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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU” INSTITUTO A VEZ DO MESTRE COISA JULGADA Por: Cleiton Bellinger Santos Orientador Prof. Carlos Afonso Leite Leocadio Rio de Janeiro 2006

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

COISA JULGADA

Por: Cleiton Bellinger Santos

Orientador

Prof. Carlos Afonso Leite Leocadio

Rio de Janeiro

2006

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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

INSTITUTO A VEZ DO MESTRE

COISA JULGADA

Apresentação de monografia à Universidade

Candido Mendes como condição prévia para a

conclusão do Curso de Pós-Graduação “Lato Sensu”

em Direito Processual Civil.

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AGRADECIMENTOS

A todos aqueles que me

acompanharam nessa jornada de

aprendizado, compreendendo-me e me

auxiliando na busca do conhecimento

jurídico, com a ajuda de seus

incentivos é que foi possível terminar

tão brilhante curso.

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DEDICATÓRIA

Para

Fabiellyn Pereira Bellinger Santos

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RESUMO

Na orientação de Ada Pellegrini Grinover, estabelecer os limites da coisa

julgada significa responder a seguinte pergunta: quais partes da sentença ficam

cobertas pela autoridade da coisa julgada? Entretanto, para que possamos

responder a referida pergunta, urge que façamos algumas considerações a

respeito da coisa julgada, para que, só então, possamos abordar juridicamente

os limites objetivos e, ainda, os subjetivos da res iudicata.

Assim, o presente trabalho expõe os principais fundamentos expressos

tanto pela Doutrina Processualista Civil brasileira, na figura de representantes

como Ada Pellegrini Grinover, Vicente Greco Filho e Alexandre Freitas Câmara,

no que versa sobre os limites objetivos da coisa julgada. Matéria de grande

complexidade, e que deve ser analisada num todo, como parte de um sistema

de perfeita e harmônica interação.

Destarte, em preliminares, a monografia alude o conceito de coisa

julgada como efeito primacial da sentença. Os limites objetivos da res iudicata,

são detalhadamente apreciados, bem como, todas as hipóteses em que tais

limites são excepcionados. Abordamos, também, com intuito de proporcionar a

esta exposição, maior concretude e entendimento.

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METODOLOGIA

A metodologia utilizada para o estudo da coisa julgada é a de pesquisa

bibliográfica.

Ao iniciar o estudo do tema com a consulta doutrinária, tendo como base

a corrente seguida pelos juristas: Vicente Greco Filho, Alexandre Freitas

Câmara e José dos Santos Carvalho Filho, passando por outros autores da

literatura jurídica.

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SUMÁRIO

Página

INTRODUÇÃO 08

CAPÍTULO I - Conceito e considerações preliminares da coisa julgada 10

CAPÍTULO II - Coisa Julgada Formal e Material 16

CAPÍTULO III – Limites Objetivos da Coisa Julgada 23

CAPÍTULO IV – Limites Subjetivos da Coisa Julgada 29

CONCLUSÃO 35

ANEXOS 37

BIBLIOGRAFIA CITADA 43

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 44

ÍNDICE 45

FOLHA DE AVALIAÇÃO 46

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INTRODUÇÃO

Este trabalho tem por função primordial, não exaurir o exame dos fatos –

eis que podem ser objeto de novas reflexões – mas, focalizar os mais

diferentes ângulos da questão para alcançar uma elucidação; contando para

tal, com a colaboração dos ensinamentos, entre outros, Vicente Greco Filho e

Alexandre Freitas Câmara, extraídos de suas obras, respectivamente, Direito

Processual Civil Brasileiro (14a ed., 2o vol. Saraiva, São Paulo, 2000) e Lições

de Direito Processual Civil (6a ed., volume I, Ed. Lumen Juris, Rio de Janeiro,

2001), José dos Santos Carvalho Filho (Ação Civil Pública, comentários por

artigo. 5. ed. Editora Lúmen Júris. Rio de Janeiro. 2005).

Vicente Greco Filho em sua obra Direito Processual Civil Brasileiro,

adotou como critérios para exibir sua linha de pensamento, em princípio, um

texto expositivo de uma posição teórica, com a respectiva fundamentação,

sem, contudo, desenvolver uma discussão sobre posições doutrinárias que, a

despeito do interesse científico, não tem no direito processual brasileiro

repercussão prática; além do mais, formula ele hipóteses de solução

controvertida, fornecendo, porém, soluções juridicamente sustentáveis. Por fim,

de modo sucinto, quando possível, ou seja, dependendo do caso, apresenta as

conclusões a que chegaram os tribunais, vistas sob um prisma crítico.

Com relação a Alexandre Câmara, podemos afirmar que sua obra

Lições de Direito Processual Civil, reflete uma visão global do processo através

de uma linguagem simples e acessível, e apresentando não só a sua opinião,

mas também a posição dos mais importantes juristas que tratam de cada um

dos assuntos, analisando as mais relevantes polêmicas doutrinárias; inserindo

as informações de Direito Comparado e de evolução histórica dos institutos ao

longo dos capítulos a eles destinados.

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9Tais obras, dentre outras de imensa relevância, revestem-se de utilidade

ímpar para o operador do Direito, seja ele advogado militante, magistrado,

promotor de justiça, ou qualquer outro profissional do Direito, pois, além de

instrumentos poderosos e fontes de consulta obrigatória, configuram-se como

algumas das mais modernas visões do direito processual contemporâneo, cuja

evolução acelerada comprava-se a cada instante.

O presente trabalho científico, fruto de ampla pesquisa, promoverá um

recenseamento de algumas questões resolvidas e aperfeiçoadas, ao longo do

tempo, pela doutrina e jurisprudência, acerca de um instituto jurídico de suma

importância em qualquer ordenamento jurídico, em virtude de a Coisa Julgada

trazer a segurança necessária às relações processuais. Para tanto,

abordaremos os principais e mais aceitos entendimentos doutrinários, bem

como, apresentar-se-ão as correntes divergentes de grande valia ao bom

desenvolvimento do tema ora em estudo; momento em que as posições

defendidas pelos ilustres doutrinadores supracitados serão expostas e

confrontadas, na busca contínua por traduzir toda proeminência do instituto da

coisa julgada em sede do ordenamento jurídico pátrio.

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CAPÍTULO I

CONCEITO E CONSIDERAÇÕES PRELIMINARES DA COISA

JULGADA

Para que possamos analisar o instituto da Coisa Julgada e, então,

passarmos ao exame de seus limites objetivos, faz-se necessário expormos

algumas considerações quanto à recorribilidade da sentença.

Com a sua publicação, a sentença torna-se irretratável, não podendo ser

modificada ou revogada pelo mesmo órgão jurisdicional que a proferiu. No

entanto, pode a sentença ser impugnada pelo vencido sob o fundamento de

vício de procedimento e, até mesmo, de ter sido prolatada de forma injusta ou

equivocada.

