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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
FACULDADE INTEGRADA A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
O PANORAMA DA ÁREA ACADÊMICA DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL,
NO MOMENTO EM QUE COMEMORAMOS OS 45 ANOS DA
REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO.
DIOGO BASTOS DA COSTA
C205884
Prof. MsC. MARCELO MARTINS SALDANHA DA GAMA
Rio de Janeiro
2011
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
FACULDADE INTEGRADA A VEZ DO MESTRE
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
O PANORAMA DA ÁREA ACADÊMICA DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL,
NO MOMENTO EM QUE COMEMORAMOS OS 45 ANOS DA
REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO.
Monografia elaborada pelo Aluno Diogo
Bastos da Costa, orientado pelo Prof.
MsC. Marcelo Saldanha como
avaliação final da disciplina
Metodologia da Pesquisa e Monografia,
do Curso de Docência do Ensino
Superior da Faculdade Integrada A Vez
do Mestre - AVM
Rio de Janeiro
2011
AGRADECIMENTOS
Ao corpo docente da Faculdade Integrada “A
Vez do Mestre”, à Noelma Oliveira, minha
namorada, peça fundamental no
levantamento do material bibliográfico, aos
colegas de turma, que direta, ou
indiretamente, contribuíram na elaboração
deste trabalho e à Fátima Abondante, que
realmente me ensinou a ser Professor.
RESUMO
Em 2010 os Administradores comemoraram o 45º aniversário da
regulamentação da Profissão no Brasil. No entanto, estudos indicam que a
área acadêmica e a área profissional vivem uma dicotomia: por um lado,
pesquisas indicam descontentamento com o ensino da Administração no País.
Por outro, as notícias apontam que a profissão do Administrador de Empresas
está cada vez mais em voga, valorizada e reconhecida.
O presente estudo apresenta um breve histórico da profissão na Brasil,
sua evolução, a necessidade da oferta de uma boa formação e o panorama
atual do sistema de formação acadêmica em Administração, suas dificuldades
e perspectivas.
“O conhecimento era um bem privado, associado ao verbo SABER. Agora, é um bem público ligado ao verbo FAZER.” “Os resultados provêm do aproveitamento das oportunidades e não da solução dos problemas. A solução de problemas só restaura a normalidade. As oportunidades significam explorar novos caminhos.” “Não existem países subdesenvolvidos. Existem países subadministrados”
Peter Drucker
METODOLOGIA
A metodologia utilizada na elaboração deste estudo foi a pesquisa em
periódicos dos Conselhos Regionais de Administração, em consulta a artigos
publicados em sites especializados em Administração e estudos na área, além
de material utilizado em palestras, apresentações e aulas.
Este estudo poderá servir como consulta para futuras pesquisas, uma
vez que nele se encontram, consolidadas, os principais textos e artigos sobre o
assunto encontrados.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................ 8
CAPÍTULO I .............................................................................................. 10
UMA BREVE HISTÓRIA DA ADMINISTRAÇÃO ..................................... 10
CAPÍTULO II ............................................................................................. 13
A HISTÓRIA DA ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL .................................... 13
CAPÍTULO III ............................................................................................ 17
O ENSINO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL ................... 17
CAPÍTULO IV ............................................................................................ 31
PANORAMA ATUAL DO ENSINO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL ..................................................................................................... 31
CONCLUSÃO ........................................................................................... 37
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 46
8
INTRODUÇÃO
Conforme artigo publicado no Portal Administradores, em 17 de junho de
2010, uma pesquisa elaborada pelo Portal, cuja pergunta era “Você acredita
que administrar é apenas para Administradores devidamente formados em
Administração?”, obteve o seguinte resultado:
33,34% responderam “Sim, pois só a graduação em Administração oferece os
conhecimentos necessários para o exercício da profissão”
65,18% responderam “Não, pois qualquer pessoa pode desenvolver as
habilidades e competências necessárias para administrar, independente da
área de formação”
O mesmo artigo apresenta os dados de uma outra enquete elaborada
pelo Conselho Regional de Administração de São Paulo – CRA/SP, que
“aponta que a maioria dos filiados do órgão acredita que o ensino superior na
área de Administração é deficitário, no Brasil. O levantamento foi feito no mês
de maio com o intuito de verificar a opinião dos profissionais a respeito da
sintonia entre os cursos superiores e a evolução do mercado de trabalho.”
A enquete foi feita com cerca de 3.000 administradores filiados ao CRA-
SP que responderam à pergunta "Você acha que os cursos de ensino superior
de Administração têm formado profissionais preparados para a evolução do
mercado?" Desses, 53,54% disseram acreditar, em parte, que os cursos
superiores de Administração têm formado profissionais preparados para a
evolução do mundo corporativo. Já para 31,91%, eles não têm atingido esse
objetivo. E para apenas 14,55% o ensino superior de Administração é
satisfatório.
9
O presidente do CRA-SP, Walter Sigollo, avalia que "a velocidade das
mudanças nas empresas é mais rápida que nas universidades e, portanto, há
um descompasso de tempo". Segundo ele, embora as faculdades se esforcem
para aproximar os alunos da realidade, há, ainda, uma certa rigidez nos
currículos universitários que é prejudicial . "É preciso preparar os alunos para
as transformações futuras", ressalta Sigollo.”
Estes dados servem para apontar os resultados, que mostram um certo
descontentamento em relação à qualidade da formação nos cursos de
Administração. O que fazer, pois, para melhorar estes dados?
10
CAPÍTULO I
UMA BREVE HISTÓRIA DA ADMINISTRAÇÃO
Em artigo publicado no Informativo Mensal do CRA/CE, CRA em Ação, a
Adm. Lucinda Pimentel Gomes faz um resumo sobre a história da
Administração. A autora reconta a origem da Administração, em “5.000 a .C, na
Suméria, quando os antigos sumerianos procuravam melhorar a maneira de
resolver seus problemas práticos, exercitando assim a arte de administrar.”,
passando depois pelo Egito, com o dimensionamento de “um sistema
econômico planejado que não poderia ter-se operacionalizado sem uma
administração pública sistemática e organizada. “
Em seguida, na China de 500 a.C, onde já aparecem as Regras de
Administração Pública de Confúcio, que “exemplificam a tentativa chinesa de
definir regras e princípios de administração”. Diz a autora que, além destes
registros histórico existem, ainda, outras raízes, como as instituições otomanas,
pela forma como eram administrados” e “os prelados católicos, já na Idade
Média, destacando-se como administradores natos.”
