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literatura - teatro - dança - artes plásticas - música - intervenção urbana cultura catarina O UNIVERSO POR TRÁS DAS CORTINAS BANDA DA LAPA O NOMEADOR MOVIMENTOS DE REALIDADE AXÉ CATARINENSE Um balé perfeito nos bastidores do Teatro Ademir Rosa Música que passa de geração em geração Rodrigo de haro e a arte de dar nome às coisas O real dá o tom à dança do Cena 11 A voz de Diana Dias

Revista Cultura Catarina

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Page 1: Revista Cultura Catarina

literatura - teatro - dança - artes plásticas - música - intervenção urbana

cultura

catarina

O UNIVERSO POR TRÁS DAS CORTINAS

BANDADA LAPA

O NOMEADOR

MOVIMENTOS DE REALIDADE

AXÉ CATARINENSE

Um balé perfeito nos bastidores do Teatro Ademir Rosa

Música que passa de geração em geração

Rodrigo de haro e a arte de dar nome às coisas

O real dá o tom à dança do Cena 11

A voz de Diana Dias

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ÍNDICEliteratura004 A arte de dar nome às coisas Rodrigo de Haro

teatro010 Vanguardardeando as artes cênicas Grupo Vanguarda016 O universo por detrás das cortinas Teatro Ademir Rosa

coluna021 Impasses da cultura por Amilcar Neves

dança024 Movimentos de realidade Cena 11

música030 A princesa do axé catarinense Diana Dias036 De geração em geração Banda da Lapa

coluna040 Produção cultural por Christiano Scheiner

cinema042 Múltiplas facetas Bruna Konder

artes plásticas048 O rei da madeira Seu Nunes054 Manezinho açoriano Marcelo Ribeiro

intervenção urbana058 Floripa em forma de aquarela

crônica062 De teatro em teatro por Marcos Vasques

‘Carta de Amor ao Inimigo’, do Cena 11, aborda a

interdependência entre os opostos a partir da relação

entre corpos

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redaçãoEDITORA-CHEFE: Sarah Kern

REPORTAGEM: Adriana CalazansFelipe Kreusch Ketlin PereiraIsrael MosarSarah Kern

orientadoraHelena Iracy Cerquiz Santos Neto

colaboradoresAmilcar NevesChristiano ScheinerMarcos Vasques

direção de arteSarah Kern

impressãoWR Cópias

UNISUL - Campus da Grande Florianópolis Avenida da Pedra Branca, nº 25 Fazenda Pedra Branca / 88137- 270

expediente

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E Cravada numa ribanceira do Morro da Lagoa da Conceição há uma casa de estilo açoriano, com telhas de barro, paredes gros-sas e robustas portas de madeira. Seria mais uma das inúmeras casas de arquitetura lusitana de Florianópolis, não fosse pelo seu ilustre morador, o poeta, contista e mosaicista Rodrigo de Haro. Abençoado pela brisa refrescante do mar e pelo aroma da flora da montanha o artista aproveita sua casa para fazer o que mais gos-ta: nomear as coisas. Rodrigo apregoa humildemente que poesia nada mais é do que dar nome às coisas e, sucintamente dispara – “o primeiro poeta foi Adão, pois foi o primeiro a dar nome às plantas e aos animais”. O artista trata a poesia como um processo intelectu-al, um exercício divinatório, um jogo com o acaso. Segundo ele, o primeiro verso é da pelos deuses, segredado ao ouvido como uma declaração de amor. “O primeiro verso é sussurrado. Acho muito fácil e interessante que as pessoas sejam inspiradas, videntes e escrevam como se fossem tomadas por um espirito que desce, toma-lhe a mão e sai escrevendo. Todos nós temos vários espíritos que nos acompanham. Algumas vezes a voz é quase nítida, que murmura dentro de você como se fosse um verso”. Com caneta e papel sempre a postos em seus bolsos, Rodrigo faz anotações e guarda suas “sementinhas”, ou versos catalisadores, como ele prefere chamar, que poderão ou não brotar e tornarem-se poemas.

O NOMEADORTEXTO E FOTOS: Israel Mosar

ARTISTA PARISIENSE RADICADO EM SANTA CATARINA, RODRIGO DE HARO SEGUE A MISSÃO

DE ADÃO, O PRIMEIRO HOMEM, E CONTINUA A ARTE SAGRADA DE DAR NOME ÀS COISAS

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Artista escolheu o sossego de sua casa, na Lagoa da Conceição, para criar

poemas e mosaicos.

LITERATURA

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Além de lidar com palavras, Rodrigo de Haro também tem apreço pelas cores e formas. Este mosaico foi feito no prédio da reitoria da UFSC.

LITERATURA

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Eis que o verso principal, o “catalizador” está em suas mãos, mas o que fazer? E aí então que começa o trabalho “braçal”. Há um processo de organização e desdobramentos, onde as analogias e encadeamentos caminham para algo maior. “Um bom poema te coloca num estado de agudeza, de híper percepção. A poesia é um sistema de autoconhecimento, conhecimento do mundo e de crescimento”- reitera o poeta.Para criar seus poemas Rodrigo procura o silêncio, que segundo ele é quando o Espírito Santo se manifesta – “Quando falo do Es-pírito Santo, isso faz parte da psique humana, dessa coisa cósmica que nós somos. Acredito no Espírito Santo, no Divino. Se você não acredita, você não é um homem, você é uma máquina, apenas um elo burocrático na cadeia de funções. Não podemos abdicar do sagrado”. O sagrado para Rodrigo é como o amor, não se pode ver, mas é sentido. É uma energia que nasce de algum lugar – “dá-se nomes a isso: Deus, Pai, Espírito Santo”- reitera. O sagrado sempre esteve presente nas obras de Rodrigo de Haro, como no livro Mistério de Santa Catarina, onde o autor exalta a santidade de Catarina de Al-exandria, que o encanta desde sua infância, quando viu uma es-tampa da mártir em uma roda que estava no atelier de seu pai, o ilustre pintor Martinho de Haro.O artista faz um reconhecimento à Igreja Católica que para ele teve uma contribuição impar no desenvolvimento da cultura ocidental. “Quando acaba o Império Romano o último imperador abandon-ou a coroa e a Europa foi tomada por ordem de bárbaros; Conan, o bárbaro, era Walt Disney; a única resistência foi nos monges, que copiaram tudo que se conhece da ciência grega, da matemática, da poesia, da filosofia...”.

A INFÂNCIA E O INICIO DO GOSTO PELA LITERATURA Nascido em Paris, no ano de 39, voltou às pressas com seus pais para a serra catarinense, fugindo da guerra iminente. Na cidade de São Joaquim o pequeno Rodrigo cresceu entre homens da lida pesada e os livros. Os desafios de prosa, feitas pelos homens da fazenda de seu avô e os livros instigaram o seu interesse pela litera-tura. Rodrigo afirma que há uma ideia errada sobre o homem do campo, que por vezes são estigmatizados por sua rudez. Para ele, o homem do campo é muito mais do que um indivíduo bruto, ele também é sensível às pequenas coisas como a natureza e convívio social, pois sabe que é um pequeno elo na complexa corrente do cosmos - “na fazenda de meu avô havia muito trabalho, mas tam-bém havia tempo para a diversão, para a música, para os livros”.

“UM BOM POEMA TE COLOCA NUM ESTADO DE AGUDEZA, DE HÍPER PER-CEPÇÃO. A POESIA É UM SISTEMA DE AUTOCON-HECIMENTO, CONHECI-MENTO DO MUNDO E DE CRESCIMENTO”

LITERATURA

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Nascido em Paris, em 1939, Rodrigo de Haro voltou às pressas com seus pais para a serra catarinense, fugindo da guerra iminente.

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Na fazenda de seu avô havia uma pequena bib-lioteca e foi ali que o pequeno Rodrigo começou a viajar pelo universo das letras. Asmático desde a sua infância, Rodrigo de Haro foi “abençoado” pela doença respiratória. “A asma é daquelas afecções que te dá uma experiência de isolamento. Eventualmente você sabe que pode sufocar a qualquer momento, o que me dava status de feiticeiro da tribo, como se eu soubesse mais”. Combalido pela asma, o menino se retirava ao calor do sofá da sala e, solitariamente, arejava sua alma com uma boa música erudita. Sintonizava o dial do rá-dio na frequência da estação El Sodre de Montevideo e ficava por horas escutando àquela música medica-mentosa – “era impossível à asma resistir ao Verão do barroco italiano Antônio Vivaldi”.

Logo, naquele ambiente erudito, entrou em contato com a mais variada literatura, onde teve o seu chamado para as letras. As mil e uma noites e a História de Carlos Magno e os doze pares de França foram os primeiros de muitos livros que o cativaram. No final da década de 40 mudou-se para Florianópolis e teve con-tato com outros poetas que viriam a influenciar sua obra, como os poetas expressionistas alemães, Rainer Maria Rilke e Georg Trackl, e pelos de língua portugue-sa, Tomás Antônio Gonzaga, Nicolau Tolentino, Abade de Jazente, Gregório Matos e também pelos moderni-stas, como José Lins do Rêgo, Mário de Andrade e Lú-cio Cardoso.

PALAVRAPara a oração e o gritoSignifica:Em louvor de todas as coisasMenos uma

Certamente o rioConstantemente a portaIndicam o mundo dos mortos.

Louvo todas as coisasCanto a hora turbulentaE o lírio silenciosopalavras São anéis fatais

Naturalmente o penteAinda crespo de cabelosMostra a descida tenebrosa.Proclamo o louvor de cada coisaMenos uma

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TEXTO: Felipe Kreusch FOTOS: Priscila Silveira

VANGUARDEANDOAS ARTES CÊNICAS

UMA COMPANHIA DE TEATRO QUE LUTA PARA MANTER VIVA A 5ª ARTE DO MUNDO

Em um tablado ao som de variadas músicas cerca de vinte pessoas de diversas idades, tamanhos e estilos dançam na ponta dos pés, na ponta dos calcanhares, somente usando os braços, somente us-ando as pernas, somente usando a cabeça, de forma extravasada e de forma tímida. Tudo isso durante cinquenta minutos seguidos e ininterruptos. A um leigo que vê essa aula pela primeira vez tudo isso não faz sentido algum, mas para os atores que o fazem é es-sencial para o domínio de corpo.