No sistema judiciário nacional, em que se consagra o duplo grau de

jurisdição, a impugnação da sentença ocorrerá por meio de Recurso. Este

consiste no pedido de reexame da causa pelo órgão jurisdicional

hierarquicamente superior ao que proferiu a decisão. Os recursos deverão ser

interpostos dentro de prazo determinado (o qual varia de acordo com a

‘espécie’ de recurso) que deverá ser contado a partir da data da publicação da

sentença ou da sua intimação às partes, de acordo com o disposto no artigo

506 do CPC. Estes prazos são preclusivos, por outras palavras, uma vez

esgotados não mais se admite a interposição de recurso.

Enquanto recorrível, ou enquanto pendente recurso, a sentença

apresenta-se apenas como um ato judicial, mero ato do magistrado tendente a

traduzir a vontade da lei diante do caso concreto. Assim, somente pelo

esgotamento dos prazos legais para recorrer, excluída a possibilidade de uma

nova formulação, é, pois, insuscetível de reforma, a sentença que, em

princípio, não produz os seus efeitos regulares, principais ou secundários, não

passando, então, de uma situação jurídica.

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11Pendente o recurso, não se atingiu ainda a finalidade do processo que é

a composição da lide, pelo julgamento final, ou seja, o Estado não satisfez nem

ultimou a prestação jurisdicional, a que está obrigado.

Humberto Theodoro Júnior ensina:

“Ampla corrente doutrinária ensinava que o principal efeito da sentença era a formação da coisa julgada.76 Para o Código de 1973, o efeito principal da sentença é apenas "estar o ofício do juiz de acabar a função jurisdicional" (art. 463), corno adverte Ada Pellegrini Grinover.77 Apresenta-se a res iudicaia, assim, como qualidade da sentença, assumida em determinado momento processual. Não é efeito da sentença mas a qualidade dela representada pela "imutabilidade" do julgado e de seus efeitos. Para o Código, "denomina-se coisa julgada material a eficácia que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário" (art. 467). Com a publicação, a sentença se torna irretratável para o julgador que o proferiu (art. 463). Mas o vencido pode impugná-la, valendo-se do duplo grau de jurisdição consagrado pelo nosso sistema judiciário e pedindo a outro órgão superior da Justiça que reexamine o julgado. Isso se faz através do recurso. Para todo recurso a lei estipula prazo certo e preclusivo, de sorte que, vencido o termo legal, sem manifestação do vencido, ou depois de decididos todos os recursos interpostos, sem possibilidade de novas impugnações, a sentença torna-se definitiva e imutável. Enquanto pende o prazo de recurso, ou enquanto o recurso pende de julgamento, a sentença apresenta-se apenas como um ato judicial, ato do magistrado tendente a traduzir a vontade da lei diante do caso concreto. A vontade concreta da lei, no entanto, "somente pode ser única". Por isso, "somente pelo esgotamento dos prazos de recursos, excluída a possibilidade de nova formulação, é que a sentença, de simples ato do magistrado, passará a ser reconhecida pela ordem jurídica corno a emanação da vontade da lei".78 Enquanto sujeita a recurso, a sentença não passa de "uma situação jurídica".

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12 Os efeitos próprios da sentença só ocorrerão no momento em que não mais seja suscetível de reforma por meio de recursos. Ocorrerá, então, o trânsito em julgado, tornando odecisório imutável e indiscutível (art.467). Há, outrossim, diante da possibilidade de ação rescisória da sentença (art. 485), dois graus de coisa julgada, conforme a lição de Frederico Marques: a coisa julgada e a coisa soberanamente julgada, ocorrendo esta última quando se escoe o prazo decadencial de propositura darescisória (art. 495), ou quando seja ela julgada improcedente.79 Sendo, outrossim, rescindível e não nula a nova sentença que infringiu a coisa julgada, e como não podem coexistir duas coisas julgadas a respeito da mesma lide, força é concluir que, 80 enquanto não rescindida, deverá prevalecer a eficácia do segundo julgamento.” (2000, p. 461/463)

Quando da sentença não mais cabe recurso, tem-se a coisa julgada. As

questões que outrora existiam, de fato e de direito, foram julgadas. Passa em

julgado a decisão e não os fundamentos, e o que se julga da questão de fato

apenas concerne da decisão.

De certo, o número de recursos em nosso sistema é grande, porém,

limitado; tornando, num determinado momento, irrecorrível a decisão judicial ou

pelo fato de se terem esgotado os recursos presentes em nosso ordenamento

ou, pelo fato de não se ter interposto o recurso cabível no prazo previsto. Assim

é que, no momento em que se torna irrecorrível a decisão judicial, com o

conseqüente trânsito em julgado, surge a coisa julgada.

Podemos dizer que a coisa julgada é a imutabilidade dos efeitos

da sentença, ou da própria sentença, que decorre de estarem esgotados os

recursos eventualmente cabíveis.

A Lei de Introdução ao Código Civil anterior ao atualmente vigente, em

seu art. 6º, parágrafo 3º, estabelece, diga-se desde logo, de forma

insatisfatória: “Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de

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13que já não cabe recurso”. Por sua vez, o nosso Código de Processo Civil, em

seu artigo 467, dispõe o que se segue: “Denomina-se coisa julgada material a

eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a

recurso ordinário ou extraordinário”.

Sobrevindo o instituto da coisa julgada, os efeitos substanciais da

sentença ficam imutáveis: nem ao autor, nem ao réu é lícito rediscutir o

conteúdo declaratório da decisão judicial em toda a extensão da demanda

proposta. Em conformidade com o artigo 468 do Código de Processo Civil, ela

“tem força de lei nos limites da lide e das questões decididas”.

Já para Alexandre Freitas Câmara, a coisa julgada se revela como uma

situação jurídica, como o mesmo dispõe: “com o trânsito em julgado da

sentença, surge uma nova situação, antes inexistente, que consiste na

imutabilidade e indiscutibilidade do conteúdo da sentença, e estes dois

elementos é que são, em verdade a autoridade de coisa julgada” (2001. pág.

399).

Porém, a posição mais aceita pela doutrina brasileira, no tocante à

natureza jurídica da coisa julgada, é a defendida por Vicente Greco Filho,

segundo o qual a coisa julgada é efeito da sentença (2000. p. 264).

1.1 Justificação ou fundamentação da autoridade da coisa julgada.

Não se pode ignorar a existência de sentenças injustas que nem

mesmo por serem injustas deixam de fazer coisa julgada. A doutrina, a

respeito, oferece duas ordens de fundamentos para justificar tais hipóteses:

uma de ordem política e outra de ordem jurídica.

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14 Com relação ao fundamento de Ordem Jurídica da Coisa Julgada,

inúmeras são as teorias que investigam tal fundamentação do instituto em lide,

dentre as quais podemos destacar: presunção de verdade, ficção de verdade,

extinção da obrigação jurisdicional, etc. Embora pese a importância acadêmica

de tais discussões, a repercussão prática que implica a concepção filosófica do

processo, não nos ateremos à análise das teorias.

