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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU” PROJETO VEZ DO MESTRE A PSICOMOTRICIDADE NA PRÉ-ESCOLA DE 4 AOS 5 ANOS POR JEANETE GABRIEL DA SILVA ORIENTADOR: HENRIQUE PEREIRA Niterói 2004

UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PÓS-GRADUAÇÃO … GABRIEL DA SILVA.pdf · professores de uma Escola da Rede Municipal de Ensino de São Gonçalo, fazendo uma breve reflexão sobre

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

A PSICOMOTRICIDADE NA PRÉ-ESCOLA

DE 4 AOS 5 ANOS

POR

JEANETE GABRIEL DA SILVA

ORIENTADOR: HENRIQUE PEREIRA

Niterói

2004

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO-SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

A PSICOMOTRICIDADE NA PRÉ-ESCOLA

DE 4 AOS 5 ANOS

Monografia apresentada à faculdade

Cândido Mendes como requisito parcial

para obtenção do título de Especialista

em Psicomotricidade no curso de Pós-

Graduação.

POR

JEANETE GABRIEL DA SILVA

Niterói

2004

3

AGRADECIMENTOS

A Deus, que esteve a cada dia, hora e minuto, presente em minha

vida concedendo-me através das orações, forças para prosseguir em

meu caminho, com fé e perseverança, na realização de mais essa

etapa que considero vitoriosa.

A meu professor e orientador Henrique Pereira que mostrou-se

tanto amigo, quanto profissional, no decorrer da elaboração desse

trabalho, acreditando na minha capacidade e vontade de vencer,

colaborando com a minha proposta avaliativa dentro da educação.

Aos professores deste curso que me orientaram, me ouviram e me

esclareceram situações e dúvidas surgidas, com paciência e

compreensão, tornando-se verdadeiros amigos.

Aos meus amigos, que a cada período deste curso sempre

trouxeram palavras de carinho, conforto e incentivos.

E a todas as pessoas que direta ou indiretamente, de alguma forma,

contribuíram para que o meu objetivo fosse alcançado,

despertando-me a vontade de aprender cada vez mais e continuar

lutando por uma educação consciente e respeitada, culminando

com a realização deste trabalho e com a minha formação

pedagógica específica.

4

DEDICATÓRIA

A meu pai (In memórian), a minha mãe e meus irmãos

pelo apoio que sempre me deram, para que eu pudesse

chegar até aqui e conquistar espaços que desejei alcançar.

O caminho, embora difícil, foi possível de ser caminhado,

pelo desejo maior de vencê-lo.

A meu esposo e também ao meu filho, pela compreensão,

companheirismo e amor que demonstraram nas vezes que

precisei deixá-los sozinhos, sem a minha companhia,

envolvida com livros e trabalhos, mas procurando mostrá-

los a importância da instrução e do saber, pois estas são as

únicas heranças que não se acabam, só se multiplicam.

A minha gratidão a toda minha família, pelo amor, carinho

e incentivo dedicados durante este Curso nesta

Universidade.

Valeu a união e a força! Amo vocês!

Obrigada, de coração, por tudo.

5

RESUMO

Este trabalho de pesquisa é uma analise dos benefícios da Psicomotricidade

para o desenvolvimento da criança na Pré- Escola.

Através da Psicomotricidade o aluno da Pré-Escola desenvolve habilidades

que favorecem a alfabetização como: domínio manual já estabelecido (área de

lateralidade); conhecimento numérico suficiente para saber, por exemplo, quantas

voltas existem nas letras m e n, ou quantas sílabas formam uma palavra (área de

habilidades conceituais); movimentação dos olhos da esquerda para a direita,

domínio de movimentos adequados (área de coordenação visual e

manual);discriminação de sons (área de percepção auditiva); adequação da escrita às

dimensões do papel, reconhecimento das diferenças dos pares b/d, q/d, p/q etc.,

orientação da leitura e da escrita da esquerda para a direita, manutenção da proporção

de altura e largura das letras, manutenção de espaço entre as palavras e escrita

orientada pelas pautas (áreas de percepção visual, orientação espacial, lateralidade,

habilidades conceituais); pronuncia adequada de vogais, consoantes, sílabas, palavras

(área de comunicação e expressão);noção da linearidade da disposição sucessiva de

letras, sílabas e palavras (área de orientação têmporo-espacial);capacidade de

decompor palavras em sílabas e letras (análise);possibilidade de reunir letras e

sílabas para formar novas palavras (síntese).

Percebe-se que através da Psicomotricidade a criança apropria-se de

habilidades que desenvolvem não só seu controle motor, por estar aliado à

lateralidade, à orientação temporal e a estruturação espacial, mas também propicia o

desenvolvimento e aprimoramento da inteligência.

6

METODOLOGIA A metodologia utilizada para o desenvolvimento deste trabalho baseou-se na

pesquisa qualitativa em que as observações contribuíram para a coleta de dados

significativos para a realização deste estudo.

As análises foram realizadas através da fundamentação teórica a partir do

levantamento bibliográfico que possibilitou a compreensão das questões implícitas

relativas ao tema abordado.

No primeiro momento realizou-se um breve histórico da origem e

desenvolvimento da Educação Infantil. Num segundo momento buscou-se refletir

sobre a proposta curricular para a Educação Infantil. No terceiro momento realiza-se

uma abordagem sobre o desenvolvimento da criança dos quatro ao cinco anos de

idade. Em seguida, compreende-se a importância da Psicomotricidade para o

desenvolvimento da criança. E no último momento relata-se várias atividades

realizadas por algumas professoras de Educação Infantil de uma Escola da Rede

Municipal de Ensino de São Gonçalo.

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SUMÁRIO INTRODUÇÃO 08 CAPÍTULO I- BREVE HISTÓRICO DA ORIGEM E DO DESENVOLVIMENTO

DA EDUCAÇÃO INFANTIL 10

CAPÍTULO II- A PROPOSTA CURRICULAR NACIONAL PARA A

EDUCAÇÃO INFANTIL 17

CAPÍTULO III- O DESENVOLVIMENTO INFANTIL DOS QUATRO AOS

CINCO ANOS DE IDADE 26

CAPÍTULO IV- PSICOMOTRICIDADE E O DESENVOLVIMENTO DA

CRIANÇA 34

CAPÍTULO V- AS ATIVIDADES PSICOMOTORAS REALIZADAS POR

PROFESSORES DE UMA ESCOLA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE

SÃO GONÇALO 44

CONCLUSÃO 58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 60 ANEXOS 65 ÍNDICE 69

8

INTRODUÇÃO

Na Pré-Escola a criança vivencia o processo inicial de seu desenvolvimento,

uma etapa básica da formação de sua personalidade.

Nessa etapa as experiência devem ser vivenciadas a fim de que sejam

internalizadas e assimiladas, uma vez que o pensamento da criança é construído

gradativamente.

Para favorecer o processo de aprendizagem na Pré-Escola é fundamental que

os professores organizem atividades partindo do concreto para o abstrato, do

próximo para o distante, do simples para o complexo e busque centrar o currículo nas

funções psicomotoras e cognitivas, considerando o interesse e as necessidades da

criança. Pois o desenvolvimento psicomotor permite que a criança conheça e

controle seu próprio corpo desenvolvendo bases para sua aprendizagem. O

conhecimento do corpo é fundamental para a criança ajustar-se ao meio e para

desenvolver seu pensamento.

Entretanto, o professor necessita compreender que o desenvolvimento

psicomotor da criança depende do amadurecimento do sistema nervoso e de outros

fatores como a idade e vivências, considerando que cada criança tem um ritmo e

tempo próprio.

A Psicomotricidade proporciona ao aluno condições necessárias a um bom

desempenho escolar.

9

Este trabalho propõe uma reflexão sobre a importância da Psicomotricidade

para o desenvolvimento posterior da criança e sua formação integral como um ser

ativo e participante de uma sociedade em constante transformação.

O desenvolvimento desta monografia realizou-se em cinco momentos

distintos.

No primeiro capítulo busca-se fazer um breve histórico da origem do

desenvolvimento da Pré-Escola.

No segundo momento reflete-se as contribuições dos Parâmetros Curriculares

Nacionais para a Educação Infantil.

No terceiro capítulo analisa-se o desenvolvimento infantil no período dos

quatro aos cinco anos de idade.

O quarto capítulo trata do estudo da importância da Psicomotricidade para o

desenvolvimento da criança.

O último capítulo descreve algumas atividades psicomotoras realizadas por

professores de uma Escola da Rede Municipal de Ensino de São Gonçalo, fazendo

uma breve reflexão sobre a importância dos jogos no processo de ensino e

aprendizagem.

Este trabalho monográfico tem como objetivo analisar a importância da

Psicomotricidade para o desenvolvimento das habilidades necessárias ao processo de

aprendizagem no Pré-Escolar.

10

CAPÍTULO I- BREVE HISTÓRICO DA ORIGEM E

DO DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL

A pré-escola, instituição eminentemente urbana e típica das sociedades

industriais, não surgiu com fins educativos, mas assistenciais.

A primeira revolução industrial marcada pela exploração do trabalhador,

tornando-o escravo das máquinas, também utilizava da força produtiva das crianças,

que sendo mão-de-obra mais barata, eram utilizadas nas fábricas e nas minas de

carvão. Com jornada de trabalho de 12 a 16 horas por dia, as crianças trabalhavam

nos teares das tecelagens ou empurrando vagonetas nas galerias de mineração.

Na primeira metade do século XIX foram realizadas investigações,

principalmente na França e na Inglaterra, sobre as condições de trabalho e de vida do

trabalhador.

Dessas investigações surgiram os famosos Relatórios Villermé e Ashley, que

denunciaram à consciência mundial o grau de degradação humana existentes nas

fábricas e minas de carvão, principalmente o trabalho infantil. Crianças com cinco e

seis anos de idade famintas e doentes, prostravam-se de cansaço nas minas e nos

teares.

Uma das primeiras iniciativas de atendimento em instituições para atender e

afastar as crianças do “trabalho escravo” das fábricas e das minas foi feita por Robert

Owen, em New Lanark, na Inglaterra.

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Outro nome importante é James Buchanan, que abriu vários

estabelecimentos de educação infantil em Londres. Eram escolas sui generes

destinadas a crianças órfãs e desamparadas, com caracter assistencialista.

Na França, surgiram instituições chamadas de “salles d’asile”, mantidas por

damas da sociedade. Essas instituições, embora também tivessem características

filantrópicas, demostravam uma certa preocupação com a educação formal da

criança.

Em 1837 esses estabelecimentos foram reconhecidos pelo Ministério de

Instrução Pública como escolas.

