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O 25 DE ABRIL E A NACIONALIZAÇÃO DA BANCA E DOS SEGUROS TEXTOS DE APOIO UNIVERSIDADE POPULAR DO PORTO RUA DA BOAVISTA, 736 – 4050-105 PORTO CICLO DE DEBATES MARÇO, 2014

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  • O 25 DE ABRIL E A NACIONALIZAO DA BANCA E

    DOS SEGUROS

    TEXTOS DE APOIO

    UNIVERSIDADE POPULAR DO PORTO RUA DA BOAVISTA, 736 4050-105 PORTO

    CICLO DE DEBATES

    MARO, 2014

  • Textos de Apoio

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    MARO, 2014 O 25 DE ABRIL E A NACIONALIZAO DA BANCA E DOS SEGUROS 1

    Texto 1

    Contexto poltico e cultural das nacionalizaes de 1975

    O contexto internacional em que ocorreu o 25 de Abril no era hostil.

    O processo de descolonizao desenvolvera-se nas ltimas dezenas de anos. As lutas de libertao nas colnias portuguesas prenunciavam o fim do ltimo dos imprios coloniais. No Vietname anunciava-se a vitria das foras patriticas. Cuba resistia. Em vrios pases da Amrica Latina os povos abalavam regimes ditatoriais.

    O Chile era uma exceo. A odiosa ditadura de Pinochet, imposta a ferro e fogo em 1973, haveria de subsistir durante largos anos, mas nunca deixou de merecer da maioria dos estados e povos uma severa reprovao.

    No plano econmico, o mundo vivia ainda os ltimos dos 30 Gloriosos anos de crescimento econmico e desenvolvimento social ps II Guerra Mundial, apesar da grave crise econmica que afetou todo o mundo capitalista no fim de 1973 em virtude da brusca e acentuada subida do preo do petrleo.

    A Unio Sovitica e as Repblicas Populares do centro e leste da Europa viviam um perodo de prosperidade, o que favorecia um processo que prometia abrir caminhos de liberdade e bem-estar para um povo at ento submetido a uma prolongada ditadura.

    Nas condies de 1974, o prestgio das foras do socialismo era tal que a quase totalidade das linhas programticas dos partidos surgidos no processo revolucionrio proclamavam o socialismo como objetivo para a sociedade portuguesa, ainda que com algumas especificidades, com a defesa de um efetivo controle do sector financeiro por parte do PCP e com verbalizaes mais autogestionrias por parte do PS, e cogestionrias por parte do PSD.

    Nos ltimos anos da ditadura fascista, o desenvolvimento das atividades de mltiplas coletividades e associaes de carcter sindical, social e cultural tinham aberto caminhos de interveno e apetites de liberdade e de participao incontrolveis.

    Por outro lado, uma gerao inteira de jovens, regressados da guerra colonial, possudos de uma clara vontade de repdio do colonialismo e do fascismo, e tendo

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    aprendido a afastar o medo, enfrentavam com uma coragem admirvel as lutas a que Revoluo os chamava.

    As dificuldades econmicas e sociais que o pas atravessava, naturalmente agravadas pelas exigncias do financiamento da guerra colonial, tinham exigido algum esforo de superao das polticas obscurantistas conduzidas durantes dezenas de anos e a formao cultural da juventude progredira.

    Muitos portugueses que tinham estado emigrados em pases europeus tinham aprendido que o normal era o reconhecimento de direitos sociais dos trabalhadores.

    As geraes mais jovens no queriam mais morrer na guerra nem emigrar. Queriam sim criar em Portugal uma sociedade que respondesse s suas justas necessidades e aspiraes.

    Na Europa, a Revoluo portuguesa foi em geral, aparentemente, bem acolhida. Por parte da Amrica, entretanto, cedo se manifestaram as desconfianas e se iniciaram as medidas de observao e de interveno.

    Aps o 25 de Abril, foi constituda a Junta de Salvao Nacional, constituda por sete oficiais generais, qual o MFA entregou a superior direo do Pas.

    Em meados de Maio foi constitudo o I Governo Provisrio, presidido por Adelino da Palma Carlos, advogado conhecido como republicano e democrata, mas simultaneamente reconhecido como um homem com mltiplas ligaes a grandes empresas e com vrios cargos na rea da Banca. Neste I Governo Provisrio participaram membros dos diversos partidos, nomeadamente do PS, do PCP e do PPD, bem como independentes e um militar, que assumiu a pasta da Defesa.

    A alta burguesia portuguesa no se deu nunca por vencida face ao 25 de Abril. Imediatamente aps o 25 de Abril no desistiu nunca de frequentar o novo poder, tarefa que lhe era facilitada por dispor de uma elite experiente dos corredores do poder.

    Pela calada, sempre desenvolveu mltiplas diligncias no sentido ou de fazer recuar a Revoluo atravs de um golpe que desintegrasse o poder revolucionrio ou de fazer aprovar medidas que lhe permitissem absorver e neutralizar o poder nascente.

    O seu contacto privilegiado era Spnola, o mais destacado dos chefes militares comprometidos com o 25 de Abril e que fora investido nas funes de Chefe do Estado, por escolha da Junta de Salvao Nacional.

    Spnola acolheu e animou, em Julho de 74, as manobras de Palma Carlos no sentido de garantir um governo forte que fosse da confiana poltica de um Presidente da

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    Repblica a eleger ou referendar antes mesmo de eleita uma Assembleia Constituinte.

    Mas tais manobras foram goradas pela Comisso Coordenadora do MFA, que no aceitou as propostas apresentadas, e o MFA imps a Spnola a nomeao de um dos seus membros, Vasco Gonalves, para encabear o II Governo Provisrio. Viria a dirigir sucessivos governos, at ao V, em Agosto do ano seguinte.

    Spnola, que aparentemente aceitara de bom grado a indicao de Vasco Gonalves, cedo percebeu que o novo chefe do governo no alinharia nas suas posies.

    No desistiu. Aps um prolongado perodo de preparao, que o levou a uma empenhada digresso pelo pas, visitando unidades militares e participando em comcios, apostou na Marcha da Maioria Silenciosa em 28 de Setembro de 1974.

    Foi uma aposta perdida. Spnola foi afastado.

    Os ltimos meses de 1974 e os primeiros de 1975 foram de mltiplas e intensas confrontaes sociais e polticas. No fim de Novembro de 1974 o plenrio dos sindicatos convocado pela Intersindical Nacional aprovou a reclamao de que a lei consagrasse o princpio da unicidade da organizao sindical, em cada rea e a cada nvel de organizao. Essa mesma reclamao fora aprovada em meio milhar de plenrios sindicais e de empresa.

    Essa reclamao dos trabalhadores e das suas estruturas representativas foi alvo de uma intensa mistificao. E na base de tal mistificao, as cpulas do PS desenvolveram uma intensa campanha. A questo foi transferida da rea sindical para a dos partidos polticos e transformou-se numa questo perturbadora do processo revolucionrio. Sucederam-se as declaraes e as manifestaes pblicas de massas.

    Multiplicavam-se os problemas na rea social e econmica. Muitas empresas enfrentavam dificuldades de vria ordem: insuficincia de investimento, dificuldades de abastecimento, perturbaes no processo produtivo. Eram constantes as denncias de atos de sabotagem econmica.

    Eram situaes que exigiam uma constante ateno da esfera governativa.

    Entretanto, vindos em especial de Angola, tinham comeado a chegar milhares de famlias de colonos, o que colocou problemas de emprego, de alojamento e a necessidade de garantir meios de subsistncia.

    Aproveitando a situao complexa que se vivia no domnio econmico e social, foras de direita e reacionrias, agindo luz do dia e clandestinamente,

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    intensificavam a propaganda contrarrevolucionria e tentavam arrastar para aes desesperadas populaes que enfrentavam problemas reais.

    Em 11 de Maro de 1975, sob o superior patrocnio poltico de Spnola, foras diversas, entre as quais o ELP, organizao clandestina e terrorista com apoios diversos, mesmo no seio de partidos legais e da Igreja, tentaram o assalto ao RALIS.

    Foi na sequncia deste golpe fracassado que o MFA, considerando que estava a ser ameaada a institucionalizao da democracia, decidiu avanar para a nacionalizao de sectores-chave da economia portuguesa, com destaque para a Banca e os Seguros, ento j insistentemente reclamada pelos trabalhadores.

    Aproximavam-se as eleies para a Assembleia Constituinte, que tinham sido marcadas para 25 de Abril de 1975. Concorreram a estas eleies catorze partidos. Na extrema-esquerda multiplicavam-se as formaes partidrias: FEC-ML, PUP, LCI, AOC, PCP-ML, MRPP e PRT, muitas delas desenvolvendo uma atividade provocatria do MFA e uma intensa propaganda objetivamente contra a Revoluo, num esforo de agitao aparentemente articulado com a atividade de foras de extrema-direita como o PDC.

    Entretanto, no seio do Governo Provisrio manifestavam-se dissenses, protagonizadas umas vezes pelo PS, outras pelo PPD, outras ainda por ambos.

