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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ
GILMAR ANTONIO DE LARA
DOSIMETRIA DA PENA E OS DESAFIOS DA APLICAÇÃO
CURITIBA 2018
GILMAR ANTONIO DE LARA
DOSIMETRIA DA PENA E OS DESAFIOS DA APLICAÇÃO
Projeto de Pesquisa apresentado ao Curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.
Orientador: Prof. Dr. Luiz Renato Andretta
CURITIBA 2018
TERMO DE APROVAÇÃO
GILMAR ANTONIO DE LARA
DOSIMETRIA DA PENA E OS DESAFIOS DA APLICAÇÃO
Este trabalho foi julgado e aprovado para a obtenção do título de Bacharel no
curso de Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.
Curitiba, _____ de ______________de 2018.
_________________________________
Professor Dr. Eduardo, de Oliveira Leite
Coordenador do Núcleo de Monografias
Universidade Tuiuti do Paraná
Orientador:
______________________________________
Professor Dr. Luiz Renato Andretta
Universidade Tuiuti do Paraná
Prof. ____________________________________
Faculdade de Ciências Jurídicas
Universidade Tuiuti do Paraná
Prof. ____________________________________
Faculdade de Ciências Jurídicas
Universidade Tuiuti do Paraná
“A Justiça sustenta numa das mãos a balança que pesa
o direito, e na outra, a espada de que se serve para o
defender. A espada sem a balança é a força brutal; a
balança sem a espada é a impotência do direito. ”
Rudolf Von Ihering
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus Pela existência da vida, sem ele eu nada seria.
Ao meu pai Jari de Lara (in memoriam) que sempre dizia para estudar e
ser alguém melhor na vida. Meu grande amigo e padrasto Franklin Macicana,
minha mãe e amiga Marli, minha fonte inesgotável de amor, a minha grande e
eterna irmã Sandra Lara e meu sobrinho Gustavo Marodin que amo muito.
A minha família que é a pedra angular e minha base na vida, minha
esposa Rose Dal Agnol e as minhas filhas Gabriela Lara e Ana Julia Lara que
tanto amo.
Aos meus queridos sogros Dal Agnol e Sra. Avali, a qual tenho grande
estima e os considero como meus pais, sempre me motivando a seguir em
frente.
Aos excelentes professores, por terem transmitido sua sabedoria e seus
conhecimentos, nos livrando da cegueira da ignorância.
Agradecimento em especial ao meu orientador professor Luiz Renato
Andretta por seus ensinamentos e colaboração, incentivando e apoiando a
realização deste trabalho.
Por fim, a todos aqueles que estiveram de alguma forma me auxiliando e
torcendo para que tudo desse certo nesse projeto.
RESUMO
O trabalho tem como finalidade “A Dosimetria da Pena e os desafios da
aplicação”. A necessidade de concretização do princípio de individualização da
pena, isonomia e proporcionalidade, tanto aumentando como reduzindo-a,
prevalecendo a visão de que o direito penal age como instrumento de garantia
e proteção dos direitos humanos. Sabemos da importância e do papel que tem
o ministério público como garantidor da proteção dos direitos humanos e
também da sua importância na atuação para concretizar critérios isonômicos
na fixação da pena evitando que o réu seja apenado de forma diversa ou
desproporcional. Deve haver aspectos processuais, na busca de elementos
para uma adequada dosimetria da pena, bem como debatidas questões gerais
referentes à fixação da pena, analisando questões referentes a crimes de
maior recorrência. A presunção de inocência vigora no direito penal brasileiro
e deve ser aplicada também na dosagem da pena, se o réu possui ação penal
contra si, pode ser absolvido com o fim do processo, após a análise do conjunto
probatório. No presente, só pode ser considerado como maus antecedentes,
as condenações anteriores a prática do crime e se estas não puderem figurar
como reincidência, se houver mais de uma condenação anterior, é possível,
na fixação da pena base aumentar a pena pelos maus antecedentes. Ademais,
deve a sentença condenatória ter transitado em julgado para poder ser
considerada como mau antecedente. Apenas uma condenação pretérita pode
ser usada como antecedentes criminais.
Palavras-Chaves: Dosimetria; Pena; Desafios.
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9
2 REFERENCIAL TEÓRICO ................................................................................. 10
2.1. ORIGEM DA PENA .......................................................................................... 10
2.2. A APLICAÇÃO DA PENA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE .................... 11
2.3.DOSIMETRIA DA PENA .................................................................................. 14
2.3.1 Conceito de pena ou sentença .................................................................... 15
2.3.2 Pena de multa ................................................................................................ 15
2.3.3 Pena privativa de liberdade .......................................................................... 16
2.3.4 Pena restritiva de direitos ............................................................................. 17
2.3.5 Cálculo da pena ............................................................................................. 18
3 PRINCÍPIOS .......................................................................................................... 19
3.1 TEORIAS SOBRE O DIREITO DE PUNIR DO ESTADO .......................... 19
3.2 PRINCÍPIO DA LEGALIDADE ........................................................................ 19
3.3 PRINCÍPIO DA ISONOMIA ............................................................................. 19
3.4 PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE ..................................................... 20
3.5 PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOAL ..................................... 20
3.6 PRINCÍPIO DA HUMANIDADE ....................................................................... 20
3.7 CRIMINOLOGIA ................................................................................................ 21
3.8 CRITÉRIOS A SEREM SEGUIDOS PELO JUIZ ......................................... 21
3.8.1 Circunstâncias judiciais da pena – primeira fase ..................................... 22
3.8.2 Culpabilidade .................................................................................................. 22
3.8.3 Antecedentes .................................................................................................. 23
3.8.4 Conduta social ................................................................................................ 24
3.8.5 Personalidade do réu .................................................................................... 24
3.8.6 Motivos do crime ............................................................................................ 25
3.8.7 Circunstâncias do crime ............................................................................... 25
3.8.8 Consequências da infração penal ............................................................... 26
3.8.9 Comportamento da vítima ............................................................................ 26
3.9 INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA ...................................................................... 27
4 AGRAVANTES E ATENUANTES – SEGUNDA FASE .................................. 27
4.1 REINCIDÊNCIA ................................................................................................. 28
4.2 MOTIVO FÚTIL OU TORPE ............................................................................ 28
4.3 TRAIÇÃO, EMBOSCADA OU MEDIANTE DISSIMULAÇÃO .................... 29
4.4 MEIOS INSIDIOSOS, CRUÉIS OU DE PERIGO COMUM ........................ 29
4.5 CONTRA ASCENDENTE, DESCENDENTE, IRMÃO OU CÔNJUGE ..... 29
4.6 ABUSO DE AUTORIDADE .............................................................................. 30
4.7 ABUSO DE PODER ......................................................................................... 30
4.8 QUANDO O OFENDIDO ESTÁ SOB A IMEDIATA PROTEÇÃO DA AUTORIDADE .......................................................................................................... 30
4.9 ESTADO DE NECESSIDADE ......................................................................... 30
4.10 EMBRIAGUEZ PRÉ ORDENADA ................................................................ 31
4.11 OUTROS AGRAVANTES ............................................................................... 31
5. CONCLUSÃO ...................................................................................................... 35
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 37
ANEXOS ................................................................................................................... 40
9
1. INTRODUÇÃO
A Dosimetria da pena é um assunto que muitos doutrinadores, juristas e
até legisladores, acreditam ser de maior relevância até o momento ao aplicador
do direito penal e no processo penal. Esse momento processual, na qual o
magistrado com as suas prerrogativas do poder jurisdicional que o Estado lhe
outorga, condena o indivíduo criminoso com a sansão penal, que, seguindo
regras legais, reflete a reprovação do Estado e da sociedade ao crime cometido,
através de uma pena imposta, cuja finalidade é a prevenção do crime e a sua
correção.
O código penal Brasileiro menciona que a pena é em um limite abstrato.
O mínimo e o máximo, que será aplicado ao agente no delito cometido e a
dosimetria tem a finalidade de quantificar, dar a punição no tamanho e proporção
ao crime praticado, ou seja, o valor exato do limite abstrato.
Desde os primórdios a origem da pena é muito discutida e surgem
questionamento de como ela nasceu. E o que se pode concluir é que, onde
existia um grupo de pessoas, ali existia uma lei ou uma ordem a ser seguida,
isso era para manter a harmonia e a ordem no local, caso alguém desrespeitasse
era penalizado o infrator.
Nas civilizações antigas as penas mais severas eram a morte, confisco de
todos os bens do infrator e também a escravidão de todos os descendentes. Já
na Grécia e no império Romano existia a pena capital, com açoites, mutilações
e desterro. Desta forma, a aplicação da pena ficava exclusivamente a critério do
juiz, o infrator ficava a mercê da ponderação dos juízes e a sua condenação
dependia do entendimento de cada um deles.
