20
1 UMA ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DOS IMIGRANTES NO MUNICÍPIO DE MANAUS POR ORIGEM E ESCOLARIDADE A PARTIR DOS DADOS DO CENSO DEMOGRÁFICO DE 2010 PALAVRAS-CHAVES: Fluxo migratório Desigualdades Urbanas Manaus Kaique Falcão 1 Escola Nacional de Ciências Estatísticas ENCE/IBGE 1 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE). Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).

UMA ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DOS IMIGRANTES NO …abep.org.br/xxencontro/files/paper/351-297.pdf · 2016-09-03 · CENSO DEMOGRÁFICO DE 2010 ... Kaique Falcão1 Escola Nacional

  • Upload
    dophuc

  • View
    216

  • Download
    0

Embed Size (px)

Citation preview

1

UMA ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DOS IMIGRANTES NO MUNICÍPIO DE

MANAUS POR ORIGEM E ESCOLARIDADE A PARTIR DOS DADOS DO

CENSO DEMOGRÁFICO DE 2010

PALAVRAS-CHAVES: Fluxo migratório – Desigualdades Urbanas – Manaus

Kaique Falcão1

Escola Nacional de Ciências Estatísticas – ENCE/IBGE

1 Mestrando no Programa de Pós-Graduação em População, Território e Estatísticas Públicas da Escola Nacional de Ciências Estatísticas (ENCE/IBGE). Bolsista da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Amazonas (FAPEAM).

2

UMA ANÁLISE DA DISTRIBUIÇÃO DOS IMIGRANTES NO MUNICÍPIO DE

MANAUS POR ORIGEM E ESCOLARIDADE A PARTIR DOS DADOS DO

CENSO DEMOGRÁFICO DE 2010

RESUMO:

O artigo tem como principal objetivo analisar a distribuição dos imigrantes por Zonas e

Áreas de Ponderação de Manaus a partir dos microdados do Censo Demográfico de

2010. Pretende-se então compreender como os imigrantes estão distribuídos no

município de acordo com a origem e o nível de instrução. O trabalho está estruturado

numa revisão de literatura que aborda a migração em Manaus, seguida pela metodologia

e os resultados. Os imigrantes analisados por esta pesquisa são os não-naturais de data

fixa, ou seja, com cinco anos ou menos de residência, e com idade igual ou superior a

25 anos. Os resultados da pesquisa apontam para uma predominância de imigrantes

procedentes da Região Norte (69,3%), principalmente do próprio Estado do Amazonas e

do Pará. Observa-se que as zonas norte e leste abrigam 68,9% dos imigrantes menos

escolarizados e uma baixa concentração de imigrantes da Região Sudeste. Por outro

lado, em quatro áreas de ponderação situadas nas zonas oeste e centro-sul, mais de 35%

dos imigrantes apresentam, pelo menos, nível superior completo. Em todo o município,

37,4% dos imigrantes não tiverem instrução ou não completaram o ensino fundamental

e 13,3% completaram o nível superior. Conclui-se que a distribuição espacial destes

imigrantes não é uniforme ao considerar a procedência e o nível de instrução.

PALAVRAS-CHAVES: Fluxo migratório – Desigualdades Urbanas – Manaus

INTRODUÇÃO

Após o colapso da economia da borracha no segundo decênio do século XX, a

cidade de Manaus entrou num processo de decadência econômica e de baixo

crescimento demográfico. Antes um centro de atração migratória, a cidade perdeu sua

pujança econômica e, consequentemente, sua atratividade. A cidade só viera a ganhar

um novo impulso econômico com o projeto “Operação Amazônia”, criado logo após o

Golpe Militar de 1964. Sob o slogan integrar para não entregar, o governo militar

abriu caminho para articular “o tripé da economia brasileira, formada pelo capital

3

estatal, privado nacional e privado estrangeiro, representado pelos grandes monopólios

multinacionais” (STELLA, 2009, p. 88).

Para o Estado do Amazonas, o principal resultado desta política foi a criação de

uma área de livre comércio de importação, exportação e incentivos fiscais em sua

capital, a Zona Franca de Manaus – ZFM, implementada pelo Decreto-Lei 288/67. A

partir de então, a ZFM transformou-se no principal motor do crescimento econômico do

Estado e por grande parte do crescimento populacional da cidade de Manaus (MOURA;

MOREIRA, 2001).

A industrialização da capital foi responsável por atrair, novamente, um grande

volume de imigrantes. Como resultado desta política, nos anos 70, a imigração teve

quase o mesmo peso no crescimento populacional que o incremento vegetativo –

respectivamente, 3,6% e 3,8% ao ano (MOURA; MELO, 1990). De acordo com

Andrade (2012),

[...] tal força de atração tem contribuído significativamente para que, a cada

censo demográfico, deparemo-nos com a multiplicação dos índices

populacionais [na cidade de Manaus] que são incrementados continuamente

pelos fluxos migratórios (ANDRADE, 2012, p. 88).

Se por um lado há argumentos que a ZFM é a principal responsável pela

preservação da floresta amazônica pertencente ao Amazonas, defendido por Homma

(2005), Benchimol (2000, 2009) e Becker (2001, 2005); por outro é sabido que a

expansão do núcleo urbano de Manaus foi responsável por fortes impactos ambientais e

sociais, sendo este processo relacionado com os movimentos migratórios para a cidade,

como apontam os estudos de Andrade (2012) e Nazareth, Brasil e Teixeira (2011).

Tendo em vista o contexto de crescimento do município, este trabalho tem por

objetivo analisar a distribuição dos imigrantes pelas Áreas de Ponderação em Manaus

de acordo com a região de origem e o nível de instrução dos imigrantes com mais de 25

anos, partindo da hipótese que as pessoas procedentes da Região Norte e com menor

escolaridade concentram-se nas Áreas de Ponderação mais carentes do município.

