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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA RAQUEL MEDEIROS DE BARROS A RELAÇÃO ENTRE CRECHE/FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL GARANHUNS 2015

UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO …ww2.uag.ufrpe.br/pedagogia/sites/ww2.uag.ufrpe.br.pedagogia/files/A... · (Rubens Alves) RESUMO ... direitos da criança e garantidos pelo

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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DE PERNAMBUCO

UNIDADE ACADÊMICA DE GARANHUNS

CURSO DE LICENCIATURA EM PEDAGOGIA

RAQUEL MEDEIROS DE BARROS

A RELAÇÃO ENTRE CRECHE/FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

GARANHUNS

2015

RAQUEL MEDEIROS DE BARROS

A RELAÇÃO ENTRE CRECHE/FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, Unidade Acadêmica de Garanhuns – UAG, como requisito parcial para obtenção do título de Licenciado em Pedagogia.

Orientadora: Profª Ms. Valéria Suely Simões Barza.

GARANHUNS

2015

Ficha Catalográfica Setor de Processos Técnicos da Biblioteca Setorial UFRPE/UAG

CDD: 372.21

1. Educação infantil – Aprendizagem 2. Família - Educação Infantil 3. Creche 4. Educação infantil – Ensino

I. Barza, Valéria Suely Simões II. Título

B277r Barros, Raquel Medeiros de A relação entre creche/família na educação infantil / Raquel Medeiros de Barros ._Garanhuns. 2015. 42f Orientadora: Valéria Suely Simões Barza Monografia (Curso Licenciatura em Pedagogia) - Universidade Federal Rural de Pernambuco – Unidade Acadêmica de Garanhuns, 2015. Inclui anexo e referências

RAQUEL MEDEIROS DE BARROS

A RELAÇÃO ENTRE CRECHE/FAMÍLIA NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Federal Rural de Pernambuco – UFRPE, Unidade Acadêmica de Garanhuns – UAG como requisito parcial para obtenção do título de Licenciado em Pedagogia.

Aprovado em ____/____/____

BANCA EXAMINADORA

___________________________________

Profª Ms. Valéria Suely Simões Barza - Orientadora

UAG – UFRPE

___________________________________

Profª. Ms. Margarete Maria da Silva

IFPE – Garanhuns

___________________________________

Profª Drª. Juliana Galindo de Oliveira Pontes

UAG – UFRPE

Dedico principalmente a Deus, por estar ao meu lado sempre, por ter me proporcionado sabedoria e força de vontade ao longo do curso. Agradeço a minha família por me incentivar a percorrer o caminho da educação, e a todos que acreditaram e sonharam junto comigo.

AGRADECIMENTOS

Quero agradecer primeiramente a Deus, por ter me dado a vida e por não me

deixar sozinha nunca.

Aos meus pais Irene e Rudy e meu esposo Rodrigo que caminharam ao meu

lado todo o tempo, torcendo por mim e acreditando sempre.

Aos meus familiares pelo apoio e colaboração ao longo de minha formação

acadêmica.

Meus amigos da UFRPE que estiveram comigo durante esses 4 anos,

caminhando ao meu lado nessa jornada, dividindo felicidades e angustias, em

especial a Fernanda, Alisson, Tamara e Thamires.

A minha orientadora Valéria Barza por ter compreendido minhas limitações,

compartilhado aflições e por ter trabalhado insistentemente para que eu pudesse dar

sempre o meu melhor.

A minha amiga e irmã Claudinéia Gomes, pelo acolhimento e colaboração,

sem os quais a realização deste trabalho não seria possível.

A todos os professores da UFRPE-UAG, pela paciência, dedicação,

companheirismo e incentivo e contribuição valorosa em minha formação.

As creches onde foram realizada a pesquisa, por ter aberto as portas para

mim sempre com muito carinho.

A todos que de alguma forma direta ou indiretamente me ajudaram na

concretização deste trabalho.

.

“Não acredites nos que sabem tudo. Os que muito sabem, sabem que têm muito a aprender. A educação é do tamanho da vida. Não há começo. Não há fim. Só travessia.”

(Rubens Alves)

RESUMO

Esta pesquisa teve como objetivo geral analisar a relação família/escola nas instituições de educação infantil, no nosso caso, a creche. Como objetivos específicos buscou-se: a) Identificar as estratégias de participação das famílias no desenvolvimento e aprendizagem da criança nas creches campo da pesquisa; b) Analisar como ocorre a relação família/escola em duas instituições de Educação Infantil no município de Garanhuns; c) Comparar as estratégias utilizadas pelas creches no estabelecimento de sua relação compartilhada entre a família/escola visando o desenvolvimento integral das crianças. Essa foi uma pesquisa do tipo etnográfico e os instrumentos principais utilizados na coleta de dados foram a observação e a entrevista. Com base nos dados pesquisados percebeu-se que as duas creches parecem assumir posturas diferentes em relação à participação das famílias nas reuniões e nos momentos em que é necessário que ajudem no processo de aprendizagem. É perceptível que a parceria entre família e escola prevista na constituição Federal de 1988, pode ser mais compreendida pelas posturas adotadas pelos atores da Creche B, muito mais do que na creche A. Observou-se a perspectiva do respeito mútuo e do diálogo seja nas falas das educadoras (coordenadora e professora), seja na posição dos pais entrevistados. É inegável a importância da relação entre família e escola por serem pontos de sustentação para a formação do ser humano, pois ambas se preocupam com o crescimento cognitivo, afetivo e social do sujeito, mas que desenvolvem ações distintas. Tanto a família quanto a escola contribuem para a formação da criança em sujeitos participativos, atuantes e conscientes. Palavras-chave: Creche. Família. Educação Infantil. Aprendizagem.

ABSTRACT

This research aimed to analyze the relation family/school in educational institutions, in our case, the nursery. The specific objectives sought to: a) Identify the strategies of families to participate in the development and learning of children in kindergartens field of research; b) analyze how does the family relationship/school in two childhood education institutions in the municipality of Garanhuns; c) Compare the strategies used by nursery schools in establishing their shared relationship between the family / school aimed at the integral development of children. This was a survey of ethnographic and the main instruments used to collect data were observation and interview. Based on surveyed data it was realized that the two nurseries seem to assume different positions in relation to equity of households in meetings and times when it is necessary to help in the learning process. It is noticeable that the partnership between family and school planned in the 1988 Federal Constitution, can be understood by the positions taken by the actors of the Nursery B, much more than in the nursery A. There was the prospect of mutual respect and dialogue is in lines of educators (coordinator and teacher), is in the position of parents interviewed. There is no denying the importance of the relationship between family and school to be support points for the formation of the human being, as both are concerned with cognitive, emotional and social growth of the subject, but carrying different actions. Both the family and the school contribute to the education of children in participatory subjects, active and conscious. Keywords: Day care. Family. Childhood Education. Learning.

