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Oxigenoterapia Profa. Dra. Fabiana Bolela de Souza 2017 Universidade de São Paulo Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto ERG0343 Cuidado Integral em Saúde III

Universidade de São Paulo Escola de Enfermagem de … · dos resultados dos exames diagnósticos anormais. A função do sistema cardiovascular é levar oxigênio, nutrientes e outras

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Oxigenoterapia

Profa. Dra. Fabiana Bolela de Souza

2017

Universidade de São Paulo

Escola de Enfermagem de Ribeirão Preto

ERG0343 – Cuidado Integral em Saúde III

Introdução

Os distúrbios do sistema respiratório são comuns, sendo encontrados em todos

os serviços de assistência à saúde;

Para avaliar o sistema respiratório o enfermeiro deve estar habilitado a diferenciar

os achados normais dos anormais que se apresentam no histórico do paciente;

Além disso, é essencial uma compreensão da função respiratória e do significado

dos resultados dos exames diagnósticos anormais.

A função do sistema cardiovascular é levar oxigênio, nutrientes e outras

substâncias para os tecidos e remover a escória produzida pelo metabolismo

celular através do bombeamento cardíaco, do sistema circulatório vascular e da

integração com outros sistemas.

Sistema Cardiovascular

A troca dos gases respiratórios acontece entre o ar ambiente e o sangue

(Hematose). Existem três etapas no processo de oxigenação:

➢ Ventilação;

➢ Perfusão;

➢ Difusão

Sistema Respiratório

É o processo de movimento dos gases para

dentro e para fora dos pulmões. Requer:

- coordenação muscular;

- propriedades elásticas do pulmão;

- propriedades elásticas do tórax;

- inervação intacta (nervo frênico - 4° vértebra

cervical).

Ventilação

Relaciona-se com a capacidade do sistema

cardiovascular de bombear sangue oxigenado

para os tecidos e retornar desoxigenado para

os pulmões.

Perfusão

É o movimento das moléculas de uma

área de alta concentração para outra,

de baixa concentração. A difusão dos

gases respiratórios acontece ao nível

da membrana alvéolo-capilar.

Difusão

Trocas gasosas

Alterações no funcionamento respiratório

Doenças❖ e condições que afetam a ventilação ou o transporte de O2 alteram o

funcionamento respiratório;

❖ 3 alterações primárias:

Hiperventilação

Hipoventilação

Hipóxia

Objetivo❖ da ventilação: produzir tensão de dióxido de carbono arterial normal e

manter tensão de oxigênio arterial normal:

PaCO2 entre 35 e 45 mmHg

PaO2 entre 95 e 100 mmHg

HIPERVENTILAÇÃO

❖ Ventilação acima do necessário para eliminar o CO2 produzido pelo

metabolismo celular. O aumento da ventilação é para reduzir a quantidade de

CO2.

❖ Principais indutores:

✓ Ansiedade aguda = causa perda de consciência por expiração excessiva

de CO2;

✓ Infecções, febre = elevação da temperatura, aumenta a taxa metabólica,

ocorre aumento da produção de CO2, levam ao aumento da profundidade

da respiração;

✓ Químicos = salicilato, anfetaminas, cetoacidose, aumentam a ventilação

pois elevam produção de CO2.

HIPOVENTILAÇÃO

❖ Quando a ventilação alveolar é inadequada para atender à demanda corporal

de O2 ou para eliminar o CO2. Conforme a ventilação alveolar diminui, o corpo

retém CO2;

❖ Principais indutores:

✓ Atelectasia = “colapso dos alvéolos”, impede troca normal entre O2 e CO2,

os alvéolos colabam e ventilam menos o pulmão;

✓ Oferta excessiva de O2 na DPOC: os pacientes se adaptam a níveis mais

altos de CO2 e possuem quimiorreceptores sensíveis a CO2 não

funcionantes. Nesses pacientes o estímulo para respirar é ter um nível

reduzido de O2 arterial. A administração de O2 acima de 24-28% faz com

que a PaO2 caia, oblitera o estímulo para respirar = hipoventilação.

HIPOVENTILAÇÃO

❖ Sinais e sintomas clínicos

✓ Mudanças do estado mental

✓ Arritmias com potencial para parada cardíaca

✓ Convulsões

✓ Inconsciência

✓ Morte

❖ Tratamento

✓ Melhorar oxigenação dos tecidos

✓ Restaurar função ventilatória

✓ Corrigir causa

Hipoxemia é a deficiência de concentração de oxigênio no

sangue arterial.

