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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES DEPARTAMENTO DE ARTES CURSO DE LICENCIATURA EM DANÇA DÉBORA PEREIRA DA SILVA ASPECTOS DO ESTUDO COREOLÓGICO EM LABAN E O ENSINO DO BALLET CLÁSSICO NA INFÂNCIA: POSSÍVEIS ESTRATÉGIAS METODOLÓGICAS NATAL, RN 2016

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE … · enquanto professora da área e estudante do campo da Dança, criou condição para a reflexão sobre o ensino do Ballet Clássico

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES

DEPARTAMENTO DE ARTES

CURSO DE LICENCIATURA EM DANÇA

DÉBORA PEREIRA DA SILVA

ASPECTOS DO ESTUDO COREOLÓGICO EM LABAN E O ENSINO DO

BALLET CLÁSSICO NA INFÂNCIA: POSSÍVEIS ESTRATÉGIAS

METODOLÓGICAS

NATAL, RN

2016

DÉBORA PEREIRA DA SILVA

ASPECTOS DO ESTUDO COREOLÓGICO EM LABAN E O ENSINO DO

BALLET CLÁSSICO NA INFÂNCIA: POSSÍVEIS ESTRATÉGIAS

METODOLÓGICAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

Banca Examinadora do Curso de Licenciatura em

Dança da Universidade Federal do Rio Grande do

Norte, sob a orientação da professora Dra. Larissa

Kelly de Oliveira Marques Tibúrcio, como requisito

para obtenção do Diploma de Graduação em

Licenciatura em Dança.

NATAL/RN

2016

DÉBORA PEREIRA DA SILVA

ASPECTOS DO ESTUDO COREOLÓGICO EM LABAN E O ENSINO DO

BALLET CLÁSSICO NA INFÂNCIA: POSSÍVEIS ESTRATÉGIAS

METODOLÓGICAS

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Licenciatura em Dança da

Universidade Federal do Rio Grande do Norte, em 23 de junho de 2016.

Aprovado em: ____/____/_____

____________________________________________

Profª. Dra. Larissa Kelly de Oliveira Tibúrcio

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Orientadora

____________________________________________

Profª. Dra. Patrícia Garcia Leal

Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN)

Examinadora Interna Titular

____________________________________________

Profa. Ms. Roseane Melo dos Santos

Examinadora Externa Titular

NATAL/RN

2016

Carinhosamente dedico,

aos meus pais, minhas irmãs,

as minhas sobrinhas,

ao meu esposo Magnus Gonzaga

e a minha filha Ana Karenina Gonzaga.

RESUMO

Este artigo aborda aspectos da coreologia, particularmente temas relacionados a

movimentos desenvolvidos por Rudolf Von Laban, aplicados a metodologia de ensino

da Dança Clássica no percurso de uma experiência profissional enquanto professora de

Ballet Clássico. Discute-se, ao longo do texto, o advento da Dança Moderna, seus

pressupostos e como os estudos desenvolvidos por Laban, enquanto expoente

significativo dessa Dança, podem em certo sentido contribuir para se pensar a respeito

de estratégias metodológicas para o ensino do Ballet Clássico, principalmente na fase da

infância, na medida em que se possa questionar a metodologia tradicional de ensino

hegemonicamente presente na prática pedagógica daqueles que lecionam essa técnica.

Em seguida discute-se acerca do papel do professor de Ballet Clássico frente a

metodologia de ensino dessa Dança. Como aporte teórico no campo da epistemologia da

dança fundamentamo-nos em Laban (1990); Ossona (1988); Portinari (1989). Trata-se

de um estudo de natureza qualitativa, que considera a experiência de ensino da autora

no decurso da sua atividade profissional com o ensino do Ballet. Como resultado

destaca-se que a proposta de Laban favoreceu o desenvolvimento de um tipo de ensino

menos mecanicista no âmbito do Ballet Clássico rompendo dessa forma com a

metodologia tradicional que o Ballet hegemonicamente vem promovendo.

Palavras Chave: Ballet Clássico, Metodologia de ensino da Dança, Estudos Labanianos.

ABSTRACT

This article discusses aspects of coreologia, particularly issues related to body

movements developed by Rudolf Von Laban, applied to teaching methodology of

Classical Dance in the course of professional experience as a teacher of classical ballet.

It is argued, throughout the text, the advent of modern dance, its assumptions and how

the studies developed by Laban, as a significant exponent of this dance can in a sense

help to think about methodological strategies for the classical ballet school mainly in the

stage of childhood, to the extent that one can question the traditional methodology of

teaching hegemonically present in the pedagogical practice of those who teach this

technique. Then we discuss about the teacher's role of Classical Ballet front teaching

methodology of this dance. As a theoretical contribution in the field of epistemology of

fundamented in dance at Laban (1990); Ossona (1988); Portinari (1989). This is a

qualitative study, which considers the author's teaching experience in the course of their

work with the teaching of Ballet. As a result it is emphasized that the proposed Laban

favored the development of a type of less mechanistic education in the Classical Ballet

thereby breaking with the traditional methodology that the Ballet has hegemonically

promoting.

