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CIÊNCIA POLÍTICA PAULO BONAVIDES ORELHA: PAULO BONAVIDES é Doutor honoris causa pela Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa; Professor Emérito da faculdade de Direito da Universidade Federal do Ceará; Professor Visitante nas Universidades de Colonia (1982), Tennessee (1984) e Coimbra (1989); Lente no Seminário Românico da Universidade de Heidelberg (1952-1953); Membro Cor- respondente da Academia de Ciência da Renânia do Norte-Westfália (Alemanha); Membro Correspondente do “Instituto de Derecho Constitucional y Político”, da faculdade de Ciências Jurídicas e Sociais da Universidade Nacional de La Plata, na Argentina; Membro Correspondente do Grande Colégio de Dou- tores da Catalunha (Espanha); Membro do Comitê de Iniciativa que fundou a Associação Internacional de Direito Constitucional (Belgrado); Membro da “Association Internationale de Science Politique” (França), da “Internationale Vereinigung fuer Rechtsund Sozialphilosophie” (Wiesbaden, Alemanha), da Academia Brasileira de Letras Jurídicas, do Instituto Ibero-americano de Direito Constitucional, da Ordem dos Advogados do Brasil e do Instituto dos Advogados Brasileiros; “Niemann fellow-Associate” da Universidade de Harvard (1944-1945); prêmio Carlos de Laet da Academia Brasileira de Letras (1948) e Prêmio Medalha Rui Barbosa da Ordem dos Advogados do Brasil (1996). Dentre suas obras cabe destacar: Curso de Direito Constitucional (10 a ed., 2000); Teoria do Estado (3 a ed., 1995); Reflexões - Política e Direito (3 a ed., 1998); A Constituição Aberta (2ª ed., 1996); e Do Estado Liberal ao Estado Social (6 a ed., 1996), todas por esta Editora, além de Política e Constituição: os Caminhos da Democracia (1985) e Constituinte e Constituição (2 a ed., 1987). CONTRA CAPA: CIÊNCIA POLÍTICA - Paulo Bonavides: Esta edição, revista e atualizada, é um acontecimento de relevo na bibliografia política do País. Raramente uma obra desse gênero, versando a temático da ciência do governo, teve tão vasta aceitação no meio universitário brasileiro quanto esta do Professor Paulo Bonavides. Desde muito, ela se tornou uma espécie de vade me- cum dos estudantes de Ciência Política. Vazado em linguagem límpida e elegante, transcendeu as estantes de toda uma geração de alunos das nossas Universidades até lograr, com igual êxito e abrangência, a familiaridade de um círculo cada vez mais amplo de leitores, em todos os meios cultos, onde o interesse pelo fenômeno político e pelo destino das instituições que nos governam é preocupação de cada dia. Clássica, didática e atraente, esta obra faz jus ao pres- tígio e influência de que desfruta, tanto nas esferas acadêmicas como noutras faixas do público volvido para essa matéria, sem dúvida fascinante. Quanto ao Autor, trata-se de um publicista consagra- do, nacional e internacionalmente, figurando, sem favor, como disse o Ministro Oswaldo Trigueiro, entre os precursores da Ciência Política em nosso País. 10ª edição (revista, atualizada) 9 a tiragem CIÊNCIA POLÍTICA © PAULO BONAVIDES . ISBN 85-7420-023-9 Direitos reservados desta edição por MALHEIROS EDITORES LTDA. Fax: (0xx11) 3849-2495 URL: www.malheiroseditores.com.br e-mail: [email protected] Composição Helvética Editorial Ltda. Capa Vânia Lúcia Amato 1

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  • 1. Esta edio, revista e atualizada, um acontecimento de relevo na bibliografia poltica do Pas. RaramenteCINCIA POLTICA PAULO BONAVIDESuma obra desse gnero, versando a temtico da cincia do governo, teve to vasta aceitao no meio universitrio brasileiro quanto esta do Professor Paulo Bonavides. Desde muito, ela se tornou uma espcie de vade me-ORELHA: PAULO BONAVIDES Doutor honoris causacum dos estudantes de Cincia Poltica. Vazado empela Faculdade de Direito da Universidade de L isboa;linguagemProfessor Emrito da faculdade de Direito da Universidade Federal do Cear; Professor Visitante naslmpidaeelegante,transcendeuasestantes de toda uma gerao de alunos das nossas Universidadesatlograr,comigualxitoeUniversidades de Colonia (1982), Tennessee (1984) eabrangncia, a familiaridade de um crculo cada vezCoimbra (1989); Lente no Seminrio Romnico damais amplo de leitores, em todos os meios cultos,Universidade de Heidelberg (1952-1953); Membro Cor-onde o interesse pelo fenmeno poltico e pelo destinorespondente da Academia de Cincia da Rennia dodas instituies que nos governam preocupao deNorte-Westflia (Alemanha); Membro Correspondentecada dia.do Instituto de Derecho Constitucional y Poltico, daClssica, didtica e atraente, esta obra faz jus ao pres-faculdade de Cincias Jurdicas e Sociais datgio e influncia de que desfruta, tanto nas esferasUniversidade Nacional de La Plata, na Argentina;acadmicas como noutras faixas do pblico volvidoMembro Correspondente do Grande Colgio de Dou-para essa matria, sem dvida fascinante.tores da Catalunha (Espanha); Membro do Comit deQuanto ao Autor, trata-se de um publicista consagra-Iniciativa que fundou a Associao Internacional dedo, nacional e internacionalmente, figurando, semDireito Constitucional (Belgrado); Membro dafavor, como disse o Ministro Oswaldo Trigueiro, entreAssociation Internationale de Science Politiqueos precursores da Cincia Poltica em nosso Pas.(Frana), da Internationale Vereinigung fuer Rechtsund Sozialphilosophie (Wiesbaden, Alemanha), da Academia Brasileira de Letras Jurdicas, do Instituto10 edio (revista, atualizada) 9a tiragemIbero-americano de Direito Constitucional, da Ordem dos Advogados do Brasil e do Instituto dos Advogados Brasileiros; Niemann fellow-Associate daCINCIA POLTICA PAULO BONAVIDESUniversidade de Harvard (1944-1945); prmio Carlos de Laet da Academia Brasileira de Letras (1948) e.Prmio Medalha Rui Barbosa da Ordem dos Advogados do Brasil (1996). Dentre suas obras cabe destacar: Curso de Direito Constitucional (10a ed., 2000); Teoria do Estado (3a ed., 1995); Reflexes - Poltica e Direito (3a ed., 1998);ISBN 85-7420-023-9 Direitos reservados desta edio por MALHEIROS EDITORES LTDA. Fax: (0xx11) 3849-2495 URL: www.malheiroseditores.com.br e-mail: [email protected] A Constituio Aberta (2 ed., 1996); e Do Estado Liberal ao Estado Social (6a ed., 1996), todas por esta Editora, alm de Poltica e Constituio:Composio Helvtica Editorial Ltda.os Caminhos da Democracia (1985) e Constituinte e Constituio (2a ed., 1987). CONTRA CAPA: CINCIA POLTICA - Paulo Bonavides:Capa Vnia Lcia Amato1

2. SUMRIOAPRESENTAO....................................................................................................................................... ........3 1 . CINCIA POLTICA................................................................................................................................... ..4 2 . A CIENCIA POLTICA E AS DEMAIS CINCIAS SOCIAIS....................................... ............................17 . 3 . A SOCIEDADE E O ESTADO................................................................................................................. 22 ..... ......................................................................................................... .............30 4 . POPULAO E POVO..................................................................................................... ...........................31 5 . A NAO................................................................................................................................... .................38 6 . DO TERRITRIO DO ESTADO................................................................................................................ 43 ... 7 . O PODER DO ESTADO...................................................................................................................... .........55 ..................................................................................................................................................... .................57 8 . LEGALIDADE E LEGITIMIDADE DO PODER POLTICO........................................................................58 . ................................................................................................................................................. 64 ...... 9 . A SOBERANIA................................................................................................................................ ............65 10 . A SEPARAO DE PODERES...................................................................................................... ............73 11 . O ESTADO UNITRIO........................................................................................................................ 82 ...... 12 . AS UNIES DE ESTADOS..................................................................................................... ..................88 ................................................................................................................................................... ...........101 13 . O ESTADO FEDERAL........................................................................................................................ 102 ..... 14 . AS FORMAS DE GOVERNO..................................................................................... .............................111 15 . O SISTEMA REPRESENTATIVO.................................................................................................... ........117 ............................................................................................................... ..............................133 16 . O SUFRGIO................................................................................................................................. .........134 17 . OS SISTEMAS ELEITORAIS......................................................................................................... .........146 18 . O MANDATO................................................................................................................... .......................154 19 . A DEMOCRACIA.......................................................................................................... ..........................159 20 . OS INSTITUTOS DA DEMOCRACIA SEMIDIRETA.............................................................................169 . 21 . O PRESIDENCIALISMO............................................................................................. ...........................178 22 . O PARLAMENTARISMO.......................................................................................... ..............................194 23 . OS PARTIDOS POLTICOS...................................................................................................................210 .. 24 . OS SISTEMAS DE PARTIDOS............................................................................................................... .222 25 . O PARTIDO POLTICO NO BRASIL.......................................................................................... .............232 26 . REVOLUO E GOLPE DE ESTADO............................................................................................... 248 ...... 27 . OS GRUPOS DE PRESSO E A TECNOCRACIA.................................................................................264 . 