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 10

1 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 13

1.1 O PAPEL DA CRECHE COMO GARANTIA DOS DIREITOS CRIANÇA E DA

FAMÍLIA .................................................................................................................... 13

1.2 A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO CRESCIMENTO DO SUJEITO ................. 15

1.3 A RELAÇÃO ENTRE FAMÍLIA E CRECHE NA CONSTRUÇÃO DA

APRENDIZAGEM ...................................................................................................... 17

2 METODOLOGIA ..................................................................................................... 20

3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS....................................... 22

3.1 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS REALIZADAS NAS DUAS INSTITUIÇÕES ....... 24

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 33

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 35

APÊNDICE A - Roteiro de Entrevista com os Coordenadores .................................. 40

APÊNDICE B - Roteiro de Entrevista com os Professores ....................................... 41

APÊNDICE C - Roteiro de Entrevista com os Pais ................................................... 42

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INTRODUÇÃO

Falar da creche ou da educação infantil é muito mais do que falar de uma

instituição, de suas qualidades e defeitos, da sua necessidade social ou da sua

importância educacional. É falar da criança, um ser humano pequenino, mas

exuberante de vida (DIDONET, 2001).

Segundo Philip Ariès (2006) a criança não era percebida como um ser

diferente do adulto, ou seja, a família e a sociedade não demonstravam cuidado com

a criança, que ocupava os mesmos espaços que os adultos e as mesmas

responsabilidades desde cedo.

Posteriormente, esse sentimento de negação à infância foi superado, pois

através da convivência com os adultos e outras crianças elas participavam das

tradições e aprendiam as normas e regras da sua cultura. A criança passa a ocupar

um lugar diferente do adulto quando somente a partir da institucionalização da

infância. Ou seja, entendemos a infância institucionalizada, a partir do processo de

modernização que passa a sociedade e, posteriormente, com a legitimação dos

direitos da criança e garantidos pelo poder público. Somente com a “invenção da

Infância” são pensados os espaços de socialização e aprendizagem das crianças.

As primeiras instituições de atendimento às crianças tiveram, inicialmente,

uma perspectiva assistencialista, onde o cuidar, a proteção e em momentos

seguintes a higiene das crianças eram o foco do atendimento. No Brasil, as

primeiras tentativas da criação de creches surgiram com um caráter de amparo, com

intenção de ajudar a cuidar das crianças pobres, cujas mães trabalhavam fora de

casa e as viúvas desamparadas. Cada instituição apresentava suas justificativas

para a implantação de creches, asilos e jardins de infância onde seus agentes

promoveram a constituição de associações assistenciais em parceria com

instituições religiosas ou de caráter filantrópico.

Com a influência da Psicologia e estudos sobre o desenvolvimento infantil, a

propagação de ideias pedagógicas na Europa (OLIVEIRA, 2001), abrem-se novas

perspectivas para o atendimento as crianças do zero aos cinco anos1.

1A Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, regulamentou que a partir de 2007 o Ensino Fundamental

brasileiro deve ter nove anos. A nova série foi acrescentada no início do Ensino Fundamental. Assim, as crianças, ao invés de entrar com 7 anos de idade, entram com 6.

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A assistência passou, no final do século XIX, a privilegiar políticas de

atendimento à infância em instituições educacionais. Neste caso, o Jardim de

Infância foi uma delas, assim como as creches e escolas maternais, mas o Jardim

de Infância era para crianças da classe média e as creches para atender aos

pobres. É importante ressaltar que foi atribuída aos Jardins de Infância uma

dimensão educacional e não assistencial, diferente das outras instituições

assistencialistas, o que configura uma nova perspectiva para o atendimento as

crianças de zero aos cinco anos.

A ideia desses jardins de infância gerou muitos debates entre os políticos

naquela época. Uns achavam que eram equivalente ás salas de asilo, outros

acreditavam que traria vantagens para o desenvolvimento infantil. Surgem, então, os

primeiros jardins de infância de iniciativa privada, que viriam para se opor as

instituições de creche. O atendimento nos jardins de infância, segundo Kuhlman Jr

(1998), buscava uma fatia mercadológica da classe média, reforçando a oposição

entre assistêncialismo e educação, enfatizando o desenvolvimento das crianças.

Somente, depois de alguns anos surgiram os jardins de infância públicos. Estes

tinham o intuito atender as crianças necessitadas, filhos de mães trabalhadoras, por

isso foram organizados nas proximidades das zonas industriais e favelas destituídas

de jardins e praças (YUSTE, 2007).

Do ponto de vista da Legislação, foi preciso quase um século para que a

criança tivesse garantido seu direito à educação. A partir da Carta Constitucional de

1988, o direito à educação foi efetivamente garantido: “O dever do Estado para com

a educação será efetivado mediante a garantia de oferta de creches e pré-escolas

às crianças de zero a seis anos de idade” (Art. 205, BRASIL, 1988). O referido artigo

salienta que a promoção da educação dessas crianças deverá ser promovida e

incentivada com a colaboração da sociedade.

Posteriormente, com a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - Lei n°

9.394/96, essa garantia é ampliada, elevando a educação infantil ao status de

educação básica.

As Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação Infantil (DCNEI-

PARECER CEB/CNE Nº 05/2009) apontam alguns aspectos que devem ser

considerados para que as instituições de ensino possam garantir que se cumpram

plenamente sua função sociopolítica e pedagógica, “assumindo a responsabilidade

12

de compartilhar e complementar a educação e cuidado das crianças com as

famílias” (BRASIL, 2010, p. 17).

O percurso histórico pelo qual passou as instituições de Educação Infantil,

bem como as mudanças que ocorreram no atendimento oferecido as crianças de

zero a cinco anos na atualidade, evidencia a relação entre a família e a escola que

nem sempre foi amigável. Já foi mencionado o caráter de favor do atendimento às

crianças, tornando a creche como “um mal necessário” (KUHLMAN, 1998)

Observando a que a relação entre família/escola/comunidade está prevista

nos documentos oficiais que regulam a educação infantil, reunindo atores que

compartilham e tem interesse pelo desenvolvimento das crianças parecem

relevantes estudos que tomam como objeto o envolvimento da família nas

instituições de Educação Infantil, mais especificamente, na creche. Sabe-se que a

família tem papel importante no desenvolvimento das crianças e, consequentemente

essa participação torna-se importante no trabalho cotidiano na educação infantil.

Partindo-se do referido Artigo da Constituição Federal de 1988, que prevê a

participação da família e da comunidade, como ação compartilhada com a escola

surgem os seguintes questionamentos: quais as estratégias utilizadas pelas

instituições que atendem as crianças pequenas? E como se processam tais relações

no cotidiano das mesmas?

Assim, esta pesquisa teve como objetivo geral analisar a relação

família/escola nas instituições de educação infantil, no nosso caso, a creche. E como

objetivos específicos, a) Identificar as estratégias de participação das famílias no

desenvolvimento e aprendizagem da criança nas creches campo da pesquisa; b)

Analisar como ocorre a relação família/escola em duas instituições de Educação

Infantil no município de Garanhuns; c) Comparar as estratégias utilizadas pelas

creches no estabelecimento de sua relação compartilhada entre a família/escola

visando o desenvolvimento integral das crianças.

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1 REFERENCIAL TEÓRICO

1.1 O PAPEL DA CRECHE COMO GARANTIA DOS DIREITOS CRIANÇA E DA

FAMÍLIA

A creche teve origem na Europa, seu objetivo era assistencial e as ações

eram destinadas ao abrigo e à proteção de crianças desfavorecidas. Inicialmente, as

creches não foram aceitas por muitas pessoas que acreditavam que a educação

infantil deveria ser de responsabilidade da mãe, mas devido às condições de vida da

mulher pobre que precisava trabalhar para ajudar no sustento da família

confirmaram a necessidade de criação das creches.

Para Tereciani (2008, p. 25) “na década de vinte, houve um movimento

popular na busca pela democratização do ensino, que passou do caráter elitista das

épocas colonial e imperial para um direito de todos”. Entretanto, nos Estados Unidos

e Europa a educação infantil ainda era marcada pelo caráter médico-higienista.