O local onde ocorre esse aquecimento, e bota aquecimento nisso, é no centro de Florianópolis, na sede da Companhia de Teatro Van-guarda, uma pré-adolescente de 13 anos, que já formou muitos atores na cidade. A missão está na entrada da companhia: “ser uma empresa teatral de referência na linguagem cênica nacional”. Para isso valores como: “disciplina, profissionalismo, dedicação, reciprocidade, ética e criatividade”, precisam ser seguidos junta-mente com o objetivo de “preparar atores para espetáculos numa linguagem eclética de comunicação teatral num mundo globali-zado”, como mostra o quadro pendurado na parede.

A companhia surgiu da necessidade de um professor de literatura do ensino médio em ajudar seus alunos a aprender e gravar mel-hor o conteúdo dos livros do vestibular. Esse professor era também aluno, sim, aluno do curso de licenciatura em teatro da UDESC, Uni-versidade do Estado de Santa Catarina. Seu nome é Sergio Murilo Machado, que aos 34 anos realizou o sonho de se tornar um ator.

Nas primeiras semanas já reuniu um grupo de colegas e propôs á ideia de montar uma peça dos livros do vestibular daquele ano. To-dos empolgados aceitaram e o grupo de alunos iniciantes cresceu e hoje se tornou uma companhia de teatro que também é escola de atores e forma novos profissionais.

“Eu comecei dando aulas de teatro de improviso, hoje nós temos turmas para iniciantes, intermediário, avançado e profissional e for-mamos cerca de 200 atores por ano”, diz Sérgio, que depois de mais de uma década de companhia vai poder se dedicar totalmente ao teatro a partir de 2014, quando se aposenta das salas de aula.

O curso de atores da companhia é para todas as idades, o infantil é até 12 anos de idade e a partir dos 13 já podem se inscrever no adulto. A diferença da formação do Vanguarda e da UDESC é o es-tilo e o objetivo do curso. Enquanto na UDESC os alunos estudam mais teoria justamente para se formarem professores no curso de licenciatura, no Vanguarda os alunos estudam muito mais prática e o objetivo é formar atores de teatro, mas ambos os cursos dão o direito de tirar o DRT – Registro Profissional como ator.

A grande diferença nas aulas de ambas as instituições, segundo o fundador da Vanguarda, que se formou na UDESC, é que na com-panhia tem-se mais tempo para passar por todos os estilos teatrais, montar muito mais cenas e desenvolver a interpretação de cada um, enquanto na UDESC a teoria é muito mais presente.

TEATRO

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Todo sábado esse pessoal se reúne para fazer arte

TEATRO

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Manter o ritmo e o controle corporal é essencial para os atores

TEATRO

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AS AULAS

Sobre as aulas, a professora e diretora de teatro, Luciene Goldfeder, que pelos aspirantes a atores já é conhecida pelo seu aquecimento, como citei no início do texto, pode falar melhor. Lu, como prefere ser chamada, é formada em Belas Artes pelo Centro Universitário de Be-las Artes de São Paulo, Interpretação e Direção Teatral pela Escola de Arte Dramática da Universidade de São Paulo e também é formada em Publicidade e Propaganda. Nascida em São Paulo, começou a estudar teatro aos sete anos de idade.

A diretora sempre frequentou o teatro desde criança e critica a falta de incentivo à cultura: “As crianças não conhecem a cultura por con-ta própria é necessário que os pais levem os filhos ao teatro. Aqui em Florianópolis é muito menor a procura por teatro, em São Paulo todo dia os teatros lotam e aqui é lá uma vez ou outra”. Ela também afirma que existe um grande preconceito com a profissão de ator no Brasil, mas aqui na Ilha é mais potencializada. “As pessoas pensam que teatro é uma bagunça, que as pessoas não trabalham; atuar é uma profissão como qualquer outra”.

Lu já havia trabalhado no Vanguarda há alguns anos e retornou em 2012 como professora e diretora. Suas aulas começam com um aquecimento que trabalha cada parte do corpo, além de voz e ex-pressão. Depois os atores são desafiados a criarem cenas de acordo com as orientações da diretora e, por fim, partem ao ensaio da peça que apresentam a cada fim de semestre. “Esse não é meu hobby, é meu trabalho. Eu vejo muitas pessoas buscando glamour e fama, a minha única vaidade é ver meu trabalho finalizado e meus atores sendo aplaudidos. Meu trabalho termina quando se abrem as cor-tinas, pois a partir daí não depende mais de mim, todo o meu tra-balho está ali e cabe aos meus atores fazer o deles”, afirma com um brilho no olhar.

Dos 20 alunos que estavam presentes na aula neste dia somente um vive exclusivamente do teatro. “Viver do teatro aqui é muito complicado”, afirma Luciene, que brinca: “daqui eu sou uma das poucas que vivem dele”. Alexandre de Miranda, de 34 anos, par-ticipa do projeto Literatura Viva, nome das peças dos livros do ves-tibular, que deram origem à companhia. Ele é o único aluno do Vanguarda que hoje vive somente do teatro: “hoje aqui na com-panhia sou ator e produtor e estudo na UDESC para me formar professor”. Ele complementa: “ A UDESC é um centro de pesquisa teatral enquanto o Vanguarda é um centro de prática teatral, uma companhia de teatro em si”, conclui.

ALTERNATIVA

Para poderem viver do teatro como Alexandre, três alunos estão montando um grupo para levar peças a hospitais e instituições de caridade de Florianópolis. Edson Gonçalves, de 25 anos, convidou alguns amigos para participar do seu projeto “Imaginar Arte”. Aline Francielle Garaluz, de 23 anos, e Walquirira Moreno, de 17, toparam a ideia.

Mesmo sabendo das dificuldades, os três atores correm atrás do seu sonho e, por enquanto, vão começar com peças beneficentes. “Existe muito preconceito que se os atores não são famosos a peça não é boa”, afirmam Edson e Walquiria. Os dois fazem o curso no Vanguarda, mas também pretendem cursar teatro na UDESC e se tornarem professores.

Vicente Concilio, doutor em Teatro pela Escola de Comunicações e Artes da USP, é professor de Improvisação, Interpretação e Estágios Supervisionados em Teatro na Escola da UDESC, diz que na institu-ição a formação se dá “a partir de um vínculo entre teoria e prática, mesclando a formação ampla em estética e história do teatro e da arte, com disciplinas práticas como interpretação, técnicas corpo-rais e expressão vocal”.

Viver do teatro aqui também é complicado na visão do professor. Hoje na UDESC são cerca de 40 formandos a cada ano e somente metade dos alunos segue carreira na profissão. “Basicamente, quem sobrevive faz uma produção intensa e diversificada ou acaba atuando como professor na rede pública de ensino ou particular”, afirma Concilio, que afirma que muitos dos que seguem carreira vão para fora do estado, como é o caso dos atores Malcon Bauer e Milena Moraes.

Priscila Silveira é uma das alunas mais antigas do Vanguarda. Com cinco anos na companhia, ela já decidiu: “O teatro é meu hobby, aqui em Florianópolis não tem mercado para o teatro”. Ela trabalha como fotógrafa e já passou por outras companhias de teatro, mas garante que o aprendizado no Vanguarda é maior. Ela afirma que o teatro sempre fica à margem da cultura: “durante a Maratona Cultural que teve há pouco tempo aqui na cidade os shows e as exposições foram bem divulgados. Mas quando fui procurar infor-mações sobre as peças de teatro tive dificuldades para encontrar”.

Mesmo com todas as dificuldades da falta de divulgação da cultura, Sergio Murilo diz que todas as peças do Vanguarda sempre lotam: “Praticamente todas as nossas peças são apresentadas de casa cheia e geralmente temos mais público do que peças que vêm de fora de atores famosos que geralmente custam muito caro”. A Cia. Vanguarda é um exemplo de luta para manter viva uma forma de arte tão pouco divulgada e valorizada na capital catarinense.

“AS PESSOAS PENSAM QUE TEATRO É UMA BAGUNÇA, QUE AS PESSOAS NÃO TRABALHAM; ATUAR É UMA PROFISSÃO COMO QUALQUER OUTRA”, DIZ LUCIENE GOLDFEDER

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TEXTO: Ketlin Pereira

O UNIVERSO POR DETRÁSDAS CORTINASVocê já deve ter tido o prazer de ter sentado numa poltrona e as-sistido a uma peça teatral. Imagino que você escolheu o melhor local, esperou ansioso pela abertura das cortinas, riu, divertiu-se e aplaudiu ao final do espetáculo. Seus olhos focados em tudo que acontecia no palco, nem imagina tudo o que envolve a produção para que a peça aconteça. Muitas horas antes do início, os produ-tores já estão na correria que não termina ao final do espetáculo. Tudo isso para que o espectador apenas se divirta. Vou apresentar-lhes os bastidores do melhor teatro da grande Florianópolis, o Tea-tro Ademir Rosa.

O melhor teatro da Capital catarinense teve sua inauguração em 14 de novembro de 1982, como o nome de Teatro do Centro Inte-grado de Cultura, em 1997 foi batizado como Teatro Ademir Rosa, em homenagem ao grande dramaturgo Ademir Rosa, que morreu de câncer no mesmo ano. O teatro conquistou seu estado de ex-celência por possuir uma ótima localização e qualidade técnica. Administrado pela Fundação Catarinense de Cultura, órgão cul-tural do governo do estado, com 956 poltronas, camarins e amplo palco. O teatro Ademir Rosa abriu suas portas ao público em 25 de julho de 1983, com a apresentação do espetáculo “O Grande Circo Mís-tico”, do Ballet do Teatro Guaíra, de Curitiba.

Atrás das cortinas

Quando se está sentado numa das luxuosas poltronas do teatro Ademir Rosa, não se imagina o universo que existe por detrás das cortinas e nem acima de sua cabeça. Ao olharmos para cima ve-mos proteção acústica, umas placas abaloadas de cor creme, pois elas ajudam na difusão do som e as cores na iluminação. Acima

delas existem algumas passarelas e varandas para manutenção da iluminação e do sistema de condicionamento de ar. A área total do teatro é de 1.746,46 metros quadrados, porém dessa metragem mais que a metade fica para a parte técnica (caixa cênica, boca de cena, procênio, backstege, bastidores, passarelas, varandas e ilumi-nação). Cada espetáculo possui a sua própria produção, porém o teatro possui sua equipe técnica de: Iluminação; Maquinaria; Dire-tor técnico e o Administrador.