28 . A OPINIO PUBLICA............................................................................................................... ..............2772 3. APRESENTAOmedida elas funcionam de conformidade com o direitoestabelecido,eatquepontoseuO Professor Paulo Bonavides, da Faculdade defuncionamento transcorre fora do quadro legal.Direito da Universidade do Cear, figura, sem favor,Passou-se, sem dvida, a dar mais importncia aosentre os precursores da Cincia Poltica em nossofatos do que a textos artificiais, freqentementepas.divorciados da realidade poltica.Osvriostrabalhosquetempublicado,principalmente esta Cincia Poltica, so brilhanteO objeto da Cincia Poltica, de certo modo,atestado de ntida vocao universitria, a servio deainda o de Aristteles. Mas a configurao de umauma especialidade acadmica que, cada d se torna ia,disciplinamais importante no plano do ensino superior.pressupe orientao metodolgica e objetividade deDesde os gregos, os fatos relativos ao governo da sociedade humana vm sendo objeto de estudos, em que se destacaram filsofos e pensado-universitria,paraonossotempo,pesquisa compatveis com as exigncias da cincia moderna. Decerto,aCincia Polticaoperasobreres que exerceram influncia profunda e duradouraterreno que, alm de movedio, ainda no estna cultura ocidental. Mas a concepo de umaperfeitamente delimitado. Como assinala o Professorcincia particular, nesse campo, de data recente. Bonavides,aos anglo-saxes que devemos a prioridade napolmicos no s quanto ao mtodo como tambmfixao de seu contedo e na definio de seusquanto definio de seu objetivo.elaaindaassentaemconceitospropsitos. Tanto na Gr-Bretanha como nos EstadosO livro que ele agora publica representaUnidos, os fatos relacionados com a formao e ovaliosa contribuio para o desenvolvimento dafuncionamento do governo as ideologias, osCincia Poltica em nosso pas, onde o ensino dapartidos, as eleies, os sistemas de organizao doespecialidade, ainda preso ao currculo jurdico, Estado vm sendo, desde o sculo passado, objetoprejudicado por deficincias notrias.do ensino e pesquisa, em numerosas universidades.D-nos o Professor Bonavides, neste seuO empirismo do ensino jurdico naqueles pases,excelente livro, uma segura viso do progresso dacertamente ter concorrido para o desenvolvimentoCincia Poltica nos pases onde ela est mais adian-desses estudos, fora do mbito das escolas detada, particularmente quanto doutrina alem, quedireito., para ns, a menos acessvel. Nos pases latinos, a comear naturalmentePela clareza expositiva e pelo seguro domniopela Frana, somente a partir da ltima guerra queda matria, o novo livro do Professor Bonavidesse vm retirando os estudos sobre o Estado e oparece-me destinado a ampla aceitao e largagoverno da rbita do direito constitucional, a queinfluncia nos meios universitrios brasileiros. ,estiveram por longo tempo relegados.assim, um livro que honra a Universidade do Cear,Como observa Maurice Duverger, a novaconhecida por seu esprito renovador e que contaorientao do ensino universitrio produziu duascom professores da mais alta qualificao como oconseqncias fundamentais. Por um lado, j no seProfessor Bonavides, para o adequado desempenhoestudam apenas as relaes polticas disciplinadasde sua misso cientfica e cultural.pelo direito positivo, mas tambm as que como os partidos, a opinio pblica, a propaganda, os gruposOSWALDO TRIGUEIROde presso existem, como at h pouco ocorria, inteiramente margem da lei. Por outro lado, operou-se sensvel modificao no prprio campo do ensino tradicional, de vez que as instituies de governo j no so apreciadas apenas sob o ngulo jurdico.Tornou-senecessrio verificar emque3 4. 1 . CINCIA POLTICAcap. 60). Viu Bacon na mesma a imagem da essncia e Wolff declarou que por cincia cumpre entender o1. Conceito de Cincia 2. Naturalistas versus idealistas (espiritualistas, historicistas e culturalistas) 3. A Cincia Poltica e as dificuldades terminolgicas 4. Prisma filosfico 5. Prisma sociolgico 6. Prisma jurdico 7. Tendncias contemporneas para o tridimensionalismo.hbito de demonstrar assertos, isto , de inferi-los, por conseqncia legtima, de princpios certos e imutveis. Tudoquepossaserobjeto decertezaapodtica cincia para Kant. A este conceito acrescentou outro, mais em voga, j de todo desembaraado de implicao filosfica, e a que no haviam chegado, com mxima clareza, os seus predecessores. Com1. Conceito de Cinciadiscriminao entre os conceitos de cincia e filosofia. E quase se pode dizer que a separao conceitual pertence idade moderna. S se vai tornar consciente na medida em que aumenta o hiato entre as posies metafsica e naturalista, por conseqncia da crise havida nos estudos filosficos, desde o Renascimento, quando Bacon e Aristteles definiamcomoplosopostosdareflexofilosfica. Deumespiritualista,delado, razesaatitudecrists,escolstica,aristotlicaseplatnicas. De outro, o comeo da atitude que seculariza o pensamento filosfico em escolas recentes, as quais s chegam, no entanto, ao pleno amadurecimento de suas teses mais professadamente antiespiritualistas depois da abertura de horizontes pela filosofia kantista. Com efeito, foi a filosofia crtica que, embora confessadamenteidealista,determinou,pelaambigidade de interpretaes a que deu lugar, os impulsos e sugestes indispensveis de onde saram concepes de todo opostas ao idealismo. A cincia, segundo Aristteles, tinha por objeto os princpios e as causas. Santo T oms de Aquino, por sua vez, a definiu comoassimilaodadizKantnosElementosMetafsicos das Cincias da Natureza que por cinciaDe Aristteles a Kant no se faz atentaseefeito,mentedirigidaaoconhecimento da coisa (Summa contra Gentiles, 1 II,se h de tomar toda srie de conhecimentos sistematizados ou coordenados mediante princpios.1 Depois de Kant, com a ao intelectual dos positivistas e evolucionistas, torna-se cada vez mais preciso o conceito de cincia, ficando quase todos acordes em design-la como o conhecimento das relaes entre coisas, fatos ou fenmenos, quando ocorre identidade ou semelhana, diferena ou contraste, coexistncia ou sucesso nessa ordem de relaes.2 A caracterizao da cincia implica, segundo inumerveis autores, a tomada de determinada ordem de fenmenos, em cuja pluralidade se busca um princpio de unidade, investigando-se o processo evolutivo,ascausas,ascircunstncias,asregularidades observadas no campo fenomenolgico. Com Spencer baqueiam todas as vacilaes e dificuldadesporventuraaindaexistentes.Suafrmula de caracterizao das mais perfeitas, simples e ntidas que se conhecem. H,segundoele,trsvariantesdoconhecimento: conhecimento emprico ou vulgar, conhecimentonounificado;conhecimentocientfico, conhecimento parcialmente unificado e conhecimento filosfico, conhecimento totalmente unificado. Com Littr a reduo conceitual de Spencer acercadosdistintosramosdoconhecimentoreaparece na bela frase que os compndios usualmente reproduzem: a cincia a generalizao da experincia, eafilosofia,ageneralizao da4 5. cincia.elevado de dignidade do conhecimento, onde osAsquatrocincias fundamentaisqueafenmenos fenmenos da sociedade so, peloinspirao positivista, evolucionista e pragmatista doseu mximo teor de complexidade, os mais difceissculo XIX aponta como classificao inabalvelde prever e os mais fceis de modificar, obrigando oseriam: a Fsico-Qumica, que estuda os fenmenoscientista verdadeiro ao estudo prvio das primeirasdo mundo inorgnico; a Biologia, que se ocupa doscincias da srie, at que lhe permita o acesso aofenmenos do mundo orgnico; a Psicologia, queramo mais nobre da cincia a Sociologia, cinciaabrange os fenmenos do mundo psquico, e ada humanidade, Coroamento de toda a formaoSociologia, que trata dos fenmenos do mundocientfica.social.As seis cincias fundamentais do Curso de Separada a cincia da filosofia, sem gravesFilosofia Positiva de Comte so a Matemtica, aatritos, aparecendo a primeira como ordem deAstronomia, a Fsica, a Qumica, a Biologia e a So-conhecimentos parcialmente unificados e a segundaciologia. Por volta de 1850, acrescentou Comte umacomo conhecimento completamente unificado dosstima cincia fundamental a Moral. Com respeitofenmenos que servem de objeto a toda atividadea esse prolongamento da srie por Comte, escrevecognoscitiva, resta saber se ponto pacfico aLaubier: Tendo por objeto o estudo do indivduo, co-classificao das cincias da resultante.mo a Sociologia o da Humanidade, a Moral consideraAquitemosespiritualistaseoutravezpositivistas,ocismapoisaoentreladono homem, no somente a inteligncia e a atividade,dacomo a Sociologia, mas tambm o sentimento. Destaclassificao de Comte Pai do Positivismo sorte a cincia mais complexa, a nica completa,concorre outra, no menos difundida, que aporquanto verdadeiramente concreta: considera seuclassificao dos filsofos neokantistas, da escola deobjeto, o indivduo humano, em sua totalidade, aoBaden.passo que as demais no conservam seno certas Segundo Comte, as cincias so abstratas epropriedades dos seres com abstrao dos demais.6concretas. As abstratas, na explicao de Stuart Mill,A cincia, tomada pela valorao positivista,referidapeloprofessorJoaquimPimenta,3soaquelas que se ocupam das leis que governam osest acima da filosofia, na medida em que esta se confunde com a metafsica.fatos elementares da natureza, ao passo que asA lei dos trs estados ou lei da evoluo, queconcretas, como cincias tributrias, ou secundrias,Augusto Comte exps no tomo III do Sistema dese referem a aspectos particulares dos fenmenos,Poltica Positiva, coloca a humanidade e o co-por exemplo, a geologia, a mineralogia em relao nhecimentofsica e qumica, a botnica e a zoologia, emdesdobramento: o estado teolgico, temporrio erelao biologia, e assim por diante.propedutico, em que o homem busca as causas e4emtrsfasessucessivasdeNo Curso de Filosofia Positiva as cinciastudo explica, na nsia de conhecimento absoluto ouabstratas so apresentadas de forma hierrquica,supremo, pela interveno de divindades, nelesegundo a ordem de generalidade e simplicidadeimperando os telogos e militares, com o sentimentodecrescenteede conquista dominante em toda a sociedade; oespecializao crescente. As cincias, do modo comoestado metafsico, de transio, em que entidadesas disps Comte, vm seriadas de tal sorte que aabstratas explicam os fenmenos ou os fatos secincia seguinte depende da antecedente, no sendoligam a idias, que j no so completamenteporm a recproca verdadeira. ordem lgica sepreternaturais, nem simplesmente naturais, masacrescenta a ordem valorativa, isto , das cinciasabstraesinferioresestado intermedirio os filsofos e juristas com aeseaordempassasdacomplexidadecincias superiores,personificadas,dominandonesse5segundo o grau de importncia humana pr ogressiva.sociedade animada por um sentimento de defesa;A unidade das cincias do mundo com as cincias doenfim, chega-se ao estado cientfico, que o estadohomem perfeita, figurando as ltimas no grau maispositivooufsico,pontofinaldaescalado5 6. conhecimento e grau superior de formao definitivaclassificao das cincias, que trouxe por resultadoda cincia, com o imprio dos sbios, cientistas efecundo e imediato a retomada de prestgio dastcnicos, com o abandono das antigas preocupaescorrentes idealistas, foi obra sobretudo dos filsofosde conhecimento absoluto pela investigao dasj referidos: Dilthey, Windelband e Rickert.causas,tocaractersticaperodosLogrou Dilthey na Alemanha quase o mesmoantecedentes, com a limitao da inteligncia aodestino que Krause, fundador de escola entreconhecimento relativo, que permite a formao daestrangeiros, sagrado como mestre de juristas nacincia e a verificao das leis. A a razo humana,Espanha e na Amrica Latina, e, no entanto, filsofotendo deixado de parte a fico dos telogos, dosemidesconhecido eestadopatrcios.inicial,edosdesprezadoadoisabstraodosmetafsicos, do estado intermedirio, se entrega deobscuronoseio deseusA glria de Dilthey comeou singularmentetodo aos processos de demonstrao. O empregoaodesses processos fez possvel a apario da cincia,ocupando-se, dentre outros, de Goethe e Hoelderlin.isso ocorreu no