A programação dessas escolas previa refeições, jogos, obrigações

ocupacionais e iniciativas à leitura, a escrita e cálculo.

Em 1848 as escolas que eram denominadas “salles d’asile”, receberam a

nomenclatura de “escolas maternais”. O governo francês investiu nas escolas

maternais, abrindo novas instituições e dando mais ênfase aos aspectos educativos.

Entretanto, foi Pauline Kergomard, responsável pela educação junto ao

governo francês que consagrou a importância da escola maternal no sistema escola,

ao propor duas medidas: a edição da primeira legislação de amparo a essas escolas e

a criação dos primeiros cursos para a formação de professores especializados em

educação infantil.

A partir de 1973, criou-se na França uma Secretaria de Estado que tinha como

objetivo administrar os assuntos referentes à escola maternal.

Na Alemanha, inspirada por Froebel, a pré-escola assumiu a forma de jardins

de infância.

12

Pedagogo alemão, Froebel , em 1837 inaugurou o seu primeiro Kindergarten

em Blankenbug e desenvolveu uma teoria sobre o modo de encarar e conduzir a

educação da infância. Seu pensamento é marcado pela rejeição à idéia que a criança é

um adulto em miniatura, afirmando que “não se educa a criança para a vida adulta e

sim para a vida que a rodeia”(1979, p.15).

A Educação Pré-escolar é conceituada por Froebel como “um ambiente

especial, deliberadamente criado para oferecer condições ótimas que propiciem o

desenvolvimento máximo da criança antes dos sete anos e sua integração social”

(RIZZO,1986, p.32).

A diferença existente no nascimento da pré-escola na França, na Inglaterra e

na Alemanha é justamente o caráter filantrópico, assistencialista que os dois

primeiros países apresentaram, ao passo que na Alemanha, com a influência de

Froebel, a pré-escola nasceu motivada essencialmente pelo seu aspecto pedagógico.

As idéias froebelianas também chegaram aos Estados Unidos da América e

em 1860, foi inaugurado em Boston o primeiro jardim de infância desse país.

A Froebel, deve-se o reconhecimento da educação pré-escolar como uma fase

que merece a mais cuidadosa atenção, tanto de pais como de educadores. Entretanto,

cabe ressaltar a influência que recebeu de Pestalozzi.

Reformador suíço, Pestalozzi afirma que a “educação devia ser considerada

do ponto de vista do desenvolvimento do espírito da criança.” O educando, nessa

afirmação, é visto como o centro do processo educativo ( SOUZA,1979, p.17).

Em sua obra titulada: Como Gertrudes e Ensina os Seus filhos, ele afirma

que o educador, o mestre, deve respeitar a individualidade de cada aluno e buscar

desenvolver a sua inteligência.

“Na Europa, a cultura do povo tornou-se vazia e estéril, tão fatal à fé como ao verdadeiro conhecimento: uma instrução

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de meras palavras, que contém um pouco de sonho e fantasia, e que não pode dar-nos a calma sabedoria da fé e do amor, mas ao contrário, nos conduz à descrença e à superstição, ao egoísmo e à dureza. É indiscutível que a mania de palavras e livros, que não podemos permanecer por muito tempo como estamos. Tudo me faz acreditar que o único meio de sair deste caos civil, moral e religioso é abandonar a superficialidade, a fragmentação e a presunção de nossa instrução popular, e reconhecer a intuição (isto é, o desenvolvimento mental) como a verdadeira fonte do conhecimento” ( SOUZA,1979,p.23).

Pestalozzi faz uma verdadeira revolução na Pedagogia, estimulando uma

educação que propicie o desenvolvimento mental da criança.

No Brasil o pensamento de Froebel chegou ainda no século XIX, por

intermédio de Gabriel Prestes em 1896,diretor da Escola Normal da Praça que

decidiu organizar e instalar no fundo do terreno da Escola, o primeiro jardim de

infância de São Paulo, nos princípios froebelianos, dirigido pela professora Rosinha

Nogueira Soares.

Nesse mesmo estabelecimento foi oferecido o primeiro curso de formação de

professores de classes infantis, chamadas “Jardineiras”.

Adotado pela Organização Mundial de Educação Pré-Escolar e divulgado ao

mundo inteiro, o termo “Jardineira” era utilizado para se referir aos professores que

atuam com o pré-escolar. De acordo com a orientação de Froebel ,

“o professor pré-escolar deve ser aquele que cuida e “cultiva” as crianças como flores de um jardim, para fazê-la desabrochar em personalidades plenas, para levá-las a atingir o máximo de plenitude e beleza, a que o crescimento total pode levar” (SOUZA, 1979,p.19).

Considera-se que o papel da “Jardineira” é oferecer as condições necessárias

que propiciem o desenvolvimento pleno da criança e sua integração social. Cabe a

ela o zelo pela manutenção da vida, referente ao aspecto físico e o crescimento do

14

indivíduo, como ser psicossocial, criando estímulos de ordem afetivo-social

contribuindo para a auto-afirmação do “eu” psicológico da criança.

“O professor pré-escolar, (...) deve oferecer à criança condições essenciais a sua vida de ser, além de físico, psicossocial, que lhe é própria, o que exige carinho, aceitação e estimulo afetivo-social, um misto, excepcionalmente equilibrado, de proteção e encorajamento semelhante às atitudes da mãe saudavelmente disposta a permitir e propiciar o desenvolvimento da autonomia de seu filho e que se coloca, continuamente, disponível para protegê-lo em caso de necessidade” (RIZZO,1986-P.34).

Nessa perspectiva, o atendimento no pré-escolar assume um caráter

compensatório para sanar as carências culturais, nutricionais e afetivas da criança,

garantindo seu bom desenvolvimento escolar.

A implementação da pré-escola no sistema educacional brasileiro promoveu

muitas discussões sobre a sua função social. Isso se deve ao fato que a história da

pré-escola mostra diferentes atribuições desempenhadas por esta instituição

responsável pelo atendimento às crianças menores de sete anos de idade.

No Brasil, a iniciativa da pré-escola, também, coincide com o movimento de

industrialização e urbanização, com a finalidade de reduzir impactos causados por

problemas sociais, representando um serviço de cunho assistencialista.

Com o fenômeno do “fracasso escolar” que atinge as crianças das camadas

mais pobres da população matriculadas na rede de ensino fundamental, surge a

proposta de redirecionar a função da educação no pré-escolar, tendo característica

compensatória.

“Acreditando que o “insucesso” das crianças pobres, na escola, seja causado por uma inferioridade sociocultural e pelo chamado déficit lingüístico (identificados como privação cultural), uma das soluções pensadas para reverter esse quadro foi a criação de programas de atendimento à criança

15

pré-escola, surgindo assim, a pré-escola de linha compensatória” (KIQUEL,1991,p. 12).

A pré-escola compensatória assume a teoria da prontidão, tendo como

objetivo prevenir e evitar possíveis fracassos dos seus alunos na alfabetização,

preparando-os para a aprendizagem.

Além das funções assistencialista e compensatória, a pré-escola, também foi

inserida com o papel desenvolvimentista, isto é, com o objetivo de promover o

desenvolvimento global e harmônico das crianças.

Atualmente busca-se construir uma pré-escola baseada em concepções mais

atuais sobre a relação entre desenvolvimento e aprendizagem.

“Superando algumas limitações dos programas meramente assistencialistas, compensatórios ou desenvolvimentista, a pré-escola desponta como um espaço educativo cuja função pedagógica é oferecer às crianças experiências significativas que lhes garantam continuidade e o aprofundamento das aprendizagens iniciadas em seu meio social” (KIQUEL,1991, 14).

A educação infantil continua em expansão no Brasil e no mundo. No entanto,

a sociedade está mais consciente da importância das experiências na primeira

infância, o que contribui para o crescimento do atendimento educacional à crianças

de zero a seis anos.

Fatores como a intensificação da urbanização , a participação da mulher no

mercado de trabalho e as mudanças ocorridas na estrutura das famílias, contribuíram

para a realização de um movimento da sociedade civil e de órgãos governamentais

para regulamentar o atendimento às crianças de zero a seis anos. Atendendo a

reivindicação, o governo na Constituição Brasileira de 1988 reconhece no artigo

16

208, inciso IV a educação infantil em creches e pré-escolas como um dever do

Estado e um direito da criança. O Estatuto da Criança e do Adolescente, de 1990,

também destaca o direito da criança a este atendimento.

A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, Lei n.º 9.394,

promulgada em 1996, consagra o vínculo entre o atendimento às crianças de zero a

seis anos e a educação, fazendo algumas referências específicas à educação infantil.

No título III, Do Direito à Educação e do Dever de Educar, art. 4º afirma que:

“O dever do Estado com a educação escolar pública está efetivado mediante a

garantia de (...) atendimento gratuito em creches e pré-escolas as crianças de zero a

seis anos de idade.”

Tanto as creches, quanto as pré-escolas, são consideradas como instituições

infantis, diferenciadas apenas pelo critério de faixa etária.

Em seu artigo 29, a LDB reconhece a educação infantil como a primeira etapa

da educação básica, tendo como finalidade o desenvolvimento integral da criança até

seis anos de idade na instituição educacional, sendo complementada na família.

Hoje, a educação infantil tem objetivo próprio e sua função pedagógica tem

como finalidade a formação psicológica e educativa da criança.

17

CAPÍTULO II- A PROPOSTA CURRICULAR

NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL

A educação infantil é considerada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação

Nacional (Lei 9.394/96), como a primeira etapa da educação básica, tendo como

finalidade promover nas creches e pré-escolas, uma ação integrada que incorpore às

atividades educativas os cuidados essenciais e suas brincadeiras.

Para atender às determinações da Lei 9.394 o Ministério da Educação e do

Desporto elaborou, juntamente com professores e diversos profissionais que atuam

diretamente com as crianças, um Referencial Curricular Nacional para a Educação

Infantil que representa um conjunto de orientações pedagógicas que têm como

função servir de referências para discussões, pesquisas, sugestões para os

profissionais ligados à educação promovendo reflexões e aprimoramento do trabalho

docente.

A criança sente e pensa o mundo de um jeito singular. No processo de

aprendizagem as crianças constrõem o conhecimento a partir das interações que

estabelecem com as outras pessoas e com o meio.