REVISÃO DA LITERATURA

Apesar de admitir que a urbanização das principais cidades da Amazônia inicia-

se após a década de 20, consequência da decadência da economia da borracha,

Benchimol (2009) reconhecem que a ZFM foi decisiva para a urbanização de Manaus.

Desta forma, existe uma clara relação entre a criação da ZFM, o aumento do volume

4

migratório e a urbanização do município (BENCHIMOL, 2009; LIMA; VALLE, 2013;

MOURA; MOREIRA, 2001; MOURA; MELO, 1990).

No cenário nacional, observa-se que durante a década de 1960 a população

urbana no Brasil superou a rural, ilustrando o rápido processo de urbanização

desencadeado no país a partir da segunda metade do século XX (BRITO, 2009).

Atenuando as desigualdades regionais e socioeconômicas no país, este processo

impulsionou o crescimento das cidades de modo definitivo, assim como as transformou

“não só como o locus privilegiado das atividades econômicas e da residência da

população, mas, também, como centro de difusão dos novos padrões de relações sociais

[...] e de estilos de vida” (BRITO, 2009, p. 12). Para o autor, as migrações internas no

Brasil foram decisivas na integração do território nacional, facilitadas pela expansão dos

sistemas de transportes e de comunicação, tendo como centralidade os grandes

aglomerados urbanos.

A criação da ZFM exigiu do Governo Federal uma série de investimentos em

infraestrutura capaz de atrair o capital privado – nacional e estrangeiro – e a força de

trabalho exigida pela atividade industrial local (SERÁFICO; SERÁFICO, 2005; LIMA;

VALLE, 2013).

A atividade industrial é dependente de determinadas infraestruturas essenciais

para seu pleno funcionamento como água, energia, transportes, comunicações, entre

outros. Uma vez que estas infraestruturas são disponibilizadas em um local por meio de

arranjos institucionais, este torna-se atrativo para a instalação de indústrias que passam

a compartilhar destes serviços, surgindo assim, uma aglomeração espacial da atividade

industrial. (SINGER, 1980). Desta forma, o surgimento de cidades industriais, como

Manaus, está relacionado com um “mecanismo de rearranjo espacial da população que

se adapta, em última análise, ao rearranjo espacial das atividades econômicas”, ainda

que não se possa desconsiderar o papel das instituições e o processo histórico (SINGER,

1980, p. 219).

Os arranjos institucionais que promovem a aglomeração industrial tendem a

provocar desigualdades regionais e, assim, um intenso movimento do campo para as

cidades (SINGER, 1980). Deste ponto de vista, as migrações internas devem ser

compreendidas “como um processo social inter-relacionado com outros processos

globais” (OLIVEIRA; STERN, 1980, p. 261); não podendo desassociá-las dos

processos de urbanização e de industrialização, e analisadas para além do local de

5

origem e destino do migrante, sendo importante inseri-las dentro de um contexto

regional (OLIVEIRA; STERN, 1980; GERMANI, 2010).

As cidades que se industrializam já apresentavam alguma relevância urbana,

possuindo algumas infraestruturas necessárias para a indústria (SINGER, 1980). Não

obstante, muito antes da ZFM, a economia da borracha deu expressividade urbana a

Manaus, destacando-a dentro do Brasil (STELLA, 2009).

Com a ZFM, além do intenso movimento migratório para Manaus, a economia

do Estado do Amazonas tornou-se dependente do município, atraindo – e concentrando

– a maior parte dos investimentos e das infraestruturas. Assim, foi possível verificar

uma acelerada urbanização e concentração populacional na capital, além de uma forte

dependência de sua economia por quase todo o interior do Estado (BENCHIMOL,

2000; 2009; MOURA; MELO, 1990).

A urbanização é um processo complexo e a migração é um dos fenômenos de

maior relevância dentro deste processo; não apenas pelo fato de grande parte do

crescimento urbano ter sido causado pelos movimentos populacionais, mas também

porque estes movimentos devem ser compreendidos como “uma expressão de mudanças

básicas que estão transformando o mundo, tornando um planeta de aldeias e desertos em

um planeta de cidades e metrópoles” (GERMANI, 2010, p. 466, TRADUÇÃO

LIVRE2).

A abordagem de Germani (2010) enquadra-se na experiência vivenciada por

Manaus. Com a ZFM, o município passou a atrair desde mão-de-obra especializada de

importantes centros urbanos como Rio de Janeiro e São Paulo e empresários dispostos a

investir no município – sem contar a migração internacional, com os japoneses e os sul-

coreanos que foram residir na cidade para trabalhar em empresas orientais [como

Honda, Yamaha, Samsung, entre outras], assim como mão-de-obra menos qualificada

oriunda dos interiores do Amazonas e do Pará – além de outras áreas das regiões Norte

e Nordeste – que foram atrás de oportunidades nas unidades fabris (LIMA; VALLE,

2013; BENCHIMOL, 2009).

Independente das argumentações positivas que se possam fazer à Zona Franca

de Manaus, não há dúvidas que a expansão do núcleo urbano impulsionada pela

aglomeração de atividades industriais e comerciais no município gerou fortes impactos

ambientais e sociais (HOMMA, 2005; BENCHIMOL, 2000; 2009). A forte

2 “es una expresión de los cambios básicos que están transformando al mundo, convirtiendo a un planeta de aldeas y desiertos en un planeta de ciudades y metrópolis” (GERMANI, 2010, p, 466).

6

concentração populacional no município em detrimento ao interior do Estado do

Amazonas aumentou a pressão sobre o governo local que não conseguiu impedir o

crescimento da miséria e da marginalização social na capital (BENCHIMOL, 2000;

2009).

