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1 Transporte Intermodal Estudo de Caso: Transporte de Ferro Gusa Intermodal transport Case Study: Pig Iron Transport Mauro Luiz Diniz 1 Fernando de Oliveira Pessoa 2 Resumo: Este artigo versa sobre o processo de exportação de ferro gusa, considerando o transporte entre Prudente de Morais e o Porto de Tubarão, em Vitória-ES. São descritos os contatos para efetivar uma venda de exportação, os meios utilizados para contratar um navio, os tipos de navios utilizados para esse tipo de exportação, os equipamentos necessários para o manuseio e transporte do ferro gusa, tanto na saída do produto na usina quanto os equipamentos utilizados na área portuária. Palavra chave:Transporte Intermodal. Transporte de ferro gusa. Abstract:This article deals with the export process of pig iron, considering the transport between Prudente de Morais and the Port of Tubarão, in Vitória-ES. The contacts to carry out an export sale, the means used to contract a ship, the types of ships used for this type of export, the equipment necessary for the handling and transportation of the pig iron, are described, both in the shipment of the product in the plant and equipment used in the port area. Keyword: Intermodal transportation.Transport of pigiron. INTRODUÇÃO Diante da globalização, atribuir relevância ao sistema de circulação e transportes é condição indispensável para fomentar as interações espaciais, a integração dos territórios, o comércio, a produção e os fluxos de mercadorias e pessoas (CORRÊA, 1997). 1 Graduando em Engenharia Civil pelas Faculdades Kennedy, 1S/2017. ([email protected]). 2 Orientador e Professor da disciplina de Economia dos Transportes das Faculdades Kennedy.

Transporte Intermodal Estudo de Caso: Transporte de Ferro ...revistapensar.com.br/direito/pasta_upload/artigos/a258.pdf · operadores logísticos, ou seja, de prestadores de serviços

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Transporte Intermodal

Estudo de Caso: Transporte de Ferro Gusa

Intermodal transport

Case Study: Pig Iron Transport

Mauro Luiz Diniz1

Fernando de Oliveira Pessoa2

Resumo: Este artigo versa sobre o processo de exportação de ferro gusa, considerando o transporte entre

Prudente de Morais e o Porto de Tubarão, em Vitória-ES. São descritos os contatos para efetivar uma venda de

exportação, os meios utilizados para contratar um navio, os tipos de navios utilizados para esse tipo de

exportação, os equipamentos necessários para o manuseio e transporte do ferro gusa, tanto na saída do produto

na usina quanto os equipamentos utilizados na área portuária.

Palavra chave:Transporte Intermodal. Transporte de ferro gusa.

Abstract:This article deals with the export process of pig iron, considering the transport between Prudente de

Morais and the Port of Tubarão, in Vitória-ES. The contacts to carry out an export sale, the means used to

contract a ship, the types of ships used for this type of export, the equipment necessary for the handling and

transportation of the pig iron, are described, both in the shipment of the product in the plant and equipment used

in the port area.

Keyword: Intermodal transportation.Transport of pigiron.

INTRODUÇÃO

Diante da globalização, atribuir relevância ao sistema de circulação e transportes é condição

indispensável para fomentar as interações espaciais, a integração dos territórios, o comércio, a

produção e os fluxos de mercadorias e pessoas (CORRÊA, 1997).

1Graduando em Engenharia Civil pelas Faculdades Kennedy, 1S/2017. ([email protected]).

2 Orientador e Professor da disciplina de Economia dos Transportes das Faculdades Kennedy.

2

O transporte movimenta geograficamente o estoque, tornando a área operacional da logística

de importância para os transportes mostrando que os recursos estão distribuídos pelo mundo

de forma desigual, obrigando que ocorra movimentação destes recursos de um ponto para o

outro,conforme Bowersox (2003). De acordo comStülp e Plá (1999, p. 1), “o segmento de

transporte é um dos que mais interfere naeficiência dos diversos setores da economia de

umpaís”.

