A educação deve ser pensada de forma ampla. O aprendizado dá-se não somente no âmbito dos muros da escola, mas também com a tecnologia, com a família, com os amigos e com o convívio em sociedade e, ainda, com, para e através dos meios de comunicação. Vive-se em meio às Tecnologias da Informação e Comunicação e faz-se necessário entendê-las e inseri-las no cotidiano, seja na educação formal ou informal, tanto como fonte de conhecimento ou como ferramenta para a geração de novos conteúdos. O uso das mídias e das tecnologias tem exigido cada vez mais espaço nas práticas cotidianas, transformando não somente as relações interpessoais, mas também o processo de ensino-aprendizagem. As possibilidades trazidas pelas novas tecnologias têm propiciado, além disso, um novo olhar para a educação, fazendo com que pesquisadores desenvolvam trabalhos especialmente focados na acessibilidade dos conteúdos. A inclusão, neste contexto, vem ganhando alternativas e ferramentas cada vez mais modernas, ampliando e facilitando a formação dos sujeitos. Percebe-se, a partir das pesquisas aqui apresentadas, que as novas tecnologias e as ferramentas midiáticas estão se tornando muito mais do que somente um espaço de socialização, mas, principalmente, o ponto chave para o desenvolvimento de estratégias de aprendizagem e transformação social. O uso do computador, da internet, da televisão, da ficção seriada, das histórias em quadrinhos, do cinema, dos ambientes virtuais e hipermídia, das redes sociais temáticas e de tantos outros meios e formatos apresentam-se além de simples produtos ou tecnologias. Todas estas alternativas, e também os usos destas mídias, chegam para mudar a concepção da aprendizagem formal e da necessidade exclusiva de um espaço institucionalizado para o ensino. As tecnologias e todas as ramificações derivadas estão a todo o tempo ressignificando os papéis dos atores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. O aprimoramento e a criação de novos formatos têm se mostrado urgente e emergente frente aos desafios que estão surgindo em detrimento do acelerado desenvolvimento tecnológico e, especialmente, das novas práticas de consumo das mídias pelos sujeitos. Diante deste contexto, os primeiros quatro capítulos deste livro apresentam pesquisas com foco nas relações e no processo de aprendizagem pelos sujeitos, sejam eles crianças, jovens ou adultos, e também nas práticas e nos usos das mídias. Do quinto ao último capítulos questões relativas à acessibilidade, às ferramentas de ensino-aprendizagem e ao desenvolvimento de ambientes hipermídia são abordadas a partir de diferentes e inovadoras vertentes.
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1. Raul Incio Busarello Patricia Bieging Vania Ribas Ulbricht
organizadores Mdia e Educao: novos olhares para a aprendizagem sem
fronteiras So Paulo, 2013
2. Copyright Pimenta Cultural, alguns direitos reservados. Raul
Incio Busarello, MSc.Capa e Projeto Grfico Patricia Bieging,
MSc.Editorao Eletrnica Prof Dra. Marlia Matos GonalvesComit
Editorial Prof Dra. Vania Ribas Ulbricht Patricia Bieging, MSc.
Raul Incio Busarello, MSc Autores e OrganizadoresReviso Raul Incio
Busarello, MScOrganizadores Patricia Bieging, MSc Prof Dra. Vania
Ribas Ulbricht Dados Internacionais de Catalogao na Publicao (CIP)
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Mdia e Educao: novos olhares para a aprendizagem sem fronteiras /
Raul Incio Busarello, Patricia Bieging e Vania Ribas Ulbricht,
organizadores. - So Paulo: Pimenta Cultural, 2013. 172 p.. Inclui
bibliografia ISBN: 978-85-66832-01-3 (ePub) 978-85-66832-02-0 (PDF)
1. Aprendizagem. 2. Mdia. 3. Tecnologia de Informao e Comunicao. 4.
Mdia-Educao. 5. Alfabetizao. 6. Incluso Digital. 7. Acessibilidade.
8. Ambiente Virtual. I. Busarello, Raul Incio. II. Bieging,
Patricia. III. Ulbricht, Vania Ribas. IV. Ttulo. CDU: 37.01/.09
CDD: 370
3. Sumrio Prefcio
............................................................................................................................
05 Captulo I Pesquisa em Mdia-educao no contexto escolar: do
cruzamento de olhares o encontro de pistas
............................................. 08 Lenice Cauduro
Captulo II A televiso: uma possibilidade frente ao processo de
alfabetizao e letramento de jovens e adultos assentados da reforma
agrria, militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra
de Santa Catarina
........................................................................
26 Leyli Abdala Pires Boemer e Maria Salete de Miranda Captulo III
Entretenimento, informao e aprendizagem: um estudo de recepo de TV
com crianas .....................................................
45 Patricia Bieging Captulo IV A arte e a mdia na cultura da
convergncia: o cinema na escola
.....................................................................................................
59 Alessandra Collao da Silva
4. Captulo V Comunidades de Prtica em Ambientes Virtuais de
Ensino Aprendizagem Acessveis
...........................................................................
72 Vania Ribas Ulbricht e Tarcsio Vanzin Captulo VI Design de
hipermdia: proposta metodolgica
............................................... 90 Marlia Matos
Gonalves e Claudia Regina Batista Captulo VII Redes sociais
temticas apoiando AVEA-I
.......................................................... 118
Vania Ribas Ulbricht, Luiz Antnio Moro Palazzo, Tarcsio Vanzin,
Angela R.B. Flores e Luis Henrique Lindner Captulo VIII A
Compreenso Espacial dos Cegos
.....................................................................
131 Angela R. B. Flores, Ana Lucia Alexandre de Oliveira
Zandomeneghi, Vilma Villarouco e Cludia Mara Scudelari de Macedo
Captulo IX Aprendendo por quadrinhos hipermdia: o discurso de
alunos surdos sobre essa proposta de aprendizagem
............................ 148 Raul Incio Busarello e Vania Ribas
Ulbricht Sobre os Autores
.........................................................................................................
165
5. 05 sumrio Prefcio A educao deve ser pensada de forma ampla.
O aprendizado d-se no somente no mbito dos muros da escola, mas
tambm com a tecnologia, com a famlia, com os amigos e com o convvio
em sociedade e, ainda, com, para e atravs dos meios de comunicao.
Vive-se em meio s Tecnologias da Informao e Comunicao e faz-se
necessrio entend-las e inseri-las no cotidiano, seja na educao
formal ou informal, tanto como fonte de conhecimento ou como
ferramenta para a gerao de novos contedos. O uso das mdias e das
tecnologias tem exigido cada vez mais espao nas prticas cotidianas,
transformando no somente as relaes interpessoais, mas tambm o
processo de ensino-aprendizagem. As possibilidades trazidas pelas
novas tecnologias tm propiciado, alm disso, um novo olhar para a
educao, fazendo com que pesquisadores desenvolvam trabalhos
especialmente focados na acessibilidade dos contedos. A incluso,
neste contexto, vem ganhando alternativas e ferramentas cada vez
mais modernas, ampliando e facilitando a formao dos sujeitos.
Percebe-se, a partir das pesquisas aqui apresentadas, que as novas
tecnologias e as ferramentas miditicas esto se tornando muito mais
do que somente um espao de socializao, mas, principalmente, o ponto
chave para o desenvolvimento de estratgias de aprendizagem e
transformao social. O uso do computador, da internet, da televiso,
da fico seriada, das histrias em quadrinhos, do cinema, dos
ambientes virtuais e hipermdia, das redes sociais temticas e de
tantos outros meios e formatos apresentam-se alm de simples
produtos ou tecnologias. Todas estas alternativas, e tambm os usos
destas mdias, chegam para mudar a concepo da aprendizagem formal e
da necessidade exclusiva de um espao institucionalizado para o
ensino. As
tecnologiasetodasasramificaesderivadasestoatodootemporessignificando
os papis dos atores envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.
O aprimoramento e a criao de novos formatos tm se mostrado urgente
e emergente frente aos desafios que esto surgindo em detrimento do
acelerado desenvolvimento tecnolgico e, especialmente, das novas
prticas de consumo das mdias pelos sujeitos. Diante deste contexto,
os primeiros quatro captulos deste livro apresentam pesquisas com
foco nas relaes e no processo de aprendizagem pelos sujeitos, sejam
eles crianas, jovens ou adultos, e tambm nas prticas e nos usos das
mdias. Do quinto ao ltimo captulos questes relativas
acessibilidade, s
6. 06 sumrio ferramentas de ensino-aprendizagem e ao
desenvolvimento de ambientes hipermdia so abordadas a partir de
diferentes e inovadoras vertentes. No primeiro captulo, Pesquisa em
Mdia-educao no contexto escolar: do cruzamento de olhares o
encontro de pistas, o foco de anlise est centrado
nousodasmdiaspelosprofessoresnaperspectivadaMdia-Educao.Oobjetivo
est em analisar as representaes e os usos das mdias pelos docentes
tanto na esfera pessoal quanto no espao da escola. Na sequncia, A
televiso: uma possibilidade frente ao processo de alfabetizao e
letramento de jovens e adultos assentados da reforma agrria,
militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra de
SantaCatarina,apresentaousodatelevisocomosuportetericometodolgico
para o desenvolvimento de aulas de alfabetizao e letramento de
jovens e adultos do campo do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem
Terra. Entretenimento, informao e aprendizagem: um estudo de recepo
deTV com crianas, no captulo trs, apresenta um estudo de recepo de
televiso com crianas a partir de um seriado e de um desenho
animado. O objetivo centra- se no que as crianas dizem e pensam
sobre os contedos trazidos por estes dois audiovisuais, fazendo com
que estes sejam tambm espaos de aprendizagem. O captulo quatro, A
arte e a mdia na cultura da convergncia: o cinema na escola, traz
uma reflexo pelo vis da Mdia-Educao, acerca da arte e da mdia na
cultura da convergncia, apontando o cinema como um eficaz
instrumento no processo de aprendizagem. Comunidades de Prtica em
Ambientes Virtuais de Ensino Aprendizagem Acessveis, discute a
validade do enfoque proposto pela Teoria da Cognio Situada, que
suporta as Comunidades de Prtica, nos ambientes virtuais de
aprendizagem acessveis para pessoas surdas. Faz tambm uma apreciao
do papel desempenhado pelas Tecnologias de Informao e Comunicao
existentes nessa mediao. O desenvolvimento dos ambientes hipermdia
abordado no captulo Design de Hipermdia: Proposta Metodolgica. O
trabalho tem foco nas diferentes etapas que demandam o conhecimento
dos membros da equipe de produo,
7. 07 sumrio na construo de ambientes hipermdia e tambm na
carncia de metodologias que se moldem a diferentes situaes e
demandas. O captulo Redes sociais temticas apoiando AVEA-I prope a
utilizao da web como meio educacional de maneira inclusiva,
permitindo incrementar os nveis pessoais de autonomia e
compartilhamento de conhecimento. Para tanto, o trabalho apresenta
o prottipo da rede social temtica, criado para servir de apoio as
Comunidades de Prtica de um Ambiente Virtual de Ensino Aprendizagem
Inclusivo (AVEA-I). A compreenso espacial dos cegos, no captulo
oito, discute como um cego interpreta a geometria plana e
tridimensional. Sabe-se que a maior dificuldade de aprendizagem do
deficiente visual reside na compreenso de seu entorno. Desta forma,
o objetivo est em identificar junto aos sujeitos participantes da
pesquisa os aspectos da necessidade do conhecimento, do interesse
no aprendizado e dos conhecimentos sobre a geometria plana. O ltimo
captulo, Aprendendo por quadrinhos hipermdia: o discurso de alunos
surdos sobre essa proposta de aprendizagem, apresenta discursos
sobre as percepes de voluntrios surdos, quanto utilizao de um
prottipo
deobjetodeaprendizagemconstrudocomohistriasemquadrinhoshipermdia.
