital do reino do Congo,

Mbanza Congo, com um exercito composto de 200 soldados vindos de Portugal, 150

portugueses locais, 100 mosqueteiros e 3.000 arqueiros africanos. O rei congolês

Antônio do Congo organizou um exército com 190 mosqueteiros, 100.000 congoleses

2Titulo dos soberanos do reino do Congo.

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alistados voluntariamente e 190 mosqueteiros portugueses. Os dois exércitos

defrontaram-se violentamente na região de Mbwila; o rei congelês foi capturado e

decapitado e sua cabeça foi levada para Luanda como símbolo de derrota do exército

congolês.3

A partir dos finais do século XVII, intensificaram-se os conflitos internos

entre as facções rivais dos manicongo e, entre os portugueses e africanos no Congo.

O comércio negreiro não apenas propagou-se em toda a região do Congo,

como também nos reinos limítrofes: Ndongo, Matamba, Kassange, Lunda e Kissama,

emergindo uma nova classe social dedicada exclusivamente ao comércio e tráfico de

escravos, os “intermediarios africanos”.

Conforme atesta Luís Henriques Tavares

O abastecimento em Angola era cousa natural. Além das

causas enumeramos havia ainda outra: era um mercado novo,

abundante,fácil. Para ele convergiu o comércio baiano, que, em

troca de aguardente, fazendas, missangas, facas, pólvora, ia buscar

negros. Como observou Pedro Calmon, durante o século XVII a

prepoderância de Angola, entre Ambriz eo Zaire, no fornecimento

de negros, não foi disputada pelas outras feitorias da África.(APUD

BOAVENTURA. 2008, p.79).

Consequentemente, registrou-se a progressiva decadência econômica, social

e política do reino. No período compreendido entre 1884 a 1920, foi definida a nova

configuração territorial dessereino entre as princiapais potências europeias, (Portugal,

França e Bélgica).

Ao Sul do reino do Congo, situava-se o reino do Ndongo, constituído pelo

povo Mbundu ou os Akwakimbundu, falantes da língua kimbundu, sendo que o rei

tinha o título de Ngola.

Segundo Helder Ponte (PONTE.2008,p.5) inicialmente o nome e título Ngola

se aplicava somente aos potentados e às regiões ao longo do curso superior dos rios

Lucala e Cuanza. Porém, com o decorrer do tempo, o uso do termo passou a aplicar-

3GAMBOA, Fernando. A Batalha de Ambuíla, símbolo de Luta e de Identidade. Conferência

proferida no Instituto Superior de Ciências da Educação de Luanda, Agosto de 2006.

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se a outras regiões e aos chefes vizinhos do Ndongo.Por isso, o reino do Ndongo

passou a ser chamado pelos portugueses de “as terras de Ngola”; mais tarde, “as

terras de Angola”, termo que depois se generalizou a partir da penetração e ocupação

colonial dos reinos e povos africanos situados entre a foz dos rios Congo e Cunene

(HEINTZE.1995,p.9).Não se pode dissociar a criação desse nome ( Angola) da

História da fundação da cidade de Luanda.

O navegador Paulo Dias de Novais, neto do navegador Bartolomeu Dias

chegou à capital do reino do Ndongo, Kabasa, em 1560. No entanto, Ngola Kiluanji

o deteve durante aproximadamente seis anos. Em 1571, Paulo Dias recebeu do El- rei

D. Sebastião de Portugal a carta de donataria em que era reconhecido como o

governador e capitão mor, conquistador e povoador do reino de Sebaste na conquista

da Etiópia ou Guiné Inferior. Nesse documento oficial, os portugueses já

referenciavam as regiões do reino do Ndongo e as terras a conquistar como Reyno de

Angola (PONTES.2008,p.6). Imbuído nesse espírito de conquista e de ocupação na

sua segunda viagem ao reino do Ndongo, entre acordos e alianças com alguns Ngolas,

em 1576 fundou a cidade de São Paulo de Loanda.

Luanda era um ponto estratégico à penetração portuguesa para o interior, uma

vez que estava voltada para o Oceano Atlântico com uma extensa baía de águas

profundas, ideal para ancorar navios. Estrategicamente bem situada entre os reinos do

Congo e Ndongo, pois é cortada por rios que desaguam no Oceano Atlântico e

navegáveis, Kwanza e Dande, tornou-se um posto de avanço a ocupação portuguesa

para as regiões ao Sul e ao Norte dos rios Kwanza e Dande, tornando-se um excelente

porto para o tráfico de escravos.

