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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI LUCIANO DUARTE AÇÃO CIVIL PÚBLICA COMO INSTRUMENTO DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO EM FACE DA EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004 Biguaçu (SC) 2008

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI

LUCIANO DUARTE

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COMO INSTRUMENTO DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO EM FACE DA EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004

Biguaçu (SC)

2008

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LUCIANO DUARTE

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COMO INSTRUMENTO DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE DO

TRABALHO EM FACE DA EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004

Monografia apresentada como requisito parcial para a obtenção de título de Bacharel em Direito pela Universidade do Vale do Itajaí – UNIVALI, Centro de Educação de Biguaçu.

Orientador: Professor Rafael Burlani

Biguaçu (SC) 2008

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade pelo aporte

ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a Universidade do Vale do Itajaí, a

coordenação do Curso de Direito, a Banca Examinadora e o Orientador de toda e

qualquer responsabilidade acerca do mesmo.

Biguaçu (SC), 12 novembro de 2008.

Luciano Duarte

Graduando

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LUCIANO DUARTE

AÇÃO CIVIL PÚBLICA COMO INSTRUMENTO DE DEFESA DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO EM FACE DA EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004

Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovada pelo Curso de direito da Universidade do Vale do Itajaí, Centro de Educação de Biguaçu.

Área de Concentração: Direito Civil e Direito do Trabalho

Biguaçu, 12 de novembro de 2008.

Prof. Msc. Rafael Burlani Neves UNIVALI – CE de Biguaçu

Orientador

Prof. Esp. Gabriel Pascoal Pítsica UNIVALI – CE de Biguaçu

Membro

Prof. Esp. Tânia M. de Souza Trajano UNIVALI – CE de Biguaçu

Membro

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AGRADECIMENTOS

Preliminarmente a Deus, pela força, luz, saúde, paciência, e por todas as oportunidades que propiciou na minha vida. Secundariamente, agradeço aos meus pais, Antônio Duarte e Olindina Vieira Duarte, esteios principais e incentivadores de toda a minha vida acadêmica. Agradeço as minhas irmãs, Liana e Luciana, por toda amizade, lealdade e companheirismo, o que muito me gratifica, por tê-las ao meu lado. Agradeço a minha amada companheira e noiva Patrícia dos Santos, por toda amizade, carinho, amor e paciência. Agradeço aos grandes e valorosos amigos conquistados no decorrer destes 5 anos, os quais estarão sempre dentro de meu coração Ao meu orientador, professor Rafael Burlani Neves, por toda atenção, dedicação e conhecimentos que me ofertou na elaboração deste trabalho. Quero manifestar também os meus amigos do escritório de advocacia BS&A por todo o companheirismo ao longo destes anos que por lá militei como estagiário, fazendo-me admirar e acreditar nesta maravilhosa ciência jurídica. Em especial ao meu amigo e companheiro o acadêmico Carlos Eduardo da Silva Bosquetto, por todo tempo e dedicação. Por derradeiro, quero registrar os agradecimentos a todos os professores desta respeitável instituição pelos ensinamentos transmitidos.

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a Antônio Duarte (in memorian) e Maria Duarte, meus queridos avós paternos, cujo amor e carinho se solidificaram para sempre em meu coração. Tenho a plena convicção que a concretização desta etapa na minha vida é para eles, pescadores que foram, com vida dura e rude que tiveram na luta pela sobrevivência, não tendo sequer a oportunidade de freqüentar bancos escolares. A realização de um sonho.

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

CRFB/88 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988

CPC Código de Processo Civil

EC Emenda Constitucional

LC Lei Complementar

OIT Organização Internacional do Trabalho

PEC Projeto de Emenda Constitucional

TRT Tribunal Regional do Trabalho

TST Tribunal Superior do Trabalho

STF Supremo Tribunal Federal

ACP Ação Civil Pública

MP Ministério Público

MPT Ministério Público do Trabalho

LACP Lei da Ação Civil Pública

CLT Consolidação das Leis Trabalhistas

CDC Código de Defesa do Consumidor

LOMPU Lei Complementar n. 75 de 20.05.1993

RR Recurso de Revista

RE Recurso Extraordinário

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ROL DE CATEGORIAS

Justiça do Trabalho

É o órgão do Poder Judiciário composto pelo Tribunal Superior do Trabalho, os Tribunais

Regionais do Trabalho e os Juízes do Trabalho, cuja competência é estabelecida no

artigo 114 da Constituição Federal.1

Emenda Constitucional

É a espécie normativa prevista no artigo 59, inciso I da CRFB/88, que transforma o

legislador em constituinte, derivado, permitindo-lhe a alteração do texto constitucional

para dar-lhe outro entendimento.2

Competência

É a parcela de jurisdição cujo exercício é atribuído a cada órgão ou grupo de órgãos.3

Direito ambiental

É o complexo de princípios e normas coercitivas para presentes reguladoras das

atividades humanas que, direta ou indiretamente, possam afetar a sanidade do ambiente

em sua dimensão global, visando à sua sustentabilidade para as presentes e futuras

gerações4

Meio Ambiente

O meio ambiente é, assim, a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e

culturais que propiciem o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as formas.5

Princípios

Princípios são linhas diretivas que informam e iluminam a compreensão dos segmentos

normativos, imprimindo-lhes um caráter de unidade relativa e servindo de fator de

agregação de um dado feixe de normas. Exerce o princípio reação centrípeta, atraindo

1 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado, p. 409. 2 BASTOS, Celso Ribeiro. MARTINS, Ives Gandra. Comentários à Constituição do Brasil: promulgada em 5 de outubro de 1998. 2ª ed, vol. 4, tomo I. São Paulo: Saraiva, 1999, p. 319 3 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. GRINOVER, Ada Pellegrini. DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria Geral do Processo. 14ª ed. São Paulo: Malheiros, 1998, p. 229. 4 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: doutrina – prática – jurisprudências – glossário, p. 109. 5 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional, p. 20.

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em torno de si regras jurídicas que caem sob seu raio de influência e manifestam a força

da sua presença.6

6 CARVALHO, Paulo de Barros. Curso de Direito Tributário. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 1991, p. 90.

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RESUMO

O presente trabalho dedicou-se ao estudo da Ação Civil Pública e aspectos destacados

no Processo do Trabalho, como forma de efetiva instrumentalização a Direitos Coletivos

e Individuais Homogêneos dos Trabalhadores. A garantia de acesso à justiça impõe que

não podem os Direitos Sociais ser reduzidos à mera proclamação, requerendo atitudes

práticas inclusive na questão ambiental que assume dimensão ilimitada, no que concerne

a espaço físico, uma vez que há em qualquer lugar o direito subjetivo ao meio ambiente

saudável e equilibrado. Inclui-se, sem qualquer receio, no meio ambiente geral, o meio

ambiente do trabalho sendo reconhecida a Ação Civil Pública, como instrumento de

proteção de direitos difusos. Não obstante isso, surgem correntes no sentido de admitir a

propositura da Ação Civil Pública em se tratando de interesses metaindividuais,

caracterizados pela indisponibilidade ou homogeneizados pela origem comum, como por

exemplo, o direito ao meio ambiente do trabalho saudável e equilibrado. Cumpre

examinarmos, nesse passo que a proteção se dará às Normas sobre segurança, saúde e

medicina no trabalho, fortes nas inovações da Emenda Constitucional 45/04, alterando o

art. 114 da CF dando maior enfoque quanto à ampliação material da competência da

Justiça do Trabalho e, mais especificamente, no tocante meio ambiente do trabalho, que

passou a processar e julgar lides que envolvam relação de trabalho. Não se pode olvidar

que a titularidade é do Ministério Público, constitucionalmente autorizado para atuar em

defesa da sociedade, nas hipóteses elencadas no art. 1º da Lei nº 7.347/85. Ainda se

discute acerca da legitimidade do Ministério Público do Trabalho para a propositura da

Ação Civil Pública em defesa do meio ambiente do trabalho. Convém notar, outrossim,

que é perfeitamente admissível, diante da análise da Lei Orgânica do Ministério Público

em consonância com o art. 127, da CF. Impede observar que, tal posicionamento vem

recebendo reiteradas guaridas Jurisprudenciais e doutrinárias, tendo o reconhecimento

da Ação Civil Pública na defesa de Interesses Individuais Homogêneos de relevância

social representando assim, considerável avanço no acesso à Justiça e da efetividade do

processo. Mister se faz ressaltar que, corroborando com o entendimento de que o dano

ambiental é indenizável materialmente e moralmente, o dano sofrido pelo empregado no

ambiente do trabalho, por ferir direito fundamental, também será, o infrator

responsabilizado e é através do mecanismo da Ação Civil Pública que se busca preservar

o meio ambiente do trabalho.

Palavras-chave: Meio Ambiente. Ação Civil Pública. Meio Ambiente do Trabalho.

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ABSTRACT

The present work was devoted to the study of the Public Civil Action and aspects

highlighted in the Process of the Work, as form of effective instrumentalization to

Homogeneous Collective and Individual Rights of the Workers. The access warranty to

the justice imposes that cannot the Social Rights to be reduced to the mere proclamation,

requesting practical attitudes besides in the environmental subject that it assumes

limitless dimension, in what it concerns it I space physical, once there is the subjective

right anywhere to the healthy and balanced environment. It is included, without any fear,

in the general environment, the environment of the work being recognized the Public Civil

Action, as instrument of protection of diffuse rights. Nevertheless that, currents appear in

the sense of admitting the commencement of the Public Civil Action in if being about

interests metaindividuais, characterized by the unavailability or homogenized by the

common origin, I eat for example, the right to the environment of the healthy and balanced

work. It executes we examine, in that step that the protection will give him to the Norms on

safety, health and medicine in the work, strong in the innovations of the Constitutional

Amendment 45/04, altering the art. 114 of CF giving larger focus with relationship to the

material amplification of the competence of the Justice of the Work and, more specifically,

in the touching environment of the work, that started to process and to judge you work that

involve work relationship. It cannot him forget that the ownership is of the Public Ministry,

constitutionally authorized to act in defense of the society, in the hypotheses listed in the

art. 1st of the Law no. 7.347/85. he/she/it Still discusses concerning the legitimacy of the

Public Ministry of the Work for the commencement of the Public Civil Action in defense of

the environment of the work. It to notice, instead, that is perfectly acceptable, before the

analysis of the organic act of the Public Ministry in consonance with the art. 127, of CF. It

impedes to observe that, such positioning comes receiving reiterated dens Jurisprudential

and doctrinal, tends the recognition of the Public Civil Action in the defense of

Homogeneous Individual Interests of social relevance representing like this, considerable

progress in the access to the Justice and of the effectiveness of the process. Occupation

he/she/it makes to stand out that, corroborating with the understanding that the

environmental damage is materially no damages and morally, the damage suffered by the

employee in the atmosphere of the work, for hurting fundamental right, will also be, the

made responsible offender and it is through the mechanism of the Public Civil Action that

he/she/it looks for to preserve the environment of the work.

Word-key: Environment. Public Civil action. Environment of the Work.

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SUMÁRIO

RESUMO.........................................................................................................................XII ABSTRACT....................................................................................................................XIII INTRODUÇÃO......................................................,.........................................................14 1 MEIO AMBIENTE E MEIO AMBIENTE DO TRABALHO...........................................16 1.1 CONCEITO DE MEIO AMBIENTE....................................................... ....................16

1.2 CLASSIFICAÇÃO DE MEIO AMBIENTE............................................. ....................24

1.2.1 meio ambiente natural e artificial.......................................................................24 1.2.2 meio ambiente cultural........................................................................................25 1.2.3 meio ambiente do trabalho.................................................................................28 1.3 PRINCÍPIOS INFORMADORES DO DIREITO AMBIENTAL......................... ........34 1.3.1 conceito de princípio...........................................................................................34 1.3.2 princípio da precaução........................................................................................36 1.3.3 princípio da prevenção......................................................................................37 1.3.4 princípio da cooperação......................................................................................39 1.3.5 princípio da participação.....................................................................................40 1.3.6 princípio da reparação.........................................................................................42 1.3.7 princípio da responsabilização...........................................................................43 1.3. princípio do poluidor-pagador..............................................................................44 2 AÇÃO CIVIL PÚBLICA...............................................................................................46 2.1 INSTITUTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA...................................................................47

2.2 OBJETO ORIGINAL E NATUREZA JURÍDICA.......................................................49

2.3 INTERESSES METAINDIVIDUAIS...........................................................................50

2.3.1 interesses difusos................................................................................................54

2.3.2 interesses coletivos.............................................................................................56

2.3.3 interesses individuais homogêneos..................................................................58 3. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA A DEFESA DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO...60 3.1 ALTERAÇÃO TRAZIDA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004...................60

3.2 CABIMENTO.............................................................................................................64

3.3 COMPETÊNCIA .......................................................................................................76

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3.4 LEGITIMIDADE PARA O EXERCÍCIO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA........................78

3.4.1 ministério público.................................................................................................79 3.4.2 entidades sindicais...............................................................................................86 3.4.3 demais legitimados...............................................................................................88 3.4.4 legitimidade concorrente.....................................................................................89 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................91 REFERÊNCIAS...............................................................................................................95

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INTRODUÇÃO

A presente monografia tem por objeto o estudo sobre a Ação Civil Pública e

alguns dos seus aspectos destacados no Processo do Trabalho, considerando sua

instrumentalização na defesa de Interesses Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos,

voltados à tutela dos trabalhadores em geral.

Ressaltado o cunho que envolve o Direito do Trabalho e a relevância de seu

objeto alicerçado na dignidade da pessoa humana, vislumbra-se na Ação Civil Pública

eficaz meio de proteção aos Interesses Difusos, Individuais Homogêneos e Coletivos,

essencialmente das categorias profissionais.

É de conhecimento público que as degradações e a perda da qualidade de vida,

decorrente da destruição da natureza vem se mostrando expressivas, não só no Meio

Ambiente natural, artificial e cultural, mas de igual forma no Meio Ambiente do Trabalho.

Desta maneira o objetivo principal deste trabalho será Ressaltar o uso da Ação

Civil Pública como instrumento para a garantia do meio ambiente do trabalho.

Sabendo que a preservação e a defesa do meio ambiente, sob todos os seus

aspectos (natural, cultural, artificial e do trabalho) é imprescindível para garantir a

qualidade de vida, o legislador colocou instrumentos à disposição de todos os legitimados

para o exercício da cidadania. Cabendo, portanto ao Estado a criação de mecanismos de

preservação ambiental, o que deve se dar através de regramentos jurídicos específicos.

Desta forma, principia-se, no Capítulo 1, demonstrando o conceito, a classificação

e a preocupação com o problema ambiental, a partir da Constituição Federal Brasileira e

seus postulados básicos, como os princípios constitucionais. Dado a importância do tema

tratado, se fará o estudo de alguns princípios que norteiam o Direito Ambiental.

No Capítulo 2, investiga-se a Ação Civil Pública no Brasil mediante considerações

sobre a garantia de acesso à Justiça e necessidade de instrumentalização e proteção aos

direitos do homem frente à Sociedade de massa, buscará ainda estabelecer sua

conceituação, origem e natureza jurídica. Procurar-se-á determinar o objeto de tutela da

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Ação Civil Pública, discorrendo sobre os conceitos de Direitos e Interesses Difusos,

Coletivos e Individuais Homogêneos e suas vinculações ao Direito do Trabalho.

No Capítulo 3, por derradeiro, estudar-se-á a Emenda Constitucional nº 45 de

2004, tecendo breves apontamentos sobre as alterações constitucionais realizadas

quanto à ampliação material da competência da Justiça do Trabalho. Delimita-se a

apresentação no artigo 114, inciso I da Constituição da República Federativa do Brasil de

1988 quando trata da expressão “relação de trabalho”.

Em seguida, estudar-se-á a Ação Civil Pública no Processo do Trabalho,

pretendendo-se verificar a sua efetiva aplicação e utilização nessa área, considerando a

estruturação legal, doutrina e jurisprudências encontradas.

Por sua vez, enfrentar-se-á a questão da Legitimidade Ativa para o exercício da

Ação Civil Pública em consideração ao Processo do Trabalho, com ênfase à atuação do

Ministério Público do Trabalho.

O presente Trabalho de Pesquisa se encerra com as Considerações Finais, nas

quais serão apresentados pontos conclusivos destacados, sobre o uso da Ação Civil

Pública como instrumento de defesa do Meio Ambiente do Trabalho em face da emenda

constitucional n° 45 de 2004

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na fase de investigação foi

utilizado o método dedutivo, com a técnica da Pesquisa Bibliográfica.

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1 MEIO AMBIENTE E MEIO AMBIENTE DO TRABALHO.

Independentemente dos seus aspectos e das suas classificações a proteção

jurídica ao meio ambiente é uma só e tem sempre o único objetivo de proteger a vida e a

qualidade de vida. FIGUEIREDO, por seu turno, ao dissertar sobre o tema, começa por

elencar a teoria que:

Ao optarmos pela conjunção de uma expressão consagrada pelo direito Ambiental

(meio ambiente) a uma expressão conhecida no Direito do trabalho (ambiente do

trabalho), estamos intencionalmente aproximando os dois ramos do Direito, evitando com

isto tratar sob uma perspectiva privatística de temas ligados à saúde e à qualidade de

vida dos seres humanos 7

1.1 CONCEITO DE MEIO AMBIENTE

O meio ambiente “pertence a uma daquelas categorias cujo conteúdo é mais

facilmente intuído que definível como conseqüência da riqueza e complexidade do que

encerra” 8. Não há acordo entre os especialistas sobre o que seja meio ambiente.

Nessa perspectiva ampla, vejamos o que aduz MILARÉ:

Em sentido vulgar, a palavra ambiente indica o lugar, o sítio, o recinto, o

espaço que envolve os seres vivos, ou seja, as coisas. Redundante, portanto, a

expressão meio ambiente, uma vez que o ambiente já inclui a noção de meio. De

qualquer forma, trata-se de expressão consagrada na língua portuguesa,

pacificamente utilizada pela doutrina, lei e jurisprudência de nosso país, que, amiúde,

falam em meio ambiente, em vez de ambiente apenas9.

7 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Direito ambiental e a saúde dos trabalhadores. São Paulo: LTr, 2000, p.43. 8 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 12. Ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 48. 9 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p.48.

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“A terminologia adotada para meio ambiente remete àquilo que nos cerca” 10. A

doutrina não ignora que a expressão meio ambiente guarda certa redundância, de

fato, os termos meio e ambiente têm essencialmente o mesmo significado, qual seja,

daquilo que nos cerca. Todavia, os termos foram conjugados para trazer à tona a

idéia de reforçar o sentido. Com um raciocínio bastante claro, SILVA nos convence da

conveniência da adoção da expressão Meio Ambiente, ponderando que:

A necessidade de reforçar o sentido significante de determinados termos em expressões compostas, é uma prática que deveria do fato de o termo reforçado ter sofrido enfraquecimento no sentido a destacar, ou, então, porque a sua expressividade é mais ampla ou mais difusa, de sorte a não satisfazer mais, psicologicamente, a idéia que a linguagem quer expressar. Este fenômeno influencia o legislador, que sente a imperiosa necessidade de dar, aos textos legislativos, a maior precisão significativa possível, daí por que a legislação brasileira, incluindo normas constitucionais, também vem empregando a expressão meio ambiente, em vez de ambiente apenas 11.

Tem-se observado que o ser humano vem demonstrando uma crescente evolução

quanto à forma de conviver com seus semelhantes. Nesse sentido, novas descobertas e

a adoção de novos costumes influenciaram uma constante interação entre o ser humano

e o meio ambiente. Vejamos o entendimento de Milaré: ”[...] o meio ambiente, como

entidade autônoma, é considerado ‘bem de uso comum do povo’. Ou seja, não pertence

a indivíduos isolados, mas à generalidade da sociedade” 12.

A sociedade, através de um processo de conscientização, reconheceu a

importância do conceito de qualidade de vida, com grande ênfase na preservação do

meio ambiente. Nesse sentido preceitua MILARÉ: “Além de ser bem comum do povo, o

meio ambiente é reputado bem essencial à sadia qualidade de vida. Em outras palavras,

sem respeito a ele não se pode falar em qualidade de vida” 13.

O tema ambiental foi primeiramente tratado no âmbito infraconstitucional pátrio,

ao menos de forma sistemática, pelo primeiro grande marco Decreto-Lei nº 1.413, de 14

de agosto de 1975, e posteriormente, pela Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981, que

10 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 7. ed. rev., atual. E ampl. –São Paulo: Saraiva, 2006, p. 67. 11 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 2 ed. 2. Tir., São Paulo, Malheiros Ed., 1997, p.12. 12 MILARÉ, Édis. Direito, do ambiente: doutrina, prática jurisprudência, glossário. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p.54. 13 Ob. Cit., p.61.

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estabelece a Política Nacional do Meio Ambiente, disciplina o Sistema Nacional do Meio

Ambiente – SISNAMA14 – seus instrumentos e objetivos.

A edição da Lei 6.938/81, que teve o mérito de trazer para o mundo do Direito o

conceito de meio ambiente, como objeto de proteção em seus múltiplos aspectos; “o de

propiciar o planejamento de uma ação integrada de diversos órgãos governamentais

segundo uma política nacional para o setor e o de estabelecer, no art.14, § 1º, a

obrigação do poluidor de reparar os danos causados” 15, segundo o princípio da

responsabilidade objetiva (ou sem culpa) em ação movida pelo Ministério Público.

Legitimando para a ação o MP16 objetivou o legislador aquelas dificuldades apontadas na

luta do indivíduo isolado.

O art. 3º, I, da Lei nº 6.938 expressa a idéia do que se pode entender por meio

ambiente: é "o conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,

química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas". Este

conceito não desvirtua do tema no que cerne a relações internacionais, sendo que a área

ambiental começou a ser focalizada a partir de 1972, com a realização da 1ª Conferência

Mundial sobre o Meio Ambiente em Estocolmo.

Trazendo como primeiro e principal princípio o do “Direito Humano Fundamental

ao Meio Ambiente Sadio, que buscou assegurar, como direito fundamental do ser

humano, o desfrute de condições de vida adequadas, em um meio ambiente de

qualidade suficiente para assegurar o bem-estar” 17.

O segundo marco não menos importante foi a promulgação da Lei 7.347 de

24.07.85, disciplinadora da Ação Civil Pública como instrumento específico para a defesa

do ambiente e de outros interesses difusos e coletivos, e que possibilitou que a agressão

ambiental finalmente viesse a ser tornar um caso de Justiça. Através dessa lei “as

14 O Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA - foi instituído pela Lei 6.938, de 31 de agosto de 1981, regulamentada pelo Decreto 99.274, de 06 de junho de 1990, sendo constituído pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal, dos Municípios e pelas Fundações instituídas pelo Poder Público, responsáveis pela proteção e melhoria da qualidade ambiental. 15 ANTUNES, Paulo Bessa. Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2007, p. 91. 16 O Ministério Público será tratado a partir desse momento como MP. 17 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 9. Ed. São Paulo: Malheiros, 2001. p. 45.

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associações civis ganharam força para provocar a atividade jurisdicional e, de mãos com

o MP, puderam em parte frear as inconseqüentes agressões ao meio ambiente” 18.

