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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
Projeto “A Vez do Mestre”
CIDADANIA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS
DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Por
ELAINE VIANNA DE MENEZES BRITTO
Orientador: Mary Sue Pereira
RIO DE JANEIRO
JANEIRO/2005
ELAINE VIANNA DE MENEZES BRITTO
CIDADANIA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS
DA EDUCAÇÃO INFANTIL
RIO DE JANEIRO
JANEIRO/2005
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
Projeto “A Vez do Mestre”
CIDADANIA E AS MÚLTIPLAS LINGUAGENS
DA EDUCAÇÃO INFANTIL
Por
ELAINE VIANNA DE MENEZES BRITTO
Monografia apresentada a Universidade
Cândido Mendes como requisito parcial
para Conclusão do Curso de Educação
Infantil e Desenvolvimento.
Orientador: Mary Sue Pereira
RIO DE JANEIRO
JANEIRO/2005
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais, por terem desenvolvido em
mim noções de fraternidade, solidariedade, respeito e
igualdade;
ao meu marido, parceiro de todas as horas pela
tolerância ao tempo que lhe foi roubado;
à minha sobrinha, pela enorme ajuda e apoio.
METODOLOGIA
O presente estudo, realizado a partir de pesquisa bibliográfica, busca
encontrar soluções para a falta de conteúdos específicos para o trabalho com a
diversidade cultural e cidadania na Educação Infantil. Revisa aspectos teóricos e
práticos das várias linguagem deste segmento, convocando o leitor a refletir sobre como
estas linguagens por sua ludicidade poderão funcionar como facilitadores no
desenvolvimento do tema.
RESUMO
O presente trabalho tem por objetivo suscitar a reflexão de todos os
envolvidos no processo educacional para como as questões sociais e culturais estão
sendo tratadas nas classes de Educação Infantil e no dia-a-dia da Escola. A preocupação
com os conteúdos dutos finais, leva ao esquecimento temas como: o respeito à
diferenças, solidariedade, ética e cidadania. É importante esclarecer que estes conteúdos
não acontecem desvinculados das chamadas “formas” na Educação Infantil. A cidadania
pode ser o tema central, ao redor do qual todos os outros se desenvolvem. As múltiplas
linguagens da Educação Infantil são todos os instrumentos mais legítimos e funcionam
como facilitadores para o desenvolvimento de um currículo pautado nas questões
sociais. A escola funciona como mediadora para colocar a criança em contato com
manifestações culturais (seja de música, arte e literatura), levando as crianças a
desenvolverem o senso crítico e a criatividade, fundamentais para a construção da
cidadania.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO .........................................................................................................1
Capítulo 1. A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL............................................4
Capítulo 2. LITERATURA INFANTIL - A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA....28
Capítulo 3. ARTE E IDENTIDADE .........................................................................47
CONCLUSÃO ...........................................................................................................62
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................64
INTRODUÇÃO
“Sou sobrevivente de um campo de concentração. Meus olhos viram o que nenhuma pessoa deveria presenciar
câmaras de gás construídas por engenheiros ilustrados. Crianças envenenadas por médicos instruídos.
Bebês mortos por enfermeiras treinadas. Mulheres e bebês mortos a tiros por ginasianos e universitários.
Assim desconfio da Educação. Meu pedido é o seguinte: ajudem os seus discípulos a serem humanos.
Os seus reforços nunca deverão produzir monstros cultos, psicopatas hábeis ou Eichmans instruídos.
Ler e escrever, saber História e Aritmética só são importantes se servem para tornar os nossos estudantes humanos”.
(Autor Desconhecido)
Desde o nascimento, as crianças estão em íntimo contato com uma
cultura específica. A forma como o adulto cuida delas, os brinquedos que lhe são
oferecidos, a forma como é acalentada, as canções que ouve, as brincadeiras das quais
participa, vão inserindo-as em uma cultura, formando costumes, valores éticos e morais.
A família, primeira matriz social, tem papel fundamental , servindo de mediadora entre
a criança e a sociedade. O papel assumido pela criança na família e na sociedade vem
mudando no decorrer dos anos. Segundo Philipe Ariès, na sociedade tradicional, a
criança vivia numa espécie de anonimato. A infância só durava enquanto a criança
necessitava de cuidados essenciais. Quando adquiria alguma autonomia, já era
misturada aos adultos, afastada de sua família, muitas vezes indo morar separada desta.
Os valores, conhecimento e socialização não eram assegurados pela família. O que tinha
que ser aprendido era feito nas praxes , num meio social que incluía vizinhos, amos,
amigos, criados etc. No final do século XVII, ocorreram mudanças consideráveis. “A
escola substituiu a aprendizagem na educação”. A criança não mais aprendia ajudando
aos adultos, ela agora freqüentava a Escola. A família passou a dar o devido valor à esta
instituição e a se interessar pelos estudos dos filhos. Conseqüentemente a criança saía
do anonimato, e a família se organizava em torno dela. Esse comportamento também se
refletiu nas artes. Até o século XII, a criança era representada com músculos e
expressões de homens, como adultos em tamanho reduzido.
Segundo Emile Durkhein, as consciências individuais são formadas pela
sociedade. “A construção do ser social, feita em boa parte pela educação, é a
assimilação pelo indivíduo de uma série de normas e princípios – sejam morais,
religiosos, éticos ou de comportamento – que balizam a conduta do indivíduo num
grupo. O homem, mais do que formador da sociedade, é um produto dela”. De acordo
com esta teoria, as normas sociais e cultura local estão relacionadas com a educação.
Da mesma forma que o nome, características físicas e principalmente
história pessoal e familiar nos diferem uns dos outros e marcam nossa identidade, de
igual modo, as manifestações culturais, diferem os povos entre si.
Uma das características da sociedade brasileira é o hibridismo étnico que
influenciou decisivamente nossa cultura e favoreceu o pluralismo. A forma como a
criança é inserida e apresentada à ela, favorecerá a construção e a valorização de sua
identidade cultural ou por outro lado, reforçará estereótipos que estimulam
preconceitos.
A tendência de uma sociedade sem identidade cultural é absorver estes
estereótipos como verdades absolutas, por não terem parâmetros para comparar,
questionar, avaliar e criticar. Não se trata de privar às crianças o acesso à elementos
culturais de outros povos, mas acima de tudo, dar-lhes oportunidade de conhecer e
apreciar as manifestações culturais tipicamente brasileiras e valorizar os povos que a
influenciaram.
Como dito anteriormente, quando a criança ingressa na Educação
Infantil, possui valores morais e éticos oriundos de sua família que muitas vezes é
preconceituosa. Algumas crianças na mais tenra idade, já sofrem preconceitos e
discriminações, por serem gordos, magros, altos, baixos, brancos, negros, deficientes,
preconceitos estes que poderão se perpetuar por toda a vida, pois a maneira que uma
criança vê a si própria, depende da maneira como é vista pelos outros.
A escola precisa estar atenta e o professor consciente de sua função
social para impedir que estas discriminações, preconceitos, falta respeito e intolerância
ocorram, pois talvez residam aí, as violências que presenciamos hoje como, bulyings de
Columbine, e as guerras entre cristãos e muçulmanos.
Colocar a criança em contato com a pluralidade de nossa cultura e de
outras, é portanto caminho mais genuíno e viável para a formação do cidadão, e uma
educação para a cidadania tem como objetivo, promover a igualdade e não estabelecer
distinções sociais.
Viver socialmente não é portanto tomar como paradigma padrões
estéticos, comportamentais e atitudinais pré-estabelecidos ou impostos, mas acima de
tudo, saber perceber e respeitar características individuais e culturais, por mais
diferentes e estranhas que a nós possam parecer.
O presente trabalho consiste em propor uma reflexão aos educadores
acerca de como a diversidade cultural brasileira está sendo apresentada às crianças e
aproveitada para a construção de identidade e cidadania. Os contos populares, canções,
as expressões ingênuas das artes plásticas e as danças, representam ricos temas
educativos, além de serem eixos de transdisciplinaridade, não devendo se restringir a
suporte para criação de hábitos, datas comemorativas, meros passatempos sem
significados, aulas de música ou de artes visuais.
Capítulo 1
MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL
DIVERSIDADE E PLURALIDADE CULTURAL
A música está presente na vida do homem e na cultura desde tempos
remotos. Nos séculos passados ocupavam lugar de destaque na vida quotidiana. As
crianças eram apresentadas a ela muito cedo e era comum a prática de um instrumento.
“Quando a ceia terminou e, segundo o costume, foram trazidas as partituras para a mesa, a dona de casa me designou uma parte, e pediu-me muito seriamente para cantar. Eu tive de me desculpar muito e confessar que não sabia: todos pareceram tão surpresos, e alguns chegaram a cochichar no ouvido dos outros, perguntando -se onde eu havia sido educado”. (Tomas Morley. Apud Philippe Ariès in Watson)
Philippe Ariès nos mostra em seu estudo iconográfico que as crianças
eram representadas com instrumentos nas mãos. A música, fazia parte dos meios sociais
nobres, burgueses e também nos mais populares, e também entre camponeses e até
mendigos. “Vimos que Luiz XIII, aos 3 anos, dançava a galharda, a sarabanda e a velha
bourré”; (Philippe Ariès, 1978, p. 102)
Desde o nascimento a criança está em contato com o som, o ritmo e a
melodia, através da voz da mãe, do pai, e de seus sons vocais, nas cantigas de ninar, os
sons das primeiras palavras, a sonoridade de seu nome ou sons do ambiente (brinquedos
e natureza). Estes sons produzem diferentes reações na criança recém-nascida. Cantigas
de ninar são capazes de adormecê-las, sons estranhos despertam sua atenção e os fazem
reagir a eles pela movimentação corporal. Um pouco mais tarde é possível perceber a
emoção causada por uma canção triste e a animação produzida por uma mais ritmada.
Em contato desde cedo com a música a criança percebe a diferença de ritmos e melodias
construindo assim sua experiência musical e levando-a a apreciar, pensar e produzir sua
própria música. As crianças devem expressar-se musicalmente desde os primeiros anos
de vida.
Um equívoco ainda freqüente na Educação Infantil consiste em resumir o
ensino de música ao cantar e escutar o que está pronto, em propor músicas sem sentido
para as crianças ou utilizar a música sempre em função de outras coisas. Seja na
imitação de gestos para homogeneizar o tempo, para aquisição de hábitos,
comportamentos e conteúdos (cantar na hora da merenda, da entrada, para lavar as mãos
etc.). Outro “objetivo” muito comum encontrado é a “estruturação do esquema corporal,
orientação espacial etc”, a partir da imitação de gestos sugeridos por algumas canções –
“de olhos vermelhos e pêlo branquinho, orelhas bem grandes, eu sou coelhinho..., eu
pulo pra frente, eu pulo pra trás...”.
Esquema e imagem corporal, orientação espacial não são estruturados
pelo simples fato de apontar as partes do corpo ou dar pequenos saltos para frente e para
trás durante a execução das músicas, e sim a partir de vivências e experiências corporais
tão presentes em situações concretas no cotidiano infantil. O que geralmente ocorre
nestas situações, é que as crianças passam a cantar de forma repetida, gritada, e
mecanicamente, sem escutar o que estão cantando. E a real preocupação de professor
por sua vez, é conter a turma. Utilizar a música com estes objetivos, é uma forma
disfarçada de poder e não pode ser confundido com ensino de música. Os movimentos
que acompanham estas canções são estereotipados geralmente com modelos sugeridos
pelo professor (façam como eu faço), comuns a todas as crianças e portanto sem
expressividade, fazendo com que estas se acomodem com modelos impostos, limitando
e contradizendo o conceito de criatividade. “IMITAR NÃO É EXPRESSAR”.
A música na Educação Infantil deve ser entendida como uma linguagem, uma
forma de comunicação e expressão. As atividades musicais devem ser
experiências vivas, agradáveis, enriquecedoras. Além de cantar, dançar, a
criança precisa manusear objetos sonoros, expressar-se musicalmente e
corporalmente, adequar o movimento ao ritmo das músicas, criar instrumentos
musicais e melodias, para que a música possa ser uma faculdade permanente. O
que é imprescindível na educação musical é escutar!
1.1. Música e Movimento
Música e Movimento são Inseparáveis!
Movimento é vida interna e externamente. O fluxo de sangue que corre
em nossas veias, a contração e descontração dos pulmões e coração, movimentos que
realizamos desde a concepção até a morte, é o sopro do vento nas plantas as ações dos
seres animados, o fluir dos rios e das marés a rotação da terra e o movimento do
universo. O ser humano vive em constante movimento.
Gradativamente o homem foi perdendo a capacidade de usar o corpo
como instrumento da percepção do mundo. Desde cedo a criança tem uma relação
truncada com o seu corpo, perdendo assim a capacidade de sentir e de expressar suas
emoções, seu pensamento , seus sentimentos. Movimento é algo inerente ao homem e
qualquer trabalho que envolva-o deve se preocupar em desenvolver as formas
individuais e coletivas de expressão, de criatividade, de espontaneidade.