Beatriz Heintze (1995,p.9) refere que“no século XVII, nos anos record foram

exportados de Luanda 10.000 a 12.000 escravos por ano e só raras vezes devem ter

sido menos de 5.000”.

Nesse século já havia uma presença notável de portugueses (soldados,

comerciantes e missionários) em Luanda e em alguns pontos do seu hinterland

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(Cambambe, Calumbo, Dande, Dondo, Massangano, Muxima e

outros)( PÉLISSIER.1986,p.43-44).

A carta do padre Baltazar Rebelo de 1592 refere que este território (Angola)

era uma porção de terras situadas no noroeste da atual Angola, ao longo do Rio

Kwanza. No século XVII, Rafhael Bluteau situou Angola entre os rios Dande e

Cuanza. Já no século XIX, Chatelain entre os rios Lifune e Longa no eixo norte- sul;

e entre Luanda e o rio Cuango no eixo oeste-leste. (AMARAL. 2000, p.13)

Os reinos Ovimbundu ocupavam as regiões atuais do Centro-Sul, ou seja, o

Planalto Central, e as áreas adjacentes na faixa Oeste do Plantalto Central (atualmente

as províncias de Benguela, Bié e Huambo), falantes da língua Umbundu. Segundo

Moises Malumbu (2006,p.61) a formação desses reinos provavelmente tenha ocorrido

por volta do século XVI. Esse grande grupo, é o maior grupo etnolinguistico de

Angola assim como os demais, está constituído por vários subgrupos e foram

considerados de formações estatais, dentre eles destacam-se os Mbalundu, Wambo,

Vye , Ndalu, Sambo, kakonda e outros.

A penetração ao Sul de Angola começou pela região de Benguela-a-velha, em

1578, mais tarde passou a ser chamada de Porto Amboim. Decorrido quase um século,

os portugueses já tinham atngido a atual baía de Benguela, conhecida também como

a baía das vacas pela quantidade desse mamífero que encontraram nessa região,

habitada provavelmente pelos descedentes do povo herero, criadores de gado e pelos

povos nômades khoi e san. Em 1615, o Rei Filipe II de Portugal separou

administrativamente Benguela do reino de Angola, sendo que, dois anos depois,

Manuel Cerveira fundou a povoação de São Filipe de Benguela como a capital do

reino de Benguela Esse reino ficou independente do reino de Angola entre 1617 e

1869(HEINTZE.1995,p.9). A penetração e ocupação de Benguela foi um passo

importante para a expansão do dominio portugues a Leste e Sul de Angola.

A partir do século XIX, Portugal intensificou sua campanha de penetração e

ocupação dos então reinos que se localizavam ao Sul e Leste de Angola, habitado

por um conjunto de povos diferenciados pelos aspectos etnolinguístico, sociais,

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econômicos e políticos .No Leste, encontrava-se parte do reino da Lunda, bem como

pequenas formações estatais dos Tshokwe, Nganguela, Kazembe e outros.

Os historiadores Jan Vansina, Isabel Castro Henrique, Raul Altuna, Joseph

Miller, David Birmingham, Virgílio Coelho, Adriano Parreira e outros afirmam que a

formação dos reinos da Lunda, Luba, Cassange e Tchokwe, provavelmente,

ocorreram entre os séculos XVI e XVIII.

Jan Vansina (2010,p.627) refere que os reinos africanos da Lunda e Luba

talvez já estivessem sido formados no século XVI, e se desenvolveram ao redor do

lago Lualaba. O reino Lunda se expandiu em toda a região do alto Kwangu ao Alto

Kassai meriodional e regiões adjacentes da Zâmbia que, depois de 1500, se revelaram

um poderoso instumento na montagem de um autêntico império, congregando vários

reinos sob a autoridade dos soberanos da Lunda

Isabel Castro Henriques diz que a expansão Lunda deveu-se ao poderio

técnico, já que possuíam conhecimentos de técnicas metalúrgicas e da sua estrutura

religiosa.