    Simultaneamente, os desentendimentos que se registavam no Governo refletiam-se no seio do MFA, que avanara para a sua institucionalizao, criando assembleias de base e estruturas de direo a diversos nveis.

    O jogo de foras no seio do Movimento e o calor das discusses conduziu por vezes a tomadas de posio e a decises que contriburam para graves fraturas entre os militares revolucionrios.

    Criou-se o caldo cultura que conduziu a que um grupo de oficiais tenham decidido preparar a partir de Agosto de 1975 uma tomada de posio militar tendente a reconduzir a situao aos propsitos originais do MFA.

    Assim nasceu e assim aconteceu o golpe militar de 25 de Novembro de 1975, normalmente considerado como o momento de inverso do processo revolucionrio ps 25 de Abril.

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    Texto 2

    Impacto social e ao dos trabalhadores nas nacionalizaes de 1975

    O Pas e a Banca at ao 25 de Abril

    No final dos anos 60 at ao 25 de Abril de 74 (de certa forma at 1975), a agudizao dos conflitos entre capital e trabalho marcou significativamente a evoluo da situao poltica e econmica portuguesa. Nos conflitos laborais que marcaram o Marcelismo, (de Setembro de 1968 a Abril de 1974), at ao processo de nacionalizaes e ocupaes de terra que decorreu aps o 25 de Abril de 1974, os trabalhadores bancrios estiveram na linha da frente do movimento sindical, evidenciando uma capacidade de mobilizao e organizao coletiva com grande impacto social e poltico, com a particularidade de tal ocorrer num sector de atividade com grande poder econmico e poltico.

    Esse perodo ficou marcado por vrias lutas, quer setoriais quer a nvel de empresa, pela eleio de direes sindicais identificadas com os trabalhadores, pela resistncia s investidas da polcia poltica nos sindicatos e nas ruas, culminando com a conquista de um contrato coletivo, em 1973, que data, foi considerado um marco na contratao coletiva, tanto pelas regalias alcanadas, como pela sua estrutura inovadora.

    Esta dinmica, para alm de ter consolidado um considervel nmero de ativistas experimentados, arreigou na classe bancria um esprito de luta que, integrado no movimento mais vasto da luta sindical em crescendo, mostrou que a represso, ao invs de limitar o crescimento das lutas, antes o incentivou, o que se revelaria importante no perodo ps 25 de Abril.

    Na ltima dcada do fascismo, a situao econmico-financeira do pas piorou, com o agravamento do saldo da Balana Comercial, o aumento do custo de vida e a dvida pblica, que sofria tambm os efeitos d guerra colonial. A Previdncia funcionava como instituio de crdito do Estado, custa dos benefcios devidos aos trabalhadores;

    No geral, o regime viu-se confrontado com um movimento crescente de resistncia que abalou os seus alicerces.

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    At ao 25 de Abril os grupos monopolistas, em Portugal, tinham toda a Banca Privada ao seu servio e serviram-se dela como aliados do regime fascista, explorando as massas trabalhadoras a seu belo prazer.

    A atividade bancria caracterizava-se no essencial por servir os prprios grupos que cada banco comandava ou em que se inseria, sempre com o objetivo supremo da maximizao do lucro, utilizando as poupanas, incluindo as dos emigrantes e da previdncia, e os favores do poder poltico em relao s taxas de juros e a vrias ilegalidades com que manipulavam os clientes.

    Outra grande fonte das receitas dos bancos era os depsitos das Caixas de

    Previdncia com taxas superiores s legais, Nesse quadro de manipulao da prpria

    lei, muitos recursos iam parar aos bolsos dos ministros e dos secretrios de Estado,

    alguns dos quais transitavam, frequentemente, de lugares nos Governos, para as

    Administraes das grandes empresas dos bancos e vice-versa.

    As contabilidades paralelas dos bancos (sacos azuis - juros pagos a mais a

    determinadas pessoas e os juros cobrados a mais ou roubados maioria dos

    depositantes e lesando os pequenos acionistas) e a falsificao dos Resultados

    Apurados serviam para fins muito diversos, como por exemplo o de valorizarem as

    cotaes do banco na Bolsa, etc..

    Mesmo com estas condies polticas favorveis, a situao econmico-financeira refletiu-se negativamente no negcio bancrio, que recorreu a artifcios, como a especulao bolsista para mascarar a situao grave por que estava a passar.

    O 25 de Abril e as nacionalizaes

    Com o 25 de Abril, desapossados do poder poltico que tiveram no perodo do fascismo, onde impunham as medidas que melhor servissem os seus interesses, os capitalistas, designadamente os banqueiros, desenvolveram todas as manobras que puderam para sabotar o processo revolucionrio.

    Entre essas medidas, ruinosas para o Pas, contam-se o congelamento das remessas dos emigrantes, a descapitalizao da Banca, a transferncia de fundos e valores para o estrangeiro, etc. No entanto, estas medidas dos banqueiros no conseguem impedir que aps o 25 de Abril o controlo que o Governo comea a fazer da atividade bancria e mais tarde, aps a nacionalizao, os resultados positivos da

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    banca nacionalizada. Isso obriga-os a mudar de ttica e objetivos (por exemplo de Abril de 74 a Maro de 75 a Caixa Geral de Depsitos e o Banco de Fomento Nacional, controlados pelo governo, viram os seus depsitos aumentarem para cerca de 15 milhes de contos, ao passo que a banca privada, controlada pelos capitalistas, viu os seus depsitos diminurem 10 milhes de contos).

    Face a esta realidade e impossibilidade de prosseguirem o boicote econmico e financeiro, passam com os seus aliados no poder (Spnola, Galvo de Melo, Palma Carlos, etc.) a outro tipo de sabotagem, participando e financiando os golpes contra- revolucionrios como os de 28 de Setembro e 11 de Maro.

    Os bancrios, nomeadamente os seus sindicatos, tomaram a iniciativa de contrariar essas aes de sabotagem, organizando vrias formas de controlo e denncia, que contriburam decisivamente para criar no Conselho de Revoluo e Governo de ento a disposio para encetar a Nacionalizao da Banca e dos Seguros, de capital nacional.

    Na sequncia do golpe de 11 de Maro de 1975, com fortes indcios de participao dos banqueiros, foi decidido nacionalizar a banca e as companhias de seguros, em 14 e 15 de Maro de 1975, respetivamente. O Conselho da Revoluo abriu uma nova fase do processo revolucionrio, colocando na ordem do dia as possibilidades de transio para uma sociedade socialista.

    A medida, foi inquestionavelmente saudada pelos trabalhadores bancrios, em especial os seus sindicatos, que vinham h muito a insistir na necessidade de retirar o controlo do sector financeiro das mos dos banqueiros que, atravs da sabotagem econmica, impediam o desenvolvimento do pas de forma a responder aos anseios do povo portugus.

    A banca foi encerrada ao pblico em 11 de Maro e reabriu em 14 de Maro. As Comisses sindicais mobilizaram os trabalhadores para defesa das instalaes que foram ocupadas por estes 24 horas por dia at madrugada do dia 14 de Maro, quando anunciada a nacionalizao da Banca. iada a bandeira nacional nos mastros dos edifcios e os Bancos abrem ao pblico e funcionam normalmente.

    Ao nvel poltico, a medida foi acolhida com aprovao dos partidos esquerda, incluindo o PS, bem como largas franjas do PSD, quadro que, como se sabe, se foi alterando com o tempo, medida que a recuperao capitalista se foi tornando irreversvel.

    A nomeao de Comisses Administrativas nos bancos nacionalizados, feita com o acordo dos Sindicatos do sector e conjugada com o trabalho de vigilncia levado a cabo pelas estruturas dos trabalhadores bancrios, possibilitou a anlise da

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    documentao habitualmente sigilosa dos bancos revelando o funcionamento dos grandes grupos econmicos e a forma como estes haviam lucrado atravs de prticas ilegais nos anos do Marcelismo.

    Na fase que se seguiu deciso de nacionalizar a banca e nomeao das Comisses Administrativas, os Sindicatos dos bancrios e em particular as Comisses de Delegados Sindicais, assumiram um papel importante de controlo do funcionamento das Instituies de Crdito, num perodo particularmente melindroso, em que a estrutura de poder nos bancos ainda se mantinha. Era imperioso que no fossem tomadas decises que comprometessem as novas orientaes, at que as Comisses Administrativas tomassem em mos a gesto das empresas e o Governo determinasse regras para o seu funcionamento regular. Foi um processo difcil, delicado, que gerou aqui e ali alguma controvrsia, naturalmente com um ou outro erro, mas que, no essencial e tendo em conta a velocidade dos acontecimentos e o ambiente que se vivia na altura, cumpriram os seus objetivos de colocar os bancos ao servio da economia.

    Naturalmente, a necessidade de uma rpida definio de objetivos e formas de interveno conjugava-se com a prudncia necessria num sector extremamente delicado, criando uma nova dinmica no funcionamento da banca nacionalizada: ela deveria permitir que os trabalhadores sentissem que a economia j no lhes era estranha e que a sua participao ativa era a chave para que a banca cumprisse o seu papel na nova fase de desenvolvimento econmico.