A constatação de Benchimol (2000; 2009) é coerente com a abordagem de

Singer (1980). Para este autor, o adensamento da ocupação humana no espaço urbano

cria novas demandas sobre os governos para ampliar os serviços urbanos, entretanto

[...] a carência dos serviços urbanos [...] recai sobre as camadas mais pobres

da população, pois o mercado imobiliário encarece o solo das áreas melhor

servidas, que ficam deste modo “reservadas” aos indivíduos dotados de mais

recursos e... às empresas, naturalmente (SINGER, 1980, p. 222).

Alguns estudos apontam que a expansão deste núcleo está intimamente

relacionada à grande entrada de imigrantes no município e, desta forma, a imigração

estaria relacionada, também, com o aumento da favelização e, consequentemente, da

segregação residencial em Manaus (ANDRADE, 2012; NAZARETH; BRASIL;

TEIXEIRA, 2011; SOUSA, 2007; FIGUEIREDO; LOPES; BASTOS, 2013).

Para se estabelecerem no centro urbano de Manaus, os imigrantes com baixo

poder aquisitivo encontraram nos igarapés da cidade uma alternativa de habitação, “em

especial por sua estratégica localização, pois parte dos canais estão próximos ao centro

de Manaus, como o Igarapé dos Educandos, o Igarapé de São Raimundo, o Igarapé de

Manaus, área mais bem provida de serviços e equipamentos” (SOUSA, 2007, p. 11).

Entretanto, a invasão dos igarapés centrais do município retrata um primeiro

momento de favelização. Para Sousa (2007) a cidade de Manaus não foi preparada para

o intenso incremento populacional, não sendo capaz de atender a crescente demanda por

serviços de saúde e educação, habitação e emprego. Este incremento, então, forçou a

expansão do município para as zonas norte e leste, áreas com severas carências de

infraestrutura e serviços. Sousa (2007) observa que em 2000, de acordo com os dados

do Censo Demográfico daquele ano, Manaus apresentava 26 aglomerados subnormais –

ou seja, favelas, invasões e assemelhados –, onde se contabilizou 31.084 domicílios.

Considerando os imigrantes que se dirigiram ao município atraídos pelas

oportunidades de empregos ofertados pela ZFM, observa-se que nem todos foram

absorvidos por este mercado de trabalho e, desta forma, passaram a compor os números

do desemprego, do subemprego e da marginalidade, aumentando a miséria e

impulsionando as áreas de favela (HOMMA, 2005; ANDRADE, 2012; SOUSA, 2007;

BENCHIMOL, 2009).

7

Ao analisar os fluxos migratórios, Singer (1980) observam que não há garantias

que todos os imigrantes serão absorvidos pelo mercado nas áreas consideradas de

atração. Se, por um lado, há a hipótese que muitos imigrantes não possuem as condições

exigidas pelo mercado, por outro, há a hipótese que os fluxos migratórios decorrentes da

industrialização produzem uma oferta de mão de obra superior a demanda (SINGER,

1980). No caso da primeira hipótese, a adaptação do migrante ao novo meio em que

vive pode levá-lo a superar os obstáculos e se integrar ao processo produtivo capitalista.

No caso da segunda hipótese, a exclusão de grande parte dos migrantes dos processos

produtivos capitalista é parte do próprio desenvolvimento capitalista (SINGER, 1980).

Assim,

[...] tudo isso significa que a migração se converte em um fator de

marginalização de setores cada vez mais amplos da população urbana, em lugar de funcionar como canal de mobilidade da população, dos setores

menos produtivos para os setores mais produtivos (OLIVEIRA; STERN,

1980).

No Brasil observa-se uma forte segregação de classes nos espaços urbanos das

principais cidades brasileiras, seguindo um padrão centro x periferia, onde o centro

apresenta uma concentração de classes mais altas e a maior parte dos serviços urbanos

públicos e privados, enquanto a periferia, sem a mesma disponibilidade de serviços,

torna-se o destino dos socialmente excluídos (VILLAÇA, 2001). Compreende-se por

segregação “a concentração dentro de uma mesma área residencial, de pessoas que

reúnem características semelhantes entre si” (GIST; FAVA, 1968, p. 159, TRADUÇÃO

LIVRE3). A segregação seria consequência de um conflito envolvendo a posição social

e a distribuição espacial dentro de uma mesma cidade, determinando, assim, o espaço –

e a possibilidade – em que os indivíduos irão viver (GIST; FAVA, 1968).

Deste ponto de vista, é importante a reflexão que o espaço importa e a

segregação socioeconômica pode ter impactos na vida de crianças, jovens e adultos, seja

no desempenho educacional ou no mercado de trabalho, entre outros (FLORES, 2006).

Além disso, a segregação pode influenciar fortemente nas relações sociais devido a

separação causada pelas diferenças, pois, quanto maior a segregação espacial entre as

pessoas, menores são as probabilidades que estas desenvolvam algum contato íntimo

(GIST; FAVA, 1968).

3 [...] la concentración dentro de una misma área residencial, de personas que reúnen características semejantes entre sí (GIST; FAVA, 1968, p. 158).

8

É importante compreender que a segregação espacial não nasce com o

capitalismo moderno, porém este altera a escala deste fenômeno a níveis inéditos até

então. As disparidades econômicas, de poder e de status provocadas pelo capitalismo

moderno acentuaram as diferenças entre os grupos sociais e estas se refletiram – e

refletem – no espaço, influenciando onde os indivíduos pertencentes a cada grupo irá

viver (SOUZA, 2007).

Desta forma, a segregação espacial projeta-se nos espaços residenciais, onde o

local em que se deseja viver não se traduz como uma livre escolha para todos. A

indução dos membros das classes mais pobres a residir nas áreas mais distantes dos

centros4, onde existe carência de infraestruturas, comparadas às áreas mais

desenvolvidas, os expõem à estigmatização por seu local de moradia – geralmente

favelas, periferias, entre outros – apresentando reflexos no relacionamento entre as

diferentes classes sociais e até mesmo na autoestima coletiva dos mais pobres (SOUZA,

2007). Entretanto, é importante reconhecer que a segregação espacial não se dá por

áreas habitadas exclusivamente por um mesmo grupo, deve-se entender a existência de

um grupo preponderante, mas não totalitário (GIST; FAVA, 1968; SOUZA, 2007).

