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PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO PIAUÍ 2a CÂMARA ESPECIALIZADA CRIMINAL APELAÇÃO CRIMINAL N" 2014.0001.007819-0 ÓRGÃO: 2a Câmara Especializada Criminal RELATOR: Dês. Erivan Lopes REVISOR: Dês. Joaquim Dias de Santana Filho ORIGEM: Batalha/Vara Única APELANTES: João Batista Braz e Laíce Cesário de Oliveira ADVOGADO: José Augusto Sanfanna (OAB/SP 258.997) APELADO: Ministério Público do Estado do Piauí EMENTA APELAÇÕES CRIMINAIS. CRIMES DE TRÁFICO DE DROGAS, ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO E POSSE DE MUNIÇÃO. MATERIALIDADE E AUTORIA DO CRIME DE TRÁFICO DE DROGAS COMPROVADAS. PALAVRA DAS TESTEMUNHAS (POLICIAIS) EM CONSONÂNCIA COM OS DEMAIS ELEMENTOS PROBATÓRIOS. NATUREZA DA DROGA (CRACK), LOCAL EM QUE A DROGA FOI ENCONTRADA (NA RESIDÊNCIA DOS ACUSADOS E NAS PARTES ÍNTIMAS DA APELANTE), INSTRUMENTOS UTILIZADOS NA MERCANCIA (ESTILETE USADO PARA CORTAR PEDRA DE CRACK, INCLUSIVE, SUJO COM A DROGA E ROLO DE PAPEL ALUMÍNIO PARA EMBALAR A SUBSTÂNCIA), ALÉM DE QUANTIDADE EM DINHEIRO DISTRIBUÍDA EM NOTAS DE PEQUENO VALOR DENUNCIAM O DESTINO COMERCIAL DA DROGA. MANTIDA A CONDENAÇÃO DOS APELANTES PELO CRIME DE TRÁFICO. DESCARACTERIZAÇÃO DO CRIME DE ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. INEXISTÊNCIA DE DOLO ESPECÍFICO DE ASSOCIAR-SE DE FORMA ESTÁVEL E PERMANTE. ABSOLVIÇÃO DOS APELANTES PELO CR ENCONT ACUSAD CONDENAÇÃO MANTIDA. AUSÊNCIA DE INDÍCIOS SUFICIE, MUNIÇÃ REFAZIM >OART. 35 DA LEI 11.343/2006. MUNIÇÕES IADAS NA RESIDÊNCIA DOS APELANTES. O } ASSUMIU A PROPRIEDADE DA MUNIÇÃO. !TESDE AUTORIA DO CRIME DE POSSE DE RELAÇÃO Ã ACUSADA. ABSOLVIÇÃO. fTO DA DOSIMETRIA DA PENA DOS Apelação Criminal n02014.0001\007819-0 (Batalha/Vara Única) / de 30

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2a CÂMARA ESPECIALIZADA CRIMINAL

APELAÇÃO CRIMINAL N" 2014.0001.007819-0ÓRGÃO: 2a Câmara Especializada CriminalRELATOR: Dês. Erivan LopesREVISOR: Dês. Joaquim Dias de Santana FilhoORIGEM: Batalha/Vara ÚnicaAPELANTES: João Batista Braz e Laíce Cesário de OliveiraADVOGADO: José Augusto Sanfanna (OAB/SP n° 258.997)APELADO: Ministério Público do Estado do Piauí

EMENTA

APELAÇÕES CRIMINAIS. CRIMES DE TRÁFICO DEDROGAS, ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO E POSSE DEMUNIÇÃO. MATERIALIDADE E AUTORIA DO CRIME DETRÁFICO DE DROGAS COMPROVADAS. PALAVRA DASTESTEMUNHAS (POLICIAIS) EM CONSONÂNCIA COM OSDEMAIS ELEMENTOS PROBATÓRIOS. NATUREZA DADROGA (CRACK), LOCAL EM QUE A DROGA FOIENCONTRADA (NA RESIDÊNCIA DOS ACUSADOS E NASPARTES ÍNTIMAS DA APELANTE), INSTRUMENTOSUTILIZADOS NA MERCANCIA (ESTILETE USADO PARACORTAR PEDRA DE CRACK, INCLUSIVE, SUJO COM ADROGA E ROLO DE PAPEL ALUMÍNIO PARA EMBALAR ASUBSTÂNCIA), ALÉM DE QUANTIDADE EM DINHEIRODISTRIBUÍDA EM NOTAS DE PEQUENO VALORDENUNCIAM O DESTINO COMERCIAL DA DROGA.MANTIDA A CONDENAÇÃO DOS APELANTES PELOCRIME DE TRÁFICO. DESCARACTERIZAÇÃO DO CRIMEDE ASSOCIAÇÃO PARA O TRÁFICO. INEXISTÊNCIA DEDOLO ESPECÍFICO DE ASSOCIAR-SE DE FORMAESTÁVEL E PERMANTE. ABSOLVIÇÃO DOS APELANTESPELO CRENCONTACUSADCONDENAÇÃO MANTIDA. AUSÊNCIA DE INDÍCIOSSUFICIE,MUNIÇÃREFAZIM

>OART. 35 DA LEI 11.343/2006. MUNIÇÕESIADAS NA RESIDÊNCIA DOS APELANTES. O} ASSUMIU A PROPRIEDADE DA MUNIÇÃO.

!TESDE AUTORIA DO CRIME DE POSSE DERELAÇÃO Ã ACUSADA. ABSOLVIÇÃO.

fTO DA DOSIMETRIA DA PENA DOS

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APELANTES. CIRCUNSTÂNCIAS DO CRIME DE TRÁFICODE DROGA DESFAVORÁVEIS. EXASPERAÇÃO DA PENA-BASE. NATUREZA DA DROGA. ALTO PODERDESTRUTIVO. ART 42 DA LEI 11.343.206. RÉUS QUE SEDEDICAM Á ATIVIDADE CRIMINOSA E NÃO FAZEM JUSÁ CAUSA ESPECIAL DE DIMINUIÇÃO DE PENA DO ART.33, § 4°, DA LEI N° 11.343/06. PENA FIXADA NO MÍNIMOLEGAL PARA O CRIME DE POSSE DE MUNIÇÃOPRATICADO POR UM DOS APELANTES. ATENUANTE DECONFISSÃO RECONHECIDO. REDUÇÃO NÃO APLICADA.SÚMULA 231 DO STJ. PENA DEFINITIVA MODIFICADAEM RELAÇÃO AOS DOIS APELANTES. MANTIDO OREGIME INICIAL FECHADO. ART. 33, §3° DO CP.IMPOSSIBILIDADE DE SUBSTITUIÇÃO POR PENARESTRITIVA DE DIREITO. ART. 44, I, DO CP.JUSTIFICADO PERDIMENTO DOS BENS PELOMAGISTRADO DE 1° GRAU. EFEITO DA CONDENAÇÃO.ART. 91, II, DO CP. ARTS. 60, §2° e 63, §1°, DA LEIII.343/2006. NEGATIVA DO DIREITO DE RECORER EMLIBERDADE FUNDAMENTADA. APELOS CONHECIDOS EPARCIALMENTE PROVIDOS.I . A materialidade do crime de tráfico de drogas estápositivada através do auto de prisão em flagrante, auto deapresentação e apreensão, laudo de exame preliminar dassubstâncias, laudo de exame pericial definitivo, que constatouse tratar de 7.1 g (sete gramas e um decigrama) de substânciavegetal - Cannabis Sativa Lineu, desidratada e composta defragmentos de folhas, acondicionada em 01 (um) invólucroplástico; 3,2 g (três gramas e dois decigramas) de substânciapetriforme de coloração amarela (cocaína), distribuída em 16(dezesseis) invólucros plásticos verdes envoltos em papelalumínio e acondicionados, ainda, em uma bolsa preta, tipoporta moedas^ 11,8 (onze gramas e oito decigramas) desubstancie/ peuúforme de coloração amarela (cocaína),acondicionadas em 01 (um) invólucro plástico, acompanhadasde um esfilete ifetráti l, apresentando vestígios de droga em suasuperfici