Hipóxia é a oxigenação inadequada do tecido no nível

celular, o que pode ocorrer mesmo na presença de

quantidade normal no sangue arterial

HIPOXIA

Principais indutores

✓ Nível de hemoglobina reduzido e capacidade reduzida do sangue de

transportar O2

✓ Concentração diminuída de O2 inspirado (altas altitudes)

✓ Incapacidade dos tecidos de extrair O2 do sangue (cianeto)

✓ Difusão reduzida de O2 proveniente dos alvéolos para o sangue

(pneumonia)

✓ Perfusão tecidual deficiente com sangue oxigenado (choque)

✓ Ventilação comprometida (trauma torácico, fratura de costelas)

HIPOXIA

Sinais e sintomas clínicos:

✓ Apreensão

✓ Inquietação

✓ Incapacidade de se concentrar

✓ Perda de consciência

✓ Mudanças de comportamento

✓ Agitação

✓ Fadiga

✓ Alterações de SSVV: aumento da frequência de pulso e da frequência e

profundidade da respiração

Alterações no funcionamento respiratório

Na avaliação clínica:

✓ Identificar tipos de problemas respiratórios e cardíacos

Dor, dispneia, fadiga, horário, duração

✓ Sinais e sintomas

Mudou padrão?, tem tosse?, catarro? Cor?

✓ Início e duração

✓ Gravidade

Graduar dispnéia, dor

Alterações no funcionamento respiratório

✓ Fatores predisponentes

Resfriado? Influenzae? Medicamentos? Tabagismo? Exercícios?

Alergias?

✓ Efeitos dos sintomas no paciente

Afetam atividades diárias? Apetite? Sono? Como?

✓ Exame físico

✓ Análise de exames laboratoriais e diagnósticos

Oxigenoterapia

Consiste na administração de oxigênio numa concentração de pressão superior à

encontrada na atmosfera ambiental para corrigir e atenuar deficiência de oxigênio

ou hipóxia.

Sinais e sintomas de hipóxia:

➢ Inquietação;

➢ Ansiedade;

➢ Desorientação;

➢ Rebaixamento do nível de

consciência;

➢ Tontura;

➢ FC aumentada;

➢ Palidez;

➢ Cianose;

➢ Dispnéia / taquipnéia

➢ Respiração laboriosa (retração

intercostal, batimento de asa

do nariz)

Possíveis causas de hipóxia:

➢ Diminuição do nível de Hb/ Redução na capacidade de transporte de

O2 pelo sangue;

➢ Concentração diminuída de O2 inspirado;

➢ Difusão diminuída/ Hematose diminuída;

➢ Redução do fluxo sanguíneo;

➢ Ventilação comprometida

Danos cerebrais decorrentes da falta de oxigenação

Oxigenoterapia – Objetivos:

Reverter a hipoxemia e auxiliar no alcance de três metas:

➢ Oxigenação tissular melhorada;

➢ Trabalho diminuído da respiração em casos de dispnéia;

➢ Trabalho diminuído do coração nos pacientes cardiopatas.

Oxigenoterapia – Indicações:

Segundo a “American Association for Respiratory Care” (AARC), as indicações

básicas de oxigenoterapia são:

➢ PaO2 < 60 mmHg ou Sat O2 < 90 % (em ar ambiente).;

➢ Sat O2 < 88% durante a deambulação, exercício ou sono em portadores de

doenças cardiorrespiratórias;

➢ IAM;

➢ Intoxicação por gases (monóxido de carbono);

➢ Envenenamento por cianeto.

Oxigenoterapia – Princípios gerais:

➢ O oxigênio é prescrito em relação ao fluxo ou à concentração, dependendo

das necessidades do paciente e da capacidade do dispositivo de

administração;

➢ O fluxo de oxigênio é expresso em litros/minuto. A concentração é expressa

como um percentual ou como uma fração de oxigênio inspirado (FiO2);

Usar➢ a concentração mínima ou o menor fluxo possível para alcançar um nível

de oxigênio sanguíneo adequado.

Oxigenoterapia – Alerta:

Alguns pacientes com doença pulmonar crônica ficam dependentes de um estado

de hipercapnia (↑PaCO2) e hipóxia de estimulação para respirar, e o oxigênio

suplementar pode fazer com que parem de respirar.

Métodos de administração de oxigênio:

O estado de oxigenação do

paciente determina qual

aparelho de administração de

oxigênio é o mais apropriado.

Sistemas de baixo fluxo:

Fornecem oxigênio suplementar diretamente às vias aéreas com fluxos de até 6

l/min ou menos. Como o fluxo inspiratório de um indivíduo adulto é superior a

este valor, o oxigênio fornecido por este dispositivo de baixo fluxo será diluído

com o ar, resultando numa FiO2 baixa e variável (cânula nasal, cateter nasal).