Como nos diz RIZZO (1986, p.34):

“O bebê aos poucos “descobre” a sua fonte de alimento, proteção e satisfação de suas necessidades básicas e a distingue do meio ambiente:“mamãe”. Daí à incorporação, conhecimento e compreensão dos outros objetos e de todo um

18

sistema de relações entre ele existe um grande e complexo caminho que tem como elemento propulsor a investigação natural do meio ambiente, capaz de ser exercida por todo ser humano em condições normais de saúde e ambiência. O desenvolvimento desse conhecimento tem como conteúdo os objetivos e fatos do meio ambiente, isto é, a própria vida. Esta consideração se faz necessária, pois determina o papel da matéria ou conteúdo como meio de que a Pré-Escola deverá lançar mão, para promover o processo de desenvolvimento da criança.”

Geralmente quando os professores e outros profissionais da educação se

reúnem para elaborar um currículo, pensam nos conteúdos, sem considerar como a

criança incorpora e faz uso dessas informações.

Considerando a criança como um sujeito social e histórico com uma cultura,

uma estrutura social, a proposta curricular da Educação Infantil tem como referência

a vida da criança, seu ambiente e suas experiências; onde os conteúdos são

compreendidos como recursos para o desenvolvimento da criança e não como

finalidade da educação.

Em seu conjunto, a educação é compreendida como o principal instrumento

para a construção de cidadãos conscientes e plenos de sua cidadania no regime

democrático, sendo necessário respeitar a diversidade cultural, regional, étnica e

religiosa na proposta curricular de cada unidade escola. Pretendendo:

“contribuir para o planejamento, desenvolvimento e avaliação de práticas educativas que considerem a pluralidade e diversidade étnica, religiosa, de gênero, social e cultural das crianças brasileiras, favorecendo a construção de propostas educativas que respondam ás demandas das crianças e seus familiares nas diferentes regiões do país” (MEC,1998,p.13).

Busca-se propiciar a formação da criança enquanto um ser investigador,

consciente, capaz de continuar o seu crescimento e ampliar o seu conhecimento.

19

Nesse processo, o professor necessita ter consciência do papel que

desempenha na construção social do aluno, tendo a responsabilidade de apontar as

necessidades do por quê e para quê os alunos devem dispor de alguns conteúdos,

desenvolvendo expectativas positivas com relação a sua aprendizagem para formação

de um ser reflexível e atuante na sociedade.

Um estudo recente realizado pelo Ministério da Educação e do Desporto

resultou em uma “ Proposta pedagógica e currículo para a educação infantil: um

diagnóstico e a construção de uma metodologia de análise”, que reflete:

“o nível de articulação de três instâncias determinantes na construção de um projeto educativo para a educação infantil. São elas: a das práticas sociais, a das políticas públicas e a da sistematização dos conhecimentos pertinentes a essa etapa educacional” (id;ibid,p.14).

A Educação Infantil deve buscar essa articulação, entre o universo cultural

das crianças e as áreas de conhecimento, estabelecendo uma integração curricular

que garanta a coerência entre os objetivos e conteúdos e uma organização por idade,

como define a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional de 1996, no art. 30,

capítulo II, seção II : “A educação infantil será oferecida em : I- creches ou entidades

equivalentes para crianças de até três anos de idade; II- pré-escolas, para as crianças

de quatro a seis anos”.

Esse tipo de organização busca relacionar os aspectos afetivos, emocionais,

cognitivos, sociais das crianças e abranger diversos espaços de elaboração de

conhecimentos e de desenvolvimento da autonomia das crianças que favoreçam a

socialização e as aprendizagens consideradas essenciais.

A Proposta Curricular Nacional para a Educação Infantil possui um caráter

instrumentista e didático, cabendo ao professor, em sua prática pedagógica, ter

consciência que a construção de conhecimentos se realiza de forma integrada e

global, havendo inter-relações entre os diferentes âmbitos a serem trabalhados com

as crianças.

20

Essa proposta define dois âmbitos de experiências: Formação Pessoal e

Social e Conhecimento de Mundo.

A Formação Pessoal e Social compreende às experiências que estimulam a

construção do sujeito e envolvem “o desenvolvimento de capacidades de natureza

global e afetiva das crianças, seus esquemas simbólicos de interação com os outros e

com o meio, assim como a relação consigo mesmas”, o Conhecimento de Mundo

refere-se à construção das diferentes linguagens pelas crianças e às relações que

estabelecem com os objetos; pois, “o domínio progressivo das diferentes linguagens

que favorecem a expressão e comunicação de sentimentos, emoções e idéias das

crianças, propiciam a interação com os outros e facilitam a mediação com a cultura e

os conhecimentos constituídos” (id;ibid,p.46).

Como eixos de trabalho, destacam-se os que constituem uma parcela

significativa da produção cultural humana que amplia e enriquece as condições de

inserção das crianças na sociedade, são eles: Movimento, Artes visuais, Música,

Linguagem oral e escrita, Natureza e sociedade, Matemática.

Além de estabelecer âmbitos e eixos, o currículo da Educação Infantil precisa

relacionar os objetivos gerais e específicos, conteúdos e orientações didáticas numa

perspectiva de operacionalização do processo educativo.

Com a finalidade de ampliar a possibilidade de concretização das intenções

educativas, o Referencial estabelece objetivos que promovem o desenvolvimento de

capacidades e não de comportamentos, pois:

“embora as crianças desenvolvam suas capacidades de maneira heterogêneas, a educação tem por função criar condições para o desenvolvimento integral de todas as crianças, considerando, também, as possibilidades de aprendizagem que apresentam nas diferentes faixas etárias. Para que isso ocorra, faz-se necessário uma

21

atuação que propicia o desenvolvimento de capacidades envolvendo aquelas de ordem física, afetiva, cognitiva, ética, estética, de relação interpessoal e inserção social” (id;ibid,p.47).

Em relação aos conteúdos da educação infantil, o Referencial, trata-os como

concretização dos propósitos da instituição e como um recurso utilizado “para que as

crianças desenvolvam suas capacidades e exercitem sua maneira própria de pensar,

sentir e ser, ampliando suas hipóteses acerca do mundo ao qual pertencem e

constituindo-se em um instrumento para compreensão da realidade” (id;ibid,p.48).

Os conteúdos abrangem conceitos e princípios, relacionando o conhecimento

a procedimentos, atitudes, valores e normas como objetivos de aprendizagem.

A proposta curricular das Educação Infantil propõe três tipos de conteúdos

que deverão ser trabalhados pelos professores da educação infantil. Os conteúdos

conceituais que visam a construção ativa das capacidades das crianças para operar

com símbolos, idéias, imagens e representações que as permitam atribuir sentido à

realidade.

“O conceito que uma criança faz do que seja um cachorro, por exemplo, depende das experiências que ela tem que envolvam seu contato com cachorros. Se num primeiro momento, ela pode, por exemplo, designar como “Au-Au” todo animal, fazendo uma generalização provisória, o acesso a uma nova informação, por exemplo, o fato de que gatos diferem de cachorros, permite-lhes reorganizar o conhecimento que possui e modificar a idéia que tem sobre o que é um cachorro. Esta conceitualização, ainda provisória, será suficiente por algum tempo _ até o momento em que ela entrar em contato com um novo conhecimento” (id;ibid,p.50)

22

Os conteúdos conceituais promovem a aproximação da criança a um

conhecimento através do levantamento de hipóteses e a manifestação de formas

originais de expressões.

No currículo da educação infantil, também constar conteúdos procedimentais

e atitudinais.

Os conteúdos denominados procedimentais refere-se ao saber fazer. São

meios que fornecem as crianças possibilidade de construir instrumentos e determinar

caminhos que lhes propiciem realizar sua ações.

A aprendizagem de procedimentos favorece o desenvolvimento das crianças,

pois relaciona-se a um percurso de tomada de decisões.

“Desenvolver procedimentos significa apropriar-se de “ferramentas” da cultura humana necessárias para viver. No que se refere a educação infantil, saber manipular corretamente objetos de uso cotidiano que existem à sua volta, por exemplo, é um procedimento fundamental, que responde às necessidades imediatas para inserção no universo mais próximo. É o caso de vestir-se ou amarrar os sapatos, que constituem-se em ações procedimentais importantes no processo de conquista da independência” (id;ibid,p.51).

É necessário que a criança aprenda alguns procedimentos importantes, para

colaborar com o grupo, exercer cooperação e solidariedade.

Outra questão que o currículo da educação infantil considera é a função da

escola e das instituições que trabalham com a educação promover a socialização, por

isso também estabelecem os conteúdos atitudinais que referem-se a valores ,

normais e atitudes que as crianças devem apreender.

“A aprendizagem de conteúdos deste tipo implica uma prática coerente, onde os valores, as atitudes e as normas que se pretende trabalhar estejam presentes desde as relações entre as pessoas até a seleção dos conteúdos, passando pela própria forma de organização da instituição” (id;ibid,p.51).

23

É necessário que os professores reflitam sobre os valores que são transmitidos

as crianças em seu cotidiano e sobre os valores que pretendem desenvolver, para que

as crianças aprendam os conteúdos atitudinais.

Os conteúdos da Educação Infantil devem ser organizados por blocos. Esse

tipo de organização contempla as dimensões essenciais de cada conteúdo e explicita

suas especificidades. “Por exemplo, é importante que o professor saiba, ao ler uma

história para as crianças, que está trabalhando não só a leitura, mas também, a fala, a

escuta, e a escrita ...” (id;ibid,p.53)

Os conteúdos, compreendidos como instrumentos para analisar a realidade,

devem ser selecionados pelos professores de acordo com o grau de significados que

representam para as crianças e trabalhados de forma integrada e não fragmentada.

As orientações didáticas representam indicações e sugestões para orientar a

prática do professor, explicitando condições relativas à: organização do tempo, do

espaço e dos materiais; observação, registro e avaliação.

A organização do tempo de trabalho educativo com as crianças são agrupadas

em três modalidades : atividades permanentes, seqüência de atividades e projetos de

trabalho.

Atividades permanentes são aquelas que representam às necessidades básicas

de cuidados, aprendizagem e de prazer para as crianças. Consideram-se atividades

permanentes: brincadeiras no espaço interno e externo; roda de história; roda de

conversas, entre outras.

O desenvolvimento das atividades propostas na educação infantil, deve

obedecer uma seqüência, com o objetivo de oferecer desafios com graus diferentes

24

de complexidade para que as crianças consigam realizar gradualmente os problemas

apresentados.

O Referencial também propõe que os professores desenvolvam com as

crianças projetos, isto é, um conjunto de atividades com conhecimentos específicos

que são organizados ao redor de problema, visando resolvê-lo.

A realização de projetos possibilita a criança estabelecer múltiplas relações,

ampliando suas idéias sobre um assunto específico.

