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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES FACULDADE INTEGRADA A VEZ DO MESTRE PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” O PANORAMA DA ÁREA ACADÊMICA DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL, NO MOMENTO EM QUE COMEMORAMOS OS 45 ANOS DA REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO. DIOGO BASTOS DA COSTA C205884 Prof. MsC. MARCELO MARTINS SALDANHA DA GAMA Rio de Janeiro 2011

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES FACULDADE … · A Revolução Industrial desenvolveu-se ... fase de 1860 a 1914. É a revolução da eletricidade e derivados do petróleo, como as novas

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

FACULDADE INTEGRADA A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

O PANORAMA DA ÁREA ACADÊMICA DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL,

NO MOMENTO EM QUE COMEMORAMOS OS 45 ANOS DA

REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO.

DIOGO BASTOS DA COSTA

C205884

Prof. MsC. MARCELO MARTINS SALDANHA DA GAMA

Rio de Janeiro

2011

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

FACULDADE INTEGRADA A VEZ DO MESTRE

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

O PANORAMA DA ÁREA ACADÊMICA DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL,

NO MOMENTO EM QUE COMEMORAMOS OS 45 ANOS DA

REGULAMENTAÇÃO DA PROFISSÃO.

Monografia elaborada pelo Aluno Diogo

Bastos da Costa, orientado pelo Prof.

MsC. Marcelo Saldanha como

avaliação final da disciplina

Metodologia da Pesquisa e Monografia,

do Curso de Docência do Ensino

Superior da Faculdade Integrada A Vez

do Mestre - AVM

Rio de Janeiro

2011

AGRADECIMENTOS

Ao corpo docente da Faculdade Integrada “A

Vez do Mestre”, à Noelma Oliveira, minha

namorada, peça fundamental no

levantamento do material bibliográfico, aos

colegas de turma, que direta, ou

indiretamente, contribuíram na elaboração

deste trabalho e à Fátima Abondante, que

realmente me ensinou a ser Professor.

DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho à minha família, pela

imensa paciência.

RESUMO

Em 2010 os Administradores comemoraram o 45º aniversário da

regulamentação da Profissão no Brasil. No entanto, estudos indicam que a

área acadêmica e a área profissional vivem uma dicotomia: por um lado,

pesquisas indicam descontentamento com o ensino da Administração no País.

Por outro, as notícias apontam que a profissão do Administrador de Empresas

está cada vez mais em voga, valorizada e reconhecida.

O presente estudo apresenta um breve histórico da profissão na Brasil,

sua evolução, a necessidade da oferta de uma boa formação e o panorama

atual do sistema de formação acadêmica em Administração, suas dificuldades

e perspectivas.

“O conhecimento era um bem privado, associado ao verbo SABER. Agora, é um bem público ligado ao verbo FAZER.” “Os resultados provêm do aproveitamento das oportunidades e não da solução dos problemas. A solução de problemas só restaura a normalidade. As oportunidades significam explorar novos caminhos.” “Não existem países subdesenvolvidos. Existem países subadministrados”

Peter Drucker

METODOLOGIA

A metodologia utilizada na elaboração deste estudo foi a pesquisa em

periódicos dos Conselhos Regionais de Administração, em consulta a artigos

publicados em sites especializados em Administração e estudos na área, além

de material utilizado em palestras, apresentações e aulas.

Este estudo poderá servir como consulta para futuras pesquisas, uma

vez que nele se encontram, consolidadas, os principais textos e artigos sobre o

assunto encontrados.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................ 8

CAPÍTULO I .............................................................................................. 10

UMA BREVE HISTÓRIA DA ADMINISTRAÇÃO ..................................... 10

CAPÍTULO II ............................................................................................. 13

A HISTÓRIA DA ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL .................................... 13

CAPÍTULO III ............................................................................................ 17

O ENSINO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL ................... 17

CAPÍTULO IV ............................................................................................ 31

PANORAMA ATUAL DO ENSINO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL ..................................................................................................... 31

CONCLUSÃO ........................................................................................... 37

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ......................................................... 46

8

INTRODUÇÃO

Conforme artigo publicado no Portal Administradores, em 17 de junho de

2010, uma pesquisa elaborada pelo Portal, cuja pergunta era “Você acredita

que administrar é apenas para Administradores devidamente formados em

Administração?”, obteve o seguinte resultado:

33,34% responderam “Sim, pois só a graduação em Administração oferece os

conhecimentos necessários para o exercício da profissão”

65,18% responderam “Não, pois qualquer pessoa pode desenvolver as

habilidades e competências necessárias para administrar, independente da

área de formação”

O mesmo artigo apresenta os dados de uma outra enquete elaborada

pelo Conselho Regional de Administração de São Paulo – CRA/SP, que

“aponta que a maioria dos filiados do órgão acredita que o ensino superior na

área de Administração é deficitário, no Brasil. O levantamento foi feito no mês

de maio com o intuito de verificar a opinião dos profissionais a respeito da

sintonia entre os cursos superiores e a evolução do mercado de trabalho.”

A enquete foi feita com cerca de 3.000 administradores filiados ao CRA-

SP que responderam à pergunta "Você acha que os cursos de ensino superior

de Administração têm formado profissionais preparados para a evolução do

mercado?" Desses, 53,54% disseram acreditar, em parte, que os cursos

superiores de Administração têm formado profissionais preparados para a

evolução do mundo corporativo. Já para 31,91%, eles não têm atingido esse

objetivo. E para apenas 14,55% o ensino superior de Administração é

satisfatório.

9

O presidente do CRA-SP, Walter Sigollo, avalia que "a velocidade das

mudanças nas empresas é mais rápida que nas universidades e, portanto, há

um descompasso de tempo". Segundo ele, embora as faculdades se esforcem

para aproximar os alunos da realidade, há, ainda, uma certa rigidez nos

currículos universitários que é prejudicial . "É preciso preparar os alunos para

as transformações futuras", ressalta Sigollo.”

Estes dados servem para apontar os resultados, que mostram um certo

descontentamento em relação à qualidade da formação nos cursos de

Administração. O que fazer, pois, para melhorar estes dados?

