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ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO, A CIÊNCIA E A CULTURA – UNESCO Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República – SDH/PR Relatório 1 PROJETO: 914 – BRZ3010 – “Fortalecimento dos mecanismos de participação e controle social das políticas públicas de direitos humanos” – UNESCO Produto 1 Documento Técnico contendo relatório com o levantamento das políticas setoriais do Governo Federal referentes à população em situação de rua e proposta metodológica para o seu acompanhamento pelo Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua. Consultor técnico: Binô Mauirá Zwetsch Brasília/DF, Junho de 2014

ZWETSCH - Monitoramento Pop Rua - Produto 1 Consultoria SDH UNESCO

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ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A EDUCAÇÃO,

A CIÊNCIA E A CULTURA – UNESCO

Secretaria de Direitos Humanos

da Presidência da República –

SDH/PR

Relatório 1

PROJETO: 914 – BRZ3010 – “Fortalecimento dos mecanismos de participação

e controle social das políticas públicas de direitos humanos” – UNESCO

Produto 1

Documento Técnico contendo relatório com o levantamento das políticas setoriais

do Governo Federal referentes à população em situação de rua e proposta

metodológica para o seu acompanhamento pelo Comitê Intersetorial de

Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para a População em

Situação de Rua.

Consultor técnico: Binô Mauirá Zwetsch

Brasília/DF, Junho de 2014

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Massa Instantânea

Eu falo de uma massa, que não é espaguete.

É uma massa crua, é o menino de rua, rotulado de

pivete, pela educação escrava.

Eu falo de uma massa que não é macarrão.

É o guri sem teto, sem afeto, analfabeto, seu colchão é

o chão, vida de cão sem raça.

Eu falo de uma massa que não é massa folhada.

Pede grana no sinal, só tem folha de jornal, contra o

frio da madrugada, sua pele é sua couraça.

Eu falo de uma massa que não é de pastel.

Recheada de vento e dormindo ao relento,

O seu teto é o céu, seu recheio é só carcaça.

Eu falo de uma massa que não é ravioli.

Intragável, indigesta, que a princípio não presta.

E que ninguém engole, e que no mole, despedaça.

Eu falo de uma massa que não é parafuso.

É o moleque inteligente que de tanto solvente, vai

ficando confuso, enquanto o tempo passa...

Eu falo de uma massa que não é panqueca.

Fissurada no crack, a mente sente o baque, enquanto o

corpo seca, e a vida embaraça.

Eu falo de uma massa que não é capelete.

Não tem armas pra luta, nem força pra disputa, por

isso nem compete, fica vivo por pirraça.

Eu falo de uma massa que não é um miojo.

Boicotada, atrofiada, que não é valorizada, a elite tem

nojo, seu paraíso é a praça.

Vem agora e abraça a massa instantânea, que não

quer ficar no molho, mas transcender o teu olho, que

tua atitude espontânea, vem agora e ABRAÇA!’

Poema de Carlinhos Guarnieri –

Redutor de Danos e Educador Social de Rua de Porto Alegre/RS.

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Siglas

Centro Pop: Centro de Referência Especializado para a População em Situação de

Rua

CGDPSR: Coordenação-Geral dos Direitos da População em Situação de Rua

CIAMP-Rua: Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da

Política Nacional para a População em Situação de Rua

CNBB: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil

CNDDH: Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos da População em

Situação de Rua e dos Catadores de Materiais Recicláveis

CNMP: Conselho Nacional do Ministério Público

CRAS: Centro de Referência em Assistência Social

CREAS: Centro de Referência Especializado em Assistência Social

Disque 100: Dique Direitos Humanos – Disque 100

eCR: equipe Consultório na Rua

IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística

IPEA: Instituto de Pesquisas Econômicas Aplicadas

MCidades: Ministério das Cidades

MDS: Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome

MEC: Ministério da Educação

MinC: Ministério da Cultura

MJ: Ministério da Justiça

MNPR: Movimento Nacional da População de Rua

MNCR: Movimento Nacional de Catadores de Materiais Recicláveis

MP: Ministério Público

MPOG: Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão

MS: Ministério da Saúde

MTE: Ministério do Trabalho e Emprego

PBA: Programa Brasil Alfabetizado

PES: Planejamento Estratégico Situacional

PNAB: Política Nacional de Atenção Básica do Ministério da Saúde

PNPR: Política Nacional para a População em Situação de Rua

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PRONATEC: Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico

PSE: Proteção Social Especial

PSR: População em Situação de Rua

RAPS: Rede Atenção Psicossocial

SDH/PR: Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República

SENASP: Secretaria Nacional de Segurança Pública

SENAES: Secretaria Nacional de Economia Solidária

SINE: Sistema Nacional de Emprego

SUAS: Sistema Único de Assistência Social

SUS: Sistema Único de Saúde

UNESCO: United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

(Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura)

UBS: Unidade Básica de Saúde

TR: Termo de Referência

UnB: Universidade de Brasília

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Sumário

1. Introdução___________________________________________________________________________06

2. Metodologia: Análise situacional __________________________________________________07

3. Parte I:

3.1. Levantamento das políticas setoriais do Governo Federal referentes à

população em situação de rua______________________________________________10

3.1.1. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República ______13

3.1.2. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome __________18

3.1.3. Ministério da Justiça ____________________________________________________20

3.1.4. Ministério da Saúde _____________________________________________________22

3.1.5. Ministério da Educação _________________________________________________26

3.1.6. Ministério das Cidades__________________________________________________27

3.1.7. Ministério do Trabalho e Emprego ____________________________________28

3.1.8. Ministério do Esporte e Lazer _________________________________________29

3.1.9. Ministério da Cultura ___________________________________________________29

3.1.10. Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão ___________________30

3.1.11. Ministério Público ______________________________________________________31

4. Parte II:

4.1. Proposta de metodologia de acompanhamento das políticas federais

pelo Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da

Política Nacional para População em Situação de Rua___________________32

4.2. Oficina Nacional para pactuação de indicadores de monitoramento

da Política Nacional para a População em Situação de Rua (PNPR)____34

5. Considerações finais ________________________________________________________________43

6. Referências bibliográficas __________________________________________________________44

6

1. Introdução

O relatório em tela integra a consultoria técnica do Projeto de Cooperação

Internacional Código 914BRZ3010 fruto do acordo entre a Organização das Nações

Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (United Nations Educational,

Scientific and Cultural Organization - UNESCO) e a Secretaria dos Direitos Humanos

da Presidência da República (SDH/PR) do Governo Federal do Brasil, intitulado

Fortalecimento dos mecanismos de participação social, do qual fui selecionado pelo

Edital n° 20/2013.

Segundo o Termo de Referência, a supracitada consultoria tem como

finalidade elaborar banco de documentos referenciais sobre as atividades do Comitê

Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para

População em Situação de Rua e os direitos e as principais violações por ele

discutidas.

Destarte, apresento o primeiro relatório, balizado pelo TR no qual o

resultado esperado para o Produto 1 é a produção de documento técnico contendo

relatório com o levantamento das políticas setoriais do Governo Federal referentes à

população em situação de rua e proposta metodológica para o seu acompanhamento

pelo Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional

para a População em Situação de Rua.

Devido à estreita relação da consultoria com as atividades próprias do

Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional

para População em Situação de Rua (CIAMP-Rua), coordenado pela Secretaria de

Direitos Humanos da Presidência da República, designada pelo Decreto n°

7.053/091, o desenvolvimento daquela situa-se no âmbito da Coordenação-Geral

dos Direitos da População em Situação de Rua 2, em Brasília/DF.

Esta será minha posição como ponto de partida no processo de pesquisa:

tanto na busca de informações, relatórios e dados da SDH/PR, demais políticas

1 Decreto n° 7053, de 23 de dezembro de 2009, institui a Política Nacional para População em Situação de Rua. 2 O Decreto Presidencial n° 8.162, de 18 de dezembro de 2013, que alterou a estrutura regimental da Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, modificou o nome de Coordenação-Geral de Direitos Humanos e Segurança Pública (CGDHSP) para Coordenação-Geral de Direitos da População em Situação de Rua (CGDPSR). De forma geral, a coordenação atua em ações voltadas à efetivação das políticas públicas de promoção e defesa dos direitos humanos da população em situação de rua constantes do Programa Nacional de Direitos Humanos - PNDH-3, eixos III e IV.

7

setoriais de governo e sociedade civil, quanto na produção de atas e registros da

minha participação nas reuniões do CIAMP-Rua, encontros, seminários e oficinas

que perpassam a temática da defesa dos direitos da população em situação de rua.

Dito de outro modo, o apoio ao CIAMP-Rua na construção de indicadores de

monitoramento contribuirá para a consolidação da Política Nacional para

População em Situação de Rua e a efetivação dos direitos desse grupo populacional

vulnerável. Por fim, o relatório apresentado a seguir, conta com duas partes, sendo

a primeira o levantamento das políticas setoriais do Governo Federal referentes à

população em situação de rua, enquanto a segunda expõe a proposta de

metodologia de acompanhamento.

2. Metodologia: Análise situacional

A metodologia na qual opero a construção da proposta para o

acompanhamento do CIAMP-Rua tem como matriz o Planejamento Estratégico

Situacional (PES) de MATUS (1993). A epistemologia situacional do autor

influenciou o planejamento governamental na América Latina, especialmente no

planejamento em saúde3. O autor propõe a lógica do jogo social, cujos

fundamentados são complexidade, indeterminação e incerteza (FORTIS, 2010).

Nessa perspectiva, a estratégia é situacional e responde à leitura

diferenciada que um ator faz da realidade concreta que o envolve e que ele ajuda a

construir com seu jogo (MATUS, 1996, p. 13). Como citado na introdução meu

ponto de vista para análise será a Coordenação-Geral dos Direitos da População

em Situação de Rua, da SDH/PR, que coordena o CIAMP-Rua.

O Planejamento Estratégico Situacional (PES) pode ser aplicável em

qualquer órgão para o qual os problemas a serem abordados não sejam

exclusivamente o mercado, mas o jogo político, econômico e social.

3 Carlos Matus teve carreira na área econômica e financeira da administração pública chilena tendo ocupado o cargo de Ministro da Economia no governo socialista de Salvador Allende. As obras mais relevantes do autor resultaram de suas reflexões no período exílio na Venezuela durante a Ditadura Militar de Augusto Pinochet no Chile. A aplicação de suas teorias é notável no campo do planejamento em saúde, junto às contribuições de Mário Testa e Gastão Campos.

