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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ Mauro Cavanha Conceição A RESPONSABILIDADE CIVIL DESPORTIVA CURITIBA 2010

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UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANÁ

Mauro Cavanha Conceição

A RESPONSABILIDADE CIVIL DESPORTIVA

CURITIBA

2010

Mauro Cavanha Conceição

RESPONSABILIDADE CIVIL DESPORTIVA

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Direito da Faculdade de Ciências Jurídicas da Universidade Tuiuti do Paraná, como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharelado.

Orientador: Prof. Marcos Aurélio de Lima Júnior

CURITIBA

2010

TERMO DE APROVAÇÃO

Mauro Cavanha Conceição

RESPONSABILIDADE CIVIL DESPORTIVA

Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenção do título de Bacharel em Direito da Universidade Tuiuti do Paraná.

Curitiba, 25 de outubro de 2010.

Bacharelado em Direito Universidade Tuiuti do Paraná

Orientador: Prof. Marcos Aurélio de Lima Júnior Universidade Tuiuti do Paraná

Prof. __________________________________ Universidade Tuiuti do Paraná

Prof. __________________________________ Universidade Tuiuti do Paraná

AGRADECIMENTOS

Considerando esta monografia como o resultado de uma caminhada que

não começou apenas na Universidade, mas desde os meus primeiros passos

no esporte, quando matutava em vários episódios me perguntando se tal

resultado era justo ou não...

Portanto, agradeço a todos que de alguma forma passaram pela minha

vida esportiva, sejam adversários, treinadores, equipe médica, familiares,

colegas de treinos e competições, enfim tantos amigos que fiz nadando,

pedalando e correndo, e juntos passamos pelas mais diversas e inusitadas

situações que só o esporte oferece. Contribuindo para a construção de quem

sou hoje, me ensinando saber perder e saber ganhar, com grandeza,

humildade e o mais importante, com moral, seja no lugar mais alto do pódio ou

mesmo sem medalha alguma.

Não poderia deixar de agradecer aos amigos universitários, que ao

longo de 8 anos entre longas viagens exigidas pelo esporte, colegas e

professores foram imprescindíveis pelo apoio e paciência em repetir as lições e

trabalhos dos quais estive ausente.

Particularmente, agradeço também, a algumas pessoas pela

contribuição direta na construção deste trabalho:

Aos meus pais, pelo carinho e apoio por não medirem esforços em

apoiar minhas escolhas e investidas, principalmente no esporte onde o

“paitrocínio” sempre me fez querer retribuir com o melhor que pude.

A Universidade Tuiuti do Paraná, em especial ao Sr. Reitor Afonso Celso

Rangel Santos pela oportunidade de estudar nesta grande instituição,

acreditando no esporte e em minha carreira como atleta profissional,

divulgando e apoiando as competições em que representei a UTP.

Ao orientador, professor Marcos Aurélio de Lima Júnior, pela atenção,

direção e observações acerca do tema, que contribuíram em muito para a

finalização deste trabalho.

Enfim, também agradeço a todos que contribuíram direta ou

indiretamente, me fazendo mesclar estas duas paixões, o esporte e o direito,

buscando o denominador comum: Justiça! Ideal ao qual dedico este trabalho.

EPÍGRAFE

Ser bom é fácil. O difícil é ser justo.

Victor Hugo

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo esclarecer as dúvidas referentes a lesões morais e patrimoniais, durante treinamentos e competições esportivas. Portanto o objetivo principal foi definir as várias relações possíveis no esporte; desde relações de consumo até o vínculo empregatício do atleta profissional. Começamos por diferenciar os tipos de atleta (entusiastas, amadores e profissionais), passamos a discorrer sobre os institutos da responsabilidade civil, como o dano (moral, patrimonial e a perda de uma chance), a culpa e o nexo causal. Pesquisamos nas doutrinas norte-americanas e européias semelhanças na responsabilidade civil desportiva, principalmente no que tange a proteção à pessoa lesada. Descobrimos os riscos assumidos pelos diferentes atletas nas diferentes modalidades, assim como os deveres de cuidado dos exploradores da atividade física, formando ou não uma relação de consumo. No sentido de evitar estas lides, cabe aos entes federativos normatizar e fiscalizar as relações dos esportes formais, visando principalmente à segurança dos seus filiados.

Palavras-chave: direito desportivo; relações esportivas; responsabilidade civil.

Sumário

INTRODUÇÃO ............................................................................................................................ 8

1 PRÁTICAS DESPORTIVAS ................................................................................................. 11

1.1 PRÁTICAS FORMAIS E NÃO FORMAIS ........................................................................... 11

1.2 TIPIFICAÇÃO DO DESPORTO ......................................................................................... 12

2 A RESPONSABILIDADE CIVIL............................................................................................. 15

2.1 HISTÓRICO .................................................................................................................... 15

2.2 ELEMENTOS .................................................................................................................. 17

2.2.1 Do Dano ............................................................................................................. 17

2.2.1.1 Dano Material ................................................................................................ 19

2.2.1.2 Dano Moral ou Extrapatrimonial ................................................................... 21

2.2.1.3 Perda de uma chance .................................................................................... 23

2.2.2 Da Culpa ............................................................................................................. 24

2.2.2.1 Teoria do Risco ............................................................................................... 27

2.2.3 Do Nexo Causal .................................................................................................. 29

3 A RESPONSABILIDADE FRENTE AOS ACIDENTES ESPORTIVOS ....................................... 31

3.1 RISCOS DO ATLETA ....................................................................................................... 31

3.1.1 Riscos Comuns ................................................................................................... 31

3.1.2 Riscos Específicos das Modalidades .................................................................. 34

3.1.3 Riscos dos Atletas Profissionais ......................................................................... 36

3.2 ATIVIDADE FÍSICA COMO RELAÇÃO DE CONSUMO ...................................................... 38

3.2.1 Consumidor Atleta ............................................................................................. 38

3.2.2 Consumidor Espectador ..................................................................................... 41

3.3 PAPEL DAS ENTIDADES ADMINISTRATIVAS .................................................................. 42

CONCLUSÃO ................................................................................................................... 45

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................................... 47

8

INTRODUÇÃO

Todos já conhecemos a importância do exercício físico no

desenvolvimento físico e mental dos seus praticantes, gerando uma melhor

qualidade de vida através da saúde e do bem-estar.

A atividade física também é um excelente meio de educação e

maturação dos indivíduos praticantes, estimulando o convívio social, além das

várias virtudes desenvolvidas para alcançar uma meta.

Além da importância inter e intrapessoal, o desporte tem função

destacada frete ao Estado. Seja na função grosseira de entreter a população,

como pioneiros foram os romanos adotando a política do “pão e circo”, mirando

diminuir a insatisfação popular através do alimento e da diversão. Como

também na busca de sua promoção como potência internacional, onde o

sucesso dos atletas representa o desenvolvimento social de uma nação.

Escopo evidenciado em várias edições olímpicas, como durante o Nazismo na

Alemanha e na Guerra Fria (comunismo/capitalismo) desde o pós 2ª Guerra

Mundial, até os dias atuais.

O esporte como gerador do bem-estar pessoal e de uma sociedade,

passa a ser um dever do Estado, nossa Constituição Federal discorre

amplamente sobre o tema, evidenciando sua importância.

O art.24 inciso IX diserta sobre a competência da União, dos Estados e

do Distrito Federal, no que tange o dever de legislar sobre o desporto, além da

educação, da cultura e do ensino.

9

Constatamos em seguida, o artigo 217, também da Constituição

Brasileira (1988), que em linhas específicas trata sobre o Desporto Nacional:

“Art.217. É dever do Estado fomentar práticas desportivas formais e

não-formais, como direito de cada um, observados:

I – a autonomia das entidades desportivas dirigentes e associações, quanto à sua organização e funcionamento;

II - a destinação de recursos públicos para a promoção prioritária do desporto educacional e, em casos especiais, para o desporto de alto rendimento;

III – o tratamento diferenciado para o desporto profissional e o não profissional;

IV – a proteção e o incentivo às manifestações desportivas de criação nacional.

§ 1º O Poder Judiciário só admitirá ações relativas à disciplina e a competições desportivas após esgotarem-se as instâncias da Justiça Desportiva, regulada em lei.

§ 2º A Justiça Desportiva terá o prazo máximo de sessenta dias, contados da instauração do processo, para proferir decisão final.

§ 3º O Poder Público incentivará o lazer, como forma de promoção social.”

Além de tal embasamento em nossa Lei Maior, o Direito Esportivo se

encontra na legislação infraconstitucional através Estatuto do Torcedor e da Lei

Pelé, além de recentemente constar sobre o assunto no Código Brasileiro de

Justiça Desportiva. Entretanto as relações do meio esportivo, costumeiramente

atingem outras esferas do nosso direito, portanto temos que entrelaçar vários

nichos como o Direito do Trabalho, Direito do Consumidor, Direito Civil, Direito

Tributário, Direito Ambiental e por vezes também o Direito Penal.

Além das políticas sociais, o esporte também é bastante

explorado economicamente, através das imagens dos atletas, forma-se um

vultuoso mercado, como destaca Gustavo Lopes Pires de Souza:

“O mercado do esporte movimenta bilhões de dólares. O futebol, por exemplo, movimente, em média trezentos bilhões de dólares por ano, valor

10

semelhante ao PIB (Produto Interno Bruto) da Argentina, e neste cenário existem diversos interesses: torcedores, mídia, publicidade, transportes, hospedagens, materiais esportivos e um grande número de empregos diretos e

indiretos.” 1

Apesar do grande prestígio dos desportistas profissionais, eles estão

expostos a riscos, assim como os atletas amadores e esporádicos. E por vezes

sofrem acidentes, mesmo em esportes que não aparentem perigo.