    Os reflexos da nacionalizao da banca no tecido social e econmico comearam a evidenciar-se com a mudana dos critrios de interveno da banca na economia:

    A abertura de balces, deixou de ser apreciada apenas em funo da rendibilidade

    e procurou ser um fator de desenvolvimento para zonas do pas mais afastadas dos

    grandes centros.

    A concesso de crdito comeou a ser usada sobretudo como instrumento para

    apoio a setores considerados vitais para o desenvolvimento econmico equilibrado.

    Neste sentido, assumiram grande importncia a troca de informaes das estruturas

    de trabalhadores dos bancos e das empresas que necessitavam do apoio. Nalguns

    casos, criaram-se formas mais ou menos organizadas de trabalho, que permitiu -

    sobretudo no caso dos bancos com maior nmero de empresas ligadas atravs das

    suas participaes (casos do Banco Borges e Irmo, Banco Esprito Santo, Banco Pinto

    e Sotto Mayor e Banco Portugus do Atlntico) - prestar informao til para as

    Comisses Administrativas decidirem da melhor forma.

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    Deram-se os primeiros passos para a coordenao entre os bancos, de forma a

    aproveitar recursos e estabelecer regras de funcionamento, no em regime de

    concorrncia, mas tendo em conta os destinatrios dos servios: o povo portugus.

    Os bancrios puderam concretizar, com xito, algumas das aspiraes sociais da classe, das quais se salienta a criao de um servio de sade suportado pelos bancos.

    A recuperao capitalista e o processo de reprivatizao

    Nos meses seguintes nacionalizao, passadas as primeiras reaes de apoio generalizado medida, as foras do capital, com o apoio crescente dos partidos de direita e gradualmente tambm do PS, passaram a conduzir um processo de contestao e de boicote, procurando virar a populao contra a banca e os seus trabalhadores, bem como contra as foras polticas de esquerda, em especial o PCP.

    Das manobras e boicotes que o grande capital e os banqueiros desenvolveram contra a Revoluo de Abril e as suas conquistas em curso, tiveram grande impacto as especulaes, deturpaes e falsidades sobre a gesto da Banca Nacionalizada, que acusaram de incompetente e de estar a arruinar o Pas. Esta campanha com grande projeo na comunicao social, com algum efeito em certos setores do MFA, nas autoridades governamentais e nas populaes, tinha dois grandes objetivos:

    Procurar substituir as Comisses de Gesto da Banca Nacionalizada, nomeadas

    aps o 11 de Maro, por comisses de gente da sua confiana e afeta s foras

    polticas reacionrias, maioritrias no VI Governo Provisrio.

    Alterar os princpios orientadores da Gesto da Banca nacionalizada A BANCA

    AO SERVIO DO POVO E DO PAS por forma a conseguirem privatizar e voltar a

    dominar, pelo menos, os principais bancos comerciais.

    Os bancrios foram, durante o chamado vero quente, em muitas situaes, as vtimas diretas dessa manobra, especialmente os que, estando nos balces, tinham contacto direto com o pblico, registando-se mesmo tentativas de saneamento de bancrios, sobretudo com o argumento que pertenciam ao PCP. Os ativistas sindicais comunistas e unitrios comeam ento a ser contestados, verificando-se alguns casos de saneamentos de Delegados e Comisses Sindicais, levados a cabo por elementos do PS e de direita.

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    A banca nacionalizada manteve as empresas do seu patrimnio. Mas, as foras do capital, nessas empresas, tudo foram fazendo para criar dificuldades banca, de que um exemplo significativo o caso da SONAE. Esta empresa era 80% propriedade do nacionalizado Banco Pinto de Magalhes, pertencendo a Afonso Pinto de Magalhes os outros 20%. Belmiro de Azevedo pe os trabalhadores em greve, a nica contra as nacionalizaes. Como Afonso P. Magalhes lhe deu carta-branca, com os 20% administrava a empresa como queria. Belmiro de Azevedo intitulava-se o Chefe da CT. Acabou dono da SONAE, incio do atual gigante econmico.

    Gradualmente, as medidas que tinham sido tomadas para colocar a banca ao servio do povo, bem como as inmeras propostas avanadas pelas Comisses Administrativas no sentido de melhorar o seu funcionamento, foram sendo ignoradas pelo poder, dando-se assim incio ao retrocesso de todo o processo de nacionalizao. Uma das primeiras medidas tomadas pelo VI Governo Provisrio seria precisamente colocar Jos Silva Lopes no Governo do Banco de Portugal, com Joo Salgueiro a desempenhar novamente as funes de Vice-Governador, no sentido de inverter parte substancial do processo de reestruturao em curso.

    Os bancrios e a generalidade das suas estruturas resistiram a esse retrocesso, com inmeras iniciativas, mas a correlao de foras tinha-se desequilibrado definitivamente. Contudo, foi possvel, em muitos casos, defender com xito, os direitos e interesses dos bancrios.

    Com a colocao nas Comisses Administrativas de pessoas abertamente inimigas da nacionalizao, todo o processo culminou, anos mais tarde, na reprivatizao do setor.

    Apesar disso, a entrada em vigor da Constituio da Repblica (25/04/76) consagrou a irreversibilidade das nacionalizaes.

    Mas, a crescente ocupao do poder pelos homens de mo do capital, favorecida por foras que lhes eram favorveis no seio dos trabalhadores, com processos como o da criao da UGT, com o apadrinhamento de Mrio Soares (PS), de S Carneiro (PPD) e de Freitas do Amaral (CDS), para partir a espinha Intersindical, levou revogao desta disposio para permitir a abertura do setor bancrio a privados em 1983 e os gestores que prepararam a vinda dos banqueiros passam a administradores dos bancos privatizados.

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    Texto 3

    Aspetos econmicos do setor financeiro antes e depois da nacionalizao de 1975

    No regime de Salazar e Caetano

    A economia nacional antes do 25 de Abril era dominada por grandes empresas monopolistas que, com alargado poder poltico, industrial e financeiro, detinham os sectores estratgicos, nos quais se incluam os transportes, a energia, matrias-primas fundamentais, indstrias de base e o setor financeiro (banca e seguros). A estreita ligao entre estes grupos e o sistema bancrio e segurador permitia-lhes obter avultados lucros, captando as poupanas e remessas de emigrantes e utilizando-as em operaes especulativas e de crdito de curto prazo.

    Os poderes econmico e poltico estavam interligados e foram tomados por via desses grupos econmicos por um punhado de famlias. Nuns casos (Grupos Esprito Santo, Atlntico, Borges), os grupos diversificavam-se a partir dos bancos. Noutros casos (Grupos CUF e Champalimaud), os bancos so criados para servir e consolidar os grupos.

    O objetivo fundamental de cada banco no era o desenvolvimento da economia do pas mas sim, em primeiro lugar, o desenvolvimento do grupo a que pertencia e o aumento dos respetivos lucros. Os recursos que o estado e o povo punham sua disposio eram desviados no essencial para os prprios interesses dos grupos e, tambm, para os interesses de monoplios internacionais a que se ligavam e por onde exportavam lucros. O apoio s atividades econmicas nacionais exteriores ao grupo surgia apenas como objetivo secundrio dependente da busca mais importante da maximizao do lucro.

    O sistema bancrio era composto pela Caixa Geral de Depsitos instituio pblica, que captava os depsitos obrigatrios do setor pblico, depsitos das Caixas Econmicas e pequenas poupanas, reaplicadas depois na atividade econmica -, pelos Bancos Emissores Banco de Portugal, de capital maioritariamente privado, Banco de Angola, e Banco Nacional Ultramarino -, pelos Bancos de Investimento Banco de Fomento Nacional, com obrigaes de crdito a mdio e longo prazo, Crdito Predial Portugus e Sociedade Financeira Portuguesa -, Caixas Econmicas, Caixas de Crdito Agrcola Mtuo e, claro, pela banca privada, que dominava largamente as operaes bancrias em Portugal.

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    Os 15 grupos bancrios privados existentes em 1973, para atingir os objetivos de obteno de elevados lucros e benefcios polticos para o capital monopolista que serviam, mobilizavam recursos provenientes das poupanas dos cidados residentes, das remessas dos emigrantes defraudadamente remuneradas, dos excedentes de tesouraria das empresas e servios pblicos, incluindo os depsitos das caixas de previdncia, da acumulao de capital das empresas e de operaes especulativas. Estes recursos eram depois alocados segundo critrios de rendibilidade, garantias de retorno do capital inicial, liquidez e, s por fim, de acordo com a finalidade do crdito. Assim, grande parte do crdito era dirigido aos grandes monoplios nacionais ou estrangeiros, reais ou fictcios, e eram realizados grandes investimentos especulativos tendo a Bolsa de Valores de Lisboa conhecido um grande dinamismo na passagem para a dcada de 70 -, mesmo sacrificando o capital emprestado.