O transporte representa o elemento mais importante do custo logístico na maioria das

empresas e tem papel fundamental na prestação do serviço ao cliente. Do ponto de vista de

custos, Nazário (2000) apud por Fleury etal (2000, p. 126) afirma que o transporte representa,

em média, cerca de 60 % das despesas logísticas. Ele pode variar entre 4% e 25% do

faturamento bruto, e em muitos casos supera o lucro operacional. Dessa forma, iniciativas

como a intermodalidade (integração de vários modais de transporte) e o surgimento de

operadores logísticos, ou seja, de prestadores de serviços logísticos integrados, apresentam

relevante importância para redução dos custos de transporte, pois geram economia de escala

ao compartilhar sua capacidade e seus recursos de movimentação com vários clientes.

O objetivo desse artigo é descrever o processo de transporte, utilizando-se o sistema

intermodal, para exportação de ferro gusa que é produzido em Prudente de Morais-MG e

embarcado em navio no porto de Tubarão, na cidade de Vitória-ES

A maioria das usinas siderúrgicas produtoras de ferro gusa, objeto da pesquisa estão

localizadas em Minas Gerais. As usinas são indústrias de base que produzem o ferro gusa a

partir da utilização de matérias primas como: o minério de ferro, carvão vegetal e fundentes

(sílica, calcário e manganês).

O ferro gusa é exportado a partir do porto de Tubarão, sendo utilizado o sistema

deintermodalidade para o transporte do produto entre a usina e o porto.

Da usina até o terminal de origem, utiliza-se o transporte rodoviário, por meio de caminhões

basculantes com pequena capacidade de carga variando entre 12 t e 20 t. No trecho entre o

terminal de origem e o terminal intermediário, localizado em Colatina- ES, o produto é

transportado por via férrea. Nesse terminal ele permanece até o dia de ser embarcado.

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Por fim, o carregamento do ferro gusa ocorre em navio atracado no porto de Tubarão, sendo

que o tempo de carregamento depende da capacidade de carga da embarcação e dos

shiploaders – equipamentos utilizados para embarque da carga.

O transporte intermodal, por se tratar de um tema relevante e abrangente é um item de peso no

total dos custos, que influencia diretamente no preço final do produto para a exportação.

Segundo Coleti(2015) os recentes cortes em investimentos anunciados pelo governo têm

ocasionado uma série de especulações sobre como isso irá afetar o setor de transporte.

Segundo a autora, será necessário um remanejamento nas estratégias, de forma a buscar

alternativas que compensem essa queda no nível do investimento em um setor tão

necessitado. Desta forma, a utilização da intermodalidade acaba sendo uma alternativa que

vem sendo adotada por empresas do setor agrícola e demonstra bons resultados em relação à

redução dos custos de transporte e otimização de rotas.

Pode-se inferir que no setor siderúrgico a intermodalidade assume a mesma importância para

a redução dos custos de transporte.

SERVIÇOS DE LOGÍSTICA

Como revela Silveira(2007, p. 138),“Os serviços de logística têm alguns segmentos, como a

estratégia de distribuição física, a administração de materiais e suprimentos, as operações de

movimentação de materiais, de produtos, de transportes e de outros”. A intenção é acelerar a

disponibilidade de produtos e materiais nos mercados e pontos de consumo com máxima

eficiência, rapidez e qualidade, com custos identificáveis. Contudo, a armazenagem e o

transporte eficientes, dependem da utilização de novas tecnologias e sistemas de gestão.

Portanto, o conceito de logística abarca diversas situações ligadas à movimentação e à

estocagem de produtos, com objetivo principal de aumentar a competitividade em diversas

escalas.

TIPOS DE TRANSPORTE NO BRASIL

No Brasil, segundo Coleti(2015, p. 1),atualmente existem três formas de transporte:

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a) OUnimodal: no qual um único modal de transporte é utilizado durante todo percurso da

rota. Normalmente, esse modal é o rodoviário, já que, diferentemente dos outros modais,

permite a entrega porta a porta;

b) O Intermodal: refere-se a uma mesma operação que envolve dois ou mais modos de

transporte, em que cada transportador emite um documento e responde individualmente pelo

serviço que presta;

c) O Multimodal: utiliza mais de um modal e suas operações são coordenadas por um

Operador de TransporteMultimodal (OTM), e um único contrato de transporte envolve toda

operação;

Para o caso brasileiro, devido à burocratização do OTM, essa operação, que já esteve em alta,

está dando espaço para o transporte intermodal que, em termos operacionais, acaba sendo

mais simples do que a multimodalidade.

