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Seminário Internacional Fazendo Gênero 11 & 13th
Women’s Worlds Congress (Anais Eletrônicos),
Florianópolis, 2017, ISSN 2179-510X
PIBID PEDAGOGIA: TRANSVERSALIZANDO GÊNERO E SEXUALIDADES NAS AULAS DE HISTÓRIA
Andrêsa Helena de Lima1
Leandra Aparecida de Sousa Souza2
Resumo: A equipe Pibid Pedagogia/Ufla - Gênero e Sexualidades, atuante em uma escola estadual
do sul de Minas Gerais, com turmas de sexto ano, construiu com as/os estudantes uma encenação
teatral com a temática “O Egito na contemporaneidade” para discussão das lutas de mulheres,
sobretudo de mulheres negras na sociedade atual. As/os adolescentes foram divididas/os em
equipes e durante alguns dias produziram a peça teatral em andanças pelos espaços da escola, como
a sala de aula, pesquisas na biblioteca e pátio escolar. Na sala de aula as/os adolescentes sofrem
limitações quanto ao espaço físico e quanto a supervisão da escola que durante as oficinas esteve
insistentemente na porta da sala para verificar por que as/os discentes estavam conversando.
Quando ocupamos a escadaria de saída da escola fomos questionadas/os porque estávamos fora da
sala de aula. No dia da apresentação encontramos obstáculos quanto ao local de apresentação da
peça, já que espaços como biblioteca e sala de vídeo estavam ocupados e na frente da secretaria,
“atrapalharia o andamento do trabalho burocrático”. O poder disciplinar exercido através da
produção de verdades, procura controlar os corpos nas redes do poder que aprisionam quem está
emaranhado em sua malha. A sensação era de vigilância constante que condiciona adolescentes ao
adestramento. Diante dos impedimentos a equipe Pibid resiste com as/os estudantes e a encenação
acontece dentro da sala de aula, inspiradas/os em (re)pensar lutas de mulheres negras.
Palavras-chave: Pibid Pedagogia. Gênero. Mulheres Negras. Resistência.
A escola se constitui historicamente como um espaço de educação que aprisiona e sujeita as
crianças através da produção de verdades e de um poder disciplinador mascarado por discursos de
autonomia e liberdade. Neste trabalho perceberemos possibilidades de resistência de bolsistas e
supervisora Pibid Pedagogia: Gênero e Sexualidades/Ufla no desenvolvimento de oficinas para uma
encenação teatral com estudantes do 6º ano a partir das problematizações de gênero e sexualidades.
Ao pensar as oficinas fez-se importante a problematização sobre o conceito de gênero, com
atenção para a construção social que determina e institui modos de ser homem ou mulher. Louro
(2000) enfatiza a construção social das diferenças:
Construção social feita sobre diferenças sexuais. Gênero refere-se, portanto, ao
modo como as chamadas ‘diferenças sexuais’ são representadas ou valorizadas;
refere-se à aquilo que se diz ou se pensa sobre tais diferenças, no âmbito de uma
dada sociedade, num determinado grupo, em determinado contexto (LOURO,
2000, p.26).
1 Professora da Educação Básica em escola estadual no Sul de Minas Gerais. Supervisora Pibid Pedagogia:
Gênero e Sexualidades – Ufla/Lavras-MG/Brasil. Integrante do Fesex < http://fesexufla.wixsite.com/fesex > E-mail:
[email protected] 2 Pibid Pedagogia: Gênero e Sexualidades - Universidade Federal de Lavras (Ufla), Lavras/MG-Brasil.
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Articulada à discussão de gênero, apontamos, também, para as de classe, raça e etnia.
“Procura-se refletir sobre os avanços do debate teórico advindos do aprofundamento da
compreensão do gênero como construção social e inter-relacionados com outras dimensões sociais”
(GARCIA, 1998, p.31).
A equipe Pibid construiu, com a participação de adolescentes do 6º ano, uma encenação
teatral com a temática “O Egito na contemporaneidade” que possibilitou a discussão da situação de
exploração vivenciada por mulheres, com foco na mulher negra na sociedade atual.