Com a vinda do Iluminismo, surgiu então o sistema de pena fixado, o qual
dava ao juiz pouca ou nenhuma flexibilidade para aplicar a sanção, desta forma
conseguiu-se acabar com a soberba dos magistrados, porém, ainda não
alcançou a forma razoável de aplicar a sanção penal.
Já em 1940, o código penal brasileiro, fixou um outro critério mais
adequado, no qual o juiz poderia exercer autonomia na aplicação da pena de
acordo com certas circunstâncias obedecendo o mínimo e um máximo da lei e
pautando-se em algumas circunstâncias pré-estabelecidas na lei.
10
O presente trabalho norteia por meio de estudos acerca da reprimenda
penal com o objetivo de responder as seguintes perguntas: Quais as mudanças
da pena relacionadas com as exigências do povo Brasileiro? Quais os princípios
norteiam a aplicação da pena no Brasil? Por que a dosimetria da pena deve ser
pautada na medida do tamanho da reprimenda penal?
Essas questões possibilitaram a pesquisa, abordando o tema. Esse
trabalho possibilita a reflexão a respeito dos princípios que guiam a aplicação da
pena no Brasil, da proporcionalidade, da humanização e da individualização da
pena.
Neste trabalho foi possível identificar a partir das penas previstas no
Código Penal, a restritiva de direitos, a pena de multa e a medida de segurança.
O objetivo geral desse trabalho de conclusão de curso é estudar e entender o
sistema bifásico e trifásico de aplicação da pena, com foco na aplicação da pena
no atual ordenamento jurídico brasileiro. Também, a segunda fase da aplicação
da pena na qual há as agravantes e atenuantes e, posteriormente a aplicação
definitiva da sanção penal, com análise das causas de aumento e diminuição de
pena. E analisar os cálculos da dosimetria da pena no caso concreto, onde foi
pesquisado, sentenças de crimes no Tribunal de Justiça do Estado do Paraná.
Os objetivos específicos englobam a apresentação da visão histórica e
filosófica que originou o conceito da aplicação da pena; relato dos princípios que
fundamentam as preposições do Direito Penal; conceitualização do surgimento
do sujeito Direito Penal.
2. REFERENCIAL TEÓRICO
2.1. ORIGEM DA PENA
A primeira coisa que podemos observar é o fato que a origem da pena
não possui uma data, um início na humanidade, por essa dificuldade o que se
observa alguns fatos históricos para ter uma base de onde começou.
Os quatro pontos principais onde se observam os conceitos que devem
ter a aplicabilidade da dosimetria da pena são os casos em que ocorrem a
perda da paz, a vingança de sangue, a lei de talião e a composição. A perda
da paz era quando alguém tirava a paz de um povoado ou de uma sociedade,
11
e esse mesmo povoado expulsavam como punição. Vingança de sangue, era
condenado a lesão corporal (geralmente chicotadas) ou até a mesmo a morte.
Lei de Talião, olho por olho, dente por dente (FORATO, 2011).
Composição, era a pena na proporção do crime cometido (dosagem na
pena) igual aos dias atuais, não podemos dar uma pena iguais a quem comete
um roubo e a quem comete um homicídio (FORATO, 2011).
Observando os fatos históricos de diferentes continentes, pode-se
perceber que a humanidade já tinha sua forma de dosar e sentenciar os crimes
cometidos naquela época a mais de 2.000 anos. Alguns exemplos: o código
do Êxodo do povo hebraico, Lei das 12 tábuas em Roma, código de Manu na
Índia e código de Hamurabi na Babilônia.
2.2. A APLICAÇÃO DA PENA NA HISTÓRIA DA HUMANIDADE
Na antiguidade a aplicação da pena, teve uma lenta evolução na
questão penal era a teoria absolutista ou retribuição, época em que se
concentrava em uma só pessoa o poder do estado de legislar, administrar e
julgar, essa teoria defendida por Emmanuel Kant, mostra que o objetivo da
pena era retribuir o mal que a pessoa causou, ou seja, uma vingança em forma
de pena (MORAES, 2016).
Na teoria relativista ou utilitarista, teoria defendida por Anselm von
Feurbach, mostra uma evolução na pena, pois ele trouxe a ideia da prevenção,
ou seja, prevenir o crime em dois sentidos: no sentido geral (mostrar para a
sociedade que não vale cometer crimes) e no sentido específico (mudar o
pensamento do indivíduo que errou para que não erre mais, ou seja,
preventivo ou ressocialização (MORAES, 2016).
Na teoria mista ou eclética, modelo atual adotado em nosso código
penal que visa a punição mais ressocialização, não de uma forma tão
absolutista mais sim ressocializar esse indivíduo como defende Anselm Von
Feurbach (MORAES, 2016).
Segundo Mendes e Bitencout (2012), no início das civilizações, as
pessoas tiveram a necessidade de estabelecer regras e um padrão de
condutas para se viver em sociedade. As penas tinham uma função
reparatória, atrelado a preocupação maior com a ofensa religiosa, o receio era
12
com à ira da divindade e recompor o equilíbrio rompido com a violação era
extremamente necessário. Verifica-se na doutrina a seguinte indicação:
[...] era preciso castigar o indivíduo que não soubera se manter de
acordo com os padrões de comportamento erigidos a partir de uma
concepção cósmica essencialmente mística. Assim, a reação contra o
infrator, envolta no manto da magia e do sobrenatural, se baseava na
ideia de reconciliação do grupo com seu deus (ou seus deuses)
protetor.
A expulsão para esse condenado significava a morte, pois era
impossível sobreviver em um ambiente perigoso hostil, marcado por grandes
perigos e animais selvagens. A vingança do sangue resumia-se na aplicação
de reprimendas contra os infratores estranhos ao grupo. As penas impostas
aos indivíduos da mesma família contra os membros de outros grupos
acabavam quase sempre em guerras entre as tribos daquela época (GOMES,
2015).
Naquela época a repressão penal torna-se uma forma pública de
punição, começa a dosar a pena de acordo com o crime cometido. Fato
bastante citado na história, época em que surgem as monarquias e é criado a
Lei do Talião, há aproximadamente 4.000 anos AC; caracterizado pelo
surgimento das primeiras civilizações (MENDES E BITENCOUT, 2012).
As civilizações daquela época haviam alcançado uma organização
sociopolítica e econômica e deveria ter um líder como representante do poder
público e do Estado que aí surge à concepção penal (MENDES E
BITENCOUT, 2012).
O Direito Penal Greco-romano adotou a vingança e a composição, bem
como o caráter público da pena, a punição revestia-se da função do exemplo
e também da prevenção (MENDES E BITENCOUT, 2012).
No Direito Germânico os bárbaros contribuíram com os costumes, usos,
tradições, religiões e superstições, como também, o seu sistema jurídico. Esse
modelo foi marcado por um sistema punitivo de caráter religioso e a perda da
paz, representado pela expulsão do criminoso no seu meio social e
consequentemente a morte do delinquente (MENDES E BITENCOUT, 2012).
Naquele período medieval absolutista chega ao seu fim com a queda
do Império Romano, no ano de 476. Na história existe relatos que “Ainda que
13
a Lei das XII Tábuas seja uma legislação rude e primitiva, é relevante o fato
de que se inspira na igualdade social e política, excluindo toda a distinção de
classes sociais ante o Direito Penal. ” (MENDES E BITENCOUT, 2012).
A Idade Média foi marcada por guerras e intolerâncias religiosas e isso
acabou repercutindo no campo jurídico. O terror e a brutalidade das punições
contra pobres e oprimidos era algo assustador, havia espetáculos públicos,
onde o condenado era levado a forca, a fogueira e até a decapitação
(MENDES E BITENCOUT, 2012).
A pena servia para poucos naquela época, em contraste com a
proteção das classes mais abastardas que detinham o poder, esse período foi
caracterizado pela pena de morte que devia servir como exemplo, aplicada de
forma pública. A pena era realizada com crueldade e cheia de suplícios,
visando deixar a lição penal como exemplo aos membros da sociedade era o
caráter retributivo da pena como afirma a doutrina: O objetivo não era
aterrorizar o condenado que estava impotente na sua defesa e eliminado do
meio social e já não poderia mais representar qualquer risco ou ameaça a
aquela sociedade (MENDES E BITENCOUT, 2012).
Forato (2011) apud Boschi (2000, p.92) relatando que a união entre
Estado e a igreja a punição ganha uma face obscura, nessa toada temos a
descrição na visão de:
Os inquisidores, amparados em duas grandes codificações eclesiásticas –
DIRECTORIUM Inquisitorium e Malleus Maleficarum -, desencadearam as mais implacáveis
perseguições, ensopando com acusações absurdas e condenações obtidas mediante
confissões extorquidas, o solo de muitas regiões do planeta com o sangue de muitos
inocentes.