Ao analisar o conceito de transporte por mais de um modal encontra-se na literatura um

conjunto de definições que não convergem necessariamente. A grande divergência está

relacionada à diferença entre os termos intermodalidade e multimodalidade, citados por

Nazário (2000).

Como realmente não se trata apenas de uma questão semântica, foram identificadas

características bem definidas dentro da evolução do uso de mais um modal para o transporte

de carga.

Fase 1 – Movimentação caracterizada apenas pelo uso de mais de um modal.

Fase 2 – Melhoria da eficiência na integração entre modais. A utilização de containeres, de

equipamentos de movimentação em terminais e de outros instrumentos especializados na

transferência de carga de um modal para outro, possibilita a melhoria do desempenho no

transbordo da carga.

Fase 3 – Integração total da cadeia de transporte, de modo a permitir um gerenciamento

integrado de todos os modais utilizados, bem como das operações de transferência,

caracterizando uma movimentação porta-a-porta com a aplicação de um único documento.

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A primeira fase caracteriza-se por um transporte combinado, ou seja, na utilização de mais de

um modal com baixa eficiência na transferência. Na segunda fase, observa-se que,

inicialmente, o termo intermodalidade era tratado basicamente do ponto de vista operacional,

simplesmente como uma junção de diferentes modais de transporte. Este conceito foi

apresentado por alguns autores durante a década de 80.

Em 1993, na EuropeanConferenceofMinistersofTransport, o conceito de intermodalidade foi

definido como: “O movimento de bens em uma única unidade de carregamento, que usa

sucessivos modais de transporte sem manuseio dos bens na mudança de um modal para

outro”. No livro Intermodal FreightTransportation, encontra-se a seguinte definição para

transporte intermodal:

Transporte realizado por mais de um modal, caracterizando um serviço porta-a-porta com uma série de operações de transbordo realizadas de forma eficiente e com a responsabilidade de um único prestador de serviços através de documento único. Para o transporte intermodal que utiliza container, a carga permanece no mesmo container por toda viagem. (MULLER, 1995, p. s/n.)

Esta definição representa a terceira fase. Entretanto, o Ministério dos Transportes do Brasil

definiu a terceira fase como transporte multimodal, seguindo a linha europeia.

O modal rodoviário: É o mais flexível dos modais quanto à entrega para o cliente. É

conhecido por ser um transporte porta - porta. Devido a sua flexibilidade, trabalha se tanto

com carga fechada (lotação do equipamento) quanto com carga fracionada. O modal possui

limitações na quantidade carregada, não só pelo alto peso próprio (tara), mas também por leis

que regulam o limite de peso nas estradas. No Brasil, é o modal mais utilizado devido à

política de transporte nacional ter privilegiado este tipo de modal quando na época da

formação da infraestrutura de transportes do país.

O modal ferroviário: Segundo Chopra (2003, p.1), “devido ao alto custo fixo e ao baixo

custo variável de operação, o transporte ferroviário cobra preços que incentivam grandes

cargas a serem levadas por longas distâncias. A estrutura de preços e a capacidade para cargas

pesadas fazem do transporte ferroviário um meio ideal para carregamento de produtos

grandes, pesados ou de alta densidade”.

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O modal dutoviário: Segundo Ballou(2001, p.1), “é um modal limitado quanto à capacidade

e faixa de serviços. Quanto à consistência pode-se considerar altíssima e requer apenas uma

manutenção preditiva para assegurar esta confiabilidade”. Sua velocidade de transporte é

baixa. Segundoa Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT)o transporte dutoviário

pode ser dividido em:oleodutos, minerodutos e gasodutos. O transportedutoviáriooferece um

rol muito limitado de serviços e capacidade. Segundo Ballou(2003), opetróleo bruto e,

derivados são os principais produtos que têm movimentação economicamente viável por

dutos.

TRANSPORTE INTERMODAL

Transporte intermodal refere-se a todo aquele que requer mais de um tipo de modal numa

mesma operação, sendo um contrato entre o embarcador e o transportador para cada modal

utilizado. Como exemplo,o transporte de carga pode ter início dentro de uma cooperativa.

