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VIVÊNCIAS PRÁTICAS DO EDUCANDO NA EJA Luciane Oliveira da Gama Nadine Buchhorn Bierhals Orientadora: Prof. Simone Silva Martins Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI Licenciatura em Pedagogia (PED1060) 21/11/2016 RESUMO A Educação de Jovens e Adultos (EJA) em suas diferentes modalidades – alfabetização, ensino fundamental e ensino médio – oferece a oportunidade de começar ou prosseguir os estudos a todos aqueles que não tiveram ensino na forma convencional. Sendo assim, os alunos da EJA diferem-se dos demais devido às dificuldades de frequentar a escola na idade certa. Os motivos que geram estas dificuldades variam de acordo com cada contexto, mas os preconceitos sofridos na sociedade são os mesmos, assim como são semelhantes as motivações que os levam de volta a uma sala de aula. A necessidade de qualificação para conseguir um emprego ou de concluir os estudos de forma mais rápida e fácil e a vontade de saber ler o que está a sua volta, são motivos que fazem os alunos optarem pela EJA, superando preconceitos e abrindo novos horizontes de sonhos e possibilidades. Dessa forma, a importância da Educação de Jovens e Adultos e de seus programas está na transformação social. Palavras-chave: Educação. Jovens e Adultos. Modalidades. Vivências. Alunos da EJA. 1 INTRODUÇÃO Este trabalho tem como tema as vivências práticas do educando na EJA e um dos seus objetivos é conhecer as diferentes modalidades da educação de jovens e adultos, salientando o que ela acrescentou na vida dos educandos e conhecer alguns motivos que levaram estes alunos a frequentar a EJA e não o ensino na forma convencional, conhecendo também um pouco da história de seu idealizador e seus objetivos, demonstrando suas contribuições para a sociedade. Os educandos da EJA se diferenciam dos demais devido às dificuldades de frequentar a escola convencional, na idade certa. As razões que geram estas dificuldades variam de acordo com o contexto de cada aluno, mas os preconceitos sofridos por eles na sociedade são os mesmos, assim como as motivações que os levam a frequentar uma sala de aula. Para melhor compreender estes aspectos foram realizadas entrevistas com alunos que participaram da EJA e seus relatos ajudaram a compor este trabalho, mostrando a importância desta modalidade de educação para a sociedade.

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VIVÊNCIAS PRÁTICAS DO EDUCANDO NA EJA

Luciane Oliveira da Gama

Nadine Buchhorn Bierhals

Orientadora: Prof. Simone Silva Martins

Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI

Licenciatura em Pedagogia (PED1060)

21/11/2016

RESUMO

A Educação de Jovens e Adultos (EJA) em suas diferentes modalidades – alfabetização, ensino

fundamental e ensino médio – oferece a oportunidade de começar ou prosseguir os estudos a todos

aqueles que não tiveram ensino na forma convencional. Sendo assim, os alunos da EJA diferem-se

dos demais devido às dificuldades de frequentar a escola na idade certa. Os motivos que geram

estas dificuldades variam de acordo com cada contexto, mas os preconceitos sofridos na sociedade

são os mesmos, assim como são semelhantes as motivações que os levam de volta a uma sala de

aula. A necessidade de qualificação para conseguir um emprego ou de concluir os estudos de

forma mais rápida e fácil e a vontade de saber ler o que está a sua volta, são motivos que fazem os

alunos optarem pela EJA, superando preconceitos e abrindo novos horizontes de sonhos e

possibilidades. Dessa forma, a importância da Educação de Jovens e Adultos e de seus programas

está na transformação social.

Palavras-chave: Educação. Jovens e Adultos. Modalidades. Vivências. Alunos da EJA.

1 INTRODUÇÃO

Este trabalho tem como tema as vivências práticas do educando na EJA e um dos seus

objetivos é conhecer as diferentes modalidades da educação de jovens e adultos, salientando o que

ela acrescentou na vida dos educandos e conhecer alguns motivos que levaram estes alunos a

frequentar a EJA e não o ensino na forma convencional, conhecendo também um pouco da história

de seu idealizador e seus objetivos, demonstrando suas contribuições para a sociedade.

Os educandos da EJA se diferenciam dos demais devido às dificuldades de frequentar a

escola convencional, na idade certa. As razões que geram estas dificuldades variam de acordo com

o contexto de cada aluno, mas os preconceitos sofridos por eles na sociedade são os mesmos, assim

como as motivações que os levam a frequentar uma sala de aula. Para melhor compreender estes

aspectos foram realizadas entrevistas com alunos que participaram da EJA e seus relatos ajudaram a

compor este trabalho, mostrando a importância desta modalidade de educação para a sociedade.

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Então, em um primeiro momento será identificado o idealizador da Educação de Jovens e

Adultos, abordando de forma breve as suas contribuições para esta modalidade, mostrando em

seguida os programas que fazem parte da EJA, em especial o Programa Brasil Alfabetizado (PBA).

