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ANTROPOLOGIA TEOLÓGICA

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CURSOS DE GRADUAÇÃO - EAD

Antropologia Teológica – Prof. Ms. Eugenio Daniel e Prof. Dr. Sávio Carlos Desan Scopinho

Meu nome é Eugenio Daniel. Sou formado em Filosofia e Teologiacom especialização em Educação, com ênfase no Ensino e Aprendi-

zagem, e em Filosofia Clínica e Filosofia para criança e Psicopedago-

gia: processo ensino-aprendizagem. Atuo como orientador vocacio-

nal há mais de 30 anos e leciono Filosofia e Antropologia Teológica

em vários cursos. Mestre em Ciências e Prácas Educavas pela

Unifran (SP), sou coordenador geral de Ação Comunitária do Centro

Universitário Clareano.

E-mail : [email protected]

Meu nome é Sávio Carlos Desan Scopinho. Sou diretor acadêmico

das Faculdades Integradas Claretianas de Rio Claro-SP, onde atuo,

também, como professor, ministrando a disciplina Antropologia

Teológica. Tenho o título de Doutor em Teologia Dogmática pela

Pontifícia Universidade Gregoriana de Roma (1995-1997), com a

seguinte tese: "Igreja e ‘Laicato Adulto’: A ‘Teologia do Laicato’ nas

Conferências Gerais do Episcopado e no debate teológico da América

Latina" (1955-1995). Também sou mestre em Filosofia pelo Programa

de Mestrado em Filosofia Social, da Pontifícia Universidade Católica de Campinas (SP).

O tema da minha dissertação, que culminou na publicação de um livro, foi: "Filosofia e

Sociedade Pós-Moderna: a reflexão de Gianni Vattimo para uma compreensão da crise

dos paradigmas da Modernidade". Fiz, ainda, um MBA em Administração Acadêmica &

Universitária, nas Faculdades Integradas Pedro Leopoldo, em Belo Horizonte (MG). O

título do Trabalho de Conclusão de Curso foi "Avaliação Institucional Externa e a Formação

do Corpo Docente: entre a legislação e a realidade". Tenho bacharelado em Teologia pela

PUC de Campinas (1986-1989) e mestrado em Teologia pela Faculdade Nossa Senhora da

Assunção, em São Paulo (1991-1995), e licenciatura em Filosofia pela PUC de Campinas(1982-1985). A dissertação de mestrado em Teologia versou sobre o seguinte tema: "A

questão epistemológica nas obras de Juan Luis Segundo e sua contribuição para um

estudo crítico da Teologia que deve ser da libertação".

E-mail : [email protected]

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ANTROPOLOGIA TEOLÓGICA

Prof. Dr. Sávio Carlos Desan ScopinhoProf. Ms. Eugênio Daniel

Plano de Ensino

Caderno de Referência de Conteúdo

Caderno de Atividades e Interatividades

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© Ação Educacional Clareana, 2010 – Batatais (SP)

Trabalho realizado pelo Centro Universitário Clareano de Batatais (SP)

Curso: Graduação

Disciplina: Antropologia Teológica

Versão: ago/2010

Reitor: Prof. Dr. Pe. Sérgio Ibanor Piva

Vice-Reitor: Prof. Ms. Pe. Ronaldo Mazula

Pró-Reitor Administravo: Pe. Luiz Claudemir Boeon

Pró-Reitor de Extensão e Ação Comunitária: Prof. Ms. Pe. Ronaldo Mazula

Pró-Reitor Acadêmico: Prof. Ms. Luís Cláudio de Almeida

Coordenador Geral de EAD: Prof. Areres Estevão Romeiro

Coordenador de Material Didáco Mediacional: J. Alves

Corpo Técnico Editorial do Material Didático Mediacional

PreparaçãoAletéia Patrícia de Figueiredo

Aline de Fátima GuedesCamila Maria Nardi Matos

Cáa Aparecida Ribeiro

Dandara Louise Vieira MatavelliElaine Aparecida de Lima Moraes

Elaine Cristina de Sousa GoulartJosiane Marchiori Marns

Lidiane Maria MagaliniLuciana A. Mani Adami

Luciana dos Santos Sançana de MeloLuis Henrique de Souza

Luiz Fernando TrentinPatrícia Alves Veronez Montera

Rosemeire Cristina Astolphi BuzzelliSimone Rodrigues de Oliveira

Revisão

Felipe AleixoIsadora de Castro Penholato

Maiara Andréa AlvesRodrigo Ferreira Daverni

Vanessa Vergani Machado

Projeto gráfico, diagramação e capa

Eduardo de Oliveira AzevedoJoice Cristina Micai

Lúcia Maria de Sousa FerrãoLuis Antônio Guimarães Toloi

Raphael Fantacini de OliveiraRenato de Oliveira ViolinTamires Botta Murakami

Wagner Segato dos Santos

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução, a transmissão total ou parcial por qualquer

forma e/ou qualquer meio (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia, gravação e distribuição na

web), ou o arquivamento em qualquer sistema de banco de dados sem a permissão por escrito do

autor e da Ação Educacional Claretiana.

Centro Universitário ClaretianoRua Dom Bosco, 466 - Bairro: Castelo – Batatais SP – CEP 14.300-000

[email protected]: (16) 3660-1777 – Fax: (16) 3660-1780 – 0800 941 0006

www.claretiano.edu.br

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SUMÁRIO

PLANO DE ENSINO

APRESENTAÇÃO1 ............................... ................................. ................................ .. 7DADOS GERAIS DA DISCIPLINA2 ............................... ................................. ........... 8CONSIDERAÇÕES GERAIS3 .............................. ................................. .................... 10BIBLIOGRAFIA BÁSICA4 .............................. ................................. ......................... 11BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR5 ............................ ................................. ........... 11EREFERÊNCIA6 ................................. ................................. ................................. . 12

CADERNO DE REFERÊNCIA DE CONTEÚDO

INTRODUÇÃO1 ............................. ................................. ................................ ....... 13ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA DISCIPLINA2 ............................ ..................... 14

SER HUMANO E SOCIEDADE: CONTEXTO HISTÓRICUNIDADE 1 O

OBJETIVOS1 ............................. ................................. ................................. ........... 37CONTEÚDOS2 ............................... ................................. ................................. ...... 37ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE3 ................................ .................... 38INTRODUÇÃO À UNIDADE4 ............................. ................................ ..................... 40SER HUMANO5 ............................. ................................. ................................ ....... 43

CONTEXTO HISTÓRICO6 ............................. ................................. ......................... 45SER HUMANO E SOCIEDADE7 ............................. ................................. ................ 55CAMINHOS A PERCORRER8 ............................. ................................ ..................... 62QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS9 ................................. ................................ ........... 67CONSIDERAÇÕES10 ............................ ................................. ................................. .. 68REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS11 .............................. ................................. ........... 68EREFERÊNCIA12 ................................. ................................. ................................. . 69

SER PESSOA UMA PROPOSTA HUMANISTUNIDADE 2 A

OBJETIVOS1 ............................. ................................. ................................. ........... 71CONTEÚDOS2 ............................... ................................. ................................. ...... 71

ORIENTAÇÕES GERAIS PARA O ESTUDO DA UNIDADE3 ................................. ...... 72INTRODUÇÃO À UNIDADE4 ............................. ................................ ..................... 73DIMENSÕES DA PESSOA5 ................................ ................................. .................... 76QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS6 ................................. ................................ ........... 88CONSIDERAÇÕES7 ............................. ................................ ................................. .. 88REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS8 .............................. ................................. ........... 89

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SER PESSOA, ÉTICA E CIDADANIUNIDADE 3 A

OBJETIVOS1 ................................ ................................. ................................. ........ 91CONTEÚDOS2 ............................. ................................. ................................. ........ 91ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE3 .............................. ...................... 92INTRODUÇÃO À UNIDADE4 ................................ ................................. ................. 93O SER HUMANO COMO PESSOA5 ............................... ................................. ........ 94

QUESTÃO DA CIDADANIA6 ................................. ................................. ................. 109QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS7 .............................. ................................. ............. 118CONSIDERAÇÕES8 ............................... ................................ ................................ 119EREFERÊNCIAS9 ............................. ................................ ................................. .... 121REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS10 ............................ ................................. ............. 122

APÊNDICE .............................. ................................ ................................. .................. 123

ANEXO 1 ................................. ................................. ................................. ................. 147

ANEXO 2 ................................. ................................. ................................. ................. 161

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Plano de Ensino

APRESENTAÇÃO1.

Seja bem-vindo!

Estamos iniciando os estudos de Antropologia Teológica, queé uma disciplina institucional do Claretiano; por isso, faz parte dagrade curricular de todos os cursos, tanto presenciais quanto EaD.

Será muito bom desenvolvermos juntos esta disciplina, quepossui dois eixos principais: o estudo da nossa realidade sociale a apresentação da proposta humanista do Centro UniversitárioClaretiano.

Este estudo se inicia com a análise das situações das socie-

dades em cada época histórica. Serão mencionados alguns outrosfatores que cercam o ser humano na sua vivência social e no seurelacionamento consigo mesmo e com o outro. Por isso, serãoabordados alguns temas importantes que envolvem a situação hu-mana, tais como cidadania e ética.

PE

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Centro Universitário Claretiano

8 © Antropologia Teológica

No  Apêndice  deste Caderno de Referência de Conteúdo,apresentamos o Projeto Educativo Claretiano, base de todo o pro-cesso educacional. Ao conhecê-lo, você saberá com detalhes aspretensões da Instituição.

Dessa forma, você poderá entender como o ser humano étratado até hoje, como a situação da sociedade e os pensamen-tos e propostas de cada época influenciaram na maneira de ser decada um. Mais importante que isso, você terá a oportunidade deconhecer a proposta humanista e toda a liberdade para vivenciá-la

e aplicá-la em suas atividades profissionais.

Desejamos que você faça bons estudos e tome decisões co-rajosas para sua vida.

DADOS GERAIS DA DISCIPLINA2.

Ementa

Aspectos históricos que envolveram o ser humano e influen-

ciaram a concepção social, ao mesmo tempo em que a sociedadeinfluenciava a concepção de pessoa. As implicações nas diferentesáreas da atuação do ser humano. A maneira como a sociedade atualconcebe e trata o ser humano, bem como as implicações decorren-tes disso. Noção de pessoa a partir do Projeto Educacional Claretianoe as correlações nas diferentes áreas de atuação do ser humano.

Objetivo geral

Os alunos da disciplina  Antropologia Teológica, na modali-

dade EaD, de todos os cursos do Claretiano, dado o Sistema Ge-renciador de Aprendizagem e suas ferramentas, serão capazes deperceber como a pessoa foi vista e tratada no decorrer da históriae como ela é vista e tratada hoje na sociedade em que vivemos. Apartir disso, poderão perceber, ainda, que tipo de pessoa quere-mos para os dias de hoje.

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© Plano de Ensino 9

Com esse intuito, os alunos contarão com recursos técnico-peda-gógicos facilitadores de aprendizagem, como Material Didático Media-cional, bibliotecas físicas e virtuais, ambiente virtual, bem como acom-panhamento do professor responsável, do tutor a distância e do tutorpresencial, complementado por debates no Fórum.

Ao final desta disciplina, de acordo com a proposta orientadapelo tutor, os alunos terão condições de interagir com argumentoscontundentes, além de dissertar por meio de comparações e de-monstrações sobre o tema estudado, elaborando resumo, síntese,

entre outras atividades. Para este fim, levarão em consideração asideias debatidas na Sala de Aula Virtual, por meio de suas ferra-mentas, e, também, o que produziram durante o estudo.

Competências, habilidades e atitudes

Ao final deste estudo, os alunos do curso  Antropologia Te-ológica contarão com uma sólida base teórica para fundamentarcriticamente sua prática e serão capazes de analisar, compreendere discutir as influências da atual sociedade em suas vidas e o que

poderá ser feito para construir uma nova forma de ser e de agir norelacionamento consigo mesmo, com o outro, com o mundo emque vivemos e com Deus.

Além disso, adquirirão as habilidades necessárias não so-mente para cumprir seu papel de profissional nesta área do saber,mas também para agir com ética e com responsabilidade social.

Modalidade

( ) Presencial ( X ) A distância

Duração e carga horária

A carga horária da disciplina  Antropologia Teológica é de 30horas. O conteúdo programático para o estudo das três unidadesque a compõem está desenvolvido no Caderno de Referência de

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© Antropologia Teológica

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Conteúdo, anexo a este Plano de Ensino, e os exercícios propostosconstam no Caderno de Atividades e Interatividades (CAI

É importante que você releia, no Guia Acadêmico do seu curso, asinformações referentes à Metodologia e à Forma de Avaliação da disciplina  Antropologia Teológica. A síntese dessas informa-ções consta no "cronograma" na Sala de Aula Virtual – SAV.

CONSIDERAÇÕES GERAIS3.O Plano de Ensino serve de orientação para que você saiba

o que será apresentado no estudo desta disciplina. Por meio dele,você terá informações sobre o que estudar, seus objetivos, as Bi-bliografias Básica e Complementar e um resumo geral de tudo oque será estudado.

O importante é que você não perca de vista o objetivo doestudo a que se propõe a Antropologia Teológica e o objetivo doseu curso.

Este Plano de Ensino apresenta os conteúdos da disciplina(organizados em unidades), as etapas do estudo e indica a biblio-grafia para que você possa aprofundar seus estudos sobre os te-mas apresentados no Caderno de Referência de Conteúdo (CRC).

É claro que este estudo não será feito de maneira solitária.Você poderá contar com toda a estrutura do Sistema Claretiano,com os seus tutores, tanto presenciais quanto a distância, e com acompanhia de seus colegas que, com você, trilham este estudo.

Você contará com o Caderno de Atividades e Interatividades 

(CAI), no qual são propostas atividades e interatividades que facilita-rão seus estudos. Com participação ativa, você conseguirá reter osconceitos na memória, poderá entender com mais clareza os conte-údos e trocar suas experiências e conhecimentos com seus colegas.

Sucesso em sua caminhada!

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© Plano de Ensino 11

BIBLIOGRAFIA BÁSICA4.

BOFF, L. Saber cuida: ética do humano – compaixão pela terra. São Paulo: Vozes, 2004.

CLARETIANO, Centro Universitário. Missão e Projeto Educativo. Batatais, 2005.

FRANKL, V. E. Sede de sentido. São Paulo: Quadrante, 1989.

MONDIN, B. Definição filosófica da pessoa humana. Bauru: Edusc, 1998.

BIBLIOGRAFIA COMPLEMENTAR5.

ALVES, R. O que é Religião?  São Paulo: Brasiliense, 1981

 _________. Filosofia da Ciência. Introdução ao jogo e suas regras. 8. ed. São Paulo:Brasiliense, 1986.

ARDUINI, J. Destinação Antropológica. São Paulo: Paulinas, 1989

ASSMANN, H. Crítica à lógica da exclusão. São Paulo: Paulus, 1994.

BETTO, F.; BOFF, L. Mística e espiritualidade. Rio de janeiro: Garamond, 2005.

BOFF, L. O Destino do homem e do mundo. São Paulo: Vozes, 2003.

 ______. Tempo de Transcendência: o ser humano como um projeto infinito. Rio deJaneiro: Sextante, 2000.

 ______. Ética e Moral : a busca de fundamentos. Petrópolis: Vozes, 2004.

COMPARATO, F. K. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. São Paulo:Companhia das Letras, 2006.

DANIEL, E. Orientação vocacional escolar. Bauru: EDUSC, 2009.DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 1999.

FRANKL, V. E. Sede de sentido. São Paulo: Quadrante, 1989.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. 14. ed. Riode Janeiro: Paz e Terra, 2000.

GALBRAITH, J. K. A sociedade justa – uma perspectiva humana. Rio de Janeiro: Campus,1996

GALLO, S. (Coord.). Ética e Cidadania: caminhos da Filosofia. 11. ed. Campinas: Papirus,2003.

HEIDEGGER, M. Ser e Tempo. São Paulo: Vozes, 1989.

HELLERN, V.; NOTAKER, H.; GAARDER, J. O Livro das Religiões. São Paulo: Companhia dasLetras, 2005.

LARAIA, R. B. Cultura: um conceito antropológico. 20. ed. Rio de Janeiro: Jorge Zahar,2006

LELOUP, Jean-Yves. Cuidar do Ser . São Paulo: Vozes, 1998.

LIMA VAZ, H. C. Antropologia filosófica I. Rio de Janeiro: Loyola, 2006.

MANDRIONI, H. D. Introducción a la Filosofía. Buenos Aires: Kapelusz, 1964.

MANZINI-COVRE, M. L. O que é cidadania. São Paulo: Brasiliense, 1998.

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MARTINS, A. A. É importante a espiritualidade no mundo da saúde?  São Paulo: Paulus,2009.

MINERVINO, J. R. S. Vocação e realização profissional . São Paulo: Paulinas, 1987.

MONDIN, B. Definição filosófica da pessoa humana. Bauru: EDUSC, 1998.

 ______. O Homem: quem é ele?  Elementos de Antropologia Filosófica. 8. ed. São Paulo:Paulus, 1980.

MÜLLER, M. Orientar para un mundo en transformación:  jóvenes entre la educación y eltrabajo. Buenos Aires: Bonum, 1997.

PIMENTA, S. G. Orientação e decisão: estudo crítico da situação no Brasil. 2. ed. SãoPaulo: Loyola, 1981.

PINSKY, J.; PINSKY, C. B. (Orgs.). História da Cidadania. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2003.

PINTOS, C. C. G. Viktor Emil Frankl : uma humanidade possível. São Paulo: Booklivros,2003.

PIVA, S. I. A Pessoa, uma análise. Batatais: União das Faculdades Claretianas, 1995.

RUBIO, A. G. Elementos de Antropologia Teológica. Salvação cristã: salvos de quê e paraquê? 2. ed. Petrópolis: Vozes, 2004.

SCHELER, M.  A posição do homem no cosmos. Rio de Janeiro: Florense Universitária,2003.

SENNETT, R.  A corrosão do caráter : consequências pessoais do trabalho no novocapitalismo. 6. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.

SOUSA, R. C. F. M. Orientação Vocacional : caminho para uma realização profissional.Teresina: Segrajus, 1988.

TILLICH, P. Teologia sistemática. São Paulo: Paulinas, 1984.

VALLS, A. O que é Ética. São Paulo: Brasiliense, 1994.

EREFERÊNCIA6.

SIQUEIRA, H. S. G. Performance sob uma lógica tecnicista. Publicado no Jornal A Razão. 1 jun. 2000. Disponível em: <www.angelfire.com/sk/holgonsi/performance.html>. Acessoem: 25 set. 2010.

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CRC

Caderno deReferência deConteúdo

INTRODUÇÃO1.

Seja bem-vindo, vamos iniciar o estudo da disciplina Antro- pologia Teológica! Teremos muito prazer em desenvolvê-la comvocê. Vamos, juntos, descobrir e aprofundar reflexões que se refe-rem à pessoa humana. Não queremos discutir com você qualquer"tipo" de pessoa, nem qualquer estudo sobre a pessoa.

Nossa intenção é analisar como o Centro Universitário Clare-tiano entende e deseja que seus alunos conheçam, qual é e como éa pessoa com quem convivemos e ainda vamos conviver e em nossoambiente de trabalho. Nesta introdução e no Tópico Abordagem geral

da disciplina, você encontrará o conteúdo básico das três unidadesque serão desenvolvidas ao longo de nove semanas. No Caderno de Atividades e Interatividades, você encontrará as atividades e as intera-tividades a serem desenvolvidas na Sala de Aula Virtual –SAV.

Nesta disciplina, você terá oportunidade de conhecer comoa pessoa foi pensada e tratada nos vários períodos da história. De-

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pois, terá oportunidade de analisar como a sociedade atual pensae trata a pessoa, qual o seu interesse e a sua proposta para ela.Por fim, você estudará a proposta de pessoa que o Claretiano achamais conveniente para os dias de hoje. Isso envolve o campo edu-cacional ou qualquer outro, pois, seja qual for o curso que vocêfaça ou seu ramo de atuação, o ponto de referência ou o destinatá-rio daquilo que você está fazendo, ou pretende fazer, é a pessoa.

Como futuro profissional, em qualquer campo, é importantecompreender que você tem uma grande responsabilidade na ma-

neira de entender e tratar as pessoas, pois disso depende o futuroda sociedade e do mundo, em geral. Conseguiremos construir ummundo melhor se tivermos um cuidado muito grande com relaçãoà vida; e o ser humano não pode ficar à mercê de interesses eco-nômicos, políticos ou sociais. Cabe a cada um de nós contribuirpara a melhoria da vida.

ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA DISCIPLINA2.

Abordagem Geral da Disciplina

Prof. Dr. Sávio Carlos Desan Scopinho

Prof. Ms. Eugênio Daniel 

Neste tópico, apresenta-se uma visão geral do que será es-tudado nesta disciplina. Aqui, você entrará em contato com os as-suntos principais deste conteúdo de forma breve e geral e terá aoportunidade de aprofundar essas questões no estudo de cada uni-dade. No entanto, essa Abordagem Geral visa fornecer-lhe o conhe-cimento básico necessário a partir do qual você possa construir umreferencial teórico com base sólida – científica e cultural – para que,no futuro exercício de sua profissão, você a exerça com competênciacognitiva, ética e responsabilidade social.

Vamos começar nossa aventura pelo conhecimento da disci-plina Antropologia Teológica?

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Inicialmente, é importante recordar que esta é uma discipli-na institucional, ou seja, todos os cursos do Centro UniversitárioClaretiano a têm em sua grade curricular.

O nome pode até parecer estranho e, às vezes, cria receioem algumas pessoas por remeter ao tema catequese ou à aula dereligião. Mas você perceberá que não é essa a intenção. Emboranossa Instituição seja confessional, não temos a intenção de fazeruma aula de catequese.

Uma nova imagem de ser humanoNossa proposta é mostrar uma nova imagem de ser huma-

no. A sociedade tem uma concepção toda própria do ser humano,como veremos no decorrer dos nossos estudos. Essa maneira detratar o ser humano acabou criando nas pessoas um jeito negativode ver a vida, a sociedade, a si mesmo e aos outros seres huma-nos.

Poderemos perceber que há alternativas e outros modos deentender a pessoa, utilizando uma visão positiva. E é isso que pro-

pomos para o estudo de nossa disciplina.Vamos conhecer novas alternativas e buscar juntos novos ca-

minhos e possibilidades de ser e de viver. Um dia uma aluna dissecom toda simplicidade: "As outras disciplinas ensinam a gente a fa-zer, esta disciplina ensina a gente como ser". E ela expressou muitobem o que pretendemos.

Com as atividades e interatividades, discutiremos abundan-temente a maneira de vida das pessoas e como elas estão sendotratadas pela sociedade contemporânea. Vamos perceber que o

sistema capitalista em que vivemos nos coloca diante de uma re-alidade cruel. Com uma ideologia própria, esse sistema criou umpadrão de vida e de entendimento da sociedade conforme os inte-resses das classes dominantes.

No fundo, o que interessa para as classes dominantes é olucro cada vez maior. A riqueza que acompanha esse modo de con-

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ceber a sociedade vai fazendo com que as pessoas vivam, cada vezmais, de modo egoísta, egocêntrico e imediatista.

A pessoa, na visão neoliberal, acaba valendo pelo que produze pelo que consome. Ou seja, só quem produz e quem consome temseu espaço, pequeno e sem muitas alternativas, na sociedade.

Mas a pessoa não é só isso. Veremos que ela é muito mais doque uma máquina de produzir e de consumir.

Discutiremos esses assuntos que nos envolvem e essas dis-

cussões serão desenvolvidas nos Fóruns. Depois, você fará umrelatório e, por fim, como em outras disciplinas, deverá fazer umTrabalho de Conclusão da Disciplina – TCD. Para saber mais sobreos Fóruns e o TCD, veja as informações presentes no Caderno deAtividades e Interatividades.

Nosso objetivo, você poderá perceber, é analisar como o serhumano está sendo tratado pela sociedade atual e, a partir daí,apresentar a maneira como o Centro Universitário Claretiano pensaa pessoa e qual a postura que podemos adotar, adiante da socieda-

de neoliberal (ou capitalista) e a postura adotada pela sociedade.Ainda na disciplina  Antropologia Teológica, vocês poderão

analisar, compreender e discutir as influências da sociedade atualsobre a vida das pessoas e a maneira de construir uma nova formade comportar-se no relacionamento consigo mesmo, com os ou-tros e com o mundo em que vivemos.

Nossa disciplina está dividida em três unidades, além de trêsanexos, que apresentam textos para complementar seu estudo,dentre eles o Projeto Educativo do Centro Universitário Claretiano.Seu tutor apresentará um roteiro para que todos sigam com mais se-gurança as propostas que temos para desenvolver nosso trabalho.

Por que estudar esta disciplina? 

Talvez, você possa estar se perguntando: "o que esta disci-plina tem a ver com o que quero estudar?". É preciso entender

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que em qualquer área do saber, ou como profissional em qualquercampo, deve-se compreender a grande responsabilidade na ma-neira de entender e tratar as pessoas, pois disso depende o futuroda sociedade e do mundo em geral.

Cabe a qualquer um de nós, educadores ou profissionais dequalquer área, dar uma parcela de contribuição para a melhoriada vida.

Em todas as fases da história, o homem quer saber sobre o

fundamento e o sentido do mundo e da vida. Ao querer entendera si mesmo no seu mundo, na sua história e no conjunto da reali-dade, ele faz um exercício filosófico.

Na verdade, essa é uma preocupação presente na vida dospovos em geral.

Vamos dispensar um breve olhar pela história para conhe-cermos alguns pensamentos significativos do Ocidente, porque éo que vai interferir diretamente na formação de nossa sociedade eem nossa maneira de ser e de viver.

 A imagem do homem na história

No pensamento grego, o homem é entendido como o eixounificador da ordem universal, porém, o que o caracteriza é a pró-pria essência e a alma.

Aristóteles trata da alma, mas não do homem integral, utili-zando uma visão psicológica, não antropológica.

O que se percebe no pensamento grego primitivo é uma du-alidade fundamental da alma espiritual e do corpo material. ParaPlatão tudo o que diz respeito à essência e à dignidade do homem

se situa no espiritual. Por isso, em Platão percebemos o dualismo:espírito e matéria, alma espiritual e corpo material.

No pensamento cristão podemos encontrar a visão de ho-mem como pessoa. Esta é resultado, sobretudo, da experiência dodiálogo entre Deus e o homem. Mas essa decisão implica na deci-

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são e na responsabilidade do ser humano. O diferencial que vamosperceber aqui é a revelação.

Na Idade Média, uma sociedade teocrática (ou seja: a seguran-ça estava na fé em Deus), o cristianismo utiliza o pensamento filosófi-co grego para explicar racionalmente a fé. Para Santo Agostinho, porexemplo, a alma não tem o mesmo sentido que em Platão, de preexis-tência, mas se apresenta como livremente criada por Deus.

Santo Tomás de Aquino adota a doutrina de Aristóteles. Para

ele, alma e corpo não são duas substâncias separadas, mas doisprincípios eternos que formam o único e mesmo homem concreto.

No Renascimento, o humanismo predomina. O homem éolhado como situado neste mundo, cuja referência é Deus e a se-gurança está na fé nesse Deus. O homem questiona-se sobre seuser e o sentido de sua vida.

Mas na Idade Moderna a sociedade torna-se antropocrática(ou seja: o homem torna-se o centro da sociedade). A submissãodo homem a uma religião é substituída pela autonomia no pensa-

mento humano por meio da razão e da experiência.Na modernidade surge, portanto, o Racionalismo. O homem

é reduzido a um sujeito pensante, ele é um ser racional e não seleva em conta o homem total, concreto.

Nesse período, o pensador mais influente é o francês RenéDescartes, que continua com o dualismo corpo e alma.

Na Pós-Modernidade, o reflexo de tudo o que está sendodiscutido e pensado: o homem passa por uma autoexperiênciaconcreta. Agora, o homem se vê diante da vida, da sociedade e de

si mesmo e não encontra mais nenhuma segurança que dê sentidopara sua existência.

Essa fase se caracteriza pela forma materialista de olhar omundo, a sociedade e a humanidade. E para o materialismo o ho-mem é uma realidade material como outra qualquer.

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Alguns pensadores dessa forma de pensar são:

Augusto Comte (considerado o pai do positivismo), vê o homemcomo um simples objeto do estudo científico natural empírico.

  Darwin, com o evolucionismo, afirma que a evolução é fru-to da seleção natural e o ser humano está incluído nessa seleção.

Para Nietzsche, o homem é produto da evolução que levaráao "super-homem", tudo acontece na livre competição.

Karl Marx e Engels são os pais do materialismo dialético. Ascoisas não são estáticas, mas dinâmicas. O princípio é material. Ohomem não passa de um conjunto de relações sociais, que, na ver-dade destroem o sentido da pessoa individual e a torna "função"dentro do processo da sociedade.

Contudo, nessa época, surgem o Existencialismo e o Persona-lismo. Entre os pensadores dessas correntes de pensamento estão:

Pascal, que acrescenta à razão o coração. A existência do ho-mem explica-se por meio do imediatismo da experiência pessoal.Porém, o homem é jogado contra si mesmo e pode compreender

sua própria existência.

Sartre vai ao extremo. Para ele, a existência humana é con-duzida à plena nulidade, ou seja, não tem validade alguma.

Você pôde ver, rapidamente, algumas concepções feitas so-bre o homem no decorrer da história.

Na Unidade 2, vamos estudar como a sociedade atual estátratando o ser humano.

Já vimos em que implica a situação humana dependendo da

maneira como se olha o ser humano. Durante muitos anos, a socie-dade ocidental tratou a pessoa de uma maneira não muito boa.

Apesar das mudanças que ocorreram durante cada momen-to histórico, nota-se que o ser humano, em geral, sempre foi dei-xado em um plano inferior pela sociedade.

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Estamos vivendo numa sociedade neoliberal. O neoliberalis-mo é um estilo de governar em que o governo central não exerceinfluência direta na sociedade, deixando para a iniciativa privadae a livre concorrência todas as decisões com relação ao mercadoe aos preços. As coisas que estão relacionadas ao social tambémsaem da responsabilidade do governo.

O neoliberalismo coloca toda a sociedade envolvida em umalógica tecnicista, excluindo quem não se adapta a ela.

É um estilo de sociedade que reduz a pessoa numa máquinade fazer e de consumir, por isso precisamos estar atentos a tudoo que nos envolve para percebermos se nossa atitude está sendotecnicista ou se há espaço para uma forma humanitária de ser ede agir.

No sistema capitalista no qual vivemos, os atrativos parauma vida de consumo levam as pessoas a buscarem, desenfrea-damente, a satisfação ilusória de inúmeras necessidades. É maisfácil desencadear a perspectiva de uma vida sem objetivo e semvalores, do que uma vida de esperança e realizações.

É sabido e notório que o sistema capitalista sufoca cada vezmais os anseios de grande parte da população mundial.

Com a descoberta das ciências modernas, o mundo passoupor profundas transformações. Quando as primeiras sociedadescapitalistas começam a surgir, no final do século XVIII, as pessoasforam se juntando em torno das fábricas.

Na sociedade pós-moderna, o capitalismo se estabelececomo sistema econômico, influenciando o social e interferindono político. Aos poucos o neoliberalismo vai se implantando e de-monstrando regressão no campo social e político. O individualis-mo é a tônica constante de todo o seu agir. O raciocínio neoliberalé tecnicista, pois reduz problemas sociais a questões administrati-vas, e os problemas da educação em problemas de mercado e detécnicas de gerenciamento.

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Olhando dessa forma, podemos perceber que o ser humanovale pelo que produz e pelo que consome. Enquanto produz, o ho-mem tem, ainda, possibilidade de ser considerado pela sociedade,essa é a ótica tecnicista. Porém, se não produzir só terá lugar setiver posses para consumir.

O sistema capitalista considera aquilo que fará que as pes-soas tenham atitudes nitidamente competitivas visando o lucro.Numa visão estreita da sociedade e do ser humano, dentro dessaótica tecnicista, a pessoa se reduz e seu valor e não é levado em

conta.

O ponto fundamental sobre que precisamos refletir é queestamos num sistema que prioriza a competição. O individualismocarrega consigo todo o envolvimento de uma sociedade compe-titiva em que o sucesso individual está acima de qualquer outrovalor.

O mercado, de forma contraditória, impulsiona as pessoaspara uma maneira competitiva e individualista de ser e viver.

O ser humano, de maneira geral, não costuma perceber-se,conhecer-se e valorizar-se. Esse é um ponto que fica obscuro quan-do lemos e falamos de relacionamento.

Finalizando esta etapa, podemos perceber que o homem es-teve e está diante de uma situação não muito confortável para suavida e para o entendimento da sua existência.

O homem como pessoa humana

Vimos que o homem, durante a história, não foi valorizadocomo deveria. Queremos, agora, estudar um pouco o sentido da

pessoa e, principalmente, a maneira como o Centro UniversitárioClaretiano entende esse sentido, e, ao mesmo tempo, qual a suaproposta com relação ao tema.

Pretendemos analisar a pessoa na sua totalidade, inseridanum contexto e numa realidade mais amplos. Convidamos, como

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Sócrates, o famoso filósofo grego, todos para realizar o desafio queele fazia aos cidadãos de sua época: "conhece-te a ti mesmo".

É urgente resgatar o verdadeiro sentido do ser humano. Todapessoa que compartilha parte de sua vida com o Claretiano estáconvidada a perceber a importância de si mesmo e do outro comquem compartilha seu saber, sua profissão e sua vida.

No entanto, o Centro Universitário Claretiano tem como par-te de sua missão o compromisso com a vida e com a formação

integral do ser humano. O objeto de seu Projeto Educativo tempelo homem um apreço inigualável, dedicando-lhe um estudo es-pecial e um jeito próprio de tratar o que está ligado e relacionadoao humano.

A base da Unidade 3 é o modo Claretiano de ver a pessoa. Apreocupação principal e fundamental é entender como esses con-ceitos poderão incorporar nosso fazer e nossa maneira de atuarem nossa profissão, seja ela qual for, e em nossa sociedade. Nãoserve a maneira da ideologia capitalista, muito menos o conceitotecnicista que daí decorre, reduzindo o homem a um objeto que

faz e consome.

O Projeto Educativo Claretiano, preocupado com a pessoano sentido em que acabamos de abordar, deixa claro sua posiçãofrente à situação humana da realidade em que vivemos. Esse pro-

 jeto ressalta a educação para a justiça e para o amor. O centrode toda a preocupação é o homem, pois ele "é um ser único eirrepetível, constituído das dimensões biológica, psicológica, so-cial, unificadas pela dimensão espiritual, que é o núcleo da pessoahumana" (Apêndice, p. 136).

Queremos analisar o homem como um ser multidimensional.Precisamos olhar a pessoa na sua totalidade se quisermos compre-endê-la. Olhar uma parte não significa olhar o todo. Por isso, nos-so olhar antropológico quer olhar a totalidade para compreenderquem é o homem e qual sua responsabilidade neste mundo.

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Vamos analisar cada uma dessas dimensões para podermoster ideia do compromisso que devemos assumir como membrosintegrantes de uma sociedade que busca aperfeiçoar-se e dar sen-tido à sua existência. Enquanto seres humanos que somos, esta-mos comprometidos com o bem comum e com cada pessoa emparticular. Nosso compromisso começa em nosso próprio ser, masultrapassa nossa realidade e nos lança diante do outro, da socieda-de, do mundo e de Deus.

 As dimensões da pessoa humana

São quatro as dimensões da pessoa: biológica, psicológica,social e espiritual.

Quando nos referimos à parte biológica, falamos, natural-mente, de tudo o que se relaciona ao corpo da pessoa. Sem dú-vida, é por meio do corpo que o ser humano faz contato com osoutros seres, com o mundo e com Deus, seu Criador.

Como sempre, não podemos deixar de perceber que estamosinseridos em um contexto social capitalista, neoliberal. Nesse am-

biente, o homem acaba sendo reduzido a um ser que produz e queconsome. Diante desse enfoque, o que acaba tendo valor para essesistema de sociedade é a parte do ser humano que está em contatocom o mundo e que possui a força produtiva e consumidora.

