ALIMENTOS, NUTRIENTES E CÂNCER COLORRETAL: O QUE OS ESTUDOS MOSTRAM.
Iara de Souza Cola Ramos1
Jane Cristina de Souza-Sporkens2
ResumoDe acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA) o câncer colorretal (CCR) é o
segundo câncer com mais incidência no Brasil. O CCR está associado a fatores
genéticos e fatores modificáveis como a alimentação. Assim, este estudo trata-se de
uma revisão narrativa da literatura, com o objetivo elencar os alimentos e/ou
nutrientes envolvidos no surgimento e na prevenção do CCR. Os estudos analisados
mostram que o consumo elevado de carnes vermelhas, gorduras e álcool
apresentam correlação positiva com o surgimento do CCR. Por outro lado, uma a
alimentação rica em frutas, fibras, vitaminas, fotoquímicos, assim como uma
microbiota intestinal saudável podem contribuir para a prevenção do CCR. Apesar
da evidente associação destes componentes alimentares e desenvolvimento do
CCR, ressalta-se a necessidade de mais estudos que estabelecem os mecanismos
de ação precisos destes componentes, bem como suas doses diárias seguras
recomendadas.
Palavras-chave: Câncer. Colorretal. Nutrientes. Alimentação.
AbstractAccording to the National Cancer Institute (INCA), colorectal cancer
(CCR) is the second type of câncer with highest incidence in Brazil. CCR
is associated wit hgenetic and modifiable factors such as diet. Thus, the
aim of this study was listing the food sand / or nutrients involved in the
1Graduanda do curso de Nutrição pela Faculdade Municipal Prof. Franco Montoro (FMPFM) – Mogi Guaçu/SP. E-mail: [email protected] graduada pela universidade Federal de Alfenas-UNIFAL. Mestre em alimentos e nutrição pela universidade de Campinas-UNICAMP. Doutora em biologia funcional e molecular pela universidade de Campinas-UNICAMP. Pós doutora pela divisão de medicina molecular na Columbia University-NYC. Professor Titular na Faculdade Municipal Prof. Franco Montoro – FMPFM. E-mail: [email protected]
CCR development and prevention. The analyzed studies point to a
positive correlation between high consumption of red meats, alcohol, fats
and the CCR development. On the other hand, a diet rich in fruits, fibers,
vitamins, photochemicals, as well as a healthy intestinal microbiota can
contributeto the CCR prevention. Despite the evident association of
these food components and the CCR development, more studies are
needed to establish the precise mechanisms of action of these
components, as well as the recommended safe daily doses.
Keywords: Cancer. Colorectal. Nutrients. Food.
1. INTRODUÇÃO
O câncer é definido como uma patologia causada por desordens na
multiplicação celular. As células cancerosas se dividem de maneira rápida, agressiva
e descontrolada, podendo se alastrar para diferentes tecidos ou órgãos. Outras
particularidades que caracterizam os diferentes tipos de câncer são a velocidade em
que as células se reproduzem e a capacidade de adentrar em outros órgãos e/ou
tecidos mais próximos (INCA, 2019).
De acordo com o Instituto Nacional do Câncer (2020), o câncer colorretal
(CCR) é o segundo câncer de maior incidência no Brasil, sendo estimado um total
de 40.990 novos casos, entre os anos de 2020 a 2022, sendo o risco presumido de
19,63 casos novos a cada 100 mil homens e 19,03 para cada 100 mil mulheres.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), (2007) o câncer
pode surgir em qualquer indivíduo, em todas as idades, porém muitos fatores podem
ser modificados ao longo da vida para a prevenção do CCR, como a alimentação, a
prática de atividade física, o controle do peso corporal, e do tabagismo. Embora os
fatores genéticos contribuam para o surgimento do câncer, o controle destes fatores
modificáveis contribui para a diminuição da incidência de diferentes tipos de câncer.
Ainda de acordo com a OMS, o controle e a modificação dos hábitos de vida podem
reduzir a incidência e surgimento de novos casos em 30% a 50%.