A lei, como vontade do Estado, que confere à sentença aquela

autoridade, a partir de dado momento (vide parágrafo 3º, art. 6º, LICC). É ainda

a lei, através do art. 468 do CPC, que lhe dá força de lei: “A sentença, que

julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei nos limites da lide e das

questões decididas”.

Sua força, sua autoridade, nem mesmo a lei poderá desconhecer ou

contrariar. A coisa julgada é imutável e indiscutível mesmo em face da lei. Por

preceito constitucional, em seu art. 5º, inciso XXXVI: “a lei não prejudicará o

direito adquirido, o ato jurídico perfeito e a coisa julgada”.

Fundamento de Ordem Política da Coisa Julgada: o instituto da coisa

julgada foi concebido com o objetivo de evitar a perduração de situações

indefinidas, o que é indesejável na vida social, pois compromete a sua própria

segurança.

As qualidades que cercam os efeitos da sentença, configurando a sua

julgada, revelam as inegáveis necessidades sociais, reconhecidas pelo Estado,

de evitar a perpetuação dos litígios, em prol da segurança que os negócios

jurídicos reclamam da ordem jurídica. A própria lei quer que haja um fim à

controvérsia da parte; visto que a paz social o exige. Também é a própria lei

que confere à sentença a autoridade de coisa julgada, concedendo-lhe,

igualmente, a força de lei para as partes do processo.

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15Há motivos de ordem prática, de exigência social, a impor que a partir de

dado momento, que se verifica com a preclusão dos prazos para recursos, a

sentença se torna imutável, adquirindo autoridade de coisa julgada. Desse

modo, a exigência de ordem prática ao se instituir a coisa julgada é a de não

mais se permitir que se volte a discutir acerca de questões já soberanamente

decididas pelo Poder Judiciário. Apenas a preocupação de segurança nas

relações jurídicas e de paz na convivência social é que explicam a coisa

julgada.

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CAPÍTULO II

COISA JULGADA FORMAL E MATERIAL

Para que se compreenda com precisão os limites da coisa julgada,

convém fazer uma incursão pela distinção entre a coisa julgada formal e a

coisa julgada material.

Os conceitos de coisa julgada material e de coisa julgada formal se

tocam, de modo que o segundo é pressuposto do primeiro, ou seja, a coisa

julgada material exige a formal.

Comumente se diz que a coisa julgada formal decorre simplesmente da

imutabilidade da sentença dentro do processo em que foi proferida, e que a

coisa julgada material, ao contrário, consiste na imutabilidade da sentença com

os efeitos para fora do processo em que foi proferida.

Pode-se desta forma afirmar, que a coisa julgada formal é a

imutabilidade da sentença, e coisa julgada material é a imutabilidade de seus

efeitos, ou melhor, àquela coisa julgada formal se acrescentaria ainda a

imutabilidade dos efeitos da sentença (declaratórios, constitutivos ou

condenatórios), e a esta imutabilidade dos efeitos é o que se daria o nome de

coisa julgada material. Assim sendo, a coisa julgada formal seria comum a

todas as sentenças, enquanto a coisa julgada material só poderia se formar

nas sentenças de mérito. Como leciona o doutrinador Alexandre Câmara,

“todas as sentenças transitam em julgado (coisa julgada formal), mas apenas

as sentenças definitivas alcançam a autoridade da coisa julgada (coisa julgada

material)” (2001. p. 396).

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17Estabelece o Código de Processo Civil, em seu artigo 467: “Denomina-

se coisa julgada material a eficácia que torna imutável e indiscutível a sentença

não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário”.

A coisa julgada formal e a material são degraus de um mesmo

fenômeno. Uma vez proferida a sentença de mérito e preclusos os prazos

legais, tal sentença torna-se imutável (primeiro degrau). Em conseqüência

disso, se tornam imutáveis os seus efeitos (segundo grau); de modo que aquilo

que foi discutido dentro de certo processo, não pode ser rediscutido em outro

processo.

A coisa julgada formal constitui pressuposto da material ou substancial.

Enquanto a coisa julgada formal torna imutável o ato processual sentença

dentro do processo, resguardando tal ato de recursos definitivamente

preclusos, a coisa julgada material torna imutáveis os efeitos produzidos por

ela e lançados fora do processo: ou seja, o que há é a imutabilidade da

sentença, no mesmo processo ou em qualquer outro processo, entre as

mesmas partes e versando sobre o mesmo objeto.

Nestes termos, a coisa julgada formal consiste na imutabilidade da

sentença pela preclusão dos prazos para recursos. O fenômeno da

imutabilidade ocorre em virtude da não possibilidade de a sentença ser

reformada por meio de recursos ou porque dela não caibam mais recursos, ou,

ainda, porque estes não foram interpostos no prazo determinado por lei, ou

porque do recurso se desistiu ou, interposto, ao mesmo tempo se renunciou.

Logo, a coisa julgada formal consiste na imutabilidade da decisão dentro do

mesmo processo pela ausência de meios de impugnação possíveis (sejam

estes recursos ordinários ou extraordinários).

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18Humberto Theodoro Júnior versa sobre o tema de forma clara e

explicativa, in verbis:

“O Código, no art. 467, limitou-se a definir a coisa julgada material, afirmando que: "Denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutível a sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário." Mas existe, também, a coisa julgada formal, que se difere daquele fenômeno descrito no Código e que é tradicionalmente tratada pelos processualistas como fatorelevante em matéria de eficácia da sentença. Na verdade a diferença entre a coisa julgada material e a formal é apenas de grau de um mesmo fenômeno. Ambas decorrem da impossibilidade de interposição de recurso contra a sentença. A coisa julgada formal decorre simplesmente da imutabilidade da sentença dentro doprocesso em que foi proferida pela impossibilidade de interposição de recursos, quer porque a lei não mais os admite, quer porque se esgotou o prazo estipulado pela lei sem interposição pelo vencido, quer porque o recorrente tenha desistido do recurso interposto ou ainda tenha renunciado à sua interposição. Imutável a decisão, dentro do processo "esgota-se a função jurisdicional". O Estado, pelo seu órgão judiciário, "faz a entrega da prestação jurisdicional a que estava obrigado".81 Mas a imutabilidade, que impede o juiz de proferir novo julgamento no processo, para as partes tem reflexos, também, fora do processo, impedindo-as de virem a renovar a discussão da lide em outros processos. Para os litigantes sujeitos à res iudicata, "o comando emergente da sentença se reflete, também, fora do processo em que foi proferida, pela imutabilidade dos seus efeitos. A partir do trânsito em julgado material "a sentença que julgar total ou parcialmente a lide tem força de lei nos limites da lei e das questões decididas" (art. 468). A coisa julgada formal atua dentro do processo em que a sentença foi proferida, sem impedir que o objeto do julgamento volte a ser discutido em outro processo. Já a coisa julgada material, revelando a lei das partes, produz seus efeitos no mesmo processo ou em qualquer outro, vedando o reexame da res in iudicium deducta, por já definitivamente apreciada e julgada.