Não queremos dizer que o corpo não tenha valor. Pelo con-trário, achamos e afirmamos que seu valor é inenarrável. É pormeio dele que o homem constrói o mundo, adquire conhecimen-to, transforma a realidade e consegue dar sentido à sua existência.Portanto, é necessário cuidar bem do corpo que temos.

No entanto, não é isso que podemos perceber, mas, sim,uma realidade que explora e expõe o corpo das pessoas a uma si-tuação ridícula, como em diversos níveis da mídia em que há umaexploração total da realidade corpórea.

A mídia criou padrões de beleza e de biotipo na moda, nasnovelas, nos programas de televisão, nas revistas etc. Quem, por

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uma razão ou por outra, não se sente enquadrado nesses padrõesgasta muito dinheiro para se adequar a eles ou se sente excluídoda convivência geral da sociedade.

É só notar as roupas produzidas pelas grandes grifes. Elas nãosão feitas para qualquer pessoa ou qualquer corpo. Quem desejar"ficar na moda" precisa adaptar o próprio corpo para vesti-las, poisas grandes grifes não querem qualquer tipo de corpo utilizandosuas roupas.

Do mesmo modo, assistimos, atualmente, a uma corridaimpressionante atrás dos bisturis, dos "Botox" e de toda ou qual-quer espécie de cirurgia para mudar a estética facial e corporal. Háuma supervalorização da dimensão corporal em detrimento dasdemais.

A dimensão "psicológica" remete-nos ao que os filósofos gre-gos chamam de anima, que, no português, chamamos alma, aquiloque dá vida. E o que faz a vida da pessoa acontecer é a sua interiori-dade. Remetendo novamente ao pensamento filosófico, nos depa-ramos com o conceito de essência. Mas o que vem a ser essência?

Por essência, entendemos aquilo que faz que o ser seja elemesmo. Ou seja, o ser é o que ele é por causa da sua essência, queo torna um ser único. Só eu sou eu. Só você é você. E o que me fazser eu e você ser você é a essência. Não existe outro igual. Eu souúnico. Você é único.

Como afirma Sócrates, o indivíduo é um centro de autocons-ciência e vontade, por isso é dotado de um poder dinâmico, capazde observar, dominar e dirigir todos seus processos psicológicos.

Se tomarmos como exemplo o perfume, sabemos que emtodos eles há elementos químicos, há o álcool, há um fixador etc.Porém, o que diferencia um perfume do outro é sua essência. E aquantidade da essência é pouca, mas é ela que faz a diferença etorna o perfume único. Você já deve ter ouvido a expressão popu-lar que diz: "nos pequenos frascos, os grandes perfumes".

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A essência no ser humano é uma pequena parte do seu ser.O resto é hereditário e influência social.

Aqui fica a interrogação: como a pessoa conhece e entra emcontato com essa essência? E a resposta vem de forma simples:quem tem a chave de nosso interior somos nós mesmos. Para co-nhecê-lo é preciso entrar em contato consigo mesmo através dareflexão e da meditação. Para isso é preciso prestar atenção em simesmo, no seu modo de ser, de pensar e de agir.

Quanto tempo você gasta consigo mesmo? Cinco minutospor dia? Cinco por semana? Cinco por mês? É por meio desse tem-po que você consegue perceber e entender quem é você de fato.

Mas há um segundo passo. Além de se conhecer, é precisose aceitar na essência. "Tenho erros?"; "Como e o que posso fazerpara corrigi-los?"; "Tenho defeitos?", claro que sim, mas quandopercebemos nossa essência na profundidade, vemos a beleza doque somos. Aceitar-nos como somos é um passo adiante, mas nãoé tudo. Há mais pela frente, é hora de gostar de nós como somos.

Quando consigo dar esses passos, percebo que nossos se-melhantes são tão importantes quanto eu e que merecem meucarinho, minha atenção, meu apreço, meu amor. Aí entendemos aspalavras do Cristo referindo-se a um dos dez mandamentos: "Ama-rás teu próximo como a ti mesmo" (MATEUS, 19, 19).

Quem consegue amar-se na essência, ama o outro, ama omundo, ama a natureza, ama o Criador, porque se vê parte dotodo.

O eu do indivíduo é a sua individualidade, é o seu Ser Pes-soa. É essa a marca do Eu Sou. E a consciência disso é que faz oindivíduo perceber que ninguém jamais vai ocupar o seu lugar nomundo. Sua missão no mundo é única. Entrar em contato com seunúcleo, com seu Ser Interior, é abrir as portas para descobrir a suaindividualidade, a sua importância, o caminho para a autorrealiza-ção, para a felicidade.

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Quanto mais profundo for esse contato com o seu próprioeu, mais profundo será seu conceito de pertença do todo e a per-cepção de seu papel na melhora do meio em que vive e do mundoonde habita.

Não é possível ser feliz sozinho. Quanto mais o indivíduo bus-ca sua realização pessoal mais ele percebe que ela só acontece namedida em que se abre para o outro, para o todo, para que todostenham vida, e vida em abundância, como quer Jesus Cristo.

Fechar-se em si mesmo é causar morte, não vida. Contribuirpara que haja vida significa estar centralizado, mas aberto, semdeixar que o meio social tire a possibilidade de autorrealização, aqual abrirá as portas para que os outros também se realizem e se-

 jam felizes. Contribuir para que haja vida é lutar contra tudo aquiloque impede que a vida esteja ao alcance de todos.

O que caracteriza o indivíduo frente à comunidade é saberque homem algum é uma ilha e que um necessita do outro para sero que é. No contato com as outras pessoas, o indivíduo percebe-see vê que é na relação com o outro que ele próprio se identifica.

Na dimensão social, segundo os especialistas, somos o pro-duto do meio onde nascemos e vivemos, pois recebemos uma car-ga genética e influência desse meio.

Não devemos esquecer, ainda, que a ideologia do sistemacapitalista influencia nosso pensar, nosso sentir e nosso agir. Por-tanto, essa carga de influência que recebemos através da família,da mídia, da escola, do grupo dos amigos etc., confere a nós umamaneira toda própria de ser.

Além da carga genética, carregamos a influência do meio.Mas isso não é tudo. Temos algo em nós que nos identifica e nostorna diferentes. O que vai nos mostrar essa diferença é a forma ea maneira como olhamos a nós mesmos e nos identificamos comnosso interior para podermos distinguir o que é próprio de cadaum e o que é influência do meio em que vivemos.

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Sabe-se que cada ser humano é um ser único. No entanto,está inserido num contexto mais complexo, bem mais amplo doque seu próprio ser, que é a sociedade. Não podemos olhá-lo deforma distinta, pois estaríamos tirando dele as características quedão sentido à sua existência.

A pessoa vive em sociedade. Ela não pode e não deve ficarisolada em sua existência, pois é um ser em constante relação.Não podemos restringir a análise e a concepção da pessoa huma-na como costumamos ouvir pela vida afora: o homem é um ser

que nasce, cresce, reproduz, envelhece e morre. Muitas vezes, ou-vimos crianças e adolescentes fazerem esse tipo de brincadeira.Mas, na atitude, percebemos que muitas pessoas adultas tambémagem como se esse fosse o sentido da vida, fazendo simplesmenteuma leitura biológica, tecnicista e neoliberal da existência. Assim,valorizam uma parte do ser em detrimento do restante.

E, por fim, há a dimensão espiritual. Mas, antes de tudo, va-mos entender melhor o significado etimológico da palavra espiri-tual.

Em outras língua, não existe problema em entender o signifi-cado dessa palavra. Mas existe um problema na língua portuguesapor causa do uso equivocado da palavra "espírito" com "e" minús-culo. As palavras "Espírito" e "Espiritual" só são usadas para o Es-pírito divino e seus efeitos no homem, e são escritos com "E" mai-úsculo. Queremos entender, como muitos autores, o sentido dessapalavra designando uma dimensão particular da vida humana.

Nesse sentido, falamos do espírito como poder de vida, quetem o poder de animar e não é uma parte acrescentada ao siste-

ma orgânico. Alguns pensamentos filosóficos, aliados a tendênciasmísticas e ascéticas, separaram espírito e corpo. Como veremos, eque já foi brevemente abordado em Descartes, a palavra recebeua conotação de "mente" e a própria "mente" recebeu a conotaçãode "intelecto". O elemento de poder no sentido original de espíritodesapareceu e, finalmente, a própria palavra foi descartada.

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A vida em si possui um significado próprio e dá ao ser huma-no uma expressão de totalidade.

A questão fundamental é como ajudar a pessoa a descobrir-se e perceber-se dessa forma. Sua existência não está isolada, poiso ser humano é um ser de relação, relação esta que abrange o seueu, o outro, o mundo e a transcendência.

Por isso, constantemente muitos autores chamam atençãopara o cuidado, o respeito, a veneração e a ternura que devemos

ter para com a vida de maneira geral e a pessoa, em particular. Éa vida que garante a todos os seres a razão de seu existir, do seuser-no-mundo.

Mas é preciso entrar em contato com algo que está implícitono homem, o espírito. Alguns indícios mostram a espiritualidade:a autoconsciência, a reflexão, a contemplação, o colóquio, a auto-transcendência etc. Mas o indício mais certo, porém, é a liberdade.Esta é a condição própria do espírito.

É esse elemento espiritual que envolve o ser humano no

todo. A autoconsciência e a liberdade representam para a pessoaa capacidade de entender seu papel no mundo.

Com essa dimensão espiritual o homem goza de uma aber-tura sem limites, infinita. Ele está em busca da plena realizaçãoporque participa dessa esfera espiritual que o coloca em contatocom o infinito.

O Projeto Educativo Claretiano (ver Anexos) afirma que cadapessoa é o princípio de suas ações, de sua capacidade de governar-se tendo em vista sua liberdade. Fundamentalmente, o ser huma-no é livre para se realizar como pessoa e, por isso, responsávelpelo seu projeto pessoal e social de vida.

Quem consegue olhar para si mesmo percebe-se como pes-soa humana, única e irrepetível, capaz de criar e dar respostas po-sitivas a seus anseios; essa pessoa tem todas as chances de fazeruma opção livre e consciente.

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A evolução técnica experimentada nos últimos séculos de-sumanizou o ser humano. No entanto, ele entenderá essa respon-sabilidade quando adquirir a liberdade de pensamento, quandoaguçar a capacidade de discernimento e puder compreender seussentimentos e imaginação.

Unidade e totalidade

Quando tratamos do entendimento sobre a pessoa é impor-tante notarmos que ela é unidade e totalidade, ao mesmo tempo.

Não podemos tratar o ser humano como se fosse possível dividi-loe olhá-lo com um único enfoque. Já que cada pessoa é um ser úni-co e absolutamente novo, com capacidade de se decidir, de esco-lher, pois é um ser livre por existência, ao mesmo tempo é um serdinâmico, aberto ao outro e à transcendência.

A pessoa consciente da unidade e da totalidade abre espa-ço para a realização pessoal. Ela compreende seu estar-no-mundoenquanto compreende o sentido de ser-no-mundo. Só o ser huma-no goza do privilégio de ter consciência de si mesmo, do seu eu, doseu ser e do seu existir.

A pessoa precisa perceber que ela constrói seu próprio ser, oque lhe permite adquirir consciência de si mesmo para conquistarsua identidade.

Ela busca uma finalidade e um sentido para sua existência.O que está no cerne de toda a questão é a realização da pessoa, éo seu ser.

Veja, a seguir, os principais conceitos que irão nortear seuestudo nesta disciplina. Sempre que estes termos surgirem, tenha

presente o seu significado. Isso facilitará o seu estudo.

Glossário de Conceitos

O Glossário de Conceitos permite a você uma consulta rá-pida e precisa das definições conceituais, possibilitando-lhe umbom domínio dos termos técnico-científicos utilizados na área de

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conhecimento dos temas tratados na disciplina Antropologia Teo-lógica. Por opção pedagógica do autor, os termos do Glossário nãoseguem a ordem alfabética, mas a ordem cronológica da impor-tância que cada um dos conceitos adquire ao longo deste material.Veja, a seguir, a definição dos principais conceitos:

Antropocêntrico:1) onde o homem é o centro das atenções.

Antropologia2) : do grego άνθρωπος (anthropos), "ho-mem", e λόγος (logos), "razão" / "pensamento", é a ci-ência que tem como objeto o estudo sobre o homem

e a humanidade de maneira que abranja todas as suasdimensões.

Cosmos:3) do grego κόσμος (cósmos): cosmos, mundo. Se-gundo Burnet em sue Aurora da filosofia grega, primei-ramente essa palavra designivava a organização de umexército, mas com o desenvolvimento das sociedades naGrécia Antiga ela passou a ocupar o lugar do conceitode καώς (caos) para designar a organização do universo.Isso ocorreu mais ou menos ao mesmo tempo em que sedava a famosa passagem "do Mito ao Lógos".

Idealismo:4) corrente de pensamento que reduz toda a

existência a ideias ou considera que toda a existência sedetermina pela consciência.

Holístico:5) significa totalidade. Considerar o todo levandoem consideração as partes e suas inter-relações.

Logos:6) do grego λόγος (logos): razão, pensamento. Tudoo que se refere ao conhecimento, estudo.

Mecanicista:7) a Escola Mecanicista procura explicar os fenô-menos sociais por analogia com os fenômenos físicos. Vê ouniverso como se fosse uma máquina. Peças discretas inte-ragem no espaço e no tempo e quando alguma força atuasobre elas o resultado é uma sequência de ações e reações

em cadeia. Nessa corrente de pensamento o homem é vistoexclusivamente como sendo um elemento que reage quan-do se lhe aplicam forças; em outras palavras, as atividades sóocorrem em resposta a forças que lhe foram aplicadas.

Modernidade:8) refere-se à época moderna, ou seja, pe-ríodo entre o século 15 e 18. Essa época é marcada pela

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descoberta científica e pelo novo rumo que a sociedadeocidental tomou.

Neoliberalismo:9) é uma corrente de pensamento que de-fende a absoluta liberdade de mercado a não interven-ção estatal sobre a economia.

Pragmatismo:10) Corrente de pensamento filosófico queadota como critério da verdade a utilidade prática, iden-tificando o verdadeiro como útil; senso prático.

Racionalismo:11) Trata-se da doutrina que atribui exclusivaconfiança na razão humana como instrumento capaz de

conhecer a verdade. O pensamento é a única fonte deconhecimento (verdade absoluta). Para os racionalistaso tipo de conhecimento que é verdadeiro é o que pro-vêm da razão, do pensamento.

Esquema dos Conceitos-chave

Para que você tenha uma visão geral dos conceitos mais impor-

tantes deste estudo, apresentamos, a seguir (Figura 1), um Esquema

dos Conceitos-chave da disciplina. O mais aconselhável é que você

mesmo faça o seu esquema ou mesmo o seu mapa mental. Esseexercício é uma forma de construir o seu conhecimento, ressignifi-

cando as informações a partir de suas próprias percepções.

É importante ressaltar que o propósito do Esquema dos

Conceitos-chave é representar, de maneira gráfica, as relações

entre os conceitos por meio de palavras-chave, partindo dos

mais complexos para os mais simples. Esse recurso pode auxiliá-

lo na ordenação e na sequenciação hierarquizada dos conteúdos

de ensino.

Com base na teoria de aprendizagem significativa, entende-se que, por meio da organização das ideias e dos princípios em

esquemas e mapas mentais, o indivíduo pode construir o seu co-

nhecimento de maneira mais produtiva e obter, assim, ganhos pe-

dagógicos significativos no processo de ensino e aprendizagem.

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Aplicado a diversas áreas do ensino e da aprendizagem es-

colar (como planejamentos de currículo, sistemas e pesquisas em

Educação), o Esquema dos Conceitos-chave baseia-se, ainda, na

ideia fundamental da Psicologia Cognitiva de Ausubel, que estabe-

lece que a aprendizagem ocorre pela assimilação de novos concei-

tos e de proposições na estrutura cognitiva do aluno. Assim, novas

ideias e informações são aprendidas, uma vez que existem pontos

de ancoragem.

Tem-se de destacar que "aprendizagem" não significa, ape-nas, realizar acréscimos na estrutura cognitiva do aluno; é preci-

so, sobretudo, estabelecer modificações para que ela se configure

como uma aprendizagem significativa. Para isso, é importante con-

siderar as entradas de conhecimento e organizar bem os materiais

de aprendizagem. Além disso, as novas ideias e os novos concei-

tos devem ser potencialmente significativos para o aluno, uma vez

que, ao fixar esses conceitos nas já existentes estruturas cogniti-

vas, outros serão também relembrados.

Nessa perspectiva, partindo-se do pressuposto de que évocê o principal agente da construção do próprio conhecimen-

to, por meio de sua predisposição afetiva e de suas motivações

internas e externas, o Esquema dos Conceitos-chave tem por

objetivo tornar significativa a sua aprendizagem, transformando

o seu conhecimento sistematizado em conteúdo curricular, ou

seja, estabelecendo uma relação entre aquilo que você acabou

de conhecer com o que já fazia parte do seu conhecimento de

mundo (adaptado do site  <http://penta2.ufrgs.br/edutools/ma-

pasconceituais/utilizamapasconceituais.html>. Acesso em: 11mar. 2010).

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Figura 1 Esquema dos Conceitos-chave da disciplina Antropologia Teológica. 

Como você pode observar, esse Esquema dá a você, comodissemos anteriormente, uma visão geral dos conceitos mais im-portantes deste estudo. Ao segui-lo, você poderá transitar entreum e outro conceito da disciplina e descobrir o caminho para cons-truir o seu processo de ensino-aprendizagem. Sem o domínio con-ceitual desse processo explicitado pelo Esquema, pode-se ter uma

visão confusa do tratamento da temática da Antropologia Teológi-ca proposto pelos autores deste CRC.

O Esquema dos Conceitos-chave é mais um dos recursos deaprendizagem que vem se somar àqueles disponíveis no ambientevirtual, por meio de suas ferramentas interativas, bem como àqueles

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relacionados às atividades didático-pedagógicas realizadas presen-cialmente no polo. Lembre-se de que você, aluno EaD, deve valer-seda sua autonomia na construção de seu próprio conhecimento.

Questões Autoavaliativas

No final de cada unidade, você encontrará algumas questõesautoavaliativas sobre os conteúdos ali tratados, as quais podem serde múltipla escolha, abertas objetivas ou abertas dissertativas.

Responder, discutir e comentar essas questões, bem comorelacioná-las com Antropologia Teológica pode ser uma forma devocê avaliar o seu conhecimento. Assim, mediante a resolução dequestões pertinentes ao assunto tratado, você estará se preparan-do para a avaliação final, que será dissertativa. Além disso, essaé uma maneira privilegiada de você testar seus conhecimentos eadquirir uma formação sólida para a sua prática profissional.

Bibliografia Básica

É fundamental que você use a Bibliografia Básica em seus es-

tudos, mas não se prenda só a ela. Consulte, também, as bibliogra-fias apresentadas no Plano de Ensino e no item Orientações para oestudo da unidade.

Figuras (ilustrações, quadros...)

Neste material instrucional, as ilustrações fazem parte inte-grante dos conteúdos, ou seja, elas não são meramente ilustrativas,pois esquematizam e resumem conteúdos explicitados no texto.Não deixe de observar a relação dessas figuras com os conteúdosda disciplina, pois relacionar aquilo que está no campo visual como conceitual faz parte de uma boa formação intelectual.

Dicas (motivacionais)

O estudo desta disciplina convida você a olhar, de formamais apurada, a Educação como processo de emancipação do ser

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humano. É importante que você se atente às explicações teóricas,práticas e científicas que estão presentes nos meios de comunica-ção, bem como partilhe suas descobertas com seus colegas, pois,ao compartilhar com outras pessoas aquilo que você observa, per-mite-se descobrir algo que ainda não se conhece, aprendendo aver e a notar o que não havia sido percebido antes. Observar é,portanto, uma capacidade que nos impele à maturidade.

Você, como aluno do curso de  Antropologia Teológica  namodalidade EAD, necessita de uma formação conceitual sólida e

consistente. Para isso, você contará com a ajuda do tutor a dis-tância, do tutor presencial e, sobretudo, da interação com seuscolegas. Sugerimos, pois, que organize bem o seu tempo e realizeas atividades nas datas estipuladas.

É importante, ainda, que você anote as suas reflexões emseu caderno ou no Bloco de Anotações, pois, no futuro, elas pode-rão ser utilizadas na elaboração de sua monografia ou de produ-ções científicas.

Leia os livros da bibliografia indicada, para que você amplie

seus horizontes teóricos. Coteje-os com o material didático, discutaa unidade com seus colegas e com o tutor e assista às videoaulas.

No final de cada unidade, você encontrará algumas questõesautoavaliativas, que são importantes para a sua análise sobre osconteúdos desenvolvidos e para saber se estes foram significativospara sua formação. Indague, reflita, conteste e construa resenhas,pois esses procedimentos serão importantes para o seu amadure-cimento intelectual.

Lembre-se de que o segredo do sucesso em um curso na

modalidade a distância é participar, ou seja, interagir, procurandosempre cooperar e colaborar com seus colegas e tutores.

Caso precise de auxílio sobre algum assunto relacionado aesta disciplina, entre em contato com seu tutor. Ele estará prontopara ajudar você.

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      E      A      D

Ser Humano e Sociedade:Contexto Histórico

OBJETIVOS1.

Compreender a realidade e os fatos que marcaram as fa-•ses principais da história.

Analisar como o ser humano foi tratado nas diversas situ-•ações históricas.

Compreender a realidade da sociedade capitalista neoli-•beral e como o ser humano é tratado nesse sistema.

CONTEÚDOS2.

Ser humano, como entendê-lo melhor.•

Contexto histórico, a realidade de cada época e de cada•situação.

Ser humano e sociedade. Não se pode entender o ser hu-•mano sem entender a sociedade em que ele está inserido.

Caminhos a percorrer.•

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ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE3.

Antes de iniciar o estudo desta unidade, sugerimos que vocêleia atentamente as informações seguintes:

Para conhecer as situações históricas, é importante lem-1)brar que cada época tem suas características próprias.Cada realidade é diferente da outra. Para pensar a histó-ria, precisamos conhecer um pouco mais da realidade decada época e as situações que envolvem cada contexto.Concentre-se em compreender o processo cultural e a2)

experiência vivida em cada época. Se você conseguirperceber isso, conseguirá entender melhor cada pro-posta, pois tudo está inserido dentro de um contextopróprio e peculiar. Não podemos julgar o passado como pensamento de hoje. Aliás, nem mesmo podemos jul-gar o passado. As razões de cada época dependem dosacontecimentos e pensamentos de cada época.A análise da sociedade capitalista atual dará oportunida-3)de para que você compreenda um pouco mais as condi-ções de vida das pessoas e as influências que interferemno pensar, no sentir e no agir do ser humano. Por isso,na medida do possível, leia os livros indicados na Biblio-

grafia. Acima de tudo, discuta os assuntos nos Fóruns,coloque suas dúvidas para seu tutor, enfrente o desafiode entender cada situação dentro do contexto próprio.Antes de iniciar os estudos desta unidade, pode ser inte-4)ressante conhecer um pouco da biografia dos pensado-res cujo pensamento norteia o estudo desta disciplina.Para saber mais, acesse os sites indicados.

René Descartes (1596-1650)Nasceu de uma família nobre dedicada à medicina e ao co-mércio. Os Descartes se fixaram em La Haye, Tourenne. Seupai se chamava Joaquim e era conselheiro do Parlamento

britânico. René tinha uma saúde frágil e era cuidado por suaavó. Entrou no colégio jesuíta de Le Flèche, que havia sidofundado dois anos antes, mas já adquirira notoriedade. Nes-se estabelecimento René teve formação filosófica e cientí-fica. Foi um bom aluno, mas não encontrou a verdade queprocurava, como escreveu no Discurso do Método. Apren-deu a filosofia pelo método escolástico, e René, apesar deser católico, percebeu a diferença existente entre aquele tipode ensino antigo e o recente espírito renascentista, baseado

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nas últimas descobertas e inovações científicas e culturais. Agradava a Descar-tes a matemática, por dar respostas exatas. A educação em Le Flèche haviasido religiosa, e havia um clima de atraso e submissão às instituições políticas,acompanhados de estudos das infindáveis controvérsias teóricas da escolástica.Portanto Descartes saiu de lá um pouco confuso e decepcionado. Mas apesardisso recomendava o colégio para os filhos de amigos. Entrou para a Universi-dade de Poitiers, curso de direito, e se formou. Como não ficou satisfeito com osconhecimentos adquiridos, resolveu entrar para o exército. Se alistou nas tropasholandesas de Maurício de Nassau. Descartes tinha uma ligação com a Holanda,e foi combater os espanhóis. Fez então uma forte amizade com um entusiastada Física e da Matemática, Isaac Beckman, jovem médico holandês (imagem etexto disponíveis em: <http://www.consciencia.org/descartes.shtml>. Acesso em:15 out. 2010).

Leonardo Boff Nasceu em Concórdia, Santa Catarina, aos 14 de de-zembro de 1938. É neto de imigrantes italianos da re-gião do Veneto, vindos para o Rio Grande do Sul nofinal do século XIX. Fez seus estudos primários e se-cundários em Concórdia-SC, Rio Negro-PR e Agudos-SP. Cursou Filosofia em Curitiba-PR e Teologia emPetrópolis-RJ. Doutorou-se em Teologia e Filosofia naUniversidade de Munique-Alemanha, em 1970. Ingres-sou na Ordem dos Frades Menores, franciscanos, em1959.

Durante 22 anos, foi professor de Teologia Sistemática e Ecumênica em Petró-polis, no Instituto Teológico Franciscano. Professor de Teologia e Espiritualidade

em vários centros de estudo e universidades no Brasil e no exterior, além deprofessor-visitante nas universidades de Lisboa (Portugal), Salamanca (Espa-nha), Harvard (EUA), Basel (Suíça) e Heidelberg (Alemanha).

Esteve presente nos inícios da reflexão que procura articular o discurso indigna-do diante da miséria e da marginalização com o discurso promissor da fé cristãgênese da conhecida Teologia da Libertação. Foi sempre um ardoroso defensorda causa dos Direitos Humanos, tendo ajudado a formular uma nova perspectivados Direitos Humanos a partir da América Latina, com "Direitos à Vida e aosmeios de mantê-la com dignidade".

É doutor honoris causa em Política pela Universidade de Turim (Itália) e em Teo-logia pela Universidade de Lund (Suécia), tendo ainda sido agraciado com váriosprêmios no Brasil e no exterior, por causa de sua luta em favor dos fracos, dosoprimidos e dos marginalizados e dos Direitos Humanos.

De 1970 a 1985, participou do conselho editorial da Editora Vozes. Nesse perío-

do, fez parte da coordenação da publicação da coleção Teologia e Libertação eda edição das obras completas de C. G. Jung. Foi redator da Revista EclesiásticaBrasileira (1970-1984), da Revista de Cultura Vozes (1984-1992) e da RevistaInternacional Concilium (1970-1995).

Em 1984, em razão de suas teses ligadas à Teologia da Libertação, apresenta-das no livro Igreja: Carisma e Poder , foi submetido a um processo pela Sagra-da Congregação para a Defesa da Fé, ex-Santo Ofício, no Vaticano. Em 1985,foi condenado a um ano de "silêncio obsequioso" e deposto de todas as suas

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funções editoriais e de magistério no campo religioso. Dada a pressão mundialsobre o Vaticano, a pena foi suspensa em 1986, quando pôde retomar algu-mas de suas atividades (Imagem: disponível em: <http://www.voltairenet.org/ar-ticle126328.html>. Acesso em: 29 out. 2010. Texto: disponível em: <http://www.leonardoboff.com/site/bio/bio.htm>. Acesso em: 29 out. 2010).

INTRODUÇÃO À UNIDADE4.

Ao analisar o contexto histórico, é possível compreendercomo a sociedade, em alguns momentos, tratou o ser humano.Do mesmo modo, é possível ver como alguns pensadores enten-deram e se pronunciaram a respeito do ser humano. Contudo, nãose pode deixar de olhar tudo isso dentro do contexto em que elevivia, levando em consideração tudo o que acontecia naquela rea-lidade. Muitos se dispuseram a falar e a tecer alguns comentáriosa respeito do ser humano. É importante analisar algumas concep-ções, de algumas épocas para entender alguns pensamentos quenorteavam as atitudes e as ações da sociedade e quais as influên-cias que esses pensamentos exerciam na vida das pessoas e dasociedade em geral.

Interessa notar que a concepção a respeito do conceito quese criava ou que se criou sobre a pessoa influenciou a maneira deser e de agir da sociedade em cada época determinada. Ou o con-trário. Aquilo que se pretendia da sociedade e para a sociedadeacabava criando uma concepção a respeito do ser humano. A ma-neira como o ser humano era tratado dependia, muitas vezes, domodo como a sociedade era concebida. Isso parece simples, masé preciso notar as diferenças na concepção de homem que tive-mos em cada momento da história, para que se possam compre-ender os fatos de forma clara. Ao conseguir enxergar todos esses

mecanismos, pode-se entender a relação existente entre o modode vida da época e os pensamentos que regiam as sociedades emcada período da história. Aliás, é difícil dizer o que vem primeiro.

Tudo acontece quase ao mesmo tempo: enquanto a situaçãoda sociedade se apresenta de uma forma ou de outra, as análises vão

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surgindo e as propostas vão sendo feitas. Naturalmente, essas aná-lises podem provocar mudanças na maneira de pensar e de agir dohomem. E as consequências nem sempre são facilmente percebidas.

Aqui interessa entender o que está relacionado com o ho-mem em todo esse processo. Serão estudadas algumas teorias queinfluenciaram a sociedade em cada período histórico e a maneirade entender a pessoa. Em contrapartida, é preciso ver as relaçõesexistentes entre essa maneira de entender o homem e as propos-tas que interferem na sociedade. Esse é um grande desafio.

Antes de prosseguirmos, é importante que você perceba quetudo está relacionado à Antropologia. Aliás, é o estudo antropoló-gico que vai tratar desses assuntos. Não se deve, porém, confundirAntropologia com Humanismo. Estudaremos a antropologia comoforma de compreender o ser humano e a sociedade dentro docontexto histórico. É importante que você perceba como o homembusca compreender a si mesmo, pois, ao fazer isso, ele representasua experiência original. Enquanto o homem se compreende, elerepresenta o todo ou a sua totalidade concreta sem se desligar da

experiência e da compreensão de si mesmo.O ser humano sempre procurou entender o significado de

sua existência. Desde tempos remotos, ele quis saber sobre suaexistência e sobre a existência do mundo e das coisas ao seu redor.Preocupou-se em entender os meandros da sociedade e o signifi-cado de tudo. Percebeu que era uma parte do todo. O todo é com-plexo, mas é preciso compreender bem o que isso significa.

Sem separar as coisas, sem separar a parte do todo, pois aparte só tem sentido no todo, assim também é o ser humano. Não

se pode separar o homem em partes. É certo que, em alguns mo-mentos da história, essa separação vai aparecer, e isso se torna umenorme problema para as pessoas e para a sociedade. As ideiasmecanicistas, muito presentes na contemporaneidade, atuam des-sa forma e fragmentam tudo em partes, como se nada (cada coisaou cada parte) tivesse sentido isoladamente.

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Também é importante perceber que essas coisas não sãopercebidas facilmente nem são percebidas por todos. Muitos es-tudiosos, porém, conseguem analisar essas situações e apontam oque está por trás dos acontecimentos.

O ser humano é capaz de se inquietar; ele está aberto aomundo, e essa abertura se converte em abertura ao ser. Essa ati-tude explica a liberdade que o ser humano possui e que é própriadele. O homem é um ser aberto ao mundo e ao ser, podendo per-ceber a verdade e o valor que há nessa atitude humana. Nisso, o

homem percebe sua essência, isto é, a essência dele se concretizana abertura ao mundo e ao ser. Por isso, ele se pergunta sobre suaprópria essência, sobre o que faz no mundo, por que está nestemundo e qual a razão de sua existência.

Só o homem possui essa capacidade, possibilidade e neces-sidade; por isso, ele faz a si esse tipo de pergunta. Em outras pa-lavras, podemos perceber que o homem se tornou um problemapara si mesmo. Sua experiência de vida questionou suas concep-ções; por isso, começou interrogar-se e procurou respostas.

Como o homem possui a capacidade de questionar-se sobresua essência, ele tem a possibilidade de ter consciência de si mes-mo e, ao mesmo tempo, a capacidade de se compreender. Mas,como vive em um mundo em que a realidade não favorece a com-preensão de si mesmo, por causa dos acontecimentos materiais,ele não consegue ter uma completa autocompreensão.

Todos sabemos quanto é difícil a autocompreensão. Há di-versos fatores que impedem o auto-olhar: as preocupações diá-rias, o trabalho, os estudos, a família, os compromissos. Enfim, são

muitas as coisas que impedem a pessoa de olhar para si mesmapara se compreender e compreender os acontecimentos ao seuredor.

Os questionamentos que o ser humano se faz e sempre sefez, como "Quem sou?", "Por que estou neste mundo?", "Por quesou assim?", "Por que as coisas são dessa forma?", ficam, muitas

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vezes, sem respostas e inquietam – às vezes, até incomodam. Issoé comum a todos os seres humanos. É próprio do homem quererentender-se.

Esta primeira parte de nosso estudo pretende apresentar al-gumas concepções a respeito do ser humano. Todavia, é precisoanalisar a sociedade atual para perceber como e por que as coisasacontecem e que relação tem isso na vida das pessoas. Essa influ-ência da sociedade é relevante e de fundamental importância paraentender a vida atual.

Não é possível separar o ser humano da realidade em queestá inserido. Por isso, é de extrema importância analisar como osistema da sociedade de hoje atua no ser humano e provoca nelereações que não são perceptíveis. Analisar a questão da ideologiavigente é perceber como o ser humano pode tomar consciênciaou não da situação social e como a ideologia consegue camuflar arealidade e nos mostrar um modo de pensar, de sentir e de agir emque o ser humano é apresentado de maneira equivocada.

A concepção de homem apresentada pelo sistema dominan-

te nem sempre é compatível com o que ele pretende para si mes-mo. Por isso, estudar a questão social ajuda a entender a realidadee faz perceber que é importante ter consciência da situação parapoder traçar o perfil da própria existência.

SER HUMANO5.

Enquanto a sociedade atual olha o ser humano de modofragmentado, alguns pensadores acreditam que:

[...] ser homem significa uma pluralidade de dimensões nas quaisnão só experimentamos o mundo, senão que nos experimentamosa nós mesmos [...] o homem é uma totalidade concreta que funda-menta a totalidade em uma unidade estrutural que contribui parasua compreensão (CORETH, 1985, p. 39).

No entanto, o todo precisa entender-se a si mesmo.

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O homem é uma totalidade e não pode ser visto separada-mente, fragmentado, como acontece na sociedade atual. É impor-tante compreender o homem concreto, não um homem fictício,mas o homem que se pergunta e quer saber quem é. O homemestá dentro do mundo onde vive. Ele não está confinado à sua sub-

 jetividade, dentro de si mesmo.

Heidegger (1989) parte do significado de presença e, a partirdaí, propõe compreender e interpretar o ser dentro da realidadedo tempo. A pessoa é vista como parte das transformações e mo-

dificações. Isso implica situá-la em determinado contexto. É pre-ciso olhar a pessoa dentro do contexto histórico para entender oprocesso da constituição do ser.

Dentro desse contexto, a pessoa não pode ser vista de formafragmentada, como se fosse simplesmente um número, um meroconsumidor. Do mesmo modo, o ser humano é um ser em constru-ção. Sendo assim, tem grande potencial para a mudança.

O autor propõe compreender e interpretar o ser dentro darealidade do tempo. Tudo acontece dentro de determinado contex-

to. O ser está inserido em algum contexto histórico. O ser humanonão é só o seu passado nem só o seu presente, mas podemos per-ceber que é um projeto de vida, com um potencial em construção,com um potencial imenso pela frente, ainda não acabado.

Olhar o "ser-no-mundo", como Heidegger, cria a possibilidadede olhar o ser como um potencial a partir do que ele ainda pode ser:

[...] o homem não se realiza no horizonte do ser, é pelo que se expe-rimenta sob aspiração do absoluto. Ele só consegue entender-se a simesmo se não estiver em relação transcendental com o ser absolutoe infinito, dito de modo mais concreto, em sua relação com o funda-mento absoluto, pessoal e divino do ser (CORETH, 1985, p. 42).

