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Uni/Versos publicação da Biblioteca Alphonsus de Guimaraens As licenciaturas a distância da UFOP Carro Biblioteca da UFOP contos e mais... Ano 1, nº 2, maio de 2013 EDUFOP

Uni/Versos, ano 1, nº 2 - maio de 2013

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Uni/Versos, ano 1, nº 2 - maio de 2013

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Uni/Versospublicação da Biblioteca Alphonsus de

Guimaraens

As licenciaturas a distância da UFOP

Carro Biblioteca da UFOP

contos e mais...

Ano 1, nº 2, maio de 2013

EDUFOP

expediente

Uni/Versos - ano 1, nº 2, maio de 2013www.sisbin.ufop.br/bibichs/universos

Universidade Federal de Ouro PretoUFOP

Reitor - Marcone Jamilson Freitas SouzaVice-Reitora - Célia Maria Fernandes Nunes

Sistema de Bibliotecas e Informação SISBIN

Coordenadoria Executiva - Celina Brasil LuizCoordenadoria Técnica - Luciana Matias Fe-licio SoaresChefia do Núcleo Administrativo - Sione Galvão Rodrigues

Instituto de Ciências Humanas e SociaisICHS

Diretor - William Augusto MenezesVice-Diretora - Glícia Salviano Gripp

Biblioteca Alphonsus de Guimaraens(Biblioteca do ICHS)

Bibliotecária - Luciana de Oliveira(CRB/6-2630)

Bibliotecária - Michelle Karina Assunção Costa(CRB/6-2164)

Uni/Versos

Coordenação Geral

Michelle Karina Assunção Costa

Editores

Marcos Eduardo de SousaMichelle Karina Assunção Costa

Editora Assistente

Luciana de Oliveira

Projeto gráfico e editoração eletrônica

Marcos Eduardo de Sousa

Colaboradores desse número (em ordem al-fabética)

César dos Santos MoreiraGeisiane Anatólia Gomes

Gustavo Henrique Domingos PinheiroMarcos Eduardo de Sousa

Neide Nativa

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Uni/Versos é uma publicação mensal da Biblioteca Alphonsus de Guimaraens. Contatos telefones:(31) 3557-9414(31) 3557-9415Site: www.sisbin.ufop.br/bibichs/Email: [email protected]@gmail.com

EDUFOP

Uni/Versos de Biblioteca Alphonsus de Guimaraens / UFOP é licenciado sob uma Licença Creative Commons

Atribuição-NãoComercial-SemDerivados 3.0 Não Adaptada.Permissões além do escopo dessa licença podem estar disponível em

http://www.sisbin.ufop.br/bibichs/index.php/fale-conosco.

editorial

Michelle Karina Assunção Costa

Aqui estamos com mais um número da nossa revista digital. Primeiramente agradecemos a todos pela receptividade, elogios e cumprimentos que nos foi dado pela publicação Uni/Versos.

Continuando a abordar os projetos de Extensão, que forma o tripé da Univer-sidade (Pesquisa, Ensino e Extensão), vamos falar do Carro Biblioteca, que re-centemente esteve com a campanha de doação de Gibis/Histórias em quadri-nhos, e que contou com a colaboração da Biblioteca do ICHS. Afinal, parcerias são sempre bem vindas.

Comprometidos com a democratização da informação e pensando na ampliação do empréstimo das obras que compõem o acervo da biblioteca e no incentivo à leitura, teremos uma sessão que se cha-ma Memórias. Nela divulgaremos men-salmente autores conhecidos e que tem importância por suas obras literárias, sua produção intelectual e impacto na socie-dade.

Trataremos também do Ensino a Distân-cia (EAD), que é um processo de ensino--aprendizagem mediado por tecnologias. E por falar em tecnologias, utilizaremos as mesmas em benefício dos usuários, assim, decidimos ampliar a divulgação

dos periódicos assinados pela biblioteca. Apresentamos neste número o serviço de Sumário Eletrônico de Periódicos.

Neste número temos a colaboração de discentes dos cursos de História e Direi-to, e aproveitamos para reforçar o convite à comunidade acadêmica a participar da Uni/Versos. Vocês são muito bem vindos neste espaço de conhecimento.

Todo esforço foi realizado para que pu-déssemos disponibilizar uma publicação interdisciplinar que possa colaborar na aquisição de conhecimentos, como tam-bém no seu compartilhamento e que pos-sa atender o interesse de todos os leito-res.

Boa leitura a todos.

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A educação a distância na for-mação de professores na UFOP: uma análise das matrizes curric-ulares dos cursos de licenciatura

Mario Quintana (1906-1994)

W. G. Sebald (1944-2001)

sumário

Neide Nativa

César dos Santos Moreira

Marcos Eduardo de Sousa

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Carro Biblioteca da UFOP: Programa de Ex-tensão Trem Cultural: leitura, música, teatro e dança nas comunidades

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Observando o tédio

colabore conosco

Máquina de escrever

Sumário eletrônicode periódicos

sumário

Gustavo Henrique Domingos Pinheiro

Geisiane Anatólia Gomes

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O Carro Biblioteca da UFOP é um projeto de extensão da Biblioteca do IFAC, em parceria com o Departamento de Artes, e consiste numa biblioteca itinerante, com o objetivo de possibilitar aos moradores de bairros periféricos e distritos de Ouro Preto o acesso ao universo dos livros, da leitura e da informação, contribuindo para a inserção social, cultural e de cidadania desta população.

pectadores críticos.

Atualmente o Carro Biblioteca integra o programa Trem cultural: leitura, música, teatro e dança nas comunidades, que re-úne os projetos Mambembe - música e teatro itinerante, Carro Biblioteca e Ro-sários - Danças folclóricas brasileiras, reunindo atividades artísticas e cultu-rais da Biblioteca do Instituto de Filoso-fia, Arte e Cultura, do Departamento de Artes, do Departamento de Música e do Centro Desportivo da UFOP, que tem em comum a itinerância e a opção pelas co-munidades periféricas.

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Carro Biblioteca da UFOP: Pro-grama de Extensão Trem Cultural: leitura, música, teatro e dança nas

comunidades

Esta proposta teve início em 2006, vincu-lada a um programa de extensão chama-do “Literaturas itinerantes: literatura, mú-sica teatro nas comunidades”, composto pelo Carro Biblioteca e o Mambembe, um grupo experimental de teatro de rua, com o propósito de aplicar atividades educati-vas, artísticas e culturais para provocar o gosto e o prazer pela leitura, o interesse pelos livros e a formação de leitores e es-

Des

taqu

e

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Desde maio de 2010 o Carro Biblioteca cumpre uma agenda de visitas semanais às comunidades, com local e horário fi-xos, previamente definidos e divulgados aos moradores, levando um acervo bi-bliográfico de 1.950 exemplares de livros, catalogados e indexados em um sistema automatizado, composto por obras de li-teratura infanto-juvenil, obras de referên-cia, livros recreativos, de conhecimentos gerais,psicologia, história, literatura na-cional e estrangeira, biografias, roman-ces, culinária, autoajuda, etc.

