UNIVERSIDADE TUIUTI DO PARANAacute ndash UTP
Silvana Medina Neves Raichl
A ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA INVESTIGACcedilAtildeO
CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE
CURITIBA
2011
Silvana Medina Neves Raichl
A ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA INVESTIGACcedilAtildeO
CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE
Trabalho de conclusatildeo apresentado ao Curso de Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Ciecircncias Juriacutedicas da Universidade Tuiuti do Paranaacute como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em Direito Orientador Prof Daacutelio Zippin Filho
CURITIBA
2011
TERMO DE APROVACcedilAtildeO
Silvana Medina Neves Raichl
A ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA INVESTIGACcedilAtildeO
CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE
Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em
Direito do Curso de Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Ciecircncias Juriacutedicas da
Universidade Tuiuti do Paranaacute
Curitiba __ de __________ de 2011
____________________________________________
Curso de Graduaccedilatildeo em Direito
Universidade Tuiuti do Paranaacute
Orientador ______________________________
Prof Dr Daacutelio Zippin Filho
Universidade Tuiuti do Paranaacute
______________________________
______________________________
Dedico esta pesquisa a meu pai que pelo
seu esforccedilo e trabalho pode proporcionar o
momento mais especial de minha vida a
conclusatildeo de meus estudos
6
AGRADECIMENTO
Agradeccedilo a meu orientador
pela compreensatildeo e agrave minha
famiacutelia pelo incentivo sempre
presentes em minha vida
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RESUMO
Cuida-se neste escrito da Investigaccedilatildeo Criminal presidida pelo Ministeacuterio Puacuteblico Objetiva-se analisar se haacute legitimidade para os membros do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees preliminares na esfera criminal Buscou-se na Constituiccedilatildeo a autorizaccedilatildeo impliacutecita e o respeito agraves garantias individuais bem como a conformidade das disposiccedilotildees legais com esse poder Com relaccedilatildeo agrave Instituiccedilatildeo foi dada ecircnfase ao desenvolvimento histoacuterico e os dispositivos legais que regulam e conferem funccedilotildees para o Ministeacuterio Puacuteblico Levam-se em consideraccedilatildeo quais satildeo os crimes em que tal interferecircncia do ldquoParquetrdquo pode ser verificada com maior frequecircncia Versam-se ainda as discussotildees doutrinaacuterias e jurisprudenciais acerca do tema
PALAVRAS-CHAVE Ministeacuterio Puacuteblico Investigaccedilatildeo Criminal legitimidade
SUMAacuteRIO
CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO
08
CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
09
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
09
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988
10
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14
2311 Garantias Prerrogativas 15
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16
CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23
321 Natureza Juriacutedica 25
322 Competecircncia 25
CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
28
41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial
28
32
34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS
39 40 42 43 45 47 49
INTRODUCcedilAtildeO
Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu
monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como
prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo
de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a
respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu
direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal
Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos
para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na
qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito
Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998
p25)
ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo
O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o
grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas
meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal
Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a
problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em
concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais
Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste
estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes
Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais
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2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem
entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no
antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos
magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura
do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e
Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do
advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos
bens do Imperador
Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios
imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos
ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do
priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio
Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem
tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem
do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs
conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila
figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio
Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se
conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como
designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal
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denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos
Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de
piso taqueado
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL
DE 1988
O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder
Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma
Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias
Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822
persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com
atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma
fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil
A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de
1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado
ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio
Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores
Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com
esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a
previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao
11
1281
Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade
principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de
ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas
instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico
volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139
Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm
Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do
Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a
instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal
A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no
que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico
Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal
1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral
e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia
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e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao
Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal
Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial
No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela
Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que
seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos
auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo
dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)
atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto
Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de
1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o
risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos
Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da
Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam
ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981
pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela
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ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias
processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico
de Direito
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da
Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito
fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees
marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes
de exceccedilatildeo
Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio
Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero
mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e
garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado
O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs
Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute
instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a
defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveis
Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo
ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos
do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e
sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees
eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo
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jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave
existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito
Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico
de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua
atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela
soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e
garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses
sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas
determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles
direitos que o particular natildeo poder dispor livremente
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico
A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do
Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional
princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e
independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute
oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer
um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da
Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio
Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal
e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas
particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo
Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da
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unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de
seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e
indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas
atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial
seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees
A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma
posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e
para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental
Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois
princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o
promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da
irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo
civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado
sempre seraacute responsaacutevel por danos causados
2311 Garantias Prerrogativas
Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e
prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem
expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo
de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que
exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico
natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo
dos interesses e direitos da sociedade
Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias
16
funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
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deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
18
O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
19
Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
20
3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
22
processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
Silvana Medina Neves Raichl
A ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA INVESTIGACcedilAtildeO
CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE
Trabalho de conclusatildeo apresentado ao Curso de Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Ciecircncias Juriacutedicas da Universidade Tuiuti do Paranaacute como requisito parcial para a obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em Direito Orientador Prof Daacutelio Zippin Filho
CURITIBA
2011
TERMO DE APROVACcedilAtildeO
Silvana Medina Neves Raichl
A ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA INVESTIGACcedilAtildeO
CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE
Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em
Direito do Curso de Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Ciecircncias Juriacutedicas da
Universidade Tuiuti do Paranaacute
Curitiba __ de __________ de 2011
____________________________________________
Curso de Graduaccedilatildeo em Direito
Universidade Tuiuti do Paranaacute
Orientador ______________________________
Prof Dr Daacutelio Zippin Filho
Universidade Tuiuti do Paranaacute
______________________________
______________________________
Dedico esta pesquisa a meu pai que pelo
seu esforccedilo e trabalho pode proporcionar o
momento mais especial de minha vida a
conclusatildeo de meus estudos
6
AGRADECIMENTO
Agradeccedilo a meu orientador
pela compreensatildeo e agrave minha
famiacutelia pelo incentivo sempre
presentes em minha vida
8
RESUMO
Cuida-se neste escrito da Investigaccedilatildeo Criminal presidida pelo Ministeacuterio Puacuteblico Objetiva-se analisar se haacute legitimidade para os membros do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees preliminares na esfera criminal Buscou-se na Constituiccedilatildeo a autorizaccedilatildeo impliacutecita e o respeito agraves garantias individuais bem como a conformidade das disposiccedilotildees legais com esse poder Com relaccedilatildeo agrave Instituiccedilatildeo foi dada ecircnfase ao desenvolvimento histoacuterico e os dispositivos legais que regulam e conferem funccedilotildees para o Ministeacuterio Puacuteblico Levam-se em consideraccedilatildeo quais satildeo os crimes em que tal interferecircncia do ldquoParquetrdquo pode ser verificada com maior frequecircncia Versam-se ainda as discussotildees doutrinaacuterias e jurisprudenciais acerca do tema
PALAVRAS-CHAVE Ministeacuterio Puacuteblico Investigaccedilatildeo Criminal legitimidade
SUMAacuteRIO
CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO
08
CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
09
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
09
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988
10
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14
2311 Garantias Prerrogativas 15
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16
CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23
321 Natureza Juriacutedica 25
322 Competecircncia 25
CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
28
41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial
28
32
34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS
39 40 42 43 45 47 49
INTRODUCcedilAtildeO
Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu
monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como
prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo
de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a
respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu
direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal
Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos
para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na
qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito
Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998
p25)
ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo
O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o
grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas
meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal
Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a
problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em
concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais
Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste
estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes
Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais
9
2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem
entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no
antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos
magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura
do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e
Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do
advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos
bens do Imperador
Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios
imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos
ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do
priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio
Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem
tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem
do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs
conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila
figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio
Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se
conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como
designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal
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denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos
Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de
piso taqueado
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL
DE 1988
O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder
Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma
Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias
Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822
persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com
atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma
fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil
A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de
1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado
ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio
Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores
Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com
esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a
previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao
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1281
Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade
principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de
ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas
instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico
volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139
Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm
Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do
Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a
instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal
A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no
que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico
Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal
1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral
e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia
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e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao
Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal
Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial
No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela
Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que
seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos
auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo
dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)
atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto
Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de
1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o
risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos
Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da
Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam
ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981
pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela
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ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias
processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico
de Direito
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da
Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito
fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees
marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes
de exceccedilatildeo
Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio
Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero
mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e
garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado
O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs
Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute
instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a
defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveis
Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo
ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos
do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e
sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees
eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo
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jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave
existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito
Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico
de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua
atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela
soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e
garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses
sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas
determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles
direitos que o particular natildeo poder dispor livremente
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico
A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do
Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional
princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e
independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute
oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer
um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da
Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio
Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal
e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas
particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo
Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da
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unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de
seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e
indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas
atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial
seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees
A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma
posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e
para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental
Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois
princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o
promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da
irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo
civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado
sempre seraacute responsaacutevel por danos causados
2311 Garantias Prerrogativas
Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e
prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem
expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo
de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que
exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico
natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo
dos interesses e direitos da sociedade
Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias
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funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
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deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
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O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
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Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
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3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
22
processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
TERMO DE APROVACcedilAtildeO
Silvana Medina Neves Raichl
A ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA INVESTIGACcedilAtildeO
CRIMINAL E SUA LEGITIMIDADE
Esta monografia foi julgada e aprovada para obtenccedilatildeo do tiacutetulo de Bacharel em
Direito do Curso de Graduaccedilatildeo em Direito da Faculdade de Ciecircncias Juriacutedicas da
Universidade Tuiuti do Paranaacute
Curitiba __ de __________ de 2011
____________________________________________
Curso de Graduaccedilatildeo em Direito
Universidade Tuiuti do Paranaacute
Orientador ______________________________
Prof Dr Daacutelio Zippin Filho
Universidade Tuiuti do Paranaacute
______________________________
______________________________
Dedico esta pesquisa a meu pai que pelo
seu esforccedilo e trabalho pode proporcionar o
momento mais especial de minha vida a
conclusatildeo de meus estudos
6
AGRADECIMENTO
Agradeccedilo a meu orientador
pela compreensatildeo e agrave minha
famiacutelia pelo incentivo sempre
presentes em minha vida
8
RESUMO
Cuida-se neste escrito da Investigaccedilatildeo Criminal presidida pelo Ministeacuterio Puacuteblico Objetiva-se analisar se haacute legitimidade para os membros do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees preliminares na esfera criminal Buscou-se na Constituiccedilatildeo a autorizaccedilatildeo impliacutecita e o respeito agraves garantias individuais bem como a conformidade das disposiccedilotildees legais com esse poder Com relaccedilatildeo agrave Instituiccedilatildeo foi dada ecircnfase ao desenvolvimento histoacuterico e os dispositivos legais que regulam e conferem funccedilotildees para o Ministeacuterio Puacuteblico Levam-se em consideraccedilatildeo quais satildeo os crimes em que tal interferecircncia do ldquoParquetrdquo pode ser verificada com maior frequecircncia Versam-se ainda as discussotildees doutrinaacuterias e jurisprudenciais acerca do tema
PALAVRAS-CHAVE Ministeacuterio Puacuteblico Investigaccedilatildeo Criminal legitimidade
SUMAacuteRIO
CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO
08
CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
09
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
09
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988
10
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14
2311 Garantias Prerrogativas 15
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16
CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23
321 Natureza Juriacutedica 25
322 Competecircncia 25
CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
28
41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial
28
32
34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS
39 40 42 43 45 47 49
INTRODUCcedilAtildeO
Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu
monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como
prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo
de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a
respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu
direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal
Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos
para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na
qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito
Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998
p25)
ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo
O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o
grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas
meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal
Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a
problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em
concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais
Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste
estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes
Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais
9
2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem
entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no
antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos
magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura
do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e
Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do
advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos
bens do Imperador
Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios
imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos
ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do
priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio
Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem
tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem
do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs
conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila
figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio
Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se
conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como
designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal
10
denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos
Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de
piso taqueado
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL
DE 1988
O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder
Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma
Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias
Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822
persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com
atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma
fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil
A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de
1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado
ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio
Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores
Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com
esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a
previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao
11
1281
Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade
principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de
ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas
instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico
volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139
Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm
Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do
Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a
instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal
A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no
que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico
Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal
1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral
e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia
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e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao
Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal
Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial
No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela
Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que
seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos
auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo
dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)
atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto
Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de
1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o
risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos
Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da
Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam
ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981
pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela
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ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias
processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico
de Direito
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da
Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito
fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees
marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes
de exceccedilatildeo
Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio
Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero
mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e
garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado
O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs
Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute
instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a
defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveis
Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo
ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos
do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e
sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees
eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo
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jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave
existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito
Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico
de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua
atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela
soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e
garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses
sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas
determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles
direitos que o particular natildeo poder dispor livremente
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico
A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do
Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional
princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e
independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute
oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer
um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da
Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio
Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal
e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas
particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo
Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da
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unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de
seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e
indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas
atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial
seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees
A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma
posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e
para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental
Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois
princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o
promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da
irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo
civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado
sempre seraacute responsaacutevel por danos causados
2311 Garantias Prerrogativas
Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e
prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem
expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo
de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que
exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico
natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo
dos interesses e direitos da sociedade
Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias
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funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
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deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
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O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
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Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
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3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
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o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
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processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
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destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
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321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
Dedico esta pesquisa a meu pai que pelo
seu esforccedilo e trabalho pode proporcionar o
momento mais especial de minha vida a
conclusatildeo de meus estudos
6
AGRADECIMENTO
Agradeccedilo a meu orientador
pela compreensatildeo e agrave minha
famiacutelia pelo incentivo sempre
presentes em minha vida
8
RESUMO
Cuida-se neste escrito da Investigaccedilatildeo Criminal presidida pelo Ministeacuterio Puacuteblico Objetiva-se analisar se haacute legitimidade para os membros do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees preliminares na esfera criminal Buscou-se na Constituiccedilatildeo a autorizaccedilatildeo impliacutecita e o respeito agraves garantias individuais bem como a conformidade das disposiccedilotildees legais com esse poder Com relaccedilatildeo agrave Instituiccedilatildeo foi dada ecircnfase ao desenvolvimento histoacuterico e os dispositivos legais que regulam e conferem funccedilotildees para o Ministeacuterio Puacuteblico Levam-se em consideraccedilatildeo quais satildeo os crimes em que tal interferecircncia do ldquoParquetrdquo pode ser verificada com maior frequecircncia Versam-se ainda as discussotildees doutrinaacuterias e jurisprudenciais acerca do tema
PALAVRAS-CHAVE Ministeacuterio Puacuteblico Investigaccedilatildeo Criminal legitimidade
SUMAacuteRIO
CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO
08
CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
09
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
09
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988
10
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14
2311 Garantias Prerrogativas 15
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16
CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23
321 Natureza Juriacutedica 25
322 Competecircncia 25
CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
28
41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial
28
32
34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS
39 40 42 43 45 47 49
INTRODUCcedilAtildeO
Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu
monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como
prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo
de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a
respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu
direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal
Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos
para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na
qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito
Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998
p25)
ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo
O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o
grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas
meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal
Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a
problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em
concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais
Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste
estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes
Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais
9
2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem
entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no
antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos
magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura
do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e
Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do
advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos
bens do Imperador
Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios
imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos
ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do
priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio
Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem
tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem
do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs
conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila
figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio
Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se
conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como
designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal
10
denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos
Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de
piso taqueado
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL
DE 1988
O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder
Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma
Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias
Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822
persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com
atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma
fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil
A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de
1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado
ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio
Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores
Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com
esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a
previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao
11
1281
Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade
principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de
ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas
instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico
volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139
Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm
Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do
Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a
instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal
A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no
que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico
Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal
1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral
e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia
12
e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao
Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal
Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial
No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela
Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que
seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos
auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo
dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)
atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto
Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de
1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o
risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos
Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da
Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam
ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981
pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela
13
ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias
processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico
de Direito
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da
Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito
fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees
marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes
de exceccedilatildeo
Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio
Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero
mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e
garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado
O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs
Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute
instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a
defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveis
Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo
ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos
do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e
sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees
eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo
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jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave
existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito
Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico
de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua
atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela
soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e
garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses
sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas
determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles
direitos que o particular natildeo poder dispor livremente
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico
A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do
Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional
princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e
independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute
oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer
um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da
Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio
Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal
e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas
particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo
Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da
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unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de
seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e
indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas
atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial
seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees
A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma
posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e
para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental
Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois
princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o
promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da
irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo
civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado
sempre seraacute responsaacutevel por danos causados
2311 Garantias Prerrogativas
Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e
prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem
expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo
de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que
exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico
natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo
dos interesses e direitos da sociedade
Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias
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funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
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deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
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O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
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Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
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3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
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processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
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destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
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321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
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constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
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4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
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Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
6
AGRADECIMENTO
Agradeccedilo a meu orientador
pela compreensatildeo e agrave minha
famiacutelia pelo incentivo sempre
presentes em minha vida
8
RESUMO
Cuida-se neste escrito da Investigaccedilatildeo Criminal presidida pelo Ministeacuterio Puacuteblico Objetiva-se analisar se haacute legitimidade para os membros do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees preliminares na esfera criminal Buscou-se na Constituiccedilatildeo a autorizaccedilatildeo impliacutecita e o respeito agraves garantias individuais bem como a conformidade das disposiccedilotildees legais com esse poder Com relaccedilatildeo agrave Instituiccedilatildeo foi dada ecircnfase ao desenvolvimento histoacuterico e os dispositivos legais que regulam e conferem funccedilotildees para o Ministeacuterio Puacuteblico Levam-se em consideraccedilatildeo quais satildeo os crimes em que tal interferecircncia do ldquoParquetrdquo pode ser verificada com maior frequecircncia Versam-se ainda as discussotildees doutrinaacuterias e jurisprudenciais acerca do tema
PALAVRAS-CHAVE Ministeacuterio Puacuteblico Investigaccedilatildeo Criminal legitimidade
SUMAacuteRIO
CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO
08
CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
09
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
09
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988
10
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14
2311 Garantias Prerrogativas 15
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16
CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23
321 Natureza Juriacutedica 25
322 Competecircncia 25
CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
28
41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial
28
32
34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS
39 40 42 43 45 47 49
INTRODUCcedilAtildeO
Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu
monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como
prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo
de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a
respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu
direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal
Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos
para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na
qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito
Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998
p25)
ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo
O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o
grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas
meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal
Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a
problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em
concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais
Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste
estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes
Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais
9
2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem
entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no
antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos
magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura
do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e
Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do
advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos
bens do Imperador
Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios
imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos
ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do
priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio
Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem
tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem
do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs
conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila
figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio
Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se
conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como
designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal
10
denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos
Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de
piso taqueado
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL
DE 1988
O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder
Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma
Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias
Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822
persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com
atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma
fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil
A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de
1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado
ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio
Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores
Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com
esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a
previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao
11
1281
Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade
principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de
ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas
instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico
volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139
Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm
Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do
Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a
instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal
A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no
que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico
Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal
1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral
e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia
12
e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao
Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal
Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial
No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela
Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que
seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos
auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo
dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)
atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto
Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de
1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o
risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos
Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da
Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam
ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981
pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela
13
ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias
processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico
de Direito
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da
Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito
fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees
marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes
de exceccedilatildeo
Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio
Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero
mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e
garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado
O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs
Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute
instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a
defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveis
Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo
ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos
do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e
sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees
eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo
14
jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave
existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito
Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico
de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua
atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela
soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e
garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses
sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas
determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles
direitos que o particular natildeo poder dispor livremente
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico
A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do
Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional
princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e
independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute
oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer
um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da
Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio
Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal
e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas
particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo
Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da
15
unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de
seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e
indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas
atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial
seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees
A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma
posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e
para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental
Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois
princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o
promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da
irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo
civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado
sempre seraacute responsaacutevel por danos causados
2311 Garantias Prerrogativas
Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e
prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem
expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo
de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que
exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico
natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo
dos interesses e direitos da sociedade
Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias
16
funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
17
deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
18
O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
19
Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
20
3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
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processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
AGRADECIMENTO
Agradeccedilo a meu orientador
pela compreensatildeo e agrave minha
famiacutelia pelo incentivo sempre
presentes em minha vida
8
RESUMO
Cuida-se neste escrito da Investigaccedilatildeo Criminal presidida pelo Ministeacuterio Puacuteblico Objetiva-se analisar se haacute legitimidade para os membros do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees preliminares na esfera criminal Buscou-se na Constituiccedilatildeo a autorizaccedilatildeo impliacutecita e o respeito agraves garantias individuais bem como a conformidade das disposiccedilotildees legais com esse poder Com relaccedilatildeo agrave Instituiccedilatildeo foi dada ecircnfase ao desenvolvimento histoacuterico e os dispositivos legais que regulam e conferem funccedilotildees para o Ministeacuterio Puacuteblico Levam-se em consideraccedilatildeo quais satildeo os crimes em que tal interferecircncia do ldquoParquetrdquo pode ser verificada com maior frequecircncia Versam-se ainda as discussotildees doutrinaacuterias e jurisprudenciais acerca do tema
PALAVRAS-CHAVE Ministeacuterio Puacuteblico Investigaccedilatildeo Criminal legitimidade
SUMAacuteRIO
CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO
08
CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
09
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
09
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988
10
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14
2311 Garantias Prerrogativas 15
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16
CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23
321 Natureza Juriacutedica 25
322 Competecircncia 25
CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
28
41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial
28
32
34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS
39 40 42 43 45 47 49
INTRODUCcedilAtildeO
Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu
monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como
prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo
de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a
respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu
direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal
Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos
para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na
qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito
Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998
p25)
ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo
O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o
grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas
meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal
Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a
problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em
concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais
Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste
estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes
Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais
9
2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem
entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no
antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos
magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura
do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e
Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do
advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos
bens do Imperador
Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios
imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos
ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do
priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio
Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem
tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem
do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs
conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila
figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio
Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se
conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como
designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal
10
denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos
Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de
piso taqueado
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL
DE 1988
O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder
Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma
Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias
Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822
persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com
atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma
fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil
A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de
1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado
ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio
Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores
Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com
esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a
previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao
11
1281
Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade
principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de
ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas
instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico
volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139
Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm
Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do
Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a
instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal
A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no
que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico
Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal
1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral
e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia
12
e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao
Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal
Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial
No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela
Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que
seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos
auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo
dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)
atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto
Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de
1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o
risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos
Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da
Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam
ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981
pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela
13
ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias
processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico
de Direito
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da
Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito
fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees
marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes
de exceccedilatildeo
Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio
Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero
mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e
garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado
O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs
Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute
instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a
defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveis
Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo
ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos
do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e
sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees
eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo
14
jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave
existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito
Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico
de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua
atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela
soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e
garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses
sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas
determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles
direitos que o particular natildeo poder dispor livremente
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico
A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do
Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional
princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e
independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute
oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer
um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da
Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio
Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal
e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas
particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo
Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da
15
unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de
seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e
indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas
atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial
seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees
A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma
posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e
para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental
Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois
princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o
promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da
irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo
civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado
sempre seraacute responsaacutevel por danos causados
2311 Garantias Prerrogativas
Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e
prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem
expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo
de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que
exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico
natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo
dos interesses e direitos da sociedade
Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias
16
funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
17
deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
18
O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
19
Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
20
3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
22
processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
8
RESUMO
Cuida-se neste escrito da Investigaccedilatildeo Criminal presidida pelo Ministeacuterio Puacuteblico Objetiva-se analisar se haacute legitimidade para os membros do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees preliminares na esfera criminal Buscou-se na Constituiccedilatildeo a autorizaccedilatildeo impliacutecita e o respeito agraves garantias individuais bem como a conformidade das disposiccedilotildees legais com esse poder Com relaccedilatildeo agrave Instituiccedilatildeo foi dada ecircnfase ao desenvolvimento histoacuterico e os dispositivos legais que regulam e conferem funccedilotildees para o Ministeacuterio Puacuteblico Levam-se em consideraccedilatildeo quais satildeo os crimes em que tal interferecircncia do ldquoParquetrdquo pode ser verificada com maior frequecircncia Versam-se ainda as discussotildees doutrinaacuterias e jurisprudenciais acerca do tema
PALAVRAS-CHAVE Ministeacuterio Puacuteblico Investigaccedilatildeo Criminal legitimidade
SUMAacuteRIO
CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO
08
CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
09
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
09
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988
10
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14
2311 Garantias Prerrogativas 15
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16
CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23
321 Natureza Juriacutedica 25
322 Competecircncia 25
CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
28
41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial
28
32
34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS
39 40 42 43 45 47 49
INTRODUCcedilAtildeO
Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu
monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como
prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo
de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a
respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu
direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal
Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos
para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na
qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito
Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998
p25)
ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo
O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o
grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas
meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal
Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a
problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em
concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais
Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste
estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes
Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais
9
2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem
entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no
antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos
magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura
do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e
Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do
advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos
bens do Imperador
Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios
imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos
ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do
priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio
Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem
tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem
do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs
conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila
figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio
Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se
conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como
designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal
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denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos
Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de
piso taqueado
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL
DE 1988
O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder
Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma
Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias
Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822
persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com
atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma
fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil
A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de
1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado
ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio
Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores
Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com
esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a
previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao
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1281
Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade
principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de
ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas
instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico
volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139
Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm
Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do
Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a
instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal
A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no
que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico
Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal
1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral
e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia
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e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao
Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal
Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial
No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela
Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que
seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos
auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo
dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)
atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto
Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de
1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o
risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos
Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da
Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam
ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981
pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela
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ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias
processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico
de Direito
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da
Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito
fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees
marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes
de exceccedilatildeo
Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio
Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero
mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e
garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado
O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs
Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute
instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a
defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveis
Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo
ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos
do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e
sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees
eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo
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jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave
existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito
Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico
de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua
atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela
soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e
garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses
sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas
determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles
direitos que o particular natildeo poder dispor livremente
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico
A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do
Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional
princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e
independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute
oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer
um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da
Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio
Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal
e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas
particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo
Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da
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unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de
seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e
indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas
atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial
seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees
A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma
posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e
para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental
Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois
princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o
promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da
irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo
civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado
sempre seraacute responsaacutevel por danos causados
2311 Garantias Prerrogativas
Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e
prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem
expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo
de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que
exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico
natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo
dos interesses e direitos da sociedade
Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias
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funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
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deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
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O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
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Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
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3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
22
processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
RESUMO
Cuida-se neste escrito da Investigaccedilatildeo Criminal presidida pelo Ministeacuterio Puacuteblico Objetiva-se analisar se haacute legitimidade para os membros do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees preliminares na esfera criminal Buscou-se na Constituiccedilatildeo a autorizaccedilatildeo impliacutecita e o respeito agraves garantias individuais bem como a conformidade das disposiccedilotildees legais com esse poder Com relaccedilatildeo agrave Instituiccedilatildeo foi dada ecircnfase ao desenvolvimento histoacuterico e os dispositivos legais que regulam e conferem funccedilotildees para o Ministeacuterio Puacuteblico Levam-se em consideraccedilatildeo quais satildeo os crimes em que tal interferecircncia do ldquoParquetrdquo pode ser verificada com maior frequecircncia Versam-se ainda as discussotildees doutrinaacuterias e jurisprudenciais acerca do tema
PALAVRAS-CHAVE Ministeacuterio Puacuteblico Investigaccedilatildeo Criminal legitimidade
SUMAacuteRIO
CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO
08
CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
09
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
09
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988
10
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14
2311 Garantias Prerrogativas 15
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16
CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23
321 Natureza Juriacutedica 25
322 Competecircncia 25
CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
28
41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial
28
32
34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS
39 40 42 43 45 47 49
INTRODUCcedilAtildeO
Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu
monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como
prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo
de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a
respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu
direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal
Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos
para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na
qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito
Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998
p25)
ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo
O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o
grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas
meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal
Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a
problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em
concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais
Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste
estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes
Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais
9
2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem
entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no
antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos
magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura
do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e
Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do
advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos
bens do Imperador
Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios
imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos
ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do
priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio
Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem
tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem
do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs
conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila
figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio
Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se
conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como
designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal
10
denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos
Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de
piso taqueado
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL
DE 1988
O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder
Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma
Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias
Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822
persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com
atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma
fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil
A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de
1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado
ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio
Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores
Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com
esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a
previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao
11
1281
Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade
principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de
ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas
instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico
volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139
Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm
Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do
Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a
instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal
A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no
que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico
Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal
1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral
e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia
12
e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao
Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal
Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial
No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela
Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que
seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos
auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo
dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)
atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto
Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de
1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o
risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos
Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da
Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam
ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981
pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela
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ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias
processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico
de Direito
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da
Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito
fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees
marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes
de exceccedilatildeo
Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio
Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero
mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e
garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado
O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs
Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute
instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a
defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveis
Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo
ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos
do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e
sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees
eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo
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jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave
existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito
Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico
de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua
atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela
soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e
garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses
sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas
determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles
direitos que o particular natildeo poder dispor livremente
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico
A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do
Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional
princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e
independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute
oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer
um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da
Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio
Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal
e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas
particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo
Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da
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unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de
seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e
indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas
atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial
seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees
A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma
posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e
para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental
Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois
princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o
promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da
irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo
civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado
sempre seraacute responsaacutevel por danos causados
2311 Garantias Prerrogativas
Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e
prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem
expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo
de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que
exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico
natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo
dos interesses e direitos da sociedade
Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias
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funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
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deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
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O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
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Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
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3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
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o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
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processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
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judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
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destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
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321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
SUMAacuteRIO
CAPIacuteTULO 1 ndash INTRODUCcedilAtildeO
08
CAPIacuteTULO 2 ndash ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
09
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
09
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988
10
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988 13
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico 14
2311 Garantias Prerrogativas 15
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico 16
CAPIacuteTULO 3 - INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
20 31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL 21
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL 23
321 Natureza Juriacutedica 25
322 Competecircncia 25
CAPIacuteTULO 4 - DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
28
41 PREVISAtildeO CONSTITUCIONAL 28
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA 43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS 431 Posiccedilatildeo Jurisprudencial
28
32
34 CAPIacuteTULO 5 ndash CONCLUSAtildeO REFEREcircNCIAS ANEXOS ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930 ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO 5937275 MINAS GERAIS
39 40 42 43 45 47 49
INTRODUCcedilAtildeO
Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu
monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como
prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo
de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a
respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu
direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal
Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos
para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na
qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito
Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998
p25)
ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo
O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o
grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas
meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal
Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a
problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em
concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais
Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste
estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes
Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais
9
2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem
entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no
antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos
magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura
do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e
Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do
advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos
bens do Imperador
Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios
imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos
ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do
priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio
Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem
tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem
do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs
conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila
figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio
Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se
conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como
designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal
10
denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos
Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de
piso taqueado
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL
DE 1988
O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder
Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma
Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias
Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822
persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com
atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma
fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil
A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de
1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado
ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio
Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores
Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com
esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a
previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao
11
1281
Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade
principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de
ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas
instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico
volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139
Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm
Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do
Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a
instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal
A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no
que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico
Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal
1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral
e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia
12
e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao
Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal
Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial
No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela
Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que
seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos
auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo
dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)
atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto
Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de
1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o
risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos
Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da
Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam
ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981
pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela
13
ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias
processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico
de Direito
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da
Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito
fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees
marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes
de exceccedilatildeo
Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio
Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero
mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e
garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado
O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs
Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute
instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a
defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveis
Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo
ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos
do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e
sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees
eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo
14
jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave
existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito
Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico
de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua
atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela
soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e
garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses
sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas
determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles
direitos que o particular natildeo poder dispor livremente
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico
A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do
Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional
princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e
independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute
oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer
um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da
Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio
Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal
e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas
particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo
Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da
15
unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de
seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e
indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas
atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial
seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees
A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma
posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e
para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental
Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois
princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o
promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da
irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo
civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado
sempre seraacute responsaacutevel por danos causados
2311 Garantias Prerrogativas
Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e
prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem
expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo
de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que
exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico
natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo
dos interesses e direitos da sociedade
Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias
16
funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
17
deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
18
O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
19
Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
20
3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
22
processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
INTRODUCcedilAtildeO
Ao Estado Maior em razatildeo de lhe ser conferido o jus puniendi e sendo seu
monopoacutelio eacute seu dever garantir a todos a paz social e a seguranccedila Assim como
prevecirc a norma apoacutes a praacutetica de um delito o interesse da sociedade exige um juiacutezo
de reprovaccedilatildeo cobrando do Estado a promoccedilatildeo das devidas investigaccedilotildees a
respeito da autoria e materialidade para que logo em seguida possa exercer seu
direito de punir de forma mais justa sobre os responsaacuteveis pela infraccedilatildeo penal
Eacute esta investigaccedilatildeo criminal que ofereceraacute subsiacutedios suficientes e miacutenimos
para a instauraccedilatildeo da accedilatildeo penal essa atribuiccedilatildeo exclusiva do Ministeacuterio Puacuteblico na
qual se pede em juiacutezo a aplicaccedilatildeo da sanccedilatildeo criminal ao acusado pelo delito
Nesse sentido eacute oportuno o ensinamento de Marcellus Polastri Lima (1998
p25)
ldquoCabe ao Estado a funccedilatildeo e o dever de assegurar e resguardar a liberdade individual estando autorizado em nome da seguranccedila social a proceder a apuraccedilatildeo dos fatos iliacutecitos penais punindo autores o que se traduz em defesa da paz social em uacuteltima instacircncia consequentemente da liberdade individualrdquo
O Estado atualmente diante da alta criminalidade conjuntamente com o
grande nuacutemero de casos natildeo solucionados encontra em outras soluccedilotildees idocircneas
meios para a melhoria e eficaacutecia dos procedimentos de investigaccedilatildeo criminal
Nesta seara tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia discutem a
problemaacutetica de o Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente investigaccedilotildees criminais em
concorrecircncia ou natildeo com os oacutergatildeos policiais
Com base na Constituiccedilatildeo Federal e na norma infraconstitucional neste
estudo aborda-se a autorizaccedilatildeo impliacutecita para a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
investigaccedilatildeo criminal bem como da anaacutelise da moderna Teoria dos Poderes
Impliacutecitos fundamento para decisotildees judiciais
9
2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem
entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no
antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos
magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura
do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e
Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do
advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos
bens do Imperador
Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios
imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos
ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do
priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio
Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem
tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem
do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs
conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila
figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio
Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se
conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como
designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal
10
denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos
Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de
piso taqueado
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL
DE 1988
O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder
Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma
Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias
Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822
persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com
atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma
fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil
A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de
1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado
ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio
Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores
Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com
esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a
previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao
11
1281
Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade
principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de
ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas
instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico
volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139
Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm
Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do
Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a
instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal
A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no
que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico
Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal
1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral
e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia
12
e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao
Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal
Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial
No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela
Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que
seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos
auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo
dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)
atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto
Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de
1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o
risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos
Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da
Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam
ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981
pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela
13
ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias
processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico
de Direito
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da
Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito
fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees
marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes
de exceccedilatildeo
Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio
Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero
mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e
garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado
O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs
Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute
instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a
defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveis
Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo
ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos
do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e
sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees
eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo
14
jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave
existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito
Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico
de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua
atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela
soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e
garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses
sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas
determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles
direitos que o particular natildeo poder dispor livremente
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico
A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do
Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional
princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e
independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute
oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer
um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da
Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio
Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal
e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas
particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo
Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da
15
unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de
seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e
indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas
atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial
seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees
A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma
posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e
para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental
Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois
princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o
promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da
irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo
civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado
sempre seraacute responsaacutevel por danos causados
2311 Garantias Prerrogativas
Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e
prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem
expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo
de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que
exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico
natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo
dos interesses e direitos da sociedade
Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias
16
funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
17
deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
18
O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
19
Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
20
3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
22
processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
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constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
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Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
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Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
9
2 ANTECEDENTES HISTOacuteRICOS
21 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO E SUA HISTOacuteRIA ndash NATUREZA INSTITUCIONAL
As origens mais remotas nas palavras de Hugo Mazzilli (1997) controvertem
entre uns que acreditavam que sua origem estaacute no Magiaiacute funcionaacuterio do rei no
antigo Egito que por sua vez tinha a incumbecircncia de denunciar os crimes aos
magistrados e outros acreditem que sua origem estaacute ligada agrave Greacutecia com a figura
do encarregado de manter o equiliacutebrio entre o poder real e o semitorial (Eacuteferos e
Esparta) onde exercia o jus acusationis ou ainda em Roma com as figuras do
advocati fisci e o procuratores caesaris com a atividade de administrar e zelar pelos
bens do Imperador
Para grandes estudiosos a atividade desenvolvida por esses funcionaacuterios
imperiais natildeo exerciam qualquer das atribuiccedilotildees hoje confiadas aos modernos
ldquoparquetsrdquo Sua atuaccedilatildeo como dita limitava-se agrave defesa dos interesses privados do
priacutencipe e a administraccedilatildeo de seu patrimocircnio
Segundo os ensinamentos de Roberto Lyra (1937) nem os gregos nem
tampouco os romanos conheceram propriamente a instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
Mas dentre tantas possibilidades a mais lembrada e apontada como origem
do Ministeacuterio Puacuteblico estaacute presente nos procuradores do rei do dito Francecircs
conhecida como ordenanccedila de Felipe o Belo A figura do Promotor de Justiccedila
figurava no Capiacutetulo V da Constituiccedilatildeo Francesa de 1791 ligada ao Poder Judiciaacuterio
Segundo a doutrina majoritaacuteria a expressatildeo Ministeacuterio Puacuteblico como se
conhece realmente nasceu na Franccedila seacuteculo XVIII daiacute a expressatildeo Parquet como
designaccedilatildeo da proacutepria Instituiccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico Acredita-se que tal
10
denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos
Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de
piso taqueado
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL
DE 1988
O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder
Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma
Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias
Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822
persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com
atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma
fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil
A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de
1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado
ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio
Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores
Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com
esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a
previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao
11
1281
Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade
principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de
ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas
instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico
volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139
Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm
Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do
Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a
instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal
A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no
que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico
Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal
1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral
e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia
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e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao
Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal
Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial
No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela
Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que
seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos
auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo
dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)
atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto
Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de
1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o
risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos
Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da
Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam
ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981
pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela
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ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias
processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico
de Direito
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da
Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito
fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees
marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes
de exceccedilatildeo
Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio
Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero
mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e
garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado
O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs
Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute
instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a
defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveis
Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo
ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos
do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e
sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees
eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo
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jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave
existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito
Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico
de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua
atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela
soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e
garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses
sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas
determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles
direitos que o particular natildeo poder dispor livremente
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico
A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do
Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional
princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e
independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute
oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer
um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da
Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio
Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal
e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas
particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo
Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da
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unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de
seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e
indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas
atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial
seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees
A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma
posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e
para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental
Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois
princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o
promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da
irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo
civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado
sempre seraacute responsaacutevel por danos causados
2311 Garantias Prerrogativas
Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e
prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem
expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo
de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que
exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico
natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo
dos interesses e direitos da sociedade
Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias
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funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
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deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
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O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
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Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
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3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
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o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
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processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
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judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
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destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
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321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
10
denominaccedilatildeo deriva do local onde o representante da Instituiccedilatildeo atuava em peacute nos
Tribunais espaccedilo este assoalhado limitado por balaustra daiacute Parquet derivado de
piso taqueado
22 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ANTES E DEPOIS DA CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL
DE 1988
O que se sabe eacute que no Brasil a instituiccedilatildeo nasceu ligada ao Poder
Executivo sendo que o primeiro decreto que regulava a atuaccedilatildeo do Ministeacuterio
Puacuteblico eacute o de nordm 120 de 21 de janeiro de 1843 que trazia a seguinte norma
Os promotores seratildeo nomeados pelo Imperador no municiacutepio da Corte e pelos Presidentes nas proviacutencias por tempo indefinido e serviratildeo enquanto conviesse a sua conservaccedilatildeo ao serviccedilo puacuteblico sendo caso contraacuterio indistintamente demitidos pelo Imperador ou pelos Presidentes das proviacutencias nas mesmas proviacutencias
Na Constituiccedilatildeo Imperial 1824 apoacutes Independecircncia do Brasil em 1822
persistia ainda a figura do procurador da Coroa de Soberania Nacional com
atribuiccedilatildeo de acusar no juiacutezo de crimes comuns pode-se afirmar que esta foi uma
fase embrionaacuteria do desenvolvimento do Parquet no Brasil
A primeira Constituiccedilatildeo Republicana a fazer referecircncia agrave instituiccedilatildeo foi de
1934 que o conceituou como oacutergatildeo de cooperaccedilatildeo das atividades do governo ligado
ao Tribunal de Contas Apesar da Constituiccedilatildeo de 1946 desvincular o Ministeacuterio
Puacuteblico do Poder executivo e Judiciaacuterio deixa de defini-lo como fez as anteriores
Pode-se afirmar que o marco de sua institucionalizaccedilatildeo tenha ocorrido de fato com
esta Constituiccedilatildeo pois podiam ser observadas regras para a carreira bem como a
previsatildeo de lei para regulamentar a atividade conforme constava nos artigos 125 ao
11
1281
Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade
principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de
ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas
instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico
volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139
Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm
Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do
Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a
instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal
A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no
que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico
Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal
1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral
e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia
12
e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao
Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal
Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial
No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela
Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que
seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos
auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo
dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)
atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto
Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de
1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o
risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos
Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da
Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam
ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981
pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela
13
ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias
processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico
de Direito
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da
Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito
fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees
marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes
de exceccedilatildeo
Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio
Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero
mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e
garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado
O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs
Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute
instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a
defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveis
Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo
ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos
do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e
sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees
eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo
14
jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave
existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito
Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico
de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua
atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela
soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e
garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses
sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas
determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles
direitos que o particular natildeo poder dispor livremente
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico
A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do
Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional
princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e
independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute
oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer
um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da
Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio
Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal
e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas
particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo
Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da
15
unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de
seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e
indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas
atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial
seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees
A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma
posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e
para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental
Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois
princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o
promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da
irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo
civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado
sempre seraacute responsaacutevel por danos causados
2311 Garantias Prerrogativas
Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e
prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem
expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo
de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que
exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico
natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo
dos interesses e direitos da sociedade
Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias
16
funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
17
deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
18
O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
19
Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
20
3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
22
processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
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Por oacutebvio que a Instituiccedilatildeo passou por momentos de instabilidade
principalmente em 1964 com o golpe militar que conduziu o paiacutes a longo periacuteodo de
ditadura e a supressatildeo de garantias individuais foi inevitaacutevel refletindo nas
instituiccedilotildees jurisdicionais Em 1967 houve nova Constituiccedilatildeo e o Ministeacuterio Puacuteblico
volta a ser ligado ao Poder Judiciaacuterio observados nos artigos 137 ao 139
Artigo 137 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto aos juiacutezes e tribunais federais Artigo 138 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por Chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica o qual seraacute nomeado pelo Presidente da Repuacuteblica depois de aprovada a escolha pelo Senado Federal dentre cidadatildeos com os requisitos Indicados no art 113 sect 1 e sect 2ordm Art 139 - O Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados seraacute organizado em carreira por lei estadual observado o disposto no paraacutegrafo primeiro do artigo anterior Paraacutegrafo uacutenico - Aplica-se aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico o disposto no art 108 sect 1ordm e art 136 sect 4ordm
Com a Resoluccedilatildeo nordm 13 e 02 de outubro de 2006 o Conselho Nacional do
Ministeacuterio Puacuteblico no exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees regulamenta no seu acircmbito a
instauraccedilatildeo e transmissatildeo de procedimento de investigaccedilatildeo criminal
A definiccedilatildeo e finalidade do procedimento investigatoacuterio estatildeo presentes no
que dispotildee o artigo 1ordm e paraacutegrafo uacutenico
Art 1ordm O procedimento investigatoacuterio criminal eacute instrumento de natureza administrativa e inquisitorial instaurado e presidido pelo membro do Ministeacuterio Puacuteblico com atribuiccedilatildeo criminal e teraacute como finalidade apurar a ocorrecircncia de infraccedilotildees penais de natureza puacuteblica servindo como preparaccedilatildeo e embasamento para o juiacutezo de propositura ou natildeo da respectiva accedilatildeo penal Paraacutegrafo uacutenico O procedimento investigatoacuterio criminal natildeo eacute condiccedilatildeo de procedibilidade ou pressuposto processual para o ajuizamento de accedilatildeo penal
1 Artigo 125 A lei organizaraacute o Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo junto agrave justiccedila comum a militar a eleitoral
e a do trabalho Artigo 126 O Ministeacuterio Puacuteblico Federal tem por chefe o Procurador-Geral da Repuacuteblica Artigo 127 Os membros do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo do Distrito Federal e dos Territoacuterios ingressaratildeo nos cargos iniciais da carreira mediante concurso Artigo 128 Nos Estados o Ministeacuterio Puacuteblico seraacute tambeacutem organizado em carreira observados os preceitos do artigo anterior e mais o principio de promoccedilatildeo de entracircncia a entracircncia
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e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao
Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal
Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial
No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela
Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que
seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos
auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo
dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)
atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto
Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de
1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o
risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos
Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da
Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam
ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981
pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela
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ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias
processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico
de Direito
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da
Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito
fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees
marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes
de exceccedilatildeo
Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio
Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero
mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e
garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado
O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs
Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute
instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a
defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveis
Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo
ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos
do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e
sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees
eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo
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jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave
existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito
Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico
de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua
atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela
soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e
garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses
sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas
determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles
direitos que o particular natildeo poder dispor livremente
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico
A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do
Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional
princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e
independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute
oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer
um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da
Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio
Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal
e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas
particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo
Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da
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unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de
seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e
indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas
atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial
seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees
A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma
posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e
para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental
Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois
princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o
promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da
irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo
civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado
sempre seraacute responsaacutevel por danos causados
2311 Garantias Prerrogativas
Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e
prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem
expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo
de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que
exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico
natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo
dos interesses e direitos da sociedade
Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias
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funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
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deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
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O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
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Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
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3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
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o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
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processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
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judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
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destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
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321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
12
e natildeo exclui a possibilidade de formalizaccedilatildeo de investigaccedilatildeo por outros oacutergatildeos legitimados da Administraccedilatildeo Puacuteblica
Jaacute na mesma Resoluccedilatildeo no artigo 6ordm observam-se os limites impostos ao
Ministeacuterio Puacuteblico para proceder agrave instruccedilatildeo de procedimento Investigatoacuterio Criminal
Art 6ordm Sem prejuiacutezo de outras providecircncias inerentes agrave sua atribuiccedilatildeo funcional e legalmente previstas o membro do Ministeacuterio Puacuteblico na conduccedilatildeo das investigaccedilotildees poderaacute I ndash fazer ou determinar vistorias inspeccedilotildees e quaisquer outras diligecircncias II ndash requisitar informaccedilotildees exames periacutecias e documentos de autoridades oacutergatildeos e entidades da Administraccedilatildeo Puacuteblica direta e indireta da Uniatildeo dos Estados do Distrito Federal e dos Municiacutepios III ndash requisitar informaccedilotildees e documentos de entidades privadas inclusive de natureza cadastral IV ndash notificar testemunhas e viacutetimas e requisitar sua conduccedilatildeo coercitiva nos casos de ausecircncia injustificada ressalvadas as prerrogativas legais V ndash acompanhar buscas e apreensotildees deferidas pela autoridade judiciaacuteria VI ndashndash acompanhar cumprimento de mandados de prisatildeo preventiva ou temporaacuteria deferidas pela autoridade judiciaacuteria VII ndash expedir notificaccedilotildees e intimaccedilotildees necessaacuterias VIII- realizar oitivas para colheita de informaccedilotildees e esclarecimentos IX ndash ter acesso incondicional a qualquer banco de dados de caraacuteter puacuteblico ou relativo a serviccedilo de relevacircncia puacuteblica X ndash requisitar auxiacutelio de forccedila policial
No Estado do Paranaacute visando a adequaccedilatildeo na organizaccedilatildeo imposta pela
Lei nordm 86251993 em dezembro de 1999 foi editada a Lei complementar nordm 85 que
seguiu as diretrizes traccediladas por aquela com relaccedilatildeo agraves disposiccedilotildees gerais oacutergatildeos
auxiliares e ainda estabelecidas as funccedilotildees dos promotores Mas foi com a criaccedilatildeo
dos GAECOS (Grupo de Autuaccedilatildeo Especial de Combate ao Crime Organizado)
atraveacutes da Resoluccedilatildeo ndeg154109 onde o Estado regulamenta tal assunto
Pouco tempo depois em 1969 alterou-se a redaccedilatildeo da Constituiccedilatildeo de
1967 recolocando o Parquet no capiacutetulo do Poder Executivo trazendo novamente o
risco da Instituiccedilatildeo servir para a manutenccedilatildeo de regimes natildeo democraacuteticos
Em 1977 a Emenda Constitucional nordm 07 alterando o artigo 96 da
Constituiccedilatildeo previu que as normas gerais atinentes ao Ministeacuterio Puacuteblico deveriam
ser regulamentadas por Lei Complementar o que efetivamente se deu em 1981
pela Lei Complementar nordm 40 mas natildeo haacute duacutevida que a grande responsaacutevel pela
13
ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias
processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico
de Direito
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da
Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito
fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees
marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes
de exceccedilatildeo
Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio
Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero
mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e
garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado
O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs
Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute
instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a
defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveis
Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo
ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos
do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e
sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees
eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo
14
jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave
existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito
Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico
de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua
atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela
soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e
garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses
sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas
determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles
direitos que o particular natildeo poder dispor livremente
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico
A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do
Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional
princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e
independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute
oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer
um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da
Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio
Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal
e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas
particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo
Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da
15
unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de
seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e
indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas
atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial
seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees
A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma
posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e
para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental
Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois
princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o
promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da
irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo
civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado
sempre seraacute responsaacutevel por danos causados
2311 Garantias Prerrogativas
Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e
prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem
expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo
de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que
exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico
natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo
dos interesses e direitos da sociedade
Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias
16
funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
17
deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
18
O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
19
Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
20
3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
22
processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
13
ascensatildeo da importacircncia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como de todo rol de garantias
processuais foi a Constituiccedilatildeo de 1988 elevando o retorno ao Estado Democraacutetico
de Direito
23 O MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO NA CONSTITUICcedilAtildeO DE 1988
Em 05 de outubro de 1988 foi promulgada a nova Constituiccedilatildeo da
Repuacuteblica Federativa do Brasil para instituir um Estado Democraacutetico de Direito
fazendo uso das palavras contidas em seu preacircmbulo Realmente suas disposiccedilotildees
marcaram a imposiccedilatildeo legal de direitos e garantias por anos usurpadas em regimes
de exceccedilatildeo
Destaca Mazzilli (1997) que nesta nova premissa juriacutedica o Ministeacuterio
Puacuteblico surge como um quase quarto poder em tal colocaccedilatildeo haacute algum exagero
mas natildeo se pode negar que a nova Carta Poliacutetica conferiu poderes prerrogativas e
garantias relevantes ateacute certo ponto soacute encontrados nos outros poderes do Estado
O Ministeacuterio Puacuteblico recebeu autonomia atuando independente dos Trecircs
Poderes o artigo 127 da Constituiccedilatildeo o conceitua como O Ministeacuterio Puacuteblico eacute
instituiccedilatildeo permanente essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional do Estado incumbindo-lhe a
defesa da ordem juriacutedica do regime democraacutetico e dos interesses sociais e
individuais indisponiacuteveis
Deste conceito algumas expressotildees satildeo de essencial importacircncia devendo
ser ressaltadas uma instituiccedilatildeo permanente faz com que seja um dos instrumentos
do Estado para fixar sua soberania deve agir na defesa dos interesses coletivos e
sociais difusos e individuais indisponiacuteveis para o pleno exerciacutecio de suas atribuiccedilotildees
eacute imprescindiacutevel o caraacuteter permanente e estaacutevel A condiccedilatildeo de essencial agrave funccedilatildeo
14
jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave
existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito
Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico
de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua
atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela
soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e
garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses
sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas
determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles
direitos que o particular natildeo poder dispor livremente
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico
A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do
Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional
princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e
independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute
oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer
um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da
Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio
Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal
e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas
particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo
Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da
15
unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de
seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e
indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas
atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial
seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees
A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma
posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e
para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental
Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois
princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o
promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da
irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo
civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado
sempre seraacute responsaacutevel por danos causados
2311 Garantias Prerrogativas
Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e
prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem
expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo
de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que
exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico
natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo
dos interesses e direitos da sociedade
Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias
16
funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
17
deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
18
O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
19
Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
20
3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
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processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
14
jurisdicional do Estado significa que a Constituiccedilatildeo de 1988 tornou indispensaacutevel agrave
existecircncia do Ministeacuterio Puacuteblico para manutenccedilatildeo do Estado Democraacutetico de Direito
Cabe tambeacutem a incumbecircncia de defender a ordem juriacutedica do regime democraacutetico
de direito e dos interesses sociais e individuais indisponiacuteveis o que significa sua
atuaccedilatildeo como custus legis velando pelo regime democraacutetico caracterizado pela
soberania popular com eleiccedilatildeo direta secreta e universal a triparticcedilatildeo de poderes e
garantia aos direitos fundamentais Por fim deve agir na defesa dos interesses
sociais coletivos e difusos ou seja defesa da coletividade ou de pessoas
determinadas e nos interesses individuais indisponiacuteveis ou seja defesa daqueles
direitos que o particular natildeo poder dispor livremente
231 Princiacutepios Institucionais do Ministeacuterio Puacuteblico
A Constituiccedilatildeo trouxe no artigo 127 sect 1deg - satildeo princiacutepios institucionais do
Ministeacuterio Puacuteblico a unidade a indivisibilidade e a independecircncia funcional
princiacutepios que norteiam a suas atividades satildeo os da unidade indivisibilidade e
independecircncia A unidade entende-se que membros e instituiccedilatildeo formam um soacute
oacutergatildeo subordinados agrave Procuradoria-Geral deste modo a manifestaccedilatildeo de qualquer
um de seus membros seraacute sempre institucional natildeo pessoal Ressalta-se que o
Ministeacuterio Puacuteblico no Brasil eacute formado de acordo com o disposto no artigo 128 da
Lei Maior pelo Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio
Puacuteblico do Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal
e dos Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados cada um com suas
particularidades mas compondo uma uacutenica Instituiccedilatildeo
Outro princiacutepio eacute da indivisibilidade relacionada diretamente ao princiacutepio da
15
unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de
seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e
indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas
atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial
seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees
A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma
posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e
para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental
Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois
princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o
promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da
irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo
civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado
sempre seraacute responsaacutevel por danos causados
2311 Garantias Prerrogativas
Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e
prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem
expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo
de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que
exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico
natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo
dos interesses e direitos da sociedade
Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias
16
funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
17
deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
18
O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
19
Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
20
3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
22
processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
15
unidade depreende-se que a instituiccedilatildeo natildeo pode ser dividida e a substituiccedilatildeo de
seus membros se faz de acordo com a Lei permanecendo a instituiccedilatildeo unida e
indivisiacutevel Possivelmente o princiacutepio que garante o pleno exerciacutecio de suas
atribuiccedilotildees eacute o da independecircncia funcional isto significa que na funccedilatildeo ministerial
seus membros estatildeo sujeitos somente agrave lei existindo liberdade para manifestaccedilotildees
A hierarquia no Ministeacuterio Puacuteblico eacute administrativa e natildeo funcional desta forma
posicionamentos discordantes de seus membros satildeo perfeitamente aceitaacuteveis e
para aqueles que admitem a investigaccedilatildeo direta esta independecircncia eacute fundamental
Professor Hildebrando Rebelo Tourinho Filho (2005) traz mais dois
princiacutepios o da irrecusabilidade segundo o qual a parte natildeo pode recusar o
promotor designado salvo casos de suspeiccedilatildeo e impedimento e o princiacutepio da
irresponsabilidade este informa que os membros do Ministeacuterio Puacuteblico natildeo seratildeo
civilmente responsaacuteveis pelos atos praticados no exerciacutecio da funccedilatildeo mas o Estado
sempre seraacute responsaacutevel por danos causados
2311 Garantias Prerrogativas
Os avanccedilos com a Constituiccedilatildeo de 1988 em relaccedilatildeo agraves garantias e
prerrogativas conferidas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico satildeo claros como bem
expotildee Mazzilli (1997) natildeo devem ser tratados como privileacutegios de um seleto grupo
de funcionaacuterios puacuteblicos mas sim garantias e prerrogativas em razatildeo da funccedilatildeo que
exercem para que possam bem desempenhaacute-Ia no proveito do interesse puacuteblico
natildeo atrelado ao interesse de governantes como noutros tempos mas na proteccedilatildeo
dos interesses e direitos da sociedade
Satildeo asseguradas aos membros do Ministeacuterio Puacuteblico as mesmas garantias
16
funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
17
deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
18
O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
19
Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
20
3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
22
processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
16
funcionais dos magistrados por assim ser possuem vitaliciedade apoacutes dois anos de
exerciacutecio transcorrido este prazo soacute perderaacute o cargo apoacutes sentenccedila judicial em
processo civil proacuteprio contudo vitaliciedade natildeo significa que o cargo eacute perpeacutetuo
pois a aposentadoria eacute compulsoacuteria aos setenta anos A inamovibilidade busca
proteger a funccedilatildeo daquele que ocupa o cargo sendo vedada a remoccedilatildeo
discricionaacuteria de um membro ressalvado o interesse puacuteblico eacute garantida tambeacutem a
irredutibilidade dos vencimentos Por outro lado a Constituiccedilatildeo trouxe vedaccedilotildees
determinadas pelo artigo 128 II dentre elas estaacute a proibiccedilatildeo de exercer a advocacia
participar de sociedade comercial e exercer atividade poliacutetico-partidaacuteria destaca-se
que por forccedila da Emenda Constitucional nordm 4504 a vedaccedilatildeo do exerciacutecio da
advocacia por trecircs anos apoacutes o afastamento do Tribunal ou Juiacutezo onde atuava
Outra inovaccedilatildeo trazida pela Emenda Constitucional nordm 4504 foi o artigo 130
A o qual criou o Conselho Nacional do Ministeacuterio Puacuteblico com a finalidade de zelar
pelo funcionamento e autonomia do Ministeacuterio Puacuteblico bem como receber
reclamaccedilotildees contra seus membros
2312 A Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico
Ateacute 1988 a disposiccedilotildees constitucionais sobre o Ministeacuterio Puacuteblico vezes
eram consistentes vezes eram tratadas superficialmente e nos Estados natildeo existia
harmonia quanto agrave organizaccedilatildeo devido a falta de uma disposiccedilatildeo geral a ser
aplicada por todos os entes federativos Em 1981 surgiu a primeira Lei Orgacircnica do
Ministeacuterio Puacuteblico estabelecendo normas gerais para a organizaccedilatildeo do Parquet nos
Estados Distrito Federal e Territoacuterios determinando-o como instituiccedilatildeo permanente
e essencial agrave funccedilatildeo jurisdicional e definindo cargos funccedilotildees prerrogativas
17
deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
18
O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
19
Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
20
3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
22
processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
17
deveres e vedaccedilotildees Em mateacuteria processual penal merece destaque o disposto no
artigo 15 II acerca de suas atribuiccedilotildees acompanhar atos investigatoacuterios junto a
organismos policiais ou administrativos quando assim considerarem conveniente agrave
apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais ou se designados pelo Procurador-Geral este
dispositivo demonstra a intenccedilatildeo de intervir jaacute na fase preliminar da investigaccedilatildeo
criminal
Em 1993 cumprindo o previsto pela Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica de 1988 o
qual determinava que fosse editada lei para regulamentar a organizaccedilatildeo e
funcionamento bem como para a adequaccedilatildeo a nova ordem juriacutedica nacional foi
editada a nova Lei Orgacircnica do Ministeacuterio Puacuteblico a nordm 862593 traccedilando normas
gerais sobre a organizaccedilatildeo da Instituiccedilatildeo nos Estados Esta Lei tratou detalhar as
disposiccedilotildees esboccediladas pela Lei Complementar nordm 4081 e reforccedilados pela
Constituiccedilatildeo de 1988 distribuindo a composiccedilatildeo em trecircs oacutergatildeos o de
administraccedilatildeo o de execuccedilatildeo e o dos auxiliares
Os oacutergatildeos de administraccedilatildeo elencados no artigo 5deg compreendem a
Procuradoria-Geral de Justiccedila Coleacutegio dos Procuradores de Justiccedila o artigo 12
informa suas atribuiccedilotildees fazem parte tambeacutem da administraccedilatildeo o Conselho
Superior do Ministeacuterio Puacuteblico formado pelo Procurador-Geral de Justiccedila e o
Corregedor-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico Dentre suas funccedilotildees destaca-se a
elaboraccedilatildeo da lista secircxtupla para escolha dos membros que iratildeo compor os lugares
nos Tribunais Regionais Federais e Tribunais dos Estados Distrito Federal e
Territoacuterios de acordo com disposto no artigo 94 da Constituiccedilatildeo e na composiccedilatildeo do
Superior Tribunal de Justiccedila conforme o artigo 104 II tambeacutem da Lei Maior Por fim
compotildee os oacutergatildeos da administraccedilatildeo a Corregedoria-Geral do Ministeacuterio Puacuteblico a as
Procuradorias e Promotorias de Justiccedila
18
O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
19
Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
20
3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
22
processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
18
O segundo oacutergatildeo instituiacutedo pela Lei nordm 862593 com funccedilatildeo de execuccedilatildeo
repetindo o disposto consagrado pela Constituiccedilatildeo e pelo Coacutedigo de Processo Penal
de promover privativamente a accedilatildeo penal puacuteblica e requisitar diligecircncias e
instauraccedilatildeo de inqueacuterito Compotildee ainda os oacutergatildeos de execuccedilatildeo o Poder-Geral com
atribuiccedilotildees dispostas nos artigos 10 e 29 o Conselho Superior do Ministeacuterio Puacuteblico
Procuradores que atuam perante aos Tribunais e Promotores que atuam em
primeira instacircncia
O terceiro satildeo os oacutergatildeos auxiliares compostos pelos Centros de Apoio
Operacional Comissatildeo de Concurso e Ingresso Centro de Estudos e
Aperfeiccediloamento Funcional Oacutergatildeo de Apoio Administrativo e Estagiaacuterio
As disposiccedilotildees sobre prerrogativas assim como deveres e vedaccedilotildees
encontram-se dispostos nos artigos 38 ao 43 em suma estatildeo alinhados ao disposto
pela Constituiccedilatildeo
No mesmo ano de 1993 em 21 de maio foi publicada a Lei Complementar
nordm 75 dispondo sobre a organizaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo objetivamente
deixou a organizaccedilatildeo do Parquet de acordo com o texto constitucional As principais
atribuiccedilotildees funccedilotildees e instrumentos para atuaccedilatildeo satildeo semelhantes poreacutem mais
abrangentes que as disposiccedilotildees da Lei nordm 862593 contendo a organizaccedilatildeo do
Ministeacuterio Puacuteblico da Uniatildeo Ministeacuterio Puacuteblico Federal Ministeacuterio Puacuteblico do
Trabalho Ministeacuterio Puacuteblico Militar Ministeacuterio Puacuteblico do Distrito Federal e dos
Territoacuterios e Ministeacuterio Puacuteblico dos Estados deve se ressaltar que aquela lei eacute
aplicada subsidiariamente
Com relaccedilatildeo ao processo penal foco do trabalho o primeiro ponto a se
destacar eacute o conteuacutedo dos artigos 3deg e 9deg relativos ao controle externo da atividade
policial a ser tratado adiante na analise do artigo 129 da Constituiccedilatildeo da Repuacuteblica
19
Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
20
3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
22
processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
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Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
19
Tambeacutem merece destaque a disposiccedilatildeo do artigo 38 II o qual confere ao Ministeacuterio
Puacuteblico da Uniatildeo aleacutem do poder de requisitar diligecircncias e instauraccedilatildeo de inqueacuterito
acompanha-os e apresenta novas provas
20
3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
22
processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
20
3 INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
O objetivo central do estudo natildeo pode ser atingido sem o entendimento
do que consiste e como procede a Investigaccedilatildeo Criminal
Sabe-se que existem vaacuterias teorias que explicam o nascimento da figura
do Estado Para Dalmo de Abreu Dalari eacute grande a possibilidade de concluir que
ldquoa sociedade eacute resultante da necessidade natural do homem sem excluir a
participaccedilatildeo da consciecircncia e da vontade humana e sem negar a influecircncia de
contratualismordquo(DALARI 1995 p 14)
Com a formaccedilatildeo do estado garantidor da vida em sociedade eacute inerente o seu poder de punir esse poder monopolisado Com o passar do tempo e consequente desenvolvimento a sociedade se transformou e evoluiu para o modelo que conhecemos hoje passou de poder concentrado desmembrando-se em oacutergatildeos distintos ldquoPara atingir seus fins as funccedilotildees baacutesicas do estado ndash legislativa administrativa e jurisdicional ndash satildeo entregues a oacutergatildeos distintos Legislativo Executivo e Judiciaacuterio Tal reparticcedilatildeo sobre ser necessaacuteria em virtude das vantagens que a divisatildeo do trabalho proporciona torna-se verdadeiro imperativo para que se evite as prepotecircncias os desmandos o aniquilamento enfim das liberdades individuais Insuportaacutevel seria viver num Estado em que a funccedilatildeo de legislar a de administrar e a de julgar estivessem enfeixadas nas matildeos de um soacute oacutergatildeordquo (TOURINHO FILHO 2005 p 2-3)
Nesta seara cabe ao Poder Legislativo e ao Judiciaacuterio respectivamente a
elaboraccedilatildeo e aplicaccedilatildeo da Lei na soluccedilatildeo dos conflitos sociais indo de encontro
aos princiacutepios constitucionais que garantem para todos aqueles que constem
infraccedilatildeo penal se apurara por meio da Investigaccedilatildeo Criminal o meio mais justo
Esta afirmaccedilatildeo deriva do princiacutepio do Devido Processo Legal consagrado pela
CF88 no artigo 5ordm inciso LIV
Em suma busca-se assegurar agrave pessoa sua defesa em juiacutezo
Pinto Ferreira (1999) aborda o princiacutepio do devido Processo Legal sob
este prisma
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
22
processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
21
o devido processo legal significa direito a regular o curso da administraccedilatildeo da justiccedila pelos juiacutezos e tribunais A claacuteusula constitucional do devido processo legal abrange de forma compreensiva a) o direito agrave citaccedilatildeo pois ningueacutem pode ser acusado sem ter conhecimento da acusaccedilatildeo b) direito de arrolamento de testemunhas que deveratildeo ser intimadas para comparecer perante a justiccedila c) direito ao procedimento contraditoacuterio d) o direito de natildeo ser processado por leis ex post factor e) o direito de igualdade com a acusaccedilatildeo f) o direito de ser julgado mediante provas e evidecircncia legal e legitimamente obtida g) o direito ao juiz naturalh)o privileacutegio contra a auto incriminaccedilatildeo i ) indeclinabilidade da prestaccedilatildeo jurisdicional quando solicitada j ) o direito aos recursos l ) o direito agrave decisatildeo com eficaacutecia de coisa julgada(1999 p176-177)
Por claro a Constituiccedilatildeo de 1988 estabeleceu ainda vaacuterios dispositivos de
defesa assegurando sempre tais garantias balizando a investigaccedilatildeo e apuraccedilatildeo
dos iliacutecitos penais Especificamente na anaacutelise detalhada do artigo 5ordm inciso
XXXV ldquoa lei natildeo excluiraacute da apreciaccedilatildeo do Poder Judiciaacuterio lesatildeo ou ameaccedila a
direitordquo decorrente do princiacutepio da Legalidade pilar do estado democraacutetico de
direito inciso XXXVII ldquonatildeo haveraacute juiacutezo ou tribunal de exceccedilatildeordquo dentre outros
Assim obvia e especialmente estatildeo as normas de Direito Processual
Penal que com suas formalidade satildeo tidas como complemento ou atualizaccedilatildeo
das garantias constitucionais
31 CONCEITO DE INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL
A investigaccedilatildeo criminal eacute a atividade desempenhada pelos oacutergatildeos
puacuteblicos competentes para elucidaccedilatildeo da responsabilidade de certo delito e
fornecimento de elementos probatoacuterios miacutenimos ao Ministeacuterio puacuteblico para o
exerciacutecio da accedilatildeo penal
Sobre o tema leciona Lima
O sistema processual paacutetrio eacute acusatoacuterio com a acusaccedilatildeo em regra a cargo do Ministeacuterio Puacuteblico prevalecendo o princiacutepio do contraditoacuterio Entretanto o
22
processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
22
processo eacute precedido pela fase de investigaccedilatildeo com caraacuteter sigiloso onde natildeo prevalece o contraditoacuterio possibilitando assim a elucidaccedilatildeo do fato tiacutepico A investigaccedilatildeo portanto natildeo tem as formalidades processuais podendo sim ter caraacuteter de procedimento no caso de inqueacuterito policial ou outro procedimento investigatoacuterio previsto em lei Ressalte-se que para a propositura da accedilatildeo penal poderaacute ateacute mesmo inexistir quaisquer atos procedimentais bastando a notiacutecia-crime ou peccedilas de informaccedilatildeo casos elementos necessaacuterios jaacute estejam presentes(1998 p52)
A Investigaccedilatildeo Criminal tem seu marco com a notiacutecia crime sendo o meio
utilizado para se atingir a autoria modo tempo de um delito consistindo em todos
os meios para a apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais atraveacutes dos quais o Ministeacuterio
Puacuteblico desenvolve as diversas atividades processuais
Para Frederico Marques (2003) a investigaccedilatildeo eacute
a investigaccedilatildeo eacute a atividade de persecutivo criminis destinada a accedilatildeo penal Daiacute apresentar caraacuteter preparatoacuterio e informativo visto que o seu objetivo eacute o de levar aos oacutergatildeos da accedilatildeo penal os elementos necessaacuterios para a deduccedilatildeo da pretensatildeo punitiva em juiacutezo inquisitio nibil est quam informatio delicti(2003 p39)
Observa-se que a investigaccedilatildeo com suas caracteriacutesticas proacuteprias natildeo
pode ser confundida com a instruccedilatildeo O objetivo da primeira eacute a obtenccedilatildeo de
dados de informaccedilatildeo destinado aos oacutergatildeos da acusaccedilatildeo Jaacute o objeto de
procedimento instrutoacuterio ou eacute a colheita de provas para demonstraccedilatildeo da
legitimidade da pretensatildeo punitiva ou do direito de defesa ou entatildeo a formaccedilatildeo
da culpa quando da competecircncia do Tribunal do Juacuteri Em resumo a investigaccedilatildeo
se destina a por o fato em contato com o oacutergatildeo da accedilatildeo penal e a instruccedilatildeo o
fato em contato com o juiz
Dentre as formas e investigaccedilatildeo a mais comum eacute o Inqueacuterito Policial por
ser o mais utilizado e conhecido seraacute tratado em toacutepico proacuteprio abordando
aspectos gerais Outra forma muito conhecida satildeo Comissotildees Parlamentares de
Inqueacuterito Estas possuem poderes de investigaccedilatildeo tais quais as autoridades
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
23
judiciais A Lei nordm 1579 de 18 de marccedilo de 1952 prevecirc que A popular ldquoCPIrdquo tem
poder para requisitar diligecircncias tomar depoimentos inquirir testemunhas
Hoje tal previsatildeo encontra-se no texto constitucional consagrado no artigo
58 sect3ordm Tem-se ainda como destaque o Inqueacuterito Policial Militar previsto no
Coacutedigo Penal Militar
32 ASPECTOS DO INQUEacuteRITO POLICIAL
Natildeo se almeja no estudo expor de forma minuciosa todos os aspectos
do Inqueacuterito Policial mas trazer informaccedilotildees suficientes para uma visatildeo global do
seu desenvolvimento do seu desenrolar
O Inqueacuterito Policial tem sido o meio tradicional mais comum da
Investigaccedilatildeo Criminal mesmo que alguns doutrinadores o achem dispensaacutevel
Trata-se portanto de procedimento administrativo visando dar agrave
acusaccedilatildeo lastro miacutenimo inicial ao exerciacutecio da accedilatildeo penal ou seja assegura ao
Ministeacuterio Puacuteblico a formaccedilatildeo da sua opiniatildeo delicti e possa optar entre deflagrar
a accedilatildeo penal ou proceder a investigaccedilatildeo suplementar (CPP art 16) ou a
promoccedilatildeo de arquivamento o que se pode chamar ldquonatildeo-processordquo
Visto com procedimento administrativo que se utiliza de meios cabiacuteveis
para a apuraccedilatildeo do fato delituoso e a reuniatildeo de fundamentaccedilatildeo probatoacuteria
miacutenima
A doutrina conceitua de forma bastante semelhante este procedimento
vejamos as palavras de Afracircnio Silva Jardim (1999) que dispotildee
[]o inqueacuterito policial eacute um procedimento administrativo-investigatoacuterio absolutamente sumaacuterio voltado exclusivamente para viabilizaccedilatildeo da accedilatildeo penal [] mero procedimento administrativo-investigativo preacutevio
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
24
destinado tatildeo somente a dar lastro probatoacuterio miacutenimo agrave acusaccedilatildeo penal podendo ser dispensado quando tal finalidade venha a ser alcanccedilada atraveacutes das chamadas peccedilas de informaccedilatildeo (1999 p45e 49)
E ainda sobre o tema Rocircmulo de Andrade Moreira (2003) ensina
O inqueacuterito eacute um procedimento preliminar extrajudicial e preparatoacuterio para accedilatildeo penal sendo por isso considerado como a primeira fase da persecutio criminis (que se completa coma fase em juiacutezo) Eacute instaurado pela poliacutecia judiciaacuteria e tem como finalidade a apuraccedilatildeo de infraccedilatildeo penal e de sua respectiva autoria (2003 p 157)
Em 1871 com a Lei ndeg 2033 regulamentada com o Decreto-Lei ndeg
4824 viu-se a primeira menccedilatildeo com a nomenclatura Inqueacuterito policial em seu
artigo 42 que definia rdquoo Inqueacuterito Policial consiste em todas as diligecircncias
necessaacuterias para o descobrimento dos fatos criminosos de suas circunstacircncias e
de seus autores e cuacutemplices devendo ser reduzido a instrumento escritordquo
Entende-se que eacute atraveacutes deste procedimento administrativo que a poliacutecia
judiciaacuteria procura buscar lastros probatoacuterios para suportar eventual e futura
acusaccedilatildeo sendo que o destinataacuterio final por oacutebvio eacute o Ministeacuterio Puacuteblico a que a
Constituiccedilatildeo Paacutetria atribuiu a funccedilatildeo privativa da accedilatildeo penal puacuteblica (CF 129I)
Para Ivan Luiz da Silva (2005) podemos classificar atualmente as
investigaccedilotildees em policiais e extrapoliciais ldquoAs investigaccedilotildees policiais satildeo
realizadas por meio de Inqueacuterito Policial Jaacute as Investigaccedilotildees Criminais
extrapoliciais que neste momento nos chamam mais atenccedilatildeo satildeo aquelas
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico por meio de procedimento administrativo interno
para a elucidaccedilatildeo e responsabilidade do delito praticado
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
25
321 Natureza Juriacutedica
Com a natureza de peccedila predominantemente informativa o Inqueacuterito
Policial sinaliza a fase inquisitorial no Processo Penal
A razatildeo principal de considerar esta fase como inquisitoacuteria estaacute no sigilo
caracteriacutestico do Inqueacuterito Policial onde natildeo haacute possibilidade de contraditoacuterio
tenta-se justificar a ausecircncia de defesa nesta fase pois acredita-se que exista
apenas indiacutecios e para da melhor apuraccedilatildeo do ato delituoso o sigilo evitaria a
intimaccedilatildeo de testemunhas e ocultaccedilatildeo ou destruiccedilatildeo de provas
Tal procedimento administrativo de cunho preacute-processual tem natureza
juriacutedica determinada pela necessidade de se obter atos investigatoacuterios de
preparaccedilatildeo visando uma correta persecuccedilatildeo penal
Finalmente temos o Inqueacuterito Policial sendo procedimento de caraacuteter
administrativo visando dar suporte teacutecnico agrave formulaccedilatildeo da acusaccedilatildeo estatal
322 Competecircncia
A competecircncia para a conduccedilatildeo do Inqueacuterito Policial eacute atribuiacuteda a uma
autoridade puacuteblica como regra geral eacute conduzida por Delegado de Poliacutecia
competente territorialmente ou ainda de Delegacia Especializada quando
couber
Mirabete (2005) respeitado doutrinador assim conceitua
Salvo exceccedilotildees legais a competecircncia para presidir o inqueacuterito policial eacute deferida em termos agora constitucionais aos delegados de poliacutecia de carreira de acordo com as normas de organizaccedilatildeo policial do Estado Ressalva-se que a palavra competecircncia eacute empregada na hipoacutetese em sentido amplo com ldquoatribuiccedilatildeordquo a um funcionaacuterio puacuteblico para suas funccedilotildees Essa atribuiccedilatildeo eacute distribuiacuteda de um modo geral de acordo com
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
26
o lugar onde se consumou a infraccedilatildeo (ratione loci) em lei obediecircncia agrave lei processual que se refere ao ldquoterritoacuteriordquo das diversas circunscriccedilotildees (2005 p84)
A Constituiccedilatildeo Federal vigente expotildee em seu artigo 144 e respectivos
paraacutegrafos onde estabelecem a competecircncia de suas poliacutecias Agrave Poliacutecia Federal
compete exercer com exclusividade a funccedilatildeo de poliacutecia da Uniatildeo e agrave Poliacutecia Civil
a desenvolver a funccedilatildeo de poliacutecia judiciaacuteria e a tarefa de investigar a praacutetica de
infraccedilotildees penais Em tese cabe estritamente a poliacutecia judiciaacuteria efetuar atos
destinados agrave informatio delicti
Para Ivan Luiz da Silva (2005) ldquoa interpretaccedilatildeo teoloacutegica desse
dispositivo legal indica que a finalidade da norma constitucional eacute estabelecer
apenas o acircmbito de atuaccedilatildeo dos oacutergatildeos Policiais Federais e Estaduais no
exerciacutecio de suas funccedilotildees policiaisrdquo
Nesse sentido eacute o magisteacuterio de Marcellus Polastri Lima (1998)
Destarte a Constituiccedilatildeo Federal natildeo daacute agraves Poliacutecias Civis dos Estados Membros a exclusividade de apuraccedilatildeo das infraccedilotildees penais e nem mesmo das atividades de Poliacutecia Judiciaacuteria pois o que faz eacute dizer que incumbe agrave Poliacutecia Civil as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria e a apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mas sem caraacuteter de privatividade (1998 p55)
Em sentido contraacuterio doutrinadores como Geraldo Prado e Marcelo
Peruchin atestam que o legislador brasileiro optou em estabelecer diferenccedilas
entre as funccedilotildees de acusaccedilatildeo e investigaccedilatildeo deixando agrave de acusaccedilatildeo exclusiva
agrave poliacutecia judiciaacuteria natildeo havendo ressalva com relaccedilatildeo a outros oacutergatildeos nem
mesmo ao Parquet ainda que se admita o acompanhamento das diligecircncias
policiais pelo mesmo
Diante da anaacutelise das correntes doutrinaacuterias distintas que se formaram a
respeito podemos observar dois sensos a saber
a) a que defende a restritiva compreensatildeo das disposiccedilotildees
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
27
constitucionais transcritas no sentido de que a investigaccedilatildeo
criminal eacute de exclusiva atribuiccedilatildeo da poliacutecia judiciaacuteria
estabelecida na parte final do respectivo paraacutegrafo e
b) em antagonismo entendendo que a outros oacutergatildeos puacuteblicos
tambeacutem e especialmente o Ministeacuterio Puacuteblico eacute autorizado
realizaacute-la sem ofensa a outros dispositivos da Carta Magna
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
28
4 DA ATRIBUICcedilAtildeO E LEGALIDAE DO MP PARA ATUAR NA INVESTIGACcedilAtildeO
A Constituiccedilatildeo de 1988 consagrou o regime democraacutetico no Brasil e
verifica-se nos artigos 127 ao 130 A as disposiccedilotildees atinentes ao oacutergatildeo e destinou
a essa Instituiccedilatildeo atribuiccedilotildees relevantes ao desenvolvimento de suas atividades
tal texto constitucional trouxe em seu corpo previsotildees que nenhuma constituiccedilatildeo
havia trazido anteriormente
Com isso interpretaccedilotildees diversas sobre o alcance e limites de seus
poderes surgiram e principalmente ateacute onde pode atuar sem usurpar de
competecircncias concorrentes
42 POSICcedilAtildeO DOUTRINAacuteRIA
Como foi tratado no desenvolvimento do trabalho a doutrina paacutetria estaacute
dividida e o tema estaacute longe de ser pacificado Para dificultar o desfecho da
discussatildeo tem-se que a mesma se reveste de conteuacutedo poliacutetico influenciado por
posiccedilotildees arraigadas que mascaram o verdadeiro escopo constitucional e a
utilidade das instituiccedilotildees existentes
Iniciando com o contido na doutrina Tourinho Filho (2005 p284-285)
entende que a postura pleiteada pelo MP natildeo eacute cabiacutevel em nossa estrutura
constitucional A permissatildeo que se tem restringe-se a requisitar diligecircncias
investigatoacuterias e instauraccedilatildeo de Inqueacuterito Policial natildeo participando deles ainda
segundo o doutrinador o artigo 144 da Constituiccedilatildeo eacute taxativo e natildeo
exemplificativo e atribui exclusividade da investigaccedilatildeo preliminar agrave Poliacutecia
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
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Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
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que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
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CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
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REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
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ANEXOS
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ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
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5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
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(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
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deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
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STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
29
Judiciaacuteria sendo que o uacutenico meio de se por fim a discussatildeo seria por Emenda
Constitucional admitindo assim outro entendimento
Para Coutinho (1994) as apuraccedilotildees de infraccedilotildees penais satildeo sim
exclusivas da esfera de atuaccedilatildeo das poliacutecias judiciaacuterias Do contraacuterio natildeo teria
sentido o controle da atividade policial pelo Parquet
O autor ao analisar o termo ldquoexclusividaderdquo constante do artigo 144
parag 1ordm inciso IVda LEX MATER se manifesta mencionando
O adveacuterbio grifado enfim tem assento constitucional e natildeo se pode fingir que natildeo consta do texto o que beiraria o ridiacuteculo Natildeo bastasse isso ndash de todo vital na base de qualquer pensamento sobre o tema em discussatildeo - quando nas referidas situaccedilotildees indicam-se as esferas de atuaccedilatildeo os comandos geram um poder-dever afastando a atuaccedilatildeo de outros oacutergatildeos do exerciacutecio daquele mister (1994 n2 p 405)
Tucci (2004) por sua vez acrescenta um argumento consistente que
segundo ele afasta qualquer duacutevida existente acerca do temardquo tanto os Textos
Constitucionais como os inferiores contecircm in expressis verbis a locuccedilatildeo
Inqueacuterito policial Ora se o inqueacuterito de que se trata em acircmbito penal eacute policial
somente agrave poliacutecia e a mais ningueacutem seraacute dado realizaacute-lordquo (2004 p 78)
Esta corrente ainda salienta que investigaccedilotildees efetivadas por outros
oacutergatildeos como as Comissotildees Parlamentares de Inqueacuteritos (art 58 sect 3ordm da CF)
por exemplo possuem amparo legal diferentemente do que ocorre com as
atuaccedilotildees do MP que satildeo desamparadas pela legislaccedilatildeo
Satildeo dois os argumentos utilizados pela maioria da doutrina para afastar a
aptidatildeo funcional em realizar a investigaccedilatildeo de cunho criminal vejamos
1) a mais aludida eacute a ausecircncia de fundamento legal a respaldar tal
atribuiccedilatildeo funcional
2) A alegada exclusividade ndash ou monopoacutelio ndash da poliacutecia sobre a
tarefa investigativa para praacutetica de delitos
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
30
Para parte da doutrina ainda existe um perigo maior pois eacute inaceitaacutevel que
algueacutem que acuse via e regra tambeacutem seja responsaacutevel pela investigaccedilatildeo Com
posicionamento pela ilegalidade da investigaccedilatildeo direta realizada pelo Ministeacuterio
Puacuteblico Aury Lopes Juacutenior (2003) levanta a possibilidade de essa atividade
tomar uma face estritamente acusatoacuteria
Como parte acusadora natildeo pode assumir a investigaccedilatildeo preliminar sob pena de transformaacute-la numa atividade puramente voltada para a acusaccedilatildeo com graviacutessimo inconveniente para o sujeito passivo Por derradeiro o modelo causa seacuterios prejuiacutezos para a defesa e gera a desigualdade das partes no futuro processo Atribuir ao MP a direccedilatildeo da investigaccedilatildeo preliminar significa dizer que a fase preacute-processual natildeo serviraacute para preparar o processo informando agrave acusaccedilatildeo agrave defesa e tambeacutem ao juiz senatildeo que seraacute uma via de matildeo uacutenica serve somente a
acusaccedilatildeo (2003 p25)
Dos respectivos estudiosos que defendem a atuaccedilatildeo do MP na
investigaccedilatildeo criminal vale citar MIRABETE (1997) e MAZZILLI (1995)
asseverando o primeiro que
os atos de investigaccedilatildeo destinados agrave elucidaccedilatildeo dos crimes natildeo satildeo exclusivos da poliacutecia judiciaacuteria ressalvando-se expressamente a atribuiccedilatildeo concedida legalmente a outras autoridades administrativas Tem o Ministeacuterio Puacuteblico legitimidade para proceder a investigaccedilatildeo e diligecircncias conforme determinarem as leis orgacircnicas estaduais(1997 p 37-38)
Mazzilli (1995) a seu tempo eacute mais enfaacutetico sobre o tema expressa ldquoDe
um lado enquanto a Constituiccedilatildeo deu exclusividade agrave Poliacutecia Federal para
desempenhar as funccedilotildees de Poliacutecia Judiciaacuteria da Uniatildeo o mesmo natildeo se fez
quanto agrave Poliacutecia estadual (cf art 144 sect 1ordm IV e sect 4ordm) de outro o Ministeacuterio
Puacuteblico tem poder investigatoacuterio previsto na proacutepria Constituiccedilatildeo poder este que
natildeo estaacute obviamente limitado agrave aacuterea natildeo penal (art 129 VI e VIII) Seria um
contra-senso negar ao uacutenico oacutergatildeo titular da accedilatildeo penal encarregado de formar a
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
31
opinio delicti e promover em juiacutezo a defesa do jus puniendi do Estado
soberano()rdquo a possibilidade de efetivar ldquo() investigaccedilatildeo direta de infraccedilotildees
penais quando isto se faccedila necessaacuteriordquo
Os estudos recentes trataram de serem incisivos na defesa da mesma
tese os contemporacircneos membros do Parquet um do Ministeacuterio Puacuteblico do Rio
Grande do Sul Lenio Luiz Streck e outro Procurador da Repuacuteblica atuante no
mesmo Estado Luciano Feldens posicionaram em manifesta censura agrave
orientaccedilatildeo adotada pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal no
julgamento do HC 81326DF acabaram defendendo o entendimento dos
renomados especialistas e enfatizando o entendimento constitucional e legal da
investigaccedilatildeo criminal realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico fundamentaram a
legitimidade constitucional do poder investigatoacuterio da instituiccedilatildeo e da previsatildeo
legal afirmando ldquo compatibilidade da investigaccedilatildeo criminal do Ministeacuterio Puacuteblico a
uma finalidade constitucional que lhe eacute proacutepriardquo (2003 p51 e ss)
Os autores mencionados cuidam em seu citado estudo que
1) haveria ldquolegitimaccedilatildeo constitucional e base legalrdquo a alicerccedilar o
poder investigatoacuterio quais sejam as preceituaccedilotildees instaladas
nos artigos 129 IX da CF 5ordm VI e sect 2ordm e 8ordm V da LC 75 de
20051993
2) a atividade investigatoacuteria realizada pelo Ministeacuterio Puacuteblico seria
compatiacutevel com a finalidade constitucional que lhe eacute proacutepria
3) Natildeo seria possiacutevel considerar que a Poliacutecia judiciaacuteria teria
monopoacutelio para realizaccedilatildeo da atividade investigatoacuteria com
fundamento no art 144 da CF que somente limita a atuaccedilatildeo
entre as poliacutecias (federal ferroviaacuteria civil e militar)
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
32
Diante dos argumentos defendidos pelas duas correntes doutrinaacuterias
verifica-se que formou a respeito do tema fundamentos consistentes e
antagocircnicos que indicam existir uma corrente extremamente contemplativa de
restrita compreensatildeo das disposiccedilotildees legais constitucionais e infraconstitucionais
e a em sentido inverso e especial o Ministeacuterio puacuteblico eacute dado realiza-la sem
ofensa aos dispositivos da Carta Magna esta corrente com entendimento mais
flexiacutevel vinculado aos valores constitucionalmente assegurados
43 TEORIA DOS PODERES IMPLIacuteCITOS
Observa-se em recentes decisotildees do Supremo Tribunal Federal que dentre
vaacuterios fundamentos apontados para legitimar a atuaccedilatildeo do Ministro Puacuteblico na
Investigaccedilatildeo Criminal existe um que se apresenta constante nas decisotildees o
respeito agrave Teoria dos Poderes Impliacutecitos correntemente aplicada pelo Tribunal
Nascida na Suprema Corte Americana (1819) com precedente no caso Mc
Culloch vs Maryland essa Teoria defende que a Constituiccedilatildeo ao conceder uma
atividade-fim a um oacutergatildeo ou instituiccedilatildeo traz consigo impliacutecita e juntamente a ele
tambeacutem autorizar ou conceder todos os meios necessaacuterios para a finalidade daquele
objetivo
Defendendo tal teoria Rogeacuterio Filipeto (2003) ensina
[hellip] natildeo se pode conceber que o meio inviabilize que o meio inviabilize a realizaccedilatildeo do fim Portanto para evitar que um meio fosse frustrar um fim eacute forccediloso reconhecer que a Constituiccedilatildeo quando atribui um objetivo (accedilatildeo penal) atribui concomitantemente todos os meios para a sua consecuccedilatildeo (investigaccedilatildeo criminal) (2003 p 471)
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
33
De fato a Constituiccedilatildeo atribui ao Ministeacuterio Puacuteblico um verdadeiro ldquopoderrdquo
pois se exerce competecircncia constitucional para o manejo da accedilatildeo penal e para
tanto faz-se necessaacuteria investigaccedilatildeo preliminar o seu exerciacutecio se constitui em
ldquopoderrdquo A competecircncia envolve por derradeiro a atribuiccedilatildeo de certas tarefas bem
como seus meios necessaacuterios para atingir seu fim
E como esclarece Canotilho (2003)
Eacute admissiacutevel poreacutem uma complementaccedilatildeo de competecircncias constitucionais atraveacutes do manejo de instrumentos metoacutedicos de interpretaccedilatildeo (sobretudo de interpretaccedilatildeo sistemaacutetica ou teleoloacutegica) Por essa via chegar-se-aacute a duas hipoacuteteses de competecircncia complementares impliacutecitas (1) competecircncias impliacutecitas complementares enquadraacuteveis no programa normativo-constitucional de uma competecircncia expliacutecita e justificaacuteveis porque natildeo se trata tanto de alargar competecircncias mas de aprofundar competecircncias (ex quem tem competecircncia para tomar uma decisatildeo deve em princiacutepio ter competecircncia para a preparaccedilatildeo e formaccedilatildeo de decisatildeo) (2) competecircncias impliacutecitas complementares necessaacuterias para preencher lacunas constitucionais patentes atraveacutes da leitura sistemaacutetica e analoacutegica de preceitos constitucionais(2003 p 543)
A teoria afirma que assim haacute perfeita aplicabilidade agrave competecircncia
expressa de uso da accedilatildeo penal e o impliacutecito poder de investigar porquanto aquele
natildeo se faz sem este Usando tecnicidade a competecircncia natildeo se ausenta mas se
aprofunda
431 POSICcedilAtildeO JURISPRUDENCIAL
O posicionamento dos Tribunais quanto agrave validade das investigaccedilotildees
realizadas pelo Ministeacuterio Puacuteblico deve ser considerada abordando as linhas
seguidas pelo Superior Tribunal de Justiccedila e pelo Supremo Tribunal Federal O
primeiro tem decidido pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico na
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
34
Investigaccedilatildeo Criminal jaacute o segundo com posicionamento sedimentado afirmando a
mesma legitimidade
No Superior Tribunal de Justiccedila em que predomina o entendimento de que o
Oacutergatildeo Ministerial pode realizar investigaccedilotildees diretamente colhe-se uma decisatildeo da
T5 Quinta Turma em que Ministra Laurita Vaz destacou que a competecircncia da
poliacutecia Judiciaacuteria natildeo excluiu a de outras autoridades administrativas inteligecircncia do
art 1ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal conforme apresenta o voto
RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1) (ANEXO I)
EMENTA RECURSO ESPECIAL PENAL ASSOCIACcedilAtildeO PARA O TRAacuteFICO
ILIacuteCITO DE ENTORPECENTES OITIVA DE TESTEMUNHAS PELO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO NO CURSO DO INQUEacuteRITO POLICIAL DEPOIMENTOS RENOVADOS
PERANTE O JUIacuteZO CRIMINAL COM A GARANTIA DO CONTRADITOacuteRIO E DA
AMPLA DEFESA LEGALIDADE DAS PROVAS PRODUZIDAS AUSEcircNCIA DE
USURPACcedilAtildeO DAS FUNCcedilOtildeES DA POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA RECURSO
PROVIDO(STJ REsp 879916RJ 5 turma Relator(a) Min Laurita Vaz J
10082010 TJ 13092010)
Em decisatildeo mais recente o mesmo Tribunal Superior teve seu
funcionamento baseado nos arts 129 e 144 da Constituiccedilatildeo federal onde concluiu
que ainda que seja o Ministeacuterio puacuteblico o responsaacutevel por oferecer a denuacutencia
(formatio delicti) ldquoeacute perfeitamente possiacutevel o oacutergatildeo do ministeacuterio puacuteblico promova a
colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a existecircncia da
autoria e da materialidade de determinado delito ainda que haacute tiacutetulo excepcionalrdquo
RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0) (ANEXO II)
RELATORA MINISTRA LAURITA VAZ
RECORRENTE MAacuteRCIO ALMEIDA PASSOS
ADVOGADO JOSEacute RUBENS COSTA E OUTRO(S)
RECORRIDO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
35
EMENTARECURSO ESPECIAL PENAL CRIMES DE QUADRILHA E DE FRAUDE
Agrave LICITACcedilAtildeO (ART 90 DA LEI Nordm 866693) MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO PODERES
DE INVESTIGACcedilAtildeO LEGITIMIDADE LC Nordm 7593 ART 4ordm PARAacuteGRAFO UacuteNICO
DO CPP INCOMPETEcircNCIA VIOLACcedilAtildeO AO PRINCIacutePIO DO PROMOTOR
NATURAL NAtildeO OCORREcircNCIA ACOacuteRDAtildeO QUE RECEBEU A DENUacuteNCIA
ADEQUADAMENTE FUNDAMENTADO ALEGACcedilAtildeO DE QUE A DENUNCIA
DEIXOU DE ATENDER OS REQUISITOS DO ART 41 DO COacuteDIGO DE
PROCESSO PENAL INEacutePCIA DA PECcedilA ACUSATOacuteRIA INOCORREcircNCIA
RECURSO DESPROVIDO
Em anaacutelise agraves decisotildees do Supremo Tribunal Federal observa-se que o
entendimento sobre a questatildeo sofreu mudanccedilas Primeiramente vinha senso
decidido que o Ministeacuterio Puacuteblico no acircmbito criminal somente possuiacutea o poder de
requisitar investigaccedilotildees agraves poliacutecias judiciaacuterias mas jamais realizaacute-las diretamente
assim se posicionou pela primeira vez
CONSTITUCIONAL PROCESSUAL PENAL MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATRIBUICcedilOtildeES INQUEacuteRITO REQUISICcedilAtildeO DE INVESTIGACcedilOtildeES CRIME DE DESOBEDIEcircNCIA CF art 129 VIII art 144 sectsect 1ordm e 4ordm I- Inocorrecircncia de ofensa ao art 129 VIII CF no fato de a autoridade administrativa deixar de atender requisiccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico no sentido da realizaccedilatildeo de investigaccedilotildees tendentes agrave apuraccedilatildeo de infraccedilotildees penais mesmo porque natildeo cabe ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico realizar diretamente tais investigaccedilotildees mas requisitaacute-las agrave autoridade policial competente para tal (CF art 144 sectsect 1ordm e 4ordm) Ademais a hipoacutetese envolvia fatos que estavam sendo investigados em instacircncia superior II - RE natildeo conhecido(STF RE 205473-9AL 2 Turma Rel Ministro Carlos Velloso J 15121998 DJ 19031999)
Em um segundo julgado idecircntica foi a decisatildeo do STF
O Ministeacuterio Puacuteblico (1) natildeo tem competecircncia para promover inqueacuterito administrativo em relaccedilatildeo a conduta de servidores puacuteblicos nem competecircncia para produzir inqueacuterito penal sob o argumento de que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos pode propor accedilatildeo penal sem o inqueacuterito policial desde que disponha de elementos suficientes Recurso natildeo conhecido (REX Nordm 233072 rel Min
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
36
Neacuteri Da Silveira rel para o acoacuterdatildeo Min Nelson Jobim publicado do DJ de 03052002)
Tendo em vista a existecircncia de um volume consideraacutevel de recursos na
Corte Suprema juntamente com o amadurecimento da mateacuteria o Eacutegregio Tribunal
firmou entendimento que ao Ministeacuterio Puacuteblico eacute possiacutevel investigar diretamente
Recentemente ao julgar o Habeas Corpus nuacutemero 93930 Rio de Janeiro a
Segunda Turma no voto do relator Ministro Gilmar Mendes demonstrou em decisatildeo
o entendimento que deve ser seguido pelo STF
HABEAS CORPUS 93930 RJ - RIO DE JANEIRO (ANEXO III)
HABEAS CORPUS
Relator(a) Min GILMAR MENDES
Julgamento 07122010 Oacutergatildeo Julgador Segunda Turma
Publicaccedilatildeo
DJe-022 DIVULG 02-02-2011 PUBLIC 03-02-2011
EMENT VOL-02456-01 PP-00018
Parte(s)
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(AS)(ES) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
EMENTA Habeas corpus 2 Poder de investigaccedilatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico 3
Suposto crime de tortura praticado por policiais militares 4 Atividade investigativa
supletiva aceita pelo STF 5 Ordem denegada
ACOacuteRDAtildeO
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
37
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros do supremo
Tribunal Federal em Segunda turma sob a presidecircncia do Senhor ministro Gilmar
Mendes na conformidade da ata de julgamento e das notas taquigraacuteficas por
unanimidade dos votos indeferida a ordem nos termos do voto do Relator
Brasiacutelia 7 de dezembro de 2010
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
CRIMINAL HC TORTURA CONCUSSAtildeO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO ATOS
INVESTIGATOacuteRIOS LEGITIMIDADE ATUACcedilAtildeO PARALELA Agrave POLIacuteCIA
JUDICIAacuteRIA CONTROLE EXTERNO DA ATIVIDADE POLICIAL OacuteRGAtildeO
MINISTERIAL QUE Eacute TITULAR DA ACcedilAtildeO PENAL INEXISTEcircNCIA DE
IMPEDIMENTO OU SUSPEICcedilAtildeO SUacuteMULA N 234STJ ORDEM DENEGADA (STF
HC 93930RJ 2 Turma Rel Min Gilmar Mendes J 07122010)
Jaacute no julgamento do recurso extraordinaacuterio 593727-5MG o Supremo
Tribunal federal reconhece a Repercussatildeo Geral a respeito da constitucionalidade
ou natildeo da realizaccedilatildeo do procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico
STF (2ordf Turma) RE 233072-4RJ Relator Min Neacuteri da Silveira Relator para o
acoacuterdatildeo Min Neacutelson Jobim 18 de maio de 1999 In DJ 03052002 p 22
Relevante transcrever trecho do voto do Min Mauriacutecio Correcirca ldquo[] o Ministeacuterio
Puacuteblico soacute poderaacute proceder a investigaccedilotildees preliminares criminais quando houver no
sistema juriacutedico positivo normas que venham presidir a sua atuaccedilatildeo regrando-a
natildeo pode ele entretanto motu proprio criar normas e ignorar as existentes sob
pena de comprometer a seguranccedila juriacutedica da sociedade []rdquo Adiante partes do
voto do Min Marco Aureacutelio Mello ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico natildeo pode fazer
investigaccedilatildeo porque ele seraacute parte na accedilatildeo penal a ser intentada pelo Estado e
tambeacutem natildeo pode instaurar um inqueacuterito []rdquo Ainda assim votou o Min Neacutelson
Jobim ldquo[] O Ministeacuterio Puacuteblico exorbitou no caso concreto de suas funccedilotildees Natildeo
tem ele competecircncia alguma para produzir um inqueacuterito penal sob o argumento de
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
38
que tem possibilidade de expedir notificaccedilotildees nos procedimentos administrativos
[] quanto agrave poliacutecia sabe-se o que fazer contra o Ministeacuterio Puacuteblico pouco se tem a
fazer
Atualmente o Pleno encontra-se novamente reunido para definir a questatildeo
no HC 84548SP que estaacute pendente de julgamento final Depois dos votos dos
Ministros Marco Aureacutelio (impossibilidade de o Ministeacuterio puacuteblico investigar) e
Sepuacutelvera Pertence (possibilidade) o Ministro Cezar Peluso pediu vista dos autos
em 11062007
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
39
CONCLUSAtildeO
Diante do exposto no decorrer do estudo trazendo agrave baila elementos de
posicionamentos opostos buscou-se atingir fundamentos suficientes para responder
o questionamento inicial Haacute legitimidade para o Ministeacuterio Puacuteblico realizar a
investigaccedilatildeo preliminar na esfera criminal ou ainda se esta eacute uma funccedilatildeo exclusiva
da Poliacutecia Judiciaacuteria
Observa-se que tanto a doutrina quanto a jurisprudecircncia tem
posicionamentos opostos apesar de a jurisprudecircncia contemporacircnea apontar que
firmaraacute entendimento pela legitimidade de atuaccedilatildeo do Oacutergatildeo Ministerial nos atos
investigatoacuterios desde que tomando a devida precauccedilatildeo em respeitar as garantias
constitucionais este possivelmente seraacute entendimento majoritaacuterio tambeacutem na
doutrina e nos Tribunais ao menos ateacute a palavra final do Supremo Tribunal Federal
que ainda natildeo julgou definitivamente quanto agrave constitucionalidade do tema
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
40
REFEREcircNCIAS
CANOTILHO J J Gomes Direito Constitucional e teoria da Constituiccedilatildeo 7 ed Coimbra Almeida 2003 p 543
COUTINHO Jacinto Nelson de Miranda A inconstitucionalidade de lei que atribua funccedilotildees administrativas do inqueacuterito policial ao Ministeacuterio Puacuteblico Revista de Direito Administrativo Aplicado Curitiba n2 P405 AGO1994
DALARI Dalmo de Abreu Elementos da Teoria Geral do Estado 19ed Satildeo Paulo Saraiva 1995 FELIPETO Rogeacuterio Monopoacutelio da investigaccedilatildeo ldquoBoletim do instituto de Ciecircncias Penaisrdquo ndash ICP ano 3 n 39 18092003 p 471 FERREIRA Pinto Comentaacuterios agrave Constituiccedilatildeo Brasileira 1ordm Vol Satildeo Paulo Saraiva 1989 LIMA Marcelus Postari Ministeacuterio Puacuteblico e persecuccedilatildeo penal 2ordf ed Rio de Janeiro Lumen Juris 1998 LOPES JUacuteNIOR Aury apud MARQUES Jader Da ilegalidade da Investigaccedilatildeo Preliminar Promovida pelo Ministeacuterio Puacuteblico In Revista de Direito Penal e Processual Penal Porto Alegre v4 n 20junjul Porto Alegre 2003 LYRA Roberto Teoria e Praacutetica da promotoria Puacuteblica Rio de Janeiro Livrarias Jacintho 1937 MARQUES Joseacute Frederico Elementos de direito Processual Penal vI 2ordf ed Campinas Millennium 2003 MAZZALLI Hugo Nigro Introduccedilatildeo ao Ministeacuterio Puacuteblico Satildeo Paulo Saraiva 1997 MIRABETE Julio Fabbrini Coacutedigo de Processo Penal Interpretado 5ed Satildeo Paulo Atlas 1997 ______ Processo Penal 17 ed Satildeo Paulo Atlas 2005 MOREIRA Rocircmulo de Andrade Direito Processual Penal Rio de Janeiro Forense 2003 PRADO Geraldo CASARA Rubens Posiccedilatildeo do MMFD sobre a impossibilidade de investigaccedilatildeo direta pelo Ministeacuterio Puacuteblico ante a
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
41
normatividade constitucional Boletim do IBBCrim Satildeo Paulo n141p 13 ago 2004 SILVA Ivan Luiz da Revista de Informaccedilatildeo Legislativa Brasiacutelia a 42n 167 julset 2005 STRECK Lenio Luiz FELDENS Luciano Crime e Constituiccedilatildeo ndash A legitimidade da Funccedilatildeo investigatoacuteria do Ministeacuterio Puacuteblico Rio de Janeiro Forense 2003 TOURINHO FILHO Fernando Costa Processo Penal Vol 1 27ordf ed Satildeo Paulo Saraiva 2005 TUCCI Rogeacuterio Lauria Ministeacuterio Puacuteblico e investigaccedilatildeo criminal Satildeo Paulo RT2004
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
42
ANEXOS
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
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3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
43
ANEXO I - RECURSO ESPECIAL Nordm 879916 - RJ (20060107692-1)
1 No curso do inqueacuterito policial eacute liacutecito ao membro do Ministeacuterio Puacuteblico proceder agrave
coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar a materialidade do crime e os
indiacutecios de autoria Trata-se de um consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo
ministerial de titular exclusivo da accedilatildeo penal puacuteblica Precedentes desta Corte e do
Supremo Tribunal Federal
2 Com efeito a ordem juriacutedica confere explicitamente poderes de investigaccedilatildeo ao
Ministeacuterio Puacuteblico - art 129 incisos VI VIII da Constituiccedilatildeo Federal e art 8ordm
incisos II e IV e sect 2ordm da Lei Complementar nordm 751993
3 A competecircncia da poliacutecia judiciaacuteria natildeo exclui a de outras autoridades
administrativas Inteligecircncia do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo
Penal Precedentes A outorga constitucional de funccedilotildees de poliacutecia judiciaacuteria agrave
instituiccedilatildeo policial natildeo impede nem exclui a possibilidade de o Ministeacuterio Puacuteblico
que eacute o dominus litis determinar a abertura de inqueacuteritos policiais requisitar
esclarecimentos e diligecircncias investigatoacuterias estar presente e acompanhar junto a
oacutergatildeos e agentes policiais quaisquer atos de investigaccedilatildeo penal mesmo aqueles
sob regime de sigilo sem prejuiacutezo de outras medidas que lhe pareccedilam
indispensaacuteveis agrave formaccedilatildeo da sua opinio delicti sendo-lhe vedado no entanto
assumir a presidecircncia do inqueacuterito policial que traduz atribuiccedilatildeo privativa da
autoridade policial (STF - HC 94173BA 2ordf Turma Rel Min CELSO DE MELLO
DJe de 26112009)
4 Assim no caso a conduta do Promotor de Justiccedila em proceder agrave oitiva de 2
(duas) testemunhas paralelamente ao inqueacuterito policial natildeo eacute suficiente por si soacute
para concluir pela usurpaccedilatildeo de competecircncia da Autoridade Policial pelo Ministeacuterio
Puacuteblico
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
44
5 Ressalte-se ainda que a atuaccedilatildeo do Parquet natildeo estaacute adstrita agrave existecircncia desse
inqueacuterito podendo ateacute ser dispensado na hipoacutetese de jaacute existirem elementos
suficientes para embasar a accedilatildeo penal
6 Da mesma forma natildeo deve subsistir o fundamento do acoacuterdatildeo recorrido
referente agrave colheita de depoimentos sem o crivo do contraditoacuterio Ora conforme eacute
cediccedilo durante a fase inquisitorial natildeo se exige observacircncia agrave garantia do
contraditoacuterio tendo em vista que seu objetivo estaacute voltado para a formaccedilatildeo do
convencimento do titular da accedilatildeo penal Ademais cumpre sobrelevar que os
testemunhos colhidos pelo Ministeacuterio Puacuteblico foram renovados em sede judicial com
a garantia da ampla defesa e do contraditoacuterio o que corrobora a licitude da prova
produzida
7 Recurso provido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da
QUINTA TURMA do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das
notas taquigraacuteficas a seguir por unanimidade conhecer do recurso e lhe dar
provimento nos termos do voto da Sra Ministra Relatora Os Srs Ministros
Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi e Felix Fischer votaram com a Sra
Ministra Relatora
Referecircncia Legislativa
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART 00129 INC00006 INC00008 LEGFED LCP000075 ANO1993 EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO ART00008 INC00002 INC00004 PAR00002 LEGFED DEL003689 ANO1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL ART00004
45
(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
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3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
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ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
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(INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL - LEGITIMIDADE DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO) STF - HC 94173BA RE 468523SC STJ - RHC 22727-GO (LEXSTJ 241302) (INQUEacuteRITO POLICIAL - CONTRADITOacuteRIO) STJ - HC 91903-SP
ANEXO II - RECURSO ESPECIAL Nordm 945556 - MG (20070085969-0)
1 Eacute consectaacuterio loacutegico da proacutepria funccedilatildeo do oacutergatildeo ministerial ndash titular exclusivo da
accedilatildeo penal puacuteblica - proceder agrave coleta de elementos de convicccedilatildeo a fim de elucidar
a materialidade do crime e os indiacutecios de autoria mormente em casos excepcionais
como o presente onde se investiga o crime de formaccedilatildeo de quadrilha imputado a
deputados estaduais detentores de foro privilegiado para o cometimento de fraudes
agrave licitaccedilatildeo
2 Malgrado seja defeso ao Ministeacuterio Puacuteblico presidir o inqueacuterito policial
propriamente dito Eacute perfeitamente possiacutevel que o oacutergatildeo do Ministeacuterio Puacuteblico
promova a colheita de determinados elementos de prova que demonstrem a
existecircncia da autoria e da materialidade de determinado delito ainda que a tiacutetulo
excepcional [] Tal conclusatildeo natildeo significa retirar da Poliacutecia Judiciaacuteria as
atribuiccedilotildees previstas constitucionalmente mas apenas harmonizar as normas
constitucionais (arts 129 e 144) de modo a compatibilizaacute-las para permitir natildeo
apenas a correta e regular apuraccedilatildeo dos fatos supostamente delituosos mas
tambeacutem a formaccedilatildeo da opinio delicti (STF - RE 468523SC 2ordf Turma Rel Min
ELLEN GRACIE DJ de 19022010)
3 A Poliacutecia Judiciaacuteria natildeo possui o monopoacutelio da investigaccedilatildeo criminal possuindo o
Ministeacuterio Puacuteblico e inclusive autoridades administrativas legitimidade para
determinar diligecircncias investigatoacuterias Inteligecircncia da Lei Complementar nordm 7593 e
do art 4ordm paraacutegrafo uacutenico do Coacutedigo de Processo Penal Precedentes
4 Inocorrendo lesatildeo ao exerciacutecio pleno e independente das atribuiccedilotildees do Ministeacuterio
Puacuteblico natildeo haacute como reconhecer violaccedilatildeo ao princiacutepio do Promotor Natural
5 O acoacuterdatildeo que recebeu a denuacutencia estaacute devidamente fundamentado tendo em
vista que ele afastou as nulidades apontadas preliminarmente pela Defesa e
reconheceu a presenccedila de elementos comprobatoacuterios da ocorrecircncia em tese de
fato delituoso O Tribunal a quo explicitou que a Acusaccedilatildeo atende perfeitamente os
requisitos legais do art 41 do Coacutedigo de Processo Penal de forma suficiente para a
46
deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
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ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
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deflagraccedilatildeo da accedilatildeo penal bem como para o pleno exerciacutecio de sua defesa
6 Recurso desprovido
Decisatildeo
Vistos relatados e discutidos estes autos acordam os Ministros da QUINTA TURMA
do Superior Tribunal de Justiccedila na conformidade dos votos e das notas taquigraacuteficas
a seguir por unanimidade conhecer do recurso mas lhe negar provimento Os Srs
Ministros Napoleatildeo Nunes Maia Filho Jorge Mussi Honildo Amaral de Mello Castro
(Desembargador convocado do TJAP) e Gilson Dipp votaram com a Sra Ministra
Relatora
Referecircncia Legislativa LEG FED 003689 ANO 1941 CPP-41 COacuteDIGO DE PROCESSO PENAL
ART00004 PARUacuteNICO ART00041
LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
LEGFED CFB ANO1988
CF-1988 CONSTITUICcedilAtildeO FEDERAL DE 1988 ART00129 INC00001 INC00006 INC00007 LEGFED LCP000075 ANO1993
EMPU-93 ESTATUTO DO MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO DA UNIAtildeO
ART00008 INC00001 INC00005 INC00007
LEGFEDRGI ANO1980 RISTF-80 REGIMENTO INTERNO DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL
ART 00043 (POLIacuteCIA JUDICIAacuteRIA - MONOPOacuteLIO DA INVESTIGACcedilAtildeO CRIMINAL)
STF - HC 89837DF (MINISTEacuteRIO PUacuteBLICO - INVESTIGAR EM
CIRCUNSTAcircNCIAS ESPECIAIS) STF - RE 468523SC (ATUACcedilAtildeO DO MINISTEacuteRIO
PUacuteBLICO - INQUEacuteRITO POLICIAL - PROPOSITURA DA ACcedilAtildeO PENAL)
STJ ndash HC 24493 -MG (RSTJ 179516)
HC 18060 - PR (RDR 24365) (PRINCIacutePIO DO PROMOTOR NATURAL)
STJ ndash HC 57506-PA HC 35471-BA (DESCRICcedilAtildeO CONTIDA NA DENUacuteNCIA -
ELEMENTO SUBJETIVO DAS INFRACcedilOtildeES - DOLO)
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
47
STJ ndash HC 78223-RN HC 116382-MG HC 33459-PA
Sucessivos
REsp 1020777 MG 20070306963-2 Decisatildeo17022011 DJe
DATA09032011
ANEXO III ndash HABEAS CORPUS 93930
RELATOR MIN GllMAR ENDES
PACTE(S) EDUARDO GUIMARAtildeES MONTEIRO
IMPTE(S) ANILTON LOUREIRO DA SILVA
COATOR(As)( S) SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTICcedilA
RELATOacuteRIO
SENHOR MINISTRO GILMAR MENDES - (Relatar) Trata-se de habeas corpus
impetrado por ANILTON LOUREIRO DA SILVA em favor de EDUARDO
GUIMARAtildeES MONTEIRO contra decisatildeo proferida pela Quinta Turma do Superior
Tribunal de Justiccedila nos autos doacute HC n 84266RJ Eis o teor de ementa desse
julgado
1 - Satildeo vaacutelidos os atos investigatoacuterios realizados pelo Ministeacuterio Puacuteblico na
medida em que a atividade de investigaccedilatildeo eacute consentacircnea com a sua finalidade
constitucional (art129 inciso IX da Constituiccedilatildeo Federal) a quem cabe exercer
inclusive o controle externo da atividade policial
2 - Esta Cortemanteacutem posiccedilatildeo no sentido da legitimidade da atuaccedilatildeo paralela
do Ministeacuterio Puacuteblico agrave atividade da poliacutecia judiciaacuteria na medida em que conforme
preceitua o paraacutegrafo uacutenico do art 4Q do Coacutedigo de Processo Penal sua
competecircncia natildeo exclui a de outras middotautoridades administrativas a quem por lei
seja cometida a mesma funccedilatildeo Precedentes
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
48
3- Hipoacutetese na qual se trata de controle externo da atividade policial urna
vez que o oacutergatildeo ministerial tendo em vista a noticia de que o adolescente
apreendido pelos policiais na posse de substacircncia entorpecente teria sofrido
torturas iniciou investigaccedilatildeo dos fatos os quais ocasionaram a deflagraccedilatildeo da
presente accedilatildeo penal
4- Os elementos probatoacuterios colhidos nesta fase investigatoacuteria servem de
supedacircneo ao posterior oferecimento da denuacutencia sendo o Parquet o titular da
accedilatildeo penal restando justificada sua atuaccedilatildeo preacutevia
5- A participaccedilatildeo de membro do Ministeacuterio Puacuteblico na fase investigatoacuteria
criminal natildeo acarreta o seu impedimento ou suspeiccedilatildeo para o oferecimento da
denuacutencia (Suacutemula n234STJ)
6- Ordem denegada - (fl 20)
Conforme consta dos autos o paciente foi denunciado pela suposta
praacutetica Cios crimes previstos no art 1ordm I a cc o sect 4ordm I II e Ill da Lei n945597 e
art 316 caput na forma do art 69 do CP
Neste habeas a defesa reitera o argumento de ausecircncia de fundamentos legais
aptos a autorizar o Ministeacuterio Puacuteblico a presidir investigaccedilatildeo em mateacuteria criminal
(fl7)
Aduz que a titularidade da investigaccedilatildeo pelo MP provoca uma desigualdade de armas
pois o MP poderaacute (hipoacutetese) filtrar somenteas provas favoraacuteveis agrave acusaccedilatildeo restando apenas ao
acusado a solicitaccedilatildeo durante a fase processual (fi 7)
Nesse sentido requer a concessatildeo da ordem no intuito de ldquoser trancada a
accedilatildeo penal n 2007021003201-0 em tracircmite no Juiacutezo de Direito da 3ordf Vara Criminal da
Comarca de Duque de Caxias ndash RJrdquo (fl 13)
A liminar foi indeferida pelo Min Cezar Peluso entatildeo relator deste writ (fl 31-
32)
A Procuradoria-Geral da Repuacuteblica opinou pela denegaccedilatildeo da ordem (fI 54-
59)
Eacute o relatoacuterio
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ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009
49
ANEXO IV - REPERCUSSAtildeO GERAL EM RECURSO EXTRAORDINAacuteRIO
5937275 MINAS GERAIS
1 Trata-se de recurso extraordinaacuterio contra acoacuterdatildeo do Tribunal de Justiccedila do
Estado de Minas Gerais e assim ementado
Sustenta o recorrente com fundamento no art 102 III a violaccedilatildeo aos arts
5ordm ines LlV e LV 129 ines III e VIII e 144 inc IV sect 4deg da Constituiccedilatildeo Federal
Aduz que a realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio de natureza penal pelo
Ministeacuterio Puacuteblico ultrapassa suas atribuiccedilotildees funcionais constitucionalmente
previstas
O recorrente apresenta preliminar forma e fundamentada de repercussatildeo
geral na forma do art 543-A sect 2ordm do CPC
2 A questatildeo suscitada neste recurso eacute objeto do julgamento
iniciado pelo Plenaacuterio em 11062007 do HC n 84548 (ReI Min MARCO
AUREacuteLIO) e que versa a relevantiacutessima mateacuteria da constitucionalidade ou natildeo
da realizaccedilatildeo de procedimento investigatoacuterio criminal pelo Ministeacuterio Puacuteblico o
que interessa ao bem juriacutedico fundamental da liberdade e como tal transcende
os limites subjetivos da causa de modo que sua decisatildeo produziraacute inevitaacutevel
repercussatildeo de ordem geral
Brasiacutelia 28 de julho de 2009