É necessário que essa relação ultrapasse os limites do pró-prio ser para alcançar uma dimensão metafísica do homem, a suatranscendência, a fim de que haja uma relação com o ser, numaabertura ao ser em geral ao mesmo tempo em que se abre ao ab-soluto do ser.

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É preciso se compreender o homem desde o fundamento deseu ser ao mesmo tempo em que se compreende a totalidade doser.

CONTEXTO HISTÓRICO6.

Como vimos, o homem quer saber sobre o fundamento e osentido do mundo em que vive. Por meio do pensamento filosófi-co é possível interrogar-se sobre o princípio de todas as coisas para

entender o fundamento de tudo. Ao querer entender a si mesmono seu mundo, na sua história e no conjunto da realidade, ele fazum exercício filosófico.

Na verdade, essa é uma preocupação presente na vida dospovos em geral. Em todas as épocas da história pode-se perceber apreocupação que o ser humano tem quanto à sua origem e sobre aorigem do mundo. Afinal, quais foram as preocupações que envol-veram as sociedades nos diversos momentos históricos?

Percorrendo alguns desses momentos é possível verificar

certos pontos de vista interessantes e que poderão elucidar nossoestudo.

O homem no pensamento grego

Para Coreth (1985, p. 45):A filosofia grega antiga começa a olhar o mundo, o cosmos, o uni-verso. Pretende estudar o ser, as formas e as leis essenciais das coi-sas. Estabelece um escalonamento ordenado dos seres que partedas coisas inanimadas até chegar às formas de vida e culminar nosmodos de ser e de operar do espírito.

No pensamento grego o homem é entendido como o eixounificador da ordem universal. No entanto, o que caracteriza econstitui o homem é sua própria essência e sua alma. Aristótelestrata da alma, mas não do homem como um todo. Na verdade,trata de uma psicologia, não de uma antropologia.

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O que se percebe no pensamento primitivo grego é que eleapresenta uma dualidade fundamental da alma espiritual e o cor-po material:

Para Platão o homem está ordenado por seu espírito para o mun-do inteligível frente ao mundo aparente e mutável das coisas quese percebem pelos sentidos. Para ele a alma do homem imortalpertence ao mundo imutável das ideias e está fundamentalmenteacima do mundo mutável (CORETH, 1985, p. 48).

Tudo o que diz respeito à essência e à dignidade do homemse situa no espiritual. Platão apresenta o dualismo espírito e maté-ria, alma espiritual e corpo material do homem.

Aristóteles, mesmo sem superar a visão platônica do ho-mem, demonstra que a alma espiritual é o princípio interno queconforma o corpo.

Desde a Antiguidade, o homem é apresentado tentando des-cobrir sua origem. Essa apresentação de que o homem se reco-nhece ligado à sua história demonstra como é importante para eleconhecer sua origem. No pensamento grego, tudo está ligado aodestino, ou seja, o homem é predeterminado. No entanto, é aí que

ele sente a si mesmo e percebe os acontecimentos do mundo.

Essa afirmação nos remete à doutrina de Heráclito do logos,à doutrina do ser de Parmênides e ao mundo das ideias de Platão.Fica demonstrado que o homem se reconhece sob o destino doabsoluto. Boff (2003, p. 61) explica que:

A tradição clássica dos gregos não descobrira a dimensão típica naqual poderia madurar uma reflexão profunda sobre ser-pessoa. Di-ficultavam-no as coordenadas de seu horizonte de pensar. Um eixodestas coordenadas era constituído pelo espírito concebido comouniversal, transcendente e divino.

E continua dizendo que:[...] outro eixo era composto pelo corpo informado pelo espírito,corpo material, imanente e sujeito de todas as limitações. O ho-mem é composto de duas grandezas desproporcionais. Pela mortedar-se-ia a cisão de ambos. Espírito e corpo; o espírito, enfim, selibertaria dos laços limitadores da matéria e se recolheria em suauniversalidade e primitiva transcendência.

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A tradição grega utiliza-se da dualidade quando trata o serhumano. Nesse contexto, o espírito tem superioridade sobre ocorpo.

O homem no pensamento cristão

O diferencial no pensamento cristão é a revelação. Tanto no Antigo Testamento como no Novo Testamento a mensagem é desalvação e está direcionada para o homem concreto na história.Essa história é uma história de salvação em um acontecimento quese desenvolve entre Deus e o homem.

O Cristianismo ensina que o mundo procede da livre palavracriadora de Deus, que diz "faça-se" (Gênesis 1,3). Mesmo o mal de-pende de decisão livre e pessoal do homem. E, embora desde o iní-cio esteja marcado pelo pecado, o homem sabe da ação salvífica deDeus. Na "encarnação", Ele se revela livre e pessoalmente por meiode seu filho. O filho de Deus faz-se homem para salvar os homens dopecado. É essa a obra redentora que revela a vontade do Pai.

Para Agostinho, o livre-arbítrio não é a verdadeira liberdade. Esta,libertas, é a confirmação da vontade no bem pela graça. De fato,o homem entregue a si mesmo é impotente para triunfar da con-cupiscência. O socorro de Deus é necessário para apoiá-lo em suaação no sentido do bem. [...] a liberdade é, para Agostinho, es-sencialmente libertação pela graça e comporta uma gradação: ohomem é tanto mais livre quanto mais se submete ao chamadoda graça e mais participa da sua salvação (BARAQUIM; LAFFITTE,2007, p. 5-6).

Quando o Cristianismo, na patrística, utiliza o pensamentogrego para explicar racionalmente a fé, não contém o mesmo sig-nificado, pois "acentua o valor e a dignidade do particular [...] avocação divina e sua livre decisão frente ao destino eterno" (CO-

RETH, 1985, p. 53). Por isso, a alma não tem o mesmo sentido pla-tônico de preexistência, mas apresenta-se como livremente criadapor Deus. Essa é a linha que segue Agostinho.

Tomás de Aquino, adotando a doutrina aristotélica, não segueo mesmo raciocínio quando trata da alma e do corpo. Para ele, alma

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e corpo não são duas substâncias separadas, mas são dois princípioseternos que formam o único e mesmo homem completo.

No pensamento cristão, o homem está inserido na ordem obje-tiva e universal que tem seu fundamento em Deus. Cristo revela o ho-mem ao homem. Os cristãos têm uma ideia muito elevada do que é ohomem, de sua dignidade, de sua realização, de seu chamado a ser filhode Deus e viver fraternalmente na dignidade do mistério da vida.

Cristo mostra o verdadeiro amor, que é entrega, doação,

uma perda voluntária de liberdade. Mas nele a pessoa é pessoa etira o melhor de si.

Os cristãos são considerados grandes humanistas, mas, ob-viamente, não são os únicos, pois outras pessoas com concepçõesdiferentes, com sentido comum e com sentido da beleza ou de

 justiça compartilham essas convicções.

É possível perceber uma espécie de otimismo ingênuo na so-ciedade moderna, enquanto ela acredita que é possível vencer omal tanto dentro quanto fora de si, apenas com a razão e a educa-

ção; para os cristãos, é necessária a graça de Deus e o amor.

O homem no pensamento da idade moderna

No século 14, com o Renascimento, e, no século 15, na IdadeModerna, depois de um longo período em que o Teocentrismo erareferência de tudo, a preocupação voltou-se para a pessoa. O An-tropocentrismo olha o homem situado neste mundo.

Até essa época, a segurança estava na fé em Deus. Desdeo século 4 até o 14, o homem achava-se no centro de um mundoperfeito, ordenado e claro, fruto de uma fé que lhe dava a seguran-ça de um Deus que olhava por ele, consequência do pensamentoteocrático que predominava na época. Frei Betto ( Anexo I, p. 147)aponta que:

[...] a última mudança de época foi justamente na "descoberta" daAmérica, quando o Ocidente passou do período medieval para omoderno. A pintura de Michelangelo expressa, com genialidade,

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essa chegada de um tempo em que o conhecimento, a epistemolo-gia, se desloca de uma perspectiva teocêntrica para uma perspec-tiva antropocêntrica. A rainha das ciências, durante mil anos, noperíodo medieval, foi a teologia. A rainha das ciências, da moderni-dade é a física. O período medieval se baseava na fé; o moderno, narazão. O período medieval se baseava na contemplação das verda-des reveladas; o moderno, na busca da compreensão da mecânicadeste mundo e no pragmatismo, na transformação deste mundo (otexto se encontra na íntegra ao final deste CRC no tópico Anexos).

A modernidade mostra o homem sem um lugar assegurado nomundo, fazendo que ele se retraia cada vez mais sobre si mesmo. Isso

o faz questionar-se sobre o ser do homem e o sentido de sua vida.

O homem passa a ocupar o centro: é o que se chama Antro-pocentrismo. O problema é que esse homem é um simples sujeito,não é o centro de uma ordem objetiva do ser, mas o centro de ummundo de conhecimentos subjetivos.

Frei Betto ( Anexo I, p. 149) aponta que a característica damodernidade:

[...] são duas pernas: a filosofia de René Descartes e a física de Isa-ac Newton. Descartes, com o "Penso, logo existo", mostrou que arazão é capaz de decifrar os enigmas do conhecimento. Já contem-poraneamente a ele, ou um pouco antes, um acontecimento mar-cou decisivamente a introdução da visão moderna: a astronomiade Nicolau Copérnico, depois complementada por Galileu Galilei.Copérnico fez algo de revolucionário, a ponto de hoje se falar de re-volução copernicana, porque até então as pessoas olhavam o mun-do com os pés na Terra. Copérnico fez o inverso: como será a Terrase eu me imaginar com os pés no Sol? A partir dessa mudança, eleteve uma compreensão completamente diferente do universo, massó ousou partilhá-la em seu leito de morte, com medo da Inquisi-ção. Depois veio Galileu e acabou com a ideia de que a ciência ébaseada no senso comum.

A pretensão é que o ser humano se tornará autônomo. E isso

será possível por meio da racionalidade trazida pelas descobertascientíficas. O desenvolvimento técnico-científico tendeu para essenovo aporte. Durante o Feudalismo, o homem ficou submisso aossenhores feudais. Tudo dependia do feudo. Pouco precisava se preo-cupar com o desenvolvimento da sua vida e da sociedade em geral.

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Na modernidade, porém, o homem pode apostar em sua au-tonomia, pois a maneira como a sociedade está sendo estruturadalhe permite buscar novas formas de vida (MARTINS, 2009). E Mar-tins aponta um problema sério sobre a modernidade, a respeitodo homem:

O mundo moderno tem uma concepção de ser humano muito frag-mentada e mecanicista. Ele apostou piamente na capacidade racio-nal do homem e rompeu com a realidade transcendente. Contudo,essa "autonomia" não foi capaz de realizar a existência humana esolucionar os problemas da humanidade, mas desencadeou umacrise ética e de sentido (2009, p. 13).

O mesmo autor aponta outras preocupações decorrentesdessa postura nova que o mundo começa a experimentar: o mun-do moderno trouxe muito desenvolvimento ao homem, sobretudono campo material. Novas descobertas e inventos trouxeram con-forto às pessoas, que passaram a se apegar cada vez mais aos bensmateriais e às descobertas das ciências.

Com isso, o "ter" passou a ser extremamente valorizado edesejado. Contudo, a existência humana não se realiza somente

com o "ter". Some-se a isso o fato de que, diante da grande desi-gualdade social, adquirir os bens da tecnologia não é possível paramaioria da população mundial.

À existência, na modernidade, agrega o "ter" como funda-mento para o sentido do "viver". Cria-se a ilusão da realização exis-tencial unida ao material, proveniente da produção técnico-cien-tífica que se aperfeiçoa a cada dia. Com esse aperfeiçoamento, o"ter" vai-se modificando, e essa falsa necessidade nunca é suprida.Estabelece-se uma crise no mundo moderno, pois a satisfação como material não é capaz, por si, de dar sentido à vida:

A modernidade jogou o homem dentro de uma crise de sentido: oser  foi engolido pelo ter , que é superficial, pois nunca toca no cerneda existência (MARTINS, 2009, p. 15).

A modernidade construiu-se com a supervalorização da ra-zão, com a capacidade de transformar o todo em suas partes. Omesmo autor vai além, afirmando que:

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[...] a crise de sentido do ser é enorme. O ser humano na moder-nidade encontra-se em pedaços, sem saber integrar-se novamentedentro de uma unidade ontológica capaz de realizá-lo. O homemdefinitivamente foi fragmentado com as ciências, a partir de Des-cartes (2009, p. 17).

Descartes (1596-1650) aponta uma mudança de rumo quan-do apresenta o dualismo entre corpo e alma; dualismo que, deduas realidades distintas como se nada tivessem entre si, eliminaqualquer possibilidade de uma ação mútua entre corpo e alma.

Para Descartes, o valor supremo do homem, aquilo por meiode que ele realizará da melhor maneira possível sua humanidade,é a plena disposição de um livre-arbítrio cujo bom uso consisteem privilegiar a clareza do entendimento e em tomar o partido darazão. Porque é em Descartes que o Racionalismo se estabelece.O homem é reduzido a um sujeito pensante. Em contrapartida, oEmpirismo inglês impõe-se sob a impressão das ciências da natu-reza como única realidade objetiva cientificamente demonstrável,como aparece em John Lock (1632-1704), considerado pai do Em-pirismo, e David Hume (1711-1766), considerado o maior filóso-

fo empirista inglês, que se apoiam exclusivamente na experiênciasensível.

O Racionalismo entende o homem essencialmente comoum ser racional sem levar em conta o homem total e concreto;em contrapartida, o Idealismo eleva e absorve a razão finita noacontecimento espiritual infinito com o qual não adquire seu ple-no valor à singularidade pessoal do homem na sua liberdade e res-ponsabilidade.

A Revolução Francesa, com o lema "liberdade, igualdade,

fraternidade", expressa ideais que devem ser considerados pelaspessoas e pela sociedade. É um novo momento que se inicia. Umanova concepção de pessoa, de mundo e de sociedade tem início.Contudo, a história mostra que o Materialismo científico não acre-dita, por exemplo, na liberdade. E a Biologia não acredita na igual-dade ou na fraternidade.

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Da mesma forma, a evolução das espécies funciona porquenão há igualdade e porque o mais forte se impõe. É uma sociedadede competição.

Percebe-se, em contrapartida, que uma grande parte dacultura moderna já não é capaz de sustentar seus fundamentos,porque não acredita neles. Menos ainda acredita no valor ou dig-nidade da vida humana.

Materialismo e Evolucionismo

Enquanto na Idade Média o direcionamento da sociedadeera teocêntrico, da modernidade em diante, o direcionamentopassa a ser antropocêntrico. O homem passa a ser o centro daspreocupações, até que, no século 19, essa preocupação se direcio-na para a sua autoexperiência concreta.

Historicamente, a tradição considerou o espírito no homemcomo aquilo que constituía propriamente sua essência e a carac-terizava acima de qualquer outra qualidade. No século 19, o Mate-rialismo opôs-se terminantemente a isso, afirmando que o homem

é uma realidade material como outro ser qualquer.Com Augusto Comte (1798-1857), essa concepção de pessoa

se tornou forte. Considerado o pai do Positivismo, Comte defendeque o valor está no conhecimento objetivo da realidade, tornandoo homem um simples objeto do estudo científico natural empírico,psicológico, sociológico. Baraquim e Laffitte (2007, p. 69) apontamo Positivismo como o movimento que:

[...] lança as bases de uma reorganização mental geral que acabariacom as conquistas do "espírito positivo" próprio da era industrial. Essesistema é também chamado por Comte de "filosofia positiva", quebusca a certeza apenas nas aquisições das ciências e do método destas

 – busca de constância observáveis, de relações entre fenômenos e nãode causas absolutas – e se recusa, contra o cientificismo, a separar asciências da sua utilidade humana e da sua ancoragem na história.

O Positivismo abre as portas para o Materialismo. Enquanto,para o Positivismo, só tem valor aquilo que se pode experimentar,para o Materialismo, tudo é matéria e só existe a realidade material.

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No Evolucionismo de Darwin (1809-0882), dá-se uma novarevolução na imagem do homem. A evolução é fruto da seleçãonatural. Na mesma linha de pensamento, Friedrich Nietzsche(1844-1900) vê no homem um produto da evolução que o levaráao "super-homem".

Contrário a Darwin, sua afirmação segue o raciocínio de quea evolução não ocorre de forma mecânica, mas realiza-se na livrecompetição entre os homens na vontade de poder. O super-homemnão é um produto do processo mecânico, mas da livre vontade hu-

mana. No Dicionário Universitário dos Filósofos, pode-se ler que:[...] o super-humano não deve ser compreendido no sentido deuma etapa próxima na evolução: "A questão não está em saberque espécie sucederá na história dos seres a espécie dos homens.O homem é um fim. A questão está em saber que tipo de homemdevemos formar, que tipo de homem querer". Zaratustra ensinaaos homens "o sentido do seu ser": criar, a partir da sua vontade depoder, um homem que, simultaneamente, supere o homem e con-sume sua verdade. O super-homem é esse homem superior, cujoquerer emancipado de todo ressentimento, de toda culpa, de todanegação, assume plenamente o sentido da vida sob todas as suasformas e a justificativa inclusive no que ela tem de mais ambíguo ede mais assustador. Duro em relação aos outros e em relação a simesmo, livre de espírito e de coração, ele enfrenta então a verdadecom lucidez. Sua felicidade está em vencer a si mesmo. Somenteuma cultura nobre, ligada a uma moral aristotélica, é capaz de edu-car o homem à super-humanidade e ensinar-lhe a arte de se supe-rar a si mesmo (BARAQUIM; LAFFITTE, 2007).

Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engles (1820-1895) vãopara o lado do Materialismo dialético. No Materialismo dialético,não afirmam que as coisas são estáticas, mas dinâmicas; não sãomecânicas, mas dialéticas. No entanto, só existe a realidade mate-rial, embora não seja matéria estática, unívoca e uniforme; contu-

do, trata-se de um princípio material.Para Marx, o homem não passa de um conjunto de relações

sociais que destroem a pessoa individual e a tornam uma funçãodentro do progresso da sociedade. O indivíduo dilui-se no proces-so social e histórico.

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Em Pierre Teilhard de Chardin (1881-1955), encontramos aafirmação de que a matéria contém em germe todas as formas daevolução. Nesse processo, forma-se o campo da vida em todas assuas manifestações e o campo do pensamento e da consciênciaespiritual do homem.

Existencialismo e Personalismo

Blaise Pascal (1623-1662) opõe-se à estreita visão raciona-lista de Descartes. Pascal soube tomar consciência do trágico dacondição humana, marcada pela finitude e pela morte, da solidãodo homem num universo em que a presença de Deus está excluídapelo Racionalismo científico. Somente a fé pode salvar o homemdo absurdo e do desespero (BARAQUIM; LAFFITTE, 2007).

No século 20, Sören Kierkegaard (1813-1855) vai mostrarque o que interessa é a existência, o homem individual e concretona totalidade de sua existência pessoal, de sua singularidade e au-tonomia, de sua liberdade e responsabilidade.

Friedrich Nietzsche (1844-1900) é contrário a tudo isso. Ele

exalta a vida dando a ela um valor supremo, apesar de considerara vida humana de uma maneira naturalista, ou seja, de um modopuramente biológico natural. Para ele, a vida resume-se à vida cor-poral. Porém, o maior representante dessa corrente de pensamen-to é Henri Bérgson (1859-1941):

Numa época em que o cientificismo exercia sua tirania sobre osespíritos, Bérgson propõe restaurar a metafísica em sua vocação dealcançar o absoluto e de nos transportar por meio da intuição aopróprio cerne do real. Eclipsado pelas três correntes de pensamen-to, que são o existencialismo, o marxismo e o estruturalismo, elesuscita um novo interesse no contexto contemporâneo, que pro-

cura escapar do domínio da filosofia dos conceitos (BARAQUIM eLAFFITTE, 2007, p. 44).

Na filosofia existencialista, o conceito de existência desem-penha um papel capital. Trata-se do homem; no entanto, a existên-cia não é entendida nem analisada racionalmente, mas explica-sepor meio do imediatismo da experiência pessoal, a partir da com-

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preensão que o homem tem de si mesmo. Podemos perceber pro-postas abertamente negativas, como: a finitude e a contingênciado homem, a angústia e a preocupação (Kierkegaard e Heidegger),o fracasso (Jaspers, 1883-1968), o ser-para-a-morte (Heidegger).

[...] o existente é mergulhado em condições exteriores (naturais,culturais, históricas) que lhe ocultam o trágico próprio do seu desti-no. Somente as "situações-limites" – o sofrimento, o erro, o fracas-so, as lutas, a morte – quebram as evidências tranquilizadoras davida cotidiana e levam o existente a aclarar mais profundamentesua existência (BARAQUIM; LAFFITTE, 2007, p. 158).

No fundo, o que se pretende é mostrar que o homem é jo-gado contra si mesmo e que ele pode compreender sua própriaexistência originária e total.

Sartre (1905-1980) radicaliza o Existencialismo e conduz a existên-cia humana à plena nulidade, dando-lhe uma conotação que não con-fere sentido algum. Em Gabriel Marcel (1889-1973), o Existencialismocristão acrescenta algum elemento positivo de esperança e confiança.

Apesar de tudo, o homem é apresentado como um puro su- jeito no sentido do Racionalismo proposto por Descartes ou do

Idealismo de Kant a Hegel. Aparece aqui como homem em seumundo. O mundo converte-se em uma categoria antropológica.

O homem, entendendo-se a si mesmo e ao mundo em quevive, percebe que ambos não se opõem, mas constituem-se numaunidade dialética. O mundo do homem é um mundo pessoal. Porum lado, como pessoa individual, o homem possui singularidadee irrepetibilidade; constitui-se a si mesmo na liberdade, na auto-decisão e na autorresponsabilidade. Por outro lado, o homem nãovive sozinho; ele vive numa relação constante com o outro e como mundo. Ele é um ser social.

SER HUMANO E SOCIEDADE7.

O homem está inserido em uma realidade concreta. Por isso,a pessoa deve ser analisada dentro da realidade em que vive. O

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contexto social influencia a maneira como se olha o ser humano.Durante muitos anos, a chamada sociedade ocidental tratou a pes-soa de uma forma que não beneficiou muito a pessoa como tal.

No decorrer da história, em cada época, com característicasdiferentes, os grupos dominantes determinam o andamento e asituação da sociedade – seja o poder de um grupo específico, sejao poder de um grupo bem mais amplo, que nem sempre é iden-tificado, como é o caso do poder do sistema capitalista. O que sepercebe é que o poder sempre trabalhou para satisfazer o desejo

dos que estão no comando da sociedade. Veja a parábola das rãs:Num lugar não muito longe daqui havia um poço fundo e escuroonde, desde tempos imemoriais, uma sociedade de rãs se esta-belecera. Tão fundo era o poço que nenhuma delas jamais haviavisitado o mundo de fora. Estavam convencidas de que o Universoera do tamanho do seu buraco. Havia sobejas evidências científi-cas para corroborar esta teoria e somente um louco, privado dossentidos e da razão, afirmaria o contrário. Aconteceu, entretanto,que um pintassilgo que voava por ali viu o poço, ficou curioso eresolveu investigar suas profundezas. Qual não foi sua surpresa aodescobrir as rãs! Mais perplexas ficaram estas, pois aquela estra-nha criatura de penas colocava em questão todas as verdades jásecularmente sedimentadas e comprovadas em sua sociedade. Opintassilgo morreu de dó. Como é que as rãs podiam viver presasem tal poça, sem ao menos a esperança de poder sair? Claro que aidéia de sair era absurda para os batráquios, pois, se o seu buracoera o Universo, não poderia haver um "lá fora". E o pintassilgo sepôs a cantar furiosamente. Trinou a brisa suave, os campos verdes,as árvores copadas, os riachos cristalinos, borboletas, flores, nu-vens, estrelas... o que pôs em polvorosa a sociedade das rãs, quese dividiram. Algumas acreditaram e começaram a imaginar comoseria lá fora. Ficaram mais alegres e até mesmo mais bonitas. Co-axaram canções novas. As outras fecharam a cara. Afirmações nãoconfirmadas pela experiência não deveriam ser merecedoras decrédito, elas alegavam. O pintassilgo tinha de estar dizendo coisassem sentido e mentiras. E se puseram a fazer a crítica filosófica,

sociológica e psicológica do seu discurso. A serviço de quem esta-ria ele? Das classes dominantes? Das classes dominadas? Seu can-to seria uma espécie de narcótico? O passarinho seria um louco?Um enganador? Quem sabe ele não passaria de uma alucinaçãocoletiva? Dúvidas não havia de que o tal canto havia criado muitosproblemas. Tanto as rãs-dominantes quanto as rãs-dominadas (quesecretamente preparavam uma revolução) não gostaram das idéiasque o canto do pintassilgo estava colocando na cabeça do povão.

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Por ocasião de sua próxima visita o pintassilgo foi preso, acusado deenganador do povo, morto, empalhado e as demais rãs proibidas,para sempre, de coaxar as canções que ele lhes ensinara (ALVES,1981, p. 119-120).

Apesar das mudanças que ocorreram durante cada momen-to histórico, pode-se notar que o ser humano, em geral, sempre foideixado em um plano inferior pela sociedade.

A análise histórica vista de outro ângulo pode parecer pessi-mista, demonstrando que o ser humano sempre foi o ponto cen-

tral das preocupações de pensadores, filósofos, religiosos e pesso-as sensíveis às necessidades que afligiam uma grande parcela dasociedade.

Há exemplos de muitas pessoas que atuaram corajosamentena sociedade em que viveram e que souberam analisar os fatos etudo o que envolvia a vida humana, independentemente da raça,da cor, da religião e do lugar social em que se encontravam, e tive-ram coragem de analisar, questionar e lutar dignamente pela cons-trução de uma sociedade mais digna e humana.

A história está repleta de pessoas que se dedicaram exclu-sivamente em favor do bem da pessoa. A situação hoje não é di-ferente. Ainda há muita gente lutando e trabalhando para dar umsentido diferente para a sociedade e para a vida.

É urgente resgatar o verdadeiro sentido do ser humano. Todapessoa que compartilha parte de sua vida com o Claretiano estáconvidada a perceber a importância de si mesma e do outro comquem compartilha seu saber, sua profissão e sua vida.

Para Boff (2003, p. 61), "a dignidade do homem reside em

ser ele pessoa". Por meio de uma vivência enraizada em conceitoséticos, a pessoa é convidada a trabalhar em prol de uma socie-dade mais justa e igualitária, a fim de resgatar a dignidade do serhumano.

Sem esquecer que, na época atual, o Neoliberalismo colo-ca toda a sociedade envolvida em uma lógica tecnicista, excluin-

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do quem não se adapta a ela. Esse sistema reduz a pessoa a umamáquina de fazer e consumir. Por isso, exige atenção a tudo o queenvolve o ser humano, a fim de perceber se a atitude está sendotecnicista ou se há espaço para uma forma humanitária de ser ede agir.

Por isso, é importante que haja sempre uma reflexão e umainquietação a respeito da postura assumida por quem quer queseja. Não existem respostas prontas, receitas acabadas. Cada re-alidade é diferente da outra. Contudo, ninguém nega que o ser

humano precisa ser resgatado em sua dignidade e em seus direitose precisa conhecer seus deveres para consigo mesmo, para com ooutro e para com a humanidade em geral.

Independentemente de sua origem racial, de sua cor, de suafé e de sua profissão, ele é, antes de tudo, uma pessoa que temdireitos e deveres. É preciso partilhar reflexão, discutir e descobrircaminhos, juntos.

A atual sociedade é capitalista

A sociedade capitalista, que camufla a realidade, condicionao mercado de trabalho e cria certos tipos de necessidades e, aoexigir capacidade profissional cada vez mais seleta, deixa a grandemaioria à margem do que almeja (MÜLLER, 1997). Sem uma pers-pectiva de futuro, toda uma geração pode desorientar-se.

No sistema capitalista, os atrativos para uma vida de consu-mo levam as pessoas a buscar, desenfreadamente, a satisfação ilu-sória de inúmeras necessidades; é mais fácil desencadear a pers-pectiva de uma vida sem objetivo e sem valores do que uma vida

de esperança e realizações.A descoberta das ciências modernas fez o mundo passar por

profundas transformações e se redefinir. Quando as primeiras so-ciedades capitalistas começam a surgir, no final do século 18, aspessoas foram se juntando em torno das fábricas.

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Nessa época, o capital passa de comercial e mercantil paraindustrial. A busca cada vez maior do lucro cria a necessidade deconstruir máquinas cada vez mais sofisticadas. A mão de obra ten-de a se tornar mais especializada. "A modernidade jogou o homemdentro de uma crise de sentido: o ser  foi engolido pelo ter , que ésuperficial, pois nunca toca no cerne da existência" (BOFF, 2003,p. 15).

Na sociedade pós-moderna, o Capitalismo estabelece-secomo sistema econômico, influenciando o social e interferindo no

político. Aos poucos, o Neoliberalismo vai-se implantando e de-monstrando regressão no campo social e político. O Individualis-mo é a tônica constante de todo o seu agir. O raciocínio neoliberalé tecnicista, pois reduz problemas sociais a questões administrati-vas e os problemas da educação em problemas de mercado e detécnicas de gerenciamento.

Siqueira afirma que, dentre os vários pontos negativos dasociedade pós-moderna, o que mais atinge os aspectos da vida éa busca por um desempenho, exigindo que as pessoas sejam ope-

racionais ou poderão até desaparecer:Aqueles que por algum motivo (idade, renda, saúde...) não estive-rem atendendo às exigências de performance impostas, são des-prezados pelo sistema, e neles nada se investe. Exemplo claro dissosão os aposentados; seu desempenho já não impulsiona mais aperformance do sistema, e por isso podem até ser consideradosvagabundos (SIQUEIRA, 2000).

Olhando dessa forma, podemos perceber que o ser humanovale pelo que produz e pelo que consome. Enquanto produz, temainda alguma possibilidade de ser considerado pela sociedade;essa é a ótica tecnicista. Porém, se não produz nada, só terá lugar

se tiver posses suficientes para consumir.

A ótica utilizada é a da negatividade, pois está calcada naquantidade sem levar em consideração o equilíbrio da qualidade.A performance não pode apoiar-se só na competência, mas deveconsiderar o desenvolvimento integral do homem, valorizando-o

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no seu todo: fazer, ser, refletir, participar e agir autonomamente(SIQUEIRA, 2010).

Depois do século 15, quando se iniciam as primeiras desco-bertas científicas, o mundo começa a sofrer uma mudança semprecedentes no relacionamento entre as pessoas. Nos séculosseguintes, o desenvolvimento industrial e tecnológico trouxe nabagagem o individualismo provocado por essa maneira de ser ede agir. As primeiras sociedades capitalistas, fruto do desenvolvi-mento econômico industrial, provocaram uma corrida intensa em

busca de satisfações pessoais.

O consumo desenfreado provocado pela incessante buscadas satisfações e desejos individuais deixou transparecer uma rea-lidade em que o outro é peça descartável. A busca das satisfaçõespessoais criou distâncias entre as pessoas.

O sistema econômico e social capitalista, com sua ideologiapredominantemente consumista e que instiga a acumulação debens e de poder nas mãos de poucos, provoca uma luta incons-ciente e sem precedentes no seio da sociedade. É urgente reverter

esse processo.

Relação consigo e com o outro

O ponto fundamental a ser considerado é que o sistema prio-riza a competição. O individualismo carrega consigo todo o envol-vimento de uma sociedade competitiva em que o sucesso indivi-dual está acima de qualquer outro. O grupo perde a importância, otrabalho em equipe gera desconfiança, pois a ideia de competiçãonão considera o outro como elemento imprescindível, mas, sim,

como alguém contra quem eu devo lutar.Essa competitividade vista na ótica capitalista é a responsá-

vel pela guerra econômica travada em todos os âmbitos da socie-dade. Por essa razão, é importante analisar alguns passos para queessa corrente seja quebrada e novos paradigmas sejam inseridosnesse estilo de ser e de viver imposto pelo sistema capitalista.

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O mercado, de forma contraditória, impulsiona as pessoaspara um modo competitivo e individualista de ser e viver.

O ser humano, de maneira geral, não costuma se perceber,conhecer e valorizar. Esse é um ponto que fica um pouco obscuroquando se trata de relacionamento.

Se a descoberta do outro é necessária nas relações sociais,a relação consigo mesmo é imprescindível para que haja um rela-cionamento sadio com o outro e com o mundo. É necessário que

haja uma compreensão profunda nessa relação mais ampla, poishá uma interligação essencial que não pode ser esquecida.

O sistema capitalista leva em consideração aquilo que farácom que as pessoas tenham atitudes nitidamente competitivas vi-sando à competição e ao lucro. Numa visão estreita da sociedadee do ser humano, dentro dessa ótica tecnicista, o ser humano ficareduzido, e seu valor é considerado zero:

A visão mecanicista do homem e do mundo separa tudo para poderentender e, do mesmo modo, tentar resolver os problemas. O ho-mem não é um ser constituído de fragmentos simplesmente, masuma unidade com uma estrutura ontológica. Uma unidade pensan-

te, que sofre influências do meio social e da natureza; uma estruturaaberta ao transcendente, isto é, ao espiritual. A modernidade enco-bre essa busca com uma cura paliativa, cura incapaz de tocar o ser .Incapaz de mostrar o sentido da existência (BOFF, 2003, p. 22-23).

O alto índice de desemprego atinge as pessoas e proporcio-na um ambiente de incerteza quanto ao futuro, com relação à vidae com relação à realização pessoal:

Na sociedade justa, ninguém pode ser deixado à mingua ou semteto. A primeira exigência é ampla oportunidade de emprego e derenda, e não a inatividade forçada (GALBRAITH, 1996).

E Martins (2009, p. 17) afirma que:[...] a crise de sentido do ser é enorme. O ser humano na moder-nidade encontra-se em pedaços, sem saber integrar-se novamentedentro de uma unidade ontológica capaz de realizá-lo. O homemdefinitivamente foi fragmentado com as ciências, a partir de Des-cartes. 

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CAMINHOS A PERCORRER8.

Boff (2000) mostra uma característica que é própria do serhumano e que precisa ser utilizada quando se trata de construir onovo. Por isso afirma que:

[...] possuímos a dimensão de romper barreiras, de superar inter-ditos, de ir para além de todos os limites. É isso que chamamosde transcendência. Essa é uma estrutura de base do ser humano(BOFF, 2000, p. 28).

E mais adiante acrescenta:O que é o ser humano então? É um ser de abertura. É um ser con-creto, situado, mas aberto. É um nó de relações, voltado em todasas direções. [...] Ele é um ser em potencialidade permanente. Entãoo ser humano é um ser de abertura, um ser potencial, um ser utó-pico (BOFF, 2000, p. 36).

A situação em que o ser humano atual se encontra não é

própria do humano. Isso faz parte de uma contingência da socie-

dade atual. Por isso, ele pode buscar alternativas. O humano é ca-

paz de fazer acontecer o novo.

O estudo desenvolvido pela UNESCO, apresentado por De-lors (1999), apresenta quatro pilares para a construção da socie-

dade necessários para que a pessoa possa se adaptar aos novos

tempos: aprender a conhecer  (adquirir os instrumentos da com-

preensão); aprender a fazer  (para poder agir sobre o meio envol-

vente); aprender a conviver com os outros (a fim de participar de

todas as atividades humanas) e aprender a ser  (que é o ponto de

ligação com os outros três).

Sem dúvida, atentos a toda a lógica do mercado, aprender

a conhecer significa estar atento a tudo o que acontece à nossa

volta. Perceber os detalhes daquilo que envolve o ser humano e

as circunstâncias ao seu redor dá à pessoa a capacidade de poder

decidir sobre o que fazer com sua vida e, desse modo, buscar o

caminho mais adequado para alcançar a realização pessoal. Max

Scheler (2003) mostra como isso é possível ao afirmar que

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[...] o homem nunca se aquieta com a realidade que o cerca, sem-pre ávido de romper as barreiras de seu aqui-e-agora de tal modo,sempre aspirando a transcender  a realidade efetiva que o envolve – nesta também a sua própria auto-realidade (p. 53).