Evidencia-se a eficincia do objeto criado enquanto ferramenta de
aprendizado. Diante desta pesquisas, torna-se essencial que
pesquisadores, professores, educadores e toda a sociedade
envolvam-se nesta crescente jornada na busca por melhores condies
de ensino e, principalmente, no homogneo compartilhamento do
conhecimento e das informaes de forma alargada e acessvel a todos.
Em pleno sculo XXI, e diante de to avanadas tecnologias, inaceitvel
que ainda tenhamos formas desiguais no acesso aos contedos e,
sobretudo, um grande abismo no que diz respeito acessibilidade das
informaes e da educao plena. Este livro traz pesquisas relevantes
no somente para o espao escolar, mas para o desenvolvimento de
novas formas de aprendizagem considerando as diferenas entre os
sujeitos e o respeito diversidade. Raul Incio Busarello, Patricia
Bieging e Vania Ribas Ulbricht
8. Lenice Cauduro Pesquisa em mdia-educao no contexto escolar:
do cruzamento de olhares o encontro de pistas 1 A Mdia-educao ou
educao para os meios"1" vem se construindo como um campo de saber
situado na interface da comunicao e da educao, em uma perspectiva
crtica, instrumental e produtiva, voltado reflexo, pesquisa e
intervenonosentidodaapropriaocrticaecriativadasmdiasedaconstruo da
cidadania. A interface entre os dois campos representa um
importante espao na formao dos sujeitos e constitui-se como um
lugar de ressignificaes de sentidos sociais, de mediao, que ajuda a
conformar a percepo da realidade; uma agncia que, atuando
juntamente com a escola e outras agncias de socializao, tem
influncia decisiva nos rumos da Histria, segundo Baccega (2008).
Assim sendo, a mdia-educao constitui um espao de reflexo terica
sobre as prticas culturais e tambm se configura num fazer educativo
e que
podeserumapossibilidadefrenteaosdesafiosdereaproximarcultura,educao
e cidadania(FANTIN, 2006, p.37).
9. Pesquisa em mdia-educao no contexto escolar: do cruzamento
de olhares o encontro de pistas Mdia e educao: novos olhares para a
aprendizagem sem fronteiras 09 sumrio Mdia-educao e a escola Cabe
Mdia-educao ou educao para as mdias realizar o estudo sobre os
modos como a instituio escolar e os professores se apropriam das
tecnologias da informao e comunicao (TIC) e o uso educativo que se
faz delas. No caso deste texto, o interesse reside em verificar
como a Mdia-educao tem se efetivado no contexto escolar: em que
medida consiste em uma educao com o uso dos meios (que meios e como
so utilizados), para o uso dos meios ou atravs dos meios"2" .
Ressaltamos a importncia de entender as mdias como fonte de
conhecimento, objeto de estudo e forma de expresso para qualificar
a educao, a partir de uma perspectiva crtica, criativa e
responsvel. Considerando as atuais discusses sobre Mdia-educao,
sobretudo na questo da integrao das mdias e tecnologias na escola,
algumas proposies j so at consideradas senso comum entre estudiosos
da rea, dentre elas: a importncia da utilizao das mdias na escola,
a constatao da falta de recursos fsicos, da falta de formao dos
professores, a falta de polticas pblicas, etc. No entanto, na
escola a questo ainda no est devidamente problematizada: as prticas
e as queixas se reproduzem sem que se sejam vislumbradas
perspectivas de transformao. A discusso terica continua se
desenvolvendo e j envolve o que alguns tericos denominam de nova
Mdia-educao ou New Media Education conforme Rivoltella (2006),
frente ao advento das mdias digitais e as mudanas provocadas no
consumo definidas pela mobilidade, portabilidade e personalizao dos
meios, o que influencia determinantemente a Sociedade da Informao e
do
Conhecimento(DRUETTA,2011).Enquantoisso,naescola,aindanemseconsegue
promover uma integrao adequada das mdias e tecnologias ao processo
de ensino e aprendizagem e muito menos consolidar a perspectiva
inicial da Mdia- educao.
10. Pesquisa em mdia-educao no contexto escolar: do cruzamento
de olhares o encontro de pistas Mdia e educao: novos olhares para a
aprendizagem sem fronteiras 10 sumrio As pesquisas e o percurso
metodolgico nesta perspectiva que este texto vem trabalhar,
apontando o resultado de vrias pesquisas que tiveram esta inteno,
as quais sero apontadas ao longo do texto, tendo como referncia a
pesquisa "Uso dos Meios e Consumos Culturais dos Professores de
Ensino Fundamental" (FANTIN; RIVOLTELLA, 2010). Com base neste
trabalho foi desenvolvida tambm a pesquisa "Representaes e usos das
mdias na escola: de ferramentas para aumentar a motivao
possibilidade de produo crtica e criativa em Mdia-educao" (CAUDURO,
2011). Ambas utilizaram metodologia semelhante para identificar a
problemtica especfica de cada contexto pesquisado, em relao s
representaes, prticas pedaggicas e os usos dos meios nos diferentes
espaos da escola. O processo de construo dos elementos de anlise
contou com estudo terico, a reviso das pesquisas j realizadas sobre
formao em Mdia-educao e o levantamento dos dados obtidos nas
pesquisas empricas. A pesquisa "Uso dos meios e consumos culturais
dos professores" (FANTIN; RIVOLTELLA, 2010) realizada por Monica
Fantin, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com
professores da rede pblica municipal de Florianpolis, e Pier Cesare
Rivoltella da Universit Cattolica del Sacro Cuore (UCSC), de Milo/
Itlia com professores de Milo, com cerca de 50 professores em cada
contexto,
fezummapeamentosobreosusosdosmeioseconsumosculturaisdeprofessores
do Ensino Fundamental, com vistas a pensar uma formao mais
sintonizada com os desafios da educao contempornea (FANTIN, 2009,
p. 5). A pesquisa utilizou questionrio online com uma base digital
na UCSC de Milo, entrevistas e grupos focais com o objetivo de
identificar dificuldades encontradas e boas prticas desenvolvidas
pelos professores alm da organizao de um grupo de estudos e formao
com professores, pesquisadores e representantes do Ncleo de
Tecnologias Educacionais (NTE) que atua com formao continuada. A
pesquisa "Representaes e usos das mdias na escola: de ferramentas
para aumentar a motivao possibilidade de produo crtica e criativa
em Mdia-
11. Pesquisa em mdia-educao no contexto escolar: do cruzamento
de olhares o encontro de pistas Mdia e educao: novos olhares para a
aprendizagem sem fronteiras 11 sumrio educao" (CAUDURO, 2011), foi
realizada com 70 professores de ensino fundamental da rede pblica
municipal de So Jos, SC, mais especificamente do Colgio Municipal
Maria Luiza de Melo, a maior escola pblica municipal do estado.
Este trabalho buscou identificar as representaes que os professores
possuem sobre as mdias e TIC em sala de aula; observar os usos dos
espaos nas prticas educativas dos professores em relao ao uso das
mdias e TIC e sua integrao no cotidiano escolar; analisar as
dificuldades e boas prticas dos professores buscando elementos para
entender a insero ou a ausncia das TIC na escola; refletir sobre a
formao de professores frente s demandas educativas
dousodosmeiosnaperspectivadeserummdia-educador;identificarelementos
para elaborao de pistas para superar as limitaes encontradas e
utilizar as mdias na perspectiva da Mdia-Educao. Alm dessas, as
pesquisas apontadas a seguir tambm exerceram um papel importante na
construo dos elementos de anlise porque tambm dizem respeito aos
usos e consumos das mdias na educao e sua insero nas prticas
pedaggicas tendo em vista a perspectiva da Mdia-Educao e foram
apontadas por Cauduro (2011). A pesquisa "Mdia-educao no Contexto
Escolar: Mapeamento crtico dos trabalhos realizados nas escolas de
Ensino Fundamental em Florianpolis" (PEREIRA, 2008) do Mestrado em
Educao da UFSC, mapeou atividades de Mdia-Educao em escolas de
Ensino Fundamental de Florianpolis envolvendo inicialmente 83
escolas das redes estadual, municipal e particular e depois trs
escolas onde foi aprofundada a observao a respeito dos usos,
dificuldades e solues relacionados s atividades com, sobre e/ou
atravs das mdias no ambiente escolar. A pesquisa "Alm da sala
informatizada: a prtica pedaggica com as mdias na escola" (LINO,
2010) do Mestrado em Educao da UFSC, investigou a prtica pedaggica
de professores em ambientes diferenciados de trabalho com as mdias
na escola, verificando limites e possibilidades desta
utilizao.