O grupo de trabalho é composto por 4 bol-sistas, alunos do curso de Artes Cênicas, coordenado pela bibliotecária do IFAC e conta com a orientação pedagógica de um professor da área de arte-educação. As atividades são preparadas semanal-

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Carro Biblioteca da UFOP: Programa de Extensão Trem Cultural: leitura, música, teatro e dança nas comunidades

Coordenadora: Neide Nativa – Bibliote-cária do IFAC

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mente, envolvendo pesquisa na literatura de arte-educação e jogos educativos, dis-cussão e escolha das atividades a serem aplicadas e a preparação do material a ser utilizado. Os leitores são cadastrados e recebem uma carteira de identificação do usuário, por meio da qual passam a frequentar e utilizar os serviços ofereci-dos.

Atualmente, são 231 usuários com frequ-ência assídua, de um total de 388 inscri-tos, e as comunidades que estão sendo atendidas em 2012 são: Bairro Piedade, Bairro Santa Cruz e distrito de Santo An-tônio do Leite. No próximo semestre a agenda do Carro Biblioteca será amplia-da.

Contato: E-mail: [email protected].: (31) 3559-1511

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Carro Biblioteca da UFOP: Programa de Extensão Trem Cultural: leitura, música, teatro e dança nas comunidades

Mario Quintana (1906-1994)

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Dia 5 de maio é a data de morte do poeta, tradutor e jornalista brasileiro Mário de Mi-randa Quintana, que nasceu em Alegrete, dia 30 de julho de 1906 na cidade de Porto Alegre.

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Fonte: imagem retirada do site http://peregrinacultural.wordpress.com

Mem

órias

O sistema de bibliotecas da UFOP possui várias obras desse autor, como:

Na volta da esquina (1979);Nova antologia poética (1995);A cor do invisível (2005)

Traduções de Quintana:

No caminho de Swann (1957);Eu Claudius, imperador (1940); entre outras.

A educação a distância na for-mação de professores na UFOP:

uma análise das matrizes curricu-lares dos cursos de licenciatura

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O objetivo deste texto é falar da contri-buição da educação a distância (EAD) no contexto da formação de professo-res, bem como analisar as matrizes cur-riculares dos cursos de licenciaturas da Universidade Federal de Ouro Pre-to (UFOP). Não se pretende aqui fazer julgamentos de valor, apenas identifi-car disciplinas que visam o debate da EAD no processo de formação docente.

A educação a distância é hoje uma rea-lidade mundial, tendo desde o seu sur-gimento contribuído para a formação de milhares de pessoas. Seu fortalecimento na atualidade deve-se, principalmente, à popularização e facilidade de acesso à internet. No caso brasileiro, sua impor-tância está no papel social e educacional que cumpre, pois garante acesso a edu-cação, visto a imensidão do nosso terri-tório e a carência de algumas regiões do país por escolas, permite a qualificação profissional para o mercado de traba-lho e prepara os indivíduos para o con-vívio social, ao passo que os emancipa para a busca por melhores condições de vida e de garantia dos direitos humanos.

No contexto brasileiro a EAD vem cres-cendo e se fortalecendo, tendo longa tra-dição no ensino fundamental e médio,

no ensino técnico e profissionalizante e, mais recentemente, no âmbito do ensino universitário (graduação e pós-gradua-ção lato sensu), criando uma educação superior mais democrática e, também, permitindo a capacitação e qualificação de inúmeros profissionais nas diversas áreas e ramos do conhecimento. Atual-mente, são várias as instituições auto-rizadas a ofertar cursos de graduação e especialização, e segundo a ABED também é grande o número de oferta de cursos livres e profissionalizantes, que não precisam de regulamentação.

No âmbito do ensino fundamental e mé-dio, bem como da formação técnica e profissional, várias foram as iniciativas desenvolvidas, a que se destacar o Insti-tuto Universal Brasileiro em 1941 em São Paulo, com o ensino por correspondên-cia, caracterizado pelo material impres-so e distribuído por meio de empresas de correio; o Movimento de Educação de Base (MEB) na década de 1960 de-senvolvido pela Igreja Católica com o apoio do governo federal, com o uso do sistema radioeducativo; a Fundação Ro-berto Marinho com sua educação tele-visiva, ou também chamada de Teledu-cação ou Telecursos, a partir de 1980. Há também que destacar a criação dos

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Art

igo

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centros de educação a distância das di-versas instituições públicas de ensino brasileiras, principalmente, no contexto dos institutos federais de educação IFes.

Já no contexto do ensino superior, há que se destacar a criação da Universi-dade Aberta do Brasil (UAB) por inicia-tiva do Ministério da Educação no ano de 2005, com vistas à expansão da edu-cação superior, que por meio de editais de seleção para integração e articula-ção das propostas de cursos, apresen-tadas exclusivamente por instituições federais de ensino superior, bem como das propostas de polos de apoio presen-cial, apresentadas por estados e muni-cípios, permitiu a concretização do Sis-tema UAB. No ano de 2006, o segundo edital publicado permitiu a participação de todas as instituições públicas de en-sino, inclusive as estaduais e municipais.

E Minas Gerais há que destacar o Proje-to Veredas no contexto da formação de professores do ensino fundamental em exercício nas redes públicas, estadual e municipal, de iniciativa da Secretaria Es-tadual de Educação (MG), iniciado em 2002 e que envolveu um consórcio de cooperação interuniversitária composto por 18 instituições de ensino superior. Tal projeto foi desenvolvido na modali-dade a distância e visou suprir as defici-ências na formação profissional dos pro-fessores da educação básica, visto que “até até algumas décadas atrás, não se julgava necessário que os professores das séries iniciais do ensino fundamen-

tal tivessem uma formação sistemática aprofundada”(SALGADO, 2000, p.15).

Tal fato revela não só o fortalecimento da EAD no cenário educacional brasi-leiro, como também evidencia a supe-ração dos desafios iniciais de aceitação pela sociedade por essa modalidade de ensino e das barreiras legais e de aces-so às tecnologias. Outro fator importan-te, a UAB tem propiciado a formação de professores com a oferta de vagas não presenciais para o Plano Nacional de Formação de Professores da Educação, contribuindo para a diminuição do déficit pela demanda por professores qualifica-dos e capacitados para o ensino básico.

Segundo definição do Decreto 5.622 de 2005, a Educação a Distância é a moda-lidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a uti-lização de meios e tecnologias de infor-mação e comunicação, com estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversas.

No Brasil, as bases legais para a modali-dade de educação a distância foram es-tabelecidas pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (Lei n.º 9.394, de 20 de dezembro de 1996), que foi regula-mentada pelo Decreto n.º 5.622, publica-do no D.O.U. de 20/12/05 (que revogou o Decreto n.º 2.494, de 10 de fevereiro de 1998, e o Decreto n.º 2.561, de 27 de abril de 1998) com normatização de-finida na Portaria Ministerial n.º 4.361,

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de 2004 (que revogou a Portaria Minis-terial n.º 301, de 07 de abril de 1998 ).

De acordo com Neves (2005, p. 137) a EAD cumpre papel importante na demo-cratização da educação, além de propi-ciar a construção de conhecimento, do-mínio das tecnologias, desenvolvimento de competências e habilidades, autono-mia no processo de aprendizagem, etc. No contexto docente, prepara o profes-sor para o trabalho com os alunos de forma rica, moderna e dinâmica. A mes-ma torna-se mais proveitosa quando se propicia a aquisição de conhecimentos, a reflexão constante das práticas sociais e pedagógicas, assim como a articulan-do das diferentes áreas do conhecimen-to num processo de interdisciplinaridade.