Para a análise de gênero, estivemos atentas ao referencial teórico, que alertava para as várias
relações estabelecidas socialmente. Scott (1995) lembra o compromisso político das pesquisas ao
relacionar algumas categorias:
O interesse pelas categorias de classe, raça e de gênero assinalavam primeiro o
compromisso do/a pesquisador/a com a história que incluía a fala dos/as
oprimidos/as e com uma análise do sentido e da natureza de sua opressão:
assinalava também que esses/as pesquisadores/as levavam cientificamente em
consideração o fato de que as desigualdades de poder estão organizadas, segundo,
no mínimo, estes três eixos (SCOTT, 1995, p. 73)
O entrelaçamento de discussões tão complexas exigiu um olhar minucioso e dedicado que
revelou nas entrelinhas nuances de nossa sociedade que, passam despercebidas a leituras menos
atentas. A leitura de Scott (1995) sensibiliza o repensar de construções feitas no passado que
permanecem no presente nos desafiando:
O desafio lançado por este tipo de relação é, em última análise, um desafio teórico.
Ele exige a análise não só da relação entre experiências masculinas e femininas no
passado, mas também a ligação entre a história do passado e as práticas atuais.
Como é que o gênero funciona nas relações sociais humanas? Como é que o gênero
dá um sentido à organização e à percepção do conhecimento histórico? As
respostas dependem do gênero como categoria de análise (SCOTT, 1995, p. 74)
Estudantes atentas, integrantes do Pibid, foram divididas em equipes e durante dois meses
produziram a peça teatral com estudantes de três sextos anos ocupando os espaços escolares e
desafiando toda a comunidade para a discussão. Com a presença do Pibid a escola teve a
oportunidade de reconsiderar falas e comportamentos com a problematização de gênero. Essa
formação negada na maioria das licenciaturas no Brasil agora será cobrada de toda a comunidade
escolar pelas/os estudantes que já refletem essas questões na escola.
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A construção da peça
Na sala de aula as crianças sofrem limitações quanto ao espaço físico e quanto à supervisão
escolar que durante os cinquenta minutos de duração das atividades vigiava e questionava a
movimentação e agitação das crianças ao negociar as falas e papéis para a apresentação. Quando
ocupamos a escadaria de saída da escola, que transformamos em um teatro, fomos indagadas/os
porque estávamos fora da sala de aula. As oficinas eram movimentadas diante das problematizações
com meninas e meninos que tiveram a oportunidade de repensar as práticas sociais, e no caso desse
trabalho, repensando inicialmente a situação da mulher, principalmente da mulher negra e depois
outras questões surgidas durante o processo, quanto ao corpo e a maquiagem de meninas e meninos.
As/os estudantes estavam pesquisando sobre o Egito nas aulas de História e muitas
descobertas já mobilizavam as turmas. A equipe atenta do Pibid intencionalmente apimentou as
discussões com as/os estudantes em atividades que repensaram as pinturas dos corpos e a existência
de rainhas negras. A partir dessas atividades meninas e meninos pediram para vestirem-se e
adornarem-se inspiradas/os nas imagens do Egito antigo. A ideia da construção de uma peça teatral
veio fácil à cabeça, mas a equipe Pibid propôs mais ao transportarmos os questionamentos e
estranhamentos da cultura egípcia acontecidos nas oficinas para as experiências cotidianas de
estudantes na contemporaneidade.
A escrita do texto da encenação aconteceu em sala com participação da equipe Pibid, que
utilizou as anotações das falas de estudantes durante as vivências nas oficinas e com as/os
estudantes que incrementaram com detalhes para a finalização. Decidimos em grupo, pela utilização
de falas curtas em cinco cenas com a participação e revezamento de papéis entre as/os estudantes.
Dessa maneira teríamos no mínimo vinte e cinco personagens, oportunizando a atuação quase de
uma turma inteira. Quem não experimentou a aventura e exposição no palco, colaborou com a
organização da peça desde a montagem do figurino até os artefatos colocados em cena.
O texto, com falas curtas, encorajou a expressão de todas e todos numa primeira encenação:
Egito na Contemporaneidade
1ª Cena F: Eu sou o dono desse castelo!
C: Eu sou a rainha do Egito. Eu faço tudo por esse lar!
M: Eu não sei de nada...
E: Eu sou uma/um escriba. Estou aqui para questionar!
E2: Eu sou a mais inteligente.
RS: Eu sou a mais poderosa de todas as rainhas!
2ª Cena C: O jantar está pronto. Venham para eu servir.
F: Peraí, o jogo tá acabando...
M: Ham? O quê?
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RS: Minha amiga deve repensar...