A segregação pode ser voluntária ou involuntária. Como voluntária, entende-se

o indivíduo que, por sua própria iniciativa, escolhe viver próximo de pessoas que

compartilham características semelhantes a si – ou então por prestígio, pela sensação de

segurança, por relações emocionais com o local, pela falta de identificação com outros

lugares (GIST; FAVA, 1968). Como segregação involuntária, entende-se o indivíduo –

ou família – que por lei e/ou costumes se vê obrigado a residir numa área ou impedido

de residir em outras; ou por questões econômicas – que as vezes pode se configurar

como uma técnica de segregação – que o leva a não ter condições de viver no local que

gostaria (GIST; FAVA, 1968).

A pesquisa de campo de Figueiredo, Lopes e Bastos (2013) realizada com

moradores do bairro Nova Vitória5, situado na zona leste de Manaus, ajuda a

compreender a questão da segregação voluntária e involuntária no município. As

autoras relatam que

4 Entende-se por “centro” a área onde situam-se as principais infraestruturas urbanas – sejam públicas ou privadas – e atividades econômicas/business. 5 O bairro Nova Vitória não é oficialmente reconhecido pelo município de Manaus, estando inserido em outro bairro chamado Gilberto Mestrinho. Com 33.000m

2, o “bairro” surgiu por meio de ocupações

irregulares, ocasionando uma grande degradação ambiental pelas famílias que foram residir no local.

9

[...] o caso da ocupação Nova Vitória comprova que, o processo de invasão

de terras apresenta várias faces e uma complexidade que foge ao alcance das

políticas públicas [...] na complexidade desse processo e no seu cenário,

encontramos a formação de grupos com líderes que planejam desde a escolha

do terreno a ser invadido (FIGUEIREDO; LOPES; BASTOS, 2013, p. 14).

As habitações construídas no bairro Nova Vitória eram precárias e improvisadas.

Os moradores do “bairro” justificaram a sua ocupação devido a um sentimento de

habitar num local fixo, ainda que em condições precárias. As autoras destacam,

também, terem captado um sentimento de culpa por parte dos moradores por não

possuírem uma moradia e, desta forma, possuir uma moradia seria um símbolo de

"inclusão”, uma luta pela cidadania, ainda que sob péssimas condições sanitárias e um

ambiente de forte vulnerabilidade social (FIGUEIREDO; LOPES; BASTOS, 2013).

As autoras acreditam que casos como o da ocupação do bairro Nova Vitória têm

sua raiz no processo migratório desencadeado pela criação da Zona Franca de Manaus.

Por fim, elas concluem que a segregação residencial é uma das principais responsáveis

pela ocupação ilegal de terras por todo o país (FIGUEIREDO; LOPES; BASTOS,

2013).

Ao analisar os imigrantes em Manaus por classes de renda de acordo com o

Censo Demográfico de 2000, Nazareth (2012) observa que a zona leste – onde há

grande carência de infraestruturas urbanas – era a área com maior retenção migratória

no município, e também, onde havia a maior proporção de imigrantes sem rendimento.

Outra pesquisa, de Nazareth, Brasil e Teixeira (2011), sobre a relação entre o

crescimento populacional de Manaus e as migrações ocorridas nos anos de 1990 –

também através dos dados do Censo Demográfico de 2000 – apontam que os imigrantes

com mais de dez anos de residência no município viviam nas áreas mais centrais, onde a

infraestrutura urbana é maior. Os imigrantes com menos de dez anos de moradia

residiam nas áreas mais afastadas deste centro, onde há grande carência de

infraestruturas – principalmente, a zona leste da cidade – e onde ocorreu um grande

crescimento populacional. Entretanto, os autores não determinam se esta espacialidade

está relacionada com os preços das terras ou com as redes sociais que atuam na cidade.

METODOLOGIA

Para atingir o objetivo deste trabalho foi necessário definir duas classificações:

imigrantes e escolaridade. Ou seja, todos os imigrantes foram classificados por sua

10

origem – municípios, unidades federativas e regiões geográficas – e por sua

escolaridade, para cada Área de Ponderação do município de Manaus.

Em seguida, tornou-se necessário identificar quais imigrantes seriam

selecionados para este estudo, definindo, assim, três critérios de inclusão: indivíduos

não nascidos no município de residência (não naturais) – ao trabalhar com saldos e

fluxos migratórios em mesorregiões de Minas Gerais, Rigotti (2000) também

recomenda a não inclusão de imigrantes de retorno –, que residiam no município de

Manaus há cinco anos ou menos (imigrantes de data fixa) e com idade igual ou superior

a 25 anos.

Desta forma, foi possível excluir os imigrantes de retorno e os imigrantes que

residem há muito tempo no município ou filhos de imigrantes que chegaram muito

novos ao município de residência. Os imigrantes internacionais também não foram

considerados para esta análise. A escolha pelo filtro de idade justifica-se no fato que

pessoas com 25 ou mais anos possuem idade suficiente para ter concluído o nível

superior e, também, para eliminar jovens e crianças que poderiam aumentar a

quantidade de imigrantes com baixa escolaridade, mesmo estas estando numa série

coerente com sua idade.