Em menor medida, a prática desportiva também implica em risco para

quem está ao redor do atleta, podendo ser outro atleta, árbitros ou terceiros

expectadores ou que simplesmente estão de passagem, próximo a um evento.

Além do prejuízo que pode ser causado por uma violação de direito que

venha a causar danos, como por exemplo, o não cumprimento de um contrato.

No presente trabalho vamos estabelecer as diferentes relações que cada

atleta pode firmar, traçando seus direitos e deveres nas diferentes ocasiões.

Tendo como foco principal os danos provenientes de acidentes ocorridos

durante a prática esportiva, entrelaçando a teoria do risco e a negligência pelas

partes.

1 Coluna datada do dia 23/08/2010 (A importância do Direito Desportivo) retirado do site do IBDD

(Instituto Brasileiro de Direito Desportivo) - http://www.ibdd.com.br/v2/index.asp?p=20&id=1542

11

1 PRÁTICAS DESPORTIVAS

O texto da Lei 9.615/98, a Lei Pelé, institui normas gerais sobre o

desporto brasileiro, e em seu artigo 1º, define o deporto como práticas formais

e não-formais.

1.1 PRÁTICAS NÃO FORMAIS E FORMAIS

A prática desportiva não-formal dispensa regras de entidades das

respectivas modalidades esportivas, sendo caracterizada pela liberdade lúdica

de seus praticantes, que buscam lazer, distração e passa-tempo, onde o

esporte é encarado como uma brincadeira de maneira eventual e esporádica,

que representa inclusive um direito social, como bem destaca Rodrigues

Hélder, citando os dispositivos constitucionais (artigo 6º caput; artigo 1º, II,III e

IV; e artigo 3º, I e IV)2

Conforme o mesmo autor, práticas formais são aquelas reguladas “(...)

por normas nacionais e internacionais e pelas regras de prática desportiva de

cada modalidade aceitas pelas respectivas entidades nacionais de

administração do desporto.” 3

A Lei nº 9.615/98 estabelece normas gerais do desporto brasileiro, já a

normatividade específica é ditada pelas respectivas Confederações.

O atleta de uma prática formal pode ser o amador ou profissional.

Naquele, o atleta busca o entretenimento e os benefícios físicos do exercício

físico participando com certa regularidade de treinamentos e competições; já

2 Rodrigues, Hélder Gonçalves Dias. A Responsabilidade Civil e Criminal nas Atividades Desportivas.

Campinas,SP: Servanda, 2004, p.25. 3 Rodrigues, Hélder Gonçalves Dias. Op. cit. p.23.

12

de maneira profissional, o atleta se dedica exclusivamente à competição e à

busca de uma melhor performance, normalmente representando uma entidade

e caracterizado por remuneração.

Normalmente a atividade profissional é pactuada em contrato formal de

trabalho, porém configurados os requisitos da CLT, como a prestação de

serviços, com dependência e exclusividade ao clube e mediante salário, os

tribunais têm reconhecido o vínculo empregatício, mesmo do atleta amador.4

1.2 TIPIFICAÇÃO DO DESPORTO

José Piñero Salguero5 distingue ainda os diferentes tipos de esporte. Tal

classificação permite abordar a análise das lides desportivas com maior

facilidade. A divisão ocorre entre o esporte individual e o coletivo, com ou sem

contato.

De maneira individual, o atleta realiza a prática esportiva por si só, sem a

colaboração direta de outro atleta. Como o exemplo da natação, judô e

atletismo.

O atleta individual pode participar de um esporte sem contato físico, não

sendo habitual o sofrimento de danos pelos atletas. Os casos mais comuns são

de lesões causadas a si pelo próprio desportista, deste modo estaremos diante

de duas suposições: Da assunção do risco por parte da vítima praticante do

4 Feijó, Carmem. Notícias do Tribunal Superior do Trabalho, 21/09/2007. Disponível em:

http://ext02.tst.gov.br/pls/no01/NO_NOTICIAS.Exibe_Noticia?p_cod_noticia=7989&p_cod_area_noticia=ASCS&p_txt_pesquisa=lei%20pele Acesso em 01 dez. 2010. 5 Salguero, José Piñero. Práctica Deportiva y Asunción de Riesgos. 1. ed. Espanha:Civitas, 2009, p.39.

13

desporto, devendo-se analisar a possível cobertura de um seguro, ou da

responsabilidade do organizador do evento ou do proprietário do recinto.

“Um ejemplo claro de asunción del riesgo de la víctima es el accidente del saltador de trampolín Greg Louganis durante las pruebas eliminatórias de trampolín em los Juegos de Seúl de 1988, al golpearse com la cabeza em el trampolín durante la realización de um salto.”

6

Ainda de maneira individual existem os esportes de contato físico,

nestes as lesões ocorrem com bastante frequência, principalmente nos

esportes de luta, caso em que apenas será apreciada a responsabilidade do

atleta que agiu com dolo ou grave negligência, como por exemplo, um lutador

de boxe que golpeia seu adversário mesmo após a sinalização do árbitro que

determinava a interrupção do combate.

Nos esportes coletivos vários atletas formam uma equipe e buscam sua

melhor atuação de maneira a lograr um melhor resultado em conjunto,

podemos exemplificar com o voleibol. O esporte coletivo também deve ser

subdividido de tal maneira que no esporte sem contato, novamente são raras

as lesões, normalmente causados por meros descuidos, onde a vítima assume

o risco do esporte.

Por outro lado, nos esportes coletivos de contato, o conjunto de atletas

enfrenta uma equipe adversária, onde provocações são comuns e as disputas

corpo a corpo motivam a busca por pontos. As guerras psicológicas também

podem influenciar para um mau desempenho e frequentemente a vontade de

vencer leva o atleta a exceder a disputa saudável, ultrapassando limites e

resultando lesões, normalmente causadas entre jogadores de diferentes

6 Salguero, José Piñero. Op. cit. p.41.

14

equipes. Entre estes esportes está o futebol, e ainda o futebol americano e o

hockey no gelo, famosos pela sua agressiva disputa.

Tanto no esporte individual como no coletivo é comum a lesão a

terceiros espectadores como nos acidentes com veículos, bolas ou dardos.

Entretanto terceiros também podem causar grandes danos, como quando

torcedores fanáticos agridem atletas ou mesmo por descuido como é frequente

acontecer nas voltas ciclísticas, quando torcedores usando bandeiras ou

tirando fotografias, causam a queda de vários ciclistas.

A doutrina italiana, segundo Teresa Guerrieri, distingue os esportes

conforme o grau de violência empregado em cada esporte:

“ a) attività sportiva non violenta, in cui manca qualsiasi contatto físico tra gli avversari (si pensi, ad es., al tennis e al nuoto);

b) attività sportiva eventualmente violenta, in cui generalmente c´è un contatto fisico tra gli atleti Che può cagionare lesioni o traumi agli stessi (così nel cálcio, nel basket, ecc.);

c) attività necessariamente violenta, in cui el contrasto fisico, lo scontro tra gli atleti e l‟uso della violenza rientrano nella natura stessa del gioco (cio vale, ad es., per la boxe, il judô e il wrestling).”

7 8

Portanto conhecendo os diferentes tipos de esporte e suas

possibilidades de classificação, percebemos a particularidade de cada

atividade, cabendo um estudo diferenciado dentro de cada modalidade no que

tange à responsabilidade civil, objeto de estudo no próximo capítulo.

7 Tradução: “a) atividade esportiva não violenta, onde não há qualquer contato físico entre os

adversários (como ocorre no tênis e na natação); b) atividade esportiva eventualmente violenta, onde ocasionalmente pode acontecer um contato físico que gere um trauma ou lesão (como no futebol e no basquete);c) atividade física necessáriamente violenta, onde o contato físico faz parte da natureza do esporte (acontece no boxe, judô e na luta livre).” por Mauro Cavanha. 8 Guerrieri, Teresa. Studi monografici di diritto penale: Percorsi ragionati sulle problematiche di maggiori

attualitá. Itália: Halley Editrice SRL, 2007, p.217.

15

2 A RESPONSABILIDADE CIVIL

2.1 HISTÓRICO

A Responsabilidade Civil, através da preocupação em reparar os atos

danosos de terceiros sempre foi uma preocupação humana na busca pela

justiça, tanto é que encontramos o primeiro registro histórico na Bíblia: “Os pais

não morrerão pelos filhos, nem os filhos, pelos pais; cada qual morrerá pelo

seu pecado.” (Deuteronômio, 24, 16). De maneira que cada um deveria

responder pelos seus próprios atos.

Observamos que a evolução histórica passou pela vingança privada,

quando a partir de uma reação individual, os homens faziam justiça com as

próprias mãos, sem a observação de qualquer critério, baseando-se apenas

pela aparência do dano.

Relata Paulo Nader, acerca do sentimento dos homens pela busca de

um confortamento pelos danos sofridos:

“O sentimento da justiça acompanha o ser humano desde os tempo primitivos; também o de revolta ante a prática de hostilidades, de condutas que desrespeitam a sua incolumidade física, moral e patrimonial. (...)