estado positivo.J septuagenrio deu estampa Vivncia e Poesia,A classificao das cincias de Augustoenveredarelepeloscaminhosdacrtica,obra que logrou extraordinrio xito literrio.Comte, estabelecendo a unidade do campo cientfico,O filsofo trabalhava silenciosamente nano foi acolhida com entusiasmo pelas esferasUniversidade de Berlim, preso intimidade deidealistas da Alemanha, onde os neokantistas dereduzido crculo de discpulos.Marburgo e de Baden renovaram a discusso doLastima-se Ortega y Gassetque, tendoproblema, tais as dvidas que se erguiam acerca dafreqentado por aqueles anos do comeo do sculonatureza das cincias do homem, nomeadamente asreferida Universidade, hajam as circunstncias con-cincias histricas, do esprito, da sociedade e dacorrido para que jamais se aproximasse da obra docultura.mestre, a quem tantas afinidades de pensamentoWindelband,Rickert,Stammler,eforadaquele crculo, mas navegando tambm na correntevieram depois prend-lo e em cujas idias confessadamente descobriu o seu alter ego filosfico.do idealismo, Dilthey, certificaram-se sobretudo daPassara Dilthey por algo parecido com o queimportncia que toma para a relao social, objetoaconteceu a Nietzsche, tomado a princpio pelos seusdaquelas cincias, certos dados que no entram nocontemporneos como simples poeta-filsofo.campo da fenomenologia da natureza e portanto dasarrogante ctedra universitria da Alemanha porcincias naturais.poucoEstes dados, operando corte dicotmico entrenoNietzscheoignoroutotalmente.AEnvolveu anaquele gelado desprezoquesacincias da natureza e cincias da sociedade, vmgrandeza do gnio poderia um dia romper, para dasepar-las em duas rbitas distintas e autnomas,fixar-se na imortalidade e no assombro das geraesque alguns, exagerando as implicaes da oposiosubseqentes, rendidas venerao do filsofo, doidealista, tomam por irredutveis: o desenvolvimentoestilista, do poeta.em Windelband, a finalidade em Stammler, a von-V Ortega y Gasset em Dilthey o maistade em Dilthey, elementos com que o homemimportante vulto da filosofia na segunda metade doempresta ao fenmeno social e s relaes entresculo XIX.esses fenmenos certa estrutura de que carece a ordem fenomnica da natureza.Acontece, porm, que a obra de Dilthey, graas influncia que exerceu, aos debates que provocou, intensidade com que suas teses so a cada passo reexaminadas e onde cada fragmento2. Naturalistas versus Idealistas (espiritualistas, historicistas e culturalistas) Essareviravoltametodolgicanaconcentra como que um micro-mundo de idias, permitindo em toda linha e profundidade a mais amplareaveriguao dapertena,histria,indubitavelmente,aofazquequadroele dos6 7. pensadores mais vivos que agitaram a primeiradesse crtico da razo histrica: aqui temos ummetade deste sculo.gnio, essa idia no foi outra seno a que separouNaquela obra inacabada, alteia-se, sobretudo, o livro que Dilthey no pde concluir e que tantasem duas esferas distintas as cincias do esprito das cincias da natureza.preocupaes lhe causou no curso da vida, como espinho de frustrao, prestes sempre a mago-lo: aDilthey aparece a para os idealistas como o valente emancipador .Introduo s Cincias do Esprito, que alis, no dizer de Ortega, sua obra capital, sua nica obra. de estranhar que Ortega y Gasset, tendo reconhecido a importncia capital da Introduo sDe efeito, toda a fora da originalidade deCincias do Esprito, no se haja fixado nesse ponto,Dilthey se representa naquelas pginas inconclusas,para nele firmar os crditos do historiador-filsofo snaquela obra apenas esboada, que lembra umaglrias da imortalidade.catedral gigantesca, cuja abbada no se fez, Que fez Dilthey sob esse aspecto? Que passocerto, mas cujo perfil basta j para encher-nos deu ele para iniciar e encorajar o vigoroso processodistncia do mais grato assombro e da maisde reabilitao ulterior dos movimentos idealistas?consoladora admirao.Nada mais que tomar as cincias histricas,O pensador filho de um sculo historicista,cincias do homem, da sociedade e do Estado, jonde se completam imperecveis monumentos deento sem arrimo filosfico, por se afrontarem, desdeanlise, investigao e restituio do passado, emHegel, com aquela crise de estrutura decorrente datermos de alta probidade e rigoroso labor cientfico.enormidade do predomnio naturalista e dar-lhesBerlim se torna o centro da cincia histrica eento os cimentos de nova solidez, referindo-asDilthey, no dizer elegante de Ortega y Gasset, ouvetodas a essa categoria, que, tomando a designaooulingsticaainda rstica de Cincias do Esprito, foi sobremodocomparada; a Boechk, o arquifillogo; a Jacobaperfeioada com as correes e acrscimos deGrimm, a Mommsen, ao gegrafo Ritter, a Ranke, aWindelband e Rickert, filsofos neokantistas daTreitschke. Com a gerao anterior dos Humboldt,escola de Baden.trataaBopp,ofundadordaSavigny, Nieburh, Eichhorn, formam estes gigantes a formidvel falange da chamada escola histrica. Respirandoessasidias,fez-seEm discurso de posse na Academia de Cincias de Berlim, assim compendiou Dilthey as7elehistoriador.aspiraes intelectuais de sua obra: Comecei a fundamentar as cincias particulares do homem, daMas o que impressiona em sua obra menossociedade e da histria. Busco-lhes o fundamento e ao filsofo da histria que o iniciador da reviso crticaconexo na experincia, independente da metafsica;da teoria da cincia.pois os sistemas dos metafsicos decaram, e apesarAqui nos apartamos de Ortega y Gasset, que viu em Dilthey principalmente o historiador. A dimenso dos temas que ele versou dodisso continua a vontade a exigir como sempre que propsitos firmes guiem a vida dos indivduos e presidam direo da sociedade.idia da envergadura necessria para um filsofo tornar-se a atual, novo, original, fecundo.O sculo filosfico quis transformar a vida atravs de uma teoria abstrata e geral da naturezaTudo isso Ortega y Gasset encontrou comhumana. Esta teoria mostrou-se ao mesmo tempoimperfeies no pensador nervoso de idias etriunfante e insuficiente e at certo ponto eversivacopioso de conceitos que foi o insigne Dilthey.na sua arrogncia. Nosso sculo reconheceu, com aA nosso ver porm maior ainda que oescola histrica, a historicidade do homem e de todaintrprete da histria o autor da nova agrupaoa ordem social. Cumpre todavia levar a cabo a funda-das cincias. A profunda vocao dos estudos histri-mentada explicao das novas concepes. Exige-secos f-lo ir alm dos conceitos positivistas sobre aonatureza das cincias.apuradamente psicolgicos, que acompanhem oSe uma idia mxima consente alis dizerempregodeconceitosemtodosmaiscrescimento da vida histrica; deve-se sobretudo7 8. patentear e tomar na devida conta, em todas as realizaeshumanas,comotambmnashistrica, captar-lhe o sentido.daNas cincias da natureza, ao contrrio, tomainteligncia, a totalidade da vida da alma, a ao doo cientista o fenmeno para explic-lo, ordenando-ahomem completo, volitivo, sensitivo, intelectivo.habitualmente segundo a causalidade da lei que o8 teoria do conhecimento de Dilthey, comogoverna.observou Glockner, se depara esse problema bsico,Clebre historiador da filosofia e fundador dede cuja soluo tudo o mais depende: o douma das correntesentrelaamento do mundo da experincia externaneokantista, Windelband, quando reitor da Univer-(natural) com o mundo da conscincia internasidade de Estrasburgo, proferiu ali o clebre discurso(espiritual).de 1894 intitulado Histria e Cincia da Natureza,Ponderafilosofia: Tanto do ponto de vista externo dasclssica e afamada obra Preldios, onde o eminentecincias naturais como da polaridade interna dasfilsofo da escola de Baden, quase em concomitnciacinciascom Dilthey, interveio na questo metodolgica dashistoriadorda filosofiaenaltecido como captulo dos mais celebrados de suaespritomodernofecundasdadoaquelemaispossvelexplicaresseentrosamento. O propsito de Dilthey assenta emcincias.demonstrar que se pode seguir este ou aqueleO sentido antinmico da filosofia de Kant,caminho e empreender em bases empricas a anlisefilsofo de quem j se disse que depois deledos fatos da conscincia.nenhum princpio novo se criara, reponta na obra deReside tambm no mago de sua posio queWindelband ostentando aquela nitidez, que alistanto se h-de proceder no assunto por via dejamais faltou a alguns neokantistas de altssimosistematizaomerecimento filosfico, como, por exemplo, noconstrutivacomodareflexohistrica.campo das9A experincia exprime o mesmo autor letrasjurdicas oinsigne GustavoRadbruch.tem para o cientista da natureza, s voltas sempreA primeira antinomia de Windelband consistecom realidades externas, significado inteiramenteno corte entre as cincias racionais filosofia edistinto daquele que toma na regio das cincias domatemtica e as cincias da experincia.esprito.Estas, que nos interessam particularmente,Aqui,fala-nosDiltheyempalavras queso aquelas, segundo Windelband, cuja misso seGlockner transcreve textualmente: Indivduos ecifra no conhecer determinada realidade, quandofatos compem os elementos desta experincia, suaesta se faz acessvel experincia.11natureza submerso, no objeto, de todas as foras afetivas;oprpriopaulatinamentesobobjeto asvistass daseconstricinciaemprogresso.Com as palavras do filsofo, podemos dizer que nas cincias da experincia o que se busca pelo conhecimento do real a generalizao sob a forma de10O aforismo de Dilthey de que no vasto crculo das coisas s o homem compreensvel aoleinatural,ouoparticulardebaixodedeterminada forma histrica.12 ChegaassimWindelband anomearashomem denota que o princpio fundamental dasprimeiras, cincias das leis, as segundas, cinciascincias do esprito no se confunde com o princpiodos acontecimentos; aquelas se ocupam do queque rege as cincias da natureza.sempre existe, estas daquilo que alguma vez jNaquelas, que tm por escopo, segundo Dilthey,arealidadehistrico-social,hexistiu.13 CunhaWindelbandparaopensamentocompreenso; ns as compreendemos; no seucientfico novas expresses: cincias nomotticas eobjeto a alma vive, as foras emocionais operam, acincias idiogrficas.auto-reflexo como que domina. De seu contedoMas ambas adverte sempre guardamlgico, de suas funes racionais, quase no h queinvariavelmente esse ponto comum de contato: sofalar, pois o que importa, tocante matria social ecincias da experincia, o que faz que tanto o8 9. naturalista como o cientista social ou historiadorcientfica, so quase as mesmas de Kant: realidade evenham das mesmas premissas, do mesmo pontovalor, fato e idia, causalidade e finalidade, o ser e olgico de partida: as experincias, os fatos dadever ser, com o problema j de sua respectivapercepo.conexo.14Esedistanciam,poroutraparte,naconsiderao gnosiolgica e axiolgica dos fatos.Todaessareaoidealistacontraopositivismo, o empirismo e o ceticismo, tocante aoUm, o naturalista, vai, segundo a linguagemmtodo e aos fundamentos das cincias do esprito,de Windelband, procura de leis; o outro, oencontra por fim seu ponto culminante na obra dehistoriador, de acontecimentos.Rickert, antigo discpulo e sucessor de WindelbandO primeiro no se contenta com o fenmenona ctedra de Heidelber g.insuladamente, que carece ainda de valor cientfico;O idealismo alemo que acometera, como segundo toma o fato como realidade j valoradaDilthey, a preponderncia naturalista no pensamentoem si mesma; aquele inclina o pensamento cientfico, se comportara de incio, com tal timidez,abstrao, este contemplao; ali se pedem teoriasque aquele filsofo se vira compelido a sacrificar ae leis, aqui valores e verdades.metafsica na fundamentao da cincia.Faz ainda Windelband a ressalva de queRickert idealista kantiano. Mas idealista queaceitaria as designaes tradicionais de cinciasno ignora a dimenso de suas foras, com plenanaturais e cincias histricas, contanto que