Por fim, através dos relatos dos entrevistados, será abordado sobre as modalidades da EJA, bem

como as dificuldades encontradas nelas, por que são atrativas e quais as suas contribuições na

sociedade.

2 EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

2.1 EJA: SEU IDEALIZADOR, SEUS PROGRAMAS E BENEFÍCIOS PARA SOCIEDADE

O idealizador da EJA foi Paulo Freire que via a educação como um meio de transformação,

sendo assim, ele acreditava que o acesso à educação era um direito de todos, independente de sua

classe social. Iniciou sua trajetória na alfabetização de adultos na cidade de Angicos com um grupo

de trabalhadores na qual foram alfabetizados em torno de 45 dias, além de alfabetizar resgatava neles

a coragem, a vontade e a força para participarem do mundo de forma crítica e consciente. Também

trabalhou desenvolvendo o Programa Nacional de Alfabetização para jovens e adultos.

Uma das principais ideias de Paulo Freire era partir da realidade de cada comunidade,

criando assim um tema gerador, que valorizava os saberes e as experiências vividas por cada um,

onde o professor não é o detentor dos saberes e sim um mediador que irá repartir suas experiências

com seus alunos, ensinando e aprendendo com eles. Conhecemos mais sobre o método de Paulo

Freire segundo as palavras de Oliveira (2013, p. 131):

A proposição pedagógica de Paulo Freire está baseada numa visão crítica e transformadora,

nasce como uma forma de se contrapor à concepção alienadora e alienante de homem e de

educação, propondo uma pedagogia dos homens, empenhando-se na luta por sua libertação.

Pensou num método de educação construído em cima da ideia de um diálogo entre

educador e educando, onde há sempre partes de cada um no outro.

A Educação de Jovens e Adultos no Brasil teve vários programas criados pelo governo

federal, sendo eles o MOBRAL (Movimento Brasileiro de Educação), o PNAC (Programa Nacional

de Alfabetização), o PAS (Programa de Alfabetização Solidária), o PROEJA (Programa Nacional

de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na modalidade de Educação de

Jovens e Adultos), o PROJOVEM (Programa Nacional de Inclusão do Jovem), o PRONERA

(Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária) e o PBA (Programa Brasil Alfabetizado).

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2.2 EJA – ALFABETIZAÇÃO

O Programa Brasil Alfabetizado é um dos mais atuais e que transforma a vida de pessoas

analfabetas, como diz uma aluna que participou deste programa no período de dezembro de 2014 a

julho de 2015 quando se refere a importância de saber ler e escrever: “ me sinto muito bem sabendo

ler e escreve...minha vontade era continuar estudando...me sentia descriminada por não saber ler e

escrever.” (conforme anexo da entrevista de Santa Terezinha Oliveira da Silva)

Como podemos perceber as pessoas que não tiveram acesso a escolaridade na idade certa se

sentem descriminadas e muitos falam que é como se fossem cegas, pois olham para as letras e não

enxergam, ou melhor, não entendem o que está escrito e se vão para lugares maiores como centros

urbanos, se sentem perdidos e muitas vezes isso acontece realmente, por isso a importância da EJA

e destes programas específicos para a alfabetização de adultos e idosos. Sendo assim identificamos

na entrevista que o objetivo do Programa Brasil Alfabetizado foi alcançado com sucesso, pois de

acordo com o Portal do MEC, este programa tem por objetivo:

Promover a superação do analfabetismo entre jovens com 15 anos ou mais, adultos e idosos

e contribuir para a universalização do ensino fundamental no Brasil. Sua concepção

reconhece a educação como direito humano e a oferta pública da alfabetização como porta

de entrada para a educação e a escolarização das pessoas ao longo de toda a vida. (MEC).

2.3: EJA – ENSINO FUNDAMENTAL E MÉDIO

Um dos principais objetivos da Educação de Jovens e Adultos é proporcionar o acesso a

educação aos alunos que não puderam ou não tiveram oportunidade de frequentar a escola regular

na idade certa, esta modalidade de ensino esta aberta para inscrição de jovens a partir de 15 anos

para o ensino fundamental e 18 anos para o ensino médio, conforme o CNE( Conselho Nacional de

Educação) que está em vigor desde junho de 2010:

A idade mínima para o desenvolvimento da EJA com mediação da EAD será a mesma

estabelecida para a EJA presencial: 15 (quinze) anos completos para o segundo segmento

do Ensino Fundamental e 18 (dezoito) anos completos para o Ensino Médio.

A partir desta iniciativa podemos perceber que todas as pessoas que tiverem interesse em se

alfabetizar terão esta oportunidade.

Uma das características incomum dos alunos da EJA é a dificuldade em frequentar a escola

na idade certa, alguns por falta de tempo ou de motivação, outros por problemas financeiros como

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relata a aluna que concluiu o ensino médio na modalidade da EJA “(...) parei de estudar porque

meus pais não tinham condições de pagar o transporte do interior para a cidade”. (conforme anexo

da entrevista realizada com Elizandra Bueno Ribeiro). Este e outros aspectos levam muitos a perder

o interesse em continuar seus estudos. Porém quando precisam de qualificação para concorrer há

uma vaga de emprego resolvem voltar seus estudos. No caso desta aluna foi vivenciando uma aula

da alfabetização de adultos e idosos que a motivou em voltar a estudar.