Na Europa, “a Alemanha e a Áustria, de 1550 a 1700, através do
aparecimento de um grupo de professores e administradores públicos
chamados os fiscalistas ou cameralistas”, na França, “os mercantilistas ou
fisiocratas, que valorizavam a riqueza física e o Estado, pois ao lado das
reformas fiscais preconizavam uma administração sistemática, especialmente
no setor público”.
Dado curioso apontado pela Autora, na evolução histórica da
Administração é o destaque dado a duas instituições: a Igreja Católica Romana
e as Organizações Militares. A Autora diz que “a Igreja Católica Romana pode
11
ser considerada a organização formal mais eficiente da civilização ocidental”,
pois “através dos séculos vem mostrando e provando a força de atração de
seus objetivos, a eficácia de suas técnicas organizacionais e administrativas,
espalhando-se por todo mundo e exercendo influência, inclusive sobre os
comportamentos das pessoas, seus fiéis”.
Enquanto isso, “as Organizações Militares evoluíram das displicentes
ordens dos cavaleiros medievais e dos exércitos mercenários dos séculos XVII
e XVIII até os tempos modernos com uma hierarquia de poder rígida e adoção
de princípios e práticas administrativas comuns a todas as empresas da
atualidade.”
Já a empresa e a administração moderna, no formato que hoje as
conhecemos tiveram seus moldes no final do século XVIII, estendendo ao
longo do século XIX, chegando ao limiar do século XX. “Esse fenômeno, que
trouxe rápidas e profundas mudanças econômicas, sociais e políticas, chamou-
se Revolução Industrial.“
O relato da Autora a respeito da Revolução Industrial é conciso: “teve
início na Inglaterra, com a invenção da máquina a vapor, por James Watt, em
1776. A aplicação da máquina a vapor no processo de produção provocou um
enorme surto de industrialização, que se estendeu rapidamente a toda a
Europa e Estados Unidos. A Revolução Industrial desenvolveu-se em duas
fases distintas: a primeira fase de 1780 a 1860. A segunda fase de 1860 a
1914. É a revolução da eletricidade e derivados do petróleo, como as novas
fontes de energia, e do aço, como a nova matéria-prima. Ao final desse
período, o mundo já não era mais o mesmo”.
Mais adiante, no século XX, “surge Frederick W. Taylor, engenheiro
americano, apresentando os princípios da Administração Cientifica e o estudo
da Administração como Ciência”. Conhecido como precursor da Teoria da
12
Administração Científica, preconizava a prática da divisão do trabalho,
enfatizando tempos e métodos a fim de assegurar seus objetivos "de máxima
produção a mínimo custo". Publicou o livro Princípios da Administração
Científica, considerado a "bíblia" dos organizadores do trabalho.
“Na história da evolução da Administração não se pode esquecer a
valiosa contribuição de Elton George Mayo, o criador da Teoria das Relações
Humanas, desenvolvida a partir de 1940, nos Estados Unidos e mais
recentemente, com novas idéias, com o nome de Teoria do Comportamento
Organizacional”. O interessante desta Teoria “foi, basicamente, o movimento
de reação e de oposição à Teoria Clássica da Administração, com ênfase
centrada nas pessoas”. E é aqui que vemos o Estudo da Administração, pois
“(esta Teoria) teve como origem a necessidade de humanizar e democratizar a
administração, o desenvolvimento das chamadas ciências humanas (psicologia
e sociologia), as idéias da filosofia pragmática de John Dewey e da Psicologia
Dinâmica de Kurt Lewin e as conclusões do Experimento de Hawthorne”, todos
estes “já bastante estudados e discutidos nas escolas de administração”.
A autora encerra a parte histórica mundial da Administração adminitindo
que “os princípios fundamentais das Teorias de Taylor, Fayol, Mayo e Weber
foram e serão sempre os pilares da evolução e do desenvolvimento da ciência
da Administração e que têm motivado e impulsionado os estudos, pesquisas,
trabalhos e obras dos seus seguidores até os nossos dias“.
13
CAPÍTULO II
A HISTÓRIA DA ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL
Prosseguindo em seu texto, a Adm. Lucinda Pimentel Gomes começa a
relatar a história da Administração no Brasil. As próximas linhas são parte in
loco do seu texto:
“É importante conhecer a história da Administração no Brasil e os
precursores da luta de torná-la reconhecida. A história da Administração
iniciou-se em 1931, com a fundação do Instituto da Organização Racional do
Trabalho - IDORT, que contava com o Professor Roberto Mange, suíço
naturalizado, na sua direção técnica.
Em meados do mesmo ano o Departamento Administrativo do Serviço
Público, até hoje conhecido pela sigla DASP, foi fundado pelo Dr. Luiz Simões
Lopes. Por este órgão foi criada a Escola de Serviço Público que enviava
técnicos de administração aos Estados Unidos para a realização de cursos de
aperfeiçoamento, com defesa de tese. Os conhecimentos e as ações
desenvolvidas por estes especialistas, no seu retorno ao país, fez deles
pioneiros da Administração no Brasil, como profissão.
Novamente sob orientação do Dr. Luiz Simões Lopes, em 1944, foi
criada a Fundação Getúlio Vargas, mantenedora da EASP - Escola de
Administração de Empresas de São Paulo. Junto com o DASP, foi criado um
cargo exclusivo de Técnico em Administração (hoje Administrador). Sentia-se
então a necessidade de institucionalização urgente da profissão do
Administrador, como forma de preservar o mercado de trabalho para os que já
atuavam na Administração Pública e para os egressos daquelas escolas, bem
como, defender a sociedade de pessoas inabilitadas e na maioria
despreparadas.