Foi com a Lei de Talião que surgiu, historicamente, o primeiro critério de ressarcimento de danos, que não se apoiava na Moral Natural.”

9

Portanto, grande marco veio com a Lei de Talião “olho por olho, dente

por dente”, quando o Estado passa a intervir, limitando a penalização vingativa,

a qual, muitas vezes, tinha como escopo a morte do agressor.

Neste sentido, completa Maria Helena Diniz:

9 Nader, Paulo. Curso de direito civil. 2. ed. rev. e atu. Rio de Janeiro:Forense, 2009, v 7. p.43.

16

“Para coibir abusos, o poder público intervinha apenas para declarar quando e como a vítima poderia ter o direito de retaliação, produzindo na pessoa do lesante dano idêntico ao que experimentou.”

10.

Constatamos a existência de uma preocupação estatal em regular a

medida do direito de retaliação, como forma de compensar o ofendido.

Paulo Nader também comenta sobre a evolução desta penalização, que

foi dotada de maneira simétrica no Código de Hamurabi: “(...) assim, se um

pedreiro edificava mal uma casa e esta ruía, matando o filho do proprietário, a

este caberia o direito de matar, não o pedreiro, mas o filho deste, conforme se

lê no §230.” 11

Surge, no ano de 450 a.C, a Lei das XII Tábuas, a qual vem a socializar

ainda mais a noção de justiça garantida pelo Estado, definindo valores a serem

pagos conforme os vários crimes previstos nas doze tábuas, deixando de punir

na esfera pessoal, para punir modo patrimonial o causador de um dano.

Configurando os passos atuais da idéia de ressarcimento do dano causado, já

que antes ao invés de um, acabavam dois sujeitos lesados.12

Foi então no Direito Romano que ocorreu verdadeira evolução da

Responsabilidade Civil, nas palavras de Sílvio de Salvo Venosa:

“O sistema romano de responsabilidade extrai da interpretação da Lex Aquilia o princípio pelo qual se pune a culpa por danos injustamente provocados, independentemente da relação obrigacional preexistente”

13

10 Diniz, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, 22. ed. rev. e atu. São Paulo: Saraiva, 2008, v 7.

p.11. 11

Nader, Paulo. Curso de direito civil. 2. ed. rev. e atu. Rio de Janeiro:Forense, 2009, v 7.p.44. 12

Contextualizações e explicitações destas noções encontram-se nas obras citadas de

Venosa/Nader/Diniz. 13 Venosa, Sílvio de Salvo. Direito civil: Responsabilidade Civil. 8. ed. São Paulo:Atlas, 2006, v 4. p.16.

17

Neste sentido, Venosa14 ainda explica que a idéia de responsabilidade

aquiliana, considera o ato ilícito uma figura autônoma, assim, surge à moderna

concepção de responsabilidade extracontratual, de maneira que, pela teoria do

risco, a culpa passa a ser objetiva, ampliando-se a indenização de danos sem

existência de culpa.

Fundando-se no desequilíbrio patrimonial gerado pelo dano, de maneira

que o titular de bens tinha o direito de receber ressarcimento pecuniário, não

em razão da culpa, mas sim em razão da destruição ou deterioração dos seus

bens.

Portanto, o princípio da culpa é primordial no Direito Civil moderno,

sendo tratado como base da responsabilidade extracontratual, abrindo

exceções para a responsabilidade por risco e criando um sistema misto de

responsabilidade civil, que pode ser subjetiva ou objetiva, como veremos

adiante.

2.2 ELEMENTOS

2.2.1 Do Dano

O dano é um prejuízo sofrido diante de uma ação ou omissão que viola

um direito ou um contrato, e resulta numa lesão de ordem material e (ou)

moral.15

14

Venosa, Sílvio de Salvo. Op. cit. p.17. 15

Contextualizações e explicitações destas noções encontram-se nas obras citadas de

Venosa(p.34)/Nader(p.27).

18

Fisher, define de maneira simples que o dano é todo o prejuízo sofrido

em sua alma, corpo ou bem.16 Sendo alma, a representação do dano moral,

corpo e bem, a definição de dano patrimonial.

O dano é essencial do Direito Civil para que exista o dever de indenizar,

neste ponto de vista relata Lopes:

“O dano representa, com a imputabilidade e o nexo causal, o terceiro elemento integrante da responsabilidade civil. E neste ponto muito se diferencia a responsabilidade civil da penal: é que esta pode concretizar-se sem que haja necessidade do prejuízo, como é disto exemplo frisante o fato da tentativa, punida no Direito Penal, mas absolutamente neutra, em relação ao Direito Civil, se dela não decorrer um dano patrimonial.”

17

Da mesma maneira discorre em sua obra Maria Helena Diniz, o dano

deve ser efetivo, não bastando apenas a transgressão de uma norma para

ocasionar uma lesão danosa, esta deve estar ligada a noção de prejuízo e

deve ser certo, portanto não são indenizáveis os danos hipotéticos.18

Leciona Clayton Reis, que as noções e conceitos desenvolvidos a

respeito do dano, nos levam a representação acerca dos bens materiais, porém

na pós-modernidade, ocorre a valorização da pessoa humana através da

proteção da dignidade e personalidade individual.19

Complementando, Venosa lembra que o dano pode se dar de maneira

indireta, chamado dano reflexo ou dano em ricochete; trata-se de um dano

sofrido por uma pessoa em virtude de dano experimentado por outra pessoa.

16

Fisher, Hans Albrech. Citado por Reis, Clayton. Direito Civil. 5. ed. atu. e amp. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p.5. 17 Lopes, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil: Fontes Acontratuais das Obrigações. 5. ed. rev.

Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001, v 5.p.222. 18

Diniz, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 22. ed. rev. e atu. São Paulo: Saraiva, 2008, v 7.

p.59. 19

Reis, Clayton. Dano Moral. 5. ed. atu. e amp. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p.5.

19

Exemplo disso se tem quando a morte ou incapacidade para o trabalho de uma

pessoa causa prejuízo aos seus dependentes.20

2.2.1.1 Dano Material

Por unanimidade doutrinária, o dano material, ou patrimonial,

compreende o dano emergente e o lucro cessante (quando se deixa de

arrecadar quantia certa), ou seja, um prejuízo de ordem econômica que reflete

numa efetiva diminuição no patrimônio da vítima, portanto um dano concreto e

de possível mensuração financeira.

Maria Helena Diniz explica:

“O dano patrimonial mede-se pela diferença entre o valor atual do patrimônio da vítima e aquele que teria, no mesmo momento, se não houvesse a lesão. O dano, portanto, estabelece-se pelo confronto entre o patrimônio realmente existente após prejuízo e o que provavelmente existiria se a lesão não se

tivesse produzido.” 21

Assim, concluímos que os danos patrimoniais são constituídos pela

perda ou deterioração da coisa, pela privação do seu uso (danos emergentes)

e ainda pela incapacitação ou prejuízo do lesado para o trabalho.

Nas palavras de Paulo Nader:

“O dano emergente, (...) na prática, é o dano mais facilmente avaliável, porque depende exclusivamente de dados concretos. (...) O lucro cessante traduz-sena dicção legal, o que a vítima razoavelmente deixou de lucrar.”

22

20

Venosa, Sílvio de Salvo. Direito civil: Responsabilidade Civil. 8. ed. São Paulo:Atlas, 2006,v 4. p.39. 21

Diniz, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro. 22. ed. rev. e atu. São Paulo: Saraiva, 2008, v 7.

p.66. 22 Venosa, Sílvio de Salvo. Direito civil: Responsabilidade Civil. 8. ed. São Paulo:Atlas, 2006, v 4. p.33.

20

Tanto no dano emergente como no lucro cessante a natureza jurídica do

pedido será de ressarcimento do prejuízo. No dano emergente, requer-se

quantia equivalente ao dano, para que o patrimônio volte a ter seu valor

integral. Como por exemplo, a perda ou deterioração (parcial ou total) de um

determinado equipamento esportivo.

Já em razão do lucro cessante a indenização tem o escopo de satisfazer

o que a vítima deixou de arrecadar, quando em virtude da conduta do ofensor,

o patrimônio deixou de aumentar. Exemplificamos com o caso de a vítima não

mais poder exercer sua profissão, e consequentemente não mais receber seu

devido salário.

“Trata-se, em síntese, de aplicar a teoria da causalidade adequada, que é muito criticada na doutrina. O critério do lucro cessante deve lastrear-se em uma probabilidade objetiva. Nesse sentido, o art.403 (antigo, art. 1.060) é expresso ao estabelecer que as perdas e danos só incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito direto e imediato.”

23

É possível que a mesma lesão gere danos emergentes e lucros

cessantes, exemplo típico, entre os doutrinadores, do taxista que tem seu

veículo danificado e fica impossibilitado de trabalhar até que lhe seja ressarcido

o automóvel. Tendo tanto o prejuízo do bem deteriorado, como o das “corridas”

que deixou de arrecadar.

Existe uma tendência doutrinária em caracterizar o dano estético, nas

palavras de Maria Helena Diniz:

“A lesão estética, em regra, constitui, indubitavelmente, um dano moral

que poderá ou não constituir um prejuízo patrimonial. (...) Este dano moral será

maior ou menos extenso conforme o sexo, idade, condição social do lesado,

23

Venosa, Sílvio de Salvo. Op. cit. p.36.