A primeira creche surgiu em 1844 na França, quando um pastor de ovelhas

começou a cuidar das crianças para as mulheres trabalhar. Mas apenas em 1854

foram criadas as creches mais estruturadas, sendo as primeiras em Portugal e Nova

Iorque, com os nomes de Creche São Vicente de Paulo e "Day Nurse",

respectivamente (MEIRA, 2004).

No Brasil, Yuste (2007) diz que a creche chegou no período do Império, mas

foi no período da República que foram criadas as primeiras creches. Em 1921

tinham 15 e em 1924 já eram 47, sendo distribuídas por várias capitais e cidades do

país. Em 1920, no Estado de São Paulo a legislação previa a instalação de Escolas

Maternais. Em 1922, ocorreu o 1º Congresso Brasileiro de Proteção à Infância, onde

foram estabelecidas as seguintes finalidades para as creches:

- Combater a pobreza e a mortalidade infantil; - Atender os filhos da trabalhadora, mas com uma prática que reforçava o lugar da mulher no lar e com os filhos; - Promover a ideologia da família (YUSTE, 2007, p. 25).

Nota-se com esse evento a preocupação de objetivos específicos para o

atendimento ás crianças, mas ainda sem o caráter educacional.

14

No ano de 1940, em Porto Alegre e Rio Grande do Sul, foram criados os

jardins de infância em parques públicos; em Teresina-Piauí, o primeiro jardim infantil

foi criado em 1933, com a finalidade de combater a pobreza e a mortalidade infantil;

atender os filhos das mulheres que trabalhavam e promover a ideologia de família

(YUSTE, 2007).

Nesta perspectiva, Meira (2004, p. 21) destaca que:

A creche foi concebida como instituição de assistência social, assumiu as funções de proteção, amparo e guarda de crianças, filhos de mães trabalhadoras, em regime semi-integral que, ao acolherem as crianças, afastando-as da rua e do trabalho servil, contribuíram para a diminuição da taxa de mortalidade infantil. Elas tinham o objetivo de beneficiar as populações mais carentes e a sociedade em geral.

Nota-se que essas funções atribuídas à creche tendem a ser articuladas com

a perspectiva educativa inserida no cotidiano das instituições. Percebe-se a

presença de transformações, tanto no que diz respeito às instalações físicas, quanto

ao atendimento às crianças com diferentes propostas pedagógicas e perspectivas

assistenciais ou educacionais.

A grande contribuição para essas mudanças veio com a Constituição de

1988, que ao introduzir princípios de descentralização e municipalização da gestão

de políticas sociais públicas. Com essa ação, reconhece o Município como instancia

administrativa e, no campo da educação prevê a possibilidade de organização dos

sistemas de ensino em colaboração com a União, Estados e o Distrito Federal.

Assim, aos municípios cabe administrar seus sistemas de ensino definindo normas e

metodologias educacionais específicas que respondam ás suas necessidades. Outro

ganho importante trouxe a LDB (Lei nº 9394/96) elevando a educação infantil a

status de educação básica. Desta forma as creches passam a assumir práticas de

educação e cuidados possibilitando a integração entre os aspectos físicos,

emocionais, afetivos, cognitivos/linguísticos e sociais da criança, entendendo que ela

é um ser completo, total e indivisível.

Atualmente, o desafio da educação infantil é articulação entre o cuidar e o

educar como ações indissociáveis, pois os avanços no âmbito da legislação

propiciaram a criança o direito a educação, sendo esta oferecida pelo poder público

como um direito às crianças e as famílias. Com o caráter educacional presente nas

15

instituições de educação infantil, nota-se a necessidade de práticas pedagógicas

que garantam os direitos das crianças ao brincar, ao desenvolvimento e a

aprendizagem.

Conforme o documento elaborado pelo Ministério da Educação e Cultura

(MEC) intitulado Parâmetros Nacionais de Qualidade para a Educação Infantil

(BRASIL, 2006), refere que é imprescindível reconhecer que as crianças desde que

nascem são: “a) Cidadãos de direitos; b) Indivíduos únicos, singulares; c) Seres

sociais e históricos; d) Seres competentes, produtores de cultura; e) Indivíduos

humanos, parte da natureza animal, vegetal e mineral” (BRASIL, 2006, p. 18). É

através da interação com crianças, adultos e objetos que a criança potencializa sua

aprendizagem, se apropria de conhecimentos acumulados pela humanidade e se

constitui como um sujeito singular e com identidade própria.

No entanto, para que o processo de ensino aprendizagem seja alcançado é

importante – segundo Ariès (2006), Bujes (2000), Ghiraldelli. (2000) a participação

da família, pois no contexto familiar a criança adquire conhecimentos que junto a

escola vão permitir o desenvolvimento biopsicossocial da criança. É sobre essa

relação que discutiremos no item a seguir.

1.2 A PARTICIPAÇÃO DA FAMÍLIA NO CRESCIMENTO DO SUJEITO

Segundo o dicionário Huaiss (2001) o termo família, se origina do latim, e

significa “servidores, escravos”, ou “escavo doméstico”, termo criado na Roma antiga

para designar um grupo social que surgiu após a inserção de novas formas de

produção a agricultura e à escravidão legalizada (CORRÊA, 2001).

No Brasil colonial, a família real foi tomada como modelo estrutural de família,

embora existisse outros arranjos familiares, ou mesmo destruição dos laços

familiares, como no caso dos escravos. Atualmente, convive-se socialmente com

diversos modelos e estruturas familiares. Percebe-se com isso, que o conceito e as

funções desta instituição se modificam com as diferentes organizações sociais,

políticas e econômicas, tal como variou o conceito de infância.

Contudo, a história mostra que nem sempre a família tratou a criança como

um ser em desenvolvimento, era vista como adulto em miniatura e não tinha suas

necessidades respeitadas.

16

Assim, a história das famílias e das crianças passaram por modificações. A

estrutura familiar sofreu também transformações para se adequar a realidade social.

Com a urbanização e modernização da sociedade, os pais tiveram que sair de casa

para trabalhar e os filhos começaram a ficar com outras pessoas, que não apenas

familiares encarregadas da educação deles.

A família passou a se responsabilizar pela educação das crianças com a

intencionalidade de perpetuação do capital social e cultural (ARIES, 2006),

destinando à escola2 educação das mesmas. Posteriormente, a com o sentimento

de infância, assume-se os laços familiares e os pais passam a se responsabilizar

pela educação de suas crianças.

Como é possível perceber, a educação das crianças ora fica sob a

responsabilidade de terceiros, escola, pessoas da comunidade, ora, a família

assume essa responsabilidade.

Para Ghiraldelli Jr (2000) é nessa relação entre a escola e a cidade que a

infância surge num contingente de várias forças culturais. Sendo que a escola para

o referido autor é o espaço de direito da criança, destinado a tornar “meninos de

verdade”3. Ou seja, é selado esse “acordo” histórico cultural vem sendo assumido

pela sociedade e pela escola ao longo do tempo.

Segundo Durkheim (1978) a educação é a ação praticada pelas gerações

adultas sobre as gerações que não se encontram ainda preparadas para a vida

social, com o objetivo de desenvolver, na criança, certo número de estados físicos,

intelectuais e morais, reclamados pela sociedade política, no seu conjunto, e pelo

meio especial que a criança particularmente se destine. A educação é também é o

processo responsável pela herança cultural de um povo, deste modo, um processo

de socialização.