    Para obter uma maior captao de recursos alheios e para aumentar a sua rendibilidade, a banca privada recorria a diversas formas de manipulao dos juros a pagar aos depositantes, cobrana de comisses indevidas e de juros mais elevados, bem como uma srie de outras irregularidades.

    A cobertura geogrfica dos bancos, que nunca foi resultado de alguma estratgia de desenvolvimento regional, era definida segundo os objetivos de angariao e aplicao de recursos. Os servios mveis e de prospeo enquadravam-se nessa estratgia capitalista de recolha de recursos nuns locais para os desviar para outros de acordo com os interesses definidos pelos banqueiros. Exemplo semelhante era o dos servios criados no estrangeiro em cidades com maior concentrao de emigrantes, de que os bancos se serviam para aumentar os depsitos e as divisas.

    O recurso ao redesconto do banco emissor constitua uma outra forma de os bancos aumentarem a sua capacidade de interveno.

    As elevadas taxas de juro pagas pelos bancos aos depositantes, numa concorrncia desenfreada entre eles, e o elevado volume de crdito concedido criou uma base artificial de emisso monetria por via do crdito (Castro, Armando et. al., in A inflao e os trabalhadores, 1973, Lisboa, Seara Nova), provocando presses inflacionistas. No fundo, o que se assistiu nos ltimos anos do fascismo foi a um crescimento dos meios de pagamento a um ritmo que no encontrava correspondncia com a economia real, conduzindo ao aumento dos preos.

    Para melhor assegurarem essas aes manipuladores e fraudulentas, os grupos econmicos asseguravam as mudanas de cadeiras de ministros e secretrios de estado para as cadeiras das administraes dos bancos e das suas empresas.

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    Nos ltimos anos do fascismo, com forte influncia da guerra colonial, a situao econmico-financeira do pas agravou-se: o saldo da Balana Comercial aumentou de 6361 milhares de contos, em 1965, para 22258 milhares de contos, em 1973; os preos dos bens de consumo aumentaram 2,5 vezes de Abril de 1963 a Abril de 1974 (inflao mdia anual de 22%); a dvida pblica passou de 15887,8 milhares de contos, em 1959, para 54258 milhares de contos, em 1973.

    Na era marcelista, nesse quadro, os banqueiros aproveitaram-se ao mximo dos elevados ndices de inflao, que agudizaram com a especulao financeira, muito em particular nos negcios de aes e de imobilirio. Nessas manobras especulativas sempre visando a maximizao dos lucros, os bancos recorriam a prticas de compadrio e s mais diversas irregularidades nos clculos de juros e das comisses, para alm dos prprios limites de segurana impostos por lei. Como resultado de tudo isso, o 25 de Abril encontrou a banca com falta de liquidez.

    Os esquemas elaborados pela banca privada de forma a proporcionar maiores lucros quer ao prprio banco quer s empresas que lhe estavam estreitamente associadas elevados montantes aplicados nas empresas dos grupos em que estavam integrados, atravs da concesso de crdito em condies desfavorveis para os bancos (), descobertos em depsitos ordem ou limites excedidos em contas correntes; emprstimos de montantes permitidos por lei; liquidao de operaes ilegais concedidas a administradores ou empresas do grupo; estornos contabilsticos irregulares, praticados para esconder lucros ou fugir ao pagamento de impostos; liquidao de sacos azuis (), etc. (Gomes, Carlos, 2011) diminuram significativamente a sua liquidez e solvabilidade, estando alguns bancos prximos da falncia aquando da sua nacionalizao, em Maro de 1975.

    Entre o 25 de Abril e a nacionalizao

    Com o 25 de Abril, a banca, alm de instrumento de explorao do povo, passou a ser tambm o principal instrumento de sabotagem da economia.

    Numa primeira fase, os banqueiros procuraram controlar a situao quer atravs da introduo de homens de confiana no novo poder (Spnola, Palma Carlos, etc.) quer com medidas dilatrias de adaptao s leis e de correo de algumas das operaes anmalas e irregulares que antes praticavam.

    Alguns banqueiros que nunca tiveram essa preocupao cedo procuraram sabotar o desejado desempenho dos bancos ao servio da economia na democracia nascente, nomeadamente atravs da prtica de uma poltica de distribuio de crdito negativa e da reteno no estrangeiro das transferncias de dinheiro que os

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    emigrantes lhes confiavam. Todos os bancos comerciais vieram a assumir prticas semelhantes.

    A par desta sabotagem, foi desencadeada uma forte campanha ideolgica que, a pretexto do espetro do desemprego e da crise das pequenas e mdias empresas, levou o prprio Governo Provisrio, atravs do seu Ministro da Economia Vieira de Almeida, outro homem de confiana dos banqueiros no poder, a escancarar os cofres do Banco de Portugal aos bancos privados comerciais para um suposto e anunciado apoio s pequenas e mdias empresas.

    Tal medida originou que as responsabilidades dos bancos comerciais perante o Banco de Portugal que, a 25 de Abril de 1974 eram de cerca de 9 milhes de contos, ultrapassassem na data da nacionalizao, em 14 de Maro de 1975, 50 milhes de contos.

    Segundo clculos da poca, se esses 41 milhes de contos a mais tivessem sido investidos na criao de emprego, poderiam ter sido criados mais de 164.000 postos de trabalho. Porm, o que se verificou foi um aumento galopante do desemprego e a colocao do grosso desses capitais em empresas e pessoas empenhadas na sabotagem econmica.

    Muitos desses atos de sabotagem foram concretizados na gesto fraudulenta das empresas que, com desvio dos capitais, promoviam a instabilidade e fraqueza do sistema produtivo, nomeadamente atravs da falta de mercadorias e da diminuio dos turnos e da produo.

    Ao incentivar a crise econmica, os grupos econmicos incentivavam e apoiavam os partidos de direita para arquitetar um golpe que lhes restitusse o poder poltico. Como se comprovar mais tarde, os grupos econmicos das famlias que dominaram a economia nos anos negros do fascismo tiveram de ser socorridos e salvos da crise em que se encontravam pelos bancos nacionalizados.

    A nacionalizao do setor financeiro

    A nacionalizao da banca e dos seguros no s privou os grandes grupos e famlias de largas centenas de milhares de lucros anuais como lhes retirou o controlo de um patrimnio superior a 200 milhes de contos que utilizava a seu bel-prazer e contra o regime democrtico nascido com o 25 de Abril.

    Um sistema financeiro orientado para as necessidades de desenvolvimento do pas e comprometido com os interesses dos trabalhadores mostrava-se como fundamental para ultrapassar a crise nacional - resultante da crise mundial, do

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    tremendo boicote que o capital monopolista e as foras contrarrevolucionrias procuraram impor e das medidas herdadas do regime fascista - bem como para cumprir as principais orientaes polticas, econmicas e sociais definidas pelo Governo Provisrio no DL 203/74 de 15 de Maio. Nessas orientaes constavam, entre outras, a interveno do Estado nos sectores estratgicos, a reforma do sistema de crdito e da estrutura bancria, a nacionalizao dos bancos emissores, a dinamizao da agricultura, o apoio s PME.

    Com a sua nacionalizao, o Banco de Portugal assumiu um papel central no controlo da liquidez, solvabilidade e exportao de capitais da banca comercial, alm de deter a emisso monetria em exclusividade e assumir grandes responsabilidades no controlo monetrio e de crdito (aps Setembro de 1974, aquando da publicao da nova Lei Orgnica do Banco de Portugal). A partir de Outubro de 74, face necessidade de assegurar que os bancos seguiam as orientaes definidas pelo Governo Provisrio, foram designados delegados do Banco de Portugal para cada uma das instituies bancrias, com a misso de reporte central.

    Aps o golpe contrarrevolucionrio falhado de 11 de Maro, e perante a urgncia em consolidar a Revoluo de Abril nas estruturas econmicas e sociais, tomada a deciso de nacionalizar todas as instituies de crdito privadas ( exceo das estrangeiras, das caixas econmicas e das caixas de crdito agrcola). Os objetivos a alcanar com a nacionalizao passavam pelo controlo efetivo do poder econmico, a estabilizao financeira, a salvaguarda dos interesses dos depositantes, a criao de emprego, a atenuao dos efeitos da crise refletidos no comrcio externo (Gomes, Carlos, 2011), passando os recursos financeiros a estarem disponveis s pequenas e mdias empresas produtivas. No decurso da nacionalizao, os rgos sociais das instituies bancrias foram substitudas por Comisses Administrativas, com mandatos provisrios, que prestavam contas ao Ministrio das Finanas e mantinham estreitas ligaes ao Banco de Portugal.

    A nacionalizao da banca privada permitiu que comeasse a haver coordenao das instituies de crdito com vista a uma reestruturao do sistema bancrio, tendo sido criada uma Comisso de Reestruturao do Sistema Bancrio. A reestruturao visava (1) transformar o sistema bancrio no elemento motor do processo de substituio das estruturas capitalistas, com vista construo da via portuguesa para o socialismo, (2) conferir ao Banco Central os meios que lhe permitissem desempenhar uma adequada ao dinamizadora e controladora de todo o sistema bancrio e (), da poltica monetria, cambial e financeira, (3) possibilitar uma conveniente avaliao dos recursos financeiros disponveis e a

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    maior eficcia na distribuio e avaliao dos mesmos (..) e (4) articular a atividade bancria com o planeamento econmico (Gomes, Carlos, 2011).