Esta estrutura religiosa é reforçada pela competência administrativa que

permite que os lundas centrais integrem no seu espaço em expansão

permanente, populações tão afastadas como os Kazembes, os

Imbangalas e os Quiocos. (HENRIQUES.1997, p.166).

Embora houvesse relações comerciais entre os portugueses e os soberanos da

Lunda no princípio, o comércio de escravos e nos finais do século XIX, de outros

produtos como a cera, marfim e mel, essas trocas eram feitas de forma indireta, pois

os soberanos dos estados africanos fixados entre a Costa Atlantica e os reinos

doLeste, concretamente Cassange, Matamba e o Songo, não permitiam aos

comerciantes portugueses e outros penetrarem nos seus territórios, e na parte oriental

enfrentavam duras restrições dos soberanos de Kassembe.

Os primeiros europeus que conseguiram chegar à capital da Lunda (Musumba)

e manter contato com o mantiânvua4 foram o oficial hungaro Ladislas Magyar em

4Título dos soberanos do reino da Lunda.

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1850, e os oficiais portugueses Henrique de Carvalho em 1884 e Rodrigues da Graça

em 1890.

No que refere ao povo Nganguela, o antropólogo José Rendinha (1974.p35)

afirma que são os mais antigos bantu que se fixarem em Angola. Nganguela significa

oriente ou leste, oriundos provavelmente do Shaba Ocidental, culturalmente tem mais

afinidade com os povos da bacia do rio Zambeze (ZAU.2012,p1). No âmbito do

movimento expansionista do reino da Lunda e dos Tchokwes, foram repartidos em

dois territórios um dos quais na fronteira leste que vai da bacia do Zambeze ao curso

do Kubango e a Leste e Sudeste de Angola. Esse nome (Nganguela) foi utilizado pelo

regime colonial para designar um conjunto de povos que vivem no Leste e Sudeste de

Angola e também na região fronteiriça entre Angola e Zâmbia (os Mbunda, Mbwela,

Luchezze e Kamachi).

Em Angola encontram-se os seguintes subgrupos: o Luena, o Luvale, o

Lucaze, o Mbunda, o Ambwela, o Mambumba, o Kangala, Oyahuma, entre outros.

Atualmente, constituem a população maioritária das províncias do Moxico e Kuango

Kubango, existem alguns núcleos nas províncias da Huíla, Malange e Bié.

Na margem esquerda do rio Kwangu, estava fixado o Reino de Cassange,este

reino ocupava uma área de 8.500km², numa região de baixa altitude-Baixa de

Cassange (HENRIQUES.1997, p.195) constituído pelo povo Imbangala. Há várias

versões acerca da formação e da origem dos imbangalas. Isabel Castro Henriques

apoiando-se nos estudos de Jan vasina, Joseph Miller e David Birmingham sublinha:

De acordo com Vasina, os Lunda-quer dizer Kinguri e os

seus companheiros que deram origem aos Imbangalas-só teriam

chegados a Angola no século XVII.Qualquer data mais prematura

seria o resultado de uma confusão entre os jagas-chegados em

1568- e os Imbangalas. A hipotese avançada por David Birminghan

e Joseph Miller é completamente diferente: os Imbangalas estariam

em Angola nos meados do século XVI avançando em direcção ao

Kwanza, por volta de1575 (HENRIQUES.1997,p.191).

Joseph Miller na sua obra “King and Kinsmen: The Imbangala Impact on the

Mbund of Angola”citado por René Pélissier, refere que “ jaga é o título dados pelos

Portugueses ao rei de Cassange e a alguns sobas do Nordeste. Na realidade, entre os

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Mbangálas, o título era o de kinguri, chefe que emigrara da Lunda e a quem era atribuída

a fundação do reino” ( PÉLISSIER.1986,p.107).

O grupo dirigido pelo Kinguri, fundador do reino de Cassange, era composto pelo povo

Lunda, Quioco e Bunda que se tinham congregado na região do Songo. A região do

Songo e toda a extensão do antigo Estado de Cassange administrativamente localizam-

se na região da Baixa de Cassange, um dos municipios da província de Malange e foram

designados por imbangalas devido à organização de uma instituição guerreira designada

de kilombo, que mais tarde tornou-se a base da organização política centralizadora e

unificadora dos imbangalas.( MILLER. 2008,pp.165-169)

Os portugueses associaram a formação do Estado de Cassange com os jagas

devido ao caráter guerreiro do povo imbangala que era tão semelhante ao dos jagas.