Um corpo expressivo e consciente colabora para a promoção de um ser
integrado.
O adulto que não se movimenta reprime os movimento das crianças.
Rudolf Lában apontou um caminho libertador. Mostrou com seu método que gestos
padronizados, induzidos ou impostos, terminam por dessensibilizar os homens,
restringindo sua potencialidade expressiva, submetendo-os a uma rotina de gestos
seriados, mesquinhos e pobres.
É preciso que os educadores se tornem mais flexíveis, de corpos e mentes
mais soltos, aptos a uma prática educacional menos autoritária e repressiva, iniciando
em si mesmos a mudança que esperam ver em seus alunos.
1.2. Pedagogia Musical Atual
Educação musical significa musicalizar, tornar a criança sensível e
receptiva ao fenômeno sonoro. Para que isso ocorra, é necessário que exista um vínculo
positivo entre o indivíduo e os fenômenos musicais. Uma vez assegurado o vínculo, a
música penetrará no homem rompendo barreiras, abrindo canais de expressão e
comunicação.
Anteriormente, o ensino musical consistia na transmissão mecânica,
impessoal e estéril de um sistema de conhecimentos relativos à música.
Nas primeiras décadas do século XX, ocorreram transformações que
constituíram uma revolução nas idéias e práticas de pedagogia musical. Houve um
resgate da educação musical das crianças, através da atividade, experiência e vivência
musical que se achava extraviada.
Alguns pedagogos musicais devem ser destacados. Entre eles Emile
Jaques Dalcroze (1865/1950), que abalou as bases tradicionais do ensino e
aprendizagem da música em geral. A partir de 1940, ocorreu a difusão de métodos que
contribuíram para enriquecer e esclarecer a prática pedagógica. O método Martenot
(Maurice Martenot) e seus importantes recursos para o ensino do canto e da iniciação
musical, baseados na psicopedagogia infantil e nas técnicas de concentração e
relaxamento corporais. Carl Orff e suas contribuições no campo da rítmica, da
criatividade musical dos instrumentos didáticos e da integração das diferentes
manifestações artísticas e expressivas. O compositor e pedagogo Zoltán Kodály, que
consegue generalizar o ensino musical infantil e o poder do folclore musical. O japonês
Shinichi Susuky e sua tese sobre a importância do ambiente sonoro para a educação
musical das crianças. O filósofo e pedagogo musical Edgar Willens, e suas bases
psicológicas de educação musical. Este grupo foi responsável pela revolução ideológica
da educação musical, ao deslocar a ênfase na disciplina musical para o educando e seu
processo de desenvolvimento. O ensino da música torna-se assim, um ativo intercâmbio
de experiências ressaltando o valor educativo do jogo musical a partir de um novo
conceito de criatividade uma vez que estas personalidades se preocupavam em estimular
e desenvolver a capacidade criadora da criança. As pedagogias atuais deixam o
educando em total liberdade para explorar. descobrir suas próprias formas de expressão,
experimentar a livre estruturação da matéria sonora antes que formas preestabelecidas
sejam abordadas. Todo conceito deve ser precedido e apoiado pela prática e
manipulação ativa do som: a exploração do ambiente, os sons corporais, a invenção e
construção de instrumentos, o uso sem preconceitos de instrumentos tradicionais, a
descoberta e valorização do objeto sonoro. Jornais, pedras, grãos, tubos de papelão,
bambus, madeiras, vidros, sucatas variadas, constituem-se em ricos materiais com os
quais as crianças constroem e inventam instrumentos musicais, e dos quais retiram sons
ou músicas para acompanhar suas danças, cantos poesias e dramatizações.
A criação e representação de uma seqüência rítmica podem ser
trabalhadas na Educação Infantil, utilizando para isso, variados tipos de símbolos, que
formarão uma partitura. Desenhos de pés e mãos (palmas e batidas de pés), figuras,
pontos linhas, desenhos dos próprios instrumentos etc., além de folhas em branco para
representar o silêncio/pausa, que poderão ser executadas pelas próprias crianças.
1.3. Valores Agregados à Música
A música e a dança trazem valores agregados e contribuem para reforçar
as áreas de desenvolvimento infantil
• Desenvolvimento Cognitivo/Lingüístico
A atenção, a imaginação, a memória e o raciocínio são exercitados na
música e na dança. Atenção, para melhor observar situações complexas. Imaginação,
quando desperta o poder criador para sons e movimentos. A memória visual, auditiva e
de movimento é exercitada para fixação, conservação e evocação. Raciocínio para
percepção de movimentos, seus efeitos e conseqüências. A dança e a música levam a
prever e a antecipar resultados, além de identificar diferenças e semelhanças entre sons,
instrumentos e grupos rítmicos exercitando sua compreensão e raciocínio. A linguagem
é exercitada em canções, conversas, improvisações etc.
• Desenvolvimento Psicomotor
As atividades musicais podem oferecer inúmeras oportunidades de aprimoração
das habilidades motoras. O movimento adaptado ao ritmo são atividades
coordenadas. O ritmo dá agilidade e precisão aos movimentos favorecendo
melhor controle do corpo, conseqüentemente aprimorando coordenações
motoras ampla e fina.
• Sócio Afetivo
As atividades musicais quando realizadas coletivamente favorecem a
socialização e as relações pessoais, pelo ambiente de compreensão, participação e
cooperação. Estes hábitos sociais, adquiridos são depois reproduzidos na sociedade. A
prática da música e dança é indicada na infância porque o senso de responsabilidade e
respeito às normas sociais não estão estabelecidas. Paralelamente, a música favorece a
auto-satisfação e prazer, possibilitando a expressão de sentimentos. Uma criança tímida
pode se sentir encorajada ao cantar em grupo. Ao expressar suas emoções, liberar seus
impulsos utilizar seu corpo para criar música, a criança desenvolve o sentimento de
auto-realização.
• Valor Terapêutico
A música e a dança são formas de expressão e como tal, auxiliam a
eliminar as tensões nervosas. Crianças se sentem confiantes em si mesmas quando
conseguem dominar seus movimentos e transformar seus pensamentos em expressões
plásticas, adquirindo autoconfiança o que contribui para a formação de personalidade.
• Valor Cultural
A música e a dança transmitem idéias e costumes de uma geração à outra
e prolongam no tempo o espírito de comunidade. A música e a dança se ligam
profundamente à civilização e a cultura porque exigem conhecimento de várias artes: na
literatura, na pintura, na escultura, história, geografia e sociologia. Além de permitirem
saber a procedência das danças e músicas, os países e os povos onde nasceram, as
ocasiões em que se realizam e as particularidades importantes que lhes são próprias.
1.4. A Iniciação Musical
1.4.1. Sons do Corpo
Através da construção do esquema corporal a criança adquiri a imagem,
o uso e o controle do corpo. A busca de sons nas diversas partes do corpo propicia
aumento da acuidade, além de experiências táteis. A criança percebe as diversas
sensações que provém do corpo e percebe as relações que as diferentes partes do corpo
possuem uma com a outra.
A criança deverá experimentar, conhecer e inventar ritmos e sons através
de percussão corporal.
• Descobrir sons que podemos produzir com os pés, as mãos, a boca, os
dedos, o nariz etc.
• O professor propõe um tipo de batida no corpo e as crianças repetem.
• O professor propõe um diálogo rítmico: inicia com batidas em seu
corpo e as crianças respondem uma a uma com diferentes tipos de ritmos e sons tirados
das diversas partes do corpo.
• Uma criança inventa uma batida e as outras repetem e acrescentam a
sua batida.
1.4.2. Os Sons das Palavras
Propicia o desenvolvimento da acuidade auditiva, senso rítmico,
socialização e criatividade, através da utilização dos sons de palavras significativas.
• Dizer as vogais associando movimentos de acordo com o seu
som. AAA..., EEE, etc.
• Dizer o próprio nome de forma musical; inventar movimentos que
combinem com os sons. Primeiros sons vocais, posteriormente, som
de algum instrumento.
• Dizer o nome rápido com movimentos rápidos. Dizê-lo lentamente
com movimentos lentos.
• Dizer o nome bem fininho (agudo), e bem grosso (grave). Nome das
meninas bem grave e dos meninos bem agudo e vice versa.
• Escolher uma palavra. Separar a turma de acordo com o número de
sílabas da palavra. Cada grupo deverá repetir a sílaba que foi
designada. Cada grupo de uma vez. Depois todos os grupos juntos
sem interrupção.
• Associar ao nome palavras que rimem formando frases. Ex
Marina/bailarina; Rafael/céu, mel; Rodrigo/trigo etc. Cuidar para que
não apareçam rimas depreciativas. Esta atividade posteriormente pode
virar uma canção.
• Dizer o nome repetindo as sílabas. Mama riri nana. Pode-se associar
instrumentos diferentes para cada sílaba.
• Trabalhar com música “Palavras” (Titãs: Marcelo Fromer e Sergio
Britto). Elaborar com a turma uma lista de palavras boas, más, de
amor, para brincar, para pedir desculpas, palavras doentias etc.
Associar um instrumento que se adeque aos tipos de palavras.
1.4.3. Brinquedos Rítmicos
Levar as crianças a liberar movimentos. Desenvolve o sentido rítmico, a
acuidade auditiva, coordenação motora, a atenção e os reflexos.
• As crianças andam livremente pela sala. O professor marca o
ritmo da canção Sabiá no pandeiro lentamente. As crianças andam de acordo com o
ritmo. Na segunda parte da música o ritmo é acelerado e as crianças devem andar
conforme este, sem esbarrar nos colegas.
Sabiá lá na gaiola Fez um buraquinho
Voou, voou, voou, voou E a menina que gostava
Tanto do bichinho Chorou, chorou, chorou, chorou
Sabiá fugiu do terreiro Foi cantar lá no abacateiro E a menina pôs-se a chorar
Vem cá sabiá , vem cá A menina diz soluçando Sabiá estou te esperando
Sabiá responde de lá Não chores que eu vou voltar
• “O arara”.
O Arara é uma ciranda de Parati. O Arara é uma pessoa que traz um saco
nas costas, um bastão e um chapéu de palha. Os pares dançam livremente pela sala,
enquanto “o Arara” fica andando entre os pares. No segundo verso, O arara entrega o
saco, o bastão e o chapéu para um cavalheiro ou dama, passando a ocupar seu lugar no
par. Quando acabar a música, quem estiver de posse do imaterial será o Arara. (Pesquisa
da Cia Folclórica do Rio/UFRJ realizadas na cidade de Tarituba - 3ο distrito de
Parati/RJ)
Quero ver o Arara Quero ver o Arara Passa pra outro Que o Arara Vai ficar
• Sinal verde e sinal vermelho.
Um instrumento indica o sinal verde e outro indica o sinal vermelho.
Quando e vermelho é tocado, todas as crianças devem parar de tocar; quando o verde é
tocado, todas devem tocar seus instrumentos. Quem avança o sinal sai da brincadeira.
• O professor toca um tambor e as crianças andam pela sala Ao tocar um
chocalho param. Ao ouvirem o som de um pandeiro, andam para trás.
1.4.4. Criando Ritmos e Sons
Desenvolve o poder criador através da invenção de ritmos, sons e
movimentos.
• Um grupo de crianças faz mímica de alguns movimentos (faz de conta
que carregam um objeto muito pesado e o deixam cair no chão). O
outro grupo deverá criar sons que representem esse barulho. Ex.
cadeira caindo, porta batendo, bater bola no chão e ir aumentando a
velocidade.
• Trabalhar com a música Trenzinho Caipira - Heitor Villa Lobos.
Representar a partida, o movimento de um trem, partindo devagar e aos poucos
acelerando com ganzás, caxixis e reco-recos. As crianças se movimentam pela sala
imitando o term.
• Escolher instrumentos para sonorizar uma história ou poesia. Uma
sugestão é a história “Dudu Calunga” de Joel Rufino dos Santos,
Editora Ática.
• Utilizar obras de arte para serem relacionadas com sons e
instrumentos.
1.4.5. Vivendo as Qualidades dos Sons
Intensidade (forte/fraco)
Dosar a intensidade dos sons que emite, faz com que a criança evite falar ou
cantar gritando ou sussurrando. Desta forma ela estará utilizando corretamente
as cordas vocais. Utilizar tambor e guizos para mostrar sons fortes e fracos.
• As crianças se dividem pela sala. Ao tocar o tambor (forte), as
crianças deverão bater com os pés fortes no chão. ao som do guizo,
deverão bater palmas de leve.
• Ao som do tambor pulam forte, ao som do guizo pulam leve.
• Repetir o próprio nome. Uma vez bem forte, outra vez bem de
leve.
Duração (longo/curto)
• Dividir a turma em dois grupos. O professor propõe ao grupo A
que ande com passos largos como elefante e inventem sons longos. O grupo B deverá
andar com passos curtos como formiguinhas e inventem sons curtos. Ao sinal do
professor inverte-se os animais e os sons.