Antes de cada espetáculo a equipe do teatro recebe um layout e posiciona os equipamentos conforme instruções, todos os siste-mas são testados, porém não é garantia de que problemas pos-sam aparecer durante as cenas. Uma equipe fica de prontidão para ajudar o pessoal da produção do espetáculo, e eles contam que sempre existem contratempos, mas o espectador não percebe toda a correria que ocorre pelo backstage. Esses rapazes trabalham diariamente e constantemente lidam com espetáculos, nacionais e internacionais. E por mais incrível que possa parecer, eles mal sabem o que ocorre na caixa cênica, pois estão concentrados na parte técnica e no bom funcionamento do espetáculo.

Os atores estão sempre em sintonia com seus produtores, são muitos treinos e ensaios e enquanto as cenas são apresentadas, a equipe de apoio dança no mesmo sincronismo, um balé perfeito entre passos e contra passos. O maquinista realiza sua dança pela passarela, pois as trocas de cenários são de sua inteira responsabi-lidade. As equipes de som e de iluminação possuem uma cabine própria e dali comanda as entradas de som e as trocas de ilumi-nação. A equipe delimita o espaço que vai ser utilizado e para que não ocorra o vazamento, (o público não veja as coxias) são coloca-dos em pontos estratégicos algumas pernas (panos pretos).

UM BALÉ PERFEITO ENTRE PASSOS E CONTRA PASSOS, NOS BASTIDORES DO TEATRO ADEMIR ROSA

TEATRO

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Quando se está sentado numa das luxuosas poltronas do teatro Ademir Rosa, não se imagina o universo que existe por detrás das cortinas e nem acima de sua cabeça.

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PERSONALIDADES MARCANTES NO TEATRO CATARINENSE

Quando o assunto é teatro faz-se necessário citar os propulsores teatrais em Santa Catarina: lvaro Augusto de Carvalho, Horácio Nunes Pires e Isnard Azevedo, nomes importantes ligados à história do teatro catarinense. Foi através deles que a arte cênica começou a ser conhecida no Estado. Mas a primeira atividade teatral em Santa Cata-rina começou bem antes, em 1817, na casa do Juiz de Fora, Ovídio Saraiva. Com a apresentação da peça “A Tragédia do Fayal”, de autoria do próprio Ovídio, tinha por desígnio festejar a coroação de D. João VI, de Portugal. Naquela época, o teatro catarinense seguia o modelo da Corte, com apresentações de tragédias mitológicas e comédias

Quando se está sentado André é operador de som do TAR

TEATRO

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Você já deve ter tido o prazer de ter sentado numa poltrona e as-sistido a uma peça teatral. Imagino que você escolheu o melhor local, esperou ansioso pela abertura das cortinas, riu, divertiu-se e aplaudiu ao final do espetáculo. Seus olhos focados em tudo que acontecia no palco, nem imagina tudo o que envolve a produção para que a peça aconteça. Muitas horas antes do início, os produ-tores já estão na correria que não termina ao final do espetáculo. Tudo isso para que o espectador apenas se divirta. Vou apresentar-lhes os bastidores do melhor teatro da grande Florianópolis, o Tea-tro Ademir Rosa.

O melhor teatro da Capital catarinense teve sua inauguração em 14 de novembro de 1982, como o nome de Teatro do Centro Inte-grado de Cultura, em 1997 foi batizado como Teatro Ademir Rosa, em homenagem ao grande dramaturgo Ademir Rosa, que morreu de câncer no mesmo ano. O teatro conquistou seu estado de ex-celência por possuir uma ótima localização e qualidade técnica. Administrado pela Fundação Catarinense de Cultura, órgão cul-tural do governo do estado, com 956 poltronas, camarins e amplo

palco.

O teatro Ademir Rosa abriu suas portas ao público em 25 de julho de 1983, com a apresentação do espetáculo “O Grande Circo Mís-tico”, do Ballet do Teatro Guaíra, de Curitiba.

ATRÁS DAS CORTINAS

Quando se está sentado numa das luxuosas poltronas do teatro Ademir Rosa, não se imagina o universo que existe por detrás das cortinas e nem acima de sua cabeça. Ao olharmos para cima ve-mos proteção acústica, umas placas abaloadas de cor creme, pois elas ajudam na difusão do som e as cores na iluminação. Acima delas existem algumas passarelas e varandas para manutenção da iluminação e do sistema de condicionamento de ar. A área total do teatro é de 1.746,46 metros quadrados, porém dessa metragem mais que a metade fica para a parte técnica (caixa cênica, boca de cena, procênio, backstege, bastidores, passarelas, varandas e ilumi-nação). Cada espetáculo possui a sua própria produção, porém o

READEQUADO SEGUNDO AS NORMAS DE ACESSIBILIDADE

Em maio de 2009, o complexo Centro Integrado de Cultural passou por uma ampla reforma, incluindo o teatro. Dentro dessa nova estrutura o Teatro Ademir Rosa, passou a ser administrado por, Osni Cristovão, com formação em cenotécnico. Ele foi escolhido por unanimidade, pelos colegas da Fundação Catarinense de Cultura e empossado pelo então governador Luiz Henrique da Silveira. Funcionário dedicado, com mais de 30 anos de profissão, vive a história do teatro e acompanhou a reforma, conhecendo cada cantinho do an-fiteatro. “Sinto-me honrado, pois não sou filiado à política, não sou partidário e fui convidado para administrar o teatro, é por que reconhecem meu esforço e meu trabalho, é por merecimento. Fico envaidecido por ser lembrado, contou Cristovão”.

A reforma manteve o mesmo padrão de qualidade acústica do teatro an-tes de seu fechamento. As paredes laterais ganharam lambris – revestimento em madeira – e alguns difusores que são adequados para a propagação do som. Para corrigir um problema antigo de ruído externo, foi feita uma imper-meabilização com painel acústico antes do telhado para evitar que o ruído ex-terno interfira para dentro do ambiente. Com a readequação do teatro, a pla-téia teve número reduzido de cadeiras, passando de 956 para 906 poltronas, o espaço forma um leque, por isso os acentos possuem tamanhos diferenciados, porém mantém um acento confortável. O teatro foi readequado segundo as normas de acessibilidade em ambientes culturais, possui nove espaços para cadeirantes, seis super poltronas para atender pessoas com obesidade. E tam-bém passou a ter seis novos camarins, além de apoio técnico e iluminação de cenários.

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POR Amilcar Neves

IMPASSES DA CULTURACOM “c“ OU COM “C”

Especialmente a partir da gestão de Gilberto Gil, o Ministério da Cultura começou a se preocupar seriamente em organizar o setor, ao invés de restringir sua atividade à administração de grandes eventos de natureza cultural, como o 5º centenário do descobri-mento do Brasil, por exemplo, e ao repasse de fundos, através de renúncia fiscal franqueada pela Lei Rouanet de Incentivo à Cultura, para o financiamento a fundo perdido de projetos culturais.

Gilberto Gil é músico responsável por uma produção consist-ente, abundante e de alto nível de qualidade, que leva a marca da cultura brasileira a todos os recantos do planeta. Re-velado nos primeiros anos da ditadura militar, tomou parte ativa na luta contra a repressão, contra a censura e a favor da redemocratização do país, história pessoal que tornou muito es-tranha sua adesão, juntamente com pares de percurso semelhante, a uma certa As-sociação Procure Saber, que prega a censura prévia ao advogar que só se publique uma biografia (ou documentário ou o que seja) após autorização expressa do biografado ou, caso falecido o pro-tagonista, dos seus descendentes. Isto acaba valendo para coadju-vantes e para meras citações.

Mas não é disso que se trata aqui, no momento. Com Gil, o Ministé-rio se organiza e passa a forçar uma organização especular de esta-dos e municípios caso estes chamados “entes federados” queiram receber um dinheirinho a mais. A ideia básica é que as três esferas de poder tenham seus próprios Sistemas de Cultura apoiados no tripé conhecido como CPF: Conselhos, Planos e Fundos de Cultura. O modelo visualizado para a cultura é o da saúde, o Sistema Na-cional de Cultura, SNC, espelhando-se no Sistema Único de Saúde, o SUS.

Movidos pelo dinheiro que aportaria apenas entre fundos (do Fundo Nacional de Cultura para o Fundo Municipal e para o Fundo Estadual), contra a vontade ou não, estados e mu-nicípios viram-se compelidos a se mexer, afinal ninguém quer ficar de fora de uma verbinha extra. Claro que teve gente que levou a coisa a sério, afi-nal, mesmo sem serem obrigados, muitos estados e municípios já tinham faz tempo suas secretarias de cultura.

Outros, não. Outros nem agora têm as secretarias e, pior do que isso, não dão a mínima para essa coisa complicada movida por gente encrenqueira — os artistas — que vive questio-nando, fa-zendo perguntas impertinentes e criando caso com espalhafato e estardalhaço.

Em Santa Catarina, para citar o nosso caso, a Cultura sempre foi um apêndice: tida como lazer (coisa, talvez, de quem não tenha algo útil a fazer), está pendurada numa secretaria que também abriga o Esporte e, na verdade, cuida mesmo é do Turismo, atividade, en-fim, rentável, mansa e supostamente de alta visibilidade. Os titu-lares que por lá passam (foram ao menos cinco deles em menos de três anos do atual governo estadual) ou são gente do Turismo ou são políticos em escala breve aguardando à luz dos holofotes a próxima eleição ou são assessores diletos do governador lá postos apenas para assinar o que for legalmente indispensável e negar o máximo possível — afinal, economizar é preciso. Nessa linha de atuação, a Fundação Catarinense de Cultura, braço executivo das políticas públicas (se existissem), está há pelo menos quatro meses sem presidente.

Na Capital, foi criada este ano, pela vez primeira (nunca antes na história deste municí-pio houvera uma), a Secretaria Municipal de Cultura. O superintendente da Fundação Cultural de Florianópolis foi empossado secretário, cumulativamente à superintendência, no finzinho de julho; no comecinho de outubro teve de deixar os dois cargos — que permanecem ambos vagos desde então. Ou seja: demonstra-se na prática, seja no Estado, seja no município, que Cultura não é prioridade política nem preocupação adminis-trativa, e que se danem, enfim, os Sistemas e Planos de Cultura.

Mas voltemos rapidamente ao Ministério antes que este espaço acabe. Até algum tempo, dizia-se ser culta a pessoa que tivesse lido os clássicos, que frequen-tasse habitualmente museus e tea-tros, que escutasse música erudita, que assistisse usualmente a filmes de arte, que soubesse raciocinar com clareza e exprimir-se com elegância e originali-dade, que fosse quase uma enciclopédia ambulante. Tratar-se-ia de alguém que acumulou fartas doses de cultura ao longo da vida, e possivelmente desde cedo.