E: Nessa casa tudo é muito difícil.
3ª Cena F: Vai galo doido!!! (Time preferido do estudante)
M: Essa gororoba que tem hoje pra jantar?
C: Faço tudo e ninguém tá nem aí...
RS: Isso amiga, é tempo de mudança!
E: As mulheres repensaram, as mulheres mudaram!
4ª Cena C: Abaixo a ditadura! Quem quiser comer que faça a comida. Cansei!!!
F: Que absurdooo! Minha rainha contestando?
M: Ô mãezinha, faz aquela batatinha que só a senhora sabe fazer?
RS: Deixa esse povo sem comer, na hora que a barriga roncar, eles que façam a
comida.
E: A casa caiu...
5ª Cena C: O que temos para o almoço?
F: Temos carneiro assado e batatas gratinadas.
M: Estão satisfeitos? Posso lavar a louça?
RS: Revoluções cotidianas, que beleza!!!
E: É possível uma nova atitude!
Legenda C: Cleopátra
F: Faraó
M: Múmia (dependendo da turma pode ter mais de uma múmia que ficará
registrada como M2 ou M3)
RS: Rainha de Sabat
E: Escriba (dependendo da turma pode ter mais de uma/um escriba que ficará
registrada/o como E2 ou E3)
O texto teve a intenção de questionar a realidade de uma família tradicional brasileira. A
maioria de nossas/os estudantes confirmam que essa é a realidade de suas casas. Na primeira cena
as personagens apresentam-se e percebemos situações vivenciadas cotidianamente pelas/os
estudantes. A Cleópatra é uma rainha orgulhosa que faz tudo pelo seu lar e família. O Faraó é o
dono do castelo, a Múmia foi representada por um adolescente desligado e sem compromisso com a
participação e decisões da casa. Outros personagens fundamentais no enredo são a/o escriba
responsável pela escrita da lei e da Rainha de Sabat, a amiga questionadora da rainha mãe.
Na terceira cena Cleópatra já está incomodada com situações de exploração vivenciadas em
família. A Rainha de Sabat e o/a escriba comentam a situação e possibilitam a ampliação da
discussão. Na quarta cena a Rainha Cleópatra revolta-se e abandona o lar, Faraó e Múmia foram
surpreendidos. A Rainha de Sabat e a/o escriba festejam o acontecimento.
Na quinta e última cena Cleópatra retorna ao lar a partir do repensar e de novas atitudes do
Faraó que agora está responsável pela realização do jantar e da Múmia que assumiu o compromisso
com a limpeza da cozinha. A Rainha de Sabat e o/a escriba comemoram as revoluções cotidianas.
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Inspiradas em Foucault (1998) refletimos com as/os estudantes que onde há o mínimo de
liberdade há possibilidade de transgressão. Todas e todos a cada dia estávamos mais
comprometidas/os com a execução da peça que envolveria toda a escola para a promoção de
revoluções cotidianas.
Outro desafio para a equipe Pibid e estudantes foi a criação do nosso figurino com poucos
recursos materiais. Nesse momento, não poderíamos pensar em desistir, pois estávamos muito
envolvidas/os e as discussões estavam acaloradas. Seguimos resistindo e optamos pela confecção de
colares e braceletes de papel, turbantes de tecido TNT. Tudo foi confeccionado com material do
projeto da equipe Pibid e da escola e pinturas corporais com a maquiagem das estudantes. As/os
estudantes toparam a resistência e decidiram participar da apresentação com o uniforme da escola
para incitar a comunidade e comprovar que a escola pública também pode construir projetos
inovadores.
As rainhas negras
Com o objetivo de incentivar a participação de um número maior de meninas ao
percebermos que as estudantes tinham uma certa curiosidade com a escolha da menina que
interpretaria a Rainha Cleópatra, nos preocupamos em trazer outra possibilidade de atuação como
uma rainha negra. Dessa maneira, ao escrevermos com elas e eles o texto criamos a personagem
Rainha de Sabat. Como nossa peça era composta de cinco cenas, decidimos pelo revezamento das
personagens em cada cena. Dessa maneira, surgiu a necessidade da interpretação de
aproximadamente dez rainhas, ou seja, cinco Cleópatras e cinco Rainhas de Sabat.