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Para entendermos melhor o PES será utilizada a metáfora do teatro. Sob um

pano de fundo de paisagens constantes, estão atores que jogam em cenários

dinâmicos, nos quais as jogadas dos atores envolvidos disparam fluxos. Tal matriz

difere do planejamento tradicional determinístico, no qual as ações necessitam de

recursos humanos e materiais, seguem etapas com fim de alcançar objetivos

monitorados por metas previstas a partir de ações passadas presumidamente

imutáveis, sustentadas nas teorias da economia e da administração.

Os atores referem-se aos representantes do governo federal, da sociedade

civil organizada, do movimento social, parlamento, judiciário, ministério público e

imprensa. Enquanto, os jogos serão observados e analisados a partir do processo

de decisão nas reuniões do Comitê Intersetorial de Acompanhamento e

Monitoramento da Política Nacional da População em Situação (CIAMP-Rua),

ademais das atas, documento de planejamento anual e do plano de ações, “Carta

para a presidenta”, de modo a compreender as dinâmicas entre o planejamento e a

execução das demandas debatidas no CIAMP-Rua. Um dos aspectos para

compreender os jogos será situar as zonas de governabilidade, as zonas fora da

governabilidade e aquelas fora do jogo.

Como momento inicial para elaborar o plano é imprescindível realizar a

análise situacional, contraponto ao diagnóstico, modo tradicional de planejar

assentado na premissa na qual o passado se repetirá.

A definição de prioridades ocorre por meio da análise situacional, que

permite identificar, formular e priorizar os problemas, abordados de acordo com

as condições da realidade e os aspectos da gestão. Segundo MATUS (1993), o PES

observa os jogos entre os atores para propor uma estratégia que viabilize os

objetivos do Plano.

O diálogo entre os diferentes atores, suas posições e análises

contextualizadas devem se refletir nos problemas descritos, para que o exercício

de formular consensualmente os planos de ação se apresente como uma

oportunidade política favorável, uma vez que as ações governamentais devem ser

conduzidas pela direcionalidade, superando o imediatismo da mera conjuntura.

9

Visando à organização de intervenções e à produção de resultados sobre uma

determinada realidade, o PES constitui-se em quatro momentos4:

a)Momento explicativo (M1): foi, é, tende a ser;

b)Momento normativo (M2): deve ser;

c)Momento estratégico (M3): pode ser;

d)Momento tático-operacional (M4): fazer.

No caso do processo de planejamento, os momentos encadeiam-se e

formam circuitos repetitivos para ajudarem-se mutuamente e passar sempre a um

momento distinto5.

No Brasil a paisagem para análise dos cenários políticos é do país

construído cultural, político, social e economicamente pelo amálgama de povos

ameríndios, europeus e africanos, a experimentar o processo democrático nas três

últimas décadas desde o fim da Ditadura Civil-Militar (1964-1985). Dessa

historicidade utilizarei para análise os seguintes referenciais: a) Declaração

Universal do Direitos Humanos proclamada na Assembleia Geral das Nações

Unidas, em 1948; b) Constituição da República Federativa do Brasil, de 1988,

que consolidou o processo de democratização, no qual convergiram as

reinvindicações dos movimentos sociais e assegurou direito à saúde, educação,

trabalho, terra, moradia, segurança, saneamento básico, direito à diferença e

contra preconceitos, dentre outros direitos constitucionais; c) Plano Nacional de

Direitos Humanos (PNDH-3)6, Decreto n° 7177/10, d) Política Nacional da

População em Situação de Rua, Decreto n° 7053/09;

4 O conceito de momento indica instância, ocasião, circunstância ou conjuntura pela qual passa um processo contínuo, ou em cadeia, que não tem começo nem fim definidos (MATUS, 1993). 5 BRASIL. Planejamento Estratégico do Ministério da Saúde 2011-2015. Resultados e Perspectivas. Secretaria Executiva, Departamento de Monitoramento e Avaliação do SUS. 2ª edição, revisada e ampliada. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 6 Na apresentação da versão especial impressa, o Presidente Luiz Inácio Lula da Silva descreve o PNDH-3 como um roteiro consistente e seguro para seguir consolidando a marcha histórica que resgata nosso país de seu passado escravista, subalterno, elitista e excludente, no rumo da construção de uma sociedade crescentemente assentada nos grandes ideias humanos de liberdade, da igualdade e da fraternidade. (BRASIL, 2010, p. 14).

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Parte I

3.1. Levantamento das políticas setoriais do Governo Federal

referentes à população em situação de rua

A contextualização a seguir apenas reifica a importância da memória do

processo de construção da Política Nacional para População em Situação de

Rua. No entanto, para os fins específicos dessa consultoria ficarei restrito ao

processo institucional brasileiro das políticas públicas para população em situação

de rua, não propriamente uma revisão da literatura sobre a história do fenômeno

em situação de rua.

O acúmulo histórico do movimento social que pautou políticas públicas

para o povo da rua, os mendigos, sofredores de rua, moradores de rua, população

de rua, população em situação de rua7, no cenário político brasileiro teve seu

apogeu nos marcos legais da assistência social como a Lei Orgânica da Assistência

Social, a Política Nacional de Assistência Social, Sistema Único de Assistência Social

e no Decreto n° 7053/09, que institui a Política Nacional de Assistência Social,

referenciada na intersetorialidade, na ação integrada, na participação e nos

direitos humanos.

A trajetória para transformar em demanda política o fenômeno da situação

de rua tem como fatos históricos a chacina da Praça da Sé, na cidade de São Paulo,

que vitimou sete pessoas em situação de rua, em 2004. A barbárie seguiu com

vários atos de ódio semelhante no país nos meses seguintes. Na mesma cidade, em

2004, um grupo de pessoas em situação de rua já conscientes da necessidade de

organização e luta contra a violência e por direitos promove a realização de

Fóruns, Debates, manifestações, plenárias FalaRua, dentre outras atividades.

Na cidade de Belo Horizonte, durante o 4º Festival Lixo e Cidadania, em

setembro de 2005, apoiados pelo Movimento Nacional de Catadores de

Material Reciclável (MNCR), pessoas em situação de rua de São Paulo, Rio de

Janeiro, Salvador e Cuiabá realizaram um encontro e lançaram o Movimento

7 A definição das pessoas que vivem nas ruas e a quantidade de termos utilizados para nominá-los reflete um campo conflituoso de disputa. Porém, para a finalidade do relatório utilizarei os termos vigentes de pessoa em situação de rua para sujeitos e população em situação de rua para os grupos, como definido pelo Decreto n° 7053/09.

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Nacional da População de Rua (MNPR). A aproximação das pautas era latente

desde 2001, quando da articulação entre os catadores de materiais recicláveis e

população em situação de rua que resultou na Marcha para Brasília.

Simultaneamente a mobilização social, o Ministério de Desenvolvimento

Social e Combate à Fome organiza o I Encontro Nacional da população em

situação de rua, em setembro de 2005.

Por decisão do Grupo de Trabalho Interministerial, formado através do

decreto de 25/10/2006, foi realizada a Pesquisa Nacional sobre a População em

Situação de Rua entre agosto de 2007 e março de 2008 pelo Ministério de

Desenvolvimento Social e Combate à Fome.

Em 2009 foi publicada a Pesquisa Nacional sobre a População em Situação

de Rua que identificou, nas 71 cidades em que foi realizada, 31.922 pessoas em

situação de rua. Considerando, as pesquisas municipais independentes em São

Paulo, Recife, Porto Alegre e Belo Horizonte chegamos a aproximadamente 50.000

pessoas em situação de rua.

Entretanto, as pesquisas são levantamento e não representam a totalidade

da população em situação de rua por não abrangerem todos os municípios e serem

focadas na população adulta. O desafio é garantir que o Instituto Brasileiro de

Geografia e Estatística (IBGE) inclua esse segmento da população sem domicílio

fixo em censos regulares.

Em maio de 2009, ocorre o II Encontro Nacional da população em

situação de rua com o objetivo de debater, propor e validar a proposta de política

nacional, que esteve em Consulta Pública a partir de maio de 2008. O Encontro

resultou no relatório de sistematização das consultoras Aldaíza Sposati e Ana

Paula Motta Costa que serviu como base para detalhar a Política Nacional para

Inclusão Social da População em Situação de Rua construir o Decreto da PNPR

e a elaboração de Plano de Ações.

A Política Nacional para População em Situação de Rua torna-se uma

exigência nacional, nem tanto pela quantidade de pessoas em situação de

rua no país, já que se trata de um universo de cerca de 50 mil pessoas em

um país de cerca de a 190 milhões de habitantes. No entanto, justifica-se

a intervenção [a Política Nacional para População em Situação de Rua]

em razão do significado da presença mesmo que de 50 mil pessoas sob a

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condição de aviltamento à dignidade e aos direitos humanos (SPOSATI;

COSTA, 2009, p. 8).

O Comitê Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da

Política para a População em Situação de Rua é espaço oportuno para o debate

e acompanhamento das ações relacionadas aos programas, projetos e serviços o

governo na esfera federal.

A composição do CIAMP-Rua segue o que preceitua o art. 9 do Decreto n°

7053/09, contemplando representantes da sociedade civil e um representante e

respectivo suplente de cada órgão a seguir descrito:

I-Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República;

II-Ministério Desenvolvimento Social e Combate à Fome;

III-Ministério da Justiça;

IV-Ministério da Saúde;

V-Ministério da Educação;

VI- Ministério do Trabalho e Emprego;

VII- Ministério das Cidades;

VIII-Ministério do Esporte;

IX-Ministério da Cultura;

O inciso 1° do art. 9 do mesmo Decreto, aponta que a composição da

sociedade civil terá nove representantes, titulares e suplentes, sendo cinco de

organizações de âmbito nacional da população em situação de rua e quatro de

entidades que tenham como finalidade o trabalho com a população em situação de

rua.

Ainda permanece em vigor a Portaria n° 409, de 11 de março de 2010, na

qual o Secretário Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República

designa dezoito integrantes, destes nove são membros governamentais e nove são

da sociedade civil. Atualmente, compõem como convidados o Ministério do

Planejamento, Orçamento e Gestão e a Secretaria-Geral da Presidência da

República.