Ao rediscutir a atividade, o Ministério começa a adotar conceitos cada vez mais largos e abrangentes de cultura, ao mesmo tempo em que sepulta o conceito de folclore. Assim, tudo o que fazemos passou a ser cultura, a ponto de um desfile de moda em Paris ter pleiteado com sucesso recursos da Lei Rouanet.

Parece que é chegada a hora de se pensar com seriedade em cultu-ra, que se volta para o passado no sentido de conservar o que era, até mesmo como forma de resistência cultural, dis-tintamente de arte, que olha para o futuro e busca, para ser válida, a ruptura e o novo, o inusi-tado, o estranho, o salto para fora das margens e das fronteiras.

AMILCAR NEVES é escritor, cronista, contista, dramaturgo, romancista e membro do Conselho Estadual de Cultura e da Academia Catarinense de Letras. Assina o espaço de crônicas as quartas-feiras, no jornal Diário Catarinense.

COLUNA

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TEXTO: Sarah Kern FOTOS: Cristiano Prim

MOVIMENTOSDA REALIDADE

O REAL DÁ O TOM À DANÇA DO CENA 11

Respirações profundas, movimentos sutis, olhares que se cruzam sem constrangimento. Um grupo de pessoas se move pelo cômo-do. O chão de borracha amortece os passos – e os espacates de duas mulheres que parecem feitas de pano. Um homem que anda em círculos parece ao mesmo tempo perdido e encontrado: é ali onde gostaria de estar. Todos parecem saber por que ali estão, e aonde querem chegar. Não que para o Grupo Cena 11 o fim seja uma objetivo definido. Pelo contrário, o processo é tão – ou mais – importante do que o fim. Para a companhia catarinense, a dança não é mera coreografia, mas produção de conhecimento traduzida em pesquisa e tecnologia.

A passagem descrita acima é da Formação Compartilhada em Artes Presenciais, ação do grupo Cena 11 Cia. de Dança aberta à comunidade na busca por integração de saberes. Bailarinos do grupo se unem a outros profissionais – na maioria, estudantes de artes cênicas – para explorar o espaço e as limitações de seus cor-pos. Parte da programação do “Projeto Grupo Cena 11 – 20 anos”, vencedor do Prêmio Funarte – Klauss Vianna em 2012, a formação foi realizada em datas ao longo de outubro no Jurerê Sports Cent-er, em Jurerê Internacional. Hoje, o espaço também é usado para os ensaios do grupo de dança mais premiado de Santa Catarina.

Em tempos em que o setor privado dita as regras de parte dos editais culturais, usando dinheiro público através da Lei Rouanet para beneficiar projetos selecionados pelo setor de marketing das

próprias empresas, o Cena 11 entrou em 2013 sem o patrocínio da Petrobras Cultural. Desde 2006, o edital da Petrobras era a maior fonte de subsídio do grupo catarinense, mas as coisas mudaram com a nova presidência da empresa, que entrou em vigor em 2012.

Diretor e coreógrafo do Cena11, o uruguaio naturalizado brasileiro Alejandro Ahmed diz que é difícil conseguir que a companhia seja subsidiada diretamente para a pesquisa. “Temos um perfil questio-nador, o que pode ir de encontro a algumas iniciativas de market-ing. O maior perigo disso tudo é que cada vez mais profissionais façam tudo igual. Aí vem uma opção sueca ou francesa, e nós pa-gamos três vezes o valor para vê-las fazer algo diferente, porque a brasileira não teve subsídio para existir. Ou então, os profissionais talentosos mudam para a Europa. Mas nós somos resistentes, esta-mos tentando fazer as coisas acontecerem aqui.”

Para Alejandro, a ação é mais importante do que a forma, e é isso que diferencia a companhia Cena 11 das escolas de dança. “Os festivais competitivos não são uma manifestação popular, mas de mercado. São um negócio rentável alimentado por escolas de dan-ça. Você tem as melhores coreografias, mas em que parâmetro? Onde estão as referências? É um grande show, como um campe-onato esportivo. Todas as pessoas dançam com a mesma roupa, ou seja, com um uniforme, e dançam todas iguais. Há muitos elemen-tos que não são questionados. As pessoas não contestam as coisas mais óbvias”, diz ele.

DANÇA

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‘Carta de Amor ao Inimigo’ abordou a interdependência entre os opostos a partir da relação entre corpos.

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O Cena 11 participou de festivais de 1986, ano de sua fundação por Rosângela Mattos, até 1994, quando o espetáculo “Respostas So-bre a Dor” rendeu a Alejandro uma indicação no Prêmio Mambem-be de Dança, da Fundação Nacional de Arte, o Funarte. Aquele fato foi inédito na história da dança catarinense.

A partir de 1995, o Cena 11 passou a ensaiar diariamente, no de-sejo de se profissionalizar. Os espetáculos não tinham mais a du-ração de 30 minutos – exigência dos festivais competitivos –, e passaram a usar espaços não tradicionais: bailarinos desciam em cordas sobre a plateia, corriam pelos corredores, subiam nas ca-deiras. É naquele momento que a tecnologia passa a fazer parte da companhia. Violência, de 2000, foi um dos trabalhos mais per-turbadores da dança contemporânea brasileira. “A dança do Cena 11 é de risco. Pense num skatista subindo aquelas rampas curvas e fazendo suas manobras radicais. Apague o skate desta imagem, pode abolir também a rampa. Você adentrou em Violência”, disse a crítica de dança Helena Katz na época. Videogame, vídeos e próte-ses misturavam-se aos bailarinos.

Para o próximo espetáculo, serão usados sensores que identificam a distância entre os bailarinos. “Pesquisa é entrar em compromisso, ter engajamento, questionamento diário para descobrir territórios desconhecidos. Agora, por exemplo, pesquisar é encontrar essa vi-abilidade de sensores e aproximação. Aí tem a relação com a fuga, e para isso precisamos trazer um músico, ver o que é contraponto, descobrir de que maneira você se relaciona com isso. É um com-promisso que você tem com aquela proposta, que não necessari-amente vai levar ao lugar que você imagina”, observa Alejandro.

Em 2013, quando completa 20 anos, o grupo ganhou o prêmio da APCA (Associação Paulista de Críticos de Arte) por sua trajetória de pesquisa. Apesar do reconhecimento, será difícil se manter existindo sem o edital da Petrobras, pois os bailarinos trabalham integralmente no Cena 11, ou seja: têm salário, plano de saúde e outros benefícios.

SKINNERBOX (2000)

A TECNOLOGIA DO CENA 11POR Alejandro Ahmed

“Instalamos tecnologias de relacionamento diferentes em hu-manos, robôs e a Nina, que é um cachorro, para criar uma ideia de comportamento de hardware.”

VIOLÊNCIA (2000)

“Foi nosso primeiro grande uso da tecnologia. Desenvolvemos um jeito de lidar com o chão com quedas sem nen-hum artifício de defesa visível, e com isso você vira meio que um corpo-boneco. Até hoje as pessoas tentam comprar isso da gente, porque chama muito a atenção. É uma tecnologia muito particular, nem todo corpo consegue desenvolver, pois tem uma questão emocional: você se reorganizar emocionalmente para liberar artifícios de defesa e construir outros. Trabalhamos com o microfone e o vídeo como uma extensão do corpo.”

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TEXTO: Adriana Calazans

A PRINCESA DOAXÉ CATARINENSE

COM CARISMA E UMA VOZ MARCANTE, DIANA DIAS CONQUISTA O PAÍS

A voz chama a atenção. O carisma, a simplicidade e a alegria de pisar no palco são qualidades que a destacam. Aliando as aulas de técnica vocal feitas duas vezes por mês, o trabalho com a fono-audióloga e o talento pessoal, Diana Dias vem despontando no cenário musical brasileiro cantando um ritmo que até há pouco tempo não tinha muito espaço nas festas e baladas do Sul do país: o axé. Mais do que isso, ela leva Florianópolis para outras regiões do Brasil.

O que para muitos é sempre uma sensação desesperadora, Di-ana define como confortável. É assim que a cantora se sentiu na primeira vez em que subiu em um palco. “Aquele frio na barriga que deixa a voz trêmula de fato aconteceu, mas depois que já es-tava ali, na frente das pessoas, com o microfone na mão, foi ótimo! Uma sensação de ‘quero subir aqui mais e mais vezes!’”

Na primeira experiência em um trio elétrico foi ainda mais fácil. O sonho de cantar nesse “palco itinerante” fez com que ela se sen-tisse tão bem a ponto de ter a sensação de que não era a primeira vez: “Eu me imaginava tanto cantando em cima de um trio, que quando cantei parecia que já tinha acontecido antes. Foi uma sen-sação muito engraçada!”

Dividir o palco com grandes nomes da música também é mo-

tivo de orgulho, principalmente quando se é fã deles. Diana teve a oportunidade de cantar com Saulo Fernandes e Ivete Sangalo. Para ela, a sensação de cantar com Saulo foi mágica: “Era um show da Banda Eva, que tinha sido maravilhoso, e bem no final ele me chamou: ‘Olha, as responsáveis são essas meninas aqui da frente, elas estão desde o início do show dizendo: Chama a Diana!’ Eu subi, cantei, rolou uma energia muito legal! Foi como um sonho!” A sintonia foi tanta que resultou na gravação do clipe da música “Se você for” composta por Chico Martins , integrante da banda catarinense Dazaranha, lançado em outubro deste ano.

Cantar com Ivete Sangalo foi outra experiência emocionante: “Eu não podia acreditar no que estava acontecendo. Lembro ex-atamente do dia como eu tentava me manter concentrada para deixar a admiradora de lado, afinal sempre fui fã da Ivete e sempre a admirei como pessoa. Fiquei uma semana sem dormir eu acho!” conta aos risos.

Diana também fez uma participação especial no carnaval de Sal-vador 2012, no trio elétrico ao lado do cantor André Lellis. A lista de cantores com os quais Diana dividiu o palco ainda conta com nomes importantes como Bell Marques (vocalista do Chiclete com Banana), Michel Teló e Felipe Pezzoni (vocalista da Banda Eva).