    A reestruturao visava ainda a especializao das instituies de crdito ficando cada uma ligada, a ttulo de exemplo, ao investimento, a sectores ligado ao comrcio externo, habitao ou agricultura - e o alargamento da rede bancria a todo o pas, com a devida racionalizao da mesma. A especializao bancria, apesar de poder contribuir para a racionalizao dos custos, permitir a especializao dos trabalhadores bancrios e trazer benefcios para cada um dos setores da economia nacional, no chegou a avanar, tendo os planos cado por terra aps a queda do V Governo Provisrio.

    A poltica de crdito da banca nacionalizada passou a privilegiar critrios de segurana do capital emprestado em detrimento das operaes especulativas. O objeto do crdito se servia o investimento produtivo ou no foi tambm privilegiado, beneficiando-se os setores produtivos, as PME e os setores que no podiam prescindir do crdito, com vista ao aumento da produo, criao de emprego, ao funcionamento regular das empresas e ao aumento das exportaes. As orientaes na poltica de crdito passaram assim a responder s orientaes de poltica econmica do Governo, garantindo o apoio financeiro aos sectores fundamentais da economia, na sua maioria j nacionalizados no final de 1975.

    J a poltica monetria baseava-se nas seguintes orientaes (Gomes, Carlos, 2011):

    (1) Incentivo ao aumento e captao de poupana formada internamente;

    (2) Controlo da emisso monetria para complementar a insuficincia da poupana interna e ocorrer diminuio da liquidez da economia resultante do gradual dispndio das reservas cambiais;

    (3) Poltica seletiva de crdito, para garantir maior racionalidade na aplicao dos recursos monetrios e financeiros criados, com vista: ao aumento da produo, ao fomento das exportaes, ao apoio ao investimento

    De forma a controlar os impactos do aumento da inflao, o Banco de Portugal procurou manter a taxa de cmbio relativamente estvel no perodo 1974-75, e manter as taxas de juro nominais baixas para os setores supramencionados. O cumprimento destas orientaes foi, no entanto, condicionado pelo boicote econmico interno e externo com reflexos no comrcio externo - e ao aumento da populao ativa decorrente da descolonizao (sendo necessrio integrar os funcionrios bancrios vindos das ex-colnias)

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    Medidas tomadas com as nacionalizaes e seu impacto na economia

    As nacionalizaes em Portugal tiveram caractersticas distintas das efetuadas em alguns pases europeus ocidentais. Ao contrrio do que se verificou nesses pases, aqui as nacionalizaes visaram a eliminao efetiva dos monoplios e criaram condies para se controlar os circuitos financeiros e, consequentemente, comandar grande parte do investimento.

    A concentrao de capitais num nmero restrito de grupos monopolistas participantes de numerosas empresas como detentores de cotas ou aes, atravs dos bancos, companhias de seguros ou sociedades gestoras de carteiras de ttulos deu lugar ao controlo, por parte do Estado, de grandes quantidades de empresas dos mais diversos ramos. Os inimigos e detratores das nacionalizaes viriam at a acusar as nacionalizaes de terem expropriado pequenas lojas de comrcio que, indiretamente e no intencionalmente, passaram para as mos do Estado por pertencerem aos grandes grupos nacionalizados. Ressalve-se, no entanto, que algumas dessas pequenas empresas eram utilizadas pelos bancos para grandes e obscuros negcios. Por exemplo, o quiosque-papelaria chamado Borges & Irmo Comercial, alm de vender tabaco e selos na Rua S da Bandeira, no Porto, era utilizado pelo Banco Borges & Irmo em grandes negcios de venda e compra de aes e noutras atividades especulativas

    Sendo o sistema bancrio um dos principais veculos de sabotagem econmica, a sua nacionalizao permitiu reforar o controlo e a vigilncia sobre potenciais atos de sabotagem. Entre as medidas de preveno salienta-se a generalizao (e obrigatoriedade) do cheque como meio de pagamento, a introduo de pesadas penalidades para fraudes cometidas, a fixao de montantes mximos de saldos de caixa nas empresas com depsito obrigatrio do excedente, controlo da aplicao de financiamento nas empresas que dele beneficiassem, fiscalizao das faturaes transnacionais, centralizao de informao relativa a operaes irregulares, entre outras. Estas medidas permitiram reduzir a fuga de capitais e a fraude, ainda que estivessem limitadas pela permanncia de bancos estrangeiros no nacionalizados.

    As alteraes poltica de crdito, anteriormente descritas, visaram no s garantir a canalizao do crdito e dos investimentos para sectores que contribuam para o crescimento econmico do pas e para o emprego de acordo com o plano de desenvolvimento delineado, como visaram controlar o crdito cedido a cada empresa de forma a diminuir o sobre-endividamento que a maioria detinha. Nesse sentido foi criada uma Central de Riscos, no Banco de Portugal, que tinha como objetivo centralizar informaes vindas dos bancos e impedir, por exemplo, que uma empresa pedisse crdito a diferentes bancos sem que o pudesse restituir.

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    As mltiplas campanhas de sensibilizao junto das comunidades emigrantes contactos diretos individuais ou coletivos por parte dos bancrios, de forma a restituir o clima de confiana e credibilidade - foram fundamentais para que no houvesse uma quebra significativa das remessas, o que por sua vez contribuiu para que no perodo de 74/75 tivesse havido um aumento dos depsitos totais.

    No seu conjunto, as medidas tomadas permitiram aumentar a liquidez do sistema bancrio, garantindo uma maior estabilidade financeira.

    Aos novos responsveis pela coordenao e pela gesto da banca, nomeadamente as comisses administrativas nomeadas pelo governo por indicao, em muitos casos, das estruturas representativas dos trabalhadores, cedo procuraram estabelecer uma efetiva coordenao da atividade bancria, de forma a evitar-se a concorrncia entre si e a prtica de aes, por vezes ilegais, lesivas para os interesses do pas. Foram criadas comisses interbancrias. Foi estabelecida uma regra para a realizao de reunies peridicas das comisses administrativas com o Banco de Portugal, com a presena do Secretrio de Estado do Tesouro. Iniciaram-se reunies para o fomento de sinergias nas reas da informtica, da organizao, da publicidade, entre outras.

    A nvel regional, desenvolveram-te tambm vrias aes de coordenao, salientando-se as reunies com carter informativo e consultivo das comisses administrativas do Norte, a criao de secretariados regionais nos Aores e na Madeira com o fim da cooperao e racionalizao no mbito do Banco de Portugal e foram concludos estudos tendo em vista uma melhor cobertura da banca por todo o pas que vieram a dar origem abertura de muitos balces.

    Nos Seguros foi criada a CCRIS - Comisso de Coordenao e Reestruturao da Indstria Seguradora - para a coordenao da atividade seguradora e para a reestruturaro do sector.

    Muito com base nos trabalhos dessa comisso, verificaram-se resultados imediatos da nacionalizao dos seguros, tanto a nvel da moralizao de uma concorrncia desregrada geradora de dfices nos resultados, como na formao e participao de profissionais no sentido da melhoria da prestao dos servios, na revigorao do seguro, na luta contra os riscos aleatrios, bem como no mbito do Centro de Preveno e Segurana.

    Mais tarde, num projeto de restruturao elaborado pelo Instituto Nacional de Seguros, ainda que com alguns aspetos negativos, foram definidos projetos s possveis com as nacionalizaes no planeamento global dos recursos disponveis,

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    incluindo o aproveitamento centralizado dos recursos mdico-hospitalares e a uniformizao das tarifas.

    Aes contrarrevolucionrias contra as empresas nacionalizadas e para a sua reentrega ao setor privado

    A profunda ligao entre o capital financeiro e o industrial, que durante muitos anos levou concesso excessiva de crdito a grandes empresas, acabou por determinar o apoio dos bancos nacionalizados a essas empresas nem sempre nas melhores condies e, em numerosas empresas e grupos de empresas, obrigou mesmo interveno estatal. Alguns desses apoios destinaram-se mesmo a salvar empresas pertencentes a famlias do poder anterior ao 25 de Abril que, por essa via, comearam a recuperar a sua fora

    Sem se ter concretizado uma verdadeira reestruturao do sector financeiro (especializao, planeamento, coordenao) e sendo a eliminao das empresas nacionalizadas um meio essencial para o grande capital poder dominar os centros financeiros e os sectores bsicos da economia, a luta contra as nacionalizaes iniciou-se logo no momento em que elas foram decretadas.

    Aps o 25 de Novembro de 1975, a poltica econmica do Governo centrou-se no retrocesso das medidas revolucionrias e de desenvolvimento democrtico das foras produtivas aplicadas no ano e meio anterior. Esse retrocesso envolvia diretamente a banca e o sector segurador nacionalizados, destruindo o processo de transformao dos sistemas bancrios e dos seguros verificado at ento e impedindo a continuao dos planos e projetos de reestruturao.