12. Pesquisa em mdia-educao no contexto escolar: do cruzamento
de olhares o encontro de pistas Mdia e educao: novos olhares para a
aprendizagem sem fronteiras 12 sumrio A dissertao "Impresses
digitais entre professores e estudantes: um estudo sobre o uso das
tic na formao inicial de professores nas universidades pblicas de
Santa Catarina" (LARA, 2011), do mestrado em Educao da UDESC, traou
um panorama da utilizao social e pedaggica das mdias por
professores e alunos, em oito cursos de formao de professores das
universidades pblicas de Florianpolis. Alm delas, contriburam para
a construo da reflexo as produes existentes nos campos da educao e
comunicao, sobretudo nos ltimos cinco anos, (para selecionar as
discusses mais atuais) sobre Mdia-Educao, formao de professores,
uso das mdias e prticas pedaggicas no Brasil, no banco de
dissertaes e teses da CAPES, nas reunies da Associao Nacional de Ps
Graduao(ANPED),principalmentedosgruposGT16(EducaoeComunicao) e GT8
(Formao de professores) e nas produes da Sociedade Brasileira de
Estudos Interdisciplinares da Comunicao (INTERCOM), no GP Comunicao
Educativa . Alguns aspectos destacados nas pesquisas O primeiro e
indiscutvel aspecto destacado em todas as pesquisas e artigos
consultados evidencia a necessidade de formao inicial e continuada
dos professores e multiplicadores, para alm do carter instrumental
das TIC, fundamental para promover prticas transformadoras. Pereira
(2008, p. 13) sugerea necessidade de uma formao terico prtica dos
professores, a partir, entre outros elementos, das expectativas e
usos que eles mesmos j possuem das mdias. Fantin e Rivoltella
(2010) e Cauduro (2011) encontraram diversos pontos em comum.
Evidenciou-se que os professores em sua maioria possuem acesso a
equipamentos eletrnicos, principalmente computador e internet dos
quais fazem uso frequente, em sua vida pessoal e menor na
profissional. Parte deles no utiliza pedagogicamente os meios
porque no teve oportunidade ou tempo de aprender enquanto outros no
os utilizam porque no querem. Este grupo
13. Pesquisa em mdia-educao no contexto escolar: do cruzamento
de olhares o encontro de pistas Mdia e educao: novos olhares para a
aprendizagem sem fronteiras 13 sumrio o mais difcil de ser atingido
devido sua resistncia, que tem mais a ver com suas concepes de
ensino-aprendizagem do que com outros aspectos como saber usar,
disponibilidade de recursos, etc. Tambm constataram que as
representaes"3" dos professores em relao s mdias dizem respeito
prioritariamente s noes de recursos didticos e ferramentas de
comunicao. Ainda foi possvel constatar que o professor ao utilizar
as mdias em suas aulas possui uma representao de inovao, pois
acredita estar fazendo algo diferente. Entretanto, percebe-se como
mudana superficial, de ferramentas, mas no no formato das aulas e
na concepo de ensino e aprendizagem. Verificou-se tambm alguns
espaos prioritrios de uso das mdias e tecnologias, como as salas
informatizadas e salas de vdeo, por exemplo. A exibio frequente de
filmes e vdeos para os alunos contrasta com a escassez de propostas
de produo audiovisual na escola. Os professores apontaram como
principais dificuldades para a utilizao das mdias em suas aulas, a
falta de recursos (infraestrutura/condies de acesso e/ou manuteno
dos equipamentos), a falta de tempo e a falta de formao em ordem
diferente em cada contexto. Em relao aos consumos culturais
verificou-se pouca participao em atividades culturais (teatro,
cinema, shows, galerias, museus etc), sobretudo por questes
econmicas, falta de tempo, cansao e at por no gostarem. Assistir
televiso e a leitura so as atividades preferidas no tempo livre.
Considerando que a ampliao do repertrio cultural importante para
que
professoresealunosconstruamumabagagemquelhespermitaseremprodutores
criativos, tais dados preocupam. Lino (2010) destaca algumas
iniciativas, como a de incluso e distribuio de computadores e
outros meios nas salas de aula de uma das escolas por ela
observadas (o que poderia resultar em boas prticas no uso das mdias
na escola), porm as considera isoladas e com pouca articulao entre
os pares. E tambm constata: a dificuldade de manuteno dos
equipamentos; as iniciativas no continuadas pela rotatividade dos
professores contratados temporariamente que compromete a implantao
e continuidade de qualquer proposta pedaggica; a pouca discusso
promovida pelas escolas sobre o tema e as
14. Pesquisa em mdia-educao no contexto escolar: do cruzamento
de olhares o encontro de pistas Mdia e educao: novos olhares para a
aprendizagem sem fronteiras 14 sumrio iniciativas insuficientes de
formao pelo Ncleo deTecnologia Municipal (NTM). Apesar de verificar
a presena considervel de tecnologias digitais na escola, a autora
considera sua utilizao limitada, sobretudo ao carter de ferramenta
e/ ou recurso, transferindo velhas prticas para os meios digitais
(LINO, 2010, p.117). Lara (2011) constatou que, apesar de haver
polticas pblicas do MEC para insero das mdias e tecnologias nas
escolas de ensino fundamental (sobretudo
computadorescomacessointernetbandalarga),asuniversidades,responsveis
pelaformaodosfuturosdocentesdessasinstituies,aindanodesenvolveram
polticas para incorporao das tecnologias em sua prpria prtica(LARA,
2011, p. 122). Constatou tambm diferenas entre esses usos pelos
professores e estudantes, sobretudo no fato de os estudantes
utilizarem mais as TIC no mbito social, enquanto os professores
utilizam mais no mbito profissional. No mbito acadmico o uso
limitado e predominantemente instrumental nos dois casos. As
constataes encontradas na pesquisa foram importantes por oferecerem
dados concretos sobre a formao inicial dos professores. Dentre os
artigos consultados, destacamos Santos (2009) que analisa como a
questo da formao dos professores para uso das tecnologias digitais
tem sido contemplada nas reunies anuais da Associao Nacional de
Ps-Graduao e Pesquisa em Educao, nos Grupos de Trabalho Formao de
Professores (GT8) e Educao e Comunicao (GT16), entre 2000 a 2008.
Ela encontrou 26 trabalhos: 11 no GT8 e 15 no GT16 e os resultados
demonstraram: - o crescimento de pesquisas que focalizam essa
temtica em diferentes frentes; - uma formao continuada
descontextualizada, apressada e centrada prioritariamente nas
questes tcnicas do computador/internet; - como produo cultural, as
tecnologias no podem ser excludas da escola, da formao da prtica
docente e das pesquisas.
15. Pesquisa em mdia-educao no contexto escolar: do cruzamento
de olhares o encontro de pistas Mdia e educao: novos olhares para a
aprendizagem sem fronteiras 15 sumrio Sintetizando os trabalhos
consultados na ANPED e INTERCOM, Abranches (2004), Fadel (2005),
Rosalen e Mazzill (2005), Cunha (2006), Gonalves e Nunes (2006),
Zanchetta (2006), Ruaro (2007), Mafra (2007), Andrade (2007), Silva
(2007), Tosta e Santos (2008), Melo (2009), Rodrigues (2009),
Santos (2009), Soares (2009), Schnell (2009), Vosgerau (2009) e
Lopes, Coutinho e Cavicchioli (2010), encontramos alguns aspectos
recorrentes: - apesar de diversos esforos das escolas na insero das
tecnologias, os docentes ainda encontram dificuldades em utilizar
as novas mdias na
prticapedaggica,pornodominaremmetodologicamenteaslinguagens
miditicas, o que remete questo da formao; - a incluso de novas
tecnologias na escola evidencia certa resistncia em
substituirdeterminadas prticas escolares tradicionais; - ainda so
inmeros os desafios para a construo, por parte dos docentes, de
competncias no uso das TIC como interface pedaggica; - a importncia
da reflexo sobre a prtica docente; - a implementao de polticas
pblicas que busquem a efetiva insero das tecnologias digitais na
escola, aliada programas de formao docente; - a discusso acerca da
emergncia de mudanas estruturais e curriculares nas instituies
escolares com a introduo das tecnologias digitais e dos programas
com uso de software livre; - ainda h um longo caminho a percorrer
para que a escola (como um todo) incorpore a Mdia-Educao e
desenvolva prticas afinadas entre a formao de professores e o
contexto de mudanas. Outros trabalhos tambm analisados, que
desenvolveram propostas voltadas para a Mdia-educao, concluram que
a formao continuada, com o uso das
16. Pesquisa em mdia-educao no contexto escolar: do cruzamento
de olhares o encontro de pistas Mdia e educao: novos olhares para a
aprendizagem sem fronteiras 16 sumrio mdias interativas, contribuiu
para que os professores se apropriassem tcnica e pedagogicamente
das TIC (LAURENTINO, 2005; SANTOS SILVA, 2006; SANTOS, 2007;
MENDES, 2008; BIANCHI, 2009). As aes colaborativas em Mdia-Educao
tambmlevaramosprofessoresaodesenvolvimentodeatitudesmaisautnomas e
reflexivas em relao ao seu aprendizado e a estabelecer relaes
dialgicas com os alunos e agentes da escola. O dilogo entre as
pesquisas De posse dos dados das pesquisas e artigos pesquisados
foi possvel estabelecer um dilogo entre eles, encontrar pontos
comuns e buscar algumas pistas sobre o panorama da Mdia-Educao no
contexto escolar e as possibilidades de articulao. Um dos pontos
principais diz respeito ao perfil profissional necessrio para que
um professor seja um mdia-educador, que usa e pensa sobre os meios,
que tem uma leitura crtica em relao a eles e a capacidade de
expressar-se criativamente a respeito das mdias. O desenvolvimento
de uma identidade educativa (RIVOLTELLA, 2001) e as competncias"4"
necessrias a ela. Existem profissionais que tem as mdias integradas
e incorporadas ao seu cotidiano, tanto pessoal como
profissionalmente. Seu uso vai alm do meramente instrumental, porm
a nfase de seu trabalho no est nas mdias em si, mas no processo que
desencadeiam. Estes professores propem o uso, a reflexo crtica, a
criao e produo com as mdias, porm nas escolas pesquisadas este
grupo ainda minoria. As pesquisas no conseguiram encontrar uma
resposta clara sobre o que determina esta diferena em relao aos
outros. H evidncias que nos fazem acreditar naquilo que Schn (2000)
denomina de talento artstico profissional, tipo de competncia
demonstrado pelos profissionais em determinadas situaes de sua
prtica, que dizem respeito ao conhecimento tcito (aquele que o
sujeito tem e s vezes nem consegue descrever). Eles esto
constantemente em busca de novas solues, de ampliar seu repertrio,
de melhorar suas prticas.