Nas relações humanas, sempre há riscos. Muitas vezes, po-de-se fazer uma prévia concepção de uma visão fixa que impedeque seja vista a totalidade das coisas. Essa forma de agir, tendouma concepção prévia, sem discussão, impede a compreensãoverdadeira do ser.

É preciso tomar cuidado com as concepções prévias, poiselas podem colocar em risco as relações humanas. Para superarisso, é necessária uma constante superação de si mesmo. A socie-dade e as pessoas estão em construção. Não estão acabadas e nãose realizaram plenamente ainda. Desse modo, podem ser mais doque já são.

O Materialismo moderno tira das pessoas a necessidade de sesentirem responsáveis. Embora o ser humano viva uma situação ad-versa, não há como negar que há muitas possibilidades; há muitassituações que estão aí esperando uma oportunidade para acontecer.

É preciso ficar atento aos acontecimentos que envolvem asociedade. As coisas boas e importantes que estão presentes nomundo não são muito ressaltadas. Os meios de comunicação so-cial não mostram os acontecimentos positivos que estão sendoengendrados no seio da sociedade e, por isso, é preciso que elesestejam atentos ao que acontece ao seu redor.

Adaptabilidade

O ser humano é um ser capaz de adaptar-se às situaçõesmais diversas e adversas. A educabilidade permite a ele situar-sede tal forma que, mesmo nas situações mais difíceis, é possívelencontrar uma forma, uma possibilidade, um atalho para reencon-trar o caminho ou adaptar-se em outro modo de viver ou em outroambiente distinto.

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O importante é que a pessoa adquira os instrumentos ne-cessários para compreender essas situações complexas do mundoem que vive. Quando a pessoa começa a olhar para si mesma e aconhecer-se, ela passa a perceber que há espaço para desenvolvertodo o seu potencial criativo. No entanto, duas coisas são essen-ciais:

Conhecimento da realidade que a cerca.•

Percepção das potencialidades naturais e existentes em•cada um.

Esse tesouro presente dentro de cada pessoa precisa serdescoberto e colocado para fora a serviço de seu desenvolvimen-to pessoal, das pessoas e da sociedade em geral. O exercício dopensamento ajuda a pessoa a situar-se nesta vida, neste mundo,nesta sociedade, ajuda a entender o "porquê" do estar aqui e qualo papel de cada um nesta realidade.

Ao mesmo tempo em que ocupa o pensamento e prestaatenção às coisas, é necessário dirigir essa atenção às pessoas. Éno grupo social que a pessoa encontra a ressonância do seu ser. É

no grupo social que percebe a importância do conhecimento e oque fazer com isso (DELORS, 1999).

Não basta compreender o que está se passando ao redor.A pessoa precisa de uma preparação específica para determinadatarefa ou profissão. Mesmo sabendo que isso não garante um lu-gar no mercado de trabalho, é necessário aprender, ter habilidadee competência.

O mercado requer qualificação, conhecimento técnico apro-fundado e, em alguns casos, especializado, sendo necessária for-

mação profissional comprovada. Ao mesmo tempo, há necessida-de de uma relação interpessoal mais profunda.

Essa relação interpessoal ocupa um lugar de importância nasrelações de trabalho. Contudo, quando as indústrias começaram aproduzir em série, o relacionamento interpessoal esfriou. Com o

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grande crescimento tecnológico, a automação e novas formas deprodução, o trabalho em equipe é de fundamental importância.

Sennett (2000) chama a atenção para esse "perigo". Todaa sistemática do trabalho em equipe que envolve o sistema ca-pitalista torna as pessoas vulneráveis, ou seja, dispensáveis, poisessa forma de exercer as atividades dentro da empresa mostra quequalquer pessoa, a qualquer tempo, pode ser substituída por ou-tra sem que haja prejuízo ao funcionamento da engrenagem.

No entanto, é importante ressaltar que a relação interpes-soal traz a necessidade de uma relação que eu costumo chamarde intrapessoal, ou seja, antes mesmo de haver uma relação boae agradável com o outro, há necessidade de haver uma relaçãomuito íntima consigo mesmo.

Isso será parte de estudo posterior. De qualquer forma, omodo de ser e de viver o relacionamento interpessoal não nascecom a pessoa; ele é adquirido no dia a dia e é importante para ocrescimento particular e comunitário, pois não é só no ambientede trabalho que a pessoa necessita desenvolver um relacionamen-

to bom com os demais.

Autoconhecimento

O primeiro passo compreende um conhecimento de si mes-mo; e quanto mais profundo esse conhecimento, melhor. Conhe-cer-se implica conhecer as potencialidades, as aptidões, as dificul-dades; enfim, a história da existência pessoal.

Esse é um elemento importante, mas não é o único. É preci-so aceitar-se e, mais que isso, é extremamente necessário gostar

de si mesmo assim como se é. Isso compreende um entendimentoamplo de tudo o que envolve a pessoa. Ao olhar para si mesmo demaneira positiva, a pessoa descobre o outro.

Durante a guerra fria entre Capitalismo e Comunismo, o ou-tro era apresentado como inimigo. Devido a esse medo, as rela-

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ções interpessoais ficaram comprometidas. Hoje, por causa da vio-lência generalizada, ainda há certa desconfiança quando se tratado outro, sem nos esquecermos de que há um agravante muitoprofundo: a sociedade competitiva. A ideia de que o outro vai tiraro meu lugar me faz estar atento aos seus gestos e me coloca numasituação de desconfiança com relação a ele.

Há uma profunda interdependência entre os seres humanos.Da mesma forma, essa interdependência se estende à natureza, àcasa de todos os seres.

Essa interdependência entre os seres do mundo interior nãopode ficar esquecida. Há uma necessidade cada vez maior de per-ceber que a vida das pessoas e a vida do mundo não podem acon-tecer separadamente.

Essa visão que provoca a descoberta de si mesmo e a desco-berta do outro oferece uma visão adequada do mundo ao redor doser humano. E essa é uma tarefa educacional que não se restringesó à escola, mas também à comunidade e à família.

Um dos pontos importantes desse novo paradigma é a supe-ração do individualismo para valorização do que é comum. O queune é mais importante do que o que separa. A cooperação é maisimportante do que atividades que dividem, que competem e quedistanciam as pessoas.

Dessa forma, as atividades com conotações sociais, queimplicam cooperação entre os membros do grupo, precisam serimplantadas nos bairros, na ajuda aos menos favorecidos, nosserviços solidários ou nas ações que olhem os outros como seme-lhantes, embora sejamos completamente diferentes.

Consciência do eu

O relatório da ONU chama a atenção para a importância deaprender a ser. Delors (1999) aponta que é necessário levar emconsideração que o processo de caracterização da pessoa consiste

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na consciência que ela tem de si mesma. Isso faz que a pessoa en-tre em contato com o seu interior.

Nesse contato com o interior, cada um pode perceber maiscompletamente como a diferenciação é importante e necessáriano processo do próprio desenvolvimento e no desenvolvimentodo mundo.

Essa consciência do eu, que leva o indivíduo a perceber-sedistinto dos outros seres criados e dos indivíduos da sua mesma

espécie, cria nele a consciência da responsabilidade de ser mais emelhor. Mas é aí que ele encontra o caminho da autorrealização. Aautoconsciência abre caminho para a autorrealização.

O conceito que cada um faz de si mesmo determina o seucomportamento. O que faz ou tenta fazer, o que realiza ou tentarealizar e o relacionamento interpessoal podem estar intimamen-te relacionados com o conceito de "eu-mesmo" e com os váriosfatores que lhe são afins.

QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS9.Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar as questões a se-guir, que tratam da temática desenvolvida nesta unidade:

Quais as principais correntes de pensamento apresentadas nesta unidade?1)

Descreva as fases históricas e os principais fatos relacionados ao estudo da2)nossa disciplina.

Você compreendeu o sistema capitalista neoliberal? Aponte quais os prin-3)cípios que regem esse sistema e como o ser humano é tratado nesse con-texto.

Apresente sua crítica sobre a unidade apontando:4)Quais os pontos fundamentais apresentados?a)Que pontos podem ser melhorados?b)Ela corresponde aos objetivos propostos?c)É importante para sua formação profissional?d)É importante para sua formação pessoal?e)

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CONSIDERAÇÕES10.

O objetivo desta unidade não foi aprofundar historicamenteas questões abordadas. Contudo, foi possível mostrar a realidadee as situações que envolveram a sociedade e o ser humano nosdiferentes períodos da história.

Foi possível perceber, ainda, toda a realidade envolvendo asociedade atual, a sociedade em que vivemos, a realidade que en-volve todo o contexto social, a pessoa inserida nesse contexto ealgumas coisas referentes ao ser humano.

Na próxima unidade, será estudada uma proposta ligada àmaneira como o Centro Universitário Claretiano compreende a si-tuação que envolve o ser humano. É uma proposta humanista.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS11.

ALVES, R. O que é Religião?  São Paulo: Brasiliense, 1981.

BARAQUIM, N.; LAFFITTE, J. Dicionário universitário dos filósofos. São Paulo: MartinsFontes, 2007.

BOFF, L. Tempo de transcendência -  o ser humano como um projeto infinito. Rio deJaneiro: Sextante, 2000.

 ______. O destino do homem e do mundo. Vozes, 2003.

CORETH, E. ¿Que és el hombre?  – esquema de uma antropologia filosófica. Barcelona:Herder, 1985.

DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. São Paulo: Cortez, 1999.

HEIDEGGER, M. Ser e tempo. São Paulo: Vozes, 1989

GALBRAITH, J. K. A sociedade justa – uma perspectiva humana. Rio de Janeiro: Campus,1996.

MARTINS, A. A. É importante a espiritualidade no mundo da saúde?  São Paulo: Paulus,2009.

MÜLLER, M. Orientar para un mundo en transformación:  jóvenes entre la educación y eltrabajo. Buenos Aires: Bonum, 1997.

SCHELER, M.  A posição do homem no cosmos. Rio de Janeiro: Florense Universitária,2003.

SENNETT, R.  A corrosão do caráter : consequências pessoais do trabalho no novoCapitalismo. 6. ed. Rio de Janeiro: Record, 2000.

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EREFERÊNCIA12.

Site pesquisado

SIQUEIRA, H. S. G. Performance sob uma lógica tecnicista. Disponível em: <www.angelfire.com/sk/holgonsi/performance.html>. Acesso em 25 set. 2010.

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Centro Universitário Claretiano – Anotações

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      E      A      D

Ser Pessoa – Uma PropostaHumanista

2OBJETIVOS1.

Entender o• conceito que o Centro Universitário Claretia-

no possui sobre a pessoa.

 Perceber como a pessoa faz parte de um contexto social,•

porém pode olhar a realidade de forma mais humana.

CONTEÚDOS2.

Propo• sta humanista do Centro Universitário Claretiano.

 O ser humano visto como humano.•

As dimensões da pessoa.•

Unidade e tota• lidade, uma visão humanista.

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ORIENTAÇÕES GERAIS PARA O ESTUDO DA UNIDADE3.

Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante1)que você leia as orientações a seguir:Para estudar estaunidade, é importante perceber como é desumana a for-ma como a sociedade capitalista considera e trata o serhumano Por isso, é importante entender que há outrasmaneiras de se ver a pessoa.

Observe como a proposta humanista procura apresentar2)a realidade existencial de modo humano.

Aprofunde-se no conhecimento da proposta humanista3)apresentada pelo Centro Universitário Claretiano. Vocêperceberá que é possível ser pessoa e viver a realidadepessoal de forma verdadeira e intensa, numa profundaunião consigo, com o outro e com o Ser Absoluto, que éDeus.

Antes de iniciar os estudos desta unidade, pode ser inte-4)ressante conhecer um pouco da biografia dos pensado-res cujos pensamentos norteiam o estudo desta discipli-na. Para saber mais, acesse os sites indicados.

Max Scheler (1874-1928)Filósofo alemão nascido em Munique, de importânciafundamental para a filosofia sociológica. Estudou na Uni-versität Jena, onde continuou como professor e o tam-bém filósofo germânico Rudolf Eucken (1846-1926), queveio influenciá-lo inicialmente, quando este lhe expôssua concepção de um mundo ideal. Passou a lecionarem Munique (1907) e a partir do contato (1910) com dis-cípulos de Edmund Husserl (1849-1938), impressionou-se com o estudo da fenomenologia daquele filósofo eprocurou descobrir a essência das atitudes mentais e a

relação destas mantêm com seus objetos, fundando assim a sua chamada éticamaterial dos valores. Morou em Berlim (1910-1917), onde começou a escrever.Trabalhou para o Ministério das Relações Exteriores da Alemanha (1917-1919)

e retomou a atividade acadêmica em Colônia. Rompeu com a igreja católicapor motivos pessoais (1923), chegando a declarar, nunca haver se sentido umapessoa católica. Morreu em Frankfurt, aos 53 anos de idade, em plena produçãofilosófica. É considerado um filósofo da fenomenologia e seus principais trabal-hos foram Der Formalismus in der Ethik und die materiale Wertethik (1913-1916),Vom Ewigen im Menschen (1921), Wesen und Formen der Sympathie (1923),Die Wissensformen und die Gesellschaft (1926) e Die Stellung des Menschenim Kosmos (1928), onde revelou a sua inclinação para o panteísmo. Opôs-seà ética de Immanuel Kant (1724-1804), por achá-la arbitrária, pois segundo sua

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compreensão, ela não permitia a plenitude e a alegria de vida, uma vez queKant considerava o dever como algo fundamental à ética (imagem disponível em:<http://www.personalismo.org/filosofia-personalista/grandes-maestros/>. Acessoem: 15 out. 2010. Texto disponível em: <http://www.netsaber.com.br/biografias/ver_biografia_c_2671.html>. Acesso em: 15 out. 2010).

INTRODUÇÃO À UNIDADE4.

Nesta unidade, será desenvolvida uma análise da pessoa nasua totalidade, inserida num contexto mais amplo, englobando-anuma realidade mais abrangente.

Como Sócrates, o famoso filósofo grego, você está convida-do a realizar o desafio que ele fazia aos cidadãos de sua época,"conhece-te a ti mesmo". Como afirma Mondin (1998, p. 8):

O homem não entra neste mundo como uma obra inteiramentecompleta, totalmente definida, mas, principalmente, como umprojeto aberto, a ser definido, a ser realizado e que, na definição erealização de si mesmo, deve ter em conta três coisas: o próximo,o mundo e Deus.

Por sua vez, Martins (2009, p. 14) acrescenta:[...] o ser humano é um todo, um ser integral cuja existência é cons-

tituída por todas as suas dimensões, na relação contínua consigomesmo, com o outro, com o mundo e com a transcendência...

É importante ao ser humano ter esse olhar holístico. Come-çando por si mesmo, mas aberto para tudo o que está fora, quetranscende seu próprio eu. Ao entrar em contato com seu eu, apessoa lança-se para fora de si e se reconhece como parte do todo.Não olha para si, para o outro e para o mundo de forma tecnicista,mas como um ser humano repleto de transcendência, procuran-do entender sua situação e seu lugar no todo. Ao entender a simesmo, quer entender a sociedade em que vive para poder atuarde forma consciente e positiva, assumindo, corajosamente, o com-promisso com a vida.

O Projeto Educativo Claretiano preocupa-se com a pessoa nosentido que foi descrito, deixando clara sua posição diante da situ-ação humana no contexto da realidade atual e ressaltando a edu-

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cação para a justiça e para o amor. O centro de toda a preocupaçãoé o homem, pois ele "é um ser único e irrepetível, constituído dasdimensões biológica, psicológica, social, unificada pela dimensãoespiritual, que é o núcleo da pessoa humana" (CLARETIANO, 2005,p. 20) (você poderá ler todo o Projeto Educacional Claretiano queestá em anexo).

Há muito tempo, o conceito de pessoa vem sendo estudadoe construído. É o caso do Centro Universitário Claretiano, que temcomo parte de sua Missão o compromisso com a vida e com a

formação integral do ser humano. Seu Projeto Educativo tem pelohomem um apreço inigualável, dedicando-lhe um estudo especiale um jeito próprio de tratar com o que está ligado e relacionadoao humano.

A base desta segunda unidade é sobre o modo Claretianode ver a pessoa. A preocupação principal é entender como es-ses conceitos poderão incorporar o fazer e a maneira de atuar naprofissão escolhida (seja ela qual for) e em nossa sociedade. Nãoserve ao modo da ideologia capitalista, muito menos ao conceito

tecnicista que daí decorre, reduzindo o homem a um objeto quefaz e que consome.

O Claretiano analisa o homem como um ser multidimensio-nal (que possui dimensões). Na afirmação de Arduini (1989, p. 9)é possível perceber que "dimensão não é sinônimo de partes. Aspartes somadas formam o todo. Mas o todo não resulta da somadas dimensões. As dimensões é que derivam do todo, que as pre-cede e funda".

Nós não somos somente seres físico-biológicos: temos sentimen-tos, vivemos num meio social e numa natureza, temos uma cons-

tituição ontológica e uma abertura à realidade transcendente (oespiritual) (MARTINS, 2009, p. 37).

Por meio da transcendência, é possível procurar o funda-mento do mundo e a busca de sentido para a própria existência."A capacidade de autotranscender-se (sair de si) é o específico dapessoa"(BOFF, 2003, p. 64).

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É importante notar que o homem não pode ser visto apenassob um ou outro ângulo; pois, dessa forma, não se olha o todo.Para compreender a pessoa, é preciso enxergá-la na sua totalida-de. É necessário compreender o ser todo do homem. Olhar umaparte não significa olhar o todo. Por isso, o olhar antropológicoquer olhar a totalidade para compreender quem é o homem e qualsua responsabilidade neste mundo. Da mesma forma, quando seolha a totalidade é possível perceber que o ser humano é único eirrepetível.

Boff (2003, p. 63) afirma que:[...] a tradição clássica via no ser-pessoa o momento de indepen-dência, de ausência de relação necessária para fora, o poder estarem si e para si sem necessitar para subsistir de outrem. Tal visãocertamente atinou com dimensões verdadeiras e profundas do serpessoal. Mas é também incompleta.

Arduini (1989, p. 184) acrescenta:O homem produz-se, isto é, conduz-se para frente. Atira-se às me-tas. Lança-se à cata de novas maneiras de ser, de viver, de trabalhare de conviver. Em resumo, destina-se. [...] Quando falta finalidade,desaparece o sentido.

Nesse sentido, a concepção da educação do Claretiano pro-cura compreender cada ser humano como um ser único.

O processo de humanização aceita cada educando como ser únicoe irrepetível, enfeixando num todo suas dimensões biofísicas, psi-cossociais, espirituais e inserindo-o no contexto histórico (CLARE-TIANO, 2005, p. 21).

No contexto das dimensões, na descrição da Missão do Cla-retiano, afirma-se que o homem é um ser único, irrepetível, cons-truído das dimensões biológica, psicológica, social, unificadas peladimensão espiritual, que é o núcleo do ser-pessoa.

Como pessoa, o homem expressa seu ser-espírito na liber-dade, entendida como capacidade de afirmação, apesar dos con-dicionamentos e limitações que reforçam sua responsabilidade naconstrução da própria existência, cuja plenitude é alcançada pelasuperação de si e pela transcendência.

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Ao analisar cada uma dessas dimensões, será possível teruma ideia do compromisso que se deve assumir como membrosde uma sociedade que busca aperfeiçoar-se e dar sentido à suaexistência. Como humano, o homem está comprometido com obem comum e com seu semelhante. O compromisso começa nopróprio ser, mas ultrapassa essa realidade e se lança diante do ou-tro, da sociedade, do mundo e de Deus.

A análise multidimensional da pessoa faz perceber o com-promisso existente na condição de ser humano inserido em uma

realidade histórica, que convoca esse ser para ser agente de mu-dança, em busca de finalidade e sentido para sua vida.

DIMENSÕES DA PESSOA5.

Dimensão biológica

Ao referir-se à dimensão biológica, refere-se, naturalmente,a tudo que se relaciona ao corpo da pessoa. Sem dúvida, é por

meio do corpo que o ser humano faz contato com os outros seres,com o mundo e com Deus, seu Criador.

Como sempre, não se pode deixar de perceber que a socie-dade está inserida em um contexto social capitalista, neoliberal.Nesse ambiente, envolvidos pela lógica tecnicista, como analisa-do anteriormente, o homem acaba sendo reduzido a um ser queproduz e que consome. Diante desse enfoque, o que acaba tendovalor específico é essa parte do ser humano que está em contatocom o mundo e que possui a força produtiva e consumidora.

Um dos problemas fundamentais que aparece com relaçãoao corpo é apontado por Scheler (2003, p. 73), quando ele anali-sa a questão do Dualismo: "O fosso erigido por Descartes entre ocorpo e a alma através de seu dualismo de extensão e consciênciacomo substâncias fechou-se hoje quase até a palpabilidade a uni-dade da vida".

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No entanto, apesar da distorção imposta pela atual socie-dade, não se pode negar que o corpo tem seu valor e que estedeve ser considerado. É por meio dele que o homem constrói omundo, adquire conhecimento, transforma a realidade e conseguedar sentido à sua existência. Portanto, é importante frisar que énecessário cuidar bem do corpo.

Leloup faz um relato interessante sobre a atenção e o cuida-do que é preciso dispensar a ele e o respeito que se deve ter como ser humano quando comenta que:

O corpo, o imaginal, o desejo, o outro – estamos na presença deum quatérnio para o qual os Terapeutas no tempo de Filon de Ale-xandria dirigiam sua atenção e os seus cuidados. Esse quatérniodepende de uma antropologia em que as diferentes dimensõesdo ser humano – corpo, alma, espírito – parecem respeitadas. Oscuidados do corpo não excluem os cuidados da alma, os cuidadosda alma não dispensam que se leve em consideração a dimensãoontológica e espiritual do homem (1998, p. 32).

E acrescenta:Para o terapeuta, o corpo não deve ser visto somente como umobjeto, uma coisa ou uma máquina funcionando com defeito, queseria mister "consertar". Não; o corpo é corpo "animado". Não hácorpo sem alma, não sendo mais "animado", não merece o nomede corpo, mas de cadáver (1988, p. 70).

Falar do corpo é falar da necessidade de cuidado, cuidadoesse que requer um olhar diferenciado para si, mas que leva nadireção do outro que, para Boff (2004, p. 33-34), significa:

Mais que um ato; é uma atitude... Representa uma atitude de ocu-pação, preocupação, de responsabilidade e de envolvimento afeti-vo com o outro", pois "sem o cuidado ele deixa de ser humano".

Esse é o ideal, mas é notório que as coisas não acontecemdessa forma no ambiente social capitalista da atual sociedade. Épossível perceber uma realidade que explora e expõe o corpo e aspessoas de modo ultrajante. Não é difícil perceber que a mídia im-põe uma exploração total da realidade corpórea em diversos níveis.

Aliás, a mídia criou padrões de beleza e de biotipo. Quemnão se adapta aos padrões fica relegado ao segundo plano. Os pa-

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drões de beleza e do corpo estão expostos na moda, nas novelas,nos programas de televisão, nas revistas etc. São padrões criadose valorizados, forçando as pessoas a se adequarem a eles. Quem,por uma razão ou por outra, não se sente enquadrado nesse pa-drão gasta muito dinheiro para se adequar a ele ou se sente exclu-ído da convivência geral da sociedade.

É só notar que os tipos de roupas produzidos pelas grifes(pelo menos, pelas grandes grifes) não são feitas para qualquerpessoa ou qualquer corpo. Quem desejar precisa adaptar o pró-

prio corpo para vestir aquele tipo de roupa. Aliás, as grandes grifesnão querem qualquer tipo de corpo vestindo as suas roupas. Elassão feitas para físicos "esculturais", pois é uma forma de fazer pro-paganda da marca. As pessoas tornam-se "etiquetas ambulantes",como diz o poeta Carlos Drummond de Andrade (1984).

Do mesmo modo, é impressionante a corrida atrás dos bis-turis, dos "botox" e de toda espécie de cirurgia para mudanças naestética facial e corporal. Há uma supervalorização da dimensãocorporal em detrimento das demais. Para uma sociedade assim, a

pessoa vale pelo que aparenta fisicamente. E só em função disso.Tudo visando à possibilidade de aumentar o lucro daqueles quepossuem os meios de produção em suas mãos.

Dimensão psíquica

A dimensão psíquica remete àquilo que os filósofos gregoschamam de anima – no Português, "alma", "o que dá vida". O quefaz a vida da pessoa acontecer é sua interioridade; remetendo aopensamento filosófico, é deparar-se com o conceito de essência. Aalma da pessoa é sua essência. Mas o que vem a ser essência?

Por essência, entende-se aquilo que faz o ser ser ele mesmo.Ou seja, o ser é aquilo que ele é por causa da sua essência. É aessência que o torna um ser único. Só eu sou eu. Só você é você. Eo que me faz ser eu e você ser você é a essência. Não existe outroigual. Eu sou único. Você é único(a).

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Cada um possui um corpo, mas não é o seu corpo. Do mes-mo modo, o indivíduo possui emoções, mas não é nenhuma des-sas emoções. O indivíduo tem desejos, mas não são esses desejos.O indivíduo pensa, estuda e sabe muita coisa, mas não são as coi-sas que sabe. Como costumava afirmar Sócrates, o indivíduo é umcentro de autoconsciência e vontade; por isso, é dotado de umpoder dinâmico, capaz de observar, dominar e dirigir todos os seusprocessos psicológicos.

Entendendo melhor, tomemos como exemplo os perfumes.

Sabemos que, em todos eles, há elementos químicos, tais como oálcool e a substância que fixa o perfume. Porém, o que diferenciaum do outro é a essência, usada em pouca quantidade, mas que odiferencia e o torna único. Aliás, quem não ouviu a expressão po-pular que diz: "nos pequenos frascos, os grandes perfumes"?

Hoje em dia, há alguns cientistas que querem dimensionar ohomem de maneira fracionada, afirmando que ele possui 2% a 5%de essência. O resto é hereditário e influência social. Alguns atéafirmam que próprio da pessoa não existe nada, ela é 100% influ-

ência do meio social e da herança genética. Mas, ao olhar a pessoacomo um todo, não se pode entendê-la assim. Ela não pode serreduzida a frações percentuais, pois é única e irrepetível.

E aqui fica a interrogação: como é que a pessoa conhece eentra em contato com essa essência? A resposta vem de formasimples: quem tem a chave de seu interior é a própria pessoa. Paraconhecer seu interior, é preciso que entre em contato consigomesma através da reflexão e da meditação. É um constante prestaratenção em si mesmo, no seu modo de ser, de pensar e de agir.

Pensando nisso, cabe perguntar: quanto tempo você gastaconsigo mesmo? Cinco minutos por dia? Cinco por semana? Cincopor mês? É por meio desse tempo que se ocupa consigo mesmoque se consegue perceber e entender quem se é de fato.

Mas há um segundo passo; além de se conhecer, é precisoaceitar-se como você é na sua essência. Tem erros? Como e o que

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fazer para corrigi-los? Tem defeitos? Claro que sim. Mas quandopercebe sua essência na profundidade, percebe a beleza daquiloque é. Aceitar-se como é define o passo adiante. Mas não é tudo,há mais pela frente, é hora de gostar de si como você é.

Se não conseguir dar esses passos, não poderá perceber queos semelhantes são tão importantes como você e merecem seu ca-rinho, sua atenção, seu apreço, seu amor. Assim é possível enten-der as palavras de Cristo: "amarás teu próximo como a ti mesmo"(Mt 22,39). Quem consegue amar-se na essência, ama o outro,

o mundo, a natureza e o Criador, porque se percebe parte dessetodo.

O eu do indivíduo é a sua individualidade, é o seu ser pessoa.É essa a marca indelével do eu sou. E a consciência disso é que fazo indivíduo perceber que ninguém vai ocupar seu lugar no mundo;sua missão no mundo é única. Entrar em contato com o seu nú-cleo, isto é, com o seu ser interior, é abrir as portas para descobrirsua individualidade, sua importância, para encontrar o caminhopara a autorrealização, a felicidade.

Quanto mais profundo for esse contato com o seu próprioeu, mais profundo será seu conceito de pertença do todo; maisprofunda será a percepção de seu papel na melhora do meio emque vive, do mundo onde habita.

Não é possível ser feliz sozinho. Quanto mais o indivíduobusca a realização pessoal, mais ele percebe que essa realização sóacontece à medida que se abre para o outro, para o todo, para quetodos tenham vida em abundância, como ensina o Cristianismo.

Essa busca do próprio eu não significa fechar-se em si mes-

mo, mas, sim, perceber e sentir um intenso amor e respeito porsi e por seu corpo e, ao mesmo tempo, uma abertura e um pro-fundo amor pelo outro, pela natureza, pelo meio ambiente, pelouniverso, pelo todo. É isso que nos une aos outros, é isso que uneao Criador. Entrar em sintonia consigo, com seu próprio núcleo, éentrar em sintonia com o outro, é entrar em sintonia com Deus.

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Essa unidade é quebrada quando o indivíduo se fecha em si mes-mo, em uma atitude egoísta, egocêntrica, como ensina e propõe alógica tecnicista.

Fechar-se em si mesmo é causar morte, não vida. Contribuirpara que haja vida significa estar centralizado, mas aberto, semdeixar que o meio tire a possibilidade de autorrealização, a qualabrirá as portas para que os outros também se realizem e sejamfelizes. Contribuir para que haja vida é lutar contra tudo o que im-pede a vida de estar ao alcance de todos.

O que caracteriza o indivíduo diante da comunidade é saberque homem algum é uma ilha, e que um necessita do outro paraser o que é. No contato com as outras pessoas, o indivíduo perce-be-se. Ao perceber-se, compreende que é na relação com o outroque ele próprio se identifica. Contudo, nem sempre isso acontecede forma consciente e clara.

Scheler (2003, p. 75) afirma que "a vida psicofísica é una – eesta unidade é um fato que vale para todos os seres vivos; portan-to, também para os homens". Fazendo uma crítica a Descartes, o

autor ainda afirma, categoricamente, que este:[...] introduziu na consciência ocidental todo um exército de equí-vocos da pior espécie acerca da natureza humana. (ele dividiu to-das as substâncias em "pensantes" e "extensas")... Para Descartes omundo não consiste senão em pontos "pensantes" e em um meca-nismo violento a ser investigado matematicamente (2003, p. 69).

E acrescenta:[...] os filósofos, os médicos, os pesquisadores da natureza que seocupam hoje com o problema do corpo e da alma convergem cadavez mais para a intuição fundamental: é uma e a mesma vida quepossui uma configuração formal psíquica em seu íntimo, corpórea em seu ser para os outros (2003, p. 71).

Dimensão social

Conforme alguns pensadores, o ser humano é produto domeio em que nasce e vive. Ele recebe uma carga genética mui-

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o sentido da vida, fazendo, simplesmente, uma leitura biológica.Assim, valorizam uma parte do ser em detrimento do restante. Écomum valorizar uma dimensão em detrimento das demais.

Dimensão espiritual

O significado etimológico da palavra "espiritual" apresentaum problema de terminologia específico da língua portuguesa.

O termo estóico para espírito é  pneuma, e o latino, spirtus, comsuas derivações nas línguas modernas – no alemão é Geist , em he-

braico ru’ach. Não existe problema semântico nessas línguas, masexiste um problema no português, por causa do uso da palavra"espírito" equivocadamente, com um "e" minúsculo. As palavras"Espírito" e "Espiritual" só são usadas para o Espírito divino e seusefeitos no homem, e são escritos com "E" maiúsculo. A questãoagora é então: pode ser restaurada a palavra "espírito", designandouma dimensão particular da vida humana? (TILLICH, 1984, p. 401).

Essa preocupação remete a uma questão fundamental parao entendimento dessa dimensão da pessoa. O mesmo autor afir-ma mais adiante, quando aponta o espírito como poder de vida:

[...] espírito é o próprio poder de animar e não uma parte acrescen-tada ao sistema orgânico. Contudo, alguns desenvolvimentos filosófi-cos, aliados a tendências místicas e ascéticas no mundo antigo tardio,separaram espírito e corpo. Nos tempos modernos essa tendênciachegou ao seu auge em Descartes e no empirismo inglês. A palavrarecebeu a conotação de "mente" e a própria "mente" recebeu a co-notação de "intelecto". O elemento de poder no sentido original deespírito desapareceu, e finalmente a própria palavra foi descartada.

Martins (2009, p. 37) dimensiona o entendimento sobre aespiritualidade afirmando que:

[...] quando falamos de espiritualidade, falamos de uma relação comalgo superior à própria materialidade. Não necessariamente estamosfalando da relação com Deus, tampouco com o Deus cristão...

Se não estamos no terreno religioso, então, onde se situa oentendimento da questão em pauta? O mesmo autor afirma que:

[...] entramos no terreno da filosofia, precisamos considerar a espi-ritualidade com base na questão da transcendência, uma questãogenuinamente filosófica... No ser humano há uma abertura para ascoisas existentes e uma abertura para seu semelhante, portanto,

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um ser-para-as-coisas e um ser-para-o-outro. A relação estabeleci-da com as coisas se dá no plano da objetividade e a relação com ooutro se dá no plano da intersubjetividade. Contudo, há um tercei-ro nível de abertura, que ocorre no plano da transcendência. Umaabertura para o Absoluto... (MARTINS, 2009, p. 37).

A vida em si possui um significado próprio e dá ao ser huma-no uma expressão de totalidade. O ser humano tem um significa-do especial e deve ser visto na sua totalidade.

A questão fundamental que devemos analisar é como ajudar

a pessoa a descobrir-se e a perceber-se dessa forma. Quando se tra-ta de totalidade do ser humano, trata-se das dimensões biológica,psicológica, social e espiritual. Sua existência não está isolada, pois oser humano é um ser de relação. Relação essa que abrange o seu eu,o outro, o mundo e a transcendência, ocorrendo uma inter-relação

Leonardo Boff (2003), teólogo e escritor, quando fala a res-peito da vida que envolve o ser humano, especifica as característi-cas próprias da pessoa que começa com a auto-organização, passapela autonomia, pela adaptabilidade ao meio e pela reprodução eculmina na autotranscendência.

Por isso, constantemente, ele chama a atenção para o cuida-do, o respeito, a veneração e a ternura que devemos ter para com avida de maneira geral e a pessoa em particular. É a vida que garantea todos os seres a razão de seu existir, do seu ser-no-mundo. Respei-tar a vida, cuidar dela, tratá-la com veneração e ternura são requisi-tos inerentes a todos nós que estamos em busca de um sentido.

Entretanto, é preciso entrar em contato com algo que estáimplícito no homem: o espírito. Isso não elimina a importância dosoutros aspectos da pessoa, que estão subentendidos no ser como

um todo. Mas o que evidencia essa espiritualidade? Quem nos dáessa resposta é Mondin (1998, p. 21), quando fala que há:

[...] muitos indícios: a autoconsciência, a reflexão, a contemplação, ocolóquio, a autotranscendência, etc. Mas o indício mais certo, porém, éa liberdade. Esta é a condição própria do espírito. O espírito, e somenteo espírito é essencialmente livre. [...] o homem possui uma dimensãointerior de natureza espiritual: a alma, a mente e o espírito.

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Completando essa afirmação, Betto e Boff acrescentam que"Espírito é o ser humano na sua totalidade enquanto ser que pensa,que decide, que tem identidade, que tem subjetividade, é sujeito.[...] espírito é o modo de ser" (2005, p. 76), pois "espiritualidadeé a transformação que a mística produz nas pessoas, na forma deolhar a vida, no jeito de encarar os problemas e de encontrar solu-ções" (2005, p. 28).

Para aprofundar um pouco mais o que significa essa dimen-são espiritual, é importante verificar o que Mandrioni (1964, p. 53)

escreve quando se refere a ela:[...] capacidade de reflexão; a plena consciência de si mesmo; a ca-pacidade de separar a essência universal da existência concreta eparticular; o poder universalizador; o fator da liberdade e o âmbitoindefinido de possibilidades aberto aos atos humanos; o poder decontrolar seus impulsos mais poderosos a fim de ajustar sua condutaà norma de um ideal percebido e valorizado; o poder de conceitua-lizar, julgar e raciocinar; a capacidade de captar a ordem [...] o poderde transcender a relatividade dos atos humanos e alcançar um con-teúdo permanente, necessário e estável [...] o fato de poder pergun-tar-se sobre o sentido do "Todo"; a capacidade de construir a ciência;o sucesso da cultura com a imensidade de valores que concentra...