21

etc. (...) p.ex., se a vítima fosse uma atriz de cinema, uma bailarina, uma

modelo publicitária, uma cantora, que, para exercerem sua profissão, têm

necessidade de aparecer em público.”24

Portanto, a lesão à imagem do ofendido que a princípio seria um dano

moral, pode também lesar indiretamente o patrimônio do ofendido. Sem

dúvidas um tema importante em nosso estudo, já que o atleta percebe renda

ao explorar comercialmente sua imagem.

2.2.1.2 Dano Moral ou Extrapatrimonial

Além dos bens materiais, existem outros bens de quais os homens

civilizados pretendem a sua guarda. Não são bens valoráveis e tão pouco

mensuráveis, estão eles relacionados à dignidade da pessoa humana, e a sua

personalidade. O dano moral, segundo Maria Helena Diniz, ocorre quando a

pessoa é afetada em seu valor espiritual, sentimento de afeição, ânimo

psíquico, honra, liberdade, privacidade e intimidade.25

Em regra geral é um dano de difícil mensuração, que se presume, ou

seja, não é necessário, por exemplo, que uma mãe tenha que comprovar o

sofrimento pela perda do filho. Descreve Senise:

“O dano presumido, é assim comprovado, mediante a prova da existência do fato alegado pela vítima. Trata-se de dano in re ipsa, devendo o julgador se valer dos elementos demonstrativos da existência do fato para, ao eventualmente reconhecê-lo, fixar a indenização cabível.”

26

24

Diniz, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, 22. ed. rev. e atu. São Paulo: Saraiva, 2008, v 7.

p.81. 25 Diniz, Maria Helena. Op. cit. p.89. 26 Senise Lisboa, Roberto. Manual de direito civil. 4. ed. ref. São Paulo: Saraiva, 2009, v 2. p.244.

22

Trata-se, portanto de uma lesão subjetiva, a reparação pecuniária não

tem como escopo restituir um bem, mas sim confortar o ofendido, além de uma

tentativa de desestimular o ofensor para que não volte a causar tais lesões.

Por ser impossível restituição ao status quo ante, Clayton Reis destaca

este patrimônio que reveste a personalidade humana, e assim o define como

um bem do mais importante valor.27

Preconiza Paulo Nader a importância do princípio da razoabilidade e da

proporcionalidade na legislação brasileira, a qual pretende evitar tanto valores

irrisórios como os de cifras exorbitantes, contrapondo-se à teoria do valor

desestímulo, praticada em outros países: “Nos Estados Unidos da América do

Norte, a prática de se impor valores exorbitantes nas condenações tem

justamente o objetivo de desestimular tanto o ofensor quanto os demais

membros da sociedade.” 28

Quanto à cumulação dos diferentes tipos de dano, doutrina e legislação

têm postura unânime. Neste sentido disserta Arnaldo Marmitt:

“Se um só ato ilícito simultaneamente produz dano moral e dano patrimonial, dupla deve ser a indenização, já que o fato gerador teve duplos efeitos. Não havendo disposição legal em sentido contrário, justa será a reparação somada”

29

Na legislação, encontramos a súmula 37 do Superior Tribunal de Justiça:

“São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral oriundos do

mesmo fato”.

27 Reis, Clayton. Dano Moral. 5. ed. atu. e amp. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p.9. 28 Nader, Paulo. Curso de direito civil, 2. ed. rev. e atu. Rio de Janeiro:Forense, 2009, v 7. p.87. 29 Marmitt, Arnaldo. Perdas e Danos. 3. ed. Rio de Janeiro: AIDE, 1997, p.138.

23

Portanto, com objetos distintos e específicos, um busca a reparação

sentimental do indivíduo, e o outro busca a reparação do patrimônio, não

ensejando qualquer repetição da proposta de ressarcimento.

Sem embargo, importante lembrar que o ilícito pode não gerar a

obrigação de reparar, seguindo o principio da insignificância e do dano

tolerável, cabe ao juiz a análise da extensão dos danos sofridos e estabelecer

indenizações proporcionais. Exemplifica Augusto Severo: “uma cicatriz para um

boxeador pode não ensejar dano algum, para uma mulher pode representar um

dano extrapatrimonial, para uma atriz pode implicar um dano patrimonial e um

dano extrapatrimonial”. 30

2.2.1.3 Perda de uma chance

A necessidade de um dano concreto e certo gera certa dificuldade na

definição da natureza jurídica deste objeto. Em nosso estudo sobre a

responsabilidade civil no esporte, é de extrema importância discutirmos este

tema, pois vários são os danos que podem causar a “perte d’une chance”.

Entre eles um acidente, uma lesão, a danificação ou furto de material esportivo,

e até um problema no veículo de transporte podem fazer com que a

participação do atleta num determinado evento fique prejudicada, o que pode

converter-se em prejuízos de ordem moral e econômica, sobretudo ao

desportista profissional.

O autor Carlos Roberto Gonçalves ilustra este tipo de dano:

30 Severo, Sérgio. Os Danos Extrapatrimoniais. São Paulo: Saraiva, 1996, p.43.

24

“Veja, como exemplo elucidativo de perda de chance, o fato ocorrido nas Olimpíadas de 2004, quando o atleta brasileiro que liderava a prova da maratona foi obstado por um tresloucado espectador, que o empurrou, o retirou do curso e suprimiu-lhe a concentração. Discutiu-se se nosso compatriota deveria receber a medalha de ouro, pois conseguiu a de bronze, tendo chegado em terceiro lugar na importante competição. Embora tivesse ele elevada probabilidade de ser o primeiro, nada poderia assegurar que , sem o incidente, seria ele o vencedor. Caso típico de perda de chance, chance de obter o primeiro lugar, mas sem garantia de obtê-lo. Um prêmio ou uma indenização, nesse caso, nunca poderia ser o equivalente ao primeiro lugar na prova, mas sim em razão da perda dessa chance. Tanto assim é que os organizadores da competição acenaram-lhe com um prêmio alternativo, destinado a esportistas que se destacaram por feitos extraordinários, mas até o momento em que se escreve, não lhe outorgaram a medalha de ouro.”

31

Outro exemplo é o extravio do material desportivo, bastante comentado

nos Jogos Olímpicos de Pequim, quando a atleta brasileira do salto com vara

Fabiana Murer, relatou o sumiço de seu equipamento e teve seu desempenho

prejudicado. No triathlon é muito comum o atleta ter sua bagagem extraviada

nos transportes aéreos, não tendo seu material a tempo de competir e

perdendo a chance de disputar um prêmio. Portanto a perda de uma chance

ocorre quando um dano reflete em condições futuras, quais hipoteticamente

resultariam num ganho e o lesado perde a chance de uma oportunidade.

2.2.2 Culpa

Com exceção de expressa disposição legal, onde caberá

responsabilidade objetiva, diante dos atos ilícitos é necessária a comprovação

da culpa, sem a qual não geraria qualquer responsabilidade. Para tanto, o

comportamento do agente pode ser uma comissão ou uma omissão, sendo o

primeiro a prática de um ato que não deveria se realizar, e o segundo a não-

observância de um dever qual deveria ser realizado.

31

Venosa, Sílvio de Salvo. Direito civil: Responsabilidade Civil. 8. ed. São Paulo:Atlas, 2006, 4 v. p. 37.

25

No caso da culpa (em sentido amplo), existe o dolo, ou seja, uma

vontade de causar lesão, surgindo de uma ação ou omissão proposital.

Entretanto ações desmedidas podem causar resultados danosos, devido à falta

do dever de cuidado, gerando assim o evento culposo em sentido estrito, onde

não haveria a intenção do resultado, mas sim da ação que gerou tal resultado.

Neste sentido discorre Gonçalves: “Em qualquer atividade o homem deve

observar a necessária cautela para que sua conduta não venha a causar danos

a terceiros, ainda que ausente o animus laedendi.”32

As condutas culposas podem se manifestar através da imperícia, da

negligência ou da imprudência, Maria Helena Diniz descreve cada uma:

“A imperícia é falta de habilidade ou inaptidão para praticar certo ato; a negligência é a inobservância de normas que nos ordenam agir com atenção, capacidade solicitude e discernimento; a imprudência é precipitação ou ato de proceder sem cautela.”

33

A mesma autora também discorre sobre a graduação de cada tipo

culposo, dividindo-os em grave, leve e levíssimo, sendo balizados conforme a

falta de atenção, que pode ser desde a falta de cuidados elementares,

caracterizando a culpa grave, até a não observância de um detalhe

extraordinário, qual caracterizaria a culpa levíssima.34

Explica Gonçalves que o fator determinante para o juiz mensurar o valor

indenizatório é o valor do prejuízo e não o grau da culpa. Embora o referido

autor, ainda cite que nos casos de culpa extremamente leve, o art. 944 do

Código Civil, nos da à solução da possibilidade da indenização fixada em

montante inferior ao dano.

32 Gonçalves, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 4. ed. rev. – São Paulo: Saraiva, 2009, v 4. p.299. 33 Diniz, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, 22. ed. rev. e atu. São Paulo: Saraiva, 2008, 7 v.

p.41. 34

Diniz, Maria Helena. Op. cit. p.43.

26

“O parágrafo único do aludido dispositivo confere ao juiz o poder de agir equitativamente, facultando-lhe reduzir a indenização quando excessiva se mostrar a desproporção entre seu valor e o grau de culpa do responsável.”