Conforme atesta um militar português, “o chefe político jaga lembra a ferocidade dos

imbangalas na sua relação com os portugueses. Tudo que se passa com o grupo e o

seu chefe se mostraram incapazes de renunciar a sua selvajaria “( HENRIQUES,

1997,P.193).

O Estado de Cassange foi um reino intermediário nas relações comerciais entre os

reinos da Lunda e os portugueses. Até 1880, não permitiam a passagem de comerciantes

e pombeiros luzitanizados, portugueses e lundas em seu território, e quando o fizessem ,

era a custo de elevados impostos alfandegários.( PÉLISSIER.1986, pp107-108)

Quanto ao Tchokwe ou Quioco, segundo a tradição oral, dizem que são

descedentes do povo Lunda que, devido a querelas internas nas regras de sucessão,

um grupo preferiu separar-se e formar um novo reino, instalando-se de início na

margem direita do rio Kwangu, na região Sul do Alto-Chicapa. Reza a História que

eram hábeis agricultores de mandioca e bananeiras, criadores de galinhas, exímios

caçadores de elefantes, também praticavam a recoleção de mel e cera, bons ferreiros,

não se dedicavam à guerra e, por isso, o comércio de escravos não foi a sua principal

atividade econômica. A partir do século XIX, lançaram-se numa campanha de

expansão territorial, anexando vários territórios desde Mona Quimbundo até a

confluência dos rios Cuatir e Cubango; submetendo a Oeste, os Ganguela; a Oriente,

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os Kazembe; e outros povos a Norte do povoado do Cuchi. Em 1887, os Tchokwe

atacaram a Mussumba e submeteram os Lundas. O expansionismo Tchokwe foi

intemrompido pelas potências coloniais, Portugal e o Estado Livre do Congo, que já

esboçavam a nova configuração territorial para os reinos da Lunda.

A 13 de Julho de 1895 foi criado o distrito da Lunda, que englobava todas as

terras compreendidas entre o Cuango, o curso inferior do Cassai e a fronteira com o

Estado Independente do Congo. A sede ficava em Capenda Camulemba e o primeiro

governador foi Henriques de Carvalho (PÉLISSIER.1986, vI.p.359). A Mussumba

do Muatiânvuae depois do Muatchissengue5 passam para o controle do Rei Leopold

II, terminando assim as disputas territorias entre Portugal e a Bélgica. No entanto, o

avanço e a extensão do poder administrativo e militar em todo o Leste de Angola só

se tornou realidadedepois da Segunda Guerra Mundial ( PÉLISSIER,1986,v I,p.397).

No que se refere ao actual Sul de Angola ( Namibe, Huíla e Cunene),

etnicamente são descedentes de povos bantu e não bantu, que praticavam diversas

atividades econômicas: agropastoril, pastorícia e recoleção. Entre os povos bantu

destacam-se os Herero, Nyaneca, Humbi, Axindonga e Ovambo e os não bantu, os

San, os Khoi-Khoi e os Vatua.

Os herero são povos seminômades habitam os atuais territórios da Namíbia,

Botsuana e o Sudoeste de Angola, concretamente, as áreas que vão desde o escarpado

da cordilheira da Chela mais ao Norte, margeando o rio Cunene ao Sul, integrando as

províncias de Huíla, Namibe e a fronteira com a Namíbia. Esse grupo está subdividido

em vários subgrupos sendo que, em Angola encontra-se os Himba ou Muhimba,

Cuvale ou Mukubal, Humbe, Handa e outros (GUERRA. 2011,p.9).

Quanto à sua origem, provavelmente chegaram a Angola entre os séculos XVI

e XVII, originários da região do lago Tanganyika, entre 1600 a 1750 d.c saíram em

direção ao Sul e instalaram-se no atual Sul de Angola e da Damaralândia (Namíbia).

Aguerridos as suas heranças culturais e étnicas, os Hereros lutaram

determinantemente contra a ocupação de suas terras pelos alemães na Namíbia e

5Título do soberano Quioco.