De fato, antes do advento da Lei 7.347, de 24 de julho de 1985, poucas fórmulas

eram encontradas para a efetiva defesa judicial de interesses coletivos e difusos. Assim,

apesar de não ser pioneira, a Lei 7.347/1985 surgiu como o instrumento mais

aperfeiçoado e adequado à proteção dos direitos difusos, rompendo alguns dogmas do

processo civil clássico, principalmente no que se refere à legitimação para a defesa em

juízo dos direitos coletivos, a ampliação dos efeitos subjetivos da coisa julgada e, por

derradeiro, a previsão e regulamentação de meios de tutela preventiva dos direitos

coletivos.

Também vale destacar que, apenas no ano de 1985, com a edição da Lei

7347/85, a Ação Civil Pública alcançou autonomia quanto a seu diploma regulador. Nos

termos da Lei 7.347/85, “a Ação Civil Pública surgia como mecanismo de defesa contra

condutas causadoras de danos causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e

direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico” 19. O seu objeto era,

portanto, mais restrito.

O terceiro marco foi a edição da nova Constituição, “onde o progresso se fez

notável, na medida em que deu ao meio ambiente uma disciplina rica, dedicando à

matéria um capítulo próprio, ganhando assim, identidade própria, definindo os

fundamentos da proteção ambiental”20. “Despertando assim na humanidade, uma forte

consciência da necessidade de convivência harmoniosa entre o ser humano e a

natureza” 21. Sendo diversos dispositivos traduzidos a tutela do meio ambiente. “A

importância destinada ao tema vai desde os dispositivos do capítulo VI do Título VIII, até

inúmeros outros regramentos insertos ao longo do texto nos mais diversos Títulos e

Capítulos” 22.

A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 afeita às exigências

contemporâneas da sociedade brasileira reconheceu a imprescindibilidade do valor meio

ambiente como sinônimo de qualidade de vida, “legitimando qualquer pessoa - todo

18 MAZZILI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 11. Ed. São Paulo: Saraiva. 1999, p. 14. 19 DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. 2. ed. São Paulo: Max Limonad, 2001, p. 77. 20 Ob. Cit., p.78. 21 Ob. Cit., p.79. 22 Ob. Cit., p.80.

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integrante da coletividade a defender e a preservar o ambiente para as presentes e

futuras gerações”23.

O direito de viver em um ambiente apto a fornecer a qualidade de vida digna e

propícia à sobrevivência de todas das espécies de seres vivos jamais poderia deixar de

estar inserido no mundo jurídico. Esta evolução dos direitos somente consagra uma

necessidade latente de manutenção do equilíbrio dos ecossistemas para toda vida nos

ditames constitucionais, como preceituam os artigos art. 225, caput concomitantemente

art. 1º, III, ambos da CRFB/8824, senão vejamos:

Art. 225. Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: [...] III - a dignidade da pessoa humana; [...]

Há uma motivação global pela conservação ambiental através da proteção da

fauna e da flora, da água, do solo, da atmosfera, ou seja, de todo o ecossistema no

objetivo lógico da nossa sobrevivência sustentável. “Com o Direito também ocorreu uma

mudança. Deu-se sua evolução quanto à proteção dos seus bens, passando por algumas

variações históricas, como leciona BOBBIO quando fala nos direitos de primeira,

segunda, terceira e quarta geração” 25.

Ao se analisar os direitos de terceira geração se verifica que estes estão em pleno

desenvolvimento conceitual. “Os direitos de terceira geração são diferenciados,

principalmente pela visualização que os operadores do direito tecem a seu respeito

considerando-os como aqueles denominados direitos solidários” 26. Estes direitos

aparecem no ordenamento jurídico como direitos “coletivos” ou “difusos”.

23 Ob. Cit., p.80. 24 A Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 será tratada a partir desse momento como CRFB/88. 25 BOBBIO, Norberto. A era dos direitos. Trad.: Carlos Nelson Coutinho. 10. Ed. Rio de Janeiro: Campus, 1992, p. 6. 26 Ob. Cit., p. 26.

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Patente é a intenção dos nobres juristas, em assegurar os direitos do meio

ambiente, pois antes mesmo da promulgação da Carta Constitucional Brasileira de 1988,

o Supremo Tribunal Federal, já admitia e definia a proteção a esse.

Nesse diapasão, preleciona DA SILVA:

A ementa MS22164/SP - Tribunal Pleno, Rel. Min. Celso de Mello, DJU 17.11.1985, p. 39206; A questão do direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado. direito de terceira geração. Princípio da solidariedade. O direito à integridade ao meio ambiente. Típico direito de terceira geração. Constitui prerrogativa jurídica de titularidade coletiva, refletindo, dentro do processo de afirmação dos direitos humanos, a expressão significativa de um poder atribuído não ao indivíduo identificado em sua singularidade, mas, num sentido verdadeiramente mais abrangente, à própria coletividade social. Enquanto os direitos de primeira geração (direitos civis e políticos) - que compreendem as liberdades clássicas, negativas ou formais - realçam o princípio da liberdade e os direitos da segunda geração (direitos econômicos, sociais e culturais) - que se identificam com as liberdades positivas, reais ou concretas - acentuam o princípio da igualdade, os direitos de terceira geração, que materializam poderes de titularidade coletiva atribuídos genericamente a todas as formações sociais, consagram o princípio da solidariedade e constituem um momento importante no processo de desenvolvimento, expansão e reconhecimento dos direitos humanos, caracterizados, enquanto valores fundamentais indisponíveis, pela de uma essencial inexauribilidade 27.

Existem dispersas pelo texto constitucional várias normas com previsão expressa

ao meio ambiente e proteção ambiental, além das previstas do Capítulo VI. Com efeito, o

art. 5°, destaca-se pela preocupação expressa ao meio ambiente e a tutela ambiental.

Ensina SILVA: “A primeira referência expressa ao meio ambiente ou a recursos

ambientais na Constituição vem logo no art. 5°, LXXIII” 28, artigo que confere a

legitimidade a qualquer cidadão para propor ação popular que vise a anular ato lesivo ao

meio ambiente e ao patrimônio histórico e cultural.

Em seguida, “o art. 20, II, considera, entre os bens da União, as terras devolutas

indispensáveis à preservação do meio ambiente” 29. Vejamos na íntegra Art. 20. São

bens da União: “[...] II - as terras devolutas indispensáveis à defesa das fronteiras, das

fortificações e construções militares, das vias federais de comunicação e à preservação

27 DA SILVA, Luís Américo Martins. O Dano Moral e sua Reparação Civil. 2ªed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, p. 85. 28 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p.47. 29 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 2 ed. 2. Tir., São Paulo, Malheiros Ed., 1997, p. 54.

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ambiental, definidas em lei”.30 Segue-se o art. 23, onde se reconhece a competência

comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, senão vejamos:

Art. 23. É competência comum da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios: “[...] VI - proteger o meio ambiente e combater a poluição em qualquer de suas formas; VII - preservar as florestas, a fauna e a flora” 31.

O art. 24, VI, VII e VIII, por seu lado, dá competência concorrente à União, os

Estados e ao Distrito Federal para legislar. Assim, conforme redação:

[...] VI - florestas, caça, pesca, fauna, conservação da natureza, defesa do solo e dos recursos naturais, proteção do meio ambiente e controle da poluição; VII - proteção ao patrimônio histórico, cultural, artístico, turístico e paisagístico; VIII - responsabilidade por dano ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico; [...] 32

Já o art. 129, III declara ser função do MP “promover o inquérito civil a Ação Civil

Pública, para proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e dos outros

interesses difusos e coletivos” 33.

Apesar da conceituação legal, não se pode dispensar a opinião da doutrina,

segundo uma concepção unitária que englobe recursos naturais e culturais, bem

sintetizada por ANTUNES ao arrematar: "meio ambiente é um conjunto de ações,

circunstâncias, de origens culturais, sociais, físicas, naturais e econômicas que envolvem

o homem e todas as formas de vida” 34.

Nesta mesma linha de pensamento o eminente jurista SILVA conceitua meio

ambiente como sendo: “a interação do conjunto de elementos naturais, artificiais e

culturais que propiciam o desenvolvimento equilibrado da vida em todas as suas formas” 35.

30 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, p. 15. 31 Ob. Cit., p. 17. 32 Ob. Cit., p. 18. 33 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, p.57. 34 ANTUNES, Paulo Bessa. Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2007, p.23. 35 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional, 2 ed., São Paulo, Malheiros Ed., 1998, p.89.

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O conceito de meio ambiente não engloba apenas os elementos ambientais

naturais, vejamos o que preceitua TESSLER:

A determinação de seu conteúdo depende da perspectiva adotada: antropocêntrica ou ecocêntrica. Partindo-se de uma concepção ecocêntrica, o conceito de meio ambiente engloba apenas os elementos ambientais naturais. Já em uma compreensão antropocêntrica, assume um perfil mais amplo – abarca. Além dos elementos naturais, os efeitos de suas relações com o homem 36.

A indeterminação do conceito de meio ambiente, permite que os doutrinadores

abordem o assunto, dividindo-o a partir dos elementos destacados na definição, quais

sejam, o aspecto natural, o artificial, cultural e do trabalho no qual veremos a seguir.

36 TESSLER,Luciane Gonçalves. Tutelas jurisdicionais do meio ambiente. São Paulo, Editora Revista dos Tribunais, 2004, p.45.

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1.2 CLASSIFICAÇÃO DE MEIO AMBIENTE

Da classificação adotada pela doutrina majoritária para definir Meio Ambiente.

Tem entendido FIORILLO: “mesmo sendo o Meio Ambiente termo jurídico indeterminado,

cabe a nós, operadores do direito, que interpretam seus dispositivos, repartir seu

conteúdo” 37.

1.2.1 meio ambiente natural e artificial

O meio ambiente natural ou físico é constituído por solo, água, ar atmosférico,

flora e fauna. É tutelado pelo caput do art. 225 da CRFB/ 88, anteriormente transcrito e

mais especificadamente pelo § 1°, I e VII, desse mesmo artigo:

§ 1º Para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público: I - preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistemas; [...] VII - proteger a fauna e a flora, vedadas, na forma da lei, as práticas que coloquem em risco sua função ecológica, provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.

Nessa linha, ensina SILVA que:

Meio ambiente natural ou físico, constituído pelo solo, a água, o ar atmosférico, a flora, enfim, pela interação dos seres vivos e seu meio, onde se dá a correlação recíproca entre espécies e as relações destas com ambiente físico que ocupam 38.

Desse modo, meio ambiente natural é “aquele que, criado originariamente pela

natureza, não sofre qualquer interferência da ação humana que tenha como resultado a

modificação de sua substância” 39.

37 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2004, p.20. 38 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 2 ed. 2. Tir., São Paulo, Malheiros Ed., 1997, p. 89. 39 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 12. Ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p.111.

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Por outro lado, meio ambiente artificial entende-se “aquele constituído pelo

espaço urbano construído, consubstanciado no conjunto de edificações (espaço urbano

fechado) e dos equipamentos públicos (espaço urbano aberto)” 40.

Nesse sentido, a alusão de FIORILLO: “O meio ambiente artificial compreende o

espaço urbano construído, os conjuntos de edificações, públicas e privadas fechadas, o

espaço urbano fechado, como também as edificações urbanas públicas (espaço urbano)” 41.

Assim, vê-se que tal "tipo" de meio ambiente está intimamente ligado ao próprio

conceito de cidade, vez que o vocábulo "urbano", do latim urbs, “urbs significa cidade e,

por extensão, os habitantes da cidade” 42.

O meio ambiente artificial recebe tratamento, no art. 225 e 182, capítulo referente

à política urbana, ambos da CRFB/ 88. O art. 21, XX, da CRFB/ 88 disciplina a

competência material da União federal de: ”instituir diretrizes para o desenvolvimento

urbano, inclusive habitação, saneamento básico e transportes urbanos”.

Desta forma, não podemos desvincular o meio ambiente artificial do conceito de

direito à sadia qualidade de vida, bem como aos valores de dignidade humana e da

própria vida.

Portanto, a diferenciação entre meio ambiente artificial e meio ambiente natural se

dá principalmente pela alteração provocada pela ação do homem.

1.2.2 meio ambiente cultural

Com relação ao meio ambiente cultural é importante salientar que o mesmo

poder-se-á apresentar em duas formas distintas: “em sua forma concreta ou em sua

40 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 12. Ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 112. 41 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2004, p.21 42 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 24 ed. Ver. E atual. Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho (atual.). Rio de Janeiro: Forense. 2004, p.1453.

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forma abstrata” 43. A relevância dessas duas formas faz com que seja indispensável

comentá-las (motivo pelo qual assim será feito neste trabalho). “Diz-se que o meio

ambiente cultural é concreto quando ele apresenta-se transfigurado em um objeto

classificado como meio ambiente artificial” 44.

Desse modo, os prédios, as construções, os monumentos, as estações, entre

outros objetos (que abrigam em sua órbita a qualidade de turístico, artístico, paisagístico,

arquitetônico ou histórico) são meios ambientes culturais concretos.

Nesse diapasão, ressalta SILVA: “que meio ambiente cultural é integrado pelo

patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, que embora artificial

em regra, como obra do homem, difere do anterior (que também é cultural) pelo sentido

de valor especial” 45.

Nesse caso, assim como no meio ambiente artificial torna-se muito mais

importante levar em consideração “a artificialidade em detrimento da naturalidade

originária do meio ambiental, no meio ambiente cultural concreto torna-se muito mais

relevante considerar a sua valoração cultural em detrimento da artificialidade que o

mesmo detém” 46. Diz-se isso pela certeza de que, nessa classe de bem ambiental, a

valoração cultural supera a valoração estrutural do bem referido.

Conveniente destacar o ensinamento de FIORILLO em relação a patrimônio

cultural: “O bem que compõe o chamado patrimônio cultural traduz a história de um povo,

a sua formação cultural e, portanto, os elementos identificadores de sua cidadania” 47.

Na CRFB/ 88, em seu art. 216, encontram-se como patrimônio cultural brasileiro

alguns elementos que, na avaliação desse trabalho, compõem o meio ambiente cultural

concreto. São eles:

Art. 216. Constitui patrimônio cultural brasileiro os bens de natureza material e imaterial, tomados individualmente ou em conjunto, portadores

43 ANTUNES, Paulo Bessa. Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2007, p. 61. 44 Ob. Cit., p. 64. 45 SILVA, José Afonso da. Direito Ambiental Constitucional. 3. ed. São Paulo: Malheiros, 2000, p.3. 46 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 9. Ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p.32. 47 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2004, p.21

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de referência à identidade, à ação, à memória dos diferentes grupos formadores da sociedade brasileira, nos quais se incluem: [...] III - as criações científicas, artísticas e tecnológicas; IV - as obras, objetos, documentos, edificações e demais espaços destinados às manifestações artístico-culturais; V - os conjuntos urbanos e sítios de valor histórico, paisagístico, artístico, arqueológico, paleontológico, ecológico e científico.

Diz-se, por sua vez, que o meio ambiente cultural é “abstrato quando ele não se

apresenta transfigurado no meio ambiente artificial” 48. Desse modo, é meio ambiente

cultural abstrato a própria cultura, em si mesma. Outrossim, “a língua, os costumes, os

modos como as pessoas relacionam-se (social, afetiva e profissionalmente), as

produções acadêmicas, literárias e científicas, as manifestações derivadas de cada

identidade nacional e/ou regional, todos esses aspectos, sem distinção, compõem

abstratamente o meio ambiente cultural” 49.

A própria CRFB/ 88, em seu art. 216, admite como patrimônio cultural brasileiro

alguns elementos que, compõem o meio ambiente cultural abstrato. São eles: a) as

formas de expressão (inciso I); b) os modos de criar, fazer e viver (inciso II); e c) as

criações científicas, artísticas e tecnológicas (inciso III); esses últimos elementos,

logicamente, compondo o meio ambiente cultural abstrato quando não forem

transfigurados no meio ambiente artificial, ou seja, quando se tratarem, exclusivamente,

de criações e produções teóricas, pois, caso contrário, classificar-se-ia como meio

ambiente cultural concreto.

Nesse sentido, podemos falar em meio ambiente cultural, segundo os

ensinamentos de SILVA, pois o conceito de meio ambiente há:

De ser, pois, globalizante, abrangente de toda a Natureza original e artificial, bem como os bens culturais correlatos, compreendendo, portanto, o solo, a água, o ar, a flora, as belezas naturais, o patrimônio histórico, artístico, turístico, paisagístico e arqueológico 50.

Assim, a memória cultural de um povo merece proteção especial do ordenamento

jurídico e da comunidade, que é, ao mesmo tempo, responsável pela sua conservação e

beneficiária de suas manifestações.

48 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 9. Ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p. 56. 49 DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. 2. ed. São Paulo: Max Limonad, 2001, p. 90. 50 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. São Paulo: Malheiros, 2002, p. 20.

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1.2.3 meio ambiente do trabalho

Com o surgimento, a algumas décadas, dos estudos ambientais, criou-se o

conceito de meio ambiente, o qual se limitava a se relacionar apenas às condições

naturais, mas após a Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, a Rio-92 51,

o fator humano passou a integrá-lo, incluindo os problemas do homem como

relacionados diretamente à problemática ambiental como a pobreza, o urbanismo etc.

Assim, o conceito apenas clássico perdeu sentido ante as novas proposições da referida

conferência.

Aliás, na Declaração do Rio sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (1992) e a

chamada "Agenda 21" 52, que compendiou as diretrizes de desenvolvimento econômico e

social para o século XXI, constam inúmeras passagens onde está claro que o conceito de

meio ambiente ganhou um universo muito mais amplo.

Antes de tudo, com base na CRFB/ 88, passou-se a entender também que o meio

ambiente divide-se em físico ou natural, cultural, artificial e do trabalho.

A par disso, PADILHA afirma resultar claro que:

Quando a Constituição Federal, em seu art. 225, fala em meio ambiente ecologicamente equilibrado, está mencionando todos os aspectos do meio ambiente. E, ao dispor, ainda, que o homem para encontrar uma sadia qualidade de vida necessita viver nesse ambiente ecologicamente equilibrado, tornou obrigatória também a proteção do ambiente no qual o homem, normalmente, passa a maior parte de sua vida produtiva, qual seja, o trabalho 53.

Com efeito, o homem passou a integrar plenamente o meio ambiente no caminho

para o desenvolvimento sustentável preconizado pela nova ordem ambiental mundial;

51 Conhecida mundialmente como Rio 92, a conferência foi a maior reunião de chefes de Estado da história da humanidade com a presença de cerca de 117 governantes de países tentando buscar soluções para o desenvolvimento sustentável das populações mais carentes do planeta. Disponível em:< http://rpc.br.tripod.com/artigos/rio92.html> Acesso em: 26 de outubro de 2008. 52 A Agenda 21 é um programa de ações para o qual contribuíram governos e instituições da sociedade civil de 179 países, que constitui a mais ousada e abrangente tentativa já realizada de promover, em escala planetária, um novo padrão de desenvolvimento, conciliando métodos de proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. Disponível em:<http://www2.uol.com.br/ecokids/agenda21/global.htm> Acesso em: 26 de outubro de 2008. 53 PADILHA, Norma Sueli. Do Meio Ambiente do Trabalho equilibrado. São Paulo: LTr, 2002. p. 32.

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conseqüência disto é a consideração de que o Meio Ambiente do Trabalho “também faz

parte do conceito mais amplo de ambiente, de forma que deve ser considerado como

bem a ser protegido pelas legislações para que o trabalhador possa usufruir de uma

melhor qualidade de vida” 54.

Assim, com arrimo na doutrina de ROCHA, inicia se tal identificação: O Meio Ambiente do Trabalho representa todos os elementos, inter-relações e condições que influenciam o trabalhador em sua saúde física e mental, comportamento e valores reunidos no lócus do trabalho, caracterizando-se, pois, como a soma das influências que afetam diretamente o ser humano, desempenhando aspecto chave na prestação e performance do trabalho 55.

Esta classe de meio ambiente, diferente das demais, não é abordada

enfaticamente na doutrina ou explicitamente no texto constitucional. Apesar desse fato,

aqui há de se afirmar esta classe como existente e fundamental. “Isto pela certeza de

que, além dos meios natural, artificial e cultural, existem meio ambientes peculiares que

não se encaixam, especificamente, nas classes já citadas, por conterem, em seu bojo,

características mistas, derivadas de todas as três” 56.

Se o meio ambiente natural destaca-se pela sua originária naturalidade, o meio

ambiente artificial pela sua artificialidade e o meio ambiente cultural pela sua valoração

cultural, o Meio Ambiente do Trabalho, por sua vez, evidencia-se pela manifestação

simultânea dessas três características.

“O Meio Ambiente do Trabalho é, apenas, uma espécie mista de meio ambiente,

derivada da junção de aspectos das outras três classes (natural artificial e cultural)” 57.

Por esta idéia, portanto, faz-se importante salientar, todavia, que, para que um

determinado meio ambiente seja entendido como componente da classe mista, não basta

que do mesmo emane simultaneamente a naturalidade, a artificialidade e a valoração

cultural. Nesse contexto, “além da simultaneidade, as referidas adjetivações dever-se-ão

54 MEIRELES, Edilton. Competência e procedimento na justiça do trabalho: primeiras linhas da reforma do judiciário. São Paulo: LTr, 2005, p. 80. 55 ROCHA, Júlio César de Sá da. Direito Ambiental e Meio Ambiente do Trabalho. Dano, prevenção e proteção jurídica. São Paulo: Ltr, 1997, p.88. 56 MEIRELES, Edilton. Competência e procedimento na justiça do trabalho: primeiras linhas da reforma do judiciário. São Paulo: LTr, 2005, p. 82. 57 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 7. ed. rev., atual. E ampl. –São Paulo: Saraiva, 2006, p. 49.

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manifestar com a mesma intensidade, de modo que nenhuma das três, individualmente,

ofusque as demais” 58.

Desta forma, Inserido neste contexto, e para completar este entendimento de

classificação do meio ambiente, acrescenta-se o Meio Ambiente do Trabalho, que é

entendido como o local onde as pessoas exercem suas atividades laborais.

Seguindo esta linha de raciocínio, vejamos o que preceitua SILVA:

[...] merece referência em separado o Meio Ambiente do Trabalho, como o local em que se desenrola boa parte da vida do trabalhador, cuja qualidade de vida está, por isso, em íntima dependência da qualidade daquele ambiente. É um meio ambiente que se insere no artificial, mas digno de tratamento especial, tanto que a Constituição o menciona explicitamente no art. 200, VIII, ao estabelecer que uma das atribuições do Sistema Único de Saúde consiste em colaborar na proteção do ambiente, nele compreendido o do trabalho. O ambiente do trabalho é protegido por uma série de normas constitucionais e legais destinadas a garantir-lhe condições de salubridade e de segurança 59.

Podemos conceituar Meio Ambiente do Trabalho como o conjunto de fatores

físicos climáticos ou qualquer outro que interligados ou não, estão presentes e envolvem

o local de trabalho da pessoa. Nesta mesma linha de pensamento o eminente jurista

FIORILLO preleciona:

Constitui Meio Ambiente do Trabalho o local onde as pessoas desempenham suas atividades laborais, sejam remuneradas ou não, cujo equilíbrio está baseado na salubridade do meio e na ausência de agentes que comprometem a incolumidade físico-psíquica dos trabalhadores, independente de idade, celetistas, servidores públicos, autônomos etc 60.

