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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE ECONOMIA VIVIANE TEIXEIRA BENINCÁ A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA COMO FATOR DE VALORIZAÇÃO: ESTUDO DE CASO DO SANTANDER SALVADOR 2013

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE ECONOMIA

VIVIANE TEIXEIRA BENINCÁ

A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA COMO FATOR DE VALORIZAÇÃO: ESTUDO DE CASO DO SANTANDER

SALVADOR

2013

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VIVIANE TEIXEIRA BENINCÁ

A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA COMO FATOR DE VALORIZAÇÃO: ESTUDO DE CASO DO SANTANDER

SALVADOR

2013

Trabalho de conclusão de curso apresentado

no curso de Economia da Universidade

Federal da Bahia como requisito parcial à

obtenção do grau de Bacharel em Economia.

Orientador: Prof. Ihering Guedes Alcoforado

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Ficha catalográfica elaborada por Valdinea Veloso CRB 5-1092

Benincá, Viviane Teixeira

B467 A responsabilidade social corporativa como fator de valorização:

estudo de caso do Santander / Viviane Teixeira Benincá.

Salvador, 2013.

54 f. graf. tab.

Trabalho de Conclusão de (Graduação em Economia) -

Faculdade de Economia ,Universidade Federal da Bahia, 2013.

Orientador: Prof. Ihering Guedes Alcoforado

1. Responsabilidade social da empresa 2. Sustentabildiade

I. Benincá, Viviane Teixeira. II. Alcoforado, Ihering Guedes

III. Título

CDD 658.408

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VIVIANE TEIXEIRA BENINCÁ

A RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA COMO FATOR DE VALORIZAÇÃO: ESTUDO DE CASO DO SANTANDER

Trabalho de conclusão de curso apresentado como requisito parcial à obtenção do

grau de Bacharel em Economia.

Aprovada em 30 de agosto de 2013

Banca Examinadora

....................................................................................

Ihering Guedes Alcoforado

Orientador

.............................................................................................

Lívio Andrade Wanderley

..................................................................................................

Sara Silva

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RESUMO

A Responsabilidade Social Corporativa é um assunto que ganha cada vez mais espaço nas pesquisas acadêmicas, frente ao novo paradigma estabelecido: sustentabilidade. Dentro desse contexto, não cabe à empresa simplesmente maximizar o lucro, ela é induzida também assumir um papel mais atuante perante a sociedade. Dessa maneira, a presente monografia tem como objetivo analisar a Responsabilidade Social Corporativa como um fator estratégico de valorização empresarial, com o fim de trazer retorno positivo à organização. Pretende-se verificar como ações da Responsabilidade Social Corporativa podem agregar valor à imagem corporativa das firmas que as realizam. Assim, foi eleita uma instituição financeira que trabalhe com o tema sustentabilidade a fim de que se possa verificar empiricamente como funcionam medidas socialmente sustentáveis. Dessa forma, o Banco Santander foi o escolhido para este estudo de caso.

Palavras-chave: Responsabilidade Social Corporativa; Sustentabilidade; Imagem

jahdgdyfgyagsfy corporativa; Valorização Empresarial.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO...................................................................................................7

2 ASPECTOS DA NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL..................................10

2.1 A IMPORTÂNCIA DAS INSTITUIÇÕES..........................................................10

2.2 AMBIENTE INSTITUCIONAL E MOTIVAÇÃO EMPRESARIAL.....................12

3 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA.........................................18

3.1 O QUE É A RSC?...........................................................................................18

3.2 DIVERSIDADE DAS AÇÕES RESPONSÁVEIS............................................23

3.3 IMAGEM CORPORATIVA E CAPITAL REPUTACIONAL.............................27

3.4 A RSC COMO FATOR DE VALORIZAÇÃO EMPRESARIAL........................30

4 METODOLOGIA.............................................................................................33

4.1 ESTUDO DE CASO........................................................................................33

4.2 INFORMAÇÕES BÁSICAS.............................................................................34

4.3 AS AÇÕES DE RSC DO SANTANDER BRASIL S.A.....................................37

4.4 EVIDÊNCIAS DE RETORNO A IMAGEM CORPORATIVA...........................44

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................49

REFERÊNCIAS 51

ANEXO

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LISTA DE FIGURAS

Figura 1 - A análise dos quatro níveis institucionais................................................14

Figura 2 - Responsabilidade Social Corporativa......................................................16

Figura 3 – O Modelo da teoria dos Stakeholders.....................................................25

Figura 4 – O Modelo da criação de valor a partir de ações de Responsabilidade

Social........................................................................................................................29

Figura 5 – A RSC como fator de valorização empresarial.......................................47

LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – As diferenças entre a filantropia e a Responsabilidade Social............20

Quadro 2 – Vantagens da RSE...............................................................................27

Quadro 3 – Dados 2013 Banco Santander (Brasil) S.A..........................................36

Quadro 4 – Uso da RSC pelo Banco Santander (Brasil) S.A ................................43

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1 INTRODUÇÃO

O cenário da atividade de negócios está em constante mudança. E com o processo

de globalização, problemas ambientais ganham importância tamanha que

ultrapassam os limites de cada Estado. A partir desse momento, os empresários

começam a perceber a insatisfação da sociedade com relação aos problemas

causados pelas organizações. Surge a necessidade de incorporar fatores

socioambientais como parte importante do planejamento empresarial.

Estudos relacionados ao tema da responsabilidade social corporativa têm se tornado

frequente no meio acadêmico por se tratar de um tema de grande apelo popular na

atualidade. Existe a consciência de que os recursos naturais utilizados são finitos, e

que é preciso gerenciá-lo da melhor maneira. Inicialmente percebe-se que os

empresários pensavam a questão ambiental como um mal necessário. Para

Friedman (1970), por exemplo, a gestão que persegue retorno social e ambiental é

incompatível com o principal objetivo da empresa o retorno financeiro aos acionistas.

Entretanto, como o tema adquire proporção praticamente mundial, as empresas hoje

buscam atingir objetivos financeiros e não financeiros sendo que ao alcançar metas

ambientais e/ou sociais a organização adquire um diferencial e valoriza-se perante a

sociedade. Para Porter (2006), as empresas reconhecem que iniciativas que geram

valor para a sociedade ou para o meio ambiente podem trazer-lhes vantagem

competitiva no longo prazo, visto que devidamente desenhadas, funcionam como

indutores de inovações tecnológicas.

Dessa maneira, como normalmente ocorre nas questões acadêmicas, existem

correntes que defendem que as empresas devem buscar unicamente o lucro, já

outras afirmam que os gestores devem promover o bem entre todos os agentes

envolvidos nos negócios da firma. Entretanto, ambas as visões convergem no

sentido de que as empresas têm uma função social a cumprir na sociedade e, desta

forma, possuem dimensões éticas, mas existe a discordância sobre quem se

beneficiará com elas (DIENHART, 2000).

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Dentro desse contexto são debatidas atualmente as atividades da responsabilidade

socialcorporativa. É importante ressaltar que não há um consenso sobre a definição

e há várias nomenclaturas para este tema, entretanto o Instituto Ethos (2012)

caracteriza a ação socialmente responsável das empresas da seguinte maneira:

A responsabilidade social das empresas tem como principal característica a coerência ética nas práticas e relações com seus diversos públicos, contribuindo para o desenvolvimento contínuo das pessoas, das comunidades e dos relacionamentos entre si e com o meio ambiente. Ao adicionar às suas competências básicas a conduta ética e socialmente responsável, as empresas conquistam o respeito das pessoas e das comunidades atingidas por suas atividades, o engajamento de seus colaboradores e a preferência dos consumidores. (INSTITUTO ETHOS, 2012)

O problema central desta pesquisa é saber como a responsabilidade social

corporativa pode ser considerada fator que leva a valorização empresarial. Busca-se

compreender como a empresa se beneficia com a RSC, e a análise acontece com a

finalidade de entender quais são as motivações da empresa para agir de forma

socialmente responsável.

Assim, o objetivo principal é analisar a responsabilidade social corporativa como um

fator de valorização empresarial, de grande relevância no atual contexto de

integração dos mercados e intensificação do fluxo informacional. Já os objetivos

específicos são avaliar os efeitos das ações da RSC sobre alguns dos stakeholders,

principalmente a comunidade e funcionários, bem como analisar de que forma tais

ações impactam na percepção/visão da imagem corporativa.

As firmas que aplicam a RSCem sua gestão terminam por ganhar um certo

reconhecimento por parte dos consumidores, cada vez mais informados. Dessa

maneira, àquelas que têm a sua imagem atrelada a ações deste tipo agregam valor

à imagem corporativa, sendo necessário ressaltar que tal atuação configura-

se,atualmente,numa imposição social.

Portanto, para facilitar e ilustrar a abordagem do tema fez-se um estudo de caso

com o Banco SANTANDER,instituição financeira pioneira no desenvolvimento de

ações sustentáveis no setor bancário brasileiro, e por ser uma multinacional que

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demonstra um forte comprometimento com a sustentabilidade e a Responsabilidade

Social Corporativa.

A metodologia utilizada consiste numa revisão do arcabouço teórico que fundamenta

o conceito de Responsabilidade Social Corporativa e é completada por um estudo

de caso numa instituição financeira. Para a coleta de dados, a metodologia com

análise qualitativa denominada “grupo focal” (focusgroup). Grupo focal é definido na

literatura como um tipo especial de entrevista em grupo que tem por objetivo reunir

informações detalhadas sobre um tópico particular a partir de um grupo de

participantes selecionados (SALOMON, 1991; SEVERINO, 2000).

O trabalho está organizado em cinco seções, incluindo esta introdução. A segunda

seção trata do referencial teórico, a partir do ambiente institucional e as motivações

que levam a firma a agir de maneira socialmente responsável, para tanto recorre-se

aos insights da Nova Economia Institucional. Na terceira seção, aborda-se conceitos

da Responsabilidade Social Corporativa e como esse tema contribui para a

preservação, ou até mesmo, a ampliaçãodo capital reputacional e valorização da

firma. A quarta seção apresentao estudo de caso do Santander com a apresentação

das ações socialmente responsáveis do banco. Por fim, na última seção são feitas

as considerações finais.

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2 ASPECTOS DA NOVA ECONOMIA INSTITUCIONAL

2.1 A IMPORTANCIA DAS INSTITUIÇÕES

Neste item é feita uma breve revisão da Nova Economia Institucional, utilizando-a

como referencial teórico para a discussão acerca da Responsabilidade Social

Corporativa. No âmbito da análise desta monografia, propõe-se que a ação

socialmente responsável produz dois resultados para a empresa: alinha sua prática

aos novos valores e agrega valor à marca ao produzir externalidades positivas,

minimizando as negativas.