Max Scheler (2003, p. 35) aponta o espírito como princípioao mostrar a diferença entre o homem e o animal:

O espírito é um princípio novo e ele abarca a razão, utilizada pelosgregos, abarca um determinado tipo de intuição, que ele chama deintuição dos fenômenos originários ou dos conteúdos essenciais eabarca os atos volutivos e emocionais (a bondade, o amor, o remor-so, a veneração, a ferida espiritual, a bem-aventurança, o desesperoe a decisão livre), além disso, designa  pessoa como sendo o centroativo no qual o espírito aparece no interior das esferas finitas do ser.

No entanto, Scheler ainda acrescenta que o ser "espiritu-al" está aberto para o mundo. "Espírito é com isso objetividade...

Somente um ser capaz de levar a termo tal pertinência às coisas"tem" espírito" (2003, p. 36). E acrescenta:

O ato espiritual, como o homem pode realizá-lo... leva ao "recolhi-mento em si", "consciência de si mesmo por parte do centro espiri-tual do ato" ou autoconsciência. Isso dá ao homem a possibilidadede "modelar livremente sua vida" (2003, p. 39).

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Por força do espírito o homem é dado a si na autoconsciência e naobjetividade de seus processos psíquicos e de seu aparato senorio-motor (2003, p. 41).

O espírito envolve o ser humano no seu todo. A autocons-ciência e a liberdade representam para a pessoa a capacidade deentender seu papel no mundo. O homem, e só ele, é capaz deconhecer seu passado e entendê-lo; de perceber-se no presente eprojetar seu futuro. Mas nessa dinâmica da vida pode fazer esco-lhas tornando-se pessoa na plenitude.

Como espírito, o homem goza de uma abertura sem limites, in-finita. Ele está em busca da plena realização porque participa dessaesfera espiritual que o coloca em contato com o infinito. Como pes-soa, é ser finito se relacionando finitamente com os outros seres, poissão seus semelhantes. Por isso, sua existência e sua autorrealizaçãoocorrem enquanto se relaciona com os outros, seus semelhantes.

Cada pessoa é o princípio de suas ações, de sua capacidade de go-vernar-se tendo em vista sua liberdade. Fundamentalmente, o serhumano é livre para se realizar como pessoa e, por isso, responsávelpelo seu projeto pessoal e social de vida (CLARETIANO, 2005, p. 23).

A pessoa que consegue olhar para si mesma se percebecomo pessoa humana, una e única, capaz de criar e dar respostaspositivas a seus anseios e de conquistar todas as chances de fazeruma opção livre e consciente.

A evolução técnica experimentada nos últimos séculos de-sumanizou o ser humano. É importante que ele perceba que é co-autor na construção do mundo; por isso, deve agir com liberdade,responsabilidade e justiça. No entanto, ele entenderá essa respon-sabilidade quando adquirir a liberdade de pensamento, quandoaguçar a capacidade de discernimento e puder compreender seussentimentos e sua imaginação.

Unidade e totalidade

Quando tratamos do entendimento sobre a pessoa, é im-portante notarmos que ela é uma unidade e uma totalidade ao

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mesmo tempo. Frankl (1989), psiquiatra, obteve uma experiênciaprofunda sobre o ser humano enquanto esteve preso em um cam-po de concentração durante a Segunda Guerra Mundial.

Ele percebeu e analisou, profundamente, a unicidade e a to-talidade da pessoa. Não é admissível tratar o ser humano comose fosse possível dividi-lo e olhá-lo com um único enfoque. Já quecada pessoa é um ser único e absolutamente novo, ao mesmotempo está imbuído de capacidade de se decidir, de escolher, poisé um ser livre por existência e, ao mesmo tempo, um ser dinâmico,

aberto ao outro e à transcendência.

Cada pessoa é uma complexidade, e é indispensável levarem consideração esses aspectos se quisermos dar à pessoa o seudevido lugar nesta totalidade do universo. E o que mostra essarealidade é o ser em si mesmo. Cada ser é um ser em relação, mascada ser possui o seu valor em si mesmo. Contudo, por estar emrelação, ele tem sentido em si, no outro e na sua transcendência.

A pessoa consciente da unidade e da totalidade abre espaçopara a realização pessoal. Ela compreende seu estar-no-mundo en-

quanto compreende o sentido de ser-no-mundo. Piva (1995), sacer-dote, doutor e reitor do Centro Universitário Claretiano, estudioso eentusiasmado com a dimensão humana do ser, afirma que só o serhumano goza do privilégio de ter consciência de si mesmo, do seueu, do seu ser e do seu existir, o que constitui uma exclusividade sua,pela qual ele se diferencia de todos os demais animais; não somentetem consciência de si, mas também se percebe como um ser único.

O ser-no-mundo confere à existência humana uma conota-ção mais profunda do ser em si, é o modo como a pessoa humana

se estrutura e se realiza no mundo com os outros.Leonardo Boff (2000) expressa essa realidade de forma abran-

gente, pois inclui não só a existência, mas também a coexistênciaque acontece em um relacionamento estreito. É nessa realidadeque o ser humano vai construindo seu próprio ser, o que lhe permiteadquirir consciência de si mesmo para conquistar sua identidade.

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Ter consciência de si dá à pessoa oportunidade de entrar emcontato com o seu eu, com a sua essência própria, particular, comotambém com a essência do ser humano; em geral, do mundo comoum todo e com a transcendência.

A pessoa humana busca em todas as coisas uma finalidade,um sentido para sua existência. O que está no cerne de toda aquestão é a realização da pessoa, é o seu ser.

QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS6.Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho noestudo desta unidade:

Você compreendeu como o Centro Universitário Claretiano entende a pes-1)soa? Quais são as características próprias do ser humano visto sob a óticahumanista dessa proposta?

Você consegue definir quais são as dimensões da pessoa?2)

Em breves palavras, você pode descrever como cada dimensão da pessoa3)está relacionada com a sua unicidade?

O que essa maneira de ver o ser humano muda em sua existência? Em que4) muda a vida da sociedade? Em que muda na sua forma de viver a sua pro-fissão?

CONSIDERAÇÕES7.

Se fizermos uma comparação com a primeira unidade, po-deremos perceber que a proposta humanista apresentada nestaunidade difere, completamente, da proposta do Capitalismo Ne-oliberal apresentada anteriormente. A proposta humanista apre-

senta uma realidade em que o ser humano é olhado de maneiracaracteristicamente apropriada à realidade humana.

O ser humano, considerado um ser único e irrepetível, visto nasua totalidade, apresenta em suas dimensões a maneira apropria-da para que seja respeitado na sociedade. Entretanto, é importanteconsiderar que há dois caminhos que devem ser percorridos.

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Isso não significa trilhar um caminho em detrimento do ou-tro, mas, sim, fazer acontecer as duas coisas ao mesmo tempo,ou seja, a transformação deve ocorrer conjuntamente, causandomudança no meio em que vivo e ocasionando uma modificação naminha maneira de ser, de pensar e de sentir.

Por isso, o projeto humanista adotado pelo Centro Universi-tário Claretiano oferece uma proposta de transformação, saindodo sistema capitalista neoliberal para uma vivência mais humana.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS8.

ARDUINI, J. Destinação antropológica. São Paulo: Paulinas. 1989.

BETTO, F.; BOFF, L. Mística e espiritualidade. Rio de Janeiro: Garamond, 2005.

BOFF, L. O destino do homem e do mundo. São Paulo: Vozes, 2003.

 ______. Saber cuidar, ética do humano – compaixão pela terra. São Paulo: Vozes, 2004.

 ______. Tempo de transcendência: o ser humano como um projeto infinito. Rio deJaneiro: Sextante, 2000.

CLARETIANO – Centro Universitário Claretiano. Missão e projeto educativo. Batatais:[s.n], 2005.

DRUMMOND DE ANDRADE, Carlos. O Corpo. Rio de Janeiro: Ed. Record, 1984, pp. 85-87.

FRANKL, V. E. Sede de sentido. São Paulo: Quadrante, 1989.

LELOUP, J-Y. Cuidar do ser . São Paulo: Vozes, 1998.

MANDRIONI, H. D. Introdución a la filosofia. Buenos Aires: Kapelusz, 1964.

MARTINS, A. A. É importante a espiritualidade no mundo da saúde? . São Paulo: Paulus,2009.

MONDIN, B. Definição filosófica da pessoa humana. Bauru: EDUSC, 1998.

PIVA, S. I. A pessoa, uma análise. Batatais: União das Faculdades Claretianas, 1995.

SCHELER, M.  A posição do homem no cosmos. Rio de Janeiro: Florense Universitária,2003.

TILLICH, P. Teologia sistemática. São Paulo: Paulinas, 1984.

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      E      A      D

Ser Pessoa, Ética eCidadania

3OBJETIVOS1.

Refletir sobre a Pessoa Humana, retomando e aprofun-•dando aspectos já abordados nas unidades anteriores.

Compreender o significado de ética e moral, suas distin-•ções, campos de atuação e implicações para a sociedadecontemporânea.

Analisar a importância de se resgatar o papel da cidadania•como ação individual e coletiva na perspectiva de umasociedade eticamente sustentável.

CONTEÚDOS2.As• dimensões humanas da consciência, do amor e da li-berdade como características antropológicas.

A definição de ética e moral e suas respectivas distinções•e semelhanças.

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As tarefas e o campo de atuação da ética a partir da De-•claração Universal dos Direitos Humanos.

O resgate da cidadania enquanto valorização do ser huma-•no diante de uma sociedade em crise de valores humanos.

Humanização ou coisificação: os desafios da sociedade•contemporânea.

ORIENTAÇÕES PARA O ESTUDO DA UNIDADE3.

Antes de iniciar o estudo desta unidade, é importante quevocê leia as orientações a seguir:

Lei1) a atentamente cada item proposto para compreen-der os diversos temas que serão abordados, percebendoa inter-relação entre eles.Conheça a bibliografia indicada, inclusive com a suges-2)tão de outros livros e filmes que ajudam na compreen-são dos temas da unidade.Estabeleça permanentes contatos com os demais parti-3)cipantes da disciplina e levante exemplos reais que aju-dem a entender os diversos tópicos abordados.

Acompanhe os acontecimentos do dia a dia por meio da4)leitura de jornais e da imprensa falada para perceber aimportância dos assuntos veiculados na mídia com a te-mática desenvolvida.Antes de iniciar os estudos desta unidade, é interessante5)conhecer um pouco da biografia dos pensadores, cujopensamento norteia o estudo desta disciplina. Para sa-ber mais, acesse os sites indicados.

Antonio Gramsci (1891-1937)Um dos fundadores do Partido Comunista Italiano. Estudouliteratura na Universidade de Turim, cidade aonde frequen-tou círculos socialistas. Filiou-se ao Partido Socialista Ita-liano, tornando-se jornalista e escrevendo para o jornal doPartido (L’Avanti) e tendo sido editor de vários jornais socia-listas italianos, tendo fundado em 1919, junto com PalmiroTogliatti, o L’Ordine Nuovo. O grupo que se reuniu em tornode L’Ordine Nuovo aliou-se com Amadeo Bordiga e a amplafacção Comunista Abstencionista dentro do Partido Socia-lista. Isto levou à organização do Partido Comunista Italiano

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(PCI) em 21 de janeiro de 1921. Gramsci viria a ser um dos líderes do partidodesde sua fundação, porém sobordinado a Bordiga até que este perdeu a lide-rança em 1924. As teses de Gramsci foram adotadas pelo PCI no congresso queo partido realizou em 1926. Em 1924, Gramsci foi eleito deputado pelo Veneto.Ele começou a organizar o lançamento do jornal oficial do partido, denominado[[L’Unità]]. Em 8 de novembro de 1926, a polícia fascista prendeu Gramsci (ape-sar de sua imunidade parlamentar, permaneceu preso até próximo da sua morte,quando foi solto em liberdade condicional dado ao seu precário estado de saúde(imagem e texto disponíveis em: <http://www.marxists.org/portugues/dicionario/verbetes/g/gramsci.htm>. Acesso em: 15 out. 2010).

Max Weber (1864-1920)Max Weber nasceu e teve sua formação intelectual no perí-odo em que as primeiras disputas sobre a metodologia dasciências sociais começavam a surgir na Europa, sobretudoem seu país, a Alemanha. Filho de uma família da alta clas-se média, Weber encontrou em sua casa uma atmosferaintelectualmente estimulante. Seu pai era um conhecidoadvogado e desde cedo orientou-o no sentido das huma-nidades. Weber recebeu excelente educação secundáriaem línguas, história e literatura clássica. Em 1882, começouos estudos superiores em Heidelberg; continuando-os em

Göttingen e Berlim, em cujas universidades dedicou-se simultaneamente à eco-nomia, à história, à filosofia e ao direito. Concluído o curso, trabalhou na Univer-sidade de Berlim, na qual idade de livre-docente, ao mesmo tempo em que serviacomo assessor do governo. Em 1893, casou-se e;, no ano seguinte, tornou-seprofessor de economia na Universidade de Freiburg, da qual se transferiu paraa de Heidelberg, em 1896. Dois anos depois, sofreu sérias perturbações ner-vosas que o levaram a deixar os trabalhos docentes, só voltando à atividadeem 1903, na qualidade de co-editor do Arquivo de Ciências Sociais (Archiv türSozialwissenschatt), publicação extremamente importante no desenvolvimentodos estudos sociológicas na Alemanha. A partir dessa época, Weber somentedeu aulas particulares, salvo em algumas ocasiões, em que proferiu conferênciasnas universidades de Viena e Munique, nos anos que precederam sua morte,em 1920 (imagem disponível em: <http://www.liberal-vision.org/2010/03/18/max-weber-1864-1920-political-writings-1994-edition/>. Acesso em: 15 out. 2010.Texto disponível em: <http://www.culturabrasil.org/weber.htm>. Acesso em: 15out. 2010).

INTRODUÇÃO À UNIDADE4.

Entender o ser humano é uma tarefa extremamente exigen-te e difícil. Isso porque não se pode analisá-lo a partir de um únicoponto de vista ou sob uma ótica predefinida. O ser humano deveser entendido na sua complexidade, abrangência e profundidade,caso seja a intenção de toda pessoa que reflete sobre si mesma esobre a realidade que está a sua volta.

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A disciplina Antropologia Teológica procura responder a essedesafio, sugerindo caminhos de reflexão que, mais do que conclu-sivos, abrem pistas para novas reflexões, numa perspectiva dialéti-ca e, portanto, sempre em mudança. A terceira unidade, que estásendo apresentada, propõe-se a ser uma contribuição a mais dian-te do que foi apresentado nas unidades anteriores e em outroscontextos, acadêmicos, profissionais, familiares, entre outros, quequerem entender a vida e exercer alguma forma de participação.

Tratar da noção de pessoa, recuperando o que já foi aborda-

do nas unidades anteriores, refletir sobre a relação entre ética emoral, numa perspectiva antropológica, discutir a importância e oreconhecimento da cidadania, entendida como fundamental parao processo de transformação da sociedade, são aspectos funda-mentais do mundo acadêmico; mas não só dele, como também davida em toda sua totalidade, plenitude e abrangência.

Por isso, a sugestão é que você, como aluno do Centro Uni-versitário Claretiano, entre nessa dinâmica e seja capaz de perce-ber a importância das temáticas que serão apresentadas para sua

existência individual e social. Entre no conteúdo desta unidadecom espírito crítico, com disciplina e disposição, mas, principal-mente, com vontade de contribuir para a realização de uma so-ciedade melhor, mais humana e cada vez mais preocupada com odesenvolvimento sustentável.

A disciplina não é a solução para esse problema, mas, comcerteza, ajudará a colocá-lo sobre a mesa, exigindo que nossapostura não seja de aceitação, mas de vontade de mudar. Afinal,"quem sabe faz a hora não espera acontecer..." (VANDRÉ, 2010).

O SER HUMANO COMO PESSOA5.

Como já foi apresentado nas unidades anteriores, o ser hu-mano sempre foi objeto de investigação e estudo ao longo da his-tória da humanidade. Quem é o ser humano? Como entendê-lo?

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Qual é o seu limite de compreensão? Essas foram algumas discus-sões apresentadas nas unidades anteriores. Nesta unidade, a pre-tensão é esboçar algumas conclusões a respeito dessas discussõese enfocar a importância de duas dimensões que caracterizam suarazão de ser no mundo: a ética e a cidadania. Mas, antes de tratardessas questões, serão propostas algumas reflexões conclusivassobre a noção de pessoa na perspectiva que se pretende sustentarna disciplina Antropologia Teológica.

A busca de compreensão do ser-pessoa culminou num es-

forço histórico, fazendo brotar o movimento filosófico e social de-nominado "Humanismo". Essa palavra tem sentido muito positivoporque se propõe, fundamentalmente, a valorizar o ser humanona sua plenitude como ser. Entretanto, ela pode ter, pelo menos,três sentidos básicos:

Movimento histórico-literário• . Refere-se a um movimen-to cultural cujas raízes estão nos séculos 13 e 14, que temo seu esplendor nos séculos 15 e 16, irradiando suas luzesaté os séculos 17 e 18, e tenta resgatar os valores huma-nos e literários oriundos da cultura greco-romana.

Movimento especulativo-filosófico• . A preocupação éresgatar, ao longo da história, as grandes questões quedesafiam o ser humano: sua origem, natureza e destino.Como o ser humano explica a si mesmo nas culturas an-tigas, no Cristianismo, na filosofia moderna e, sobretudo,atualmente, o que se quer saber é, principalmente, o queé humano e o que é anti-humano.

Movimento ético-sociológico• . A preocupação principal éa prática do ser humano. Não se quer vê-lo contemplandoo mundo, mas, principalmente, transformando o mundo

e a si mesmo. É nessa dupla relação, ser humano-ser hu-mano e ser humano-natureza, que se revela a condiçãohumana. É uma posição mais realista e menos doutriná-ria, que está preocupada em afirmar o ser humano comosujeito da história e medida de todas as coisas, como afir-mava o sofista grego Protágoras.

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De qualquer forma, poderíamos sintetizar que o Humanismovê o ser humano como Pessoa. Isso significa que o ser humano éuma totalidade que não pode ser reduzida a nenhuma dimensão,por mais importante que seja. O ser humano tem uma dimensãobiológica, psicológica, social, cultural, religiosa, política, econômi-ca; mas ele é pessoa, no sentido de que todas essas dimensões sãoaproximações de sua essência; isto é, ele é tudo isso e muito mais.O ser humano é um mistério, uma surpresa, um desafio.

A partir desse conceito humanista de Pessoa, não se pode

aceitar que o ser humano seja apenas um indivíduo (biológico),um ser consciente e in-consciente (psicológico), um ser de relações(social), um ser libidinoso (sexual), um ser produto da cultura (cul-tural), um ser que produz (econômico), um ser que gravita em tor-no do poder (político), um ser que reza (religioso). Tudo isso ajudaa compreender o ser humano, mas pode reduzi-lo a um animal, a uma coisa. Você pode ver um elefante com um microscópio? Claroque não! Assim, você também não pode ver o ser humano comoPessoa a partir de uma única dimensão. O ser humano, portanto,é um ser complexo: ele possui infinitas dimensões que, ao longoda humanidade, foram sendo integradas no seu ser. Pessoalidadeé sinônimo de complexidade.

Do ponto de vista do Humanismo filosófico, a Pessoa Huma-na tem uma tríplice dimensão: da consciência, do amor e da liber-dade. Analisaremos, a seguir, cada uma delas.

Dimensão da consciência

O ser humano é o único que sabe de si mesmo. Ele se pergun-ta: Quem sou eu? De onde vim? Para onde vou? Para que existo?

Ele é, portanto, o valor absoluto, o valor-fim, a medida de todas ascoisas. Diante do valor ser humano, todas as demais são relativas,por mais importantes que sejam. Ele sabe isso porque, ao longo dahumanidade, foi descobrindo, foi desvendando, foi compreenden-do o seu lugar no mundo.

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E, mais ainda, foi descobrindo, sempre com erros e acertos.Sempre que o ser humano se nega, nega os seus semelhantes enega a natureza, ele trai a si mesmo, e as consequências logo virão.É dessa experiência complexa de dominar a natureza, de dominara si mesmo e de estabelecer comunhão com os demais que brota aPessoa Humana como ser consciente. Portanto, consciência é maisque ciência; é descobrir na ciência a essência do ser humano.

Dimensão do amor

O ser humano como Pessoa é um ser de comunhão e não desolidão. Ele reconhece no outro o valor absoluto. Ninguém é maisimportante para uma Pessoa que a outra Pessoa. É o "Eu" que sedirige ao "Tu", para afirmar como valor supremo a comunhão do"Nós". O outro sou eu mesmo, isto é, a mesma essência sob outraaparência. Esta é a experiência do Amos: descobrir o outro na suaidentidade, na sua singularidade e na sua profundidade.

Na sua identidade, o outro sou eu mesmo; é a minha essên-cia que se revela a mim no outro. Na sua singularidade, o outro

não sou eu, pois não há produção em série; o outro é ele mesmocom uma marca pessoal. Na sua profundidade, o outro é um mis-tério marcado pela história; um mistério que nunca chegaremosa penetrar totalmente. E amar é precisamente isto: querer que ooutro seja Eu; querer que o outro seja Tu; querer que o outro sejaNós. A Pessoa é capaz de amar, por isso somente ela deu o salto damaterialidade para a espiritualidade, do físico para o metafísico,do ciente para o consciente, do indivíduo para o ser.

Dimensão da liberdade

A liberdade é outra dimensão fundamental da Pessoa. ParaDostoiévski, "a liberdade é o atributo da divindade", no sentido deque o que mais aproxima o ser humano de Deus é a possibilida-de do exercício da liberdade. Entretanto, a liberdade é uma con-dição ambígua do ser humano: ela tanto constrói como destrói o

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ser humano. É preciso definir bem esse termo. Podemos falar deliberdade biológica, no sentido de que o ser humano é livre parao impulso biológico de suas ações, sem necessidade de impulsosexternos. Podemos falar de liberdade psicológica, no sentido deliberdade de opção e autodeterminação.

E, assim, pode-se falar de liberdade cultural, econômica, reli-giosa, sexual etc. Entretanto, a liberdade é uma condição que pre-cisa ser bem entendida a partir de dois princípios éticos:

É a capacidade humana de tornar-se Pessoa, isto é, a pos-•sibilidade que o ser humano tem de caminhar na direçãode sua plenitude, de seu valor supremo: o ser humano é amedida de todas as coisas.

É uma utopia, um ideal a ser perseguido permanentemen-•te. Na verdade, ninguém é totalmente livre; somos exces-sivamente influenciados e condicionados pela história donosso tempo e pela história de nossa vida. Nossas ações,decisões e opções são "contaminadas" pelo mundo quenos rodeia.

De qualquer forma, a liberdade é um dos atributos que confi-guram a essência humana: a possibilidade de transcender o tempoe a história e assumir uma opção fundamental de vida. Essa opçãoleva-nos a ser Pessoa Humana, portanto, é a síntese das dimen-sões consciência, amor e liberdade. Esses três atributos possuemuma relação dialética: um explica-se a partir do outro, e cada qualtem sua expressão e significado à luz dos outros dois.

São as dimensões que se expressam na Pessoa humana. Aconsciência só é plenamente humana se for consciência do amor

e da liberdade; do amor, enquanto comunhão entre os homens, eda liberdade, enquanto opção fundamental para essa comunhão.Exceto isso, não teremos consciência, só ciência; teremos indivídu-os e não pessoas; teremos opressão e não comunhão. O amor só éamor se for consciente e livre. Não há amor onde não há conheci-mento; não há amor onde não há liberdade.

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O amor é entendido aqui como expressão de comunhãoentre pessoas, como compromisso de concretude (amor é fazer),como expressão do bem (o ser é o bem). A liberdade só é plenaonde há consciência e amor. Não há liberdade na ignorância, nanegação da realidade da Pessoa, não há liberdade na opressão, naexploração do ser humano pelo ser humano.

Portanto, a Pessoa Humana exprime-se na síntese da cons-ciência, do amor e da liberdade; na antítese da inconsciência, doegoísmo e da opressão; na tese da criação, da redenção e do Espí-

rito. Três atributos que qualificam um ao outro, numa relação deconvergência e de interdependência. Vê-los isoladamente, sobre-por um ao outro, é negar a Pessoa Humana.

Se o ser humano fosse só consciência, seria pura racionalida-de; se o ser humano fosse só amor, seria puro sentimento; se o serhumano fosse só liberdade, seria pura ação. A Pessoa Humana éPessoa porque tem poder de criar (consciência), de redimir (amor)e de transformar (liberdade).

A dimensão ética do Ser PessoaDiante do ser pessoa, deparamo-nos com a questão da éti-

ca, elemento constitutivo da condição de sobrevivência, vivência econvivência. Assim, a ética pode ser entendida como um conjuntode normas que regula o comportamento de grupos humanos.

Nas sociedades feudais, por exemplo, refere-se a um con- junto de representação religiosa da relação social de produção. Aética social, naquela concepção de sociedade, é de ordem religio-sa. Ela consiste em seguir as normas de uma ordem estabelecida

por Deus e é, fundamentalmente, uma moral de conformismo. Asociedade não era entendida como construção humana.

Nas sociedades vinculadas ao capitalismo globalizado, a éti-ca refere-se a uma construção humana fundamentada, segundoMax Weber (1992), numa ética protestante, em que a austerida-de – que significa utilizar o necessário e não consumir de maneira

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ostensiva – se torna um elemento constituinte e determinante.Nesse caso, a religião apresenta-se como papel ideológico na re-produção da relação capitalista, gerando submissão do trabalhoao capital.

Mas o que podemos entender propriamente por ética, sa-bendo que vivemos em um mundo capitalista globalizado, exclu-dente e opressor? A primeira observação que deve ser feita é queela não se confunde com a moral. A moral entende-se como regu-lação dos valores e comportamentos considerados legítimos por

uma determinada sociedade, um povo, uma religião, uma tradi-ção cultural etc. Portanto, apresenta-se como um fenômeno socialparticular, sem o compromisso com a universalidade.

A ética, por sua vez, pode ser entendida de duas maneiras.Primeiro, como o julgamento da validade das morais; nesse caso,apresenta-se como uma reflexão crítica sobre a moralidade. Masela não é puramente teórica. A ética, nesse caso, deve ser enten-dida, ainda, como um conjunto de princípios e disposições voltadopara a ação, historicamente produzido, cujo objetivo é balizar as

ações humanas. A ética existe como uma referência para os sereshumanos em sociedade, de modo tal que a sociedade possa setornar cada vez mais humana.

Assim, tanto a ética como a moral, sendo distintamente re-conhecidas, não se colocam como um conjunto de verdades fixas eimutáveis, pois ambas apresentam um caráter histórico e social.

Diante do que se pretende trabalhar na disciplina, outra pre-ocupação importante é saber quais são as tarefas da ética. Elaspodem ser resumidas da seguinte maneira:

princi• pal reguladora do desenvolvimento histórico-cultu-ral da humanidade;

sem ética, ou seja, sem a referência a princípios huma-•nitários fundamentais comuns a todos os povos, nações,religiões etc., a humanidade já teria se despedaçado atéa autodestruição;

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em seu sentido etimológico –• Ethos: ética em grego –, de-signa a morada humana, significando tudo aquilo que aju-da a tornar melhor o ambiente para que seja uma moradasaudável: materialmente sustentável, psicologicamenteintegrada e espiritualmente fecunda.

Um exemplo paradigmático de princípio ético é a DeclaraçãoUniversal dos Direitos Humanos, promulgada pela ONU (Organi-zação das Nações Unidas) no ano de 1948. Para nós, que vivemosnuma sociedade marcadamente capitalista, em que predomina uma

postura extremamente individualista, é preciso que cada cidadão in-corpore esses princípios como uma atitude prática diante da vidacotidiana, de modo a pautar por eles seu comportamento.

Isso traz uma consequência inevitável: frequentemente, oexercício pleno da cidadania (ética) entra em colisão frontal com amoralidade vigente. Até porque a moral vigente, sob pressão dosinteresses econômicos e de mercado, está sujeita a constantes egraves degenerações.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos apresenta 30

artigos que sustentam o que deveria ser uma vivência humana quereconheça e valorize a dimensão humana na sua totalidade. Aqui,eles serão apresentados como forma de corroborar com a reflexãoproposta.

Declaração Universal dos Direitos Humanos ––––––––––––––Artigo I.

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e direitos. Sãodotados de razão e consciência e devem agir em relação uns aos outros comespírito de fraternidade.

Artigo II.

1. Todo ser humano tem capacidade para gozar os direitos e as liberdades esta-belecidos nesta Declaração, sem distinção de qualquer espécie, seja de raça,cor, sexo, idioma, religião, opinião política ou de outra natureza, origem nacio-nal ou social, riqueza, nascimento, ou qualquer outra condição.

2. Não será também feita nenhuma distinção fundada na condição política, ju-rídica ou internacional do país ou território a que pertença uma pessoa, querse trate de um território independente, sob tutela, sem governo próprio, quersujeito a qualquer outra limitação de soberania.

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Artigo III.

Todo ser humano tem direito à vida, à liberdade e à segurança pessoal.

Artigo IV.

Ninguém será mantido em escravidão ou servidão; a escravidão e o tráfico deescravos serão proibidos em todas as suas formas.

Artigo V.

Ninguém será submetido à tortura nem a tratamento ou castigo cruel, desumanoou degradante.

Artigo VI.

Todo ser humano tem o direito de ser, em todos os lugares, reconhecido comopessoa perante a lei.

Artigo VII.Todos são iguais perante a lei e têm direito, sem qualquer distinção, a igual pro-teção da lei. Todos têm direito a igual proteção contra qualquer discriminação queviole a presente Declaração e contra qualquer incitamento a tal discriminação.Artigo VIII.

Todo ser humano tem direito a receber dos tribunais nacionais competentes re-médio efetivo para os atos que violem os direitos fundamentais que lhe sejamreconhecidos pela constituição ou pela lei.Artigo IX.

Ninguém será arbitrariamente preso, detido ou exilado.

Artigo X.

Todo ser humano tem direito, em plena igualdade, a uma justa e pública audiên-cia por parte de um tribunal independente e imparcial, para decidir sobre seusdireitos e deveres ou do fundamento de qualquer acusação criminal contra ele.

Artigo XI.

1. Todo ser humano acusado de um ato delituoso tem o direito de ser presumidoinocente até que a sua culpabilidade tenha sido provada de acordo com a lei,em julgamento público no qual lhe tenham sido asseguradas todas as garan-tias necessárias à sua defesa.

2. Ninguém poderá ser culpado por qualquer ação ou omissão que, no momento,não constituíam delito perante o direito nacional ou internacional. Também nãoserá imposta pena mais forte do que aquela que, no momento da prática, eraaplicável ao ato delituoso.

Artigo XII.

Ninguém será sujeito à interferência em sua vida privada, em sua família, em seular ou em sua correspondência, nem a ataque à sua honra e reputação. Todo serhumano tem direito à proteção da lei contra tais interferências ou ataques.

Artigo XIII.

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de locomoção e residência dentro dasfronteiras de cada Estado.

2. Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, ea este regressar.

Artigo XIV.

1. Todo ser humano, vítima de perseguição, tem o direito de procurar e de gozarasilo em outros países.

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2. Este direito não pode ser invocado em caso de perseguição legitimamentemotivada por crimes de direito comum ou por atos contrários aos objetivos eprincípios das Nações Unidas.

Artigo XV.

1. Todo homem tem direito a uma nacionalidade.

2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua nacionalidade, nem do direito demudar de nacionalidade.

Artigo XVI.

1. Os homens e mulheres de maior idade, sem qualquer restrição de raça, na-cionalidade ou religião, têm o direito de contrair matrimônio e fundar uma fa-mília. Gozam de iguais direitos em relação ao casamento, sua duração e suadissolução.

2. O casamento não será válido senão com o livre e pleno consentimento dos nubentes.3. A família é o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à pro-teção da sociedade e do Estado.

Artigo XVII.

1. Todo ser humano tem direito à propriedade, só ou em sociedade com outros.2. Ninguém será arbitrariamente privado de sua propriedade.

Artigo XVIII.

Todo ser humano tem direito à liberdade de pensamento, consciência e religião;este direito inclui a liberdade de mudar de religião ou crença e a liberdade demanifestar essa religião ou crença, pelo ensino, pela prática, pelo culto e pelaobservância, em público ou em particular.

Artigo XIX.

Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito

inclui a liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber etransmitir informações e idéias por quaisquer meios e independentemente defronteiras.

Artigo XX.

1. Todo ser humano tem direito à liberdade de reunião e associação pacífica.2. Ninguém pode ser obrigado a fazer parte de uma associação.

Artigo XXI.

1. Todo ser humano tem o direito de fazer parte no governo de seu país direta-mente ou por intermédio de representantes livremente escolhidos.

2. Todo ser humano tem igual direito de acesso ao serviço público do seu país.

3. A vontade do povo será a base da autoridade do governo; esta vontade seráexpressa em eleições periódicas e legítimas, por sufrágio universal, por votosecreto ou processo equivalente que assegure a liberdade de voto.

Artigo XXII.Todo ser humano, como membro da sociedade, tem direito à segurança social,à realização pelo esforço nacional, pela cooperação internacional e de acordocom a organização e recursos de cada Estado, dos direitos econômicos, sociaise culturais indispensáveis à sua dignidade e ao livre desenvolvimento da suapersonalidade.

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Artigo XXIII.

1. Todo ser humano tem direito ao trabalho, à livre escolha de emprego, a con-dições justas e favoráveis de trabalho e à proteção contra o desemprego.2. Todo ser humano, sem qualquer distinção, tem direito a igual remuneraçãopor igual trabalho.

3. Todo ser humano que trabalha tem direito a uma remuneração justa e satisfa-tória, que lhe assegure, assim como à sua família, uma existência compatívelcom a dignidade humana e a que se acrescentarão, se necessário, outrosmeios de proteção social.

4. Todo ser humano tem direito a organizar sindicatos e a neles ingressar paraproteção de seus interesses.

Artigo XXIV.

Todo ser humano tem direito a repouso e lazer, inclusive a limitação razoável dashoras de trabalho e a férias remuneradas periódicas.

Artigo XXV.

1. Todo ser humano tem direito a um padrão de vida capaz de assegurar-lhe, ea sua família, saúde e bem-estar, inclusive alimentação, vestuário, habitação,cuidados médicos e os serviços sociais indispensáveis, e direito à segurançaem caso de desemprego, doença, invalidez, viuvez, velhice ou outros casos deperda dos meios de subsistência em circunstâncias fora de seu controle.

2. A maternidade e a infância têm direito a cuidados e assistência especiais.Todas as crianças, nascidas dentro ou fora do matrimônio gozarão da mesmaproteção social.

Artigo XXVI.

1. Todo ser humano tem direito à instrução. A instrução será gratuita, pelo menosnos graus elementares e fundamentais. A instrução elementar será obrigatória.A instrução técnico-profissional será acessível a todos, bem como a instruçãosuperior, esta baseada no mérito.

2. A instrução será orientada no sentido do pleno desenvolvimento da perso-nalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos epelas liberdades fundamentais. A instrução promoverá a compreensão, a to-lerância e a amizade entre todas as nações e grupos raciais ou religiosos, ecoadjuvará as atividades das Nações Unidas em prol da manutenção da paz.3. Os pais têm prioridade de direito na escolha do gênero de instrução que seráministrada a seus filhos.

Artigo XXVII.

1. Todo ser humano tem o direito de participar livremente da vida cultural da co-munidade, de fruir das artes e de participar do progresso científico e de seusbenefícios.

2. Todo ser humano tem direito à proteção dos interesses morais e materiaisdecorrentes de qualquer produção científica literária ou artística da qual sejaautor.

Artigo XXVIII.

Todo ser humano tem direito a uma ordem social e internacional em que os direi-tos e liberdades estabelecidos na presente Declaração possam ser plenamenterealizados.

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Artigo XXIX.

1. Todo ser humano tem deveres para com a comunidade, na qual o livre e plenodesenvolvimento de sua personalidade é possível.

