Upload
lamhanh
View
219
Download
0
Embed Size (px)
Citation preview
FACULDADES DE ENSINO SUPERIOR DA PARAÍBA - FESP
BACHARELADO EM DIREITO
ZALMA POLLYANA DANTAS BATISTA
A REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL
E O CONTROLE EXTERNO
JOÃO PESSOA
2013
ZALMA POLLYANA DANTAS BATISTA
A REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL
E O CONTROLE EXTERNO
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado
ao Curso de graduação em Direito, da
Faculdade de Ensino Superior da Paraíba,
como requisito parcial para a obtenção do
título de Bacharel.
Orientador: Prof. Ms Arnaldo Sobrinho
João Pessoa
2013
B333r Batista, Zalma Pollyana Dantas
A realidade do sistema prisional e o controle externo. / Zalma Pollyana Dantas Batista. João Pessoa, 2013.
24f. Artigo (Graduação em Direito) Faculdade de Ensino
Superior da Paraíba – FESP.
1. O sistema prisional brasileiro 2. Carandirú penitenciária de Sant‘Ana I. Título.
BC/FESP CDU:343.811(043)
ZALMA POLLYANA DANTAS BATISTA
A REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL
E O CONTROLE EXTERNO
Artigo Científico apresentado à Banca
Examinadora de Artigos Científicos da
Faculdade de Ensino Superior da Paraíba -
FESP, como exigência parcial para a obtenção
do grau de Bacharel em Direito.
Aprovada em ____/____/_____.
BANCA EXAMINADORA
_________________________________________________
Prof. Arnaldo Sobrinho
Orientador - Fesp Faculdades
________________________________________________
Professor Examinador
Fesp Faculdades
_________________________________________________
Professor Examinador
Fesp Faculdades
AGRADECIMENTOS
Agradeço primeiramente ao meu Deus todo poderoso que me permitiu
superar todos os obstáculos enfrentados ao longo dessa graduação acadêmica
sendo fiel em suas palavras que me dizem ―sei estar abatido e sei também ter
abundância; em toda a maneira e em todas as coisas, estou instruída; tanto a ter
fartura como a ter fome, tanto a ter abundância como a padecer necessidade‖
(Filipenses 4:12). ―Não temas, porque eu sou contigo; não te assombres porque eu
sou o teu Deus; eu te esforço, e te ajudo, e te sustento com a destra da minha
justiça.(Isaías 41:10)
Agradeço ao meu pai a quem devo todo o meu respeito e admiração Dr.
Roberto Ney que sempre me protegeu e me ensinou a conquistar os meus objetivos
por mérito próprio, me instruiu a seguir uma conduta reta baseada nos princípios
herdados pela minha amada avó e eterno exemplo Isaura Santos Batista.
Agradeço a minha querida mãe Zélia Maria que além de me gerar está
comigo dividindo todos os dias dessa minha jornada de vida, lutando ao meu lado
por cada sonho e comemorando cada nova conquista alcançada, devo muito mais
do que amor, devo gratidão.
Agradeço a minha irmã Charllene que sentou ao meu lado até o sexto período
desse curso e que permanece ao meu lado todos os dias dividindo mais do que
expectativas, partilhando assim uma vida.
Agradeço a Heberton meu noivo por todo o amor à mim dedicado e pela força
em acreditar em todos os momentos que essa vitória está em minhas mãos.
Agradeço aos meus irmãos Desiré‘e, Roberto Júnior e Roney por estarem
comigo dividindo um elo de amor que nos une.
Agradeço as minhas amigas e amigos, irmãs e irmãos escolhidos por
afinidade, tios e tias, primas, agradeço especialmente a todas as Igrejas que fizeram
orações pela minha vida e a todas as pessoas que crêem na palavra do Senhor e
que contribuiram para esse diploma ser possível.
Agradeço em especial aos Dr. André Nino, Dr. Cícero Lucena, Dra. Ana Lúcia
Araújo e ao Dr. Iran Alves Soares.
Agradeço ao meu professor e orientador nesse artigo cíentifico o professor
Arnaldo Sobrinho pela dedicação e empenho em me ensinar.
―E conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará‖. (João 8:32)
1
A REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL
E O CONTROLE EXTERNO
ZALMA POLLYANA DANTAS BATISTA 1
RESUMO
O presente documento pretende ressaltar a verdade sobre o funcionamento das penitenciárias, a superlotação, o déficit existente no sistema que é responsável por gerir as verbas públicas e administrar as unidades prisionais, a participação e a omissão do Estado com relação há alguns pontos polêmicos que surgem no tocante entre resocialização e falta de investimentos no sistema carcerário. Falta de oportunidades de trabalho dentro das unidades prisionais e falta de cursos profissionalizantes que capacitem os detentos e os prepare para uma nova fase da vida após cumprir uma pena em uma casa de detenção. O que é agregado de valores aos detentos em face a privação da liberdade. Objetivando fazer a sociedade pensar amplamente e traçar um paralelo entre a realidade existente e a realidade ideal pretendida de maneira que não se coloquem mais à margem de um problema e sim como parte da solução de muitos outros problemas que surgem como uma bola de neve crescente a partir da violência, do aumento da criminalidade, da reincidência de presos, da inversão da posição de cidadãos para pessoas que não tem condições de competir para conseguir um emprego por falta de profissionalização e de condições básicas de vida. Pensar e agir de modo pro ativo para proteger a integridade da pessoa humana assegurando todos os direitos aos quais a luz da constituição aparentemente já parece velar. Analisar a verdade, a desestruturação do sistema prisional traz à baila o descrédito da prevenção e da reabilitação do condenado.
Palavras chave: O sistema prisional brasileiro. Carandirú penitenciária de Sant‘Ana.
1 Bacharel em Direito pela Faculdade de Ensino Superior da Paraíba - FESP.
E-mail: [email protected]
2
1 INTRODUÇÃO
Esse tema trata-se de assunto abrangente e que nos inspira a debater e
discernir. O sistema prisional no Brasil engloba inúmeras esferas e atinge as mais
diferentes camadas sociais, de maneira direta ou indireta o indivíduo se depara com
essa instituição que é crescente e degradante para quem convive com ela ou a
acompanha através dos diversos noticiários.
O cenário econômico ao qual o sistema prisional está inserido pouco se
transforma o que nos faz perceber que não existem muitas iniciativas voltadas a
efetivar a grande transformação que esse ambiente precisa. A falta de investimentos
do poder público nos dá a sensação de total inércia frente a uma realidade de
subdesenvolvimento e condições indignas que são totalmente incapazes de
recuperar e resocializar uma pessoa que se encontra inserida na criminalidade.
Esse artigo não pretende ser um longo protesto ao governo e sim um
manifesto que faça a sociedade pensar em qual é a participação que ela tem no
quadro atual que está exposto de violência e expansão do número de encarcerados
no Brasil. O conteúdo desse documento deixará explícito de maneira clara, mesmo
que dura uma realidade que para muitos é apenas superficial, pois escutam; mas
desconhecem.