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19 A coisa julgada formal pode existir sozinha em determinado caso, como ocorre nas sentenças meramente terminativas, que apenas extinguem o processo sem julgar a lide. Mas a coisa julgada material só pode ocorrer de par com a coisa julgada formal, isto é, toda sentença para transitar materialmente em julgado deve, também, passar em julgado formalmente. 82 Para o Código, lide é sempre o mérito da causa. Filiou-se, assim, abertamente à lição de Carnelutti, que define lide como o conflito de interesses qualificado pela pretensão de um dos litigantes e pela resistência do outro. "O julgamento desse conflito de pretensões, mediante o qual o juiz, acolhendo ou rejeitando o pedido, dá razão a uma das partes e nega-a à outra, constitui uma sentença definitiva de mérito. A lide é, portanto, o objeto principal do processo e nela se exprimem as aspirações em conflitos de ambos os litigantes."83 No sistema do Código, a coisa julgada material só diz respeito ao julgamento da lide, de maneira que não ocorre quando a sentença é apenas terminativa (não incide sobre o mérito da causa). Assim, não transitam em julgado, materialmente, as sentenças que anulam o processo e as que decretam sua extinção, sem cogitar da procedência ou improcedência da ação. Tais decisórios geram apenas coisa julgada formal. Seu efeito se faz sentir apenas nos limites do processo. Não solucionam o conflito de interesses estabelecidos entre as partes, e, por isso, não impedem que a lide volte a ser posta em juízo em nova relação processual. Por não importarem solução da lide, não produzem, também, coisa julgada: a) os despachos de expediente e as decisões interlocutórias; b) as sentenças proferidas em procedimentos de jurisdição voluntária; e c) as sentenças proferidas em processos cautelares, ainda por que revogáveis ou modificáveis a qualquer momento (art. 807). Já se decidiu, também, que a sentença que nega a anulação do casamento, ou a decretaçãodo desquite, por falta ou insuficiência de prova, não faz coisa julgada e permite ao cônjuge renovar a ação com base em melhores elementos de convicção. A melhor tese, todavia, é a que nega qualquer privilégio para tais sentenças, pois o Código não conhece três espécies de julgamento para encerrar o processo, mas apenas duas: a) as sentenças terminativas (art. 267); e b) as sentenças definitivas (art. 269). Aquelas extinguem o processo sem solução do mérito, e estas com julgamento do mérito.

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20 As terminativas, portanto, não fazem coisa julgada material, mas as definitivas, isto é, as que acolhem ou rejeitam o pedido do autor (art. 269, n0 1), produzem, sempre e necessariamente, a eficácia material da res iudicata (art. 468). Desconhecendo o Código o tertium genus de sentença que apenas declara insuficiente a prova do autor, o que acarreta a não-desincumbência do ônus probandi é o julgamento de mérito (rejeição do pedido) contrário à pretensão que motivou o ajuizamento da causa, posto que, em processo civil, actore nonprobante absolvitur reus (art. 333, 1). Assim, em toda causa, o juiz ou extingue o processo sem julgamento de mérito (por questões preliminares) ou aprecia o mérito, hipótese em que, qualquer que seja a solução, haverá de submeter-se às conseqüências da res iudicata. Não há, portanto, nenhuma exceção no sistema do Código, que crie um regime diverso para a coisa julgada em matéria de ações matrimoniais. Se o cônjuge interessado não logrou provar o fato em que assentava sua pretensão, e assim viu rejeitado o pedido de separação ou anulação do casamento, inadmissível será a volta ao pretório para abrir novo processo sobre amesma base fática.

Igual orientação seguiu o STJ no caso de ação de investigação de paternidade, repelindo a pretensão de desprezar a autoridade de coisa julgada em face de realização de exame pericial genético (DNA) posterior à sentença, com resultados técnicos contrários ao que chegara o julgamento definitivo da investigatória, ainda que sua base pudesse ter sido a insuficiência da prova produzida”. (2000. p. 463/465)

Todas as sentenças, em certo momento, fazem coisa julgada formal.

Contudo, para as sentenças de mérito, quando da ocorrência de res iudicata

formal, ocorre também, salvo algumas exceções, a coisa julgada material.

Quando não mais se pode discutir, mesmo em outro processo, o que se

decidiu na sentença ocorre a res iudicata substancial; esta consiste no

fenômeno da imutabilidade dos efeitos que se projetam fora do processo,

impedindo que uma nova demanda seja proposta sobre a mesma lide.

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21Percebemos, com isso, o efeito negativo ou preclusivo da coisa julgada

material, que se constitui na proibição de qualquer outro juiz vir a decidir a

mesma ação; assim como não podem as partes voltar a litigar e nem pode o

legislador vir a regular diferentemente a relação jurídica.

A coisa julgada material só se dá em relação às sentenças de mérito, ou

seja, só faz coisa julgada material a sentença que julga o mérito da demanda e

não a que extingue o processo sem o julgamento do mérito; já com relação a

coisa julgada formal, esta se forma dentro do processo, em virtude da sentença

não mais sujeitar-se a recurso, impedindo a reapreciação da matéria no mesmo

processo.

Após o trânsito em julgado da sentença e ocorrendo o instituto da coisa

julgada substancial, há ainda uma possibilidade de a sentença ser atacada,

através da Ação Rescisória

A ação rescisória, como prevê o artigo 485 do CPC, visa corrigir

distorções gritantes (grave defeito formal ou de conteúdo da decisão), até o

prazo máximo de dois anos. Depois disso, não existe qualquer possibilidade de

modificação da sentença, mesmo que esta esteja errada, ou seja, injusta.

A coisa julgada material torna impossível a rediscussão da lide, como já

foi visto. Contudo, o mesmo não ocorre quando existe fato novo ou diferente

que venha a constituir fundamento jurídico para outra demanda. O fato que

constitui fundamento jurídico novo enseja outra demanda, diferente, e a coisa

julgada se refere a demandas idênticas nos três elementos, isto é, mesmas

partes, mesmo pedido e a mesma causa de pedir.

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22Em geral, as sentenças produzem a coisa julgada quando se esgotam

todos os recursos possíveis ou quando findo o prazo para sua interposição.

Contudo, determinadas sentenças, por razões de interesse público, só

produzem efeitos se forem confirmadas pelos competentes Tribunais, não

importando que tenha havido ou não interposição de recurso pela parte

vencida. Desse modo, somente podem produzir seus efeitos depois de

examinadas pelo Tribunal, ou seja, não podem fazer coisa julgada as

sentenças de primeiro grau, as sentenças proferidas, por exemplo, em ações

de anulação de casamento ou contra a Fazenda Pública. Trata-se do que se

conhece por reexame obrigatório ou duplo grau de jurisdição obrigatório, que

no Código anterior recebia o nome de apelação ou recurso de ofício.