De acordo com Meira (2004, p. 18), “a partir das condições de existência

familiar e da qualidade de relacionamento, a família tende a propiciar à criança

condições de vida em que a manutenção do vínculo afetivo é fator necessário para o

seu desenvolvimento integral”.

2 Utilizamos o termo escola como a instituição educativa responsável na sociedade, mas o foco desta

pesquisa é a creche e a relação com a família, mesmo que em alguns momentos apareça o termo escola. 3 No texto “As concepções de infância e as teorias educacionais modernas e contemporâneas” o

autor Ghiraldelli Jr. (2000) se utiliza do conto Pinóquio para explicar a relação entre a escola, a cidade e a construção do conceito de infância.

17

Para Silva (2011) a família desempenha papel importante no desenvolvimento

do sujeito. Desde o nascimento a criança aprende com os pais a lidar com as

situações, aprendem a interagir com os outros, adquirem autonomia, além de ser um

meio para garantir sua sobrevivência. Na família a criança tem suas necessidades

básicas atendidas, as primeiras aprendizagens acontecem.

É na família que se formam os valores, ideais e comportamentos. Alguns pais

não se dão conta que suas ações influenciam positiva ou negativamente na

formação do filho. Na convivência familiar as crianças se identificam como parte de

um sistema organizado, com elementos que interagem entre si, onde influenciam e

são influenciados, isso contribui para a reflexão sobre os contextos familiar e

escolar, pois podem ser elementos de moderação, inclusão e segurança. Segundo

Silva (2011, p. 28):

O ser humano se constitui enquanto tal na sua relação com o outro e com os diversos contextos. A criança, pouco a pouco, assume alguns papeis, estabelece interações e participa de condutas mais complexas, incorporando os elementos próprios de sua cultura. Assim, o desenvolvimento pessoal é inseparável da socialização.

Uma das funções da família é a promoção das primeiras interações e da

aprendizagem de papeis sociais, pois a família é a instituição responsável pelo

processo de socialização primária.

Com o crescimento a criança começa a ser inserida em outros contextos para

adquirir novos conhecimentos que vão ajudar no seu crescimento biológico,

psicológico e social. É quando a família solicita à escola essa tarefa, a de ser a

segunda instancia de socialização das crianças. É sobre essa relação e parcerias

que discutiremos no item a seguir.

1.3 A RELAÇÃO ENTRE FAMÍLIA E CRECHE NA CONSTRUÇÃO DA

APRENDIZAGEM

O papel da escola, assim como o da família é auxiliar no desenvolvimento e

formação da identidade da criança. Apesar de terem objetivos comuns, é preciso

identificar como espaços diferentes. Ou seja, a escola e a família constituem

espaços distintos e com papeis diferentes.

18

A escola e a creche representam o saber, a cultura e às vezes se confunde

com a própria educação. Na opinião de autores como Maranhão e Sarti (2008):

Compartilhar cuidados implica o encontro de famílias e profissionais que podem ter perspectivas diferentes sobre desenvolvimento e necessidades infantis, o que demanda uma constante negociação entre as partes.

Para tanto, é preciso tomar como foco desses cuidados e atenções, a própria

criança, uma vez que a escola é o lugar que possibilita novos conhecimentos, uma

vivência social diferente daquele grupo familiar, e que proporciona um contato com o

conhecimento sistematizado e com um mundo de interações com outras crianças.

As vivencias e ensinamentos familiares acompanham as crianças na escola,

devendo ser respeitado os contextos em que as crianças estão se desenvolvendo.

Na escola de educação infantil a criança passa a construir novas experiências e dá

continuidade ao processo de socialização que se iniciou com a família.

Lidar com famílias hoje, no espaço escolar, exige novos posicionamentos

devido as diferentes estruturas familiares existentes. Battaglia (2002, p. 7) estas

complexas reformulações familiares encontram-se sem modelo preestabelecido.

Já Szymanski (apud ORSOLON, 2010) aponta três modelos que podem ser

identificados nas relação escola-família. O primeiro modelo chamado racional, se

caracteriza pela relação de hierarquia entre pais e filhos, pautada na importância da

disciplina, à ordem, educando os filhos mais para o conformismo do que para

autonomia. O modelo humanista tem como característica da postura dos pais como

guias, ou seja, delegam para os filhos o poder de decisão, reconhecendo e

valorizando suas potencialidades, contribuindo para a autonomia e

autodeterminação dos filhos. Por fim, o terceiro modelo simbiossinérgico, que prevê

uma associação durável e proveitosa entre dois ou mais seres. Nesse modelo há o

respeito dos deveres e direitos de pais e filhos, eles trocam entre si as experiências,

emoções e sentimentos.

Segundo Orsolon (2010) esses modelos são repetidos nas relações da escola

com os pais. Assim, na perspectiva racional, as escolas agem de modo a impor

decisões e conhecimentos, entrando em choque com famílias que adotam outra

tendência. No modelo humanista há uma coerência entre escola e família acatando-

19

se decisões, sentimentos e emoções e, no simbiossinérgico há um respeito da

interdependência entre família e escola na cogestão.

Independente dos modelos existentes, o fato é que o papel da escola tomou

outro rumo e, atualmente a participação dos pais é essencial. Contudo, nem sempre

é visível uma relação simbiossinégica entre pais e escola. Essa relação acontece

sob diferentes modos, uma vez que segundo Orsolon (2010) o comportamento das

famílias segue questões ideológicas da classe social a que pertencem.

O que se observa é que as escolas se esforçam muito para trazer a família a

participar da vida escolar do aluno e, poucas tentativas de pais no envolvimento com

os problemas enfrentados pelas escolas.

As novas perspectivas da gestão democrática preveem a participação da

comunidade de pais na gestão da escola, a partir dos Conselhos Escolares e

Associação de Pais e Mestres, nas instituições públicas. Contudo, nas instituições

privadas, essa participação fica restrita à iniciativa do projeto de cada escola, uma

vez que a participação dos pais está implícita no pagamento dos serviços

educacionais ofertados pela instituição. No entanto, mesmo estando prevista na

legislação ou no projeto político pedagógico de cada instituição, parece que a

relação entre famílias e creches possuem especificidades (ORSOLON, 2010).

A seguir serão detalhados o percurso metodológico utilizado para identificar a

relação entre família/creche, foco desta pesquisa.

20

2 METODOLOGIA

Esta é uma pesquisa do tipo etnográfico, por ser aquela que melhor possibilita

o estudo e análise dos objetivos a que nos propomos.

De acordo com André (1995) a preocupação da etnografia é o significado das

ações dos grupos que são estudados, uma vez que tenta descrever as práticas

culturais. Além dos dados da pesquisa, na etnografia, leva-se em consideração a

visão pessoal dos participantes da pesquisa. Ou seja, considera-se também a

observação e as respostas subjetivas dos pesquisados, eles não são apenas

quantificados.

Sabendo que esta pesquisa teve por objetivo analisar a relação família/escola

nas instituições de educação infantil que atendem crianças dos três aos quatro anos,

os instrumentos principais utilizados na coleta de dados foram: a observação e a

entrevista.

Foram utilizadas como campo de estudo, duas creches da rede municipal

de Garanhuns-PE, procurando identificar as estratégias de participação das famílias

no desenvolvimento e aprendizagem das crianças. Procuramos ainda, comparar as

estratégias utilizadas pelas creches no estabelecimento, e sua relação

compartilhada entre a família/escola.