Da totalidade de órgãos governamentais, apenas o Ministério da Cultura não

apresentou representação para o CIAMP-Rua naquela Portaria, ainda que tenha

participado esporadicamente nos últimos anos. Anteriormente, o Ministério do

13

Esporte e Ministério da Justiça não haviam sido designados para elaborar estudos

e propostas no Grupo de Trabalho Interministerial, constituído através do Decreto

de 25 de outubro de 2006, porém foram incluídos no Decreto n° 7053/09.

Nos subcapítulos a seguir, inseridos dentro do momento explicativo (M1) e

momento normativo (M2) da metodologia do planejamento estratégico situacional,

estão contidos o levantamento descritivo das políticas setoriais do Governo

Federal referentes à população em situação de rua, segundo sequência da

representação governamental dos Ministérios supracitados: Secretaria de Direitos

Humanos da Presidência da República, Ministério Desenvolvimento Social e

Combate à Fome, da Justiça, da Saúde, da Educação, do Trabalho e Emprego, das

Cidades, do Esporte, da Cultura e do convidado Ministério do Planejamento,

Orçamento e Gestão, além do Ministério Público.

3.1.1. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República

A coordenação do CIAMP-Rua cabe à Coordenação-Geral dos Direitos da

População em Situação de Rua da Secretaria Nacional de Promoção e Defesa dos

Direitos Humanos da SDH/PR. Consequentemente, é atribuída a ela a promoção a

articulação intersetorial necessária para a planejar, monitorar e avaliar o Plano de

Ações da PNPR.

Inicialmente, é relevante destacar que incidir nas políticas públicas

governamentais como prioridade decorre da inclusão da pauta população em

situação de rua na agenda de governo. Uma das formas para dar visibilidade para

esta pauta é reconhecer a trajetória de luta de pessoas do movimento social que

são referência nesse segmento da população.

Portanto, é um significativo analisador a criação da categoria Garantia dos

Direitos Humanos da População em Situação de Rua no Prêmio Direitos Humanos,

compreendendo a atuação na promoção e defesa da cidadania e dos Direitos

Humanos da população em situação de rua. No ano de 2011, Anderson Lopes

Miranda, liderança do Movimento Nacional da População em Situação de Rua, foi

reconhecida com o prêmio entregue pela Presidenta Dilma Rousseff (Foto 1).

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Foto 1

Foto: Wilson Dias, Agência Brasil.

No ano seguinte, na 18ª Edição do Prêmio de Direitos Humanos, o defensor

público Carlos Weis recebeu o prêmio na mesma categoria pelo trabalho

desenvolvido no Núcleo Especializado de Cidadania e Direitos Humanos da

Defensoria de São Paulo da mãos da Presidenta Dilma e da Ministra Maria do

Rosário da Secretaria dos Direitos Humanos da Presidência da República (Foto 2).

Foto 2

Foto: Divulgação IPEA

No ano de 2013, a Presidenta da República Dilma e a Ministra Secretaria dos

Direitos Humanos da Presidência da República Maria do Rosário junto com outros

Ministros de Estado entregaram para Maria Lúcia Santos Pereira da Silva,

15

Coordenadora Nacional, do Movimento Nacional da População em Situação de Rua,

o prêmio na referida categoria (Foto 3).

Foto 3

Foto: Roberto Stuckert Filho/PR

Ainda no âmbito da SDH/PR, no ano de 2012, foi instalado o serviço Disque

Direitos Humanos (Disque 100) com atendimento específico para denúncias de

violações de direitos da população em situação de rua.

No mesmo ano, foi inaugurado o Centro Nacional de Defesa dos Direitos

Humanos da População em Situação de Rua e dos Catadores de Materiais

Recicláveis (CNDDH) em Belo Horizonte/MG, com o objetivo de garantir a

inclusão social e prevenir e combater atos de violência, além de produzir e divulgar

dados sobre violações dos direitos humanos deste grupo populacional, como

preconizado pelo Decreto nº 7053/09.

O CNDDH é mantido por meio de dois convênios celebrado em dezembro de

2010, um com o Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) e outro com a

Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), aditados até dezembro de

2014.

O CNDDH elaborou a Campanha Eu sou morador de rua e tenho direito a ter

direitos com duas peças de comunicação: um cartaz com o rosto masculino

(Imagem 1) e outro com o rosto feminino (Imagem 2), os dois sorrindo e com a

citação de José Teixeira “Estamos vivendo o nosso dia a dia na rua, mas sempre

sonhando em melhorar nossas vidas” e informação para denúncia de violação de

direitos da população em situação de rua - Disque Direitos Humanos – Disque 100.

16

Imagem 1

Fonte: Divulgação CNDDH.

Imagem 2

Fonte: Divulgação CNDDH.

Em novembro de 2012, a SDH/PR também assinou convênio com a

Universidade de Brasília (UnB) no qual é criado Observatório sobre a violência

contra a população em situação de rua no Distrito Federal (Violes) a fim de

elaborar uma pesquisa que subsidie o Governo Federal na tão necessária tarefa de

enfrentamento dos fatores que conduzem à violência a que esse segmento da

população está sujeito e, dessa maneira, contribuir para a geração de políticas

públicas que garantam efetivamente os direitos humanos dessa parcela da

população.

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Em dezembro de 2012, foi assinado convênio com a Defensoria Pública do

Estado da Bahia com o objetivo de oferecer atendimento qualificado e

multidisciplinar a pessoas em situação de rua na cidade de Salvador/BA. O projeto

visa aprimorar e ampliar o trabalho desenvolvido pela Diretoria Especializada de

Direitos Humanos da Defensoria Pública do Estado da Bahia em sua atuação

extrajudicial em favor da população em situação de rua que engloba acesso a

documentação, acompanhamento da apuração de casos de violência policial, coibir

práticas de violação e de higienização à dignidade humana, promover o acesso ao

direito à saúde, monitoramento de casas de acolhimento.

No ano de 2013, quatro consultoras foram contratadas para elaboração dos

Guias de Serviços para População em Situação de Rua. Os Guias foram

construídos em conjunto com os governos municipais e estaduais, sociedade civil

organizada e com a rede identificada que trabalha com esse público no território,

personalizados de acordo com a oferta de serviços de cada localidade.

Foram selecionadas oito capitais prioritárias: Maceió, Salvador, Fortaleza,

Rio de Janeiro, Belo Horizonte, São Paulo, Porto Alegre e Curitiba. A

articulação política realizada pelas consultoras nos oito municípios junto aos

órgãos responsáveis pela rede de serviços públicos para a população em situação

de rua e também entidades privadas parceiras resultou em sete Seminários locais

(Fortaleza, Maceió, Salvador, Belo Horizonte, Rio de Janeiro, Curitiba e Porto

Alegre) para validação dos Guias, realizados entre outubro e dezembro de 2013.

Finalmente, através do apoio de Diálogos Setoriais União Europeia-

Brasil, a SDH/PR realizou intercâmbio de experiências entre o Brasil e a União

Europeia que culminou em: a) a publicação de Diálogos sobre a população em

situação de rua no Brasil e na Europa: experiência do Distrito Federal, Paris e

Londres, 20138; b) Seminário Internacional Brasil União Europeia para

Promoção e Proteção dos Direitos da População em Situação de Rua, em

junho, em Brasília/DF.

8 BRASIL. Diálogos sobre a população em situação de rua no Brasil e na Europa: experiência do Distrito Federal, Paris e Londres. Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Brasília/DF: SDH, 2013.

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3.1.2. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

Após o processo de organização dos movimentos sociais junto a sociedade

civil, temos a configuração para que a população em situação de rua entre na pauta

das políticas sociais, em 2005. Como analisador temos a alteração do parágrafo

único do artigo 23, da Lei nº 11.258/05, Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS),

onde fica estabelecida a responsabilidade de que essa área crie programas de

amparo às pessoas em situação de rua.

Já com a aprovação da Lei nº 12.435/11, que institui o Sistema Único de

Assistência Social (SUAS), coube a Proteção Social Especial intervir, de forma

qualificada, especializada e continuada na abordagem social e no atendimento em

equipamentos públicos que oportunizem a construção do processo de saída das

ruas.

Em resposta a demanda do Movimento Nacional da População em Situação

de Rua foi viabilizado o acesso ao Cadastro Único para Programa Sociais do

Governo Federal pelas pessoas em situação de rua nos programas como o Bolsa

Família e o Benefício de Prestação Continuada.

Com tal objetivo as esquipes de cadastramento são motivadas a atuar em

conjunto com a proteção social especial, tanto dos Serviços Especializados em

Abordagem Social, como outros dispositivos, como Serviços de Acolhimento

Institucional9.

Deste modo, o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, por

meio do Departamento de Proteção Social Especial da Secretaria Nacional de

Assistência Social, publica duas cartilhas específicas: Guia de cadastramento de

9 Segundo a Tipificação dos Serviços Socioassistenciais, Resolução CNAS N°109/09, o Serviço Especializado em Abordagem Social é o serviço de abordagem e busca ativa que identifica nos territórios incidência de trabalho infantil, exploração sexual de crianças e adolescentes e situação de rua, com vistas a construir o processo de saída das ruas e promover a reinserção familiar e comunitária. Já, o Serviço de Acolhimento Institucional para Adultos e Famílias com vínculos rompidos ou fragilizados objetiva a proteção integral e trata-se de espaço de moradia (endereço de referência) com condições de repouso, convívio, guarda de pertences, lavagem e secagem de roupas, banho e higiene pessoal.

19

pessoas em situação de rua10 (sem data), e Inclusão das pessoas em situação de rua

no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal, (2011)11.

Para orientar os municípios e o Distrito Federal na inclusão de modo

sistemático e adequado das pessoas em situação de rua no Cadastro Único foi

publicada Instrução Operacional conjunta – SNAS e SENARC Nº 07, de 22 de

novembro de 2010.

Ademais, com tais instrumentos, cartilhas e capacitações, o cadastramento

ampliou de modo considerável, garantindo o direito ao acesso aos programas de

transferência de renda de cidadania. De dezembro de 2012 a dezembro de 2013, o

número de pessoas em situação de rua apontados no Cadastro Único subiu de

11.700 para 20.800; destes, 17.405 são beneficiários do Programa Bolsa Família.