De acordo com os microdados do censo demográfico de 2010, para identificar e

quantificar a origem dos imigrantes de data fixa, as variáveis que serviram de filtros

foram: V0002 – município de residência, V6036 – idade calculada em anos completos e

V0618 – nasceu neste município. Na primeira variável, foram selecionados apenas os

residentes na cidade de Manaus na data de referência do Censo, na segunda variável

aqueles maiores de 25 anos e na terceira variável, aqueles que não nasceram no

município de Manaus. Após estes filtros, realizou-se a leitura dos dados cruzando duas

variáveis: V0011 – área de ponderação e V6262 – UF de residência em 31 de julho de

2005. Desta forma, foi possível obter as informações de origem dos imigrantes para

cada área de ponderação, consolidando os dados das UF´s nas cinco regiões geográficas

brasileiras. Ressalva-se aqui que o termo origem não está sendo empregado como o

município – ou UF – de nascimento do imigrante, mas sim a origem considerando sua

última residência. Destaca-se que a variável V6264 – município de residência em 31 de

julho de 2005 também foi utilizada, porém as análises dos resultados darão prioridades

para os dados consolidadas em regiões geográficas.

Para o recorte de escolaridade foi utilizada a variável V6400 – nível de

instrução, que categoriza a escolaridade da seguinte forma:

11

1 – Sem escolaridade e fundamental incompleto;

2 – Fundamental completo e médio incompleto;

3 – Médio completo e superior incompleto;

4 – Superior completo;

5 – Não determinado.

Desta forma, as informações de escolaridade foram geradas através do

cruzamento com os dados de origem por UF – posteriormente consolidado por regiões

geográficas – e áreas de ponderação.

ANÁLISE DOS RESULTADOS

O Censo Demográfico de 2010 captou 562.988 pessoas não naturais de Manaus

– aproximadamente 31% da população. Destes, 92.719 – 16,5% – são imigrantes de

data fixa e considerando apenas as pessoas com 25 anos ou mais de idade, chega-se a

41.959 imigrantes residentes há cinco anos ou menos. Entre os imigrantes de data fixa

não há diferença não há diferença significativa por sexo, sendo 50,75% são homens e

49,25% são mulheres.

De acordo com a Tabela 1, destaca-se que 69,3% destes imigrantes são

provenientes da própria Região Norte – principalmente do interior do Estado do

Amazonas e do Estado do Pará – 11,5% tem procedência na Região Nordeste e 11,9%

na Sudeste. As Regiões Centro-Oeste e Sul representam, respectivamente, 3,8% e 3,4%

da procedência destes migrantes.

Das 33 Áreas de Ponderação a Região Norte é a procedência mais frequente com

exceção de duas – cuja maior frequência foi a Região Sudeste – são elas: São

Jorge_Vila da Prata e Betância_Crespo_São Lázaro_ Vila Buriti. É importante

esclarecer que nestas duas áreas encontram-se as sedes do Exército e da Marinha – em

ambas as áreas, mais de 50% destes imigrantes são militares.

Além destas duas Áreas, outras três destacam-se por mais da metade dos

imigrantes não serem procedentes da Região Norte, são elas:

Aleixo_Adrianópolis_Nossa Senhora das Graças, Parque 10 de Novembro e Dom Pedro

I_São Geraldo_Chapada. Estas três Áreas são regiões de classe média alta apresentando

muitos condomínios residenciais. Destaca-se, também, a concentração de imigrantes

procedentes da Região Centro-Oeste nas três Áreas de Ponderação da Zona Centro-Sul

– apenas nestas residem 31,6% destes imigrantes. Por outro lado, oito Áreas de

12

Ponderação que compõem a Zona Leste e as sete que pertencentes a Zona Norte

apresentam, no mínimo, 75% dos imigrantes procedentes da própria Região Norte,

sendo a Região Nordeste a segunda mais frequente na maior parte destas Áreas.

Tabela 1: Procedência dos imigrantes de data fixa por Regiões Geográficas nas Áreas de

Ponderação de Manaus (%)

ZONA DESCRIÇÃO DA ÁREA DE PONDERAÇÃO

REGIÃO

Norte Nordeste Sudeste Sul Centro-

Oeste

Centro-Sul

Aleixo_Adrianópolis_Nossa Senhora das Graças 45,4 8,6 25,1 5,6 15,3

Flores 54,2 10,8 16,4 7,0 11,6

Parque 10 de Novembro 30,9 23,4 26,0 7,9 11,8

Leste

Distrito Industrial I e II_Puraquequara_Col. Antonio Aleixo_Mauazinho 93,4 2,7 3,9 0,0 0,0

Armando Mendes_Zumbi dos Palmares 85,3 10,1 1,3 3,3 0,0

Coroado 80,1 6,1 7,0 4,4 2,3

São José Operário 82,8 5,6 7,5 4,1 0,0

Tancredo Neves 82,1 13,2 4,7 0,0 0,0

Jorge Teixeira 84,6 12,8 0,0 0,8 1,8

Novo Aleixo 78,6 10,5 4,7 2,9 3,3

Gilberto Mestrinho 76,7 8,0 8,8 4,9 1,6

Norte

Lago Azul_Santa Etelvina 75,3 17,4 2,8 4,5 0,0

Cidade de Deus 82,2 16,4 1,5 0,0 0,0

Cidade Nova 76,8 9,5 9,0 0,0 4,7

Monte das Oliveiras 76,7 23,3 0,0 0,0 0,0

Col. Santo Antônio_Novo Israel 78,6 9,5 9,2 0,0 2,7

Col. Terra Nova 82,3 10,2 0,0 0,0 7,6

Nova Cidade 94,6 3,4 1,9 0,0 0,0

Oeste / Centro-Oeste

Compensa 61,9 3,4 20,6 10,3 3,9

Alvorada 76,3 14,2 5,9 2,8 0,9

Dom Pedro I_São Geraldo_Chapada 41,5 30,1 19,1 7,3 2,0

Glória_Santo Antonio_São Raimundo_Presidente_Vargas 81,7 11,7 1,6 5,0 0,0

Nova Esperança_Santo Agostinho 56,4 10,4 16,4 10,0 6,7

Lírio do Vale_Planalto_Ponta Negra 69,4 2,5 23,3 0,0 4,8

Redenção_Da Paz 74,1 11,2 6,7 2,1 5,9

Tarumã_Tarumã-Açu_Manaus (demais setores) 80,3 11,4 6,3 2,0 0,0

São Jorge_Vila da Prata 33,4 4,4 41,3 18,4 2,5

Sul

Col. Oliveira Machado_Educandos_Santa Luzia, Morro da Liberdade 59,9 4,3 19,5 7,3 8,9