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CAPÍTULO I

UMA BREVE HISTÓRIA DA ADMINISTRAÇÃO

Em artigo publicado no Informativo Mensal do CRA/CE, CRA em Ação, a

Adm. Lucinda Pimentel Gomes faz um resumo sobre a história da

Administração. A autora reconta a origem da Administração, em “5.000 a .C, na

Suméria, quando os antigos sumerianos procuravam melhorar a maneira de

resolver seus problemas práticos, exercitando assim a arte de administrar.”,

passando depois pelo Egito, com o dimensionamento de “um sistema

econômico planejado que não poderia ter-se operacionalizado sem uma

administração pública sistemática e organizada. “

Em seguida, na China de 500 a.C, onde já aparecem as Regras de

Administração Pública de Confúcio, que “exemplificam a tentativa chinesa de

definir regras e princípios de administração”. Diz a autora que, além destes

registros histórico existem, ainda, outras raízes, como as instituições otomanas,

pela forma como eram administrados” e “os prelados católicos, já na Idade

Média, destacando-se como administradores natos.”

Na Europa, “a Alemanha e a Áustria, de 1550 a 1700, através do

aparecimento de um grupo de professores e administradores públicos

chamados os fiscalistas ou cameralistas”, na França, “os mercantilistas ou

fisiocratas, que valorizavam a riqueza física e o Estado, pois ao lado das

reformas fiscais preconizavam uma administração sistemática, especialmente

no setor público”.

Dado curioso apontado pela Autora, na evolução histórica da

Administração é o destaque dado a duas instituições: a Igreja Católica Romana

e as Organizações Militares. A Autora diz que “a Igreja Católica Romana pode

11

ser considerada a organização formal mais eficiente da civilização ocidental”,

pois “através dos séculos vem mostrando e provando a força de atração de

seus objetivos, a eficácia de suas técnicas organizacionais e administrativas,

espalhando-se por todo mundo e exercendo influência, inclusive sobre os

comportamentos das pessoas, seus fiéis”.

Enquanto isso, “as Organizações Militares evoluíram das displicentes

ordens dos cavaleiros medievais e dos exércitos mercenários dos séculos XVII

e XVIII até os tempos modernos com uma hierarquia de poder rígida e adoção

de princípios e práticas administrativas comuns a todas as empresas da

atualidade.”

Já a empresa e a administração moderna, no formato que hoje as

conhecemos tiveram seus moldes no final do século XVIII, estendendo ao

longo do século XIX, chegando ao limiar do século XX. “Esse fenômeno, que

trouxe rápidas e profundas mudanças econômicas, sociais e políticas, chamou-

se Revolução Industrial.“

O relato da Autora a respeito da Revolução Industrial é conciso: “teve

início na Inglaterra, com a invenção da máquina a vapor, por James Watt, em

1776. A aplicação da máquina a vapor no processo de produção provocou um

enorme surto de industrialização, que se estendeu rapidamente a toda a

Europa e Estados Unidos. A Revolução Industrial desenvolveu-se em duas

fases distintas: a primeira fase de 1780 a 1860. A segunda fase de 1860 a

1914. É a revolução da eletricidade e derivados do petróleo, como as novas

fontes de energia, e do aço, como a nova matéria-prima. Ao final desse

período, o mundo já não era mais o mesmo”.

Mais adiante, no século XX, “surge Frederick W. Taylor, engenheiro

americano, apresentando os princípios da Administração Cientifica e o estudo

da Administração como Ciência”. Conhecido como precursor da Teoria da

12

Administração Científica, preconizava a prática da divisão do trabalho,

enfatizando tempos e métodos a fim de assegurar seus objetivos "de máxima

produção a mínimo custo". Publicou o livro Princípios da Administração

Científica, considerado a "bíblia" dos organizadores do trabalho.

“Na história da evolução da Administração não se pode esquecer a

valiosa contribuição de Elton George Mayo, o criador da Teoria das Relações

Humanas, desenvolvida a partir de 1940, nos Estados Unidos e mais

recentemente, com novas idéias, com o nome de Teoria do Comportamento

Organizacional”. O interessante desta Teoria “foi, basicamente, o movimento

de reação e de oposição à Teoria Clássica da Administração, com ênfase

centrada nas pessoas”. E é aqui que vemos o Estudo da Administração, pois

“(esta Teoria) teve como origem a necessidade de humanizar e democratizar a

administração, o desenvolvimento das chamadas ciências humanas (psicologia

e sociologia), as idéias da filosofia pragmática de John Dewey e da Psicologia

Dinâmica de Kurt Lewin e as conclusões do Experimento de Hawthorne”, todos

estes “já bastante estudados e discutidos nas escolas de administração”.

A autora encerra a parte histórica mundial da Administração adminitindo

que “os princípios fundamentais das Teorias de Taylor, Fayol, Mayo e Weber

foram e serão sempre os pilares da evolução e do desenvolvimento da ciência

da Administração e que têm motivado e impulsionado os estudos, pesquisas,

trabalhos e obras dos seus seguidores até os nossos dias“.

13

CAPÍTULO II

A HISTÓRIA DA ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL

Prosseguindo em seu texto, a Adm. Lucinda Pimentel Gomes começa a

relatar a história da Administração no Brasil. As próximas linhas são parte in

loco do seu texto:

“É importante conhecer a história da Administração no Brasil e os

precursores da luta de torná-la reconhecida. A história da Administração

iniciou-se em 1931, com a fundação do Instituto da Organização Racional do

Trabalho - IDORT, que contava com o Professor Roberto Mange, suíço

naturalizado, na sua direção técnica.

Em meados do mesmo ano o Departamento Administrativo do Serviço

Público, até hoje conhecido pela sigla DASP, foi fundado pelo Dr. Luiz Simões

Lopes. Por este órgão foi criada a Escola de Serviço Público que enviava

técnicos de administração aos Estados Unidos para a realização de cursos de

aperfeiçoamento, com defesa de tese. Os conhecimentos e as ações

desenvolvidas por estes especialistas, no seu retorno ao país, fez deles

pioneiros da Administração no Brasil, como profissão.

Novamente sob orientação do Dr. Luiz Simões Lopes, em 1944, foi

criada a Fundação Getúlio Vargas, mantenedora da EASP - Escola de

Administração de Empresas de São Paulo. Junto com o DASP, foi criado um

cargo exclusivo de Técnico em Administração (hoje Administrador). Sentia-se

então a necessidade de institucionalização urgente da profissão do

Administrador, como forma de preservar o mercado de trabalho para os que já

atuavam na Administração Pública e para os egressos daquelas escolas, bem

como, defender a sociedade de pessoas inabilitadas e na maioria

despreparadas.