Gráfico 1

Fonte: DPSE/SNAS/MDS, 2014.

O Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua

(Centro Pop) previsto no Decreto n° 7.053/09 e na Tipificação Nacional de

Serviços Socioassistenciais, constitui-se em uma unidade de referência da Proteção

Social Especial de Média Complexidade, de natureza pública e estatal. Como

10 BRASIL. Guia de cadastramento de pessoas em situação de rua. 2ª Edição Revisada. Cadastro Único para Programa Sociais. [s/d] 11 BRASIL. Inclusão das pessoas em situação de rua no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal. SUAS e População em Situação de Rua. Volume 1. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Secretaria Nacional de Assistência Social, Departamento de Proteção Social Especial. Brasília, 2011.

20

subsídio destinado aos Estados, municípios e Distrito Federal para implantar o

Centro Pop foi lançada e distribuída a publicação Orientações Técnicas: Centro de

Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) e Serviço

Especializado para pessoas em situação de rua12.

Segundo o Censo SUAS 2012, foram identificados 105 Centros Pop,

representando um aumento de 15 novas unidades em relação a 2011. Enquanto

que em 2013, segundo levantamento extraído do Relatório de Informações da

Proteção Social Especial do MDS, representam o número de 291 unidades.

No II Encontro Técnico para o Fortalecimento da Inclusão da População em

Situação de Rua no Cadastro Único para Programas Sociais e Vinculação a Serviços

Socioassistenciais13 a Diretora Telma Maranho anunciou que até abril de 2014

aumentou para 305 Centros Pop, abrangendo 257 municípios.

3.1.3. Ministério da Justiça

Com a publicação da Portaria MJ n° 53, 21 de dezembro de 2011, que

institui o grupo de trabalho para tratar da capacitação de profissionais e gestores

de segurança pública para atuação relacionada às pessoas em situação de rua,

temos o aprofundamento do debate sobre relação entre a segurança pública e

população em situação de rua, ao mudar a pauta para pessoa em situação de rua

com direitos violados, inclusive pelas forças policiais do Estado.

Em 2013, dentre outras ações de capacitação foi elaborada a Cartilha

atuação policial na proteção dos direitos humanos de pessoas em situação de

vulnerabilidade14, que possui capítulo específico sobre Abordagem da População

em Situação de Rua. Foram previstas a impressão e distribuição de 35 mil

exemplares para os anos de 2013 e 2014.

12 BRASIL. Orientações Técnicas: Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop) e Serviço Especializado para pessoas em situação de rua. Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome. SUAS e População em Situação de Rua, Volume III. Brasília, DF, 2011. 13 Fala da Diretora Telma Maranho, do Departamento de Proteção Social Especial, da Secretaria Nacional de Assistência Social, do Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à fome, durante o II Encontro Técnico para o Fortalecimento da Inclusão da População em Situação de Rua no Cadastro Único para Programas Sociais e Vinculação a Serviços Socioassistenciais, organizado pelo MDS, nos dias 08 e 09/05/2014, em Brasília/DF. 14 BRASIL. Cartilha atuação policial na proteção dos direitos humanos de pessoas em situação de vulnerabilidade. 2ª edição. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança Pública. Brasília, 2013.

21

Na apresentação, Regina Miki, Secretária Nacional de Segurança Pública do

Ministério da Justiça, esclarece que:

A cartilha traz diretrizes sobre como o (a) policial deve abordar e o (a)

guarda municipal deve encaminhar os cidadãos e as cidadãs em situação

de vulnerabilidade, tais como mulheres, crianças, adolescentes, idosos,

pessoas com deficiência, pessoas em situação de rua, gays, lésbicas,

bissexuais, travestis e transexuais, sem preconceito de idade, gênero e

orientação sexual, racismo ou discriminação racial. [E] orientações

básicas [...] no trato com usuários e dependentes de drogas, contribuindo

para a promoção dos direitos humanos e as garantias fundamentais de

tais grupos na aplicação da lei. (BRASIL, 2013a, p. 13, grifo nosso)

Entrementes, ocorre a inserção do atendimento adequado e humanizado à

população em situação de rua nas diretrizes da Matriz curricular nacional para

Guardas Municipais15 e na Matriz curricular nacional para Guardas

Municipais. Para formação em Segurança Pública16, da Secretaria Nacional de

Segurança Pública (SENASP).

Tal iniciativa possibilita o apoio a projetos de pesquisa que subsidiem a

capacitação, como a parceria entre o Programa das Nações Unidas para o

Desenvolvimento (PNUD) firmada com a Secretaria Nacional de Segurança Pública

do Ministério da Justiça (SENASP), no âmbito do projeto BRA/04/029 - Segurança

Cidadã, lançado por meio do Edital de Convocação nº 01/2014 Projeto

Pensando a Segurança Pública. O Edital tem o objetivo de estabelecer parcerias

com instituições públicas ou privadas para o desenvolvimento de pesquisas no

campo da segurança pública e justiça criminal, no qual dentre outros temas

prioritários está o Grupo B.2 Segurança Pública e população de rua.

O Edital de Chamada pública n° 07, de 2013, com recursos do Fundo

Nacional de Segurança Pública com vistas a prevenção da violência e

criminalidade, pontuava como critério de seleção no item 5 a proposta que

15 Matriz curricular nacional para Guardas Municipais. Para formação em Segurança Pública. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança Pública/SENASP, 2005.

16 Matriz curricular nacional para Guardas Municipais. Para formação em Segurança Pública. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança Pública/SENASP, 2005.

22

apresentasse projetos com ações de prevenção à violência contra a população em

situação de rua.

3.1.4. Ministério da Saúde

O Sistema Único de Saúde (SUS) é uma conquista da sociedade brasileira

instituído pela Constituição Federal de 1988 e regulamentado pelas Leis federais

n° 8080/90 e n° 8142/90, Leis Orgânicas da Saúde. Tem como finalidade alterar a

situação de desigualdade na assistência à saúde da população, tornando

obrigatório o atendimento público a qualquer cidadão, de forma gratuita.

O controle social nos conselhos de saúde foi o dispositivo garantidor da

participação da população nas deliberações relacionadas à gestão, regulamentado

pela Lei n° 8142/90. Atualmente, Maria Lúcia Santos Pereira ocupa o cargo de

2ª suplente no Conselho Nacional da Saúde, pelo segmento usuário do SUS, pela

representação do Movimento Nacional da População de Rua (MNPR).

Dentre os Ministérios que pertenciam ao GTI, o Ministério da Saúde foi o

primeiro a ter a iniciativa de criar um comitê setorial específico. O Comitê Técnico

de Saúde da População em Situação de Rua instituído através da Portaria MS

n° 3305, de 24 de dezembro de 2009, é integrado por seis representantes de

órgãos e entidades públicas e cinco da sociedade civil organizada.

Nele é reconhecida a necessidade de promover a articulação entre as ações

do Ministério da Saúde e das demais instâncias do Sistema Único de Saúde, com

vistas à equidade de atenção à saúde para este segmento. Como subsídio para o

trabalho de educação permanente nas equipes do SUS foram publicadas a Cartilha

Políticas de promoção da equidade em saúde17, de 2013, na qual encontramos o

capítulo intitulado Saúde da população em situação de rua e o Manual de Cuidado

junto a população em situação de rua, de 201218.

O debate do Comitê Técnico de Saúde Pop Rua culmina na Resolução n°

2/GM/MS, de 27 de fevereiro de 2013, que define diretrizes e estratégias de

17 BRASIL. Políticas de promoção da equidade em saúde. Ministério da Saúde. Secretaria de Gestão Estratégica e Participativa. Departamento de Apoio à Gestão Participativa. 1 ed., 1 reimp. Brasília: Ministério da Saúde, 2013. 18 BRASIL. Manual sobre o cuidado à saúde junto a população em situação de rua. Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção Básica. Brasília: Ministério da Saúde, 2012.

23

orientação para o processo de enfrentamento das iniquidades e desigualdades em

saúde com foco na população em situação de rua (PSR) no âmbito do Sistema

Único de Saúde (SUS).

Em meio ao relevante debate sobre equidade em saúde para populações em

vulnerabilidade social, emerge o fenômeno social conhecido como “epidemia do

crack” que repercute através da imprensa na opinião pública e na pressão ao

governo para propor ações relacionadas uso, abuso e comércio das drogas.

Destarte, ganha ênfase a estigmatização da população em situação rua quando

associada às pessoas usuárias de crack na Região da Luz, em São Paulo/SP,

denominada Cracolândia.

Configura-se, deste modo, o cenário no qual o Plano Crack, é Possível

Vencer é lançado. Legalmente ele é denominado o Plano Integrado de

Enfrentamento ao crack e outras drogas, instituído pelo Decreto n° 7179, de 20

de maio de 2010.

No referido Plano, a população em situação de rua é encarada como público

vulnerável ao lado da criança e do adolescente vide os objetivos do artigo 2°,

dentre os quais está o seguinte parágrafo:

I - estruturar, integrar, articular e ampliar as ações voltadas à prevenção

do uso, tratamento e reinserção social de usuários de crack e outras

drogas, contemplando a participação dos familiares e a atenção aos

públicos vulneráveis, entre outros, crianças, adolescentes e população

em situação de rua;

O Plano institui ações voltadas para a prevenção do uso, ao tratamento e à

reinserção social de usuários e ao enfrentamento do tráfico de crack e outras

drogas ilícitas. Cabe ao Ministério da Justiça coordenar o Comitê Gestor e dar apoio

administrativo.

Em relação ao cuidado para pessoas com necessidades decorrentes do uso

de álcool e outras drogas, o Plano Crack é possível vencer busca articular a Rede de

Atenção Psicossocial com a Rede Socioassistencial no Eixo Cuidado, inclusive

ampliando e diversificando os dispositivos como o Centro de Atenção Psicossocial

Álcool e Drogas Tipo III (CAPS ad III - 24 horas), Centro de Convivência e Unidade

de Acolhimento (UA). Em paralelo, são desconsideradas as deliberações da 4ª

Conferência Nacional de Saúde Mental e da 14ª Conferência Nacional de Saúde, que

24

explicitaram desacordo quanto ao financiamento público de entidades privadas

vinculadas a diversas denominações religiosas sem regulamentação e sistemática

de credenciamento, avaliação e vigilância como outros serviços de saúde.