• O professor sugere que as crianças pulem pedras muito juntas ao
ouvirem som curto (pandeiro), e pedras separadas ao ouvirem sons
longos (Xilofone).
Altura (agudos/grave)
• O professor divide a turma em dois grupos. O grupo A, irá fazer
de conta que está subindo uma escada e o grupo B, que irá descer a escada. O grupo A
deverá passar de um som agudo para um mais grave. O grupo B, passará de um som
mais grave para um mais agudo.
Timbre (tipos de sons)
• O professor anda pela sala e produz diferentes sons, que deverão ser
identificados pelas crianças vendadas
• Quatro crianças ficarão em pontos diferentes da sala, cada uma com um
instrumento rítmico diferente do outro. O primeiro instrumento é tocado e todas as
crianças se deslocam, procurando se aproximar desse som. Da mesma forma acontece
com os outros instrumentos.
1.4.6. Trabalhando com Objetos Sonoros Não Convencionais
O processo de exploração e descoberta de sons que os objetos sonoros
não convencionais podem produzir, deverá preceder o desenvolvimento de atividades
mais complexas e deverá seguir as etapas:
1. conhecimento do material pelas crianças
2. descoberta e demonstração na rodinha dos diversos tipos de sons
produzidos pelo material.
A exploração de material representa um processo, e sendo assim, a atividade
deve envolver uma continuidade, pois inicialmente as crianças descobrirão
poucos sons mas gradativamente perceberão outros
O professor poderá sugerir novas maneiras de utilizar o material. No
entanto as sugestões não devem ser feitas com freqüência pois pode eliminar o prazer da
descoberta além de cercear a criatividade musical.
Uma ótima sugestão de audição para a atividade é o CD do grupo
UAKTI, ou SIVUCA, que utilizam instrumentos musicais não convencionais.
• Bolas de gás: bater esfregar com as mãos secas e molhadas, dar
beliscões, esfregar em papel, puxar o bico, etc.
• Tubos de papelão de tecidos: produzir sons com a boca, bater no chão,
bater com a mão em uma das extremidades etc.
• Conduítes: passa um pau de churrasco nas ondulações, rodar, produzir
sons com a boca , etc.
• Garrafas Pet: bater a garrafa no chão, bater na mão, esfregar no chão,
assoprar, etc.
• Jornal: amassar, rasgar, balança, bater as folhas dobradas no chão,
arrastar com os pés, etc.
Outras sugestões: bambus, favas e folhas de árvores, pedras, água, copos
descartáveis, ferraduras, lixas, espiral de caderno, enfim qualquer objeto que
produza som deve ser experimentado.
1.4.7. Brincando com Cantigas de Roda e Histórias Infantis
CANTIGAS DE RODA
“ENTREI NA RODA”
• Inventar movimentos de acordo com a letra da música.
• Inventar sons e movimentos para o vapor, a cachoeira, a macaca
fazendo renda, a perua como caixeira de venda etc.
• Inventar novos a animais e ao invés de dizer o nome representá-lo por
mímica ou onomatopéias. Fazer o mesmo com o vapor (outros meios
de transporte), ao invés de caixeira de venda (outras profissões).
“Quem Mora”
(Música de Denise Mendonça - Letra de Maria Mazzetti)
“Quem mora na casa torta? Sem janelinha e sem porta Um gato que usa sapato E tem retrato no quarto?
Uma florzinha pequenininha De sainha curtinha?
Um elefante com rabinho de barbante? Um papel de óculos e chapéu?
Um botão que toca violão? Um pente com dor de dente? Quem mora na casa? Quem?
Invente depressa alguém!
• Representar graficamente os “moradores da casinha”(um gato com
sapato etc.)
• Inventar outros moradores esquisitos .
HISTÓRIAS INFANTIS
Uma ótima opção de trabalho com histórias infantis é a Coleção
“Disquinho” “Som Livre - Globo Warner”.
“A Cigarra e a Formiga” (Arranjos e adaptações: João de Barra - Orquestração
de Severino Araújo Elenco - Teatro Disquinho / Narradora: Sonia Barreto)
“O Macaco e a Velha” (Arranjos e adaptações: João de Barro - Orquestração de
Radamés Gnatalli - Elenco: Teatro Disquinho / Narrador: Elenco Disquinho)
“Festa no Céu” (Arranjos e adaptações: João de Barro, orquestração de
Radamés Gnatalli, Elenco: Teatro Disquinho/ Narradora: Sonia Barreto)
• Levar as crianças a perceberem a relação entre instrumentos, sons
sugeridos pela história e a sonorização de ações. Trabalhar com os
diversos ritmos da história.
• Sonorizar com instrumentos convencionais e não convencionais as
ações da música.
• Dramatizar as histórias.
As possibilidades de trabalho a partir das histórias é enorme e cada uma facilita
o desenvolvimento de um eixo de trabalho e não só a música.
1.5. A Diversidade Étnica e sua Influência nas Manifestações
Culturais Brasileiras. Trabalhando As Músicas Regionais.
Só ponho bip-bop No meu samba Quando o tio Sam Pegar no tamborim Quando ele pegar No pandeiro e no zabumba Quando ele entender Que o samba não é rumba Aí eu vou misturar Miami com Copacabana Chicletes eu misturo com banana...
Jackson do Pandeiro
O Brasil é conhecido pela grande diversidade musical. A riqueza da
música e da dança existem em várias regiões do Brasil. A contribuição de diversas
culturas que compõem essa riqueza remonta às práticas dos inúmeros grupos indígenas
aqui existentes antes da colonização portuguesa. O encontro das práticas musicais e de
danças indígenas com a contribuição trazida pelos portugueses, africanos e diversos
povos que migraram para cá, constitui nossa cultura artística.
1.5.1. Danças de Origem Européia
CANAS VERDES
“Legadas aos brasileiros pelos colonizadores portugueses, no ciclo da
cana de açúcar, as caninhas verdes foram muito difundidas em vários estados, tendo
sido adaptadas pela criatividade dos brasileiros, tanto na coreografia como pela
melodia.”
Temos caninha verde de São Paulo, Espírito Santo, Goiás e a cana verde
do Rio Grande do Sul, entre outras. Todas com música e letras de teor alegre e com uma
constante: a lembrança de Portugal, dos canaviais, da caninha (aguardente) e do
transporte marítimo da época.
Cana Verde (SP)
Eu plantei caninha verde Na ponta de seu nariz Bem plantada ou mal plantada
EU PLANTEI ONDE BEM QUIS Ai cana verde, ai cana verde bis refrão
AI CANA VERDE LÁ NO MEU CANAVIAL (Retirado da apostila da prof.α Cáscia Frade e Rosa Zamith)
Posição inicial: roda única de pares que se defrontam.
Desenvolvimento:
1o Movimento:
“Eu plantei caninha verde eu plantei caninha verde”
Homens e milhares dançantes vão fazer um giro, primeiro para o lado direito (...
Eu plantei caninha verde...), depois para o lado esquerdo (na repetição deste
verso), simulando o movimento de jogar as sementes no chão.
2o Movimento:
“na ponta do seu nariz”
Os pares se defrontam, fazendo gestos correspondentes à letra, isto é,
colocando o dedo indicador da mão direita na ponta do nariz do seu par.
Nos dois últimos versos dessa estrofe: repetição do movimento 1o
3° Movimento:
“Ai cana verde, ai cana verde, Ai cana verde lá no meu canavial”
Corrente (garranchê): a corrente pode ser feita ora com o deslocamento
de todos os participantes, ora só homens, ora só com mulheres.
bis
CIRANDAS
Ciranda, cantiga de roda popularmente conhecida no Brasil, que faz girar
rodas de meninos e meninas em todo país, principalmente nas regiões rurais, onde as
tardes e noites enluaradas ficam ainda mais cheias de brilho ao som das melodias
entoadas pelas crianças.
Alguns autores, como Câmara Cascudo e Rissine Tavares de Lima,
relatam que muitas dessa cantigas são de origem ibérica. Outros autores limitam a
ciranda como “rodas infantis”conhecidas em todo o Brasil, como em Portugal, suas
cantigas são resultado de influências, não só de portugueses, mas também espanholas,
francesas, ameríndias etc.
Vem da palavra “Zaranda, de origem espanhola que significa,
instrumento de peneirar farinha, ou ainda ao fato de mulheres trabalharem juntas em
serões e, por esta razão, grafou-se Seranda (Leite de Vasconcelos)
Ciranda de Parati (RJ)
CARANGUEJO
Formação inicial:
Cavalheiros e damas, dispostos alternadamente (damas à direita de seu
par), todos de mãos dadas se defrontam em duas fileiras.
Desenvolvimento:
1. Nos três primeiros versos, as fileiras de deslocam para frente se
encontrando com a fileira oposta alternado homens e mulheres, movimentam-se para
frente e para trás, (imitando as ondas do mar) no ritmo da música, retornando ao lugar
inicial do verso O “olha só” da estrofe.
2. Nos dois primeiros versos de refrão, os pares se defrontam nas suas
próprias fileiras. No primeiro verso, batem três vezes os pés no chão
(alternadamente) e no segundo verso, batem três palmas (como pede a
letra da música).
3. Nos dois últimos versos do refrão, os pares, seguram-se na altura dos
cotovelos, dão uma volta completa em torno de si mesmos, ficando a
dama em seu lugar, enquanto os cavalheiros passam para a dama
seguinte.
Obs.: Quando as duas fileiras se aproximam no centro, as damas e os
cavalheiros das extremidades dão-se as mãos e soltam-nas quando
retornam à posição inicial.
“Caranguejo”
Caranguejo não é peixe caranguejo peixe é
caranguejo anda de banda na vazante da maré, olha só.
Pé, pé, pé olha a mão, a mão, a mão Veja como é bonito
Caranguejo no salão Caranguejo não é peixe
caranguejo não tem sangue caranguejo anda no brejo
comendo folha de mangue, olha só Pé, pé, pé olha a mão, a mão, a mão
Veja só como é gostoso caranguejo com limão
Escorrego mas não caio É o jeito que o corpo dá
É na boca do navio é no balanço do mar.
Pé, pé, pé olha a mão, a mão, a mão Veja como é bonito
Caranguejo no salão Eu não deixo essa viola
nem que eu morra de fome a viola é que me mata
e o pandeiro me consome Pé, pé, pé olha a mão, a mão, a mão
Veja só como é gostoso caranguejo com limão
Eu vou dar a despedida eu não posso mais cantar
é uso da minha terra na despedida parar
Pé, pé, pé olha a mão, a mão, a mão Veja como é bonito
Caranguejo no salão
O Boi
No ocidente, símbolo de força e poder, historicamente importante na
descoberta de novas terras, no transporte e na utilização de seu corpo.
No Brasil, é festejado de norte a sul. A maioria dos estudiosos identifica
este auto, como de influência européia, ligada igreja católica, como: comemorações do
Divino em Portugal, que levava bezerros e bois Reais a templos, tradição mantida até
hoje por colônias açorianas no Brasil.
Com certeza, no Brasil a mestiçagem com negros e índios nos legou
características que produzem temática e lírica específicas deste auto legitimamente
nacional.
Boi Mamão (SC)
Representado na época natalina e também junina, ou até mesmo no
carnaval.. Certa vez um mamão verde foi usado como a cabeça do boi na festa. Desde
então ele ficou conhecido como “Boi-de-mamão. O Auto do boi possui vários
personagens que contam a histórias do vaqueiro Matheus e seu boizinho, que de repente
adoece, morre e por fim ressuscita. Possui outros personagens como: o doutor, a
feiticeira, o cavalinho, Dona Maricota e Anãozinho, Bernuncia e Bernuncinha.”
Roteiro de encenação da Cia. Folclórica do Rio/UFRJ
Entrada: o vaqueiro entra em cena cantando e dançando com sei
boizinho.
Música:
“Pelo rio abaixo Vem o batelão e o que vem lá dentro é Boi de Mamão”
O vaqueiro canta esta música algumas vezes, até o momento que o boi
pára bruscamente de dançar e cai no chão.
O vaqueiro surpreso e triste tenta “animar” seu boizinho, mas não tendo
resultado canta:
“O meu boi morreu, que será de mim
manda busca outro ó maninha, lá no Piauí
O meu boi morreu, que será de nós se ele fica bom
ó maninha, fortuna pra nós.”
Logo chegam os urubus “azarando a carniça”. O vaqueiro então resolve chamar
o Doutor (que geralmente é uma figura engraçada) para curar o boi. Há um breve
diálogo entre os dois e logo em seguida o médico tenta colocar um enorme
clister (supositório) no boi. Não obtendo resultado com o tratamento
“Oboipático”, o doutor é enxotado pelo vaqueiro, que resolve apelar para as
forças ocultas: manda chamar então, a feiticeira (geralmente é uma figura como
as bruxas de contos de fadas, com chapéu pontudo e roupa preta, provável
herança dos colonizadores europeus).