Ainda na cooperativa, o grão é industrializado e embalado por embalagens primárias (sacos

plásticos) e secundárias (fardos de papelpardo), após isso o transporte é iniciado com uso de

caminhões que levam o produto nestas embalagens até um terminal ferroviário, sendo a

mercadoria acondicionada em container que por sua vez é descarregado em outro terminal

ferroviário, localizado em um grande centro onde segue para a sua entrega ao consumidor, e

para isso, será novamente necessário um novo meio de transporte capaz de desenvolver a

entrega com agilidade e precisão. Assim teve-se primeiramente um transporte rodoviário,

após um ferroviário e por fim outro transporte rodoviário, constituindo um transporte

intermodal.

Ao optar pela intermodalidade/multimodalidade, podem-se utilizar as vantagens de cada

modal para cobrir as desvantagens apresentadas pelos outros, conforme Ribeiro e Bouzada

(2010).

ConformeColeti, (2015), cumpre destacar que o modal rodoviário é o que apresenta menor

capacidade de carga em relação aos demais, sendo necessárias 870 carretas para transportar o

que um comboio com 15 barcaças transportaria utilizando o modal marítimo. A figura abaixo

indica a relação entre a capacidade das cargas:

Figura 1 – Tabela comparativa para a capacidade de carga

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A LOGÍSTICA E A INTERMODALIDADE NO BRASIL

O transporte de cargas representa uma significativa quantia dos custos acrescidos ao valor

final das mercadorias. Tal fato repercute diretamente no aumento dos gastos dos bens diante

da impossibilidade de acesso de parte da população brasileira.

O aprimoramento das infraestruturas e do sistema de transportes, com destaque para a

intermodalidade, significa dinamizar a economia local, regional e nacional, gerando

resultados positivos à toda sociedade. A circulação no território deve ser fluida, evitando se ao

máximo os obstáculos e empecilhos que prejudicam a intensificação dos fluxos materiais e

imateriais e as interações espaciais (CORRÊA, 1997).

A logística de transportes e os meios e vias existentes provocam consequências econômicas e

sociais, variando de acordo com suas características e qualidades. Estão ligados a uma

complexa e imbricada rede de atividades e funções presentes no território, e também

determinam a dinâmica e integração interna e externa (SILVEIRA, 2007). Diante disso, obter

maior eficiência nas práticas gerenciais e a modernização das infraestruturas,são essenciais

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para que a articulação seja intensa e facilitada, visando reduzir os custos com transporte,

assegurar maior segurança e mobilidade, diminuir as perdas e danos nas mercadorias, garantir

o menor tempo de entrega dos bens aos consumidores, qualidade no armazenamento e

transbordo das cargas, cooperação entre os modais de transportes (intermodalidade), entre

outros.

A deficiente matriz de transportes do Brasil e a escassez de políticas de expansão da

intermodalidade representam um empecilho ao desenvolvimento nacional. A intermodalidade

significa um avanço importante quanto ao transporte de passageiros e cargas. A integração

entre rodovias, ferrovias e hidrovias interiores e marítimas, bem como a presença das novas

tecnologias de informação e comunicações, constituem uma base física que permite a

otimização do funcionamento das várias modalidades de transportes, em seus aspectos

operacionais, comerciais e logísticos, visando à reestruturação como alternativa à superação

do Custo Brasil e fomento da produção-distribuição no território.

Vários são os aspectos positivos quanto à escolha dos modais rodoviário, ferroviário e

marítimo para o transporte de determinados tipos de cargas, como grãos, farelos, minérios,

ferro gusa, fertilizantes etc., podendo-se destacar a menor degradação ambiental, valor baixo

do frete, não existência de congestionamentos, baixo índice de acidentes, menor perda de

cargas e maior constância ao longo do trajeto. Por um lado, há redução do custo de transporte

e do preço final dos produtos e, por outro, eleva-se a competitividade das mercadorias nos

mercados nacional e global.

Principalmente a partir da segunda metade dos anos de 1990, várias empresas optaram em

utilizar a intermodalidade como meio de transporte de cargas no Brasil. Verifica-se, a partir

desse período, um relativo aprimoramento da logística e das infraestruturas, visando aumentar

os fluxos materiais e a realização de várias funções de maneira qualificada, tais como: sistema

de transporte integrado de cargas, operacionalização otimizada de terminais, armazenagem,

transbordo, acompanhamento da carga ao longo do trecho via Sistema de Posicionamento

Global (GPS), entre outras.