14
No entanto, institucionalizar uma profissão não é tarefa fácil e a
estratégia adotada deveria consistir na fundação da ABTA - Associação
Brasileira de Técnicos de Administração, em 19 de Novembro de 1960, que
tinha como símbolo o hexágono. A entidade recém-criada começou a
desenvolver esforços com vistas a preparação de um projeto de lei que
institucionalizasse a administração. É de inteira justiça salientar aqui a
inestimável colaboração do Professor Alberto Guerreiro Ramos, Técnico de
Administração do DASP, na época Deputado Federal, para a aprovação do
projeto.
Guerreiro Ramos foi decisivamente apoiado pela ABTA na luta pela
sanção presidencial, já que a reação de poderosas forças contrárias pugnava
pelo veto.Afinal, com o importante apoio do Diretor Geral do DASP, a Lei nº.
4769, foi sancionada em 09 de Setembro de 1965, pelo então Presidente da
República, Humberto de Alencar Castelo Branco. Para implantação da citada
Lei, o Ministério do Trabalho nomeou uma Junta Federal presidida por Ibany da
Cunha Ribeir, aliada à ABTA, presidida por A. Nogueira de Faria, que forneceu
sua estrutura e seus recursos materiais e humanos, implantando assim os
Conselhos Regionais de Minas Gerais, Ceará, Pernambuco e Bahia.
Entre os que exerceram o cargo de Técnico de Administração no DASP,
além dos acima mencionados, podemos citar Celso Furtado e Belmiro Siqueira.
Este último ocupou vários cargos naquela repartição pública, dentre eles o de
Diretor Geral, em 1967 e 1968. Belmiro Siqueira é também o Patrono dos
Administradores, título que lhe foi outorgado "pos-mortem". Administrador,
professor, consultor, assessor governamental, colunista de vários jornais,
sempre escrevendo sobre assuntos ligados à sua área de atuação. Autor de
vários trabalhos sobre Administração, foi eleito Conselheiro Federal em 1977 e
Vice-Presidente do Conselho Federal de Administração - CFA, até 28 de
Novembro de 1987, data de seu falecimento. Na ocasião encontrava-se no
exercício da Presidência do CFA. Era mineiro de Ubá, nascido a 22 de
15
Outubro de1921. Torna-se imperativo, nesta oportunidade, exaltar a valiosa,
decisiva e importante contribuição do Administrador Belmiro Siqueira. Cujo
talento, profissionalismo e dedicação à nossa categoria ficarão para sempre
registrados nos anais da história da Administração, no Brasil”.
A partir de então, temos a Profissão da Administração devidamente
reconhecida e regulamentada no País. No entanto, o termo Administrador vem
aparecer ainda algum tempo depois. Mesmo após a regulamentação, os
profissionais de Administração continuavam sendo chamados de “Técnicos de
Administração, o que transmitia uma conotação de formação escolar de nível
médio”. Dois anos mais tarde foi criado o órgão responsável pela disciplina e
fiscalização do exercício profissional: o CFTA – Conselho Federal de Técnicos
de Administração, com a “missão de trabalhar pela afirmação da existência e
fixação da profissão de Administrador no macro-sistema sócio-jurídico-
econômico nacional”. Somente então os demais Conselhos Regionais foram
criados nas Capitais do País, dando origem ao que chamamos hoje de Sistema
CFA/CRA’s, ou seja, o Conselho Federal de Administração e os demais
Conselhos Regionais. Estes Conselhos têm “a finalidade de difundir e
consolidar a missão do órgão maior (CFTA) da categoria, com abrangência e
autonomia nas diversas regiões da Unidade Federativa”.
Somente vinte anos após a criação da profissão de Administrador, por
força da Lei Federal n°735, de 13 de junho de 1985, foi mudada a
denominação de Técnico de Administração para Administrador, resultado de
“uma vibrante campanha em 1983, coordenada pelo CRA-SP, que levou ao
Ministério do Trabalho as reivindicações de todas as instituições do País
ligadas ao campo da administração: universidades, faculdades, associações
profissionais, sindicatos, além de milhares de assinaturas de profissionais e
apoio de centena de Câmaras Municipais”.
16
A Adm. Lucinda Pimentel Gomes encerra seu levantamento sobre a
História da Administração no Brasil de forma quase poética: “inicia-se, assim,
um novo tempo de desenvolvimento e aperfeiçoamento da Administração,
como Ciência e como Profissão. A tecnologia moderna aliada aos cientistas,
pesquisadores e professores, com seus mecanismos, estudos e trabalhos vêm
provando que Administrar é necessário, proveitoso e imprescindível em
qualquer segmento, contexto ou situação na vida das pessoas, das empresas e
das entidades”.
No ano de 2010 a profissão de Administrador completou 45 anos de sua
regulamentação no Brasil e no decorrer dessas quase cinco décadas é
inegável o “crescimento e o aperfeiçoamento das pessoas e instituições que
estudam, ensinam, trabalham, dirigem ou fiscalizam a profissão do
Administrador”.
17
CAPÍTULO III
O ENSINO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL
O endereço eletrônico do Conselho Federal de Administração nos conta
toda a história e a evolução do Ensino Superior de Administração no Brasil,
mostrando, logo de começo, que a história destes cursos, no Brasil, é curta,
“principalmente se comparamos com os EUA, onde os primeiros cursos na
área se iniciaram no final do século XIX, com a criação da Wharton School, em
1881. Em 1952, ano em que se iniciava o ensino de Administração no Brasil, os
EUA já formavam em torno de cinquenta mil bacharéis, quatro mil mestres e
cem doutores por ano, em Administração.”
Todo o texto abaixo foi retirado do endereço eletrônico do Conselho
Federal de Administração, por se tratar de um texto completo a respeito do
assunto. Isto posto, todo o texto estará entre aspas.
“Historicamente, o ensino de Administração no Brasil passou por dois
momentos marcados pelos currículos mínimos aprovados em 1966 e 1993,
culminando com a apresentação da proposta de diretrizes curriculares para os
cursos de graduação em Administração.
O contexto para a formação do Administrador no Brasil começou a
ganhar contornos mais claros na década de quarenta. A partir desse período,
acentua-se a necessidade de mão-de-obra qualificada e, conseqüentemente,
da profissionalização do Ensino de Administração. O autor ressalta a
importância da formação de pessoal especializado para a planificação de
mudanças, assim como da criação de centros de investigação para dar suporte
a questões econômicas e administrativas, em uma sociedade que passava de
um estágio agrário para a industrialização .