A feiticeira benze o boi com as seguintes frases:
“Eu benzo esse boi com a folha do pessegueiro. ó senhor dono da casa me dê algum dinheiro Eu benzo esse boi com a folha da alfavaca, ó senhor dona da casa me dê uma pataca Eu benzo esse boi com a folha da aroeira, pra tirar a diarréia e também toda bicheira”
O boi levanta enlouquecido e sai dançando pelo salão.
Faz-se necessário chamar o cavalinho (homem que vem “montado”
numa burrinha, tão comum nos autos do boi) para laçar o boi. Ele entra em cena fazendo
uma série de deslocamentos performáticos, até que o boi seja laçado.
Durante a apresentação do cavalinho, canta-se:
“Ó meu cavalinho, ó meu alazão laça esse boi no meio do salão Ó meu cavalinho, ela já chegou
e o dono da casa não cumprimentou
Ó meu cavalinho, da cola cortada laça esse boi não perca a laçada
Ó meu cavalinho tá chegando a hora Laça esse boi e saia porta afora”
Após o boi ser laçado e acalmado, o vaqueiro resolve comemorar chamando ao
salão, uma mulherona muito bonita: dona Maricota (boneca gigante com braços
enormes) e seu parceiro, o Sr. Anãozinho (boneco baixinho), para que possam
bailar.
Música:
“Fizemos um baile bonito Fizemos um baile de cota
está chegando a hora de dançar a Maricota
Dona Maricota nariz de pimentão fizeram um dinheirão na casa de seu João
Depois do baile entra em cena correndo pelo salão, um bicho de amedrontar, a
Bernuncia (é um animal fantástico, com uma boca enorme). Ela corre
desesperadamente atrás de todos que fogem gritando.
Música:
“Ó vaqueiro da Bernuncia, uma coisa eu vou contar
A Bernuncia come gente que é de se amedrontar} Refrão
Olê, olê, olê, olê, olá} refrão Arreda do caminho,
que a Bernuncia quer passar
Pega o bicho na corrente e trás ele para cá } Refrão
1.5.2. Danças de Origem Africana
Jongo Caxambu (RJ)
“Jongar sobre a terra semeada, garantia seu florescer ao raiar do dia. Dança de
terreiro, requebros e umbigadas, dança de origem africana, possivelmente
oriunda de Angola, onde participam homens e mulheres.”
É uma das mais ricas heranças culturais, deixadas pela raça negra, no
nosso folclore. (Araújo, 77).
É dança nascida nas fazendas de café, na hora de folgar ou rezar no
intuito de reunir as histórias, choros, planos, esperanças e, também para não esquecer
quem são. Os instrumentos , geralmente 3 atabaques de timbres diferentes.
As pesquisas da Cia Folclórica do Rio -UFRJ, foram realizadas na cidade
de Santo Antonio de Pádua RJ e no morro da Serrinha na cidade do Rio de Janeiro.
Música:
Abana com lenço }bis Navio já foi embora criola abana o lenço
Maculelê (BA)
Maculelê é um folguedo popular, onde há uma representação de ataque e
defesa, num jogo de bastões na forma de dança, do qual participam originalmente,
apenas homens.
Segundo Câmara Cascudo, o maculelê “é um bailado guerreiro que se exibe na
festa de N. Sra da Conceição, na Praça da Purificação, na cidade de Salvador, o
nos outros pontos da Bahia como Santo Amaro”. Foi trazido para Santo Amaro
pelos negros malês, provavelmente, como reminiscência da dança Watusi de
tribos negras da África Oriental.
Sabe-se contudo, que o Maculelê era praticado nas senzalas nas horas de
folga como treinamento para luta, e por ser reprimido pelos feitores de engenho, foi
camuflado e transformado em dança.
Em 1852, o mestre africano Ti-Ajou, obteve permissão para dançar no
terreiro da senzala, no primeiro dia de corte da cana da safra e nos festejos de N. Sra. da
Conceição, cuja vestimenta era: capuz vermelho, camisa xadrez vermelha e branca,
calça branca e cinto de fita vermelha.
Hoje vemos o Maculelê, em vários locais do país, ligado à capoeira, não
só mais representado por homens, mas também por mulheres que entrecocham os seus
bastões com bastante habilidade, dançando ao som do tambor.
Música:
“Ô senhor dono da casa nos viemos aqui lhe ver} bis
Viemos lhe perguntar Como passa vosmicê E como é seu nome
É Maculelê E de onde venho
É Maculelê É de Santo Amaro
É Maculelê”
“Um certo dia na cabana um guerreiro} bis Foi atacado por uma tribo pra valer Pegou dois paus saiu de salto mortal
E gritou pula menino que eu sou Maculelê Oi pula lá que eu pulo cá
Que eu sou Maculelê Oi pula lá que eu quero ver
Que eu sou Maculelê Pulo eu pula você
Que eu sou maculelê”
1.5.3. Povos Indígenas A Música , A Dança Sua Influência
A música e a dança ocupam lugar privilegiado para estes povos. A
música é vista como um elo de ligação entre os espíritos que habitam tudo que existe.
Para povos indígenas, o som produzido pelas batidas de pés e a voz, imitam as batidas
originais da criação do mundo, e por isso acreditam que cantando e dançando irão
equilibrar o mundo. A educação musical das crianças acontece desde cedo e para eles
música e bailado são instrumentos com muitas possibilidades, são uma forma de os
espíritos se comunicarem com os vivos. A música é o próprio espírito que fala com a
comunidade através do cantador. Dança-se como uma forma de gratidão, de prece, para
agradar os espíritos da natureza, a mesma que fornece alimento, bebida, e matéria prima
para enfeites e para cura das doenças. Os povos indígenas dançam e cantam por algum
motivo, para manter a unidade do povo e a alegria da comunidade. Os instrumentos
musicais conseqüentemente também são formas de colocar os povos indígenas em
contato com o mundo espiritual. São complemento do corpo e da voz para que esta
comunicação com a natureza aconteça. A maneira de confeccioná-los varia de acordo
com o objetivo a ser atingido e com as pessoas que irão manuseá-los.
Chocalho: pode ser feito de cabaça recheada de grãos, pedinchas etc.
Pode ser amarrado ao corpo (pulseiras, tornozeleiras, jarreiras, colares ou cintos).
Quando separado do corpo, costumam ter cabo. É o instrumento mais utilizado pelas
comunidades indígenas. Mundurukú, Karajá, Paresí,Tembé, Krixaná, Ipurukotó, Teréna.
Flauta: Pode ser de diversas formas. Globular, tubular e cônica. O som
pode ser tirado com a boca ou nasalmente. Pode ser confeccionada com cabaças,
bambu, madeira ou ossos. Paresí, Apinayé, Nambikwára, Kaingang.
Tambor: É um instrumento de percussão que pode ser tocado com as
mãos ou com baquetas. Pode ser confeccionado com a carapaça de uma tartaruga
(Tukuna), de cerâmica (Pakaanóva), de madeira oca (Bakairí), de pele (Tembé,
Kadiwéu, Tukuna, Urubú-Kaapór) ou uma tábua estendida no chão.
Trompete: É um instrumento em que o som é obtido soprando-se por
uma abertura relativamente larga, na qual o tocador encosta os lábios apertados. Pode
ser construído como uma peça única, tubular, reta ou curva, ou como um tubo provido
de pavilhão, que pode ser de cabaça, bambu oco, crânio de animais etc. Os Mundurukú,
os Apinayé e os Jurunas são alguns dos povos que utilizam esse instrumento.
Zunidor: É uma peça de madeira achatada, alongada, amarrada à
extremidade de uma corda que, por sua vez, pode ser fixada a uma vara. O tocador faz
girar a peça e, conforme a velocidade, produz um zunido. Acreditam os Kamauurá,
Bororo, Maxakalí, Xerente, Apinayé, Canela e Tukúna, que o zunidor sirva para
espantar os maus espíritos.
Uma ótima referencia para o trabalho com a música indígena é o CD Nande
Reco Arandu - Memória viva Guarani - MCD World Music
Carimbó (PA)
Do Tupi guarani Curi= tronco oco, MBO= som
CURIMBO = tronco oco que emite som.
Curimbó, Corimbó, Carimbó; é o nome de um tambor feito de trono, escavado
internamente a fogo e em uma de suas extremidades aplica-se couro de veado.
A dança do Carimbó, é onde o cabloco paraense compensa a lida
(trabalho) do dia a dia, extravasando energia e compensando as horas de trabalho
A dança do Peru de Atalaia, exige do dançarino a acromática missão de
pegar com a boca, um lenço no chão, com as pernas estendidas e afastadas sem usar as
mãos.
Músicas do Carimbó
(Todas de autoria de Mestre Lucindo Rabelo da Costa)
“Relâmpago”
Oi tá chovendo, tá relampeando}bis Oi tá chovendo, tá relampeando
Roda pião, roda pião Roda pião, roda pião }bis
“O Peru de Atalaia”
O Peru de Atalaia Xô peru O peru tá na roda Xô peru O peru tá dançando Xô peru
Sai da roda peru Xô peru
(Todas as músicas e danças foram retiradas da apostila da Cia Folclórica
do Rio - UFRJ)
Na concepção sociointeracionista, a criança aprende através da interação
com o meio. Segundo Vygotsky, as características tipicamente humanas são resultado
da interação do homem e seu meio sócio cultural. “O desenvolvimento mental humano
não é dado a priori, não é imutável e universal, não é passivo, nem tampouco independe
do desenvolvimento histórico e das formas sociais da vida humana. A cultura é parte
constitutiva da natureza humana.”
A inserção da criança num dado contexto cultural, sua interação com
membros de seu grupo e de sua participação em práticas sociais historicamente
construídas, levam-na a incorporar ativamente as formas de comportamento já
consolidadas. “Cultura não é entendida por Vygotsky como algo pronto, ao qual o
indivíduo se submete e sim como “palco de negociações”, em que seus membros estão
sempre em movimento de recriação e reinterpretações de informações, conceitos e
significações” (Oliveira, 1993 p.38).
A teoria de Vygotsky destaca o papel do adulto - visto aqui como
membro mais experiente do grupo - no desenvolvimento infantil como quem
proporciona experiências diversificadas e enriquecedoras que fortalecem a auto estima
das crianças e o desenvolvimento de suas capacidades. É imprescindível portanto que
haja interações sociais, atitudes éticas por parte dos professores e acima de tudo
aprendizado e apropriação do legado cultural de seu grupo
Partindo dessa fundamentação teórica, seria aconselhável oportunizar o
contato das crianças da Educação Infantil em manifestações culturais de seu grupo
social e de outros, para que gradativamente possam ir construindo sua identidade e
internalizando comportamentos e valores.
O trabalho com músicas e danças regionais pela sua diversidade,
favorece a aceitação de diferenças e particularidades, uma vez que coloca as crianças
em contato com outras vivências, levando-as a descobrirem, valorizarem e respeitarem
nossa cultura, também facilitando atitudes de cooperação, interação e solidariedade.
Outro aspecto favorável do trabalho com músicas e danças regionais é a
transdisciplinaridade, uma vez que além de música e movimento, outras situações de
aprendizagem podem ser criadas a partir delas: costumes dos povos que as
influenciaram, características dos locais onde se manifestam, apreciação de obras de
artistas que fizeram referências a elas, dentre inúmeros outros.
Capítulo 2
LITERATURA INFANTIL:
A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA
“Para que uma história realmente prenda a
atenção da criança deve entretê-la e
despertar sua curiosidade. Mas para
enriquecer sua vida, deve estimular-lhe a
imaginação: ajudá-la a desenvolver seu
intelecto e a tornar claras suas emoções,
estar harmonizada com suas ansiedades,
ao mesmo tempo, sugerir soluções para os
problemas que a perturbam”. (Bruno
Bettelheim, 1979, p.13)
2.1. Da Literatura Oral à Literatura Atual
Da necessidade de registrar a vida, de compartilhar, de contar aquilo que
sentimos, vivemos e pensamos, surgiu a literatura. É a palavra como registro do
sentimento e da percepção humana. Sendo assim, é de causar estranheza - senão
perplexidade - que ainda hoje na educação Infantil possamos esquecer o quanto ouvir e
contar histórias é importante. Ainda mais quando sabemos que é deste hábito que surge
a relação da criança com a literatura. Muitas vezes a leitura de livros se tornam estéreis
e desinteressantes pois não são explorados junto com os alunos, todo potencial que um
livro possui. É preciso que o professor escolha criteriosamente os livros com os quais
vai trabalhar, respeitando a faixa etária de seus alunos, e antes faça ela mesmo a leitura,
descobrindo possibilidades de trabalho e desafios, tornando sua prática libertadora ao
invés de limitadora.
A literatura por sua característica ficcional, se presta a diversas
interpretações, uma vez que estimula a imaginação e mexe com as experiências dos
leitores.
Práticas tradicionais de leitura limitam a compreensão, não aprofundam o
domínio das estruturas narrativas, não educam o olhar e não desenvolvem o poder
criador das crianças.
