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1 PARASITOLOGIA MÉDICA 9. TREMATÓDEOS; FASCIOLA HEPATICA. Complemento multimídia dos livros “Parasitologia” e “Bases da Parasitologia Médica”. Para a terminologia, consultar “Dicionário de termos técnicos de Medicina e Saúde”, de Luís Rey Fundação Oswaldo Cruz Instituto Oswaldo Cruz Departamento de Medicina Tropical Rio de Janeiro

TREMATÓDEOS; FASCIOLA HEPATICA

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TREMATÓDEOS; FASCIOLA HEPATICA.

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  • PARASITOLOGIA MDICA9. TREMATDEOS; FASCIOLA HEPATICA.Complemento multimdia dos livros Parasitologia e Bases da Parasitologia Mdica. Para a terminologia, consultar Dicionrio de termos tcnicos deMedicina e Sade, de

    Lus ReyFundao Oswaldo CruzInstituto Oswaldo CruzDepartamento de Medicina TropicalRio de Janeiro

  • Helmintos parasitos do homemA espcie humana parasitada freqentemente por alguns helmintos dos filos Platyhelminthes e Nematoda.Os Platyhelminthes tm simetria bilateral, corpo achatado dorsoven-tralmente e um tegumento formado por um sinccio anucleado, limitado externamente por dupla membrana. A insere-se grande nmero espinhos. Pontes citoplsmicas unem o sinccio a clulas mergulhantes nucleadas localizada no parnquima.Sob o sinccio h uma camada de fibras musculares que asseguram a locomoo do helminto.Tegumento de Platyhelminthes, com um espinho (E) implantado na camada sincicial, e tendo por baixo a camada muscular. Cm, clulas mergulhantes.

  • Os TrematodaOs Trematoda so helmintos Platyhelminthes, dotados de corpo no segmentado. Somente na subclasse Digenea h espcies de interesse mdico e que sero objeto de nosso estudo.Eles no possuem cavidade geral (isto , so acelomados).Os diferentes rgos inter-nos ficam mergulhados e sustentados, in loco, por um parnquima formado de clulas estreladas que ocupam todo o interior desses helmintos.Entre as clulas encontra-se um lquido intersticial em que circulam os materiais nutri-tivos.Tambm no dispem de sistema esqueltico, respira-trio ou circulatrio. O digestrio, simples ou ramificado, termina geralmente em fundo cego, sem nus. Trocas metablicas podem ocorrer, tambm, atravs do tegumento.Em sua grande maioria, so organismos hermafroditas com aparelhos genitais complexos.

  • Os TrematodaO sistema digestrio compreende a boca no fundo da ventosa oral (a), seguida da faringe musculosa (b), esfago (c) e do intestino (d).O acetbulo ou ventosa ventral (e) pode ocupar posies variadas.O sistema reprodutor feminino compe-se de um ovrio (f), o canal de Laurer (g), que por vezes o rgo copulador feminino; o receptculo seminal (h), o otipo (i) cercado pelas glndulas de Mehlis, o tero (j) e as glndulas vitelgenas (k) com seus ductos (l).Os rgos masculinos so: 2 testculos (m), canais eferentes (n), um deferente (o) e bolsa do cirro (p), envolvendo um segmento prosttico (q) e o cirro (r), que se abre no trio genital (s), em comum com o tero (j).O sistema excretor compreende solenci-tos (t), ductos (u), uma vescula (v) e seu poro excretor (x).Esquema em que foram representadas as glndul-as vitelinas e o sistema excretor de um s lado, para maior clareza do desenho.

  • Ciclo vital dos trematdeosO verme adulto (A) pe ovos (B) que, embrionados, liberam no meio lquido uma larva ciliada, o miracdio (C). Este nada, at penetrar em um molusco hospedeiro, perdendo seu epitlio ciliado e adotando a forma sacular: o esporocisto (D). No interior deste, forma-se, por brotamento, uma 2 gerao larvria as rdias capazes tambm de formar rdias de 3 gerao (E).Estas rdias (F) produzem uma nova gerao larvria as cercrias (G) que voltam ao meio aqutico e nadam at penetrarem em um hospedeiro vertebrado (hospedeiro definitivo). Ou encistam-se na vegetao (ou outros animais) so as metacercrias (H) que, ingeridas por determinados vertebrados, transformam-se a final nos estdios juvenis do trematdeo (I) que evoluem para vermes adultos (A). Algumas espcies no apresentam todas as fases aqu mencionadas.