Por ser onde o trabalhador passa grande parte de sua vida, a qualidade deste

ambiente esta intimamente ligada a sua qualidade de vida, esta inserido no meio

ambiente artificial e mereceu especial atenção do legislador constituinte.

58 Ob. Cit., p. 50. 59 SILVA, José Afonso da. Direito ambiental constitucional. São Paulo: Malheiros, 2002, p.97. 60 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 7. ed. rev., atual. E ampl. –São Paulo: Saraiva, 2006, p.67.

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Fiorillo bem explicitou ao interligar o meio ambiente com o direito ao trabalho:

O mesmo se aplica com relação ao “direito ao trabalho” g), já que a saúde trata-se de um objetivo intrínseco ao meio ambiente, que dele não se separa. Em virtude disso, a doutrina, motivada pelo tratamento dado ao tema pela CRFB (arts. 200, VIII, 7º, XIV, XXXIII, entre outros incisos do referido artigo), “criou” o chamado Meio Ambiente do Trabalho, qual seja, local onde se exerce qualquer atividade laboral. Também aí, o meio ambiente deve ser ecologicamente equilibrado, com qualidade de vida, sob pena de inviabilizar o próprio exercício desta garantia prevista no artigo 6ºda CRFB: o direito ao trabalho 61.

O Meio Ambiente do Trabalho “enquadra-se perfeitamente em um exemplo de

meio ambiente misto” 62, que para manter a segurança, a saúde e a vida do trabalhador,

deve equilibrar o meio ambiente natural – com temperatura ideal, local com padrões

saudáveis de radiação, boa qualidade do ar etc., o artificial – com instalações seguras e

adequadas, equipamentos e ferramentas seguras, materiais de segurança presentes,

como o extintor de incêndio etc. – e o cultural – aplicação de técnicas e conceitos de

produção, preparo individual para técnicas de relações humanas etc.

Nesse diapasão, afirma FIORILLO que:

Importante frisar que meio ambiente é um só é regido por inúmeros princípios, diretrizes e objetivos. Com sua divisão se buscou facilitar a identificação da atividade degradante e do bem imediatamente agredido. O direito Ambiental tem como objetivo maior tutelar a vida saudável, sua classificação apenas facilita na identificação de qual valor foi mais afetado, com isso, podemos dividir em quatro aspectos: Meio Ambiente Natural, Artificial, Cultural e do Trabalho 63.

Examinado o tema em termos de legislação constitutiva e conceituação jurídica,

resta verificar a sua proteção jurídica. Como dito nossa CRFB/ 88 no seu art.7º, XXII,

incluindo entre os direitos dos trabalhadores o de ter reduzido os riscos inerentes ao

trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança, senão vejamos:

Art. 7º - São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...]

61 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco; RODRIGUES, Marcelo Abelha. Manual de Direito Ambiental e Legislação Aplicável. Editora Max Limonad, 1997.p.31 62 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 7. ed. rev., atual. E ampl. –São Paulo: Saraiva, 2006, p. 53. 63 FIORILLO, Celso Antônio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 20.

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XXII - redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; [...] 64

A CRFB/ 88, determinando no seu art. 200, VIII, que no sistema de saúde o Meio

Ambiente do Trabalho deve ser protegido, mostra uma moderna posição com relação ao

tema, de forma que as questões referentes ao Meio Ambiente do Trabalho transcendem

a questão de saúde dos próprios trabalhadores, extrapolando para toda a sociedade.

Art. 200. Ao sistema único de saúde compete, além de outras atribuições, nos termos da lei: [...] VIII - colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho 65.

Sobre Meio Ambiente do Trabalho, OLIVEIRA, por seu turno, afirma:

O Meio Ambiente do Trabalho está inserido no meio ambiente geral (art. 200, VII, da Constituição da República), de modo que é impossível alcançar qualidade de vida sem ter qualidade de trabalho, nem se pode atingir meio ambiente equilibrado e sustentável, ignorando o Meio Ambiente do Trabalho 66.

É relevante destacar que, apesar de não ser explicitamente tratado pela doutrina

e de não ser diretamente citado pela CRFB/ 88, não se faz incoerente dizer que o meio

ambiente misto onde este inserido o Meio Ambiente do Trabalho é tutelado pelo Direito

Ambiental brasileiro. Diz-se isso pela certeza de que no momento “em que a CRFB/ 88

estabelece linhas para as “proteções individuais” do meio ambiente natural, do meio

ambiente artificial e do meio ambiente cultural está ela, indiretamente, tutelando o meio

ambiente misto” 67, já que esta classe de meio ambiente nada mais é do que a expressão

simultânea e de mesma intensidade da naturalidade originária (do meio ambiente

natural), da artificialidade (do meio ambiente artificial) e da valoração cultural (do meio

ambiente cultural).

Verificando a importância do Meio Ambiente do Trabalho, para o exercício do

direito a este, não há que olvidar da necessidade de um ambiente equilibrado e saudável

64 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, p. 11. 65 Ob. Cit., p.81. 66 OLIVEIRA, Sebastião Geraldo. Proteção jurídica à saúde do trabalhador. 4. ed. São Paulo: LTr, 2002. p. 129. 67 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 7. ed. rev., atual. E ampl. –São Paulo: Saraiva, 2006, p. 58.

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para a o exercício de uma vida de forma digna, especialmente ao considerar a

importância da saúde do trabalho, para o desenvolvimento deste exercício.

Ante o exposto, podemos concluir que o conceito de meio ambiente evoluiu,

abrangendo atualmente, além do fator natural e físico, o cultural, o artificial e o

relacionado ao trabalho. Quanto a este último em especial, “constata-se que tomou

conotação transindividual e de interesse difuso, possibilitando, inclusive, a sua proteção

por meio da Ação Civil Pública com fulcro na Lei 7.347/85, um assunto que será

abordado mais a frente” 68.

O fato é que o Meio Ambiente do Trabalho tornou-se um importante direito de

todos os trabalhadores e da sociedade como um todo, além de um dever do Estado de

protegê-lo.

Todas as ciências necessitam de um conjunto teórico-filosófico que ampare seu

complexo lógico-sistemático. Não ocorre diferença com o Direito Ambiental. Assim,

consagrados no art. 225 da CRFB/88 temos alguns dos principais princípios aos quais

serão estudados a seguir.

68 GONÇALVES, Aroldo Plínio. A ação civil pública na justiça do trabalho. Revista LTr. São Paulo, v. 58. N. 10. 1994, p. 26.

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1.3 PRINCÍPIOS INFORMADORES DO DIREITO AMBIENTAL

Para que o Direito Ambiental se tornasse autônomo, foi necessário legitimar

princípios ou mandamentos básicos, os quais fundamentam o seu desenvolvimento

dando consistência às suas concepções.

Os princípios do Direito Ambiental estão voltados para a finalidade básica de

proteger a vida, em qualquer forma que esta se apresente, e garantir um padrão de

existência digno para os seres humanos desta e das futuras gerações, bem como de

conciliar estes dois elementos com o desenvolvimento sustentável.

Na lição LEITE e AYALA, os princípios ambientais têm como função” Definir e

cristalizar determinados valores sociais, que passam, então, a ser vinculantes para toda

atividade de interpretação e aplicação do direito” 69.

Logo, com o auxílio dos princípios de Direito Ambiental, encontrar-se-á uma base

comum para a formação de uma justiça ambiental, da qual o operador do direito poderá

agir fundado em norma e costumes jurídicos, para a consecução da proteção ambiental.

1.3.1 CONCEITO DE PRINCÍPIO

Dentro da perspectiva de proteção ao meio ambiente sadio e equilibrado, torna-se

necessária a compreensão inicial do que sejam princípios, como se encontram inseridos

na CRFB/ 88 e ainda qual a sua carga valorativa a fim de dar garantia ao meio ambiente.

Partindo da definição contida em SILVA do que seja princípio: “Revelam o conjunto de

regras ou preceitos, que se fixam para servir de norma a toda espécie de ação jurídica,

traçando, assim a conduta a ser tida e qualquer operação jurídica” 70.

69 LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Direito Ambiental na sociedade de risco, p. 38 70 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 15ed. Ver. E atual. Nagib Slaibi Filho e Geraldo Magela Alves (atual.). Rio de Janeiro: Forense. 1999. p.639.

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“A palavra princípio dá a idéia de início, começo, ponto-de-partida” 71. É a regra

fundamental de uma ciência. No âmbito do Direito é utilizado como base, alicerce ou

fundamento. “É o principio que vai indicar que norte tomará todo o rumo de uma ciência,

sendo para a ciência do direito, portanto, de maior valia do que as normas jurídicas em si,

pois aqueles estão contidos nestas, porém, não ocorre o contrário” 72. Os princípios

também são amiúde usados em casos em que as normas não conseguem abranger o

caso em tela.

Para REALE:

Princípios são, pois, verdades ou juízos fundamentais que servem de alicerce ou de garantia de certeza a um conjunto de juízos, ordenados em um sistema de conceitos, relativos a dada porção da realidade. Às vezes também se denominam princípios certas proposições que, apesar de não serem evidentes ou resultantes de evidências, são assumidas como fundantes da validez de um sistema particular de conhecimentos, como seus pressupostos necessários 73.

O princípio designa a estruração de um sistema de idéias, pensamentos ou

normas por uma idéia mestra, e “é através desse pensamento chave, dessa baliza

normativa, que todas as demais idéias, pensamentos ou normas derivam, se reconduzem

e/ou se subordinam” 74.

Destas conceituações, constata-se que os princípios são as linhas mestras de

todo ordenamento jurídico, irradiando-se para as demais normas, podendo ainda ser

compreendido, como normas de superior hierarquia.

Doravante a meta será demonstrar alguns dos princípios para o Direito Ambiental

Brasileiro, ao lado da meta de se buscar uma maior definição do conteúdo de cada

princípio. De tal sorte, o objetivo será apontar princípios que possam ser incorporados ao

Direito Ambiental Brasileiro.

71 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 12. Ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 47. 72 Ob. Cit., p. 48. 73 REALE, Miguel. Filosofia do Direito. 19. ed. São Paulo: Saraiva, 1999, 139. ROCHA, Ibraim. Ação Civil Pública e o processo do trabalho. São Paulo: LTr. 1999, p. 60. 74 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 12. Ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 48.

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1.3.2 Princípio da precaução

O princípio da precaução corresponde à essência do direito ambiental. Estes

princípios têm como objetivo, afastar o perigo para com os bens ambientais. Precaução é

substantivo de verbo precaver-se, sugere cuidados antecipados, cautela para que uma

atitude ou ação não venha a resultar em efeitos indesejáveis. “Sendo de tal forma, uma

atitude ou medida antecipatória voltada preferencialmente para casos concretos” 75.

Observando e preocupando-se com este princípio, evitam-se perigos ambientais e

procura-se uma qualidade de vida ambiental favorável (um ambiente o máximo possível

livre de perigos), visando-se à consecução de fins de proteção ambiental básicos.

Princípio este, perfeitamente tipificado no art. art. 225, caput e § 1o. , inciso IV da

CRFB/88; e art. 2° da Lei n.6.938/81.

Como bem lembrado por DERANI: “Este princípio tem uma dimensão

pacificadora, firmando-se com o postulado de atuar previamente contra um risco,

principalmente valendo-se de planejamento e controle prévio de produtos” 76.

A aplicabilidade do princípio está ligada ao brocardo jurídico, “in dúbio pro

ambiente” 77, cujo significado tem seu fundamento no bem estar coletivo, ou seja, sempre

que for vislumbrado perigo de dano ao meio ambiente e falta de certeza científica

absoluta de possível risco ao meio ambiente, não deverão ser aplicadas as atividades de

risco. Este cuidado se justifica na medida em que os danos ambientais sempre se

apresentam de irreversível ou de difícil reparação.

Nesse laço, lembrado por MACHADO: ”A aplicação desse princípio não pode ser

distanciada na realidade prática, devendo constantemente se adaptar às novas situações

de risco, bem como servir de estímulo a mudança da legislação e do próprio judiciário” 78.

75 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p. 118. 76 DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. 2. ed. São Paulo: Max Limonad, 2001, p. 170. 77 É o aforismo aplicado, em matéria ambiental, a respeito do favorecimento ao meio ambiente. SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 24 ed. Ver. E atual. Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho Alves (atual.). Rio de Janeiro: Forense. 2004, p. 734. 78 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 9. Ed. São Paulo: Malheiros, 2001, p.75.

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A precaução privilegia a intenção de não se correr riscos, é uma precaução contra

riscos, uma vez que tomada mesmo sem saber se existem os riscos. Se já são

conhecidos, trata-se de preveni-los.

Como bem salienta Derani a este respeito:

Precaução é cuidado (in dúbio pro securitate). O princípio da precaução está ligado aos conceitos de afastamento de perigo e segurança das gerações futuras, como também de sustentabilidade ambiental das atividades humanas. Este princípio é a tradução da busca da proteção da existência humana, seja pela proteção de seu ambiente como pelo asseguramento da integridade da vida humana. [...] O alcance deste princípio depende substancialmente da forma e da extensão da cautela econômica, correspondente a sua realização 79.

Portanto, o princípio da precaução, busca remédios antecipatórios contra o dano

ambiental, ou seja, cria condições para que não ocorram situações de degradação

ambiental. Evitando o risco ainda imprevisto.

1.3.3 Princípio da prevenção

Prevenção é substantivo do verbo prevenir, “e significa ato ou efeito de antecipar-

se, chegar antes; simples antecipação no tempo” 80.

Prevenir é “a forma de antecipar-se aos processos de degradação ambiental,

mediante medidas de proteção aos recursos naturais. É evitar ou minimizar os danos ao

meio ambiente. Este princípio esta vinculado com a certeza que ocorrerá o impacto,

desta forma agindo para impedi-lo ou mitigá-lo” 81.

Para que o ser humano possa agir de forma mais eloqüente, é preciso que tenha

o conhecimento do que prevenir, com razão MILARÉ afirma que:

Prevenção é substantivo do verbo prevenir, e significa ato ou efeito de antecipar-se, chegar antes; simples antecipação no tempo. Já a Precaução é substantivo do verbo precaver-se, sugere cuidados

79 DERANI, Cristiane. Direito ambiental econômico. 2. ed. São Paulo: Max Limonad, 2001, p. 171. 80 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 24 ed. Ver. E atual. Nagib Slaibi Filho e Geraldo Magela Alves (atual.). Rio de Janeiro: Forense. 2004, p. 1345. 81 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 12. Ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 63.

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antecipados, cautela para que uma atitude ou ação não venha a resultar em efeitos indesejáveis. Esta diferença etimológica e semântica sugere que a prevenção é mais ampla do que a precaução e que esta última, é atitude, ou medida antecipatória voltada preferencialmente para casos concreto 82.

Considerando que o dano ambiental é quase sempre irreversível, RODRIGUES

assevera que:

Deve-se entender o vocábulo proteção utilizado pelo artigo 225 da Constituição Federal, como forma de prevenção, e não somente como reparação, em razão da idéia de proteção e preservação ligarem-se à conservação da qualidade de vida para as futuras gerações 83.

O princípio da prevenção está ligado à eliminação de circunstâncias que já são

comprovadamente prejudiciais ao meio ambiente. Nesta mesma linha de pensamento

preleciona MODÉ:

Enquanto o princípio da precaução preocupa-se em não permitir se tomem decisões de impacto no meio ambiente sem que haja certeza quanto as suas conseqüências numa análise científica, o princípio da prevenção cuida do dever jurídico de se evitar a consumação de danos ao meio ambiente 84.

O princípio da prevenção dá a diretriz no sentido de impedir a efetivação de

medidas comprovadas cientificamente causam prejuízos ao meio ambiente.

Este princípio também tem sua dicção expressa na Lei 6.938 de 31 de agosto,

que dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, artigo 2º:

A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação, melhoria e recuperação de qualidade ambiental propícia à vida, visando assegurar, no país, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos interesses da segurança nacional, e à proteção da dignidade da vida humana, atendidos os seguintes princípios: I - ação governamental na manutenção do equilíbrio ecológico, considerando o meio ambiente como um patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido, tendo em vista o uso coletivo; [...] IV - proteção dos ecossistemas, com a preservação de áreas representativas; [...] IX - proteção de áreas ameaçadas de degradação.

82 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p. 118. 83 RODRIGUES, Marcelo Abelha. Instituições de direito ambiental: parte geral. São Paulo: Max Limoard, 2002, p. 149. 84 MODÉ, Fernando Magalhaes. Tributação Ambiental – A função do Tributo na Proteção do Meio Ambiente. 1. Ed. (ano 2003) 2 tir.. Curitiba: Juruá, 2004, p. 51.

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A importância do princípio da prevenção está diretamente relacionada ao fato de

que, se ocorrido o dano ambiental, a sua reconstituição é praticamente impossível.

Tornando-se assim,, a prevenção a melhor, quando não a única, solução.

1.3.4 Princípio da Cooperação

Novamente retornando à disposição normativa constante no art. 225, “caput” da

CRFB/ 88, temos que, sendo dever de todos a proteção do meio ambiente em seu

equilíbrio ecológico, compete não apenas ao Estado mas a todos os cidadãos promover

esta proteção.

Neste sentido o princípio supracitado orienta o desenvolvimento político, por meio

do qual se pretende uma maior composição das forças sociais. “Ele busca uma atuação

conjunta do Estado e da sociedade, na escolha de prioridades e nos processos

decisórios” 85.

Tem como objetivo buscar um consenso com os diversos grupos, impondo-se

uma adequação dos diversos interesses relevantes. Sobre esta particularidade, Leite,

assim preleciona:

O princípio da cooperação está ligado ao princípio da participação, uma vez que a cooperação necessita para a sua consecução, do exercício da cidadania participativa e da co-gestão dos diversos Estados na preservação da qualidade ambiental 86.

A cooperação que aqui está elencada tem a ver com “as relações estabelecidas

entre o Poder Público e a sociedade civil, este princípio também abrange a cooperação

internacional e impõe o dever a todos os Estados de colaborarem entre si para proteger

eficazmente o ambiente” 87.

85 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 12. Ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 78. 86 LEITE, José Rubens Morato. Dano Ambiental: do individual ao coletivo extrapatrimonial. 2° ed. Ver. Atual. e ampl. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 1989, p.53. 87 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 12. Ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 85..

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O principio da cooperação passou a fazer parte dos princípios internacionais,

presente em vários tratados e convenções, nacionalmente é sucedâneo do princípio

genérico equivalente, presente este na Carta Magna, em seu artigo 4°, inciso IX. Senão

vejamos:

Art. 4º A República Federativa do Brasil rege-se nas suas relações internacionais pelos seguintes princípios: [...] IX - cooperação entre os povos para o progresso da humanidade; [...]

Pouco adiantaria uma proteção a nível nacional se os demais países não

procedessem de maneira análoga na busca pelo pleno equilíbrio ambiental, pois somente

a humanidade unida neste propósito pode alcançar o almejado desenvolvimento, para o

qual os países mais desenvolvidos industrialmente muito devem contribuir e de modo que

se leve sempre em consideração a tutela do meio ambiente em suas metas de ação.

1.3.5 Princípio da Participação

Tal princípio apresenta-se, atualmente, como uma das principais armas na luta

por um ambiente ecologicamente equilibrado, “cujas diretrizes atuam esperando um

resultado a longo prazo, mas com uma vantagem: ataca-se a base dos problemas

ambientais, ou seja, a consciência ambiental” 88.

Na opinião de MILARÉ, o princípio da participação:

[...] expressa a idéia de que para a resolução dos problemas do ambiente deve ser dada especial ênfase à cooperação entre o Estado e a sociedade, através da participação dos diferentes grupos na formação e na execução da política ambiental 89.

É fundamental a participação do cidadão na implementação e no desenvolvimento

da política ambiental, contribuindo assim na proteção e na melhoria do ambiente, que,

afinal, é bem e direito de todos.

88 Ob. Cit., p. 86. 89 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p. 115.

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Esta participação do povo na elaboração das políticas ambientais pode verificar-

se de várias maneiras segundo MACHADO:

A primeira delas consubstancia-se no dever jurídico de proteger e preservar o meio ambiente; a segunda, no direito de opinar sobre as políticas públicas, através da participação em audiências públicas, integrando órgãos colegiados etc; a terceira ocorre por meio da utilização de mecanismos judiciais e administrativos de controle dos diferentes atos praticados pelo executivo, tais como as ações populares, as representações e outros. E há ainda, as iniciativas legislativas que podem ser patrocinadas pelos cidadãos, sendo elas: o Plebiscito, previsto no art. 14, I; o referendo, previsto no art. 14, II e a Iniciativa Popular, prevista no art. 14, III, todos da CRFB/ 88 90.

Diante disso, vê-se que tal princípio, explicadamente adotado na CRFB/ 88,

permitiu a atuação da coletividade nos diversos setores políticos, através da participação

individual e em grupo, mediante representação por entes governamentais e não

governamentais.

Salienta RODRIGUES, que o princípio da participação “é um desmembramento de

outros princípios constitucionais, previstos nos arts. 3° e 4° da CRFB/ 88 ”91 e é também,

uma complementação à atuação do Poder Público. Afirmando que:

Trata-se de postulado e objetivo fundamental da República Federativa do Brasil que a sociedade seja solidária, justa, e que coopere entre si de modo a alcançar o bem-estar social. Isso vem demonstrar caráter ético do princípio da participação, especialmente voltado para a seara ambiental 92.

Pode-se assim dizer que, cada cidadão deve fazer a sua parte em relação aos

bens e valores ambientais, e mais do que isso, exigir que todos façam a sua parte.

Somente assim, o princípio da participação alcançará seu objetivo com a verdadeira

participação da sociedade na questão da conscientização ecológica.

90 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 12. Ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 82-83. 91 RODRIGUES, Marcelo Abelha. Instituições de direito ambiental: parte geral. São Paulo: Max Limoard, 2002, p. 253. 92 Ob. Cit., p. 256.

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1.3.6 Princípio da reparação

Frustrada a possibilidade de evitar a dano ao meio ambiente por meio dos

princípios da precaução e da prevenção, a única forma restante de materializar a defesa

ao meio ambiente é a reparação do dano,” recompondo, recuperando ou restaurando

assim o bem ambiental. O principio da reparação tem como meta desenvolver ao meio

ambiente as funções que indevidamente lhe foram retiradas” 93 , fazendo voltar ao status

quo ante94.

Um dano ecológico justifica uma reparação igualmente ecológica. Esta reparação

envolve a restauração e a compensação ecológica. “Se o dano já ocorreu, porque falhou

a prevenção, deve-se buscar um máximo de eficiência, justamente para se efetivar o

mais rápido possível, com menor custo e maior aproveitamento, a recuperação da lesão

ambiental ocorrida” 95.

Assim, a restauração envolve a recuperação da situação ambiental anterior ao

dano, que não significa necessariamente a reconstituição de uma situação materialmente

idêntica à que existia antes do fato lesivo, mas um estado funcionalmente equivalente ao

anterior. “Já a compensação ecológica, é recomendável onde a recuperação do bem

ambiental não seja cabível” 96. Nesse caso, cabe ao autor do ato lesivo, ressarcir a dano,

melhorando as condições ambientais no conjunto como um todo.

Segundo MIRRA, a reparação tende à compensação do dano assim:

A reparação do prejuízo ambiental significa a adaptação do meio ambiente degradado e dos seus elementos atingidos a uma situação que possa ser a mais próxima possível daquela a anterior à realização do dano ou daquela em que estariam se o prejuízo não tivesse se verificado 97.