2. No exercício de seus direitos e liberdades, todo ser humano estará sujeito ape-nas às limitações determinadas pela lei, exclusivamente com o fim de assegu-rar o devido reconhecimento e respeito dos direitos e liberdades de outrem ede satisfazer as justas exigências da moral, da ordem pública e do bem-estarde uma sociedade democrática.

3. Esses direitos e liberdades não podem, em hipótese alguma, ser exercidoscontrariamente aos objetivos e princípios das Nações Unidas.

Artigo XXX.

Nenhuma disposição da presente Declaração pode ser interpretada como o reco-

nhecimento a qualquer Estado, grupo ou pessoa, do direito de exercer qualqueratividade ou praticar qualquer ato destinado à destruição de quaisquer dos direi-tos e liberdades aqui estabelecidos (ONU, 2010).

 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

Mas, diante da tarefa da ética, é possível perceber que exis-tem diversos campos de atuação da própria ética. Podemos desta-car os seguintes:

Ética e convivência humana1) : há necessidade de éticaporque há o outro ser humano. A atitude ética é umaatitude de amor pela humanidade.

Ética e justiça social2) : um sistema econômico-político-

-jurídico que produz, estruturalmente, desigualdades,injustiças, discriminações, exclusões de direitos, entreoutros, é eticamente mau, por mais que seja legalmente(moralmente) constituído.

Ética e sistema econômico3) : o sistema econômico é o fa-tor mais determinante de toda a ordem (e desordem)social. Quando existe uma reprodução da miséria estru-tural, a ética diz que se exigem transformações radicais eglobais na estrutura do sistema econômico.

Ética e meio ambiente4) : o trabalho é a ação humana quetransforma a natureza para o homem. Mas, para que o

trabalho cumpra essa finalidade de sustentar e huma-nizar o homem, ele deve se realizar de modo autossus-tentável para a natureza e para o homem. Preservar ecuidar do meio ambiente é uma responsabilidade éticadiante da natureza humana.

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Ética e educação5) : toda educação é uma ação interativa:faz-se mediante informações, comunicação, diálogo en-tre seres humanos. Em toda educação, há um outro emrelação. Em toda educação, por tudo isso, a ética estáimplicada.

Ética e cidadania6) : a cidadania nem sempre é uma reali-dade efetiva nem é para todos. A efetivação da cidadaniae a consciência coletiva dessa condição são indicadoresdo desenvolvimento moral e ético de uma sociedade.

Ética e política7) : política é a ação humana que deve ter

por objetivo a realização plena dos direitos e, portanto,da cidadania para todos. O projeto da política, assim, é ode realizar a ética, fazendo coincidir com ela a realizaçãoda vontade coletiva dos cidadãos, o interesse público.

Ética e corrupção8) : a corrupção, seja ativa ou passiva, éa força contrária, o contrafluxo destruidor da ordem so-cial. É a negação radical da ética, porque destrói na raizas instituições criadas para realizar direitos. A corrupçãoé antiética. Indignar-se, resistir e combater a corrupçãoé um dos principais desafios éticos da política.

Diante dessa reflexão sobre o ser pessoa, numa perspecti-va ética e moral, ficam alguns questionamentos, principalmentequanto às ações que devem ser realizadas. Para isso, podemosmencionar uma iniciativa da ONU, que, no ano 2000, ao analisaros maiores problemas mundiais, estabeleceu Oito objetivos do mi-lênio (ODM), que, no Brasil, são chamados de Oito jeitos de mudaro mundo. A ideia é mostrar que, juntos, podemos mudar a nossarua, a nossa comunidade, a nossa cidade, o nosso país.

A Rede Brasil Voluntário, que congrega centros de volunta-riado de todo o Brasil, consciente da importância desse projeto,

criou dois sites  (disponível em: <http://www.pnud.org.br>. Aces-so em: 29 out. 2010. Disponível em: <http://www.odmbrasil.org.br>. Acesso em: 29 out. 2010) para estimular debates e propiciar oconhecimento e o engajamento de todos os interessados em par-ticipar de ações, campanhas e projetos de voluntariado que cola-borem com os ODM.

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Os Oito jeitos de mudar o mundo podem ser conhecidos daseguinte forma iconográfica:

Figura 1 Oito jeitos de mudar o mundo.

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Frei Betto escreveu na  ALAI  (Agência Latino-Americana deInformação)  América Latina en Movimiento, em 19 de julho de2004, diante da proposta da ONU, um belíssimo texto, que repro-duzimos a seguir.

Oito jeitos de mudar o mundo ––––––––––––––––––––––––––De 9 de agosto – aniversário da morte de Betinho – a 15, haverá, no país, umagrande mobilização em torno da Semana Nacional pela Cidadania e Solidarieda-de. A motivação é despertar gestos de pessoas e instituições que façam multipli-car exemplos de cidadania e solidariedade.

É o caso da indústria Tevah, no Rio Grande do Sul, que dedica um dia de toda asua produção de agasalhos à população de baixa renda ou da escola FlorestanFernandes, do MST, em São Paulo, que educa seus alunos conscientizando-osde sua responsabilidade política e incutindo-lhes visão histórica.

Qualquer pessoa ou instituição – movimento social, denominação religiosa,ONG, escola, empresa, associação etc. – pode e deve participar da Semana,recriando-a no local onde se insere. Basta promover algo que reforce a cidadaniae a solidariedade: mesas-redondas; campanhas; palestras; mutirão que benefi-cie, sem assistencialismo, a população de baixa renda.

A Semana estará centrada nas Metas do Milênio, aprovadas por 191 países daONU, em 2000. Todos, inclusive o Brasil, se comprometeram a cumprir os oitoobjetivos até 2015: 1) Acabar com a fome e a miséria; 2) Educação básica dequalidade para todos; 3) Igualdade entre sexos e valorização da mulher; 4) Re-duzir a mortalidade infantil; 5) Melhorar a saúde das gestantes; 6) Combater aAIDS, a malária e outras doenças; 7) Qualidade de vida e respeito ao meio am-

biente; 8) Todo mundo trabalhando pelo desenvolvimento.Não há quem não possa fazer um gesto na direção desses oito objetivos: debaterem sala de aula as causas da pobreza e os entraves à melhor distribuição derenda; introduzir na escola educação nutricional e o programa Jovem Voluntá-rio, Escola Solidária; promover painel sobre Chico Mendes, exposição sobre osdireitos dos povos indígenas ou ações de combate ao trabalho e à prostituiçãoinfantis; participar do Fome Zero ou organizar uma horta comunitária; lutar pelamelhoria da educação, do acesso a medicamentos seguros e baratos ou abrir umcurso de alfabetização de adultos; denunciar o preconceito contra homossexuaise o uso da mulher no estímulo ao consumismo; fortalecer a Pastoral da Criançae discutir a relação entre explosão demográfica e crescimento econômico comdesenvolvimento social; conscientizar sobre os riscos da Aids, as causas da ma-lária e o aumento de doenças decorrentes do desequilíbrio ecológico; atuar naimplantação da reforma agrária, visitar e apoiar acampamentos e assentamentosrurais e pesquisar o que é desenvolvimento sustentável etc.

Há na esquerda quem torça o nariz para as Metas do Milênio. O mesmo erro foicometido quando os verdes, décadas atrás, levantaram a bandeira da ecologia.Felizmente Chico Mendes nos abriu os olhos, ensinando que a preservação domeio ambiente é uma das poucas bandeiras que mobilizam adeptos em todasas classes sociais.

A Semana Nacional pela Cidadania e Solidariedade não é uma iniciativa do go-verno, embora conte com o seu apoio e participação. É uma proposta da so-

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ciedade civil, visando mobilizar a nação em torno de ações concretas que nospermitam construir o "outro mundo possível". E priorizar, em pleno neoliberalismoque assola o Planeta, valores antagônicos ao individualismo e à competitividade,como o são a cidadania e a solidariedade.

A pergunta central que a Semana pretende levantar é: o que estamos fazendopara mudar o mundo? O que faz você, a sua escola, a sua comunidade religiosa,o seu movimento social, a sua empresa? Queixar-se é fácil e reclamar não édifícil. O desafio, porém, é agir, organizar, conscientizar, transformar.

"Diários de motocicleta", filme de Walter Salles, mostra a cena em que ErnestoGuevara decide, na noite de seu aniversário, mergulhar no rio que o separava dacomunidade de hansenianos. Naquele momento, Che optou pela margem opostaa da cidadania e da solidariedade. Não ficou na margem em que nascera e foracriado, cercado de confortos e ilusões, nem se reteve "na terceira margem do rio",

aquela dos que se isolam em suas convicções sectárias e jamais completam a tra-vessia. É esta opção que a Semana quer incentivar. Porque nós podemos mudar oBrasil e o mundo. Basta passar das intenções às ações (BETTO, 2010).

 ––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––––

QUESTÃO DA CIDADANIA6.

O que fazer para que o Brasil e o mundo possam implemen-tar uma sociedade eticamente sustentável? Acreditamos que aresposta a essa pergunta remete para outra situação, que trata depensar a questão da cidadania. Pinsky (2003, p. 9) irá dizer que:

Ser cidadão é ter direito à vida, à liberdade, à propriedade, à igual-dade perante a lei: é, em resumo, ter direitos civis. É também parti-cipar no destino da sociedade, votar, ser votado, ter direitos políti-cos. Os direitos civis e políticos não asseguram a democracia sem osdireitos sociais, aqueles que garantem a participação do indivíduona riqueza coletiva: o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, a uma velhice tranquila. Exercer a cidadania plena éter direitos civis, políticos e sociais.

Portanto, para o autor, "cidadania não é uma definição es-tanque, mas um conceito histórico, o que significa que seu sentidovaria no tempo e no espaço" (PINSKY, 2003, p. 9).

A cidadania instaura-se a partir dos processos de lutas que culmi-naram, por exemplo, na Independência dos Estados Unidos da Américado Norte e na Revolução Francesa. Esses dois eventos romperam o prin-cípio de legitimidade que vigorava até então, baseado nos deveres dossúditos, e passaram a estruturá-lo a partir dos direitos do cidadão.

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Desse momento em diante, todos os tipos de luta foram tra-vados para que se ampliasse o conceito e a prática de cidadania epara que o mundo ocidental a estendesse para mulheres, crianças,minorias nacionais, étnicas, sexuais, etárias. Nesse sentido, pode-se afirmar que, na acepção mais ampla, cidadania é a expressãoconcreta do exercício da democracia.

A cidadania tem uma história que pode ser sumariamenteapresentada levando-se em consideração vários momentos, co-meçando com o Povo Hebreu – os profetas sociais e o Deus da

cidadania. Os profetas sociais, há quase 30 séculos, falavam em cui-dar dos despossuídos, proteger a viúva e o órfão, não pensar apenasem morar, comer e viver bem num mundo de pobreza extrema. Fa-zem parte, ainda, da história da cidadania, as cidades-estado greco-romanas, entendidas como organizações de democracia direta emque cada cidadão era um voto.

O Cristianismo dos primeiros séculos também se nessa te-mática quando apresenta uma postura igualitária e contrária aqualquer forma de hierarquia. Também o Renascimento – Floren-

ça e Salamanca –, entendido como um período considerado o daredescoberta do homem.

Os alicerces da cidadania encontram-se nas três grandesrevoluções burguesas: a Revolução Inglesa, com o surgimento daseparação dos poderes como base para uma sociedade cidadã; aRevolução Francesa, quando propõe os ideais de Igualdade, Liber-dade e Fraternidade; e a Revolução Norte-Americana, que partiado discurso para a prática democrática, colocando em ação aquiloque apenas frequentava o mundo das ideias na Europa.

Assim, o desenvolvimento da cidadania ocorreu com asideias que romperam fronteiras, particularmente o Socialismo, aluta pelos direitos sociais, tais como: a bandeira fundamental dostrabalhadores dos séculos 19 e 20, a marcha das mulheres em bus-ca da igualdade com especificidade e as minorias religiosas, étni-cas e nacionais.

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Também é relevante para o desenvolvimento do tema: a au-todeterminação nacional; a Anistia Internacional, que se empenhapelos direitos humanos elementares, como o direito à integridadefísica; e as diversas conquistas da humanidade, sempre em buscada qualidade de vida, de um meio ambiente razoável.

No Brasil, é possível perceber que a cidadania ocorreu emvárias áreas e segmentos sociais, principalmente com a cidada-nia indígena, os quilombos, presentes na luta dos negros fugidosorganizados, as conquistas sociais dos trabalhadores no Brasil, as

mulheres brasileiras em busca da cidadania. No campo político,temos as eleições como possibilidades e limites da prática de vo-tar, a cidadania ambiental, com a preservação da natureza e dasociedade como espaços de cidadania, e as novas possibilidadesde cidadania por meio do terceiro setor.

Constata-se, diante de toda essa evolução, que a sociedademoderna adquiriu um grau de complexidade muito grande com adivisão clássica dos direitos do cidadão em individuais, políticos esociais, sem que consigam dar conta da compreensão da realida-

de. Nesse caso:Sonhar com cidadania plena em uma sociedade pobre, em que oacesso aos bens e serviços é restrito, seria utópico. Contudo, osavanços da cidadania, se têm a ver com a riqueza do país e a pró-pria divisão de riquezas, dependem também da luta e das reivindi-cações, da ação concreta dos indivíduos (PINSKY, 2003, p. 13).

Diante do que foi apresentado, contata-se que a cidadania e aética exigirão de todo ser humano um posicionamento eficiente e efi-caz para pensar e transformar a realidade na qual estamos inseridos.Nesse sentido, duas posturas éticas podem ser assumidas diante dacomplexidade da sociedade atual, embora a primeira que será men-

cionada se refere ao que pode se considerar uma postura antiética.

Uma ética coisificadora do ser humano

As implicações éticas da modernidade, desde seu início atésua evolução, são alvos de muitas discussões. A ciência tem alcan-

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çado um grau de desenvolvimento nunca antes percebido pelahumanidade. Portanto, ela apresenta valores que não podem sermenosprezados.

No entanto, podemos considerar que nem sempre houvecontribuição para o reconhecimento da plena dignidade humana.Esse fato coloca a necessidade de se considerar a relação entreciência, ética e cidadania. A compreensão de cada um dos termosnão é uma tarefa fácil por apresentar diversas abordagens a res-peito. Mas isso não torna a temática irrelevante.

Podemos perceber que existe uma postura ética que não sepreocupa com esse assunto, pois não acredita em sua importância.A ciência não necessita desse tipo de indagação, por se apresentarcom características particulares. Ela é entendida a partir de umaconcepção positivista, que estuda a sociedade da mesma maneiraque se estuda a vida social das formigas ou das abelhas.

A ideia de que a sociedade pode ser entendida como coisa trouxe várias implicações para o estudo das ciências não somentena área de exatas e biológicas, mas também na área de humanas.A mentalidade positivista esteve e ainda está presente em váriasciências, desde a Sociologia até a Psicologia, passando pela Teoriada Evolução e pela Física. A Psicologia, por exemplo, que começa aser entendida como ciência somente a partir do século 19, refleteesse tipo de pensamento.

Fundamentando-se numa concepção positivista da mentehumana, ela não se preocupou com questões ligadas à alma ( psy-que). A tendência behaviorista, na sua formulação inicial, ressalta-va o estudo do indivíduo apenas interagindo com o meio, basean-do-se na relação entre estímulo e resposta. Essa concepção teve

dificuldade em trabalhar com o método da introspecção, que sa-lientava as questões da alma e não somente o indivíduo e o meio(JAPIASSU, 1995, p. 45-69).

As implicações éticas tornam-se evidentes. Quando se negaa condição humana na sua complexidade e nas suas diferentes

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nuances de compreensão, corre-se o risco de interpretá-la comocoisa. Esse processo de coisificação  apresenta sérias consequên-cias para a sociedade e para o próprio ser humano. Uma delas é asupervalorização das ciências, privilegiando uma minoria, enquan-to a grande maioria suporta as consequências dessa evolução. Aspesquisas científicas avançam em diferentes campos da realidade,enquanto uma parcela considerável da população não tem as mí-nimas condições para sobreviver. Veja o que dizia Hugo Assmann(1994, p. 19) quando, em 1994, se referia a 2010:

Muitas das grandes corporações transnacionais trabalham comuma perspectiva de ‘cenário futuro’, para o ano 2010, entre 700milhões e um bilhão de consumidores potenciais, com apreciávelpoder aquisitivo. Alguns poucos aumentam a cifra da clientela po-tencial ‘interessante’ para ao redor de um bilhão e meio. Isso numahumanidade de, previsivelmente, 6,5 a 8 bilhões de habitantes. Épara esse recorde de clientela que se planeja o ‘crescimento econô-mico’. Como se dá para ver, a ‘massa sobrante’, isto é, o número de‘desinteressantes’ e ‘descartáveis’, é assustador.

Muitos outros exemplos poderiam ser apresentados. Na so-ciedade brasileira, que convive com uma diferença exorbitante dericos cada vez mais ricos e pobres cada vez mais pobres, classifi-cando o Brasil como um dos países com pior distribuição de renda,há um excelente mercado emergente de consumo e, ao mesmotempo, convive-se, diariamente, com uma situação de extremamiséria. No continente africano, os seres humanos morrem pormotivos de doenças como a AIDS ou por causa de guerras civis,sem o apoio de organismos internacionais. Como é um continenteque não interessa política e economicamente, seus problemas sãoirrelevantes para o capitalismo globalizado.

A sociedade contemporânea tomou proporções alarmantes,

criando relações de dependência e intercâmbio entre todos os pa-íses do planeta. Essa situação nem sempre considera a dignidadeda pessoa humana. A abordagem é apenas de ordem econômicaem detrimento da solução dos problemas sociais, vistos como in-significantes para a manutenção de um pretenso crescimento eco-nômico.

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O que fazer diante desse quadro? Parece que não existem sa-ídas plausíveis. A apatia e a falta de perspectivas geram um senti-mento de desânimo generalizado. Basta olhar para a política no Bra-sil diante dos casos de fraude e corrupção, cada vez mais evidentesnos três poderes: o executivo, o legislativo e o judiciário. Ou, então,para o papel da imprensa diante desses fatos e de tantos outros queenvolvem vários campos da sociedade civil e da política.

Na maioria das vezes, o que se percebe é que a imprensa nãose mobiliza para esclarecer essas questões, mas quer apenas criar

sensacionalismo e uma divulgação que não considera as causas re-ais desses acontecimentos. E a violência explícita e implícita presen-te na sociedade? Não podemos deixar de nos preocupar com todaessa problemática. Por isso, torna-se necessário pensar um projetoético que resgate a importância da cidadania na sociedade atual.

Um projeto ético humanitário

Existe saída diante de um projeto social que não prioriza acondição humana? Como ser protagonista numa sociedade em quea grande parte da população apenas recebe as informações semse comprometer com a transformação da realidade? Será possívelaceitar essa postura coisificadora que submete à passividade umagrande parte da população?

Um projeto ético humanitário pode ser concretizado. O ca-minho de sua realização depende de cada um de nós e dos meiosdisponíveis. O projeto deve ser um compromisso de toda a socie-dade e pode ser realizado por meio da solidariedade para com oser humano, do reconhecimento de relações sociais justas e equi-tativas e do respeito pela natureza.

Uma ética fundada na solidariedade reconhece o respeito àpessoa. O homem não pode ser visto como objeto de exploração e deconsumo, mas deve ser respeitado em todas as suas dimensões, des-de a econômica, política, social e individual. A solidariedade implicano compromisso com aqueles que são excluídos da sociedade.

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É possível criar um processo de inclusão em que todos pos-

sam ter os direitos plenamente reconhecidos. Mas, enquanto exis-

tir tanta diferença social e enquanto tantas pessoas se submeterem

a viver embaixo de pontes e viadutos ou "puxando carroças" para

sobreviver, é sinal de que ainda há muita coisa para ser feita. Tal-

vez, diante disso, tenha-se a sensação de impotência. O que pode

ser feito para transformar essa realidade? Basta dar um pedaço de

pão para quem precisa ou dar uma esmola para um mendigo que

nos interpela na rua? Se isso não for suficiente, como reverter uma

estrutura geradora dessa situação?

Vamos analisar alguns pontos dessa discussão. O primeiro éa necessidade de se fazer algo a partir das nossas possibilidades,tomando consciência do problema. Muitas pessoas não se depa-ram com esse tipo de questionamento. Existe um desconhecimen-to que ocorre ou por ignorância ou por negligência.

À medida que percebemos ser um problema que atinge atodos, tornamo-nos responsáveis pela sua legitimação ou trans-formação. Podemos recuar, mas se o fizermos estaremos nos colo-cando como coniventes com a maneira que a sociedade está orga-nizada, tanto no desenvolvimento das ciências como nas relaçõespolíticas, econômicas e culturais.

A propósito das relações sociais é preciso motivar para a ela-boração de uma ética humanitária. Estamos nos referindo a umasociedade que seja capaz de oferecer as condições básicas para asobrevivência da vida humana. E levantar esses aspectos é consi-derar duas grandes áreas: a Saúde e a Educação.

Somente com uma população saudável, em que a medici-

na, por exemplo, não seja apenas curativa, mas preventiva, serápossível garantir os direitos à saúde, ao trabalho, ao lazer, à habi-tação, entre outros. Uma vida saudável, que englobe todos esseselementos, exige, também, uma educação não somente alfabeti-zadora, mas conscientizadora.

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No momento, essa tarefa pode ser concretizada por váriasinstâncias da sociedade que vão desde o ensino institucional atéoutras formas de organização, como sindicatos e empresas. A lutadeve ser de todos, inclusive dos que estão inseridos diretamentena prática pedagógica, procurando ser agentes de conscientizaçãolibertadora e promotora da vida.

Outra temática essencial que não podemos omitir é no quetange à natureza. E falar sobre natureza não significa apenas deixarde cortar uma árvore, embora isso também seja necessário. Signifi-

ca pensar na recuperação e manutenção do ecossistema, que estásendo destruído por aqueles que, em nome da ciência, entendemser a natureza apenas um objeto de exploração e de consumo.

Quando tomamos conhecimento de acontecimentos comoo desmatamento da floresta Amazônica, a dizimação dos índios

 – que cada vez mais perdem o direito a terra – e a destruição dacamada de ozônio, nossa posição não pode ser de passividade.

 Devemos começar a nos manifestar, sabendo que existemvários caminhos. Pode ser fazendo um estudo dessa realidade e

conhecendo as iniciativas presentes na comunidade. Ou pela nos-sa inserção em organizações não governamentais (ONGs) que lu-tam pela preservação da natureza e pela ecologia política; ou pormeio de uma iniciativa pessoal e com amigos que sensibilize paraa solução dos problemas.

Não podemos nos silenciar diante de tanta barbaridade feitacontra a natureza. Se nos calarmos, quem irá se manifestar  é a pró-pria natureza e, quando isso acontecer, poderá ser tarde demaispara pensar numa solução viável e capaz de reverter a situação.

Assim, apresentamos alguns elementos do que denomina-mos ética humanitária. A metodologia ou o caminho a ser seguidodepende de cada um. O fato é que não podemos ficar parados, es-perando os problemas aparecerem. Temos de fazer a nossa parte.

Refletir sobre a ética, analisar as ciências e suas implica-ções sociais, solidarizar-se com a situação dos pobres e excluídos

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da sociedade e perceber o que o ser humano está fazendo com anatureza não é uma tarefa fácil. Quando nos deparamos com talcontexto, temos de nos desacomodar  do nosso mundo e nos lan-çar para uma iniciativa que acreditamos plausível e cujo resultadoainda não sabemos como se concretizará.

O que deve nos impulsionar é a certeza de que, se não fizermosalgo para mudar esse quadro, as consequências serão catastróficas.Talvez não soframos o resultado disso, mas as próximas geraçõescom certeza sentirão o impacto das decisões tomadas por nós.

Por isso não podemos nos tornar indiferentes. Citamos umapassagem importante sobre esse tema, que serve como elementode reflexão:

Odeio os indiferentes. Como Federico Hebbel, acredito que "viverquer dizer tomar partido". Não podem existir os apenas homens,os estranhos à cidade. Quem verdadeiramente vive não pode dei-xar de ser cidadão e partidário. Indiferença é abulia, é parasitismo,é covardia, não é vida. Por isso, odeio os indiferentes. A indiferençaé o peso morto da história. É a bola de chumbo para o inovador, é amatéria inerte na qual frequentemente se afogam os entusiasmosmais esplendorosos. (...) A indiferença atua poderosamente na his-

tória. Atua passivamente, mas atua. É a fatalidade; é aquilo com oque não se pode contar; é aquilo que confunde os programas, quedestrói os planos mais bem construídos. É a matéria bruta que serebela contra a inteligência e a sufoca. O que acontece, o mal quese abate sobre todos, o possível bem que um ato heróico (de va-lor universal) pode gerar, não se deve tanto à iniciativa dos poucosque atuam, quanto à indiferença de muitos. O que acontece nãoacontece tanto porque alguns o queiram, mas porque a massa doshomens abdica de sua vontade, deixa fazer; deixa enrolarem os nósque, depois, só a espada poderá cortar; deixa promulgar leis que,depois, só a revolta fará anular; deixa subir ao poder homens que,depois só uma sublevação poderá derrubar. (...) Os fatos amadu-recem na sombra porque mãos, sem qualquer controle a vigiá-las,tecem a teia da vida coletiva e a massa não sabe, porque não se

preocupa com isso. Os destinos de uma época são manipulados deacordo com visões restritas, os objetivos imediatos, as ambiçõese paixões pessoais de pequenos grupos ativos, e a massa dos ho-mens ignora, porque não se preocupa (GRAMSCI, 1917).

O nosso compromisso é exigente, apresentando-se como umdesafio colocado por esse cenário atual, do qual temos uma grande

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parcela de responsabilidade. Cabe à sociedade mudar as práticasque não são condizentes com uma ética verdadeiramente humanitá-ria. Não podemos, em nome de uma ética, continuar atestando uma

 falsa ética legitimadora de interesses pessoais ou corporativos.

Para exercermos plenamente o nosso direito de cidadania,não basta apenas votar no candidato que acreditamos lutar pelosinteresses da população. Precisamos nos sentir membros partici-pantes e, na medida das nossas possibilidades, fazer alguma coisapara a concretização de uma sociedade na qual os valores huma-

nos sejam respeitados. Por isso faz sentido acreditar na ética comofundamento das ações humanas e como princípio que regula asnormas do comportamento social.

QUESTÕES AUTOAVALIATIVAS7.

Sugerimos que você procure responder, discutir e comentar as questões a se-guir que tratam da temática desenvolvida nesta unidade, ou seja, da reflexãosobre a pessoa e das respectivas implicações antropológicas, da distinção en-tre ética e moral, assim como da valorização e da recuperação do conceito decidadania como importante papel de transformação social.

Confira, a seguir, as questões propostas para verificar o seu desempenho noestudo desta unidade:

Para saber se você compreendeu bem o conteúdo, verifique se há distinção1)entre ética e moral, segundo a apostila e os textos indicados. Fundamentadonessa afirmação, responda:

Você entende que é possível existir moral sem ética?a)Quando moral pode ser entendida como ética?b)Por que a ética e a moral não são entendidas como um conjunto de ver-c)dades fixas e imutáveis, mas fazem parte de um contexto histórico-socialdeterminado?

Diante do que foi estudado sobre ética e moral, reflita sobre o porquê de,2)

na sociedade contemporânea, não constatarmos uma verdadeira morte dosvalores, tais como a honestidade, a palavra, a sabedoria, a sensibilidade e asemelhança?

A partir do extrato de texto a seguir, reflita sobre o porquê de, por mais que3)a constatação seja entendida como moralmente ou até naturalmente aceitapor muita gente, ela ser colocada como um problema ético fundamental.Você consegue identificar qual seria esse problema?

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Muitas das grandes corporações transnacionais trabalham comuma perspectiva de ‘cenário futuro’, para o ano 2010, entre 700milhões e um bilhão de consumidores potenciais, com apreciávelpoder aquisitivo. Alguns poucos aumentam a cifra da clientela po-tencial ‘interessante’ para ao redor de um bilhão e meio. Isso numahumanidade de, previsivelmente, 6,5 a 8 bilhões de habitantes. Épara esse recorde de clientela que se planeja o ‘crescimento econô-mico’. Como se dá para ver, ‘a massa sobrante’, isto é, o número de‘desinteressantes’ e ‘descartáveis’, é assustador (ASSMANN, 1994).

Segundo a missão e o projeto educativo Claretiano, "O homem é um ser úni-4)co, irrepetível, constituído das dimensões biológica, psicológica, social, uni-

ficadas pela dimensão espiritual, que é o núcleo do ser-pessoa". (CEUCLAR,2005). Partindo dessa afirmação, você pode compreender por que a noçãode Pessoa é tão importante para compreender quem é o ser humano?

A missão e o projeto educativo Claretiano enfatizam a importância e o valor5)da pessoa humana. Tendo como referência tal definição, você acha que oestudo desta disciplina foi importante para uma mudança na sua visão so-bre a noção de pessoa e sua implicação para a compreensão da sociedadecontemporânea?

CONSIDERAÇÕES8.

Depois de refletir sobre o ser pessoa numa perspectiva éticae cidadã, cabem algumas considerações, cuja finalidade é propornão o fechamento da questão, mas a abertura de horizontes, vi-sando a uma atitude de compromisso e de responsabilidade nesteinício de século 21. O que pensar a respeito dos temas elencados?Quais as implicações que eles apresentam para uma atuação cons-ciente e responsável?

Uma primeira ideia que não se pode negligenciar é o fato deque a pessoa humana está sendo desconsiderada no atual sistemacapitalista globalizado. Cada vez mais, a preocupação não é com

a humanização do ser humano, mas com a valorização do lucro eda ganância, "custe o que custar". Os avanços da ciência, o desen-volvimento tecnológico, entre outras conquistas alcançadas, nor-malmente, trazem benefícios para uma pequena parcela da popu-lação; a maioria ainda sofre um processo de empobrecimento quese traduz numa frase do papa da Igreja católica João Paulo II que

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diz: "vivemos numa sociedade de pobres cada vez mais pobres acusta de ricos cada vez mais ricos". Será esse o nosso desejo paraa sociedade futura e para as próximas gerações, que sofrerão oimpacto das decisões tomadas pela sociedade atual?

Outro aspecto importante, diante da constatação apresentadano parágrafo anterior, é a morte dos valores na sociedade contem-porânea. Parece que falar sobre ética e moral se tornou um assuntoarcaico e "fora de moda"; além disso, muitos sustentam que teriaocorrido uma verdadeira morte dos valores, como, por exemplo, a

sensibilidade, a compaixão, a misericórdia, entre outros.

Resgatar a importância dos valores e o papel da ética, en-

quanto reconhecimento de princípios universais que valorizam a

vida na sua totalidade, é uma tarefa que compete a todos aqueles

que têm sensibilidade e empatia para com o sofrimento e as an-

gústias do ser humano e, porque não dizer, da própria natureza.

Por isso, tratar do tema da ética é tão fundamental quanto

realizar descobertas científicas e tecnológicas. Mas não basta ape-

nas o desenvolvimento do assunto no mundo acadêmico; é preci-so perceber que existem implições, exigindo ações concretas que

levem os seres humanos a se comprometerem com a transforma-

ção da sociedade, fazendo-a cada vez mais humana e eticamente

sustentável.

Todos esses aspectos remetem para a discussão a respeito

da cidadania, por isso, na última parte da terceira unidade, o tema

foi apresentado dentro dos limites propostos pela disciplina. Mui-

tas coisas poderiam ser ditas. Mas cabe ressaltar que foi apresen-

tada apenas uma pequena reflexão, remetendo o interessado aestudar mais a respeito, a partir das obras indicadas nos tópicos de

referências bibliográficas de cada unidade e do Plano de Ensino.

O problema é que falar de cidadania não é apenas refletir te-

oricamente a questão, mas, assim como a ética, é pensar em ações

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concretas que mostrem a nossa preocupação com a situação atual

da sociedade em que estamos inseridos.

O texto de Gramsci – odeio os indiferentes – apresenta-se

como um questionamento interessante para nos posicionarmos

diante dos desafios atuais. O que estamos fazendo para resolver

os problemas e impasses presentes nos diversos campos de atu-

ação do ser humano, tais como a política, a religião, a família, a

desigualdade social, entre outros?

Chegando ao final da unidade, inserida dentro da disciplina Antropologia Teológica, a intenção é mostrar que, independente-

mente de credo religioso, de ideologia política, de opiniões pesso-

ais, o ser humano não pode ficar alheio aos desafios que devem

ser enfrentados na sociedade atual.

O Centro Universitário Claretiano tem uma missão e um

projeto de educação ética e humanitária. Todos são convidados a

entendê-los e aplicá-los. Ajude a multiplicar essa ideia, fortalecen-

do a consciência e a necessidade da nossa responsabilidade para

alcançar esse objetivo. Não percamos a esperança, jamais...!

EREFERÊNCIAS9.

Lista de figuras

Figura 1 – Oito jeitos de mudar o mundo: disponível em: <http://www.objetivosdomilenio.org.br/todosjuntos/>. Acesso em: 23 set. 2010.

Sites pesquisados

BETTO, F. Oito jeitos de mudar o mundo. Disponível em: <http://alainet.org/active/6469&lang=es>. Acesso em: 23 set. 2010.

ONU. Declaração Universal dos Direitos Humanos. Disponível em: <http://www.onu-brasil.org.br/documentos_direitoshumanos.php>. Acesso em: 15 out. 2010.

VANDRÉ, Geraldo. Pra não dizer que não falei das flores. Disponível em: <http://www.mpbnet.com.br/musicos/geraldo.vandre/letras/pra_nao_dizer_que_nao_falei_das_flores.htm>. Acesso em: 15 out. 2010.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS10.

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ASSMANN, Hugo. Crítica à lógica da exclusão. São Paulo: Paulus, 1994.

BOFF, Leonardo. Ética e moral : a busca de fundamentos. Petrópolis: Vozes, 2004.

COMPARATO, Fábio Konder. Ética: direito, moral e religião no mundo moderno. SãoPaulo: Companhia das Letras, 2006.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Saberes necessários à prática educativa. 14aed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2000.

GALLO, Silvio (Coord.). Ética e Cidadania: Caminhos da Filosofia. 11. ed. Campinas:Papirus, 2003.

HELLERN, Victor; NOTAKER, Henry; GAARDER, Jostein. O livro das religiões. São Paulo:Companhia das Letras, 2005.

JAPIASSÚ, Hilton. Introdução à epistemologia da psicologia. 5. ed. São Paulo: Letras &Letras, 1995.

LARAIA, Roque de Barros. Cultura. Um conceito Antropológico. 20. ed. Rio de Janeiro:Jorge Zahar, 2006.

MONDIN, Battista. O homem: quem é ele? Elementos de Antropologia Filosófica. 8. ed.São Paulo: Paulus, 1980.

MANZINI COVRE, Maria de Lourdes. O que é cidadania. São Paulo: Brasiliense, 1998.

MONDIN, Battista. Definição filosófica da pessoa humana. Bauru: EDUSC, 1998.

PINSKY, Jaime; PINSKY, Carla Bassanezi (Orgs.). História da cidadania. 2. ed. São Paulo:Contexto, 2003.

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VALLS, Aluaro. O que é ética. São Paulo: Brasiliense, 1994.

WEBER, Max. A ética protestante e o espírito do capitalismo. São Paulo: Pioneira, 1992.

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123© Apêndice

ApêndicePROJETO EDUCATIVO CLARETIANO

APRESENTAÇÃO

A vocação de serviço que caracteriza a Igreja e a torna soli-dária com os problemas humanos inspirou os Missionários Clare-tianos a preocuparem-se também com a realidade cultural que foitão marcante na vida de Santo Antônio Maria Claret, fundador daCongregação dos Missionários Claretianos.

As instituições de Ensino Infantil, Fundamental e Médio daAção Educacional Claretiana: Colégio São José de Batatais, ColégioAnglo Claretiano de Rio Claro e Colégio Claretiano de São Paulo,

 juntamente com o Studium Theologicum de Curitiba, Centro Uni-versitário Claretiano de Batatais e União das Faculdades Claretia-nas de Rio Claro e São Paulo, foram criadas com um carisma pecu-liar: anunciar a Palavra de Deus.