2 O SISTEMA
Quem vive a negligência com a saúde, educação, falta de empregos, falta de
condições dignas de moradia e de investimentos em qualidade de vida sabe que a
tendência natural é procurar alternativas fáceis que solucionem temporariamente a
falta do que comer, o não na tentativa do primeiro emprego por falta de experiência
ou treinamentos que profissionalizem, a dor insuportável de perder um parente em
filas de espera intermináveis em hospitais ouvindo os gemidos que os levam até a
morte. A linha da pobreza no Brasil para alguns vai além do insuportável e mexe
com o psiqué e com o emocional, tornando o ser humano descrente de qualquer
opção que possa conduzi-lo a ter o que é primordial para uma vida decente. Não há
uma formação doméstica religiosa, ética e equilibrada que possam estruturar o
caráter da criança em quanto ela se desenvolve, muito pelo contrário ela cresce
vendo cadáveres de vizinhos que são assassinados por envolvimento com o tráfico
3
de drogas, observam a maneira do adulto se comportar e o modo indiferente ao qual
eles permanecem diante de um quadro de morte. Alguns agem com naturalidade,
dizem; é só mais um e não escutam a sua própria voz diante das crianças que os
observam e certamente os copiam em tudo.
Seria cômodo responsabilizar apenas o governo e sobrepor a total
responsabilidade sobre ele porém, seria também uma absoluta inverdade. A
transformação é urgente e deveria se para o bem, mas como esperar o bem sem
praticá-lo? Como lutar por um direito que muitos não buscam por não se imaginar
na condição em que vive o próximo? Quem tem tudo o que é necessário para viver
nunca se dá ao trabalho de se dedicar a passar um dia cuidando de quem não tem o
mínimo para sequer existir. É terrível ver um desabrigado em um temporal se
cobrindo com jornais e depois saber nos noticiários que ele apenas mudou-se para
um endereço fixo situado em algum presídio, mas continua levando a chuva de
granizo por não ter janelas. Alguém já viu isso? Eu infelizmente sim!
A voracidade que o sistema devora uma pessoa é assustadora! Fatos
ocorrem todos os instantes, pais que não tem o que dar para os filhos comerem,
comunidades inteiras suportadas por palafitas com doenças infectocontagiosas que
fazem o índice de mortalidade bater recorde, êxodo rural por falta de água, animais
mortos, pessoas mortas, mudar para onde? Mudar para quê? Se transformar em
quê em uma cidade desconhecida que ao invés de trazer melhorias e proporcionar
novos valores descarta, desqualifica, trata o ser humano como um número de
referência para as pesquisas do censo, que de maneira alguma um bom senso tem!
Escrevo com a indignação frente à coisas importantes que cada vez mais
perdem a essência, o individual em tudo difere do social. A zona de conforto não
permite que atitudes pró ativas sejam generalizadas, pela lei da consciência quem é
bom deveria praticar um pouco do bem para edificar a vida de quem necessita; seja
confortando, ensinando, doando ou incessantemente lutando para melhorar a vida
dos que não tem conhecimento e por desconhecerem o que é certo não elevam a
voz.
A tríade igualdade, liberdade e fraternidade nos demonstram solidariedade e
o direito ao desenvolvimento e a paz visando proteger as partes hipo suficientes,
evitando que situações vexatórias firam o seu âmago. Como uma personalidade vai
se desenvolver em uma área degradante? É necessário ter uma mínima qualidade
de vida que proporcione equilíbrio a inteligência (QI), ao emocional (QE) e ao
4
espiritual (QS) para alicerçar uma formação de princípios que sejam coerentes com
a realidade almejada.
Hoje o que podemos visualizar são parâmetros de substituição de problemas
por diminuição de pedidos para cada problema; uma bolsa auxílio diferente para
cada um deles é criada. Para a educação bolsa escola (e nenhum investimento real
em melhorias de ensino e merenda escolar), para a falta de moradias (abrigos
noturnos temporários e retorno as ruas ao amanhecer), para à saúde; auxílio doença
(falta de leitos hospitalares, médicos e campanhas que possam diminuir a
propensão da população há algumas doenças), para o excesso de detentos,
(benefício para a família e valor exorbitante e irreal divulgado que é gasto por cada
detento em unidades prisionais).
Essa sinergia poderia ser proporcionada evitando o surgimento do problema
através da educação (com vasto acesso à informação), desde a infantil como
reeducando também os adultos com relação ao meio ambiente e a maneira de
educar as crianças afastando delas situações que estimulem à violência.
Comunidades com moradias dignas bem infraestruturadas, bom atendimento à
saúde e ensino profissional preparatório para inserir uma pessoa sem condições
financeiras no mercado de trabalho, isso seria o mínimo para que o príncipio da
prevenção não fosse violado. Poder aprender e ensinar, ter onde morar, saber fazer
algo que produza renda e com isso virá o alimento de cada dia e a dignidade
humana. Novos conceitos, novos valores agregados, crescimento e
sustentabilidade.
Por não saber que era impossível, foi lá e fez! (Charlie Chaplin)
3 A REALIDADE DO SISTEMA PRISIONAL E O CONTROLE EXTERNO
Vamos entrar agora no olho do furacão, onde jorram larvas de fogo cruzado
entre interesses versos poder, situações extremas entre oprimidos e opresores, que;
por vezes trocam de função diante de comportamentos inimagináveis. Relatos de
pessoas comuns que estão em lados opostos de dores profundas, sentimentos que
revoltam a mente e dilaceram a alma.
Procurei buscar o máximo de veracidade aos números através de pesquisas,
tentando atribuir precisão muito embora saibamos que eles crescem absurdamente.
Segundo o relatório elaborado pelo Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP)
5
feito entre fevereiro de 2012 e março de 2013 apontou que o Sistema Prisional
Brasileiro é composto atualmente por aproximadamente 448.969 detentos,
distribuídos em 1.598 unidades prisionais, ao todo eles têm capacidade para
302.422 pessoas mas possuem 146 mil detentos a mais do que a capacidade
permitiria. Sendo essas unidades prisionais repartidas em categorias de segurança
de acordo com o grau de periculosidade dos detentos sendo comum ou com os
nomes de média ou máxima.
Dos presídios verificados na pesquisa, 79% não separam detentos provisórios
de definitivos. A taxa das prisões que mantêm juntos presos primários de
reincidentes também é bastante alta cerca de 78% e 68% das unidades prisionais
não separam os detentos pela natureza do crime ou pela periculosidade do preso,
como deveria de fato ser feito.
Com relação as fugas os números são ainda mais surpreendentes pois, pelo
menos 20 mil detentos fugiram das prisões no período pesquisado pelo CNMP, e 3,7
mil foragidos foram recapturados pela polícia. Nos presídios foram registradas 769
mortes e 121 rebeliões.