93 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 12. Ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 75. 94 Locução latina, exprimindo o mesmo estado anterior. SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 24 ed. Ver. E atual. Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho Alves (atual.). Rio de Janeiro: Forense. 2004, p. 1327. 95 MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito ambiental brasileiro. 12. Ed. São Paulo: Malheiros, 2004, p. 76. 96 LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Direito ambiental na sociedade de risco. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p. 122. 97 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação Civil Pública e a reparação do dano ao meio ambiente. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p. 286.

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Com efeito, deve-se encontrar em cada caso concreto, a melhor forma de

compensar o prejuízo causado e de evitá-lo. Uma compensação pecuniária ou in natura

sempre poderá e/ou deverá ser acordada para a recomposição, na medida do possível,

do ambiente degradado.

Desta forma, a reparação está forçosamente ligada a um prejuízo, e aparece

como a compensação desse prejuízo, o qual não pode jamais ser completamente

eliminado. Pior do que um dano ambiental é um dano ambiental que não foi revertido,

corrigido ou compensado, posto que a partir da falta de atenção a estes fatos é que

novos danos virão, sempre mais graves e de difícil reparação.

1.3.7 Princípio da responsabilidade

Entende-se por princípio da responsabilidade, “a imputação a ser feita a todos os

agentes causadores de danos ao meio ambiente, que deverão arcar com parcelas destes

prejuízos” 98.

Especificadamente no direito ambiental, ganha abrangência muito maior, tendo

em vista que os danos causados ao meio ambiente, não repercutem em apenas uma

pessoa, mas acabam trazendo prejuízos a toda a sociedade e não muito raro ao mundo.

No entendimento de ANTUNES, o princípio da responsabilidade é:

[...] o princípio pelo qual o poluidor deve responder por suas ações ou omissões em prejuízo do meio ambiente, de maneira ampla, de forma que se possa repristinar a situação ambiental degradada que a penalização aplicada tenha efeitos pedagógicos e impedindo-se que os custos recaiam sobre a sociedade 99.

O princípio da responsabilidade também encontra respaldo no § 3, do artigo 225,

da CRFB/ 88, ao qual dá-se ênfase a figura dos infratores e as sanções penais e

administrativas, às quais se junta a obrigação de reparar os danos.”As condutas e

atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas

98 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 7. ed. rev., atual. E ampl. –São Paulo: Saraiva, 2006, p. 124. 99 ANTUNES, Paulo Bessa. Direito Ambiental. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2007, p. 28.

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físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação

de reparar os danos causados”100. Esse artigo faz ressaltar obrigações que se reclamam

respostas reparadoras deste dano e preventivas de sua perpetuação.

Pelo princípio da responsabilidade imputa-se ao poluidor a obrigação de que,

“caso este não se comporte no sentido de assumir todos os encargos pelos quais é

ordinariamente responsável em função de sua atividade, o Poder Judiciário deverá ser

provocado para responsabilizá-lo” 101.

Sendo assim, se o dano ocorreu, porque falhou a política preventiva, deve-se

buscar um máximo de eficiência, justamente para se efetivar o mais rápido possível, com

menor custo e maior aproveitamento, a recuperação da lesão ambiental ocorrida.

Dessa forma, a responsabilidade ambiental deve ter um sentido pedagógico tanto

para o poluidor como para a própria sociedade, de maneira que todos possam aprender a

respeitar o meio ambiente.

1.3.8 Princípio do poluidor pagador

Para ser efetiva a tutela ambiental, necessário se faz que o perturbador ilícito da

ordem ambiental responda pelo seu ato, sendo este o objetivo do princípio do poluidor-

pagador, presente na CRFB/ 88, em seu artigo 225, § 3° já mencionado e transcrito no

princípio ambiental supracitado e o artigo 4°, inciso VII da Lei 6839/81 regulador da

política ambiental nacional, a saber: “Ao degradador deve ser imposta a obrigação de

recuperar e ou indenizar os danos causados”.

Ao lecionar sobre o princípio do poluidor-pagador menciona RODRIGUES:

O princípio do poluidor-pagador, juntamente com o do desenvolvimento sustentável (utilização racional dos componentes ambientais, que também constituem um direito das futuras gerações) e com a identificação do objeto de proteção do direito ambiental (equilíbrio ecológico derivado da interação de seus componentes – bens de uso

100 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, p.88. 101 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 7. ed. rev., atual. E ampl. –São Paulo: Saraiva, 2006, p.125.

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comum), constituem os mais robustos “pilares” do direito ambiental, sobre os quais devem se assentar todas as normas do ordenamento jurídico do ambiente 102.

De acordo com este princípio, o poluidor não basta pagar, pois se o pagamento

fosse suficiente, pessoas e empresas possuidoras de grandes fortunas continuariam

poluindo e simplesmente pagando. “Ao contrário, estas terão por obrigação que recuperar

o dano causado, fazendo com que a área lesada retorne ao seu status quo ante” 103.

A objetivação deste princípio pelo direito ocorre ao dispor ele de normas

definidoras do que se pode e do que não se deve fazer, bem como regras flexíveis

tratando de compensações, dispondo inclusive sobre taxas a serem pagas para a

utilização de um determinado recurso natural.

Portanto, não objetiva tolerar a poluição mediante um preço, nem se limita apenas

a compensar os danos causados, mas sim, evitar o dano ao ambiente. O custo a ser

imputado ao poluidor não está exclusivamente vinculado à imediata reparação do dano.

O verdadeiro custo está numa atuação preventiva, consistente no preenchimento da

norma de proteção ambiental.

Sobre o custo do dano ambiental, MILARÈ afirma: “[...] a cobrança só pode ser

efetuada sobre o que tenha respaldo na lei, pena de se admitir o direito de poluir. Trata-

se do princípio poluidor-pagador (poluiu, paga os danos), e não pagador-poluidor (pagou,

então pode poluir)” 104.

O causador pode ser obrigado pelo Estado a mudar o seu comportamento ou a

adotar medidas de diminuição da atividade danosa. Dessa forma, o que se estaria

praticando seria a não poluição.

Arrematando-se o estudo sobre poluidor-pagador adota-se o entendimento por

LEITE e AYALA: “A essência do princípio do poluidor-pagador é eminentemente

102 RODRIGUES, Marcelo Abelha. Instituições de direito ambiental: parte geral. São Paulo: Max Limoard, 2002, p 139. 103 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de Direito Ambiental Brasileiro. 7. ed. rev., atual. E ampl. –São Paulo: Saraiva, 2006, p. 128. 104 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente: doutrina, prática, jurisprudência, glossário. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2000, p. 117.

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preventiva, comportando assim uma tríplice dimensão, que é primeiro preventiva,

posteriormente reparatória e por último repressiva (solução ressarcitória)” 105.

O princípio do poluidor-pagador tem por sua maior virtude em precisar que a

atividade econômica é essencialmente poluidora e que os agentes poluidores devem ser

responsabilizados.

Ventiladas estas sucintas, embora suficientes, considerações atinentes aos

princípios informadores do direito ambiental, do qual torna-se necessário distingui-los

para entendimento do propósito da obra., passa-se, ato seguinte, ao exame do instituto

da ação civil pública.

2 AÇÃO CIVIL PÚBLICA

As relações jurídicas não se limitam mais, nos dias de hoje, dentro da clássica

dicotomia dos interesses públicos e privados. “As necessidades coletivas emergentes da

sociedade atual ensejam o aparecimento de novas soluções que permitam a defesa de

direitos constitucionalmente assegurados aos jurisdicionados” 106. O legislador, diante

deste quadro social, criou mecanismos para assegurar proteção a essas macro lesões

com ações abrangentes, processos coletivos, que possam resolver de maneira uniforme

os problemas comuns a um grupo de pessoas determinado ou não, objetivando

concretizar instrumentos idôneos à consecução de uma ordem jurídica mais justa e

efetiva.

2.1 INSTITUTO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Há, na atualidade, uma necessidade de mecanismos de solução de conflitos de

uma sociedade de massa. “A sociedade de massa apresenta problemas que

transcendem à órbita meramente individual. Assim, os conflitos que surgem nessa

105 LEITE, José Rubens Morato; AYALA, Patryck de Araújo. Direito ambiental na sociedade de risco. Rio de Janeiro: Forense, 2002, p.80. 106 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p. 113.

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sociedade são denominados conflitos de massa” 107·. Isto é, as lides envolvem um

elevado número de pessoas, causando lesões massivas. Os danos atingem, muitas

vezes, um número indeterminado de pessoas, chegando, inclusive, a ultrapassar

fronteiras. E é nesse sentido que se chegou à Ação Civil Pública.

Como bem observa MILARÉ:

Numa sociedade como essa – uma sociedade de massa – há que existir igualmente um processo civil de massa. A ‘socialização’ do processo é um fenômeno que, embora não recente, só de poucos anos para cá ganhou contornos mais acentuados, falando-se mesmo em normas processuais que, pelo seu alcance na liberalização dos mecanismos de legitimação ad causam vão além dos avanços verificados nos países socialistas. ‘Tudo é público e qualquer pessoa pode tutelar direitos’ (...) Ação Civil Pública insere-se nesse quadro de grande democratização do processo (...) e num contexto daquilo que, modernamente, vem sendo chamada de ‘teoria da implementação’, atingindo, no direito brasileiro conferidos no plano material só fazem sentido quando o ordenamento jurídico coloca nas mãos de seus titulares ou de seus representantes ideológicos (Ministério Público, associações, etc.) mecanismos efetivos par seu exercício. Essa é a missão da Ação Civil Pública 108.

Prevista, inicialmente, na Lei Complementar n. 40, de 14.12.1981, cujo artigo 3°,

III, estabelecia: “São funções institucionais do MP: III – promover a Ação Civil Pública,

nos termos da lei”. Desta forma, de acordo com a redação, interpretava-se como ação

exclusiva do MP.

Mas adiante, especificamente em 24 de julho de 1985, o legislador brasileiro,

editou a Lei n. 7.347, também conhecida por Lei da Ação Civil Pública ou pela sigla

LACP.

A LACP, de acordo com a redação, “possibilitou face o art. 1º, responsabilização

por danos morais e patrimoniais causados ao meio ambiente, ao consumidor, a bens e

direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico” 109.

Tendo sido vetado o inciso IV que dispunha acerca de qualquer outro interesse

difuso ou coletivo. O projeto aprovado no Congresso Nacional e encaminhado à sanção

presidencial alargava, no seu inciso IV do art. 1°, no âmbito da Ação Civil Pública para

107 Ob. Cit., p. 114. 108 MILARÉ, Édis. Ação Civil Pública. Lei n. 7.347/85: reminiscências e reflexões após 10 anos de aplicação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 231-232. 109 Ob. Cit., p.234.

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“qualquer outro interesse difuso ou coletivo”, mas esse inciso recebeu veto do então

Presidente da República, José Sarney, que foi mantido pelo Poder Legislativo.

Posteriormente, com promulgação da CRFB/88, em 5 de outubro de 1988, a Ação

Civil Pública foi alçada à categoria de garantia fundamental, trazendo em seu artigo 129 –

III, como função institucional do Ministério Público promover o inquérito civil e a Ação Civil

Pública, para proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros

interesses difusos e coletivos, recuperando desta forma, o veto aquele inciso IV da LACP.

In verbis110:

Art. 129 – São funções institucionais do Ministério Público: [...] III – promover o inquérito civil e a Ação Civil Pública, para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos; [...] 111

De efeito, a partir da Carta de 1988, a Ação Civil Pública teve sua abrangência

ampliada, incluindo sob o manto de sua proteção além do meio ambiente, do consumidor

e do patrimônio cultural, “outros interesses difusos e coletivos”.

Logo à vista do quanto exposto, é curial pontificar o que preconiza FIORILLO:

A Ação Civil Pública não se presta somente à defesa dos direitos difusos ou coletivos, mas também à tutela dos interesses e direitos individuais homogêneos, os quais vêm conceituados no art. 81, parágrafo único, III, do CDC, que instituiu no sistema processual brasileiro as ações coletivas para a tutela dos direitos individuais homogêneos, mais uma modalidade de ação coletiva, ao lado das destinadas à defesa dos direitos difusos e coletivo 112.

Com a chegada do Código de Defesa do Consumidor (Lei n.8078, de 11 de

setembro de 1990), cujo art. 110 acrescentou o inciso IV ao art. 1° da Lei n. 7.347/85,

restabelecendo, assim, um dos objetivos previstos originariamente no anteprojeto da

LACP, qual seja: a proteção de “qualquer outro interesse difuso ou coletivo”.

110 Locução latina, que significa: nestes termos. SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 24 ed. Ver. E atual. Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho Alves (atual.). Rio de Janeiro: Forense. 2004, p.774. 111 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, p.11. 112 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 7. ed. rev., atual. E ampl. –São Paulo: Saraiva, 2006, p. 167.

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2.2 OBJETO ORIGINAL E NATUREZA JURÍDICA

Segundo dispõe a Lei n. 7.347/85, em seu artigo 1°, é a Ação Civil Pública de

responsabilização por danos morais e patrimoniais ao meio ambiente, ao consumidor, a

bens e direitos de valor artísticos, estético, histórico, turístico e paisagístico, a qualquer

outro interesse Difuso ou Coletivo e por infração da ordem econômica e da economia

popular, podendo como preceitua seu artigo 3°, in verbis: “ter por objeto a condenação

em dinheiro ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer”.

Considerando tal assertiva, LEITE afirma que:

Não há dúvida de que, abstraindo-se o conceito genérico de que toda ação possui conteúdo declaratório, trata-se, em princípio, de uma ação de natureza condenatória. Excepcionalmente, porém, quando a Ação Civil Pública visa apenas a anulação ou declaração de ato lesivo praticado por autoridade pública contra direitos e interesses protegidos por este tipo especial de ação, como prevê o art. 25, IV, b, da Lei 8.625/93 113.

Nessa ordem, seria factível afirmar que, “abstraindo-se o conceito genérico de

que toda ação possui conteúdo declaratório, a Ação Civil Pública visaria, em linha de

princípio, a um provimento jurisdicional de natureza condenatória” 114.

Na mesma linha de raciocínio CAMPOS BATALHA, informa que:

[...] ao passo que a ação popular tem natureza declaratória (reconhecimento de nulidade) ou constitutiva (decretação de anulabilidade ou ineficácia), a Ação Civil Pública tem precipuamente natureza condenatória (condenação a pagamento em dinheiro ou ao cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer) 115.

Esse novo perfil leva em conta não apenas a reparação, mas acima de tudo a

proteção daqueles importantes interesses contidos no art. 129, III, da CRFB/88, in verbis:

“promover o inquérito civil e a Ação Civil Pública, para a proteção do patrimônio público e

social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos.”

113 BEZERRA LEITE, Carlos Henrique. Ação civil trabalhista. Revista Genesis. N. 39. P. 316. Mar. 96. 114 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p. 115. 115 CAMPOS BATALHA, Wilson de Souza. Direito Processual das coletividades e dos grupos. São Paulo: LTr. p. 243.

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A conclusão é que se está diante de uma ação de natureza jurídica condenatória,

tendo assim ressaltada sua substância na determinação judicial para que o agente faça

ou deixe de fazer alguma coisa em vista da proteção de Direitos e Interesses Difusos,

Coletivos ou Individuais Homogêneos.

A lei da Ação Civil Pública “trouxe em seu bojo uma série de inovações técnico-

processuais, permitindo um alargamento no Direito Processual e estabelecendo

alterações consideráveis capazes de delinear uma mudança na ótica privatística do

processo civil” 116. As novas técnicas processuais nascem com a finalidade de

democratizar o Direito, buscando promover o ideal de justiça e de solução pacífica dos

conflitos sociais.

2.3 INTERESSES METAINDIVIDUAIS

Interesse, na sua expressão gramatical, “atua com função substantiva de

significado amplo. Ora pode impor sentido de conveniência, lucro material, proveito de

determinada situação ou vantagem oriunda de uma transação ou de qualquer benefício” 117.

Interesse, em sentido comum, ensina ROCHA: “É aquele que interliga uma

pessoa a um bem de vida, bem este que representa um determinado valor para esta

pessoa, distinguindo-o do interesse particular para a pessoa, possui valoração social que

outorga uma proteção-coação” 118.

Pode, também, exprimir expressão de “um sentimento egoísta ou de cobiça,

impulsionado para alimentar desejo de um proveito pessoal que tudo sacrifica para a

obtenção de ganhos pecuniários” 119.

116 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p. 117. 117 SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 24 ed. Ver. E atual. Nagib Slaibi Filho e Geraldo Magela Alves (atual.). Rio de Janeiro: Forense. 2004, p. 1357. 118 ROCHA, Ibraim. Ação Civil Pública e o processo do trabalho. São Paulo: LTr. 1996, p.28. 119 MAZZILI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 11. Ed. São Paulo: Saraiva. 1999, p. 119.

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Para bem se compreender os limites jurídicos do vocábulo "interesse", há de se

começar desvendando as múltiplas concepções que ele tem no âmbito do conhecimento,

sem se abandonar o seu estrito sentido gramatical. A ciência jurídica enfrentou

dificuldades para fixar, com absoluta segurança, o que deve ser entendido como

"interesse" para o mundo do direito, em face da amplitude como o concebeu.

Por sua vez, ROCHA relaciona o seguinte entendimento:

Quando os interesses começam a transcender o interesse individual, projetando efeitos para além do psicológico de um indivíduo isolado, estes interesses passam a ser importantes para a manutenção da ordem de uma dada sociedade, e assim o direito busca tutelá-los, deixando conseqüentemente, de ser meros interesses comuns e assumindo o caráter de interesse ser interesse jurídico 120.

O interesse, em sua forma simples ou comum, é uma expectativa de uma

vantagem limitada ao reduto de seu agente, ficando contido em sua esfera psíquica, sem

merecer, por isso, proteção jurídica.

Nesse diapasão informa TELES:

A existência de uma contraposição entre os interesses simples e aqueles juridicamente protegidos (direitos subjetivos), considerando o critério de sua coercitividade e atributividade, entre eles encontrando-se o Interesse Legítimo, que é mais do que interesse simples, na medida em que recebe certa proteção estatal e se afigura apropriado ao sistema jurídico como um todo; e, é menos do que o direito subjetivo, visto que não constitui uma situação jurídica diferenciada 121.

Há de ser considerado, por outro lado, que o campo dos interesses não se limita à

esfera particular, muitas vezes ultrapassando a simples individualidade. Em vista disso, e

que falar-se “em Interesse Geral, Social ou Interesse Público, querendo significar em um

sentido lato todos aqueles que, ainda que indiretamente venham a atingir a Sociedade

como um todo, abarcando inclusive os Interesses coletivos e Individuais indisponíveis” 122.

120 Ob. Cit., p.30. 121 TELES, João Carlos Poleti. Legitimidade para agir- interesses difusos. Rev. Júris Síntese. Porto Alegre: Ed. Síntese. N. 20, Nov/dez.99. 122 MAZZILI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 11. Ed. São Paulo: Saraiva. 1999, p. 120.

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Assim considerado, tem-se que situado entre Interesse Jurídico individual (que se

sobrepõe ao mero interesse comum restrito à esfera psíquica do indivíduo) e o Interesse

da Coletividade (que pode ter relevância social e conotações de Interesse Público), já há

algum tempo aponta a doutrina a existência de outros valores que merecem igualmente

tratamento jurisdicional, além daqueles já normatizados e subjetivados.

Prof. ANDRADE, assim classifica os diversos tipos de interesses:

- interesses individuais: são aqueles que dizem respeito às pessoas físicas ou jurídicas consideradas na sua individualidade, ou seja, se restringem à esfera de atuação de uma só pessoa; - Interesses grupais ou coletivos: São aqueles referentes a uma determinada categoria de pessoas que têm pontos em comum, impondo soluções homogêneas para a composição de conflitos; - Interesses difusos: são aqueles que não comportam uma determinação do sujeito do direito, também denominados metaindividuais; têm a característica da generalidade, da fluidez do objeto, por sua intensa litigiosidade interna e por sua tendência à mutação ou transição no tempo e no espaço. Têm um alcance maior do que o do direito coletivo, pois não emergem de um grupo organizado, mas da própria desagregação e indefinição de indivíduos. - Interesses gerais ou sociais: são aqueles afetos a toda a sociedade, chegando a ser confundidos com o interesse público, mas transcendo-o, na proporção em que os interesses do Estado podem conflitar, a um certo momento, com o interesse geral da sociedade 123.

Interesses Jurídicos, ainda que desprovidos de determinação (atributividade),

porquanto, já se disse, ainda que difuso o interesse é res omnium 124 e não res nullis 125,

merecendo portanto, proteção jurisdicional.

E, situando os Interesses Coletivos como a síntese de interesses Individuais,

MILARÉ define o campo de atuação da Ação Civil Pública, tendo em vista os interesses

instrumentalizados, reproduzidos na “imagem de vários círculos concêntricos, sendo o

círculo maior o do interesse público e, os menores, os de sua espécie: geral ou comum,

difuso, coletivo e individual indisponível” 126.

123 ANDRADE, Dárcio Guimarães de. A Ação Civil Pública no âmbito da justiça do trabalho. Revista Justiça do Trabalho nº 187, p. 75. 124 Pertencente. a todas as pessoas. SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 24 ed. Ver. E atual. Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho Alves (atual.). Rio de Janeiro: Forense. 2004, p. 1212. 125 É coisa de ninguém ou coisa sem dono. Ob. Cit., p. 1213. 126 MILARÉ, Édis. Ação Civil Pública. Lei n. 7.347/85: reminiscências e reflexões após 10 anos de aplicação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 245.

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Na mesma esteira, CAMPOS BATALHA informa a constituição do Interesse

Coletivo legítimo, ao salientar que:

Há disposições legais que estabelecem deveres cuja observância é de interesse geral e, portanto, sua execução está confinada aos órgãos do Estado. Pode ocorrer que essas disposições aproveitem a interesses particulares, além dos interesses gerais, embora o indivíduo não tenha a faculdade legal para forçar o obrigado ou liberá-lo de sua obrigação. Dessas normas não derivam direitos subjetivos considerados como faculdades, conferidas pelo ordenamento jurídico, a que correspondem específicos deveres jurídicos), mas “interesses” protegidos ou meros “efeitos reflexos” das normas jurídicas. A proteção desses interesses está a cargo do Estado, ao passo que o exercício dos direitos subjetivos não se realiza por atividade direta dos órgãos estatais 127.

Pode-se afirmar que, “o interesse jurídico é vinculado com uma utilidade

econômica buscada pelo agente como também, atuando para criar uma vantagem de

ordem moral. Esta, embora de natureza abstrata, atua como elemento formador da

honra, da dignidade, do respeito do homem e da sua cidadania” 128.

Diante da realidade apresentada em consideração aos mencionados Interesses

Metaindividuais a reclamar tutela judicial, para perfectibilizar o que venha a ser o instituto

da Ação Civil Pública, e especialmente a Ação Civil Pública no Âmbito da Justiça do

Trabalho, faz-se mister entender a definição e distinguir o que seja interesse difuso e

interesse coletivo.