nessasconscincia da consolidao que seu trabalho inte-perspectivas metodolgicas se inclusse a psicologialectual h-de emprestar aos esforos antecedentesentre as cincias da natureza.de Dilthey e Windelband.15Assinala o filsofo que o dualismo por eleConservando a mesma linha de combate aoestabelecido puramente formal, entende com osempregodomtodonaturalistacomonicofins do conhecimento, que num caso procura a leiexclusivamente cientfico, entra Rickert na querelageral, noutro o acontecimento histrico, particular,filosfica para aprofundar o debate em torno danada tendo pois que ver com o contedo doautonomia, mtodos e fundamentos das cincias doconhecimento em si.esprito.O mesmo objeto pode sujeitar-se licitamenteDeparamo-nos j com nova nomenclatura emtanto investigao nomottica como idiogrfica,sua obra. Plenamente capacitado da delicadeza esendo, por conseqncia, relativo o contraste entre odas dificuldades de classificar as cincias, Rickert asque sempre idntico e o que nico e individual.distribui tambm em dois ramos fundamentais:Tal acontece por exemplo com determinado idioma que, atravs de todas as variaes de expresso, permanece formalmente o mesmo.cincias da natureza e cincias da cultura. Depoisdeapontarosequvocosquepoderiam decorrer da terminologia de Windelband A despeito porm de toda sua unidadecincias nomotticasecinciasidiogrficas formal, esse idioma na vida da linguagem algoaquelas ocupando-se do geral e estas do particularsingular e transitrio.16ou do especial, assinala Rickert que antes lhe aprazDepois que Schopenhauer negara histria oreferir-se a um mtodo individualizador e a outrovalor de cincia autntica, por ocupar-se sempre dogeneralizador, no se estabelecendo a esse respeitoparticulartododiferena absoluta, mas to-somente relativa, sem ocompreensvel o empenho do grupo neokantista emque ningum jamais poder compreender-lhe oinvestigar o carter cientfico daquela ordem depensamento.17enuncadogeral,eradeestudos para chegar a concluses afirmativas eO mtodo generalizador se aplica diz ele animadoras, pertinentes a chamada parte idiogrficas cincias da natureza e o individualizador sdas cincias da experincia.cincias da cultura.AsantinomiasestimularambuscadeWindelband,denovaqueoSua teoria da cincia puramente formal efundamentaono destri, ao contrrio das objees que se lhe9 10. fizeram, a unidade da cincia.os valores e as valorizaes dos objetos. Toma-osA nfase de seus trabalhos, adverte o mesmolivres do que neles h de individual. O especial, tantoRickert, no foi posta na distino entre o mtodonageneralizador e o mtodo individualizador Mas em .exemplar e a cincia comea, para ele, quandodemonstraresses exemplares reunidos permitem a infernciaosfundamentosqueimpemaconsiderao da vida cultural no apenas por viafsicaempregartratamentocombinada-mentedarealidadeascultural,formasestaalturaapenasumA concluso que tomamos de autores que toasaber,as chamadas cincias do esprito ou da cultura que da por diante j se pode falar com mais seguranaaem dois mundos distintos: o da natureza e o da sociedade.investigao das relaes de valores. adeindividualizadora, e a decorrente de um processo de Spsicologia,longe conduziram o debate metodolgico para salvarE como a toda cultura aderem valores, fora nade leis de relaes conceituais ou gerais.22genrica seno tambm por via especfica, pelos caminhos da individualizao.comoqueNo seperdeaprimeiro,permanentes,heternas,leisnaturais,imutveiscomfixas, todaapossibilidade de unificar lgica e formalmente ainviolabilidade do determinismo fsico-mecnico; norealidade estudada.segundo imperam as mudanas, as diferenciaes, o18Asdisciplinasseseparamemcamposdesenvolvimento.distintos, quanto aos mtodos empregados, na medida em que tenhamos, de um lado, cinciasO primeiro o mundo da homogeneidade, o segundo, o da heterogeneidade.avalorativas, doutro, cincias cujo objeto impliqueNoprimeirohconservao,certeza,valores ou relaes de valores tornando-se, poruniformidade, repetio. No segundo rege a infinitaconseqncia, decisivo o problema de valor para adiversidade, a probabilidade, o desenvolvimento, ateoria do mtodo nas cincias.teleologia.A mesma realidade pode ser objeto, segundoNo primeiro, basta um fenmeno para levar Rickert, de dois pontos de vista distintos: a realidadelei geral, basta um exemplar da srie para conhecer- natureza quando a tomamos com referncia aose toda a espcie; no segundo, tudo se passa degeral, e histria, se nos detivermos no exame domodo distinto e cada fenmeno , em si mesmo,especial e particular. Emprega-se no primeiro caso ouma espcie, algo irreversvel que, segundo Jellinek,mtodo generalizador das cincias da natureza; noexistiu uma s vez e nunca se reproduzir emsegundo o mtodo individualizador da histria.condies idnticas, seno, no melhor dos casos, em19Com essa distino acrescenta Rickert condies anlogas, da mesma forma que napossumos o almejado princpio formal da diviso dasinfinita massa dos seres humanos nunca reaparecercincias e quem quiser logicamente chegar a umao mesmo indivduo (Jellinek).teoria cientfica h de tomar por base indispensvel essa distino formal.20 Lugares h na obra de Rickert onde suas idias acerca do carter das cincias da natureza so3.Acinciapolticaeasdificuldadesterminolgicasexpostas com rara transparncia e limpidez. Haja vista quando ele acentua o contrasteO reexame da teoria da cincia pelas escolasdas mesmas com as cincias histrico-culturais. Dizneo-idealistas da Alemanha a que nos reportamos,Rickert ento que na mais ampla acepo da palavratem capital importncia para aclarar as dificuldadesnenhum objeto em princpio pode furtar-se aometodolgicas, quase intransponveis, com que setratamento natural-cientfico, pois natureza adefronta toda a cincia social, sobretudo, no casorealidadevertente, a cincia poltica.conjuntapsquico-corporal,tomadagenericamente, com indiferena aos valores.21O cientista da natureza neutraliza-se peranteAbriu reconhecimentocaminho dosesseobstculosreexameaolevantadosao10 11. investigador. F-lo alis com tal vigor que hoje rarocomplicaes que a envolvem.cientista social hesita em confessar os embaraosO reitor Lowell de Harvard, citado pelocom que se depara para chegar a apreciveisprofessorCarvalho,interveiotambmcomresultados na rbita de sua disciplina.pessimismo no debate, para lembrar que falta A cincia poltica indiscutivelmente aquelacincia poltica esse requisito indispensvel cinciaonde as incertezas mais afligem o estudioso, pormoderna: a nomenclatura ininteligvel ao homemdecorrncia de razes que a crtica de abalizadoseducado, o que permite a todo leigo ocupar-se, compublicistasdosa mais santa e incorrigvel leviandade, daquilo ondeinvestigadores, levando alguns a duvidar se se tratase detm ou naufragam em dificuldades amargas,aqui realmente de cincia.cientistas e filsofos insignes, ao versarem conceitostemapontadoreflexoQuais so essas razes?como os de governo, nao, liberdade, democracia,O professor Orlando Carvalho enumerou emsocialismo, etc.seu prestantssimo ensaio Caracterizao daTem-se sobretudo referido que o trabalho doTeoria Geral do Estado algumas dessas dvidascientistacom que se afrontam os estudiosos da matriafacilitado pela circunstncia de os fenmenos teremsocial, os quais, desde Sumner Maine a Orlando,a exterioridade parte do observador ou ashaviam assinalado j o carter movedio e oscilantesubstncias de que trata, por exemplo, o qumico, nodo vocabulrio poltico, as variaes semnticas dosseu laboratrio, poderem ser pesadas ou medidas,termos de que se serve o cientista social de pasou ainda a experincia do fsico, como assinalou Lordpara pas, com as mesmas palavras valendo para osBryce, no ter mais requisito de renovao que ainvestigadores do mesmo tema, coisas inteiramentevontade do investigador, fazendo que este, sempredistintas, como, por exemplo, a palavra democracia,por via da experincia e da observao, possa che-agar ao conhecimento de leis perfeitamente exatas equeseemprestamvariadssimasacepes,ameaando imergir num caos sem sada os mais competenteseidneosesforosdenaturezaextraordinariamenteuniformes.fixaoconceitual.daMas se o oxignio, o enxofre e o hidrognio se comportam da mesma maneira na Europa, naAt mesmo a expresso Estado, ao redor daAustrlia ou em Srius, se qualquer mudana naqual se levanta vastssima e respeitvel literatura jcomposio docentenria,contribuiocientista condies fceis e seguras de exame emonumental de afamados pensadores e filsofos,esclarecimento, o mesmo no se d com o fenmenono pde forrar-se ao crculo vicioso de incertezas esocial e poltico.objees,trazendoquantooselodedeterminaoexatadosignificado de que se reveste. nos textos mais autorizados da reflexo filosfica e longenosachamosaindadacaracterizao satisfatria. DaporqueBastiat,noFica este sujeito a imperceptveis variaes, mesmo regime; ou de um a outro sculo, de uma a outra gerao.jurdica, copiosos conceitos que servem apenas de quoencontrade um para outro pas, at mesmo na prtica doCompilam-se da antigidade aos nossos dias,atestarelemento qumicoAs instituies, conservando por vezes o mesmo nome, j passaram todavia pelas mais caprichosas alteraes.comfinaironia,O material de que se serve assim o cientistaanunciava em meados do sculo XIX, prmio desocial cria50.000 francos a quem lhe respondesse a contento anatureza, no somente bices quase invencveis aointerrogao que ele fizera ao pedir que lheestudioso, como torna penosssimo seno impossveldefinissem o Estado.o reconhecimento, na Cincia Poltica, de leis fixas,Esse esmorecimento de Bastiat corrobora osuauniformes, invariveis.que Hegel dissera da cincia do Estado, tomando-a por primeira das cincias, pela importncia e pelaspela extrema mutabilidade deObstculo igualmente srio, que se soma aos demaisjreferidosedefeionomenos11 12. desalentadora, decorre da impossibilidade em que ficaoobservador deneutralizar-seTanto os fatos como as instituies e asperante oidias, matrias desse conhecimento, podem serfenmeno que estuda, para da alcanar conclusestomados como foram ou deveriam ter sido (conside-vlidas, lcitas, imparciais, objetivas, que no sejamrao dofruto de inclinaes emocionais passageiras ou de(compreenso do presente) e como sero ou deverojuzos preformados na mente do observador.ser (horizontes do futuro).passado), como soou devem serA conscincia de quem observa no raro seH sempre, em face dos problemas dessaliga ao fenmeno ou processo. Sua aderncia ainvestigao, pertinente a fatos, instituies e idias,determinado Estado, seu lastro ideolgico, sua vi-no importa o tempo histrico ontem, hoje,vncia em certa poca, suas reaes psicolgicas emamanh em que os tomemos, aquilo que ospresena dos mais distintos grupos, desde a igreja, oalemessindicato e a comunidade at famlia e escola,designando a realidade que , o segundo a realidadefazem desse observador unidade irredutvel, capazdo dever ser.chamamseinousollen,oprimeirode emprestar ao fenmeno observado todo o feixeNessa mesma e larga acepo, cabe o examede peculiaridades que o acompanham, recebidas oudas instituies, dos fatos e das idias referidas aosinatas.ordenamentos polticos da sociedade debaixo do Por mais que forceje no chegar ele nunca acaptarofenmenosocialimparcialmente,emancipado do crculo vicioso ou da camada densa de preconceitos que o rodeiam.trpliceaspecto:filosfico,jurdicooupolticopropriamente dito e sociolgico. Mas nem todos os autores, tratadistas e publicistas que versam temas de Cincia Poltica, seCom essas ponderaes pessimistas, maspem de acordo com fixar, de maneira to ampla,acauteladoras, h de atuar pois o estudioso dacomo vimos acima, o contedo e a conformaosociedade, que, com o mnimo de dogmatismodesta disciplina.inconsciente, se proponha a versar o contedo dificlimodascinciassociais,rigorosamenteadvertido