Ficou óbvio que a falta de vagas é maior para homens o sistema tem
capacidade para 278.793 detentos mas a população presidiária masculina era de
aproximadamente 420.940 homens em março desse ano. Para as mulheres, há
23.629 vagas para 28.029 detentas ao longo de todo país. Em cerca de 40% dos
presídios, houve apreensões de drogas no período pesquisado. Quase metade das
prisões não tem cama para todos os detentos e quase de 25% não oferece colchões
para todos os internos. Esses dados foram fornecidos pelo relatório ―A Visão do
Ministério Público sobre o Sistema Prisional Brasileiro‖, através das vistorias feitas
por equipes do Ministério Público de cada Estado apresentando o documento
durante o IV Encontro Nacional do Sistema Prisional.
O descaso com a população carcerária vai além da superlotação, que por si
só já seria um absurdo! Existe um rol de doenças que se proliferam devido a essa
teia de aranha humana que não dispõe de uma higienização adequada, podemos
mencionar a tuberculose, doenças virais e infectocontagiosas de pele que iniciam na
prisão e vão ao longo de toda a vida com o indivíduo se colocando em latência ou se
manifestando por demasiadas vezes atingindo quadros graves como herpes
generalizada (pele, lábios, áreas genitais, estômago, garganta, olhos, entre outras).
6
Esse descaso encontra-se também na alimentação fornecida que em alguns
presídios é de péssima qualidade, chegando a conter larvas, objetos perfuro
cortantes e alimentos vencidos ou completamente estragados, essa alimentação
geralmente é fornecida em marmitex, que pelos presos são chamados de bandeco
por empresas terceirizadas que utilizam produtos de terceira linha para reduzir
custos além do que é cobrado ao Estado. Alguns presídios disponibilizam a cozinha
para ser utilizada pelos presos, esses administram melhor a alimentação distribuída
pois ; os presos cozinham para eles mesmos e para os demais companheiros o que
permite produzir alimentos novos e de boa qualidade para servir.
Em 14 de junho de 2012 foi divulgado um relatório da ONU que aponta maus
tratos em presídios dando ênfase a impunidade por atos de tortura que está
disseminada no Brasil. Essa entre outras afirmações feitas pelo Subcomitê de
Prevenção da Tortura (SPT) da Organização das Nações Unidas foi devido as
conclusões tiradas após a visita de oito membros do subcomitê aos estados de
Goiás, São Paulo, do Rio de Janeiro e do Espírito Santo de 19 a 30 de setembro de
2011. No relatório, o subcomitê manifesta preocupação com o fato de a atual
estrutura institucional no Brasil não proporcionar proteção suficiente contra a tortura
e os maus-tratos. Durante a visita, o subcomitê encontrou cadeias em condições
precárias, com número restrito de agentes. Além disso, foram relatados casos de
tortura, maus-tratos, corrupção e controle de milícias.
Um dos principais pontos destacados pelo documento diz respeito à falta de
médicos nas prisões. O subcomitê classificou como ―espantosas‖ as condições
materiais na maioria das unidades médicas, nas quais havia carência de
equipamentos e de remédios. ―A equipe médica era insuficiente e incluía detentos
não qualificados para prestar serviços. Por exemplo, em uma prisão visitada, o SPT
foi informado de que havia somente um médico presente, uma vez por semana, para
atender mais de 3 mil prisioneiros‖, afirma o relatório
Houve críticas, ainda, a falta de acesso de presos à Justiça. Por meio de
entrevistas com eles, o SPT descobriu que a assistência jurídica gratuita não era
disponibilizada a todos que dela necessitavam. Outro problema apontado pelo
subcomitê é que os juízes evitam a imposição de penas alternativas, mesmo para
réus primários. Além de mostrar problemas no sistema carcerário, o SPT faz
diversas recomendações ao país para melhorar as condições de vida dos presos.
Segundo o subcomitê, esta não é a primeira vez que recomendações são feitas ao
7
Brasil. ―Infelizmente, o SPT detectou muitos problemas semelhantes aos
identificados nas visitas anteriores, ainda que tenha havido progresso em algumas
áreas específicas.‖ Assim são públicos e notórios os problemas que permeiam o
sistema prisional.
Enquanto escrevia esse artigo me deparei com uma revista veja que tinha em
suas últimas páginas uma matéria intitulada ―descida ao inferno‖ o que
verdadeiramente me chamou a atenção então comecei a ler na fila do supermercado
e tratava-se de uma reportagem que gostaria muito de compartilhar aqui nesse
trabalho de conclusão de curso:
‗Descida ao inferno‘, por J. R. Guzzo
A desgraça narrada a seguir é real, está baseada em fatos públicos e chegou,
alguns anos atrás, a causar certa comoção neste Brasil de hoje, que parece a
caminho de se transformar em um dos países a ser estudados com maior atenção,
algum dia, por possíveis pesquisadores de uma história mundial da infâmia. Trata-se
de um episódio chocante por sua crueldade em estado puro, e o resultado inevitável
de uma conspiração não declarada dos agentes do poder público para permitir a
prática aberta dos delitos mais selvagens — por serem eles mesmos os autores dos
crimes, ou pelo uso que fazem da letra da lei para livrar os envolvidos de qualquer
risco de punição. Acontece quase todos os dias, em todo o Brasil, sob a indiferença
absoluta das mais altas autoridades e a proteção de um conjunto de leis escritas
com o objetivo de praticamente abolir a culpa na Justiça penal brasileira. Não há
remédio conhecido contra isso.
Ainda recentemente a repórter Branca Nunes, da edição digital de VEJA, fez
uma reconstrução passo a passo da tenebrosa descida ao inferno aqui na terra,
entre outubro e novembro de 2007, de uma menina de 15 anos, L.A.B., presa sob a
acusação de furtar um telefone celular numa cidade do interior do Pará, a 100
quilômetros de Belém, e punida segundo a hermenêutica que vale no Brasil real. O
propósito da reportagem era mostrar, seis anos depois, que fim tinham levado os
personagens centrais da história ─ um símbolo fiel de aberrações praticamente
idênticas que acontecem a cada dia neste país, e do tratamento-padrão que
recebem do poder público. A visita a essa tragédia ―confirmou o apronto‖, como se
dizia na linguagem do turfe. Nada de embargos infringentes para L.A.B. Nada de
advogado ―Kakay‖ pregando em seu favor. Nada de todo esse maravilhoso facilitário
que faz da lei brasileira um milagre permanente em benefício dos ricos, poderosos e
8
influentes ─ e transforma culpa em mérito, como Cristo transformou água em vinho.
Tudo, naturalmente, em favor dos responsáveis por sua agonia.