Como veremos a seguir, procurou-se o Código de Defesa do Consumidor, como

afirma MAZZILLI, sistematizá-los e distingui-los tendo em conta a sua origem, como

segue:

a) se o que une interessados determináveis é a mesma situação de fato (p. ex., os consumidores que adquirem produtos fabricados em série com defeito), temos interesses individuais homogêneos; b) se o que une interessados determináveis é a circunstância de compartilharem a mesma relação jurídica (como os consorciados que sofrem o mesmo aumento ilegal das prestações) temos interesses coletivos em sentido estrito; c) se o que une os interessados indetermináveis é a mesma

127 CAMPOS BATALHA, Wilson de Souza. Direito Processual das Coletividades e dos Grupos. São Paulo: LTr. p. 244. 128 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p. 141.

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situação de fato (p. ex., os que assistem pela televisão a mesma propaganda enganosa), temos interesses difusos 129.

No vasto espaço do universo dos interesses de uma coletividade se enquadram

não só os individuais, mas, também, os difusos e coletivos nascidos no seio de um grupo

social intermediário, dentro de um modelo democrático participativo.

2.3.1 interesses difusos

São, assim, Transindividuais os Interesses Difusos, na medida em que situados

acima do simples Interesse singular; indivisíveis por essência, porquanto a natureza

coletiva não permite partilhando em cotas, de modo que sua lesão ou satisfação implica

necessariamente em igual tratamento a todos os interessados; e constituídos por

titularidade indeterminada, na medida em que estabelecida a relação entre seus

interessados apenas por uma circunstância fática.

Pode ser conceituado como sendo “todo aquele interesse de cunho

transindividual, de natureza indivisível, de que seja titular grupo, categoria ou classe de

pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica básica” 130

Esse é o conceito que se extrai do artigo 81, parágrafo único, I, da Lei n. 8.078/90,

senão vejamos:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente ou a título coletivo. [...] I - interesses ou direitos difusos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato;

Desta forma, para proteção jurídica requerida importa mais a síntese dos

Interesses diluídos que propriamente a titularidade a ser atribuida a esse ou aquele

indivíduo, observando-se que lesão, ou ameaça de lesão a ser perpetrada, ganha

129 MAZZILI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 11. Ed. São Paulo: Saraiva. 1999, p. 39. 130 Ob. Cit., p. 54.

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importância pela soma dos interesses que se encontram fragmentados, ainda que

pudesse ser desprezível se individualmente considerada.

Corroborando com tal explanação entende MANCUSO:

Altera-se, assim, fundamentalmente o esquema tradicional: a relevância jurídica do interesse não mais advém da afetação a um titular determinado, mas, ao contrário, do fato de que esse interesse concerne a uma pluralidade de sujeitos 131.

Pode-se afirmar, então que para a caracterização dos Interesses Difusos “deve se

fazer presente sua natureza coletiva, do que decorre a indivisibilidade de seu objeto, a

indeterminabilidade de seus titulares e a existência de uma circunstancia fática a

interrelacioná-los” 132.

Referindo-se a Interesses Difusos, exemplifica FADEL, relativamente ao meio

ambiente saudável e sadio, quando diz:

É transindividual porque não exclusivo de um só; indivisível porque não pode ser usufruído, nem reivindicado por apenas um indivíduo; indeterminável porque incertos e até mesmo desconhecidos os respectivos titulares; ligados por circunstâncias de mero fato, porque basta estar integrado no tempo e no espaço a um determinado segmento social para nele ter interesse 133.

Com base em tais observações e tendo em vista sua aplicação no Direito do

Trabalho, e oportuna a referência à conceituação de Interesse difuso oferecida por

ROCHA, nos termos que seguem:

Interesse difuso é a espécie de interesse metaindividual, que não possuindo o grau de agregação e organização necessários à sua afetação institucional junto a certas entidades ou órgãos representativos dos interesses já socialmente definidos no campo das relações entre capital e trabalho, encontrando-se em estado fluido, disperso pela organização produtiva como um todo, pode ser afetado a qualquer associação, constituída há um ano, ainda que sem natureza sindical, desde que os representantes pela associação, uma vez indeterminados, estejam ligados entre si por uma circunstância de fato, caracterizando-se pela indeterminabilidade dos sujeitos, pela indivisibilidade do objeto, por

131 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Interesses difusos: conceito e legitimação para agir. 4. Ed. São Paulo: Revista do Tribunais, 1997, p. 80. 132 Ob. Cit., p. 98. 133 FADEL, Sergio Sahione. Ação Civil Pública. Revista in verbis. n. 2, p.20, ago/set. 96

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sua intensa ligitiosidade interna e por sua tendência à transição ou mutação no tempo e no espaço 134.

A partir dessas definições, podemos concluir que nos interesses difusos, ao

contrário dos interesses coletivos, inexiste um vínculo jurídico entre os seus titulares,

mas, tão somente um liame alicerçado em uma situação de fato.

2.3.2 interesses coletivos

O que caracteriza os Interesses Coletivos é “justamente a possibilidade de sua

determinação, pois os mencionados titulares estão ligados entre si ou com a parte

contrária por uma relação jurídica base e não mera circunstância factual” 135.

Nesse sentido fornece a Lei n. 8.078 (Código de Defesa do Consumidor), no

inciso II, do parágrafo único, do art. 81, também trás a previsão legal, definindo os direitos

coletivos como os direitos “transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular

grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma

relação jurídica base”.

O interesse coletivo pertence a grupos ou categorias determináveis, possuindo

uma só base jurídica. Os interesses coletivos caracterizam-se porque “incluem grupos,

que, conquanto atinjam pessoas isoladamente, não se classificam como direitos

individuais, no sentido da Ação Civil Pública, posto que sua concepção finalística destina-

se à proteção do grupo” 136. Conforme tipificado no art. 81, II, da Lei nº 8.078/90:

Art. 81. A defesa dos interesses e direitos dos consumidores e das vítimas poderá ser exercida em juízo individualmente, ou a título coletivo. [...] II - interesses ou direitos coletivos, assim entendidos, para efeitos deste Código, os transindividuais, de natureza indivisível, de que seja titular grupo, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação jurídica base;

134 ROCHA, Ibraim. Ação Civil Pública e o processo do trabalho. São Paulo: LTr. 1996, p. 35. 135 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p.148. 136 MILARÉ, Édis. Ação Civil Pública. Lei n. 7.347/85: reminiscências e reflexões após 10 anos de aplicação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 72.

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Cumpre examinarmos, nesse passo o que leciona MIRRA, que:

Os direitos coletivos são interesses transindividuais com a determinação relativa dos titulares, não havendo titular individual, a ligação entre eles decorre de uma relação jurídica base; são indivisíveis ao passo que não podem ser satisfeitos nem lesados senão de forma que afete a todos os possíveis titulares; são insusceptíveis de apropriação individual, de transmissão, renúncia ou transação e a sua defesa em juízo ocorre através de substituição processual, razão pela qual o objeto do litígio é indisponível para o autor da demanda, que não poderá celebrar acordos, nem renunciar, nem confessar, nem assumir ônus probatório não fixado na lei137.

No trato da referida questão, MANCUSO oferece-nos preciosa lição conceituando

interesses coletivos:

Os interesses coletivos não surgem com a amplitude de direitos individuais, tampouco com a defesa de interesse pessoal do grupo, trata-se de interesse que ultrapassa esses dois limites, ficando afetados a um ente coletivo, nascido no momento em que certos valores individuais, atraídos por semelhança e harmonizados pelo fim comum, amalgamam-se no grupo [...] é preciso, então, que haja um ideal coletivo, uma alma coletiva; é isso que conduz à característica específica 138.

Observa-se, entretanto, que a normatização conferida pela Lei n. 8.078/90,

referindo-se aos Direitos e Interesses Coletivos, vincula-os à titularidade de grupo,

categoria ou classe de pessoas e à mera ligação entre si ou com a parte contrária por

uma relação jurídica base, como antes afirmado.

Assim, desde que por ente legitimado, para invocação da tutela coletiva em vista

de um bem comum e indivisível, basta a existência de um elo de ligação, por uma relação

jurídica base, entre os interessados em si ou com a parte contrária.

O que deve ficar evidenciado, nesse ponto, é que interesses coletivos diferem dos

difusos por reunir um grupo, uma categoria ou classe de pessoas determináveis, que são

detentores de tais direitos por estarem ligadas por uma relação jurídica base, e não

simplesmente por circunstâncias de fato.

137 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p. 155. 138 MANCUSO, Rodolfo de Camargo. Interesses difusos: conceito e legitimação para agir. 4. Ed. São Paulo: Revista do Tribunais, 1997, p. 85.

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2.3.3 interesses individuais homogêneos

Estão tipificados e conceituados na inteligência do inciso III, do parágrafo único,

do art. 81, do Código de Defesa do Consumidor, que estabelece que “interesses

individuais homogêneos são aqueles decorrentes de origem comum”.

Nesse diapasão ZAVASCKI entende como Interesses Individuais homogêneos:

Interesses individuais homogêneos são os decorrentes de origem comum, ou seja, os direitos nascidos em conseqüência da própria lesão ou ameaça de lesão, em que a relação jurídica entre as partes é post factum (fato lesivo). Parte da doutrina sustenta que os direitos individuais homogêneos não são direitos coletivos, mas direitos individuais tratados coletivamente 139.

Os titulares de tais direitos são determináveis, pois é possível haver uma perfeita

identificação do sujeito, assim como da relação dele com o objeto a ser tutelado; são

divisíveis, pois podem ser satisfeitos ou lesados em forma individualizada, satisfazendo

ou lesando alguém sem afetar os demais; são transmissíveis por ato inter vivos 140 ou

mortis causa 141; são susceptíveis de renúncia e transação e são defendidos em juízo

geralmente pelo próprio titular.

ZAVASCKI, afirma que “na essência e por natureza, os direitos individuais

homogêneos, embora tuteláveis coletivamente, não deixam de ser o que realmente são:

genuínos direitos subjetivos individuais” 142.

Entendendo-se, pois, como Interesse Individual homogêneo aquele “decorrente

de origem comum, uniforme, divisível e de titularidade determinável por circunstância

fática ou relação jurídica base, em sua essência de natureza individual, mas legalmente

139 ZAVASCKI, Teori Albino. Defesa de direitos coletivos e defesa coletiva de direitos. Revista Jurídica, Porto Alegre, n. 212, jun. 1995, p. 13. 140 Locução latina, que se traduz entre vivos, usada na técnica jurídica. SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 24 ed. Ver. E atual. Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho Alves (atual.). Rio de Janeiro: Forense. 2004, p. 768. 141 Locução latina que significa em razão de morte. Ob. Cit., p. 932. 142 ZAVASCKI, Teori Albino. Processo Coletivo. 2. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2007, p.57.

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tutelados de forma coletiva” 143, pode-se afirmar que no exercício da jurisdição via Ação

Civil Pública, diante de tal espécie, está o pressuposto da conotação de relevância social.

A possibilidade da instrumentalização de Direitos e Interesses Difusos, Coletivos e

Individuais Homogêneos, através de Ação Civil Pública no Direito do Trabalho, será

objeto de exame que se realizará na seqüência.

143 MAZZILI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 11. Ed. São Paulo: Saraiva. 1999, p. 100.

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3. AÇÃO CIVIL PÚBLICA PARA DEFESA DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

3.1 ALTERAÇÃO TRAZIDA PELA EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004

Fruto de debates e amplas discussões, a EC 45/2004144 (PEC 29/2000)

representa o início da Reforma do Poder Judiciário. Não obstante, a EC 45/2004 trouxe

várias inovações.

Dentre outras, destaca-se, conforme LENZA:

No âmbito trabalhista, ampliou a composição do TST de 17 para 27 ministros, modificou a competência da Justiça do Trabalho, fixou o número mínimo de 7 juízes para os TRT´s. Neste sentido, previu criação por lei do Fundo de Garantias das Execuções Trabalhistas, integrado pelas multas decorrentes de condenações trabalhistas e administrativas, oriundas da fiscalização do trabalho e outras receitas; entre outras alterações, todas previstas nos artigos 111, parágrafos 1º, 2º e 3º (revogados) da CRFB/88; artigos 111-A, 112, 114; e 115 da CRFB/88145.

Estas são, entre outras, as principais novidades trazidas pela EC 45/2004.

Contudo, por ser objeto deste estudo a análise do artigo 114, inciso I, da CRFB/88, que

fora criado pela referida emenda, limitar-se-á ao estudo desta inovação.

Explica DANTAS, sobre a ampliação da competência da Justiça do Trabalho,

ressaltando que:

[...] verifica-se que a intenção do Constituinte derivado foi no sentido de pacificar questões que até então eram controvertidas nos tribunais, especialmente nos Tribunais Superiores, como, v.g., os conflitos sindicais, o dano moral, o acidente de trabalho, as relações de trabalho (o autônomo, o eventual, o estatutário, o cooperado, etc.), o direito de greve, entre outras. No campo do direito coletivo do trabalho, a Reforma instituiu mais um requisito para os dissídios coletivos, qual seja, a necessidade das partes estarem de comum acordo para o seu ajuizamento 146.

144 Emenda Constitucional n° 45 de 2004 a partir desse momento será tratada como: EC 45/2004 145 LENZA, Pedro. Direito constitucional esquematizado, 10ª ed. São Paulo: Método, 2006, p. 373-377. 146 DANTAS, Adriano Mesquita. A nova competência da Justiça do Trabalho: considerações sobre as mudanças implementadas pela Emenda Constitucional nº 45. Jus Navigandi.

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A Justiça do Trabalho após a Reforma do Judiciário experimentou significativa

transformação. Com o intuito de facilitar o acesso geral à Justiça Obreira, a EC 45/2004,

introduziu imensa alteração no que tange à competência do Judiciário Trabalhista.

De fato, nova redação foi dada ao art. 114 da CRFB/88 que cuida da competência

material da Justiça do Trabalho, desprezando a antiga terminologia de “conflitos entre

trabalhadores e empregadores”, adotando, agora, “conflitos decorrentes da relação de

trabalho”. Ampliando significativamente a competência da Justiça do Trabalho.

Antes da EC 45/2004, o artigo 114 da CRFB/88 assim determinava:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho conciliar e julgar os dissídios individuais e coletivos entre trabalhadores e empregadores, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta dos Municípios, do Distrito Federal, dos Estados e da União, e, na forma da lei, outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, bem como os litígios que tenham origem no cumprimento de suas próprias sentenças, inclusive coletivas. (grifa-se)

Com a promulgação da EC 45/2004 passou a ser o seguinte o art.114 da

Constituição Federal:

Art. 114. Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar: I as ações oriundas da relação de trabalho, abrangidos os entes de direito público externo e da administração pública direta e indireta da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios; II as ações que envolvam exercício do direito de greve; III as ações sobre representação sindical, entre sindicatos, entre sindicatos e trabalhadores, e entre sindicatos e empregadores; IV os mandados de segurança, habeas corpus e habeas data, quando o ato questionado envolver matéria sujeita à sua jurisdição; V os conflitos de competência entre órgãos com jurisdição trabalhista, ressalvado o disposto no art. 102, I, o; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004) VI as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes da relação de trabalho; VII as ações relativas às penalidades administrativas impostas aos empregadores pelos órgãos de fiscalização das relações de trabalho; VIII a execução, de ofício, das contribuições sociais previstas no art. 195, I, a, e II, e seus acréscimos legais, decorrentes das sentenças que proferir; IX outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho, na forma da lei. § 1º - Frustrada a negociação coletiva, as partes poderão eleger árbitros.

Disponível em: <http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=7813>. Acesso em: 10 outubro. 2008, 11:00.

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§ 2º Recusando-se qualquer das partes à negociação coletiva ou à arbitragem, é facultado às mesmas, de comum acordo, ajuizar dissídio coletivo de natureza econômica, podendo a Justiça do Trabalho decidir o conflito, respeitadas as disposições mínimas legais de proteção ao trabalho, bem como as convencionadas anteriormente. § 3º Em caso de greve em atividade essencial, com possibilidade de lesão do interesse público, o Ministério Público do Trabalho poderá ajuizar dissídio coletivo, competindo à Justiça do Trabalho decidir o conflito.147

Nestes moldes, pode-se apontar que, com a vigência da EC 45/2004, a

competência da Justiça do Trabalho foi significativamente ampliada, podendo-se notar

que “no artigo 114, inciso I da Constituição da República Federativa do Brasil, ficou

designado que lides decorrentes de relações de trabalho são agora processadas e

julgadas na Justiça do Trabalho” 148. Inclusive incluindo hipóteses que já eram

sedimentadas pela doutrina e jurisprudência e aplicadas reiteradamente pelos nossos

tribunais superiores, passando, contudo, a constar agora expressamente no texto

constitucional.

Nesse trilho, recente decisão do STJ sobre a competência da Justiça do Trabalho

decorrente relação de trabalho, dando real ênfase à redação dada pela EC 45/2004, a

saber, segue parcialmente:

O entendimento assentado nesta Corte é o de que o pedido de indenização por danos morais e materiais causados por imputação criminal feita pelo empregador ao empregado demitido se resolve perante a Justiça do Trabalho, em obediência à orientação emanada do Colendo Supremo Tribunal Federal, pacífica desde muito antes da edição da EC n. 45/2004, estabelecida quando do julgamento do RE n. 238.737-4/SP, cuja ementa transcrevo: "Justiça do Trabalho: Competência: ação de reparação de danos decorrentes da imputação caluniosa irrogada ao trabalhador pelo empregador a pretexto de justa causa para a despedida e, assim, decorrente da relação de trabalho, não importando deva a controvérsia ser dirimida à luz do Direito Civil." (1ª Turma, Rel. Min. Sepúlveda Pertence, unânime, DJU de 05.02.1999). A inicial da ação revela que a hipótese dos autos é similar a tal precedente, alegando a autora que mantinha vínculo empregatício com os réus, que para se livrarem do pagamento dos direitos trabalhistas acusaram-na injustamente de conduta anti-social, pediram baixa da guarda provisória, deixando-a ao desamparo, além de impedirem seu aperfeiçoamento profissional. Ante o exposto, conheço do conflito para declarar competente o Juízo da Vara do Trabalho de Toledo, PR, o suscitante 149.

147 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, p. 53. 148 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 43. 149 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. CC - Nº 97.649 - PR (2008/0168603-8) – DF. Disponível em:<http://www.stj.gov.br/webstj/processo/Justica/detalhe.asp?numreg=200801686038&pv=010000000000&tp=51>. Acesso em: 15 out. 2008.

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Nesse compasso, recentemente, a 4.ª. Turma do TST, com acerto, pronunciou-se

sobre o tema avocando para a Justiça do Trabalho a competência material para solver

lides que envolvam danos materiais relacionadas a acidente do trabalho:

Assinale-se ser pacífica a jurisprudência desta Corte sobre a competência do Judiciário Trabalhista para conhecer e julgar ações em que se discute a reparação de dano moral praticado pelo empregador em razão do contrato de trabalho. Como o dano moral não se distingue ontologicamente do dano patrimonial, pois em ambos se verifica o mesmo pressuposto de ato patronal infringente de disposição legal, é forçosa a ilação de caber também a esta Justiça dirimir controvérsias oriundas de dano material proveniente da execução do contrato de emprego. Nesse particular, não é demais enfatizar o erro de percepção ao se sustentar a tese da incompetência material desta Justiça com remissão ao artigo 109, inciso I, da Constituição. Isso porque não se discute ser da Justiça Federal Comum a competência para julgar as ações acidentárias, nas quais a lide se resume na concessão de benefício previdenciário perante o órgão de previdência oficial. Ao contrário, a discussão remonta ao disposto no artigo 7.º, XXVIII, da Constituição, em que, ao lado do seguro contra acidentes do trabalho, o constituinte estabeleceu direito à indenização civil deles oriundos, contanto que houvesse dolo ou culpa do empregador. Vale dizer que são duas ações distintas, uma de conteúdo nitidamente previdenciário, em que concorrem as Justiças Federal e Comum, e outra de conteúdo trabalhista, reparatória do dano material, em que é excludente a competência desta Justiça diante da prodigalidade da norma contida no artigo 114 da Constituição Federal. Recurso não conhecido 150. (grifa-se)

Constata-se, no entanto que a Justiça do Trabalho possuía competência para

julgar conflitos de interesses decorrentes do trabalho subordinado, sob a tutela da Lei

Maior.

No que diz respeito à predominância de sua vigência da EC 45/2004, aduz

SÜSSEKIND, apontando que:

A modificação de maior repercussão concerne à expressão relação de trabalho, na qual é o gênero, e relação de emprego é a espécie. Assim, a relação de trabalho abrange também outros contratos, e corresponde ao vínculo jurídico estipulado, expressa ou tacitamente, entre um trabalhador e uma pessoa física ou jurídica que o remunera pelo serviço prestado 151.

150 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. RR- N° 528460/99 –DF. Disponível em: < http://ext02.tst.gov.br/pls/ap01/ap_red100.resumo?num_int=4012&ano_int=1999&qtd_acesso=1148181> Acesso em: 20 out. 2008. 151 SUSSEKIND, Arnaldo. As relações individuais e coletivas de trabalho na reforma do poder judiciário, Revista do Tribunal Superior do Trabalho, Rio de Janeiro, v. 71, vol. 71, p. 17-30.

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Com efeito, a partir da redação conferida ao artigo 114 da CRFB/88 é de fácil

percepção que a nova medida da jurisdição trabalhista está em aferir a existência de

qualquer relação de trabalho, isto é, de qualquer modalidade de trabalho humano.

Na oportunidade, traz-se à baila o que aponta MEIRELES:

A CRFB/88 quando se refere à competência da Justiça do Trabalho, fala em relação de trabalho, e não em relação de emprego, o que leva a crer que se procura acobertar outras situações jurídicas que envolvem a prestação de serviço e que não se revelam por meio do contrato atividade 152.

E conclui ainda que dentro do conceito de relação de trabalho, “inclui-se todas as

situações jurídicas nas quais haja um ser humano prestando serviço a outrem, tendo por

objeto o trabalho” 153.

Sendo assim, de acordo com a leitura do mencionado dispositivo, com a nova

competência da Justiça do Trabalho, tem-se que é possível que a justiça especializada

do Trabalho conheça, processe e julgue ações decorrentes de relações de trabalho, ou

seja, que englobam qualquer prestação de serviço, gênero do qual a relação de emprego

é espécie.

3.2 CABIMENTO

Primeiramente, impende considerar que a Lei nº 7.347/85 não faz alusão

expressa à defesa dos interesses difusos e coletivos afetos às relações de trabalho. Por

outro lado, não existe um diploma legal específico sobre a Ação Civil Pública em defesa

de tais direitos, como ocorre, por exemplo, com a Lei nº 7.853/89, que dispõe sobre a

Ação Civil Pública em defesa das pessoas portadoras de deficiência; com a Lei 7.913/89,

que trata da Ação Civil Pública de responsabilidade por danos causados aos investidores

no mercado de capitais; com a Lei 8.069/90, que dispõe sobre a Ação Civil Pública para

proteção dos interesses difusos e coletivos das crianças e dos adolescentes.

152 MEIRELES, Edilton. Competência e procedimento na justiça do trabalho: primeiras linhas da reforma do judiciário. São Paulo: LTr, 2005, p. 19. 153 Ob. Cit., p. 19.