As instituições há muito constituem-se num problema para os economistas. A

complexidade crescente resultante das novas formas de interação social aumenta a

influência das instituições sociais no funcionamento dos mercados. O problema da

organização social, desde Adam Smith, é pensado do ponto de vista dos interesses

e da tomada de decisão individual. Assim, oegoísmo é o elemento central para

compatibilizar interesses privados e interesses públicos, em que cada indivíduo,

buscando seus próprios fins, contribui para a máxima realização coletiva.

Na discussão neo-institucionalista as sociedades modernas estão altamente

estruturadas por fatores institucionais que assumem a forma de costumes, normas,

cultura, tradição e religião que criam e legitimam as ações dos diversos agentes

sociais e econômicos. De acordo com tal visão, o homem é produto do momento

histórico em que vive e das escolhas que o meio lhe forneceu. Assim, embora o

indivíduo tenha sua ação condicionada pelas regras, crenças e valores que limitam

suas ações no ambiente, possui uma identidade social própria proveniente de sua

percepção e interpretação quanto à estrutura social.

Percebe-se o quão importante se configura a questão das instituições, no atual

contexto, na constatação de que somente na década de 90 do século passado três

cientistas que abordaram o tema foram laureados com o Nobel de Economia, Ronald

Coase em 1991, Douglass North em 1993, e Oliver Williamson em 1999 (que dividiu

o prêmio com a primeira mulher a receber um Nobel de Economia Elisabeth

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Ostrom)e se juntam a outros autores como Demsetz e, Alchianpara dar origem ao

programa de pesquisa que se convencionou chamar de Nova Economia

Institucional.

Os institucionalistas substituem o homem econômico pelo homem contratual. Então

ocorre a quebra de concepções da economia neoclássica como racionalidade plena,

informação perfeita e ação auto-interessada para a racionalidade legitimada

(resultante da incerteza e da complexidade do ambiente), onde a ação racional está

sempre condicionada ao contexto social em virtude dos valores socialmente fixados.

Como a informação é incompleta as escolhas podem ser limitadas e existe a

possibilidade de ações oportunistas, surgindo assim o custo de transação. O que

não ocorre no contexto da teoria neoclássica, onde os custos referem-se apenas à

produção, já que não existem custos para negociar no mercado, tendo em vista os

pressupostos teóricos da concorrência perfeita; livre barreira à entrada e saída dos

agentes; produto homogêneo; e o que particularmente interessa neste estudo, a

simetria de informação.

A existência dos custos de transação fará surgir o conceito de instituições, que serão

a base de todo o modelo. Estas, ao reduzirem os custos de transação, atenuando o

problema da incerteza, facilitarão a coordenação econômica e social. Para muitos

autores, as instituições são divididas em formais e informais. As primeiras são as leis

e constituições formalizadas e escritas, em geral impostas por um governo ou

agente com poder de coação, e as segundas, normas ou códigos de conduta,

formadas em geral no seio da própria sociedade (NORTH, 1990).

O foco de análise da Nova Economia Institucional é que uma instituição tem uma

função social, reduzir o risco e a incerteza do mercado. Sem função social, uma

instituição desaparece. É importante ressaltar que não há “instituição” em abstrato, e

sim relacionada a um mundo real em um determinado contexto sócio-econômico-

cultural.

Nesse contexto, é interessante observar a definição que North (1990) tece para

caracterizar a relevância do ambiente institucional. Para este autor, as instituições

são limites que as sociedades impõem para estruturar as suas relações. Dessa

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maneira, as instituições podem ser formais (constituições, leis e direitos) como

informais (costumes, tradição e crenças). North estabelece uma relação entre

instituições e organizações: as instituições ditam as “regras do jogo” e as

organizações são os “jogadores”.

Ao fazer uso de regras formais e informais, as instituições reduzem as incertezas do

ambiente por constituírem-se em guias que permeiam e limitam as ações humanas

impactando nas estruturas políticas, econômicas e sociais, além de promoverem a

manutenção dos direitos de propriedade, com o intuito de atingir o melhor bem estar

social possível. Na definição de North (1990, p. 03), as instituições são invenções

humanas criadas para estruturar as interações políticas, econômicas e sociais ao

longo do tempo.

Meyer e Rowan apud Scott(1999) chama a atenção sobre o aspecto ainda não

estudado do ambiente: crenças, regras e funções institucionalizadas. Estes autores

dão ênfase aos sistemas cognitivos compartilhados, e apesar de as pessoas não se

darem conta, estas estruturas definem a realidade social.

2.2 AMBIENTE INSTITUCIONAL E MOTIVAÇÃO EMPRESARIAL

Para Williamson (2000) em primeiro lugar, "as instituições importam "e, segundo," os

determinantes das instituições são suscetíveis à análise pelas ferramentas da teoria

econômica.” Assim, eleutiliza-se de um esquema onde classifica as instituições em

quatro níveis hierárquicos para efetivar a análise.

No primeiro nível, verifica-se a vida em sociedade em geral, ondeé possívelnotar

asregras informais, costumes, tradições e religiões. Esse nível é o do enraizamento

social onde amudança ocorre de forma muito lenta, na média de um século à um

milênio. Aqui que se formam e são legitimados os valores. Scott (1999) descreve

que a importância dada aos elementos ambientais se referia aos aspectos técnicos

(como transformá-los em insumos). Mesmo quando se considerava o ambiente

como fonte de informação, estava-se observando a relação causa- efeito,

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possibilidades de busca, ou seja, a atenção era voltada ao aspecto relacionado ao

fator de produção ambiente.

O segundo nível diz respeito ao ambiente institucional. As estruturas nele

observadas são parcialmente frutos do processo evolucionário. Este nívelidentifica-

se as regras formais (constituição, leis, direitos de propriedade).O executivo,

legislativo e judiciário estão presentes nesse nível, assim como as funções

burocráticas dos governos. A definição e aplicação dos direitos de propriedade e das

leis de contrato são importantes características vislumbradas. Aqui, a mudança

acontece na ordem de décadas ou séculos.

Williamson apresenta o terceiro nível onde estão presentes as instituições de

governança que sofrem influencia do ambiente institucional. O arranjo institucional

ideal impacta no funcionamento legal do sistema econômico. Assegurados os

direitos de propriedade, o governo é deixado de lado. A governançadas relações

contratuais, “o próprio jogo” é a principal questão desse nível. A estrutura de

governança é um esforço no sentido de diminuir os conflitos e realizar ganhos

mútuos. A mudança aqui ocorre de maneira mais rápida, já que a possível

reorganização das transações entre estruturas de governança são examinadas na

ordem de um ano a uma década.

O autor reconhece a importância do ambiente institucional "macro", afirmando que

existe enorme interdependência entre o ambiente institucional e as instituições de

governança. Esse autor, porém, centra a sua análise nas instituições de governança,

tomando o ambiente institucional como dado, buscando ajustar as formas de

governança ao ambiente institucional, visando à redução dos custos de transação.

Por último, o quarto nível institucional refere-se ao que a análise neoclássica estuda:

condições de ótimo, alocação de recursos e a firma descrita como uma função de

produção. Nesse nível as mudanças ocorrem constantemente, em períodos de

tempo bem curtos.A seguir, vê-se o esquema apresentado por Williamson “The New

InstitutionalEconomics: Taking Stock, LookingAhead” (2000).

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Figura 1 - A análise dos quatro níveis institucionais

Nível

Frequência Objetivo

(anos)

N1 Instituições informais: costumes, regras, tradição

100 a 1000

Sem cálculo, Espontâneo

____ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ _

N2 Ambiente institucional: regras do jogo

10 a 100

1ª Ordem Econômica. Alcançar um ambiente institucional adequado

____ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ _

N3

Governança: o próprio jogo. Estruturas de governança e as transações

1 a 10

2ª Ordem Econômica. Alcançar estrutura de governança adequada

____ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ __ _

N4 Alocação dos recursos e condições de ótimo

Contínuo

3ª Ordem Econômica. Alcançar condições marginais adequadas

N1: Teoria Social

N2: Economia dos direitos de propriedade/ Teoria Econômica Positiva

N3: Custos de Transação

n4: Economia Neoclássica/ Teoria do agente

Fonte: Williamson, 2000

É importante fazer uma distinção entre as diferentes abordagens analíticas de North

e Williamson, na caracterização de instituições e dos custos de transação. O

primeiro trata as instituições de forma mais generalizada, "as regras do jogo" que

serão o arcabouço do ambiente institucional. Ao passo que Williamson analisa as

instituições num nível micro, considerando os tipos de “instituições de governança”

(mercados, formas híbridas e hierárquicas), sem deixar de perceber o seu caráter

macro.

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As limitações informais incluem as convenções, as normas de comportamento e os

códigos de condutas reconhecidos. As regras formais diferem apenas em grau das

regras informais; entretanto, sua criação ocorre por decisões de entes públicos,

jurídicos e econômicos, com base nos modelos subjetivos dos governantes e

sujeitos principais e daqueles que têm o poder de colocar em pauta as regras

voltadas a atender seus interesses. E as garantias de cumprimento obrigatório

questionam quais são as possibilidades de as sanções previstas nas regras venham

a ser efetivamente implementadas, caso seja necessário. Fazer cumprir contratos

exige, portanto, uma terceira parte, geralmente uma organização com o monopólio

do uso da força, o Estado.

Numa outra corrente de pensamento, Kotler eKeller (2006, p. 712) explicam que

vários são os motivos que conduzem as empresas à prática da responsabilidade

social corporativa, dentre eles, cita a mudança nas expectativas dos funcionários,

legislações e pressões por parte do governo e o interesse dos investidores em

critérios sociais. O autor também ressalta que o comportamento antiético traz risco

de exposição à empresa tendo em vista os avanços dos meios de comunicação.

Para tal, afirma que“Antigamente, um cliente decepcionado podia falar mal de um

fabricante ou comerciante para 12 amigos; hoje ele pode alcançar milhares de

pessoas pela internet”.Reconhece ainda que cada vez mais as pessoas desejam

informações sobre o histórico das empresas na área de responsabilidade social e

ambiental para, a partir destas informações decidir de quais empresas devem

comprar.

Cabe salientar que o propósito deste trabalho monográfico é o de perceber as

instituições no nível macroanalítico, de como são importantes no funcionamento da

economia e influenciam o processo decisório dos agentes econômicos. E, apesar de

reconhecer a extensa preocupação da Nova Economia Institucional em debruçar-se

sobre os Custos de Transação, não faz parte do escopo deste estudo analisá-la sob

esta ótica. A finalidade, conforme exposto acima, é entender como o ambiente

institucional impacta nas organizações conduzindo-as a agir de forma socialmente

responsável.