35

Igualmente nos casos de negligência, imprudência ou imperícia,

irrelevante seria constatar de qual modalidade a culpa é proveniente, como

também desnecessário seria avaliar a cumulação de culpas, já que estas

devem ser avaliadas unitariamente.

A culpa também pode ser determinada por fato de terceiro, como explica

Venosa:

“Culpa in eligendo é a oriundada má escolha do representante ou do preposto, como, por exemplo, contratar empregado inabilidatado. Culpa in vigilando é a que se traduz na ausência de fiscalização do patrão ou comitente com relação a empregados ou terceiros sob seu comando. Deixar, por exemplo, o patrão que empregado sem condições técnicas opere máquina de alta periculosidade.”

36

Jack Anderson exemplifica em sua obra, a culpa in eligiendo (Vicarious

Liability), com um caso da corte canadense, quando num jogo de hockey, entre

crianças de 12 e 13 anos, o reclamante sofreu lesão medular, após ser

arremessado no gelo de forma brutal, pelo jogador adversário, que entrou no

jogo negligenciando uma das regras de substituição. Neste caso o Juiz decidiu

por aceitar o pedido contra o treinador do time em que jogava o agressor.37

Desta maneira presume-se a culpa, pelo dever de fiscalizar e orientar

seus alunos, que por serem menores de idade, exigiriam uma ainda maior

atenção.

A imputabilidade, principal elemento formador da culpa é a

imputabilidade, nesse sentido, define Miguel Maria de Serpa Lopes:

35 Gonçalves, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro. 4. ed. rev. – São Paulo: Saraiva, 2009, v 4. p.301. 36 Venosa, Sílvio de Salvo. Direito civil: Responsabilidade Civil. 8. ed. São Paulo:Atlas, 2006, v 4. p.31. 37 Anderson, Jack. Modern Sports Law. United Kingdom: Hart Publishing Ltd, 2010, p.243.

27

“(...) para o ato ser reputado um delito, é necessário representar ele um resultado de uma livre determinação da parte do seu autor. De um modo geral, há imputabilidade, quando o ato procede de uma livre vontade.”

38

Portanto o agente culpável deve ter consciência da sua obrigação em

não agir de maneira que injustificadamente lesione terceiros, de tal maneira a

excluir a culpabilidade dos menores, doentes mentais entre outros

inimputáveis, além é claro dos casos fortuitos e de força maior, em que os

acontecimentos sobrevêm a uma vontade externa do agente.

2.2.2.1 Teoria do Risco

Diante de uma atividade lícita que oferece risco, o legislador desvincula

a necessidade de comprovar a culpa, como forma de permitir ao lesado, ante a

dificuldade da prova, a obtenção de meios para reparar os danos

experimentados.39

Por esta teoria, como explica Maria Helena Diniz, “o agente deverá

ressarcir o prejuízo causado, mesmo isento de culpa, porque sua

responsabilidade é imposta por lei independente de culpa e mesmo sem

necessidade de apelo ao recurso de presunção.”40

A responsabilidade objetiva está prevista no novo Código Civil em seu

parágrafo único do artigo 927, em que explana duas espécies de reparação:

38 Lopes, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil: Fontes Acontratuais das Obrigações. 5. ed. rev.

Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001, v 5. p.206. 39

Diniz, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, 22. ed. rev. e atu. São Paulo: Saraiva, 2008, 7 v. p.50-51. 40

Diniz, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, 22. ed. rev. e atu. São Paulo: Saraiva, 2008, 7 v. p.50.

28

a) Obrigação de reparar o dano, independente de culpa, nos casos

específicos da lei, como por exemplo, na legislação ambiental,

atividades nucleares e no direito do consumidor, onde os fornecedores

ou prestadores de serviço têm responsabilidade direta por seus produtos

ou serviços.

b) A segunda espécie diz respeito às atividades de risco, quais poderão

conduzir ao dever de reparação, no caso de produzir algum dano.

Também dispensando a demonstração do elemento culpa, o risco deve

ser reconhecido pelo juiz diante do caso concreto.

Ambas as espécies de reparação previstas, se baseiam diante de

atividades humanas que criam risco para direitos de outrem, portanto não é o

comportamento do agente, mas sim a atividade que configura este instituto.

Assim, mesmo tomando todas as precauções possíveis e necessárias,

responde o autor do dano pela responsabilidade objetiva, ou seja, basta o nexo

causal e a comprovação do dano.

Como veremos adiante, nas relações de consumo no esporte,

importantes casos de responsabilidade sem culpa, estão previstos no Código

de Defesa do Consumidor (arts. 12 e 14) que tratam do defeito relativo ao

produto ou à prestação de serviço, ou ainda quando as informações sobre sua

fruição e riscos, forem insuficientes ou inadequadas.

Nesta linha, aponta Clayton Reis, o avanço da proteção à dignidade

humana, defendendo a ânsia consumerista do cliente, frente à ganância pelo

29

enriquecimento do comerciante. Representando, o Código de Defesa do

Consumidor, uma norma jurídica de elevado alcance social. 41

Ainda na tentativa de equilibrar a relação jurídica entre vítima(s) e

agente, perante a responsabilidade objetiva, ocorre a inversão ao ônus da

prova cabendo ao agente causador do dano, para eximir-se da culpa

comprovar, a culpa exclusiva da vítima, o caso fortuito ou a força maior.42 Ou

ainda, provar a falta do nexo causal.

2.2.3 Nexo Causal

Imprescindível é o estudo do nexo causal, pois este vem a restringir atos

culpáveis por um determinado dano, estabelecendo critérios razoáveis das

ações danosas, completando uma ligação entre os resultados danosos ao

agente infrator.

A teoria pioneira neste sentido é a chamada “conditio sine qua non”,

onde tudo aquilo que concorra para o evento será considerado causa.

Desta maneira, qualquer evento poderia tecer uma gama infinita de

agentes para tal lesão de maneira “ad eternum”, como por exemplo “no

homicídio poderíamos chegar até o fabricante da arma; ou o marceneiro que

fez a cama onde se consumou o adultério”43

41

Reis, Clayton. Dano Moral. 5. ed. atu. e amp. Rio de Janeiro: Forense, 2010, p.234-235. 42

Rui Stoco. Citado por Reis, Clayton. Op. cit. p.239. [...] 43

Bedin, Celso et al. A responsabilidade civil do profissional de educação física: interpretação jurídica das ações profissionais à luz do direito positivo. Disponível em: http://www.efdeportes.com/efd106/a-responsabilidade-civil-do-profissional-de-educacao-fisica.htm, Acesso em: 19 out. 2010.

30

Portanto, diante de infinitas possibilidades e da imprevisão das ações

pessoais, que podem ser motivadas por ganância, medo, curiosidade, orgulho,

entre outros sentimentos humanos, é necessário prever ações razoáveis como

se espera de um homem médio “bonus pater familiae”, traçando uma tendência

através do princípio da causa adequada, para se chegar num próximo de

justiça. Desta maneira os doutrinadores tendem a adotar a teoria da

causalidade adequada, neste sentido afirma Cavalieri: “causa, para ela, é o

antecedente, não só necessário, mas, também adequado à produção do

resultado. Logo, nem todas as condições serão causa, mas apenas aquela que

for mais apropriada para produzir o evento.”44

Neste raciocínio, devemos também excluir algumas situações que não

geram o nexo de causalidade, assim isentam o agente da responsabilidade civil

“ a. Culpa da vítima: sujeito se joga na frente do carro tentando o suicídio;

b. Caso fortuito: uma enchente carrega o carro colidindo com um terceiro;

c. Exercício regular de direito: Colisão de carro em corridas automobilística;

d. Legítima defesa: assaltante armado quer levar veículo. Condutor com medo e querendo defender-se sai em disparada acertando o agressor.”

45

Restringido, portanto, a culpa pela motivação mais adequada, da qual

deriva os resultados e excluindo aqueles que não contribuíram de forma direta

para o caso em questão, chegamos aos que realmente deram causa de forma

direta ao dano.

44 Cavalieri Fillho, Sérgio. Programa de Responsabilidade Civil, 2. ed., São Paulo: Malheiros, 2000, p.51. 45

Bedin, Celso et al. Op. cit. Acesso em: 19 out. 2010.

31

3 A RESPONSABILIDADE FRENTE AOS ACIDENTES ESPORTIVOS

3.1 RISCOS DO ATLETA

3.1.1 Riscos Comuns

Antes dos riscos inerentes ao esporte, todos temos a chance de sofrer

lesões ocasionadas pelo simples gozo da vida. De tal maneira os atletas

também podem sofrer lesões das quais não cabe responsabilização alguma,

podendo ser desde uma queda causada por um tropeço, até uma menos

provável eletropleção causada por um raio ou ainda um mal súbito.