De acordo com Gouveia, et al. (2011), dentre os fatores modificáveis a
alimentação inadequada se correlaciona com 35 % dos casos de câncer. O
consumo excessivo de alimentos como carne vermelhas, gorduras, bebidas
alcoólicas, alimentos embutidos e ultraprocessados, estão altamente relacionados
ao surgimento de CCR. Os alimentos embutidos como: salsichas, bacon, linguiça,
presunto e alimentos em conservas como picles e enlatados, contêm na composição
a adição de nitratos e nitritos, substâncias utilizadas para realçar o sabor e aumentar
a vida de prateleira. Estas substâncias, em contato ao meio extremamente ácido do
estômago podem gerar nitrosaminas, compostos químicos altamente cancerígenos
com forte associação ao desenvolvimento do CCR (ALMEIDA, et. al, 2017).
Ainda, o surgimento do CCR está associado ao baixo consumo de frutas,
fibras e hortaliças e consequentemente deficiência em vitaminas e compostos
bioativos. Nas últimas décadas diversos estudos apontam que a ingestão adequada
destes componentes alimentares pode reduzir a incidência do CCR. A maioria das
publicações reforça que as escolhas alimentares adequadas podem promover o
efeito sinergístico destes componentes diminuindo o risco de CCR (PIETRZYKA,
2017).
Baseado na associação entre alimentação e desenvolvimento do CCR, este
artigo tem como objetivo elencar os alimentos e/ou nutrientes envolvidos no
surgimento e na prevenção do CCR.
2. METODOLOGIAO presente estudo trata-se de uma revisão narrativa da literatura, cujos
materiais utilizados foram selecionados utilizando-se as ferramentas de busca
Google acadêmico, PubMed, Scielo, e sites do INCA e OMS. A pesquisa foi
realizada no período de abril a novembro de 2020, sendo utilizados artigos
publicados entre os anos de 2006 a 2020, disponíveis na íntegra em língua
portuguesa e inglesa. Para chegar ao refinamento foram utilizados os seguintes
termos buscadores: “Câncer”, “Colorretal”, “Nutrientes”, “Alimentação”.
3. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
3.1 Câncer
Câncer é o nome dado a um conjunto de mais de 100 doenças que têm em
comum o crescimento desordenado de células as quais invadem tecidos e órgãos, e
podem se espalhar para outras regiões do corpo, em um processo denominado
metástase. As células cancerosas possuem a capacidade de se dividirem de
maneira, rápida e agressiva, levando a formação de tumores (acúmulo de células
cancerosas) ou neoplasias malignas (figura 1). Por outro lado, um tumor benigno
significa simplesmente uma massa localizada de células que se multiplicam
vagarosamente e se assemelham ao seu tecido original, raramente constituindo um
risco de vida. (INCA, 2019).
O câncer de acordo com a origem pode receber diferentes denominações
como: carcinoma aqueles onde o tumor tem início em tecidos epiteliais como pele ou
mucosas e sarcoma quando se origina em tecidos conjuntivos como osso, músculo
ou cartilagem. Além disso, os diversos tipos de câncer se diferenciam entre si pela
velocidade de multiplicação das células e a capacidade de invadir tecidos e órgãos
vizinhos ou distantes (INCA, 2019).
Figura 1. Ponto de formação da célula cancerosa.
Fonte: INCA, 2019.
Alterações genéticas podem levar ao surgimento do câncer, essas mudanças
ocorrem nos genes supressores de tumor e nos proto-oncogenes que são genes
produtores de proteínas e proporciona a multiplicação celular (PARREIRAS, et al.
2011). Os genes supressores de tumor agem impossibilitando o ciclo de divisão
celular, regulando negativamente os indicadores do crescimento celular e implicando
no reparo do DNA. Já proto-oncogenes são genes que quando ativados se
transformam em oncogenes (gene de crescimento tumoral) acelerando assim o
processo crescimento celular, levando a replicação celular rápida e descontrolada
(ALMEIDA, 2017).
3.2 Processos de Carcinogênese
Carcinogênese é definida como processo de formação do tumor,
caracterizada por reações celulares anormais, onde as células aceleradamente se
multiplicam e invadem os tecidos circundantes. As alterações celulares que dão
início por um processo chamado de hiperplasia, na qual há uma multiplicação celular
desordenada (ZAMBALDE, 2016). Este processo, dependendo do tipo do tecido,
pode ocorrer de forma lenta e progressiva, podendo levar anos para que o tumor se
torne visível (INCA, 2019).