Os sujeitos participantes desta pesquisa foram: dois professores, dois

coordenadores e seis pais de crianças atendidas nas duas instituições campo de

pesquisa

Na creche A estão matriculadas 84 crianças, distribuídas em quatro turmas,

com oito professoras e oito apoios. E na creche B, segundo a coordenadora estão

matriculados atualmente 135 (cento e trinta e cinco) crianças, na faixa etária de

meses a 05 (cinco) anos. Tem 07 (sete) turmas e 27 (vinte e sete) professoras

estagiárias e uma professora efetiva, sendo das 27, 13 professoras regentes e 14

professoras de apoio.

Inicialmente, foram realizadas visitas as duas creches para analisar a relação

da família no espaço escolar, observando uma reunião de pais.

Em outro momento, retornamos a creche para observar como acontecia da a

entrada e saída das crianças nas creches ou como as instituições aproveitam tais

espaços para interagir com os pais ou familiares. Após as observações foram

realizadas entrevistas com as coordenadoras (Creche A: Rebeca, Creche B:

21

Adriana4), as professoras (Creche A: Maria, Creche B: Patrícia5) e os pais das

crianças. É importante salientar que a escolha dos pais entrevistados ocorreu devido

a disponibilidade e vontade destes em participar dessa pesquisa, pois alguns se

recusaram, explicando que estavam sem tempo.

A entrada e saída das crianças nas duas creches se deu de maneira bastante

tranquila, a maioria acompanhada dos pais ou por algum responsável ou um irmão

mais velho. Na creche A as crianças vão sozinhas para sala de aula e na saída os

pais ou responsáveis vão pegar na sala. Na creche B os pais vão levar e buscar na

sala, onde a professora já estava aguardando para começar a aula. Com isso,

perde-se uma grande oportunidade do contato com os pais em relação em como as

crianças estão ou passaram a noite e, até mesmo sobre alguma novidade delas na

instituição já que no próximo capítulo serão apresentadas as discussões e analise

dos dados coletados nas duas creches observadas.

4 Nomes fictícios.

5 Nomes fictícios.

22

3 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

Nas duas creches observadas os profissionais foram muito prestativos

durante toda a coleta.

Como já foi dito anteriormente, percebe-se que na creche A as crianças são

deixadas pelos pais ou responsáveis no portão e de lá eles sozinhos seguem para

sala de aula na saída os pais pegam cada filho diretamente na sala.

Na creche B, foi observado que os pais costumavam deixar seus filhos dentro

da sala de aula e a saída das crianças os pais seguem até a sala para pegá-las.

Esse contato parece importante por ser um meio que a professora pode identificar

possíveis demandas das crianças.

Para observar a reunião de pais e mestres da Creche A procuramos

antecipadamente a data marcada e, comparecemos na data prevista. Na realidade,

a reunião de pais e mestres da Creche constituiu-se num plantão pedagógico

diretamente na sala de cada criança permitindo aos pais conversar individualmente

com as docentes sobre as questões do seu filho, em relação ao comportamento e o

desempenho deles.

Em entrevista com a coordenadora da creche A, questionamos sobre os

pontos mais abordados durante o plantão:

A construção da linha da aprendizagem em todos os sentidos das crianças.

Nota-se que tanto para os pais como para a escola, ainda se faz presente a

preocupação apenas com as aprendizagens das crianças e seus comportamentos e

não com o desenvolvimento ou habilidades desenvolvidas ao longo do cotidiano

escolar. Deste modo, verifica-se um retorno às questões valorativas de hábitos e

valores éticos com os quais a escola era a responsável, buscando formar “homens

de bem”.

Os plantões de pais e mestres na creche B aparentemente tinham uma

proposta diferente. Observamos que parece que há uma tentativa de interação maior

entre a creche B e os pais, uma vez que a reunião, acontecia em dois momentos,

um coletivo e outro individual, permitindo uma conversa sobre as particularidades

das crianças em sala de aula com os seus respectivos professores. Com isso, abre-

23

se a perspectiva de que convidar os pais até a escola não significa apenas fazer

queixas, ou prestar contas de aprendizagens. É possível que haver uma relação de

troca cujas maiores beneficiadas são a família e a creche, quando a criança é o elo

de ligação entre essas duas instituições.

Analisando as duas propostas de reunião, percebe-se que a perspectiva

adotada na Creche A assume uma postura prescritiva, ou seja, uma postura

controladora determinando deveres e responsabilidades, sem na verdade, promover

a interação entre escola e família tal como o modelo racional proposto por Corrêa

(2001). Já a proposta de reunião da Creche B, verifica-se uma maior abertura de

interagir com a família ainda que o momento do atendimento individual seja

garantido.

O fato das famílias adotarem tais posturas, parece se refletir no ensino, pois

essa relação não favorece a aprendizagem nem a troca de experiências.

Observando a relação entre os funcionários da creche e os pais, tomando

como base o horário de entrada da creche A. Verificou-se que os pais podiam deixar

seus filhos diretamente na sala. Alguns, porém, deixavam no portão e iam embora.

Tais atitudes podem ter várias justificativas, como por exemplo, em decorrência da

falta de tempo dos pais dedicados aos filhos ou ao trabalho que dificulta a presença

constante na creche. Contudo, observa-se que a própria organização institucional

poderia promover ou acolher os pais de forma mais criativa. Normalmente, tanto a

instituição quanto os pais evitam tomada de iniciativas de estreitamento dos laços e,

quem perde com esse tipo de relação é a própria criança.

Sobre isso, identificou-se que nenhuma das creches adotava-se algum tipo de

instrumento de comunicação com os pais, como por exemplo, agenda ou fichas,

restringindo o contato entre a creche e a família apenas nos momentos de reunião.

Parece importante que os profissionais envolvidos com as crianças entendam que

quanto mais próximos da realidade das instituições de educação infantil, mas

seguros os pais estarão em deixarem suas crianças.

Assim, identifica-se que o estabelecimento de uma interação e uma relação

mais amigável entre creche e família e, vice-versa, constitui ainda um longo caminho

de aproveitamento de oportunidades de ambas.

24

3.1 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS REALIZADAS NAS DUAS INSTITUIÇÕES

Como já foi dito, realizamos entrevistas com alguns profissionais das duas

instituições pesquisadas com o intuito de investigar as concepções e opiniões sobre

a relação família/creche.

Primeiramente, entrevistamos as coordenadoras. Ambas são formadas em

Pedagogia, com especialização e Psicopedagogia, atuando em instituições de

educação infantil no município de Garanhuns-PE.

De acordo com Santos (2014, p. 3-4):

O coordenador pedagógico atua no âmbito da intervenção, onde o principal agente transmissor de conhecimento é o professor, sendo o profissional que atuando democraticamente, leve o professor à reflexão da sua prática, gerando assim, questões para o debate constante a que podemos chamar de formação continuada docente.

Assim sendo, quando questionadas sobre o papel da coordenação junto aos

professores e pais, vejamos o que pensam as profissionais:

Coordenação de toda a parte pedagógica junto aos professores e prol da aprendizagem dos alunos. (Rebeca) O coordenador pedagógico tem o papel de integrar àqueles que participam do processo educacional, manter as relações interpessoais favoráveis e agradáveis para que o ambiente escolar seja prazeroso, promover e estimular a formação continuada dos docentes e buscar maneiras de ajuda-los a desenvolver competências para sanar e/ou dirimir as dificuldades de aprendizagem. (Adriana)

Nota-se que há uma compreensão de ambas sobre o seu papel na instituição.