17. Pesquisa em mdia-educao no contexto escolar: do cruzamento
de olhares o encontro de pistas Mdia e educao: novos olhares para a
aprendizagem sem fronteiras 17 sumrio
E,nestecaso,amotivaomuitomaispessoaldoquedeterminadaporqualquer
tipo de formao que se possa promover. Outros pontos que se
destacaram: - a constatao da utilizao das mdias na escola
principalmente com o objetivo de aumentar a motivao dos estudantes
para a aprendizagem. Este o carter instrumental de uso delas, como
ferramentas/recursos e apesar de ser um dos aspectos importantes
defendido por autores como Moran (2000), Masetto (2000), Almeida
(2005), Kenski (2007), entre outros, limitar-se a ele restringe
demasiadamente as possibilidades educativas das mdias; - os usos e
consumos culturais dos professores parecem ter influncia no
seuperfilprofissionalevidenciadasnasprticaspedaggicasempobrecidas
com relao s atividades culturais (teatro, cinema, galerias de
arte); - a urgncia em se (re)pensar cursos de formao de professores
para o uso das mdias na escola na perspectiva da Mdia-Educao para
ampliar as possibilidades dessa utilizao. Essa formao deve permitir
que os professores reflitam em conjunto sobre as prticas em
realizao e encontrem diferentes alternativas para avanar no
trabalho de integrao entre mdias e conhecimento. E a implementao de
polticas pblicas de formao de professores que promovam a valorizao
das pessoas e das instituies educativas, em substituio aos modelos
frequentemente oferecidos, que buscam reafirmar o controle sobre
eles (avaliaes profissionais e institucionais); - a necessidade de
se construir competncias adequadas ao perfil do professor
mdia-educador; - a importncia de o professor modificar suas
prticas, com destaque para a disponibilidade, interesse e
curiosidade intelectual que possa impulsionar para as mudanas, ou
seja, de uma motivao pessoal;
18. Pesquisa em mdia-educao no contexto escolar: do cruzamento
de olhares o encontro de pistas Mdia e educao: novos olhares para a
aprendizagem sem fronteiras 18 sumrio - viabilizar alteraes na
organizao escolar que envolvam uma melhor distribuio e otimizao dos
tempos e espaos de aprendizagem. Na perspectiva ecolgica da
mdia-educao, a prtica pedaggica precisa estar articulada aos usos
da cultura no sentido da interao comos objetos que alimentam o
pensar e o fazer na escola e fora dela, com a cultura produzida:
livros, filmes, programas de televiso, peas de teatro, apresentaes
musicais, mostras de dana, exposies, etc.(FANTIN, 2008, p. 157); -
a importncia de se valer da Mdia-Educao na construo da cidadania,
no sentido de desenvolver nos estudantes o sentido crtico e
criativo para que, alm de consumidores, sejam produtores
responsveis de conhecimento. Reconhecer a cultura do uso das mdias
e das possibilidades oferecidas pelas TIC, pelas mdias digitais e
pela Web 2.0, tanto como fonte de informao quanto para a construo,
socializao do conhecimento e ampliao das relaes entre sujeitos e
instituies; - o reconhecimento por parte dos professores da
importncia das mdias no processo educativo, porm a limitao nas
possibilidades de uso por desconhecimento, por falta de
planejamento e momentos de socializao de experincias; - com relao
motivao dos alunos pela utilizao das mdias como recurso didtico, as
pesquisas demonstraram que quando houve xito, ou seja, aumento na
participao e interesse dos alunos foi pela proposta pedaggica
desenvolvida e no pelo uso do equipamento e da ferramenta. Para alm
do uso instrumental indiscutvel que a insero das TIC na escola traz
novos desafios e dificuldades ao trabalho pedaggico. Por esse
motivo preciso compreender a realidade em que atuamos e planejar a
construo de novos cenrios, saberes e competncias para lidar com a
diversidade de acesso s informaes, s possibilidades de
19. Pesquisa em mdia-educao no contexto escolar: do cruzamento
de olhares o encontro de pistas Mdia e educao: novos olhares para a
aprendizagem sem fronteiras 19 sumrio comunicao e interao, s novas
formas de aprender, ensinar e produzir conhecimento, para as quais
talvez no estejamos suficientemente preparados. Logicamente, a
Mdia-Educao no a nica varivel possvel que incide sobre as mudanas e
no se pode resolver todos os problemas s com a introduo de novas
mdias, afirmam Rivoltella e Marazzi (2001). Existem outras condies
particulares que atuam no processo, tais como: condies culturais,
econmicas e de trabalho, relaes interpessoais, etc.. O
desenvolvimento de pesquisas na rea fundamental, sendo
importanteouviros sujeitos pesquisados e estimul- los a pensar
sobre estes dilemas, para buscar solues coletivas e compromet- los
com a transformao. Percebemos isso nas pesquisas quando, a despeito
dos
esforosgovernamentaisparaequiparasescolaseoferecerformaes,asprticas
permanecem defasadas. Outro aspecto que dificulta a mudana a
configurao escolar. As caractersticas de infraestrutura fsica e
organizacional das escolas, o currculo vigente organizado com a
compartimentalizao dos saberes, fragmentado em disciplinas, a
organizao dos tempos e espaos escolares de forma fragmentada com as
aulas divididas em perodos de 45 min., a distribuio dos alunos na
classe e o uso flexvel ou rgido dos horrios so fatores que
configuram e condicionam o ensino. O espao precisa ser repensado em
sua arquitetura, pois a diviso convencional em salas de aula, com
tamanho reduzido, onde cabem no mximo 40 carteiras (como se observa
na maioria das escolas pblicas), prejudica uma reorganizao do
trabalho escolar na perspectiva da presena das TIC em tais espaos.
preciso pensar as salas de aula como ambientes de aprendizagem, com
tamanho e equipamentos adequados para tal, aliado ao uso de outros
espaos. As pesquisas apontadas neste texto, sobretudo Fantin e
Rivoltella (2010) e Cauduro 2011, apresentaram algumas pistas para
a reorganizao escolar, no sentido de ampliar e qualificar as
prticas pedaggicas na perspectiva da Mdia- Educao, que envolvem a
ampliao do espao da sala de aula para outros espaos de cultura,
tanto erudita quanto de massa, como museus, galerias de
20. Pesquisa em mdia-educao no contexto escolar: do cruzamento
de olhares o encontro de pistas Mdia e educao: novos olhares para a
aprendizagem sem fronteiras 20 sumrio arte, parques, cinema, etc.
na perspectiva de umaformao culturalque envolve o amplo repertrio
imagtico, literrio, artstico, musical, miditico, das mais diversas
produes humanas disponveis(FANTIN, 2008, p. 154).
Tambmdestacamserfundamentalaofertadeumaformaoondeosprofessores
reflitam em conjunto sobre as prticas em realizao e encontrem
diferentes
alternativasparaavanarnotrabalhodeintegraoentremdiaseconhecimento,
pois ns profissionais avanamos na medida em que compreendemos e
fundamentamos o que fazemos, na medida em que podemos refletir
sobre isso e encontrar os motivos de nossa atuao (ZABALLA, 1998, p.
223). Talvez uma possibilidade interessante pudesse ser a mescla da
formao, presencial e online, o que podemos denominar de modalidade
blended. Afinal, o processo ensino- aprendizagem online, ainda no
est devidamente explorado na formao de professores e muito menos na
educao escolar. Esse exerccio possibilitaria a familiarizao com a
multiplicidade de cdigos lingusticos oferecidos pela tecnologia
digital (textos, hipertextos, imagens, sons, animaes) o que pode
favorecer estilos singulares de aprendizagem, que muitas vezes no
acontece numa situao presencial. Esse processo devidamente mediado
oferece vantagens como, por exemplo, flexibilidade, abrangncia,
dinamicidade, mediao pela internet, entre outras, o que
potencializa a comunicao entre os
sujeitos,encurtandotempoedistnciaefavoreceoacessoilimitadoinformao,
s trocas instantneas, produo coletiva do conhecimento e,
principalmente, pressupe uma lgica no linear e hierarquizada dos
saberes. E, por fim, mas no esgotando a questo, preciso reconhecer
a necessidade de mudana das concepes tericas ou empricas sobre
ensino e aprendizagem, que no conseguem deslocar o foco do
professor, como aquele que ensina e o aluno aquele que deve
aprender com ele. Que o professor assuma o papel de mediador entre
os alunos e a cultura mais ampla, promovendo a integrao das
diferentes mdias no cotidiano escolar, como fonte de conhecimento,
como objeto de estudo e, sobretudo, como forma de expresso, que
possibilite interpretar, problematizar e produzir os mais
diferentes textos de forma crtica e
criativa,utilizandotodososmeios,linguagensetecnologiasdisponveis(FANTIN,
2008, p. 69).
21. Pesquisa em mdia-educao no contexto escolar: do cruzamento
de olhares o encontro de pistas Mdia e educao: novos olhares para a
aprendizagem sem fronteiras 21 sumrio Neste sentido, este texto
pretendeu buscar, nas produes tericas acadmicas,
algumauxlioparavisualizarasmudanasnecessrias,colocandooconhecimento
j produzido em circulao e em dilogo com as prticas efetivamente
realizadas na escola. Longe de esgotar a questo e oferecer receitas
pretende desencadear novas reflexes. Notas 1. Media education, em
ingls; ducation aux mdias, em francs; educacin en los mdios, em
espanhol, educao e media em portugus (BELLONI, 2005, p. 9). (p. 8)
2. Para ou sobre os meios, refere-se ao estudo e anlise dos
contedos presentes nos diferentes meios e suas linguagens. Com os
meios, trata-se do uso dos meios e suas linguagens como ferramenta
de apoio s atividades didticas. E atravs dos meios, diz respeito a
produo de contedos curriculares para e com os meios, em sala de
aula e, tambm, a educao a distncia ou virtual, quando o meio se
transforma no ambiente em que os processos de ensino-aprendizagem
ocorrem. (http://www.revistapontocom.org.br/
entrevista/midiaeducacao-em-debate). (p. 09) 3. Utilizamos o
conceito de representaes de Moscovici (2009) para quem as
representaes seriam a forma de conhecer, uma espcie de traduo e de
verso da realidade feita por determinado grupo, de acordo com sua
cultura, suas informaes, crenas, opinies e valores. (p. 13) 4.