Vejamos um exemplo de julgado citado por Piñero: “SAP Islas Baleares, Sección 5ª, 11.9.2006 (JUR 2006, 252040) –MP:

Miguel Juan Cabrer Barbosa-: jugador de golf que sufrió lesiones mientras practicaba en un club al caerse en una escalera de madera exterior del campo. Tanto el JPI num. 14 de Palma (22.12.2005) como la AP desestiman la demanda contra el club: la actora no aporto ninguna prueba de que los escalones fueran inadecuados o estuvieran descuidados, en cambio, el demandado sí probó el adecuado mantenimiento.” 46

Mortes ocasionadas por problemas de saúde também são muito comuns

e a medicina preventiva poderia advertir um risco biológico, relata Oliveira que

em países como Itália e Japão todos os atletas de esportes formais devem se

submeter à exames clínicos pré-participação, anota o mesmo autor:

“A literatura internacional relata que antes dos 35 anos as causas mais frequentes são cardíacas em 80 a 90%, porém as causas foram certas cardiopatias genéticas, congênitas e infecciosas por viroses. Atletas sejam amadores ou profissionais podem ser portadores de problemas cardiovasculares e a prevenção do risco de complicações depende do exame clínico chamado de avaliação pré-participação, única maneira de evitar ou diminuir as tragédias.”

47

46

Salguero, José Piñero. Práctica Deportiva y Asunción de Riesgos – Responsabilidad Civil. Espanha: Ed. Civitas, 2009, p.94. 47

Oliveira, Celso. Responsabilidade Civil no esporte: análise jurídica da responsabilidade civil e criminal na morte recente do jogador de futebol Serginho do São Caetano. Uberaba/MG. Disponível em: http://www.boletim jurídico.com.br/doutrina/texto.asp?id=429 acesso em 14 out. 2010.

32

No Brasil, percebemos a atuação de alguns estados, na busca de uma

saudável prática esportiva. O Ministério Público Federal em Goiás (MPF/GO)

visa à obrigação dos profissionais de educação física, assim como academias,

de exigir dos alunos, exames médicos específicos de esforço, antes de iniciar

as atividades físicas. Assim pronunciou o MPF/GO:

“Quando o aluno contrata os serviços de atividade física, cria-se um vínculo jurídico, segundo o qual ao profissional educador físico e à academia atribui-se o dever objetivo de zelar pela integridade do aluno.

Diante disso, o profissional é responsável por todos os atos praticados e consequências sofridas pelos alunos, durante a prática de atividade física”.

48

No Rio de Janeiro a Lei nº 2.835/97, torna obrigatório o exame médico

das pessoas praticantes de esportes e dá outras providências.

No Distrito Federal é a Lei nº644/94, que obriga academias, clubes e

estabelecimentos congêneres onde se praticam lutas esportivas, a exigir de

seus alunos, no ato da matrícula atestado médico de aptidão física e mental, a

ser renovado a cada seis meses.49

Acreditamos que o dever de exigir o exame preventivo ficaria por conta

da relação de consumo, ou seja, com quem o aluno/atleta estabelecer um

vínculo através de um contrato (seja este formal ou informal), pois ao contratar

um serviço, o consumidor, espera deste, a segurança necessária. Neste

sentido discorre Rodrigues:

48

Procuradoria da República em Goiás. MPF/GO: Exame médico tem que ser exigido pelas academias de Goiás. Disponível em: http://noticias.pgr.mpf.gov.br/noticias/noticias-do-site/copy_of_direitos-do-cidadao/mpf-go-exame-medico-tem-que-ser-exigido-pelas-academias-de-goias , Acesso em 15 out. 2010. 49

Senador Osmar Dias, disponível no site: http://www.senado.gov.br/senadores/senador/odias/Trabalho/Pareceres/Pareceres/Parecer1998/parpls072.htm , 2010.

33

“O fato de cobrar mensalidade para o treinamento e prática desportiva implica numa relação de consumo (prestação de serviços) enquadrável, diretamente, no Código de Defesa do Consumidor, onde em princípio há a responsabilidade objetiva do prestador de serviço, sem, entretanto, evidenciar qualquer descaracterização de natureza desportiva da atividade a ser desenvolvida.”

50

Diante dos riscos inerentes da vida, antes de iniciar a atividade física, é

bastante recomendado um exame médico minucioso a fim de evitar surpresas.

Como vimos, em algumas ocasiões esta prática é obrigatória, embora não seja

uma regra geral. Também seria importante definir os pré-exames, pois um

simples atestado pode ser feito de maneira ligeira, apenas para cumprir a

formalidade.

Difícil seria a prevenção dos riscos biológicos nas atividades

esporádicas, onde pode não ser possível um exame médico, já que muitas

vezes são esportes praticados por turistas que ali se encontram por acaso.

Observa Rodrigues:

“A exigência do atestado médico de aptidão física não deve chegar ao extremo de violar o direito subjetivo de permitir a prática da atividade desportiva por aqueles que querem e se julguem aptos a exercê-las nas condições requisitadas se, aparentemente, demonstrarem ou atestarem (mesmo que verbalmente) condições pessoais adequadas com a característica da modalidade desportiva (previamente orientada)”

51

Portanto deve reinar o bom senso, para não impedir o direito ao lazer,

devendo ser advertidos os perigos do esporte e tomando as diligências

necessárias de segurança.

50

Responsabilidade Civil e Criminal nas Atividades Desportivas. Campinas,SP:Servanda, 2004,p.238. 51

Rodrigues, Hélder Gonçalves Dias. Op. cit. p.311.

34

3.1.2 Riscos Específicos das Modalidades

Além dos riscos gerais intrínsecos da vida, os atletas sujeitam-se à

acidentes, de maneira unilateral nos esportes sem violência, quando a

motivação é gerada pela adrenalina, disputa e emoção geradas pela ousadia

em enfrentar um perigo, e superar a si mesmo (física e emocionalmente), ou de

maneira recíproca nos esportes em que a violência é previsível ou necessária,

como o é nos esportes de combate, envolvendo mais de um praticante.

Caso bastante citado para ilustrar a teoria do risco é o julgado

estadunidense “Murphy v. Steeplenchase Amusement Co.”, em que um jovem

se aventurou num brinquedo chamado “Flopper” qual arremessava as pessoas

num colchão de ar, de uma altura razoável. Como consequência da queda,

teve uma fratura na rótula patelar, e ajuizou uma ação baseando-se pela

assunção do risco pelo proprietário do parque de atrações. A decisão do Juiz

Cardozo, baseou-se nos seguintes dizeres:

“Volenti non fit injuria. One who takes part in such a sport accepts the dangers that inhere in it so far as they are obvious and necessary, just as a fencer accepts the risk of a thrust by his antagonist or a spectator at a ball game the chance of contact with the ball. The antics of the clown are not the paces of the cloistered cleric. The rough and boisterous joke, the horseplay of the crowd, evokes its own guffaws, but they are not the pleasures of tranquillity. The plaintiff was not seeking a retreat for meditation. Visitors were tumbling about the belt to the merriment of onlookers when he made his choice to join them. He took the chance of a like fate, with whatever damage to his body might ensue from such a fall. The timorous may stay at home.”

52 53

52

Tradução por Mauro Cavanha: Aquele que participa de um tipo de esporte, aceita os perigos inerentes a ele, tanto quanto forem óbvios e necessários, da maneira que um esgrimista aceita o risco de uma perfuração causada por seu adversário, ou um espectador num jogo de futebol tem a chance de levar uma bolada. As brincadeiras do palhaço não são os mesmos ritmos dos crentes em conventos. A piada grosseira e turbulenta, assim como a brincadeira da multidão, evoca a suas próprias gargalhadas, mas eles não oferecem os prazeres da tranquilidade. O autor não estava buscando um retiro para meditação. Os visitantes foram caindo sobre o cinto para a alegria dos espectadores quando ele fez sua escolha para participar da brincadeira. Ele teve a chance de um destino semelhante, com qualquer dano ao seu corpo poderia resultar de tal queda. Os temerosos podem ficar em casa.

35

Acreditamos acertada a decisão, apesar de gerar críticas entre os

doutrinadores americanos e criar certa polêmica54 pelos dizeres como “O

temeroso deve ficar em casa”, entendeu o juiz deste caso, que o brinquedo não

havia nenhum risco obscuro, sucedeu uma infeliz consequência de uma queda

qualquer, e este era um risco conhecido pelo jovem que aderiu a brincadeira.

A assunção do risco determina que a própria vítima deva arcar com os

danos sofridos, quando não houver negligência e quando o acidente for

consequência da concretização de um risco típico da prática esportiva. A

trombada é um risco típico do futebol, a queda um risco típico do ski e do

ciclismo, afogamento um risco do surf e do rafting, e assim por diante.

Marilisa Bernardis faz um importante apontamento na doutrina italiana,

qual usa o termo “risco consentido”, sobre a possível responsabilização do

adversário que ultrapassa os limites do esporte causando uma lesão no

adversário:

“Nel caso in cui il giocatore violando involontariamente le regole del gioco cagioni una lesione all‟avversario, bisogna distinguere l‟ipotesi colposa, che si verifica quando per leggerezza viene compiuta un‟azione lesiva nei confronti dell‟avversario; ed il caso in cui il fallo viene compiuto in maniera non volontaria e colposa. In questo caso l‟atleta è esente da responsabilità perché manca la coscienza e volontà della condotta.

La giurisprudenza ribadisce così l‟orientamento dominante secondo cui si ha illecito sportivo quando: si violano le regole tecniche della disciplina sportiva praticata; si viola il rischio consentito; l‟uso della forza è spropositato in rapporto al tipo di sport praticato, alla natura della gara (professionistica o amatoriale, amichevole o ufficiale).”

55 56

53

CVN Law School Staff, Murphy v. Steeplechase Amusement Co. Disponível no site: http://lawschool.courtroomview.com/acf_cases/8889-murphy-v-steeplechase-amusement-co- Acesso em 18 out. 2010. 54

Salguero, José Piñero. Responsabilidad Civil. Práctica Deportiva y Asunción de Riesgos.