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Nem por isso, estão os interesses coletivos, em sentido lato sensu 154, neste

compreendidos os interesses difusos, coletivos stritu sensu 155 e individuais homogêneos

decorrentes das relações laborais, fora do âmbito de proteção da Ação Civil Pública,

mesmo porque, é exatamente na seara trabalhista que se concentram os conflitos de

interesses coletivos mais latentes da nossa sociedade.

Tanto é verdade, que o primeiro diploma legal brasileiro a tratar da defesa dos

direitos metaindividuais, mormente os coletivos, em juízo, como leciona MILARÉ:

Foi exatamente a Consolidação das Leis do Trabalho, aprovada pelo Decreto-lei 5.452, de 1º de maio de 1943, que, ainda na primeira metade do século XX, já dispunha sobre a ação de dissídio coletivo no seu capítulo IV, arts. 856/875, representando assim, uma forma de defesa na Justiça do Trabalho, de direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos.156

Tem a Ação Civil Pública como objetivo, “responsabilizar qualquer pessoa, física

ou jurídica, de direito público ou privado, por esses danos (morais ou patrimoniais)” 157,

bem como reparar ou impedir um “dano moral ou patrimonial protegendo, dessa forma os

interesses públicos e sociais, ou qualquer interesse difuso, coletivo ou individual

homogêneo” 158. Tendo como seu objeto principal a cessação da conduta que importou

em dano ou lesão a interesse difuso ou coletivo.

Nesse passo, consoante as plausíveis ponderações de FIGUEIREDO, deve-se

consignar a relação entre esses interesses e o Meio Ambiente do Trabalho, “observando

a atual situação crítica na qual o trabalhador, premido pela necessidade de emprego,

submete-se às mais degradantes e as vezes desumanas condições de trabalho e não se

estimula a reclamar seus direitos individualmente”159. O mais preocupante, entretanto, é a

constatação de que existe não somente um desrespeito generalizado dos direitos

trabalhistas previstos na CLT160, mas também um grave atropelo aos direitos

154 Locução latina que significa Em sentido amplo. Quando quer se dar o sentido mais amplo de determinada expressão. SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 24 ed. Ver. E atual. Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho Alves (atual.). Rio de Janeiro: Forense. 2004, p. 818. 155 Locução latina que significa em sentido estrito. Quando quer se dar o sentido mais restrito de determinada expressão. Ob. Cit., p. 1282. 156 MILARÉ, Édis. Ação Civil Pública. Lei n. 7.347/85: reminiscências e reflexões após 10 anos de aplicação. São Paulo: Revista dos Tribunais, 1995, p. 59. 157 Ob. Cit., p. 60. 158 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Direito ambiental e a saúde dos trabalhadores. São Paulo: LTr, 2000, p.43. 159 Ob. Cit., p. 45. 160 Consolidação das Leis Trabalhistas a partir desse momento será tratada como CLT.

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fundamentais dos trabalhadores, constitucionalmente assegurados, no que tange um

Meio Ambiente do Trabalho seguro e adequado e qualidade de vida, hoje, buscada por

muitos.

Por ser o ambiente do trabalho onde “o trabalhador passa a maior parte de seu

tempo e, por conseqüência, sofre as maiores influências dos elementos existentes neste

local, sobretudo na questão da saúde” 161, é que o legislador despendeu maior atenção

às circunstâncias que o rodeiam, a fim de garantir tanto a qualidade de vida do

trabalhador, quanto sua integridade física e bem-estar.

Para tal entendimento, considera-se meio-ambiente do trabalho “qualquer local,

onde se desenvolve o exercício da atividade laboral, inserindo todas suas interações” 162.

A boa preservação deste ambiente é primordial para a proteção à vida e à integridade

física do empregado.

Verificando a importância do meio-ambiente do trabalho, para o exercício do

direito a este, não há que olvidar da necessidade de um ambiente equilibrado e saudável

para o exercício de uma vida de forma digna, especialmente ao considerar a importância

da saúde do trabalho, para o desenvolvimento deste exercício.

Nesse sentido, cuidou também o legislador, ao impor as regras previstas no art.

154 e seguintes da CLT, que tratam das normas sobre saúde e segurança do trabalho,

sem prejuízo dos demais ditames, inclusive das normas internas na empresa e das

coletivas, visando à garantia da qualidade de vida do trabalhador e sua dignidade no

exercício laboral.

Com efeito, Para FIGUEIREDO o interesse pelo ambiente do trabalho saudável

vai muito além do direito individual do empregado, senão vejamos: Considerando tanto o interesse coletivo, em face da previsão do art. 225 da CRFB/88, a qual afirma que a coletividade deve preservar o meio-ambiente equilibrado e o interesse público, por ser um dever do Poder Público, no tocante à manutenção do bem comum, sobretudo nas

161 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Direito ambiental e a saúde dos trabalhadores. São Paulo: LTr, 2000, p.46. 162 MEIRELES, Edilton. Competência e procedimento na justiça do trabalho: primeiras linhas da reforma do judiciário. São Paulo: LTr, 2005, p. 178.

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questões que legitimam o MP do Trabalho a atuar com observância das normas sobre segurança e medicina do trabalho163.

A tutela jurídica ambiental vai desde a qualidade do ambiente físico interno e

externo do local do trabalho, até as relações interpessoais e a saúde física e mental do

trabalhador. O direito a um ambiente de trabalho saudável também é um direito social,

como o é o direito à saúde.

É o que se verifica, dentre outros, no seguinte entendimento de ROCHA:

O Meio Ambiente do Trabalho representa todos os elementos, inter-relações e condições que influenciam o trabalhador em sua saúde física e mental, comportamento e valores reunidos no lócus do trabalho, caracterizando-se, pois, como a soma das influências que afetam diretamente o ser humano, desempenhando aspecto chave na prestação e performance do trabalho 164.

O Meio Ambiente do Trabalho também faz parte do conceito mais amplo de

ambiente, para tanto deve ser considerado como ”bem a ser protegido pelas legislações

para que o nosso trabalhador possa usufruir de uma melhor qualidade de vida e um

ambiente saudável de trabalho” 165. Por sua vez, está expressamente reconhecido na

CRFB/88, quando, no art. 200, VIII, ao Sistema Único de Saúde (SUS) é confiada à

atribuição de colaborar na proteção do meio ambiente, nele compreendido o do trabalho,

recebendo então uma tutela imediata pela Carta Constitucional.

Estando desta forma, a tutela mediata do Meio Ambiente do Trabalho

concentrada no caput do art. 225 da CRFB/88, vejamos a que diz FIORILLO a respeito

destas tutelas:

O Meio Ambiente do Trabalho tem proteção ambiental constitucional indicada em decorrência do que determinam mediatamente o art. 225 e imediatamente os arts. 200, VIII, e 7°, XXII, da Carta Magna, devendo-se observar o enfoque fundamentalmente preventivo em face da proteção da saúde da pessoa humana – resguardada pelo art. 200, VII, da Constituição Federal – sem, todavia deixar de apontar a possibilidade de

163 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Direito ambiental e a saúde dos trabalhadores. São Paulo: LTr, 2000, p. 121. 164 ROCHA, Júlio César de Sá da. Direito Ambiental e Meio Ambiente do Trabalho. Dano, prevenção e proteção jurídica. São Paulo: Ltr, 1997, p. 156. 165 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Direito ambiental e a saúde dos trabalhadores. São Paulo: LTr, 2000, p. 68.

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tutela jurisdicional judicial de referido direito em face de lesão que tenha ocorrido à incolumidade físico-psíquica da pessoa humana 166.

Ainda art.7°, nos seus incisos XXII, XXIII e XXXIII, da CRFB/88, prescreve:

Art. 7° São direitos dos trabalhadores urbanos e rurais, além de outros que visem à melhoria de sua condição social: [...] XXII – redução dos riscos inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança; XXIII – adicional de remuneração para as atividades penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei; XXXIII - proibição de trabalho noturno, perigoso ou insalubre a menores de dezoito e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo na condição de aprendiz, a partir de quatorze anos; [...] 167

Cabe, pois, “aos operadores de direito, especialmente à autoridade administrativa

e ao magistrado, sopesar as normas e regras estabelecidas em nossa sociedade” 168 tais

como: “Constituição, leis e direitos secundários, em cotejo com a realidade social, e

avaliar se, em determinado contexto factual, as condições insalubres de trabalho a que

se submetem os obreiros não comprometem, a dignidade da pessoa humana.”169

Conforme colocado o meio ambiente sadio do trabalho é um direito

“transindividual por ser um direito de todo trabalhador” 170, indistintamente, e reconhecido

como uma obrigação social constitucional do Estado, ao mesmo tempo em que se trata

de um “interesse difuso, ou mesmo coletivo quando se tratar de determinado grupo de

trabalhadores” 171.

Ocorre que, “mesmo com o efetivo apoio da Carta, a proteção aos direitos dos

empregados exige mecanismos judiciais apropriados para um acesso e uma prestação

jurisdicional eficaz.” 172 Entretanto, “o que se verifica é que a crise do Direito do Trabalho

alcança também sua esfera processual” 173.

166 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Princípios do processo ambiental. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 197. 167 BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil, p. 11-12. 168 ROCHA, Ibraim. Ação civil pública e o processo do trabalho. São Paulo: LTr. 1996, p. 126. 169 Ob. Cit., p. 127. 170 FIGUEIREDO, Guilherme José Purvin de. Direito ambiental e a saúde dos trabalhadores. São Paulo: LTr, 2000, p. 76. 171 Ob. Cit., p.78. 172 Ob. Cit., p.80. 173 FIORILLO, Celso Antonio Pacheco. Princípios do processo ambiental. São Paulo: Saraiva, 2004, p. 199.

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Nesse contexto, “começa a existir uma consciência de que as formas tradicionais

de solução dos conflitos de trabalho no Brasil, de caráter e alcance exclusivamente

individuais, não mais atendem à necessidade de efetivação das normas protetoras dos

direitos dos trabalhadores” 174. A atenção volta-se então para a adoção do processo

coletivo ou metaindividual.

Menciona-se a Lei de Ação Civil Pública como uma das principais expressões

legais do processo coletivo, por ser a “Ação Civil Pública instituto que se destaca

atualmente na Justiça Trabalhista, cujo objeto tem por fim a responsabilização por danos

ou ameaça de danos causados a interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos” 175.

Sob o aspecto formal a possibilidade da utilização da Ação Civil Pública no

processo do Trabalho está assegurada na normatização do art. 83, III da Lei

Complementar 75/93, in verbis:

Art. 83. Compete ao Ministério Público do Trabalho o exercício das seguintes atribuições junto aos órgãos da Justiça do Trabalho: [...] III - promover a Ação Civil Pública no âmbito da Justiça do Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais constitucionalmente garantidos; [...] 176

E, ainda que assim não fosse, num âmbito de maior abrangência deve ser

lembrado que o mencionado dispositivo legal está em sintonia com o artigo 129, III da

CRFB/88 quando inclui entre as funções institucionais do Ministério Público “promover o

inquérito civil e a Ação Civil Pública, para a proteção do patrimônio público e social, do

meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”.

LEITE, em trabalho sobre o assunto, lança as necessárias e pertinentes

indagações:

Destarte, o art. 83, III, da Lei Complementar n. 75/93 há de ser interpretada em sintonia com o art. 129, III, da CRFB, que não deixa margem de dúvida quanto à aplicação da ACP não apenas para a defesa

174 Ob. Cit., p. 81. 175 ROCHA, Ibraim. Ação civil pública e o processo do trabalho. São Paulo: LTr. 1996, p. 128. 176 BRASIL. Lei Complementar N.73 de 20 de maio de 1993 – DF. Disponível em:< https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp75.htm>. Acesso em: 09 out. 2008.

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do patrimônio público e social e do meio ambiente, mas, também, para a proteção “de outros interesses difusos e coletivos” 177.

De igual forma, com aduz MAZZILLI :

A extensão da Lei de Ação Civil Pública para proteção de “qualquer outro interesse difuso ou coletivo”, como determinou o artigo 110 da Lei n. 8.078/90 (CDC) ao acrescentar o inciso IV, no art. 1° da Lei n. 7.347/85 (ACP), firmou a assertiva da sua utilização voltada ao Direito do trabalho ou qualquer outro ramo enquanto em função de Interesse Civil Difuso ou Coletivo.178

Em nível constitucional, lembra LEITE que:

o art. 129 da CRFB/88 ao ditar as funções institucionais do Ministério Público, deixou evidenciado, no inciso IX, a possibilidade da atribuição de outras que compatíveis com sua finalidade de defesa da ordem jurídica, “do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis” art. 127, CRFB/88, o que afasta a possibilidade de confronto entre a lei ordinária e a norma de hierarquia superior uma vez observada a finalidade institucional do órgão ministerial.

A propósito, é pertinente o ensinamento de MAZZILLI, ao afirmar o alargamento

do campo de atuação da Ação Civil Pública por força do artigo 1°, IV da Lei 7.347/85 e de

diversas outras (aplicáveis às pessoas portadoras de deficiência, investidores de valores

mobiliários, à criança e ao adolesceste, à defesa da ordem econômica e livre

concorrência), expressando:

Inexiste taxatividade da defesa judicial de interesses metaindividuais. Além das hipóteses expressamente previstas em diversas leis (meio ambiente, consumidor, patrimônio cultural, criança e adolescentes, pessoas portadoras de deficiência, ordem econômica, livre concorrência) – qualquer outro interesse difuso, coletivo ou individual homogêneo pode em tese ser defendido em juízo pelo Ministério Público e demais legitimados do art. 5° da LACP e art. 82 do CDC 179.

No mesmo sentido, mas então direcionado ao Direito Tributário é que,

considerando as alterações introduzidas na lei n. 7.347/85 através da Lei n. 8.078/90,

assevera FLAKS:

177 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 1196. 178 MAZZILI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 11. Ed. São Paulo: Saraiva. 1999, p. 90. 179 MAZZILI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 11. Ed. São Paulo: Saraiva. 1999, p. 91.

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Promulgado o Código de Defesa do Consumidor (lei 8.078/90), suas disposições finais introduziram importantes alterações na lei básica disciplinadora da Ação Civil Pública, destacando-se as seguintes: a) restabeleceu o n. IV do art. 5° da Lei 7.347/85, precisamente o dispositivo vetado pelo Presidente da República, para estender a Ação Civil Pública a “qualquer outro interesse difuso ou coletivo” (art. 110); b) em conseqüência transformou a Ação Civil Pública em instrumento hábil para a defesa, entre outros, de aposentados, do patrimônio público, da moralidade administrativa e dos contribuintes; c) determinou que se aplicasse à defesa de quaisquer interesses difusos ou coletivos a disciplina processual instituída pelo Código do Consumidor para a defesa deste em juízo (art. 117); d) como resultado, facultou que na Ação Civil Pública se postule não só a condenação da Fazenda a se abster de cobrar um tributo ilegítimo, como também a restituir qualquer pagamento indevido; e) e tudo isso sem prejuízo, no caso de insucesso da demanda coletiva, de cada contribuinte pleitear individualmente a anulação de eventual lançamento ou restituição do que pagou, reabrindo o debate sobre a licitude da exigência fiscal 180.

Com a extensão determinada pela Lei n. 7.347/85 e sua integração em face da

Lei n. 8.078/90, “são de que todo e qualquer Interesse ou Direito Difuso e Coletivo, na

essência de natureza coletiva, bem como aquelas Individuais Homogêneos de relevância

social legalmente pressuposta pela sua origem comum, estão sob a tutela instrumental

da Ação Civil Pública.”181

Assiste, pois, razão a NERY JÚNIOR, quando faz a seguinte observação:

LACP, em sua edição original, em 1985, previa apenas a possibilidade de serem ajuizadas ações de responsabilidade civil para reparação dos danos causados aos direitos por ela protegidos, ação de execução da sentença condenatória, ação de obrigação de fazer ou não fazer, bem como eventual ação cautelar antecedente ou incidente. Com o advento do CDC, a âmbito de abrangência da LACP foi ampliado, de sorte que podem ser propostas todas e quaisquer ações para a tutela dos direitos protegidos pela LACP (CDC 83, 90; LACP 21). Assim, hoje é possível, v. g., a propositura de ação de anulação de contrato administrativo lesivo ao meio ambiente (Nery, CDC Coment. 663). São admissíveis as ações constitucionais, como por exemplo, o mandado de segurança e a mandado de injunção. Não há mais limitação ao tipo de ação, para que as entidades enumeradas na LACP 5° e CDC 82 estejam legitimados à propositura da ACP para a defesa em juízo, dos direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos 182.

180 FLAKS, Milton. Instrumentos de Defesa Coletiva dos Contribuintes. Revista dos Tribunais. São Paulo, n. 681. P. 41-48. Jul. 92. 181 Ob. Cit., p. 44. 182 NERY JÚNIOR, Nelson. Código de processo civil comentado e legislação processual civil extravagante em vigor. 6° ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2002, p. 1504.

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Reconhecida, pois, a aplicabilidade da Ação Civil Pública na esfera processual

trabalhista resta, então, deduzir que a forma coletiva, em sentido estrito, é entendida

como aquela que melhor se coaduna com o Direito do Trabalho e sua instrumentalização.

É divergente, entretanto, a admissão quanto à possibilidade da verificação de

Interesses e Direitos Metaindividuais no Processo do Trabalho envolvendo a integridade

das categorias legalmente elencadas.

No que concerne aos Interesses e Direitos Difusos e Individuais Homogêneos,

porém, as opiniões são divergentes, tendo em vista sua integral desagregação de um

lado e a forma coletiva apenas no que concerne à sua instrumentalidade de outro.

Nesse diapasão, tem entendimento GONÇALVES que:

Quaisquer outras espécies de interesse que não sejam os coletivos conectados aos direitos constitucionais dos trabalhadores estão fora da órbita da Ação Civil Pública na Justiça do Trabalho, estando então excluídos os interesses individuais assim como os coletivos de outros grupos sociais que não sejam de trabalhadores, e os interesses difusos de quaisquer grupos ou comunidades sociais 183.

No âmbito jurisprudencial, também pousam divergências quanto ao assunto em

questão. Em recente decisão proferida pelo Supremo Tribunal Federal, por oitos votos a

dois, os ministros julgaram procedente Recurso Extraordinário interposto pela

Mineração Morro Velho, de Minas Gerais. Eles acataram o pedido da empresa para que

a ação de indenização imposta contra ela fosse julgada pela Justiça Estadual. Senão

vejamos trechos pertinentes da decisão:

O SENHOR MINISTRO CELSO DE MELLO: Peço vênia para dissentir dos eminentes Ministros Relator, CARLOS BRITTO, e MARCO AURÉLIO, pois, em recentíssima decisão que proferi sobre a matéria ora em exame, manifestei entendimento no sentido de que compete à Justiça dos Estados-membros e do Distrito Federal, e não à Justiça do Trabalho, o julgamento das ações de indenização por danos materiais e/ou morais resultantes de acidente do trabalho, ainda que fundadas no direito comum e ajuizadas em face do empregador. [...] Concluo o meu voto, Senhor Presidente. E, ao fazê-lo, peço vênia para acompanhar a divergência iniciada pelo eminente Ministro CEZAR

183 GONÇALVES, Aroldo Plínio. A Ação Civil Pública na justiça do trabalho. Revista LTr. São Paulo, v. 58. N. 10. 1994, p. 1228.

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PELUSO, reafirmando o meu entendimento – recentemente externado em decisão que proferi (RE 371.866/MG, Rel. Min. CELSO DE MELLO) –, no sentido de que assiste, ao Poder Judiciário do Estado-membro, e não à Justiça do Trabalho, a competência para processar e julgar as causas acidentárias, ainda que tenham sido instauradas, contra o empregador, com fundamento no direito comum, tal como sucede na espécie ora em exame 184. (grifa-se)

Reconhecendo desta forma a Justiça Estadual como foro competente para julgar

ações de indenização por acidente de trabalho. Porém, a decisão não encontra respaldo

no texto constitucional oriundo da EC 45/2004, a reforma do Judiciário que no seu artigo

114, inciso VI, do texto confere de forma clara a competência à Justiça do Trabalho para

processar e julgar “as ações de indenização por dano moral ou patrimonial, decorrentes

da relação de trabalho”.

Com este julgamento que inspirou a transferência de competência viola a própria

jurisprudência consolidada no STF, assim manifestada por meio da Súmula n° 736

editada no final de 2003, in verbis: “Compete à Justiça do Trabalho julgar as ações que

tenham como causa de pedir o descumprimento de normas trabalhistas relativas à

segurança, higiene e saúde dos trabalhadores”. Desta forma, indo a desencontro com

julgamento não muito distante da própria corte no RE n° 206.220-MG, em destaque:

Ementa: Competência. Ação Civil Pública – Condições de Trabalho. Tendo a Ação Civil Pública como causas de pedir disposições trabalhistas e pedidos voltados à preservação do meio ambiente de trabalho e, portanto, aos interesses dos empregados, a competência para julgá-la é da Justiça do Trabalho 185.

É latente, o acirrado embate sobre a possibilidade de ajuizamento de Ação Civil

Pública em tela em sede trabalhista. Atualmente, com fulcro no inc. III, do art. 83 da Lei

Complementar nº 75/93, já mencionado anteriormente, tanto a doutrina quanto a

jurisprudência pátria são uníssonas no que tange ao entendimento de que é cabível Ação

Civil Pública na Justiça do Trabalho quando os direitos trabalhistas difusos e coletivos,

previstos em nosso ordenamento jurídico, forem violados ou estejam ameaçados de

lesão.

184 BRASIL. Superior Tribunal Federal. RE - Nº 438.639-9 – DF. Disponível em:< http://www.stf.gov.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 19 out. 2008. 185 BRASIL. Superior Tribunal Federal. RE n° 206.220 – DF. Disponível em:< http://www.stf.gov.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp>. Acesso em: 19 out. 2008.

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Corroborando com este entendimento e seguindo esta linha o TST,

reiteradamente, tem decidido da mesma forma de que a competência para decidir sobre

pedidos de indenização por prejuízos decorrentes do não cumprimento pelo empregador

das normas de segurança e saúde do trabalhador é da Justiça do Trabalho:

DANOS MORAIS - ACIDENTE DE TRABALHO - COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA DO TRABALHO. A Justiça do Trabalho é competente para conhecer e julgar ação versando pedido de indenização por dano moral decorrente de culpa do empregador em acidente de trabalho sofrido pelo empregado. A competência das Justiças Federal e Comum é para apreciar a Ação Acidentária, promovida pelo acidentado contra o Instituto Nacional do Seguro Social INSS, autarquia federal, visando ao pagamento do benefício previdenciário respectivo. O INSS é parte ilegítima para responder processo em que se postula indenização por dano moral decorrente de acidente de trabalho. Responde pelo dano o empregador, culpado por não tomar os cuidados legais necessários para evitar o infortúnio. Não sendo a autarquia parte legítima, a primeira conclusão é a de que não remanesce competência às Justiças Federal e Comum para apreciar o pleito. A obrigação de indenizar decorre diretamente da relação empregatícia, donde exsurge a segunda conclusão, a de que a Justiça do Trabalho é competente para conhecer e julgar ação contendo pedido indenizatório, nos termos do artigo 114 da Constituição. Recurso conhecido e desprovido 186. (grifa-se)

Reforçando, forte doutrina sustenta a abrangência de Interesses difusos ou

mesmo individuais homogêneos em sede de Ação Civil Pública trabalhista, como se

observa em KOCHER:

Podem ser colhidos como Ação Civil Pública na defesa de interesses e direitos na esfera trabalhista a pretensão jurisdicional para declarar a proibição da utilização do trabalho de menores, na defesa dos interesses de empregados que estejam sendo discriminados no ato da contratação, por uma característica comum como raça ou sexo, e dos possíveis aspirantes a um emprego público, para qual não houve prévio concurso, embora obrigatório 187.