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2. A autoria também restou comprovada pelos depoimentosdos policiais que participaram do cumprimento do mandadode busca e apreensão na residência dos apelantes e afirmaramque encontraram pedras de crack prontas para acomercialização dentro da residência e que, inclusive, foiencontrada grande pedra de crack nas partes íntimas daapelante, cuja vistoria foi feita por uma policial do sexofeminino. Ambas as testemunhas declararam que os bens queguarnecem a residência dos acusados, assim como os bensapreendidos, não condizem com o padrão económico do casal,afirmando que o comércio existente na casa deles é muitopequeno e que o réu trabalha fazendo "bicos". Não obstanteas testemunhas serem policiais, no caso, tais depoimentosencontram-se em consonância com os demais elementosprobatórios, motivo pelo qual são aceitáveis, valendo, porevidente, a regra de que toda pessoa poderá ser testemunha(art. 202, CPP).3. Apesar de os apelantes negarem a prática de traficância,alegando que a droga encontrada se destinaria somente aouso pessoal de um dos acusados, as provas dos autos indicamque esta tese não se mostra viável. A natureza da droga (cracke maconha), a forma de acondicionamento (pedra inteira decrack encontrada nas partes íntimas da apelante e as váriaspedras de crack encontradas dentro residência dos acusados,em embalagens prontas para a comercialização, além daporção de maconha), acompanhados de instrumentoscaracterizadores do tráfico (papel alumínio para embalar asdrogas e estilete usado para quebrar as pedras de crack,apresentando resquícios da substância em sua superfície, bemcomo as circunstâncias em que a droga foi apreendida (dentroda residência dos apelantes, local conhecido como "boca defumo", após denúncias recebidas de que o acusado vendiadroga para menores viciados em crack, segundo consta emdepoimento testemunhal) e, ainda, a quantidade de dinheiroencontrada (R$ y 1035, 45 - um mil e trinta e cinco reais equarenta lê cinco centavos, em notas de pequeno valor,segundo huto/de apresentação e apreensão) são indicativosque denwnéiam a destinação comercial da droga, o que

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caracteriza o crime previsto no art. 33 da Lei n.° 11.343/06 einviabiliza a pretendida absolvição ou desclassificação parauso, nos termos dos precedentes desta 2a CâmaraEspecializada Criminal. Mantenho, assim, a condenação dosapelantes pelo crime de tráfico de drogas.4. Não vislumbro, no caso, elementos probatórios suficientespara a condenação dos apelantes pelo crime de associaçãopara o tráfico, conforme precedente do Tribunal de Justiça doRio Grande do Sul: ''Tratando-se de um casal quemantinha/mantém relação afetiva, para a conclusão de terhavido associação deve haver demonstração probatóriaeficaz, não sendo suficiente a alegação de que sãocompanheiros, de que vivem juntos e que, então, estavamassociados na conduta criminosa. A prova, então, deve sermais atenta a essa realidade, não cabendo meras suposições ".A prova dos autos comprova apenas a prática de tráfico dedrogas, diante dos precedentes que exigem estabilidade daassociação criminosa para tipificação do crime do art. 35 daLei n° J l, 3 4 3/06, conforme julgamento do STJ: "Para acaracterização do crime de associação para o tráfico dedrogas - art. 35 da Lei n. 11.343/2006 - é imprescindível ademonstração da associação estável, permanente e duradourade duas ou mais pessoas para o fim de reiteradamente praticaros crimes previstos nos arts. 33 e 34 da referida lei". Apesardo cometimento do crime de tráfico pelos apelantes, não háelementos de prova suficiente do dolo específico, ou seja, davontade de associar-se deforma estável e permanente para ofim específico de cometer o crime de tráfico, sendo que aconvergência de vontades para a prática do delito, no casodos autos, caracteriza apenas concurso de agentes. Absolvoos apelantes da acusação pelo crime de associação para otráfico.5. Restou dêlnonstrado nos autos que foi encontrada naresidência ldos\ munição para arma de fogo, tipoespingarda, calibre 32, sem autorização e em desacordo comdeterminação/ legal, conforme consta nos depoimentos dastestemunhas, no auto de apresentação e apreensão, bem comonos depoimentos dos acusados. O apelante confessou ser o

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proprietário da munição de espingarda em questão. A provada materialidade e autoria do crime de posse ilegal demunição restou suficientemente comprovada nos autos apenasem relação ao acusado, motivo pelo qual mantenho a suacondenação pelo crime do art. 12 da Lei n° 10.826/2003.Ausentes os indícios suficientes de autoria em relação àapelante (companheira do acusado), absolvo a mesma dacondenação pelo crime de posse de munição.6. Refazimento da dosimetria em relação aos dois apelantes.Crime de tráfico de drogas. Análise das circunstânciasjudiciais do art. 59 do CP, aliada ao art. 42 da Lei11.343/2006. Ausência de agravantes e atenuantes na segundafase da dosimetria. Ausência de causa de aumento oudiminuição na terceira fase da dosimetria. Apelantes não têmdireito à redução prevista no art. 33,§ 4°, da Lei 11.343/06,porquanto demonstrado que se dedicam a atividade criminosa,haja vista os fortes indícios de venda de drogas em suaresidência. Penas definitivas redimensionadas. Pena fixada nomínimo legal em relação ao crime de posse de muniçãopraticado por um dos apelantes. Reconhecida a atenuante deconfissão. Redução não aplicada, consoante previsão daSúmula 231 do STJ. Mantido o regime inicial fechadodeterminado na sentença para o início do cumprimento depena dos apelantes (art. 33, § 3°, do CP). Inviável asubstituição da pena privativa de liberdade por restritiva dedireito (art. 44,1, do CP).7. Segundo a previsão do art. 91, inciso II, do CP, a perda dosinstrumentos e produtos do crime de tráfico ilícito deentorpecentes, em favor da União, é efeito automático dacondenação. No caso, o perdimento dos bens em questão foidecretado como efeito da condenação, de forma fundamentadapelo magistrado de l° grau, nos termos dos arts. 60, §2° e 63,§1°, da Lei 11.34^/2Q06, sendo irretocável o julgado.8. A negativardo direito de recorrer em liberdade restoujustificada na sentença. O magistrado consignou que devemser mantidos os decretos de prisão em desfavor dos acusados,por permctnecerem as razões justificadoras da custódia,considerando a gravidade do delito de tráfico de drogas e as

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circunstâncias em que o crime foi praticado. As provas dosautos dão conta que os acusados vendiam drogas de altopoder destrutivo em sua residência, local conhecido como"boca de fumo", havendo notícias de que a substânciaentorpecente crack era vendida, até mesmo, para menores deidade, o que evidencia perigo concreto à sociedade. Presentes,portanto, as hipóteses previstas no art. 312 do C P P, motivosautorizadores da manutenção da prisão.9. Apelos conhecidos e parcialmente providos: Absolvição dosdois apelantes pelo crime de associação para o tráfico.Absolvição apenas da apelante Laíce em relação ao crime deposse de munição. Mantida a condenação dos dois apelantespelo crime de tráfico de drogas e do apelante João pelo crimede posse de munição. Pena definitiva do apelante João fixadaem 07 (sete) anos de reclusão, 01 (um) ano de detenção e 710(setecentos e dez) dias-multa, cada dia no valor mínimo. Penadefinitiva da apelante Laíce estabelecida em 07 (sete) anos dereclusão e 700 (setecentos) dias-multa, cada dia no valormínimo, ambos em regime inicial fechado.