Diferentemente da escolarização pre-sencial, o processo de aprendizagem a distância requer novas condições dos alunos, como determinação, perseve-rança, novos hábitos de estudo, novas maneiras para enfrentar as dificuldades, autonomia, habilidades com as tecnolo-gias da informação e comunicação, etc. Por outro lado, também demanda dos professores mais atenção ao proces-so de aprendizagem dos alunos, domí-nio das tecnologias, interlocução com os alunos via diferentes meios de comu-nicação, feedback constante, maximi-zação dos momentos presenciais, etc.

Vários são os recursos utilizados como suporte às ações no processo de ensi-no/aprendizagem a distância, como o

rádio, a TV, o telefone, carta, correios, o computador e a internet. Esses dois úl-timos têm assumido papel importante no fortalecimento da EAD, uma vez que permitem a integração de várias mídias como o texto, o hipertexto, o som, a ima-gem, as animações, o correio eletrôni-co e o chat, além de aproximar as pes-soas separadas no tempo e no espaço.

É importante saber que na modalidade de aprendizagem a distância, de nada adiantam as tecnologias quando as mes-mas não estão a serviço de uma educa-ção de qualidade. É necessário que o curso seja bem planejamento, com ma-terial didático claro e objetivo, elaborado segundo metas e objetivos relevantes ao processo educativo consciente, crítico e compromissado com o desenvolvimen-to do educando, de forma a permitir a construção e a troca de conhecimentos, devendo, pois, estar alicerçado num pro-jeto político-pedagógico de qualidade.

Analisando as matrizes curriculares dos cursos de licenciaturas presenciais da UFOP nos campi Ouro Preto (Licencia-tura em Ciências Biológicas, Física, Quí-mica, Matemática e Filosofia) e Mariana (Licenciatura em História, Letras e Peda-gogia), sendo eles:,não foram identifica-das disciplinas específicas acerca da te-mática da discussão da EAD. O que fica evidente é que a EAD ainda não tem seu espaço garantido no contexto da educa-ção presencial, ficando a temática restri-ta, talvez, às discussões no âmbito das disciplinas obrigatórias e/ou optativas.

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Já nos cursos de formação de professo-res a distância do CEAD/UFOP a temáti-ca é abordada em apenas uma disciplina introdução a EAD: Matemática - Estudo em EAD (carga horária de 30h/a); Peda-gogia - Educação Aberta e a Distância (carga horária de 60h/a); Geografia - Fun-damentos da Educação a Distância (car-ga horária de 60h/a). Apesar de contarem com disciplinas específicas para aborda-gem da EAD, as discussões são restritas a essas disciplinas de introdução, a priori.

Percebe-se que as escolas de formação do formação docente presencial ainda não incorporam a EAD em suas grades curriculares, evidenciando um descom-passo entre formação de professores e a modalidade a distância, em ampla as-censão no Brasil e no mundo. O que res-ta é se enveredar na temática no âmbito da pós-graduação latu sensu, onde cur-sos específicos sobre a EAD são oferta-dos aos diversos profissionais da educa-ção que se interessam pela modalidade.

Autores mostram que devido ao cres-cimento da EAD, houve a necessida-de de preparar tutores para dar supor-te aos alunos de tais cursos. Nota-se que, apesar dos enfrentamentos e das divergentes concepções de autores, to-dos concordam que a necessidade de formação e preparação do professor/tutor é uma realidade indispensável.

Segundo Vieira (2002, p. 25) com o crescimento da EAD, surge a neces-sidade de preparação de professores/

tutores para atuar na modalidade a dis-tância, pois considera-se inviável de-senvolver uma proposta de EAD sem investir na preparação de uma equipe que tenha domínio do conteúdo e conhe-ça a aplicabilidade pedagógica das no-vas tecnologias na prática do professor.

O que se percebe na realidade é que o processo de formação de professores na modalidade presencial negligencia a importância da modalidade EAD e suas especificidades. Nessa modalidade, o professor precisa estar preparado para lidar com um contexto criativo, aberto, di-nâmico e complexo. Em lugar da adoção de programas fechados, estabelecidos a priori, passa a trabalhar com estratégias, ou seja, com cenários de ação que podem modificar-se em função das informações, dos acontecimentos, dos imprevistos que sobrevenham no curso dessa ação.

Finalizando o assunto, de acordo com Gatti (2008, p.14) a educação pode ajudar na criação de condições de maior equi-dade social pelo seu papel disseminador de conhecimentos de formação de valo-res. Nesse sentido, a formação docente torna-se uma questão que merece novas considerações e novos posicionamentos.

Assim, é importante lembrar que carrei-ra e as condições de trabalho dos pro-fessores devem estar atreladas às polí-ticas de formação de professores, visto que o modo como se trata a formação docente define em parte a mediação que se espera da escola na socieda-

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de. Quanto mais importante se tratar a formação docente e a qualidade do en-sino, mais se investirá no processo de formação e capacitação de professores.

GATTI, Bernadete Angelina. Sobre formação de pro-fessores e contemporaneidade. In: KRONBAUER, S. C. G.; SIMIONATO, M. F. Formação de professores: abordagens contemporâneas. São Paulo: Paulinas, 2008.

SALGADO, Maria U. C. Um olhar inicial sobre a for-mação de professores em serviço. In: Salto para o futuro: um olhar sobre a escola. Brasília: MEC/SEED, 2000.

UNIVERSIDADE FEDERAL DE OURO PRETO. Pró--Reitoria de Graduação. Matriz Curricular. Disponível em: <http://www.prograd.ufop.br>. Acesso em: 20 abr. 2013.VIEIRA, S. L. Políticas de formação em cenários de reforma. In: VEIGA, I. P. A. Formação de professo-res: políticas e debates. Campinas: Papirus, 2002.

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Referências

BRASIL. Decreto nº 5.622, de 19 de dezembro de 2005. Regulamenta o art. 80 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Brasília: Casa Civil, 2005. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-2006/2005/decreto/D5622.htm>. Acesso em: 20 abr. 2013.

BRASIL. Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996. Brasília: Casa Civil, 1996. Estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9394.htm>. Acesso em: 20 abr. 2013.

NEVES, A educação a distancia e a formação de professores. In: ALMEIDA, Maria Elizabeth B.; MO-RAN, José Manuel. Integração das tecnologias na educação: salto para o futuro. Brasília: MEC/SEED, 2005. p. 136-141

KOLLING, João Inácio. O movimento de educação de base: uma religação ao compromisso político--social. Disponível em: <http://www.unilasalle.edu.br/lucas/assets/upload/MEB.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2013.

FARIA, Adriano A.; VECHIA, Ariclê. O Instituto Univer-sal Brasileiro e a gênese da educação a distância no Brasil. Cadernos de Pesquisa: Pensamento Educa-cional, Universidade Tuiuti do Paraná, 2011. Disponí-vel em: <http://www.utp.br/Cadernos_de_Pesquisa/pdfs/cad_pesq13/8%20_o_iub_cp13.pdf>. Acesso em: 20 abr. 2013.