Neste trabalho o conceito de competncia entendido como saber de ao
(RIVOLTELLA, 2010). Na direo do que props Perrenoud (2000),
competncia a capacidade de mobilizar um conjunto de recursos
cognitivos (saberes, capacidades, informaes, etc.) para solucionar
com pertinncia e eficcia uma srie de situaes. (p. 16) Referncias
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26. Leyli Abdala Pires Boemer Maria Salete de Miranda A
televiso: uma possibilidade frente ao processo de alfabetizao e
letramento de jovens e adultos assentados da reforma agrria,
militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra de Santa
Catarina 2 Embora o MST, ao longo de quase trs dcadas de existncia,
tenha acumulado significativa experincia no campo educacional e,
por conseguinte, investido paulatinamente e logrado grandes xitos
no referido campo, o ndice de analfabetismo em sua base continua
expressivo. De acordo com Documento do MST, em uma pesquisa
realizada em 2007 a situao educacional nas reas de assentamentos e
acampamentos revela que nesses lugares 23% dos adultos so
analfabetos(MST, 2007). Segundo a mesma fonte, no que se refere ao
meio rural brasileiro:
27. A televiso: uma possibilidade frente ao processo de
alfabetizao e letramento de jovens e adultos assentados da reforma
agrria, militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra
de santa catarina Mdia e educao: novos olhares para a aprendizagem
sem fronteiras 27 sumrio O ndice de analfabetismo entre os adultos
(acima de 15 anos) de 28,7%, enquanto que na zona urbana o ndice de
10,2%. Num total de 15 milhes de brasileiros adultos que no sabem
ler nem escrever (MST, 2007, p.7). Conforme depoimento deVargas
(2007), membro do Setor Nacional de Educao do Movimento, numa
pesquisa realizada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas
Educacionais (INEP) sobre a educao no campo demonstra que o
analfabetismo no meio rural ainda muito expressivo. Tal situao
demonstra que a garantia do ensino fundamental, obrigatrio e
gratuito, inclusive para os que no tiveram acesso na idade prpria
conforme fixado no inciso I, artigo 4, da Lei de Diretrizes e Bases
da Educao, de 1996 (Cf. Brasil, MEC, 2005) no vem sendo cumprida. E
que as maiores taxas de analfabetismo esto nas cidades do norte e
nordeste brasileiro (VARGAS, 2007). O INEP aponta que esse
percentual de analfabetismo, de 28,7%, no meio rural quase trs
vezes superior se comparado com o ndice de analfabetismo na rea
urbana. Segundo a mesma fonte, os contrastes regionais so
acentuados, como por exemplo, no Nordeste onde esse percentual de
40,7%, alcanando 49,2% no Estado do Piau. Segundo o INEP, os
menores ndices de analfabetismo esto na Regio Sul, com 11,9% de
analfabetos na rea rural (INEP apud MST, 2007). Segundo Lenzi
(2010), o Ministrio de Desenvolvimento Agrrio (MDA), em relatrio de
2008, aponta que na faixa etria de 40 anos ou mais onde se
concentra um elevado percentual de analfabetos, e que, enquanto na
rea urbana o percentual de 7,3% na rea rural de 27,1%. Conforme a
autora: Quanto s diferenas das taxas de analfabetismo entre campo e
cidade, na populao da zona rural de 15 anos ou mais se observa que,
enquanto, em 1996, era de 31%, em 2006, tem-se 22,2%, enquanto nas
reas urbanas era 10,8%, em 2006, de 8% (LENZI, 2010, p.82-83).
28. A televiso: uma possibilidade frente ao processo de
alfabetizao e letramento de jovens e adultos assentados da reforma
agrria, militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra
de santa catarina Mdia e educao: novos olhares para a aprendizagem
sem fronteiras 28 sumrio Assim posto, compreende-se que, embora
tenha havido uma diminuio nesses percentuais, permanece o cenrio de
desigualdades, o qual demanda uma mudana mais significativa e
urgente, no que se refere ao fenmeno do analfabetismo no campo,
pois ainda, de acordo com Lenzi (2010) As mudanas propagadas pelos
programas de alfabetizao ou de escolarizao para jovens e adultos no
objetivam uma poltica prpria, pois de modo geral tm seus interesses
majoritariamente marcados mais
peladiminuiodosndicesdeanalfabetismodoquepelosprpriossujeitos
(LENZI, 2010, p.83) Boemer (2010), articulando a concepo de sujeito
com as questes de alfabetizao e letramento"1" , considera que: Os
limites dos investimentos governamentais e o princpio educativo de
uma sociedade baseada no modo de produo capitalista, por meio de
suas polticas educacionais, no oportunizam uma educao de qualidade,
nem tampouco promovem articulao do letramento com a alfabetizao.
(Boemer, 2010, p.32,33) Ainda, de acordo com a autora outra
dificuldade que se observa na formao dos
educandosdocampodizrespeito,tambm,scondiesdifceisdesobrevivncia s
quais esto submetidos jovens e adultos, tais como: a falta de tempo
para os estudos devido s longas jornadas de trabalho, dificuldades
no acesso escola e, escassez de material e recursos didticos
disponveis nos programas oficiais. De acordo com Lenzi (2010),
apesar de ter sido proclamado o direito de todos educao na
Constituio Federal de 1988, apenas em 2001 foi elaborada e aprovada
a Resoluo CNE/CEB n 1, de 03 de abril de 2002, para a Educao Bsica
nas Escolas do Campo (LENZI, 2010, p.83). Deste perodo em diante,
embora tenha se avanado de forma significativa, a luta pela
garantia deste direito e, por conseguinte, as condies de reavaliao
ou prticas sociais marcadas pela linguagem escrita continuam em
curso e vm sendo a bandeira
29. A televiso: uma possibilidade frente ao processo de
alfabetizao e letramento de jovens e adultos assentados da reforma
agrria, militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra
de santa catarina Mdia e educao: novos olhares para a aprendizagem
sem fronteiras 29 sumrio
delutademuitoseducadoresemovimentossociaisengajadosnestaproblemtica,
e, de modo especial, o MST. Diante do problema do analfabetismo no
campo, especificamente nos assentamentos rurais, no perodo
compreendido entre 2006 e 2007, o MST adotou um mtodo de
alfabetizao oferecido solidariamente pelo governo cubano. O mtodo
chamadoMtodo de Alfabetizao Sim, eu posso, traduzido do ttulo
original Yo, s puedo, foi elaborado pelo Instituto Pedaggico
Latino- americano e Caribenho de Cuba (IPLAC), sob a
responsabilidade e organizao da Professora Leonela Ins Relyz Daz"2"
. Este mtodo, recm aplicado nas atividades destinadas alfabetizao
de jovens e adultos desse Movimento, busca rapidez no processo de
alfabetizao dos educandos devido ao alto ndice de analfabetismo no
campo. Esta pesquisa, resultante de nossa dissertao de mestrado,
buscou perceber como se deu esse processo de alfabetizao pela via
tecnolgica e, por conseguinte, se o mesmo possibilitou o letramento
dos jovens e adultos. O conceito de letramento, neste trabalho,
circunscreve-se na perspectiva de uma educao omnilateral (Manacorda
2007): que reconhea os sujeitos na sua totalidade e libertadora
(Paulo Freire 2010): educao como princpio de liberdade. As questes
de pesquisa deste trabalho tiveram por base a formao integral
defendida pelo MST e os conhecimentos sobre o Mtodo Yo si puedo
(Sim, eu posso), quando tivemos um primeiro contato em seu
lanamento oficial durante o Congresso Internacional de Pedagogia,
realizado em Havana (Cuba), no ano de 2005, e, em meados de 2006,
quando participamos da capacitao sobre o mtodo na cidade de Chapec,
Santa Catarina. Ministrada por um professor
cubanoestacapacitaoeradestinadaslideranasdomovimento,coordenao do
setor estadual de educao e monitores"3" que iriam aplicar o mtodo
nas turmas de EJA em Santa Catarina. A partir da, surgiram algumas
indagaes quanto ao uso do mtodo no que diz respeito preocupao com o
letramento dos educandos defendido pelo MST em suas atividades
educacionais, quer sejam:
30. A televiso: uma possibilidade frente ao processo de
alfabetizao e letramento de jovens e adultos assentados da reforma
agrria, militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra
de santa catarina Mdia e educao: novos olhares para a aprendizagem
sem fronteiras 30 sumrio Quais as contribuies do Mtodo de
AlfabetizaoSim, eu possopara o processo de letramento dos sujeitos
educandos em uma turma de EJA do MST. O mtodoSim, eu possocontempla
os princpios polticos pedaggicos e filosficos"4" postulados pelo
MST? Para este trabalho, adotou-se como metodologia a pesquisa
qualitativa, valendo- se, no entanto, de dados quantitativos para
uma anlise mais detalhada das questes. Compreende-se que a
perspectiva qualitativa contribui para uma melhor compreenso da
experincia humana, bem como do fenmeno social a ser analisado. A
anlise dos dados deu-se a partir das entrevistas e dos estudos
tericos feitos com base no material fornecido pelo governo
cubano"5" e, por referencial bibliogrfico alinhado perspectiva
terica do materialismo histrico e dialtico. Foram realizados
estudos sobre a origem e operacionalizao do mtodo na obraYo si
puedo(Sim eu posso) e sobre os conceitos centrais e seus
respectivos
autores,taiscomo:oconceitodeletramentodeSoares(2003)eodealfabetizao
de Freire (2007). Quanto ao campo de pesquisa, trata-se de uma
turma de EJA sob a responsabilidade do educador Jos dos Santos"6" ,
localizada no Assentamento So Jos, no Municpio de Campos Novos, no
Estado de Santa Catarina, que adotou o referido mtodo de
alfabetizao atravs do MST. Ressalve-se que esta pesquisa no teve a
pretenso de responder qual o melhor mtodo a ser aplicado, tampouco
apontar uma frmulamgicapara resolver os problemas do analfabetismo
dos sujeitos jovens e adultos do campo. Entretanto, luz da reflexo
crtica, pretendeu-se estabelecer questionamentos acerca do fenmeno
pesquisado, apontando alguns indicativos passveis de contribuir com
a Alfabetizao de Jovens e Adultos, em especial junto aos movimentos
sociais organizados. Acredita-se, ainda, que esse estudo e as
reflexes dele
31. A televiso: uma possibilidade frente ao processo de
alfabetizao e letramento de jovens e adultos assentados da reforma
agrria, militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra
de santa catarina Mdia e educao: novos olhares para a aprendizagem
sem fronteiras 31 sumrio oriundas possam servir de referncia para
outros programas e instituies que trabalham com a EJA. O MST e a
questo da alfabetizao: contexto histrico Algumas questes referentes
educao do campo no so muito diferentes do
queseobservanocenriodaeducao,emgerale,porconseguinte,naeducao de
jovens e adultos no Brasil. Haja vista os ndices referentes ao
analfabetismo no referido pas, apresentados na introduo deste
trabalho, e acrescentando aos mesmos dados o cenrio poltico, social
e econmico nos quais esto inseridos
ossujeitosdaclassetrabalhadoradenossopassepoderefletirsobreascondies
postas e impostas aos mesmos, de modo especial os trabalhadores do
campo. Independentemente de a educao estar voltada para o campo ou
para a cidade, o que se coloca como um dos fenmenos, dentre outros,
que se alinha a esses dois espaos o controle e a submisso da classe
trabalhadora frente ao sistema capitalista e o pouco investimento
do Estado no que concerne s polticas pblicas que contemplem e
atendam as necessidades na esfera da educao de Jovens e Adultos, em
mbito nacional. Embora no se tenha pretendido para esta pesquisa
fazer um resgate histrico acerca da dualidade campo e cidade, isso
no significa que essa reflexo no seja importante, pois seus
desdobramentos sociais, polticos, educacionais e outros, assolam a
classe trabalhadora desde longa data. E, ressaltando que essa
concepo dicotmica vem sendo propagada ao longo de nossa histria,
por vezes, pejorativamente e de modo perverso, fato que no se pode
ignorar nem desconsiderar, uma vez que tal concepo ainda persiste
nos tempos atuais. Pois, como nos apontam: H uma tendncia dominante
em nosso pas, marcado por excluses e desigualdades, de considerar a
maioria da populao que vive no campo como a parte atrasada e fora
de lugar no almejado projeto de modernidade.
