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Irene Dias Ribeiro Clara dos Anjos Lima Barreto Suelen Oliveira Viviane Albuquerque Pamela Landi Carol Santos 3ª B - 2011

Clara dos Anjos - 3ª B - 2011

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Page 1: Clara dos Anjos - 3ª B - 2011

Irene Dias Ribeiro

Clara dos AnjosLima Barreto

Suelen Oliveira Viviane Albuquerque Pamela Landi Carol Santos

3ª B - 2011

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Lima Barreto

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Biografia do autor• Afonso Henriques de Lima Barreto nasceu no Rio de

Janeiro, em 13 de maio de 1881 - ano da publicação de Memórias Póstumas de Brás Cubas, de Machado de Assis e de O Mulato, de Aluísio Azevedo. Mulato, pobre, socialista convicto, atormentado pela loucura do pai, não pôde completar um curso universitário. O pai de Lima Barreto, João Henrique, era tipógrafo. Sua mãe, Amália Augusta, professora, dirigia em sua casa um pequeno colégio para meninas, o Santa Rosa, que foi fechado na época do nascimento do escritor, devido à situação econômica da família e do estado de saúde de sua mãe, que contraíra tuberculose. Em 1887, Amália morreu, deixando cinco filhos.

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• Estudante brilhante, Lima Barreto ingressou na Escola Politécnica, em 1897. Teria sido um excelente aluno, não fosse o preconceito racial que sofria dentro da escola, que fez com que se isolasse dos colegas e sofresse a perseguição explícita do professor Licínio Cardoso. Sofria constantes reprovações injustas e, para agravar ainda mais a sua situação, seu pai enlouqueceu. Para cuidar do pai e sustentar os irmãos, ele abandonou o curso antes da formatura e foi trabalhar no funcionalismo público, em 1903. Sentindo-se frustrado profissionalmente, começa a beber e a frequentar cafés, livrarias e redações de jornais do Rio de Janeiro. Ingressa no jornalismo profissional em 1905, com uma série de reportagens no Correio da Manhã. Na mesma época inicia sua militância política, participando no comitê do Partido Operário Independente, de Pausílipo da Fonseca.

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• Em 1909, publica o seu primeiro romance, Recordações do Escrivão Isaías Caminha, elogiado no ano seguinte por José Veríssimo. Animado com o sucesso, Lima Barreto passa a trabalhar intensamente. Esta fase, porém, também é marcada por muita pobreza e desgostos familiares, que o levam à primeira internação no hospício, em agosto de 1914. Quando sai, está completamente dominado pelo álcool.

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• Revoltado contra as injustiças e os preconceitos de que também era vítima, dedica sua obra a desmascarar a falsidade dos poderosos: políticos, intelectuais, burocratas, jornalistas, militares, etc. Em 1917, foi um dos primeiros intelectuais brasileiros a saudar a Revolução Russa, e passou a defender o comunismo com ardor. Rejeitado pela Academia Brasileira de Letras, foi acusado de ser um escritor semianalfabeto, por insistir em utilizar uma linguagem coloquial, distante da norma culta parnasiana. Alcoólatra, depressivo, viveu, por vezes literalmente, na sarjeta e foi internado duas vezes no Hospício Nacional. A boêmia e o alcoolismo parecem não ter prejudicado seu trabalho intelectual, mas o levaram à morte prematura. Em 1o de novembro de 1922, morreu, aos 41 anos, de colapso cardíaco, em completa miséria. Dois dias depois seu pai, João Henrique, também faleceu. Por ironia do destino, Lima Barreto morreu exatamente no ano da explosão do modernismo no Brasil, de que foi o maior precursor e que viria a provar o seu valor.

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• O abandono do modo artificial e erudito de escrever, dominante em seu tempo, foi a principal contribuição de Lima Barreto para a literatura contemporânea. Adotou em seus romances a informalidade estilística própria do jornalismo e da fala cotidiana, colaborando para a soltura e descontração da frase, o que agradou parte dos escritores modernistas da Semana de Arte Moderna, de 1922. Registrou com riqueza de detalhes muitos aspectos da vida social e política do Rio de Janeiro no tempo da Primeira República, compondo, em suas obras, um interessante painel das pessoas remediadas do Rio de Janeiro.