A Proposta Curricular para a Educação Infantil estabelece que o professor

planeje e selecione materiais específicos para cada atividade trabalhada com as

crianças.

Para apoiar sua prática, o professor dispõe de outros instrumentos como a

observação, o registro e a avaliação formativa.

“ Por meio deles o professor pode registrar, contextualmente os processos de aprendizagem das crianças; a qualidade das interações estabelecidas com outras crianças, funcionários e com o professor e acompanha os processos de desenvolvimento obtendo informações sobre as experiências das crianças na instituição” (id,ibid,p.53).

Ao registrar suas observações, os professores compõem um rico material de

reflexão que orienta a sua prática educativa propiciando uma avaliação contínua do

seu trabalho pedagógico.

Em relação a avaliação referente a educação infantil, a Lei de Diretrizes e

Bases da Educação, sancionada em dezembro de 1996, estabelece, na Seção II, artigo

31, que: “ ... a avaliação far-se-á mediante o acompanhamento e registro do seu

desenvolvimento, sem o objetivo de promoção, mesmo para o acesso ao ensino

fundamental.”

25

A avaliação tem a função de acompanhar, orientar, regular e redirecionar o

processo de aprendizagem como um todo.

“Para que possa se constituir como um instrumento voltado para reorientar a prática educativa, a avaliação deve se dar de forma sistemática e contínua, tendo como objetivo principal a melhoria da ação educativa” (id;ibid,p.60).

A avaliação constitui-se em um instrumento para que a instituição possa

estabelecer suas prioridades para o trabalho educativo e representa uma forma de

identificar pontos que necessitam de maior atenção e reorientação. Sendo um

processo, do qual, não só professores e alunos estão inseridos, mas também, os pais

que têm o direito de acompanhar os avanços e conquistas dos seus filhos no

processo ensino e aprendizagem.

26

CAPÍTULO III- O DESENVOLVIMENTO INFANTIL

DOS QUATRO AOS CINCO ANOS DE IDADE

Lev Semenovich Vygotsky, nascido e criado na Rússia, viveu na primeira

metade do século XX , afirma que o ser humano se desenvolve através da interação

com o meio em que vive e com os outros seres que fazem parte dele.

Partindo da concepção do Materialismo Dialético de Marx e Engels, que

entende o homem e sua constituição através das relações que este estabelece no meio

de produção, isto é , no trabalho, Vygotsky propõe um novo modo de pensar o

homem e a sociedade, compreendido como perspectiva sócio-histórica.

Para Vygotsky o desenvolvimento e a aprendizagem são processos

necessários entre si, sendo que a aprendizagem precede o desenvolvimento. Isto é, na

medida em que a criança internaliza certos conceitos até então externos a ela,

tornando-os seus, passando do interpessoal para o intrapessoal, ela desenvolve seus

processos psicológicos superiores. Como explica FERREIRO (1995,78):

“é a aprendizagem que possibilita o despertar de processos internos de desenvolvimento que se não fosse o contato do indivíduo com um determinado ambiente cultural, não ocorreriam. Em outras palavras, o homem nasce com certas características próprias da espécie, mas as chamadas funções psicológicas superiores, aquelas que envolvem consciência,

27

intenção, planejamento, ações voluntárias e deliberadas, dependem de processos de aprendizagem.”

Entende-se que o desenvolvimento infantil ocorre gradualmente e com a

permanente contribuição do adulto, que age como um mediador tendo o

compromisso de identificar o conhecimento que a criança já possui criando meios

para que esta adquira novos.

“Cada etapa do desenvolvimento infantil é como um degrau que permite adquirir maturidade para passar ao seguinte. Desde que o adulto lhe dê condições de prosseguir, a criança não se detêm em nenhum degrau. Esse enfoque, fundamental na filosofia educacional, deixa evidente a importância de se identificar o degrau em que a criança se encontra e o degrau que vem a seguir” (GOMES, 1987,p.16).

Vygotsky caracteriza a infância como momento crucial na vida do indivíduo,

pois é nesta fase que se dão as primeiras trocas com o outro e com o meio sócio-

histórico-cultural do qual ele faz parte, sofrendo influência deste e sendo

influenciado.

Na perspectiva sócio-histórica, a linguagem é um instrumento fundamental

No processo de desenvolvimento das potencialidades humanas. Pois é através da

linguagem que os indivíduos se relacionam entre si e com o meio, internalizando e

transmitindo signos e significados com o passar do tempo, dando assim uma

dimensão histórica. O uso de signos permite que a criança, ao fazer parte de um

determinado contexto sociocultural, participe das práticas a ele pertencentes através

de sua relação com os outros indivíduos mais experientes, incorporando tais práticas

no seu comportamento.

Para Vygotsky a linguagem, tanto escrita quanto oral, promove modos

diferentes e abstratos de pensar, de se relacionar com as pessoas e com o

conhecimento, proporcionando a interação do indivíduo com o meio.

Sua teoria demonstra que o desenvolvimento cognitivo resulta da interação

das crianças com outras pessoas, isto é, das relações que estabelecem. A adaptação

28

da criança é bem mais ativa e menos determinista, dando mais ênfase à cultura do

que à herança genética no desenvolvimento cognitivo.

“A teoria de Vygotsky enfatiza o papel do social e da sociedade na produção de uma estrutura para o desenvolvimento da criança e de uma crença de que grande parte da aprendizagem é mediada pelas interações sociais tanto no plano interpessoal como no plano sociocultural. Os processos e o desenvolvimento cognitivos são resultados de interações sociais e culturais tais, que todos os processos psicológicos são inicialmente, sociais e só mais tarde tornam-se individuais” ( LUNT,1995,p.221).

A escola, para Vygotsky, constituiu-se num espaço onde os indivíduos

desenvolvem suas habilidades. Além do que a criança já aprende antes de ingressar

na escola, o que chamamos de socialização primária, que são os primeiros conceitos

e normas de comportamento que ela adquire de forma natural através da interação, a

escola fornece outros tipos mais elaborados e sistematizados, destes e de outros

conceitos e comportamentos, chamamos conceitos científicos. Segundo Vygotsky

(1991), o aprendizado de modo geral e o aprendizado escolar em particular não só

possibilitam como orientam e estimulam processos de desenvolvimento mental da

criança, já que, a aprendizagem propicia o desenvolvimento de novos processos

mentais.

Para explicar essa relação entre desenvolvimento e aprendizagem, Vygotsky

criou o conceito de Zona de Desenvolvimento Proximal, isto é a distância entre o

nível de desenvolvimento real e o nível de desenvolvimento potencial; isto é, o que a

criança é capaz de fazer sozinha e o que ela ainda não consegue, necessitando da

ajuda de alguém mais experiente.

Outro teórico que faz relação do desenvolvimento entre o indivíduo e o meio

é Piaget (1970).

Jean Piaget é originário da Suíça e desde cedo interessou-se por fenômenos

naturais, o que levou-o a cursar a Faculdade de Biologia. Apesar de naturalista,

29

começou a explorar outros campos , principalmente a sistemática dos processos

mentais, entrando em contato com grandes mestres da psiquiatria e psicanálise da

Alemanha e da França.

Para este autor, no processo de interação com o ambiente, a criança

gradualmente desenvolve estruturas psicológicas, compostas de uma série de

esquemas interacionistas.

Assim como Piaget, Vygotsky também assume em sua abordagem

características desenvolvimentistas, apresentando grandes diferenças na concepção

do desenvolvimento cognitivo. Embora ambos autores abordem sobre o

desenvolvimento mental do indivíduo, desde a infância até a adolescência, o

conceito biológico de desenvolvimento de Piaget foi contestado por Vygotsky. Para

este, a adaptação da criança é bem mais ativa e menos determinista, dando mais

ênfase à cultura do que à herança genética no desenvolvimento cognitivo.

A imitação e o ensino, para Vygotsky, põem em evidência as qualidades

especificamente humanas do cérebro e conduzem a criança a atingir novos níveis de

desenvolvimento; o jogo possibilita a criança exercitar no plano imaginativo

capacidades de planejar, imaginar situações, representar papéis e situações

quotidianas, tendo um caráter social em seus conteúdos, onde a regra inerente é a

situação, fazendo com que esta característica espontânea do jogo o torne uma

atividade de grande importância no desenvolvimento da criança.

Piaget considera a questão biológica, Vygotsky a questão social.

Piaget definiu o desenvolvimento humano em Estágios, como forma de

organização da atividade mental, sobre os aspectos: motor, intelectual e afetivo.

Do nascimento até a adolescência, Piaget (1970) distingue quatro estágios:

30

X sensório motor (do nascimento até os 2 anos), o qual, segundo Piaget, é decisivo

para o curso da evolução psíquica, onde ocorre a conquista do meio prático que

cerca a criança, através da percepção e dos movimentos.

X preparação para as operações lógico-concretas (2 a 7 anos), que através da

aquisição da linguagem alteram as condutas no plano afetivo e intelectual,

X

X caracterizando-se pela função simbólica e pelo aparecimento da intuição das

operações.

X Operações lógico-concretas (de 7 anos até a adolescência), aparecimento de

formas de organizações novas, que completam as construções esboçadas no

decorrer do período precedente.

X Lógica formal (a partir da adolescência até a idade adulta), quando o pensamento

lógico alcança seu nível de operatividade adquirindo a forma de uma lógica

proporcional.

Para Piaget as atividades de representação como o jogo, o desenho e

sobretudo a linguagem, têm um papel essencial no desenvolvimento mental, pois

propiciam o início da socialização da ação; a interiorização da palavra, isto é,

aparição do pensamento propriamente dito, que já tem como suporte a linguagem

interior e um sistema de signos; e, a interiorização da ação como tal, que passa do

plano perceptivo e motor para se reconstituir no plano das imagens e das

experiências mentais.

Segundo Piaget, cada etapa do desenvolvimento é caracterizada pela

formação de estruturas diferentes em níveis maiores e menores de forma qualitativa e

quantitativa, garantindo o desenvolvimento de estágios do pensamento infantil.

31

Muitos autores, como Piaget, vêm procurando estabelecer as características

essenciais do processo de desenvolvimento infantil, considerando que embora as

crianças progridam passando pelas mesmas etapas, apresentam diferenças quanto à

idade em que se tornam aptas a executar certas atividades e ao modo como são

capazes de executá-las, pois cada uma possui um ritmo próprio de maturação.

A criança de pré-escola, de 4 à 5 anos, caracteriza-se principalmente por

ampliar seu grupo social , despertando seus interesses para o grupo de amigos, para

atividades que exijam movimentos mais refinados e precisos e para atividades que

envolvam maior concentração e memória.