O câncer é desenvolvido por algumas etapas passando por processos
biológicos, fisiológicos e multifatoriais. Sendo elas responsáveis pelas fases de
iniciação, promoção, progressão (MAHAN, 2012). No estágio de iniciação as células
passam por agressões dos fatores cancerígenos, (figura 2) neste período, ocorre
uma desordem na multiplicação celular, porém o tumor ainda não pode ser
identificado clinicamente. Já no estágio de promoção, as células prontamente
"iniciadas", se tornam células modificadas com características malignas de invasão.
Na fase da progressão já há o tumor instalado no tecido e progredindo até o
aparecimento dos primeiros sintomas clínicos. As causas que estimulam a iniciação
ou progressão da carcinogênese são chamadas agentes onco aceleradores ou
carcinógenos (INCA, 2020).
Portanto, diferentes componentes alimentares e ambientais podem influenciar
neste processo de carcinogênese, seja aumentando ou diminuindo a velocidade
deste processo. (Figura 2).
Figura 2. Processo da carcinogênese e seus fatores associados
Fonte: INCA, 2020.
Grandes inibidores da carcinogênese estão presentes nos alimentos vegetais,
ricos em antioxidantes e fitoquímicos. O hábito alimentar é a causa mais estudada
relacionada na carcinogênese do CCR (FRIEDRICH, 2008).
Grandes estudos preconizam que os fitoquímicos da alimentação são
metabolizados pela microbiota intestinal em compostos ativos, que podem reduzir as
bactérias patogênicas, diminuir o dano oxidativo ao DNA dos enterócitos, modulando
vias de apoptose e proliferação celular (AFRIN, et al. 2018).
3.3 Câncer Colorretal (CCR)
3.3.1 Definição e Epidemiologia
O CCR abrange os tumores que se iniciam na parte do intestino grosso
chamado cólon e no reto (final do intestino, imediatamente antes do ânus) e ânus
(INCA, 2019). O cólon é a região mais comum no surgimento do câncer primário. O
CCR manifesta-se no segmento distal do reto e sigmóide, continuado pelo ceco,
cólon ascendente e transverso. O surgimento ocorre a partir das mudanças
genéticas na mucosa das células coloniais as quais se multiplicam formando pólipos
adenomatosos (SILVA, 2016).
O CCR hereditário apenas 10% dos indivíduos apresenta esta pré-disposição
genética, esses indivíduos herdam a modificação em um gene supressor do tumor.
A proliferação acontece quando esses comandos inibitórios são desequilibrados pela
mutação. O tumor vai se expandindo quando chega na fase da progressão,
ordenada a modificações genéticas diferentes e cumulativas (PARREIRAS, et al.
2011).
Principais causas do CCR estão relacionadas à idade acima de 50 anos,
alimentação pobre em frutas, verduras, legumes e fibras e ricas em carnes
vermelhas e carne processada, alto consumo de bebidas alcoólicas e alimentos
ricos em gorduras, fatores que elevam o risco para este tipo de câncer. Doenças
inflamatórias como doença de crohn e retocolite ulcerativa podem elevar o potencial
do desenvolvimento do CCR (ALMEIDA, et al, 2017).
O CCR é o segundo câncer que mais atinge a população brasileira e o
terceiro que atinge a população mundial (ALMEIDA, 2017). A maior incidência por
câncer de cólon e reto foram encontradas nos países da Europa (INCA 2020). Para
o Brasil, estima-se, para cada ano do triênio de 2020-2022, 20.520 casos de câncer
de cólon e reto em homens e 20.470 em mulheres. Esses valores correspondem a
um risco de 19,63 casos novos a cada 100 mil homens e 19,03 para cada 100 mil
mulheres (Tabela 1).
Dados mostram um aumento excessivo no número de pacientes jovens entre
24 a 30 anos com CCR e até o ano de 2030 estima-se uma maior incidência de
novos casos, sendo 90% a 124,2% (TRANIKACHALAM, 2019).
Tabela 1. Distribuição proporcional dos dez tipos de câncer mais incidentes
estimados para 2020 por sexo, exceto pelo não melanoma.
Fonte: INCA, Incidência de Câncer no Brasil: Estimativa 2020.