Contudo, Adriana não restringe o seu papel tomando como foco as aprendizagens

das crianças ou a “obrigação” do professor em ensinar. Ela tem a percepção de que

é também papel da instituição educacional promover ambientes agradáveis para que

os momentos que todos passem sejam prazerosos, tanto crianças quanto os adultos

presentes. Deste modo, comparando as duas profissionais constatam-se

concepções sobre a gestão administrativa distintas e, isso é perfeitamente sentido

pelos modos de acolher pais, alunos e professor e explicitado nas falas das

coordenadoras.

25

No que diz respeito à relação entre os pais e familiares e a creche as

coordenadoras também revelam concepções distintas vejamos o que relatam:

São os grandes parceiros na construção da aprendizagem. (Rebeca) A família é de fundamental importância não só na creche, mas em qualquer outro ambiente escolar onde seus filhos estejam inseridos. É através da presença da família que se fortalece a relação família/escola, pois juntas formam uma equipe, que precisa trabalhar em conjunto para favorecer o desenvolvimento da criança. (Adriana)

Percebe-se claramente que a preocupação fundamental de Rebeca é o êxito

e o sucesso da aprendizagem das crianças, enquanto que Adriana tem uma

percepção mais ampliada de que a função da instituição de educação infantil não é

apenas o ensino, mas sobretudo, acolhimento de pais e mães para que se sintam

seguros em deixar suas crianças para serem cuidadas e educadas.

Segundo Assis (2009) durante um bom tempo as instituições infantis

priorizaram apenas ações com vistas a promover o ensino. Nesse contexto a

instituição de educação infantil era vista como preparatória do ensino fundamental.

Deste modo, ainda nos dias atuais essas concepções educacionais estão presentes

no cotidiano das crianças, ainda que existam documentos oficiais que enfatizem a

finalidade da educação infantil como local de vivencias e interações entre crianças e

adultos.

As coordenadoras foram questionadas em relação ao papel das reuniões com

os pais, propostas pela instituição, realizadas ao longo do ano. Vejamos o que elas

destacam:

É muito positivo a cada plantão aumenta o número de pais na participação. (Rebeca) Apesar de não termos sempre uma frequência satisfatória, mesmo por que boa parte dos pais trabalha, é através destas reuniões que estreitamos os laços com as famílias e mostramos a importância dessa relação para o desenvolvimento da criança (Adriana)

Nota-se que a preocupação de Rebeca refere-se ao número relevante de pais

que participaram das reuniões e plantões pedagógicos. Já Adriana compreende o

desafio que é a relação família/creche e, que cabe à instituição estreitar os laços

26

tomando como objetivo central o desenvolvimento das crianças e o seu bem-estar.

Para Santos (2014, p. 7):

A escola sozinha não é capaz de solucionar os problemas sociais, ela contribui sim no processo de mudanças significativas para melhorias em nossa própria história, mas para que isso ocorra é importante esclarecer o papel da escola, dos pais e da comunidade.

A partir das “vozes” das coordenadoras é mais fácil identificar que uma

instituição promove as reuniões com os pais visando o cumprimento de uma

obrigação, pois a preocupação é mais com o aumento da frequência dos pais.

Enquanto que a outra coordenadora compreende que sem a participação e interação

entre família o trabalho pedagógico torna-se mais difícil. Veríssimo e Fonseca (2003,

p. 33) “a creche assume, em parceria com a família, a formação da criança, a

transformação do ser natural em um ser social, um cidadão”.

Também ficamos interessadas em conhecer se a instituição trabalhava com

projeto ou, conhecer um pouco mais sobre em o projeto político pedagógico e a

participação dos pais. Rebeca limitou-se a responder:

Sim, vários projetos... Não participam da construção, mas colhem os frutos dos projetos construídos pela a equipe escolar.

Percebe-se que as respostas restritas parecem evidenciar as limitações da

própria atuação e na execução de projetos escolares. A professora coloca a escola

como o lugar de produção de conhecimento, de modo estanque e impessoal, no

qual pais e crianças “vão colher os frutos”.

Adriana revelou que a instituição trabalha com diferentes projetos e que os

pais participam na construção dos projetos realizados pela escola, sendo

incentivados para tanto. Vejamos:

Alguns pais são participativos e contribuem na construção e realização dos projetos. Porém ainda encontramos dificuldade em trazê-los à escola, mas sempre procuramos incentivar e mostrar para eles quão é importante à presença dele, na escola, para o desenvolvimento de seus filhos.

As concepções são distintas entre as educadoras entrevistadas. Ainda é

perceptível posturas muito rígidas por parte de educadores, onde o compartilhar

27

ações constitui uma ameaça a sua competência. Infelizmente, isso ainda constitui

realidade nas escolas de educação infantil nos dias atuais. Permitir a inter-relação

entre a família e a escola não pode ser vista como um jogo de forças, para ver quem

ganha. Constitui uma estratégia inteligente compartilhada por atores que identificam

a criança como um elo entre instituições diferentes, mas que possuem os mesmos

objetivos, o desenvolvimento e aprendizagem das crianças.

Quando questionamos a coordenação sobre as consequências da ausência

da família na escola, em relação à aprendizagem das crianças. Rebeca diz:

Não podemos afirmar que sim, pois não é uma regra para todos, mas que a ausência é algo prejudicial na formação da criança.

Já Adriana, responde, ressaltando a importância das reuniões com os pais e

da necessidade de envolvimento da escola para que isso aconteça. Vejamos:

As reuniões são importantes para que haja uma maior relação entre pais e escola, que pode gerar alguma transformação no ambiente de casa em primeira instância, pois a família é a primeira referência que a criança toma como base para tomar suas condutas e refletir suas vivências para o ambiente escolar. Por exemplo: se em casa a criança convive num meio familiar em que a mãe e o pai bebe, utiliza palavras pejorativas, de fato a criança refletirá no ambiente escolar. A família é a primeira instituição que deve educar seus filhos para viver em sociedade. Portanto, deve haver sempre um diálogo entre escola e família, e por conseguinte, a aprendizagem da criança venha a se desenvolver da melhor forma.

É interessante notar que a compreensão mais ampla do papel das famílias no

desenvolvimento escolar não se traduz apenas no acompanhamento e no controle

das atividades propostas. Abrem-se perspectivas sobre a contribuição social da

escola na vida das crianças e de suas famílias. Afinal de contas, a instituição de

educação infantil é espaço de cuidado e educação e vice-versa. Veríssimo e

Fonseca (2003, p. 33) “a inserção da criança pequena em qualquer instituição torna

essa instituição co-responsável por sua socialização, educação e cuidados”.

Por fim, foi perguntado como as coordenadoras articulam junto à comunidade

escolar a participação dos pais/responsáveis na escola,

28

Através do contato diário com as famílias, mostrando o quanto é importante o trabalho que é realizado com as crianças, na creche, para o desenvolvimento das mesmas e que esse trabalho deve acontecer em parceria com a família para que se obtenha sucesso, incentivando-os à participarem mais da vida escolar de seus filhos.(Rebeca) É algo difícil e que a motivação deve ser constante para que os pais sempre que possível possam participar, dessa forma sempre mudamos a forma de atrair e abordar esses pais. (Adriana)

De fato, a dificuldade é grande em estimular a participação das famílias na

parceria com a escola. No entanto, é preciso que tanto a família quanto a escola

tinham consciência de que suas tarefas são diferentes, mas que possuem os

mesmos objetivos. Neste sentido, tem que se pensar em estratégias dialógicas de

convivência, para que todos saiam ganhando e, principalmente às crianças.