14

No entanto, institucionalizar uma profissão não é tarefa fácil e a

estratégia adotada deveria consistir na fundação da ABTA - Associação

Brasileira de Técnicos de Administração, em 19 de Novembro de 1960, que

tinha como símbolo o hexágono. A entidade recém-criada começou a

desenvolver esforços com vistas a preparação de um projeto de lei que

institucionalizasse a administração. É de inteira justiça salientar aqui a

inestimável colaboração do Professor Alberto Guerreiro Ramos, Técnico de

Administração do DASP, na época Deputado Federal, para a aprovação do

projeto.

Guerreiro Ramos foi decisivamente apoiado pela ABTA na luta pela

sanção presidencial, já que a reação de poderosas forças contrárias pugnava

pelo veto.Afinal, com o importante apoio do Diretor Geral do DASP, a Lei nº.

4769, foi sancionada em 09 de Setembro de 1965, pelo então Presidente da

República, Humberto de Alencar Castelo Branco. Para implantação da citada

Lei, o Ministério do Trabalho nomeou uma Junta Federal presidida por Ibany da

Cunha Ribeir, aliada à ABTA, presidida por A. Nogueira de Faria, que forneceu

sua estrutura e seus recursos materiais e humanos, implantando assim os

Conselhos Regionais de Minas Gerais, Ceará, Pernambuco e Bahia.

Entre os que exerceram o cargo de Técnico de Administração no DASP,

além dos acima mencionados, podemos citar Celso Furtado e Belmiro Siqueira.

Este último ocupou vários cargos naquela repartição pública, dentre eles o de

Diretor Geral, em 1967 e 1968. Belmiro Siqueira é também o Patrono dos

Administradores, título que lhe foi outorgado "pos-mortem". Administrador,

professor, consultor, assessor governamental, colunista de vários jornais,

sempre escrevendo sobre assuntos ligados à sua área de atuação. Autor de

vários trabalhos sobre Administração, foi eleito Conselheiro Federal em 1977 e

Vice-Presidente do Conselho Federal de Administração - CFA, até 28 de

Novembro de 1987, data de seu falecimento. Na ocasião encontrava-se no

exercício da Presidência do CFA. Era mineiro de Ubá, nascido a 22 de

15

Outubro de1921. Torna-se imperativo, nesta oportunidade, exaltar a valiosa,

decisiva e importante contribuição do Administrador Belmiro Siqueira. Cujo

talento, profissionalismo e dedicação à nossa categoria ficarão para sempre

registrados nos anais da história da Administração, no Brasil”.

A partir de então, temos a Profissão da Administração devidamente

reconhecida e regulamentada no País. No entanto, o termo Administrador vem

aparecer ainda algum tempo depois. Mesmo após a regulamentação, os

profissionais de Administração continuavam sendo chamados de “Técnicos de

Administração, o que transmitia uma conotação de formação escolar de nível

médio”. Dois anos mais tarde foi criado o órgão responsável pela disciplina e

fiscalização do exercício profissional: o CFTA – Conselho Federal de Técnicos

de Administração, com a “missão de trabalhar pela afirmação da existência e

fixação da profissão de Administrador no macro-sistema sócio-jurídico-

econômico nacional”. Somente então os demais Conselhos Regionais foram

criados nas Capitais do País, dando origem ao que chamamos hoje de Sistema

CFA/CRA’s, ou seja, o Conselho Federal de Administração e os demais

Conselhos Regionais. Estes Conselhos têm “a finalidade de difundir e

consolidar a missão do órgão maior (CFTA) da categoria, com abrangência e

autonomia nas diversas regiões da Unidade Federativa”.

Somente vinte anos após a criação da profissão de Administrador, por

força da Lei Federal n°735, de 13 de junho de 1985, foi mudada a

denominação de Técnico de Administração para Administrador, resultado de

“uma vibrante campanha em 1983, coordenada pelo CRA-SP, que levou ao

Ministério do Trabalho as reivindicações de todas as instituições do País

ligadas ao campo da administração: universidades, faculdades, associações

profissionais, sindicatos, além de milhares de assinaturas de profissionais e

apoio de centena de Câmaras Municipais”.

16

A Adm. Lucinda Pimentel Gomes encerra seu levantamento sobre a

História da Administração no Brasil de forma quase poética: “inicia-se, assim,

um novo tempo de desenvolvimento e aperfeiçoamento da Administração,

como Ciência e como Profissão. A tecnologia moderna aliada aos cientistas,

pesquisadores e professores, com seus mecanismos, estudos e trabalhos vêm

provando que Administrar é necessário, proveitoso e imprescindível em

qualquer segmento, contexto ou situação na vida das pessoas, das empresas e

das entidades”.

No ano de 2010 a profissão de Administrador completou 45 anos de sua

regulamentação no Brasil e no decorrer dessas quase cinco décadas é

inegável o “crescimento e o aperfeiçoamento das pessoas e instituições que

estudam, ensinam, trabalham, dirigem ou fiscalizam a profissão do

Administrador”.

17

CAPÍTULO III

O ENSINO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL

O endereço eletrônico do Conselho Federal de Administração nos conta

toda a história e a evolução do Ensino Superior de Administração no Brasil,

mostrando, logo de começo, que a história destes cursos, no Brasil, é curta,

“principalmente se comparamos com os EUA, onde os primeiros cursos na

área se iniciaram no final do século XIX, com a criação da Wharton School, em

1881. Em 1952, ano em que se iniciava o ensino de Administração no Brasil, os

EUA já formavam em torno de cinquenta mil bacharéis, quatro mil mestres e

cem doutores por ano, em Administração.”

Todo o texto abaixo foi retirado do endereço eletrônico do Conselho

Federal de Administração, por se tratar de um texto completo a respeito do

assunto. Isto posto, todo o texto estará entre aspas.

“Historicamente, o ensino de Administração no Brasil passou por dois

momentos marcados pelos currículos mínimos aprovados em 1966 e 1993,

culminando com a apresentação da proposta de diretrizes curriculares para os

cursos de graduação em Administração.