A partir dos quatro anos de idade a criança desenvolve o equilíbrio físico e

espacial, sendo capaz de realizar algumas atividades como andar de bicicleta de duas

rodas, pular corda, etc.

Nessa idade os jogos de regras são valiosos para o desenvolvimento de

capacidades corporais de equilíbrio e coordenação, além disso, promovem as

primeiras situações competitivas, em que suas habilidades poderão ser valorizadas.

Nessa faixa etária, o professor é quem ajudará as crianças a combinar e cumprir

regras, desenvolvendo atitudes de respeito e cooperação tão necessárias no

desenvolvimento das habilidades desportivas.

No aspecto afetivo a criança adquire hábitos de ouvir e esperar sua vez de

falar; detecta situações novas e atua na nova experiência e relaciona-se com a

professora manifestando maior independência. É capaz de identificar-se com seu

grupo e participar de atividades em conjunto, assim como, participar de situações

sociais.

32

“As atividades, que no maternal tinham um caráter sobretudo exploratório, passam a ser realizadas sistematicamente pela criança, organizando e estruturando ações, até que ela passe a dominá-las com facilidade. Sua linguagem oral, além de ser compreensível, passa a ser composta por um vocabulário bastante rico, onde trocas ou omissões tendem a desaparecer” (MEC,1998,p.8).

Aos quatro anos a criança desenvolve os aspectos relacionados à linguagem

compreensiva (decodificação, interpretação de mensagem) e a linguagem expressiva

(codificação, expressão lingüística) .Discrimina e identifica sons semelhantes e

diferentes, completa palavras significativas verbalmente, a partir de sílabas iniciais,

transmite pequenos recados imediatos, constrói séries com material concreto,

respeitando critérios preestabelecidos.

Nesse período inicia-se a socialização, o outro passa a ter um papel fundamental

no desenvolvimento da criança, pois através do relacionamento a criança percebe

algumas diferenças existentes; como o corpo da mulher e o corpo do homem.

A criança desenvolve com mais freqüência movimentos com o cotovelo, pulso e

dedos em plano horizontal e vertical; representa ações significativas no desenho,

realiza movimentos gráficos de cima para baixo.

Aos cinco anos a criança é capaz de dominar o ambiente escolar, sentindo-se

segura nas dependências da escola; expressa suas emoções e solicita apoio quando

necessita; age dentro dos limites de sua idade; relaciona-se com pequenos grupos,

participando de atividades em conjunto.

“O relacionamento com pequenos grupos começa a ampliar-se e é possível propor atividades conjuntas, pois a criança começa a desenvolver o sentido do respeito aos brinquedos dos demais, aumentando a tolerância frente a outras criança” (id;ibid,p.8)

Nessa idade a criança vivência situações diversificadas que desenvolvem

diferentes habilidades motoras. Já é capaz de organizar e estruturar o controle de seus

33

movimentos, respeitando ordens de parada em movimentos corporais; coordenar

movimentos de braços e pernas, em movimentos simultâneos e organizar

movimentos de relaxamento e contração.

A criança nessa idade desenvolve o senso crítico, consegue interpretar

gravuras e histórias, articula corretamente a maioria das palavras; expressa-se

verbalmente, empregando conceitos adquiridos anteriormente sobre objetos.

Nessa fase a criança identifica-se como aluno e como parte de um grupo;

diferencia a função da professora dos demais profissionais da escola; torna-se

gradualmente mais independente da professora.

Aos cinco anos a criança desenvolve o pré-grafismo,

“traça linhas e formas simples adequando gradativamente ritmo contínuo; elabora desenhos que apresentem elementos interligados e linha base ; representa figura humana integrada, inicia a adequar pressão e apreensão no manejo do lápis e pincel, realiza movimentos gráficos simples, obedecendo o sentido esquerda-direita” (id;ibid,p.13).

Ao aproximar-se dos seis anos as crianças despertam o interesse por letras e

números e muitas, já expressam hipóteses que têm acerca de como se dá a escrita.

Nessa idade a criança joga com criatividade e imaginação, jogos de dominó,

memória, quebra-cabeças, são os de maior preferencia dessa faixa etária. Livros com

curiosidades, informações e histórias em seqüência prendem, sua atenção.

Dos 4 aos 5 anos, a criança desenvolve o interesse espontâneo por tudo o que

é proposto, possibilitando um planejamento diversificado, que abranja as principais

áreas do conhecimento, no sentido de proporcionar um ambiente enriquecedor para

o desenvolvimento do pensamento.

34

CAPÍTULO IV- PSICOMOTRICIDADE E O

DESENVOLVIMENTO INTELECTUAL DA CRIANÇA

A Psicomotricidade engloba toda a ação realizada pelo indivíduo, que

represente suas necessidades e permitem sua socialização com outro e com o meio.

Consiste na relação entre o pensamento e a ação, envolvendo funções

neurofisiológicas e psíquicas.

“A Psicomotricidade consiste na unidade dinâmica das atividades, dos gestos , das atitudes e posturas, enquanto sistema expressivo, realizador e representativo do “ser em ação” e da “coexistência” com outrem” (CHAZAUD, 1976,p.12).

A função motora, o desenvolvimento intelectual e o desenvolvimento afetivo

estão intimamente ligados na criança, a psicomotricidade quer justamente destacar a

relação existente entre a motricidade, a mente e a afetividade e facilitar a abordagem

global da criança por meio de uma técnica e uma educação pelo movimento.

35

A motricidade , segundo Fátima Alves, é o resultado da ação do sistema

nervoso sobre a musculatura, isto é, a resposta à estimulação sensorial. O psiquismo

refere-se ao conjunto de sensações, percepções, imagens, pensamentos, etc.

As crianças engatinham, caminham, manuseiam objetos, correm, saltam,

brincam sozinhas ou em grupo, com objetos ou brinquedos, experimentando sempre

novas maneiras de utilizar seu corpo; esses movimentos incorporam-se aos

comportamentos dos homens, constituindo-se assim numa cultura corporal.

O movimento humano é considerado mais do que simples deslocamento do

corpo, constitui-se uma importante dimensão do desenvolvimento; isto é, uma

linguagem que permite às crianças agirem sobre o meio físico adquirindo maior

controle sobre seu corpo apropriando-se das possibilidades de interação com o

mundo.

Diferentes manifestações dessa linguagem foram surgindo, como a dança, o

jogo, as brincadeiras, as práticas esportivas etc., nas quais se faz uso de diferentes

gestos, posturas e expressões corporais com intencionalidade. Através dos

movimentos as crianças expressam sentimentos, emoções e pensamentos, ampliando

as possibilidades do uso significativo de gestos e posturas corporais.

Trabalhar com o movimento significa contemplar a multiplicidade de funções

e manifestações do ato motor, propiciando um amplo desenvolvimento de aspectos

específicos da motricidade das crianças, abrangendo uma reflexão acerca das

posturas corporais implicadas nas atividades cotidianas, bem como atividades

voltadas para a ampliação da cultura corporal de cada criança.

É importante que esse trabalho incorpore a expressividade e a mobilidade

própria de cada criança.

“Cada criança é única. O esquema do desenvolvimento é comum a todas as crianças, mas as diferenças de caráter, as possibilidades físicas, o meio e o ambiente familiar explicam

36

que com a mesma idade crianças perfeitamente “normais” possam comportar-se de maneiras diferentes” (ALVES,2003,p.17).

Gradativamente, o movimento começa a submeter-se ao controle voluntário,

o que se reflete na capacidade de planejar e antecipar ações, isto é, pensar antes de

agir.

A educação infantil reflete diferentes concepções quanto ao sentido e funções

atribuídas ao movimento.

Algumas práticas educativas procuram simplesmente suprimir o movimento,

impondo às crianças de diferentes idades rígidas restrições posturais. A permanente

exigência de contenção motora pode estar baseada na idéia de que o movimento

impede a concentração e a atenção da criança. No entanto, os gestos e as posturas

não atrapalham a aprendizagem, ao contrário é a impossibilidade de mover-se ou de

gesticular que pode dificultar o pensamento e a manutenção da atenção.

Outras práticas, apesar de também visarem a ordem e a disciplina, propõem

exercícios de deslocamento em que a criança deve mexer seu corpo, obedecendo as

orientações do professor ou ainda, reservam curtos intervalos em que a criança é

solicitada a se mexer para despender sua energia física. Essas práticas limitam as

possibilidades de expressão , impedindo que a criança tome iniciativas próprias.

Através do movimento as crianças fortalecem os músculos e os ossos; além

disso trabalham a respiração e a circulação.

Percebe-se que o movimento é fundamental para o desenvolvimento físico,

intelectual e emocional da criança.

É necessário que as práticas educativas considerem as necessidades e

interesses da criança, “não tendo em vista apenas um objetivo particular, por

37

exemplo, a aprendizagem da leitura e da escrita; ou em função de uma filosofia e

ainda menos em função de uma tradição” (ALVES,2003,p.18).

A determinação do estágio de desenvolvimento da criança favorece o

conhecimento das suas necessidades e de seus interesses; estabelecendo condutas

educativas que contribuam para os diversos aspectos de desenvolvimento e

conhecimento.

Segundo Fátima Alves, no exame psicomotor distingui-se três fases de

desenvolvimento:

A primeira fase ocorre no período de zero a dois anos de idade, quando inicia-

se a evolução das posturas: sentada e de pé . As crianças respondem à estímulos

sensoriais.

A segunda fase corresponde ao estágio global e sincrético; a criança já é

capaz de fazer a representação do seu corpo. Ocorre no período de dois a cinco anos

de idade.

Nesta fase a criança desenvolve alguns comportamentos como: a coordenação

óculo manual, a coordenação dinâmica geral, o equilíbrio, o controle do próprio

corpo, a organização perceptiva e a linguagem.

E a terceira fase ocorre dos seis aos doze anos, é o estágio de aperfeiçoamento

e diferenciação.

Neste estágio a criança desenvolve a coordenação manual, a organização do

espaço e a rapidez de execução.

No período de cinco a seis anos constata-se uma ampliação do repertório de

gestos instrumentais, os quais contam com progressiva precisão. Desenvolvem

atividades que exigem coordenação de vários segmentos motores e o ajuste a objetos

38

específicos, como recortar, colar, encaixar pequenas peças, etc. Começa a etapa de

maturação intelectual e motora.

Os controles adquiridos dão lugar as complexas tarefas de iniciação escolar,

nas quais, a simultaneidade de movimentos exigidos solicitará da criança um esforço

enorme de caráter psicomotor, onde a atenção ocupa um papel tão importante como

as capacidades motrizes de acomodação postural para o ato motor da escrita e o

manejo bimanual dos objetos que deve utilizar para isso.