Por outro lado, o Ministério da Saúde foi sensível à demanda do movimento

social na criação de um dispositivo na atenção básica para o cuidado da população

em situação de rua chamado Consultório na Rua, regulamentado pela Portaria n°

122/11.

Os Consultórios na Rua foram instituídos na Política Nacional da Atenção

Básica (PNAB)19 e integram o componente atenção básica da Rede de Atenção

Psicossocial (RAPS)20 e devem seguir os fundamentos e as diretrizes definidas na

PNAB, buscando atuar frente aos diferentes problemas e necessidades de saúde da

população em situação de rua, inclusive na busca ativa e cuidado aos usuários de

álcool, crack e outras drogas.

Equipe essa constituída por profissionais que atuam de forma itinerante,

ofertando ações e cuidados de saúde para população em situação em rua,

considerando suas diferentes necessidades de saúde, sendo responsabilidade

dessa equipe, no âmbito da RAPS, ofertar cuidados em saúde mental para

população em situação de rua em geral, pessoas com transtornos mentais, usuários

de crack, álcool e outras drogas, incluindo ações de redução de danos, em parceria

com equipes de outros pontos de atenção da rede de saúde, como Unidades Básicas

de Saúde, Centros de Atenção Psicossocial, Pronto-Socorros, entre outros.

Segundo o Ministério da Saúde, até dezembro de 2013, estavam em

funcionamento 114 equipes de Consultórios na Rua (eCR) e a perspectiva é de

implantação de mais 92 no ano de 2014.

O projeto Caminhos do Cuidado iniciou em março de 2013, apoiado pelo

Ministério da Saúde, Departamento de Gestão da Educação na Saúde, executado

19 A Política Nacional de Atenção Básica (PNAB), Portaria n° 2488, de 21 de outubro de 2011, caracteriza a atenção básica como um conjunto de ações de saúde, no âmbito individual e coletivo, que abrange a promoção e a proteção da saúde, a prevenção de agravos, o diagnóstico, o tratamento, a reabilitação, a redução de danos e a manutenção da saúde e autonomia das pessoas e nos determinantes e condicionantes de saúde das coletividades. 20 Na Portaria n° 3088/11, que institui a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) para pessoas com sofrimento ou transtorno mental e com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS), destaco que, dentre os objetivos específicos presentes no artigo 4°, está promover cuidados em saúde especialmente para grupos mais vulneráveis como as pessoas em situação de rua.

25

pela Fundação Osvaldo Cruz (FIOCRUZ) e Grupo Hospitalar Conceição (GHC) oferta

de formação em saúde mental, crack e outras drogas para um total de 290.197

Agentes Comunitários de Saúde (ACSs).

Ao seguir a perspectiva da redução de danos e da promoção da saúde,

aborda como temática na formação dentro do Caderno do Aluno, Formação em

Saúde Mental (Crack, Álcool e outras drogas) no Caso n. 6 a Rede de Cuidado para

um jovem em situação de rua que faz uso de crack e cachaça. Outro material de

apoio pedagógico é o Manual sobre o cuidado à saúde junto a população em situação

de rua, de 2012, utilizado para esta formação e para outras ofertadas pelo MS.

Como parte do processo de qualificação dos Consultórios de rua foi

realizado o I Seminário Nacional de Consultórios na Rua e Saúde Mental na Atenção

Básica: Novas Tecnologias e Desafios para a Gestão do Cuidado, nos dias 24 e 25 de

julho de 2013, em Brasília/DF, organizado pelo Ministério da Saúde, por meio do

Departamento de Atenção Básica (DAB), direcionado a gestores, coordenadores

estaduais de atenção básica e saúde mental.

O Seminário oportunizou o debate de propostas para produção de novas

tecnologias de gestão e cuidado em saúde mental, assim como, espaço para troca

de experiências de boas práticas na organização do cuidado na atenção básica, ao

abordar questões eminentemente voltados para a população em situação de rua,

com vinculação às Unidades Básicas de Saúde (UBS), prevendo articulação com

todos os equipamentos do território onde atua.

Por fim, outro ponto crítico que ainda é um desafio para o SUS é a garantia

de acesso da população em situação de rua à rede de atenção básica de saúde

mesmo sem comprovante de residência e documentação civil.

Ainda que seja normatizada pela Portaria GM/MS nº 940, de 28 de abril de

2011, que estabelece em seu Art. 23 que durante o processo de cadastramento, o

atendente solicitará o endereço do domicílio permanente do usuário,

independentemente do Município em que esteja no momento do cadastramento ou do

atendimento. § 1º Não estão incluídos na exigência disposta no caput os ciganos

nômades e os moradores de rua, em geral a regra não é cumprida como prevista,

impedindo o acesso.

26

3.1.5. Ministério da Educação

Entendo que a alfabetização é um direito básico fundamental e

imperativo para construção da cidadania do sujeito, para inclusão social e

geração de trabalho e renda. Deste modo, a política setorial educação incide

diretamente na efetivação dos direitos das pessoas em situação de rua e ao

Ministério da Educação cabe construir propostas que priorizem o acesso da

população em situação de rua a programas, projetos e educação escolar, a fim de

reduzir o analfabetismo, ampliando a escolarização e ofertando o ensino

profissionalizante.

Segundo a Pesquisa Nacional da População em Situação de Rua, 2007, 74%

dos entrevistados sabem ler e escrever; 17,1% não sabem escrever e 8,3% apenas

assinam o nome.

Tendo como referência a taxa de analfabetismo brasileira21 de 10,1% fica

evidente o fato de o elevado analfabetismo contribuir tanto para a atual

cristalização da situação de rua, quanto como desfecho da evasão escolar e

dificuldade de inclusão social e econômica pelas exigências do mundo do trabalho.

Quando questionados sobre qual o seu grau de escolaridade temos as três

maiores percentagens: 48,4%, 1° grau incompleto; 15,1%, Nunca estudou; e 10,3%,

1° grau completo.

Tabela 1

21 Segundo o IBGE – PNAD Reponderada, 2007.

27

No período entre 2009 e 2013, o Programa Brasil Alfabetizado (PBA)22

atendeu 9.162 alfabetizandos cadastrados como catadores de materiais recicláveis;

no período entre 2012 e 2013, foram cadastrados como pessoas em situação de

rua eem 15 estados 424 alfabetizandos, por meio do fortalecimento de ações inter-

setoriais entre o MEC/SECADI e Secretaria de Direitos Humanos.

No que toca a educação profissional, o Decreto n° 7.053/09, no artigo 5°,

parágrafo XIV indica como princípio disponibilizar programas de qualificação

profissional para as pessoas em situação de rua com o objetivo de proporcionar o seu

acesso ao mercado de trabalho.

Assim, o Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego

(PRONATEC), criado pelo governo federal em 2011, ação que compõe o Plano

Brasil Sem Miséria para inclusão social dos beneficiários do Cadastro Único, teve

sua primeira versão para população em situação de rua.

Através da parceria entre Ministério da Educação, Prefeitura Municipal de

São Paulo (por meio da Secretaria Municipal de Assistência e Desenvolvimentos

Social e da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania) e Serviço

Nacional da Indústria (SENAI) foram ofertados cursos para as turmas exclusivas da

população em situação de rua.

No ano de 2013 foram 282 matrículas, distribuídas em 15 turmas, nos

cursos de Almoxarife, Auxiliar Administrativo, Eletricista, Manipulador de

Alimentos, Mecânico de Motor a Diesel, Padeiro, Pedreiro e Aplicador de

Revestimento Cerâmico. Do total de 282 matrículas, 115 alunos foram

certificados, representando 74,5%.

3.1.6. Ministério das Cidades

Um dos avanços na política habitacional foi priorizar a população em

situação de rua seguindo critérios de hierarquização do ente público como está

presente na Portaria n° 414/10, com a nova redação do subitem 4.2.2., do Anexo da

Portaria MCidades n° 140, de 5 de abril de 2010, que dispõe sobre os parâmetros

22 Programa Brasil Alfabetizado (PBA) é um programa de alfabetização de jovens, adultos e idosos, formulado e implementando pelo Ministério da Educação desde 2003, busca contribuir para a promoção da equidade e redução das desigualdades sociais, contribuindo para a redução do analfabetismo e elevação da escolaridade.

28

de priorização e o processo de seleção dos beneficiários do Programa Minha Casa,

Minha Vida (PMCMV). No entanto a referida portaria foi revogada pela Portaria

MCidades nº 595, de 18 de dezembro de 2013.

Outro momento importante para construir propostas no âmbito do

Ministério das Cidades foi a realização do Seminário de Habitação de Interesse

Social para a população em situação de rua, 24 e 25/09/2013, Brasília/DF,

produziu um debate profícuo de acordo com o relatório de sistematização do

evento. Mesmo sem recursos para o evento ele contou com 14 municípios

representados e 13 Estados.

Os trabalhos realizados pelos participantes resultaram em 22 (vinte e dois)

encaminhamentos organizados em quatro eixos: I. Inserção da população em

situação de rua nas políticas habitacionais; II. Fundo Nacional de Habitação de

Interesse Social (FNHIS); III. Metodologia específica para a população em situação

de rua no trabalho social na habitação; e IV. Estigmas e invisibilidade da população

em situação de rua no acesso aos programas habitacionais.

3.1.7. Ministério do Trabalho e Emprego

A política setorial do trabalho e emprego é estratégica e merece atenção por

parte do CIAMP-Rua. A Secretaria Nacional de Economia Solidária (SENAES) do

Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) é a principal referência para o debate

sobre a população em situação de rua.

A SENAES teve ações pactuadas específicas com a população em situação de

rua, sendo que no ano de 2013, disponibilizou $7.000.000,00 (sete milhões), para

projetos de inclusão socioeconômica da população em situação de rua por meio de

iniciativas econômicas solidárias.

O recurso previsto teve a destinação vinculada a parceria com a Prefeitura

de São Paulo, segundo o critério de ser o maior contingente da população em

situação de rua, por meio de Chamada Pública de Parcerias SENAES-MTE n°

003/2013. A previsão que seja reeditada Chamada Pública para projetos de outros

Estados.

29

3.1.8. Ministério dos Esportes e Lazer

Não houve ações planejadas em 2012 quando da elaboração do Plano de

Ações Articuladas para Promoção da Cidadania da População em Situação de Rua,

assim como nos anos seguintes, sendo irregular a participação do referido

ministério nas reuniões do CIAMP-Rua.