O contexto para a formação do Administrador no Brasil começou a

ganhar contornos mais claros na década de quarenta. A partir desse período,

acentua-se a necessidade de mão-de-obra qualificada e, conseqüentemente,

da profissionalização do Ensino de Administração. O autor ressalta a

importância da formação de pessoal especializado para a planificação de

mudanças, assim como da criação de centros de investigação para dar suporte

a questões econômicas e administrativas, em uma sociedade que passava de

um estágio agrário para a industrialização .

18

Segundo essa visão, tratava-se de formar, a partir do sistema escolar,

um Administrador profissional, apto para atender ao processo de

industrialização. Tal processo desenvolveu-se de forma gradativa, desde a

década de 30, porém, acentuou-se por ocasião da regulamentação da

profissão, ocorrida na metade dos anos sessenta, através da Lei nº 4.769, de

09 de setembro de 1965. Com essa Lei, o acesso ao mercado profissional seria

privativo dos portadores de títulos expedidos pelo sistema universitário.

O Ensino de Administração veio privilegiar a participação das grandes

unidades produtivas, que passaram a constituir um elemento fundamental na

economia do país, principalmente a partir de 1964.

A grande preocupação com os assuntos econômicos teve seu marco em

1943. Naquele ano, realizou-se, no Rio de Janeiro, o primeiro Congresso

Brasileiro de Economia, no qual se manifestou grande interesse pela

industrialização do país, postulando-se iniciativas concretas por parte do

Estado para motivar a pesquisa em assuntos econômicos. Porém, tais estudos

vinham sendo realizados basicamente nos cursos de Direito na disciplina de

economia, vista como de "formação geral".

Somente em 1945 surgiram os primeiros resultados quanto à

implantação desse ensino. Nesse ano, Gustavo Capanema, Ministro da

Educação e Saúde, encaminhou à Presidência da República um documento

que propunha a criação de dois cursos universitários: Ciências Contábeis e

Ciências Econômicas. O documento afirmava que as atividades de direção e

orientação, tanto nos negócios públicos como nos empresariais, haviam

atingido um nível de maior complexidade, exigindo de seus administradores e

técnicos conhecimentos especializados. Isso possibilitou que os cursos de

economia passassem a ter um caráter de especialização, não mais de natureza

genérica, como anteriormente.

19

A criação desses cursos assume um papel relevante, por ampliar a

organização escolar do país que, até então, constituía-se apenas de

engenheiros, médicos e advogados.

Nesse sentido, é significativo considerar a importância do Manifesto dos

"Pioneiros da Educação Nova" que, em 1932, abordava a necessidade de

outros cursos universitários, além dos já mencionados .

O ensino de Administração está relacionado ao processo de

desenvolvimento do país. Esse processo foi marcado por dois momentos

históricos distintos. O primeiro, pelos governos de Getúlio Vargas,

representativos do projeto "autônomo", de caráter nacionalista. O segundo,

pelo governo de Juscelino Kubitschek, evidenciado pelo projeto de

desenvolvimento associado e caracterizado pelo tipo de abertura econômica de

caráter internacionalista. Este último apresentou-se como um ensaio do modelo

de desenvolvimento adotado após 1964. Nesse período, o processo de

industrialização se acentuou, sobretudo devido à importação de tecnologia

norte-americana.

O surto de ensino superior, e em especial o de Administração, é fruto da

relação que existe, de forma orgânica, entre essa expansão e o tipo de

desenvolvimento econômico adotado após 1964, calcado na tendência para a

grande empresa. Nesse contexto, tais empresas, equipadas com tecnologia

complexa e com um crescente grau de burocratização, passam a requerer

mão-de-obra de nível superior para lidar com essa realidade.

O surgimento da Fundação Getúlio Vargas (FGV) e a criação da

Faculdade de Economia e Administração da Universidade de São Paulo (USP)

marcaram o ensino e a pesquisa de temas econômicos e administrativos no

Brasil, contribuindo para o processo de desenvolvimento econômico do país.

20

Tais instituições ocuparam uma posição dominante no campo das

instituições de ensino de Administração, assim como de referência do posterior

desenvolvimento desses cursos.

É importante considerar que a idéia dos fundadores dessas instituições

era criar um novo tipo de intelectual, dotado de uma formação técnica capaz de

revestir suas ações de conhecimentos especializadas, como uma estratégia

indispensável ao prosseguimento das transformações econômicas iniciadas em

meados dos anos trinta.

Tratava-se, para Martins de formar, a partir do sistema escolar, o

"administrador profissional". Esse processo se intensificaria no momento da

regulamentação da profissão ocorrida na metade dos anos sessenta (1965),

quando o acesso ao mercado profissional seria restrito aos portadores de

títulos universitários.

A FGV representa a primeira e mais importante instituição que

desenvolveu o ensino de Administração. Sua origem remonta à criação do

Departamento de Administração do Serviço Público (DASP), em 1938. Esse

órgão tinha como finalidade estabelecer um padrão de eficiência no serviço

público federal e criar canais mais democráticos para o recrutamento de

Recursos Humanos para a administração pública, por meio de concursos de

admissão .

A idéia da criação da nova Instituição foi bem acolhida pelo então

presidente da República, Getúlio Vargas, que autorizou o DASP a promover a

abertura de uma entidade voltada ao estudo de princípios e métodos da

organização racional do trabalho, visando a preparação de pessoal qualificado

para a administração pública e privada. A instituição surgiu por meio do

Decreto nº 6.933, próxima ao pólo dominante dos campos do poder político e

econômico.

21

Foi na FGV que surgiram os primeiros institutos de investigação sobre

assuntos econômicos do país, com propósito de fornecer resultados para as

atividades dos setores estatal e privado.

A criação da Fundação Getúlio Vargas ocorreu em um momento em que

o ensino superior brasileiro deslocava-se de uma tendência européia para uma

tendência norte-americana. Isto é evidente, uma vez que a FGV tem

apresentado um vínculo entre seus organizadores e o ensino universitário

norte-americano, de onde proveio a inspiração para estruturá-la em termos de

fundação.