18
Segundo essa visão, tratava-se de formar, a partir do sistema escolar,
um Administrador profissional, apto para atender ao processo de
industrialização. Tal processo desenvolveu-se de forma gradativa, desde a
década de 30, porém, acentuou-se por ocasião da regulamentação da
profissão, ocorrida na metade dos anos sessenta, através da Lei nº 4.769, de
09 de setembro de 1965. Com essa Lei, o acesso ao mercado profissional seria
privativo dos portadores de títulos expedidos pelo sistema universitário.
O Ensino de Administração veio privilegiar a participação das grandes
unidades produtivas, que passaram a constituir um elemento fundamental na
economia do país, principalmente a partir de 1964.
A grande preocupação com os assuntos econômicos teve seu marco em
1943. Naquele ano, realizou-se, no Rio de Janeiro, o primeiro Congresso
Brasileiro de Economia, no qual se manifestou grande interesse pela
industrialização do país, postulando-se iniciativas concretas por parte do
Estado para motivar a pesquisa em assuntos econômicos. Porém, tais estudos
vinham sendo realizados basicamente nos cursos de Direito na disciplina de
economia, vista como de "formação geral".
Somente em 1945 surgiram os primeiros resultados quanto à
implantação desse ensino. Nesse ano, Gustavo Capanema, Ministro da
Educação e Saúde, encaminhou à Presidência da República um documento
que propunha a criação de dois cursos universitários: Ciências Contábeis e
Ciências Econômicas. O documento afirmava que as atividades de direção e
orientação, tanto nos negócios públicos como nos empresariais, haviam
atingido um nível de maior complexidade, exigindo de seus administradores e
técnicos conhecimentos especializados. Isso possibilitou que os cursos de
economia passassem a ter um caráter de especialização, não mais de natureza
genérica, como anteriormente.
19
A criação desses cursos assume um papel relevante, por ampliar a
organização escolar do país que, até então, constituía-se apenas de
engenheiros, médicos e advogados.
Nesse sentido, é significativo considerar a importância do Manifesto dos
"Pioneiros da Educação Nova" que, em 1932, abordava a necessidade de
outros cursos universitários, além dos já mencionados .
O ensino de Administração está relacionado ao processo de
desenvolvimento do país. Esse processo foi marcado por dois momentos
históricos distintos. O primeiro, pelos governos de Getúlio Vargas,
representativos do projeto "autônomo", de caráter nacionalista. O segundo,
pelo governo de Juscelino Kubitschek, evidenciado pelo projeto de
desenvolvimento associado e caracterizado pelo tipo de abertura econômica de
caráter internacionalista. Este último apresentou-se como um ensaio do modelo
de desenvolvimento adotado após 1964. Nesse período, o processo de
industrialização se acentuou, sobretudo devido à importação de tecnologia
norte-americana.
O surto de ensino superior, e em especial o de Administração, é fruto da
relação que existe, de forma orgânica, entre essa expansão e o tipo de
desenvolvimento econômico adotado após 1964, calcado na tendência para a
grande empresa. Nesse contexto, tais empresas, equipadas com tecnologia
complexa e com um crescente grau de burocratização, passam a requerer
mão-de-obra de nível superior para lidar com essa realidade.
O surgimento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a criação da
Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP)
marcaram o ensino e a pesquisa de temas econômicos e administrativos no
Brasil, contribuindo para o processo de desenvolvimento econômico do país.
20
Tais instituições ocuparam uma posição dominante no campo das
instituições de ensino de Administração, assim como de referência do posterior
desenvolvimento desses cursos.
É importante considerar que a idéia dos fundadores dessas instituições
era criar um novo tipo de intelectual, dotado de uma formação técnica capaz de
revestir suas ações de conhecimentos especializadas, como uma estratégia
indispensável ao prosseguimento das transformações econômicas iniciadas em
meados dos anos trinta.
Tratava-se, para Martins de formar, a partir do sistema escolar, o
"administrador profissional". Esse processo se intensificaria no momento da
regulamentação da profissão ocorrida na metade dos anos sessenta (1965),
quando o acesso ao mercado profissional seria restrito aos portadores de
títulos universitários.
A FGV representa a primeira e mais importante instituição que
desenvolveu o ensino de Administração. Sua origem remonta à criação do
Departamento de Administração do Serviço Público (DASP), em 1938. Esse
órgão tinha como finalidade estabelecer um padrão de eficiência no serviço
público federal e criar canais mais democráticos para o recrutamento de
Recursos Humanos para a administração pública, por meio de concursos de
admissão .
A idéia da criação da nova Instituição foi bem acolhida pelo então
presidente da República, Getúlio Vargas, que autorizou o DASP a promover a
abertura de uma entidade voltada ao estudo de princípios e métodos da
organização racional do trabalho, visando a preparação de pessoal qualificado
para a administração pública e privada. A instituição surgiu por meio do
Decreto nº 6.933, próxima ao pólo dominante dos campos do poder político e
econômico.
21
Foi na FGV que surgiram os primeiros institutos de investigação sobre
assuntos econômicos do país, com propósito de fornecer resultados para as
atividades dos setores estatal e privado.
A criação da Fundação Getúlio Vargas ocorreu em um momento em que
o ensino superior brasileiro deslocava-se de uma tendência européia para uma
tendência norte-americana. Isto é evidente, uma vez que a FGV tem
apresentado um vínculo entre seus organizadores e o ensino universitário
norte-americano, de onde proveio a inspiração para estruturá-la em termos de
fundação.
Martins comenta ainda que o objetivo da Fundação era formar
especialistas para atender ao setor produtivo, tomando-se como inspiração as
experiências norte-americanas. Em 1948, representantes dessa Instituição
visitaram vinte e cinco Universidades americanas que mantinham cursos de
Administração Pública, com intuito de conhecer diferentes formas de
organização. Isto favoreceu a realização de encontros entre representantes da
FGV e professores norte-americanos visando à criação de uma escola voltada
ao treinamento de especialistas em Administração Pública.