Sistemas de alto fluxo:

Os sistemas de alto fluxo fornecem uma determinada concentração de oxigênio

em fluxos iguais ou superiores ao fluxo inspiratório máximo do paciente, assim

asseguram uma FiO2 conhecida (máscara de venturi).

➢ Cânula nasal: Método empregado quando o paciente requer uma

concentração baixa de O2.

Observações:

➢ Limitar o fluxo máximo de O2 a 6l/min para minimizar o ressecamento da

mucosa nasal;

➢ Usar sempre umidificador;

➢ Usar a “Regra dos Quatro” para estimar a concentração: para cada l/min de

O2, a concentração aumenta em 4% (ex: 1 l/min fornece 24%, 2 l/min

fornecem 28%).

➢ Cateter nasal: Método empregado quando o paciente requer uma

concentração baixa de O2.

➢ Cateter nasal:

Vantagens

➢ Dispositivo simples;

➢ Dispositivo de baixo

custo;

➢ Fácil aplicação

Desvantagens

➢ Nem sempre é bem

tolerado pelo paciente;

➢ Respiração bucal reduz a

FIO2;

➢ Irritabilidade tecidual da

nasofaringe;

➢ Necessidade de

revezamento das narinas

a cada 8h;

➢ Facilidade de

deslocamento do cateter.

Máscara simples:

Método empregado quando o paciente requer uma concentração moderada de

O2.

Capacidade de oxigênio:

40 a 60% quando operado com 6 a 10

l/min

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Máscara simples

Fluxômetro

Máscara simples – vantagens:

➢ Método econômico e que utiliza dispositivos simples;

➢ Facilidade de aplicação

Máscara simples – desvantagens:

➢ A concentração real liberada de O2 varia com o padrão respiratório;

➢ É necessário um fluxo mínimo de 5 l/min de O2 para evitar que o paciente

reinale o dióxido de carbono expirado contido no reservatório;

➢ Dificulta a expectoração;

➢ Inadequado para o paciente com DPOC por causa do potencial para

oxigenação excessiva;

➢ Cobre a boca e o nariz, pode produzir claustrofobia;

➢ Difícil aplicação em pacientes com sondas naso ou orotraqueais ou pacientes

com lesões e traumas de face

Máscara de venturi:

Método empregado quando o paciente requer uma concentração moderada ou

alta de O2. Consigo garantir uma FiO2 conhecida.

Capacidade de oxigênio:

24 a 50% quando operado com 3 a 8 l/min

A cor do dispositivo reflete a

concentração de oxigênio

empregada: 24%: azul; 28%: branco;

31%: alaranjado; 35%: amarelo; 40%:

vermelho; 60%: verde.

Máscara com reservatório:

Método empregado quando o paciente requer uma concentração alta de O2.

Capacidade de oxigênio:

Até 95% quando operado com 10 a 15

l/min

Válvula bidirecional com reinalação (poupa-

fluxo):

Concentração de O➢ 2 : 35 – 60 % (com fluxo de O2: 06 a 10 l/min);

Permite ➢ reinalação de CO2 na bolsa reservatório;

Bolsa tem de estar cheia em ➢ 2/3

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Reservatório

Máscara com reservatório(reinalação parcial)

Fluxômetro

Válvula unidirecional sem reinalação:

➢ Concentração de O2: 80 a 95 % (com fluxo de 10 a 15 l/min);

➢ Indicada no paciente grave ou na IRA;

➢ Bolsa reservatório sempre inflada

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Reservatorio

Válvula

unidireccional

Máscara com reservatório(não reinalação)

Válvula

Exalatoria fechadaFluxômetro

Inaloterapia

Método terapêutico que transforma uma solução (água ou soluções

salinas) em névoa quando submetida a uma determinada pressão.

Objetivo: hidratar o muco estagnado, reduzindo sua viscosidade e

aderência.

Pode ser associada à terapia medicamentosa (mucolíticos, antibióticos,

broncodilatadores), fluidificando as secreções, diminuindo os processos

inflamatórios e reduzindo o broncoespasmo.