Keywords : Classical Ballet, Dance Teaching methodology, Laban’s Theory.

SUMÁRIO

Alguns questionamentos...................................................................................... 7

O advento da Dança Moderna como contraponto ao Ballet............................ 12

O papel do professor frente a metodologia do Ballet Clássico......................... 15

Os temas labanianos como recurso para o ensino do Ballet Clássico: a

nossa vivência............................................................................................................... 17

Considerações conclusivas................................................................................... 19

Referências............................................................................................................ 21

7

Alguns questionamentos

Este artigo aborda aspectos da coreologia, particularmente temas de

movimentos desenvolvidos por Rudolf Von Laban, aplicados a metodologia de ensino

da Dança Clássica. Discute-se, ao longo do texto, o advento da Dança Moderna, seus

pressupostos e como os estudos de Laban, enquanto expoente significativo dessa Dança,

pode contribuir para se pensar a respeito de estratégias metodológicas para o ensino do

Ballet Clássico, no âmbito da infância na medida em que se possa questionar a

metodologia tradicional de ensino presente em grande parte da prática pedagógica

daqueles que lecionam essa técnica. Em seguida, faz-se uma discussão acerca do papel

do professor frente à metodologia do Ballet Clássico.

A problemática que fomentou interesse a realização deste trabalho decorreu

de algumas inquietações desenvolvidas durante a nossa trajetória profissional enquanto

professora da área de Dança. Tais inquietações foram projetadas a partir da observação

das nossas aulas de Ballet para crianças, de dois a dez anos, no âmbito de escolas

particulares da rede básica de ensino em Natal, Rio Grande do Norte.

Há oito anos trabalhando como professora de Dança, principalmente de

Ballet, constatamos que era comum o desinteresse de alunas quando aplicávamos o

método tradicional de ensino no âmbito das técnicas do Ballet.

Em certo sentido, o meu acumulo teórico e prático em torno do Ballet

Clássico, que envolvia desde a experiência de bailarina como também de professora

dessa área, não era suficiente para manter as alunas frequentando as aulas por um longo

período de tempo. Nesse processo, observamos que o método de ensino aplicado ao

Ballet Clássico não correspondia ao que as alunas esperavam enquanto aprendizagem

dessa Dança. Percebíamos que as alunas tinham certa expectativa de que as aulas seriam

bastante divertidas e num curto período de tempo se aprenderia as técnicas do Ballet, ao

contrário da metodologia que adotávamos e da rigorosidade que era imposta nas aulas

em busca de uma almejada perfeição. Ou seja, na prática, em função do rigor e da

exigência de um aprendizado pautado na assimilação de passos inseridos em um código

gestual bastante específico, fomos percebendo uma relativa desmotivação das crianças

em participarem de modo mais envolvente das aulas. Em consequência, o resultado que

almejávamos, dificilmente, alcançávamos.

Ao ingressar no Curso de Licenciatura em Dança da Universidade Federal

do Rio Grande do Norte, deparei-me com novas abordagens teóricas e práticas, no

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tocante a diversas técnicas de dança, particularmente, a Dança Moderna que exerceu

considerável influência no meu entendimento sobre o próprio Ballet, as dimensões do

corpo e as metodologias de ensino. De fato, a minha relação com o curso de Dança da

UFRN propiciou que eu conhecesse diversas técnicas de Dança e ao mesmo tempo

compreendesse que cada método de dança representa aspectos de um contexto social e

histórico de determinada época. Nesse ínterim, cabe assinalar que a Dança Moderna

promoveu relativo impacto sobre as minhas concepções de Dança, na medida em que

essa vertente fez-me apreender as diversas possibilidades do movimento e entender que

o movimento tem a sua própria liberdade de expressão. Desse modo, a minha trajetória,

enquanto professora da área e estudante do campo da Dança, criou condição para a

reflexão sobre o ensino do Ballet Clássico para crianças como também para se pensar

estratégias a partir da referência de Laban para o ensino do Ballet, ainda fortemente

fundado em uma metodologia em que o professor é o modelo e as crianças apenas

repetem e reproduzem os passos aprendidos.

Assim, esse estudo se soma aos esforções de contribuições teóricas para o

campo epistemológico da Dança além de constituir também acervo para a reflexão sobre

as práticas de ensino do Ballet Clássico.

Autores do campo da dança, tais como Laban (1990); Ossona (1988) têm defendido a

tese de que as técnicas tradicionais do Ballet Clássico, quando aplicadas a crianças,

podem ampliar as dificuldades de espontaneidade do movimento corporal infantil.

Defendem ainda que uma criança cujo desenvolvimento motor apresente limitações na

harmonia dos movimentos corporais contribui com a formação de um corpo rígido.