  • Fasciola hepatica e fasciolase

  • Fasciola hepaticaO homem pode ser hospedeiro ocasional de diversos trematdeos de animais. Porm, a Fasciola hepatica que um parasito de herbvoros (principalmente bovi-nos, ovinos e caprinos) a que mais freqen-temente produz infeces na espcie humana. A doena recebe os nomes de fasciolase, fasciolose ou distomatose heptica.O verme adulto, de aspecto foliceo e cor acinzentada, mede 2 a 4 cm de comprimento, sendo achatado dorsoventralmente e com extremidades afiladas. Possui uma ventosa oral (a) e pouco atrs uma ventosa ventral ou acetbulo (b).Seu sistema digestrio extremamente ramificado, tendo incio na ventosa oral e bifurcando-se logo aps o esfago para formar dois canais longitudinais (c) que se ramificam abundantemente, formando inme-ras terminaes cecais. No h nus.Esquema de uma Fasciola hepatica com destaque para o sistema digest-rio

  • Fasciola hepaticaO sistema reprodutor hermafrodita, mas prevalece a fecundao cruzada. Os rgos femininos compre-endem o poro genital (a) seguido do tero enovelado (b) e ligado ao otipo (c) por um curto oviduto. O ovrio nico e ramificado (d).Ao otipo vm ter os canais (e) das glndulas vitelognicas em cacho e muito abundantes (f), que ocupam todas as regies marginais do helminto.Os rgos masculinos pos-suem um cirro (a) envolvido pela bolsa do cirro (b). A vm ter os 2 canais defe-rentes, cada qual ligado a um dos testculos ramificados (d), dispostos em linha na regio central da fascola.Esquema dos rgos femininos da Fasciola hepatica.Esquema dos rgos masculinos com um s testculo (o poste-rior) representado.

  • Ciclo vital da FasciolaO verme adulto vive na vescula e canais biliares dos vertebrados, que ficam inflamados e dilatados. Ele se nutre-se de bile e de tecidos necrosados. Cada helminto produz entre 4 mil e 50 mil ovos por dia. Esses ovos, arrastados pela bile, saem com as fezes, eclo-dindo depois de embrionarem na gua de pntanos e charcos onde pastam seus hospedeiros (sobretudo carneiros e bovinos). Os miracdios infectam molus-cos de gua doce do gnero Lymnaea, onde se multiplicam, produzindo rdias e cercrias. As cercrias saem ao fim de 2 meses, nadam pouco tempo e logo se encistam (metacercrias) aderidas em geral vegetao.Graas proteo assegurada pelas glndulas cistgenas, as metacercrias podem sobreviver at serem ingeridas, com o pasto, por novos hospedeiros. O ciclo, segundo Markel et al.

  • FasciolasePATOLOGIAA Fasciola hepatica poucas vezes infecta o homem, o que parece decorrer de certo grau de resistncia natural.Tambm o nmero de hel-mintos costuma ser pequeno, mas a eosinofilia intensa e os testes imunolgicos soem ser bem positivos.As leses precoces resul-tam da migrao das larvas.As metacercrias eclodem no intestino, atravessam sua parede e, a partir da cavidade peritoneal, perfuram a cpsula de Glisson, invadindo o fgado.Neste, abrem tneis que produzem inflamao, absces-sos eosinoflicos, necrose e fibrose. Ao atingirem a luz dos ca-nais biliares ou da vescula, ai se instalam, crescem e as fmeas adultas pem ovos.Ento, causam dilatao e hipertrofia das paredes, infla-mao, leses vasculares e necrose tecidual em torno.A vescula biliar pode estar normal ou dilatada, com colecistite ou colelitase.Nas formas mais graves, h cirrose biliar, compresso e atrofia dos tecidos adjacen-tes, formao de adenomas e insuficincia heptica.Migraes errticas, raras, podem levar as fascolas aos pulmes, produzindo dispnia ou asfixia; mas tambm a outros rgos.