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Conforme Williamson, a formação de valores ocorre no primeiro nível e muda na

ordem de um século a um milênio. O propósito aqui é justamente discorrer sobre um

novo valor que se consolida no atual contexto, e por ser novo assume várias

nomenclaturas, como sustentabilidade, cidadania empresarial, responsabilidade

social empresarial, responsabilidade social corporativa, dentre outros. De acordo

com Melo Neto e Froes (2001, p.31) evidencia-se que com exercício frequente da

RSC nas suas relações, a firma o transforma num valor.

Figura 2 - Responsabilidade Social Corporativa

Valores

Grande amplitude do conceito +(alto)

Ações

Relações

-(baixo)

Fonte: Melo Neto e Froes, 2001

Dentro dessa perspectiva, pode-se inferir que a Nova Economia Institucional

percebe que a sociedade, através das suas instituições, exerce influência nos

empresários para que assumam um papel socialmente responsável, tendo em vista

reduzir os riscos a sua imagem. Tais ações tendem a gerar externalidades positivas

e minimizar as negativas, caso as últimas ocorram.

As decisões dos agentes econômicos,ao afetar o bem-estar de outros não

envolvidos, gerambenefícios ou custos que não podem ser apropriados em sua

totalidade pelos responsáveis. A esta situação denomina-se externalidades. No caso

dos benefícios, tem-se a externalidade positiva, no dos custos, a negativa.

O exercício da Responsabilidade Social Corporativa na rotina da empresa almeja a

criação de externalidade positiva. As empresas que participam programas sociais

prometem criar externalidades sociais positivas além do que as regulamentações

governamentais requerem. Dessa forma, conforme:

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Milhares de empresas ao redor do mundo adotaram um programa voluntário de um tipo ou de outro. Este é um fenômeno atraente porque sugere uma maneira de convencer as empresas a fazer coisas socialmente desejáveis em um baixo custo e com menos conflitos do que por vezes acompanham governo com a regulamentação. (PRAKASH;POTOSKY,2006, p.40)

Portanto, a prática de ações responsáveis é bem-vista e permite aos stakeholders

identificar as empresas que estão produzindo externalidades sociais positivas além

os requisitos legais. Ações eficazes induzem os membros a produzirem

externalidades sociais positivas e produzir bons resultados: stakeholders ganham

porque a empresa produz as externalidades sociais que desejam, as empresas

ganham porque a adesão produz recompensaspositivas para a imagem da

organização.

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3 RESPONSABILIDADE SOCIAL CORPORATIVA

3.1 O QUE É A RSC?

Na última década do século XX as questõessociais e ambientais surgiram de forma

relevante no cenário nacional, em parte como decorrência da Eco 92. A partir desse

momento os empresários começaram a perceber a insatisfação da sociedade com

relação aos problemas causados não somente pelas organizações, mas também

pela interação instituições e organizações. Surge a necessidade de incorporar

fatores socioambientais como parte importante do planejamento empresarial.

Atuar nos ambientes de negócios no atual estágio em que se encontram as relações

comerciais tem sido um desafio para as firmas. A busca por maior competitividade e

produtividade requer que sejam consideradas as necessidades e aspirações dos

seus stakeholders, além de mostrar a necessidade de assumir uma estratégia

empresarial diferente daquela encontrada naortodoxia neoclássica, quando o

processo produtivo era o centro das tomadas de decisão. Hoje, a preocupação

crescente com os impactos sociais e ambientais de suas ações se faz presente e a

Responsabilidade Social, antes calcada no altruísmo e na caridade, assumiu uma

concepção mais abrangente, estratégica (GOMES, 2010).

Mas afinal, o que é a Responsabilidade Social Corporativa? Em primeiro lugar, é

necessário registrar que o conceito de responsabilidade social é complexo e ainda

encontra-se em construção. Além disso, para definir a RSC é necessário ter em

mente a abrangência do tema. Assim, neste item demonstra-se as várias definições

do tema para em seguida apresentar as diferentes abordagens.

O tema é criticado e apoiado por vários autores, já que existem argumentos fortes

tanto a favor como contra o assunto em análise. Somente pelo fato de existirem

diversas denominações que tratam do mesmo assunto, já se pode perceber que o

tema é bastante controverso. Apesar das variadas correntes teóricas, existe o

consenso que converge para o entendimento de que atuar de forma socialmente

responsável é interessante para as empresas. Há um debate acalorado entre

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autores que defendem a visão dos stockholders: os gestores têm como atribuição

trazer retorno financeiro aos acionistas e cotistas das empresas, e assim atuar

visando eficiência produtiva e lucro. E outros autores que defendem a visão dos

stakeholders: os gestores têm a atribuição ética de respeitar e promover o bem de

todos os agentes afetados pela firma, tanto acionistas como consumidores,

fornecedores e comunidade local.

Nesta pesquisa, a hipótese que norteia essa investigação é a de que diante de

stakeholders bem informados, e do novo valor da sustentabilidade que está se

enraizando, os gestores das empresas são conduzidos a adotar práticas

socialmente responsáveis que resultarão na criação de valor às empresas. Através

dessas atividades, a firma reforça a sua participação na comunidade e tem a sua

imagem corporativa melhorada. Como a internacionalização das economias leva a

um fluxo de informações intenso, é de grande importância que a reputação da

empresa seja preservada, assim a empresa deve atentar para a ética em suas

ações e respeitar o direitoe aspirações de todos os stakeholders. Dessa maneira, os

recursos gastos com a promoção de ações sociais são tidos como investimentos

realizados pelas firmas.

Bowen apud Machado Filho (2002), na década de 50 do século XX, é considerado o

primeiro acadêmico a escrever sobre o tema e ressalta que as empresas devem agir

de acordo com os valores das sociedades nas quais se inserem. Ele define

responsabilidade social como “as obrigações dos homens de negócios de adotar

orientações, tomar decisões e seguir linhas de ação, que sejam compatíveis com os

fins e valores de nossa sociedade”.Atente-se para o termo “homens de negócios”.

Fica claro que somente aos gestores cabia a decisão sobre a postura a ser seguida.

Atualmente, em contrapartida, as partes relacionadas (stakeholders) cobram das

firmas uma posição de empresa socialmente responsável.

É interessante observar que a esta época, a Responsabilidade Social Corporativa se

confundia a filantropia. No entanto, a filantropia é uma ação individual na qual os

empresários, bem sucedidos, resolvem compartilhar parte do lucro com a

comunidade. É uma ação assistencialista, de caridade visando auxiliar os mais

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pobres e desfavorecidos. A filantropia é como uma doação, portanto prescinde de

controle e organização.

Conforme Melo Neto e Froes (2001) a responsabilidade social é de natureza diversa,

visto que depende de uma atitude coletiva e visa estimular o desenvolvimentodo

cidadão, além da cidadania tanto aindividual quanto a coletiva. Configura-se numa

forma de inserção social, e para que as ações sejam efetivas precisa da participação

de funcionários, acionistas, diretores e até mesmo clientes. Em seguida, apresenta-

se uma tabela para ilustrar as diferenças ente responsabilidade social e filantropia.

Quadro 1 - As diferenças entre a filantropia e a

responsabilidade social

Filantropia Responsabilidade social

Ação individual e voluntária Ação coletiva

Fomento da caridade Fomento da cidadania

Base assistencialista Base estratégica

Restrita a empresários filantrópicos e

abnegados Expansiva a todos

Prescinde de gerenciamento Demanda gerenciamento

Decisão individual Decisão consensual

Fonte: Melo Neto e Froes, 2001

A reponsabilidade social é uma ação estratégica da empresa que busca retorno econômico-social, institucional e tributário-fiscal. A filantropia não busca retorno algum, apenas o conforto pessoal e moral de quem a pratica.(MELO NETO; FROES, 2001, p.28)

Vê-se, portanto, que para os autores citados acima a RSC é tida como um conceito

amplo e apresenta-se como parte da estratégia empresarial, e como tal, busca sim

retorno financeiro.

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Carrol (1999) avança na discussão e sugere que os negócios devem preencher

quatro responsabilidades principais, que em ordem decrescente de prioridade são:

econômicas, legais, éticas e filantrópicas. A responsabilidade econômica é aquela

que decorre da obrigação da empresa ser produtiva e rentável. “Esta é a primeira e

mais importante ação de responsabilidade social da atividade de negócios que é a

econômica por natureza”.

A responsabilidade legal é a que decorre das expectativas das empresas agirem

em conformidade com o arcabouço legal existente. A responsabilidade ética

afirma que as empresas devem agir de acordo com os valores das sociedades nas

quais interagem. Ao passo que a responsabilidade filantrópica refere-se à

vontade de que as empresas atuem efetivamente para a melhoria do ambiente

social. Cabe ressaltar que a definição destes quatro âmbitos de responsabilidade irá

variar de acordo com o ambiente institucional no qual a empresa estará inserida.

Portanto, para este autor, existem níveis de responsabilidades com os quais a

empresa deve trabalhar. Ocorre um avanço no debate tendo em vista que a

filantropia é apenas um dos níveis onde a firma pode atuar.

Entretanto, existem autores que são contrários ao tema da responsabilidade social,

como Friedman (1970). Em conformidade com a análise neoclássica, ele considera

que os gestores somente devem agir de forma a aumentar o lucro dos acionistas,

“existe uma e apenas uma reponsabilidade social (...) incrementar lucros”. E ainda

existem outros setores da sociedade que se ocupam exclusivamente da adoção de

ações responsáveis, como igrejas e outras instituições da sociedade civil

organizada.

Outro conceito de RSC foi definido pelo Instituto Ethos, segundo o qual a

responsabilidade social empresarial é tida como:

[...] uma forma de conduzir os negócios da empresa de tal maneira que a torna parceira e co-responsável pelo desenvolvimento social. A empresa socialmente responsável é aquela que possui a capacidade de ouvir os interesses das diferentes partes (acionistas, funcionários, prestadores de serviço, fornecedores, consumidores, comunidade, governo e meio-ambiente) e conseguir incorporá-los no planejamento de suas atividades, buscando atender às demandas de todos e não apenas dos acionistas ou proprietários (INSTITUTO ETHOS, 2002 apud SOARES, 2004, p. 8).