“As fase do desenvolvimento psicomotor não devem ser consideradas apenas segundo um quadro de maturação neurológica, mas como resultado de um processo reacional e relacional complexo” (ALVES,2003,p.31).

No início do desenvolvimento predomina a dimensão subjetiva da

motricidade, que encontra sua eficácia e sentido principalmente na interação com o

meio social; aos poucos que se desenvolve a dimensão objetiva do movimento, que

corresponde às competências instrumentais para agir sobre o espaço e meio físico.

É principalmente por meio do seu desenvolvimento psicomotor que a criança

transforma-se numa pessoa fisicamente livre e independente.

“No ser humano, psiquismo e motricidade são interdependentes. Não se pode falar em movimento que exclua por completo elementos mentais, nem pensamento isento de qualquer elemento corporal. Em outras palavras, não há pensamento sem corpo, atitudes ou movimentos, que não implique um certo domínio mental” (GOMES,1987,p.21).

O estudo sobre a psicomotricidade é recente, no início, a pesquisa teórica

baseou-se no desenvolvimento motor da criança, depois, concentrou-se na relação

entre o atraso no desenvolvimento motor e intelectual da criança e após seguiram-se

os estudos sobre o desenvolvimento da habilidade manual e aptidões motoras.

39

Atualmente o estudo da psicomotricidade ultrapassa os problemas motores,

pois, está aliado à lateralidade, à orientação temporal e a estruturação espacial além

das dificuldades escolares de crianças de inteligência normal.

“A psicomotricidade tem como objetivo desenvolver o aspecto comunicativo do corpo, o que equivale a dar o indivíduo a possibilidade de dominar seu corpo, de economizar sua energia, de pensar seus gestos a fim de aumentar-lhes a eficácia e a estética de completar e aperfeiçoar seu equilíbrio” (GOMES,1987,p.21).

A Psicomotricidade, segundo GOMES, pode ser subdividida em áreas

psicomotoras que agem quase sempre vinculadas umas às outras, são elas:

Ü Comunicação e expressão : através da linguagem o indivíduo troca

experiência e expressa-se verbalmente e gestualmente com o mundo, iniciando

seu processo de socialização.

Ü Percepção: é a capacidade que o indivíduo tem de reconhecer e compreender

estímulos recebidos. Os estímulos provocam sensação que possibilita a percepção

e a discriminação. O sentir ocorre, primeiramente, através dos sentidos: tato,

visão, audição, olfato e paladar. Em seguida realiza-se uma mediação entre o

sentir e o pensar. E finalmente, realiza-se a discriminação, isto é, passa-se a

reconhecer as diferenças e as semelhanças entre estímulos e percepções.

Ü Coordenação: a coordenação motora supõe integridade e maturação do

sistema nervoso; está ligada ao desenvolvimento físico e consiste na união

harmoniosa de movimentos. Subdivide-se a coordenação motora em coordenação

dinâmica global ou geral que envolve movimentos amplos com todo o corpo;

coordenação visomanual que engloba movimentos dos pequenos músculos em

40

harmonia e coordenação visual que refere-se a movimentos específicos com os

olhos nas mais variadas direções.

As atividades psicomotoras relacionadas a área de coordenação estão

subdivididas em três áreas: orientação, conhecimento corporal e lateralidade e

habilidades conceituais.

A orientação espacial e temporal corresponde à organização intelectual do

meio, isto é, ao processo de adaptação do indivíduo ao ambiente e está ligada à

consciência, à memória e às experiências do indivíduo uma vez que “toda nossa

percepção do mundo é uma percepção espacial, na qual o corpo (que não se reduz,

nem para o interior, nem para o exterior, à superfície da pele) é o termo de

referência” ( COSTE, 1981,p.7).

Por meio de todos os sentidos a criança percebe que o seu corpo ocupa um

espaço no ambiente em função do tempo, capta imagens, recebe sons, sente cheiros e

sabores, dor e calor, movimenta-se.

O conhecimento corporal permite que a criança tenha consciência de seu

corpo e das possibilidades de expressar-se por meio dele. Este conhecimento abrange

a representação visual do corpo, o conceito corporal, isto é, o conhecimento

intelectual sobre partes e funções e o esquema corporal que refere-se a percepção e o

controle do próprio corpo.

A lateralidade corresponde à percepção dos lados direito e esquerdo e da

função de cada um desses lados visto que sua distinção manifesta-se ao longo do

desenvolvimento e da experiência do indivíduo.

A lateralidade pode ser homogênea, quando a criança é destra ou canhota do

olho, da mão e do pé; cruzada, quando a criança é destra da mão e do olho e canhota

41

do pé; e ambidestra, a criança é tão forte e destra do lado esquerdo quanto do lado

direito.

Segundo Coste, a lateralidade compreende a localização do próprio corpo, a

projeção de pontos referenciais a partir do corpo e, depois, organização do espaço

independente do corpo.

Observa-se que de início a criança não distingue os dois lados do corpo, aos

pouco ela compreende que os dois braços encontram-se um em cada lado, no entanto

ainda não distingue os lados “direito” ou “esquerdo”. Somente aos cinco anos, a

criança aprende a diferenciar uma mão da outra e um pé do outro, assim como um

olho do outro. Aos seis anos desenvolve a noção de suas extremidades direita e

esquerda e a noção dos órgãos pares. Aos sete anos, ela já sabe com precisão quais

são as partes direita e esquerda do seu corpo.

Segundo Kamii as atividades psicomotoras representam pré-requisitos para o

desenvolvimento do raciocínio lógico-matemático, incluindo as habilidades

conceituais como uma área psicomotora. Pois:

“Na medida em que brinca com formas , quebra-cabeças, caixas ou panelas, a criança adquire um a visão dos conceitos pré-simbólicos de tamanho, número e forma. Ela enfia contas no barbante ou coloca figuras em quadros e aprende sobre seqüência e ordem; aprende frases: ‘acabou, não mais, muito’, o que amplia suas idéias de quantidade” (GOMES,1987,p.23).

Percebe-se que a criança desenvolve o conhecimento lógico-matemático,

pela coordenação das relações que anteriormente estabeleceu entre os objetos. A

construção do conhecimento físico, depende de um sistema de referência lógico-

matemático que possibilite a criança relacionar novas observações a partir do

conhecimento já existente.

42

As habilidades psicomotoras favorecem o bom desempenho da criança no

processo de alfabetização, uma vez que, segundo Gomes (1987), a aprendizagem da

leitura e da escrita exige habilidades como:

Ü dominância manual já estabelecida(área de lateralidade);

Ü conhecimento numérico suficiente para saber, por exemplo, quantas

voltas existem nas letras m e n, ou quantas sílabas formam uma

palavra.(área de habilidades conceituais);

Ü movimentação dos olhos da esquerda para a direita, domínio de

movimentos adequados (área de coordenação visual e manual);

Ü discriminação de sons (área de percepção auditiva);

Ü adequação da escrita às dimensões do papel, reconhecimento das

diferenças dos pares b/d, q/d, p/q etc., orientação da leitura e da escrita da

esquerda para a direita, manutenção da proporção de altura e largura das

letras, manutenção de espaço entre as palavras e escrita orientada pelas

pautas (áreas de percepção visual, orientação espacial, lateralidade,

habilidades conceituais);

Ü pronúncia adequada de vogais, consoantes, sílabas, palavras(área de

comunicação e expressão);

Ü noção da linearidade da disposição sucessiva de letras, sílabas e

palavras(área de orientação têmporo-espacial);

Ü capacidade de decompor palavras em sílabas e letras(análise);

43

Ü possibilidade de reunir letras e sílabas para formar novas palavras

(síntese).

A aprendizagem na leitura e na escrita, de acordo com as experiências

científicas, depende do amadurecimento fisiológico, emocional, neurológico,

intelectual e social da criança.

Desde a educação infantil a criança tem experiências de leitura e escrita. Para

dominar a linguagem escrita, isto é, para passar da fase do simbolismo à

compreensão do código gráfico é necessário que a criança apresente um domínio da

linguagem, mesmo que tenha um vocabulário restrito e receba certa orientação no

espaço e no tempo. Isto requer um trabalho psicomotor gradativo que vai da

educação infantil e estende-se ao ensino fundamental.

É importante que a criança tenha um contato com os símbolos gráficos,

percebendo que além do código sonoro há também o código gráfico. A utilização dos

desenhos com legendas, a escrita do próprio nome da criança e sobrenome, serve de

estímulo para que a criança descubra o sistema simbólico feito não mais de sons, mas

de sinais gráficos.

Observa-se que a educação psicomotora auxilia a criança a ingressar no nível

de desenvolvimento psicoafetivo e funcional. Por esse motivo, desde as séries

iniciais é importantíssimo para o aluno que o trabalho de educação psicomotora seja

bem orientado e desenvolvido, para que não haja comprometimento no processo de

aprendizagem da leitura e da escrita.

44

CAPÍTULO V- AS ATIVIDADES PSICOMOTORAS REALIZADAS POR PROFESSORES DE UMA

ESCOLA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE SÃO GONÇALO

A educação psicomotora na idade escolar deve ser antes de tudo uma

expectativa ativa de confrontação com o meio. A ajuda educativa dos pais e do meio

escolar, tem a finalidade não de ensinar a criança comportamentos motores, mas sim

permitir-lhe mediante o jogo, exercer uma função de ajustamento, individualmente

ou com outras crianças.

Consciente que as habilidades psicomotoras são essenciais ao bom

desempenho no processo de alfabetização algumas professoras do ensino infantil

realizaram alguns exercícios.

Trabalhando o esquema corporal

45

O conhecimento intuitivo imediato que a criança tem do próprio corpo é

capaz de gerar as possibilidades de atuação da criança sobre as partes do seu corpo,

sobre o mundo e sobre os objetos que a cercam.

Exercício 1

Reconhecendo as partes essenciais do corpo – a professora diz os nomes das

seguintes partes do corpo: cabeça, peito, barriga, braços, pernas, pés, explorando uma

parte por vez. A criança mostra em si mesma a parte mencionada pelo profissional,

respeitando o nome que designa. Primeiramente o trabalho é realizado de olhos

abertos em seguida de olhos fechados.

Olhos abertos: Aprendizado.

Olhos fechados: Quando dominar as parte do corpo.

Exercício 2

A criança deve reconhecer as partes da face: nariz, olhos, boca, queixo,

sobrancelhas, cílios, trabalha também com os dedos com a mão apoiada sobre a mesa

a criança apresenta o pulso, o dedo maior e o dedo menor, os nomes dos dedos são

ensinados a criança pedindo que ela levante um a um dizendo os respectivos nomes

dos dedos.