Como fruto dessas relações, foi criada, em 1952, a Escola Brasileira de
Administração Pública (EBAP), pela Fundação Getúlio Vargas, com o apoio da
ONU e da UNESCO para a manutenção inicial. O convênio com esses
organismos internacionais previa a manutenção de professores estrangeiros na
escola e bolsas de estudo para o aperfeiçoamento dos futuros docentes no
exterior.
Com o surgimento da EBAP no Rio de Janeiro, a FGV preocupou-se em
criar uma escola destinada especificamente à preparação de Administradores
22
de Empresas, vinculada ao mundo empresarial, com o objetivo de formar
especialistas em técnicas modernas de administração empresarial .
Essa situação possibilitou a criação da Escola de Administração de
Empresas de São Paulo (EAESP), em 1954. É importante destacar que a FGV
escolheu essa cidade, considerada a capital econômica do país, "coração e
cérebro da iniciativa privada", com intuito de atender às expectativas do
empresariado. Para a implantação da escola, a FGV buscou apoio do governo
federal, do Estado de São Paulo e da iniciativa privada.
Para dar início às atividades nessa nova Instituição, a FGV firmou um
acordo com a USAID (Desenvolvimento Internacional do Governo dos Estados
Unidos). Nesse convênio, o governo norte-americano se comprometia a
manter, junto a esta escola, uma missão universitária de especialistas em
Administração de Empresas, recrutados na Universidade Estadual de Michigan.
Por outro lado, a FGV enviaria docentes para estudos de pós-graduação nos
Estados Unidos, com intuito de preencher os quadros do corpo docente da
EAESP. Tal convênio revelava a influência do ensino de Administração norte-
americano na realidade brasileira, evidenciada, sobretudo, por meio dos
currículos e bibliografias.
A missão universitária norte-americana atuou na EAESP até 1965,
fornecendo uma forte estrutura acadêmica à instituição que lhe permitiu ocupar
uma posição dominante entre os cursos de Administração do País .
Com a criação da EAESP, surgiu o primeiro currículo especializado em
Administração, que influenciou, de alguma forma, o movimento posterior nas
instituições de ensino superior do País .
A partir da década de sessenta, a FGV passou a criar cursos de pós-
graduação nas áreas de Economia, Administração Pública e de Empresas. Em
meados dessa década, iniciou a oferta regular dos cursos de mestrado.
23
Com a criação dos cursos de mestrado, a FGV passou a ser o centro
formador de professores para outras instituições de ensino, no momento em
que ocorreu uma enorme expansão dos cursos de Administração. Como
conseqüência dessa expansão, na metade da década de 70, a entidade
passou a ministrar um programa de doutorado nessas áreas.
Outra Instituição de muita relevância para o desenvolvimento do ensino
de Administração tem sido a Universidade de São Paulo (USP), que surgiu da
articulação de políticos, intelectuais e jornalistas.
A Universidade de São Paulo surgiu em 1934, por meio da aglutinação
de faculdades já existentes e da abertura de novos centros de ensino. Em
1946, foi criada a Faculdade de Economia e Administração (FEA), que tinha
por objetivo formar funcionários para os grandes estabelecimentos de
Administração pública e privada .
A criação da FEA se deve principalmente ao grande surto de
industrialização, quando surgiram empresas movimentando vultosos capitais
que exigiram, para sua gestão, técnicas altamente especializadas.
Assim como a FGV, por meio da EBAP e da EAESP, também a
Faculdade de Economia e Administração foi criada com um objetivo prático e
bem definido: atender, por meio da preparação de recursos humanos, às
demandas oriundas do acelerado crescimento econômico .
Foram os interesses públicos e privados que influenciaram na criação da
FEA. Segundo Martins, o objetivo era de prestar colaboração às empresas
privadas e a todos os órgãos do serviço público
24
Desde o início, a instituição procurou criar relações principalmente com a
Administração Pública local. Estabeleceu contato com a Federação das
Indústrias, com a Associação Comercial do Estado e com a iniciativa privada.
Tais relações permitiram que o quadro de professores desenvolvesse, além de
suas funções didáticas, um trabalho de assessoria junto a organismos privados
e na administração estatal.
No interior da FEA, foram criados institutos que desempenharam um
papel estratégico para sua articulação com o campo do poder econômico, na
medida em que passou a prestar serviços a organismos públicos e privados.
É importante mencionar o Instituto de Administração, criado em 1946,
que, juntamente com a FEA, foi, até 1966, muito importante na orientação de
projetos e pesquisas para a administração pública e estatal.
A FEA, nos seus primeiros 20 anos, possuía apenas os cursos de
Ciências Econômicas e Ciências Contábeis, e não oferecia os Cursos de
Administração. Mesmo assim, ambos os cursos evidenciavam um conjunto de
disciplinas que tratava de questões administrativas. O Instituto de
Administração tinha por objetivo realizar pesquisas na área. Essa orientação
permitiu o surgimento da Revista de Administração, por meio do Departamento
de Serviço Público.
Somente no início dos anos 60, a FEA sofreu algumas alterações
estruturais, dando origem ao Departamento de Administração, composto por
disciplinas integradas aos cursos de Ciências Econômicas e Ciências
Contábeis. Segundo Martins, nessa época, surgiram os primeiros cursos de
pós-graduação da faculdade, inclusive em Administração, embora, ainda não
existisse o curso de graduação. Isto só veio a ocorrer em 1963, quando a
faculdade passou a oferecer os cursos de Administração de Empresas e de
Administração Pública.
25
É importante considerar que, enquanto a criação da EBAP e EAESP
correspondeu a um momento histórico, em que o segundo Governo de Getúlio
Vargas procurou conduzir uma política econômica, baseada na criação de
empresas estatais e empresas privadas nacionais, retomando o tema do
nacionalismo, a criação do curso de Administração da FEA coincidiu com um
momento em que a grande empresa estrangeira havia se consolidado no
mercado interno nacional.