L.A.B., como relata a reportagem, foi apanhada na cidade de Abaetetuba
tentando furtar um celular e uma correntinha de prata pertencentes, para seu azar,
ao sobrinho de um investigador de polícia da delegacia local. Chamados pelo rapaz,
o tio e dois colegas levaram a garota, um toco de gente com menos de 40 quilos de
peso e 1,5 metro de altura, para a delegacia da cidade ─ onde foi trancada numa
cela com mais de vinte homens. L.A.B. ficou 26 dias presa, durante os quais foi
estuprada regularmente, cinco ou seis vezes por dia. Não se cogitou no seu caso na
possibilidade, digamos, de uma prisão domiciliar, alternativa que o bondoso ministro
Celso de Mello, do STF, acaba de abrir, em nome do cumprimento rigorosíssimo da
lei, para gigantes de nossa vida política condenados no mensalão. Não se cogitou,
sequer, no fato de que ela era menor de idade, que não podia ser presa nem, menos
ainda, jogada num xadrez exclusivamente masculino. L.A.B., na verdade, foi presa
dentro da prisão: arrastada para o fundo da cela, de onde não podia ser vista, tinha
a sua miserável comida confiscada pelos outros presos, que só lhe permitiam comer
se não desse trabalho durante os estupros. Não tinha direito a prato — precisava
pegar sua comida direto do chão. À noite, era acordada por chamas de isqueiro ou
pontas de cigarro, quando algum dos presos requeria os seus serviços. A título de
ilustração, um deles, o mais ativo de todos, respondia pelo apelido de ―Cão‖. Que
tal?
O mais interessante do caso, talvez, é que as autoridades locais legalizaram,
a seu modo, todo o procedimento. A delegada Flávia Verônica Pereira autorizou a
prisão de L.A.B. quando a menina lhe foi entregue pelos investigadores que a
capturaram. Dois dias depois, a juíza Clarice Maria de Andrade assinou seu auto de
prisão em flagrante, sabendo perfeitamente, como a delegada, o que iria acontecer
na cela lotada de machos. O desfecho da história é um retrato admirável do Brasil
de 2013. Quando o caso começou a fazer ruído na imprensa, L.A.B. foi solta ─ e
desde então, nestes seis anos, nunca mais se ouviu falar dela. Os únicos punidos
foram ―Cão‖ e um de seus comparsas, que já estavam presos. A juíza Clarice, a
mais graduada responsável pelo episódio, não sofreu processo penal. Foi apenas
aposentada, mas recorreu até chegar ao STF ─ que anulou em 2012 a punição, por
julgá-la ―excessiva‖. Hoje a doutora Clarice é juíza titular em outra comarca do Pará.
Este é o Brasil que não muda.
9
Gostaria de me revoltar com esse fato como se ele tivesse sido algo isolado
porém , seria uma farsa. Fatos iguais a esse acontecem dia após dia, são tantas
coisas absurdas que me questiono sobre a eficácia da Lei e o mais grave quem é a
representação legal que a pratica. Vejo pessoas incapacitadas em altas patentes e
esferas judiciais punindo, decidindo e ceifando...sim isso mesmo! Ceifando. Do
fundo do meu coração gostaria de ver a justiça agir com vigor contra que não a
pratica e recebe muito bem para fazer, gostaria de poder modificar as atitudes
daqueles que só em se abster já decidem, e o pior decidem mal. Me angústia saber
que essas coisas acontecem e temos somente a justiça divina para nos agarrar
porque ao que depender da justiça humana com relação a essa Dra. ela vai muito
bem obrigada.
4 CARANDIRÚ – SÃO PAULO
O Massacre da Casa de Detenção de São Paulo ou Massacre do Carandiru,
como foi popularizado pela imprensa, ocorreu no dia 2 de outubro de 1992, quando
a intervenção da Polícia Militar do Estado de São Paulo para conter uma rebelião
causou a morte de cento e onze detentos (segundo números oficiais).
Veja agora uma retrospectiva com alguns fatos importantes na vida da Casa
de Detenção de São Paulo, desde suas origens, nos anos de 1920.
1920
Inauguração da Penitenciária do Estado de São Paulo, no bairro do
Carandiru, zona norte da capital paulista. É o primeiro edifício do futuro complexo
penitenciário no bairro. A execução do projeto coube ao escritório Ramos de
Azevedo. Era, à época, considerado ―instituto de regeneração modelar‖. A inscrição
no edifício central revelava a proposta da reclusão: ―Instituto de Regeneração – Aqui
o trabalho, a disciplina e a bondade resgatam a falta cometida e reconduzem o
homem à comunhão social‖. Nos anos de 1940, chegará à superlotação e exigirá
complemento.
10
1956
Inauguração da Casa de Detenção de São Paulo, que será conhecida como
Carandiru, junto da Penitenciária do Estado.
Anos 1980
Diante da crise penitenciária, de superlotação e rebeliões constantes, fala-se
de mudanças no sistema prisional, com a desativação do Carandiru e a construção
de novos presídios, num regime diferente.
2 de outubro de 1992
Massacre do Carandiru. Polícia Militar invade presídio para controlar rebelião
no Pavilhão 9 e mata 111 presos. Violação de direitos provoca reação internacional.
Será o impulso final para a futura desativação do presídio.
20 de setembro de 1996
O governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), assina convênio com o
governo federal para desativar e implodir o Carandiru. Os presos do local, segundo o
projeto, seriam transferidos para nove novos presídios. Investimento: R$ 117,2
milhões.
1997
O grupo de rap Racionais MCs lança o hit Diário de um detento, canção que
se baseia no diário escrito pelo então preso Josemir Prado, o Jocenir, no Carandiru.
1998
Governo do Estado lança concurso de projetos urbanísticos para o depois da
desativação e implosão do Carandiru. O vencedor é o projeto do escritório de
arquitetura Aflalo & Gasperini, que estabelece a transformação do Carandiru em
centro de lazer, cultura e requalificação profissional, preservando parte da estrutura.
11
1999
Lançamento do livro Estação Carandiru. O médico Drauzio Varella relata as
experiências do seu trabalho voluntário de prevenção à Aids no presídio.
2001
Josemir Prado, o Jocenir, publica o livro Diário de um detento: o livro, sobre
suas experiências no Carandiru. No mesmo ano, outro preso, Hosmany Ramos,
lança Pavilhão 9 – Paixão e morte no Carandiru, sobre o dia a dia no presídio.
2002
O rapper Sabotage (1973-2003) grava a canção O retorno, que integra a
coletânea Uma luz que nunca irá se apagar, sobre um preso no Carandiru
15 de setembro de 2002
Desativação total do Carandiru, com a transferência dos presos
remanescentes. É o fim oficial, já sob a gestão de Geraldo Alckmin (PSDB), que
assumiu como governador após a morte de Mário Covas, em março de 2001.
Começam então as obras para o futuro Parque da Juventude, conforme o projeto do
escritório Aflalo & Gasperini Arquitetos.