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A definição de Responsabilidade Social Empresarial criada pelo instituto Ethos traz a

percepção da necessidade de um maior engajamento por parte das empresas na

promoção do bem-estar social, que seria resultante da interação eficaz entre estas e

os stakeholders. Observa-se também que uma das premissas para a adoção da

RSE é que o conceito seja incorporado inclusive no planejamento das atividades da

organização, trazendo assim maior coerência às ações a serem praticadas.

Nesta mesma linha de pensamento, Ashley (2002) define a responsabilidade social

como um compromisso assumido pela organização perante a sociedade evidenciado

através de atos e atitudes que a afetem de forma positiva, amplamente, ou

especificamente a alguma comunidade, agindo de forma proativa e coerente quanto

ao seu papel específico na sociedade e a sua prestação de contas para com a

mesma.

Fombrun (2000) analisa que a ações socialmente responsáveis ajudam a empresa a

reforçar seus laços com a comunidade local e com os funcionários. Por outro lado, a

construção do capital reputacional melhora a habilidade de negociar de forma mais

atrativa para a firma com seus parceiros, além de poder proporcionar preços

premium para produtos da empresa e menores custos de capital.

Já para Zylbersztajn (2000), em virtude da integração dos mercados e mudanças no

ambiente institucional pode ocorrer que as empresas se sintam forçadas a elevar o

seu padrão de comportamento ético em diferentes localidades, e com a adoção de

práticas de responsabilidade social, mesmo sem obter ganhos econômicos, será

beneficiada com a elevação do seu capital reputacional.

De acordo com a teoria da RSC, em linhas gerais, as empresas obtém vantagens

competitivas sustentáveis desenvolvendo estratégias de ações responsáveis

proativas que sustentam-se na aquisição de ativosintangíveis valiosos, como a

cultura organizacional, a inovaçãotecnológica e a integração dos stakeholders,

reduzindo riscos de conduta no mercado. Observa-se que tais ativos são mais

difíceis de serem copiados por empresas concorrentes.

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Piñero e Romero (2011) explica ser mais provável que as empresas que

implementam ações proativas de RSC vejam incrementadas a sua eficácia e sua

rentabilidade na comparação com as empresas que realizam uma gestão reativa

atuando somente quando se produz um impacto social ou ambiental negativo.A

sociedade em geral tolera de forma mais branda quando acontece acidente de uma

empresa que já age de forma responsável.

É dentro deste contexto que se identifica a Responsabilidade Social Corporativa

como um novo valor criado e institucionalizado, no qual grande parte das

organizações busca se inserir. Pode-se citar como exemplo a abordagem dada ao

meio ambiente.

3.2 DIVERSIDADE DAS AÇÕESRESPONSÁVEIS

De acordo com Melo Neto e Froes (2001) o conceito de responsabilidade social

corporativa é muito recente e, em consequência disso, os enfoques configuram-se

bastantediferenciados. Dessa forma, os autores acima citadosapresentam

definições que sinteticamente estão relacionadas à:

a) Valores e ética empresarial

Diante de um contexto no qual as pessoas esperam “algo mais” das organizações, a

responsabilidade social é vista como um conjunto de valores, como dever e atitude

ética responsável e transparente nas suas relações.

b) Fator estratégico e de valorização do negócio

Das catorze abordagens, seis tratam da responsabilidade social como estratégia da

firma. A estratégia aqui é vista como instrumental para que a firma possa melhorar a

imagem do seu produto e/ou a própria empresa conferindo-lhe o status de

socialmente responsável. Ou como ferramenta para melhorar o relacionamento com

os diversos públicos envolvidos. Neste ponto a estratégia pode assumir várias faces,

como por exemplo, o marketing.

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c) Consciência ecológica

A dimensão ecológica surge de pronto na discussão da responsabilidade social, até

mesmo porque o tema para alguns autores se confundem, como responsabilidade

social ambiental. Ademais, outro conceito muito próximo é o da sustentabilidade, ao

se falar em preservar o meio ambiente logo se pensa no uso consciente dos

recursos para que as gerações futuras não sejam prejudicadas. A empresa adota

práticas e valoresambientalistas, e passa a investir em programas educacionais e de

preservação do meio ambiente.

d) Cidadania individual e/ou coletiva e integração social

A empresa promove e/ou incentiva, por meio de suas ações, a cidadania dos seus

empregados e também da comunidade a sua volta. Dentro deste tópico, pode-se

vislumbrar uma ampla gama de ações sociais educativas com o objetivo de

promover a capacitação profissional de funcionários ou da comunidade em geral;

disseminar práticas sustentáveis e atingir maior inclusão social dos grupos

trabalhados.

Enfim, o espectro para que a firma possa agir de forma responsável passa por três

questões principais: econômica, social e ambiental. Segundo Melo Neto e Froes

(2001) cabe à empresa definir primeiramente o foco (meio ambiente, cidadania e

ações educativas), em seguida a estratégia (marketing de relacionamento,

institucional) e por fim qual papel assumirá (difusora de valores, capacitadora).

Portanto, em conformidade com o exposto acima, pode-se inferir que a

Responsabilidade Social Corporativa fundamenta-seem estratégias paraorientar que

as ações das empresas sejam em consonância com as necessidades sociais e

ambientais, de modo que a empresa garanta, além do lucro, qualidade dos produtos

e a satisfação de seus clientes, a melhoria do bem-estar da sociedade, assim como

também que suas ações possam agregar valor aos negócios, às relações com as

partes interessadas, à sua imagem e de maneira geral aos ativos intangíveis.

Da mesma forma, Lozano et. al. (2005) afirma que num mundo cada vez mais

globalizado não é somente os produtos e serviços que competem, mas também os

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modelos de empresa e gestão. Pode-se estabelecer um paralelo entre tal afirmação

e Williamson tendo em mente que um outrovalor se estabelece na sociedade, ou

seja vai se institucionalizando e exerce influência na tomada de decisão. Pode-se

constatar que o preço é apenas uma das variáveis da escolha, surge uma nova forte

variável: o fator ético. Assim, é necessário encontrar o equilíbrio numa função de

produção que seja a mais limpa possível e que se mostre atuante frente aos

problemas sociais, no sentido de minimizá-los.

Quanto à operação, a Responsabilidade Social Corporativa pode acontecer em duas

frentes: a interna e a externa. A primeira relaciona-se a práticas voltadas para os

seus funcionários, proprietários e a maneira pela qual ela afeta o meio ambiente. Já

a segunda, diz respeito aos consumidores, comunidade local e fornecedores.

Conforme o modelo, todos os stakeholders têm interesses na organização. Aos

proprietários (stokeholders) interessa que a empresa seja lucrativa, a maximização

do valor das ações e que as informações sejam transparentes. O aspecto econômico

configura-se no mais importante para este grupo.

Figura 3. O Modelo da Teoria dos Stakeholders

Gestores

Proprietários

(stokeholders)

Comunidade

Local

A ORGANIZAÇÃO

Fornecedores Clientes

Funcionários

Fonte: Freeman, 2000.

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Existe uma forte relação entre o stakeholderse as ações da RSC, visto que é a partir

do conhecimento dos interesses das partes envolvidas que as ações se tornam

efetivas. Percebe-se que a inclusão de uma determinada parte interessada como

stakeholder depende do foco que o autor impute ao seu trabalho. Fombrun (2000)

acrescenta ao seu modelo a mídia, ativistas e agências reguladoras, visto que

objetiva apresentar os ganhos de reputação e a minimização de riscos, com a

imagem favorável. Dessaforma, a mídia se apresenta como elemento fundamental

em sua análise para que a imagem seja disseminada.

JáPiñero e Romero (2011) mostram a responsabilidade social aplicada na dimensão

interna e a externa da firma. No âmbito interno as ações se dividem em gestão de

recursos humanos; saúde e segurança no trabalho; adaptação à mudança e gestão

ambiental interna. No externo as ações são direcionadas à comunidade local;

sócios, consumidores e fornecedores, além do desenvolvimento sustentável. Tais

autores desejam apontar o impacto das ações responsáveis sobre o desempenho

empresarial, ainda que de modo indutivo, existem evidências de que a RSC

influencia no nível de satisfação e atuação dos funcionários. Por outro lado, as

atividades relacionadas ao marketing ecológico e social podem atrair novos clientes

e ser uma forma de diferenciar produtos, melhorar a operacionalização da empresa

com de inovação de produtos alternativos ou até mesmo melhorar a função de

produção da empresa utilizando de maneira eficiente recursos.

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É interessante observar que a firma pode agir de maneira responsável com as

diversas partes interessadas, e a depender da amplitude das ações, esta tabela

pode ser incrementada com mais vantagens tanto a nível interno como

externo.Considera-se que vantagens diretas internas impactam também de forma

indireta, visto que um funcionário pode ser um cliente fidelizado.

3.3 IMAGEM CORPORATIVA E CAPITAL REPUTACIONAL

A Ciência Econômica é uma ciência social, que estuda o funcionamento da

Economia Capitalista, sob o pressuposto do comportamento racional do homem

econômico, ou seja, da busca da alocação eficiente dos recursos escassos entre

Quadro 2 - Vantagens da RSE

VANTAGES INTERNAS VANTAGENS EXTERNAS

Incremento da fidelidade dos empregados a

empresa Melhora da imagem e da reputação

Aumento da motivação e da produtividade no

trabalho

Maior pontuação em contrato com a

administração pública

Aumento da qualificação e das capacidades

dos empregados

Obtenção de ajuda e reconhecimentos

oficiais

Maior envolvimento dos funcionários na

gestão empresarial

Maior facilidade para cumprir com a norma

vigente

Diferenciação diante da competência e

incremento dos ingressos

Reforço das relações com as comunidades

locais

Fidelização de clientes e consumidores

Fortalecimento do tecido econômico e social

local

Melhora da qualidade de produtos e serviços Novas oportunidades de negócio

Maior potencial de inovação Redução do risco empresarial

Incremento da eficiência e diminuição de

custos

Obtenção de financiamento em melhores

condições

Maior capacidade de adaptação frente as

mudanças e gestão das crises

Melhora das relações e condições contratuais

com distribuidores

Melhora da competitividade

Contribuição positiva a um desenvolvimento

sustentável.

Fonte: Piñero e Romero, 2011.

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inúmeros fins alternativos, a fim de atender as necessidades humanas (FEA-USP,

2013). Nesse sentido, busca entender como resolver os três problemas econômicos

básicos: i) O quê e quanto produzir? ii) Como produzir? e iii) Para quem produzir?

O foco da presente monografia é destacar o papel do ambiente institucional como

fator motivacional na conduta dos agentes. O que se quer explicar é a mudança, ou

seja, como um problema antes inexistente se transforma num valor tão crucial, como

a sustentabilidade?É dentro desse contexto que se vislumbra as ações de

responsabilidade social das empresas. As instituições induzem, motivam as

empresas a adotarem tais ações.