A partir de 1972, o Instituto de Administração foi reestruturado, passando
a ligar-se ao Departamento de Administração e não mais a um grupo de
disciplinas. Seu principal objetivo tem sido o de prestar serviços a entidades
públicas e privadas, realizando pesquisas e treinamento de pessoal. Segundo
Martins, os serviços prestados geraram um fundo de pesquisa, transformando-
o em um órgão captador de recursos no interior da FEA.
Observa-se também que a criação e a evolução dos cursos de
Administração na sociedade brasileira, no seu primeiro momento, se deram no
interior de Instituições Universitárias, fazendo parte de um complexo de ensino
e pesquisa. Essas escolas transformaram-se em pólos de referência para a
organização e funcionamento desse campo.
No final dos anos 60, a evolução dos Cursos de Administração ocorreria,
não mais vinculada a Instituições Universitárias, mas às Faculdades Isoladas
que proliferaram no bojo do processo de expansão privatizada na sociedade
brasileira.
Essa expansão também está relacionada às transformações ocorridas
no plano econômico. A partir da década de 60, o estilo de desenvolvimento
privilegiou as grandes unidades produtivas na economia do país. Ocorreu o
crescimento acentuado das grandes empresas, principalmente estrangeiras e
26
estatais, permitindo a utilização crescente da técnica. Isso implicou diretamente
a necessidade de profissionais com treinamento específico para executar
diferentes funções internas das organizações. Diante dessa situação, as
grandes empresas passaram a adotar a profissionalização de seus quadros,
tendo em vista o tamanho e complexidade das estruturas. Isso veio constituir
um espaço potencial para a utilização dos Administradores que passaram pelo
sistema escolar.
Com as mudanças econômicas, um novo acontecimento acentuou a
tendência à profissionalização do Administrador: a regulamentação dessa
atividade, que ocorreu na metade da década de 60, pela Lei nº 4.769, de 9 de
setembro de 1965. A presente Lei, no seu artigo 3º, afirma que o exercício da
profissão de Técnico em Administração é privativo dos Bacharéis em
Administração Pública ou de Empresas, diplomados no Brasil, em cursos
regulares de ensino superior, oficial, oficializado ou reconhecido, cujo currículo
seja fixado pelo Conselho Federal de Educação, nos termos da Lei nº 4.024, de
20 de dezembro de 1961, que fixa as Diretrizes e Bases da Educação no
Brasil. Isso veio ampliar um vasto campo de trabalho para a profissão de
Administrador.
No ano seguinte à regulamentação da profissão, por meio do Parecer nº
307/66, aprovado em 8 de julho de 1966, o Conselho Federal de Educação
fixou o primeiro currículo mínimo do curso de Administração. Dessa forma,
foram institucionalizadas, no Brasil, a profissão e a Formação de Técnico em
Administração.
As diretrizes do parecer se inspiraram na análise das condições reais da
Administração no País e nos postulados que emanavam da lei e da doutrina
fixada na experiência nacional e internacional.
27
Tal currículo procurou agrupar matérias de cultura geral, objetivando o
conhecimento sistemático dos fatos e condições institucionais em que se
inseria o fenômeno administrativo; matérias instrumentais, oferecendo os
modelos e técnicas de natureza conceitual ou operacional, e matérias de
formação profissional.
Com a liberdade dada pelo currículo, as escolas poderiam ministrar as
matérias do currículo mínimo com diferentes dosagens de tempo e de acento
quanto aos objetivos, assim como organizar cursos ou seminários de aplicação
mais restrita ou especializada.
Tem-se de superar certa tendência atomística que decompõe o currículo
em todos os elementos que poderá abranger, adicionados, depois, como
matérias autônomas: é a tendência prevalecente ao longo da tradição
educacional, a que se deve a excessiva densidade dos planos de estudo.
Dentro dessa orientação, mais ou menos mecânica, torna-se
impraticável a redução, salvo por processo igualmente mecânico que elimina,
mutilando.
A partir dessa regulamentação, procurou-se instituir organismos que
controlassem o exercício da profissão. Foram criados, então, os Conselhos
Regionais de Administração (CRAs).
A função de tais organismos era de fiscalizar o desempenho da
profissão e expedir as carteiras profissionais. Só poderiam exercer a profissão
aqueles que fossem registrados nos CRAs. Esse organismo passaria a ter um
forte controle sobre as condições de acesso à profissão .
Isso nos mostra que a regulamentação da profissão de Administrador,
ao institucionalizar que o seu exercício seria privativo daqueles que possuíam
28
título de bacharel em Administração, contribuiria de forma acentuada para a
expansão desses cursos.
Outro fator que contribuiu significativamente nesse processo de
profissionalização foram as leis da Reforma do Ensino Superior. Essas leis
estabeleceram claramente níveis de ensino tipicamente voltados às
necessidades empresariais, assim como possibilitaram o surgimento de
Instituições privadas, que, juntamente com as Universidades, pudessem
corresponder à grande demanda de ensino superior desde a década de 50.
A Lei nº 5.540, nos seus artigos 18 e 23, afirma que: "os cursos
profissionais poderão, segundo a área abrangida, apresentar modalidades
diferentes quanto ao número e a duração, a fim de corresponder às profissões
reguladas em Lei: As Universidades e os estabelecimentos isolados poderão
organizar outros cursos para atender às exigências de sua programação
específica e fazer face à peculiaridade do mercado de trabalho regional".
Tais acontecimentos repercutiram significativamente, uma vez que, em
um intervalo de 30 anos, o ensino de Administração alcançou uma dimensão
significativa na sociedade brasileira, considerando que contava com dois
cursos apenas em 1954, o da EBAP e o da EAESP, ambos mantidos pela
FGV.
Essa relação entre prática profissional e a obtenção de título específico
impulsionou aqueles que aspiravam a ter acesso a funções econômico-
administrativas, em órgãos públicos ou privados, a ingressar em centros de
ensino que oferecessem tal habilitação. Também aqueles que já desenvolviam
tais atividades no mercado profissional foram estimulados a buscar o título
universitário para obter promoções.
29
Um dos aspectos que merece ser destacado na expansão dos cursos de
Administração é a considerável participação da rede privada nesse processo,
ocorrido a partir do final dos anos 70. No início da década de 80, o sistema
particular era responsável por aproximadamente 79% dos alunos, ficando o
sistema público com o restante. O mesmo ocorre nas demais áreas do
conhecimento, onde a distribuição é de 61% para a rede privada.