Por sua vez, LEITE relaciona exemplificativamente os seguintes Direitos Coletivos

e Interesses Individuais possíveis de serem objeto de Ação Civil Pública no Processo do

Trabalho:

exigência patronal de atestados de esterilização para admissão de mulheres;

186 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. RR N° 484008 – DF. Disponível em: < http://ext02.tst.gov.br/pls/ap01/ap_red100.resumo?num_int=4012&ano_int=1999&qtd_acesso=1148181> Acesso em: 20 out. 2008. 187 KOCHER, Eva. Ação Civil Pública e a Substituição Processual na Justiça do trabalho. São Paulo: LTr, 1998. p. 66.

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inércia em adotar medidas de proteção ao Meio Ambiente do Trabalho ou à saúde do trabalhador; procedimento genérico do empregador contra empregados que ajuízam reclamação trabalhista contra a empresa; remissão de trabalho perigoso ou insalubre a menores de 18 anos e de qualquer trabalho a menores de 14 anos de idade; artifícios ilegais de entidades sindicais para instituir cobranças de taxas sem garantir ao trabalhador o direito de oposição ao desconto salarial respectivo; tratamento discriminatório no tocante ao trabalho manual, técnico ou intelectual, ou o critério de admissão por motivos de raça, cor, idade, estado civil etc 188.

Por fim, ANDRADE, à aplicação da Ação Civil Pública no Processo do Trabalho e

tendo em vista atuações concretas do Ministério Púbico do Trabalho, admite a

possibilidade de sua utilização nas seguintes hipóteses:

- locação de mão-de-obra das regras legais de serviço temporário e de vigilância, espoliando seus direitos laborais os trabalhadores que prestam serviços nessas condições, impedindo também a contratação efetiva dessas pessoas; - exigência de atestado de esterilização para contratação de mulheres; - assinatura em branco de pedidos de demissão, descaracterizando a despedida imotivada; - não recolhimento de depósitos de FGTS; - adoção de medidas discriminatórias contra empregados que ajuízam ações trabalhistas; - utilização de trabalho escravo no meio rural; - abuso de trabalho do menor; - condições insalubres no meio ambiente de trabalho em desrespeito às normas constitucionais e legais de segurança do trabalho, que exigem condições mínimas para uma razoável qualidade de vida do trabalhador; - contratação sem concurso (CLT) quando este é obrigatório; -descumprimento reiterado e preordenado das obrigações trabalhistas, etc 189.

“O Direito do Trabalho sempre foi uma das vertentes da Ciência do Direito em que

os dissídios coletivos sempre tiveram uma tutela jurídica privilegiada e diferenciada frente

aos conflitos individuais”190.

É nesse contexto, “que com o aumento de conflitos existentes na sociedade no

âmbito do processo laboral que se reclama novos instrumentos para uma eficaz e rápida

solução, que se encaixa a Ação Civil Pública”191.

188 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Ação Civil Pública trabalhista. Revista Genesis. n. 39, mar. 96. p. 319. 189 ANDRADE, Dárcio Guimaraes de. A Ação Civil Pública no Âmbito da Justiça do Trabalho. revista LTr. v. 63, n. 10, out. 1999. p. 1326. 190 ANDRADE, Dárcio Guimaraes de. A Ação Civil Pública no Âmbito da Justiça do Trabalho. revista LTr. v. 63, n. 10, out. 1999. p. 1328.

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3.3 COMPETÊNCIA

Tratando-se da defesa de interesses coletivos e difusos no âmbito das relações

laborais, a competência material e pessoal para apreciar a Ação Civil Pública e da justiça

do trabalho, decorre da conjugação do art. 114, I e IX, da CRFB/88e do art. 83, III, da Lei

Complementar n. 75 de 20.05.1993 (ou simplesmente LOMPU). Estabelecendo assim, a

esse ramo do Judiciário a apreciação não somente dos dissídios individuais e coletivos

entre trabalhadores e empregadores, mas também "outras controvérsias decorrentes da

relação de trabalho. Corroborando com essa linha de raciocínio, temos que entende

BEZERRA: “a competência material e pessoal da Ação Civil Pública na Justiça do

Trabalho decorre da conjunção do art. 114, I e IX, da CRFB/88 e do art. 83, III, da

LOMPU” 192.

É importante salientar, que Via de regra, o foro para proposição da Ação Civil

Pública, bem como de suas medidas cautelares, é o do local da lesão ao interesse

tutelado. Sendo desta forma, competência de natureza funcional conforme tipificado no,

art. 2º da Lei nº 7.345/85, in verbis: “As ações previstas nesta Lei serão propostas no foro

do local onde ocorrer o dano, cujo juízo terá competência funcional para processar e

julgar a causa.”

A premissa parte da razão que, “tem-se uma maior facilidade, em tese, na

obtenção de provas, materiais ou testemunhais, bem como a realização de toda e

qualquer perícia necessária ao bom andamento do feito” 193.

De tal arte, a Ação Civil Pública deverá ser proposta perante a Vara do Trabalho

(1ª Instância), do local onde ocorreu ou deva ocorrer a lesão aos interesses

metaindividuais defendidos na ação coletiva.

191 Ob. Cit., p. 1328. 192 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 1202. 193 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p. 59.

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Nesse sentido, leciona BEZERRA:

No âmbito do processo laboral, portanto, à míngua de legislação específica, a Ação Civil Pública deve ser proposta perante os órgãos de primeira instância, ou seja, as Varas do Trabalho do local onde ocorreu ou deva ocorrer a lesão aos interesses metaindividuais defendidos na demanda coletiva 194.

Entende MIRRA que “se o dano for de âmbito local, o ajuizamento da ação será

na Vara do Trabalho local; se for regional, será em uma das Varas da Capital do Estado;

se for de âmbito supra-regional ou nacional, será em uma das Varas do Trabalho do

Distrito Federal” 195.

O Egrégio. TST firmou entendimento, acerca da possibilidade de aplicação

subsidiária do art. 93 da Lei nº 8.078/90 (Código de Defesa do Consumidor) e à

competência em âmbito regional, com a Orientação Jurisprudencial nº 130, da Seção de

Dissídios Individuais 2, como segue: 130. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. COMPETÊNCIA TERRITORIAL. EXTENSÃO DO DANO CAUSADO OU A SER REPARADO. APLICAÇÃO ANALÓGICA DO ART. 93 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR Para a fixação da competência territorial em sede de Ação Civil Pública, cumpre tomar em conta a extensão do dano causado ou a ser reparado, pautando-se pela incidência analógica do art. 93 do Código de Defesa do Consumidor. Assim, se a extensão do dano a ser reparado limitar-se ao âmbito regional, a competência é de uma das Varas do Trabalho da Capital do Estado; se for de âmbito supra-regional ou nacional, o foro é o do Distrito Federal 196. (grifa-se)

No mesmo sentido da OJ acima transcrita, o TST pacificando entendimento,

firmou:

AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ALEGAÇÃO DE DANO OCORRIDO EM ÂMBITO REGIONAL. COMPETÊNCIA. VARA DO TRABALHO DA CAPITAL DO ESTADO. Esta Corte Superior já consolidou Jurisprudência a respeito da competência territorial em sede de Ação Civil Pública, levando em conta a extensão do dano causado ou a ser reparado, pautando-se pela incidência analógica do artigo 93 do Código de Defesa do Consumidor. Assim, se a extensão do dano a ser reparado limitar-se ao âmbito do Estado, a competência é de uma das Varas do Trabalho de sua Capital; se for de âmbito supra-regional ou nacional, o foro é o do Distrito Federal, nos termos da Orientação Jurisprudencial nº 130, da

194 Ob. Cit., p. 1202. 195 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p. 62. 196 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. OJ Nº 130 – DF. Disponível em: < http://www.tst.gov.br/> Acesso em: 20 out. 2008.

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SBDI-2. Ora, se na hipótese debatida dos autos a extensão do dano limitou-se ao Estado de São Paulo, como declarado pelos Juízes suscitantes, forçoso é reconhecer a competência de uma das Varas do Trabalho da capital Paulista para o julgamento do feito 197. (grifa-se)

Com efeito, a doutrina e a jurisprudência são unânimes em reconhecer a

competência originária e hierárquica para a Ação Civil Pública será sempre das Varas do

Trabalho na Justiça do Trabalho.

3.4 LEGITIMIDADE PARA O EXERCÍCIO DA AÇÃO CIVIL PÚBLICA

Para propor ou contestar uma ação, deve ter a parte interessada reconhecida sua

legitimidade, que é pertinência subjetiva colocada como condição da ação.

Na Ação Civil Pública, dirigida à tutela de Interesses e Direitos Metaindividuais, as

pessoas legitimadas ao seu exercício estão relacionadas no artigo 5° da Lei n. 7.347/85,

a saber:

Art. 5o Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar: I - o Ministério Público; II - a Defensoria Pública; III - a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios; IV - a autarquia, empresa pública, fundação ou sociedade de economia mista; V - a associação.

No trato de Interesses e Direitos Metaindividuais a questão assume ainda maior

relevância, “porquanto não pode sua titularidade ser atribuida a um sujeito determinado

na medida em que atrelada a uma comunidade dispersa ou apenas determinável quando

inserida em certo grupo, categoria ou classes de pessoas” 198.

197 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. CC - 155365/2005-000-00-00 – DF. Disponível em:<http://www.tst.gov.br/>. Acesso em: 5 out. 2008. 198 MAZZILI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 11. Ed. São Paulo: Saraiva. 1999, p. 85.

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3.4.1 Ministério Público

O fato de a Carta Magna atribuir indistintamente a todos os ramos do Ministério

Público a faculdade de promover o inquérito civil e a Ação Civil Pública significa que

“cada ramo poderá fazer uso do instrumento, quando, no seu âmbito de atuação, estiver

sendo desrespeitada a ordem jurídica protetora de interesses coletivos ou de interesses

difusos da sociedade” 199.

Nesse sentido, a CRFB/88 conferiu a todo o "parquet" 200 do Ministério Público da

União e dos Estados a legitimidade para ajuizar a Ação Civil Pública, no seu art.129, III,

in verbis: “promover o inquérito e a Ação Civil Pública, para proteção do patrimônio

público e social, do meio ambiente e de outros interesses difusos e coletivos”;

Em seguida no art.6º, VII, "c" e "d", da Lei Complementar nº 75/93 (LOMPU),

senão vejamos:

[...] c) a proteção dos interesses individuais indisponíveis, difusos e coletivos, relativos às comunidades indígenas, à família, à criança, ao adolescente, ao idoso, às minorias étnicas e ao consumidor; d) outros interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos; [...] 201

Por seu turno no art.83, III, a saber: “promover a Ação Civil Pública no âmbito da

Justiça do Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os

direitos sociais constitucionalmente garantidos”, art. 84, II, “instaurar inquérito civil e

outros procedimentos administrativos, sempre que cabíveis, para assegurar a

observância dos direitos sociais dos trabalhadores” ambos da Lei Complementar nº 75/93

(LOMPU) e por fim o art. 82 do Código de Defesa do Consumidor (CDC) quanto os

Sindicatos artigos, 129, § 1º e 8º, III, da CRFB/88, e os entes públicos citados nos demais

incisos do artigo 5º, da Lei nº 7.347/85.

199 GONÇALVES, Aroldo Plínio. A ação civil pública na justiça do trabalho. Revista LTr. São Paulo, v. 58. N. 10. 1994, p. 176. 200 Expressão francesa que designa o Ministério Público. SILVA, De Plácido e. Vocabulário jurídico. 24 ed. Ver. E atual. Nagib Slaibi Filho e Gláucia Carvalho Alves (atual.). Rio de Janeiro: Forense. 2004, p. 1006. 201 BRASIL. Lei Complementar N.73 de 20 de maio de 1993 – DF. Disponível em:< https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/LCP/Lcp75.htm>. Acesso em: 11 out. 2008.

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Vale ressaltar, que se tratando de Ação Civil Pública, e quando desrespeitados os

direitos sociais constitucionalmente garantidos, a legitimação ativa exsurge da aplicação

em conjunto dos art. 129, III e seu parágrafo 1° da CRFB/88 com os artigos supracitados,

verbis: ”a legitimação do MP para as ações civis previstas neste artigo não impede a de

terceiros, nas mesmas hipóteses, segundo o disposto nesta Constituição e na lei”.

No mesmo trilho percorrido acima, BEZERRA, ratifica:

[...] a legitimação ativa ad causam emerge da aplicação conjunta da CRFB (art. 129, III e seu parágrafo 1°), da LACP (art. 5°), do CDC (art. 82), da LOMPU (art. 6°, VII) e da LONMP (art. 25, IV). Isso significa, em síntese, que são legitimados para a ação: - o Ministério Público (da União e dos Estados – art. 128 da CRFB); - a União, os Estados, o Distrito federal e os Municípios; - as entidades e órgãos da Administração Pública, direta e indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificadamente destinados à defesa dos interesses metaindividuais; - as associações202 legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre seus fins institucionais a defesa dos interesses metaindividuais, podendo, no entanto, o requisito da pré-constituição ser dispensado pelo Juiz, quando haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do ramo, ou pela relevância do bem jurídico a ser protegido 203.

Sob este prisma, “o Ministério Público do Trabalho atua em defesa dos Interesses

difusos, coletivos ou Interesses homogêneos, por força da aplicação unificada do art.

129, III e seu parágrafo 1° da CRFB/88” 204 com os artigos ventilados acima.

Assim, não reside dúvida quanto à legitimação do MP para a defesa de Interesses

Difusos, Coletivos e Individuais Indisponíveis, uma vez que é inerente à função

institucional e independentemente de sua forma de instrumentalização.

Do mesmo modo está legitimado o Ministério Público do Trabalho, na proporção

que integrante da unidade MP e expressamente inclui o art. 83, III da LC 75/93, já

transcrita em oportunidade acima.

202 Associações civis constituem o gênero do qual são espécies as associações cooperativas, os sindicatos, etc. Logo, os sindicatos são legitimados concorrentemente com o MPT para promover a ACP em defesa de qualquer interesse metaindividual. 203 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de Direito Processual do trabalho. 6. ed. São Paulo: LTr, 2008, p. 1203. 204 GONÇALVES, Aroldo Plínio. A ação civil pública na justiça do trabalho. Revista LTr. São Paulo, v. 58. N. 10. 1994, p. 165.

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Nessa esteira, imperioso se faz transcrever o que BEZERRA defende: “na Ação

Civil Pública promovida para tutelar interesses ou direitos metaindividuais trabalhistas, o

Ministério Público do Trabalho poderá agir tanto na qualidade de legitimado autônomo

para a condução do processo quanto na de substituto processual” 205. (grifa-se)

Concernente à defesa de Interesses e Direitos Coletivos a atuação ministerial,

como um todo, não vem a ocorrer de forma que não atendendo a seus fins institucionais,

resguardando a ordem jurídica, o regime democrático e os interesses sociais e individuais

indisponíveis.

É assim que ao promover Ação Civil Pública na esfera trabalhista haverá de ser

ter como incumbência a defesa dos Direitos Sociais constitucionalmente garantidos. Mas,

não só, como também haverá de se atuar no resguardo da ordem jurídica, do regime

democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis que possam estar sendo

objeto de lesão ou ameaça de lesão nesse ramo especializado.

Desta forma, é plenamente pertinente a lição de MAZZILLI para quem a: “defesa

de interesse de meros grupos determinados ou indetermináveis de pessoas só se pode

fazer pelo MP quando isso convenha à coletividade como um todo, respeitada a

destinação institucional do Ministério público” 206.

WATANABE, não destoa ao discorrer sobre a atuação do Ministério Público,

alertando:

Mas, não se pode ir ao extremo de permitir que o Ministério Público tutele interesses genuinamente privados sem qualquer relevância social (como os de condôminos de um edifício de apartamentos contra o síndico ou contra terceiros, ou os de um grupo de uma sociedade contra outro grupo da mesma sociedade, a menos que seja equivocadamente presente, por alguma razão específica, o interesse social), sob pena de amesquinhamento da relevância institucional do parquet, que deve estar vocacionado, por definição constitucional, à defesa da ‘ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis’ (art. 127 da CRFB) 207.

205 Ob. Cit., p. 1203. 206 MAZZILI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 11. Ed. São Paulo: Saraiva. 1999, p. 77. 207 WATANABE, Kazuo. Código brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos autores do projeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999, p. 734.

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É relativamente à utilização da Ação Civil Pública para a defesa de Interesses e

Individuais Homogêneos pelo MP, e também pelo Ministério Público do Trabalho, que

surge a maior divergência doutrinária e jurisprudencial acerca do uso da ação

mencionada, pois se estaria a utilizar da Ação Civil Pública para a tutela de interesses e

Direitos a princípios considerados individuais e disponíveis.

Vejamos a decisão da 3° turma do egrégio TRIBUNAL SUPERIOR DO

TRABALHO, sobre a competência do MP e o Ministério Público do Trabalho para

promoção de Ação Civil Pública:

EMENTA: Da ilegitimidade ad causam do Ministério Público do Trabalho – inciso III, do art. 83 da Lei Complementar nº 75/93. A Lei Complementar nº 75 de 20 de maio de 1993 atribui ao Ministério Público a competência para promover Ação Civil Pública para a proteção de interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos (art. 6º, alínea d). No entanto, especificamente quanto ao Ministério Público do Trabalho, estabelece o art. 83, em seu inciso III, da Lei Complementar nº 75/93, que compete a este órgão promover a Ação Civil Pública no âmbito da Justiça do Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais, constitucionalmente garantidos. Portanto, não há previsão legal expressa atribuindo legitimidade do Ministério Público do Trabalho para a defesa de direitos individuais homogêneos. Recurso de Revista conhecido e provido para extinguir o Processo de acordo com o disposto no inciso IV, do art. 267, do CPC 208.

A doutrina e a jurisprudência, entretanto, verificando que no caso concreto se

apresenta interesse social relevante, vêm evoluindo para a admissão da Ação Civil

Pública ajuizada pelo MP e demais legitimados, como se verifica na afirmativa de

WATANABE, asseverando que em:

Linha de princípio, somente os interesses individuais indisponíveis estão sob a proteção do parquet. Foi a relevância social da tutela a título coletivo dos interesses ou direitos individuais homogêneos que levou o legislador a atribuir ao Ministério Público e outros entes públicos a legitimidade para agir nessa modalidade de demanda molecular 209.

208 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. RR nº 411.239/97– DF. Disponível em: < http://ext02.tst.gov.br/pls/ap01/ap_red100.resumo?num_int=4012&ano_int=1999&qtd_acesso=1148181> Acesso em: 20 out. 2008. 209 WATANABE, Kazuo. Código brasileiro de defesa do consumidor: comentado pelos autores do projeto. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1999, p. 735.

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É nesse diapasão, a lição de MILARÉ:

A razão de ser da Ação Civil Pública está ligada à "socialização do processo", como fruto da sociedade de massa, em que os problemas decorrentes dos grandes conglomerados urbanos, industriais, econômicos, de produção e consumo, requerem soluções jurisdicionais não meramente individuais, pois os interesses em jogo abarcam coletividades inteiras 210.

Em tal sentido, considerando a jurisprudência que vem se firmando, é de grande

contribuição as decisões que a seguir se transcrevem parcialmente, proferidas na

CORTE SUPREMA, como segue:

CONSTITUCIONAL - AÇÃO CIVIL PÚBLICA - IMPOSTOS: IPTU - MINISTÉRIO PÚBLICO: LEGITIMIDADE. Lei 7.374, de 1985, art. 1º, II, e art. 21, com a redação do art. 117 da Lei 8.078, de 1990 (Código do Consumidor); Lei 8.625, de 1993, art. 25. C.F., artigos 127 e 129, [...] II. - Certos direitos individuais homogêneos podem ser classificados como interesses ou direitos coletivos, ou identificar-se com interesses sociais e individuais indisponíveis. Nesses casos, a Ação Civil Pública presta-se a defesa dos mesmos, legitimado o Ministério Público para a causa. C.F., art. 127, caput, e art. 129, III. III. – [...] 211. (grifa-se)

E não desvirtuando de tal entendimento, no SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA,

a saber:

PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. ATO DE IMPROBIDADE. CAPACIDADE POSTULATÓRIA. ARTIGO 25, IV, "B", DA LEI 8.625/93. LEGITIMATIO AD CAUSAM DO PARQUET . ARTS. 127 E 129 DA CRFB/88. PATRIMÔNIO PÚBLICO. DEVER DE PROTEÇÃO. 1. A Constituição Federal de 1988 conferiu ao Ministério Público o status de instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (artigo 129, caput). 2. Deveras, o Ministério Público está legitimado a defender os interesses públicos patrimoniais e sociais, ostentando, a um só tempo, legitimatio ad processum e capacidade postulatória que pressupõe aptidão para praticar atos processuais. [...] 4. É que a Carta de 1988, ao evidenciar a importância da cidadania no controle dos atos da administração, com a eleição dos valores imateriais do art. 37, da CRFB/1988 como tuteláveis judicialmente, coadjuvados por uma série de instrumentos processuais de defesa dos interesses transindividuais, criou um microssistema de tutela de interesses difusos referentes à probidade da administração pública, nele encartando-se a

210 MILARÉ, Édis. A Ação Civil Pública na Nova Ordem Constitucional. São Paulo: Ed Saraiva, 1990, p. 37. 211 BRASIL. Superior Tribunal Federal. RE 195056 – DF. Disponível em:< http://www.stf.gov.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp> Acesso em: 20 out. 2008.

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Ação Popular, a Ação Civil Pública e o Mandado de Segurança Coletivo, como instrumentos concorrentes na defesa desses direitos eclipsados por cláusulas pétreas. 5. Destarte, é mister ressaltar que a nova ordem constitucional erigiu um autêntico 'concurso de ações' entre os instrumentos de tutela dos interesses transindividuais e, a fortiori , legitimou o Ministério Público para o manejo dos mesmos. 6. Legitimatio ad causam do Ministério Público à luz da dicção final do disposto no art. 127 da CRFB, que o habilita a demandar em prol de interesses indisponíveis, na forma da recentíssima súmula nº 329, aprovada pela Corte Especial em 02.08.2006, cujo verbete assim sintetiza a tese: "O Ministério Público tem legitimidade para propor Ação Civil Pública em defesa do patrimônio público". 7. Sob esse enfoque, adota-se a fundamentação ideológica e analógica com o que se concluiu no RE n.º 163231/SP, para externar que a Constituição Federal confere ao Ministério Público capacidade postulatória para a propositura da ação de improbidade, nos seguintes termos: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. CONSTITUCIONAL. LEGITIMIDADE DO MINISTÉRIO PÚBLICO PARA PROMOVER AÇÃO CIVIL PÚBLICA EM DEFESA DOS INTERESSES DIFUSOS, COLETIVOS E HOMOGÊNEOS. MENSALIDADES ESCOLARES: CAPACIDADE POSTULATÓRIA DO PARQUET PARA DISCUTI-LAS EM JUÍZO. 1. A Constituição Federal confere relevo ao Ministério Público como instituição permanente, essencial à função jurisdicional do Estado, incumbindo-lhe a defesa da ordem jurídica, do regime democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (CRFB, art. 127). 2. Por isso mesmo detém o Ministério Público capacidade postulatória, não só para a abertura do inquérito civil, da ação penal pública e da Ação Civil Pública para a proteção do patrimônio público e social, do meio ambiente, mas também de outros interesses difusos e coletivos (CRFB, art. 129, I e III). [...] 11. É cediço na doutrina pátria que "o bacharel em direito regularmente inscrito no quadro de advogados da OAB tem capacidade postulatória (EOAB 8º, 1º e ss). Também a possui o membro do MP, tanto no processo penal quanto no processo civil, para ajuizar a ação penal e a ACP (CRFB 129, III; CPC 81; LACP 5º; CDC 82, I; ECA 210 I)." (Nelson Nery Júnior In "Código de Processo Civil Comentado e Legislação Processual Civil Extravagante em Vigor, 5ª Edição, Editora Revista dos Tribunais, página 429) 212. (grifa-se)

Por seu turno, no que se refere ao Processo do Trabalho cuja incumbência é a

instrumentalização de um ramo de Direito de forte conteúdo social, não pode se diverso o

entendimento, seja em consideração à atuação ministerial seja em referência aos

interesses tutelados.