8 de dezembro de 2002
Implosão dos pavilhões 6, 8 e 9.
2003
O diretor Hector Babenco lança o filme Carandiru, baseado no livro de
Drauzio Varella. Um ano antes do fechamento do Carandiru, o diretor Paulo
Sacramento orienta detentos do presídio a utilizarem câmeras e documentarem o
próprio cotidiano. O resultado é o filme documental O prisioneiro da grade de ferro –
Autorretratos.
Setembro de 2003
Inauguração oficial do Parque da Juventude (primeira fase do projeto).
12
17 de julho de 2005
Implosão dos pavilhões 2 e 5. Os pavilhões remanescentes, o 4 e o 7, são
incorporados ao parque, remodelados e transformados em escolas técnicas.
Março de 2007
Finalizada a terceira e última fase de construção do Parque da Juventude,
com área total de 240 mil metros quadrados.
5 ROTINA NA PENITENCIÁRIA ESTADUAL DE SANT’ANA – SÃO PAULO
Escrevo com muita dedicação especificamente sobre essa penitenciária por
ter sido o meu objeto de estudo por quase seis meses, as histórias narradas e a
rotina existente são absolutamente reais.
Vimos no histórico que o Carandiru foi implodido porém, não foi totalmente.
Existe hoje naquele endereço tão conhecido na Avenida General Ataliba Leonel a
Penitenciária Estadual de Sant‘ana que está em pleno funcionamento ao contrário
do que é mostrado pela mídia. Essa é a maior penitenciária feminina da America
Latina composta por três pavilhões do antigo complexo prisional Carandiru cada um
deles com 4 andares divididos em lado par e ímpar abrigando aproximadamente 4
mil presas.
Atualmente a facção que domina e lidera o presídio é o Primeiro Comando da
Capital (PCC).
Ao ingressar na cadeia a detenta passa pela revista íntima, pela triagem para
deixar suas antigas roupas guardadas e fazer o cadastramento das digitais, recebe
um kit de higiene que contêm uma caneca plástica, uma colher, 2 papéis higiênicos,
um pacote de absorventes, uma pasta de dentes e um sabonete, recebe também
uma farda, um cobertor e uma espuma de espessura muito fina que dizem ser um
colchão. Em seguida vai para o reconhecimento (RO) onde permanece por cerca de
sete dias ou até que o presídio tenha vaga nos pavilhões tornando possível o
ingresso, durante esses dias geralmente divide cela com mais cinco presas
aproximadamente, tem direito a utilizar um banheiro todas elas por vez para tomar
banho uma vez ao dia durante quinze minutos todas revezando o chuveiro e depois
tem meia hora de banho de sol, após isso retornam a cela que fica trancada o
restante do dia.
13
A cadeia atualmente abriga duas apenadas por cela, que dividem o mesmo
espaço comum enquanto cumprem pena ou aguardam audiência, esse espaço é
dotado de uma porta com abertura (boqueta) duas camas de cimento, duas
bancadas de cimento, uma pia plástica, um chuveiro, um vaso sanitário e uma janela
fechada por uma grade.
O dia no presídio começa cedo às 05:30 tem a sirene de aviso para o primeiro
banho que desperta as que trabalham e as que terão audiência, as 06:00 passa a
contagem jogando uma luz de lanterna no rosto de cada presa que dorme para
verificar cela por cela se as presas amanheceram bem, às sete horas é servida a
primeira refeição (bóia) do dia se coloca na boqueta a caneca e as boieiras enchem
de café e deixam um pão e um saquinho de leite, às oito horas as agentes entram
nos pavilhões e abrem as trancas das portas, algumas detentas vão para o trabalho
em fábricas que funcionam na penitenciária, outras vão para o setor que trabalham
ajudando nos serviços comuns, ao meio dia, as fábricas tocam a sirene de intervalo
para o almoço com retorno às 13:00 horas, algumas aproveitam para se reunir no
pátio para a oração que acontece diariamente por meia hora e em seguida almoçam,
no almoço se deixa sempre um pote para o suco e um para o feijão e cada presa
recebe um marmitex.
Ás 15:00 horas é servido o lanche que é composto de café e pão, na quarta
feira é chá mate e pão doce, às 16:00 as fábricas abrem as portas e as apenadas
saem tem mais uma hora para se deslocarem no presídio até que toca a sirene de
recolhimento às 17:00 horas as agentes entram nos pavilhões fecham as trancas e
chega a última refeição às 17:30 que é composta por um marmitex e uma caneca de
suco. Para as presas que não tem ajuda da família a noite é longa e de muita fome,
pois ficam reclusas sem ter mais nada para comer até a manhã seguinte.
Às 18:00 a cadeia faz silêncio e por quinze minutos as presas ficam nas
boquetas das suas celas louvando hinos e fazendo orações, às 19:30 passa a
contagem das agentes que ficam no turno da noite conferindo as presas e
entregando as cartas recebidas pelas famílias.Depois da oração para as presas que
tem televisão e família que envia comida resta assistir a novela e antes de dormir
enganar a fome com algum biscoito e enganar a alma lendo as cartas de uma vida
que cada vez mais parece distante.
Durante a madrugada se pode ver algumas presas sentadas nas muretas das
janelas encostadas nas grades e de repente se escutam alguns gritos que cortam a
14
escuridão com palavras perdidas como: Quando? Quando? Meu Deus quando será?
São uivos, gemidos, lágrimas, gritos de uma dor insuportável por uma espera
interminável.
Pode-se observar o céu, o pátio com os brinquedos de madeira com algo que
se parece um parque (pelo menos tem balanço), desenhos enormes de anjos
pintados nas paredes dos muros que parecem conhecer de trás pra frente aquelas
vidas, e mais uma noite se vai...
No decorrer dela se escutam alguns barulhos de ratos correndo brincando
com os restos de marmitex que alguém deixou cair de alguma janela no pátio, do
térreo se vê eles tão de perto que mais parecem querer entrar pulando pela janela.
Em tempo de inverno é difícil dormir com a chuva que molha dentro da cela e
com a espuma fina que no frio intenso de São Paulo parece encostar diretamente o
pulmão naquela cama dura de cimento, dormir dói. Nesse período muitos problemas
de saúde eclodem em Sant‘ana.
5.1 SAÚDE
A assistência médica e odontológica tem que ser marcada e quando a presa
vai ter consulta ela é avisada na cela através das companheiras do setor da
enfermaria que passam deixando um papel com o dia e a hora da marcação. A
enfermaria tem enfermeiros o dia e a noite toda. Depois de avaliação médica os
casos graves que não podem ser resolvidos na enfermaria que fica no pavilhão um
são removidos para hospitais públicos.
Exames laboratoriais também são colhidos na enfermaria e enviados para
análises em laboratórios conveniados ao sistema, e depois de alguns dias chegam
os resultados.