3.3.2 Alimentação e Câncer Colorretal
A alimentação saudável e equilibrada é fundamental tanto na prevenção
quanto no tratamento do câncer, realizar mudanças nos hábitos de vida incluindo a
alimentação, fatores ambientais, atividades físicas, podem causar uma inibição na
evolução do tumor e ajudar na recuperação do estado nutricional (BRITO, et.al,
2019).
Pesquisas apontam que uma baixa ingestão de alimentos considerados
protetores contra o CCR, como fibras integrais, legumes, frutas, verduras, peixes,
possuem a capacidade de desacelerar o tempo do trânsito intestinal, prejudicando a
remoção dos carcinógenos e promotores tumorais e aumentam o tempo de contato
desses agentes presentes na massa fecal com a mucosa intestinal propiciando o
surgimento do tumor (OLIVEIRA, et al, 2013).
Além disso, uma dieta desregrada rica em alimentos processados e
ultraprocessados, com grande teor de corantes, conservantes, alimentos ricos em
açúcares, gorduras saturadas, bebidas alcoólicas aumentam o risco de
desenvolvimento do CCR (THANIKACHALAM, 2019). Ainda, os maus hábitos
alimentares podem afetar rapidamente a microbiota intestinal favorecendo a perda
da integridade imunológica intestinal contribuindo para o surgimento do câncer
(TILG, 2018).
3.4 Alimentos e/ou nutrientes envolvidos no desenvolvimento câncer colorretal
3.4.1 Carnes Vermelhas e Processadas
O individuo deve atentar-se
à ingestão excessiva e freqüente no consumo de carnes vermelhas (bovina,
cordeiro, carneiro, suíno) e processadas (salsicha, hambúrgueres, nuggets,
presunto, salame, bacon, linguiça), pois está associada ao maior risco de
desenvolver o CCR, esta associação depende do tipo de carne, processo industrial,
aditivos utilizados e a freqüência do consumo de modo geral. O alto consumo de
carnes vermelhas e processadas além do risco de CCR são capazes de desenvolver
outras patologias devido ao alto aporte de gorduras, produtos químicos e excesso de
sódio (BASTOS, 2018).
Os componentes químicos mais encontrados nas carnes processadas são
nitratos e nitritos, são para realçar e conservar esses alimentos e aumentar a vida de
prateleira. Essas substâncias no organismo são transformadas em nitrosaminas
(composto químico cancerígeno) que eleva a capacidade de induzir surgimento ao
CCR (ALMEIDA, et. al, 2017).
Segundo Fratucci et al. 2017 indivíduos com alto consumo de alimentos que
contem esta substância aumentam as chances de desenvolver até 50% a mais do
que os indivíduos com baixa ingestão de carnes processadas.
Dagostin et al. 2019 cita que no estudo analisou as carnes in naturas ou
processadas ao serem preparadas em chamas com temperaturas elevadas, no qual
o calor do fogo causa uma pirólise na gordura e sua fumaça é filtrada na parte
superficial da carne são consideradas genotóxicas e evidenciando assim o
surgimento do CCR.
A Agência Internacional de Pesquisa sobre o Câncer (IARC) em 2015
publicou que o consumo de carnes vermelhas como “provavelmente cancerígeno
para humanos”, mais relacionada ao CCR do que aos outros tipos de cânceres. Os
pesquisadores concluíram que cada porção de 50 gramas de carne processada
consumida todos os dias aumenta em 18% o risco de CCR, sendo assim, mostra-se
que a carne em especial a processada pode ser classificada como cancerígena em
seu consumo diário.
3.4.2 Gorduras
Uma dieta rica em gorduras, em especial as saturadas, tem forte ligação ao
desenvolvimento de neoplasias colorretais, devido à grande interferência que causa
na função da microbiota intestinal podendo provocar alterações nos processos
imunológicos e inflamatórios. Elevam também a secreção intestinal de ácidos
biliares, que vem a ser metabolizados pelas bactérias intestinais em fontes
causadores da carcinogênese (MINGYANG, et al, 2016).
Portanto uma alta ingestão gorduras de origem animal pode promover um
aumento na produção de ácidos biliares, que são mutagênicos e citotóxicos,
causando uma maior proliferação celular, estimulando da síntese das
prostaglandinas que são estimuladas por membranas celulares causando dano
tecidual. Relata-se que gordura saturada tem um índice maior de progressão no
surgimento de CCR que a gordura insaturada. Sendo assim, deve-se o evitar o
excesso no consumo de alimentos que contem gorduras em especial as saturadas
(PASSANHA, et. al, 2011).