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam oscomponentes da Egrégia 2a Câmara Especializada Criminal do Tribunal deJustiça do Estado do Piauí, por votação unânime, CONHECER dos apelose dar-lhes PARCIAL PROVIMENTO, absolvendo os apelantes João BatistaBraz e Laíce Cesário de Oliveira da acusação pelo crime de associaçãopara o tráfico e apenas Laíce Cesário de Oliveira da acusação do crime deposse de munição, mantendo-se a condenação dos dois apelantes pelocrime de tráfico de drogas e do apelante João Batista Braz também pelocrime de posse de municõor^redimensionando a pena do apelante JoãoBatista Braz para o patamar definitivo de 07 (sete) anos de reclusão, 01(um) ano de detenção e 710 (setecentos e dez) dias-multa, cada dia novalor mínimo, e da apelante Laíce Cesário de Oliveira para o patamardefinitivo de 07 (sete) anos de reclusão e 700 (setecentos) dias-multa, como dia multa no valor Ae/um trinta (1/30) avos do salário mínimo vigente na

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época do fato delituoso, mantendo-se o regime fechado para o início documprimento da pena dos apelantes.

Sala das Sessões do Egrégio Tribunal de Justiça do Estado doPiauí, cm Teresina, 13 de maio de 2015.

Desembargador Erivan Lop'esidente/Relator

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RELATÓRIO

Sr. Dês. Erivan Lopes (Relator):

Apelações Criminais interpostas por João Batista Braz eLaíce Cesário de Oliveira, contra sentença que condenou o primeiroapelante à pena definitiva de 15 anos de reclusão, em regime inicialfechado e 1.900 (mil e novecentos) dias-multa, pelos crimes do art. 33 e 35da Lei 11.343/2006, e 01 (um) ano e 02 (dois) meses de detenção e 25(vinte e cinco) dias-multa, pelo crime do art. 12 da Lei 10.826/2003, emconcurso material, e a segunda apelante à pena definitiva de 15 (quinze)anos de reclusão, em regime inicial fechado e 1.900 (mil e novecentos)dias-multa, pelos crimes do artigo 33 e 35 da Lei 11.343/2006 e 01 (um)ano e 06 (seis) meses de detenção e 30 (trinta) dias-multa, pelo crime doartigo 12 da Lei 10.826/2003, ambos em concurso material.

Os apelantes foram denunciados em razão dos seguintes fatosnarrados na denúncia:

"No dia 16 de dezembro do ano de 2013, por volta das 6:30 h,na Rua Motorista Gregário, Bairro Morro da Saudade, nestaCidade de Batalha- PI, os denunciados João Batista Braz eLaíce Cesário de Oliveira traziam consigo e/ou guardavam aquantidade de 16 (dezesseis) pedras de crack envoltas empapel alumínio; 01 (uma) pedra de crack média; 01 (uma)porção de maconha; 01 (um) estilete; 01 (um) rolo de papelalumínio; e demais bens descritos no auto de apreensão de fls.07 do IP- substâncias que causam dependência física epsíquica (laudo de exame preliminar de fls. 09/10), semautorização e em desacordo com a determinação legal ouregulamentar.Nas mesmas condições de tempo e lugar, os denunciados JoãoBatista Braz B^Laíce Cesário de Oliveira possuíam 02 (dois)cartuchos dí espingarda, calibre 32, conforme auto deapreensão de fls. 07/08 do IP- sem permissão ou autorização.Por ocasião dos fatos, a autoridade policial cumpriamandando/ de busca e apreensão (por substânciasentorpecentes) na residência dos Denunciados e, ao dar busca

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naquele local, encontrou a substância tóxica: crack emaconha que estavam acondicionados em 16 (dezesseis)invólucros de papel laminado e saco plástico, além de umaporção inteira de crack (não desfeita). Além da substânciatóxica propriamente dita, foram encontrados instrumentosutilizados na mercancia, tais como: papel laminado e estilete.Por fim, encontrou-se na residência dos Réus cartuchos dearma de fogo", (fls. 02/04)

Em razões recursais, a defesa dos apelantes sustenta, emresumo: a) absolvição, nos termos do art. 386, VII, do CPP, considerando aausência de indícios suficientes de autoria, em virtude da fragilidade dosdepoimentos das testemunhas, ausência de prova de envolvimento dosapelantes nos crimes de tráfico de drogas e associação para o tráfico,devendo ser considerado que a pequena quantidade de droga encontradaseria para uso pessoal do acusado João Braz; absolvição da acusada LaíceCesário da acusação pelo crime posse de munição (art. 12 da Lei10.826/2003, em razão de o acusado João Batista Braz haver confessadoser o proprietário da munição encontrada na residência dos mesmos; b) errona dosimetria da pena, diante da ausência de justificativa para o aumento dapena-base acima do mínimo legal em relação aos crimes em questão;ausência de aplicação da causa de diminuição prevista no §4° do art. 33 daLei de Drogas; que os apelante são primários, possuem bons antecedentes,não se dedicam a atividades criminosas e não integram organizaçãocriminosa e, portanto, fazem jus à redução no grau máximo, ao regimeinicial aberto e substituição por pena restritiva de direitos; c) que omagistrado determinou o perdimento de bens dos apelantes e os bens nãoforam adquiridos com dinheiro proveniente de tráfico e nem foramutilizados para a prática de crime, motivo pelo qual devem ser devolvidosaos apelantes, (fls. 212/ 223 e 224/ 235)

Nas contrarrazões, o representante ministerial pugnou peloconhecimento e improvimento/do&. recursos, por entender que restaramcomprovadas a materialidade/e antoria dos crimes, uma vez que osapelantes foram presos em flagrante em sua residência, conhecida comoboca de fumo, local em que/guardavam drogas e as vendiam, adquirindopatrimónio incompatível £$m a situação social que ostentavam; que aprova testemunhal d&w suporte à condenação aplicada; que a forma de

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armazenamento de substância tóxica apreendida é fator de relevância paraa tipificação do delito de tráfico; que a pedra de crack inteira encontradaindica que os recorrentes raspavam-na para revender em porçõespequenas (quem é usuário compra em papelotes, não uma pedra como aencontrada nas partes íntimas da acusada Laíce); que a ponta do es fileteapreendido com as apelantes apresentava resíduos de drogas,demonstrando, claramente, que os réus trituravam a porção inteira emquantidades menores, enrolando-as em papelotes (prontos para arevenda); que o património dos acusados é incompatível com a rendadeclarada, a começar pela casa de dois pavimentos na zona urbana dacidade de Batalha; que não apresenta verossimilhança a alegação de queera para uso próprio; que ambos os apelantes possuem bens em comum,utilizavam o mesmo meio para atrair compradores (paredão de som) elaboravam em conjunto para o sucesso da empreitada criminosa, restandomais do que demonstrado a associação para o tráfico (art. 35 da Lei deTóxicos); que o mesmo ocorre com o delito de posse ilegal de munição, vezque os apelantes possuíam munição sem licença ou autorização legal; queas testemunhas que participaram da operação de busca e apreensãoconfirmaram que no interior da residência dos réus foram encontradosdois cartuchos, calibre 32, para arma de fogo tipo espingarda; que os bensforam utilizados pelos acusados para a prática do tráfico de drogas (carroe paredão em festas com venda de drogas) e o juízo singular determinou operdimento dos bens apreendidos; que a dosimetria foi corretamenteaplicada, (fls. 239/247)

O Ministério Público Superior opinou pelo conhecimento eimprovimento dos recursos, diante do conjunto probatório suficiente para amanutenção da sentença, (fls. 2591 265)

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E o relatório.

VOTO

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Sr. Dês. Erfvaó Lopes (Relator):

Tempestivo osÁpéfos, e preenchidos os demais pressupostosde admissibilidade, dejeíríonheço e passo à análise das teses recursais.