Martins comenta ainda que o objetivo da Fundação era formar

especialistas para atender ao setor produtivo, tomando-se como inspiração as

experiências norte-americanas. Em 1948, representantes dessa Instituição

visitaram vinte e cinco Universidades americanas que mantinham cursos de

Administração Pública, com intuito de conhecer diferentes formas de

organização. Isto favoreceu a realização de encontros entre representantes da

FGV e professores norte-americanos visando à criação de uma escola voltada

ao treinamento de especialistas em Administração Pública.

Como fruto dessas relações, foi criada, em 1952, a Escola Brasileira de

Administração Pública (EBAP), pela Fundação Getúlio Vargas, com o apoio da

ONU e da UNESCO para a manutenção inicial. O convênio com esses

organismos internacionais previa a manutenção de professores estrangeiros na

escola e bolsas de estudo para o aperfeiçoamento dos futuros docentes no

exterior.

Com o surgimento da EBAP no Rio de Janeiro, a FGV preocupou-se em

criar uma escola destinada especificamente à preparação de Administradores

22

de Empresas, vinculada ao mundo empresarial, com o objetivo de formar

especialistas em técnicas modernas de administração empresarial .

Essa situação possibilitou a criação da Escola de Administração de

Empresas de São Paulo (EAESP), em 1954. É importante destacar que a FGV

escolheu essa cidade, considerada a capital econômica do país, "coração e

cérebro da iniciativa privada", com intuito de atender às expectativas do

empresariado. Para a implantação da escola, a FGV buscou apoio do governo

federal, do Estado de São Paulo e da iniciativa privada.

Para dar início às atividades nessa nova Instituição, a FGV firmou um

acordo com a USAID (Desenvolvimento Internacional do Governo dos Estados

Unidos). Nesse convênio, o governo norte-americano se comprometia a

manter, junto a esta escola, uma missão universitária de especialistas em

Administração de Empresas, recrutados na Universidade Estadual de Michigan.

Por outro lado, a FGV enviaria docentes para estudos de pós-graduação nos

Estados Unidos, com intuito de preencher os quadros do corpo docente da

EAESP. Tal convênio revelava a influência do ensino de Administração norte-

americano na realidade brasileira, evidenciada, sobretudo, por meio dos

currículos e bibliografias.

A missão universitária norte-americana atuou na EAESP até 1965,

fornecendo uma forte estrutura acadêmica à instituição que lhe permitiu ocupar

uma posição dominante entre os cursos de Administração do País .

Com a criação da EAESP, surgiu o primeiro currículo especializado em

Administração, que influenciou, de alguma forma, o movimento posterior nas

instituições de ensino superior do País .

A partir da década de sessenta, a FGV passou a criar cursos de pós-

graduação nas áreas de Economia, Administração Pública e de Empresas. Em

meados dessa década, iniciou a oferta regular dos cursos de mestrado.

23

Com a criação dos cursos de mestrado, a FGV passou a ser o centro

formador de professores para outras instituições de ensino, no momento em

que ocorreu uma enorme expansão dos cursos de Administração. Como

conseqüência dessa expansão, na metade da década de 70, a entidade

passou a ministrar um programa de doutorado nessas áreas.

Outra Instituição de muita relevância para o desenvolvimento do ensino

de Administração tem sido a Universidade de São Paulo (USP), que surgiu da

articulação de políticos, intelectuais e jornalistas.

A Universidade de São Paulo surgiu em 1934, por meio da aglutinação

de faculdades já existentes e da abertura de novos centros de ensino. Em

1946, foi criada a Faculdade de Economia e Administração (FEA), que tinha

por objetivo formar funcionários para os grandes estabelecimentos de

Administração pública e privada .

A criação da FEA se deve principalmente ao grande surto de

industrialização, quando surgiram empresas movimentando vultosos capitais

que exigiram, para sua gestão, técnicas altamente especializadas.

Assim como a FGV, por meio da EBAP e da EAESP, também a

Faculdade de Economia e Administração foi criada com um objetivo prático e

bem definido: atender, por meio da preparação de recursos humanos, às

demandas oriundas do acelerado crescimento econômico .

Foram os interesses públicos e privados que influenciaram na criação da

FEA. Segundo Martins, o objetivo era de prestar colaboração às empresas

privadas e a todos os órgãos do serviço público

24

Desde o início, a instituição procurou criar relações principalmente com a

Administração Pública local. Estabeleceu contato com a Federação das

Indústrias, com a Associação Comercial do Estado e com a iniciativa privada.

Tais relações permitiram que o quadro de professores desenvolvesse, além de

suas funções didáticas, um trabalho de assessoria junto a organismos privados

e na administração estatal.

No interior da FEA, foram criados institutos que desempenharam um

papel estratégico para sua articulação com o campo do poder econômico, na

medida em que passou a prestar serviços a organismos públicos e privados.

É importante mencionar o Instituto de Administração, criado em 1946,

que, juntamente com a FEA, foi, até 1966, muito importante na orientação de

projetos e pesquisas para a administração pública e estatal.

A FEA, nos seus primeiros 20 anos, possuía apenas os cursos de

Ciências Econômicas e Ciências Contábeis, e não oferecia os Cursos de

Administração. Mesmo assim, ambos os cursos evidenciavam um conjunto de

disciplinas que tratava de questões administrativas. O Instituto de

Administração tinha por objetivo realizar pesquisas na área. Essa orientação

permitiu o surgimento da Revista de Administração, por meio do Departamento

de Serviço Público.

Somente no início dos anos 60, a FEA sofreu algumas alterações

estruturais, dando origem ao Departamento de Administração, composto por

disciplinas integradas aos cursos de Ciências Econômicas e Ciências

Contábeis. Segundo Martins, nessa época, surgiram os primeiros cursos de

pós-graduação da faculdade, inclusive em Administração, embora, ainda não

existisse o curso de graduação. Isto só veio a ocorrer em 1963, quando a

faculdade passou a oferecer os cursos de Administração de Empresas e de

Administração Pública.

25

É importante considerar que, enquanto a criação da EBAP e EAESP

correspondeu a um momento histórico, em que o segundo Governo de Getúlio

Vargas procurou conduzir uma política econômica, baseada na criação de

empresas estatais e empresas privadas nacionais, retomando o tema do

nacionalismo, a criação do curso de Administração da FEA coincidiu com um

momento em que a grande empresa estrangeira havia se consolidado no

mercado interno nacional.