Alguns projetos de prevenção são feitos através de campanhas educativas
que orientam as reeducandas com relação as doenças, como evitá-las e como
descobri-las, é o caso da campanha massiva sobre a tuberculose, as DST‘S, a AIDS
e os cânceres de mama e de útero.
15
5.2 SETORES
Todas as atividades da penitenciária são distribuídas por setores entre as
presas que desejam trabalhar e receber mensalmente através de uma folha de
pagamento ou depósito em conta e também gozam do benefício de remissão da
pena.
As presas setores são: Cozinha, bóia, faxina, lixo, manutenção, jurídico,
biblioteca, enfermaria, sedex, jumbo, escola, mudança, artesanato.
Cozinha- providencia as refeições, bóia- serve as refeições, faxina- faz a
limpeza do corredor e do pátio duas vezes ao dia, lixo- recolhe o lixo deixado no
lugar marcado no pátio depois do almoço, manutenção- cuida da parte elétrica e de
consertos que a cadeia necessita como também providencia reparos nas celas que
possuem algum problema, jurídico- marca horário com os defensores públicos e
informa os horários das audiências entregando nas celas o aviso um dia antes,
biblioteca- fica responsável pela entrega de livros as presas e pela devolução dos
mesmos, enfermaria- ajuda as enfermeiras nos procedimentos, faz a entrega dos
medicamentos por cela e avisa das consultas, sedex- avisa nas celas quando as
detentas podem ir receber as mercadorias que chegaram enviadas pelos familiares
através do sedex, jumbo- é como é chamado o saco de coisas trazidas até a
penitenciária pelos advogados, amigos ou pelas famílias das presas com
mantimentos e produtos de higiene o setor chama pelo nome e pelo número da cela
para efetuar a entrega no corredor térreo, escola- ensina as detentas que desejam
continuar os estudos fundamentais dentro do presídio, mudança- acomoda as
presas que chegaram do RO e transfere de cela aquelas que desejam se mudar
dentro do pavilhão, artesanato- ensina novas maneiras criativas de se utilizar
materiais recicláveis, explica técnicas de pinturas, de objetos feitos com jornais ou
garrafas pets, de costura, de fuxico, de crochê e tricô aguçando a vontade de criar
coisas lindas através de novas descobertas de como fazer arte.
5.3 TRABALHO
É bem verdade que o trabalho dignifica o homem, dentro do sistema prisional
essa frase é muito mais abrangente, pois; o trabalho resocializa o homem e o ensina
novas formas de recomeçar.
16
Dentro da Penitenciária Estadual de Sant‘ana funcionam grandes fábricas que
impulsionam esse reingresso ao trabalho pagando através de folha de compras
(onde a presa pode escolher marcando os itens que ela quer comprar em comida e
material de higiene e limpeza) no valor que ela dispõe para fazer as compras e em
seguida a empresa terceirizada que vende os produtos vem fazer a entrega no
mesmo balcão que é entregue os sedex. E as presas que preferem receber através
de depósito informam a conta e o dinheiro é depositado mensalmente. Todas as
fábricas informam ao setor jurídico com relação a remissão da pena das presas que
trabalham, além da referência por boa conduta.
As fábricas são de porte e segmentos variados existe atualmente uma fábrica
de terços religiosos, uma de papelão, uma de bússolas e relógios tipo hidrômetros e
a PRAFESTA de materiais descartáveis que é bastante conhecida em todo o país.
6 O QUE É PERMITIDO ENTRAR NO PRESÍDIO
As presas podem ter seus materiais descartáveis de uso pessoal para fazer
as unhas tais como: alicate, cortador, pinça. Quando recebem os alimentos eles
precisam ser enviados em sacos transparentes tipo os que servem para embalar
frutas nos supermercados e tem uma quantidade semanal que não pode ultrapassar
10 quilos por sedex sendo distribuídos em uma lista tipo 1 quilo de açúcar, 400
gramas de leite, 400 gramas de achocolatado, biscoitos e salgadinhos já tem que vir
nos saquinhos transparentes, e assim os familiares seguem as orientações da lista
de exigências. Potes plásticos como requeijão e margarina também podem entrar.
Tudo de higiene pessoal e limpeza também, desde que siga as quantidades.
As detentas podem ter rádio e televisão, quando entram passam por uma
vistoria que dá a cada item um número de lacre gravado nele como se fosse o
registro do objeto e a cada seis meses eles passam por processo de nova vistoria
para verificar se continuam lacrados e se não foram violados ou abertos para
guardar objetos inadequados dentro.
Caso algo seja encontrado algo de irregular o objeto é confiscado e a presa
passa por reclamação que vai diretamente para o seu processo informando sobre a
conduta errada.
17
6.1 BERÇÁRIO – ANEXO AO PRESÍDIO
As mães que dão à luz durante o período de detenção ficam no berçário com
seus bebês para acompanhar os primeiros meses de vida e fornecer os cuidados
que somente elas podem dar. Elas tem seis meses para conviver com seus filhinhos,
amamentar e amar depois desse tempo a justiça as obriga a entregá-los para o
parente que será responsável por eles até que ela saia da unidade prisional e possa
outra vez voltar a ter a guarda da criança.
6.2 ESPORTE
Na Penitenciária de Sant‘Ana existe um pátio no pavilhão 1 que é utilizado
para a prática de diferentes esportes sendo os principais deles o futebol e o vôlley
durante os sábados podemos ver as presas participando de jogos e até
campeonatos no período da tarde. Existe também uma academia que funciona em
outro pavilhão e tem como orientadoras outras detentas do setor que são mais
habilitadas para ensinar alguns exercícios e tirar as companheiras do sedentarismo.
6.3 BELEZA
Durante o sábado também se vê muitas detentas correndo para um lado e
para o outro com secador de cabelo, chapinha, tinta, unhas pintadas, toalha
estendida no pátio com presa cheia de descolorante no corpo (as mais civilazadas
denominam as outras de mundrungas), tanta coisa inusitada porque domingo é o dia
da visita e elas ficam belas para receber os familiares a quem tanto esperam cheias
de ansiedade. Algumas passam da correria para a faxina geral da cela em cinco
minutos.
6.4 IGREJA
Em Sant‘Ana existe uma capela muito bonita que fica instalada no pavilhão 3
que já foi exibida até em uma edição do Fantástico na Rede Globo exibindo uma
cerimônia de casamento de uma detenta com um homem livre; essa capela também
é utilizada para congressos da igreja católica. Porém, as atividades religiosas
18
costumam ser ao ar livre espalhadas pelo pátio de cada pavilhão aos sábados a
partir das 10:00 horas da manhã.