Espanha:Civitas, 2009, p.452. 55 Tradução por Mauro Cavanha: No caso em que um jogador violando involuntariamente as regras do

jogo ocasionar uma lesão ao adversário, deve-se distinguir a hipótese culposa, qual verifica-se quando é realizada uma ação lesiva por impulso, ou reflexo, durante o confronto com o adversário, é o caso de o fato se realizar de maneira não voluntaria e culposa. Neste caso, o atleta fica isento de responsabilidade,

36

Portanto apenas intencionalmente, ou com uma prática incondizente

com os padrões do esporte, poderia ser responsabilizado um atleta que foge as

regras do jogo e lesa seu adversário. De maneira que o risco consentido

abarcaria também previsíveis ações que excedem as regras do jogo, até os

padrões aceitáveis por um homem médio, conforme anota Guerrieri.57

Interessante a lei espanhola acerca da caça, onde o perigo pelo uso de

armas de fogo gera responsabilidade objetiva, sendo necessário antes da

prática da caça contratar um seguro de responsabilidade civil que cubra a

obrigação de indenizar possíveis danos pessoais. Ainda quando houver um

dano por arma de fogo, e não for possível constatar o causante, todos os

caçadores da partida respondem de forma solidária.58

3.1.3 Risco do Atleta Profissional

O atleta profissional sofre maior pressão por conta da competividade, e

neste caminho argumenta Jack Anderson, que difícil seria exigir uma conduta

porque não há consciência e nem a vontade de provocar o dano. A Jurisprudência reitera assim a orientação dominante, segundo a qual ocorre o ilícito desportivo quando: são violadas as regras técnicas da disciplina esportiva praticada; são ultrapassados os risco consentidos; o uso da força é desproporcional em relação ao tipo esportivo, observada a natureza competitiva (amador ou profissional, amistoso ou oficial). 56

Bernardis, Marilisa. Rischio consentito e limiti di liceità all'attività sportiva, disponível em: http://www.filodiritto.com/index.php?azione=visualizza&iddoc=651 ,2010. 57

Guerrieri, Teresa. Studi monografici di diritto penale: Percorsi ragionati sulle problematiche di maggiori attualitá – Itália: Halley Editrice SRL, 2007, p.218. 58

Salguero, José Piñero. Responsabilidad Civil. Práctica Deportiva y Asunción de Riesgos. Espanha:Civitas, 2009, p.275-281.

37

razoável de um homem médio, pois um motivo que deixa o esporte especial e

único é de o atleta ser livre para ousar.59

Quando o atleta tem uma relação laboral com um clube ou patrocinador,

a disputa e o risco são encarados como uma obrigação da profissão, de

maneira que não seria aceitável, por exemplo, um jogador de futebol evitar uma

dividida com medo de uma possível lesão. De tal sorte, estes riscos são

divididos pelos contratantes. Neste sentido anota José Piñero Salguero:

“(...) por tanto, en caso de lesión de um jugador el club tiene la obligacíon de seguir pagándole el salário, circunstancia lógica, pues si no se estaría desincentivando a los jugadores a poner el máximo esfuerzo durante la prática del deporte y a asumir ciertos riesgos de lesión.”

60 61

Uma segurança para o atleta profissional, na tentativa de diminuir o

anseio e medo de uma provável lesão oferecida pelo esporte, o desportista

continua recebendo seu salário, de maneira a possuir melhores condições

psicológicas tanto durante a disputa como em seu período de recuperação.

Assim, mesmo que a indenização não seja devida pelo adversário que

atuou dentro dos limites aceitáveis, esse dano deve ser compartilhado com o

clube ou patrocinador. Vale lembrar que os atletas amadores e entusiastas

devem pensar duas vezes antes de correr um risco pelo amor ao esporte, pois

diante de um dano previsível, ou pela sua culpa exclusiva, terão de arcar

individualmente com suas consequências.

59

Anderson, Jack. Modern Sports Law. United Kingdom: Hart Publishing Ltd, 2010, p.233. 60

Tradução por Mauro Cavanha: (...) portanto, no caso de uma lesão de um jogador, o clube tem a obrigação de seguir lhe pagando o salário, circunstância lógica, pois de outra maneira estaria desincentivando seus jogadores ao esforço máximo durante a pratica desportiva e a não assumir certos riscos de lesão. 61

Salguero, José Piñero. Responsabilidad Civil. Práctica Deportiva y Asunción de Riesgos. Espanha:Civitas, 2009, p.48.

38

De um jogador profissional, se espera atitudes condizentes com a

prática esportiva, portanto atos hostis, desleais, inoportunos, enfim,

inconvenientes, devem ser penalizados por sanções disciplinares, como

prescreve o nosso Código Brasileiro de Justiça Desportiva – CBJD.

Golpes baixos, dopagem, ofensa moral e agressividade além da

esperada, são alguns dos exemplos tipificados no CBJD, cuja penalização

varia entre multas, suspensões, perda de pontos, e até a exclusão de

campeonatos.

3.2 A ATIVIDADE FÍSICA COMO RELAÇÃO DE CONSUMO

3.2.1 Consumidor Atleta

James, citado por Hazel Hartley, define a negligência, como causa mais

comum do dever de indenizar frente os danos sofridos no decurso de um

esporte.62 A doutrina Norte Americana, trata do tema como modalidade de

culpa presumida, ou seja, quando não observado um dever de cuidado e dele

resultando um dano, caracterizada será a negligência, é o princípio chamado

de duty of care:

“A claim for negligence might be defended if it can be shown that there

was no duty of care owed in a relationship (…)”63 64

62

Hartley, Hazel. Sport, Physical Recreation and the Law. 1. ed. Estados Unidos da América: Routledge, 2009, p.39. 63

Tradução por Mauro Cavanha: A afirmação de negligência deve ser defendida caso possível demonstrar que não houve a falta do dever de cuidado, devido na relação. 64

Hartley, Hazel. Op. cit. p.39.

39

Encontramos semelhança com a inversão do ônus da prova encontrada

em nossa legislação, derivada da responsabilidade objetiva, qual também pode

ser gerada a partir da culpa presumida. Acerca do tema, discorre Maria Helena

Diniz: “(...) no nosso ordenamento jurídico reconhece-se em determinadas

hipóteses a responsabilidade objetiva, conservando, porém, o princípio da

imputabilidade do fato lesivo, fundado na culpa.”65

Percebemos na legislação brasileira uma grande preocupação com o

consumidor. Embora anotado por Rodrigues, que em relação à competição

desportiva não existe relação de consumo, mesmo quando cobrado o valor

referente à inscrição, o mesmo autor lembra que algumas normas do Código

de Defesa do Consumidor têm aplicação geral, inclusive alcançando matérias

tratadas por leis especiais, naquilo que não forem reguladas. 66

Entre os artigos do CDC mais relevantes para o nosso tema estão:

Art. 14. “O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos.”

Art. 17. “Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas do evento.”

Equiparando-se ao consumidor todas as vítimas do evento, inclusive nos

moldes do parágrafo único do artigo 2º do CDC: “equipara-se ao consumidor a

coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis (...)”.

Ficando demonstrada a responsabilidade civil do organizador de

eventos, a estes não cabe qualquer estipulação contratual que impossibilite,

65

Diniz, Maria Helena. Curso de Direito Civil Brasileiro, 22. ed. rev. e atu. São Paulo: Saraiva, 2008, 7 v. p.53. 66

Rodrigues, Hélder Gonçalves Dias. A Responsabilidade Civil e Criminal nas Atividades Desportivas. Campinas,SP:Sesrvanda, 2004, p.245-253.

40

exonere ou atenue a obrigação de indenizar67, cláusulas estas, usualmente

encontradas diante do contrato de inscrição para determinados eventos

esportivos e portanto de eficácia nula, com base no art. 51, I do CDC, qual

também, em seu inciso III, anula as disposições relativas a responsabilizações

de terceiros.

Portanto, diante de defeitos ou vícios, não é possível a entidade que

organiza o esporte, a isenção de indenizar diante de um acidente esportivo.

Já com referência aos donos das dependências físicas, como

academias, clubes e afins, onde ocorrem às disputas, por explorar e fornecer

economicamente um produto, formam diretamente uma relação de consumo,

portanto mais clara a imputação da responsabilização, devendo estes, ter

diligências adequadas à boa prática esportiva, além do dever de advertir

ostensivamente sobre os riscos e a periculosidade do desporto, conforme os

artigos 8 e 9 do Código de Defesa do Consumidor.

Nestas vias, disserta Hélder Gonçalves Dias Rodrigues:

“(...) Na prática, para o sucesso da ação o ônus da prova se transforma em dever obrigacional sob pena de perder a razão na causa processual. Assim, advindo dano da exploração da prática desportiva, a prova não será de quem o alegar, a não ser quanto a existência e ao montante do mesmo. Se a pessoa (física ou jurídica, de direito público ou privado, com ou sem fins lucrativos) que desenvolve a atividade desportiva não produzir a sua prova conforme demonstrado, no sentido de que não contribuiu de qualquer forma para o resultado danoso, poderá ser obrigada a reparar o dano decorrente dessa exploração, mesmo sem ter concorrido culposamente para o mesmo.”