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• A obra de Lima Barreto revela forte influência do naturalismo de Aluísio Azevedo, assim como de Machado de Assis, a quem dizia não admirar, Dostoievski e dos positivistas franceses, como Taine e Brunetière. Apesar dessas influências, é um dos autores mais independentes de nossa ficção. Partilhava da idéia de que a literatura devia expressar diretamente os sentimentos e as ideias pessoais do escritor. Por isso, quase todos os seus romances possuem lances autobiográficos. Julgava, ainda, que a função primordial da literatura é unir os homens e desmascarar os falsos valores e as instituições que exploram a inconsciência popular.

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Resumo da Obra.• Passado no subúrbio do Rio de Janeiro, Clara dos Anjos conta

sobre a jovem e ingênua mulata Clara, filha do carteiro Joaquim dos Anjos, que é seduzida pelo malandro Cassi Jones. Cassi é um jovem branco e ignorante, que usa este sobrenome porque, supostamente, descende de um nobre inglês. Seu pai não fala mais com ele após suas diversas aventuras que desonraram várias donzelas e acabaram com vários casamentos (a mãe de uma das vítimas se suicidou; o marido que ela arranjou depois distribui anonimamente um dossiê sobre Cassi pelo RJ). Cassi toma Clara como seu próximo alvo e vai tentando se aproximar dela. Começa pela festa de aniversário desta e vai seguindo, apesar dos pais dela não deixarem e do padrinho dela e tantos outros falarem sobre ele. Clara não acredita e continua curiosa sobre Cassi.

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• Cassi passa a usar um velho, "dentista", que tratava de Clara; ele manda as cartas de um e outro. Depois de um tempo Cassi parte para São Paulo para um possível emprego; Clara está grávida. Após pensar em aborto, Clara revela a verdade à mãe, que vai falar à família de Cassi. Lá ela é tratada como só "mais uma mulatinha" e percebe a verdade total. Pontilhado com referências sobre o preconceito racial (um dos personagens é poeta Leonardo Flores; mulato e talentoso, fica pobre pois foi explorado), este foi o primeiro romance de Lima Barreto mais um dos últimos a ser publicado. Todos os personagens são tipicamente suburbanos e o vocabulário já transpira a coloquialidade como é característico ao autor.

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Personagens• Marrameque - Poeta modesto, semiparalisado, Marramaque

frequentara uma pequena roda de boêmios e literatos e dizia ter conhecido Paula Nei e ser amigo pessoal de Luís Murat.

Lima Barreto denuncia, na figura de Marramaque, a influência das rodas literárias, grupos fechados que abundam no Brasil; a cultura da oralidade, dos que aprendem “muita coisa de ouvido e, de ouvido, falava de muitas delas”, tendo um cultura superficial, de verniz; e o azedume dos que não conseguem brilhar nas “rodas de gente fina”.

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• Clara: a “natureza elementar” - Clara era a segunda filha do casal, “o único filho sobrevivente…os demais…haviam morrido.” Tinha dezessete anos, era ingênua e fora criada “com muito desvelo, recato e carinho; e, a não ser com a mãe ou pai, só saía com Dona Margarida, uma viúva muito séria, que morava nas vizinhanças e ensinava a Clara bordados e costuras.”

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• O autor reitera sempre a personalidade frágil da moça – sua “alma amolecida, capaz de render-se às lábias de um qualquer perverso, mais ou menos ousado, farsante e ignorante, que tivesse a animá-lo o conceito que os bordelengos fazem das raparigas de sua cor” – como resultado de sua educação reclusa e “temperada” pelas modinhas:

“Clara era uma natureza amorfa, pastosa, que precisava mãos fortes que a modelassem e fixassem. Seus pais não seriam capazes disso. A mãe não tinha caráter, no bom sentido, para o fazer; limitava-se a vigiá-la caninamente; e o pai, devido aos seus afazeres, passava a maioria do tempo longe dela. E ela vivia toda entregue a um sonho lânguido de modinhas e descantes, entoadas por sestrosos cantores, como o tal Cassi e outros exploradores da morbidez do violão. O mundo se lhe representava como povoado de suas dúvidas, de queixumes de viola, a suspirar amor.”