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INÍCIO BRILHANTE

Os primeiro sinais do talento de Diana foram aos sete anos quando começou a cantar no coral da escola. Um pouco mais tarde, aos 14 anos, ela era a voz de uma banda também da escola: “e aí, a música não saiu mais da minha vida!”. De-pois disso a cantora participou de bandas independentes com amigos até formar, em 2010, a banda Frisson.

Em 2011, Diana foi encontrada pelo Grupo ALL Entreteni-mento, que lançou e gerencia a carreira solo. A empresa também é responsável por grandes eventos de diversos segmentos em estados como: São Paulo, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraná. Diana atravessou as fronteiras catarinenses encantando fãs nos outros estados do Sul e no Sudeste.

Quanto às influências musicais, Diana deixa claro: “Sou muito eclética!” Ainda quando criança, na companhia do pai escutava Paralamas do Sucesso, Barão Vermelho, Cás-sia Eller, Rita Lee e Elis Regina. A moça ainda soma ao seu gosto musical Marisa Monte, Adele, Ivete Sangalo, Mariah Carey, Seu Jorge e Saulo Fernandes. “São tantas referências. Cada artista admiro de um jeito. Um como performance, outro a extensão vocal, outro a desenvoltura.”

Quando questionada sobre o futuro ela diz: “Continuar tra-balhando com muito amor, dedicação e profissionalismo!” Para 2014 a cantora promete o lançamento do primeiro CD com muitas novidades. De uma maneira geral, ela espera a felicidade: “Acredito muito que as coisas quando são feitas com amor, elas acontecem. Então, seja como engenheira, seja como cantora, com dedicação e cercada de pessoas que também gostam do que fazem, o que mais eu posso querer?”

Engenheira/cantora ou cantora/engenheira?

Diana se diz uma pessoa caseira. “Adoro ir ao cinema, re-uniões de família, encontro com os amigos, qualquer mo-tivo para estar perto de quem se ama é o que me faz feliz.” Estudante de Engenharia de Produção Civil da UFSC, a moça divide o tempo entre as aulas na Federal de Santa Catarina e a rotina de cantora.

Até a sexta fase do curso ela não havia atrasado nenhuma disciplina, algo bastante difícil entre os estudantes de En-genharia. Foi nessa época que Diana começou a carreira profissional e precisou diminuir o número de matérias cur-sadas por semestre: “Tive que diminuir o ritmo das aulas para manter meu curso sendo feito com qualidade. Reduzi pela metade a carga horária. Por exemplo, ao invés de pegar oito matérias, eu pegava de quatro a cinco”. Assim, a for-matura que estava programada para o inicio deste ano foi adiada para o final de 2014.

A relação com os colegas de faculdade continuou a mesma, “na UFSC eu sou a Diana estudante de engenharia. A can-tora e artista está nos palcos!”. Diana lembra um episódio engraçado relacionado à carreira com um professor em sala de aula: “Já aconteceu uma vez quando o professor deu um exemplo: ‘isso aqui vocês podem aplicar independente da área que forem seguir, pode ser até cantora de axé’”. Ela tam-bém conta que um professor já foi ao show: “Deu até para interagir com o professor e descontrair, diferente daquele clima de sala de aula. Mandei um abraço para ele do palco

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Ivete Sangalo convida Diana para cantar no palco do trio elétrico do Folianópolis, em

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ADMIRADORASEntre as meninas responsáveis pelo primeiro dueto de Diana

e Saulo estavam Gabriela e Munique. Mesmo morando em esta-dos diferentes, as amigas sempre dão um jeitinho de ir aos shows e participar dos momentos mais marcantes na carreira da artista, enchendo-a de surpresas:

GABRIELA SIERRA CURITIBA/PR

“Conheci Diana Dias quando meus amigos me chamaram para um show. A princípio era só mais um show de axé, mas algo me chamou atenção. Mantive contato com ela pela internet e a cada show ficava mais encantada por aquela menina batalhadora, talentosa, cheia de amor pelo que faz, que sorri com os olhos. Di-ana é uma pessoa muito especial que merece todas as coisas boas, e fazer parte da história dela, ver ela crescendo e ganhando seu espaço me deixa muito feliz. Ser fã dela é um presente e aprendi-zado todos os dias!”

MUNIQUE COSTA FLORIANÓPOLIS /SC

“Minha admiração por Diana nasceu no dia 25/02/11, neste dia meu coração foi cativado por uma voz, fiquei encantada por sua alegria, carisma e simplicidade, por aqueles olhos que “sor-riem” quando está feliz e por ver o quanto ela se identifica com o palco, ela nasceu pra isso! A partir daí comecei a acompanhá-la de perto, são quase três anos de historias e momentos muito especi-ais.Seus sonhos se tornaram meus também e suas conquistas sem-pre recebem meus aplausos mais sinceros carregados de amor, felicidade e orgulho. Amor de fã é um sentimento lindo, é puro e verdadeiro e ter uma pessoa tão incrível como ídolo é uma honra!”

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TEXTO E FOTOS: Felipe Kreusch

BANDADA LAPA

MÚSICA QUE PASSA DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO

Durante 117 anos a Sociedade Musical e Recreativa Lapa, ou só Banda da Lapa para os mais íntimos dissemina a cultura musical em Florianópolis. O objetivo da banda há um século era alegrar as festividades da comunidade do Ribeirão da Ilha em Florianópolis e ensinar música voluntariamente aos que se interessassem. Hoje a tradição é mantida e a banda da lapa segue ensinando música e ensinando pequenos jovens a tocar variados instrumentos para tocar o coração de várias pessoas.

A tradição centenária foi construída por pescadores e produtores rurais da comunidade do Ribeirão no ano 1896. Até 2013, através de oficinas musicais crianças adultos e adolescentes aprendem a arte da música. Não existe requisito, a não ser a vontade de apren-der. “Desde a sua criação nós conseguimos fazer com que a banda cumpra sua parte social junto à comunidade”, afirma o presidente da banda da Lapa José Carlos Correa. Hoje são cerca de 30 alunos inscritos nas oficinas, em uma sala eclética de idade, mas una em vontade de aprender algo novo.

E para quem pensa que as aulas são só instrumentais e práticas, não é bem assim que funciona. Todos os alunos, independente do instrumento musical, precisa estudar teoria musical que dura seis messes.

As aulas da banda acontecem todo o sábado a tarde no centrinho do Ribeirão da Ilha. Os professores são voluntários. Alguns são for-mados na própria banda, ensinam como forma de gratidão o que um dia alguém lhes ensinou. “É muito legal você ver a evolução

de cada um, eles ficam muito felizes de poder aprender e quando se formam eles agradecem pelo ensinamento que nós passamos apara eles, alguns até nos dão presentes em forma de agradeci-mento, é muito gratificante”, afirma Mayk Edson de Souza, profes-sor de teoria musical e instrutor de saxofone da Banda da Lapa.

MÚSICA UNINDO FAMÍLIAS

É comum histórias de irmãos que estudam juntos, mãe que veio acompanhar a filha e acabou se formando junto com ela, ou até mesmo um família inteira que hoje é toda musical. Esta é a historia da família Pereira Bach, que todo sábado à tarde marca presença nas aulas.

Tudo começou quando Guilherme, o filho mais velho, quis apren-der a tocar trompete; o pai, Júlio Cesar Bach, começou a leva-lo nas aulas, porém, “como era longe para eu voltar para casa e depois vir buscá-lo, eu acabava ficando por aqui e assistindo as aulas junto com ele”, afirma o pai coruja. Por fim, quando pai e filho já estavam quase se formando, a caçula Yasmin quis aprender a tocar flauta e então começou a frequentar as aulas também. A mãe Rogélia Rosa Pereira que não queria ficar sozinha nas tardes de sábado, veio acompanhar a família. “A música realmente uniu nossa família, hoje nós temos motivações juntos”, afirma a mãe, emocionada.

Certamente essa família é musical: “A música faz parte da rotina da casa, os instrumentos, os estudos, as saídas para tocar com a banda, tudo isso virou uma rotina familiar”, conclui o pai Júlio.

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APRENDENDO EM CONJUNTO

Os instrumentos ensinados na banda são os de Sopro, como flauta, trompete, saxofone, trombone e clarinete, além dos instrumentos de percussão. Valéria Martins é ex-aluna e professora de Clarinete, ela aprendeu na banda e hoje passa seus ensinamentos: “Eu come-cei a dar aula por uma necessidade do grupo, não existia um outro professor e aí eu me dispus a dar as aulas”. Ela diz ter ficado com medo de não ter um conhecimento avançado para as aulas, “mas deu tudo certo, tinham dúvidas de que eu não sabia esclarecer na hora mais corria atrás para poder responder no sábado seguinte, porém é muito satisfatório, você sai com a sensação de dever cum-prido”.

Poder aprender algo novo é o que motiva essas pessoas, como é o caso de Adriana Lino, que veio conhecer o projeto e hoje já se for-mou em teoria musical e estuda o clarinete: “Eu conheci o projeto, gostei muito e só fui escolher um instrumento depois das aulas de teorias até porque eu nem conhecia nenhum deles, e hoje o clari-nete é minha paixão”, declara.

Dentre os integrantes da Sociedade Musical e Recreativa Lapa o mais antigo deles é Alécio Heidenrich. Ele foi saxofonista da banda por 62 anos, histórias para ele é o que não faltam. “A Banda pra mim é a minha família, são todos amigos”, afirma o saxofonista que lembra dos velhos tempos: “a gente tocava junto, comia junto e até passava fome junto”.

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“A MÚSICA FAZ PARTE DA ROTINA DA CASA. OS IN-STRUMENTOS, OS ESTUDOS, AS SAÍ-DAS PARA TOCAR COM A BANDA SÃO UMA ROTINA FAMILIAR”, CONTA JÚLIO.

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POR Amilcar Neves UMA ATIVIDADE QUE INICIA NA BASE

PRODUÇÃO CULTURAL

constantemente sobre as demandas de mercado, o que não o faz ser um mercenário, mas sim um correspondente inteligível das via-bilidades de projetos, que se transformam em produtos culturais, para dar as condições necessárias à criação do artista.

Para além disso, a Produção Cultural também pensa na divulgação do artista, sua importância e relevância, como iniciante, feitor, praticante ativo e mesmo artistas profissionais e de renome, que precisam constantemente manter seu público cativo e, se possível, torná-lo mais amplo.

Não raro nos deparamos com artistas que vêem na Produção Cultural uma questão puramente mercadológica ou que muito aparentemente parecem desfocar a arte ansiosa e pretendida para outras localizações: mas que localizações não seriam essas senão a de correspondência e diálogo com o público?