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1. Da prova da materialidade e da autoria do crime de tráfico dedrogas (art. 33 da Lei 11.343/2006)

Acerca da materialidade e autoria do crime de tráfico dedrogas, a sentença recorrida apresentou os seguintes elementos a amparar acondenação: "... A materialidade e autoria do delito em referência restasobejamente comprovada. Explico. No que toca a materialidade, esta restaevidenciada pelo auto de apresentação e apreensão junto às/Is. 13/14, bemcomo o auto de constatação preliminar de fls. 15/16 e, laudo de examedefinitivo às fls. 114/116, corroborados pelas declarações prestadas na faseinquisitória! e judicial, de onde é possível, com certeza cristalina,constatar a presença das elementares e circunstâncias que compõem asfiguras típicas principais do art. 33 da Lei n° 11.343/2006 (nasmodalidades adquirir, ter em depósito e guardar). O auto de constataçãopreliminar (fls. 15/16) e, sobretudo, o laudo toxicológico definitivo (fls.114/116), foram categóricos a afirmar que o material posto a análise, osquais foram apreendidos com os acusados, obteve resultado "POSITIVO"para "cocaína" - ou seja, crack-, e a planta cannabis sativa linneu,vulgarmente conhecida como por "maconha" e que estas drogasencontram-se dentre aquelas de uso proscrito no Brasil por serem capazesde causar dependência física e/ou psíquica de acordo com a resolução daAgência Nacional de Vigilância Sanitária, conforme Portaria n° 344/98-SVS/MS de 12.051998. No que toca a autoria, não obstante os réus tenhamnegado a prática das condutas delitivas descritas no art. 33 da Lei n.II.343/2006, que lhes é imputada na inicial, a prova carreada aos autosevidencia que efetivamente foram apreendidas na residência dos acusadosos bens descritos no auto de apreensão de fls. 13/14, dentre eles constando16 (dezesseis) pedras "crack" envoltas em papel alumínio, 01 (uma) pedrade "crack", de tamanho médio, a qual foi encontrada com a acusadaLaíce, além de 01 (uma) porção de maconha ".

De fato, a materialidade do crime em questão está positivadaatravés do auto de prisão em flagrante (fls. 06/30), auto de apresentação eapreensão (fls. 13/14), laudo/de exame preliminar das substâncias (fls. 15),laudo de exame pericial definitiyo (fls. 114/116), que constatou se tratar de7.1 g (sete gramas e um decigrama) de substância vegetal - Cannabis SativaLineu, desidratada e comp0sta de fragmentos de folhas, acondicionada em01 (um) invólucro njááico; 3,2 g (três gramas e dois decigramas de

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substância petriforme de coloração amarela (cocaína), distribuída em 16(dezesseis) invólucros plásticos verdes envoltos em papel alumínio eacondicionados, ainda, em uma bolsa preta, tipo porta moedas; 11,8 (onzegramas e oito decigramas) de substância petriforme de coloração amarela(cocaína), acondicionadas cm 01 (um) invólucro plástico, acompanhadas deum estilete retrátil, suporte de cor azul "Tramontina", apresentandovestígios de substância de cor amarela em sua superfície, estandoconcentrados na extremidade da lâmina.

A autoria também restou comprovada pelos depoimentos dopolicial civil Rildo Lopes Meneses e do policial militar José Messias AlvesMachado, que participaram do cumprimento do mandado de busca eapreensão na residência dos apelantes e afirmaram que encontraram pedrasde crack prontas para a comercialização dentro da residência e que,inclusive, foi encontrada grande pedra de crack nas partes íntimas daapelante, cuja vistoria foi feita por uma policial do sexo feminino.

A testemunha Rildo Lopes Meneses corroborou, em juízo, odepoimento prestado na fase policial e afirmou que participou domandando de busca e apreensão que culminou com a prisão dos acusados,esclarecendo que lá foram encontrados 16 (dezesseis) pedras de "crack",parte no pavimento superior da residência dos acusados. Informou, ainda,que apedra maior de "crack" foi encontrada pela delegada que participouda operação (Dra. Tais), após a realização de revista íntima na ré (Laíce),além de 01 (uma) porção de maconha; que o dinheiro apreendido naresidência dos réus foi encontrado em vários locais diferentes, (fls. 08/09,108-DVD anexo e fls. 147)

A testemunha José Messias Alves Machado declarou, emjuízo, que a polícia local tinha informações sobre a atividade criminosados acusados: que por conta de várias denúncias feitas por várias pessoasda cidade, ficaram sabendo qu&o apelante João Br az vendia muita droga,principalmente para mendres viciados em crack; que João Braz éconhecido na cidade como um dos maiores vendedores de crack, atémesmo pela localização/de sua residência; que João Braz não é tido nacidade como usuário dí drtfgas; que participou da operação policial queresultou na prisão dos apelantes, esclarecendo que foram encontradas naresidência deles a&frfbstâncias entorpecentes já descritas - 16 (dezesseis)

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pedras de "crack" envoltas em papel alumínio, O J (uma) pedra maior de"crack" (tamanho médio) e 01 (uma) porção de maconha -, além de 02(duas) munições de arma de fogo e instrumentos utilizados na mercancia-papel alumínio e estilete- bem como jóias, dinheiro e celulares, (fls. 41/41,108- DVD anexo e fls. 147)

Ambas as testemunhas declararam que os bens queguarnecem a residência dos acusados, assim como os bens apreendidos(carro e som - paredão), não condizem com o padrão económico do casal,afirmando que o comércio existente na casa deles é muito pequeno e que oréu trabalha fazendo "bicos", (fls. 147)

Não obstante as testemunhas serem policiais, no caso, taisdepoimentos encontram-se em consonância com os demais elementosprobatórios, quais sejam: auto de prisão em flagrante, auto de apresentaçãoe apreensão, laudo preliminar de constatação em substância entorpecente elaudo de exame pericial definitivo, motivo pelo qual são aceitáveis,valendo, por evidente, a regra de que toda pessoa poderá ser testemunha(art. 202, CPP).

Guilherme de Souza Nucci defende a validade dosdepoimentos de policiais afirmando que: "(...) preceitua o art. 202 do CPPque toda pessoa pode ser testemunha, logo, é indiscutível que os policiais,sejam eles os autores da prisão do réu ou não, podem testemunhar sob ocompromisso de dizer a verdade, sob pena de cometer crime de falsotestemunho."

Apesar de os apelantes negarem a prática de traficância,alegando que a droga encontrada se destinaria somente ao uso pessoal deum dos acusados (João Batista Braz), as provas dos autos indicam que estatese não se mostra viávcL^Oktureza da droga (crack e maconha), a formade acondicionamento (nédra inteira de crack encontrada nas partes íntimasda apelante e as vária/ pedras de crack encontradas dentro residência dosacusados, em embalaeens,prontas para a comercialização, além da porçãode maconha), acompanhados de instrumentos caracterizadores do tráfico

1 Nucci, Guilherme de Souza, Leis Penais e Processuais Penais comentadas, 2a edição, SãoPaulo, Editora; rgyista dos Tribunais, 2007, página: 323.

Apelação Criminal n° 2014.OVO 1.007819-0 (Batalha/Vara Única) 13 de 30

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(papel alumínio para embalar as drogas e estilete usado para quebrar aspedras de crack, apresentando resquícios da substância em sua superfície),bem como as circunstâncias em que a droga foi apreendida (dentro daresidência dos apelantes, local conhecido como "boca de fumo", apósdenúncias recebidas de que o acusado vendia droga para menores viciadosem crack, segundo consta em depoimento testemunhal) e, ainda, aquantidade de dinheiro encontrada (R$ - 1.035, 45 - um mil e trinta e cincoreais e quarenta e cinco centavos, em notas de pequeno valor, segundo autode apresentação e apreensão- fls. 13/14), são indicativos que denunciam adestinação comercial da droga, o que caracteriza o crime previsto no art. 33da Lei n.° 11.343/06 e inviabiliza a pretendida absolvição oudesclassificação para uso, nos termos dos precedentes desta 2a CâmaraEspecializada Criminal: " As circunstâncias que a droga fora apreendida ea forma como estava disposta em trouxinhas, a quantia em dinheirofracionada e o local em que o apelante fora preso, denunciam a destinaçãocomercial da droga, inviabilizando a desclassificação da traficância para odelito de uso. 3. Recurso conhecido e improvido à unanimidade (...) ".

Todo o contexto que envolveu a prisão em flagrante e aapreensão das drogas na residência dos acusados compõe o acervo deindícios e provas que, somados, revelaram a procedência da acusaçãoquanto ao crime de tráfico de drogas em desfavor dos apelantes, semqualquer dúvida.

Mantenho, assim, a condenação dos apelantes pelo crimetipificado no art. 33 da Lei 11.343/2006.