j de seus embaraos. Onde entram atos e sentimentos humanos, s a considerao despretensiosa dos aspectosParte toda a Cincia Poltica de conceitos polmicos, quanto ao mtodo, quanto extenso de seus limites, quanto ao nome que se h-de eleger para essa categoria de estudos, conforme teremos mais adiante ensejo de patentear.histricos, jurdicos, sociolgicos e filosficos, ontemPassemos no entanto revista aos distintose hoje, neste ou naquele Estado, dar problemticaaspectos que permitem acentuar com mais nfase opoltica da sociedade o aproximado teor de certezacarter transitrio da disciplina, ao qual se hque vir um dia galardoar o esforo do cientistapreponderantementesocial, honesto e incansvel, cujo trabalho, antes datratamento que lhe ministra o filsofo, o socilogo oufrutificao, sempre tomou em conta a medidao jurista.reduzido,consoanteocontingente das verdades que se extraem doDesde a mais alta antigidade clssica,comportamento dos grupos e da dinmica dasprincipalmente desde Scrates, Plato e Aristteles,relaes sociais.os assuntos polticos impressionam o gnero humano, sequioso de conhec-los e aprofund-los. Aristteles conclui na Grcia um ciclo de4. Prisma filosficoestudos polticos conscientemente especulativos. Mas nos fragmentos das constituies que oA Cincia Poltica, em sentido lato, tem porfilsofo estagirita analisa, assim como nas ltimasobjeto o estudo dos acontecimentos, das instituiespginas polticas de Plato, seu predecessor, que noe das idias polticas, tanto em sentido tericoLivro das Leis passara j do Estado ideal e hipottico(doutrina) como em sentido prtico (arte), referido aoao Estado real e histrico, avultam consideraes depassado, ao presente e s possibilidades futuras.ndole sociolgica, antecipaes que deixam de ser12 13. puramente filosficas.que Ehrlich fizera j com a sociologia jurdica. Deu-Na Europa medieva a filosofia se enlaa comlhe a consistncia do tratamento autnomo.a teologia ao ocupar-se de temas polticos.Com efeito, na sociologia poltica de MaxE quando estes se definem, moderna eWeber, abre-se o captulo de fecundos estudoscontemporaneamente, numa cincia j organizada epertinentes poltica cientfica, racionalizao doautnoma, conservam alguns de seus cultores apoder, legitimao das bases sociais em que oposio tradicional de prestgio de anlise filosfica,poder repousa: inquire-se ali da influncia e dadando nos manuais, tratados e compndios denatureza do aparelho burocrtico; investiga-se o re-cincia poltica lugar sempre honroso e destacado,gimesenoorganizao, sua tcnica de combate e proselitismo,porvezespredominante,aoaspectoestritamente filosfico dos problemas.poltico,aessnciadospartidos,suasua liderana, seus programas; interrogam-se as for-Entre os pensadores de lngua inglesa, Field,mas legtimas de autoridade, como autoridade legal,Laski e Bertrand Russel tomaram posio de tericostradicional e carismtica; indaga-se da administraoou teorizantes, impulsionando a cincia poltica, sobpblica, como nela influem os atos legislativos, ouinspirao filosfica.como a fora dos parlamentos, sob a gide de gruposNa Alemanha, Carl Schmitt e Rudolf Smend.socio-econmicosNos pases de lngua francesa, Dabin, Marceldemocracia algumas de suas peculiaridades maisde La Bigne de Villeneuve e outros.poderosssimos,emprestaflagrantes.23A Filosofia conduz para os livros de CinciaACinciaPoltica,nasuaconstantePoltica a discusso de proposies respeitantes sociolgica, no pode tampouco ignorar as razesorigem, essncia, justificao e aos fins dohistricas da evoluo poltica.Estado,comodasdemaisinstituiessociaisEsse retrato retrospectivo, esse mergulho nogeradoras do fenmeno do poder, visto que nempassado das instituies devem-se com mais nitideztodos aceitam circunscrev-lo apenas clula mater,e originalidade a Gumplowicz e Oppenheimer .embriognica, que no caso seria naturalmente oTraou este ltimo o penoso roteiro que seEstado, acrescentando-lhe os partidos, os sindicatos,estende, atravs dos mais agudos transes e das maisa igreja, as associaes internacionais, os gruposamargas vicissitudes, do Estado de conquista aoeconmicos, etc.Estado de cidadania livre. Como forma de coaoConvive o debate filosfico ademais com asobre os homens, o Estado se acha fadado ainvestigao sociolgica e com a fixao jurdica dosdesaparecer, desde que a escravido antiga e afatos, normas e instituies polticas, arredandoescravido capitalista, outrora forosas, se tornavamassim a possibilidade de ousadamente afirmarmos adoravante suprfluas.existncia de um monismo filosfico entre autoresSe em Atenas, observa Oppenheimer, ao ladopolticos de nosso sculo, que rotulam seus livrosde cada cidado livre trabalhavam cinco homenscom o nome de Cincia Poltica ou Teoria Geral doescravos, na sociedade contempornea a cadaEstado.cidado livre corresponde o dobro de escravos, mas escravos doutra espcie, doutro cativeiro, escravos de ao que no tm de padecer ou suar quando5. Prisma sociolgicotrabalham! E o fim do Estado, segundo o mesmoOutra dimenso importantssima que toma a Cincia Poltica a de cunho sociolgico. O estudo do Estado, fenmeno poltico por excelncia, se constitui um dos pontos altos e culminantes da obra genial de Max W eber. O profundo socilogo fez com o Estado aquilosocilogo, inspirado decerto na profecia marxista, ser sua diluio no automatismo da sociedade futura.24 Outro escritor poltico no menos digno e autorizadopelaexcelnciadesuaorientaosociolgica Vierkandt, que contribui fixao dos13 14. quadros da Cincia Poltica, em seus vnculos com aAo dado jurdico de sua obra, o professorsociologia, ao estudar principalmente o modernoalemo Georg Jellinek, outro clssico da CinciaEstado nacional.Poltica, acrescenta com nfase no menos rigorosa oAcentua ele o carter classista do Estado e daaspecto sociolgico.sociedade, a dinmica da luta pelo poder naSuateoriadoEstadoserevelasociedade moderna, os partidos como representaopredominantemente social, situando-o na esferademovimentosmetodolgica dos dualistas, ou seja, dos que tomamreformistas que se operam este sculo, com respeitoa Cincia Poltica segundo o binmio Direito es relaes de trabalho, educao, sade es-Sociedade.interesseseastendncias epiritual da juventude, e o papel da igreja, etc.A estante clssica da sociologia inclui, por25Seguindo igual trajetria, aparece a verso sociolgicadaobradeStier-Somlo,ltimo, esse nome glorioso para a Cincia Polticainclinadoque foi o de Hermann Heller, cuja obra inacabadasobretudo ao estudo da poltica cientfica, seus pro-tem todos os primores de esquematizao genial.blemas, sua significao, suas tarefas, sua possvelLanousistematizao.cimentosindestrutveiscompreenso da doutrina do Estado como sociologia,Desse elenco de primeira ordem faz partecomo cincia da realidade, como teoria das estrutu-ainda um pensador da fina estirpe de Mannheim. Suaras.Ideologia e Utopia desses livros que assinalam aStaatslehre, o mtodo e a misso da teoria dofisionomia intelectual de determinada poca. Sente-Estado, a realidade social, o Estado propriamentese nele toda a vibrao mental da sociedade. Adito, com seus pressupostos histricos, bem como associologia tomada por base da Cincia Poltica, cavacondies culturais e naturais da unidade estatal,ali suas razes mais profundas.sua essncia e finalidade, lastimando-se no hajaOs temas de reconstruo social, de diagnose einterpretaodosmomentoscrticosEstudou,comrigor,noseumonumentalconcludo o plano da obra, que todavia umdafragmento de grandeza e imortalidade. Honra asdemocracia, de anlise dos conceitos polticos, dealturas a que pode chegar o raciocnio poltico de umestimativas acerca da planificao, da liberdade e dopensador.poder tecem a matria sociolgica que serve de substrato a alguns dos captulos mais fascinantes de nossa Cincia. mundo do dever ser, do sollen, se explica pela unidade 6. Prisma jurdicodas normas de direito de determinado sistema, do qual ele apenas nome ou sinnimo.Tem sido tambm a Cincia Poltica objeto deQuem elucidar o direito como norma elucidar oestudo que a reduz ao Direito Poltico, a simplesEstado. A fora coercitiva deste nada mais significa quecorpo de normas.o grau de eficcia da regra de direito, ou seja, daTendncia de cunho exclusivamente jurdiconorma jurdica.vem representada por Kelsen, que constri umaO Estado, organizao de poder, para Kelsen, seTeoria Geral do Estado, onde leva s ltimasesvazia de toda a substantividade. Os elementosconseqncias, no estudo da principal instituiomateriais que o compem territrio e populao geradora de fenmenos polticos, o seu formalismosede inspirao kantista e funda em bases estri-revolucionria linguagem do antigo professor vienense,tamente monistas, de feio jurdica, a nova teoriaem mbito espacial e mbito pessoal de validade doque assimilou o Estado ao Direito e tantos protestosordenamento jurdico.arrancou de filsofos e pensadores durante as ltimas dcadas. O Estado, segundo Kelsen, pertencendo aoconvertem,respectivamente,natpicaeA doutrina de Kelsen tem sua originalidade em banir do Estado todas as implicaes de ordem moral, tica, histrica, sociolgica, criando o Estado como14 15. puro conceito, agigantando-lhe o aspecto formal, retinta-mentejurdico,realidadeA orientao que toma na Cincia Poltica aestatal com seus elementos constitutivos, materiais,Filosofia, a Sociologia e o Direito com predominncia ouconforme vimos. Chega hipertrofia, j descomunal,exclusividade vem cedendo lugar ao emprego dadoqueanlise tridimensional, que abrange a teoria socialdissimulado este na santidade inviolvel de normasjurdica e a teoria filosfica dos fatos, das instituies econcebidas como direito puro.das idias, expostas em ordem enciclopdica, de modoelementoformalescurecendooapoder,postoEssa teoria, que faz de todo Estado Estado de Direito, por situar Direito e Estado em relao dea dar inteira e unificada viso daquilo que objeto desta disciplina.identidade, uma vez aceita apagaria na conscinciaFez o publicista alemo Hans Nawiasky, dado jurista o sentido dos valores e na sentena doBaviera, o esforo mais competente e idneo que semagistrado os escrpulos normais de eqidade, doconhecemesmo modo que favoreceria o despotismo dasbilateralismoditaduras totalitrias, por emprestar base jurdica aantecederam, dando sua Teoria Geral do Estadotodos os atos do poder, at mesmo os maistratamento tridimensional, ao estudar o Estado comoinconcebveis contra a vida e a moral dos povos. Oidia, como fato social e como fenmeno jurdico.exemplo e experincia da Alemanha nazista porultrapassar dosocientistasunilateralismo polticosequeoOs autores franceses que publicaram obrasrecente para mostrar at onde podem chegar asmaisconseqncias de um positivismo normativista, tambm estreiteza de seus predecessores, e apesarmaneira kelseniana.da impopularidade dos nomes de Teoria Geral doCriticou-se a Kelsen, e com razo, o haverrecentes deEstadoeCincia PolticaCinciaPolticanaestosuafugindoliteraturacriado uma Teoria do Estado sem Estado e umaespecializada, j fizeram todavia a esse respeitoTeoria do Direito sem Direito.considerveis concesses epgrafe desta disciplina,Entre os publicistas clebres da Frana, noinclinando-se mais para a expresso Cincia Poltica,sculo XX, encontramos autores mais preocupadoscom a qual batizou Georges Burdeau seu excelentecom o aspecto jurdico da Cincia Poltica do quetratado sobre a matria.propriamente com as suas razes na filosofia e nos estudos sociais.No somente passou o pensamento francs a acatar a denominao de Cincia Poltica, consagradaNo so to radicais quanto Kelsen, quej no meio cultural anglo-saxnico, como emprestoureduziu o Estado a consideraes exclusivamentenos ltimos anos a esses estudos significado maisjurdicas. Mas fazem da Teoria Geral do Estado umsociolgico e filosfico do que, em