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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O aprender à luz da Neuropedagogia, refletindo a importância
dos estímulos para o desenvolvimento das habilidades
humanas em sala de aula.
Por: Graça Maria Andrade de Peixoto
Orientador
Prof.ª Marta Pires Relvas
Rio de Janeiro
1º/2011
2
UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES
PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
INSTITUTO A VEZ DO MESTRE
O aprender à luz da Neuropedagogia, refletindo a importância
dos estímulos para o desenvolvimento das habilidades
humanas em sala de aula.
Apresentação de monografia à Universidade
Candido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em. Neurociência
Pedagógica
Por: Graça Maria Andrade de Peixoto
3
AGRADECIMENTOS
...À Deus e a meus familiares que
sempre estiveram presentes em minha
vida, me dando força, alegria e
coragem para vencer.
4
DEDICATÓRIA
A meu esposo Clodoaldo Itamar pelo
incentivo e dedicação para que almeje
meus objetivos na vida intelectual e
profissional. Ao meu filho que sempre
esteve ao meu lado em todos os
momentos, me apoiando como um
anjinho. Agradeço de forma especial a
minha mãe Elba e avó Maria José que
sempre se dedicaram para que a
educação estivesse presente em minha
vida. E aos meus irmãos (Armendes e
Diego), sobrinhos (Monique e Flavio), tias,
tios, amigos e mestres pelo carinho...
5
RESUMO Neste trabalho, busca-se apresentar uma melhor visão à luz do
processo histórico da Neurociência, abordando a questão do cérebro humano,
neurônios, redes neurais, memória, emoção, plasticidade cerebral, a
Neuropedagogia aplicada na aprendizagem e em sala de aula. Considerando
aspectos discursivos e científicos, que contribuíram para produzir essa
pesquisa, que visa apontar ferramentas necessárias para uma prática
pedagógica iluminada pelos conhecimentos da neurociência, associada com
considerações teóricas da pedagogia, sobre o aprender com prazer, embasada
na sensibilidade e afetividade. Parceria positiva, que oferece ao professor,
oportunidade de repensar a sua atuação no contexto educacional, como
também, sua interação direta com seres humanos em desenvolvimento, que
trás consigo marcas profundas do seu contexto social, cultural, cognitivo e
psicológico. Para melhor desenvolvimento, faz-se necessário educadores
pesquisadores, que valorizem a importância dos constantes estímulos, sejam
visual ou auditivo, interação direta com objetos ou com seu meio, e também,
desperte o desejo de romper com o fazer sem sentido e sem significado,
partindo para uma atuação mais encantadora e significativa.
Palavra chave: Neuropedagogia, estímulos, aprendizagem, afetividade.
6
METODOLOGIA
Para melhor esclarecimento e direcionamento da pesquisa, os métodos
utilizados como ferramentas de coleta foram às informações de artigos
científicos, livros, revistas com abordagem sobre estrutura e fisiologia cerebral,
a importância dos estímulos para o desenvolvimento humano, aprendizagem,
emoção e a neurociência pedagógica nas práticas educacionais.
7
SUMÁRIO
Introdução ----------------------------------------------------09
Capítulo I -----------------------------------------------------15
A História da Neurociência e Evolução Humana
1.1 Breve histórico dos estudos científicos no Brasil ---20
1.2 Evolução humana, adaptação e aprendizagem para a
sobrevivência -----------------------------------------------------21
Capítulo II-----------------------------------------------------25
Neurônios e Impulsos Nervosos
2.1 Plasticidade cerebral e aprendizagem ----------------32
2.2 Memória -------------------------------------------------------34
Capítulo III----------------------------------------------------38
Aprendizagem, Emoções e Sentimentos
3.1 O Sistema límbico ------------------------------------------42
3.2 A Neuropedagogia, um novo olhar sobre as práticas
pedagógicas -------------------------------------------------------45
8
Conclusão ----------------------------------------------------48
Referências Bibliográficas -------------------------------50
9
INTRODUÇÃO
Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino.
Esses quer-fazeres se encontram um no corpo do outro.
Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando.
Ensino porque busco, porque indaguei, porque indago e
me indago. Pesquiso para constatar, constatando,
intervenho, intervindo educo e me educo. Pesquiso para
conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou
anunciar a novidade.
(Paulo Freire)
As palavras de Paulo Freire destacam a importância da busca por novos
conhecimentos, da aprendizagem imbricada com a pesquisa e especialmente
em práticas pedagógicas voltadas para a reflexão e estímulos. Contribuindo
para o desenvolvimento das habilidades humanas associada com a
sensibilidade, afetividade e conhecimentos científicos necessários que permita
ao educador compreender que as interações dos espaços escolares
perpassam por aspectos biológicos, psicológicos, históricos e sociais.
A Neurociência da aprendizagem oferece para o profissional da
educação, conhecimentos científicos fundamentais para a reflexão sobre a
parceria entre a Pedagogia e a Ciência Neurológica, e suas contribuições para
a educação. Essa interdisciplinaridade objetiva proporciona ao professor, olhos
mais sensíveis, segurança na prática pedagógica e determinação diante da
escola, sala de aula e no processo de aprendizagem dos educandos. Pois para
10
atender a sociedade contemporânea, compreende-se a necessidade de
pesquisar o que ainda não conheço e comunicar ou anunciar a novidade como
pontua Paulo Freire. Devido o ser humano possuir um cérebro complexo, que
aprende, ensina, senti, armazena informações, vive em constante
transformação, necessita de estímulos que proporcione aprendizagem
constante. Aprendizagem é uma mudança comportamental relativamente
permanente que resulta experiência.
É Através da reflexão constante que o educador amplia seus
conhecimentos, busca novas possibilidades para reverter à educação que
mais exclui do que inclui em nosso país, na esperança de um dia, ver circular o
respeito à singularidade de cada ser, o livre pensar.
Como destaca Madalena Weffort (1996, p.41), “é nessa tarefa de
reflexão que o educador formaliza, dá forma, comunica o que praticou, para
assim pensar, refletir, rever o que sabe e o que ainda não conhece; o que
necessita aprender.”
Pensar no funcionamento cerebral, nas interações entre as estruturas
mentais com o meio ambiente, na possibilidade de inclusão social que a
Neuropedagogia poderá favorecer para a educação, são os principais fatores
que contribuíram para a articulação do processo empírico-teórico de uma
investigação. Segundo Maria Teresa Esteban (2002, p.20). A teoria funciona
como lentes que são postas diante de nossos olhos, nos ajudando a enxergar
o que antes não éramos capazes. Assim, as questões gerais que permeiam
esta pesquisa se inserem no campo da investigação que vêm buscando
respostas significativas no que diz respeito aos conhecimentos da
Neurociência e sua contribuição para uma sala de aula mais encantadora e
significativa, rompendo com o fazer sem sentido e sem significado.
Já é tempo, [...] que os pesquisadores que se dedicam ao
processo de investigação qualitativa reflitam sobre sua própria
experiência e a façam acompanhar das trajetórias da
11
investigação, aliás, como dos autores acima citadas vêm
fazendo. [...] As inúmeras pesquisas qualitativas que se
desenvolvem no Brasil, em especial na área de educação de
professores, mostram que a teorização sobre esta
metodologia vem crescendo, acompanhada de uma
significativa prática investigatória. São importantes as recentes
contribuições neste sentido, em especial as de Haguette
(1987), André (1987 e 1995), Fazenda (1992 e 1994), Minaio
(1993) e tantas outras. Foram elas as principais responsáveis
pela difusão e construção de um referencial teórico hoje
presente na maioria das dissertações, teses e pesquisas
educacionais brasileiras. (CUNHA, 1996, p.01)
Nessa perspectiva, analisar é permitir buscar caminhos, para reverter
essa realidade excludente, idealizando construir uma nova história nos
espaços escolares, nas práticas pedagógicas ancoradas nos avanços
científicos, permitindo compreender que o ser humano possui um cérebro que
é constituído de hemisférios, lobos, rede neurais, emoções, memória,
plasticidade, potencial e muitas habilidades, que através da tomada de
consciência contribua para uma formação reflexiva e libertadora, vise formar
cidadãos autônomos, sensíveis, capazes de tomar decisões e pensar
coletivamente. Exercendo de forma ativa os conhecimentos e habilidades
adquiridas em suas práticas sociais.
A neurociência é o estudo da realização física do processo de
informação no sistema nervoso humano animal e humano.
Engloba três áreas principais: a Neurofisiologia, a
Neuroanatomia e a Neuropsicológia. A Neurofisiologia é o
estudo das funções do sistema nervoso. Ela utiliza eletrodos
para estimular e gravar a reação das células nervosas ou de
áreas maiores do cérebro. Ocasionalmente, os
neurofiosiologistas separam as conexões nervosas para avaliar
12
os resultados. A neuroanatomia é o estudo da estrutura do
sistema nervoso, em nível microscópio e macroscópio.(MARTA
RELVAS, 2009 p.75)
Compreender os aspectos que perpassam a espécie humana seja nas
estruturas biológicas, psicológicas e sociais, como também a sua capacidade
adaptativa sensório-motora que os seres vivos desenvolveram ao longo da sua
ontogênese, permitiu o ajuste para a continua e constante adaptação ao meio
ambiente. Compreende-se que faz necessária a busca por conhecimentos,
reflexões, estratégias e atividades que favoreçam aos seres humanos
aprendizagens significativas e a homeostase com o meio ambiente inserido.