Em sentido análogo, Laban (1990, p. 27) afirma que “nas primeiras etapas

existe sempre o perigo de perder a espontaneidade infantil por excesso de correção e de

permitir a entrada furtiva da falta de naturalidade como resultado da superposição de

concepções adultas sobre o movimento”. Na mesma linha de raciocínio, pode se

considerar que determinados passos de Dança, quando são executados com base em

movimentos codificados e simétricos, dificultam o desenvolvimento da expressão

corporal. A execução de exercícios repetitivos propicia a exaustão do corpo e contribui

para que haja restrição na exploração do repertório motriz, o que pode restringir o

vocabulário expressivo das crianças e tolher a descoberta de modos próprios de dançar,

tão importantes para a construção da autonomia e inventividade dos pequenos.

As restrições impostas por uma dança codificada propiciam que as

oportunidades de movimentos se estabeleçam limitadas à apenas algumas partes do

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corpo, desestimulando, assim, a descoberta e criação de vocabulários infinitamente

diversos no corpo que se expressa e se comunica ao dançar.

É notório que o ensino tradicional da Dança Clássica, especificamente o

Ballet Clássico, carrega em sua historicidade um lado que valoriza sobremaneira o

aprendizado da técnica e a exaltação do virtuosismo na execução dos passos

codificados. Essa marca, presente no ensino de Ballet Clássico, remonta à época

monárquica, período em que as danças improvisadas desenvolvidas pelos camponeses

eram apropriadas por outros e executadas para satisfação da corte burguesa. A burguesia

se apropriava das danças que surgiam na plebe e as codificavam por meios de gestos

refinados, além de adicionar figurinos requintados bastante pesados. A necessidade de

readaptar as danças tradicionais para satisfazer os desejos das cortes renascentistas abriu

caminho para a criação do mestre de salão, sujeito com papel específico importante para

recomposição das danças.

Com o renascimento a dança passa a ser codificada por mestres a

serviço das cortes. Tal como as outras artes, ela recebe regras

conforme o gosto do reinante. O culto aos valores da antiguidade e as

ideias humanistas expressão um conceito de beleza em que o corpo e

espírito devem formar um todo harmonioso (PORTINARI, 1989, p.

56).

O Ballet Clássico torna-se a Dança cuja codificação atravessa sua trajetória

na história na medida em que influencia na disseminação de um entendimento do ensino

da Dança que se pauta em um ideal de corpo simétrico, retilíneo e harmonioso nas

formas em que desenha no espaço-tempo. Assim, o aprendizado da técnica, nesse

sentido, se sobrepõe às emoções e aos sentimentos do sujeito.

Desse modo, entendemos que ao pensar sobre o ensino do Ballet no

contexto atual é importante e pertinente que crianças possam conhecer novas linguagens

corporais que possibilitem o desenvolvimento de suas próprias experiências e que não

estejam presas somente a sequências de passos repetitivos. Constatamos, no curso de

nossa experiência profissional, que as crianças, ao se depararem com as aulas, cuja

prática envolve esforços de movimentos isolados, elas perdem muitas vezes a vontade

de dançar.

Em contraponto às técnicas tradicionais de Ballet, Laban (1990) e Ossona

(1988) defendem que a criança necessita de práticas não convencionais para que estas

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possam ampliar as respostas necessárias que o corpo convoca. Assim, assinala Ossona

(1988);

neste caso, a técnica da dança clássica com sua continua tensão e sua

total desvinculação do cotidiano e passional, é um castigo corporal e

uma disciplina do espírito que pode ser demasiado dura para uma

criança muito pequena (OSSONA, 1988, p.18).

Muitas vezes, os pais matriculam as crianças nos cursos de formação de

Ballet almejando que suas crianças adquiram regras, se disciplinem e internalizem as

técnicas da elegância. No entanto, a minha vivência, enquanto professora da área, atesta

que as crianças, ao chegarem à escola, esperam encontrar aulas divertidas, que possam

dar saltos, movimentarem-se a vontade sem nenhuma limitação. De fato, as crianças

ainda não têm maturidade para discernirem se pretendem seguir ou não carreira de

bailarina. Na maioria das vezes, a preocupação dos pais consiste no fato de que as

crianças devam desenvolver, num curto espaço de tempo, uma técnica de dança com

resultados sensacionalistas. Em certo sentido, tais pais se influenciam pela mídia, em

especial a televisiva, que transmite para seus receptores a ideia de que a bailarina já

nasce pronta. Porém, a formação de bailarinas é um processo de codificação longo,

bastante rígido e muitas vezes doloroso. Trata-se, no entanto, de um processo

desconhecido pelos pais que exige muitos anos de dedicação para a obtenção de tal

moldagem.

É pertinente afirmar que, nas práticas de ensino do Ballet clássico, não se

aplica a liberdade de execução de exercícios que explorem as dimensões espaciais e

temporais em seus diversos níveis e planos espaciais1.

Com o advento do Ballet Clássico, surgem os cânones nos quais incentivam

os bailarinos a desafiarem a lei da gravidade e a permanecerem numa postura ereta, em

que o corpo deve buscar resistir à gravidade. Dessa forma, o Ballet Clássico incorpora,

1 Conforme Rengel (2001) os níveis e planos espaciais tem as seguintes configurações: “nível é a relação

de posição espacial que ocorre em duas instâncias: de uma parte do corpo em relação a articulação na

qual ocorre o movimento. Por exemplo, um braço pode estar alto, médio ou baixo, em relação a

articulação do ombro; do corpo como todo em relação a um objeto, outro(s) corpo(s) ou ao espaço geral.