Na idade moderna, época da inquisição regida pela igreja e pelo
Estado, onde se fortalece a ideia de que a pena devia ser contrária à crueldade
e aos exageros que se cometiam em nome do Direito Penal (FORATO, 2011).
Disseminou-se, então leis mais claras e precisas, dispensando-se com
isto as penas corporais e privando as pessoas da liberdade com o
aprisionamento, proibindo as penas cruéis e visando a ressocialização do
delinquente, pena severa apenas o suficiente para garantir a segurança social;
abolição da pena de morte, que somente seria reservada para casos
14
excepcionais; necessidade de lei anterior definindo o crime e cominando a
pena (FORATO, 2011).
As prisões originaram na Idade Média, mas foram difundidas no século
XVIII e atualmente é o centro do sistema penal. Surgiu inicialmente na igreja
no meio eclesiástico como forma de punir seus membros por desrespeito às
regras adotadas nos mosteiros. Basicamente tinha a função em recolher os
religiosos infratores em celas para meditarem e se arrepender da falta
cometida (MENDES E BITENCOUT, 2012).
Nos dias atuais, a base central do sistema punitivo é a prisão, que
demonstra fracassar em seu objetivo de recuperar o condenado, tendo em
vista a realidade da elevada reincidência dos condenados, fato esse que
reforça a teoria de que o sistema prisional não cumpre a finalidade de
ressocialização do preso (MENDES E BITENCOUT, 2012).
A prisão, é um sistema punitivo fracassado da atualidade, sua finalidade
de recuperação moral e social dos condenados deixou de existir a muito tempo,
hoje é somente um deposito de gente empilhada, onde um sistema corrupto,
cheio de facções criminosas em que o condenado sai pior do que entrou, fato
esse, diante da grande reincidência delituosa que nas suas infrações retornam
às prisões, num círculo vicioso que só termina com a morte do condenado atrás
das grades ou no curto período de liberdade (MENDES E BITENCOUT, 2012).
2.3. DOSIMETRIA DA PENA A dosimetria da pena tem amparo legal no Art. 68 caput do código penal
Brasileiro, onde deve ser efetuado em três etapas para a fixação da pena,
conhecido como sistema trifásico, e as circunstâncias legais previstas no Art.,
61,62,65 e 66 do Código penal Brasileiro, que são aplicadas sob a pena
previamente estabelecida, aumentando ou diminuindo a pena (MENDES E
BITENCOUT, 2012).
Dosimetria da pena é para muitos juristas e doutrinadores um momento
de maior importância ao aplicador do Direito Penal e Processual, pois é nesse
momento que o julgador com o poder a ele outorgado pelo Estado, condena o
réu, a sanção que para ele detentor do poder judiciário e seguindo critérios
legais, reflete a reprovação estatal do crime cometido, através de uma pena
imposta, que tem o propósito de prevenir e corrigir o crime praticado, dando uma
15
reposta ao ofendido e a sociedade, é através dessa punição que o Juiz, legítimo
detentor do poder judiciário, demonstra e concretiza a reprovação do ato
praticado (MENDES E BITENCOUT, 2012).
2.3.1. Conceito de pena ou sentença
A palavra sentença deriva, etimologicamente, do latim “sentire”, dando
a ideia de que através da sentença o Juiz declara o que sente. Já a palavra
“decisão ou decidir” significa “cortar fora” eliminar as outras possibilidades, e
fazê-lo de pronto, sem hesitação. A palavra final “cisão”, que quer dizer “corte”.
Pois bem. Uma “decisão” quer dizer “corta fora”. Do Latim “DECIDERE”,
determinar, definir, decidir. (MENDES E BITENCOUT, 2012).
2.3.2. Pena de multa
A pena de multa na sentença no nosso código penal, não é pago a
vítima nem aos parentes da vítima, e sim ao fundo penitenciário a quantia
fixada na sentença, caracterizada como pena pecuniária, artigo 49 do código
penal Brasileiro) (COIMBRA, 2018).
Segundo o Artigo 50 do código penal Brasileiro o pagamento da multa
deve ser quitado no máximo em 10 dias, depois de transitada em julgado a
sentença, ao fundo penitenciário na quantia fixada na sentença e calculada
em dias multa, conforme artigo 49, caput do Código Penal Brasileiro.
Esse sistema da multa penal subdivide-se em três partes:
a) Clássico (multa total): Previsão legal dos limites mínimo e máximo da
multa a ser individualizada pelo juiz de acordo com a gravidade da
infração e a situação econômica do réu.
b) Temporal: fixação da multa em número preciso de dias, semanas ou
meses correspondentes a cada delito, cabendo ao magistrado
determinar a quantia equivalente a cada tipo conforme as condições
pessoais e econômicas do autor e fixar prazos de pagamento.
c) Dias – Multa: A pena de multa penal, resulta da multiplicação do
número de dias – multa, fixados segundo a gravidade da infração pela
cifra que represente a taxa diária variável de acordo com a situação
econômica do condenado.
16
A determinação do número de dias – multa é determinada entre o
mínimo de 10 e o máximo de 360, observando a gravidade do fato e a
culpabilidade do autor.
O valor da multa é determinado segundo as condições econômicas do
réu (artigo 60 caput do Código Penal Brasileiro), não podendo aquele ser
inferior a um trigésimo do maior salário mínimo mensal vigente ao tempo do
fato, nem superior a cinco vezes esse salário (artigo 49, parágrafo 1º do
Código Penal Brasileiro). (MENDES E BITENCOUT, 2012).
2.3.3. Pena privativa de liberdade
Pena privativa de liberdade é aquela que restringe ou que cerceia a
liberdade do indivíduo que foi condenado, com maior ou menor intensidade. A
pena consiste em permanecer em algum estabelecimento prisional, por um
determinado tempo.
São duas as penas privativas de liberdade: Reclusão e Detenção.
A primeira é mais gravosa, compreende seu cumprimento em três
regimes: fechado, semiaberto e aberto.
A segunda é menos gravosa, pois é apenas dois regimes: semiaberto
e aberto. Todas com previsão legal e impostas conforme o crime cometido.
A pena privativa de liberdade é cumprida em regime progressivo. É um
sistema gradual de cumprimento da privação de liberdade do apenado.
No início da fase do cumprimento da pena, existe um intenso controle
do apenado, por conta de seu regime penal, o acesso e condições é muito
estrito em relação a condições materiais.
Passa-se de uma fase para outra conforme as condutas e
comportamento do interno, pelo prazo cumprido da pena e conforme relatório
do diretor do presidio, a última fase é o regime aberto (MENDES E
BITENCOUT, 2012).
Esse mecanismo de regimes contribui para a melhoria sensível e da
motivação aos internos em tarefas profissionais, pois a cada 3 dias trabalhado,
reduz 1 dia da pena.
Segundo Nunes (2014) a pena de prisão em alguns presídios, não tem
convertido em repostas positivas a sociedade, pois a finalidade de
recuperação do apenado é quase zero, é praticamente impossível
17
ressocializar alguém que se encontre preso em um sistema penal deficitário
como o nosso, quando se vive em um meio marginal cujos valores são
totalmente distintos daqueles que estão em liberdade, sem falar na
decadência e falência do nosso sistema prisional Brasileiro.
2.3.4. Pena restritiva de direitos
Segundo Cera (2010) a pena restritiva de direitos é sanção penal
imposta em substituição à pena privativa de liberdade, consistente na
supressão ou diminuição de um ou mais direitos do condenado, trata-se de
uma espécie de pena alternativa.
São penas restritivas de direitos: a prestação pecuniária, a perda de
bens e valores, a prestação de serviço à comunidade ou a entidades públicas,
a interdição temporária de direitos e a limitação de fim de semana, conforme
conceitua o artigo 43 do Código Penal. (FORATO, 2011).
As penas restritivas de direito têm por características:
a) Autonomia - não podem ser cumuladas com as penas privativas de
liberdade; não são meramente acessórias.
b) Substitutividade - primeiramente o juiz fixa a pena privativa de
liberdade, e depois, na mesma sentença, substitui pela pena restritiva de
direitos (CERA, 2010)
Classificação restritiva:
I-) Prestação pecuniária – Esta pena restritiva de direitos, baseia-se no
pagamento em dinheiro feito à vítima, se maior e capaz, ou a seus
dependentes. Pode ser também destinada a entidades públicas ou privadas.
Tal sanção deverá ser fixada pelo juiz, de modo que não pode ser inferior a
um salário mínimo e nem superior a trezentos e sessenta salários mínimos.
(Curci, 2013)
II-) Perda de bens e valores - Nesta sanção, a perda de bens e valores
que pertencem ao condenado, vai para o Fundo Penitenciário Nacional,
valendo-se como teto o prejuízo causado pela infração penal ou o proveito
obtido pelo agente ou por terceiro. Pode-se dizer que é uma pena de confisco,
ao contrário da prestação pecuniária, a qual tem caráter indenizatório (CURCI,
2013).