No Planejamento do CIAMP-Rua realizado em julho de 2013 no Objetivo 1:

Incentivar e apoiar a organização da PSR e sua participação na consolidação da

PNPR estava prevista criar um GT para articular e organizar apoio dos Ministérios

dos Esportes e Lazer e Cultura às demandas nas áreas de esporte, lazer e cultura

para a população em situação de rua, com financiamento específico. Porém, o GT

não se constituiu e a articulação não avançou.

O tema dos esportes entra novamente na agenda do CIAMP-Rua devido ao

Brasil ser sede da Copa do Mundo de Futebol da Associação da Federação

Internacional de Futebol (Fédération Internationale de Football Association - FIFA)

em 2014. No entanto, é uma pauta negativa decorrente da preocupação que a

realização do megaevento esportivo provoque violação de direitos, despejos

forçados e higienização social para atrair mais turistas.

A partir desse debate a população em situação de rua entrou na Agenda de

Convergência Proteja Brasil: Promoção, proteção e defesa dos direitos de

crianças e adolescentes em grandes eventos, lançada em agosto de 2012 pela

Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, agregando essa

população vulnerável às violações de direitos à pauta e compondo o Comitê

Nacional da Agenda de Convergência.

3.1.9. Ministério da Cultura

Ainda sem consolidação as ações do Ministério da Cultura (MinC) com o

foco da população em situação de rua, o que torna urgente o diálogo mais estreito

com esta política setorial.

No documento Ações Articuladas para Promoção da Cidadania da População

em Situação de Rua, elaborado em 2012, estavam previstas duas ações:

30

20. Implementação de equipamentos culturais – cineclubes Cine

Mais Cultura e/ou Pontos de Leitura – nas casas de acolhimento

para população em situação de rua. A meta para 2013 era uma

casa de acolhimento por Estado;

21. Capacitação de entidades culturais para atendimento à

população em situação de rua, em parceria com casas de

acolhimento. A meta para 2013 era selecionar e conveniar 01

(um) Pontão de Cultura, para formação de entidades culturais

(pelo menos 30 entidades, sendo uma de cada região do país) para

atendimento à população em situação de rua. Em 2014, 30

entidades culturais serão capacitadas, também em parceria com

casas de acolhimento.

Verifiquei que as metas não foram alcançadas, apesar da inclusão delas no

Plano de Ações de 2012 ter sido um primeiro passo, reforçando o argumento

inicial da necessidade de dialogar e buscar propostas para possibilitar as pessoas

em situação de rua fruir os equipamentos culturais em visitas e oficinas, como se

apropriar dos meios de produção cultural, protagonizando suas narrativas,

estéticas e visões de mundo.

3.1.1. Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão

Considerando a demanda histórica do Movimento Nacional da População de

Rua e a determinação do Decreto n° 7053/09, art. 7°, parágrafo III de “instituir a

contagem oficial da população em situação de rua” a Coordenação do CIAMP-RUA,

através da CGDPSR/SDH/PR articulou com o IBGE, instituto vinculado ao

Ministério de Planejamento, Orçamento e Gestão (MPOG), a realização da

pesquisa-teste sobre a População em Situação de Rua no município do Rio de

Janeiro. Tal pesquisa-teste visa alcançar o objetivo da PNPR da inserção deste

grupo populacional no Censo Nacional de 2020.

No ano de 2012, ocorreu a constituição do Grupo de Trabalho Pop Rua-

IBGE, composto por Instituto Brasileiro de geografia e Estatística (IBGE), Instituto

de Pesquisas Econômicas Aplicadas (IPEA), SDH/PR, Ministério das Cidades,

Ministério da Educação, Ministério da Saúde, Ministério de Desenvolvimento Social

e Combate à Fome, Ministério do Trabalho e Emprego, Organização Auxílio

31

Fraterno, Universidade Federal São João Del Rei, Movimento Nacional da

População de Rua, Pastoral Nacional e Fórum da Rua do Rio de Janeiro.

Neste contexto, foi realizada articulação junto à Secretaria Geral da

Presidência da República, Ministério do Planejamento e Casa Civil para

comprometimento do IBGE em realizar a inserção da população em situação de rua

no Censo Nacional de 2020.

Para viabilizar a inserção da PSR no Censo 2020, foram realizadas quatro

reuniões do GT Pop Rua - IBGE em 2013, nas quais foi discutida a proposta de

questionário, posteriormente validado pelo CIAMP-Rua.

Em outubro de 2013, foi pactuada a versão final do questionário na sede do

IBGE com a presença de representantes do GT IBGE - Pop Rua, técnicos e

dirigentes do IBGE no Rio de Janeiro. Representantes do GT IBGE participaram

ainda de atividade de capacitação dos técnicos do IBGE responsáveis pela aplicação

dos questionários em novembro de 2013, no Rio de Janeiro.

A pesquisa-teste teve como objetivo testar o questionário e a abordagem da

temática pelos técnicos do IBGE. Na ocasião, foram feitas 100 entrevistas com

pessoas em situação de rua em abrigos e nas ruas, com apoio de voluntários com

experiência de abordagem de pessoas em situação de rua.

Ainda não foi publicizada a versão final do relatório da pesquisa-teste, o

qual é imprescindível para continuar o processo para viabilizar a inserção da

população em situação de rua no Censo 2020 e nas outras pesquisas regulares do

IBGE.

3.1.2. Ministério Público

A articulação entre SDH/PR, CNDDH, CIAMP-Rua com o Conselho Nacional

do Ministério Público (CNMP) resultou em ações importantes como o Encontro

Nacional do Ministério Público em defesa da população de rua, promovido em

abril de 2014 pela Comissão de Defesa dos Direitos Fundamentais e pelo Fórum de

Articulação das Ações do MP na Copa do Mundo, do CNMP.

No referido encontro foram divulgados o documento Diretrizes de atuação

do Ministério Público Brasileiro em Defesa das Pessoas em Situação de Rua durante a

Copa do Mundo de 2014, a Semana de mobilização nacional em defesa das pessoas

32

em situação de rua (Imagem 3) e a adesão do CNMP à campanha Eu sou morador de

rua e tenho direito a ter direitos (Imagens 1 e 2), promovida pela SDH/PR, através

do CNDDH.

Imagem 3

Fonte: Divulgação ASCOM/CNMP.

Parte II:

4.1. Proposta de metodologia de acompanhamento pelo Comitê

Intersetorial de Acompanhamento e Monitoramento da Política

Nacional para População em Situação de Rua

A institucionalização das atividades de monitoramento e avaliação da

ação governamental vêm ganhando força no Brasil, acompanhando o esforço na

ampliação do escopo e escala dos programas sociais. São investidos recursos

crescentes no levantamento de informações para gestão e monitoramento de

rogramas no País.

A concepção adotada de monitoramento para a construção da proposta de

metodologia de acompanhamento do CIAMP-Rua diz respeito à observação regular

e sistemática do desenvolvimento das atividades, do uso dos recursos e da

produção de resultados, comparando-os com o planejamento23.

O primeiro movimento para construir a proposta foi a investigação da

existência de secretarias ou departamento que desenvolvessem o trabalho de

23 PREFEITURA MUNICIPAL DE LONDRINA. Sistema Municipal de Monitoramento e Avaliação. Secretaria Municipal de Assistência Social. Gerência de Gestão de Monitoramento e Avaliação, Diretoria de Gestão do Sistema Municipal de Assistência Social. Outubro de 2008.

33

monitoramento das ações dos órgãos governamentais membros do CIAMP-Rua. A

busca foi surpreendente pela qualidade da apresentação do monitoramento na

Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Ministério de

Desenvolvimento Social e Combate à Fome, Ministério da Saúde, Ministério

da Educação, diferentemente dos demais órgãos governamentais.

Na Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República o

monitoramento do Programa Nacional de Direitos Humanos é executado através

do Observatório do PNDH-324 com dados fornecidos pelos Ministérios e órgãos

responsáveis por sua implementação.

No Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome temos a

Secretaria de Avaliação e Gestão da Informação (SAGI)25 onde se encontra o

Departamento de Monitoramento. Outra fonte de dados importante é Censo

SUAS, o relatório anual com a sistematização dos dados acerca de programas,

projetos e serviços do Sistema Único de Assistência Social em todo Brasil.

Enquanto no Ministério da Saúde foi criada a Secretaria de Apoio à

Gestão Estratégica (SAGE)26 com links para encontrar informações sobre Redes e

Programas, Situação de Saúde e Gestão/Financiamento.

O Ministério da Educação desenvolveu o Sistema Integrado de

Monitoramento do Ministério da Educação (SiMEC)27 no qual são agregados os

dados, relatórios de todos os programas e ações da rede de educação.

Tanto o Ministério da Justiça, quanto os Ministério das Cidades,

Trabalho e Emprego, Cultura, Esporte, não há um departamento específico,

porém é permitido o acesso aos dados sem interpretação, tabulação ou crítica, de

acordo com a Lei de Acesso à Informação28.

O processo de monitoramento do Planejamento Estratégico e do Plano de

Ações do CIAMP-Rua ocorrerá ao longo do ano e envolverá diversos atores do

Comitê, assim como convidados.

24 O Observatório da PNDH-3 é um portal de acesso público que reúne informações sobre a execução das ações programáticas previstas Programa Nacional dos Direitos Humanos - 3 e pode ser acessado no endereço <http://www.pndh3.sdh.gov.br>. 25 A SAGI disponibiliza informações do MDS no portal na internet <www.mds.gov.br/sagi>. 26 Da mesma forma, é possível encontrar informações no portal da SAGE através do endereço <www.saude.gov.br/sage>. 27 Para acessar o SiMEC no portal da internet no seguinte endereço http://simec.mec.gov.br/ é necessário cadastro e, de acordo, com níveis de acesso e sigilo, são disponibilizadas as informações. 28 Lei n° 12527, de 18 de novembro de 2011 – Lei de Acesso a Informação – que regula o acesso a informações por qualquer cidadão e cidadã como previsto na Constituição Federal, de 1988.