Por exemplo, o corpo do agente está baixo em relação a uma cadeira ou outro agente. . Plano espacial é a

combinação de duas dimensões” (RENGEL, 2001, p. 101) [...] “Os planos espaciais são visualizados

quando é feita a ligação dos extremos alcançados pelas doze direções diametrais. No plano, uma das

dimensões é a dominante (principal) e a outra dimensão é a secundaria. Laban denominou estes planos de

plano da porta, plano da mesa e plano da roda” (IBIDEM, 2001, p. 105).

11

em sua metodologia, as tradições de passos e modos utilizados nas cortes absolutistas.

Para a obtenção dos domínios desses cânones, conforme assinala Ossona (1988, p. 13),

“é necessário uma disciplina de permanente tensão, que mantenha o corpo numa postura

rigidamente vital, na qual a expressão só venha colorir, como nas antigas fotos

iluminadas, essa firme estrutura”.

Os movimentos compactados do Ballet associados a disciplina e sutileza dos

movimentos arbitrários contra a lei da gravidade estabelece um padrão de uma

pedagogia tradicional e arcaica, no qual o professor exerce papel central no processo de

ensino e de aprendizagem, bem como na relação hierarquizada entre mestre e aluno.

Historicamente, as marcas dessa pedagogia têm estado presente no processo

de ensino e de aprendizagem do Ballet Clássico, na medida em que o rigor, a rigidez e a

mecanicidade presentes nas metodologias de ensino dessa Dança constituem as suas

características fundamentais. Trata-se de uma tendência pedagógica que aborda os

conteúdos separadamente e deslocados da experiência cotidiana do aluno e das

realidades sociais em que esses estão inseridos.

A escola se organiza, pois, como uma agência centrada no professor, o

qual transmite, segundo uma gradação lógica, o acervo cultural aos

alunos. A estes cabe assimilar os conhecimentos que lhes são

transmitidos (SAVIANI, 1988, p. 5).

Tal modelo de proposta pedagógica, ao atribuir centralidade ao professor no

processo educativo, reafirma a relação dessa prática de ensino com o conservadorismo

cultural de uma época. Nessa vertente, as relações de ensino adotadas pelos professores

se desenvolvem de forma hierarquizada. O virtuosismo atribuído ao Ballet Clássico,

desde que este se difundiu pelo Ocidente, contribuiu para que esta dança torna-se cada

vez mais distante da natureza e da expressividade corporal. Dessa forma, o Ballet

carrega as marcas de um padrão de comportamento de uma determinada época em que

se atribuía a dança um ato de agradar os reis das cortes de onde surgiu. Esse tipo de

conduta foi se perpetuando durante séculos persistindo até os dias atuais.

Nesse contexto, ressalta-se que já se constata na produção acadêmica

brasileira sobre o campo da Dança uma diversidade de estudos abarcando temas acerca

do movimento, do tempo, do espaço e do corpo e a relação com Laban. Todavia, ainda

são escassos estudos envolvendo temas Labanianos e sua relação com o Ballet Clássico.

12

O nosso escrito objetiva interrogar brevemente esse modelo de ensino do

Ballet pondo em diálogo os temas de movimento de Laban como uma proposição para

ensinar essa técnica de um modo menos rígido.

O estudo que deu base a esse artigo fundamenta-se nas estratégias da

pesquisa qualitativa. Trata-se, assim, de um modelo de pesquisa que “trabalha com o

universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que

corresponde a um espaço mais profundo das relações, dos processos e dos fenômenos

que não podem ser reduzidos à operacionalização de variáveis” (MINAYO, 1999, p.

21).

A técnica utilizada para coleta de informações, no âmbito do lócus de

trabalho, foi a observação desenvolvida no ambiente escolar2 no decurso da minha

atividade profissional da área. Nesse aspecto, trata-se de um estudo que teve as nossas

observações como principal procedimento de coleta de dados. Conforme Gil (1999, p.

110), “a observação nada mais é que o uso dos sentidos com vistas a adquirir os

conhecimentos necessários para o cotidiano”.

Como aporte teórico no campo da epistemologia da dança fundamentamo-

nos em Laban (1990); Ossona (1988); Portinari (1989);

O advento da Dança Moderna como contraponto ao Ballet

A Dança Moderna se desenvolve trazendo nas suas características um estilo

anticlássico impulsionador de um movimento artístico na dança, disseminando a ideia

de renuncia a um determinado estilo de Dança: a saber, o Ballet Clássico. Na época em

que a Dança Moderna se projetou como nova técnica de dança, ocorreram muitas

contestações a esta vertente, desencadeando, assim, como todo novo movimento, um

certo descontentamento entre bailarinos e amantes do Ballet Clássico. O advento da

Dança Moderna propicia uma nova era de descobertas acerca de movimentos que põem

em relevo a expressão corporal. Dessa forma, a Dança Moderna valorizou a busca pela

liberdade de expressão do movimento. “Como todo movimento artístico importante, a

Dança Moderna também começou pela contestação, ou seja, pela rejeição do rigor

acadêmico e dos artifícios do ballet” (PORTINARI, 1989, p.133).