O serviço dessa Palavra abrange uma vasta área de ativida-des, que, embora bem distintas, se unem em sua finalidade.

Uma dessas áreas é a Educação, promotora da dignidade dapessoa humana e do seu desenvolvimento integral, segundo o de-sígnio do Criador, e considerada verdadeira evangelização e objetode acurada ação pastoral.

A atividade educativa dos Missionários Claretianos, no Brasil,sempre permaneceu atenta ao processo histórico da educação emnossa pátria. Essa orientação educativa vem atualizando-se para

responder às situações e às realidades novas que surgiram.

Como consequência natural desse processo, a partir do caris-ma claretiano, foi definida a “MISSÃO" das instituições educativasclaretianas e elaborado o “PROJETO EDUCATIVO", que apresenta-mos neste livreto a fim de transmitir aos alunos, aos pais, aos pro-

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fessores, aos funcionários e aos amigos a Proposta de Educaçãodos Missionários Claretianos.

A MISSÃO sintetiza o ideal carismático das instituições edu-cativas claretianas, centrado no amor e no serviço ao ser humanopartir da educação, tendo como base a mensagem de Jesus Cristo,ao estilo de Santo Antônio Maria Claret e da Congregação dos Mis-sionários Claretianos.

Coerentemente com esses princípios, intensificaram-se, nos

últimos anos, as reflexões sobre as questões básicas da educaçãocom todos os segmentos da Instituição, visando ao crescimentoharmônico de toda a comunidade educativa.

O Projeto Educativo sistematiza a ação educacional dos cla-retianos que assumem a Educação Básica e o Ensino Superior paraformar cidadãos com sólida base profissional e mentalidade sau-dável, acolhedora e aberta a Deus, à realidade da natureza e à re-alidade humana. O Projeto Educativo visa, ainda, construir umasociedade mais justa e humana.

CAPÍTULO I

SANTO ANTÔNIO MARIA CLARET

Vida e Obra

O fundador da Congregação dos Missionários Claretianos epatrono de nossas instituições de ensino nasceu em 23/12/1807,em Sallent, Catalunha, Espanha, numa época de muitas mudan-ças sociais, culturais, econômicas e políticas que afligiam o mundoocidental.

Claret, filho de uma família católica, formou-se nos ensina-mentos cristãos e, desde criança, desejava ser missionário paraanunciar o Evangelho e a salvação a toda a humanidade.

Insistindo nessa ideia, sua mãe permitiu que estudasse la-tim com um velho sarcedote. Quando este morreu, seu pai decidiu

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125© Apêndice

empregá-lo na fábrica de tecidos dele, iniciando-o na carreira in-dustrial, na qual fez muito sucesso.

Aos 17 anos, ficou encarregado de supervisionar os teares.Seu pai, percebendo sua grande capacidade, enviou-o a Barcelonaa fim de estudar. Lá, passou a trabalhar também com muito êxito.Entretanto, nada o satisfez. Para tristeza paterna, decidiu ser pa-dre. Foi ordenado sacerdote em 1835 e trabalhou como párocoem Sallent, sua terra natal.

Apesar de pároco, queria ser missionário; por isso, ofereceu-se para trabalhar nas missões estrangeiras. Assim, decidiu ir paraRoma a fim de trabalhar na Congregação da Evangelização dos Po-vos, entrando na Ordem Jesuíta para chegar rapidamente às mis-sões.

Por motivo de saúde, em 1840, retornou à Espanha a serviçodo bispo de Vic, sendo encarregado de pregar missões em todas asparóquias da diocese.

Exerceu várias atividades como sacerdote consagrado total-

mente ao serviço de Deus: missionário apostólico e pregador itine-rante em várias regiões, pároco, diretor de escola e promotor daeducação, escritor da boa imprensa (falada e escrita), diretor es-piritual, fundador de congregação e de movimentos, arcebispo deSantiago de Cuba de 1850 a 1857, confessor da rainha da Espanha,participante do Concílio Ecumênico do Vaticano I, em 1870 etc.

Homem de oração e ação e de grande mística, levou umavida sóbria e austera, totalmente voltada ao serviço da Igreja, e,por onde passava, arrastava multidões.

Claret foi um homem que trabalhou em várias frentes, sem-pre sensível ao mais urgente. Pensava em como preparar as pes-soas para a missão e em como articular iniciativas de formação.Escreveu 15 livros e 81 opúsculos, bem como traduziu outras 27obras.

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Criou escolas técnicas e agrárias em Cuba; foi diretor doEl Escorial, escola real espanhola, de 1859 a 1868; e incentivoua Congregação de Missionários a trabalhar com a educação e aassumi-la como importante e eficaz meio de evangelização.

Ele foi um grande e verdadeiro apostólo, sendo perseguido,apesar de ter evitado envolvimento com questões políticas. Emfunção disso, sofreu um atentado sangrento na cidade de Holguín,em Cuba, e, no final de sua vida, foi exilado na França, onde veioa falecer a 24 de outubro de 1870, data em que celebramos sua

festa em todas as frentes apostólicas claretianas espalhadas pelomundo.

Sua santidade foi reconhecida pela Igreja católica, sendo be-atificado no ano de 1937 e canonizado no dia 7 de maio de 1950.

CAPÍTULO II

A CONGREGAÇÃO DOS MISSIONÁRIOS FILHOS DO IMACULADOCORAÇÃO DE MARIA

Missionários ClaretianosUma das maiores obras da vida de Santo Antônio Maria Cla-

ret foi a fundação da Congregação dos Missionários Claretianos.Claret, no seu ideal evangelizador e nas suas andanças missionáriaspela Espanha, pelas Ilhas Canárias e por outras regiões, percebeuque poderia tornar o seu apostolado mais produtivo se conseguis-se articular homens desejosos de proclamar a mensagem de JesusCristo, unidos em torno de uma congregação de missionários.

Assim, no dia 16 de julho de 1849, na cidade espanhola deVic, na Catalunha, fundou, com mais cinco amigos sacerdotes, JoséXifré, Jaime Clotet, Manuel Vilaró, Domingos Fábregas e EstevãoSala, a Congregação dos Filhos do Imaculado Coração de Maria,conhecidos, posteriormente, como Missionários Claretianos.

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A Família Claretiana é constituída de missionários sacerdo-tes, missionários irmãos e diáconos, além de irmãs, leigos e leigas,dedicados ao serviço da Palavra.

O objetivo da Congregação é anunciar, por todos os meiospossíveis, no Serviço Missionário da Palavra, o Evangelho de JesusCristo a todo o mundo.

Inicialmente, a Congregação Claretiana dedicou-se exclusi-vamente ao serviço missionário e, mais tarde, foi assumindo ou-tras atividades apostólicas: atuações em paróquias, na educação

(colégios, faculdades, escolas eclesiásticas, formação de leigos,agentes de pastoral e voluntários), em missões, nos Meios de Co-municação Social (editoras, revistas e periódicos, rádio, televisão einternet) e em obras sociais e promocionais.

Atualmente, a Congregação Claretiana conta com mais de3100 missionários em todos os continentes, em 63 países. Nos cin-co continentes, trabalha com 90 centros educacionais e com maisde 77 mil alunos.

Ela ainda tem a colaboração de mais de 3650 docentes, alémde grande número de funcionários técnico-administrativos queauxiliam na “missão partilhada".

No Brasil, a Congregação Claretiana chegou em 1905, na ci-dade de São Paulo, e difundiu-se por vários estados (São Paulo,Paraná, Mato Grosso, Alagoas, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Goiás,Distrito Federal e Rondônia).

Hoje, desenvolve várias atividades missionárias, com desta-que para as paróquias e missões, os colégios e faculdades e a grá-fica Ave Maria, com a Bíblia.

CAPÍTULO III

IDENTIDADE DE UMA IES COMUNITÁRIA

O Claretiano, Centro Universitário Claretiano, identifica-secomo uma Instituição de Ensino Superior com espírito e posturacomunitários.

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Uma IES Comunitária não é universidade pública, porque nãopertence ao governo, mas também não é privada, pois não é pro-priedade particular. Segundo Aldo Vannucchi (2004), presidenteda Abruc (Associação Brasileira das Universidades Comunitárias),"a universidade comunitária representa um modelo alternativo,ou seja, ela não é nem pública, no sentido estatal, nem privada, nosentido estrito, empresarial. É pública não estatal".

Vannucchi (2004, p. 25-26) ainda traça o perfil das Universi-dades Comunitárias, caracterizando-as:

1. pela democratização das relações de poder dentro da institui-ção;

2. pela lógica do seu funcionamento, pautado pelo interesse dapopulação, a serviço da sociedade, sem visar a lucro, ou seja, li-vre do produtivismo economicista, próprio do setor empresarial, econtrolado tanto pela comunidade interna como pela comunidadeexterna, porque a universidade é um bem da sociedade, antes eacima de tudo;

3. pela sua inegável legitimidade social, enquanto existe por dele-gação estatal e opera, legalmente credenciada, regulamentada esupervisionada pelo governo, para atender ao direito constitucio-nal de todos os cidadãos à educação, suprindo, por um custo me-

nor que as instituições governamentais, a demanda de muitos peloensino superior, como única oportunidade de ascensão social e deprofissionalização;

4. pela maneira coletiva e pública com a qual toda a reflexão críticae todo o conhecimento científico e cultural que nela se produzemconstituem um valor realmente democrático;

5. pelo serviço público e plural que presta à sociedade, em amplasáreas geográficas, onde muitas vezes o Estado está ausente, comoparceira privilegiada na construção do planejamento estratégicoe do desenvolvimento da cidade e da região de sua abrangência,formando profissionais, fomentando a cidadania, impulsionandolideranças no setor produtivo, disseminando conhecimento e tec-nologia, alfabetizando jovens e adultos.

Quando menciona a MISSÃO das Universidades Comunitá-rias, Vannucchi (2004, p. 34-35) afirma que:

a missão atinge um nível ainda mais alto, chegando a consubstan-ciar mais que uma ideologia ou filosofia de trabalho, um autênticoapostolado, uma verdadeira mística de traços quase evangélicos,

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embora sob traços seculares. Está longe, pois, de ser simples fór-mula de propaganda institucional, mero fraseado de uma técnicade manipulação ou mero slogan. Sua importância e seu constan-te enfoque criam, corroboram e revelam, a todo o momento, umconjunto de convicções e de motivações fundamentais para o tra-balho do dia-a-dia, concretizando o que os psicólogos chamam desentimento de comunidade, força contraposta à ambição egoístae desagregadora de poder e prestígio pessoal. Numa universidadecomunitária, os melhores membros de seu quadro docente e téc-nico-administrativo vivenciam-na devotamente, numa experiênciapermanente de auto-entrega apaixonada ao serviço da instituição,por causa da comunidade interna e externa. Não são meros agentes

acadêmicos trabalhando para a comunidade, porque aprenderama trabalhar com a comunidade e, mais ainda, como comunidade.

Nessa mesma linha de pensamento, Helfer (2003) expõe osseguintes princípios básicos do Projeto Político-Institucional dasUniversidades Comunitárias: compromisso com a qualidade uni-versitária, com a democracia, com a comunidade, com a realidaderegional e com a manutenção de suas características de Universi-dade Comunitária – instituição pública não estatal.

É dentro e a partir dessas linhas de pensamento que o Cen-tro Universitário Claretiano trabalha e deseja cumprir sua MissãoInstitucional.

E nós, Missionários Claretianos, queremos que os colabora-dores invistam nessa ideia para que, juntos, possamos construiruma comunidade na qual o nosso múnus de educar seja concreti-zado em relações respeitosas, valorizando-se o outro, na partilhados seguintes valores: verdade, honestidade, confiança, liberdade,responsabilidade e respeito à dignidade humana e à natureza.

CAPÍTULO IV

A MISSÃO DO CENTRO UNIVERSITÁRIO CLARETIANO

A Missão do Centro Universitário Claretiano, inspirada nosvalores éticos e cristãos e no carisma claretiano, consiste em ca-pacitar a pessoa humana para o exercício profissional e para ocompromisso com a vida mediante uma formação integral; Missão

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essa que se caracteriza pela investigação da verdade, pelo ensino epela difusão da cultura, que dão pleno significado à vida humana.

A seguir, faremos uma análise da Missão, tendo em vista queo sentido de um texto é percebido pela correlação entre as par-tes.

A MISSÃO

Entendemos por MISSÃO o princípio que está na origem de

nossos trabalhos e atividades, norteado pelo compromisso de as-sumir a PASTORAL EDUCATIVA como um trabalho de evangeliza-ção, já que "educar é um modo de ser, um modo de significar e ummodo de atuar em favor do crescimento do Reino" (BOCOS, 1999).Por isso, nossa Missão, como instituição católica, é:

garantir, de forma permanente e institucional, a presença da•

mensagem de Cristo – luz dos povos, centro e fim da criaçãoe da História – no mundo científico e cultural, fomentando odiálogo entre razão e fé, entre Evangelho e cultura;

favorecer o encontro da Igreja com as ciências, as culturas e•

os graves problemas de nosso tempo, ajudando-a a responderadequadamente a esses desafios;

consagrar-se sem reservas – pelo esforço da inteligência e à luz•

da Revelação – à investigação livre, responsável, corajosa e ale-gre da verdade sobre o universo, em todos os seus aspectos eem seu nexo essencial com a Verdade suprema, Deus;

contribuir para aprofundar o conhecimento do significado e o•

valor da pessoa humana;

dedicar-se ao ensino e a proclamação da verdade, valor funda-•

mental, sem o qual se extinguem a liberdade, a justiça e a dig-nidade humana;

fomentar o diálogo ecumênico e inter-religioso. (CNBB,• 2000,p. 13-14).

O Centro Universitário Claretiano

O Centro Universitário Claretiano foi instalado no dia 14 demaio de 2002. Segundo as normas contemporâneas, Centro Uni-versitário é uma instituição de ensino que segue estes princípios:

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Excelência de organização e atividades de ensino, pesqui-•

sa e extensão.

Preferência pela qualidade humana e funcional, acadêmi-•

ca e religiosa da direção, dos professores e dos funcioná-rios.

Formação de uma verdadeira comunidade educativa,•

abrangendo direção, professores, alunos e funcionários,na qual se vive um clima de verdadeiro amor fraterno esolidariedade, de respeito recíproco e diálogo construti-

vo, com ideais compartilhados e tarefas planejadas.

Comunidade educativa que se destaque pela competên-•

cia científica e pedagógica e, também, pela integridadedoutrinal e probidade de seus membros.

Nossa instituição de ensino é uma INSTITUIÇÃO CATÓLICA, e,como tal, ela deve ser:

uma comunidade acadêmica que, inspirada na mensagem e•

pessoa de Jesus Cristo e fiel à Igreja, se dedica, de modo refleti-

do, sistemático e crítico, ao ensino, à pesquisa e à extensão, nos

variados ramos do conhecimento, e se consagra à evangeliza-

ção e formação integral de seus membros – alunos, professores

e funcionários – bem como ao serviço qualificado do povo, con-

tribuindo para o aumento da cultura, a afirmação ética da soli-

dariedade, a promoção da dignidade transcendente da pessoa

humana e ajudando a Igreja em seu anúncio salvífico e serviço

ao Reino de Deus (CNBB, 2000, p. 13).

Como INSTITUIÇÃO CLARETIANA, esta comunidade educati-va é dirigida pelos Missionários Claretianos, que têm como com-

promisso carismático o Serviço Missionário da Palavra,  exercidopor todos os meios possíveis. Assim, assumimos o ministério edu-cativo como um modo de colaborar com a construção de uma so-ciedade mais justa, fraterna e solidária.

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Inspiração nos valores éticos e cristãos

Os princípios seguidos por esta Instituição têm sua origemna pessoa, nos ensinamentos e nas obras de Jesus Cristo, o Deusque se fez homem-história e anunciou à humanidade que é possí-vel conviver em paz e amor e que o ser humano é chamado a viverem plenitude a relação com o outro, gerando valores de solidarie-dade, justiça e fraternidade.

Nossos valores têm em Jesus Cristo seu fundamento, porque

Ele é o modelo perfeito de homem, que viveu no abandono incondi-cional ao Pai e no amor misericordioso e compreensivo para com aspessoas. Nele, o homem encontra tudo o que deseja e procura.

A Igreja é o prolongamento de Cristo na História. Essa missãouniversal continua através dos tempos e, dela, somos participan-tes e responsáveis.

Somos uma instituição confessional e vemos o processo edu-cativo como um modo de ajudar na construção do Reino de Deus,instaurado por Jesus Cristo e articulado pela Igreja. Nesse sentido,

uma instituição católica de ensino:deve distinguir-se pela fidelidade à doutrina e determinações daIgreja, pela excelência de sua organização e atividades de ensino,pesquisa e extensão, bem como primar pela qualificação humana efuncional, acadêmica e religiosa de sua direção, professores e fun-cionários (CNBB, 2002, p. 21).

Por isso, no tocante à formação humana e doutrinal, ética esocial, a nossa instituição deve dar:

a todos a oportunidade de seguir cursos de doutrina católica. Taiscursos consistirão de disciplinas teológicas ou de outras afins; naprogramação de todos os departamentos constará uma formaçãomoral apropriada; a doutrina social da Igreja, confrontada com a

realidade e os desafios do país, a sensibilidade para com os proble-mas do povo e o espírito de serviço comunitário estarão presentesna formação teórica e prática dos estudantes; dada a importânciada Teologia na busca de uma síntese superior do saber e no diálo-go entre razão e fé, ofereceremos uma disciplina teológica em quese possa adquirir uma formação doutrinal mais sólida, garantindo-se o lugar legítimo da Teologia no mundo da ciência e da cultura(CNBB, 2002, p. 28-29).

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Inspiração no carisma claretiano

A Congregação dos Missionários Claretianos tem por objeti-

vo "buscar em tudo a glória de Deus, a santificação de seus mem-

bros e a salvação dos homens de todo o mundo" (CONSTITUIÇÕES

CLARETIANAS, p. 15, n. 2).

A partir da evolução histórica de nosso instituto, definimos

seu carisma como um serviço missionário profético da Palavra que

tem as seguintes características: anúncio do Reino de Deus e da

vida em plenitude e denúncia de tudo o que lhe é contrário, op-tando pelos meios possíveis para que a salvação seja levada à hu-

manidade.

Capacitação da pessoa humana

O Centro Universitário Claretiano quer oferecer ao corpo

discente instrumentais científicos, técnicos, humanos, religiosos e

vivenciais que o tornem capaz de compreender a si mesmo e à sua

função no plano criador de Deus, que, antes de tudo, é o de tornarcada ser humano coparticipante e corresponsável pelo aperfeiço-

amento dos segmentos e interesses da vida humana.

Por outro lado, queremos ser sensíveis ao perfil de nossos

alunos, entender suas virtudes e fragilidades, potencialidades e

limitações, dando atenção ao lugar, ao espaço e à estrutura de en-

sino de onde muitos deles procedem.

Sabemos que muitos de nossos alunos procedem de setores

carentes e menos privilegiados da sociedade, que é discriminadora

e excludente. Dessa maneira, propomo-nos, como entidade filan-trópica, a recuperar as possíveis defasagens e limitações básicas

que eles possam apresentar. Assim:na perspectiva cristã, a educação deverá ajudar na formação deuma pessoa: colaboradora de Deus, tendo como tarefa comple-mentar, humanizar e partilhar a obra da criação; com sentido de

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liberdade que lhe permita agir consciente e responsavelmente,tomando decisões pessoais e coerentes com seu projeto de vidae capaz de participar na sociedade, fazendo opções religiosas, po-líticas e culturais livres; com senso ético e consciência crítica quelhe permitam avaliar com clareza os acontecimentos e o que estáimplícito neles, oferecendo soluções apropriadas e comprometen-do-se a atuar de forma adequada e eficaz; com equilíbrio que lhepermita enfrentar, com serenidade e sentido cristão, o êxito e ofracasso; com sensibilidade histórica e capacidade de compromis-so e de solidariedade que a impulsione a assumir as responsabili-dade sociais e políticas na construção de um mundo democrático,com relações de comunhão e participação; sujeito construtor da

história, livre e solidário, capaz de amar, mas também de resistir erecusar; que vive em comunidade a partilha e a convivência frater-na, até à doação de si mesmo; que por sua dignidade, é superiora qualquer lei ou organização social, mesmo a mais democráticae cuja cidadania transcende a terrestre, completando-se no Reinodefinitivo de Deus; que assume atitude de amor à coisa pública,de vontade permanente de participação, de abertura ao outro, dopoder-serviço e da encarnação na realidade do povo; que sabe li-gar a auto-realização à construção do bem comum e da comunhãosocial (CNBB, 1990, p. 37).

Essa mesma formação precisa estar aberta para a vida so-cial, e, nessa perspectiva, a Educação objetiva preparar para uma

sociedade:fundamentada na dignidade da pessoa humana e que tem comometa a comunhão social; marcada pela igualdade de todos, pelasolidariedade e pela participação como critérios de organização;pluralista, aberta aos valores que são patrimônio da humanidade,sem preconceitos e discriminações; que preconiza relações dialo-gais, participativas e democráticas na sociedade civil; que superaa contradição entre as estruturas sociais injustas e as exigênciasdo Evangelho, tornando efetiva a justa distribuição dos bens eco-nômicos, culturais e espirituais, de serviços e oportunidades; quegarante a seus segmentos plena liberdade de se associarem e dese organizarem e a efetiva oportunidade de serem ouvidos e res-peitados, bem como a todas as pessoas o direito de manifestarem

pública e privadamente a sua fé.Para conseguir tais objetivos, o educador cristão deverá primar pordesenvolver em sua vida valores tais como: dignidade pessoal, fir-meza de caráter, solidariedade e união de propostas, fraternidade,honestidade, paciência, força e vontade. (CNBB, 1990, p. 38).

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O exercício profissional

Queremos preparar pessoas íntegras que, optando por umdeterminado segmento profissional, aceitem se submeter aoaprendizado científico-técnico-humano para poder desempenharcom eficiência, consistência e integridade as tarefas e obrigaçõescondizentes com o seu dom profissional e com a área que se pro-põem a trabalhar.

Nesse sentido, a proposta pedagógica de nosso Centro Uni-

versitário: buscará integrar o progresso acadêmico e profissional dos alunoscom o amadurecimento nas dimensões humana, religiosa, morale social, de modo que respeitada a convicção religiosa de cada um – eles não só se tornem competentes no seu setor específico, aserviço da sociedade, mas também líderes qualificados, decididosa viver e testemunhar sua fé, na Igreja e no mundo. (CNBB, 2000,p. 27).

O compromisso com a vida

Desejamos formar profissionais que, antes de tudo, sejam

gente, homem e mulher, movida pelos sentimentos de sensibili-dade e respeito pela vida do outro. Profissionais que valorizem aVIDA como dom de Deus a ser construído no amor, na fraternida-de, no diálogo, na responsabilidade e na solidariedade. Assim:

dado que o saber está a serviço da pessoa humana, garantindo-lheo primado sobre as coisas e a orientação para Deus, uma prioridadeespecífica da Universidade Católica é explicitar as implicações éticaspresentes em todos os campos de ensino e investigação, examinare avaliar sob o ponto de vista cristão os valores e normas dominan-tes na sociedade e cultura modernas, bem como comunicar-lhes osprincípios e valores éticos e religiosos que dão pleno significado àvida humana... Dar-se-á atenção particular às questões levantadas

pelas disciplinas específicas da área de estudo e ao crescimento daconsciência moral e do sentido de responsabilidade, pessoal e so-cial (CNBB, 2000, p. 28).

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A formação integral

O homem é um ser único, irrepetível, construído das dimen-sões biológica, psicológica e social, unificadas pela dimensão espi-ritual, que é o núcleo do ser-pessoa. Como pessoa, expressa seuser-espírito na liberdade, entendida como capacidade de afirma-ção, apesar dos condicionamentos e das limitações que reforçamsua responsabilidade na construção da própria existência, cuja ple-nitude é alcançada pela superação de si e pela transcendência.

Assim, a pessoa é entendida e assumida como “ser em rela-ção" e “ser de abertura" ao mundo, aos outros, a si mesmo e aoTu absoluto, Deus, que ilumina e dá sentido pleno à sua realidadehumana, e como ser criado por Deus, sentido último de sua exis-tência, feito à sua imagem e semelhança. Em Jesus Cristo, Filhode Deus, encarnado na história humana, o homem é chamado aencontrar tudo o que deseja e procura.

A pessoa humana é um ser educável. Entendemos a educa-ção como um processo de aperfeiçoamento intencional das dimen-sões especificamente humanas e cristãs, portanto, um processo de

humanização e personalização.

Missão: investigação da verdade

Como instituição de ensino católica, nosso Centro Universi-tário compartilha, com todas as outras Universidades, aquele gau-dium de veritate, tão a gosto de Santo Agostinho, isto é:

a alegria de procurar a verdade, de descobri-la e de comunicá-la,em todos os campos do conhecimento. Sua tarefa privilegiada éunificar existencialmente, no trabalho intelectual, duas ordens derealidade que, não raro, tende-se a opor, como se fossem antitéti-cas: a investigação da verdade e a certeza de conhecer, já, a fonteda verdade (JOÃO PAULO II, 1990).

A verdade representa a aceitação do plano de Deus, quequer todos os homens vivendo em plenitude, realizando-se, res-peitando-se e crescendo de um modo integral: política, econômi-ca, cultural e religiosamente.

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Essa verdade deve ser investigada, desejada, assimilada, ab-sorvida, amada e praticada na articulação de mecanismos e ins-trumentais que levem o ser humano ao pleno desenvolvimentoe à evolução integral. Portanto, é inerente à nossa instituição deensino a tarefa de:

proclamar o sentido da verdade, valor fundamental sem o qual seextinguem a liberdade, a justiça e a dignidade do homem. Em prolduma espécie de humanismo universal, a universidade católicadedica-se, totalmente, à investigação de todos os aspectos da ver-dade, no seu nexo essencial com a Verdade suprema, que é Deus(JOÃO PAULO II, 1990).

O ensino e a difusão da cultura com atribuição de significado

Cabe à universidade católica o ensino, a transmissão e a par-tilha de todo conhecimento adquirido do patrimônio experimen-tado e vivido na expressão das mais variadas civilizações. Por suamesma natureza, a universidade católica:

promove a cultura, mediante a atividade de investigação, ajuda atransmitir a cultura local às gerações sucessivas, mediante o ensi-no, favorece as iniciativas culturais, com os próprios serviços edu-cativos. Ela está aberta a toda a experiência humana, disposta ao

diálogo e à aprendizagem de qualquer cultura... A universidade ca-tólica deve tornar-se, cada vez mais, atenta às culturas existentesna Igreja, na maneira de promover um contínuo e proveitoso diálo-go entre o Evangelho e a sociedade de hoje. Entre os critérios quedistinguem o valor duma cultura, está em primeiro lugar, o sentidode pessoa humana, sua liberdade, sua dignidade, seu sentido deresponsabilidade e sua abertura ao transcendente. Ao respeito dapessoa está unido o valor eminente da família, célula primária detoda a cultura humana (JOÃO PAULO II, 1990).

O verdadeiro sentido para a vida humana está na relação fi-lial com Deus, que nos criou não só como seres materiais, mas

como seres espirituais, voltados para o transcendente. Por isso, avida há que ser defendida e desejada em plenitude e, como comu-nidade educativa (alunos, professores, pais, comunidade religiosa,funcionários), propomo-nos a articular os mecanismos e as estru-turas que propiciem a todos o respeito aos seus direitos e à suaintegridade.

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CAPÍTULO V

PROJETO EDUCATIVO

Educação para a Justiça e o Amor

1. O HOMEM

1.1 O homem é um ser único, irrepetível, constituído das di-mensões biológica, psicológica e social, unificadas pela di-mensão espiritual, que é o núcleo do ser-pessoa.

1.2 Como pessoa, expressa seu ser-espírito na liberdade,entendida como capacidade de afirmação, apesar dos con-dicionamentos e das limitações que reforçam sua responsa-bilidade na construção da própria existência, cuja plenitudeé alcançada pela superação de si mesmo e pela transcen-dência.

2. SER EM RELAÇÃO

2.1 O ser humano apresenta-se numa relação múltipla de

abertura ao mundo, aos outros, a si mesmo e ao Tu absoluto,Deus, que ilumina e dá sentido pleno à sua realidade huma-na. Nesse relacionamento múltiplo, ele encontra o caminhoda liberdade e do crescimento, realizando-se ao assumir suamissão cristã e política.

2.2 Empenhando-se com os outros na libertação de todos,participando ativamente da vida do seu povo e tendo cons-ciência de que é agente da história do seu povo e da suaprópria história particular, o homem constrói a própria liber-

dade.2.3 Essa consciência histórica obriga-o a posicionar-se pe-rante a realidade social concreta, intervindo para a mudançadas estruturas injustas e desumanas. Tendo consciência desuas limitações, necessita do apoio e da comunhão de vidacom os seus semelhantes para sua própria realização.

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3. CRIATURA

3.1 A esse ser humano, criado por Deus, feito à sua imageme semelhança, foi confiada a obra da criação.

3.2 Pela fé, o homem encontra em Deus o sentido último desua existência, a fonte da vida, da liberdade e do amor.

3.3 O homem, aceitando Deus como Pai, reconhece-se comoseu filho, irmão de Jesus Cristo, solidário com a humanida-de na busca da construção do Reino que é Justiça, Verdade,

Comunhão.

3.4 Modelo perfeito de homem é Jesus Cristo, que viveu noabandono incondicional ao Pai e no amor misericordioso ecompreensivo para com as pessoas. Nele, o homem encon-tra tudo o que deseja e procura.

3.5 A Igreja é o prolongamento de Cristo na História. Essamissão universal continua através dos tempos e, dela, somosparticipantes e responsáveis.

4. UM SER EDUCÁVEL

4.1 Partindo desses pressupostos, a educação é entendidacomo processo de aperfeiçoamento intencional das dimen-sões especificamente humanas e cristãs, portanto, um pro-cesso de humanização e personalização.

4.1.1 Processo de humanização enquanto aceita cada edu-cando como ser único e irrepetível, enfeixando num todosuas dimensões biofísicas, psicossociais e espirituais, bemcomo inserindo-o no contexto histórico.

4.1.2 Processo de personalização enquanto suas dimensõesse integram e convergem para o centro da pessoa como sertranscendental e ser-em-relação.

4.2 Educação é, pois, um processo de libertação e de con-versão, mediante o qual o indivíduo se torna agente de seu

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próprio destino pessoal e social, para construir um mundohumano e cristão. Visa, portanto, formar uma personalidadeaberta, capaz de discernir e optar pelos verdadeiros valores,segundo o Evangelho.

5. IDENTIDADE CLARETIANA

5.1 Como Claretianos, inspiramo-nos na figura de Santo An-tônio Maria Claret, da qual destacamos:

Ação evangelizadora e missionária, atenta em promover•

os meios mais eficazes para atingir seus objetivos.

Amor e docilidade à Palavra de Deus, como iluminadora•

de sua vida.

Amor a Maria, ao seu Coração Imaculado, como centro de•

intimidade com Deus e de afeto maternal aos homens.

Fidelidade e amor à Igreja.•

Preocupação em preparar evangelizadores leigos.•

5.2 Para nós, Claretianos, cujo carisma é a evangelização eo anúncio da Palavra, que é vida e sentido para o homem,a educação é reconhecida: como valor humano e, por isso,evangelizadora; como processo de libertação por humanizar,personalizar e socializar.

5.3 Os Claretianos evangelizam a partir de uma comunidade,à semelhança dos apóstolos. Por isso, educar significa criaruma comunidade educativa em que se incluam os alunos, osprofessores, os pais, a comunidade religiosa, bem como o

pessoal de administração e de serviço.5.4 Essa comunidade deve estar em constante processo derevisão e deve ser:

QUALIFICADA –• intelectualmente bem atualizada, pes-quisadora e corresponsável.

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LIBERTADORA –• enquanto participa da ação libertadorade Cristo, inscrevendo-se no projeto histórico de constru-ção de um homem e de uma sociedade novos, com novasrelações de justiça, fraternidade e solidariedade.

EVANGELIZADORA –• enquanto, partindo da contempla-ção de Cristo, inspirador da comunidade evangelizadora,dá testemunho de justiça, de fraternidade no trabalho, dehumanização e de tomada de consciência da dimensãotranscendental das atividades comunitárias.

6. PRINCÍPIOS EDUCATIVOS

A educação da comunidade claretiana baseia-se em três prin-cípios fundamentais, que devem orientar sua prática educativa:

6.1 Cada pessoa é um ser único e singular. A educação pro-cura tornar esse ser um sujeito consciente de suas possibili-dades e limitações. A manifestação dinâmica dessa singulari-dade é a originalidade e a criatividade.

6.2 Cada pessoa é o princípio de suas ações, de sua capacida-de de governar-se tendo em vista sua liberdade. Fundamen-talmente, o ser humano é livre para realizar-se como pessoae, por isso, é responsável pelo seu projeto pessoal e social.Tal assertiva opõe-se totalmente à arbitrariedade vigente.

6.3 O homem é, simultaneamente, uma totalidade e umaexigência de abertura e contato com os outros. Esse princí-pio orienta a educação para as relações de colaboração detrabalho e para a amizade na vida econômica, política e so-cial.

7. PRINCÍPIOS DIDÁTICOS

7.1 A educação humanista proposta pela Ação EducacionalClaretiana tenta vivenciar uma pedagogia e uma didáticaque sejam coerentes com ela.

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7.2 A metodologia, amparada pelo Projeto Educativo Clare-tiano, incide profundamente no desenvolvimento da per-sonalidade, na autorrealização e na autonomia de ser e deaprender do aluno, bem como na formação do espírito decooperação e de solidariedade. Para isso, essa metodologiae didática apoiam-se nos seguintes princípios:

PRINCÍPIO DA UNIDADE•

Visa-se com vergência dos valores para o desenvolvimentoda inteligência, da vontade, do sentimento e da ação do alu-no.

PRINCÍPIO DA PERSONALIZAÇÃO•

Visa salvaguardar e potenciar a unidade e a originalidade doaluno.

PRINCÍPIO DA AUTONOMIA•

Trata-se de criar, no aluno, uma atitude cultural de abertu-ra ao saber e de dotá-lo de uma técnica de aprendizagemintelectual capaz de atualização constante. Além disso, visa

despertar nele o desejo e a responsabilidade de aprender,mesmo depois de concluída a ajuda do educador.

PRINCÍPIO DA ATIVIDADE•

Requer a atividade pessoal do aluno, sem a qual é inútil qual-quer ensinamento.

PRINCÍPIO DA LIBERDADE•

Procura-se respeitar o caminho pessoal do aluno para a con-secução da verdade, do desenvolvimento próprio, adotando,para isso, princípios de aprendizagem.

PRINCÍPIO DA INTERIORIZAÇÃO•

Caracteriza-se pela formação intelectual como processo doexterior para o interior, isto é, da atividade e do interessepessoal para a posse interior profunda da cultura.

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PRINCÍPIO DA INTEGRIDADE•

Considera-se o aluno vocacional e profissionalmente inte-grado somente quando ele como um todo se projeta numaperspectiva de vida que lhe seja peculiar e inalienável. Visaà cultura prática e funcional e não ao intelectualismo puroe abstrato. Por esse caminho, o jovem é conduzido a buscarseu próprio aperfeiçoamento, autonomia nos estudos, de-senvolvimento da capacidade pessoal de investigação, aná-lise e reflexão.

8. NOSSA PRÁTICA EDUCATIVA

Nosso educador:

8.1 Tem consciência de seu valor e exerce papel fundamentalna educação.

8.2 Alicerça seu trabalho numa concepção da pessoa, davida, do mundo e da sociedade. É essa concepção que deter-mina atitudes e valores coerentes com a visão da escola.

8.3 Sente-se um mediador entre a verdade, que deve ser co-nhecida, e o educando, agente fundamental da educação,aquele que constrói o próprio conhecimento.

8.4 Promove uma educação DIALÓGICA, que implica reco-nhecer o educando como pessoa com identidade e missãopessoal, estimulando-o a assumir sua responsabilidade indi-vidual e comunitária.