Kotler destaca que os consumidores de hoje estão consumindo de empresas que

possuem cada vez mais uma preocupação com algum tipo de questão

socioambiental.Para ele, o futuro das empresas deve estar alinhado com essas

diretrizes e com elas possuírem visão, missão e valores. "Entre aquilo que é certo e

aquilo que é lucrativo, as empresas preferem o certo. Elas abrem mão de algum

lucro momentâneo para embutir em seu DNA um padrão de responsabilidade

social", afirma.

De acordo com Kotler e Keller (2006) alguns autores consideram a responsabilidade

social corporativa relacionada ao marketing de causas, sendo que no último a

empresa relaciona as contribuições a uma determinada causa. Relata que tais ações

sociais produzem como benefícios a melhoria do bem-estar social; cria um

posicionamento da marca diferenciado; cria fortes laços com o consumidor; aprimora

a imagem pública da empresa entre as autoridades e outros tomadores de decisão;

cria melhoria no clima interno; dá ânimo aos funcionários além de impulsionar as

vendas. Como exemplo, aponta:

O idealismo corporativo (...) teve um efeito favorável no demonstrativo financeiro. A receita cresceu de 2 milhões de dólares, em 1991, para aproximadamente 300 milhões de dólares em 2003.(KOTLER; KELLER, 2006, p.715)

Entretanto, os autores acima citados ressaltam que as boas ações podem ser

ignoradas se não forem adequadamente divulgadas. Nesse caso, para o autor

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supracitado a empresa somente aumenta os custos, já que não adiciona valor a sua

imagem, como pode ser verificado na assertiva:“(...) na qual investiram 250 milhões

de dólares, foi recebida com frieza em razão de sua imagem corporativa negativa.”

Para Fombrun (2000) ações socialmente responsáveis ajudam a empresa na

integração com os seus diversos stakeholders. Por outro lado, a construção do capital

reputacionalaumenta a possibilidade de negociar de forma mais atrativa para a firma,

além de poder cobrar preços mais altos para produtos da empresa e menores custos

de capital. A lógica é a de que as empresas que promovem atividades de

responsabilidade social podem obter ganhos no seu capital reputacional, ao aumentar

as oportunidades de negócios, reduzindo riscos de sua conduta no mercado,

preservando ou gerando aumento do valor agregado da empresa.

O autor observa que as empresas com atividades de responsabilidade social podem

obter ganhos de capital reputacional, e alavancar oportunidades de negócios

preservando ou gerando aumento do valor da empresa. Mas, para Fombrun não é

possível estabelecer uma correlação direta entre a performance corporativa e a

financeira da empresa, entretanto a primeira afeta a segunda e o estoque de capital

reputacional da empresa e, o valor financeiro dos ativos intangíveis da organização.

Figura 4 - O modelo da Criação de valor a partir de ações de Responsabilidade Social

Geração de oportunidades

Ações de responsabilidade social corporativa

Aumento do capital

reputacional

Aumento do valor da empresa

Minimização de riscos

Fonte: Machado Filho, 2002.

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No atual ambiente institucional de constantes mudanças e inovações tecnológicas

no qual as empresas estão inseridas, os ativos intangíveis se constituem como parte

importante da estratégia competitiva das empresas. O processo produtivo, os

produtos finais e os insumos estão cada vez mais estão parecidos. Ao redor

doglobo, as empresas que desejam criar e/ou sustentar uma vantagem competitiva

distinta (diferenciação) devem aprimorar e proteger os ativos intangíveis.

Machado Filho (2002) afirma que enquanto os recursos tangíveis, palpáveis são

mais facilmente passíveis de serem imitados pelaconcorrência, os recursos

intangíveis de liderança, cultura organizacional e imagem corporativa são mais

difíceis de serem substituídos ou imitados.

Segundo Zilberstajn (2000), com a adoção de práticas de responsabilidade

social,mesmo sob a ótica de maximização do lucro, sem que a empresa obtenha

ganhos econômicos,esta virá a se beneficiar com a elevação do seu capital

reputacional e, a rigor, semdesalinhamento de interesses entre acionistas e demais

partesinteressadas.

De acordo com Machado Filho (2002) cada vez mais a imagem que as empresas

gostariam de passar a seus clientes seria ade uma empresa ética. Na verdade, elas

querem demonstrar que são organizações inatacáveis,alinhadas com a moral do

tempo e sintonizadas com os costumes vigentes, porquanto essescondicionantes

subordinam suas atividades e estratégias a uma prévia reflexão ética,compelindo-as

a agir de forma socialmente correta e responsável.

3.4 A RSC COMO FATOR DE VALORIZAÇÃOEMPRESARIAL

Desde o ano 2000, o Instituto Ethos e/ou o Instituto Akatu preparam o relatório de

percepção da RSE pelo consumidor brasileiro, e em 2013 foram divulgados os

dados da oitava edição.O questionário foi aplicado em 12 capitais/regiões

metropolitanas do Brasil a 800 pessoas, no final de 2012, e traz um conjunto de

análises sobre a percepção do consumidor brasileiro.De acordo com a Pesquisa

“Akatu 2012: Rumo à sociedade do bem-estar” 53% dos consumidores

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concordaramque as empresas sempre deveriam fazer mais do que o estabelecido

nas leis buscando maiores benefícios para a sociedade.

Conforme esta mesma pesquisa,a Responsabilidade Social Empresarialconfigura-se

cada vez mais objeto do debate público e desperta a atenção de uma proporção

crescente de consumidores. O interesse por RSE cresceu e atualmente ocupa o

patamar de 25%, assim como por Sustentabilidade 24% , colocando esses temas no

mesmo nível que outros temas mais tradicionais, como Política 30% e

Empresas/Negócios 26%. Jornais e noticiários na televisão continuam sendo a

principal fontede informação 62% dos consumidores, ao mesmo tempo em quese

nota-se uma crescente importância das fontes baseadas na Internet que apresenta

um crescimento de 29%.

Em meio ao contexto brevemente apresentado, esteestudo de casoanalisa

motivações e incentivos presentes na adoção de práticas de responsabilidade social

por parte do Banco Santander, bem como os benefícios esperados e obtidos deste

tipo de atuação por parte da empresa.

Corningapud Machado Filho (2002) afirma que a gestão do capital reputacional é de

extrema importância num cenário em que a mídia detém tanta influência sobre

consumidores, e que uma má campanha de mídia pode ter o poder de destruir o

capital reputacional de uma organização. Assim, aárea de comunicação das

organizações têm se tornado crescentemente importantes especialmente.

Corroborando esta visão, uma pesquisa feita pelo IBOPE, em 2011, com 400 médias

e grandes empresas brasileiras e multinacionais atuantes no Brasil, revela que em

52% das empresas entrevistadas, as áreas que elaboram as ações não são as

mesmasque executam. Das áreas responsáveis pela execução, em mais de 40%

das empresas são as equipes de marketing comercial que geram as ações. “Talvez

isso indique que o peso das ações ainda se volte para a imagem da empresa ou de

seus produtos, mais do que um comprometimento com o médio e longo prazo”,

explica o diretor executivo do Ibope Ambiental, Shigueo Watanabe.

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Analisa-se a responsabilidade social corporativa como fator de diferenciação

empresarial. Fombrun (2000) defende que ações estratégicas de RSC melhoram o

ambiente institucional no qual as empresas atuam e criam ativos intangíveis,

produzindo vantagens de longo prazo para aqueles que as adotam. Para o autor em

análise, como verificado na Figura 4 pag.30, as empresas que agem de forma

socialmente responsável aumentam o capital reputacional de duas maneiras: geram

novas oportunidades de negócios e minimizam riscos à sua imagem.

O autor destaca que as ações de RSC desenvolvidas pelas empresas alteram o

perfil das expectativas, demandas e exigências institucionais de determinado

ambiente, impactando diretamente o tipo de comportamento esperado por parte dos

stakeholders. Dessa maneira, pode-se traçar um paralelo com a teoria de ambiente

institucional proposta por North, segundo a qual a performance dos agentes modifica

o ambiente institucional no qual estes atuam, e com Williamson, porque as

mudanças nas demandas dos agentes podem se configurar na institucionalização de

novos valores.

Nesse sentido, na próxima parte desta monografia são apresentados aspectos

diretamente relacionados à empresa em análise, o Banco Santander, para que seja

possível evidenciar as suas atividades socialmente responsáveis tendo em vista que

esta instituição é reconhecidamente ativa neste âmbito.

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4 METODOLOGIA

4.1 ESTUDO DE CASO

O banco Santander foi escolhido para ilustrar a abordagem do tema neste estudo de

caso, por ser dentre as instituições financeiras a que mais se identifica com a causa,

ou pelo menos, a que tem maior êxito na divulgação das suas ações de

responsabilidade social e sustentabilidade. Já o setor, pelo fato de apresentar fortes

mudanças ao longo do tempo no que tange a atividade socialmente responsável e

por ele ser altamente lucrativo.

A primeira parte deste trabalho realiza-se sob a forma de apresentação da teoria

para a familiarização do tema. Dessa forma, busca-se associar a teoria da

Responsabilidade Social Corporativa com um dos níveis institucionais considerados

pela Nova Economia Institucional por Williamson já que reflete novos valores, tendo

em vista o impacto do ambiente institucional nas decisões dos agentes econômicos,

principalmente os consumidores e gestores das organizações. O que foi

demonstrado por meio de diferentes versões dos autores que consideram a RSC

como assentada na assimilação e instrumentalização de novos parâmetros

comportamentais que podem com ser considerados comoinvestimento de longo

prazo dado suas implicações na performance da organização.

Na segunda parte deste trabalho realiza-se a pesquisa do tipo qualitativa, mais

adequada quando o se trata de compreender um fenômeno como a mudança de

valores que estabelecem diretrizes da ação empresarial e busca-se maior

aprofundamento do tema da responsabilidade social corporativa, especificamente

quanto às percepções dos funcionários e, da comunidade, pelo site da

empresa,frente às implicações das ações de responsabilidade social da empresa.

No rastro de Yin (2010) vincula-se a investigação da RSC a questões do tipo “como”

e “por que”, cuja natureza apresenta caráter explanatório, não podendo ser tratadas

simplesmente por dados quantitativos. Esta perspectiva se reflete notítulo desta

monografia – A Responsabilidade Social Corporativa como fator de valorização

empresarial: Estudo de caso do Santander.