32. A televiso: uma possibilidade frente ao processo de
alfabetizao e letramento de jovens e adultos assentados da reforma
agrria, militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra
de santa catarina Mdia e educao: novos olhares para a aprendizagem
sem fronteiras 32 sumrio No modelo de desenvolvimento, que v o
Brasil como um mercado emergente, predominantemente urbano,
camponeses e indgenas so vistos como espcies em extino (CALDART et
all, 2004, p.21). Segundo os mesmos autores, ao tomar como princpio
as premissas acima citadas, as nicas polticas pblicas voltadas para
esses indivduos no seriam outras se no polticas de cunho
compensatrio sua prpria condio de inferioridade, e/ou diante de
presses sociais (CALDART, 2004, p 21.) Ou seja, para que os povos
do campo sejam olhados com respeito, reconhecimento e dignidade h
que haver presses principalmente por parte dos movimentos sociais,
o que j vem ocorrendo h praticamente trs dcadas.
Nestesentido,precisonoapenasrompercomestalgicaquecolocamargem e
estigmatiza os sujeitos do campo, como tambm reconhec-los como
sujeitos histricos que ao longo de suas vidas vm contribuindo de
forma significativa no s para o desenvolvimento econmico do pas,
como tambm para a transformao da sociedade brasileira forjada nos
princpios da desigualdade, da expropriao e explorao dos
trabalhadores. Por reconhecer as especificidades dos povos do
campo, bem como sua cultura, suas experincias e seus saberes,
defende-se uma educao que esteja voltada realidade desses sujeitos
histricos em seus respectivos espaos. Portanto, devemos conceber a
educao como um direito universal e democrtico, tanto para o campo
quanto para a cidade, no perdendo de vista as especificidades
prprias de cada realidade. A referncia educao do campo sob a tica
do direito, o qual vem sendo conquistado paulatinamente por alguns
segmentos da sociedade e, principalmente, pelos movimentos sociais,
remete ao MST, o qual, desde sua fundao, ocorrida na dcada de 1980,
sempre manifestou preocupaes com a questo da educao em seus
acampamentos e assentamentos, e, em seu percurso histrico, vem
buscando e desenvolvendo propostas pedaggicas com o intuito de
educar sua base.
33. A televiso: uma possibilidade frente ao processo de
alfabetizao e letramento de jovens e adultos assentados da reforma
agrria, militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra
de santa catarina Mdia e educao: novos olhares para a aprendizagem
sem fronteiras 33 sumrio Nessa perspectiva h que se considerar a
busca de alternativas que possibilitem a incluso destes sujeitos ao
processo educativo ao qual foram de certa forma, durante dcadas,
alijados deste direito. Sendo assim o uso do mtodo ofertado pelo
governo cubano ao que parece teve um carter emergencial e de certa
forma experiencial, carecendo, portanto de anlises que possam no
mnimo aprofundar o debate sobre a eficincia ou no de seu uso pelo
MST. Sabe-se que o Movimento expressa a preocupao com a formao
humana tendo como princpio a integralidade dos conhecimentos que se
d em suas mltiplas dimenses do pensar e agir dos sujeitos sociais,
ao mesmo tempo, que incorpora novos valores e se conscientiza de
sua insero numa sociedade contraditria aos princpios de igualdade e
solidariedade. Tais preocupaes se expressam num conjunto de
princpios poltico-pedaggicos e filosficos presentes em suas
deliberaes congressuais, resolues e publicaes, que do sustentao sua
prtica.Nestaperspectiva,oMSTentendequeaescola:nodeveservistaapenas
como um lugar de aprender a ler, escrever e contar, mas tambm de
formao dos sem-terra, como trabalhadores, militantes, cidados,
sujeitos (CALDART, 2000, p.174). Vale ressaltar que nas ltimas
dcadas, o MST tem expressado significativa preocupao com a educao
de seus assentados e acampados. O Movimento vem dedicando especial
ateno questo da alfabetizao balizada por Freire (2002), este autor
defende uma concepo de alfabetizao conscientizadora, a qual
preconiza a leitura da palavra e a leitura do mundo, onde a leitura
do mundo precede a leitura da palavra (FREIRE, 2002, p. 11),
configurando-se, portanto, numa pedagogia libertadora. Como podemos
perceber o MST tem claro seu objetivo, tanto no que diz respeito
luta pela terra como a luta pela educao e por escolas que se
alinhem cultura do campo, visto pelos movimentos sociais e em
especial pelo MST, pois no de qualquer campo que o movimento trata,
mas sim o campo onde vivem, trabalham e se constituem sujeitos
crticos, criativos, conscientes de seu papel na sociedade, e,
portanto sujeitos histricos e revolucionrios. Neste contexto, o MST
busca atravs do mtodoYo si puedoalfabetizar os seus
34. A televiso: uma possibilidade frente ao processo de
alfabetizao e letramento de jovens e adultos assentados da reforma
agrria, militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra
de santa catarina Mdia e educao: novos olhares para a aprendizagem
sem fronteiras 34 sumrio integrantes, proporcionando a continuidade
dos estudos em outras esferas da escolarizao, uma vez que para esse
movimento a educao uma expressiva ferramenta de luta contra as
formas de explorao e dominao. No entanto o movimento considera que,
o uso do mtodo cuja proposta alfabetizar pela via da televiso deve
alinhar-se aos princpios polticos, educacionais e filosficos do MST
que propaga e defende uma educao calcada nos princpios da
omnilateralidade. Ou seja, uma educao que reconhea os sujeitos em
sua totalidade como diz Manacorda (2007, p.89): A omnilateralidade
, portanto, a chegada histrica do homem a uma totalidade de
capacidades produtivas e, ao mesmo tempo, a uma totalidade de
capacidades de consumo e prazeres, em que se deve considerar,
sobretudo o gozo daqueles bens espirituais, alm dos materiais.
Entendendo que o MST expressa seus princpios de acordo com o autor
acima citado, compreende-se que mesmo que o mtodo de alfabetizao
Sim, eu posso, da forma como foi apresentado, no vislumbre os
mesmos objetivos, fez- se necessrio pelo referido movimento
experiment-lo levando em conta suas necessidades emergenciais
frente questo da alfabetizao. Neste sentido, reconhecendo a
possibilidade de utilizao do mtodo aliado a uma proposta
diferenciada compreende-se relevante apresentar a mensagem
proferida por Fidel Castro Ruz"7" , durante oV Congresso Nacional
do MST realizado entre os dias 11 e 14 de junho de 2007 em Braslia,
acerca do mtodo de alfabetizao Yo, si puedo. A concepo que expomos
para a alfabetizao mediante a utilizao dos meios de comunicao de
massa vai mais alm da simples aquisio de habilidades e destrezas no
manejo das letras e dos nmeros, est voltada, tambm, ao melhoramento
das funes que na vida cotidiana os seres humanos realizam
(funcional) e ao incremento da tomada de conscincia, de tal forma
que se produzam as transformaes necessrias em seus modos de atuao e
de vida (conscientizadora). Esta uma concepo com carter integrador,
que proporciona o dilogo constante, dialgica; a
35. A televiso: uma possibilidade frente ao processo de
alfabetizao e letramento de jovens e adultos assentados da reforma
agrria, militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra
de santa catarina Mdia e educao: novos olhares para a aprendizagem
sem fronteiras 35 sumrio reflexo oportuna frente a temticas e
situaes de carter objetivo e subjetivo, reflexiva e facilitadora do
debate e da discusso, problematizadora. (Fidel Castro Ruz, 3 de
setembro de 2007. Fonte: http://
www.cubadebate.cu/index.php?tpl=design/especiales.tpl.html&newsid_
obj_id=9841. Acesso em: 20 set. 2007, traduo nossa, grifos das
autoras) Segundo Daz (2005), Cuba vem trabalhando desde 1999 na
implantao do mtodo de alfabetizaoYo s puedocuja primeira experincia
ocorreu naquele mesmo ano no Haiti por meio de rdio, devido
precariedade e/ou dificuldade em contar com o aparelho televisivo.