Buscamos algumas leituras para o entendimento da preocupação de meninas principalmente
negras com a escolha da estudante para o papel principal. bell hooks (2013) nos fala da situação
vivida em sua infância: “Na época do Apartheid, meninas negras de classe trabalhadora tinham três
opções de carreira. Podíamos casar, podíamos trabalhar como empregadas e nos tornar
professoras”.
Essa situação ainda nos pareceu muito próxima de nossas estudantes já que em poucos
momentos a educação brasileira vem repensando a educação de meninas e meninos negros e negras.
A produção dos artefatos culturais que atingem essa população ainda negligencia essa discussão e
as meninas não se veem como rainhas ou com um padrão de beleza eleito pelas mídias e sociedade
em geral como o mais bonito. As meninas tiveram dificuldades para aceitar a fotografia e a
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maquiagem porque não se enxergavam como rainhas, achavam que o cabelo não combinava com a
coroa e nem a maquiagem era para a pele delas.
Alguns se referem ao cabelo como: “ninho de guacho”, “cabelo de bombril”, “nega
do cabelo duro”, “cabelo de picumã”! Apelidos que expressam que o tipo de cabelo
do negro é visto como símbolo de inferioridade, sempre associado à artificialidade
(esponja de bombril) ou com elementos da natureza (ninho de passarinhos, teia de
aranha enegrecida pela fuligem) (GOMES, 2002, p. 45)
Problematizar com estudantes quando uma menina tem o seu cabelo chamado de Bombril e
por isso ela acha que não deve ser a rainha, faz parte da atuação intencional nas brechas.
Incentivadas pela fala de hooks (2013) buscamos “uma prática pedagógica revolucionária de
resistência, uma pedagogia profundamente anticolonial”.
Construir atividades com crianças e adolescentes que possibilitem o questionamento dos
nossos currículos torna-se a cada dia um desafio para a equipe Pibid Pedagogia: gênero e
sexualidades como nos fala Gomes (2002):
Embora atualmente os currículos oficiais aos poucos incorporem leituras críticas
sobre a situação do negro, e alguns docentes se empenhem no trabalho com a
questão racial no ambiente escolar, o cabelo e os demais sinais diacríticos ainda são
usados como critério para discriminar negros, brancos e mestiços. A questão da
expressão estética negra ainda não é considerada um tema a ser discutido pela
pedagogia brasileira (GOMES, 2002, p. 45).
Seguimos com a perspectiva de resistência para a modificação da nossa legislação.
Figura 1 O desafio da maquiagem Fonte: Acervo pessoal
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Figura 2 Espanto da colega com a nossa rainha Fonte: Acervo particular
A discussão sobre masculinidades
No dia da apresentação vivenciamos muitas situações de estranhamento diante da
maquiagem com os meninos. Eles estavam curiosos e queriam experimentar, mas ao mesmo tempo
intimidados pela presença agressiva de alguns colegas que insistiam que maquiagem não é artefato
utilizado por “homens de verdade” (Estudante 6º ano A).
Junqueira (2009) nos instiga para a reflexão:
Vale ainda observar que a construção da masculinidade segundo padrões
normativos hegemônicos é um processo fortemente cerceador e que apresenta
fortes vínculos com o sexismo e, mais especificamente com a homofobia. Nele, o
indivíduo de sexo masculino, para merecer sua identidade masculina (de “homem
de verdade”), deve dar mostras contínuas de ter eliminado de si qualquer elemento
que indique feminilidade ou homossexualidade. Deve ostentar crenças e atitudes
viris, agressivas, ao mesmo tempo sexistas e homofóbicas (JUNQUEIRA, 2009, p.
123).
Figura 3 Meninos e o desafio da maquiagem Fonte: Acervo particular
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Figura 4 Estranhamento com a maquiagem Fonte: Acervo particular
Durante a pesquisa de imagens que nos aproximasse do Egito, meninas e meninos ficaram
encantadas/os com a beleza dos colares e braceletes utilizados pelos faraós e rainhas do Egito.
Assim, pensamos com elas e eles a utilização desses artefatos na apresentação. Os artefatos foram
construídos por todas e todos, mas os meninos ainda não estavam certos da sua utilização.
Inicialmente eles não sentiram-se muito à vontade para a utilização desses adornos. Então,
resolvemos que além de mostrar os reis do Egito utilizando colares e braceletes partiríamos para a
desconstrução desse imaginário ao problematizar um pouco mais os artefatos utilizados pelos
cantores de funk e rap. As falas modificaram-se e jovens passaram a repensar. Um estudante da
turma do 6º ano A diz “dessa maneira eu usaria...” outro estudante lembra que o relógio do pai,
inspirado num cantor de rap famoso, “é tão grande que parece um bracelete”.