ESTEBAN (2002, p.15) aborda que pesquisar pode dar a partir de um
questionamento, de uma pergunta, de uma idéia fixa, articuladora de um
processo empírico-teórico de uma investigação. O nosso Machado de Assis já
advertia por trás do espírito crítico de Brás Cubas “Deus te livre, caro leitor, de
uma idéia fixa”. É que as “idéias fixas” deixem de permanecer “encarapitadas
no trapézio da mente” e passem a exigir respostas, leituras, discussões,
reflexões e, portanto, pesquisa como nos ensina.
A pesquisa também pode ser uma forma de “letrar” o professor.
Investigar permite o educador conhecer a realidade atual, buscando
ferramentas para desenvolver a sua “estética educativa” de forma ética, para
que um dia não tenha que se discutir sobre exclusão, fracasso e evasão
escolar Weffort (1996, p. 39) afirma que “o ato de refletir é libertador porque
instrumentaliza o educador no que ele tem de mais vital: o pensar.”
Colocar nas mãos do professor a compreensão sobre a neurociência é
dar subsídio para uma atuação mais significativa e afetiva. Celso Antunes
(2006, p.5) pontua que a afetividade é um conjunto de fenômenos psíquicos
que se manifestam sob forma de emoções que provocam sentimentos. A
13
afetividade se encontra na “escrita” na história genética da pessoa humana e
deve-se à evolução biológica da espécie.
A pedagogia do afeto visa proporcionar ao indivíduo uma vida
emocional mais equilibrada. Aprender com a afetividade também oferece ao
educador a oportunidade de desenvolver olhares mais sensíveis, percepções
e conhecimentos necessários para compreender que recebemos em sala de
aula educandos que estão com os órgãos dos sentidos estimulados, com
conexões e ampliações de redes neurais em constante transformação. A partir
da tomada de consciência parte-se da suposição de que para transformar as
escolas desencantadoras em escolas vivas, harmoniosas, com indivíduos,
humanizados, conscientes e transformadores do seu contexto social, há
necessidade de ressaltar o papel do professor investigador, responsável pela
mediação da informação. Como também a formação continuada para que a
pesquisa e a reflexão seja a seta direcionadora das práticas de ensino.
A aplicação dos recursos e atividades mais eficazes permiti a
potencialização do cérebro humano para além da sala de aula, de modo que o
indivíduo possa construir adequadamente os conhecimentos a partir de suas
habilidades mentais, emocionais, contextos sociais e culturais em que estão
inseridos. oferecer a todos o direito a uma escola democrática, focada numa
aprendizagem equitativa que atenda as necessidades de cada educando é o
que move o sentimento dos pesquisadores da educação.
Assim, justifica-se que a atividade de pesquisa é uma teia que entrelaça
as várias áreas do conhecimento, com o objetivo de despertar a constante
busca do saber cada vez mais. Então, vale apena ressaltar a necessidade de
repensar a importância da Formação continuada de profissionais que
enfrentam os desafios postos à educação pelas profundas mudanças que
caracterizam a sociedade contemporânea. Como a busca de conhecimentos e
estratégias que contribuam na transformação da sala de aula em espaço
dinâmico, lúdico, de vivências, com troca de saberes, sensibilidade e muita
afetividade. Só então, teremos uma educação inclusiva, pautada nas
14
pesquisas, indagações, constatações... ”Constatando, intervenho intervindo
educo e me educo”
15
Capitulo I – A História da Neurociência e
evolução humana
“Se você quer ensinar sobre a ciência, não é uma
má escolha ensinar como nós chegamos aqui.”
Mitchell Glickstein
Desde a antiguidade o ser humano já correlacionava a mente com a
cabeça, pois quando alguém sofria pancada nessa área do corpo e desmaiava
a relação aparentemente estava evidente, levando-o a questionar-se: O que é
o cérebro?
Esta parece ser uma questão que desde há muitos séculos caminham
com os seres humanos. A partir das vivências do cotidiano e experimentos o
homem foi tomando consciência que era capaz de agir, de sentir e de pensar.
Isso despertou nele a curiosidade de saber o que era essa capacidade e onde
estava situada. Então, desde as civilizações anteriores, a curiosidade e as
observações, contribuíram para que o mesmo relacionasse a mente com a
cabeça ( cérebro). Dando origem a varias teorias e descobertas cientificas que
permeiam gerações, transformam vidas, sociedades e consequentemente a
humanidade.
A primeira e mais longa teoria de localização das funções mentais no
cérebro nasceu provavelmente no século IV d.C., quando o clero associou com
a Santa Trindade algumas idéias de Galeno. Era a doutrina ventricular, que
defendia a localização das funções mentais em três câmaras no centro do
cérebro. Consideravam as partes sólidas do cérebro sujas e terrenas, os
espaços vazios eram puros e nobres que tinham a responsabilidade de serem
intermediadores entre o corpo e alma, os chamados receptores dos espíritos
No período Clássico na História Antiga, duas doutrinas com reação a
localização da mente foram postuladas: A de Hipocrates que destacava que a
mente estava no cérebro, idéia que contribui para o aprofundamento da teoria
16
do Galeno. E a de Aristóteles que relatava que a mente tinha sede no coração
e o cérebro tinha a finalidade de resfriar o sangue.
O século XVI foi marcado pela rejeição da teoria de localização das
funções mentais nos ventrículos, o maior anatomista do Renascimento
Andreas Versalius, natural em Bruxelas, refuta a idéia de Galeno, relatando
que outros animais tinham ventrículos e não possuíam as mesmas
capacidades intelectuais. Abordava que o espírito vital tinha sede no coração,
pois o cérebro possuía nervos ocos que circulavam o espírito animal e era na
glândula pineal que estava à sede da mente.
A transição para uma concepção mais realista da estrutura dos
ventrículos é ilustrada pela mão de Leonardo da Vinci(1472-1519). O desenho
mostra a representação convencional de três ventrículos alinhados no cérebro.
Da Vinci injetou também cera líquida nos ventrículos de um cérebro bovino,
revelando estrutura ventricular, ao constatar não rejeitou a teoria ventricular,
sua solução foi adaptá-la a desenhos anatomicamente corretos, não querendo
descartar a doutrina ventricular medieval, da Vinci associou a cada um dos
ventrículos uma função mental: percepção, associação e memória em
cavidades diferentes.
Uma visão um pouco diferente da doutrina ventricular foi oferecido por
René Descartes (1596-1650), que percorreu caminho contrário da visão de
Aristóteles adotado pelo cristianismo e disseminado pelo Ocidente. Refutado
por Descartes que propunha uma explicação mecanicista dos fenômenos
naturais, inclusive sobre a sensação e o movimento, destaca que as atividades
do corpo como sensação, movimento, digestão, respiração, sono, funcionava
pelos princípios da mecânica tanto no corpo quanto no cérebro (material).
Também mencionou que a mente(imaterial) era localizada no centro do
cérebro na glândula pineal, por sua vez, determinaria que o corpo executasse
a ordens de envio dos espíritos animais para os músculos pelos tubos
nervosos
A magia para desvendar como funciona o cérebro, é o que alimenta
muitos pesquisadores. No século XIX, os frenologistas, liderados por Franz
Joseph Gall e seu discípulo J, C. Espurzheim (entre 1810 e 1819), declararam
17
que o cérebro era organizado com cerca de 35 funções especificas, uma
maquinaria sofisticada que produz comportamento, pensamento e emoção,
destacando que o córtex cerebral é na verdade uma série de órgãos com
diferentes funções e o desenvolvimento dessas faculdades, determinaria o
tamanho, o crescimento de cada órgão cortical.
O fisiologista experimental Pierre Flourens questionou a visão
localizacionista de Gall, destacando-se com suas pesquisas que realizava em
pássaros, pontuou que as lesões em áreas particulares do cérebro não
causavam certos déficits duradouros de comportamento.
A dinâmica que as pesquisas científicas proporcionam, ascenderam os
trabalhos realizados no continente europeu e na Inglaterra, permitindo florescer
a visão localizacionista. E assim, na Inglaterra, por exemplo, o neurologista
John Hughling Jackson passou a publicar suas observações sobre o
comportamento das pessoas com lesão cerebral, um dos primeiros a
reconhecer a visão localizacionista. Nessa mesma época, na França, talvez o
mais famoso caso de neurologia da história foi relatado por Paul Broca, que
em (1861), ele tratou um homem que havia sofrido um acidente vascular
cerebral; o paciente podia entender a linguagem, mas não conseguia fala. A
exata parte do cérebro que estava lesionada no paciente de Broca era o lobo
frontal esquerdo. Denominou-se, posteriormente, esta região como área de
Broca.
Esse tema foi escolhido pelo neurologista alemão Carl Wernicke. Em
1876, descreveu o caso de uma vítima de acidente vascular cerebral que podia
falar quase normalmente, diferentemente de Broca, mas o que ele falava não
fazia sentido. O paciente de Wernicke também não compreendia a linguagem
escrita ou falada. Ele tinha uma lesão numa região mais posterior do
hemisfério esquerdo, na área e ao seu redor, onde os lobos parietal e temporal
se encontram.