Posteriormente a Venezuela, mais precisamente em 2003, adotou o
mtodo, utilizando como recurso audiovisual a televiso, onde mais de
um milho de venezuelanos foram alfabetizados. A alfabetizao por
meio do rdio, aplicado primeiramente no Haiti, uma
modalidadequepodeserconsideradacomoeducaodistncia,principalmente
nos pases pobres com poucos recursos econmicos e tcnicos, a
alfabetizao por radio pode converter-se em uma das principais
formas de erradicar o analfabetismo(DAZ, 2005, p. 16, traduo
nossa). Daz explica que Cuba disponibiliza a todos os pases que
necessitam e solicitam, o mtodo de alfabetizao, seja por rdio ou
televiso, pois, segundo a autora, ficou provado que esta experincia
demonstrou que possvel erradicar o analfabetismo, sobre tudo , se
encararmos como uma tarefa educativa de toda a sociedade(DAZ, 2005,
p. 15, traduo nossa). O mtodo de afabetizaoYo, si puedo O programa
de alfabetizao Yo, s Puedo teve como inspirao e objetivos polticos
a campanha de alfabetizao realizada em Cuba em 1961"8" que envolveu
toda a sociedade, sendo o primeiro pas da Amrica Latina a
solucionar o problema do analfabetismo ao mesmo tempo em que
demarcou a revoluo cubana. Referenciando as palavras de Fidel
Castro na mensagem acima, observa- se que a proposta de alfabetizao
utilizada pelo mtodo Yo si puedo, mesmo fazendo uso de meios de
comunicao de massa, alinha-se a uma concepo de
36. A televiso: uma possibilidade frente ao processo de
alfabetizao e letramento de jovens e adultos assentados da reforma
agrria, militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra
de santa catarina Mdia e educao: novos olhares para a aprendizagem
sem fronteiras 36 sumrio educao emancipatria e libertadora, dentro
dos princpios de educao do MST. Neste sentido, embalado pelas
palavras da mensagem de Fidel Castro, o monitor designado para
aplicar o mtodo numa turma de alunos jovens e adultos do
Assentamento So Jos no municpio de Campos Novos em Santa Catarina,
ousou ir alm da proposta apresentada e fez a diferena. O monitor,
integrante e liderana do movimento, calejado pelas experincias de
luta, com um vasto acmulo em educao no campo participou da
capacitao
eviuapossibilidadedetrabalharcomomtodonumaperspectivaemancipatria.
De acordo com o monitor em resposta s entrevistas, o mtodo de
alfabetizao cubano, em sua gnese propunha-se apenas ao exerccio de
codificao e decodificao dos smbolos grficos, ou seja, ensinar a ler
e escrever palavras, frases e pequenos textos revelando, portanto,
uma proposta de alfabetizao tradicional e restrita. Lembrando que
tanto o monitor quanto um conjunto de integrantes do setor de
educao em nvel nacional e estadual do movimento tinha suas
ressalvas frente proposta do mtodo. Ou seja, tinha conscincia que o
mesmo era limitado no que tange a uma proposta de
educao-alfabetizao omnilateral totalizadora e emancipadora.
Analisando o material a ser usado, concordamos com o monitor, ao
verificar que o mtodo utilizava como ponto de partida a lgica
alfanumrica, ou seja, a combinao ou associao entre nmeros e letras,
bem como a necessidade rigorosa do uso de uma cartilha que
auxiliasse no processo de alfabetizao, utilizando a televiso como
via principal. De acordo com Daz (2005): Durante a observao se
comprovou que os analfabetos principalmente homens, jogavam domin
com destreza e calculavam a quantidade obtida pelos ganhadores com
facilidade, s vezes muito mais rpido que qualquer
37. A televiso: uma possibilidade frente ao processo de
alfabetizao e letramento de jovens e adultos assentados da reforma
agrria, militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra
de santa catarina Mdia e educao: novos olhares para a aprendizagem
sem fronteiras 37 sumrio letrado. Como as mulheres tinham uma vida
muito ativa no mercado, nenhuma se confundia ao cobrar determinada
mercadoria [...]. Assim, se compreendeu o grande valor pedaggico da
idia de que os nmeros podiam converter-se em um ponto de apoio para
a aprendizagem da escrita e da leitura. (DAZ, 2005, p. 41, traduo
nossa) Ora, no que se refere facilidade em lidar com nmeros,
principalmente com dinheiro, sabe-se que este um fenmeno comum a um
expressivo nmero de pessoas no alfabetizadas independente do seu
pas de origem. Assim como lidar com as contas de cabea" uma
capacidade de abstrao que no passa pela aprendizagem escolar, mas
engendrada na prtica cotidiana daqueles/as que no so alfabetizados
e/ou nunca frequentaram a escola. De acordo com o (IPLAC, [2000]),
a Cartilha foi elaborada de forma bem simples, apresentando o mesmo
formato em todas as pginas, estabelecendo um vnculo entre os nmeros
e letras, possibilitando ao analfabeto a compreenso do processo de
associao entre o conhecido que so os nmeros e o desconhecido que so
as letras. Sendo a utilizao da numerao uma varivel facilitadora
frente ao processo de ensino e aprendizagem, uma vez que se atribui
um nmero a cada letra. Verificou-se tambm que a aplicao do mtodo
deve ter a durao de trs meses e segue trs etapas intituladas:
adestramento, ensino da leitura e escrita e consolidao. A primeira
etapa intitula-se adestramento e se destina a capacitar e treinar,
ou seja, preparar os educandos para a aprendizagem da leitura e da
escrita. Nesta etapa, faz-se necessrio trabalhar algumas
habilidades psicomotoras, devendo desenvolver exerccios de
coordenao motora ampla e fina, levando em conta que muitos
educandos nunca frequentaram a escola e nem pegaram num lpis,
destinando-se tambm ao estmulo e motivao dos mesmos que dever estar
presente em todo o processo de ensino-aprendizagem. A segunda etapa
compreende o ensino da leitura e escrita, a qual:
38. A televiso: uma possibilidade frente ao processo de
alfabetizao e letramento de jovens e adultos assentados da reforma
agrria, militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra
de santa catarina Mdia e educao: novos olhares para a aprendizagem
sem fronteiras 38 sumrio Dedicam-se quarenta e duas aulas para a
aprendizagem da leitura e escrita. Em vinte e trs delas se aprende
a cada dia uma nova letra ou fonema e as dezenove restantes vo
introduzindo dificuldades, como o caso das combinaes: ce-ci,
gue-gui (DAZ, 2005, p. 59, traduo nossa). A terceira etapa
intitula-se consolidao, que sinteticamente destina-se fixao dos
conhecimentos adquiridos pelos educandos, sendo previsto para a
mesma 11 aulas as quais so programadas para a consolidao das letras
estudadas. As cinco aulas finais so dedicadas ao exerccio dos
elementos relativos redao de pargrafos e cartas. Nesta etapa
espera-se que os educandos pratiquem exerccios que desenvolvam a
escrita e leitura compreensiva, mesmo que seja num nvel elementar
ou simples. Os mesmos tambm devem organizar as palavras de forma
que as mesmas possam resultar em um enunciado lgico. Esta etapa,
por ser a ltima, de suma importncia no processo de alfabetizao,
pois como mencionado anteriormente, nela que o alfabetizando vai
revelar sua fixao frente ao que aprendeu. O papel do monitor no
mtodoYo si puedo Partindo desta pequena explanao sobre o mtodoYo si
puedo(Sim eu posso), cabe esclarecer que o monitor Jos dos Santos,
atuando como educador (a partir deste momento citamos o monitor
como educador) fez uso de todo o material proposto, no entanto todo
esse material, inclusive a televiso foi utilizado apenas como
suporte. O educador trabalhou por meio de temas geradores, tendo
como principal referencial terico os postulados de Paulo Freire
encampados tambm pelo MST em outros projetos educativos. Tambm
trabalhou no sim, eu posso com questes de cunho poltico, social e
econmico, o que para o movimento denominado de anlise de
conjuntura, sendo esta imprescindvel em todo o conjunto de suas
aes, fato este, que pode ser observado nos princpios pedaggicos do
referido movimento. Na fala do educador: no d pra ficar s nos
contedos das matrias sem discutir anlise de conjuntura que tambm um
contedo, s que no da escola (Jos). Esta fala est referendada no 4
princpio pedaggico conforme j explicitado, sendo que neste princpio
os
39. A televiso: uma possibilidade frente ao processo de
alfabetizao e letramento de jovens e adultos assentados da reforma
agrria, militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra
de santa catarina Mdia e educao: novos olhares para a aprendizagem
sem fronteiras 39 sumrio contedos escolares so importantes, mas no
determinantes no processo de aquisio dos conhecimentos para os
integrantes do Movimento, havendo, portanto a necessidade de
conjugar a teoria com a prtica levando em considerao a realidade de
cada indivduo. No que diz respeito s aulas ministradas pelo
educador em questo, foi percebido que o mesmo as planejava, levando
em considerao o interesse dos educandos e, por consequncia, a
compreenso de conjugar os contedos das aulas com a realidade e
necessidade dos mesmos. E para elucidar estas afirmaes pertinente a
fala do educador ao apresentar o seguinte exemplo de aula: Se eu
vou trabalhar matemtica, eu nunca chego l despejando nmeros, eu
sempre leio um texto, uso um texto como base para da, partir para
os nmeros. Porque da a gente no ta ensinando s os nmeros a gente ta
trabalhando aquilo dali puxando pra um assunto que interessa que no
so s nmeros ou as contas separadas dum texto. (JOS). No que diz
respeito sua considerao frente ao papel do monitor, o educador Jos,
mesmo sabendo que sua funo era controlar o vdeo e ao final da aula
auxiliar os educandos em suas possveis dvidas frente aos exerccios
e compreenso acerca das temticas enfocadas pelo sim, eu posso, usou
de sua autonomia para ir alm da funo que lhe cabia, asseverando
sempre que para acompanhar e/ou desenvolver um trabalho como o
proposto pelo referido mtodo, preciso contar com a presena,
interveno e mediao de um educador. Consideraes finais Aps o
exposto, tendo analisado os documentos, acompanhado as entrevistas
com educandos e com o educador e observado algumas aulas, tecemos
algumas consideraes que acreditamos, relevantes a ttulo de
esclarecimentos ou como reflexo para novos projetos utilizando o
mtodoYo, si puedo(Sim eu posso).