A construção de gênero acontece de forma processual, formando corpos masculinos e corpos
femininos, resultados do contexto de determinada sociedade e cultura por meio de discursos e
representações.
Ser homem, ou melhor, tornar-se homem, saber que comportamentos adotar de
acordo com o espírito de um tempo, é um aprendizado social, implementado por
diferentes agências sociais, algo relacionado não só a dimensões culturais, como
também à economia e a política, aos projetos de país e aos debates relacionados à
identidade nacional. Por isso, dado o quadro complexo em que se insere o tema,
mesmo que aja um conjunto de compreensões majoritárias, é mais adequado falar
em masculinidades, que convivem e têm pontos de divergências (MELO, 2013, p.
147).
Com essa intervenção e dedicação da equipe para a problematização tornou-se possível
repensar com os/as estudantes participantes que ao final exibiam-se mais que confortáveis para um
registro fotográfico.
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Figura 5 Estudantes orgulhosos de seus colares Fonte: Acervo particular
Figura 6 Estudantes exibem-se para o registro Fonte: Acervo particular
O grande dia: a apresentação
No dia da apresentação encontramos muitas impossibilidades quanto ao local de
apresentação das/dos estudantes, já que espaços como biblioteca e sala de vídeo estavam ocupados
e na frente da secretaria, “atrapalharia o andamento da parte burocrática escolar”. O poder
funcionava como uma rede que aprisiona os indivíduos e de alguma forma, em algum momento
exercem ou sofrem a ação do poder. O poder disciplinar exercido através da produção de verdades,
procura controlar os corpos dos que enredam nas redes que aprisiona os que estão emaranhados na
sua malha. Na tentativa de privar a liberdade de expressão dos corpos, percebeu-se que com o
confinamento das crianças seria mais fácil modelar os corpos com docilidade e utilidade.
A sensação de ser vigiada/o através das frestas da malha condiciona as crianças a serem
adestradas e naturaliza a obediência dos seus corpos. Diante das tentativas de impedimento,
resistimos e realizamos a apresentação em sala e percebemos que as/os estudantes apropriaram-se
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de uma forma intensa do tema trabalhado, uma vez que os conceitos abordados e sistematizados nas
experimentações proporcionadas pelo teatro aparecem com facilidade em suas falas. A partir do
espaço privilegiado de discussão com a equipe Pibid tornou-se possível a construção da autonomia
para manifestar seu conhecimento de forma significativa.
Figura 7 Toda a turma reunida Fonte: Acervo pessoal
Figura 8 Outra turma veio assistir Fonte: Acervo pessoal
Considerações finais
Participar de um projeto como o Pibid (Programa de iniciação à docência)Pedagogia Ufla
com a oportunidade de discussão de gênero e sexualidades entrelaçadas as de raça e etnia é uma
experiência única tanto para as bolsitas quanto para a supervisora da escola estadual, para as e os
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estudantes envolvidas/os com as oficinas e também toda a equipe que trabalha na escola que de
alguma maneira entrará em contato com as discussões.
Para as bolsistas esse contato com uma instituição pública pode desmistificar inverdades
sobre a escola pública e promover a reflexão para a criação de novas estratégias que colaborem para
a melhoria desse espaço.
A supervisão, participa do processo de formação continuada e torna-se fortalecida para a
discussão que exige pesquisa, trabalho em grupo com a orientação da coordenação do programa
para a reflexão e construção das atividades com as/os estudantes.
Pensamos que a movimentação da escola vem surtindo efeito e já planejamos novos projetos
com o envolvimento de toda a equipe. As pessoas não entendem inicialmente porque não tiveram
acesso a essa discussão anteriormente, mas com a presença da equipe Pibid na escola essa formação
pode acontecer.
As/os estudantes das turmas aguardam semanalmnte a chegada da equipe Pibid com a
possibilidade de participação em atividades que elas/eles sempre nos relatam que estavam
surpreendentes.
Seguimos assim, planejando a continuação das discussões sobre as diversidades e diferenças
para a promoção de uma escola pública comprometida com o diálogo e a problematização de
questões antes silenciadas, mas pertinentes à nossa soiedade.
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