68

De tal sorte, além dos titulares de instalações, também concorrem pela

teoria do risco, os organizadores de eventos, quando as instalações em mal

67

Conforme o art. 25 caput do Código de Defesa do Consumidor. 68

Rodrigues, Hélder Gonçalves Dias. A Responsabilidade Civil e Criminal nas Atividades Desportivas. Campinas,SP:Servanda, 2004, p.297.

41

estado e/ou a segurança precária são negligências graves. Nestes casos,

através da responsabilidade objetiva, cabe ao titular da propriedade, provar que

as instalações estavam em condições adequadas e que não faltaram

informações e advertências quanto aos riscos oferecidos pelo esporte em

questão.

3.2.2 Consumidor Espectador

No que tange a obrigação com os terceiros, conforme a lei 10.671/03, o

Estatuto do Torcedor, também ocorre relação de consumo entre os

espectadores das competições profissionais, mesmo que o ingresso seja

gratuito, conforme o art. 3º da mesma lei. Devendo fornecer a segurança

necessária, aos torcedores, os quais não assumem riscos maiores que levar

uma bolada, como por exemplo, nos jogos com bola.

Assim Serpa Lopes define a segurança como obrigação:

“Há uma obrigação de segurança toda a vez que, em relação e por conseqüência de um contrato, um perigo pode advir a outra parte contratante. (...) 2º) Espetáculos esportivos. Também aqui há obrigação de segurança, quando os organizadores de uma festa esportiva não separam convenientemente a área destinada aos espectadores da reservada prática dos

esportes, resultando daí acidentes.”69

Concluímos que a segurança é primordial frente aquele que lucra com

uma atividade de risco, este deve tomar todas as diligências possíveis e na

concretização de algum dano, responde apenas pela comprovação do nexo

causal, salvo se provar a inexistência de culpa.

69

Lopes, Miguel Maria de Serpa. Curso de Direito Civil: Fontes Acontratuais das Obrigações. 5. ed. rev. Rio de Janeiro: Freitas Bastos, 2001, v 5. p.189.

42

Diante dos espetáculos, também exemplifica Venosa:

“Outro exemplo que parece bem claro diz respeito a espetáculos populares, artísticos, esportivos etc. com grande afluxo de espectadores: é curial que qualquer acidente que venha a ocorrer em multidão terá natureza grave, por mais que se adotem modernas medidas de segurança. O organizador dessa atividade, independentemente de qualquer outro critério, expõe as pessoas presentes inelutavelmente a um perigo.”

70

Os riscos podem ser ampliados, por culpa dos próprios espectadores,

que podem interferir no desenvolvimento dos atletas, ou gerar lesões a

terceiros ou mesmo entre si, como marcaram as cenas trágicas no estádio

Couto Pereira, no dia 06/12/2009, quando emocionados pelo rebaixamento do

clube, os torcedores do Coritiba agiram de maneira bárbara e violenta,

depredando o estádio e partindo para cima dos policiais militares que faziam a

segurança.

Portanto imprescindível a precaução com diligências adequadas por

parte das entidades exploradoras do esporte, afastando a irresponsabilidade de

terceiros e protegendo também, os desavisados transeuntes que ali possam se

encontrar.

3.2 ENTIDADES REGULADORAS DAS MODALIDADES

O atleta, ao se filiar numa entidade desportiva, espera receber as

orientações necessárias, e a devida regulação do seu esporte, para que

desfrute de uma pratica saudável e prazerosa.

Portanto é um dever das confederações esportivas estabelecer e

fiscalizar critérios a serem adotados nos clubes e eventos, com a finalidade de

70

Venosa, Sílvio de Salvo. Direito civil: Responsabilidade Civil. 8. ed. São Paulo:Atlas, 2006, v 4. p.10.

43

promover principalmente a segurança dos seus filiados. Neste ponto,

acreditamos estar, a legislação espanhola, um passo a frente referente à

promoção da segurança nas competições oficiais:

“El principal deber de las federaciones viene regulado en el art.59 LD, en particular, en su apartado segundo, que dispone que „con independência de otros aseguramientos especiales que puedan establecerse, todos los deportistas federados que participen en competiciones oficiales de âmbito estatal deberán estar en posesión de un seguro obligatorio que cubra los riesgos para la salud derivados de la práctica de la modalidad deportiva correspondiente‟. Este seguro se conoce comúnmente como seguro obligatorio deportivo o seguro federativo (...)”

71 72

Estabelecendo, portanto, a legislação espanhola um seguro obrigatório,

também chamado de seguro federativo, abrangendo todas as modalidades

formais, incluindo atletas amadores e profissionais.

Neste sentido, temos na Lei Pelé, os artigos 45 e 94, quais definem a

obrigação de instituir seguro de acidente de trabalho para os atletas

profissionais a ela vinculados, exclusivamente para as entidades de prática

desportiva da modalidade futebol.

Embora, muito bem anotado por Rodrigues:

“(...), mesmo não figurando entre os citados artigos de lei, atendidos os demais requisitos legais, por atividade danosa que venham a ocasionar para seus afiliados ou terceiros, independentemente da modalidade desportiva, as entidades de administração desportiva respondem pelos prejuízos (exceto a título de trabalho. Muda-se o título, ou seja, a denominação, nasce a responsabilidade civil, com fulcro na Constituição Federal, por exemplo). Se,

71

Tradução por Mauro Cavanha: O principal dever das federações, vem regulado no art. 59 da Lei do Desporte, em particular na sua segunda seção, que dispõe que independente de outras garantias especiais que possam se estabelecer, todos os desportistas federados que participem de competições oficiais de âmbito estatal, deverão possuir um seguro obrigatório, que cubra os riscos para a saúde derivados da pratica da modalidade esportiva correspondente. Este seguro se conhece usualmente como seguro obrigatório desportivo, ou seguro federativo. 72

Salguero, José Piñero. Responsabilidad Civil. Práctica Deportiva y Asunción de Riesgos. Espanha:Civitas, 2009, p.387.

44

conforme o estipulado (artigo 45), não estão obrigadas de indenizar, também não estão isentas da obrigação, atendidas as demais circunstâncias legais.”

73

Portanto, apesar de a lei 9.615/98, limitar o seguro aos atletas

profissionais da modalidade futebol, as entidades também têm suas

responsabilidades diante dos seus filiados, sejam amadores ou profissionais,

portanto concluímos aconselhável a instituição do seguro, na forma da lei

espanhola.

73

Rodrigues, Hélder Gonçalves Dias. A Responsabilidade Civil e Criminal nas Atividades Desportivas. Campinas,SP: Servanda, 2004, p.243.

45

CONCLUSÃO

Frente a constatação da falta de seguro na maioria das relações

esportivas, constatamos ainda maior a importância do estudo realizado, pois

caracterizado o grande prestígio e lazer que o esporte proporciona, sendo algo

indispensável para qualquer sociedade, necessário é, estabelecer as diretrizes

e garantias aos atletas, sejam amadores, profissionais ou entusiastas.

No capítulo inicial diferenciamos as práticas desportivas, tanto referentes

ao gênero formalidade, como das particularidades de cada modalidade,

instituindo diferentes apreciações do risco assumido, conforme o grau de

contato e violência encontrado em cada esporte.

Conforme estudamos a responsabilidade civil, no capítulo segundo,

passamos pela grande evolução do dever de indenizar, e vimos que para a

geração deste dever é necessário constar o dano, o nexo causal, e a culpa.

No estudo da teoria do risco, vimos que a culpa pode ser dispensada, já

que nossa legislação tem o intuito de equilibrar a relação jurídica entre vítima e

agente, impondo o ônus de provar, ao agente que visa o lucro criando riscos

aos direitos de outrem.

Vimos também que o dano pode ser material ou moral, e que ao atleta

profissional cabe analisar a perda da chance e a conversão do dano moral em

patrimonial, já que este tem sua personalidade projetada economicamente.

Encontramos na pesquisa a limitação da culpa, diante do nexo causal,

qual estabelece critérios razoáveis das ações danosas, completando uma

conexão entre os resultados danosos e o agente infrator.

46

No último capítulo, fizemos a tipificação dos riscos que devem ser

suportados pelos atletas, anotando a importância do exame médico e da sua

exigência nas relações de consumo, além das necessárias instruções dos

perigos inerentes a cada modalidade específica.

Percorrendo também os riscos constitutivos da atividade profissional,

onde do atleta se espera a ousadia e, portanto na eminência de um dano, ele

confia na garantia de amparo do clube ou patrocinador.

No que se refere às relações de consumo, a presunção de culpa e a

teoria do risco, vão orientar o dever de indenizar. Neste ponto descobrimos que

se equiparam ao consumidor as vítimas dos eventos e que algumas normas do

Código de Defesa do Consumidor têm aplicação geral.

Podemos concluir que a proteção ao consumidor tem grande valor

social, protegendo tanto os atletas do esporte formal como o não-formal e

ainda terceiros espectadores ou não, que possam vir a ser lesados, a partir de

uma atividade esportiva.

Finalmente chegamos no dever das entidades administrativas do

desporto que devem normatizar e fiscalizar, buscando promover a segurança

dos atletas.

Assim, encerramos o trabalho, com a certeza dos direitos e deveres de

cada parte envolvida no esporte, discriminando os limites do risco consentido e

da falta de diligência exigida em cada caso. Sendo traçado um norte para

verificação da indenização cabível, seja na tentativa de restituir a lesão

proporcionada, seja para inibir a repetição do dano pelo agressor.

47

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