verdade, jurdico,apndicecomo preconizava a tradio ora proscrita.ouintroduonomeadamentePblico,Juristas da envergadura de Duverger, Vedel,hesitando em versar temas pertinentes ao Estado emMarcel de La Bigne de Villeneuve acompanham alivrossegundo velhatendncia universalizada de adotar o estudo da Cinciatradio, ilustrada, dentre outros, por Duguit, com oPoltica sob o trplice aspecto tantas vezes aquiseu monumental tratado, cuja primeira parte, votadareferido, a saber, o aspecto tridimensional, abrangendoao Estado, abrange certas anlises onde a cadapor conseguinte a considerao jurdica, sociolgica epasso toma o socilogo o lugar do jurista.filosfica.DireitoDireitoDireitonodeaoaoConstitucional,Constitucional,Em Carr de Malberg, depara-se-nos outroComo se v, no reina acordo entre osclssico dessa orientao, que se inclina mais para oescritores polticos dos principais pases ocidentaisDireito do que para a Sociologia ou a Filosofia.acerca dos limites da disciplina de que nos ocupamos. Nem sequer a respeito do nome pelo qual possamos7.Tendnciascontemporneastridimensionalismoparaotodosreconhec-la.Nomundoanglo-americano, a Cincia Poltica ou versa a experincia poltica vivida e acumulada nas instituies (onde as15 16. foras polticas competitivas impem os interessespara eles coincide com a da T eoria Geral do Estado.em jogo), com feio de estudo pragmtico, ou despreza fortemente o lado terico.Por haver equivalncia de reas e de objeto, seria a mesma matria, apenas com nomes distintos.Na Alemanha, os juristas que cresceram noA simpatia na escolha, para os que raciocinamculto e superstio do poder, deram-lhe o nome dadessa forma, recai naturalmente sobre a Teoria GeralTeoria Geral do Estado, com variaes de mtodo edo Estado, cujas razes, a despeito da origem, secontedo e s nas ltimas dcadas se iniciaramaprofundaram com mais fora que as da CincianumacomPoltica. O nome desta, soprado ultimamente comindependncia do condicionamento jurdico, comintensidade, atravs da leitura e influncia de autorescontribuies prprias, mas debaixo de um visvelamericanos e ingleses, ganha todavia largussimo ter-influxo das correntes americanas, cujo pragmatismoreno.CinciaPolticapropriamenteditaexcessivo, todavia, no perfilhavam. A designao de Teoria Geral do Estado entrou enfraquecida em Frana e s chegou ao Brasil em 1940, durante a ditadura. Teve ingresso no currculo das Faculdades de Direito por convenincia ditatorial e no por imperativos pedaggicos ou prescrio didtica. Com efeito, a Constituio de1. Kant, Metaphysische Anfangsgruende Naturwissenschaft. Prefcio, 2 e 3.der2. Joaquim Pimenta, Enciclopdia de Cultura.1937 deparava resistncia nas escolas, por parte de3. Idem, ibidem, p. 45.velhos professores de formao democrtica, que se4. Idem, ibidem, pp. 45-46.recusavam a interpret-la.5. Augusto Comte, Sociologie.Que fez pois a ditadura? Criou a Cadeia de6. Jean Laubier, apud Augusto Comte, ob. cit., p. XI.Teoria Geral do Estado, para a qual removeu a parte7. Ortega y Gasset, apud Kant, Hegel, Dilthey, p. 144.mais obstinada do magistrio, ficando com lugares8. Wilheim Dilthey, Gesammelte Schriften, V, p. 11.vagos destinados ao preenchimento de confiana por9. Hermann Glockner, Die europaeische Philosophie, von Anfangen bis zur Gegenwart, pp. 1.063-1.064.mestres acomodados a lecionar o constitucionalismo dos autores do golpe de Estado de 1937. No Brasil, vingam irmmente os termos10. W. Dilthey, Gesammelte Schriften I, 2 ed., p. 109 da Einleitung in die Geisteswisseschaften I, Erstes einleitendes Buch, XVI.Cincia Poltica e Teoria Geral do Estado. Tem este11. Wilhelm Windelband, Praeludien, V. I/II, p. 141.ltimo maior acolhida no meio jurdico. Por Cincia12. Wilhelm Windelband, ob. cit., p. 141.Poltica,que13. Idem, ibidem, p. 145.entendem a considerao do fenmeno poltico em14. Idem, ibidem, p. 145.sua15. Idem, ibidem, p. 148.estudiososmximahpormnesteamplitude, qual sePasmanifestanatradicionalmenteaopluralidade das fontes geradoras. Outrosseabraam16. Wilhelm Windelband, ob. cit., p. 145.Estado como fonte primria, no enxergando nos demais grupos sociais, nacionais ou internacionais, seno fontes secundrias, cuja autonomia, direta ou indiretamente, deriva do ordenamento estatal, que permanece, em ltima anlise, matriz de toda a fenomenologia poltica. Estes no vem razo para sustentar por conseqnciaasutilezadaquelesquedopreferncia, por mais lata, expresso Cincia Poltica, e ignoram ou negam pois a suposta largueza17. Heinrich Rickert, Kulturwissenschaft und Naturwissenschaft sechste und siebente Auflage, pp. VII e VIII. 18. Idem, ibidem. 19. Heinrich Rickert, ob. cit., p. IX. 20. Idem, ibidem, pp. 55-56. 21. Idem, ibidem, p. 56. 22. Idem, ibidem, p. 97. 23. Heinrich Rickert, ob. cit., p. 97. 24. Max Weber, Staatssoziologie. 25. Franz Oppenheimer, Der Staat, pp. 8, 126-133.de mbito da Cincia Poltica, cuja circunferncia16 17. 2 . A CIENCIA POLTICA E AS DEMAIS CINCIAS SOCIAISacha, segundo a perspicaz observao de Burdeau, na dependncia da estabilidade ou instabilidade do meio poltico e social.1 Daqui se pode extrair tambm a fecunda deduo de que, quanto menos desenvolvida a1. A Cincia Poltica e o Direito Constitucional 2. A Cincia Poltica e a Economia 3. A Cincia Poltica e a Histria 4. A Cincia Poltica e a Psicologia 5. A Sociologia Poltica, uma nova ameaa Cincia Poltica?sociedade, quanto mais grave seu atraso econmico, mais instveis e oscilantes as instituies polticas. Do mesmo passo, menos amplo e eficaz ser ento o Direito Constitucional em sua capacidade de organizar instituies que abranjam de modo efetivo toda a esfera de comportamento e deciso do grupo poltico.1. A Cincia Poltica e o Direito ConstitucionalDaqui decorre pois um crescente hiato entre a ordem constitucional estabelecida e a realidade poltica.So apertadssimos os laos que prendem aEnfim, diminui com isso a possibilidade de toda a vidaCincia Poltica ao Direito Constitucional. Entre ospoltica inclusive o comportamento e o poder depublicistas clebres da Frana, no sculo XX, autoresdeciso de indivduos e grupos recair na rbita doh que se preocuparam menos com o aspectodireito regulamentado e das instituies criadas.jurdico da Cincia Poltica do que propriamente com suas razes na filosofia e nos estudos sociais.Em pases subdesenvolvidos, nominalmente democrticos, h um crculo minimum constitucional,Naquele pas, a Cincia Poltica, antes deonde operam as instituies que o poder oficializou, aochegar maioridade como disciplina autnoma,passo que nos pases desenvolvidos esse minimum seesteve quase toda contida no Direito, mormente noconverte em maximum. Aqui, segundo a linguagem deDireito Constitucional. A despeito do cisma operado,Burdeau,este ainda o ramo da Cincia Jurdica cujo influxojuridicamente institucionalizada tendem a coincidir.2mais pesa sobre a Cincia Poltica.Dessa situao emerge em conseqncia um campoAlguns dentre os melhores politiclogos da ctedrauniversitrianaFranasopolticarealevidapolticamais amplo, mais arejado, mais desimpedido ao Direito Constitucional, que ser o direito das instituies.constitucionalistas, o mesmo ocorrendo no Brasil. Com efeito, Burdeau, Vedei e Prlot, antes devidaAli, na sociedade subdesenvolvida, ao contrrio, avidapolticageraumteorelevadssimodeaderirem Cincia Poltica tinham j nomeada decontrovrsias e impe menos uma oposio ao governomestres do Direito Constitucional, onde conservamdo que s instituies, fazendo com que a parte maisinalterveis o prestgio e a autoridade de sempre.importantedocomportamentopolticoedoDemais, antes da apario da Cincia Polticafuncionamento do poder transcorra fora das regies(cincia de sntese), j o Direito Constitucional foraoficiais ou do direito pblico legislado. A eficcia douma das Cincias Polticas. Seu influxo sobre osistema fica nesse caso preponderantemente sujeita desenvolvimentopoderimprevisvel ao de grupos de presso, lideranasextinguir-se,polticas ocultas e ostensivas, organizaes partidriasporquanto o Direito Constitucional abrange largalcitas e clandestinas, elites influentes, que produzemrea da coisa poltica as instituies do Estado, emou manipulam uma opinio pblica dcil e suspeita emcujo mbito, como se sabe, costumam desenrolar-sesua autenticidade.eventualmenteosprincipaisdaCinciadiminuir,fenmenosPoltica,jamaisdopoderpoltico,constitucionalmente organizado.Observa-seademaisquenospasessubdesenvolvidos, os golpes de Estado, a violaoA maior ou menor coincidncia de reas dacontumaz do Direito Constitucional, o fermento re-Cincia Poltica com o Direito Constitucional, ditandovolucionrio oriundo da insatisfao social, a luta deo grau de profundidade das relaes entre ambos, seclasses, brutalmente exacerbada pelo privilgio ou por17 18. violentas discrepncias econmicas, compem umentre as duas disciplinas, Burdeau assevera que estoquadro onde o processo poltico e a realidade dounidas por laos de consanginidade e constituempoder escapam no raro aos limites modestos dauma nica cincia. Segundo se l no mesmo autor, oautoridadenessasfato de a Economia Poltica haver transitado de suacircunstncias que o Direito Constitucional pode servelha acepo de cincia das riquezas para a modernatomado ou interpretado como um conjunto formalacepo de cincia dos comportamentos econmicos,de regras das quais a vida se ausentou, conformeem nada alterou a conexidade dos dois ramos,disse Burdeau, e a Cincia Poltica aparece comopodendo-se, em verdade, passar da anlise econmicadisciplina apta a prestar contas da realidade, poisa uma poltica econmica, e da poltica econmica parasua promoo se faz concomitante ao declnio doumaDireito Constitucional.programa deinstitucionalizada.ento34Noprocede,poroutraracionalmentesustentao deapoiadametasnumeconmicas,traadas de antemo, com o propsito de promover porconcluso, a afirmativa de Robson, de que o vnculoexemplo fins desenvolvimentistas, ou combater oda Cincia Poltica com o Direito Constitucionalatrasoconduziriareconhecidamente arcaicas.aumaepoltica,eminevitavelmenteparte,aoconcepoestreita, falsa e deformada dessa disciplina.deestruturassociaiseeconmicas,TalDemocracia e socialismo, formas polticas deocorreria com efeito se a Cincia Poltica resultasseorganizao do poder, no prescindem, no Estadototalmente absorvida pelo Direito, que apenas umamoderno, de planificao. O conhecimento econmicode suas faces. Com o jurdico, mormente com ose faz cada vez mais interessado e o Estado no oDireito Constitucional, a Cincia Poltica, at mesmoemprega unicamente para explicar ou conhecer opara efeito de facilidade e segurana dos estudos emodo por que se satisfazem as necessidades materiaisformaoestreitasde uma sociedade, seno que os emprega cada vezinstitucional,mais, para criar instrumentos novos e diretos de ao,sancionado pela ordem jurdica, o ponto de apoiovinculando-os a um programa de governo ou a umamais firme com que estender a outras esferas sociaispoltica econmica especfica .5derelaes,conceitos,fazendododevemantersistematodas as indagaes de cunho caracteristicamente poltico.A corrente de idias de que resulta talvez o mais forte acento na identidade da Cincia Poltica com a Economia Poltica sem dvida a dos pensadores marxistas.2. A Cincia Poltica e a EconomiaDeduz-se do marxismo que todas as instituies sociais e polticas formam uma superestrutura, tendoSemoconhecimentodosaspectosporbasedesustentaoumainfra-estruturaeconmicos em que se baseia a estrutura social,econmica. Essa infra-estrutura determinante, emdificilmente se poderia chegar compreenso dosltima anlise, de tudo quanto se passa em cima,fenmenos polticos e das instituies pelas quaissendo a funo econmica decisiva, bem que no sejauma sociedade se governa. Reputa-se pacfico oexclusiva, no influxo exercido sobre as instituiesentendimento