César dos Santos Moreira - Especialista em Educação a Distância (Senac Minas) – Gra-duando em Tecnologia em Gestão da Quali-dade (IFMG Campus Ouro Preto) - Pós-gra-duando em Gestão Escolar (CEAD UFOP) - Bibliotecário e Coordenador da Biblio-teca do Instituto Federal de Minas Gerais (IFMG) – Campus Ouro Preto

W. G. Sebald (1944-2001)

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O escritor alemão Winfried Georg Maxi-milian Sebald, conhecido no meio literá-rio como W. G. Sebald, é tido como uma das vozes mais distintas e importantes da literatura européia na passagem do sé-culo XX para o século XXI. A obra sebal-diana destaca-se tanto pela peculiarida-de com que são abordados os elementos temáticos quanto pelas características de sua organização textual. Chama a aten-ção a intensa articulação realizada entre imagem e texto, elemento esse presente tanto em seus textos literários (de prosa e de poesia) quanto nos trabalhos aca-dêmicos.

Sebald nasce em 18 de maio de 1944, em Wertach, na Alemanha, e faleceu, com 57 anos, em um acidente de carro, em 14 de dezembro de 2001, próximo a Norwich na Inglaterra. Se estivesse vivo, o autor faria, nesse mês, 69 anos. O con-junto de sua obra só ganha ampla reper-cussão internacional após a publicação de seu quarto texto em prosa, Austerlitz, em 2001. Apesar da importância da obra do autor e as primeiras traduções serem lançadas no Brasil em 2002, somente nos últimos anos houve um aumento no número de trabalhos desenvolvidos so-bre sua obra nos programas de pós-gra-duações brasileiros.

É interessante notar, como a formação inicial na Alemanha e o auto-exílio na In-glaterra a partir de 1970 para trabalhar na Universidade de East Anglia influencia-ram de sobremaneira sua escrita. Como menciona Susan Sontag (2005), sua pro-

sa não possui os traços característicos da prosa de língua inglesa e que o efeito obtido só poderia ser fruto de “um escri-tor alemão com domicílio permanente no exterior, no reduto de uma literatura im-buída de uma predileção moderna pelo anti-sublime, poderia se permitir um tom nobre tão convincente” (p. 68)

Entre os elementos temáticos que mais chamam atenção em obras, e não so-mente nas ficcionais, mas também em seus trabalhos acadêmicos, podemos elencar: a relação entre memória e trau-ma; a representação das paisagens tanto naturais quanto urbanas, na maioria das vezes associada à destruição, devasta-ção; a peregrinação, a viagem; e os for-tes aspectos intertextuais.

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Mem

órias

Foto: imagem retirada do site http://www.wgsebald.de

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Ainda com relação aos aspectos formais, observamos que há uma forte presen-ça do hibridismo textual, com a mescla de características de diversos gêneros como biografia e autobiografia, história e ficção, relatos de viagem e documen-tário. E, apesar desse hibridismo, seus textos estão longe das experimentações pós-modernistas, pois há uma seriedade ética e política profunda em seus textos. Temos ainda um considerável conheci-mento enciclopédico que abarca a his-tória cultural, política e social européia e uma preocupação permanente com eventos históricos recentes, como o Ho-locausto (LONG; WHITEHEAD, 2004).

Sebald faz parte de uma geração que carrega a sina de serem descendentes dos perpetradores, um estigma do qual não podem ver-se livres. Essa informa-ção auxilia na percepção de sua obra como inscrita nas reflexões sobre a me-mória, o testemunho, a representação e o Holocausto.

Sebald joga com o limiar entre o docu-mental e o ficcional, ao utilizar- se na composição de seus textos de uma infi-nidade de relações intertextuais, quase sempre referendadas pelas imagens que acompanham as obras, cria um efeito como se o seu narrador dissesse, “é ver-dade o que estou contando” (SONTAG, 2005), oferecendo assim ao leitor médio muito mais do que ele normalmente exi-giria de verossimilhança, cristalizando o ‘efeito de real’.

A Biblioteca do ICHS possui as seguin-tes obras do autor:

LiteráriasVertigens: sensações (2008);

Os emigrantes: quatro narrativas longas (2009);

Os anéis de saturno (2002);

Austerlitz (2008);

Ensaios acadêmicosOn the natural history of destruction: with essays on Alfred Andersch, Jean Amery and Peter Weiss (2004);

Pútrida pátria: ensayos sobre literatura (2005);

Campo santo (2007).

Referências

LONG, J. J.; WHITEHEAD, Anne. Introduction. In: LONG, J. J.; WHITEHEAD, Anne (orgs.). W. G. Se-bald - a critical companion. Seattle: university of Washington Press, 2004. p. 3–16.

SONTAG, Susan. Uma mente de luto. In: SONTAG, Susan. Questão de ênfase: ensaios. Tradução de Rubens Figueiredo. São Paulo: Companhia das Le-tras, 2005. p. 61–70.

W. G Sebald (1944-2001)

Marcos Eduardo de SousaPós-graduando em Letras: Mestrado em Estudos da Linguagem pela UFOP

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No intuito de disseminar ainda mais a informação presente na Biblioteca, como também aumentar a velocidade que esta informação chega aos seus usuários, foi criado o Sumário Eletrônico de Periódicos. Todo mês disponibilizamos no site http://www.sisbin.ufop.br/bibichs/index.php/periodicos os novos exemplares de periódicos recebidos pela biblioteca.

Este serviço foi iniciado em janeiro de 2013, e com ele, a recuperação e o aces-so à informação ficam mais ágeis, se ganha tempo na realização das pesquisas de artigos, onde através do acesso remoto permite ao usuário ter em mãos os dados exatos da revista que ele precisa e ir direto ao acervo de periódicos da biblioteca.

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Sumário eletrônico de periódicos

Máquina de escrever

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Máquina de escrever, papel, café, passarinho. Papel, ideia, máquina de escrever. Não tinha como sair alguma coisa dali, mas ele tentava a todo custo. Alinhou o papel trocentas e tantas vezes, o café acabou e a cigarra já tinha toma-do o lugar do tico-tico como trilha sonora. Resolveu tomar banho.

Todos dizem que lá encontram a solução, levou gibis pra ler e colocou tou-ca de plástico, abriu a cachoeira e lem-brou que não tinha sabonete. “Hoje não tem problema, amanhã uso até bucha”.

Acabou com a água da casa, ficou com os dedos enrugados, até a palma e nada. Saiu e lembrou que tam-bém tinha esquecido a toalha… Fez-se de desentendido e foi ver se tinha roupa limpa. Achou um pé de meiaazul e outro xadrez, vestiu a calça de sempre, pegou uma camisa que estava na maçaneta e se deu outro banho, esse de desodoran-te. “Quem sabe não aparece alguém”?

Café, cream cracker, cadeira, máquina, sentiu o jeans justo quase o partir ao meio: lembrou, ou melhor, es-queceu-se da cueca. “Logo aí José?” Achou uma no sofá, parecia limpa, tirou o jeans e a colocou. Desistiu do jeans e voltou pra cadeira... Cadeira.