Conforme Araújo, Gama e Silva (2013, p. 10):

A “união” entre instituição educacional e a família pode promover, para ambas, aprendizagens mais amplas e de maior profundidade, uma vez que tais instâncias têm por objetivo buscar valores e expectativas, no que diz respeito ao processo de educação da criança.

Sabemos que a coordenação compreende o grupo de gestão, que participa

da administração da instituição. No entanto, procurou-se conhecer também a opinião

das professoras Maria (creches A) e Patrícia (creche B) em relação à importância da

participação dos pais nas reuniões promovidas pela instituição. Para as professoras

essa participação tem um significado:

Participação da família na escola significa não só estar presente na hora que o aluno apresentar alguma desavença, mas sim estar acompanhando e participando das decisões escolares seja elas sobre seu filho ou sobre as ações da escola. (Maria) A participação da família é de grande importância, pois esta quando participa, reconhece que a educação de seus filhos não está pautada apenas à escola. Além da escola, existe toda uma conjuntura familiar que influencia na aprendizagem dos filhos. (Patrícia)

Percebe-se que prevalece na fala de Maria a ideia de prestação de serviço,

quando ela menciona a possibilidade de “desavença” entre o que se ensina e o que

se aprende. Assim, fica explícito também na percepção da professora que a

29

finalidade das reuniões com os pais, promovidas pela escola, constitui uma

prestação de serviço, uma obrigação. Enquanto Patrícia reconhece a importância de

uma relação de parceria entre a escola e a família.

Perguntando sobre a dificuldade encontrada pela escola na participação da

família nas reuniões ou no dia a dia das crianças, a professora confirma a

dificuldade mencionada anteriormente, por Rebeca para a participação da família.

Vejamos:

É difícil, pois eles na maioria das vezes não estão presentes. Tento fazer com que eles participem da rotina escolar. Mas mesmo com o esforço eles se mantêm distantes e só se aproximam com queixas.

É interessante perceber que os pais agem com a escola da mesma forma

com que a escolas se relacionam com eles. Araújo, Gama e Silva (2013, p. 11)

destacam:

Não apenas os pais se beneficiam com essa parceria pais-creche/escola, mas também a instituição de ensino, uma vez que, em decorrência dessa interação, os conflitos entre pais e instituições diminuem, fazendo com que se torne melhor o ambiente em que seus filhos se inserem.

Acima foi descrito que nenhuma das duas instituições utiliza mecanismos de

interação no cotidiano. Deixando sempre para as reuniões ou os encontros

pedagógicos esse estreitamento na relação. Contudo, Maria menciona que tenta

fazer com que os pais participem da rotina. E também se queixa porque a distância

só é encurtada quando os pais têm algumas queixas. Nota-se, também um

desconhecimento dos papeis assumidos tanto pela professora acima, quanto os

pais. Claro que a interação entre pais e escola não deve ser de queixa. Mas cabe à

instituição abrir as portas para apresentar quais são suas ações, propostas de

atividades com as crianças. Queiramos ou não, a relação entre pais e instituição

será marcada por conflitos de interesses, é preciso que uma das partes encontre um

caminho menos rígido.

Patrícia identifica outro caminho para a relação entre família e creche,

avaliando a participação da família, da seguinte forma:

30

Através de reuniões na escola, onde a professora vê realmente o interesse e quem realmente comparece à escola. Há um diálogo entre professoras (apoio e regente) levantando considerações importantes a respeito do aprendizado, comportamento, alimentação, cuidados referentes à criança, o principal foco é a criança. Porém há pais que “jogam” a criança na creche, tratam as professoras como “babás”, pois ainda há uma concepção assistencialista por parte dos pais. Há também reuniões e visitas domiciliares com a psicóloga e coordenadora que possa vir a atrair uma maior aproximação dos pais com a escola.

De certa forma, a professora acredita que é parte da instituição escolar o

desafio de promover uma relação saudável entre família e creche. São inúmeros os

fatores que a escola busca para promover essa relação, contudo, a escola não

mede esforços para superação desse desafio, o que mostra que todos os

profissionais compreendem o papel da escola nessa tarefa e, isso também vai

repercutir nas posturas dos pais perante essa relação. Segundo Oliveira (2010, p.

13):

Não se pode ver a escola sem a família, e vice-versa, pois elas se complementam. É baseado nesta parceria que se procuram alcançar os objetivos de desenvolver e construir, de maneira harmoniosa e satisfatória, a aprendizagem do aluno/filho contribuindo, assim, para que haja uma formação integral da criança.

Foram entrevistadas três mães de alunos que frequentam a Creche A e um

pai e duas mães de alunos da Creche B. As questões formuladas tratavam

primeiramente da relação da família com a Creche e, em seguida, foi explorado o

dever deles com os filhos e a participação nas reuniões.

As mães da creche A, identificam a sua relação com a Creche, como “boa”, e

uma delas ainda ressalta: “boa, sempre participo”

Sabe-se que cada um dos atores identifica como satisfatória a sua relação

com a creche, contudo, em relação ao que elas acham que a escola espera dessa

participação, vejamos o que as mães dizem:

Mãe 1 - Que eu participe mais das coisas. Mãe 2 - Que eu participe de todas as atividades, esteja presente nas reuniões, faça meu papel de mãe, pois não é apenas a escola que ensina, mas se educa em casa. Mãe 3 - Que eu seja uma boa mãe, uma mãe presente, que me dedique na educação dele. (Creche A) Pai 1 - Regular.

31

Mãe 2 - Uma boa relação, frequento as reuniões, sempre procuro saber como ele está na escola, sempre me atualizo. Mãe 3 - Sempre que eu posso estou lá, eu cobro, procuro melhoras, se tiver alguma coisa errada vou atrás, estou sempre perto. (Creche B)

A partir dos relatos percebe-se que a relação entre os pais e a escola existe,

entretanto, ainda falta uma presença mais constante de alguns na escola. Quando

perguntados o que acham que a escola espera deles, disseram:

Pai 1 - Presença. Mãe 2 - Espera um comprometimento com meu filho fora da escola, e que eu esteja sempre aberta a proposta escolar do meu filho, que eu seja uma mãe participante. Mãe 3 - Eu acredito que ela espere que eu participe sempre da vida escolar meus filhos. (Creche B)

Deste modo, para as famílias há o reconhecimento da falta de participação na

vida escolar das crianças. Tal participação não acontecerá sem investimento ou

melhor organização das instituições. É importante ressaltar a fala da mãe 3 da

creche B que se disponibiliza e cobra da escola, sempre que pode estar perto. Isso

revela que apesar da relação ser conflituosa, não há receio da cobrança ou

participação dos pais no cotidiano da escola. Ao contrário, quanto mais se divide as

responsabilidades as tarefas são mais exitosas. De acordo com Oliveira (2010, p.

14):

Muitas famílias não possuem condições satisfatórias para acompanhar a vida escolar do aluno/filho, a escola não pode dar as costas para este problema. A escola precisa sim encontrar maneiras para oportunizar estas famílias para que sejam presentes no processo de aprendizagem da criança.