Nos tempos antigos, as historias eram transmitidas de geração em
geração pela tradição oral - no Brasil, até hoje os povos indígenas assim o fazem. Foi a
partir dessas histórias que na Europa (no final o século XVII) Perraut e os irmãos
Grimm (século XIX), recolheram contos populares de seus países, e os registraram. No
Brasil, Câmara Cascudo, Silvio Romero, Couto de Magalhães e outros, vêm coletando
literatura popular oral e escrita. Entre os contemporâneos podemos destacar, Ricardo
Azevedo, Ana Maria Machado, Ciça Fitipaldi, Sonia Junqueira, voltados para a
literatura popular em geral, lendas indígenas e africanas. Assim surgiu a literatura
Infantil. A literatura infantil abrange hoje diferentes tipos de contos. Os contos
modernos abordam o dia a dia das crianças e utilizam-se de temas sociais, éticos e
existenciais aos quais a criança está em contato.
2.2. Breve Histórico
Antes de Gutemberg, a reprodução de textos era feita por intermédio de
cópias manuais o que significava tiragens insignificantes inacessível à grande maioria
das pessoas, imprecisão do material que era copiado manualmente por diferentes
pessoas, o que acarretava erros distorções e diferenças importantes de uma cópia para a
outra.
Com o advento da tipografia, foi possível reproduzir de forma ilimitada
textos e imagens idênticos. Estes textos eram em geral obras religiosas, experiências,
teorias científicas, manuais técnicos e etc., e suas ilustrações tinham como
características a objetividade e univocidade, ou seja, deveriam mostrar com clareza o
que o texto descrevia por meio de palavras. As mesmas características apresentam os
textos jornalísticos e didáticos. Os textos caracterizam-se por serem impessoais e
objetivos e as imagens descritivas e documentais para que os leitores cheguem a mesma
e única interpretação. Um pulmão precisa ser interpretado por todos como um pulmão.
Ao contrário, o texto literário, tende a plurissignificação, e pretende que
diferentes leitores possam chegar a diferentes interpretações
Os livros destinado às crianças em fase de alfabetização precisam de
características objetivas e descritivas para que possam ajudar ao leitor na compreensão e
decifração do texto.
2.3.Estrutura das Narrativas
Algumas narrativas tradicionais
são temporais e possuem uma estrutura. A
situação inicial, que apresenta um estado de
equilíbrio ou um problema (Fig. 1 e 2), seguida
por um desenvolvimento, onde existe uma
ruptura do equilíbrio com o surgimento de um
problema (Fig. 3). O miolo da narrativa concentra as tentativas
de solução deste problema, (Fig. 4) e o desenlace (que é o
fechamento), que pode ser feliz ou infeliz (Fig. 5). No primeiro
caso, o problema é resolvido e há a recuperação do equilíbrio
inicial. No segundo caso, o problema não é resolvido e o
equilíbrio não é restabelecido. Essa mesma estrutura possui o
livro de imagens.
Figura 1
Figura 2
Figura 3
Figura 4 Figura 5
Algumas narrativas contemporâneas não seguem esta estrutura. Não há
problema e nem desenlace.
Narrativas de caminhada - As ações se desenvolvem de página em página
sem que se organizem em torno de um problema, desenvolvimento e desenlace.
A história se desenvolve mostrando o dia a dia de Poti, sua aldeia, meios de transporte
etc. sem que aja um problema que quebre este equilíbrio.
Narrativas de caminhada circulares - A caminhada volta ao início do
livro.
A história inicia com o cachorro dando um vaso de planta para a menina
que o dá para um
menino glutão, que o troca por um prato de suspiros. A história se
desenvolve seguindo
o vaso de flores até que retorna ao início, com o cachorro entregando de
novo à menina.
O livro traz ilustrações que podem aumentar muito o poder de
observação das crianças.
O que será que o menino falou com D. Quimera para conseguir os suspiros?
O que será que a menina falou ao dar o vaso ao menino?
Por que o menino glutão está com coroa e capa?
Por que será que o menino não aceitou o presente da menina?
Narrativas acumulativas - caracterizam-se pela repetição de todos os
elementos que vão sendo acrescentado à narrativa e que devem ser repetidos na mesma
ordem. Pode de organizar em torno de um problema, desenvolvimento e desenlace ou
não. Uma exemplo deste tipo de narrativa é “A formiga e a Neve”.
Estas narrativas se prestam para jogos de linguagem, coro falado
encenações.
A medida que as personagens vão surgindo, seus nomes vão sendo repetidos junto com
os que já estavam em cena “Flor, Zezinho e Luana dançam...”(p. 12). “ Flor, Zezinho, Luana, Senhor Januário, o Realejo, o periquito, os leões de pedra,
as pombas, seu Oscar e o carrinho de algodão dança...” (p.18)
Levar as crianças a observarem o mataquadrinhos,que é o uso da linha de
moldura, ampliando o ambiente para fora do quadro (os balões).
2.3.2. Dinâmica Da Narrativa
Seqüência de narrativa - É o conjunto de cenas que se referem a mesma
ação. São divisões da historia.
A seqüência mostra as pessoas achando as coisas que haviam perdido.
Cortes da narrativa - marcam os momentos significativos do texto e
deixam claro o desenrolar da história, amarram e desamarram as ações e abrem e
fecham perspectivas.
“Foi quando ouviram os tropéis.” Um cavalheiro entra no terreiro.
Abre perspectiva “quem seria ele?”
2.4. Relação Entre Texto e Imagem / Decifrando Imagens
Uma relação equilibrada entre texto e imagem é aquela em que as
funções de cada linguagem (escrita e visual) encontram-se articuladas para uma melhor
compreensão.
A leitura da escrita na nossa sociedade se dá da esquerda para a direita e
de baixo para cima, linha a linha. Na imagem isso não acontece. A trajetória do olhar
não é linear. Vai depender do tipo de hierarquia que o ilustrador deu aos componentes
da imagem . É ele que dirige o olhar da criança utilizando diferentes artifícios.
RELAÇÃO DE COMPLEMENTARIDADE
“Quando um dos dois elementos pode ter a faculdade de dizer o que o
outro, por causa de sua própria constituição não poderia dizer” (Durand e Bertrandi).
Texto escrito e ilustração apresentam contribuições específicas para a leitura integral da
historia. No caso de texto escrito, as contribuições seriam: os articuladores temporais
(os elementos que explicam causa e efeito), as revelações, que descrevem personagens,
ambientes, objetos etc. e que preenchem lacunas e esclarecem ambigüidades das
imagens.
Relação de Repetição
Acontece quando a imagem tem por objetivo repetir através da ilustração
aquilo que foi dito pelo texto escrito (aquilo que foi lido). Os livros para crianças
pequenas devem ter esta característica, para que possam se familiarizar com a imagem e
tornar mais fácil sua identificação.
Elementos de Hipersignificação da Narrativa
Elementos estáticos - seriam os ambientes onde acontecem as ações e sua
características (roupas, lugar onde vivem, objetos etc.).
Elementos dinâmicos: São as expressões das ações, gestos e expressões
motivadoras. Marcam o ritmo e a progressão da narrativa.
Como as ilustrações dividem o espaço com o texto, este precisa ser muito
bem aproveitado de forma que as imagens sejam claras e sem excesso de informações.
“As funções das imagens no livro ilustrado seriam de “criar / sugerir / complementar o
espaço plástico e marcar os momentos chave de ação da narrativa pela duplicação
visual” (Durand e Bertrand)
A imagem conta com elementos que se fossem explicados integralmente
no texto, o tornariam pesado e longo . As imagens apresentam detalhes de ação que
poderiam sobrecarregar o texto escrito desestimulando a leitura.
2.5. Características das Ilustrações
As imagens geralmente são delimitadas por linhas e molduras ou borda
da página. Na ilustração de livros infantil
predomina o ângulo frontal, na linha do olhar.
2.5.1. Vários Ambientes Num Só Plano
As imagens apresentam-se em só plano, sem perspectiva e trazem mais
características do que o texto escrito.
O texto escrito diz: “Luciana vê a borboleta voando no matinho”
O que mais você está vendo que Luciana não viu?
Existem vários outros detalhes que o texto não descreve.
Na p. 22, aparece um carteiro. Seria interessante questionar às crianças.
De quem seria a carta? O que estaria dizendo? Ou um vendedor de vassouras. Quanto
será que custa? De que os meninos estão brincando?
2.5.2 - Várias Ações Num Só Plano
Quando há reunião em um só espaço de várias ações ou cenas.
Os músicos do lado de fora, cantam e dançam
as pessoas dentro da casa, um homem na varanda observa o terreiro.
2.5.3. Várias Ações Em Perspectiva
Perspectiva: “É a representação gráfica dos corpos no espaço, com
variação proporcional do seu aspecto conforme a posição que ocupam em relação ao
observador e ao ângulo pelo qual são vistos (Rabaça e Barbosa, 1987)
Tudo que está mais próximo é representado
mais do que aquilo que está mais longe.
2.5.4. Janelas e Perspectiva
As janelas são utilizadas para que imagens de dois ambientes possam ser
transmitidas ao leitor.
As janelas revelem ao leitor, o que se passa dentro da casa. Podem ainda
mostrar dois ambientes. O que se passa fora e dentro da casa.
A janela é um recurso para ampliar o espaço da narrativa e são ótimos
subsídios para o educador ampliar a competência em leitura de imagens.
É possível observar pelas sombras nas janelas, o que
as pessoas estão fazendo dentro da casa. A transdisciplinaridade pode ser feita com artes. A partir da história o
educador propõe as crianças fazerem janelas supressas de partes da história. Deve ser
recortado três laterais de uma janela feita de cartolina ou papel cartão. Desenhar em um
outro papel um personagem ou objeto que poderiam se encontrar dentro da janela, a
história pode ser recontada através das janelas para outras classes.
O Dudu Calunga pode ser representado com técnica do boneco de jornal
descrito no capítulo de Artes visuais.
2.5.5 Cômodos em Perspectiva
São utilizados pelos ilustradores com o objetivo de ampliar o espaço
central em que se passa a história. Podem desenvolver a capacidade de observação das
criança.
Pela perspectiva da ilustração é possível ver o
que se passa nos outros cômodos da casa. O que está acontecendo e o que as pessoas estão fazendo.
2.5.6 Cortes de uma Casa
Quando cômodos de uma casa podem
ser vistos por meio de um corte.
Permite a leitura da várias ações
simultâneas e favorecem a construção
de narrativas simultâneas, aumentam a
capacidade de observação e de
separação de cenas.
Quem será que dorme do lado?
É possível observar pelo corte da casa, uma escada que desce para um quarto que fica no andar de baixo. Na casa de dona Quimera também é possível pelo corte da parede observar outros cômodos.
2.5.7. Enquadramento, Códigos Gráficos, Conectores Temporais,
Espaço, Diálogos
Enquadramento: Nos livros infantis, a imagem
geralmente é apresentada limitada por molduras (Fig 1). O ângulo
de vista é apresentado geralmente na horizontal, na linha natural
do olhar. A perspectiva pode ser clássica (Fig 2) ou oblíqua (Fig 3).
Uma cena pode ser captada de cima para baixo ou vice-versa. (Fig
4)
Os planos podem ser divididos em:
a) Plano geral: “Pessoas e objetos são representados dentro dos locais de
ação e apresenta uma parte do cenário ou paisagem” (Rabaça &
Barbosa apus Maria Alice Faria 2004 p. 43) Fig 1.
b) Plano médio: Pessoas são destacadas de corpo inteiro. Fig 2
c) Plano americano: pessoas são destacadas a meio corpo. Fig 3
d) Close: destaca uma parte pequena do assunto. Fig 4
Figura 1
Figura 2
Figura 3 Figura 1
Figura 1
Figura 2
Transdiscplinaridade: fazer o contorno do corpo inteiro deitando sobre
folhas de papel pardo ou kraft. Depois as crianças deverão se representar, assim como
completar o fundo. Deitar em duplas e em diferentes posições. Fazer representações em
meio corpo e em close a partir de observação em um espelho. Observar auto retrato de
alguns artistas.
Códigos gráficos
Podem ser divididos em três tipos
a) Abstratos: São traços, desenhos, ícones, que marcam a reação de
um personagem, seus movimentos etc. Fig 1
b) Hipersignificação: É o exagero nas expressões e no gestual dos
personagens. Substituem palavras e intensificam ações e expressões
das personagens. Dá ao ilustrador a liberdade de colocar movimentos
que não acontecem ao mesmo tempo na vida real. Fig 2
c) Onomatopéias - Visualização de elementos sonoros. Fig 3
Figura 3
Figura 4
As orelhas do coelho parecem se mexer devido aos traços feitos pelo ilustrador Fig 1.
Os olhos do coelho esbugalhados e os corações são elementos de hipersignificação que nos mostram o quanto ele está apaixonado pela coelha. Fig 2
A ilustração mostra apenas as patas do cavalo e a onomatopéia do tropéu. Fig 3
A partir das representações em close e da observação de histórias em
quadrinhos, propor a representação de expressões a partir de símbolos gráficos.
(alegria, tristeza, surpresa, susto etc.)