2 As escolas em que atuei profissionalmente e que constituíram lócus de observação foram: Absoluto

Colégio e Curso e Dimensional Colégio e Curso, ambas localizadas na Zona Norte de Natal, RN.

13

A Dança Moderna se desenvolveu concomitante ao período em que se erigiu

o processo de industrialização, carregando em sua história diferentes traços das danças

das épocas passadas. Nesse contexto, o sujeito que exercia a sua labuta em meio às

máquinas industriais é praticamente forçado a adequar seus movimentos corporais ao

movimento mecânico oriundo da dinâmica do processo produtivo. A esse respeito

escreve Laban (1990):

Foi na indústria que se iniciou a investigação do novo movimento. Ao

tornar-se evidente que os processos de trabalho de era mecanizada são

profundamente diferentes daquelas dos períodos pré-revolucionários

da civilização europeia, realizaram-se várias tentativas para adaptar os

movimentos do trabalhador as novas necessidades. Um nome que se

deve mencionar a esse respeito é o de Frederick W. Taylor, o iniciador

da gestão empresarial científica (LABAN, 1990, p. 12).

A Dança Moderna resignificou o cenário industrial possibilitando uma nova

concepção de corporeidade recriando movimentos que transmitissem os sentimentos e

não movimentações repetitivas. A Dança Moderna construiu razões para que os

bailarinos criassem suas movimentações partindo do interno para o externo e encontrar

a própria realização do movimento. Como salienta Souza (2009):

A modernidade trouxe consigo uma renovação estética, um

individualismo crescente e uma maior liberdade criadora na dança,

que, assim, teve a possibilidade de produzir um novo gestual, recriar

uma nova corporeidade e gerar bailarinos que não apenas executassem

movimentos repetitivos, mas que fossem capazes de expressar

sentimentos, além de inventar e pesquisar movimentos. A exigência

moderna foi de que o bailarino se desdobrasse: fosse capaz de ser

interprete, criador e executor do movimento e do gesto (SOUZA,

2009, p. 19).

A Dança Moderna é herdeira de um vasto legado intelectual do campo da

dança, do qual pode se destacar François Delsarte, Isadora Duncan, Ted Shawn, Saint-

Denis, Martha Granham, Loier Fuller, Charles Weidman, Doris Humphrey, José Limón,

Érick Hawkins, Merce Cunningham, Paul Taylor, Twyla Tharp, Lester Horton, Alvin

Ailey, Emile Jacques Dalcrose, Mary Wigman e Rudolf Von Laban. Dentre esses,

considerando nossa temática, destacamos Laban como estudioso central nesse escrito.

14

Ainda a despeito de Laban, Tibúrcio (2009) considera que suas ideias em

torno de uma defesa por uma não padronização dos corpos foram bastante

revolucionárias para a sua época, o que nos oferece subsídios para refletirmos sobre o

educar na Dança e para além dela. Dessa forma, o advento da dança moderna contribui

para a disseminação da ideia de que o movimento do ser humano se desenvolve com

mais consciência do corpo.

A técnica da Dança Moderna proporciona um vasto repertório de

conhecimento educacional para os corpos que vivenciam essa técnica, além de

direcionar a fomentação do domínio do movimento. É pertinente ressaltar que essa

técnica abre caminhos para que se desperte o conhecimento intelectual e criativo sobre o

corpo, proporcionando, em decorrência, um efeito benéfico do movimento. Para tanto, a

Dança Moderna, enquanto técnica, não prioriza o estudo isolado do movimento e sim o

conjunto do fluxo do movimento.

Destaca-se que a Dança Moderna envolveu em sua trajetória fortes

influências de Rudolf Von Laban, vanguardista de sua época, no tocante a uma nova

leitura sobre a dança até então existente. Laban nasceu em 1879, em Bratislava na

Hungria. Sua admiração pela dança aflora no contexto de suas viagens quando ainda

jovem apreciava a cultura dos lugares de onde passava. Sua proposta era pesquisar o

principal elemento da dança: o movimento. A dança, no contexto em que Laban

vivenciou, passou a ser prioridade nos seus estudos, já que na época existia certa

restrição com relação ao movimento do corpo, seja imposta pela sociedade mecanizada

ou até mesmo pela influência do Ballet Clássico. Conforme salienta Mota (2012):

Esse interesse permaneceu por toda a sua vida e propiciou o

desenvolvimento de um agudo senso de observação e análise que, por

sua vez, foi extremamente importante para o aprofundamento de seus

estudos sobre o movimento. O desenvolvimento desses estudos

produziu desdobramentos teóricos e práticos variados. Esses podiam

ser apresentados, sob formas simples e variadas: um livro, um artigo,

uma palestra, um workshop; ou ainda, sob formas muito mais

elaboradas, tais como a criação de um sistema de notação de

movimentos, conhecido como Kinetographie (Cinetografia) ou

Labanotation (Labanotação) (MOTA, 2012, p. 60).