Exercício 3

Trabalhando com os olhos- Em pé ou sentada a criança acompanha com seus

olhos sem mexer a cabeça, a trajetória de um objeto que se desloca no espaço.

Exercício 4

46

Sentindo os rins – Deitada com as pernas estendidas e as mãos sobre os rins a

criança dobra os joelhos e encosta-os no peito. A professora comenta com a criança

que a parte do corpo que se apoia com força sobre suas mãos chama-se rins.

Exercício 5

Automatizando a noção de direita e esquerda – Conhecendo a direita e a

esquerda do próprio corpo; a professora mostra a criança qual é a sua mão direita e

qual é a sua mão esquerda. Dominando este conceito, a criança realiza o exercício

em etapas, com movimentos coordenados pela professora:

- fecha com força a mão direita;

- depois a esquerda;

- levanta o braço direito;

- depois o esquerdo;

- bate o pé esquerdo;

- depois o direito;

- mostra o olho direito;

- depois o esquerdo;

- mostra a orelha direita;

- depois a esquerda;

- levanta a perna direita

- depois a esquerda.

Primeiramente a professora trabalha com as crianças de olhos abertos e

quando dominam o exercício pede que as crianças fechem os olhos.

Exercício 6

Localizando elementos na sala de aula. A criança diz de que lado está a porta,

a janela, a mesa da sala de aula, etc. em relação a si mesma. Durante a realização do

exercício, a professora não permite a criança cruzar os braços, pois isso dificulta sua

orientação espacial.

47

Trabalhando a coordenação óculo-manual

A finalidade dos exercícios de coordenação óculo-manual é desenvolver o

domínio do campo visual, associado a motricidade fina das mãos.

Exercício 1

Este jogo realizou-se em duas etapas:

Primeira etapa: A criança bate a bola no chão, apanhando-a inicialmente com

as duas mãos, depois ora com a mão direita, ora com a mão esquerda. No início a

criança deverá trabalhar livremente. Numa segunda etapa o professor determinará

previamente com qual das mãos a criança deverá apanhar a bola.

Segunda etapa: A criança joga a bola para o alto com as duas mãos,

apanhando-a com as duas mãos também. Em seguida, joga a bola para o alto com

uma só mão, apanhando-a com uma só mão.

A professora varia o uso das mãos. Ora com a direita, ora com a esquerda.

Exercício 2 – Jogo de pontaria no chão

A professora desenha um círculo no chão , as crianças jogam a bola dentro do

círculo.

A professora aumenta gradativamente a distância, variando a meta; ora a

criança precisa jogar a bola na frente do círculo, ora atrás, do lado esquerdo e do lado

direito do círculo.

Trabalhando a coordenação dinâmica geral

48

Estes exercícios possuem a função de equilíbrio, que é a base essencial da

coordenação dinâmica geral, que possuem a finalidade de melhorar o comando

nervoso, a precisão motora e o controle global dos deslocamentos do corpo no tempo

e no espaço. Constituem-se de exercícios de marchas e saltos. São apresentados

exercícios em que a criança, a nível de experiências vividas, manipula conceitos

espaciais importantes para o seu preparo para a alfabetização.

Os conceitos espaciais: direita, esquerda, atrás, na frente, entre, perto, longe,

maior, menor, são vivenciados através de movimentos específicos. A partir daí, a

professora propõe exercícios com maior intensidade. Coloca-se a medição de um

raciocínio, de uma reflexão sobre os dados vivenciados no primeiro nível. Dessa

forma, permite a criança passar para a etapa estruturação temporal requerida para o

aprendizado da leitura e da escrita.

Exercício 1- Andando, saltando e equilibrando-se

- Andando de cabeça erguida na quadra

A criança anda com um livro sobre a cabeça. Dominada esta etapa a criança

para, levanta uma perna formando um angulo de noventa graus e coloca lentamente o

livro no chão. O mesmo trabalho é feito com a outra perna.

- Desafio – Quem alcança?

A professora segura o livro a uma determinada altura e a criança salta para

alcança-lo. Inicialmente a criança faz o exercício de pé, depois de cócoras.

Trabalhando a motricidade fina das mãos e dos dedos

49

Os exercícios de motricidade fina são muito importantes para a criança,

evitando a apreensão e a prisão inadequadas que tanto prejudicam o grafismo,

tornando o ato de escrever uma experiência aversiva à criança.

Exercício 1- de motricidade fina

A professora trabalha só com os braços – Este exercício tem como objetivo

desenvolver a independência segmentar do braço em relação ao tronco, o que

beneficia e facilita o trabalho da mão no ato de escrever. Apresenta-se uma série de

gráficos que o professor produz em tamanho grande no quadro de giz. As crianças

por sua vez reproduzem com gestos executados no ar.

Exercício 2- Amassando a massa

A professora distribui à classe bolas de massa de tamanhos variados. Sentada,

com o cotovelo apoiado dobre a carteira, a mão para o alto, a criança aperta as bolas

de massa com força, amassando-as. A criança é orientada pela professora a trabalhar

com dois dedos por vez. Trabalha primeiro com uma das mãos, depois com a outra e,

finalmente, com as duas juntas.

Exercício 3- Fazendo as bolas de massa

A professora realiza o mesmo trabalho do exercício anterior, neste caso,

porém, a massa é apresentada em forma de disco, com a qual a criança faz uma bola.

Trabalhando a organização e estruturação temporal

Este trabalho desenvolve noções importantes para o aprendizado da escrita e

particularmente da leitura, favorecendo o desenvolvimento da atuação da memória.

A estruturação temporal fornecerá as possibilidades de alfabetizar-se.

50

Exercício 1 – Reproduzindo ritmos com as mãos

A professora executa um determinado ritmo, seguindo algumas estruturas

rítmicas batendo a mão sobre a carteira durante um certo tempo. A criança apenas

escuta, depois, reproduz o ritmo executado pela professora, batendo a mão sobre a

carteira também, variando o ritmo, lento, normal e rápido de acordo com as

instruções da professora.

Exercício de organização e Estruturação Espacial

A professora desloca a cadeira no espaço, a criança coloca a cadeira ora à sua

frente, ora atrás, ora a direita, ora a esquerda, segundo o comando da professora.

Em todos estes exercícios a professora deixou a criança buscar seus próprios

recursos, buscando soluções a seu nível. Após a realização das atividades conversou

com as crianças sobre o que foi sentido, sobre as suas impressões a respeito dos

movimentos executados. Elogiando a todas as crianças igualmente, evitando um

estado de ansiedade e frustração daqueles que não conseguiram atingir o objetivos

dos exercícios.

Estes exercícios promovem o desenvolvimento do aspecto comunicativo do

corpo, dando a criança a possibilidade de dominar seu corpo e aperfeiçoar seu

equilíbrio, assim como facilita o desenvolvimento do aprendizado da leitura e da

escrita.

Outros exercícios de esquema corporal trabalhados pelas professoras foram:

Percorrendo labirintos

A criança anda formando uma espécie de labirinto, seguindo comandos da

professora. Dar dois passos para a direita, três passos para a esquerda, um para trás,

51

três para frente. Inicialmente trabalha-se com as crianças de olhos abertos e , a

seguir, de olhos fechados, criando vários tipos de labirinto.

Este exercício tem como objetivo trabalhar as noções de direita e esquerda.

Devolvendo moedas

A criança segura cinco moedas ou fichas de plástico na mão. Colocando-as

uma a uma sobre a carteira, sem deixá-las cair no chão.

O trabalho é feito ora com ritmo lento, ora com ritmo rápido, segundo o

comando da professora.

Este exercício trabalha a motricidade fina

Emitindo e transcrevendo sons

Uma criança emite um som. O professor vai desenhando uma linha no

quadro-de-giz, acompanhando o som emitido. Só para, quando a criança fica em

silêncio.

Emitindo e transcrevendo sons

Realiza-se o mesmo trabalho do exercício anterior. Dessa vez, porém, duas

crianças trabalham juntas: uma emite o som e a outra o transcreve no quadro-de-giz.

Comparando a duração de sons

O professor emite um som e ele próprio o transcreve com um traço no

quadro-de-giz. Emite um segundo som, mais breve que o primeiro, e o transcreve

52

logo abaixo do anterior. O professor pede a comparação dos sons, perguntando à

crianças qual o som mais longo e qual o mais breve.

Trabalhando com músicas

Em um primeiro momento, a criança ouve a música e procura marcar a

cadência através de palmas, batendo as mãos ou lápis sobre a carteira. Em seguida,

marcha de acordo com a cadência da música. Ela executa livremente gestos e passos

como acompanhamento. O trabalho é realizado em grupo de sete crianças.

Estas atividades têm com objetivo trabalhar a organização e estruturação

temporal.

Com o objetivo de estimular a coordenação visomotora das crianças a

professora realizou o seguinte jogo:

Batata quente

Formação inicial: sentam-se em círculo; um participante fica no centro

segurando uma bola de meia que representa a batata quente.

Desenvolvimento: quem está no centro joga a “batata” para qualquer criança do

círculo, dizendo; “Batata quente”. A criança que recebe a “batata” joga

imediatamente para outro participante, e assim sucessivamente, até que todos tenham

a oportunidade de pegar e lançar a bola de meia representando a batata quente.

Reinicia-se o jogo com outra criança no meio do círculo.

Para trabalhar a coordenação motora ampla a orientação temporal e

discriminação auditiva, a professora trabalhou o seguinte jogo:

Vôo das borboletas

53

Formação inicial: de um lado ficam as crianças que serão as borboletas. No lado

oposto, coloca-se latas vazias, representando flores.

Desenvolvimento: a um sinal, as crianças começam a correr na ponta dos pés,

elevando e abaixando os braços, imitando as borboletas voando em direção às flores.

Num dado momento, a professora faz outro sinal previamente combinado (palmas),

simbolizando que o Sol está se escondendo. As borboletas devem chegar nas flores

antes que o Sol se esconda, isto é, antes do sinal ser dado.

Para trabalhar a coordenação motora ampla e a linguagem, a professora

propôs o seguinte jogo:

Gato e rato

Formação inicial: As crianças ficam em círculo, de mãos dadas. Fora do círculo fica

uma criança, que será o gato, e dentro fica outra, que será o ratinho.

Desenvolvimento: as crianças da roda vão girando, enquanto a criança que representa

o gato inicia o diálogo:

_ Seu ratinho está em casa?

_ Não, senhor?