Ao contrário das primeiras escolas, que nasceram próximas aos campos
do poder econômico e político, as novas escolas, de maneira geral, nasceram
eqüidistantes das expectativas e dos grupos que ocupam posições dominantes
nesses campos. Essas escolas surgiram a partir da iniciativa daqueles que
atuavam no setor educacional, aproveitando o momento em que o Estado pós-
64 abriu um grande espaço para a iniciativa privada, visando a atender à
crescente demanda de acesso ao ensino de 3º grau.
A abertura dos cursos apresentava-se vantajosa, uma vez que poderiam
ser estruturadas sem muitos dispêndios financeiros. Tais cursos buscavam
certa rentabilidade acadêmica, procurando adaptar suas práticas acadêmicas
aos grandes centros que desfrutam de maior legitimidade.
Observa-se uma relação assimétrica, em que as primeiras escolas de
Administração, como tendência, têm produzido para o setor público e privado
uma elite administrativa vinculada aos pólos dominantes dos campos do poder
político e econômico. Por outro lado, as novas instituições têm produzido os
quadros médios para as burocracias públicas e privadas que, em função de
sua complexidade, necessitam de pessoal para suas rotinas, isto é, um pessoal
treinado para questões econômico-administrativas.
Outro fator, também fruto da expansão dos cursos de Administração na
sociedade brasileira, é a concentração desse ensino em determinadas regiões.
No início da década de 80, as regiões Sudeste e Sul respondiam por 80.722
30
alunos e 81% de todo o ensino de Administração do País. Esses dados indicam
uma forte prevalência das regiões de maior concentração e diferenciação
produtiva, onde se localizam as maiores oportunidades em termos de mercado
de trabalho para essa profissão.
Isto mostra que a preocupação não deve estar apenas voltada à
preparação de profissionais para as empresas privadas. No momento em que o
Brasil se encaminha para uma sociedade democrática, parece oportuno
defender a formação de um profissional capaz de atuar em outras formas
organizacionais, tais como: associações de bairros, cooperativas, pequenas
empresas e outros campos novos à espera de formas organizacionais
inovadoras, além do seu tradicional campo nas empresas.
31
CAPÍTULO IV
PANORAMA ATUAL DO ENSINO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL
De acordo com os resultados do Censo do Ensino Superior de 2009
divulgados em janeiro de 2011 pelo MEC, 1,1 milhão de estudantes se
matricularam em um curso de Administração no ano de 2009. Quase metade
das matrículas da educação superior concentra-se nos cursos de
Administração, Direito (651 mil), Pedagogia (573 mil) e Engenharia (420 mil).
Na educação a distância, apenas dois cursos - Pedagogia e Administração -
detêm 61,5% do total de matrículas.
Para o Adm. Wagner Siqueira, Presidente do Conselho Regional de
Administração do RJ, a grande procura pelo curso de Administração pode ser
explicada pela crescente demanda por Administradores profissionais em
diversos segmentos: indústria, comércio, serviços, administração pública,
terceiro setor, consultoria, magistério. Tendência essa que deve se manter já
que o Brasil passa por um processo de desenvolvimento que exige qualidade
em seus processos de gestão, como explica o Presidente do CRA/RJ: “Os
grandes investimentos público-privados – como o Comperj e outras obras
prometidas pelo PAC – e os mega eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e
as Olímpiadas de 2016, representam grandes oportunidades para o país
mostrar elevados níveis de eficiência e de eficácia na aplicação de recursos
assim como na geração de resultados efetivos para todos os interessados,
sobretudo para a sociedade brasileira”
No entanto, Wagner Siqueira alerta para a necessidade dos cursos de
Administração investirem fortemente na capacitação de seus docentes, na
infraestrutura de suas instalações e equipamentos e na manutenção do projeto
pedagógico do curso que deve estar antenado com as perspectivas da
32
economia permitindo assim que o futuro egresso ocupe o espaço a ele
destinado no mercado de trabalho.
No entanto, apesar de os números apontarem intensa demanda para os
cursos de Administração, segundo Leandro Vieira, editor do Portal
Administradores, “a maior parte das faculdades brasileiras de Administração
ainda não parou para identificar que tipo de Administrador elas pretendem
formar”.
Segundo Fátima Oliveira e Fernanda Sauerbronn em seu artigo
“Trajetória, desafios e tendências no ensino superior de Administração e
Administração Pública no Brasil, “um dos principais desafios à educação
superior é a necessidade de ampliar o acesso a ela e, ao mesmo tempo,
controlar se processo de mercantilização”. Dessa forma, “surgem no ensino
superior conceitos e categorias que eram impensáveis, tais como “mercado de
ensino”, “cliente-consumidor” e “produtos e serviços” na área de educação”.
As autoras continuam o artigo dizendo que “o que se observa é que a
faculdade mercantil vem assumindo características de uma empresa destinada
a competir no mercado de ensino universitário, sujeita a rankings, sistemas de
avaliação e informações visando os consumidores.
Sobre estes sistemas de avaliação, o Professor Paulo Prochno avalia o
sistema utilizado pela Capes como deficiente, pois “a lista de publicações é
ruim - já houve muitas mudanças ao longo dos últimos 10 anos, desde versões
que não incluíam nenhum dos periódicos mais importantes da área (ou seja, se
alguém publicasse no melhor periódico da sua área não ganhava nenhum
ponto) até versões que dão a mesma pontuação para periódicos bons e
medíocres (ou seja, publicar nos melhores, que é muito mais difícil, não vale o
esforço). E, mesmo com as médias sendo calculadas a cada 3 anos, as
escolas colocam pressões em seus professores para fazer pontos no curto
33
prazo – o que faz com que ninguém queira correr o risco de submeter para os
melhores periódicos, já que o ciclo para ter um artigo publicado neles leva de 2
a 5 anos. A consequência? Todo mundo finge que está fazendo algo
importante, mas na verdade só está pensando em maximizar os tais pontinhos
gerando quantidade (ao invés de qualidade)”.