Depois da observação do livro Menina Bonita do Laço de Fita propor a
representação da árvore genealógica das crianças a partir de retratos dos familiares.
O hibridismo do povo brasileiro pode ser trabalhado a partir do livro
“Coelho de Todas as Cores”.
Conectores Temporais
Marcam o fluir da no tempo, pontuam seqüências e cenas, ampliam e
diminuem sua duração. Podem ser advérbios, locuções etc (era uma vez, há muito
tempo). Indicam em que hora do dia se passa a história.
Figura 1
Figura 2
Figura 3
A ilustradora representou em uma folha a noite, quando Bintou dorme e sonha e na outra o sonho de Bintou de dia.
Podem ser explorados outros aspectos da noite e do dia: o que acontece,
animais que vivem de noite e de dia.
O espaço
Ambientes e lugar onde se passam as cenas. Podem apenas sugerir ou
indicar claramente. Devem mostrar os deslocamento das personagens de um ambiente
para outro.
Diálogos
No caso de livros sem texto, os diálogos podem ser sugeridos por
gestos ou expressões.
A autora consegue passara tristeza do
lápis apenas pela curvatura corporal de lápis.
2.6. Função das Imagens em Diferentes Tipos de Narrativas
Enquanto que o escritor tem a liberdade para captar um instante de forma
sintética, ou prolongá-lo por páginas e páginas, o ilustrador precisa condensar em um
determinado número de páginas (ou até em apenas uma), os momentos mais
significativos da história. O ilustrador precisa de sensibilidade para se fazer entender
pelas crianças, que segundo Bertrand & Durand, não tem experiência da realidade
plástica e possuem estruturas mentais particulares.
2.6.1. Livro Sem Texto
Livros sem texto ou livro de imagens são aqueles que não se utilizam de
texto verbal.
As imagens neste tipo de livro tem função fundamentalmente narrativas,
uma vez que não podem contar com as funções das palavras.
O livro sem texto se constrói imagem a imagem e o autor deve ser claro e
preciso, de modo que cada quadro tenha traços do anterior e elementos que o liguem
com o seguinte. As técnicas de simultaneidade, os indícios de passagem do tempo e as
mudanças no espaço são importantes, assim como o gestual dos personagens e tudo que
indica ação e movimento. A leitura circular da imagem dará ao leitor uma idéia geral da
cena.
2.6.2 Ilustração Maior que o Texto
A função da ilustração neste tipo de narrativa, deve auxiliar as crianças a
dominarem a história. A representação de personagens, suas expressões, o espaço e o
tempo devem ser cuidadosamente representadas.
Geralmente este tipo de livro apresenta “texto legenda”, que orienta a
leitura da imagem. A imagem apresenta os espaços em que se passa a história, os
personagens e seus gestos, expressões fisionômicas. Tudo aquilo que o texto não diz. A
articulação entre texto e imagem é contínua.
2.6.3. Ilustração e Texto de Extensão Média
No caso de textos médios, a ilustração perde sua função de
complementaridade mas colabora de várias formas com ele. Acrescenta detalhes,
colabora com a atmosfera da narrativa sem o entanto ter necessidade de complementar
o que o texto não especificou.
2.6.4. Texto Maior que a Ilustração
Nesse caso, a ilustração marca momentos chave da narrativa. Podem ter
como objetivo decorar as páginas tornando a leitura mais prazerosa e atraente, as
ilustrações em textos longos dá ao ilustrador maior liberdade de criação, uma vez que a
imagem não tem obrigatoriedade de complementaridade com o texto escrito.
2.7. Analisando Alguns Livros
Além da análise feita nos capítulos anteriores, a análise do tema central
da narrativa deve ser feita para levantamento de hipóteses e discussões. Os conteúdos de
vários eixos de trabalho sugeridos pelo Referencial Curricular para Educação Infantil
(Mec 1998) podem ser desenvolvidos a partir desta análise.
Uma ótima sugestão para o trabalho de respeito às diferenças e
diversidades é o livro “Crianças como você ” UNICEF - Editora Ática. O livro
apresenta crianças de diferentes países de todos os continentes e as características
culturais como: vestuário, culinária, moradia, estrutura familiar, brinquedos etc. de cada
uma dessas crianças.
O livro conta a história de duas crianças de rua, Zezinho e Flor, que
vivem na praça e sentem fome. Eles olham para o senhor Oscar, um vendedor de
algodão doce muito emburrado, que não dá nenhum às crianças. Flor e Zezinho
sentados em uma rede (que na verdade é uma folha de árvore) sonham com o sabor do
algodão doce. De repente chega o seu Januário com seu realejo. A música é tão bonita
que Flor e Zezinho se esquecem da fome e dançam. Eles fazem de conta que a praça é
um grande castelo e eles são príncipe e princesa. Chega uma amiga que não é menina de
rua e entra na farra. Todos se contagiam com a música até os leões do chafariz e
pássaros da praça. O senhor Oscar que tinha ido emborca volta e entra na dança, ainda
com cara emburrada. O clima envolve seu Oscar que abre um sorriso e distribui algodão
doce para todos.
Onde se passa a história? Quem já provou algodão doce? Por que as
crianças estão descalças? Por que são tão marginas e parecem tristes? Por que estão com
fome? Flor e Zezinho moram na praça? Como será que dormem? Luana é também uma
menina de rua? Por que será que seu Oscar está tão emburrado? Como está a boca de
seu Oscar emburrado? Quem já viu um realejo? Que música será que toca o realejo?
Porque o fundo sugere uma colcha de retalhos? Trabalhar com danças e músicas de
outras regiões e países (sugeridas no capítulo 1).
Colagem com retalho: Juntar muitos retalhos de tecidos bem variados,
coloridos, estampados, fitas, sianinhas, rendas, botões, lantejoulas etc., e propor uma
colagem em um tecido de algodão. Depois de prontos juntar todos e fazer um grande
mural dar acabamento com fitas ou sianinhas.
O livro mostra as características culturais dos povos indígenas de forma
clara em linguagem simples alimentação, moradia relação com a natureza, grafismos
etc.). Vários eixos de trabalho sugeridos pelo RCN infantil podem ser desenvolvidos.
O livro conta a história de uma menina (Bintou), que não estava satisfeita
com seus cabelos por serem crespos e curtos e com quatro birotes. Queria ter tranças
longas. Sonhava que os passarinhos faziam ninho em sua cabeça. A história se
desenvolve com costumes de uma tribo africana e seus rituais.
Reprodução dos grafismos africanos nas roupas.
É possível a partir da leitura dos livros fazer junto com os alunos um
quadro de características culturais de cada povo, semelhanças e diferenças e um paralelo
com os costumes e tradições brasileiras
Os livros podem suscitar a solidariedade, a aceitação da diferença e
desenvolver o sentimento de empatia pelo sofrimento do outro, além de várias
atividades integradas inclusive as ligadas a música, artes, língua oral e escrita, natureza
e sociedade etc.
2.8 A Literatura de Cordel
Literatura de Cordel é uma manifestação cultural popular nordestina
muito pouco utilizada nas Escolas.
Uma forma de comunicação autêntica, tem sua origem na Idade Média e
veio com os colonizadores portugueses. Os livretos são compostos por versos que
marcam histórias, notícias, romances etc, são ilustradas por xilogravura e impressos
ainda de forma artesanal em papel jornal.
As temáticas da literatura de cordel são variadas podendo ser romance,
história de anti-heróis, cangaço, religioso, humorístico, noticiosos, etc.
A literatura de cordel pode ser trabalhada em conjunto com artes,
linguagem oral e escrita.
As crianças poderão através dela contar “causos” por versos (caso não
sejam alfabetizadas, a professora será a escriba), noticiar o que aconteceu na escola,
inventar outras, sempre com versos simples, percebendo a sonoridade das palavras. O
trabalho pode ser iniciado a partir de uma relação de palavras que rimem para depois se
construir um verso.
As crianças podem declamar as histórias em coro, com todos juntos ou
cada um ficar responsável por um verso. Os coros podem ser apresentar e as produções
das crianças podem ser expostas ou até vendidas em uma feira cultural, por exemplo, a
forma tradicional, pendurada em cordões. É importante que as crianças tenham contato
com este tipo de literatura, não muito utilizada nas Escolas e sua temática tipicamente
popular.
Nas aulas de Artes, pode se fazer as capas com xilogravuras entalhadas
em sabão em barra, que quando entintadas podem ser carimbadas.
Xilogravura em sabão em barra.
Cavar com uma faquinha o sabão em barra e jogar o desenho que desejar.
É preciso saber que as partes em relevo é que serão carimbadas. As partes em baixo
relevo, ao serem carimbadas ficarão brancas, inclusive os sulcos. As gravações que
forem feitas na parte direita, quando carimbadas ficarão do lado esquerdo. É
interessante deixar as crianças experimentarem livremente as ferramentas no suporte.
Depois é só passar guache preta com um rolinho sobre o sabão e carimbá-los.
Capítulo 3
ARTE E IDENTIDADE
A Arte sempre influenciou a formação dos povos. Há 40.000 anos a.C., o
ser humano começou a produzir formas que recriavam a realidade em que viviam. Já
eram manifestações artísticas escultóricas.
Há 30.000 a.C. na Gruta de Cargas, foram encontradas impressões de
mãos abertas em cima de paredes tenras. Nas grutas de Lascaux no sul da França e em
Altamira, norte da Espanha, encontramos artistas que deixaram suas obras desenhadas:
mamutes, lampião à óleo, touros, cavalos, esculturas de animais, ossos gravados etc. Era
o homem representando seu entorno. Era arte e conhecimento. Desde os tempos remotos
(antes da escrita), o homem procura representar a realidade em que vive. Para que isso
aconteça é necessário que se tenha sensibilidade e o olhar atento que levem à criação.
As imagens nos acompanham desde a hora que acordamos até a hora que
vamos dormir. A toda momento somos invadidos por imagens. A leitura visual do
mundo nos é tão familiar que não nos damos conta do quanto é presente em nossa vida.
O trabalho com Artes Visuais, deverá promover o desenvolvimento do
percurso de criação pessoal do aluno, desenvolvendo a percepção visual do mundo e de
obras de arte, estimulando e enriquecendo seu potencial gráfico e visual, favorecendo a
construção de um olhar crítico no exercício da cidadania.
A Arte costuma despertar uma certa apreensão nos professores - causada
talvez pela falta da dimensão estética na sua própria formação. Estar diante de uma
folha em branco pode ser mais assustador do que reconfortante. O que fazer com ela?
Ainda ouvimos comentários do tipo: “eu não sei desenhar”, “não entendo nada de
Artes”, “o que é para fazer?”. O educador precisa exercitar o olhar de descoberta que
nossos antepassados possuíam. Um olhar capaz de ver, aprender, apreender e devolver,
que seria a educação da sensibilidade para que não desencorajem as crianças a se
expressarem de maneira não verbal.
Quando a criança ingressa na classe de alfabetização, a leitura e a escrita
são mais valorizados (tanto pelos pais como por educadores) do que as produções
artísticas, o que acarreta uma perda de liberdade de expressão (fundamento de qualquer
ato criador). O julgamento de suas produções e a noção de aprovação e desaprovação
levam a criança a se sentirem tolhidas e inseguras para se expressarem, preferindo
adotar produções estereotipadas como forma de segurança, de modo a não se exporem
ou se arriscarem, gerando trabalhos mecânicos, sem desafios. Por volta dos nove anos a
criança passa a valorizar a representação fiel e exata do real e a perder o interesse pelo
desenho por não conseguirem reproduzir realisticamente os objetos. Portanto, é preciso
que o potencial criativo das crianças seja desenvolvido desde a Educação infantil e que
se perpetue por toda a vida escolar.
O reconhecimento do valor do ensino de Artes na escola é de
fundamental importância. A amplitude desse ensinamento tem alcance tanto no sentido
do desenvolvimento individual como social, criando uma consciência crítica da
sociedade em que vive, podendo agir na sua transformação, principalmente para fazer
frente a padrões pobres, vazios estereotipados de um sistema consumidor aprisionador
com intenções claramente comerciais aos quais as crianças estão em contato (seja em
mochilas, desenhos de TV, rótulos, outdoors, etc.), em um país que não tem tradição
nem hábito de visitas à museus e exposições. A Arte caminha escapando desta
esteriotipia que invade, massacra e cria couraças. Cabe ao educador tomar ciência do
problema, não negando todo o papel da mídia, mas atuando sobre ele para tornar a
criança mais crítica , alargando seus horizontes.
3.1. Aspectos das Artes Visuais
Segundo o Referencial curricular para Educação Infantil, “Artes Visuais”
devem ser concebidas como uma linguagem que tem estrutura e características próprias,
cuja aprendizagem, no âmbito prático e reflexivo se dá por meio das articulações dos
seguintes aspectos.