Ainda de acordo com Silveira (2007, p.138) “a utilização de tecnologias ligadas à informação

é um fator fundamental para a otimização da integração dos modais e atividades diversas,

sendo muito difundidas nos Estados Unidos, Europa e Japão, mas ainda incipientes no

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Brasil”, sendo um fator que conduz, dentre vários aspectos, ao desperdício e perda de parte

das cargas transportadas.

Diante das dimensões continentais do território nacional, é fundamental assegurar maior

mobilidade e fluidez na articulação e integração inter-regionais, bem como dos centros

produtores aos mercados consumidores. É notório que a falta de planejamento e políticas

eficazes no que tange aos transportes são um empecilho ao desenvolvimento nacional, assim,

é imprescindível a criação de novas alternativas e conexões intermodais estruturadas na

cooperação entre os modais rodoviário, ferroviário e hidroviário. Por conseguinte, aumenta-se

a competitividade, redução do preço final dos produtos, geração de novos empregos e o

incremento da renda e do poder de consumo da população.

A intermodalidade favorece o surgimento de novos centros de distribuição e armazenamento

de cargas, criando nós de convergência de mercadorias no espaço. Os novos polos de

concentração de cargas fomentam a circulação e a comercialização da produção regional,

aumentando os fluxos mediante a existência de fixos no espaço. Embora existam

possibilidades que contemplem a utilização de mais de um modal no transporte de cargas no

Brasil, estas iniciativas ainda esbarra em infraestruturas precárias e obsoletas, na lógica de

transportes exacerbadamente rodoviária, na falta de investimentos, ineficiência dos portos e

terminais para integração entre os modais, além da ineficaz logística de distribuição e

armazenamento. Vale ressaltar ainda que a escassez de projetos e planejamento estatais são

barreiras à expansão da intermodalidade no país.

Uma simulação feita por Coleti(2015), de um cenário futuro utilizando a intermodalidade

rodoviária/dutoviária para rotas com destino ao mercado externo indicou que 100% das rotas

de etanol apresentam custo de transporte mais competitivo utilizando a

intermodalidade.Segundo essa autora (2015),ao apresentar custos menores, a intermodalidade

acaba se tornando importante alternativa de transporte. Investimentos no setor são necessários

para manter um nível ótimo de serviço. Para massificar a utilização da intermodalidade, os

investimentos se fazem necessários, pois gargalos em relação à dificuldade de acesso aos

pontos de transbordos, ferrovias sucateadas e escassez dos dutos tendem a ameaçar essa

oportunidade de operar a custos menores.

De acordo com Coleti(2015), embora 2015 não tenha sido um ano de grandes investimentos

em logística, o Programa de Investimento em Logística (PIL) já foi um grande passo, levando

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em conta o corte dos investimentos em obras de transporte e infraestrutura e, por fim, a

iniciativa privada assumiria a partir deste ano, e provavelmente em 2016 o papel de carro-

chefe em relação a novas obras de transporte, principalmente aquelas que privilegiam o

transporte intermodal.

O PROCESSO DE EXPORTAÇÃO DO FERRO GUSA

A produção do ferro gusa na usina siderúrgica é realizada por meio do processo metalúrgico

da redução (consiste na elevação da temperatura do minério, reduzindo-o, em ferro).

Posteriormente o ferro gusa é transformado nas aciarias em aço e, ainda dentro das usinas

integradas (são usinas compostas de Alto forno, Aciaria e laminação) o aço é laminado,

transformado em derivados (vigas, chapas, bobinas, etc.) e transportado de um modo geral via

rodovia e ferrovia para os centros de distribuição, e também sendo exportado através dos

portos para outros países.

O presente artigo refere-se ao acompanhamento in locode uma exportação, com informações

obtidas na empresa exportadora; nas empresas de transporte rodoviário e ferroviário, no

terminal de transbordo na cidade de Colatina-ES, e no porto durante os carregamentos dos

navios. O trecho analisado foi entre Prudente de Morais-MG e o Porto de Tubarão-ES.