A partir de 1972, o Instituto de Administração foi reestruturado, passando

a ligar-se ao Departamento de Administração e não mais a um grupo de

disciplinas. Seu principal objetivo tem sido o de prestar serviços a entidades

públicas e privadas, realizando pesquisas e treinamento de pessoal. Segundo

Martins, os serviços prestados geraram um fundo de pesquisa, transformando-

o em um órgão captador de recursos no interior da FEA.

Observa-se também que a criação e a evolução dos cursos de

Administração na sociedade brasileira, no seu primeiro momento, se deram no

interior de Instituições Universitárias, fazendo parte de um complexo de ensino

e pesquisa. Essas escolas transformaram-se em pólos de referência para a

organização e funcionamento desse campo.

No final dos anos 60, a evolução dos Cursos de Administração ocorreria,

não mais vinculada a Instituições Universitárias, mas às Faculdades Isoladas

que proliferaram no bojo do processo de expansão privatizada na sociedade

brasileira.

Essa expansão também está relacionada às transformações ocorridas

no plano econômico. A partir da década de 60, o estilo de desenvolvimento

privilegiou as grandes unidades produtivas na economia do país. Ocorreu o

crescimento acentuado das grandes empresas, principalmente estrangeiras e

26

estatais, permitindo a utilização crescente da técnica. Isso implicou diretamente

a necessidade de profissionais com treinamento específico para executar

diferentes funções internas das organizações. Diante dessa situação, as

grandes empresas passaram a adotar a profissionalização de seus quadros,

tendo em vista o tamanho e complexidade das estruturas. Isso veio constituir

um espaço potencial para a utilização dos Administradores que passaram pelo

sistema escolar.

Com as mudanças econômicas, um novo acontecimento acentuou a

tendência à profissionalização do Administrador: a regulamentação dessa

atividade, que ocorreu na metade da década de 60, pela Lei nº 4.769, de 9 de

setembro de 1965. A presente Lei, no seu artigo 3º, afirma que o exercício da

profissão de Técnico em Administração é privativo dos Bacharéis em

Administração Pública ou de Empresas, diplomados no Brasil, em cursos

regulares de ensino superior, oficial, oficializado ou reconhecido, cujo currículo

seja fixado pelo Conselho Federal de Educação, nos termos da Lei nº 4.024, de

20 de dezembro de 1961, que fixa as Diretrizes e Bases da Educação no

Brasil. Isso veio ampliar um vasto campo de trabalho para a profissão de

Administrador.

No ano seguinte à regulamentação da profissão, por meio do Parecer nº

307/66, aprovado em 8 de julho de 1966, o Conselho Federal de Educação

fixou o primeiro currículo mínimo do curso de Administração. Dessa forma,

foram institucionalizadas, no Brasil, a profissão e a Formação de Técnico em

Administração.

As diretrizes do parecer se inspiraram na análise das condições reais da

Administração no País e nos postulados que emanavam da lei e da doutrina

fixada na experiência nacional e internacional.

27

Tal currículo procurou agrupar matérias de cultura geral, objetivando o

conhecimento sistemático dos fatos e condições institucionais em que se

inseria o fenômeno administrativo; matérias instrumentais, oferecendo os

modelos e técnicas de natureza conceitual ou operacional, e matérias de

formação profissional.

Com a liberdade dada pelo currículo, as escolas poderiam ministrar as

matérias do currículo mínimo com diferentes dosagens de tempo e de acento

quanto aos objetivos, assim como organizar cursos ou seminários de aplicação

mais restrita ou especializada.

Tem-se de superar certa tendência atomística que decompõe o currículo

em todos os elementos que poderá abranger, adicionados, depois, como

matérias autônomas: é a tendência prevalecente ao longo da tradição

educacional, a que se deve a excessiva densidade dos planos de estudo.

Dentro dessa orientação, mais ou menos mecânica, torna-se

impraticável a redução, salvo por processo igualmente mecânico que elimina,

mutilando.

A partir dessa regulamentação, procurou-se instituir organismos que

controlassem o exercício da profissão. Foram criados, então, os Conselhos

Regionais de Administração (CRAs).

A função de tais organismos era de fiscalizar o desempenho da

profissão e expedir as carteiras profissionais. Só poderiam exercer a profissão

aqueles que fossem registrados nos CRAs. Esse organismo passaria a ter um

forte controle sobre as condições de acesso à profissão .

Isso nos mostra que a regulamentação da profissão de Administrador,

ao institucionalizar que o seu exercício seria privativo daqueles que possuíam

28

título de bacharel em Administração, contribuiria de forma acentuada para a

expansão desses cursos.

Outro fator que contribuiu significativamente nesse processo de

profissionalização foram as leis da Reforma do Ensino Superior. Essas leis

estabeleceram claramente níveis de ensino tipicamente voltados às

necessidades empresariais, assim como possibilitaram o surgimento de

Instituições privadas, que, juntamente com as Universidades, pudessem

corresponder à grande demanda de ensino superior desde a década de 50.

A Lei nº 5.540, nos seus artigos 18 e 23, afirma que: "os cursos

profissionais poderão, segundo a área abrangida, apresentar modalidades

diferentes quanto ao número e a duração, a fim de corresponder às profissões

reguladas em Lei: As Universidades e os estabelecimentos isolados poderão

organizar outros cursos para atender às exigências de sua programação

específica e fazer face à peculiaridade do mercado de trabalho regional".

Tais acontecimentos repercutiram significativamente, uma vez que, em

um intervalo de 30 anos, o ensino de Administração alcançou uma dimensão

significativa na sociedade brasileira, considerando que contava com dois

cursos apenas em 1954, o da EBAP e o da EAESP, ambos mantidos pela

FGV.

Essa relação entre prática profissional e a obtenção de título específico

impulsionou aqueles que aspiravam a ter acesso a funções econômico-

administrativas, em órgãos públicos ou privados, a ingressar em centros de

ensino que oferecessem tal habilitação. Também aqueles que já desenvolviam

tais atividades no mercado profissional foram estimulados a buscar o título

universitário para obter promoções.