➢ Não administrá-lo sem o fluxômetro;

➢ Colocar umidificador com água destilada ou esterilizada até o

nível indicado;

➢ Colocar aviso de "Não Fumar" na porta do quarto do paciente;

➢ Controlar a quantidade de litros por minutos;

➢ Observar se a máscara ou cateter estão bem adaptados e em

bom funcionamento;

➢ Dar apoio psicológico ao paciente;

➢ Trocar diariamente a cânula, os umidificadores, o tubo e outros

equipamentos expostos à umidade;

Cuidados na administração de O2:

➢ Avaliar o funcionamento do aparelho constantemente

observando o volume de água do umidificador e a quantidade de

litros por minuto;

➢ Observar e palpar o epigástrio para constatar o aparecimento de

distensão;

➢ Fazer revezamento das narinas a cada 8 horas (cateter);

➢ Avaliar com frequência as condições do paciente, sinais de

hipóxia e anotar e dar assistência adequada;

Cuidados na administração de O2:

➢ Manter vias aéreas desobstruídas;

➢ Manter os torpedos de O2 na vertical, longe de aparelhos

elétricos e de fontes de calor;

➢ Controlar sinais vitais.

Cuidados na administração de O2:

Manobras de higiene brônquica não invasivas

Técnicas que visam auxiliar a mobilização e a eliminação de

secreções, melhorando as trocas gasosas e evitando as

complicações de um quadro de pneumopatia previamente

instalado.

Manobras de higiene brônquica não invasivas

Indicações:

➢ Sinais clínicos de acúmulo de secreção (ruídos

adventícios, alterações gasométricas ou de radiografia

torácica, tosse ineficaz, taquipnéia, padrão respiratório

exaustivo);

➢ anormalidades na relação ventilação/perfusão;

➢ emprego preventivo em pacientes acamados no período

de pós-operatório ou ainda nos portadores de doenças

neuromusculares.

Drenagem postural

Mobilização das secreções no trato respiratório com o auxílio

da ação da gravidade, direcionando-as para as vias aéreas

centrais onde poderão ser removidas por meio da tosse.

➢ posicionamento invertido (encaminhar a secreção para

uma porção mais superior da árvore brônquica);

➢ hidratação (fluidificar a secreção muito viscosa);

➢ monitoração dos sinais vitais (saturação de oxigênio).

Percussão pulmonar

Qualquer manobra realizada com as mãos sobre a superfície

externa do tórax do paciente proporcionando vibrações

mecânicas, as quais serão transmitidas aos pulmões,

gerando mobilização de secreções pulmonares.

Tapotagem➢ ;

Percussão cubital;➢

Vibração. ➢

A tapotagem não deve ser aplicada diretamente sobre a pele,

fazendo-se necessário a utilização de uma camada de tecido ou

roupa para evitar a estimulação sensorial da pele. Evitar áreas

sensíveis, locais de traumatismo ou de cirurgia e nunca percutir

sobre proeminências ósseas.

A percussão cubital consiste em percutir o tórax com uma das mãos

semifechadas. Ela pode ser executada de maneira direta percutindo diretamente

sobre o tórax do paciente ou indireta pela interposição de uma das mãos, a qual

ficará acoplada ao tórax enquanto a outra realiza a percussão.

A vibração manual é produzida por movimentos rítmicos e rápidos

dos músculos do braço e antebraço e transmitida pelos punhos e

mãos ao tórax do paciente.

Tosse dirigida

Manobra intencional, descrita em três fases:

➢ fase preparatória: inspiração ampla e longa;

➢ fechamento da glote e contração da musculatura

respiratória (aumento da pressão intratorácica);

➢ fase expulsiva: o ar é expulso em alta velocidade

acompanhada pela abertura da glote e queda da pressão

intratorácica.

Aspiração de vias aéreas superiores

Procedimento invasivo, realizado por profissional habilitado, visando a remoção

de secreção pulmonar acumulada em vias aéreas.

➢ Aspiração nasofaríngea;

➢ Aspiração orofaríngea

Aspiração nasofaríngea

Contra-indicação:

➢ Passagens nasais ocluídas;

➢ Sangramento nasal;

➢ Lesão aguda de cabeça, face ou pescoço;

➢ Distúrbios hemorrágicos;

➢ Vias aéreas irritáveis;

➢ Infecção de vias aéreas superiores.

Aspiração nasofaríngea

Complicações:

➢ Lesão das Vias Aéreas;

➢ Atelectasia;

➢ Arritmias - alteração na FC;

➢ Regurgitamento após refeições

Referências

Potter, PA; Perry, AG. Fundamentos de Enfermagem. Conceitos, Processo e Prática. Traduzido por Cruz, ICF; Lisboa, MTL; Machado, WCA. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 7a. ed., 2009.

Taylor C; Lillis, C; Lemone, P. Fundamentos de Enfermagem. A arte e a ciência do cuidado de enfermagem. Artmed, 5a. Ed., 2007.

Guyton, AC.; Hall, JE. Tratado de Fisiologia Médica. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 10a. ed., 2002.