Máquina de escrever, papel……“Cadê você inspiração”? Nada.

DingDong!

Dingdong!

Olhou no relógio e já era tarde, quase meia noite. “Quem pode ser a essa hora. Só falta ser um vendedor chato”. Levantou e foi até a porta olhou para o olho mágico… - Algum vendedor?!

Não conseguiu ver quem era... O corredor escuro, o olho mágico embaça-do. Quem será nessa escuridão?

DingDong! “Quem é”? DingDong! “Tá surdo é caralho”?! A campainha pa-rou. Ficou mais alguns segundos atrás da porta. Nada. “Merdinha, aposto que é algum moleque”. Voltou pra cadeira, ligou a TV, só tinha estática. Esqueceu que a antena tinha quebrado. “O jeito é o rádio a pilha”..

Bzzz… “Aqueles ojos verdes”… Bzzz.. “O melhor bauru da cidade”… Bzzz… “Bauru, que porcaria de rádio é essa”? Bzzz… “Não sei por que”…“Vai essa”!

Depois de uma hora na base da radiola deu de dormir e o pior, de sonhar. Acordou assustado. No rádio bzzz:

Sentado no chão da rua, feita de paralelepípedos teóricos, com os cabelos molhados pela neblina e os dedos roxos de frio. “Quem era ela”? Mulata perdida. Logo naquela esquina?

Resolveu ir até ela, mas cadê força pra levantar? E a mulata deu de es-

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Em

Pro

sa

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pirrar e embranquecer…

DingDong!

Era o céu azulando clarinho. A mulata pegou e foi…

DingDong!

Ele ainda preso e ela indo.

Dingdong!

Indo… Indo pra onde? “Que por-ra de campainha”!

Acordou.

DingDong!

DingDong!

***

Estava deitado sobre a máquina, com papel amassado entre os dedos. Largou o papel, socou a mesa e correu para a porta. Abriu.

A mulata! Sacudiu a cabeça. “Não pode ser”. Cambaleou. Não era ela. “O senhor está bem”? –Perguntou o por-teiro. Ele segurou a porta e afirmou me-lhora.

— Tome suas cartas, da semana toda.

— Obrigada.

Fechou a porta sem se despedir, sentou no chão, jogou a papelada para o lado e ficou quieto e mais: Pela janela e lá de fora vinha mais. Era som de tico--tico.

A padaria ficava a alguns metros. “Quero pão”. Falou pra ninguém, deita-do no chão. Na expectativa de voltar a si, apoiou na parede e levantou, pegou o jeans, sacou da gaveta uns trocados e de baixo do sofá seus tênis surrados. Catou seus pedaços e abriu a porta, que a essa hora já achava maldita, virou as costas e saiu.

— Seu José, alguém perguntou por mim, altas horas da noite?

— Não senhor. Miguel disse que a noite foi tranquila.

— Obrigado.

***

Saiu e deu de cara com a rua cheia de gente e de nada. Via um povo preocupado demais com seus proble-mas, ele nem ligou. Estava com eles, ab-sorto em suas próprias complicações.

“Mas como não foi ninguém? Deve ter sido mesmo algum moleque desses do prédio”. Mal viu já estava na padaria. Pediu pão na chapa e café forte. Engoliu os dois e nem deve ter sentido o gosto do pão que tanto queria. Jogou uns caraminguás no balcão e foi logo saindo.

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Quando de susto parou e viu a mulata.

“Não pode ser”!

Foi em sua direção. Quando che-gou onde a tinha visto, não viu nada, nem ela.

“Estou perdido”, pensou. “Na flor da idade e tendo alucinações”. Meio que inconscientemente, olhou para os lados. Quem sabe via ela. Nada.

Chegou em casa, olhou pra cam-painha e a odiou sem motivo. Tirou os pa-rafusos com o canivete e cortou os fios. “Ninguém me atormenta mais”. Isso era feito antes das dez. O dia ia ser longo. Suspirou e fechou a porta.

***

Era meio dia e nem sinal o dia dava de virar noite. Ele tinha se perdido entre o sofá e a mesa, estava abraçado a radiola que tocava uma música que ele mal conhecia e que entoava que a gente é feito pra acabar.

Parado, olhando para a trinca que corria do teto ao rodapé, só conse-guia lembrar-se da mulata dos paralele-pípedos teóricos. Corroía ainda, dentro dele, uma falta de forças e ele caia em perdição quando lembrava que precisa-va do livro até o fim do mês. “Céus, como faço? Não saí da folha em branco. Faz quase meio ano”.

“Outro banho. É isso. Dessa vez com sabão e bucha”. Foi tirando a rou-pa sem largar o rádio, já estava em pelo na frente do chuveiro. Ajeitou a radiola na pia, aumentou o volume e abriu a ca-choeira. Era assim que gostava de cha-mar a água fria de todo dia. Isso mesmo, gostava de banho de água fria, gelada.

Ficou lá com a mão no registro, se sentia fraco, queria reanimar, tirar dele essa coisa que veio do nada. E a mulata na cabeça...

A mulata ia tal como no sonho: Espirrava e ia embranquecendo. Indo, e ele simplesmente via tudo ficar turvo. Deu de se esfregar com força e abrir no peito manchas vermelhas pela sofreguidão.

Dingdong!

Parou. “Mas como”?

DingDong!

Saiu às pressas do chuveiro que nem desligou. Catou a toalha, enrolou na cintura e passou entre os móveis, che-gou à porta. Com receio pôs a mão na maçaneta…

DingDong!

Assustou-se. Soltou a maçane-ta, se retraiu. “Como”? Sentia a loucura beirando a vida.

Tirou forças emocionais da curio-

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sidade e abriu.

***

Era ela.

A mulata que não lhe saia da ca-beça.

Ele se sentiu tonto e caiu. Quan-do voltou a si, era só ele a porta, a toalha de lado, o rosto em chamas. A cabeça ainda girava, olhou pra dentro de casa e não viu ninguém. “Você está aqui”? Nada. Se enrolou de novo na toalha e correu até o porteiro. “Alguém passou por aqui? Uma mulata? Seu José”?

— Ninguém não senhor. O se-nhor está bem?

— Bem…

Correu escada acima e não se conteve quando viu a campainha no lu-gar. Ele tinha deixado os fios expostos. “Como”? Não se abalou em fechar a por-ta. “Como”?

Não percebeu que estava nu. A toalha tinha ficado pela escada. Pegou o canivete que estava no braço do sofá e abriu a campainha, os fios intactos. “Como”? Arrebentou com as mãos o fio. Tomou um choque.

Crasss.

“O que foi isso”? Largou o ca-

nivete pelo caminho e foi à procura do motivo do barulho. Um copo caído. Viu a janela aberta e se deu por vencido. “Se não for o vento não me importa o que te-nha sido”. Pulou os cacos de vidro e se jogou na cama. Eram duas horas e ele não aguentava mais o dia, estava à es-pera da salvação. Já aceitava que o con-siderassem louco.

***

— Conrado? A porta estava aber-ta fui entrando. Conrado? Que bagunça é essa?

Pela porta do quarto vinha altivo, Antônio. Pálido sem porque, mas de óti-ma aparência, amigo de longa data e úni-ca visita constante. Os cacos do copo na mão e a toalha azul desbotada no ombro.