No Brasil há uma cultura em desenvolvimento que se limita na im-portância do entendimento e de atualização com que a Produção Cultural avança, não são apenas de leis de incentivo e editais que se conseguem formas de recursos, outros recursos como crou-founding tem sido utilizado por diversos artistas e produtores tam-bém, mas esta é apenas a ponta de um iceberg tropical.

Além de editais e leis próprias de incentivo, há programas culturais que apoiam determinados segmentos, nesse sentido, o produtor cultural também deve estar atento. Mas, voltemos um segundo, para quaisquer desses casos, inclusive os novos meios de econo-mia criativa, é necessário a escrita, o planejamento, o orçamento adequado e, principalmente, a importância cultural a que a deter-minada arte se destina.

Num jogo que parece complexo, criar dentro da Produção Cul-tural pode ser mais do que uma música, um espetáculo, um festi-val, pode ser dialogar e transmitir saberes subjetivos, promover a igualidade social e balancear, sem preconceitos, os efeitos a que a criação se propõe. Neste caso, subestimar o princípio básico do pa-pel como suporte para traçar as primeiras ideias, é o mesmo que, ao meu ver, faz do artista contemporâneo altista de sua própria sociedade e cultura, a não ser, devidamente, que el,e já aclamado pelo furor da crític,a permaneça como ícone desta cultura, o que não parece corresponder mais aos moldes do século 21.

Quando se fala em produção, o normal é um imaginário povoado por peças, festivais, mostras, shows, exposições e quaisquer outras atividades das áreas artísticas: já pronto! No entanto, ao se falar em termos de produção cultural, o imaginário começa a se inqui-etar: afinal o que é Produção Cultural? Cultura, em termos simples, abarca um conceito maior que a prática artística, tendo em vista as artes dentro do universo da cultura, daí podemos começar a entender a diferença entre o que é Produção Cultural e Produção Artística.

Daí passamos dos conceitos para os profissionais: produtor cultur-al é aquele que trabalha com atividades artísticas, mas não aquele que as executa em seu sentido criativo, a criação parte do artista. O produtor cultural é o profissional aliado ao artista em suas formas de pensar em torno de sua arte. A grande maioria dos artistas sabe o que quer, mas a pergunta sempre é: como adquirir recursos? E é então que começamos a falar de projetos.

Projeto não é apenas um escopo da arte a ser criada, mas a arte a ser criada dentro de um contexto, ao qual ela própria está inserida dentro de uma determinada sociedade e/ou comunidade. De al-gum modo, mesmo o artista que entende a arte como um fim em si mesma tem a intuição de que ela é relevante a um grupo, a uma demanda. Muitas vezes, o produtor cultural é aquele que tenta compreender e passar para a base do projeto as ideias e vontades do artista de forma a dialogar com a sociedade.

Chamo de artista o coletivo ou grupo, jurídico ou não, que tem finalidades de criação, e produtor cultural o profissional que pensa em como viabilizar os recursos junto ao artista, diferentemente de outros dados ao produtor, tais quais produtor executivo, produtor geral, produtor de palco, etc., estes tem suas especificidades den-tro de um projeto.

O Produtor Cultural é, em suma, aquele que está no início e na base do pensamento da arte dentro de um contexto, para que daí se forme um projeto e que esse projeto se enquadre dentro de uma demanda sócio-cultural. Inicia-se na base pela sua feitura de escrita, muitas vezes, tendo que ter um estudo e entendimento não apenas de Leis de Incentivo, quanto de editais de patrocínio, economia e adequações orçamentárias de viabilização para o projeto em si: seja de uma exposição, de um espetáculo teatral, de um festival ou de uma criação visual. Está atento e informado

POR Christiano Almeida Scheiner

CHRISTIANO SCHEINER é escritor, diretor teatral e produtor cultural, formado em Artes Cênicas pela UDESC. Com dois livros publicados, 5 peças encenadas e um roteiro filmado, dirigiu 3 espetáculos e trabalha como produtor cultural desde 2007.

COLUNA

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Bruna leva as pessoas a uma relação de amor e ódio

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TEXTO: Ketlin Pereira

MÚLTIPLAS FACETAS

ATRIZ, POETISA, PRODUTORA E DIRETORA, BRUNA KONDER TEM NO CINEMA A MAIOR

Bruna Konder Reis gosta de ser chamada apenas de Bruna Konder, pois os dois sobrenomes juntos estão relacionados à política, coisa que ela não gosta nem de falar. Filha mais velha de três irmãos, neta de influente político catarinense, não herdou o mesmo gosto de seus antepassados. Em suas veias corre o amor e a paixão pela cinematografia.

Com medo do mercado florianopolitano, Bruna preferiu ingressar no curso de Jornalismo, na universidade UNISUL, em Palhoça. Alu-na assídua e bem comunicativa, ela deixa claro que não tinha fa-miliaridade com o curso, não era aquilo o que queria. Sempre que tinha oportunidade, colocava a imaginação para funcionar. Bruna adorava atuar em peças teatrais, chegou até mesmo a fazer aulas de teatro. Apoiada por sua família, no segundo semestre de 2010, deixou o medo de lado e mergulhou em sua verdadeira paixão: o cinema.

ATRIZ PERFORMÁTICA E POETISA

Dona de uma personalidade ímpar, Bruna leva as pessoas a uma relação de amor e ódio, como a entrevista que concedeu à Emília Veloso, do blog Devassa, em 2009, em que falou abertamente de muitos tabus. Se para muitos expor o corpo é algo íntimo, Bruna trata de maneira natural. Ela é uma atriz de performance artística e expor o corpo nu é retratar a grandeza da alma e não a nudez como algo promíscuo.

Outra versatilidade de Bruna – poeta – escreve em seu blog Redo-ma de Cetim (redomadecetim.blogsport.com.br). Seus escritos lhe renderam um livro, que publicou em 2012 pela editora Bernúncia, intitulado “Luxuriosa Catarse”. Em breve ela deve lançar o segundo livro de poemas: “O filme tem base de diálogos em textos que es-

crevo no meu blog para meu próximo livro”, conta Bruna.

O TEMIDO TCC

Hoje, aos 27 anos, a artista performática tem outro desafio: o fan-tasma que persegue os acadêmicos durante toda a faculdade, o temido Trabalho de Conclusão de Curso (TCC). Ela está empen-hada em dirigir o curta metragem - “Petricor” - nome de origem grega, de petros, “pedra” + icor, “fluido eterno”, gerando o nome do aroma que a chuva provoca quando cai em solo seco. “O ‘Petricor’ está relacionado a sensações, gestos que o corpo produz em forma de sentimento, em busca de sentidos e ações. O curta é uma fábula poética, sendo uma representação imagética da cobrança existen-cial do ser humano, questionando de forma sutil a sobrecarga em sermos em essência humanos”, conta.

O foco do filme ficou em cima de dois personagens, “Ele” e “Ele”, re-tratando a vida de um casal que moram em uma casa inteiramente branca, pelo acúmulo de memórias da personagem, aonde suas frustrações e sua essência de vida é um fardo árduo e doloroso, a vida é um peso pra Ela e Ele tenta ajudá-la nesse processo. “Com um gênero poético, busca alcançar um público grande. Também conta com dois vídeo artes no meio, é uma experiência que eu adoraria que encantasse todos os tipos de públicos, com essa mistura de contexto visual”, descreve Bruna.

O cinema é um mercado bem restrito - Bruna sabe disso - mas a uni-versidade lhe ajudou a ver o leque de oportunidades que atendem ao mercado cinematográfico além de ser roteirista ou diretor, bem como trabalhar em cada uma das áreas. O mercado catarinense se encontra em franco crescimento, o que deixa Bruna animada. Ela acompanha muita gente talentosa que tem feito bons filmes, e até

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Bruna pretende vencer o fantasma do TCC

apresentando o curta metragem ‘Petricor’.

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bons filmes, e até recebendo prêmios. Sua esperança é ganhar um prêmio com seu curta. “E quem não quer?”, pergunta-se aos risos.

Ganhar um prêmio é colher os frutos de seu suor, empenho e ded-icação, é ter o reconhecimento de seu trabalho. Não é fácil pro-duzir um filme, pois nem sempre se consegue vencer um edital e nem sempre se conseguem patrocinadores, então é necessário ter condições financeiras para pagar a produção do filme, o que ela chama de “auto-trocínio”: ter sorte de encontrar pessoas apa-ixonadas pelo cinema e que participem de graça. Para conseguir gravar “Petricor”, vinte e cinco pessoas participaram da produção (maquiador, fotógrafos, figurinista, entre outros), pessoas que se dispuseram a lhe ajudar pelo amor à arte.

No fim de novembro, Bruna apresenta seu curta à banca, porém ainda tem mais um semestre para pegar o seu diploma, pois ne-cessita completar a carga horária que o curso determina.

De olho no mercado promissor, ela abriu em 2012 uma produtora, a Rei Martin, junto com seu irmão caçula Igor Martins, que ajudou a dar o nome para produtora, já que o nome surgiu da junção dos dois sobrenomes, Reis e Martins, sem a letra “s”. O seu temido TCC foi todo produzido pela Rei Martin. Como a vida acadêmica é cor-rida, Bruna não tem conseguido dedicar-se integralmente à produ-tora, porém logo depois de se formar, ela se que fixar, e deixar sua marca no mercado cinematográfico, primeiramente na grande Florianópolis e depois no Brasil e não é de se espantar se alcançar o restrito mercado internacional, pois talento ela tem e de sobra.

BRUNA É UMA ATRIZ DE PERFORMANCE ARTÍSTICA, E PARA ELA EXPOR O CORPO NU É RETRATAR A GRANDEZA DA ALMA, E NÃO A NUDEZ COMO ALGO PROMÍSCUO.

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Desde criança, Dilmo Nunes, tem fascínio pela madeira. Morador da Ilha da Magia, logo teve seu primeiro contato com artesões que fabricavam canoas e barcos em Florianópolis. Ele conta que pas-sava horas a fio olhando o trabalho minuciosamente, até que um dia um dos artesões o perguntou:

- Você gosta de madeira não é?Ele responde com a cabeça positivamente e então o artesão diz: - Você vai ser o rei da madeira.Coincidência ou não, esse homem parece ter previsto a aptidão para esculpir em madeira de nunes. Aquele pequeno menino, hoje aos 73 anos, já tem mais de 200 peças esculpidas. E não pretende parar.