18
III-) Prestação de serviços à comunidade ou a entidade pública - Esta
sanção, como foi mencionada no tópico anterior, é uma prestação não
pecuniária como por exemplo a entrega de cestas básicas para pessoas
necessitadas ou a entidades públicas ou privadas, desde que haja a aceitação
do beneficiário quando o crime tenha sido praticado contra pessoa
determinada (CURCI, 2013).
IV-) Interdição temporária de direitos - São proibição de exercício de
cargo, função ou atividade pública, bem como de mandato eletivo, proibição
de exercício de profissão, atividade ou ofício que dependam habilitação
especial, de licença ou autorização do poder público, suspensão de
autorização ou de habilitação para dirigir veículo, proibição de frequentar
determinados locais,
V-) Limitação de fins de semana - É a obrigação de permanecer aos
sábados e domingos por cinco horas diária, em casa de albergado ou outro
estabelecimento adequado (GALVÃO, 2007, p.532).
2.3.5. Cálculo da pena
Nas três fases sucessivas que compõem a dosimetria da pena, a
segunda é onde se procede a fixação da pena provisória, através das
circunstâncias legais agravantes e atenuantes sobre a pena base, previstas
nos artigos 61,62,65 e 66 do Código Penal Brasileiro. (MENDES E
BITENCOUT, 2012).
As circunstâncias de caráter subjetivo, diz respeito aos motivos e modo
de agir do agente com os demais ou com a vítima; as de caráter objetivo,
identifica com o modus operandi de execução, pelo tempo e lugar ou pela
condição da vítima. As circunstâncias legais agravante, não são utilizadas nos
crimes de natureza culposa, exceto no que diz respeito à reincidência do
delinquente. Entretanto, para considerá-las, não está previsto quantidade no
agravante ou atenuação, situação está que gera um fator de incerteza na
pena. (JORGE, 2003).
Dessa forma os juízes estão involuntariamente sujeitos a aplicação de
penas diferentes a semelhantes delitos.
19
3. PRINCÍPIOS
3.1. TEORIAS SOBRE O DIREITO DE PUNIR DO ESTADO
O ser humano em sociedade evoluiu, e regras claras foram necessárias
para se viver em coletividade, mas tinha que haver um terceiro imparcial e
nessa evolução histórica surge a construção da formação do Estado, este que
vai desempenhar as funções públicas, políticas, sociais, econômicas e
jurídicas (MENDES E BITENCOUT, 2012).
O estado está revestido da soberania do poder e responsável pela
promoção do bem-estar comum, sendo sua obrigação, manter paz e a garantia
da ordem pública e as regras dessa sociedade que deverá ser respeitada por
todos.
Batista (2016) Fredie Didier Jr. (2012, p.89): num conceito
contemporâneo em que reúne o pensamento de autores como Pontes de
Miranda, Humberto Ávila, Luiz Guilherme Marinoni Francisco Cavalcanti,
jurisdição é: a função atribuída a terceiro imparcial de realizar o direito de
modo imperativo e criativo, reconhecendo, efetivando, protegendo situações
jurídicas concretamente deduzidas, em decisão insuscetível de controle
externo e com aptidão para tornar-se indiscutível.
3.2. PRINCÍPIO DA LEGALIDADE
Mendes e Bitencout (2012) cita que no artigo 5º, inciso XXXIX, da
Constituição Federal e no artigo 1° do código penal vigente está descrito o
princípio da legalidade que: “Não há crime sem lei anterior que o defina, nem
pena sem previa cominação legal”.
Forato (2011) confirma que o princípio demonstrado, gera segurança
jurídica, pois, para um fato ser considerado crime tem que estar tipificado na
lei penal. O delito do acusado tem que estar escrito em lei que foi constituído
e aprovado pelo poder legislativo federal, pois medidas provisórias não podem
servir como medida restritiva de liberdade, somente a lei pode criar a pena.
3.3. PRINCÍPIO DA ISONOMIA Em seu trabalho, Mendes e Bitencout (2012) relata que todos devem
ser tratados de forma igualitária perante a lei, não podendo haver
20
discriminações de qualquer natureza, dando assim o equilíbrio necessário de
uma sociedade mais justo conforme está escrito no art. 5º da Constituição
Federal: “Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a
inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à segurança e à propriedade.”
3.4. PRINCÍPIO DA PROPORCIONALIDADE
É aplicação penal do Estado, seguindo os princípios constitucionais e
das normas infraconstitucionais, levando em conta o bem jurídico lesado, a
culpa do réu e a sua reprovação ao crime praticado e que não haja exagero
na pena (GOMES, 2015).
Alguns delitos considerados de menor importância, são estipuladas
sanções brandas, acordos geralmente feitos em juizados especiais.
O princípio da proporcionalidade tem o viés de punir na proporção ao
crime praticado, não teria sentido aplicar uma pena de multa para um crime
de latrocínio, como também não teria sentido aplicar uma pena privativa de
liberdade a quem comprou um produto CD pirata.
3.5. PRINCÍPIO DA RESPONSABILIDADE PESSOAL
Nosso ordenamento jurídico, tem previsão legal que a pena não
passará da pessoa do delinquente; é uma regra constitucional estabelecida no
artigo 5º, XLV, da Constituição Federal, deixando claro que, somente o
acusado que cometeu o crime é responsável pelo pagamento da sua pena,
não pode passar sua reprimenda a terceiros, parentes e amigos do
condenado, assim a individualização da pena tem como objetivo a
responsabilidade pessoal (MENDES E BITENCOUT, 2012).
Um detalhe importante, caso o réu venha falecer, a obrigação de
reparar o dano causado, somente responsabilidade civil, passa aos herdeiros
do réu no limite da herança, quando ocorre o confisco, os sucessores do
condenado não podem impedir essa execução, essa medida encontra amparo
legal conforme art.107 inciso I do código penal Brasileiro (FORATO, 2011).
3.6. PRINCÍPIO DA HUMANIDADE
21
Em seu trabalho, Mendes e Bitencout (2012) relata que este princípio é
um dos mais importantes, onde a sanção estabelecida pelo Estado através da
utilização das regras de Direito Penal deve aplicar a pena buscando o bem-
estar de todos da sociedade, inclusive do condenado, até porque o objetivo da
pena é a sua ressocialização, evitando penas barbaras, degradantes e cruéis.
Forato (2011) apud Luisi (2003, p. 46), o princípio da humanização
consiste no reconhecimento do condenado como pessoa humana.
A pena que extrapola os limites previstos em lei, fere os princípios da
humanização, nessa mesma toada, cabe salientar que torturas, castigos e
penas desumanas são vedadas. Nosso ordenamento jurídico proíbe também
a pena de morte, salvo em guerra declarada conforme a nossa Constituição,
prisão de caráter perpétuo, de trabalhos forçados, de banimento e penas
cruéis conforme artigo 5º, XLVII, da Carta Magna, além de estabelecer que o
preso tem assegurado o respeito a integridade física e moral também
presentes no artigo 5º, XLIX, da Constituição Federal (FORATO, 2011).
3.7. CRIMINOLOGIA
A criminologia é uma ciência empírica e interdisciplinar, que analisa e
estuda o crime do delinquente, da vítima e do controle social dos delitos, além
da personalidade do criminoso (FORATO, 2011).
Segundo Silva (2008, p 34) a criminologia trabalha com 2 objetivos
básicos:
a) A determinação de causas tanto pessoais como sociais do
comportamento do criminoso.
a) O desenvolvimento dos princípios válidos para o controle social
do delito.
A criminologia mostra de que o sistema é predominantemente
repressivo e não trabalha de forma preventiva.
3.8. CRITÉRIOS A SEREM SEGUIDOS PELO JUIZ
Tendo como objetivo nortear e orientar o julgador durante a sanção
penal, o Código Penal disciplinou um caminho a ser seguido.
22
Conforme o artigo 68 do Código Penal o juiz deve desenvolver a
dosimetria da pena da seguinte forma: 1ª Fase: circunstâncias judiciais do art.
59; 2ª Fase: circunstâncias atenuantes e agravantes; 3ª Fase: causas de
aumento e de diminuição. Esse sistema é conhecido como sistema trifásico
ou de Nelson Hungria (MENDES E BITENCOUT, 2012).
3.8.1. Circunstâncias judiciais da pena – primeira fase
Essa é a fase em que o Juiz, vai compor a pena base, ou seja, é a pena
inicial em abstrato porque o magistrado precisa saber se o crime é simples ou
qualificado, conforme o código penal onde tem o mínimo é o máximo, é o ponto
de partida do magistrado. Nessa etapa o juiz já tipificou o crime e deverá
observar as circunstâncias judiciais, conforme art. 59 do código penal, dessa
forma a lei fornece parâmetros para o juiz analisar de forma discricionária o
réu e o caso concreto (MENDES E BITENCOUT, 2012).