2. Da absolvição pelo crime de associação para o tráfico (art. 35 daLei 11.343/2006)

O art. 35 dzrt&i 11.343/06 define o delito de associação para otráfico da seguinte forma: "associarem-se duas ou mais pessoas para o fimde praticar, reiterafdamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts.33, caput e §1°, e/34 desfa Lei".

2 TJ/PI AC N° 201Oeu01.007465-7; Órgão: 2a Câmara Especializada Criminal; Relato; Dês.Joaquim Dias de Santana Rlho; Julgado em: 24/05/11.

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Apelação Criminal n°2014.0001.007819-0 (Batalha/Vara Única) 14 de 30

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O tipo subjetivo é o dolo, ou seja, animus associativo, aliadoao fim específico de traficar drogas. Não basta a simples convergência devontades para a prática do crime, é necessário que o animus associativo(dolo específico, de caráter duradouro e estável) seja efetivamente provado,pois integra o tipo penal e é indispensável para sua caracterização.

Sobre o tema, a doutrina de Renato Brasileiro de Lima:"Associar-se quer dizer reunir-se, aliar-se ou congregar-se de maneiraestável ou permanente para a consecução de um fim comum. Acaracterística da associação é a estabilidade do vínculo que os agentes,mesmo que nenhum dos crimes por eles planejados venha a se concretizar.Por isso, por mais que o art. 35 da Lei de Drogas faça uso da expressão'reiteradamente ou não ', a tipificação desse crime depende da estabilidadeou da permanência (societas sceleris), características que o diferenciam deum concurso eventual de agentes (CP, art. 29). (...) Se se trata de crimecontra a paz pública, há de se entender que apenas a associação estável epermanente é capaz de expor a risco o bem jurídico tutelado. Logo, umaassociação instável e efémera, características inerentes ao concursoeventual de agentes, não tipifica, de per si, o crime do art. 35 da Lei n°11.343/06. Neste contexto, como já se pronunciou o STJ, a caracterizaçãodo crime de associação para o tráfico depende do dolo de se associar comestabilidade e permanência, sendo que a reunião ocasional de duas oumais pessoas não se subsume ao tipo do art. 35 da Lei n° 11.343/2006* .

A propósito, as palavras de Guilherme de Souza Nucci:"Análise do núcleo do tipo: associarem-se (reunirem-se, juntarem-se) duasou mais pessoas com a finalidade de praticar (realizar, cometer) os crimesprevistos nos artigos 33, caput, e § I.°, e 34 da Lei 11.343/2006. É aquadrilha ou bando específica do tráfico ilícito de entorpecentes. Em nossoentendimento, cuida-se de delito equiparado a hediondo, como os artigos33 e 34 (antigos arts. 12 e 13 da Lei 6.368/76), pois a associaçãocriminosa tem justamente esÀa finalidade, vale dizer, o tráfico. Demanda-se a prova de estabilidade e permanência da mencionada associaçãocriminosa. Elemento subjetivo: é o dolo. Exige-se elemento subjetivo dotipo específico, consistente no ânimo de associação, de caráter duradouro

1 / /LIMA, Renato Brasileiro de. Legislação Penal Especial Comentada. 2a ed. rev. ampl. e atual.Salvador: Editora JusP>odivrn, 2014, p. 754.

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e estável. Do contrário, seria um mero concurso de agentes para a práticado crime de tráfico. Para a configuração do delito do art. 35 (antigo 14da Lei 6,368/76) é fundamental que os sujeitos se reunam com opropósito de manter uma meta comum."

Nesse mesmo norte, doutrina Renato Marcão: "Para a formadescrita no caput, exige-se a pluralidade de agentes, duas ou mais pessoas,ligadas entre si por um animus associativo, para o fim de praticar,reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, caput, e§ l.°, e 34 da Lei 11.343/2006. E necessário que a associação seja estável;é preciso identificar certa permanência na societas criminis, que não seconfunde com mera coaittoria"

Não vislumbro, no caso, elementos probatórios suficientespara a condenação pelo crime de associação para o tráfico, conformeprecedente do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul: "'Tratando-se deum casal que mantinha/mantém relação afetiva, para a conclusão de terhavido associação deve haver demonstração probatória eficaz, não sendosuficiente a alegação de que são companheiros, de que vivem juntos eque, então, estavam associados na conduta criminosa. A prova, então,deve ser mais atenta a essa realidade, não cabendo meras suposições".0

Entendimento diverso levaria à conclusão, extremamentegravosa, de que a venda de drogas realizado numa residência por mais demembro da mesma entidade familiar caracterizaria, sempre, concurso decrimes: tráfico de drogas e associação para o tráfico. E isso não parece ser aintenção do legislador.

A propósito, trago trecho de ementa do TJRS: "Associaçãopara o tráfico: Inviável a condenação dos réus por este delito. Não hácomprovação do ânimo associativo entre os réus para o fim precipito detraficar, prova imprescindível [para tipificação do crime de associação para

4 NUCCI, Guilherme de Souza. L is Penais e Processuais Penais Comentadas. São Paulo:Editora RT, 2006, p. 784 e 785.5 MARCÃO, Renato. Tóxicos - Lê/ 11^543, de 23 de agosto de 2006 - Nova Lei de Drogas, 4 a

ed. reformulada, São Paulo: Sarawá, 2007, p. 281.6 TJRS, Apelação Crime n° /Q059837393, Terceira Câmara Criminal, Rei. Dês. DiogenesVicente Hassan Ribeiro, Julgado/em 06/11/2014.

Apelação Criminal n° 20 J 4.0001.007 819-0 (Batalha/Vara Única) /6 de 30

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o tráfico, que não pode ser presumido pelo concurso de agentes na práticado tráfico de drogas, tampouco pelo fato de serem os réus companheiros,já que a união dos acusados se deu para o fim de constituir família emcomum ".

A prova dos autos comprova apenas a prática de tráfico dedrogas, diante dos precedentes que exigem estabilidade da associaçãocriminosa para tipificação do crime do art. 35 da Lei n° 11.343/06,conforme julgamento do STJ: "Para a caracterização do crime deassociação para o tráfico de drogas - art. 35 da Lei n, 11.343/2006 - éimprescindível a demonstração da associação estável, permanente eduradoura de duas ou mais pessoas para o fim de reiteradamente praticar

y

os crimes previstos nos arts. 33 e 34 da referida lei".

Apesar do cometimento do crime de tráfico pelos apelantes,não há elementos de prova suficiente do dolo específico, ou seja, davontade de associar-se de forma estável e permanente para o fim específicode cometer o crime de tráfico, sendo que a convergência de vontades para aprática do delito, no caso dos autos, caracteriza apenas concurso deagentes.

Com essas considerações, mantenho a condenação pelo crimede tráfico e absolvo os apelantes, por insuficiência de provas, do crime deassociação para o tráfico,

3. Da prova da materialidade e autoria do crime de posse ilegal demunição (art. 12 da Lei n° 10.826/2003)

Restou demonstrado nos autos que foi encontrada naresidência dos acusados munição para arma de fogo, tipo espingarda,calibre 32, sem autorização e em desacordo com determinação legal,conforme consta nos depoimefltos~3às testemunhas (fls. 08/11 e 108- DVDanexo), no auto de apresentação e/apreensão (fls. 13/14), bem como nosdepoimentos dos acusadas, (fls. rá, 21 e 108- DVD anexo)

7 TJRS, Apelação Crime n° 700506£á707, Segunda Câmara Criminal, Rei. Desa. Osnilda Pisa,Julgado em 24/06/2014.8 STJ, HC 271.723/MG, BeJ/Ministro JORGE MUSSI, Rei. p/ Acórdão Ministro MARCOAURÉLIO BELLIZZE, QUIRíTATURMA, julgado em 08/04/2014, DJe 02/05/2014.