Cachoeirinha_Praça 14 de Janeiro_Raiz 62,9 9,4 17,8 10,0 0,0

Centro_Nossa Senhora Aparecida 50,5 10,4 18,3 13,7 7,1

São Francisco_Petrópolis 67,8 9,6 14,1 0,0 8,5

Japiim 61,7 20,4 9,1 2,5 6,3

Betânia_Crespo_São Lázaro_Vila Buriti 18,0 19,9 55,7 4,4 1,9

TOTAL 69,3 11,5 11,9 3,8 3,4

FONTE: IBGE (2010). Microdados da Amostra – Censo Demográfico 2010.

13

O Gráfico 1 apresenta a distribuição dos imigrantes de data fixa no município de

Manaus. A Área de Ponderação Cidade Nova e Jorge Teixeira destacam-se com as

maiores concentrações de imigrantes, 6,8% e 6,5%, respectivamente. Outras áreas como

a Cidade de Deus (5,1%), Novo Aleixo (3,9%), São José Operário (3,8%), Alvorada

(3,9%) e Betânia_Crespo_São Lázaro_Vila Buriti (4,6%). Por Zona, a Zona Centro-Sul

abriga 8,4% destes imigrantes, a Zona Leste 28,2%, a Zona Norte 23,9%, as Zonas

Centro-Oeste e Oeste 24,5% e a Zona Sul 15,0%.

Gráfico 1: Distribuição percentual dos imigrantes de data fixa no município de Manaus

por Área de Ponderação, 2010

FONTE: IBGE (2010). Microdados da Amostra – Censo Demográfico 2010.

14

Esta mesma distribuição, porém inserida no recorte de procedência por Região,

traz outras informações. Quando analisada somente os imigrantes da Região Norte, as

Áreas de Ponderação que se destacam continuam sendo Jorge Teixeira (8,1%), Cidade

Nova (7,7%) e Cidade de Deus (5,1%). Entre as Áreas com menor concentração estão

as regiões mais desenvolvidas da cidade: Aleixo_Adrianópolis_Nossa Senhora das

Graças (1,9%), Dom Pedro I_São Geraldo_Chapada (1,6%), Parque 10 de Novembro

(1,1%) e São Jorge_Vila da Prata (1,1%).

Por outro lado, entre os imigrantes da Região Sudeste destacam-se com maior

participação as Áreas de Ponderação Betânia_Crespo_São Lázaro_Vila Buriti (22,0%),

São Jorge_Vila da Prata (7,7%), Aleixo_Adrianópolis_Nossa Senhora das Graças

(6,2%) e Parque 10 de Novembro (5,5%). Os menores percentuais destes imigrantes são

encontrados nas Zonas Norte e Leste, com exceção da Cidade Nova (5,3%) e São José

Operário (2,5%) nenhuma outra Área ficou acima de 2,0%. Já os imigrantes da Região

Nordeste apresentam semelhanças com as duas distribuições. Destacam-se as Áreas de

Ponderação Betânia_Crespo_São Lázaro_Vila Buriti (8,1%), Jorge Teixeira (7,3%),

Dom Pedro I_São Geraldo_Chapada (6,9%) e Cidade de Deus (6,8%).

Desta forma, enquanto os imigrantes da Região Norte concentram-se nas Áreas

mais carentes da cidade, os da Região Sudeste concentram-se nas mais desenvolvidas.

Entretanto, os imigrantes da Região Nordeste distribuem-se forma mais uniforme, não

demonstrando o mesmo padrão dos outros.

Quanto ao recorte de escolaridade, a Tabela 2 fornece informações por Áreas de

Ponderação. Observa-se que 37,4% dos imigrantes no município de Manaus não

tiveram instrução ou não concluíram o Ensino Fundamental, enquanto 13,3% possuem

ao menos Superior Completo. Porém, o nível de instrução dos imigrantes não é

uniforme entre as Áreas de Ponderação. Em algumas Áreas mais de 70,0% dos

imigrantes apresentam pelos menos o Ensino Médio completo: Betânia_Crespo_São

Lázaro_Vila Buriti (85,3%), São Jorge_Vila da Prata (74,6%),

Aleixo_Adrianópolis_Nossa Senhora das Graças (77,8%), Parque 10 de Novembro

(81,3%), Dom Pedro I_São Geraldo_Chapada (82,8%) e Cachoeirinha_Praça 14 de

Janeiro_Raiz (76,2%).

Inversamente, cinco Áreas de Ponderação – todas das Zonas Norte e Leste –

apresentam mais de 70,0% de imigrantes com no máximo ensino médio completo, são

elas: Distrito Industrial I_Distrito Industrial II_Puraquequara_Colônia Antonio

15

Aleixo_Mauazinho (76,8%), Armando Mendes_Zumbi dos Palmares (76,4%), Tancredo

Neves (79,8%), Jorge Teixeira (73,1%) e Monte das Oliveiras (73,2%).