_ A que horas voltará?

_ Às doze horas?

_ Que horas são?

_ Uma hora.

_ Que horas são?

_ Duas horas.

54

E assim sucessivamente até chegar a hora que as crianças determinam para a

volta do rato. A roda pára de girar e o gato pergunta às crianças do círculo:

_ Seu ratinho já chegou?

_ Sim, senhor.

_ Dá licença para entrar?

_ Sim, senhor.

O gato começa a perseguir o rato, tentando pegá-lo. O jogo recomeça após terem

sido escolhidas duas outras crianças para serem o gato e o rato.

Para trabalhar a coordenação motora e a orientação espacial a professora

realizou os seguintes jogos:

Fuga dos pássaros

Formação inicial: A professora forma um círculo com três participantes que

ficam no interior do círculo e representam os pássaros.

Desenvolvimento: As crianças da roda giram, enquanto cantam uma música

qualquer. Quando terminam, os pássaros procuram fugir, tentando sair do círculo,

por debaixo dos braços de seus colegas, que, por sua vez, tentam impedir a fuga dos

pássaros. O jogo recomeça com a escolha de outras crianças que imitarão os

pássaros.

Boca de forno

Formação inicial: na quadra da escola a professora reúne as crianças e escolhe

um aluno para representar o mestre.

55

Desenvolvimento: o mestre inicia o diálogo e os demais participantes

respondem:

_ Boca de forno.

_ Forno.

_ Assar bolo.

_ Bolo.

_ Farão tudo o que o mestre mandar?

_Faremos tudo com muito gosto.

O mestre dá ordens, que serão executadas por todos. Por exemplo;

- imitar um sapo;

- dançar;

- pular;

- dar um passo à frente.

O jogo recomeça com a escolha de outra criança que fará o papel de mestre.

Coelhinho na toca

Formação inicial: os participantes formam um grande círculo em trios; dois

ficam de mãos dadas formando a toca e o terceiro fica no meio, representando o

coelhinho. No centro do círculo ficam duas ou mais crianças que serão os coelhinhos

sem toca.

Desenvolvimento: a um sinal combinado, todos os coelhos mudam de toca, e

as crianças que estão no centro da roda tentam ocupar um dos lugares vagos. Os que

ficarem sem toca irão para o centro, dando continuidade ao jogo.

Jogo das estátuas

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Formação inicial: permanecer um ao lado do outro, sobre uma linha traçada

no chão. A uma distância de 10 a 12 metros fica um jogador, de costas para o grupo.

Desenvolvimento: dado o sinal de início, a criança que está de costas para o

grupo conta rapidamente até um número inferior a dez, enquanto as outras avançam,

andando ou correndo, procurando alcançá-la. De repente, esta interrompe a contagem

e volta-se de frente para os companheiros, que devem parar o grupo, vir alguém

ainda em movimento, fará este jogador retroceder à linha de partida para recomeçar.

Os demais permanecem no lugar onde pararam. A criança destacada volta-se

novamente de costas para o grupo e recomeça a contagem, procedendo sempre da

mesma forma, até algum jogador alcançá-la. Quem primeiro tocar a criança que

estiver contando, irá substituí-la.

Corrida dos sacis

Formação inicial: marcar uma linha de partida e, alguns metros à frente,

marcar a linha de chegada. As crianças ficam atrás da linha de partida, uma ao lado

da outra.

Desenvolvimento: dado um sinal, os participantes saem pulando num pé só

até a linha de chegada. Caberá a vitória aos quatro primeiros jogadores a transpô-la.

Bom-dia

Formação inicial: as crianças ficam em círculo, de mãos dadas. No interior da

roda fica um jogador com os olhos vendados.

Desenvolvimento: o círculo gira para a direita ou para a esquerda. Quando o

jogador do centro bate palmas, o círculo pára. O jogador do centro aponta para o

círculo e a criança que está na direção aponta e diz: _ Bom dia. A criança do centro

tenta reconhecer, pela voz, seu colega, dizendo-lhe o nome. Caso erre, terá a

oportunidade de apresentar mais dois nomes. Se errar, será eliminada do jogo; se

acertar vai para a roda, substituindo a criança apontada que vai para o centro.

57

Lobos e carneirinhos

Formação inicial: três crianças são os lobos, enquanto as demais são os

carneiros. Marcar no chão duas linhas, afastadas vários metros um da outra. Atrás de

uma linha ficam os carneiros, no seu refúgio. Atrás da outra linha ficam os lobos, de

costa para os carneiros.

Desenvolvimento: dado um sinal, os carneiros saem do seu refúgio e

começam a andar silenciosamente em direção aos lobos. Quando estiverem se

aproximando deles, a professora diz: _ “Cuidado com os lobos! Estes, então, voltam-

se rapidamente e partem em perseguição aos carneiros, que devem correr em direção

ao seu refúgio, onde estarão a salvo. Os carneiros apanhados antes de alcançar a

linha do refúgio passam a ajudar os lobos.

Dança das cadeira

Formação inicial: A professora coloca seis cadeiras lado a lado , formando

duas colunas de cadeiras. Oito participantes ficam enfileirados, em volta das

cadeiras.

Desenvolvimento: a professora coloca uma música ou bate palmas, e todos

andam ao redor das cadeiras, e bem perto delas. De repente, a professora pára a

música e cada jogador deve sentar-se na cadeira mais próxima. Aquele que fica em

pé é eliminado. Tira-se uma cadeira em cada rodada e o jogo recomeça com um

menor número de elementos e de cadeiras. Vence o jogador que conseguir sentar até

a última rodada, quando resta apenas uma cadeira.

58

CONCLUSÃO

A escola reproduz a sociedade que temos com ensino fragmentado que não dá

conta da aprendizagem das camadas populares; pois não chega a realidade do

educando, e tende, a responsabilizar a família ou o aluno pelo seu fracasso.

Na realidade, a escola, prefere na maioria das vezes, esperar que a criança

possa se adequar à forma tradicional de ensino, sem que haja alguma informação

59

específica ao professor acerca dessas dificuldades. Receber a criança, sem as devidas

mudanças, significa contribuir para o seu insucesso escolar, com o agravamento de

uma série de insatisfação e angustia.

O processo de marginalização ,às vezes, ocorre, no interior da escola

primária que sendo parte da sociedade desigual dividida em classe e marcada por

interesses antagônicos, sofre o condicionamento desse conflito reproduzindo, através

das práticas que realiza, a dinâmica existente no contexto social, induzindo a um

círculo vicioso.

Diante de tal contexto é necessário repensar o papel da escola. O aluno

precisa perceber o sentido do aprender. Os conteúdos devem ser trabalhados

associados a realidade do educando, valorizando a sua vivência sócio-cultural, só aí

então, haverá melhor compreensão do por quê aprender

A criança é um ser social que nasce com capacidades afetivas, emocionais e

cognitivas. Desperta o desejo de estar próxima às pessoas e é capaz de interagir e

aprender com elas de forma que possa compreender e influenciar seu ambiente.

Para desenvolver-se, as crianças necessitam ampliar suas relações sociais,

interações e forma de comunicação. A aprendizagem acontece na interação com os

outros, a criança também utilizam de recursos como a imitação, o faz –de- conta a

oposição, a linguagem e a apropriação da imagem corporal para desenvolver-se.

A brincadeira é uma das atividades fundamentais para o desenvolvimento da

identidade e da autonomia. Brincando as crianças desenvolvem capacidades

importantes, tais como a atenção, a imitação, a memória e a imaginação.

Amadurecem também a capacidade de socialização, por meio da interação e da

utilização e experimentação de regras e papéis sociais.

60

O esquema corporal propicia o desenvolvimento de habilidades significativas

para o processo ensino-aprendizagem, contribuindo diretamente para o domínio da

leitura e da escrita.

A Escola deve valorizar o trabalho da Psicomotricidade em seu conteúdo

curricular, uma vez que este proporciona o desenvolvimento intelectual e afetivo da

criança.

A Psicomotricidade trabalha integrando as funções motrizes e mentais sob o

efeito da educação e do desenvolvimento do sistema nervoso, permitindo a criança

vivenciar através da percepção do próprio corpo em relação aos objetos, a

organização espacial e temporal, bem com a aquisição dos pré-requisitos necessário a

alfabetização.

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ANEXOS

66

PRIMEIRA ATIVIDADE CULTURAL: BIENAL DO LIVRO

67

SEGUNDA ATIVIDADE CULTURAL: ATL HALL

TERCEIRA ATIVIDADE CULTURAL: CELEBRARE

68

QUARTA ATIVIDADE CULTURAL: TEATRO ABEL

QUINTA ATIVIDADE CULTURAL: TEATRO MAISON DE

FRANCE

SEXTA ATIVIDADE CULTURAL: THEATRO MUNICIPAL DO

RIO DE JANEIRO

69

SÉTIMA ATIVIDADE CULTURAL: CNC/SK

OITAVA ATIVIDADE CULTURAL: CANECÃO

ÍNDICE

INTRODUÇÃO.........................................................................................................08 CAPÍTULO I- BREVE HISTÓRICO DA ORIGEM DO DESENVOLVIMENTO DA EDUCAÇÃO INFANTIL...................................................................................10 CAPÍTULO II- A PROPOSTA CURRICULAR NACIONAL PARA A

70

EDUCAÇÃO INFANTIL..........................................................................................17 CAPÍTULO III- O DESENVOLVIMENTO INFANTIL DOS QUATRO AOS

CINCO ANOS DE IDADE........................................................................................26

CAPÍTULO IV- PSICOMOTRICIDADE E O DESENVOLVIMENTO

INTELECTUAL DA CRIANÇA..............................................................................34

CAPÍTULO V- AS ATIVIDADES PSICOMOTORAS REALIZADAS POR

PROFESSORES DE UMA ESCOLA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE

SÃO GONÇALO........................................................................................................44

Trabalhando o esquema corporal................................................................................44

Trabalhando a coordenação óculo-manual.................................................................46

Trabalhando a coordenação dinâmica geral................................................................47

Trabalhando a motricidade fina das mãos e dos dedos...............................................48

Trabalhando a organização e estruturação temporal...................................................49

CONCLUSÃO............................................................................................................58 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................................60 ANEXOS....................................................................................................................65 Primeira atividade cultural.........................................................................................66 Segunda atividade cultural..........................................................................................66 Terceira atividade cultural..........................................................................................67 Quinta atividade cultural.............................................................................................67 Sexta atividade cultural...............................................................................................68 Sétima atividade cultural............................................................................................68 Oitava atividade cultural.............................................................................................68 ÍNDICE.......................................................................................................................69