A eletricidade animal, conhecida desde o fim do século XVIII com a
descoberta de Galvani (1737 – 1798) que submetia as rãs a correntes elétricas
apresentavam contrações musculares. A bioletricidade substitui à mecânica. Já
os Alemães Gustav Fristch (1838-1927) e Eduard Hitzig (1838-1907).
18
Aplicavam correntes elétricas fracas ao córtex cerebral de coelhos e cães,
Fritsch e Hitzig observaram que este estímulo produzia movimentos
característicos no animal. Essa descoberta levou os neuroanatomistas a uma
análise mais detalhada do córtex cerebral, localização funcional do movimento
e sua organização celular. Na década de 40/50 a estimulação elétrica
chegando diretamente ao ser humano, através do Wilder Penfield por meio de
neurocirurgia.
No entanto, a grande revolução na nossa compreensão sobre o sistema
nervoso estava ocorrendo mais ao Sul da Europa, na Itália e na Espanha. Uma
luta intensa ocorria entre dois brilhantes neuroanatomistas, foi o trabalho de
um que permitiu a compreensão do trabalho do outro. O italiano Camillo Golgi
desenvolveu uma coloração que impregnava neurônios individuais com prata.
Essa coloração permitia a visualização completa de um único neurônio.
Usando o método de Golgi, Ramón y Cajal descobriu que os neurônios eram
entidades únicas, foi o primeiro a identificar não somente a natureza unitária do
neurônio, mas também a transmissão de informações elétrica em uma única
direção, dos dendritos para a extremidade do axônio.
No início do século XX, quase todos queriam provar alguns graus de
localização funcional que ocorria no córtex cerebral. Stanley Finger (1994), em
sua histórica descrição dos eventos relacionados a este tema fundamental,
apresenta citações dos antilocalizacionistas. Reforçando e disseminando um
movimento de amplas bases pautado pelos processos de Gestalt, idéia de que
o todo é diferente da soma das partes. Esse tipo de pensamento motivou
muitos trabalhos e insatisfações E para prevalecer o bom senso, Michael S.
Gazzaniga (2006) relembra que Stephen Kosslyn, um dos fundadores da
neurociência cognitiva, resumiu meticulosamente o conflito entre os
localizacionistas e os holistas (Kosslyn e Andersen, 1992):
O erro dos primeiros localizacionistas é que eles
tentaram mapear o comportamento e a percepção única
do córtex. Qualquer comportamento ou percepção
particular é produzido por muitas áreas, localizadas em
várias partes do encéfalo...Na realidade, as habilidades
19
propriamente ditas podem se alcançadas de diferentes
maneiras, o que envolve diferentes combinações de
processo...Qualquer habilidade complexa, então, não é
alcançada por uma única parte do encéfalo. Neste ponto,
os holistas estavam corretos. Os tipos de funções
classificada pelos frenologistas não se localiza em uma
única região. Entretanto, processos simples que são
recrutados a exercer tais habilidades são localizadas.
Neste aspecto, os localizacionistas estavam corretos.
(32).
Os posicionamentos de pesquisadores independentes da sua linha de
pesquisa e metodologia científica contribuíram para grandes descobertas no
campo da ciência, auxiliando para que os avanços da neurociência continuem
revelando a complexidade e especialização do córtex cerebral. O advento de
novos métodos vem contribuindo também nas pesquisas da neurociência
cognitiva que cada vez mais avança com ajuda do imageamento por
tomografia com emissão de pósitron (TEP) responsável em detectar com
impressionante precisão as lesões cerebrais e o método com imageamento por
ressonância magnética (IRM). Assim, as fronteiras das descobertas científicas
são definidas pelo comprometimento de muitos pesquisadores em busca de
respostas por meio das pesquisas, pelo auxílio de ferramentas disponíveis
para observações, como também pelas inovações conceituais.
1.1 Breve histórico dos estudos científicos no
Brasil.
A busca por questões que em determinados momentos eram
consideradas inexplicáveis, independente de local e tempo, é o que move o
desejo por respostas. Com esse sentimento que se alavancou os estudos
científicos em nosso país.
20
A chegada do Imperador Pedro II, amante das artes e das ciências se
correspondeu com o eminente fisiologista alemão Du Bois Reymond, acerca
da fundação de um instituto de “physiologia” na cidade do Rio de Janeiro, mas
que jamais teve efetividade prática. Portanto, a história da neurociência no
Brasil se confunde com a própria história da fisiologia brasileira.
O estudo experimental e sistemático da Fisiologia começou, sem dúvida,
com irmãos Álvaro e Miguel Ozório de Almeida, no Rio de Janeiro, os quais
também iniciaram as pesquisas em neurofisiologia nos laboratórios
particulares. O Miguel Ozório, entretanto, pesquisou a vida toda fisiologia e
fisiopatologia do sistema nervoso, Disseminando apaixonados pelas
descobertas científicas. Já o Álvaro Ozório criou uma escola nesse campo, que
culminou com seu discípulo Paulo Enéas Galvão, que foi para o Instituto
Biológico de São Paulo e tornou-se o segundo professor de Fisiologia da
recém-criada Escola Paulista de Medicina, substituindo outro discípulo carioca,
Thales Martins que, em parceria com Ribeiro do Valle, ajudou fundar a
neuroendocrinologia brasileira.
Destaco o Oswaldo Cruz (1899) que foi o maior sanitarista da sua
época, pioneiro da melhor medicina experimental do mundo, o criador do
Instituto Soroterápico. O Carlos Chagas (1920) Cria o Instituto Oswaldo Cruz,
pesquisador dos efeitos causadores da doença de Chagas e bioeletrogênese.
Fazia intenso intercâmbio com laboratórios de pesquisa adiantados da Europa
e dos Estados Unidos.
Aristides Azevedo Pacheco Leão tomou-se o mais célebre
neurofisiologista, juntamente com Carlos Chagas Filho no recém-criado
Instituto de Biofísica e agregou numerosos discípulos, dentre os quais se
salientou Hiss Martins Ferreira, que continua pesquisando a depressão
alastrante.
Outro gigante da fisiologia no Brasil foi o Thales Martins (1926 e 1936)
descobre sobre o funcionamento da hipófise e dos hormônios gonodais. Como
também o Rocha Miranda foi o primeiro biólogo brasileiro a utilizar computação
eletrônica em pesquisas no Brasil.
21
A década de 1950 foi marcada com o desenvolvimento de outras linhas
de pesquisas, incluindo as pesquisas em neurociências, abrangendo para as
áreas da neuroanatomia, fisiologa, regulação neural, funções vegetativas,
funciona e ritmos biológicos. Através César Timolaria, Nùbio Negrão e
Massako Kadekaro. O Miguel Rolando Covian e colaboradores pesquisaram o
sistema nervoso central, realizando trabalho de alta envergadura sobre
atividades cortical e cereberal, hipotálamo, formação reticular. Desses núcleos,
surgiram várias linhas de pesquisas que estão a “a todo vapor” em pleno
século XXI, concentrados em grupos, laboratórios e campos universitários nos
estados brasileiros e no mundo.
1.2 Evolução humana, adaptação e aprendizagem
para a sobrevivência. “Existo e sinto...logo penso”
Damásio.
Caminhar pela filogênese do cérebro humano é se permitir perceber que
ele é dividido em três unidades. O cérebro primitivo, constituído pelo tronco
cerebral, correspondente ao cérebro dos répteis, responsáveis pela
autoconservação e comportamentos básicos. O cérebro intermediário que
corresponde aos mamíferos primitivos, formado por estruturas do sistema
límbico que permitiu o surgimento da emoção. E o cérebro racional, o superior
encontrado nos atuais mamíferos (golfinhos, primatas e seres humanos),
compreende a maior parte dos hemisférios cerebrais, formado por um tipo de
neocórtex e por grupos de neurônios subcorticais. Essas três camadas
cerebrais vão aparecendo uma após a outra, durante o desenvolvimento
embrionário e do feto.
O cérebro, constituinte de dois hemisférios o esquerdo controla o lado
direito do corpo, o hemisfério direito controla o lado esquerdo do corpo.
Segundo Lent (in RELVAS, 2009, p.20) o hemisfério esquerdo controla a fala
em mais de 95% dos seres humanos, mais isso não quer dizer que o direito
22
não trabalhe; ao contrário, é a prosódia do hemisfério direito que confere à fala
nuances afetivas essenciais para a comunicação interpessoal. Geralmente, o
hemisfério dominante de uma pessoa ocupa-se da linguagem e das operações
lógicas, enquanto que o outro hemisfério controla as emoções, as capacidades
artísticas e espaciais. Não existe a relação de dominância entre eles; pelo
contrário, eles trabalham em conjunto, estão interconectados pelo maior
sistema de fibras o corpo caloso.