2.1 Decisões que não produzem coisa julgada material

Toda sentença produz coisa julgada formal, desde a mais complexa até

a mais simples. Entretanto, nem toda sentença produz a coisa julgada material.

Somente as sentenças que julgam o mérito da demanda produzem a coisa

julgada material.

Consequentemente, só produzem coisa julgada formal:

a) As sentenças terminativas, por extinguirem o processo sem solução do

mérito (artigo 267 do Código de Processo Civil);

b) As sentenças proferidas em processo de jurisdição voluntária, por não

haver lide a ser decidida;

c) As sentenças que decidem as relações jurídicas continuativas, pois embora

a sentença transite em julgado, todas as vezes que sobrevier modificação

de fato ou de direito, a lei permite a revisão da sentença, através de ação

de revisão.

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23

CAPITULO III

LIMITES OBJETIVOS DA COISA JULGADA

O tema ora em estudo trata da verificação do alcance da imutabilidade e

indiscutibilidade da sentença transitada em julgado, na busca por saber o que

transitou em julgado.

A coisa julgada não atinge toda a sentença, que é constituída por três

partes: o relatório, a fundamentação ou motivação, e a decisão ou conclusão

ou, ainda, dispositivo. Assim, a análise dos limites objetivos da coisa julgada

consiste na delimitação de qual parte da sentença que, efetivamente, faz coisa

julgada.

No relatório, onde a causa é simplesmente exposta, não há dúvida de

que a coisa julgada não está presente; por outro lado é passivo o entendimento

de que ela abrange o dispositivo. O problema surge ao tratarmos da

fundamentação, pois neste sentido, há discussão se a coisa julgada abrange

também esta parte da sentença ou se diz respeito apenas à conclusão.

O artigo 468 do Código de Processo Civil dispõe que “a sentença que

julgar total ou parcialmente a lide, tem força de lei nos limites da lide e das

questões decididas”.

O Estado, através do processo, compõe os litígios entre as partes,

conforme estabelecido no pedido e na contestação. Os litígios ou lides, por sua

vez, consistem nos conflitos de interesses que serão solucionados no

processo; as questões são as razões invocadas pelas partes para justificar sua

pretensão ou resistência, e que vão criar as controvérsias.

A lide existe no processo independentemente das questões, e vice-

versa. Contudo, o mais comum é que a lide apresente uma ou mais questões,

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24constituindo uma controvérsia. No caso de possuir várias questões, podem-se

apresentar todas elas no processo, sendo este denominado integral; no

entanto, existe a possibilidade de que não sejam apresentadas em juízo todas

as questões, o que consistirá um processo parcial. Neste último caso, de

julgamento parcial, a coisa julgada somente recairá sobre o que foi julgado.

Através da sentença o Estado soluciona a lide, por intermédio da

resolução das questões que lhe foram propostas. A sentença é a decisão da

lide e, por isso, deve se ater aos limites desta. De tal forma, a sentença faz

coisa julgada e tem força de lei dentro desse limites.

Quando a sentença decide uma lide costuma, também, decidir questões

apresentadas pelas partes para justificar sua posição em relação ao conflito.

Ao contrário do que se observa com a decisão da lide, há muita controvérsia no

sentido de se considerar ou não que a decisão das questões faz coisa julgada.

Esse ponto será abordado logo adiante, mas podemos adiantar que, a

princípio, a decisão das questões não faz coisa julgada, servindo apenas para

estabelecer os limites desta.

O artigo 469 (CPC) limita o alcance da coisa julgada, determinando

quais as partes que constituem a sentença e que não fazem coisa julgada,

quais sejam:

“I - os motivos, ainda que importantes para determinar o alcance da parte dispositiva da sentença;II - a verdade dos fatos estabelecida como fundamento da sentença;III - a apreciação da questão prejudicial, decidida incidentemente no processo”.

Tudo isso será de grande importância na apreciação do juiz, para que

este chegue à conclusão e para dar sentido à decisão. Entretanto, não se pode

incidir sobre essas questões a imutabilidade da coisa julgada; tais questões

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25poderão ser discutidas em outro processo, onde o juiz terá toda a liberdade de

apreciá-las, independentemente de como tiverem sido consideradas em

processo anterior.

Além disso, apesar de o Código não citar expressamente, podemos

observar que também não faz coisa julgada a interpretação de um direito na

decisão do caso concreto; esta interpretação não terá força de lei nos casos

futuros. Nem as súmulas do Supremo Tribunal Federal possuem efeito

vinculante, ou seja, não obrigam o juiz a se determinar naquele sentido; o que

pode ocorrer é uma tendência a se interpretar de forma específica, no caso de

haver decisões reiteradas nesse sentido, que acabem influenciando os juizes.

De acordo com o exposto, verifica-se que o art. 468 do CPC nos leva à

conclusão de que apenas aquilo que foi deduzido no processo e, por

conseguinte, objeto de cognição judicial, é alcançado pela autoridade de coisa

julgada.

3.1 Motivos da sentença

O Código é claro quando dispõe expressamente que os motivos, por

mais importantes que sejam para a fixação do dispositivo da sentença, não

incidem na imutabilidade da coisa julgada. Assim, não resta qualquer dúvida no

sentido de que somente o dispositivo da sentença faz coisa julgada.

Contudo, nem sempre foi assim. Tal questão já produziu mais

divergências, não só no Brasil, como a nível mundial, desde a Antigüidade.

Havia doutrinadores que consideravam sob a proteção da coisa julgada os

motivos da sentença, de forma ampla ou restrita.

Seguindo os ensinamentos de Greco Filho, e tendo por base o disposto

nos arts. 469 e 470 do CPC, se pode afirmar que, apenas o dispositivo da

sentença transita em julgado.

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26Quanto a motivação da sentença, esta não é alcançada pela coisa

julgada, como se verifica pela simples leitura dos artigos supracitados (2000. p.

268).

3.2 Verdade dos fatos

Nós já poderíamos considerar que a verdade dos fatos não faz coisa

julgada pelo simples fato de ela estar inserida dentre os motivos da sentença,

como resultado da apreciação das provas; assim, já poderíamos encaixá-la no

inciso I do artigo 469 do Código de Processo Civil.

Entretanto, além disso, o legislador do Código de Processo Civil foi

mais taxativo, prevendo isso expressamente no inciso II do referido artigo,

segundo o qual não faz coisa julgada “a verdade dos fatos, estabelecida como

fundamento da sentença”.