Na Usina Siderúrgica Sidergusa, localizada em Prudente de Morais-MG, o processo utilizado

para a retirada do ferro gusa consistia na adoção do sistema intermodal. O material era

transportado por meio de caminhões até o terminal de origem, seguindo depois porferrovia até

a cidade de Colatina-ES. Lá, o material permanecia por alguns dias até o aviso de chegada do

navio, onde o mesmo erarecolocado nos vagões e levado até o porto para ser embarcado.

O transbordo desse material ocorriaem um terminal intermediário entre a Usina produtora e o

Porto. Esse terminal funciona como um estoque regulador,permitindoregular a vazão dos

navios que saem carregados e os que chegam para carregar, evitando assim congestionamento

de navios no portoà espera de embarque.

O carregamento do navio era realizado com a transferência do ferro gusa, das correias

transportadoras, a partir do pátio de estocagem,localizado dentro do próprio porto,para um

equipamento denominado shiploaders que por sua vez, transferia o material para os porões do

navio.

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O Porto de Tubarão

O Porto de Tubarão, considerado na pesquisa,é um portobrasileiro localizado na ponta

geográfica do mesmo nome, na parte continental do município de Vitória, capital do Espírito

Santo. É um terminalgraneleirodo Porto de Vitória. A construção do Porto de Tubarãofoi

iniciada em 1962pela,então empresa de economia mistaVale do Rio Doce, no ano em que

foram assinados os primeiroscontratos de longo prazo para fornecimento de minério de ferro

para o Japão e a Alemanha. Sua construção foi totalmente paga com recursos do Tesouro

Nacional.

O Porto de Tubarão se constituiu num projeto pioneiro, concebido por Eliezer Batista, que

contribuiu para criar um novo processo logístico mundial no transporte de granéis sólidos e

líquidos. A participação do Japão nesse empreendimento foi decisiva e a construção do Porto

de Tubarão é até hoje recordada com simpatia pelos japoneses.

A EXPORTAÇÃO DO FERRO GUSA DE PRUDENTE DE MORAIS-MG AO PORTO

DE TUBARÃO – ES.

A exportação do ferro gusa produzido em Minas Gerais, se dá primeiramente através do

contato comercial das empresas produtorascom as tradingsque comercializam os produtos nos

mais diversos países, através de seus terminais espalhados pelo mundo. Esses terminais

funcionam como entrepostos, e estoquesreguladores para posteriormente serem

comercializados e distribuídos aos seus clientes. Após,concretizadas as vendas nos mais

diversos países, as tradings efetuama compra doferro gusa em diversas cidades de Minas

Gerais, onde concentra o maior polo siderúrgico do Brasil, através de seus escritórios

localizados em Belo Horizonte.Em seguida contratam os armadores (proprietários de navios),

em sequência são contratadas as empresas de acompanhamento, fiscalização, análise e

serviços aduaneiros dos produtos a serem exportados. Essas empresas acompanham todo o

processo de exportação, envolvendo: a marcação do navio;a designação dos lotes de

produtos;a checagem dos pesos nos terminais de origem; a checagem do peso no terminal de

estadia, de acordo com os pesos contratados; a análise química do produto; o

acompanhamento da limpeza do ferro gusa; o acompanhamento do carregamento do navio; o

acompanhamento do sistema de separação dos lotes de produtos nos porões do navio; o

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draftsurveyou arqueamento (checagem do peso carregado)do navio; adistribuição da carga

nos porões para evitar acidentes com o navio e a checagem de toda documentação necessária

para exportação na aduana, etapa esta finalonde se completa a exportação.

MODAIS DE TRANSPORTE UTILIZADOS

Modal Rodoviário

Normalmente é contratado pelo produtor, através de empresas de transporte locais, próximas

às usinas siderúrgicas. São utilizados veículos do tipo caminhões basculantes, trucados, com

capacidades variando entre12 e20toneladas. Esses veículos carregam o ferro gusa dentro das

empresas produtoras e são pesados em balanças nas própriasusinas. Após a pesagem são

emitidos tickets de balança atestando o peso carregado. Os veículos seguem então para o

terminal onde são novamentepesados. Por fim são emitidos novos tickets do terminal, com o

peso recebido. O peso aferido, no terminal, é o que vale para o importador. Por isso o

exportador tem que acompanhar e checar o peso entregue e recebido, pois havendo diferença

tem que tomar providências urgentes porqueo transporte de descida (transporte que é feito

pela ferrovia com destino ao porto)geralmente é ininterrupto e,quando o navio dá o avisode

sua aproximação doporto,o tempo de resposta dos exportadores e do terminal tem que ser

imediato, antes do início da descida do material.