Figura 1- hemisférios cerebrais Figura 2 – Áreas do
cérebro
http://www.google.com.br/images?hl=ptr&biw=1024&bih=578&gbv=2&tbs=isch
%3A1&sa=1&q=hemisferios
Em humanos, esse feixe de matéria branca inclui mais de 200 milhões
de axônio. Cada hemisfério dividi-se em lobo frontal, lobo parietal, lobo
occipital. lobo temporal e lobo límbico. Como destaca Roberto Lent ( 2008, p.
54) Os hemisférios provavelmente se desenvolveram em conjunto com os
bulbos olfatórios, que embriologicamente surgem como evaginações dos
primeiros.
Prossigo com Relvas (2009, p. 20 e 35) quando ela nos diz que o
hemisfério esquerdo é também responsável pela realização mental de cálculos
matemáticos, pelo comando da escrita e pela compreensão dela por meio da
leitura, reconhecimento de relações espaciais categorias qualitativas,
movimentos mais precisos da mão e perna direita. Que o mesmo possui
23
função verbal, simbólica, analítica, abstrata, temporal, racional, lógica. Já o
hemisfério direito é melhor na percepção de sons musicais, reconhecimentos
de faces, identificação gerais de objetos e seres vivos, detecção espacial.
Possui função não verbal, concreta, sintética, analógica, não temporal,
intuitiva. Os hemisférios cerebrais consistem dos gânglios basais e córtex
cerebral circundante. Ambos, o córtex e os gânglios basais estão relacionados
com funções perceptuais, cognição e motoras superiores. Portanto, o cérebro
é um sistema integrativo, funciona de forma global, de acordo com o auxilio e
interação dos neurônios e os gliócitos.
O sistema nervoso divide-se em duas partes: central e periférico. O
sistema nervoso central inclui o cérebro e a medula espinhal, que se aloja no
conduto crânio- raquidiano protegido pelas meninges a dura-máter, a
aracnóide e a pia-máter e pelas vértebras que coordena todas as informações
recebidas pelos sentidos e todos os comandos motores enviados aos órgãos.
É a sede das funções cerebrais mais complexas, como a memória,
inteligência, aprendizado e emoções. Já o sistema nervoso periférico inclui
todo tecido neural fora do sistema nervos central, sendo responsável pela
transmissão das informações sensoriais – aferentes, ao SNC e pelo envio dos
comandos motores – eferentes até os tecidos do corpo. Com sistema nervoso
somático controla os comandos motores voluntário, o sistema nervos
autônomo ou vegetativo controla os comandos involuntários, como o que
coordenam a digestão e os batimentos cardíacos, este último divide-se em
dois sistemas. O simpático que é responsável em aumentar o estado de alerta
e o parassimpático conserva e controla as atividades sedentárias, como a
digestão. O desenvolvimento do sistema nervoso humano ocorre
majoritariamente no período pré-natal, mas muitos se prolongam por vários
anos após.
Partido do Sistema nervoso central, o encéfalo mantém a tripla divisão
em prosencéfalo, mesencéfalo e rombencéfalo característica da evolução
embrionária dos vertebrados. O Cérebro fica dentro do crânio, seu peso médio,
quando atingi o desenvolvimento máximo, é de 1, 400g nos homens e 1, 260g
nas mulheres, com a coloração acinzentada devido à agregação de milhares
24
de corpos celulares, enquanto branca é a cor da mielina, revelando a presença
de feixes de axônio.
Na superfície de cada um desses hemisférios existem dois outros
cortes, a fissura de Sylvius ou suco lateral, e a de Rolando, ou sulco central. O
córtex cerebral esta dividido em mais de quarenta áreas funcionalmente
distintas, sendo a maior pertencente ao chamado neocórtex.
O cérebro humano tem três componentes estruturais principais: os
grandes hemisférios cerebrais que são responsáveis pela inteligência e pelo
raciocínio, o cerebelo que é um centro refletor que atua na coordenação e
manutenção do equilíbrio e o tronco cerebral faz a transição entre o encéfalo e
a medula. Ele é o centro de controle do movimento, do sono, da fome, da sede
e de quase todas as atividades necessárias à sobrevivência como também
todas as emoções. Ficando encarregado ainda em receber e interpretar os
inúmeros sinais enviados pelo organismo e pelo exterior.
O cérebro é uma estrutura intricadamente detalhada, precisa de
estruturas neuronais, circuitos e sistema. Através dos grandes anatomistas
como Cajal e Golgi e colaboradores que hoje sabemos muito mais sobre quão
intricado é o circuito neuronal do sistema nervoso.
25
Capítulo II - Neurônios e impulsos nervosos
Ai de mim, ai das crianças abandonadas na escuridão.
(Graciliano Ramos).
Não são apenas as estrelas no universo que fascinam o homem como
seu impressionante número. Em outro universo, o nosso universo biológico
interno, uma gigantesca “galáxia” com centenas de milhões de pequenas
células nervosas, formam o cérebro e o sistema nervoso. (RELVAS, 2009
p.25).
Todos os estímulos e percepções relacionados ao nosso ambiente, os
nossos pensamentos, sentimentos, aprendizagem, memória e qualquer outra
ação e sensação do ser humano não podem ser entendidos sem o fascinante
conhecimento do processo de comunicação entre neurônios. Os neurônios são
células responsáveis pela recepção e transmissão dos estímulos do meio
interno e externo, uma vez excitados pelos estímulos, os neurônios transmitem
essas ondas de excitação chamada de impulsos nervosos, possibilitando ao
organismo a execução de respostas adequadas para a manutenção da
homeostase(equilíbrio de quaisquer seres vivos) e a sua somestesia
(capacidade de receber informações sobre as diferentes partes do seu corpo).
O neurônio sensorial capta informações dos órgãos sensoriais visão,
olfação, gustação, audição e tato para o SNC.
A visão, possuidora de células especializadas transforma luz em sinais
elétricos, por meio da retina os sinais caminham pelos nervos ópticos para trás
do cérebro o lobo occipital que é responsável em processar as imagens
recebidas, podemos dizer que enxergamos pelo cérebro. A olfação, através
dos nervos olfativos detectamos as moléculas dos objetos que nos cercam,
enviando sinal elétrico para o cérebro, o mesmo interpreta esses sinais como
cheiro e envia a resposta olfatória permitindo aprendermos depressa a
identificarmos odores, especialmente o cheiro da mamãe.
26
Já a gustação, beneficiada pela língua possui mais ou menos nove mil
receptores responsáveis em enviar também sinais para o cérebro. Com a
audição, percebemos os ruídos do mundo por meio das ondas sonoras que
fazem vibrar as membranas dos tímpanos que são transmitidas para dentro do
ouvido, contendo três pequenos ossos conhecidos como ossículos: martelo,
bigorna e estribo com a função de converter mecanicamente as vibrações do
tímpano em ondas de pressão que são amplificadas no fluido da cóclea que
contem terminais nervosos responsáveis pela audição. E o tato ao tocarmos os
objetos receptores localizados sobre a pele envia sinais elétricos através dos
nervos sensitivos para o cérebro
Após a captação das informações por meio do neurônio sensorial,
temos a atuação do neurônio de associação presente na medula espinhal e no
encéfalo, responsável em fazer a conexão entre neurônio sensorial e motor. O
neurônio motor tem a responsabilidade de trazer do sistema central às
“ordens” aos músculos ou glândulas para serem executadas.
Devido os neurônios serem responsáveis em processar, elaborar,
coordenar e avaliar as informações, necessitam de condições favoráveis e
aumento de estímulos para que as sinapses químicas favoreçam na boa
conexão e assim, contribuam na construção da aprendizagem com mais
qualidade e durabilidade.
Para tanto, o cérebro necessita de uma intricada rede de circuitos
neurais, conectando suas principais áreas sensoriais e motoras, ou
seja, grandes concentrações de neurônios capazes de armazenar,
interpretar e emitir respostas eficientes a qualquer estímulo, tendo
também a capacidade de, a todo instante, em decorrência de novas
informações, provoca modificações e rearranjos em suas conexões
sinápticas, possibilitando novas aprendizagem.
( RELVAS, 2009 P41)
O cérebro composto por cerca de 100 bilhões de células nervosas
conectadas são responsáveis pelo controlo de todas as funções mentais. Além
das células nervosas neurônios, o cérebro contém células gliais, vasos
27
sanguíneos e órgãos secretores. Esses dois tipos de células bem como seus
numerosos subtipos, são as principais células presentes no sistema nervoso
que se comunicam extensamente, formando uma morfológica funcional de alta
complexidade, com potencial de produzir sinais, conduzi-los localmente e a
distancia, transmiti-los simultaneamente a milhares de outras células e
modificá-los de inúmeras maneiras, em um complexo processo de integração
de informações.
Existem duas classes de células principais no sistema nervoso:
neurônios e células gliais. Os neurônios constituídos por estruturas capazes de
receber, analisar e conduzir informações particulares para outros neurônios
formam uma extensa rede de circuitos capazes de receber do ambiente,
processar, armazenar e enviar de volta ao ambiente um amplo espectro de
informações. Já as células gliais que não são neurônios, são células mais
numerosas que os neurônios, podem ser responsáveis por mais da metade do
volume do encéfalo. As células neurogliais não são capazes de produzir
impulsos, mas sem elas o funcionamento dos neurônios estaria gravemente
diminuído. Neuroglia significa “colo nervos” possuem a função de sustentação,
participam da regulação dessa rede de comunicação, seja interferindo
ativamente na transmissão de informações, seja propiciando condições
homeostáticas para seu funcionamento.