  • FasciolaseSINTOMATOLOGIA

    O perodo de incubao varia, com o nmero de hel-mintos, entre 6 e 9 semanas, com quadro clnico polimorfo.Na fase aguda, h poucos sintomas, muito vagos, poden-do se passarem quatro meses sem sintomatologia. Mas h leucocitose e inten-sa eosinofilia; hemossedimen-tao aumentada; por vezes, febre alta e aumento doloroso do fgado. As provas de funo hepti-ca esto, em geral, alteradas, havendo hipergamaglobuline-mia.No hospedeiro humano, as fascolas podem viver 9 a 13 anos. Na fase crnica, uma longa histria clnica costuma su-gerir colecistite, angiocolite, calculose ou outros quadros digestivos crnicos.Sintomas freqentes so: dor abdominal localizada no hipocndrio direito, anorexia e dispepsia, evacuaes pou-co freqentes ou constipa-o intestinal. A febre em geral baixa. Aparece ictercia quando se instala uma colelitase obstrutiva. Pode haver hepatospleno-megalia e emagrecimento.Os quadros graves so devidos a infeco ou obstru-o biliar.

  • FasciolaseDIAGNSTICOO quadro clnico mais sugestivo compreende febre, eosinofilia (> 5.000 eosinfilos/mm), aumento do fgado e dor no hipocndrio direito.Em pequenos surtos epidmicos, possvel relacionar os casos com uma refeio coletiva em que se consumiu agrio contaminado.Mas um diagnstico seguro requer o encontro de ovos do parasito nas fezes ou no suco duodenal obtido por son-dagem (na bile B e C principalmente). Utilizar tcnicas de concentrao e repetir os exames se necessrio, dada a escassez de ovos.Uma confuso diagnstica pode ser devida alimentao das pessoas com fgado de animal infectado. Os ovos de Fasciola transitam, ento, pelo tubo digestivo sem eclodir e so eliminados com as fezes do paciente. O ovo de Fasciola (130-150 m) possui casca fina e oprculo em um dos plos (seta). O embrionamento, faz-se no meio aqutico, em geral, em 10 a 20 dias.

  • FasciolaseTRATAMENTOOs medicamentos empregados so:Triclabendazol, via oral, 2 vezes no mesmo dia, com 6 a 8 horas de intervalo, depois das refeies.Deidroemetina, como para o tratamento da amebase.

    EPIDEMIOLOGIAA fasciolase uma zoonose cosmopolita, muito freqente no gado ovino, caprino e bovino, bem como em outros herbvoros, causando grandes prejuzos econ-micos para a pecuria.Os casos humanos registrados no mundo reduzem-se a alguns milhares. No Brasil, foram notificados pouco mais de meia centena, a maioria no Paran.Admite-se que muitos casos fiquem desconhecidos porque os mdicos no pensam nessa infeco, porque o diagnstico difcil ou porque aceitam-se outras explicaes para seu quadro clnico.

  • FasciolaseECOLOGIA E CONTROLEAs condies para a existncia dessa endemia encontram-se por toda parte, mas sobretudo em climas subtropicais e temperados. No Brasil a enzootia extende-se do Rio Grande do Sul a Minas Gerais.O ecossistema em que se criam as fascolas o de campos com alagados e reas pantanosas, ha-bitadas por mo-luscos de gua doce do gnero Lymnaea e onde haja criao de ovinos ou de bovinos.

  • FasciolaseOs perodos de chuvas so os melhores para a transmisso. As metacercrias requerem umidade e suportam melhor as temperaturas baixas que as superiores a 25C, podendo viver meses na forragem mida.

    Para prevenir a infeco humana, basta que todo o agrio consumido venha de hortas cercadas e irrigadas de modo a impedir o acesso e a poluio fecal pelo gado.No usar adubo animal nessas culturas.O gado pode ser tratado com triclabendazol.A gua de beber, nas regies endmicas, deve ser tratada ou submetida filtrao.Conchas de moluscos do gnero Lymnaea, hospedeiros de Fasciola hepatica.

  • Leituras complementaresACHA, P.N. & SZYFRES, B. Zoonosis y enfermedades transmi-sibles comunes al hombre y a los animales. 2a edio. Washington, Organizacin Panamericana de la Salud, 1997.REY, L. Bases da Parasitologia. 2a edio. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2002 [380 pginas].REY, L. Parasitologia. 3a edio. Rio de Janeiro, Editora Guanabara, 2001 [856 pginas].THIENPONT, D.; ROCHETTE, F. & VANPARIJS, O.F.J. Diagnosing helminthiasis by coprological examination. Beerse, Belgium, Janssen Research Fondation, 1986.