Modal Ferroviário

No caso em tela, somente a mineradoramultinacionalbrasileira, VALE S/A, possui malha

ferroviária até o Porto de Tubarão, além dalogística e meios necessários para exportar ferro

gusa por meio de seu porto. O modal ferroviário caracteriza-se, especialmente, por sua

capacidade de transportar grandes volumes, com elevada eficiência energética, principalmente

em casos de deslocamentos a médias e grandes distâncias. Apresenta ainda maior segurança

em relação ao modal rodoviário, com menor índice de acidentes e menor incidência de furtos

e roubos. São cargas típicas do modal ferroviário:

Produtos Siderúrgicos;

Minério de Ferro;

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Cimento e Cal;

Adubos e Fertilizantes;

Derivados de Petróleo;

Calcário;

Carvão Mineral e Clinquer;

Containers.

Figura 2 - Vista da Malha ferroviária na chegada ao Porto de Tubarão – ES

Fonte:próprio autor

Transbordo Rodoviário/ Ferroviário

Esta etapa consiste na chegada do ferro gusa por meio de caminhões até o terminal de

recebimento, identificado apenas como Terminal, que é localizadonas proximidades das

usinas produtoras, diminuindo os custos de frete, em função da curta distância entre as usinas

produtoras e o terminal. O transbordo propriamente dito ocorre após a chegada do ferro gusa,

no pátio do terminal, sendo este acondicionado, numerado e nomeado de acordo com os lotes

de peso e análise do material, que já é definido previamente pelo exportador.Em seguida é

iniciado o transporte do material do pátio até os vagões, por meio de pás carregadeiras que

despejam os produtos nos vagões. Os vagões são posicionados enfileirados e em quantidades

suficientes, de acordo com volume de carga a ser transportada. Eles ficam em desnível em

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relação ao pátio de estocagem, facilitando o carregamento. Terminado o carregamento, as

locomotivas são acopladas, geralmente em número de quatro, para que se tenha um comboio

de aproximadamente duzentos e quarenta a duzentos e cinquenta vagões, com isto diminui-se

o custo dofrete. Após a totalidade do carregamento inicia-se a saída daslocomotivascom

destino ao pátio de estocagem e transbordo na cidade de Colatina-ES,terminando assim o

processo de estocagem e transbordo.

Figura 3 - Vista do terminal intermediário em Colatina-ES

Fonte: próprio autor

Transbordo Ferroviário/Ferroviário

Este processo consiste no recebimentoe estocagem do ferro gusa no terminal intermediário da

VALE S/A, na cidade de Colatina próxima ao Porto de Tubarão, já localizada no estado do

Espírito Santo. O processoconsiste na chegada dos comboios de locomotivasao terminal, onde

este ferro gusaé descarregado e depositado no pátio, até o aviso dachegada do navio que

geralmente ocorre entre quatro e cinco dias antes do embarque. O processo prossegue com

aretirada do ferro gusa, estocado no pátio, e novo carregamento nos vagões que irão

transportá-lo até o Porto. Nesse processo, como o ferro gusajá foi pesado, não se

pesanovamente, entãocomeça a descida do material até o Porto.

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Modal Marítimo

São utilizados navios de grande porte para exportação de produtos com destinos a diversos

países e continentes, através dos mares e oceanos. O transporte deste tipo de produto, por

envolver elevados custos na exportação, é feito por navios com grande capacidade de carga

variando entre quarenta e setenta mil toneladas, com isso diluindo o preço do frete em função

da quantidade de carga transportada. O transporte marítimo utiliza como vias de passagem os

mares abertos, para o transporte de mercadorias e de passageiros. O transporte marítimo pode

englobar todo o tipo de cargas desde químicos, combustíveis, alimentos, areias, cereais,

minérios e automóveis etc. O Brasil possui vários acordos bilaterais, para regular a navegação

marítima em seu território, como exemplo podemos citar os acordos com os seguintes países:

Alemanha, Argélia, Argentina, Bulgária, Chile, China, Estados Unidos, França, Polônia, etc.