3.4.3 Bebidas Alcoólicas
A bebida alcoólica por si só é considerada uma bebida com alto fator de
riscos para o surgimento do câncer, o consumo excessivo tem uma grande
influência no processo da carcinogênese e desenvolvimento do CCR. Seu efeito na
mucosa intestinal é agressivo, impede à absorção de alguns nutrientes favorecendo
a vulnerabilidade ao estresse oxidativo, sendo o risco aumentado de 16% a 41%
para pessoas que consomem de 30 g/dia a 45 g/dia de álcool, independentemente
do tipo de bebida alcoólica (BASTOS, 2018).
Pesquisas demonstraram que na América do Norte, Europa e Ásia, mesmo as
pessoas com um consumo baixo de álcool são mais propenso ao desenvolvimento
do CCR, quando comparado com nenhum consumo de bebida alcoólica, sendo a
incidência maior para o sexo masculino, devido à associação de que os homens
consomem mais bebidas alcoólicas do que as mulheres (KEUM, 2019).
O álcool está relacionado a diversos fatores que propiciam o desenvolvimento
do câncer, como alterações nos níveis hormonais atuam como solvente de
membranas que ajuda na penetração celular de cancerígenos alimentares ou
ambientais como o tabaco, interfere nos mecanismos de reparo do DNA. Além disso,
a metabolização do álcool gera o metabolito acetaldeído, o qual tem poder tóxico em
diferentes tipos celulares, incluindo os colonócitos (INCA, 2020).
3.5 Alimentos e/ou Nutrientes envolvidos na prevenção do CCR
3.5.1 Grãos Integrais e Fibras
Grandes indícios de que a dieta rica em fibras tende a diminuir os riscos de
surgimento do CCR. As fibras insolúveis reduzem a constipação, aumentam à
massa, consistência das fezes, acelera o trânsito intestinal, intensificam a proteção
contra infecção bacteriana. Por acelerarem o funcionamento do trânsito intestinal,
promovem a redução no tempo de contato dos compostos cancerígenos com as
células intestinais, contribuindo assim para diminuição dos riscos de
desenvolvimento do CCR (PESARINI, et.al, 2009).
Uma dieta rica em cereais integrais e fibras solúveis em longo prazo
melhoram a qualidade da flora intestinal deixando-a mais saudável, potencializando
assim suas propriedades antiinflamatórias (BASTOS, 2018). Associa-se que 10 g a
mais de fibras alimentares por dia pode reduzir até 10% as chances do
desenvolvimento do CCR (KEY, et al, 2020).
3.5.2 Alimentos vegetais fontes de compostos bioativos
O alto consumo de alimentos naturais, ricos em vitaminas e sais minerais e
fibras estão associados à redução do risco de CCR (FRIEDRICH, 2008). Além da
presença destes componentes, os alimentos vegetais também possuem grande
concentração de substâncias fitoquímicas associadas à prevenção do CCR (AFRIN,
et al. 2018).
Os fitoquímicos exercem algumas funções no organismo como a prevenção
da mutação do DNA, a modulação da inflamação na resposta imunológica e também
ajudar na prevenção na proliferação de células tumorais. Vários fitoquímicos são
provenientes de ações antiinflamatórias (RICCIARDIELLO, et al. 2011).
Segundo Mingyang et al. em 2016 relataram a diminuição em 16% nos
perigos de desenvolver CCR, nos indivíduos que ingerem mais vegetais dos que
aqueles que menos consomem.
Estudos clínicos e experimentais apontam que fitoquímicos dietéticos, como,
curcumina, resveratrol, quercetina, antocamina, genisteina, ácido elágico e
elagitaninos possuem propriedades preventivas diminuindo a incidência de tumores
CCR (AFRIN, et al. 2018).
3.5.3 Vitamina D
Um volume maior de vitamina D circulante no sangue pode diminuir as taxas
de risco do câncer (KEY, et al .2020). Evidências apontam que a vitamina D é capaz
de controlar direta ou indiretamente de 3% a 5% do genoma humano e grande
indício nas atividades carcinogênicas como a apoptose, não proliferação,
antiinflamatório, inibição de invasão e metástase e eliminação da angiogênese.