Tabela 2: Imigrantes de data fixa por nível de instrução nas Áreas de Ponderação do

município de Manaus (%)

ZONA DESCRIÇÃO DA ÁREA DE PONDERAÇÃO

NÍVEL DE INSTRUÇÃO

Sem

Instrução e

Fundamental

Incompleto

Fundamental

Completo e

Médio

Incompleto

Médio

Completo

e Superior

Incompleto

Superior

Completo

Não

Determinado

Centro-

Sul

Aleixo_Adrianópolis_Nossa Senhora das Graças 9,3 13,0 33,9 43,9 0,0

Flores 38,8 6,0 31,0 19,6 4,6

Parque 10 de Novembro 6,1 12,6 39,0 42,3 0,0

Leste

Distrito Industrial I e II_Puraquequara_Col. Antonio Aleixo_Mauazinho 64,7 12,1 19,2 3,9 0,0

Armando Mendes_Zumbi dos Palmares 57,7 18,7 23,6 0,0 0,0

Coroado 24,9 15,5 45,2 6,3 8,2

São José Operário 43,7 12,7 37,8 4,3 1,5

Tancredo Neves 66,1 13,7 20,2 0,0 0,0

Jorge Teixeira 57,4 15,7 25,7 1,2 0,0

Novo Aleixo 47,8 19,1 31,6 1,5 0,0

Gilberto Mestrinho 53,3 9,9 30,5 6,3 0,0

Norte

Lago Azul_Santa Etelvina 59,8 7,1 28,2 4,9 0,0

Cidade de Deus 53,8 11,3 33,8 0,0 1,2

Cidade Nova 36,6 21,4 28,4 13,0 0,6

Monte das Oliveiras 51,9 21,3 26,8 0,0 0,0

Col. Santo Antônio_Novo Israel 46,7 17,2 30,2 5,8 0,0

Col. Terra Nova 50,6 15,5 29,3 4,6 0,0

Nova Cidade 37,2 21,3 27,9 13,6 0,0

Oeste /

Centro-

Oeste

Compensa 33,3 9,6 46,2 9,4 1,6

Alvorada 34,9 13,7 33,8 16,2 1,5

Dom Pedro I_São Geraldo_Chapada 10,4 6,8 44,3 38,4 0,0

Glória_Santo Antonio_São Raimundo_Presidente_Vargas 38,1 18,1 33,2 10,7 0,0

Nova Esperança_Santo Agostinho 28,1 17,6 33,6 20,8 0,0

Lírio do Vale_Planalto_Ponta Negra 19,8 21,6 35,3 23,2 0,0

Redenção_Da Paz 35,6 20,7 27,6 16,1 0,0

Tarumã_Tarumã-Açu_Manaus (demais setores) 51,6 16,0 23,6 8,8 0,0

São Jorge_Vila da Prata 10,0 15,3 38,6 36,0 0,0

Sul

Col. Oliveira Machado_Educandos_Santa Luzia, Morro da Liberdade 29,0 18,7 34,7 17,6 0,0

Cachoeirinha_Praça 14 de Janeiro_Raiz 11,0 12,8 62,6 13,7 0,0

Centro_Nossa Senhora Aparecida 21,4 11,3 44,2 23,0 0,0

São Francisco_Petrópolis 21,7 11,7 32,8 29,4 4,3

Japiim 25,6 6,3 52,7 15,4 0,0

Betânia_Crespo_São Lázaro_Vila Buriti 8,3 6,4 58,1 27,2 0,0

TOTAL 37,4 14,4 34,2 13,3 0,7

FONTE: IBGE (2010). Microdados da Amostra – Censo Demográfico 2010.

16

Quanto ao recorte de escolaridade por Região, o Gráfico 2 informa que os

imigrantes das Regiões Sudeste e Sul são os que apresentam o maior percentual de

imigrantes com Superior Completo, respectivamente, 37,7% e 35,5%; e o menor

percentual de imigrantes sem instrução e com Fundamental incompleto,

respectivamente, 7,7% e 17,9%. Por outro lado, os imigrantes das regiões Norte e

Nordeste são os que apresentam o maior percentual de imigrantes sem escolaridade ou

Fundamental incompleto, respectivamente, 45,1% e 35,0%; e o menor percentual de

imigrantes com Superior Completo, respectivamente, 6,9% e 17,5%.

Gráfico 2: Percentual de imigrantes de data fixa por regiões geográficas de origem e

escolaridade

FONTE: IBGE (2010). Microdados da Amostra – Censo Demográfico 2010.

A análise conjunta das variáveis origem e nível de instrução revela que 31,8%

dos imigrantes de data fixa com Ensino Superior completo procedentes da Região Norte

17

residem nas Zonas Norte e Leste da cidade. Este mesmo recorte para os imigrantes

procedentes da Região Nordeste e Sudeste cai, respectivamente, para 13,9% e 7,8%.

Quando muda-se o recorte de escolaridade para “sem instrução e fundamental

incompleto”, 71,5% dos imigrantes de data fixa procedentes da Região Norte residem

nas Zonas Norte e Leste. O mesmo recorte revela 74,7% dos imigrantes procedentes da

Região Nordeste e 37,9% dos imigrantes da Região Sudeste, residem nestas mesmas

Zonas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve por objetivo contribuir para uma melhor compreensão

da relação entre a imigração e o espaço urbano de Manaus, considerando a escolaridade

destes imigrantes. Constatou-se que a distribuição dos imigrantes de data fixa em

Manaus não apresenta uniformidade quando analisada pela região de origem e pela

escolaridade.

Assim como os estudos de Sousa (2007), Nazareth, Brasil e Teixeira (2011),

Nazareth (2012), apontam as Zonas Norte e Leste como as mais carentes da cidade, esta

pesquisa indica que estas mesmas zonas apresentam os imigrantes menos escolarizados.

Entretanto, esta relação não se dá apenas no recorte de escolaridade. Os dados do Censo

Demográfico de 2010 indicam que mais da metade dos imigrantes procedentes da região

Norte concentram-se nas Áreas de Ponderação das zonas norte e leste da cidade de

Manaus. Estas mesmas zonas são a residência de quase metade dos imigrantes

nordestinos. Por outro lado, estas concentram 18,4% dos imigrantes da região Sudeste.

Destaca-se, também, o volume migratório interno do Amazonas. Entre todos

imigrantes de data fixa em Manaus, 33,9% são procedentes de municípios do interior do

Estado. Outro destaque é o Estado do Pará, sendo a procedência de 22,1% destes

imigrantes. Estes dados são coerentes com as análises de Andrade (2012) que,

analisando dados de 2000, destaca o volume do movimento migratório do interior do

Amazonas para a capital.