40. A televiso: uma possibilidade frente ao processo de
alfabetizao e letramento de jovens e adultos assentados da reforma
agrria, militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra
de santa catarina Mdia e educao: novos olhares para a aprendizagem
sem fronteiras 40 sumrio Entendendo que a tecnologia pode
converter-se em valioso instrumento a servio da humanidade,
compreendemos que a mesma em suas mais variadas
formasdeveserutilizadacomconhecimentotcnico,sensocrticoetransformador,
sempre se atendo aos cuidados necessrios quando se faz uso das
mdias, para no substituir o papel do homem em detrimento da mquina.
A mquina fruto da ao e construo humana e, portanto, ela quem deve
estar a servio do homem, devendo o mesmo, encar-la como uma
ferramenta para facilitar o trabalho e no, substituir a fora de
trabalho humano pelo trabalho executado pela mquina. Conclumos que
o educador Jos atingiu os objetivos propostos para o uso do mtodo,
pelo fato do mesmo ter atuado como um Educador Popular e no apenas
como monitor que liga e desliga a televiso e segue uma cartilha
didtica. Percebemos que o mtodoSim, eu posso, a partir de certo
estgio do processo de alfabetizao, contribuiu de forma eficaz para
a apropriao da leitura e escrita dos educandos. No entanto no que
diz respeito concepo de letramento a qual defendemos e que vai ao
encontro dos constructos tericos de Freire (1980; 2007) e, por
conseguinte, que se aproxime de uma proposta de educao marxiana
segundo Manacorda (2007), constatamos que este s foi possvel por
conta da prtica pedaggica e mediaes efetuadas pelo educador da
turma, bem como da vivncia dos educandos num movimento social que
politiza e problematiza a realidade. H que se considerar tambm que
mesmo que os educandos tivessem tido experincias remotas com a
escola, e que pela ausncia do exerccio da leitura e da escrita,
tornaram-se analfabetos funcionais em sua trajetria de vida, todos,
de certa forma possuam alguns conhecimentos prvios acerca da
leitura e escrita, o que para ns, se configurou num elemento
facilitador no processo de ensino e aprendizagem com oSim, eu
posso. Compreende-se que todo o ato pedaggico tambm um ato poltico,
como nos ensinou Paulo Freire (2007). E, no caso dos sujeitos de
nossa pesquisa, a ao pedaggica foi conjugada ao poltica, fato
observado em suas falas, pois juntamente com as palavras
conseguiram ler o mundo de outro ponto de vista, ou seja, sob a luz
da criticidade e de um posicionamento questionador frente
41. A televiso: uma possibilidade frente ao processo de
alfabetizao e letramento de jovens e adultos assentados da reforma
agrria, militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra
de santa catarina Mdia e educao: novos olhares para a aprendizagem
sem fronteiras 41 sumrio sua realidade e tambm em relao sociedade.
Conclui-se esclarecendo que no houve a pretenso de encontrar
frmulas mgicas para resolver a questo do analfabetismo e letramento
no mbito do MST, mas a partir destas reflexes estabelecer um dilogo
acerca desta problemtica, apontando alguns indicativos que possam
contribuir com a educao dos jovens e adultos do campo, em especial
aqueles vinculados ao MST. Notas 1. Tomamos como referncia a
concepo de letramento propagada por Soares (2003) ao afirmar que:
Ao exerccio efetivo e competente da tecnologia da escrita
denomina-se letramento, que implica habilidades vrias, tais como:
capacidade de ler ou escrever pra atingir diferentes objetivos -
para informar ou informar- se, para interagir com outros, para
imergir no imaginrio, no esttico, para ampliar conhecimentos, para
seduzir ou induzir, para divertir-se, para orientar-se, para apoio
memria, para catarse...; habilidades de interpretar e produzir
diferentes tipos de gneros de textos; habilidades de orientar-se
pelos protocolos de leitura que marcam o texto ou de lanar mo
desses protocolos, ao escrever; atitudes de insero efetiva no mundo
da escrita, tendo interesse e prazer em ler e escrever, sabendo
utilizar a escrita para encontrar ou fornecer informaes e
conhecimentos, escrevendo ou lendo de forma diferenciada, segundo
as circunstncias, os objetivos, o interlocutor [...] (SOARES, 2003,
p. 91-92", bem como a de Rojo (2009) ao asseverar que para o
sujeito ser letrado no basta conhecer o alfabeto e decodificar as
letras em sons da fala. preciso tambm compreender o que se l, isto
, acionar o conhecimento de mundo para relacion-lo com os temas do
texto, inclusive o conhecimento de outros textos/discursos
(interstualizar), prever, hipotetizar, inferir, comparar informaes,
generalizar. preciso tambm interpretar, criticar, dialogar com o
texto: contrapor a ele seu prprio ponto de vista, detectando o
ponto de vista e a ideologia do autor, situando o texto em seu
contexto. Reciprocamente, para escrever, no basta codificar e
observar as normas da escrita do portugus padro do Brasil; tambm
preciso textualizar: estabelecer relaes e progresso de temas e
idias, providenciar coerncia e coeso, articular o texto a partir de
um ponto de vista levando em conta a situao e o leitor (ROJO, 2009,
p.44). e autores como: (SILVA, 2004) (KLEIMAN,1995), entre outros.
(p. 28) 2. Assessora acadmica da Ctedra de Alfabetizao de Jovens e
Adultos, do Instituto Pedaggico Latino- americano e Caribenho
(IPLAC), organizadora e responsvel pelo Programa de Alfabetizao Yo,
si puedo (Sim, eu posso). . (p. 29) 3. Educador/monitor: Pessoa
responsvel para acompanhar os educandos/as durante a aplicao do
mtodoSim, eu possono tendo o mesmo a necessidade de ser professor
ou ter formao acadmica para tal feito, devendo, portanto, apenas
sertreinadopara conhecer e lidar com o mtodo em questo. (p. 29) 4.
Princpios pedaggicos: Relao entre teoria e prtica; combinao
metodolgica entre processos de ensino e capacitao; Realidade como
base da produo do conhecimento; Contedos formativos socialmente
teis; Educao para o trabalho e pelo trabalho; Vnculo orgnico entre
processos educativos e formativos; Vnculo orgnico entre processos
educativos e econmicos; Vnculo orgnico entre educao e cultura;
Gesto democrtica; Auto-organizao dos/as estudantes; Criao de
coletivos pedaggicos e
42. A televiso: uma possibilidade frente ao processo de
alfabetizao e letramento de jovens e adultos assentados da reforma
agrria, militantes do movimento dos trabalhadores rurais sem terra
de santa catarina Mdia e educao: novos olhares para a aprendizagem
sem fronteiras 42 sumrio formao permanente dos educadores e das
educadoras; Atitude e habilidades de pesquisa; Combinao entre
processos pedaggicos coletivos e individuais; Princpios filosficos:
Educao para a transformao social: educao de classe massiva
organicamente vinculada ao movimento social, aberta ao mundo, para
a ao e aberta para o novo; Educao para o trabalho e a cooperao
social; Educao voltada para as vrias dimenses da pessoa humana;
Educao com/para valores humanistas e socialistas; Educao como um
processo permanente de formao/transformao humana (MST apud
MANGGINI, 2009, p. 45). (p. 30) 5. O governo cubano brindou o MST
com o mtodo de alfabetizao Sim, eu posso e tambm todos os materiais
a serem utilizados na aplicao do mesmo como por exemplo: Cartilha
do educando/a, Manual do Monitor, Fita VHS, aparelho de DVD ,
Televiso. (p. 30) 6. Jos dos Santos, assentado nas reas da reforma
agrria e integrante do MST aproximadamente trs dcadas. Atua como
liderana em seu Assentamento denominado So Jos situado no municpio
de Campos Novos SC e tambm no setor de educao do MST no estado de
SC. Trabalhou como educador em projetos de educao voltados
principalmente para a alfabetizao de jovens e adultos desenvolvidos
pela Universidade Federal de Santa Catarina- UFSC Instituto de
Colonizao e Reforma Agrria - INCRA e Programa Nacional na Reforma
Agrria - PRONERA. Em parceria com o MST. O referido educador foi
responsvel pela aplicao do mtodo de alfabetizao Yo, si puedo ( Sim,
eu posso) em uma turma localizada em seu Assentamento no ano de
2007. Turma esta que serviu de campo para nossa pesquisa. (p. 30)
7. Fidel Alejandro Castro Ruz: foi presidente de Cuba desde a
Revoluo cubana ( 1958-1959), que derrubou o governo pr-americano do
general Fulgncio Batista, at fevereiro d 2008. Esta revoluo tinha
carter nacionalista e socialista, pois recebeu forte influncia do
"companheiro"Ernesto Che Guevara ( conhecido como "Che") e de seu
irmo, Raul Castro. Aps a revoluo, Fidel aproxima-se da unio
Sovitica, fazendo Cuba uma aliada do socialismo na Amrica. Fato que
fez com que os Estados Unidos passasse a tratar a ilha como uma
perigosa inimiga. Aps a revoluo, Fidel implantou um sistema
socialista na ilha, acabando com a desigualdade social entre os
cidados cubanos. Implantou uma economia planificada, que contou com
o apoio sovitico durante a Guerra Fria. Fonte: , Acesso em: 15 fev.
2013. (p. 34) 8. Frente descrena de vrias personalidades e
organismos estrangeiros, o Governo Revolucionrio traou uma
ambiciosa meta de eliminar o analfabeti