Humberto Theodoro Júnior afirma que:

“Não faz coisa julgada "a verdade dos fatos, estabelecida como fundamento da sentença" (art. 469, n0 II)." Trata-se de mais uma decorrência do princípio de que só passa em julgado o dispositivou conclusão da sentença, não a sua motivação. Um fato tido como verdadeiro em um processo, pode muito bem ter sua inverdade demonstrada em outro, sem que a tanto obste a coisa julgada estabelecida na primeira relação processual. Naturalmente, o segundo julgamento, embora baseado no mesmo fato, há de refe-rir-se à lide ou questões diversas, porquanto não será lícito reabrir-se processo sobre o que já foi decidido e se acha acobertado pela res iudicata. Impõe-se aqui a mesma distinção, já feita no número anterior, sobre fato jurídico e fato simples.”(2000. p. 473).

É por esta razão que um mesmo fato, considerado verdadeiro em um

processo, pode ser considerado como falso em outro, desde que, embora

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27discutindo o mesmo fato, o novo julgamento se refira à lide ou questões

diversas. Assim sendo, as provas transportadas de um processo para outro

poderão receber valorações diferentes em cada um deles, sem que haja

obstáculo da coisa julgada no primeiro processo.

3.3 Questões prejudiciais

As questões prejudiciais dizem respeito a fatos, questões ou relações

anteriores à controvérsia, que constituem antecedentes lógicos da conclusão

da sentença e que, além disso, poderiam ser objeto de processo separado, por

reunirem as condições suficientes para tal.

Essas questões não constituem o dispositivo da sentença; ao contrário,

antecedem o mesmo fazendo, assim, parte de sua preparação. E é por isso

que não fazem coisa julgada, conforme dispõe o inciso III, do art. 469, do

Código Processual Civil.

Assim, a questão prejudicial decidida incidentalmente no processo é

resolvida pelo Juiz sem produzir efeitos fora do processo em que foi proferida,

ou seja, não é protegida pela coisa julgada. A eficácia dessa decisão limita-se à

preclusão, para que a mesma questão não seja suscitada mais de uma vez no

mesmo processo.

Integrando este entendimento, segundo o mestre Barbosa Moreira, a

apreciação das questões prejudiciais (que se dá na fundamentação da

sentença) não é alcançada pela autoridade de coisa julgada salvo se tiver

havido ‘ação declaratória incidental’, hipótese em que a resolução desta

questão também será alcançada pela autoridade de coisa julgada, eis que terá

também passado a fazer parte do objeto principal do processo, não mais sendo

objeto de apreciação.

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28 O artigo 470 do Código Processo Civil prevê uma hipótese em que a

decisão sobre a questão prejudicial terá efeito de coisa julgada, no caso de “a

parte requerer (arts. 5º e 325), o juiz for competente em razão da matéria e

constituir pressuposto necessário para o julgamento da lide”. Nesse caso a lide

terá sido ampliada para englobá-la, também, como uma de suas questões

internas.

Para que as questões prejudiciais façam coisa julgada material, é

preciso que a parte requeira a declaração incidental, ou seja, é necessária a

propositura de uma ação declaratória incidental.

De tal forma, atendidos a esses requisitos, quais sejam: requerimento

pela parte de ação declaratória incidental; competência do juiz em razão da

matéria e constituir pressuposto para o julgamento da lide; a resolução da

questão prejudicial provocada por ação incidental terá eficácia de coisa julgada.

A posteriori, por ser abrangida pela ação declaratória incidental, a

questão prejudicial será novamente abordada.

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29

CAPÍTULO IV

LIMITES SUBJETIVOS DA COISA JULGADA

Fixar os limites da coisa julgada significa responder à pergunta: quem é

atingido pela autoridade da coisa julgada material? O problema consiste em

saber quais as pessoas alcançadas pela coisa julgada, se esta atinge apenas

as partes na relação processual ou é extensível a terceiros.

Adota-se no Direito brasileiro a regra, fixada no art. 472 do CPC,

conhecida desde o Direito Romano.

A regra se justifica no mais elementar sentimento da justiça. A sentença

é proferida no processo das partes, traduzindo-lhes a vontade da Lei à da lide.

Por isso, tem força de lei entre as partes. Terceiros estranhos ao processo,

entretanto, os quais, até mesmo podem ignorar a existência deste, e cujos

direitos são regulados e tutelados pela lei, estão livres de subordinação à

sentença, que é lei entre as partes, e contra a qual poderão reagir quando

estas os prejudicar.

A sentença, ato de conhecimento e vontade do poder estatal

jurisdicional, quando é editada, se põe no mundo jurídico e, como tal, produz

alterações à relação jurídica de que são titulares terceiros, porque as relações

jurídicas não existem isoladas, mas inter-relacionadas no mundo do direito.

Nesse mesmo sentido escreve Theodoro Júnior:

"A sentença faz coisa julgada às partes entre as quais é dada, não beneficiando nem prejudicando terceiros" (ad. 472). Não quer dizer isto que os estranhos possam ignorar a coisa julgada. "Como todo ato jurídico relativamente às partes entre as quais intervém, a sentença existe e vaie com respeito a todos.”

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30Não é certo, portanto, dizer que a sentença só

prevalece ou somente vale entre as "Não transita em julgado a sentença por haver omitido o recurso ex officio, que se considera interposto ex lege" (STF, Stinl ula 423).

O julgamento nos casos de duplo grau de jurisdição configura ato complexo, que só se torna perfeito e exeqüível após a consumação de todos os atos parciais. Por isso, a remessa ex officio do processo ao Tribunal acarreta sempre os efeitos devolutivo e suspensivo (TFR, M. seg. 40.330, rei. Mm.Amanho Benjamin, in Rev. Forense, 215/94; Seabra Fagundes, Dos recursos ordinários en matéria civil, p.190).

O que ocorre é que, apenas a imutabilidade e a indiscutibilidade da sentença não podem prejudicar, nem beneficiar, estranhos ao processo em que foi proferida a decisão trânsita em julgado. Assim, determinado credor, embora estranho à lide, não pode pretender ignorar a sentença em favor de outrem que condenou seu devedor, desfalcando o patrimônio que lhe servia de garantia comum. O prejuízo que não se alcança com a coisa julgada é o jurídico (a negação de um direito do terceiro, ou a restrição direta a ele) e não o simplesmente de fato (caso de diminuição do patrimônio do devedor comum). Segundo Liebman, deve ser distinguida a eficácia natural da sentença da autoridade dacoisa julgada. Para o grande processualista, na verdade a coisa julgada não é efeito da sentença, mas sim uma qualidade especial sentença, que, em determinada circunstância, a torna imutável. Dentro dessa ordem de idéias, esclarece Liebman:a) a eficácia natural vale para todos (como ocorre com qualquer ato jurídico); mas,b) a autoridade da coisa julgada atua apenas para as partes. Assim, um estranho pode rebelar-se contra aquilo que já foi julgado entre as partes e quese acha sob a autoridade de coisa julgada, em outro processo, desde que tenha sofrido prejuízojuridico. Exemplo: quando o Estado é condenado a indenizar o dano causado por funcionário, cabe-lhe o direito de exercer a ação regressiva contra o servidor. Este, no entanto, no novo processo poderá impugnar a conclusão da sentença condenatória, para provar que não teve culpa no evento, e assim exonerar-se da obrigação de repor aos cofres públicos o valor da indenização. A sentença era válida para todos. Mas aquele estranho que teve direitos diretamente atingidos,