Há diversos tipos de células gliais, os astrócitos dispõem-se ao longo
dos capilares sanguíneos do encéfalo são responsáveis em controlar a
passagem de substâncias do sangue para as células do sistema
nervoso(barreira hematencefálica), assume papel vital na proteção do SNC.
Além disso, passa a controlar a estabilidade sináptica, a regulação da
neurogênese (processo de formação de novos neurônios), atua no
metabolismo de neuromediadores. Os oligodendrócitos emitem
prolongamentos que embainham o axônio, são responsáveis juntamente com
as células Schwann na produção de mielina, camada isolante que possibilita
uma maior velocidade de condução do impulso nervoso, deixando livres os
chamados nós de Ranvier. Como também os microgliócitos que são protetores
imunológicos do cérebro e da medula espinhal, posicionados como satélites de
28
neurônios ou próximos às paredes dos vasos sanguíneos são capazes de
realizar a destruição de microorganismos e detritos celulares por fagocitose. As
células que circundam as fibras nervosas periféricas, fibras dispostas fora do
cérebro e medula espinhal são chamadas de células de Schwann. Já as
células que envolvem os axônios dentro SNC do cérebro e medula espinhal
são chamadas oligodendrócitos.
Foi a partir do desenvolvimento dos métodos de impregnação pela prata
realizada por Golgi, que permitiu a visualização microscópica de todo o
neurônio com todos os seus processos: o corpo celular, os dendritos e axônio.
Utilizado a técnica de colocarão de Golgi para marcar células individuais Cajal
mostrou que o sistema nervoso não é uma massa de células fundidas,
dividindo um citoplasma comum, mas uma rede altamente intricada de células
individuais. Na virada do século XX, o trabalho de Cajal levava à proposição de
uma nova teoria: a teoria Neuronal, que vê o sistema nervoso como um
conjunto de células individuais, especializadas, segundo a região do cérebro e
organizadas ordenamento em um sistema complexo, como também que
deviria haver uma junção especializada entre cada botão terminal das
arborizações axônicas e as superfície dos neurônios alvos, brota a idéia sobre
sinapse. Os neurônios podem ser devidos e classificados segundo algumas
características particulares como a forma e função. O Unipolar - padrão
comum no sistema nervoso de invertebrados; bipolar - recebe e envia
mensagem, conduz informações dos sistemas auditivo, visual e olfativo;
multipolar - existe em várias áreas do sistema nervos e participa do
processamento sensorial e motor e o pseudo-unipolar - encontra-se nos
gânglios da raiz dorsal da medula espinal, são células do sistema sensorial
somático que conduzem informações dos receptores das articulações dos
músculos e da pele para o SNC.
29
Figura 3 – Neurônios.
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.guia.heu.nom.br/images/N
euroniosTipos.JPG&imgrefurl=ht
O neurônio consiste em corpo celular, parte principal da célula nervosa
que concentra as informações genéticas é uma maquinaria metabólica, onde
estão situados o núcleo e as organelas, como aparelho de golgi, retículo
endoplasmático, ribossomos, mitocôndrias e outras organelas intracelulares.
Essas estruturas estão suspensas no fluido intracelular e envolvidas por uma
membrana celular composta por dupla camada de lipídica que permitem a
elaboração do impulso que pode ser elétrico ou químico, em resposta às
sensações recebidas pela membrana endoplasmática e seus prolongamentos.
Possuem também dendritos e axônio.
Já os dendritos semelhantes à arborização são antenas de recepção
dos neurônios, são extensões citoplasmáticas ou prolongamentos
especializados em receber e transportar os estímulos das células sensoriais,
dos axônios e de outros neurônios, locais denominados sinapses. Há
30
neurônios praticamente sem dendritos, como outros com áreas dendritícas
muito exuberantes e ramificadas. Diferentes dos axônios os dendritos não se
projetam para longe, mas possuem as espinhas dendríticas, ou seja,
protrusões de frações de micrometro que emergem do tronco dos dendritos
presentes em grandes números em alguns tipos de neurônios. As espinhas
dendríticas são elementos dinâmicos que aparecem e desaparecem, movem-
se, encurtam-se e alongam incessantemente, permitindo aos terminais
axônicos o contato para a transmissão de informações, são ditos pós-
sinápticos.
O axônio do neurônio possui função de transmissão dos impulsos
nervosos originados no corpo celular, representa via de saída do neurônio,
onde sinais elétricos se propagam aos terminais axônais, concebendo as
sinapses. É envolvido em uma bainha de mielina é quebrada em vários pontos
pelos nodos de Ranvier. A mielina protege o axônio e previne a interferência
entre os axônios à medida que elas passam ao longo dos feixes. Os terminais
axônais possuem morfologias e estruturas intracelulares especializadas, que
tornam possível a comunicação por meio de liberação de neurotransmissores
(substâncias químicas que transmitem o sinal entre neurônios nas sinapses
químicas ). É dito pré-sinápticos.
O local onde o axônio se junta à célula se chama come axonal é daí que
a despolarização, conhecida como potencial de ação ocorre. Nestas junções
que os neurônios realizam as sinapses seja ela elétrica ou química. As
sinapses elétricas ocorrem quando as junções formadas de célula nervosa pré-
sináptica acoplam na membrana pós-sináptica de outra célula, permitindo
passagem de íons e moléculas, de tal forma que os potenciais elétricos são
transmitidos quase instantaneamente. Já as sinapses químicas o modo de
transmissão não é elétrica e, sim, carregada por neurotransmissores
neuroativas liberados no lado pré-sináptico da junção. As células Os impulsos
nervosos ocorrem.
31
Figura 4- Impulsos nervosos entre as células.
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.psiquiatriageral.com.br/cer
ebro/imagens/neuronios.jpg
O termo sinapse, como hoje conhecemos foi cunhado pelo fisiologista
Charles Sherrington (1857-1958) comprovado nos anos 1950, com o advento
do microscópio eletrônico. Denomina-se sinapse a estrutura de contato
formado por prolongamento de um neurônio dito pré-sináptico como um
neurônio pós-sináptico que forma impulsos nervoso.
Esses sinais iniciam mudanças na membrana do neurônio pós-sináptico,
as quais fazem a corrente elétrica fluir dentro e ao redor do neurônio. A
membrana plasmática do neurônio transporta alguns íons ativamente, tais
como sódio, potássio e cloreto encontrados no líquido extracelular e
intercelular. Quando o neurônio recebe o potencial de ação os canais iônicos
inseridos na membrana deixa passar lentamente os íons específicos da face
externa para a face interna, uma pequena região da membrana torna-se
permeável ao sódio, como a concentração desse íon é maior fora do que
dentro da célula. A entrada de sódio é acompanhada pela pequena saída de
32
potássio. Esta inversão vai sendo transmitida ao longo do axônio, e todo esse
processo é denominado onda de despolarização (célula estimulada). Esse
potencial de ação produzido logo após um estimulo elétrico, desencadeia
correntes elétricas que se expandem provocando outro potencial de ação na
região vizinha e assim ascendendo às outras regiões próximas. Após a
despolarização ocorre a polarização(célula em repouso) e o local da
membrana que foi despolarizada inicialmente torna- se inexcitável.
A ação do cérebro está relacionada não somente com comportamentos
muitos simples tais como caminhar e sorrir, mas também com funções
elaboradas o sentir, aprender e escrever. Como afirma RELVAS que aprender
é um ato desejante e usa negação é o não aprender... A emoção esta para o
prazer assim como o prazer esta para o aprendizado, e a autoestima é a
ferramenta que movimenta os estímulos para gerar bom resultados. (2009, p.
59). Este fato é melhor compreendido através do conhecimento do neurônio,
da natureza das suas conexões sinápticas e da organização das áreas
cerebrais. A cada nova experiência do indivíduo, portanto, redes de neurônios
são rearranjadas, outras tantas sinapses são reforçadas e múltiplas
possibilidades de respostas ao ambiente tornam-se possíveis.
2.1 Plasticidade cerebral e aprendizagem
O cérebro é capaz de aprender por sua flexibilidade, sua capacidade de
mudar em resposta aos estímulos sensoriais e ambientais. Esta flexibilidade
basea-se em propriedades intrínsecas do cérebro chamada de plasticidade.
RELVAS destaca que Plasticidade cerebral é a denominação das capacidades
adaptativas do SNC – sua habilidade para modificar sua organização estrutural
própria e funcionamento. É a propriedade do sistema nervoso que permite o
desenvolvimento de alterações estruturais em resposta à experiência, e como
adaptação a condições mutantes e a estímulos repetidos (2009, p. 49). O
LENT Define neuroplasticidade como a propriedade do sistema nervoso de
alterar a sua função ou a sua estrutura em respostas às influências ambientais
33
que o atingem. Tanto as alterações plásticas quanto as influências ambientais
que as provocam podem variar bastante, de muito fortes a extremamente
sutis. (2008, p.112).