29

Um dos aspectos que merece ser destacado na expansão dos cursos de

Administração é a considerável participação da rede privada nesse processo,

ocorrido a partir do final dos anos 70. No início da década de 80, o sistema

particular era responsável por aproximadamente 79% dos alunos, ficando o

sistema público com o restante. O mesmo ocorre nas demais áreas do

conhecimento, onde a distribuição é de 61% para a rede privada.

Ao contrário das primeiras escolas, que nasceram próximas aos campos

do poder econômico e político, as novas escolas, de maneira geral, nasceram

eqüidistantes das expectativas e dos grupos que ocupam posições dominantes

nesses campos. Essas escolas surgiram a partir da iniciativa daqueles que

atuavam no setor educacional, aproveitando o momento em que o Estado pós-

64 abriu um grande espaço para a iniciativa privada, visando a atender à

crescente demanda de acesso ao ensino de 3º grau.

A abertura dos cursos apresentava-se vantajosa, uma vez que poderiam

ser estruturadas sem muitos dispêndios financeiros. Tais cursos buscavam

certa rentabilidade acadêmica, procurando adaptar suas práticas acadêmicas

aos grandes centros que desfrutam de maior legitimidade.

Observa-se uma relação assimétrica, em que as primeiras escolas de

Administração, como tendência, têm produzido para o setor público e privado

uma elite administrativa vinculada aos pólos dominantes dos campos do poder

político e econômico. Por outro lado, as novas instituições têm produzido os

quadros médios para as burocracias públicas e privadas que, em função de

sua complexidade, necessitam de pessoal para suas rotinas, isto é, um pessoal

treinado para questões econômico-administrativas.

Outro fator, também fruto da expansão dos cursos de Administração na

sociedade brasileira, é a concentração desse ensino em determinadas regiões.

No início da década de 80, as regiões Sudeste e Sul respondiam por 80.722

30

alunos e 81% de todo o ensino de Administração do País. Esses dados indicam

uma forte prevalência das regiões de maior concentração e diferenciação

produtiva, onde se localizam as maiores oportunidades em termos de mercado

de trabalho para essa profissão.

Isto mostra que a preocupação não deve estar apenas voltada à

preparação de profissionais para as empresas privadas. No momento em que o

Brasil se encaminha para uma sociedade democrática, parece oportuno

defender a formação de um profissional capaz de atuar em outras formas

organizacionais, tais como: associações de bairros, cooperativas, pequenas

empresas e outros campos novos à espera de formas organizacionais

inovadoras, além do seu tradicional campo nas empresas.

31

CAPÍTULO IV

PANORAMA ATUAL DO ENSINO SUPERIOR DE ADMINISTRAÇÃO NO BRASIL

De acordo com os resultados do Censo do Ensino Superior de 2009

divulgados em janeiro de 2011 pelo MEC, 1,1 milhão de estudantes se

matricularam em um curso de Administração no ano de 2009. Quase metade

das matrículas da educação superior concentra-se nos cursos de

Administração, Direito (651 mil), Pedagogia (573 mil) e Engenharia (420 mil).

Na educação a distância, apenas dois cursos - Pedagogia e Administração -

detêm 61,5% do total de matrículas.

Para o Adm. Wagner Siqueira, Presidente do Conselho Regional de

Administração do RJ, a grande procura pelo curso de Administração pode ser

explicada pela crescente demanda por Administradores profissionais em

diversos segmentos: indústria, comércio, serviços, administração pública,

terceiro setor, consultoria, magistério. Tendência essa que deve se manter já

que o Brasil passa por um processo de desenvolvimento que exige qualidade

em seus processos de gestão, como explica o Presidente do CRA/RJ: “Os

grandes investimentos público-privados – como o Comperj e outras obras

prometidas pelo PAC – e os mega eventos, como a Copa do Mundo de 2014 e

as Olímpiadas de 2016, representam grandes oportunidades para o país

mostrar elevados níveis de eficiência e de eficácia na aplicação de recursos

assim como na geração de resultados efetivos para todos os interessados,

sobretudo para a sociedade brasileira”

No entanto, Wagner Siqueira alerta para a necessidade dos cursos de

Administração investirem fortemente na capacitação de seus docentes, na

infraestrutura de suas instalações e equipamentos e na manutenção do projeto

pedagógico do curso que deve estar antenado com as perspectivas da

32

economia permitindo assim que o futuro egresso ocupe o espaço a ele

destinado no mercado de trabalho.

No entanto, apesar de os números apontarem intensa demanda para os

cursos de Administração, segundo Leandro Vieira, editor do Portal

Administradores, “a maior parte das faculdades brasileiras de Administração

ainda não parou para identificar que tipo de Administrador elas pretendem

formar”.

Segundo Fátima Oliveira e Fernanda Sauerbronn em seu artigo

“Trajetória, desafios e tendências no ensino superior de Administração e

Administração Pública no Brasil, “um dos principais desafios à educação

superior é a necessidade de ampliar o acesso a ela e, ao mesmo tempo,

controlar se processo de mercantilização”. Dessa forma, “surgem no ensino

superior conceitos e categorias que eram impensáveis, tais como “mercado de

ensino”, “cliente-consumidor” e “produtos e serviços” na área de educação”.

As autoras continuam o artigo dizendo que “o que se observa é que a

faculdade mercantil vem assumindo características de uma empresa destinada

a competir no mercado de ensino universitário, sujeita a rankings, sistemas de

avaliação e informações visando os consumidores.

Sobre estes sistemas de avaliação, o Professor Paulo Prochno avalia o

sistema utilizado pela Capes como deficiente, pois “a lista de publicações é

ruim - já houve muitas mudanças ao longo dos últimos 10 anos, desde versões

que não incluíam nenhum dos periódicos mais importantes da área (ou seja, se

alguém publicasse no melhor periódico da sua área não ganhava nenhum

ponto) até versões que dão a mesma pontuação para periódicos bons e

medíocres (ou seja, publicar nos melhores, que é muito mais difícil, não vale o

esforço). E, mesmo com as médias sendo calculadas a cada 3 anos, as

escolas colocam pressões em seus professores para fazer pontos no curto

33

prazo – o que faz com que ninguém queira correr o risco de submeter para os

melhores periódicos, já que o ciclo para ter um artigo publicado neles leva de 2

a 5 anos. A consequência? Todo mundo finge que está fazendo algo

importante, mas na verdade só está pensando em maximizar os tais pontinhos

gerando quantidade (ao invés de qualidade)”.