• Fazer artístico: centrado na exploração , expressão e comunicação de
produção de trabalhos de arte por meio de práticas artísticas,
propiciando o desenvolvimento de um percurso de criação pessoal;
• Apreciação: percepção dos sentidos que o objeto propõe, articulando-
o tanto aos elementos da linguagem visual quanto aos materiais e
suportes utilizados, visando desenvolver, por meio da observação e da
fruição, a capacidade de construção de sentido, reconhecimento,
análise e identificação de obras de arte e de seus produtores;
• Reflexão: considerado tanto no fazer artístico como na apreciação, é
um pensar sobre todos os conteúdos do objeto artístico que se
manifesta em sala, compartilhando perguntas e afirmações que a
criança realiza instigada pelo professor e no contato com suas próprias
produções a as dos artistas.
(Referencial Curricular Nacional para Educação Infantil - 1998, p.89)
“É no fazer artístico e no contato com o objeto de arte que parte
significativa do conhecimento em Artes Visuais acontece” RCN Infantil -1998, p. 91)
3.1.1. Apreciação
Para crianças pequenas (0/3 anos), o material a ser apresentado deve ter
grande diversidade, ser significativo, devem ter relações com seu universo e
características culturais.
As crianças de 4/6 anos devem ter contato com diversas produções
artísticas como: desenho, pintura, esculturas, fotografias etc, observar os constituintes
da linguagem visual: ponto, linha, forma, cor, volume etc.
A elaboração de perguntas instiguem a observação, a descoberta e o
interesse das crianças devem ser feitas pelo professor: “o que você está vendo? “ o que
mais gostou?”, favorecendo verbalizações.
“Nas leituras grupais, as crianças elaboram não somente os conteúdos comentados, mas estabelecem uma experiência de contato e de diálogo com as ouras crianças, desenvolvendo o respeito, a tolerância à diversidade de interpretações ou atribuições de sentido às imagens, a
admiração e dando uma contribuição às produções realizadas, por intermédio de uma prática de solidariedade e inclusão. É nessa interação ativa que acontece simultaneamente o observação, a apreciação, a verbalização e a ressignificação das produções. Nessas situações, novamente, a imaginação, a ação, a sensibilidade, a percepção, o pensamento e a cognição, são reativados.” ( RCN Infantil ,1998, p. 105)
Existem vários caminhos para a apreciação das produções artísticas. O
primeiro começaria com a sensibilização dos alunos por meio observação e do
levantamento de todas as impressões que uma obra de arte suscita e somente depois se
passaria para a atividade prática. Ou ao contrário, iniciar uma atividade prática e
introduzir posteriormente a apreciação de obras de arte. Nos dois casos aapresentação
do artista de ser feita a partir de suas obras para só depois apresentar sua biografia.
O importante é que a criança estabeleça um paralelo entre o que está
sendo feito e o que já foi feito por outros artistas. Existem várias maneiras de se
apresentar uma obra de arte: através de reproduções ( livros, slides, transparências,
vídeos, internet, etc.), ou diretamente a partir de visitações à museus, galerias, igrejas
históricas, monumentos e etc. A apreciação não deve se limitar a obras de arte, mas
também das produções dos próprios alunos. O professor tem condições de nortear
questionamentos para a compreensão de obras de arte: técnica utilizada, tema abordado,
natureza abstrata ou figurativa, contexto histórico, cores, textura etc. (pintura).O
professor Roberto Ott estabeleceu cinco estratégias de apreciação de imagens:
• Descrever: o aluno deverá apenas olhar o objeto e descrevê-lo.
• Analisar: destacar o elementos e a estrutura da linguagem plástica
para perceber como a composição foi feita.
• Interpretar: deverá expressar seus sentimentos em ralação a obra
• Embasar: o conhecimento do aluno será ampliado com informações
sobre o objeto, o artista e o conjunto da obra
• Revelar: o aluno cria um novo trabalho.
3.1.2. Fazer Artístico
Iniciar o ensino de Artes Visuais não é só oferecer lápis, caneta, massa de
modelar etc. Não é mero passatempo destituído de significado.
A manipulação livre de instrumentos e materiais é o primeiro passo para
familiarizar a criança com recursos disponíveis para expressão.
Desde pequena a criança deixa suas impressões, suas marcas. Seja na
comida derramada, num pingo de água ou mesmo na areia.
Com a orientação dos educadores, esta brincadeira se torna expressão.
Os Suportes
São chamados suportes as superfícies ou objetos designados para serem
trabalhados. O aconselhável é que a criança receba sempre o suporte antes dos
instrumentos, para evitar que pintem mesas, chão etc. É preciso que a criança atente
para a superfície na qual vai trabalhar.
Os suportes deverão sempre ser nomeados e mostrado em todas as suas
faces. A criança deve antes de receber o instrumento, explorar o suporte, sentindo sua
textura, e passando a mão em seus contornos, para tomar consciência do limite
apresentado por este.
Existem suportes bidimensionais (papéis em geral, tecidos, etc.) e
tridimensionais (sucatas, objetos, argila etc,). Apesar do papel ter assumido papel de
destaque no trabalho com Artes Visuais, é imprescindível que objetos tridimensionais
ou mesmo os bidimensionais não convencionais como lixas, camisetas, papelão,
plásticos, sejam utilizados.
As possibilidades são enormes. Podem ser rasgados, dobrados,
amassados, picados, queimados e até diluídos em água.
Devem ser apresentados à criança sob diferentes formas: redondo,
quadrado, triangulares ou de qualquer outra forma.. O tamanho também deve variar,
assim como o plano que é trabalhado (horizontal, inclinado, vertical)
Os objetos tridimensionais, como sucatas, se prestam à construção do
mesmo tipo. Caixas, tampas, potes plásticos, são matéria prima para as construções.
Sapatos e sandálias de dedo velhas. Interessante a utilização de sandálias de dedo
velhas como suporte para a criação artística visto na exposição “OLINDA ARTE POR
TODA PARTE” No caso as crianças pintam sobre a sandália, e elas podem servir de pistas
ou como indicação para uma exposição. Ou ainda o VARAL CULTURAL, com camisetas
penduradas num varal com criações das crianças.
Instrumentos
São as ferramentas que são utilizadas. Lápis canetas, pincéis, gravetos,
escovas de dentes etc. Os dedos e as mãos são instrumentos naturais. Todos os outros
dependem deles.
Massa e Substância
São as tintas, colas, argila pó de giz, massa de modelar etc.
Elementos de Aplicação
São elementos colados, aplicados, costurados: botões, grãos, palitos,
barbante, fio de lã, lantejoulas etc.
3.2 Apreciação/Fazer Artístico no Desenvolvimento da Identidade
“Toda obra de arte é filha de seu tempo” (KadinskY apud Buoro, 2003,
p. 24)
Cada época de uma civilização cria uma arte que lhe é própria e que
jamais renascerá.
Essas mudanças que a arte sofre são produtos das transformações que se
processam na realidade social, e se refletem nos meios da produção artística. “A Arte
evidencia sempre o momento histórico do homem” (Buoro, 2003,p.25)
Por meio da obra pictórica pode-se levara criança a perceber a estrutura
social na qual vive e que a Arte está inserida neste contexto social e cultural.
3.2.1. Arte e Sociedade
A Obras de Rugendas, Debret, Albert Ekchout, retrataram sociedade da
época e sua cultura.
A partir da análise das obras é possível discutir as influências dos diferentes povos em nossa cultura (festas e folguedos), como era a sociedade da época
e seus costumes. A transdisciplinaridade pode ocorrer com a música.
Observação das diferenças entre as duas obras. As pessoas que dançam , tipo de moradia
Fazer artístico
• Identidade: Uma das características mais marcante e que nos
diferencia uns dos outros é a impressão digital. Uma atividade que pode despertar o
interesse das crianças para o tema é a observação do carimbo das digitais através de
lupas. As crianças irão perceber que nenhuma é igual a outra. Podem a partir delas
colocar uma folha de acetato e copiá-las para futura exposição.
A identidade nacional pode ser trabalhada a partir da bandeira do país. A
técnica descrita a seguir, favorecerá o trabalho com cores e a transdisciplinaridade com
Natureza e Sociedade.
Este é um trabalho coletivo de grande proporção
Uma grande bandeira deverá ser desenhada em um grande papel
resistente (4 folhas de papel duplex emendadas por fita crepe) , ocupando a maior área
possível. Depois o desenho deverá ser recortado e posteriormente preenchido com os
mais variados materiais ( papel sucata, tecidos, materiais bidimensionais e
tridimensionais), desde que tenha e mesma cor do objeto ( no caso as cores da
bandeira). Não deve sobrar nenhum espaço em branco. Depois de pronta , pintar com
hidrocor os espaços.
A partir desta atividade, o trabalho com cores poderá ser desenvolvido.
Uma sugestão é o livro Flicts (Ziraldo)
As crianças poderão fazer experimentação com várias cores, ou ainda
procurar pela cor “Flicts” pela Escola. O tema central do livro facilitará o trabalho de
identidade e diferenças
Debret e Rugendas , trabalharam com aquarela. Uma técnica seria
aquarelar a canetinha. Consiste em fazer um desenho com a canetinha hidrográfica
sobre papel canson ou cartolina. Não pode pintar só o contorno, mas também toda a
superfície. Com um pincel, passar água sobre o desenho. A tinta se espalhará, dando
aspecto aquarelado ao desenho.
Após o aprofundamento do tema e apreciação das obras, o educador
poderá discutir com as crianças sobre os povos que eles representaram, seus costumes e
cultura., para só então confeccionar objetos característicos de cada uma.
Cultura Indígena
Pau de chuva - Juntar com fita crepe dois ou mais canudos de papelão
duro (papel alumínio, filme PVA, canudos de tecidos vazios), formando um só canudo
bem comprido. Enfiar pregos, formando uma espiral que contorne todo o canudo ,
mantendo uma distância de 1,5 cm. Cobrir as cabeças dos pregos com fita crepe para
fixá-los. Recortar dois círculos de papel cartão um pouco maiores que o diâmetro do
canudo e colar. Jogar dentro um copo de arroz. Fechar a outra extremidade. Pintar com
tinta guache, e representar os grafismos indígenas. Virar lentamente para produzir som
semelhante ao da chuva.
Pintura Corporal
As pinturas indígenas são inspiradas em elementos da natureza e animais,
geralmente geométricas. Podem utilizar tintas naturais como o próprio povo faz
(urucum por exemplo) ou maquiagem de palhaço
O livro “Coisas de Índio - Daniel Mundurukú- Editora Callis 200), traz
ótimos exemplos de grafismo indígena. Seria importante que as crianças tivessem
acesso a grafismos de diferentes tribos para fazerem comparações e suposições.
Chocalhos de pé, de cintura, de mão poderão ser feitos com os mais variados objetos e
grãos.
Cultura Africana
Máscaras: O livro “Dudu Calunga” (citado no capítulo 2), traz exemplos
de máscaras africanas, que poderão ser inspiradoras para a representação em bandejas
de isopor. (quadradas, retangulares redondas). As máscaras africanas poderão ser
confeccionadas com material variado. Papel, sacos de papel, caixas de papelão etc.
Pau de Maculelê: Os paus de Maculelê são feitos com cabos de vassoura
cortados ao meio. Depois de pintados de branco, o grafismo africano deverá ser
representado. Poderá servir como transdisciplinaridade com música (sugerida no
capítulo 1).
O grafismo africano e indígena, poderá ser explorado a partir de
interferências gráficas. O educador seleciona algumas imagens e as cola em um papel
que servirá de suporte para o desenho da criança. A interferência leva as crianças a
pensarem soluções para compor uma nova imagem.
3.2.2. Brincadeiras Infantis e Artes Visuais
Tarsila do Amaral, Candido Portinari, Debret, Orlando Teruz dentre
outros, retrataram as brincadeiras e brinquedos populares de sua épocas, que sofreram
influências indígenas, africanas e européias. Muitas destas brincadeiras de
transformaram e se imortalizaram. Uma boa oportunidade de conversar com as
crianças sobre brincadeiras atuais e antigas.
“Os moleques brancos reproduzem em suas brincadeiras com os negros,
as relações de dominação do sistema de escravidão. Não havia casa onde não existisse
um ou mais moleques, um ou mais curumins, vítimas consagradas aos caprichos de
nhonhô “ (José Veríssimo apud Kishimoto 1997,p. 23).
Foi por intermédio da influência negra, que as tradições portuguesas
foram alteradas e enriquecidas. Canções de berço se misturaram às tradições indígenas
e africanas.
As crianças africanas do século XVI, trazidas com suas mães
escravizadas talvez não tenham encontrado ambiente para repetir as brincadeiras do
continente negro, até mesmo pela barreira da língua. Talvez tenham adotado as
brincadeiras locais. O fato das famílias entregarem os filhos para serem amamentados e
criados pelas negras, trouxe influências não só na educação como em seus jogos e
brincadeiras.
Com o passar do tempo, algumas brincadeiras se descaracterizaram. É
possível fazer referências a algumas obras com a época dos meninos de engenho.
“Os meninos viviam soltos em companhia dos moleques. Montando
cavalo, empinando papagaio, soltando pião. Ainda hoje a cultura brasileira conserva
estas brincadeiras.”