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Assim, a segunda parte deste trabalho configura-se no estudo de caso propriamente

dito que busca apreender as mudanças qualitativas e implicações na orientação do

negócio, e, consiste em:

a) Primeiro lugar, apresentar informações relevantes do banco Santander com o

propósito de oferecer um contexto geral de atuação do banco e suas

características principais;

b) Em segundo lugar, abordar as atividades de responsabilidade social corporativa.

A coleta de dados é realizada por meio de questionários e entrevistas qualitativas

estruturadas feitas a dois gerentes e dois funcionários do Santander, em conjunto

com a análise do website da organização bancária e o conteúdo dos dados

divulgados pela instituição referente às ações de responsabilidade social, assim

como por meio de pesquisa na mídia, tendo em vista extrair os novos valores que

orientam suas práticas de gestão e modelo de negócios.

c) E em terceiro lugar, apontar algumas evidências de retorno à imagem corporativa

a luz do referencial teórico que permite vincular os valores as instituições que

funcionam como parâmetros sobre os quais se assentam as estratégias de

negócio. A finalidade de demonstrar qual é o foco das ações no banco Santander

e como as atividades socialmente responsáveis, na prática, agregam valor à

imagem e aos ativos intangíveis da empresa. Assim, o objetivo é constatar se, de

fato, as ações de responsabilidade social ocorrem no ambiente empresarial e

como as mesmas contribuem para a valorização da marca.

4.2 INFORMAÇÕES BÁSICAS

O banco Santanderfoi fundado em 1857 na cidade espanhola de mesmo nome por

setenta e seis homens de negócio vinculados à economia regional. Hoje o banco é

uma multinacional sediada em Madrique apresenta os seguintes dados:com mais de

100 milhões de clientes, 14 mil agências, 185 mil funcionários e atua em dez

principais países: Brasil, Espanha, Reino Unido, México, Portugal, Alemanha, Chile,

Argentina, Polônia e Estados Unidos, mas está presente em outros doze como Peru,

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35

Porto Rico, Uruguai, Noruega, Suécia, Finlândia, Dinamarca, Holanda, Bélgica,

Áustria, Suíça e Itália. Em 1957, entra no mercado brasileiro por meio de um acordo

operacional com o Banco Intercontinental do Brasil S.A., e a partir da década de 90,

o Grupo Santander buscafortalecer a presença na América Latina, particularmente

no Brasil.

O Santander é o maior banco da zona do euro e conta com a América Latina para

obter praticamente metade de seu lucro, no primeiro semestre de 2013 esta região

contribuiu com 51% do lucro, vide gráfico abaixo.

Gráfico 1 – Distribuição do lucro do Grupo Santander

Fonte: Banco Santander, 2013.

Em novembro de 2007, o RFS Holdings B.V., um consórcio composto pelo

Santander Espanha, The Royal Bankof Scotland Group PLC, Fortis SA/NV e Fortis

N.V., adquiriu 96,95% do capital do ABN AMRO, então controlador do Banco Real.

Neste momento, o Banco Real era o quarto maior banco privado do Brasil em

quantidade de ativos. E, em abril de 2009, o Banco Real foi definitivamente

incorporado pelo Santander Brasil e foi extinto como pessoa jurídica independente.

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O Banco Santander (Brasil) S.A. enfrentou um processo de consolidação com o ABN

Real difícil e passou a perder terreno para os concorrentes. Embora ainda seja o

maior banco estrangeiro no país, o Santander perdeu a quarta posição no ranking de

ativos para estatal Caixa Econômica Federal. Pode-se verificar a atuação do Grupo

Santander a partir do gráfico acima, mesmo assim, em 2012, o Santander Brasil foi

pelo terceiro ano consecutivo a unidade com maior participação nos resultados

globais do Grupo Santander, com 26%.

Hoje o Banco Santander (Brasil) S.A.é um dos maiores bancos em atuação no

cenário nacional, e no último resultado divulgado pela instituição , correspondente ao

segundo trimestre de 2013, pode-se constatar que a empresa apresenta o lucro

deR$ 2,9 bilhões considerando todo o primeiro semestre, o que representa 25% do

resultado global do Grupo Santander. Nesse mesmo período, o Banco do Brasil

apresentou o maior lucro da história dos bancos no país, com ganhos de R$ 10

bilhões, ultrapassando o bancoo Itaú que lucrou 7,1 bilhão.

O quadro de funcionários do Santander (Brasil) S.A. é composto por 51.702

pessoas, o banco tem mais de 28 milhões de clientes em todo o Brasil e o grupo

possui 2.393 agências em território nacional. Estes e outros dados importantes

podem ser visualizados na tabela abaixo:

Quadro 3 - Dados 2013 Banco Santander (Brasil) S.A.

Nº de cartões de crédito e débito (Milhões) 50.207

Agências 2.393

PABs 1.322

Caixas Eletrônicos 17.528

Clientes (Milhões) 28.418

Contas Correntes (Milhões) 21.364

Nº de Funcionários 51.702

Fonte: Banco Santander, 2013.

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4.3 AS AÇÕES DE RSC DO SANTANDER BRASIL

Para começar o estudo, nada mais justo que a apresentação da missãodo Banco

Santander (Brasil) S.A.: “Ter a preferência dos nossos clientes por ser o Banco

simples e seguro, eficiente e rentável, que busca constantemente melhorar

qualidades de tudo o que faz com uma equipe que gosta de trabalhar junto para

conquistar o reconhecimento e a confiança de todos”. O conceito “banco simples”

pode ser constatado na busca de informações a respeito do próprio banco, destaca-

se a facilidade e transparência com as quais as informações são obtidas. Aliás, a

transparência é um desafio da governança corporativa do Banco Santander (Brasil)

S.A. que em 2012 simplificou e horizontalizou a estrutura para torná-la mais ágil.

A começar pela estrutura organizacional da empresa pode-se constatar aproporção

que o tema da sustentabilidade assume. Vê-se que a gestão do Santander é

exercida porum Conselho de Administração e uma diretoria Executiva.Além desses

dois órgãos, o Conselho de Administraçãoé assessorado pelos Comitês de Auditoria,

Remuneraçãoe Nomeação, Governança Corporativa e Sustentabilidadee Risco. A

Diretoria, por sua vez, conta com o apoio de seiscomitês não estatutários que

abrangem diversos assuntos.De acordo com Marcos Madureira, diretor-executivo de

Comunicação Corporativa, Relações Institucionais e Sustentabilidade, o Grupo

Santander reconhece o compromisso com a sustentabilidade em todos os países em

que atua. Com relação ao Santander Brasil, o banco atua em três eixos que são

considerados essenciais para o país: Inclusão Social e Financeira; Educação; e

Negócios Socioambientais.

No Grupo Santander, a sustentabilidade está integrada à estratégia, às políticas e aos processos internos da instituição. Dessa forma, o tema ganha uma abordagem transversal, capaz de impactar todas as atividades do Banco. (Banco Santander, 2012)

Antes, é preciso tratar mais de perto o conceito de sustentabilidade. De acordo com

o relatório da ONU elaborado pela Comissão Mundial das Nações Unidas para o

Meio Ambiente e Desenvolvimento em 1972, intitulado “Nosso futuro comum”, relata

que o desenvolvimento sustentável é o “tipo de desenvolvimento capaz de manter o

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progresso humano não apenas em alguns lugares e por alguns anos, mas em todo o

planeta e até um futuro longínquo”.

Por esse motivo, a Norma Internacional de Responsabilidade Social ISO 26000

(norma que estabelece diretrizes pra as organizações no tocante à práticas de

gestão social e ambientalmente responsável) dedicou-se a definir quais assuntos

incluídos nessa expressão. Como resultado, foi convencionado que existem sete

temas centrais incluídos na discussão da Responsabilidade Social Empresarial ou

Corporativa que são:

Meio Ambiente;

Envolvimento e desenvolvimento da comunidade;

Práticas Trabalhistas;

Práticas leais de operação;

Direitos Humanos;

Relação com Consumidores;

Governança Operacional.

Diante dos questionários aplicados, da análise dos dados divulgados no website do

banco e das informações contidas no Relatório Anual pode-se constatar que o novo

valor da sustentabilidade perpassa a maioria das operações do banco, seja de forma

comercial utilizando-o como parte de sua estratégia ou mesmo de maneira

operacional, na gestão. Percebe-se que toda ação de inclusão social ou educativa, e

até mesmo, novas oportunidades de negócios são vistas pela empresa como

práticas sustentáveis. Assim, em conformidade com abordado no referencial teórico

por North, é possível perceber o quanto importa este novo valor que o banco

Santander nomeia por sustentabilidade, já que com esta nomenclatura o tema

adquire proporção planetária, mas que neste trabalho é tratado no que se reporta a

Responsabilidade Social Corporativa.

As ações analisadas são as relacionadas aos funcionários e a comunidade em geral.

O primeiro grupo de ações é analisado para que se possa entender como incentivos

financeiros e não-financeiros podem motivá-los. No segundo grupo, as atividades

são analisadas para que se possa explicitar como impactam na formação da imagem

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organizacional. Neste ponto são ilustradas três frentes principais trabalhadas pelo

banco em sustentabilidade: a inclusão social e financeira, a educação e os negócios

socioambientais, entretantoo foco deste estudo se dá com relação à educação e

inclusão social.

Dessa forma, a partir das entrevistas aplicadas aos funcionários do banco, pode-se

notar que eles acreditam que a empresa age de maneira responsável sim; todos

foram categóricos nesta afirmação. Ao serem questionados sobre a quem se dirige

estas ações, a resposta padrão foi público em geral “clientes e comunidade em

geral”, com foco em crianças sendo falado sobre os próprios funcionários e a

comunidade; governo, fornecedores, acionistas e gestores não foram lembrados. Na

verdade, os gestores são citados como aqueles que promovem as atividades de

responsabilidade social a nível local. Diante do questionamento se alguma atividade

se dirigia a funcionários da organização,às ações listadas abaixo foram relacionadas

e são divididas em dois grupos:

Incentivos financeiros

Auxílio academiade 50%

Bolsa de estudo de 50% para funcionários e estagiários

Auxílio creche

Auxílio babá

Prêmios para o cumprimento das metas

Incentivos não-financeiros

Acompanhamento de nutricionista e obstetra às funcionárias grávidas

semanalmente, ou a cada quinze dias.

Festinhas todo final de mês onde o funcionário pode levar também os seus

familiares (é institucionalizado)

“A maneira como a RSC é tratada pelos funcionários.”