Para fixar a pena-base o juiz deve identificar a pena em abstrato
aplicável à situação. No caso Nardoni, como a hipótese foi de homicídio
qualificado, segundo decidiram os jurados, o juiz vislumbrou que a pena em
abstrato seria de 12 (doze) a 30 (trinta) anos de reclusão, conforme previsto
no preceito secundário do art. 121, § 2º, do CP. Foi com base neste interstício
que o magistrado passou a dosar a pena-base mediante a análise das
chamadas circunstâncias judiciais (FERREIRA, 2010).
As circunstâncias judiciais que devem ser analisadas são as seguintes
(vide art. 59 do CP):
3.8.2. Culpabilidade
Em seu trabalho, Mendes e Bitencout (2012) relata que a culpabilidade
deve ser analisada pelo magistrado ao analisar o grau de reprovabilidade da
conduta do réu, ver se a conduta do réu, é mais ou menos gravosa frente aos
elementos de convicção atrelados aos autos.
Na modalidade de culpa, imprudência, negligencia e imperícia, tem que
ponderar a maior ou menor gravidade ou inobservância do acusado frente aos
cuidados exigidos. Se for na modalidade dolosa, deve-se analisar a vontade e
o modo de execução do agente.
23
Forato (2011) conceitua Souza (2006, p.131): quanto maior for a
reprovação, a censura do crime e o clamor público por justiça, maior será a
pena:
A reprovabilidade deve ser investigada sob o aspecto das condições pessoais do autor do delito, da situação fática e concreta em que este ocorreu, levando em conta o comportamento exigido no caso real e outros elementos, como o grau de instrução, condição social, vida familiar e anteacta, cultura e o meio social onde vive ou viveu o agente.
3.8.3. Antecedentes
Sobre os antecedentes criminais, deve ser analisado os fatos anteriores
ao delito, caso tenha cometido demonstra que esse tipo de conduta não é algo
atípico em sua vida e agravará sua situação.
Em seu trabalho, Mendes e Bitencout (2012) relata que existe
entendimento de que toda ou qualquer ação penal onde figura o réu, somente
serão computados os processos e inquéritos transitados em julgado, pois
existe o princípio da presunção de inocência do réu. Não pode ser confundido
com a hipótese do art. 61, CP, I – Reincidência -, porém se houver várias
condenações anteriores, é lícito ao Juiz considerar uma das condenações
como antecedente e as demais como reincidência.
A Súmula 241 do Superior Tribunal de Justiça afirma em seu texto que
“a reincidência penal não pode ser considerada como circunstância agravante
e, simultaneamente, como circunstância judicial” (FORATO, 2011).
Forato (2011) cita Souza (2006, p. 134) que compactuando o
entendimento do STJ, onde não podem ser aferidos como referência a
caracterização de maus antecedentes, comenta:
Não podem ser levados em conta para aferição de maus antecedentes: 1) inquéritos policiais ou ações penais em andamento, arquivadas ou pendentes de recurso, ou sobre as quais incidiu a prescrição da pretensão punitiva e suas modalidades (retroativa, subsequente, art.110, §§ 1º e 2º, CP); 2) Causas de extinção de punibilidade ocorridas antes do trânsito em julgado da ação penal (ex. art. 107, V, CP); 3) decisões absolutórias; 4) Ações penais concernentes a fatos posteriores à infração penal judicialmente apreciada, logicamente, porque os antecedentes referem-se à vida anteacta do agente.
A questão da espécie de antecedentes que podem ser considerados
na análise dessa variável desperta vários debates na doutrina e na
jurisprudência. Discute-se se o envolvimento anterior do réu em inquéritos e
24
processos no qual não houve condenação transitada em julgado pode ser
levado em consideração para se concluir que ele possui maus antecedentes.
Há uma inclinação hodierna ao garantismo nessa matéria, ou seja, tem
prevalecido o entendimento de que somente as condenações anteriores, com
trânsito em julgado, e que não possam ser consideradas para fins de
reincidência é que podem ser utilizadas para macular os antecedentes do réu
(nesse sentido - SCHMITT, 2006, p. 35: "Diante disso, a par de toda discussão
em torno da matéria, na verdade, atualmente revela ser possuidor de maus
antecedentes o agente que possui contra si uma sentença penal condenatória
transitada em julgado. Trata-se da aplicação fiel do princípio constitucional da
presunção de inocência (art. 5º, LVII, da CF/88).") (FERREIRA, 2010)
3.8.4. Conduta social
Segundo Forato (2011), na conduta social, o juiz analisará se o agente
vive bem em sociedade, como é seu relacionamento com a família, vizinhos,
no trabalho, se o fato ocorrido foi um fato isolado, um acontecimento fora do
normal.
O Juiz não poderá agravar a pena do acusado, caso não existam
informações da conduta social do agente, pois fere o princípio da ampla defesa
e do contraditório, o magistrado somente pode julgar com documentos e as
provas contidas nos autos (FORATO, 2011).
3.8.5. Personalidade do réu
A personalidade do réu é analisada pelo caráter do agente, se sua
índole, moral é voltada para o crime, se houve frieza ao cometer o crime, se
está arrependido, se houve cometimento de delitos na infância, não que possa
agravar sua pena, mas como base de sua personalidade. Analisa se houve
condenação nos últimos 5 anos, se houver demonstra que o acusado tem
personalidade para o crime (FORATO, 2011).
Sob a argumentação de que o juiz não possui preparo técnico para
avaliar a personalidade do réu e a partir daí extrair elementos para a fixação
de sua pena-base, defende Greco (2010, v. I, pp. 538-539) que o julgador
simplesmente não deve valorar esta circunstância para tal fim. Por outro lado,
25
Schmitt (2006, p. 41) pondera que: "Dúvidas não me restam de que tal
circunstância somente poderá ser analisada e valorada a par de um laudo
psicossocial firmado por pessoa habilitada, o que não existe na grande
maioria dos casos postos sub judice". Não há, contudo, posição pacífica sobre
a matéria, havendo quem entenda que "Na análise da personalidade deve-se
verificar a sua boa ou má índole, sua maior ou menor sensibilidade ético-
social, a presença ou não de eventuais desvios de caráter de forma a
identificar se o crime constitui um episódio acidental na vida do réu"
(BITENCOURT, 2004, v. 1, p. 611), sendo que tais vetores poderiam ser
analisados pelo juiz independentemente de um laudo técnico (FERREIRA,
2010).
3.8.6. Motivos do crime
Só pode ser analisado como circunstância judicial os motivos do Crime
que não forem qualificadoras, agravantes ou atenuantes, ou seja, causas de
aumento e de diminuição de pena, para que o réu não seja penalizado mais
de uma vez pela mesma coisa deve-se tomar cuidado para não confundir com
as circunstâncias legais, pois poderia ocorrer bis in idem (FORATO, 2011).
Dizem respeito às razões que levaram o agente a cometer o crime e que
extrapolem aqueles previstos no próprio tipo penal básico ou derivado no qual
o agente foi enquadrado, isto para que se evite incorrer em bis in idem (por
exemplo: se o agente está sendo condenado por homicídio cometido por
motivo fútil, essa motivação já foi utilizada para qualificar o crime, não podendo
mais ser utilizada para valoração de circunstância judicial). Segundo bem
pondera Capez (2003, v. 1, p. 401): "A maior ou menor aceitação ética da
motivação influi na dosagem da pena (praticar um crime por piedade é menos
reprovável do que fazê-lo por cupidez)" (FERREIRA, 2010).
3.8.7. Circunstâncias do crime
Tudo aquilo que faz parte da prática delituosa, o planejamento, a forma
como o acusado agiu, o lugar, o tempo, arma utilizada, por exemplo: o agente
cometeu um homicídio e ocultou o cadáver para dificultar a descoberta,
26
demonstra que a pessoa fria e calculista que premeditou aquele
acontecimento, portanto, merece o agravamento da pena (FORATO, 2011).
3.8.8. Consequências da infração penal
Em seu trabalho, Mendes e Bitencout (2012) relata que tudo aquilo que
resultou das consequências naturais do crime, conduta do agente para a
vítima, a família e a sociedade, excetuando o resultado do crime.
Busca-se nessa variável, aferir os efeitos da conduta do agente, efeitos estes
que não sejam, por óbvio, elementar do tipo, pois estes já são avaliados em
sede de tipicidade. No crime de homicídio, por exemplo, o efeito elementar é
a morte. Não é este efeito, contudo, que se busca analisar como circunstância
judicial, mas sim algo além dele. Por exemplo: a morte de um pai de família
com cinco filhos para sustentar, e que deixou uma viúva grávida, traz
consequências danosas além de uma morte comum, devendo assim ser
levada em consideração para agravar a pena do réu no momento da fixação
da pena-base (FERREIRA, 2010).