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31pode reabrir discussão em torno da decisão, sem ser tolhido pela eficácia da coisa julgada. Outro exemplo: uma pessoa, exibindo título dominial, move ação reivindicatória que é acolhida, com o reconhecimento de sua qualidade de proprietário do bem litigioso, ocorrendo por isso a condenação do possuidor sem título a entregá-lo ao autor. Isto não impede ao verdadeiro titular do domínio, que não foi parte na reivindicatória, de propor outra ação contra o ganhador daquela causa, para provar, v.g., a falsidade do título que a sustentou, fazendo, já agora, prevalecer a superioridade de sua situação jurídica. Isto se torna possível justamenteporque a declaração de ser o autor proprietário do bem disputado na primitiva ação reivindicatória somente adquiriu indiscutibilidade entre as partes do processo em que a sentença se deu. Como o verdadeiro dono do bem não se incluiu dentro dos limites subjetivos da coisa julgada, nada o impede de, em outro processo, instaurar novo debate em torno do direito subjetivo reconhecido inter alios. A impugnação da res iudicata pelos terceiros prejudicados pode ser feita "na simples forma de defesa ou réplica à exceção de coisa julgada em todas as oportunidades em que uma das partes pretende utilizar a sentença contra eles". Cabem, ainda, os embargos de terceiro,quando se tratar de execução de sentença condenatória que atinja bens de estranho.(2000. p. 476, 477).

Assim, os efeitos da sentença podem atingir tanto as partes quanto a

terceiros. Todavia estes efeitos são, tão-somente, imutáveis para as partes, isto

é, a imutabilidade dos efeitos da sentença, que é a coisa julgada, só atinge as

partes envolvidas na lide.

Pode ocorrer, porém, que certas relações jurídicas por dependerem de

outra que está sob julgamento, conforme a decisão proferida, se transmudem

de tal forma no plano de direito material que terceiro se vê atingido

inevitavelmente pelas conseqüências da sentença. Isto, porém, não quer dizer

que ele tenha sofrido a imutabilidade da coisa julgada; sofreu, sim, os efeitos

civis da sentença e em virtude da modificação produzida no plano de direito

material não tem ele ação ou direito de recompor a situação anterior.

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32

Quanto ao grau de influência dos efeitos da sentença sobre suas

relações jurídicas, podemos classificar os terceiros das seguintes maneiras:

Terceiros absolutamente indiferentes: estes nada tem a fazer porque

não sofrem nenhuma influência da sentença proferida entre outros; são

totalmente estranhos à relação deduzida em juízo.

Terceiros com interesse de fato: estes, também, nada podem fazer

porque não são atingidos em relações jurídicas, mas apenas em expectativas

de fato; por sofrerem prejuízos de fato, mas não de direito, em razão da

sentença são equiparados aos primeiros.

Terceiros juridicamente interessados, com interesse igual ao das partes,

como por exemplo, o dono de um imóvel que toma conhecimento de que seu

bem foi objeto de ação reivindicatória entre outros e o autor ganhou a demanda

e, portanto, a declaração de propriedade do imóvel: neste caso, o terceiro, que

não é atingido, como se disse, pela imutabilidade da coisa julgada, tem ação

própria (ou teria a oposição dependendo da época de seu conhecimento), para

pleitear o seu direito contra quem se diz atualmente dono, ação, aliás, da

mesma natureza da que gerou a sentença sobre o bem. O terceiro, nesta

situação não irá discutir a sentença anterior, nem pretender desfazê-la, mas

sim obter uma nova que proclame o seu direito próprio.

Assim, terceiros, se juridicamente prejudicados pela eficácia natural

da sentença, poderão insurgir-se contra esta (inclusive em outro processo),

porquanto não é atingido pela coisa julgada material.

Este é o entendimento que deve ser dado ao art. 472, primeira parte, do

Código, que, de maneira simples estabelece: “a sentença faz coisa julgada às

partes entre as quais é dada, não beneficiando, nem prejudicando terceiros”.

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33Significa esta regra que terceiros não são alcançados pela imutabilidade

e indiscutibilidade da sentença, o que permite a estes vir a discutir em juízo a

questão já resolvida por sentença protegida pela autoridade de coisa julgada.

O dogma da limitação subjetiva da coisa julgada às partes vem sendo

rompido, no processo moderno, nas ações coletivas ajuizadas em defesa de

interesses metaindividuais (ambiente, consumidor, proteção do patrimônio

histórico, cultural e artístico etc.). No Brasil, após a coisa julgada erga omnes

da Ação Popular, a lei da Ação Civil Pública e, por último, o Código de Defesa

do Consumidor vieram ampliar os limites subjetivos da coisa julgada,

estruturando-os de acordo com o resultado do processo – art. 103 CDC,

aplicável à Ação Civil Pública (art. 21 desta). Assim, conforme o caso, a

autoridade da sentença poderá alcançar a todos, para beneficiá-los (salvo no

caso de improcedência por insuficiência de provas), ou ser utilizado apenas em

favor dos membros da classe, sem possibilidade de prejudicar suas pretensões

individuais.

Nas ações de estado, conforme os princípios e a lei, a sentença produz

coisa julgada às partes entre as quais é dada, não em relação a terceiros. Mas,

por doutrina tradicional, as sentenças, nas causas relativas ao estado das

pessoas, desde que proferidas entre legítimos contendores, tem eficácia erga

omnes e, portanto, a coisa julgada atingiria terceiros.

O Código de Processo Civil procurou atenuar essa conclusão conflitante

com princípio aludido, dispondo no art. 472, segunda parte: “nas coisas

relativas ao estado de pessoas, se houvessem sido citados no processo, em

litisconsórcio necessário, todos os interessados, a sentença produz coisa

julgada em relação a terceiros”.

Entende-se por terceiro juridicamente prejudicado, toda pessoa que,

sem ter sido parte no processo, for titular de alguma relação jurídica material

afetada pela decisão da causa. É terceiro juridicamente prejudicado, por

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34exemplo, o fiador com relação à sentença que decidiu a relação jurídica entre

credor e afiançado. Mas é terceiro prejudicado apenas de fato (e não

juridicamente) o credor, com relação ao devedor vencido numa ação

reivindicatória.

Condição sine qua non, portanto, para que estes sejam atingidos pela

coisa julgada, é que sejam citados para a ação, em litisconsórcio necessário,

todos os envolvidos, desde que diretos e juridicamente interessados. Aliás, à

vista dessa condição, não há terceiros que possam ser considerados

prejudicados pela sentença.