34

Ele parte da análise crítica que os responsáveis pelo resultado esperado

fazem sobre seu andamento e avança em um processo de discussões coletivas

entre os representantes governamentais, representantes da sociedade civil e

convidados, para a identificação de eventuais entraves e ajustes que se façam

necessários. Assim, em diálogo com os órgãos membros do CIAMP-Rua propor o

compartilhamento dos dados, relatórios de gestão e outros documentos

importantes.

E, nesse sentido, assinala-se a importância de gerar e pactuar indicadores

de monitoramento mais específicos e periódicos para acompanhamento das

atividades envolvidas. Diante da lógica da PNPR da qual se incentiva que sejam

elaboradas políticas públicas com ações intersetoriais, integradas e articuladas,

será preciso encontrar dentro das políticas setores envolvidas indicadores que

atualizem a situação atual das ações planejadas com o foco na população em

situação de rua.

Pretendo apresentar uma proposta prática e ao mesmo tempo programática

no sentido de organizar indicadores de monitoramento. Dentro do volume grande

de informações disponíveis necessitamos de sistema de monitoramento construído

com a participação dos representantes do CIAMP-Rua governamentais, sociedade

civil e técnicos convidados.

Portanto, como consequência do levantamento acima realizado, contendo

os momentos explicativo (M1) e normativo (M2), seguem os momentos estratégico

(M3) e momento tático-operacional (M4), previstos no PES, proponho realizar

encontro em forma de Oficina com o fim de apresentar os indicadores setoriais,

pactuar e consolidar os indicadores de monitoramento da PNPR.

4.2. Oficina Nacional para pactuação de indicadores de monitoramento

da Política Nacional para a População em Situação de Rua (PNPR)

Com intuito de disparar o debate sobre a pactuação dos indicadores de

monitoramento proponho como reflexão sobre a concepção de indicador algumas

características importantes destacadas pelo cientista político ARMANI (1998):

35

a) representar algum tipo de mensuração reconhecida socialmente, o que significa conhecer os parâmetros e a qualidade da informação; b) ter a confiabilidade das fontes de coleta e produção das informações; c) ter regularidade, de forma a permitir seu acompanhamento sistemático e comparações sobre a evolução do desempenho das políticas públicas; d) ter abrangência na cobertura, para que tenham validade em

diferentes contextos locais. 29

A participação e reflexão crítica dos membros do CIAMP-Rua é

imprescindível para a alcançarmos acordo nos indicadores, portanto o espaço

legítimo para tanto será na Oficina Nacional para pactuação de indicadores de

monitoramento da Política Nacional da População em Situação de Rua,

introduzida ao fim do capítulo anterior, com as datas sugeridas de 30/07/14 e

31/07/14, durante a reunião ordinária do CIAMP-Rua outra data conforme

disponibilidade de agenda.

Na referida Oficina apresentarei a proposta com os seguintes indicadores de

monitoramento da Política Nacional para a População em Situação de Rua (PNPR):

1) Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República (SDH/PR)

Objetivo:

Implantação de Rede de Promoção e Defesa dos Direitos da População em Situação

de Rua;

Indicador:

a)Número de adesões de munícipios e Estados à Política Nacional para População

em situação de rua30;

b)Resolutividade no atendimento no Centro Nacional de Defesa dos Direitos

Humanos da População em Situação de Rua e Catadores de Materiais Recicláveis e

nos Núcleos 31;

29 ARMANI, Domingos. PMA: conceitos, origens e desafios. IN: Caminhos: planejamento, monitoramento e avaliação. Encontro de agentes de projetos. Salvador, CESE, set. 1998. 30 De acordo com o Decreto 7053/09, Art. 3° “Os entes da federação que aderirem à Política Nacional para a População em Situação de Rua deverão instituir comitês gestores intersetoriais, integrados por representantes das áreas relacionadas ao atendimento da população em situação de rua, com participação de fóruns, movimentos e entidades representativas desse segmento da população”. 31 Idem, art. 7º, parágrafo VII, “implantar centros de defesa dos direitos da população em situação de rua” e art. 15 “a Secretaria Especial dos Direitos Humanos da Presidência da República instituirá

36

c)Resolutividade no atendimento no Disque Direitos Humanos – Disque 100;

Meta:

a)Aumento no número de munícipios e Estados que aderiram à Política Nacional

para População em situação de rua instituindo Comitês de Acompanhamento e

Monitoramento da Política Nacional para População em situação de rua e Plano de

Ações;

b)Número de denúncias recebidas e encaminhadas através do Centro Nacional de

Defesa dos Direitos Humanos da População em Situação de Rua e Catadores de

Materiais Recicláveis e Núcleos;

c)Número de denúncias recebidas e encaminhadas através do Disque Direitos

Humanos – Disque 100.

2) Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome

Objetivo:

Assegurar o acesso da PSR à Rede Socioassistencial do Sistema Único de

Assistência Social (SUAS)32;

Indicador:

a) Número de Centro de Referência Especializado para a População em Situação de

Rua (Centro Pop)33;

b)Serviço Especializado de Abordagem Social do Centro de Referência

Especializado em Assistência Social;

c) Número de vagas no Serviço de Acolhimento Institucional;

d) Número de cadastrados PSR no Cadastro Único;

e) Número de beneficiários PSR do Programa Bolsa Família;

f) Número de Restaurantes Populares.

Meta:

a) Aumento no número de Centro de Referência Especializado para a População

em Situação de Rua (Centro Pop);

o Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos para a População em situação de Rua, destinado a promover e defender seus direitos”. 32Conforme Decreto n° 7053/09, Art. 7°, objetivo do item I “assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas que integram as políticas públicas de [...] assistência social”. 33Idem, Art. 7°, objetivo do item XII, “implantar centros de referência especializados para atendimento da população em situação de rua, no âmbito da proteção social especial do Sistema Único de Assistência Social”.

37

b) Aumento no número de Serviços Especializados de Abordagem Social do Centro

de Referência Especializado em Assistência Social;

c) Aumento no número de vagas no Serviço de Acolhimento Institucional;

d) Aumento no número de cadastrados PSR no Cadastro Único;

e) Aumento no número de beneficiários PSR do Programa Bolsa Família;

f) Aumento no número de Restaurantes Populares.

3) Ministério da Justiça

Objetivo:

Assegurar acesso à política pública de segurança pela PSR34;

Indicador:

a)Inclusão da temática PSR nos cursos de capacitação de agentes de Segurança

Pública;

b) Priorização na elucidação dos crimes contra a PSR quando da implantação do

Programa “Brasil mais seguro”35;

c) Atendimento Jurídico para a PSR;

Meta:

a)100% dos agentes de Segurança Pública inscritos capacitados;

b)Número de crimes contra a PSR investigados em municípios com Programa

“Brasil mais seguro”;

c) Ampliação de oferta de atendimento jurídico para a PSR através de defensorias

públicas e assistência jurídica gratuita.

4) Ministério da Saúde

Objetivo:

Assegurar o acesso da PSR à Rede de Atenção à Saúde do Sistema Único de Saúde

(SUS)36;

34 Conforme Decreto n° 7053/09, Art. 7°, objetivo do item I “assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas que integram as políticas públicas de [...] segurança”. 35 Idem, Art. 15°, atribuição do Centro Nacional de Defesa dos Direitos Humanos para a População em Situação de Rua, instituído pela SDH/PR “V–pesquisar e acompanhar os processos instaurados, as decisões e as punições aplicadas aos acusados de crimes contra a população em situação de rua”. Deste modo, é compartilhada a atribuição do Ministério da Justiça no monitoramento da elucidação de crimes com a população em situação de rua. 36 Idem, Art. 7°, objetivo do item I “assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas que integram as políticas públicas de [...] saúde”.

38

Indicador:

a) Número de Consultórios na Rua;

b) Número de cadastrados no Cartão SUS;

c) Capacitação de trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS);

Meta:

a) Aumento no número de Consultórios na Rua;

b) Aumento no número de Cadastrados no Cartão SUS;

c) 100% de trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS) inscritos capacitados.

5) Ministério da Educação

Objetivo:

Assegurar o acesso da PSR à política pública de educação37;

Indicador:

a) Número de alfabetizados pelo Programa Brasil Alfabetizado (PBA);

b) Número de aprovados no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM);

c) Número de concluintes no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico

(PRONATEC)38;

d) Número de matriculados em Instituições de Ensino Superior.

Meta:

a) Aumento do número de alfabetizados pelo Programa Brasil Alfabetizado (PBA);

b) Aumento do número de aprovados no Exame Nacional do Ensino Médio

(ENEM);

c) Aumento do número de concluintes no Programa Nacional de Acesso ao Ensino

Técnico (PRONATEC);

d) Aumento do número de matriculados em Instituições de Ensino Superior.

6) Ministério das Cidades

Objetivo:

37 Conforme Decreto n° 7053/09, Art. 7°, objetivo do item I “assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas que integram as políticas públicas de [...] educação” e item XIV “disponibilizar programas de qualificação profissional para as pessoas em situação de rua, com objetivo de propiciar o seu acesso ao mercado de trabalho”. 38 No PRONATEC-Pop Rua, modalidade de cursos profissionalizantes voltados para população em situação de rua, o demandante é a SDH/PR, no âmbito da Coordenação-Geral dos Direitos da População em Situação de Rua, responsável propor cursos para ofertantes e pela gestão das vagas no SISTEC.

39

Assegura o acesso da PSR à moradia39;

Indicador:

a)Apoio a projetos de habitação nos municípios através do município, Estado e

distrito federal;

b)Número de famílias em situação de rua contemplados pelo Programa “Minha

Casa Minha Vida”;

Meta:

a)Projetos inovadores de habitação para famílias e indivíduos da população em

situação de rua apoiados;

b)Aumento do número de contemplados pelo Programa “Minha Casa Minha Vida”.

7) Ministério do Trabalho e Emprego

Objetivo:

Assegurar o acesso à política pública de trabalho e renda pela PSR40;

Indicador:

a)Número de trabalhadores da população em situação de rua empregados através

do Sistema Nacional de Emprego (SINE);

b)Número de projetos de economia solidária para PSR.

Meta:

a)Aumento no número de trabalhadores da população em situação de rua

empregados através do Sistema Nacional de Emprego (SINE);

b) Número de projetos de economia solidária para PSR apoiados.