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pelos portugueses em Angola. De 1904-1907, a Alemanha exterminou

aproximadamente 80% dos Hereros, e em Angola, durante toda a primeira metade do

século XX resistiram à política colonial de querer converte-los em povo sedentário e

em agricultores ( PASSOS.2011,p.2).

Quanto aos povos Nyaneca, Nkhumbi, Ovambo e outros, pressupõe-se que

também sejam originários da região do lago Tanganyika e fizeram o mesmo percurso

migratório que os Hereros. Margeando o sul dos rios Zambeze e Cunene, atingiram

Angola por volta dos séculos XVII ou XVIII (ALTUNA.2006, pp.21-22).

Portanto, partindo do pressuposto de que a etnia é uma construção natural,

porque os elementos caracterizadores da etnia podem ser a língua e o quadro de

valores culturais comuns de cada indivíduo e na sua relação com os outros, então

Angola é um país pluriétnico,composto por maiorias e minorias étnicolinguisticos;

A sua formação como colónia de Portugal realizou-se através de um longo

processo tendo em conta os contextos históricos locais e internacionaias, dentre os

quais destacam-se: a independência do Brasil (1822) e a supressão definitiva do

tráfico de escravos para o Brasil (1850), a reconversão econômica das possessões

africanas, a realização das conferências de Berlim(1884-1885) e de Bruxelas(1890),

as alianças e acordos firmados entre as potênciais colônias da Europa para a

demarcação dos territórios, da realização de contratos de vassalagem com as

autoridades africanas e por via militar as chamadas “guerras de pacificação” que

decorreram entre a segunda metade do século XIX e a primeira metade do século

XX, período da ocupação efetiva.

2-As Resistências Africanas

O termo “guerra de pacificação” foi utilizado pelo governo colonial para

designar a guerra feita pelos portugueses na ocupação dos territórios africanos e a

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contra ofensiva dos povos africanos na defesa da sua integridade ou seja, a resistência

africana.

Essa “guerra de pacificação” ocorreu no período entre a segunda metade do

século XIX e o primeiro quartel do século XX, devido à necessidade e obrigatoriedade

da ocupação efetiva dos territórios africanos, fase a concorrência imperialista das

outras potências europeias, que desvalorizavam a versão defendida por Portugal

sobre os direitos históricos que tinha dessas regiões. Assim, Portugal lança-se numa

campanha de conquista, e de ocupação administrativa, baseada na aplicação de uma

acirrada ideologia e política colonialista. No entanto, esse processo não foi pacífico,

pois os povos africanos, conforme as suas circuntâncias e situações, organizaram uma

série de resistências.

As praticas de trabalho forçado,o recrutamento de carregadores e de mão- de-

obra para São Tomé, a cobrança de impostos, a expropriação de terras e outras práticas

inerentes ao sistema capitalista e colonialista fizeram que, a partir da segunda metade

do século XIX, vários povos e reinos de “Angola”(os Ngingas, os Holo, os Hari, os

Bondo, os Songo, os Imbangala, os Xinje, os Minungu, os Lunda, os Cokwe, os

Ovimbundu e outros) se sublevassem contra a presença e ocupação colonial

portuguesa. Embora, muitas sublevações ja tivessem ocorrido logo no inicio da

presença portugues,cada uma com a sua originalidade própria. É o caso da resitência

empreendida por Nginga Mbambi, rainha do reino do Ndongo e da Matamba, durante

40 anos consecutivos, o rei do Congo, Garcia II, que em 1641 convocou os chefes do

Sul do Congo para se juntarem a ele contra os portugueses. Os chefes Ndembu

Mutemu, Nambu a Ngongo, Kakulu Kahenda, Ngombe a Mukama, entre outros

declararam a sua aliança com o Congo contra os portugueses.6

Para melhor ilucidar o assunto, apresentar-se-ão algumas resistências

ocorridas nesse período de ocupação efetiva.

2.1-A resistência de Cassange

6Arquivo Histórico Nacional. Exposição A evolução das fronteiras de Angola. Ministério da Cultura de

Angola,1997,p.26.