— O que te aconteceu? O seu José disse que você tá estranho desde cedo. Conrado?

Havia adormecido dobrado como um feto, sem lençol, sem proteção. O amigo o cobriu com a toalha e foi dar jeito no que desse pra ajeitar na casa. Eram quatro da tarde e a noite, como em todo verão, não dava sinal.

***

Conrado. Era esse o nome do gabo que estava se achando a beira da loucura. Era branco paulista, cor de ter-ra da garoa; evitava sol e por isso era

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realmente branco. Não era forte, não era fraco, – Só das ideias… – Tinha cabelos ondulados e castanhos escuro. Já tinha sido rebelde, agora só queria sossego e dar cabo da promessa do livro.

***

“Humm”. Era cheiro de café novo. Da ja-nela só se via a luz do poste. Já era noi-te. Sentiu fria a toalha úmida escorregar para o chão. Não viu a bagunça frequente do quarto, mas nem ligou. Abriu o guarda roupa e sem saber por que resolveu se vestir bem. Meias iguais, camisa nova, que estava ali sem importância, mas era nova. Não se esqueceu da cueca dessa vez, mas preferiu um jeans mais solto. Não olhou no espelho pequeno que fica-va perto da porta e saiu do quarto. Viu Antônio.

— Até que enfim a Bela Adorme-cida deu de acordar, estou aqui há horas. Que arrumação toda é essa?

Parou, pensou se deveria ou não contar da loucura em que estava caindo. Decidiu deixar isso pra depois, ou pra nunca.

— Nada demais Toni. Era o que tinha no quarto. Pelo visto enquanto a Bela Adormecida esperava o príncipe que não veio a Gata Borralheira deu jeito no castelo, não é?

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Olhando pra todos os lados só via limpeza, se é que isso se vê. Tinha café quente o esperando e a radiola estava ao lado de Antônio que estava enrolado com um lenço anil no pulso.

— Café?

— Isso mesmo, nada daquela água suja que você bebe. Me fala,que que te houve? Achei sua toalha na esca-da, Seu José falou que você andou pro-curando uma mulata… Tá de casinho é?!

— Quem me dera… A campa-inha tá funcionando?

— Nem sei, a porta da sua casa estava aberta. Você tá estranho, alguma belezinha nova? Nada de sintéticos viu, coisa boa é natural…

*** — Conrado? Fala comigo… Você realmente não tá de boa.

Voltando a si: — Que isso, só es-tou preocupado com o livro. E você em?! Que anda aprontando? Faz uma semana que não te vejo…

Antônio e Conrado deram de fa-lar da semana. Antônio falava, Conrado ouvia. Parecia que ouvia. O que ele não conseguia era tirar os paralelepípedos teóricos da cabeça.

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***

— Conrado, estou indo pra rua. Tira essa cara da mesa e para de babar. Vamos?

Era sonho, mais uma vez sonho. Levantou sem sentir e foi. Pra onde não sabia. Deu de cara com o relógio, quase dez.

Ouviu passar a chave na porta e sentiu alguém às colocando no bolso. Foi levado da porta até a portaria sem nem sentir um degrau. Só caiu em si quando tropeçou no gato da portaria.

Era noite de sexta, a única coisa que ele poderia esperar era loucura, mas dessas que qualquer um pode ter. Não dessas que ele tinha. Deixou de lado à mulata e decidiu dançar, mesmo que nada disso soubesse.

Bebeu qualquer coisa enquan-to Antônio cumprimentava mais amigos, não seus, dele.

Amigos ele teve poucos, tinha menos que uma mão cheia, o mais cons-tante era mesmo Toni. Conhecido dele desde os anos antes da universidade. Ele era agora caça talentos de uma editora, o que foi de grande ajuda, já que sem ele provavelmente estaria carimbando pa-péis na prefeitura. Antônio conseguira a promessa da publicação de um livro seu e um bom dinheiro por seis meses. Os quais já iam se esgotando. Se não escre-

vesse nada teria que devolver o dinheiro, que não tinha, e claro ficaria sem nada. Bebeu mais a isso.

Não sentiu o tempo passar de novo. Não percebeu os olhares que sem-pre recebia por sua beleza. Não sentiu nem o copo de cerveja barata que tinham entornado nele após um esbarrão. En-controu Antônio e se despediu. Foi pra casa a pé, não se lembrava do dinheiro no bolso pra pedir um táxi.

Começou pelo caminho certo, mas logo deixou de reconhecer as placas e as pedras do caminho. Parou em uma praça e resolveu sentar-se no banco.

E as pessoas que tanto amavam a noite deram de desfilar para ele.

Primeiro um trio de meninas: Cambaleantes, rindo como se só dis-so dependesse a vida. Todas quase da mesma altura, uma delas tinha o batom borrado, ele viu quando ela se encostou ao poste. Ria como respirava, lhe pare-cia natural e involuntário. Ele achou lin-do. Logo elas seguiram caminho.

Viu, pouco tempo depois, um casal que fazia declarações a quem quisesse ouvir, diziam que se amavam infinitamen-te. Diziam: — “Te amo Pedro, mais do que tudo. — Quem disse? Eu que te amo assim. Assim como aquele mocinho do filme Bernardo! Te amo assim”… E deu de esticar os braços tentando demons-trar a imensidão daquele amor. Saíram

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como entraram: apaixonados.

Frame a frame aquilo suaviza-va tudo que estava em constante cho-que na cabeça dele, resolveu que ia falar de amar. Não esse amar de filme. Amar da vida real. Amor que a gente vê em ri-sos involuntários e naturais, amor à vida. Amor que a gente vê entre os braços que denotam o infinito.

Levantou-se e corrigiu o cami-nho, estava a poucos metros de casa quando a viu. “De novo isso”? A mulata que ele viu embranquecer e o tinha aju-dado a se levantar no sonho. Não sabia mais o que era sonho ou não, supunha. Correu. Dessa vez tinha que ser real. Trombou com cinco ou quatro e correu. Ela também corria, ria. Ele sabia. “Para de rir, gritava. Me espera”! Fazendo toda aquela algazarra tropeçou e caiu, viu-a parar.

Escuridão.

*** Uma mão. Duas.

— Você está bem?

Era ela.

— Não me deixa aqui…

***

“Que frio. Que chão frio”. Abrindo

os olhos era como se nada tivesse sido feito. Era pura escuridão. Levantou, não tinha onde apoiar. “Que frio”.

Uma mão. Duas. Alguém o ajuda-va a levantar. Quente. “Que mão quente”. Percebeu que estava sem camisa e a luz veio. Era ela. A mulata agora de cabelos soltos e camiseta. “Você”! Cambaleou. Ela riu e o pôs de pé. Ele não queria se soltar dela. “Não foge de novo. Eu estou ficando louco”. Ela riu.

— Você é bobo.

Ela falou. Ela…

***

Uma luz forte, muito barulho. Ela novamente.

— Ele vai ficar bem?

— Acho que sim.

—O que você foi fazer Conrado?

Atônito.

— Antônio? É ela! Ela!