Apelação Criminal n"2014.0001.007819-0 (Batalha/Vara Única) 17 de 30T

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Destaco que o acusado João Batista Braz confessou ser oproprietário da munição de espingarda em questão, aduzindo que lhepertencem as duas munições de espingarda encontradas em sua residência,apesar de não possuir arma, alegando que utilizava as munições naespingarda de um colega para realizar caça no terreno do "Sr. Nonato", oque foi confirmado pela sua companheira, a também acusada Laíce Cesáriode Oliveira (fls. 18, 21 e 108- DVD anexo)

A prova da materialidade e autoria do crime de posse ilegal demunição restou suficientemente comprovada nos autos apenas em relaçãoao acusado João Batista Braz, motivo pelo qual mantenho a condenaçãodeste pelo crime do art. 12 da Lei n° 10.826/2003.

Ausentes os indícios suficientes de autoria em relação àacusada Laíce Cesário, absolvo a apelante da condenação pelo crime deposse de munição.

4. Da dosimetria da pena

a) Apelante João Batista Braz

Para o crime de tráfico de drogas, o art. 33 da Lei n° 11.343/06comina pena de reclusão, de 05 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias- multa, devendo serconsideradas as circunstâncias judiciais, a quantidade e natureza da droga eas possíveis atenuantes, agravantes, causas de diminuição e causas deaumento de pena.

O magistrado singular, ao analisar as circunstâncias judiciaisdo art. 59, do CP (culpabilidade, antecedentes, conduta social,personalidade do agente, mtííTv^s do crime, circunstâncias do crime,consequências do crime e oómpowamento da vítima), aliado ao art. 42 daLei 11.343/06 , valorou as/consequências do crime como desfavoráveis, emface dos graves efeitos/que £r disseminação do uso de drogas causa na

1 " O juiz, na fixação das pe^sf considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 doCódigo Penal, a nature^pa quantidade da substância ou do produto, a personalidade e aconduta social do agente."/

Apelação Criminal n" 2014 \)00 1.007 8 1 9-0 (Batalha/Vara Única) 18 de 30

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sociedade e nas famílias e fixou a pena-base muito acima do mínimo legal,em 10 (dez) anos de reclusão e 1.000 (mil) dias-multa. Ausentescircunstâncias atenuantes e agravantes, causas de aumento ou dediminuição, o patamar fixado para a pena-base se tornou definitivo. Omagistrado destacou que o réu não fazjus à redução prevista no art. 33,§4°, pois evidenciado que se dedica a atividades criminosas, (fls. 158/159 e206/208).

Para o crime de posse de munição, o art. 12 da Lei10.826/2006 comina pena de detenção, de l (um) a 3 (três) anos epagamento de multa. Na 1a fase da dosimetria, o magistrado valorounegativamente uma circunstância judicial (consequências do crime) eestabeleceu a pena-base em 01 (um) ano e 06 (seis) meses de detenção, e30 (trinta) dias-multa. Na segunda fase da dosimetria, ausentescircunstâncias agravantes, o magistrado reconheceu a atenuante deconfissão e (art. 65, III, "d", do CP) e diminuiu a pena em 1/6, resultando opatamar de 01 (um) ano e 02 (dois) meses de detenção e 25 (vinte e cinco)dias-multa, patamar que se tornou definitivo diante da ausência de causasde diminuição e de aumento da pena.

O magistrado singular aplicou a regra do concurso materialentre os delitos, na forma do art. 69 do CP.

Analisando a decisão, verifico que a exasperação da pena-base, em relação aos dois crimes, merece reparo.

Segundo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça, oTribunal de Justiça pode corrigir erro na dosimetria da pena aplicada em 1°Grau, sem precisar declarar a nulidade da referida sentença. "

Em análise às circunstâncias do art. 59 do Código Penal,considerando o grau de intpis-idade da reprovação da conduta do acusado,verifico que se trata de culpabilidade normal, inerente ao tipo penal. Negaro crime ou mesmo buscar a sua desclassificação integra o direito de defesado réu, não podendo/ser iníerprctado em seu desfavor; o réu não se revelapossuidor de antecedemes criminais (Themis-web)\a conduta social e

0 STJ. REsp 943823/ffe. Ministro Felix Fischer. T5- Quinta Turma. 10/03/2008.

lApelação Criminal n° 2014.0001.007819-0 (Batalho/Vara Única) 19 de 30

U* JU«KA - H

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sua personalidade não foram devidamente apuradas; os motivos do delitojá são punidos pela própria tipicidade; as circunstâncias do crime seevidenciam de forma desfavorável, pois o apelante vendia drogas em suaresidência (local de convivência familiar), que ficou conhecida como "bocade fumo" e vendia drogas para menores de idade viciados em crack, sendoconhecido como traficante na região, segundo depoimento de testemunha;as consequências do crime não se diferenciam dos resultados típicos dopróprio delito, nada tendo a se valorar. Verifico a natureza da drogaapreendida (crack- maior poder lesivo) autoriza a fixação da pena acima domínimo legal, segundo a previsão do art. 42 da Lei 11.343/06.''

Considerando as peculiaridades do caso, a circunstânciajudicial desfavorável (circunstâncias do crime) e a natureza da drogaapreendida (crack- maior poder lesivo), fixo a pena-base em 07 (sete) anosde reclusão) e 700 (setecentos) dias-multa.

Na segunda fase da dosimetria, ausentes circunstânciasagravantes ou atenuantes.

Na terceira fase da dosimetria, pleiteia o recorrente que sejareconhecida a causa de diminuição prevista no art. 33, §4°, da Lei11.343/06, por preencher os requisitos legais. Requer, ao final, que sejasubstituída a pena privativa de liberdade por restritivas de direitos.

A Lei n° 11.343/06, em seu artigo 33, § 4", estabelece que noscrimes de tráfico de entorpecentes, as penas poderão ser reduzidas de 1/6(um sexto) a 2/3 (dois terços), desde que o agente seja primário, tenha bonsantecedentes, não se dedique à atividade criminosa nem integre

l 7organização voltada para a prática de delitos.

O apelante n^íTsm direito à redução prevista no art. 33,§ 4°,da Lei 11.343/06, porquanto; demonstrado que se dedica a atividade

11 " O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e aconduta social do agente12 Art. 33, § 4° Nos deríjios definidos no caput e no § 1° deste artigo, as penas poderão serreduzidas de um 3&xfo a dois terços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes,não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

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criminosa, haja vista os fortes indícios de venda de drogas em suaresidência.

O patamar de 07 (sete) anos de reclusão e 700 (setecentos)dias-multa, com o dia multa no valor de um trinta (1/30) anos do saláriomínimo vigente na época do fato delituoso, se torna definitivo.

Restou provado que o acusado se dedica a atividade criminosa,qual seja: venda de drogas, razão pela qual mantenho o regime fechadodeterminado na sentença para início do cumprimento da pena imposta aoapelante, nos termos do art. § 3°, do art. 33, do Código Penal. L

Inviável a substituição da pena privativa de liberdade porrestritiva de direito (art. 44,1, do Código Penal).

Em relação ao crime de posse de munição, analisando ascircunstâncias judiciais do art. 59 do CP, não verifico nenhumacircunstâncias desfavorável e fixo a pena-base no mínimo legal, em 01(um) ano de detenção e 10 (dez) dias-multa. Na segunda fase da dosimetria,reconheço a atenuante de confissão, mas deixo de aplicar a redução, diantedo disposto na Súmula 231 do STJ: "A incidência da circunstânciaatenuante não pode conduzir à redução da pena abaixo do mínimo legar.Inexistem causas de aumento ou diminuição da pena na terceira fase dadosimetria. O patamar de 01 (um) ano de detenção e 10 (dez) dias-multa,cada dia no valor mínimo, se torna definitivo.