O interessante é que na série de artigos do Prof. Prochno, “O que há de

Errado na Área Acadêmica de Administração no Brasil”, publicada no Portal

Administradores em setembro de 2010, suas idéias expostas vão de encontro

às idéias das Professoras Oliveira e Sauerbronn. E estas idéias ficam

evidentes no texto do Problema I, do último artigo da série:

“Virou "oportunidade de negócio" no Brasil o setor de educação, e junto veio a moda de considerar que escola deve ser administrada como empresa. O modelo "com fins lucrativos" pode até dar certo para "popularizar" o ensino superior (mas daí vem a discussão se isso é bom ou não para o país, algo que foge do escopo dessa discussão), mas para escolas que se pretendem líderes na geração e disseminação de conhecimento, a coisa não funciona muito bem – em qualquer área de conhecimento. As melhores universidades do mundo dão prejuízo, e só se mantém porque recebem recursos de empresas, ex-alunos ou governo. Não porque elas são mal administradas, mas porque manter um padrão de excelência requer recursos que vão além do que pode ser recuperado via mensalidades dos cursos que elas oferecem. Mas além da questão de ser com fins lucrativos ou não, muitas escolas acham que ter boa gestão significa administrar escolas como se fossem empresas. E colocam no comando executivos que não tem nenhuma noção de como funciona o mundo acadêmico, instituindo práticas que acabam mediocrizando as instituições. A geração de conhecimento de ponta requer uma série de práticas que, vistas de fora, podem parecer ineficientes e idiossincráticas demais. Mas a coisa funciona bem: nas

34

melhores escolas, os professores têm um peso enorme na administração da instituição, podendo até demitir o diretor da escola. Além disso, a grande maioria dos cargos decisórios são ocupados por professores de forma temporária: depois de 2 a 5 anos eles voltam a ser somente professores e o cargo administrativo é ocupado por outro professor. São poucas as pessoas de fora do mundo acadêmico que conseguem ter sucesso em ambientes assim. Um exemplo: nos últimos anos, as 3 melhores escolas da Europa colocaram no cargo de diretor ("Dean") profissionais vindos do "mercado" (ou seja, de fora da academia). Nenhum durou longo tempo no cargo, sendo substituídos por acadêmicos. Não vou me alongar hoje nas razões pelas quais isso acontece, mas depois de ter observado governança de muitas escolas pelo mundo, eu acho que elas funcionam melhor quando são administradas por acadêmicos, e de uma forma bem diferente de como se administram empresas. Os objetivos são bem diferentes, a forma de criar valor bem diferente, a função social diferente, e portanto as escolas demandam uma gestão diferente – que poucas pessoas "do mercado" conseguem entender.

Voltando ao artigo das Professoras Oliveira e Sauerbronn, elas propõem

pontos de reflexão quanto aos rumos do ensino superior de Administração, tais

quais: elementos centrais para uma nova estrutura curricular, foco na prática e

no praticante, novas estratégias de ensino e iniciativas correspondentes e

iniciativas de transformação de ensino via capacitação docente.

Já o Prof. Carlos Hildorf propõe “uma revolução na educação”, mas não

põe a culpa somente na Instituição de Ensino. Para ele, é necessária uma

revitalização das relações entre os agentes responsáveis pelo ensino, “é hora

de ressignificar a educação, e isso não se faz de uma hora para outra; é

processo, leva tempo, mas não pode ser procrastinado com base nesta

desculpa nobre. O tema é urgente e as atitudes são inadiáveis. Todos nós,

atores sociais, envolvidos direta ou indiretamente com educação, precisamos

35

nos mobilizar em um grande diálogo social, amplo, irrestrito e orientando para a

ação, no sentido de considerar as diferenças e construir a partir delas um

legado substancial que possa, efetivamente, construir uma melhor versão do

futuro”.

Porém, no final, de que vale levantar dados que apontem deficiência do

sistema educacional superior em Administração? A resposta é: o Mercado de

Trabalho. Que profissionais estão sendo formados? Profissionais adequados,

eficientes, aptos para o Mercado de Trabalho, ou profissionais deficientes?

Segundo enquete do CRA-SP, publicada no Portal Administradores sob

o título “Ritmo do mercado marca a formação dos Profissionais de

Administração”, os cursos da área tem dificuldades de preparar profissionais,

pois não conseguem acompanhar este mercado. O artigo traça um interessante

paralelo entre o ensino de Administração, o Mercado de Trabalho e o avanço

tecnológico ao levantar a questão de que “com novas tecnologias, novos

conceitos, como o de sustentabilidade, e mudanças constantes no cenário

econômico, a maneira como se administra uma empresa dificilmente se

mantém a mesma. O processo de formação de administradores também sofre

alterações ao longo do tempo por disso. Mas será que o ensino da área está

em sintonia com o mercado?”

Com esta pergunta como enquete, o CRA-SP obteve respostas de cerca

de 3.000 de seus associados, sendo que 53,43% acreditam que apenas em

parte os cursos superiores de administração têm formado profissionais

preparados para o mercado. Já outros 31,91% acreditam que a educação e o

novo mercado não estão em sintonia e os estudantes de administração saem

das faculdades despreparados. Já para outros 14,55% os cursos têm formado

profissionais adequados.

36

Observa-se, então, que grande maioria dos entrevistados está, de

alguma forma, insatisfeito com os rumos tomados pela educação superior em

Administração.

37

CONCLUSÃO

Depois da leitura desse texto, podemos concluir que a Administração é

uma ciência antiga, porém relativamente nova no Brasil, e que houve uma

grande mobilização para a regulamentação da profissão de Administrador, e

provando que existe, e é real, a necessidade deste profissional dentro das

empresas.

Pode-se perceber também a evolução do ensino superior em

Administração no País e, mais atualmente, a dificuldade que a área Acadêmica

vem encontrando em se manter alinhada com as rápidas transformações,

exigências e necessidades do Mercado.

O tema é extenso e foram encontrados, durante a pesquisa, diversos

debates e artigos, mas ainda carece de bibliografia própria. Ainda não temos

livros falando sobre o assunto, mas a produção de artigos é grande, o que

mostra a preocupação dos Acadêmicos com este tema.

38

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Conselho Federal de Administração – www.cfa.org.br

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