    O boicote contrarrevolucionrio, com a recuperao progressiva do capital, tornou as seguintes propores (Gomes, Carlos, 2001): a venda de mercadorias sem pagamento dos salrios dos trabalhadores, o desvio de descontos para as instituies de Previdncia, a utilizao indevida dos subsdios do Estado. Esta recuperao capitalista, que permitiu a acumulao de grandes fortunas, teve o alto patrocnio do Governo, nomeadamente no que toca regulamentao legislativa favorvel aos interesses do capital.

    A reviso das orientaes do Banco Central, a permisso para a criao de entidades financeiras intermedirias - abrindo espao para a privatizao da banca, a nomeao de membros para o Conselho de Gesto dos bancos nacionalizados da confiana dos anteriores banqueiros e o desmantelamento do rgo de coordenao bancria foram alguns dos primeiros passos para a restituio de uma banca ao servio dos interesses do grande capital privado. Simultaneamente,

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    reintroduzia-se novamente a lgica concorrencial nos bancos nacionalizados, incorrendo em gastos dispensveis e suprfluos no sentido de captar mais clientes, recuando determinantemente nos objetivos de maior coordenao bancria e especializao das instituies.

    O aumento dos depsitos ordem e a prazo, devido exclusivamente ao aumento constante da taxa de juro nominal (ao invs da entrada de excedentes de tesouraria ou captao de poupanas) e as elevadas restries ao crdito, a par da reviso sucessiva e em crescendo da taxa mnima de reservas legais, criou excessos de liquidez na banca. Estes excessos de liquidez foram canalizados pelos bancos para sociedades de investimento que orientavam o crdito para os sectores mais lucrativos da atividade econmica, bem como para o estrangeiro, atravs da abertura de sucursais, reteno de fundos nas suas filiais e crescente envolvimento na finana internacional, muitas vezes em operaes especulativas.

    Na poltica de crdito foi restituda a lgica de maximizao do lucro de cada instituio de crdito, voltando a privilegiar as grandes empresas e monoplios capitalistas e a permitir a fraude e a corrupo em detrimento dos setores produtivos, das PME e dos setores nacionalizados e cooperativos. O reavivar de uma poltica de crdito contrria aos interesses do pas conduziu diminuio da produo nacional e, consequentemente, ao aumento das importaes, afastando o sistema bancrio das necessidades de desenvolvimento do mercado interno.

    Os recuos no sistema bancrio foram tambm observados nos restantes setores nacionalizados, j com vista sua privatizao. Salienta-se, nomeadamente, a poltica virada para a livre concorrncia, a assuno de diretivas econmicas exteriores ao Pas, mtodos de planificao econmica alinhados com a teoria econmica mais liberal e um afastamento cada vez mais pronunciado dos objetivos anteriormente estabelecidos para o setor pblico. A crescente empresarializao dos setores nacionalizados abriram portas para a sua privatizao.

    Nos diferentes mtodos seguidos para atingir esses fins, comearam por se destacar, no plano legislativo, a publicao, por governos do PS, do PSD e do CDS, a lei da delimitao dos sectores pblico e privado e a lei das indemnizaes.

    Com a lei das indemnizaes resultou a entrega de ttulos obrigacionistas, com juros pagos pelas prprias empresas nacionalizadas, a cedncia de empresas indiretamente nacionalizadas, a compensao de dvidas com os ttulos da indemnizao, a sobrevalorizao das aes a indemnizar

    Com a lei da limitao dos setores foram criados autnticos bancos privados com designaes de sociedades de investimento e outras e foram entregues ao capital

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    privado a gesto e a explorao de empresas nacionalizadas. A algumas daquelas sociedades foram encomendados estudos e avaliaes de bancos que depois foram privatizados e vendidos a essas sociedades a preo de saldo (exemplo; a oferta em saldo do Banco Fonsecas & Burnay Sociedade Portuguesa de Investimento BPI, que o tinha avaliado por baixo). A Champalimaud foram oferecidas contrapartidas de 10.000.000 de contos para se habilitar s privatizaes (com tais favores comeou por adquirir a Mundial Confiana). A Jardim Gonalves o ento 1 Ministro Mrio Soares fez questo de ir convidar a Madrid para iniciar o seu imprio BCP com apoios descarados do governo.

    O caminho para a entrega de toda a banca comercial ao grande capital internacional e especulao financeira estava traado.

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    Texto 4

    O Sector de Seguros antes a depois das nacionalizaes

    1. Antes da nacionalizao

    A expanso da economia capitalista no nosso Pas conduziu, como se sabe, fuso do capital industrial com o capital bancrio e consequente formao de grandes grupos monopolistas.

    A atividade seguradora no fugiu esfera de influncia do capital financeiro e ao seu domnio. Como exemplo, destaca-se as seguradoras pertencentes a alguns grandes grupos econmicos ento existentes:

    Imprio, Sagres e Universal (Grupo CUF)

    Tranquilidade (Grupo Esprito Santo)

    Mundial, Confiana e Continental (Grupo Champalimaud)

    Aliana Madeirense, Soberana e Mutualidade (Grupo Pinto de Magalhes)

    Bonana e Comrcio e Indstria (Grupo Jorge de Brito)

    A Seguradora Industrial e Previso (Banco Fonsecas & Burnay)

    Fidelidade (Banco Nacional Ultramarino)

    Ourique (Banco Portugus do Atlntico)

    Atlas (Grupo Borges)

    A tendncia era prosseguir em ritmo acelerado a concentrao e, atravs de fuses e absores, desenhava-se j a concorrncia entre os vrios grupos para chegarem em primeiro lugar ao total controlo da economia do setor.

    Prova-o o facto de em 1973, apenas cinco Companhias (Imprio, Tranquilidade, Mundial, Confiana e Comrcio e Indstria) num total de sessenta, deterem cerca de 45% do mercado global e 50% do mercado abrangido por empresas nacionais.

    O capital arrecadado pelas Companhias de Seguros era, sobretudo, canalizado para negcios especulativos, como os jogos da Bolsa, a compra e a venda de imveis, os emprstimos, etc., que faziam enriquecer os grandes acionistas parasitrios, jamais sendo aplicado em investimentos produtivos para beneficiar os trabalhadores, os pequenos e mdios agricultores, comerciantes e industriais.

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    A indstria seguradora, a par da indstria bancria, e, em certas operaes financeiras, sobrepondo-se a esta, foi, at nacionalizao, em Maro de 1975, um vasto campo de especulao econmica, desempenhando um importante papel na estratgia de acumulao do grande capital monopolista.

    Com a liquidao do regime fascista, em 25 de Abril de 1974, impunha-se a liquidao dos monoplios, impedindo que estes se consolidassem e sobrevivessem custa da feroz represso e explorao das classes trabalhadoras. O contrrio, nas condies objetivas existentes em Portugal, implicaria a manuteno do aparelho de estado fascista.

    Foi tendo em conta esta realidade que o Relatrio Sindical de Janeiro de 1975, face ao Plano Econmico de Emergncia, denunciou a situao catica existente na indstria de Seguros apontando medidas concretas a tomar e reclamando a interveno imediata do Estado na Indstria Seguradora e a atribuio aos trabalhadores de verdadeiros direitos de fiscalizao e controlo. Em 1975, os trabalhadores de seguros do Sul e do Norte reivindicam a nacionalizao das Companhias de Seguros.

    2. A nacionalizao das Seguradoras Nacionais

    Em consequncia, o Conselho da Revoluo decidiu, em 13 e 15 de Maro de 1975, proceder Nacionalizao da Banca e das Seguradoras Nacionais

    Os motivos desta deciso, em relao aos Seguros, esto expressos no prembulo do Decreto-Lei n 135/A/75:

    o elevado volume de poupana privada retido pelas sociedades de seguros que vinha sendo aplicado no em benefcio das classes trabalhadoras, mas com fins especulativos e em manifesto proveito dos grandes grupos econmicos

    a capacidade demonstrada pelos trabalhadores de Seguros na apreciao e denncia de situaes irregulares no domnio da gesto

    a necessidade de salvaguardar os interesses legtimos dos segurados

    Esta deciso foi acompanhada com a constituio de cinco grupos, integrando as empresas nacionalizadas, com vista a uma melhor rentabilizao de recursos e criao de condies para a imprescindvel reestruturao da atividade seguradora.

    A constituio de rgos administrativos para assegurar o funcionamento normal das seguradoras foi feita imediatamente, aps a nacionalizao, e coube aos Sindicatos, no prazo de um ou dois dias, depois de ouvidos os Delegados Sindicais, indicar ao

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    Governo os nomes dos trabalhadores de seguros que fariam parte das Comisses Administrativas Provisrias que iriam gerir cada Grupo. Aqueles foram designados em Plenrios dos Trabalhadores, em cada Empresa, por voto secreto.