Ao final, aplicando a regra do concurso material (art. 69 doCP: "Quando o agente, mediante mais de uma ação ou omissão, praticadois ou mais crimes, idênticos ou não, aplicam-se cumulativamente aspenas privativas de liberdadê^&m que haja incorrido. No caso de aplicaçãocumulativa de penas de l reclusão e de detenção, executa-se primeiroaquela"), fica o apelante Joao/Batista Braz condenado a pena de 07 (sete)

13 Art. 33, § 3°, do CP (A determinação do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á comobservância dos critérios opev/stos no art. 59 deste Código).14 Art. 44 do CP: "as pearas restritivas de direitos são autónomas e substituem as privativas deliberdade, quando: l n/aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e ocrime não for coroefido com violência ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a penaaplicada, se o crime for culposo"-f

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anos de reclusão, 01 (um) ano de detenção e 710 (setecentos e dez) dias-multa, cada dia no valor mínimo, pelos crimes de tráfico de drogas e possede munição.

b) Apelante Laíce Cesário Oliveira

Para o crime de tráfico de drogas, o art. 33 da Lei n° 11.343/06comina pena de reclusão, de 05 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias- multa, devendo serconsideradas as circunstâncias judiciais, a quantidade e natureza da droga eas possíveis atenuantes, agravantes, causas de diminuição e aumento depena.

O magistrado singular, ao analisar as circunstâncias judiciaisdo art. 59, do CP (culpabilidade, antecedentes, conduta social,personalidade do agente, motivos do crime, circunstâncias do crime,consequências do crime e comportamento da vítima) e o art. 42 da Lei11.343/06 , valorou as consequências do crime como desfavoráveis, emface dos graves efeitos que a disseminação do uso de drogas causa nasociedade e nas famílias e fixou a pena-base muito acima do mínimo legal,cm 10 (dez) anos de reclusão e 1.000 (mil) dias-multa. Ausentescircunstâncias atenuantes e agravantes, causas de aumento ou dediminuição, o patamar fixado para a pcna-base se tornou definitivo. Omagistrado destacou que a ré não fazjus à redução prevista no art. 33, §4°,pois evidenciado que se dedica a atividades criminosas, (fls. 158/159 e206/208)

Em análise às circunstâncias do art. 59 do Código Penal,considerando o grau de intensidade da reprovação da conduta da acusada,verifico que se trata de culpabilidade normal, inerente ao tipo penal; a rénão se revela possuidora de a-fítebedentes criminais (Them is-\veb); suaconduta social e sua personalidade não foram devidamente apuradas; osmotivos do delito já são pumdos/f5ela própria tipicidade; as circunstânciasdo crime se evidenciam áe^orma desfavorável, pois a apelante vendiadrogas em sua residêrççjra (local de convivência familiar), que ficou

1 5" O juiz, na fixação das penaá, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e aconduta social do agente."

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conhecida como "boca de fumo" e durante a abordagem policial a acusadaescondeu a substância (pedra de crack) em suas partes íntimas, com aintenção de dificultar a apreensão pela polícia, segundo consta nos autos, oque denota maior ousadia da ré; as consequências do crime não sediferenciam dos resultados típicos do próprio delito, nada tendo a sevalorar. Verifico a natureza da droga apreendida (crack- maior poder lesivo)autoriza a fixação da pena acima do mínimo legal, segundo a previsão doart. 42 da Lei 11.343/06.16

Considerando as peculiaridades do caso, as circunstâncias docrime (valoradas negativamente) e a natureza da droga apreendida (crack-maior poder destrutivo), fixo a pena-base cm 07 (sete) anos de reclusão) e700 (setecentos) dias-multa.

Na segunda fase da dosimetria, ausentes circunstânciasagravantes ou atenuantes.

Na terceira fase da dosimetria, pleiteia a recorrente que sejareconhecida a causa de diminuição prevista no art. 33, §4°, da Lei11.343/06, por preencher os requisitos legais. Requer, ao final, que sejasubstituída a pena privativa de liberdade por restritivas de direitos.

A Lei n° 11.343/06, em seu artigo 33, § 4°, estabelece que noscrimes de tráfico de entorpecentes, as penas poderão ser reduzidas de 1/6(um sexto) a 2/3 (dois terços), desde que o agente seja primário, tenha bonsantecedentes, não se dedique à atividade criminosa nem integreorganização voltada para a prática de delitos. '

A apelante/nãe» tem direito à redução prevista no art. 33,§ 4°,da Lei 11.343/06, porquanto demonstrado que se dedica a atividadecriminosa, haja visjra os Cortes indícios de venda de drogas em suaresidência.

1 6" O juiz, na fixação das/fcenas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59do Código Penal, a naptíreza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e aconduta social do agente."17 Art. 33, § 4° iXos delitos definidos no caput e no § 1° deste artigo, as penas poderão serreduzidas de um sexto a dois<erços, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes,não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa.

Apelação Criminal n" 201'4.0001.007'81'9-0 (Batalha/Vara Única) 23 de 30

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O patamar de 07 (sete) anos de reclusão e 700 (setecentos)dias-multa, com o dia multa no valor de um trinta (1/30) anos do saláriomínimo vigente na época do fato delituoso, se torna definitivo.

Restou provado que a acusada se dedica a atividade criminosa,qual seja: venda de drogas, razão pela qual mantenho o regime fechadodeterminado na sentença para início do cumprimento da pena imposta ao

l Kapelante, nos termos do art. § 3°, do art. 33, do Código Penal.

Inviável a substituição da pena privativa de liberdade porrestritiva de direito (art. 44,1, do Código Penal). ]'

5. Do perdimento dos bens

O magistrado determinou o perdimento de bens dos apelantese os mesmos alegam que os bens não foram adquiridos com dinheiroproveniente de tráfico e nem foram utilizados para a prática de crime,motivo pelo qual os bens devem ser a eles devolvidos.

Segundo a previsão do art. 91, inciso II, do Código Penal20, aperda dos instrumentos e produtos do crime de tráfico ilícito deentorpecentes, em favor da União, é efeito automático da condenação.

A propósito, entendimento do STJ:

RECURSO ESPECIAL. TRÁFICO ILÍCITO DEENTORPECENTES. BENS APREENDIDOS. PERDA DEBENS EM FAVOR DA UNIÃO. EFEITO AUTOMÁTICO DACONDENAÇÃO. ART. 91, INCISO U, DO CÓDIGO PENAL.

18 Art. 33, § 3°, do CP (A determinaçãp-do regime inicial de cumprimento da pena far-se-á comobservância dos critérios previstos np art. 5B.deste Código).19 Art. 44 do CP: "as penas restritivas de direitos são autónomas e substituem as privativas deliberdade, quando: l - aplicada pena privativa de liberdade não superior a quatro anos e ocrime não for cometido com violêrpia ou grave ameaça à pessoa ou, qualquer que seja a penaaplicada, se o crime for culposo".

Art. 91 - São efeitos da conderfaçãoi.H'- a perda em favor da União, ressalvado o direito dolesado ou de terceiro de boa-fé: i) dos instrumentos do crime, desde que consistam em coisascujo fabrico, alienação, uso, porte au detenção constitua fato ilícito; b) do produto do crime oude qualquer bem ou valor que^ponstitua proveito auferido pelo agente com a prática do fatocriminoso.

Apelação Criminal n"201'4.0001.007'81'9-0 (Èatalha/Vara Única) 24 de 30

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IMPRESCINDÍVEL EXPRESSA MANIFESTA CÃO DOJUÍZO, PARA EFETIVAMENTE POSSIBILITAR ATRANSFERÊNCIA DE PROPRIEDADE. RECURSODESPROVIDO.I . O Tribunal de origem manteve decisão do juízo de primeirainstância que determinou a restituição de bens apreendidos,utilizados na prática de tráfico ilícito de entorpecentes, pornão ter sido decretada a perda dos bens quando prolatada asentença condenatória. 2. A perda dos instrumentos e produtosdo crime de tráfico ilícito de entorpecentes, em favor daUnião, é efeito automático da condenação (art. 91, inciso II,do Código Penal).3. No entanto, ao prolatar a sentença, ainda que automática aperda dos bens, o juiz sentenciante deve manifestar-se arespeito, para que, efetivamente, possa ocorrer a transferênciade propriedade, a teor do art. 48, caput, da Lei n.° 10.409/02,em vigor à época da prolação do édito condenatório,revogado pela atual Lei de Tóxicos (Lei n.° J 1.343/2006) que,em seu art. 63, trouxe a mesma redação. 4. Recursodesprovido.