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No ãmbito da reconversão econômica das colônias africanas e da extensão da

soberania portuguesa nos territórios situados entre o rio Kwangu e a bacia do Kasai,e

também com objetivo de impedir a expansão do Estado Livre do Congo à essas áreas,

os portugueses obrigatóriamente teriam que submeter os Imbangalas do reino de

Cassange, porque esses aproveitando-se da sua localização geográfica, situado entre

os reinos da Costa Atlântica e os do Kwangu e Cassai não permitiam que os

comerciantes, exploradores e militares atravessassem o seu território. O governo

colonial, ao longo de 23 anos, de 1850 a 1873, vai tentar quebrar o poderio Imbangala.

O caso mais peculiar da resistência Imbangala foi aquele conhecido na História

Colonial Portuguesa de “Desastre de Cassange”. Em 1861, o Tenente- Coronel do

exercito portugues João Francisco do Casal, dispondo de imponentes efetivos entra

em confronto com os imbangalas, no qual resultou a sua morte e de mais seis oficiais,

119 soldados, vinte feridos e a fuga das tropas africanas (PÉLISSIER. 1986, p.118).

Conforme atesta Pélissier (1986, p.119)

A 20 de Janeiro de 1862 ainda se combatia mas a

coluna de socorro enviada pelo Governador-Geral

Calheiros e Menezes não iriam alêm de Malange. A feira,

onde os sobreviventes das duas primeiras colunas se tinham

reunidos aos comerciantes, foi por sua vez atacada e posta

a fome.[...] As possessões portuguesas tinham sido

reduzidas a 200km. Em todo aquele rico reino de Angola

não se encontrava já nenhuma guerra preta7 disposta a

descer à Baixa de Cassange, que se transformara num

cemiterio de empacaçeiros8(PÉLISSIER 1986, vI. p.119).

Depois de um longo período de independência e de sucessivas crises internas

entre os diferentes jagas de Cassange e de abertura de outras vias para o Leste de Angola,

em 1911 Portugal conseguiu ocupar e estabelecer acordos de vassalagem com os jagas

dos diferentes subgrupos étnicos dessa região (Bondo, Jinga,Songo, Imbangala,Pende,e

outros) e, manter a sua administração em toda Baixa de Cassange.

2.2- Resistências no Plananlto Central

7Tropa africana incluída no exercito portugues. 8Caçadores de pacaça, uma especie de bufalo africano.

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Os três reinos centrais do Bié, do Huambo e do Bailundo foram os que mais entraram em

guerra contra os portugueses.

Em 1886, uma expedição sob as ordens de Artur de Paiva entra em confronto

com alguns reinos ovimbundu, em 1889 consegue destronar o rei do reino do Bié e

estabeleu dois fortes junto ao Planalto Central. Entre 1890 e 1900 o rei Ndunduma do

Bié(Viye) opõem-se a presença portuguesa, todos os comerciantes portugueses foram

expulsos do seu reino. Na último confronto Ndunduma foi capturado e desterrado para

São Tomé onde acabou por falecer (MALUNDU. 2006,p.59).

Em 1902, Mutu Ya Kuevela formou uma coligação com alguns reinos

ovimbundu e entram em confronto com os portugueses. As principais causas dessa

revolta foram: a cobrança de impostos, a falta de respeito dos comerciantes e

autoridades portuguesas, o sistema de trabalho forçado e o envio de serviçais para São

Tomé e Príncipe. Mutu ya Kuevela não só expulsou como também matou muitos

comerciantes brancos e mestiços. Os carregadores e serviçais dos portugueses que ele

não conseguiu matar, transformou-os em escravos. O confronto com as tropas

portuguesas durou aproximadamente um ano. Apesar de se registarem alguns focos

de resistências em alguns reinos do Planalto Central, durante a primeira metade do

século XX, porém, a partir de 1905,a administração colonial foi paulatinamente

estabelecida.

Quanto ao Sul de Angola foi a região onde as resistencias tiveram outra

amplitude, porque os portugueses tiveram de enfrentar ao mesmo tempo a forte

concorrência alemã e sublevação dos vários grupos étnicos. As resistências foram

constantes enum período longo de tempo, entre 1850 e 1920, e estenderam-se em

toda aquela região, algumas culminaram em confrontos militares.

José Alves Roçadas Tenete Coronel do Estado Maior Português em 1897, foi

enviado para Angola como chefe do estado maior, servindo na colónia até 1900, de

1905 a 1910, foi governador do então distrito da Huíla. O governo colonial atribui-

lhe a missão de submeter as constantes revoltas dos povos africanos do Sul de Angola,

dentre eles os Cuamato que tinham derrotado as forças portuguesas no Vau do Pembe.