    Foi desta forma que, pela primeira vez, trabalhadores que no detinham qualquer poder sobre os meios de produo, ascenderam, por indicao dos seus companheiros de trabalho, a postos de deciso a nvel de gesto.

    Em 7 de Abril de 1975 constituda a CCRIS Comisso de Coordenao e Reestruturao da Indstria Seguradora -, por despacho do Secretrio de Estado do Tesouro.

    Em 21 de Junho de 1975, pelo DL 306/75, o Grmio dos Seguradores foi extinto, criando-se, em sua substituio, o Secretariado Geral de Seguros, com vista ao apoio tcnico das Seguradoras.

    A CCRIS, formada por tcnicos de seguros de reconhecida capacidade, tinha como principal tarefa coordenar a actividade seguradora e iniciar a reestruturao desta, de forma a desmantelar a sua estrutura capitalista e a coloca-la ao servio de uma economia que correspondesse aos interesses globais do povo portugus.

    A CCRIS levou a efeito Plenrios de Comisses Administrativa, alargados s Comisses de delegados sindicais de empresa e s Direes Sindicais, onde eram tratados os problemas fundamentais da Indstria, criando, paralelamente, no seu mbito, Grupos de Trabalho, com vista modificao das bases tcnicas dos vrios ramos de seguros e da prpria organizao das Seguradoras, sempre na perspectiva de se impedir a recuperao capitalista do setor. Estes Grupos de Trabalho, apesar da sua curta existncia, produziram estudos de interesse indiscutvel.

    Um dos primeiros actos da CCRIS foi a exigncia dos balanos consolidados das vrias Seguradoras para se assegurar da sua verdadeira situao econmica e financeira, balanos que seriam a pedra angular da avaliao patrimonial das seguradoras nacionalizadas e, consequentemente, do valor a pagar por aco em todos os casos em que esse valor fosse positivo. De notar que a nica Seguradora que no apresentou esse Balano foi a Imprio, no o tendo feito at ao fim do mandato da CCRIS, argumentando pela dificuldade de obteno de dados

    3. O incio da recuperao capitalista, em Seguros

    Todo este processo foi fortemente condicionado pela evoluo da situao poltico-militar. As foras interessadas em recuperar a economia portuguesa para o quadro de uma democracia burguesa, com o apoio dos sectores mais conservadores e

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    reaccionrios, desencadearam uma ofensiva com vista a desacreditar e a recuperar as grandes conquistas da Revoluo, nas quais se contavam as nacionalizaes. Os alvos preferidos, em Seguros, foram as Direces Sindicais e a CCRIS. Tratava-se de cavar a diviso entre os trabalhadores, para serem atingidos fins polticos bem determinados. Tudo servia para desmobilizar os trabalhadores da luta pela consolidao das nacionalizaes. Num momento em que se desferia um golpe de morte no capital monopolista, retirando-lhe os principais meios de ao e se exigia a transformao radical da economia, algumas foras polticas confundiam os trabalhadores, olvidando, deliberadamente, as caractersticas revolucionrias do processo portugus.

    A vida sindical partidarizou-se fortemente, neste perodo, por interferncias estranhas atividade.

    nessa altura, em que latente a crise poltico-militar, que o IV Governo Provisrio submete discusso dos trabalhadores de Seguros o projeto de Decreto-Lei sobre os Conselhos de Gesto das Seguradoras. Os trabalhadores de seguros, honestamente interessados em salvaguardar a nacionalizao da indstria, participaram na discusso, procurando melhorar o seu contedo.

    Foi aqui que trabalhadores afetos ao PS decidiram interferir, protelando a discusso do documento e, aps levarem a efeito o Encontro de Trabalhadores Socialistas de Seguros apresentando em alternativa um projecto de Decreto-Lei cujas principais linhas de fora apontavam para princpios autogestionrios, designando as Companhias de Seguros, por unidades autnomas. Introduzido nas estruturas sindicais, aquele documento esteve na base da diviso da classe, com grandes e acesas polmicas entre os trabalhadores e grande prejuzo para o desenvolvimento do processo de reestruturao do setor, evitando, desse modo, o desmantelamento das estruturas capitalistas que ainda regiam a indstria seguradora.

    Em Novembro de 1975, a CCRIS extinta, formalmente, mantendo-se, no entanto, em funes at tomada de posse dos Conselhos de Gesto, em Junho de 1976, outro tanto acontecendo com as Comisses Administrativas.

    O Ministrio das Finanas de ento tudo fez para evitar que os trabalhadores tivessem qualquer participao nas resolues deste tipo de problemas.

    Contudo, merc do importante trabalho desenvolvido pela CCRIS e da luta continuada de grande nmero de trabalhadores de seguros, em defesa das nacionalizaes, estes Conselhos de Gesto, nomeados para o trinio de 1976/1979, foram ainda indicados pelos trabalhadores, a partir de votao secreta, feita em

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    Plenrios nas Empresas, tal como acontecera na indicao das Comisses Administrativas.

    Sem condies para colocar em causa essa indicao, o Ministrio das Finanas, atravs do seu Secretrio de Estado do Tesouro, introduziu, por sua iniciativa, particularmente nas seguradoras onde havia maior interveno dos trabalhadores, elementos da sua confiana nos Conselhos de Gesto designados, como aconteceu na Mutual, Companhia de Seguros, onde os trabalhadores defendiam de forma muito clara e firme a nacionalizao dos seguros e as medidas saneadoras que a CCRIS havia tomado durante a sua existncia de cerca de nove meses.

    No seu curto perodo de existncia a CCRIS desenvolveu um trabalho intenso com vista a reestruturao do setor e dimensionamento do mesmo:

    Produziu a regulamentao legal da mediao de seguros, pondo termo anarquia existente, quer quanto ao exerccio da funo, quer quanto ao aspeto remuneratrio (Comisses); gerou aes disciplinadoras da concorrncia; procedeu atualizao das penses de Acidentes de Trabalho;

    Estudou e implantou o Ramo Automvel obrigatrio; apresentou um modelo organizativo para a atividade seguradora no qual previa a transferncia do Ramo Acidentes de Trabalho para uma empresa pblica, exclusivamente destinada a gerir o Seguro Social de Acidentes de Trabalho em moldes muito diferentes da gesto capitalista herdada, tornando dessa forma impossvel a absoro pela actividade seguradora dos lucros emergentes e a distribuio de outros proventos ilegtimos que vinham servindo para pagar compadrios polticos, em detrimento do investimento na melhoria da qualidade do servio, e muitas outras alteraes que tinham em vista consolidao da nacionalizao dos seguros, de modo a colocar o setor verdadeiramente ao servio do povo.

    De notar que cerca de 80% do ramo de Acidentes de Trabalho (sempre apetecvel na gesto privada) estava concentrado nas seguradoras nacionalizadas sendo que aquelas, juntas s mistas com parte do capital nacionalizado, perfaziam quase 100%, enquanto nas estrangeiras o AT era residual.

    Extinta a CCRIS, foi criada a CIINS - Comisso Instaladora do Instituto Nacional de Seguros, rgo responsvel pela coordenao da Indstria, contendo entre os seus membros muitos elementos comprometidos com o capital monopolista, que funcionou em paralelo com a Inspeco Geral de Seguros e, tal como esta, foi extinta em 1982, data em que foi instalado o Instituto de Seguros de Portugal, Instituto Pblico ao qual foram atribudas as funes de coordenao e fiscalizao da actividade de seguros, resseguros e mediao.

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    O trinio 1976/1979 teve a funo no explicita de arrumar a casa, preparando o sector para as fuses que se avizinhavam. Em fins de 1979, foi decretada a fuso dos grupos de seguradoras nacionalizadas, formalmente constitudos, e nomeados os titulares dos respetivos Conselhos de Gesto, nomeao determinada pela proximidade ao poder poltico, a quem coube preparar a reprivatizao, consolidando as medidas que, a partir de 1976, vinham sendo delineadas com esse objetivo.

    Aumentaram-se os capitais prprios das sociedades de seguros nacionalizadas e mistas, pagando-se nalguns casos avantajadas remuneraes ao capital acionista, ao mesmo tempo que se financiava uma gesto de franca recuperao capitalista, o que no podia ser feito sem os lucros do seguro social de Acidentes de Trabalho, com a incorporao de reservas no aumento do capital social das seguradoras.

    Os Balanos corrigidos das contas de 1974 das seguradoras nacionalizadas, foram deliberadamente esquecidos, tal como foi silenciada a questo das chamadas indemnizaes aos acionistas, com o objectivo de tornar impossvel a rigorosa determinao dos valores nacionalizados, quer por razes de dinheiro, quer para esconder os resultados da catica gesto privada das seguradoras nacionalizadas em 15 de Maro de 1975.

    E assim se foram afastando os momentos da nacionalizao e o do clculo e pagamento das indemnizaes e se criaram as condies avaliao patrimonial das seguradoras nacionalizadas que permitiram o pagamento de indemnizaes muito superiores ao valor justo, face situao concreta das respetivas empresas.