ERDIMENTO DE BEM. EFEITO DA SENTENÇACONDENATÓRIA. PRÁTICA DE TRÁFICO ILÍCITO DEENTORPECENTES. ART. 243 DA CONSTITUIÇÃOFEDERAL E 63 DA LEI 11.343/06. RESTITUIÇÃO.IMPOSSIBILIDADE. EVENTUAL ABSOLVIÇÃO. VIAINADEQUADA. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃOEVIDENCIADO.1. O perdimento de bens em favor da União pela prática detráfico ilícito de /entorpecentes tem previsão em foroconstitucional (artJ 243) ejdecorre da sentença condenatória,conforme regulamentado/no art. 63 da Lei 11.343/06. 2. Incasu, o perdimento do/veículo foi decretado como efeito dacondenação, não havendo falar em constrangimento ilegal. 3.A restituição dp/veículo só poderia decorrer de eventual

21 STJ - REsp 1133957/^9/64 Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em18/12/2012, DJe 01/02/20"

Apelação Criminal n" 2014.0001.007819-Q (Batalha/Vara Única) 25 de 30

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absolvição, pretensão, contudo, inviável em sede de habeascorpus, pois necessário o exame aprofundado de provas,providência que é inadmissível por meio do habeas corpus,mormente pelo fato de que vigora no processo penal brasileiroo princípio do livre convencimento, em que o julgador podedecidir pela condenação, desde que fundamentadamente. 4.Ordem parcialmente conhecida e, nessa extensão, denegada.22

No caso, o magistrado de 1(> grau consignou na sentençacondenatória que "no caso dos autos, além de outros bens, foramapreendidos um carro, um som (paredão) e uma quantia em dinheiro (fls.13/14 e 37), e deve ser decretado o seu perdimento, pois que o ónus daprova de que os bens possuem origem lícita cabia aos acusados, vez que o§2° do art. 60 da Lei de Drogas traz a inversão do ónus da prova,militando a presunção de que se trata de valor obtido de forma ilícita.Como não foi realizada qualquer prova no sentido da licitude dos mesmos,deve ser decretado o seu perdimento nos moldes do art. 63, §1° da jámencionada lei, devendo ser transferido, após o trânsito em julgado destadecisão para a conta do FUNAB, como manda a legislação vigente. Noque toca especificamente aos 'pen drives', jóias e cartões de memóriasapreendidos, no meu sentir não restou demonstrado a vinculação dosmesmos com as condutas delitivas apuradas, razão pela qual autorizo arestituição dos mesmos aos réus ou seus procuradores com poderes paratal. (...) Para cometer os crimes, os acusados João Batista Br az e LaíceCesário de Oliveira utilizaram dinheiro, entre outros bens apreendidosconforme auto de fls. 13/14. Tendo sido utilizados e/ou adquiridos emdecorrência dos crimes, os bens descritos no referido auto de apreensão, eque pertencem aos acusados, devem ser perdidos em favor da União (art.63 da Lei de Drogas), devendo ser depositada na conta da FUNAD, comomanda a legislação vigente", (fls. 153 e 166)

No caso, o perdima-rífa dos bens em questão foi decretadocomo efeito da condenação, de/rorrjaa fundamentada pelo magistrado de 1°

22 STJ- HC 164.682/SP, Rei. Ministr^JÒRGE MUSSI, QUINTA TURMA, julgado em 06/09/2011DJe 21/09/2011)

Apelação Crimina(n" %)}4.Q001.007f8!9-OftBatalha/Vara Única) 26 de 30

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grau, nos termos dos arts. 60, §2° e 63, §1°, da Lei 11.343/200623, sendoirretocável o julgado.

6. Da negativa do direito de recorrer em liberdade

A negativa do direito de recorrer em liberdade restoufundamentada na sentença. O magistrado consignou que devem sermantidos os decretos de prisão em desfavor dos acusados, porpermanecerem as razões justificadoras da custódia, considerando agravidade do delito de tráfico de drogas e as circunstâncias em que o crimefoi praticado. As provas dos autos dão conta que os acusados vendiamdrogas de alto poder destrutivo em sua residência, local conhecido como"boca de fumo", havendo notícias de que a substância entorpecente crackera vendida, até mesmo, para menores de idade, o que evidencia perigoconcreto à sociedade. Presentes, portanto, as hipóteses previstas no art. 312do CPP, motivos autorizadores da manutenção da prisão.

DISPOSITIVO

Em virtude do exposto, conheço dos apelos e dou-lhes parcialprovimento, absolvendo os apelantes João Batista Braz e Laíce Cesário deOliveira da acusação pelo crime de associação para o tráfico e apenas aLaíce Cesário de Oliveira da acusação do crime de posse de munição,mantendo a condenação dos dois apelantes pelo crime de tráfico de drogase do apelante João Batista Braz também pelo crime de posse de munição,redimensionando a pena do apelante João Batista Braz para o patamardefinitivo de 07 (sete) anos de reclusão, 01 (um) ano de detenção e 710(setecentos e dez) dias-multa, cada dia no valor mínimo, e da apelanteLaíce Cesário de Oliveira para o patamar definitivo de 07 (sete) anos dereclusão e 700 (setecentos^diaS-multa, com o dia multa no valor de umtrinta (1/30) anos do salário mínimo vigente na época do fato delituoso,

13 Art. 63. Ao proferir a senitença/Je mérito, o juiz decidirá sobre o perdimento do produto, bemou valor apreendido, sequestrado ou declarado indisponível. § 1° Os valores apreendidos emdecorrência dos crimes tipificados nesta Lei e que não forem objeto de tutela cautelar, apósdecretado o seu perdimerpo em favor da União, serão revertidos diretamente ao Funad.

Apelação Criminal n°2014.0001.007819-0 (Batalha/Vara Única) 27 de 30

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mantendo o regime inicial fechado para o início do cumprimento da penados apelantes.

E como voto.

gador Erivan LopesRelator

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C E R T I D Ã O

CERTIFICO que, nesta data, na sessão ordinária da Egrégia 2a.CÂMARA ESPECIALIZADA CRIMINAL, presidida pelo Exmo. Sr. Dês.Erivan José da Silva Lopes, foi julgado o presente processo.

DECISÃO: Acordam os componentes da Egrégia 2a

Câmara Especializada Criminal do Tribunal de Justiça do Estado doPiauí, por votação unânime, CONHECER dos apelos e dar-lhesPARCIAL PROVIMENTO, absolvendo os apelantes João Batista Braze Laice Cesário de Oliveira da acusação pelo crime de associação parao tráfico c apenas Laíce Cesário de Oliveira da acusação do crime deposse de munição, mantendo-se a condenação dos dois apelantes pelocrime de tráfico de drogas e do apelante João Batista Braz tambémpelo crime de posse de munição, redimensionando a pena do apelanteJoão Batista Braz para o patamar definitivo de 07 (sete) anos dereclusão, 01 (um) ano de detenção e 710 (setecentos e dez) dias-multa,cada dia no valor mínimo, e da apelante Laíce Cesário de Oliveira parao patamar definitivo de 07 (sete) anos de reclusão e 700 (setecentos)dias-multa, com o dia multa no valor de um trinta (1/30) avos dosalário mínimo vigente na época do fato delituoso, mantendo-se oregime fechado para o inicio do cumprimento da pena dos apelantes.

Participaram do julgamento os Exmos. Srs. Dês. Erivan Joséda Silva Lopes - Relator, Desa. Eulália Maria R. G. N. Pinheiro e Dês.Joaquim Dias de Santana Filho.

Impedido(s): não houve.

Fez sustentação oral o Advogado, Dr. José Augusto Santana,que pugnou: I - que na sentença existem erros materiais; II - não há provada existência do crime de tráfico.

Foi presente o(a) Exmo(a). Sr(a). Dr(a). Alípio de SantanaRibeiro, Procurador de Justiça.

O referido é verdade; dou fé.

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SALA DAS SESSÕES DO EGRÉGIO TRIBUNAL DEJUSTIÇA DO ESTADO DO PIAUÍ, em Teresina, 13 de maio de 2015 -Bela. Célia de Fátima Gonçalves Honório - Secretária.

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