3.8.9. Comportamento da vítima
Em seu trabalho, Mendes e Bitencout (2012) relata que o estudo da
vitimologia, onde a vítima contribui para o resultado se o comportamento da
vítima contribuiu para a fato criminal ou não. Por exemplo: brigas de bar onde
ambos estão embriagados e alterados, nesse viés, não podemos deixar de
analisar que poderia estar fazendo um juízo de valor que acaba condenando
a própria vítima, que por sua vez não cometera o crime.
Elencadas supra todas as circunstâncias judiciais, cabe-nos ainda fazer
algumas observações sobre a valoração das mesmas:
I) a pena-base deve ser fixada entre os limites previstos em abstrato no tipo
penal;
II) a pena-base não pode ser estabelecida acima do mínimo legal sem motivação
idônea, apenas com base em referências vagas e genéricas;
III) cada uma das circunstâncias judiciais deve ser analisada, podendo esta
análise considerá-la favorável, desfavorável ou neutra (a neutralidade às vezes
decorre da própria impossibilidade de valoração de determinada circunstância);
27
IV) caso haja a presença de mais de uma circunstância qualificadora, apenas
uma delas deverá ser utilizada para qualificar o crime;
V) uma mesma circunstância não pode receber valoração em fases distintas,
seja da tipificação ou qualificação do crime, seja da dosimetria da pena, sob pena
de se incorrer em bis in idem;
VI) o ponto de partida para a fixação da pena-base é a pena mínima prevista no
tipo, a partir daí aplicando-se as circunstâncias judiciais. Desse modo, não
havendo circunstâncias judiciais desfavoráveis a pena deve permanecer no
mínimo.
No caso "Isabella Nardoni", o juiz Maurício Fossen fez a seguinte
apreciação das circunstâncias judiciais, após ser reconhecida pelos jurados a
prática de crime de homicídio qualificado: “Em razão dessa decisão, passo a
decidir sobre a pena a ser imposta a cada um dos acusados em relação a este
crime de homicídio pelo qual foram considerados culpados pelo Conselho de
Sentença. Uma vez que as condições judiciais do art. 59 do Código Penal não
se mostram favoráveis em relação a ambos os acusados, suas penas-base
devem ser fixadas um pouco acima do mínimo legal. Isto porque a culpabilidade,
a personalidade dos agentes, as circunstâncias e as consequências que
cercaram a prática do crime, no presente caso concreto, excederam a
previsibilidade do tipo legal, exigindo assim a exasperação de suas reprimendas
nesta primeira fase de fixação da pena, como forma de reprovação social à altura
que o crime e os autores do fato merecem (FERREIRA, 2010).
3.9. INDIVIDUALIZAÇÃO DA PENA
O princípio constitucional da isonomia, onde todos são iguais perante a
lei, é o princípio basilar de um estado democrático de direito e a
individualização da pena aplicada no indivíduo de forma diferenciada é algo
muito importante, as pessoas na sua individualidade são diferentes umas das
outras, não podemos tratar de forma igualitária pessoas que não são iguais
(MENDES E BITENCOUT, 2012).
4. AGRAVANTES E ATENUANTES – SEGUNDA FASE
28
Nessa segunda fase, o magistrado aumenta ou diminui a pena-base,
caso exista alguma circunstância agravante, prevista nos Art. 61 e 62 do
código penal, ou atenuante na pena, conforme Art. 65 e 66 do código penal,
nessa toada chega a uma pena provisória (MENDES E BITENCOUT, 2012).
Os agravantes e atenuantes são aplicadas independente do crime e se
divide em duas etapas:
a) Objetiva, quando falam sobre a forma de execução, ao tempo, ao lugar,
condições ou qualidade da vítima.
a) Subjetiva, quando se referem à culpabilidade, aos motivos
determinantes, sua relação com a vítima).
4.1. REINCIDÊNCIA
É a ação do acusado em repetir um ato delituoso já cometido no
passado, na qual o crime já transitou em julgado, antes da data do crime, caso
essa reincidência já tenha sido usada na primeira fase, não poderá ser
utilizada na segunda fase. O art. 63 e 64 do Código Penal Brasileiro tratam
sobre a reincidência (MENDES E BITENCOUT, 2012).
De acordo com Gomes (2007, p.739): conceito técnico de reincidência:
não se pode confundir o conceito popular de reincidência (cometimento de
duas infrações penais) com o conceito técnico ou jurídico-penal. A
reincidência, no sentido jurídico-penal, possui dois requisitos: (a) condenação
anterior definitiva; (b) cometimento de nova infração penal após o transito em
julgado da condenação anterior. O prazo da reincidência deve ser até 5 anos,
após esse prazo o réu é chamado de primário novamente.
4.2. MOTIVO FÚTIL OU TORPE
Segundo Mendes e Bitencout (2012) é uma circunstância agravante,
onde o réu, de vontade própria comete o ato criminoso por motivo fútil, não
havia motivo algum em praticar tal delito é aquele desproporcional, o pretexto
para a prática do crime é banal, já o motivo torpe é aquele que causa repulsa
na sociedade, é amoral, gera clamor público. O agravante se aplica pela
mesquinhez da conduta do réu, a falta de motivo não pode ser considerada
29
motivo fútil, pois nem mesmo havia um motivo, o ciúme também não é
considerado motivo fútil.
4.3. TRAIÇÃO, EMBOSCADA OU MEDIANTE DISSIMULAÇÃO
Segundo o art. 61, inciso II alínea “C”, demonstra a repulsa do
ordenamento jurídico a forma ardilosa de cometer crimes a traição,
emboscada, ou mediante dissimulação ou alguma outra forma que
impossibilite a defesa da vítima.
Traição é quando a vítima é atingida pelas costas ou enganada,
sendo atraída à determinado local onde o crime pode ser praticado com mais
facilidade;
Emboscada é a tocaia, ficar de vigilância para atacar a vítima
desprevenida;
Dissimulação é o fingimento, fingir falsa-amizade para atacar a
vítima ou utilizar disfarce.
4.4. MEIOS INSIDIOSOS, CRUÉIS OU DE PERIGO COMUM
Segundo Mendes e Bitencout (2012) o emprego de veneno é um
grande exemplo de meio insidioso camuflado, onde a vítima não tem
conhecimento do contexto homicida e não percebe que está sendo atacada,
quando cai em si, já é tarde demais. Nessa mesma linha de raciocínio, se o
agente pegar a vítima e injetar veneno nela e ela ali vendo que vai ser injetado
aquela substancia nela, não se caracteriza como meio insidioso ou
dissimulado, nem pelo emprego do veneno, mais de forma cruel e é cruel.
4.5. CONTRA ASCENDENTE, DESCENDENTE, IRMÃO OU CÔNJUGE
O legislador teve a intenção de proteger ainda mais as relações
familiares, agravando a pena do agente que comete crimes contra essas
pessoas. Nota-se nesse caso, maior insensibilidade moral do agente são
relações que pressupõe carinho, afeto e amizade (MENDES E BITENCOUT,
2012).
30
4.6. ABUSO DE AUTORIDADE
Segundo Forato (2011) é o exercício ilegítimo de autoridade no campo
privado (diferindo da letra g em que há relação de subordinação como no caso
entre patrão e empregado (relações domésticas), fato de morarem sob mesmo
teto (coabitação), ou a da estada da vítima na casa do agente (hospitalidade).
Essa agravante pune o abuso de autoridade nas relações domésticas, o
exercício ilegítimo da autoridade no campo privado, como relações de tutela,
curatela, de hierarquia eclesiástica, não abrangendo funções públicas.
4.7. ABUSO DE PODER
É o agente praticar o delito com abuso de poder ou violação de
obrigação inerente à sua atividade que deve ser a de um cargo ou ofício
público. É importante ressaltar que se o agente for punido com base na Lei
4.898/65, não se pode aplicar essa agravante, e deve-se lembrar da
necessidade de existir o liame entre o crime cometido e o abuso de poder, o
agente tem que ter se valido dessa condição para a prática do crime, exemplo:
quando uma autoridade constrange alguém a celebrar contrato de trabalho,
responderá pelo art. 198, combinado com o art. 61, II, alínea g (FORATO,
2011).
4.8. QUANDO O OFENDIDO ESTÁ SOB A IMEDIATA PROTEÇÃO DA AUTORIDADE
Caso em que um preso (sob custódia do Estado) que levado a júri sofre
uma agressão física. O agente do crime de agressão recebe esta qualificadora
(FORATO, 2011).