8.5 Promove uma educação que torna o educando conscien-

te de que ele é o AGENTE principal de seu processo de aper-feiçoamento. Isso implica formação da capacidade criativa,na capacidade de ver os outros como pessoas, de julgar eponderar as circunstâncias históricas, de descobrir o sentidoúnico e válido ao qual deve responder.

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8.6 Vivencia uma educação ABERTA ao amor e ao serviço dossemelhantes, num mundo animado pela justiça e pela ver-dade, às aspirações profundas do ser humano, aos direitosdas pessoas e das comunidades, à paz, à solidariedade e àsconquistas do espírito humano no campo da ciência, da filo-sofia, da arte etc.

Nosso objetivo é formar cidadãos capazes e dispostos a par-ticipar da vida política, social, econômica e cultural da humanida-de.

9. COMUNIDADE EDUCATIVA

A Direção, o corpo docente, os alunos, os pais e os funcioná-rios compõem a Comunidade Educativa, na qual todos se integrame, dela, participam, de acordo com sua função, para a educaçãointegral do aluno.

O principal objetivo é que essa comunidade educativa cons-titua uma verdadeira comunidade cristã.

O sentido e o alcance da participação de cada um dos mem-bros da Comunidade Educativa nas decisões que afetam a condu-ção da Instituição Claretiana estão condicionados às responsabili-dades assumidas por cada um.

À Ação Educacional Claretiana, como entidade mantenedo-ra, cabe estabelecer as linhas pedagógicas e as características pró-prias da educação.

A Instituição Claretiana responsabiliza-se, perante a socieda-de, por este PROJETO EDUCATIVO e pela aplicação prática dos seusprincípios na atividade educativa.

Integrantes da comunidade:

Professores participam da Comunidade Educativa pela re-•

gência de aulas, pelas reuniões de colegiado, pela orien-tação de trabalhos científicos etc.

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Os alunos, que são o centro da atenção educativa, par-•

ticipam da Comunidade como representantes de classe,nas reuniões pedagógicas e junto à Direção, quando ne-cessário.

Os funcionários participam do processo educativo por•

meio de suas atividades técnico-profissionais, em umaestrutura essencial para a realização do PROJETO EDUCA-TIVO.

Os pais devem estar presentes no processo educativo,•

fazendo de seus lares a primeira escola de virtudes, queprepara seus filhos para o relacionamento com os ho-mens e com Deus.

Eles devem, também, acompanhar seus fi-•lhos nos estudos e nas atividades escolares ao lon-go do ano letivo, comparecendo às reuniões sempreque convocados pela Direção.

Além desses canais oficiais de participação, existe a possibi-lidade de contato espontâneo com os responsáveis pela Institui-ção.

Bibliografia

Bibliografia Claretiana

CABRÉ, Agustín. Evangelizador de dos Mundos. Barcelona: Editorial Claret, 1983.CLARET,A. M. Santo AUTOBIOGRAFIA. Santo Antônio Maria Claret por ele mesmo. Tradução deElias .ução: Leite Elias. São Paulo, Editora : Ave-Maria, 2004.

CODINACHS, P. Pobre e a pie. Barcelona: Claret, 1999.

GÓMEZ, J. Á. Claves para leer la historia de la congregación. Madrid: Claretianas, 2001.

GÓMEZ ÁLVAREZ, Jesús. Claves para Leer la Historia de la Congregación. Madrid:Publicaciones Claretianas, 2001.

MAZULA, Ronaldo. (Oorg.). História da cCongregação dos mMissionários cClaretianos.São Paulo: Editora Ave-Maria, 1999.

RUFATT, A. C. Evangelizador de dos mundos. Barcelona: Claret, 1983.

SANZ, Vicente. Huellas de Claret. Madrid: Lecar Impresiones, 1997.

VERDAGUER CODINACHS, Pere. Pobre e a Pie. Barcelona: Editorial Claret, 1999.

VILLANOVA, Juan. Vida de Antônio Maria Claret . São Paulo: Editora Ave-Maria, 1999.

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Bibliografia Geral 

BOCOS, Aquilino. Preparando nuestros colégios para el futuro. Vida Religiosa, v.ol. 87,n. 5, 1999.

BRANDÃO, Euro. Universidade e tTranscendência. Curitiba: Ed. Champagnat, 1996.

CNBB – CONFERÊNCIA NACIONAL DOS BISPOS DO BRASIL. Doc. 64. Diretrizes e nNormas para as uUniversidades cCatólicas. São Paulo: Paulinas, 20020.

 ______. Doc. 64. Diretrizes e nNormas para as uUniversidade cCatólicas. Saõão Paulo:Paulinas, 20020.

 ______. Educação: eExigências cristãs. São Paulo: EP, 1990.

DIENELT, Karl. Antropologia pPedagógica. Madrid: Aguilar, 1980.

ESCALONA, Iara . López. Antropologia e eEducação. São Paulo: Paulinas, 1983.FABRE, M. F. (Rrel.latora). Pastoral das uUniversidades. Educação Integral e Universidadeem Pastoral. Abesc, Brasíllia: Abesc,2001.

FRANKL, Víctor . E. Psicoterapia e sentido da vida. São Paulo: Quadrante, 2003.

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HOZ, Victor V. Garcia.Educación pPersonalizada. Bogotá: Grupo Editor Quinto Centenario,S.A., 1988.

JOÃO PAULO II.Ex corde eEcclesiae. Universidades Católicas. São Paulo: : Edições Paulinas,1999.

LIMA, S. A. Caminhos nNovos na eEducação. São Paulo: FTD, 1995.MOURA, L. D. A eEducação Ccatólica no Brasil . São Paulo: Loyola, 2000.

STEIN, G. B.  A eEducação nos dDocumentos da Igreja Católica Apostólica Romana.Brasília: Ed. Universa, 2001.

VANNUCCHI, Aldo. A uUniversidade cComunitária. São Paulo: Loyola, 2004.

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Anexo 1UM SENTIDO PARA A VIDA

Palestra realizada em 20 de novembro de 1997 na Federa-ção do Comércio do Estado de São Paulo, onde Frei Betto, um dosmaiores teólogos e intelectuais brasileiros, fala do papel da ciên-cia, da educação e da religiosidade no mundo moderno.

Minha intenção é falar sobre o momento que estamos viven-do, momento confuso em termos de perspectiva do futuro. A pri-meira evocação que faço é da pintura de Michelangelo na CapelaSistina, “A criação de Adão”, em que a figura de Deus, recoberto demantos e com a barba longa, estende o dedo para Adão. Ao mesmotempo em que Adão, como símbolo da humanidade, é atraído emdireção à Terra, ele estende o dedo na direção do Criador, espéciede premonição nostálgica de que é preciso não perder o contatocom a fonte, com a raiz, que é Deus. Michelangelo foi genial, por-que é muito difícil compreender o momento em que se vive. É fácilanalisar os momentos depois que eles passaram. O artista, comsua intuição, com seu talento, tem o dom de captar o momento,que depois a epistemologia e a filosofia tentam explicar.

O que acontecia naquele momento da “descoberta” da Amé-rica, da “descoberta” do Brasil? A passagem. Diria que não estamosvivendo uma época de mudanças. Estamos vivendo, hoje, umamudança de época. A última mudança de época foi justamente na“descoberta” da América, quando o Ocidente passou do períodomedieval para o moderno. A pintura de Michelangelo expressa,

com genialidade, essa chegada de um tempo em que o conheci-mento, a epistemologia, se desloca de uma perspectiva teocên-trica para uma perspectiva antropocêntrica. A rainha das ciências,durante mil anos, no período medieval, foi a teologia. A rainha dasciências, da modernidade é a física. O período medieval se base-ava na fé; o moderno, na razão. O período medieval se baseava

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na contemplação das verdades reveladas; o moderno, na buscada compreensão da mecânica deste mundo e no pragmatismo, natransformação deste mundo.

Quando os camponeses medievais preparavam o campo, as-pergiam água benta e ainda pagavam aos padres pela água com-prada. Até que apareceu um sujeito, que não era cristão, com umpozinho preto, dizendo: “Ponham isso na terra, e irão produzirmais do que com a água benta dos padres”. De fato, o adubo re-sultou numa produtividade muito maior do que a água benta. Isso

criou uma crise de fé no fim da Idade Média. Por quê? Porque a fémedieval, como muitas vezes a nossa fé hoje, é uma fé sociológi-ca, que tem como anteparo nossa compreensão do mundo. Umavez que essa compreensão é mudada, a fé desaba. Aliás, muitasvezes passamos por crises espirituais que, na verdade, não deve-riam ser entendidas assim, mas como crises de cosmovisões ou demundividências que sustentam nossa maneira de compreender aexperiência da fé.

Descartes e Newton

A modernidade aparece, primeiro, com o grande movimentoda globalização que foram as navegações ibéricas. Falamos hoje emglobalização como se fosse novidade. Mas, na Escola de Sagres, jáse falava em globalização, com outras palavras. E tanto globaliza-ram que conseguiram abarcar outras regiões do planeta, emboraColombo tenha morrido sem saber que havia chegado à América.Morreu convencido de que tinha alcançado Cipango, nome quese dava ao Japão. As descobertas marítimas, a criação das univer-sidades, principalmente da Sorbonne, que é do século 12, e da

Universidade de Bolonha, e as corporações marítimas, que são asmatrizes dos sindicatos, foram três fatores que, de certa forma,prepararam o advento da modernidade. Todos nós somos filhosda modernidade. Nossa estrutura de pensamento é moderna, masnem sempre foi assim, e nem em toda parte do mundo é assim.

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Qual é a característica da modernidade? São duas pernas: afilosofia de René Descartes e a física de Isaac Newton. Descartes,com o “Penso, logo existo”, mostrou que a razão é capaz de deci-frar os enigmas do conhecimento. Já contemporaneamente a ele,ou um pouco antes, um acontecimento marcou decisivamente aintrodução da visão moderna: a astronomia de Nicolau Copérnico,depois complementada por Galileu Galilei. Copérnico fez algo derevolucionário, a ponto de hoje se falar de revolução copernicana,porque até então as pessoas olhavam o mundo com os pés na Ter-

ra. Copérnico fez o inverso: como será a Terra se eu me imaginarcom os pés no Sol? A partir dessa mudança, ele teve uma com-preensão completamente diferente do universo, mas só ousoupartilhá-la em seu leito de morte, com medo da Inquisição. Depoisveio Galileu e acabou com a idéia de que a ciência é baseada nosenso comum. Detalhe: o que Galileu constatou cientificamenteno século 17, Eratóstenes já havia comprovado na Grécia, três sé-culos antes de Cristo. Eratóstenes, astrônomo grego, afirmava quea Terra é redonda e gira. Ele teve o cuidado de colocar estacasentre duas cidades e medir a incidência do Sol sobre essas estacas,

constatando que a sombra que o Sol projetava comprovava que aTerra era redonda e gira. Mas Eratóstenes não tinha lobby suficien-te para fazer prevalecer sua opinião. O mais fantástico é que ousoumedir a cintura da Terra, e chegou à conclusão de que ela tinha 39mil quilômetros. No século 20, a ciência constatou que são 40.008quilômetros.

A idéia de que vivemos num planeta, que não é o centro douniverso, foi extremamente desconfortável para a Igreja, primeiroporque, na Bíblia, consta que Josué parou o Sol. Se a palavra deDeus afirma que Josué parou o Sol, como um cientista ousa afir-mar que não é o Sol que gira, mas é a Terra que gira em torno doseu próprio eixo e em torno do Sol? E depois, diziam a Galileu, oSol nasce no leste, passa sobre nossas cabeças, desce no oeste,durante a noite caminha por baixo da Terra e, de repente, renascenovamente no leste. É ele que gira. A grande revolução que intro-

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duz a modernidade foi provar que a ciência não é o que parece,mas o que se comprova pela experiência e pela pesquisa.

Descartes levou isso ao plano filosófico. Ele tanto influencioua modernidade que ainda hoje nossa ciência e nossa chave de co-nhecimento são profundamente cartesianas. O exemplo mais ób-vio é a medicina. Você vai ao médico, tem um problema cardíacoe ele receita um remédio muito bom para o coração. O resultadoé o aparecimento de um pequeno problema colateral no intesti-no, mas para o coração o medicamento é ótimo. Se o problema

é intestino, você toma um outro remédio, que vai provocar umapequena insônia, mas não se preocupe. Ou vai ao médico do es-pírito, o terapeuta, o psicanalista, e alguns nem sequer lhe esten-dem a mão porque não pode haver contato físico. Mas o médicodo corpo, que manda fazer uma série de exames, nem sempre temo cuidado de perguntar sobre sua história familiar, seus hábitos,como é o seu cotidiano, o que você come. Ou seja, a cultura mo-derna é tão cartesiana, tão fragmentada, sem percepção do todo,que não temos, como na China e no Tibete de antigamente, o mé-dico da pessoa, nós temos o médico do detalhe. Na China antigavocê pagava o médico enquanto tinha saúde. Ficando doente, eletinha que tratá-lo de graça, porque a responsabilidade do médicoé assegurar sua saúde. Nós pagamos o médico quando ficamosdoentes. Então ele não se sente propriamente responsável pelapreservação de minha saúde.

A segunda perna da modernidade é a física de Newton, queimaginou o universo como um grande relógio, sendo Deus o relo-

 joeiro. Como os nossos relógios, o universo possui uma mecânicainterna. No meu relógio os ponteiros coincidem com o movimento

do tempo pela razão dessa mecânica interna. Não preciso dar cor-da a cada minuto no meu relógio, nem preciso mover com o dedoos ponteiros para que haja essa coincidência. Então Newton con-cluiu que o universo também possui leis endógenas: quanto maisconseguimos decompor as coisas em seus mecanismos internos,melhor vamos conhecer essas coisas. Resultado: toda a ciência da

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modernidade é uma ciência da decantação, da decomposição, dafragmentação. Ninguém escapa disso. A física se tornou a rainhadas ciências porque conseguiu provar que os fenômenos não acon-tecem por acaso, mas possuem leis. Podemos não entender essasleis. Os índios pueblos, no México, acreditavam, antes da chegadade Colombo, que o Sol nascia graças aos ritos que eles promoviamtodas as madrugadas. Acredito que os índios pueblos nunca te-nham se arriscado a dormir até mais tarde, com medo de o univer-so ficar escuro. Newton acharia graça nessa história, porque ele

dizia: “Independentemente da minha vontade, o Sol vai nascer to-dos os dias, pelo fenômeno da rotação da Terra”. No fim do século17, um astrônomo inglês chamado Edmund Halley viu um cometacruzar os céus de Londres e passou a noite debruçado sobre suaescrivaninha fazendo cálculos. No dia seguinte, reuniu a comuni-dade científica e previu: “Dentro de 77 anos, aquele cometa, queontem à noite atravessou os céus de Londres, voltará a passar”.Muitos acharam que Halley tinha ficado louco: como alguém, semnenhum instrumento capaz de captar o movimento dos astros, fe-chado em sua casa, pode afirmar, com tamanha segurança, que

aquele astro brilhante vai voltar exatamente dentro de 77 anos?Mas a comunidade científica o levou a sério e, efetivamente, em1759, 77 anos depois (Halley já tinha morrido), o cometa que levahoje seu nome atravessou de novo os céus de Londres. Foi a gló-ria da razão. Ou seja, se a razão é capaz de prever com tamanhaexatidão o movimento dos astros, é capaz de reequacionar todosos problemas humanos. Aí vem o Iluminismo para dizer: o que nãoé racional não é real. A religião, então, passou a escanteio total,como pura superstição.

A natureza somos nós

A modernidade se construiu com a supervalorização da ra-zão, com a capacidade de transformar o todo nas suas partes. Mas,muitas vezes, vendo as árvores sem perceber a floresta. E, no fimde cinco séculos de modernidade, qual é o saldo que temos? La-

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mentavelmente, não é dos mais positivos. É por isso que se falaem crise da modernidade. Primeiro, graças ao avanço da ciênciae da tecnologia, temos hoje capacidade bélica para destruir o pla-neta pelo menos 30 vezes e não chegamos à capacidade humanade salvá-lo uma vez. Lamentavelmente, temos hoje 5,8 bilhões depessoas no planeta, das quais cerca de 2 bilhões vivem abaixo dalinha da pobreza. Esse é um primeiro fenômeno.

Segundo a FAO (Food and Agricultural Organization), temosprodução de alimentos suficiente para 10 bilhões de pessoas e,

conforme a própria FAO, o Brasil é um país privilegiado porque éo único que tem potencial para colher três safras por ano. Com di-mensões continentais, não é afetado por nenhuma catástrofe na-tural. Não tem vulcão, não tem deserto, não tem terremoto, nãotem furacão, não tem geleiras, não tem zonas inabitáveis, como aChina, que é apenas 1 milhão de quilômetros quadrados maior doque o Brasil, mas é habitável só em 16% do território.

Outro fenômeno: não superamos os conflitos regionais in-ternacionais. Ainda somos uma humanidade guerreira. E há tam-

bém o fenômeno da destruição do meio ambiente. A razão instru-mental, característica da modernidade, fez com que, ao usarmos anatureza, nós a destruíssemos. Só que a natureza se vinga. Não éque a natureza se vinga porque está raivosa, mas porque não há,ao contrário do que supunha a modernidade, diferença entre nóse a natureza. Nós somos seres da e na natureza, fazemos a nature-za, fazemos a nós e ao nosso próprio corpo. E agora começamos asentir os reflexos disso.

Mais: a modernidade está em crise porque as quatro gran-des instituições, nas quais ela se apoiou, estão em crise: família,

Igreja, escola e Estado. Sabemos que os modelos antigos não estãovigorando mais. Alguns, numa atitude saudosista, querem aindamanter ou trazer à atualidade aquilo que foi bom no passado. Nãoé fácil, porque há novos paradigmas sendo forjados nisso que hojeos filósofos já chamam de pós-modernidade.

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A crise da família é a crise das relações de gênero – ou seja,uma vez que o patriarcalismo começa a fracassar, a emancipaçãofeminina se afirma e novos papéis sexuais, como o dos homosse-xuais, se desclandestinizam. Isso nos obriga a encarar a questão dafamília e das relações de gênero por uma outra ótica. Segundo, aIgreja. As igrejas históricas contavam com o anteparo do consensosocial. Isso não acontece mais. Vivemos numa sociedade pluralista,uma sociedade onde as crenças são tão variadas quanto possívele não têm mais força para se impor como uma espécie de teologia

com anteparo estatal, como aconteceu no período medieval oumesmo na ascensão dos Estados modernos na Europa, que sus-tentaram o protestantismo. Martinho Lutero só não foi parar nafogueira da Inquisição graças aos príncipes europeus, que estavaminteressados em romper com a tutela do Vaticano. E os Estadoseuropeus só adquiriram autonomia porque buscaram legitimaçãoreligiosa no protestantismo nascente. Tivesse o papa asseguradosua hegemonia, Lutero teria ido para a Inquisição, como os albi-genses e tantos outros. A hegemonia católica sobre a Europa teriase mantido, e possivelmente o protestantismo, pelo menos naque-

le momento, não teria se expandido com a força que teve.

Hoje, essa crise é provocada pelo fenômeno da globalização,que faz com que o mundo se transforme numa pequena aldeia, detal maneira que as várias modalidades de crenças religiosas pos-sam ser intimamente conhecidas por povos entre os quais elas nãotêm raiz, como é o caso do budismo ou do islamismo.

Massa disforme

A escola está em crise, porque nada é mais cartesiano e

newtoniano do que a escola. Se os paradigmas da modernidadeentram em crise, a escola também entra em crise. E por que a es-cola entra em crise? São Tomás de Aquino tem uma frase de quegosto muito: “A razão é a imperfeição da inteligência”. Ou seja, ainteligência vem de intus leggere (ser capaz de ler dentro). Há pes-

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soas analfabetas que são sumamente inteligentes. Inteligir umasituação não depende propriamente de cultura, depende de sen-sibilidade, de intuição, daquilo que a Bíblia chama de sabedoria.E hoje constatamos que a escola nos torna cultos, mas não nostorna necessariamente inteligentes. Passei 22 anos nos bancosescolares, e a escola nunca tratou dos temas limites da vida, nun-ca falou de experiências pelas quais passamos, se não por todas,pelo menos pela maioria, nunca falou de doença, nunca falou defracasso, nunca falou de ruptura de laços afetivos, nunca falou de

dor, nunca falou de morte, nunca falou de sexualidade e, se fa-lou de religião, não falou de espiritualidade. Ou seja, temos umaescola tipicamente cartesiana, barroca. É como aqueles anjos dasigrejas de Minas Gerais e da Bahia, que só têm cabeça, o resto éuma massa disforme. Nossa escola cartesiana acha que devemossaber como são os conceitos da física, mas saímos da escola semsaber consertar automóvel, televisão, geladeira, pregar um botãona camisa, cozinhar um ovo, fazer café. Não somos preparadospara prestar primeiros socorros, para fazer coisas absolutamentetriviais do nosso cotidiano, porque a escola separa a cabeça das

mãos, não nos abarca na totalidade, na formação do ser como talpara a vida. Ela dá instrumentos de compreensão e modificaçãoda natureza, que constituem a cultura, mas não propriamente deuma interação com a natureza.

Por fim, o Estado. O Estado hoje, devido à globalização e aopapel que os grandes conglomerados empresariais desempenhamno mundo, é parceiro de um projeto de desenvolvimento, mas nãoé mais o fator determinante desse projeto. A transnacionalizaçãoda economia rompe com as fronteiras nacionais, questiona o con-ceito de soberania e traz um momento de crise. Isso porque a glo-balização é inevitável, os meios de comunicação transformaram omundo numa pequena aldeia. Minha avó, em São João Del Rei, viapela janela de sua casa o mundo se transformar a cada dez ou 15anos. Hoje, a janela pela qual vemos as mudanças do mundo é atelinha da televisão. Se para a minha avó as mudanças levavam dez

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anos, para nós elas acontecem em dez segundos. Essa aceleraçãodas mutações mexe profundamente com nossos valores tradicio-nais e tem reflexos sérios do ponto de vista dos paradigmas damodernidade.

Quais são os setores mais atingidos por essa crise? Na mo-dernidade, falava-se em desenvolvimento. Encíclicas papais e po-líticos falavam disso. O conceito de desenvolvimento tem uma di-mensão ética. Hoje a palavra é modernização, cujo conceito temuma dimensão mais tecnológica, no qual nem sempre se inclui o

bem-estar de todos, como no conceito de desenvolvimento. Aliás, já não existem projetos de países ricos para o desenvolvimento deáreas pobres do mundo. Falávamos em produção. Hoje falamosem especulação. O mundo virou um cassino global (está aí a cri-se das Bolsas), em que dinheiro rende dinheiro. Há mais dinheirovirtual do que real. Falávamos em trabalho; o trabalho era, na mo-dernidade, o fator de identificação do ser humano. Hoje, fala-sede mercado, quem está e quem não está no mercado. A Bíblia, lidapor certa ótica, diz que o trabalho é um castigo: “Comerás o pãocom o suor do teu rosto”. Viviane Forrester, em Horror econômico,lembra que, hoje, o trabalho é uma bênção: “Feliz de quem temum trabalho”.

Minha geração deve ter sido a última que teve o luxo de tervocação. A gente chegava aos 15 anos perguntando: “Qual será aminha vocação?” É muito difícil achar um jovem, hoje, que este-

 ja terminando o curso colegial e fale em vocação, tenha idéia dequal é a sua vocação. Trabalho na Pastoral Operária. Há dez anos,via muitos operários dizerem: “Eu tenho profissão”. No meio ope-rário há uma diferença entre aquele que tem profissão e o que

não tem. Hoje, profissão também está ficando um luxo. A questãoé a seguinte: como faço para ter um emprego? Antônio Ermíriode Moraes, certo dia, disse na televisão: a empresa dele tinha, hádez anos, 62 mil funcionários, hoje tem 40 mil. Quando chegueia São Bernardo do Campo (SP), em 1980, a Volkswagen tinha 45mil funcionários e fabricava 750 veículos por dia. Hoje produz 1,25

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mil diariamente, com 25 mil funcionários. A Benetton inaugurouem Milão, na Itália, uma máquina de confecção automatizada e,no dia seguinte, despediu 3 mil funcionários. Estamos vivendo umprocesso angustiante de avanço tecnológico sem uma reflexão,não digo nem política, porque a questão é muito mais ampla, umareflexão sobre a questão do trabalho, do emprego, das condiçõessociais geradas pela globalização. Eu faria até um paralelo: é comoquerer ganhar a guerra. Você pode ganhar a guerra com a bombaatômica, como afinal se ganhou a Segunda Guerra em Hiroshima

e Nagasaki. O custo humano, porém, é muito grande. Será que elenão pode ser evitado? Será que não podemos ganhar a guerra dodesenvolvimento tecnológico e científico com menos custo paraas pessoas?

Educação televisiva

Falávamos em bem comum. Essa expressão está sumindo atédos documentos da Igreja. Hoje, falamos em tecnologia de ponta.Falávamos em nação, hoje falamos em globalização. Falávamos emcultura. Hoje, de tal maneira os veículos de cultura estão atreladosà publicidade que estamos tendo menos cultura e mais entrete-nimento. A sensação que tenho, depois de passar uma semanavendo a televisão brasileira, é de ter ficado mais pobre espiritual-mente, sobretudo no domingo, que é o dia nacional da imbeciliza-ção geral. Na segunda-feira, a gente tem ressaca moral, precisa deum tempo para se refazer, depois de ver o ser humano sendo tãodegradado, ridicularizado e ainda com um toque de humor.

Vivemos uma esquizofrenia social. De um lado, queremosdefender os nossos valores religiosos, morais etc., e, de outro, te-

mos, dentro de casa, uma pessoa da família, eletrônica – a telinha –, que não foi convidada, não pede licença, não dialoga e nos im-põe valores que nem sempre conferem com os nossos. É a históriada minha cunhada, que me disse: “Betto, fui aluna de colégio defreira, por isso paguei muitos anos de análise para me livrar daidéia de que tudo é pecado. Espero que meus filhos, quando adul-

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tos, escolham se querem ou não ter uma religião, mas não preten-do ensinar-lhes nenhuma religião”. Eu lhe disse: “Você, como mãe,tem todo o direito de fazer essa opção. Mas, como pessoa, nãotem o direito de ser ingênua. Ou você educa ou a Xuxa educa. Nãopense que existe neutralidade. Se você não educar, a televisão vaiensinar a seus filhos o que é bem, o que é mal, o que é certo, o queé errado, o que é justo, o que é injusto”. É uma questão de opção.

Falávamos em valores, hoje falamos de sucesso. E introduzi-mos cada vez mais na linguagem e na prática a idéia da competiti-

vidade. Às vezes, faço treinamento de recursos humanos em em-presas, e os treinamentos são interessantes porque não se trata defazer palestras, trata-se de captar o pano de fundo da cultura daempresa. Um dos detalhes mais interessantes é o seguinte: os fun-cionários de uma mesma empresa praticam entre si a competitivi-dade. A idéia da competição com outras empresas é internalizadade tal maneira, que a coisa emperra porque a competitividade estálá dentro, onde deveria haver cooperação. A competitividade vaientrando de tal forma que as pessoas já não sabem estabelecerum nível mínimo de cooperação.

Falávamos de realidade, hoje falamos de virtualidade. A re-alidade virtual é positiva, do ponto de vista da interação no pla-neta, que se transforma numa pequena aldeia, mas perigosa doponto de vista da abstração dos valores. Em outras palavras, domeu quarto no convento no bairro das Perdizes, em São Paulo,posso ter um amigo íntimo em Tóquio, mas não quero nem sa-ber o nome do vizinho de porta. Então sou um amigo virtual. Háaté o sexo virtual, por computador, que está trazendo um proble-ma para a teologia moral: o adultério virtual. Sofremos o risco de

entrar numa concepção de virtualidade que nos leva a falar emcidadania e continuar jogando lata de refrigerante e cerveja pela

 janela do carro, invadindo a faixa de pedestre etc. Vamos criandotoda uma linguagem que é virtual e não tem incidência no real. Navida real, ficamos cada vez mais agressivos, mais violentos, maiscompetitivos.

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Falávamos em história. Esse é outro fator da crise da moder-nidade: estamos perdendo a idéia do tempo como história. Daía dificuldade das novas gerações de construir um projeto. Nossageração foi educada pela literatura e não pela televisão. Somos aúltima geração literária da humanidade. O que isso muda? Quemfoi educado pela literatura percebe o tempo como passado, pre-sente e futuro, como projeto. A televisão rompe a historicidade dotempo e introduz a circularidade. Ao mesmo tempo que vejo nametade da tela Ayrton Senna vivo, na outra metade vejo-o morto.

Então, na cabeça das novas gerações não há história. Daí a dificul-dade de seu filho ou de seu neto fazerem projeto. A geração delesé tudo “aqui e agora”. Por que hoje não se fala em QI, mas em inte-ligência emocional? Porque muitas empresas constatam que seusexecutivos, do ponto de vista do QI, são geniais, mas são garotões,emocionalmente infantilizados, e isso afeta profundamente suarelação com as pessoas, na medida em que hoje há um processode perenização da juventude, o que é saudável de um lado e peri-goso de outro.

As pessoas malham muito o corpo, mas esquecem de malharo espírito. Não tenho nada contra o fato de malhar o corpo. Mi-nha preocupação é a seguinte: como é que se malha o espírito? Acidade de Ribeirão Preto (SP), em 1960, tinha seis livrarias e duasacademias de ginástica; hoje tem 60 academias de ginástica e seislivrarias. Como se resolve isso?

Por fim, estamos perdendo, na crise da modernidade, a idéiada contextualidade das coisas, ou seja, que tudo está relacionadocom tudo – que é o novo paradigma holístico. Não há eu de umlado e a natureza de outro. Todos somos frutos da evolução do

universo. Cada um de nós tem 15 bilhões de anos. Foram preci-sos 15 bilhões de anos de evolução para que o universo um dia sesingularizasse na sua pessoa. Enquanto não existíamos, enquantonão existia o ser humano (a menos que haja vida inteligente emoutro planeta. Até acredito que sim, mas tendo captado nossastransmissões de TV eles chegaram à conclusão de que na Terra não

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há vida inteligente, e, então, não convém se aproximar, não vale apena o esforço), o universo era cego, não sabia que era belo. Entãoo universo criou a nós, que somos seus olhos e sua mente. Atra-vés de nós o universo sabe que é belo e, por isso, o chamamos decosmo, que tem a mesma raiz grega da palavra “cosmético”, aquiloque traz beleza.

Um sentido para a vida

Esse paradigma holístico que a pós-modernidade procurareatar – os gregos de certa maneira tinham isso – vai nos dando adimensão de que, na natureza, há mais cooperação do que segre-gação, do que seleção, como o neodarwinismo tanto defende. E nasociedade também esse processo de cooperação deve prevalecersobre a competição.

A holística, hoje, nasce da emergência do fenômeno ecológi-co, mas se estende para o campo social e filosófico. Dentro disso,há uma percepção das pessoas a respeito dos limites da razão e háum certo cansaço do racionalismo. Isso leva a um fenômeno novo,

que é a emergência da espiritualidade. Hoje, em qualquer livrariade qualquer país, a literatura religiosa, esotérica e espiritualistatem uma grande aceitação. Isso significa que as pessoas estão fi-cando mais religiosas? Não necessariamente. É que as pessoas es-tão ficando saturadas de tanto racionalismo. Elas estão buscandoalgo que o consumismo não oferece, um sentido para a vida. Ouseja, não posso encontrar o sentido para minha vida no automóvelnovo que comprei ou na lata de cerveja que bebo. E a modernida-de, com o excessivo racionalismo e o processo de secularização, foiclandestinizando a questão do sentido: por que vivo, qual a razão

desta minha única experiência de ser no mundo, neste breve espa-ço dos meus anos de vida? A sede de sentido é que explica a buscadesenfreada de religiosidade. Somos o único ser aberto à trans-cendência, o único ser que tem fome de Deus. Um cavalo está nasua plenitude eqüina; uma samambaia, no canto da sala, deve nosolhar com muita pena, dizendo: “Coitados, ainda têm que traba-

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lhar, viver emoções atribuladas. Eu estou aqui na minha plenitudevegetal, preciso apenas de um pouco de água e sol”.

É aí que entra o desafio que se apresenta para nós hoje:como resgatar a espiritualidade? Quando falo em espiritualida-de, falo em algo que vai além das religiões institucionais. Estoufalando em como resgatar a subjetividade humana, como resga-tar os valores da subjetividade, como voltar a uma cultura ondeo trabalho, o pragmatismo ceda lugar à contemplação, à reflexão,à sabedoria, ao aprofundamento dos valores. Como restabelecer

vínculos humanos que estão se perdendo com a aceleração da tec-nologia? Às vezes brinco dizendo que sonho escrever uma peça deteatro sobre uma família que vive numa casa no campo, onde oacesso à cidade mais próxima não é fácil. De repente, a luz acabanessa casa e, por uma semana, ninguém pode ver televisão. O queaconteceria nessa família obrigada pela circunstância a dialogarentre si? É capaz de o pai falar para a filha: “Mas, moça, como éque você se chama mesmo?” Enfim, isso para mostrar que há umasede de recuperação desses valores. Se não abrirmos esses espa-ços, corremos o risco de tê-los como núcleos fundamentalistas deretrocesso. Quando as coisas não encontram espaço na cidade, na

 polis, elas surgem, como contestação, de uma maneira fundamen-talista, sectária, perigosa (disponível em: <http://www.miniweb.com.br/cidadania/Temas_Transversais/sentido_vida.htm>. Acessoem: 12 ago. 2010).

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ANEXO 2EU ETIQUETA

Carlos Drummond de AndradeEm minha calça está grudado um nome

Que não é meu de batismo ou de cartório

Um nome... estranho.

Meu blusão traz lembrete de bebida

Que jamais pus na boca, nessa vida,

Em minha camiseta, a marca de cigarro

Que não fumo, até hoje não fumei.

Minhas meias falam de produtos

Que nunca experimentei

Mas são comunicados a meus pés.

Meu tênis é proclama colorido

De alguma coisa não provada

Por este provador de longa idade.

Meu lenço, meu relógio, meu chaveiro,Minha gravata e cinto e escova e pente,

Meu copo, minha xícara,

Minha toalha de banho e sabonete,

Meu isso, meu aquilo.

Desde a cabeça ao bico dos sapatos,

São mensagens,

Letras falantes,

Gritos visuais,

Ordens de uso, abuso, reincidências.

Costume, hábito, permência,

Indispensabilidade,E fazem de mim homem-anúncio itinerante,

Escravo da matéria anunciada.

Estou, estou na moda.

É duro andar na moda, ainda que a moda

Seja negar minha identidade,

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Trocá-la por mil, açambarcando

Todas as marcas registradas,

Todos os logotipos do mercado.

Com que inocência demito-me de ser

Eu que antes era e me sabia

Tão diverso de outros, tão mim mesmo,

Ser pensante sentinte e solitário

Com outros seres diversos e conscientes

De sua humana, invencível condição.

Agora sou anúncio

Ora vulgar ora bizarro.Em língua nacional ou em qualquer língua

(Qualquer principalmente.)

E nisto me comparo, tiro glória

De minha anulação.

Não sou – vê lá – anúncio contratado.

Eu é que mimosamente pago

Para anunciar, para vender

Em bares festas praias pérgulas piscinas,

E bem à vista exibo esta etiqueta

Global no corpo que desiste

De ser veste e sandália de uma essência

Tão viva, independente,

Que moda ou suborno algum a compromete.

Onde terei jogado fora

Meu gosto e capacidade de escolher,

Minhas idiossincrasias tão pessoais,

Tão minhas que no rosto se espelhavam

E cada gesto, cada olhar

Cada vinco da roupa

Sou gravado de forma universal,

Saio da estamparia, não de casa,Da vitrine me tiram, recolocam,

Objeto pulsante mas objeto

Que se oferece como signo dos outros

Objetos estáticos, tarifados.

Por me ostentar assim, tão orgulhoso

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De ser não eu, mas artigo industrial,

Peço que meu nome retifiquem.

Já não me convém o título de homem.

Meu nome novo é Coisa.

Eu sou a Coisa, coisamente.

Fonte: disponível em: <http://www.pensador.info/frase/MjAyODM0/>. Acesso em: 9 ago. 2010.

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