Tais acordos têm o objetivo de igualar os direitos e deveres de cada país no desempenho de

suas atividades marítimas e portuárias. A seguir temos uma foto de um navio já atracado no

Porto de Tubarão.

Figura 4 -Vista do Navioem posição de atracação

Fonte: próprio autor

16

Após toda a checagem da documentação, o navio recebe a liberação para desatracar e o

mesmo é conduzido até a saída do canal pelo chamado prático, que é um comandante

conhecedor de todo o trajeto do canal e dos possíveis bancos de areia e rochas existentes. O

prático fazas manobras necessáriaspara se evitar acidentes, porém o mesmo não tem

autorização para navegar em águas internacionais. Depois de concluída esta etapa o navio é

rebocado por rebocadores até o alto mar e o navio é entregue ao seu comandanteque segue

para o seu destino.

Figura5 -Vista do Navio já carregado e sendo rebocado para o alto Mar

Fonte: próprio autor

CONCLUSÃO

O transporte intermodal, objeto desta pesquisa, é afetado pela falta de investimento no

setor.Será necessário um remanejamento nas estratégias, de forma a buscar alternativas que

compensem essa queda no nível do investimento em um setor tão necessitado. Desta forma, a

utilização da intermodalidade acaba sendo uma alternativa que vem sendo adotada por

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empresas do setorsiderúrgico, assim como no setor agrícola,em relação à redução dos custos

de transporte e otimização de rotas.

Na cadeia produtiva têm-se numa ponta as usinas produtoras, de outro lado o porto e, no meio

um transporte intermodal pouco eficiente que limita o escoamento dos produtos,

aumentandoapermanência de navios atracados acarretandono congestionamentodos portos

com navios a espera de embarque, gerando custos desnecessários, aumentando assim o custo

Brasil para exportação, tornando-o pouco eficientes em termos de exportação.

O planejamento de uma matriz de transportes mais eficiente e a mobilização pública e privada

para a efetivação dessa diretriz pode representar o rompimento de antigos paradigmas

políticos e a efetivação de um novo ciclo de desenvolvimento para a nação brasileira. Sendo a

ferrovia e a cabotagem modos de transporte com menor custo do que a rodovia, mudanças na

matriz brasileira fariam com que as mercadorias chegassem às prateleiras com custo menor,

podendo atingir, assim, preços menores de venda. Com preços menores, o poder aquisitivo da

população, dado pela renda disponível, subiria sem qualquer aumento salarial, permitindo a

compra de mais unidades. A consequência disso seria direta. Com mais consumo haveria mais

compras pelos distribuidores, o que implicaria no aumento da produção. O resultado seria

observado na forma de maiores investimentos no aparelho produtivo e no aumento de

emprego, gerando mais renda disponível na economia.

Para se-obter um transporte eficiente e com baixo custo, no trecho pesquisado,seria necessária

a ampliação da malha rodoviária existente, facilitando o escoamento dos produtos, aabertura

da malha ferroviária do trecho compreendido entre Minas e Vitória para outras empresas

possibilitando o aumento da concorrência e a consequente diminuição do preço do

frete.Também, a construção de mais terminais intermediários e a expansão dos portos com a

implementação de equipamentos portuários mais eficientes para o bom desempenho do

transporte como um todo.

Ressalta-se que o Brasil, apesar de deter infraestrutura para exportar os mais diversos

produtos, inclusive ferro gusa, requerinvestimentos em transportes, como a expansão da

malha ferroviária, rodoviária e a melhoria dainfraestrutura dosportos, fazendo com que os

custos se reduzam tornando o País mais competitivo.

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Paraum melhoraprofundamento num assunto de tamanha relevânciae, que impacta tanto na

economia dos transportes no que tange a exportação, estudos e pesquisas se fazem

necessários, poisnão há material de pesquisa disponível relativo à exportação de ferro gusa no

trecho pesquisado.

REFERÊNCIAS

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