Nesse sentido, foi importante a contribuição de Rudolf Von Laban no

tocante ao desenvolvimento da Dança Moderna, na medida em que ele foi apreciador do

15

movimento e tal interesse o levou a pesquisar profundamente sobre as possibilidades do

corpo que se move.

Nessa trajetória, Laban buscou nos conhecimentos da antiguidade grega, nos

conceitos geométricos e na música inspirações para seus estudos sobre aspectos da

dança.

Inspirando-se nos princípios de harmonia formulados pelos gregos na

antiguidade, Laban baseou-se nas ideias de Platão e de Pitágoras, nos

conceitos geográficos, na escala musical, para conseguir analisar,

definir e denominar o principal elemento da dança: o movimento

(GUIMARÃES, 2006, p. 44).

Laban deixou um legado tanto teórico quanto prático que envolveu os

estudos do movimento, trazendo para a área da Dança novos conceitos acerca das ações

do movimento. Sua contribuição se volta para o papel que a dança pode exercer na

melhoria da qualidade de vida das pessoas e das sociedades. Conforme assinalam Rengel

e Mommensohn (1992),

Laban preocupava-se com a necessidade de transmitir às pessoas seu

Método de Análise do Movimento porque acreditava que se o homem

procura entender a realidade através da sua atividade intelectual,

ignorando o movimento, em vez de se aproximar, de compreender o

real, ele, na verdade, se distancia do mundo físico e perde sua

verdadeira perspectiva da vida (RENGEL & MOMMENSOHN, 1992,

p. 102).

O vasto legado de estudos de Laban deixa pertinentes influências para o

desenvolvimento do campo da dança. Portanto, essa relevante contribuição de Laban

pode constituir-se em fundamento para o ensino do Ballet Clássico a partir de outra

perspectiva em que a busca da rigidez da técnica e do corpo codificado não seja a

centralidade da aprendizagem.

O papel do professor frente a metodologia do Ballet Clássico

No que diz respeito ao ensino das técnicas do Ballet Clássico, constata-se

que a utilização de outras referencias advindas da Dança, como a Dança Educativa

Moderna proposta por Laban, promove melhor aproveitamento da aprendizagem do

Ballet em crianças durante a primeira infância. Nesse sentido, o contato de crianças na

primeira infância com essa referência valoriza o processo de aprendizagem, do

16

desenvolvimento motor, bem como o desenvolvimento da capacidade criativa e artística

das crianças, independente delas se projetarem numa futura carreira artística da Dança.

Ossona (1988, p. 18) considera que “uma dança educativa, criativa e

recreativa deve ser o primeiro passo na educação de todo individuo, com maior razão na

formação de um artista e, mais ainda, se se trata de um artista da dança”.

Tenho constatado, durante a minha experiência de professora de Ballet

Clássico, que uma criança na fase da primeira infância apresenta melhor facilidade de

responder a estímulos de pessoas adultas. Isto porque considera-se que é na primeira

fase da infância que se desenvolvem as principais percepções corpóreas, bem como suas

aptidões. Neste caso, a dança passa a assumir papel essencial no que concerne ao

estímulo e a ampliação das respostas desejáveis do corpo e da mente nessa importante

fase da criança. Assim, o “o professor deve procurar a combinação feliz da mente e o

corpo em desenvolvimento, sem inibir a primeira nem desenvolver demais a segunda”

(LABAN, 1990, p. 28).

Os fundamentos da Dança Educativa Moderna contribuiu significativamente

com a possibilidade de, por meio do ensino da Dança, se vivenciar o movimento

valorizando todas as partes do corpo. Ou seja, o conhecimento da Dança Educativa

Moderna amplia as possibilidades de expansão e exploração do movimento,

integralizando o corpo no tempo e no espaço. Laban vivenciou a época em que

determinada técnica de Dança, hegemonicamente, possibilitava o desenvolvimento de

passos mecanicista ao mesmo tempo em que fomentava a projeção de dançarinos que

não valorizavam as expressões corporais.

Para Laban, a mecanização do movimento interfere qualitativamente no

aprendizado pessoal de cada sujeito, permitindo apenas o desenvolvimento de

movimentos limitados cada vez menos expressivos. Portanto, a Dança Educativa

Moderna se projeta com o propósito de integração do homem através da dança,

permitindo assim a harmonia com o próprio corpo.

A partir dessa compreensão, a apropriação dos conhecimentos da Dança

Educativa Moderna passou a ocupar um lugar de destaque na minha metodologia de

ensino do Ballet Clássico, na medida em que foi inserido nas minhas aulas novos

conceitos em relação à técnica tradicional antes abordada nas aulas de Ballet Clássico.