Dados epidemiológicos e experimentais afirmam os eficientes efeitos
quimiopreventivos à vitamina D a favor da prevenção do CCR apesar dos ensaios
clínicos randomizados não serem conclusivos (MINGYANG, et al, 2016).
Segundo o Thanikachalam et al. 2019 apontam que a vitamina D tem papel
protetivo no desenvolvimento do CCR. Um acréscimo de 10 mg de vitamina D está
relacionado a uma diminuição de 26% no risco de desenvolver a neoplasia.
Em vista que a função fisiológica da vitamina D seja a regulação do
metabolismo de cálcio e fosfato, pesquisas indicam o surgimento de uma série mais
extensa de funções biológicas da vitamina D, melhorando a intensificação dos
medicamentos antineoplásicos, em particular no CCR (DOU, et al, 2016).
3.5.4 Cálcio
A ingestão de cálcio está associada à menor probabilidade de surgimento de
CCR, sendo que a redução no consumo de leites e derivados um fator de risco no
surgimento de neoplasias. O mecanismo proposto se relaciona a propriedade do
cálcio se ligar com ácidos biliares e a gordura diminuindo o potencial teor tóxico
intraluminal destas substâncias, reduzindo assim o dano as células epiteliais
colônicas (SILVEIRA, 2018).
Um estudo com quase 20 anos de acompanhamento, apontou que o cálcio
pode influenciar na prevenção de CCR, pelas seguintes vias: promoção da diferença
celular e apoptose, inibição da proliferação celular, modulação das vias de
sinalização celular referentes ao CCR. Essas ações são certamente intermédias da
sinalização do receptor extracelular suscetível ao cálcio, que auxilia para a
integridade da função e da barreira intestinal e homeostase entre os micro-
organismos intestinais e resposta imune (MINGYANG, et al, 2016).
Outro longo estudo de Yang, et al em 2019 mostrou que pacientes que a
ingeriram suplementação de cálcio após o diagnóstico do CCR apresentaram
considerável diminuição no risco de mortalidade, relata também que mais estudos
são necessários para potencializar e caracterizar essas associações.
3.5.5 Microbióta Intestinal
A microbiota intestinal é caracterizada pela comunidade microbiana associada
ao intestino, sendo esses microrganismos um dos mais importantes componentes de
defesa do intestino proporcionando resposta imune local. É composta por uma
população de bactérias, vírus, fungos, bacteriófagos e protozoários que habitam o
lumen intestinal. Estudos vêm mostrando que a microbiota intestinal é desordenada
em pacientes com CCR em comparação com indivíduos saudáveis, sendo assim
esta relação mostra justamente que o hábito alimentar em longo prazo pode interferir
no aparecimento e o desenvolvimento de CCR via microbiota intestinal (YANG,
2018).
Alterações qualitativas e/ou quantitativas na microbiota intestinal podem
influenciar no processo de carcinogênese. Essa alterações incluem diversos
mecanismos de ação como o estímulo da resposta imune ao hospedeiro, a formação
da composição antimutagênicos no cólon (como o butirato), modificação na atuação
metabólica da microbiota intestinal, mudanças nas condições fisioquímicas do cólon
com a redução do pH e o objetivo sobre a fisiologia dos hospedeiros (FLESCH,
2014).
A modulação de microbiota pela adoção de uma dieta saudável rica em fibras
e probióticos pode ser um eficiente mecanismo de controle diminuindo a incidência
de neoplasias (BASTOS, 2018).
5. CONCLUSÃO
Baseado na literatura pesquisada pode-se concluir que existe uma forte
relação entre a alimentação e o desenvolvimento de CCR. Alimentos ou compostos
químicos presentes no alimento podem aumentar as chances do desenvolvimento
do CCR, sendo o excesso no consumo de carnes vermelhas, processadas, gorduras
e bebidas alcoólicas os principais fatores com maior evidência científica observada.
Por outro lado, uma alimentação balanceada, rica em fitoquímicos, vitamina D,
cálcio, e fibras contribuem para a prevenção do câncer CCR. Apesar das evidências
científicas serem fortes, aponta-se a necessidade de mais estudos que estabeleçam
os mecanismos de ação precisos destes componentes, bem como as doses diárias
seguras recomendadas.
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