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• Cassi: o corruptor - Por intermédio de Lafões, o carteiro Joaquim passa a receber em casa o pretendente de Clara, Cassi Jones de Azevedo, que pertencia a uma posição social melhor. Assim o descreve Lima Barreto:Era Cassi um rapaz de pouco menos de trinta anos, branco, sardento, insignificante, de rosto e de corpo; e, conquanto fosse conhecido como consumado "modinhoso", além de o ser também por outras façanhas verdadeiramente ignóbeis, não tinha as melenas do virtuose do violão, nem outro qualquer traço de capadócio.

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• Vestia-se seriamente, segundo as modas da rua do Ouvidor; mas, pelo apuro forçado e o degagé suburbanos, as suas roupas chamavam a atenção dos outros, que teimavam em descobrir aquele aperfeiçoadíssimo "Brandão", das margens da Central, que lhe talhava as roupas. A única pelintragem, adequada ao seu mister, que apresentava, consistia em trazer o cabelo ensopado de óleo e repartido no alto da cabeça, dividido muito exatamente ao meio — a famosa "pastinha". Não usava topete, nem bigode. O calçado era conforme a moda, mas com os aperfeiçoamentos exigidos por um elegante dos subúrbios, que encanta e seduz as damas com o seu irresistível violão.”

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• Joaquim dos Anjos - carteiro, acredita-se músico escreveu a polca, valsas, tangos e acompanhamentos de modinha. polca: siri sem unhas; valsa: magos do coração.

Uma polca sua - "Siri sem unhas" - e uma valsa - "Mágoas do Coração: - tiveram algum sucesso, a ponto de vender ele a propriedade de cada uma, por cinquenta mil-réis, a uma casa de músicas pianos da Rua do Ouvidor. O seu saber musical era fraco; adivinha mais do que empregava noções teóricas que tivesse estudo.

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• Aprendeu a "artinha" musical da terra do seu nascimento, nos arredores de Diamantina, em cujas festas de igrejas a sua flauta brilhara, e era tido por muitos como o primeiro flautista do lugar. Embora gozando desta fama animadora, nunca quis ampliar os seus conhecimentos musicais. Ficara na "artinha" de Francisco Manuel, que sabia de cor, mas não saíra dela, para ir além“. Natural de Diamantina, filho único. A convite de um inglês, pesquisador, foi para o Rio de Janeiro e lá ficou. Confiava em todos que o rodeavam.

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• Dona Engrácia - era católica, romana, filhos trazidos na mesma religião, era caseira, insegura, e rude.

Calado - músico e compositor brasileiro (polcas "Cruzes, minha prima!")

João Pintor - era um cidadão que visitava "os bíblias" aqueles que pregavam o evangelho. "era preto retinto, grossos lábios, malares proeminentes, testa curta dentes muito bons e muitos claros, longos braços, manoplas enormes, longas pernas e uns tais pés que não havia calçado."

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• Mr. Shays - chefe da seita bíblica, homem tenaz cheio de eloquência bíblica faz seus adeptos ouvir a palavra. Quando os adeptos se acham preparados põem-se a propagá-la.

Eduardo Lafões - religiosamente ia aos domingos à casa de Joaquim para jogar o solo. Eduardo Lafões gostava dos assuntos do comércio. Era um homem simplório, que só tinha agudeza de sentidos para o dinheiro. Vivendo sempre em círculos limitados, habituado a ver o valor dos homens nas roupas e no parentesco, ele não podia conceber que torvo indivíduo era o tal Cassi; que alma suja e má era dele, para se interessar generosamente por alguém.