Existem cinco tipos de plasticidade neural: regeneração, plasticidade
axônica, dendrítica, somática e sináptica. Esta última possui fundamental
importância na formação de redes neurais, permitindo o desenvolvimento
adequado da capacidade cognitiva dos indivíduos. O conceito de plasticidade
cerebral pode ser incluído à educação, relevando a capacidade do sistema
nervoso ao ajustar diante das influências ambientais. Plasticidade é, portanto,
uma condição necessária para a aprendizagem, está intimamente ligada á
capacidade que o cérebro tem de ser maleável á novos estímulo, sua capacidade de
refazer caminhos e traçar novas rotas. Como também, desenvolve habilidades
para aprender, recordar e esquecer também em decorrência destas alterações,
cuja função é de caráter adaptativo dos organismos. É através cérebro que a
aprendizagem ocorre, interligando o organismo com o meio ambiente.
Toda transformação implica aprendizagem, só é formativa na medida
em que ocorre transformação daquele que aprende. Segundo a definição do
dicionário Aurélio: “aprendiz (1) + agem (2), onde ( 1) = aquele que aprende
(tomar conhecimento de) e (2) = “ação” ou “resultado de ação”. Aprendizagem,
portanto, seria o ato de tomar conhecimento, a ação de aprender. A
aprendizagem se processa no SNC e seu funcionamento pode ser
compreendido de muitas formas, a visão neurobiológica da aprendizagem
Relvas (2009) aborda:
Pode-se dizer que, quando ocorre a ativação de uma área cortical,
determinada por um estímulo, provoca alterações também em outras
áreas, pois o cérebro não funciona como regiões isoladas. Isso ocorre
em virtude da existência de um grande número de vias de associações.
Estas vias podem ser muito curtas, ligando áreas vizinhas que
trafegam de um lado para outro sem sair da substância cinzenta.
Outras podem constituir feixes longos que trafegam pela substância
34
branca para conectar um giro a outro de um lobo a outro, dentro do
mesmo hemisfério cerebral. Existindo feixes comissurais que conduzem
a atividade de um hemisfério para outro, sendo o corpo caloso o mais
importante. (2009, p. 26).
A aprendizagem é uma transformação biológica na comunicação entre
neurônios, constituindo uma rede de interligações que podem ser evocadas e
retomadas e o aprendizado escolar faz parte dessa evolução normal do ato de
aprender. O Antonio Nóvoa (2007, p.12) relata que a pior discriminação, a pior
forma de exclusão é deixar a criança sair da escola sem ter adquirido nenhuma
aprendizagem. A aprendizagem significativa permiti o ser humano modificação
de comportamento devido as experiências e os novos conhecimentos que
tanto contribuem para o rearranjo das redes neuronais e o desenvolvimento de
competências e habilidades.
Estimular a plasticidade cerebral favorece a máxima da função motora /
sensitiva do aprendiz, visando facilitar o processo de aprender a aprender no
cotidiano escolar. Um pequeno estímulo pode determinar uma alteração
persistente nos circuitos cerebrais e que podem permanecer por toda vida. A
eficiência da aprendizagem é bastante influenciada pelos estímulos, vivências,
como também pelo nosso estado emocional. As crianças levam para o espaço
educacional seus aspectos biológicos, psicológicos, sociais e culturais. Como
também suas memórias, seus anseios e desejos por novas descobertas,
vivências, experiências.
2.2 Memória
O aprendizado é o processo de aquisição de informações, enquanto
memória refere-se à persistência do aprendizado em um estado que pode ser
evidenciado posteriormente. O aprendizado, então, tem um resultado a qual
chamamos de memória. Colocando isso de outra maneira, o aprendizado
35
acontece quando uma memória é criada ou reforçada pela repetição.
(GAZZANIGA, 2006 p320). As memórias provêm da experiência.
O termo “memória’ tem origem etimológica no latim, significa a faculdade
de reter e ou readquirir idéias, imagens, expressões, conhecimentos e de
armazenamento mental de representações do passado, o que possibilita o
individuo tirar proveito das experiências.
A memória é um fator importante na aprendizagem, é a base de
todo o saber. O termo memória se refere a processo mediante o qual
adquirimos, formamos, conservamos e evocamos informações. No decorre do
seu armazenamento, a memória guarda informações fragmentadas, parcial a
modificações, este processo ocorre através da transmissão de informações
célula a célula por meio de neurotransmissores ou moléculas, que agem no
espaço entre dois neurônios, sinapses. Assim, destaca-se que quanto mais
conexões neurais, mais aprendizado e memória.
No cérebro o hipocampo é a área encarregada em processar tanto as
memórias de curta como as de longa duração e sua evocação ou a de induzir
o resto do córtex cerebral. Também atua na seleção dos fatos e eventos que
serão armazenados, no controlo dos estados afetivos, na filtragem de dados,
descartando ou enviando para outras áreas do córtex informações. O entrelace
das informações com os neurônios ativa o lobo frontal que passa a coordenar,
classificar e complementar as diferentes memórias dando origem ao
raciocínio. Recebe o auxílio da amígdala, que é um modulador emocional, um
verdadeiro agente receptor emotivo.
Relvas (in IVÁN IZQUIERDO) “ explica que as memórias não são
amostras fiéis de fatos reais, nas suas construções que são
modificadas conforme o contexto em que são recuperadas e em meio a
um intenso transito de sinapses(espaço entre neurônios, onde ocorre a
transferência de informações em forma de impulsos elétricos. Um
cheiro, sabores, rostos, conhecimentos, sons, tatos, medos, números,
36
comportamentos e cenários vai sendo estocado no cérebro. Ele é
capaz de remeter à infância, em questão de segundo. Quando se
percebe um cheiro familiar, lembranças surgem no momento exato em
que aquele fato ocorre.( 2009, p.18).
Toda informação que chega ao cérebro é processada em diferentes
regiões e transformada em memórias. As lembranças remetem a vivências e
experiências, permitindo que o ser humano e animais se beneficiem da
experiência passada para resolver problemas apresentados pelo meio. Seu
funcionamento envolve um complexo mecanismo que abrange o arquivamento,
a retenção e a recuperação do que foi vivido, sendo intimamente ligado à
aprendizagem.
Lembrar um compromisso, fatos ocorridos no passado, o que o
professor ensinou na aula anterior, datas é muito útil para a memória. Como
ocorre com a maioria de nossas habilidades, quanto mais se exercita, mais
ela se desenvolve. Os desafios e a busca por novos aprendizados estimulam
os circuitos neurais, aprendemos porque temos memória. Como afirmou o
pensador italiano Noberto Bobbio (in IZQUIERDO, 2004 p.16) “Todos fizemos
e fazemos algo na vida, todos somos alguém, alguém que é quem é porque
lembra de certas coisas e não de outras.Cada um de nós é quem é porque tem
suas próprias memórias ou fragmentos de memórias”.
A memória é a reprodução mental das experiências captadas pelo corpo
através dos movimentos e sentidos. Não está localizada em uma estrutura
isolada do cérebro, é um fenômeno biológico e psicológico que envolve
sistemas cerebrais que funcionam juntos.
Usamos a memória para entender a realidade que nos rodeiam para
discriminar informações, selecionar quais correspondem ou não com as
preexistentes. Possui também a capacidade de planejamento, abstração,
julgamento critico e atenção. Segundo Izquierdo (2004) destaca que há vários
tipos de memória:
37
Existe a memória de trabalho, que usamos para entender a realidade
que nos rodeia e pode efetivamente formar ou evocar outras formas de
memória: a que denominamos de curta duração e que dura umas
poucas horas, o suficiente para que possa formar a memória de longa
duração ( também chamada de memória remota) que pode durar dias,
anos ou décadas. (p.23).
A finalidade da memória de trabalho é analisar a realidade, funciona
constantemente como um filtro, é o gerenciador das informações tanto de
origem externa e interna. Para que ocorra, depende da atividade elétrica de
neurônios do córtex pré-frontal, localizado na frente da área motora, quando
cessa a ativação dos neurônios pré-frontais, a memória de trabalho também
cessa. Além da importância das conexões neurais RELVAS (2009 p.41) relata
que o esquecimento comum ocorrido no dia a dia acontece para podermos
ativar a memória, pois nosso cérebro tem certa capacidade, expressa em
minutos ou horas, para guardar informações e, toda vez que seu limite é
alcançado, ele “desliga-se” por um tempo para depois “ligar-se novamente. O
cérebro desenvolveu estratégias para eliminar informações irrelevantes ou
ultrapassadas. O chamado esquecimento eficiente é, portanto, crucial para
uma memória funcional. É com essa estratégia que se descarta informações
obsoletas, como um velho número de telefone e o almoço da segunda-feira
passada. Neste sentido, sem prejudicar a capacidade de reter e acessar
informações, esquecer é muito bom para o cérebro.
38
Capítulo III – Aprendizagem, emoções e
sentimentos em sala de aula.
“Para ter sucesso, primeiramente é preciso ter consciência muito
precisa de si. Necessita ouvir a sua voz interior para que você
tenha coragem de perseguir um caminho que esteja de acordo
com seus desejos. Quando se encontra isso, você tem o ímpeto
para alcançar. Acredito que esse seja o segredo.”
(Rebecca Stephens, a primeira mulher britânica a escalar o
Monte Everest.)