    1. O setor de seguros, com a privatizao

    Com o incio do processo de privatizaes em 1989, o setor de seguros, inserido no sistema financeiro, fundamental para o domnio de todo o sistema econmico no processo de restaurao capitalista, foi dos primeiros a sofrer a privatizao, tal como tinha sido dos primeiros a ser nacionalizado para ser um instrumento de um dinmico desenvolvimento econmico e social do pas.

    Depois da aprovao do Decreto Lei 406/83, de 15 de Novembro, que alterou a Lei de Delimitao dos Setores Lei 46/77 que impedia o acesso da iniciativa privada aos setores estratgicos da economia, foi aberto o caminho, at a proibido, para a iniciativa privada nos setores da banca, dos seguros e demais setores.

    A aprovao da Lei 84/88, de 20 de Junho, pelo PS, PSD e CDS, sendo 1. Ministro Cavaco Silva, permitiu a transformao das empresas pblicas em sociedades de

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    capitais pblicos e a alienao de participaes sociais detidas pelo Estado. Foi ao abrigo desta Lei que, em 1989, foram efetuadas as primeiras privatizaes, designadamente a privatizao de 49% do capital social da Aliana Seguradora e da Tranquilidade.

    A segunda reviso constitucional, Lei Constitucional n 1/89, de 8 de Julho, aprovada por PS, PSD e CDS, pe fim ao princpio da irreversibilidade das nacionalizaes, alterando o Artigo 83. da Constituio, aprovada em 2 de Abril de 1976.

    interessante recordar a enorme propaganda que na altura foi feita tanto a nvel interno das empresas como por toda a comunicao dita social de que a nossa economia era uma economia de sucesso e de capitalismo popular e que um dos objetivos das privatizaes era possibilitar uma ampla participao dos cidados portugueses na titularidade das empresas, atravs de uma adequada disperso do capital, dando particular ateno aos trabalhadores das prprias empresas e aos pequenos subscritores Art. 3. da Lei n 11/90, de 5 de Abril, Lei-quadro das Privatizaes.

    Na verdade, no setor de seguros, aquando dos processos de privatizao, houve um nmero bastante significativo de trabalhadores e mediadores que subscreveram a compra de aces das suas prprias empresas que estavam a ser privatizadas. Muitos limitavam-se a assinar os boletins de subscrio e imediatamente os vendiam com maisvalias a alguns colegas que eram mandatados pelas administraes que representavam os interesses do grande capital.

    Atravs de operaes bolsistas assistiu-se a uma acelerada concentrao do capital social das empresas, eliminando definitivamente o chamado capitalismo popular e a ideia de que os trabalhadores eram donos das empresas onde trabalhavam.

    interessante recordar aqui o que se passou com a antiga Companhia de Seguros O Trabalho, considerada de capital misto, por na altura ter participao estrangeira no seu capital, hoje integrada na Aoreana do Grupo Banif.

    Os detentores do capital estrangeiro, na melhor oportunidade, saram e aquando da sua privatizao, a propaganda efetuada pelo Ministro das Finanas da poca, Miguel Cadilhe, era a dos reformados terem uma boa oportunidade para investir as suas poupanas. porta da seguradora, no Campo Alegre, no Porto, eram filas enormes de pessoas a aguardarem a sua feliz oportunidade. As cotaes das aes atingiram nessa altura valores incompreensveis.

    Entretanto, os compradores que adquiriam as aes aos subscritores desapareceram, a euforia esfumou-se e terminou completamente quando algum muito importante veio televiso dizer que se estava a vender gato por lebre.

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    Num processo complexo, O Trabalho passou a fazer parte de um fundo pblico, do ISP, o Estado gastou milhes de contos para sanear a empresa e vendeu-a depois sem receber qualquer valor.

    A administrao da empresa foi conduzida por pessoas siamesas, sem serem gatos, de pessoas que administravam o BPN. um caso de que pouco se falou e sobre o qual j ningum fala.

    Com os processos de concentrao, as estruturas das companhias de seguros sofreram grandes alteraes, diminuindo brutalmente o nmero de trabalhadores, com polticas de gesto de pessoal que aproveitavam os anseios dos trabalhadores previamente desgastados com as sucessivas alteraes organizativas e com o encerramento de balces, polticas aparentemente arbitrrias, com ofertas aliciantes de pr-reformas a partir dos 55 anos de idade e at com menos ou de rescises com indemnizaes irrecusveis e com direito a solicitar o fundo de desemprego, com a possibilidade de requerer a reforma com antecipao da idade. Naturalmente que tudo isto foi feito com a clara conivncia dos sucessivos governos que permitiam o despedimento dos trabalhadores custa dos dinheiros da segurana social.

    Com a concentrao do capital atravs das operaes bolsistas veio a acontecer o que j se previa: uma parte significativa, se no a sua totalidade, do capital social das companhias de seguros passou a ser controlado pelo capital estrangeiro, direta ou indiretamente.

    Nas primeiras operaes de privatizao os estrangeiros j detinham 45% da COSEC, 100% da Mundial-Confiana e da Aliana Seguradora. Iniciou-se um processo de desnacionalizao do capital social da esmagadora maioria das seguradoras a operar em Portugal. Em Portugal no existem companhias de seguros admitidas Bolsa de Valores, por no haver disperso de capital social.

    Hoje, apesar da grave crise que Portugal atravessa, o setor de seguros apresenta, oficialmente, resultados positivos. Em 2012 apresentou resultados lquidos estimados em 539 milhes de euros. bom referir que para isso contribuiu decisivamente a especulao financeira, o chamado mercado de capitais, com os rendimentos e mais-valias da dvida pblica, porque em termos de negcio de seguros, isto , em termos de produo, houve decrscimo, particularmente nos Ramos de Acidentes de Trabalho e Automvel, em resultado da crise que o pas vive.

    O setor segurador em Portugal sempre foi visto como o parente menor do sector financeiro. Naturalmente que h explicaes tcnicas e polticas para que assim seja. No entanto, o seu papel muito importante em todos os ramos de atividade da

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    sociedade. A proteo de pessoas e bens, a gesto de poupanas e de capitais alheios, d-lhe responsabilidades e capacidades para intervir na regulao da prpria economia do Pas. No final de 2012, o seu volume de investimentos era de 52,7 mil milhes de euros que, de acordo com os dados publicados pelo ISP, so cerca de 30,8% do PIB. 71% da sua carteira de activos, mais de 37,4 mil milhes de euros estavam investidos em ttulos de dvida, pblica e privada. A estes valores devem ser acrescidos os impostos que por via do setor so arrecadados pelo Estado.

    Apesar da diminuio do nmero de trabalhadores, atravs de polticas de concentrao lavadas a cabo - e bom ter presente que certamente vo ser desenvolvidas muito brevemente novas fases de concentrao e de centralizao de estruturas organizativas e de capitais o sector ainda mantm cerca de 11 mil trabalhadores e cerca de 25 mil mediadores.

    O processo de desnacionalizao mantm-se com tendncias para se acentuar. A venda da Fidelidade pela Caixa Geral de Depsitos a um fundo de investimento estrangeiro comprova isso. Outras Seguradoras vo seguir o mesmo caminho de venda por elas prprias apresentarem dificuldades crescentes de explorao, de capacidade tcnica e de investimento ou por dificuldades dos grupos econmicos onde esto inseridas.

    A crise econmica real. Os fatores que tm contribudo para o setor de seguros apresentar resultados positivos podem sofrer inesperadamente alteraes negativas com consequncias imprevisveis.

    O setor, sendo privado, estar sempre ao servio do grande capital, nunca poder ser um instrumento ao servio do desenvolvimento econmico do pas que tenha como objectivo a melhoria do nvel e da qualidade de vida dos portugueses, o pleno emprego, uma elevada satisfao das necessidades da populao, uma justa e equilibrada repartio da riqueza criada e a defesa da independncia nacional .

    Por isso no exagerado afirmar-se que o melhor para os seus trabalhadores e para o Pas ser, como se demonstrou em 1975, a (re)nacionalizao deste importante instrumento financeiro de gesto de poupanas.

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    Fontes:

    Gomes, Carlos. A Nacionalizao da Banca em Portugal Nove meses a construir, nove anos a destruir, UNICEP, 2000

    Abreu, Marta. Inflao e Poltica Monetria em Portugal antes da adoo do euro. Banco de Portugal, Boletim Econmico Primavera de 2005

    Noronha, Ricardo. A nacionalizao da Banca no contexto do processo revolucionrio (1974 1975). FCSH, Junho 2011

    Encontro Nacional os Trabalhadores Bancrios do PCP. A Banca ao servio do povo, Edies Avante, 1975

    Nacionalizaes e controlo de produo. Trabalho coletivo da organizao de economistas do Porto do Partido Comunista Portugus. a opinio, vol. 1 economia

    5 Aniversrio da Nacionalizao da Banca e Seguros, Encontro de Trabalhadores Bancrios e de Seguros, Edio da Comisso Coordenadora das Comemoraes, Maro de 1980

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    Comemoraes dos 40 anos do 25 de Abril

    Abril de novo, com a fora do povo