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Quanto à frequência com que se fala em RSC na organização, foi dito que diária e

que constantemente o tema é abordado em reuniões, e na intranet, efetivamente

todo dia são atualizadas as informações sobre as campanhas de cunho social

realizadas pelo banco. As campanhas são identificadas pelos funcionários

entrevistados como a ferramenta pela qual o banco implementa suas ações de

responsabilidade social. Neste ponto foram citadas as ações corporativas realizadas

em São João, Maratona de funcionários e doações para uma brinquedoteca. Nas

três atividades percebe-se o envolvimento do quadro funcional tanto nas doações

como na entrega dos alimentos. Os funcionários não tiveram obrigação de participar

dos eventos citados, mas a participação foi de todos da agência, segundo um

entrevistado. Verifica-se que o objetivo do banco é disseminar o voluntariado entre

seus funcionários, configurando-se esta situação numa externalidade positiva, visto

que gera impactos sociais positivos que não estão diretamente relacionados à

atividade-fim da empresa.

Com relação ao fato de o banco divulgar ou não as ações sustentáveis, os

funcionários responderam que sim, ressaltaram as campanhas

institucionaisrealizadas e deram ênfase as práticas ligadas à educação. As

campanhas mais lembradas foram a de abrangência nacional Talentos da

Maturidade e a Maratona dos funcionários. Todos falaram muito bem sobre a

maneira pela qual o banco propaga as informações das ações responsáveis. Eles

citaram a intranet, a internet e a própria mídia em geral, sem falar no famoso “boca a

boca”, como principais fontes de informação para os clientes.

Percebe-se o comprometimento do Banco Santander com a sustentabilidade desde

o primeiro contato com o website da empresa. A primeira impressão é que toda a

ação é dirigida ao meio ambiente, entretanto fica nítida a importância também dada

à educação. Se fosse possível resumir as práticas de responsabilidade do banco,

seria “educar para sustentabilidade”. Como o assunto é tão intrincado nos negócios

realizados pelo banco, torna-se impraticável tratar de cada tópico em específico.

Dessa forma, o debate é estabelecido conforme os três principais eixos de atuação

do banco: Inclusão Social e Financeira; Educação; e Negócios Socioambientais. Em

seguida na tabela pode-se verificar as ações destacadas pelo Banco Santander

(Brasil) S.A. no Relatório Anual 2012.

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a) Programas relacionados à inclusão social e financeira

Amigo de Valor: Programa que facilita clientes, funcionários e fornecedores do

Grupo Santander a destinarrecursos (podem ser deduzidos do IR)para o apoio de

iniciativas e prioridades definidas pelos Conselhos Municipais dos Direitos da

Criança e do Adolescente para a promoção, defesa e garantia dos direitos de

crianças e adolescentes em municípios onde as condições de vida e proteção da

população infanto-juvenil são mais críticas.

Talentos da Maturidade:Apoia projetos inovadores, que tenham por objetivo a

implementação, o desenvolvimento e a disseminação de políticas ou programas

para a promoção do envelhecimento ativo, melhorando a qualidade de vida das

pessoas idosas.

Santander Microcrédito: O objetivo é beneficiar pequenos empreendedores

que não tinham acesso às linhas de crédito convencionais e que precisavam de

recursos e orientação para alavancar seu negócio. Além de contribuir com o próprio

empreendedor, o microcrédito produtivo orientado cria um ciclo virtuoso que leva

benefícios a todo o entorno do negócio. Em geral, cerca de 70% da renda gerada

nesses empreendimentos circula dentro da comunidade

b) Programas relacionados à educação

Santander Universidades: Apoioà instituições de Ensino Superior, públicas e

privadas, alunos, professores, pesquisadores e funcionários administrativos, por

meio de parcerias em projetos acadêmicos, programas de bolsas de estudo nacional

e internacional, premiações e produtos e serviços bancários.

Projeto Escola Brasil – PEB: É o programa de voluntariado, que busca

contribuir para a melhoria da escola pública de Educação Básica da nação, por

intermédio da participação voluntária de funcionários do Santander, que atuam em

parceria com dirigentes e demais membros da comunidade escolar. O projeto

oferece capacitação e instrumentos para que os voluntários possam ajudar a

comunidade escolar a identificar as potencialidades e fragilidades da escola e a

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elaborar e executar um plano de ação que promova a melhoria contínua da

qualidade.

Espaço de Práticas em Sustentabilidade: É o ambiente virtual no qual o Grupo

Santander divulga todo o seu conteúdo relacionado às atividades socialmente

responsáveis e sustentabilidade, além de também promover cursos e palestras

sobre orientação financeira bem como diversas práticas em prol do meio ambiente.

c) Programas relacionados aos negócios socioambientais

Ecoeficiência de prédios e agências: Como o próprio nome sugere, este

programa se refere à redução de insumos como água, energia, papel e resíduos;

ISO14001; Papa-pilhas é a que mais se destaca dentre estas ações, já que clientes

e comunidade em geral podem descartar seu “lixo eletrônico” nas agências do

Banco Santander.

Financiamentos socioambientais: Neste grupo pode-se incluir toda a gama de

serviços oferecidos pelo Banco Santander no que diz respeito aos negócios

socioambientais, ou seja, serviços que exploram a característica de respeito ao meio

ambiente e aos cidadãos nos negócios, dentre eles vê-se a Reforma para a

acessibilidade, o CDC – Acessibilidade, energias renováveis e processos mais

limpos.

O quadro 4 – Uso da RSC pelo Santander, apresentado a seguir, nota-se que os

três pilares principais da sustentabilidade definidos pelo banco têm relação com o

que foi definido neste estudo como práticas de gestão e modelo de negócios. Por

exemplo, a Reforma para Acessibilidade claramente é um novo serviço oferecido

pela instituição, portanto se encaixa no modelo de negócios. Entretanto, vários

tópicos tem interface tanto com a prática de gestão como o modelo de negócios,

como por exemplo, o Espaço Práticas em Sustentabilidade, espaço virtual onde são

divulgadas as ações corporativas do banco. Assim, se relaciona tanto com a gestão

propriamente dita da organização como com o âmbito dos negócios, pois de toda

forma, qualquer pessoa pode ter acesso ao Espaço Práticas em Sustentabilidade e

identificá-lo como um marketing institucional.

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43 Quadro 4 - Uso da RSC pelo Santander

INCLUSÃO SOCIAL INCLUSÃO FINANCEIRA NEGÓCIOS SOCIOAMBIENTAIS EDUCAÇÃO

Metas de redução Universia

Amigo de Valor

Palestra e orientações

financeiras p/ clientes e

parceiros

Ecoeficiência em prédios e agências: água, energia,

papel e resíduos (Papa- Pilha)

Projeto Escola Brasil

Gestão e redução de emissões: carona amiga Biblioteca Brasiliana - USP

PRÁTICAS DE

GESTÃO Afroreggae Compensação de emissões: Floresta Santander

Programa de Educação

Infantil

Talentos da Maturidade Certificações: ISO 14001 e LEED - Torre Santander MAM

Criaticidades Norma de coleta seletiva Museu do Amanhã

Sistema Integrado de Gestão Ambiental na Rede -

SIGAR Brincando na Rede

Integrare - Diversidades Portal Orientação Financeira

Critério socioambientais na reforma e construção de

Agências

Critério socioambientais na Avaliação de Qualidade

Operacional das Agências - AQO

Santander Práticas de

Educação para a

Sustentabilidade

Empreendedores

criativos Reforma p/ Acessibilidade Santander Universidades

CDC - Acessibilidade, Energias renováveis

Agência em comunidades Crédito p/ Pós-graduação e MBAParcerias em Ação -

Diversidade Linha ABC - Agricultura de Baixo Carbono

Espaço Práticas em

Sustentabilidade

MODELO DE

NEGÓCIOS Fundo Ethical

Santander Microcrédito Linha IFC - Projetos Sustentáveis

Programa de Diversidade

Mantiq - Critérios socioambientais na avaliação de

projetos Santander Cultural

Prática de Risco Socioambiental

Programa e Comunidade Obra Sustentável

Crédito imobiliário p/ parceiros do mesmo sexo

Fonte: Elaboração Própria adaptado do Banco Santander, 2012

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O banco mantém forte compromisso com as comunidades de seus países por meio

da divisão Santander Universidades, que reúne 833 acordos de cooperação com

instituições de ensino universidades do mundo inteiro, somente no Brasil o

Santander tem parceria com 435 universidades e concedeu mais de 17.000 bolsas

de estudo. A abordagem dada pela empresa é tratar da questão da sustentabilidade

agindo como “difusora”. As ações sociais têm como foco as ações educativas e de

sustentabilidade.

De acordo com dados do Relatório Anual 2012, o valor destinado ao investimento

social e cultural foi de R$ 113,8 milhões no ano de 2012. Justamente por se

relacionar intrinsecamente à sustentabilidade, a atuação do banco é diretamente

ligada a temas como educação, empreendedorismo e meio ambiente, ou seja, as

ações devem gerar legado para as comunidades.

Entretanto, cabe salientar que o Santander passa recentemente por profundas

transformações na sua gestão, inclusive com a mudança de presidente. Portanto,

pode surgir questionamentos quanto à direção que será tomada pelo banco com

relação a sustentabilidade e, numa situação de crise como o banco se comportaria,

tendo em vista que neste cenário a tendência é a diminuição dos custos e corte

substancial do que não é estritamente necessário.

4.4 EVIDÊNCIAS DE RETORNO A IMAGEM CORPORATIVA

De acordo com a pesquisa “Akatu 2012: Rumo à sociedade do bem-estar” elaborado

pelo Instituto Akatu, 53% dos consumidores concordaram que as empresas sempre

deveriam fazer mais do que o estabelecido nas leis buscando maiores benefícios

para a sociedade. O questionário foi aplicado em 12 capitais/regiões metropolitanas

do Brasil a 800 pessoas, no final de 2012, e traz um conjunto de análises sobre a

percepção do consumidor brasileiro.

Uma outra pesquisa feita pelo IBOPE, em 2011, com 400 médias e grandes

empresas brasileiras e multinacionais atuantes no Brasil, revela o empresariado se

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sente pressionado pelos clientes para que a empresa seja sustentável uma vez que

70% dos entrevistados afirmaram que seus clientes procuraram saber se a

organização tem algum projeto de sustentabilidade implantado. E ao responder

como os empresários acreditam que será o consumidor de 2022, 91% dizem que os

consumidores estarão mais atentos ao posicionamento sustentável, onde comprarão

marcas de organizações socialmente responsáveis.

Ao analisar o cenário bancário brasileiro este tema adquire extrema relevância, visto

que apresenta-se como um dos setores que apresentam altíssimas taxas de lucro.