As principais religiões enviam líderes religiosos para promover suas crenças é
o caso dos católicos, evangélicos e espíritas. Mas, sem dúvida a grande maioria das
presas seguem a religião evangélica, participando massivamente dos cultos
promovidos pela Igreja Universal e pela Assembléia de Deus, é digno de emoção
presenciar as pregações feitas pelos pastores e a conversão promovida pela
misericórdia de Deus em resgatar as vidas naquele lugar.
Durante toda a semana elas permanecem exercendo a fé nas orações feitas
ao meio dia e as 18:30 além de orações feitas nas celas das irmãs da Igreja que
convidam umas as outras para pregar a palavra do Senhor a todas as
criaturas.Também acontecem cerimônias de Batismos promovidas para celebrar a
nova vida, sendo nova criatura em Cristo.
7 DATAS COMEMORATIVAS
Na cadeia as presas buscam dar o melhor para os entes queridos que estão
fora quando eles vão visitá-las e por essa razão muito talentos são despertados, em
datas especiais como o dia das mães e o dia das crianças a cadeia inteira se une e
se transforma pois estão todas na mesma situação e com o mesmo sentimento.
Para o dia das crianças são preparadas muitas surpresas, cada parede entre
as celas ganha muitas cores e personagens da atualidade que simbolizam os
desenhos animados e remetem as crianças a um lugar mágico, gravuras do BEN10,
da gatinha marrie, personagens famosos, passeando pelo pátio vemos uma
cinderela fantasiada distribuindo presentes, doces e pipocas, parque enfeitado,
muitas brincadeiras, câmera fotográfica que é autorizada pelo diretor somente nesse
dia para tirar 2 fotos por presa, muitas bolas coloridas decorando a grade que fica
sobre a cabeça das crianças que estão nos corredores, som animado que vai de
música infantil a tecno brega para as mamães dançarem com seus pimpolhos, é
uma festa!
Durante alguns momentos até esquecem dentro de quais muros estão, até
que a sirene toca, acaba a visita e as princesas entram nas carruagens para ir
embora.
19
8 VOCABULÁRIO
Quando se entra na cadeia e não se é do crime se para por alguns minutos e
parece se precisar de legenda para entender as frases: eu tô suave na nave você é
que tá aí moscando no bagulho! Vou dormir na jeca e você vai pagar praia hoje!
Abre a porta com a mixa! Fica esperta, a bóia vai passar pega os bandeco! Vou
fazer um corre e já volto! Vai ter blitz! Segura teus BO aí! A cadeia tá uma uva! Na
cadeia não pode ratear nem talaricar! Vai ter salve geral! Mundrugalhada que não
tem proceder! Meo aqui só tem mina firmeza, nada de zica! Aqui todo mundo fecha!
Se cair a estação desliga a perereca!
Passaríamos muito tempo escrevendo e lembrando de tudo que a pesquisa
de campo nos permite aprender sobre realidades culturais diferentes, existe de fato
uma linguagem própria e completamente eventual ao que se é utilizado diariamente
―na rua‖.
Todas falam, gritam, choram, discutem e se entendem numa realidade delas,
onde se ajudam, se protegem, se cuidam; filhas, mães, mulheres...
9 PLANTÕES
Alguns plantões são mais tranquilos porque na verdade há um respeito mútuo
entre os direitos e deveres entre as agentes e as presas, elas brincam, perguntam
por coisas que acompanham e antes de fechar as trancas deixam alguma frase de
consolo que proporcionam uma boa noite de sono. Outros plantões se tornam
tumultuados por causa das blits que algumas vezes acontecem por causa de
denúncias sobre objetos ílicitos escondidos em determinadas selas e então as
agentes como diriam as presas, arregaçam tudo, até encontrar o mocó
(esconderijo).
10 MOEDA INTERNA
Tudo se consegue, tudo se compra, tudo se vende. Na cadeia a moeda
interna é o cigarro, por 2 caixas de derby se aluga uma televisão por um mês, por
dois maços de derby se aluga um rádio por um dia, por um derby e um vila rica se
compra um refrigerante, por um vila rica se compra só um tang, se a presa não tem
20
cigarro mas tem parente ela pode comprar na folha de compra da que trabalha e
mandar por carta o número da conta para sua família fazer o depósito do valor na
conta da presa que vendeu parte da folha, assim também se compra as coisas
enviando por correspondência o número da conta que quem vendeu quer que
deposite. Existe também a troca de serviços fornecidos pelas presas carentes por
alimentos ou coisas que elas necessitam e não tem condições de obter, assim elas
lavam roupas de outras e fazem limpezas em outras celas para ter aquilo que
precisam.
11 CONTROLE EXTERNO E FACÇÃO CRIMINOSA
Seria simples escrever um artigo ignorando esse ponto, porém; seria irreal.
É categórica a participação do Primeiro Comando da Capital no bom
funcionamento da Penitenciária Estadual de Sant‘Ana, que por ser a maior da
América Latina requer uma organização mais detalhada para funcionar bem.
Quando cada presa ingressa no sistema imediatamente ela é instruída a
obedecer as regras que existem para uma boa convivência e como regra
fundamental elas enfatizam que lá não há opressão. Não se pode oprimir e não se
pode ser oprimida, se deve cumprir os horários, desde o descarte do lixo, ao
respeito durante as orações, não se deve roubar de maneira alguma lá dentro pois,
isso acarretará consequências, existem os setores responsáveis para cada área
com o objetivo de resolver as questões pertinentes ao interesse das detentas.
Tudo o que acontece na cadeia com relação aos preparativos para as datas
comemorativas, campanhas, congressos, mau comportamento de apenadas, dívidas
não saudadas com outras companheiras, doações de roupas, doações de comida do
pavilhão para o RO quando ele se encontra superlotado de novas presas que ainda
não tem ajuda, doações de medicamentos que vem de fora muitas vezes feitas por
outros integrantes da facção, tudo isso é informado semanalmente através de
reunião feita entre as próprias presas em cada pavilhão.
Esse controle também é feito através do terceiro setor pelas ONG‘s, pelos
Direitos Humanos, pela ONU quando ela manda inspecionar os presídios visando
dados para relatórios, pelo Governo quando pretende modificar algo na gestão
administrativa, pela Secretaria quando vem ordem superior exigindo mudanças e
21
pelas Igrejas fazendo o trabalho de conscientização e doação de bíblias combatendo
o déficit do sistema com a Fé.
Esse controle é inegável, as próprias presas criam soluções para problemas
que enfrentam em um cotidiano conhecido apenas por elas mesmas afinal não se
fica na cadeia, se vive a cadeia.
12 PESQUISA DE CAMPO
Durante quase seis meses podemos conhecer esse universo prisional de
Sant‘Ana através da biografia pessoal da reeducanda P.D que esteve reclusa do dia
20 de maio ao dia 20 de outubro de 2010, acusada pelo artigo 171 do CP
estelionato, durante esse período ficou na cela 90 pavilhão 1, lado par. A mesma é
natural da Paraíba, de família classe média alta, estudante do 6º período do curso
de Direito, foi funcionária pública, empresária e palestrante motivacional de uma
multinacional, rompeu um relacionamento dias antes do fato da prisão , estava em
depressão e veio a São Paulo com uma amiga que é dentista e há 10 anos não
tirava férias. Se hospedou durante nove dias no apartamento de um amigo
denominado R. que frequentemente ia a Paraíba e convivia com todas as pessoas
do mesmo ciclo social.