A brincadeira de montar carneiro foi uma prática bastante difundida nos
tempos do engenho.
Outra brincadeira comum que teve sua origem nessa época é o “pegador”, ligada
à figura do capitão do mato (caçador dos negros fugitivos), que aparece no
folclore da criança do Norte, Nordeste e Sudeste . Esta figura e suas historias
fantásticas impressionavam a imaginação das crianças a gerando o jogo. Uma
variação do pegador é a cabra cega (a cabra é muito popular na zona rural, talvez
venha daí o nome).
Nas tribos indígenas as mães faziam para os filhos brinquedos de barro
cozido, representando figuras de animais e de gente. Estes brinquedos são elementos
religiosos. As meninas indígenas não possuíam bonecas com formas humanas,. Quando
foram apresentadas a uma, chamaram-na de Tupana “Santo” e eram instrumentos de
adoração. A tradição de bonecas de barro indígenas não se transfere para a cultura
brasileira.
Fazer Artístico
Bilboquê: Tirar o fundo de uma garrafinha plástica (de refrigerante ou de
água). Fazer uma bolinha de jornal bem apertadinha (meia página de jornal) deixando
dentro dela a ponta de um barbante de aproximadamente 60cm. cobrir a bolinha com
fita crepe pressionado bem para não escapar o barbante. Tirar a tampa da garrafa,
amarrar a outra ponta do barbante no gargalo e tampar novamente. Para colorir o
trabalho usar cola colorida. O objetivo é colocar a bola dentro da garrafa.
Barangandão: Dobrar uma folha de jornal inteira em quatro, sempre no
mesmo sentido. Cortar tiras coloridas de papel crepom de mais ou menos 4cm. As tiras
devem ser cortadas ainda com papel crepom dobrado. Elas ficarão compridas. Para cada
barangandão usar 4 tiras de cores diferentes.
Dobrar as tiras no meio e enrolar bem apertadinhas junto com o jornal.
Amarrar um barbante bem firme em volta do jornal enrolado. O barbante deverá medir
cerca de 75 cm. O Barangandão quando gira, produz um som interessante. Explorar
movimentos.
Bonecos de papel: Amassar várias folhas de jornal para torná-las mais
macias. Criar a forma do boneco com as folhas de jornal amassadas; fazer a cabeça, o
tronco e os membros fixando as partes com fita crepe. É necessário usar bastante jornal
e bastante fita crepe. Cobri-lo com uma camada de jornal ou papel manilha em
pequenos quadrados molhados em uma mistura de água e cola branca na mesma
proporção. Depois o boneco poderá ser pintado e completado com outros materiais.
3.2.3. Um Olhar Sobre As Questões Sociais
As obras de Candido Portinari mostram o abismo social existente em
nossa sociedade, mostra nossa terra como ela é e está comprometida com a realidade
cultural do povo e portanto é capaz de atingir sensivelmente as crianças.
Tarsila do Amaral também retrata e traz em sua obra características
tipicamente brasileiras (lembranças de sua infância na fazenda) e exalta a cultura
popular e a natureza tropical. Tarsila utilizou tudo o que aprendeu na Europa e
transferiu em arte tipicamente brasileira. Os temas de seus quadros e suas cores
vibrantes ( principalmente fase Antropofágica e Pau-Brasil) agradam e despertam o
interesse das crianças.
Durante a apreciação das obras, alguns questionamentos podem ser feitos
pelo educador.
Operários
O que vocês estão vendo? E o que mais? As pessoas são iguais? Existem
pessoas de etnias diferentes? O que está por trás das pessoas? Onde será que trabalham?
O que será que fazem?
Segunda Classe
Onde estão essas pessoas? Por que o nome segunda classe? Para onde
será que estão indo? O que significa retirantes? Estão felizes? Por quê? Porque estão
descalços? Qual a diferença para os passageiros da primeira classe?
Favela
Como são os moradores representados? Como são os moradores atuais?
Como é a vegetação? (vegetação tipicamente brasileira) Como é o lugar que vocês
moram? Quais a diferenças e semelhanças? Poderá ser proposto a observação de
diferentes tipos de moradia de diversas regiões do Brasil.
Cabe ao educador instigar e reflexão dos alunos. talvez algumas
hipóteses e opiniões preconceituosas possam aparecer ( é preciso estar atento a elas).
Um paralelo com acontecimentos atuais através de revistas e jornais (que
inacreditavelmente ainda noticiam todo tipo de desrespeito e preconceito). As obras
destes artistas embelezam as paredes das classes mais favorecidas mas gritam as
desigualdades sociais.
Fazer Artístico
A partir do quadro “A Cuca” de Tarsila do Amaral, trabalhar com massa
de modelar sobre o papel. As crianças deverão compor uma imagem a partir de
impressão que tiveram do quadro. Ou ainda pegar apenas um elemento do quadro e
completar com as impressões. Os quadros “O Lago, A Lua e Urutu”, também podem
ser utilizados com esta técnica.
A partir da observação do quadro “Operários”, propor a confecção de um
mural. Uma grande painel temático composto de pequenos módulos redondos onde cada
um irá se representar, com suas características pessoais. Podem usar a mesma técnica ou
técnicas diferentes. Depois escolherão que tipo de composição farão com todos os
rostos (pode ser a bandeira do Brasil).
A técnica descrita a seguir pode ser desenvolvida a partir da tela
“Favela”. O educador seleciona um detalhe da obra (antes de mostrá-la) e faz várias
cópias em xerox (uma para cada aluno). Cada um cola em um papel maior e mais
resistente. Os alunos deverão completar o trabalho como imaginam ser a continuação
dessa obra. Depois pintam tudo. Só depois o professor mostrará a reprodução. Podem
ser utilizados várias técnicas (pintura, desenho, recorte e colagem).
CONCLUSÃO
Diante da mobilização que vemos acontecendo hoje para que haja uma
mudança de mentalidade e atitude frente as diferenças e diversidades, a Escola não
pode ficar alheia e muito menos se colocar como mera espectadora. Berço das
primeiras relações (depois da família), tem que estar ciente que a maneira como estas
irão se estruturar, dependerá de como acontecem no dia a dia da escola.
Alguns comportamentos e atitudes preconceituosas disfarçadas em
brincadeiras estão tão internalizados, que acontecem dentro da própria instituição.
Andando pelos espaços de uma escola ouço: “fala cabeçudo...”, vindo de um inspetor(!)
“cumprimentando” um aluno.
É preciso que haja sensibilização de todos os envolvidos no processo
educacional para que as mudanças partam destes, no convívio, nas relações, pois ética e
cidadania se aprende na prática, no contato com diversidades (seja ela cultural, social ou
racial).
Uma criança me conta em segredo, baixinho: “Eu sou igual ao meu pai,
não gosto de preto, ou ainda, quando ao começar a leitura do livro “menina bonita do
laço de fita” (citado neste capítulo), leio: “Era uma vez uma menina linda, linda... Ela
me interrompe dizendo: “eu não acho ela tão bonita assim. Eu então pergunto por que? e
ela responde: “Porque ela é preta”. Ou ainda em outra situação quando conversávamos
sobre cores. Uma criança me diz que não existem pessoas de pele vermelha. Eu então
digo que os povos indígenas eram chamados de “pele vermelha” pelos europeus pela
tonalidade mais avermelhada de sua pele. A criança então me diz: “Mas eu estou
falando de gente. E eu pergunto: E índio não é gente? e ela: Claro que não !!
A faixa etária dessas crianças é entre 6/7 anos! Se elas não tem nenhum
tipo de identificação com os povos que decisivamente formaram e influenciaram
culturalmente o povo brasileiro, quais serão os paradigmas que formarão a identidade
dessas crianças? Serão os europeus que invadem a mídia ao qual elas estão em contato
diariamente? “Até quando a gente vai levando? Até quando vai ficar sem fazer nada?
Será que é preciso esperar que ingressem no Ensino Fundamental, ou pior, no Ensino
Médio, para que tenhamos que reverter, re-significar esses preconceitos, quando talvez
já estejam tão sedimentados que nossas tentativas se tornarão em vão?
Por considerar a Educação Infantil como base do desenvolvimento
intelectual, moral, afetivo e social, acredito que é a partir desse segmento que estas
questões devam começara ser discutidas.
Os livros analisados neste capítulo, não foram escolhidos aleatoriamente
e sim por poderem despertar discussões sobre a representação da cultura africana,
indígena e do branco, na construção da identidade cultural brasileira.
BIBLIOGRAFIA
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Fundamental. Referencial Curricular Nacional para a Educação Infantil (Vol: 1, 2 e 3).
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MACHADO, Ana Maria & CLAUDIUS. Menina Bonita do Laço de Fita. São Paulo:
Ed. Ática, 2003.
MACHADO, Ana Maria & CLAUDIUS. MeninoPoti. São Paulo: Ed. Salamamdra,
1988.
MIGUEZ, Fátima & LIMA, Graça. Em Boca Fechada não Entra Mosca. São Paulo:
Ed. DCL, 1999
MACHADO, Ana Maria & GOLDIN, Alberto. Arte para Criança (volpi tonie). São
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MUNDURUKU, Daniel & KOWALCZYK, Marie. T. Kabá Darebu. São Paulo: Ed.
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SANTA ROSA, Néreide S. Brinquedos e Brincadeiras. São Paulo: Ed. Moderna, 2001.
SANTA ROSA, Néreide S. Festas e Tradições. São Paulo: Ed. Moderna, 2001.
RIBEIRO, Jonas & NEVES, André. Dança na Praça. São Paulo: Ed. DCL, 2003.
RENNÓ, Regina Coeli. História de Amor. Belo Horizonte: Ed. Lê, 1999.
SANTOS, Joel Rufino & TEIXEIRA, Zeflávio. Dudu Calunga. São Paulo: Ed. Ática,
1998.
ÍNDICE
INTRODUÇÃO .........................................................................................................1
Capítulo 1. A MÚSICA NA EDUCAÇÃO INFANTIL............................................4
1.1. Musica e Movimento ..........................................................................................6
1.2. Pedagogia Musical Atual ....................................................................................6
1.3. Valores Agregados à Música ..............................................................................8
1.4. Iniciação Musical................................................................................................10
1.4.1. Sons do Corpo...........................................................................................10
1.4.2. Sons das Palavras......................................................................................10
1.4.3. Brinquedos Rítmicos ................................................................................11
1.4.4. Criando Ritmos e Sons .............................................................................12
1.4.5. Vivenciando as Qualidades dos Sons .......................................................13
1.4.6. Trabalhando com Objetos Sonoros Não Convencionais ..........................14
1.4.7. Brincando com Cantigas de Roda e Histórias Infantis .............................15
1.5. Diversidade Étnica e sua Influência nas Manifestações Culturais Brasileiras ...17
1.5.1. Danças de Origem Européia .....................................................................17
1.5.2. Danças de Origem Africana......................................................................23
1.5.3. Povos Indígenas, a Música, a Dança e a sua Influência ...........................24
Capítulo 2. LITERATURA INFANTIL - A CONSTRUÇÃO DA CIDADANIA....28
2.1. Da Literatura Oral à Literatura Atual .................................................................28
2.2. Breve Histórico ...................................................................................................29
2.3. Estrutura das Narrativas......................................................................................30
2.3.1. Dinâmica das Narrativas...........................................................................32
2.4. Relação Entre Texto e Imagem...........................................................................33
2.5. Características das Ilustrações ............................................................................34
2.5.1 Vários Ambientes num só Plano................................................................35
2.5.2. Várias Ações num só Plano ......................................................................35
2.5.3. Várias Ações em Perspectiva....................................................................36
2.5.4. Janelas e Perspectiva ................................................................................36
2.5.5. Cômodos em Perspectiva..........................................................................37
2.5.6. Cortes de uma Casa ..................................................................................38
2.5.7. Enquadramento, Código Gráficos, Conectores Temporais, Espaço,
Diálogos ....................................................................................................38
2.6. Função das Imagens em Diferentes Tipos de Texto ...........................................42
2.6.1. Livro sem Texto........................................................................................42
2.6.2. Ilustração Maior que o Texto....................................................................43
2.6.3 .Ilustração e Texto de Extensão Média......................................................43
2.6.4. Texto Maior que a Ilustração....................................................................43
2.7. Analisando Alguns Livros ..................................................................................44
2.8. A Literatura de Cordel ........................................................................................45
Capítulo 3. ARTE E IDENTIDADE .........................................................................47
3.1. Aspectos das Artes Visuais.................................................................................48
3.1.1. Apreciação ................................................................................................49
3.1.2. Fazer Artístico ..........................................................................................51
3.2. Apreciação / Fazer Artístico no Desenvolvimento da Identidade ......................52
3.2.1. Arte e Sociedade .......................................................................................53
3.2.2. Brincadeiras Infantis e Artes Visuais .......................................................56
3.2.3. Um Olhar Sobre as Questões Sociais .......................................................58
CONCLUSÃO ...........................................................................................................62
BIBLIOGRAFIA .......................................................................................................64