Num contexto de crise internacional, de Produto Interno Bruto com crescimento de

0,9% em 2012, o segundo trimestre de 2013 foi o ambiente no qual o Banco do

Brasil quebrasse o recorde e alcançasse o maior lucro da história dos bancos

brasileiros R$ 10 bilhões, ultrapassando o Itaú que há quatro anos ocupa o topo do

ranking dos maiores lucros.

É dentro desta perspectiva que se encaixa a atuação social do Banco Santander,

como um fator que agrega valor a marca e ajuda a tornar os seus serviços

diferenciados perante os seus concorrentes. Portanto, o banco tem na

sustentabilidade um vetor de inovação e fonte de credibilidade, estrategicamente se

posicionando como uma instituição que está preocupada com o social, em

conformidade com o que anseia a sociedade. Entretanto, de acordo com o

levantamento do Bacen, em julho de 2013, o Banco Santander lidera o ranking de

reclamações contra os bancos pelo sexto mês consecutivo.

O reconhecimento de entidades importantes engajadas com o tema da

sustentabilidade e Responsabilidade Social Corporativa, em âmbito nacional e

internacional, adquire extrema relevância, assim como o recebimento de prêmios e

sua divulgação, dentre os muitos prêmios, os que merecem destaque pela

importância são:

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Em 2012, o Santander Brasil foi considerado o Banco mais sustentável das

Américas e o Grupo Santander foi reconhecido como o Banco Global Sustentável

do Ano, pelo Financial Times e o IFC (International Finance Corporations)1;

Novamente em 2012, a revista "The Banker" nomeou o Banco Santander como

banco do ano em Portugal, Reino Unido, México, Polônia e Argentina, cinco dos

dez principais países nos quais o Grupo Santander atua. Este é o quarto ano

consecutivo que o Santander obtém este reconhecimento no Reino Unido, assim

como o terceiro ano que o ganha na Argentina e a sexta vez em oito anos em

Portugal, acrescentou o banco. No México, esta é a primeira vez em que o

Santander obtém este prêmio;

Prêmio Época Empresa Verde O 2º Prêmio Época Empresa Verde, realizado

em setembro de 2012, analisou 120 instituições em quesitos como eficiência

energética, uso consciente da água, destinação do lixo, incorporação de critérios

ambientais em produtos e serviços e redução de emissões. Vinte empresas foram

selecionadas por possuírem as melhores práticas ambientais do país. O

Santander foi o vencedor da categoria instituição financeira e reconhecido como o

banco mais verde do Brasil;

Prêmio Discovery de Criatividade e Inovação A rede Discovery criou o

prêmio com intenção de evidenciar o potencial criativo do mercado publicitário

brasileiro. Ele reconhece os profissionais, as estratégias e os planos inovadores

para campanhas de propagandas veiculadas nos canais da rede. Na primeira

edição, em 2011, a campanha “Educação Financeira Santander para Crianças”,

elaborada pela agência Talent, foi uma das premiadas.

Diante do contexto acima representado, com a exposição dos benefícios percebidos

pelos funcionários, comunidade em geral e do reconhecimento por intermédio dos

prêmios adquiridos, elabora-se um quadro resumo para que seja possível identificar

de maneira rápida os benefícios advindos das atividades socialmente responsáveis.

1 Cabe ressaltar que os quatro prêmios listados acima foram retirados do site do próprio banco, www.santander.com.br .

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Figura 5 – A RSC como fator de valorização empresarial

Fonte: Elaboração Própria

O que norteou todo este estudo foi identificar como as ações socialmente

responsáveis retornam para a organização. Ficou nítido que para que funcione uma

agenda de atividades é necessário o aporte de recursos financeiros e, por outro

lado, tais ações geram benefícios. Os benefícios aqui definidos são relacionados à

externalidades positivas para a sociedade, tais como a melhoria na educação de

crianças e jovens; a inclusão social feita sobre vários aspectos, como por exemplo,

na criação do espaço no qual jovens podem ter acesso à internet gratuitamente;

AÇÕES EM RSC

BENEFÍCIOS

EXTERNALIDADES

POSITIVAS

EDUCAÇÃO

IMAGEM CORPORATIVA

INCLUSÃO SOCIAL

CAPITAL REPUTACIONAL

INTERNALIZADO

INDIRETOS DIRETOS

PRÁTICAS DE GESTÃO

IMAGEM CORPORATIVA

MODELO DE NEGÓCIOS

CAPITAL REPUTACIONAL

CUSTOS

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estímulo para o engajamento dos idosos em projetos de cultura, lançar um novo

olhar da sociedade para a Terceira Idade; encorajamento dos funcionários para que

se tornem voluntários e trabalhem em outros projetos sociais. Enfim, por fins

metodológicos apenas foram citados no quadro educação e inclusão social,

entretanto, todos os tópicos citados acima, e vários outros mais, podem ser incluídos

na discussão. E através desses benefícios, a sociedade e consumidores percebem o

envolvimento da organização em causas socioambientais agregando valor à sua

imagem corporativa e à reputação.

Todo o paragrafo acima diz respeito às externalidades, que são benefícios

indiretamente internalizados pela firma. Cabe salientar que a RSC também traz

benesses que são diretamente internalizadas como a prática de gestão e o modelo

de negócios. O primeiro termo refere-se à própria forma de gerir a firma que pode

melhorar com a inclusão do “olhar” mais sustentável por parte dos funcionários.

Inclui-se neste item a redução do consumo de insumos; ecoeficiência de prédios e

agências; e a redução de emissões com a aplicação da carona amiga, por exemplo.

Já o segundo tem relação com os novos produtos que podem ser ofertados dentro

do contexto da RSC, como por exemplo, financiamento para a acessibilidade e

pesquisa para desenvolvimento de energia renovável; e inclusão de critérios

socioambientais em produtos. Da mesma forma que as externalidades, a

preocupação com o desenvolvimento destes novos “produtos” agrega valor para a

organização.

Por fim, foram apresentados vários indícios que demonstram claramente que dentro

do debate sobre a Responsabilidade Social Corporativa existe um conjunto de

valores que paulatinamente se institucionalizam no contexto nacional e internacional,

no qual as organizações que atuam nesse sentido são cada vez mais reconhecidas

pelos seus clientes, pela sociedade e stakeholders em geral.

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5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Nesta pesquisa, a hipótese considerada é que diante do ambiente institucional os

gestores das empresas são conduzidos a adotar práticas socialmente responsáveis

que resultarão na criação de valor às empresas. Assim, com a leitura da literatura

pertinente até agora, pode-se concluir que as ações socialmente responsáveis

geram retornos positivos à empresa. Com o avanço da pesquisa o objetivo foi

demonstrar como tal fato ocorre, explicar como se dá o processo de reconhecimento

das empresas pelos stakeholders em geral, no caso específico aqui abordado, dos

funcionários e comunidade.

O arcabouço teórico da nova economia institucional enfatiza a importância do

ambiente institucional para a determinação do comportamento das empresas.

Conforme teoria desenvolvida por Douglas North (1990), o comportamento dos

agentes econômicos relaciona-se diretamente ao conjunto de oportunidades criadas

pelo ambiente institucional em vigor. Desta forma, em uma sociedade que valorize

comportamentos socialmente responsáveis haverá fortes incentivos para que os

agentes econômicos, e por tabela as firmas, atuem dessa maneira. Enquanto na

abordagem Williamson (2000) vê-se que de forma lenta os valores se formam, são

legitimados e institucionalizados.

Um aspecto que merece destaque é a escala temporal com que as mudanças

acontecem, no primeiro nível institucional, dentro do arcabouço de Williamson. É

interessante refletir que hoje a mudança ocorre de maneira muito rápida, na

velocidade da informação e o tempo de 1 à 10 séculos para que um valor se

estabeleça é bastante questionável. Pode-se constatar que nos últimos vinte anos é

possível observar mudanças significativas, principalmente no tocante à

sustentabilidade.

É dentro desta perspectiva que se insere a Responsabilidade Social Corporativa,

como um novo valor criado e institucionalizado, onde grande parte das organizações

tem como objetivo que o público reconheça o seu envolvimento em tais atividades.

Tal abordagem permite observar a convergência de duas visões que a primeira vista

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não dialogam, na qual o desenvolvimento de ações de responsabilidade social

corporativa cria imagem e reputação positivas para as empresas, conforme modelo

proposto por Fombrun.

Assim, diante das declarações dos funcionários ao afirmarem que se sentem

motivados com os incentivos financeiros, em especial com as bolsas de estudo e os

prêmios para o alcance das metas, foi possível notar que estes prêmios são

compensações pelas metas difíceis de serem alcançadas. Os incentivos financeiros

servem para a empresa como ferramenta na gestão de pessoas e não se

enquadram como ações de responsabilidade social. Entretanto, para estes mesmos

funcionários, as campanhas são a forma de RSC mais marcante do banco. E ao se

tratar de sustentabilidade pôde-se comprovar a extensa preocupação do Banco

Santander com o tema, em particular quando se trata de educação e gestão

socioambiental.

Uma das principais dificuldades percebida neste estudo de caso foi com relação ao

desenvolvimento de sistemas de avaliação e mensuração de resultados das ações

de responsabilidade social desenvolvidos pelas empresas. Como grande parte dos

benefícios auferidos são de caráter intangível, como melhora de imagem, criação de

capital reputacional e melhora do clima organizacional, o Banco Santander também

mostra dificuldade em avaliar a eficácia de suas ações sociais.

A responsabilidade social corporativa merece debates que relacionem teoria à

experiência empírica vivenciada pelas organizações através das atividades

socialmente responsáveis, a fim de dar suporte ao processo decisório dos gestores.

É nesse sentido que este estudo de caso foi redigido, para que possa contribuir para

o aprofundamento do assunto e apresentar um exemplo de organização que utiliza-

se da RSC para gerar externalidade positiva e para agregar valor à sua imagem

corporativa.

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REFERÊNCIAS

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ANEXO 1 - INSTRUMENTO DE PESQUISA QUALITATIVA

ROTEIRO DE ENTREVISTA

1. O Banco Santander realiza algum tipo de ação de responsabilidade social? Quais?

2. A quem essas ações são dirigidas?

3. Alguma atividade de responsabilidade social se dirige aos funcionários? Quais?

4. Como você percebe as ações de responsabilidade social na empresa? O tema é

recorrente e impacta o cotidiano do Santander ou é tratado de forma esporádica?

5. O Banco divulga as ações de responsabilidade social?

6. No atendimento a clientes, como você analisa a percepção dos clientes frente às

ações de responsabilidade social do Santander?

7. E com relação aos funcionários, como você avalia as atividades de responsabilidade

social do Santander?