Aprender é conectar-se em novas redes de novos saberes: é uma
questão de fazer novas sinapses, novas conexões, ligar antigas experiências
com as novas, tecendo-as ao longo de nossas interações com os outros e com
os diversos fatos que vivenciamos e presenciamos em nossa cotidianidade.
(João Beauclair, 2008 p.32).
A escola é um lócus destinado a favorecer ao indivíduo, condições
necessárias para que as conexões cerebrais ocorram, é um espaço de
aprendizagem, experimentação, descoberta, emoção, sentimento,
sensibilidade e afetividade. A afetividade abordada se distância do cuidar de
forma assistencialista, normalmente aplicada no ambiente educacional, por
ser uma forma que dificulta o aumento e a modificação das estruturas
cognitivas, desestimulando as experiências cotidianas, incapacitando a
construção de vínculos mais facilitadores às operações mentais de maior
complexidade.
É preciso reconhecer que construir processos permanentes de
promoção e elaboração de autoria de pensamento é um imenso
desafio, pois este movimento pode criar condições para o aprendente
autorizar-se a pensar e, assim, compreender que seu pensamento é
39
único, diverso do pensamento do outro, é seu e envolve, sempre, suas
capacidades de análise, síntese e integração de saberes e
conhecimentos, ou seja, sua inteireza e subjetividade. (BEAUCLAIR,
2008 P.38)
Muitos espaços educacionais estão mais preocupados com questões
comportamentais, “não que não seja importante refletir sobre comportamento
inadequado do aprendente”, a reflexão comportamental tem o objetivo de
analisar os fatos que possa prejudicar o indivíduo no seu crescimento pessoal,
com a finalidade de proporcionar melhor inserção social. Mas, não com
coerção para manter as salas de aula em silêncio, com indivíduos apáticos
“robotizados”. Faz-se necessário valorizar nesses espaços o processo de
ensino e da aprendizagem.
Imagem do Cartunista Francesco Tonucci.
Tonucci destaca em suas imagens, o aluno perfeito para a maioria dos
professores. Então, vale ressaltar que os espaços educacionais não são
fábricas que trabalham em série, com racionalização de procedimentos,
eficiência máxima e ênfase em resultados. As escolas são espaços de alegria,
40
respeito, reflexão, afetividade e inclusão. Portanto, necessitam de professores
que levem para a sala de aula, a sua sensibilidade de tal modo, que perceba
no outro a sua individualidade e singularidade. Compreende-se também, que
sua posição é de mediador dos conhecimentos, seu objetivo maior é despertar
no aprendente, o desejo por novos conhecimentos, o professor deverá ser um
estimulador de aprendizagem, que caminha com o educando, desbravando e
rompendo os desafios que a própria aprendizagem impõe.
Aprender é uma ação, estimular é a energia motriz para uma
construção do saber, que deverá ter intrínseca em suas bases, os
conhecimentos científicos, as pesquisas, diálogos, cotidiano do educando,
ludicidade e dinamismo, desde a Educação Infantil até ao Ensino Superior.
Deverá ser o condutor para que os novos paradigmas, em Ciências e
Educação, tenham espaços de vivências e prática real no cotidiano Escolar.
Dando ao aprendente, a consciência da promoção e elaboração de autoria do
seu pensamento, o seu livre pensar.
É um imenso desafio para o espaço escolar, pois, ainda encontra-se
enraizado em muitas dessas unidades, a visão de que o aluno é uma tabula
rasa, segundo os empiristas radicais; superfície sobre a qual não há ainda
nada escrito. Que necessita ser preenchida como os saberes trazidos pelos
“mestres”. Urge a necessidade de uma revisão conceitual e prática, para que
realmente atenda a sociedade da informação e do conhecimento. Sociedade
esta, que tanto contribui efetivamente, na impossibilidade da reflexão sobre o
repensar do papel da escola e a função dos ensinos formais da educação,
para o bem viver de toda sociedade. Há necessidade de criar novos modos de
agir e atuar em sala de aula, permitindo arriscar, criar e recriar os saberes e
conhecimentos. Como também, a compreensão sobre a importância de aulas
significativas, a necessidade de focar o olhar sobre o universo infantil, na
dimensão emocional e racional, a organização do espaço para o acolhimento
da criança; seu cotidiano como fonte de compreensão do que trás e o que
ainda necessita construir, para não continuar repetindo os mesmos erros, que
tanto favorece a evasão e fracasso escolar. O Paulo Freire enfatiza: que
41
ensinar não é transferir conhecimento, mas criar possibilidades para a sua
produção ou a sua construção. (1996, p.22).
Compreender a importância de se refletir as ações diárias da sala de
aula, a responsabilidade que o professor tem em mãos, de levar a esses
espaços situações que priorizem o aprender com prazer, não o depositar
conhecimento que causa fadiga e melancolia nas crianças.
As emoções que o aprendente trás consigo, manifesta-se também, nos
espaços escolares, através do seu corpo, gesto, atitude. E requer reflexão,
sensibilidade para perceber em sua voz e comportamento, a expressão dos
seus sentimentos, sejam as angústias, desejos, anseios, medo, alegria e
prazer. O António Damásio(2004, p.15) explica que os sentimentos são
expressão do florescimento ou sofrimento humano, na mente e corpo. Os sentimentos
não são uma mera decoração das emoções, qualquer coisa que possamos jogar fora.
Os sentimentos podem ser, e geralmente são, revelações do estado da vida dentro do
organismo... A emoção e as várias reações com ela relacionadas estão alinhadas com
o corpo, enquanto os sentimentos estão alinhados com a mente.
A Emoção é uma palavra que vem do latim, movere ( que significa
mover), precedida do sufixo ex(para fora), significando afastar-se. Em toda
emoção há uma tendência à ação. O Oxford English Dictionary define emoção
como: “Qualquer agitação ou perturbação da mente, sentimento ou paixão;
qualquer estado veemente ou excitado”.
O Jair Santos (in MAC LEAN, 2000 p.38) aborda que a base das
emoções do homem está no seu cérebro, principalmente no chamado sistema
límbico(do latim limbus, margem): um conjunto de formações neurológicas, que
cerca e limita o tronco cerebral.
As áreas emocionais estão ligadas com o neocórtex, através de circuitos
neuronais, permitindo aos centros emocionais, grandes poderes sobre o
comportamento humano. Existe habitualmente, um funcionamento integrado
entre cérebro emocional e o neocórtex, permitindo harmonia das ações
humanas racionais e emocionais. O sistema límbico é resultado da evolução
do cérebro dos mamíferos e dos répteis, ao longo de milhões de anos de
evolução.
42
3.1 O Sistema límbico O sistema límbico participa intimamente de processos emocionais, em
conjunto do hipotálamo e a área pré- frontal.
Figura 5 – sistema limbico
http://www.google.com.br/imgres?imgurl=http://www.espacocomenius.com.br/si
stema_limbico.jpg&imgrefur
Quanto às estruturas cerebrais na formação das emoções, são algumas
das partes mais importantes do sistema límbico:
Amígdala: Localizada na profundidade de cada lobo temporal anterior,
funciona de modo íntimo com o hipotálamo. É o centro identificador de perigo,
gerando medo e ansiedade e colocando o animal em situação de alerta,
aprontando-se para fugir ou lutar.
Hipocampo: Envolvido com os fenômenos da memória de longa
duração. Quando ambos os hipocampos (direito e esquerdo) são destruídos,
nada mais é gravado na memória.
Tálamo: É um centro de organização cerebral, como uma encruzilhada
de diversas vias neuronais em que podem influenciar-se mutuamente antes de
serem redistribuídas.
Hipotálamo: É parte mais importante do sistema límbico. Além de seus
papéis no controle do comportamento, essas áreas também controlam várias
43
condições internas do corpo, como a temperatura, o impulso para comer e
beber, etc. Ele mantém vias de comunicação com todos os níveis do sistema
límbico. O hipotálamo desempenha, ainda, um papel nas emoções.
Especificamente, as partes laterais parecem envolvidas com o prazer e a raiva,
enquanto que a porção mediana parece mais ligada à aversão, ao desprazer e
a tendência ao riso (gargalhada) incontrolável.
Giro cingulado: Situado na face medial do cérebro entre o sulco
cingulado e o corpo caloso, que é um feixe nervoso que liga os 2 hemisférios
cerebrais. Há ainda muito por conhecer a respeito desse giro, mas sabe-se que
a sua porção frontal coordena odores, e visões com memórias agradáveis de
emoções anteriores. Esta região participa ainda, da reação emocional à dor e
da regulação do comportamento agressivo.
Tronco cerebral: É a região responsável pelas “reações emocionais”,
na verdade, apenas respostas reflexas. Encontra-se duas estruturas
envolvidas, os núcleos de rafe, implicados na fisiologia do sono e alterações
do humor pela síntese do neurotransmissor serotonina e o lócus ceruleus,
produtor da noradrenalina relacionada com atenção e vigília, estresse e pânico.
Septo: Anteriormente ao tálamo, situa-se a área septal. A estimulação
de diferentes partes desse septo pode causar muitos efeitos comportamentais
distintos, esta região se relaciona com as sensações de prazer, mormente
aquelas associadas às experiências sexuais.