Nesse sentido, ao longo da minha experiência, foram introduzidos elementos dos

componentes estruturais dos movimentos, aplicando-se os princípios labanianos no

âmbito do ensino do Ballet Clássico. Buscamos assim, abordar os temas do movimento,

17

objetivando relacionar a consciência corporal, do peso, do tempo e do espaço, bem

como a consciência da fluência do movimento dos parceiros.

Os temas labanianos como recurso para o ensino do Ballet Clássico: a nossa

vivência

No que diz respeito a nossa vivência, os Temas do Movimento de Rudolf

Von Laban constituíram os conteúdos essenciais da coreologia desenvolvidos nas

nossas aulas de Ballet desde o ano de 2013. O objetivo das nossas aulas desde então

consiste em proporcionar as crianças uma vivência com uma nova proposta para o

corpo. Assim, viemos propondo em nossas aulas os seguintes temas:

a) Tema 1: Consciência do corpo;

b) Tema 2: Consciência do tempo;

c) Tema 3: Consciência do espaço;

d) Tema 4: Consciência da fluência do peso corporal no espaço e no tempo;

e) Tema 5: Consciência da adaptação com parceiros.

No Tema 1 - Consciência do corpo - as crianças vivenciaram ações

corporais próximas ao chão. As ações foram voltadas para o ato de rolar, engatinhar,

arrastar-se, sumir e aparecer. Considera-se, assim, que o relacionamento com a

consciência do corpo possibilita ao próprio corpo novas experiências de movimentos

que constituem diferentes relações em vários aspectos, sejam eles corpóreos,

intelectuais, emocionais e também físicos.

Já o Tema 2 - Consciência do tempo - busca promover a conscientização do

tempo súbito. Nesse tema realizamos dinâmicas em que as crianças se movimentavam

rapidamente ou lentamente, reproduzindo diversos tipos de movimentos.

O Tema 3 - Consciência do espaço - está relacionado a se desenvolver as

diversas possibilidades de uso do espaço. Para Laban, o foco deve ser o meio ambiente,

no que tange a dimensão espacial. A respeito desse tema realizamos dinâmicas em que

as crianças experimentavam ações das dimensões espaciais tais como: emergir, afundar,

alarga-se e estreitar-se, tanto deitadas no solo quanto em pé.

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Já o Tema 4 - Consciência da fluência do peso corporal no espaço e no

tempo - reafirma a identificação dos quatro fatores: do peso do tempo, do espaço e da

fluência.

Por meio desse tema abordamos dinâmicas em que as crianças, em duplas

ou em trios, movimentavam as partes do corpo tais como a cabeça, os ombros, a mão

esquerda, a mão direita, os joelhos, etc.

O Tema 5 - Consciência da adaptação com parceiros - possibilita a relação

das crianças com outras crianças, bem como a valorização da socialização. Para se

desenvolver esse tema foram utilizadas dinâmicas do espelho no qual se exploravam em

conjunto os movimentos desenvolvidos.

Dessa forma, apropriando-se das propostas de Laban, a criança na sua primeira

infância será desafiada a movimentar-se através de estímulos, de modo que passe a

vivenciar seus movimentos, aprimorando, assim, a sua capacidade de criar. Ou seja, “a

aprendizagem da dança desde suas primeiras etapas, tem como principal interesse

ensina-la a viver, mover-se e expressar-se no ambiente que rege sua vida, e nisso, o

mais importante é o seu próprio fluxo de movimento” (LABAN, 1990, p. 28). O autor

afirma ainda que “a dança alivia a sensação de mal estar provocada pela repressão dos

movimentos do corpo que ocorre quando se põem em ação articulações isoladas”

(LABAN, 1990, p. 25).

Por esse prisma, os profissionais deverão estar aptos a buscar novas

estratégias de ensino que favoreçam a ampliação das possibilidades expressivas do

corpo de maneira geral. As crianças deverão sentir o prazer de dançar e o professor

enriquecerá esses momentos para que futuramente as crianças se recordem da dança

associando a momentos ricos de experiências. A intenção do professor será expandir

movimentos mesmo se tratando de aula de Ballet Clássico. Essa metodologia

possibilitará que o professor recorra a uma prática corporal não habitual da técnica

clássica. Por esse caminho, o professor não determina os movimentos, ao contrário, cria

as condições para que sejam construídas as frases dançantes.

De igual modo, quando se opta por esse caminho, a criança passa a ser

protagonista do seu próprio movimento e a partir desta vivência ela mesma pode

abstrair as sensações de suas autorias que serão conduzidas pelo professor. O professor

nesse momento será apenas um intermediador do processo de construção e não o

reprodutor de movimentos já construídos.

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Nesse aspecto, trabalhar com o Ballet Clássico amparado por uma

concepção advinda da Pedagogia tradicional pode até ser mais fácil por seguir um

modelo que segue sequências predeterminadas, mas provavelmente será menos

desafiador se pensamos em uma proposta que compreende o ensino da dança como um

processo de criação e recriação de movimentos sem a necessidade de seguir uma única

técnica codificada.