Quando o objetivo da escola está centrado no desempenho escolar ou na

aprendizagem, é exatamente isso que os pais vão cobrar da escola. Perguntou ao

grupo de mães entrevistadas da creche A, o que elas esperam da escola. Vejamos o

que respondem as mães:

Mãe 1 - Que puxe mais pela criança, quanto ao ensino, quero ver meu filho sair aprendendo tudo. Mãe 2 - Que ela cumpra com o papel dela.

32

Mãe 3 - Que ela desenvolva ele nos estudos, a educação vem de casa né. (Creche A)

Em relação aos pais creche B, quando perguntados sobre o que esperam da

escola, eles responderam:

Pai 1 - Uma boa educação. Mãe 2 - Espero que a escola se comprometa com a educação do meu filho, que ele se torne uma pessoa boa quando crescer. Mãe 3 - Espero que a escola sempre forneça uma boa educação. (Creche B)

Deste modo, fica evidente que os pais tem percepções diferentes em relação

ao papel das instituições que atendem seus filhos. Na creche A, é preciso cobrar o

ensino e aprendizagem, “meu filho tem que sair aprendendo tudo”. Enquanto que na

creche B, é mais importante o comprometimento com a educação do filho é claro

que é papel das instituições a promoção de aprendizagens e o comprometimento

com a educação e desenvolvimento das crianças. No entanto, a forma pela qual

tudo isso acontece deve contemplar as expectativas de todos os atores, sabendo

que a creche constitui espaço de cuidado e educação tanto das crianças, como dos

pais.

33

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Atualmente a sociedade exige da escola o desenvolvimento de práticas de

ensino que possam facilitar a formação do sujeito, tornando-se apto para atender as

exigências sociais e as novas abordagens metodológicas que contemplam o

atendimento as crianças na educação infantil.

Nesse processo a participação da família é fundamental. Este trabalho

procurou analisar a relação família/escola nas instituições de educação infantil, no

nosso caso, a creche. Além disso, foi possível identificar as estratégias de

participação das famílias no desenvolvimento e aprendizagem da criança nas

creches campo da pesquisa, comparando as estratégias utilizadas pelas creches no

estabelecimento de sua relação compartilhada entre família/escola.

Com base nos dados pesquisados percebeu-se que as duas creches

assumem posturas diferentes em relação à participação das famílias nas reuniões e

nos momentos em que é necessária ajuda no processo de aprendizagem.

É fato reconhecido que há uma dificuldade de promover essa relação mais

saudável entre a creche e as famílias. Contudo, o que se observa é que as próprias

instituições não têm clareza de seu papel perante as crianças e suas famílias.

Identificamos que a creche A, procura cumprir com um atendimento

educacional as crianças e as famílias, agindo numa perspectiva mais autoritária ou

impositiva em relação aos deveres a serem cumpridos, tanto por parte dos

educadores, quanto da família. Assim, adota como modelo de relação família/creche

os plantões pedagógicos que se restringem a comentários sobre comportamentos,

queixas, desavenças, entre a escola e os pais.

Já em relação à creche B, o modelo de reunião vai na direção do diálogo, do

respeito aos pais, onde num primeiro momento há um encontro geral entre família e

escola, seja por meio de atividades com diferentes temáticas, e outro momento mais

individualizado entre os professores e os familiares. Nessa tentativa, tanto

professores quanto as coordenadoras buscam estimular os pais a participar do

processo educativo dos filhos, procurando conhecer as temáticas de seus

interesses, diversificando a atuação da creche também no papel educativo com os

pais.

34

Tal diferença de postura das duas escolas se reflete na expectativa dos pais

em relação à instituição educacional. Nota-se que na creche A, os pais cobram da

escola e a escola cobra dos pais e, essa cobrança fica restrita ao aumento na

frequência das reuniões. Enquanto que na creche B os pais estão dispostos a

participar e, esperam da instituição compromisso com a educação de seus filhos. É

importante salientar que cobrar compromisso, traduz no reconhecimento de papeis

em relação as ações dos profissionais, quanto às atitudes dos familiares.

É perceptível que a parceria entre família e escola prevista na constituição

Federal de 1988, pode ser mais compreendida pelas posturas adotadas pelos atores

da Creche B, muito mais do que na creche A. observa-se a perspectiva do respeito

mútuo e do diálogo seja nas falas das educadoras (coordenadora e professora), seja

na posição dos pais entrevistados.

Deste modo, é inegável a importância da relação entre família e escola por

serem pontos de sustentação para a formação do ser humano, pois ambas se

preocupam com o crescimento cognitivo, afetivo e social do sujeito. Tanto a família

quanto a escola contribuem para a formação da criança em sujeitos participativos,

atuantes e conscientes, contudo através de ações diferentes.

Diante da complexa reação podemos afirmar que não há receita pronta. Mas

há estudos que asseguram que o acompanhamento dos pais da educação de seus

filhos, as contribuições são inúmeras. Contudo, há a necessidade de se rever

papeis, concepções e reorganizar atitudes de modo que estejam alinhadas as

expectativas e a função de cada um dos envolvidos com a educação e o

desenvolvimento das crianças. Tudo isso só será possível quando for estabelecida

uma relação de reconhecimento e respeito mútuo entre pais, familiares e

educadores no espaço escolar, onde cada um reconheça suas atividades de

educação e cuidado. Esse é o grande desafio.

35

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APÊNDICE A - Roteiro de Entrevista com os Coordenadores

1- Qual a formação?

2- Qual o papel da coordenadora na creche?

3- Qual a importância da família na creche?

4- Foi positivo as reuniões feitas ao longo do ano com os pais?

5- Foi relevante o número de pais que participaram das reuniões e plantões

pedagógico?

6- A creche tem projeto?

7- Os pais participam na construção dos projetos realizados na escola? O que a

escola faz para incentivar os pais a participarem desses projetos?

8- Qual o número de alunos matriculados na creche?

9- Quantas turmas têm na creche?

10- Quantas professoras e apoio a creche possui?

11- Quais os pontos mais abordados nas reuniões?

12- Como acontece a relação entre família e escola?

13- A família participa das atividades realizadas pela escola?

14- Quanto à ausência da família na escola causa um déficit na aprendizagem dos

filhos?

15- Como a família contribui para o aprendizado da criança?

16- Quais as dificuldades encontradas pelos coordenadores pedagógicos em trazer

a família para a escola e fazê-la participar das atividades realizadas durante o ano e

também na construção do Projeto Político Pedagógico?

17- Como a coordenadora pedagógica pode articular junto à comunidade escolar a

participação dos pais/responsáveis na escola?

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APÊNDICE B - Roteiro de Entrevista com os Professores

1- O que você entende sobre a participação da família no contexto escolar?

2- Como você avalia a participação da família aqui na creche?

3- Quais os deveres do professor referente a educação escolar?

4- Qual a relação do professor e dos pais com a escola?

5- O que você acha das reuniões pedagógicas realizadas aqui na creche?

6- Qual a maior dificuldade nas reuniões?

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APÊNDICE C - Roteiro de Entrevista com os Pais

1- Qual a sua relação com a escola do seu filho?

2- O que você acha que a escola espera de você?

3- Você participa da educação escolar do seu filho?

4- O que você espera da escola do seu filho?

5- Qual o seu dever como responsável pelo seu filho?

6- Você participa das reuniões da escola do seu filho?

7- O que você melhoraria nas reuniões?