Área Pré - frontal: esta área não faz parte do Lobo límbico tradicional,
mas suas intensas conexões com o tálamo, amígdala e outras sub-corticais,
explicam o importante papel que desempenha na expressão dos estados
afetivos.
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2010/07
No espaço educacional os fatores afetivos devem ser levados em consideração,
RELVAS (2009, p.109) sinaliza que devido a influência que a emoção exerce nos
processos de raciocínio; os sistemas cerebrais destinados à emoção estão
intrinsecamente enredados aos sistemas destinados a “razão”; a mente não pode ser
separada do corpo. Nesse sentido, a emoção é mais um aspecto, o qual permeia os
demais.
Quando os indivíduos, estes tomados pelas emoções – amor, ódio, paixão,
raiva, medo e outras, estão sob o jugo do cérebro emocional que então controla o
comportamento. A emoção é uma reação do organismo em respostas a estímulos
externos e internos. As emoções e as várias reações que as constituem fazem parte
dos mecanismos básicos da regulação da vida, através da educação emocional a
pessoa terá oportunidade de conhecer-se melhor e analisar suas emoções. O
autoconhecimento, autoconsciência, implica em desenvolver a capacidade de
identificar e reconhecer suas emoções e sentimentos, avaliando suas intensidades, e
as expressões corporais correspondentes, no momento em que ocorrem.
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A educação emocional na escola tem o objetivo preventivo e pretende que o
educando adquira atitudes e habilidades que permitam a identificação e controle de
suas emoções, tornando sua inserção mais flexível, agradável e adaptável. .
3.2 A Neuropedagogia, um novo olhar sobre as
práticas pedagógicas.
A parceria entre a Neurociência da aprendizagem com a Pedagogia tem
priorizado o ser humano em todo seu contexto, biológico, psicológico, cultural, social
e histórico. Ressaltando o sentir, pensar e agir. Essa interdisciplinaridade pretende
apontar caminhos para uma educação mais inclusiva, embasada no conhecimento
crítico, inovador e reflexivo. A organização do trabalho pedagógico deve partir do que
as crianças já sabem, de forma lúdica e prazerosa. Como também em práticas
pedagógicas que valorizem o funcionamento cerebral, as conexões e troca de
informações entre neurônios, a relação entre as estruturas mentais com o meio
ambiente, a emoção e razão no processo da aprendizagem. Edgar Morin (2000,
p.39) destaca que a educação deve favorecer a aptidão natural da mente em formular
e resolver problemas essenciais e, de forma correlata, estimular o uso total da
inteligência geral. Este uso total pede o livre exercício da curiosidade, a faculdade
mais expandida e a mais viva durante a infância e a adolescência, que com
freqüência a instrução extingue e que, ao contrário, se trata de estimular ou caso
esteja adormecida, de despertar.
Busca-se uma escola em que seja dada à criança a possibilidade de formar-se,
de torna-se homem, de adquirir os critérios gerais que sirvam ao
desenvolvimento do caráter. Uma escola que não hipoteque o futuro da criança
e constranja a sua vontade, sua inteligência, sua consciência em formação a
mover-se dentro de uma bitola. (...) Uma escola de liberdade e de livre iniciativa
e não uma escola de escravidão e mecanicidade. (Mochcovitch 1990, apude
Gramsci, 1958,p.59)
A escola deve ser um espaço que permita a criança desenvolver seu potencial e
as habilidades humanas, valorize as vivências em grupo, o respeito sobre as
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diferenças. Contribuindo para que a criança continuamente esteja inserida nas
práticas de leituras e produções variáveis de diferentes gêneros textuais, capazes de
formar escritores competentes que torna a leitura e a escrita um habito diário e
constante. O Espaço também deve ser destinado à manifestação de desejos, alegria,
gosto, partilha, hipóteses, de troca e vivência de vários conhecimentos de forma
lúdica. Independente de métodos, as atividades devem favorecer para que a
educação seja produtora de conhecimento, forme pessoas íntegras, cidadãos
autônomos e críticos.
Portanto, aprendizagem implica transformação, tomar conhecimento, mudança de
comportamento. Ensinar para (RELVAS, 2009) é fundamentalmente aprender.
Aprender é enfrentar o desafio da vinculação da emoção com a razão
no processo de conhecer e, além disso, enfrentar o desafio de criar
recursos, instrumentos, estratégias táticas e operacionais que
mobilizem no educando sua emoção em paralelo com sua razão. Ao
criar condições e estímulos favoráveis os educandos terão maiores
condições para desenvolverem competências e habilidades. ( p.114).
A sala de aula deverá ser um espaço, onde os conhecimentos pedagógicos
caminhem na mesma direção com os conhecimentos neurocientíficos, que permita
ao professor oportunidade de criar estratégias e atividades que estimule as funções
cerebrais e desenvolva habilidades e potencialidades humana. Segue algumas
sugestões para o bem viver em sala de aula:
A - Estabelecer diálogo sobre a importância do convívio harmonioso entre as
os colegas; professores e todos os funcionários que compõem a instituição;
B - Permitir que a criança participe e manifeste sua opinião durante as aulas,
lembre-se que redes neurais estão se ampliando e o hipocampo armazenando
informações;
C - Levar para a sala de aula diversos estímulos que explorem todos os
sentidos: cartazes, filmes, jogos, objetos significativos das crianças, sucatas,
músicas, etc;
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D - Proporcionar cantinhos diversificados, com jogos pedagógicos, leitura,
pintura, onde a criança possa ao termino da sua atividade interagir com
atividades que lhe proporcione prazer;
E - Trabalhar o mesmo conteúdo de varias formas possibilita os alunos a
oportunidades de vivenciarem a aprendizagem de acordo com suas
possibilidades neurais;
F - Possibilitar situações que a criança use e movimente seu corpo,
experimente e reflita sobre suas emoções positivas ou negativas;
G - Estabelecer rotinas para possam realizar trabalhos individuais, em dupla e
em grupo, contribuindo para uma aprendizagem com mais dinâmismo e uma
sala de aula mais flexiva.
Enquanto ensino continuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, porque
indaguei, porque indago e me indago Paulo Freire. E assim o professor deverá
planejar atividades que atenda às necessidades, anseios e desejos da sua turma.
Que estimule as percepções, a memória, noções espaciais, habilidades lógicas,
verbais e etc. Criando em sala de aula um clima favorável para a aprendizagem,
capaz de eliminar a insegurança do educando, permitindo-o descobrir suas
habilidades e potencialidades como ser social, pensante, ativo, que aprende de
maneira individual, única e especial, com prazer de aprender à luz da
neuropedagogia.
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CONCLUSÃO
Os estudos sobre o cérebro humano, desde a antiguidade sempre despertou
interesse dos pesquisadores sobre a estrutura e funcionamento cerebral. Desvendar
a máquina humana, os códigos, os sinais e os circuitos pelos quais trafega a
informação vital dos seres humanos, sempre fascinaram e determinaram descobertas
científicas que contribuíram para a transformação da humanidade. A ser humana
evoluiu, sua evolução biológica, adaptativa foi necessária para a manutenção e
sobrevivência da espécie.
Os avanços na área da neurociência em parceria com a pedagogia que
objetiva a melhoria no processo de aprendizagem dos indivíduos, através da reflexão,
sistematização e produção de conhecimentos, têm contribuído para os avanços na
área educacional. A partir da neurociência os espaços educacionais vêm se
apropriando de conhecimentos e descobertas de como o cérebro aprende, senti e
guarda informações.
O cérebro humano é constituído de hemisférios, lobos, sulcos, neurônios que
tem sua função e real importância num trabalho em conjunto para que a
aprendizagem aconteça. A memória é um fator importante na aprendizagem, é a
base de todo o saber.
Os estímulos ambientais ativam os neurônios, que são considerados a
unidade básica do sistema nervoso, são células condutoras, responsáveis pela
recepção e transmissão dos impulsos nervosos por meio das sinapses. Devido os
neurônios serem responsáveis em processar, elaborar, coordenar e avaliar as
informações, necessitam de condições favoráveis e aumento de estímulos para que
haja mais conexões, novas sinapses e aprendizagem. Pois o cérebro é composto por
cerca de 100 bilhões de células nervosas conectadas, que controla todas as funções
mentais. Podemos compreender, desta forma que o uso de estratégias adequadas
em um processo de ensino dinâmico e prazeroso provocará consequentemente,
alterações na quantidade e qualidade destas conexões sinápticas. O cérebro é capaz
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de aprender por sua flexibilidade, sua capacidade de mudar em resposta aos
estímulos sensoriais e ambientais.
Quando compreendermos a importância da Neurociência ligada á
aprendizagem, um novo olhar se fará e não mais evidenciaremos incapacidades e
sim, passaremos a buscar potencialidades “adormecidas”, que serão “acordadas”
através de estratégias diferenciadas e adequadas á necessidades de cada criança. O
professor terá a oportunidade de transformar a sala de aula em um ambiente de
estímulos, com aulas prazerosas, lúdicas, ricas em conteúdos concreto, auditivo e
visual. E a criança, a oportunidade de criar e recriar, contribuindo assim, para a
ativação neural, as sinapses e o funcionamento desses sistemas de forma
harmoniosa.
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