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No seu Relatório sobre as operações o mesmo relata que em 25 de setembro de 1904,

o exercito português constituído por um exercito composto de pelotões de infantária

e dragões, perfazendo aproximadamente 500 soldados entre portugueses e africanos,

além de numerosos auxiliares armados e duas peças de artilharia defrontaram-se com

os Cuamatos no Vau do Pembe. Os portugueses foram totalmente esmagados

resultando na morte de todos os cavalos, de 300 homens, dentre os quais 14 oficiais,

os que não foram mortos a tiros, foram com armas brancas, zagaias envenenadas e

na luta corpo a corpo.( ROÇADAS. 1919, p.49).

Essa derrota foi uma humilhação para o governo português e motivo de

orgulho e independencia dos cuamatos, sobre isto Roçadas dizia que:

[... ] como sucedeu em casos semelhantes, o gentio tornou-se mais orgulhoso

e independente; o espírito de insurreição alastrou-se pela margem direita do rio. Quem

da Chibia pelo Quipungo e Capelongo, diziamos nós em 1906, pretendesse descer o

Cunene, ou quem, da mesma Chibia pelo Humbi e Quiteve, tentasse subir aquele rio,

encontrava-se uma vasta área de terras interceptando- lhe a passagem, porque um

régulo soberbo e cruel, um verdadeiro déspota que não reconhecia a soberania

portuguesa, [...]o branco não entrava na terra sem licença do soba; a muitos era

exigido tributo .( ROÇADAS. 1919, p.49).

René Pélissier refere que “os Cuamatos tinham concentrado um poder de fogo

invulgar na África negra e de certeza, desconhecido em Angola”( PÉLISSIER.

1986,vII.p.191).

De 1907 e 1910 o exército português conseguiu submeter algumas resistências

e ocupar algumas áreas geograficas, no entanto, não conseguiu penetrar no território

dos Ovambo na margem Sul do rio Cunene.

Em 1914, Roçadas foi escolhido para organizar a grande expedição militar ao

Sul de Angola, o governo colonial previa afastar a presença alemã naquelas terras e

submeter os ovambo, de uma vez por todas, infelizmente, os portugueses foram

completamente esmagados num confronto com os Cuanhamas em Naulila. Roçadas

em 23 de Dezembro de 1914,apresenta ao governo colonial o seu pedido de

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demissão.( ROÇADAS, 1919, p.233). Em 1915, foi nomeado o General Pereira de

Eça que tinha uma longa experiência na submissão dos povos em Moçambique.

Portugal preparou-se do ponto de vista militar, financeiro e bélico para a ocupação

efetiva do Sul.

Mesmo assim, Pereira de Eça enfrentou inúmeros confrontos com Humbes e

os Kwanyama, o último confronto militar ocorreu em 1917, na região do Mongua,

onde o rei dos Kwanyama, Mandume Ya Ndemufayo morreu. Assim, de 1917 a 1920

ocorreram as últimas campanhas de “pacificação” Mas os Hereros vão resistir a

pressão colonial até 1941.

[...] no período entre as duas guerras, um cuvale nunca trabalhou

para um branco a não ser, talvez, como boiadeiro e nunca ficou

passivo ao ser- lhe apanhado o gado[...] na realidade, os Cuvales

eram cada vez mais um empecilho, pois estorvavam as tentativas

de valorização da zona semidesértica a leste de Moçamedes por

meio da criação dos ovinos.(PÉLISSIER.1986,vII.p.269).

Pode-se dizer que a instalação do poder colonial em todo o Sul de Angola ocorreu apenas

a partir de 1920 quando o exército português consegue submeter por via armada os povos

mais resistentes do Sul.

No Leste até o final do século XIX, não havia a presença efetiva do governo colonial em

toda a sua extensão . “Em 1894, Henriques de Carvalho, governador do distrito da Lunda

havia dito: Toda essa região de Bembe até Kwando, entre os 15.º e 20.º. paralelos no rio

Kwango[ ...], de Malange até aos arredores de Duque de Bragança, toda esta região foi

abandonada às explorações indígenas,sobre as nossas autoridades têm pouquíssimas

influências”(CARVALHO.1894,p.15apud SOUSA SANTOS, 2012,p.218).