O interessante é que na série de artigos do Prof. Prochno, “O que há de
Errado na Área Acadêmica de Administração no Brasil”, publicada no Portal
Administradores em setembro de 2010, suas idéias expostas vão de encontro
às idéias das Professoras Oliveira e Sauerbronn. E estas idéias ficam
evidentes no texto do Problema I, do último artigo da série:
“Virou "oportunidade de negócio" no Brasil o setor de educação, e junto veio a moda de considerar que escola deve ser administrada como empresa. O modelo "com fins lucrativos" pode até dar certo para "popularizar" o ensino superior (mas daí vem a discussão se isso é bom ou não para o país, algo que foge do escopo dessa discussão), mas para escolas que se pretendem líderes na geração e disseminação de conhecimento, a coisa não funciona muito bem – em qualquer área de conhecimento. As melhores universidades do mundo dão prejuízo, e só se mantém porque recebem recursos de empresas, ex-alunos ou governo. Não porque elas são mal administradas, mas porque manter um padrão de excelência requer recursos que vão além do que pode ser recuperado via mensalidades dos cursos que elas oferecem. Mas além da questão de ser com fins lucrativos ou não, muitas escolas acham que ter boa gestão significa administrar escolas como se fossem empresas. E colocam no comando executivos que não tem nenhuma noção de como funciona o mundo acadêmico, instituindo práticas que acabam mediocrizando as instituições. A geração de conhecimento de ponta requer uma série de práticas que, vistas de fora, podem parecer ineficientes e idiossincráticas demais. Mas a coisa funciona bem: nas
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melhores escolas, os professores têm um peso enorme na administração da instituição, podendo até demitir o diretor da escola. Além disso, a grande maioria dos cargos decisórios são ocupados por professores de forma temporária: depois de 2 a 5 anos eles voltam a ser somente professores e o cargo administrativo é ocupado por outro professor. São poucas as pessoas de fora do mundo acadêmico que conseguem ter sucesso em ambientes assim. Um exemplo: nos últimos anos, as 3 melhores escolas da Europa colocaram no cargo de diretor ("Dean") profissionais vindos do "mercado" (ou seja, de fora da academia). Nenhum durou longo tempo no cargo, sendo substituídos por acadêmicos. Não vou me alongar hoje nas razões pelas quais isso acontece, mas depois de ter observado governança de muitas escolas pelo mundo, eu acho que elas funcionam melhor quando são administradas por acadêmicos, e de uma forma bem diferente de como se administram empresas. Os objetivos são bem diferentes, a forma de criar valor bem diferente, a função social diferente, e portanto as escolas demandam uma gestão diferente – que poucas pessoas "do mercado" conseguem entender.
Voltando ao artigo das Professoras Oliveira e Sauerbronn, elas propõem
pontos de reflexão quanto aos rumos do ensino superior de Administração, tais
quais: elementos centrais para uma nova estrutura curricular, foco na prática e
no praticante, novas estratégias de ensino e iniciativas correspondentes e
iniciativas de transformação de ensino via capacitação docente.
Já o Prof. Carlos Hildorf propõe “uma revolução na educação”, mas não
põe a culpa somente na Instituição de Ensino. Para ele, é necessária uma
revitalização das relações entre os agentes responsáveis pelo ensino, “é hora
de ressignificar a educação, e isso não se faz de uma hora para outra; é
processo, leva tempo, mas não pode ser procrastinado com base nesta
desculpa nobre. O tema é urgente e as atitudes são inadiáveis. Todos nós,
atores sociais, envolvidos direta ou indiretamente com educação, precisamos
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nos mobilizar em um grande diálogo social, amplo, irrestrito e orientando para a
ação, no sentido de considerar as diferenças e construir a partir delas um
legado substancial que possa, efetivamente, construir uma melhor versão do
futuro”.
Porém, no final, de que vale levantar dados que apontem deficiência do
sistema educacional superior em Administração? A resposta é: o Mercado de
Trabalho. Que profissionais estão sendo formados? Profissionais adequados,
eficientes, aptos para o Mercado de Trabalho, ou profissionais deficientes?
Segundo enquete do CRA-SP, publicada no Portal Administradores sob
o título “Ritmo do mercado marca a formação dos Profissionais de
Administração”, os cursos da área tem dificuldades de preparar profissionais,
pois não conseguem acompanhar este mercado. O artigo traça um interessante
paralelo entre o ensino de Administração, o Mercado de Trabalho e o avanço
tecnológico ao levantar a questão de que “com novas tecnologias, novos
conceitos, como o de sustentabilidade, e mudanças constantes no cenário
econômico, a maneira como se administra uma empresa dificilmente se
mantém a mesma. O processo de formação de administradores também sofre
alterações ao longo do tempo por disso. Mas será que o ensino da área está
em sintonia com o mercado?”
Com esta pergunta como enquete, o CRA-SP obteve respostas de cerca
de 3.000 de seus associados, sendo que 53,43% acreditam que apenas em
parte os cursos superiores de administração têm formado profissionais
preparados para o mercado. Já outros 31,91% acreditam que a educação e o
novo mercado não estão em sintonia e os estudantes de administração saem
das faculdades despreparados. Já para outros 14,55% os cursos têm formado
profissionais adequados.
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Observa-se, então, que grande maioria dos entrevistados está, de
alguma forma, insatisfeito com os rumos tomados pela educação superior em
Administração.
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CONCLUSÃO
Depois da leitura desse texto, podemos concluir que a Administração é
uma ciência antiga, porém relativamente nova no Brasil, e que houve uma
grande mobilização para a regulamentação da profissão de Administrador, e
provando que existe, e é real, a necessidade deste profissional dentro das
empresas.
Pode-se perceber também a evolução do ensino superior em
Administração no País e, mais atualmente, a dificuldade que a área Acadêmica
vem encontrando em se manter alinhada com as rápidas transformações,
exigências e necessidades do Mercado.
O tema é extenso e foram encontrados, durante a pesquisa, diversos
debates e artigos, mas ainda carece de bibliografia própria. Ainda não temos
livros falando sobre o assunto, mas a produção de artigos é grande, o que
mostra a preocupação dos Acadêmicos com este tema.
38
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