4.9. ESTADO DE NECESSIDADE
São casos em que motivado pelo estado de necessidade (incêndio,
naufrágio... onde não há solidariedade humana) o agente se aproveita disto
praticando crime (FORATO, 2011).
Desta forma, de forma clara o estado de necessidade é uma causa
especial de exclusão de ilicitude, ou seja, uma causa que retira o caráter
antijurídico de um fato tipificado como crime.
31
4.10. EMBRIAGUEZ PRÉ ORDENADA
Estando o agente se embriagando para criar coragem para praticar o
fato (FORATO, 2011).
Nesses casos, entende-se que a ingestão desse tipo de substâncias
caracteriza-se pela iniciação do iter criminis, sendo inserida na preparação.
A punibilidade para este agente é explicada pela teoria da “actio libera in
causa”, considerando-se que o agente era livre ao tempo da ingestão de
substâncias e por esse motivo quis e escolheu se colocar em tal situação para o
cometimento da conduta delituosa.
A ideia a ser explanada é que o sujeito infrator de leis penais não possui
grandes distinções se comparado às outras pessoas, mas pode haver em seu
intelecto características que lhe direcionam mais facilmente ao crime. Significa
dizer que o agente que se coloca em estado de embriaguez precisa libertar-se
de algumas tormentas da consciência que lhe abordam quando sóbrio e que
provavelmente lhe impediriam de agir de tal forma (NASCIMENTO, 2007).
4.11. OUTROS AGRAVANTES
Além das agravantes do art. 61, existem ainda as agravantes especificadas
no caso de concurso de pessoas, as quais estão previstas no art. 62. Estas
agravantes como já foram ditas, só se aplicam no caso de concurso de pessoas,
porém deve-se lembrar que se aplica também nos casos de autoria mediata,
que não é um concurso de pessoas propriamente dito e sim o intercurso de
mais de uma pessoa (FORATO, 2011).
Agravantes e atenuantes genéricas são circunstâncias legais, de natureza
objetiva ou subjetiva, não integrantes da estrutura do tipo penal, mas que a ele
se ligam com a finalidade de aumentar ou diminuir a pena (TJDFT, 2018).
Recebem essa nomenclatura ('genéricas') por estarem previstas, no
Código Penal, exclusivamente em sua Parte Geral. É de se ressaltar, contudo, a
existência de agravantes e atenuantes em leis especiais, tal como se verifica no
art. 298 da Lei 9.503/1997 (Código de Trânsito Brasileiro) em relação aos crimes
de trânsito (agravantes) e no art. 14 da Lei 9.605/1998 no tocante aos crimes
ambientais (atenuantes) (TJDFT, 2018).
32
As agravantes genéricas prejudiciais ao réu estão previstas nos arts. 61 e
62 do Código Penal em rol taxativo, não se admitindo analogia in malam partem.
Contrariamente, as atenuantes genéricas, favoráveis ao acusado, encontram-se
descritas em rol exemplificativo. Com efeito, nada obstante o art. 65 do Código
Penal apresente relação detalhada de atenuantes genéricas, o art. 66 abre
grande válvula de escape ao estatuir que ‘a pena poderá ser ainda atenuada em
razão de circunstância relevante, anterior ou posterior ao crime, embora não
prevista expressamente em lei'. (....) (TJDFT, 2018).
Agravantes e atenuantes genéricas são de aplicação compulsória pelo
magistrado, que não pode deixar de levá-las em conta, quando presentes, na
dosimetria da pena." (TJDFT, 2018).
Com base no exposto, pode se dizer que a dosagem da pena no caso do
Tribunal do Júri, assim como na sentença comum, deve se ater ao critério
trifásico. O juiz identifica a pena em abstrato incidente na situação e depois
passa a dosá-la, no intuito de estabelecer a pena em concreto. E essa dosagem
é feita em três fases, por isso fala-se em sistema trifásico. Essa percepção é
importante para respondermos à seguinte pergunta: como o juiz Maurício Fossen
chegou à quantidade de pena que impôs a Alexandre Nardoni e Anna Carolina
Jatobá?
O art. 68, caput, do CP, prevê o sistema trifásico de fixação da pena,
conforme segue: "Art. 68. A pena-base será fixada atendendo-se ao critério do
art. 59 deste Código; em seguida serão consideradas as circunstâncias
atenuantes e agravantes; por último, as causas de diminuição e de aumento".
Destarte, a operação de dosimetria da pena se dá em três fases
(SCHMITT, 2006, p. 33): "1ª) análise das circunstâncias judiciais enumeradas no
art. 59 do Código Penal; 2ª) análise das circunstâncias legais (atenuantes e
agravantes); 3ª) análise das causas de diminuição e de aumento de pena".
Desse modo, primeiramente deve o julgador fixar a pena-base,
examinando as circunstâncias previstas no art. 59 do CP, e observando os limites
mínimo e máximo previstos no tipo incriminador que se adequa ao caso. Depois
de fixada a pena-base, sobre ela serão aplicados os cálculos inerentes às
circunstâncias agravantes e atenuantes. Após isso, e finalmente, se aplica as
causas de diminuição e de aumento previstas na legislação (FERREIRA, 2010).
33
Falando de culpabilidade, pode se citar o caso conhecido do Carli Filho que
considerou como elevado grau de reprovabilidade a conduta do réu, que não
por isso, a pena-base de 6 anos foi aumentada em 8 meses. Foi analisada a
conduta social, e nesse aspecto, pesou contra o réu as 22 multas por excesso
de velocidade e não ter entregado a carteira de motorista ao ser notificado da
suspensão do direito de dirigir. Por isso, mais oito meses de pena foram
acrescidos (BREMBATTI, 2018).
Ainda sobre as circunstâncias, o juiz analisou as consequências da atitude
de Carli Filho, considerando a inversão da ordem natural da vida, com os filhos
morrendo antes dos pais, e o reflexo para as famílias das vítimas. Em função
disso, aplicou mais 8 meses para a morte de Yared e 6 meses para de Almeida.
Para o magistrado, a decapitação do motorista justificou uma punição maior,
levando em consideração o sofrimento causado aos parentes. Assim, a pena
total ficou em 8 anos referente à morte de Yared e de 7 anos e 10 meses para
a de Almeida (BREMBATTI, 2018).
Na reportagem da Gazeta do Povo pode-se exemplificar claramente o
cálculo baseado na dosimetria da pena. Foi feita a linha do tempo para se
perceber como a punição é calculada baseado nos itens que serão devidamente
tratados neste trabalho de conclusão de curso.
34
FIGURA 1 – O QUE INFLUENCIA NO TEMPO DE PENA:
FONTE: BREMBATTI, 2018.
35
5. CONCLUSÃO
Pode-se afirmar que as mudanças do intuito da pena estão intimamente
relacionadas com a evolução da nossa sociedade, pesquisando sobre o tema
temos a noção que como houve evolução diante da violência e crueldade que
era usado como justiça. Diante dessas situações a pesquisa mostra como hoje
a pena se tornou útil, justa, e minuciosamente calculada sem haver o ato de
crueldade e tornando assim mais uma forma de punir o culpado sem infringir os
direitos humanos.
O exemplo tratado como caso principal para retratar a aplicação da
dosimetria da pena neste trabalho de conclusão de curso foi o caso Isabella
Nardoni, onde os condenados foram julgados por homicídio triplamente
qualificado, e além disso, as outras duas qualificadoras de utilização de meio
cruel e de recurso dificultaram a defesa da vítima (incisos III e IV, do parágrafo
segundo do art. 121 do Código Penal), e previsão específica no art. 61, inciso
II, alíneas "c" e "d" do Código Penal.
Levando-se em consideração a presença destas outras duas
qualificadoras, aqui admitidas como circunstâncias agravantes de pena, majoro
as reprimendas fixadas durante a primeira fase em mais ¼ (um quarto), o que
resulta em 20 (vinte) anos de reclusão para cada um dos réus.
Quanto ao crime de fraude processual, o magistrado fez a análise que na
terceira fase da dosimetria prevista no parágrafo único do art. 347 do Código
Penal, as penas estabelecidas acima deveriam ser aplicadas em dobro, o que
resulta numa pena final para cada condenado em relação a este delito de 08
(oito) meses de detenção e 24 (vinte e quatro) dias-multa, mantido o valor
unitário de cada dia-multa estabelecido acima.
Já para o caso Carli Filho considerado culpado pelo Tribunal do Júri e
condenado a 9 anos e 4 meses de reclusão em regime fechado desde que – em
7 de maio de 2009 – o Passat que ele dirigia atingiu o Honda Fit em que
trafegavam dois jovens, que morreram na hora. O Promotor Paulo Markorwicz
questionou o laudo contratado pela defesa contrariando a criminalística. A defesa
alegou novamente que não havia intenção de matar, tentando tirar o dolo
eventual do acusado, já que ele também teria ficado com marcas do acidente.