Na adolescência, Nunes começou a trabalhar como marceneiro, fa-zendo jus a sua paixão. “Quando eu tinha quase 18 anos, comecei a trabalhar na Marcenaria Gomes, uma das primeiras marcenarias da Ilha, ela ficava em frente ao prédio da capitania dos portos. Depois de adquirir experiência na construção de barcos, fui para o Rio de Janeiro para trabalhar em um estaleiro”, conta Nunes com o brilho no olhar.

Barcos foram suas principais obras enquanto trabalhou como construtor, e com cada barco vem um história diferente. Uma das histórias é de um casal de indianos que se fascinaram com os bar-cos de madeira. “Eles disseram que não existiam barcos de madeira lá na índia, se é verdade ou não eu não sei”, explica Nunes, que fez um barco de madeira para o casal, “na época deu muito dinheiro, nós construímos e desmontamos o barco para ser levado por um avião até lá”.

TEXTO E FOTOS: Felipe Kreusch

O REI DA MADEIRA

ARTESÃO POR PROFISSÃO E ARTISTA POR NATUREZA

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Seu Nunes: “O que você me pedir de madeira, eu faço”

ARTES PLÁSTICAS

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MINIATURAS

Depois de construir muitos barcos, atualmente Nunes produz ré-plicas deles em miniaturas; são centenas de barcos espalhados pela sua casa na Barra da Lagoa em Florianópolis. Essas obras fic-aram escondidas por muito tempo. Foi seu filho, também chama-do Dilmo, quem tirou da sombra esse grande talento: “Eu via essa obras aqui, e como também trabalho com cultura, resolvi buscar expor essa obras do meu pai”.

Eles começaram a receber visitas de turistas e estudiosos da cultu-ra da Ilha, até mesmo alunos do curso de Artes Plásticas da UDESC (Universidade do Estado de Santa Catarina) foram conhecer as obras. “As nossas portas estão sempre abertas, eu já recebi pessoas aqui de lugares que eu nunca imaginei, como Brasília, Alagoas, Manaus” conta o artesão.

Os barcos retratam a cultura da ilha, utilizados por pescadores da região, mas não só de barcos é feito o Know How de obras de Nunes, ele também faz casas e bonecos, cada um com uma história, que ele faz questão de contar. Além, é claro, do principal ponto tu-rístico de Florianópolis, a ponte Hercílio Luz. Há duas réplicas da ponte construídas por ele, que conta uma parte da história ilhôa: “quando a ponte estava sendo construída o dinheiro do governo

acabou e então o governador Hercílio Luz veio a cavalo até a Barra da Lagoa para pedir 15 contos de réis emprestados ao meu avô”.

CRIATIVIDADE

Com poucas ferramentas o “Rei da madeira”, como foi intitulado pela comunidade da Barra da Lagoa, faz muitas obras. As ferra-mentas também têm suas histórias e, mesmo sendo, Nunes faz questão de utilizá-las: “o que você me pedir de madeira eu faço”.

“Quando nós estivemos na festa da tainha muitas pessoas ficaram encantadas com as minha obras, e muito queriam comprar elas. Teve um empresário de São Paulo que me ofereceu dez mil reais em um barco, mas eu disse que aquele eu não vendia, mas ele deixou um encomendado”, afirma orgulhoso de seu trabalho.

Além das réplicas de barcos ele tem uma miniatura de um engen-ho de farinha de mastro, que segundo ele é o mais complicado de todos, pois qualquer erro, por menor que seja, impede o funciona-mento da máquina. Todos os detalhes, até mesmo os parafusos que ele utiliza na obra foram feitos a mão encaixam-se perfeita-mente.

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“QUANDO TINHA 18 ANOS, COMECEI A TRABALHAR NA MAR-CENARIA GOMES, UMA DAS PRIMEIRAS DA ILHA”, CONTA SEU NUNES

Os barcos retratam a cultura da ilha, utilizados por pescadores da região.

ARTES PLÁSTICAS

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Artista durante execução de obra sobre a imigração açoriana em Santa Catarina

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TEXTO E FOTOS: ADRIANA CALAZANS

MANEZINHO AÇORIANO

APAIXONADO PELA CULTURA DE FLORIANÓPOLIS, MARCELO RIBEIRO PINTA A TRADIÇÃO NA CIDADE

A descoberta do talento nas artes plásticas foi cedo. Aos 10 anos de idade, Marcelo Calazans Ribeiro já dava as primeiras pinceladas de uma paixão. Nessa época seus desenhos apareciam nos encartes voltados para crianças, no jornal de domingo. A técnica foi sendo elaborada até que em 1975, a DIRETUR (Diretoria de Turismo do Município de Florianópolis) divulgou um concurso em busca de novo talentos: “Esse concurso selecionava somente uma pessoa e eis que Seu Marcelo apareceu. Então, gostaram do que viram e promoveram uma exposição. Eu produzi vários quadros e vendi a maioria do que tinha na época.”

Marcelo lembra que ainda em 1975 foi fundada a Associação Catarinense de Artistas Plásticos, da qual foi associado ao lado dos principais artistas do estado: “Eles conheceram meu trabalho. Franklin Cascaes conheceu meu trabalho, Martinho de Haro con-heceu meu trabalho.” Durante dois anos fez exposições, inclusive através da prefeitura. Depois acabou se afastando um pouco da arte para se dedicar aos estudos: “Eu estava ingressando no ginásio e comecei a me dedicar aos estudos, mas nunca tinha abandonado os pincéis. Eu sempre fazia uma ‘telinha’, só por fazer, com medo de perder a habilidade.”

A paixão pela cultura açoriana começou em 1996, mesma época em que colocou no ar o portal Manezinho da Ilha, que fala dos cos-tumes e tradições da Ilha de Santa Catarina. “Quando eu percebi que eles passaram muita dificuldade pra chegar e se manter aqui, eu fiz questão de começar a trabalhar em função disso. É como uma espécie de homenagem. Eu queria deixar registrado que eu faço isso em memória deles.”

Mais tarde, já em 1999, o CIC (Centro Integrado de Cultura) abriu um concurso chamado Salão de Novos Artistas. 140 trabalhos concorreram e de cada artista podiam ser selecionados até três trabalhos: “Eu tinha três quadrinhos pequenos, então pensei as-

sim: ‘nesses concursos o pessoal leva um trabalho maior, com mais efeito, impacto visual e ali que eu descobri que não tinha perdido a mão, porque os três trabalhos que eu entreguei foram seleciona-dos”. Além de Marcelo outros 16 artistas foram selecionados e as obras foram expostas no Museu de Arte Moderna do CIC.

Em 2000, o artista organizou uma exposição na junta comercial: “Era um lugar de difícil acesso, foram mais os parentes e amigos. Aí foi a primeira vez que houve a intervenção do Seo Maneca.” O ator Geraldo Cunha, que interpreta o irreverente manézinho da ilha Seo Maneca, é primo de Marcelo. Esse foi o início de uma parceria: “ O Maneca já fazia a parte dele, aí eu pedi que ele fizesse uma in-tervenção e ele fez lá. Com o Seo Maneca eu tenho feito algumas coisas.”

TÉCNICA E HISTÓRIA

Pode-se marcar o início da técnica de misturar elementos para o ano de 2005. A série “Boi de mamão da tradição” conta com 14 telas de 30 cm x 40 cm e o boi de mamão é o assunto central. Essa série usa muito a mistura de elementos: “Pode observar que tem sempre uma cabeça de boi de mamão, e é o boi de mamão e a cultura aço-riana, ou a cultura de base açoriana. São duas formas de conceituar quando a gente quer falar sobre cultura açoriana aqui na Ilha ou no litoral de Santa Catarina.”

O primeiro quadro feito para a série é o Boi Pandorga, que é uma relação com as brincadeiras infantis trazidas pelos açorianos. Uma outra tela faz uma relação com o arrastão e a pesca da tainha, tão forte na cidade: “Todo trabalho tem um fundo até didático, ele tenta passar uma informação do que realmente acontece. O resto é estético, é um formato de bico de canoa, a corda, todos os el-ementos aqui tem relação com a pesca, tem relação com o folclore das lendas”.

ARTES PLÁSTICAS

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A mistura de elementos é tão forte que na tela Boi Assombração, o artista relaciona o boi de mamão com a lenda da procissão das almas, que mesmo sendo rara, ainda acontece no Brasil e de forma muito semelhante à dos Açores: “São pessoas que saem na quinta-feira santa, encapuzadas em procissão até o cemitério. Então várias almas vão seguindo junto, em Portugal se diz que se a pessoa que olha na janela e comenta sobre aquilo morre três dias depois. Pro nosso povo aqui, a alma que se vê é na forma humana, talvez um tio que não viu mais mas, já morreu, essa pessoa entrega uma vela, que é o caso dessa representação do quadro. No dia seguinte se ela for procurar a vela que ganhou, aparece no lugar um osso humano. E ela também tem que ficar quieta, não pode contar se não corre o risco.”

Além do talento para pintar a cultura, Marcelo tem um gosto especial pela pintura de retratos: “Gosto de trabalhar de uma forma bem detalhada”. Um dos quadros, chamado de Bruxos da Ilha, tem como personagens os saudosos Aldírio Simões, Luiz Hen-rique Rosa, Zininho e Franklin Cascaes.

BREVE PASSAGEM PELA TV

Há quatros anos, Marcelo e Seo Maneca, em uma outra parceria de sucesso, formaram uma dupla re-sponsável pelo programa Enquanto frita a tainha, anexo ao programa Gente da Terra, da extinta TV Capital. O programa tinha como responsáveis Am-aro e Rafael Costa.

O programa Gente da Terra tinha 1 hora e era preenchido com assuntos pertinentes da cultura local, além das músicas do grupo mas, eles precisa-vam preencher o programa: “Então eles negociar-am conosco meia hora do programa. Era só botar o Maneca lá.”

Assim, foi montado um cenário básico e o Seo Maneca fazia as entrevistas: “Foi muito interessante. Eu ficava na direção do programa, via tudo e eu fa-zia tudo. Era só eu e ele. Ele só apresentava e eu fa-zia o contato, montava as pautas, cheguei a fazer entrevista, porque teve uma vez que ele não pôde.”