***

Acordou desconfortável. Abriu os olhos. “Que lugar claro”, achou um reló-gio na parede. “Oito da manhã”? Quan-do olhou para o lado viu Toni e seu lenço anil, agora sobre os olhos. Quis se levan-

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tar. Sentiu uma forte tontura. Estava em um hospital. “Enfermeira”!

— “Conrado”? Antônio se dese-quilibrou da cadeira e foi logo se pondo de pé. “Garoto você ainda me mata do coração. Tá melhor? Que história é essa de sair correndo pra lugar nenhum? Olha a sua cabeça, você levou o maior tom-bo”…

Enquanto ele falava pelos coto-velos demonstrando toda sua preocupa-ção. Ele só fez passar a mão pela cabe-ça. Estava enfaixada.

— Onde ela está?

— Ela quem? Você realmente está louco. Ontem agindo todo estranho, agora isso. Repete como um mantra: “Ela, ela, onde ela está...” Quem é ela Conrado?

— Ela me ajudou ontem, eu es-tava atrás dela. A mulata.

— Não tem ninguém, você está louco?

A enfermeira chegou e Antônio teve de sair.

Passaram-se alguns dias e ele já podia ir pra casa. Toni estava lá e foram pra casa.

Chegando ao prédio viu Seu José com o gato no colo, fez um chamego nele

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e foi logo para as escadas. Foi devagar, mas sem demora. Viu a campainha que tanto o incomodava concertada, pegou as chaves e abriu a porta que já não era tão maldita. A casa cheirava a limpeza. Toni sorriu ao vê-lo reclamar do excesso de limpeza. Os dois riram.

No relógio nove da manhã. Na mesa pão, que dessa vez foi engolido as migalhas e supramente saboreado como tudo que é simples, mas faz a alma feliz.

Mais tarde quando Antônio tinha ido trabalhar ligou o computador e foi para o editor de textos. Como manteve a ideia de falar de amor se sentiu com poderes pra fazer pelo menos pequenos trechos.

Faltavam duas semanas, mas devo adiantar pra quem se importe com ele, que o livro foi entregue sem mais tar-dar no último dia do prazo.

Porém até lá…

***

Terça-feira, oito da manhã. Con-rado e o teto, papel, caneta. Bolas de papel amassada para todos os lados do quarto.

Mesmo aceitando, não conse-guia parar. “Como ela não existe? Eu a vi”! No rádio algum poema musicado. Na janela cortinas que não sabia de onde ti-nham vindo. Nos olhos nada de íris ou pupila. Só o rosto dela.

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Desistiu da cama e se levantou. Mais um banho. De bucha, com sabão. De desodorante. Lá na sala a sua espera o novo amigo: O computador.

Tinha feito cem páginas ou mais. Uma ficção sobre esses amores de toda hora.

Cabelos molhados, barba por fa-zer, blusa de moletom com as mangas dobradas até o cotovelo…

Café, pão, computador, amor. Na radiola… Bzzz…

DingDong!

Esse som ainda o fazia mal, mas se portou e ir a seu chamado. Era Miguel, porteiro da noite.

— Sim?

— Soube de sua melhora. Enfim, resolvi te ver…

Meio confuso, desajeitado.

— Bem melhor. Entra?

— Não posso, tenho que ir.

Despediram-se. No rádio… Bzzz…

***

Terça a noite, cem páginas e

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outros rascunhos. “Eu mereço um café, quem sabe até um cigarro”. Foi o que fez apoiado no parapeito da janela, soltan-do suas nuvens de nicotina. Seu José ia saindo, eram nove horas, Miguel já tinha chegado. No fim da rua sons de criança chorando. Ao sul casais e velas.

Sentiu-se obrigado a gritar.

Um urro qualquer que fez os ca-sais procurarem sua fonte e o provável bebê parar.

Não sabia o porquê daquilo, jo-gou o cigarro pela janela. Largou o café e decidiu que ia achá-la. Lembrou que ventava forte quando estava na janela, achou algo que mantivesse o calor, catou as chaves e foi-se embora.

Escada. Portaria. O gato.

Rua.

Quarta.

Quinta.

Sexta.

Destituído de forças, repleto de fome e frio. Deu-se por vencido. Tomou rumo de casa, a qual encontrou cheia. Antônio, o gato, Miguel. Uma sujeira des-comunal.

Toni levantou. Foi em sua dire-ção…

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Um abraço.

Um soco no rosto.

***

Uma mão. Duas. Firmes…

Ela.

Não.

Ele.

Miguel.

Nunca tinha reparado, ele era as-sim um moreno que ia embranquecendo. Cabelos até a nuca que pareciam corta-dos na rapidez.

— Você?

Ele riu.

Ele.

Escuridão.

Na radiola… “O melhor bauru da cidade…” Bzzz… “um chão de esmeral-das…”.

— Deu fim a soneca da Bela adormecida? Já ia chamar alguém pra medir o tamanho do caixão.

Era sonho.

— Toni?

Risos.

— Vamos sair Conrado, já pas-sou da hora.

Era sonho.

— Não posso… O livro.

Estava decidido, pronto.

— É isso. Ele!

— Ele quem?

Tudo se alinhava, o gato, a mu-lata, Miguel, Seu José. A campainha, a radiola, Antônio sem nenhum lenço anil.

— Quem estava com você no hospital? Quando eu estava lá?

— Miguel. Ele te encontrou en-quanto ia voltando do bar. Ficou estra-nhamente mais preocupado que eu.

— E o livro?

— Eu liguei ontem e o Miguel pe-gou qualquer coisa dos papéis e do com-putador e me mandou. Se não entregas-se nada ontem você já estaria debaixo da ponte… Mas sem problemas, pelo que li, ficou ótimo. Falando nisso o que ele es-tava fazendo aqui?

DingDong!

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A esperança bateu nele quando deu de olhar no relógio. Quase dez. Que seja ele.

Abriu.

O mulato, quase embranqueci-do. Cabelos até a nuca, mal cortados.Na mão o gato que logo saiu fagueiro.

Não pode se segurar quando olhou aqueles olhos cor de mel com todo desejo possível e não teve dúvidas quan-do abaixo daqueles olhos e de um nariz bem feito viu um sorriso malicioso e sa-boroso desabrochar. Olhou para Antônio, esse de mão no café e no gato.

— É ele!

Ele.

Ele era ela. A mulata que estava nos sonhos dele, quem tinha o segurado com as mãos, as duas. Era ele quem ha-via visto depois daquele pão na chapa. Ele era a mulata que não saia da cabeça dele.

***

Depois de sonhos, surtos de acordar e estar dormindo, Conrado deu de descobrir que enfim era tudo culpa do gato.

Do gato do Miguel.

Mulato embranquecido.

Era tudo desejo de afagar aque-le cabelo mal cortado e agregar mais um dedo na mão ao contar dos amigos... Esse, ele passou pra outra mão com gos-to. Parecia destinado a ser mais que ami-go.

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Geisiane Anatólia GomesEstudante do 3º período de História da UFOP

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Dois de novembro, feriado, té-dio. Era sempre assim. Eu ficava louco para chegar o feriado e quando chega-va... Tédio. Nunca tinha pensado nisso. As vezes queremos tanto uma coisa e quando ela se concretiza, tudo vira tédio. Eram assim em todos os feria-dos. Doido para as aulas terminarem, punha-me a pensar nas mil maravilhas de um dia “atôa” que eram restritas ao meu pensamento. Em todos os feria-dos, rezava para que o tempo passas-se logo, e os dias comuns voltassem a correr.