No dia 18 de maio data do incidente ocorrido, ela e a amiga estavam com as
malas no carro para retornar a sua cidade indo antes apenas almoçar em um
shopping com R. e um amigo que ia com ele deixá-las no aeroporto aqui chamado
D. quando foi utilizado para pagar a conta do restaurante pelo amigo R. que as
hospedou e D. que o acompanhava um cartão de crédito clonado, as meninas ao
saírem do shopping e abrirem a porta do carro do amigo R. se surpreenderam pois;
3 homens chegaram apontando pistolas para suas cabeças e perguntando pelo
sequestro (que queria dizer cartão) em seguida elas choravam muito e aqueles
homens entraram no carro e colocaram R. e o amigo que estava com ele em outro
veículo, foram até o apartamento dele onde encontraram um armário fechado,
arrombaram e localizaram vários cartões em nome dele com dados que não os
pertencia.
Ao chegar na delegacia o plantão foi modificado e o novo delegado exigiu a
bagatela de 100 mil reais para soltar as moças e também o veículo Honda Civic de
posse de R., apesar de não ter provas contra elas sumiu com as malas das mesmas
22
(Peculato) e as submeteu a presenciar cenas de tortura a um preso fazendo pressão
psicológica em R. para pagar o suposto ―acordo‖ proposto pelo delegado. Durante a
noite um primo de R. chegou na delegacia e R. passou a posse do veículo para o
nome dele então o delegado furioso falou que ia fazer aquele caso virar estelionato e
formação de quadrilha porque R. não sabia ser ladrão! Devido a extorsão as
garotas foram mantidas na delegacia da Consolação por 2 dias e não puderam fazer
ligação, além de serem obrigadas a assinar a culpa por ameaças feitas por agentes
femininas dentro de um banheiro.
Conheceram um advogado na delegacia que tornou-se um anjo da guarda,
ele telefonou para o pai de P.D e informou sobre o ocorrido, fez todos os
procedimentos e passou a acompanhar o caso. P.D cumpriu pena em Sant‘Ana,
procurou viver em paz com todas as pessoas dentro da prisão, frequentou as
orações, tentou ver além dos muros para não deixar que eles aprisionassem sua
alma, buscou na Bíblia a voz de Deus para guiar os seus passos, mesmo vendo
pelas grades o expo center norte onde ela por tantas vezes esteve promovendo
grandes eventos; ela se focava em ter todo aquele aprendizado como uma
experiência de vida e como uma forma única de conhecer novas pessoas em uma
realidade extrema. No seu íntimo, ela sabia que um dia poderia escrever sobre tudo
aquilo. Sua amiga T.B foi transferida após os 10 dias que estiveram juntas no RO
para uma unidade especial onde permaneceu. Durante quase seis meses elas foram
há 2 audiências, foram julgadas e libertadas por excesso de prazo, retornaram a sua
cidade.
T.B mudou-se para outro estado e assumiu uma nova clínica do seu antigo
chefe e P.D lançou um cd com 14 músicas autorais feitas durante o período que
estava reclusa em Sant‘Ana, obteve a carteira de cantora pela Ordem dos Músicos
do Brasil, virou compositora filiada a ASSIM, tirou carteira profissional DRT como
atriz e 3 anos depois mora com a família, é evangélica, noiva e está concluindo o
curso de Direito, entregando esse Artigo Científico e mostrando para toda a
sociedade que para Deus nada é impossível. (Lucas 1:37).
Eu, Pollyana Dantas vivi a cadeia e sobrevivi ao cárcere.
23
THE REALITY OF PRISON SYSTEM CONTROL AND EXTERNAL
ABSTRACT Show the truth about the operation of prisons , overcrowding , the deficit in the system that is responsible for managing public funds and administer prisons , participation and the failure of the State to respect there are some controversial issues that arise in relation between resocializão and lack of investment in the prison system . Lack of job opportunities within the prisons and lack of training courses that enable inmates and prepare for a new phase of life after serving a sentence in a house of detention . What is added value detainees in the face of deprivation of liberty . Aiming to make society think broadly and draw a parallel between the existing reality and dream reality intended that she should not put themselves at the margins of a problem , but as part of the solution of many other problems that arise as a snowball growing from violence, increased crime , recidivism of prisoners , reversing the position of citizens to people who can not afford to compete to get a job because of lack of professionalism and basic living conditions . Think and act proactive to protect the integrity of the human person ensuring all the rights to which the light of the constitution apparently already seems to watch . Analyze the truth , the disintegration of the prison system brings up the discredit of prevention and rehabilitation of the convict . Keywords: The Brazilian prison system. Carandirú penitentiary Anne.
REFERÊNCIAS
Conselho Nacional do Ministério Público, A visão do Ministério Público sobre o Sistema Prisional Brasileiro. Disponivel em: <http://www.cnmp.mp.br/portal/images/stories/Destaques/Publicacoes/Sistema%20Prisional_web_final.PDF>. Acesso em 01/10/2013. GARCIA,Carolina. Dez anos após a implosão do Carandirú. Disponivel em: <http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/sp/2012-12-08/dez-anos-apos-a-implosao-do-carandiru-sensacao-ainda-e-de-alivio-na-regiao.html>. Acesso 30/10/2013. GUZZO, J.R. Descida ao inferno. Revista Veja. Ed. 2341.São Paulo: Abril. Edição nº 2341, outubro de 2013. MISCIASCI, Elizabeth. Penitenciária Feminina de Sant‘ana. Disponivel em: <http://www.eunanet.net/beth/penitenciaria_feminina_santana.php>. Acesso em: 01/11/2013. ONUBR Relatório do Subcômite de Prevenção da Tortura das Nações Unidas (SPT) visita ocorrida ao Brasil entre 19 e 30 de setembro de 2011. Disponivel em: <http://www.onu.org.br/img/2012/07/relatorio_SPT_2012.pdf>. Acesso em: 25/10/2013.
24
PESSOA, Biga. Especial Carandiru: Vida e morte de um presídio. Disponivel em: <http://www.jornalirismo.com.br/jornalismo/14/1522-especial-carandiru-vida-e-morte-de-um-presidio>. Acesso em: 03/10/2013. VARELLA, Drauzio.Estação Carandirú. São Paulo: Editora: Companhia das Letras 1999. ALMEIDA, João Ferreira de. Bíblia Sagrada - Português. São Paulo: Edição e diagramação: Sociedade Bíblica do Brasil.