Por fim, os dados sobre escolaridade e procedência destes imigrantes indicam

que há uma relação entre procedência do imigrante, escolaridade e espacialidade na

cidade de Manaus. Os imigrantes que destinam-se as áreas mais carentes da cidade não

são apenas os que apresentam menor escolaridade. Considerando que 31,8% dos

imigrantes da região Norte com nível superior residem nestas zonas, os dados de origem

18

destes imigrantes também devem ser considerados. Desta forma, é possível que haja

uma forma de rede que atue sobre estes movimentos.

REFERÊNCIAS:

ANDRADE, A. O. Migração para Manaus e seus reflexos socioambientais.

Somanlu, Manaus, n. 12, p. 85-102, 2012.

BECKER, B. K. Geopolítica da Amazônia. Estudos Avançados, São Paulo, v. 19, n.

53, p. 71-86, 2005.

________. Revisão das políticas de ocupação da Amazônia: é possível identificar

modelos para projetar cenários? Parcerias Estratégicas, Brasília, v. 6 n. 12, p. 135-

159, 2001.

BENCHIMOL, S. A Amazônia e o terceiro milênio. Parcerias estratégicas, Brasília, n.

9, p. 22-34, 2000.

________. Amazônia: formação social e cultural. 3 ed. Manaus: Editora Valer, 2009.

CARVALHO, J. A. M.; RIGOTTI, J. I. R. Os dados censitários brasileiros sobre

migrações internas: algumas sugestões para análise. Revista Brasileira de Estudos

Populacionais, n. 2, v. 15, 1998.

BRITO, F. As migrações internas no Brasil: um ensaio sobre os desafios teóricos

recentes. Belo Horizonte: UFMG/CEDEPLAR, 2009.

FIGUEIREDO, S. C. G.; LOPES, R. H.; BASTOS, M. F. S. A insustentabilidade das

ocupações urbanas irregulares em Manaus. X Encontro da Sociedade Brasileira de

Economia Ecológica, Vitória, 2013.

FLORES, C. Consequências da segregação residencial: teoria e métodos. In: Novas

metrópoles paulistas: população, vulnerabilidade e segregação. José Marcos Pinto da

Cunha (org.). Campinas: Núcleo de Estudos Populacionais/UNICAMP, 2006.

GERMANI, G. Asimilación de migrantes en el medio urbano – aspectos teóricos y

metodológicos. In: Gino Germani – la sociedad en cuestión. Carolina Mera e Julián

Rebón (org.). Buenos Aires: Consejo Latinoamericano de Ciencias Sociales, 2010.

GIST, N. P.; FAVA, S. F. La sociedad urbana. Barcelona: Ediciones Omega SA,

1968.

19

HOMMA, A. K. O. Amazônia: como aproveitar os benefícios da destruição. Estudos

Avançados, São Paulo, v. 19, n. 54, p. 115-135, 2005.

IBGE. Documentação do Censo Demográfico 2010. 2010.

IBGE. Microdados do Censo Demográfico 2010. 2010.

LIMA, J. C.; VALLE, M. I. M. Espaços da globalização: Manaus e as fábricas na

Amazônia. Contemporânea, São Carlos, v. 3, n. 1, p. 73-88, 2013.

MOURA, H. A.; MELO, M. L. Migrações para Manaus. Recife: Massangana, 1990.

MOURA, H. A.; MOREIRA, M. M. A população da região Norte: processos de

ocupação e de urbanização recentes. Parcerias Estratégicas, v. 6, n. 12, p. 214-238,

2001.

NAZARETH, T. Desigualdade de renda e migrações em Manaus: um estudo

comparativo entre migrantes e não-migrantes. XVIII Encontro Nacional de Estudos

Populacionais, Águas de Lindóia, 2012.

NAZARETH, T.; BRASIL, M.; TEIXEIRA, P. Manaus: crescimento populacional e

migrações nos anos 90. Revista Paranaense de Desenvolvimento, Curitiba, n. 121, p.

201-217, 2011.

OLIVEIRA, O.; STERN, C. Notas acerca de la teoria de las migraciones internas;

aspectos sociológicos. In: Migração interna: textos selecionados. Hélio Moura (org.).

Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 1980.

RIGOTTI, J. I. R. Estimativas de saldos e fluxos migratórios a partir do Censo

Demográfico de 1991: uma aplicação para as mesorregiões de Minas Gerais.

Revista Brasileira de Estudo de População, v. 17, n. 2, p.119-140, 2000.

SERÁFICO, J.; SERÁFICO, M. A Zona Franca de Manaus e o capitalismo no

Brasil. Estudos Avançados, São Paulo, v. 19, n. 54, p. 99-113, mai/ago, 2005.

SILVA, E. A. Política de integração nacional e desenvolvimento urbano local: o

caso da Zona Franca de Manaus. 158 f. Escola Nacional de Ciência Estatísticas, Rio

de Janeiro, ENCE: 2007.

SINGER, P. I. Economia política e urbanização. In: Migração interna: textos

selecionados. Hélio Moura (org.). Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil, 1980.

20

SOUSA, N. M. B. Manaus no século XXI: modernização, urbanização e

desigualdade social. XII Encontro da Associação Nacional de Pós-graduação e

Pesquisa em Planejamento Urbano e Regional, Belém, 2007.

SOUZA, M. L. ABC do desenvolvimento urbano. 3 ed. Rio de Janeiro: Bertrand

Brasil, 2007.

STELLA, T. H. T. A integração econômica da Amazônia (1930-1980). Dissertação de

Mestrado. 227 f. Instituto de Economia, Campinas, UNICAMP: 2009.

VILLAÇA, F. Espaço intra-urbano no Brasil. São Paulo: Studio

Nobel/FAPESP/Lincoln Institute, 2001.