O Código adotou a concepção doutrinária dominante no direto moderno

de que, no que concerne ao estado das pessoas, a sentença tem que valer

para todos porque o estado da pessoa está ligado de tal forma à personalidade

que ninguém pode ter um estado apenas para alguns e não para outros, ou

seja, ser casado perante alguns e divorciado perante outros.

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35

CONCLUSÃO

Os limites objetivos da coisa julgada visam dar uma ‘maior apreciação’

aos litígios a serem solucionados e equacionados pelo Poder Judiciário. Essa

maior apreciação se refere à fundamentação da sentença, que, em regra, não

faz coisa julgada, e, portanto, deve, em princípio, ser reavaliada se novamente

for alegada uma questão prejudicial ou uma verdade de fato que antes já fora

decidida.

O fato é que a importância desta questão prejudicial decidida na

fundamentação pode variar de processo para processo, dependendo do

posicionamento do juiz. Isso dá maior mobilidade à convicção deste, não

ficando atrelado a uma decisão anterior, que pode não vir a ser a mais correta.

Desse modo, se uma situação jurídica sofrer o risco de ser questionada

por várias vezes, aquele que for o interessado (seja autor, réu ou ambos) pode

propor uma ação em que se declare tudo que tivesse sido decidido

anteriormente, fazendo coisa julgada no tocante a quaisquer questionamentos

futuros. De tal forma, aquilo que fora decidido teria a eficácia de ser imutável e

indiscutível.

Os limites subjetivos da coisa julgada advêm de um princípio romano,

que diz que a sentença só tem eficácia da coisa julgada entre as partes

vinculadas à ação. Só que este princípio, hoje, é considerado uma meia-

verdade, porque a coisa julgada na sentença pode atingir terceiros.

A tradição remanescente do Direito Romano e que serviu de alicerce

para o nosso direito posto, era consubstanciada em demandas individuais, ao

contrário do que ocorre hodiernamente no direito contemporâneo nacional e

comparado, onde se insurgem fenômenos adstritos ao próprio desenvolvimento

da sociedade e que visam à proteção dos direitos difusos através de demandas

de interesses coletivos e sociais, as chamadas ações coletivas.

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36Nos interesses coletivos nem todos os membros da coletividade estão

ligados à demanda. A coisa julgada será ultra partes atingindo na só o

demandante ao demandado, mas todos aqueles sujeitos do interesse que se

levou a juízo.

Nos interesses individuais homogêneos a coisa julgada se forma erga

omnes no caso de procedência, beneficiando todos os titulares dos interesses

(e a seus sucessores).

Nos casos de demandas coletivas destinadas à proteção de direitos

individuais homogêneos a improcedência do pedido não impede que terceiros

que não tenham integrado a relação processual, ajuízem demandas individuais

para tutela de seus interesses, que são individuais embora tenham recebido

tratamento coletivo.

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ANEXO 01

ATIVIDADE EXTRA-CLASSE

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ANEXO 02

ATIVIDADE EXTRA-CLASSE

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ANEXO 03

ATIVIDADE EXTRA-CLASSE

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ANEXO 04

ATIVIDADE EXTRA-CLASSE

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ANEXO 05

ATIVIDADE EXTRA-CLASSE

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ANEXO 06

ATIVIDADE EXTRA-CLASSE

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BIBLIOGRAFIA CITADA

1. CÂMARA, Alexandre Freitas. Lições de Direito Processual Civil. 6a ed. volume I – 4a ed. volume II – 3a ed. volume III., Rio de Janeiro: Ed. Lumen Juris, 2001.

2. GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. 14a ed., 2o vol. São Paulo: Saraiva, 2000.

3. THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil, 34ª ed. 1º vol. Rio de Janeiro: Forense, 2000.

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BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

1. AMARAL, Moacyr dos Santos. Primeiras Linhas de Direito Processual Civil. 21a ed. São Paulo: Saraiva, 1996.

2. AZAMBUJA, Carmem. Rumo a uma Nova Coisa Julgada. Porto Alegre:Ed. Livraria do Advogado, 1994.

3. BARBI, Celso Agrícola. Ação Declaratória Principal e Incidente. 7a ed. Rio de Janeiro: Forense, 1996.

4. BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil: promulgada em 05 de outubro de 1988, 16. ed., atual e ampliada. São Paulo: Saraiva, 1997.

5. GIDI, Antônio. Coisa Julgada e Litispendência em Ações Coletivas. SãoPaulo: Saraiva, 1995.

6. GOMES, Orlando. Introdução ao Direito Civil, 11ª edição, Rio de Janeiro: Forense, 1995.

7. GRINOVER, Ada Pellegrini, et al. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos autores do anteprojeto. 7 ed. Forense Universitária: Rio de Janeiro. 2001.

8. GRINOVER, Ada Pellegrini. Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: Comentado e Anotado pelos Autores do Anteprojeto, 5ª edição, Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1998.

9. GRINOVER, Ada Pellegrini. Livro de Estudos Jurídicos. Rio de Janeiro:Ed. Instituto de Estudos Jurídicos, 1992.

10. LAROSA, Marco Antonio. Como produzir uma monografia passo a passo...siga o mapa da mina. 4.ed. WAK Editora: Rio de Janeiro. 2005.

11.LOPES, João Batista. Ação Declaratória Incidental. 2 ª ed. São Paulo:Revista dos Tribunais, 1985.

12.MIRANDA, Pontes de. Comentários ao Código de Processo Civil. 3a ed. Ver. Ampl., Tomo V. Rio de Janeiro: Forense, 1996.

13. MOREIRA, José Carlos Barbosa. O Novo Processo Civil Brasileiro. 17a

ed. Ver. Ampl. Atual. Rio de Janeiro: Forense, 1997.

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ÍNDICE

Página

FOLHA DE ROSTO 02

AGRADECIMENTO 03

DEDICATÓRIA 04

RESUMO 05

METODOLOGIA 06

SUMÁRIO 07

INTRODUÇÃO 08

CAPITULO I - Conceito e considerações preliminares da coisa julgada 10

1.1 - Justificação ou fundamentação da autoridade da coisa julgada 13

CAPITULO II- Coisa julgada Formal e Material 16

2.1 - Decisões que não produzem coisa julgada material 22

CAPÍTULO III - Limites objetivos da coisa julgada 23

3.1 – Motivos da sentença 25

3.2 – Verdade dos fatos 26

3.3 – Questões prejudiciais 27

CAPÍTULO IV - Limites subjetivos da coisa julgada 29

CONCLUSÃO 35

ANEXOS 37

BIBLIOGRAFIA CITADA 43

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA 44

ÍNDICE 45

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FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes – Instituto a Vez do

Mestre.

Título da Monografia: Coisa Julgada

Autor: Cleiton Bellinger Santos

Data da entrega: 16/05/2006

Avaliado por: Prof. Carlos Afonso Leite Leocadio

Conceito: