CONTROLE DE CAOS EM UMA TRELIÇA DE MISES COM MEMÓRIA DE
FORMA
Augusto Luiz Cheffer de Melo
Projeto de Graduação apresentado ao
Curso de Engenharia Mecânica da Escola
Politécnica, Universidade Federal do Rio
de Janeiro como parte dos requisitos
necessários para a obtenção do grau de
Engenheiro.
Orientador: Marcelo Amorim Savi
Rio de Janeiro
Agosto de 2015
i
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO Departamento de Engenharia Mecânica
DEM/POLI/UFRJ
CONTROLE DE CAOS EM UMA TRELIÇA DE MISES COM MEMÓRIA DE
FORMA
Augusto Luiz Cheffer de Melo
PROJETO FINAL SUBMETIDO AO CORPO DOCENTE DO DEPARTAMENTO
DE ENGENHARIA MECÂNICA DA ESCOLA POLITÉCNICA DA
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO COMO PARTE DOS
REQUISITOS NECESSÁRIOS PARA A OBTENÇÃO DO GRAU DE
ENGENHEIRO MECÂNICO.
Aprovado por:
________________________________________________
Prof. Marcelo Amorim Savi
________________________________________________ Prof. Anna Carla Monteiro de Araujo
________________________________________________ Prof. Thiago Gamboa Ritto
RIO DE JANEIRO, RJ - BRASIL.
AGOSTO DE 2015
ii
Cheffer de Melo, Augusto Luiz
Controle de caos em uma treliça de Mises com memória de forma. / Augusto Luiz Cheffer de Melo. – Rio de Janeiro: UFRJ/ Escola Politécnica, 2015.
VII, 41 p.: il.; 29,7 cm.
Orientador: Marcelo Amorim Savi
Projeto de Graduação – UFRJ/ Escola Politécnica/ Curso de Engenharia Mecânica, 2015.
Referencias Bibliográficas: p. 42-43.
1. Controle de caos. I. Savi, Marcelo Amorim. II. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Escola Politécnica, Curso de Engenharia Mecânica. III. Controle de caos em uma treliça de Mises com memória de forma.
iii
Para Luciana e Ana Lúcia .
iv
AGRADECIMENTOS
Agradeço à minha família, principalmente à minha mãe Luciana e minha
tia Ana Lucia, por cuidarem de mim todos esses anos e por darem
oportunidades que tornaram possíveis todas as minhas conquistas.
Agradeço a todos os professores que contribuíram com minha formação,
desde o ensino fundamental até a universidade. Ao professor de física Jorge
Dias, por despertar meu interesse pela área de exatas, o que me incentivou a
ser engenheiro. Ao professor Antonio Carlos dos Santos, pelo aprendizado
durante a iniciação científica sob sua orientação no LACAM – IF/UFRJ. E
principalmente ao professor Marcelo Savi, pela orientação na realização deste
trabalho e pela oportunidade oferecida de realizar o programa de pós-
graduação sob sua orientação.
Por fim, a todos os amigos que conquistei desde a entrada na
universidade. Aos grandes amigos Alberto, Gabriel, Philippe, Raphael, Ribas e
Ricardo, pelo companheirismo ao longo do curso, e principalmente pelas
conversas de boteco. Aos companheiros de estágio, em especial a Jean
Frazzoli, por compartilhar seus conhecimentos sobre o universo e pelos
valiosos conselhos.
v
Resumo do Projeto de Graduação apresentado à Escola Politécnica/ UFRJ como parte
dos requisitos necessários para a obtenção do grau de Engenheiro Mecânico.
CONTROLE DE CAOS EM UMA TRELIÇA DE MISES COM MEMÓRIA DE
FORMA
Augusto Luiz Cheffer de Melo
Agosto/2015
Orientador: Marcelo Amorim Savi
Curso: Engenharia Mecânica
A modelagem não linear surge como uma abordagem mais realista da
natureza. O comportamento caótico é uma das possíveis respostas da rica dinâmica
dos sistemas não lineares. O caos tem como características marcantes a sensibilidade
a condições iniciais e a existência de inúmeras orbitas periódicas instáveis (OPIs). O
controle de caos se baseia na aplicação de pequenas perturbações de modo a
estabilizar OPIs desejadas, o que permite projetar dispositivos mais eficientes, com
economia de energia e respostas mais rápidas. Este trabalho apresenta a análise de
uma treliça de duas barras conhecida como treliça de Mises. Como não linearidade
adicional, as barras são de liga memória de forma. Por meio de simulações numéricas
aplica-se um forçamento de modo a provocar uma resposta caótica. O objetivo do
trabalho é controlar a treliça usando o método de realimentação defasada no tempo
(time-delayed feedback – TDF). Dois parâmetros de controle são tratados: momento e
temperatura. A análise do controle por temperatura leva em consideração aspectos
associados à transferência de calor, projetando três controladores: ideal, calculado
pelo TDF ;efeito Joule e convecção natural; e efeito Peltier. Os resultados mostram
que esses controladores são eficazes no controle da resposta caótica da treliça,
indicando o potencial para controle de caos através de perturbações na dinâmica do
sistema.
Palavras-chave: Controle de caos, Sistemas não lineares, Simulações numéricas.
vi
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of
the requirements for the degree of Mechanical Engineer.
CAOS CONTROL OF A SHAPE MEMORY ALLOY VON MISES TRUSS
Augusto Luiz Cheffer de Melo
Agosto/2015
Advisor: Marcelo Amorim Savi
Course: Mechanical Engineering
The nonlinear modeling surges as more realistic approach of nature. Chaotic behavior
is a possible response of rich dynamics of nonlinear systems. Chaos has remarkable
characteristics as sensibility to initial conditions and existence of infinity of unstable
periodic orbits (UPOs). Chaos control is based on application of small perturbations in
order to stabilize desired UPOs, enabling to project more efficient devices, with energy
saving and faster responses. This work presents an analysis of a two-bar truss known
as Mises Truss. As an additional nonlinearity, bars are made of memory shape alloy.
By means of numerical simulations, an excitation is applied on way to induce chaotic
response. The objective is truss control using Time-delayed feedback (TDF) method.
Two control parameters are treated: moment and temperature. Control analysis by
temperature considers aspects related to heat transfer, projecting three controllers:
ideal, calculated by TDF; Joule effect and natural convection; and Peltier effect. The
results show that these controllers are effectives on truss chaotic response control,
indicating potencial of using perturbations on dynamic systems for chaos control.
Keywords: Chaos control, nonlinear systems, numerical simulations.
vii
SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1
1.1 Organização do Trabalho .......................................................................................... 3
2 TRELIÇA DE MISES .................................. ........................................................... 4
2.1 Modelagem do sistema.............................................................................................. 5
2.2 Caos ............................................................................................................................. 8
2.2.1 Condições de existência do caos..................................................................... 9
2.2.2 Características da resposta caótica............................................................... 10
2.3 Simulações Numéricas ............................................................................................ 10
2.4 Identificação das OPIs ............................................................................................. 13
3 CONTROLE DE CAOS .................................. ..................................................... 16
3.1 Método de Controle .................................................................................................. 16
3.2 Treliça controlada por momento aplicado............................................................. 17
4 TRELIÇA CONTROLADA POR TEMPERATURA ................ .............................. 22
4.1 Temperatura calculada pelo TDF .......................................................................... 23
4.2 Modelo de aquecimento/resfriamento transiente ............................................... 25
4.2.1 Efeito Joule e resfriamento natural ................................................................ 27
4.2.2 Efeito Peltier ...................................................................................................... 30
4.3 Controle considerando efeito Joule e resfriamento natural .............................. 33
4.4 Controle por efeito Peltier ...................................................................................... 36
5 CONCLUSÕES ................................................................................................... 40
6 REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS ........................ ............................................ 42
1
1 INTRODUÇÃO
Desde a revolução científica no século XVIII, cientistas e engenheiros se
deparam com flutuações e desvios dos comportamentos previstos pelos modelos
lineares. A estes comportamentos não esperados foram dados nomes como acaso,
turbulência ou caos. Na engenharia utilizam-se procedimentos como normas, fatores
de segurança ou fórmulas empíricas de modo a corrigir tais modelos. Devido ao
sucesso da mecânica linear em varias áreas do conhecimento, a linearização da
realidade enraizou-se no pensamento cientifico.
A natureza é não linear em essência [1] e toda a variedade de formas,
estruturas e ritmos existentes se deve às flutuações e instabilidades. Dada a
dificuldade de se tratar problemas não lineares, sua análise foi historicamente evitada.
Porém os modelos ou técnicas não lineares fazem uma abordagem mais efetiva da
realidade, trazendo uma melhor compreensão dos diversos sistemas naturais
(mecânicos, biológicos, elétricos, sociais, econômicos, dentre outros). Os modelos
lineares tem como característica essencial que pequenas causas estão
necessariamente ligadas a pequenos efeitos. O comportamento não linear é o oposto
disso.
O comportamento caótico é uma das possibilidades dentre a grande variedade
de respostas existentes na dinâmica de um sistema não linear. Uma de suas principais
características é a sensibilidade às condições iniciais, que implica em pequenas
perturbações poderem causar grandes efeitos na evolução do sistema. Outra
característica de uma resposta caótica é a existência de uma infinidade de orbitas
periódicas instáveis (OPIs), responsável por criar uma estrutura muito rica. OPIs são
órbitas fechadas no espaço de estados que apresentam pelo menos uma direção de
instabilidade [2]. Explorar essas características de uma resposta caótica pode ser de
grande interesse para a engenharia, tornando possível o projeto de dispositivos e
2
mecanismos de controle mais eficientes, criando sistemas que tenham reações
rápidas a determinadas perturbações, garantindo-lhe flexibilidade.
Um exemplo da aplicabilidade do controle de caos foi a manobra realizada com
a sonda espacial ISEE-3 para exploração do cometa Halley durante sua última
passagem próximo à Terra. A ideia era posicionar o satélite na cauda do cometa e,
para executar a tarefa, se demandava uma grande quantidade de combustível para
direcionar a sonda ao corpo celeste usando procedimentos clássicos de transferência
de órbita, quantidade essa que não estava disponível. Decidiu-se então estabilização
em órbitas instáveis do sistema sonda-Terra-Lua. Como resultado, a sonda percorreu
a trajetória esquematizada na figura 1-1, e além de explorar o cometa Halley,
conseguiu se aproximar e explorar o cometa Giacobini-Zinner, sem gastar todo o
combustível [3].
Figura 1-1 – Representação da trajetória complexa que conduziu a sonda ISEE-3 de sua posição original até às proximidades dos cometas Giacobini-Zinner e Halley (retirado e modificado de [3]).
A motivação deste trabalho é buscar soluções para controle de vibrações e
instabilidades em estruturas que apresentam não linearidades, relacionadas a
respostas caóticas e flambagem. Considera-se uma estrutura clássica no estudo de
3
instabilidades elásticas conhecida como treliça de Mises. Contudo, este trabalho
considera uma não-linearidade constitutiva adicional, tratando uma treliça composta
por barras com memória de forma. As ligas com memória de forma possuem
singulares propriedades termomecânicas relacionadas a transformações de fase.
Possuem diversas aplicações [4] e, em especial, vale destacar aquelas associadas ao
controle de vibrações [5].
Estudos anteriores mostram a efetividade no controle de caos deste arranjo por
meio de perturbações externas como forças [6] e deslocamentos [7]. O presente
trabalho contribui com um estudo da aplicação da temperatura como parâmetro de
controle, visto que essa tem forte influência sobre a dinâmica do sistema. Objetiva-se
projetar controladores considerando os efeitos da transferência de calor através da
modelagem do aquecimento/resfriamento transiente relacionado aos seguintes
fenômenos: efeito Joule, convecção e efeito Peltier.
Deve-se ressaltar que este trabalho é de caráter exploratório, visto que não se
utiliza de todo o rigor científico da área de Controle. Os resultados mostrados são
colocados como soluções de Engenharia para casos específicos.
1.1 Organização do Trabalho
Este trabalho é dividido em 5 capítulos. Neste primeiro dedica-se a introduzir o
assunto, destacando as motivações e objetivos do trabalho.
No segundo capítulo é feita uma revisão da teoria não linear, bem como a
modelagem do sistema estudado. Descreve-se o método numérico utilizado, também
apresentando respostas periódica e caótica, e aplica-se um método de identificação de
orbitas periódicas instáveis imersas no atrator caótico.
O capítulo 3 apresenta alguns métodos de controle de caos, dos quais um é
escolhido para o estudo aqui desenvolvido – o Time-delayed feedback (TDF). Tal
4
método é implementado, utilizando-se a aplicação de momento como parâmetro de
controle.
No capitulo 4 é proposta a utilização da temperatura como parâmetro de
controle. São desenvolvidos três tipos de controlador: o caso ideal, em que a variação
de temperatura é calculada pelo TDF; considerando efeito Joule e convecção natural;
e por efeito Peltier. Por fim são apresentados os respectivos resultados e comparados
com as órbitas identificadas.
O capítulo 5 trata das conclusões sobre o desenvolvimento e contribuições do
trabalho, discussões sobre os resultados e propostas de trabalhos futuros.
2 TRELIÇA DE MISES
A treliça de duas barras, conhecida como Treliça de Mises, é um arranjo
amplamente usado para análise de estabilidade de estruturas armadas e fenômenos
relacionados à flambagem, como mostrado na figura 2-1. Sendo f o ângulo das
barras com a horizontal e P a carga aplicada.
Figura 2-1 - Treliça de Mises
A dinâmica não linear desta estrutura simples apresenta vários
comportamentos complexos como o snap-through [8], caracterizado por um salto
5
repentino de deslocamento quando aplicada uma carga crítica. A figura 2-2 ilustra tal
situação.
Figura 2-2 - Snap-through em uma treliça de Mises
2.1 Modelagem do sistema
Considere uma treliça composta por duas barras de massa desprezível e uma
massa m concentrada na junção pinada entre as barras, como mostrado na figura 2-3.
Figura 2-3 – Esquema do sistema analisado (Treliça de Mises)
Sejam as barras de mesmo comprimento L, feitas com liga de memória de
forma, temos um sistema com 1 grau de liberdade descrito pela coordenada X que
mede o deslocamento vertical da massa m. B é a projeção de L na horizontal. Um
atuador é responsável pelo forçamento P senoidal da forma . São
6
escolhidos os valores de L = 1m e f = 30°, assim a posição de equilíbrio inicial é X =
0.5m.
A figura 2-4 mostra o diagrama de corpo livre da massa m, em que F é a força
de tração exercida por cada barra. Foi considerado um termo de dissipação de modo a
representar a histerese existente no ciclo de carregamento representado por .
Figura 2-4 – Diagrama de corpo livre da massa m
Assim, podemos escrever a seguinte equação de equilíbrio do sistema:
2 (2.1)
A cinemática da deformação das barras, sujeitas apenas a esforços
longitudinais de tração e compressão, é descrita por:
∆
(2.2)
O uso das ligas com memória de forma (Shape Memory Alloys – SMAs) traz
uma não linearidade adicional ao sistema. As SMAs apresentam um comportamento
termomecânico complexo relacionado a transformações de fases sólidas.
Basicamente, SMAs possuem duas fases: austenita e martensita. A fase austenítica é
estável a altas temperaturas em um estado livre de tensões. A martensita é estável a
baixas temperaturas, também com um estado livre de tensões.
7
Porém, a fase martensítica possui variantes induzidas por campos de tensões.
Assim, o comportamento termomecânico das SMAs pode ser entendido pelo
comportamento macroscópico das fases, sendo elas: a fase austenitica A; a fase
martensitica induzida por temperatura (twinned) M; e as fases martensíticas induzidas
por tensões (detwinned) de tração M+, e de compressão, M- [7].
O comportamento termomecânico das SMAs possui duas características
típicas: memória de forma e pseudoelasticidade. O efeito de memória de forma é
caracterizado por corpos que aparentemente sofreram deformações plásticas
conseguem retornar à sua configuração original após um tratamento térmico adequado
[9-13]. O comportamento pseudoelástico é um fenômeno em que ocorre total
recuperação da deformação acompanhada por uma grande histerese no ciclo de
carregamento [14].
A descrição do comportamento termomecânico das SMAs é feita através de
equações constitutivas. Neste trabalho utiliza-se o modelo polinomial para representar
o comportamento das barras. Trata-se de um modelo simples que não considera a
histerese, descrevendo contudo o comportamento qualitativo geral das SMAs [15].
Desta forma, a equação constitutiva é escrita como se segue.
! !" (2.3)
onde a1, a2 e a3 são constantes do material; T é a temperatura; TM é a temperatura
abaixo da qual a fase martensítica é estável e TA é a temperatura acima da qual a
austenita é estável. Os valores típicos desses parâmetros são mostrados na tabela 2-
1.
Tabela 2-1 – Propriedades do material [15]
a1[MPa/K] a2[MPa] a3[MPa] TM[K] TA[K]
523.29 1.868x107 2.186x109 288 364.3
8
Combinando as equações (2.1), (2.2) e (2.3) e fazendo as devidas
manipulações algébricas, chega-se à seguinte equação da dinâmica do sistema:
2#
$ %& 3 5!) & !)$ * &3 10!) 1
$ * & 10!) 1
$ * 5!
$! * ! !$- * .
em que A é a área transversal e L0 é o comprimento inicial das barras.
Essa equação pode ser expressa em sua forma canônica, considerando a definição
das variáveis de estado, / e / , onde / e / . Com isso:
/ /
/ / 2#
$ / %& 3 5!)
& !)$/ *
&3 10!) 1$ / * & 10!) 1
$ / *
5!$! / * ! !
$- / * .
2.2 Caos
O caos está associado à imprevisibilidade e à sensibilidade às condições
iniciais. Tal imprevisibilidade não está relacionada à aleatoriedade. Deve-se enfatizar
(2.4)
9
que o comportamento caótico é de natureza determinística, ou seja, toda dinâmica é
conhecida dadas as condições iniciais, porém a existência de erros na determinação
dessas condições, como arredondamentos, erros de integração numérica ou de
medição, torna impossível a determinação dos estados futuros de maneira
aproximada.
2.2.1 Condições de existência do caos
Vários sistemas dinâmicos são passiveis de exibir um comportamento caótico,
desde que satisfeitas algumas condições, sendo essas: a existência de não
linearidades, possuir pelo menos três dimensões e a existência de transformações do
tipo Ferradura de Smale.
A sequência de transformações conhecidas como Ferradura de Smale
promove expansão, contração e dobra em direções distintas. A título de ilustração
geométrica, seja um sistema tridimensional, sujeito à ação da função f, cuja projeção é
feita no plano da página, sendo a terceira dimensão (tempo) perpendicular a esta.
Considerando um quadrado unitário no espaço de estados, a figura 2-5 mostra as
deformações ocasionadas por f [16].
Figura 2-5 - Ação da função f sobre um quadrado unitário
10
2.2.2 Características da resposta caótica
A resposta caótica é composta por uma infinidade de orbitas periódicas
instáveis (OPIs), como consequência da estrutura gerada pelas transformações do tipo
expansão-contração-dobra. Outra característica ligada a essas transformações é que
não importa o quão próximos estejam dois estados em uma vizinhança, após um
número finito de transformações, estes estarão separados por uma distancia finita [17],
garantindo a propriedade de sensibilidade às condições iniciais.
Uma característica importante é a existência de um atrator de dimensão
fracionária ou fractal [18], muitas vezes denominado atrator estranho. Isso se deve à
formação de vazios no espaço de estados inerentes à Ferradura de Smale.
2.3 Simulações Numéricas
Um procedimento numérico é adotado para lidar com as não linearidades da
equação de movimento. Considera-se o método de Runge-Kutta de 4ª ordem para a
resolução do sistema de equações diferenciais. Os valores dos parâmetros utilizados
no método estão na tabela 2-2. A programação foi feita no software Matlab.
Tabela 2-2 – Valores dos parâmetros entrada do método numérico
Parâmetro Valor
Posição inicial – x1(0) [m] 0.49
Velocidade inicial – x2(0) [m/s] 0.0
Temperatura – T [K] 300
Comprimento inicial – L0 [m] 1
Área transversal – A [mm2] 0.01
Massa – m [kg] 50
Coeficiente de amortecimento – c [kg/s] 20
11
Para um forçamento de amplitude P0 = 20N e frequência 201 é obtida a
resposta periódica mostrada na figura 2-6. Desconsiderando o regime transiente, é
construído o espaço de estados apresentado na figura 2-7. Nota-se a formação de
uma curva fechada, caracterizando uma órbita periódica.
Figura 2-6 – História temporal do deslocamento, X.
Figura 2-7 – Espaço de Estados
12
As figuras 2-8 e 2-9 mostram a evolução da posição no tempo e o espaço de
estados, respectivamente, para um forçamento de amplitude P0 = 100N e frequência
501. É importante observar a falta de periodicidade no deslocamento e o
preenchimento do espaço de estados pela existência de inúmeras órbitas não
periódicas, sendo estes indícios da existência de caos.
Figura 2-8 – História temporal do deslocamento, X
Figura 2-9 – Espaço de Estados
13
A seção de Poincaré é composta pelos estados 23 4 5 , discretizados por um
período de referência, que nesse caso é a frequência de forçamento. A figura 2-10
apresenta uma seção de Poincaré mostrando um atrator estranho, que corresponde à
dinâmica caótica, para 5000 períodos de forçamento, superposto ao espaço de
estados.
Figura 2-10 – Atrator estranho superposto ao Espaço de Estados
2.4 Identificação das OPIs
A ideia básica do controle de caos é identificar órbitas periódicas instáveis
imersas no atrator caótico e depois estabilizá-las. Essa abordagem consome pouca
energia para manter o sistema em uma órbita escolhida.
Neste trabalho, considera-se o método dos vizinhos próximos [2] que é
baseado na comparação de uma série temporal do sistema, ou seja, os vetores
compostos pelo espaço de estados 6237389 , 23 4 5 , da seguinte forma:
23 23:; < =
14
onde r1 é uma tolerância arbitrada para a comparação e k é a ordem do período da
orbita identificada. Caso a condição acima seja satisfeita, significa que o sistema
retorna para o mesmo estado xi (dentro da tolerância r1) após k períodos, ou seja, é
identificada uma órbita de período k.
Caso uma órbita seja visitada mais de uma vez, é necessária uma verificação
dentre as orbitas de mesmo período se elas podem ser consideradas idênticas. Utiliza-
se uma tolerância r2 que mede a distância entre as órbitas, e caso sejam consideradas
equivalentes é tomada a média aritmética dos pontos das órbitas como uma
aproximação da real.
Uma busca das órbitas órbitas no atrator caótico da treliça utilizando r1 = 0.05 e
r2 = 0.08 identifica seis órbitas instáveis: período-1 (3 diferentes), período-3 (2
diferentes) e período-7. A figura 2-11 mostra 3 órbitas identificadas de período-1, duas
em torno de pontos de equilíbrio com coordenadas negativas e uma para
deslocamentos positivos. Na figura 2-12 são mostradas duas órbitas de periodicidade
3, sendo uma para deslocamentos positivos e outra para negativos. Na figura 2-13 é
apresentada uma órbita de período-7 imersa no atrator caótico.
Figura 2-11 – Órbitas de período-1
15
Figura 2-12 – Órbitas de período-3
Figura 2-13 – Órbita de período-7
16
3 CONTROLE DE CAOS
A resposta caótica apresenta como características marcantes a sensibilidade a
pequenas ações e a existência de uma infinidade de OPIs imersas no atrator. Essas
propriedades podem ser exploradas no desenvolvimento de sistemas dinâmicos
capazes de responder com rapidez e atuar em uma faixa maior de possibilidades,
oferecendo assim operações flexíveis.
O princípio do controle de caos é, através de pequenas perturbações, explorar
a estrutura composta por OPIs, estabilizando-as de modo a executar um
comportamento desejado para a aplicação em questão. Basicamente, os métodos de
controle são classificados em contínuos e discretos. O método discreto OGY, proposto
por Ott [19], introduziu a ideia básica de controle de caos. Pyragas introduziu o método
contínuo baseado em perturbações continuas relacionadas a estados defasados [20].
De Paula & Savi (2011) apresentam uma análise comparativa das principais técnicas
de controle de caos [21].
3.1 Método de Controle
Das inúmeras possibilidades para estabelecer o controle de caos, os métodos
contínuos são interessantes em diversas situações. O método de controle conhecido
como Time-delayed feedback (TDF), proposto por Pyragas [20] e baseado em
perturbações contínuas no tempo em um sistema dinâmico modelado por um sistema
de equações diferenciais ordinárias não-lineares da forma:
/ >/, /
/ /, / , /, /
17
onde / e / são variáveis de estado, >/, / e /, / descrevem a
dinâmica do sistema e , /, / está relacionado à ação de controle.
O método considera perturbações de controle avaliadas a partir da diferença
entre o estado atual e um estado defasado:
, /, / @/ A /
onde K é o ganho do controlador, / A / B e B é a defasagem de tempo entre
os estados.
O método TDF apresenta bons resultados, confirmados numérica e
experimentalmente, para diferentes sistemas incluindo dispositivos mecânicos [22,23],
osciladores eletrônicos [24,25] e lasers [26].
A escolha de K depende da análise dos expoentes de Lyapunov da órbita em
que se deseja estabilizar o sistema. O valor apropriado de K é aquele que torna
negativo o maior expoente de Lyapunov, significando que as OPIs escolhidas
tornaram-se estáveis [27]. Porém, neste trabalho o ajuste do ganho é feito através de
uma varredura para encontrar valores de K que provoquem respostas próximas às
OPIs identificadas.
3.2 Treliça controlada por momento aplicado
Considere a aplicação do controle de caos na treliça de von Mises com
memória de forma, onde a perturbação de controle é feita por intermédio um momento
conforme mostrado figura 3-1.
18
Figura 3-1 – Esquema da estrutura utilizando a aplicação de momento como controlador.
Considera-se que o momento M pode ser substituído por uma força vertical de
módulo C aplicada no ponto onde a força externa é aplicada. A figura 3-2 mostra o
diagrama de forças atuantes.
Figura 3-2 – Diagrama de forças atuantes.
Desta forma, a equação de movimento da treliça controlada a partir do TDF é
expressa da seguinte forma:
/ /
/ / 2#
$ / %& 3 5!)
& !)$/ *
&3 10!) 1$ / * & 10!) 1
$ / *
5!$! / * ! !
$- / * . D
*
19
E o termo de controle é da seguinte forma:
D @/ A /
onde K é o ganho do controlador, / A / B e B é a diferença de fase entre os
estados. É considerado que B é o passo de tempo usado na solução do Runge-Kutta
de 4ª ordem, ou seja, D 1 @&/ / 1) a cada iteração.
O método numérico de Runge-Kutta de 4ª ordem é utilizado para realizar as
simulações numéricas. Como o termo de controle é dependente de estados anteriores,
a simulação é iniciada e após um tempo o controle é acionado, de modo a satisfazer a
necessidade de informações sobre estados precedentes. Neste caso o início do
controle ocorre em t = 10s.
Considere então o controle da treliça utilizando um ganho K = 0.34. Nessas
condições é obtida a resposta mostrada na figura 3-3. Observa-se que a resposta
controlada possui características que tendem às da órbita de período-7 imersa no
atrator caótico e identificada anteriormente. A figura 3-4 mostra a comparação da
resposta do sistema controlado e a órbita instável de período-7.
Figura 3-3 – Resposta do sistema para um ganho do controlador K = 0.34
20
Figura 3-4 – Comparação da resposta com controle com a órbita identificada de período-7.
Na figura 3-5 temos o momento aplicado pelo controlador em função do tempo. È
possível notar que a amplitude do momento é pequena, da ordem de 10-2 N m, quando
comparada ao momento correspondente à carga critica de snap-through. A carga crítica é
dada por E !√!
GHI !, em que E é o modulo de Young e I o momento de inércia da
seção. Assim temos E 9.09 L, logo DE E $ 9.09L .
Figura 3-5 – Momento aplicado pelo controlador
21
Agora, para um ganho K = 0.096, é obtida a resposta apresentada na figura 3-6.
Tal resposta se aproxima da região no espaço de estados ocupada pela orbita
identificada de período 3 para valores negativos de /. Fato esse comprovado pela
comparação mostrada na figura 3-7.
Figura 3-6 – Resposta do sistema para um ganho do controlador K = 0.096
Figura 3-7 – Comparação da resposta com controle com a órbita identificada de período-3
O momento aplicado pelo controlador é mostrado na figura 3-8. É conseguida uma
amplitude ainda menor (10-3) neste caso, apoiado pelo uso de um ganho menor.
22
Figura 3-8 – Momento aplicado pelo controlador
Assim, conclui-se que o método de controle cumpriu sua proposta de manter o
sistema em órbitas pertencentes à dinâmica do sistema e demandando pouca energia,
confirmado pela pequena amplitude de momento aplicado.
4 TRELIÇA CONTROLADA POR TEMPERATURA
Neste capítulo o controle é realizado considerando a temperatura como
parâmetro de controle. A temperatura tem forte influência no comportamento
constitutivo da SMA, e consequentemente, na dinâmica do sistema. Note que a
equação do movimento possui o termo explícito da temperatura,
/ /
/ / 2#
$ / %& 3 5!)
& !)$/ *
&3 10!) 1$ / * & 10!) 1
$ / *
5!$! / * ! !
$- / * .
23
Contudo, é importante destacar a dificuldade da variação da temperatura
devido a fenômenos associados à transferência de calor. A frequência do controlador
é limitada por essas questões e sua eficácia está diretamente relacionada a isso.
Utilizam-se modelos simplificados para o regime transiente de modo a investigar
quantitativa e qualitativamente o comportamento de controladores possíveis de
possível utilização.
Supõe-se que a temperatura nas barras é uniforme e, portanto,
desconsideram-se aspectos relacionados à condução de calor.
4.1 Temperatura calculada pelo TDF
Inicialmente considera-se uma situação ideal de temperatura calculada pelo
método TDF, sendo esta variação contínua no tempo. Isso significa que a variação de
temperatura pode ser rápida o suficiente o que, provavelmente, não é
experimentalmente viável. Nessas condições, o termo de controle é da seguinte forma:
@/ A /
onde é utilizado o valor para a temperatura ambiente T0 = 280K.
Para um ganho K = 910 e iniciando o controle em t = 10s, obteve-se a resposta
mostrada na figura 4-1. A resposta controlada apresenta comportamento aproximado
da órbita de periodicidade 3 identificada para deslocamentos positivos. A figura 4-2
mostra a comparação do espaço de estados obtido com tal órbita de período-3.
24
Figura 4-1 – Resposta do sistema para um ganho K = 910.
Figura 4-2 – Comparação da resposta com controle com a órbita identificada de período-3.
A figura 4-3 mostra a variação de temperatura ao longo do tempo. Pode-se
observar que em determinados instantes ocorrem grandes amplitudes de temperatura,
da ordem de 102 K, e destaca-se a alta frequência de variação, demonstrando ser
experimentalmente inviável. Isto se deve ao elevado valor do ganho (K = 910).
25
Figura 4-3 – Temperatura, calculada pelo método TDF, em função do tempo.
Neste caso, é necessário um ganho elevado do controlador para manter o
sistema nesta região do espaço de estados e, provavelmente, essas órbitas não
pertencem à dinâmica do sistema.
4.2 Modelo de aquecimento/resfriamento transiente
A fim de descrever o comportamento transiente da temperatura das barras pela
ação de um controlador real, utiliza-se o método dos parâmetros concentrados [28].
Este método é baseado na suposição de que a temperatura do sólido é espacialmente
uniforme, ou seja, o gradiente de temperatura é nulo. A validade do método está
garantida caso a seguinte condição seja satisfeita:
* M $EN O 0.1
onde Bi é o número de Biot, h é o coeficiente de convecção, LC é o comprimento
característico e k é a condutividade térmica. Para cilindro longo, LC = r/2. Tal condição
pode ser interpretada como se a resistência à condução no interior do solido fosse
pequena comparada à transferência de calor entre o sólido e o ambiente.
26
Desprezando o gradiente de temperatura, a formulação do problema para o
interior do solido não é possível. Por isso, a solução transiente da temperatura é obtida
pela formulação do balanço global de energia no solido. Este balanço relaciona a taxa
de perda de calor pela superfície com a taxa de variação da energia interna, da
seguinte forma:
PQRS P3TS (4.1)
onde PQRS é o fluxo de energia através da superfície da barra e P3TS UV , sendo U é
a massa especifica do material, V o volume e é o calor especifico.
Dados os parâmetros de construção das barras, comprimento L = 1m e área
transversal AT = 0.01m2, são calculados os valores da tabela 4-1. A tabela 4-2 contem
valores das propriedades do material. Para a convecção natural com gás, é dado que
coeficiente de convecção h[W/m K] = 2~25, adota-se então h = 25 W/m K [28].
Tabela 4-1 – Parâmetros do sólido (barra)
Parâmetro Valor
Raio – r[mm] 0.056
Área da superfície lateral – AL[mm2] 354
Volume – V[mm3] 10
Tabela 4-2 – Propriedades do Níquel-Titânio @ 300K
Propriedade Valor
Massa especifica – W[kg/m3] 6450
Calor especifico – c[J/kg.K] 490
Condutividade térmica – k[W/m.K] 8.6
27
Com os valores acima, encontra-se Bi = 3,27 x 10-5, verificando assim a
validade do método dos parâmetros concentrados para a treliça.
4.2.1 Efeito Joule e resfriamento natural
Um possível controlador consiste na utilização do efeito Joule para
aquecimento e convecção natural com o ar ambiente para resfriamento. O efeito Joule
consiste na dissipação de energia na forma de calor devido à passagem de corrente i
por uma resistência R, da forma PX3YY 5 .
As transformações de fase martensítica são processos em que ocorre variação
de entalpia, podendo ser endo ou exotérmicas. Para baixas frequências de
carregamento, existe tempo suficiente para dissipação desta energia através da
convecção, provocando variações desprezíveis na temperatura. Porém para altas
frequências de carregamento, este termo provoca aumento de temperatura, pois a
convecção não é suficiente para dissipar tal contribuição. Adota-se a hipótese que a
retirada de calor das barras é rápida o suficiente podendo-se desprezar as parcelas de
variação de energia devido às transformações de fase no balanço de energia.
Considera-se que as barras da treliça possuem seção transversal circular e
estão sujeitas a transferência de calor somente na superfície lateral. O efeito Joule se
dá pela passagem de corrente pelas barras, cuja resistência é 5 Z I , onde Z é a
resistividade do material dada por Z 8 \ 10]Ω ; L é o comprimento e A é a área
da seção transversal [29]. Através da área lateral AL das barras ocorre convecção. A
figura 4-4 mostra o balanço de energia das barras.
28
Figura 4-4 – Seção transversal da barra mostrando o fluxo de energia pela superfície lateral
Utilizando a equação (4.1) chega-se ao seguinte problema de valor inicial (PVI),
onde e são as temperaturas do gás ambiente e inicial das barras,
respectivamente:
UV M#EQTa& ) PX3YY
cuja condição inicial é:
0
Seguem as definições de alguns parâmetros importantes para a solução do
problema:
b (4.2)
c IdefghiE c Ij
hiE (4.3)
> GklmmUV n3ohiE (4.4)
Assim, o PVI torna-se:
b b >
com a seguinte condição inicial:
b0 b
29
Temos como solução analítica:
b pqSb rstuvq (4.5)
Da eq.(4.2), temos que a temperatura das barras em função do tempo é dada
por:
pqS& ) rstuvq (4.6)
Durante a passagem de corrente na resistência (aquecimento) a temperatura
das barras é dada pela eq.(4.6). Porém, se a corrente é interrompida, o último termo
torna-se nulo, pois se i = 0, Q = 0; então a temperatura passa a diminuir
exponencialmente, agora com sendo a temperatura no momento em que corrente é
interrompida.
Arbitrando-se valores de corrente de 50A e 300@, a fim de
demonstração do comportamento da temperatura, e com os valores das tabelas 4-1 e
4-2, são obtidos m = 0.280 e Q = 6.32. A figura 4-4 mostra a evolução da temperatura
no tempo, com interrupção da passagem de corrente em t = 10s.
Figura 4-5 – Gráfico do aquecimento por efeito Joule e resfriamento por convecção
30
4.2.2 Efeito Peltier
O efeito Peltier é observado ao se passar corrente elétrica por uma junção
metálica ocorrendo liberação e absorção de energia na forma de calor em regiões
distintas desta, gerando assim uma temperatura alta TH e uma temperatura baixa TL
em suas extremidades. Pode ser usado para arrefecimento ou aquecimento apenas se
alterando o sentido da corrente, como esquematizado na figura 4-6.
Figura 4-6 – Efeito Peltier numa junção de acordo com o sentido da corrente
O calor produzido ou absorvido q é relacionado com a corrente i da seguinte
forma:
w xyz (4.7)
onde xyz é o coeficiente de Peltier, seu valor é dado em V e depende do material da
junção ab.
Utiliza-se o conceito de uma camisa isolante constituída por módulos Peltier
envolvendo as barras, desprezando a convecção. Um material muito utilizado na
construção desses módulos é uma liga de bismuto-telúrio Bi2Te3 cujo coeficiente de
Peltier vale 0.072V à temperatura ambiente. A figura 4-7 mostra o fluxo de energia
pela superfície lateral das barras.
31
Figura 4-7 – Seção transversal da barra mostrando o fluxo de energia pela superfície lateral
Utilizando a hipótese que a absorção de calor por efeito Peltier é
suficientemente rápida no sentido de desprezar os termos variação de energia devido
às transformações de fase.
Da eq. (4.1), o seguinte problema de valor inicial pode ser escrito:
UV w #
com a condição inicial:
0
Utilizando as equações (4.2), (4.3) e fazendo > | 3hiE , neste caso m = 0, pois
#EQTa 0, o sistema torna-se:
b >
b0 b
A solução analítica é a seguinte:
b b > (4.8)
Então:
32
> (4.9)
Observa-se que a eq.(4.9) é uma função linear da temperatura com o tempo.
Durante o aquecimento, a partir de , temos um coeficiente angular positivo Q para
uma corrente arbitrada num sentido positivo e no resfriamento o coeficiente é –Q para
a mesma corrente no sentido oposto, e passa a ser a temperatura no inicio do
resfriamento.
Para a mesma corrente de 50A usada anteriormente, temos Q = 5695.3, a
figura 4-8 mostra a variação da temperatura no tempo para o aquecimento iniciado em
t = 0s seguido de um resfriamento em t = 1.25s.
Figura 4-8 – Gráfico do aquecimento e resfriamento por efeito Peltier
A figura 4-9 mostra uma comparação entre os controladores desenvolvidos
nesta e na subseção anterior. É possível notar que para a mesma intensidade de
corrente, se consegue variações de maiores amplitude e velocidade com o efeito
Peltier.
33
Figura 4-9 - Comparação entre os controladores
4.3 Controle considerando efeito Joule e resfriame nto natural
Nesta seção e na próxima são aplicados os modelos de temperatura
desenvolvidos anteriormente para corrigir a temperatura de controle calculada pelo
TDF. Busca-se uma temperatura de controle corrigida ~bE, onde g é uma função
que representa as limitações relativas aos fenômenos de transferência de calor e bE é
a temperatura calculada pelo TDF. Porém, observa-se que bE apresenta variação com
frequência de 1.25 Hz, inviável de ser compatibilizada com os modelos propostos.
Como uma solução, assume-se a imposição de corrente, com frequência e intensidade
escolhidas de modo a se obter variações de temperatura que cruzem TM = 288K,
podendo assim tirar proveito das transformações de fase do material para controle.
Novamente utiliza-se o Runge-Kutta de 4ª ordem para obtenção da solução
numérica. Iniciando pelo regime sujeito a aquecimento por efeito Joule e resfriamento
por convecção natural, por tentativa-erro-acerto, aplica-se a variação de corrente em
função do tempo mostrada na figura 4-10.
34
Figura 4-10 – Variação de corrente no tempo
O controle é iniciado em t = 19s, com variações periódicas de 24s, sendo 18s
com corrente de 50A e 6s com corrente nula. A figura 4-11 mostra a evolução da
temperatura no tempo para este controlador. Assume-se a temperatura inicial das
barras igual à temperatura ambiente de 280K.
Figura 4-11 – Evolução da temperatura no tempo
Na figura 4-12 temos a resposta do sistema, à esquerda é mostrada a posição
em função do tempo e à direita o espaço de estados. Pode-se notar que a resposta do
35
sistema estabilizou-se tendendo a uma orbita de período-3. Na figura 4-13 é feita uma
comparação do espaço de estados com a órbita identificada de período-3.
Figura 4-12 – Resposta do sistema para controle por efeito Joule e convecção.
Figura 4-13 – Comparação da resposta com controle com a órbita identificada de período-3.
Observa-se que em relação ao primeiro controle proposto (TDF) este se mostra
mais eficiente energeticamente, pois com menor variação de temperatura (ordem de
10K), e consequentemente, menor consumo de energia.
36
4.4 Controle por efeito Peltier
Partindo das mesmas considerações da seção anterior para a faixa desejada
de variação de temperatura, agora para o controle por efeito Peltier, inicia-se o
controle em t = 19 s, com variações periódicas de 3s, sendo 1.5s com corrente de 10A
e 1.5s com corrente de -10A, mostrado na figura 4-14. A variação da temperatura no
tempo é mostrada na figura 4-15.
Figura 4-14 – Variação de corrente no tempo
Figura 4-15 – Evolução da temperatura no tempo
37
A resposta do sistema é mostrada na figura 4-16, sendo à esquerda a posição
em função do tempo e à direita o espaço de estados. Observa-se uma proximidade da
resposta com uma orbita de período-7. Na figura 3-17 é feita uma comparação do
espaço de estados com a órbita identificada de período-7.
Figura 4-16 – Resposta do sistema para controle por efeito Peltier.
Figura 4-17 – Comparação da resposta com controle com a órbita identificada de período-7.
38
Alterando os parâmetros do controlador, partindo o controle em t = 20s, para
períodos de 1.5s, sendo 0.75s com corrente de 10A e 0.5s com corrente de -10A,
como mostrado na figura 4-18. A figura 4-19 mostra a variação da temperatura no
tempo.
Figura 4-18 – Variação de corrente no tempo
Figura 4-19 – Evolução da temperatura no tempo
39
Na figura 4-20 é mostrada a resposta do sistema. Pode-se também observar,
como mostrado na figura 4-21, uma tendência ao comportamento de uma orbita de
período-3.
Figura 4-20 – Resposta do sistema para controle por efeito Peltier.
Figura 4-21 – Comparação da resposta com controle com a órbita identificada de período-3.
Assim como o controlador por efeito Joule e convecção, o controle por efeito
Peltier apresenta resultados razoáveis para pequenos gastos energéticos, justificada
pela pequena variação de temperatura.
40
5 CONCLUSÕES
Este trabalho discute o controle de caos em uma treliça de von Mises com
memória de forma. Utilizou-se um método de controle de caos baseado no uso de
perturbações externas contínuas – TDF. Dois parâmetros de controle foram
empregados: momento e temperatura.
Pode-se dizer que o método foi empregado com sucesso para a proposta de
controle por aplicação de momento, tendo em vista que estudos sobre a efetividade da
aplicação de parâmetros de controle dessa natureza estão bem estabelecidos.
Com relação à temperatura, consideram-se diferentes situações: controle ideal;
efeito Joule e convecção natural; e efeito Peltier. Desenvolveu-se, através do método
dos parâmetros concentrados, a modelagem das respostas de cada controlador para o
sinal de entrada (corrente). Como uma análise quantitativa dos resultados, temos para
o caso ideal uma variação da temperatura é da ordem de 1,25 Hz; com a utilização do
efeito Joule e convecção natural observa-se uma frequência de 0,042Hz; e por meio
do efeito Peltier é conseguida uma frequência uma ordem de grandeza acima, de
aproximadamente 0,5Hz.
Apesar das limitações deste estudo com relação às hipóteses fortes a respeito
dos fenômenos de transferência de calor, como contato e isolamento perfeitos,
entende-se ter uma abordagem inicial no sentido de construções experimentais. E
estudos mais aprofundados e modelos mais acurados são necessários diante dos
desafios ainda existentes para tratamento do problema proposto.
Uma observação importante é que se utilizando do rigor da área de Controle,
não se pode dizer que o sistema foi controlado. Foram utilizados conhecimentos de
engenharia para a obtenção de respostas para casos particulares, podendo considerá-
las soluções de engenharia.
41
Baseado na proposta principal deste trabalho de verificar utilização de
alterações na dinâmica do sistema como forma de controle e nos resultados favoráveis
expostos, pode-se dizer que uma continuação deste trabalho pode ser uma análise
rigorosa do controlador usando temperatura avaliada segundo as leis de transferência
de calor.
42
6 REFERÊNCIAS BILBIOGRÁFICAS
[1] SAVI, M. A., Ritmos da natureza . 1 ed. Rio de Janeiro, e-papers, 2014.
[2] Auerbach D., Cvitanovic P., Eckmann J. P., Gunaratne G., Procaccia I., (1987) “Exploring chaotic motion through periodic orbits”, Phys Rev Lett , v. 58, n. 23, pp. 2387–2389.
[3] Macau, E. E. N., Grebogi, C. “Surfando no caos”, Ciência Hoje v. 34, n. 204, Mai. 2004.
[4] Hartl, D.J. & Lagoudas, D.C., (2007), “Aerospace applications of shape memory alloys”, Proceedings of the Institution of Mechanical Engine ers, Part G: Journal of Aerospace Engineering , v. 221, pp. 535-552
[5] Machado, L.G. & Lagoudas, D.C, (2007), Tese: “Shape Memory Alloys for Vibration Isolation and Damping”, Texas A&M University.
[6] Bessa, W. M., De Paula, A. S., Savi, M. A. “Adaptive fuzzy sliding mode control of smart structures”, Eur. Phys. J. Special Topics 222, 1541-1551, Set. 2013.
[7] De Paula, A. S., dos Santos, M. V. S., Savi, M. A. “Controlling a Shape Memory Alloy Two-Bar Truss Using Delayed Feedback Method” , International Journal of Structural Stability and Dynamics v. 14, n. 8, Ago. 2014.
[8] Savi, M. A., Pacheco, P. M. C. L., Braga, A. M. B., (2002) “Chaos in a shape memory two-bar truss”, Int. J. Nonlinear Mech ., v. 37, n. 8, pp. 1387–1395.
[9] Lagoudas, D.C. (2008), “Shape memory alloys: modeling and engineering applications”, Springer.
[10] Paiva, A., Savi, M. A., Math. Probl. Eng. 2006, 56876 (2006)
[11] Machado, L. G., Savi, M. A., Braz. J. Med. Biol. Res. 36, 683 (2003)
[12] Rogers, C. A., Sci. Am. 273, 154 (1995)
[13] Shaw, J. A., Kyriakides, S. J., Mech. Phys. Solids 43, 1243 (1995)
[14] Otsuka, K., Ren, X., Intermet. 7, 511 (1999)
[15] Savi, M. A., Braga, A. M. B., J. Braz. Soc. Mech. Sci. Eng. 15, 1 (1993)
[16] Savi, M. A. “Chaos and order in Biomedical Rhythms”, J. of the Braz. Soc. Of Mech. Sci. & Eng. v 27, n 2 , pp 157-169, Abr. 2005.
[17] SAVI, M. A., Dinâmica não linear e caos . 1 ed. Rio de Janeiro, e-papers, 2006.
[18] FARMER, J. D., OTT, E., YORKE, J. A. (1983), “The Dimension of Chaotic Attractors”, Physica 7D , pp. 153-180.
43
[19] Ott, E., Grebogi, C., Yorke, J. A., (1990), “Controlling chaos”, Physical Review Letters, v. 64, n. 11, pp. 1196–1199.
[20] Pyragas, K. (1992), “Continuous control of chaos by self-controlling feedback”, Phys Lett A , v. 170, pp. 421–428.
[21] De Paula, A. S., Savi, M. A. (2011), “Comparative analysis of chaos control methods: A mechanical system case study”, International Journal of Non-Linear Mechanics , v. 46, pp. 1076–1089
[22] Hikihara, T., Kawagoshi, T., (1996), “An experimental study on stabilization of unstable periodic motion in magneto-elastic chaos”, Phys Lett A , v. 211, pp. 29–36.
[23] Ramesh, M., Narayanan, S. (2001), “Controlling chaotic motions in a two-dimensional airfoil using time-delayed feedback”, J Sound Vib , v. 239, pp. 1037–1049.
[24] Gauthier, D. J., Sukow, D. W., Concannon, H. M., Socolar, J. E. S., (1994), “Stabilizing unstable periodic orbits in a fast diode resonator using continuous time-delay autosynchronization”, Phys Rev E , v. 50, pp. 2343–2346.
[25] Pyragas, K., Tamasevicius, A., (1993), “Experimental control of chaos by delayed self-controlling feedback”, Phys Lett A , v. 180, pp. 99–102.
[26]Bielawski, S., Bouazaoui, M., Derozier, D., Glorieux, P. (1993), “Stabilization and characterization of unstable steady states in a laser”, Phys Rev A, v. 47, pp. 3276–9.
[27] Kittel, A., Parisi, J., Pyragas, K.. (1995), “Delayed feedback control of chaos by self-adapted delay time”, Phys Lett A , v. 198, pp. 433–436.
[28] INCROPERA, DEWITT, BERGMAN, LAVINE, Fundamentals of Heat and Mass Transfer. 6 ed. Wiley, 2007.
[29] YOUNG, H. D., FREEDMAN, R. A., Física III: Eletromagnetismo. 12 ed. São Paulo, Pearson Education, 2009.