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• Manuel Borges de Azevedo e Salustiana Baeta de Azevedo - pais de Cassi. O pai não gostava dos procedimentos do filho, enquanto a mãe, cobria-lhe as desfeitas com as proteções.

Dona Margarida Weber Pestana - viúva, mãe de Ezequiel, descendente de Alemão; ela, russa. Casou no Brasil com tipógrafo que falecera dois anos após o casamento. Era dona de uma pensão, mulher corajosa.

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• D. Laurentina Jácone - gostava de rezer, ficar zelando a igreja.

D. Vicêntina - cartomante.

"Além desta, havia uma digna de nota: era Dona Vicência. Morava na vizinhança também e vivia a deitar cartas e cortar "cousas feitas". O seu procedimento era inatacável e exercia a sua profissão de cartomante com toda a seriedade e convicção."

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• Praxedes Maria dos Santos - "gostava de ser tratado por doutor Praxedes. Foi um dos convidados de Joaquim. Era um homem bom. Ficou indeterminada das correspondência de Clara com o Cassi.

Etelvina - crioula, colega de Clara, notou a impaciência de Clara porque o rapaz Cassi ainda não chegara à festa.

Leonardo Flores - grande poeta.

Velho Valentim - era português.

Barcelos - um português fichado na detenção.

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• Arnaldo - era um colega do grupo dos valdevino (desocupados que andava com Cassi).

Menezes - o dentista da família. Intermediário dos bilhetes e cartas de Cassi para Clara. Senhor Monção - caixeiro vendedor; Belmiro Bernedes & Cia. - "tocava realejo", era um moço português, simpático, educado, e bom porte.

Helena - tia de Marramaque, econômica, prendada, costurava para o arsenal do governo.

D. Castolina - mulher de Meneses.

Leopoldo - marinheiro. Cedo, saiu de seio da família para melhorar de vida. Há 30 anos não via família. Meneses com a sua pobreza tratou de visitar o imrão já que eram os únicos vivos da família.

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Tempo• Tempo Psicológico [...] Hoje, é raro ver-se, no Rio

de Janeiro, um muro coberto de hera; entretanto, há trinta anos, nas laranjeiras, na rua Conde de Bonfim, no Rio Comprido, no Andaraí, no Engenho Novo, enfim, em todos os bairros que foram antigamente estações de repouso e prazer, encontravam-se, a cada passo, longos muros cobertos de hera, exalando melancolia e sugerindo recordações [...]

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• Tempo Cronológico [...]Chegou Cassi Jones à casa de Lafões quase à noite. Era uma pequena casa, mas bem tratada e limpa[...]

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Espaço.• O romance passa-se no subúrbio

carioca e Lima Barreto descreve o ambiente suburbano com riqueza de detalhes, como os vários tipos de “casas, casinhas, casebres, barracões, choças” e a vida das pessoas que ali vivem.

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Foco narrativo• é narrado em 3ªpessoa. Conta a história, e ao

mesmo tempo, vai descrevendo os personagens e espaço.

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Exemplo

• [...] O carteiro Joaquim dos Anjos não era homem de serestas; mas gostava de violão e de modinhas. Ele mesmo tocava flauta,

• Instrumento que já foi muito estimado em outras épocas, não o sendo atualmente como outrora[...]

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Estilo• O autor procura usar uma linguagem simples,

aproximando-se da língua falada da época. O estilo da narrativa é objetivo, incorporando a linguagem do texto jornalístico, com frases espontâneas. Foi muito critico por escrever desse modo e mostra a questão social do uso da linguagem em trechos do livro.

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Verossimilhança.• verossimilhança: questão racial... que até hoje

muitas pessoas sofrem com o problema de preconceito racial. e clara sofria com isso.

• Exemplo:• "...repugnava-lhe ver o filho casado com uma

criada preta, ou com uma pobre mulata costureira...."

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Movimento literário• Durante as primeiras duas décadas do século XX, enquanto a

Europa se via invadida pelos movimentos da vanguarda modernista, a literatura brasileira ainda se encontrava dominada pelos estilos surgidos no século anterior. Parnasianismo e simbolismo predominavam na poesia, realismo e naturalismo na prosa.