Portanto, ao ensinarmos Dança para crianças em escolas da rede básica,

diferentemente das escolas especializadas em formação de bailarinos, a preocupação

não deve ser ensinar a Dança pela técnica em si, mas ensinar a Dança como um

processo criativo, de modo que contribua com a formação integral da criança, indo para

além da aprendizagem de códigos impostos pelo conteúdo das disciplinas, seja da

Dança ou de outras áreas. Nesse sentido, o papel do professor seria proporcionar

vivências que estimulassem as crianças a construir suas próprias trajetórias e criação no

ato de dançar.

Considerações conclusivas

O objetivo central desse artigo, não conclusivo, consistiu, a partir de um

estudo de análise qualitativa, abordar aspectos da coreologia, particularmente sobre

temas de movimentos desenvolvidos por Rudolf Von Laban. Objetivou-se ainda,

discutir a possibilidade de suas abordagens sobre a Dança serem aplicadas à

metodologia de ensino da Dança Clássica, em particular, o Ballet Clássico.

Buscou-se abordar, ao longo do texto, o advento da Dança Moderna, seus

pressupostos e como os estudos desenvolvidos por Rudolf Von Laban, expoente

significativo da Dança Moderna, podem contribuir para se pensar e formular estratégias

metodológicas para o ensino do Ballet Clássico, ao passo que se torne possível

questionar a metodologia tradicional de ensino presente em grande parte da prática

pedagógica daqueles que lecionam essa técnica. Buscou-se ainda, trazer à tona uma

discussão acerca do papel do professor frente a metodologia do Ballet Clássico.

Estabelecer conexão entre o ensino do Ballet Clássico e as proposições de

Laban por meio dos temas de movimento, no nosso caso, é uma tarefa desafiadora, ao

admitirmos que o Ballet apresenta uma técnica bastante codificada e o seu ensino ainda

é pautado em grande parte pelo aprendizado mecânico de passos repetitivos. Nesse

sentido, lançar mão desse desafio na metodologia de ensino do Ballet Clássico gera

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novas perspectivas para o desenvolvimento de uma nova metodologia dessa técnica

tradicional.

Consideramos importante o processo em que as aulas induzam à reflexão,

de modo que as crianças percebam que o Ballet Clássico não é a única referência da

dança e que elas têm potencial para construir movimentos a partir de sua própria

criatividade, sem, no entanto, precisar somente reproduzir passos apresentados pelo

professor. Tal perspectiva aponta para o horizonte de que é possível se adotar uma nova

postura em sala de aula, se contrapondo ao método hierárquico e experimentando uma

nova relação aluno- professor. O professor deve adotar uma imagem de orientador e

não de ditador.

Os conceitos sobre o movimento do corpo, formulados por Rudolf Von

Laban, abriram novas perspectivas para o ensino do Ballet Clássico, na medida em que

seus estudos, embora sejam voltados para a Dança Moderna, podem ampliar as

potencialidades de caminhos benéficos para os corpos que executam a técnica do Ballet

Clássico. Pois, como afirmou Jaime (2015, p. 197):

o sistema Laban produz uma investigação de novos sentidos,

reformulando e sistematizando o movimento. Essa reformulação traz

benefícios para um olhar dilatado em relação ao corpo de um

bailarino. A ativação e os caminhos para que os movimentos

aconteçam proporciona uma nova qualidade para quem observa e

executa determinado movimento. Essa sistematização promove uma

percepção maior em relação a técnica clássica (JAIME, 2015, p. 197).

Nesse aspecto, torna-se importante que os professores, em especial os de

Ballet Clássico, possam dialogar com novos conceitos aqui abordados para

possibilitarem aos corpos liberdade nas suas expressões através do movimento. Por fim,

espera-se que a perspectiva metodológica defendida nesse artigo, possa contribuir com

os profissionais do Ballet Clássico, de modo que estes abram possibilidades para

refletirem e reverem seus ensinamentos sobre o corpo nos dias atuais e principalmente a

se ter um olhar especial para as crianças.

Nesses termos, a proposta de Laban favoreceu o desenvolvimento de um

tipo de ensino menos mecanicista no âmbito do Ballet Clássico rompendo dessa forma

com a metodologia tradicional que o Ballet hegemonicamente vem promovendo.

Por ora, ao se concluir essa etapa de trabalho de graduação, pensamos que

seja pertinente apontarmos para novas possibilidades de estudos futuro, de modo que

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seja possível aprofundarmos a investigação com maior alcance no que diz respeito às

abordagens de Laban sobre a Dança serem aplicadas à metodologia de ensino do Ballet

Clássico.

REFERÊNCIAS

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mestre do movimento. São Paulo: Summus, 2006.

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LABAN, Rudolf. Dança Educativa Moderna. São Paulo: Ícone, 1990.

LABAN, Rudolf. Domínio do movimento. São Paulo: Summus, 1978.

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PORTINARI, Maribel. História da Dança. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1989.

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possibilidades para o ensino da Dança. Texto apresentado no Seminário de dança -3 do

27º Festival de Dança de Joinville, julho 2009.