36
Ainda reiteraram a culpa das vítimas, que segundo a defesa, haviam furado a
preferencial.
Por fim, os jurados se reuniram em uma sala secreta às 16h30, votaram
por cédulas e o juiz anunciou a sentença utilizando a dosimetria de pena de Carli
Filho e fixou a pena para 9 anos e 4 meses.
Desta forma, o tema dosimetria da pena dever ser observado com
atenção, tendo em vista que é um momento de maior responsabilidade ao
aplicador da pena, pois é ele que possui o poder da aplicação de uma pena
justa e diante de todas as condições que condizem com a lei, levando a uma
análise dos fatos e individualizando cada réu fazendo assim sempre uma
análise segura sem equívocos na sentença.
É um tema de grande importância, pois deve ser usado de forma correta
e detalhada sem infringir o ordenamento jurídico, punindo assim o réu com uma
pena relevante, diante de tal importância, toda a sociedade deveria ter noção
desses critérios e analises, tendo em vista que a pena dada ao caso, independe
da repercussão que tenha tido o caso nos meios de comunicação, a pena só
tem um jeito de ser julgada, seguindo critérios lógicos, embasados na ampla
defesa, no contraditório e no duplo grau de jurisdição.
37
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09\03\18.
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ANEXOS
JURISPRUDÊNCIA
TJMG - Agravante: Motivo Fútil
Data da publicação da decisão - 30/11/2004.
PENAL E PROCESSUAL PENAL - LESÃO CORPORAL GRAVE - MOTIVO
FÚTIL - CARACTERIZAÇÃO - PRELIMINARES DE INÉPCIA DA DENÚNCIA,
NULIDADE DA SENTENÇA E INEXISTÊNCIA DE EXAME DE CORPO DE
DELITO REJEITADAS - ABSOLVIÇÃO - REJEITADA - LEGÍTIMA DEFESA -
PROVA QUE CABE AO ACUSADO - EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE -
PRESCRIÇÃO -
IMPOSSIBILIDADE. Não é inepta a denúncia que preenche os requisitos do art.
41 do CPP, informando claramente ao acusado do que deve se defender perante
a Justiça. Não há que se falar em nulidade da sentença se esta cingiu-se às
provas dos autos, notadamente amparando- se em Exame de Corpo de Delito
complementado, conforme previsto pelo art. 167 do CPP, pela prova
testemunhal. Provada a incapacidade para as ocupações habituais por mais de
trinta dias, caracterizada está a lesão corporal de natureza grave e impossível a
desclassificação para aquela prevista no caput do art. 129 do CP. A prova da
excludente de legítima defesa é ônus que cabe ao acusado e, se a decisão deixa
claro a inexistência de agressão que justificaria a reação legítima, claro está
também que não haveria porque se esmiuçar os demais requisitos
caracterizadores da legítima defesa. Para o reconhecimento da agravante
prevista no art. 61, II, ""a"", do CP, é necessário que o motivo seja incapaz de
justificar a conduta ilícita do agente, como é o caso dos autos. Não há como ser
extinta a pretensão estatal se não transcorreu o tempo necessário para tanto,
entre da data da consumação do crime e a data em que a denúncia é recebida,
ou entre a data do recebimento da denúncia e a data em que foi proferida a
sentença condenatória. Recurso improvido.
TJMG - Princípio da Proporcionalidade na Fixação da Pena Base
41
Data da publicação da decisão - 8/2/2006.
PENAL - APLICAÇÃO DA PENA - PENA-BASE - ANÁLISE DAS
CIRCUNSTÂNCIAS JUDICIAIS - PROPORCIONALIDADE -
REINCIDÊNCIA -
AUMENTO DE 1/6 - RAZOABILIDADE. I - A fixação da pena-base, conquanto
fruto da livre apreciação do juiz, deve ser proporcional, em atenção às
circunstâncias que envolvem o crime, nos aspectos objetivo e subjetivo,
respeitando os parâmetros fixados pelo legislador no art. 59 do Código Penal. II
- Na ausência de determinação legal, entende a doutrina que, no máximo, as
atenuantes e agravantes poderão fazer com que a pena-base seja diminuída ou
aumentada em até um sexto.
TJGO - Motivo da Confissão e Diminuição da Pena
Data da publicação da decisão - 1/11/2005.
"APELACAO. ROUBO. TENTATIVA. CHAMADA DE CO-REU. PALAVRA DA
VITIMA. AUTORIA. CONFISSAO EXTRAJUDICIAL. RETRATACAO EM JUIZO.
ATENUACAO DA PENA. 1 - CONFISSAO DE CO-REU QUE EFETUA
CHAMADA DE PARCEIRO, QUANDO CONFRONTADA PELO
RECONHECIMENTO PESSOAL DE AMBOS POR TESTEMUNHAS E VITIMAS
E PELA APREENSAO DA ARMA ABANDONADA EM LOCAL ERMO, POR ELE
INDICADO, CONSTITUI IMPORTANTE ELEMENTO PROBATORIO. 2 - NOS
CRIMES CONTRA O PATRIMONIO, DENTRE ELES O ROUBO, A PALAVRA DA
VITIMA TEM RELEVANCIA NA FORMACAO DO LIVRE CONVENCIMENTO,
SOBRETUDO SE AMPARADA PELO RECONHECIMENTO PESSOAL DOS
AGENTES E OUTROS ELEMENTOS DE PROVA. 3 - PARA O
RECONHECIMENTO DA ATENUANTE PREVISTA NO ARTIGO 65, III, 'D' DO
CODIGO PENAL, IMPORTANTE NAO E A CONFISSAO EM SI, MAS O MOTIVO
QUE A INSPIROU, APTA A REVELAR O ARREPENDIMENTO DO REU. AINDA
QUE O REU A RETRATE EM JUIZO, SE A SENTENCA LEVOU-A A LINHA DE
CONTA NA APLICACAO DA PENA, IMPOE-SE A ATENUACAO. PROVIMENTO
DA PRIMEIRA APELACAO. IMPROVIMENTO DA SEGUNDA APELACAO."
42
TJMG - Atenuantes e o Mínimo Legal
Data da publicação da decisão - 17/8/2006.
EMENTA: SENTENÇA - NULIDADE - INEXISTÊNCIA - INTELIGÊNCIA DA
SÚMULA 231 DO STJ - CRIME CONTRA O PATRIMÔNIO - ROUBO -
DESCLASSIFICAÇÃO - IMPOSSIBILIDADE - PEQUENO VALOR DA RES
FURTIVA - PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA - INAPLICABILIDADE - CRIME
COMPLEXO - VIOLÊNCIA
PRATICADA CONTRA A PESSOA - RECURSO NÃO PROVIDO. Nos termos do
disposto na Súmula 231 do colendo Superior Tribunal de Justiça, a incidência da
circunstância atenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo
legal. Tendo os agentes, mediante a utilização de uma faca, intimidado a vítima,
que imprimiu fuga e, logo após arrombado a porta do estabelecimento comercial
e subtraído diversos bens, caracterizada restou a conduta descrita no art. 157, §
2º, I e II, do CPB. Não se pode aplicar o princípio da insignificância ao delito de
roubo qualificado pelo concurso de agentes, pois, sendo crime complexo, além
do patrimônio tutela a norma penal também a integridade física da pessoa, que
se vê ameaçada por ato de violência ou de grave ameaça. Ainda que de pequena
monta o produto do roubo, não fica descaracterizado o crime, pois tratando-se
de lesão a um direito que é amparado por norma penal, pouco importa o valor
do prejuízo.
TJMG - Fixação da Pena Base
Data da publicação da decisão - 17/8/2006.
APELAÇÃO CRIMINAL - PORTE DE ARMA - RÉU REINCIDENTE EM CRIME
CONTRA O PATRIMÔNIO - CERTIDÃO DE ANTECEDENTES - EXCESSIVOS
REGISTROS DE INCORRÊNCIA NO CRIME - PERSONALIDADE VOLTADA
PARA A DELINQÜÊNCIA - ANÁLISE DAS CIRCUNSTÂNCIAS DO ART. 59 DO
CÓDIGO PENAL - PENA-BASE FIXADA EM CONSONÂNCIA COM A
NECESSIDADE DE REPROVAÇÃO E PREVENÇÃO DO CRIME - CONFISSÃO
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ESPONTÂNEA - REDUÇÃO OPERADA EM ""QUANTUM"" ADEQUADO -
RECURSO CONHECIDO E DESPROVIDO. Impossível dar tratamento igual ao
réu reincidente em crime contra o patrimônio e que possui extensa lista de outras
incursões no crime, e àquele que somente possui um registro anterior a servir
para o enquadramento na hipótese do art. 10, §3º, IV, da Lei 9.347/97.