de cientistas polticos como Burdeau,integrantes da chamada superestrutura social.que no precisam de ser marxistas, para reconhecerNumaobjeoquelesqueconferemno fato econmico o fato fundamental de politizaodemasiada importncia aos fatores econmicos, oda sociedade.professor Xifra Heras pondera que existem esferas6Admitidaessatese,perceber-se-sempolticas de todo alheias a interesses econmicos,dificuldade a importncia capital que tem para amencionando aquelas que se relacionam com aCincia Poltica toda a matria de que se ocupa amanuteno da paz e a administrao da justia.7Economia Poltica, ela mesma, em outras pocas, considerada uma das Cincias Polticas. Assinalando o grau prximo de parentescoVerifica-se pormqueatapazguardaimplicaes econmicas profundas, quer a paz externa, entre Estados, quer a paz interna, a paz social, a paz18 19. poltica, cujos reflexos psicolgicos incidem com amquina de guerra. Rodeados de descrdito ou de ummximacomportamentocomplexo de inferioridade, segundo assinala Burdeau,econmico e financeiro de um pas. Basta leveficariam pois os sistemas sociais no-marxistas. Hajacomoo ou crise para que se comprove, sobretudovista o liberalismo,em sociedades de estrutura econmica frgil, quantoburguesa, objeto de inapelvel sentena de mortea paz necessria ao bom curso dos negcios elavrada pela Histria.9intensidadesobreoo capitalismo, a democraciacomo seu transtorno poder refletir-se de modoDe ltimo, com o incremento das investigaesnegativo, com fora quase instantnea, sobre osociolgicas e com o maior espao concedido a certasconjunto das operaes econmicas e financeiras.cincias do comportamento, como a Psicologia Social eDemais, paz social fundamentalmente aquela quea Antropologia, arrefeceu o interesse por uma Cinciaresulta da atenuao da luta de classes e daPoltica fundamentada unicamente na Histria. Comodistribuio mais equitativa do poder econmicoas demais concepes j examinadas filosfica,numa sociedade, mediante a prtica da justiajurdica e econmica padeceria esta tambm osocial.deplorvel vcio da unilateralidade. Se os aspectos histricos tm passado em alguns casos a segundo plano, recaindo sobre a3. A Cincia Poltica e a Histriaposio historicista pelo menos, a no dialtica a nota de anacronismo, e se j no possvel fazer daQuando se toma a Histria como acumulaoHistrianasCincias Sociais oquesefezdacrtica de fatos e experincias vividas, fcil se tornaMatemtica nas Cincias da Natureza, a verdade estperceber a importncia de seu estudo para a CinciacomPoltica e a contribuio essencial que o historiadorindeclinvel importncia dos estudos histricos. Assimpoder oferecer nesse domnio.procede ele ao afirmar que determinadas proposiesHaettichquandocontinuaacentuandoaSe o filsofo, o economista, o socilogo e oda Cincia Poltica nada mais so do que gene-jurista quiseram, em outras pocas, monopolizar aralizaes da experincia histrica, ou ao advertir queCincia Poltica ou imprimir-lhe uma diretriz queotraduzisse exclusividade de perspectiva, tambm oconhecimento do que h sido.quenopodesercompreendidosemo10historiador no foi insensvel a essa orientao,A autoridade da Histria, como cincia de base,querendo igualmente apropriar-se daquela disciplina,mantenedora de apertadas conexes com a Cinciapara reduzi-la a mera investigao acerca da origemPoltica, fica do mesmo passoe do desdobramento dos sistemas, das idias e dasesquema dos cientistas da UNESCO, que abriram quasedoutrinas polticas, conhecidas e praticadas pelotoda uma rubrica para acolher no mbito dessa cinciagnero humano no decurso de tantos sculos.a Histria das Idias Polticas.Dessasinvestigaesseriamcomprovada peloextradasSendo ademais a Cincia Poltica co-artfice ougeneralizaes com o valor de leis histricas, noco-constitutiva da realidade mesma que investiga, faz-tendo sido outro, conforme ressalta Burdeau, ose vlida a afirmativa de Burdeau, segundo a qual astrabalho de Hegel e Marx, conferindo Histria umidias sobre os fatos so mais importantes que os fatossurpreendente teor cientfico, um valor de certeza,mesmos,11 razo por que cumpre ter sempre presenteempregado para sustentao de ideologias, dass indagaes da Cincia Poltica, para faz-las de todoquais aquelas leis constituiriam uma espcie defecundas e compreensveis, a histria das idias.matria-prima.8A Cincia Poltica dos idelogos marxistas se serve da Histria como se houvesse ali decifrado o segredodeevoluo dialtica das4. A Cincia Poltica e a Psicologiainstituiespolticas e sociais. Prognosticam assim um futuroTemos visto como a Filosofia, o Direito e anecessrio que alimenta a ideologia e a converte emEconomia reclamaram j um elevadssimo grau de19 20. participao no moldar a ndole da Cincia Poltica. Houve pocas em que o pensamento crtico seDesde que se constituiu cincia autnoma, ainclinou fortemente a anexar aquela cincia a cadaSociologia passou a representar um obstculo aoum daqueles distintos ramos do conhecimento. Cadadesenvolvimento da Cincia Poltica. Basta atentar-sefase histrica exps o seu figurino de influnciapara o fato de que suas indagaes se concentravamdominante. Este sculo, chegou a vez dos psiclogosna unicidade do social (excluso conseqente daequereremautonomia do poltico) e na investigao da sociedadeapropriar-se da Cincia Poltica, fazendo hoje o quecomo totalidade, obsesso que em Augusto Comteontemdesembocara no conceito de humanidade.socilogos,osfizerammais osrecentesfilsofos,emosjuristas,oseconomistas, os historiadores.Numa segunda fase porm os positivistas, paisTrava a Psicologia com a Sociologia um dueloda Sociologia, fazendo mais fecunda a investigaoreivindicatrio, que vai da simples pretenso desociolgica, volveram de preferncia suas vistas menoshegemoniapara o unitarismo da sociedade do que para o seuabsoro. Seimpertinncia hesferadedeumaeventualmodernidadeoupluralismo, menos para a investigao da sociedade doatualidade no problema de relaes da Cinciaque das sociedades, menos para o conhecimento doPoltica com outras cincias sociais, essa esferatodo do que das partes (os agregados sociais).pertence agora a psiclogos polticos, que intentamA esta altura, uma preocupao terica cedeuimpor suas tcnicas de investigao e operar umalugar a uma preocupao emprica. Grupos, classesreduo sistemtica da Cincia Poltica disciplinasociais, relaes intergrupais entraram a compor o focoda qual procedem e pela qual sempre se orientaram.dominante de ateno da Sociologia, cujo interesseA esto os behavioristas para atest-lo, formandopela vida poltica se apresentava ainda secundrio.j escola e fundando a chamada nova Cincia Poltica, to em voga nos Estados Unidos.O influxo que o fator poltico pode exercer sobre o social e vice-versa forma o ncleo de uma SociologiaO irracionalismo, no raro observado emPoltica. Mas esta nem sequer se constitura, ficandoatividades de governos ou relaes de Estados,deveras retardada sua formao em presena defortalece por igual a convico dos psiclogos sociaisoutros ramos j adultos da Sociologia. Somente apsde que fora das motivaes psicolgicas no vencer certas relutncias foi que a Sociologia se volveupossvelplenamentepara a sociedade poltica do nosso tempo, deixando desatisfatria do processo poltico. Com efeito, segundolado o exclusivismo com que se consagrara ao exameafirma Xifra Heras, de forma lapidar, a Cinciado fenmeno do poder nas sociedades primitivas.PolticalograroperaumacomcompreensomaterialhumanoeosEssa reviravolta para a contemporaneizao fundamentos do poder e da obedincia so deou atualizao de seu objeto fez a Sociologia Polticanatureza psicolgica.progredir assombrosamente nos ltimos vinte anos, at12Se erro existe entre os que adotam essa posio, decorre isso em larga parte do empenho de alguns em quererem reduzir a Cincia Poltica a simplescaptuloPsicologiaencurtamentoPoltica coincidir com a Cincia Poltica ou empregamintolervel do seu campo. Este, queiram ou no oscritrios rigorosamente sociolgicos para anlise debehavioristas, h-de ser sempre mais vasto do quetodos os fenmenos que se prendem realidadeseria se adotssemos apenas aquela dimensopoltica. O ponto de vista em que se colocam poderexclusiva.redundar, conforme j redundou em Duverger, nanumoEm verdade, autores do prestgio de Duverger, Catlin, Aron e Bertrand de Juvenel fazem a SociologiaresultariaSocial,alguns, a autonomia da Cincia Poltica.queinevitavelmentedacomprometer, como ora acontece, segundo entendeminteira identidade entre ambas as cincias, com a resultante absoro da Cincia Poltica pela Sociologia 5. A Sociologia Poltica, uma nova ameaa Cincia Poltica?Poltica. Afigura-se-nos porm inaceitvel essa reduo.20 21. A Cincia Poltica possui mbito mais largo que aVejamos enfim, de modo sumrio, os principaisSociologia Poltica. Posto que conservem inumerveistemas da Sociologia Poltica, que so tambm temaspontos de contato ou partilhem ambas um terrenointegrantes e inseparveis do contedo da Cinciacomum e vasto, verdade que se no confundem asPoltica: a) o poder poltico, o comportamento polticoduas disciplinas.(indivduos e grupos), as manifestaes de autoridadeAquele campo comum grupos, classes sociais,instituies,comportamentos,(carismtica, tradicional e legal, segundo Max Weber),opinioa legalidade e legitimidade do poder poltico; b) ospblica faz difcil e problemtica a delimitao.fatores materiais do poder poltico: o territrio e aMas a Cincia Poltica toma rumos que a sociologiapopulao; c) as origens sociais do Estado e suaignora, e que, admitidos, favorecem o traado depenosafronteiras: a direo normativa. Uma Sociologiadesdobram historicamente, da escravido liberdade,Poltica no poderia, sem descrdito, entrar na esferado Estado de conquista ao Estado de cidadania livredo dever ser, do sollen, ser uma cincia dos(Oppenheimer);valores, segundo trs sentidos que a valoraobasicamente para a racionalizao do poder (a funocomporta: o emprico, o normativo e o subjetivo,poltica, econmica e social das burocracias no Estadoganhando aquela amplitude que a Cincia Polticamoderno), a tecnocracia; e) os grupos de presso detem ostentado, atravs de suas tendncias maistodo o gnero, lcitos e ilcitos, que atuam sombra dosrecentes.parlamentos e dos ministrios, e influem nos atosevoluo, consagrando institutosd)apolticacientfica,quesevolvidaSe o mbito material da Cincia Poltica fosselegislativos e medidas do poder executivo; f) a luta deunicamente o da Sociologia Poltica, como esta vemclasses e seus efeitos polticos, as tenses sociais, ossendo de ltimo cultivada, ou se este mbitoantagonismos polticos de toda espcie; g) a crise dospudesse servir de critrio a uma nica perspectiva desistemas de governo, os regimes polticos, as ideo-indagao, e essa indagao emprestasse Cincialogias, as utopias, a liberdade e a autoridade e h) oPoltica to-somente carter pragmtico e exclusivoinconformismo social, as reformas, as revolues e osde Cincia aplicada e prtica, e no de Cinciagolpes de Estado.normativa, que ela tambm possui, ento toda essa tese de anexao da Cincia Poltica pela Sociologia encontraria ressonncia, a par de legtima base de apoio. Onde ambas as disciplinas operam sobre o mesmoterrenoecomidnticaspreocupaes1. Georges Burdeau, Mthode de la Science Politique, p. 141. 2. Idem, ibidem, p. 141. 3. Idem, ibidem, p. 141.pragmticas, a reflexo dificilmente depara limites4. W. A. Robson, Science Politique, p. 17.certos com que distingui-las. A o melhor que lhe5. Georges Burdeau, ob. cit., p. 130.cumpre admitir nessa esfera a identidade dos dois6. Georges Burdeau, ob. cit., pp. 129-130.ramos.7. Jorge Xifra Heras, Introduccin a la Poltica, p. 51. Em rigor, a Sociologia Poltica que constitui8. Georges Burdeau, ob. cit., p. 125.parte da Cincia Poltica, no o inverso. A Cincia9. Idem, ibidem, p. 129.Poltica o todo, a Sociologia Poltica a parte; ali o10. Manfred Haettich, Lehrbuch der Politikwissenschaft, Grundlegung und Systematik, v. 1, p. 90.gnero, aqui, a espcie. Fora dessa compreenso, seria falso, vindo em dano da Cincia Poltica, falar de identidade ou coincidncia das duas disciplinas.11. Georges Burdeau, ob. cit., p. 33. 