• Alguns escritores, no entanto, rompiam com estas quatro tendências, e, ainda que muito diferentes, não comungando de um estilo comum, antecipavam, cada um a seu modo, as inovações que seriam propagadas pelos modernistas de 1922, problematizando a realidade social e cultural brasileira. Entre estes escritores, destacam-se Graça Aranha (1868-1931), Simões Lopes Neto (1865-1916), e, principalmente, Euclides da Cunha (18 - 1909), Augusto dos Anjos (1884 - 1914), Lima Barreto (1881 - 1922) e Monteiro Lobato (1882 - 1948).

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Conclusões• O olhar crítico de Lima Barreto frente à sociedade de seu tempo transparece

na construção de várias de suas obras. No caso de Clara dos Anjos, esse olhar direciona-se, especialmente, para a questão do preconceito racial-social vivido por sua personagem principal e para o questionamento sobre a situação das mulheres do início do século XX.

• Lima Barreto traça um perfil lamentável de sua protagonista: Clara era de formação débil, sem força e nem ideias, sua principal preocupação é preparar-se para um casamento, no qual o marido tomaria as decisões por ela. O autor critica, desta forma, a inércia na formação de Clara que, mesmo pertencendo a uma família de baixa renda, tinha sido educada dentro dos parâmetros burgueses vigentes no momento – valores que primavam pela sujeição da mulher ás ordens do marido, o provedor da casa. Os pais de Clara haviam cercado a menina de cuidados e atenções para que se preparasse para o esperado dia do casamento, assim não se preocuparam em instruí-la sobre a vida e muito menos ensinar um ofício a jovem, pois acreditavam não ser necessário, seu papel seria somente cuidar da casa e dos filhos quando estes viessem.

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• Lima Barreto não era necessariamente um defensor da causa feminista, ao contrário, como aponta Eliane Vasconcellos, ele tinha várias críticas ao movimento feminista e em alguns momentos chegou a colocar em dúvida a capacidade do sexo feminino. Embora, ele tivesse deslanchado críticas ao movimento feminista brasileiro, essas não miravam as mulheres, mas, como dissemos, seu alvo era a maneira como a sociedade as preparava, ricas ou pobres, para o futuro matrimônio. A imagem da imigrante Margarida – uma mulher forte, decidida, inimiga da inércia, delatora das injustiças sociais, e mesmo vivendo sem um marido (era viúva) mostrava-se capaz de trabalhar em inúmeras atividades e ainda conseguir educar seu filho, representava o protótipo da mulher ideal no imaginário do autor. O autor sugere que a educação dada as jovens brasileiras deveria se pautar no modelo de Margarida, ou seja, em mulheres mais independentes que não precisariam necessariamente de um casamento, de um marido, para enfrentarem as dificuldades cotidianas.

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• Somente a instrução poderia gerar mais mulheres ao estilo de Margarida que estariam aptas a resistirem a influência de homens ao estilo de Cassi; homens que buscavam as mulheres mais frágeis socialmente, justamente por saberem que sairiam impunes de seus atos, podendo desta forma, continuar a buscar novas “presas” para satisfazerem seus egos moldados por uma educação que lhes garantia como legítima o busca do prazer, sem assumirem compromissos matrimoniais.

• Clara não foi instruída por seus pais que a deixaram alheia aos fatos da vida, sua cabeça era formada por sonhos e desta forma foi fácil ser seduzida pelas melodias das cantigas de Cassi. Somente no final do livro é que Clara consegue desnudar sua situação, mas isso foi feito a base da dor moral e da vergonha (valores sociais) que a cobriram ao perceber sua “ desonra” – o futuro planejado se manchava para sempre. Podemos entender que, para Lima Barreto, todo o drama vivido pelas inúmeras Claras teria outro final se o abandono social causado pela pobreza, o estigma “racial” ou a vigilância excessiva tivesse sido substituídos pelo esclarecimento e orientação franca que preparasse essas jovens para o enfrentamento da vida adulta.