Uma vez atingido um expressivo contingente de trabalhadores por lesão

decorrente de origem comum, entende-se plenamente justificável o uso da defesa

coletiva de interesses e direitos, via Ação Civil Pública, em vista da integração legislativa

e de relevante interesse social presumidamente existente.

212 BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. RE Nº 749.988 – DF. Disponível em: < https://ww2.stj.gov.br/revistaeletronica/ita.asp?registro=200500800935&dt_publicacao=18/09/2006 > Acesso em: 20 out. 2008.

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O Ministério Público do Trabalho é uma das partes legitimadas para mister, seja

em função da Lei Complementar 75/93 (art. 83, III c/c art. 6°, d), seja pelos ditames

constitucionais que lhe atribuiu o encargo de defensor da ordem jurídica, do regime

democrático e dos interesses sociais e individuais indisponíveis (art. 127 CRFB/88),

cabendo aqui as mesmas observações já feitas quanto à sua utilização pelo MP no

referente à preservação da instituição no sentido de não se tornar tutor de interesses

genuinamente privados sem qualquer relevância social.

E objetivando a hipótese de atuação do Ministério Público do trabalho na defesa

de interesses de relevância social a atingir considerável número de trabalhadores, é

igualmente oportuna a transcrição parcial do acórdão proferido em sede do Recurso de

Revista no TRIBUNAL SUPERIOR DO TRABALHO:

MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. LEGITIMIDADE ATIVA "AD CAUSAM" PARA PROPOR AÇÃO CIVIL PÚBLICA VISANDO ASSEGURAR DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS. Os interesses que o Ministério Público do Trabalho visa defender na presente Ação Civil Pública, relacionados ao pagamento de salários vencidos e vincendos, classificam-se como individuais homogêneos, pois possuem origem comum e é possível a determinação imediata dos empregados que foram prejudicados pelos atos lesivos do recorrido e as reparações dos danos podem se dar de forma distinta em relação a cada um dos membros da coletividade atingida. Vale dizer, os direitos lesados são divisíveis. O "parquet" laboral possui legitimidade para defender tais interesses em juízo, assim como os interesses coletivos e difusos, nos termos dos artigos 6º, VII, "a" e "d", 7º, I, 83, III e 84, "caput" e II da Lei Complementar 75/93. Recurso conhecido e provido 213.

E, finalmente, para concretizar o raciocínio, colaciona-se julgado do TRIBUNAL

SUPERIOR DO TRABALHO com o mesmo entendimento:

RECURSO DE REVISTA. ILEGITIMIDADE AD CAUSAM DO MINISTÉRIO PÚBLICO DO TRABALHO. AÇÃO CIVIL PÚBLICA. CONTRATAÇÃO IRREGULAR DE MÃO-DE-OBRA. VÍNCULO DE EMPREGO. INCISO III DO ARTIGO 83 DA LEI COMPLEMENTAR N.º 75/93. PROVIMENTO. A Lei Complementar n.º 75, de 20 de maio de 1993, atribui ao Ministério Público a competência para promover Ação Civil Pública para a proteção de interesses individuais indisponíveis, homogêneos, sociais, difusos e coletivos (artigo 6.º, alínea "d"). No entanto, especificamente quanto ao Ministério Público do Trabalho, estabelece o artigo 83, inciso III, da Lei Complementar n.º 75/93: "compete a este Órgão promover a Ação Civil Pública no âmbito da

213 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. RR nº 810597 – DF. Disponível em: < http://ext02.tst.gov.br/pls/ap01/ap_red100.resumo?num_int=4012&ano_int=1999&qtd_acesso=7865181> Acesso em: 20 out. 2008.

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Justiça do Trabalho, para defesa de interesses coletivos, quando desrespeitados os direitos sociais, constitucionalmente garantidos". A hipótese dos autos revela-se bastante peculiar, já que remete à utilização de expediente fraudulento - contratos de parceria extrativa - para fins de contratação de pessoal, em completo desrespeito à legislação trabalhista. Discute-se também a inobservância a termo de ajuste de conduta anteriormente firmado, que tinha como objeto a regulamentação da contratação obreira, ficando patente a tentativa da Reclamada de utilizar tal expediente para burlar os direitos trabalhistas dos envolvidos (arts. 6.º e 7.º da Constituição Federal) 214.

Com efeito, havendo previsão legal expressa atribuindo legitimidade do Ministério

Público do Trabalho para a defesa dos direitos levados a efeito na presente

Reclamatória, deve a Revista ser provida, afastando-se a extinção do processo declarada

pela instância julgadora regional e determinando-se o retorno dos autos à origem, para

que prossiga no julgamento do apelo ordinário da Reclamada, superada a questão

relativa à legitimidade do “parquet” para propor a presente Ação Civil Pública.

Portanto, em face da evolução doutrinária e jurisprudencial no sentido de admitir a

atuação ministerial para a defesa de Interesses e Direitos Individuais Homogêneos

qualificados pelo Interesse Social relevante, ainda que disponíveis, é possível se afirmar

a legitimidade de Ministério Público do Trabalho para, dentro de suas funções

institucionais, atuar na defesa de Interesses Difusos, Coletivos e também Individuais

Homogêneos quando assim o determine o Interesse Social.

3.4.2 Entidades sindicais

Pelo disposto no artigo 5° da Lei n. 7.347/85, encontram-se entre os titulares para

o exercício da Ação Civil Pública as associações que estejam constituídas há pelo menos

um ano no termos da lei civil (inciso I) e incluam dentre suas finalidades institucionais a

proteção ao meio ambiente, ao consumidor, à ordem econômica, à livre concorrência, ou

ao patrimônio estético, histórico, turístico e paisagístico (inciso II).

Com a legitimidade das associações para o exercício da Ação Civil Pública tem-

se, segundo KOCHER, mais um indício a sugerir “que as entidades privadas assumem,

214 BRASIL. Tribunal Superior do Trabalho. RR Nº 718631/2000.1 – DF. Disponível em: < http://ext02.tst.gov.br/pls/ap01/ap_red100.resumo?num_int=4012&ano_int=2005&qtd_acesso=1146732> Acesso em: 20 out. 2008.

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na realidade, funções próprias até então do Ministério Público” 215. E nesse sentido, a

CRFB/88 no seu artigo 129, III ampliou o grau de interesses passíveis de objeto pela

Ação Civil Pública, inserindo-se então também aqueles coletivos.

No mesmo diapasão a Lei n. 8.078/90 foi produzida de forma a integrar-se com a

Lei n. 7.347/85, estendendo-se a tutela coletiva também para a proteção de Direitos

Individuais Homogêneos de origem comum, alem daqueles Difusos e Coletivos, donde

também há de ser reconhecida a legitimidade para atuar na defesa de Interesses

Individuais Homogêneos aos nominados no artigo 5° da Lei n. 7347/85.

Sendo a hipótese de Direito Coletivo, tem-se a possibilidade de sua defesa por

entidades de classes e associações, também ai se incluindo os sindicatos. Nessa mesma

linha de raciocínio entende NASCIMENTO que: “o sindicato encontra hoje sua melhor

delimitação como organização social constituída para, segundo um princípio de

autonomia privada coletiva, defender os interesses trabalhistas e econômicos nas

relações coletivas entre os grupos sociais” 216. Ou ainda, como afirma KOCHER, “ as

associações cumprem uma função pública, sem assumir a qualidade de órgãos públicos

e a respectiva legitimidade política “ 217.

É dentro deste espírito que lhe reconheceu a CRFB/88, por seu artigo 8°, III, a

condição ao sindicato de defensor dos “direitos e interesses coletivos ou individuais da

categoria, inclusive em questões judiciais ou administrativas”.

Para MANZZILLI, o “sindicato só poderá defender interesses individuais de

caráter não homogêneo por meio de representação; mas poderá defender interesses

coletivos ou individuais homogêneos por meio de substituição processual, como poderia

qualquer associação civil” 218, inclusive “em questões relativas ao meio ambiente do

trabalho ou à condição de consumidores de seus associados, ou ainda outras hipóteses

de interesse da categoria, desde que haja autorização dos estatutos ou de assembléia” 219

215 KOCHER, Eva. Ação Civil Pública e a Substituição Processual na Justiça do trabalho. São

uri Mascaro. Curso de direito do trabalho. São Paulo: Saraiva, 1997, p.

CHER, Eva. Ação Civil Pública e a Substituição Processual na Justiça do trabalho. São

A defesa dos interesses difusos em juízo. 11. Ed. São Paulo: Saraiva.

152-153.

Paulo: LTr, 1998, p.39. 216 NASCIMENTO, Ama618. 217 KOPaulo: LTr, 1998, p. 75. 218 MAZZILI, Hugo Nigro.1999, p. 152. 219 Ob. Cit., p.

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Com efeito, estando o sindicato legitimado a agir por determinação da Lei n.

7.347/85 e recebendo o encargo constitucional de assim proceder na defesa dos Direitos

e Intere

.4.3 Demais legitimados

ão ainda legitimados ao exercício da Ação Civil Pública, além do Ministério

Público e associações, a União, Estados, Municípios, autarquias, empresas públicas,

fundaç

ão ativa na Ação Civil Pública

trabalhista em face da União, Estados, Distrito Federal e territórios, na defesa de

Interes

existe nenhuma entidade da administração pública que se enquadre neste termos [...] quanto muito, aproxima-se as DRT’s (Delegacias Regionais do Trabalho) com suas atribuições de fiscalização

Com efeito, co

apenas uma possibilidade teórica de utilização da Ação Civil Pública pela União, Estados,

Municíp

sses da Categoria, vislumbra-se a efetiva possibilidade do ajuizamento de Ação

Civil Pública para a defesa de Interesses e Direitos Metaindividuais relacionados à

categoria.

3

S

ões e sociedades de economia mista. E também o Distrito Federal por força da Lei

8.069/90, artigo 210, II, que considera legitimados concorrentes, in verbis: II - a União, os

Estados, os Municípios, o Distrito Federal e os Territórios.

Não se vislumbra, entretanto, possibilidade de atuaç

ses Metaindividuais trabalhistas.

Como salientado por ROCHA:

Atualmente não

do cumprimento das normas de trabalho, mas dado a seu poder de polícia para inclusive impor multas, serve muito mais como ponto de apoio para a propositura de possíveis ações para a observância destas normas pelo MPT, que possui os meios mais adequados para exercer esta função 220.

nsiderando a esfera trabalhista, tem-se, quando muito, existe

ios, Distrito Federal, Territórios e entes da administração pública direta ou

indireta.

220 ROCHA, Ibraim. Ação civil pública e o processo do trabalho. São Paulo: LTr. 1996, p. 83.

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3.4.4 Legitimidade concorrente

Têm legitimidade para propor a Ação Civil Pública, na Justiça do Trabalho, tanto o

Ministé 129, III, quanto os Sindicatos – CF, art. 129, 1º;

art. 8º, III, sendo que a Lei nº 7.347/85, art. 5º, também confere essa legitimidade aos

entes públicos. Trata-se, portanto, de hipótese típica de legitimidade concorrente, “em

que o e

do Ministério Público e,

muito menos, que estaria limitada à defesa de interesses coletivos.

que demonstrem, de

forma inequívoca, interesse legítimo na ação, desde que preenchidos determinados

pressu

ilidade da

“ocorrência de listisconsórcio ativo para propositura de determinada Ação Civil Pública ou

mesmo

disjuntiva a legitimidade ativa para as ações civis públicas ou coletivas em defesa de interesses difusos, coletivos e

rio Público do Trabalho – CF, art.

nfoque de atuação é, no entanto, distinto, pois, enquanto o Ministério Público do

Trabalho defende a ordem jurídica protetiva do trabalhador, os Sindicatos defendem os

trabalhadores protegidos pelo ordenamento jurídico-laboral” 221.

Dessa forma, em face do disposto no § 1º, do art. 129 da Constituição Federal,

não há como se sustentar, invocando-se o art. 83, III, da Lei Complementar nº 75/93, que

a legitimidade para propor Ação Civil Pública seria exclusiva

A atual Carta Magna, no art. 5º, XXI e LXX, ampliou significativamente o leque dos

legitimados a propor a Ação Civil Pública (legitimados ativos), uma vez que passou a

abranger associações comunitárias e/ou profissionais não-estatais

postos: associação constituída há pelo menos um ano e que inclua a proteção e

preservação dos interesses difusos no campo de seus objetivos institucionais.

Como visto, segundo o artigo 5°da Lei 7.347/85, diversos são os legitimados para

promoção da Ação Civil Pública, havendo então a possibilidade da Legitimidade

concorrente entre os titulados enumerados. Disso decorre também a possib

advir sua formação após seu curso” 222.

Diante de tal assertiva, diz MAZZILLI que:

É concorrente, autônoma e

221 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p. 121. 222 MIRRA, Álvaro Luiz Valery. Ação civil pública e a reparação do dano ao meio ambiente. São Paulo: Juarez de Oliveira, 2002, p.122.

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individuais homogêneos. Cada um dos co-legitimados pode propor a ação, litisconsorciando-se com outros ou fazendo-o isoladamente 223.

Por sua vez, co

facultar ao “Poder Púb

habilitar-se como litisco

individualmente em juízo. Note-se que assistência simples (CPC, art. 50), o direito litigioso tem como titular exclusivo o assistido, possuindo o assistente, apenas, interesse jurídico em que o

A despeito

simples ou litiscon

t ou Individual Homogêneo é possível e legitimidade para

a propo

ONSIDERAÇÕES FINAIS

ntém o § 2°, do artigo 5° da Lei 7.347/85, determinação de forma a

lico e as outras associações legitimadas nos termos deste artigo

nsorte de qualquer das partes”.

Segundo TEIXEIRA FILHO, dois são os casos básicos onde se verifica a

assistência litisconsorcial:

a) Quando o direito sobre o qual as partes controvertem pertencer

também ao assistente, que, em virtude disso, poderia defendê-lo,

pronunciamento jurisdicional seja favorável àquele. [...] b) Quando o direito postulado pertencer (somente) ao assistente, mas

tiver sido reivindicado por seu substituto processual. Esta hipótese e mais freqüente no foro trabalhista, porquanto as entidades brasileiras se encontram legitimadas (lei n. 8.073/90, art. 3°) para atuar nessa qualidade. A assistência pelo trabalhador, neste caso, será efetivamente litisconsorcial – e não simples -, por ser ele o único titular da relação jurídica material que deu origem à lide. Como o direito litigioso lhe pertence, é inevitável que venha a sofrer – benéfica ou maléfica – a influência dos efeitos da sentença que solucionar o conflito de interesses 224.

de tais considerações acerca da legitimidade ativa tanto a assistência

sorcial, considerando o interesse que pode ser afetado sendo: Difuso,

se afirmar e r conhecer aCole ivo

situra da Ação Civil pública.

C

223 MAZZILI, Hugo Nigro. A defesa dos interesses difusos em juízo. 11. Ed. São Paulo: Saraiva. 1999, p. 159 224 TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Litisconsórcio, assistência e Intervenção de terceiros no processo do trabalho. São Paulo: LTr, 1991, p. 117.

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O presente trabalho teve como objetivo investigar a propositura da Ação Civil

Pública como instrumento para a defesa do Meio Ambiente do Trabalho. Ao enfrentar

o tema apontou-se algumas conclusões:

conceito da categoria meio ambiente, que

apesar da redundância do termo, encontra-se consagrado na doutrina e na legislação.

Dando continuidade ao meio ambiente, adotando-se a classificação que é retirada da

própria

te capítulo, o necessário surgimento do Direito Ambiental, como

ciência jurídica que dedica-se a formular soluções para problemas ambientais, com o

intuito de proteger e preservar o meio ambiente, proporcionando melhores condições

de vida

stitucional, o direito

ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, tornou-se objeto de ciência, o que

proporcionou o surgimento do Direito Ambiental. Por ser um ramo autônomo, em razão

disso s

ssa pelo fato de que, inicialmente, o ser

humano vem demonstrando uma crescente evolução quanto à forma de conviver com

seus semelhantes. Nesse sentido, novas descobertas e a adoção de novos costumes

influenc

A primeiro capítulo, buscado o

definição, tendo-se assim, o meio ambiente sob o aspecto natural, artificial,

cultural e do trabalho.

Destaca-se nes

na planeta. Ainda, buscou-se relatar sobre a tutela constitucional do meio

ambiente adotada pela CRFB/88, que além de estabelecer um capítulo próprio para

tratar a questão ambiental, ao longo de outros dispositivos, aborda as prerrogativas e

os deveres da sociedade e do Estado para com o meio ambiente.

Assim, elevado a direito fundamental pela nova ordem con

urgiram vários princípios voltados para a preservação do meio ambiente.

Destacando-se no presente trabalho alguns dos principais princípios ambientais tais

como: da precaução, da prevenção, da cooperação, da participação, da reparação, da

responsabilização, e do poluidor pagador.

A discussão do tema proposto pa

iaram uma constante interação entre o ser humano e o meio ambiente. Tanto é

verdade que a sociedade, através de um processo de conscientização, reconheceu a

importância do conceito de qualidade de vida, com grande ênfase na preservação do

meio ambiente.

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A Constituição Federal de 1988, afeita as exigências contemporâneas da

ciedade brasileira, reconheceu a imprescindibilidade do valor meio ambiente como so

sinônimo de qualidade de vida, através da inserção do art. 225, “Todos têm direito ao

meio a

titucional nº 45 de 08 de

dezembro de 2004, através da reformulação do art. 114 da Carta Magna em vigor. Ocorre

que, um

tência no que diz respeito o

julgamento das ações relativas as relações de trabalho e não somente as de emprego,

principa

direitos sem outorgar a

possibilidade de sua efetividade. No que tange a proteção do meio ambiente, um dos

instrum

tivos afetos às relações de trabalho. Por outro lado,

não existe um diploma legal específico sobre a ação civil pública em defesa de tais

direitos

mbiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à

sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e a coletividade o dever de

defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações”.

É fundamental, ainda, considerar que, nesse ínterim, a Justiça do Trabalho tevê

sua competência substancialmente alterada pela Emenda Cons

a das mais discutidas alterações diz respeito à alteração da competência material

da Justiça do Trabalho, posto que o artigo 114 da CRFB/88 antes da alteração trazia no

caput a expressão “relação de emprego”. Contudo, com aprovação da Emenda

Constitucional 45/04, foi incluída a expressão ”relação de trabalho” no inciso I, que até

então inexistia, tornando a competência mais abrangente.

Então, pode-se dizer que a emenda constitucional em menção manteve o poder

normativo da Justiça do Trabalho e ampliou a compe

lmente no que diz respeito a abertura operada pelo inciso IX, do mencionado

artigo constitucional, in verbis: “Compete a Justiça do Trabalho processar e julgar: [...] IX

– outras controvérsias decorrentes da relação de trabalho [...]”.

Todavia, o segundo capítulo trazendo-se a baila o ordenamento jurídico brasileiro,

que através de sua Carta Magna, não poderia apenas criar

entos de que se pode valer a sociedade é a ação civil pública, consolidada

através da edição da Lei nº 7.347/85.

Antes de tudo, impende considerar que a Lei nº 7.347/85 não faz alusão expressa

a defesa dos interesses difusos e cole

, como ocorre, por exemplo, com a Lei nº 7.853/89, que dispõe sobre a ação civil

pública em defesa das pessoas portadoras de deficiência; com a Lei 7.913/89, que trata

da ação civil pública de responsabilidade por danos causados aos investidores no

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mercado de capitais; com a Lei 8.069/90, que dispõe sobre a ação civil pública para

proteção dos interesses difusos e coletivos das crianças e dos adolescentes.

Nem por isso, estão os interesses coletivos, em sentido lato, neste

compreendidos os interesses difusos, coletivos strictu sensu e individuais homogêneos

decorre

ercebeu-se claramente que a partir da

instituição da ação civil pública houve um acirrado embate sobre a possibilidade de

ajuizam

onhecimento da Ação

Civil Pública é conferida em função da abrangência do dano afirmado, sendo do lugar de

sua oc

ade postulatória à tutela de Interesses Coletivos ao

Ministério Público, União, Estados, Municípios, Autarquias, empresas públicas,

fundaç

lica como instrumento garantidor do meio

ntes das relações laborais, fora do âmbito de proteção da ação civil pública,

mesmo porque, é exatamente na seara trabalhista que se concentram os conflitos de

interesses coletivos mais latentes da chamada sociedades de massas. Com efeito, no

Processo do Trabalho, através da Ação Civil Pública, poderá haver tutela de Interesses

Difusos, Coletivos e Individuais Homogêneos.

Sendo assim, no terceiro capítulo, p

ento de ação em tela em sede trabalhista. Atualmente, com fulcro no inc. III, do

art. 83 da Lei Complementar nº 75/93, é cabível a Ação Civil Pública na Justiça do

Trabalho quando os direitos trabalhistas difusos e coletivos, previstos em nosso

ordenamento jurídico, forem violados ou estejam ameaçados de lesão. Apesar disso, os

operadores do Direito ainda são receosos quanto a utilização do instrumento processual

em comento no tocante a proteção do meio ambiente do trabalho.

Com efeito, por disposição legal a Competência para o c

orrência quando de âmbito local ou da Capital do Estado ou do Distrito Federal

quando de âmbito nacional ou regional, o que afasta seu exercício por órgão de instância

superior, regional ou nacional.

Reconhecida Legitimid

ões, sociedades de economia mista e associações, restringindo a seus fins

constitucionais, tem-se no âmbito do Processo do Trabalho que referido mister melhor se

compatibiliza como as atribuições conferidas ao Ministério Público do Trabalho, como

guardião da ordem jurídica e dos Interesses Sociais e Individuais indisponíveis, e os

Sindicatos, como espécie do gênero associação e defensores dos Direitos e Interesses

Coletivos ou Individuais dos trabalhadores.

No enlace dessas novas tendências, é de substancial importância a denominação

em torno da utilização da ação civil púb

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ambien

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qualidade de vida sejam levados a sua verdadeira operação e, conseqüentemente,

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