Ainda levando em conta relatos feitos através de entrevistas com alunos que estudaram na

EJA temos outro caso comum de adolescentes que não querem cursar o ensino regular e esperam

atingir a idade de 15 anos para ingressarem na EJA, muitos deles trabalham em turno integral e

acham difícil conciliar os estudos com o serviço e por isso optam pela modalidade que consideram

ser mais fácil e rápida, no caso a EJA ensino fundamental, conforme a entrevistada Carem Bianca

Pastorim da Costa(consta a entrevista em anexo): “Cansaço físico era a única dificuldade porque eu

trabalhava todo dia! (...) pois sabia que precisava concluir a EJA para terminar aquela etapa da

minha vida.”

Sendo assim concluímos que as dificuldades para continuar os estudos são diversas, porém o

que predomina nos alunos entrevistados é a vontade de continuar estudando e superando seus

medos, inseguranças e limitações, pois como disseram, eles aprenderam e se reconhecem como

vencedores.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Percorrendo aspectos relacionados à modalidade de ensino da Educação de Jovens e

Adultos, percebe-se o quanto Paulo Freire, idealizador da EJA, foi fundamental para o início de

uma nova forma de lidar com os métodos de ensino, ou seja, com os projetos direcionados a jovens

e adultos.

Percebe-se também que os programas de alfabetização que fazem parte da EJA, como o

PBA destinado a jovens com mais de 15 anos de idade, adultos e idosos, mostram a tentativa de se

diminuir o crescente número de analfabetos a partir desta faixa etária no país, tendo seus métodos

de ensino baseados nas ideias de Paulo Freire, que consideram as experiências de cada um como

ponto de partida para a alfabetização. Dessa forma, a EJA contribui não só para a superação do

analfabetismo, mas principalmente para levar a todas aquelas pessoas que não tiveram acesso a

educação na infância e adolescência a possibilidade de ler o mundo a sua volta, participando e

transformando a realidade em que vivem.

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A dificuldade de frequentar a escola na idade certa é umas das peculiaridades dos alunos da

EJA, que em função disso acabam muitas vezes sofrendo preconceitos na sociedade. Conforme

constatou-se com os alunos entrevistados, muitos são os motivos que justificam esta dificuldade,

como dificuldades financeiras, falta de tempo ou de motivação. Contudo, a necessidade de

qualificação para conseguir um emprego ou de concluir os estudos de forma mais rápida e fácil e a

vontade de saber ler o que está a sua volta, são motivos que fazem os alunos optarem pela EJA.

Portanto, considerando todos os aspectos estudos até aqui, é possível afirmar que a

contribuição e a importância de uma modalidade de ensino como a da Educação de Jovens e

Adultos está na transformação social, pois a partir do momento em que uma pessoa é alfabetizada

ela não somente aprende a ler, escrever ou a realizar cálculos, mas também passa a enxergar a

realidade que vivencia, superando preconceitos e abrindo novos horizontes de sonhos e

possibilidades.

REFERÊNCIAS

ANZORENA, Denise Izaguirre; BENEVENUTTI, Zilma Mônica Sansão. Educação de Jovens e

Adultos. Indaial: UNIASSELVI, 2013.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. 17ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.

MEC, portal do. Orientações sobre o Programa Brasil Alfabetizado. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_content&id=17457&Itemid=817> Acesso em : 16

out. 2016.

MEC. Resolução nº 3, de 15 de junho de 2010. Institui Diretrizes Operacionais para a Educação

de Jovens e Adultos. Disponível em:

<http://portal.mec.gov.br/index.php?option=com_docman&view=download&alias=5642-rceb003-

10&category_slug=junho-2010-pdf&Itemid=30192> Acesso em: 16 out. 2016.

OLIVEIRA, Fernanda Germani de. Abordagens Psicológicas da Aprendizagem. Indaial:

Uniasselvi, 2013.

TAMAROZZI, Edna; COSTA, Renato Pontes. Fundamentos metodológicos em EJA II. Curitiba:

IESDE Brasil S.A., 2007.

TODOS pela educação. Adolescentes trocam o ensino regular pelo acelerado. Disponível em:

<http://www.todospelaeducacao.org.br/educacao-na-midia/indice/30380/adolescentes-trocam-o-

ensino-regular-pelo-acelerado> Acesso em: 16 out. 2016.

UFRGS. Educação de Jovens e Adultos. Disponível em:

<http://www.ufrgs.br/psicoeduc/wiki/index.php/Educa%C3%A7%C3%A3o_de_Jovens_e_Adultos

#Desenvolvimento> Acesso em: 16 out. 2016.

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ANEXOS

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