8) Ministério dos Esportes

Objetivo:

Assegurar o acesso à política pública de esporte e lazer pela PSR41;

Indicador:

a)Número de projetos de incentivo ao esporte e lazer para a população em situação

de rua;

39 Idem, Art. 7°, objetivo do item I “assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas que integram as políticas públicas de [...] moradia”. 40Conforme Decreto n° 7053/09, Art. 7°, objetivo do item I “assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas que integram as políticas públicas de [...] trabalho e renda”. 41 Idem, Art. 7°, objetivo do item I “assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas que integram as políticas públicas de [...] esporte, lazer”.

40

Meta:

a)Projeto com atividades de esporte e lazer específico para população em situação

de rua apoiados.

9) Ministério da Cultura

Objetivo:

Assegurar o acesso à política pública de cultura pela PSR42;

Indicador:

a)Número de Pontos de Cultura para PSR;

b)Número de Pontos de Leitura para PSR.

Meta:

a) Implantação de Pontos de Cultura específicos para PSR;

b) Implantação de Pontos de Leitura específicos para PSR;

Tabela 2

Órgão Objetivo Indicador Meta

1)SDH

Implantação de Rede de Promoção e Defesa dos Direitos da População em Situação de Rua

a) N° de adesões de munícipios e Estados à Política Nacional para a População em situação de rua (PNPR)

a) Aumento no n° de adesões de munícipios e Estados à PNPR, instituição de Comitês de Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional para População em situação de rua e Plano de Ações;

b) Resolutividade no atendimento do CNDDH e núcleos;

a) N° de denúncias recebidas e encaminhadas pelos CNDDH e núcleos;

c) Resolutividade no atendimento do Disque Direitos Humanos – Disque 100;

b) N° de denúncias recebidas e encaminhadas através do Disque 100;

2)MDS

Assegurar o acesso da PSR à Rede Socioassistencial

a) N° de Centro Pop; a) Aumento no n° de Centro Pop;

b) N° de Serviços Especializados de

b) Aumento no n° de Serviços Especializados de

42 Conforme Decreto nº 7503/09, Art. 7°, objetivo do item I “assegurar o acesso amplo, simplificado e seguro aos serviços e programas que integram as políticas públicas de [...] cultura”.

41

do Sistema Único de Assistência Social (SUAS)

Abordagem Social do CREAS;

Abordagem Social do CREAS;

c) N° de vagas no Serviço de Acolhimento Institucional;

c) Aumento no N° de vagas no Serviço de Acolhimento Institucional;

d)N° de cadastrados PSR no Cadastro Único;

d) Aumento no N° de cadastrados PSR no Cadastro Único;

e) N° de beneficiários PSR do Programa Bolsa Família;

e) Aumento no número de beneficiários PSR do Programa Bolsa Família;

f) N° de Restaurantes Populares.

f) Aumento no N° de Restaurantes Populares.

3)MJ

Assegurar acesso à política pública de segurança pela PSR

a)Inclusão da temática PSR nos cursos de capacitação de agentes de Segurança Pública;

a)100% dos agentes de Segurança Pública inscritos capacitados;

b) Priorização na elucidação dos crimes contra a PSR quando da implantação do Programa “Brasil mais seguro”;

b)N° de crimes contra a PSR investigados em municípios com Programa “Brasil mais seguro”;

c) Atendimento Jurídico para a PSR;

c)Ampliação de oferta de atendimento jurídico para a PSR através de defensorias públicas e assistência jurídica gratuita.

4)MS

Assegurar o acesso da PSR à Rede de Atenção à Saúde do Sistema Único de Saúde (SUS)

a) N° de Consultórios na Rua;

a) Aumento no n° de Consultórios na Rua;

b) N° de cadastrados no

Cartão SUS;

b) Aumento no n° de cadastrados no Cartão SUS;

c) Capacitação de trabalhadores do Sistema Único de Saúde (SUS);

c) 100% de trabalhadores do SUS inscritos capacitados.

5)MEC Assegurar o acesso da PSR à política pública

a) N° de alfabetizados pelo Programa Brasil Alfabetizado (PBA);

a) Aumento no n° de alfabetizados pelo PBA;

42

de educação b) N° de aprovados no Exame Nacional do Ensino Médio (ENEM);

b) Aumento no n° de aprovados no ENEM;

c) N° de concluintes no Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico (PRONATEC)

c) Aumento no n° de concluintes no PRONATEC;

d) Número de matriculados em Instituições de Ensino Superior.

d) Aumento no n° de matriculados em Instituições de Ensino Superior.

6)MCidades

Assegura o acesso da PSR à moradia

a)Apoio a projetos de habitação nos municípios através do município, Estado e distrito federal;

a)Projetos inovadores de habitação para famílias e indivíduos da população em situação de rua apoiados;

b)N° de famílias em situação de rua contemplados pelo Programa “Minha Casa Minha Vida”;

b)Aumento do número de contemplados pelo Programa “Minha Casa Minha Vida”.

7)MTE

Assegurar o acesso à política pública de trabalho e renda pela PSR

a)N° de trabalhadores da PSR empregados através do Sistema Nacional de Emprego (SINE);

a)Aumento no n° de trabalhadores da PSR empregados através do SINE;

b)N° de projetos de economia solidária para PSR.

b) N° de projetos de economia solidária para PSR apoiados.

8)ME

Assegurar o acesso à política pública de esporte e lazer pela PSR

a)N° de projetos de incentivo ao esporte e lazer para a PSR;

a)Projeto com atividades de esporte e lazer específico para PSR apoiados.

9)MinC

Assegurar o acesso à política pública de cultura pela PSR

a) N° de Pontos de Cultura para PSR;

a) Implantação de Pontos de Cultura específicos para PSR;

b)N° de Pontos de Leitura para PSR.

Implantação de Pontos de Leitura específicos para PSR.

Fonte: Elaboração própria, Maio de 2014.

43

Dando continuidade ao PES e como parte da metodologia de

monitoramento no Momento Tático-operacional (M4) serão realizadas visitas

técnicas para conhecer a estrutura associadas a ações para população em situação

de rua e ao departamento de monitoramento dos ministérios membros do CIAMP-

Rua, como também, promover reuniões com os representantes governamentais

estendidas para atores estratégicos convidados a contribuírem para a construção

dos indicadores de monitoramento da PNPR.

5. Considerações finais

O Relatório 1 é resultado do levantamento das políticas públicas setoriais

do Governo Federal relacionadas à população em situação de rua e elaboração de

proposta de acompanhamento da Política Nacional para a População em Situação

de Rua.

O levantamento das políticas setoriais possibilitou perceber a trajetória na

qual as ações planejadas pelo CIAMP-Rua entraram em curso principalmente nos

anos de 2012 e 2013, assim como subsidiar a propostas dos indicadores de modo a

garantir a coerência entre o planejamento, monitoramento e avaliação das ações.

Compõe os momentos explicativo (M1) e normativo (M2) a análise

situacional do plano de ações referenciado por documentos como relatórios,

políticas, leis, decretos, portarias, planejamentos e planos de ações.

Decorrente da metodologia do planejamento estratégico situacional (PES)

adotada configurando o momento estratégico (M3) propus realização da Oficina

de pactuação de indicadores de monitoramento da PNPR entre os dias 30/07 e

31/07/14 durante a reunião extraordinária do Comitê Intersetorial de

Acompanhamento e Monitoramento da Política Nacional da População em Situação

de Rua (CIAMP-Rua) ou em outra data conforme disponibilidade.

A seguir, parte integrante do momento tático-operacional (M4), serão

realizadas visitas técnicas para conhecer a estrutura associada as ações para

população em situação de rua e aos departamentos de monitoramento dos

ministérios membros do CIAMP-Rua.

44

Ademais serão promovidas reuniões com os representantes

governamentais estendidas para atores estratégicos convidados a contribuírem

para a avaliarem a construção dos indicadores de monitoramento da PNPR.

Passaram quatro anos desde a assinatura do Decreto n° 7.053/09 e no

presente ano estamos nos aproximando do período eleitoral para carga dos

executivos estaduais, federais e do distrito federal, como do congresso nacional.

Portanto, é de notória relevância finalizar o processo de monitoramento e

avaliação dos quatro anos da PNPR e apontar para os avanços e desafios para a

garantia de sua efetivação como política de Estado. Haja vista que trata-se de

decreto presidencial, juridicamente, fica a dúvida em relação a continuidade do

CIAMP-Rua e a decorrente articulação entre os ministérios da qual é de sua

responsabilidade. Quiçá culmine em projeto de lei que proteja e garanta os direitos

para a população em situação de rua após ser votado pelo Congresso Nacional.

Mais uma vez iremos conferir se a PNPR se constituirá como política pública

permanente a exemplo de outras políticas setoriais que alcançaram a perenidade,

como a aprovação da Lei n° 12.435/11, que institui o Sistema Único da

Assistência Social, a Tipificação Nacional dos Serviços Socioassistenciais,

Resolução CNAS n° 109/09, indicando o Centro Pop como serviço estratégico

para o atendimento da população em situação de rua.

6. Referências bibliográficas

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_________. Matriz curricular nacional para Guardas Municipais. Para formação

em Segurança Pública. Ministério da Justiça. Secretaria Nacional de Segurança

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População em Situação de Rua (Centro Pop) e Serviço Especializado para

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_________. Relatório do II Encontro Nacional da População em Situação de Rua.

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de 2009.

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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE MINAS GERAIS. Direitos do morador de

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FORTIS, Martin Francisco de Almeida. Rumo à pós-modernidade em políticas

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“O que desejamos para o Comitê Intersetorial de Acompanhamento e

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Documento produzido em reunião de planejamento estratégico do CIAMP-Rua

(mimeo).

“Planejamento CIAMP-Rua” Julho de 2013 (mimeo).

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Situação de Rua”. Carta produzida pelos membros representantes da sociedade

civil do CIAMP-Rua com o fim de entregar para a Presidenta Dilma Rousseff no

Evento “Natal com Dilma”, em São Paulo, dezembro de 2012 (mimeo).

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“Celebração de Natal com Catadores de Materiais Recicláveis e População em

Situação de Rua – 2013”, 2013 (mimeo).

“Pauta – Movimento Nacional de População de Rua – MNPR (22 de dezembro

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“Ações Articuladas para promoção da Cidadania da população em situação de

rua”, Coordenação de Segurança Pública e Direitos Humanos, Secretaria de

Direitos Humanos da Presidência da República, 2012 (mimeo).