Nessa região entre 1892 e 1917, ocorreram as resistências dosNganguela, dos Quiocos,

dos Bundas, esses povos estavam determinantemente a não pagarem o imposto de cubata.

A política colonial em Angola começa a ser aplicada a partir de 1910, com a proclamação

da República, e estende-se até aos anos 70. Embora os ideiais da República fossem o

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progresso das nações, liberdade de expressão, direito à cidadania e instrução das

populações, o Governador Geral da Colônia de Angola nessa ocasião, Norton de Matos,

partidário da política de integração e do desenvolvimento econômico da então colônia

de Angola, parodoxalmente foi durante os seus dois mandatos (o primeiro como

Governador Geral, de 1911-1915, o segundo como alto- comissário de 1921-1923) que

intensificou-se a exploração e discriminação social e racial dos angolanos, ocupação

militar de todo o teritório e instauração da política de administração direta.

Assim, entre 1910 e 1920, intensificaram-se as resistências em toda a extensão

do território de Angola; umas em pequena dimensão e outras em grande amplitude com

conflitos armados. Valeu somente o uso de armas mais sofisticadas utilizadas pelos

portugueses.

Paralelamente às resistências que ocorreriam no interior de Angola, vários

intelectuais angolanos pertencentes às elites urbanas, principalmente de Luanda e

Benguela, vão criar um movimento de contestação utilizando a imprensa e as

associações africanas de caráter cívico. Os jornais mais destacados foram: A Voz de

Angola, Angolense, Tomates, Cruzeiro do Sul, as associações como o Grêmio

Africano, a Liga Nacional Africana e outras. Essas instituições tornaram-se vanguarda

das reivindicações e manifestações proto-nacionalistas.

Por exemplo, em 1918, o governo português em Angola escrevia no Boletim

Informativo da Colônia o seguinte:

Vinha de 1917 a acusação formulada contra o

presidente judicial na comarca de Golungo Alto,

Antônio de Assis Júnior, de juntamente com outros”

pretos civilizados” nomeadamente Domingos Van-

dunem, Pedro Mendes Duarte, Felix Adriano e Manuel

dos Santos terem dirigido em Dala Tando e Lucala um

movimento nativista.(ANDRADE,1997,p.124).

Pode-se afirmar que entre 1880 e meados de 1920, o regime colonial

empreendeu uma intensa campanha militar em Angola, período em que se consolidou

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a ocupação de todo o território angolano. A extensão do poder colonial e o desgaste

dos africanos permitiram a instalação de um aparelho político-administrativo baseado

na cobrança de impostos à população nativa e nas diferentes formas de trabalho

forçado.

Conclusão

Pode-se concluir que Angola é um país multicultural e a sua formação resultou

de um processo de aglutinação de várias nações étnicas de diferentes espaços

socioculturais, situados entre a África Central e Austral.

A expansão capitalista e imperialista empreendidas pelas potências europeias

fizeram com que Portugal a partir da segunda metade do século XIX até a primeira métade

do século XX ,empreendesse uma longa campanha de ocupação militar dos territórios

situados entre a foz dos Rios Congo e Cunene.

Apesar dos povos africanos terem resistidos durante década a ocupação

portuguesa, mas as resistências fracassaram tendo em conta os seguintes fatores:

Os africanos dessa região“Angola”encontravam-se fragilizadas e sofriam as

consequências diretas ou indiretas do longo processo do tráfico transatlântico de escravos

e da escravatura;

As resistências tiveram um carater étnico, ou seja, cada étnia ou povo preocupava-

se mais em defedender o seu território, embora tivesse surgido algumas coligações mas,

rapidamente se desfaziam;

Os portugueses tiveram armas ou poder de fogo superior a dos africanos;

As rivalidades étnicas entre os diferentes povos foram bem aproveitadas pelos

portugueses, jogando uns contra os outros durante as “campanhas de pacificação”.

Não se pode dizer que o colonialismo português esteve implantado em toda Angola

durante 500 anos;

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Angola como um todo é uma construção recente, existe um estado, existem várias étnias,

existe um pátria, mas não existe uma nação.

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