Marcelo conta que na época era tratado como imp-rensa. Ele lembra o episódio em que Tullo Cavallazzi faleceu e os integrantes da saudosa Filarmônica Desterrense finalizou as atividades e parou de sair no carnaval da capital: “A Filarmônica Desterrense era um pessoal que tocava tudo ao contrário, aí fa-leceu o Tullo Cavallazzi, que era o maestro, então eles não quiseram mais. O filho dele, assim pra mim: ‘Marcelo, primeira mão, nesse carnaval não vamos sair, não tem condição de sair sem o pai e nós que não vamos mais sair no carnaval. Olha Marcelo, é primeira mão, vocês podem anunciar. Essa é pra vocês’. Ele pensou que eu era jornalista” conta rindo.

Naquela época as entrevistas eram muito interessantes como do, na época, administrador do

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PROJETOS

Marcelo faz parte da Casa dos Açores e de um grupo folclórico de boi de mamão do qual é presi-dente: “Eu estou com o pessoal do boi de mamão há uns quatro pra cinco anos já. É a associação fol-clórica boi de mamão do Itacorubi.” Ele conta que o grupo não era organizado de forma burocrática e só no ano passado conseguiu isso, assim se tor-nou possível fazer convênios com a prefeitura para apresentações: “Hoje tudo é feito com documen-tação, prestação de contas, tudo como tem que ser.”

Existe ainda o vínculo com outros projetos que já estão formatados. Um desse já entregue e aguar-dando. É o projeto pelo dia municipal do boi de mamão: “Vamos dizer assim eu que fiz, eu que sugeri.” O projeto já está argumentado e está nas mãos de um vereador, pronto para votação. O dia do boi de mamão será no terceiro domingo do mês de agosto.

Outro projeto é o de implementar na região o mu-seu do boi de mamão, que é o maior símbolo do folclore ilhéu. Existe ainda o projeto de levar até os Açores a exposição: “A exposição é só um detalhe. O projeto, a essência dele é a educação.” É um projeto itinerante nas escolas das maiores ilhas do arqui-pélago, mostrando a relação da cultura da Ilha de Santa Catarina com as ilhas Açorianas.

Se você quer conhecer melhor a cultura de Flori-anópolis e ter mais informações sobre o artista e suas obras é só acessar o portal Manezinho da Ilha no endereço: www.manezinhodailha.com.br

“TODO TRABALHO TEM UM FUNDO ATÉ DIDÁTICO, ELE TENTA PASSAR UMA INFOR-MAÇÃO DO QUE REAL-MENTE ACONTECE.”

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TEXTO E FOTOS: ISRAEL MOSAR

FLORIPA EM FORMA DE AQUARELA

MANIFESTAÇÕES ARTÍSTICAS NAS RUAS DA CAPITAL TÊM DADO UM COLORIDO ESPECIAL À ARQUITETURA DA CIDADE, QUE ABRAÇOU A IDEIA DE FORMA IRREVERSÍVEL

As manifestações artísticas em forma de desenho, feita em locais públicos não é algo novo. Estudos comprovam que estas manifes-tações datam de milhões de anos antes de Cristo, quando então, nossos antepassados passaram a fazer pinturas rupestres para re-tratar o cotidiano. Após anos de evolução o homem desenvolveu-se em todos os campos, mas ele ainda sente a necessidade de, através de desenhos, retratar sua vida.

Os primeiros vestígios de grafites urbanos são nas cidades da Roma Antiga. Ao longo dos anos o grafite foi crescendo e experi-mentou um boom em meados da década de 70 em New York, Estados Unidos, se espalhando para todo o mundo. No Brasil, essa manifestação artística experimentou seu boom quase duas décadas depois, quando, na cidade de São Paulo, apareceram os primeiros pintores, que logo disseminaram a arte do grafite para todos os cantos do país, inclusive Florianópolis.

Se anteriormente nossos antepassados utilizavam barro e ervas para fabricar pigmentos que os possibilitassem fazer suas pinturas, os pintores urbanos de hoje utilizam tintas especiais desenvolvidas exclusivamente para a prática do grafite. “Hoje em dia existem tin-tas especiais, nacionais e importadas, que possibilitam uma maior aderência, e possibilidade de efeitos. Além disso, existem vários tipos de caps e o catálogo de cores é extenso”- afirma o grafiteiro Rodrigo Teodósio, o Mumu, que assina como CSC (Comando Skate Carianos).

Os primeiros grafiteiros se manifestavam de forma mais agressiva, com desenhos e letras tribais, geralmente na cor preta e com pou-ca criatividade. Gradativamente as pinturas foram evoluindo estet-icamente e o resultado impressiona. Segundo Denis Moreno, um paulistano de 39 anos que já pinta há quase vinte anos, os grafitei-ros contemporâneos procuram se inspirar e reproduzir técnicas de artistas consagrados, como Fernando Gonzáles, Angeli, Salvador Dali, da Vinci. Denis, ou Denão, como prefere, também pinta quad-ros em casa, mas “pintar na rua é outra pegada, tem adrenalina”, admite com um largo sorriso.

Além da inspiração, os grafiteiros contemporâneos utilizam no-vas tecnologias e truques para realização das pinturas. A grande maioria deles possui um livro ou caderneta, o Black book, que é onde eles fazem seus modelos e rascunhos, embora alguns deles também usem equipamentos eletrônicos, como smartphones ou tablets para guardar seus modelos.

Grafite x arquitetura: uma equação que tem multiplicado o col-orido da Ilha da Magia

A arte do grafite busca cada vez mais conversar e interagir com a arquitetura das cidades. Essa relação é uma busca pela humani-zação do espaço onde passamos a maior parte da nossa vida. Cada vez mais os artistas procuram fazer com que seus desenhos façam parte das formas geométricas das cidades.

Em Florianópolis, a cena do grafite está muito aquecida. Muitos es-paços públicos como escolas e centros de atividades socioculturais estão cedendo espaços, como muros e fachadas, para grafiteiros externarem sua criatividade. A creche Municipal Idalina Ochôa do Carianos, no sul da ilha, cedeu seus muros para um grupo de quase vinte grafiteiros, que em dois dias, transformaram um muro sem vida numa grande moldura colorida, com personas e animais. Para o grafiteiro Cauê On, que participou da pintura do muro, este deve ser um caminho seguido, pois pode servir de exemplo às gerações futuras- “fazer um grafite numa escola é especial, porque incentiva a criança a fazer arte. Toda criança gosta de pintar. O grafite causa um impacto nas crianças, mas com o tempo elas vão entendendo a mensagem e acabam elegendo seus desenhos prediletos”.

Espaços particulares também vêm aderindo a moda dos grafites autorizados, como por exemplo, a Casa Cor e o tradicional bar Armazém Vieira, no bairro Pantanal. Tombado pelo IPHAN, Institu-to do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, o prédio será pinta-do em breve e, enquanto as tintas não chegam, o proprietário teve uma ideia: convidar alguns grafiteiros para fazerem um grande trabalho em sua fachada centenária. O resultado é fantástico e os olhos dos manezinhos agradecem.

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VOCABULÁRIO DO GRAFITE

WRITER: o grafiteiro

BITE: imitar o estilo de outros artistas

CREW: vários artistas que se reúnem para pintar no mesmo local

TAG: é a assinatura do artista

TOY: artista iniciante

spot: local onde é realiZado o grafite

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“O GRAFITE É MOVER E INTERAGIR COM OS OUTROS QUE ESTÃO À VOLTA. É AMIZADE, ARTE E DESENVOLVIMENTO!”, DIZ CAUÊ ON

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POR Marcos Vasques

DE TEATRO EM TEATROnormalmente, as “grandes estrelas” se apresentam. Nestes espe-táculos, em que se paga a peso de ouro ou se disputa uma cortesia com o fervor de cães famintos à frente de um bife acebolado, a cena externa, em muitos casos, supera o que se vê no tablado, pois existe um tipo de gente que não vai ao teatro para assistir aos out-ros, mas para ser assistida.

Então a coisa é assim também: muito laquê no cabelo – daqueles que nem o vento sul consegue abalar -, muita base, batom, brin-co de ouro, óculos Dior, bolsa Louis Vuitton e Prada. Ou seja, um mundo de gente que acha bonito se pavonear sem se dar conta do limite entre a beleza e o senso do ridículo. Nestas noites, os teatros são tomados pelo estilo Barbie – com silicone e botox - maquiada por criança. Soma-se aí muita empáfia e burrice; temos o tipo de personagem que brilha mais que qualquer peça global.

Dia deste ele aproveitou o anonimato e se imiscui na conversa de duas madames que difamavam o teatro local. Como? Teatro em Florianópolis? Existe? Só porcaria! Cruzes! Nesse momento ele foi para cima delas – não o julguem um tarado, por favor: qual o últi-mo espetáculo feito aqui a que assistiram? Conhecem o nome de algum ator? De um diretor? Conhecem... O silêncio permaneceu. Estava tudo, nada, dito.

A coisa é simples e mais ou menos assim: chega em casa, toma banho, veste a primeira camisa que estiver à frente, coloca a primeira calça limpa que achar. Procura meias e sapados, também sem muita frescura na escolha. Depois se olha no espelho para ver se o corpo e a cabeça estão intactos diante do exercício de 15 minutos. A rotina é semanal. Tem semanas que chega a ir ao teatro mais vezes que os próprios dias da semana. Em resumo, para ele a atividade de frequentar o teatro é vital, necessária e tão natural, que não consegue entender o comportamento de algumas pes-soas quando vão a um e outro espetáculo.

Pelo menos duas vezes a cada sete dias se dirige ao Teatro Ar-mação, ao Teatro da Ubro, ao Teatro do SESC-Prainha, ao Teatro da Igrejinha da UFSC, ao Teatro Álvaro de Carvalho, à Casa das Máqui-nas, à sala do Centro de Artes da UDESC, às ruas da cidade, ao Tea-tro Pedro Ivo, à Célula Cultural, ao centro de eventos da UFSC ou ao Teatro Ademir Rosa; enfim, onde a cena acontece, costuma se fazer presente. Não tem preconceito algum. Vai da comédia ao drama com a expectativa do gozo estético ou a perspectiva de encontrar alguma poesia que dialogue com a carne e a mente.

No entanto, o teatro, para ele, começa muito antes do teatro, so-bretudo nos espaços ditos mais nobres, menos alternativos. Onde,

MARCO VASQUES é poeta, crítico de teatro e de literatura. Edita, com Rubens da Cunha, a revista Osíris Literatura e Arte. É, também, editor do Suplemento Cultural de Santa Catarina [ô catarina] e cronista semanal do Jornal Notícias do Dia.

CRÔNICA

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