Então, por que querer tanto um feriado?

Creio que as respostas são muito mais amplas do que eu poderia supor. Mas nesse feriado observei algo que antes nunca havia observado: eu simplesmente observei. Observei o té-dio. Não o compus. Eu observei, em al-guns momentos, o deixei tomar conta de mim, e logo o mandei embora, para que ele não me atrapalhasse.

O feriado dos dias dos mortos estava ensolarado, quente. E eu, sem nada para fazer, fui mexer no computa-dor. A internet não funcionava. Fui para na TV. Nada. Voltei para o computador ver se a internet tinha voltado e nada. Respirei fundo e tentei ler um livro, contudo, a preguiça de ler era tanta, que nem cheguei a ler uma linha. Ofi-

cialmente, não tinha nada para fazer. Não consigo entender como as pesso-as acham isso bom. Fazer nada é tão chato! Mais chato do que ter de fazer alguma coisa. Deitei-me na cama e fui tentar imaginar alguma coisa para fa-zer. Não consegui imaginar nada que me fizesse sair da cama e mexer meu corpo. Acho que, na verdade, era mi-nha própria mente me castigando, di-zendo: “você não queria ficar atôa, en-tão fique”.

Graças a Deus, não é minha mente a única capaz de me tirar do té-dio. Conclui isso logo que vi a vizinha me chamando para jogar peteca. Cris-tina era uma amiga de infância que a muito tempo não conversava. Achei que era uma oportunidade de colocar a conversa em dia, relembrar as nos-sas armações e rejuvenescer nossa amizade. Na rua, além dela, estava a sua mãe, sentada na calçada. Cumpri-mentei-a e joguei a peteca pra cima e começamos a brincar. Pra lá, pra cá, pra lá, pra cá, pra lá, pra cá... Até que fomos descansar um pouco. Aperta-mo-nos entre a sua mãe e começamos a conversar. Não. Elas começaram a conversar e me puseram como ouvin-te. Não que tenham me isolado da con-versa, achavam que estavam conver-sando comigo, mas eu não conseguia reagir às palavras e frases despejadas sobre mim.

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Observando o tédioE

m P

rosa

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Começaram a falar sobre a vizi-nha que está no hospital. Com um cer-to tipo ironia chula e tosca, inerente a esse tipo de pessoa, elas falaram mal da velha, acusaram-lhe de fofoqueira, de querer tomar conta da vida dos ou-tros, de grossa e intriguista. Interrom-peram o assunto quando viram a sua bisneta brincando na rua. Devem ter fi-cado com medo de que ela escutasse alguma coisa, pensei ingenuamente. Para o meu espanto, elas começaram um festival de provocações contra a pobre criancinha que estava brincando com um quebra-cabeça.

Mãe, tira sua filha da rua! Sol-tou Cristina. E a mãe, sem deixar cair o nível: Cristina, o que ocê tá fazendo na rua, não tem mãe não! E nós sol-tamos gargalhadas, afinal, por mais cruel que fosse, era divertido, e além do mais, aquela criancinha nem estava entendendo nada. Mas eu entendia e isso deveria ser o bastante.

Constrangido comigo mesmo, sugeri que continuássemos a jogar pe-teca. Dessa vez, foi a mãe que se le-vantou brincou comigo. Todavia o mal já estava feito. Mesmo jogando, a mãe e a filha não deixavam de fazer comen-tários maliciosos sobre qualquer um que passasse pela rua. Por fim, apenas observei o comportamento das duas. No primeiro momento achei que elas eram as pessoas mais insignificantes

do mundo. Não faziam mal a ninguém a não ser a elas mesmas. Uma pessoa que não serve pra melhorar, nem pra piorar é totalmente insignificante. De-pois vi que isso não era verdade, por-que nada é insignificante, elas estavam tendo um efeito sobre mim e significava muito. Porém isso era restrito a mim, o que tornava, para o resto do mundo, insignificante. Então, tudo era insignifi-cante! O mundo era insignificante. No fundo, nada tinha efeito sobre nada, as palavras ditas por elas, as pessoas so-bre as quais elas falavam e o meu pen-samento sobre tudo aquilo. Era algo estranho de se imaginar, sem sentido.

Em suma, todos nós busca-mos, em vão, sermos significativos. Mas como queremos ser significativos quando não sabemos o que significa-mos? Aquelas duas mulheres fofocan-do na rua, eram duas almas fugindo do tédio, buscando significados falsos para que assim pudessem significar alguma coisa. E eu, mais covarde que elas, não me atrevi a significar nada, pois isso me tornaria falso, o que não quer dizer que já não estivesse sendo falso.

No meio dos meus devaneios, resolvi ir para casa entregar-me ao té-dio do restante do feriado. Quando me despedi delas e dei as costas, tive cer-teza de que elas estavam falando de mim. Ri e pensei em quantas vezes

Observando o tédio

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elas já tinham me criticado, debocha-do, e qualquer outra coisa...

No fundo, sei que sempre fica-rei feliz porque um feriado estiver che-gando, mesmo sabendo que ele será pior que um dia comum. Talvez isso já seja um falso significado que invento para enfrentar os feriados. Talvez não seja nada. A verdade é que daqui al-guns dias, haverá um novo feriado e novamente a inquietação e a euforia tomam conta de mim, que venha o 15 de novembro (prolongado)!

Observando o tédio

Gustavo Henrique Domingos Pinheiro Estudante de Direito da UFOP

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A publicação Uni/Versos convida todos os seus leitores a enviarem seus tex-tos para o nosso próximo número.

Aceitaremos textos nas seguintes temáticas:

• que abordem a inter-relação entre a universidade e a sociedade;• sobre os projetos de Extensão e Pesquisa da UFOP;• resenhas de livros que fazem parte do acervo da Biblioteca do ICHS e que tenham sido publicados (ou reeditados) nos últimos 5 anos;• textos literários e artísticos nas seguintes modalidades: prosa (como con-to, por exemplo), lírica (como poesia, por exemplo) e quadrinhos/charges;• textos que abordem temáticas relevantes da área de humanidades.

Orientações para envio

Os textos devem ter entre 500 (quinhentas) e 2 (duas) mil palavras, resguar-damo-nos ao direto de realizar pequenas intervenções nos textos (não lite-rários) para a publicação. No caso de quadrinhos e charges o limite é de 1 (uma) página em tamanho A4. Lembramos ainda que os textos serão avalia-dos e podem ser publicados até mesmo em números futuros (informaremos aos autores se for essa a situação).

Os autores deverão enviar juntamente como texto uma pequena nota bio-gráfica contendo: nome completo, instituição de formação e curso e o atual vínculo institucional (se tiver). Deve ser encaminhado ainda, uma foto que irá acompanhar o texto da publicação.

Os textos deverão ser encaminhados para o e-mail [email protected]

O prazo máximo de envio do texto para a publicação no próximo número é dia 31 de maio!!!

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col@bore conosco!