12. Jorge Xifras Heras, ob. cit., p. 52.No a Cincia Poltica que est dentro da Sociologia Poltica, mas a Sociologia Poltica que fica no interior da Cincia Poltica. Todo socilogo do poder ou do comportamento poltico , com sua contribuio, cientista poltico, mas acontece que nem todo cientista poltico to-somente socilogo.21 22. 3 . A SOCIEDADE E O ESTADOSociedade o conjunto de relaes mediante as quais vrios indivduos vivem e atuam solidariamente em ordem a formar uma entidade nova e superior, oferecenos ele um conceito de Sociedade basicamente1. Conceito de Sociedade 2. A interpretao organicista da Sociedade 3. A rplica mecanicista ao organicismo social 4. Sociedade e Comunidade 5. A Sociedade e o Estado 6. Conceito de Estado: 6.1 Acepo filosfica 6.2 Acepo jurdica 6.3 Acepo sociolgica 7. Elementos constitutivos do Estado.organicista.2. A interpretao organicista da Sociedade Duas teorias principais disputam a explicao correta dos fundamentos da Sociedade: a teoria orgnica e a teoria mecnica. Os organicistas procedem do tronco milenar da filosofia grega. Descendem de Aristteles e Plato.1. Conceito de Sociedade Quando nos deparamos com essa palavra em busca de um conceito que possa esclarec-la satisfatoriamente, a reflexo crtica nos compele de imediato a fazer meno dos autores que se insurgem contra aquilo que em geral se denomina Sociedade. Sanchez Agesta e Maurras pertencem a essa categoria. O primeiro assevera com nfase que no h Sociedade, termo abstrato e impreciso, mas Sociedades, uma pluralidade de grupos da mais diversa espcie e coeso e o segundo, Sociedade de sociedades e no Sociedades de indivduos. Em verdade porm o vocbulo Sociedade tem sido empregado, conforme assinala um socilogo americano, como a palavra mais genrica que existe para referir todo o complexo de relaes do homem com seus semelhantes.1 Sendo o mecanicismo e o organicismo as duas formulaes histricas mais importantes sobre os fundamentos da Sociedade, todo conceito que se der de Sociedade traduzir na essncia o influxo de uma ou de outra concepo. Quando Toennies diz que a Sociedade o grupo derivado de um acordo de vontades, de membros que buscam, mediante o vnculo associativo, um interesse comum impossvel de obter-se pelos esforos isolados dos indivduos, esse conceito irrepreensivelmente mecanicista. No entanto, quando Del Vecchio entende porNa doutrina aristotlica assinala-se, com efeito, o carter social do homem. A natureza fez do homem o ser poltico, que no pode viver fora da Sociedade. Para viver margem dos laos de sociabilidade, precisaria o ente humano de ser um Deus ou um bruto, algo mais ou algo menos do que um homem. Os instintos egocntricos e altrustas que governam a condio humana, o espcie,fazeminstinto de preservao dapormqueohomemsejaeminentemente social. Grotius, que no foi organicista, acompanhou o pensamento de Aristteles e falou de um appetitus societatis, como vocao inata do homem para a vida social. Situou Del Vecchio muito bem o problema. Dizer que o homem social ou precisa da Sociedade para viver no significa que j se haja caracterizado uma posio organicista ou mecanicista. Esta posio s se define quando o pensador inquire da maneira por que se deve organizar ou governar a Sociedade. Se a Sociedade o valor primrio ou fundamental, se a sua existncia importa numa realidade nova e superior, subsistente por si mesma, temos o organicismo. Alis, de organicismo Del Vecchio nos d o seguinte conceito: Reunio de vrias partes, que preenchem funes distintas e que, por sua ao combinada, concorrem para manter a vida do todo.2 Se, ao contrrio, o indivduo a unidade embriognica, o centro irredutvel a toda assimilao coletiva, o sujeito da ordem social, a unidade que no criou nem h-de criar nenhuma realidade mais, que lhe22 23. seja superior, o ponto primrio e bsico que vale poramparando-o, governando-o. Vinte e quatro horas forasi mesmo e do qual todos os ordenamentos sociaisda proteo dos pais bastariam para acabar com o seremanamque chega ao mundo to frgil e desprotegido.comoderivaessecundrias,comovariaes que podem reconduzir-se sempre ao pontoDependncia,de partida: a ele, ao indivduo, aqui estamos fora dedebilidade, eis j em o ncleo familial os vnculostoda aprimeiros que envolvem a criatura humana e dos quaisdvida em presena de uma posiomecanicista.autoridade,hierarquia,desamparo,jamais lograr desatar-se inteiramente. Fazem osOs primeiros, por se abraarem ao valororganicistas a apologia da autoridade. Estimam o socialSociedade, so organicistas; os segundos, por noporque vem na Sociedade o fato permanente, areconhecerem na Sociedade mais que mera soma derealidade que sobrevive, a organizao superior, opartes, que no gera nenhuma realidade suscetvelordenamentode subsistir fora ou acima dos indivduos, sosucessomecanicistas.geraes,Os organicistas, na teoria da Sociedade e do Estado, se vem arrastados quase sempre, porque,dosdesfalcadotempos,semprenopersiste,doslentoindivduos desdobrarnuncana dasdesaparece,atravessando o tempo e as idades. Os indivduos passam, a Sociedade fica.conseqncia lgica, s posies direitistas e an-Demais, a teoria organicista se impressionatidemocrticas, ao autoritarismo, s justificaescom o fato de que a Sociedade grava no indivduo umareacionrias do poder, autocracia, at mesmosegunda natureza, verdadeira massa de conceitos, dequando se dissimulam em concepes de demo-noes e de vnculos nos quais se forma a melhor, acracia orgnica (concepo que sempre a dosmais real, a mais autntica parte de seu ser.governos e idelogos predispostos j ditadura).Tomando porm a Sociedade como organismo,Nem sequer um doutrinrio da democracia comoficam deslembrados de que s arbitrariamente podemRousseau, com a concepo organicista e genial daas analogias porventura existentes conduzir a essavolont gnrale, princpio novo to aplaudido porequiparao, a legitimar tal identidade que ps emHegel, pde forrar-se a essa increpao uma vez queinteiro descrdito o organicismo j desvairado.o poder popular assim concebido sob a divisa da vontadegeralacabariagerandoochamadodespotismo das multides. Aqui teramos a exceo radicaldeumorganicismodemocrticoDistinguem alguns autores duas modalidades de organicismo: o materialista e o idealista. No primeiro entra a concepo organicista de AugustoComte,juntamentecomoorganicismodesembocando todavia no mesmo esturio que jbiolgico de Spencer, Bluntschli e Schaeffle, chegandoreferimos: o autoritarismo do poder, a ditadura dosos dois ltimos porm, no paralelo entre organismo eordenamentos polticos.sociedade,SeRousseauchegapormaosmaisabsurdosexageros,squelacomparaes mais excntricas, a verdadeiros desatinosconseqncia, segundo alguns de seus intrpretes, algicos, que cobriram de ridculo a doutrina organicista.mesma dos organicistas mais conhecidos: uma certaO organicismo tico e idealista, cultivou-o aconcepo autoritria do poder ainda que se trateescola histrica, sobretudo desde a concepo deda verso mais extremada do poder democrtico Savigny, acerca do esprito popular (o Volksgeist)deles todavia se aparta fundamentalmente quandotomado por fonte histrica, costumeira, tradicional,abre as pginas do Contrato Social com a proposiogeradora de regras e valores sociais e jurdicos.de que os homens nascem livres e iguais, emAlis, o esprito popular como conceito no antagonismo com quase toda a doutrina organicista,dos que primam pela clareza. Tem-se afigurado aque afirma precisamente o contrrio.alguns publicistas obscuro e abstrato, levando W.Entende esta que o homem jamais nasceu na liberdadee,doAquilo que ns no sabemos ou no compreendemos,nascimento, mostra que desde o bero o princpio dedenominamos esprito popular (Was wir nicht wissenautoridadeoder nicht verstehen, nennen wir V olksgeist).oinvocando tomanosofato braos,biolgicoArnold a essa ponderao extremamente irnica:rodeando-o,23 24. A essa corrente tica do idealismo alemo na doutrina dos fundamentos da Sociedade, aderem,ltica: a razo, como guia da convivncia humana, com apoio na vontade livre e criadora dos indivduos.entre outros, Trendelenburg, Krause e Ahrens.Como a constante do contratualismo social o problemadamelhorformadeorganizaodaSociedade, da melhor maneira de governar os homens 3. A rplica mecanicista ao organismo sociale de achar na razo valores que legitimem, com mais fora e invulnerabilidade, o princpio da autoridade,Os mecanicistas acometem impiedosamentepartiram todos os contratualistas do clssico e clebrea teoria organicista, mostrando que no h aconfronto do estado de natureza com o estado depropalada identificao entre o organismo biolgico esociedade.a Sociedade. Nesta ocorrem fenmenos que no achamequivalentenaquele:asmigraes,amobilidade social, o suicdio.Pouco importa que o contraste estado de naturezaestado de sociedade haja suscitado to severas crticas, por parte dos que se empenharam emAs partes, no organismo, no vivem por si mesmas, sendo inconcebvel, como adverte Deldemonstrar o que havia de irreal e anti-histrico nessas concepes contratualistas.Vecchio, imagin-las fora do ser que integram.Mas raro foram os filsofos do direito natural3Tampouco podemos admiti-las noutra posio que no seja a que a natureza lhes indicou. Com o indivduo j isso no acontece. Tem este a sua mesma vida, seus fins autnomos, aque se serviram do estado de natureza para emprestarlhe cunho de historicidade, como se ele realmente acontecera, como se fora fase atravessada pela sociedade humana em algum perodo imemorial.capacidade de deslocao espacial e a no menos importante aptido de mover-se no interior dos grupos de que faz parte. Ora, essa mobilidade o4. Sociedade e comunidadeconduz ora ascenso, ora ao descenso de categoria social, econmica ou profissional.Tomando a Sociedade como dado sociolgico,O publicista da Baviera, na Alemanha, voneminentes estudiosos da Cincia Social tm, por outroSeydel, que combateu energicamente a doutrinalado, posto mais nfase na distino conceitual entreorganicista, costumava dizer que assim como aSociedade e Comunidade. Haja vista, por exemplo, osoma de 100 homens no d 101, da mesma forma acaso de T oennies.adio de 100 vontades no pode produzir a 101Em1799,Schleiermacher distinguira, pelavontade, no caso, a vontade social ou a vontadeprimeira vez, a Sociedade da Comunidade e Wundtpoltica, como realidade nova, com vida fora e acimafalara depois numa vontade impulsiva frente a umadas vontades individuais.vontade intencional, como se j antecipassem ambos4A teoria mecnica predominantemente filosfica e no sociolgica. Seus representantesalgumas bases da clssica elaborao conceitual de Toennies.mais tpicos foram alguns filsofos do direito naturalEm Sociedade e Comunidade (Gesellschaft unddesde o comeo da idade moderna. Seus corolrios,Gemeinschaft), estuda Toennies essas duas formascom rara exceo, e Hobbes aqui uma dessasbsicasexcees, acabam, sob o aspecto poltico, naopostas.explicao e legitimao do poder democrtico .deconvivnciahumana,diametralmenteA Sociedade supe, segundo aquele socilogo,Das teses contratualistas, da postulao quea ao conjunta e racional dos indivduos no seio daestas fazem, infere-se que a base da Sociedade oordem jurdica e econmica; nela, os homens, aassentimento e no o princpio de autoridade.despeito de todos os laos, permanecem separados.A democracia liberal e a democracia social partem dessepostulado nicoeessencial deorganizao social, de fundamento a toda a vida